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Brunna Pires Barbosa Lopes - brunnapiresadv@gmail.com - CPF: 032.046.

081-90
RUY LAURENTI
MARIA HELENA P. DE MELLO JORGE

O ATESTADO DE ÓBITO
Aspectos médicos, estatísticos, éticos e jurídicos

CREMESP
Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo
2015

Brunna Pires Barbosa Lopes - brunnapiresadv@gmail.com - CPF: 032.046.081-90


O Atestado de Óbito. Aspectos médicos, estatísticos, éticos e jurídicos
Publicação do Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (Cremesp)
Rua da Consolação, 753 – Centro – São Paulo – SP – CEP: 01301-910
Tel: (11) 3017-9300 – www.cremesp.org.br

Autores
Ruy Laurenti
Maria Helena P. de Mello Jorge

Diretor do Departamento de Comunicação do Cremesp


Antonio Pereira Filho

Coordenador do Centro de Bioética do Cremesp


Reinaldo Ayer de Oliveira

Revisão
Thaïs Souto

Apoio bibliográfico
Dinaura Paulino Franco e Ivete Rodrigues dos Anjos

Diagramação
José Humberto de S. Santos

Capa
Moacir Barbosa

Tiragem
5.000 exemplares

Atestado de óbito: aspectos médicos, estatísticos, éticos e jurídicos. / Coordenação de


Ruy Laurenti e Maria Helena P. de Mello Jorge. São Paulo: Conselho Regional de
Medicina do Estado de São Paulo, 2015.

154 p.
ISBN 978-85-89656-24-5

1. Atestado de óbito I. Laurenti, Ruy (coord.) II. Jorge, Maria Helena P. de Mello
(coord.) III. Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo IV. Título

NLM WA 54

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Esta publicação foi concebida em meados da década de 80,
como uma das tarefas do recém-criado Centro Brasileiro de
Classificação de Doenças da Faculdade de Saúde Pública da
Universidade de São Paulo. Com objetivo principalmente di-
dático, visava esclarecer e auxiliar médicos e estudantes de
Medicina no preenchimento de atestados de óbito, abordan-
do, na sua segunda parte, os aspectos jurídicos, legais e éti-
cos capazes de orientar o profissional quanto à obrigatorie-
dade, ou não, de seu fornecimento.

Muitos anos se passaram e algumas novas edições foram fei-


tas, de forma a atender à grande demanda de todo o país.

Em outubro de 2013, após palestra que proferimos sobre o


assunto na sede do Conselho Regional de Medicina do Esta-
do de São Paulo, surgiu a ideia de um convênio entre este e o
Centro Brasileiro de Classificação de Doenças para nova atua-
lização do nosso “livrinho verde”.

Consumou-se a ideia e, como fruto dessa parceria, ele surge


agora em nova edição, revista, atualizada e aumentada.

Sentimo-nos gratificados pela receptividade que o material


vem tendo e pelo reconhecimento de que, de alguma forma,
esta publicação “ajudou” os médicos deste país a cumprirem
a função social, ética e jurídica de registrar a morte e, com
certeza, contribuiu para o aprimoramento da qualidade da
informação sobre óbitos no Brasil.

Julgamos que, a partir de agora, sob a égide do Cremesp, a


publicação sairá fortalecida e seu uso e seus frutos, certa-
mente, se agigantarão.

Os Autores

Brunna Pires Barbosa Lopes - brunnapiresadv@gmail.com - CPF: 032.046.081-90


Ruy Laurenti
Médico, com Doutorado em Medicina
pela FMUSP, é Professor Titular do De-
partamento de Epidemiologia da FSP/
USP e Diretor do Centro Brasileiro de
Classificação de Doenças – Centro Co-
laborador da OMS para a Família de
Classificações (MS/USP/OPS-OMS)

Maria Helena P. de Mello Jorge


Bacharel em Direito, Advogada, com
Mestrado e Doutorado em Saúde Públi-
ca, Professora Associada do Departa-
mento de Epidemiologia da FSP/USP.

