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RESUMO
No decorrer da década de 1970 a Editora Abril se tornou uma das maiores produtoras de histórias
em quadrinhos Disney do mundo, superando, em quantidade de HQs, até mesmo a produção do
próprio estúdio Disney. Entre as quase 2000 histórias brasileiras do período metade são estreladas
pelo Pato Donald ou por personagens correlatos ao seu universo, como as bruxas Maga & Min,
Prof. Pardal e os Irmãos Metralhas, criadas, em grande parte, pelos trainees da "Escolinha Disney",
um programa interno de treinamento de novos talentos, coordenado pelo italo-brasileiro Primaggio
Mantovi. O grande destaque, porém, são as HQs do Tio Patinhas, Pato Donald e Peninha na redação
do jornal A Patada e seus desdobramentos, entre os quais o alter-ego do Peninha, Morcego
Vermelho, inspirado em uma ilustração do italiano Giovan Battista Carpi e desenvolvido no Brasil
pelo roteirista Ivan Saidenberg e pelo desenhista Carlos Edgard Herrero. O objetivo do artigo é
esmiuçar e contextualizar a produção local do período e creditar, quando possível, seus autores. O
método utilizado neste artigo é a pesquisa bibliográfica e documental, listando exatamente o que foi
produzido no Brasil, sua motivação e importância, por meio de entrevistas e análise das revistas
Disney.
INTRODUÇÃO
PATÓPOLIS
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Depoimento ao autor em abril de 2000.
nº 12), também desenhada por Herrero, em que Tio Patinhas contrata Gastão para lhe trazer
sorte e derrotar um milionário rival e Quanto Sofre Uma Bruxa (B 72010 - Tio Patinhas nº
83), com desenhos de Sérgio Lima, em que Maga Patalógika toma o lugar da nova faxineira
da caixa-forte. Veterano das editoras Outubro e GEP, onde produziu capas e histórias em
quadrinhos de terror, romance e aventura, Lima também desenhou, para a editora Prelúdio,
Simãozinho, o macaquinho (1968), Juvêncio, o justiceiro (1968-1969) e uma biografia de
Silvio Santos, escrita por Rubens Francico Lucchetti (1969)2.
Também as histórias do estúdio Disney do Peninha e das bruxas Maga Patalógika &
Madame Min e 00-ZÉro inspiraram os autores brasileiros. Em O Aprendiz de Bruxa (B
72095 - O Pato Donald nº 1118), com desenhos de Lima, Peninha se matricula no curso de
bruxaria da Maga & Min. Em Companhia Teatral Peninha (B 74028 - Almanaque Disney nº
36), com roteiro de Saidenberg e desenhos de Herrero, Peninha funda a Companhia Teatral
Peninha e transforma a casa Donald em um teatro. A Marca do Zorrinho (B 74097 -
Almanaque Disney nº 39), com roteiro de Saidenberg e desenhos de Irineu Soares
Rodrigues, marca a estreia dos Zorrinhos, identidade secreta dos sobrinhos do Pato Donald
que fingem ser apenas um só em suas disputas com os Metralhinhas. Também é de
Saidenberg o roteiro de Gato e Sapato (B 74222 - O Pato Donald nº 1194), em que Ronrom
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Coleção do autor.
arruina uma feira industrial, primeira história do jovem desenhista Euclides Kiyoto
Miyaura, então aluno da Escolinha Disney.
Na história A Mosca (B 760002 - Zé Carioca nº 1299), Pato Donald tenta ajudar Tio
Patinhas a se livrar de uma mosca irritante. A comédia pastelão, escrita por Júlio de
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MANTOVI, Primaggio. A Saga do Sacarrolha. Sacarrolha 40 Anos (de Palhaçadas) nº 1, p.18, editora Kalaco, janeiro
2012.
Andrade Filho, também aluno da Escolinha, caiu como uma luva para o desenhista Kimura,
artista que passou pela Abril como um furacão, produzindo poucas histórias, mas sempre
com traço expressivo, detalhado e cheio de ângulos inusitados. Outras histórias do período
incluem O Embrulhão (B 760320 - Mickey nº 299), com roteiro de Paulo Paiva de Lima,
desenhos de Irineu Rodrigues, arte-final de Selma Maria Bertolino, letras de José Belmiro
Monteiro e cores de Elizabeth Tarta San Martins, em que Peninha trabalha em uma loja de
departamentos e O Pássaro Não Identificado (B 770278 - Zé Carioca nº 1399), com roteiro
de Ivan Saidenberg e desenhos de Luiz Podavin, em que os Escoteiros-Mrins promovem
um torneiro de observação de pássaros.
