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A Mensagem à Igreja em Laodicéia – Ap 3.

14-22

14 – Ao anjo da igreja em Laodicéia escreve: Estas coisas diz o Amém, a Testemunha Fiel e
genuína, o Princípio da criação de Deus;

Laodicéia estava situada aproximadamente a 65 quilômetros a sudeste da Filadélfia, e mais


ou menos a 160 quilômetros a leste de Éfeso. Ela recebeu seu nome da Laodice, mulher de Antíoco
II da Síria. A cidade atual, com o nome de Denizli, acha-se nas proximidades das ruínas da antiga
Laodicéia, com uma população de mais ou menos 20.000 habitantes, aproximadamente a 20
quilômetros a oeste da antiga Colossos.
Na época do Novo Testamento, a cidade contava com um bom número de Judeus. Era um
centro comercial e financeiro da região e uma das mais ricas cidades de toda a província da Ásia.
As ovelhas criadas na Frigia, ao redor de Laodicéia, produziam a lã mais fina conhecida na época,
na cor preta. A cidade era conhecida pela manufatura de tecidos finos, de tapetes, e de vestidos
luxuosos. Outras coisas, refletidas na carta, foram a existência de uma casa de moedas, onde as
mesmas eram cunhadas, e de uma escola de medicina, onde se fabricava colírio e ungüento para
doenças dos olhos. Não muito longe da cidade, para o norte, no outro lado do rio Lico, se achava a
cidade de Hierápolis, que era conhecida por suas fontes termais.
Sobre a igreja de Laodicéia temos, além desta carta, algumas notícias na carta de Paulo aos
colossenses, Cl 2.1 e 4.13-16, dnde concluímos que Epafras (que, como afirma o apóstolo, “é dentre
vós, servo de Jesus Cristo” e “dele dou testemunho, de que muito se preocupa por vós, pelos de
Laodicéia e pelos de Hierápolis”) foi, se não o fundador, ao menos um líder de destaque no
triângulo das cidades de Colossos, Laodicéia e Hierápolis. Também Arquipo, companheiro de
Paulo, foi um dos líderes. Mais tarde, no ano 361 A.D., Laodicéia foi sede de um dos grandes
concílios da igreja antiga, no qual foi estabelecido o “Cânon” do Novo Testamento. Hoje não há
mais cristãos na cidade, dominada por completo pelos muçulmanos.
“Estas coisas diz o Amém”. Com três nomes o Senhor se apresenta nessa carta: o Amém. É o
termo hebraico para “Verdade”. Jesus, numa de suas grandes auto-designações do evangelho de
João, usou o nome grego hê alêtheia: “Eu sou o caminho, a verdade e a vida; ninguém vem ao Pai
senão por mim”, Jo 14.6. Cristo, Ele mesmo, é a absoluta verdade.
“...a testemunha fiel e genuína”. É este o segundo nome, que é uma combinação de Ap 1.5,
“a testemunha fiel”, e Ap 3.7: “estas coisas diz o Genuíno”. Jesus era a verdadeira testemunha
quando testificava das coisas celestiais, pois “ninguém subiu ao céu, senão aquele que de lá desceu,
a saber, o Filho do Homem”, Jo 3.11-13. E o apóstolo Paulo dele escreve: “Cristo Jesus que diante
de Pôncio Pilatos, fez a boa confissão”, 1 Tm 6.13. Essa testemunha fiel e genuína fala äs
coisas”que João deve escrever à igreja de Laodicéia. Não pode haver dúvida sobre o que ele diz:
que os que pertencem a essa igreja abram seus ouvidos e aceitem o que essa testemunha está
dizendo! Ele combina em si as três condições que perfazem uma testemunha fiel e genuína: a) que
ele, pessoalmente, tome conhecimento daquilo que fala; b) que seja capaz de testificar isso a
outrem; e c) que fale sinceramente. Não, não há dúvida no testemunho dele!
“... o Princípio da criação de Deus”. Notemos bem: não a primeira criatura, mas o
principiador da criação. Ele, Jesus Cristo, é o próprio Criador, o iniciador de tudo que foi criado.
Foi Ele quem chamou todas as coisas criadas à existência. O próprio João dele testifica: “... todas as
coisas foram feitas por intermédio dele, e sem ele nada do que foi feito se fez... O mundo foi feito
por intermédio dele...”, Jo 1.3,10. E o apóstolo Paulo testifica: “... Tudo foi criado por meio dele e
para ele. Ele é antes de todas as coisas. Nele tudo subsiste”, Cl 1.16-17. E os 24 anciãos, prostrados
diante do trono dele, proclamam: “Tu és digno, Senhor e Deus nosso, de receber a Glória, a honra e
o poder, porque todas as coisas tu criaste; sim, por causa de tua vontade vieram a existir e foram
criadas”, Ap 4.11. Tudo isso está no terceiro nome: “o Princípio da criação de Deus”.
Há razões por que esta designação tríplice está no início dessa carta: “Amém”, Verdade, está
intimamente relacionada com a sinceridade que tanto faltava à igreja de Laodicéia, com seu coração
morno, sua atitude insincera. Mais, apesar de não gostarem, têm de admitir que tudo o que “a
testemunha fiel e genuína”diz em suas acusações, suas ameaças, seus conselhos e suas promessas, é
verdadeiro e certo. E, finalmente, em sua riqueza, tornaram-se auto-suficientes, não mais
perguntando pelo “Criador”, de quem procede tudo o que eles têm. “Estou rico”, eles se gabavam,
não reconhecendo que “o amor ao dinheiro é raiz de todos os males”, e que “nessa cobiça”estavam
se desviando da fé, Ap 3.13; 1 Tm 6.9.

