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Manual de

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Manual de monitoria

Planetário de Brasília

Brasília 2021

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Sumário

APRESENTAÇÃO, 4
O PASSADO NO PRESENTE, 5
Recursos do equipamento, 7
Os movimentos, 8
Temas abordados no planetário, 8
O PRESENTE NO PASSADO, 13
O espaço físico original, 13
A nova proposta, 14
O novo espaço físico, 15
Andar térreo, 15
Primeiro andar, 16
Subsolo, 17
UM PEDAÇO DO CÉU, 18
Relação das estrelas mais brilhantes, 18
Relação das 88 constelações oficiais, 20
MITOLOGIA E ASTRONOMIA, 24
Significado dos nomes das principais constelações, 25
O TEMPO E O CALENDÁRIO, 34
Os tipos de dias, 34
O Dia Solar Verdadeiro e o Dia Solar Médio, 35
Os fusos horários, 35
Irregularidades na rotação terrestre, 37
Variação secular, 37
Variação irregular, 37
Variação sazonal, 37
A semana, 38
Os meses, 39
A reforma gregoriana, 42
O calendário juliano, 40
A reforma de 1582, 40
FINAL DE EVOLUÇÃO ESTELAR, 43
As anãs brancas, 44
As estrelas de Nêutrons, 44
O espaço-tempo, 46
Os buracos negros, 47
A luz no espaço-tempo, 47
O Horizonte de Eventos, 49
A singularidade, 50
O Buraco Negro rotativo, 50

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O Disco de Acreção, 50
O buraco negro quadrimensional, 50
O Buraco Branco, 51
A ORIGEM DO UNIVERSO, 53
O Ovo Cósmico, 53
A Formação dos elementos, 54
Antes do Big Bang, 55
O Universo hiperbólico, 56
O Universo pulsante, 57
O Princípio Cosmológico, 58
CONCLUSÃO, 59
A ASTRONOMIA EM NÚMEROS, 60
Dados orbitais médios sobre o sistema planetário, 60
Dados físicos médios sobre o sistema planetário, 60
Dados físicos médios sobre o sistema planetário 2, 61
Miscelânea astronômica, 61
Dados sobre a Terra, 61
Dados sobre a Via Láctea, 62
Dados sobre o Universo, 62
Distância a Terra em 106 km, 62
Relação das Galáxias do Grupo Local, 62

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Apresentação

A
finalidade dessa coletânea de textos sobre Astronomia e sobre o Planetário de Brasí-
lia tem por finalidade subsidiar o pessoal que lida diretamente com o público que nos
visita. A fonte de informações deve ser utilizada para fomentar a criatividade de
cada um dos monitores – aqui incluo os recepcionistas bilíngues e os operadores de projeção –
para que sejam desenvolvidas sessões comentadas com as características pessoais.
As atividades de treinamento na cúpula são importantes no sentido de apresentar a potencia-
lidade do Spacemaster ao monitor, sabendo do que o equipamento é capaz, quem vai apresentar
ao vivo, na cúpula, estará habilitado a “viajar” com o público pelo céu estrelado.

Figura 1. Spacemaster projetando o céu estrelado e as constelações gerais

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O passado no
presente
O céu estrelado deve ter sido objeto de contemplação mais atrativo e assustador do
que o céu diurno. O cair da noite, que sempre coloria o céu e escurecia os corações, foi
motor de fantasias, geradas por temores e de sonhos gerados pela ânsia de com-
preender. William Shakespeare (1564-1616) afirmava: “Há quem diga que todas as noites são de
sonhos. Mas há também quem garanta que nem todas, só as de verão”. No fundo, isso não tem
importância. O que interessa mesmo não é a noite em si, são os sonhos. Sonhos que o homem
sonha sempre, em todos os lugares, em todas as épocas do ano, dormindo ou acordado.
Esse amalgama de sentimentos deve ter dado origem à Astronomia, repleta de fantasia, na
origem, mudou com o passar do tempo e, ainda hoje, garante nossos sonhos das noites de verão...
O medo é um sentimento primevo, mas a curiosidade o domina, e aqueles antigos seres cujo
medo era a expressão de um sentimento de dor daqueles que caminhavam apenas ao encontro da
morte e da destruição mudaram a realidade e viram que com o uso de um novo dom – a inteli-
gência podiam buscar a compreensão de como era o mundo e passar a interferir nele.
Inúmeros passes foram dados no sentido de compreender o Mundo, alguns bem para trás, mas,
no conjunto, o homem foi aprendendo. Uma das conquistas do pensamento foi a percepção de que
eles eram capazes de criar modelos que simulavam a realidade, permitindo, assim, o sur- gimento
do planetário.
O termo planetário origina-se do latim medieval, planetarius, cujo significado é “relativo a
planeta”, vocábulo que no latim tardio significava ‘astrólogo’, termo empregado por Santo
Agostinho.
Não há um termo correspondente no latim clássico, uma vez que Roma chamava os planetas
de stellae errantes. O termo latino planeta é um estrangeirismo oriundo do grego planes, que
significa “errante, vagabundo”.
O primeiro registro, em português, da palavra planetário significando modelo do Universo
surgiu por volta de 1664, conforme consta na obra Malaca Conquistada do poeta português
Francisco de Sá de Meneses (c. 1600-1664), publicada em Lisboa em 1779.
No ano 250 a.C., Arquimedes (287 a.C.-212 a.C.) construiu um planetário sobre o qual nos
chegaram apenas notícias. Outro grego, Anaximandro (c. 610 a.C.-c. 546 a.C.) construiu o seu no
ano 6 a.C., assim como houve o planetário do filósofo grego Possidonio (c.135-50 a.C.) e o do
filósofo e poeta romana Boécio (c.480-c.525). O imperador romano Nero também possuiu um
planetário que ficava em seu salão de banquetes.
Os árabes, grandes astrônomos da antiguidade, também construíram planetários.
Em 1580, o astrônomo dinamarquês Tycho Brahe (1546-1601) de quem o astrônomo alemão
Kepler (1571-1630) foi discípulo introduziu vários melhoramentos nesses instrumentos, a ponto
de permitir que se determinasse a declinação das estrelas e dos planetas com precisão.
Foi necessário mais tempo para que a tecnologia evoluísse e novos fenômenos e efeitos pu-
dessem ser introduzidos no planetário. No século XVII, em 1664, apareceu um primitivo plane-
tário que constava de um globo oco de cobre pesando 3,5 toneladas e com 3,5 m de diâmetro, o
globo de Gottorp (ver figura 2) cujo interior abrigava dez pessoas em uma plataforma e tinha
estrelas e constelações pintadas na superfície interna do globo. A superfície externa era pintada
com o mapa da Terra. Esse primitivo planetário era movido por mecanismos hidráulicos e dava

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uma volta em 24 horas. Sua construção durou vinte anos e foi financiada pelo Duque Frederico III
de Holstein (1686-1752) e seu construtor foi o mecânico alemão Andra Busch, com a ajuda do
geógrafo e matemático alemão Adan Olearius (1603-1671). Na mesma ocasião o astrônomo e
matemático alemão Erhard Wigel (1625-1699) construiu seu planetário no Castelo de Jena, com
um diâmetro de seis metros.

Figura 2. Globo de Gottorp

Já em 1758, apareceu um globo mais aperfeiçoado. O professor de Astronomia da Universi-


dade de Cambridge, o astrônomo britânico Roger Long (1680-1770), construiu um globo maior
que o de Gottorp. As estrelas eram perfurações com diâmetros diferentes e a iluminação era feita
de fora. A capacidade do planetário também mudou, agora cabiam trinta pessoas em sua plata-
forma central. Esse aparelho possuía um projetor que produzia um foco luminoso que percorria a
região da eclíptica, simulando o movimento do Sol.
Em 1913, o engenheiro alemão Oscar Von Miller (1855-1934), diretor do Deustches Mu-
seum, de Munique, encomendou à firma alemã Carl Zeiss um planetário “moderno”, que foi pro-
jetado por Walther Bauersfeld 1879-1959) e inaugurado em 1923.

Figura 3. Modelo I da Zeiss

Ele utilizava um sistema óptico e uma mecânica relativamente complexos para projetar ima-
gens do céu, com uma realidade até então inimaginável, na superfície interna de um hemisfério
(cúpula) de 9,8 metros de diâmetro e movimentava essas imagens, possibilitando dentre outras

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coisas reproduzir o céu visto de qualquer região do hemisfério norte e em qualquer época. O su-
cesso cultural e educacional obtido foi tão grande que planetários passaram a ser inaugurados por
todo o mundo. Esse equipamento foi o ponto de partida para os planetários atuais.
O planetário conforme conhecemos hoje (com dois hemisférios) somente surgiu em 1926,
inventado pelo Dr. Walter Vilizes, diretor cientifico do Departamento de instrumentos astronô-
micos da firma alemã Carl Zeiss.

Figura 4. Primeiro planetário universal

Figura 5. Spacemaster do Planetário de Brasília

Recursos do equipamento
Eclipses parciais e totais da Lua e do Sol;
anoitecer e amanhecer;
6.300 estrelas dos dois hemisférios, em suas posições reais;
projetor específico para a estrela Sirius;
contorno das principais constelações dos dois hemisférios;
contorno das constelações do zodíaco;
cometa (é o cometa Donnati);
satélite artificial;
Sol geocêntrico;
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Lua (com todas as fases);
os cinco planetas visíveis à vista desarmada;
nuvens;
Via Láctea (o Caminho de São Thiago);
Meridiano do lugar;
Eclíptica
Equador celeste.

Os movimentos

Anual (deslocamento geocêntrico do Sol, na Eclíptica, durante um ano).


Diurno (deslocamento do céu, provocado pela rotação terrestre, dura 24 horas).
Precessão (deslocamento dos equinócios que se completa a cada ciclo de 25.800 anos).
Altura polar (deslocamento em latitude, de polo a polo).

Figura 6. Esfera central expondo os motores dos mo-


vimentos anual e diurno.

Temas abordados no Planetário


Uma pesquisa realizada o Planetário da Escola Naval dos Estados Unidos mapeou o leque d
possibilidades em relação aos temas que podem se abordados em uma atividade na cúpula. O
resultado encontra-se abaixo.

Astronáutica
Movimentos orbitais;
sistemas de coordenadas;
navegação espacial;
manobras de naves espaciais
movimentos relativos;
efemérides e tabuas espaciais;
funcionamento de foguetes e
pousos em outros planetas.

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Química
Evolução estelar;
estrutura atômica;
origem dos elementos;
reações químicas;
reação próton-próton;
temperatura;
ciclo de carbono;
ciclo de Bethe e
espectroscopia.

Engenharia e Arquitetura
Procedimentos altazimutais;
sistemas de coordenadas;
insolação;
latitude e longitude;
geodésia;
comportamento do Sol segundo a latitude e
estações do ano.

Artes
Apreciação musical;
artes visuais;
perspectiva orbital;
interpretação dos asterismos;
mitologias;
Astronomia e musica erudita e
harmonia da filosofia grega.

Geografia
Estações do ano;
provas da rotação terrestre;
solstícios e equinócios;
duração do dia;
dia polar e Sol da meia-noite;
crepúsculo e latitude;
linhas dos trópicos;
círculos máximos celestes;
fusos horários;
atmosfera e
origem da Terra.

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História
Origem das religiões;
historia das mitologias;
a viagem de circunavegação;
lendas sobre Astronomia;
a revolução copenicana;
instrumentos científicos da antiguidade;
a gnomonica ou medida do tempo;
a precessão dos equinócios;
as astronomias egípcia, grega, babilônica, persa, árabe e maia, entre outras;
Stonehenge;
orientação das pirâmides;
Idade Media;
o Renascimento;
a era espacial;
a evolução geocêntrica e
a evolução heliocêntrica.

Biologia
Origem da vida;
pesquisa ornitológica;
consequências biológicas das interações Sol-Terra;
consequências biológicas dos climas e das marés;
orientação dos pássaros;
Exobiologia;
imponderabilidade e vida;
fotossíntese;
bioengenharia espacial;
consequências biológicas das manchas solares e
radiação cósmica e evolução.

Matemática
Coordenadas;
topologia;
geometria;
geometria espacial;
geometrias não;
transformação de coordenadas;
geometria dos sólidos;
geometria esférica e lógica.

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Filosofia
Cosmologias;
cosmogonias;
visão heliocêntrica;
geocentrismo versus heliocentrismo;
lógica;
física aristotélica;
impacto da exploração espacial;
religiões;
visões de mundo;
lugar do homem no Universo;
as estrelas e a criação e
filosofia do zodíaco.

Física
Mecânica Celeste;
Gravitação;
coordenadas inerciais;
movimentos planetários;
giroscópio;
geodésia;
estrutura do espaço;
estrutura do Universo;
movimentos aparentes;
paralaxe;
aberrações;
precessão e nutação;
translações;
ótica;
teoria ondulatória;
analise espectral;
radiação eletromagnética;
comportamento da luz no espaço;
telescópios;
lunetas;
ampliação e distancia focal;
inércia;
pesos e massas;
energia cinética;
leis de Kepler;
emissão do hidrogênio;

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faixas de radiação;
efeito Doppler-Fizeau;
velocidade da luz;
natureza da Lua e
o tempo.

Psicologia
Orientação espacial;
psicologia da astrologia;
Ilusões de ótica e
percepção.

Ciências Sociais
Mitos estelares;
origens das etnias;
nomes locais das estrelas e constelações;
migrações e nomes das estrelas;
implicação social dos mitos e
impacto social das descobertas astronômicas

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O presente no
passado

I naugurado em 15 de março de 1974, com o projeto do arquiteto carioca Sérgio Bernardes


(1919-2002), o Planetário de Brasília recebeu o equipamento mais avançado na época – o
projetor central astronômico Spacemaster da empresa alemã Carl Zeiss inventora do
moderno planetário em 1923.
O Planetário de Brasília durante sua existência vem prestando serviços inestimáveis à comu-
nidade brasiliense e a incontáveis visitantes, discutindo os segredos do Universo e do nosso pla-
neta. Centenas de milhares de estudantes e adultos de todas as idades visitaram nossa casa de
Astronomia e saíram modificados pelo que viram e pelo que escutaram.
O Planetário de Brasília era ligado, administrativamente, à Secretaria de Estado de Educação
e Cultura do Distrito Federal, por meio da extinta Fundação Cultural do Distrito Federal. O apoio
recebido não era muito e o Planetário de Brasília vivenciou adversidades que implicaram dificul-
dades de atendimento ao público escolar e ao público em geral.
Em 1996, o Planetário de Brasília, então ligado à Secretaria de Cultura, fechou definitiva-
mente suas portas, deixando o Distrito Federal órfão de umas das mais belas atrações que as
grandes cidades podem oferecer a seus estudantes e à população.
Nove anos se passaram e o Planetário de Brasília, após percorrer sinuosos caminhos burocrá-
ticos, chegou à Secretaria de Estado de Ciência, Tecnologia e Inovação. Ações começaram a ser
realizadas para que o projeto tomasse forma e o Planetário de Brasília abrisse novamente suas
portas a um público que, por causa do grande hiato, ainda não conhecia um Planetário.
Foi elaborado um projeto técnico para servir de base para a reabertura e funcionamento do
Planetário de Brasília, missão, esta, cumprida, por meio de um texto intitulado Planetário de
Brasília: uma ideia. O projeto foi repassado aos arquitetos responsáveis pela elaboração do pro-
jeto arquitetônico da reforma do Planetário de Brasília.
Os arquitetos apresentaram um belíssimo projeto de reforma que fez o Distrito Federal reto-
mar, em grande estilo, a função de complementar, difundir e aprimorar o conhecimento científi-
co na área da Astronomia e suas ciências correlatas.
Em 2009 as obras da reforma física do prédio do Planetário de Brasília iniciaram; sendo o
Planetário de Brasília reinaugurado em 11 de dezembro de 2013.

O espaço físico original

Aquários (primeiro andar);


Laboratório de ictiologia com tanques de aclimatação (subsolo);
Sala de bombas (térreo);
Duas bilheterias (térreo);
Sala para a direção (térreo);
Câmara escura, utilizada como copa (térreo);
Sala com o armário eletrônico do Spacemaster (térreo);
Sala para funcionários (térreo);
Sala de ar condicionado (térreo) e
Sala para os vigias (térreo).

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Figura 7. Um antigo aquário no primeiro andar

A nova proposta
Com o passar do tempo o equipamento instalado – dotado de uma tecnologia desenvolvida na
década de 1960 –, foi perdendo seu caráter de tecnologia de ponta, real por ocasião da inaugu-
ração do Planetário, para assumir um aspecto não obsoleto, graças à inestimável qualidade da sua
ótica, mas ultrapassado quanto ao potencial do seu sistema ótico de imagens complementares
extremamente restrito se comparado aos atuais sistemas de projeções digitais para cúpulas he-
misféricas.
Hoje em dia, o uso de modernos sistemas digitais de projeção modificou o conceito de plane-
tário que foi ampliado para ser um espaço de projeções multidisciplinares imersivas. A novidade
possibilita apresentações de diversas naturezas como a exibição de vídeos e espetáculos multi-
mídia em sessões que podem abordar quaisquer temas, além das convencionais projeções astro-
nômicas. Com o avanço da geração de projeções digitais, a cidade de Brasília se deparou com a
oportunidade da atualização tecnológica do equipamento concomitante com o restauro do edifí-
cio do Planetário.
A reinauguração do Planetário de Brasília renovado também em sua tecnologia atendeu à
inevitável expectativa da população que é surpreendida pelos aspectos multidisciplinares, didáti-
cos e de entretenimento alavancados pela tecnologia digital de projeção.
A modernização do planetário permitiu o aumento das funções do ponto de vista social, tra-
zendo as intenções e pensamentos para o século XXI com um instrumento de última geração,
tornando Brasília uma referência como um dia já foi; fazendo com que as ações em prol da Ciên-
cia e da Tecnologia reflitam como entusiasmo e preocupação com o conhecimento, ferramenta de
todo avanço do ser humano e de sua sociedade.
Embasado por esses argumentos e sob a análise técnica e econômica a sugestão encontrada foi
a inclusão de um sistema digital distribuído ao redor da cúpula, na linha do horizonte, desen-
volvido pela Carl Zeiss especialmente para funcionar em Cúpulas de 12,5 metros que permane-
ceram com a instalação do projetor Spacemaster. Com isso o antigo projetor, com inquestionável
qualidade ótica, vem sendo utilizado concomitantemente – e não desperdiçado – concluindo um
sistema conjunto de projeção analógica e digital.

