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Questão de aula 4
Avaliação E. de Educação Professor

Educação Literária – Eça de Queirós, Os Maias

Lê o excerto do capítulo XIV, de Os Maias, e as notas.

Era Baptista que os servia, já com um fato claro de viagem. A mesa, redonda e pequena, parecia
uma cesta de flores; o champanhe gelava dentro dos baldes de prata; no aparador a travessa de
arroz- -doce tinha as iniciais de Maria.
Aqueles lindos cuidados fizeram-na sorrir, enternecida. Depois reparou no retrato de Pedro da
5 Maia: e interessou-se, ficou a contemplar aquela face descorada, que o tempo fizera lívida, e onde
pareciam mais tristes os grandes olhos de árabe, negros e lânguidos 1.
– Quem é? – perguntou.
– É meu pai.
Ela examinou-o mais de perto, erguendo uma vela. Não achava que Carlos se parecesse com ele.
10 E voltando-se muito séria, enquanto Carlos desarrolhava com veneração uma garrafa de velho
Chambertin:
– Sabes tu com quem te pareces às vezes?... É extraordinário, mas é verdade. Pareces-te com
minha mãe!
Carlos riu, encantado duma parecença que os aproximava mais, e que o lisonjeava.
15 – Tens razão – disse ela – que a mamã era formosa... Pois é verdade, há um não sei quê na testa,
no nariz... Mas sobretudo certos jeitos, uma maneira de sorrir... Outra maneira que tu tens de ficar
assim um pouco vago, esquecido... Tenho pensado nisto muitas vezes...
Baptista entrava com uma terrina de louça do Japão. E Carlos, alegremente, anunciou um jantar
à portuguesa. Mr. Antoine, o chef francês, fora com o avô. Ficara a Micaela, outra cozinheira de
20 casa, que ele achava magnífica, e que conservava a tradição da antiga cozinha freirática 2 do tempo
do Sr. D. João V.
– Assim, para começar, minha querida Maria, aí tens tu um caldo de galinha, como só se comia
em Odivelas, na cela da madre Paula, em noites de noivado místico...
E o jantar foi encantador. Quando Baptista se retirava, eles apertavam-se rapidamente a mão por
25 cima das flores. Nunca Carlos a achara tão linda, tão perfeita: os seus olhos pareciam-lhe irradiar
uma ternura maior: na singela rosa que lhe ornava o peito via a superioridade do seu gosto. E o
mesmo desejo invadiu-os a ambos, de ficarem ali eternamente, naquele quarto de rapaz, com
jantarinhos portugueses à moda de D. João V, servidos pelo Baptista de jaquetão.
– Estou com uma vontade de perder o comboio! – disse Carlos, como implorando a sua
30 aprovação.
– Não, deves ir... É necessário não sermos egoístas... Somente não te descuides, manda-me
todos os dias um grande telegrama... Que os telégrafos foram unicamente inventados para quem se
ama e está longe, como dizia a mamã.
Então Carlos gracejou de novo sobre a sua parecença com a mãe dela.
Eça de Queirós, Os Maias, Porto, Livros do Brasil, 2016, pp. 470-471.

1
lânguidos: abatidos.
2
freirática: conventual.

Editável e fotocopiável © Texto | Mensagens • 11.o ano 309


310 Editável e fotocopiável © Texto | Mensagens • 11.o ano
70 pts.

1. Interpreta a frase «Pareces-te com minha mãe!» (linhas 12 e 13) como um indício trágico.

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2. Apresenta duas características de Maria Eduarda, tendo em conta a perspetiva de Carlos. 70 pts.

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3. Transcreve: 60 pts.

a) a comparação que, entre as linhas 1 a 6, revela a preparação cuidada do espaço para o


jantar;
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b) a hipérbole que, entre as linhas 24 a 29, mostra o estado deleitado em que o casal se
encontrava.
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Editável e fotocopiável © Texto | Mensagens • 11.o ano 311

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