Você está na página 1de 5

AMOSTRA PIONEIROS DA ANIMAÇÃO

JUSTIFICATIVA CURATORIAL

A importância das animações para o grande público é a mesma que temos em


ouvir histórias; acompanhar sua evolução de como contá-las e trazer as mais
modernas tecnologias para o contexto nacional nos ajuda a entender o valor de
se contar uma história e nos incentiva a sermos produtores e consumidores de
novas histórias animadas.

El Apóstol (1917)

O Apóstolo é o primeiro filme de animação já feito e é uma sátira política dirigida


ao presidente argentino Hipólito Yrigoyen. Foi o primeiro filme a ser destruído;
nenhuma cópia sobreviveu até hoje. No entanto, alguns ainda existem graças a
imagens que foram perdidas em um incêndio em 1926, bem como materiais
reciclados para pentes de celulóide. O filme usou 58.000 desenhos em 35
milímetros, a maioria dos quais eram edifícios públicos modelados em Buenos
Aires. Pode ser visto em português na TV a cabo ou em cinemas com áudio
dublado em português ou espanhol.

O VAPOR WILLIE (1928)

O ajudante do navio Steamboat Willie quer tomar o lugar do comandante. Chega


o comandante Bafo-de-onça e o tira do comando. Quando chegam ao porto e
pegam uma vaca, chega Minnie, mas o navio já partiu e com o auxilio de um
gancho, Mickey a puxa para o navio. Mickey começa tocar os animais como
instrumentos. Mas chega o comandante e coloca Mickey para cortar batatas e
um periquito fica zombando dele.
O Vapor Willie é um curta de animação em preto e branco da Walt Disney
Animation Studios em 1928. É o primeiro desenho animado com som e música
da história, com o sucesso popular tornando o camundongo Mickey famoso no
mundo todo.

Branca de Neve e os Sete Anões (1937)

No filme, uma rainha má e bela por inveja e vaidade, resolve matar sua enteada,
Branca de Neve, que é a mais linda de todas. Porém o assassino que deveria
matar Branca de Neve, a deixa partir. Durante sua fuga pela floresta, a garota
encontra uma cabana habitada pelos sete anões, trabalhadores em uma mina,
passam a protegê-la. Quando descobre que Branca de Neve continua viva, a
Bruxa Má disfarça-se e vai atrás da moça com uma maçã envenenada, que faz
com que Branca de Neve caia em um sono profundo.
O filme A Branca de Neve e os sete anões foi um negócio arriscado para a
Disney. Walt Disney investiu quase 1 milhão e meio de dólares para a sua
produção. Porém, o retorno foi estrondoso. Não só financeiramente, mas em
todos os aspectos cinematográficos. Branca de Neve foi o primeiro longa
metragem da Disney e consequentemente influenciou centenas de outros filmes.
Até hoje é um dos filmes mais prestigiados com premiações e mais cultuados de
toda a história do cinema mundial. São incontáveis as referências feitas ao filme
em músicas, teatro, televisão e no próprio cinema.
O longa tem praticamente todos os atributos necessários a uma boa e cativante
animação infantil: terror, boas músicas, ação, comédia e claro, um final feliz e
verdadeiramente romântico.
Branca de Neve tem momentos bem sérios, de escolhas difíceis e um suspense
fora do comum, como as cenas em que ela caminha com o caçador, onde quem
assiste se pergunta se de fato ele a matará, ou a clássica cena da maçã, onde a
bruxa parece estar falando com o telespectador, superando muitos filmes de
terror.
Foi o primeiro desenho de longa metragem 100% desenhado em células em todo
o mundo e que, sendo considerado como revolucionário. Mas Branca de Neve
conseguiu ir além, pois técnicas de profundidade de campo foram desenvolvidas
para essa animação que nunca antes haviam sido usadas nos desenhos de curta
metragem, mesmo aqueles vindos da própria Disney.

