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Brasília Living Labs: Um Centro de Eficiência Urbana (An Urban Efficiency Center) View project
Tecnological frameworks for implementing CESM approach to Urban and Transport Systems: Agent-Based Modeling View project
All content following this page was uploaded by Marcos Thadeu Queiroz Magalhães on 31 July 2015.
PUBLICAÇÃO:T.DM-015A/2004
BRASÍLIA/DF: NOVEMBRO/2004
UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA
FACULDADE DE TECNOLOGIA
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA CIVIL E AMBIENTAL
APROVADA POR:
______________________________________________
YAEKO YAMASHITA, PhD. (UnB)
(Orientadora)
______________________________________________
JOAQUIM JOSÉ GUILHERME DE ARAGÃO. PhD. (UnB)
(Examinador Interno)
______________________________________________
MARIA INES PEDROSA NAHAS, Dra. (PUC-MG)
(Examinadora Externa)
ii
FICHA CATALOGRÁFICA
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
CESSÃO DE DIREITOS
iii
DEDICATÓRIA
À Deus.
À minha família.
À Minha Esposa, Mariana.
Ao meu avô João...
iv
AGRADECIMENTOS
À minha orientadora, Profa. Yaeko, por tudo, todas as oportunidades e, principalmente, pela
frase que me fez decidir sair de minha casa e vir pra longe começar meu mestrado: “Acho que
vai valer a pena!”...e por ter estado certa disso! Pelo privilégio de poder conviver, aprender e
trabalhar ao seu lado com tantos desafios e de forma tão gratificante. Pelo exemplo e dedicação
à Universidade e o constante incentivo ao desenvolvimento de seus alunos. Palavras não
conseguem expressar minha gratidão e admiração.
A Parágua, poeira de estrelas, guia, mentor, pelo encorajamento, pelas broncas, por me mostrar
que sempre há o que aprender. Pelos conselhos, cobranças e pelos incentivos. Pela excelente
contribuição à minha formação e ao profissional que sou. Pela humanidade, pelas conversas
animadas e pelas constantes novidades a cada encontro, manifestação de puro espírito criativo.
À minha pequena grande mãe que sempre me incentivou, que de tantas coisas abdicou para que
tivéssemos, eu e minha irmã, o melhor que pudesse nos proporcionar. Que, mesmo de coração
apertado, me ajudou a perseguir meus sonhos! Pelos valores que hoje fazem parte do que sou.
Pelos erros e acertos.
À minha esposa, Mariana, pelo tempo que suportou longe. Por se juntar a mim neste sonho de
vida. Por estar ao meu lado, para o bom ou ruim. Pelo seu amor. Por ver o pior de mim, e
conseguir se manter ao meu lado.
À minha irmã, pelas brigas, pelos risos, pela vida que compartilhamos, por tudo o que
passamos juntos.
A Tia Tina, Tio Paulinho, Tata e Dão, e Vó Lígia, pelos momentos alegres, boas lembranças e
o eterno carinho.
A Jú, Marcelinho. Andillo, Matillo, Ed, Anilla, Rafillo, Brunillo, Meri Loo Jones, Maynard,
Daniel, Joe, Ernesto, Tato, Pequeno Uel, pela amizade, que se mantém mesmo com a distância
v
e com o tempo. Pela convivência, pelos bons momentos, por fazerem parte daquela família que
escolhemos.
A Floriano pelo exemplo de persistência e ética. Pela amizade e parceria desde o início de
minha carreira.
A Tia Tina, Tio Tadeu, Juninho, Netinho e Bárbara, pela acolhida em Brasília e, mesmo depois
de tanto tempo distante, me deixar fazer parte de suas vidas. Pelos risos e pelo suporte.
A Paty, por ser a companheira na épica aventura de vir para Brasília. Por tudo que passamos,
por todos os desafios enfrentados. Pela força e pelo incentivo. Pela lendária caminhada Asa
Norte-Asa Sul. Por ser a referência de casa quando tudo tinha ficado tão distante.
A Letícia, que conheci por Paty, pela amizade, apesar dos encontros esporádicos. Por ser outro
referencial quando cheguei em Brasília.
Às moradoras da Casa das 7 Mulheres, principalmente Égina, Tati e Cris, pelo pouso
temporário antes de me integrar ao Centoitão.
A Daniel Aldigueri, que se mostrou um bom amigo e cheios de lições e conselhos valiosos. A
Bruno e Tiago, pelas batalhas na hora do almoço pra desestressar! E a Marcelo Queiroz, o
homem do sótão, pela amizade.
Aos colegas de turma: PG, Érika, Ítalo, Juliana, Klebert e Kelya, Geisa e César, Moisés, Denis
e Rodrigo (que onde quer que esteja, rogo para que esteja em paz) por terem feito parte da
minha história no programa.
vi
Aos professores do mestrado: Adelaida, Carlos Henrique, Joaquim, Maria Alice, Matsuo, Paulo
César, Zé Alex e Zé Augusto pelos ensinamentos valiosos que carregarei daqui pra frente.
À CAPES, pela bolsa que permitiu que me mantivesse em Brasília, cursando o Mestrado.
E a todos demais que caminharam comigo, mesmo que por um pequeno tempo, mas que
deixaram ensinamentos e lembranças.
vii
RESUMO
viii
ABSTRACT
Indicators are essential elements to the Planning and Management Process. They are the
basis of knowledge of a given situation and of decision to different agents. In spite of being
a strategic element to national planning, the Transportation Sector stills in need of a well
established systematic process for planning and management based on indicators usage. At
international and national levels, several previous experiences on indicators systems
development have failed because they had not succeeded in fully insert these elements in
the decision-making process in a coherently way. This research aimed to solve this problem
through the development of a methodology which is capable of integrating indicators to the
planning and managing process. This was achieved by the systematization of several
previous experiences, focusing on the most appropriate and relevant aspects to development
of indicators systems. The PDCA cycle, the strategic planning process and the decision-
making levels were also used to provide an integrated information structuring model for the
system. In addition, The Spatial Coverage Index was developed. Finally, the proposal was
validated by the Transportation Ministry Staff although several barriers to its
implementation, especially of organizational matter, were identified.
ix
SUMÁRIO
1- INTRODUÇÃO ............................................................................................ 1
3- INDICADORES.......................................................................................... 19
x
3.6 - DESENVOLVIMENTO DE SISTEMAS DE INDICADORES ................. 39
xi
6- VALIDAÇÃO DA METODOLOGIA E ANÁLISE DOS
RESULTADOS ......................................................................................... 103
7- CONCLUSÕES......................................................................................... 126
xii
LISTA DE QUADROS
xiii
LISTA DE FIGURAS
Figura 2.5 - Finalidades dos Sistemas Federal, Estadual e Municipal de Viação propostas
no Projeto de Lei 1.1176/1995. .................................................................... 16
Figura 3.3 - Recursos de Análise: Linha-Base (A); Limiar (B); e Metas (C). ................. 28
Figura 3.8 - Relacionamento entre as classes dos modelos PSR, DSR, PSIR e DPSIR. 37
xiv
Figura 4.4 - Ciclo PDC proposto...................................................................................... 59
Figura 5.3 - Quatro temas base para o desenvolvimento do sistema de indicadores para
planejamento e gestão do setor de transportes no Brasil.............................. 74
Figura 5.6 - Situação Hipotética: Municípios com área diferente mas mesma extensão de
rodovia. ......................................................................................................... 84
xv
Figura 6.1 - Mapa do Indicador Extensão Rodoviária. .................................................. 106
Figura 6.7 - Exemplo para utilização do indicador de eficiência para análise de projetos. .
.................................................................................................................... 114
Figura 6.8 - A malha rodoviária (a) e os indicadores extensão rodoviária (b), densidade
espacial rodoviária (c) e índice de cobertura rodoviária (d)....................... 118
Figura 6.9 - A malha ferroviária (a) e os indicadores extensão ferroviária (b), densidade
espacial ferroviária (c) e índice de cobertura ferroviária (d). ..................... 120
xvi
ABREVIATURAS
xvii
1 - INTRODUÇÃO
Figura 1:
Nos últimos anos, o setor público federal tem sido pressionado pelos mais diversos
organismos, principalmente pelas fontes internacionais de financiamento, no sentido de
aprimorar seu processo de planejamento e gestão como requisito para a liberação de recursos.
A Lei 10.233 de 2001 reestruturou o setor público federal de transportes instituindo elementos
de integração de planejamento, como o Conselho de Integração das Políticas de Transporte –
CONIT, e de regulação, as Agências, Além disso, essa lei reiterou o objeto do setor de
transportes: o Sistema Nacional de Viação. Entretanto, ela não detalha o Sistema Nacional de
Viação de forma adequada ao estabelecimento de vínculos entre União, Estados e Municípios
no Planejamento Nacional de Transportes. Esta definição, contudo, faz parte do Projeto de Lei
1.176 de 1995, em tramitação na Câmara Federal.
Entre os setores mais avançados na utilização de indicadores para condução política está a
Economia. Atualmente, toda a política econômica é desenvolvida sobre elementos como taxas
de juros, inflação, PIB, câmbio, cotações da bolsa, poupança interna, entre muitos outros. Esta
estruturação é favorecida por todo um arcabouço teórico (teoria macro e microeconômica)
consolidado e consagrado.
1
do setor e, em geral, quando existem indicadores, estes são desconexos e/ou muito específicos,
úteis apenas para estudos técnicos e muito pontuais.
Os indicadores são elementos fundamentais no processo de tomada de decisão. É sobre ele que
os decisores tomam conhecimento dos elementos a eles relevantes e desenvolvem os meios
para a consecução dos objetivos. Além disso, é sobre os indicadores que eles podem analisar
seu desempenho, eficiência, eficácia e efetividade, analisando a assertividade de suas decisões.
1.1 - PROBLEMA
1.2 - OBJETIVO
Isto posto, aponta-se como objetivo desta pesquisa o desenvolvimento de uma metodologia
para a construção de sistemas de indicadores que, orientados ao uso, sejam concebidos de
forma integrada ao processo de planejamento e gestão, e que possam servir efetivamente para
a elaboração, desenvolvimento, implementação e avaliação da política nacional de transportes.
Além disso, busca-se o desenvolvimento de um modelo de organização que seja integrado ao
processo de planejamento e gestão.
2
1.3 - HIPÓTESES
Para a consecução dos objetivos propostos e para a validação das hipóteses apontadas, o
presente estudo foi estruturado em 7 capítulos.
3
O capítulo 4 detalha a metodologia desenvolvida e os modelos de macro-ambiente de
planejamento e de organização da informação, produzidos para embasar conceitualmente a
metodologia proposta.
4
2 - PLANEJAMENTO DE TRANSPORTES
O planejamento tem ganho grande importância nos últimos anos. Dada a crescente escassez de
recursos para investimento no setor de transportes e as exigências de organismos financiadores
e fiscalizadores por maiores retornos sobre as aplicações de recursos, os gestores têm sido
pressionados no sentido da busca de efetividade, eficácia e eficiência, objetivos estes
alcançados apenas através de um planejamento sério e as adequadas ferramentas de gestão.
O presente capítulo busca prover uma visão geral sobre o planejamento nacional de
transportes, a fim de possibilitar, no desenvolvimento da pesquisa, uma melhor compreensão
de como os indicadores podem e devem atuar neste processo.