15 – Conheço as tuas obras, que nem és frio nem quente. Quem dera fosses frio, ou quente!
16 – Assim, porque és morno, e nem és quente nem frio, estou a ponto de vomitar-te da minha
boca.

“Conheço as tuas obras...” As obras de uma pessoa são sempre a prova e evidência
indiscutíveis da condição de seu coração. Só o Senhor conhece o coração e, por isso, as obras
servem de evidência especialmente no Juízo Final, Mt 25.31ss. É possível que os membros da
congregação de laodicéia pensassem ser fervorosos cristãos, de modo que o Senhor teve que atacar
com muita seriedade esses pensamentos.
“...nem és frio nem quente”. Seu fervor foi nada sincero, de modo nenhum real. Frios são
aqueles cujo coração ainda não foi atingido pelo fogo do evangelho. Quentes são os que seguem ao
seu Senhor numa fé verdadeira e, fervorosamente, andam no amor e em obras como aquelas
mencionadas em Mt 25.35ss. Mas os laodicenses eram nem frios nem quentes – uma situação
calamitosa que força o Senhor a exclamar: “Quem dera fosses frio ou quente!” Lamentável essa
condição! Não ser frio nem quente significa ser morno. Certamente já houve um tempo em
Laodicéia em que sua fé estava ardendo e era demonstrada através de boas obras. Foi este o tempo
quando aceitaram a graciosa mensagem da obra de Cristo. É provável que na época, quando os
colaboradores do apóstolo Paulo lá trabalhavam, Epafras, “o Servo de Cristo Jesus”, ensinava com
Paulo, que dele testifica: “que muito se preocupa por vós (os colossenses), pelos de Laodicéia e
pelos de Hierápolis”. Nesta época é que receberam uma carta do apóstolo Paulo, e também leram a
carta pessoal de Paulo aos colossenses, Cl 4.12-16. Certamente foi essa época em que sua fé ainda
estava ardendo e seus corações estavam quentes em amor. Desde então, 30 anos se passaram e, com
os anos, passou todo o ardor de sua fé, que pouco a pouco estava esfriando, estava morna.
Mas fé morna não vale diante dos olhos oniscientes do seu Senhor. Fé morna lhe dá nojo, lhe
é desprezível: “Porque és morno, e nem és quente nem frio, estou a ponto de vomitar-te da minha
boca”. Tinha chegado o momento em que o Senhor precisava constatar a respeito dos Laodicenses:
“Quem não é por mim, é contra mim; e quem comigo não ajunta, espalha”, Mt 12.30. “Se alguém
amar o mundo, o amor do pai não está nele”, 1 Jo 2.15.
Apesar de ter chegado a este ponto, o Senhor não fechou a porta. Ele não decreta: “Vomitar-
te-ei!”. Ele ainda espera: “Estou a ponto de vomitar-te”. o verbo grego não é thélo – quero – mas
sim mello – estou a ponto de...o Senhor ainda não está agindo. É verdade: Ele tem nojo, ele quase
não pode mais suportar este gosto horrível. Mas o Senhor é tão longânimo, é tão paciente! Ele ainda
quer esperar, ele ainda quer dar conselhos (cf. v.18). Será que ainda houve tempo para os
laodicenses se arrependerem? Ao menos até o ano 361 A.D., o ano do grande concílio em
Laodicéia, o Senhor aparentemente esperou com seu juízo sobre esta igreja. Quando ela se tornou
completamente fria, só o Senhor mesmo sabe. Esta passagem, sem dúvida, é uma das mais claras
provas da graciosa paciência do Senhor.

