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Manual de Ética e Deontologia

Profissional

Manual do Curso de Licenciatura de Gestão de


Recursos Humanos

ENSINO ONLINE. ENSINO COM FUTURO


Direitos de autor (copyright)

Este manual é propriedade do Instituto Superior de Ciências e Educação a Distância (ISCED), e


contêm reservados todos os direitos. É proibida a duplicação ou reprodução parcial ou total
deste manual, sob quaisquer formas ou por quaisquer meios (eletrónicos, mecânico,
gravação, fotocópia ou outros), sem permissão expressa de entidade editora (Instituto
Superior de Ciências e Educação a Distância (ISCED).
A não observância do acima estipulado, o infractor é passível a aplicação de processos judiciais
em vigor no País.

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Cel: +258 82 3055839
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E-mail: isced@isced.ac.mz
Website: www.isced.ac.mz
ii
Agradecimentos

O Instituto Superior de Ciências e Educação a Distância (ISCED) agradece a colaboração dos


seguintes indivíduos e instituições na elaboração deste manual:

Autor Abiba Mamade


Coordenação Direcção Académica do ISCED

Design Instituto Superior de Ciências e Educação a Distância (ISCED)

Financiamento e Instituto Africano de Promoção da Educação a Distancia (IAPED)


Logística

Revisão Científica e
Carmen Jacqueline Rassul Salato Coimbra
Linguística

Ano de Publicação 2017


Local de Publicação ISCED – BEIRA

iii
ÍNDICE

VISÃO GERAL 1

Benvindo à Disciplina/Módulo de Ética e Deontologia Profissional................................. 1


Objectivos do Módulo....................................................................................................... 1
Quem deveria estudar este módulo ................................................................................. 2
Como está estruturado este módulo ................................................................................ 2
Ícones de actividade ......................................................................................................... 4
Habilidades de estudo ...................................................................................................... 4
Precisa de apoio? .............................................................................................................. 6
Tarefas (avaliação e auto - avaliação) ............................................................................... 6
Avaliação ........................................................................................................................... 7
OBJECTIVOS DA DISCIPLINA .............................................................................................. 9
TEMA I. Ética e Moral ...................................................................................................... 9
UNIDADE Temática 1.1. Definição de Conceitos ............................................................ 9
UNIDADE Temática 1.3. Diferença entre Ética e Moral .................................................. 10
UNIDADE Temática 1.1. Carácter Normativo da Ética .................................................... 12
SUMÁRIO ........................................................................................................................ 14
EXERCÍCIOS DE AUTO-AVALIAÇÃO .................................................................................. 14
EXERCÍCIOS DE AVALIAÇÃO ............................................................................................ 16
CORRECÇÃO DOS EXERCÍCIOS DE AUTO-AVALIAÇÃO UNIDADE I .................................. 17
TEMA II. Breve historial da ética .................................................................................... 18
UNIDADE Temática 2.1.1. Ética Grega ............................................................................ 18
UNIDADE Temática 2.1.2. Ética Cristã Medieval ............................................................. 18
UNIDADE Temática 2.1.1. Ética Grega ............................................................................ 18
UNIDADE Temática 2.1.3.Ética Moderna ........................................................................ 18
UNIDADE Temática 2.1.4. Ética Contemporânea ............................................................ 18
UNIDADE Temática 2.1.5 Ética Como Ciência ................................................................. 18
UNIDADE Temática 2.1. Introdução ................................................................................ 18
Introdução ....................................................................................................................... 18
UNIDADE Temática 2.1. Breve historial da ética ............................................................. 18
UNIDADE Temática 2.1.1. Ética Grega ............................................................................ 20
UNIDADE Temática 2.1.2. Ética Cristã e Medieval .......................................................... 22
UNIDADE Temática 2.1.3.Ética Moderna ........................................................................ 24
UNIDADE Temática 2.1.4. Ética Contemporânea ............................................................ 28
UNIDADE Temática 2.1.5 Ética Como Ciência ................................................................. 32
SUMÁRIO ........................................................................................................................ 34
EXERCÍCIOS DE AUTO-AVALIAÇÃO .................................................................................. 35
EXERCÍCIOS DE AVALIAÇÃO ............................................................................................ 37
CORRECÇÃO DOS EXERCÍCIOS DE AUTO -AVALIAÇÃO .................................................... 37
TEMA III – ÉTICA E DIREITOS HUMANOS ...................................................................... 38
UNIDADE Temática 3.1. A Vida Humana Como Valor Ético ............................................ 38

iv
UNIDADE Temática 3.2. Os Direitos Humanos: Defesa da Pessoa e da Vida .................. 38
UNIDADE Temática 3.3.1.Carácter Sagrado e Absoluto da Pessoa ................................ 38
UNIDADE Temática 3.3.2. A Pessoa na sua Relação com os Outros ............................... 38
UNIDADE Temática 3.4. A Liberdade Como Fundamento do Agir Moral ....................... 38
UNIDADE Temática 3. Introdução................................................................................... 38
Introdução ....................................................................................................................... 38
UNIDADE Temática 3.1. A Vida Humana Como Valor Ético ............................................ 38
UNIDADE Temática 3.2. Os Direitos Humanos: Defesa da Pessoa e da Vida .................. 40
UNIDADE Temática 3.3.1.Carácter Sagrado e Absoluto da Pessoa ................................ 46
UNIDADE Temática 3.3.2. A Pessoa na sua Relação com os Outros ............................... 46
UNIDADE TEMÁTICA 3.4. A Liberdade Como Fundamento do Agir Moral ..................... 53
SUMÁRIO ........................................................................................................................ 55
EXERCÍCIOS DE AUTO-AVALIAÇÃO .................................................................................. 55
EXERCÍCIOS DE AVALIAÇÃO ............................................................................................ 57
CORRECÇÃO - EXERCÍCIOS DE AUTO – AVALIAÇÃO ........................................................ 58
TEMA IV. Principios Ético ............................................................................................... 58
UNIDADE Temática 4.2. Beneficiência ............................................................................ 60
UNIDADE Temática 4.2. Não – Maleficência ................................................................... 65
UNIDADE Temática 4.3. Autonomia ................................................................................ 67
UNIDADE Temática 4.4. Justiça ....................................................................................... 71
SUMÁRIO ........................................................................................................................ 73
EXERCÍCIOS DE AUTO-AVALIAÇÃO .................................................................................. 73
EXERCÍCIOS DE AVALIAÇÃO ............................................................................................ 75
CORRECÇÃO - EXERCÍCIOS DE AUTO – AVALIAÇÃO ........................................................ 75
UNIDADE Temática 5. Introdução................................................................................... 76
Introdução ....................................................................................................................... 76
TEMA V: DEONTOLOGIA PROFISSIONAL ....................................................................... 79
UNIDADE Temática 5.2.Origem Do Conceito Deontologia ............................................. 81
UNIDADE Temática 5.2.1. A Deontologia e a sua Relação com a Profissão ................... 81
UNIDADE Temática 5.3. Importância da ética Profissional ............................................. 82
UNIDADE Temática 5.4. A Formalização Ética ................................................................ 83
UNIDADE Temática 5.4.1. Infraestruturas Éticas ............................................................ 84
UNIDADE Temática 5.4.1.1. O Código ............................................................................. 84
UNIDADE Temática 5.4.2. Tipos de Códigos de Ética ...................................................... 85
UNIDADE Temática 5.5. O que Os Códigos Têm em Comum ......................................... 86
UNIDADE Temática 5.6.1. Confidencialidade e Privacidade ........................................... 91
SUMÁRIO ........................................................................................................................ 98
EXERCÍCIOS DE AUTO-AVALIAÇÃO .................................................................................. 99
EXERCÍCIOS DE AVALIAÇÃO .......................................................................................... 100
CORRECÇÃO DOS EXERCÍCIOS DE AUTO-AVALIAÇÃO................................................... 100
TEMA VI. ÉTICA NAS ORGANIZAÇÕES .......................................................................... 101
UNIDADE Temática 6.1. Dimensões do Clima Ético ...................................................... 102
UNIDADE Temática 6.2. Os Indicadores Do Clima Ético ............................................... 103
UNIDADE Temática 5.2. Dilemas Éticos ........................................................................ 110
SUMÁRIO ...................................................................................................................... 111

v
EXERCÍCIOS DE AUTO-AVALIAÇÃO ................................................................................ 112
EXERCÍCIOS DE AVALIAÇÃO .......................................................................................... 113
CORRECÇÃO EXERCÍCIOS DE AUTO-AVALIAÇÃO .......................................................... 114
TEMA VII. ÉTICA NA PESQUISA COM SERES HUMANOS ........................................... 115
UNIDADE Temática 7.1. O Consentimento Livre e Informado ...................................... 115
UNIDADE Temática 7.2. O Termo de Consentimento Livre e Esclarecido .................... 120
UNIDADE Temática 7.3. A Pesquisa .............................................................................. 124
UNIDADE Temática 7.4. Cuidados a ter com Crianças e Adolescentes......................... 125
UNIDADE Temática 7.5. Cuidados a ter com Dados Dos Respondentes ...................... 126
Unidades Temática 7.6. Pesquisa Com Seres Humanos ............................................... 126
UNIDADE Temática 7.7.Princípios Técnicos e Éticos ..................................................... 130
UNIDADE 7.8. Os Comités de Ética em Pesquisa .......................................................... 131
UNIDADE 7.8.2. Abrangência Dos Comités de Pesquisa ............................................... 132
Unidade Temática 7.8.3. Avaliação da Metodologia Científica .................................... 133
SUMÁRIO ...................................................................................................................... 135
EXERCÍCIOS DE AUTO-AVALIAÇÃO ................................................................................ 136
EXERCÍCIOS DE AVALIAÇÃO .......................................................................................... 137
CORRECÇÃO - EXERCÍCIOS DE AUTO-AVALIAÇÃO ........................................................ 137
BIBLIOGRAFIA ................................................................................................................ 138

vi
VISÃO GERAL

Benvindo à Disciplina/Módulo de Ética e Deontologia Profissional

Objectivos do Módulo

Ao terminar o estudo deste módulo de Ética e Deontologia


Profissional deverá ser capaz de:

• Explicar o carácter normativo da ética;


• Reflectir sobre os principais problemas éticos;
• Problematizar as várias teorias éticas;
Objectivos Definir com os conceitos: sujeito ético e
Específicos clareza
consciência moral;
• Caracterizar a pessoa como categoria ética;
• Conhecer a importância da ética no relacionamento do
homem com os seus semelhantes;
• Distinguir a pessoa com o sujeito ético;
• Relacionar a pessoa como categoria ética e os princípios
éticos;
• Apresentar o papel do profissional na sua actuação;
• Conhecer as principais virtudes profissionais e aplicar em
contextos concretos;
• Alistar os princípios éticos na actuação professional;
• Apresentar o papel do pesquisador na sua actuação, no que
se refere à confidencialidade e privacidade; Alistar os
princípios éticos na actuação do pesquisador;
• Identificar as responsabilidades dos Comités de Ética em
Pesquisa;
• Explicar o processo de avaliação de protocolos de pesquisa
pelo Comité de Ética em Pesquisa;
• Identificar os pontos à analisar na avaliação de riscos e
benefícios nas pesquisas.

1
Quem deveria estudar este módulo

Este Módulo foi concebido para estudantes do 4º ano do curso de


licenciatura em Administração Pública do ISCED e outros. Poderá
ocorrer, contudo, que haja leitores que queiram actualizar e
consolidar seus conhecimentos nessa disciplina, esses serão
bemvindos, não sendo necessário para tal se inscrever. Mas poderá
adquirir o manual.

Como está estruturado este módulo

Este módulo de Ética e Deontologia Profissional, para estudantes


do 4º ano do curso de licenciatura em Administração Pública do
ISCED, está estruturado como se segue:
Páginas introdutórias

 Um índice completo.
 Uma visão geral e detalhada dos conteúdos do módulo,
resumindo os aspectos-chave que você precisa conhecer para
melhor estudar. Recomendamos vivamente que leia esta secção
com atenção antes de começar o seu estudo, como componente
de habilidades de estudos. Conteúdo desta Disciplina / módulo

Este módulo está estruturado em Temas. Cada tema, por sua vez
comporta certo número de unidades temáticas ou simplesmente
unidades. Cada unidade temática se caracteriza por conter uma
introdução, objectivos, conteúdos.
No final de cada unidade temática ou do próprio tema, são
incorporados antes o sumário, exercícios de auto-avaliação, só
depois é que aparecem os exercícios de avaliação.
Os exercícios de avaliação têm as seguintes características: puros
exercícios teóricos/Práticos, Problemas não resolvidos e actividades
práticas, incluído estudo de caso.

Outros recursos

A equipa dos académicos a e pedagógicos do ISCED, pensando em si,


num cantinho, recóndito deste nosso vasto Moçambique e cheio de
dúvidas e limitações no seu processo de aprendizagem, apresenta
uma lista de recursos didácticos adicionais ao seu módulo para você
explorar. Para tal o ISCED disponibiliza na biblioteca do seu Centro
de Recursos mais material de estudos relacionado com o seu curso,
tais como: Livros e/ou módulos, CD, CD-ROOM, DVD. Para além
deste material físico ou electrónico disponível na biblioteca, pode ter
acesso a Plataforma digital Moodle para alargar mais ainda as
possibilidades dos seus estudos.

2
AUTO-AVALIAÇÃO E TAREFAS DE AVALIAÇÃO

Tarefas de auto-avaliação para este módulo encontram-se no final


de cada unidade temática e de cada tema. As tarefas dos exercícios
de auto-avaliação, apresntam duas características: primeiro
apresentam exercícios resolvidos com detalhes. Segundo,
exercícios que mostram apenas respostas.
Tarefas de avaliação são essencialmente semelhantes às de
autoavaliação, mas sem mostrar os passos e obedecem a um grau
crescente de dificuldades do processo de aprendizagem, umas a
seguir a outras. Parte das terefas de avaliação será objecto dos
trabalhos de campo a serem entregue aos tutores/docentes para
efeitos de correcção e subsequentemente nota. Também constará
do exame do fim do módulo. Pelo que, se o caro estudante fizer
todos os exercícios de avaliação será uma grande vantagem.

Comentários e sugestões

Use este espaço é dedicado para dar sugestões valiosas, sobre


determinados aspectos, quer de natureza científica, quer de
natureza diadáctico-Pedagógica, etc, sobre como deveriam ser ou
estar apresentadas. Pode ser que, graças as suas observações que
em gozo de confiança classificamo-las de úteis, a próxima edição do
módulo, venha a ser melhorado.

Ícones de actividade

Ao longo deste manual irá encontrar uma série de ícones nas


margens das folhas. Estes ícones servem para identificar diferentes
partes do processo de aprendizagem. Podem indicar uma parcela
específica de texto, uma nova actividade ou tarefa, uma mudança
de actividade, etc.

Habilidades de estudo

O principal objectivo deste campo é o de ensinar aprender a


aprender. Aprender aprende-se.

Durante a formação e desenvolvimento de competências, para


facilitar a aprendizagem e alcançar melhores resultados, implicará
empenho, dedicação e disciplina no estudo. Isto é, os bons
resultados apenas se conseguem com estratégias eficientes e
eficazes. Por isso é importante saber como, onde e quando estudar.

3
Apresentamos algumas sugestões com as quais esperamos que caro
estudante possa rentabilizar o
tempo dedicado aos estudos, procedendo como se segue:

1º Praticar a leitura. Aprender a Distância exige alto domínio de


leitura.

2º Fazer leitura diagonal aos conteúdos (leitura corrida).

3º Voltar a fazer leitura, desta vez para a compreensão e assimilação


crítica dos conteúdos (ESTUDAR).

4º Fazer seminário (debate em grupos), para comprovar se a sua


aprendizagem confere ou não com a dos colegas e com o padrão.

5º Fazer TC (Trabalho de Campo) e algumas actividades práticas ou


as de estudo de caso se exista.

IMPORTANTE: Em observância ao triângulo modo-espaço-tempo,


respectivamente como, onde e quando estudar, como foi referido
no início deste item, antes de organizar os seus momentos de
estudo reflicta sobre o ambiente de estudo que seria ideal para si:
Estudo melhor em casa/biblioteca/café/outro lugar? Estudo melhor
à noite/de manhã/de tarde/fins-de-semana/ao longo da semana?
Estudo melhor com música/num sítio sossegado/num sítio
barulhento!? Preciso de intervalo em cada 30 minutos, em cada
hora, etc.

É impossível estudar numa noite tudo o que devia ter sido estudado
durante um determinado período de tempo; Deve estudar cada
ponto da matéria em profundidade e passar só ao seguinte quando
achar que já domina bem o anterior.

Privilegia-se saber bem (com profundidade) o pouco que puder ler e


estudar, que saber tudo superficialmente! Mas a melhor opção é
juntar o útil ao agradável: Saber com profundidade todos conteúdos
de cada tema, no módulo.

Dica importante: não recomendamos estudar seguidamente por


tempo superior a uma hora. Estudar por tempo de uma hora
intercalado por 10 (dez) a 15 (quinze) minutos de descanso (chama-
se descanso à mudança de actividades). Ou seja que durante o
intervalo não se continuar a tratar dos mesmos assuntos das
actividades obrigatórias.

Uma longa exposição aos estudos ou ao trabalho intelectual


obrigatório, pode conduzir ao efeito contrário: baixar o rendimento
da aprendizagem. Por que o estudante acumula um elevado volume
de trabalho, em termos de estudos, em pouco tempo, criando
interferência entre os conhecimentos, perde sequência lógica, por

4
fim ao perceber que estuda tanto mas não aprende, cai em
insegurança, depressão e desespero, por se achar injustamente
incapaz!

Não estude na última da hora; quando se trate de fazer alguma


avaliação. Aprenda a ser estudante de facto (aquele que estuda
sistematicamente), não estudar apenas para responder a questões
de alguma avaliação, mas sim estude para a vida, sobre tudo, estude
pensando na sua utilidade como futuro profissional, na área em que
está a se formar.

Organize na sua agenda um horário onde define a que horas e que


matérias deve estudar durante a semana; Face ao tempo livre que
resta, deve decidir como o utilizar produtivamente, decidindo
quanto tempo será dedicado ao estudo e a outras actividades.

É importante identificar as ideias principais de um texto, pois será


uma necessidade para o estudo das diversas matérias que
compõem o curso: A colocação de notas nas margens pode ajudar
a estruturar a matéria de modo que seja mais fácil identificar as
partes que está a estudar e Pode escrever conclusões, exemplos,
vantagens, definições, datas, nomes, pode também utilizar a
margem para colocar comentários seus relacionados com o que
está a ler; a melhor altura para sublinhar é imediatamente a seguir
à compreensão do texto e não depois de uma primeira leitura;
Utilizar o dicionário sempre que surja um conceito cujo significado
não conhece ou não lhe é familiar.

Precisa de apoio?

Caro estudante, temos a certeza que por uma ou por outra razão, o
material de estudos impresso, lhe pode suscitar algumas dúvidas
como falta de clareza, alguns erros de concordância, prováveis erros
ortográficos, falta de clareza, fraca visibilidade, página trocada ou
invertidas, etc). Nestes casos, contacte os serviços de atendimento
e apoio ao estudante do seu Centro de Recursos (CR), via telefone,
sms, e-mail, se tiver tempo, escreva mesmo uma carta participando
a preocupação.
Uma das atribuições dos Gestores dos CR e seus assistentes
(Pedagógico e Administrativo), é a de monitorar e garantir a sua
aprendizagem com qualidade e sucesso. Dai a relevância da
comunicação no Ensino a Distância (EAD), onde o recurso as TIC se
torna incontornável: entre estudantes, estudante – Tutor,
estudante – CR, etc.
As sessões presenciais são um momento em que você caro
estudante, tem a oportunidade de interagir fisicamente com staff do
seu CR, com tutores ou com parte da equipa central do ISCED

5
indigitada para acompanhar as sua sessões presenciais. Neste
período pode apresentar dúvidas,
tratar assuntos de natureza pedagógica e/ou administrativa.
O estudo em grupo, que está estimado para ocupar cerca de 30%
do tempo de estudos a distância, é muita importância, na medida
em que permite situar, em termos do grau de aprendizagem com
relação aos outros colegas. Desta maneira ficará a saber se precisa
de apoio ou precisa de apoiar aos colegas. Desenvolver hábito de
debater assuntos relacionados com os conteúdos programáticos,
constantes nos diferentes temas e unidade temática, no módulo.

Tarefas (avaliação e auto - avaliação)

O estudante deve realizar todas as tarefas (exercícios, actividades e


auto avaliação), contudo nem todas deverão ser entregues, mas é
importante que sejam realizadas. As tarefas devem ser entregues
duas semanas antes das sessões presenciais seguintes.
Para cada tarefa serão estabelecidos prazos de entrega, e o não
cumprimento dos prazos de entrega, implica a não classificação do
estudante. Tenha sempre presente que a nota dos trabalhos de
campo conta e é decisiva para ser admitido ao exame final da
disciplina/módulo.
Os trabalhos devem ser entregues ao Centro de Recursos (CR) e os
mesmos devem ser dirigidos ao tutor/docente.

Podem ser utilizadas diferentes fontes e materiais de pesquisa,


contudo os mesmos devem ser devidamente referenciados,
respeitando os direitos do autor.
O plágio1 é uma violação do direito intelectual do (s) autor (es), é
considerado plágio, uma transcrição à letra de mais de 8 (oito)
palavras do texto de um autor, sem o citar a fonte é considerado
plágio. A honestidade, humildade científica e o respeito pelos
direitos autorais devem caracterizar a realização dos trabalhos e seu
autor (estudante do ISCED).

Avaliação

Muitos perguntam: Com é possível avaliar estudantes à distância,


estando eles fisicamente separados e muito distantes do
docente/tutor!? Nós dissemos: Sim é muito possível, talvez seja uma
avaliação mais fiável e consistente.

1
Plágio - copiar ou assinar parcial ou totalmente uma obra literária, propriedade
intelectual de outras pessoas, sem prévia autorização.

6
Você será avaliado durante os estudos à distância que contam com
um mínimo de 90% do total de tempo que precisa de estudar os
conteúdos do seu módulo. Quando o tempo de contacto presencial
conta com um máximo de 10%) do total de tempo do módulo. A
avaliação do estudante consta detalhada do regulamentado de
avaliação.
Os trabalhos de campo por si realizados, durante estudos e
aprendizagem no campo, pesam 25% e servem para a nota de
frequência para ir aos exames.
Os exames são realizados no final da cadeira disciplina ou modulo e
decorrem durante as sessões presenciais. Os exames pesam no
mínimo 75%, o que adicionado aos 25% da média de frequência,
determinam a nota final com a qual o estudante conclui a cadeira.
A nota de 10 (dez) valores é a nota mínima de conclusão da cadeira.
Nesta cadeira o estudante deverá realizar pelo menos 2 (dois)
trabalhos e 1 (um) (exame).
Algumas actividades práticas, relatórios e reflexões serão utilizados
como ferramentas de avaliação formativa.
Durante a realização das avaliações, os estudantes devem ter em
consideração a apresentação, a coerência textual, o grau de
cientificidade, a forma de conclusão dos assuntos, as
recomendações, a identificação das referências bibliográficas
utilizadas, o respeito pelos direitos do autor, entre outros. Os
objectivos e critérios de avaliação constam do Regulamento de
Avaliação.

7
OBJECTIVOS DA DISCIPLINA

No final do módulo o estudante deverá ser capaz de:

• Definir a ética e moral;

Objectivos Diferenciar a ética da Moral;


Específicos Caracterizar a ética e a moral;

• Classificar a ética enquanto disciplina;


• Nomear as diversas etapas históricas da
ética;
• Nomear as diversas etapas teóricas da ética;
• Explicar o carácter normativo da ética;
• Reflectir sobre os principais problemas
éticos; Problematizar as várias teorias
éticas.

TEMA I: ÉTICA E MORAL

UNIDADE temática 1.1. Definição de Conceitos

UNIDADE Temática 1.2. Diferença entre Ética e Moral

UNIDADE Temática 1.3. Carácter Normativo da Ética

Introdução

Sendo a moral é inseparável dos costumes humanos, os quais


dependem de cada época, da região geográfica ou das circunstâncias.
Neste sentido, a moral é mutável e relativa a determinadas práticas
culturais, isto é, ela não é diferente dentro de toda forma de associação.
Ex: na família, na classe social ou num estado.

Para melhor compreensão dos conteúdos deste módulo, iremos começar


por definir os conceitos chave, concretamente ética, moral é sujeito ético
para melhor assimilação dos conteúdos neles apresentados.

9
No final o estudante deverá ser capaz de:

Definir o conceito de ética e moral;


Objectivos Específicos Conhecer a relação entre a ética e a moral; e,
Conhecer as diferenças entre a ética e a moral.

UNIDADE Temática 1.1. Definição de Conceitos

A palavra ética provém do grego e tem dois significados:

(1) Étimos – que significa hábitos e costumes;

(2) Eros – que significa modo de ser ou


carácter.

A moral e a ética são conceitos diferentes, mas que inserem em si algo


de comum: o sentido eminentemente prático.

Segundo Costa te al. (1998), moral é o conjunto de regras, valores,


proibições, crenças, tabus, impostos quer pela política, costumes
sociais, a religião, quer pelas ideologias de uma sociedade, enquanto a
ética é a reflexão sobre a moral.

A moral nasce com a existência do homem, pois historicamente não se


conhece nenhum povo, que não tivesse normas, regras ou rituais de
conduta.

Kant, (1988), define a ética como uma reflexão teórica sobre a moral e
uma revisão racional e crítica sobre a validade da conduta humana. Por
isso, a ética é uma justificação racional da moral, e remete-nos a ideias
ou valores que procedem a partir da própria deliberação do homem. A
ética é uma análise das regras morais. Também a ética pode ser
entendida como uma filosofia moral, se entendermos a filosofia como
um conjunto de conhecimentos racionalmente estabelecidos.

UNIDADE Temática 1.2. Diferença entre Ética e Moral

Actualmente tem-se discutido muito sobre a ética nos seguintes


âmbitos: ética na saúde, na pesquisa, na educação, na política, entre
outros campos. Perante esta situação levantamos uma questão. Afinal
qual será a diferença entre a ética e a moral?

10
A Ética provém do grego egos, que significava “morada”, “lugar em que
vivemos” e passou a significar “o carácter”, “o modo de ser” que uma
determinada pessoa ou grupo vai adquirindo ao longo da vida. Por
outro lado, “moral” deriva do latim mos, mores que significava
“costumes”, mas passou a significar também, “carácter”, ou “modo de
ser”. Apesar dos termos ética e moral serem etimologicamente
equivalentes, a moral é mesmo diferente da ética.

“Moral é o conjunto de princípios, valores e normas que regulam a


conduta humana em suas relações sociais num determinado momento
histórico. O que pode ser considerado acto moral num determinado
tempo, poderá não ser noutro”. Costa et al (1998:15).

A moral é imposta pela sociedade, por exemplo pelo Código Civil, e


outros códigos de conduta. Enquanto a ética implica na opção individual
do sujeito. Isto é, requer adesão íntima do sujeito a valores, princípios
e normas morais. A pergunta básica da moral, – Ética e Deontologia, é
“o que devemos fazer?”, enquanto a questão relativa a ética é “porque
devemos fazer?”, ou seja, “que argumentos corroboram e sustentam o
que estamos a aceitar como guia de conduta?”

Neste sentido, o comportamento ético exige reflexão crítica diante de


dilemas, na qual devem ser considerados, entre outros, os sentimentos,
a razão, os patrimónios genéticos, a educação e os valores morais.

Para Hermano (1993), a ética procura responder as seguintes questões:

• Que devo escolher?


• Há uma hierarquia de valores?
• Que espécie de homem devo ser?
• Que devo querer? Que devo Fazer?

A ética, embora historicamente recente, vem crescendo muito nestes


últimos anos. As discussões de temas por ela abordados ocorrem em
âmbito mundial. Esta é considerada uma área de conhecimento que faz
estudo sistemático das dimensões morais das ciências e do cuidado da
saúde, com base numa variedade de metodologias éticas num contexto
multidisciplinar. Este tópico será desenvolvido nos capítulos
subsequentes.

O profissional deve ter em atenção a Ética, o ramo da ética encarregue


pelas ciências biológicas. Este ramo da ética, dá especial atenção as
pesquisas científicas avalia sob diferentes pontos de vistas os benefícios
e riscos que a pesquisa poderá representar para o sujeito e a sociedade,
obrigando os projectos de pesquisa a passarem pelos Comités de Ética
a fim de serem analisados com maior profundidade.

11
Os avanços verificados pela Ética nos últimos anos podem ser
considerados extraordinários. Actualmente, o número de publicações
relativamente à Ética aumentou, são publicações periódicas de novas
investigações que surgem diariamente que abordam sobre os mais
variados enfoques do tema, além de incontável a quantidade de
eventos académicos oferecidos sobre a Ética em praticamente todas as
partes do mundo.

Para Costa te al (1998), é importante mencionar que a visão original da


Ética focalizava-a como uma questão ou um compromisso mais global
frente ao equilíbrio e preservação da relação dos seres humanos como
ecossistema e a própria vida do planeta, diferente daquela que acabou
difundindo-se e sedimentando-se nos meios científicos.

Em suma, pode-se considerar que o termo foi mencionado pela primeira


vez em 1971 por Van Potter, no seu livro "Ética: Ponte para o Futuro.

UNIDADE Temática 1.3. Carácter Normativo da Ética


Kant (2001), a ética trata da normalização dos actos humanos segundo
princípios últimos (que vão além do nosso entendimento) e racionais. A
ética é um conhecimento que se preocupa com o fim a que se deve
dirigir a conduta humana e os meios para alcançar este fim. Ela
pretende explicar a validade das suas afirmações, procurando
comprovar porque é que algo é bom ou mau, justo ou injusto, moral ou
imoral desde uma perspectiva universal e necessária.
Almeida (1998) acrescenta que, a ética é normativa porque é uma
racionalização do comportamento humano, isto é, trata de um conjunto
de princípios ou enunciados dados à luz da razão e que iluminam o
caminho correcto/acertado da conduta. O carácter normativo da ética
tem como fundamento um aspecto essencial da natureza humana, a
saber:

O facto de o homem ser “imperfeito porém perfectível”. A razão


para tal afirmação é a seguinte: se fossemos perfeitos e
mantivéssemos na nossa perfeição, não teríamos problema
moral, pois não estaríamos obrigados a desenvolver todas as
nossas potencialidades. Por isso, os princípios éticos têm uma
dimensão imperativa, por serem mandatos ou ordens que nos
damos para movermo-nos na realização de actos que melhorem
a nossa condição humana. Por outro lado, somos seres
incompletos/imperfeitos que buscamos, tendemos a perfeição
dirigindo as nossas acções ao que deve ser.

Todavia, a perfeição não deve centrar-se apenas num aspecto da nossa


personalidade porque a natureza humana é complexa. Ela deve
12
englobar o espiritual, o físico, intelectual, volitivo (a vontade), afectivo,
o estético, o social, etc.

1. A perfeição espiritual desenvolve os aspectos que têm a ver


com o enriquecimento da vida espiritual que possam
engrandecer a alma, a esperança, fé, caridade, etc.
2. A perfeição física deve ser vista como um complemento da
alma. A alma e o corpo são duas manifestações distintas de
uma mesma realidade. Daí surge o ditado popular Mente sã
um corpo são. Quando a alma afecta o corpo surgem
alterações nervosas. E quando o corpo afecta a alma podem
surgir estados depressivos. Note que é indispensável o
exercício físico, uma boa alimentação para o equilíbrio entre
a alma e o corpo.
3. A perfeição intelectual representa o desenvolvimento da
mente, da inteligência, do conhecimento. O homem
aperfeiçoa-se através da cultura, do estudo, da educação e
só assim é que é capaz de julgar a validade das coisas. O
homem deve buscar um conhecimento alargado das coisas
(capacidade de se abstrair).
4. A perfeição da vontade representa o que se deve separar
dos desejos. A vontade deve ser vista como uma aliada da
razão e não uma súbdita do desejo. É possível ser mais
responsável, mais moderado, ter mais respeito sem nunca
deixar de lado a razão. Daí a necessidade de aliar a desejo à
razão, de modo que as nossas acções e decisões sejam bem
pensadas;
5. A perfeição afectiva está ligada às emoções, tem a ver com
a bondade, benevolência, a compreensão, o carinho e a
gratidão. É importante temperar a razão com o lado
afectivo. O homem não deve ser dominado somente pelas
paixões nas suas acções e decisões. No entanto, um homem
que actua com base na paixão sem a razão corre risco de
tornar-se cego, frio e calculista. As emoções devem ser
conjugadas com uma dose de racionalidade. Normalmente
quando a razão caminha sozinha torna-se
cega, fria e calculista;
6. A perfeição estética: o ser humano aperfeiçoa-se ao se
relacionar como belo com o sublime. A perfeição estético
torna o ser humano mais criativo, sensível e com maior
capacidade de comunicar e de reflectir. A arte não deve ser
nada que fique subjugada à pressão dos médios, ou apenas
entendida em aspectos comerciais;

13
7. A perfeição social: o relacionamento com os outros é
fundamental para o desenvolvimento do ser humano. Por
isso, é no relacionamento que o homem promove e
desenvolve capacidade como a amizade, a cooperação, a
paz, a liberdade, a fraternidade, a dignidade, a igualdade e o
pluralismo. Só através do relacionamento com os outros
somos capazes de combater determinados anti-valores
como: o individualismo, a intolerância, o egoísmo, etc.
O desenvolvimento da personalidade humana deve ter em conta todas
essas dimensões da sua personalidade. Nunca o individualismo deve ser
tomado como um meio do homem impor as suas regras.

SUMÁRIO

Ética é a reflexão crítica sobre a moral, ela depende do sujeito. Porque


ele pessoalmente reflecte e chega a conclusão pessoal do que vem a ser
ou não ético. Isto é, Implica uma relação de si para consigo.
A ética procura o fundamento do valor que norteia o comportamento.
Isto é, tem como problema definir o comportamento moral. A ética é
uma ciência normativa porque trata da rectidão do comportamento. Ela
versa sobre o bem e o mal, o correcto e o incorrecto, tendo como meta
a perfeição da sociedade. É com base na racionalidade que se estipulam
regras para a harmonia social. Quem estipula as normas é o homem
para a melhoria da relação com os seus semelhantes.
Tanto a ética como a moral visam a harmonia entre os seres humanos.
Por outro lado, ambas estão relacionadas com os valores culturais do
grupo social no qual o indivíduo se insere. Isto é, tem a finalidade de
organizar as relações entre os sujeitos sociais representa todo
comportamento moral que varia de acordo com o tempo e o lugar. O
que pode ser considerado acto moral, ou acto ético num determinado
tempo, poderá não ser noutro.
O que pode ser considerado acto moral, ou acto ético num determinado
tempo, poderá não ser noutro.

EXERCÍCIOS DE AUTO-AVALIAÇÃO

1. Indique a alternativa correcta:

a) A palavra moralidade vem do latim “mos” ou “moris”


que significa costumes

b) A palavra ética e moralidade são sinónimas e


correspondem a mesma ideia

14
c) As normas morais não variam a depender da cultura e do
período histórico

d) A palavra ética vem do latim e significa modos de ser.

2. As normas morais variam a


depender da cultura e do período
histórico, também podem ser
questionadas e destituídas. Isso
significa que:

a) Nós não podemos pensar sobre as normas morais que


são impostas;

b) Nós temos que concordar com as normas morais porque


são as normas da nossa cultura;

c) A moral é o conjunto de valores pelos quais as pessoas


guiam os seus pensamentos e por isso está sujeita a
mudanças a depender do país e do momento histórico
em que as pessoas estão inseridas;

d) Não agimos de forma “moral” se obedecermos as regras


que a sociedade estabelece.

3. Como podemos diferenciar a moral da ética:

a) Não podemos diferenciar, são palavras sinónimas;

b) Moral é o conjunto de valores e a ética é a reflexão sobre


os valores;

c) Moral é a prática da ética no nosso dia-á-dia;

d) Moral é sinónimo da “ética aplicada”.

4. Leia o texto abaixo:


“Os homens não são maus, mas submissos aos seus interesses…
portanto, não é da maldade dos homens que é preciso se queixar,
mas da ignorância dos legisladores que sempre colocam o interesse
particular em oposição ao geral. (…) Até hoje as mais belas máximas
morais não conseguem traduzir nenhuma mudança nos costumes
das nações. Qual é a causa? E que vícios de um povo estão, se ouso
falar, escondidos no fundo da sua legislação” Helvetius
Quais são as ideias principais contidas no fragmento acima?

a) Não há nenhuma relação entre as Leis e os costumes,


pois são os homens que fazem as Leis que os beneficiam;

b) Para limitar os interesses humanos particulares, é


preciso haver Leis que prefiram os interesses gerais;
15
c) Os homens buscam os interesses e isso não significa que
eles são maus;

d) Há uma relação entre Leis e Costumes, pois as Leis


permitem ou impedem que os homens cometam erros.

5. O sujeito ético-moral é somente aquele que preenche os


seguintes requisitos:

a) É um ser consciente mas não precisa reconhecer a


presença dos outros como sujeitos éticos iguais;

b) Saber o que faz, conhecer as suas causas e os fins da sua


acção, o significado de suas intenções, suas atitudes e a
essência dos valores morais;

c) Não precisa controlar interiormente os seus impulsos,


suas inclinações e suas paixões, deixando-as fluir
livremente;

d) Dizer como as coisas são, o que são, e como são.


Enunciar pois os juízos de facto;

e) Ser responsável, mas não precisa reconhecer como autor


da sua própria acção, nem avaliar os efeitos e as
consequências dela sobre si e sobre os outros.

