Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Lisboa, 2000
INTRODUÇÃO
A Guiné-Bissau
Situada na África Ocidental entre 10º 55’ e 12º 40’ de latitude Norte e 13º 40’
e 16º 45’ de longitude Oeste, a Guiné-Bissau, com uma área de 36 1 25 Km2,
compreende uma parte continental e uma parte insular no Oceano Atlântico, o
Arquipélago dos Bijagós. O relevo é bastante atenuado, com numerosos braços
de mar reentrantes e apenas no Leste do país, na região do Boé, a altitude se
aproxima dos 300 m, estando a maior parte do território abaixo da cota de 40 m.
O clima é tropical seco, com temperatura média anual entre 25 e 27ºC e baixas
amplitudes térmicas. Embora seja um território de pequenas dimensões, por estar
situado numa região de transição climática, apresenta uma elevada variabilidade
pluviométrica anual, que no Norte e no Leste não ultrapassa os 1400 a 1600 mm,
enquanto no Sul pode atingir os 2500 mm.
TAXONOMIA
A família Combretaceae compreende 18 géneros de plantas lenhosas e está
presente em todas as regiões tropicais, embora a maioria dos géneros tenha uma
distribuição mais restrita e alguns ocorram exclusivamente em um continente.
Segundo EXELL & STACE (1966), o facto de os pêlos compartimentados serem
uma característica comum a todos os géneros de Combretaceae (à excepção de
Strephonema) e ocorrendo na grande maioria das espécies, concorre para que se
considere esta família como um grupo bastante natural.
O género Combretum Loefl., que engloba cerca de metade das espécies da
família, é representado por árvores, arbustos, subarbustos e lianas, presentes em
florestas e savanas da África, Ásia e América.
Não obstante os vários trabalhos versando o estudo do género, nomeadamente
no continente africano, o seu conhecimento apresenta ainda dificuldades. Dos
mais de 600 nomes específicos e subespecíficos publicados, calcula-se que haja
apenas cerca de 250 espécies, das quais ocorrerão em África cerca de centena e
meia. KEAY (1954) refere para a África Ocidental 57 espécies das quais 8
imperfeitamente conhecidas. Para o Senegal, país vizinho da Guiné-Bissau,
BERHAUT (1974) refere 19 espécies de Combretum.
Os caracteres mais utilizados na diferenciação dos grupos taxonómicos são a
forma e indumento dos receptáculos superior e inferior, forma e indumento das
pétalas e das folhas, tipo de inflorescência e a forma, dimensões, cor e
distribuição das escamas nos receptáculos, folhas e frutos. STACE (1965, 1980),
demonstrou a particular importância da anatomia da epiderme das folhas na
taxonomia da família e em particular deste género.
As espécies existentes na Guiné-Bissau possuem ritidoma dos ramos com
frequência fendilhado longitudinalmente, flores geralmente tetrâmeras e frutos
alados, com 4 asas, sendo maioritariamente anemocóricas.
Uma característica de quase todas as espécies do género é a elevada
plasticidade fenotípica, fazendo com que em relação a muitos caracteres
morfológicos haja elevada variabilidade intra-específica.
Se bem que haja maior constância nos caracteres de flores e frutos que nos
caracteres vegetativos, em alguns casos torna-se difícil obter um conjunto de
caracteres suficientemente consistentes para diferenciar os grupos taxonómicos
infra-genéricos.
400 L. CATARINO, E. S. MARTINS & M. A. DINIZ
ECOLOGIA
As espécies do género que ocorrem na Guiné-Bissau podem encontrar-se em
vários tipos de formações vegetais, nomeadamente em savanas arbustivas e
arborizadas, florestas abertas, palmares, florestas densas secas e sub-húmidas e
florestas hidrófilas. Muitas espécies parecem estar adaptadas a uma ampla gama
de factores ecológicos, nomeadamente tipos de solo, disponibilidade de água e
de luz e ocorrência de fogos. Assim, em resposta à variação de condições
ecológicas, alguns Combretum apresentam também elevada plasticidade
fenotípica quanto ao hábito e ao porte, podendo ser encontrados como arbustos,
em zonas de savana de solos secos e pobres, como pequenas árvores em locais
de solo mais profundo ou como arbustos escandentes ou lianas em formações
vegetais mais densas. Certas espécies encontram-se bem adaptadas à
sobrevivência em locais ruderalizados ou perturbados pelo fogo e outros factores
ecológicos.
MATERIAIS E MÉTODOS
Para o presente estudo foram observados todos os espécimes de Combretum
colhidos no território da Guiné-Bissau existentes no Herbário do Centro de
Botânica (LISC). Para o efeito procedeu-se à observação das características
morfológicas com o auxílio de lupa binocular e, para a observação das
características dos tricomas, nomeadamente das escamas, com o auxílio do
microscópio óptico. A bibliografia mais utilizada para a identificação foi
particularmente a referente ao território da Guiné-Bissau (MALATO-BELIZ,
1977), à África ocidental (BERHAUT, 1974; JONGKIND, 1999; KEAY, 1954;
LIEBEN, 1983) ou ainda a de carácter monográfico (OKAFOR, 1967).