17 – Pois dizes: Estou rico e abastado, e não preciso de coisa alguma, e nem sabes que tu és
infeliz, sim miserável, pobre, cego e nu.

Quem lê essas palavras mais ainda admira a paciência de Deus. Os Laodicenses estão
iludindo a si mesmos. Essa igreja julga a si mesma e se absolve. Mais, ela chega ao ponto de, como
os fariseus, gabar-se dos seus feitos, como testifica Jesus: “Vós sois os que vos justificais a vós
mesmos diante dos homens, mas Deus conhece os vossos corações; pois aquilo que é elevado entre
os homens, é abominação diante de Deus”, Lc 16.15. Assim essa igreja diz: “Estou rico e abastado,
e não preciso de coisa alguma”. Tomando o grego literalmente: Cresci em riqueza, e assim hoje
estou rico, tão rico que não preciso de mais nada. É uma ilusão horrível. Observe: não se trata de
riquezas materiais. Trata-se de uma “riqueza moral” ilusória. Estiveram completamente satisfeitos
com seus atos aparentemente morais. Aqui estava uma igreja que olhava para as outras ao seu redor
com desdém, como o fariseu olhou para o pobre publicano: “Ó Deus, graças te dou porque não sou
como os demais homens, roubadores, injustos e adúlteros, nem ainda como esta publicano; jejuo
duas vezes por semana e dou o dízimo de tudo quanto ganho”, Lc 18.11-12. Foram tais “riquezas”
com as quais a igreja de laodicéia se gabava – e quem sabe – outras ainda. Do fariseu Jesus
simplesmente constata que ele não desceu “justificado para sua casa”, Lc 18.14, enquanto seu
julgamento sobre a igreja de Laodicéia é muito mais severo: “nem sabes que tu és infeliz, sim,
miserável, pobre, cego e nu”.
Na realidade, toda essa riqueza ilusória não lhes trouxe verdadeira felicidade; ao contrário,
eles foram desventurados, infelizes. Sim, miseráveis, apesar das aparências. Mesmo se tivessem
riquezas matérias, na realidade seriam pobres em Deus, pois sem a verdadeira sabedoria, que
acompanha a fé, ninguém é rico em Deus. Aquela igreja era “cega”, não física, mas espiritualmente.
E ainda “nua”, faltava-lhe a vestidura de Cristo, pois: “Bem-aventurado aquele que vigia e guarda
as suas vestes, para não andar nu, e não se veja a sua vergonha”, Ap 16.15.
A igreja “morna”, indiferente e insincera de Laodicéia precisava da pregação da Lei. E que lei
ela ouviu! Segue, no entanto, um conselho verdadeiramente evangélico:

18 – Aconselho-te que de mim compres ouro refinado pelo fogo para te enriqueceres; vestiduras
brancas para te vestires, a fim de que não seja manifesta a vergonha da tua nudez; e colírio para
ungires os teus olhos, a fim de que vejas.