Sinfonia Amazônica (1953)

Ao som de uma orquestra, o índio Curumi e seu fiel companheiro de aventura


Boto interligam sete lendas amazônicas, a da noite, a da formação do Rio
Amazonas, a do fogo, a da Caapora, a do Jabuti e da Onça, a da Iara e a do
Arco-Íris. Sendo o primeiro longa-metragem de animação feito no Brasil, dirigido
por Anelio Latini.
Inspirado na superprodução Fantasia, de Walt Disney, Anélio escolheu peças
clássicas de Wagner e Mendelsohn como trilha sonora, mas vários outros
ingredientes ajudam a marcar a brasilidade da obra, como cenários inspirados
na floresta amazônica, os personagens inspirados nos habitantes e na fauna
nativa; e uma leve dose de humor do narrador, que ilustra vários momentos com
comentários informais, como um momento em que os guerreiros enfrentam
grandes ondas em busca da cobra grande para receber a noz de tucumã.
Outro ponto alto do filme é o momento em que surge como trilha sonora a flauta
de Altamiro Carrilho em uma musica composta especialmente para o filme por
Mario Latini, irmão de Anélio, em um dos mais famosos ritmos brasileiros: o
samba.

Uma Cilada Roger Rabbit (1988)

A mistura de animação e live-action continua impressionante. Ainda mais quando


se leva em conta que a interação entre desenhos e o mundo real foi feita de
forma quase artesanal, em uma época onde o chroma key era novidade e os
efeitos em computação gráfica ainda engatinhavam.
O produtor foi fundamental na hora de convencer a Warner Bros. a liberar suas
criações para a Disney. Além dos US$ 5 mil pagos por cada personagem, o filme
precisava atender algumas exigências, como dar o mesmo tempo em cena para
personagens icônicos da Warner e da Disney. É por isso que Pernalonga e
Patolino dividem a tela com Mickey e Pato Donald, garantindo que os
personagens tivessem o mesmo número de frames.
Durante as filmagens, um dos maiores desafios foi a interação dos personagens
animados com os objetos e atores reais. O efeito final foi resultado de duas
técnicas: alguns objetos, como o charuto do bebê Herman e os pratos que Roger
quebra na própria cabeça, eram movimentados no set por meio de máquinas de
movimento presas a um operador. Na pós-produção, o personagem era
simplesmente desenhado sobre a máquina. A cena do clube Ink & Paint seguia
na mesma linha, os copos movimentados pelo bartender polvo são controlados
como marionetes e as bandejas dos pinguins garçons eram grudadas em
bastões. Tanto os bastões como os fios foram removidos e os desenhos foram
adicionados. Já na sequência que se passa em Toontown, o chroma key foi a
técnica escolhida, com Bob Hoskins interagindo com o mundo que seria criado
na pós-produção.
A pós-produção levou 14 meses para ser concluída. Com 326 animadores
contratados e 82.080 frames de animação desenhados, o filme tinha uma das
maiores sequências de crédito da década de 80.

Toy Story (1995)

Neste meio tempo, uma então desconhecida Pixar estava produzindo sua
animação, em uma história envolvendo brinquedos. O estúdio, que nasceu como
uma divisão da LucasFilm, e foi comprada por Steve “Apple” Jobs em 1986,
firmou parceria com a Disney para a produção de três filmes, sendo o primeiro o
Toy Story.
Funcionava assim: a Pixar se preocupava apenas em produzir o filme, enquanto
a Disney se encarregava da distribuição e de colocar o filme nos cinemas e na
boca do povo. Aproveitando de uma era de ouro, a Disney/Pixar lançou em 1995
Toy Story em meio a um sucesso estrondoso de retaguarda envolvendo O Rei
Leão, Pocahontas e Aladdin. E o filme não foi só um sucesso, como foi
considerado por muita gente o melhor filme do ano.
As técnicas de animação ficaram “em segundo plano” em meio a qualidade da
história do longa, que introduziu Woody e Buzz Lightyear a toda uma geração e
garantiu sequências tão boas quanto, guardados o devido impacto do primeiro
filme e toda a sua importância para o cinema de animação.
Toy Story foi sim lançado primeiro, em 1995, e fez o enorme sucesso que
garantiu continuações e um nome no “Hall da Fama Disney”. Mas você sabia
que Toy Story não é 100% digital? O filme da Pixar utilizou modelos de argila
para a cabeça dos personagens, usando depois o software Polhemus 3D para
renderizar os personages e inserí-los no filme.
Cassiopéia não. O filme foi totalmente produzido por meios digitais, não
utilizando nenhum recurso externo em seu desenvolvimento. Isso garantiu um
título 100% digital e que pode sim ser considerado como o primeiro filme em
computação gráfica da história. Claro que Toy Story tem suas qualidades, seus
méritos e serviu também para colocar a Pixar entre as gigantes da indústria, mas
seu filme não é totalmente digital e por isso, mesmo sendo lançado primeiro, não
pode ser considerado como o tal primeiro filme em CGI de todos os tempos.

