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Há Futuro para as Bibliotecas de Pesquisa no Ambiente de eScience?

Há Futuro para as Bibliotecas de Pesquisa no Ambiente de


eScience?

Luana Farias Sales


Comissão Nacional de Energia Nuclear/Instituto de Engenharia Nuclear.
E-mail: luanafsales@gmail.com
Luís Fernando Sayão
Comissão Nacional de Energia Nuclear/Centro de Informações Nucleares.
E-mail: lsayao@cnen.gov.br

Resumo
Diante das profundas transformações que a pesquisa científica vem passando nas últimas
décadas, uma discussão se faz necessária no âmbito da comunidade biblioteconômica e de
pesquisa: como as bibliotecas poderão se reposicionar diante dessas mudanças globais,
especialmente, as decorrentes do novo paradigma científico pautado na geração, uso e
compartilhamento intensivo de dados. Nesta direção, o presente artigo tem como objetivo
discutir as possíveis respostas para o que se pode esperar do futuro das bibliotecas de pesquisa
no ambiente da eScience. Para tal, o estudo divide-se em duas partes. Na primeira, tomando
como metodologia a literatura da área, discute as principais forças que impactam as bibliotecas
de pesquisa desencadeadas pelo avanço das tecnologias digitais, como a emergência de um novo
modo de fazer ciência, as mudanças no padrão de publicação acadêmica e de comunicação
científica, a disponibilização de informações livres e de qualidade na Web e o surgimento de
novos concorrentes para biblioteca no fornecimento de informações para a pesquisa. Na
segunda parte, o artigo analisa os elementos que devem ser pensados na proposição de um novo
modelo de biblioteca de pesquisa inserida nos novos ambientes virtuais de pesquisa. Conclui
que, mesmo diante das mudanças que se configuram neste momento significarem para os
bibliotecários o fim de alguns ciclos seculares, elas abrem também inúmeras oportunidades para
a renovação das bibliotecas de pesquisa colocando-as num patamar mais elevado no mundo da
ciência contemporânea.
Palavras-chave: Biblioteca de Pesquisa. eScience. Dados de Pesquisa.

Introdução continuamente. A mudança mais


significativa para a pesquisa científica
O desenvolvimento das contemporânea foi o surgimento e a
tecnologias digitais vem transformando evolução de um novo padrão intelectual
de uma forma contundente a produção de de se produzir conhecimento cientifico –
conhecimento científico, a editoração e a conhecido como o Quarto Paradigma
comunicação, assim como vários outros Científico ou eScience - que é
domínios importantes para o mundo da caracterizado pela produção e uso
ciência, caracterizando uma era de intensivo de dados e pelo
grandes novidades cujos desdobramentos compartilhamento e colaboração
ainda são imprevisíveis. baseados em rede de computadores de
Nesse contexto de mudanças, alto desempenho.
novas formas de pesquisa, de Os pesquisadores, as instituições
socialização acadêmica, de distribuição de ensino e pesquisa e as agências
de informação e conhecimento científicos governamentais de fomento à pesquisa
e de aprendizado despontam
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começam a compreender a importância e se estabelecerem como parte integrante


dos dados como objetos intelectuais de dos fluxos de pesquisa das suas
primeira grandeza e a necessidade da instituições.
inserção formal desses recursos nas Assim sendo, o presente estudo
infraestruturas informacionais e de tem como objetivo analisar o papel
pesquisa, para que sejam arquivados, renovado da biblioteca nas infraestruturas
disseminados e, por fim, reusados por informacionais voltadas para a ePesquisa,
outros pesquisadores. Para consolidar bem como mapear as novas
esse processo, estes atores começam a oportunidades e as ameaças que se
estabelecer regras e políticas para a delineiam com o aparecimento de novos
gestão dos dados gerados pelos projetos modelos de sistemas de informação
que eles desenvolvem, coordenam e voltados para as atividades científicas.
financiam, criando uma nova demanda O trabalho está dividido em duas
para as bibliotecas e demais sistemas de partes: na primeira delas procura
informação voltados para a pesquisa. identificar a diversidade de forças que
A ciência baseada em dados coletivamente reorientam os rumos das
impõe desafios críticos para a bibliotecas de pesquisa neste começo de
centralidade histórica do papel das século, tomando como ponto de partida
bibliotecas científicas nos fluxos de metodológica a análise da literatura; na
produção de conhecimento científico, segunda parte propõe, como resultado,
dado que, por um lado, a gestão e a alguns elementos para a construção de
curadoria do volume crescente de dados uma concepção renovada de uma
de pesquisa parecem ser uma extensão biblioteca voltada para as exigências da
natural das funções dessas bibliotecas; pesquisa científica atual, que esteja,
porém, por outro lado, essas instituições porém, ancorada na sua identificação
não estão plenamente aparelhadas dando secular de reunir e integrar informações
margem ao surgimento de novos modelos dispersas no tempo e no espaço.
de serviços de dados oferecidos por Antes, porém, de começar esse
diferentes organizações, ou combinações percurso é necessário estabelecer um
de instituições (WANG, 2013), como compromisso conceitual sobre o que se
são, por exemplo, os centros nacionais de
compreende por biblioteca de pesquisa
dados.
A inserção da biblioteca de no âmbito deste estudo. É o que vem logo
pesquisa nos ambientes virtuais que a seguir.
permeiam as metodologias e as
dinâmicas de comunicação da eScience O Que é Biblioteca de Pesquisa?
pressupõe não somente a disponibilização Embora seja difícil delinear
de novos serviços de informação, mas precisamente os contornos do que seja
uma parceria mais sofisticada, que biblioteca de pesquisa, a sua definição
compreendem intervenções nos diversos deverá necessariamente estar relacionada
estágios de processamento dos dados de com a missão específica que se espera
pesquisa – no planejamento, na formação que essa categoria de biblioteca cumpra,
de coleções, no controle de qualidade, na que é apoiar o progresso da sociedade
visualização e no apoio aos novos pela agregação de recursos de pesquisa e
modelos de publicação acadêmica e de de serviços e comunicá-los à comunidade
comunicação científica. Nessa direção, a de pesquisa, e dessa forma fomentar o
eScience apresenta uma oportunidade intercâmbio e a criação de conhecimento
única para as bibliotecas se reinventarem

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científico e acadêmico (MACEVICIUTE, bibliotecas de pesquisa num ambiente


2014) de geração de conhecimento em
Sobre este patamar pode-se continua evolução?
construir a seguinte definição de trabalho
para biblioteca de pesquisa: são Parte I: Quais são as Principais
bibliotecas que reúnem coleções de Forças que Estão Impactando as
materiais em uma ou mais disciplinas, Bibliotecas de Pesquisa?
para apoiar a pesquisa científica e
acadêmica por meio de atendimento às São muitos os vetores de
necessidades de informação de mudanças que incidem sobre as
comunidades de pesquisadores. Este tipo bibliotecas de pesquisa, posto que o
de biblioteca mantém coleções ambiente onde elas estão situadas é
permanentes próprias e oferece acesso a movido por pensamentos e ações
fontes externas para todos os tipos de inovadores que desafiam as suas práticas
materiais necessários para o a todo momento. No presente estudo, a
desenvolvimento da pesquisa científica . 1 revolução das tecnologias digitais e o seu
As bibliotecas de pesquisa se poder de reordenamento é considerado o
diferenciam das bibliotecas principal vetor de mudanças por si
universitárias, pois estas últimas mesmo e por desencadear continuamente
costumam ser mais gerais; entretanto, novas e diferentes forças que atuam sobre
algumas bibliotecas universitárias podem a biblioteca de pesquisa.
ter características de bibliotecas de
pesquisa, principalmente em países em Avanço das Tecnologias Digitais
que grande parte das pesquisas é A rápida incorporação das
realizada em universidades, como é o tecnologias digitais por todos os
caso do Brasil. Esta peculiaridade é segmentos sociais e, particularmente,
tomada em conta no estudo, que pelos sistemas educacionais e de
considera o apoio ao ensino, pesquisa, são as mais avassaladoras
especialmente ao ensino para a pesquisa, fontes de novos desafios para os sistemas
como parte do seu escopo. de bibliotecas de pesquisa (DEFF, 2009).
Colocada esta definição de É importante notar que a amplitude
trabalho, resta pensar sobre como essas dessas tecnologias e o seu poder
bibliotecas vão lidar com o desafio de se pervasivo reconfiguram ou fazem
reconfigurarem, sem perder sua emergir outras forças que induzem as
identidade, num ambiente de pesquisa transformações que agem sobre as
dominado pelas tecnologias digitais e por bibliotecas, como por exemplo, a
formas inovadoras de produzir transição das publicações impressas para
conhecimento científico e de comunicá- formulações digitais. Seu poder de
lo. A questão chave que oriente as reordenamento sobre a biblioteca desafia
reflexões sobre o problema talvez seja: os nossos pressupostos de longa data
Quais são as funções críticas que sobre como coletamos, organizamos,
devem ser desempenhadas pelas preservamos e oferecemos acesso ao
conhecimento científico.
A tecnologia sobre a qual as
1
Definição adaptada de: YOUNG, Heartsill. bibliotecas se basearam para atender aos
ALA Glossary of Library and Information
Science. Chicago, IL: American Library seus usuários durante a última metade do
Association, 1983, p. 188. ISBN 0-8389-0371-1. milênio passado está se desvanecendo,
OCLC 8907224. assim como o modelo de usuário para o

