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Os fundamentos da nova vida

Depois da ressurreição, o evangelho de João relata que o Senhor apareceu quatro vezes aos
seus discípulos. A primeira aparição foi para Maria Madalena. Ela tinha ido ao sepulcro de
madrugada, quando ainda estava escuro. Maria Madalena tinha um coração cheio do Senhor,
ela amava o Senhor profundamente (Jo 20.13).

Quando o seu coração está cheio do Senhor, você espera que todos o conheçam. Ela nem
mencionou aos anjos quem era o seu Senhor porque pensava que todos saberiam quem Ele
era. Maria Madalena, porém, não tinha uma fé inteligente. O Senhor havia dito várias vezes
que iria morrer e depois ressuscitar ao terceiro dia, no entanto Maria Madalena são
compreendeu isso. Sua fé não era correta, mas seu coração era cheio de amor.

Eu creio que Deus pode tratar com pessoas cuja fé e doutrina não sejam completamente
corretas, mas que possuem um coração para Ele. Por outro lado, é mais difícil para o Espírito
operar em pessoas cuja fé é doutrinariamente correta, mas o coração é frio para com o Senhor.
Por que ela amava mais o Senhor? Simplesmente porque ela foi mais perdoada. O Senhor a
tinha libertado da opressão de sete demônios.

Ela estava falando com anjos, mas não estava nem um pouco interessada neles, os seus olhos
buscavam apenas o Senhor. O primeiro ato do Senhor após a ressurreição não foi algo
majestoso (o que Ele, de fato, fez depois levando o seu sangue diante do santo dos santos no
céu), mas foi algo simples e afetuoso, como enxugar as lágrimas de uma mulher.

Perguntou-lhe Jesus: Mulher, por que choras? A quem procuras? Ela, supondo ser ele o
jardineiro, respondeu: Senhor, se tu o tiraste, dize-me onde o puseste, e eu o levarei. Disse-lhe
Jesus: Maria! Ela, voltando-se, lhe disse, em hebraico: Raboni (que quer dizer Mestre)! (Jo
20.15-16)

Ela pensou que o Senhor fosse o jardineiro. Ela não estava tão errada assim, o primeiro
jardineiro abriu mão de todo o jardim por causa de uma fruta. Mas o segundo Adão veio para
comprar todo o jardim de volta para Deus. Na primeira vez que o Senhor falou com ela, disse:
“Mulher, por que choras?” Isso nos fala do Deus criador falando com a sua criatura. Mas,
quando o Senhor a chama pelo nome, aí é o salvador chamando pela sua ovelha. As ovelhas
conhecem a voz do seu pastor.

Depois disso, o Senhor apareceu três vezes aos seus discípulos. Cada uma dessas ocasiões
tinha um objetivo específico. Creio que o Senhor estava lidando com três coisas na vida deles
que são vitais para o crescimento e avanço do reino de Deus. Nas três ocasiões, o Senhor
lidou respectivamente com o medo, a incredulidade e a falta de frutos. Vamos ver cada um
desses momentos.

1. O medo

Muitos não conseguem admitir, mas o medo é pecado. Os discípulos estavam com medo dos
homens, com medo de morrer (Jo 20.19,20), mas nós podemos ter muitos outros tipos de
medo. Alguns têm medo de ser abandonados, medo de perder alguém amado, medo de perder
dinheiro, medo do futuro, do fracasso, de ficar doentes, de alguém da família ficar doente, ou
qualquer outro tipo de medo. Seja qual for, o medo é pecado.
De todas as pessoas que o Senhor diz que vão para o lago de fogo, a lista começa com os
covardes. A palavra “covarde” aqui seria melhor traduzida como “medroso, cheio de medo”. Ele
vem antes de todos, mesmo antes de incrédulos (Ap 21.8).

Quando Deus menciona algo em primeiro lugar, devemos pensar naquilo como algo prioritário.
Entre os nove dons do Espírito, o dom da palavra de sabedoria vem primeiro. Isso nos mostra
que a sabedoria é a prioridade. E, diante do lago de fogo, o que vem primeiro são os
medrosos. O medo está na origem de todos os pecados porque ele é o resultado da justiça
própria. O homem caiu no pecado por causa da justiça própria, e a primeira coisa que o
homem sentiu depois da condenação foi medo.