Nessas palavras temos o remédio para aquela grave doença espiritual que está afligindo os
Laodicenses. A prescrição do verdadeiro médico contém três itens muito importantes: 1) ouro, 2)
vestidos; 3) colírio.
1) O Ouro não vem da casa das moedas ou dos muitos bancos de Laodicéia. É ouro das
riquezas do céu, da nova Jerusalém: “... a cidade é de ouro puro, semelhante a vidro límpido...A
praça da cidade é de ouro puro, como vidro transparente”, Ap 21.18,21. É “ouro” que se obtém
através do “fogo refinador” das tribulações e provações. Porque só aquele que chegar a sentir a sua
pobreza, que não mais se gabar, dizendo: “não mais preciso de coisa alguma”, virá para “comprar
ouro” “de mim”, porque não existe outra fonte de uma riqueza real. Sim, a igreja pobre de
Laodicéia precisa “comprar” este ouro do Seu Senhor, mas “comprar sem dinheiro e sem preço”(Is
55.1). Esse comprar nada mais e nada menos é do que uma verdadeira contrição, um verdadeiro
arrependimento, e o “ouro” obtido de Cristo é o perdão de todos os seus pecados de indiferença e de
insinceridade. Só depois de ter adquirido essas riquezas, a igreja de Laodicéia tornar-se-ia uma pbre
igreja rica, em contraste com a rica igreja pobre de Éfeso.
2) “...que compres...vestiduras brancas”. Não são daquele tecido luxuoso, brilhante e macio
da lã preta das ovelhas de Laodicéia; não são vestiduras compradas em lojas a preços altos. O
melhor tecido que o dinheiro pode comprar não é suficiente para cobrir a nudez espiritual. Uma tal
vestidura só se pode “comprar” “sem dinheiro e sem preço”da única fonte que existe para ela: Jesus.
Vestiduras brancas são as “vestiduras”da justiça oferecidas por Jesus, através de seu sofrimento e
morte vicários, e obtidas pela fé somente. Exclama o profeta: “Regozijar-me-ei muito no Senhor; a
minha alma se alegra no meu Deus; porque me cobriu de vestes de salvação, e me envolveu com o
manto da justiça...” Is 61.10.
Diante de Deus, os laodicenses estiveram nus, em pecados e vergonha – apesar dos melhores
vestidos que o dinheiro pôde comprar. Só a vestidura branca da justiça de Cristo podia vesti-los a
fim de que sua nudez e vergonha não aparecessem. Sim, “Bem-aventurado aquele que vigia e
guarda as suas vestes, para não andar nu, e não se veja a sua vergonha”, Ap 16.15.
3) “... que compres...colírio para ungires os teus olhos, a fim de que vejas”. É essa a única
passagem em que este termo aparece na Bíblia, “colírio”. Provavelmente esse conceito foi usado
porque, na escola de medicina de Laodicéia, um tal remédio foi preparado para doenças das vistas,
o que dava a essa cidade uma boa reputação geral na região. Mas, diz o Senhor, apesar de ser muito
bom, esse remédio é de nenhum valor para curar a cegueira espiritual que atacava os membros da
igreja de laodicéia; pois, para aqueles que “têm olhos e não vêem” (Mc 8.18), unicamente o colírio
da palavra de Deus é o remédio adequado. Só com ela se abrirão os olhos dos cegos”, Is 35.5.
Quão misericordiosamente o Cristo glorificado trata os laodicenses mornos. Certamente
foram deveras severas as palavras de lei ditas pelo Senhor. Foram, porém, necessárias a fim de que
reconhecessem o estado grave em que se achavam. O Senhor certamente não quer que se percam,
mas que venham a reconhecer que o ser morno na igreja de Cristo é de tremendo perigo. Por isso o
Senhor precisa “discipliná-los” para, nas palavras do apóstolo Paulo, “aprovardes as coisas
excelentes e serdes sinceros e inculpáveis para o dia de Cristo, cheios de fruto de justiça, o qual é
mediante Jesus Cristo”, Fp 1.10-11. É por isso que prossegue:

19 – Eu repreendo e disciplino a quantos amo. Sê, pois, zeloso, e arrepende-te.