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O Sistema de projeção desenvolvido pela Carl Zeiss é ajustado de forma a evitar qualquer
sombra do projetor central Spacemaster, causada pela relação entre as dimensões deste projetor
(3,5 metros de altura) e o tamanho da cúpula, calculada em uma época em que não se previa o
advento nem a formatação dos sistemas de projeção digital. Além disso, outros itens incluídos na
atualização tecnológica formaram um conjunto dos mais modernos hardwares e softwares per-
mitindo usos ilimitados e mais recentes da tecnologia para planetários.
Conclui-se, com consciência dos resultados positivos para a educação, a difusão de conhe-
cimentos científicos e tecnológicos a toda a comunidade e para o turismo no Distrito Federal, o
porquê da justificativa técnica da promoção da modernização do Planetário de Brasília, reforçada
pelo momento histórico singularmente propício para o aporte de uma tecnologia multidisciplinar
e tão abrangente que hoje já demonstra a possibilidade de benefícios bem maiores do que os pro-
porcionados pelo equipamento astronômico antigo isoladamente.

O novo espaço físico


O projeto arquitetônico da reforma do Planetário de Brasília destinou uma nova concepção de
espaços que modificou radicalmente a capacidade de atendimento ao público com grande qua-
lidade e eficiência. Os espaços que entregues aos frequentadores são:

Andar térreo

Cúpula
O Planetário instalado em Brasília é do modelo Spacemaster, fabricado pela alemã Carl Zeiss
Jena e é capaz de simular em uma cúpula de 12,5 metros de diâmetro e mil metros cúbicos de
volume, todos os fenômenos astronômicos que somos capazes de observar à vista desarmada, além
de realizar simulações de eventos impossíveis de serem experimentados, como viajar no tempo e
no espaço em questão de minutos. Com a atualização do equipamento instalado, as pos- sibilidades
didáticas e de entretenimento multiplicaram-se muitas vezes.
O Spacemaster – que pesa duas toneladas e meia – possui quatro movimentos básicos que
permitem a exibição de qualquer céu de qualquer época – passada ou futura – e em qualquer lati-
tude da Terra. Com a atualização da tecnologia do século XX para introduzir a do século XXI,
temos, no Distrito Federal, uma casa de espetáculo que poucos brasileiros tiveram a oportunida-
de de vislumbrar. Estamos cumprindo a missão de desconstruir modelos pedagógicos vigentes há
séculos, para substituir por paradigmas do Terceiro Milênio.
As atividades na cúpula destinam-se aos estudantes da Educação Básica, do Ensino Superior
e ao público em geral. Diferenciam-se as faixas etárias e os níveis de escolaridade por meio do
conteúdo e da abordagem das sessões apresentadas.
A programação da cúpula destina-se a apresentar ao espectador conteúdos de Astronomia,
Física, Matemática, Filosofia, Biologia e outras ciências correlatas no formato de um filme pré-
gravado cuja narração é feita com base nos efeitos visuais que estão sendo mostrados.
Após algumas sessões para estudantes é realizado um debate sobre o conteúdo exposto e ou-
tras dúvidas sobre Astronomia que sejam levantadas no momento se for da vontade e da disponi-
bilidade da escola.
A capacidade de atendimento da cúpula é de 80 pessoas, sendo quatro lugares para cadeiran-
tes e duas poltronas especiais para obesos.
Foi instalado juntamente com a reinstalação do Spacemaster, um planetário digital modelo
PowerDome VIII Special composto de oito projetores digitais full-dome capazes de trabalhar com
o Spacemaster ou de forma isolada em sessões puramente digitais. Esse equipamento tem
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um contraste de 50.000:1; luminosidade de 900 lumens por projetor; resolução (por projetor) de
1.920 x 1.200 (WUXGA); resolução total na cúpula de 4K; cluster de computadores com softwa-
re para geração de imagens; correções de distorções e união das imagens em tempo real; softwa-
re Uniview Producer, para produção de apresentações pela equipe do Planetário de Brasília; sis-
tema de sonorização digital surrond 5.1; estúdio digital para trabalhos de geração de imagens e
adaptações de imagens do banco de dados, para criação de aulas, sessões e demais apresentações
na cúpula.

Administração
Áreas destinadas aos funcionários do Planetário de Brasília. São: uma sala no térreo, uma no
subsolo e uma no primeiro andar. A sala do primeiro andar atualmente está sendo utilizada como
almoxarifado da Secretaria de Ciência, Tecnologia e Inovação do Distrito Federal. A do subsolo
está sendo utilizada pela Diretoria de Educação e Divulgação Científica. A do térreo está sendo
utilizada pela telefonista pela assessoria da Diretoria e como refeitório para os funcionários, que
antes de nossa chegada almoçavam na sala de máquinas do ar condicionado, ambiente, ilegal,
inapropriado e insalubre.

Sala de automação
Essa área abriga os hardwares responsáveis pela operação lógica dos equipamentos instala-
dos na Cúpula do Planetário de Brasília e o switch que controla o fluxo de dados entre as máqui-
nas instaladas na Cúpula.

Estúdio
Espaço destinado à criação da programação a ser exibida na cúpula do Planetário de Brasília,
composto de computadores e softwares especialmente desenvolvidos para a produção de sessões
digitais. Essa atividade deve ser desenvolvida pela própria equipe do planetário.
Nesse espaço está instalado, também, o switch da rede interna de computadores do Planetá-
rio de Brasília.

Primeiro andar

Área para exposições


Área destinada a exposições permanentes e temporárias, com temas ligados à Astronomia e a
ciências correlatas, agendadas e montadas pela equipe do Planetário de Brasília. Além da exposi-
ção de objetos físicos, os visitantes poderão ter acesso a vídeos científicos e a visitas virtuais a
museus e exposições mantidas por outras instituições científicas, por meio de uma TV de alta
definição com tela plana de 52 polegadas com, com um DVD player acoplado, a ser instalada.

Biblioteca
A Biblioteca destina-se a apoiar pesquisas de estudante dos ensinos Fundamental e Médio,
assim como do Ensino Superior, mas a ênfase será na bibliografia para a Educação Básica. Exis-
tirá um acervo de obras de Astronomia, Física, Matemática e Filosofia, com ênfase na divulga- ção
da ciência; além disso, a Biblioteca possuirá um acervo de DVD’s de divulgação científica a serem
exibidos na Área para exposições.

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Biblioteca digital
Esse espaço, equipado com doze computadores, será disponibilizado aos usuários para que
possam ter acesso a obras digitalizadas em diversas instituições científicas. Esse recurso permiti-
rá, também, o acesso a sítios específicos, na Internet, que irá viabilizar a pesquisa escolar e aca -
dêmica da população do Distrito Federal.
Subsolo
Auditório
Espaço equipado com um smarboard e um Datashow, destinado a cursos livres sobre Astro-
nomia e ciências correlatas, assim como cursos de Extensão Universitária a serem ministrados em
parceria com universidades estabelecidas em Brasília.
O auditório comporta a organização de palestras e encontros científicos, com apoio dos de-
mais espaços. As demais secretarias do Distrito Federal podem utilizar-se do auditório desde que
requisitado e agendado.
A futura instalação de equipamento audiovisual permitirá a realização de videoconferências,
de palestras e de cursos ministrados remotamente.
O Auditório e a Sala de oficinas são separados por divisórias com isolamento acústico e re-
tráteis, o que permite a organização de eventos com um maior número de participantes.
Sala de oficinas
Espaço equipado com um quadro branco com quatro mesas específicas para a realização de
oficinas direcionadas tanto a alunos quanto a professores. O norte da atividade é preparar os pro-
fessores para que possam fomentar suas aulas, despertando, assim, mais interesse por parte de seus
alunos e conquistando-os para as áreas científicas e tecnológicas. Os alunos que participam das
atividades das oficinas no Planetário de Brasília mantêm contato com atividades em grupo,
demonstrando que a participação coletiva se torna imperativa para o alcance do objetivo. Por
exemplo:
Construção de lunetas com lentes de óculos: essa oficina permite a introdução da metodolo-
gia de trabalho em grupo e a noção de que é necessário o seguimento de regras pré-estabelecidas
e conhecimento anterior para alcançar uma meta. Além do que surge a oportunidade de se mos-
trar que a mudança de referenciais gera outras formas de se “ver” o mundo.
Comparação entre os tamanhos dos planetas e do Sol: os livros didáticos que abordam o tema
Sistema Solar, geralmente o apresentam em forma esquemática. Naquelas figuras o Sol e os plane-
tas são desenhados sem escala e isto não é explicitado no texto, o que permite ao leitor imaginar
que o Sol e os planetas são proporcionais aos discos lá desenhados. As noções de tamanho e de
escala que surgem dessa oficina servem para demonstrar o gigantismo do Cosmo
Eclipses solares e lunares: os caminhos percorridos (as órbitas) levam a construções de posi-
ções geométricas que possibilitam o acontecimento do fenômeno.
As atividades desenvolvidas nas dependências de um planetário são essencialmente inter e
multidisciplinares, caminho esse que facilita a construção do conhecimento in totum.

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Um pedaço do
céu
s memórias dos conhecimentos da arte e da ciência gregas foram “perdidas” pelos

A europeus por causa da invasão da Grécia pelos romanos e pela queda, mais tarde, do
Império Romano. Com as invasões dos árabes a Europa todo o conhecimento grego
foi reintroduzido no continente por seus admiradores maometanos. A Astronomia árabe, assim
como a Matemática eram muito avançadas, mas a admiração pelo pensamento grego foi a justifi-
cativa para que eles não mudassem os nomes das constelações que conheciam. Por esse motivo as
constelações do hemisfério norte recebem nomes com base na mitologia grega, mas as princi- pais
estrelas (as mais brilhantes) que eram usadas pelos navegantes para a orientação pelo céu estrelado
receberam os nomes que os povos árabes usavam. Assim, temos constelações “gregas” com
estrelas “árabes”.
Aqui estão algumas dessas estrelas.

Relação das estrelas mais brilhantes

Nome Nome oficial Idioma Significado


Foz do Rio (localiza-se no fim da constelação
Achernar Alfa Eridanus árabe
de Eridanus).
Epsilon Canis
Adhara árabe As Virgens
Majoris
Agena Beta Centauri árabe Joelho
Aquela que vem antes da estrela das águas, isto
Aldebaran Alfa Tauri árabe
é, das Híades
O Rebanho (antigo nome da Constelação do
Alfirk Beta Cephei árabe
Cepheu)
Albenib Gama Pegasi árabe Asa do Cavalo
Cabeça do Demônio (encontra-se na cabeça da
Algol Beta Persei árabe
Medusa)
Epsilon Ursae
Alioth árabe Cauda
Majoris
Condutor (nome que os árabes davam ao chefe
Alkaid Eta Ursae Majoris árabe das carpideiras que choravam o morto do esqui-
fe, que para eles era o Carro da Ursa Maior
Alnair Alfa Gruis árabe A brilhante
Alnilam Epsilon Orionis árabe A Pérola, a mais bela das Três Marias
Alphard Alfa Hydrae árabe Solitária.
Alfa Coronae Bo-
Alpheca árabe A mais bela da Coroa.
realis

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Nome Nome oficial Idioma Significado


Cavalo (antigo nome da constelação de Andrô-
Alpheratz Alfa Andrômeda árabe
meda)
Altair Alfa Aquilae árabe O Pássaro que voa
Antares Alfa Scorpii árabe Rival de Marte (em seu brilho vermelho)
Arcturus Alfa Bootis grego Guarda da Ursa
Bellatrix Gama Orionis latim A Guerreira
Betelgeuse Alfa Orionis árabe Axila
Canopus Alfa Carinae grego O Trimoneiro de Argos
A Cabra, homenagem à cabra que amamentou
Capella Alfa Aurigae latim
Júpiter
Castor Alfa Geminorum grego Um dos filhos gêmeos de Lêda, com Júpiter
Deneb Alfa Cygni árabe Cauda
Denébola Beta Leonis árabe Cauda do Leão
Diphda Beta Ceti árabe Rã.
Alfa Ursae Majo-
Dubhe árabe O dorso do Urso
ris
A viagem (nome que indica a viagem empreen-
El Nath Beta Tauri árabe
dida pelo cocheiro)
Etamim Gama Draconis árabe Cabeça do Dragão
Enif Epsilon Pegasis árabe Nariz (do Pégaso)
Alfa Piscis Aus-
Fomalhaut árabe A boca do Peixe
trini
Gienah A asa árabe Epsilon Cygni
Chover (é um aglomerado e não uma estrela
Constelação do isolada), seu nome está ligado ao fato de que seu
Híades grego
Touro nascer Helíaco (*) corresponde à época das
chuvas
Beta Ursae Mino-
Kochab árabe A Estrela do Norte
ris
Markab Alfa Pegasi árabe Sela (se encontra no dorso do Pégaso)
Menkar Alfa Ceti árabe Focinho (da Baleia)
Mira Omicrom Ceti latim Maravilha (1a estrela variável a ser descoberta)
Mirfak Alfa Perseu árabe Badalo (o antigo nome da constelação era Sino)
Nenki Sigma Satittarii árabe O peito do Arqueiro
As sete filhas de Atlas com Pleione (é um
Plêiades grego aglomerado e não uma estrela isolada). Na
constelação do Touro
Pollux Beta Geminorum grego Filho de Lêda, gêmeo de Castor, com Júpiter
19
Manual de
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Nome Nome oficial Idioma Significado


Alfa Canis Mino- Aquela que precede Sirius (indica que o nasci-
Procyon latim
ris mento de Procyon anuncia o de Sírius)
Rasalhague Alfa Ophiuchi árabe Cabeça de Serpentário
Pequeno Rei (Regulus, Fomalhaut, Aldebaran e
Antares dividem o céu em 4 partes aproxima-
Regulus Alfa Leonis Latim
damente iguais e eram conhecidas, pelos Persas
de 3000 anos atrás, por “Quatro Estrelas Reais)
Rigel Beta Orionis árabe O pé
Rigel Ken-
Alfa Centauri árabe Pé do Centauro
taurus
Schedar Alfa Cassiopae árabe O Peito
Shaula Lambda Scorpii árabe A cauda
Alfa Cannis Ma- Ardente (devido ao fato de seu nascer Helíaco1*
Sirius Latim
joris anunciar a chegada do verão)
Espiga (devido ao fato de seu nascer Helíaco
Spica Alfa Virginis Latim
anunciar a chegada da época das colheitas)
Vega Alfa Lyrae Latim A águia que cai

OBSERVAÇÃO: A nomenclatura estelar que usa uma letra grega e o nome da constelação no geni-
tivo latino deve-se a Johann Bayer, que a criou em 1603.

Relação das 88 constelações oficiais

N° Constelação Significado
1 Andrômeda a princesa do mito grego
2 Antlia a Máquina Pneumática, ou bomba de ar
3 Apus a Ave-do-Paraíso
4 Aquarius Aquário, o Aguadeiro
5 Aquila a Águia
6 Ara o Altar, ou Ara
7 Aries o Carneiro
8 Auriga o Cocheiro
9 Boötes o Boieiro, ou Pastor.
10 Caelum o Cinzel, ou Buril
11 Camelopardalis a Girafa

1
Nascer Helíaco de uma estrela ou constelação significa que aquela entidade foi a última a nascer, antes do Sol, em
um dado dia.
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N° Constelação Significado
12 Câncer o Caranguejo
13 Canes Venatici os Cães de Caça, ou Pegureiros
14 Canis Major o Cão Maior
15 Canis Minor o Cão Menor
16 Capricornus Capricórnio, a cabra do mar, ou Amalteia no mito grego
17 Carina a Carena (ou Quilha) do navio dos míticos argonautas
18 Cassiopeia a rainha grega
19 Centaurus o centauro rústico (não confundir com o Sagitário)
20 Cepheus o rei mítico
21 Cetus a Baleia, ou Ceto (monstro marinho do mito grego)
22 Chamaeleon o Camaleão
23 Circinus o Compasso
24 Columba a Pomba
25 Coma Berenices a Cabeleira de Berenice
26 Corona Australis a Coroa Austral (ou Coroa do Sul)
27 Corona Borealis a Coroa Boreal (ou Coroa do Norte)
28 Corvus o Corvo
29 Crater a Taça, (na verdade uma salva)
30 Crux o Cruzeiro do Sul, ou Crucifixo (raro)
31 Cygnus o Cisne (às vezes também chamada Cruzeiro do Norte)
32 Delphinus o Golfinho, ou Delfim
33 Dorado o Peixe Dourado
34 Draco o Dragão
35 Equuleus Potro, o cavalinho
36 Eridanus o Rio
37 Fornax a Fornalha
38 Gemini os Gêmeos
39 Grus o Grou
40 em grego, Héracles; filho de Zeus e maior dos heróis gre-
Hércules
gos
41 Horologium o Relógio
42 Hydra Hidra (a cobra-monstro aquática do mito grego) (Fêmea)
43 Hydrus Hidra Macho
44 Indus o Índio
45 Lacerta o Lagarto, ou Lagartixa

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N° Constelação Significado
46 Leo o Leão, ou Leão Maior (raro)
47 Leo Minor o Leão Menor, ou Lionete
48 Lepus a Lebre
49 Libra a Balança
50 Lupus o Lobo
51 Lynx o Lince
52 Lyra a Lira
53 Mensa a Montanha da Mesa na Cidade do Cabo
54 Microscopium o Microscópio
55 Monoceros o Unicórnio, ou Monócero
56 Musca a Mosca
57 Norma a Régua, ou Esquadro
58 Octans o Oitante
59 Ophiuchus Ofiuco, ou Serpentário (tratador de serpentes)
60 Orion o caçador mítico
61 Pavo o Pavão
62 Pegasus Pégaso, o cavalo alado dos gregos
63 Perseu, o herói grego que decapitou Medusa, rainha das
Perseus
górgonas
64 Phoenix a Fênix
65 Pictor o Pintor
66 Pisces os Peixes
67 Piscis Austrinus o Peixe Austral, ou Peixe do Sul
68 Puppis a Popa (do navio)
69 Pyxis a Bússola
70 Reticulum o Retículo
71 Sagitta a Flecha, ou Seta
72 Sagitário, o Arqueiro (o Quíron dos mitos gregos, centau-
Sagittarius
ro erudito e tutor dos heróis)
73 Scorpius o Escorpião
74 Sculptor o Escultor
75 Scutum o Escudo
76 a Serpente, a única constelação dividida em duas regiões:
Serpens
Serpens Cauda, (a Cauda), e Serpens Caput (a Cabeça)
77 Sextans o Sextante

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N° Constelação Significado
78 Taurus o Touro
79 Telescopium o Telescópio
80 Triangulum o Triângulo
81 Triangulum Australe o Triângulo Austral (Triângulo do Sul)
82 Tucana o Tucano
83 Ursa Major a Ursa Maior
84 Ursa Minor a Ursa Menor
85 Vela o Velame (do navio)
86 Virgo a Virgem
87 Volans originalmente Piscis Volans, o Peixe-Voador
88 a Raposa, o raposinho, originalmente Vulpecula cum An-
Vulpecula
ser, a Raposa com o Ganso

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Mitologia e
Astronomia

O
s gregos impuseram-se a necessidade de responder a pergunta, talvez sem resposta,
sobre a origem dos seres e das coisas. No afã de a tudo responder um grande panteão
foi criteriosamente criado, não sobrando partes no céu, no inferno, na terra e nos
mares inabitados por seus deuses e heróis. Suas entidades divinas ou semidivinas sofriam os
mesmos problemas dos Homens. Amavam, odiavam, invejavam e orgulhavam-se de feitos e de
pessoas. Talvez por isso o conto Mitológico pareça tão real à nossa crítica.
Ao formular a pergunta sobre a origem dos deuses, não obtiveram o Nada, nem um deus cri-
ador, mas um espaço aberto de matéria não organizada – o Caos. O Nada não estava contido na
compreensão grega. O Nada era impensável para aquele povo que construiu uma Matemática que
não conhecia o conceito de zero.
A noção de um deus criador foi repudiada pelo pensador grego, que percebeu que as coisas
eram manifestações múltiplas de uma força vital única. Um deus criador único não deixaria es-
capar uma variedade tão imensa e até contraditória de fenômenos sem perder, ele mesmo, sua
unidade criadora essencial. Assim surgiu o Caos. Não como desordem ou confusão, mas como
portador da potência. O Mundo, segundo os gregos, iniciou-se com a ação de uma deidade que era
capaz de.
Admiradores da obra grega, os árabes trouxeram ao Ocidente sua Mitologia. A Astronomia ára-
be foi preparada para receber a Mitologia grega e, dessa fecundação, surgiram os habitantes de nosso
céu. Como uma homenagem aos helênicos, os mouros conservaram as constelações dentro do con-
junto mítico da Hélade, introduzindo nomes árabes para as estrelas que as compõem. Hoje as conste-
lações não têm mais estas formas. Seus nomes foram mantidos pela tradição.
Repletos de poesia e beleza os mitos gregos nos alcançam através do espaço e do tempo. O
homem moderno, de posse de um poderoso ouvido histórico, inicia o processo de reconhecimen-
to da obra de seus antepassados, a obra que foi embalada no berço de nossa civilização.

Figura 8. As formas oficiais modernas das constelações são geométricas

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Significado dos nomes das principais constelações

ÁGUIA. Constelação do hemisfério norte: Aquila (Agl). Área: 652 graus quadrados. História: Ave
da epopéia de Ganimedes, herói troiano de rara beleza. Ao ser observado por Júpiter, quando
pastoreava, foi raptado por uma águia, que era Júpiter transmutado, e levado ao Olimpo.
ALTAR. Constelação do hemisfério sul: Ara (Ara). Área: 237 graus quadrados. História: Conste-
lação catalogada por Hiparco (190 a. C. - 120 a. C.). É o altar dos sacrifícios aos deuses em
benefício da viagem dos Argonautas (ver constelação do Navio).
ANDRÔMEDA. Constelação do hemisfério norte: Andromeda (And). Área: 722 graus quadrados.
História: filha do rei Cefeu e da rainha Cassiopéia. Foi presa a um rochedo para ser devorada
por um monstro marinho enviado por Netuno. Este foi o castigo dado à Cassiopéia por ter
afirmado ser mais bela do que as ninfas Nereidas, filhas de Nereu. Andrômeda foi salva por
Perseu (ver constelações de Perseu, Cefeu, Cassiopéia e Baleia).
AQUÁRIO. Constelação zodiacal do hemisfério sul. Aquarius (Aqr). Área: 980 graus quadrados. O
Aguadeiro. Seu nome é devido ao fato de seu nascer helíaco anunciar a época das pesadas
chuvas na Mesopotâmia.
ÁRIES. Constelação zodiacal do hemisfério norte. Áries (Ari) Área: 441 graus quadrados. Histó-
ria: é o carneiro em que Frixo e Hele, filhos do rei Átamas de Orcômeno, na Beócia, fugiram
da madrasta que mentiu ser necessário o sacrifício dos dois para Zeus. O deus enviou o car-
neiro com pele de ouro para a fuga. Este carneiro deu origem à viagem dos Argonautas. (ver
constelação do navio)
AVE DO PARAÍSO. Constelação do hemisfério sul: Apus (Aps). Área: 206 graus quadrados. Histó-
ria: Constelação do grupo de Bayer [astrônomo alemão Johann Bayer (1572-1625)].

BALANÇA. Constelação zodiacal do hemisfério sul: Libra (Lib). Área: 538 graus quadrados. His-
tória: Na época babilônica, um dos equinócios encontrava-se nesta região do céu. A balança é
o símbolo do equilíbrio entre a duração igual do dia e da noite, que ocorre somente nos
equinócios.
BALEIA. Constelação equatorial Cetus (Cet). Área: 1.230 graus quadrados. História: Monstro
marinho, criado por Netuno, para devorar Andrômeda. (Ver constelações de Perseu, Cefeu,
Cassiopéia e Andrômeda).
BOIEIRO. Constelação do hemisfério norte. Bootes (Boo). Área: 907 graus quadrados. História:
Homenagem a Filomelo, filho de Iásion e de Deméter, que introduziu o hábito de atrelar bois
à charrua para arar a terra. Como recompensa, Deméter transformou-o na constelação.
BURIL. Constelação do hemisfério sul. Caelum (Cae). Área: 125 graus quadrados. História: É o
cinzel. Constelação do grupo de La Caille [astrônomo francês Nicolas Louis de La Caille
(1713/1762)].

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BÚSSOLA. Constelação do hemisfério sul. Pyxis (Pyx) Área: 221 graus quadrados. História:
Constelação do Grupo de La Caille.

CABELEIRA DE BERENICE. Constelação do hemisfério norte. Coma Berenice (Com) Área: 386 graus
quadrados. História: Berenice, filha do rei egípcio Ptolomeu Filadelfo, ofereceu sua cabeleira
a Vênus em troca de proteção para seu marido que estava na guerra. Vênus arreba- tou a
cabeleira do templo e levou-a ao céu.
CAMALEÃO. Constelação do hemisfério sul. Chamaleontis (Cha). Área: 132 graus quadrados.
História: Constelação do Grupo de Bayer.
CÂNCER. Ver caranguejo.
CÃO MAIOR. Constelação do hemisfério sul. Canis Majoris (C.Ma). Área: 380 graus quadrados.
História: Um dos cães de caça de Órion. (Ver constelação de Órion)
CÃO MENOR. Constelação do hemisfério norte. Canis Minor (C.Mi). Área: 183 graus quadrados.
História: Um dos cães de caça de Órion. (Ver constelação de Órion).
CAPRICÓRNIO. Constelação zodiacal do hemisfério sul. Capricornus (Cap). Área: 414 graus qua-
drados. História: Júpiter foi criado escondido de Saturno, seu pai, que devorava os filhos pa-
ra não haver ameaças a seu trono. Durante a infância, Júpiter foi amamentado por uma cabra,
Almateia. Essa cabra é homenageada nessa constelação.
CARANGUEJO. Constelação zodiacal do hemisfério norte. Câncer (Cnc). Área: 506 graus quadra-
dos. História: É o caranguejo enviado por Juno para atrapalhar o combate de Hércules contra
a Hidra de Lerna. É nesta constelação que o Sol inicia seu movimento retrógrado, no solstí-
cio de verão.
CARRO MAIOR. Designação vulgar do quadrilátero de estrelas da constelação da Ursa Maior. Esta
região recebeu diversas denominações. Os gregos chamavam-na de Árktors (Urso); pa- ra os
romanos era Carro de bois, para os árabes era Esquife; na França é carro de David; pa- ra os
ingleses é Carro de Carlos; nos Estados Unidos, é Concha (Big Dipper).
CARRO MENOR. Reprodução, em miniatura, do Carro Maior.
CASSIOPÉIA. Constelação do hemisfério Norte, Cassiopéia (Cas). Área: 598 graus quadrados.
História: Rainha da Etiópia, esposa de Cefeu, mãe de Andrômeda. Cassiopéia afirmou ser mais
bonita do que as Nereidas, ninfas filhas de Nereu. Para castigar a afronta, Netuno envi- ou um
monstro marinho para atacar o povo etíope. Um oráculo informou que se Andrômeda fosse
dada em sacrifício ao monstro, o povo estaria salvo. Andrômeda foi amarrada a um ro- chedo
para ser devorada pelo monstro e foi salva por Perseu. (Ver constelações de Andrô- meda,
Perseu, Baleia e Cefeu). Em 11 de novembro 1572 foi observada, por Tycho Brahe, uma
Supernova nesta constelação, que ficou conhecida como Supernova de Tycho, seu bri- lho foi
de tal magnitude que foi possível observá-la por 17 meses e durante o dia.
CAVALINHO. Ver cavalo Menor.
CAVALO MENOR. Constelação do hemisfério norte. Equuleus (Equ). Área: 72 graus quadrados.
História: É o cavalo que Mercúrio deu de presente a Castor.
CEFEU. Constelação do hemisfério norte. Cepheu (Cep). Área: 588 graus quadrados. História:
Rei da Etiópia, marido de Cassiopéia e pai de Andrômeda. (Ver essas constelações).
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CENTAURO. Constelação do hemisfério sul. Centaurus (Cen). Área: 1.060 graus quadrados. His-
tória: Homenageia o centauro Quirão, protetor de Aquiles, na aventura dos Argonautas (Ver
constelação do Navio).
CISNE. Constelação do hemisfério norte. Cygnus (Cyg). Área: 804 graus quadrados. História:
Júpiter transmutou-se em um cisne para se aproximar da recém-casada Leda, esposa de Tín-
daro, rei de Esparta, que se encontrava transformada em gansa para fugir do deus. Sob essa
forma, Júpiter uniu-se à Leda que já estava grávida de Tíndaro, gerando, então, dois ovos: de
um nasceram Helena (que deu origem à guerra de Tróia) e Póllux (filhos de Zeus) e do outro
Castor e Clitemnestra (filhos de Tíndaro).
COCHEIRO. Constelação do hemisfério norte. Auriga. (Aur). Área: 657 graus quadrados. História:
homenagem a Troquilos, filho de Io, inventor do carro.
COMPASSO. Constelação do hemisfério sul. Circinus. (Cir). Área: 93 graus quadrados. História:
Constelação do grupo de La Caille.
COROA DO NORTE. Constelação do hemisfério norte. Corona Borealis. (Cr.B). Área: 179 graus
quadrados. História: É a coroa de Ariadna, ex-esposa de Teseu, presenteada por Baccus, que
com morte da esposa leva a coroa ao céu, como uma constelação.
COROA DO SUL. Constelação do hemisfério sul. Corona Australis. (Cr.A). Área: 128 graus qua-
drados. História: Constelação catalogada por Hiparco (190 a.C. – 120 a.C.). Provavelmente é
a coroa de Hipólita, a rainha das Amazonas que Hércules enfrentou como um de seus doze
trabalhos.
CORVO. Constelação do hemisfério sul. Corvus (Crv). Área: 184 graus quadrados. História:
Constelação catalogada por Hiparco. Segundo conta Ovídio, esta constelação é uma home-
nagem à ave que transportava água – ou vinho, segundo outros – para o deus Apolo (ver
constelação da Taça).
CRUZEIRO DO SUL. Constelação do hemisfério sul. Crux (Cru). Área: 68 graus quadrados. Histó-
ria: Nome dado pelo navegador português Fernão de Magalhães, à cruz que se destaca no céu
até então desconhecida no Hemisfério norte.

DELFIM. Constelação do hemisfério norte. Delphinus. Área: 189 graus quadrados. História: Exis-
tem diversas versões para a origem dessa constelação, uma delas diz que é uma homenagem
feita pelo poeta grego Arion que foi salvo de afogamento por um golfinho.
DRAGÃO. Constelação do hemisfério norte. Draco. (Dra) Área: 1.083 graus quadrados. História:
Ser mitológico, guardião das maçãs de ouro e que foi vencido por Hércules. O Pólo Norte da
Eclítica encontra-se nessa constelação.

ERIDANO. Constelação do hemisfério sul. Eridanus. (Eri). Área: 1.138 graus quadrados. História:
Nome latino do rio Pó, na Itália. Esse rio teria sido formado quando Pégaso, o cavalo alado,
derrubou o jarro de água de Aquário.

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ESCORPIÃO. Constelação zodiacal do hemisfério sul. Scorpius. (Sco). Área: 497 graus quadrados.
História: Foi o animal escolhido por Juno para matar Órion que, no entanto, jamais o alcan-
ça, uma vez que quando o Escorpião nasce a Leste, Órion se põe a Oeste. (Ver a constelação
de Órion).
ESCUDO. Constelação do hemisfério sul. Scutum (Sct). Área: 109 graus quadrados. História:
Constelação criada pelo astrônomo Hevelius, em 1660, para homenagear o herói polonês Jan
Sobiésqui (1624-1696), com o nome de Escudo de Sobiésqui. Mais tarde o herói reinou a
Polônia com o nome de João III.
ESCULTOR. Constelação do hemisfério sul. Sculptor. (Scl). Área: 475 graus quadrados. História:
Constelação do grupo de La Caille, criada em 1772.
ESPADARTE.: Constelação do hemisfério sul. Doradus (Dor).Área: 179 graus quadrados. Histó-
ria: Constelação do grupo de Bayer. Criada em 1603. Essa constelação abriga a Grande Nu-
vem de Magalhães.
ESQUADRO. Constelação do hemisfério sul. Norma. (Nor). Área: 165 graus quadrados. História:
Constelação do grupo de La Caille, criada em 1752 com o nome de “Régua e Esquadro de
Euclides”. Ficou conhecida como Régua ou esquadro.

FÊNIX. Constelação do hemisfério norte. Phoenix. (Phe). Área: 469 graus quadrados. História:
Constelação do grupo de Bayer, criada em 1603, para homenagear a ave mitológica que re-
nascia de suas cinzas.
FLECHA. Constelação do hemisfério norte. Sagitta. (Sge). Área: 80 graus quadrados. História: É a
flecha utilizada por Hércules para matar a águia que devorava o fígado de Prometeu, punido
por ter roubado o fogo dos deuses e tê-lo dado aos homens.
FORNALHA. Constelação do hemisfério sul. Fornax (For). Área: 398 graus quadrados. História:
Constelação do grupo de La Caille criada em 1752, como o nome de “Fornalha Química”.

GÊMEOS. Constelação zodiacal do hemisfério norte. Gemini. (Gem). Área: 514 graus quadrados.
História: Homenagem aos gêmeos Castor e Pollux (Os Dióscuros), símbolo do amor fraterno
e filhos de Leda com Júpiter e com Tíndaro. (Ver constelação do Cisne).
GIRAFA. constelação do hemisfério norte. Camelopardus. (Cam). Área: 757 graus quadrados.
História: Constelação introduzida por Bartschius em 1624 com a finalidade de suprir uma
deficiência das cartas celestes primitiva.
GOLFINHO. Ver constelação do Delfim.
GROU. Constelação do hemisfério sul. Grus. (Gru). Área: 366 graus quadrados. História: Conste-
lação do grupo de Bayer, introduzida em 1603.

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HÉRCULES. Constelação do hemisfério norte. Hércules. (Her). Área: 1.225 graus quadrados. His-
tória: Herói grego. Realizou 12 trabalhos considerados impossíveis, demonstrando a deter-
minação humana diante de dificuldades.
HIDRA FÊMEA. Constelação equatorial predominantemente do hemisfério sul. Hydra (Hya). Área:
1.300 graus quadrados. História: Constelação catalogada por Hiparco. É a hidra de Lerna que
Hércules matou em um de seus 12 trabalhos.
HIDRA MACHO. Constelação do hemisfério sul. Hydrus (Hyi). Área: 243 graus quadrados. Histó-
ria: Constelação do grupo de Bayer, criada em 1603.

ÍNDIO. Constelação do hemisfério sul. Indus. (Ind). Área: 294 graus quadrados. História: Conste-
lação introduzida em 1603, por Bayer, para homenagear o habitante do novo mundo.

LAGARTO. Constelação do hemisfério norte. Lacerta. (Lac). Área: 201 graus quadrados. História:
Constelação introduzida em 1690 por Hevelius em substituição das constelações do “Cetro” e
da “Mão da Justiça”.
LEÃO MENOR. Constelação do hemisfério norte. Leo Minor. (L.Mi). Área: 232 graus quadrados.
História: Constelação criada por Hevelius, no século XVII e recebeu o nome do fato de estar
próxima à constelação do Leão.
LEÃO. Constelação zodiacal equatorial. Leo: (Leo). Área: 947 graus quadrados. História: A ver-
são grega para a origem dessa constelação, relaciona-a com o leão de Neméia, morto por
Hércules em um de seus 12 trabalhos. Na versão egípcia, temos a constelação marcando a
época, com seu nascer helíaco, da chegada dos leões vindos da selva para a cidade em busca
de alimentos.
LEBRE. Constelação do hemisfério sul. Lepus. (Lep).Área: 290 graus quadrados. História: Cons-
telação introduzida por Hiparco, como homenagem a Orion, posto que caçava lebres.
LINCE. Constelação do Hemisfério norte. Lynx (Lyn). Área: 545 graus quadrados. História: cons-
telação introduzida por Hevelius no século XVII.
LIBRA. Ver Balança.
LIRA. Constelação do hemisfério norte. Lyra. (Lyr). Área: 286 graus quadrados. História: Cons-
telação catalogada por Hiparco. Foi o instrumento inventado por Mercúrio ao colocar cordas
em um casco de tartaruga.
LOBO. Constelação do hemisfério sul. Lupus. (Lup). Área: 334 graus quadrados. História: É o rei
arcadio Licaon transformado em lobo por sua grande maldade. Essa constelação foi catalo-
gada pelo astrônomo grego Hiparco (190 a.C.-120 a.C.).

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MÁQUINA PNEUMÁTICA. Constelação do hemisfério sul. Antlia. (Ant). Área: 239 graus quadra-
dos. História: Constelação do grupo de La Caille. Foi uma homenagem ao físico alemão Otto
von Guericke (1602-1686), inventor da máquina pneumática.
MESA. Constelação do hemisfério sul. Mensa (Men). Área: 153 graus quadrados. História: Cons-
telação do grupo de La Caille, criada em 1752. O nome original era “Monte da Mesa”, ho-
menagem ao Monte, no Cabo a Boa Esperança onde ficava o Observatório de La Caille.
MICROSCÓPIO. Constelação do hemisfério sul. Microscopium. (Mic). Área: 210 graus quadrados.
História: Constelação do grupo de La Caille, introduzida em 1752.
MOSCA. Constelação do hemisfério sul. Musca. (Mus). Área: 138 graus quadrados. História:
Constelação do grupo de Bayer que a chamou inicialmente (1603) de Abelha, nome mudado
pelo astrônomo alemão Jacob Bartschius (1600-1633).

NAVIO. Antiga constelação que foi desmembrada em três pela União Astronômica Internacional:
Vela, Popa e Querena. A sequência das letras gregas (que explicitam a magnitude) segue como
se fosse apenas uma constelação. História: É o navio Argos, dos Argonautas. Estes ti- nham
por missão conseguir o tosão de ouro (Ver Áries).

OFIUCUS. Constelação zodiacal equatorial. (é a 13ª constelação zodiacal, inteiramente ignorada


pelos adeptos da pseudociência da astrologia.) Ophiuchus. (Oph). Área: 942 graus quadra-
dos. O Sol encontra-se nessa região do céu entre os dias 28 de novembro a 17 de dezembro.
História: Trata-se de uma homenagem a Esculápio, um deus da medicina. Essa constelação foi
introduzida pelos gregos e assumida pelos romanos por volta de 2.000 a.C. Ofiúco signi- fica
“aquele que segura a serpente”.
OITANTE. Constelação do hemisfério sul. Octante. (Oct). Área: 291 graus quadrados. História:
Constelação do grupo de La Caille. Nessa constelação encontra-se a estrela mais próxima do
Pólo Sul Celeste, a Sigma do Oitante ( Octantis).
ÓRION. Constelação equatorial. Órion. (Ori). Área: 594 graus quadrados. História: É o caçador
gigante, filho de Netuno e de Euríale, que se apaixonou por Diana, a caçadora. Esse fato de-
sagradou Apolo, irmão de Diana, que desafiou a irmã a acertar uma flecha em um ponto ne-
gro no mar, o que foi imediatamente feito pela deusa da caça. Quando Diana percebeu que o
pequeno ponto era Órion nadando, pediu ajuda a Júpiter que o levou aos céus. Órion aparece,
no céu, dando combate ao Touro que sempre recua enquanto Órion avança.

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PAVÃO. Constelação do hemisfério sul. Pavo. (Pav). Área: 378 graus quadrados. História: Cons-
telação do grupo de Bayer, criada em 1603.
PÉGASO. Constelação do hemisfério norte. Pegasus. (Peg). Área: 1.121 graus quadrados. Histó-
ria: cavalo alado nascido do sangue da górgona Medusa, quando decapitada por Perseu. O
herói voava no cavalo quando avistou Andrômeda acorrentada a um rochedo para ser sacrifi-
cada. (ver constelação de Andrômeda, Cassiopéia, Cefeu, Baleia e Perseu).
PEIXE AUSTRAL. Constelação do hemisfério sul. Piscis Austrinis. (Ps.A). Área: 245 graus qua-
drados. História: É o peixe que salvou a rainha egípcia Isis de afogar-se. Constelação catalo-
gada por Hiparco.
PEIXE VOADOR. Constelação do hemisfério sul. Volans. (Vol). Área: 141 graus quadrados. Histó-
ria: Constelação do grupo de Bayer, introduzida em 1603.
PEIXES. Constelação zodiacal equatorial. Pisces. (Psc). Área: 899 graus quadrados. História: Vê-
nus e Cupido estavam às margens do Eufrates quando se aproximou o gigante Tífron que os
assustou. Júpiter foi evocado e transformou os dois em peixes, que pulando na água, salva-
ram-se do gigante. Mais tarde Minerva criou a constelação para comemorar o episódio.
PERSEU. Constelação do hemisfério norte. Perseus. (Per). Área: 615 graus quadrados. História:
Herói grego que salvou Andrômeda que se encontrava acorrentada a um rochedo para ser
devorada por um monstro marinho enviado por Netuno como castigo para sua mãe Cassio-
péia. Perseu voava no cavalo alado – Pégaso – carregando em um saco a cabeça da Medusa
que acabara de derrotar. O herói mostra para o monstro a cabeça da Medusa e é imediata-
mente transformado em pedra. Perseu liberta Andrômeda e casa-se com ela. (Ver constela-
ções da Baleia, Andrômeda, Cassiopéia e Cefeu).
POMBA. Constelação do hemisfério sul. Columba. (Col). Área: 270 graus quadrados. História:
Existe uma controvérsia sobre a autoria dessa constelação, existem autores que atribuem, sua
criação, a Bayer e outros a Bartschius. A homenagem é ou à Pomba de Noé ou pode referir-
se à ave que os Argonautas mandaram à frente, para ajudá-los a passar o pequeno estreito na
boca do Mar Negro.
POPA. Constelação do hemisfério sul. Puppis (Pup). Área: 673 graus quadrados. História: É parte
da antiga constelação do navio. (Ver Navio).

QUERENA. Constelação do hemisfério sul. Carina. (Car). Área: 494 graus quadrados. História: É
parte da antiga constelação do Navio. (Ver Navio).

RAPOSA. Constelação do hemisfério norte. Vulpecula. (Vul). Área: 268 graus quadrados. Histó-
ria: Constelação criada por Hevelius em 1660, quando mudou o antigo nome dado por Barts-
chius, em 1624, que era “Rio Tigre”.
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RELÓGIO. Constelação do hemisfério sul. Horologium, (Hor). Área: 249 graus quadrados. Histó-
ria: Constelação do grupo de La Caille. Criada em 1752 com o nome de “Relógio de Pêndulo
e Segundos” como homenagem ao centenário da invenção do pêndulo, por Huygens em 1657.
RETICULO. Constelação do hemisfério sul. Reticulum. (Ret). Área: 114 graus quadrados. Histó- ria:
Constelação do grupo de La Caille, criada em 1752 com o nome de “Retículo Rômbico” para
ressaltar a importância capital do retículo, para a Astronomia.

SAGITÁRIO. Constelação zodiacal do hemisfério sul. Sagittarius. (Sgt). Área: 867 graus quadra-
dos. História: É uma homenagem a Quíron, centauro filho de Saturno. Ao contrário do que era
costume, Quíron era um bom centauro, mestre em medicina e em Astronomia, morreu por uma
flecha embebida no sangue da Hidra de Lerna.
SERPENTE. Constelação equatorial. Serpens: (Ser). Área: 637 graus quadrados. História: Conste-
lação desmembrada de Ofiucus. É a única constelação dividida em duas partes (cauda e ca-
beça). É a serpente que deu a Esculápio, uma planta medicinal que curava e ressuscitava.
SEXTANTE. Constelação equatorial. Sextans. (Sex). Área: 314 graus quadrados. História: Conste-
lação introduzida por Hevelius, no século XVII com o nome de “Sextante de Urânia”.

TAÇA. Constelação do hemisfério sul. Crater. (Crt). Área: 282 graus quadrados. História: É a taça
de ouro que o corvo levava água para Apolo. (Ver constelação do Corvo).
TELESCÓPIO. Constelação do hemisfério sul. Telescopium. (Tel). Área: 252 graus quadrados.
História: Constelação do grupo de La Caille, introduzida em 1752.
TOURO. Constelação zodiacal do hemisfério norte. Taurus. (Tau). Área: 797 graus quadrados.
História: Júpiter apaixonado por Europa, transmuta-se em um touro branco. Europa ao avis-
tar o belo animal, monta em seu dorso e é levada pelo deus.
TRIÂNGULO AUSTRAL. Constelação do hemisfério sul. Triangulum Australe. (Tr.A). Área: 110
graus quadrados. História: Constelação do grupo de Bayer, introduzida em 1603.
TRIÂNGULO. Constelação do hemisfério norte. Triangulum. (Tri). Área: 132 graus quadrados.
História: Simboliza o delta do rio Nilo e homenageia a ciência alexandrina. Constelação
classificada por Hiparco.
TUCANO. Constelação do hemisfério sul. Tucana. (Tuc). Área: 295 graus quadrados. História:
Constelação do grupo de Bayer, introduzida em 1603.

UNICÓRNIO. Constelação equatorial. Monoceros. (Mon). Área: 482 graus quadrados. História:
Constelação criada, em 1624,por Bartschius.

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URSA MAIOR. Constelação do hemisfério norte. Ursa Major. (U.Ma). Área: 1.280 graus quadra-
dos. História: Júpiter apaixonou-se pela princesa Calisto e sua esposa Juno transformou-a em
uma ursa. Calisto tinha um filho, Arcas, que era caçador e um dia, flechou uma ursa na flo-
resta que era sua mãe transmutada. Para impedir a morte da amada, Júpiter transformou-a em
constelação.(Ver constelação Carro Maior).
URSA MENOR. Constelação do hemisfério norte. Ursa Minor. (U.Mi). Área: 256 graus quadra- dos.
História: É Arcas, filho da princesa Calisto, transformado em urso para fazer companhia à
mãe. (Ver constelação da Ursa Maior).

VELA. Constelação do hemisfério sul. Vela. (Vel). Área: 500 graus quadrados. História: É parte
integrante da antiga constelação do Navio. (Ver constelação do Navio, Popa e Querena).
VIRGEM. Constelação zodiacal equatorial. Virgo. (Vir). Área: 1.290 graus quadrados. História: Na
Mesopotâmia, a Virgem era a deusa Istar, filha do céu e rainha das estrelas, para os gre- gos,
era Deméter, deusa do trigo. A jovem representada na constelação tem, em suas mãos, uma
espiga de milho.

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O tempo e o
calendário

O
tempo sempre se mostrou como um mistério para os homens. O conceito de passa-
gem do tempo é inspirado pelo movimento da rotação terrestre. Até mesmo antes dos
homens saberem que a Terra girava e que era esférica, já era usada, para medir o
tempo, essa rotação e suas consequências.
É o movimento de rotação terrestre, de oeste para leste, que cria a ilusão de que o céu está
girando de leste para oeste. Assim, temos o orto (nascer) e o ocaso (pôr) dos astros. Como sabe-
mos que esse movimento do céu é função da rotação terrestre, podemos calcular o período com-
pleto de uma rotação somente medindo o intervalo de tempo que existe entre duas passagens
consecutivas de um astro pelo mesmo meridiano. Este intervalo de tempo que medimos é exata-
mente o tempo que a Terra leva para dar uma volta completa em torno de seu eixo, ou seja, uma
rotação completa – um dia. A grande diferença entre os “dias” que existem, está na escolha do
astro que utilizamos como “ponteiro” de nosso “relógio”.
Os tipos de dias
O ângulo formado entre a direção leste-oeste e a reta que contêm o olho do observador e o
centro do astro que “nasce”, é chamado de “amplitude ortiva. No caso do astro que se põe, temos
a “amplitude ocídua”.
Para uma dada latitude (locais que estão sobre um mesmo paralelo) não temos modificações
importantes nessas duas medidas, se tomarmos por referência, as estrelas. O mesmo não ocorre
com o Sol. No dia do Equinócio de outono (21 de março), o Sol nasce exatamente no leste e se põe
no oeste. A cada dia que passa, o ponto onde o Sol nasce caminha em direção a sua máxima
amplitude ortiva (que é 23,50) na direção norte, ponto que é alcançado no dia 21 de junho (solstí-
cio de inverno). A partir desta data, o ponto do nascer do Sol muda de direção e caminha na dire-
ção sul, passando novamente pelo leste no Equinócio de primavera (22 de setembro), até chegar
mais uma vez em sua máxima amplitude ortiva no dia 22 de dezembro (solstício de verão).

Figura 9. Caminho aparente do Sol nas diversas estações

Toda esta “excursão”, do ponto de vista do nascer do Sol em torno ponto cardeal leste, é fru-
to da inclinação do eixo do Mundo em relação à órbita terrestre (que é de 23º,5 igual à amplitude

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ortiva e ocídua máximas), somada ao movimento de translação da Terra em torno do Sol. O ca-
minho que os astros “percorrem” no céu, é fruto desta composição de movimentos.

Figura 10. No dia 21 de abril, o Sol nasce exatamente entre os anexos do Congresso

O Dia Solar Verdadeiro e o Dia Solar Médio


Para medirmos este intervalo de tempo, temos que “eleger” um Meridiano como sendo o de
referência. Pode ser qualquer um, mas devemos fazer uma escolha que nos seja prática, por isso
escolhemos o Meridiano do Lugar. Este círculo máximo é aquele que contém o zênite do obser-
vador e vai ser o que determinará o instante do meio dia para cada lugar.
Assim podemos definir que o intervalo de tempo entre duas culminações consecutivas do
centro do Sol (culminação é a passagem de um astro pelo Meridiano do lugar) é uma unidade de
tempo a que chamamos de Dia Solar Verdadeiro. Como o Sol tem um movimento próprio (aque-
le causado pelo movimento de translação da Terra), os Dias Solares Verdadeiros não medem
exatamente a duração de uma rotação terrestre, fazendo com que sua duração não seja constante
ao longo do ano.
Como utilizar-se de um dia variável, seria um transtorno, criou-se o Dia Solar Médio, basea-
do nas culminações sucessivas de um astro idealizado, o Sol Médio, que tem sua velocidade uni-
forme, criando um dia solar constante, que é o utilizado na vida prática e dura 24 horas 3 minu-
tos e 56,555 segundos.

Os fusos horários
Como consequência da esfericidade e da rotação terrestres, a culminação do Sol, assim como
de qualquer astro, vai se sucedendo de leste para oeste, com uma diferença, em tempo, corres-
pondente à diferença de longitude entre dois lugares quaisquer. Para cada grau de longitude, existe
um atraso de 4 minutos na culminação. Todos os lugares de mesma longitude (que ficam ao longo
de um mesmo meridiano) têm o mesmo tempo local. Se nos referirmos ao Sol verdadei-

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ro, teremos o tempo local verdadeiro, se nos referirmos ao Sol médio, teremos o tempo local médio.
Para facilitar a movimentação de pessoas, na Terra, introduziu-se o conceito de Fusos Horários,
que são faixas de tempo uniforme onde podemos nos deslocar sem que tenhamos que acertar os
relógios a cada passo. Cada fuso tem 15º de largura. Cada grau equivale a uma dife- rença de 4
minutos, portanto cada fuso envolve uma diferença de 60 minutos – uma hora.

Figura 11. Mapa dos fusos horários. Alguns meridianos sofrem distorções pa-
ra que uma dada região não fique com dois horários diferentes

O Meridiano de Greenwich é também o Meridiano zero para contagem da hora. O Meridiano


oposto ao de Greenwich (180º) é chamado de Linha Internacional de Mudança de Data. A rigor ele
é ainda o Meridiano de Greenwich (os meridianos são círculos máximos, portanto tem 360º), mas
para contagem dos fusos horários, consideramos os meridianos divididos em duas partes, para que
toda a superfície da Terra fique “coberta” pela rede de fusos. A Linha Internacional de Mudança
de Data não é uniforme para que não atravesse nenhum território (somente o oceano), evitando
assim, problemas no sentido de um país ter duas datas diferentes. O esquema que apa- rece na
Figura 11 deixa clara a diversidade das horas ao longo do planeta.

Figura 12. A simultaneidade das horas diferentes

No instante retratado no esquema da Figura 12, podemos observar que para o observador
amarelo é meio dia (o Sol está em seu zênite) para o observador vermelho são 13 horas (o Sol já
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passou por ele), para o observador azul ainda são 11 horas (o Sol ainda vai passar por ele) e as-
sim adiante. Verificamos que para um observador situado na faixa laranja abaixo no esquema é
meia noite enquanto é meio dia para o observador amarelo. Fica claro então que a hora é apenas
uma disposição geométrica da Terra e do Sol, associado à própria esfericidade terrestre. Isso não
traz ou cria nenhuma forma de influência para a vida das pessoas salvo em suas agendas.

Irregularidades na rotação terrestre


O movimento de rotação da Terra não é uniforme, ele sofre influências de três tipos de fato-
res, que são:

Variação secular
É uma variação provocada pelo atrito das águas de mares, pouco profundos, com seus leitos.
Esse processo de frenagem causa uma variação de 0,00164 segundos por século.

Variação irregular
É uma variação imprevisível, na duração da rotação terrestre provocada pelo deslocamento de
massas no interior da Terra. Até nossos dias os maiores desvios na duração do dia médio, fo- ram
-0,005 segundos em 1871 e +0,002 segundos, em 1907.
Estas flutuações podem acumular-se até representar um acúmulo importante na contagem do
tempo.

Variação Sazonal
Essa variação está associada aos movimentos atmosféricos sazonais e com o degelo das calo-
tas polares. O valor desta variação fica compreendido entre -0,0008 segundos em julho até
+0,0004 segundos em abril, sempre com relação à duração média do dia em um ano.
Com os cálculos realizados de acordo com a variação secular, verificamos que a Terra era mais
rápida em épocas mais remotas. Há cerca de 2 bilhões de anos a duração de uma rotação terrestre
era 9 horas, 6 minutos e 40 segundos menor do é hoje: O dia terrestre durava cerca de 14 horas 57
minutos e 16,55 segundos.
Uma pergunta que fica no ar: qual foi a interferência deste fato no surgimento da vida, no
planeta, que iniciou sua aventura mais ou menos nessa época?
Nos tempos primitivos, os homens foram capazes de perceber que podiam tirar algum pro-
veito do movimento aparente do céu, ao redor da Terra. A utilização deste sistema possibilitou o
surgimento do conceito de ano e, mais tarde, do de Calendário.
Da observação da natureza, foi possível inferir que após 365 dias, as posições do Sol em re-
lação às constelações se repetiam. No Egito antigo e na Mesopotâmia, já floresciam povos que
eram capazes de mapear o céu. Nesta ocasião, surgiu o conceito de constelação e foram dados os
nomes dos conjuntos aparentes que povoam o Zodíaco.
Hoje em dia sabemos que as estrelas de uma constelação não estão fisicamente próximas. Uma
constelação é uma reunião aparente de estrelas que se encontram próximas apenas visual- mente.
Observe as Figuras 13 e 14. O observador verá os dois planetas muito próximos, no céu e, no
entanto há uma grande separação física entre eles.

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Figura 13 e 14: Separação angular e física entre Júpiter e Vênus

Quando vemos um astro em determinada constelação, o que ocorre é a superposição da ima-


gem do astro, que se desloca, à frente da imagem das estrelas distantes. Como observamos um
avião que passa à frente da Lua. Por um período de 365 dias – um ano – vemos o Sol passar
aproximadamente um mês em cada uma das 12 constelações do Zodíaco 2. A passagem do Sol por
determinada constelação ocorre sempre na mesma época do ano (isto não é verdade ao longo dos
milênios, posto que a constelação por onde o Sol se desloca muda com o passar do tempo). Por
exemplo, em 1988, o Sol entrou na constelação de Peixes no dia 20 de março às 6 horas e 39
minutos, início do outono no hemisfério Sul. Há 3.000 anos, o Sol entrava na constelação do
Carneiro nesta data.
Baseado nesta verificação, vemos ser possível “prever” o início das estações, observando a posi-
ção aparente do Sol, em relação ao fundo estrelado. O início da Primavera pode ser “previsto” pela
entrada do Sol na constelação da Virgem (era na constelação da Balança, há 3.000 anos). E assim
sucessivamente. Por esse processo, podemos “prever” a época das secas; das colheitas; das semeadu-
ras; das cheias, ou de qualquer outro fenômeno que envolva os ciclos da natureza. E só!

A semana
A “criação” do dia e sua subsequente subdivisão em horas, minutos e segundos, foi baseada
no Sol. A semana nos foi “sugerida” pela Lua. Como um ciclo completo de fases lunares – 28 dias
– é múltiplo de 7, foi quase natural que a semana3 possuísse esse número de dias.
Os dias da semana eram dedicados aos sete planetas conhecidos na época: Sol, Lua, Marte,
Mercúrio, Júpiter, Vênus e Saturno.
A palavra planeta quer dizer “errante”, portanto, para os antigos, o Sol e a Lua eram também
planetas.
Havia sete planetas e sete dias na semana. Cada dia foi dedicado a um deles, que simultane-
amente eram deuses em suas mitologias. (veja a Tabela 1).

2
Que na verdade são treze!
3
Semana vem de “septimana”, que significa “sete manhãs”.
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Tabela 1: Os nomes dos dias da semana em diversos idiomas

Planeta Latim Francês Italiano Espanhol Inglês Alemão


Sol Solis dies Dimanche Domenica Domingo Sunday Sonntag
Lua Lunae dies Lundi Lunedi Lunes Monday Montag
Marte Martis dies Mardi Martedi Martes Tuesday Dienstag
Mercúrio Mercurii dies Mercredi Mercoledi Miercolis Wednes- Mittwoch
Júpiter Jovis dies Jeudi Giovedi Joeves Thursday Donnerstag
Vênus Veneris dies Vendredi Venerdi Viernes Friday Freitag
Saturno Saturni dies Samedi Sabato Sabado Saturday Sonnabend

No início da era Cristã, a Páscoa era comemorada durante uma semana. Qualquer serviço que
não fosse essencial era parado. O Imperador Constantino criou uma lei que tornava feriado4 os sete
dias. Ora, sendo todos os dias chamados de feriae, criou-se a necessidade de outra desig- nação
para que os dias pudessem ser referenciados. O primeiro feriado era dedicado a Deus – Domini –
o segundo era o secunda feriae e assim por diante. O nome Sábado deriva de shabbath, termo
hebraico que significa repouso.

Os meses
O mês é, também, uma “dádiva” da Lua e seus nomes, os herdamos dos romanos. Sucinta-
mente aqui temos seus significados.
Janeiro: homenagem ao deus Janus que era representado com duas faces, uma para o futuro e outra
para o passado. Foi introduzido no calendário pelo rei Numa Pompílio, durante sua re- forma
do calendário que possuía, a época, 10 meses.
Fevereiro: vem de Februa, epíteto da deusa Juno. Este mês também foi introduzido por Numa
Pompílio. Fevereiro perdeu um dia para o mês de Agosto, mês de Augusto (63 a.C.-14) que
possuía 30 dias e não “podia” ficar menor do que o mês de Julho, mês dedicado a Júlio César
(100 a.C.-44 a.C.).
Março: mês dedicado a Marte.
Abril: mês dedicado à Vênus. A palavra romana aprillis vem do grego, apros que lembra a es-
puma do mar, da qual nasceu Vênus (Afrodite). Durante muito tempo o ano iniciava-se em abril,
quando o Papa Gregório XIII (1502-1585) reformou o calendário em 1582, o início do ano
passou a ser lº de Janeiro. As festas de início de ano, conhecida como a “festa dos loucos”
perduraram até nossos dias com um novo “formato” é o dia da mentira – 1º de abril.
Maio: a origem deste nome é polêmica, algumas vezes é atribuído a Maia, deusa boa, filha de
Atlas.
Junho: era o mês das festas “junioribus”, dedicadas aos jovens. A divindade protetora dos jogos
comemorativos era Juno.

4
Feriae em latim.

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Julho: era denominado Quintilis (por ser o 5º mês). Em nosso calendário é uma homenagem a
Júlio César.
Agosto: era o mês sextilis antes da reforma. O nome contemporâneo é uma corruptela de Augusto.
Setembro: chamado de september por ser o 7º mês antes da reforma. Com a sucessão de Augusto
os imperadores não eram muito queridos pelo povo e nomes como Tibério (42 a.C.-37), Ger-
mânico (15 a.C.-19), Antonino (86-161), foram rejeitados em favor de setembro, nome mais
neutro.
Outubro: oitavo mês do antigo calendário. Era dedicado às festas do vinho e da água. Na Grécia
era o mês de Dioniso.
Novembro: era o nono mês do antigo calendário. No dia 27 eram realizadas as cerimônias em
memória dos mortos.
Dezembro: era o 10º mês do antigo calendário. O dia 17 era dedicado às Saturnais, festa em hon-
ra' a Saturno, festa na qual se encontra a origem do Carnaval. O mês de dezembro era consa-
grado ao Sol. O dia 25 era considerado o dia do nascimento do Astro Rei. Os Persas comemo-
ravam o nascimento na noite de 24 do deus da luz, um menino que nasceu de uma enorme ro-
cha e fora adorado pelos pastores e viajantes. Os egípcios comemoravam o nascimento de Osíris
neste dia. Em Roma, era o dia sagrado ao imperador. O enorme contingente de pessoas que
tinha fé no dia 25 de dezembro levou a Igreja Cristã a não combater, mas sim aproveitar o dia
25 como sendo o do nascimento de Deus feito homem, nascido não de uma pedra, mas de uma
virgem. Muito mais tarde, o Papa Silvestre (314-335) oficializou5 o Natal neste dia.

A reforma gregoriana

O calendário juliano
Esse calendário não foi elaborado por Júlio César, apenas recebeu seu apoio. Suas principais
características foram: coincidir o início do ano com 1º de Janeiro e o ano passou a ter 365 dias e
1/4. Essa foi uma grande reforma, pois retirou o ano lunar de 12 meses para o ano solar de 365
dias e 6 horas. Surge ai o ano bissexto que veio para evitar o constrangimento de fazer com que
cada ano iniciasse em uma hora diferente. Por exemplo. Quando o calendário entrasse em vigor à
meia noite, faria com que o ano seguinte começasse às 6 horas da manhã, o seguinte, ao meio dia
e depois às 18 horas e somente no quarto ano, novamente iniciaria o ano à meia noite. Com o ano
bissexto, esse dia a mais é “gasto” de uma só vez, em fevereiro a cada quatro anos.
Esse calendário possuía um pequeno erro que era de conhecimento dos estudiosos da época,
assim como do astrônomo grego Sosígenes (?-?), seu autor.
Como o ano solar dura, na realidade, 365 dias 5 horas, 48 minutos e 46,7 segundos, o ano Ju-
liano possuía uma inexatidão de 11 minutos e 13,3 segundos. Com o passar dos anos, essa dife-
rença foi sendo, lentamente, somada. Muitos estudiosos foram detectando esta diferença entre o
calendário oficial e o posicionamento do Sol. O problema era que seria necessário um governan-
te com muita força e prestígio internacional para impor a correção no calendário. E a diferença foi
aumentando.

5
Por meio de uma Bula Papal, uma espécie de decreto.

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Manual de
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A reforma de 1582
Por volta de1414 já era bastante notório que a posição do Sol, no céu, não coincidia com as
atividades agrícolas e pesqueiras, segundo o calendário oficial. A diferença do ano Juliano para o
ano solar era de um dia a cada 128 anos.
Somente uma pessoa tinha a autoridade e as atribuições necessárias para impor a reforma que
era exigida – o Papa.
Durante a Idade Média, reinava o caos total entre os povos, no que diz respeito ao método de
datação. Havia centenas de formas de datar-se um evento. Até mesmo o início do ano era incerto
e vários povos, e até cidades, tinham suas preferências: em Veneza, determinava-se o início do ano
como sendo lº de março; em Florença e Toscana, era o dia 25 de março. Roma tinha duas datas,
25 de janeiro e 25 de março. Na Alemanha, Espanha e em Portugal, o ano começava no dia de
Natal. Na Rússia, o ano iniciava no equinócio de Primavera (21 de março). Na França, o primeiro
dia do ano era o dia da Páscoa.
Quando Ugo Buoncompagno tornou-se Papa com o nome de Gregório XIII, o fez com o fir-
me propósito de executar uma reforma no Calendário. Ugo foi eleito Papa em 1572 e, por cinco
anos, ficou administrando guerras e tentativas de paz, em uma Europa conturbada pelos conflitos
entre cristãos e turcos. Quando as condições melhoraram, já em 1577, Gregório XIII iniciou o
processo de consulta a governantes e sábios para que fossem levantados dados e sugestões para
que a reforma se consumasse. Mais cinco anos foram gastos neste processo e, finalmente, a re-
forma saiu.
Dois objetivos principais nortearam o trabalho. Um era o de retirar os 10 dias que estavam
“sobrando” na folhinha em relação ao caminho do Sol, o outro era o de criar um calendário que
não tornasse a repetir essa mesma falha.
O calendário resultante foi extremamente preciso. O ano Gregoriano dura 365,2425 dias, o
que tem um excesso em relação ao ano solar verdadeiro tão insignificante que somente aparece
um dia “sobrando” a cada 3.333,33 anos: O que acontecerá no ano 4.915.
Todos os calendários feitos têm um momento mais complexo do que o de criá-lo é o de pô-lo
em prática. A 24 de fevereiro de 1582 o calendário tornou-se oficial por meio de uma bula ponti-
fícia. Naqueles tempos, de comunicação difícil, estabeleceu-se um prazo de oito meses para que
todo o mundo cristão tomasse conhecimento do novo calendário, que incluía a retirada de 10 dias
da folhinha. O dia marcado para iniciar o período gregoriano foi quatro de outubro assim, ao dia 4
de outubro seguiu-se o dia 15 de outubro de 1582: Na maior parte do Mundo cristão e na tota-
lidade dos Estados católicos, assim ocorreu.
Algumas providências burocráticas e administrativas foram necessárias, pois durante os dias
que “desapareceram”, venciam dívidas, penas de criminosos, havia marcações de execuções,
aniversários e outros dados da vida prática.
As resistências foram enormes. O povo achava que suas vidas, juntamente com o calendário,
ficariam diminuídas de 10 dias. Na Inglaterra houve uma verdadeira e bem moderna passeata na
qual o povo gritava palavras de ordem contra o Papa e a reforma: “Queremos nossos 10 dias”!
A religião inglesa, recentemente rompida com o Vaticano serviu de motivo para os chefes
religiosos pressionarem a Coroa para não adotar o novo calendário e a rainha Elizabete não pode
aplicar a reforma gregoriana. O parlamento inglês somente aceitou o novo calendário em 1752 e,
na Inglaterra, o dia 3 de setembro foi seguido do dia 14. Vejam que enorme confusão histórica. Na
Inglaterra o dia 10 de setembro de 1752 não existiu enquanto nos outros países esse dia trans-
correu normalmente.

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A Dinamarca aceitou a reforma em 1699, a Suécia aceitou-a em 1753, o Japão, somente em
1873, quando a influência do Ocidente se firmou de forma mais intensa, a China aceitou-a em
1911 e a Rússia somente em 1923.
Podemos, facilmente, imaginar o que significava para os povos entrar em contato, fazer
acordos e tratados com datas diferentes. O próprio estudo da História deveria fazer com que os
dados fossem convertidos ao calendário do historiador. Um bom exemplo disto é a data de nas-
cimento de Isaac Newton que nos Estados com o calendário gregoriano foi no dia 25 de dezem-
bro de 1642 e na Inglaterra era 4 de janeiro de 1643.
Ainda existem movimentos para uma nova reforma de calendário, baseando-se em argumen-
tos de que o número variável de semanas em um mês (e a consequente variação no número de dias
dos trimestres) justifica uma nova reforma. Na ONU existe um projeto do Calendário Uni- versal
que faria com que cada trimestre iniciasse com um mês de 31 dias e os outros dois meses fossem
de 30 dias. O ano teria, então, 364 dias, o dia 31 de dezembro (no calendário atual) seria chamado
de Dia Universal e não seria contado como dia da semana. O dia 30 de dezembro seria sempre um
sábado, seguido do Dia Universal e então começaria o novo ano no dia 10 de Janeiro, que seria
sempre um domingo. Nos anos bissextos, seria acrescentado um dia extra, após o dia 30 de julho
que também não pertenceria à semana, sendo chamado de Dia Bissexto e seria feria- do mundial.
Houve uma tentativa de pôr esse calendário em vigor no dia 10 de janeiro de 1945, mas o
Mundo estava em guerra e não havia condições para tal. Quando surgiu a ONU o projeto foi no-
vamente apresentado e lá se encontra até hoje para ser posto em prática. Talvez a espera de um
“Papa forte” como Gregório XIII.

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Manual de
monitoria
Final de
evolução estelar

J á nos tempos de Aristarco (310 a.C.-230 a.C.) que colocou em ordem as ideias de Pitá-
goras (c.571 a.C.-570 a.C.), os gregos conheciam a teoria Heliocêntrica. Por cinco sécu-
los essas verdades permaneceram na memória do conhecimento humano, sofrendo um
retorno com Ptolomeu (90-168), no Egito, em plena decadência dos padrões intelectuais gregos,
ao elaborar um Universo Geocêntrico. A Terra é, agora, o centro geométrico do Universo. No-
vamente o Homem, por meio de seu planeta, ocupa o centro da Criação. É o ufanismo antropo-
cêntrico!
Nicolau Copérnico nos devolve o bom senso, sob a forma de um Sistema Heliocêntrico e, com
isso, permite a compreensão do que acontece “acima de nossas cabeças”, ou melhor, permi- te que
o Homem recupere a “memória” tão prudentemente esquecida.
A Cosmologia passa de uma concepção estética para uma inteiramente cinemática e, por meio
de Galileu, Newton concebe as razões dinâmicas do Universo.
A análise passa a ser feita por meio das variações. Einstein coloca em dúvida o contínuo ao
perguntar: “se juntarmos um relógio ao lado do outro ad infinitum, o último marcará a mesma hora
que o primeiro?” As questões agora se tornam locais, o contínuo é posto em dúvida e po- demos
apenas afirmar o que vemos. Estamos novamente estáticos. Mas que passo foi dado!
Agora não tentamos descobrir as trajetórias dos astros, mas sim os limites do Universo. No-
te-se que a dúvida é bastante similar a de 150 a.C., quando o Universo terminava acima de nos-
sas cabeças e tentávamos entender os movimentos de corpos que transitavam por ele.
No início do Universo, as estrelas somente surgiam de grandes nuvens de hidrogênio e hélio
– que são os elementos mais simples que existem. Nada mais havia além desses dois elementos e
foi com essa simples, mas fundamental matéria-prima que o Mundo foi sendo construído, lenta-
mente, possibilitando o surgir de cada uma das estrelas, planetas, satélites, enfim, de todos os
habitantes do Universo, culminando com uma das mais complexas e intrigantes manifestações
físico-químicas: a vida.
A condensação desses elementos – conhecida por colapso gravitacional – nas gigantescas
nuvens (chamadas nebulosas gasosas) foi metamorfoseando cada galáxia. As partes constituintes
das nebulosas foram aproximando-se, pouco a pouco, reunindo em pontos diferentes uma grande
quantidade de matéria. Quando esses pontos atingiram uma concentração insuportável, do ponto
de vista da temperatura e da pressão, acenderam-se para o Mundo, nascendo de cada um deles uma
estrela, pontilhando o céu ainda não observado, construindo um palco onde os atores ainda não
estavam contratados.
As estrelas, da mesma forma que os seres vivos, têm sua existência limitada em dois pontos:
nascimento e morte. Elas podem morrer de três formas diferentes. Duas dessas formas envolvem
o que é conhecido pela Astrofísica como supernova, fase da evolução estelar que é muito violen-
ta. A estrela explode e envia ao espaço, a seu redor, cerca de 90% da matéria que a constituía.
Durante sua existência uma estrela fabrica em seu núcleo os elementos que conhecemos. A
partir do hidrogênio e do hélio, uma estrela é capaz de construir o carbono, o oxigênio e todos os
outros elementos. Quando seu ciclo vital termina e ela explode, esses elementos são expulsos,
constituindo uma nebulosa conhecida como remanescente de supernova 6.

6
Supernova é uma estrela que devido a alterações internas de desequilibro termodinâmico e gravitacional, explode

43
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monitoria
Anãs Brancas, Estrelas de Nêutrons e Buracos Negros constituem limites, por isso clamam
pela curiosidade do espírito humano. A tentativa de descrever fenômenos que, muitas vezes, fo-
gem nossa compreensão é motivo para nos incentivar. Essas dúvidas surgem em nosso caminho e
a não desistência de tentar compreendê-las nos leva a conclusões surpreendentes.
Tentaremos explicar o que pode acontecer com as estrelas que nascem com massas maiores
do que a do Sol. Trataremos da morte das estrelas, cadáveres, para sempre, insepultos.

As anãs brancas

Quando uma estrela tem sua massa equivalente a até 1,4 massas solares (limite de Chandra-
sekhar) e estiver transformando-se em uma Gigante Vermelha, irá consumindo seus elementos
mais pesados, e sua temperatura interna cairá bruscamente, permitindo à pressão gravitacional que
se torne a força decisiva no equilíbrio das forças, esmagando a estrela a uma condição de volume
próximo ao da Terra. Apesar de ser uma contração muito violenta, ainda pode ser freada, e o é, por
meio das forças internas que de dentro para fora, se manifestam graças ao princípio de exclusão
de Pauli7.
Somente o núcleo de uma Anã Branca é sólido. Este núcleo pode atingir um raio de 3.000 km
e sua densidade chega a 100 milhões (a da água é 1). Fora dele a densidade cai, chegando a zero
em sua superfície. Na interface do núcleo com a parte gasosa, a densidade é de cerca de 4 milhões.
A posição da interface depende da matéria constituinte do núcleo e de sua temperatura. No
exemplo dado, o núcleo tem uma temperatura de 10 milhões Kelvin e a matéria predominante é o
núcleo de oxigênio.
A estrutura da matéria superdensa é mais simples do que a da matéria ordinária. Em um pe-
daço de ferro comum, por exemplo, quase todos os elétrons orbitam seus respectivos núcleos em
órbitas muito parecidas com as que teriam se estivessem em átomos isolados. Quando a densida-
de chega a 100 mil, todos os elétrons da vizinhança dos átomos são pressionados um em direção
ao outro e a energia gerada por essa degeneração, excede às forças elétricas que prendem as car-
gas negativas aos núcleos carregados positivamente. Ao invés de se manterem ao redor de seus
núcleos de origem, os elétrons se distribuem de uma forma mais ou menos uniforme nos espaços
internucleares. A energia desses elétrons degenerados é tão grande que os núcleos só conseguem
afetá-los ligeiramente. Suas órbitas são, virtualmente, linhas retas. O conjunto inteiro dos elé- trons
forma um “mar” homogêneo e negativo.
Nesse material superdenso, a repulsão de Coulomb (repulsão elétrica) entre os núcleos tende
a arranjá-los em uma forma cristalina cúbica.
A estrela assim formada brilhará ainda por muito tempo, mas esse brilho não durará para
sempre. Aos poucos ele diminui e a estrela vai, lentamente, se apagando. Agora a estrela é uma
fria e escura Anã Preta, tal seus próprios planetas, agora, abandonados.

As estrelas de nêutrons

Se a massa da estrela é de até três massas solares, então o estágio de Anã Branca é totalmen-
te incapaz de se estabilizar. As forças radiais, de dentro para fora mesmo ajudadas pelo Princípio

ejetando ao espaço, 90% de sua massa. São os 10% restantes que formarão a estrela de nêutrons, o Buraco Negro
ou eventualmente a Anã Branca.
7
O Princípio de exclusão de Pauli foi enunciado pelo físico austríaco Wolfgang Pauli em 1925. Ele afirmou que:
“Em um átomo com vários elétrons não pode existir mais de um elétron em um mesmo estado quântico”. Esse
princípio vale para todas as partículas atômicas.
44
Manual de
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de Exclusão de Pauli, são totalmente incapazes de manter-se contra um puxão gravitacional de tal
magnitude.
A primeira etapa da formação de uma estrela de nêutrons é a Anã Branca, que surge como um
estado transiente. O “mar” de elétrons que surge nesse estágio se dirigirá cada vez mais em direção
aos núcleos da rede cristalina eles estão agora dispostos e provocará a “fecundação” dos prótons
pelos elétrons, dando origem, assim, a novos nêutrons. A população de nêutrons aumen- tará
diminuindo proporcionalmente as populações de prótons e de elétrons. As forças quânticas da
exclusão de Pauli agora afetarão, também, os nêutrons.
O raio da estrela está, então, perto de 10 km apenas. Não há superfície suficiente para os elé-
trons restantes ocuparem, cumprindo a ordem de não possuir o mesmo estado quântico. Os elé-
trons, por isso, cada vez mais se acelerarão para fugir der seu vizinho. Essa velocidade pode che-
gar a 99,99% da velocidade da luz. Quais serão as implicações mais imediatas dessa velocidade?
As equações de Maxwell8 mostram que uma densidade de corrente gera um campo magnéti-
co que lhe é proporcional. O que dizer sobre um campo magnético gerado por correntes que ten-
dem ao infinito? Fatalmente também tenderá ao infinito.
Esses campos serão responsáveis pela enorme quantidade de energia que encontramos “apri-
sionada” na estrela de nêutrons. Como esses campos são polarizados e a estrela possui uma alta
rotação, o efeito final é idêntico ao de um farol para navio – os pulsos rápidos e regulares que
detectamos.
A potência armazenada no campo de uma estrela de nêutrons típica é da ordem de 3,12 x 10 43
watt. A energia liberada por uma Supernova é de 1041 jou1e; isso faz com que a energia encontrada
no campo de uma estrela desse tipo, seja igual a uma explosão de 100 supernovas simultâneas, ou
de 10.000 sexti1hões de bombas de hidrogênio de 100 megatons.
Por cauda da grande densidade de uma estrela de nêutrons, segundo a Relatividade Geral de
A1bert Einstein9, o fluir do tempo em suas imediações é bastante afetado. Chega a ser 10 vezes
mais lento. Em termos práticos, a hora, próximo a uma estrela de nêutrons, “dura” 10 vezes mais
do que a hora para nós aqui na Terra.
Como podemos ver na Figura 15, a densidade de uma estrela de nêutrons é muitas vezes maior
do que a densidade de uma anã branca.

  
8
As equações de Maxwell para o eletromagnetismo clássico são 4, mas apenas uma nos interessa aqui: J  xH 
Ela mostra que a densidade de corrente é a fonte de um campo magnético e a recíproca é verdadeira.

9
A Teoria da Relatividade Geral, de Albert Einstein trata de regiões do Espaço-Tempo onde estão localizadas gran-
des concentrações de matéria. A relação usada para o cálculo, no texto, foi:
t
t' 
1 c W2
onde  t é o intervalo de tempo aqui na Terra
 t’ é o intervalo de tempo na estrela
W é o potencial gravitacional da estrela
c é a velocidade da luz no vácuo

45
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Figura 15: Corte esquemático de uma Estrela de Nêutrons.

Esquematicamente, esse tipo de estrela pode ser dividido em cinco partes. De dentro para fo-
ra, a primeira parte seria o núcleo, com uma densidade de 1015. Não existe nenhuma teoria que
seja capaz de explicar em que estado se encontra a matéria quando atinge uma densidade tão alta
como a desse núcleo. O raio do núcleo é da ordem de 2,5 km; a partir dessa distância, inicia-se
uma fase que está em estado de superfluidez.10
A próxima interface está entre o superfluido e um sólido imerso em nêutrons superfluidos.
Esses nêutrons formam a interface seguinte com uma camada sólida, que constitui a crosta quan-
do somada à fase anterior.
A camada mais externa de uma estrela de nêutrons é uma parte de gás. Esse gás provavel-
mente é matéria interestelar que a estrela captura em seu movimento galáctico. Esta matéria pode
ser responsável pelo destino da estrela. Se ela passar por uma região onde a matéria é abundante,
(ou se tiver uma companheira não colapsada) pode aprisioná-la, criando o efeito de panela de
pressão. Essa matéria impediria a energia liberada de abandonar a estrela, fazendo-a (dependen-
do da massa assimilada) explodir em Supernova ou retornar à condição inicial de estrela normal
ou vencer as forças de Pauli e caminhar para a formação, sem retorno, de um Buraco Negro.

O espaço tempo

Podemos dizer dia porque a noite existe, vida porque conhecemos a morte, silêncio, porque há
ruído. Não é possível representar o espaço, porque não podemos imaginar o contrário do espaço,
o não-espaço. Estamos, como diz Einstein, tão profundamente mergulhados no espaço, como um
peixe nas águas do oceano. Como este jamais chegará ao conhecimento de que se encontra no
oceano, assim o Homem jamais saberá o que seja o espaço. Teria que vir um pescador que nos
tirasse para fora dele, virá um, mas, então, será tarde demais...

10
A superfluidez é o fenômeno que está sujeita a matéria se sua viscosidade tender a zero.

46
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Com o texto acima, Fritz Khan11 (1888-1968) nos ajuda a compreender, com maestria por-
que não podemos desenvolver uma precisa percepção do que seja o espaço, lugar que criamos,
deformamos, mas não compreendemos.
Devemos associar a ideia de espaço à área de uma esfera, pelo fato de haver uma superfície
que é fechada em si mesma. Não podemos, no entanto, associar o espaço ao volume de uma esfe-
ra, pois se um observador atravessasse, por exemplo, a Terra em seu diâmetro, sairia em uma
região de “não-Terra”, mas se o passeio fosse sobre sua superfície, a viagem, mesmo que eterna
não encontraria uma região de “não-Terra”.
A Geometria Euclidiana descreve o espaço, mas não serve para falar sobre o espaço-tempo,
entidade explicada pela Teoria da Relatividade Geral que é de natureza quadrimensiona1, posto
que o tempo surge como a quarta dimensão.
Segundo Albert Einstein (1879-1955), a geometria que descreve uma entidade quadrimensi-
onal seria a Geometria de Riernann (1826-1866).12 O Universo seria riemanniano.
Essa nova visão do mundo termina com o conceito newtoniano de ação a distância, pelo qual
a gravidade é fruto da interação entre massas; na gravitação relativística, porém, tudo se passa
porque a geometria do espaço-tempo assim determina. O espaço-tempo é finito e ilimitado, onde
o grau de curvatura é determinado pela densidade da matéria presente em uma dada região.
Uma prova disso veio com a fotografia e com a observação de um eclipse do Sol, em 1919, na
cidade de Sobral no Ceará e na costa oeste da África. O astrofísico inglês Arthur Eddington (1882-
1944), na África, obteve a primeira prova fotográfica de que A Relatividade estava certa. De
acordo com as concepções newtonianas uma dada estrela deveria estar coberta pelo disco solar, o
que não ocorreu! A estrela aparece na foto ao lado do Sol. Era a prova definitiva de que a luz estava
percorrendo um espaço “deformado” passando “por cima” do Sol e chegando até a máquina
fotográfica. É a massa solar a responsável por tal deformação.

estrelas

Figura 16. Eclipse solar fotografado em So-


bral no Ceará em 1919

11
Médico ginecologista alemão autor diversos livros sobre ciências, especialmente Sobre biologia, Medicina e As-
tronomia.
12
Georg Friedrich Bernhard Riemann expôs sua nova Geometria em 1854, na Universidade de Gottinger, Alema- nha.
A exposição foi realizada sem o auxílio de qualquer figura, o que, provavelmente, tornou impossível a com-
preensão do que estava sendo mostrado, exceto pelo físico, astrônomo e matemático alemão Johann Carl Friedrich
Gauss (1777-1855) de quem Riemann era discípulo e que percebeu o rumo que seu aluno tomava – o espaço n-
dimensional.
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Manual de
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Os Buracos Negros

A luz no espaço-tempo
A Figura 17 nos mostra duas concepções para a propagação da luz: uma puramente espacial
(tridimensional) e outra quadrimensional (espaço-temporal).
No primeiro quadro, acima à esquerda, temos o instante em que uma fonte (ponto negro) está
na iminência de emitir um sinal luminoso. No quadro abaixo a fonte emitiu o sinal luminoso. Na
representação, a frente de onda é esférica e se propaga com velocidade ‘c’. No instante ‘T’ a frente
de onda já se expandiu, novamente com velocidade ‘c’. 13
No quadro maior (inferior); a representação do mesmo fenômeno é quadrimensional, mas um
dos eixos espaciais foi suprimido para permitir a representação no plano.
O instante de emissão, é o instante ‘T’, no vértice do hipercone (cone com 4 dimensões), o
instante T’e T” são instantes quaisquer e posteriores a T. As frentes de onda esféricas (na Figura
são elipses por causa da perspectiva) são as interações de um plano com o hipercone, gerando
assim esferas.14
O instante T é a origem da contagem dos tempos, assim, tudo que estiver “antes” de T, não
verá a luz, por estar no passado do evento ocorrido em T. Todos os pontos fora do cone de luz não
serão afetados pelo evento de T, porque seria necessária uma velocidade superior a da luz para que
isso ocorresse. Essa região é chamada de presente topológico do evento ocorrido em T
= T.

48
Manual de
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Figura 17. A luz nos espaços tri e quadrimensionais

13
O valor aproximado de ‘c’ é 300.000 kms-1. O valor mais preciso que a Física possui é c = 299.797.95 kms -1, que
é a velocidade da radiação eletromagnética no vácuo.
14
Na interseção de um plano com uma figura qualquer surge uma nova entidade geométrica com uma dimensão a
menos que na figura primitiva. No caso do hipercone é gerada na interseção com o plano, uma esfera.
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Manual de
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O Horizonte de Eventos
O Buraco Negro é uma região do espaço-tempo e não o corpo da estrela que lhe ocupa o cen-
tro. O corpo tem seu raio tendendo a zero e sua densidade, ao infinito. Essas condições bastante
extremas geram o que chamamos Buraco Negro. As dimensões de um Buraco Negro são deter-
minadas por sua massa. O raio do Horizonte de Eventos é dado pelo duplo produto da constante
‘G’ (constante gravitacional) pela massa que gera o buraco, dividido pelo quadrado da velocida-
de da luz.15

Esse raio determina uma esfera equivalente que é o Horizonte de Eventos. O significado físi-
co desse horizonte é a de uma região limítrofe de onde um sinal poderia escapar se emitido, em
direção oposta a do Buraco Negro. Isto significa que o Horizonte de Eventos é o limite de ação do
campo gravitacional da massa que jaz no centro dele. É o tamanho do “braço” gravitacional da
massa colapsada.
O campo gravitacional é tão forte que nem a luz sai de dentro do buraco (por isso é Negro).
Como podemos ver na Figura 18, um sinal enviado a grande distância do Horizonte de Eventos,
não sofre ação gravitacional e o ponto de emissão (fonte) se mantém nos centros das esferas que
representam a propagação da luz por meio de suas frentes de onda. Há o caso crítico quando a
fonte está muito próxima da região de singularidade do Buraco Negro. Neste caso o efeito Eins-
tein16 é máximo, fazendo com que o comprimento de onda do sinal emitido tenda ao infinito, na
representação a fonte torna-se excêntrica à frente de onda.

Figura 18. Esquema da relação da emissão da luz e sua fonte.

15
A constante gravitacional de Newton vale: G = 6,67 x 10-11 N.m2.kg-2.
16
O efeito Einstein mostra a interferência de uma dada massa com o comprimento de onda, e consequentemente
com a frequência de um sinal luminoso por meio da relação:
GM
 
Rc2
onde: M = massa
 = comprimento de onda
c = velocidade da luz
R = raio do corpo
G - constante gravitacional de Newton

50
Manual de
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A Singularidade
No momento em que uma estrela nasce também o seu fim fica determinado como um destino
do qual a estrela não pode escapar, por causa das ações inexoráveis das leis físicas, leis essas que
servem para explicar o desenrolar do fenômeno, mas se tornam totalmente ineficientes quando o
fenômeno está totalmente estabelecido. Os atuais conhecimentos da Física não são suficientes para
entendermos o que está acontecendo nas regiões de singularidade. É na região de singulari- dade
que se encontra a massa co1apsada que um dia fez parte de uma estrela.
A conjuntura do espaço-tempo nesta região faz com que se tornem totalmente inoperantes as
leis e postulados que possamos obter da Física, tanto da newtoniana como da relativística, de
Einstein. O principal motivo disso é que precisamos de uma base matemática ainda inexistente,
pois as descrições do Universo e de seus eventos por meio de equações diferenciais conforme
estamos acostumados a fazer se mostraram impróprias pelo fato do espaço-tempo tornar-se inusi-
tado, impedindo, assim, as operações com estas equações.
Tudo que podemos dizer sobre estas regiões, serão hipóteses, que ainda deverão ficar sem
provas por um tempo razoavelmente grande; todavia essa resposta fatalmente chegará permitido
que o homem possa compreender um pouco mais o Universo.

O buraco negro rotativo


Se o Buraco Negro tiver rotação (o Horizonte de Eventos possui Momento Angular), tere- mos
o chamado Buraco Negro de Kerr, enquanto o que não possui rotação é chamado de Buraco Negro
de Schwarschild.
Quando o Buraco Negro é não rotativo, o limite estacionário coincide com o Horizonte de
Eventos. O limite estacionário é a superfície limite de uma esfera dentro da qual uma partícula
com a velocidade da luz, seria vista em repouso, por um observador distante.

O disco de acreção
Podemos encontrar um Buraco Negro que aumenta sua massa por acréscimo. Partículas, ou
gás, capturadas pela “armadilha” do espaço-tempo momentos antes de penetrarem no Horizonte
de Eventos seriam “espremidas” e emitiriam energia sob a forma de ondas gravitacionais e muito
raio X. Neste momento o Buraco Negro se tornaria visível para um observador convenientemen-
te colocado.
Essa região é o disco de acreção. Uma partícula orbitando um Buraco Negro não-rotativo só
pode emitir cerca de 5,7%, de sua massa como ondas gravitacionais, antes de penetrar o Hori-
zonte de Eventos. Dessa forma o Buraco Negro se torna uma fonte de emissão de raios X, possi-
bilitando a sua busca, pela Galáxia.

O buraco negro quadrimensional

Vamos descrever o Buraco Negro, mas agora pelo ponto de vista quadrimensional. Para tan-
to usaremos uma representação bidimensional, a Figura 19, para explicar a geometria de um Bu-
raco Negro, no espaço-tempo. Na Figura, um dos eixos de espaço foi substituído pelo eixo dos
tempos, para simplificar. O buraco negro “envelhece” verticalmente de baixo para cima.
Este colapso é simétrico e esférico. Vemos que a matéria inicia seu processo de contração na
parte de baixo do diagrama. Na medida em que o tempo passa, o raio da estrela vai diminuindo,
até se anular completamente. O Horizonte de Eventos começa a aparecer instantes antes do raio da
estrela chegar a zero. Mas só aí é que surge a região de singularidade. Essa região é, na Figu- ra, a
barra preta que sobe verticalmente com o tempo.
51
Manual de
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Os cones, junto à figura são representações de “flashes” de luz. Podemos observar a relação das
posições dos cones de luz com as esferas de luz da Figura 3. No instante em que o colapso ter- mina,
a Figura 4 mostra o mesmo fenômeno que a Figura 3, sendo esta, entretanto, é tridimensio- nal. A
inclinação dos cones de luz significa a influência que o Buraco Negro exerce sobre eles.

Figura 19: Representação quadrimensional


de um Buraco Negro

O Buraco Branco

Uma das possibilidades imaginadas pelo astrofísico norte americano Willian Kauffmann III,
para as regiões de singularidade, é que elas seriam portas que poderiam nos comunicar com o outro
Universo. Ao penetrar na “armadilha” que o Buraco Negro gera passamos pela massa ge- radora e
alcançamos o outro lado – um hipercone – que nos levaria a um Universo paralelo. Este hipercone
teria as mesmas propriedades do nosso, mas estaria voltado para outro lado. Os Bura- cos Negros
tornar-se-iam as grandes oportunidades do homem não levar milhares de anos para chegar às
estrelas, posto que seriam “atalhos” para os viajantes interestelares, podendo até mes- mo se
tornarem viajantes “inter-universos”.

Figura 20: A região da singularidade é o locus das mais violen-


tas transfigurações da Geometria que o homem já
pode sequer imaginar.

52
Manual de
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Vimos que espantosas quantidade de energia são envolvidas nos processos geradores de um
Buraco Negro. O que acontece com toda essa energia? Há uma hipótese para responder a esta
pergunta. Essa energia estaria sendo mandada para o universo paralelo através da “porta” criada.
No Universo paralelo também haveria Buracos Negros que dragam sua energia e nos enviam
através de suas próprias regiões de singularidades. Esses “avessos” de Buraco Negro seriam gi-
gantescas fontes de energia – os Buracos Brancos – que um dia pensamos que eram os Quasars.
Constatamos que a solução dada é uma contínua troca de energia entre nossos dois univer-
sos. É a interação, a troca, o envio de mensagens. Até o Mundo tenta se comunicar! Dá parte de si
em troca de parte do outro. E o Homem? Esperamos que o Universo seja seu espelho.

53
Manual de
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A origem do
Universo

E spaço aberto, sem limites, sem um princípio e sem um fim; era o que, bilhões e bi-
lhôes de anos depois chamaríamos de infinito.
Repentinamente surge a primeira manifestação da matéria: Gaia, a Terra. Nela
instala-se o chão, o ar, o fogo e a água. Nela prepara-se o palco, pois os artistas esperam, em al-
gum lugar, para entrar em cena.
Mesmo depois da criação da Noite, a treva profunda, e do Érebo, a morada das sombras, ain-
da sobrava espaço vazio em torno de Gaia. Para preenchê-lo ela “criou um ser igual a si mesma,
capaz de cobri-la inteira”, conforme nos conta o poeta Hesíodo (século VIII a.C.). Terá sido a
origem do mito da Criação à imagem e semelhança do Criador? Dessa necessidade de sobrepujar
a solidão, nasce Urano, o céu estrelado. Eros, o amor universal, rondava o caos; agora nenhuma
força poderia fecundar-se sozinha, era preciso a participação de duas. Então, levada por Eros, Gaia
uniu-se a Urano gerando muitos e muitos filhos que passaram a habitá-la.
O mito cosmogônico que os gregos nos legaram é muito parecido com o que nos conta o
Gênese, no Antigo Testamento. Toda a mitologia grega se assemelha em muito ao Antigo Tes-
tamento. Será uma coincidência? O que tentaremos estudar é como a ciência vê todos esses mi-
tos. Mostraremos de um modo geral algumas das teorias da criação do Universo. Em última aná-
lise, essas teorias são interpretações da Ciência aos mitos cosmogônicos. Essas teorias começa-
ram no ponto em que a matéria já estava criada. Antes disso o que deveria existir? Energia? Seria
energia o caos? Talvez, pois no início era o caos.
O Universo existe e, por isso, é objetivo dos cientistas mostrar porque e como ele se formou.
As teorias, mostradas aqui, partem de um princípio, fortemente postulado, de que a matéria exis-
te durante a eternidade, não se propondo a explicar-lhe a origem, embora se preocupem com ela.
Partiremos desse ponto comum: tudo começou quando a matéria se criou.
O Ovo Cósmico
Essa teoria deve-se ao astrônomo e abade belga George Edward Lemaitre (1894-1967). Em
1927, ele sugeriu que toda a matéria e energia que existiam, estavam condensadas em alguma
região do espaço. Essa “simbiose”, matéria-energia, era instável e explodiu no que seria a mais
fantástica e titânica explosão que se pode imaginar. Seus fragmentos se condensaram nas galá-
xias que se expandiram em todas as direções. Se isso for um fato, a energia cedida aos fragmen-
tos ainda atuaria e poderia ser observada pela recessão das galáxias.
Com o passar dos anos as grandes massas gasosas, fragmentos da gigantesca explosão inici-
al, começaram a sofrer processos de contração. Esses processos eram fenômenos locais, isto é,
ocorreram em vários pontos da mesma nuvem e não em um só, condensando-se toda ela, num
único corpo. Cada ponto de condensação local tornou-se uma estrela e cada fragmento com seus
diversos pontos condensados, uma galáxia.
Resumindo: o Ovo Cósmico era, em dimensões, pequeno, pois as fortes contrações gravita-
cionais condicionavam a matéria a permanecer confinada numa região bastante diminuta do es-
paço. Com a explosão as forças gravitacionais diminuíram possibilitando que a matéria se espa-
lhasse por uma região mais vasta. As dimensões dessa região aumentavam com o passar do tem-
po e as pressões, de fora para dentro, diminuíam. Fragmentos oriundos dessa explosão partiram

54
Manual de
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para o espaço em direções radialmente opostas. Essa viagem ainda continua segundo a teoria
aceita hoje em dia.

Figura 20. Representação da explosão do Ovo Cósmico

Vamos agora analisar um determinado fragmento entre os trilhões que se formaram. Esco-
lheremos o que mais nos interessa – o fragmento que gerou a Via Láctea. Vamos tentar entender
como foi criada.
Durante a viagem do fragmento pelo espaço, a temperatura foi diminuindo provocando con-
dições para que os átomos formadores da grande nuvem de gás começassem a se contrair em
pontos diferentes de sua estrutura. Nas regiões onde ocorreram as contrações foi aumentando a
temperatura. Iniciaram-se formações densas, onde as forças gravitacionais puderam novamente
atuar, espremendo, condensando, formando o que conhecemos por estrelas. Esse evento ocorreu
em 200 bilhões de regiões diferentes do nosso fragmento usando uma grande parte da matéria e da
energia disponíveis criando, assim a Via Láctea.
Mas logo surge uma pergunta sobre a natureza do Ovo Cósmico. O que seria ele, na realida-
de? De que seria formado? Lemaitre não se comprometeu a responder a essas indagações. Tam-
bém não tentou discutir os estados da matéria e da energia que o formavam.

A formação dos elementos

Na concepção de Lemaitre os elementos foram criados no sentido decrescente do número


atômico, isto é, os átomos pesados surgiram em primeiro lugar e foram se decompondo em áto-
mos de elementos mais leves. A realidade observada representa um verdadeiro entrave a essa
hipótese. Sabemos, experimentalmente, que o elemento mais abundante do Universo é o hidro-
gênio, o mais leve dos átomos. Qual a razão deste fato, uma vez que os elementos mais massivos
como o chumbo e o bismuto são estáveis? Por que estes átomos são quase raros se comparados
com a abundância do hidrogênio?
O impasse foi parcialmente resolvido pelo físico ucraniano naturalizado norte-americano
George Gamow (1904-1968) que ao analisar a teoria de Lemaitre propôs a adoção do nome Teo-
ria do Big Bang no lugar de Teoria do Ovo Cósmico. De acordo com Gamow a massa de nêu-
trons que formava o Ovo Cósmico (a que ele chamou Neutrônio), desintegrou-se com grande
violência em nêutrons e esses se desintegraram em prótons e elétrons. Como o átomo de hidro-
gênio é formado por um próton e um elétron, podendo ainda se encontrar associado a um ou dois

55
Manual de
monitoria
nêutrons, está provada a abundância deste elemento, pois, evidentemente, a cada nêutron expulso
associamos um átomo de hidrogênio.
A meia vida de um nêutron é de 13 minutos, isto é, uma determinada massa de nêutrons tem
sua quantidade reduzida à metade após 13 minutos. A parte degenerada dos nêutrons se trans-
forma em prótons e elétrons. Isto possibilita os prótons e elétrons aprisionarem alguns nêutrons
antes deles decaírem, formando, assim, os elementos ordinários e seus isótopos.
Gamow propôs que a temperatura existente na primeira hora após a explosão, teria sido sufi-
ciente para manter o processo. Decorrido esse tempo a redução da energia cinética permitiria que
os núcleos (nêutrons + prótons) atraíssem os elétrons necessários à sua neutralização gerando
átomos que formariam gases que por sua vez gerariam nuvens que iriam dar origem às estrelas
que, formando galáxias, comporiam o Universo.
Por esse processo aditivo de núcleos, o material do Universo deveria se tornar cada vez mais
raro conforme crescesse a massa atômica, o que combina com a realidade observada.
Existe uma dificuldade nessa teoria que ainda não foi superada. O problema surge quando
explicamos a formação dos elementos pelo processo de adição de nêutrons e prótons. Nossa
Tecnologia e a Teoria da Física Atômica sabem que a adição é possível, mas somente até a for-
mação do Hélio 4, que é muito estável e não admite e agregação de nenhuma partícula a mais. Se
lhe adicionarmos um nêutron formando o núcleo do Hélio 5 ele se decomporá em cerca de 10 -21
segundos, tendo-se novamente o Hélio 4. Se a partícula somada for um próton, formar-se-á o Lítio
5 que se decomporá em Hélio 4 mais rapidamente ainda. Isto proíbe que se explique a for- mação
de todos os elementos da tabela periódica. Como eles surgiram então? O astrônomo e físico inglês.
Fred Hoyle (1915-2001) respondeu a essa pergunta passando a responsabilidade da criação dos
elementos às estrelas em fim do combustível hidrogênio.
As estrelas iniciam sua vida fundindo seu hidrogênio em hélio. Esses núcleos são “prensa-
dos” uns aos outros graças à alta temperatura e pressão existentes no interior estelar. Essa “pren-
sa” termonuclear necessita de combustível para funcionar. Seu “apetite” é enorme. Quando o
hidrogênio termina, a estrela lança mão do que mais possui no momento – o hélio. Usando suas
poderosas forças e temperatura na ordem de milhões de graus, a estrela funde os núcleos de hé-
lio, criando o berílio que é o elemento de número atômico 4. Assim, a estrela pode desafiar os
impedimentos que existem e “forjar” todos os elementos que conhecemos até o ferro. Desse ele-
mento em diante a criação se dá no instante da explosão em Supernova que é o final a vida das
estrelas com massa maior do que 1,4 massa solar. A explosão que destrói a estrela atira ao espa-
ço grande parte de sua matéria e esses elementos passarão a fazer parte de uma nuvem de gás que
mais tarde poderá chegar a ser um planeta com os elementos pesados em sua crosta.
Essa hipótese é, inclusive, compatível com o que observamos em relação à raridade dos ele-
mentos muito pesados. Além de serem radiativos foram obtidos em pouca quantidade, pois só
surgem nos instantes finais da vida das estrelas.

Antes do Big Bang

Se aceitarmos a existência postulada do Ovo Cósmico, devemos perguntar: o que haveria an-
tes do seu surgimento?
Na tentativa de não respondermos a essa pergunta, aceitaríamos que ele sempre existiu. Seria
a afirmação da eternidade, baseada no princípio da conservação de energia, pois, afinal, no prin-
cípio era o caos.
Se o Ovo Cósmico sempre existiu é porque era estável, mas, se assim o era, por que explodiu?
Já conhecemos o suficiente da estrutura de uma estrela para sabermos porque ela permanece
estável durante bilhões de anos e depois vem a explodir em Supernova.
56
Manual de
monitoria
Outra possibilidade seria a de que o Universo sempre existiu, mas não na forma do Ovo
Cósmico e sim na de um tênue gás conforme existe no meio interestelar. A energia primordial
sempre existiu, pois a energia é eterna (entendendo por eterno o que nos é impossível determinar
a origem em uma escala de tempo). Sempre que recuamos à origem de nosso eixo, a época da
criação da energia se mantém na parte “negativa” dele. É, pois, uma falha do observador, não do
observado.
Para a matéria existe um inicio, um instante zero; dai a energia ser entendida como eterna.
Por processos de contrações gravitacionais o gás primordial se condensaria não em pontos
localizados mas num centro, onde se acumularia cada vez mais matéria até conter toda a que era
possível nascendo, assim, o Ovo Cósmico. Apesar da matéria sempre ter existido, o Ovo Cósmi-
co teria uma idade finita e muito curta.
Podemos, também, optar pela mudança de conceito do que seja o sempre.
Do colapso gravitacional da matéria “eterna” surge a gigantesca e inimaginável Hipernova,
que foi o Big Bang.
Mas isso seria um adiamento do problema, já que tiramos a eternidade do Ovo Cósmico e a
colocamos em um gás que sempre existiu e que afinal no principio era o caos.
Se nossa Ciência explode átomos e nossa Astronomia mostra que as explosões de novas são
estrelas morrendo, por que o Ovo Cósmico não poderia ter explodido? Sobre isso nos diz o astro-
físico inglês Arthur Stanley Eddington(1882-1944).