6. O Moçambicano tem noção clara dos comportamentos éticos e


morais adequados, mas vive na corrupção, diz a pesquisa. Se o
país fosse resultado de padrões morais que as pessoas dizem
aprovar. Portanto, o distanciamento entre o reconhecer e o
cumprir efectivamente o que é moral, constitui uma
ambiguidade inerente ao humano, porque as normas morais
são:

a) Decorrentes da vontade divina, e por esse motivo


utópicas;

b) Parâmetros idealizados, cujo cumprimento é destituído


de obrigação

c) Amplas e vão para além da capacidade do indivíduo


conseguir cumpri-las integralmente;

d) Criadas pelo homem e concede a si mesmo a Lei a qual


se deve submeter;

e) Cumpridas por aqueles que se dedicam a cumprir


integralmente as normas judiciais.

16
EXERCÍCIOS DE AVALIAÇÃO

1. Define o conceito de ética e da Moral.


2. Qual é a relação que existe entre a ética e a moral?
3. Quais são as diferenças entre a ética e a moral?
4. Qual é a relação entre a moral e a cultura?
5. Porque é que a moral está relacionada com o contexto
histórico?
6. Porque é que se diz que a ética é normativa.

CORRECÇÃO DOS EXERCÍCIOS DE AUTO-AVALIAÇÃO UNIDADE I

1. A
2. C
3. B
4. B
5. B
6. D

TEMA II – PERPECTIVA HISTÓRICA DA ÉTICA


UNIDADE Temática 2.1. Breve historial da ética
17
UNIDADE Temática 2.1.1. Ética Grega

UNIDADE Temática 2.1.2. Ética Cristã Medieval

UNIDADE Temática 2.1.1. Ética Grega

UNIDADE Temática 2.1.3.Ética Moderna

UNIDADE Temática 2.1.4. Ética Contemporânea

UNIDADE Temática 2.1.5 Ética Como Ciência

UNIDADE Temática 2.1.6. Meta – Ética

UNIDADE Temática 2. Introdução

Introdução

Introdução Depois de fazermos uma breve abordagem acerca da


etimologia dos conceitos de ética e moral, da diferença entre ética e
moral, e do carácter normativo da ética, vamos de seguida
contextualizar o ambiente do surgimento de uma teoria ética.

A ética como um saber teórico que justifica ou legitima a conduta moral


é relativamente recente. Aparece com o advento da filosofia no séc. VI
a C, na Grécia. A prática de uma teoria ética no seu sentido mais restrito,
surge no séc. V a C, com Sócrates. Sócrates fez uma viragem na
abordagem da moral da sua sociedade ao propor como primordiais os
valores espirituais antes dos materiais. Assim sendo, para Sócrates, a
moral não lida com um problema sem importância, mas ela tem a ver
com o como deveríamos viver e porquê?

No final o estudante deverá ser capaz de:

Conhecer a história da ética e


deontologia profissional;
Objectivos Acompanhar a evolução da história da ética com o contexto,
Específicos histórico, geográfico, sociocultural, político e religioso.

UNIDADE Temática 2.1. Breve historial da ética


De acordo com Morri (1975), a existência de uma história da moral é

sustentada considerando que cada sociedade tem sido caracterizada


por um conjunto de regras, normas e valores. A história da Ética é
18
complexa e exige alguns cuidados no seu estudo, uma vez que ela como
disciplina filosófica é mais limitada no tempo e no material tratado do
que a história das ideias morais da humanidade.
A história das ideias morais da humanidade compreende o estudo de
todas as normas que regularam a conduta humana desde os tempos
pré-históricos até aos nossos dias. Esse estudo é filosófico ou histórico-
filosófico e social.

Kant (2001) acrescenta que, a história das ideias morais é um tema de


que se ocupam a sociologia e a antropologia. A existência de ideias
morais não implica a existência de uma disciplina particular, uma vez
que podem estudar-se as atitudes e ideias morais de diversos povos,
orientais, judeus, etc. Sem que o material resultante seja enquadrado
na história da Ética. Assim, só existe história da Ética no âmbito da
história da filosofia.

A história da Ética adquire uma considerável amplitude. Por isso, é difícil


com frequência estabelecer uma separação rigorosa entre os sistemas
morais e – objecto próprio da. Isto porque a ética é um conjunto de
normas e atitudes de carácter moral dominantes numa sociedade ou
fase histórica. Assim, os historiadores da Ética limitaram seu estudo
para aquelas ideias de carácter moral que possuem uma base filosófica,
isto é, em vez de se darem simplesmente como supostas, são
examinadas em seus fundamentos e são filosoficamente justificadas. A
justificação não importa se é do âmbito metafísico ou teológico, mas
que seja uma explicação racional das ideias ou das normas adoptadas.
Dai, a razão dos historiadores da Ética seguirem os procedimentos
tomados pelos historiadores da filosofia.

Neste sentido, as doutrinas éticas fundamentais nascem e


desenvolvem-se em diferentes épocas e sociedades, na busca de
respostas aos problemas nas relações interpessoais, especificamente
pelo valor moral e efectivo.

Se olharmos para a história, notaremos uma grande diversidade de


ideias morais no tempo. Triedros Nietzsche faz uma exposição da
sucessão das doutrinas éticas quando afirma “aquilo que numa época
parece mau, é quase sempre um restolho daquilo que na precedente
época era considerado bom” (Nietzsche, 1977:99).

As doutrinas éticas nascem e se desenvolvem em diferentes épocas e


sociedades como resposta aos problemas básicos apresentados pelas
relações entre os homens e em particular pelo seu comportamento
moral efectivo. Por isso, existe uma estreita vinculação entre os
conceitos morais e a realidade humana social, sujeita historicamente a
devir (a mudanças).

19
As doutrinas éticas não podem ser consideradas isoladamente, mas
dentro de um processo de mudança e de sucessão que constitui
propriamente a sua história. A Ética e História se relacionam. Cada
doutrina esta em conexão com as anteriores (tomando posições contra
elas ou integrando alguns problemas e soluções precedentes), ou com
as doutrinas posteriores - prolongando-se ou enriquecendo-se nelas.

Quando os princípios, os valores ou as normas nela encarada entram


em crise e exigem a sua justificação ou a sua substituição por outros.
Surgindo assim, a necessidade de novas reflexões ou nova teoria moral
porque os conceitos, valores e normas vigentes se tornaram
problemáticos.

Apesar de as doutrinas serem de uma determinada época e sociedade,


podem ser tratadas de forma isolada, mas dentro de um sistema de
mudança que constitui a sua própria história. Neste sentido, quando os
princípios ou valores numa determinada época, regido por uma
doutrina, entram em crise, requerendo a sua justificação ou
substituição, surgindo deste modo, surge a necessidade de novas
reflexões, podendo trazer ou não uma nova abordagem, visto que os
valores e normas vigentes se tornam problemáticas.

UNIDADE Temática 2.1.1. Ética Grega


Sob o ponto de vista formal, a história da Ética teve a sua origem na
antiguidade grega através de Aristóteles (384-322 a. C) e suas ideias
sobre a Ética e as virtudes éticas. Mesmo antes de Aristóteles, já foi
possível encontrar na Grécia fragmentos de uma abordagem com base
filosófica para os problemas morais e até entre os filósofos –
présocráticos encontram-se reflexões de carácter ético, por exemplo,
quando pretendiam saber as razões do comportamento moral.

Sócrates (470-399 a. C) considerou a questão da ética individual como


problema filosófico central e a Ética como disciplina em torno da qual
deveriam girar as reflexões filosóficas. Para Sócrates ninguém pratica
voluntariamente o mal. Somente o ignorante não é virtuoso. Só age mal
quem desconhece o bem porque todo o homem quando fica sabendo o
que é o bem, reconhece-o racionalmente como tal e necessariamente
passa a praticá-lo, e ao praticar o bem, o homem sente-se dono de si e
consequentemente é feliz. Daí a velha máxima (frase socrática):
Conhece-te a ti mesmo. Portanto, para Sócrates a virtude seria o
conhecimento das causas e dos fins das acções fundadas em valores
morais, identificados pela inteligência e que impelem o homem a agir
virtuosamente em direcção ao bem.

Platão (427-347 a C) ao examinar a ideia do bem à luz da sua teoria das


ideias subordinou a sua Ética a metafísica. A sua Ética está relacionada

20
com sua filosofia política, porque para Platão a polis (cidade-estado) é
o terreno propício para a vida moral. A sua Ética exerceu grande
influência no pensamento religioso e moral do ocidente.

Aristóteles (384-322 a C) organizou a Ética como disciplina filosófica e


formulou a maior parte dos problemas que os filósofos morais se
ocuparam: relação entre as normas e os bens entre a Ética individual e
social; relação entre a vida prática e teórica, classificação das virtudes,
etc.

A concepção Ética de Aristóteles privilegia as virtudes (justiça, caridade


e generosidade), tidas como propensas aos sentimentos de realização
pessoal, aquele que age quanto simultaneamente beneficiar a
sociedade em que vive.

A Ética Aristotélica busca valorizar a harmonia entre a moralidade e a


natureza humana, concebendo a humanidade como parte da ordem
natural do mundo – o naturalismo. Para Aristóteles, toda a actividade
humana tende a um fim que é o bem supremo que seria resultado do
exercício perfeito da razão, função própria do homem. Assim, o homem
virtuoso é aquele que é capaz de deliberar e escolher o que é mais
adequado para si e para os outros movidos por uma sabedoria prática
em busca do equilíbrio entre o excesso e a deficiência: por exemplo,
tendemos mais naturalmente para os prazeres e por isso somos levados
mais facilmente para a concupiscência do que para a moderação.

A Ética Aristotélica também esta relacionada com a sua filosofia política,


uma vez que a comunidade social, política é o meio necessário para o
exercício da moral. Somente nela pode realizar-se a ideia da vida teórica
na qual se baseia a felicidade. Porque o homem moral só pode viver na
cidade e é, portanto animal político ou social – zoom politicou. Apenas
os deuses e os animais selvagens não tem necessidade da comunidade
política para viver. O homem deve necessariamente viver em sociedade
e não pode levar uma vida moral como indivíduo isolado, mas no seio
de uma comunidade. Com a decadência do velho mundo greco-romano,
surge o estoicismo e o epicurismo. Fundamenta-se na consciência
colectiva, implícita no comportamento humano e social aceite por
todos.

Para Epicuro (341-270 a C), o prazer é um bem e, como tal, o objectivo


de uma vida feliz. Dai o surgimento da ideia do hedonismo que assume
o prazer como princípio e fundamento da vida moral. Uma vez que
existem muitos prazeres, nem todos são iguais e bons. É preciso
escolher entre eles os mais duradouros e estáveis, para isso é
necessário à posse de uma virtude sem a qual é impossível escolher.
Essa virtude é a prudência que permite seleccionar aqueles prazeres
que não nos trazem a dor ou perturbações. Os melhores prazeres não

21
são corporais – fugazes e imediatos - mas os espirituais porque
contribuem para a paz da alma.

A virtude ética é prudência que leva o homem ou a mulher a escolher


prazeres que não trazem perturbações, visto que o prazer é um bem
que leva a uma vida feliz.

Para os estóicos (Zenão, Séneca e Marco Aurélio), o homem é feliz


quando aceita o seu destino com imperturbabilidade e resignação. O
universo é um todo ordenado e harmonioso onde os sucessos resultam
do cumprimento da lei natural, racional e perfeita. O bem supremo é
viver de acordo com a natureza, aceitar a ordem universal
compreendida pela razão, sem se deixar levar pelas paixões, afectos
interiores ou pelas coisas exteriores. O homem virtuoso é aquele que
enfrenta seus desejos com moderação aceitando seu destino. O estóico
deixa de ser um cidadão da polis e passa a ser do cosmo.

O ser humano é um cidadão do cosmo e o seu destino já está


predeterminado.

UNIDADE Temática 2.1.2. Ética Cristã e Medieval


Com o fim do mundo antigo (Grécia e Roma Antiga), o regime servil
substituiu a escravidão. Assim o regime servil deu bases para a
construção da sociedade feudal. A sociedade feudal era extremamente
estratifica e hierarquizada. No entanto era uma sociedade fragmentada
economicamente e politicamente na medida em que as estruturas
deixadas pelo mundo antigo foram desfeitas e a igreja continuou sendo
a única instituição organizada. É por este motivo que a religião se tornou
o garante da unidade social do povo na época. Assim a igreja passou,
além do poder espiritual e temporal, a monopolizar a vida intelectual.
Evidentemente a Ética, neste período medieval, foi sujeita a conteúdos
religiosos.

Os filósofos cristãos, da época, tiveram uma dupla atitude diante da


Ética:

Uma atitude Ecónoma que fundamenta-se em Deus e nos


princípios morais. Deus criador, omnisciente e todo-poderoso.
O homem como criatura de Deus tem seu fim último Nele que é
o seu bem mais alto e o valor supremo. Deus exige a sua
obediência e a sujeição a seus mandamentos – com carácter de
imperativo supremo.

Esta atitude aproveitou as ideias da ética grega platónica e estóicas


inserindo-as na ética cristã. A Ética cristã é uma ética subordinada a

22
religião num contexto em que a filosofia era considerada serva da
teologia, isto é, a filosofia deveria ajudar na compreensão da teologia.

A ética cristã é uma ética limitada por parâmetros religiosos e


dogmáticos e tende a regular o comportamento dos homens com vista
a uma outra vida (reino de Deus) colocando o seu fim ou objectivo fora
do homem, mas na divindade.
Ao pretender elevar o homem da ordem natural para a ordem
transcendental ou sobrenatural, onde possa viver uma vida feliz e plena,
livre de desigualdades e injustiças do mundo terreno o cristianismo
introduz uma ideia inovadora: a igualdade dos homens diante de Deus.
Assim o homem é chamado a alcançar a perfeição e a justiça num
mundo sobrenatural, o reino dos céus. Esta teoria absorve bastante o
que Platão e Aristóteles postularam.

Os filósofos cristãos mais marcantes na ética cristã são Santo Agostinho


(354-430) e São Tomas de Aquino (1226-1274). Estes reflectem
respectivamente as ideias de Platão e Aristóteles. Por exemplo, a
purificação de Platão e a sua ascensão libertadora até elevar-se ao
mundo das ideias tem correspondência na elevação ascética até Deus
exposta por Santo Agostinho. A ética de S. Tomás de Aquino assemelha-
se a Aristóteles na questão da contemplação e do conhecimento que
permite alcançar o fim último. Para São Tomás o fim último é Deus.

A história da ética é complexa a partir do renascimento europeu onde


prevaleceram diversas doutrinas. Contudo, todas elas surgem como
reacção a Ética Cristã que era excêntrica e teológica. A ética do
renascimento é antropocêntrica. Isto é, o ser humano no centro das
atenções. Portanto, ela procura reflectir o homem. Portanto, o
renascimento faz uma viragem significativa na história da ética.

Kant (2001) defende que esta viragem deveu-se as mudanças que o


mundo sofreu nas esferas económicas, políticas e científicas. Na esfera
económica, por exemplo, viu-se crescer de forma muito intensa o
relacionamento de forças produtivas com o desenvolvimento científico.
A relação entre a produção e a ciência propiciou o desenvolvimento da
ciência. Este tema não será desenvolvido nesta unidade porque não faz
parte desta disciplina. No entanto, esta relação fortaleceu a nova classe
social – a burguesia – que lutava para se impor politicamente e
economicamente. Este foi um período de grandes revoluções políticas
(na Holanda, França e Inglaterra). O renascimento trouxe as seguintes
consequências:

• A razão se separa da fé (filosofia separa-se da religião);


• As ciências naturais separam-se dos pressupostos teológicos;
• O estado separa-se da igreja;
• Começam a surgir indícios da separação do homem de Deus.
23
Esta rotura foi evidente entre a idade Media e a Moderna. Ora vejamos:

Nicolau Maquiavel (1469-1527) provocou uma revolução Ética ao


romper com a moral cristã que impõe valores espirituais como
superiores aos valores políticos. Isto é, o caracter normativo da ética,
na qual a ética preocupa-se com o fim da conduta humana e com os
meios para alcançar este fim. Para Maquiavel a adopção de uma moral
própria em relação ao estado era fundamental. Para este, o que importa
são os resultados e não a acção política em si mesma, adicionalmente,
Maquiavel sugeriu sendo legítimo o uso da violência contra o que se
opõe aos interesses estatais. Maquiavel pretende a aplicação de novos
valores, onde o homem é centro de busca dos seus próprios valores e
princípio. As ideias de Maquiavel tiveram bastante influência em
Thomas Hobbes, Baruch de Espinosa no que se refere à Ética realista.

UNIDADE Temática 2.1.3.Ética Moderna


A teoria da ética moderna teve uma contribuição de vários autores. Em
seguida descrevemos o desenvolvimento da ética moderna na visão de
vários autores.

Reme Descartes (1596-1650) procurou basear as suas reflexões na


filosofia e no homem que passaram a ser o centro de tudo, da política,
da arte e da moral. Surgindo, desse modo, a Ética antropocêntrica.

Thomas Hobbes (1588-1679) sistematiza a Ética do desejo que esta em


cada ser, de própria conservação como sendo o fundamento da moral
e do direito. Para Hobbes, a vida do homem no estado de natureza -
sem leis nem governo – era solitária, pobre, sórdida, embrutecida e
curta, uma vez que os homens são por índole agressivos,
autocentrados, insociáveis e obcecados por um desejo de ganho
imediato.

Para Hobbes, os indivíduos que decidem viver em sociedade não são


melhores ou egoístas do que os selvagens: são apenas clarividentes se
cooperarem, podem ser mais ricos e mais felizes. Segundo Hobbes o
bom comportamento do homem deriva do seu egoísmo. Por exemplo,
para Hobbes a explicação é simples: dois homens juntos têm mais
facilidade de matar uma fera sem se ferirem. Esta é uma razão que
explica a necessidade do homem de se auto conservar.

Baruch de Espinosa (1632-1677), diz que: os homens tendem


naturalmente a pensar apenas em si mesmos, nos seus desejos e
opiniões. As pessoas sempre são conduzidas por suas paixões, as quais
nunca tem em conta o futuro ou outras pessoas. Esta é uma acção
necessitante da substância divina baseada na tendência de conservação
e consecução de tudo o que é útil.

24
Espinosa é essencialmente panteísta: entre Deus e o mundo se não há
uma diferença de pontos de vista, Deus é a única substância necessária,
una, infinita, independente, simples e indivisível. Tem uma identidade,
de atributos dos quais conhecemos apenas dois: a extensão e o
pensamento. O mundo é o conjunto dos modos desses dois atributos.
O homem é uma colecção de modos da extensão e do pensamento. A
substância divina desenvolve-se segundo as leis necessárias da sua
natureza. Deus é determinado por si mesmo, mas é determinado num
sentido único e irrevogável. O livre arbítrio do homem reduz-se à
ignorância das causas que determinam as suas acções. A verdadeira
liberdade cria-se na medida em que o homem se liberta das suas
paixões e, pela contemplação intelectual, identifica-se com Deus.
Portanto, o princípio da moral identifica-se com Deus.

Nesta época vigora o panteísmo, que se caracteriza na crença de que a


natureza e Deus são idênticos, não acreditando num Deus criador.

Para Kant (2001), a virtude não é algo diferente da natureza e, ainda


menos, oposto a ela. A virtude é a própria tendência natural para o auto
conservação. O homem actua melhor e mais eficazmente quando se
vale da razão, que é a busca útil e, por isso, a virtude humana está
essencialmente ligada ao uso da razão.

Segundo Espinosa, o bem e o mal são aquilo que permitem ou impedem


o entender. “A razão nada exige contra a natureza, mas ela mesma
exige que cada um se ame a si próprio e procure o bem próprio, e deseje
tudo o que verdadeiramente conduz o homem a uma maior perfeição
e, de modo absoluto que cada um se esforce no que lhe diz respeito por
conservar o seu próprio ser” (Ética, IV, 18).

Em relação aos juízos morais, Donald (1999), refere que os padrões


humanos de julgamento moral, na sua prática, são arbitrários e
caprichosos. Quando se critica ou se avalia no homem, em qualquer
aspecto procede-se a um julgamento tomando por comparação a uma
figura pessoalmente pré-concebida ou um ideal de homem,
individualmente construída. Contudo, quando se julga um homem e se
diz que ele poderia fazer isto ou aquilo, isto implica uma ilusória noção
de liberdade, não poderá ser ou fazer nada diferente do predestinado e
daquilo que é. O estado ordinário da mente quando se procede a
julgamentos morais é sempre de confusões e de ilusões. Então, como
proceder? Espinosa refere que o modo de proceder ultrapassa os usos
e a linguagem que condicionam o julgamento, que deverá ser através
da experiência.

John Locai (1632-1704) toma a posição da conservação e satisfação a


uma concepção de felicidade pública, uma vez que estabeleceu um
liame indissolúvel entre a virtude e a felicidade pública, e tornou a
prática da virtude necessária a conservação da sociedade humana e

25
visivelmente vantajosa por todos os que precisam tratar com as pessoas
de bem. Isto é, agir para o bem comum.

David Nume (1711-1776) nessa mesma linha de pensamento, Nume


afirma que o fundamento da moral é a utilidade, isto é, a boa acção,
aquela que proporciona felicidade e satisfação à sociedade. A utilidade
responde a uma necessidade que leva o homem a promover a felicidade
dos seus semelhantes. Ao invés de limitar os desejos humanos
determinados pelo interesse pessoal (comida, dinheiro, glória, etc.).

Nume acha que as paixões do homem estão baseadas na simpatia – a


capacidade de sentir em si mesmo os sofrimentos e até as alegrias do
outro. O que impossibilita traçar uma linha divisória nítida entre o
interesse pessoal e o interesse alheio, uma vez que agora é possível
encarar o interesse como se fosse um interesse pessoal.

Emanuel Kant (1724-1804) está preocupado em estabelecer a regra da


conduta na substância racional do homem. Nele, o conceito de dever é
o ponto central da moralidade – hoje conhecido por deontologia.

Para Kant, uma coisa que seja boa em si mesma é a boa vontade ou boa
intenção, aquilo que se põe livremente de acordo com o dever. O
conhecimento do dever é a consequência da percepção pelo homem de
que é um ser racional e como tal está obrigado a obedecer – o
imperativo categórico: a necessidade de respeitar todos os seres
racionais na qualidade de fins em si mesmo. E o reconhecimento da
existência de outros homens (seres racionais) e a exigência de
comportar-se diante deles a partir desse reconhecimento. Trata
portanto da existência de outros e das consequências dos seus actos.

A humanidade deve ser tratada na própria pessoa como na do próximo


sempre como um fim e nunca como um meio.

A Ética kantiana busca sempre na razão, formas de procedimentos


práticos que possam ser universalizáveis, de tal maneira que os
princípios que eu sigo possam valer para todos. “Age apenas segundo
uma máxima tal que possas ao mesmo tempo querer que ela se torne
lei universal”. Analisando a questão da corrupção, por exemplo,
podemos questionar se tal procedimento deveria ser universalizado ou
não. Se não podemos querer a universalização da corrupção, também
não posso aceitá-la no aqui e agora.

Em Kant, o bem se identifica com a necessidade moral, não


interessando para nada um conhecimento racional da moral. A
moralidade está tão afastada da pura sensibilidade como da
racionalidade absoluta. Se o homem fosse apenas sensibilidade, as suas
acções seriam determinadas pelos impulsos sensíveis. Se fosse só
racionalidade seriam determinadas pela razão. Mas sendo o homem ao
mesmo tempo sensibilidade e razão, tanto pode seguir o impulso como
26
a razão. É nesta possibilidade de escolha que consiste a liberdade que o
faz um ser moral. Kant vê o ser humano como um ser dotado de razão
e de impulso e é nata. É nessa perspectiva onde surge a possibilidade
de escolha (liberdade), que o faz o ser moral.

Para viver moralmente, o homem deve transcender a moralidade,


submetendo-se aos impulsos sensíveis e evitando assumir qualquer
desejo. Como ser racional, o homem deseja a felicidade, mas enquanto
desejo, a felicidade não pode ser o fundamento de um imperativo
moral. A resolução deste dilema está na acção da vontade: age de modo
que a máxima da tua vontade possa sempre ser valor, como princípio da
legislação universal. Esta fórmula constitui a Lei moral, valendo para
todos os seres racionais. A relação de uma vontade com esta Lei é uma
relação de dependência que se exprime numa obrigação – em obrigar a
uma acção conforme com a Lei. Esta acção chama-se dever. A Lei moral
é origem e fundamento do dever no homem. A acção moral do ser
humano tem como objectivo final o bem supremo, então a virtude é o
bem supremo e a condição de tudo que é desejável.

Kant distingue legalidade e moralidade: A legalidade é a conformidade


com a Lei, efectuada com um motivo natural sensível. Por exemplo:
obter qualquer vantagem ou evitar qualquer dano. A moralidade é a
conformidade imediata da vontade com a Lei sem o recurso dos
impulsos sensíveis.

O amor de si é o conjunto de impulsos cuja satisfação constitui a


felicidade e acção que realiza a moralidade é a eliminação do egoísmo,
isto é, contrapõe o eu e os seus impulsos a Lei moral. “Nós somos de
certos membros legisladores de um reino moral tornado possível pela
liberdade e representado pela razão prática como objecto de respeito:
mas somos súbditos, não o soberano desse reino, e assim o
desconhecer a nossa condição inferior de criaturas, o recusar
presunçosamente a autoridade da Lei, é já uma infidelidade ao espírito
da Lei, mesmo quando se lhe observe a letra”.

A acção moral do homem tem como objectivo final o bem supremo.


Este bem supremo consiste, para o homem, que é um ser finito, na
virtude e na união da virtude com a felicidade. A virtude é o bem
supremo, a condição de tudo o que é desejável.

A afirmação de que o “homem é mau” significa apenas que o homem


tem consciência da lei moral e que por vezes se pode afastar dela. A
afirmação de que o “homem é mau por natureza” significa que o que se
disse vale para toda a espécie humana, o que não quer dizer que se trate
de uma qualidade, mas de uma tendência para o mal em todos os
homens, isto é, dos homens. Tal tendência para o mal é moralmente
negativa - mal radical e inato na natureza humana.

27
O mal radical não pode ser destruído pelas forças humanas, mas pode
ser vencido, a fim de que o homem seja verdadeiramente livre nas suas
acções.

UNIDADE Temática 2.1.4. Ética Contemporânea


Semelhantes a ética moderna, alguns autores contribuíram para o
desenvolvimento da teoria da ética contemporânea. Em seguida
descrevemos as contribuições desses autores.

Triedros Hegel (1770-1831) é o filósofo mais importante do idealismo


pós-kantiano. A doutrina de Hegel tem uma tendência panteísta e é
conhecida como idealismo absoluto porque o absoluto é a ideia, o
pensamento puro, a abstracção lógica.

Hegel compreende que a moral não é uma questão perene, mas


complexa e dinâmica. Hegel trata de uma moral que muda algo que se
mantém independentemente e acima dos conceitos que mudam,
evoluem e se transformam enquanto ela se matem una, universal e
intemporal. Para Hegel, a ética e a moral das pessoas enquanto seres
culturais, determina-se pelas relações sociais que mediatizam as
relações pessoais.

O que é comum a todas as perspectivas e conceitos da moral é que o


indivíduo providencia a sua própria moralidade e ao mesmo tempo
clama por uma genuína universalidade. O que permite a sanção das
nossas escolhas morais é em parte o facto de que o critério que governa
as nossas escolhas, não é escolhido. É no contexto da ordem moral
estabelecida numa comunidade bem ordenada que se podem
encontrar os critérios éticos gerais e concordâncias com os seus. A
autoridade Ética da sociedade não advém, porém do seu poder real,
mas dos seus conceitos que são encarados como normativos.

Para Hegel, a vida pode ser vivida dentro de um certo tipo de


comunidade que em cada comunidade certos valores se provarão
indispensáveis, adaptando uma posição diferente da linha sobre a
objectividade da moral do séc. XVIII e dos seus herdeiros posteriores.

Do ponto de vista do indivíduo isolado, a escolha entre os valores está


aberta, mas para o indivíduo integrado numa sociedade não está. Cada
sociedade impõe certos valores a si próprio e ao indivíduo, só havendo
verdadeira possibilidade de escolha arbitrária ao indivíduo que não
esteja integrado numa sociedade.

Platão e Aristóteles encaram a objectividade e a autoridade ética,


porque a descrevem dentro de uma sociedade de polis. Os
individualistas do séc. XVIII vem o bem como a expressão dos seus
sentimentos ou o mandato da sua razão individual porque se situam
28
como se estivessem fora da sociedade em que vivem. A sociedade é por
eles considerada apenas como um mero agregado de indivíduos. Mas
Hegel levanta uma questão: o que é que, para o homem moderno, toma
lugar da polis grega?

Para Hegel a vida Ética ou moral dos indivíduos enquanto ser cultural e
histórico é determinada pelas relações sociais que mediatizam as
relações pessoais intersubjectivas. Assim, Hegel transforma a Ética
numa filosofia de direito e divide-a em Ética subjectiva (pessoal) e Ética
objectiva (social).

A Ética subjectiva é uma consciência de dever enquanto a ética


objectiva é formada pelos costumes, pelas leis e normas de uma
sociedade. Entretanto, Hegel dividiu a sua obra de 1821, Filosofia do
Direito, em três áreas: direito abstracto, a moral e a etnicidade.

• Direito abstracto – é da pessoa individualmente considerada e


exprime-se na propriedade, que é a esfera exterior da sua
liberdade;
• A moralidade – é a esfera da vontade subjectiva que se
manifesta na acção;
• A etnicidade – é a esfera da necessidade e das regras sociais que
regem a vida dos indivíduos e constituem os seus deveres.

O domínio da moralidade é caracterizado pela sua separação abstracta


entre a subjectividade que deve realizar o bem, e o bem que deve ser
realizado. Esta separação é resolvida pela ética, onde o bem se realiza
de forma concreta e se torna existente.

Donald, (1999) Os deveres éticos são obrigatórios e surgem como uma


limitação a subjectividade ou a liberdade abstracta do indivíduo, sendo,
no entanto, a redenção do próprio indivíduo, dos seus impulsos e da sua
subjectividade individual.

No mundo Ético (família, sociedade civil, Estado) a liberdade torna-se


realidade: “o sistema de direito é o reino da liberdade realizada, o
mundo do espírito expresso por si mesmo, como uma segunda
natureza.” Para que o direito - ética se realize e subsista é necessário
que à vontade do indivíduo se reverta numa vontade mais vasta,
universal, a qual se submeta por livre vontade.

O homem é um indivíduo ético, integrado num sistema social ético que


é constituído pelo sistema de necessidades da sociedade civil. Para o
Kant, o indivíduo está submetido a imperativos categóricos enquanto o
indivíduo Emiliano procura os seus critérios morais nas normas da
sociedade.

Para Hegel, o estado reúne esses dois aspectos numa totalidade Ética.

29
Donald, (1999) A vontade individual subjectiva é determinada por uma
vontade objectiva, impessoal, colectiva, social e pública que cria as
diversas instituições sociais. Essa vontade regula e normaliza as
condutas individuais através de um conjunto de valores e costumes
vigentes numa determinada sociedade e numa determinada época.

O ideal ético está numa vida livre dentro de um estado livre, um estado
de direito que preserve os direitos dos homens e lhes cobre seus
deveres onde a consciência moral e as leis do direito não estão
separadas e nem em contradição. Assim, a vida Ética é a interiorização
dos valores, normas e leis de uma sociedade, condensadas na vontade
objectiva, cultural por um sujeito moral que as aceite livre e
espontaneamente através de uma vontade subjectiva individual. A
vontade pessoal resulta da aceitação harmoniosa da vontade colectiva
de uma cultura.

Kart Marx (1818-1883) a moral é uma superstrutura ideológica, com


função social que permite sacramentar as relações e condições de
existência de acordo com os interesses da classe dominante. Numa
sociedade dividida em classes antagónicas, a moral sempre terá um
carácter de classe. Enquanto não se verificarem as condições reais para
uma moral universal, válida para toda a sociedade não pode existir um
sistema moral válido para todos os tempos e todas as sociedades.

Para Marx, ao se tentar construir tal sistema no passado estava-se a


imprimir um carácter universal a interesses particulares.

Se a moral proletária é a moral de uma classe que esta destinada


historicamente a abolir a si mesmo como classe para ceder lugar a uma
sociedade verdadeiramente humana, serve como passagem a uma
moral universalmente humana. Os homens necessitam da moral assim
como necessitam da produção, e cada moral cumpre sua função social
de acordo com a estrutura social vigente.

Entretanto torna-se necessária uma moral que não seja o reflexo de


relações sociais alienadas para regular as relações entre os indivíduos
tanto em vista das transformações da velha sociedade como para
garantir a harmonia da emergente classe socialista.

A transformação da antiga classe e a construção da nova moral exige a


participação consciente dos homens. Porque, a nova moral com suas
novas virtudes transforma-se numa nova necessidade. Assim, o homem
deve interferir sempre na transformação da sociedade.

Friedrich Nietzsche (1844-1900) é um crítico mordaz de toda a moral,


seja a socrática, judaico-cristão ou moral burguesa.

Para Nietzsche, a vida é à vontade de poder, princípio último de todos


os valores. O bom é o que favorece a força vital do homem, e tudo o
que intensifica e exalta no homem o sentimento de poder, à vontade
30
de poder e o próprio poder. O mal é tudo o que vem da fraqueza ou o
bom fornece a força e o mal a fraqueza.

Nietzsche vê no super-homem, alguém capaz de quebrar a tábua dos


valores, transmutando-os a todos.

O pragmatismo afasta-se de questões teóricas de fundo, dos problemas


abstractos da velha metafísica e dedicam-se as questões práticas sob o
ponto de vista utilitarista. A verdade é o útil que ajuda a viver e a
conviver. O bem é algo que conduz a obtenção eficaz de uma finalidade,
que nos conduz a um êxito. Os valores, princípios e normas perdem seu
conteúdo objectivo e o bem passa a ser aquilo que ajuda o homem nas
suas actividades práticas, variando de acordo com as circunstâncias. O
perigo apresentado pelo pragmatismo é que ele tenta reduzir o
comportamento moral a actos que conduzem apenas aos êxitos
pessoais transformando-os numa variante utilitarista marcada apenas
pelo egoísmo, rejeitando a existência de valores ou normas objectivas,
criando uma distorção baseada na busca da vantagem particular onde
o bom é o que ajuda o meu progresso e o meu sucesso particular.
INRI Berços (1859-1941) distingue a moral: moral fechada e moral
aberta. A moral fechada é o conjunto do que é permitido e do que é
proibido para os indivíduos de uma sociedade tendo em vista o auto
conservação da mesma. É imposta aos indivíduos e tem como finalidade
tornar a vida em comum possível e útil a todos. Ela corresponde no
mundo humano ao que é instinto em certas sociedades animais, isto é,
tende ao fim de conservar as próprias sociedades.

Donald, (1999) A moral aberta nasce do impulso criador supraracional.


É a moral do amor, de liberdade e da humanidade universal que resulta
de uma emoção criadora. Ela torna possível a criação de novos valores
e de novas condutas em substituição daquelas vigentes segundo a
moral fechada. É a moral dos profetas, sábios, místicos inovadores e dos
santos que inspiram a instauração de uma nova ética face a moral
vigente.
Na filosofia contemporânea, os princípios do liberalismo influenciaram
o conceito de ética, adquirindo fortes traços de moral utilitarista. Os
indivíduos devem buscar a felicidade e fazerem melhores escolhas
entre as alternativas existentes.

Bertrand Russell (1872-1970) afirma que a ética é subjectiva. Não


contem afirmações verdadeiras ou falsas. É a expressão dos desejos de
um grupo. Mas o homem deve reprimir certos desejos e reforçar outros
se pretende atingir a felicidade ou equilíbrio.

Jurem Abertas (1924) faz uma revisão e actualização do marxismo capaz


de dar conta das características do capitalismo avançadas na sociedade
industrial contemporânea. Faz uma crítica a racionalidade dessa
sociedade caracterizando-a de uma razão instrumental que visa apenas
31
estabelecer os meios para se alcançar um fim determinado. O
desenvolvimento técnico e a ciência voltada apenas à aplicação técnica
acarretam a perda do próprio bem que estaria submetido às regras de
dominação técnica do mundo actual. E necessário então a recuperação
da dimensão humana de uma racionalidade instrumental baseada no
agir comunicativo entre sujeitos livres, de carácter emancipador em
relação à dominação técnica que distorce a possibilidade da acção
comunicativa e produz relações assimétricas e impede uma interacção
plena entre as pessoas.

Abertas pretende fundar uma nova racionalidade, e recomenda a


filosofia analítica da linguagem para sistematizar as condições do uso
da linguagem livre em torno da teoria da acção comunicativa.

Habermas busca uma teoria geral da verdade segundo a qual o critério


da verdade é o consenso dos que argumentam e defende a ideia de que
argumentar é uma tarefa eminentemente comunicativa porque o
discurso intersubjectivo é o lugar próprio para a argumentação. O
critério de verdade aceite por consenso e somente aquele que se
estabelece sob condições ideais situação ideal de fala. O consenso é
racional quando estabelecido numa condição de fala. Para tal
estabeleceram-se regras cuja observação e condição para que se possa
falar de um discurso verdadeiro, que são:
• Todos os participantes tenham as mesmas chances de participar
do diálogo;
• Todos os participantes tenham as mesmas chances para a
crítica. Estas são formas de eliminação dos factores de poder
que poderiam perturbar a argumentação;
• Todos os falantes deveriam ter chances iguais para expressar
suas atitudes, sentimentos e intenções.
• Serão admitidos ao discurso falantes que tenham as mesmas
chances enquanto agentes para dar ordens e se opor, permitir e
proibir, etc.

