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O capítulo XV situa-se já no desenvolvimento da ação e faz parte da intriga

principal, e será este capítulo que iremos falar sobre, pp.511-589. Durante este,
Maria Eduarda conta a Carlos a história da sua vida.
Maria Eduarda, como todos de nós sabemos, é uma personagem que ocupa um
lugar de relevo, designadamente, na intriga incestuosa. Sem uma descrição prévia
e pormenorizada por parte do narrador onisciente, a imagem de Maria Eduarda é
construída progressivamente no relato, por meio de caracterização direta e
indireta, dependente dos olhares, inquirições, dúvidas e revelações de outras
personagens.

Maria Eduarda encarna a heroína romântica, perseguida pela vida e pelo destino,
mas que acaba por encontrar a razão da sua vida, no amor. Ela é vítima do seu
passado, das circunstâncias em que cresceu e viveu, que se encaixam na ética do
naturalismo, mas o facto de ser a própria personagem a narrar o seu percurso
afasta a mesma de alguns dos preceitos estruturais do naturalismo.

Este percurso, como já disse, que é descrito pela mesma e que eu irei resumir um
pouco:

– Lembra-se muito pouco da sua infância, apenas recordava algumas


imagens (largos passeios de árvores, militares vestidos de branco, as
histórias do avô, etc.);
– Não sabia nada do pai, a não ser que era um nobre de grande beleza;
– Tivera uma irmã de nome Heloísa que morreu com dois anos;
– A sua mãe não tolerava que lhe perguntassem coisas do passado.
– Viveu em Paris tendo memórias mais nítidas desta altura: lembra-se da sua
aia, que era italiana e que a levava todas as manhãs brincar aos campos
elísios. Durante a noite lembrava-se de ver a mãe decotada e um homem
loiro que lhe costumava trazer bonecas num quarto muito decorado.
– Entretanto a mãe meteu-a num convento e durante os primeiros meses as
visitas da mãe eram regulares trazendo-lhe sempre muitos presentes mas,
com o passar do tempo as visitas foram se tornando menos regulares e,
depois de ficar um ano sem a ver, Maria lembra-se da sua mãe ter voltado
um dia coberta de luto a chorar abraçada a ela.
– Na visita que se seguiu a mãe vinha mais contente e muito melhor de saúde
e, passado algum tempo (para sua grande infelicidade) voltou para Paris na
companhia de uma fidalga que a fora buscar ao convento.
– A casa da mãe nessa altura era uma casa de jogo, sendo descrito “de um
luxo sério e fino”, e foi aí que conheceu Mr. Trevernnes, um homem
perigoso pela sua sedução pessoal e por a sua falta de honra e de senso até
que, num dia à noite, se mudaram para outra casa.
– Foi nessa casa que a sua mãe conheceu Mac Gren, um gentleman irlandês
muito novo que se enamorou pela sua mãe. Entretanto Mr. Trevernes
começou a fazer exigências maiores à mãe de Maria exigindo-lhe
pagamentos e começou a olhar para Maria Eduarda dum modo que a
assustava, até que, num dia fugiram para um hotel.
– Nessa altura a mãe de Maria e a própria Maria viviam receosas e assustadas
com a possibilidade de aparecer Mr. Trevernnes, mas quem veio foi Mac
Gren que as levou para outra cidade, onde viveram um ano “quieto e fácil”.
– Entretanto a mãe de Maria rompera com Mr. Trevernnes e passou a adorar
Mac Gren do qual teve uma filha: Rosa.
– Depois quando rebentou a guerra Mac Gren alistou-se no exército e
semanas depois a mãe de Maria soube que ele tinha sido morto. A morte de
Mac Gren fora o início de uma vida muito carenciada pela parte de Maria, de
Rosa e da mãe de Maria que começou a apresentar uma doença no coração
o que, posteriormente, a matou.
– Entretanto conheceu Castro Gomes e passou a ser sua companheira não
suportando a sofrimento em que Rosicler vivia, agora sem o apoio da sua
mãe.
– É sabido que Maria Eduarda nunca tinha amado realmente ninguém e, por
isso, o seu corpo é descrito que “permaneceu sempre frio, frio como
mármore”.

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