O Senhor apareceu aos discípulos bem no meio do medo e do pânico, mas nunca os
repreendeu por causa disso. Ele apenas disse: “Paz seja contigo”. O Senhor ressuscitou não
para nos imputar o pecado, mas para nos dar a sua justiça. Ele dá a sua paz aos discípulos
porque na graça Ele nos dá suprimento, e não mais demandas e exigências. Ele veio para
proclamar vitória, não para condenar.

A palavra “paz”, eirene no grego e shalom em hebraico, significa muito mais que paz na mente.
Shalom significa uma sensação de plenitude e paz completa que envolve uma sensação de
bem-estar em todas as dimensões: espírito, alma e corpo. A saudação apostólica envolvia
sempre graça e paz, mas o Senhor era a própria graça em pessoa, por isso Ele podia declarar
apenas a paz. A graça é uma pessoa, e não uma doutrina.

Na última ceia, o Senhor disse: “Minha paz vos dou!” Mas depois Ele completou, dizendo: “Não
se turbe o vosso coração e nem tenham medo” (Jo 14.27). O que Ele nos pede é para que não
tenhamos medo e nem deixemos que o nosso coração fique atribulado.

Tenho aprendido que o inimigo somente tem espaço em nossa vida quando perdemos a paz. A
paz é a terra prometida do Novo Testamento. Em Hebreus 4, a Palavra de Deus diz para não
caírmos no mesmo erro do povo de Israel que, tendo a promessa de entrarem na herança,
falharam por causa da incredulidade.

O descanso é a paz. Um crente sem paz é alguém derrotado que não entrou ainda na posse
da sua herança. Por que ainda vivemos no medo? Antes de tudo, é a justiça própria que nos
leva ao medo. Quando pensamos que a bênção de Deus é para aqueles que a merecem, logo
nos angustiamos, concluindo que não temos feito tudo que deveríamos. É a condenação que
nos leva ao medo.

Em segundo lugar, o medo permanece porque não sabemos que somos amados pelo Pai. O
amor de Deus lança fora todo medo. Quem vive no medo vive atormentado (1Jo 4.17-18).
Assim, concluímos que somente temos paz quando somos libertos da condenação e do medo.
Quando a paz reina em nosso coração, temos saúde no corpo e bem-estar e segurança na
alma.

Sobre tudo o que você deve guardar, guarde o seu coração. Não deixe que ele perca a paz por
causa do medo e da acusação do maligno. O Senhor mostrou aos discípulos as marcas nas
mãos e do lado para que eles soubessem que o pagamento para a paz deles tinha sido feito.
Aquela era a prova de que eles tinham sido perdoados. Aquela era a evidência de que o diabo,
a morte e a doença tinham sido vencidos.

Um mesmo crime não pode ser punido duas vezes. Assim, você não pode cobrar que aqueles
que erram contra você sejam punidos se o pecado deles já foi cravado na cruz. Não podemos
pedir a punição se o pecado deles já foi punido. Não peça a punição dos outros e nem tente
punir-se a si mesmo, pois Cristo já levou toda punição na cruz.
No mesmo princípio, se o nosso pecado já foi punido na cruz, o diabo não pode mais nos
condenar ou acusar sobre ele. Quando rejeitamos a acusação, desfrutamos de paz. Como
resultado, os discípulos se alegraram. A alegria é o sinal da paz em nosso coração e também
porque os discípulos viram o Senhor. Ver o Senhor é que produz verdadeira alegria.

A sequência do evangelho é sempre justiça, paz e alegria. Quando recebemos graça, a


primeira bênção é a justificação. Como sou declarado inocente, então isso resulta em paz.
Paulo diz que, agora justificados pela fé, temos paz para com Deus. E uma vez que há paz,
posso me alegrar. O grande sinal de que eles tinham recebido a paz é que eles se alegraram
no Senhor.

2. A incredulidade (Jo 20.24,28)

Depois que o Senhor ressuscitou, Ele pôde se colocar diante dos discípulos mesmo com as
portas fechadas. Para o corpo glorificado, as paredes não são mais problema. A declaração de
Tomé a respeito do Senhor Jesus é muito importante. Ele disse: “Meu Senhor e meu Deus!” Se
Jesus não fosse Deus, Ele teria repreendido Tomé nesse ponto. Mas Tomé estava certo, Ele é
plenamente homem e plenamente Deus.

