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1.

A ética como modo de ser


humano no agir pessoal
1. Fundamentos filosóficos da ética
2. Conceito de ética

Prof. Doutora Ernestina Silva


Plano de aula

Objectivo Geral: Compreender os conceitos de Ética, Moral e Deontologia

Objectivos Específicos: - Conhecer a natureza e os fundamentos filosóficos da ética;


- Compreender a origem da palavra moral
- Reflectir na importância da ética na actualidade

Meios
Fases Conteúdos Método Tempo
auxiliares
 Introduzir o Tema Expositivo oral e
Introdução
 Informar sobre os objectivos da aula directo

Computador
 Fundamentos filosóficos de ética:
 Aristóteles, Kant, Habermas, Videoprojector
Expositivo oral e
John Rawls, H. F. Engelhardt, 2 horas
Desenvolvimento directo/ Diapositivos
Emmanuel Levinas
Interactivo
Texto de apoio
 Conceitos mais usuais de ética
Bibliografia

Conclusão  Reflexão final Interactivo


Fundamentos filosóficos de Ética:

Aristóteles, notável filósofo grego viveu entre 384-322a.C. já afirmava que


o homem é um animal político, o que remete à sua natureza social.
Um século antes dessa afirmação, Heródoto, historiador grego, e Sófocles, um
dos mais importantes escritores da tragédia, também já afirmavam que o
homem sem a polis (cidade-Estado na Grécia antiga) teria um destino trágico,
pois, embora seja um ser independente, sua existência só teria sentido com a
convivência social.
Fora do ambiente social, a existência do homem será sempre uma abstração,
pois é dele que ele retira os meios de aprimoramento da vida coletiva, quer
material, moral ou ético.
Já dizia Aristóteles, em sua Ética a Nicômaco, que a ética nos ensina a viver,
ela, para ser vivida, é práxis e não propriamente theoria ou póesis. Desse
ensinamento se deduz que ética se instala em solo moral, uma vez que ela se
depara com uma experiência histórico-social no terreno da moral.
Fundamentos filosóficos de Ética:

Mas o legado histórico desse conceito vem de longe, data de aproximadamente


500 a 300 anos a.C., época considerada como o período áureo do pensamento
grego.
Pensadores como Sócrates, Platão e Aristóteles foram os responsáveis pela
análise e reflexão sobre o agir do homem.
A reflexão grega neste campo surgiu de uma pesquisa a respeito da natureza do
bem moral em que Aristóteles formulou os princípios da ação humana acerca da
diferença entre o conhecimento teórico e o prático.
Uma das principais obras de Aristóteles foi A ética de Nicômaco é reconhecido
como uma das obras-primas da filosofia moral.
Nele, é apresentada a questão fundamental de toda a investigação ética ao se
questionar: qual o fim último de todas as atividades humanas?
Supondo Aristóteles que “toda arte e investigação, e igualmente toda ação e todo
propósito, parecem ter em mira um bem qualquer: por isso foi dito, não sem
razão, que o bem é aquilo a que todas as coisas visam”.
Desse entendimento, deduz-se que a ética serve para conduzir as ações
humanas a respeito das boas ações (virtudes) ou das não-éticas, as más
(vícios). Ocupa-se constantemente dos atos morais e dos hábitos no sentido de
virtudes e vícios.
Fundamentos filosóficos de Ética:

Aristóteles define a “Ética como a ciência dos costumes”. Desse contexto,


extraíram-se as primeiras divergências entre os significados de ética e moral, a
começar pelas suas origens etimológicas e pelos vários sentidos que podem ser
atribuídos a esses termos.
A origem etimológica do termo “moral” e ”ética” ajudam-nos a perceber o
significado.
A palavra ética deriva do grego ethos. No grego possuía duas grafias: êthos (com
'e' curto) e éthos (com 'e' longo).
O primeiro êthos significa lugar onde se habita, morada, abrigo. Referia-se ao
lugar onde os animais se abrigavam e tem um sentido de proteção. Representa
aquilo que faz uma pessoa, um indivíduo: sua disposição, seus hábitos, seu
comportamento e suas características. Mas tem um segundo significado: “modo de
ser” ou “caráter”, as disposições do homem na vida, seus costumes e,
naturalmente, também a sua moral. Na realidade, poderia traduzir-se como uma
forma de vida, seu modo de ser estável do ponto de vista dos hábitos morais
(disposição, atitudes, virtudes e vícios). Refere-se ao conjunto das qualidades,
boas ou más, de um indivíduo, resultante do progressivo exercício na vida coletiva.
Daqui resulta que muitos autores definem a ética como sendo uma palavra
derivada do grego ethos, que significa “modo de ser” ou “caráter” enquanto forma
de vida adquirida ou conquistada pelo homem.
Fundamentos filosóficos de Ética e Moral:

O segundo termo grego éthos é traduzido por “hábitos” ou “costumes”. Este é o


éthos social. Significa hábitos, costumes, tradições. Refere-se aos atos concretos
e particulares, por meio dos quais as pessoas realizam seu projeto de vida. Este
sentido também interessa à ética, uma vez que o caráter moral vai se formando,
mediante as opções particulares que fazemos em nossa vida cotidiana.
De maneira que é a força das tradições quem forma a identidade de uma
sociedade. Reciprocamente, os hábitos constituem o princípio intrínseco dos atos.