Donald (1999) defende que, um diálogo sobre questões morais entre


senhores e escravos, patrões e empregados, pais e filhos, violariam as
condições da situação ideal da fala. Isto porque o discurso autêntico é
aquele que ocorre com pessoas em situação igual, sob condições
igualitárias do ponto de vista de participação no discurso.

UNIDADE Temática 2.1.5 Ética Como Ciência


Depois de fazermos uma breve abordagem acerca da etimologia dos
conceitos de ética e moral, da diferença entre ética e moral, e do
carácter normativo da ética, vamos de seguida contextualizar o
ambiente do surgimento das teorias da ética.

32
A ética como um saber teórico que justifica ou legitima a conduta moral
é relativamente recente. Aparece com o advento da filosofia no séc. VI
a C, na Grécia. A prática de uma teoria ética no seu sentido mais restrito,
surge no séc. V a C, com Sócrates. Sócrates fez uma viragem na
abordagem da moral da sua sociedade ao propor como primordiais os
valores espirituais antes dos materiais. Assim sendo, para Sócrates, a
moral não lida com um problema sem importância, mas ela tem a ver
com o como deveríamos viver e porquê?

Nesta cessão vamos demonstrar como a ética surgiu como uma ciência.
Note que a ética como uma disciplina está dividida. No entanto, não
devemos nos esquecer que a Ética é uma só. Estas classificações que
descrevemos abaixo têm fins meramente didácticos.

A ética como uma reflexão normativa sobre os actos humanos segundo


princípios racionais faz parte da Ética Geral que tenta explicar questões
como a liberdade, a natureza do bem e do mal, a virtude e a felicidade,
entre outros aspectos. Por outro lado, existe a Ética Especial ou a Ética
Aplicada que pretende levar à prática os fundamentos gerais da ética.
Por isso, a ética pode ser: Ética Geral e Ética Especial ou Aplicada.

De acordo com Lourenço & Vicente (1995), a Ética Geral é aquela, que
procura explicar questões relacionadas com a liberdade, a natureza do
bem e do mal, a felicidade, etc. Ela estuda todos esses aspectos no seu
plano mais geral. A Ética Aplicada ou especial pode ser enquadrada em
três planos: individual, familiar e social. A nível social a ética pode se
subdividir em diversos ramos: ética internacional, económica,
profissional, entre outros. No caso da ética profissional pode se falar da
ética para ciências de saúde, ética para a comunicação; ética para a
educação, ética para os psicólogos, ética para o jurista, ética na
administração, etc.

Na ética especial aplicamos os conteúdos da ética geral a uma realidade


específica, isto é concreta. A ética especial pode ser: ética médica, ética
do psicólogo, ética dos enfermeiros, ética dos professores, ética dos
economistas, ética ambiental, ética dos auditores, etc. Portanto, a ética
especial é a aplicação dos princípios gerais da ética a uma realidade ou
tema específico.

UNIDADE Temática 2.1.6. Meta - Ética

De acordo com Lourenço & Vicente (1995), a Meta - ética é o estudo


filosófico da natureza do julgamento moral. Ela busca o sentido pelo
qual se denomina algo como certo ou errado (bom ou mau), incluindo
o significado dos termos morais e a discussão de quando um julgamento
moral é objectivo ou subjectivo. Também a Meta - ética é uma reflexão

33
sobre a natureza dos próprios juízos éticos como: o que quer dizer bem
moral?

A Meta - ética estuda, ainda, outros temas como:

• Objectividade da Moralidade;
• A natureza da moralidade;
• A natureza da responsabilidade e sua
conexão com o livre arbítrio (a liberdade).
O estudo da natureza do julgamento moral pode ser enquadrado nas
seguintes disciplinas: a psicologia moral e epistemologia moral.

De acordo com Kant, (2001), a Psicologia Moral interessa-se pelo


estudo da motivação, da teoria das decisões e da ética descritiva. Por
sua vez, a Epistemologia Moral estuda a natureza do conhecimento
moral e a natureza dos argumentos morais. O estudo da natureza do
argumento moral também é enquadrado na disciplina chamada Lógica
Deôntica. A lógica deôntica estuda os princípios do raciocínio referente
às obrigações, permissões, proibições, compromisso moral, etc.

SUMÁRIO

Emotivismo ou não cognitivistas: Defendem que, são efectivas


expressões das emoções. A razão é inerente e somente a emoção é
capaz de promover a rectidão para iniciar a acção moral;

Racionalismo: a teoria de racionalismo dá mais importância a razão. Ela


enfatiza o papel ou a importância da razão frente a experiência
sensorial e do apelo a autoridade, como fundamento;

Teorias Absolutistas: Estas teorias têm enfoque sobre as acções que


podem ser consideradas erradas ou às vezes obrigatórias;

Teorias do Comando Divino esta teoria afirma que todo axioma moral
deriva do comando divino;

Prescritivos: Defende que, os actos morais são empregados para guiar


a acção e para dizer as pessoas o que deveriam fazer. É uma teoria sobre
o significado de termos morais como: bom, certo ou dever.

EXERCÍCIOS DE AUTO-AVALIAÇÃO

1. Leia o texto abaixo:


34
“… Por outras palavras, não há determinismo, o homem é livre, o
homem é liberdade... Não encontramos diante de nós valores ou
imposições que nos legitimem o comportamento. Assim, não temos
nem atrás de nós, nem diante de nós o domínio luminoso dos
valores. Justificações ou desculpas, estamos sós nós no domínio
luminoso dos valores justificações e desculpas. É o que traduzirei
dizendo que o homem está condenado a ser sem desculpas e a ser
livre, condenado porque não criou a si próprio, e no entanto, livre
porque uma vez lançado ao mundo é responsável por tudo que
fizer”. Os homens fazem a sua própria história, mas não fazem como
querem, não a fazem como circunstâncias de sua escolha e sob
aquelas com que se defrontam directamente legadas e transmitidas
pelo passado” Karl Max

a) Enquanto Sartre defende que há determinismo, Max


defende que o homem é livre e independente das
circunstâncias

b) Sartre defende que não há determinismo e Max estabelece


um meio-termo entre o determinismo e a total liberdade do
homem;

c) Quando Sartre afirma que o homem está condenado a ser


livre, diz o mesmo que, quando Max defende que os homens
fazem a sua própria história, mas não a fazem como querem;

d) Sartre diz que o homem está limitado pela sua própria


existência, enquanto Max afirma que o homem está limitado
pelas condições históricas.
2. Um dos problemas centrais da ética como disciplina filosófica, é
a fundamentação da moral. Sobre essa questão, assinale a
alternativa falsa.
a) As teorias éticas são no final das contas esforços de
investigação da possibilidade da fundamentação da
moral, no entanto, isso não significa que toda a teoria
ética aponte a razão como fundamento da moralidade;
b) “O cientificismo não recusa uma fundamentação
racional para a moral, pois prescreve que não há uma
separação entre fatos e valores. A neutralidade
axiológica própria da ciência, conforme Max Weber,
permite que os valores possam ser captados na sua
objetividade”
c) “O cientificismo não recusa uma fundamentação
racional para a moral, pois prescreve que não há uma
separação entre fatos e valores. A neutralidade
axiológica própria da ciência, conforme Max Weber,
35
permite que os valores possam ser captados na sua
objetividade”;
d) “O pensamento débil ou pós-moderno rejeita a
possibilidade de fundamentar a moral porque considera
que a tradição filosófica foi vítima de um engano
centrado na epistemologia. Não é possível uma razão
totalizante, que forneça uma metanarrativa que integre
os diversos aspectos do real. A razão é frágil, débil,
própria da finitude de nossa condição. Valores éticos
universais são formas de mascaramento da vontade de
poder totalizante”.
3. De entre os temas apresentados abaixo, qual deles não é tema
da meta-ética?
a) Objectividade da Moralidade;
b) A natureza da moralidade;
c) A natureza da responsabilidade e sua conexão com o
livre arbítrio (a liberdade);
d) A libertinagem.
4. De entre as alternativas abaixo, qual delas melhor descreve a
teoria do comando divino
a) Tudo é comandado pelo homem;
b) Tudo vem de Deus;
c) Tudo é comandado pela Razão;
d) Tudo é comandado pela emoção.
5. De entre as alternativas abaixo, qual delas é verdadeira?
a) Kant distingue legalidade e moralidade: A legalidade é a
conformidade com a Lei, efectuada com um motivo
natural sensível;
b) Kant distingue ética e moralidade: A ética é a
conformidade com a Lei, efectuada com um motivo
natural sensível;
c) Kant distingue ética. A ética é a conformidade com a
Lei, efectuada com um motivo natural sensível;
d) Kant distingue moral. A moral é a conformidade com a
Lei, efectuada com um motivo natural sensível;
6. De entre as alternativas abaixo, qual delas é verdadeira?
a) O domínio da moralidade é caracterizado pela sua
separação abstracta entre a subjectividade que deve
realizar o bem, e o bem que deve ser realizado.
36
b) O domínio da inmoralidade é caracterizado pela sua
separação abstracta entre a subjectividade que deve
realizar o bem, e o bem que deve ser realizado.

c) O domínio da moralidade é caracterizado pela sua


separação abstracta entre a objectividade que deve
realizar o bem, e o bem que deve ser realizado.

d) Esta separação da moralidade não é resolvida pela ética,


onde o bem se realiza de forma concreta e se torna
existente.

EXERCÍCIOS DE AVALIAÇÃO

1. Qual é a diferença entre a teoria racionalista e emotivista?


2. Fale sobre as teorias do comando divino.
3. Qual é a diferença entre a teoria prescritivista e absolutista?
4. Fale das teorias de comando divino.
5. Porquê é que se diz que a ética é uma disciplina Filosófica?
Fundamente a sua resposta
6. Partindo do princípio que a ética é a reflexão sobre a moral,
porquê é que existem muitas teorias éticas? Fundamente a sai
resposta.

CORRECÇÃO DOS EXERCÍCIOS DE AUTO -AVALIAÇÃO

1. B 2. B 3. D 4. B 5. A 6. A

TEMA III – ÉTICA E DIREITOS HUMANOS


UNIDADE Temática 3.1. A Vida Humana Como Valor Ético
UNIDADE Temática 3.2. Os Direitos Humanos: Defesa da Pessoa e da
Vida
UNIDADE Temática 3.2. Os Direitos Humanos: Defesa da Pessoa e da Vida
UNIDADE Temática 3.3.1.Carácter Sagrado e Absoluto da Pessoa
UNIDADE Temática 3.3.2. A Pessoa na sua Relação com os Outros
UNIDADE Temática 3.3.3. O significado ético da relação da pessoa com os
outros
UNIDADE Temática 3.3.3. O dever
UNIDADE TEMÁTICA 3.3.3.1. A Coação e a Obrigatoriedade Moral
UNIDADE TEMÁTICA 3.4. A Liberdade Como Fundamento do Agir Moral

37
Introdução

Nesta unidade temática debruçar-nos-emos sobre a relação existente


entre a ética e os Direitos humanos. Num olhar atento para o
desenvolvimento histórico, a ética sempre esteve relacionada a
questões de igualdade, de justiça e de respeito à dignidade. Entretanto,
para que esses valores sejam garantidos, existe a necessidade de um
universalismo moral, ou seja, pontos em comum para que se possa
conviver em sociedade de forma harmoniosa, porém, respeitando as
diferenças. Ou seja, é visível a necessidade de um mínimo moral comum
a todos, não importando as diferenças, mas ressaltando o que há de
comum entre os grupos.

No final o estudante deverá ser capaz de:

• Descrever a vida humana como valor ético;


Objectivos Descrever a vida humana como valor jurídico;
Específicos Analisar os direitos humanos face a defesa e protecção do ser
humano;
• Apresentar a conjugação existente entre a ética e os direitos
humanos.

UNIDADE Temática 3.1. A Vida Humana Como Valor Ético


Para Costa et al (1998), qualquer acção humana que tenha algum
reflexo sobre a vida das pessoas e seu meio ambiente, deve
necessariamente implicar o reconhecimento de valores e uma avaliação
de como estes poderão ser afectados. O primeiro desses valores é a
própria pessoa, com as peculiaridades que são inerentes à sua natureza,
inclusivamente as suas respectivas necessidades materiais, psíquicas e
espirituais.

Atenção, ignorar a valorização destes aspectos ao praticar actos que


produzam algum efeito sobre a pessoa humana, seja directa ou
indirectamente sobre ela através de modificações do meio em que ela
existe, é neste caso reduzir a pessoa a uma condição de “coisa” ou
“objecto”, retirando dela a sua dignidade.

Esta situação é válida tanto para as acções do governo como para as


actividades que afectam a natureza, para empreendimentos
económicos, acções individuais ou colectivas, como também para
criação e aplicação de tecnologia ou para qualquer actividade no campo
da ciência.

38
Entre os valores inerentes a condição humana está na “vida”. Embora
sua origem permaneça um mistério, tendo-se conseguido, no máximo
associar elementos que a produzem ou saber que em certas condições
ela se produz, o que se tem como certo é que sem ela a pessoa humana
não existe como tal, razão pela qual é de capital importância para a
humanidade o respeito a origem, à conservação e a extinção da vida.

Como foi assinalado por Aristóteles e por muitos outros pensadores, e


as modernas ciências que se ocupam do ser humano e do seu
comportamento o confirmam, o ser humano é associativo por natureza.
Por necessidade material, psíquica (incluindo as necessidades
intelectuais e afectivas), espiritual, todo o ser humano depende dos
outros para viver, para desenvolver sua vida e para a sua sobrevivência.

A percepção desse facto, é que faz da vida um valor, tanto nas


sociedades que se consideram mais evoluídas e complexas quanto
naquelas que são julgadas de simples e rudimentares, Costa et al.
(1998). Deste modo, reconhecida a vida como um valor, foi que se
chegou ao costume de respeitá-la, o que se tornou uma espécie de
conduta para todos os povos, embora com algumas variações
decorrentes de peculiaridades culturais existentes em cada uma delas.

De acordo com Costa et al. (1998), independentemente de crenças


religiosas ou de convicções filosóficas ou políticas, a vida é um valor
ético. Na convivência necessária com outros seres humanos, cada
pessoa é condicionada por esse valor e pelo dever de respeitá-lo, tenha
ou não consciência do mesmo. A par disso, é oportuno lembrar que
tanto a Declaração Universal dos Direitos Humanos, editada pela ONU
em 1948, quanto os Pactos de Direitos Humanos que ela aprovou em
1966 proclamam a existência de uma dignidade essencial e intrínseca,
inerente à condição humana.

Depois do exposto, podemos verificar que a vida humana é mais do que


a simples sobrevivência física, é a vida com dignidade, sendo esse o
alcance de exigência ética de respeito à vida. A vida humana como um
valor ético é vida com dignidade.

A ética de um povo ou de um grupo social é um conjunto de costumes


consagrados, informados por valores.

A partir desses costumes é que se estabelece um sistema de normas de


comportamento cuja obediência é geralmente reconhecida como
necessária ou conveniente para todos os integrantes do corpo social.
Por exemplo, se alguém, por conveniência ou mesmo por convicção
pessoal, procura contrair ou efectivamente contraria uma dessas
normas, este tem um comportamento antiético, presumivelmente
prejudicial a outras pessoas do mesmo grupo sociocultural, ou até a

39
todos os seres humanos. Assim, fica sujeito às sanções éticas previstas
para questões de desobediência, podendo neste caso ser impedido de
prosseguir na prática antiética ou, conforme as circunstancias, ser
punido pelos danos que tenha causado ou ser obrigado a repará-los.

Todos estes factores têm aplicação à protecção da vida no plano da


ética, sem prejuízo da protecção resultante de seu reconhecimento
como valor jurídico.

UNIDADE Temática 3.2. Os Direitos Humanos: Defesa da Pessoa e da Vida

A expressão Direitos Humanos já diz, claramente, o que este significa.


Direitos Humanos são os direitos do homem. São direitos que visam
resguardar os valores mais preciosos da pessoa humana, ou seja,
direitos que visam resguardar a solidariedade, a igualdade, a
fraternidade, a liberdade, a dignidade da pessoa humana. No entanto,
apesar de facilmente identificado, a construção de um conceito que o
defina, não é uma tarefa fácil, em razão da amplitude do tema.

Os Direitos Humanos colocam-se como uma das previsões


absolutamente necessárias a todas as Constituições, no sentido de
consagrar o respeito à dignidade humana, garantir a limitação de poder
e visar o pleno desenvolvimento da personalidade humana."

São direitos que visam salvaguardar os valores mais preciosos da pessoa


humana, tais como a solidariedade, a dignidade.

Há que salientar que, os Direitos Humanos devem ser reconhecidos em


qualquer Estado, grande ou pequeno, pobre ou rico,
independentemente do sistema social e económico que essa nação
adopta”.

Sendo assim, podemos entender "Por direitos humanos ou direitos do


homem são, modernamente, isto é, aqueles direitos fundamentais que
o homem possui pelo facto de ser homem, por sua própria natureza
humana, pela dignidade que a ela é inerente”.

Podemos afirmar, portanto, que Direitos Humanos constituem aqueles


direitos inerentes à pessoa humana, que visam resguardar a sua
integridade física e psicológica perante seus semelhantes e, perante o
Estado em geral. De forma a limitar os poderes das autoridades,
garantindo, assim, o bem-estar social através da igualdade,
fraternidade e da proibição de qualquer espécie de discriminação.
Todas as pessoas têm portanto direitos iguais.

Os Direitos Humanos colocam-se como uma das previsões


absolutamente necessárias a todas as Constituições, no sentido de
40
consagrar o respeito à dignidade humana, garantir a limitação de poder
e visar o pleno desenvolvimento da personalidade humana.

Todas as pessoas têm direitos e são indiscutíveis e inalienáveis.


Encontram-se descritos na Declaração Universal dos Direitos Humanos,
adoptada em 1948 pelas Nações Unidas.

No final da Idade Média, no século XIII, aparece a grande figura


conhecida no mundo inteiro, Santo Tomás de Aquino, que tem elevada
importância para a recuperação do reconhecimento da dignidade
essencial da pessoa humana.

Muito embora, sendo um pensador cristão, Santo Tomás de Aquino


retomou Aristóteles, sob muitos aspectos e procurou fixar conceitos
universais.

Dos estudos, pondo-se de parte alguns pontos de suas ideias que se


apoiam em dogmas de fé, resultam noções fundamentais que foram e
podem ser acolhidas mesmo por quem não aceite os princípios cristãos.
Tomando neste caso, a vontade de Deus como fundamento dos direitos
humanos, Santo Tomás de Aquino, condena as violências e as
discriminações, dizendo que o ser humano possui Direitos Naturais que
devem ser sempre respeitados, chegando a afirmar o direito de rebelião
dos que forem submetidos a condições indignas.

Nessa mesma época nasce a burguesia, uma nova força social,


composta por plebeus que foram acumulando riqueza mas
continuavam excluídos do exercício do poder político e, por isso, eram
também vítimas de violências, discriminações e ofensas à sua
dignidade.

Durante alguns séculos foram ainda mantidos os privilégios da nobreza,


que, associada à Igreja Católica, tornara-se uma considerável força
política e usava a fundamentação teológica dos Direitos Humanos para
sustentar que os direitos dos reis e dos nobres decorriam da vontade
de Deus. E assim, estariam justificadas as discriminações e as injustiças
sociais. Os séculos XVII e XVIII trouxeram elementos novos, que
acabaram pondo fim aos antigos privilégios.

No campo das ideias, surgiram grandes filósofos políticos, que


reafirmaram a existência dos direitos fundamentais da pessoa humana,
sobretudo os direitos à liberdade e à igualdade, mas dando como
fundamento desses direitos a própria natureza humana, descoberta e
dirigida pela razão. Isto favoreceu a eclosão de movimentos
revolucionários que, associando a burguesia e a plebe, ambas
interessadas na destruição dos seculares privilégios, levaram à

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derrocada do antigo regime e abriram caminho para a ascensão política
da burguesia.

Os pontos culminantes dessa fase revolucionária foram a


independência das colónias Inglesas da América do Norte, em 1776 e a
Revolução Francesa, que obteve a vitória em 1789. A nova situação
criada a partir daí foi inteiramente favorável à burguesia, mas adiantou
muito pouco para os que não eram grandes proprietários.

Em 1789 foi publicada a Declaração dos Direitos do Homem, onde se


afirmava, no seu primeiro artigo, que “todos os homens nascem e
permanecem livres e iguais em direitos”, mas, ao mesmo tempo, admita
“distinções sociais”, as quais, conforme a Declaração, deveriam ter
fundamento na “utilidade comum” Costa et al. (1998).

Logo foram achados os pretextos para essas distinções, instaurandose,


desse modo, um novo tipo de sociedade discriminatória, com novas
classes de privilegiados, estabelecendo-se enorme distância entre as
camadas mais ricas da população, pouco numerosas, e a grande massa
dos mais pobres. Sob o pretexto de garantir o direito à liberdade,
esquecendo completamente a igualdade, foram criadas novas formas
políticas que passaram a caracterizar o Estado liberal burguês, o mínimo
possível de interferência nas actividades económicas e sociais,
supremacia dos objectivos do capitalismo, com plena liberdade
contratual, garantia da propriedade como direito absoluto, sem
responsabilidade social, e ocupação de cargos e das funções públicas
mais relevantes apenas por pessoas do sexo masculino e com
independência económica. As diferenças devem portanto ser fonte de
aprendizagem e de enriquecimento, e não motivo de descriminação.

As injustiças acumuladas, as discriminações formalmente legalizadas, o


uso dos órgãos do Estado para sustentar privilégios dos mais ricos e de
seus serviçais acarretaram sofrimentos, miséria, violência e inevitáveis
revoltas, agravadas pelas disputas, sobretudo de natureza económica,
entre os participantes dos grupos sociais mais favorecidos, em âmbito
nacional e internacional.

Essa produção de injustiças teve como consequências a perda da paz,


com duas guerras mundiais no século XX, chegando-se a extremos,
jamais imaginados, de violência contra a vida e a dignidade da pessoa
humana.

Um aspecto paradoxal da história dos direitos humanos é que, apesar


de serem direitos de todos os seres humanos, o que deveria levar à
conclusão lógica de que nenhuma pessoa é contra os insumos, pois não
é razoável que alguém se posicione contra seus próprios direitos, não é
isso o que se tem verificado. Existem pessoas que colocam suas
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ambições pessoais, busca de poder, prestígio e riqueza acima dos
valores humanos, sem perceber que desse modo eliminam qualquer
barreira ética e semeiam a violência, criando insegurança para si
próprias e para o seu património.

Isto explica as violências na Idade Média, com o estabelecimento dos


privilégios da nobreza e a servidão dos trabalhadores. Essa é, também,
a raiz das agressões sofridas pelos índios da América Latina com a
chegada dos europeus.

Assinala-se também que existem pessoas ingénuas, mal informadas ou


excessivamente temerosas, que não chegam a perceber o jogo
malicioso dos dominadores, feito especialmente através dos meios de
comunicação de massa. A defesa dos direitos humanos é apresentada
como um risco para a sociedade, uma subversão dos direitos
patrimoniais, aterrorizando-se essas pessoas com a afirmação de que a
defesa dos mais pobres significa uma caminhada para a pobreza
generalizada, pois existem bens suficientes para serem distribuídos.

Outros, igualmente ingénuos, mal informados ou excessivamente


temerosos, aceitam o argumento maldoso de que protestar contra a
tortura, exigir que a pessoa suspeita, acusada ou condenada tenha
respeitada a dignidade inerente à sua condição humana é fazer a defesa
do crime. Está aí a outra espécie de pessoas que pensa ser contra
direitos humanos, por não perceberem que esses são seus direitos
fundamentais, que deveriam defender arduamente.

As pessoas mal informadas podem deixar de lutar contra a violação da


dignidade humana a alguém imerso nesta situação, e defender o crime.

São também contra os direitos humanos os que, em nome do progresso


científico de um futuro e incerto benefício da humanidade, ou alegando
atitude piedosa em defesa da dignidade humana, pregam ou aceitam
com facilidade a inexistência de limites éticos para as experiências
científicas ou o uso dos conhecimentos médicos para apressar a morte
de uma determinada pessoa. E assim estes últimos defendem a
eutanásia e o suicídio assistido (considera-se suicídio assistido quando o
médico ou qualquer pessoa do relacionamento do paciente lhe provê
todo o material necessário para que se suicide, mas não realiza
activamente o acto final, ela somente se assegura de que a dose
ministrada irá matar e faz com que o paciente a aplique em si mesmo),
que são formas de homicídio, atitudes que levam à antecipação da
extinção da vida, que nenhuma norma de direitos humanos autoriza.
Com o andar do tempo, a maior parte das pessoas estão a ficar mais
consciencializadas da necessidade de luta pelos seus direitos.

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Um importante dado é que, por meio da experiência, da reflexão e,
muitas vezes, do sofrimento, muitas pessoas de boa-fé, que julgavam
contrárias aos direitos humanos, adquiriram consciência de sua
contradição e mudaram de atitude. É necessário e oportuno ressaltar
que, embora sem rapidez que seria ideal, vem aumentando sempre o
número de pessoas consciencializadas, sendo necessário um trabalho
de base que seja constante e esclarecido, como também estimulado de
modo a que se acelere a ampliação do número de defensores dos
direitos humanos em todo o mundo.

3.1. UNIDADE Temática 3.3. Pessoa como Categoria Ética

“Todos sabemos que somos animais da classe dos mamíferos, da ordem


dos primatas, da familia dos hominideos, do género homo, da espécie
sapiens, que o nossso corpo é uma máquina com trinta bilhões de
células, controlada e procriada por um sistema genético que se
constistuiu no decurso de uma longa evolução natural de 2 a 3 bilhões
de anos, o cérebro com que pensamos, a boca com que falamos, a mão
com que escrevemos, são órgãos biológicos, mas este conhecimento é
tão inoperante como o que nos informa que o nosso organismos é
constituído por combinações de carbono, de hidrogénio, de oxigénio e
azoto”.(Morin, 1975: 15).

O relato de Edgar Morin, acima citado, mostra-nos que somos


diferentes relativamente aos outros animais. O homem é um ser capaz
de dizer sim ou não a algo. Portanto, é o sujeito que manifesta a sua
autonomia em relação a natureza e ao mundo que o rodeia.

O homem possui qualidades que o constitui como um sujeito impar no


universos dos outros animais tais como: a conscieência de si mesmo,
reter opassado, prever o futuro, dar nomes aos objectos, ultrapassando
os limites graças a sua imaginação. Fortes, (1995). Perante estes factos
podemos concluir que a realidade humana não se limita no ser
biológico, uma vez que exige e comporta outras vertentes como
psicológica, social, cultural e moral. Por isso, o ser humano é o resultado
de vários processos: biológicos, psicológicos, sociais, culturais e morais.
Estes factores encontram- se conjugados numa complexa relação
interindividual.

É nesse contexto que o homem se descobre a si mesmo como um


indivíduo pensante, e descobre a existência dos outros como a condição
da sua existência. Falemos de seguida deste indivíduo biológico e social.

Do ponto de vista da Ética, existe a consciência moral que é a faculdade


de distinguir o bem do mal, de que resulta o sentimento do dever ou da

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interdição de se praticarem determinados actos, a aprovação ou
remorso por havê-los praticado.

A ética ou filosofia moral é a parte da Filosofia que se ocupa com a


reflexão a respeito das noções e princípios que fundamentam a vida
moral. A instauração do mundo moral exige do homem a consciência
crítica, que chamamos de consciência moral. Vidal, (2007). Trata-se do
conjunto de exigências e das prescrições que reconhecemos como
válidas para orientar a nossa escolha é a consciência que discerne o
valor moral dos nossos actos.

Para um acto ser considerado moral deve ser livre, consciente,


intencional. Mas é preciso que não seja um acto solitário e sim solidário.
Costa, (1998). O acto moral supõe a solidariedade, a reciprocidade com
aqueles com os quais nos comprometemos. E o compromisso não deve
ser entendido como algo superficial e exterior, mas como o acto que
deriva do ser total do homem, como uma promessa pela qual se
encontra vinculado a comunidade.

Dessa característica decorre a exigência da responsabilidade. É ser


responsável, aquele que responde por seus actos, isto é, a pessoa
consciente e livre assume a autoria do seu acto, reconhecendo-o como
seu e respondendo pelas consequências dele.

O comportamento moral é consciente, livre e responsável. É também


obrigatório, e cria um dever. Fortes, (1995), mas a natureza da
obrigatoriedade moral não reside na exterioridade; pois é moral
justamente porque deriva do próprio sujeito que se impõe a
necessidade do cumprimento da norma. Mas a obediência a lei
livremente escolhida não é prisão, ao contrário, é liberdade. Isto é, o ser
consciente da disciplina e da obediência é um ser livre. A consciência
moral avalia a situação, consulta as normas estabelecidas, as interioriza
como suas ou não, toma decisões e julga seus próprios actos.

UNIDADE Temática 3.3.1.Carácter Sagrado e Absoluto da Pessoa


A pessoa tem um valor absoluto que não pode ser instrumentalizado
em função seja de que for. A pessoa não pode ser reduzida a simples
meio, mas deve ser sempre considerada como um fim em si mesma. É a
este carácter irrecusável que afirmamos que a pessoa tem um valor
sagrado e absoluto.

a)Singularidade

A singularidade faz com que a pessoa possua uma essência individual


que a torna única, irrepetível, insubstituível. Jamais existirá um outro
Sócrates, Platão, o Galilleu igual ou indéntico àquele que conhecemos
pela história.

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b)Autonomia

A autonomia é uma propriedade que faz da pessoa o princípio das suas


acções. Por isso, um ser autónomo é aquele que se rege pela sua prória
lei. Esta característica confere a pessoa uma dignidade especial. Pois é
por se sentir autónoma que a pessoa se sente sujeito, isto é, uma
realidade distinta e superior ao mundo das coisas que a circundam.

Importa referir que, a manifestação mais elevada da autonomia está na


capacidade de se governar a si mesma, na capacidade de ser lei para si
mesma, na capacidade do exercício da liberdade e auto - determinação.

c)Abertura

A abertura significa que apesar de ser um princípio do seu agir, a pessoa


é um projecto aberto e comunicante: um projecto aberto ao mundo que
o circunda, um projecto aberto aos outros que descobre como
coexistente e coactuantes, um projecto aberto ao transcendente
enquanto possibilidade de encontrar nessa abertura o sentido da vida.

UNIDADE Temática 3.3.2. A Pessoa na sua Relação com os Outros


Nesta secção vamos falar em primeiro lugar da relação da pessoa com
os outros. De seguida trataremos do significado ético desta relação.

A pessoa é um Ser com os outros. Este é um primeiro dado da existência


humana. Pois o ser humano vem ao mundo graças e mediação de
outrem, cresce, vive e colabora com outrém. Esta relação com o outro
é uma relação constituitiva da própria existência individual. Se o ser
humano existe então ele está no mundo com os outros.

De acordo com Vidal, (2007) a moralidade e a ética estão intimamente

relacionados com os outros porque o sujeito com os outros, funda


algum tipo de exiência moral e ética, a destacar:

• A relação com o outro como concorrente;


• A relação com o outro como contrato, e;
• A relação com o outro, com um tu-como-eu, pela reciprocidade
e harmonia .
a) A relação com o outro como concorrente: ela depende
bastante da forma como observamos o outro e do tipo de relação
estabelecida. Se olhamos para o outro como (alguém alheio a mim),
aquele com quem não tenho nada a ver, aquele que aparece no meu
dia-a-dia como um concorrente com quem e contra quem devo
competir. Isto é, como aquele que dispuda o meu lugar, como

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adversário e inimigo, então a relação com ele será de oposição, disputa,
conflito e até mesmo de aniquilação.

Nos dias de hoje é frequente observar que a relação com o outro é de


oposição e guerra, precisamente porque encara-se o outro como o
“outro”; estranho, como aquele que não tenho nada a ver. Observe-se
o nosso dia-a-dia os conflitos, a concorrência desleal entre empresas,
etc.

b) A relação com o outro como contrato: esta ralação com o outro


perspectiva o eu e o outro como apenas indivíduos que estabelecem
contratos entre si poque não podem sobreviver um sem o outro, e
porque precisam de encontrar uma forma de assegurar a defesa dos
seus interesses distintos e antagónicos.

Esta é uma dimensão individualista em que a relação com o outro tem


um carácter de uma relação acidental e estratégica. Poranto, segundo
essa visão eu preciso do outro para poder sobreviver e satisfazer as
necessidades. Deste modo de relação com o outro ainda não satisfaz a
dimensão moral ou ética de sermos-uns-com-os-outros.

c)Relação com o outro, com um tu-como-eu: Esta perspectiva procura


abordar o outro como um “outro-eu”, com um eu-como-eu, ou seja, um
tu-como-eu aquém gratuitamente e com prazer concede a dignidade de
pessoa. Esta relação está cheia de experiências. E, é na experiência de
acolhimento, de reconhecimento, do amor, da amizade, do
enamoramento que encontramos a dimensão mais profunda da relação
com o outro como uma relação positiva e feliz, isto é, uma relação com
enorme peso moral e ético.

É nessas experiência que acabamos de referir e outras em que os


outros tem efectivamente o sentido ético da responsabilidade por nós.
É só nessa dimensão que encontramos o verdadeiro sentido ético de
sermos-uns-com-os-outros. Pois, é por detrás do reconhecimento onde
reside o outro que é um valor, que o outro tem dignidade própria, de
que o outro é um imperativo ético e de que o outro pode assumir
obrigações morais e arcar com a responsabilidade ética pelo seu
bemestar e felicidade.

UNIDADE Temática 3.3.3. O significado ético da relação da pessoa com


os outros

Nesta secção vamos acentuar o valor ético da pessoa e a sua


importância na relação com os outros.

A relação da pessoa com os outros só pode ter significado ético se a


própria pessoa se apresentar como um valor ético. A pessoa é um fim

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autónomo do universo – porque é racional e livre. Por isso, o valor da
pessoa emerge nas relações interpessoais.

É na relação com os outros que a pessoa encontra os vínculos éticos


mais profundos. Esses vínculos expressam-se de diversos níveis:

• Em primeiro lugar, como respeito pela pessoa do outro, tal como


se apresenta no encontro interpessoal. A pessoa é única,
original, insubstituível. Ela é fim em si mesma e nunca pode ser
instrumentalizada e reduzida a um simples meio seja do que for;
• Em segundo lugar, a promoção como uma forma de libertação.
Na relação interpessoal, o outro se apresenta, muitas vezes, em
estado de alienação: é o pobre, o oprimido, o explorado, o
esfomeado, o desempregado, etc. Face a estas situações é
necessário agir sob o risco do significado ético da relação
pessoal possa ficar reduzida a um mero moralismo forma. Por
isso, a relação interpessoal é activa, criadora, libertadora.
Portanto, o valor ético da pessoa é o fundamento de uma ética
social e é o critério para se decidir sobre os deveres que a
consciência moral nos impõe.

Depois de termos abordado do significado ético da relação da pessoa


com o outro, vamos de seguida explicar o problema da experiência do
dever.

UNIDADE Temática 3.3.3. O dever

O dever tomado no sigular significado um imperativo que se impõe à


liberdade com carácter categórico. Neste sentido, o dever é sinónimo
de obrigatoriedade moral. “A obrigatoriedade moral é um
comportamento obrigatório e devido; isto é, o agente é obrigado a
comporta-se de acordo com uma regra ou norma de acção e a excluir
ou evitar os actos proibidos por ela”. Vázquez (2006: 179). Por isso, a
obrigatoriedade moral impõe deveres à pessoa.
Diferentemente dos outros comportamentos normativos, como o
jurídico, o social, a vontade do agente moral é uma vontade livre. Este
sujeito moral deve escolher com liberdade entre várias alternativas, as
normas morais que exigem ser respeitadas por causa de uma convicção
interior e não, como no direito, e na relação social que preconizam uma
simples conformidade exterior, impessoal ou forçada.

UNIDADE TEMÁTICA 3.3.3.1. A Coação e a Obrigatoriedade Moral

O comportamento moral se nos apresenta como um comportamento


livre e obrigatório e não existe um comportamento moral sem a
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liberdade. Costa, (1998). No entanto, a obrigação moral supõe
necessariamente uma livre escolha. Quando a escolha não existe, da
parte do sujeito, no caso de rígida determinação causal externa, não é
admissível exigir do agente uma obrigação moral, já que não pode
cumpri-la. Mas basta a possibilidade de escolher livremente para que se
dê tal obrigação. Portanto, a obrigação moral deve ser assumida livre e
internamente pelo sujeito e não imposta. Por isso, o factor pessoal é
essencial na obrigação moral. Mas o factor pessoal está estreitamente
ligado a questão social. Porque só pode haver obrigação para um
indivíduo quando as suas decisões e os seus actos afectam os outros ou
a sociedade inteira. A razão é simples, o meu comportamento tem
repercussão a terceiros, por isso sou obrigado a realizar determinados
actos e a evitar outros. “ (…) A obrigatoriedade moral tem um carácter
social, porque se a norma deve ser aceita intimamente pelo indivíduo e
este deve agir de acordo com sua livre escolha ou sua consciência do
dever, a decisão pessoal não é algo que ele inventa, mas que encontra
já estabelecido numa determinada sociedade. (…) As fronteiras daquilo
que é obrigatório a fazer ou a não fazer, do devido ou não devido, não
são modificadas pelo indivíduo, mas mudam de uma sociedade para
outra; logo, o indivíduo decide e age no âmbito de uma obrigatoriedade
socialmente dada”. (Vázquez, 2006: 183).

Esta obrigatoriedade moral transparece da conduta da linguagem


humana. Todos os homens, em todas as formas culturais, sentem-se
dirigidos, no seu agir, por normas, regras, leis que impõem a partir de
interior – sem coacção externa. A obrigatoriedade está expressa na voz
da consciência que ordena, condena, aprova ou censura o nosso agir.

