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Portugaliae Acta Biol. 19: 397-408.

Lisboa, 2000

O GÉNERO COMBRETUM NA FLORA DA GUINÉ-BISSAU

Luís Catarino, Eurico Sampaio Martins & Maria Adélia Diniz


Centro de Botânica - Instituto de Investigação Científica Tropical
Trav. Conde da Ribeira 9, 1300-142 Lisboa

Catarino, L., Martins, E. S. & Diniz, M. A. (2000). O género


Combretum na flora da Guiné-Bissau. Portugaliae Acta Biol.
19: 397-408.
O género Combretum é constituido por cerca de 250 espécies
de plantas lenhosas, largamente distribuídas pelas regiões
tropicais da América, África e Ásia. Objecto de alguns
estudos bem elaborados, a taxonomia do género Combretum
apresenta ainda dificuldades, nomeadamente quanto à
caracterização de algumas espécies. Com base nos espécimes
existentes no Herbário LISC, fez-se uma revisão da
taxonomia e distribuição das espécies deste género no
território da Guiné-Bissau. Das cerca de 50 espécies e sub-
espécies referidas para a África Ocidental, 16 foram
encontrados na Guiné-Bissau. Para cada um destes grupos
taxonómicos é apresentada uma breve descrição, bem como
referência à ecologia, eventuais utilizações pelas populações
locais, nomes vernáculos e distribuição geográfica na Guiné-
Bissau e países vizinhos.
Palavras chave: Combretum, Guiné-Bissau, taxonomia.

Catarino, L., Martins, E. S. & Diniz, M. A. (2000). The


Combretum genus in the Guinea-Bissau flora. Portugaliae
Acta Biol. 19: 397-408.
The genus Combretum comprises about 250 species of woody
plants, largely distributed in the tropical regions of America,
Africa and Asia. Subject of some well elaborated works, the
taxonomy of this genus still shows some difficulties, namely
concerning the characterisation of some species. Considering
the specimens at the LISC herbarium, a revision of the
taxonomy and distribution of the species of this genus in the
Guinea-Bissau territory is presented. From about the 50
Combretum species and sub-species referred in West Africa,
16 were found in Guinea-Bissau. For each of these
taxonomical groups a brief description, as well as reference
to its ecology, use by local populations, vernacular names
398 L. CATARINO, E. S. MARTINS & M. A. DINIZ

and geographical distribution in Guinea-Bissau and


neighbouring countries is presented.
Key words: Combretum, Guinea-Bissau, taxonomy.

INTRODUÇÃO
A Guiné-Bissau
Situada na África Ocidental entre 10º 55’ e 12º 40’ de latitude Norte e 13º 40’
e 16º 45’ de longitude Oeste, a Guiné-Bissau, com uma área de 36 1 25 Km2,
compreende uma parte continental e uma parte insular no Oceano Atlântico, o
Arquipélago dos Bijagós. O relevo é bastante atenuado, com numerosos braços
de mar reentrantes e apenas no Leste do país, na região do Boé, a altitude se
aproxima dos 300 m, estando a maior parte do território abaixo da cota de 40 m.
O clima é tropical seco, com temperatura média anual entre 25 e 27ºC e baixas
amplitudes térmicas. Embora seja um território de pequenas dimensões, por estar
situado numa região de transição climática, apresenta uma elevada variabilidade
pluviométrica anual, que no Norte e no Leste não ultrapassa os 1400 a 1600 mm,
enquanto no Sul pode atingir os 2500 mm.

Figura 1 - Mapa da Guiné-Bissau mostrando as quatro regiões consideradas (Norte, Sul,


Leste e Arquipélago dos Bijagós).

A vegetação reflete as condições orográficas e esta variação da pluviosidade,


com manchas de floresta densa seca e sub-húmida no Sul do país, enquanto que
na região Leste, interior, predominam as savanas, em geral arborizadas, em
O GÉNERO COMBRETUM NA FLORA DA GUINÉ-BISSAU 399

mosaico com florestas abertas e na região Norte as florestas abertas e os


palmares. Nas margens dos estuários e braços de mar e cobrindo grande parte
das ilhas desenvolve-se o mangal ou ‘tarrafe’.