Ethos significa então - caráter (êthos ) cunhado ou impresso na alma por


hábitos (éthos).
Fundamentos filosóficos de Ética:

Assim, a ética pode ser entendida como a ciência da reta ordenação dos atos
humanos desde os últimos princípios da razão. Estamos, portanto, diante de
uma ciência prática, que intenta a razão das escolhas de uma determinada
conduta e os fundamentos da tomada de decisão.

Por outras palavras a “ética” ocupa-se da reflexão filosófica relativa à conduta


humana sob o prisma dos atos morais. Ela vai examinar a natureza dos valores
morais e a possibilidade de justificar o seu uso na apreciação e na orientação
das nossas ações, nas nossas vidas e nas nossas instituições.
Fundamentos filosóficos de Ética:

Mas se Aristóteles pode ser considerado pai da ética, foi Immanuel Kant,
filósofo do século XVIII (1724-1804), que formulou os princípios actualmente
em curso para o ethos.
Estes princípios dizem respeito a um ser humano exterior e acima de qualquer
avaliação material, que não pode ser utilizado como meio, mas sim ser tratado como
um fim. A sua razão soberana confere-lhe uma dignidade fixada no humano e
assegura-lhe autonomia da sua vontade.
Kant diz que a moralidade é a única condição capaz de fazer com que um ser racional seja
um fim em si e, que a moralidade, bem como a humanidade, enquanto capaz de moralidade,
são as únicas coisas que possuem dignidade.
Assim, Kant elabora a sua teoria buscando alicerçar as relações sociais através de um
princípio fundador da sociedade, que ele elege como “princípio supremo da moralidade”.
Este princípio é o cimento da sociedade e está alicerçado em duas máximas: a primeira diz
que nós temos que nos comportar de forma que nossa ação possa ser transformada em lei
universal que vai guiar o comportamento de todos; a segunda máxima diz que não basta que
nossa ação tenha se transformado em uma lei universal, mas, também é necessário que ela
seja considerada como uma finalidade em si mesma e não apenas um instrumento da nossa
vontade.
Com Kant o “outro” passa a ter uma finalidade moral. Daí que ao incluir o “outro” no seu
julgamento o ser humano materializa um valor moral, ou seja, sai da zona de conforto e
passa a contribuir para a criação de uma nova ordem jurídica que não apenas defende os
seus direitos, mas que também o projeta em direção ao outro. E a beleza desta
afirmativa de Kant está na construção do “Princípio da Dignidade Humana”.
“No reino dos fins, tudo tem um preço ou uma dignidade.
Aquilo que tem preço pode ser substituído por algo
equivalente: mas quando uma coisa está acima de todo
preço, e, portanto não permite equivalente, então ela tem
dignidade” (Kant, 2005, p. 85).
Também os conceitos de Autonomia, universalidade e
justificação racional tornam a teoria ética de Kant muito atual,
por incluir em sua ética uma motivação que supõe articulação
da razão e da sensibilidade.
O filósofo diz que o princípio da autonomia é, pois: “escolher Inscrições ao longo da tumba de
sempre de modo tal que as máximas de nossa escolha Kant, dentre elas (...)"O céu
estrelado por sobre mim e a lei
estejam compreendidas, ao mesmo tempo, como leis moral dentro de mim" (…)

universais, no ato de querer”.


Autonomia constitui o princípio da dignidade da natureza
humana, enquanto ser racional e, a liberdade é a chave da
autonomia da vontade.