Com esta finalidade, estruturou-se este capítulo da seguinte forma: inicialmente, são revisados
os processos tradicional e estratégico de planejamento, reconhecendo suas peculiaridades; e,
em seguida, delimita-se o conceito de planejamento nacional de transportes, seu objeto e
objetivos, com base em experiências internacionais e na legislação existente ou em elaboração
no Brasil.
5
• coleta de dados, que consiste no levantamento de dados e informações sobre o(s)
objeto(s) de análise;
• análise das condições existentes, que diagnostica a situação atual com base nos dados
coletados subsidiando a etapa propositiva;
6
Uso de Modelos
Figura 2:
7
• sujeito aos limites administrativos, sem uma visão integrada e coerente com a
espacialidade dos fenômenos;
A conseqüência deste tipo de enfoque, que não abordava a sustentabilidade política, foi a falha
sistemática de implementação de grande parte dos planos, notadamente urbanos. Um outro
agravante para a inviabilização de diversos planos era a sua caducidade precoce, resultante
principalmente do tempo dispendido em coleta de dados exaustivas e nos trâmites legais, a
exemplo dos Planos Nacionais de Viação (GEIPOT, 2003).
As definições para planejamento estratégico são as mais diversas. Segundo Lucas (2001), o
planejamento estratégico é um processo dinâmico através do qual são definidos os caminhos
que a empresa deve trilhar por meio de um comportamento proativo, levando em conta a
análise do seu ambiente e em consonância com sua razão de existir, a fim de construir o seu
futuro desejado. Já Güell (1997) define como planejamento estratégico como um método
8
sistemático de gerir as mudanças na empresa com o propósito de competir vantajosamente no
mercado, adaptar-se ao seu entorno, redefinir produtos e maximizar os benefícios. Este
processo dá lugar a uma série de estratégias para que a empresa expanda seu crescimento, sua
rentabilidade ou sua eficiência levando em consideração os pontos fortes e fracos presentes
assim como as ameaças e oportunidades presentes e futuras.
O processo estratégico de planejamento pode, assim, ser visto como um novo paradigma que
se contrapõe a diversos enfoques metodológicos do processo tradicional, como sintetizado por
Lucas (2001), no quadro 2.1.
Quadro 1:
Quadro 2:
9
Figura 2.2 - Etapas do Processo Estratégico (Güell, 1997)
10
• Desenvolvimento de Estratégias: Baseada na formulação da visão desejada, as
estratégias são desenvolvidas para possibilitar a consecução dos objetivos definidos,
compondo programas de atuação com seus respectivos planos de ação;
A ANTP (1997) define como planejamento de transportes “a atividade que define a infra-
estrutura necessária para assegurar a circulação de pessoas e mercadorias e que organiza os
sistemas de transporte que estão sujeitos à regulamentação pública, inclusive a tecnologia e
nível de serviço a ser ofertado”.
11
Dimitriou (apud Vasconcellos, 2000) propõe uma visão holística do planejamento, na qual o
planejamento de transportes se insere no planejamento urbano-regional como um elemento de
apoio ao desenvolvimento, e não ao transporte como fim em si mesmo. Ele ainda define como
o papel do planejamento de transportes neste processo a garantia da acessibilidade,
racionalização dos sistemas de transporte existentes e a distribuição dos benefícios gerados
considerando os diferentes grupos socioeconômicos e as diferentes regiões geográficas.
Vasconcellos (2001), baseado nesta visão, define três técnicas de intervenção com diferentes
poderes de controle sobre o espaço, a saber:
12
2.3.2 - O Objeto do Planejamento de Transporte: Os Sistemas de Transporte e o
Ambiente de Circulação
Como foi dito anteriormente, planejamento de transportes tem como objetos a estrutura de
circulação, inclusive seus pontos de acesso e conexões, e a definição da oferta operacional
dos sistemas de transporte.
13
Figura 2.4 - Ambiente de Circulação, macro-objeto do planejamento de transporte e
seus componentes (Vasconcellos, 2001)
Foi dito que o planejamento de transportes tem como objeto o ambiente de circulação.
Atuando sobre estes elementos, os planejadores buscam, de maneira geral, equilibrar a oferta e
a demanda por transportes, além de compatibilizar as intervenções necessárias com o
desenvolvimento econômico e sustentabilidade ambiental.
14
a. garantia da mobilidade de pessoas e mercadorias;
No âmbito do planejamento nacional, a Lei 5.917 de 1973 (Brasil, 1973), mais conhecida
como a lei do Plano Nacional de Viação, e a Lei 10.233 de 2001 (Brasil, 2001), que
reestruturou o setor de transportes, estabelecem como objetivos essenciais do Sistema
Nacional de Viação, objeto do planejamento de transportes:
O projeto de Lei 1.176 de 1995 expande ainda mais estes objetivos, fixando princípios para o
Sistema Nacional de Viação. Estes princípios são:
15
• desenvolvimento social, econômico, científico e tecnológico.
Este projeto de lei nº 1.176 de 1995 estabelece, ainda, finalidades específicas para cada
componente do sistema nacional de viação (Figura 2.5).
Conforme pode ser percebido na Figura 2.5, a integração entre os sistemas federal, estadual e
municipal é um elemento central entre os objetivos definidos, reforçando a necessidade de um
planejamento nacional integrado com os demais níveis.
16
2.4 - TÓPICOS CONCLUSIVOS EM PLANEJAMENTO DE TRANSPORTES
Dado o que foi visto neste capítulo, cabem os seguintes tópicos conclusivos:
17
+ O planejamento de transportes e circulação, planejamento urbano, regional e nacional
são dimensões inter-relacionadas de um grande ambiente de planejamento. O conceito
sistematizado por Vasconcellos (2001) (Item 2.3.2) permite a integração conceitual do
planejamento de transportes com o planejamento nacional, regional e urbano pela
incorporação do elemento “ambiente construído”.
18
3 - INDICADORES
Os indicadores podem ser utilizados para abordar os mais diversos aspectos, tanto questões
econômicas, quanto sociais, políticas, ambientais, e muitas outras. Apesar dessa multiplicidade
de temas, o conceito geral de indicador, suas características e aplicações, ultrapassam, no
entanto, estas especificidades temáticas. Desta forma, não importa se são econômicos, sociais,
políticos, de saúde, ambientais, de desenvolvimento sustentável ou qualquer outro tema: se um
dado elemento é considerado um indicador, independente de seu tema, significa que ele possui
características e funções fundamentais que o distinguem de qualquer outra coisa.
Este capítulo busca revisar o tema dos indicadores junto à bibliografia nacional e internacional
a fim de contribuir para a construção da visão crítica necessária ao desenvolvimento de um
sistema capaz de ser efetivamente incorporado no processo de planejamento e gestão.
Com este objetivo, o presente capítulo revisa e define conceitos básicos de dado, indicador,
índice, informação e conhecimento, para nivelamento e a consistência dos termos utilizados.
Em seguida, levanta as características e funções de indicadores, tipos existentes, além de
recursos de apresentação e análise, modelos de organização e metodologias existentes para o
desenvolvimento de sistemas de indicadores.
19
3.1 - CONCEITOS: DADO, INDICADOR, ÍNDICE, INFORMAÇÃO,
CONHECIMENTO E SISTEMA DE INDICADORES
Quando se aborda o tema “indicador”, alguns termos vêm à tona. São eles: dado, indicador,
índice, informação e conhecimento. Inúmeras definições existem para estes termos, no
entanto, é conveniente reduzir seu universo de denotação.
Desta forma, um objeto, ou entidade, pode ser representado através de diversos dados. No
entanto, de acordo com o nível de análise, a representação de uma entidade através de uma
grande quantidade de dados é contraproducente e pouco ajuda no processo de tomada de
decisão. É nesta lacuna de elementos de síntese que os indicadores desempenham seu papel.
Os indicadores são, assim, parâmetros representativos, concisos e fáceis de interpretar que são
usados para ilustrar as características principais de determinado objeto de análise (CEROI,
2004).. O Ministério do Meio Ambiente - Espanha (apud Royuela, 2001) define como
indicador a variável que, socialmente dotada de significado adicional àquele derivado de sua
própria configuração científica, reflete de forma sintética uma preocupação social e a insere
coerentemente no processo de tomada de decisão. São meios para um fim e não um fim em si
(Federation of Canadian Municipalities, 2002; Segnestam, 2002). Alguns indicadores podem,
ainda, ser combinados originando um índice, que é também um indicador, geralmente usado
em níveis mais agregados de análise (nacional, regional, internacional).
20
Para Nahas (2003), um índice é uma agregação matemática, um conceito vinculado a uma
estrutura formal de cálculo. De maneira geral, o índice é uma agregação, proposta de
representação de todo um sistema, ou tema, por um único elemento, normalmente
adimensional, sendo utilizado em aproximações iniciais e proporcionando uma descrição geral
sobre o tema analisado. Assim, um índice é, também, um indicador, e sua distinção é feita
apenas para valorizar a agregação de dados, as regras de relacionamento entre estes dados,
além de sua estrutura de cálculo.
Figura 3:
Agora, para melhor ilustrar a relação entre dados, indicadores e índices no que diz respeito à
agregação e número, observe-se a Figura 3.2. Nela percebe-se que, no universo de “entradas”
ou “inputs” do processo de análise, os dados primários são os mais numerosos, representados
pela base da pirâmide. À medida que estes dados são tratados e agregados, eles reduzem em
número e ganham em poder de significação e, conseqüentemente, de informação. No topo da
pirâmide ficam os indicadores e índices, estes últimos refinamentos e agregações de dados
analisados e mesmo de outros indicadores, possuindo maior carga de significação.
21
Figura 3.2 - Dados, Indicadores e Agregação: Inputs do Processo de Análise (Segnestam,
2002).
Apesar de um índice contemplar mais informações que um único indicador, isto nem sempre
quer dizer que um seja melhor que o outro. Segnestam (2002) discute os prós e contras da
utilização de índices e conjunto de indicadores e seus argumentos estão apresentados no
Quadro 3.1.
22
Quadro 3:
23
objetivo. Isto posto, entende-se por sistema de indicadores o conjunto formado por
indicadores, ferramentas de visualização e análise, bases de dados, soluções tecnológicas e
usuários, cujo objetivo é o apoio à tomada de decisão.
Na seção anterior foi visto que o dado é a base dos indicadores, índices e da informação e que
os indicadores diferenciam-se dos dados pela sua capacidade de prover informação. Partindo
desta noção, poder-se-ia acreditar que todo o dado analisado pode ser considerado um
indicador. Esta crença é, no entanto, inválida.
• reduzidos em número;
24
A OECD (2002) sistematiza os requisitos em três classes, conforme o quadro 3.2:
25
mais apropriado à abordagem do tema específico, à escala de análise, às necessidades do
público-alvo e compatível com a disponibilidade e qualidade dos dados existentes.
Por outro lado, se classificados pelo nível de análise a que se prestam, tem-se: Indicadores
Operacionais, Funcionais e Estratégicos (Federation of Canadian Municipalities, 2002),
caracterizados no Quadro 3.4.
26
Quadro 3.4 - Tipos de Indicadores por Nível de Análise (Federation of Canadian
Municipalities, 2002).