TAXONOMIA
A família Combretaceae compreende 18 géneros de plantas lenhosas e está
presente em todas as regiões tropicais, embora a maioria dos géneros tenha uma
distribuição mais restrita e alguns ocorram exclusivamente em um continente.
Segundo EXELL & STACE (1966), o facto de os pêlos compartimentados serem
uma característica comum a todos os géneros de Combretaceae (à excepção de
Strephonema) e ocorrendo na grande maioria das espécies, concorre para que se
considere esta família como um grupo bastante natural.
O género Combretum Loefl., que engloba cerca de metade das espécies da
família, é representado por árvores, arbustos, subarbustos e lianas, presentes em
florestas e savanas da África, Ásia e América.
Não obstante os vários trabalhos versando o estudo do género, nomeadamente
no continente africano, o seu conhecimento apresenta ainda dificuldades. Dos
mais de 600 nomes específicos e subespecíficos publicados, calcula-se que haja
apenas cerca de 250 espécies, das quais ocorrerão em África cerca de centena e
meia. KEAY (1954) refere para a África Ocidental 57 espécies das quais 8
imperfeitamente conhecidas. Para o Senegal, país vizinho da Guiné-Bissau,
BERHAUT (1974) refere 19 espécies de Combretum.
Os caracteres mais utilizados na diferenciação dos grupos taxonómicos são a
forma e indumento dos receptáculos superior e inferior, forma e indumento das
pétalas e das folhas, tipo de inflorescência e a forma, dimensões, cor e
distribuição das escamas nos receptáculos, folhas e frutos. STACE (1965, 1980),
demonstrou a particular importância da anatomia da epiderme das folhas na
taxonomia da família e em particular deste género.
As espécies existentes na Guiné-Bissau possuem ritidoma dos ramos com
frequência fendilhado longitudinalmente, flores geralmente tetrâmeras e frutos
alados, com 4 asas, sendo maioritariamente anemocóricas.
Uma característica de quase todas as espécies do género é a elevada
plasticidade fenotípica, fazendo com que em relação a muitos caracteres
morfológicos haja elevada variabilidade intra-específica.
Se bem que haja maior constância nos caracteres de flores e frutos que nos
caracteres vegetativos, em alguns casos torna-se difícil obter um conjunto de
caracteres suficientemente consistentes para diferenciar os grupos taxonómicos
infra-genéricos.
400 L. CATARINO, E. S. MARTINS & M. A. DINIZ

ECOLOGIA
As espécies do género que ocorrem na Guiné-Bissau podem encontrar-se em
vários tipos de formações vegetais, nomeadamente em savanas arbustivas e
arborizadas, florestas abertas, palmares, florestas densas secas e sub-húmidas e
florestas hidrófilas. Muitas espécies parecem estar adaptadas a uma ampla gama
de factores ecológicos, nomeadamente tipos de solo, disponibilidade de água e
de luz e ocorrência de fogos. Assim, em resposta à variação de condições
ecológicas, alguns Combretum apresentam também elevada plasticidade
fenotípica quanto ao hábito e ao porte, podendo ser encontrados como arbustos,
em zonas de savana de solos secos e pobres, como pequenas árvores em locais
de solo mais profundo ou como arbustos escandentes ou lianas em formações
vegetais mais densas. Certas espécies encontram-se bem adaptadas à
sobrevivência em locais ruderalizados ou perturbados pelo fogo e outros factores
ecológicos.

MATERIAIS E MÉTODOS
Para o presente estudo foram observados todos os espécimes de Combretum
colhidos no território da Guiné-Bissau existentes no Herbário do Centro de
Botânica (LISC). Para o efeito procedeu-se à observação das características
morfológicas com o auxílio de lupa binocular e, para a observação das
características dos tricomas, nomeadamente das escamas, com o auxílio do
microscópio óptico. A bibliografia mais utilizada para a identificação foi
particularmente a referente ao território da Guiné-Bissau (MALATO-BELIZ,
1977), à África ocidental (BERHAUT, 1974; JONGKIND, 1999; KEAY, 1954;
LIEBEN, 1983) ou ainda a de carácter monográfico (OKAFOR, 1967).
Os nomes vulgares das plantas nas línguas e dialetos das diferentes etnias da
Guiné-Bissau foram obtidos quer das etiquetas de herbário quer de ESPÍRITO
SANTO (1963).
A informação quanto à utilização das plantas foi obtida das etiquetas de
herbário, de BURKILL (1985) e ABREU et al. (1999) e ainda por recolha dos
autores no decorrer de trabalhos de campo na Guiné-Bissau.
Para a distribuição das plantas no país entendeu-se conveniente dividir o
território da Guiné-Bissau em quatro regiões: Norte, Sul, Leste e Arquipélago
dos Bijagós (Fig. 1). Estas regiões, a seguir indicadas respectivamente por N, S,
L e B, têm por base a divisão administrativa do país. No entanto, dada a grande
proximidade ao território continental e relativo afastamento das outras ilhas,
julgou-se mais conveniente incluir a ilha de Bolama na região Sul não obstante
esta se encontrar administrativamente ligada ao Arquipélago dos Bijagós e
constituir parte integrante da Reserva da Biosfera de Bolama-Bijagós (INEP-
CEATA & UICN, 1996; MARTINS, 1998).
O GÉNERO COMBRETUM NA FLORA DA GUINÉ-BISSAU 401