A PATADA
Figura 3 - História: Que Peninha (B 72024)
Fonte: O Pato Donald nº 1078. Arte: Primaggio Mantovi.
Em High Society (S 69041), Tio Patinhas contrata seus desastrados sobrinhos Pato
Donald e Peninha como repórteres para cobrir uma apresentação de ópera para seu novo
jornal, A Patada. Publicada pela primeira vez em 1970, com roteiro de Dick Kinney,
desenhos de Tony Strobl e arte-final de Steve Steere, esta foi a primeira de uma longa série
de histórias em quadrinhos da Patada produzidas pelo estúdio Disney.
Outras histórias da Patada incluem Bruxo Por Acaso (B 74090 - Tio Patinhas nº
109), escrita por Joerly Nascimento dos Santos com desenhos de Herrero, em que Peninha
tem que entrevistar as bruxas Maga Patalógika & Madame Min, A Mudança (B 790078 -
Almanaque Disney nº 102), escrita por Gérson Luiz Borlotti Teixeira com desenhos de
Irineu Rodrigues em que Tio Patinhas troca de lugar no escritório com Donald e Peninha e
Sem Receita e Sem Sociedade (B 780290 - Edição Extra nº 102), escrita pro Márcio Tadeu
Cordeiro Uchoa com desenhos de Verci de Mello, em que Peninha cria um doce
maravilhoso mas acaba perdendo a receita.
MORCEGO VERMELHO:
Uma série de gags, publicadas em diversas edições, apresenta aos leitores suas
principais armas de combate ao crime: Lata de Lixo Morcego (B 72045P - Edição Extra nº
53), Pula-Pula Morcego (B 72046P - Edição Extra nº 53), Moto Morcego (B 72042P -
Edição Extra nº 53), Corda-Morcego (B 72044P - Edição Extra nº 53), Telefone-Morcego
(B 73157 - Edição Extra nº 56) e Carro-Morcego (B 72043P - Edição Extra nº 58). Além
dos já tradicionais vilões de Patópolis, como os Irmãos Metralha (B 72041P - Edição Extra
nº 53), Mancha-Negra (B 72087 - Edição Extra nº 53) e o Prof. Gavião (B 72089 - Edição
Extra nº 53), a dupla de quadrinistas criou dezenas de novos vilões para o Morcego
Vermelho, entre os quais os Alienígenas Transmorfos (B 73019 - Tio Patinhas nº 96), um
grupo de alienígenas invasores que se assemelham a grandes bichos-da-seda, Dr. Zung (B
73150 - Edição Extra nº 56), um químico baixinho e careca cuja fórmula secreta o
transforma em um monstro louco por bolos e a Quadrilha Fantasma (B 73177 - Edição
Extra nº 56), uma gangue de quatro ladrões idênticos que usam máscaras de meias verdes.
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SAIDENBERG, Lucila. O Clube do Morcego Vermelho. Disponível em
<https://historiascomentadas.wordpress.com/2016/06/09/o-clube-do-morcego-vermelho/>. Acesso em: 16 de setembro de
2018.
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Começa no Anhembi o 15° salão da criança Folha de São Paulo N. 17.013, Caderno Ilustrada, página 41, 10 outubro de
1975, página 41.
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Coleção do autor.
Foi na na história Madam Mim Meets Magica De Spell (S 65051), com desenhos de
Jim Fletcher e arte-final de Ellis Eringer, que as bruxas Maga Patalógika e Madame Min
juntaram forças pela primeira vez para tentar se apossar da Moedinha Nº 1 do Tio Patinhas.
Surgiu então uma divertida série de histórias sobre o dia-a-dia das feiticeiras, logo adotada
pelos autores brasileiros.
