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STATION
N º 5 - Dezembro 2020
Clássicos
Góticos:
Lançamentos
no Brasil
EDIÇÃO
DAS
BRUXAS
Moda
Two Witches Fetichista
na Subcultura Gótica
&
Monica Richards Arqueologia
do Faith and the Muse do Post-Punk
RETROSPECTIVA 2020
Brasil & Mundo: Destaques Musicais
AGRADECIMENTOS
Quer saber mais sobre Jessica Mayara B. Silva Gothic Station # 5
a subcultura gótica? Nossa gratidão à todos que Joan Lamark Menezes Farias Dezembro 2020
apoiaram esta edição no Josiane Mattos
Gothic Station:
período de pré-venda: Juliana Martins Almada da Silva
Junior Spades Bonifacio Colaboradores:
ÍNDICE
Adriana Mattioli Katia Cristiane Barreto de Lima
Adriana Reis Lauren Scheffel KIPPER
HISTÓRIA DA MODA:
gothicstation.com.br Alexandre Paschoaletto Lohan M. Montes Editor geral e de arte
Alissa Farias Lucas Alexandre Ferreira da Gothic Station, escreve sobre 2 Estilo Fetichista Sana Skull
literatura, música e realiza entrevistas.
Download dos livros Allan Merighi Miotto Ludmila Pontes da Silva
Trabalha desde 1988 na imprensa RESENHAS MUSICAIS:
Allison Rosney Padilha Luiz Fernando Plastino Andrade
Happy House vol. 1 e 2 Aluízio Kanter Marcell Diniz Chaves e vagueia pela subcultura gótica
e muito mais: Amanda Laguna Andrezzo Márcia Sandrine
desde 1990. 12 Retrospectiva Mundo*
www.gothicstation.com.br
Amanda S. Ferreira Marcos Roberto Ferreira de Mattos
Amara Khrisna De O.Andrade Marcos Scheel
18 Retrospectiva Brasil Bruno Rocha
gothicstation.com.br/ Ana América Faria Marilena A. K. Caires Fiorillo
SANA SKULL
por
Sana Skull
Ana veste cosplay do
personagem Edward Mãos
de Tesoura. Os elementos
INFLUÊNCIA FETICHISTA NO
ESTILO GÓTICO
fetichistas são amenizados
devido à característica
romântica do look, mas
estão presentes no couro,
nos studs e nas fivelas.
Quando falamos em Moda Fetichista nos referimos a um segmento
Foto: Desiree Baptista de mercado que emergiu em paralelo com as culturas juvenis
Modelo: @insaniacos
e teve a cultura gótica como uma das principais divulgadoras.
O mercado de moda alternativa fetichista na atualidade é imenso,
criativo e motor para diferenciação estética através do choque
visual. Nesta matéria é traçado um breve histórico da moda
fetichista citando algumas das principais referências musicais,
literárias e cinematográficas que fazem parte da cultura gótica.
2 GOTHIC DEZEMBRO 2020 GOTHIC DEZEMBRO 2020 3
O figurino idealizado pela
atriz Diana Rigg para a
personagem Sra. Peel
no seriado “Os Vinga-
dores”, trazia peças em
couro, botas, espartilho
e gargantilha de spikes,
que tornaram a imagem
da moda fetichista mais
acessível ao grande públi-
co consumidor.
Nico em performance
fetichista do Velvet
Underground produzi-
da por Andy Warhol
FOTOS: DIVULGAÇÃO
1920, estes bares que na década de
Ensaio gótico de 1950 cresciam, ajudaram a difundir a
Karina e Maia, em estética entre os frequentadores, um
comum ambas as dos propósitos era chamar a atenção
estéticas exibem pele para o homem gay abertamente mas-
exposta, arrastão, culino em contraposição com o gay
couro, studs efeminado que dominava a cultura po-
e argolas. pular do período, este comportamento
também envolvia a luta do movimento
pelos direitos homossexuais.
Blusa da loja
Dark Fashion traz
características da
moda fetichista:
transparência,
tecido brilhante e
detalhe de fivelas Cena do filme “O Corvo”, de 1994,
com amarração. com o personagem Eric Draven
usando couro preto e amarrações,
refletindo a popularização da
estética fetichista na
global, que a moda fetichista se es- cultura de massa
palha de forma abrangente nas mais
diversas subdivisões estéticas da sub- moda fetichista se tornou para os não De todo esse histórico sobre a estética Gitane Demone em traje de látex.
Rúbia, conhecida como sexualmente adeptos do fetiche uma fetichista é importante deixar clara a
cultura. O látex é um dos materiais mais
Nosferotika, usa vestido mercadoria composta por objetos de divisão que existe entre a subcultura emblemáticos da moda fetichista,
preto justo. Na moda feti- desejo. Peças de moda fetichista pro- underground, super restrita a poucos
Uma das peças mais populares na atu- é difícil de vestir e de se mover,
chista, os tecidos lisos vocam desejo de consumo, produzi- adeptos praticantes, do mercado de
alidade são os arreios (harness) usa- provoca suor e seu brilho remete
e brilhantes remetem das por marcas especializadas, muitas moda fetichista que se populariza na
dos como acessórios que vão desde o aos fluídos sexuais
à lubrificação corporal possuem valor elevado. década de 1960.
envolvimento da cintura e pescoço ou
cintura e pernas. O cybergoth merece
ser analisado por pegar peças em pvc e Peças como botas em verniz com sal- E é esse mercado que produzirá peças
vinil que seriam originalmente pretas e tos altíssimos se tornaram objetos de para consumo para formação estética
O filme “O Corvo”, de 1994, com o Vampiro” de Anne Rice, os adeptos do dar a elas cores brilhantes, resultando adoração, uma mercadoria que não de subculturas como a punk e a góti-
personagem Eric Draven usando couro romantismo vampírico vitoriano tam- numa leitura mais leve às peças origi- serve apenas para ser um produto hu- ca. Portanto é preciso estar atento que que aceitam e utilizam estes códigos e
preto e amarrações também reflete a bém não escaparam de incluir elemen- nalmente pretas. mano utilitário, mas uma peça para ser nestas – e em algumas outras subcul- símbolos com entusiasmo.
popularização da estética fetichista na tos fetichistas em seus trajes. exibida pelo seu valor simbólico, que turas – a moda fetichista atua como
cultura de massa. Dois anos antes, o Além das roupas, os calçados são pe- carrega desejos que vão muito além do algo meramente estético, sem conota- A moda fetichista saiu da cultura un-
filme “Batman O Retorno” trazia Mi- Ainda na década de 1990, a Alemanha ças importantes para a cultura do fe- que o produto representa carregando ção sexual ou de dominação. derground sexual para se tornar um
chelle Pfeiffer em um macacão de lá- se destaca como um epicentro da cena tiche, entrando nesta categoria como também a subjetividade do consumi- segmento de mercado de moda fazen-
tex. EBM / Eletro / Industrial, de estética modelos de saltos elevadíssimos, pla- dor. A intenção é meramente criar visuais do parte da cultura popular através de
marcadamente masculina ou masculi- taformas, tiras de amarração que alu- impactantes que conversem com as re- subculturas como a gótica, cujos adep-
Após o lançamento de Edward Mãos nizada, esse segmento da subcultura dem à escravidão e botas de cano alto. Uma bota gótica de saltos altíssimos ferências musicais, literárias e cinema- tos são interessados na quebra de ta-
de Tesoura em 1990, o look fetichista resgata a imagem do fetiche associado ganha vida própria e se desassocia de tográficas admiradas pela subcultura. bus e na expressão individual.
do personagem que, embora refletisse ao poder, com calças bondage, botas e Se no século 19 Karl Marx cunhou seu produtor, como um ‘fetichismo de
a moda da subcultura, provocou um in- coturnos com solado alto e saias mas- o termo “fetichismo da mercado- mercadoria’, oculta as relações de tra- Os góticos têm fama de terem uma A moda fetichista é hoje, utilizada nas
teresse ainda maior em peças daquele culinas em vinil e gargantilhas com ria” para descrever a forma como os balho e é adquirida por uma parcela atitude mais aberta em relação ao ero- ruas abertamente e carrega com ela os
estilo dentro da comunidade gótica. studs, por exemplo. objetos produzidos através do traba- de consumidores de estéticas alter- tismo, sexualidade e papéis sexuais, significados que se relacionam da libe-
lho humano adquiriam valor de troca nativas que no prazer de se vestirem, e isso se reflete na adoção da moda ração sexual gay e feminina que per-
Também a publicação e filmagem cine- É na década de 2000 com a popula- exagerado, este termo pode ser trazi- exprimem uma imagem de poder, não fetichista, não significando que os mitiram que a estética surgisse como
matográfica de obras como “Dracula rização da internet e das lojas on-line do como análise para a atualidade no necessariamente sexual, mas de status góticos sejam adeptos de práticas de mercado de moda para as culturas al-
de Bram Stoker” e “Entrevista com o de moda gótica, que atingem clientela segmento de moda fetichista, já que a estético. fetiche ou sadomasoquismo, mas sim ternativas.
FOTO: DIVULGAÇÃO
trazia em suas páginas
zíperes; amarrações; fivelas, studs (ta-
o brilho negro do
DESTAQUES
INTERNACIONAIS
A safra de lançamentos musicais foi das mais fartas,
com uma grande variedade de estilos, da darkwave ao
electro-medieval, do gothic-rock ao ethereal, do
industrial-rock à minimal wave, com novidades e retornos...
HELALYN FLOWERS explorados mais recentemente, sempre
IMJUDAS com as belas canções.
BLACK SHINE FEVER
SOPOR AETERNUS &
O casal de artistas italiano maXX Caos The ENSEMBLE OF SHADOWS-
e N0emi Aurora é responsável por vá- Island Of the Dead (2020)
rios projetos musicais de qualidade em Anna-Varney Cantodea volta com sua
estilos diferentes. O cultuado duo HE- fórmula (e isso é bom) que inclui barro-
LALYN FLOWERS já tem uma longa co, neoclássico, arranjos orquestrados
estrada desde o começo do século e e toques eletrônicos minimalistas, e
vários álbuns excelentes na sua conta, sua performance vocal altamente te-
fazendo um industrial-rock misturado atral característica, sempre atuando
com synth/eletro-goth e os belíssimos cada uma das histórias e personagens
vocais de Noemi Aurora. de suas letras cortantes e inteligentes.
Neste álbum temos muitas faixas com
O mais recente álbum, Nyctophilia tempo mais acelerado, uma diferença
(2018), foi seguido em 2019 e 2020 em relação à álbuns do passado mais
também excelentes singles como Me- downtempo. Se você gosta de Anna-
tropolis Necropolis e Suicidal Birds. -Varney, vai lá, que esse é dos bons.
Maxx também tem desenvolvido mais
recentemente o seu projeto IMJUDAS, THEODOR BASTARD
mais na linha Electro Dark Wave/Syn- Volch’ya Yagoda (2020)
thpop na trilha de Gary Numan e De- Podemos situar a sonoridade do grupo
peche Mode com uma energia atual.
Anna Varney - Sopor Aeternus russo entre folk étnico, world music
Noemi Aurora é também uma designer e trip-hop, com vocais ora femininos
profissional com trabalhos incríveis CLAN OF XYMOX- ora masculinos. Encontramos uma mú-
como a linda capa do outro projeto de Spider on The Wall (2020) sica que é ao mesmo antiga e moderna,
Maxx, o BLACK SHINE FEVER, que Há mais de três décadas o COX tem como o som do Dandelion Wine que
lançou seu álbum de estreia Via Nega- entregado composições com cuidado comentamos mais adiante. Tanto os fãs
tiva (2020), com uma sonoridade úni- melódico e lírico, as vezes mais eletro- de Qntal e Faun vão perceber, como
ca misturando no seu caldeirão “partí- -goth e synth, as vezes mais atmosféri- os do Dead Can Dance, que Theodor
FOTOS: DIVULGAÇÃO
culas de doom, post-punk, dark, goth, cas e etéricas, com a voz bem definida Bastard alcança aquele nível ritual da
black metal e 80’s New Wave”, usando e conhecida de Ronny Moorings. Este música. Os álbuns anteriores também
as palavras da própria banda. Vale a novo álbum, além só ter faixas fortes, são recomendados, tendo sonoridades
pena ficar de olho na produção dessa também transita tanto pelos estilos que exploram também instrumentos
dupla de artistas. antigos do início da carreia como pelos antigos, étnicos e percussões tribais.
FOTOS: DIVULGAÇÃO
NEWCOMERS:
Muito sangue novo
no cenário brasileiro
em 2019 e 2020
Muito além dos vários lançamentos Permaneço
que bandas e projetos consagrados de Deitada
nosso país trataram de disponibilizar
recentemente, uma enxurrada de no-
vos grupos surgiu nos últimos anos e que recentemente lançou um ótimo das resolveram nos últimos anos se Ainda no campo da música eletrônica,
todos eles surpreendem pela qualidade single de estreia chamado “Carmilla”. aventurar com novos projetos a fim de vimos também o surgimento (ou re-
absurdamente boa de criatividade, de O Anum Preto, projeto Post Punk do explorar uma faceta diferente dentro nascimento?) do Quântico Romance,
composição e de lançamentos. músico Aerson Moreira que já lançou daquilo que eles já praticam ou mesmo projeto carioca cujo mentor é o vetera-
dois álbuns em menos de um ano. tentar coisas completamente novas em no músico Karlos Junior e que já jogou
Muito embora saibamos as condições seus currículos. para os fãs de Synth/Technopop dois
com as quais a maioria das bandas un- O Ratpajama, projeto Synth/Darkwa- trabalhos recheados de som “kraf-
derground tem que conviver, fato este ve solo da cantora e musicista Kyara Este é o caso do Fake Movie, duo ele- twerkiano” de 2019 para cá.
que acaba culminando em uma produ- Jereissati, o 777, projeto Post Punk/ trônico formado por Airton S. (Plasti-
ção não tão boa em alguns trabalhos de Synthwave que já conta com o EP que Noir) nos vocais e por Jean Rié (ex- Deixando um pouco os synths de lado
estreia e também em longos intervalos “Desfiladeiro do Campo Liso”, e o -Scarlet Leaves) nos synths que transita e voltando para as guitarras e os bai-
entre um lançamento e outro, músicos Profundezas do Silêncio, projeto mu- competentemente e com muita pers- xos, nos deparamos com uma grata
e artistas de todo o país arregaçam as sical Neofolk/Dark Ambient bastante picácia através de várias ramificações surpresa vinda da capital nacional,
mangas e as mentes em prol de conce- interessante. que a música eletrônica possui. Brasília.
der vida às suas ideias musicais.
O interior do Ceará também não está A ousadia marca a estreia do Lunar O Tomb Of Love é uma banda de Go-
Um exemplo cabal deste fenômeno deixando de participar do movimento, Dream, projeto brasiliense de J.P. Ma- thic Rock que estreou no ano passado
vem acontecendo no Ceará através vide o Pontagulha, projeto Coldwave noeli (Blue Butterfly, Banda Invisível) com o EP “A Permanent Reminder of
daquilo que este Escriba costuma de- da cidade de Uruburetama capitane- e de Eliza Wen que não tem vergonha Our Failure”, um trabalho extrema-
nominar de “New Wave of Fortaleza ado pelo músico Lucas Caducco que, nem pudor nenhum ao misturar ele- mente soturno e congelante que preci-
Post Punk/Gothic Rock”. com um EP e um single já disponibili- mentos de Trip Hop, EBM e até mesmo sa ser urgentemente adicionado às suas
RETROSPECTIVA
zados, vem obtendo uma surpreenden- Reggae em seu Synthwave safado! playlists.
De uns anos para cá o cenário gótico te repercussão na internet, inclusive
cearense não vem se resumindo tão- com retornos internacionais.
Fake Movie
B RA S I L
-somente ao Plastique Noir. E também
nem sequer me refiro ao Black Knight Ainda pelo Norte/Nordeste, o Misfor-
Frequency, projeto fundado pelo gui- tune Deep, de Manaus, vem chaman-
tarrista Márcio Benevides pouco tem- do bastante a atenção de todos aqueles
po depois que ele deixou o Plastique. que acompanham o cenário under-
ground alternativo com seu Synthpop
Um boom de novas bandas cearenses e olhe que eles sequer lançaram um
está acontecendo há pelo menos dois trabalho oficial de estúdio ainda! Com
O Misfortune Deep, anos, dos quais podem ser apontados nova formação composta por Lanna
direto de Manaus o Maldigo, banda de Gothic Rock que Areque, Roberth Fernandes e o mem-
intercala em seus arranjos elementos e bro-fundador Augusto Batcave, o Mis-
escalas típicos do Oriente Médio e que fortune Deep está lançando um single
conta em seus vocais com Juliana Wey- por mês numa estratégia que ao final
ne, uma das mais completas cantoras se transformará em seu EP de estreia.
de Rock no Brasil atualmente.
Mas não só de gente novata que este
O Dark Hertz Transmission, trio que texto se propôs a tratar. Músicos vete-
mistura Post Punk com Synthpop e ranos e já consagrados por outras ban-
SINFÔNICO
À BRASILEIRA
Antes de mais nada ouça o novo single
“Nossa Terra” no Spotify ou Youtube.
Parece que Zé Ramalho compôs com o
messa brasileira além destas que reco- Nightwish e a Marisa Monte está can-
mendamos aqui? tando em Português...
Marcelo Kpta, vocalista do Das Pro- Entre os projetos que estão surgindo
jekt, em entrevista a esta revista em Wilame AC do Discotronike, em 2020, Grazi é uma surpresa por
sua edição de estreia, disse: “guarde com seu parceiro do Electro Porém, o primeiro single de “Catarse”, quebrar alguns estereótipos de es-
seu Violator do Depeche Mode por 5 Bromance à esquerda intitulado “Devaneio”, já está disponí- tilo. Para começar temos os vocais
minutos e vá atrás de novidade.” Tá vel para audição no YouTube com clipe com letras em português, cantados
esperando o que para encontrar aque- O RETORNO DO oficial. por uma voz bem treinada tecnica-
la que pode vir a se tornar a sua nova
banda preferida?
DISCOTRONIKE E o que se percebe é que o Discotro-
mente mas sem exageraos operísticos
que as vezes caracterizam o estilo.
O nome do músico paraibano Wilame nike está de volta com uma produção
AC está atualmente mais associado muito superior à do primeiro EP; sobre Na parte musical temos surpre-
ao duo Synth/Electropop Electro Bro- este detalhe, o próprio Wilame costu- sas como elementos brasileiros bem
mance, no qual ele canta e divide os ma mencionar que nos anos 2000 ele equilibrados dentro de uma estéti-
arranjos de sintetizadores com Hansen ainda não dispunha de todo o conhe- ca rock, sem parecerem “colados”.
Pessoa. cimento de produção musical que ele Finalmente, temos uma compositora
tem hoje. administra todas as fases de produção
Todavia, o primeiro projeto eletrônico da sua música, saindo de outro cli-
de Wilame não é o Electro Bromance, Musicalmente, o som do Discotronike chê da vocalista de banda “contrata-
mas sim o Discotronike. Se você não se diferencia do Electro Bromance não da” pelos “músicos donos da banda”.
conhece, não se flagele por isso. só pela inclusão de violinos e violas,
mas também pela atmosfera mais in- A artista assina “Grazy”, mas você
-Não esqueça de incluir também outra “Palácio dos Sonhos” (2018) e “Abis- O Discotronike lançou em 2008 um EP trospectiva e melancólica, mais pró- encontra no Spotify e Youtube como
revelação, desta vez vinda de São Pau- mos” (2019). Tendo em vista tama- de cinco músicas chamado “Sorrow”, xima ao Darkwave, muito embora seja “Grazi Rodrigues”, e também no nos-
lo, o Secret Shelson’s Band, trio que nha sortidão de bandas de qualidade BRUNO ROCHA trabalho este que apresentava uma também dançante. so link de audição.
pratica um concretoso e cinzento Post inquestionável, fica a expectativa e o criativa ideia de juntar violinos e violas (resenha Kipper)
Punk que bebe das fontes clássicas e otimismo de que cada vez mais mú- Cearense de Caucaia, Bruno Rocha é a bases eletrônicas. É como se o The Frozen Autumn en-
também soviéticas do estilo. sicos se inspirem nesta onda atual e editor-chefe do blog The Atmosphere, contrasse o My Dying Bride, duas ban-
também deem início aos seus próprios especializado em tudo que é tipo de Este trabalho obteve certa repercussão das as quais Wilame é um fã declarado.
Ainda, aproveite e curta também mais projetos para enriquecer ainda mais o Dark Music, e atende também pelo na época de seu lançamento e chegou a
duas novas bandas de gente veterana: nosso cenário. site Roadie Metal. receber elogiosos comentários em pu- Portanto, não deixe o Discotronike pas-
o Nouvelle Vie, banda Post Punk/Shoe- É professor de Matemática, mas blicações de países como Alemanha e sar batido nas suas próximas playlists
gaze formada por Edu Krummen (Das Opções para se ouvir estas promessas escrever textos sobre Música tem sido Itália. e se prepare para ouvir belas melodias
Projekt), Call Lament (ex-Das Projekt) e da música underground nacional tam- seu hobby preferido há alguns anos. de violino enquanto dança movido pe-
Dennis Sinned (Days Are Nights, 1983) bém não faltam: Spotify, Deezer, You- Torcedor do Ferroviário e amante de O Discotronike esteve hibernando há las empolgantes arranjos eletrônicos!
que lançou três singles e um videoclipe Tube, Bandcamp e asseclas reúnem as Fórmula 1, Bruno (finge que) toca mais de uma década e foi ressuscitado
este ano. mais variadas opções para você ouvir bateria em uma banda de recentemente. Wilame atualmente está LINKS:
tanta coisa boa da forma como você Heavy Metal, mas não fica um dia produzindo o primeiro álbum comple-
O Stenamina Boat, banda Post Punk bem entender. sequer sem ouvir The Frozen Autumn to do projeto; o mesmo se chamará discotronike.bandcamp.com
de cheiro oitentista formada por Már- e Clan Of Xymox. “Catarse” e tem previsão de lançamen-
cio Calixto (Vesuvia), Igor Vieira, Car- Fique de olho também nas web-rádios to para o primeiro semestre de 2021. electrobromance.bandcamp.com
los Rodrigues e Rogério Meni que já alternativas; quem sabe em uma delas theatmospheremusic.wordpress.com
possui em sua discografia dois EP’s: você não conhece mais uma nova pro-
bit.ly/GS5_brasil
por Bruno Rocha
Escarlatina
Obsessiva
sa, me xingando. Eu senti que a cena ração anterior Patti Smith / Talking frentes. Conte-nos um pouco sobre
punk tinha acabado pra mim depois Heads / Blondie / Père Ubu). Anafae, uma história em quadrinhos
disso. desenvolvida com James Neely.
Monica: Sim, início dos anos 80! Éra-
Comecei a fazer música mais melódi- mos os mais jovens, a galera artística Monica: Comecei a escrever pequenas
ca, pesada e obscura, saindo da cena de Washington DC não estava feliz histórias e contos desde a infância.
punk, algo mais experimental como as conosco, ha ha! Queria tanto ainda ter aqueles caderni-
coisas pós-punk. E por volta de 1987- nhos! Anafae é sobre a Mãe Natureza
O mais recente álbum, de 2019
1989, com o Strange Boutique, vi a
cena mudar ao meu redor, e foi mara-
“Eu senti que manifestando-se em forma humana e
caminhando pela terra depois que uma
vilhoso. a cena punk tinha grande praga destruiu tudo. O artista
de de criar diferentes tipos de música apenas caras que viam punks e skinhe-
e deixar o formato de ‘banda de rock’. Dunja Brill, em seu livro “Cultura ads em filmes e em artigos e vinham
William foi um grande parceiro musi- Gótica: Gênero, Sexualidade e Estilo” em busca de brigas. Houve uma noite
cal, que levou minhas ideias e minha considerou que a Cultura Gótica horrível em que um grupo deles gritou The Eden House
escrita a sério. se caracteriza por uma espécie de comigo, me dizendo para tirar a cami-
FOTOS: DIVULGAÇÃO/SIM
ilustrado do CD
“Naiades”
DISCOGRAFIA BÁSICA
J. Witch
kasvot ja rinnat pisaroiville naarmuille.
gótico puro e desavergonhado”. de roupas e discos góticos chamada
É uma declaração
Unien valtiatar ousada e corajosa
on pääosin nykyaikaan Darklands e logo depois abrimos uma
sijoittuva, vahvasti eroottissävyinen ja
emrokkipitoinen
uma cena conhecida
kertomus naispuolisesta pela estraté- gravadora com o mesmo nome.
vampyyristä ja miehistä hänen ympäril-
gialään.estranha
Tarinan kertoja “Ardil 22” que sempre
elää unelmaansa
Unien valtiatar
rokkistarana, Noitarovion basistina, kun
diztapaa
“Eu sou tão gótico
valtiatta- que não sou Virei DJ de rádio em uma estação de
entrevista com
keikkareissulla uniensa
ren. Siitä hetkestä eteenpäin uusi ihastus
päättäägótico”. Então,
joka tanssissa sekä parabéns!
rytmin että rádio local, tinha meu próprio progra-
sävellajin. Irene on vuosisatoja vanha
Você não acredita
vampyyri, joka on sopeutunut nyky- que precisamos ma noturno de música gótica. Fundei
T ITCHES
aikaan paremmin kuin moni kohtalo-
mais desse “orgulho do rock gótico” pequenos fanzines e lancei álbuns
WO
toverinsa. Kumppanit ja identiteetit
vaihtuvat ajan kuluessa, ainoastaan
na cena
verenjano on pysyvä olotila.
gótica? para bandas locais e também agendei
J. Witch on tamperelainen musiikkimies
shows para eles. Também organizei um
Jyrki: Acho que
ja goottikulttuurin seria Hänet
monitoimikone. bom para a cre-
tunnetaan DJ:nä, tapahtumajärjestäjänä,
pequeno festival gótico duas vezes no
W
dibilidade
toimittajana jade toda a cena
Two Witches-yhtyeen
lusolistina. Unien valtiatar on hänen
lau- se as bandas final dos anos 80, mas a hora estava
tivessem orgulho de sua própria cena e
esikoisromaaninsa. errada e tive que esperar mais de dez
apoiassem sua própria ideia.
ISBN 978-952-7325-02-5
anos pela próxima tentativa com o fes-
KK031
84.2
Capa do tival gótico, até que no início dos anos
Para ser honesto, eu nunca enten-
kuoriaiskirjat.fi
aavetaajuus.fi livro de 2000 eu formulei a ideia do Lumous
Kannen valokuva: Sakari Karipuro
di porque tantas ISBN
9 789527 325025 bandas góticas têm Jyrki Witch Gothic Festival.
por Kipper
978-952-7325-02-5
G
tos musicais e personalidade. bandas foram vistas se apresentando.
S
tulo se torna um propósito em si mes-
mo, torna-se problemático. Siga seu começar a organizar o primeiro clube para as pessoas: um período de quatro
EM MEDO DE SERFELIZ
FOTO: DILAN BAL
próprio caminho. Se esse caminho for gótico, Black Celebration, em nossa dias para encontrar amigos afins, fa-
gótico, bom, se não, também é bom. cidade natal junto com Jana da banda zer novos amigos, companheiros, par-
Advanced Art e Anne Nurmi (naquela ceiros sociais, criar novas bandas e se
MissB: Eu acho que é uma vergonha época ela era tecladista do Two Wit- divertir com os amigos. É por isso que
“A bruxa de hoje
é ser uma mulher
que não se curva
aos moldes que a Coletânea “...Put a Spell on You”
comunidade espera lançada em 2018 pelo selo brasileiro
de você” Deepland Records
tura gótica – Cid Vale Ferreira, Eduar- passagens que remetem à sua relação Lewis e Ann Radcliffe; além de seu
do Morpheus Affinito e Rogério Floyd incestuosa com a meia-irmã. estilo peculiar em lidar com mistérios
–, o Sebo Clepsidra imediatamente ter servido de modelo para a criação
se transformou em uma referência na É um poema dramático dividido em de detetives, como Auguste Dupin
região central de São Paulo. Perceben- três atos, no qual um mago procura (de Poe) e Sherlock Holmes (de Conan
do a carência dos clássicos góticos no expiação de crimes cometidos no pas- Doyle).
DESBUNDE
fazendo algum tipo de atividade pre-
dominantemente manual que mantém
minhas faculdades estéticas e informa-
tivas bem abertas. Então, quando es-
tou cozinhando, é uma boa hora para
& RETRÔ
ouvir música.
“Hoje em dia,
‘underground’
entrevista com realmente significa
SIMON REYNOLDS ‘nicho de mercado’
- é mais como uma Simon Reynolds
boutique ou
O jornalista e crítico musical inglês Simon Reynolds tem algum tipo de
pesquisado e escrito sobre música há decadas, desenvolvendo artesanato” Acho que o streaming corrompeu O que a oposição mainstream vs. un-
uma teoria musical crítica abrangente em vários livros sobre O conceito de “álbum”
minha audição, ou pelo menos enfra-
queceu minha capacidade de ouvir o
derground significa neste contexto do
século 21?
os mais diversos movimentos musicais da história. sobreviverá ao streaming? álbum como um todo coerente. Enfra-
queceu meu desejo de fazer isso. Parece ter se tornado sem sentido, mas
Parece sobreviver como uma espécie ainda parece significar para algumas
A última década trouxe a consoli- e por nada, ou muito pouco, se você me levantar e procurar por uma peça de escuta educada e adquirida, algo Na verdade, desenvolvi uma espécie pessoas e elas permanecem apegadas
dação do streaming como forma de se inscrever. musical de forma sólida e me dar ao que você deve cultivar. As pessoas de aversão às “Obras-primas”. Eu li a ele. Certamente, a ideia de “música
as pessoas ouvirem e aprenderem trabalho de colocá-la em uma máquina continuam a fazer álbuns que preten- pessoas falando sobre a grandeza de que poucas pessoas conhecem, e eu
sobre música, enfraquecendo os DJs No entanto, é possível que a própria de reprodução. dem ser afirmações musicais coeren- um álbum de Kendrick Lamar ou LP de sou uma delas” ainda tem um apelo
e fazendo as bandas buscarem novas facilidade e a sobrecarga de opções tes, com temas e tracklists cuidadosa- Janelle Monae ou, mais recentemente, para aqueles que valorizam a ideia de
estratégias. Apesar de uma recente se tornem pouco atraentes - ou que as Mas tem um efeito insidioso de trans- mente sequenciadas - e uma minoria seria Lana Del Rey e Fiona Apple. individualidade e não sendo conduzi-
“vingança analógica”, com o ressurgi- pessoas descubram que isso está ma- formar todas as músicas em música de de ouvintes aprende a ouvir assim, dos pelo marketing, mas encontrando
mento do vinil em segmentos especí- tando seu amor pela música, ao tor- fundo. E eu nem mesmo uso os algo- como se em algum tipo de viagem no Esses discos são celebrados nessa lin- seu próprio caminho através da músi-
ficos e publicações especializadas em ná-la menos especial - como um mero ritmos que preveem o seu gosto e es- tempo de volta aos anos 1970. guagem crítica antiquada do álbum ca.
papel. Podemos fazer previsões utilitário, como água ou eletricidade. colhem as coisas para você. Eu conti-
como obra-prima, totalmente temática
sobre o futuro próximo do nuo exercitando minha habilidade de Mas a maioria dos ouvintes ouve fai- e rica em significado, mas também rica Mas era uma vez, a ideia de undergrou-
mercado musical? E então você pode imaginar uma revol- selecionar e determinar meu próprio xas e faz listas de reprodução e ouve em diversidade musical. E eu me pego nd tinha algum tipo de conceito de
ta em massa contra o streaming e uma caminho na escuta. álbuns parciais - grupos de faixas de bocejando - só me desanima a ideia de oposição por trás dela - era oposta à
Alguém provavelmente poderia fazer volta a pagar pela música, ou algum que gostam. sentar reverente e atentamente frente a corrente principal (mainstream), ela se
previsões, alguém que sabe que tipo outro sistema que force as pessoas a No entanto, ele ainda se transforma
esse trabalho genial. alinhava com vários valores progressi-
de coisas estão em desenvolvimento ouvir de uma forma mais seletiva e fo- efetivamente em som ambiente com Essa é uma abordagem que começou vos ou contraculturais.
no nível da tecnologia. Mas não me cada, ao mesmo tempo que recompen- muita frequência. nos CDs - descobri que eu transforma- Os álbuns de que gosto ainda parecem
atreveria a fazer previsões! sa mais os artistas. va muito rapidamente até mesmo um funcionar de uma maneira diferente, Hoje em dia, ‘underground’ realmente
Acho que é em parte porque a maioria CD favorito em uma espécie de mini- como um bloco sustentado de atmos- significa ‘nicho de mercado’ - é mais
Parece que o streaming é uma espécie Eu odeio streaming e filosoficamente dos dispositivos em que você está fa- álbum das faixas de que mais gostei e fera. Discos que têm um clima e um como uma boutique ou algum tipo de
de desenvolvimento terminal - no sen- sou contra isso - mas cada vez mais é zendo streaming são dispositivos nos raramente ouço até o fim. som um pouco variado, mas essencial- artesanato que “os connoisseurs” co-
tido de que é difícil imaginar as pesso- como eu ouço música. É muito conve- quais você pode fazer outras coisas -
mente cada faixa é uma lasca desse nhecem. Ele não tem mais aquela aura
as encontrando outra maneira de ouvir niente. Eu acho que mesmo quando eu acessar a internet, verificar seu e-mail, Simplesmente porque avançar ou pro- mesmo bloco. Grupos como Lo Five. de insurreição ou exílio do mainstream.
música que seja mais fácil, que tenha já tenho um disco em vinil ou CD, eu procurar mais músicas - então você gramar uma sequência de faixas de CD É muito mais como cervejas artesanais
uma gama tão ampla de músicas que o ouço no streaming ou no YouTube, acaba executando várias tarefas e cai era muito fácil. O streaming leva isso Suponho que de certa forma seja uma ou pequenas empresas de camisetas
você pode acessar instantaneamente, pois é mais conveniente não ter que na síndrome de atenção partilhada. para o próximo nível. forma diferente de “ambient listening”. descoladas vendendo roupas caras.
Bem, existem muitos, muitos grupos não sabiam tocar ou cantar de maneira que o punk acontecesse, é incerto. Ele 80 para os anos 90 e início dos anos
que não têm nenhuma relação com a convencional irem até lá e tentar. Os pode ter sido um poeta ou um escri- 2000), reuniões, lineups de festivais
música do Kraftwerk. Você pode per- quatro Banshees originais não eram tor experimental de prosa. Ou apenas cheios de bandas antigas.
correr um longo caminho através da músicos convencionalmente habilido- permanecer como um funcionário de
música heavy metal e metal extremo sos, mas criaram um som único traba- almoxarifado. Há uma próspera indústria de reedi-
sem encontrar qualquer influência do lhando com suas limitações. ções e um culto aos formatos analógi-
Kraftwerk! Com o passar dos anos, alguns punks cos como o vinil e o cassete. Mas tam-
Mais tarde, as pessoas que se junta- adquiriram algumas habilidades mu- bém parece haver mais correntes de
“a afirmação ram aos Banshees para sua segunda e
mais rica fase musical - John McGeoch
sicais e quiseram fazer sons mais so-
fisticados, o que contribuiu para o
inovação nos anos 2010 do que quando
eu estava escrevendo o livro (que foi
“Kraftwerk era mais e Budgie na guitarra e bateria respec- pós-punk. Mas muitas vezes as ban- nos últimos anos dos anos 2000).
importante do que tivamente – bem mais preparados e das teriam uma mistura de músicos
os Beatles” não é
provavelmente estariam fazendo mú-
sica em um contexto ou outro, inde-
talentosos e músicos muito mais rudi-
mentares e ingênuos - como PiL, onde
“Bowie inventou
tão estúpida quanto pendentemente do punk ter aconteci- Keith Levene havia praticado por anos essa ideia do artista
parece”
do ou não. Mas provavelmente não tão
interessante quanto o que eles fizeram
e queria ser como o Yes, enquanto Jah
Wobble era um baixista autodidata.
que está sempre
com Sioux e Severin, nem uma cantora mudando seu estilo -
Fale um pouco sobre a Futuromania,
Mas em termos de música pop dos
anos 80 em diante, e dance music na
natural, nem um baixista natural, mas
cheio de ideias e um gosto muito des-
Esse tipo de mistura criou uma quími-
ca interessante. Havia também regras
até mesmo sua E há o que chamei de conceptronica,
onde há um som altamente processado
sua publicação sobre a história da era techno-rave, e black music de todos colado para música esquisita. persistentes do punk sobre não fazer identidade -” digital, percussão bombástica e, mui-
música eletrônica. os tipos, sua influência é legião e in- solos de guitarra, evitar influências de tas vezes, uma fusão com software de
FOTOS: DIVULGAÇÃO
por Kipper
UTOPIA
EST(ÉTICA)
qual é o principal legado rappers, como Kanye West, Drake, Rae
do Glam Rock? Sremmurd, o tema da música pop tor-
nou-se fama - a glória disso, a deca-
Não há muito legado sônico para o dência dela, o vazio dela.
glam rock audível no presente. Você
não ouve artistas abertamente como o As pessoas se tornaram estrelas can- “Eu me comunico pelas minhas rou- Na cena gótica, atualmente, vemos o
Bowie ou pessoas influenciadas pelo tando sobre o estrelato. Drake é o pas” já nos ensinava nos anos 1970 o visual feminino ser usado mais como
Roxy Music. exemplo paradigmático disso. É pra- semiólogo Umberto Eco, mais tarde símbolo de empoderamento, associa-
ticamente seu único assunto. E isso é famoso também como romancista au- do muitas vezes ao discurso de “bru-
Mas Bowie inventou essa ideia do ar- muito glam rock. No início dos anos tor de “O Nome da Rosa”. xas da atualidade”. Não por acaso, tem
tista que está sempre mudando seu es- 70, o rock tornou-se autorreflexivo e crescido na subcultura gótica o imagi-
tilo - até mesmo sua identidade - com a metalinguístico - em vez de falar sobre Como o Sherlock Holmes medieval da- nário de “sagrado feminino”.
forma como sua carreira envolveu uma o dia a dia do adolescente (como nos quele romance, a semiótica e a linguís-
série de novas personas, com uma apa- anos 50 e início dos 60) ou sobre po- tica nos ensinaram a ler o mundo, seja Dunja Brill destaca que é melhor
rência completamente diferente e mui- lítica e espiritualidade e coisas sérias nos “textos” da escultura, do cinema, existir uma subcultura cujo discurso adotam um estilo mais romântico e
tas vezes com um novo som também. do mundo exterior (de meados ao final dança ou vestuário, do comportamen- aponta para uma utopia de “gender- sensível, ou “como Lacrimosa, Goe-
dos anos 60), o rock começou a ser so- Nesse livro de 1996 Reynolds e Joy to, entre outras produções humanas lessness” (ausência de caracteres de thes Erben ou Illuminate” que apre-
Isso foi muito influente.
bre si mesmo. Músicas sobre turnês, Press comentam que o rock era até cer- que se constituem como discursos. gêneros socialmente definidos) do que sentam uma versão de masculinidade
sobre o estilo de vida excessivo de ser ta época um “clube de garotos brancos outras subculturas que desenvolvem que incorpora aspectos historicamen-
Mesmo alguém como Taylor Swift vai
roqueiro. raivosos”. Doutora em estudos culturais e pes- um discurso sistemático de reforço de te considerados femininos da persona-
falar sobre si mesma nesses termos -
havia a música / vídeo “Look What You quisadora de subculturas, Dunja Brill valores conservadores ou tradicionais. lidade, são rejeitados pelos “garotos
O rock se tornou uma forma de show- Muitos movimentos do rock levanta- também explora os subterrâneos sim- durões” de subculturas com uma sim-
Made Me Do”, onde ela fala sobre “a
biz, com cabelo mais comprido e letras vam a bandeira da rebeldia e liberda- bólicos, e escreveu nessa obra sobre Brill aponta que o discurso do gótico e bologia e discurso mais “masculinis-
nova Taylor” e desfila diante de nós to-
mais atrevidas, mas na verdade ape- de, mas na estética e na prática, ge- os jogos de poder de gênero, especial- de outras subculturas constroem uma ta”, ou mesmo por indivíduos conser-
das as supostamente diferentes perso-
nas uma versão jovem de Las Vegas ralmente essa liberdade era do ponto mente na cena Gótica. representação de mundo, que ela de- vadores da própria cena gótica. Porém,
nagens anteriores de Taylor Swift.
e Broadway. E então a reação contra de vista de jovens homens brancos que fine como utópica. Utopias são inten- ressalta a autora, esses artistas “têm
isso, trazendo-o de volta à vida real e objetavam ou apagavam tudo que não Ela explica que há um tipo diferente ções e projetos, individuais e coletivos. um grande número de seguidores entre
Então Bowie criou a ideia de que você
aos problemas de ser jovem, foi o punk fosse jovens homens brancos: para mu- de organização dos papeis gênero na Essa utopia pode não se realizar no góticos de ambos os gêneros (p.156).
poderia se reinventar e não precisava
- que era muito anti-showbiz, muito di- lheres, sobravam os lugares de grou- subcultura gótica, apesar de muitos coletivo ou totalmente, mas acaba
se ater a um ato ou estilo; pode ser
zendo “nós somos mais do que entre- pies ou backing vocals, ou capas sexy problemas tradicionais permanecerem. alterando as relações micropolíticas A maioria das discussões musicais no
uma série de papéis, como se você fos-
tenimento”. de álbuns. reais da nossa vida cotidiana. Como é meio alternativo não tem a ver com
se um ator. Ou um produto que está
sendo reiniciado. Pois ao contrário do que se relatou no comum dizer, “as utopias são o motor música, mas com a manutenção de do-
Bem, eu acho que o século 21 até agora Posteriormente surgem, paralelamen- passado, explica Brill, na realidade e da realidade”. mínios de status e poder de um seg-
te, outras vertentes dentro do Rock, prática o estilo Gótico não é andrógi- mento sobre outro, em que questões
Bowie apresentou ao pop o que hoje foi uma mudança massiva de volta aos
(e do pop) em que os homens incor- no: é hiper-feminilizante para as mu- Como Brill salienta em outro trecho, como machismo, misoginia, homofo-
em dia seria chamado de rebranding. É valores do showbiz. após o grunge dos
poram o lado feminino e os discursos lheres, ao mesmo tempo que cria um vários autores relatam que setores de bia, preconceito de classe e racismo
uma ruptura com a ideia de autentici- anos 90. Espetáculo, glamour, declara-
ções de moda extremas, camp e essa começam a ser menos objetificantes e tipo de masculino que incorpora o fe- “culturas ligadas à música alternati- são disfarçados sob discursos de ou-
dade como consistência e integridade,
coisa muito autorreferente de pop-so- conservadores. minino, mas que também não pode ser va tendem a associar o comercial e o tros assuntos. Nesse sentido, o caráter
a ideia de que sua arte deve refletir um
verdadeiro eu imutável. bre-pop, fama-alcançada-por-escre- confundido com o andrógino típico. inautêntico com o feminino”, se de- utópico de uma subcultura progressis-
ver-sobre-fama.” Mas as práticas demoram a mudar, e finindo assim preconceituosamente ta é importante como projeto e prática
surgem novas vertentes do rock e un- O visual gótico masculino não bus- contra um suposto “mainstream femi- de desconstrução desses discursos.
Uma das teses em Shock and Awe é
O que é muito showbiz em si mesmo derground que criticam o rock por es- ca parecer mulher ou indefinido, mas nilizado de produção de massa”.
que o legado do glam não é necessa-
- pense em canções como “The Show tar “se viadizando” (para o machista, criar um tipo de masculino coerente Como qualquer grupo social, a reali-
riamente saudável - mas um legado
Must Go On”, “There’s No Business humanização é sinônimo de “desmas- com discurso simbólico da subcultura Assim, muitas vezes o “EBM e Indus- dade da subcultura gótica não é per-
sombrio.
like Show Business”, “Life is a Caba- culinização” e perda do seu privilégio). gótica, (P. Hodkinson,“Goth”, 2002). trial são considerados domínios mas- feita, nem é isenta de indivíduos com
E não é necessariamente que haja um ret”. Hollywood adora fazer filmes so- culinos, enquanto estilos mais suaves comportamentos incoerentes ou anti-
bre a indústria do cinema - é por isso Assim, a linha conservadora e ma- Essa hiper-feminilização da mulher como o synthpop são ridiculariza- éticos, mas o projeto coletivo estabe-
link direto do glam para o que está
que existem quatro versões diferentes chista do rock pode ser vista até hoje, gótica pode ser vista de duas formas: dos como “música para meninas”, (p lecido pelo discurso estético da sub-
acontecendo no pop contemporâneo,
de A Star is Born. paralela às linhas mais libertárias, ge- como um empoderamento ou como 154)... ou “viados” (veja a resenha do cultura gótica abre um espaço social
mas há definitivamente um eco de
rando inúmeros conflitos entre prática uma conformidade à regra social. livro “Sex Revolts” na página 50). que realiza em seu microcosmos uma
temas glam no pop do século 21 em
E, você sabe, a versão mais recente foi social e discursos artísticos. Como sempre, o significado do símbo- utopia positiva e mais libertária se
termos de uma obsessão com estre-
lato e fama. Com figuras como Lady estrelada por Lady Gaga. lo será dado pelo contexto da frase, do Nesse contexto machista e preconcei- comparada a algumas outras subcultu-
Gaga, mas também com a maioria dos emissor e do receptor. tuoso, mesmo artistas homens, que ras ou à regra da sociedade dominante.
KRAUTROCK
é sístole e diástole, a batida alemã é
só expiração maquínica, sem a sínco- da banda Can
pe (a deslocadinha) da música negra.
O Kraftwerk exploraria esse viés até o
“man machine”;
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Dream, Ash Ra Temple), o fato da mú- Curiosamente, a bateria primitiva de música étnica, e ao jazz-rock/ fusion – berlinense, e chamou Robert Fripp, do guns seguem em atividade inclusive. A
2) A Alemanha tinha sido tutelada sica eletrônica não ter uma linguagem Maureen Tucker, do Velvet, também ainda que algumas das citadas, como King Crimson, mas a referência ficou. versão maquinal que o Kraftwerk deu
até então pelos EUA – mas a América consolidada era um atrator; é uma das fontes. O inglês Jono Pod- Popol Vuh, tivessem sons bem bucóli- ao funk americano continua apontan-
estava em plena crise moral e política, more, curador dos arquivos do Can, cos). E iria repercutir dez anos depois. O termo “krautrock”, inicialmente pe- do para o futuro.
acuada pela juventude contra o conser- 4) O fator vanguarda: Colônia era a descreve o motorik de uma maneira Não à toa, na cena britânica, envolvi- jorativo – “chucrutrock” – surgiu na In-
arqueologia do post-punk
O PÓS QUE
VEIO de ANTES
Alex Antunes, da pioneira e vanguardista banda dos anos 80
Akira e as Garotas que Erraram, comenta as influências do
seu e outros grupos na formação do Post-Punk com suas raízes
na diversidade musical e criativa dos anos 1970.
Pós-punk é assunto que para mim é Se você se interessa pelo gênero, tal- que viria a ser o gótico, Bauhaus e
óbvio – mas parece que não para mui- vez esteja pensando em exemplos que Siouxsie estiveram nesse território – e
Na foto maior, Anna Ruth, Akira S
ta gente. Digo “óbvio” não porque neguem essa afirmação. Mas se se mesmo Sisters surgem com uma faixa
e Alex Antunes, CCSP, 1985
não exista uma enorme quantidade de interessa mesmo, reconhecerá várias (“Alice”) que estaria nessas imedia-
(foto: Luigi Stavale). Á esquerda,
componentes e variações no que veio- bandas diretamente identificadas com ções.
Alex ou Lex Lillith.
-depois-do-punk mas porque há, sim, os inícios do estilo (1977-1981) que (foto de Luciana Mancini)
uma espécie de veio principal, com correspondem a essa descrição: Public Eu poderia estabelecer essas diferen-
uma ética-estética bem específica, que Image Ltd., o primeiro Cure e o pri- ciações com outras cenas que foram
eu chamo de “pós-punk epitômico”. meiro Killing Joke, Gang of Four, Fall, se descolando desse veio, como new da que também se relaciona com essa – textos extras), no qual ele acerta vá- Mas a nossa intenção era que o lado
Wire, Pop Group e dezenas de outros. romantic e o synthpop (na época cha- mas um tanto mais “bem tocada”, que rias delas (Herbie Hancock, Brian Eno, sombrio do som dark entrasse em cur-
Cujas características centrais seriam: mávamos de tecnopop) mas acho que é o punk-funk. E, para isso, o elemen- James Chance & the Contortions, Ca- to-circuito com a música dançante,
Mesmo se você alegar que Joy Divi- deu para sacar o ponto. to fundamental seria o baixista. Foi baret Voltaire), bem no centro do alvo. numa manobra em que, bem, os qua-
a) um baixo mixado à frente, numa sion tem altíssima carga emocional, eu quando eu encontrei o Akira S (Akira dris se divorciassem da mente – para
linha pulsante e/ ou fazendo uma espé- direi que provavelmente você está in- O mais importante para mim é afir- Tsukimoto, hoje Akira Van Der S). Nós partimos muito de um disco do se reencontrar em outra dimensão.
cie de suingue quadrado (que se presta fluenciado pelo destino trágico de Ian mar principalmente que o pós-punk na Robert Fripp – na verdade de um lado
a ser dançado meio espasmodicamen- Curtis, e esquecendo que ele colocava verdade tem referências anteriores ao Há um texto em que eu discorro sobre de um disco do Fripp, chamado Under Eu chamava isso de ‘ético-pop’, não
te); uma certa frieza cruel na sua receita – punk. O progressivo mais experimental a gênese do punk-funk britânico (veja Heavy Manners – no qual ele mistura por fazer uma afirmação, mas para
que é, digamos, a que separa Curtis de (particularmente o krautrock), sonori- o texto “História do Punk Funk” no uma massa de loops de guitarra com plantar uma dúvida.
b) uma guitarra deslocada de suas um Renato Russo (mais risos). dades graves vindas do dub e do funk link de textos extras), remetendo para uma cozinha funkeada (incluindo o
funções no rock ortodoxo, com tim- ( já já reforçarei esse aspecto da black uma playlist) em que começo com um baixista negro Busta Jones, que está
bres mais ásperos, fazendo interven-
ções angulosas, ou com timbres mais
“o pós-punk na music) – o trabalho de músicos como
Brian Eno, Robert Fripp, John Cale e
comentário dos músicos do A Certain no My Life In The Bush Of Ghosts de
Ratio (uma espécie de irmão mais bla- Eno-Byrne, e que fez frilas nos Talking
borrados, fazendo atmosferas impreci- verdade tem outros já buscavam esse ouvido. Ou o ck do Joy Division) falando sobre sua Heads e no Gang of Four). ALEX ANTUNES
sas (eventualmente junto de um tecla-
do). Essas guitarras ou não solam, ou
referências Low de David Bowie não seria, já em
1977, um esboço preciso da sonorida-
relação com o funk dos anos 1970.
Partimos dos estudos de música eru- Alex Antunes é jornalista, escritor
fazem solos catatônicos, baseados em anteriores ao punk” de dos anos 1980 (incluindo a caixa da E buscando entender um espectro que dita contemporânea do Akira com o e produtor musical. Foi editor da
poucas notas e repetições (alguns são bateria bizarramente processada)? vai desde um Cabaret Voltaire (na professor Conrado Silva, origem dos revista Bizz, criador da revista Set,
legítimos não-solos); Talvez seu ouvido esteja correndo para ponta mais eletrônica) até um trio for- seus exercícios editando fitas com e colaborou, entre outros veículos,
a frente, diretamente para o gótico – Eu digo isso com a autoridade de quem temente africanizado como o Kabba- transmissões captadas aleatoriamen- com Rolling Stone, General,
c) vocais mais desleixados, frequen- e aí eu queria lembrar que, antes do teve uma primeira banda, o No. 2, que la, passando por momentos particu- te nas ondas curtas (no lugar dos tais e cadernos culturais da Folha
temente com entonações e prosódias termo goth (e da cena gótica em si), seguiu esse figurino à risca (não disse larmente suingados de Cure, Clash, loops de guitarra), e somamos a uma de S. Paulo e O Estado de S. Paulo.
um tanto estranhos, soando amado- nós na época nos batemos com outras que é bom, só que seguiu à risca). A Bauhaus, Kiling Joke, Clock DVA e cozinha funky.
res mas convictos. Tanto o trabalho de opções (quando “new wave” começou única gravação que sobrou de registro Section 25, além de especialistas como Vocalista do Akira S & As Garotas
guitarras quanto o de vocais evitará a a soar festivo demais), e a nacional pode ser ouvida em “No. 2” (veja no 400 Blows e 23 Skidoo. Interessante que a música que compu- Que Erraram e Alex Antunes
entrega linear, a grandiloquência da foi “dark”. “No wave” seria uma boa, link de audição nacional). semos com esse método, nossa primei- & Death Disco Machine.
catarse emocional, mas deixará no ar mas essa acabou por caracterizar mais Quanto às influências do Akira S, me ra, “Atropelamento & Fuga”, tenha sido
um quê de inquietação e distúrbio esti- especificamente a cena de Nova York. E, quando ganhei um pouco mais de surpreendi com um texto do Kipper regravada pelo Skowa & a Máfia, e facebook.com/lex.lilith/
lizados (risos). Antes de definirem estritamente o habilidade, quis partir para uma cama- (veja o texto “Post-Funk” no link de acabado tocada na Xuxa (muitos risos).
GOTHIC
STATION N º 5- Dezembro 2020
RETROSPECTIVA
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