RESULTADOS E DISCUSSÃO
O estudo de todos os espécimes de Combretum colhidos no território da
Guiné-Bissau, do Herbário do Centro de Botânica (LISC), permitiu reconhecer
14 espécies, uma das quais, C. collinum , com 3 subespécies e outra, C.
nigricans, com 2 variedades.

Combretum adenogonium Steud. ex A. Rich.


C. etessei Aubrév.; C. fragrans F. Hoffmann; C. ghasalense Engl. & Diels
Arbusto ou árvore até 18 m de altura, de casca acinzentada, fendilhada e folhas
subopostas a sub-4-nadas, até 18 x 8 cm, elípticas a lanceoladas, agudas,
ligeiramente onduladas na margem, com 8-10 nervuras secundárias e nervuras
terciárias bem evidentes na página inferior, glabras a pubescentes e com escamas
inconspícuas. Inflorescências de racemos reunidos em panículas curtas, nos
ramos lenhosos. Flores 4-meras com receptáculo superior cupuliforme, 2-3 mm
longo, pubescente; pétalas amarelas, 1,5-3 mm longas, espatuladas; estames 3-6
mm longos. Fruto 4-alado com 25-35 x 20-30 mm, largamente elíptico,
castanho-amarelado, subglabro a pubérulo.
Distribuição: Conhecida das regiões N, L e S. Em toda a África tropical, desde o
Senegal ao Botswana. Em solos pobres e secos de savana arborizada e mato
xerófilo.
Utilização: as folhas utilizam-se no combate à febre.
N. V.: bané (Fula); djambacatam (Fula e Mandinga); jambacatá (Crioulo).

Combretum collinum Fresen.


Arbusto ou pequena árvore de casca avermelhada a amarelada ou acinzentada.
Folhas alternas, subopostas ou subverticiladas, com pecíolo de 1-3 cm e limbo
até 18 x 8 cm, ovado a elíptico, agudo a obtuso na base e no ápice, com escamas
amareladas geralmente pouco densas e por vezes escondidas pelos pêlos na
página inferior, quando secas frequentemente castanho-esverdeado na página
superior e castanho-amarelado a castanho-escuro ou ferrugíneo na página
inferior, com nervuras secundárias frequentemente rosadas na página superior.
Flores em racemos axilares curtos, 4-meras, com receptáculo superior
campanulado, 2,5-3,5 mm longo, glabro a tomentelo; pétalas amarelas, 1-2,5 mm
longas, obtriangulares; estames 3,5-6 mm longos. Fruto 4-alado com 25-40 x 20-
30 mm, largamente elíptico, lepídoto, castanho-acinzentado a castanho-escuro ou
anegrado.
Esta espécie tem sido considerada por alguns autores, nomeadamente OKAFOR
(1967), dividida em 11 subespécies, por vezes de problemática separação. Para a
Guiné-Bissau consideramos 3 subespécies.
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subsp. binderianum (Kotschy) Okafor


C. binderianum Kotschy
Folhas subglabras, esverdeadas na página superior, a inferior com escamas
esbranquiçadas mais ou menos densas. Flores com 5-6 mm, com o receptáculo
inferior subglabro e com escamas vermelhas. Fruto castanho-amarelado a
purpúreo, com escamas avermelhadas.
Distribuição: Conhecida das regiões N e L. Na África ocidental, desde a Guiné-
Bissau aos Camarões, estendendo-se até à Africa oriental. Em savana arborizada
e floresta aberta seca.
Utilização: bebe-se o decocto da raiz em água fria, para combater a fraqueza do
corpo.
N. V.: doque-debe (Fula).

