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6 – A Mensagem à Igreja em Filadélfia – 3.

7-13

7 – Ao anjo da Igreja de Filadélfia escreve: Estas coisas diz o Santo, o Genuíno,


aquele que tem a chave de Davi, que abre e ninguém fechará, e que fecha e
ninguém abre.

“Filadélfia” – Construída no meados do 2° século a.C., recebeu o nome de seu


fundador, Átalo II Filadelfo, sucessor do seu irmão Eumenes II, rei de Pérgamo. Situada ao
pé do monte Tmolo, na planície do rio Hermo, mais ou menos a 45 quilômetros ao sudeste
de Sardes. Por causa de suas festividades e seus templos, foi chamada de “Atenas
pequena”. Hoje seu nome é Alasher. Localizada no meio de um distrito de frequentes
terremotos, várias vezes foi destruída, mas sempre de novo reconstruída. Este fato dá um
sentido especial à designação de “coluna”, em Ap 3.12.
Da “Igreja em Filadélfia” nada mais é conhecido além dos dados e fatos
mencionados nesta carta. Mas é possível que também ela tenha sido fruto do trabalho
missionário do apóstolo Paulo e de seus colaboradores durante sua estada de três anos em
Éfeso (At 19).
“Escreve”. A ordem de escrever é o mesmo em todas as cartas. No entanto, estas
coisas que João deve escreve são fundamentalmente diferentes em cada uma das cartas.
Assim, a terminologia desta carta à igreja de Filadélfia também tem um colorido diferente.
Termos que lembram o Antigo Testamento nessa carta são proeminentes. Lenski, em seu
Comentário, chama a terminologia de “teocrática”. Este fato reflete que a igreja de
Filadélfia aparentemente se encontrava rodeada de elementos judaicos na cidade em que a
mensagem cristã teve um bom eco.
“Estas coisas diz o Santo” – ho hágios, este adjetivo substantivado, em seu sentido
absoluto, pertence só a Deus. Deus é o Santo. “Não há santo como o Senhor; porque não há
outro além de ti”, 1 Sm 2.2. “Só tu és santo!”, Ap 15.4. “Santo, Santo, Santo é o Senhor dos
exércitos; toda a terra está cheia da sua glória”, Is 6.3. “Santo, Santo, Santo é o Senhor
Deus todo-poderoso, aquele que era, que é e que há de vir”, Ap 4.8. E “O Santo de Israel” é
“teu Salvador”, Is 43.3. Este “Santo” aparece a João na pessoa de Jesus Cristo é Deus;
prova a Deidade de Jesus Cristo. Cristo é o Santo, é a fonte da santidade para nós. Assim já
confessam os Doze na voz de Pedro: “Nós temos crido e conhecido que tu és o Santo de
Deus”, Jo 6.69. E como João também na voz de Pedro confessou, assim ele agora, no início
desta carta, se apresenta: “Estas coisas diz o Santo”, diz a Segunda pessoa da Santíssima
Trindade.
“...o Genuíno” – ho alethinós - É o segundo adjetivo substantivado com que Cristo
se apresenta. O termo não é alethês, mas sim, “O Genuíno”. Ele não é um falso Cristo, mas
o genuíno Ungido, o genuíno Messias; não é um falso Cristo, a quem os judeus
crucificavam, é o genuíno. Este termo inclui tudo o que ele é, a saber: O Cristo, o Messias
prometido no Antigo Testamento desde sua primeira promessa aos primeiros homens
caídos em pecado, que ia ser o “libertador” da serpente, até o anúncio do anjo a José sobre a
humanação do Messias por Maria: “...lhe porás o nome de Jesus, porque ele salvará o seu
povo do pecado deles”, Mt 1.21. Nem João Batista nem seus discípulos precisam perguntar
mais: “És tu aquele que estava para vir, ou havemos de esperar outro?” (Mt 11.3). Ele é o
Genuíno.
“... aquele que tem a chave de Davi”. É muito importante: É ele que tem a chave de
Davi. Ele pode entregá-la a outrem, para em seu nome usá-la, assim como ele fez com o seu
servo Eliaquim no Antigo Testamento: “Porei sobre o seu ombro a chave da casa de Davi;
ele abrirá, e ninguém fechará, fechará e ninguém abrirá”, Is 22.22. Sim, só ele tem “as
chaves da morte e do hades”, Ap 1.18. Só ele tem o poder de admitir alguém no reino
messiânico. Só ele pode realmente fechar a porta a alguém. No entanto, assim como ele no
Antigo Testamento pôs o poder do reino sobre os ombros de Eliaquim, assim no Novo
Testamento empresta a chave dupla à sua igreja na terra, no seu representante Pedro: “Dar-
te-ei as chaves do reino dos céus: o que ligares na terra, terá sido ligado nos céus; e o que
desligares na terra, terá sido desligado nos céus”, Mt 16.19. Portanto, o poder das chaves
não está restringido ao Juízo Final, mas pode ser usado já aqui na terra, em nome daquele
que verdadeiramente o possui no reino da graça. Verdadeiramente o Santo, o Genuíno,
possui a chave do seu reino aqui na terra, e ninguém, a não ser Ele, o pode fechar e abrir,
pois, como Ele afirma: “Ninguém vem ao pai senão por mim”, Jo 14.6.