Tipo de Indicador Descrição
São em geral dados desagregados sobre determinado objeto
Operacional
que é usado nas decisões do dia-a-dia.
São resultados da análise de indicadores operacionais
diversos, mas relacionados, a fim de se obter uma visão geral
Tático ou Funcional
sobre determinado tópico, utilizado em níveis intermediários
de decisão.
Permitem avaliações globais de objetivos e/ou ideais mais
Estratégico
amplos, utilizados nos níveis mais altos de decisão.
Para que um indicador cumpra sua função, duas etapas são fundamentais. A análise, processo
pelo qual se gera informação, e apresentação, que consiste em dotar os indicadores de uma
forma que o torne mais facilmente compreensível.
Para a análise dos indicadores, Segnestam (2002) apresenta como recursos de análise os
seguintes elementos: linhas-base; limiares; metas e comparadores.
• Limiar (Figura 3.3B): é um valor limite, sob o qual o valor de determinado fator
monitorado pode variar. É utilizado para monitorar fatores que, se assumirem valores
superiores ao do limiar, podem gerar efeitos indesejados, funcionando como um
alarme;
27
• Metas (Figura 3.3C): funciona da mesma forma que o limiar, só que em sentido
oposto. É, portanto, um valor desejado para o fator monitorado. É usado para
monitorar se determinado fator está respondendo ou não às expectativas estabelecidas.
Indicam resultados;
C
A B
Figura 3.3 - Recursos de Análise: Linha-Base (A); Limiar (B); e Metas (C).
A Figura 3.3 introduz outro ponto importante: a forma de apresentação dos indicadores.
Existem diversas formas de apresentação, cada uma com suas vantagens e desvantagens,
funcionando como elementos muitas vezes complementares. Entre as mais comuns estão as
apresentações textuais, as tabelas, os gráficos e os mapas (Segnestam, 2002).
• Tabelas: são muito usadas em apoio ao texto. São capazes de resumir os indicadores,
apresentando-os de forma bastante sintética, sendo adequadas para a apresentação de
diversos indicadores ao mesmo tempo sobre um determinado objeto. Não são,
28
entretanto, bons recursos para realizar análises comparativas, principalmente quando
são muitos os indicadores analisados;
• Gráficos: são excelentes ferramentas para realizar comparações, mas para manter a
clareza da apresentação não devem representar muitos indicadores ao mesmo tempo;
• Mapas: mapas podem agregar tabelas e gráficos dependendo do tipo que se venha a
utilizar. Assim como os gráficos, são excelentes ferramentas para comparação, mas são
limitados quanto à quantidade de indicadores que podem apresentar. Uma outra
vantagem dos mapas é a possibilidade de visualização espacial dos indicadores, ou
seja, analisar o indicador como, onde e quais relações espaciais ele estabelece. A
geração de mapas temáticos é uma das funções mais básicas dos Sistemas de
Informação Geográfica (SIG).
Para Segnestam (2002), os modelos servem como meio para a estruturação de sistemas de
indicadores, facilitando sua interpretação e garantindo que os indicadores selecionados
consigam traduzir uma ampla gama de aspectos do problema abordado. Diferentes níveis de
análise e detalhamento, bem como estrutura e propósito do monitoramento exigem diferentes
modelos de indicadores.
29
• Modelo Baseado no Ciclo de Projeto, mais conhecido como entrada-saída-resultado-
impacto, utilizado normalmente para monitorar a efetividade de um projeto;
Para análise em nível de projeto, o próprio ciclo de projeto pode auxiliar na definição de um
modelo. Segnestam (2002) sistematiza os seguintes passos:
30
• Indicadores de Resultado, que medem os resultados de curto-prazo do projeto,
referindo-se aos componentes e suas respectivas saídas; e,
31
3.5.2 - Modelos PSR, DSR, PSIR, DPSIR e Estruturação por Temas: Análise em Nível
Nacional, Regional e Internacional
32
Figura 3.5 - Modelo PSR. Adaptado de Royuela (2001).
• Pressões são resultados das atividades humanas sobre o ambiente. Indicadores de pressão
cobrem pressões diretas, indiretas e ocultas e estão freqüentemente relacionados à
produção e padrões de demanda/consumo;
• Respostas mostram até que ponto a sociedade responde aos impactos. São exemplos de
indicadores de resposta os gastos governamentais, taxas e subsídios entre outros fatores.
Apesar de ser amplamente usado e ser dotado de grande flexibilidade, o modelo PSR nem
sempre é adequado para as diversas situações nas quais a montagem de sistema de indicadores
é necessária. A prática internacional já desenvolveu diversos modelos adaptados da estrutura
33
do PSR consistindo basicamente de um maior detalhamento dos elementos componentes do
modelo. Isso ocorre com o DSR, no qual as pressões são substituídas pelas causas, sendo
adequado para situações onde a identificação das pressões é bastante difícil.
O modelo PSIR é outro refinamento que, por sua vez, introduz indicadores de impacto com o
objetivo de captar as alterações resultantes das pressões. A estrutura do modelo está ilustrada
na figura 3.6.
Por último, o modelo DPSIR, atualmente adotado pela EEA – European Environment Agency
-, é mais um refinamento do modelo PSR. O modelo DPSIR tem sua estrutura apresentada na
figura 3.7. Sua construção lógica, baseada na do modelo PSR, tenta captar as relações de
causalidade. O propósito das categorias do DPSIR é tornar a informação interpretativa, e não
meramente descritiva (CEROI, 2004).
34
Figura 3.7 - Modelo DPSIR. Adaptado de CEROI (2004)
Para melhor compreensão do modelo, cabe introduzir a definição de cada categoria e qual seu
relacionamento com as demais. Para isso, utilizar-se-á a sistematização apresentada pelo
CEROI (2004):
35
b. Pressões
São as pressões sobre a funcionalidade e qualidade do sistema, resultantes das forças motrizes,
ou causas. As informações desta categoria devem explicar: (i) sinergias e pressões cumulativas
resultantes de diversas forças motrizes, onde for aplicável; (ii) escala espacial da pressão; e,
(iii) projeções para seu comportamento no curto, médio e longo prazo.
c. Estado
d. Impactos
Os impactos se referem às respostas do ambiente às pressões sobre o sistema. Deve incluir: (i)
mudança na qualidade/quantidade dos recursos; (ii) alterações na funcionalidade do sistema;
(iii) efeitos sobre outros sistemas; (iv) sinergias e impactos cumulativos; (v) horizonte
temporal dos efeitos (ex. curto prazo, etc.); (vi) tempo necessário para reparar, reverter
tendência, ou melhorar qualidade; e, (vii) a extensão espacial dos impactos.
e. Respostas
São as reações às mudanças ambientais. Respostas incluem ações: (a) para mitigar, adaptar ou
proteger a sociedade dos impactos negativos sobre o ambiente; (b) para interromper ou
reverter os danos ambientais já causados; e (c) para proteger e conservar os recursos naturais.
36
Devem ser incluídos nesta categoria: (i) acordos internacionais; (ii) leis nacionais; (iii)
estratégias de gestão requeridas por lei; (iv) recomendações para políticas e estratégias
sustentáveis; (v) níveis de mobilização e fiscalização; e, (vi) eficácia das políticas e estratégias
atualmente utilizadas.
Os modelos subseqüentes aos PSR são, portanto, refinamentos deste. Assim, pode-se
representar o relacionamento entre as classes componentes do PSR, DSR, PSIR e DPSIR
conforme a figura 3.8.
Figura 3.8 - Relacionamento entre as classes dos modelos PSR, DSR, PSIR e DPSIR.
37
Quadro 3.5 - Pontos positivos e negativos de cada modelo de indicador (Segnestam,
2002).
Modelo Vantagens Desvantagens
• Introduz a noção de • Pode sugerir
causalidade na relacionamentos
estruturação de sistemas lineares;
de indicadores. • não reflete o efeito do
PSR ambiente degradado
sobre o bem estar
humano;
• Adequado apenas a
temas ambientais.
• Mais adequado à • Não considera as
acomodação de mudanças no “estado”.
DSR aspectos sociais,
econômicos e
institucionais.
• Indicador de estado • Complexidade;
pode focalizar • necessidade de grande
separadamente as compreensão sobre o
características físicas objeto de análise;
mensuráveis, políticas
PSIR existentes e as práticas • dificuldade de
gerenciais; preenchimento de todas
• captura mais claramente as categorias do
as alterações geradas modelo.
pelas pressões sobre o
estado.
• Sintetiza todas as • Complexidade;
categorias num único • necessidade de grande
modelo, fornecendo compreensão sobre o
uma visão geral do objeto de análise;
DPSIR problema/objeto.
• dificuldade de
preenchimento de todas
as categorias do
modelo.
Segnestam (2002) aponta, ainda, mais um modelo: o baseado em temas e subtemas. Esse
modelo trabalha basicamente com índices globais, em nível de decisão estratégico,
selecionando os temas mais relevantes para agenda do tomador de decisão. Estes temas são,
38
em geral, grandes preocupações a exemplo de: desenvolvimento econômico, desenvolvimento
social, sustentabilidade, entre outros.
Como foi visto até aqui, existem diversos modelos para a estruturação de indicadores. Para
optar por um ou outro se indica alguns critérios, a saber:
Uma das formas de desenvolver sistemas de indicadores é seguir a metodologia proposta pela
OECD (2003) para os sistemas de indicadores ambientais. Nesta metodologia são criados
diversos conjuntos de indicadores seguindo uma série de características definidas, resumidas
no Quadro 3.6, a seguir:
39
Quadro 3.6 - Características para a Definição de Conjuntos de Indicadores.
Sistematizado a partir de OECD (2003).
Característica Descrição
Propósito / Finalidade Define o fim ao qual se destina o conjunto de
indicadores, seu papel principal.
Público-Alvo O principal usuário a que se destina, tendo, portanto,
especificidades ao tipo de informação que procura.
Características e Escopo Número, objeto (Nível de Análise), consenso existente,
se deriva de outros indicadores, seu relacionamento
com outros conjuntos de indicadores, temas abordados,
e necessidades de adaptação.
Abrangência Nível/Escala de decisão (Nacional, Internacional,
Local, etc.).
Modelo de Estruturação Qual o modelo de estruturação utilizado (ex. PSR,
DSR, PSIR, DPSIR, Nível de Projeto, etc.).
Meios e Forma de Publicação De que maneira será publicado. Quais as publicações
que irá compor.
Com base nestas características, a OECD define 5 principais conjuntos de indicadores: (i)
Indicadores-Chave; (ii) Indicadores Centrais; (iii) Indicadores Setoriais; (iv) Indicadores
Derivados; e (v) Indicadores de Mitigação. O Quadro 3.7 caracteriza estes conjuntos
indicadores em função das categorias apresentadas no Quadro 3.6.
40
Quadro 3.7 - Caracterização dos Conjuntos de Indicadores. Adaptado de OECD
(2003).
Indicadores
Indicadores- Indicadores Indicadores Indicadores de
Derivados de
Chave Centrais Setoriais Mitigação
Contabilidade
- Proporcionar - - Promover e monitorar as - Medição da
uma visão Acompanhamento principais questões quando as mitigação das
geral sobre de progresso e políticas são elaboradas e pressões oriundas
questões- fatores implementadas; do crescimento
chave e relacionados e - Ferramenta para avaliação de econômico;
Propósito /
tendências monitoramento de desempenho e avanços . - Ferramenta para
Finalidade
relacionadas; políticas; avaliação de
- Ferramenta - Ferramenta para desempenho e
de avaliação de avanços.
comunicação desempenho.
pública.
