Você está na página 1de 72

Magia & Ocultismo para Iniciantes – Parte 1: Preparação

A definição mais clássica de Magia aponta que ela é “a manifestação da vontade individual sobre
a Natureza/Universo”. É estabelecer e identificar a própria ordem personalizada no Caos, que é a
manifestação de todas as ordens possíveis. Sendo ainda mais específico, vamos à definição da
corrente mágica de Aleister Crowley: “Magick é a Ciência e Arte de provocar Mudanças de acordo
com a Vontade”.

Carlton, aquela personagem mala e mauricinho de Um Maluco no Pedaço (Fresh Prince of Bel Air)
também definiu Magia no episódio que ele e Will estão em um cassino. Carlton diz a todo o
momento que “não existe sorte, somente o domínio das probabilidades”. Basicamente isso é
Magia: conhecer os mecanismos caóticos e saber tirar proveito desse conhecimento através de
uma série de técnicas. Porém, na série, Carlton é por demais teórico, se lasca em todos os
momentos em que quer impor sua vontade às probabilidades, enquanto Will é um mago no
sentido mais clássico da palavra e simplesmente sente como e onde deve agir, mesmo sem
conhecer a teoria.

Se adentrarmos em uma análise mais profunda, é possível refletir sobre quem se realmente
estamos impondo ordem no Universo com nossa vontade, ou simplesmente manifestamos a
vontade dele, pré-estabelecida, segundo a definição de alguns.
O Grande Segredo da Magia consiste em saber como canalizar sua Vontade para manifesta-la nos
diferentes planos que compõe a realidade – Físico, mental, astral, etc. Essa é a pergunta que
atormenta e incentiva milhões de pessoas através dos Aeons. Muitas delas alcançaram a resposta,
e o melhor: de várias maneiras. Essa diversidade de possibilidades é importante, já que para criar
definições é necessário seguir uma linha, o que em nosso sistema de pensamento aristotélico
ocidental significa excluir outros.

Em outras palavras, o primeiro passo para alcançar a Magia é transcender a comunicação e a


linguagem e libertar a própria mente. É como ser a ponta de um foguete saindo da atmosfera. É
difícil saber o que está à frente.

Por isso, serei o mais generalista e prático possível. Vou explicar apenas linhas gerais, dar uma
espécie de primeiro tapa na bunda dos que querem conhecer que porra é essa de Ocultismo e
nunca souberam por onde começar. Nessa primeira parte nada de velas, rituais, espíritos, sigilos e
outras coisas, mas sim um amontoado de exercícios para o que Timothy Leary chama de
descondicionamento da mente.

1 – Prepare sua mente

A primeira coisa necessária para se tornar um magista é querer ser um, e essa não é uma decisão
leviana. É como querer ser presidente. Parece uma vida mansa, mas existe uma série de
responsabilidades, relacionamentos e atividades que o diferem completamente dos outros civis
do país. É como adentrar um mundo completamente diferente, com rotinas diferentes. Para uns é
o ápice de uma vivência, para outros deve ser chato pra cacete, tudo depende da pessoa.

Sua cabeça precisa ser mudada para a Magia se manifestar. Comece com dois passos básicos:
quebra de hábitos e um ritual diário básico. Escolha um hábito aleatório que você possua –
levantar com o pé direito, comer unhas, dobrar os lençóis assim que levanta, não importa, o mais
importante é que seja algo que você faça instintivamente.

Se for hardcore e estiver com uma determinação louca, pare de fumar, beber, comer carne. Pare
de jantar e coma só uma fruta a noite. Coisas simples e que não vão exigir um sacrifício
monumental. Simplesmente abandone. E depois volte com ele. Isso se chama
descondicionamento mental, acostumar sua cabeça a diferentes situações, a fugir da rotina com
certa facilidade.
Depois de conseguir expurgar alguns hábitos, é hora do ritual. Escolha uma divindade pagã
criadora a qual você se identifica – Odin, Ganesha, Pã, Osíris – e estude o máximo que conseguir
sobre ele. Todo o dia faça uma oração para ela. Não uma oração de joelhos, olhos fechados e
mãos juntas. Abra a janela assim que acordar, esqueça um pouco a correria do dia-a-dia, tome um
pouco de Sol na cara e diga como está feliz de estar sendo aquecido e agraciado pelo Sol. Se
estiver chovendo, escolhe alguma deusa da fertilidade – Ísis, Afrodite, Inanna, Ishtar – e agradeça
pela chuva. Faça isso por um mês, religiosamente.

A ênfase é mais uma quebra de hábitos. Se ora a Jesus todos os dias, escolha outro deus e crie sua
própria poesia de agradecimento. Simples assim. Não importa se alguém está olhando, imagine-se
num teatro, cumprindo seu papel.

Com os hábitos quebrados e o primeiro ritual efetivamente criado, é hora de estimular um pouco
a criatividade. Comece com algo bem simples. Pegue uma folha em branco (ou abra uma página
do Word) e se questione do motivo que o levou a ler esse texto até aqui. Escreva o máximo que
puder, fazendo um exercício de retorno ao tempo. Como conheceu a MOB GROUND? Já lia o
Nerds Somos Nozes? Como o conheceu? Como foram os dias em que você conheceu esses sites?
Não tinha nada melhor pra fazer esse dia? Por que você nos acompanha (se é que acompanha)?
Por que não mudou de aba assim que leu que o texto falava de Magia e Ocultismo? Você gosta
dos temas? Considera-se um iniciante neles? Por que nunca se aprofundou? Seus pais gostariam
de saber que você se interessa por Magia? E seus amigos?

Pergunte-se de quais fatores que o levaram até a esse momento. Se questione como seus pais se
conheceram. Coloque o máximo de informações possíveis no papel. E se seu pai chegasse
atrasado no primeiro encontro? Será que você teria nascido de outros pais? Vá embora, dá pra
encher livros inteiros tanto com uma linha do tempo razoavelmente linear, somadas às
possibilidades resultantes de possíveis mudanças – que alguns chamariam de Universos Paralelos.

Num primeiro momento, evite qualquer tipo de termo não-científico. Karma, destino, espíritos,
nada disso. Depois que terminar, guarde o resultado. Três dias depois refaça, de forma
completamente diferente. Encare o desafio como jogar um RPG ultra-customizável em que você
deseja ser um personagem completamente diferente – mas só coloque informações o mais
genuínas, plausíveis e possíveis.

Fazer esse exercício pra mim teve o mesmo efeito de quando tentei pensar pela primeira vez
sobre o fato de o Deus Cristão ser infinito, sem origem e sem fim. Isso com 9 anos. É o tipo de
coisa que dói a cabeça e exige um bocado de neurônios. Os mais fracos vão se achar ridículos,
achar uma perda de tempo, vão pensar em lutadores de UFC e colocar todo o tipo de obstáculo.

O mais importante aqui é a persistência de achar as respostas que você crê mais adequadas, além
de ajudar na manifestação de seus instintos e imaginação. Agora pegue um objeto e descreva
como você acha que foi seu processo de fabricação. Como ele foi parar na sua casa? Quem o
comprou? Como foi fundada a fabricante dele? Quem o inventou? Por que?

Depois de fazer e refazer SEM PRESSA esses exercícios é hora de passar para algo um pouco mais
complicado: enfrentar os próprios alicerces. Pegue uma obra que você odeie. Pode ser o pior
filme que você já viu um livro que você considere horrendo, mal escrito, ou uma música que te
fazem amaldiçoar o momento em que suas orelhas começaram a se formar. Ou mesmo um texto
do blog do Reinaldo Azevedo – ou ainda do Olavo de Carvalho.

Descreva por que não gosta de tal obra analisada com a maior carga de minúcias possíveis. Depois
inverta o exercício e faça uma resenha elogiosa a tal obra, procure achar coisas dignas de nota
nela e depois confronte com sua descrição das coisas ruins da obra. Ela continua completamente
ruim aos seus olhos?
Bom, daí pra frente você mesmo pode elaborar exercícios de descondicionamento. Que tal tentar
explicar aos seus colegas evangélicos porque o Satanismo pode ser uma boa religião? Faça o
mesmo com o Cristianismo caso goste dele. Não é uma simples questão de advogar em favor de
uma causa, mas acreditar por si mesmo a fundo que aquilo é verdade.

Tenha certeza que isso tudo vai ser fundamental com o início dos estudos, quando um turbilhão
de ideias conflitantes surgirem na sua cabeça. Tornar sua mente receptiva a elas vai evitar a
loucura logo nos primeiros degraus – e acredite: tenho amigos que literalmente enlouqueceram
nessa onda de procurar significados ocultos em tudo.

Reúna todos esses escritos até agora e leia-os. Junte-os no mesmo lugar, essas são as primeiras
páginas do seu Diário Mágico.

2 – Prepare seu corpo

Caso pratique alguma arte marcial, não precisa seguir atentamente essa parte 2, pois ela
provavelmente já é observada por você, mas não custa nada dar uma olhada. O primeiro passo é
a Respiração. Não sei se o que vou falar aqui é científico, mas é nítido que o ato de respirar tem
um forte controle sobre as emoções. Respirar lenta e profundamente, além de literalmente
observar a respiração fluir é o melhor modo de evitar o stress, a cabeça quente, e outros
problemas da vida moderna.
Se fechar os olhos e esticar os braços melhor ainda. Simples assim. O controle da respiração é o
que o Raja Yoga chama de Pranayama. É o quarto passo dessa técnica de Yoga – bom, não vou
abordar todos os passos, mas recomendo a todos, principalmente o Asana (posicionamento),
Dharana (concentração mental) e o Dhyana (meditação). Yoga é velho pra cacete, mas não
chegou até o presente à toa: aprender suas técnicas é uma das chaves para ser um Mago.

Vamos a um exercício básico de respiração. Sente-se confortavelmente, com as costas eretas. Eu


recomendo a posição do índio – pernas cruzadas sob os joelhos -, a meio-lótus – um dos pés em
cima de um dos joelhos – ou lótus – com os dois pés sobre os joelhos. Pelo fato dessas posições
serem clássicas é mais provável que você esteja disposto a considera-las mais apropriadas para a
prática. Mas qualquer posição confortável que mantenha as costas eretas é indicada.
Inspire profunda e completamente, demorando cerca de dois ou três segundos para terminar a
operação. Depois mantenha o ar em seus pulmões pelo mesmo tempo que demorou inspirando –
2 ou 3 segundos. Depois expire, e finalmente mantenha os pulmões vazios, sempre no mesmo
tempo. Faça isso por 10 minutos e vá aumentando até chegar a uns 30 minutos. Mas não se
preocupe com o tempo, apenas esqueça preocupações, trabalho, família, tudo, seja bom ou ruim.
Vá esvaziando a mente e se concentre somente na respiração. Faça isso à semana toda e anote os
resultados que achar mais importantes.
Magia & Ocultismo para Iniciantes – Parte 2: Aprendizado

Magia não surgiu ontem, ou mesmo durante as perseguições medievais. Magia é algo
praticamente inerente ao homem, alguns diriam que é a verdadeira (e a primeira) religião, que
colocava nossos antepassados em contato com o (Macro) cosmos muito antes de padres,
pastores e sacerdotes usurparem para si as chaves do encontro com Deus. Mas, assim como a
história da civilização precisa de um ponto de partida para ser ensinada – e geralmente se começa
com a história da Mesopotâmia -, compreender um pouco da história e da filosofia da Magia exige
um pouco de generalizações e de cortes arbitrários. Obviamente que definições diferentes – e até
contraditórias – do que escreverei abaixo, poderão ser encontradas por vocês em outros livros e
artigos, portanto, para esse texto vale o mesmo que Eu disse: isso é só um primeiro tapa na bunda
de incentivo a busca por mais conhecimento.
O mais importante, acima de tudo, é o equilíbrio. Desconfie e questione tudo, seja curioso e não
tenha medo de fazer mash-ups com seu aprendizado. Magia é Arte e arte não possui limites. Arte
consiste em apenas utilizar os meios que estão ao redor para expressar algo ainda não-expresso.
E isso geralmente envolve tornar os que tiveram contato com a Arte pessoas mentalmente mais
desenvolvidas. Essas são as chaves para o sucesso. É importante entender que cada sistema
mágico tem suas falhas, e onde ele falha, outro igualmente desenvolvido pode ser forte. Não tem
mistério, a saída é estudar. Muito. Sem parar.

Conseguir pegar um conceito da Kabbalah associa-lo com Kardecismo e logo depois achar
referências na Mitologia Grega e na Umbanda é geralmente um trabalho mágico de grande
sucesso. Na maioria dos casos um professor ou um mestre dificilmente lhe ensinará esses
conceitos. Na verdade, a função de pessoas nessa posição é lhe dar ferramentas para que você
mesmo desenvolva seu próprio sistema mágico, recheado de conceitos pessoais.

A primeira grande subdivisão da Magia é aquela que coloca todos os sistemas mágicos dentro da
definição de Dogmática e Pragmática. As diferenças entre os dois conceitos são simples. A Magia
Dogmática, para funcionar, utiliza de símbolos, ideias, conceitos, rituais e outros métodos já
criados por outras pessoas. É apoiada na tradição, na história e na segurança que os sistemas
dogmáticos possuem. Já a Magia Pragmática envolve criatividade, e a construção de símbolos
pelo próprio magista.

Não é incorreto dizer que os sistemas que utilizam o pragmatismo são mais “modernos” e
recentes – dentro de um amplo contexto histórico, obviamente – enquanto os sistemas antigos se
utilizam do dogmatismo para produzir resultados. Pense que a diferença entre os dois métodos é
o mesmo de andar em uma avenida larga, movimentada – não farei correlações com pedágios, ou
similares; eles ficam por conta de vocês – e com praticamente todos os que estão nelas indo para
o mesmo lugar. Não é difícil entender como utilizar métodos assim é bem mais seguro, já que a
própria Tradição dos rituais e práticas é uma forte influência na segurança deles.

Já o Pragmatismo envolve andar em um bosque ao entardecer, com trilhas e sinais em árvores


para não ficar perdido, e onde é necessário ficar atento a qualquer sinal da presença inimiga, aos
sons de animais predadores – ou possíveis aliados – e da própria flauta de Pan, geradora do
pânico que assola todos os viajantes. Mesmo em uma ordem ou grupo, o mago pragmático
seguirá praticamente sozinho, em sua própria direção e com auto-objetivos bem definidos quanto
ao que deseja e busca com a Magia.
Entre os sistemas dogmáticos mais conhecidos se destacam a Magia de Abramelin, a über-
complexa e perigosa Magia Enoquiana, o Hermetismo de Franz Bardon, o clássico Livro de São
Cipriano – best sellers entre adolescentes e mulheres que querem fazer amarração – entre
outros. Já os sistemas pragmáticos mais importantes são a Magia do Caos, a Thelema de Crowley
e o Satanismo original de LaVey. Para um iniciante é exigido desde já saber com o que está se
metendo. Ter um mestre pilantra e mal intencionado pode resultar em uma ligação
completamente indesejável entre os dois por anos e que demandará tempo para ser desfeita. Vi
amigos – e por pouco não vi meu irmão – entrarem nessa de quererem virar os superpoderosos
em 15 minutos e se associavam com qualquer um que dissesse evocar um demônio qualquer e o
resultado foi perda de energia, burrices e um cara assombrando-os em tudo que é canto. A
mensagem aqui é: não se associe com ninguém em trabalhos magísticos antes de ter
conhecimento ao menos intermediário. E, acima de tudo: confie na pessoa – e boa sorte.