Cassiopéia (1996)

O Brasil, embora enfrente problemas como baixos investimentos, pouco


incentivo e uma preferência injusta com as produções estrangeiras, sempre
consegue colocar algum capítulo na rica história do cinema. Como no caso das
animações, com Cassiopéia, o primeiro filme feito totalmente em computador da
história.
O enredo focava no planeta Ateneia, que fica na constelação de Cassiopéia e
sofre um ataque de invasores que querem sugar toda a energia do local. Quatro
heróis que viajavam pela galáxia recebem um pedido desesperado de socorro e
vão até o local combater os inimigos e fazer novos amigos.
Os personagens e cenários ficaram definidos com o uso de figuras geométricas
básicas. Esferas, cubos e cilindros, além de facilitar a renderização, ainda
ofereceu um estilo de arte único para o longa. Estilo este que o deixou marcante
até hoje, pois mesmo sem texturas, as cores foram bem encaixadas, dando um
ar de exclusividade ao filme.
Os primeiros personagens foram produzidos em um 386 SX de 20Mhz, enquanto
a produção em geral utilizou 17 máquinas 486 DX2-66 ligados em rede. Sim,
aquele 486 empoeirado no sótão da sua casa era capaz de produzir uma
animação de altíssimo nível. E se bem utilizado, é capaz de fazer algo bacana
ainda nos dias de hoje, mesmo com o aumento da qualidade e opções para tal.
Em 1993, começaram os trabalhos de animação, que duraram dois anos, com a
geração de imagens finalizada em agosto de 1995. Em dezembro de 1995, a
trilha sonora ficou pronta e foi adicionada ao projeto, que contou com sua
primeira cópia pronta em janeiro de 1996.
Custando “apenas” R$1.5 milhões, que mesmo para a época, é pouco (Missão
Impossível, também de 1996, custou US$80 milhões, só para ver o “abismo”,
que nem precisa de contas de conversão para perceber), o filme foi exibido pela
primeira vez no dia primeiro de abril de 1996, para um público formado por
imprensa e pesquisadores. Uma segunda sessão rolou no mesmo dia, para 700
convidados.

Minhocas (2013)

Primeiro longa-metragem em stop motion brasileiro.