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qual os seus serviços estavam projetados. tecnologicamente ancorada nos seus


“A impressão - como desenvolvida no pressupostos milenares de reunir a
século XV e industrializada no século informação dispersa no tempo e no
XIX - moldou o que a biblioteca é hoje” espaço, organizando-a e tornando-a
(LEWIS, 2006, p. 2); numa suposição disponível para seus usuários.
arriscada, serão as tecnologias digitais, Muitos fatos caracterizam essas
aliadas aos fenômenos que elas transformações, mas dois fenômenos
desencadeiam quando recompõem o proximamente relacionados mudam
fluxo da geração de conhecimento drasticamente a interação entre a
científico, que vão definir o que a biblioteca e o pesquisador. O primeiro
biblioteca de pesquisa deverá ser quando deles é a transição dos sistemas
dobramos a próxima esquina do futuro. referenciais para os sistemas que
O digital não é o antagônico do entregam o texto completo on-line. O
impresso, como o rolo de papiro não é o poderio das redes de computadores aliado
antagônico do livro e a tecnologia não é à redução drástica do custo do
algo estranho à biblioteca. Para cumprir o armazenamento on-line e ainda à
seu papel ancestral a biblioteca sempre interoperabilidade entre sistemas de
lançou mão das mais avançadas informação possibilitaram essa transição,
tecnologias disponíveis, e vem que se desdobra no segundo ponto de
continuamente evoluindo no ritmo dos inflexão: o fenômeno da
seus avanços. Assim foi com o papel, “desintermediação”, que proporciona aos
com a tecnologia de microfilme, com a usuários acesso direto à informação que
computação e agora com a web. Desde os deseja sem necessidade de um balcão de
primeiros passos dessas tecnologias, referência ou de serviços de apoio
percebeu-se que elas trariam um ganho bibliográfico. Esses pontos de ruptura
extraordinário de produtividade e de estão mudando definitivamente a relação
amplitude nas funções administrativas, entre os usuários e as bibliotecas e
técnicas e de intercâmbio de informação criando uma desconexão inevitável entre
e conhecimento no mundo das bibliotecas biblioteca física e suas representações
(SAYÃO, 2009). As mudanças não são virtuais, e entre a biblioteca e os novos
instantâneas, mas serão sempre modelos de serviço de informação para a
inevitáveis: “As estruturas e práticas das pesquisa.
bibliotecas não poderão mais resistir às A partir desse ponto, as
mudanças tecnológicas que estamos transformações sobre as bibliotecas de
envoltos, assim como a cultura dos pesquisa se dão por meio de vários
escribas não pode resistir às eventos e fatos que se refletem sobre as
transformações trazidas pela impressão” suas práticas, tais como: o surgimento e
(DEFF, 2009). popularização dos periódicos eletrônicos
Portanto, as condicionantes e e-books e a nova economia associada a
tecnológicas sempre fizeram parte do que essas manifestações; as concepções
molda a ideia de biblioteca. No decorrer inovadoras de publicações acadêmicas
da sua longa história ela tem se que desafiam os sistemas formais de
defrontado com uma variedade de informação, as formas inéditas de como
tecnologias disruptivas (LEWIS, 2004) as pesquisas são conduzidas e
que continuamente vão transformando-a comunicadas; a produção massiva de
na medida em que essas tecnologias são dados e outros produtos de pesquisa em
incorporadas às suas estruturas e práticas. formatos de hipermídia; as formas de a
Dessa forma, a biblioteca evolui educação alcançar os seus alunos; a

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forma como as pessoas trabalham, convergência das tecnologias digitais;


produzem e consomem informação; e a entretanto, os desenvolvimentos que
impressionante quantidade de estamos testemunhando começam a
informações livres e de qualidade aprofundar-se nas ciências sociais e
disponíveis na Internet e que são humanidades, ampliando o alcance das
recuperáveis via dispositivos de busca metodologias da eScience e
como o Google; usuários que nunca possibilitando novas formas de refletir,
conheceram o mundo sem internet; e uma formular hipóteses e compreender
nova percepção da sociedade sobre a fenômenos que vão dos enigmas da
pesquisa científica e suas consequências. Cosmologia à complexidade das
Alguns desses fatores alinhados dinâmicas sociais e históricas. Além
acima serão discutidos rapidamente a disso, essas metodologias inauguram
seguir na tentativa de reunir subsídios novas disciplinas inteiramente calcadas
em dados, que têm como chave a
que contribuam para a construção de um
interdisciplinaridade e transversalidade
novo modelo de biblioteca de pesquisa. de abordagens.
Todos esses movimentos no
A Emergência de um Novo Modo de mundo da ciência alteram intensamente a
Fazer Ciência forma com que os cientistas conduzem os
A convergência de tecnologias de seus trabalhos, as ferramentas e
computação, armazenamento on-line, instrumentos de pesquisa que eles
redes de alto desempenho, somados ao utilizam, os tipos de problemas que eles
desenvolvimento de instrumentos endereçam e como comunicam os
científicos, escalas, dispositivos resultados de suas pesquisas. O potencial
experimentais e sensores cada vez mais de mudanças da eScience está
sofisticados e ao uso intensivo de relacionado a sua capacidade de trabalhar
simulações, desloca a pesquisa científica em escala e intensidade muito maiores do
contemporânea na direção de uma ciência que as metodologias convencionais,
orientada por dados, onde o maior viabilizada pelas redes distribuídas,
problema não é a escassez, mas sim o colaboratórios, computação em grade e
excesso de dados e a capacidade de ferramentas poderosas de análise e
interpretar seus padrões ocultos na forma visualização.
de conhecimento e novas descobertas. Os pesquisadores, dessa forma,
Este mesmo cenário exige, como estão engendrando novas questões e
condição essencial do seu modus desenvolvendo novos enfoques
operandi, que a comunidade científica metodológicos e estratégias intelectuais,
estabeleça formas intensivas de que geram produtos de pesquisa
socialização e de colaboração - que se inteiramente novos e que estão distantes
realizam em larga escala e distribuídas das publicações convencionais, como
globalmente - que vão delineando uma simulações, multimídias, modelos
nova forma de fazer ciência conhecida tridimensionais e, sobretudo, coleções de
como eScience ou Quarto Paradigma dados que se manifestam em diversas
Científico. formas. “Tudo isso tem profundas
Virtualmente, todas as disciplinas consequências para as publicações
do domínio das ciências exatas como acadêmicas: é difícil imaginar livros e
Física, Astronomia e também a Biologia periódicos impressos adequadamente
e as Ciências Ambientais, passaram por capturando estes novos enfoques” (PART
transformações impelidas pela I, 2008). Mesmo os periódicos em

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formatos digitais, que são simulacros dos Ciberinfraestrutura: O Novo