8 – Conheço as tuas obras – eis que tenho posto diante de ti uma porta aberta, a
qual ninguém pode fechar, porque tens pouca força; entretanto guardaste a minha
palavra e não negaste o meu nome!

“Conheço as tuas obras”. De novo o ôida – conheço as tuas obras. Este “conhecer”
é para esta congregação de “pouca força” um grande consolo que a pode fortalecer,
especialmente em vista da porta aberta.
Esta figura da “porta aberta” é várias vezes usada no Novo Testamento para
oportunizar a missão cristã e a mensagem da graça em Cristo. Assim o apóstolo Paulo,
quando voltou de sua primeira viagem missionária a Antioquia, na Síria, relatou: “quantas
coisas fizera Deus com eles, e como abrira aos gentios a porta da fé”, At 14.27. Também
aos Coríntios ele escreve que ainda ia ficar em Éfeso, “porque uma porta grande e oportuna
para o trabalho se me abriu”, 1 Co 16.9 (Cf. também 2 Co 2.12; Cl 4.3).
Esta “porta” não se abre por si, nem pode ser forçada por qualquer esforço ou
iniciativa da parte de homens. Cristo afirma eu tenho posto diante de ti esta porta aberta.
Para esta verdade temos um belo exemplo em At 16.6ss, onde nos é relatado como o
Espírito Santo fechou a porta para as províncias de Ásia e Bitínia a Paulo, “impedindo”a
ele de “pregar a Palavra” lá, enquanto que o próprio Jesus abriu a porta para Macedônia,
revelando este fato por uma visão, At 16.9-10. E quando Cristo abre uma porta, então
ninguém a pode fechar , nem homens e nem o diabo. A única coisa nefasta que o homem
pode fazer é tornar-se negligente em entrar e por ela passar para a obra missionária. E no
dia derradeiro ninguém pode se desculpar, diante de Deus, dizendo que não teve
oportunidade de entrar por esta porta aberta. Na Filadélfia, esta porta era provavelmente a
porta aberta para os judeus da cidade (cf. v.9).
“...a qual ninguém pode fechar”. Parece que alguém ou alguma força estava ativa
para impedir essa obra de missão. É evidente que o diabo sempre tenta fechar as portas para
o evangelho da salvação e, sem dúvida, achava tanto para os pagãos como entre os judeus
pessoas prontas a ajudar nesta obra nefasta. Essa afirmação do Senhor é deveras
consoladora para a igreja de Filadélfia, porque Ele também reconhece: “que tens pouca
força”.
Parece que a igreja de Filadélfia foi, entre as sete, a menor em número. Apesar disso,
ela não precisa desanimar diante das muitas oportunidades para a missão que o Senhor lhe
abriu. E isso especialmente porque Ele pode testificar desta pequena congregação: apesar
de teres pouca força “guardaste a minha palavra e não negaste o meu nome”. O
essencial para a vida de uma igreja é “guardar a Palavra”. Isto, de acordo com Jesus, é uma
prova do amor, pois “se alguém me ama, guardará a minha Palavra”, Jo 14.23; e “se me
amais, guardareis os meu mandamentos”, Jo14.15. a igreja de Filadélfia tinha este amor
verdadeiro; pois, além de guardar a palavra de Cristo, ela também não se envergonhava de
seu nome, mas confessava-o e, apesar de todas as dificuldades, mesmo sendo pequena em
número, abertamente o confessava perante o mundo: “não negaste o meu nome”. Que belo
testemunho da parte daquele que afirma: “todo aquele que me confessar diante dos homens,
também eu o confessarei diante do meu Pai que está nos céus”, Mt 10.32. Assim, já
afirmava, na carta à igreja de Sardes, a respeito do “Vencedor”: “...confessarei o seu nome
diante de meu Pai e diante dos seus anjos”, Ap 3.5.
Uma igreja tal merece uma porta aberta a fim de poder, com toda a ousadia, confessar
o nome de Cristo além do seu próprio círculo. E é por isso que o Senhor abre para ela a
porta. Ainda mais:

9 – Eis farei que alguns dos que são da sinagoga de Satanás, desses que a si
mesmos se declaram judeus, e não são, mas sentem; eis que os farei vir e prostrar-
se aos teus pés, e conhecer que eu te amei.

Até agora, a porta aberta, o campo da evangelização para a igreja de Filadélfia, tinha
sido entre gentios. Agora, assim o promete o Senhor, uma porta se abre também entre os
judeus. Assim como em Ap 2.9, em Esmirna, os judeus são declarados como sendo “da
sinagoga de Satanás”. Em Esmirna, os cristãos foram perseguidos pelos judeus, que
“blasfemaram”. Até este ponto, os judeus de Filadélfia não tinham chegado. Apesar disso,
no entanto, são chamados de “Sinagoga de Satanás”. Os judeus afirmaram ser o
verdadeiro povo de Deus. E de fato eles já o foram uma vez. Mas porque lhes “faltava o
conhecimento” (Os 4.6), porque tinham rejeitado o Messias de Deus, perderam este
privilégio. Apesar de se declararem judeus, “Não mais o são, mas mentem”. Pois, como
constata o apóstolo Paulo, “... judeu é aquele que o é interiormente, é circuncidado de
coração, no espírito, não segundo a letra e cujo louvor não procede dos homens, mas de
Deus”, Rm 2.29. Depois de haverem rejeitado o Messias, não são mais “de Deus”, mas “da
sinagoga de Satanás”. Eles pertencem ao grande adversário de Deus. “Sinagoga” de Deus
agora é a igreja.
Mas agora vem a grande novidade: O Próprio Cristo, rejeitado pelos judeus, por graça
se intromete: “os farei vir e prostrar-se aos teus pés”. O próprio Cristo abrirá a porta. Ele
mesmo, o rejeitado, o “Santo, o Genuíno”, os fará vir; não para se prostrarem diante dos
cristãos, mas para que reconheçam que a igreja, e não mais a sinagoga dos judeus, é a
verdadeira casa de Deus. Fá-los-á reconhecer que não os judeus, mas sim os cristãos são os
amados de Deus. Eles virão juntar-se aos cristãos e, juntamente com eles, vão prostrar-se
aos pés daquele que prega o evangelho, a mensagem da graça também para os judeus. É
uma gloriosa vitória que Cristo dá a esta pequena e humilde igreja que lhe ficou fiel: os
outrora arrogantes e orgulhosos judeus, que antes desprezaram os cristãos, virão para se
unir a eles e, junto com eles, inclinar-se diante do verdadeiro trono de graça!
Além de tudo isto, o Senhor acrescenta mais uma promessa:
10 – Porque guardaste a palavra da minha perseverança, também eu te guardarei
na hora da provação, que há de vir sobre o mundo inteiro, para experimentar os
que habitam sobre a terra.

“Guardaste” - “Guardarei” é o mesmo verbo, um verbo forte que significa “ter


firme na mão” mesmo contra dificuldades ou oposição. O Senhor testifica de sua igreja de
Filadélfia, que assim cuidou de sua palavra e que por isso Ele, Cristo, fará o mesmo – num
futuro eventualmente perigoso – com sua igreja fiel em Filadélfia. “Guardar a palavra” é o
mais importante para uma igreja aqui na terra; é a prova de que ela ama o seu Senhor, pois
diz Jesus: Se alguém me ama, guardará a minha Palavra; e meu Pai o amará, e viremos para
ele e faremos nele morada”, Jo 14.23.
Enquanto no v. 8 o Senhor fala de “minha palavra”, aqui fortalece a expressão,
dizendo: “a Palavra de minha perseverança”. Hypomonê aqui, com em Ap 1.9; 2.2,19
significa mais do que “paciência”. Significa “sustentar em baixo”, “carregar debaixo” uma
coisa pesada. Não se trata da perseverança dos cristãos de Filadélfia. Cristo fala de sua
perseverança. A igreja de Filadélfia guardou firme aquela palavra que fala da perseverança
de Cristo, a palavra de sua paixão e morte, a ‘palavra da cruz”. Eles guardaram firmes
aquela palavra que, segundo Paulo, é ‘loucura para os que se perdem”. Cristo testifica deles
que, como Paulo, pregavam a “Cristo crucificado”, “escândalo para os judeus, loucura para
os gentios”, 1 Co 1.18ss. Provavelmente sofreram deboche por causa desta pregação. Eles,
no entanto, apesar de toda a oposição, “guardavam firmes” essa palavra da perseverança
de Jesus, seu Senhor; aquela palavra que é o centro e a coroa do evangelho da graça. Eles
pregavam aquele Cristo como seu Senhor, “que suportou tamanha oposição dos pecadores
contra si mesmo”, Hb 12.3. E é por essa fidelidade à pregação do Cristo crucificado que o
mesmo promete agora uma bênção especial:
“Porque guardaste a palavra da minha perseverança, também eu te guardarei na
hora da provação”. Que significa essa promessa? Qual é a “hora da provação?” –
Considerando o fato de que estas palavras foram escritas mais ou menos no ano 95 A,D.,
esta “hora da provação” não pode ser aquela da qual Jesus fala em Mt 24.21, a saber, da
“grande tribulação”: que Jesus viria “nesse tempo”. Porque “esse tempo”” ao qual Jesus se
refere é a destruição de Jerusalém, que já ocorrera em 70 ªD., 25 anos antes da thlipsis,
“tribulação”, enquanto em nossa carta o termo é peirasmós, “provação”. A designação de
hora não significa um tempo de 60 minutos, mas, no sentido mais amplo, como em Mt 24.
36, onde Jesus diz que “a respeito daquele dia e hora ninguém sabe”, referindo-se ao dia
derradeiro e dos eventos que antecederão aquele “dia”. A “hora da provação”, da qual fala
o nosso texto, também não se refere aos últimos dias deste mundo. O contexto nos força a
pensar numa hora de provação da qual a igreja de Filadélfia será guardada. É, portanto,
razoável pensarmos naquelas perseguições que começaram com o imperador Trajano, do
ano 98 A.D. em diante, que finalmente “experimentaram os que habitam a terra”, isto é,
que atingiram toda a terra então conhecida, a saber, todo o império romano. É um fato
histórico maravilhoso que a igreja cristã em Filadélfia perdurou, sustentando todas as
perseguições, todas as “provações”, tanto na época do império romano como nos séculos
posteriores até o dia de hoje – em que toda a região da antiga província da Ásia está sob o
domínio do Islã. Verdadeiramente, nosso Senhor cumpre suas promessas!
11- Venho sem demora. Conserva o que tens, para que ninguém tome a tua coroa.