A teoria da explosão do Universo é, sob muitos aspectos, tão monstruosa que sentimos, na-
turalmente, certa inibição para reconhecê-la como verdadeira. Ela contém elementos tão inacre-
ditáveis que fico indignado em saber que há alguém que acredite nela, com exceção de mim
mesmo.

O Universo Hiperbólico

O gás tênue, de existência eterna, aos poucos vai se contraindo. Com o passar do tempo, essa
contração se acentua na razão direta em que aumenta a densidade do Universo. Essa contração
causa um aumento da temperatura que tenderia a contrabalançar a pressão gravitacional. Mas, uma
característica da matéria – a inércia – garante que a contração vá além do que iria somente pela
força gravitacional. Isso aumenta, ainda mais, a temperatura até conseguir diminuir a con- tração
– sem, contudo, detê-la. O Universo chegou a sua contração máxima, onde toda sua massa está
aprisionada em uma dada região do nada. Nesse momento, nasce o Ovo Cósmico. A pressão
interna já é suficiente para impedir a contração gravitacional e para espalhar toda a massa sob a
forma de titânica explosão – o Big Bang.
O Universo passa pela fase de verdadeiro vazio para uma de grande densidade, até que ex-
plode e procura novamente atingir o vazio, pela expansão. O Ovo Cósmico, agora já não é mais
eterno, mas está a meio caminho da eternidade.

Figura 21. Modelo do Universo Hiperbólico


57
Manual de
monitoria
O modelo representado na Figura 21 é o Universo Hiperbó1ico. Fazendo o estudo de seu raio
de curvatura, vemos que diminui, passa por um mínimo (que é, necessariamente, diferente de zero)
e torna a crescer retomando suas dimensões infinitas.

Figura 22. Esquema das possíveis formas comportamentais do Universo

O Universo Hiperbólico dura pela eternidade, mas não é verdadeiramente eterno. Seu início é
cheio de gás tênue e termina como um Universo semivazio, pontilhado de Anãs Brancas, Pul- sars
e Buracos Negros. Há um começo e há um fim. Nós ocuparíamos um instante entre estes dois
pontos.

O Universo Pulsante

A gigantesca explosão mandou ao espaço seus fragmentos que deram origem às galáxias.
Essas galáxias estão se afastando do ponto onde estavam reunidas antes de explodir. Sem conhe-
cer o tamanho ou a massa do Ovo Cósmico, poderemos admitir, também, que a velocidade de
afastamento das galáxias deste ponto zero está abaixo da velocidade de escape. A velocidade de
escape é um dado valor limite que permite a todo corpo que esteja se movendo com velocidade
acima dele poder escapar da atração gravitacional da massa que determina esse limite. Por
exemplo: na Terra, a velocidade de escape é de 11 km/seg. Isto significa que qualquer móvel, que
esteja animado de uma velocidade igual ou superior a 11 km/seg sai do campo gravitacional
terrestre.
Se a velocidade das galáxias estiver acima desse valor limite vai ocorrer a terceira hipótese
(mostrada no gráfico da Figura 22), ou seja, o Universo eternamente em expansão. Neste item, o
que vamos admitir é que a velocidade recessão das Galáxias está abaixo da velocidade escape.
Fisicamente a velocidade das galáxias estar abaixo da de escape significa que a aceleração
daqueles corpos é negativa. Isso causa uma diminuição provavelmente constante na velocidade de
recessão, fazendo com que um dia essa mesma velocidade alcance o valor zero. Nesse mo- mento,
a atração gravitacional passaria a comandar sozinha fazendo com que cada uma das galá-

58
Manual de
monitoria
xias se dirija ao centro do Universo, agora com a aceleração igual, mas em sentido contrário, isto
é uma, aceleração positiva.
Quando todas as galáxias chegassem ao centro do Universo se chocariam, criando um corpo
de enorme massa (toda a massa do Universo), de idade finita e muito curta, ou seja, um novo Ovo
Cósmico que tornaria a explodir criando um novo Universo. O raio desse Universo decres- ceria e
cresceria no tempo. Seria um Universo Pulsante, conforme nos mostra a segunda hipóte- se, no
gráfico da figura 22.
Esse Universo seria eterno no sentido real da palavra, pois, apesar de sofrer abalos cataclís-
micos seria sempre periódico não mais um começo ou um fim bem definido. Tudo seria como hoje
mesmo daqui a incontáveis anos, depois de entrar em colapso e explodir novamente. Assim foi no
passado, assim seria no futuro, para todo o sempre.
Quantos Universos já terão existido? Responder a essa pergunta significa saber quando co-
meçou a eternidade.

O Princípio Cosmológico

O Princípio Cosmológico nasceu da necessidade de se compreender a antítese que a teoria de


Lemaitre continha. Ela mostrava que a explosão do Ovo Cósmico ocorrera há 2 bilhões de anos,
no entanto sabemos que a Terra tem 5 bilhões de anos. Isso demandava a necessidade de um
modelo de Universo que não envolvesse nada parecido com o Ovo Cósmico.
Esse modelo era baseado na afirmação que, de qualquer ponto do Universo, o observador
sempre veria a mesma coisa, pois o Universo seria extremamente uniforme.
Esse princípio foi proposto por Edward Arthur Milne (1896-1950), cosmologista inglês, que
o batizou de Princípio Cosmológico.
Esse princípio é apenas uma hipótese, mas, até que se prove cabalmente sua inviabilidade, os
teóricos atuais o aceitam. Einstein absorveu esse princípio ao postular que a estrutura universal se
afigura a mesma, não importa onde esteja o observador situado no espaço.
O Princípio Cosmológico exige que o Universo seja infinito, pois se não o for, um observa-
dor situado em um de seus limites teria todas as galáxias de um lado e do outro o vazio absoluto.
O princípio da homogeneidade de Edward Milne diz que em qualquer direção que nós
olharmos, o Universo terá as mesmas características. Mas para ser isotrópico também no tempo,
isto é, para que a passagem do tempo não afete a sua densidade, pois com a expansão ela teria
fatalmente que declinar, foi criado pelo matemático e cosmologista austro-britânico Hermann
Bondi (1919-2005), pelo astrofísico austríaco radicado nos estados Unidos Thomas Gold (1920-
2004) e por Fred Hoyle O Principio Cosmológico Perfeito. Este princípio prediz a criação contí-
nua da matéria. Com o passar do tempo, os átomos de hidrogênio são continuamente criados para
que a densidade do Universo permaneça constante apesar da expansão que seria a “realidade”
observada.
Quando se iniciou o estudo das supernovas, pensou-se que se estava observando o fenômeno
da criação da matéria. Mas hoje, como sabemos do que se trata, esse princípio continua a não ter
uma prova científica, mesmo porque seus autores deixaram a hipótese para trás, hoje em dia, já
não o vê como uma “verdade”.
Para que esse princípio seja uma realidade e não contrarie o princípio da conservação da
energia, é necessário crer que a matéria vem sendo criada a expensas da energia de expansão do
Universo, causando uma redução gradativa na velocidade de recessão das galáxias. Em outras
palavras, o princípio Cosmo1ógico dá ao Universo uma aceleração negativa. Isto significa um
movimento uniformemente retardado, pois a criação da matéria se daria à razão constante de um
átomo de hidrogênio por ano. Isso parece caminhar para o Universo Pulsante, mas uma vez che-
59
Manual de
monitoria
gada a zero a velocidade de expansão, a contração se inicia e aí, a matéria precisaria ser destruí-
da, para que a densidade do Universo se mantivesse constante.
As características humanas são mais compatíveis com o Universo Pulsante, pois é muito me-
lhor imaginarmos que teremos várias oportunidades no futuro e que tivemos várias no passado.
Isso traz ao homem a sensação de ser eterno. Mas o nosso Universo se estende. Não sabemos ao
certo, mas pode ser uma curvatura negativa e “aí não há retorno. Não há perspectivas de regresso
após 36 bilhões de anos após a dispersão condensar-se em uma nuvem nuclear, explodir e de novo
recomeçar essa viagem dos fragmentos que chamamos existência. Não há uma segunda vez. Pobre
ser humano”.

Conclusão

Não estamos sós no Universo, e não suportamos sozinho o enfado da vida e o que dela ad-
vém. A vida é um evento Cósmico – tanto quanto sabemos o mais complexo estado de organiza-
ção adquirido pela matéria em nosso Cosmo. Surgiu muitas vezes em muitos lugares – lugares a
nós vedados por distâncias intransponíveis que provavelmente nunca serão cruzados nem mesmo
por um sinal.
“Como homem podemos tentar compreendê-la e mesmo, de certo modo, controlar e guiar suas
manifestações locais. Neste planeta que é o nosso lar, temos todas as razões para desejar-lhe
sucesso. Ainda que viéssemos a falhar, nem tudo estaria perdido. Nossa espécie tentaria de novo,
algures ...” 17
O que vimos foram algumas teorias de como nasceu o Universo. Em termos concretos o que
vimos foi o homem tentando compreender o local em que habita. Um local que ainda nos é ina-
cessível. Achamos que esse “quintal” é habitado por outras formas de vida; e por que não algu-
mas delas também humanas? Será essa certeza o medo da solidão? Será uma desculpa para nos
permitir achar que existem humanos em outros lugares? Se tivermos certeza da existência de
humanos, estaremos em boa posição para não chorarmos muito a destruição dos habitantes deste
planeta, pois “a nossa espécie tentará de novo algures”.
O Universo que vemos é o único que existe? O que significa existir? O que vemos é a reali-
dade ou o que compreendemos dela? O que, na realidade, significa ver? Somos as únicas formas
de vida que existem?
Esse conjunto de respostas será, um dia, o único que terá lugar na verdade absoluta e imutá-
vel do Universo...

17
O texto desse parágrafo é do bioquímico norte americano George Wald (1906-1997).
60
Manual de
monitoria

A Astronomia em
números
Dados orbitais médios sobre o sistema planetário

D DA DP P
MERCÚRIO 57,9 69,7 45,9 0,24085
VÊNUS 108,2 109 107,4 0,61521
TERRA 149,6 152 147,1 1,00004
MARTE 227,9 249,1 206,7 1,88089
JÚPITER 778,3 815,7 740,9 11,86223
SATURNO 1.427,0 1.507 1.347 29,45770
URANO 2.869,0 3.004 2735 84,01390
NETUNO 4.496,6 4.537 4.456 164,79300
PLUTÃO 5.900,0 7.375 4,425 247,70000

Legenda
D - distância média do planeta ao Sol, expressa em milhões de quilômetros.
DA - distância ao Sol, no afélio, expressa em milhões de quilômetros.
DP - distância ao Sol, no periélio, expressa em milhões de quilômetros.
P - período sideral (de translação), expresso em anos trópicos.

Dados físicos médios sobre o sistema planetário

DESCOBERTA M g VE PR
MERCÚRIO Pré-História 3,303x1023 3,78 4,3 58,6500 d
VÊNUS Pré-História 4,870x1024 8,60 10,3 -243,010 d
TERRA ± 500 a.C. 5,976x1024 9,78 11,2 23,9345 h
23
MARTE Pré-História 6,421x10 3,72 5,0 24,6229 h
27
JÚPITER Pré-História 1,899x10 22,88 59,5 9,8410 h
SATURNO Pré-História 5,686x1026 9,05 35,6 10,2330 h
URANO 1781 8,660x1025 7,77 21,2 15,5000 h
NETUNO 1846 1,030x1026 11,00 23,6 15,8000 h
PLUTÃO 1930 1,200x1022 0,48 (?) 1,1 6,3874 d

61
Manual de
monitoria
Legenda
M - massa, expressa em quilogramas.
g - aceleração da gravidade na superfície, expressa em m.s-2.
VE - velocidade de escape expressa em km.s-1.
PR - período de rotação expresso em dias (d) ou em horas (h).

Dados físicos médios sobre o sistema planetário 2

R D T C AT
MERCÚRIO 2.439 4.878 -170 a 430 cinza ---
VÊNUS 6.050 12.103 464 amarelo CO2 / H2SO4
TERRA 6.378 12.756 15 azul N2 / O2 / H2O
MARTE 3.398 6.786 - 40 vermelho alaranjado CO2 / O2
JÚPITER 71.900 142.984 - 120 amarelo alaranjado H2 / He / NH3 / CH4
SATURNO 60.000 120.536 - 180 amarelo alaranjado H2 / He / NH3 / CH4
URANO 26.145 51.118 - 210 esverdeado H2 / He / CH4
NETUNO 24.750 49.528 - 220 azul esverdeado H2 / He / CH4
PLUTÃO 1.550 2.300 - 220 cinza escuro CH4

Legenda
R - raio equatorial, expresso em quilômetros.
D - diâmetro equatorial, expresso em quilômetros.
T - temperatura superficial média, expressa em graus Celcius.
C - cor observável
AT - atmosfera

Miscelânea astronômica

Coordenadas de Brasília:
* Latitude: 15º 47’ 03” Sul
* Longitude: 47º 55’ 25” Oeste

Dados sobre a Terra

Massa: 5,98 x 1024 kg


Distância média à Lua: 384.000 km
Distância média ao Sol: 149,5 x 106 km
Duração do Ano Trópico: 365 dias, 5 horas, 48 minutos e 45,975456 segundos
Duração do Ano Sideral: 365 dias, 6 horas, 9 minutos e 9,540288 segundos
Duração do dia Solar Médio: 24 horas, 03 minutos e 56,555 segundos
Duração do dia Sideral médio: 23 horas, 56 minutos e 4,091 segundos
Raio Equatorial: 6.378,388 km

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Manual de
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Raio Polar: 6.356,912 km
Volume: 1,083 x 1012 km3
Densidade média: 5,520
Inclinação do equador em relação à órbita: 23º 27’
Aceleração da gravidade: 9,8 m.s-1
Velocidade de um ponto no Equador: 1.674,4 km. h-1
Velocidade orbital: 107.226 km h-1
Velocidade de escape: 11,2 km.s-1
Datas do:
* Periélio: 2 de janeiro.
* Afélio: 2 de julho.

Dados sobre a Via Láctea

Distância ao centro: ~ 9 kpc


Diâmetro: ~ 30,6 kpc.
Massa: ~ 1012 massas solares.
Densidade: 7 x 10-24
Espessura: 4 kpc
Velocidade de rotação, na região do Sol: ~ 250 km.s-1.
Período de rotação, na região do Sol: ~ 220 milhões de anos.
Velocidade de escape na região do Sol: 290 km -1
Idade: 1,5 x 1010

Dados sobre o Universo

Raio do Universo Observável: 1,60871 x 1023 km


Volume do Universo Observável: 3,3 x 10 84 cm3
Massa do Universo Observável: 1054 g
Densidade do material galático: 7 x 10-31
Idade provável: 9,8 x 109 anos
Nº de galáxias no Universo Observável: 3 x 109

Distância a Terra em 106 km

Planeta Mínima Máxima


Mercúrio 86,2 212,9
Vênus 50,4 258,3
Marte 65,2 330,4
Júpiter 610,2 918,7
Saturno 1.201,6 1.501,2
Urano 2.602,4 2.904,0
Netuno 4.383,3 4.681,6
Plutão 5.750,5 6.049,5

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Manual de
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Relação das Galáxias do Grupo Local

DISTÂNCIA LUMINOSIDADE DIÂMETRO


NOME OU Nº CLASSIFICAÇÃO (em anos luz) (em milhões de sois) (em anos luz)
Via Lactea espiral 0 15.000 100.000
Grande Nuvem
irregular 170.000 2.000 30.000
de Magalhães
Pequena Nuvem
irregular 190.000 500 20.000
de Magalhães
Escultor elíptica 300.000 1 6.000
Carena elíptica 300.000 0,01 3.000
Dragão elíptica 300.000 0,1 3.000
Sextante elíptica 300.000 0,01 3.000
Ursa Menor elíptica 300.000 0,1 2.000
Forno elíptica 500.000 12 6.000
Leão I elíptica 600.000 0,6 2.000
Leão II elíptica 600.000 0,4 2.000
NGC 6.822 irregular 1.800.000 90 15.000
IC 5.152 irregular 2.000.000 60 3.000
WLM irregular 2.000.000 90 6.000
Andrômeda espiral 2.200.000 40.000 150.000
Andrômeda I elíptica 2.200.000 1 5.000
Andrômeda II elíptica 2.200.000 1 5.000
Andrômeda III elíptica 2.200.000 1 5.000
M32(NGC221) elíptica 2.200.000 130 5.000
NGC 147 elíptica 2.200.000 50 8.000
NGC 185 elíptica 2.200.000 60 8.000
NGC 205 elíptica 2.200.000 160 11.000
Triângulo (M33) espiral 2.400.000 5.000 40.000
IC 1.613 irregular 2.500.000 50 10.000
DDO 210 irregular 3.000.000 2 5.000
Peixes irregular 3.000.000 0,6 2.000
GR 8 irregular 4.000.000 2 1.500
IC 10 irregular 4.000.000 250 6.000
Sagitário irregular 4.000.000 1 4.000
Leão A irregular 5.000.000 20 7.000
Pégaso irregular 5.000.000 20 7.000

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