- Público; - Público; - Governos Nacionais;
- Tomadores - Governos - Tomadores de Decisão em Nível Tático e
de decisão em Nacionais; Operacional.
nível - Comunidade
Público-Alvo
estratégico. Internacional;
- Tomadores de
Decisão em nível
estratégico.
- Número - Número - Grande número - Inclusos - Indicadores
reduzido (10- reduzido (aprox. de indicadores; entre os derivados de
15), 50); - Um conjunto Indicadores outros conjuntos
Características selecionados - Familiar a por setor; Centrais; de indicadores;
e Escopo dentre os diferentes - Adicionais aos - Desagregados
Indicadores usuários e indicadores - Utilizados
Centrais. conjuntos de centrais. juntamente com
indicadores. outros conjuntos.
- Nível - Nacional compatível com uso em comparações - Nível Nacional;
Nacional, internacionais; - Por setor.
compatível - Níveis sub-nacionais e setoriais.
Abrangência
com uso em
comparações
internacionais.
- Modelo - Modelo PSR; - Modelo de - Métodos de - PSR ou DPSIR
PSR; - Modelo baseado Análise Política Contabilidade. com foco em
Modelo de
- Modelo em temas. (variante do pressões e causas
Estruturação
baseado em PSR).
Temas-Chave.
- Indicadores- - Indicadores - Transporte; - Fluxo de - Indicadores de
Chave. Centrais; - Energia; Material; Mitigação.
Meios e Forma
- Relatório - Agricultura; - Gastos.
de Publicação
Síntese. - Consumo
doméstico.
41
Uma outra experiência, mais restrita, com a definição de conjuntos de indicadores para temas
específicos é apresentada por Lantelme (1994) para aplicação no Setor de Construção Civil.
Apesar de definir conjuntos de indicadores por tema, não define quem são seus usuários, e
qual o nível de decisão associado.
Por sua vez, Segnestam (2002) propõe uma metodologia mais geral, que clarifica a estrutura
proposta pela OECD (2003) e cujos passos são:
ETAPA CONCEITUAL:
42
ETAPA PRÁTICA:
43
Finalmente, a Federation of Canadian Municipalities (2002) destaca uma etapa importante
num projeto de indicadores: a montagem de um sistema de gestão da informação. Um sistema
de gestão da informação tem como finalidade armazenar e disponibilizar dados para análise
onde, quando, para quem e como são necessários. É, portanto, um passo essencial na
disseminação da informação em diversos níveis, um dos principais objetivos de um sistema de
indicadores (Royuela, 2001).
• agregados provendo uma visão geral de partes do sistema ou do sistema analisado como
um todo;
44
3.7 - TÓPICOS CONCLUSIVOS SOBRE INDICADORES
Este capítulo buscou levantar os principais aspectos relativos a Indicadores. Espera-se que os
aspectos aqui abordados sejam capazes de contribuir para o desenvolvimento de uma visão
crítica desses elementos como recursos de suporte à tomada de decisão, evitando a tentadora
“confiança cega” por parte daqueles que os utilizam.
Dado o que foi visto neste capítulo, cabem os seguintes tópicos conclusivos:
45
outra. É interessante, portanto, desenvolver um único modelo que seja capaz de captar
estas nuances, tomando, talvez, como ponto de partida os níveis de decisão.
+ Quando não existe uma compreensão aprofundada sobre o elemento a ser monitorado
pelos indicadores, deve-se optar preferencialmente por modelos mais simplificados, a
46
exemplo do PSR ou o modelo baseado em temas. O modelo DPSIR exige grande
compreensão do objeto de análise.
47
+ As experiências nacionais tendem a considerar como sistemas de indicadores o que
nesta pesquisa é chamado de conjunto de indicadores. Chamam de metodologia de
desenvolvimento de sistemas de indicadores, o que aqui é chamado de
desenvolvimento metodológico de indicadores, ou seja, formas de representação. Outro
ponto importante é que, na maioria das iniciativas existentes, não se estabelece um
vínculo entre os indicadores e o processo de planejamento, limitando-os apenas a
diagnósticos e mapeamentos, mas sem referência ao processo de planejamento e
gestão.
48
4 - METODOLOGIA PARA DESENVOLVIMENTO DE SISTEMA DE
INDICADORES PARA PLANEJAMENTO E GESTÃO
Quadro 4:
No entanto, o fato é que as decisões mais complexas são, em geral, atribuídas a cargos
políticos, e representantes políticos raramente são especialistas nas áreas em que estão
atuando. A metodologia de cálculo dos indicadores é, então, desenvolvida por especialistas na
área (assessoria) de forma a representar a preocupação do gestor na tomada de decisão. Como
foi visto, os indicadores permeiam todo o processo de decisão, do nível estratégico ao
operacional, aumentando em número do primeiro para o segundo.
49
Assim, analisando conjuntamente as metodologias apresentadas, percebe-se que são
complementares. Desta forma, é possível sintetizar o que foi apresentado no seguinte processo
de montagem de indicadores (Figura 4.1).
Figura 4:
50
Este processo incorpora algumas definições ao processo proposto por Segnestam (2002),
apresentado no Capítulo 3. A metodologia proposta (Figura 4.1) é composta de 14 atividades
divididas em 2 etapas, elaboração e implementação. A etapa de elaboração é composta por 10
atividades e é o momento mais importante do desenvolvimento do sistema de indicadores
sendo determinante da viabilidade de todo o sistema. A etapa de implementação é composta
por 4 atividades, e é a parte mais custosa do processo, pois prevê a elaboração de base de
dados, desenvolvimento de softwares e treinamento de pessoal. Cada uma destas etapas e suas
respectivas atividades estão descritas a seguir.
ETAPA DE ELABORAÇÃO:
• Atividade 01 - Definição do agente que vai coordenar o processo: garante que haverá
um agente que catalisa e coordena o processo. Este agente deve ocupar uma posição de
neutralidade e credibilidade para que não se estabeleçam resistências desde o início do
processo;
51
indicadores. A análise crítica de processos de decisão é essencial na compreensão,
identificação e crítica dos critérios sobre os quais os agentes decidem, critérios estes que
são os elementos a serem representados no sistema de indicadores. É a etapa necessária a
contextualização do sistema, determinando sua orientação às necessidades reais e práticas;
52
• Atividade 07 - Desenvolvimento metodológico e seleção dos indicadores: com base nos
elementos a serem representados no sistema e critérios de seleção definidos, procede-se ao
levantamento dos indicadores existentes. Uma vez concluído este levantamento, analisa-se
e discute-se qual dos indicadores deve ser utilizado para representar cada elemento do
sistema. Se não houver um consenso ou se não existirem indicadores adequados, deve-se
proceder ao desenvolvimento de novos indicadores.
53
reduzida da etapa de implementação), além de possíveis testes estatísticos dos indicadores.
Isto evita que um projeto inviável seja posto efetivamente em prática.
Se o sistema for considerado inviável, pode-se rever o processo nos seguintes pontos:
ETAPA DE IMPLEMENTAÇÃO:
54
Por fim, dois outros processos devem ocorrer naturalmente a reboque do desenvolvimento
desta metodologia. O primeiro é a disseminação de informações e ferramentas, ou seja, a
documentação de todo o sistema, possibilitando a troca de experiências. O segundo é a
definição de ações e implementação, como resultado da formação de conhecimentos e
alternativas através do uso dos indicadores pelos diversos gestores.
Como foi visto, Vasconcellos (2001) propõe um modelo de planejamento tripartite composto
por: Planejamento Urbano, Planejamento de Transportes e Planejamento da Circulação. Esta
visão, no entanto, ainda não consegue posicionar e representar o Planejamento de Transportes
dentro de um contexto estratégico, pois, apesar de indicar um processo interativo entre as três
partes não representa adequadamente sua posição relativa a contextos mais amplos de
planejamento, como os planos regionais e nacionais.
55
regional e urbano, tendo como macro-ambiente de planejamento (ou universo) a escala
nacional, de forma análoga aos níveis estratégico, tático e operacional. Tomando como base
este contexto de planejamento mais amplo, o planejamento estratégico de transportes (com a
utilização do termo “estratégico” para reforçar seus pressupostos metodológicos,
diferenciando-o do processo tradicional), permeia os diversos níveis territoriais e decisórios,
traçando missão, desejos gerais e grandes linhas de ação com base nos diferentes níveis de
planejamento.
De forma resumida e tendo como base disposições legais presentes na legislação brasileira e
em outras iniciativas de planejamento de transportes em nível internacional (Brasil, 2001;
Brasil, 2003; CCMPO, 2000), pode-se caracterizar o planejamento estratégico de transporte da
seguinte forma:
56
• Definição: forma sistemática de gerenciar as mudanças nos sistemas de transporte criando
o melhor futuro possível. É um processo criativo que lança as bases de uma atuação
integrada de longo prazo, estabelecendo um sistema contínuo de tomada de decisão em
transportes, que considera riscos, identifica ações específicas, formula indicadores para o
acompanhamento de resultados e envolve os mais diversos agentes sociais e econômicos
ao longo de todo o processo.
Tendo em vista a base conceitual desenvolvida na seção 3.2, esta seção desenvolve um modelo
de estruturação compatível com o ciclo de planejamento para ser adotado na etapa 05 da
metodologia proposta. Para desenvolvimento deste modelo, fazer-se-á uso de diversas
analogias e construções conceituais, como será visto a seguir.
Inicialmente, dos quadros 3.3 e 3.4, apresentados na seção 3.3 do capítulo 3, pode-se
depreender a correspondência entre cada tipo de indicador e o nível de análise desenvolvido.
De fato, os dois quadros poderiam ser fundidos num só. Para melhor compreender como essa
fusão acontece, pode-se fazer uso do ciclo PDCA.
57
O ciclo PDCA é apontado por Corrêa (2004) como um dos principais instrumentos de gestão
de processos.
a. Planejar (P): definir metas, horizontes, métodos e técnicas. Pode ser planejamento
estratégico, plano de ação, um conjunto de padrões, etc.;
b. Fazer (D): treinar e educar os empregados, executar as tarefas e coletar os dados para
verificação do processo;
d. Agir (A): agir corretivamente, corrigir. Eliminar causas identificadas como geradoras dos
desvios encontrados.
Considerando que tanto a etapa D como a etapa A têm caráter executivo seria possível
simplificar o modelo PDCA mesclando estas categorias. Como resultado, tem-se o ciclo PDC,
mostrado na figura abaixo:
58
Figura 4.4 - Ciclo PDC proposto.
Neste ciclo, a etapa P corresponde às definições macro, tais como estabelecimento da missão,
dos objetivos e dos princípios. A etapa D corresponde à viabilização das definições postas na
etapa P, a execução propriamente dita. A avaliação e monitoramento, por sua vez,
correspondem à etapa C.
Tomando como base no ciclo PDC proposto é possível representar cada nível de planejamento
(estratégico, tático e operacional) como um ciclo composto, correspondente às etapas do PDC.
O planejamento operacional, por exemplo, corresponde à etapa D do planejamento tático e,
por conseguinte, este à etapa D do planejamento estratégico. Os relacionamentos propostos
aqui estão ilustrados na Figura 4.5.
59
Figura 4.5 - Encadeamento entre planejamento estratégico, tático e operacional e o ciclo
PDC proposto.
60
A Figura 4.6 apresenta as etapas do processo estratégico de planejamento e os conceitos
propostos pelo PDC. Dela é possível extrair as seguintes definições:
Deve-se observar que este processo pode ocorrer para o planejamento em nível tático e
operacional.
Resta, ainda, relacionar a tipologia dos indicadores propostas por Segnestam (2002) e
Federation of Canadian Municipalities (2002) e identificar as correspondências entre os esses
indicadores e o processo estratégico de planejamento e o ciclo PDC. Para isso, utilizar-se-á
como recurso a adaptação da figura anterior, dividindo-a em Informação, processo e produtos.
Como proposta de síntese apresenta-se a Figura 4.7.
61
Figura 4.7 - Compatibilização entre os tipos de indicadores, o Processo Estratégico de
Planejamento e o Ciclo PDC. Desenvolvido a partir de Güell (1997), Segnestam (2002)
e Federation of Canadian Municipalities (2002).
• O ciclo pode ser entendido da seguinte forma: a informação (indicador) alimenta (subsidia)
o processo (tomada de decisão) e gera produtos. Estes produtos têm algum tipo de
manifestação no mundo real sobre a qual se obtêm informação, recomeçando o ciclo;
• A definição das informações necessárias ocorre de cima para baixo (do nível estratégico
para o operacional) e a consolidação destas ocorre de baixo para cima (operacional para
estratégico);
• O nível de agregação e síntese aumenta de baixo para cima, enquanto que o detalhamento
aumenta de cima para baixo;
62
• Existem quatro ciclos Informação-Processo-Produto em função dos níveis de decisão
envolvidos: (i) o ciclo completo, composto por todos os níveis de decisão (estratégico-
tático-operacional); (ii) o ciclo Estratégico, que envolve apenas os níveis estratégico e
tático; (iii) o ciclo tático, composto pelos níveis tático e operacional; e, (iv) o ciclo
operacional, restrito ao nível operacional.
Dado o que foi visto neste capítulo, cabem os seguintes tópicos conclusivos:
+ Um sistema de indicadores deve ser fundamentalmente útil. Isto quer dizer que ele é
direcionado às necessidades de seus usuários. Por isso deve-se ter bem definido quais
são os grupos-alvo e o que cada um deve, precisa e quer saber.
63
+ O desenvolvimento da etapa conceitual é o que garante a sustentabilidade e
aceitabilidade do sistema. Deve-se sempre ter em mente que o sucesso de um indicador
é dado, principalmente, pela sua aceitação por parte dos diversos usuários.
+ É essencial que antes de proceder à etapa prática, seja feita, ainda, na etapa conceitual,
a análise de viabilidade do sistema de indicadores, considerando todos os aspectos e
atividades previstas para a etapa de implementação, principalmente no que diz respeito
à disponibilidade de dados, de tecnologia e de recursos financeiros.
64
+ Os indicadores são elementos necessários para o monitoramento dos resultados do
planejamento. Como pode ser depreendido do modelo apresentado na seção 4.3, é
sobre eles que as decisões são tomadas, sendo gerados pelos resultados das ações
definidas em nível tático, orientadas pelas definições estratégicas.
+ Políticas são o conjunto formado pelos produtos das decisões estratégicas, táticas e
operacionais.
65
5 - ESTUDO DE CASO: DESENVOLVIMENTO DE UM SISTEMA DE
INDICADORES GLOBAIS E TÁTICOS PARA O PLANEJAMENTO
DA PROVISÃO DE ESTRUTURA DE CIRCULAÇÃO PELO
MINISTÉRIO DOS TRANSPORTES
Quadro 5:
Antes de proceder-se ao estudo de caso é preciso ter claro que a construção de um sistema de
indicadores é uma modelagem, uma proposta de compreensão de um objeto de estudo
orientada a um fim específico. É uma representação direcionada, que atribui diferentes pesos
para cada elemento analisado, de acordo com uma metodologia de avaliação específica, ou
seja, reflete a forma de pensar e a compreensão das pessoas que a desenvolveram, num
determinado momento histórico. O PIB, por exemplo, foi pensado como uma forma de
representar o desenvolvimento econômico. No entanto, sua suficiência e metodologia nem
sempre são consensuais, estando constantemente sujeitas a críticas e revisões.
Este presente capítulo desenvolve, com base na metodologia e conceitos dispostos no capítulo
anterior, o sistema de indicadores de provisão a ser utilizado no planejamento do Sistema
Nacional de Viação, tendo como referência as competências do Ministério dos Transportes.
Esta pesquisa se limitou à etapa de elaboração, pois a etapa seguinte (implementação)
dependeria do real interesse e empenho do Ministério de Transportes e entidades vinculadas,
além de outros organismos interessados, no sentido de complementar e discutir o projeto de
66
sistema de indicadores de transportes, bem como de desenvolver as atividades restantes, o que
requer razoável investimento de tempo e recursos financeiros.
O escopo dos indicadores, como será visto, foi limitado de forma a viabilizar a metodologia
proposta na seção 4.1 do capítulo anterior, dentro das disponibilidades de tempo e recursos
financeiros. Os indicadores aqui propostos são partes (sub-temas) de um sistema mais amplo
que, em termos ideais, sintetizaria toda a necessidade de informação do Setor Público de
Transportes.
A aplicação da metodologia ficará restrita à Etapa de Elaboração (Figura 5.1) que corresponde
atividades de 01 a 10, apresentadas na seção 4.1 do capítulo anterior.
67
Figura 5:
A escolha do agente que irá coordenar o processo é de grande importância para a viabilização
do processo. Muitas vezes, este agente se impõe naturalmente através de iniciativa própria, ou
mesmo no exercício de suas atividades.
Para o estudo de caso, o agente mais adequado para coordenar este processo é o Ministério dos
Transportes. Em relação à estrutura regimental do Ministério, seria responsável pela
coordenação e supervisão a Secretaria Executiva, juntamente com a Secretaria de Política
68
Nacional de Transportes. Esta adequação decorre do Decreto 4.721 de 2003 (Brasil, 2003) que
define como competência da Secretaria Executiva a coordenação dos diversos componentes da
estrutura do Ministério e como competências da Secretaria de Política Nacional de Transporte,
especificamente do Departamento de Avaliação da Política Nacional de Transportes, a
coordenação, manutenção e atualização de dados necessários ao processo de planejamento das
políticas de transporte.
Como foi dito no capítulo anterior, para se garantir a viabilidade do sistema de indicadores,
deve-se formar uma rede de discussão que inclua os principais agentes envolvidos no
planejamento da estrutura de circulação, bem como outros interessados.
+ Universidades,
+ os DERs,
+ Prefeituras,
Este processo de discussão é demorado e contínuo e, por isso, não foi possível implementá-lo
no escopo desta pesquisa. Reconhece-se, no entanto, a necessidade desta etapa para a garantia
da aceitabilidade dos indicadores, uma vez que eles serão os elementos-base de elaboração,
69
desenvolvimento, implementação e monitoramento das políticas, programas e projetos do
setor.
No entanto, foram consultados alguns membros do Ministério dos Transportes para que
possam contribuir com críticas ao desenvolvimento deste sistema e opinar sobre a adequação e
aplicabilidade da metodologia ao planejamento e gestão do setor de transportes. Afinal, a
questão é saber se o produto da pesquisa é relevante e coerente com o desenvolvimento de
suas atribuições.
Esta atividade foi constituída pela análise da legislação na busca aos princípios, objetivos,
diretrizes, organização e competências do setor público de transportes, além de identificar os
usuários do sistema de indicadores a ser gerado. Estes seriam elementos de certa estabilidade
no longo prazo, retardando a obsolescência precoce do modelo devido a mudanças políticas.
Neste sentido o enfoque é conduzido sobre competências, elementos estáveis, ao invés de
orientar a prioridades, elementos de grande variabilidade.
Para que o setor de transportes pudesse responder aos objetivos a ele colocados, desenvolveu-
se uma complexa estrutura institucional dotada de diversos níveis hierárquicos e competências
específicas.
A configuração institucional corrente do setor nacional de transportes foi dada pela Lei 10.233
de 2001 (Brasil, 2001) que passou a agregar o Conselho Nacional de Integração de Políticas de
Transportes, o Ministério dos Transportes, Agências Reguladoras e Departamento de Infra-
Estruturas, entre outros.
70
detalhada pela Portaria nº399 de 2004 (Brasil, 2004) estando apresentada na Figura 5.2 a
seguir.
71
Quadro 5.1 - Componentes Organizacionais do Ministério dos Transportes e suas
competências no Planejamento do Sistema Nacional de Viação (Brasil, 2003).
Componente
Subcomponente Competências Nível de Decisão
Organizacional
Secretaria de Departamento de planejar, coordenar e avaliar a Política Nacional de Estratégico
Política Planejamento e Transportes e de sua infra-estrutura;
Nacional de Avaliação de promover estudos e pesquisas necessários ao processo Estratégico
Transportes Políticas de de planejamento e avaliação da Política Nacional de
Transporte Transportes e a integração física do Sistema Nacional
de Viação com os sistemas viários de países limítrofes;
coordenar a manutenção e a atualização dos dados Estratégico
estatísticos de transportes, necessários ao processo de
planejamento da Política Nacional de Transportes;
elaborar e coordenar a implementação do planejamento Estratégico/Tático
estratégico do setor de transportes;
propor medidas que incentivem a multimodalidade na Tático
operação de transportes e a competitividade e
universalização dos serviços de transportes.
72
Em suma, do quadro 5.1, sobre as competências do Ministério dos Transportes e entidades
vinculadas em relação à estrutura de circulação, pode-se depreender que:
Apesar de o DNIT ser aqui contextualizado, ele não faz parte do escopo do estudo, uma vez
que suas atribuições são predominantemente operacionais. Assim sendo, não serão
desenvolvidos indicadores direcionados às suas necessidades de informação específicas.
Sobre as disposições legais existentes (Brasil, 1973; Brasil, 1995; Brasil, 2001; Brasil, 2003)
foram sistematizados objeto, missão, princípios e objetivos do setor de transportes,
apresentados no Quadro 5.2, a fim de orientar o desenvolvimento do sistema de indicadores:
73
quais seria desenvolvido o sistema de indicadores para planejamento e gestão: provisão de
Infra-Estrutura; operação racional e segura, integração nacional e internacional; e,
desenvolvimento social e econômico.
74
• desenvolvimento social e econômico, a contribuição do transporte para o
desenvolvimento das atividades econômicas, redução de desigualdades regionais,
desenvolvimento da mobilidade, entre outros.
Estas definições devem ser mais discutidas e aprimoradas caso se deseje implementar um
completo sistema de indicadores. A relevância destas categorias pode ser também questionada
necessitando adequá-las de acordo com a conveniência dos usuários do sistema.
a. Público
O Público, quer cidadãos isolados, sociedades civis organizadas ou outros grupos, são as
origens das pressões políticas. Eles buscam a satisfação de seus interesses através de
demandas orientadas sobre as instituições públicas.
Com esta compreensão, é necessário que o Público possa avaliar seu estado em termos de
provisão de infra-estrutura, de forma a orientar suas pressões políticas. Ele deve ser capaz de
perceber se está numa condição favorável ou desfavorável e orientar suas ações para a
mudança desta situação. Ele pode, ainda, perceber sua situação em relação aos demais,
estabelecendo uma comparação.
O estabelecimento de indicadores para orientar as pressões evita que sejam feitas demandas
sobre o Ministério dos Transportes que não estejam no escopo de suas competências.
Assim, são necessidades de informação específicas, o Nível de Provisão, para avaliar sua
situação e orientar as pressões políticas.
75
b. Ministro dos Transportes
Desta forma, o Ministro deve ter condições de acompanhar estas preocupações, bem como
avaliar o desempenho das soluções propostas para cada uma destas pressões e estabelecer e
cobrar resultados. Sua preocupação deve ser mínima sobre questões específicas, como meios
para a consecução dos resultados estabelecidos, liberando mais tempo para desempenho das
funções políticas inerentes ao seu cargo.
A respeito das pressões enfocadas aqui – a provisão – esta secretaria deve observar tanto as
preocupações oriundas da instância superior, quanto os elementos que permitam avaliar o
desempenho da atuação do Ministério sobre estas preocupações.
76
+ a Eficiência das Políticas, programas e projetos em relação à provisão, para
acompanhar os produtos do Ministério.
77
ATIVIDADE 05: DESENVOLVIMENTO DE UM MODELO PARA ORGANIZAÇÃO
DA INFORMAÇÃO
Com base no modelo da Figura 5.4, buscou-se situar os grupos-alvo de acordo com o nível de
decisão característico de suas atividades. Assim, classificou-se como estratégico o Ministro e o
Público. A Secretaria Executiva e a Secretaria de Política Nacional de Transportes foram
consideradas tanto estratégicas como táticas, dadas suas competências específicas. A
Secretaria de Gestão de Programas de Transporte foi classificada como tática. O DNIT,
eminentemente operacional, apesar de contextualizado, não faz parte do escopo do estudo de
caso.
78
Este modelo concebe que existe um fluxo de informação entre os grupos-alvo e que este fluxo
é essencial ao processo de elaboração, desenvolvimento, implementação e gestão da política
de transportes. Este esquema é apresentado na Figura 5.5 abaixo:
Inicialmente, o Público, insatisfeito, observa seu nível de provisão, compara-o com os dos
demais e o identifica como problema. Ele pressiona, então, o ministério no sentido de
melhorar sua situação, ou seja, elevar o nível de provisão.
79
O ministro percebe as pressões existentes e, para satisfazê-las, define uma meta para o nível de
provisão e a repassa para a Secretaria Executiva.
Com base nas informações disponibilizadas pela Secretaria de Gestão, a Secretaria de Política
Nacional de Transportes pode avaliar a assertividade dos programas e da política como um
todo, avaliar a consecução das metas estabelecidas e informar a Secretaria Executiva.
A Secretaria informa, então, o Ministro das metas atingidas que, por sua vez, divulga os
resultados na forma do indicador do nível de provisão.
Este ciclo sintetiza um modelo de planejamento e gestão orientado por indicadores. Este
processo já acontece na Economia, setor no qual o uso de indicadores é extensivo (ex. PIB,
taxa de juros, cotação do dólar, etc.).
A definição dos critérios de seleção dos indicadores levou em consideração o item 3.2 no qual
são apontadas as principais características e requisitos de um bom indicador. Teve-se, no
80
entanto, a consciência de que boa parte dos apontamentos são condições ideais e que
geralmente não podem ser integralmente satisfeitas.
a. Diretriz Geral:
b. Diretrizes Específicas:
81
• Para o indicador de eficiência em relação à provisão:
Nesta etapa consiste de 4 passos: o primeiro é o (a) levantamento dos indicadores existentes; o
segundo consiste na (b) avaliação segundo as diretrizes dos indicadores levantados; o terceiro,
(c) desenvolvimento de um indicador que atenda aos requisitos apontados na etapa anterior,
caso os que foram identificados não atendam; e, por fim, (d) selecionam-se os indicadores. O
processo será centrado nos indicadores para representação da provisão da estrutura de
circulação, sobre o qual serão definidos os demais indicadores previstos no estudo de caso.
82
• Indicador 01: Extensão Viária
(5.1)
X: região de estudo X
Dada a sua formulação, este indicador apresenta algumas limitações. Considere-se uma
situação hipotética (Figura 2) na qual se tem dois municípios de áreas diferentes mas com a
mesma extensão de malha rodoviária. A análise da dotação utilizando este indicador, que
contabiliza a extensão absoluta da malha, indicaria que os municípios possuem o mesmo nível
de provisão (x), o que, para um gestor, poderia indicar que o município 1 está tão bem quanto
o 2, sendo assim incorreto. Esta mesma analogia serve se considerarmos a população
residente.
83
Figura 5.6 - Situação Hipotética: Municípios com área diferente mas mesma extensão de
rodovia.
Um bom indicador deve servir como base para comparações. A extensão rodoviária não é,
portanto, adequada para realizar comparações de dotação entre unidades territoriais com áreas
diferentes, como acontece na divisão político-administrativa do Brasil. Ele serve, no entanto,
como um proxy para estimação de investimentos na malha viária, uma vez que existe uma
correlação direta entre o valor investido e a expansão da malha.
Este indicador, que vence algumas limitações do anterior, representa a relação entre a extensão
de vias (rodoviário, ferroviário, hidroviário ou dutoviário) e a área da unidade de agregação
(município, micro-região, meso-região, etc.). É um indicador mais interessante para a
avaliação da oferta de infra-estrutura rodoviária, sendo utilizado pela CNT, Banco Mundial e
União Européia (IPEA, 2003). Sua fórmula pode ser escrita na forma,
84
(5.2)
X: região de estudo X
Do exemplo apresentado no item anterior, pode-se inferir que este indicador melhor representa
a dotação, já que consiste numa média entre a extensão e a área territorial, que no exemplo
anterior resultaria num resultado mais desfavorável para o município 1. Ele, no entanto,
concebe que todos os pontos da área considerada têm o mesmo nível de acesso, noção que
contradiz a maior parte das teorias da geografia dos transportes (Cox, 1976; Taaffe et al.,
1996) que, baseadas em modelos gravitacionais, concebe a acessibilidade (e mesmo a força de
influência) como inversamente proporcional à distância.
É apenas uma variação do anterior. Ao invés de ponderar a malha pela área da unidade de
agregação considerada, pondera-se sobre sua população. Tenta ser, portanto, um indicador de
acesso à infra-estrutura e pode ser escrito na forma,
85
(5.3)
X: região de estudo X
PX: população de X
De forma semelhante ao anterior, este indicador não considera as áreas das aglomerações
populacionais, considerando a população igualmente distribuída pela unidade territorial
considerada.
86
Quadro 5.3 - Coerência entre diretrizes de seleção e indicadores existentes.
Densidade
Densidade Espacial
Extensão Viária Populacional da
da Rede Viária
Rede Viária
Não Não Não
Existência de
(quanto mais, (quanto mais, (quanto mais,
Condição Ótima
“melhor”) “melhor”) “melhor”)
Aplicável a
diferentes unidades Não Sim (Não considera
Sim
de agregação (Vide Fig. 25) espaço)
espacial
Refletir o nível
acesso físico que
cada ponto do
Não Sim (Média) Não
território tem em
relação ao sistema
considerado
Considerar os
diferentes modos Não Não Não
sob a competência (não há como (mas pode-se dividir (mas pode-se dividir
direta do representar portos e número de portos e número de portos e
Ministério dos aeroportos) aeroportos pela área) aeroportos pela área)
Transportes
Considerar o
comportamento
espacial inerente à Não Não Não
estrutura de
circulação
Ser adequado ao
estabelecimento de Sim Sim Sim
metas
Ser geral Sim Sim Sim
c. Desenvolvimento Metodológico
O principal problema dos indicadores levantados anteriormente é que eles são todos baseados
na contabilização da extensão de vias pela unidade territorial considerada.
87
O Problema do Tudo-ou-Nada
Existe um sério problema quando se considera apenas a extensão viária ou seus compósitos
para a formulação de indicadores: o problema do tudo-ou-nada. Seus efeitos são mais graves
quando se consideram dados mais desagregados, a exemplo de municípios. A Figura 5.7
ilustra o problema.
88
da dimensão espacial da estrutura de circulação é um elemento fundamental no
desenvolvimento desta metodologia.
89
Índice de cobertura Espacial de Malha: Proposta Conceitual
Figura 5.9 - Buffers da rede rodoviária. Cada tom representa uma faixa de distância do
ponto à rede.
90
Figura 5.10 - Os municípios da figura 3 e buffers das rodovias.
Nesta etapa são geradas as faixas de distância (sem superposição) dos pontos em relação às
rodovias. O intervalo de distância pode ser definido através de diversos critérios como
custo máximo, distância máxima de influência, entre outros.
ii. Reclassificação
Este procedimento permite que se criem classes de faixas, tornando possível a inserção de
uma nova classe para distâncias superiores à distância máxima estabelecida para o buffer,
bem como unindo faixas de distância em uma única.
iii. Interseção com os limites da unidade espacial de agregação
Esta operação “fatia” os buffers para cada unidade de área desejada. Isto gera, para cada
faixa de distância, áreas estanques dentro da região considerada para análise, permitindo a
consulta do perfil de cobertura para a área de estudo.
91
iv. Transformação da tabela de dados
Este procedimento depende de manipulação de dados, podendo ser feito com uma
instrução em linguagem SQL (usada no Access) ou outra funcionalidade específica do
pacote SIG utilizado. O objetivo é resumir a tabela de dados gerada pelo processo anterior
contabilizando quanto de área cada região de estudo possui para cada tipo de faixa de
distância (buffer).
v. Composição do Indicador
Conforme a 1ª Lei da Geografia de Tobler (“Tudo está relacionado a tudo, mas as coisas
próximas estão mais relacionadas que as distantes”) (Teixeira, 2003), o poder de atração,
ou influência, de uma rodovia decresce com o aumento da distância. Desta forma, sugere-
se a atribuição de pesos diferenciados para cada faixa de distância. O indicador poderia,
assim, ser escrito da seguinte forma,
(5.4)
em que ICX: Índice de cobertura espacial para a região X
γ (i): Função que determina o peso atribuído à i-ésima faixa de
cobertura (buffer) tal que γ (i) ∈ [0;1]
Ai: Área da i-ésima faixa (buffer) pertencente a X
AX: Área da região de estudo X
n: Número de faixas.
Com IC X ∈ [0;1] , sendo que os valores próximos a zero (Péssimo) indicam precariedade
de cobertura/acesso à estrutura de circulação e valores próximos a 1 (Ótimo) indicam boa
dotação de estrutura de circulação.
Para verificar a coerência destee indicador proposto às diretrizes postas para o indicador de
nível de provisão, observe o Quadro 5.4.
92
Quadro 5.4 - IC e as diretrizes para o Indicador de Nível de Provisão.
DIRETRIZ IC
SIM
Existência de Condição (ao dimensionar o tamanho da faixa e a função de
Ótima peso, o conceito de uma condição ótima é
inserida)
SIM
Aplicável a diferentes
(o indicador está relacionado ao espaço coberto
unidades de agregação
pela malha, podendo ser calculado para qualquer
espacial
espaço geográfico)
Refletir o nível acesso
físico que cada ponto do
SIM
território tem em
(as faixas e a função peso traduzem esta noção)
relação ao sistema
considerado
Considerar os diferentes
modos sob a SIM
competência direta do (pode ser calculado para eventos pontuais como
Ministério dos portos e aeroportos)
Transportes
Considerar o
SIM
comportamento espacial
(a noção de faixa de influência incorpora esta
inerente à estrutura de
noção)
circulação
Ser adequado ao
estabelecimento de SIM
metas
Ser geral SIM
Como foi desenvolvido em função dos critérios contidos no quadro acima, o IC cobre todos os
pontos definidos.
Como foi estabelecido na diretriz geral do item 5.1.6, os indicadores devem ser adequados ao
Modelo baseado no ciclo de planejamento definido no item 5.1.5 e desdobrados a partir do
indicador estratégico. Desta forma, tem-se o quadro 5.5, a seguir.
93
Quadro 5.5 - Indicadores selecionados e respectivas fórmulas.
∑ γ (i) A
01 - Índice peso atribuído à i-ésima faixa
Nível de i de cobertura (buffer) tal
de Cobertura que γ (i ) ∈ [0;1]
Provisão IC X = 1
AX Ai: Área da i-ésima faixa
(buffer) pertencente a X
AX: Área da região de estudo X
n: Número de faixas.
EF: Eficácia em Relação às
02 - Metas de Dotação
Eficácia em
Percentual ∆IC X (t1 ) DICX(t1): Índice de cobertura
Relação às
da Meta EF = × 100 espacial para a região X após
Metas de
Atingido ∆IC X meta intervenção
DICXmeta: Índice de
Provisão
(%) cobertura espacial para a região
X definido na meta
EfExt: Eficiência em relação
03 - Relação à Extansão Construída
entre ∆IC X E: Extensão de via
Variação IC Ef Ext = ∆ICX : Variação do Índice de
e Extensão E cobertura espacial para a região
X após a intervenção
Construída intervenção
EfInstt: Eficiência em relação
04 - Relação à Instalação Construída
∆IC X
Inst: Instalações
entre
Ef Inst =
Construídas
Variação IC ∆ICX : Variação do Índice de
e instalação Inst cobertura espacial para a região
construída X após a intervenção
intervenção
Eficiência EfIMon: Eficiência em relação
05 - Relação
em Relação à Instalação Construída
entre
à Provisão
Variação IC ∆IC X Mon: Valor Monetário
e Unidade
Ef Mon = ∆ICX : Variação do Índice de
cobertura espacial para a região
Mon X após a intervenção
Monetária
intervenção
Investida
EfInterv: Eficiência do Desenho
06 – da Intervenção
Relação DICX(real): Variação do
entre a ∆ICx (real ) Índice de cobertura espacial
Variação IC Ef Interv = obtido com a intervenção na
94
ATIVIDADE 08: DEFINIÇÃO DOS CONJUNTOS DE INDICADORES
Com base nos grupos-alvo e nas necessidades de informações sistematizadas na Atividade 04,
o quadro 5.6 sintetiza os conjuntos de indicadores a serem utilizados.
Conjunto de
Grupo-Alvo Indicadores
Indicadores
Conjunto 01
Público Índice de Cobertura
(Estratégico)
Índice de Cobertura
Percentual da meta atingido (%)
Secretaria Executiva
Relação entre variação IC e extensão
Conjunto 03 construída
(Estratégico/Tático) Secretaria de
Relação entre variação IC e instalação
Política Nacional de
construída
Transportes
Relação entre variação IC e unidade
monetária investida
95
ATIVIDADE 09: DEFINIÇÃO DE FERRAMENTAS DE ANÁLISE
Todos os indicadores propostos têm como base o IC que é um indicador calculado através de
ferramentas de análise espacial. Algumas das ferramentas necessárias foram mencionadas na
seção Atividade 07 mas o escopo completo está listado a seguir.
+ operações raster;
+ operações de agregação;
+ operações tabulares.
96
+ ferramentas de agregação e desagregação de dados;
Esta validação faz parte da última atividade prevista para esta etapa: a Validação do Projeto de
Indicadores. O desenvolvimento desta atividade e a discussão dos resultados é o escopo do
próximo capítulo.
97
Dado o exposto neste capítulo, cabem os seguintes tópicos conclusivos:
+ Não foi viável o desenvolvimento desta etapa no escopo desta pesquisa. Entretanto,
quando do desenvolvimento efetivo de um sistema de indicadores para o planejamento
e gestão do setor de transportes pelo poder público federal, deve-se estabelecer uma
rede de cooperação entre o Ministério do Planejamento, Ministério dos Transportes e
entidades vinculadas (DNIT, ANTT, ANTAQ, etc), Conselho Nacional de Integração
das Políticas de Transporte – CONIT, Universidades, Ministério Público e Tribunal de
Contas, as Secretarias de Transportes dos Estados, os DERs, Prefeituras,
Concessionárias Ferroviárias, Rodoviárias e Portuárias, a sociedade civil organizada e
outros interessados.
98
+ A missão do Ministério dos Transportes, responsável pelo planejamento de transportes,
é o exercício adequado de suas competências no que diz respeito à Política Nacional de
Transporte, englobando todos os modos.
99
• Sobre o desenvolvimento da Atividade 05: Desenvolvimento de um Modelo para
Organização da Informação
+ O indicador global, ou estratégico, a ser selecionado para o nível de provisão deve ser,
necessariamente, desdobrado em indicadores de eficácia e eficiência, com vistas a
embasar os desenvolvimentos tático e operacional (diretrizes, programas e ações).
+ Como o nível de provisão é o efeito a ser obtido pelas ações do Ministério, o indicador
de eficácia representa também a efetividade, que indica se os efeitos desejados foram
alcançados.
100
• Sobre o desenvolvimento da Atividade 07: Desenvolvimento Metodológico e Seleção
dos Indicadores
101
+ Para a visualização e análise dos indicadores são necessárias ferramentas de
classificação de dados, exibição de mapas, consultas e geração de relatórios.
102
6 - VALIDAÇÃO DA METODOLOGIA E ANÁLISE DOS RESULTADOS
Figura 6:
103
tampouco informações confiáveis sobre o grau de precisão dos dados nelas contidos, são bases
que podem ser utilizadas para análises gerais, que não exijam grande precisão geográfica e que
tolerem algumas imprecisões, o que caracteriza o tipo de análise de nível estratégico e tático.
Outro ponto importante é que, independente da solução adotada, capacitação é uma palavra-
chave. Apenas através da formação dos recursos humanos é que haverá a efetiva integração do
sistema de indicadores e suas ferramentas computacionais nas práticas cotidianas de seus
usuários.
Como base, utilizou-se as feições geográficas existentes na base compilada para o IPEA,
contendo as rodovias federais e estaduais e as ferrovias existentes, mesmo que desativadas. A
escolha pela utilização da Base IPEA decorreu do maior conhecimento sobre as características
dos elementos nela contidas, conhecimento este ainda não sistematizado sobre as demais
bases.
104
de infra-estrutura. Os modos aéreo e portuário não foram considerados neste momento pois
não foram encontrados, na literatura pesquisada, indicadores de provisão consagrados para
realizar a comparação.
Para o cálculo do índice de cobertura espacial rodoviária, utilizou-se a premissa que cada
rodovia possui uma “hinterlândia”, área dentro da qual a influência de uma rodovia é maior
que as das demais rodovias próximas (Taaffe et al., 1996) e que a distância máxima de
influência é 50km, distância a partir da qual é improvável a utilização da rodovia. Os 50km de
banda tentam incorporar a possibilidade de existência de estradas vicinais, não mapeadas, que
façam o acesso dos pontos mais distantes à rodovia considerada.
O indicador de extensão viária foi gerado calculando-se a extensão viária em cada município
através de um SIG. O indicador de densidade foi calculado dividindo-se a extensão viária pela
área do município correspondente.
Como método de classificação dos índices para visualização em mapa utilizado foi o
Algoritmo de Jenks (Minami, 2000), que divide as classes em função de diferenças
significativas entre os eventos.
105
Figura 6.1 - Mapa do Indicador Extensão Rodoviária.
106
Figura 6.2 - Mapa do Indicador Densidade Espacial Rodoviária.
107
Figura 6.3 - Mapa do Indicador Índice de Cobertura Espacial Rodoviária.
Para o cálculo do índice de cobertura espacial ferroviária, utilizou-se a premissa que o acesso
às ferrovias é feito através de suas estações e cada estação possui uma “hinterlândia” (Taaffe
et al., 1996) e que a distância máxima de influência é 50km, distância a partir da qual é
improvável a utilização da estação. Os 50km de banda tentam incorporar a possibilidade de
acesso às estações através de rodovias e estradas vicinais.
108
Assim como para as rodovias, foram definidas arbitrariamente 10 faixas de 5Km a partir da
estação, numeradas de 1 a 11, com a seguinte estrutura de pesos: γ 0-5Km=1,0; γ 5-10Km=0,9;
Os demais indicadores, extensão e densidade espacial foram calculados de forma análoga aos
indicadores de extensão e densidade rodoviária.
Como método de definição dos intervalos de classe para visualização em mapa utilizado foi o
Algoritmo de Jenks (Minami, 2000), que divide as classes em função de diferenças
significativas entre os eventos.
109
Figura 6.4 - Mapa do Indicador Extensão Ferroviária.
110
Figura 6.5 - Mapa do Indicador Densidade Espacial Ferroviária.
111
Figura 6.6 - Mapa do Indicador Índice de Cobertura Espacial Ferroviária.
112
+ Funcionamento do indicador de eficácia
Tomando a Figura 6.3, suponha-se que exista um grupo nacionalmente importante que
tenha interesse econômico no noroeste baiano (área que possui menor nível de dotação na
região). No entanto, para se produzir nessa região, estes empresários pressionam o governo
no sentido de prover estradas. O Ministério dos Transportes, que pode estabelecer metas
diferenciadas para local, estabelece uma meta de elevação do índice de dotação daquela
região de 0,35 para 0,75, uma variação de 0,40.
113
Figura 6.7 - Exemplo para utilização do indicador de eficiência para análise de dois
projetos.
114
6.1.4 - Validação da Proposta junto a Membros do Ministério dos Transportes
115
» existem atualmente, dentro do Ministério, dificuldades de se desvencilhar de
problemas pontuais em prol de uma visão mais ampla do planejamento do setor;
• Disponibilidade de dados
Como resultado da prospecção por bases de dados para o sistema de indicadores observou-se
que existem dados disponíveis em fontes públicas suficientes para iniciar o processo de uso
dos indicadores propostos. Estes dados, no entanto, são adequados apenas pata primeiras
aproximações aos problemas enfocados pelos indicadores, não sendo aconselhável usa-los
para análises mais precisas. Isto decorre do fato de não existirem informações precisas sobre a
qualidade dos dados destas bases, incluindo sua precisão e exatidão.
Apesar da existência das bases apontadas (IBGE, InGEO e IPEA, esta última uma compilação
das anteriores), parece não haver atualmente um organismo engajado na atualização periódica
e sistemática desta base. Urge, portanto, a definição de tal agente a ser responsável por esta
atribuição. Seria adequado que este agente fosse o IBGE, por suas competências e expertise
em produção de bases cartográficas.
116
• Disponibilidade de tecnologias
• Os indicadores
O mapa a da Figura 6.8 ilustra a distribuição da malha rodoviária nacional. Pode-se perceber a
concentração no eixo Sul-Sudeste, bem como nas áreas mais próximas ao litoral brasileiro,
fenômeno que pode ser explicado pela concentração dos investimentos nas Regiões Sul-
Sudeste, bem como a evolução histórica da ocupação do território no sentido litoral-interior.
Para se avaliar qual o indicador traduz melhor esse panorama, compare-se os mapas b, c e d na
Figura 6.7, representando respectivamente os indicadores extensão rodoviária, densidade
rodoviária (área) e o índice de cobertura espacial. O mais adequado, considerar-se-á aquele
que apresentar as áreas escuras que melhor acompanhem as tendências do mapa a.
117
a b
c d
Figura 6.8 - A malha rodoviária (a) e os indicadores extensão rodoviária (b), densidade
espacial rodoviária (c) e índice de cobertura rodoviária (d).
Comparando com o mapa a com o mapa b da Figura 6.8 percebe-se que as áreas mais bem
providas estão classificadas como pouco favorecidas (faixa clara dominante ao longo do
litoral). Isto decorre do fato das áreas deste mapa representarem a extensão rodoviária
existente no município e, naturalmente, municípios de menores áreas, característicos nestas
regiões, possuem menor extensão de rodovias. Esta correlação entre área e extensão viária,
torna este indicador inadequado para a avaliação quando existe grande variabilidade no
tamanho dos municípios, como é o caso do Brasil.
118
Agora, observando o mapa c da Figura 6.8, representando a densidade viária por município,
pode-se perceber que este indicador consegue traduzir melhor o fenômeno da distribuição da
malha viária que o anterior explicitado pelas manchas mais escuras nas regiões Sul-Sudeste e
ao longo do litoral. No entanto, como é derivado da extensão rodoviária, ele está sujeito ao
problema do Tudo-ou-Nada (discutido no capítulo anterior, Atividade 07) determinando áreas
onde a densidade cai para níveis próximos à zero (áreas mais claras).
Por fim, o mapa d da Figura 6.8 representa o índice de cobertura espacial proposto. Neste
mapa, as machas mais escuras acompanham a distribuição da malha viária, aproximando-se
bastante do padrão do mapa a da Figura 6.8. A região Norte, que no mapa c apresenta,
segundo o indicador de densidade, completamente desprovida de malha viária, possui agora
algumas áreas onde existe cobertura do sistema. Note-se que o resultado do indicador é uma
função das faixas de distância (área de influência, ou hinterlândia) e dos pesos atribuídos a
cada uma. Se a área de influência for progressivamente reduzida e os pesos das áreas mais
distantes tenderem à zero, o indicador de cobertura se aproximará do de densidade.
Isto posto, conclui-se que existe uma significativa melhora na representação da malha viária
no sentido b - c – d da Figura 6.8, sendo que os indicadores dos mapas c e d, por
considerarem o espaço em sua composição, representam melhor a distribuição da malha,
sendo o d o que melhor consegue representar esta distribuição espacial.
A mesma análise feita para rodovias é perfeitamente aplicável para o caso das ferrovias
(Figura 6.9), mas com um destaque. Considerar o indicador de extensão ou densidade é
admitir que o acesso às vias possa acontecer em qualquer ponto, o que não é verdadeiro. O
índice de cobertura espacial foi calculado em função das estações existentes, pontos de acesso
à via férrea.
119
a b
c d
Figura 6.9 - A malha ferroviária (a) e os indicadores extensão ferroviária (b), densidade
espacial ferroviária (c) e índice de cobertura ferroviária (d).
Por fim, vale ressaltar que existe a necessidade de maiores estudos para calibração da função
dos pesos, bem como a extensão máxima da influência da infra-estrutura a ser considerada. Os
valores aqui apresentados são apenas para ilustrar o funcionamento do indicador e suas
aplicabilidade na representação do elemento considerado, a provisão de estrutura de
circulação.
120
• Resultados das Entrevistas
Nas entrevistas pouco se questionou a metodologia geral concebida, sugerindo não haver
nenhum elemento que a invalide. Os pontos centrais de discussão foram: a seleção da provisão
como o elemento de representação do estudo de caso, o modelo de fluxo de informação e a
metodologia de representação da provisão de estrutura de circulação e o modelo de
planejamento adotado como base para o sistema.
121
desejado e, assim, o indicador de eficácia indica também efetividade. Portanto, neste caso, não
há necessidade de indicadores específicos para esta dimensão.
Houve questionamento, por alguns entrevistados, da agregação por municípios. Segundo eles,
seria um nível de detalhamento muito alto para as competências do Ministério. Alegou-se que
a agregação por município auxilia na identificação de desigualdades, assim como ajuda a
perceber se o problema da provisão em cada ponto é responsabilidade da união, do estado ou
do município. Além do que, a União como articulador e coordenador de todo o processo, deve
atuar de modo integrado com estados e municípios, direcionando as ações em prol do interesse
nacional.
Deve-se observar que muitos dos questionamentos feitos nas entrevistas poderiam ter sido
contornados com a realização das discussões apontadas na metodologia (Atividade 02). Como
o desenvolvimento ocorreu sem um processo participativo e a consulta realizada ad hoc, não
foi possível difundir uma série de conceitos e fundamentos necessários à plena compreensão
do processo elaborado.
De forma geral, pode-se afirmar que a metodologia proposta e os modelos desenvolvidos são
válidos e podem ser aplicados ao desenvolvimento de um sistema de indicadores para o
Ministério. Além disso, outros elementos que podem oferecer dificuldades ao processo, a
saber:
122
6.2 - TÓPICOS CONCLUSIVOS SOBRE VALIDAÇÃO DA METODOLOGIA E
ANÁLISE DOS RESULTADOS
No caso desta pesquisa, esta etapa objetivou apenas a validação da metodologia como um
todo, bem como a consistência dos resultados obtidos pelo estudo de caso.
Dado o que foi visto neste capítulo, cabem os seguintes tópicos conclusivos:
+ Soluções tecnológicas não são fatores limitantes atualmente, existindo uma série de
softwares tanto comerciais quanto gratuitos.
123
+ O Projeto SEAD-T, financiado pelo CNPq e desenvolvido por universidades
brasileiras sob coordenação da Universidade de Brasília - UnB, é um exemplo de
iniciativa de produção de uma solução integrada e de interface amigável.
• Sobre os indicadores
• Sobre as entrevistas
+ Não houve questionamentos sobre o processo apresentado pela metodologia geral para
desenvolvimento do sistema.
124
+ Existe certa dificuldade em desenvolver uma visão mais global sobre o planejamento
nacional de transportes, integrando os diversos níveis territoriais. O Ministério ainda se
detém a problemas muito específicos quando deveria ocupar uma posição de
coordenação e gerência geral.
125
7 - CONCLUSÕES
Sistemas de indicadores são recursos essenciais para o planejamento e gestão dos mais
diversos setores. O uso de indicadores como elemento de tomada de decisão é algo
corriqueiro, muitas vezes inconsciente e permeia os mais diversos processos da vida humana,
desde a decisão de levar um guarda-chuva ao sair de casa até a decisão sobre quais as
prioridades de investimento do Governo Federal.
Apesar disso, atualmente, o que prevalece são aplicações isoladas, em geral manifestas na
forma de estudos pontuais e específicos, sem a preocupação do desenvolvimento de um
consenso e aceitação dos indicadores como elementos representativos das preocupações de
diversos agentes. O debate sobre indicadores fica geralmente restrito à apresentação de novas
metodologias de representação, materializada em novos indicadores, mas sem apresentar um
sistema que seja erigido sobre necessidades específicas de cada um de seus usuários, dentro da
compreensão apresentada nesta dissertação. O resultado, como foi comentado ao longo deste
trabalho, é uma miríade de indicadores que supõe-se servir a todos, mas acaba servindo a
adequadamente a ninguém.
126
Em seu desenvolvimento foram revisados os conceitos de planejamento, planejamento
nacional de transportes, sistematizando seus objetos, princípios, finalidades e objetivos.
Revisou também os conceitos de indicadores, tipos, modelos de estruturação, além de
metodologias existentes para o desenvolvimento de sistemas de indicadores.
Como produtos, tem-se uma metodologia desenvolvida com base numa visão integrada de
planejamento, um modelo de organização da informação que considera a integração entre o
ciclo de planejamento estratégico, o ciclo PDCA (de garantia da qualidade), os níveis de
decisão e os tipos de indicadores. Tudo isso como forma de sistematizar um conjunto de
indicadores que, coerente com o processo de planejamento, pudesse ser incorporado
efetivamente na elaboração, desenvolvimento, implementação e avaliação da política nacional
para o setor de transportes. Isto posto, pode-se afirmar que o objetivo proposto foi atingido e
as hipóteses estabelecidas no primeiro capítulo foram confirmadas.
Este capítulo sintetiza toda a produção da pesquisa faz considerações sobre a metodologia
desenvolvida. Por fim, apontam-se sugestões e recomendações para futuras pesquisas.
Não foi possível verificar se a Etapa de Implementação está concebida de forma completa, ou
se novas atividades precisam ser inseridas ou mesmo se a etapa precisa ser mais detalhada,
pois apenas a etapa de Elaboração foi testada. Apesar disso, validada a elaboração, a
implementação ocorre sem maiores barreiras, uma vez que os grandes problemas já foram
previstos e contornados na etapa anterior.
127
• a sistematização do objeto, princípios e objetivos da política nacional de transportes foi
feita sobre os textos das Leis 10.683 de 2003 e 10.233 de 2001, do Decreto-Lei 4.721 de
2003, do Projeto de Lei 1.176 de 1995 e da Lei 5.917 de 1973;
128
inclusive o desenho do edital para licitação, ou mesmo do convênio com uma
instituição de pesquisa.
129
+ desenvolvimento de um plano para elevação da maturidade organizacional do
Ministério dos Transportes.
130
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o Sistema Nacional de Viação e dá outras providências.
http://presidencia.gov.br/ccivil_03/Projetos/PL/pl1176.htm Acessado em: 10/10/2004.
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Transporte, a Agência Nacional de Transportes Terrestres, a Agência Nacional de
Transportes Aquaviários e o Departamento Nacional de Infra-Estrutura de Transportes, e
dá outras providências.
<http://www.planalto.gov.br/ccvivil_03/Leis/LEIS_2001/L10233.htm> Acessado em:
02/11/2004.
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Regimentos Internos do Gabinete do Ministro, da Secretaria Executiva, da Subsecretaria
de Assuntos Administrativos, da Subsecretaria de Planejamento e Orçamento, da
Consultoria Jurídica, da Secretaria de Fomento para Ações de Transportes, da Secretaria
de Gestão dos Programas de Transportes e da Secretaria de Política Nacional de
Transportes.Portaria nº399, de 14 de Julho de 2004.
http://www.transportes.gov.br/BaseJuridica/RegimentoInterno2004.doc Acessado em:
02/11/2004
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135