KANT, Immanuel. Fundamentação metafísica dos costumes e outros escritos, São Paulo: Martin Claret, 2005
Jurgen Habermas nasceu em Dusseldorf em 1929,
é um filósofo e sociólogo alemão.
Inicialmente influenciado por Marx e pela sua dialéctica,
rejeita a racionalidade de Kant e preconiza uma raciona-
lidade comunicativa ou seja a comunicação livre,
racional e crítica que parece desenvolver-se bem nas deliberações
pluridisciplinares das comissões de ética e formações de ética
interactivas.
Habermas, com base em conceitos da tradição hegeliano-marxista, utiliza
os termos “eticidade” e “moralidade” com significados novos, reservando a
“moralidade” ao abstrato e universal e a “eticidade” à concretização no
mundo da moralidade da vida.
Para ele, os princípios éticos não devem ter conteúdo, mas garantir a
participação dos interessados nas decisões públicas através de
discussões (discursos), em que se avaliam os conteúdos normativos
demandados naturalmente pelo mundo da vida.
Sobre sua teoria discursiva, aplicada também à filosofia jurídica, pode ser
considerada em prol da integração social e, como consequência, da
democracia e da cidadania. Tal teoria coloca a possibilidade de resolução
dos conflitos vigentes na sociedade não com uma simples solução, mas a
melhor solução aquela que resulta do consenso de todos os concernidos.
John Rawls (1921-2002), partidário americano de
Kant, sublinha a grande influência, para a formulação
ética, do processo de elaboração de uma justiça
social equitativa, que faz com que se privilegiem
os pacientes mais vulneráveis.
H. F. Engelhardt, pós-Kant preconiza uma autonomia completa de
reflexão e acção para o ser racional consciente, no respeito pelo
pluralismo de opinião e sobre a égide do princípio de
beneficência.
Resultante desta perspectiva parecem ser a evolução do
consentimento explícito.
Mas a ideia de uma ausência de dignidade para os inconscientes,
deficientes profundos, comatosos vegetativos e embriões não
consegue aderentes.
Emmanuel Levinas nasceu em Kounas na Lituânia em 1906
e faleceu em Paris em 1995. Foi um filósofo francês.
O seu pensamento parte da ideia de que a Ética, e não a
Ontologia é a filosofia primeira.
É no face a face humano que se irrompe todo o sentido.
Diante do rosto do outro, o sujeito se descobre responsável e
lhe vem à ideia o infinito.
Insiste na diversidade e respeito pelo ser humano, que
estabelecem uma ética de proximidade (microética). As
relações com os outros, com a comunidade (macroética)
dependeria de uma processo deontológico análogo ao da
elaboração da justiça. Este dualismo, por vezes vítima de
interesses divergentes, reencontra-se na preservação de
determinados interesses do paciente face aos imperativos
da saúde pública.

Ontologia significa “estudo do ser”. A palavra é formada através dos termos gregos “ontos” (ser) e “logos”
(estudo, discurso). Consiste em uma parte da filosofia que estuda a natureza do ser, a existência e a
realidade, procurando determinar as categorias fundamentais e as relações do “ser enquanto ser”.
O outro…

“Outro metafísico é outro de uma alteridade que não é formal,


de uma alteridade que não é um simples inverso da
identidade, nem de uma alteridade feita de resistência ao
Mesmo, mas de uma alteridade anterior a toda a iniciativa, a
todo o imperialismo do Mesmo; outro de uma alteridade que
não limita o Mesmo, porque nesse caso o Outro não seria
rigorosamente Outro: pela comunidade da fronteira, seria,
dentro do sistema, ainda o Mesmo. O absolutamente Outro é
Outrem; não faz número comigo. A coletividade em que eu
digo ‘tu’ ou ‘nós’ não é um plural de ‘eu’. Eu, tu, não são
indivíduos de um conceito comum.”

(extraído de LEVINAS, E. Totalidade e infinito. Trad. José


Pinto Ribeiro. Lisboa: Edições 70, 1988, p.26.)
Conceitos actuais de ÉTICA

“Vemos na ÉTICA a procura daquilo que, na


posição do acto, é mais «pessoal», mais
reflectido, numa palavra mais
fundamentado. A ética procura deste modo
a fundamentação do agir, ao passo que a
moral mostra como as leis morais se
formam, se hierarquizam, se aplicam aos
casos concretos mediante a decisão e o
recurso aos valores”. [Renaud e Renaud - In
ARCHER, Luís (coord.) - Bioética. Lisboa-
São Paulo: Editorial Verbo, 1996].
Conceitos actuais de ÉTICA

Paul Ricoeur afirma que a Ética define-se


como a reflexão filosófica sobre o agir
humano - e se a perspectiva individual é
procurar seguir um caminho no sentido de uma
"vida boa para si",naturalmente se enquadra na
vida institucional e ligada às normas sociais, ou
seja,"com e para os outros, em instituições
justas"
Há um compromisso reflexivo da vida ética, já
que a Pessoa coloca fins a si mesmo,
perspectiva-se como projecto de construção
autónoma e é, em última instância, o criador de si
ou causa de si mesmo.
Enquanto tentativa de fundamentação de uma
ordem humana racional e livre, a Ética visa
compreender o que há de “mais humano no
homem”. E assim o fundamento da Ética é a
Pessoa Humana.
Conceitos actuais de ÉTICA

A ética é um domínio puramente reflexivo do conhecimento que se


desenvolve (se realiza e aprofunda) pelo debate sumamente plural:
plural pelas ciências, tecnologias e quotidianos que o
desencadeiam;
plural pelas diversas mundivivências que o estimulam,
alimentam e vivificam.
O objectivo de um tal debate é compreender o que é bem e o que é
mal no comportamento humano: o que no agir de cada um para
consigo e para com os outros, respeita ou viola a dignidade da
pessoa, estimula ou prejudica o seu desenvolvimento.
A reflexão ética é pois das mais altas expressões de cultura. Ela
tem como sujeito o Homem ele mesmo, como ente em permanente
devir, em que cada um é auto-construtor de si e colaborador da
autoconstrução dos outros, mas que pode volver-se em destruidor
de si próprio e/ou dos outros. (MACHADO, J. Pinto - Prefácio. In
SERRÃO, Daniel; NUNES, Rui (coord.) – Ética em cuidados de saúde.
Porto: Porto Editora, 1998).

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