Que Cristo é “Aquele-que-vem-vindo”, aquele que constantemente está a caminho,


ele mesmo declara em Ap 1.8. Este é o “quê” da vinda. O “como” Ele declarou em Ap 3.3:
“virei como ladrão”, sem preanunciação, dito como forte advertência também em 1 Ts 5.2,4
e 2 Pe 3.10, cf. Ap 16.15.
O “quando?” Não vos compete conhecer tempos ou épocas que o Pai reservou para
sua exclusiva autoridade”, At 1.7. Aqui o Cristo glorificado afirma: “Venho sem demora”!
A mesma afirmação por três vezes é repetida em Ap 22.7, 12, 20. Que significa isto, se não
nos compete saber o “quando”? – Significa que o “vir” é um processo constante: o “venho”
é durativo, inclui todos os eventos e acontecimentos no mundo e na vida individual da
pessoa e que preanunciam sua vinda. Todos estes eventos conclamam: “Venho sem
demora”. Estai preparados! “Vigiai, pois porque não sabeis nem o dia nem a hora”, Mt
25.13. É verdade, desde aquele anúncio feito por Cristo, no ano 95 A.D., passaram-se até
hoje mais ou menos 1900 anos. Há muitos hoje que declaram por fantasias estas promessas,
apontando para o fato de que quase dois mil anos passaram sem que estas tenham sido
cumpridas. Isto, porém, também já foi previsto na Bíblia: “...nos últimos dias virão
escarnecedores com os seus escárnios, andando segundo as próprias paixões, e dizendo:
Onde está a promessa da sua vinda? Porque desde que os pais dormiram, todas as coisas
permanecem como desde o princípio da criação”, 2 Pe 3.3-4.
É necessário ter sempre em mente o fato da vinda de Jesus “sem demora”, porque,
para que esta vinda de Jesus seja de bênção para nós, convém lembrar também a
admoestação e promessa que seguem na carta à igreja de Filadélfia: “Conserva o que tens,
para que ninguém tome a tua coroa!”.
Se o Senhor até hoje ainda tarda a sua vinda para o Juízo Final, ele tem uma única
razão: “ele é longânimo para conosco, não querendo que nenhum pereça, senão que todos
cheguem ao arrependi
mento”, 2 Pe 3.9. Tanto mais necessário é aquilo que temos por sua graça: sua
apalavra e a possibilidade de confessarmos seu glorioso nome. Por isso a admoestação
graciosa: “Conserva o que tens!” O Senhor tinha testificado da igreja de Filadélfia: “...
guardaste a minha palavra, e não negaste o meu nome”, “guardaste a palavra da minha
perseverança”, agora, em vista do fato de que “O-que-vem-vindo” está a caminho, é
absolutamente necessário que fiquem fiéis ao seu Senhor, “para que ninguém tome a tua
coroa”. Essa é a “coroa da vida” (Ap 2.10), é a vida eterna, o glorioso alvo de todo o
nosso ser e crer.
Quem seria capaz de nos tirar essa coroa? Pensamos em primeiro lugar no diabo,
Satanás, o grande adversário de Deus e de todas as coisas divinas. Ele sempre está alerta
para nos roubar o que é de mais precioso para nós. E o diabo tem um forte aliado que
sempre está agindo em nós e ao nosso redor: a nossa própria carne e o mundo com suas
múltiplas tentações. Mas há mais um inimigo insidioso, especialmente para os fiéis de
Cristo: quando temos o evangelho da graça, quando temos a promessa da vida eterna,
facilmente nos sobrevém a segurança seguida pela indiferença – assim como aconteceu à
igreja de Sardes. Quanto mais nos sentimos seguros em nosso cristianismo, tanto amsi
devemos vigiar para que ninguém tome a nossa coroa. Portanto, também sobre esta carta
aos fiéis de Filadélfia está escrito: Sêde vigilantes!
12 – Ao vencedor, fá-lo-ei coluna no santuário do meu Deus, e daí jamais sairá;
gravei também sobre ele o nome do meu Deus, o nome da cidade do meu Deus, a
nova Jerusalém que desce do céu, vinda da parte do meu Deus, e o meu novo
nome.