Assim, em A Praga Máxima (B 72009 - Tio Patinhas nº 84), com desenhos de Jorge
Kato, Maga Patalógika viaja para a Escócia para conseguir um dente de um dragão negro
para um feitiço, mas acaba sendo extorquida por ele. Em Bruxarias Modernas (B 72047 -
Zé Carioca nº 1091), com roteiro de Carlos Alberto Paes de Oliveira, o Xalberto, e
desenhos de Sérgio Lima, um vendedor convence Madame Min a comprar um aspirador
para substituir sua vassoura quebrada. E em ...Casamentos à Parte! (B 72060 - O Pato
Donald nº 1094), com desenhos de Lima, Maga Patalógika tenta seduzir Tio Patinhas com
um perfume raro e o convence a sair para jantar.
Em 1973 chegam às bancas o Manual da Maga & Min e HQs como Além da
Imaginação (B 73100 - Tio Patinhas nº 96), com roteiro de Ivan Saidenberg e desenhos de
Lima, ajudam a promover o lançamento. Na trama as bruxas recebem, sem solicitar, ajuda
para redigir o manual de vários magos, duentes e seres mitológicos de todos os tipos,
incluindo a Bruxa Vanda e sua vassoura Jezebel, a Fada Azul e o Bruxinho Peralta. Esse
tipo de "crossover" continuaria a aparecer em outras histórias, como em Lágrimas Para Min
(B 73136 - Tio Patinhas nº 99), com roteiro de Xalberto e desenhos de Lima, em que
Madame Min procura lágrimas para fazer um feitiço e acaba encontrando a Branca de
Neve.
Na mesma HQ aparece Tantã, um aprendiz das bruxas também criado pelo estúdio
Disney. Ele voltaria em "Bruxo-Padrinho" (B 74383 - O Pato Donald nº 1214), escrita por
Saidenberg com desenhos de Herrero, em que Tantã se torna um padrinho do Tio Patinhas
por acidente, frustrando os planos da Maga Patalógika em pegar a moedinha. Perereca e
Magali (ou Witch Child, como no original), apareceriam juntas mais uma vez em O Exame
Final (B 760006 - Almanaque Disney nº 61), escrita por Saidenberg com desenhos de Lima,
que mostra o dia de prova final na escola de bruxas.
PROF. PARDAL
IRMÃOS METRALHA
Também os Irmãos Metralha, criados por Carl Barks em 1951 (W WDC 134-02 -
Walt Disney's Comics and Stories nº 134), estrearam histórias brasileiras no decorrer da
década de 1970, para desespero de Tio Patinhas. Além dos já recorrentes Vovô Metralha,
Titia Metralha, Metralhinhas, Intelectual-176 e Azarado-1313, os roteiristas brasileiros, em
especial Ivan Saidenberg, resgataram da obscuridade outros parentes menos cotados da
família criminosa: Supersensível-666, Tio Zero, Primo Bombinha, Doutor Metralha,
Sherlock Metralha, Primo Cientista 020, Dedo-Duro 123, Tia Honesta Ana, Metralha
Meio-Quilo, Primo Pavio-Curto e Primo Toupeira. Novos membros da família também
foram criados no Brasil: em O Primo Descarado (B 75165 - Zé Carioca nº 1277) surge o
expert em disfarces Descarado-176, e em Paz e Amor, Metralhas! (B 760241 - Zé Carioca
nº 1335) Terceiro Milenio-3000, o primo hippie, ambos roteiros de Ivan Saidenberg com
desenhos de Carlos Edgard Herrero. Já em Durma Com Um Barulho Desses (B 780405 - O
Pato Donald nº 1466) é a vez do Primo Soneca, roteiro de Saidenberg com desenhos de
Roberto Fukue.
CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS
SAIDENBERG, Lucila Simões. Ivan Saidenberg: o homem que rabiscava. 1 ed. Nova Iguaçu:
RJ: Marsupial Editora, 2014. Série recordatório.
SANTOS, Roberto Elísio dos. Para Reler os Quadrinhos Disney: Linguagem, análise e evolução
de HQs. São Paulo: Paulinas, 2002.
Jornais/Revistas:
Começa no Anhembi o 15° salão da criança. Folha de São Paulo N. 17.013, Caderno Ilustrada,
página 41, 10 outubro de 1975, página 41.
Internet: