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ClássiCos da sabedoria indiana - ConTos

CoMPleMenTares

O Mahabharata é um épico muito antigo que contém dentro dele diversos contos
clássicos da cultura indiana. Um dos mais famosos é o “Bhagavad Gita”, e além dele há
várias outras histórias muito belas e profundas que nos incentivam a ler a vida com mais
sabedoria. O tema central de todas essas histórias é a nossa vida, nossa própria
consciência buscando reunir e unir o que há de mais de sagrado, ou seja, reencontrar a
nossa essência espiritual.

1. A princesa Savitri e Yama


Conta-se que no reino de Mádria vivia um rei muito sábio, conhecido por Ashivapat, que
desejava ter filhos. Assim, passou a fazer votos e sacrifícios aos deuses, que diante de
tantas oferendas e insistências do sábio, se apiedaram e lhe concederam uma filha por
nome de Savitri.
Savitri se tornou uma moça muito bela e
virtuosa, a sua beleza era tanta que chegava a
intimidar todos os jovens que a conheciam. O
tempo passa e o sábio rei Ashivapat começa a se
preocupar com a sua descendência, pois, cada
vez mais velho e vendo que nenhum
pretendente tinha coragem de pedir a mão de
sua filha em casamento, chamou-a e pediu que
ela saísse a procura de um noivo com quem
pudesse se casar. Obedecendo ao seu pai, a
princesa sai em busca do seu noivo em todos os
reinos e, depois de tanto andar e não conhecer
ninguém que fosse digno, ela entra em um
eremitério e vê um jovem muito bem afeiçoado
e muito virtuoso cuidando dos seus pais idosos.
Ao vê-lo, se apaixona perdidamente e então vai até ele e os seus pais, falar do seu
projeto de encontrar um marido.
O jovem chamava-se Satyavan e ele era filho de Diomatecena, um rei cego que foi
expulso injustamente do seu reino e passou a viver com sua esposa e o único filho no
eremitério. Ao ouvir o desejo da princesa, Diomatecena e Satyavan concordaram com o
casamento e todos passam a organizar os preparativos para a celebração. De volta ao
seu reino, Savitri encontra seu pai conversando com Narânda (metade deus e metade
homem, uma espécie de ponte entre o céu e a terra), que o visitava. Ao vê-la, o rei
perguntou: “então, minha filha, você encontrou o seu noivo?” Savitri lhe responde que
sim e fala sobre Satyavan, sobre Diomatena e tudo o que ocorrera. Ao ouvir toda a
história, Narânda afirma que Satyavan é, realmente, um jovem muito virtuoso e que a
princesa fez uma ótima escolha, exceto por uma coisa: Satyavan tem apenas um ano de
vida, ou seja, Savitri iria ficar viúva muito cedo. Ao ouvir a triste realidade, o rei tenta
fazer a princesa desistir da ideia, mas Savitri se mantém firme.
O casamento é realizado e, após a celebração, Savitri retira todos os seus adornos e suas
vestes. Assim como o seu esposo, veste-se de eremita.
Por muitos meses, Savitri cumpre todas as suas obrigações e deveres. Certo dia, seu
esposo lhe propõe ir até a floresta recolher alguns frutos. Savitri acompanha-o, pois não
queria ficar longe dele nenhum momento, sabendo que a hora de sua morte era cada
vez mais próxima.
No meio do caminho, Satyavan passa mal e acaba por adormecer no colo de sua esposa.
Yama (o deus da morte) se aproxima dos dois, pega a alma de Satyavan, a amarra e,
silenciosamente, caminha em direção ao sul, onde fica seu reino.