subsp. geitonophyllum (Diels.) Okafor


C. geitonophyllum Diels.; C. lamprocarpum Diels.
Arbusto ou pequena árvore até 8 m de altura, com tronco castanho-amarelado.
Folhas pubescentes a tomentosas na página inferior e com escamas
esbranquiçadas mais ou menos densas. Receptáculo inferior sem escamas
vermelhas. Fruto tomentelo sem escamas vermelhas.
Distribuição: Conhecida das regiões N, S, e L. Dispersa pela África Ocidental,
do Senegal à Nigéria. Em savana, floresta aberta e matos xerófilos.
Utilização: para combater as dores de dentes, bochecha-se com a infusão das
raízes.
N. V.: bierrequêtê (Beafada), djambacatá-fêmea (Crioulo); hiremoussôlo, madifô
(Mandinga).

subsp. hypopilinum (Diels) Okafor


C. hypopilinum Diels
Arbusto ou pequena árvore, até 6 m de altura. Folhas castanhas quando secas,
tomentelas inferiormente mesmo na maturação, com escamas pouco visíveis.
Fruto tomentelo, castanho, sem escamas vermelhas.
Distribuição: Na Guiné-Bissau conhecida apenas da região L (Boé). Dispersa
pela África ocidental, desde o Sul do Senegal à República Centro-africana e para
sul aos Camarões. Em solos secos e pobres das savanas arborizadas.

Combretum conchipetalum Engl. & Diels


Combretum cuspidatum sensu Keay, non Planch. ex Benth.; C. afzelii Engl. &
Diels
Liana robusta, atingindo 10 m ou mais de altura. Folhas opostas com pecíolo até
1,5 cm e limbo até 27 x 10 cm, obovado, obtuso a subagudo no ápice, brilhante
O GÉNERO COMBRETUM NA FLORA DA GUINÉ-BISSAU 403

na página superior, glabro, com nervuras secundárias proeminentes, nunca com


domácias. Inflorescências paniculadas geralmente terminais. Flores 4-meras, o
receptáculo inferior com 1-2 mm e o superior 2 mm longo, campanulado; pétalas
brancas, espatuladas. Fruto maduro até 4 x 2 cm, ovóide, com asas espessas,
triangulares em secção transversal, adaptado à dispersão pela água.
Distribuição: Na Guiné-Bissau conhecida apenas da região N. Na África
ocidental, desde a Guiné-Bissau ao Gabão e Zaire. Em galerias florestais com
solos frescos, nas margens das linhas de água.

Combretum glutinosum Perr. ex DC.


Arbusto ou árvore até 12 m de altura, com córtice acinzentado, alaranjado em
corte. Folhas subopostas a subternadas, com pecíolo até 1 cm e limbo até 18 x 8
cm, ovado a obovado, subagudo a arredondado no ápice, arredondado na base,
espesso, subcoriáceo, glabro e glutinoso superiormente, pelo menos quando
jovem, pubescente nas nervuras e vénulas e tomentoso nas malhas do retículo;
retículo denso, muito proeminente. Flores em racemos axilares, 4-meras, com
receptáculo inferior 1,5-2 mm longo, tomentoso, o superior 1,5 x 2,5 mm,
largamente campanulado; pétalas amareladas, obovadas, geralmente cilioladas
no ápice. Fruto até 4 cm de comprimento, elíptico, glutinoso, amarelo.
Distribuição: Conhecida das regiões N e L. Disperso pela África ocidental e
central, desde o Senegal ao Sudão e para sul até aos Camarões. Em savanas
arborizadas e florestas abertas.
N. V.: djambacatam (Futa-fula).

Combretum grandiflorum G. Don


Arbusto escandente ou liana robusta atingindo 15-18 m de altura ou mais com
ramos geralmente aculeados. Folhas com pecíolo articulado, a porção basal
persistente e frequentemente tornando-se recurvo-cónica e espinhosa e limbo até
15 x 9 cm, oblongo-elíptico, agudo no ápice, arredondado a obtuso na base,
papiráceo. Flores em racemos espiciformes, 4-meras, com o receptáculo superior
até 22 mm longo, infundibuliforme, glabro ou pubérulo; pétalas vermelhas até
15 mm longas, espatuladas. Fruto cerca de 30 x 30 mm, largamente elipsóide,
chanfrado no ápice, creme, glabro.
Distribuição: Ocorre nas regiões N, S, L e B (Ilha de Bubaque). Na África
ocidental, desde a Gâmbia ao Gana. Em florestas abertas, florestas densas secas
e sub-húmidas, galerias florestais e palmares.
N. V.: cundjamburô (Fula); pelae-djacumáè (Felupe).
404 L. CATARINO, E. S. MARTINS & M. A. DINIZ