Conhecimento é a chave para identificar possíveis merdas que virão pelo caminho – Eu mesmo vi
muita gente ser enganada recentemente em um Templo de Umbanda em que o pai-de-santo era
um picareta completo, do tipo que fingia estar incorporado, apesar de diversas entidades
respeitáveis trabalharem no local. A “vantagem” é que a maioria das armadilhas virão logo nesse
primeiro estágio, onde tudo tende a ser mais nebuloso. Uma complexa e equilibrada combinação
de ousadia e cautela é extremamente necessária para dar os primeiros passos em magia
efetivamente prática e visitas ao Plano Astral. Não existe método para consegui-la, assim como
não é possível ensinar como possuir algum grau de intuição, mas explicarei alguns exercícios que
podem ajudar. Por motivos como esse que grande parte da Magia não é passível de explicação
pela Ciência, já que seus efeitos são pessoais e não perceptíveis por instrumentação ou mesmo
por observadores externos. Cada Magista deve possuir sua própria ciência para verificar
resultados e manter uma postura ambígua quanto à eficácia de seus próprios rituais – falarei
disso ao longo da série.
1 – Modelos de Magia

Dentro dessas divisões de naturezas mágicas, existem basicamente quatro modelos de Magia
quanto ao seu funcionamento. O primeiro deles é o Espiritual. E quando digo primeiro, isso
provém do fato dele ser o mais antigo, derivado das técnicas xamânicas de êxtase e visitas a
outros planos e dimensões. Tal modelo exprime o fato dos espíritos – como entidades autônomas
e conscientes do Astral – realizarem os atos mágicos e as mudanças na realidade tão buscadas por
magistas. A chave para o sucesso mágico consiste em possuir e desenvolver técnicas de
comunicação com esses seres. Deve-se agrada-los, ouvi-los ou arriscar aprisiona-los e torna-los
escravos – sabe as histórias dos gênios árabes? Pesquise sobre os Djinns e descubra os
fundamentos realistas de tais relatos.

A existência de deuses, demônios, entidades, espíritos e outras formas espirituais estão dentro
desse modelo, provavelmente sendo o sistema espiritual mais importante o Enoquiano,
desenvolvido (ou recebido através da comunicação com anjos) por John Dee. Os principais
sacerdotes do modelo espiritual são o xamã e o médium. Eu nunca vi isso definido em nenhum
lugar (embora tenha lá minhas certezas de que esteja), mas considero o xamã e o médium
diferentes agentes da Magia Espiritual. Enquanto a função primordial de um xamã é ser um
viajante de planos existenciais, adquirindo conhecimento de espíritos, elementais e outras
entidades espirituais; o médium é uma espécie de porta de entrada para espíritos no Plano Físico,
é um veículo de manifestação espiritual. O xamã é ativo, o médium é passivo – yang e yin.

O segundo modelo é o Energético, provavelmente surgido na mesma época do modelo espiritual.


Funciona segundo o princípio de que as energias emanadas por seres vivos constituem a base das
ações mágicas. Todos somos antenas, que recebem e emanam energias, geralmente associadas
com nossas emoções. O modelo é largamente utilizado na China e Índia, através de técnicas como
o Reiki, Yoga e outros métodos para canalizar e utilizar energias classificadas como sutis (já que
não podem ser detectadas por nenhum instrumento humano) para fins “benéficos”. Ou mesmo
“maléficos”, o importante é causar transformações na realidade.

No Ocidente, o modelo energético ficou particularmente famoso graças a Anton Mesmer, mais ou
menos no fim do século XVIII, que popularizou a teoria de que os animais também emitem ondas
magnéticas e que elas causam mudanças nos corpos de outros animais. Graças a descoberta,
Mesmer criou tratamentos que utilizavam esse modelo, além de ter desenvolvido técnicas de
hipnotismo.

Como não é difícil adivinhar, Mesmer não foi lá muito bem recebido pela comunidade médica e a
Sociedade Real de Medicina sequer aceitou nomear uma comissão para examinar os métodos
deles. Quando o fez, em quatro meses eles emitiram um relatório tendencioso que disse que
todas as curas realizadas por ele não passavam de placebo e autossugestão. Um segundo
relatório foi escrito direto para a polícia e afirmou que o ambiente dos consultórios de Mesmer
eram perigosos – qualquer semelhança com a trajetória de Wilhelm Reich e sua energia orgônica
não é mera coincidência.

Postumamente, o trabalho de Mesmer foi aceito pela Sociedade Real de Medicina, mas um
relatório favorável ao trabalho dele e fruto de cinco anos de pesquisa, terminou por ser arquivado
e jamais publicados, por motivos nunca esclarecidos. Vril, Prana, Od, Mana, Ki são apenas outros
nomes para a mesma energia. Todo o fluxo e teias de acontecimentos estão submetidos a ciclos e
a uma espécie de dança de forças energéticas, o que em sua forma pura dispensa a necessidade
de explicação de outros planos existenciais.

Já o Modelo Psicológico é mais moderno e deriva do trabalho de Sigmund Freud e Carl Jung, o
último em maior grau. O Inconsciente e sua ação na esfera psicológica são os agentes mágicos
desse modelo, e como tal desprendem energias também, denominadas Emanações Psíquicas.
Qualquer que já leu os trabalhos desses dois autores não demoraram pra sacar porque a
Psicanálise não é reconhecida como uma “ciência pura”. A linguagem de Freud e Jung não é
científica, e está mais para a poética, na descrição de fenômenos antes completamente
desconhecidos.

O fato é que o funcionamento do Inconsciente (Subconsciente, na linguagem de Freud) é um


mistério. Aparentemente ele pode ser descrito como uma espécie de entidade – ou complexo
psíquico, seja lá o que isso seja – com vontade própria. Nossa vontade ordinal pode ser descrita
como mera marionete do Inconsciente. Porém, por mais que a Psicologia, principalmente a
Cognitiva, tenha se desenvolvido, o modelo psicanalítico do Inconsciente não pode ser
completamente combatido, principalmente a noção de Inconsciente Coletivo criada por Jung e
extensamente provada no trabalho de Mitologia Comparada de Joseph Campbell, por exemplo.
Por esse motivo Eu digo que a Psicologia – mesmo as camadas mais “científicas”, como a Análise
Transacional – é a Magia Ocidental pura e simples. Trata de símbolos e utiliza métodos não
completamente explicáveis em termos de linguagem epistemológica. Mas os efeitos estão lá,
bastante claros. Estudem os trabalhos de Jung relacionados a Alquimia e entendam melhor a
relação.

Os que trabalham com o Modelo Psicológico – meu preferido, antes que perguntem – devem
aprender como criar uma ponte entre a vontade consciente e a Inconsciente, muito mais
poderosa e capaz de afetar a realidade. A ponte para isso seria a criação de um Complexo
induzido “artificialmente”, que jogaria no Inconsciente a vontade do Mago para que ela possa ser
materializada. É justamente o processo inverso ao da cura dos complexos psíquicos freudianos. É
como querer acabar com a energia de um prédio inteiro ao causar um curto circuito no quarto
onde está.

Como deu para perceber, não existe muita explicação mais aprofundada sobre como funciona o
Modelo Psicológico – até existe, mas explico mais para frente. Essa aura de mistério faz parte do
próprio modelo e é uma projeção da linguagem escrita nos próprios livros de psicologia, sempre
rebuscados e poéticos.

Lidar com esse modelo é lidar com símbolos, construtos que ativam no Inconsciente certos
complexos de ação que são ativados através da tal de Energia Psíquica. A chave para isso é a
criação de sigilos e mantras (mais sobre isso na próxima semana) que causam mudanças
significativas no ambiente – ou as chamadas Sincronicidades descritas poeticamente por Jung.

Após a difusão da Psicanálise, o Modelo Psicológico se tornou bastante difundido. Magos


importantes como Aleister Crowley e Austin Osman Spare foram alguns dos principais
desenvolvedores das técnicas do modelo. Israel Regardie e Peter Carroll são outros dois nomes
importantes do panteão psicológico.

E por fim temos o Modelo Informático. Aqui tudo se traduz como pacotes de informação que
controlam a realidade, nas chamadas Leis da Natureza. Essas definições bebem principalmente na
fonte da Física Quântica, que determinou (mais ou menos, porque nos modelos Quânticos a
última palavra que podemos usar é determinado) que a Informação está acima das leis da Física.
Ou seja: nada de velocidade da luz, Espaço-Tempo e outras prisões.

Um dos modelos básicos de ação da Informação – o mesmo se aplica ao Modelo Psicológico – do


Modelo são os Campos Morfogenéticos descritos pelo biólogo Rupert Sheldrake, que afirma que
campos de informação conectam os seres vivos da mesma espécie e “dá vida” às ideias mais
variadas. É basicamente uma forma mais científica de dizer sobre a ação programável e semi-
autônoma das Egrégoras (ou Memes, se você é fã de Richard Dawkins). A Magia da Informação,
ou Cybermagick, consiste em lançar nos campos morfogenéticos os próprios pacotes de
informação do Mago. Em última instância, não é muito diferente de lançar um vírus na Internet.
Como esse modelo é ainda muito novo, muitas das suas possibilidades ainda estão em processo
de debate e desenvolvimento. Mas não seria absurdo dizer que o futuro é promissor para
cybermagos.

Obviamente que a busca por um Meta-Modelo, que reúna as melhores partes de cada um é o
ideal. Não é preciso acreditar fundamentalmente somente em um, já que o repertório de um
magista crescerá e possibilitará muito mais coisas com o conhecimento de outros modelos.
Geralmente curas são melhor realizadas com o uso de Energias, Feitiços mais simples carregam
melhor com Sigilos, que utilizam o gatilho psíquico para funcionar. Se o Mago for bom em
improvisar, a Cybermagick tem mais serventia, e assim sucessivamente.
2 – Magia por cores

Outras possíveis definições arbitrárias com relação a Magia é a divisão em Magia Negra e Magia
Branca. Magia Negra seria aquela que interfere diretamente no livre arbítrio das pessoas. É
colocar sua vontade no desejo de que uma pessoa realize um ato. Já a Magia Branca seria aquela
que envolve atos moralmente louváveis, como ajudar alguém. Tal definição é tacanha e limitada
por si só, já que é possível interferir na vontade das pessoas e ainda assim praticar o “bem”. Uma
delas é a cura de alguém a pessoa não tem contato. Segundo os teóricos mais moralistas, esse
tipo de ato se encaixa numa tal de Magia Cinza, que me recuso a definir. O importante é entender
que cada um possui seu próprio código moral, que quase nunca é compartilhado, e não seguir a
cabeça dos outros. A Magia Negra, Branca ou de qualquer espécie com relação a moral, são
definições, simples codificações para facilitar – às vezes dificultar – o entendimento das técnicas
por trás do funcionamento delas.

Uma divisão mais correta da Magia em cores foi feita por Peter Carroll apoiando-se na Kabbalah e
na teoria dos Oito Círculos de Consciência de Timothy Leary – que deriva da própria Kabbalah e
nos trabalhos dos monges tibetanos. A definição mais correta feita por Carroll foi a relação de
Magia Negra com a própria Morte. Um ritual básico de Magia Negra envolve a criação de uma
forma psíquica (Espiritual, energética ou Informacional) para a destruição de um inimigo ou uma
situação. Morte, no Tarot, envolve uma ceifa ou um processo definitivo. Porém, um Magista com
conhecimentos sobre a Morte pode fazer uma espécie de engenharia reversa e invocar a
personificação de seus conhecimentos sobre a Morte para evita-la na vida dele o máximo
possível.

Evidentemente que um ritual para destruir um inimigo de forma quase silenciosa é um dos usos
da Magia Negra, ou Magia Entrópica, numa linguagem menos medieval. Carroll vai mais longe e
associa diferentes cores com diferentes estados mentais humanos, seja o da prosperidade, o do
Ego, da Guerra, sexo, e assim vai. Entraremos em detalhes na quarta parte da série.

É possível conhecer também a parca divisão que coloca de um lado o que se chama de Alta e do
outro de Baixa Magia. A Alta Magia lida com o objetivo mais antigo da religião: a ligação do
Homem (microcosmo) com o Universo-Deus (Macrocosmo). A chave aqui é crescimento
espiritual. Já a Baixa Magia lida com atos de feitiçaria, ou coisas terrenas e materiais. É conseguir
uma promoção, aumentar o tempo e concentração dos estudos, se livrar daquele inimigo mala,
conseguir sexo. É tudo que envolva atos físicos. Mais uma vez, é necessário obter equilíbrio para
seguir em frente e construir seu próprio e avançado código moral, para discernir as consequências
de seus atos mágicos e ficar com alguma espécie de peso na consciência.

Aprendeu? Tem muito mais, semana que vem deixarei de conversa mole e começarei com a
prática.

3 – Exercícios

Agora que vocês treinaram a respiração e a criatividade e os processos de pensamento (e espero


que continuem treinando e inventando novos exercícios relacionados), é hora de aprofundar um
pouco mais. O primeiro é bem simples: anote TODOS os seus sonhos. Tudo, qualquer fragmento.
Se acordar no meio da noite com ele na cabeça, ANOTE quanto antes. Tente buscar alguma
correlação entre eles, um possível motivo de ter sonhado com esse determinado assunto e não
um dos trilhões de outros. Anote tudo no mesmo lugar – caderno, agenda, bloco de notas – e
tente caçar padrões, ou mesmo qualquer coisa realmente interessante.

O segundo exercício treina com as importantíssimas faculdades de visualização. Sente-se em um


lugar calmo, de preferência com uma parede branca em frente. Veja um dado comum de seis
lados em sua mão. Não digo para imaginar, de olhos fechados, mas efetivamente VER o dado.
Sinta o dado, o tamanho, peso, aparência, textura. Perceba que você criará o objeto de forma
geral e os detalhes aparentemente surgirão “do nada”.

Ele está novo ou desgastado? Ele é bem feito? Insira nele o máximo de detalhes possíveis. E
finalmente jogue-o. Que número deu? Depois simplesmente faça o dado evaporar numa nuvem
de poeira triunfante. Se tiver dificuldade em iniciar com o dado, comece com sua comida
preferida, ou com uma manga cujo cheiro invada toda a sala. Apesar do homem ser um animal
essencialmente visual, os outros sentidos são muito mais capazes de guardar lembranças. O
cheiro de uma macarronada – mesmo se for apenas acessado da memória – causa efeitos muito
mais poderosos do que simplesmente ver o prato de macarrão.

Quando passar pelos dados, é hora de imaginar outro; ao invés de um dado clássico, branco e
com seis lados, veja em sua mão um dado de 10 lados de um RPG, na cor vermelha. Veja os dois
ao mesmo tempo, interaja com eles e os jogue. Vá acrescentando dados de lados e cores
diferentes até chegar a quatro. Veja-os, sinta-os, jogue-os e depois os transforme em poeira.
Quando conseguir manter o seu constructo psíquico dos quatro dados por cerca de três minutos,
pode ficar feliz. Quando precisar decidir números na base da sorte, jogue seu dado mental e
surpreenda-se com os resultados.
Magia & Ocultismo para Iniciantes – Parte 3: Prática

Chegamos aonde todos queriam: a prática. Se vocês são pessoas espertas, já estão praticando
Magia com o que leram anteriormente. Como disse anteriormente, Magia é transcender a
cognição e a linguagem, e colocar o poder Inconsciente (espiritual) para agir de forma consciente.
Não é fácil e, ao contrário do dizem por aí, não é para todos.

Existem inúmeras formas de praticar Magia, abordei apenas alguns modelos e sistemas básicos e
saiu um texto de tamanho médio. Uma abordagem “completa” é mais complexa do que querer
colocar toda a história humana em enciclopédias. Ou ainda querer fazer uma maquete
“completa” de São Paulo. A linguagem e a representação material são apenas uma forma de
comunicação, mesmo que seja um feedback de autoalimentação, mesmo que seja uma linguagem
feita por você e para você. Simplesmente não rola.
Como as coisas que fogem ao pensamento racional não são fáceis de aprender, colocarei um
mestre para definir novamente Magia – acredite, vai ser de grande ajuda. Quem assistiu The
Mindscape of Alan Moore deve ter tido o cérebro derretido ao ouvir o próprio bruxo autor dos
melhores quadrinhos da história dizer o que pensa a respeito desse lance de Ocultismo.