Savriti se põe em pé e pergunta para Yama porque ele próprio veio buscar a alma de seu
esposo, tendo em vista que o sábio Narânda havia afirmado que seria um dos seus
agentes que desceria para realizar a missão. Yama responde que Satyavan era um jovem
muito virtuoso, por isso ele mesmo fez questão de cumprir a missão pessoalmente.
A princesa, então, caminha acompanhando Yama e a alma de seu esposo. Quando Yama
a percebe, afirma que a Savitri não pode acompanhá-los, uma vez que ela precisa voltar,
fazer o enterro de Satyavan e continuar a sua vida, já que ainda não havia chegado a sua
hora.
Savitri o responde, dizendo que ao dar sete passos na companhia de alguém, se torna
amigo desta pessoa. Portanto, ela já havia se tornado amiga de Yama, e gostaria de
acompanhá-lo. Ao ver tamanha sabedoria em alguém tão jovem, Yama se comove e diz:
“pelas tuas tão sábias palavras, podes me pedir um favor, que te concedo. Mas não me
peças a alma de Satyavan”. Savitri pede que o seu sogro possa voltar a enxergar. O
pedido foi realizado e o deus da morte continua o seu trajeto.
Após mais um tempo de percurso, Yama percebe que a princesa continua a lhe seguir e
pede mais uma vez para que ela volte para casa. Savitri, então, responde: “Eu dediquei
toda a minha vida a devoção e a sabedoria, e por isso conquistei a amizade de um deus.
E todo aquele que tem um deus como amigo é abençoado.” Comovido por tamanha
sabedoria que a princesa carregava consigo, a morte diz: “Savitri, me pedes o que
quiseres que te concedo, menos a alma de teu esposo”.
Savitri pede a devolução do reino do sogro, que fora expulso injustamente. Yama mais
uma vez realiza o seu desejo. Porém, insistentemente, a princesa continua a
acompanhar o deus da morte que, ao perceber, pede que volte para casa e, mais uma
vez ela responde: “Bem sei que es o deus da morte e dos decretos e tu não decretou a
morte Satyavan. Eu também sei que es compassivo e piedoso e te enches de compaixão
pelo destino dele.”
E Yama lhe responde: “é tão raro ver uma jovem com tamanha sabedoria, por isso vou
te conceder mais um desejo”. Savitri,
sem perda de tempo, lhe responde:
“bom, não posso te fazer o meu
último pedido porque não o podes
realizar... Quero ser fértil e ter vários
descendentes. Mas, como ser mãe, se
me levas embora o meu marido?” E
depois da persistência da princesa, o
deus da morte lhe responde: “vai
Savitri, volta para casa e leva junto
contigo a alma de teu esposo.” E
assim, a princesa e Satyavan voltaram
juntos para casa, geraram filhos e
viveram por longos anos.
Quais os simbolismos que podemos encontrar nesta história?
Princesa: Sempre está associada a ideia de uma alma pura, imaculada e virtuosa.
Representa a alma do ser humano;
Satyavan: Deriva da palavra “saty”, em hindu, que significa “verdade”.
Dizem os grandes mestres da humanidade que, em tempos de decadência, a verdade se
retira do meio dos homens. Mas, se existe um só homem que tenha uma alma pura,
nobre e virtuosa, a segue e não permite que ela se ausente do seu meio. Só um homem
nobre e justo pode acompanhar o divino lentamente, pode insistir e convencer aos
deuses a deixá-lo desposar a verdade e fazer vários descendentes para que a verdade
se multiplique.
Este é o compromisso de toda alma elevada, servir ao sagrado, servir a verdade e dar
frutos à humanidade.

2. Nala e Damayanti
Damayanti, desde muito pequena, foi uma princesa de extrema beleza e virtudes. À
medida em que crescia, ia-se desenvolvendo sua beleza física e moral, o que
impressionava a todos dentro e fora da comunidade.
Próximo ao seu reino, havia um outro, que era governado pelo rei Nala, homem de muita
sabedora e virtudes. Nala tinha o hábito de caçar na floresta e, numa dessas aventuras,
avistou dois belos cisnes. Ao serem notados pelo caçador, os cisnes lhe pediram para
que o rei não os flechasse e, em troca, eles falariam de Nala e de todos os seus feitos
para Damayanti. O rei aceitou a proposta e os cisnes partiram para o reino da princesa.
Lá chegando, passaram a falar da existência de um certo rei bondoso e piedoso, de seus
grandes feitos de heroísmo, suas virtudes, de suas conquistas e de sua nobreza.
Os dois cisnes falaram tanto do rei Nala e de
suas qualidades, que a princesa se apaixonou,
a ponto de que o seu pai, percebendo, decide
promover o “Swayamvara”, um torneio onde a
princesa teria o direito de escolher o seu
esposo. Ao saber do torneio, muitos príncipes
e reis, conscientes da fama da princesa,
decidiram participar.
Um dia, quando o sábio Narada dirige-se até o
céu de Indra, os deuses perguntam ao sábio o
que estava havendo na terra, pois os homens
estavam em grande movimentação e já não se
faziam oferendas aos deuses. O sábio
respondeu que tratava-se do torneio em que
iriam encontrar o esposo da mais bela e
virtuosa Damayanti.
Ao escutar toda a história, os deuses Agne,
Varuna, Indra e Yama interpelaram o sábio e
disseram que também queriam a princesa
como a sua esposa. Portanto, partiram em
direção ao grande evento. Ao chegarem na terra, os deuses encontraram Nala e o
pediram para avisar a princesa de que os deuses iriam participar do evento para disputar
a sua mão e que ela considerasse um dos quatros como seu esposo. Ao ouvir este pedido
dos deuses, Nala sente-se impactado, mas em nenhuma hipótese pensa em
desobedecer. Ele segue até ao palácio, ajudado pelos deuses, e entra nos aposentos da
princesa, lhe comunicando o ocorrido.
Chocada com a notícia, Damayanti informa a Nala que o seu coração é dele, porque foi
ele que a fez sentir o amor pela primeira vez. Nala pede que ela considere o pedido, pois
é uma grande honra ser esposa de um deus, mas ela não aceita, e ele volta até Indra,
Yama, Agne e Varuna para informar a resposta. Os deuses, ao ouvirem que Damayanti
tinha dito que o seu coração estava com Nala, o grande amor de sua vida, decidiram
armar uma cilada. Todos os quatros deuses iriam se disfarçar do rei Nala, de modo que
a princesa teria que adivinhar qual dos cincos seria o verdadeiro.
Chegado o grande momento do evento, no dia e na hora marcada, as portas do reino se
abrem e entram vários séquitos de reis nobres, juntamente com os cinco reis Nalas.
Diante da beleza e das virtudes da princesa, todos esperam com grande emoção o
momento da escolha de seu esposo. Damayanti fecha os olhos e faz uma oração aos
deuses para que se apiedem dela e lhe concedessem discernimento para que pudesse
ver entre os cinco que pareciam ser Nala, o
verdadeiro.
Apiedados por tamanha nobreza de espírito e
amor profundo que demonstrara, os deuses
tornam-se transparentes aos olhos da
princesa, e quando Damayanti abre os olhos,
consegue ver e distinguir o verdadeiro rei Nala.
Assim, se dirige até ele e o entrega um colar de
flores, anunciando a todos o seu futuro esposo.
Quais os simbolismos que podemos encontrar nesta história?
Cisne: Símbolo do discernimento, que vai revelar à princesa (alma humana) onde está a
sua parte espiritual, o seu rei. Entretanto, este aparece expresso envolto através de
quatro elementos (os quatro deuses que se disfarçam de Nala).
Os quatros elementos podem ser vistos como os quatros elementos da natureza, e
também como símbolos de nossos veículos:
. Agne (associado ao fogo/Mente),
. Indra (senhor dos céus mais baixos, do ar/Emoções),
. Varuna (senhor do mar, das águas/Energia),
. Yama (senhor da terra mortal/ Corpo físico).
Assim, a princesa teria que encontrar a sua parte espiritual escondida nos quatros
elementos. E apenas uma consciência desperta e com discernimento poderia perceber
o seu verdadeiro rei, seu verdadeiro Ser, através de seus quatro veículos. Só dessa forma
pode-se haver o casamento entre a consciência humana, livre e pura, com a sua
essência, o seu Ser. Dizem as grandes tradições que houve essa união, um dia, e que
agora precisamos trabalhar para retornar a ela. Entretanto, essa essência espiritual
impõe condições para se unir novamente à nossa alma.

3. A história da Shakuntala
Shakuntala foi abandonada na floresta quando bebê e encontrada pelo sábio Canva, que
se comprometeu em educá-la. Ambos passaram a viver em seu eremitério como pai e
filha e o sábio passou todos os seus conhecimentos para Shakuntala que, à medida em
que crescia, se transformava numa jovem virtuosa e amorosa com todos os seres.
Certo dia, o sábio Canva saiu até a floresta para prestar as suas orações aos deuses. Após
a sua partida, chega ao eremitério um rei muito famoso e conhecido nas redondezas,
chamado de Dushyanta. O rei foi até a casa do sábio para tomar os seus conselhos e
partilhar alguns problemas de seu reinado, mas ao chegar lá, se depara com Shakuntala
e surpreende-se ao ver uma jovem tão bonita morar sozinha em um eremitério junto
com um asceta. Logo perguntou o que a jovem era do sábio, tendo em vista que os votos
de Canva ao ascetismo eram desde sempre. Então, Shakuntala passou a contar toda a
história da sua vida ao rei.
No céu de Indra houve um grande movimento quando o deus percebeu que o sábio
Vishvamitra tinha resolvido se dedicar a buscar pela sabedoria por milênios, passando
então a fazer sacrifícios, meditações e buscar a virtude perfeita. Indra passou a ficar
incomodado ao vê-lo evoluir tão rápido e quem sabe alcançar, um dia, o seu lugar no
céu. Dessa forma, Indra resolve submeter Vishvamitra a uma tentação para impedir que
o sábio alcance tão depressa a sabedoria.
Convencido do seu projeto, o deus Indra chama uma de suas mais belas Apsaras (seres
femininos e ótimas dançarinas) do seu céu, chamada de Menaka, e a pede que vá até a
terra para seduzir o sábio Vishvamitra, levando com ela o vento e as flechas da paixão.
Menaka se lamenta e diz que tem muito medo do sábio, devido a sua força e a sua
vontade, mas como não pode negar um pedido ao deus Indra, resolve obedecê-lo.
Menaka, então, se prepara e vai até a caverna onde o sábio Vishvamitra está realizando
as suas obrigações. Disfarçadamente, passa a recolher flores em frente a sua caverna
quando, de repente, o sábio abre os seus olhos e vê uma bela moça. De repente, surge
um vento que arrasta poderosamente as suas vestes, à medida em que o sábio é
atingido pelas flexas da paixão, passando a consumar todo o plano de Indra. Depois de
esgotar toda a sua paixão, Vishvamitra se recolhe e volta a sua vida de asceta para se
purificar. Menaka fica grávida de Shakuntala e depois de tê-la, a abandona na floresta
ainda bebê e volta para o céu de Indra.
O rei, ao ouvir perplexo toda a história de Shakuntala, reconhece a sua origem nobre e
a pede em casamento. Decide sacralizar a união dos dois através do rito da Gandharvas,
um dos mais preciosos.
Quando o Canva retorna para sua casa, eles o informam da decisão e o sábio aprova a
união de prontidão. Assim, o rei e Shakuntala ficam juntos por muito tempo, até que o
rei decide voltar para o seu reinado e para o seu povo, prometendo enviar um exército
para buscá-la juntamente com o filho que ela esperava e que em breve nasceria.
O tempo passou, a criança nasceu e ganhou de seu avô Canva o apelido de “domador
de feras”. Em certo momento, Shakuntala decide não esperar mais e vai até o rei
Dushianta para lembrá-lo de sua promessa e união, que tinha feito anos atrás. Quando
chega ao reinado de Dushianta, fica surpresa ao perceber que o rei não tinha lembrado
nem dela e nem de seu filho. Indignada com tal situação, passou a narrar toda a história
desde o primeiro momento em que se conheceram, suas promessas e suas dívidas junto
a ela e ao filho.
Diante de sua indignação, soou em meio
ao trono, no meio da sala, uma voz divina
que disse: “Dushianta, toma essa mulher
e toma essa criança, que ela é a tua
esposa e esse é o teu filho.” Após ouvir a
estrondosa voz, Dushianta vai até a
Shakuntala e diz: “Eu não poderia te
tomar por minha esposa sem que uma voz
divina antes o dissesse! O meu povo não
acreditaria. Mas, pela voz de Deus fostes
reconhecida como a minha esposa e o
menino como o meu filho, eu os tomo
com toda a alegria do meu coração.” A
partir de então, a criança passa a ser
chamada de Bharata, e será o ancestral da
própria Índia.

Quais os simbolismos que podemos encontrar nesta história?


Shakuntala é uma dama de grande pureza e beleza, fruto do afastamento do sagrado,
ou seja, o que a gerou foi o que ainda havia de impuro e material do sábio Vishvamitra.
Para que ela pudesse se reaproximar do sagrado, precisava passar pela prova da
memória, lembrar quem era, lembrar de sua essência. Shakuntala precisa não falhar
como o seu pai, necessita que, diante da prova divina, não esqueça de sua essência.
Assim, Shakuntala passou na prova, recuperou a sua memória e, mesmo diante do
momento mais crítico, ela não esqueceu de sua união com o sagrado.
E foi pela união, através do rito sagrado, com o seu amo divino, que pôde gerar o fruto
que seria a semente de toda a civilização indiana. Ou seja, a civilização se estabelece
sobre o pacto entre a alma humana e a sua essência divina, ou seja, entre a essência a
existência.
Uma civilização que se ergue sobre o sagrado preza por ele. Estamos falando de uma
civilização onde a ética, a estética e a mística são as leis. Bharata é fruto da reunião
perdida da consciência humana com a essência divina e dessa recuperação, a partir da
memória e da lealdade ao divino, é que se estabelece uma nova civilização.
Um único homem é capaz de estabelecer uma nova mentalidade e uma nova civilização
através de seu exemplo, através de sua postura e seus filhos inauguram uma nova
sociedade com novos valores. Nunca podemos esquecer que o maior mal do homem é
o esquecimento!

4. Pramadarva e o Brâmane
Os contos são como música que desperta a nossa alma para ouvir e participar do
movimento da vida.
Pramadarva era filha da união entre a Apsara Menaka, uma das mais belas do céu de
Indra, e o rei dos “Gandharvas”, os músicos de Indra. Menaka, ao dar à luz a Pramadarva,
desce até a terra e a abandona. Assim, a Pramadarva é encontrada por um Brâmane que
a cria com muito carinho, afeto e lhe passa todos os seus ensinamentos. Ela torna-se
não só uma jovem bela, mas muito virtuosa.
As suas virtudes e beleza eram tão grandes e tão comentadas que se tornou bastante
comum que pessoas passarem pelo eremitério para vê-la e aconselharem-se com o
Brâmane que a educou. Havia um jovem Brâmane chamado Ruru que, ao ouvir falar de
todas as virtudes Pramadarva, decide ir conhecê-la. Chegando até o eremitério, ao ver
Pramadarva, ele se apaixona perdidamente e convence seu pai de lhe conceder em
casamento.
Passa-se o tempo e todos se preparam para
as comemorações. Porém, certo dia,
Pramadarva vai com as suas amigas banhar-
se no rio e, de forma desatenta, pisa numa
cobra e é picada, caindo morta. Tal fato causa
muita comoção e dor a todos daquela
localidade, principalmente ao seu noivo que,
após o incidente, recolhe-se e vai viver uma
vida de ascetismo na floresta para pedir aos
deuses que devolvam a alma de Pramadarva,
pois aquela bela moça que parecia ter nascido
para ele. Depois de muitos sacrifícios e votos, os deuses se apiedam do Brâmane Ruru e
Indra vai até as portas do reino da morte perguntar a Yama o que ele poderia fazer por
Ruru, para que ele pudesse recuperar a alma da amada esposa.
Yama propõe a Ruru que ele divida o tempo de vida que lhe restava com Pramadarva,
de forma que ambos viverão deste mesmo tempo. Ruru aceita as condições de Yama
com prontidão e fica muito feliz em poder receber de volta a vida da sua noiva. Eles
vivem felizes por longos anos, até quando Yama surge para levar os dois.
Quais os simbolismos que podemos tirar dessa história?
Pramadarva: Simboliza a nossa alma bela e virtuosa.
Ruru: Ser humano que ganha a oportunidade de ter a sua alma, o seu complemento de
volta, contanto que ele divida metade do seu tempo a sua alma. Um ser humano digno
e em contato com o divino deveria separar um tempo para a sua alma e não só gastar
energia com a vida material;
Quando Ruru aceita o pacto dos deuses, a sua alma retorna e ele consegue se sentir um
ser humano completo, torna-se um Brâmane por inteiro. Então, através da sua união
com a alma se torna capaz de não só dividir um tempo justo entre a sua existência e
essência, mas, sobretudo, dividir a sua vida com todos que ama.
Essa é a função de todo ser humano nobre e bom: dividir a sua vida com todos aqueles
que necessitam dela. Esse é o dever da compaixão, fraternidade e da solidariedade.
Quem se compromete com a natureza, com a humanidade e com o Todo, caminha para
o Uno.

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