impressos, não são capazes de comunicar Ambiente de Pesquisa
a riqueza da pesquisa contemporânea. A eScience se desenrola tendo
Somados ao fenômeno do como substrato uma geração avançada de
surgimento da eScience, e tomados como tecnologias que coletivamente se
fatores primordialmente comportamental, articulam para formar ambientes virtuais
sociológico e ideológico na condução e distribuídos conhecidos como
no compartilhamento do saber científico, “ciberinfraestrutura”. Compreende-se
estão os pressupostos da Ciência Aberta ciberinfraestrutura como “uma nova
baseados na ideia do saber científico forma de cultura científica que se
como um bem da humanidade e que sustenta em uma robusta infraestrutura
estende o movimento do livre acesso aos tecnológica de alto nível” (PÉREZ-
demais produtos de pesquisa: dados, GONZÁLES, 2010, p.3). A geração de
metodologias, cadernos de laboratórios, conhecimento nesses ambientes é
software, instrumentos. Nessa direção, conduzida por equipes multidisciplinares
mudam também os esquemas de e distribuídas em escala mundial que se
reconhecimento e recompensa moldados voltam para problemas que só se
secularmente pelos periódicos científicos tornaram solúveis nos anos recentes com
(SAYÃO; SALES, 2014). o desenvolvimento de coleções de dados
Contudo, muitos pesquisadores de pesquisa e de metodologias
não estão vislumbrando com clareza as computacionais de alta desempenho que
mudanças na sociologia da ciência e não tornaram possíveis a análise e
estão se preparando para endereçar nos identificação de padrões ocultos nesse
seus projetos as exigências da ePesquisa. acúmulo de dados (LUCE, 2008). “É um
Por outro lado, os bibliotecários sabem meio que permite acesso e circulação de
relativamente pouco sobre as atuais conhecimento distribuído, em que
práticas de gestão de dados utilizadas colaboram e se comunicam diferentes
pelos pesquisadores e seus laboratórios. comunidades e disciplinas, rompendo
As instituições envolvidas não fronteiras culturais, geográficas e
estabeleceram ainda quem irá conduzir o temporais”, complementa Pérez-
trabalho de curadoria dos dados e são Gonzáles (2010, p.3).
muitas as configurações possíveis. Os Enquanto eScience e
modelos de financiamento ainda estão ciberinfraestrutura estavam inicialmente
sendo desenvolvidos e a economia de limitadas ao domínio das ciências exatas,
escala para a curadoria digital tem que envolvendo dados que requerem
ser examinada (HEIDORN, 2011). computação de alta capacidade para
A heterogeneidade dos dados de serem processados, a ePesquisa foi
pesquisa implica na necessidade de desenvolvida em patamares que incluem
formular metodologias e políticas de práticas de pesquisa em ciências sociais e
amplo espectro que efetivamente humanidades. Segundo Wang (2013),
sustentem os vários tipos de dados e a sua esses campos não foram menos afetados
natureza díspar. O reconhecimento dessas pelas novas tecnologias de informação e
idiossincrasias torna-se crucial quando se comunicação, e são também
estabelecem as opções gerenciais e caracterizados por conexões em rede e
tecnológicas para o arquivamento e padrões intensivos de dados.
disseminação dos dados de pesquisa
(SAYÃO; SALES, 2013)

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Mudanças no Padrão de Publicação principalmente expor os produtos de


Acadêmica e na Comunicação pesquisa à crítica de uma comunidade
Científica muito mais ampla do que é possível com
As novas formas de disseminação a revisão tradicional (PART I, 2008, p.4).
de resultados de pesquisa começam a Os sistemas para o
romper os compromissos de similaridade estabelecimento de credibilidade num
que publicações digitais mantinham com ambiente social ligado em rede estão em
o modelo impresso. Inicialmente, o nítido contraste com o sistema de revisão
digital era apenas um simulacro do por pares top-down usado por centenas de
impresso, como é, por exemplo, um anos pelo mundo acadêmico. O sistema
documento em formato PDF. Cada dia tradicional deixa a comunidade de
mais os resultados de pesquisa têm sido pesquisadores fora do processo de
comunicados em mídias e formatos avaliação da qualidade da pesquisa, posto
diversificados, que vão rompendo com os que os seus resultados só aparecem para
modelos tradicionais; além do mais, com os pesquisadores na forma final, em um
muito mais frequência os resultados de momento em que o percurso da pesquisa
pesquisa têm sido publicados fora do parece ser mais importante que o seu
mundo dos editores científicos, criando resultado publicado.
um ponto de inflexão na longa trajetória Nesse sistema a autoridade que
dos periódicos científicos. estabelece credibilidade fica com o editor
Esta tendência avassaladora do periódico científico e está
trazida pela pesquisa contemporânea vai crescentemente em oposição ao modelo
moldando novos padrões de comunicação baseado na pesquisa colaborativa e
cientifica que se refletem nos modelos de distribuído em rede. Na medida em que
publicações acadêmicas que começam a esse processo evolui pode-se testemunhar
se reinventarem para capturar, pelo uma mudança significativa nos
menos, parte da não linearidade e da mecanismos de participação e de
capacidade de agregações e de múltiplas valorização da pesquisa, que considera
conexões dos novos objetos mais a participação da comunidade do
informacionais. que o imprimatur de um especialista
Na outra extremidade, a revisão designado pelo editor de um periódico
por pares – fundamental para a validação (WITTENBERG, 2008)
das contribuições ao avanço científico – O meio clássico de comunicar o
também sofre mudanças. As formas resultado de pesquisa através da
tradicionais de avaliação que têm se publicação em periódicos científicos bem
focado exclusivamente em publicações estabelecidos continua plenamente
acadêmicas na sua forma final e fixa no válido, entretanto, a diversidade que
tempo, parece não serem mais extrapola os limites do texto e a
suficientes, pois os produtos da pesquisa atemporalidade que desconstrói o ciclo
são hoje extremamente variados e nem tradicional de comunicação cientifica são
sempre são apresentados na forma, por determinantes para que muitas outras
exemplo, de um artigo ou de uma tese. formas de comunicação comecem a ser
Novos modelos que sejam capazes de usadas para tornar ideias preliminares,
lidar com essa pluralidade estão em modelos, conceituações e os percursos da
construção. Esses modelos têm que pesquisa disponíveis (DEFF, 2009).
incluir, por exemplo, coleções de dados,
Disponibilidade de Informações Livres
links, comentários e contribuições de e de Qualidade na Web
outros pesquisadores. Isso significa
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A transição da informação coleções das bibliotecas – impressas ou


científica do padrão impresso para digitais – serão cada vez menos
formulações digitais é um fenômeno importantes e que a integração desses
claro e seus desdobramentos já foram ativos informacionais na forma de
quase todos estudados e analisados por serviços da biblioteca seja algo essencial.
diversos ângulos. Entretanto,
concordando com Lewis (2006), existe Os Usuários Que Não Conhecem o
uma segunda – e igualmente importante – Mundo Sem Internet
transição cujo impacto ainda não foi Pesquisadores e estudantes estão
completamente reconhecido: a transição se tornando consumidores de informação
do conteúdo comprado para o conteúdo digital tecnicamente muito capacitados e
de acesso livre. “Esta segunda transição possuem alta expectativa em relação aos
fará mais para redesenhar o que a formatos, funcionalidade e entrega dos
biblioteca irá fazer no futuro do que a produtos intelectuais que demandam para
primeira transição” afirma Lewis (2006, seus projetos. Grande parte dos usuários
p.10), de forma categórica. pesquisadores não conhece o mundo sem
Apesar do seu potencial de mudar Internet e muitos deles passam a sua vida
o modelo de funcionamento e as profissional submersos na web. Isto torna
estratégias gerenciais da biblioteca de essencial que se redefina com mais
pesquisa, o fato de haver uma precisão os papeis das bibliotecas de
disponibilidade imensa de recursos pesquisa, dos editores científicos e
informacionais de acesso aberto não foi demais fornecedores de conteúdos
ainda cuidadosamente considerado ou científicos (WITTENBERG, 2008)
amplamente discutido como um fator de O que se pode esperar é que haja
reordenamento dos fluxos de trabalho das um descompasso inercial entre
bibliotecas e uma base importante para incorporação das tecnologias nas rotinas
novos serviços. Entre as querelas dos dos pesquisadores e a sua apropriação
proponentes do acesso aberto e da pelas bibliotecas. Isto porque, enquanto
retórica às vezes enganosas dos editores as bibliotecas de pesquisa se movem com
comerciais tentando preservar seus cuidado, os usuários pesquisadores se
mercados, “fica fácil perder de vista as movem no mesmo passo das tecnologias
transformações fundamentais que estão que envolvem as suas descobertas e em
ocorrendo”, completa Lewis (2006, p.10). sincronia com os ambientes em que elas
Passados dez anos, essas se realizam. Isto significa que os desafios
mudanças se tornam mais nítidas e, que as bibliotecas de pesquisa têm que
consequentemente, mais fáceis de serem enfrentar face às rupturas tecnológicas
avaliadas em termos comportamentais e são diferentes dos desafios colocados
de percepção dos usuários. Por exemplo, para as demais bibliotecas. A natureza do
na perspectiva dos estudantes e trabalho dos usuários pesquisadores –
professores o crescimento do movimento quase sempre permeados por ambientes
de acesso livre significa que mais altamente tecnológicos e inovadores –
informação acadêmica de qualidade está exerce uma pressão mais urgente por
disponível na internet e mais facilmente mudanças, que na maior parte do tempo
descoberta com Google ou Google significam integração da biblioteca nos
Scholar. Isto os libera da dependência da ambientes virtuais de pesquisa e
biblioteca como a única fonte de apropriação por parte das bibliotecas dos
materiais acadêmicos. Ao longo do substratos tecnológicos dessas estruturas.
tempo isto pode significar que as