Inicialmente a obrigação pode identificar-se com a pressão social. Pouco


a pouco emerge no processo de maturação ética a consciência do valor
que justifica tal obrigação. Faseadamente, a obrigatoriedade moral
proclama a sua autonomia face à pressão social. Por cima das leis do
clã, da tribo, da cidade, apresentando-se à consciência leis que se
impõem ao homem enquanto homem, as leis não escritas, não são fruto
da pressão social, porque são anteriores à sociedade. No entanto, a
obrigação moral não pode ser identificada com a pressão social, pois,
para que a pressão social tenha um significado ético, é necessário que
ela se apresente como um valor moral e que o sujeito sinta a
obtigatoriedade de obedecer.

Mas, não nos esqueçamos que a própria pressão social já pressupõe o


valor moral, daí que presiste o problema.Um elemento associado a
obrigação moral gera o remorso. O remorso é um sentimento
desagradável, que causa mal-estar. Mas se entendermos o remorso
nesse sentido estaremos fora do campo da moral e do significado ético.
Então, como devemo entender o remorso? O remorso deve ser
entendido como um sentimento desagradável que causa mal-estar

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merecido porque o dever foi violado. Somente neste sentido o remorso
tem significado ético.

Um outro elemento associado a obrigação moral é a sanção. A sanção


só tem significado ético qunado justo é merecido. Por isso, a
obrigatoriedade moral se apresenta como uma necessidade
verdadeiramente original. É uma necessidade da liberdade. Portanto, o
dever moral expressa-se no seguinte princípio: “o bem deve fazer-se e
o mal deve evitar-se”. Este é um princípio abstracto e universal. Mas a
questão que se coloca é a seguinte: qual é o bem que se deve fazer e o
mal que se deve evitar?

Todas as esferas da vida social estão sujeitas a alguns deveres como:


deveres para connoscos mesmos, deveres para com a família, deveres
para com os empregados, deveres para com a empresa, para com a
sociedade, para com o trabalho, para com a vida política,entre outros
deveres.

Nesta secção vamos descrever aqueles deveres que nos parecem


fundamentais para o nosso estudo: o dever para connosco mesmos e
deveres para com os outros.

a)Deveres para connosco mesmo

Antes dos devres para com os outros, existem deveres para connoscos
mesmo. Cada um de nós, como pessoa, tem o direito e o dever de
procurar a sua realização integral. Costa, (1998). Assim temos o dever
de conservar a vida, de manter a integridade física, de desenvolver e
cultivar a liberdade, a inteligência, de evitar situações em que a
dignidade humana se degrade. Portanto temos o dever de respeirar em
nós mesmo o valor absoluto da pessoa humana que somos.

b)Deveres para com os outros

O outro é uma pessoa que deve ser respeitada e, se possível, amada.


Costa, (1998). No entanto, temos que nos lembrar que na relação com
o outro como pessoa implica a afirmação, a promoção e, muitas vezes,
a libertação.

Neste sentido, situa-se o dever querer o outro como pessoa, dever de


promover a sua realização física, espiritual, moral, dever de o libertar
de situações degradantes de exploração e opressão.Tendo em conta
estes deveres para connnosco mesmo e para com os outros, podemos
afirmar que tudo aquilo que atente sobre a dignidade humana, contra
a vida humana são infâmias por isso a justiça e o amor devem sempre
ser defendidos seja no quadro legal seja no contratual.

Para entender o sentido de dever e de ligação do homem a orientação


normativa de acção, temos de nos remeter ao social: a vida social impõe
a cada um dos seus membros regras de conduta, modelos que vão
50
determinar a acção. As dinâmicas sócio - económicas e políticas vão
alterando esses modelos ao longo do tempo, verificaremos também
que correspondem a diferentes concepções e experiências do dever.
Vidal, (2007).

No entanto, um aspecto permanece em comum: a conjuntura total da


sociedade que pressiona o homem a agir de determinado modo, que o
leva a interiorizar essa pressão e a regular as suas relações com os
outros. Mas os problemas morais não se esgotam na acção, pois o que
fundamenta a obrigação e interdição que o homem assume em cada
época e em cada espaço cultural?

A experiência moral apresenta-se sob duplo aspecto: desejável porque


o cumprimento das normas, do bem tem um carácter gratificante; os
valores quando interiorizados fazem parte de nos mesmos; são
imanentes à nossa vontade. A experiência moral é imperativa porque
se nos impõe como autoridade soberana, surge como um dever
imposto do exterior à nossa consciência. Costa, (1998).

Assim, o homem fundamenta a sua exigência moral em ideais, valores


que vão construir-se como referências de acção. Mas há dois modos de
conceber a acção moral: se dissermos, por exemplo, que cumprimos os
chamados deveres (não roubo, não as responsabilidades, não mentir
para conquistar prestigio social, viver em segurança, receber
considerações em troca) a acção fundamentarse-á sobre o elemento de
troca – o interesse; mas se procedemos segundo princípios,
independentemente de consequências possíveis, fundamentamos a
acção moral em imperativos não fazendo-a depender de nenhum
cálculo mediador.
Para que haja conduta ética é preciso que haja o agente consciente, isto
é, aquele que conhece a diferença entre o bem e o mal, o certo e o
errado, o permitido e o proibido, a virtude e o vício. Fortes (1995). A
consciência moral não só conhece tais diferenças, mas também
reconhece-se como capaz de julgar o valor dos actos e das condutas e
de agir em conformidade com os valores morais, sendo por isso
responsável por suas acções e seus sentimentos e pelas consequências
do que faz e sente.
A consciência moral manifesta-se na capacidade para deliberar diante
de alternativas possíveis, decidindo e escolhendo uma delas antes de
alcança-se na acção. A consciência tem a capacidade de avaliar e pesar
as motivações pessoais, as exigências feitas pela situação, as
consequências para si e para os outros, a conformidade entre meios e
fins, a obrigação de respeitar o estabelecimento ou transgredi-lo. Clotet
(2003).
No entanto, a vontade é o poder deliberativo e decisório do agente
moral. Para que se exerça tal poder sobre o sujeito moral, a vontade
deve ser livre, isto é, não pode estar submetida à vontade de um outro
51
nem pode estar submetida aos instintos e às paixões, mas, ao contrário,
deve ter poder sobre eles e elas.
O campo ético é constituído pelos valores e pelas obrigações que
formam o conteúdo das condutas morais, isto é, as virtudes. O principal
constituinte da exigência ética é o sujeito moral.
O sujeito ético só pode existir se preencher as seguintes condições de
acordo com Fortes (1995):
• Ser consciente de si e dos outros: deve ser capaz de reflectir e
de reconhecer a existências dos outros como sujeitos iguais a
ele;
• Ser dotado de vontade: isto é, deve ter a capacidade para
controlar e orientar desejos, impulsos, tendências, sentimentos
e de capacidade para deliberar e decidir entre várias alternativas
possíveis;
• Ser responsável: isto é, deve ser capaz de reconhecer-se como
autor da acção, avaliar os efeitos e as consequências dela sobre
si e sobre os outros, assumindo-as bem como às suas
consequências, respondendo por elas;
• Ser livre: isto é, deve ser capaz de oferecer-se como causa
interna de seus sentimentos, atitudes e acções, por não estar
submetido a poderes externos. A liberdade não é tanto o poder
para escolher entre vários possíveis, mas o poder para auto
determinar-se, dando a si mesmo as regras de conduta.
O campo ético é constituído por dois pólos internamente relacionados:
o agente ou sujeito moral e os valores morais ou virtudes éticas.
Do ponto de vista do agente ou sujeito moral, a ética faz uma exigência
essencial, qual seja, a diferença entre a passividade e a actividade.
Passivo é aquele que se deixa governar e arrastar por seus impulsos,
inclinações e paixões, pelas circunstâncias, pela boa ou má sorte, pela
opinião alheia, pelo medo dos outros, pela vontade de um outro, não
exercendo a sua própria consciência, vontade, liberdade e
responsabilidade.
Do ponto de vista dos valores, a ética exprime a maneira como a cultura
e a sociedade definem para si mesmas, o que julgam ser por exemplo,
o crime, a violência, a corrupção, o mal, o vício e, como contrapartida,
o que a mesma sociedade considera ser o bem e a virtude.
Para além do sujeito moral, os valores e os fins morais, o campo ético é
constituído ainda pelos meios – que o sujeito realiza os fins. Em ética,
nem todos os meios são justificáveis, mas aqueles que estão de acordo
com os fins da própria acção. Isto é, fins éticos exigem meios éticos. Por
isso, a relação entre meios e fins pressupõe que a pessoa moral não
exista como um facto dado, mas é instaurada pela vida inter - subjectiva
52
e social, precisando ser educada para os valores morais e para as
virtudes.
Se observarmos a nossa sociedade notaremos que ela possui códigos
morais, isto é, um conjunto organizado de normas que prescrevem o
que é moralmente valioso. E existem determinadas infracções que são
consideradas reprováveis e condenadas pelos membros da própria
sociedade. Costa, (1998). Por exemplo: a crueldade, a corrupção, o
assassínio, entre outros.

Mas que quer dizer? É que cada sociedade possui uma hierarquização
normativa que é a expressão do escalonamento dos valores que uma
sociedade preza. Gracia, (1989). Sendo as normas morais a
manifestação dos valores morais a gravidade das infracções é aferida
segundo a importância do valor que por elas é negado. Se damos mais
valor ao respeito pela vida humana do que ao cumprimento das
promessas, então o juízo moral acerca do homicídio, por exemplo, será
mais duro e severo do que a reprovação da desonestidade.
Por isso, uma norma moral é uma regra de comportamento que
determina o que devemos fazer ou não fazer para que a nossa acção
seja moralmente válida ou moralmente valiosa. Neste sentido,
tomemos como exemplo a Privacidade como um valor, pode exprimirse
numa norma moral através da qual assume a forma de dever: “respeita
a privacidade de cada um”. Portanto, os valores aparecem como
exigências, isto é, como algo que requer um esforço de concretização.
Portanto, as normas morais são as formas mediante as quais uma certa
sociedade pretende ver concretizados, vividos, os seus valores.

UNIDADE TEMÁTICA 3.4. A Liberdade Como Fundamento do Agir Moral


Nesta secção vamos explicar a liberdade como fundamento do agir

moral.

Entre a liberdade e a moralidade existe uma relação intrínseca que faz


da liberdade o fundamento do agir moral e deste o resultado e a
expressão daquela. Um acto moral só pode ser moral se for
incondicionalmente livre. Para Kant (1988), o acto moral é aquele que
encontra o fim em sí mesmo, que é absoluto, praticado por obediência
à lei prática, como o cumprimento do dever.

A liberdade é a razão de ser da lei moral e a afirmação do sujeito que


age como pessoa, com boa vontade e que, mesmo agindo por dever,
age livremente pois obedece à sua própria lei. Por isso, para a liberdade
é a condição da lei moral e a lei moral é a condição sob a qual
primeiramente podemos nos tornar conscientes da liberdade. Daí que,
a liberdade é a razão de ser da lei moral, e esta a razão de conhecer da

53
liberdade. Portanto, se a liberdade fundamenta a Lei moral, então a lei
moral manifesta a liberdade.

Observemos a relação entre a liberdade e a moralidade, no dizer de Kant


(1988: 95-96):“Não basta que atribuamos liberdade à nossa vontade,
seja porque razão for, senão tivermos também razão suficiente para a
atribuirmos a todos os seres racionais. Pois como a moralidade nos serve
de lei somente enquanto somos seres racionais, tem ela que valer
também para todos os seres racionais; e como não pode derivar-se
senão da propriedade da liberdade, tem que ser demonstrada a
liberdade como propriedade da vontade de todos os seres racionais, e
não basta verificá-la por certas supostas experiências da natureza
humana (se bem que isto seja absolutamente impossível e só possa ser
demonstrado a priori), mas sim temos que demonstrá-la como
pertencente à actividade dos seres racionais em geral e dotados de uma
vontade. Digo, pois: Todo o ser que não pode agir senão sob a ideia da
liberdade, é por isso mesmo, em sentido prático, verdadeiramente
livre”. Valem todas as leis que estão inseparavelemente ligadas à
liberdade, exactamente como se a vontade fosse definida como livre em
si mesma e de modo válido na filosofia teórica. Portanto, todo o ser
racional que tem uma vontade tem que atribuir-lhe necessariamente a
ideia da liberdade, sob a qual ele unicamente pode agir.

Ora é impossível pensar numa razão que com a sua própria consciência
recebesse de qualquer outra parte uma direcção a respeito dos seus
juízos, pois que então o sujeito atribuiria a determinação da faculdade
de julgar, não à sua razão, mas a um impulso. Ela tem de considerar-se
a si mesma como autora dos seus princípios, independemente de
influências estranhas; por conseguinte, como razão prática ou como
vontade de um ser racional, tem de considerar-se a si mesma como
livre; isto é, a vontade desse ser só pode ser uma vontade própria sob a
ideia da liberdade, e, portanto, é preciso atribuir, em sentido prático, a
tal vontade vinda de todos os seres racionais.

SUMÁRIO

A declaração Universal dos Direitos Humanos da Organização das


Nações Unidas afirma que: “Todos os seres humanos nascem livres e
iguais e em direitos. Dotados de razão e de consciência, devem agir uns
para com os outros em espírito de fraternidade”.

O que se convencionou chamar de “Direitos Humanos”, são


exactamente os direitos correspondentes à dignidade dos seres
humanos. São direitos que possuímos não porque o Estado assim
decidiu, através de suas leis, ou porque nós mesmos assim o fizemos,
por intermédio dos nossos acordos. Direitos humanos, por mais
54
pleonástico que isso possa parecer, são direitos que possuímos pelo
simples facto de que somos “Seres Humanos”.
Os Direitos Humanos são uma ideia política com base moral e que estão
intimamente relacionados com os conceitos de justiça, igualdade e
democracia. Eles são uma expressão do relacionamento que deveria
prevalecer entre os membros de uma sociedade e entre indivíduos e
Estados.

Os Direitos Humanos devem ser reconhecidos em qualquer Estado,


grande ou pequeno, pobre ou rico, independentemente do sistema
social e económico que essa nação adopta.

EXERCÍCIOS DE AUTO-AVALIAÇÃO

1. De entre as alternativas abaixo, escolha a que melhor define os


direitos humanos.
a) São direitos que visam resguardar os valores mais preciosos da
pessoa humana;
b) São direitos que visam defender a pessoa sem a dar a devida
dignidade;
c) Os direitos Humanos não tem nenhuma relação com a dignidade
humana;
d) Todas as alternativas anteriores são correctas.
2.Faça a correspondência dos espaços em branco com as alternativas a
baixo apresentadas:

No final da ------------- no século XIII, aparece a grande figura conhecida

no mundo inteiro, -------------, que tem elevada importância para a


recuperação do reconhecimento da dignidade essencial da pessoa
humana.

a) Modernismo, Aristóteles;
b) Renascimento, Kant;
c) Idade média, São Tomás de aquino;
d) Todas as alternativas anteriores estão correctas.

3. Tendo em conta a declaração universal dos direitos humanos, é


correcto afirmar que:
a) Todos seres humanos são diferentes entre si, por isso os direitos
humanos vão de acordo com as categorias das pessoas;

55
b) Todos os seres humanos nascem livres e iguais e em direitos;
c) Todas as alternativas anteriores são correctas;
d) Nenhuma das respostas anteriores.
3. Quanto a relação entre a ciência e os direitos Humanos, é correcto
afirmar que:
a) Não é contra os direitos humanos os que, em nome do
progresso científico de um futuro e incerto benefício da
humanidade;
b) É contra os direitos humanos os que, em nome do
progresso científico de um futuro e incerto benefício da
humanidade;
c) Todas as alternativas anteriores estão correctas;
d) Nenhuma das respostas.
4. No que concerne aos Direitos humanos, podemos afirmar
positivamente o seguinte:
a) Os Direitos Humanos são uma ideia política com base
imoralidade e que estão intimamente relacionados com os
conceitos de injustiça;
b) Os Direitos Humanos não são uma ideia política com base
moralidade e que estão intimamente relacionados com os
conceitos de justiça;
c) Os Direitos Humanos são uma ideia política com base
moralidade e que estão intimamente relacionados com os
conceitos de justiça;
d) Nenhuma das respostas anteriores.
5. Os direitos Humanos são:

a) Os Direitos Humanos não são universais por isso não


devem ser reconhecidos em qualquer Estado, grande ou
pequeno, pobre ou rico, independentemente do sistema
social e económico que essa nação adopta.
b) Os Direitos Humanos são restritos por isso, não devem ser
reconhecidos em qualquer Estado, grande ou pequeno,
pobre ou rico, independentemente do sistema social e
económico que essa nação adopta.
c) Os Direitos Humanos são restritos por isso devem ser
reconhecidos em qualquer Estado, grande ou pequeno,
pobre ou rico, independentemente do sistema social e
económico que essa nação adopta.

56
d) Os Direitos Humanos são universais devem ser
reconhecidos em qualquer Estado, grande ou pequeno,
pobre ou rico, independentemente do sistema social e
económico que essa nação adopta.

EXERCÍCIOS DE AVALIAÇÃO

1. Qual é a importância dos


direitos humanos?
2. Qual foi o papel de Santo Tomás de
Aquino na consagração de Direitos Humanos?
3. Qual é a relação entre o exercício
profissional do psicólogo e domínio dos
direitos humanos?
4. Justifique com base num exemplo
concreto a seguinte afirmação: Praticar
actos que produzam algum efeito sobre a
pessoa humana, seja directa ou
indirectamente sobre ela através de
modificações do meio em que ela existe,
é neste caso reduzir a pessoa a uma
condição de “coisa” ou “objecto”,
retirando dela a sua dignidade?
5. “Todos os homens nascem e permanecem
livres e iguais em direitos”, mas, ao
mesmo tempo, admita “distinções
sociais”, as quais, conforme a Declaração,
deveriam ter fundamento na “utilidade
comum” Costa et al. (1998). Fundamente.
6. “A obrigatoriedade moral é
um
comportamento obrigatório e devido”. Vázquez
(2006: 179). Comente a afirmação.

CORRECÇÃO - EXERCÍCIOS DE AUTO – AVALIAÇÃO

1. A 2. C 3. B 4. B 5. C 6. D TEMA IV: PRINCÍPIOS ÉTICOS


UNIDADE TEMÁTICA 4.1.Beneficência

57
UNIDADE Temática 4.2. Não – Maleficência

UNIDADE Temática 4.3. Autonomia

UNIDADE Temática 4.4. Justiça

Introdução

A presente unidade temática dedicar-se-á aos principios éticos, sendo


uma das unidades temáticas chaves, na medida em que os princípios
éticos enunciam valores ou metas de carácter amplo e genérico, que
expõem os grandes conceitos e os principais critérios do campo ético
pelos quais se orientamas relações humanas. Por esta razão é que no
final desta unidade temática, o estudante deve ser capaz de:

No final o estudante deverá ser capaz de:

Conhecer os principais principios


éticos;
Objectivos Conhecer a correlação entre os princípios éticos e a
actuação profissional;
Específicos
Enquadrar os principais principios éticos e a sua correlação
com os Direitos Humanos.
Com o surgimento da Ética, na década de 70, era necessário

estabelecer uma metodologia para analisar os casos concretos e os


problemas éticos que emergiam na vida prática. Beauchamp e James,
citados por Costa et al (1998), em 1976 publicaram um livro
denominado “Principles of Ethics”, onde expõem uma teoria
fundamentada em quatro princípios básicos, que a partir de então,
torna-se fundamental para o desenvolvimento da Ética e ditaria uma
forma peculiar de definir e planear os valores envolvidos nas relações
dos profissionais e seus pacientes.

É de salientar que estes quatro princípios que servem como regras


gerais para orientar a tomada de decisão frente aos problemas éticos e
para ordenar os argumentos nas discussões de casos.

Os princípios éticos enunciam valores ou metas de carácter amplo e


genérico, que expõem os grandes conceitos e os principais critérios do
campo ético pelos quais se orientamas relações humanas. Costa,
(1998).

58
Para que os princípios éticos se efectivem, exige-se a responsabilidade
nos deveres do ser humano para com o outro e todos para com a
humanidade.

O senso de humanidade é inerente e fundamental à Ética. O


pensamento ético remete ao pensar de forma solidária, assumir uma
postura íntegra frente ao outro e, consequentemente, frente à
sociedade e `a natureza. Gracia, (1989).

Com base nestas colocações, é possível afirmar que, sendo a ética uma
reflexão compartilhada, complexa e interdisciplinar sobre a adequação
das acções que envolvem a vida e o viver. Nesta perspectiva, podem ser
destacados os seguintes princípios éticos segundo Silva, (1997):

Promoção da justiça e da equidade;

Respeito à dignidade humana;

Promoção do bem-estar dos indivíduos e da população em geral;

Respeito e estímulo à autonomia dos indivíduos.

Os princípios éticos constituem-se enquanto directrizes, pelas quais o


homem rege o seu comportamento, tendo em vista uma filosofia moral
dignificante traduzida pela integridade das condutas pessoais, pela não
-discriminação das pessoas, pelo respeito mútuo e pelo tratamento
digno. Fortes, (1995). Portanto, os princípios se justificam em razão de
sua capacidade de articular e orientar decisões e acções tendo como
finalidade, a busca de valores orientada para a realização do ideal de
vida humana.

Com o reconhecimento do respeito à dignidade humana, a tem um


sentido humanista, estabelecendo um vínculo com a justiça. Os direitos
humanos, decorrentes da condição humana e das necessidades
fundamentais de toda pessoa humana, referem-se à preservação da
integridade e da dignidade dos seres humanos e à plena realização de
sua personalidade. Portanto, a Ética anda aliada aos direitos humanos.

Os princípios éticos anteriormente mencionados referem-se aos


princípios gerais, estando neles subjacentes outros princípios. Iremos
nos concentrar nos mais importantes e serão abordados de a seguir.

UNIDADE TEMÁTICA 4.1.Beneficência

De acordo com Costa et al (1998), a Beneficência no seu significado


filosófico moral, quer dizer fazer o bem.

59
A beneficência assegura o bem-estar das pessoas, agindo positivamente
quanto aos seus importantes e legítimos interesses, na medida do
possível evitando-lhes danos. Este princípio se ocupa do bem-estar dos
pacientes, Grisard (2006).

A Beneficência, conforme alguns dos autores representativos da


Filosofia moral que usaram o termo, é uma manifestação da
Benevolência. A Benevolência tem sido, porém, um conceito bem mais
utilizado. Os moralistas britânicos dos séculos XVIII e XIX que
debruçaram especialmente sobre o conceito, destacando-se:
Shaftesbury, Joseph Butler, Francis Hutcheson, David Hume e Jeemy
Bentham. Vidal, (2007).

Butler, por exemplo, diz que existe no homem, de forma primária, um


princípio natural de benevolência ou da procura e realização do bem
nos outros e que, do mesmo modo, temos propensão a cuidar da nossa
própria vida, saúde e bens particulares. Para Costa et al (1998), este
argumento é considerado como sendo uma crítica à teoria de Thomas
Hobbes, que defende que, a natureza humana é dominada pelas forças
do egoísmo e da competição.

Ora, o egoísmo não é o único dinamismo natural do ser humano, pois

toda a pessoa normal apresenta sentimentos para com os outros seres


que com ela convivem, por exemplo, a simpatia, gratidão, generosidade
e benevolência, que impulsionam a prática do que é bom para os outros
e para o bem público.

Platão, Aristóteles e Kant, outorgam um papel secundário à


benevolência, pois priorizam em suas respectivas teorias o papel da
razão. Para eles, a benevolência, vincada ao sentimento e às paixões
tende para um protagonismo menor.

Silva, (1997). Defende que, forma geral, para estes autores, a


benevolência apresenta as seguintes características:

É uma disposição emotiva que tenta fazer bem aos outros;

É uma qualidade boa do carácter das pessoas;

É uma virtude humana;

É uma disposição para agir de forma correcta com os demais;

De forma geral, todos os seres humanos normais a possuem.

Nas primeiras três décadas do século XX, William David Ross, citado por
Costa et al (1998), desenvolveu uma ética normativa, conhecida como
a ética dos deveres num primeiro momento ou numa primeira
consideração. A ética normativa de Ross apresenta uma lista de deveres
60
que têm a particularidade de serem independentes uns dos outros, tais
como, deveres de deveres da fidelidade, reparação, gratidão, justiça,
beneficência, aperfeiçoamento pessoal e não maleficência.

Entretanto, poderá alguém de repente encontrar-se diante de dois


deveres num primeiro momento ou numa primeira consideração ao
mesmo tempo. Diante do dilema, terá que decidir-se por um dos dois.
Por esse motivo, podemos afirmar claramente que o dever num
primeiro momento ou numa primeira consideração, ainda que muito
importante ou incontestável, não tem carácter absoluto. Este dever
refere-se a uma situação moral determinada, é um dever que deve ser
cumprido, a não ser que entre em conflito com um dever igual ou mais
forte. O mesmo caso ou problema em questão poderia também ser
considerado sob influência ou condicionamento de um outro tipo de
dever.

Por exemplo, na prática profissional quando se trata da situação de


amputação de um membro de um indivíduo, sempre devemos, numa
primeira consideração não causar mal ao paciente, como ter que
mutilá-lo. Mas nesta situação, o dever mais importante será manter a
vida, mesmo que com a qualidade inferior, ou seja, para manter o
indivíduo vivo é inevitável que se ampute um dos seus membros, caso
contrário o indivíduo poderá morrer.

Depois de tudo exposto, vale a pena destacar: a beneficência, sob nome


de benevolência, como sendo um dos elementos exponenciais da
filosofia moral Britânica dos séculos XVIII e XIX e de grande repercussão
na Ética. Onde Beneficência tanto a Não - Maleficência constitui deveres
independentes e condicionais (ou não absolutos), conforme a
classificação de Ross.

Para Costa et al (1998), o princípio da beneficência tem como regra


norteadora da prática médica, odontológica, psicológica e da
enfermagem, entre outras, do paciente, o seu bem-estar e seus
interesses, de acordo com os critérios do bem fornecidos pela Medicina,
Odontologia, Psicologia e Enfermagem.

Fundamenta-se no princípio da beneficência a imagem que perdurou do


médico ao longo da história, e que está fundada na tradição Hipocrática
“usarei o tratamento para o bem dos enfermos, segundo minha
capacidade e juízo, mas nunca para fazer o mal e a injustiça”. (Costa;
1998). A Beneficência tem sido associada à excelência profissional
desde os tempos da medicina grega e esta expressa no juramento acima
apresentado por Hipócrates.

Hipócrates é considerado por muitos, uma das figuras mais


importantes da história da saúde, frequentemente considerado "Pai

61
Da Medicina". Era um asclepíade, isto é, membro de uma família que
durante várias gerações praticara os cuidados em saúde.

O princípio da benevolência tenta num primeiro momento a promoção


da saúde e prevenção da doença e, em segundo lugar, pesa os bens e
os males buscando a prevalência do bem. O exercício profissional das
pessoas tem uma finalidade moral, implícita em todo o seu agir,
entendida principalmente em termos de benevolência. Gracia, (1989).

Os profissionais procuram o bem-estar do paciente conforme o que


entendem que pode ser bom no caso ou situação apresentada.

A benevolência no seu sentido estrito deve ser entendida, conforme o


Relatório Belmont, como uma dupla obrigação, primeiramente a de não
causar danos e, em segundo lugar, a de maximizar o número de
possíveis benefícios minimizando os prejuízos.

No Relatório Belmont, focalizado na protecção dos seres humanos na


pesquisa médica e na pesquisa sobre a conduta, as obrigações de
benevolência são próprias dos pesquisadores em particular e da
sociedade de forma geral, pois esta deve zelar sobre os riscos e
benefícios decorrentes das pesquisas sobre a humanidade.

É evidente que o médico e demais profissionais de saúde não podem


exercer o princípio da benevolência de modo absoluto. A benevolência
tem também os seus limites, o primeiro dos quais é a dignidade
individual intrínseca a todo ser humano.

Falando de benevolência, é importante acrescentar que é difícil poder


demonstrar claramente onde fica o limite entre a beneficência como
obrigação ou dever e beneficência como ideal ético que deve animar a
consciência moral de qualquer profissional.

Além disso, ainda que o princípio da beneficência seja importantíssimo,


ele próprio torna-se incapaz de demonstrar que a decisão do
profissional de saúde deve sempre anular a decisão do paciente, sendo
essa uma característica dos deveres num primeiro momento ou deveres
numa primeira consideração. Essa constitui uma das razões pelas quais
foi afirmado que eles não são absolutos, mas sim condicionais ou
dependentes da situação ou ponto de vista com que são afirmados.

Existe uma série de situações na prática do profissional de saúde, nas


quais o princípio da beneficência deve ser aplicado com cautela de
modo a não prejudicar o paciente ou as pessoas que com ele se
relacionam, ou seja, seus familiares Silva, (1997).

Assim:

62
No caso de um determinado tratamento, quando é que devemos dizer a
verdade e como dizer a verdade?

Até quando aliviar o sofrimento do paciente?

Em que medida a autonomia do paciente está sendo respeitada?

No caso de recusa do tratamento pelo paciente, deve o médico intervir


quando as consequências serem mortais para o paciente, como na
necessidade de transfusão de um paciente crente (Testemunhas de
Jeová)?

O que fazer perante um paciente adulto incapaz?

Perante o exposto, é importante acrescentar que o princípio da


beneficência pode motivar e justificar o uso de uma determinada
técnica médica em benefício de uma certa comunidade, ou de
indivíduos pertencentes a uma determinada região ou pais. Neste caso,
dizer a verdade ao paciente ou aos seus familiares constitui uma
ameaça ou uma ajuda à autonomia do paciente?

Atenção, sob o aspecto de beneficência, de forma geral, dizer a verdade


contribuiria para uma tomada de decisões conscientes e devidamente
fundamentadas no que se refere ao tratamento, à administração de
bens, às relações humanas, ao sentido da vida e possíveis crenças
religiosas.

A beneficência, como já foi dito, quer dizer o fazer o bem. De uma


maneira prática, isto significa que os profissionais de saúde, psicólogos
entre outros profissionais, têm a obrigação moral de agir para o
benefício do outro, neste caso específico, o paciente ou cliente.

Este conceito, quando é utilizado na área de cuidado de saúde, que


engloba todas as profissões das ciências biomédicas, significa fazer o
que é melhor para o paciente ou cliente, não só do ponto de vista
técnico - assistencial, mas também do ponto de vista ético. Fortes,
(1995). É usar todos os conhecimentos e habilidades profissionais ao
serviço do paciente, considerando na tomada de decisão a minimização
dos riscos e a maximização dos benefícios do procedimento a realizar.

Uma coisa está patente, o princípio da beneficência obriga o profissional


de saúde a ir mais além da Não - Maleficência (não causar danos
intencionalmente) e exige que o mesmo contribua significativamente
para o bem-estar dos seus pacientes, promovendo acções visíveis, tais
como:

De modo a prevenir e remover o mal ou dano, entendido neste caso


como doença e incapacidade;

63
De modo a fazer o bem, entendido aqui como a saúde física, emocional
e mental.

A beneficência requer neste caso, acções positivas ou seja, é necessário


que o profissional da área actue em virtude de beneficiar o seu
paciente. Além disso, é preciso avaliar a utilidade do acto, pesando nos
benefícios versus riscos e/ou custos.

UNIDADE Temática 4.2. Não – Maleficência

As origens do princípio da Não - Maleficência, remontam também à


tradição Hipocrática: “cria o hábito de duas coisas: socorrer ou, ao
menos, não causar danos” (Costa et al, 1998).

Para Grisard (2006), o princípio da Não - Maleficência obriga o


profissional a minimizar o mal às pessoas e, sempre que possível,
remover completamente as causas de dano.

Beauchamp e Childress, citados por Costa et al (1998), reclassificaram a


Não - Maleficência ou obrigação de não causar danos, e beneficência ou
obrigação de prevenir danos, retirar danos e promover o bem-estar dos
sujeitos. As exigências mais comuns da Lei e da moralidade não
consistem na prestação de serviços senão em restrições, expressas
geralmente de forma negativa, por exemplo, não roubar.

Na maioria das vezes, o princípio de Não - Maleficência envolve


abstenção, já o princípio da beneficência requer acção concreta Silva,
(1997). Nem sempre o princípio da Não - Maleficência é entendido
correctamente, pois a sua prioridade pode ser questionada. Na prática
da medicina pode, por vezes, causar danos para a obtenção de um
benefício maior.

Os próprios pacientes seriam os primeiros a questionar a prioridade


moral da beneficência. Vidal, (2007). Por exemplo, um paciente com
cancro num dos braços, ele poderá perder, como forma de salvar a sua
vida. Um paciente com uma doença grave deverá submeter-se a
diversos riscos, incluindo possivelmente a possibilidade de ficar estéril,
de modo a ter uma chance razoável de sobrevivência. É evidente que o
interesse principal não é nem cortar o braço nem a esterilidade, mas
sim, garantir a plena saúde geral do paciente.

Estes são casos típicos da denominada teoria moral do duplo efeito e


recomenda-se portanto, que nos diversos casos, que se examine
64
conjuntamente os princípios da beneficência e da Não - Maleficência.
Não sendo assim, está claro que os médicos se recusariam a intervir
sempre que houvesse um risco ameaçador e grave. Mais uma coisa é
clara, a dor ou dano causado a um paciente, uma vida humana só
poderia ser justificada pelo profissional de saúde, no caso de ser o
próprio paciente a primeira pessoa beneficiada.

Devem passar a segundo ou terceiro plano os benefícios para os outros


pacientes ou a sociedade em geral, o primeiro beneficiário deve ser
sempre o paciente, isto é algo incontestável.

Convém observar que o princípio “não causar danos” nem sempre tem
sido interpretado da mesma forma, mudando neste caso de acordo com
as diversas circunstâncias históricas e as instituições. Tem acontecido,
às vezes, que o interesse primeiro dos profissionais, principalmente na
área de saúde tem sido não causar danos à profissão para manter a boa
imagem da mesma perante a sociedade.

O conceito, “não causar danos”, é utilizado frequentemente como uma


exigência moral da profissão, que se não cumprido, coloca o profissional
de saúde numa situação de má prática negligente da medicina ou das
demais profissões da área biomédica. Gracia, (1989).

De acordo com o princípio da Não - Maleficência, o profissional de saúde


tem o dever de, intencionalmente, não causar mal e/ou danos a seu
paciente. Considerando por muitos como princípio fundamental da
tradição hipocrática da ética médica.

A Não - Maleficência tem importância porque, muitas vezes, o risco de


causar danos é inseparável de uma acção ou procedimento que está
moralmente indicado. Vidal, (2007). No exercício da medicina, este
facto é muito comum, pois quase toda intervenção diagnóstica ou
terapêutica envolve o risco do dano. Por exemplo, uma simples retirada
de sangue para realizar um teste diagnóstico tem o risco de causar
hemorragia no local. De ponto de vista ético, este dano pode estar
justificado se o benefício esperado com o resultado deste exame, for
maior que o risco de hemorragia.

A intenção do procedimento, é beneficiar o paciente e não causar-lhe o


sangramento no seu corpo Quanto maior o risco de causar dano, maior
e mais justificado deve ser o objectivo do procedimento para que este
possa ser considerado um acto eticamente correcto.

65
UNIDADE 4.3. Autonomia

Um dos problemas fundamentais na relação entre o profissional e o


paciente ou cliente centra-se na tomada de decisão, principalmente no
que se refere aos procedimentos diagnósticos e terapêuticos.

O dilema geralmente se impõe nas várias situações, como por exemplo:

A decisão deve ser do profissional preparado na arte de curar e que


melhor conhece os convenientes e inconvenientes de cada conduta, ou
seja, aquele que sabe mais?

Ou do paciente/cliente, porque é o dono do seu próprio destino e,


portanto, deve decidir o que quer para si?

Este ponto crucial das discussões éticas implica na formulação de outras


questões tais como:

Qual deve ser a postura do médico ou profissional de saúde no que se


refere ao esclarecimento do paciente?

Deve contar-lhe com detalhes o diagnóstico e o prognóstico, bem como


as condutas diagnósticas e terapêuticas?

Deve, sempre, obter do paciente o consentimento para a realização


dessas condutas?

De acordo com Costa et al (1998), autonomia é um termo derivado do


grego “auto” (próprio) e “nomos” (lei, regra, norma). Significa auto
governo, autodeterminação da pessoa de tomar decisões que afectem
sua vida, sua saúde, sua integridade física e psíquica, suas relações
sociais. Refere-se neste caso, a capacidade de o ser humano decidir o
que é “bom”, ou o que é seu “bem-estar”.

O princípio da autonomia constitui a denominação mais comum pela


qual é conhecido o princípio do respeito às pessoas, este exige que
aceitemos, que elas auto – determinem – se, ou sejam autónomas, quer
na sua escolha, quer nos seus actos. Este princípio requer que o
profissional respeite a vontade do paciente ou do seu representante,
bem como seus valores morais e crenças. O mesmo reconhece o
domínio do paciente sobre a própria vida e o respeito à sua intimidade
(Grisard; 2006), Desta forma, podemos entender também que a
autonomia é a capacidade de uma pessoa para decidir fazer ou buscar
algo que ela julga ser importante e melhor para si mesma, aquilo que
ela julga ser importante para o seu bem-estar.

As condições para se exercer esta autodeterminação são as seguintes:

Capacidade de agir intencionalmente, o que pressupõe compreensão,


razão e deliberação para poder decidir com alguma autoridade,
coerência entre as alternativas que se apresentam;
66
Liberdade no sentido de estar livre de qualquer influência controladora
para a tomada de decisão.