Não é ira que move o Senhor a repreender o pecador, é seu amor. “A quantos amo” (hósous
ean) não se restringe aos poucos da igreja de Laodicéia, que ele ama; inclui a todos os que ele ama.
E o Senhor ama o pecador. Só aquele pecador que recusa aceitar seu chamado, que não quer
arrepender-se, que não quer ser disciplinado será recusado. É muito significativo que o Senhor use
aqui o verbo filô em vez de agapân. Agapân significa amar com um amor espiritual, intelectual.
Somos aqui lembrados do diálogo do Cristo ressuscitado com Pedro em Jô 21.15ss. Lá Jesus usa
dois verbos. Nas duas primeiras perguntas, Jesus diz: agapâs me? – e Pedro humildemente
responde: filô se! - “Amo-te com amor de afeição”. Mas quando, na terceira vez, Jesus lhe
pergunta: Filêis me?, Pedro fica profundamente triste porque Jesus precisou perguntar-lhe se ele de
fato o amava com afeição humana. Aos laodicenses, o Jesus glorificado diz que a quantos ele ama
com afeição íntima – como de um amigo, como irmão – a esses disciplina e repreende. Verdadeira
disciplina é aquela exercida em amor. É isso que eles devem reconhecer. Devem reconhecer o amor
do seu Senhor.
“Sê, pois, zeloso, e arrepende-te!”- O amor de Cristo deve ser o motivo verdadeiro do
arrependimento. Não são dois passos: ser zeloso – e depois arrepender-se. O arrependimento não é
um ato isolado, mas uma atitude contínua. O verdadeiro arrependimento é uma vida em
arrependimento zeloso e constante. Só com uma vida cheia de arrependimento decisivo eles
receberão perdão por seu “ser morno”, por sua insinceridade. Para reforçar esta verdade, Cristo
continua:

20 – Eis que estou à porta, e bato; se alguém ouvir a minha voz, e abrir a porta, entrarei em sua
casa e cearei com ele e ele comigo.

Considerando quem é o que manda escrever essas palavras e reconhecendo que Ele é o
mesmo Senhor diante de quem João, quando pela primeira vez lhe apareceu, caiu aos seus pés
“como morto”(Ap 1.15-17) só podemos maravilhar-nos de que esse mesmo Senhor agora se
apresenta como alguém que está “à porta” para bater. É a maravilhosa grandeza da graça e
misericórdia deste Senhor sobre o pobre pecador. A porta é a bem fechada do coração do homem
natural e pecador. O Senhor do céu e da terra avisa a congregação de Laodicéia de que ele está lá
fora, batendo e esperando que a porta se abra.
Ora, nenhum pecador tem o poder de, por sua força abrir essa porta. O Senhor, porém,
também não está lá fora batendo em silêncio. O bater é feito com a palavra, isto é, com a palavra do
Senhor dos senhores, tanto com a severa palavra de sua lei, assim como os laodicenses a ouviram e
leram nos v.15-17, como também com sua palavra da graça e misericórdia, com a qual gentilmente
nos convida a abrirmos a porta. E esse convite gentil é o evangelho, é o ‘poder de Deus para a
salvação de todo aquele que crê”, Rm 1.16. E é Deus “quem efetua tanto o querer como o realizar”,
Fp 2.6. Por isso o Senhor não espera ação do pecador. É ele que vem, é Ele que bate. Seu estar à
porta e seu bater não é feito só uma vez. Os verbos no grego são ambos de ação continuada: Ele
está, não só num momento – e sai de novo. Ele não bate só uma ou duas vezes – e deixa as coisas
correrem. Ele está lá e bate até que finalmente a porta se abra ou – se o coração e os ouvidos do
pecador endurecerem, Ele se retira. Retira seu convite, retira o evangelho – então a graça terminou;
o tempo da graça terminou. No entanto, ainda está batendo à porta dos laodicenses. Para eles ainda
é tempo de graça.
E o Senhor está à porta, chama e espera: “Se alguém ouvir a minha voz, e abrir a porta,
entrarei em sua casa, e cearei com ele e ele comigo”. Que hora abençoada aquela em que a porta
se abre! O Senhor dos senhores entra na casa do pecador. O Rei dos reis senta-se à mesa com o
infeliz, o miserável, o pobre. É essa uma figura linda da comunhão íntima que existe entre Cristo e
o cristão: “Se alguém me ama, guardará a minha palavra; e o meu Pai o amará e viremos para ele, e
faremos nele morada”, Jô 14.23. o que essa comunhão realmente significa só pode ser apreciado por
aquele que pessoalmente a está experimentando. Essa carta como, aliás, outras das sete termina num
tom gloriosamente escatológico. A comunhão íntima do cristão com seu Senhor aqui na terra,
ilustrada com o morar e o cear na companhia de Jesus, continua na eterna comunhão triunfal no
trono do céu:

21 – Ao vencedor dar-lhe-ei sentar comigo no meu trono, assim como também eu venci, e me
sentei com meu Pai junto no seu trono.