Combretum lecardii Engl.& Diels


Arbusto escandente ou pequena árvore até 10 m de altura. Folhas até 12 x 5 cm,
oblongo-elípticas, emarginadas e mucronadas no ápice, arredondadas na base,
pubescentes na página inferior e fortemente reticuladas. Flores em espigas
contraídas dispostas em panícula, geralmente desenvolvendo-se antes das folhas;
receptáculo superior 5-8 mm longo, visivelmente engrossado e subesférico na
parte basal, subcilíndrico superiormente; pétalas vermelhas, c. 2 mm longas,
obovadas, glabras. Fruto cerca de 35 x 35 mm, largamente elipsóide, com asas
membranáceas, truncado no ápice, castanho claro, pubérulo.
Distribuição: Na Guiné-Bissau ocorre nas regiões N e L. Na África ocidental é
conhecida do Senegal à Serra Leoa. Em savanas e florestas abertas,
frequentemente em solos lateríticos e degradados.
Utilização: a infusão das folhas é usada como remédio para o catarro.
N. V.: contcham-tchalon (Fula); cundundindló (Mandinga); piroriem (Balanta).

Combretum micranthum G. Don


Arbusto por vezes escandente ou pequena árvore até 7 m de altura. Folhas com
pecíolos densamente cobertos de escamas vermelhas e limbo até 6 cm de
comprimento, agudo a subagudo no ápice, acunheado na base, castanho-
avermelhadoquando secas. Flores 4-meras, em espigas até 3 cm, solitárias,
axilares, congestas, com o pedúnculo, ráquis e receptáculo densamente cobertos
de escamas vermelhas; receptáculo superior até 1,5 mm longo; pétalas brancas.
Fruto até 1,5 cm longo, castanho-avermelhado.
Distribuição: Frequente em todas as regiões do país. Ocorre por toda a África
Ocidental, do Senegal à Nigéria. Espécie particularmente de savanas, podendo
ocorrer em outros habitats, nomeadamente em florestas abertas e palmares.
Utilização: a infusão das folhas é usada para o tratamento de cólicas, diarreias,
hemorragias, náuseas e tosse e como antipirético. A decocção da raiz é usada
para aliviar as dores de dentes. A infusão do fruto é utilizada como sucedâneo de
café.
N. V.: ambate (Tanda); n’babass (Nalu); barcolomô (Mandinga); buchicabu
(Felupe); buco, café, café-bravo (Crioulo); buéco (Pepel), buko (Sosso); butique
(Felupe senegalês/Djola); cancalibá (Fula, Futa-fula, Mandinga); canquelibá,
quenquelebá, tade (Fula); p’sangla (Balanta); upatucoma (Bijagó).

Combretum molle R. Br. ex G. Don


Arbusto ou pequena árvore até 8 m de altura, com ritidoma cinzento, fendilhado.
Folhas opostas, com pecíolo até 4 mm e limbo até 17 x 8 cm, ovado ou elíptico,
acuminado no ápice, arredondado a acunheado na base, glabro a pubescente e
lepídoto na página superior, glabro a tomentoso sobre as nervuras e vénulas e
densamente lepídoto nas malhas do retículo na página inferior. Flores em
O GÉNERO COMBRETUM NA FLORA DA GUINÉ-BISSAU 405

racemos axilares longos, agrupados em panículas folhosas, 4-meras; receptáculo


superior até 3 x 3,5 mm, hemisférico-campanulado, lepídoto, pubescente a
tomentoso; pétalas creme, c. 1 mm longas, obcordiformes, profundamente
fendidas no ápice, ciliadas. Frutos até 25 x 20 mm, castanho-amarelados com as
asas mais claras que o núcleo.
Distribuição: Conhecida apenas na região L, nas margens do rio Corubal. Ocorre
em grande parte da África tropical e austral e ainda do Iémen. Em savanas e
florestas abertas.

Combretum mucronatum Schumach. & Thonn. ex Schumach.