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Tudo isso pode significar que a desempenhadas pelas bibliotecas; ou


biblioteca não seja necessariamente um ainda desenvolver e explorar serviços de
espaço físico, mas tome forma de um informação que não foram vislumbrados
arcabouço que integra serviços oportunamente pelos bibliotecários.
informacionais distribuídos por todo o Uma consequência visível desse
ambiente, em que alguns usuários fato é que a maioria das bibliotecas de
estejam conscientes das funções da pesquisa de empresas privadas que
biblioteca, mas um número crescente usa desempenham atividades de investigação
a biblioteca como uma entidade invisível. científica foram descontinuadas, e outras
A constatação de que os usuários formas de fornecer informações para os
não vão mais a biblioteca de pesquisa é departamentos de pesquisa estão sendo
um dos maiores desafios que os explorados. Essas novas fontes talvez não
profissionais bibliotecários vêm tenham o mesmo nível de qualidade, mas
enfrentando nessas duas últimas décadas. certamente são muito mais baratas
Tudo indica que é a biblioteca que (MACEVICIUTE, 2014).
precisa se aproximar dos usuários onde Os editores científicos, por
eles estão – nos seus laboratórios, exemplo, podem oferecer acesso a
escritórios ou nos ambientes virtuais de periódicos on-line por meio dos seus
pesquisa, competindo com outros próprios servidores e suas próprias
mediadores que vão surgindo nos páginas web; e a universidades e grupos
cenários múltiplos da comunicação ou sociedades científicas podem oferecer
científica (MACEVICIUTE, 2014). Isto acesso a repositórios digitais de artigos e
será abordado a seguir. livros. O governo pode criar portais
agregadores de periódicos em associação
Concorrentes: A Biblioteca Não é Mais com os editores, como é o Portal Capes e
o Fornecedor Exclusivo centros nacionais de dados.
A biblioteca de pesquisa não é É preciso lembrar que a própria
mais um fornecedor exclusivo e não tem comunidade científica, pela natureza do
mais um mercado cativo quando se trata seu trabalho, torna-se uma agente de
de informação para a pesquisa. Ela não é criatividade e inovação, propondo novos
a única fonte a que o pesquisador pode conceitos de serviços que atendam às
recorrer, e, provavelmente, não é a suas necessidades e desejos e fazendo
primeira. O fato desconcertante de que com que surjam, quase espontaneamente,
estudantes e professores de nível novos padrões para a área. Pode-se correr
universitário usam as ferramentas de o risco de se afirmar que a área de
busca como o seu principal recurso para informação para a pesquisa se desenvolve
descoberta de informação, indica que movida por seus próprios usuários. Um
uma mudança no comportamento de exemplo marcante é o padrão open
quem busca informação acadêmica está archive e o protocolo OAI-PMH (Open
em curso e que novos atores estão em Archives Initiative – Protocol for
cena. Metadata Harvesting), uma solução
Assim como a tecnologia muda simples e poderosa para a
vão surgindo novos mecanismos para interoperabilidade entre repositórios
fornecer subsídios na disseminação e digitais que também surgiu da
acesso à informação científica. Os novos necessidade de se disponibilizar
atores e seus empreendimentos podem se eletronicamente preprints na área de
lançar sobre algumas das funções que física de alta energia, foi proposta e
sempre foram tradicionalmente desenvolvida por pesquisadores. Indo

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mais além, a própria web surge no CERN esferas sociais uma racionalidade
(Conseil Européen pour la Recherche científica que atinge também domínios
Nucléaire), em 1992, primordialmente não científicos. Esse fator
como uma ferramenta para manuseio, comportamental e de valorização do fazer
organização e disseminação de científico coloca os pesquisadores sobre
informação para a pesquisa. uma pressão crescente - por parte das
O surgimento de novos serviços e instituições de pesquisa e agências de
padrões movidos pela necessidade dos fomento - para disponibilizar os seus
pesquisadores tornou possível para os resultados para uma audiência mais
editores comerciais entrarem na era ampla de stakeholds. Este fator tem um
digital e criarem uma nova economia rebatimento perceptível no modelo de
baseado em licença e download pago de funcionamento das bibliotecas de
artigos, tornando os periódicos pesquisa e traz o desafio de adequar os
eletrônicos um fenômeno central (DEFF, conteúdos científicos pra novas
2009, p. 10). audiências, como por exemplo, para a
Alguns desenvolvimentos digitais grande imprensa.
criaram também a demanda por novos A ampliação do sistema de
serviços conectados baseados em novas pesquisa e a sua crescente importância
formas de materiais e mídias tais como econômica – principalmente como motor
podcasts de palestras, vídeos e outros da inovação tecnológica – é um dos
materiais de uso na comunidade desafios da expansão da ciência. Esta
científica e para o ensino. Estes materiais tendência tem implicado no crescimento
não são tradicionalmente oferecidos pelas da educação para a pesquisa,
bibliotecas de pesquisa, porém são cada particularmente na formação de novos
vez mais importantes, especialmente para doutores (DEFF, 2009). Nessa mesma
disseminação de resultados de pesquisas direção existe, principalmente nos países
para uma maior audiência. (DEFF, 2009, mais desenvolvidos, uma intenção
p.12). “Novamente, muitas dessas explicita de tornar as instituições e
atividades são realizadas por serviços, incluindo os serviços de
organizações científicas, mas são informação, que estão subjacentes aos
obviamente uma extensão das funções sistemas de pesquisa e de educação para
tradicionais e das obrigações da a pesquisa, mais presentes e dotados de
biblioteca de pesquisa” (DEFF, 2009, maior grau de interlocução com diversas
p.12). esferas sociais.
Como consequência dessa
Expansão do Sistema de Pesquisa: A ampliação de atuação dos sistemas de
Ciência Interessa a Toda Sociedade pesquisa, a biblioteca de pesquisa tem
Há diversos outros fatos que que lidar com desafios de criar diálogos
decorrem em menor escala da revolução na interface entre diversas disciplinas,
das tecnologias digitais, e que afetam tendo em conta o governo como o
fundamentalmente a relação entre interlocutor chave para as atividades de
pessoas, empresas, governo e o pesquisa (DEFF, 2009).
conhecimento científico, e como ele é
percebido como insumo para diversos Parte II: Elementos Para um
empreendimentos e um fator de Modelo Possível de Biblioteca de
progresso. Pesquisa
Um movimento pervasivo de
Partindo do pressuposto de que as
cientifização vai instalando em todas as
bibliotecas de pesquisa devem consolidar
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Há Futuro para as Bibliotecas de Pesquisa no Ambiente de eScience?

o seu valor social como uma conhecimento, como Física de Partículas


infraestrutura e também como uma ou Bioinformática, que se realiza na
parceira no processo de criação de forma de recursos informacionais
conhecimento científico, o relatório distribuídos em rede.
DEFF, nas suas análises sobre o que deve O que se espera, portanto, é que o
ser a biblioteca de pesquisa no futuro, ideal da biblioteca seja a representação
considera três diferentes modalidades de universal do conhecimento existente -
funções que devem ser desempenhadas presente fisicamente em átomos e
por essas bibliotecas. Essas funções são moléculas e digitalmente em bits e bytes
chaves para delinear cenários potenciais - na forma de livros, coleções de
de ação e de formulação de uma nova periódicos, coleções de dados de
significação para as bibliotecas nos pesquisa, e virtualmente na forma de
ambientes de pesquisa. São elas: instrumentos de representação e de
tecnologias que sistematizem e criem
• a biblioteca como um centro de
visões do conhecimento total de um
aprendizagem focada em
domínio e de suas conexões com outras
provisionar materiais e suporte
disciplinas.
para os processos de
Esta forma de pensar a biblioteca
aprendizagem;
relembra os sonhos dos que vislumbram
• a biblioteca como centro de as bibliotecas totais ao longo da história
conhecimento, tornando-se do conhecimento e das enciclopédias no
cocriadora na produção de
seu ideal de sintetizar o conhecimento
conhecimento científico, existente (DEFF, 2009; SAYÃO, 2009).
proximamente atrelada às
Nessa perspectiva, a biblioteca de
atividades dos grupos de pesquisa deixa de ser tão somente um
pesquisa;
lugar onde os livros, periódicos e outros
• a biblioteca como uma instituição materiais pertencentes à universidade e
de meta-conhecimento ou de institutos de pesquisa são custodiados,
representação de conhecimento, mas é principalmente uma instituição
trabalhando como um catalisador onde o conhecimento de um determinado
para a síntese, organização, domínio está ordenado, organizado e
mapeamento, avaliação e representado, e as várias perspectivas
consolidação do conhecimento individuais de um professor ou o recorte
(DEFF, 2009). particular de uma disciplina são tornados
No patamar mais abstrato, a ideia universais. A biblioteca de pesquisa se
da biblioteca como uma instituição de torna, então, menos presente como
representação de um domínio de estrutura física e mais relevante como
conhecimento, permeia todos os valores, uma presença subjacente e integrada aos
serviços e infraestruturas gerencias e fluxos de pesquisas, ciberinfraestruturas e
tecnológicas. Nesse sentido, a biblioteca canais de comunicação na
poderia ser “um catálogo universal que disponibilização e entrega de seus
cria um mapa de tudo na forma de um serviços. A biblioteca se torna invisível,
espaço conceitual estruturado” (DEFF, na medida em que seus clientes podem
2009, p.20) que espelhasse a totalidade não estar conscientes da sua atuação, mas
da realidade na forma de uma biblioteca que, paradoxalmente, ela pode ser mais
virtual – o termo tomado aqui não no intensiva nas suas ações.
sentido tecnológico, mas denotando um Abby Smith (2008, p.4), na sua
recorte de representação de uma área de análise sobre os caminhos da biblioteca