O problema é que com a magia – que é em muitos aspectos uma ciência da linguagem – você tem
de ser muito cuidadoso com o que diz. Porque se repentinamente declara a si mesmo como um
mago, sem ter o conhecimento que isto implica, é provável que um dia você desperte e descubra
que isso é exatamente o que você é.

Existe alguma confusão a respeito do que a magia é realmente. Penso que isto pode ser elucidado
se você apenas olhar as mais velhas descrições de magia. Magia na sua forma mais antiga é
referida como “A Arte”. Creio que isto seja completamente literal. Creio que a magia é arte, e que
essa arte – seja a escrita, a música, a escultura ou qualquer outra forma – é literalmente magia.

A arte é, como a magia, a ciência de manipular símbolos, palavras ou imagens para operar
mudanças de consciência. A verdadeira linguagem da magia trata tanto da escrita como de arte e
também sobre efeitos sobrenaturais. Um grimório, por exemplo, um livro de feitiços, é um modo
extravagante de falar de gramática. Conjurar um encantamento é somente encantar, manipular
palavras para mudar a consciência das pessoas.

Eu acredito que um artista ou escritor são o mais perto que você poderia chamar de um xamã no
mundo contemporâneo. Creio que toda cultura deve ter surgido de um culto. Originalmente,
todas as facetas de nossa cultura, sejam as ciências ou as artes, eram territórios dos xamãs. O
fato, nos dias atuais, é que este poder mágico se degenerou ao nível de entretenimento barato e
manipulação. É, eu penso, uma tragédia.

Atualmente, quem usa o xamanismo e a magia para dar forma à nossa cultura são publicitários.
Em lugar de despertar as pessoas, o xamanismo é usado como um opiáceo, para tranquilizar as
pessoas, para fazê-las mais manipuláveis. A sua caixa mágica da televisão, como suas palavras
mágicas, seus slogans, pode fazer com que todos no país pensem nas mesmas palavras e tenham
os mesmos pensamentos banais exatamente no mesmo momento.

Como disse anteriormente, meu modelo preferido e a base do que chamo de Filosofia
Macrocósmica (será tema do último texto dessa série) é o Psicológico, onde o principal gatilho
mágico é ativar o chamado Inconsciente. Alguns chamam o Inconsciente de Sagrado Anjo
Guardião (Thelema e Gnosticismo), outros de Mentor (Umbanda e Candomblé), outros de Almas
Desencarnadas (Kardecismo) e assim sucessivamente. Essa entidade pode ser externa ou interna,
tudo depende da afinidade do Mago. Pode até ser um ET ou um Computador Ultra-Avançado do
Século XXXV dando ordens diretas do futuro (sério!). Como na era do pós-tudo possuímos uma
mistura de conceitos orientais (coletividade) e ocidentais (individualismo), qualquer um escolhe
seu sistema, e desde que minimamente embasado, ele vai funcionar. Só quero deixar claro que
toda a conceituação do artigo será focada na Psicologia, mas no próximo texto indicarei lugares
para encontrar bons ensinamentos em outros sistemas, ideais para a criação de meta-sistemas
próprios.

Ao contrário do futebol, na Magia é importante primeiro aprender Defesa. Se defender de


fragmentos psíquicos/energias negativas/espíritos obsessores/eguns/vírus informacionais é o
primeiro passo para alguém na Magia. Mas para conseguir projetar algum tipo de defesa externa
impenetrável, é necessário antes reordenar as forças internas do seu corpo, os chamados chakras.
Sente no chão, com uma roupa que não seja apertada e de preferência em cima de uma almofada
ou algo confortável. O importante é manter a postura e as costas eretas. Se preferir, feche os
olhos e Eu recomendo isso num primeiro momento. Respire de acordo com o exercício da parte 1
por um ou dois minutos, então visualize a energia da terra subindo para você e tocando seu
primeiro chakra, uma bola vermelha intensa sobre seu órgão genital. Encha os pulmões de ar e
entoe o mantra uuuuuUUUUHHHH (de forma crescente) até o ar dos pulmões acabar. É
importante não só entoar o mantra, mas efetivamente vibra-lo.

Encha os pulmões novamente, continue visualizando a bola vermelha, mas faça a energia subir
até a barriga, onde ela encontra uma bola laranja. Entoe o mantra ooooOOOOOOOOMMMMM (o
mantra de criação primordial, além de servir como proteção e diminuição de emoções
conflitantes) enquanto expira todo o ar.

Encha novamente os pulmões e faça a energia da Terra subir até o tórax, onde formará uma bola
de energia verde – sem deixar as outras bolas de energia cessarem. O mantra agora é
aaaaAAAAAAAHHH.

Encha os pulmões, sempre sem qualquer pressa, esvaziando a mente, e deixando-a com o mínimo
de atividade possível. Suba a energia para a garganta, com uma bola de energia azul e entoando o
mantra eeeeeeeeeEEEEEEHHH. Encha os pulmões e suba a energia para a cabeça, com uma bola
de energia branca entre os olhos.

Inspire novamente e encha todo o ar dos pulmões.

Os efeitos mais comuns – Eu não usaria a palavra “certos” – desse exercício é que a parte do seu
corpo em que as bolas energéticas se concentram vibrem. Quanto mais você entoa o mantra,
mais ela vibra e mais cresce a esfera. Já tentei simplesmente mentalizar a entoação do mantra,
mas não funcionou a contento, de forma que prefiro verbaliza-lo. Como sou questionador, já
tentei trocar os mantras e também não funcionou. Placebo? O mantra realmente só funciona na
ordem correspondente? Não sei, só sei que não funcionou.

Não precisa ser alto, mas é importante que o som saia da sua garganta. Algumas pessoas que
conheço utilizam outros métodos, mas esse foi o que melhor funcionou para mim. Alguns fazem a
energia descendo da cabeça para o genital, o que também não faz grande diferença nessa fase –
e, aliás, não faz muito sentido simbólico, já que o chakra genital (que representa a esfera de
Malkuth, da Kabbalah) é que concentra as energias mais poderosas e terrestres, que precisam ser
trabalhadas e elevadas para as esferas superiores. Mas diferentes sistemas envolvem diferentes
técnicas.
É só importante entender o simbolismo desse exercício por trás da parte prática. Ele te torna uma
espécie de coluna de ligação entre diferentes planos, o chamado Axis-Mundi. Na Kabbalah, a
Energia que ascende é chamada de Serpente (ou Caminho da Serpente), enquanto a que
descende é chamada de Raio. Elas servem para diferentes princípios simbólicos, mas a regra
áurea vale aqui também: se deu certo com você – mesmo de forma diferente da usual -, continue
com sua prática, o importante são os resultados alcançados. Use sua intuição e não deixe de
tentar novos métodos e combinar novos resultados.

Após dominar essa técnica e conseguir fazer a energia subir, descer, se concentrar no chakra
escolhido, é hora de ir para o passo dois: o banimento, ou o Ritual básico da Magia. Mais uma vez,
existem zilhões de formas de fazer um banimento, e cada uma delas possui um simbolismo
próprio. Não vou explicar aqui passo a passo todos os elementos presentes no ritual, mas irei
ensina-lo. Após lerem o que escreverei aqui, o desconstruam por engenharia intelectual reversa e
aprendam seus simbolismos, pois descreverei apenas os mais básicos.
O que mais me agrada de todos é o Ritual Gnóstico do Pentagrama, que pode ser usado por
qualquer um, e tem a vantagem de ser bem similar ao exercício dos chakras acima. No original, as
cores não existem, mas as acrescentei por correspondências das cores de cada chackra e pelas
ligações com as esferas da Kabbalah.

A versão abaixo é usada pelos Magos do Caos e está presente no livro básico de treinamento
deles (ou nosso livro), o Liber KKK. Farei indicações de livros no próximo post, mas quem quiser ir
se adiantando e olha-lo, fique à vontade, é bem fácil de achar.
Durante o início da jornada, o mago pode ter que defender-se contra os resultados de seus
próprios erros e de influências psíquicas hostis. Ele também precisará revitalizar suas próprias
forças vitais e psíquicas. O Ritual Gnóstico do Pentagrama pode ser usado para estes propósitos. É
uma conjuração poderosa e tecnicamente compacta de Encantamento Ritual, que serve para
todos os propósitos acima. Pode ser usado livremente durante todo o trabalho e particularmente
como um prelúdio e um epílogo para cada uma das primeiras quinze conjurações.

Procedimentos Rituais

1. Fique de pé, de frente para qualquer direção que preferir.

2. Inspire profundamente. Expire lentamente, vocalizando o som “I” (em um tom agudo)
enquanto visualiza um brilho de energia na área da cabeça.

3. Inspire profundamente. Expire lentamente, vocalizando o som “E” (em um tom menos agudo
que o anterior) enquanto visualiza um brilho de energia na área da garganta.

4. Inspire profundamente. Expire lentamente, vocalizando o som “A” (em um tom profundo e
mais grave que o anterior) enquanto visualiza um brilho de energia no coração e nos pulmões,
que se espalha para os músculos dos membros.

5. Inspire profundamente. Expire lentamente, vocalizando o som “O” (ainda mais grave) enquanto
visualiza um brilho de energia na área da barriga.

6. Inspire profundamente. Expire lentamente, vocalizando o som “U” (da forma mais grave e
profunda possível) enquanto visualiza um brilho de energia na área genital/anal.

7. Repita o passo 6, seguido dos passos 5,4,3 e 2, trabalhando de volta até a cabeça.

8. Inspire profundamente. Expire lentamente, vocalizando os sons IEAOU, um de cada vez,


enquanto, com a mão esquerda, traça um pentagrama no ar, que também deve ser visualizado
fortemente.

9. Vire 25 graus para a esquerda e repita o passo 8, e então continue a virar-se e a traçar os
pentagramas com os mantras e as visualizações, até retornar à posição inicial.

10. Repita os passos 2 a 7 (inclusive).

Para os que entendem o simbolismo da Kabbalah – que aprendi recentemente, e escreverei um


pouco sobre nas próximas semanas -, existe uma versão interessante no blog do Marcelo Del
Debbio, chamado Ritual Menor do Pentagrama.
Sem dominar ao menos um banimento, não recomendo passar para os próximos rituais.
Dominado os banimentos, é hora de uma iniciativa dupla: aprenda uma técnica oracular e treine
estados alterados da consciência.

O oráculo escolhido é basicamente aquele que você mais se identifique. O que é preciso entender
aqui é que o poder divinatório e de abrir portais psíquicos para outros planos é interno, as
técnicas oraculares são apenas gatilhos para externar esses poderes. Alguns curtem geomancia,
outros I Ching, alguns runas, outros olham a unha suja do dedão do pé, e por aí vai.

Eu, uma pessoa racional e que curte símbolos, gosto e recomendo Tarot. O Tarot é um mapa de
estados psíquicos e energéticos para dar ao Mago informações do que tá rolando ao redor – e
dentro dele. Jogar Tarot é sempre meio assustador, porque ele mostra muito bem o que você
sabe e mostra coisas ocultas que você provavelmente não sabe.

É bastante completo, mas exige estudo contínuo. O legal é que aprender Tarot praticamente
obriga qualquer um a aprender Kabbalah e com esses dois conhecimentos é possível dar passos
mais largos dentro das práticas mágicas e entender os símbolos por trás de tudo, basicamente
nosso principal objetivo. Vou dar indicações de bons livros e sites para aprender minimamente
essas coisas nos próximos textos.

Enquanto estuda a simbologia de algum oráculo, é hora do cerne da Magia, o Teatro da Magia –
sem referências a certas bandas musicais de gostos duvidosos. Caso já tenha tido uma longa
conversa com algum ator, ou feito algum curso de teatro ou participado de uma peça, já deve ter
entendido que ser ator não é fácil. É preciso de fato entrar no personagem, sentir o que ele sente
e agir como ele. É como vestir um novo Ego e agir de acordo com ele. Ou isso, ou não ser ator.

A fase UM da Magia é justamente entender que no momento do ritual você não é efetivamente
você, mas um canal de manifestação do Inconsciente. Sem esse tino de atuação, é impossível
fazer Magia. Seria como dirigir sem sair do lugar. É como entrar numa realidade paralela e lá ficar
durante esse tempo. Depois de tudo terminado, é hora de trabalhar, enfrentar fila de banco,
namorar… mas sempre consciente de que existem engrenagens do Universo sendo movidas por
você.

Nosso cérebro é um violento sistema de processamento de informações e tomadas de decisões


em milésimos de segundo. Acredite, por mais que a ciência avance 2 bilhões de anos em questão
de dias, um computador – ou todos eles unidos em cluster – jamais irá nem arranhar o que o
cérebro faz.
E ao nosso redor existe um mundo de estímulos: propagandas, sons, ordens do chefe, celular
vibrando pra avisar que recebeu e-mail, mulher querendo presente. É coisa demais para um
cérebro viver em sociedade. Por isso a nossa civilização é tão anti-mágica. Para cessar esse
bombardeio, é necessário direcionar a atenção.

Comece sentando no chão, fechando os olhos e deixando seu corpo o mais imóvel possível. Feche
os olhos se preferir. Não mova a língua ou engula saliva, fique simplesmente imóvel. Somente
respire, no ritmo ensinado anteriormente. Essa é a chamada Posição da Morte, e é como boa
parte dos atos mágicos acontecem. Quando conseguir ficar nessa posição pelo menos 10 minutos
ininterruptos, é hora de ficar de olho nos pensamentos. Perceba o que está pensando. Não
estimule ou alimente qualquer pensamento, simplesmente deixe o fluxo seguir seu caminho.

O que exatamente você viu? O que se repetiu? Sugiro que anote no seu Diário Mágico, que a essa
altura já deve ter umas boas páginas preenchidas com seus primeiros passos. Quando chegar aos
30 minutos ininterruptos – recomendo que não se preocupe com o tempo, e NUNCA coloque o
relógio para despertar e o avisar que o tempo já “acabou -, cesse seus pensamentos.
Essa é a parte mais difícil do processo, pensar no mínimo possível. Comigo funciona visualizar um
Vórtice gigantesco e roxo sugando todos os meus pensamentos enquanto diminui até
desaparecer completamente. Esse estado de Não-Pensamento deve ser perseguido
obsessivamente, pois é a base do que é chamado de Estado de Gnose, a base de todos os
trabalhos mágicos.

Como essa é uma técnica muito difícil em si mesmo – monges budistas passam a vida inteira a
treinando, geralmente depois de trabalho ultra-desgastante ou treinamento de artes marciais
triplamente avançado – existe uma variante interessante: a concentração em objetos ou a
concentração sonora.
Gosto das duas, e cada uma delas tem uma função única de grande ajuda, mas recomendo
começar com objetos. Apague todas as luzes da sala, acenda uma vela a cerca de um metro de
você, na altura dos seus olhos e olhe fixamente para a chama, assumindo a Posição da Morte.
Seus olhos irão arder e querer fechar, seu pescoço vai se retesas e virar sua cabeça para o lado,
seus ombros vão doer… mas prossiga veementemente. Se você quer colocar sua Vontade para
mexer nas engrenagens do Universo, primeiro é preciso mostrar quem é que manda no seu
corpo, tirar a automatização do cérebro quando você quiser.

Eu recomendo uns 20 minutos dessa brincadeira, até você dançar junto com a vela – alguns quase
entram na vela, sentindo um forte calor e a sensação que estão sendo queimados, enquanto
outros se fundem a elas e a chama se move de acordo com a cabeça ou com os dedos deles.

O uso dos sons segue um princípio parecido. Escolha um som aleatório e sem sentido. Pode ser
HARIM KARIAM TAKSTEMI. Ou um mantra genuíno de um deus hindu, como OM SRI GANESHAYA
NAMAH. Repita sem parar, em um ritmo bom, sem acelerar ou ir lento demais. Após algumas
dezenas de minutos, é possível entrar em transe completo, o que pode significar sono e ficar
repetindo automaticamente o mantra sem parar. Se conseguir isso, fique feliz, está no caminho
certo.

Essas são práticas mágicas intermediárias, mas ainda vazias: falta ainda a vontade do Mago entrar
na jogada e começar a realizar as operações de mudança da realidade. É como andar de carro,
mas sem saber para onde está indo. Mas isso fica pra semana que vem, quando falarei da criação
de Sigilos, uma das armas mágicas mais poderosas de todas, de Mantras e de Armas Mágicas
físicas.
Magia & Ocultismo para Iniciantes – Parte 4: Feitiçaria

Nesse momento vocês já estão prontos para adentrar o cerne da Magia, que é efetivamente
manifestar a sua vontade no Caos que o rodeia. Claro que estão prontos hipoteticamente, porque
esse papo é o mesmo da carta zero do Tarot – o Louco: você nunca está pronto para isso. Lembra
das provações que Indiana Jones enfrentou no final de A Última Cruzada? Lembra
especificamente da última prova? Confiança de meter o pé no abismo e sair andando.

Magia é basicamente um salto no abismo e o primeiro passo é similar ao dado por Indiana rumo
ao Graal. Por isso, esteja preparado. Existe ainda o que os ocultistas/magistas/místicos chamam
de Ordálias. Ordália é o chamado juízo divino – depende do sistema de crença, no fim das contas
– e consiste em diversas provas que servem como testes para saber a força de vontade de um
candidato magista. No passado era uma prova judiciária que colocava nas mãos de deus o
veredicto de um acusado, quando inexistia a plenitude de evidências: uma punição penosa era
imputada a ele, caso fosse livrado (algo considerado milagroso), ele era considerado inocente.
Simples assim.
Na Magia ocorre algo similar, mas a diferença é que ninguém físico a aplica de forma direta.
Daniel, aquele profeta cheio de visões psicodélicas que tem um livro só dele na Bíblia, era um
especialista em vencer ordálias. A mais clássica é a cova dos leões, assim como a fornalha de fogo
que seus amigos enfrentaram. Você pode argumentar que alguém físico aplicou essas Ordálias,
mas basta estudar por quais motivos elas foram aplicadas para sacar que não estavam
diretamente relacionadas com a prática de magia. Aliás, o próprio nome Daniel – que significa
“Deus é meu juiz – indica alguém que enfrenta ordálias em praticamente todo o café da manhã.

Para ser menos vago, ordálias são testes de diferentes magnitudes que rolam no melhor estilo
Sincronicidade – ou, os Ecos do Universo. Sua mãe é autoritária e descobre que você tá mexendo
com coisas de Satã e ameaça te expulsar de casa, seu patrão da Universal te demite após ver que
você se interessa por esse papo de ser Mago, seu professor não vai com sua cara e dá zero no seu
trabalho, seu mecânico faz um orçamento superfaturado, sua namorada te larga, seu HD queima
e você não tinha backup, sua conta no Facebook/Twitter é hackeada, sua ex-namorada aparece
grávida… acredite, tudo isso pode acontecer.

São testes e você deve enfrenta-los. Já li relatos de gente que se arrependeu amargamente por
ter iniciado estudos ocultistas. Não estou dizendo que acontece com todos (alguns dizem que
sim), tão pouco vou julgar a pessoa que o relatou pensando numa possível merda que ela fez. Só
sei que isso é uma possibilidade bem forte, nem sempre bem vinda, e geralmente se tornando
uma experiência profundamente pessoal e desgastante.

Sabe aquele papo de ouro no fogo duplica o valor? É bem por aí, amigo. Os mais pop têm o bom
exemplo do filme Matrix. Dá pra sacar que a vida fora da Matrix é um negócio meio complicado,
que começa desde o momento em que você é literalmente arrancado dela e jogado no limbo,
onde é resgatado por um bando de monges superpoderosos. É mais ou menos isso.

O mundo (Matrix) te testa, as Egrégoras (conjunto de ideias) te testam, caso queira se meter
numa Ordem, a Ordem te testa… você basicamente tá na merda, na Via Dolorosa. Mas o
resultado compensa se tiver força de vontade e dedicação. Simplesmente não dá para pirar no
estilo Cypher e pedir para os Agentes te levarem de volta, sua mente não aceita mais a
programação. Você já despertou, não dá pra voltar a adormecer e acreditar “que esse bife que é
um pedaço de programa de computador é absurdamente suculento”.
Bom, passada essa parte do Eu te avisei, vamos ao que interessa. Como disse anteriormente, o
Sigilo é a forma “mais simples” e efetiva de realizar um feitiço. Qualquer um que praticou os
exercícios que passei anteriormente podem levar isso adiante. O grande segredo é utilizar uma
linguagem que o Inconsciente entenda e possa colocar os fios do Universo ao seu favor.

A forma mais básica de fazer isso é com um Sigilo Pictórico. O primeiro passo é estabelecer o
intento. Vamos supor que você tá a fim de ganhar uma promoção no trabalho. Eu recomendo o
uso da palavra Desejo ou Vontade na formulação do intento. Aí ficaria o seguinte: “Desejo ser
promovido no meu trabalho”. Seja o mais breve possível. Evite a todo o custo ficar na defensiva
com intentos do tipo: “Não quero ficar estagnado no meu trabalho”, ou “Não quero ser
demitido”. Não utilize palavras negativas.
Com o intento pronto, corte as letras repetidas e forme um desenho meio artístico com as letras
que sobraram – como a imagem acima, que catei na Internet. Aqui no caso a sentença ficaria
assim: Desjorpmvinutablh, que parece uma palavra pagã arcana. Alguns ainda cortam as vogais, o
que é válido se levarmos em conta o sistema judaico. O importante é você acreditar e colocar sua
vontade no que você está fazendo, a ligação entre o símbolo e seu Inconsciente vai ocorrer
normalmente. Sempre foque nos resultados. e isso vale para todos os exercícios e rituais mágicos:
continue utilizando o que garante o melhor desempenho.

Com o desenho pronto, vem a parte divertida: lança-los no Caos. Todos aqueles exercícios que
passei anteriormente eram unicamente para prepara-los para esse momento. Para colocar um
Sigilo para mover o Universo para você é preciso estar em um Estado Alterado da Consciência
chamado Gnose.
O modo mais simples é através do orgasmo. Como disse, quando se está parado assume-se a
Posição da Morte, com a negação de todos os estímulos e pensamentos. Toda a sua energia pode
ser focada em uma única direção – xamanismo, autoconhecimento, e o lançamento de feitiços –
basta um pouco de treino. O orgasmo permite que qualquer um tenha seus décimos de segundo
de Gnose sem esforço após momentos de prazer. Ele não é chamado de la petite mort à toa na
França.

Para uma maior concentração, geralmente utiliza-se técnicas de Auto-Amor, ou a clássica


punheta. Para isso, esvazie sua mente desde o início e concentre-se somente no ato físico.
Quando chegar a hora de revirar os olhos, fixe o Sigilo na mente por alguns segundos. Se fizer
tudo certo, o resultado virá.

Obviamente essa é a técnica de Gnose mais primária de todas, embora muito efetiva. Uma boa
técnica é fixar o Sigilo naquele momento de confusão mental quando você acorda. Ou quando
terminou de correr uns 40 minutos e tá morrendo de cansaço. Ou quando tá morrendo de medo
ao andar na rua depois da meia noite. Ou quando está explodindo absurdamente de raiva. Ou
olhe para ele incessantemente por uma hora. Descubra mais momentos interessantes de
vacuidade mental, infelizmente só posso dar sugestões, a coisa toda é bastante subjetiva, mas
você terá certeza que encontrou o método correto assim que estiver diante dele.

Com o Sigilo lançado, é hora do Esquecimento. Alguns dizem para você esquecer completamente
tanto a técnica de lançamento quanto o desejo por trás do Sigilo. Eu digo que você não deve mais
ter ansiedade por resultados, o que é mais correto. Conhece a conversa que você não encontra
algo quando está procurando por ele? É assim que funcionam as coisas Não pense nos resultados,
não pense que você fez mágica para alcançar aquilo. Simplesmente siga o curso da sua vida. Saia
do Teatro da Magia, que vai funcionar.

Eu uso a técnica da Caixa do Esquecimento. Quando lanço um Sigilo, coloco ele dentro de uma
caixa pequeno específica para esse fim (aliás, tudo na Magia deve ser específico para esse fim) e o
guardo com outros vários sigilos. Depois coloco a caixa em um local bastante escondido. De
tempos em tempos abro a caixa, e por uma técnica de oracularização – meditar olhando pro Sigilo
– decido se jogo alguns dele fora ou não. Outros podem ser lançados novamente, o que os
fortalece. Alguns recomendam destruir o Sigilo logo depois de lançado, mas comigo isso nunca
funcionou muito bem, por isso a preferência por lança-lo mais de uma vez.

Aliás, jogar fora também é importante: coisas relacionadas com o elemento Terra (coisas físicas,
como carro, casa, etc) devem ser enterrados, coisas relacionadas ao elemento Água (tudo que
possui relação com sentimentos, como amor, alegria, etc) devem ser dispensados na água, e
assim por diante.

Alguns avisos importantes: a) no início da sua “carreira” de Merlin, peça coisas fáceis e que não
queira urgentemente. Se estiver desesperado atrás de uma casa pra morar, não peça por ela que
provavelmente não vai funcionar enquanto você aprende as técnicas de sigilização e
principalmente de esquecimento e repressão da pressa por resultados. Pense que depois que
mandou o desejo para o Caos, ele já está se realizando e você não precisa mais gastar fosfato para
obtê-lo. b) Outro momento Eu avisei: às vezes a realização do desejo vem de formas um pouco
inesperadas – e nem sempre agradáveis. Existe um caso quase lendário do cara que pede muita
grana e a consegue… logo após o pai morrer e deixar uma herança pra ele. Ou o cara que pede um
carro e não pode mantê-lo. Para vencer isso, seja mais específico na hora de escrever o intento e
acrescente parâmetros que vão evitar surpresas desagradáveis.

Outros métodos de carregar sigilo além do pictórico envolve a criação de mantras. Por exemplo, a
sentença Desjorpmvinutablh poderia virar Desjor pom vinuta bilha. Repita o mantra após
assumir a Posição da Morte até sua mente entrar em loop e esquecer tudo ao redor.

Após alguns Sigilos lançados pode usar a criatividade. Quer tirar um inimigo do caminho? Faça um
boneco de barro que represente o indivíduo, trace um sigilo nele, lance-o e depois esmague-o ou
queime-o (não estou incentivando adentrar nesse campo de utilizar Magia contra inimigos, só
dando exemplos).

Velas também são instrumentos mágicos muito efetivos. Trace um Sigilo na vela – utilize branca
ou na cor correspondente a categoria de desejo que possui – vermelho para batalhas e potência
sexual, amarela para o campo mental, azul para sabedoria, e assim vamos, vá dar uma pesquisada
no Google. A dica é que nós mesmos fabriquemos nossos objetos mágicos ou os consagremos
impregnando-o com nossas energias psíquicas. No caso das velas, pode utilizar azeite do tipo puro
para encher a vela com suas energias, que serão conduzidas pelo azeite.

Desejos mais simples exigem uma vela do tipo palito. Algo mais complexo, pode ser melhor
atendido com uma vela de sete dias colocada em um local apropriado – já experimentei em uma
vasilha com sal e o resultado foi bom.

Importante: pegue seu Diário Mágico e seja científico e sincero quanto a resultados. Anote tudo, e
não seja muito específico no momento de anotar o Intento por trás do Sigilo. Só anote o resultado
final, quando tudo se resolver – acredite, mesmo esquecendo e repelindo a ânsia por resultados,
você vai lembrar e associar a imagem ao resultado final.

Cenas do(s) próximo(s) capítulo(s): feitiçaria hardcore, armas mágicas, uma batelada de livros
para vocês tomarem vergonha na cara e pararem de tentar aprender mágica através de um portal
na Internet e toda a Filosofia por trás do funcionamento das técnicas aprendidas. Além de um
feitiço para poder sutilmente controlar o tempo.
Magia & Ocultismo para Iniciantes – Parte 5: Ordenação

Apesar de ainda ser cedo pra isso, e os exercícios e conceitos que passei provavelmente
manterem vocês ocupados por pelo menos mais uns quatro meses, caso os levem a sério, já
tiveram o cuidado de reler o primeiro texto e refazer o questionamento central dele: por que
vocês estão fazendo isso? Por que se interessa por Magia? Por que querem se tornar um Mago
(se é que querem)?

Façam isso antes de prosseguirem. Não precisam obter uma reposta definitiva, mas façam. Existe
a porção Vontade no processo, principalmente nos que se proporem a praticar Feitiçaria, irem
além da Filosofia e caírem de cabeça na prática. Se você não sabe o que quer, vai ser como ter um
carro, carteira de motorista e não ter destino na sua cabeça. Não é exatamente ter um objetivo
físico – “Estou querendo comprar um carro!!!” -, mas sim um motivo que o tenha levado a iniciar
e um alvo a alcançar, por mais abstrato que ele seja, como contatar os Elementais da Maconha,
por exemplo. Na verdade, você tem um destino, mas pode não saber que tem. Creio que ninguém
está na Terra para passear e ver a vida passar, embora esse seja o consenso geral por aí. Pense
nisso, abordaremos melhor o assunto futuramente.

Após dominarem os Sigilos e obterem resultados desejados – o item mais importante na Magia -,
fazerem anotações em vossos Diários Mágicos, é hora do aviso: você cruzou a Porta e não tem
mais volta. Você começou a vislumbrar o funcionamento das Engrenagens do Universo, tocou a
música conforme a sua partitura. É como uma célula da sua perna direita fazer seu olho piscar.
Parece impossível, mas não é. Somos todos um, lembra. Todas as moléculas são responsáveis por
todos os atos do Universo… e é melhor Eu calar minha boca que isso está ficando bizarro.

Deixemos as explicações de lado, elas virão adiante. Após ter adentrado ao mundo da Magia, é
hora de se proteger e organizar a casa. Não deixe mais de praticar banimentos – faça pelo menos
uma vez ao dia, no lugar que você habitualmente realiza seus exercícios e rituais – e meditar, ou
praticar outra forma de Gnose. Caso não queira entrar para alguma Ordem (Rosa Cruz, Astrum
Argentum, várias outras), e não estou dizendo que isso depende só da sua Vontade, recomendo
frequentar um Centro Kardecista, de Umbanda ou de Candomblé. Já recebi dicas valiosas de
Entidades e Espíritos desses lugares, que são de contato um pouco mais fácil do que o povo de
ordens esotéricas, que exigem iniciação, pagamentos, e assim por diante - conta também que
essas Entidades têm por missão a caridade e ajuda espiritual, e por isso o contato é mais
facilitado… embora conversar de verdade com uma não seja tão simples assim.

Recomendo também, se tiver tempo e disposição, praticar Yoga, Tai Chi Chuan, ou alguma arte
marcial que goste, para trabalhar a relação corpo-mente. Como fala o Pai Nosso, “Assim na terra
como no céu”, ou que o corpo é o Templo do Espírito Santo, nosso corpo é um microcosmo que
representa o Universo. Se nós não o dominarmos, jamais conseguiremos passar do primeiro
degrau.
Com as defesas devidamente prontas – não que você saiba exatamente quando precisará delas –
é hora de aumentar o alcance da sua magia. O método mais importante é o Servidor. Servidor é
como um Sigilo, mas que ao invés de ser banido, deve ser alimentado, ganhar força e
continuamente realizar seu trabalho mágico em uma situação ou área específica. Assim como os
Sigilos, não há limites para Servidores.