Combretum smeathmannii G. Don
Arbusto de ramos patentes ou escandente ou liana atingindo por vezes 20 m de
comprimento, sem escamas. Folhas opostas, com pecíolo até 8 mm de
comprimento, pubescente, e limbo até 16 x 8 cm, elíptico a obovado, obtuso e
bruscamente acuminado no ápice, arredondado a subcordado na base, glabro na
página superior, pubescente na inferior, com as nervuras secundárias arqueadas e
fazendo com a mediana ângulos inferiores a 45º e as terciárias paralelas entre si.
Flores 4-meras, em grandes panículas folhosas pubescentes a tomentosas com
pêlos castanho-dourados; receptáculo inferior com c. 3 mm longo, com pêlos
curtos anegrados, o superior largamente cupuliforme, c. 2 mm longo; pétalas
brancas, c. 2,5 mm longas, espatulado-obtriangulares. Frutos c. 15 mm longos,
muito largamente elípticos, mucronados pela base persistente do estilete, com
asas papiráceas, nacaradas.
Distribuição: Ocorre nas regiões N, S, L e B. Na África tropical desde a Gâmbia
aos Camarões e para leste até ao Uganda. Em florestas secundárias secas ou sub-
húmidas e galerias florestais.
N. V.: iári-sap-baté (Futa-fula).

Combretum nigricans Lepr. ex Guill. & Perr.


Arbustos ou pequenas árvores até 10 (15) m de altura, com ramos glabros a
curtamente pubescentes. Folhas opostas, com pecíolo 5-10 mm longo e limbo até
12,0 x 5,5 cm, sempre mais de duas vezes mais longo que largo, ovado-elíptico,
agudo no ápice, acunheado na base, glabro, brilhante e cinzento-azulado na
página superior quando seco, glabro a densamente pubérulo na inferior sobre as
nervuras; domácias axilares pubescentes geralmente presentes. Flores 4-meras
em racemos axilares com 5-7 cm; receptáculo superior largamente cupuliforme,
lepídoto; pétalas c. 1,5 mm longas, obovadas, densamente ciliadas. Frutos 20-30
x 15-20 mm, elipsóides, amarelados a acastanhados.
406 L. CATARINO, E. S. MARTINS & M. A. DINIZ

var. elliotii (Engl. & Diels) Aubrév.


Ramos e página inferior das folhas glabros.
Distribuição: Conhecida das regiões N, S, L e B. Ocorre do Senegal ao Sudão e
para sul até aos Camarões. Em savanas arborizadas e florestas secundárias
mistas.
N. V.: tchelogom (Tanda); betne, bunro (Beafada), buíde, uíde (Fula);
djambacatam-ô (Mandinga); pau-de-pilão (Crioulo).

var. nigricans
Ramos e página inferior das folhas densamente pubérulos.
Distribuição: Ocorre na região L. Conhecida também do Senegal e da Gâmbia.
Em savanas arborizadas e florestas abertas.
Utilização: A infusão das folhas é utilizada para tratamento da tosse.
N.V.: cancalibá (Mandinga).

Combretum nioroense Aubrév. ex Keay


Arbusto erecto ou frequentemente escandente, desprovido de escamas vermelhas
mas com escamas brancas. Folhas até 6 cm longas, ovadas, agudas no ápice,
arredondadas a acunheadas na base, de cor verde no seco. Flores em espigas
densas c. 3 cm longas, com escamas brancas como o pedúnculo e ráquis;
receptáculo superior até 1 mm longo, muito estreitamente cupuliforme; pétalas
brancas, glabras. Fruto c. 2 cm longo, castanho-claro.
Distribuição: Ocorre na região S. Conhecido também do Mali e Senegal. Em
savanas arborizadas em solos lateríticos e pedregosos.

Combretum paniculatum Vent.


Arbusto escandente ou liana, até 10 m de altura, desprovido de escamas. Folhas
alternas ou subopostas com pecíolo até 3 cm, articulado, a parte inferior
persistente e espinhosa, e limbo até 30 x 14 cm, ovado a obovado, arredondado a
acuminado no ápice, arredondado a subcordado na base, glabro ou subglabro,
com 4-6 pares de nervuras secundárias. Flores 4-meras, em panículas amplas,
com o receptáculo superior cilindro-campanulado, 4-7 mm longo, pubérulo;
pétalas vermelhas, com 2-3 mm de comprimento, ovadas, glabras. Frutos com 2-
3 cm de comprimento, largamente elipsóides, amarelado-rosados, glabros, com
asas muito finas.
Distribuição: Ocorre nas regiões N, S e B. Conhecido de toda a África tropical,
desde o Senegal até Moçambique. Em savanas arborizadas, florestas abertas
secundárias e florestas hidrófilas.
O GÉNERO COMBRETUM NA FLORA DA GUINÉ-BISSAU 407

Combretum racemosum P. Beauv.