“...dar-lhe-ei” (doso) significa uma dádiva de graça pura. Cristo morreu vitorioso na cruz
com o grito: Está consumado! Agora ele, o Vencedor supremo, dá também ao vencedor que ficou
fiel, ao longo de sua vida na terra, uma coroa. Com essa coroa do vencedor, Cristo lhe dará o
“sentar-se comigo no meu trono”. Sentar-se no trono significa reinar, pois “se perseveramos,
também com ele reinaremos”, 2 Tm 2.12. Temos a gloriosa confirmação dessa palavra ao vencedor
naquela passagem, na qual nos é dito o que acontecerá a todos os vencedores depois de sua morte
aqui na terra: “Vi também tronos, e nestes sentaram-se aqueles aos quais foi dada autoridade de
julgar. Vi ainda as almas dos decapitados por causa do testemunho de Jesus, bem como por causa
da palavra de Deus, tantos quantos não adoraram a besta, nem tão pouco a sua imagem, e não
receberam a marca na fronte e na mão: e viveram e reinaram com Cristo durante mil anos”(isto é,
durante o tempo da graça até o Juízo Final), Ap 20.4. Esse reinar, porém, não termina com o Juízo
Final, pois na eternidade “o Senhor Deus brilhará sobre eles, e “reinarão pelos séculos dos
séculos”Ap 22.5. com este tom glorioso, termina essa carta que precisou falar tão amargamente da
igreja de Laodicéia, que era tão insincera, tão morna, tão soberba. Para os vencedores nessa igreja
como, aliás, em todas as igrejas na terra, haverá um glorioso fim na eternidade.
Resta ainda a questão de quantos tronos fala esse texto e de quantos tronos no céu fala
Apocalipse. “O meu trono” e “o trono do meu Pai” são um trono só. O trono do Cordeiro e o trono
de Deus são um trono só; e que os vencedores sentam-se com seu Senhor no seu trono significa que
se sentam no mesmo trono do Pai. Não há, na eternidade, uma questão de espaço. Através desta
bonita figura, chegaremos à gloriosa verdade nas palavras do último capítulo de Apocalipse: - A
nova Jerusalém. “Então me mostrou o rio da água da vida, brilhante como cristal, que sai do trono
de Deus e do Cordeiro. No meio da sua praça, de uma e outra margem do rio, está a árvore da vida,
que produz doze frutos, dando o seu fruto de mês em mês, e as folhas da árvore são para a cura dos
povos. Nunca jamais haverá qualquer maldição. Nela estará o trono de Deus e do Cordeiro. Os seus
servos o servirão, contemplarão a sua face, e nas suas frontes está o nome dele. Então já não haverá
noite, nem precisam eles de luz de candeia, nem da luz do sol, porque o Senhor Deus brilhará sobre
eles, e reinarão pelos séculos dos séculos”, Ap 22.1-5.

22- Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas.

O Sentido dessas palavras é o mesmo em todas as cartas e atinge a nós hoje.


A igreja de Laodicéia é a igreja que se tornou indiferente e insincera e, portanto, morna,
tépida; uma igreja orgulhosa e satisfeita consigo mesma. Toda sua riqueza, porém, é ilusão; nada
vale diante de Deus. Ela tem de ouvir uma horrível ameaça de Juízo: “...estou a ponto de vomitar-te
da minha boca”. No entanto, o Senhor é longânimo. Dá a ela ainda um tempo de graça. E no fim – o
vencedor, também nessa igreja, recebe uma das mais gloriosas promessas que uma pessoa na terra
pode receber: a glória eterna no céu.

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