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de pesquisa no século XXI, conjectura a plataforma de pesquisa e disseminação


que de seus resultados.
não importa o nome que tenha A infraestrutura de pesquisa em
[a biblioteca de pesquisa], o que que a biblioteca está inserida será
esta entidade necessita é focar expansiva, ubíqua e capaz de suportar
claramente em dois papeis bem uma multiplicidade de domínios
específicos: um local e o outro acadêmicos, dada a natureza
ligado em rede tomando parte de interdisciplinar da ePesquisa. A próxima
uma ciberinfraestrutura de geração de bibliotecas deve estar
pesquisa nacional e firmemente inserida nesta infraestrutura,
transnacional. porque esta será a plataforma na qual os
Os limites entre estes papéis podem ser acadêmicos irão ganhar acesso aos
tênues, porém esta reflexão pode ser um recursos informacionais de forma
ponto inicial importante para uma rápida customizada.
análise das condições de integração da As reflexões acima vão dar base
biblioteca no campus e nas às discussões sobre como pode atuar a
ciberinfraestruturas globalizadas de biblioteca de pesquisa ante os desafios
pesquisa, como as redes internacionais de que são colocados pela eScience.
computação em grade de acesso aos
dados das experiências realizadas. Infraestrutura Distribuída e Integrada
A condição “local” da biblioteca ao Ambiente de Pesquisa
implica na otimização da sua atuação A evolução das infraestruturas
junto às necessidades do campus e da sua gerenciais e tecnológicas das bibliotecas
comunidade de professores e alunos; ela de pesquisa é, em grande parte,
se volta quase inteiramente para às determinada pelas transformações que
questões relacionadas à educação, ou passam os seus estoques informacionais.
seja, em provisionar materiais e apoio aos Livros manuscritos e dados em formato
processos de aprendizagem. Apenas uma multimídia – tomando, por exemplo, dois
pequena parcela dessa infraestrutura local extremos - exigem infraestruturas
irá apoiar a pesquisa, isto se dá, tecnológicas e estratégias gerenciais
especialmente, na conexão aprendizado e diferentes para preservação, acesso e
pesquisa, posto que a pesquisa disseminação. Um exemplo mais direto e
contemporânea é uma atividade que real é a forma de gestão dos periódicos
necessita de conexões que extrapolam as impressos versus os eletrônicos: os
fronteiras da instituição. “A pesquisa será primeiros têm sua gestão focada na
um fenômeno muito mais global do que propriedade do objeto físico e nos
uma instituição local possa dar suporte”, desdobramentos desse fato, como a
completa Smith (2008, p.4). conservação, desenvolvimento de
No seu papel conectado em rede, coleções e espaços de armazenamento;
a biblioteca de pesquisa será capaz de dar enquanto nos eletrônicos a gestão está
apoio à pesquisa e à disseminação na focada nas licenças e nos controles de
medida em que ela está firmemente direito de acesso.
inserida no conglomerado de colaboração As mudanças infraestruturais da
interinstitucional que permite a geração e biblioteca de pesquisa no âmbito da
utilização de conteúdos científicos. Esse eScience precisam refletir, além da
regime de colaboração será o elemento evolução dos meios de registro e
chave da ciberinfraestrutura de pesquisa armazenamento dos conteúdos, as
– o ambiente virtual distribuído que será necessidades de apoio à pesquisa
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colaborativa e ao compartilhamento de visto que, cada vez mais a ciência produz


informações. Os pesquisadores esperam e usa esses ativos informacionais nas
da biblioteca o mesmo nível da formulações e provas de suas hipóteses.
conveniente ubiquidade e de recursos Essa nova atividade cria uma
avançados que eles encontram oportunidade inédita para a biblioteca de
disponíveis nos ambientes que permeiam pesquisa ampliar o seu espaço de
os fluxos de trabalho da ePesquisa articulação com os laboratórios e grupos
(ARMS, 2008). de pesquisa. Porém, quando refletimos
Nessa dualidade, há necessidade sobre a biblioteca como cocriadora de
de considerar o fato quase axiomático de conhecimento mais proximamente
que os conteúdos multimídias serão os integrada ao trabalho científico, nos
formatos dominantes de disseminação de deparamos com uma dificuldade atávica
resultados de pesquisa; e que as relações das bibliotecas de pesquisa: a maioria
de compartilhamento de informações e as delas e de seus bibliotecários são menos
articulações em torno de pesquisa familiares com as fases iniciais do ciclo
colaborativas – que são condição de comunicação científica – por exemplo,
essenciais da eScience - se realizam nos com as fases de concepção, modelagem e
espaços multidimensionais e planejamento – e estão mais próximos
interdisciplinares definidos pelas com as atividades de pós-pesquisa, como
ciberinfraestruturas voltadas para a de reportar, comunicar e publicar.
ePesquisa. Os pesquisadores precisam Bibliotecários, em particular, não
acessar informação nesses espaços estiveram tradicionalmente envolvidos na
virtuais talhados para os propósitos de produção de informação científica antes
grupos de pesquisa e também de da publicação dos resultados (GOLD,
pesquisadores individuais. O modelo 2007a). Essa questão tem que ser
exato de gestão e disseminação de considerada quando se discute a inserção
informação na ciberinfraestrutura será da biblioteca de pesquisa na gestão do
determinado pela evolução das práticas complexo fluxo de dados de pesquisa.
dos domínios específicos. O problema fica mais evidente
quando discutido em termos de gestão de
Dados de Pesquisa: A Necessidade de dados de pesquisa. Isto porque o ciclo de
Gestão Pré e Pós Publicação vida dos dados começa cedo no processo
Uma parte considerável das de pesquisa, e novos serviços de
tensões geradas pelas recentes discussões informação podem se desenvolver em
sobre o papel das bibliotecas e dos torno desses estágios iniciais, como na
bibliotecários atuando em serviços de elaboração do documento que se torna
dados tem sido inspirada não pelas essencial para pesquisadores, instituições
práticas biblioteconômicas estabelecidas de pesquisa e agências de fomento que é
para tratamento de dados – que são o “Plano de Gestão de Dados de
razoavelmente estáveis -, mas Pesquisa”.
principalmente pelo desenvolvimento Nessa direção, Anna Gold
dessas práticas inseridas nos ambientes (2007b), na sua análise sobre o papel das
de eScience e nas ciberinfrestruturas de bibliotecas de pesquisa integradas em
pesquisa (GOLD, 2007b). ambientes ciberinfraestruturais, descreve
Gerenciar e fazer a curadoria da esses papeis em termos de estágios pré e
quantidade cada vez maior de dados pós publicação de dados de pesquisa, que
parece ser uma extensão natural das ela define, empregando os termos em
funções de uma biblioteca de pesquisa, inglês, upstream e downstream

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Há Futuro para as Bibliotecas de Pesquisa no Ambiente de eScience?