Após definir formato e roteiro para o longa, e contando com o case premiado do
curta-metragem de “Minhocas”, a Mediaking aproximou-se dos outros parceiros.
Primeira a entrar no projeto, a produtora Glaz participou principalmente da pré-
produção, atuando na captação de recursos e aperfeiçoamento do roteiro. “Eles
trouxeram roteiristas com experiência internacional para tornar o projeto mais
adaptado ao mercado e produziram também uma versão do roteiro em inglês”,
explica Conti. Globo Filmes e Fox entraram no projeto logo depois, apoiando o
filme em divulgação, lançamento e distribuição.
A pré-produção de “Minhocas” começou em maio de 2007, e levou um ano para
ser concluída. O obejetivo da equipe com o extenso processo foi reduzir tempo
e recursos gastos com as gravações. Trabalharam no roteiro ao mesmo tempo
em que definíamos a tecnologia que usariam, para criar uma boa história sem
ficar muito caro. Além disso cada minuto de animação exigiu muitos recursos e
tempo para ser produzido. Para aproveitar ao máximo as gravações,
promoveram mudanças no roteiro e storyboard diversas vezes.
Antes de iniciar as filmagens do longa, a equipe ainda passaria um ano
produzindo cenários, bonecos e a infraestrutura por trás da animação. Trabalhar
com uma tecnologia inédita no país apresentou uma série de desafios técnicos
para a equipe de produção; para garantir cenas mais fluidas, desenvolveram
tecnologia de motion control própria que sofisticou muito o trabalho, com
máquinas para controlar o movimento de câmeras e auxiliar na movimentação
dos personagens.
Já o processo de filmagens levou dois anos e meio para ser concluído, com uma
equipe de cerca de oitenta pessoas trabalhando em dez estúdios. De acordo
com as produtoras, houve um período, no ano de 2009, no qual o ritmo das
gravações foi reduzido, devido a problemas com o recebimento dos recursos.

Menino e o Mundo (2013)

"Menino e o Mundo" é a primeira animação latinoamericana a disputar categoria


no Oscar.
A um primeiro vislumbre, será fácil menosprezar a magnificência desta obra
enquanto um complexo filme animado. Afinal, comparado com muito do cinema
de animação atual, a sua aparência híper colorida e de design simplista poderá
parecer mais apropriado à Baby TV que a qualquer cânone do melhor da
animação cinematográfica. É claro que, para quem tiver a generosidade de dar
ao filme oportunidade de se afirmar, O Menino e o Mundo acaba por revelar
como pega numa estética algo primitiva e dela desdobra uma expressividade de
surpreendente sofisticação, que nada terá que ver com simplismos infantis. Éu
traçado de forma artesanal, destoando da linha de montagem da computação
gráfica, que ofereceu muitas facilidades ao gênero, mas também lhe limitou a
criatividade. Aqui, o traço parece saído da mão e obedecendo à inspiração do
seu criador e de sua equipe de desenhistas toda em giz.
Aliás, será difícil imaginar uma audiência infantil a completamente apreciar este
filme que, no seu âmago, é uma obra de forte crítica socioeconómica e cultural
e cujo impacto depende muito do conhecimento que o seu público tem da
industrialização e desenvolvimento económico do Brasil contemporâneo. Isto
tudo sem sequer mencionar como o filme é completamente despido de
desnecessária exposição ou usual textualidade narrativa, sendo quase um filme
mudo, não fossem algumas indecifráveis vocalizações de uma salganhada de
português do Brasil proferido ao contrário.
A narrativa do filme segue, de certo modo, a sofisticada simplicidade dos seus
visuais. A sua estruturação, por exemplo, não podia ser mais clara e quase
grosseiramente juvenil. Um menino que vive numa zona rural do Brasil deixa a
sua terra natal em busca de seu pai e acaba por chegar, na sua odisseia de amor
filial, a uma metrópole moderna onde testemunha uma miríade de injustiças
humanas por entre a cacofonia industrializada desta nova realidade urbana.
É de deixar qualquer um de queixo caído quando, já na metade do desenrolar
da trama, percebemos que nem uma única palavra foi dita até aquele momento.
E assim continuará até o fim. Quer dizer, mais ou menos. Até existem um ou
outro diálogo, porém num dialeto muito especial e aparentemente sem
significado – na verdade, trata-se no nosso velho e conhecido português, porém
dito de trás para frente. Não que o nosso Menino carregue o mundo dentro da
cabeça e embaixo de uma panela – como O Menino Maluquinho – ou que se
preocupe apenas com as brincadeiras infantis – como a Turma da Mônica. Ele
apenas está crescendo, e neste processo irá se deparar com uma realidade que,
muitas vezes, parece mais estar de cabeça para baixo. Ou literalmente ao
contrário.

Você também pode gostar