Da mesma forma que você pode criar um Servidor para te ajudar a comprar um carro ou chegar
ao posto de diretor da empresa onde trabalha, pode ter um Servidor para te ajudar como
Oráculo, a lembrar de sonhos, na cura e em outros aspectos da sua vida. Ué, mas um Sigilo não dá
conta de tudo? Bom, não! Não existe regra ou matemática exata envolvida, mas um intento mais
trabalhoso e com efeitos de longo prazo exige mais energia para ser realizado. Como tratamos de
micro e macrocosmo, pensemos em termos de corpo humano: para pegar o controle remoto no
sofá ao lado você não utiliza a mesma energia que usaria para correr uma maratona ou o esforço
energético mental de resolver exercícios complexos de álgebra linear. É simples de entender.

Então, Sigilos como método em si, são eficientes, mas existem inúmeros intentos que nem a
energia de uma orgia tantra hindu podem ser resolvidos com sigilização. Por isso existem
Servidores. Se com Sigilo existe uma metodologia bastante difundida e usada, com Servidores a
Magia começa a ficar subjetiva, justamente por se incorporar no dia-a-dia e não simplesmente
estar inserida no Teatro da Magia.

O primeiro passo para criar um Servidor é estabelecer o nome dele. Geralmente o nome é um
mantra que lembra ou é derivado do amplo intento que você busca com ele. CURIANTO pode ser
uma palavra de poder para denominar um Sigilo de cura, nome que nada mais é do que uma
derivação de “cura no ato”. FAUNDY para um Sigilo que o ajude a achar coisas perdidas pelo
mundo – desde suas chaves a tesouros de piratas africanos -, entre outros nomes. Enfim, fica a
sua escolha, deixei a criatividade entrar na jogada.

A chave é criar Correspondências entre


o seu Servidor e as Energias que você
busca alcançar e direcionar. A essa
altura, manjar um pouco de Kabbalah,
Astrologia e Mitologia ajudarão para
criar um servidor fortão e pronto pro
trabalho, o consagrando nas janelas de
proximidade de cada planeta e
constelação, e utilizando metais e
outros itens correspondentes ao que
você deseja. É uma questão de ter
conhecimento.

Agora é hora do momento RPG: se


quiser, crie uma personalidade para
ele, uma história e trabalhe nas
correspondências. Cores e símbolos
que o fortalecem e estabeleça a
ritualização correta para acessar os
resultados do trabalho dele. Isso é MUITO importante para tê-lo forte. Já jogou Black e White 2 e
fortaleceu a sua besta até ela querer devorar todos os habitantes da aldeia?! É mais ou menos
isso.

Pode ser o que você quiser, desde técnicas clássicas como falar o nome dele em frente ao espelho
três vezes com a luz apagada, até simplesmente desenhar o símbolo da molécula de hidrogênio
no dedão do seu pé esquerdo e olhar para ela continuamente. O importante é ter um pequeno
ritual sacralizado para canalizar a energia dele. Daí pra frente pise no acelerador: crie um Sigilo
Pictórico e o carregue com as técnicas do texto anterior, estabeleça dias específicos para
energizar o Servidor de acordo com o objetivo dele – a Estrela Setenária e suas correspondências
por dia da semana e horário do dia para cada signo ou planeta tornará a tarefa mais fácil. Por
exemplo: se é um Servidor de Comunicação ou de ajuda com a sua Consciência Mágica, o melhor
dia é o de Mercúrio, ou Terça-Feira, cor laranja e assim vai.

Defeito Virtude
Sol Orgulho Magnanimidade
Lua Preguiça Humildade
Marte Ira Diligência
Mercúrio Inveja Paciência
Júpiter Gula Caridade
Vênus Luxúria Temperança
Saturno Avareza Castidade
Um fator de suma importância: crie um ponto fraco pro seu servidor e o anote com todas as
letras. Como disse anteriormente, os caminhos da Magia nem sempre são os mais fáceis e por
isso talvez você desejará abortar o trabalho do seu Servidor. Por isso, se o seu Servidor começar a
te prejudicar, não tenha medo de puxar a descarga e transforma-lo em poeira Astral. É
importante ser um ato simples de se fazer e lembrar, mas mesmo assim, que você não o faça
corriqueiramente para não destruir o Servidor em um momento que não queira.

Outra coisa importante é ficar sempre atento ao trabalho dele. Alguns magos já relataram, por
exemplo, que criaram um Servidor de inspiração e boas ideias – nesse caso recomendo criar uma
personificação de uma Musa, mas isso é outro capítulo – e acabaram por se tornar dependentes
dele, o que é sempre perigoso. Por isso o ponto fraco. Pode ser a queima do papel onde está
desenhado o Sigilo dele, falar o nome dele invertido duas vezes, é só escolher algo que faça
sentido para você mesmo.

Finalmente, Eu recomendo o uso de um objeto físico que tenha relação com seu Intento para
representar o Servidor. Se for um Sigilo para lhe dar “sorte”, pode ser um dado de RPG de 20
lados, ou uma moeda com grande significado para você. Pode até ser algo antropomórfico
esculpido por você, com barro, ou com pedaços de sucata. Criatividade, amigo. Você a tem e é pra
isso.

Com o Servidor devidamente construído, com personalidades, símbolos e tudo os mais criados, é
hora de usa-lo. Eu geralmente crio um Ritual específico para dar vida a ele. Um bom ritual pode
ser feito com incenso, a defumação do objeto físico – se não tiver, pode ser uma folha de papel
com o Sigilo do Servidor -, para após levanta-lo junto a testa e proclamar seu nome, o nome dele,
junto com seu Intento. Deixe o incenso queimar até o fim e fique em meditação enquanto isso. Dá
pra incrementar isso com perfumes, óleos e até fluídos corporais – se for entrar nessa,
recomendo usar os próprios fluídos, uma técnica bastante efetiva, devo acrescentar.

Mentalize o Sigilo dele, acenda umas velas para ele com as técnicas que ensinei anteriormente,
coloque eles pra trabalhar e veja o resultado. Lembre-se: encha-os de energia, e isso exige
preparação, é como correr uma maratona. Anote tudo em um livro separado, nome do Servidor,
simbologia, rituais, resultados… TUDO. Esse é seu Grimório, o Livro dos Espíritos.
Magia & Ocultismo para Iniciantes – Parte 6: Expansão

Uma coisa que já está meio clara com essa série é que, apesar dos novos textos geralmente serem
semanais, não dá para vocês aprenderem tudo o que foi dito em uma semana. O motivo é
simples: Magia envolve invocar muitas vezes, isto para parafrasear uma das mais importantes
lições do Livro da Magia Sagrada de Abramelin. É assim que funciona o cérebro humano, seja na
Psicologia, nas disciplinas escolares, na Academia, no Exército. O cérebro trabalha muito bem com
rotinas, e quanto melhor planejadas e executadas, melhor a taxa de aprendizado. Esse é o real
motivo das campanhas publicitárias terem tempo mínimo para serem veiculadas – e quando a
empresa é boa, ela evita ao máximo mudar o slogan e a logomarca, tudo para seguir uma das
máximas da Magia: Invocar muitas vezes.

Então, se você não é um cara que tem experiências místicas “naturais” (ver espíritos por aí, algum
grau de telecinese, sonhos premonitórios, etc), o caminho mais natural envolve racionalidade,
estudo e o uso de símbolos, justamente o que estou ensinando aqui. Em outras palavras:
pratique, pratique e pratique, anote todos os resultados importantes e trace planejamentos de
tempos em tempos.

É por isso que não reservei – e nem vou reservar – um capítulo intitulado Iniciação, ou algo do
gênero. Primeiro por uma iniciação ser um processo contínuo na vida do mago, que a cada minuto
é testado e passa por processos de aprendizado profundos e transformadores. E segundo porque
iniciações ritualísticas no sentido físico não são nenhum um pouco comuns em estudantes
individuais, e ocorrem com muito mais frequência em ordens esotéricas e magísticas – e o ritual
de iniciação varia de ordem para ordem e (se a ordem é verdadeiramente magística) de pessoa
para pessoa.

Sigilos e Servidores não são somente métodos mágicos individuais. Existe a possibilidade do uso
de rituais em grupo para a criação de energias necessárias para dar força a um Servidor. Uma
mostra é a lendária história de que Grant Morrison criou um Sigilo que impedisse de Os Invisíveis
de ser cancelado e convidou os leitores para carrega-lo através de masturbação em um dia e hora
pré-determinados. Até que ponto isso é verdade Eu não sei, mas o fato é que realmente as
vendas da revista aumentaram depois. Obviamente que usar um ritual em grupo para uma tarefa
que geralmente é pessoal não é um trabalho dos mais fáceis. Em primeiro lugar é necessário
estabelecer um intento para o grupo, o que geralmente exclui pedidos de ordens materiais e
similares. O grupo precisa possuir um objetivo mágico comum – a consagração de uma
publicação, ou de armas, a criação de uma egrégora para influenciar os habitantes de um bairro,
cidade ou país, e assim vai, as variáveis são praticamente infinitas.

Para algo assim dar certo, um grupo precisa criar o sigilo em conjunto, para não gerar nenhum
tipo de desconfiança por arte dos outros integrantes, que podem achar que estão energizando
um desejo puramente pessoal. Então, basta estabelecer um ritual mútuo, que pode ser feito no
mesmo horário para todos (caso não estejam no mesmo local), especialmente na Lua Nova, numa
segunda-feira, dia da Lua, com objetos em tom de azul ou roxo, de prata e com alguma espécie de
fluído sexual, símbolo da fertilidade. Essas são só algumas possibilidades, todas associadas a
Yesod, a esfera da Kabbalah identificada com a fertilidade e a criação.
Conheço poucos servidores coletivos. Posso dizer que o único que confio é Fotamecus, um
servidor subversivo e viral – isto é, com a capacidade de multiplicar-se – que serve para criar
formas de ludibriar o tempo, seja expandindo-o ou contraindo-o. Tá com pressa para chegar em
casa? Use Fotamecus. Precisa de mais tempo para estudar no meio da madrugada? Clame por
Fotamecus, que está em um eterno embate com Cronos, o deus do tempo linear e não dispensa
um pouco de energia. Quanto mais adeptos, mais forte ele fica e mais energia de
compressão/expansão (Yin e Yang, em outras palavras) possui e pode doar para os que o utilizam.

Fotamecus funciona como o eMule: quanto mais se doa energia para ele – através de um ritual de
uso do Sigilo do servidor -, mais possibilidade de usa-lo se acumula. Obviamente que o grupo que
o criou pode ter embutido alguma espécie de ganho energético pessoal com a visualização do
Sigilo de Fotamecus, mas no fim, foda-se. O importante é que funciona. E bem, sem efeitos
colaterais – ao menos não a curto prazo, talvez estejamos abrindo os portais para o Eschaton,
nunca se sabe. Se alguém tá lucrando com isso, é porque fez algo bom e útil, ou foi bem esperto
para convencer a outros que fez isso. Quer saber mais? Baixe e leia o manual de uso do Servidor e
seja feliz.

Vamos a outro passo importante. Lembra dos nossos exercícios de meditação, Posição da morte e
Banimento? É hora de mostrar outra utilidade para eles: a criação de um Templo Astral. Um
Templo Astral é como um refúgio, e ao mesmo tempo, um lugar para operações astrais. Não é
complexo de ser feito, muito pelo contrário, mas exige paciência, concentração, criatividade e
inspiração.

Ache um lugar calmo, onde não será interrompido por uns 20 minutos. Sente-se com as costas
eretas, e com as pernas umas sobre as outras, na Posição do Índio, meio Lótus (a posição de
Ganesha) ou Lótus completa. Coloque as mãos sobre as coxas e firme a cabeça olhando pra
frente. Encoste a língua no céu da boca para salivar menos. Eu chamo essa posição de Posição do
Feedback Corporal, pois o corpo está completamente ligado, não há partes que não estejam
posicionadas para fazer circular energia de volta para o próprio corpo. Feche os olhos.

Caso você não possa ficar sentado por um motivo qualquer, existe uma posição deitada usada por
sufis e taoístas: deite de lado virado para a direita, dobre a perna esquerda formando um “4″,
cruze os braços em forma de X sobre o peito, cerre os olhos e pressione fortemente a língua
contra o céu da boca. É incômoda, mas fecha os principais pontos de entrada do corpo e também
serve como forma de manter a energia circulando.
Respire fundo, em um ritmo contínuo da forma que ensinei lá na Parte 1. Mantenha por uns dois
minutos. Relaxe todo seu corpo sem pressa até só prestar atenção a sua respiração. Depois
comece a moldar seu Templo Astral, que será a base de suas operações no outro Plano, e que, se
fizer direito, pode dispensar vários rituais no Plano Físico, se necessário – Eu não dispenso pela
diversão que eles trazem, e pelo simbolismo e preparação, que são sempre interessantes.

Um Templo Astral pode ser qualquer coisa, solte sua imaginação. Lembra da cacofonia sem
limites de Immateria, o Plano Superior da Imaginação de Promethea? É aquilo, nesse Plano você
pode tudo, basta imaginar e visualizar. Pode ser desde uma sala cheia de TVs, fios e gambiarras
tecnológicas baratas e decadentes, até uma caverna com tochas e poções. Se curte natureza,
pode ser uma pequena cabana no meio do mato, se gosta de cidade, imagine uma cobertura de
um prédio. Dá pra emular locais de seus games ou filmes favoritos também. Use sua imaginação,
ela não tem limites.

No início, o lugar será pequeno, por motivos óbvios. Mas se prenda nos detalhes: paredes,
decoração, pinturas, cheiro, móveis. Quanto mais associações cognitivas criar, mais fácil será
voltar a ele. Pela minha experiência, somente dois itens são indispensáveis nessa primeira
construção: um altar e uma cama. Imagine-se nesse local por uns cinco minutos. Quando for
embora, deite na cama e durma.

Simples, acabou! Agora é só alimentar seu Templo com sua energia mental sempre que precisar.
Com o tempo ele crescerá, tomará formas que você não imagina, ganhará anexos quando você
trabalhar outras linhas de Magia, entre coisas similares. O importante é você visita-lo todo o dia.
Tome isso como um exercício de paciência e persistência. Visualize tudo com o maior grau de
realismo possível. Meu Templo cresceu enquanto Eu consagrava meu deck de Tarot e precisava
visita-lo todos os dias e criava correspondências físicas para ele no Plano Material. Esse tipo de
materialização e referência na Terra é sumamente importante. Se puder/quiser, anote os
detalhes que criou para seu Templo em seu Diário Mágico.
Fique pelo menos duas semanas preparando seu Templo e o fortificando (passo mais detalhes
sobre isso no próximo texto). Então, é hora de se armar. Armas Mágicas, assim como muita coisa
de que falei aqui, não pode ser resumido levianamente, então tenham em mente que o que
coloco aqui é abreviado, e em breve farei um post somente com referências bibliográficas para
vocês estudarem por uns bons tempos, caso estejam a fim. Mas, podem ir se adiantando e lendo
dois meus dois blogs favoritos sobre o assunto: o Teoria da Conspiração e o Morte Súbita. Fucem,
fucem de verdade e sejam felizes.

Armas Mágicas tem relação com os quatro elementos da natureza, que estão relacionados com os
quatro aspectos principais do corpo. São elas, a Taça, a Espada, o Pentáculo e a Baqueta (ou
varinha).

A Taça corresponde ao elemento água, e ao mundo das emoções. A correlação é óbvia, já que
Magia trata de Vontade sobre o Macrocosmo (e consequentemente sobre o Microcosmo), a Taça
segura a água emocional de forma racional e representa a atuação da Vontade sobre suas
instáveis emoções. Emoção está associado com a água por ser igualmente imprevisível e difícil de
se lidar. Também está associado a Lua – que exerce controle sobre as marés -, a esfera de Yesod,
da Kabbalah e ao Inconsciente instintivo. O orixá Iemanjá está associado a esse elemento, assim
como as deusas da Fertilidade, como Diana. É usada para a preparação de compostos líquidos,
entre outras utilidades.

Já a Espada – alguns utilizam Adagas, o que simbolicamente também está correto – corresponde
ao Ar, e ao mundo da mente e do pensamento. Sua relação com esse elemento está no fato do
uso da Linguagem, que é como uma arma invisível como o ar e cortante como a Espada. Essa
arma representa a canalização dessa energia mental, linguística e invisível. É utilizada para traçar
Sigilos, marcar velas, entre outros.

O Pentáculo representa o elemento Terra e o corpo físico. Um Pentáculo possui o Pentagrama,


símbolo do equilíbrio entre os elementos. Representa a riqueza material e atuação mágica no
Plano Físico. É utilizado em rituais de prosperidade, e de atuação essencialmente física, de ordem
financeira, profissional, entre outras.

Por último, a Baqueta, que representa o elemento Fogo, o Espírito. A associação com o Fogo vem
do fato das baquetas serem a base para tochas, fundamentais nos séculos passados. É a principal
arma mágica de um Mago, quase uma extensão de sua vontade, utilizado em toda a sorte de
rituais.
Magia e Ocultismo para Iniciantes – Parte 7: Iniciação

Por uma série de motivos que nem eu consigo explicar direito, essa série teve uma pausa de mais
de sete meses. O motivo principal é, naturalmente, a morte semi-prematura do meu notebook. É
um Dell Inspiron 14 com três anos de uso e do nada não ligou mais. Consegui retirar o HD e pegar
os arquivos que queria, e simplesmente relaxei dessa história de escrever toda a semana. No
início fiquei desesperado, depois fiquei tranquilo. Foi quase uma experiência nova, que não me
trouxe problemas, já que o notebook morreu depois da minha Monografia já estar completona e
revisada.

De lá pra cá li bastante, inclusive um monte de livros que estavam acumulados, e mudei bem
minha rotina. Posso dizer que pra melhor. Tirei Tarot para saber os motivos disso e “uma forte
sobrecarga” apareceu. Não me sentia deveras sobrecarregado, mas provavelmente estava
rumando pra isso. Agora retorno para a reta “final” dessa série – pretendo seguir com partes
regulares até o 10 – e depois com partes “addendum”, com assuntos mais aleatórios.
Nesse período escrevi sobre magia pra VICE, fazendo a cobertura do III Simpósio de Hermetismo e
Ciências Ocultas – e arrumando alguns problemas no processo (falo sobre isso futuramente).
Estou com várias entrevistas ainda não-editadas do evento e público aqui em breve também.
Geralmente também respondo as perguntas feitas nos comentários e as enviadas por email,
então fiquem atentos a seção de comentários dos artigos da seção – e para maiores dúvidas,
mandem um email. Mas, chega de papo!

Volto com a coluna com uma contradição, estampada no título – e com o post mais etéreo e
teórico da série. Na parte 6 disse que não reservaria um texto sobre Iniciação, e aqui está ele.
Magia e vivência é isso: dizer algo e tempos depois mudar de ideia elegantemente, apresentando
os devidos argumentos que o motivaram. Todas as nossas verdades devem ser provisórias e nós
devemos ser conscientes dos motivos pelas quais as adotamos. Quando escrevi a parte 6 parecia
razoável eliminar a Iniciação do processo – agora não me parece mais. Boa parte da culpa é de um
filme bizarro e único, chamado A Montanha Sagrada, escrito e dirigido pelo igualmente singular
Alejandre Jodorowsky.

Assisti ao filme em meio a um tratamento contra pneumonia, após guarda-lo no HD do meu


computador por um longo período – e depois transferi-lo para o notebook do meu serviço. Difícil
assisti-lo em um momento mais propício, logo depois de A Estrada Perdida, de David Lynch, outro
exemplar de qualidade do cinema insano. O filme é um festival bem dirigido e aparentemente
sem rumo que envolve metalinguagem profunda, misticismo pop de primeira e uma série de
insights bizarros misturados com crítica social da pesada. É o tipo de filme experimental que vai
ao limite do limite, só possível quando criado à margem de esquemas comuns de filmagem.

Difícil esperar algo diferente de Alejandro Jodorowsky, um cara que se tornou conhecido graças às
referências ao Ocultismo em suas obras e suas teorias meio diferentonas do Tarot – mais ou
menos como Alan Moore fez em Promethea. A obra mais conhecida dele é Incal, que pode ser
encarada como uma interpretação da jornada do Louco no Tarot – o personagem principal se
chamar Difool (The Fool, o Louco, o Arcano zero do Tarot) não é à toa. A Montanha Sagrada é um
Incal menos pop com (mais) LSD e soa como um manual para a iluminação criado sob medida por
Jodorowsky, que no filme assume o papel de Guru Sabe-Tudo.
A sinopse de A Montanha Sagrada fala mais ou menos o seguinte: “nove dos mais poderosos
industriais e políticos dos planetas desejam obter a imortalidade. Um Alquimista (Jodorowsky)
lhes fala da Montanha Sagrada da Ilha de Lótus, onde moram nove imortais, que agora têm mais
de 30.000 anos. ‘Alguns homens juntam forças para assaltar bancos e roubar dinheiro’, o
Alquimista conta. Mas os poderosos devem unir forças para assaltar a Montanha Sagrada e
roubar desses homens sábios o segredo da imortalidade. Mas para conquistar o segredo dos
imortais, nós também devemos nos tornar homens sábios”.

Parece familiar? Sim, pois isso é um resumo de qualquer jornada iniciática. Como vocês já devem
ter adivinhado, a própria jornada é a iluminação/iniciação, e não o assalto aos Nove Imortais da
Montanha Sagrada. O segredo final revelado pelo Alquimista, é uma metralhadora metalinguística
para dar uma sacudida mental em qualquer um. Mas até chegar a esse desfecho simples e ao
mesmo tempo apoteótico, Jodorowsky nos brinda com sua própria interpretação das
engrenagens que movem o mundo e o que é preciso fazer para se livrar delas.

O filme começa com um típico Cristo, um vagabundo chamado de Ladrão que representa os
heróis populares saídos das massas, com ascendências nobres. Mais ou menos como Hércules,
também um mortal que alcança a imortalidade pelo auto-sacrifício. Ladrão só consegue a amizade
de um anão sem braços e pernas, para logo depois ser crucificado e apedrejado por um grupo de
crianças mal intencionadas.

Saindo dessa pequena vila, ladrão conhece a Cidade, recheada de prazeres baratos e violência
psicológica. É lá que presenciamos cenas de crítica social grotesca, como um desfile de soldados
com carcaças de bezerros e uma encenação da conquista do México por Hernán Cortés…
interpretada por sapos, que no final explodem (a cena é foda, por sinal). Ladrão conhece então a
vida dura de um proto-Messias: um grupo de religiosos o sequestra e faz cópias dele de gesso
enquanto ele dorme, e um bando de prostitutas de quinta classe o segue com o tipo de fé cega
que costumamos ver nos religiosos mais ferrenhos (fiéis-prostitutas, outra metáfora).

Esse momento do filme é uma experiência puramente sensorial, praticamente sem diálogos,
como uma espécie de introdução mundo-cão para chocar os mais fracos, além de mostrar o
momento em que Ladrão sai do mundo terreno – Malkuth, para os Cabalistas – e inicia sua
própria jornada em busca da libertação. É uma demonstração do quão doente é o mundo que
vivemos, além de dar umas alfinetadas no modus operandi de governos planeta afora.

É uma porrada mental, mas não passa de mera preparação para o que o filme reserva em seus
próximos momentos. Ladrão encontra uma torre e uma forma de subir nela, e é lá que está o
Alquimista, nossa porção psicológica mais iluminada, por assim dizer. Ladrão é então iniciado, em
uma cerimônia que mistura Yoga, Tarot, espelhos (uma forma de auto-análise, assim como as
outras duas técnicas) e sabedoria saída das próprias fezes (!).

Depois das devidas mudanças físicas, Alquimista apresenta a Ladrão “os seres mais poderosos do
mundo”, representados por oito planetas mitológicos, que nada mais são que Arquétipos do
Inconsciente Coletivo propostos pela Psicologia Jungiana. “São ladrões como você, mas em outro
nível”, afirma ele. Ladrão é uma representação do Ego, enquanto os Planetas são formas-
pensamento universais que percorrem a história humana. As duas estruturas estão ligadas, mas
de forma separada.

Os planetas são heróis mitológicos, que naturalmente representam “nossos Eus” de forma bem
detalhada. Alquimista descreve um a um, profundamente e com interpretações modernas geniais
do papel sociológico de cada um desses Deus-Planetas. Vênus como um dono de indústrias têxteis
e de moda vivendo em uma corte estilão Marquês de Sade, ou Marte como uma mulher que
fabrica o ódio e armas especiais pra matar judeus (em forma de Menorá), cristãos (em forma de
crucifixo) e encomendando guerras em programas de TVs é atual até hoje, e deveria ser analisado
em cursos de Comunicação. Entre outros – veja por você e depois dê uma estudada no papel de
cada planeta que vale a pena o esforço.

Depois dos Oito se juntar a Ladrão e Alquimista é hora de se livrar dos entraves materiais –
dinheiro, o Ego (aqui chamada de Auto-Imagem, e representada por manequins anteriormente
presos numa das paredes do templo iniciátivo) – e logo depois abraçar a Loucura e a Morte. Só
assim, abdicando de tudo que os torna humanos, alguém pode ser Imortal, próximo dos Deuses,
um Mago. Na Magia do Caos isso ocorre em todos os Rituais, Sigilos e criação de Servidores.
Essa é a grande lição: não é necessário a separação do mundo, viver no mato ou chamar a
humanidade de “gado”, mas sim treinar a mente para separar-se de tudo que o liga a ele quando
necessário. Essa habilidade é a chave da Magia e o objetivo da Iniciação / Iluminação. Por isso a
Iniciação é tão importante: ela é como tomar um choque e entender a natureza da Magia, é como
acessar um lado escondido da própria Psique. Em um minuto você está se iniciando em uma
egrégora lendo esse texto, e no outro cai em si que era apenas um texto qualquer em um blog
qualquer, e depois ri do fato de dar alguma importância a um monte de pixels em um monitor.

Hoje você se inicia numa Ordem Rosacruz (ou outra qualquer, isso é um mero exemplo), e
amanhã conclui que são apenas caras querendo dinheiro (situação hipótetica, antes que mandem
pedras). Naquele momento você se iniciou, e aquela iniciação foi importante, mas amanhã ela
pode deixar de ser primordial e você parte pra outra. É tudo parte de um processo continuamente
evolutivo, se você não muda de ideia, ri do próprio passado, questiona o grão-mestre da sua
Ordem, pensa se a todo momento está no caminho certo, é bastante provável que esteja errado,
parado, morto. Se você não está em conflito intelectual com nenhuma ideia, com alguma pessoa,
amigo, inimigo, livro ou site, isso significa que você optou por boiar em águas calmas e que sua
evolução está em processo letárgico.

Robert Anton Wilson dizia que nossa experiência deveria ser contada pelo número de vezes que
mudamos de ideia, e não pela idade. A capacidade de mudar de ideia quando necessário é de
suma importância para o praticante de Magia, a flexibilidade intelectual é a chave do
aprendizado. Rejeite dogmas, rejeite autoridade, identifique as cordinhas que mantém todos de
pé! Amanhã essas habilidades serão necessárias. Quando for capaz de fazer isso, considere-se
iniciado ao menos uma vez.

A Montanha Sagrada é um conjunto de técnicas – não apenas visuais e sonoras, mas simbólicas –
para colocar a Iniciação ao alcance de todos, de forma quase Universal. Apesar do meu foco aqui
ser bem prático, não serei dessa vez, pois como disse anteriormente, Iniciação é um assunto que
varia enormemente.
Magia e Ocultismo para Iniciantes – Parte 8: Seleção

Magia até o século XVIII era uma mistura de ciência e isolamento. Um mago não era um mago
sem conhecer Física, Química, Linguística e diversas outras áreas de conhecimento. Mas Magia
não era simplesmente conhecer ciências ocultas, mas sim participar de uma busca espiritual que
integrasse o mago ao Universo ou a divindade estimada por ele. Não existia a prática mágica sem
a busca pela transcendência desse mundo. Os que escapavam dessa tradição eram encarados
como meros “feiticeiros”, que buscavam unicamente transformações na ordem das coisas
terrestres, e não uma auto-transformação. Essa é a distinção básica – errônea e reducionista, a
meu ver – entre a Alta Magia e Baixa Magia.
Existiam também necessidades subjacentes a essas obrigações. Eliphas Levi, por exemplo, fala em
isolamento, dietas, privação de sono e celibato – obrigatórios pelo menos durante a iniciação do
Mago, que deve percorrer um período mínimo de 40 dias, de franco isolamento. Abaixo, um
excerto de Dogma e Ritual de Alta Magia no tocante ao assunto.

Um preguiçoso nunca será mago. A magia é um exercício de todas as horas e de todos os


instantes. É preciso que o operador das grandes obras seja senhor absoluto de si mesmo; que
saiba vencer as atrações do prazer, o apetite e o sono; que seja insensível ao sucesso como à
afronta. A sua vida deve ser uma vontade dirigida por um pensamento e servida pela natureza
inteira, que terá subordinada ao espírito nos seus próprios órgãos e por simpatia em todas as
forças universais que lhe são correspondentes.

Todas as faculdades e todos os sentidos devem tomar parte na obra, e nada no sacerdote de
Hermes tem direito de estar ocioso; é preciso formular a inteligência por signos e resumi-la por
caracteres ou pentáculos; é preciso determinar a vontade por palavras e realizar as palavras por
atos; é preciso traduzir a ideia mágica em luz para os olhos, em harmonia para os ouvidos, em
perfumes para o olfato, em sabores para a boca, e em formas para o tato; é preciso, numa
palavra, que o operador realize na sua vida inteira o que quer realizar fora de si no mundo; é
preciso que se torne um imã para atrair a coisa desejada; e, quando estiver suficientemente
imantado, saiba que a coisa virá sem que ele pense por si mesma.

É importante que o mago saiba os segredos da ciência; mas pode conhecê-los por intuição e sem
os ter aprendido. Os solitários que vivem na contemplação habitual da natureza, adivinham,
muitas vezes, as suas harmonias e são mais instruídos, no seu simples bom senso, do que os
doutores, cujo sentido natural é falseado pelos sofismas das escolas. Os verdadeiros magos
práticos se acham quase sempre no sertão e são, muitas vezes, pessoas sem instrução ou simples
pastores.

(…)
Aquele que quer entregar-se seriamente às obras mágicas, depois de ter firmado o seu espírito
contra qualquer perigo de alucinação e temor, deve purificar-se, exterior e interiormente, durante
quarenta dias. O número quarenta é sagrado, e até a sua figura é mágica. Em algarismos árabes,
compõem-se do círculo, imagem do infinito, e do 4, que resume o ternário pela unidade. Em
algarismos romanos, dispostos do modo seguinte, representa o signo do dogma fundamental de
Hermes e o caráter do selo de Salomão: A purificação do mago deve consistir na abstinência das
voluptuosidades brutais, num regime vegetariano e brando, na supressão dos licores fortes e na
regularidade das horas de sono. Esta preparação foi indicada e representada, em todos os cultos,
por um tempo de penitência e privações que precede as festas simbólicas da renovação da vida
(LEVI, Eliphas, pag 196 a 198, versão em PDF).