respectivamente. A autora deixa claro disponibilizar serviços de referência


que esta visão apresenta a desvantagem automatizados para assistir os usuários na
de sugerir que o ciclo de vida dos dados é descoberta de dados relevantes para reuso
uma sequência de eventos bem em suas pesquisas usando diretórios e
demarcados com um fechamento claro, outras fontes.
quando, na verdade, apresenta uma Enquanto muitos dos processos e
dinâmica com sobreposições e reinícios metodologias exigidos para apoiar a
cíclicos, como é o caso do reuso e curadoria digital de dados de pesquisa
avaliação dos dados. são similares aos necessários para a
O nível de atividade que a gestão de documentos digitais, existem
biblioteca de pesquisa pode desempenhar diferenças importantes que
no estágio de pré-publicação (upstream) provavelmente terão fortes impactos nos
vai depender da sua capacidade de se fluxos das bibliotecas. Isso vai demandar
posicionar como parceira nas atividades que as bibliotecas estejam apoiadas por
de pesquisa. Através da colaboração estruturas especiais, como repositórios
próxima com os grupos de pesquisa, confiáveis que respondam ao modelo
iniciada nas primeiras fases do ciclo de conceitual definido pela norma OAIS
vida dos projetos, os bibliotecários (Open Archive Information System) e
podem se envolver como cocriadores e a por especialistas com conhecimentos
biblioteca como um laboratório. Isto pode específicos.
ser concretizado por meio do Material Multimídia: Porque o Texto
estabelecimento, teste e difusão de Não Conta Toda a História
padrões, tecnologias e boas práticas na
garantia da qualidade na geração dos A maioria dos serviços das
dados; no desenvolvimento de bibliotecas de pesquisa está
repositórios dinâmicos que apresentem fundamentada na gestão e entrega de
modelos de dados flexíveis capazes de conteúdos baseados em texto, já na sua
apoiar o fluxo de trabalho da fase de pré- forma final, seja na forma impressa ou
publicação, por meio de ambientes em formatos digitais. Entretanto, os
interativos de submissão e de materiais textuais já não são capazes de
colaboração, que possam também ser comunicar a multiplicidade de
estendidos para apoio aos estágios pós- manifestações dos produtos de pesquisa
publicação, como integração, análise e que começam a ser divulgadas já nos
visualização. estágios iniciais do ciclo de geração de
No lado downstream do ciclo de conhecimento científico. Os resultados da
vida da pesquisa a biblioteca pode ter um pesquisa contemporânea se manifestam
papel determinante na seleção, aquisição em objetos digitais complexos como
e licenciamento de coleções de dados; na modelos tridimensionais, simulações e
criação ou aplicação de esquemas publicações ampliadas que agregam
apropriados de metadados para a ePrints, metadados e dados de pesquisa
descrição das coleções de dados; na (SALES, 2014).
gestão e na organização da documentação Isso indica que os conteúdos
sobre os dados - essencial para a multimídias serão, em curto prazo, os
compreensão e contextualização desses formatos dominantes de disseminação de
recursos; e na oferta de serviços de resultados de pesquisa, além do mais,
preservação, curadoria e disseminação eles podem não estar na sua forma final,
dos dados. As bibliotecas de pesquisa podem variar com o tempo, ser
estão também bem posicionadas para versionados, anotados e agregados a
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outros recursos. Isso implica no bibliotecas científicas. Isso pode


desenvolvimento de modelos sofisticados significar que o centro de gravidade dos
de dados para os repositórios de dados, serviços disponibilizados pelas
que extrapolem os modelos estáticos e bibliotecas deve se deslocar da entrega de
autocontidos dos repositórios objetos informacionais isolados para a
institucionais, aliados a uma gestão mais entrega de agregações e relacionamentos.
dinâmica e atenta às mudanças. Isto porque os dados de pesquisa
Entretanto, as disciplinas isoladamente perdem significado e
orientadas por dados e a própria gestão contexto.
de dados se ajustam precariamente aos [D}ados [de pesquisa] são, antes
sistemas e constructos que ainda de tudo, uma codificação de
dominam a relação da biblioteca com a relacionamentos presentes no
comunicação científica e com os meios mundo, especialmente quando
de publicação (GOLD, 2007a, p.1). esses relacionamentos envolvem
Porém, as bibliotecas estão se ajustando instrumentos, fenômenos
com o objetivo de se tornarem capazes de físicos, entidades sociais,
lidar com a quantidade de conteúdo mensurações, tempo, lugar, ou
multimídia e ao mesmo tempo tentam ir outros constructos intelectuais
adiante no envolvimento no processo de (GOLD, 2007b, p.3)
pesquisa acadêmica (WANG, 2013, p.1).
Integração das Fontes de Informação
Linking: Porque os Produtos de
A ideia milenar de uma biblioteca
Pesquisa Precisam Estar Agregados
totalizante que cumpra o desejo ancestral
O ambiente digital recria um de concentrar em um único lugar todos os
universo informacional que permite o conhecimentos de uma determinada área
acesso a uma grande parcela de dados ou disciplina – como o Aleph do Borges,
científicos que estão cada vez mais no campo da ficção ou a Biblioteca de
disponíveis independentes das Alexandria no campo do real - continua
publicações acadêmicas convencionais. válida. Entretanto, com o
Esses dados aparecem em configurações desenvolvimento das redes globais e dos
formadas por redes de links e associados documentos eletrônicos, as informações
com diversos outros artefatos de podem estar reunidas sem estar
pesquisa. necessariamente no mesmo lugar. Este é
A agregação de dados e outros o ponto de partida das metáforas
produtos de pesquisa por meio de links agregadoras das máquinas de busca e um
tendo como perspectiva a princípio importante para ser retomado
contextualização estrutural e semântica e pelas bibliotecas de pesquisa.
a construção de novas conexões e visões A disponibilidade de informação
sobre um conhecimento consolidado irá livre e de qualidade na internet coloca
exigir uma compreensão completa do para as bibliotecas de pesquisa a
domínio, uma documentação detalhada oportunidade de ampliar virtualmente os
sobre a proveniência dos dados, o seus acervos e estender a amplitude dos
desenvolvimento de ontologias, seus serviços. Para isso ela tem que
anotações especializadas e análises que vencer o desafio de dar sentido e
vão demandar dispositivos de contexto às fontes de informação que
mapeamento e representação de estão disponíveis de forma fragmentada
conhecimento que devem ser na web, ao mesmo tempo em que as
incorporados às interfaces das novas integra aos fluxos locais na forma de

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serviços unificados e, idealmente, ePesquisa - isto é, nas fases de pré-


personalizados. Isso pode significar publicação – e otimizar os dispositivos
deslocar o foco de atenção do sociológicos e tecnológicos de
desenvolvimento de coleções próprias comunicação necessários para comunicar
para a construção de representações de os resultados parciais que vão se
domínios capazes de mapear as fontes de revelando. Fica claro que o sucesso
informações abertas organizando-as e nessas ações exige um engajamento mais
reconfigurando-as segundo os diversos dinâmico e proativo do que o atual
interesses e disciplinas locais, e, a partir modelo de sistemas de biblioteca que é
daí, estabelecer bases confiáveis para o voltado para a disseminação de recursos
desenvolvimento de dispositivos formais e acabados.
avançados que explorem a descoberta de Proximamente à essa questão está
recursos distribuídos. o avanço na integração das redes sociais
aos fluxos de comunicação, neste ponto a
A Comunicação Científica Tem Outros biblioteca tem um papel potencialmente
Caminhos importante. Ainda segundo Luce (2008),
A publicação acadêmica os sistemas sociais no ambiente da
tradicional geralmente comunica os ePesquisa têm três dimensões: 1)
resultados finais da pesquisa, deixando de interação conversacional, que apoia a
lado, por exemplo, o que não deu certo. comunicação síncrona e assíncrona entre
Cada vez mais é colocado valor menos na indivíduos e grupos; 2) rede social
publicação que reporta os resultados colaborativa, que permite pesquisadores
finais de um projeto de pesquisa e mais descobrirem colegas e estabelecerem uma
nas fases de modelagem e de geração e interação colaborativa em torno de
preparação dos dados, que ocorrem mais projetos de interesse comum; 3) sistema
cedo no ciclo de vida da pesquisa; a social de feedback, que usa dados
ciência dos dados exige uma ênfase no comportamentais, tais como análise
relato do percurso de erros e acertos do estatística de registros, para criar
desenvolvimento da pesquisa. relacionamentos e métricas de avaliação.
Este deslocamento para um Com profunda compreensão sobre
modelo mais dinâmico e colaborativo de como organizar, armazenar e entregar
fazer ciência tem conduzido os informação, sobre as ferramentas e
pesquisadores para meios menos formais funcionalidades que adicionam valor aos
de comunicação científica. Em algumas conteúdos digitais, sobre os hábitos em
áreas de ciência este fenômeno cria mutação dos usuários, os bibliotecários
mecanismos com contornos pouco têm um papel fundamental em seguir
definidos que é parte publicação e parte dando suporte aos novos modelos de
processo contínuo de comunicação comunicação científica. Aliadas a essa
(LUCE, 2008). compreensão, as bibliotecas de pesquisa,
Dar apoio a estas mudanças exige apoiadas em infraestruturas tecnológicas
da biblioteca estratégias que enfatizem e estáveis e robustas, estão em posição de
deem sustentação aos processos fluidos oferecer plataformas e muito das
de comunicação em detrimento das ações expertises necessárias para a criação de
convencionais de simplesmente arquivar novas formas de ensino e para a
os resultados finais registrados em disseminação de resultados de pesquisa
publicações formais. Nessa direção, os para uma ampla audiência
bibliotecários científicos devem se (WITTENBERG, 2008).
envolver nos estágios iniciais da
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Preservação do Conhecimento diversos tipos de forma fragmentária, a