Os nomes vulgares das plantas nas línguas e dialetos das diferentes etnias da
Guiné-Bissau foram obtidos quer das etiquetas de herbário quer de ESPÍRITO
SANTO (1963).
A informação quanto à utilização das plantas foi obtida das etiquetas de
herbário, de BURKILL (1985) e ABREU et al. (1999) e ainda por recolha dos
autores no decorrer de trabalhos de campo na Guiné-Bissau.
Para a distribuição das plantas no país entendeu-se conveniente dividir o
território da Guiné-Bissau em quatro regiões: Norte, Sul, Leste e Arquipélago
dos Bijagós (Fig. 1). Estas regiões, a seguir indicadas respectivamente por N, S,
L e B, têm por base a divisão administrativa do país. No entanto, dada a grande
proximidade ao território continental e relativo afastamento das outras ilhas,
julgou-se mais conveniente incluir a ilha de Bolama na região Sul não obstante
esta se encontrar administrativamente ligada ao Arquipélago dos Bijagós e
constituir parte integrante da Reserva da Biosfera de Bolama-Bijagós (INEP-
CEATA & UICN, 1996; MARTINS, 1998).
O GÉNERO COMBRETUM NA FLORA DA GUINÉ-BISSAU 401
RESULTADOS E DISCUSSÃO
O estudo de todos os espécimes de Combretum colhidos no território da
Guiné-Bissau, do Herbário do Centro de Botânica (LISC), permitiu reconhecer
14 espécies, uma das quais, C. collinum , com 3 subespécies e outra, C.
nigricans, com 2 variedades.
var. nigricans
Ramos e página inferior das folhas densamente pubérulos.
Distribuição: Ocorre na região L. Conhecida também do Senegal e da Gâmbia.
Em savanas arborizadas e florestas abertas.
Utilização: A infusão das folhas é utilizada para tratamento da tosse.
N.V.: cancalibá (Mandinga).
BIBLIOGRAFIA
ABREU, P. M., MARTINS, E. S., KAYSER, O. BINDSEIL, K.-U., SIEMS, K.,
SEEMANN, A. &t FREVERT, J. (1999) Antimicrobial, antitumor and antileishmania
screening of Medicinal Plants from Guinea-Bissau. Phytomedicine 6 (3):187-195.
BERHAUT, J. (1974) Flore Illustrée du Sénégal. Vol. 2, Gouvernement du Sénégal,
Dakar, 695 p.
BURKILL, H. M. (1985) The Useful Plants of West Tropical Africa, 2nd ed., Vol. 1.
Royal Botanic Gardens, Kew, 960 p.
ESPÍRITO SANTO, J. (1963) Nomes vernáculos de algumas plantas da Guiné Portuguesa.
Estud. Ensaios Doc. Junta de Invest. Ci. Ultramar 104. 123 p.
EXELL, A. W. & STACE, C. A. (1966) Revision of Combretaceae. Bol. Soc. Brot., Sér.
2, 40: 5-25.
INEP-CEATA & UICN (1996) Reserva da Biosfera do Arquipélago Bolama-Bijagós.
Documento de base para a elaboração do Plano de Gestão. INEP, Bissau, 41 p.
JONGKIND, C. C. H. (1999) Flore du Gabon - 35. Combretaceae. Muséum Nat. d’Hist.
Nat., Paris.115 p.
KEAY, R. W. J. (1958) Flora of West Tropical Africa, 2nd ed., Vol. 1, Crown Agents,
London, 828 p.
LIEBEN, L. (1983) Flore du Cameroun - 25. Combrétacées. D. G. R. S. T., Yaoundé,
88 p.
MALATO-BELIZ, J. (1977). Plantas novas para a Guiné-Bissau – I. Combretaceae.
Garcia de Orta, Sér. Bot. 3 (2): 55-62.
MARTINS, M.A.G.D. (1998) Diversidade Florística no arquipélago dos Bijagós.
Programa de Investigação. IICT, Lisboa, 70 p.
OKAFOR, J. C. (1967) A taxonomic study of the Combretum collinum group of species,
II. The subspecies of Combretum collinum. Bol. Soc. Brot., Sér. 2, 46: 137-150.
STACE, C. A. (1965) The significance of the leaf epidermis in the taxonomy of the
Combretaceae, I. A general review of tribal, generic and specific characters. J. Linn.
Soc., Bot. 59(378): 229-252.
STACE, C. A. (1980) The significance of the leaf epidermis in the taxonomy of the
Combretaceae: conclusions. Bot. J. Linn. Soc. 81(4): 327-339.