“Ao vencedor” - de novo uma promessa individual: cada cristão tem as suas próprias
lutas. Cada cristão, quando vence as suas próprias lutas, receberá o cumprimento da
promessa do Senhor. Nesta carta, a promessa está vestida numa figura marcante,
especialmente para Filadélfia. Essa cidade por situar-se numa região atingida, de vez em
quando, por terremotos, deixava atrás de si muitas ruínas. Entre as ruínas, o que se podia
ver como símbolo de firmeza eram as colunas que ficaram em pé, apesar do terremoto. Daí
a promessa marcante: “... fá-lo-ei coluna no santuário do meu Deus”, significando que ao
vencedor será dado ficar firme em todas as dificuldades, perseguições e tribulações; e isto,
o que é da maior importância, “no santuário do meu Deus”. Naós – “Santuário”, não
significa o templo em geral, mas sim, o lugar específico dentro do templo que era
considerado como sendo a moradia visível de Deus, o altar, como símbolo da presença de
Deus dentro do templo. E em referência à sua natureza humana, Cristo chama Deus de “o
meu Deus”, assim como já o tinha mencionado em Ap 3.2.
Esse “santuário” está no céu. Cristo, portanto, promete ao vencedor que, no céu,
ficará dentro do “santuário” de Deus, isto é, ficará na presença de Deus. Esse “santuário” de
Deus sempre de novo é mencionado no livro do Apocalipse, como sendo o lugar onde se
acham os santos, os vencedores, os filhos de Deus por Cristo; Ap 7.15: “...Sãqo estes os que
vêm da grande tribulação, lavaram suas vestiduras, e as alvejaram no sangue do Cordeiro,
razão por que se acham diante do trono de Deus e o servem de dia e de noite no seu
santuário...” (cf. também Ap 11.1,2,19; 14.15,17; 15.5,6,8; 16.1,17; 21.22).
Esta posição firme do vencedor como “coluna no santuário do meu Deus” lhe é
garantida pelo próprio Cristo que afirma: “...e daí jamais sairá”. A coluna fica onde está Já
aqui na terra o vencedor está com Deus. Sua gloriosa presença no céu, no santuário celestial
de Deus, lhe é garantida.
Como sinal de garantia absoluta, o vencedor recebe ainda um selo, e este é um selo
tríplice: “...gravarei também sobre ele o nome do meu Deus, o nome da cidade do meu
Deus..., e o meu novo nome”. Ele via receber do próprio Cristo a gravação de três nomes:
primeiro, “o nome do meu Deus”. O vencedor , com esse nome, pertence à família de
Deus. “Sois da família da Deus”, escreve Paulo aos Efésios, Ef. 2.19; somos seus “filhos”,
já aqui, 1 Jo 3.1; Gl 4.5-6; quanto mais no céu, onde os 144.000 têm nas frontes escrito o
seu nome ( o nome do Cordeiro) e o nome de seu Pai, Ap 14.1. O vencedor via receber, em
segundo lugar, “o nome da cidade do meu Deus, a nova Jerusalém que desce do céu,
vinda da parte do meu Deus”. A “Nova Jerusalém” – é este o novo endereço daqueles que
estão na presença de Deus, pois “a nossa pátria está nos céus”, Fp 3.20. Para o judeu fiel, da
Antiga Aliança, não existia cidade igual, na terra, à “antiga” Jerusalém. Alguns dos judeus
iam tornar-se cristãos pela graça de Deus. Daí em diante eles não deviam olhar para trás,
para a antiga Jerusalém, pois para eles haveria uma outra, infinitamente mais gloriosa, a
Jerusalém de cima, a morada de Deus e dos seus para toda a eternidade. Exata nova
Jerusalém ainda será descrita em toda a sua glória, quando João vê, lá dentro da eternidade
de Deus, a morada dos “vencedores”, dos 144.000 eleitos, isto é, de todos aqueles que Têm
o nome da nova Jerusalém inscrito nas suas testas: “Vi também a cidade santa, a nova
Jerusalém, que descia do céu, da parte de Deus, ataviada como noiva para o seu esposo”,
Ap 21.2-22.5.
O terceiro nome com o qual o vencedor será selado é “o meu novo nome”. Não nos é
dito aqui qual é este nome. No entanto, o apóstolo Paulo já aponta para este nome quando
fala da glória do Jesus Vencedor sobre o diabo, a morte e todas as forças existentes: “Pelo
que também Deus o exaltou sobremaneira e lhe deu o nome que está acima de todo o nome,
para que ao nome de Jesus se dobre todo joelho nos céus e na terra e debaixo da terra, e
toda língua confesse que Jesus Cristo é o Senhor, para a glória de Deus Pai”, Fp 2.9-11. É,
sem dúvida, o nome que lhe será dado, quando finalmente todos os seus inimigos estiverem
debaixo dos seus pés; quando serão declarados, diante dos vivos e dos mortos, tanto os
salvos como os condenados – os moradores da nova Jerusalém e os do inferno. O
SENHOR VENCEDOR! – Até este momento ninguém realmente conhecerá esse nome,
porque, quando sair do céu para a vitória final, ele “tem um nome escrito que ninguém
conhece senão ele mesmo”, Ap 19.12. Esperemos aquela hora!

13 – Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas.

Esta admoestação, no fim dessa carta, serve para todos os que a ouvem e a lêem, para
seu exemplo e para seu consolo. Filadélfia é o modelo para uma igreja fiel, guardando e
defendendo fielmente a palavra de Deus, e fielmente confessando o nome do seu Senhor
Jesus Cristo. Essa igreja fiel recebe uma promessa especial de sucesso em sua obra
evangelizadora entre os judeus da cidade, e uma promessa especial de proteção divina.
Ambas as promessas nos mostram quão altamente o Senhor da igreja considera a fidelidade
de uma igreja na sua obra aqui na terra.

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