O respeito, a autonomia significa acima de tudo ter a consciência deste


direito do indivíduo possuir um projecto de vida próprio, de apresentar
seus pontos de vista e suas convicções. Fortes, (1995). Deste modo,
respeitar a autonomia, constitui em última análise, preservar os direitos
fundamentais do homem, aceitando o pluralismo ético-social que existe
na actualidade.

A pessoa autónoma é aquela que tem a liberdade de pensamento, é


livre de coacções internas ou externas para poder escolher as
alternativas que lhe são apresentadas. Vidal, (2007).

Para que exista uma acção autónoma, isto é, liberdade de decidir, ou


optar, é também necessária a existência de alternativas de acção ou que
seja possível que o agente as crie, pois se existe apenas um único
caminho a ser seguido, uma única forma de algo ser realizado, isto faz
com que não haja autonomia.

Além da liberdade de opção, o acto autónomo também pressupõe


haver liberdade de acção, requer que a pessoa seja capaz de agir
conforme as suas escolhas e suas decisões. Logo, quando não se verifica
liberdade de pensamento, nem opções, quando se tem apenas uma
única alternativa de escolha, esta acção empreendida não pode ser
julgada autónoma.

Salientar que, o respeito pela autonomia da pessoa conjuga-se com o


princípio da dignidade humana, aceitando que o ser humano é um fim
em si mesmo, não somente um meio de satisfação de interesses de
terceiros, comerciais, industriais ou dos próprios profissionais e serviços
de saúde. Portanto, respeitar a pessoa autónoma pressupõe a aceitação
do pluralismo ético-social, característico do tempo.

A autonomia expressa-se como princípio de liberdade moral, que pode


ser desta forma formulado:

Todo ser humano é agente moral autónomo e como tal deve ser
respeitado por todos os que mantém as posições morais distintas

Nenhuma moral pode impor-se aos seres humanos contra os ditames de


sua consciência.

Certamente que não se deve esperar que a autonomia individual seja


total, completa. Visto que, a autonomia completa constitui um ideal.
Longe de se imaginar que a liberdade individual possa ser total, que não
existam nas relações sociais forte grau de controlo, de
condicionamentos e restrições à acção individual. Mas, se o homem não
é um ser totalmente autónomo isto necessariamente não significa que

67
sua vida esteja totalmente determinada por emoções, factores
económicos e sociais ou influências religiosas.

Apesar de todos os condicionantes, o ser humano pode se mover dentro


de uma margem própria de decisão e acção. O ser humano não nasce
autónomo, torna-se autónomo e para isto contribuem variáveis
estruturais biológicas, psíquicas e socioculturais. Porém, existem
pessoas que, de forma transitória ou permanente, têm a sua autonomia
reduzida, como por exemplos as crianças, os sujeitos portadores de
perturbação mental e do comportamento, sujeitos sob intoxicação, sob
efeito de drogas e em estado de coma.

Um sujeito autónomo pode agir não automaticamente em


determinadas circunstâncias. Por isso, a avaliação de sua livre
manifestação decisória é uma das mais complexas questões éticas
impostas aos profissionais de saúde. Gracia (1989).

Importa referir que, desordens como alterações físicas, podem reduzir


a autonomia do paciente, podendo neste caso, comprometer a
apreciação e a racionalidade das decisões a serem tomadas. Nas
situações de autonomia reduzida, cabe a terceiros, familiares ou
mesmo aos profissionais de saúde decidirem pelo indivíduo não
autónomo.

O conceito legal de competência está intimamente relacionado ao


conceito de autonomia. Geralmente não se costuma questionar a
competência de decisão de um paciente quando a sua decisão concorda
com as dos profissionais de saúde. Ao contrário, somente quando a sua
decisão não está em concordância com a dos profissionais, como no
caso de recusa em submeter-se a um determinado procedimento que
foi indicado pelos profissionais, aí é que a questão da validade da
decisão é questionada.

O julgamento de competência e incompetência de uma determinada


pessoa, deve ser dirigido a cada acção particular e não a todas as
decisões que a pessoa deve tomar em sua vida, mesmo com aqueles
indivíduos legalmente considerados como incompetentes.

No âmbito legal, presume-se que um adulto é competente até que o


Poder Judiciário o considere incompetente e restrinja os seus direitos
civis, mas no campo da ética raramente se julga uma pessoa de
incompetente com respeito a todas as esferas de sua vida. Mesmo
indivíduos que são considerados incapazes para certas decisões ou para
certos campos de actuação, são competentes para decidir sobre algo
em outras circunstâncias.

Na prática assistencial, o princípio da autonomia tem sido aquele que


obriga o profissional de saúde a disponibilizar para o paciente a mais
completa informação possível, com intuito de promover uma
68
compreensão adequada do problema, condição essencial para que o
paciente possa tomar uma decisão mais consciente.

UNIDADE Temática 4.4. Justiça

Este princípio ético resume-se na perspectiva da justiça distributiva,


impondo a distribuição equitativa dos benefícios decorrentes da
participação da pesquisa por todos os participantes e os demais Silva,
(1997).

Para Grisard (2006), o princípio da justiça preceitua a equidade na


distribuição de bens e benefícios o que se refere ao exercício da
medicina ou das actividades na área da saúde. Assim como o princípio
da autonomia é atribuído ao paciente e o da beneficência ao médico, o
princípio da justiça pode ser postulado, além das pessoas vinculadas à
assistência médica directa (médico, enfermeiro, familiares e pacientes),
por terceiros como sociedades de defesa dos direitos das crianças e da
vida.

De acordo com Costa et al (1998), por um longo período da história da


humanidade, prevaleceu a ideia da Lei natural como norma das relações
entre os seres humanos. Somente na modernidade a justiça deixou de
ser concebida como condição natural e se transformou em decisão
moral.

No que se refere a justiça, ouve uma evolução como valor intrínseco de


uma Lei natural para um bem decidido em termos de um contracto
social. Este novo pacto passou a ditar normas de relação entre o súbito
e o soberano não mais pela submissão, mas sim por uma decisão livre.
O homem comum agora desconsidera a lei natural como fonte
autêntica de poder e impõe sua decisão moral como única e exclusiva
norma de justiça.

No final do século XVII, pode-se destacar Jonh Lock que descreveu como
direitos primários de todo o ser humano os seguintes: direito à vida,
direito à saúde, direito à integridade física, direito à liberdade e à
propriedade. Clotet, (2003). Está claro que no campo da saúde, este
novo enfoque trouxe mudanças significativas.

O Princípio da Justiça é normalmente interpretado através da visão da


justiça distributiva. A perspectiva da justiça compensatória não é muito
utilizada pelos diferentes autores da área da Ética.

A justiça distributiva é uma questão de tratamento comparativo de


indivíduos. Vidal, (2007). Podemos considerar de injustiça, se num caso
em que havendo dois indivíduos semelhantes, em condições
semelhantes, o tratamento dado a um fosse pior ou melhor do que o
dado ao outro indivíduo nas mesmas circunstâncias, aí estaríamos
69
perante um caso de plena injustiça. O problema por solucionar é saber
quais as regras de distribuição ou de tratamento comparativo em que
devemos apoiar nosso agir.

Numerosos critérios foram propostos, tais como: a justiça considera nas


pessoas as virtudes ou méritos; a justiça trata os seres humanos como
iguais, no sentido de distribuir os benefícios igualmente entre eles, a
justiça trata as pessoas de acordo com suas necessidades, suas
capacidades ou tomando em consideração tanto umas quanto outras.

O Relatório Belmont colocava a seguinte ponderação ao respeito do


princípio da justiça:

Quem deve receber os benefícios da pesquisa e os riscos que ela


acarreta?

Esta é uma questão de justiça, no sentido de “distribuição justa” ou “o


que é merecido”.

Neste caso, podemos verificar que uma injustiça ocorre quando um


benefício que uma pessoa merece é negado sem uma boa razão, ou
quando algum encargo lhe é imposto indevidamente.

Todos os indivíduos são iguais e devem ser tratados com equidade ou


igualdade. Vidal, 2007). Existem muitas formulações amplamente
aceites de como distribuir os benefícios e os encargos aos indivíduos,
de modo a que evitemos a injustiça. Cada uma delas faz alusão a
algumas propriedades relevantes sobre as quais os benefícios e
encargos devam ser distribuídos.

Por exemplo:

Atribuir a cada pessoa uma parte igual do que exista;

Atribuir a cada pessoa de acordo com a sua necessidade;

Atribuir os benefícios a cada pessoa de acordo com o seu esforço


individual;

Atribuir os benefícios a cada pessoa de acordo com a sua contribuição à


sociedade;

Atribuir a cada pessoa os benefícios de acordo com o seu mérito.

No que se refere aos princípios éticos relacionados à saúde pública,


destacamos os seguintes:

Promoção da justiça e da equidade nas populações;

Respeito à dignidade humana;

70
Promoção do bem-estar dos indivíduos e da população em geral;

Respeito e estímulo à autonomia dos indivíduos.

Neste caso, considera-se injusta e não ética a frequente utilização de


pesquisados provenientes de camadas mais desfavorecidas que não
poderão se beneficiar dos resultantes positivos das pesquisas em que
tomaram parte. Tal pode ampliar as condições de iniquidade existentes
nas sociedades.

Atenção! Para casos similares, deve haver justificativas éticas na


utilização de usuários de serviços públicos, de pessoas e grupos sociais
vulneráveis, de modo a evitar injustiças. Existem populações que são
maioritariamente vulneráveis e necessitam de protecção especial, às
necessidades particulares destas populações.

Importa referir que é injusto recrutar selectivamente pessoas para


participar como sujeitos de pesquisa simplesmente porque elas são
pessoas de baixa renda, e sendo assim, elas tornam-se mais fáceis de
serem manipuladas e induzidas a aceitar em troca de ganhos modestos.
Na medida em que, as pesquisas com seres humanos envolvem risco
(biológicos, psíquicos e sociais) e o dano eventual poderá ser imediato
ou tardio, comprometendo o indivíduo ou a colectividade.

De acordo com a declaração de helsinki - 1964/2000, citado por Silva,


(1997). Alguns princípios básicos devem ser seguidas em pesquisas ou
investigações com seres humanos, dentre elas destacam-se as
seguintes:

É dever do pesquisador/investigador proteger a vida, a saúde, a


dignidade e a integridade do ser humano;

O projecto de pesquisa, métodos e técnicas devem atender a protocolos


experimentais reconhecidos, apoiar-se em profundo conhecimento da
literatura e ser aprovado por um Comité de Ética em Pesquisa;

Avaliar riscos e benefícios, a importância do objectivo deve ser maior


que o risco ao sujeito de pesquisa;

Ser realizada por um profissional qualificado com comprovativos;

Existir possibilidade de benefício para a população em geral;

Os indivíduos devem ser voluntários livres, esclarecidos e protegidos na


sua individualidade e confidencialidade das informações que fornecem
no âmbito da pesquisa;
Cuidados especiais com sujeitos em relação de dependência.

71
SUMÁRIO

Os princípios éticos enunciam valores ou metas de carácter amplo e


genérico, que expõem os grandes conceitos e os principais critérios do
campo ético pelos quais se orientamas relações humanas. Com base
nestas colocações, é possível afirmar que, sendo a ética uma reflexão
compartilhada, complexa e interdisciplinar sobre a adequação das
acções que envolvem a vida e o viver.

Nesta perspectiva, podem ser destacados os seguintes princípios éticos,


tais como: promoção da justiça e da equidade, respeito à dignidade
humana, promoção do bem-estar dos indivíduos e da população em
geral e respeito e estímulo à autonomia dos indivíduos, sendo a ética
uma reflexão compartilhada, complexa e interdisciplinar sobre a
adequação das acções que envolvem a vida e o viver.

EXERCÍCIOS DE AUTO-AVALIAÇÃO

1. Os princípios éticos tiveram o seu advento, com a publicação do


livro denominado “Principles of Ethics em:
a) 1876
b) 1976
c) 1976
d) Nenhuma das respostas anteriores.
2. De entre as alternativas abaixo, qual é a que melhor explica a
importância dos princípios éticos?
a) Servem como dogma na tomada de decisão frente aos
problemas éticos;
b) Servem como regras contraditórias na orientar a tomada de
decisão frente aos problemas éticos;
c) Servem como regras gerais que só atrapalham no processo de
tomada de decisão frente aos problemas éticos;
d) Servem como regras gerais para orientar a tomada de decisão
frente aos problemas éticos.

3. Tendo em conta os princípios éticos, é correcto afirmar que:

72
a) Ética uma reflexão compartilhada, complexa e
interdisciplinar sobre a adequação das acções que
envolvem a vida e o viver;
b) Ética uma reflexão simples e interdisciplinar sobre a
adequação das acções que envolvem a vida e o viver.
c) Ética não é uma reflexão compartilhada, complexa e
interdisciplinar sobre a adequação das acções que
envolvem a vida e o viver.
d) Nenhuma das alternativas anteriores.

4. Quanto ao princípio da beneficência, é correcto afirmar que:


a) A Beneficência é uma manifestação da Benevolência;
b) A Beneficência não tem uma correlação coma a
Benevolência;
c) A Beneficência não depende da Benevolência;
d) Nenhuma das respostas anteriores.
5. Tendo em conta o princípio da não – maleficência é correcto
afirmar o seguinte:
a) Obriga o profissional a minimizar o mal às pessoas e,
sempre que possível, remover completamente as causas
de dano;
b) Obriga o profissional a maximizar o mal às pessoas e,
sempre que possível, remover completamente as causas
de dano;
c) Obriga o profissional a anotar o mal às pessoas e, sempre
que possível, remover completamente as causas de
dano;
d) Nenhuma das respostas.
6. Tendo em conta o principio da autonomia, é correcto afirmar
que:
a) Este princípio requer que o profissional respeite os
princípios profissionais;
b) Este princípio requer que o profissional não respeite a
vontade do paciente ou do seu representante, tenha
apenas em conta o que aprendeu no seu curso
enquanto ciência, se não a vida não anda;
c) Este princípio requer que o profissional respeite a
vontade do paciente ou do seu representante
73
d) Nenhuma das respostas anteriores

EXERCÍCIOS DE AVALIAÇÃO

1. Justifique com base num exemplo a seguinte afirmação! E faça uma


crítica a mesma. “Os grupos socioeconomicamente vulneráveis, os
mais desprovidos de recursos, têm menos alternativas de escolha
em suas vidas, o que geralmente vai afectar o desenvolvimento do
seu potencial de ampla autonomia”. Demonstre através de
exemplos concretos o valor do termo consentimento livre e
esclarecido para os indivíduos.
2. Comente! O princípio da justiça exige ou preceitua a equidade na
distribuição de bens e benefícios o que se refere ao exercício da
medicina ou das actividades na área da saúde, bem como noutras
áreas.
3. Existem situações na prática médica nas quais o princípio da
beneficência deve ser aplicado com cautela, de modo a não
prejudicar o paciente ou as pessoas que com ele se relacionam.
4. De acordo com o estudado, aponte a importância da aplicação dos
princípios da beneficência e Não - Maleficência para o paciente e
seus familiares.
5. Na sua opinião, qual destes princípios (beneficência e Não -
Maleficência) será o mais importante na prática profissional?
Fundamente
6. Defina sujeito ético.
7.

CORRECÇÃO - EXERCÍCIOS DE AUTO – AVALIAÇÃO


1. B
2. D
3. A
4. A
5. C
6. C

TEMA V: DEONTOLOGIA PROFISSIONAL


UNIDADE Temática 5.1. Definição e Caracterização da Deontologia e da
Profissão
74
UNIDADE Temática 5.2.Origem Do Conceito Deontologia

UNIDADE Temática 5.3. Importância da ética Profissional

UNIDADE Temática 5.4. A Formalização Ética

UNIDADE Temática 5.4.1. Infraestruturas Éticas

UNIDADE Temática 5.4.1.1. O Código

UNIDADE Temática 5.4.2. Tipos de Códigos de Ética

UNIDADE Temática 5.4.2.1.Códigos Formais

UNIDADE Temática 5.4.2.1.1. Códigos de Profissões Cognatas

UNIDADE Temática 5.5. O que Os Códigos Têm em Comum

UNIDADE TEMÁTICA 5.6. Virtudes Profissionais

UNIDADE Temática 5.6.1. Confidencialidade e Privacidade

Introdução

A deontologia profissional é importante para a harmonia social, na medida


em que é com base na deontologia profissional que um bom atendimento
ao paciente acontece. A ética profissional tem como princípio a
imparcialidade, a empatia, a compreensão, a benevolência, a seriedade, o
sigilo, o rigor, o zelo, a diplomacia entre outras virtudes éticas que ajudam o
paciente/cliente, a entidade empregadora, os colegas de trabalho e a
sociedade em geral.

No campo profissional muitas vezes o profissional depara-se com


informações confidenciais relativas à vida dos pacientes ou clientes. Por
outro lado, exigem do profissional atitudes e comportamentos para zelar
pelo bom nome da instituição, do próprio profissional e respeitar a vida
humana.

Salientar que o trabalho é de natureza social, na medida em que, trabalhase


com o objectivo de servir alguém, seja paciente ou cliente. Por isso, na sua
actuação, o profissional deve ter sempre um pensamento social. Isto é, um
pensamento virado para a harmonia, na medida em que o trabalho é um
dever social, não apenas pelo que se produz em termos de serviços ou
produtos. A profissão é, acima de tudo, um dever social. Portanto, o
profissional deve ter consciência do impacto positivo ou negativo que a sua
actuação pode trazer para a sociedade no geral. No final o
estudante deverá ser capaz de:

• Definir confidencialidade e privacidade;

75
Objectivos Descrever a confidencialidade e a privacidade na actividade
Específicos profissional;

• Apresentar o papel do profissional na sua actuação;


• Conhecer as principais virtudes profissionais e aplicar em
contextos concretos;
• Alistar os princípios éticos na actuação profissional.

A ética profissional tem como premissa o melhor relacionamento do


profissional com os seus clientes e com outros profissionais, levando em
conta valores como a dignidade humana, auto-realização e sociabilidade
(Silva e Seroai, 1998: 78).

O profissional deve estar em contínua relação com o código de ética, que


pode ser entendido como uma relação de práticas de comportamento que se
espera que sejam observadas no exercício da profissão. O código de ética tem
como objectivo habilitar o profissional a adoptar uma atitude pessoal, de
acordo com os princípios éticos. Tais princípios dizem respeito à
responsabilidade perante a sociedade e para com os deveres da profissão.

No código de ética profissional são detalhados os conceitos básicos


relacionados com os direitos e deveres dentro de uma profissão e que sejam
cumpridos. Estabelecido o Código de Ética, cada profissional deve subordinar-
se sob pena de incorrer em transgressão, punível pelo órgão competente,
incumbido de fiscalizar o exercício profissional. Tal código assume um papel
relevante na garantia da qualidade dos serviços prestados, bem como na
conduta profissional.

Em condições normais a profissão tem um carácter benéfico para quem a


exerce e ao mesmo tempo está dirigida a outros, que também se verão
beneficiados. Na essência, a profissão tem como finalidade o bem comum e
o interesse público (Kotler, 1997). Portanto, a actividade profissional deve ser
desenvolvida de maneira estável e honesta em interacção com outros, em
conformidade com a própria vocação e respeitando a dignidade da pessoa
humana.

Todas as profissões têm como raiz o processo da divisão do trabalho.


Entretanto, todo o trabalho deve ser digno, merecer um profundo respeito e
tem que ser retribuído de forma justa.

Com base na Declaração Universal dos Direitos Humanos, sob o auspício das

Nações Unidas, podem ser considerados os seguintes artigos (23 e 24) em


torno da dignidade do trabalho:

76
Artigo 23.1. Toda a pessoa tem direito ao trabalho, à livre escolha do seu
trabalho, às condições equitativas e satisfatórias de trabalho e à protecção
contra o desemprego.

2. Toda a pessoa tem direito, sem discriminação alguma, a salário igual


por igual trabalho.

3. Toda a pessoa que trabalha tem direito a uma remuneração equitativa


e satisfatória, que assegure a si como à sua família uma existência conforme
a dignidade humana e que será completada, em casos necessários, por
qualquer outro meio de protecção social.

4. Todas as pessoas têm direito a fundar sindicatos e a sindicar-se para a


defesa dos seus interesses.

Artigo 24. Toda pessoa tem direito ao descanso, ao desfrute dos tempos livre,
a uma limitação razoável da duração do trabalho e a férias periódicas pagas.

Os direitos humanos implicam uma ética porque sempre se relacionam de


uma forma ou de outra com os seres humanos: umas de formas indirectas,
nomeadamente as actividades que têm a ver com objectos como a
construção de pontes e edifícios, a reparação de automóveis, de
equipamentos, entre outros. Outras, com exigências mais acentuadas porque
têm como referência o homem. Assim, algumas profissões relacionam-se
directamente com os seres humanos, como é o caso de professores,
educadores, psicólogos, médicos, juristas, gestores, entre outros. Para estas
profissões é mais evidentes as implicações éticas da sua profissão, porque
devem cuidar os seus semelhantes não como um objecto, mas como pessoa
(Kotler, 1997). Por isso, a liberdade, a consciência e a responsabilidade são
pressupostos básicos e necessários para a efectivação da consciência moral e
da experiência ética. É por isso que todo a actividade profissional é revestida
de uma dimensão ética. Portanto, o profissional pode ser chamado a explicar-
se e a justificar-se, abrindo a possibilidade de um julgamento por uma
instância exterior ao sujeito da acção, que pode ser uma instituição ou a
própria comunidade. De facto, toda a acção profissional é dirigida de alguém
para alguém, tendo em vista o bem-estar da sociedade. E é nesta
característica da acção que existe uma relação intrínseca entre a
responsabilidade pelas acções praticadas e a ética, especialmente no campo
profissional.

UNIDADE Temática 5.1. Definição e Caracterização da Deontologia e da Profissão

Na presente secção vamos descrever algumas definições sobre a profissão.

Uma profissão define-se, entre outros aspectos, como uma prática constante
de um ofício ou um exercício habitual de uma tarefa ao serviço dos outros.
77
(Silva et al, 1998). Observemos como este autor caracteriza alguns aspectos
que envolvem o exercício profissional:

• A profissão tem, além de utilidade para o indivíduo, uma


expressão social e moral;
• Em quase todas as profissões liberais existe um grande valor
social. O que varia é a sua forma de actuação e a natureza
qualitativa dos serviços perante as necessidades humanas;
• A profissão traz benefícios recíprocos aquém a prática e aquém
a recebe. Nesta relação implica sempre uma conduta ligada aos
princípios éticos específicos.

O Estado e a sociedade, com as suas instituições, grupos, classes e


indivíduos, criam deveres éticos específicos e definem a conduta
relativa a cada um, o que não significa que as obrigações éticas se
confundem com as obrigações legais, impostas pelo poder do Estado ou
do Direito. Por isso, a reflexão sobre as acções realizadas no exercício
de uma profissão devem iniciar bem antes da prática profissional.

A fase da escolha profissional, ainda durante a adolescência, já deve ser


permeada por esta reflexão. A escolha de uma profissão é, por vezes,
uma questão de opção. Mas ao escolhê-la, seja em que circunstância
for, o conjunto de deveres para com essa profissão passam a ser
obrigatórios. Geralmente, escolhe-se a carreira profissional sem
conhecer o conjunto de deveres que estão presentes (Kotler, 1997).
Assim, em toda a fase de formação profissional, a aprendizagem das
competências e habilidades referentes a prática específica numa
determinada área, deve incluir uma reflexão. Ao completar a formação
no nível superior a pessoa faz um juramento, que significa a sua adesão
e comprometimento com a categoria profissional onde formalmente
ingressa. Isto caracteriza o aspecto moral da chamada Ética Profissional.
Esta adesão voluntária a um conjunto de regras estabelecidas constitui
a forma mais adequada para o exercício profissional.

A reflexão do exercício profissional que temos vindo a abordar deve


comportar as seguintes questões:

• Estou sendo um bom profissional?


• Estou a agir adequadamente?
• Realizo correctamente a minha actividade?

Sabemos que a conduta humana pode tender ao egoísmo, isto é, para


os interesses puramente individuais. Para deixarem de ser egoístas, os
interesses do profissional devem estar alinhados à sociedade. Para tal é
preciso que se acomode a norma, porque estas devem estar apoiadas
em princípios e virtudes. Com as atitudes virtuosas podemos garantir o
bem comum. Daí que a ética tem sido o caminho justo, adequado para
78
o benefício geral, ao voltar-se para a reflexão das normas que possam
guiar a nossa conduta para o bem comum. Por outro lado, a conduta
profissional pode tornar-se agressiva e inconveniente e esta é uma das
fortes razões pelas quais os códigos de ética quase sempre buscam
maior abrangência, de modo a inibir tais comportamentos inadequados
ao exercício da profissão. Daí que a ética de cada profissão depende dos
deveres ou da “deontologia ” que cada profissional aplica aos casos
concretos que se podem apresentar no âmbito pessoal ou social.

Na presente secção vamos definir o conceito de deontologia (ética


profissional) bem como a sua relação com a profissão.

De acordo com Silva et al (1998), podemos definir Deontologia como


sendo o estudo do dever e das obrigações Mas antes de irmos ao
pormenor desta definição, façamos uma reflexão usando a via
etimológica.

Etimologicamente, Deontologia é uma palavra de origem grega de Néon


- o necessário, o conveniente, o devido, o obrigatório; e lógia – estudo
ou conhecimento. Portanto, a Deontologia é um conjunto de
comportamentos exigidos aos profissionais que muitas vezes não estão
codificados numa regulamentação jurídica.

Neste sentido, a deontologia é uma ética profissional de obrigações


práticas, baseadas numa acção livre da pessoa, no seu carácter moral,
carente de uma legislação pública. Por outro lado, ela seria um tribunal
que julga a actuação do profissional no exercício das suas actividades.

A deontologia traduz o cumprimento dos deveres que se apresentam a


cada um na posição que ocupa na vida profissional, e que estão
presentes como um compromisso na consciência moral, com respeito à
profissão. Entretanto, a ética profissional traduz um campo de estudo
em relação directa com a Filosofia, disciplina que historicamente lhe
deu origem e alimenta a discussão sobre a Moral e os fundamentos da
acção humana; bem com o Direito, uma vez que é ele quem orienta a
relação com a normatividade das acções, transformadas em leis ou
códigos, e dispõe sobre a distribuição da justiça aos envolvidos em
conflitos de toda ordem.

UNIDADE Temática 5.2. Origem Do Conceito Deontologia


Como referimos na secção anterior, o conceito deontologia provém do
grego doem, defuntos, dever e lotos - tratado, ciência.

No entanto o vocábulo entrou em uso quando Bentham deu a sua


Science of morality de 1834, o título de deontology. Para Bentham
(1834), deontologia era a sua doutrina utilitarista dos deveres. Depois,
o conceito de Deontologia foi usado especialmente para designar as
79
doutrinas sobre determinadas classes de deveres, relativos a profissões
ou situações sociais.

A deontologia é a aplicação dos princípios gerais da ética a uma


realidade específica. Se ainda se recorda, na unidade I vimos que a ética
é uma só. No entanto, por questões didácticas ela pode ser dividida em
ética geral e aplicada. A deontologia é uma ética aplicada. Por isso
podemos encontrar uma deontologia para médicos, economistas,
psicólogos, agrónomos, gestores

O vocábulo deontologia também significa o obrigatório, o justo, o


adequado. Portanto, a Deontologia pode ser definida como sendo a
ciência que estabelece normas directoras das actividades profissionais
sob o signo de rectidão moral ou honestidade, estabelecendo o bem a
fazer e o mal a evitar, no exercício de uma profissão. Portanto, a
deontologia profissional elabora sistematicamente os ideais e as
normas que devem orientar a actividade profissional.

UNIDADE Temática 5.2.1. A Deontologia e a sua Relação com a Profissão


De acordo com Hitt (1990), cada profissão tem uma deontologia que
deve ter o seguinte esquema básico de conduta profissional:

a)Na área da profissão


A deontologia prevê como norma fundamental, nomeadamente zelar
pela competência e honestidade pelo bom nome ou reputação da
profissão, na busca honesta comprometida pelo bem da sociedade,
através dos meios que essa profissão proporciona. b)Na área da ordem
profissional:
Na relação com os seus pares e colegas da profissão deve-se criar um
culto de lealdade e solidariedade profissional evitando críticas levianas,
competição e concorrência desleal; de toda e qualquer acção dos
colegas e sem nunca ferir a verdade, a justiça, ou a moral. Assim, as
máfias, pactos de silêncio e sociedades secretas não são necessários
para o exercício profissional.
c)Na área dos clientes, usuários profissionais:
Esta área diz respeito aos que são usuários dos serviços profissionais.
Nela encontramos 3 (três) normas fundamentais:

• Execução íntegra do serviço conforme o combinado com o usuário:


sempre que o pedido seja moralmente lícito no plano objectivo e
não vá contra o bem comum ou de terceiros ou do próprio
solicitante, o profissional deve esclarecer o cliente, mostrando as
inconveniências existentes e os procedimentos para melhor
execução. Posteriormente pode deixar o cliente decidir e assumir
toda a responsabilidade pelas consequências, excepto se houver
prejuízos ao bem comum ou a terceiros;

80
• A remuneração justa: o valor cobrado a um cliente deve ser idêntico
ao cobrado a todos os clientes. Contundo, nada impede que se
prestem serviços a menor preço ou mesmo gratuitamente, em casos
de necessidade financeira do usuário;
• O Sigilo Profissional: o que se vem a conhecer do íntimo e pessoal
no exercício da profissão faz parte do segredo confiado e só se pode
usar para melhor prestação de serviços e não para outros fins.
Exceptuam-se situações graves e urgentes, de perigo para o cliente,
para si, para terceiros ou para o bem comum. A título de exemplo,
as informações prestadas durante uma consulta a um médico, a um
advogado ou a um psicólogo têm um carácter confidencial.

Podemos concluir que, sendo a ética inerente à vida humana, a sua


importância é bastante evidenciada na vida profissional. Cada
profissional tem responsabilidades individuais e responsabilidades
sociais, pois envolvem pessoas que dela se beneficiam. A ética é ainda
importante porque na acção humana o fazer e o agir estão interligados.
O fazer diz respeito à competência e à eficiência que todo profissional
deve possuir para exercer bem a sua profissão. O agir refere-se à
conduta do profissional, isto é, ao conjunto de atitudes que deve
assumir no desempenho de sua profissão.

UNIDADE Temática 5.3. Importância da ética Profissional


A Ética Profissional estuda e regula o relacionamento do profissional
com o seu cliente, utente, paciente ou usuário, visando a dignidade
humana e a construção do bem-estar no contexto sociocultural onde
exerce sua profissão. Sendo a ética inerente à vida humana, a sua
importância é bastante evidenciada na vida profissional, porque cada
profissional tem responsabilidades individuais e sociais que envolvem
pessoas que dela se beneficiam.

Na sociedade actual, lamentavelmente, o sucesso económico passou a


ser a medida de todas as coisas. Apenas a riqueza e o poder contam e
separam os vencedores dos vencidos. As pessoas tendem a ser
materialistas e individualistas e, por isso, menos responsáveis e
solidárias (Kotler, 1997). Neste contexto, muitos gestores de empresas
ingenuamente, pensam que para a ética ocorrer dentro de uma
empresa, basta distribuir folhetos contendo um código que todos
magicamente seguirão. Para exercê-la no contexto empresarial, mais do
que palavras, é necessária acção.

Pensar em ética é pensar de forma, antes de tudo, reflexiva. É não se


sentar em cima de respostas prontas. Para viver eticamente em
qualquer ambiente é preciso primeiro mergulhar dentro de si mesmo,
assumir as escolhas e lutar por um mundo melhor. Acreditar que a
felicidade é possível, já que esse é o objectivo maior da ética.

81
É do interesse das empresas agir sempre de maneira ética. Todos os
melhores funcionários e fornecedores, tenderão a preferir as empresas
com melhores princípios éticos. E os clientes que têm critério, que
sabem escolher, dificilmente serão leais a um produto de menor
qualidade, ou a um serviço que seja pouco eficiente. A ética está
directamente relacionada com valores morais, com o bem e o mal, o
que é certo ou errado. Entretanto, de acordo com Nash (1993) existem
muitas razões para a recente promoção da ética no pensamento
empresarial. Os administradores percebem os altos custos impostos
pelos escândalos nas empresas: multas pesadas, quebra da rotina
normal, baixo moral dos empregados, aumento da rotatividade,
dificuldades de recrutamento, fraude interna e perda de confiança
pública na reputação da empresa.

UNIDADE Temática 5.4. A Formalização Ética


Na presente secção vamos reflectir acerca do processo da formalização
ética. Para resolver contradições e outras situações entre organizações
ou mesmo entre pares há necessidade de uma formalização ética.

A formalização ética aparece como o sinal mais evidente de


compromisso de boa conduta assumida por uma organização (Marcier,
2003). É essencialmente uma via de reafirmação da liderança que nela
encontra o meio de clarificar certos problemas e de realizar o seu velho
sonho de convergência dos fins da organização.

Passemos então à definição:

A formalização ética “consiste em colocar explicitamente por escrito os


ideais, os valores, os princípios e as prescrições de uma organização,
enunciando os seus valores e comportando uma dimensão ética” (Silva
t al, 1998).

A formalização ética é um veículo muito importante para estabelecer


princípios éticos. Entretanto na prática profissional, o comportamento
ético é directamente afectado pelo clima ético 2 que reina na
organização. Todavia, as influências do clima sobre as decisões
dependem de duas dimensões:

• Do conteúdo: as normas que se ligam ao


comportamento ético e os comportamentos
que são aceitáveis ou não;

2
Clima ético é a percepção compartilhada dos empregados sobre os padrões éticos –
valores, práticas e procedimentos – da empresa organização ou instituição, e como eles
são aplicados no relacionamento entre os indivíduos dentro da organização e na
interacção dela com os seus stakeholders (parte interessada ou interveniente). Reflecte
tanto o conteúdo moral das decisões — o que deve ser feito – quanto o processo e a
prática de tais decisões — como deve ser feito.
82
• Da sua forma ou poder: do grau de controlo
que exerce sobre o comportamento.
São vários os factores que contribuem para comportamentos não
éticos:

• Comportamento dos superiores;


• Comportamento dos colegas na
organização;
• Práticas éticas em vigor na profissão;

• Clima moral da sociedade; Política formal


da organização;
• Necessidade financeira pessoal.

UNIDADE Temática 5.4.1. Infraestruturas Éticas


O processo de formalização ética envolve o conhecimento das
infraestruturas éticas.

A infra-estrutura ética: é uma combinação de processos e estruturas


organizacionais que em conjunto constituem o requisito mínimo para o
compromisso ético genuíno. (Silva et al, 1998).
Existem três (3) constituintes básicos a saber:

• O código;
• A comissão;
• A carta dos clientes.

UNIDADE Temática 5.4.1.1. O Código


Depois de termos apresentado na secção anterior as infra-estruturas
éticas, em seguida iremos reflectir sobre cada uma delas.

Um código de ética profissional é um conjunto de princípios que


encoraja ou proíbe certas condutas profissionais. Os códigos de ética
são prescrições normativas que justificam certos objectivos e padrões
de comportamento. Todas as profissões têm princípios éticos acerca do
meio apropriado para os profissionais se comportarem em relação ao
público e a cada colega (Arruda at.al, 2000). Portanto, o código constitui
uma garantia de explicação dos preceitos éticos. Por isso, não se pode
infringir um código que não existe.

O código de ética adquire um mérito adicional quando +e precedido por


discussões sérias que promovam a compreensão e reforcem o
compromisso relativamente a princípios acordados. Daí que muitos
83
códigos são denominados códigos de conduta, isto é, lidando com o que
se deve fazer. Porém, os códigos são derivações da mente humana e
uma imposição ao colectivo. Eles partilham os diferentes valores que os
proponentes lhes atribuem. A necessidade de tais normas deriva de um
fracasso da boa vontade. Se todos gostassem do próximo como de si
mesmos e se comportassem segundo os princípios mais elevados, os
códigos pouco seriam necessários.

Tipos de Códigos de Ética


Os códigos de ética apresentam diversas características a destacar: um
código deve ser formal, de qualidade fixa, de limitação espacial, de
limitação temporal e códigos de profissões cognatas.

Códigos Formais

Usam-se códigos formais para se captar e codificar a experiência. Estes


fazem uma declaração de princípios que se destinam a servir de linhas
de orientação para acções éticas (Marcier, 2003). A sociedade opera em
dois códigos: um corresponde às leis, estatutos e regulações formais; o
outro corresponde ao nosso discernimento social informal e mais geral.
Quando alguém infringe as regras informais pensamos nas sanções
legais que podem ser aplicadas.
Os códigos de ética têm de ser de qualidade fixa. De nada valeria dispor
de uma série de códigos de penitência variável. Imaginem uma
organização de profissionais (ex: gestores, psicólogos com diversas
divisões). Seria bastante inadequado que uma das divisões fosse
orientada por um conjunto de regras, enquanto uma outra aplicasse um
conjunto diferente e menos restrita de normas éticas. Tal prática
equivaleria a uma utilização cínica da ética como expediente. Contudo
temos reconhecer que os princípios que afectam a psicologia clínica não
são relevantes para a psicologia organizacional (Arruda et. al, 2000).
Nestes casos, há princípios prevalentes e princípios de orientação
subordinados exclusivamente a determinadas profissões. O que é
perfeitamente aceitável. Não é aceitável a noção de normas artificiais.
Uma questão importante é a de saber se os princípios éticos devem ou
não ser limitados pelo tempo ou circunstância. Será que é possível
tomar uma decisão ética sem referência ao contexto social? Fora do
espaço cultural, consideremos como exemplos: o trabalho numa
organização em que o ponto de referência organizacional pode não ser
consistente com o código profissional; locais que defendem um ponto
de vista minoritário (como clubes homossexuais de sexo único).
Importa referir que os princípios éticos se aplicam mais no longo prazo
do que no curto., Uma vez que o comportamento ético é bom para o
negócio da profissão. O comportamento ético não afecta o benefício
84
imediato, mas as perspectivas a longo prazo. As pessoas têm memória
mais duradoura para os comportamentos mais extraordinários,
nomeadamente para as boas acções e para o comportamento
malintencionado. Aqueles que se comportam bem são lembrados por
um tempo extraordinariamente longo. Aqueles que se comportam mal
descobrem em tempos posteriores que o céu se torna escuro quando a
poeira assenta, isto é, colhem sempre resultados amargos em traça do
seu mal comportamento.

O comportamento ético destina-se ao longo curso. Portanto, o


recémchegado à prática privada não sobreviverá à margem de um
código de ética. Planear ou gerir uma prática exige uma consideração
da ética, tanto quanto exige a consideração dum planeamento
financeiro
(Arruda et.al, 2000).

A moralidade e a ética distinguem-se de diversas formas: a moralidade


traduz um conjunto penetrativo de valores; A ética é a formalização de
princípios para orientar o comportamento e aplicável a grupos ou
circunstâncias particulares, como psicólogos lidando com clientes.

UNIDADE Temática 5.4.2.1.1. Códigos de Profissões Cognatas

(profissões do mesmo ramo, ou seja, profissões de áreas comuns, como


por exemplo: médicos, enfermeiros, psicólogos, psiquiatras)

Também temos Códigos de Profissões Cognatas: há profissões que


trabalham estreitamente com diversos ramos da economia.

UNIDADE Temática 5.5. O que Os Códigos Têm em Comum


Na presente secção vamos falar acerca do que existe de comum nos
códigos de conduta profissional para psicólogos.
Os códigos de conduta profissionais para psicólogos têm muito em
comum, qualquer que seja o país de origem. A diferença mais notável é
o grau relativo de abrangência. Notemos que a obra de Kultgen (1988
apud Francis, 2004) apresenta uma análise das características comuns
dos códigos. Os códigos de ética apresentam as seguintes
características comuns:
• Competência; objectividade; e honestidade relativa
a qualificações;
• Lealdade para com o cliente, empregador ou instituição,
evitamento de conflitos de interesses e de suborno;
• Direitos territoriais de colegas; cooperação; atribuição de
crédito adequado; competição justa;
85
• Supervisão de colegas; denúncias de conduta imprópria;
prevenção de práticas não autorizadas;
• Protecção da honra e dignidade da profissão; divulgação dos
seus méritos;
• Evitamento de danos a terceiros, ao público, ao ambiente;
• Alargamento do conhecimento; investigação; publicação
• Não exploração de clientes, estudantes, sujeitos de investigação
e animais;
• Veracidade nas declarações públicas;
• Envolvimento em actividades comunitárias não relacionadas
com a profissão;
• Desenvolvimento profissional contínuo;
• Disponibilização dos serviços àqueles que deles necessitam.

UNIDADE TEMÁTICA 5.6. Virtudes Profissionais

Todos devemos ser éticos tanto na vida profissional como familiar,


entre outras relações em sociedade, que nada mais é do que ser
honesto, responsável pela nossa conduta. Daí que ser ético é viver
sempre com a consciência tranquila. Actuar eticamente vai muito além
de não roubar ou não defraudar a empresa, pois, qualquer decisão ética
tem por trás um conjunto de valores fundamentais a ter em conta. De
acordo com Velasquez (1998), a ética envolve os seguintes valores:

a) Honestidade: é a conduta que obriga ao respeito e à lealdade para


com o bem de terceiros. Um profissional comprometido com a ética
não se deixa corromper em nenhum ambiente, ainda que seja
obrigado a viver e conviver com ele. A honestidade deve ser
praticada também na competição, isto é, todas as promoções de
vendas devem seguir os princípios de honestidade na competição,
baseando-se pelo respeito aos concorrentes, consoante
naturalmente aceito no mundo dos negócios e em respeito à Lei;
b) Coragem: ajuda a reagir às críticas, quando injustas, e a defenderse
dignamente quando está consciente de seu dever. Ajuda a não ter
medo de defender a verdade e a justiça, principalmente quando
estas forem de real interesse para outrem ou para o bem comum.
Significa ainda ousar tomar decisões indispensáveis e importantes,
para a eficiência do trabalho, sem levar em conta a opinião da
maioria;
c) Humildade: a humildade dá ao profissional a possibilidade de

86
crescer. Só assim o profissional consegue ouvir o que os outros têm
a dizer e reconhecer que o sucesso individual é resultado do
trabalho da equipa. O profissional precisa de ser humilde para
admitir que não é dono da verdade e que o bom senso e a
inteligência são propriedades de um grande número de pessoas.
Portanto, representa a auto-análise que todo o profissional deve
praticar em função de sua actividade profissional, a fim de
reconhecer melhor as suas limitações. Trata-se de buscar a
colaboração de outros profissionais mais capazes, se tiver esta
necessidade e dispor-se a aprender, numa busca constante de
aperfeiçoamento;
d) A honestidade: está relacionada com a confiança que nos é
depositada, com a responsabilidade perante o bem de terceiros e a
manutenção de seus direitos. É muito fácil cair na falta de
honestidade quando existe a fascinação pelos lucros rápidos,
privilégios e benefícios fáceis, ou pelo enriquecimento ilícito em
cargos que outorgam autoridade. Portanto, a honestidade é a
primeira virtude no campo profissional. É um princípio que não
admite relatividade, tolerância;
e) Sigilo: é a completa reserva quanto a tudo o que se sabe e que lhe
é revelado ou o que veio a saber por força da execução do trabalho;
O respeito pela vida das pessoas, dos negócios ou das empresas
deve ser desenvolvido na formação nos profissionais, pois trata-se
de algo muito importante. Uma informação sigilosa é algo que nos
é confiado e cuja preservação de silêncio é obrigatória. Revelar
detalhes ou mesmo frívolas ocorrências dos locais de trabalhos, em
geral, nada interessa a terceiros. Por outro lado, existe o agravante
de que planos e projectos de uma empresa ainda não colocados em
prática possam ser copiados e colocados no mercado pela
concorrência, antes que a empresa tenha tido oportunidade de
lançá-los. Por outro lado, documentos, registos contáveis, planos de
marketing, pesquisas científicas, hábitos pessoais, entre outros,
devem ser mantidos em sigilo e a sua revelação pode representar
sérios problemas para a empresa ou para os clientes do profissional.
f) Integridade: é agir dentro dos seus princípios éticos, seja em
momentos de instabilidade financeira, seja na hora de apresentar
óptimas soluções;
g) Tolerância e Flexibilidade: Um óptimo profissional é aquele que
ouve as pessoas e avalia as situações sem preconceitos.
h) Legalidade: todos os lucros devem estar de acordo com a lei. Estes
princípios são estabelecidos para complementar os controles legais
e não para substituí-los.
i) Interesses do Consumidor: Todas as acções do Marketing
Promocional devem ser honestas, respeitando a integridade do
87
consumidor, e devem ser vistas como tal. Nenhuma pessoa
engajada na promoção deve abusar da boa-fé do consumidor ou
explorar as técnicas, meios e instrumentos promocionais em seu
detrimento.
j) Satisfação do Consumidor: Todas e quaisquer acções promocionais
devem ser planificadas e implementadas de tal maneira a evitar
quaisquer frustrações dos consumidores.
k) Imparcialidade: Todo os planos e projectos promocionais que
envolvem competições devem prever total imparcialidade no
julgamento, sem preconceitos de raça, credo ou religião, permitindo
a todos os participantes, indistintamente, equanimidade de
participação.
l) Interesse Público: as promoções de vendas não podem conflituar
com o interesse público, evitando-se ser demasiadamente
provocante, conter estímulo à violência ou comportamento
antisocial, prejuízo para a propriedade ou causar incómodo ou
insulto a qualquer cidadão.
m) Veracidade: a apresentação da promoção deve ser clara, honesta,
fácil de entender, contendo sempre todos os dados principais de
participação, aqueles a quem se destina.
n) Limitações: todo e qualquer facto que possa interferir na decisão de
participar ou não de uma promoção, deve ser claramente
comunicado ao interessado, e de tal maneira que este possa avaliar
antes de se submeter a qualquer compra de bens, ideias ou serviços.
o) Dignidade: O que se defende aqui é que quando há um conflito
entre a questão do tratamento da pessoa como meio para um fim e
o seu tratamento como um fim em si mesma, o último princípio
deve prevalecer. Muitas vezes vemos os clientes/pacientes
individuais como um meio para assegurar o nosso modo de vida
profissional. Em posições em que interesses do cliente/pacientes
estejam em conflito com maiores lucros, devem tratar os interesses
do cliente/pacientes como prevalecentes. Os clientes/pacientes não
existem para fornecer sustento, mas para serem ajudados. Este caso
é um exemplo primo da resolução de conflitos e de interesses. Um
exemplo simultâneo de conduta incorrecta e de comportamento
não ético seria ridicularizar alguém que se tivesse acabado de fazer
uma confidência profissional. Por isso é necessário notar que a
cortesia é parte essencial do tratamento digno das pessoas.
p) Privacidade: a privacidade do consumidor deve ser protegida e as
promoções devem ser implementadas respeitando-se o direito dos
consumidores a terem razoável privacidade, e evitando-se que estes
tenham quaisquer problemas ou aborrecimentos. O Promotor não
pode fazer uso do nome, endereço e imagem do consumidor na
88
divulgação dos resultados das promoções, sem sua expressa
autorização, salvo nos casos em que claramente fique estabelecido
que ao participar da promoção, ele autoriza automaticamente o uso
de seu nome e imagem. Promotores que usam listagens contendo
nomes de consumidores devem assegurar que estas listas sejam
correctas, eliminando o nome do consumidor que requisitar sua
exclusão;
q) Perseverança: É uma qualidade difícil de encontrar, mas necessária,
pois todo o trabalho está sujeito a incompreensões, insucessos e
fracassos que precisam ser superados, prosseguindo o profissional
em seu trabalho, sem entregar-se a decepções ou mágoas.
r) Prudência: Todo o trabalho, para ser executando, exige muita
segurança. A prudência faz com que o profissional analise situações
complexas e difíceis com mais facilidade e de forma mais profunda
e minuciosa, o que contribui para a maior segurança,
principalmente das decisões. A prudência é indispensável
principalmente nos casos de decisões sérias e graves, pois evita os
julgamentos apressados e as lutas ou discussões inúteis;
s) Sinceridade: a essência da sinceridade é que as coisas devem ser o
que pretendem ser e não serem escondidas. Este princípio deve ser
honrado, mas não necessariamente em todo o particular, a atitude
“eu sei o que é melhor”, implica sérios perigos. O conselho é ser
sincero e honesto, a menos que haja uma razão muito forte para
não o fazer. A sinceridade está ligada à privacidade, a que todos os
códigos fazem menção, precisamente porque toda a pessoa tem
direito à privacidade pessoal, salvo em circunstâncias especiais (por
exemplo, quando o cliente solicita a divulgação ou quando imposto
por Lei);
t) Preços, Ofertas, Vantagens, Descontos: as ofertas, as condições de
vantagens e descontos, assim como as condições de preço e
pagamento devem assegurar informações suficientemente claras,
correctas, precisas, sem sugerir dubiedade de interpretações pelos
consumidores, e obedecendo-se rigidamente à legislação do País.

Os deveres de uma profissão são obrigatórios. Devem ser levadas em


conta as qualidades pessoais que também concorrem para o
enriquecimento de sua actuação profissional, algumas delas facilitando
o exercício da profissão. Muitas dessas qualidades poderão ser
adquiridas com esforço e boa vontade, aumentando neste caso o
mérito do profissional que, no decorrer da sua actividade profissional,
consegue incorporá-las à sua personalidade, procurando vivenciá-las ao
lado dos deveres profissionais.

89
UNIDADE Temática 5.6.1. Confidencialidade e Privacidade
A privacidade neste caso limita o acesso às informações de um
determinado paciente, à sua intimidade. Ela representa a garantia à
preservação do seu anonimato e do seu resguardo. Por outro lado, a
confidencialidade é a garantia do resguardo das informações dadas
pessoalmente em confiança e a protecção contra a sua revelação não
autorizada.
De acordo com Costa et al. (1998), no Juramento de Hipócrates já se
afirmava: "qualquer coisa que eu veja ou ouça, profissional ou
privadamente, que deva não ser divulgada, conservará em segredo e
não contarei a ninguém".
O direito à privacidade não se extingue com a morte do indivíduo.
Portanto, a confidencialidade é um dever que todos os profissionais de
saúde devem observar e manter mesmo após a morte do paciente.

Numa pesquisa, por exemplo, são utilizados dados constantes em


questionários, entrevistas, processos e bases de dados para um fim
específico. Essas informações não deverão ser utilizadas para outros
fins.

A confidencialidade, embora uns dos preceitos morais mais antigos da


prática médica, continua a ser um tema extremamente actual no
exercício da relação dos profissionais de saúde com os seus pacientes.

Salientar que, a confidencialidade se refere à responsabilidade sobre as


informações recebidas ou obtidas em exames e observações, no caso
de pesquisa por exemplo, por parte de um pesquisador e sua equipe em
relação a dados pessoais do sujeito. E, por sua vez, a privacidade deriva
da autonomia e engloba a intimidade da vida privada, a honra das
pessoas, significando que a pessoa tem direito de limitar a exposição do
seu corpo, da sua imagem, dados de um processo, julgamentos
expressos em questionários, etc. (Manual operacional para comités de
ética em pesquisa, 2007).

De acordo com Eduards (1988, citado por Costa et al., 1998) não é difícil
para um profissional de saúde entender que a confidencialidade é um
dos pilares fundamentais à sustentação de uma relação de confiança
com um paciente. É esta garantia que faz com que os pacientes
procurem auxílio profissional quando necessitam, sem medo de
repercussões económicas ou sociais, que possam advir de seu estado
de saúde.
As informações fornecidas pelos pacientes, em postos de saúde ou
consultórios privados, bem como os resultados de exames e
procedimentos realizados com finalidade diagnóstica ou terapêutica,
são de sua propriedade.

90
Importa referir que o pesquisador deve estabelecer e salvaguardar de
forma segura a confidencialidade dos dados de pesquisa. Por exemplo:
os indivíduos participantes devem ser informados dos limites da
capacidade do pesquisador em salvaguardar a confidencialidade e das
possíveis consequências da quebra da mesma. Se a pesquisas
envolverem dados institucionais deve-se, da mesma forma, preservar a
privacidade e confidencialidade.
Os profissionais, em especial de saúde, que entram em contacto com as
informações dos pacientes têm apenas autorização para o acesso às
mesmas em função de sua necessidade profissional, mas não o direito
a usá-las livremente. Dessa forma, os profissionais somente deverão ter
acesso às informações que, efectivamente, contribuam ao atendimento
do paciente.

Para Costa et al. (1998), a garantia da preservação do segredo das


informações, além de uma obrigação legal contida no Código Penal e na
maioria dos Códigos de Ética profissional, é um dever de todos os
profissionais, e das instituições. Este conceito foi proposto por David
Ross (1930). Ele propunha que não há, nem pode haver, regras sem
excepção.
De acordo com Costa et al. (1998), a preservação das informações é um
compromisso de todos e para todos. Portanto, existe a necessidade de
os profissionais de saúde protegerem as populações vulneráveis através
de políticas claras sobre o uso das informações geradas ao longo de seu
atendimento pelo sistema de saúde.

Muitos autores e códigos utilizam indistintamente o termo sigilo. A


palavra sigilo pode ter o significado de mera ocultação ou de
preservação de informações. Os segredos dizem respeito à intimidade
da pessoa, deve ser mantido e preservado adequadamente. A palavra
sigilo tem sido cada vez menos utilizada. A sua utilização em diferentes
idiomas tem caracterizado cada vez mais os aspectos de ocultação e
menos os de preservação.
A omissão de informações é uma situação que permite verificar a
diferença entre segredo e sigilo. Não são raras situações em que,
familiares de pacientes, solicitam aos médicos que omitam informações
ou mintam aos mesmos, principalmente na situação de diagnóstico de
doenças malignas. Neste caso, o médico estará mantendo uma
informação em sigilo, quando deveria comunicá-la a quem de direito.
Muitas das vezes, observa-se que os pacientes também pedem para que
os médicos omitam ou mintam para as suas famílias, por variados
motivos.
Importa referir que, a segunda circunstância, em que o profissional de
saúde recebe o pedido para omitir informações ao pedido do paciente,
pode ser encarada como um claro exercício de sua autonomia,
preservando sua intimidade e segredos. A primeira solicitação, mentir,
pode constituir-se num acto eticamente inadequado. Recomenda-se
91
aos profissionais de saúde que tenham nestas situações muita
prudência ao abordar os seus familiares. Portanto, este deverá
entender bem os aspectos psicodinâmicos envolvidos e discuti-los
claramente com a família ou com o paciente, conforme o caso, antes de
tomar uma decisão séria como esta: enganar deliberadamente alguém.
Muitas vezes as informações médicas são primeiro relatadas às famílias
e, posteriormente, aos pacientes. Em alguns países de formação mais
individualista, o paciente, de maneira quase que obrigatória, terá
primeiramente acesso às informações e, então decidirá se alguém mais
compartilhará das mesmas consigo ou não. Como foi abordado nas
unidades anteriores, a questão do dilema ético, na realidade, não está
situado entre revelar ou não o diagnóstico ao paciente, ou qualquer
outra informação relevante, mas sim na forma e momento de revelar
tal informação.
Vale a pena relembrar que a garantia recíproca de comunicar a verdade
e de não ser enganado, ou seja a veracidade, é um dos princípios básicos
sobre os quais se estabelece a relação médica e paciente. Deve contudo
se salientar que a preservação de segredos está associada tanto à
questão da privacidade quanto da confidencialidade.
A privacidade, mesmo quando não há vínculo directo, impõe ao
profissional o dever de resguardar as informações com as quais teve
contacto e de preservar na própria pessoa do paciente, atitude que
pode ser considerada como sendo um dever institucional. A
confidencialidade, por sua vez, pressupõe que o paciente revele
informações directamente ao profissional, que passa a ser o
responsável pela preservação das mesmas.
As crianças e os adolescentes têm, tal como um adulto, o mesmo direito
de preservação de suas informações pessoais, de acordo com a sua
capacidade, mesmo em relação a seus pais ou responsáveis. Com
relação aos pacientes idosos, especial atenção deve ser dada à
revelação de informação aos familiares e, especialmente, aos
cuidadores. Estes deverão receber apenas as informações necessárias
para o desempenho de suas actividades de rotineiras ou seja, de dia a
dia.
Para Costa et al. (1998), o termo confidencialidade tem origem na
palavra confiança, que é a base para um bom vínculo terapêutico. O
paciente confia que seu médico ou psicólogo irá preservar tudo que lhe
for relatado, tanto que revela informações que outras pessoas, com as
quais convive, sequer supõem existir.
É extremamente importante salientar que os deveres do terapeuta para
com a preservação dos dados, informações de um paciente não cessam
com a morte deste, nem com o facto de ser uma pessoa pública. O
profissional não deve sequer em momento algum confirmar uma
informação que já é de domínio público. Os familiares, por sua vez, não
têm o direito de acesso e, muito menos, de obrigar o terapeuta a
fornecer estas informações ou dados que devem permanecer
resguardadas. Neste tipo de situação, o profissional somente poderá
92
dizer à família, ou a qualquer outra pessoa que venha a solicitar este
tipo de informações, “que está impedido de atender a estes pedidos por
motivos morais e legais, justificando a sua conduta sob o ponto de vista
da adequação moral ética”.
As instituições têm a obrigação de manter um sistema seguro de
protecção aos documentos que contenham registos com informações
de seus pacientes. As normas e rotinas de restrição de acesso aos
processos de utilização de senhas de segurança em sistemas
informatizados devem ser continuamente aprimoradas. Por sua vez, o
acesso de terceiros envolvidos no atendimento aos pacientes, como por
exemplo seguradoras e outros prestadores de serviços, deve merecer
especial atenção sendo apenas disponibilizada a estes a informação
estritamente necessária.
A título de exemplo podemos verificar que, em média, durante um
internamento clínico habitual em hospitais norte-americanos, 75
diferentes pessoas lidam com o processo de um determinado paciente
(Costa et al. 1998).
Os profissionais, assim como todos os demais funcionários
administrativos (secretárias de unidade, funcionários do sector de
arquivo de processos, de sectores de internamento, da área de
facturação e de contas dos pacientes, entre outros) que entram em
contacto com as informações, têm o mesmo comprometimento, ou
seja, apenas autorização para o acesso às mesmas em função de sua
necessidade profissional, mas não o direito de usá-las livremente (Costa
et al., 1998).
Neste caso, cabe às instituições e profissionais responsáveis pelo
atendimento dos pacientes, especialmente aos médicos e psicólogos,
um importante papel educativo e formativo no processo de
manutenção das informações pertencentes exclusivamente aos
pacientes.
De acordo com Goldim et al. (1997, citado por Costa et al., 1998), a
garantia da preservação da privacidade deve limitar o acesso à própria
pessoa, à sua intimidade. Deve impedir que um paciente seja observado
sem a devida autorização. Isto é extremamente importante no
atendimento de pacientes em Ginecologia, por exemplo, tendo em vista
o tipo de exposição a que são submetidas na maioria dos exames físicos
realizados de rotina. Muitas vezes, o espaço de intimidade destas
pacientes é invadido por diferentes pessoas com as quais nunca tiveram
qualquer contacto prévio. Esta situação se agrava quando o
atendimento ocorre num hospital de ensino, onde, além dos
profissionais qualificados, surgem também alunos que participam do
processo.
No que se refere a questão da privacidade e da confidencialidade na
actividade clínica em psicologia, o psicólogo no exercício da sua
actividade deve:

93
• Respeitar o direito à privacidade e à confidencialidade de todos os
seus pacientes sem discriminação, independentemente da raça,
situação social, económica, familiar e laboral;
• No exercício da sua profissão o psicólogo tem o dever de explicar ao
cliente que medidas serão tomadas para proteger a sua
confidencialidade.
• O profissional tem o estrito dever de proteger a confidencialidade
de toda a informação a que tem acesso no exercício da sua
profissão.
• Se o profissional considera que não estão reunidas as condições que
lhe permitam garantir a confidencialidade, deve recusar ou terminar
a relação profissional com o cliente.
No exercício da profissão, o profissional deve tomar todas as medidas
adequadas para assegurar que a sua equipa de trabalho compreenda e
respeite efectivamente o dever da confidencialidade.
Um funcionário leal se alegra quando a organização ou seu
departamento é bem-sucedido. Defende a organização, toma medidas
concretas quando ela é ameaçada, tem orgulho em fazer parte da
organização, fala positivamente sobre ela e defende-a contra críticas.
Lealdade não quer dizer necessariamente fazer o que a pessoa ou
organização quer que você faça. Lealdade não é sinónima de obediência
cega. (SÁ. 2005)
Lealdade significa fazer críticas construtivas, mas mantendo-as dentro
do âmbito da organização. Significa agir com a convicção que o seu
comportamento vai promover os legítimos interesses da organização.
Assim, ser leal às vezes pode significar a recusa em fazer algo que você
acha que poderá prejudicar a organização, a equipa de funcionário.

Entretanto, é possível ser leal a uma organização ou a uma equipe


mesmo que você discorde dos métodos usados para alcançar
determinados objectivos. Na verdade, seria desleal deixar de expressar
o sentimento de que algo está errado, se é isso que você sente.

A competência é o exercício do conhecimento de forma adequada e


persistente a um trabalho ou profissão (Srour 2003). Devemos buscála
sempre. Já dizia Aristóteles “a função de um citarista é tocar citara, e a
de um bom citarista é tocá-la bem”.
Temos que buscar continuamente a competência profissional em
qualquer área de actuação. Portanto, os profissionais devem ser
incentivados a buscar competências e mestria através do
aprimoramento contínuo de suas habilidades e conhecimentos. Porque
o conhecimento da ciência, da tecnologia, das técnicas e práticas
profissionais constituem pré-requisitos para a prestação de serviços de
boa qualidade. Nem sempre é possível acumular todo conhecimento
94
exigido por determinadas tarefas, mas é necessário que se tenha
postura ética de recusar serviços quando não se tem a devida
capacitação para executá-los.
A compreensão é uma qualidade que ajuda muito o profissional, porque
é bem aceite pelos que dele dependem, em termos de trabalho,
facilitando a aproximação e o diálogo, tão importante no
relacionamento profissional. (SÁ. 2005). É bom não confundir
compreensão com fraqueza, para que o profissional não se deixe levar
por opiniões ou atitudes, nem sempre válidas para eficiência do seu
trabalho, para que não se percam os verdadeiros objectivos a serem
alcançados pela profissão.
Importa referir que a compreensão precisa, muitas vezes, de ser
condicionada pela prudência. No exercício da sua função, o profissional
deve reconhecer e aceitar as diferenças entre pessoas sem qualquer
discriminação baseada no sexo, idade, nacionalidade, raça e etnia,
situação socioeconómica, educação, condição de saúde, opções
política, moral, estado civil ou orientação sexual, tendo como alicerce
as suas actividades profissionais no respeito absoluto pela dignidade e
pelos direitos da pessoa humana. Isto é, o profissional deve agir com
imparcialidade, uma qualidade tão importante e que assume as
características do dever, pois destina-se a se contrapor aos
preconceitos, a reagir contra os mitos e a defender os verdadeiros
valores sociais e éticos, assumindo uma posição justa nas situações que
terá que enfrentar. (Velasquez, 1998).

Para ser justo é preciso ser imparcial. Logo a justiça depende muito da
imparcialidade. A essência dos valores éticos envolve a equidade das
relações. O poder detido pelos profissionais é marcado pela
necessidade de fazer da cortesia e da dignidade em relação aos clientes,
parte essencial do trabalho profissional. Por exemplo: um consultor
profissional deve tratar os clientes com consideração porque se não o
fizer prejudicaria o cliente, e prejudica igualmente a reputação do
profissional e da profissão. Portanto, não pode existir uma situação em
que de um lado, tem todos os direitos e o outro lado, todos os deveres.

Há necessidade que exista equidade entre interlocutores e nas


informações. Isso porque a noção da ética profissional está ligado à
noção de definição de fronteiras e de transgressões dos cânones
aceitáveis que se aplicam entre pessoas. Face à disparidade de poder
entre o profissional e o cliente, as fronteiras têm de ser definidas
claramente. Quando tais fronteiras são transgredidas, verificam-se
significativas consequências negativas para o cliente/paciente e o
profissional.

Neste caso apresentado, além de estar em questão a equidade, estão


em causa outros princípios como: o sigilo, a transparência. Por outro
lado, o profissional deve estar ciente que, com o seu trabalho, deve
95
buscar e criar condições para o desenvolvimento do potencial humano
existente em cada pessoa, em direcção a uma crescente autonomia e a
modos de vida mais satisfatórios e realizadores, e saber que a relação
profissional contém aspectos confidenciais. A obrigação de guardar
segredo recai sobre toda a informação pessoal acerca de um
paciente/cliente e das suas circunstâncias de vida.

Quando o profissional utiliza dados confidenciais em publicações,


aprendizagem, mantém o anonimato dos seus pacientes, camuflando
as informações pessoais. Portanto, há necessidade de garantir a reserva
dos registos e arquivos com informações confidenciais sobre os seus
pacientes (Velasquez, 1998).

No trabalho com grupos ou famílias, o profissional deve apresentar o


sigilo como responsabilidade de todos os participantes. O profissional
deve manter confidencial a informação que possui particularmente
sobre os membros desses grupos. Por exemplo, o Psicólogo, ao realizar
testes de avaliação deve respeitar o direito de informação do paciente,
explicando-lhe detalhadamente os objectivos e os resultados,
interpretações, conclusões e respectivas fundamentações. Em toda a
informação transmitida ao paciente, o psicólogo utiliza uma linguagem
que este possa compreender e disponibiliza-se para prestar todos os
esclarecimentos que o paciente julgar necessários.

Importa referir que, quando os testes são efectuados a pedido de


terceiros, o psicólogo informa o sujeito da avaliação, das conclusões e
dos conteúdos do seu relatório. No relatório são incluídas apenas
informações pertinentes aos objectivos que conduziram à realização
dos testes. O Profissional, ao iniciar o relacionamento profissional com
um paciente, informa-o das suas qualificações e métodos de trabalho.
Utilizando uma linguagem clara, confirma que o paciente compreendeu
integralmente as informações, de modo a que possa exercer o seu
direito de consentimento informado.

No caso de trabalhar com pessoas incapazes de dar um consentimento


informado, como por exemplo crianças ou doentes mentais, o psicólogo
obtém o consentimento do representante legal desses pacientes e
actua sempre no sentido de salvaguardar o melhor interesse destes
(Hitt, 1990). Tendo conhecimento que o paciente ou o potencial
paciente já tem um outro acompanhamento profissional semelhante, o
psicólogo clarifica cuidadosamente a situação, minimizando o risco de
conflito ou confusão. Sem perder de vista o bem-estar do paciente,
pode, ainda, pedir-lhe autorização para falar com o outro profissional.

Em caso algum, o profissional deve aliciar alguém que já seja paciente


de um outro profissional. Por exemplo, na sua actividade profissional
não deve terminar a relação profissional por mero prazer. Deve
96
terminar quando o paciente já não está claramente a se beneficiar dela.
Portanto, se o profissional não possuir as condições pessoais ou
contextuais para iniciar ou continuar a manter uma relação profissional
com um paciente, assegura o seu acompanhamento por um colega,
salvaguardando o direito de assistência do paciente.

Há necessidade de o profissional manter com os seus pacientes um


relacionamento estritamente profissional. Consciente do grande poder
de influência que a sua profissão proporciona, não explora nem
alimenta a dependência dos seus pacientes e evita as relações que
possam prejudicar o seu discernimento e intervenção profissional. Em
particular, deve recusar qualquer forma de intimidade sexual com os
seus pacientes ou atitudes que influenciem os valores pessoais destes
(Velasquez, 1998). O profissional só deve prestar serviços para os quais
tenha recebido formação adequada. Caso não tenha qualificação deve
recomendar para o profissional qualificado para o efeito.

Sendo da sua responsabilidade a manutenção dos mais altos padrões


de competência e desempenho profissional, o profissional mantém
actualizados os seus conhecimentos científicos e técnicos relacionados
com os serviços que disponibiliza. Quando as circunstâncias
profissionais o exigem, o profissional deve procurar conhecimentos,
conselho e treino com profissionais ou grupos específicos. O
profissional não deve esquecer que, para manter o mais alto nível de
desempenho profissional, precisa investir de forma contínua no seu
desenvolvimento, como pessoa e profissional. Isto é, deve ser sensível
aos valores da comunidade em que está inserido, e conduzir o seu
comportamento pessoal com grande prudência para que não tenha
consequências negativas no desempenho profissional e na credibilidade
dos colegas e da sua profissão.

O profissional deve procurar manter com os colegas e demais


profissionais relações caracterizadas pelo respeito, confiança, lealdade
e colaboração. A solidariedade profissional constitui um compromisso
essencial para a actividade profissional. Em quaisquer relações com
outros profissionais trabalha-se exclusivamente na esfera da sua
competência, reconhecendo as áreas específicas e independentes das
outras profissões. Mesmo quando não existem relações formais com
profissionais de outras áreas, o profissional tudo deve fazer para que
sejam assegurados outros serviços profissionais de que os seus
pacientes necessitem.

SUMÁRIO

Ética profissional habilita o profissional a adoptar uma atitude pessoal,


de acordo com os princípios éticos, através do código de ética que
regula os direitos e deveres de cada profissão, na medida em que a
97
profissão deve ter em conta o bem comum e o interesse público porque
sempre se relacionam de uma forma ou de outra com os seres humanos
tendo em conta a liberdade, a consciência e responsabilidade.

A Ética Profissional estuda e regula o relacionamento do profissional


visando a dignidade humana e a construção do bem-estar no contexto
sociocultural em que se insere.
Códigos Formais

• Leis:
• Estatutos;
• Regulamentos formais.

O código encoraja ou proíbe certas condutas profissionais. O código é


uma garantia de explicação dos preceitos éticos. Por isso, não se pode
infringir um código que não existe.

A formalização ética consiste em colocar explicitamente por escrito os


valores, os princípios e as prescrições de uma organização.

EXERCÍCIOS DE AUTO-AVALIAÇÃO

1. Quanto aos códigos de ética, é correcto afirmar que:


a) Código de ética que regula os direitos e deveres de cada
profissão
b) Código de ética que desregula os direitos e deveres de
cada profissão
c) Código de ética que regula os direitos e desregula
deveres de cada profissão
d) Nenhuma das respostas anteriores.
2. Qual dos princípios éticos abaixo se enquadra com a afirmação
que se segue: é agir dentro dos seus princípios éticos, seja em
momentos de instabilidade financeira, seja na hora de
apresentar óptimas soluções
a) Honestidade
b) Sigilo
c) Integridade
d) Coragem
3. De que princípio ético a afirmação que se segue está a retratar?
a) Dignidade
98
b) Privacidade
c) Interesse público
d) Nenhuma das respostas

Assinale com V as afirmações verdadeira ou com F as falsas


4. Honestidade consiste na completa reserva quanto a tudo o que
se sabe e que lhe é revelado ou o que veio a saber por força da
execução do trabalho.
5. Sigilo profissional consiste em para admitir que não é dono da
verdade
6. Coragem consiste em defender-se dignamente quando está
consciente de seu dever

EXERCÍCIOS DE AVALIAÇÃO

1. O que entende por profissão?


2. O que entende por deontologia profissional?
3. Qual é a diferença entre ética e
deontologia profissional?
4. Qual é a relação entre a profissão e deontologia?
5. Qual é a importância da deontologia profissional?
6. Qual é a importância do código de ética na actuação
profissional?

CORRECÇÃO DOS EXERCÍCIOS DE AUTO-AVALIAÇÃO

1. A 2. C 3. C 4. F 5. F 6. V

TEMA VI: ÉTICA NAS ORGANIZAÇÕES


UNIDADE Temática 6.1. Dimensões do Clima Ético
UNIDADE Temática 6.2. Os Indicadores Do Clima Ético
UNIDADE Temática 5.2.Dilemas Éticos

UNIDADE Temática 6. Introdução

Introdução

99
Para uma companhia ser respeita e admirada por todos os seus
públicos, é fundamental adotar um compromisso moral de
transparência e ética na condução de todas as suas práticas. Eu costumo
dizer que moral é aquilo que você faz quando alguém está a observar e
ética é você continuar fazendo o que é certo mesmo sem ninguém te
observar.

No final o estudante deverá ser capaz de:

• Conhecer a importância de uma cultura organizacional ética;

Objectivos Conhecer a importância do clima ético nas organizações;

• Relação entre o clima e a cultura organizacional;


Específicos
• Conhecer a relação entre o clima ético e
sucesso
organizacional.
Embora hoje tenhamos o conhecimento que as empresas procuram
produzir bens e serviços necessários e desejados e distribuir esses bens
e serviços aos membros da sociedade, a ética é chamada a dar um
contribuição na relação entre: o patronato e o trabalhador e na relação
entre o profissional e os seus clientes. É desta forma que a ética
empresarial ou dos negócios está enquadrada no vasto campo da ética.

Velásquez (1998) entende a ética empresarial como um estudo de


padrões morais e como eles são aplicados aos sistemas e organizações
por meio dos quais a sociedade moderna produz e distribui bens e
serviços e às pessoas que trabalham nessas organizações. Assim, a boa
empresa não é apenas aquela que apresenta lucro, mas a que oferece
um ambiente moralmente gratificante, em que as pessoas boas podem
desenvolver seus conhecimentos especializados e suas virtudes. Para
aprimorar a ética nas organizações é preciso compreender como se dá
o processo de tomada de decisão, e reconhecer que existem escolhas a
serem feitas com respeito aos meios e aos fins empresariais. Essas
escolhas devem ser fundamentadas essencialmente pela ética.
Portanto, determinadas acções são julgadas éticas ou antiéticas por um
conjunto de indivíduos ou grupos, internos ou externos à organização,
os chamados stakeholders 3. Os stakeholders avaliam a conduta, formam
os juízos de valor e influenciam na aceitação ou rejeição das actividades
e atitudes das empresas por parte da sociedade.

A cultura organizacional é o conjunto de pressupostos básicos que um


grupo desenvolve ao aprender como lidar com os problemas de
adaptação externa e integração interna. E esses princípios são

3
Os stakeholders são pessoas que tem ou reivindicam propriedade, direitos ou
interesses numa organização.
100
considerados meios básicos e válidos para serem ensinados aos novos
membros como a forma mais correcta de perceber, pensar e sentir em
relação a um determinado problema (Arruda, at al, 2002). Entre a
cultura organizacional e o clima organizacional existe uma relação
intrínseca, e, o clima ético, enquanto manifestação observável da
cultura organizacional, afecta a forma como as decisões são tomadas.
Por isso, o clima ético identifica os sistemas de controlo normativos da
organização, direcciona o processo de tomada de decisão e orienta às
respostas aos dilemas éticos. Os dilemas éticos podem ser definidos
como situações em que uma pessoa precisa escolher entre duas ou mais
alternativas desejáveis. Para um problema se tornar um dilema ético,
ele deve ter as seguintes características:

• Não pode ser resolvido utilizando-se dados empíricos;


• Precisa causar tanta perplexidade que fica difícil decidir quais
factos e dados são necessários na tomada de decisão;
• Os resultados do problema precisam afectar mais do que a
situação imediata;
• Deve haver efeitos de longo alcance.
O clima ético é representado por valores, práticas e procedimentos que
envolvem comportamentos e atitudes morais das instituições. Assim, o
clima ético prevê tanto o conteúdo moral das decisões – o que deve ser
feito; quanto o processo e a prática de tais decisões – como deve ser
feito no relacionamento dos indivíduos dentro da empresa ou
instituição.

Por isso, o clima ético é o conjunto de expectativas percebidas e exigidas


nas organizações. O clima ético define, ainda, os valores e os
comportamentos esperados numa organização.

UNIDADE Temática 6.1. Dimensões do Clima Ético


De acordo com Srour (2003) existem 4 dimensões ligadas ao clima ético.
Estas dimensões compreendem:

• Confiança ou responsabilidade;
• Comportamento percebido pelos pares;
Consequências recebidas pela violação das
normas; E a natureza das práticas comerciais.

Por isso, um bom clima ético proporciona um bom ambiente psicológico


de trabalho e afecta positivamente o comportamento dos
101
colaboradores. Portanto, o clima ético constitui a percepção partilhada
dos colaboradores sobre os padrões éticos – valores, práticas e
procedimentos da empresa, e como eles são aplicados no
relacionamento entre os indivíduos dentro da organização e na relação
como os seus stakeholders.

UNIDADE Temática 6.2. Os Indicadores Do Clima Ético


Na presente secção pretendemos fazer uma abordagem de alguns
indicadores do clima ético nas organizações. Assim, iremos nos basear
no modelo apresentado por Frank Navran citado por Arruda, at al.
(2002) que contempla uma série de indicadores que são apresentados
em seguida:

a) Indicador I: sistemas formais


Há muito tempo, os filósofos parecem estar de acordo com a ideia que,
para que o processo de tomada de decisão seja eficaz, são necessárias
regras. Tais regras de comportamento estão associadas à profissão, e
ao relacionamento que possibilitem harmonia na convivência social.

Tom Morris 4 (1998 apud Arruda, 2000: 28) entende que a ética é o
cumprimento de regras. Sob essa perspectiva, a empresa que almeje
ser ética deve divulgar declarações precisas definindo as regras e deve
criar procedimentos de verificação para assegurar que todos na
organização as estão cumprindo. Há muitas empresas que elaboram
manuais de ética para seus funcionários e indicam representantes que
garantam a ética ou a conformidade, supervisionando a conduta de
todos os empregados.

A experiência das organizações que utilizaram esse procedimento


mostrou uma redução substancial do clima de incerteza, o que
contribuiu sobremaneira para a consecução dos resultados num clima
construtivo.

Para Pérez López 5 (1998 apud Arruda, 2000: 28), um sistema de


controlo pode determinar o que é preciso fazer numa posição, ou
mesmo na empresa, para se alcançar os resultados esperados. Como
consequência, serão atribuídos prémios, castigos ou outras formas de
resposta. Grande parte da literatura sobre organizações,
particularmente empresas, concentra-se nos sistemas formais de
controlo, procurando defini-los e estruturá-los em função dos
problemas a serem resolvidos, como dispor os recursos, etc. No

4
MORRIS, Tom. A nova alma do negócio: como a filosofia pode melhorar a
produtividade de sua empresa. Rio de Janeiro: Campus, 1998.
5
PÉREZ LÓPEZ, Juan António. Liderazgo y ética en la dirección de empresas: la nueva
empresa del siglo XXI. Bilbao, España Deusto, 1998. p. 52-54.
102
entanto, tradicionalmente, os sistemas formais apresentam limitações,
cujas raízes se encontram na falta de uma definição adequada dos
objectivos ou em indicadores insuficientes.

Os incentivos para que as pessoas rendam mais, advindos dos sistemas


formais, serão tão grandes ou maiores que os dos próprios sistemas
formais. De um modo geral, os sistemas de controlo formal levam as
pessoas a limitar-se ao puro cumprimento das obrigações, a uma
postura de apatia e indiferença. Por essa razão, as empresas necessitam
de uma conduta livre. Se quiserem alcançar seus verdadeiros
objectivos, e não apenas o mero cumprimento de umas normas.

Hitt 6 (1990 apud Arruda, 2000) afirma que as funções de gestão


deveriam ser assumidas de acordo com um volume considerável de
regras, independentemente das pessoas, já que o objectivo da
burocracia é racionalizar a função de liderança. Isso pressupõe boa
estrutura, normas e, acima de tudo, objectividade. A característica
emocional da pessoa a exercer as funções de gestão pode definir a
maior ou a menor objectividade do processo. Por isso, cada gerente
deve-se esforçar especialmente para eliminar toda e qualquer
subjectividade e sentimentalismo no desempenho de sua função.

De acordo com Frank Navran (citado por Arruda, 2000), os sistemas


formais da organização correspondem aos métodos, às políticas e aos
procedimentos que claramente identificam qual é o negócio, quando,
como, e porque ele se realiza. Quando os sistemas formais contêm um
direccionamento ético claro, os funcionários têm uma compreensão
correcta das expectativas e exigências.

Quando esses sistemas não são claros ou quando a mensagem ética


varia entre os sistemas, os indivíduos buscam outro ponto de referência
para uma orientação definitiva, uma dimensão tipicamente de
liderança. Quando os sistemas não se referem à questão ética, a
mensagem é que não existe um padrão ético. Isso deixa os funcionários
totalmente dependentes de seus valores pessoais e do comportamento
observável dos outros.

b) Indicador II: mensuração


De acordo com Nash 7 (1993 apud Arruda, 2000: 29), muitos dos
sistemas mais comuns de incentivos, formas de comunicar os objectivos
e a hierarquia motivam o funcionário da organização. Por essa razão,
convém examinar as repercussões de uma eventual autosatisfação,
para reforçar o carácter objectivo da gerência, o foco na criação de valor

6
HITT, William D. Ethics and leadership: putting theory into practice. Columbus, OH:
Battelle, 1990. P.149.
7
NASH, Laura. Ética nas empresas: boas intenções à parte. São Paulo: Makron Books,
1993.
103
e no incentivo de opiniões divergentes para corrigir uma tendência ao
interesse próprio e o desenvolvimento do raciocínio e das habilidades
para o relacionamento.
Melé8 (1997 apud Arruda, 2000: 29) lembra que, ao trabalhar numa
organização, tanto o gerente como os funcionários cooperam com
outras acções realizadas por outras pessoas da empresa, de modo que
essa cooperação também contribua para a moralidade dos actos com
os quais coopera. Assim, as regras ou normas definidas podem evitar
que haja cumplicidade por parte de todos os gerentes e funcionários, e
um sistema de avaliação pode assegurar maior nível de ética na
organização.
Para Navran, de todos os sistemas formais, as medidas são os meios
mais críticos que a organização possui para comunicar às pessoas o que
realmente é importante. As pessoas tendem a prestar mais atenção
àquilo que é avaliado e medido, pois é justamente o mensurável que a
organização traduz em recompensa. O uso de sistemas formais de
avaliação depende de sistemas precisos de medição, além de uma clara
definição de responsabilidades de cada interveniente numa
organização. Esses sistemas de medição devem ser percebidos como
precisos e representativos do trabalho de uma pessoa ou de uma
equipa. Isso significa que a integridade dos sistemas é tão importante
quanto a sua estrutura. Os sistemas formais contribuem para a
congruência ética até o ponto em que se revelam confiáveis para
representar as reais expectativas da organização.

c) Indicador III: liderança


Hambrick et al. (1998 apud Arruda, 2000) definem a liderança da
maneira que julgaram mais aproveitável para a empresa:
• Modéstia para constantemente duvidar, estar aberto e escutar;
• Preocupação com o desempenho;
• Sentido de responsabilidade, não privilégio;
• Sincronia com os valores e objectivos da organização e
capacidade de vivê-los, articulá-los e procurar com constância
que outros os sigam também.
• Predisposição para provocar mudanças em tudo, excepto nos
objectivos e valores básicos.

As acções e os comportamentos dos líderes pesam significativamente


mais que suas palavras ou políticas escritas. Quando as mensagens não
são congruentes, os funcionários ficam a ponderar qual delas deve ser
considerada. A sinceridade dos líderes acima do supervisor imediato é
posta em dúvida. As pessoas são forçadas a se apoiar em opiniões de

8
MELÉ, Domènec. Ética en la dirección de empresas. Barcelona, España: IESE, 1997.
104
seus pares/colegas ou em suas próprias crenças para descrever os
limites de um comportamento eticamente adequado.
Então, têm que contrabalançar essas visões com aquilo que acreditam
ser o que a organização realmente quer ou espera.

d) Indicador IV: negociação


Uma das realidades difíceis de se medir e quantificar é o sentido de
união no local de trabalho. Ele estimula as pessoas a iniciarem o seu
trabalho pontualmente, a manterem o ritmo até o final do dia e evitar
o distanciamento. Os melhores líderes desenvolvem a unidade por meio
da atenção consistente aos funcionários, fazendo-os participantes da
aventura e da organização. O respeito pela singularidade leva à união
entre todos, o que garante mais satisfação e qualidade no trabalho
(Morris, 1998 apud Arruda, 2000:30).

O sentido de unidade facilita acordos sempre que os planos devam ser


mudados ou que as opiniões estejam divergindo entre si. É a base da
negociação.

Para Navran, em toda a organização, os funcionários rotineiramente se


dedicam à negociação como estratégia para resolver um conflito.
Negociam prazos, compromissos, alocação de recursos, atribuição de
tarefas e exigências específicas. Quando a negociação com um cliente,
um par ou um supervisor é percebida como uma situação de ganho e
perda, o sistema de valores internos das pessoas ajuda a determinar os
limites da negociação. A integração dos valores organizacionais à
negociação ajuda a mudar o foco para resultados mutuamente
benéficos. A negociação torna-se um processo para desenvolver
óptimas soluções, em vez de uma competição para determinar quem
ganhará ou quem perderá.

e) Indicador V: imparcialidades

Arruda (2000) comenta que uma organização burocrática não pode dar
lugar aos favores políticos, por exemplo. Conceder cargos a conhecidos
ou parentes simplesmente porque são seus amigos está
completamente em desacordo com os princípios básicos em que a
empresa foi estabelecida. Todas as indicações deveriam se pautar por
considerações objectivas das qualificações técnicas. Essa objectividade
pode ser conseguida pela selecção de novos funcionários por meio de
testes escritos, para evitar o favorecimento e subjectividade.

Para Navran, a organização tem suas exigências formais e informais


para alcançar o sucesso. Essas são as expectativas que a organização
tem para com seus colaboradores.

Quanto mais explícita e congruente for, maior facilidade o colaborador


terá para avaliá-las, comparando-as com os seus valores e suas crenças
pessoais a respeito do que é certo ou errado. Os funcionários também
105
comparam as expectativas com as suas próprias percepções a respeito
de suas capacidades pessoais. Juntas, essas comparações formam a
base de motivação dos colaboradores para ir ao encontro das exigências
da organização, visando a alcançar o sucesso.

f) Indicador VI: consistência

Ferrell e Gardiner (1991 apud Arruda, 2000) atribuem uma


responsabilidade grande aos líderes no que diz respeito a padrões de
conduta ética para sua equipa. O reforço desse comportamento pode
ser demonstrado pelo reconhecimento das atitudes correctas, sua
respectiva comunicação e pela séria correcção para os que se afastarem
das normas éticas. A consistência fortalece-se com a lealdade, com o
apoio e confiança do líder que pessoalmente dá exemplos de conduta e
que tem a humildade de rectificar quando erra.

A consistência ética ocorre quando todas as palavras e acções da


organização levam as pessoas a concluir que o mesmo conjunto de
valores éticos é válido a qualquer momento. Quando a organização é
inconsistente, o funcionário não tem certeza do que deve pensar.
Nesses casos, as circunstâncias individuais são usadas para definir o que
é provavelmente exigido ou esperado. A falta de certeza, leva a um
comportamento auto-protector por medo de fazer o que está errado,
torna-se um factor primário de motivação. A atitude de evitar erros
costuma reduzir o desempenho em cada categoria.

g) Indicador VII: chaves para o sucesso

Se os funcionários trabalham para manter um clima amigável e


harmonioso nas actividades de cada dia, com consistência, respeito,
iniciativa e reconhecimento, a experiência de cada um favorece o
estabelecimento de uma cultura empresarial ética, pois as pessoas são
mais importantes que os produtos.

A bondade é o único investimento que sempre recompensa, tanto em


termos pessoais como em crescimento geral da organização (Morris,
1998).

Para Navran (citado por Arruda, 2000) há chaves para o sucesso em toda
organização. Na maioria das vezes, tais chaves incluem o trabalho
intenso, a auto-motivação e os resultados excelentes. No entanto, elas
não se limitam a isso. Muitas organizações possuem as suas próprias e
específicas chaves de sucesso. Elas podem ser muito apropriadas:
associação com um produto novo, apoio a um mentor ou experiência
em certas posições-chaves. As questões éticas surgem quando essas
chaves de sucesso específicas não são universalmente acessíveis,
106
quando entram em conflito com a posição ética declarada pela
organização ou com os valores pessoais amplamente aceites pelos
funcionários. Quando isso ocorre, o sucesso é percebido como
reservado a um pequeno grupo, com um critério de selecção além do
controle do indivíduo.

h) Indicador VIII: serviço ao cliente

Os funcionários que se sentem honradamente tratados tendem a


transmitir a mesma honra e o mesmo respeito em seus contactos com
clientes actuais e potenciais, fornecedores e consumidores. Quando
existe mau trato, é comum que esse mal-estar também se reflicta fora
da empresa, na forma de lidar com os clientes e fornecedores e com
outras pessoas com as quais os funcionários têm contacto fora da
empresa. Essa atitude pode dificultar a manutenção ou a abertura de
negócios para a empresa. Assim, é pouco provável que, ao longo prazo,
um comprador venha a fazer negócios, ainda que o produto seja bom,
se na empresa fornecedora as pessoas se manifestam de forma má
(Morris, 1998).

Quase toda a organização reconhece a importância da satisfação do


cliente. Para isso, também realiza treinamentos quando uma
organização tem um padrão ético para seus clientes e outro para seus
funcionários. Os problemas podem surgir. Os funcionários estão numa
situação muito especial de verificar como a organização os trata e como
ela espera ou exige que tratem os clientes. Se essas expectativas não
forem congruentes ou coerentes cria-se uma tensão na organização que
pode resultar num mau atendimento aos clientes e em níveis crescentes
de insatisfação dos funcionários.

i) Indicador IX: comunicação

Uma das principais razões para que exista a gerência é para que as
regras sejam comunicadas e reforçadas numa empresa. A primeira
tarefa de gerência deveria consistir em conhecer e aprender bem as
normas da organização, estudando-as atenciosa e intensamente,
pedindo esclarecimentos aos superiores e comprometendo-se a
memorizar todo o manual de operações. A tarefa seguinte é comunicar
essas regras aos seus subordinados e a qualquer empregado
recentemente contratado. Quando surgem dúvidas específicas quanto
à aplicação das regras, cabe ao gerente comunicar com a maior rapidez
possível a interpretação correcta e os critérios estabelecidos. Uma
forma de reforçar as normas da empresa é comunicar, também, o seu
eventual cumprimento, seu respectivo transgressor e a sua punição
(Hitt:1990).
107
Toda organização possui expectativas e exigências em relação a seus
funcionários. Quando a empresa não consegue comunicar eficazmente
aquilo que espera de seus empregados, reduz-se a probabilidade de que
ela alcance os resultados esperados.

As pessoas precisam de informações, de orientação e de reforço.


Necessitam conhecer as posições, os padrões éticos da empresa e o que
é considerado uma conduta correcta dos funcionários num amplo
espectro de situações com as quais poderão se defrontar. Além disso,
precisam sentir-se coerentes com tais exigências. Por fim, os
funcionários devem saber a quem se dirigir para obter respostas às suas
preocupações éticas quando se defrontam com uma situação nova ou
diferente.

j) Indicador X: influência dos pares

Morris (1998) afirma que, se um grupo não adoptar um comportamento


ético, cada funcionário sofrerá forte pressão para se comportar da
mesma forma. No local de trabalho, se as pessoas se acostumarem a
aparar as arestas, a adaptar a verdade, a agir por mero interesse
pessoal, significando actuar de forma não ética, e se seus pares
tenderem a negligenciar o que realmente é verdadeiro nas pessoas,
cada funcionário se sentirá pressionado a ter a mesma conduta que os
colegas. A dificuldade de remar contra a corrente não pode ser
duradoura. É preciso fazer todo o possível para minimizar associações
de cada funcionário com pessoas de má índole, de mau carácter ou de
má vontade, seguindo o conselho de muitos grandes pensadores.

A influência dos colegas existe em quase todos os negócios, indústrias e


profissões. As pessoas contam com seus colegas para direcção,
validação e reforço. Quando a organização falha em comunicar
adequadamente seus padrões éticos e suas expectativas, os
funcionários compensarão essa falha aumentando sua confiança no
apoio dado pelos colegas. A organização pode influenciar o apoio dos
colegas se, efectivamente, utilizar os colegas como parte do sistema
informal de comunicação e de educação. A empresa deve encorajar e
incentivar os líderes informais, cujas posições e padrões éticos apoiam
as metas desejadas na organização. A influência dos colegas pode-se
tornar uma parte do sistema de consistência ética como um todo.

k) Indicador XI: consciência ética

Esse indicador de clima ético não está definido no Modelo de Navran.


Mas este indicador tem em conta, o aspecto político que em algumas
empresas pode prejudicar o profissionalismo de uma equipe e implicar

108
prejuízos para a organização. De acordo com Arruda, at al. (2002). Nas
empresas, às vezes, as relações pessoais ou a influência política são
muito mais valorizadas que a preparação técnico-profissional dos
funcionários. Na relação chefe - subordinado, o uso da autoridade pode,
inclusive, levar ao aparecimento de frequentes casos de assédio sexual.
Outro desvio que por vezes pode ocorrer é o de serem encobertas
receitas da empresa, para não cumprir obrigações fiscais. Da mesma
forma, o suborno acaba sendo entendido como um mal necessário,
usado para garantir a competitividade da empresa. Por se tornar usual,
o pagamento de suborno, presentes, etc. Acaba não sendo considerado
uma falta de ética dessa empresa.

Um gestor pode sentir-se constrangido diante de situações que possam


por em causa a consciência pessoal de alguém na empresa. Sua
habilidade administrativa é testada na forma de processar e comunicar
de forma aturada as informações. Se a imagem da organização é de
invulnerabilidade, pode resultar humilhante admitir o fracasso diante
de outros, informando-lhes o erro cometido. Quanto mais baixo o nível
hierárquico do gestor, maior será a sua tendência a esconder as más
notícias ou dúvidas a respeito de uma questão, por medo de ficar claro
o seu erro (Arruda, 2000).

UNIDADE Temática 5.2. Dilemas Éticos


O processo de tomada de decisão surge na medida em que
encontramos os dilemas – os dilemas éticos. Vamos de seguida definir
o que são dilemas éticos.

Dilemas Éticos podem ser definidos como situações em que uma pessoa
precisa escolher entre duas ou mais alternativas desejáveis.

Para um problema se tornar um dilema ético ele deve ter três


características:

• Não pode ser resolvido utilizando-se dados empíricos;


• Precisa causar tanta perplexidade que fica difícil decidir que
factos e dados são necessários na tomada de decisão;
• Os resultados do problema precisam afectar mais do que a
situação imediata; deve haver efeitos de longo alcance.
Exemplo de um dilema ético:
“Numa cidade da Europa, uma mulher estava a morrer de cancro.
Um medicamento descoberto recentemente por um farmacêutico
dessa cidade podia salvar-lhe a vida. A descoberta do medicamento
tinha custado muito dinheiro ao farmacêutico, que agora pedia dez
vezes mais por uma pequena porção desse remédio. Henrique, o

109
marido da mulher que estava a morrer, foi ter com as pessoas, suas
conhecidas, para que lhe emprestassem o dinheiro pedido pelo
farmacêutico. Foi ter, então, com ele, contoulhe para lhe vender o
medicamento por um preço mais barato. Pediu também ao
farmacêutico para deixar levar o medicamento, pagando mais tarde
a metade do dinheiro que ainda lhe faltava. O farmacêutico
respondeu que não, que tinha descoberto o medicamento e que
queria ganhar dinheiro com a sua descoberta. Henrique, que tinha
feito tudo ao seu alcance para comprar o medicamento, ficou
desesperado e estava a pensar em assaltar a farmácia e roubar o
medicamento para tratar a sua mulher”.

Qual é a motivação moral que leva Henrique a pensar em roubar o


medicamento? Caso roube o medicamento e caso não roube estaria
Henrique agindo correctamente?

No geral, os projectos apresentados para avaliação dos CEPs, os


pontos que com maior frequência são considerados eticamente
incorrectos são os relativos ao consentimento livre e esclarecido, ao
uso de placebo (convicções que acabam tendo efeitos terapêuticos.
Exemplo: quando alguém fica doente, e fica convicta que se pode
curar a sua doença aplicando uma injecção. Se um médico injectar
ao doente uma seringa com a penas água sem medicamento
nenhum, o doente pode sentir o efeito psicológico de ausência de
dor, pelo facto de acreditar na cura. Trata-se de convicções, neste
caso do poder dos medicamentos, que têm efeitos terapêuticos) e à
participação de pessoas em situação de vulnerabilidade.

SUMÁRIO

Todos os actos que os profissionais praticam regem-se por normas


estritas, no que diz respeito a áreas tão sensíveis como a garantia da
confidencialidade e privacidade dos dados relativos aos pacientes.

Em relação à Privacidade e Confidencialidade, os profissionais têm uma


base obrigatória e tomam precauções para proteger a informação
confidencial obtida ou fornecida pelo indivíduo.

Os profissionais só podem divulgar informação confidencial com o


apropriado consentimento do paciente ou outra pessoa legalmente
autorizada e que está a favor do mesmo, a menos que seja proibido pela
lei, só divulgando a informação confidencial sem o consentimento do
indivíduo no caso de serem mandatados pela lei.

Atenção! Os profissionais, quando consultam os colegas, não podem


revelar informação confidencial que possam levar a uma identificação
110
exacta do paciente, investigadores participantes, outra pessoa ou
organização com quem tenham uma relação de confidencialidade, a
menos que eles tenham conseguido o seu prévio consentimento.

EXERCÍCIOS DE AUTO-AVALIAÇÃO

1. De entre as afirmações abaixo apresentadas, qual é a que


melhor descreve o conceito de cultura organizacional?
a) A cultura organizacional é o conjunto de pressupostos
básicos que um grupo desenvolve ao aprender como
lidar com os problemas de adaptação externa e
integração interna;
b) A cultura organizacional não é o conjunto de
pressupostos básicos que um grupo desenvolve ao
aprender como lidar com os problemas de adaptação
externa e integração interna;
c) A cultura organizacional é o conjunto de pressupostos
básicos que um grupo desenvolve ao aprender como
lidar com os problemas de adaptação interna e
integração interna;
d) Nenhuma das respostas anteriores.

2. Quanto a ética e comunicação organizacional, é correcto afirmar


que:
a) Uma das principais razões para que exista a gerência é
para comunicar e reforçar a empresa;
b) . Uma das principais razões para que exista a gerência é
para controlar e reforçar a empresa
c) Uma das principais razões para que exista a gerência é
vigiar as regras e reforçar numa empresa.
d) Nenhuma das respostas anteriores.
3. Quando ao marketing e a ética, é correcto afirmar que:
a) O marketing e a ética surgem como consequência do
decrescente interesse pelo papel dos negócios na sociedade;
b) O marketing e a ética surgem como consequência da falta de
interesse pelo papel dos negócios na sociedade.
c) O marketing e a ética surgem como consequência do
crescente interesse pelo papel dos negócios na sociedade;
111
d) Nenhuma das respostas anteriores.

4. De entre as alternativas abaixo, qual delas melhor define o


Marketing ético?
a) Marketing é um processo social por meio do
qual as pessoas e grupos de pessoas obtêm
aquilo que está sendo vendido;
b) Marketing é um processo social por meio do
qual as pessoas e grupos de pessoas obtêm
aquilo que necessitem;
c) Todas as alternativas anteriores;
d) Nenhuma das respostas.
5. De entre as alternativas abaixo, qual é a que melhor define a
regra de ouro nas relações laborais?
a) Agir em relação aos outros da mesma forma que você
adquira maior lucro possível;
b) Agir em relação aos outros da mesma forma que você espera
que as outras pessoas ajam em relação a você;
c) Todas as alternativas anteriores;
d) Nenhuma das alternativas anteriores.
6. De entre os factores abaixo apresentados, qual deles não
influencia no processo de tomada de decisão?
• Identificação da gravidade
• Factores individuais
• Cultura organizacional
• Terceiros significativos
a) Riscos
b) Cultura organizacional;
c) Oportunidade
d) Nenhuma das respostas
anteriores.

EXERCÍCIOS DE AVALIAÇÃO

1. Qual é a diferença entre o clima ético e a cultura organizacional?


2. Explique a importância do clima ético nas organizações.
3. Explique os seguintes indicadores do clima ético: consciência
ética e sistemas formais?

112
4. Fale da negociação como indicador ético na organização.
5. Concorda com a abordagem apresentada por Navran acerca da
liderança e sua influência no clima ético da organização?
Justifique a sua resposta.
6. Explique a importância da ética no marketing.

CORRECÇÃO EXERCÍCIOS DE AUTO-AVALIAÇÃO

1. A 2. A 3. C 4. B 5. B 6. D

TEMA VII: ÉTICA NA Pesquisa com Seres Humanos


UNIDADE Temática 7.1.O Consentimento Livre e Informado
UNIDADE Temática 7.2.O Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
UNIDADE Temática 7.3. A Pesquisa
UNIDADE Temática 7.4. Cuidados a ter com Crianças e Adolescentes
UNIDADE Temática 7.5. Cuidados a ter com Dados Dos Respondentes
Unidades Temática 7.6. Pesquisa Com Seres Humanos

UNIDADE Temática 7.7.Princípios Técnicos e Éticos


UNIDADE 7.8. Os Comités de Ética em Pesquisa

UNIDADE 7.8.2. Abrangência Dos Comités de Pesquisa


113
UNIDADE Temática 7.8.3. Avaliação da Metodologia Científica

Introdução

Um dos problemas fundamentais em pesquisas ocorre na relação entre


o pesquisador e o grupo alvo da pesquisa, e principalmente na tomada
de decisão, bem como no que se refere aos procedimentos. Razão pela
qual reservamos este espaço ao longo desta unidade para tratarmos da
ética em pesquisa com seres humanos

No final o estudante deverá ser capaz de:

• Conhecer a importância da ética na pesquisa com os seres


humanos;
Objectivos Conhecer a postura do pesquisador e os cuidados que o mesmo
Específicos deve ter para não ferir os princípios éticos;
• Conhecer a estrutura do termo de consentimento livre e
informado.

Este ponto crucial das discussões éticas implica na formulação de outras


questões tais como:

• Qual deve ser a postura do pesquisador no que se refere ao


esclarecimento dos envolvidos na pesquisa?
• Deve contar-lhe com detalhes os procedimentos relacionados
com a pesquisa bem como os objectivos da pesquisa?

Deve, sempre, obter do grupo alvo da pesquisa o consentimento para a


realização da pesquisa?

UNIDADE Temática 7.1.O Consentimento Livre e Informado


A pessoa tem o direito de consentir ou recusar de participar da pesquisa
ou de qualquer situação que afecte ou venha a afectar a sua integridade
físico-psíquica ou social. (Costa et al; 1998).
Grisard (2006) acrescenta que, o consentimento informado é uma
ampliação do princípio da autonomia, constituindo o primeiro passo na
prática da Ética e preceitua a informação clara e correcta dos pacientes,
e sua compreensão para obter seu consentimento com relação aos
114
procedimentos médicos necessários à sua assistência. A utilização deve
ser estimulada e exigida cada vez mais, sendo fundamental neste caso
em todos os projectos de pesquisa.
O consentimento informado consiste num instrumento para se tentar
assegurar a autonomia do sujeito da pesquisa, através da obtenção da
sua decisão a participação, seu correcto uso pressupõe a concordância,
sem qualquer coerção, após fornecimento e compreensão da
informação sobre os procedimentos.
O consentimento é uma decisão voluntária, verbal ou escrita,
protagonizada por pessoa autónoma e capaz, tomada após um
processo informativo, para a aceitação da pessoa para participar na
pesquisa ou experiência, isto é, através de pesquisas científicas,
consciente de seus riscos, benefícios e possíveis consequências.
Portanto, o consentimento livre significa aceitação racional para a
participação na pesquisa.
Importa referir que, o consentimento deve ser dado livremente e
conscientemente, sem ser obtido mediante práticas de coação física,
psíquica, moral, por meio de simulação ou práticas enganosas, ou
quaisquer outras formas de manipulação impeditivas da livre
manipulação da vontade pessoal. Isto é, deve ser livre de restrições
internas, causadas por distúrbios psicológicos e livre de coerções
externas, por pressão familiares, de amigos e principalmente dos
profissionais em especial os da àrea de saúde.
O consentimento livre requer que os participantes da pesquisa sejam
estimulados a perguntar, a manifestar suas expectativas e preferências
aos pesquisadores.
Em todo caso, aceita-se que o profissional exerça uma acção persuasiva,
mas não coerciva ou manipulativa de factos ou dados. A persuasão é
entendida como tentativa de introduzir a decisão de uma pressão por
meio de apelos, isto é, a razão deve ser validada eticamente. Porém, a
manipulação ou tentativa de fazer com que a pessoa realize o que o
manipulador pretende, sem que o manipulado saiba, deve ser
eticamente rejeitado.
Para assumir o consentimento, o paciente deve reunir determinadas

condições tais como: dispor de informações suficientes, compreender


as informações adequadamente, encontrar-se livre para decidir de
acordo com seus próprios valores, ter capacidade plena para decidir
sobre a questão.
O consentimento só é moralmente aceite quando está fundamentado
em quartos (04) elementos principais:
• Informação;
• Competência; Entendimento;

115
• Voluntariedade.
A informação é a base das decisões autónomas do paciente, e, é
necessária para que ele possa consentir ou recusar as medidas ou
procedimentos que lhe foram propostos.
O consentimento requer informação adequada que possa ser
compreendida pelos pacientes. Importa referir que, a pessoa pode até
ser informada, mas, nem sempre significa que esteja esclarecida. Caso
não compreenda o sentido das informações fornecidas, principalmente
quando estas não forem adaptadas ao seu contexto cultural.
Para facilitar a compreensão, as informações devem ser simples,
aproximativas, inteligíveis, leais e respeitosas, ou seja, devem estar
dentro dos padrões acessíveis ao nível intelectual e cultural do paciente,
pois quando indevidas e mal organizadas resultam em baixo potencial
informativo e em desinformação.
O paciente tem o direito moral de ser esclarecido sobre a natureza e
objectivos dos procedimentos diagnósticos, preventivos ou
terapêuticos, ser informado da duração dos tratamentos ou da
experimentação, dos benefícios, prováveis desconfortos,
inconvenientes e possíveis riscos físicos, psíquicos, económicos e sociais
que possa existir.
A informação a ser fornecida ao indivíduo deve conter os riscos
normalmente previsíveis em função da experiência habitual e dos dados
estatísticos, não sendo preciso que sejam informados de riscos
excepcionais ou raros.
Na prática da pesquisa, apresentam-se três (03) padrões de informação:
• O primeiro é o padrão da “prática em pesquisa”, onde o
profissional revela aquilo que um colega consciencioso e
razoável teria informado em iguais ou similares circunstâncias.
Nesta padronização, a revelação das informações é determinada pelas
regras habituais e práticas tradicionais de cada profissão. E, é o
profissional que estabelece o balanço entre as vantagens e os
inconvenientes da informação, assim como os tópicos a serem
discutidos bem como a magnitude de informação a ser revelada a cada
um deles.
Ao nosso ver, este padrão de informação negligência o princípio ético
da autonomia do paciente, pois o profissional de normalmente utiliza
parâmetros já estabelecidos por sua categoria, não adaptando
individualmente as informações aos reais interesses de cada indivíduo.
• O segundo padrão encontrado é o da “pessoa razoável”, que se
fundamenta sobre as informações que uma hipotética pessoa
razoável, mediana, necessita saber sobre determinadas
condições de saúde e propostas terapêuticas.

116
Esta abordagem apresenta uma definição abstracta do que seria pessoa
razoável, isto é, um ser médio num determinado contexto sociocultural.
Por outro lado, podemos entender que o padrão da “pessoa razoável”
tende a negligenciar o princípio da autonomia do paciente.
• O terceiro padrão, o último é denominado “orientação ao grupo
alvo da pesquisa” ou “padrão subjectivo”
A utilização deste tipo de padrões requer por parte do profissional
descobrir o que realmente o indivíduo gostaria de conhecer e o quanto
gostaria de participar das decisões, isto com base nos seus
conhecimentos e na arte da sua prática e observando as condições
emocionais do paciente e factores socioculturais relacionados.
Do ponto de vista ético, a informação a ser transmitida ao paciente é
mais ampla do que exigem as normas legais e as decisões dos tribunais
que tendem a acatar a validade dos dois primeiros padrões de
informação anteriormente apresentados.
A pessoa autónoma também tem o direito de “não ser informada”. Ser
informado é um direito e não uma obrigação para o paciente. Ele tem o
direito de recusar ser informado. Nestes casos, nos pesquisadores
devem questioná-lo sobre quais parentes ou amigos quer que sirvam
como canais das informações. É certo que o indivíduo capaz tem o
direito de não ser informado, quando assim for sua vontade expressa.
O respeito ao princípio da autonomia orienta que se aceite a vontade
pessoal do paciente, impedindo que os pesquisadores lhe forneçam
informações desagradáveis e autorizando que estes últimos tomem
decisões nas situações concernentes do grupo alvo da pesquisa.
De modo a validar-se o direito, dos envolvidos nas pesquisas, estes
devem ter clara compreensão que constitui um dever do pesquisador
informá-lo sobre os procedimentos propostos, que têm o direito moral
e legal de tomar decisões sobre a sua própria vida. Deve também
compreender que os pesquisadores não podem iniciar um
procedimento sem a sua autorização, excepto nos casos de perigo de
vida eminente, e finalmente, o direito de decisão inclui o de consentir
ou de recusar a submissão a um determinado procedimento.
Então, a partir do preenchimento desses pressupostos, o paciente pode
escolher não querer ser informado ou, alternativamente, que as
informações sejam dadas a terceiros, ou ainda querer emitir seu
consentimento sem receber determinadas informações. Além de livre e
esclarecido, o consentimento deve ser renovável quando ocorram
significativas modificações no panorama do caso, que se diferenciam
daquele em que foi obtido o consentimento inicial. Isto é, quando o
consentimento inicial é tido como permanente e imutável, mesmo que
ocorram modificações importantes no estado de saúde, pode se estar a
violar a vontade autónoma do indivíduo. Podemos ainda salientar que
o consentimento dado anteriormente não é imutável, pode ser
117
modificado ou mesmo revogado a qualquer instante, por decisão livre
e esclarecida da pessoa assistida, sem que a ela sejam contrapostas
sanções morais ou administrativas.
Para Costa et al (1998), geralmente a acção do pesquisador em
situações de emergência, em que os indivíduos não consegue exprimir
suas preferências ou dar o seu consentimento, fundamentam-se no
princípio da beneficência, assumindo o papel de protector natural do
indivíduo por meio de acções positivas em favor da vida e da saúde. Nas
situações de emergência aceita-se a noção da existência de
consentimento presumido ou implícito, pelo qual supõe-se que a
pessoa, se estivesse de posse de sua real autonomia e capacidade, se
manifestaria favorável as tentativas de resolução do seu problema em
especial em pesquisas na área de saúde.
De um modo geral, existem cinco (05) principais circunstâncias
excepcionais que limitam a obtenção do consentimento informado:
• A incapacidade: tanto das crianças e dos adolescentes como
aquela causada em adultos por definição da consciência e
graves patologias neurológicas e psiquiátricas;
• As situações de urgências médicas, quando se precisa agir e não
se pode obter o consentimento pontual;
• A obrigação legal de declaração das doenças de notificação
compulsória;
• Um risco grave para a saúde das outras pessoas e de si mesma,
cuja identidade é desconhecida;
• Quando o paciente se recusa a ser informado e participar das
decisões.
Na pesquisa com seres humanos, podemos verificar que relativamente
ao consetimento, o Código de Nuremberg -1947, destaca para sua
efectivação dez (10) principais artigos, dos quais apresentamos em
seguida cinco (05) deles:

1. O consentimento voluntário do ser


humano é absolutamente essencial e
indispensável para a pesquisa;
2. A pesquisa deve produzir resultados vantajosos para a
sociedade;
3. A pesquisa deve ser conduzida de maneira a evitar todo
sofrimento e danos desnecessários, quer físicos, quer
materiais nos sujeitos;
4. A pesquisa deve ser conduzida apenas por profissionais
cientificamente qualificados e competentes;
5. O sujeito da pesquisa deve ter a liberdade de se retirar no
decorrer do estudo.
118
UNIDADE Temática 7.2. O Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

De acordo com Costa et al. (1998), fornecer um texto de consentimento


livre e esclarecido para ser seguido, pode não ser adequado. Alguns
requisitos, entretanto são básicos e não devem ser esquecidos quando
da redacção desse documento. Os elementos essenciais de um termo
de consentimento livre e esclarecido devem ser apresentados de
seguinte forma:

1. Deve conter uma linguagem simples, clara, objectiva e ter em


atenção o grupo alvo de modo a garantir acessibilidade na
leitura e compreensão;
2. Os Consentimentos Livres e Esclarecidos devem abordar com
clareza os seguintes aspectos:

a) Os procedimentos que serão utilizados, bem como os


objectivos pretendidos e justificativas;
b) Apresentar os desconfortos, riscos possíveis e os benéficos
esperados, para a pessoa e para a sociedade em geral;
c) Métodos e técnicas alternativas existentes;
d) Liberdade do paciente/utente em recusar ou retirar seu
consentimento, sem qualquer penalização e/ou prejuízo à sua
assistência;
e) Assinatura/impressão digital ou identificação do
paciente/utente.

EXEMPLO

De modo a clarificar as ideias referentes ao consentimento, nos


propusemos a elaborar um exemplo que nos permitirá melhor
compreensão acerca do mesmo.

Exemplo (1):

Pretende-se fazer uma pesquisa com adolescentes para estudar a

certos sintomas que estavam a apresentar. Porém, para que a pesquisa


ocorra, a equipe de pesquisadores precisa te ter autorização dos pais
ou educadores dos mesmos.

A criança queixava-se de dores constantes de cabeça, dores musculares,


falta de apetite, perda de peso, diarreia entre outros sintomas.

Feitos estudos, os pesquisadores concluíram que as mesmas estão a


desenvolver uma doença degenerativa que necessitava de uma

119
intervenção urgente para administrar suplementos alternativos e
evasivos para garantir o prolongamento da vida do menor.

Tendo em conta o cenário acima relatado, várias questões


fundamentais são lançadas:

a) Como usar os princípios éticos sem ferir com a


autonomia do menor?
b) Quem deve decidir e porquê?
c)

Atenção!

Neste caso concerto, de modo a responder os princípios éticos


estabelecidos, temos que em primeiro lugar pedir o consentimento do
paciente/utente. Então, como se trata de um menor de 14 anos de
idade, de acordo com a Lei moçambicana, este não possui autonomia
para decidir, aí recorremos ao seu pai ou encarregado de educação para
decidir, para autorizar que o grupo de pesquisadores (médicos) inicie
com o tratamento com vista a salvar a vida da criança.

Sendo assim, o consentimento informado neste caso, será assinado


pelo pai ou encarregado de educação da criança, caso ele concorde com
as propostas de intervenção médica sugeridas pela Unidade Sanitária
ou seja, grupo médico.

Para tal, o termo de consentimento deve respeitar mais ou menos o


seguinte formato:

Primeiro: Identificação da instituição responsável pela pesquisa

Exemplo:

• República de Moçambique
• Empresa W
• Departamento Administrativo

Segundo: Título: Termo de Consentimento Informado

Terceiro: Conteúdo do documento

Exemplo (2):

• O Sector de Administrativo da empresa W, vem através desta


pedir a permissão do encarregado de educação/pai do menino
(a) X para participar na pesquisa sobre o papel da criança no
desenvolvimento da cultura de poupança, com a duração de t
horas/dia/meses. O objectivo da pesquisa é o de ajudar as
120
famílias através de hábitos sustentável de gestão de pequenas
moedas por parte das crianças dos 11 anos em diante, como
forma de desenvolvermos nos futuros jovens hábitos
sustentáveis de gestão financeira no futuro. Os procedimentos
de pesquisa serão as seguintes: (deve-se descrever os
benefícios), sendo que em alguns casos tem-se verificado os
seguintes efeitos colaterais/adversos (descrever os efeitos
neste caso).

Tendo em conta o exposto, agradecemos que após uma leitura e


esclarecimento das possíveis dúvidas, assina abaixo nos locais
indicados.

Sim concordo_________ Não concordo___________

O pai ou encarregado de educação (assinatura legível)

________________________________

N.B: deve-se tirar uma cópia da sua identificação e anexa ao termo


assinado.

Este exemplo é geralmente aplicável em pesquisas no contexto


hospitalar ou seja, na presença de uma determinada doença e pede-se
permissão a quem de direito para se poder intervir.

Atenção!

Em caso de pesquisas com população a prior sadios, onde não se


pretende fazer nenhuma intervenção clínica, pede-se permissão apenas
para o indivíduo participar na entrevista ou na pesquisa.

Na pesquisa tanto em qualquer área, o consentimento informado é


igualmente utilizado para obter a permissão do sujeito ou indivíduo
para participar no estudo ou experiência. No entanto, sempre que tiver
menores de 18 anos, a permissão é sempre pedida ao pai ou
encarregado de educação ou outro adulto que seja seu responsável.
Porém, apresentamos a seguir um modelo de termo de consentimento
informado aplicado numa situação de pesquisa que envolve seres
humanos.

Exemplo (2):

Consentimento informado aplicados no contexto de pesquisa com seres


humanos a prior sadios, sem necessidade de intervenção clínica.

121
TEMA/ TÍTULO DA PESQUISA: Avaliação da Ansiedade aos Exames nos
Estudantes finalistas do Curso de Contabilidade do ISCED.

CONSENTIMENTO INFORMADO

A Direcção Académica do ISCED, pretende avaliar os níveis de Ansiedade


dos Finalistas com o objectivo de verificar os graus de associação com
as notas obtidas nas defesas das monografias científicas apresentadas
na faculdade.

Para o efeito, vimos por meio desta pedir a sua permissão para
responder a 2 questionários de 12 perguntas cada, um com aspectos
ligados a Ansiedade e outro a Depressão. Não existem respostas certas
nem erradas, apenas terá que descrever o seu estado emocional nas
últimas 2 semanas, neste caso deve escolher dentre 3 alternativas, a
que melhor lhe descreve. Pode desistir se achar que a tarefa não é
interessante, no entanto se achar do seu interesse agradecemos o favor
de não deixar nenhuma questão por responder.

A sua identificação será preservada pois, o questionário terá um código


numérico que irá identificá-lo, e os dados recolhidos serão utilizados
apenas para fins estatísticos.

Se estiver disposto e concordar com a tarefa, assine por favor dando a


sua permissão. Caso não esteja disposto ou não concorde com a tarefa
proposta, assine igualmente recusando a sua participação.

Maputo, aos ____ de ___ de 20___

Sim, concordo Não, não concordo


_______________ _____________________

___/__/___ ___/__/_____

Atenção!

O consentimento deve apresentar sempre um cabeçalho que identifica


a instituição que pretende desenvolver o estudo, caso seja um trabalho
pessoal o investigador deve-se identificar no corpo do consentimento.

122
Para tal, podemos analisar o modelo de consentimento informado
proposto para uma pesquisa:

UNIDADE Temática 7.3. A Pesquisa


A realização de um projecto de pesquisa envolve aspectos de
confidencialidade e privacidade em todas as suas etapas. Desde o
planeamento até a divulgação, o pesquisador e todas as demais pessoas
que vierem a se envolver têm o compromisso de resguardar as
informações, ou seja, de impedir que as mesmas sejam utilizadas de
forma inadequada.
Durante a fase de planeamento a preservação das informações entre os
membros da equipa é fundamental, pois o projecto ainda não foi
apresentado.
Da mesma forma, os Comités de Ética em Pesquisa, em todas as
instâncias, assumem o compromisso com a preservação das
informações a eles submetidas. Quando forem utilizados consultores
“ad hoc”, esta característica deve constar formalmente na solicitação
do parecer. (Costa et al. 1998).
Durante a execução do projecto devem ser mantidas todas as propostas
contidas no mesmo, ou seja, a não identificação dos indivíduos
pesquisados, a preservação de suas imagens, o uso específico para a
finalidade do projecto, bem como os pesquisadores, entre si, devem
igualmente ter uma garantia sobre as informações durante a execução
do projecto.
Nenhuma informação pode ser divulgada por membros isolados,
mesmo que sob a forma de “cartas ao editor” ou “temas livres”, salvo
quando toda a equipa autorize tal situação.
Na divulgação, o importante é a garantia de que todos os participantes
tiveram as suas identidades preservadas na íntegra. Os editores de
revistas científicas, por sua vez devem garantir a preservação dos
conteúdos, durante a tramitação do artigo.

UNIDADE Temática 7.4. Cuidados a ter com Crianças e Adolescentes


De acordo com Goldim (1990), nas situações em que se trata de crianças
e adolescentes, sob o ponto de vista legal, são considerados incapazes.
Porém, moralmente, podem ser considerados como portadores de
autonomia crescente e, segundo vários autores, a partir dos doze anos
de idade, como não passíveis de distinção de um adulto capaz, ou seja,
a autonomia começa a constituir-se uma realidade quando o indivíduo
neste caso concreto atinge os doze anos de idade. Para considerar uma
pessoa autónoma, são necessárias duas condições. Primeiramente, ela
deve possuir a capacidade para compreender, analisar logicamente
uma situação (racionalização) e habilidade para escolher entre várias

123
hipóteses (deliberação) com o objectivo de decidir-se intencionalmente
por uma das alternativas que lhe são apresentadas. Em segundo lugar,
esta escolha só poderá ser considerada autónoma, própria, se a pessoa
estiver livre de qualquer influência para tomar esta decisão
(voluntariedade).
O princípio de respeito à autonomia baseia-se na dignidade da pessoa
e, em consequência, há um dever moral de tratar as pessoas como um
fim em si e nunca utilizá-las apenas como um meio para atingir
determinado objectivo. É o reconhecimento do direito da pessoa de ter
opiniões e agir segundo seus valores e convicções, de possuir um
projecto de vida e felicidade baseado em escolhas próprias.

Os responsáveis legais têm o direito de aceder as informações


constantes no processo de seus dependentes. A relação profissional
com as crianças e adolescentes deve ser pautada pelos princípios de
respeito, autonomia e liberdade, prescritos pelo Estatuto da Criança e
do Adolescente e pelos Códigos de Ética das diferentes categorias.

Os adolescentes podem ser atendidos sozinhos, caso desejem,


independente da idade, em um espaço privado de consulta, em que
será reconhecida a sua autonomia e individualidade, e será estimulada
a responsabilidade crescente com a sua saúde integral.

O princípio da confidencialidade é relativo ao nível de maturidade,


autonomia e risco do adolescente e estes aspectos devem ser avaliados
em conjunto com o adolescente. Tanto a aderência cega à
confidencialidade como a ausência total da mesma são
comportamentos indesejáveis para a ética e para a lei.

As crianças e adolescentes têm o direito de ter a sua imagem e


identidade preservadas. A confidencialidade de seus dados, assim como
o acesso aos mesmos, também deve ser garantida. (Goldim, 1990).
A ética pode constituir um elemento central na equipa multidisciplinar
ajudando a reflectir sobre os aspectos fundamentais no processo de
tomada de decisão quer sobre problemas de natureza sócio - emocional
quer a respeito de alguns aspectos da intervenção psico - pedagógica
bem como tratamento, numa abordagem extremamente humanizada
em adolescentes e crianças.
Os pesquisadores têm a responsabilidade de procurar proteger as
famílias e as crianças da curiosidade científica impedindo a
multiplicação de estudos, com invasão da privacidade e à custa de um
dispêndio emocional suplementar para estes indivíduos.
Ao pesquisador compete ainda a responsabilidade de promover a
divulgação da informação sobre o problema, combater os preconceitos,
participar em campanhas de prevenção, mobilizar as instituições para o
apoio às famílias e às crianças com necessidades educativas especiais.

124
UNIDADE Temática 7.5. Cuidados a ter com Dados Dos Respondentes
Para Costa et al. (1998), os documentos com as informações obtidas
durante a pesquisa são armazenados, os dados podem estar arquivado
em papel ou informatizado, a finalidade é facilitar a manutenção e o
acesso às informações que os pacientes fornecem, durante a pesquisa
ou contexto de trabalho normal.

Os processos não podem ser retirados da instituição, pois podem


acarretar prejuízos na eventualidade de um atendimento ao próprio
paciente. Por exemplo, as autoridades policiais não têm acesso aos
dados constantes no processo, pois isto caracterizaria uma invasão de
privacidade. No caso de autoridade judicial, devidamente justificada e
solicitada por escrito em documento oficial, as informações poderão ser
fornecidas, mas não enviados os documentos originais do processo.
Outro exemplo é o dos pesquisadores na área de educação, que
também utilizam os dados do processo com finalidade académica, que
são essenciais à formação de novos profissionais. Este acesso é
eticamente adequado, desde que especificamente vinculado às
actividades de ensino e aprendizagem; qualquer outro uso implica
quebra de privacidade somente pode ter acesso ao processo do
paciente após ter elaborado um projecto e o mesmo ter sido aprovado
pelo Comité de Ética em Pesquisa.

Unidades Temática 7.6. Pesquisa Com Seres Humanos

A questão da ética na pesquisa envolvendo seres humanos há algum


tempo preocupa os cientistas e as pessoas de uma maneira geral. Em
geral, quando se pensa no assunto, o foco se concentra nas pesquisas.
(Goldim, 1990).
Compreende-se, até certo ponto, que as pesquisas, em geral, podem ter
consequências imediatas; além de mais, principalmente na área
médica, onde existe uma tradição ética de vinte e cinco (25) séculos, há
constante preocupação com esse aspecto.
Na verdade, a experimentação em especial com com seres humanos
ocorreu e vem ocorrendo em muitas outras áreas, muitas vezes sem a
devida preocupação com os aspectos éticos. Faz-se experimentação
com seres humanos (nem sempre com as devidas premissas científicas
ou básicas e, no geral, atingindo colectividades).
O ser humano muitas das vezes, é sujeito a inovações que nem
passaram pelo crivo de experimentação prévia e só se torna evidente o
fenómeno quando surgem complicações. A pesquisa com seres
humanos tem sido feita ao longo dos séculos, com diferentes padrões
de ética e de qualidade, em todo o mundo.
De um lado, deve-se assegurar, por meio da experimentação, a
aplicabilidade dos novos conhecimentos para o bem da humanidade e,
de outro, devem-se criar mecanismos de salvaguarda para evitar os
abusos da experimentação, a " fazer o ser humano de cobaia".
125
Actualmente nas sociedades contemporâneas, é
moralmente inadmissível que se utilize indistintamente seres
humanos como se fossem cobaias de laboratório. Mas, para que se
possa proteger ou promover a saúde da população, muitas vezes é
moralmente necessário realizar experimentos controlados com seres
humanos. É nesse dilema que se baseia a discussão da ética em
pesquisa com seres humanos: entre o respeito à dignidade humana e a
necessidade de experimentação imposta pelo desenvolvimento
tecnocientífico, que representa benefício para a humanidade.
Se houve um tempo em que muitos pesquisadores acreditavam que sua
firme determinação de fazer o bem, sua integridade de carácter e seu
rigor científico eram suficientes para assegurar o carácter ético de suas
pesquisas, nos dias de hoje esta concepção já não é mais aceita, deve-
se no entanto avaliar se os seus procedimentos não ferem a dignidade
humana.
A necessidade de criação de mecanismos de controlo sobre a
experimentação com seres humanos tornou-se aguda quando tomouse
conhecimento dos abusos cometidos nos campos de concentração,
durante a Segunda Guerra Mundial. Foram comprovados assassinatos,
torturas e outros actos de brutalidade no decorrer dos experimentos
científicos.
De salientar que os responsáveis pelos abusos foram julgados e
condenados por crimes de guerra e por crimes contra a humanidade. O
ser humano pode também estar sendo objecto (e não sujeito) de
pesquisa, sem que o saiba; podem ocorrer situações em que só a
posterior os cientistas e o ser humano submetido à experimentação
tomam conhecimento de que houve uma “experimentação humana”.
Nos dias de hoje, o ser humano tem o poder, graças aos avanços
verificados em ciências, de interferir e até dominar sectores ou áreas de
importância vital (ou mortal), poder sobre a reprodução (até mesmo a
concepção sem sexo), sobre a hereditariedade (terapêuticas genéticas),
sobre as neurociências (transplante de células nervosas,
condicionamentos psico-farmacológicos), clonagem.
A possibilidade da aplicação indevida dos conhecimentos, da ciência e
da tecnologia, podendo levar até à destruição da humanidade, foi um
dos factores que deu origem ao neologismo proposto por Potter
“Ética”, o qual tem hoje uma conotação, mais ampla.
Todas essas considerações, apontam para a oportunidade e
necessidade de se discutir a questão da experimentação com seres
humanos, de modo a permitir que os avanços da ciência e da tecnologia
em benefício da humanidade, tendo contudo, como centro de
preocupação, o respeitam pela dignidade do ser humano.
O Brasil constitui uma referência a considerar em questões de garantia
da ética em pesquisas desenvolvidas com seres humanos, como
podemos verificar no seguinte texto apresentado pelo De acordo com
Goldim, (1990), como foi já abordado, no Brasil, os aspectos éticos
envolvidos em actividades de pesquisa que envolvam seres humanos
126
estão regulados pelas directrizes e Normas de Pesquisa com seres
humanos, através da Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde,
estabelecida em Outubro de 1996. De salientar, que estas Directrizes
foram detalhadas para pesquisas envolvendo novos fármacos,
medicamentos, vacinas e testes diagnósticos. Novas resoluções estão
sendo elaboradas para tratar de outras áreas temáticas especiais.

Neste âmbito, o objectivo maior da avaliação ética de projectos de


pesquisa é garantir três princípios básicos: a beneficência, o respeito à
pessoa e a justiça. Nesta garantia devem ser incluídas todas as pessoas
que possam vir a ter alguma relação com a pesquisa, seja o sujeito da
pesquisa, o pesquisador, o trabalhador das áreas onde a mesma se
desenvolve e, em última análise, a sociedade como um todo.

A avaliação baseia-se, pelo menos, em quatro pontos fundamentais: na


qualificação da equipa de pesquisadores e do próprio projecto; na
avaliação da relação risco - benefício; no consentimento informado e na
avaliação prévia por um Comité de Ética.

A qualificação da equipa de pesquisadores deve avaliar a competência


dos seus membros para planificar, executar e divulgar adequadamente
um projecto de pesquisa. A adequação metodológica do projecto de
pesquisa é fundamental. Um projecto inadequado acarreta riscos e
custos sem que seus resultados possam ser realmente utilizados, devido
a deficiências no método. Devem ser esgotadas todas as possibilidades
de obter dados por outros meios, utilizando simulações, animais antes
de utilizar seres humanos.

Na pesquisa com seres humanos os pesquisadores devem dar garantias


de que os dados obtidos serão utilizados apenas para fins científicos,
preservando na totalidade a privacidade e a confidencialidade. E
identificação e o uso de imagens somente poderão ser feitos com uma
autorização expressa do indivíduo pesquisado.

Na avaliação da relação risco - benefício entram em jogo tanto o


princípio da Não - Maleficência como o da beneficência. O dano
irreparável ou a possibilidade de morte, decorrente do projecto,
impedem a realização da pesquisa.

Caso o risco real exceder ao previsto o projecto deve ser interrompido


e revisto. Os projectos podem ser caracterizados tanto pelo risco
quanto pelo benefício. A classificação pode basear-se na Não -
Maleficência, utilizando o risco associado aos procedimentos (risco
mínimo e risco maior que o mínimo). O critério da beneficência, quando
utilizado, avalia se o indivíduo terá ou não ganhos terapêuticos com o
estudo.

127
Habitualmente, a avaliação dos riscos envolvidos no projecto é
relacionada apenas aos indivíduos pesquisados, não sendo realizada, no
projecto qualquer consideração com relação aos pesquisadores e
trabalhadores envolvidos.

O consentimento informado é um meio de garantir a voluntariedade


dos participantes, isto é, é uma busca de preservar a autonomia de
todos os sujeitos. Desta forma, o consentimento informado deve ser
livre e voluntário, pressupondo-se que o indivíduo esteja plenamente
capaz para exercer a sua vontade.

Para tal, importa salientar que o termo de consentimento informado


deve ser visto como uma garantia plena de que a participação do
indivíduo numa determinada pesquisa é efectivamente voluntária,
claro, se ele aceitar deve ser merecedor de elogios, mas se negar a sua
participação não é passível de qualquer censura ou desaprovação.

O outro aspecto a considerar na pesquisa com seres humanos diz


respeito a avaliação prévia do projecto por um Comité de Ética em
Pesquisa independente. Neste Comité devem participar pesquisadores
de reconhecida competência, além de representantes da comunidade.
Deve ser garantida a participação de homens e mulheres. O Comité
deve avaliar os aspectos éticos do projecto de pesquisa assim como a
integridade e a qualificação da equipe de pesquisadores, como iremos
desenvolver mais em diante.

UNIDADE Temática 7.7.Princípios Técnicos e Éticos


• O pesquisador no exercício da sua função deve reconhecer e
aceitar as diferenças entre pessoas sem qualquer discriminação
baseada no sexo, idade, nacionalidade, raça e etnia, situação
socioeconómica, educação, condição de saúde, opções políticas
ou morais, estado civil ou orientação sexual. O pesquisador deve
ter como suporte em suas actividades profissionais o respeito
absoluto pela dignidade e pelos direitos da pessoa humana;
• O pesquisador deve estar ciente que, com o seu trabalho, deve
buscar e criar condições para o desenvolvimento do potencial
humano existente em cada pessoa, em direcção a uma
crescente autonomia e a modos de vida mais satisfatórios e
realizadores;
• O pesquisador deve saber que, a relação de pesquisa é, pela sua
própria natureza, confidencial. A obrigação de guardar sigilo
recai sobre toda a informação pessoal acerca dos indivíduos
envolvidos na pesquisa;
• O pesquisador, quando utiliza dados confidenciais em
publicações, intervenções públicas, investigação ou situações de
128
ensino e aprendizagem, deve manter o anonimato dos
colaboradores de pesquisa;
• O pesquisador deve garantir a reserva dos registos e arquivos
com informações confidenciais sobre os seus pacientes;
• No trabalho com grupos famílias ou comunidades o pesquisador
deve apresentar o sigilo como responsabilidade de todos os
participantes. E manter confidencial a informação que possui
particularmente sobre os membros desses grupos;
• O pesquisador, ao realizar provas ou testes de avaliação, deve
respeitar o direito de informação do paciente, explicando-lhe
detalhadamente os objectivos e os resultados, interpretações,
conclusões e respectivas fundamentações. Em toda a
informação transmitida ao paciente, o psicólogo utiliza uma
linguagem que este possa compreender e disponibiliza-se para
prestar todos os esclarecimentos que o paciente julgar
necessários;
• O pesquisador ao iniciar a pesquisa deve informar as suas
qualificações e métodos de trabalho. Utilizando uma linguagem
clara, devendo confirmar que o paciente compreendeu
integralmente as informações, de modo a que possa exercer o
seu direito de consentimento informado;
• Trabalhando com pessoas incapazes de dar um consentimento
informado ou com menores, o pesquisador obtém o
consentimento do representante legal desses pacientes e actua
sempre no sentido de salvaguardar o melhor interesse destes;
• O pesquisador deve manter com o grupo alvo da pesquisa um
relacionamento estritamente profissional. Consciente do
grande poder de influência que a sua profissão proporciona, não
explora nem alimenta a dependência dos seus pacientes e evita
as relações que possam prejudicar o seu discernimento e
intervenção profissional. Em particular, recusa qualquer forma
de intimidade sexual com os seus pacientes ou atitudes que
influenciem os valores pessoais destes;
• O pesquisador só presta serviços para os quais tenha recebido
formação adequada caso não tenha qualificação deve
recomendar para o profissional qualificado para o efeito;
• O pesquisador deve ser sensível aos valores da comunidade em
que está inserido, e conduzir o seu comportamento pessoal com
grande prudência para que não tenha consequências negativas
no desempenho profissional e na credibilidade dos colegas e da
sua profissão;
• O pesquisador deve procurar-se em manter com os colegas e
demais profissionais relações caracterizadas pelo respeito,
confiança, lealdade e colaboração;
129
• Em quaisquer relações com outros profissionais, o psicólogo
trabalha exclusivamente na esfera da sua competência,
reconhecendo as áreas específicas e independentes das outras
profissões;
• Mesmo quando não existem relações formais com profissionais
de outras áreas, o Psicólogo, quando necessário, tudo deve fazer
para que sejam assegurados outros serviços profissionais de que
os seus pacientes necessitam.

UNIDADE 7.8. Os Comités de Ética em Pesquisa


A análise da validade ética das pesquisas se concretiza nos Comités de
Ética em Pesquisa, CEP das instituições. O Comité de Ética em Pesquisa
(CEP) é uma equipa de profissionais interdisciplinar e independente,
que deve existir nas instituições que realizam pesquisas envolvendo
seres humanos, criado para defender os interesses dos sujeitos da
pesquisa em sua integridade e dignidade e para contribuir no
desenvolvimento da pesquisa dentro de padrões éticos (Normas e
Directrizes Regulamentadoras da Pesquisa Envolvendo Seres Humanos).
Manual operacional para comités de ética em pesquisa (2007).
O objectivo do comité de pesquisa é o de preservar a dignidade e
integridade do ser humano e contribuir para o desenvolvimento
científico. Porém, colocando em primeira ordem a dignidade do ser
humano. Se em nome do avanço científico for colocado em causa a
dignidade humana é considerado acto não ético. É importante que esse
aspecto seja salientado porque existem se não for tida em conta a
componente ética o comité de ética deixa de ser considerado desta
forma e passa a ser tido como comité de análise.

O CEP é responsável pela avaliação e acompanhamento dos aspectos


éticos de todas as pesquisas envolvendo seres humanos. Este papel está
bem estabelecido nas diversas directrizes éticas internacionais
(Declaração de Helsínquia, Directrizes Internacionais para as Pesquisas
Biomédicas envolvendo Seres Humanos), directrizes estas que ressaltam
a necessidade de revisão ética e científica das pesquisas envolvendo
seres humanos, visando salvaguardar a dignidade, os direitos, a
segurança e o bem-estar do sujeito da pesquisa.
Desta maneira “toda pesquisa envolvendo seres humanos deverá ser
submetida à apreciação de um Comité de Ética em Pesquisa” e cabe à
instituição onde se realizam pesquisas a constituição do CEP.
O CEP também contribui para a qualidade das pesquisas e para a
discussão do papel da pesquisa no desenvolvimento institucional, social
da comunidade. Contribui ainda para a valorização do pesquisador que
recebe o reconhecimento de que sua proposta é eticamente adequada.

130
O CEP, ao emitir parecer independente e consistente, contribui ainda
para o processo educativo dos pesquisadores, da instituição e dos
próprios membros do Comité.
Finalmente, o CEP exerce papel consultivo e, em especial, papel
educativo para assegurar a formação continuada dos pesquisadores da
instituição e promover a discussão dos aspectos éticos das pesquisas
em seres humanos.
Dessa forma, cabe ao CEP promover actividades, tais como seminários,
palestras, jornadas, cursos e estudo de protocolos de pesquisa.

UNIDADE 7.8.2. Abrangência Dos Comités de Pesquisa


O CEP é um órgão institucional e tem primariamente a responsabilidade
de apreciar os protocolos de pesquisas a serem desenvolvidos em sua
instituição.
Toda pesquisa envolvendo seres humanos deve ser submetida a uma
reflexão ética no sentido de assegurar o respeito pela identidade,
integridade e dignidade da pessoa humana bem como a prática da
solidariedade e justiça social.
A partir de 1975, na revisão da Declaração de Helsínquia, se admitiu a
necessidade de analisar os problemas morais que surgem nas
pesquisas, e se estabeleceu: o desenho e o desenvolvimento de cada
procedimento experimental envolvendo o ser humano devem ser
claramente formulados em um protocolo de pesquisa, o qual deverá ser
submetido à consideração, discussão e orientação de um comité
especialmente designado, independente do investigador e do
patrocinador.
Estes comités desempenham um papel central, não permitindo que
nem pesquisadores nem patrocinadores sejam os únicos a julgar se seus
projectos estão de acordo com as orientações aceites.
Dessa forma, seu objectivo é proteger as pessoas, sujeitos das
pesquisas, de possíveis danos, preservando seus direitos e assegurando
à sociedade que a pesquisa vem sendo feita de forma eticamente
correcta.
O grande desenvolvimento das ciências biomédicas tem possibilitado
enorme poder de intervenção sobre a vida humana. Além disso, temse
tornado mais e mais difícil distinguir a pesquisa de suas aplicações, o
que coloca a ciência estreitamente ligada à indústria e à economia.
Inseridas num mundo capitalista, onde os investimentos exigem
retorno rápido, as pesquisas também sofrem as pressões de mercado.
Tais fatos, associados à expansão do sector de comunicações e à busca
de consolidação dos direitos sociais a partir do princípio da cidadania
plena, trazem à tona dilemas éticos para os envolvidos com a ciência e,
mais ainda, para a
Sociedade como um todo.
Torna-se, portanto, cada vez mais relevante e imprescindível a avaliação
do projecto de pesquisa por uma terceira parte, considerando-se
131
princípios éticos minimamente consensuais. “Os Comités de Ética em
Pesquisa não devem se restringir a uma instância burocrática, mas
constituir-se em espaços de reflexão e monitorização de condutas
éticas, de explicitação de conflitos e de desenvolvimento da
competência ética da sociedade. Os CEPs deveriam ser constituídos de
forma a favorecer o aporte dos pontos de vista de todos os envolvidos,
bem como permitir a inclusão dos diversos interesses, seja de
pesquisadores, patrocinadores, sujeitos da pesquisa e da comunidade”,
Manual operacional para comités de ética em pesquisa. (2007).

UNIDADE Temática 7.8.3. Avaliação da Metodologia Científica


Certamente que existem vários modelos de avaliação do desenho e da
metodologia.
Então, por que avaliar o desenho e a metodologia do projecto?
A revisão ética de toda e qualquer pesquisa envolvendo seres humanos
não poderá ser dissociada de sua análise científica.
Não se justifica submeter seres humanos a riscos inutilmente e toda a
pesquisa envolvendo seres humanos envolve risco. Se o projecto de
pesquisa for inadequado do ponto de vista metodológico, é inútil e
eticamente inaceitável.
Algumas vezes, esta avaliação pelo CEP pode ser difícil. Nesses casos
recorre-se a consultores “ad hoc”, a expressão “ad hoc” é de origem
Latina, significa literalmente “para isto”, um instrumento “ad hoc” é
uma ferramenta elaborada especificamente para uma determinada
ocasião ou situação pontual "cada caso é um caso", algo feito “ad hoc”
ocorre ou é feito somente quando a situação assim o exige ou o torna
desejável ao invés de ser planificado e preparado antecipadamente ou
fazer parte de um plano mais elaborado.

Muitas instituições, criam Comissões Científicas específicas para realizar


esta tarefa, e só encaminham o protocolo de pesquisa para avaliação
ética após sua aprovação metodológica, o que, entretanto, não exclui a
responsabilidade do CEP pela aprovação integral do protocolo de
pesquisa.

A avaliação de riscos e benefícios que podem ser antecipados envolve


uma série de passos.

O CEP deve:
1) Identificar os riscos associados à pesquisa e diferenciá-los dos
que os sujeitos estariam expostos pelos procedimentos
assistenciais;
2) Verificar se foram tomadas as medidas necessárias para
minimizar os riscos previsíveis (considerando as dimensões
física, psíquica, moral, intelectual, social, cultural ou espiritual);
132
3) Identificar os prováveis benefícios que podem advir da pesquisa;
4) Verificar se os riscos estão numa proporção razoável em relação
aos benefícios para os sujeitos da pesquisa;
5) Assegurar que os potenciais sujeitos receberão uma adequada e
acurada descrição e informação dos riscos, desconfortos ou
benefícios que podem ser antecipados;
6) Determinar intervalos de relatórios periódicos
a ser apresentados pelo pesquisador e, quando for o caso,
que os pesquisadores coloquem à disposição do CEP os dados
necessários para acompanhamento do projecto.

O CEP deve realçar a importância do processo de consentimento livre e


esclarecido e não só a assinatura do Termo de Consentimento, que
somente deverá ser obtida após o sujeito da pesquisa estar
suficientemente esclarecido de todos os possíveis benefícios e riscos e
fornecidas todas as informações pertinentes à pesquisa.
Assim, o protocolo deve conter a descrição dos procedimentos para
esclarecimento do sujeito (informação individual, em grupos, palestras,
vídeos, etc.) e por quem será feito, verificando-se a necessidade da
interposição de pessoa que não o pesquisador. Podem ainda ser
necessários recursos do orçamento da pesquisa para a adequada
realização da etapa.
A assinatura do TCLE constitui apenas um momento do processo de
consentimento e não obrigatoriamente o momento final, uma vez que
todo consentimento, além de livre e esclarecido, também é renovável e
revogável. Solicitar

SUMÁRIO

As pesquisas envolvendo seres humanos devem atender às exigências


éticas e científicas fundamentais e observar os seguintes princípios
éticos na pesquisa:

Consentimento Livre e Esclarecido;


Ponderação entre Riscos e Benefícios,
Relevância social da pesquisa.

O Comité de Ética em Pesquisa é o órgão institucional que tem por


objectivo proteger o bem-estar dos indivíduos pesquisados
(sujeitos da pesquisa).

Os Comités são interdisciplinares, constituídos por profissionais de


ambos os sexos, e muitas das vezes com pelo menos um
representante da comunidade que tem por função avaliar os
projectos de pesquisa que envolvam a participação de seres
133
humanos. E está inserido nos mecanismos de controlo social para a
busca de tratamento humanizado com os sujeitos envolvidos nas
pesquisas.

Sua missão é proteger os sujeitos envolvidos directamente na


pesquisa, garantindo a todos que os seus interesses serão
considerados acima dos interesses da ciência, da pesquisa.

O Comité exerce também um papel consultivo e, em especial,


educativo para assegurar a formação contínua dos pesquisadores, e
promove a discussão dos aspectos éticos das pesquisas com seres
humanos, através de seminários, palestras, jornadas científicas,
cursos e estudo de protocolos de pesquisa.

EXERCÍCIOS DE AUTO-AVALIAÇÃO

1. De acordo com a afirmação que se segue: “a pessoa tem


o direito de consentir ou recusar de participar da
pesquisa ou de qualquer situação que afecte ou venha a
afectar a sua integridade físico-psíquica ou social”. Do
que se trata?
a) Consentimento;
b) Consentimento livre
c) Consentimento livre e informado

d) Nenhuma das respostas


2. Qual das alternativas abaixo não se enquadra com o
consentimento livre e informado?
a) Os procedimentos que serão utilizados, bem
como os objectivos
pretendidos e justificativas devem ser
claros para os participantes da pesquisa;
b) Devem ser informados os desconfortos,
riscos possíveis e os benéficos esperados,
para a pessoa e para a sociedade em geral;

134
c) O paciente tem liberdade em recusar ou
retirar seu consentimento, sem qualquer
penalização e/ou prejuízo à sua assistência
d) Nenhuma das Respostas.
3. Tendo em conta a afirmação que se segue: a pesquisa
deve ser conduzida apenas por profissionais
cientificamente qualificados e competentes. A mesma
retrata:
a) Consentimento livre
b) Autonomia
c) Ética em pesquisa
d) Nenhuma das respostas anteriores
Assinale com V as alternativas correctas, e com F as alternativas falsas
4. O princípio de respeito à autonomia baseia-se na
dignidade da pessoa e, em consequência, há um dever
moral de tratar as pessoas como um fim em si e nunca
utilizá-las apenas como um meio
para atingir determinado objectivo.
5. Os responsáveis legais não têm o direito de aceder as
informações constantes no processo de seus
dependentes.
6. O princípio da confidencialidade é relativo ao nível de
maturidade, autonomia e risco do adolescente e estes
aspectos devem ser avaliados em conjunto com o
adolescente.
7.

EXERCÍCIOS DE AVALIAÇÃO

1. Justifique com base num exemplo a seguinte afirmação! E


faça uma crítica a mesma. Os grupos socioeconomicamente
vulneráveis, os mais desprovidos de recursos, têm menos
alternativas de escolha em suas vidas, o que geralmente vai
afectar o desenvolvimento do seu potencial de ampla
autonomia.
2. Comente! O princípio da justiça exige ou preceitua a
equidade na distribuição de bens e benefícios o que se refere
ao exercício da medicina ou das actividades na área da saúde,
bem como noutras áreas.
135
3. Com base em dois exemplos concretos, demonstre a
importância da confidencialidade e da privacidade em
pesquisas. Apresente quatro (4) exemplos concretos em que
se pode quebrar a confidencialidade do paciente e justifique
cada um dos casos arrolados.
4. Qual é a importância do consentimento livre em pesquisa?
5. A informação dos procedimentos pelos quais o indivíduo ira
passar em pesquisa em importante? Porquê? Fundamente
com base em exemplos concretos.
6. Qual deve ser o papel do pesquisador quando o grupo alvo da
pesquisa for uma criança?
7.

CORRECÇÃO - EXERCÍCIOS DE AUTO-AVALIAÇÃO


1. C
2. D
3. C
4. V
5. F
6. V

BIBLIOGRAFIA

• ARRUDA, M ta al. (2007). Fundamentos de Ética Empresarial e


Económica. 3ªed São Paulo: Editora Atlas.
• MERCIER, S. (2003) Ética nas Empresas. Porto: Edições
Afrontamento. VÁZQUEZ, A. S. Ética. Rio de Janeiro: Civilização
Brasileira.
• ARISTÓTELES, (2007). Ética a Indomado. São Paulo: Editora
Martim Clarete.
• RONALD, D. (1999) Ética para Psicólogos, Lisboa, Instituto
Piaget.

• LOURENÇO, J & Vicente, J. (1995) Do Vivido ao Pensado. Porto:


Porto Editora.
• ALMEIDA, J. R. (1998) Os Valores ético -políticos, Porto: Edições
Salesianas, s/d
• KANT, E. (1988). Fundamentação da Metafísica dos Costumes.
Lisboa: edições 70.
• KANT, I. (2001). Lecciones de ética. Barcelona: Biblioteca de
Bolsito.

136
• MORIN, E. (1975). Paradigma Perdido. Lisboa: Publicações
Europa - América.
• RODRIGUES. L. (2003) Filosofia. 10º Ano. Lisboa: Plátano
Editora.

137

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