Primeiramente, o Senhor nos dá vitória sobre o medo, mas agora Ele nos dá vitória sobre a
incredulidade. As mesmas marcas que deram paz e segurança aos discípulos agora dão fé e
ousadia. É somente olhando para a obra da cruz que o nosso coração pode ser cheio de fé. A
fé é a coisa mais importante aos olhos de Deus. Na esfera do espírito, a fé simplesmente
destrói as obras do diabo. Por causa disso, ele sempre tenta nos manter na esfera dos
sentidos. Muitos somente dão atenção ao que veem, ouvem e sentem, como acontecia com
Tomé.

Enquanto você permanece na esfera da fé, você é vencedor, mas quando o inimigo consegue
mantê-lo na esfera dos cinco sentidos, você é derrotado. O inimigo odeia quando somos
ousados em fé. Como podemos ser ousados em fé? Em primeiro, lugar tenha uma imagem
correta de Deus. A imagem que você tem de Deus afeta diretamente a forma como você ora e
libera fé. A imagem que formamos de Deus é em grande medida determinada pela teologia que
nos ensinaram.

Alguns imaginam que Deus está sempre irado com eles por causa de suas falhas. Eles ouvem
uma voz lembrando-os sempre do seu pecado, mas esta é a voz do acusador, e não a voz de
Deus.

A sua percepção de Deus vai determinar a qualidade do seu relacionamento com Ele, e isso
afeta tudo o mais – o seu nível de fé no dia da luta, a maneira como você compartilha o amor
de Deus e até o seu relacionamento com o seu cônjuge.

A maneira como você vê determina como você irá receber. Será mais fácil receber de Deus
nos dias de dificuldade se o vemos como um pai amoroso e gracioso que responde
rapidamente ao nosso clamor. Lembre-se de que a fé atua pelo amor. A nossa fé é forte
quando descansamos e sabemos que somos amados pelo Pai.

Você nunca saberá o quanto Deus ama você até entender o quanto o Pai ama a Cristo. Você
precisa entender o quanto Cristo é amado, mas ainda assim Deus Pai o entregou para ter
você. Este é o quanto você é amado. Deus entregou o que tinha de mais precioso para ter
você.

É muito importante que a nossa confiança esteja na obra consumada do Senhor, e não em
nossas boas obras e bom comportamento. Todo homem instintivamente conclui que somente
pode receber a bênção de Deus se a merecer. Assim, no dia da tribulação, ele imediatamente
olha para si mesmo para ver se merece a bênção.

O problema é que quase nunca concluímos que merecemos, e quando pensamos que a
merecemos, caímos na justiça própria, e aquele que confia na justiça própria não pode receber
nada de Deus. Paulo diz, em Filipenses, que existe dois tipos de justiça: a justiça própria, que
procede da lei, e a justiça que é pela fé.

Somente podemos ter fé no dia da angústia se cremos que a nossa justiça é totalmente por
causa da obra de Cristo na cruz. Se houver em nós o pensamento de que precisamos ter a
justiça baseada em nosso cumprimento dos mandamentos, perdemos a fé e assim deixamos
de receber.

3. A falta de frutos (Jo 21.1-6)

Aqueles discípulos eram pescadores profissionais. Eles tinham pescado toda a noite e não
tinham pegado nenhum peixe. Eles conheciam bem o mar da Galileia, que apesar de ser
chamado mar é um lago não tão grande assim. Eles sabiam onde os peixes se escondiam,
sabiam onde estavam os maiores peixes. Mas mesmo assim nada pegaram. Isso nos fala da
falta de frutos.

O Senhor não os critica e nem os condena, mas pergunta se tinham pescado alguma coisa.
Diante da resposta deles, Ele manda que lancem as redes do lado direito do barco. Algo
maravilhoso é que o lado direito é Benjamin em hebraico, benjamim que significa “filho da mão
direita”. A justiça de Deus é a sua mão direita e nós estamos assentados com Cristo à direita
de Deus Pai.

Sempre que você lançar as redes na sua família ou nos seus negócios, faça-o com a
consciência da sua justiça em Cristo e você vai achar o fruto que está procurando. Todas as
vezes que o Senhor nos manda lançar as redes, Ele tem para nós abundância de frutos. Foram
pegos 153 grandes peixes. Eles tiveram a curiosidade de contá-los. Não tenha receio de contar
as bênçãos de Deus, seja na sua prosperidade ou no crescimento da sua igreja. Estas são as
três coisas que nos impedem de avançar: o medo, a incredulidade e a falta de frutos. Mas o
Senhor nos promete vitória por meio da sua vida de ressurreição.

Perguntas para compartilhar:

– Como você pode ser ousado em fé?

– Qual o sinal da verdadeira alegria em seu coração?

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