Arbusto escandente ou liana robusta com até 12-15 de altura, desprovida de
escamas. Folhas subopostas a subternadas com pecíolo até 10 mm de
comprimento, articulado, a porção basal persistente e por vezes espinescente, e
limbo até 15 x 6 cm, ovado a obovado, arredondado e curtamente acuminado e
apiculado no ápice, arredondado a subcordado na base, esparsamente pubescente
a glabro nas duas páginas. Flores 4-meras em racemos contraídos agrupados em
panículas densas, com grandes brácteas avermelhadas ou esbranquiçadas
persistentes; receptáculo inferior coberto de pêlos longos amarelados e pêlos
curtos glandulares, aclavados, brancos, o superior c. 5 mm longo, estreitamente
campanulado, glabro, excepto na base; pétalas vermelhas, c. 3 mm longas,
estreitamente obovadas, densamente cobertas externamente de pêlos amarelados.
Frutos 20-25 x 20-25 mm, largamente elipsóides, de cor creme com asas
membranosas de reflexos argênteos.
Distribuição: Conhecido das regiões N, S e L. Disperso pela África tropical,
desde o Senegal ao Uganda e para sul até Angola. Em florestas densas sub-
húmidas, florestas secundárias húmidas e palmares em solos profundos e frescos.
N. V.: cototura (Mandinga).

Combretum tomentosum G. Don


Arbusto escandente ou liana atingindo 20 m de altura, com indumento denso de
pêlos castanhos ou amarelados. Folhas opostas ou subopostas, com pecíolo 2-7
mm longo e limbo até 8 x 5 cm, elíptico a largamente obovado, arredondado,
truncado ou emarginado no ápice, curtamente acuminado ou apiculado,
arredondado a subcordado na base, com pêlos longos acinzentados, mais ou
menos densos na página superior, fulvo-pubescente a tomentoso na página
inferior. Flores 4-meras em racemos longos, tomentosos; receptáculo superior
1,5 mm longo e 3,5 mm largo, muito largamente campanulado, tomentoso
externamente e internamente; pétalas cremes ou brancas, 1,5-2,0 mm longas,
obovadas, com alguns pêlos longos castanhos externamente. Frutos c. 25 x 25
mm, largamente elipsóides, castanhos, densamente pubescentes.
Distribuição: Conhecida das regiões N, S, L e B. Ocorre também na África
ocidental desde o Senegal à Serra Leoa. Em savanas arborizadas, florestas
abertas, florestas densas, galerias florestais e palmares.
N. V.: canquelibá-déo (Fula), iári-sáfi (Futa-fula), ulô (Pepel).

As 16 espécies e sub-espécies deste género encontradas na Guiné-Bissau


constituem um número relativamente elevado para um território de pequenas
dimensões se comparado, por exemplo, com as 19 espécies consideradas para o
vizinho Senegal, de muito maior superfície. A situação da Guiné-Bissau numa
zona de transição fitogeográfica, mantendo afinidades físicas e biológicas com
408 L. CATARINO, E. S. MARTINS & M. A. DINIZ

as regiões fitogeográficas adjacentes poderá explicar a relativa abundância de


taxa deste género no país.
Da análise da distribuição dos exemplares colhidos deste género na Guiné-
Bissau, verifica-se existência de um grupo de entidades taxonómicas
aparentemente muito frequentes no território: C. micranthum, C. collinum subsp.
geitonophyllum, C. nigricans var. elliotii, C. grandiflorum e C. tomentosum.
Por outro lado, C. collinum subsp. hypopilinum, C. conchipetalum, C. molle,
C. nioroense e C. nigricans var. nigricans parecem ser raras ou pouco
frequentes. No entanto, a quantidade relativamente pequena de exemplares deste
género, e em especial de algumas espécies, colhidos até agora na Guiné-Bissau,
não permite fazer uma correcta interpretação ecológica ou fitogeográfica da sua
distribuição, julgando-se necessária a continuação das prospecções botânicas.

BIBLIOGRAFIA
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