Transiente biblioteca precisa refletir os ambientes de
No reposicionamento da pesquisa interdisciplinares e criar as
biblioteca para apoiar a ePesquisa, agregações semânticas entre os recursos.
preservar o conhecimento científico é um Esta realidade introduz uma grande e
dos fundamentos mais importantes dentre significativa complexidade para a
tantos outros que devem ser captura, curadoria e preservação de
considerados. Entretanto, este objetos digitais informacionais (LUCE,
fundamento é o que sofre as mudanças 2008).
mais contundentes dentre todos os papéis Os Usuários Chegam à Biblioteca Pelo
que a biblioteca de pesquisa tem que Google e Pelos Ambientes Virtuais
desempenhar nos novos ambientes de
pesquisa (LUCE, 2008). Isto porque as A Web permite aos pesquisadores
tecnologias digitais e as redes de e estudantes mais autonomia como
computadores deram margem ao criadores e consumidores de informação
surgimento de uma concepção transiente e dessa forma redefinem os espaços de
de produção e uso de conhecimento. atuação da biblioteca como ponto de
Antes as bibliotecas tinham que preservar referência informacional. Poucos
o conhecimento registrado em meios com usuários pesquisadores precisam de
contornos bem definidos como livros e contato direto com a biblioteca, interessa
periódicos, que tinham lugar em sistemas pouco a essas pessoas o acesso a
formalizados, como os sistemas de gestão originais – quando eles existem -, pois os
de biblioteca. Hoje o conhecimento é representantes digitais são suficientes
fluido e fragmentado, e mesmo para a maioria dos seus empreendimentos
imperfeito, porém, porta tanto valor e os recursos multimídias que precisam já
quanto o conhecimento que é estático e nasceram digitais e estão disponíveis on-
intacto. Dados de pesquisa, por exemplo, line por meio de outros dispositivos.
podem ser reformatados, mixados, Os usuários remotos chegam à
agregados para propósitos de formulação biblioteca pelo Google ou pelas redes
de novas hipóteses e de descobertas e sociais; porém, os pesquisadores desejam
certamente não podem ser hospedados que a biblioteca de pesquisa chegue a
em sistemas mais convencionais. eles como um recurso distribuído
O problema de gerenciar e integrado aos seus sistemas de pesquisa,
preservar conhecimento produzido nesses o que indica que “a biblioteca do século
reinados de proliferação digital em 21 será mais uma abstração do que uma
constante mudança é enorme, e é um dos presença tradicional. A biblioteca não
desafios que os bibliotecários precisam precisa ser necessariamente um espaço
resolver. (GOLD, 2007b, p.8). Preservar físico, não precisa ser uma coleção. Ela
a memória científica das instituições de pode tomar a forma de um projeto
pesquisa neste século se torna cada vez distribuído”. (PART I, 2008, p.7).
uma tarefa sofisticada, na medida em que Assim sendo, os bibliotecários
envolve o arquivamento de dados precisam compreender como os
heterogêneos, constituídos de objetos pesquisadores criam, descobrem e
digitais complexos, como ambientes avaliam informação; precisam
virtuais, que variam no tempo e que se compreender também os ambientes
conectam com vários outros objetos de multidisciplinares, reais e virtuais nos
diferentes disciplinas. Ao invés de quais os pesquisadores realizam seu
simplesmente armazenar objetos de trabalho acadêmico. Essas condições se
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tornam imprescindíveis para o Além do mais, as bibliotecas


planejamento da comunicação científica e estão mais representadas por suas
das estratégias de ePublicações para o interfaces web do que por sua presença
futuro. Entretanto, como argumenta em tijolo, cimento e móveis. As
Wittenbeg (2008), pelo fato dos interfaces e sua capacidade de interação e
bibliotecários poderem pensar como os adaptação é que falam pelas bibliotecas
usuários e poderem compreender o seu de pesquisa que, por sua vez, precisam
comportamento em transição constante, modelar com precisão os seus usuários e
dado as suas experiências em responder criar representações de conhecimento dos
às necessidades de pesquisadores e seus domínios que permeiem seus
estudantes, eles estão numa posição mais serviços. O mundo dos negócios,
vantajosa de entrarem em sintonia com os especialmente o comércio eletrônico e o
novos modelos de entrega de informação. setor bancário, lograram em obter
Por outro lado, a expansão do resultados criando metáforas de
interesse da pesquisa científica por personalização em seus portais que criam
segmentos sociais não acadêmicos - ilusão de um tratamento único para cada
como, por exemplo, governo, imprensa, usuário e que eles estão no comando.
professores secundários – cria uma nova Os dispositivos – síncronos e
demanda para as bibliotecas de pesquisa assíncronos - presentes nas interfaces
que é desenvolver serviços digitais que se devem permitir a definição de filtros que
voltem para esses segmentos mais delimitem interesses, sugiram fontes de
difusos. Isto requer das bibliotecas se informação e ofereçam dispositivos de
tornem mais responsiva, mais atenta às linking – que podem ter valor semântico -
diferenças de demanda dos usuários, ao para que o próprio pesquisador
invés de lidar com a ideia previsível dos componha as agregações entre
desejos de um usuário padronizado. publicações, projetos, dados,
laboratórios, entre outros, que interessam
Personalização: Uma Biblioteca Para a ele e a sua equipe, e criem e
Cada Usuário mantenham suas redes de relacionamento
As bibliotecas, no seu papel de que estejam integradas às redes sociais e
uma instituição de patrimônio, sempre aos novos fluxos definidos pelas
foram ambientes submetidos a elevados mudanças na comunicação científica.
graus de controle, assistido por um A Biblioteca Como Parceira Nos
número de sistemas concebidos por Processos de Inovação
profissionais para manter a ordem na qual
a biblioteca e seus conteúdos são O relatório DEFF (2009, p.15)
disponibilizados e usados (...). Porém, o aponta que “existe uma tendência no
que se observa é que as novas gerações desenvolvimento dos sistemas de
de usuários desejam interagir com a pesquisa que parece ser dominante, que é
biblioteca segundo estilos próprios e no a convergência da pesquisa e dos
seu próprio tempo; poucos deles querem sistemas de inovação”. Nessa direção,
lidar com sistemas que requerem principalmente nas economias mais
“treinamento do usuário”, que usam avançadas, a pesquisa científica se torna
códigos específicos e distantes dos uma parte essencial nos processos de
sistemas – normalmente web – utilizados inovação. Contudo, essa convergência vai
por eles profissionalmente e para além da geração de novos conhecimentos
entretenimento (HUNTER; BROWN, básicos e da pesquisa aplicada: a pesquisa
2010). se torna uma parceira ativa no ciclo
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continuo de inovação demandado pela A componente de inovação e


sociedade. “Os resultados das atividades experimentação da biblioteca de pesquisa
de pesquisa não são somente novos tem dois olhares investigativos. Em
conhecimentos, mas novos processos, primeiro lugar a biblioteca tem que ser
produtos, conceitos de negócios, um laboratório voltado para a
instituições sociais” (DEFF, 2009, p.15). compreensão de como a nova geração de
Tomando uma perspectiva mais pesquisadores, professores e alunos pós-
abrangente, o sistema de conhecimento graduação fazem o seu trabalho de
inclui, além da pesquisa científica, outras pesquisa, ensino e aprendizagem de
formas de conhecimento que pesquisa. Isso parece essencial para a
desempenham papéis importantes nas biblioteca manter a interlocução e
configurações econômicas e sociais organicidade com os seus usuários.
atuais. O segundo olhar diz respeito à
Uma razão importante para o biblioteca de pesquisa como coautor na
investimento em pesquisa é o seu geração de conhecimento científico, se
potencial de contribuir para a inovação, reconfigurando mais como um
portanto ela é vista como um motor colaboratório - voltado para a inovação e
essencial no avanço da economia do experimentação - e menos como um
conhecimento; além do mais, muitas armazém, focando mais em processos do
equipes e grupos de pesquisa que em produtos informacionais, sem,
pertencentes à universidade e centros de entretanto, perder os seus vínculos mais
pesquisa estão comprometidos com essenciais. Esta nova configuração exige
processos de inovação em suas próprias uma realocação de recursos, uma visão
instituições, muitas vezes em colaboração distribuída da biblioteca, dos seus
com setores do governo e da iniciativa recursos e de suas expertises. Apesar de
privada. Estes fatos reforçam a ideia de gerar uma possível tensão com os
que a convergência entre os sistemas de componentes mais tradicionais e mais
pesquisa e de inovação fazem parte da avessos ao risco, a atividade da biblioteca
matriz de elementos que movem a de pesquisa como geradora de
ciência. conhecimento científico caminha em
A inovação é altamente diversas áreas das ciências exatas. Por
dependente de troca e de exemplo, na área das ciências nucleares,
compartilhamento de informações; não a questão da gestão do conhecimento
obstante a diversidade dos fluxos nuclear, com diversas vertentes de estudo
científicos e de inovação, uma parte e pesquisa, se tornou uma área crítica
dessa demanda pode ser respondida na assumida pelas bibliotecas em
forma de acesso aos serviços da cooperação com as áreas afins em âmbito
biblioteca de pesquisa. Portanto, dar internacional.
apoio aos processos de inovação é um Nessa direção, poderá atuar como
novo e importante desafio para os laboratório e como fomentador de
sistemas de informação e de pesquisas nas áreas de seu interesse em
conhecimento e, especialmente, uma convênio, por exemplo, com os cursos de
função ou tarefa que pode ser assumida pós-graduação em Biblioteconomia,
pelas bibliotecas de pesquisa (DEFF, Arquivologia, Ciência da Informação e
2009). Tecnologia da Informação.
Pessoal: A Necessidade de
A Biblioteca Como Laboratório: A
Necessidade de Experimentação e Compreensão do Domínio da Pesquisa
Inovação
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A biblioteca de pesquisa tem sido O problema de coletar, organizar,


estruturada e formado equipes em torno indexar, arquivar e disseminar grandes
de disciplinas específicas, como por coleções de dados – embora não seja um
exemplo, ciências médicas ou economia. problema novo – é amplificado de forma
Em contraste, o que caracteriza a extraordinária nos limites da eScience.
ePesquisa é o seu enfoque Curadores de dados provenientes das
interdisciplinar, ou seja, a sua capacidade bibliotecas especializadas, dos arquivos e
de criar conexões produtivas entre áreas das áreas de tecnologia da informação
de conhecimento. Essa interlocução são capazes de gerir, inserir nos sistemas
requer frequentemente equipes formadas e preservar coleções de dados de
dinâmica e remotamente. pesquisa, entretanto são os especialistas
Estas constatações implicam na em assunto que serão capazes de fazer as
necessidade da biblioteca formar equipes análises necessárias à reinterpretação e
também multidisciplinares, que não reuso dessas coleções. Isso significa que
precisam estar exatamente na biblioteca, é necessário compor equipes de curadoria
mas, talvez, distribuída em seus que conjuguem dinamicamente expertises
laboratórios ou escritórios. A agilidade de natureza distinta (SAYÃO; SALES,
exigida para mobilizar suporte neste 2013). “O compartilhamento de expertise
ambiente vai exigir que a biblioteca desempenha um papel central nas
trabalhe sem problemas de limites operações em curso e no
institucionais e que seja capaz de desenvolvimento de solução em
ultrapassá-los em busca da expertise curadoria de dados” (MAYERNIK et. al.,
adequada. Isso exige estruturas de 2012, p.12).
equipes mais fluidas e também um Nessa direção, novas profissões
modelo estrutural mais flexível que o vão se delineando para fazer a gestão e a
atual baseado em departamentos ou curadoria das coleções de dados, como a
laboratórios. de cientista de dados, que pode ser
O fato é que as bibliotecas de desempenhada por informáticos,
pesquisa e os centros de informações pesquisadores e bibliotecários.
sempre demandaram pessoas com Entretanto, não importando o rótulo, os
habilidades em áreas não bibliotecários parecem mais próximos
tradicionalmente pertencentes à das exigências que se impõem, pois a
biblioteconomia. Em alguns casos amplitude do problema supera as
expertises em domínios científicos questões de domínio. Por exemplo, as
específicos se tornam imprescindíveis coleções de dados tendem a ser
para as funções vinculadas à distribuídas, exigindo grande capacidade
representação do conhecimento e para o de articulação entre instituições. Lidar
trabalho junto às equipes de com recursos dispersos sempre foi uma
pesquisadores, tanto nas fases pré- habilidade própria dos bibliotecários de
publicação quanto nas fases pós- pesquisa.
publicação. Ana Gold (2007b, p.4) Como não há capacitação formal
argumenta, em relação aos dados de nessa área, os profissionais de gestão de
pesquisa, que “faz mais sentido treinar dados terão que construir seus
especialistas em gestão e curadoria de conhecimentos, ao longo do tempo, no
dados do que tentar treinar bibliotecários trabalho cotidiano de curadoria e de
não cientistas para compreender a articulação com as áreas finalísticas.
infraestrutura e serviços necessários a Além do mais, a biblioteca de pesquisa
uma área de conhecimento”. precisará estabelecer meios para

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Há Futuro para as Bibliotecas de Pesquisa no Ambiente de eScience?

acumulação, sistematização e mudanças fundamentais de como os


disseminação desses novos acadêmicos trabalham e evoluir no
conhecimentos – incluindo materiais mesmo passo das novas estratégias
didáticos destinados aos pesquisadores; intelectuais de pesquisa e dos ambientes
precisará também de uma articulação em que elas se realizam além do mais,
direta com as organizações que têm nas vai precisar refletir as mudanças sociais
suas agendas de pesquisa a preocupação que tornam a ciência mais presente no
com a curadoria e gestão de objetos cotidiano do cidadão comum. O futuro
digitais. das bibliotecas de pesquisa não pode ser
considerado apartado do futuro da
À Guisa de Conclusão pesquisa científica, como não pode estar
Todas as questões discutidas no apartado do ambiente social, político e do
presente estudo levam à conclusão de que mundo dos negócios. Fica claro que a
a biblioteca de pesquisa precisa superar resposta a essas mudanças disruptivas
um dilema crucial: ela tem que se desencadeadas principalmente pela
desenvolver como um agregador de revolução das tecnologias digitais exigem
serviços novos e complexos para lidar pensamentos e soluções inovadoras e
com as estratégias intelectuais da igualmente disruptivas (LUCE, 2008).
eScience, das comunidades de Por fim, em oposição a tantas
pesquisadores e da sociedade em geral, e opiniões contrárias, a biblioteca tem
isso pode significar trilhar caminhos demonstrado capacidade de resposta – no
completamente novos nunca associados à seu passo cuidadoso - às mudanças, e
longa tradição das bibliotecas. O outro vem evoluindo em sintonia com as
caminho que se apresenta é a biblioteca incessantes transformações tecnológicas,
se manter nos limites da sua área de cientificas e comportamentais a que
competência e ceder parte importante de esteve historicamente submetida. A
seu papel na pesquisa contemporânea aos mudança que se configura neste
novos sistemas que vão surgindo, ao momento pode ser a mais contundente de
passo que tenta integrá-los de uma todas para os bibliotecários científicos,
maneira harmônica às suas próprias pois pode significar o fim de alguns
estruturas e fluxos. ciclos seculares, não obstante abre
Não importa o caminho, as novas oportunidades extraordinárias de
tarefas são imensas para uma única renovação que coloca a biblioteca num
instituição e elas terão que ser patamar mais elevado no mundo das
compartilhadas e exigirão uma divisão de ciências. Isto fica mais claro quando
trabalho mais explicita, novas formas de pensamos nas transições trazidas pela
colaboração e uma interlocução mais eScience, onde a biblioteca física pode
produtiva com todos os stakeholds. Fora perder importância no fornecimento de
dessas possibilidades as bibliotecas de serviços de informação, mas a sua
pesquisa possivelmente perderão atuação integrada aos ambientes virtuais
importância e sustentabilidade no cenário de pesquisa será muito mais intensa e
de grandes novidades da pesquisa no presente pois estará onde o pesquisador
mundo da eScience. realiza o seu trabalho, em contrapartida
A biblioteca de pesquisa do vai exigir uma Biblioteconomia avançada
século 21 vai ter que espelhar as e muito melhor praticada.

Is There a Future for Research Libraries in the eScience


Environment?
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Há Futuro para as Bibliotecas de Pesquisa no Ambiente de eScience?

Abstract
Facing the deep changes that scientific research has undergone in recent decades, a discussion
is needed within the library science and research community: how libraries can realign to cope
with these global changes, especially the ones arising from new scientific paradigm grounded
on the generation, intensive use and sharing of data. In this sense, this article aims to discuss
possible responses to what can be expected from the future of research libraries in the eScience
environment. To this end, the study was divided into two parts. At first, using as methodology
the literature of the field, discusses the main forces that affect research libraries triggered by
the advance of digital technologies such as the emergence of new ways of doing science,
changes in the standards of academic publishing and scientific communication the availability
of free and quality information on the web and the emergence of new competitors to the library
in providing information for research. In the second part, the paper analyzes the elements that
should be thought of in proposing a new research library model inserted in the new research
virtual environments. Concludes that, despite the changes that are configured at this time for
librarians meaning the end of some secular cycles, it also opens up numerous opportunities for
the renewal of research libraries placing them at a higher level in the world of contemporary
science.
Keywords: Research Library. eScience. Research Data.

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