Os benefícios de tais práticas são importantes, mas o próprio dogma obrigatório por trás deles
torna muita coisa de suma importância até poucos séculos atrás, inúteis atualmente. E se a
prática está na observação e os verdadeiros magos práticos em sua maioria são “pastores ou
pessoas sem instrução”, pra que estudar? É esse tipo de contradição que está presente em parte
das doutrinas mágicas dos séculos passados.

Até o momento nessa coluna, vocês aprenderam a importância de submeter a Psique à mudanças
fundamentais, a importância da respiração, da Visualização, de uma Filosofia Pessoal, da
Sigilização, do Templo Astral, dos Servidores, e por aí vai. Eu achei pouca coisa de início, mas reli
meus textos e cheguei à conclusão que escrevi o bastante para ligar o interruptor do interesse de
vocês.

Também deve ter ficado claro que encaro a Magia como uma Ciência, uma Arte e Ferramenta, e
não como uma religião ritualizada. Uma religião pode possuir uma porção ritualizada e mágica,
mas a Magia está desvinculada de dogmas. Os dogmas são pessoais, e devem ser temporários e
utilizados quando necessário. Por esse prisma, não existe necessidade dogmática, apenas
resultados. Existem ordens que utilizam essa abordagem, como o Vodu Gnóstico – que retira toda
a porção religiosa e substitui pela linguagem arquetípica. Essa também é a base da Magia do Caos.

Alguns, como Crowley (e os próprios caoístas), colocam os resultados em um pedestal intocável:


não funcionou, você errou em algum ponto, ou não “movimentou energia suficiente para realizar
o que você buscava”. Essa abordagem também me parece limitada: é necessário pensar que
existem Forças muito maiores que nós na vastidão do Universo e talvez nossos feitiços se cruzem
com a linha dos atos deles, o que pode explicar perfeitamente uma falha. Mais poder, implica em
passar por cima de mais Forças, e aí por diante. Portanto, não coloque um resultado negativo
como uma falha inteiramente sua. Às vezes pode ser interessante uma ou duas abordagens
alternativas até para poder diversificar seus métodos.

No fim da parte 6 prometi ensinar como funciona detalhadamente uma Arma Mágica, e a
utilidade do Templo Astral. Vamos lá que essa é a reta final da abordagem prática dessa coluna.
Uma Arma Mágica é uma ferramenta de direcionamento psíquico/energético/espiritual. São
como extensões astrais do seu corpo. Seu uso varia de acordo com o tipo de arma.

As básicas e suas correspondências foram listadas na parte 6: Adaga (Espada), Pentáculo (Moeda),
Taça e Varinha (Baqueta). Essas armas devem de preferência ser confeccionadas pelo Mago e
marcados por ele com sigilos pessoais e outros símbolos que os identifiquem. Elas devem ser
postas em um altar pessoal e consagradas com um ritual de escolha do mago – geralmente uso
incenso e marcações de sigilo para esse fim. Seu uso é similar a ferramentas muito próximas de
profissionais experientes: o médico sempre usa o bisturi, um Jornalista uma caneta, um pedreiro
o martelo, e por aí vai. Eles não precisam usar necessariamente o mesmo martelo a vida toda,
mas é bastante provável que tenham apreço pelas próprias ferramentas. Na Magia do Caos
também existe a técnica de dar uma Arma pessoal para outra pessoa: o poder obtido com esse
ato de desprendimento tende a ser maior do que toda a energia utilizada pela arma.

Reitero: caso possua as habilidades necessárias (não é meu caso, geralmente), produza suas
próprias armas. Não precisa ser nada novo, comprado exclusivamente para esse fim. Um galho de
árvore de uma árvore de 300 anos tende a ser energicamente mais poderoso (ou um melhor
condutor de pacotes de informações ou ainda de rastros psíquicos) do que um galho “comum”.
Existem também lendárias tabelas do poder secreto de cada espécies de árvore, utilizadas
principalmente pelos galeses – se quiser mais detalhes, leia A Deusa Branca, do Robert Graves.

Uma adaga serve para feitiços e magias relacionadas a linguística, e ao campo mental/intelectual.
Serve para traçar sigilos astrais e na destruição de energias invasoras e reforço nos banimentos.
Um ritual utilizando uma adaga, pode envolver o direcionamento de forças mentais a um alvo
(simplesmente apontando a espada) ou proteção (o traçado de um pentagrama com uma espada
ao centro, abaixo da cama em um quarto com atividade astral elevada).

Assim como todas as armas mágicas, uma adaga tem seu correspondente astral, guardada em seu
Templo, que pode ser carregada em Sonhos ou Meditações e utilizadas com o mesmo poder de
sua personificação física. O poder de uma Adaga pode ser reforçada no seu altar com o uso de
outros símbolos, como Sigilos (úteis em quase todas as situações, como vocês já perceberam) e
cartas de Tarot (cada naipe do Tarot está associado a um elemento, e consequentemente, a uma
arma mágica), que podem ter o poder combinado através de um ritual simples – consagre as duas
ao mesmo tempo com um incenso, por exemplo – ou algo mais elaborado, sincronizado com dias
da semana e horas planetárias.

O Pentáculo/Moeda está ligado a vida terrena, especialmente a riqueza e estabilidade. Andar com
um pentáculo especial na carteira amplia o poder dela de atrair dinheiro – encarar o dinheiro
como uma entidade espiritual e a sua carteira como um dispositivo para atrai-lo, prende-lo e
libera-lo quando necessário, pode ampliar os poderes dela – assim como consagrar um amuleto
do gênero e deixar em sua mesa de escritório. Pentáculos são amuletos poderosos de proteção,
relações sociais. Imprimir o poder dessas armas em seu Inconsciente através de um ritual de
Gnose pode ser de grande ajuda.

Uma vez sonhei que estava dormindo em um local em que realmente dormiria daqui a uns cinco
dias. No sonho, Eu acordava e era atacado por uma série de entidades sinistras e barulhentas –
bem similares aos wraiths, de The Witcher 2, game que conheceria mais de um ano depois. O
ataque não durou muito tempo: Eu retirei um pentáculo que estava embaixo do meu travesseiro
e realizei um banimento, utilizando o mantra doTetragrammaton (vão no Google, porque tem
tudo a ver com Elementos e Armas Mágicas). Funcionou.

A baqueta/varinha é o símbolo da espiritualidade, da Vontade Mágica. Se a Adaga envolve


“cortar” energias, o Pentáculo em arregimenta-las/rebate-las, a Baqueta as lança. É mais ou
menos como nos clássicos usos da Varinha em esteriótipos de bruxas, e nos filmes do Harry
Potter: apontar, desenhar um movimento e esticar o braço. Às vezes combinado com uma ou
duas palavras de poder.

Já a Taça é um elemento bem raro de ser utilizado em rituais ordinários. Está relacionado a
invocações (lembra da Bíblia dizendo que uma Besta sairá do mar? O significado está relacionado
a um poder espiritual e temperamental, enquanto a besta que saiu da terra se relaciona a um
poder financeiro/social) de entidades específicas, que se relacionam com o líquido que pode ser
colocado na taça.

Todas essas armas têm relação com o Astral, e devem ter lugar especial em seu Templo – isso
pode ser feito simplesmente através de técnicas de visualização, reforçadas periodicamente,
conforme informei nos textos passados. Meu altar possui armas completamente diferentes dessa
simbologia, por motivos bem pessoais e sincrônicos. Tenho o costume de comprar lembranças em
lugares que viajo, sempre com o pensamento: o que posso comprar aqui que provavelmente não
encontrarei em lugar nenhum. Após um certo número de viagens, me mudar de casa e arrumar
meus adereços mais legais (coincidentemente, quatro) em cima de uma cômoda, coloquei os
quatro dispostos em forma de quadrado e percebi que estavam alinhados com os quatro
elementos. Se tornaram minhas Armas Mágicas.

Mas pra que isso? Pra que e por que praticar ou dizer praticar magia?

Como disse, Magia é uma ferramenta e um processo. Os motivos que o levam a testa-la
dependem quase unicamente de você. Alguns se sentem simplesmente atraídos e experimentam
sem qualquer motivo claro ou objetivo traçado. Outros querem achar atalhos para ganhos
materiais, enquanto outros buscam conhecimento, Outros ainda querem controlar entidades
poderosas para impressionar os inimigos (e amigos, ou possíveis namoradas).

Tudo isso pode ser alcançado através de Magia. É a mesma dualidade da Ciência que mata de
forma silenciosa com uma arma química como o Fentanil, mas também salva milhares de vidas
com curas para milhares de doenças. A ideologia da Ciência é um conceito pessoal, ou presente
dentro da nação onde ela opera. A Magia simplesmente estuda e utiliza fenômenos que não
foram observados com regularidade e rigor necessários para se tornarem ciência formal. Da
mesma forma que na Magia, a Ciência possui toneladas de Teorias sem comprovação
experimental, que possuem o papel de saltos filosóficos que guiam e preveem os próximos passos
dela. Magia é a ciência da subjetividade, sem comprovação empírica externa ao mago.

Um estudante dedicado e obstinado de Magia pode seguir manuais prontos e chegar longe sem
qualquer avanço filosófico ou evolutivo. Mas é preciso entender que geralmente se está sozinho
nesse mundo. Magia é algo subjetivo, e mesmo em grupos, ordens e irmandades, um mago é
alguém solitário e não exporá certos experimentos realizados por ele. Por isso a necessidade de
conhecimento filosófico e teórico. Mais cedo ou mais tarde, seus atos reverberarão e chamarão a
atenção de outros praticantes e entidades.

No mundo mágico não existem leis claras, não existe física, termodinâmica, polícia. Existe Caos e
Experimentação. Por essa série de motivos as quatro qualidades do mago são: Saber, Ousar,
Querer e Calar (leia os princípios novamente, e faça as correspondências entre os elementos e
armas listados acima). Essa nova realidade subjetiva bastante ampla é um atrativo para alguns e
inspira medo em outros. Se você está no segundo grupo, é melhor se contentar com a Teoria, que
já é por demais excitante.
Magia e Ocultismo para iniciantes: Parte 09 Leitura

Considere esse texto um fim. Não o fim literal da série, mas um primeiro fim planejado. Tenho
apenas outro texto na manga que servirá como uma espécie de epílogo e complemento, pra
cimentar tudo que já escrevi aqui. Fora isso, uma série de entrevistas que fiz no III Simpósio de
Hermetismo e Ciências Ocultas que postarei nas próximas semanas. Depois, virão textos esparsos,
para comentar coisas específicas. O nome da série deve mudar: tirarei o “para Iniciantes” do
título. Imagino que tenha escrito para uma turma, que leu a série e cresceu no entendimento do
tema, independente de ter decidido praticar ou não.

O sucesso da série foi estrondoso, e sinceramente não esperava: centenas de comentários,


milhares de pageviews, emails, outros iniciados me contatando e tudo o mais. A interação é
sempre o melhor: gente graduada em ordens esotéricas internacionais importantes me escreveu
pra contar suas dúvidas, outros iniciantes mandaram email em busca de algum auxílio para achar
seu próprio lugar entre centenas de grupos místicos, outros apenas para agradecer.

Não há coisa melhor para quem escreve.

Esse post meio de despedida é como um tapa nas costas – e um convite-meio-ideia para levar isso
aqui para outro nível, escrito lá no final (não vão direto pra lá). Vocês aprenderam alguma coisa e
agora é o momento de saberem seus próximos passos. Outros, com mais conhecimento, tiveram
acesso a uma nova forma de pensar e entender Magia, e terão a chance de mesclarem-na às suas
próprias práticas.

Sem mais delongas, conheçam agora a Biblioteca Básica de qualquer Magista iniciante ou
graduado. Mas antes da lista com as indicações em si, alguns apontamentos. Eu selecionei
somente livros que li (se não inteiros, ao menos 70% deles), e aqueles que falam sobre Magia.
Existem outros tipos de livros recomendados para quem quer entender Ocultismo – Filosofia,
Psicologia, Mitologia, Antropologia, Simbologia, etc – que variam de acordo com a linha que cada
um curte e pratica, mas não dei atenção especial à eles, apenas citei um ou outro que
pessoalmente me identifico muito.

E é preciso entender que pratico primordialmente Magia do Caos, somado a alguns


conhecimentos de Kabbalah, Cultos Afros, Tecnomagia, alguma dose de Xamanismo modernete e
algumas coisas que misturei e testei. Então fica aí a máxima: não sei tudo e nunca saberei. Existe
uma tonelada de outros livros excelentes/melhores dando sopa por aí. Os que indico aqui são os
melhores que conheço para iniciantes e intermediários, então não tomem como uma lista
definitiva, apenas como essencial. Tudo fora de ordem para tornar as coisas mais divertidas.

Outro ponto: muitos dos livros que indico são práticos. Mais do que isso, são programas de
treinamento mágico. Alguns são complexos e exigem bastante dedicação, outros são mais
tranquilos (o que não é sinônimo de fácil). Todos eles têm algo em comum: disciplina. Então leia
bastante, e depois caia de cabeça na prática. Não tenha medo de praticar (e espero que já
estejam praticando). Último ponto: só escolhi livros em português, seja lançado por editoras, ou
por grupos independentes de tradução. Caso tenham facilidade em inglês, existem listas por aí
excelentes também. Procurem-nas(!), ou peçam alguma indicação aí nos comentários.

Bom, vamos à lista (não colei links de download [e quase todos eles têm versões digitais
gratuitas], por considerar que buscar o material é um sinal de Vontade. Se não acharem pra
baixar, recomendo o Estante Virtual).
Liber KKK/Liber MMM (Peter Carroll) – esse é a dupla de livros básicos da Magia do Caos. Tem um
programa de treinamento completo, que discorre sobre os principais atributos mágico
(Xamanismo, Divinação, Feitiçaria, e por aí vai). Tudo focado em resultados. É Magia encarada
como uma Semi-Ciência, um excelente ponto de partida. Nota: a presença dessa dupla de livros é
a principal razão de Eu não ter incluso o classicaço Dogma e Ritual de Alta Magia, do Eliphas Levi
(mas sintam-se a vontade para ler), que representa um sistema de prática mágica similar, mas
considero por demais carregados de dogmas que ficaram nos séculos passados.

Principia Discordia (Gregory Hill [Malaclypse, o Mais Jovem] e Kerry Wendell Thornley [Lord Omar
Khayyam Ravenhurst]) – O Principia não é exatamente sobre Magia, mas possui uma série de
técnicas de descondicionamento psíquico habilmente disfarçados de religião – o Discordianismo,
famosa entre hippies subversivos, e pelo envolvimento direto com conspirações pesadas, como o
assassinato de John Kennedy. Ele não é apenas um livro, mas uma série de colagens, cliparts,
fanzines, e tudo mais, fruto da mente mais doida possível. Leia, pratique e instantaneamente se
torne um Papa Discordiano.

Pop! Magic (Grant Morrison) – esse também considero o arroz-com-feijão de qualquer iniciante
com vontade de praticar Magia do Caos. Primeiro porque Morrison é bom em convencer,
especialmente os amedrontados ou preguiçosos; segundo – como o nome deixa claro – ele é pop,
com linguagem clara, e exemplos que todos podem entender. E ainda possui uma frase
antológica: “Ler sobre Magia é tão divertido quanto ler sobre sexo: a prática é sempre melhor”
(algo assim, como ele mesmo diz: Suas memórias sobre esse livro são melhores do que ele em
si”).

Psyconauta (Peter Carroll) – esse é outro volume introdutório excelente para qualquer um
entender porque o autor considera Magia do Caos a coisa mais foda da atualidade (e se
convencer que ele tem uma certa razão). Ele tem um estilo bem fogo-rápido, ao discorrer sobre
um tema complexo em duas ou três páginas. Como disse, é um volume introdutório, excelente
para você mesmo (isso mesmo, você) ir aperfeiçoando suas próprias práticas com insights únicos.
Caos Instantâneo (Phil Hine) – Phil é um dos meus autores favoritos. Ele parece um cara das ruas,
enquanto Peter Carroll tem muito mais daquele jeitão acadêmico, necessário em qualquer coisa
que está em seu estágio inicial. Enquanto Peter parece seu professor, Phil parece seu amigo. O
livro conta com explicações sobre as principais práticas mágicas, desde rituais de proteção, aos
tão conhecidos Sigilos.

Criando Entidades Mágicas (David Michael) – criar uma Entidade Mágica é o que defino como
primeira atividade de um magista quando ele alcança um nível intermediário. O magista que
deseja para si uma Entidade, Elemental ou Servidor, provavelmente já lançou Sigilos na Caosfera,
aprendeu rituais de proteção (Ritual Menor do Pentagrama, a Cruz Cabalística, ou desenvolveu
algum próprio, com deuses alinhados às práticas dele), possui um Diário Mágico constantemente
atualizado, e por aí vai. Criar um Servidor demanda tempo, cuidado, energia e disciplina – mas é
divertido à beça. E nesse livro estão todos os passos importantes que um Mago deve saber.

Rituais Caóticos (Diversos) – esse não é exatamente um livro, mas uma série de textos reunidos
que circula pela Internet e pode ser facilmente achado. É bom para aqueles que já possuem
alguma carga teórica e querem praticar – e ainda não possuem conhecimento suficiente para
desenvolverem seus próprios rituais. Os ritos aqui presentes vão desde divinações com energias
planetárias, à chamada Magia Entrópica (ou Negra, numa linguagem mais arcaica), de destruição
de adversários.

A Cabala Mística (Dion Fortune) – a Kabbalah é um dos principais sistemas de correspondências


simbólicas da Magia Ocidental. Provavelmente por seu caráter abrangente e profundo. Esse é um
dos principais livros sobre o assunto, escrito por quem entende. A Kabbalah atual, usada a torto e
direito por magos e aspirantes a mago pelo mundo, pouco tem a ver com o sistema original,
proposto por rabinos judeus – e isso é bom, de certo ângulo. Esse livro de Fortune é uma mistura
de Teoria & Prática, além de aplicar a Kabbalah como uma espécie de mapa psíquico. Bom, leiam
lá pra entender melhor!

A Árvore da Vida (Israel Regardie) – esse é bom livro pra fazer dupla, complementar e diversificar
o livro acima. Enquanto Dion Fortune se dedica a Kabbalah em si, Regardie trata da Árvore como
um esqueleto (ou “estante vazia”, nas palavras de Crowley, de quem Regardie foi secretário) que
se relaciona com as mais diferentes práticas: Evocação, Alta Magia, Projeção, Possessão, Transe,
Divinação, e por aí vai. Fundamental.

Autodefesa Psíquica (Dion Fortune) – Ataques Mágicos é um dos assuntos mais polêmicos quando
se trata de Magia. Alguns dizem que é besteira, outros se dedicam obsessivamente ao assunto e
terminam por destruir a si próprio. Um Ataque Mágico “”genuíno”” é algo complexo, que exige
um certo envolvimento para ser perpetrado: por isso querer destruir outra pessoa é abrir as
portas para a própria destruição. Aí entra esse outro livro de Dion Fortune, que envolve a Defesa
Psíquica, mas naturalmente não foge de ensinar o Ataque. Leia e evite a Paranoia Total, que é um
caminho bem curto para a Loucura Completa. Um adendo sobre esse livro e outros dessa lista: ele
é carregado de termos extraídos do Judaísmo e Cristianismo, que muitos podem não estar
familiarizados, e que basicamente contradiz as correntes mais modernas de Magia. Acho que isso
faz parte do Zeitgeist da época, e não diminui em nada a importância da obra.

A Golden Dawn (Israel Regardie) – a Golden Dawn foi a mais importante ordem ocultista
moderna. Ponto. Foi lá que nasceu a compreensão mais contemporânea de Magia, onde a Magia
Cerimonial como a conhecemos foi desenvolvida e aprimorada, onde uma série de conceitos que
influenciou praticamente todos os magistas importantes do lado de cá do Meridiano de
Greenwich. Esse livro é uma descrição assustadoramente detalhada de ritos, símbolos e graus da
Golden Dawn. Foi publicado em 1900, ano em que começou a fragmentação e destruição da GD,
mas continua muito atual.

O Livro de Thoth (Aleister Crowley) – esse é um dos melhores livros sobre Tarot que você terá
contato. Não apenas Tarot como um dos melhores (é o meu preferido) métodos de Divinação,
mas como uma forma de mapeamento psíquico, de ensinamentos de Magia Sexual, de
desenvolvimento mágico e de canalização de energias. Os caminhos que os Arcanos Maiores
representam fazem parte de uma Jornada de auto-conhecimento que todo o Mago enfrenta –
não necessariamente na ordem dos Arcanos. Ademais, o Tarot de Thoth (recomendo a compra) é
uma das mais importantes obras de Crowley, e mostra o conhecimento (como o nome deixa
claro) que ele adquiriu sobre magia e misticismo egípcio – e é importante levar isso em conta ao
iniciar o uso dele.
Ethos (Austin Osman Spare) – esse é o mais difícil de encontrar por aí, e foi traduzido e dividido
entre seus capítulos. O principal deles é o Livro do Prazer, uma obra considerada “negra” e
“narcisista” até por Crowley. Spare é considerado por alguns como o magista do século passado, à
frente do próprio Aleister. Motivos para isso não faltam: o sistema estabelecido por ele rompeu
violentamente com as tradições, ritos e cerimônias estabelecidas até então – até mesmo pela
Golden Dawn, ordem que ele fez parte por um curto período de tempo. Spare integrou uma
cultura “faça-você-mesmo” à Magia, e devolveu a ela o aspecto pessoal que fora abandonado,
além de resgatar novamente a Feitiçaria, considerada até então por grupos de magia ocidental
como “uma prática inferior”. A Magia do Caos é basicamente uma herança da ruptura causada
por Spare. Nota: como a escrita de Spare não é muito didática (até pela pouca vontade dele de
popularizar seus métodos), é importante também ler obras que comentem os métodos dele:
recomendo Apostila de Zos Kia, de La Sombra.

Liber Aba (Aleister Crowley) – outro clássico. Esse é a melhor compilação do trabalho mágico
prático do sistema criado e difundido por Crowley. Apesar da simbologia pesada, fruto de uma
mente enciclopédica, o livro possui programas mágicos extremamente bem delineados e claros –
vai do Yoga às conjurações, passando por Armas Mágicas.

As Clavículas de Salomão (autor desconhecido, tradução de Samuel “MacGregor” Mathers) – aqui


as coisas começam a ficar pesadas. Esse livro trata efetivamente de Seres Interdimensionais, seja
lá como você entende a questão. Deuses, Anjos, Demônios, Elementais, e por aí vai. Um sistema
completo de Invocação e Evocação está aqui, com pentáculos, círculos de proteção e assim por
diante. Tudo meio matemático demais, e pouco receptivo a aventureiros e erros graves. Ainda
que a maioria das entidades descritas aqui tenham ligação com sistemas judaicos (isso era comum
numa época que toda a sociedade era assombrada pela Inquisição), um pouco de sabedoria ajuda
qualquer iniciado a reconhecer praticamente qualquer Deus de qualquer Mitologia dentro do
sistema Goético descrito aqui.

Andando Entre Mundos / Entre Dois Mundos / Tocados pelo Fogo (Phil Hine) – esses três livros
formam uma trilogia de Xamanismo Urbano e Moderno. Na verdade, são as melhores obras sobre
o assunto que já li. São práticas para aguçar o Instinto, ouvir os Espíritos da Cidade, desenvolver
novas linguagens, controle dos Sonhos, Vidência, paisagens urbanas e muito mais. Em uma
realidade que uns 85% da população vive em áreas urbanas, metade em grandes metrópoles,
esses três livros formam o trabalho ideal sobre Xamanismo Moderno.

Obras complementares

O Gatilho Cósmico (Robert Anton Wilson) – RAW é o escritor que mais admiro, seguido de perto
por Grant Morrison. Era um erudito, filósofo e psicólogo, mas escrevia como um marginal punk,
questionando tudo e demolindo dogmas. O Gatilho Cósmico é uma autobriografia da Iniciação
dele em diversos sistemas de Magia, e da investigação que empreendeu para descobrir a ligação
entre a Magia Sexual da OTO e dos Illuminati com entidades da Estrela Sírius.

A Ascenção de Prometeus (Robert Anton Wilson) – esse é mais acadêmico e apresenta um


sistema simbólico-psíquico moderno e completo, e por isso deve agradar os estudantes mais
“sérios”. A teoria dos Oito Círculos da Consciência (desenvolvida em conjunto com Timothy Leary,
ambos praticantes de Magia do Caos) é tão importante e significativa quanto a Kabbalah.

Os Invisíveis (Grant Morrison) – a obra que despertou meu interesse por Magia, além de ser a
melhor obra de Morrison (um páreo duro com Patrulha do Destino). Um grupo anarquista
combate seres interdimensionais que controlam as mentes humanas há séculos. Magia, Arte,
teorias loucas da física, todas-as-teorias-da-conspiração-reunidas, e tudo mais possível. Isso é Os
Invisíveis.

Promethea (Alan Moore) – diz a lenda que o Velho Barbudo completou quarenta anos e resolveu
estudar Magia. Um dos resultados é Promethea, uma heroína que também é a versão feminina de
Prometeu e se manifesta em mulheres que estudam ou escrevem sobre ela. É uma das coisas
mais belas já feitas sobre Tarot, Kabbalah e Goécia, a arte de J. H. Williams III é algo insuperável.
A Deusa Branca (Robert Graves) – um estudo histórico sobre os mitos poéticos galeses, associado
com um sistema mágico (que também é um alfabeto) das árvores. É um livro quase inescrutável,
difícil de acompanhar o ritmo, mas é também uma das melhores obras sobre o Poder das
Palavras.

O Homem e Seus Símbolos (Carl Jung) – apesar de toda a erudição e interpretação mitológica sem
precedentes, Jung é ignorado pela Academia. Mas qualquer um com o mínimo de vontade de
praticar Magia tem a obrigação de ler o suíço. Essa é uma das obras mais clássicas dele, ótima
para entender como funciona a Psique com relação a interpretação simbólica. Se tiver com
disposição, leia logo depois A Interpretação dos Sonhos, de Freud, ainda hoje uma das três
melhores obras sobre o assunto já lançadas.

CAOS: Terrorismo Poético e outros Crimes Exemplares (Hakim Bey) – leia tudo de Hakim Bey,
pseudônimo de Peter Lamborn Wilson. Ele é o cara que escreveu TAZ – Zonas Autônomas
Temporárias. É Magia aplicada ao campo político e social, ideal para quem não gosta de ficar
parado, olhando as coisas acontecerem ao redor. Esse CAOS é o melhor manual de Desobediência
Civil pós-moderna, uma mistura de Magia Negra islâmica, pacifismo, arte, paganismo, práticas
sexuais bizarras e por aí vai.
Autoconhecimento

Mapa Astral – esse é um mapa básico sobre personalidade, forças e fraquezas psíquicas. É
importante que seja feito por uma pessoa de confiança, porque é com ele que você poderá
desenvolver suas capacidades e minar seus defeitos. É importante também entender aqui que
Mapa Astral nada tem a ver com bobagens estilo horóscopo: é apenas um mapa de personalidade
e contém linhas gerais a trajetória da sua vida. Um Mapa Astral completo deve levar em conta dia
de nascimento, horário e lugar – e não utilizar apenas o Signo (estipulado pela posição do Sol),
mas de todos os Planetas Astrológicos. Astrologia não é ciência, não é exato. É um rascunho, pra
não te deixar no escuro total. Se achar que já possui conhecimento suficiente da sua própria vida,
pode seguir sem ele.

Sigilo Pessoal – é uma espécie de assinatura astral, que relaciona seu nome com letras hebraicas,
e posição planetária. É a versão pessoal dos Pontos Riscados de Exus, e dos símbolos de evocação
de Demônios da Goécia. Pode ser utilizado na personalização e fortificação de rituais de proteção,
na consagração de Armas Mágicas, e por aí vai. Se achar alguém que o faça pra você (e não será
fácil), mantenha-lo em segredo. E caso entre em alguma ordem iniciática, um novo Sigilo será
traçado baseado em seu nome mágico.

Búzios – se você tem alguma afinidade com Cultos e Magia Afro, recomendo ao menos uma vez
na vida jogar búzios com um Pai-de-Santo de sua confiança. É bom para saber o nome de seu Exu,
do Orixá de sua cabeça. e da sua mãe de cabeça (se for homem será um Orixá Masculino e se for
mulher será um Feminino). Fiz o teste e não por acaso todas as minhas Entidades se relacionaram
perfeitamente com as posições planetárias do meu Mapa Astral.

Sites

Morte Súbita Inc. – disparado o melhor site sobre o assunto no Brasil. Tem coisas para todos os
gostos, desde textos excelentes, à coisas realmente sem qualquer valor. Vai de cada um filtrar. Dê
uma olhada na coluna da Esquerda e escolha o assunto que tiver a fim de aprender alguma coisa.
Teoria da Conspiração – o site é do Marcelo Del Debbio, o ocultista mais pop do Brasil, que
também ministra alguns cursos muito bons (aprendi minha base de Tarot e Kabbalah em suas
aulas). Alguns dos estudos históricos sobre Magia e suas relações com as catedrais e ordens de
cavalaria são excelentes.

Pronto, é o bastante para começar. Achou muito? Já se convenceu de que entrar nessa pra
conseguir dinheiro é mais complicado do que trabalhar igual cachorro e ganhar dinheiro do seu
patrão? Não, então comece a ler agora.

Ah, o convite que citei lá em cima: alguém que não lembro o nome agora mandou um email com
sugestão de montarmos um fórum/grupo para trocarmos ideia sobre Magia, experiências
pessoais, tirarmos dúvidas e tudo mais. Sem hierarquia, nada sistematizado, para evitar
briguinhas e batalhas de Ego que presenciei em muitos grupos, mesmo os menores. Pensei no
Facebook, mas prefiro que nos mantenhamos anônimos, e posso pensar em algo nesse sentido. O
que acham? Assim centraliza todas as questões, e todos poderão ler as respostas e aprender em
conjunto. E outra: quem me escreveu e Eu ainda não respondi, peço um pouco de paciência,
estive envolvido em uma série de projetos pessoais e profissionais nos últimos meses e fiquei
sobrecarregado. Responderei nas próximas semanas.
Magia e Ocultismo para Iniciantes – Parte 10: Um Chamado

Chegou a hora de adentrar o Submundo do submundo, onde as coisas recebem seus pontapés
iniciais e… simplesmente acontecem. Chegou a hora de elaborar as ideias mais loucas possíveis,
explorar nosso potencial máximo, criar e devorar Deuses, entortar e subverter a Realidade, fazer
nossos inimigos tremerem e nossos amigos ficarem com os corações palpitando de excitação. É
hora de aprendermos, ensinarmos, sermos anarquistas, abraçarmos o Caos, criar nosso próprio
Tempo.

É hora de sermos Magos!

Navarro, o Papa da Loucura

Você também pode gostar