Ambos dedicam-se desde muito tem-


po a estudos sobre informação em
saúde tendo participado, inclusive, da
concepção e implantação de Sistemas
Oficiais de Informação do Ministério
da Saúde. Têm investido na formação
de recursos humanos e diversos tra-
balhos relacionados à melhoria da
qualidade de informação. São mem-
bros de Comitês Assessores de Secre-
tarias Municipal, Estadual e do Minis-
tério da Saúde, na área de Sistemas e
da Rede Interagencial de Informações
para a Saúde (RIPSA).

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Apresentação

Todos os estudantes de Medicina no Brasil aprenderam sobre atesta-


do de óbito, em seus aspectos éticos e legais, com o valioso auxílio do
livro “O atestado de óbito”, do professor Ruy Laurenti. A publicação é
mais conhecida entre os alunos como “o livro verde”, dado o fato de que,
em todas as suas reedições, sempre foi impresso com capa dessa cor.
Em uma das edições do Exame do Cremesp, havia uma questão
relacionada a atestado de óbito em que 100% dos participantes da pro-
va erraram. Preocupados com essa falha na formação acadêmica dos
futuros médicos, convidamos os professores da Faculdade de Saúde
Pública da Universidade de São Paulo (FSPUSP), Ruy Laurenti e Maria
Helena Prado de Mello Jorge, para fazerem a revisão do livro sobre o
tema. A publicação teve o apoio do Cremesp. Em um gesto de grandi-
osidade de Maria Helena e Laurenti, eles não só realizaram a revisão,
acrescentando um novo capítulo com pareceres do Conselho sobre ates-
tado de óbito, como também cederam os direitos autorais para o Cre-
mesp. Dessa forma, este livro que você tem em mãos foi publicado e
pertence a todos os médicos de São Paulo.
O Cremesp agradece imensamente a dedicação de João Ladislau
Rosa, conselheiro que aprovou a ideia de reeditarmos o livro quando
ocupava a presidência deste Conselho. E também a Reinaldo Ayer, con-
selheiro e coordenador do Centro de Bioética, responsável pela edição
desta publicação.
Homenageamos especialmente o prof. Ruy Laurenti, falecido em
dia 12 de junho de 2015. Doutor em cardiologia, ao longo de sua carrei-
ra na USP foi diretor da FSP, pró-reitor de Cultura e Extensão Universi-
tária e vice-reitor da Universidade, entre 1990 e 1994. Também foi o
primeiro ouvidor geral da FSPUSP. Laurenti faleceu quando já havia
concluído a revisão do livro.
Bráulio Luna Filho
Presidente do Cremesp

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O ATESTADO DE ÓBITO

Sumário

PREFÁCIO 9

INTRODUÇÃO 11
Atestados de óbito. A obrigatoriedade e os objetivos 11
O modelo 12
O preenchimento 12

Parte 1
O ATESTADO DE ÓBITO DO PONTO DE VISTA MÉDICO 15
1.1. Considerações iniciais 15
1.2. Definições de causas de morte 19
1.3. A precisão na declaração da causa básica 22
1.4. O problema das causas múltiplas 28
1.5. O uso dos termos vagos 29
1.6. O uso de siglas 29
1.7. O intervalo de tempo entre o início da doença e a morte 30
1.8. CID 30
1.9. Exemplos sobre preenchimento de atestados de óbito 30
1.10. Casos de óbitos fetais 61

Parte 2
O ATESTADO DE ÓBITO DOS PONTOS DE VISTA ÉTICO E JURÍDICO 67
2.1. Preliminares 67
2.2. A quem fornecer. Conceitos necessários 76
2.2.1. Óbito 76
2.2.2. Nascido vivo que morre logo após o nascimento 77
2.2.3. Perdas fetais. O nascido morto 79
2.2.4. Peças anatômicas 84
2.2.5. Partes de cadáver 85

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2.3. A quem incumbe o fornecimento de atestados 86
2.3.1. Mortes decorrentes de acidentes ou violências 89
2.3.2. Mortes decorrentes de causas naturais 93
2.3.2.1. Paciente com médico assistente (hospitalizado ou não) 93
2.3.2.2. Paciente sem médico assistente (hospitalizado) 93
2.3.2.3. Paciente sem médico assistente (óbito no domicílio) 95
a) Em locais onde existe SVO 95
b) Em locais onde não existe SVO 96
2.3.2.4. Paciente sem médico assistente (óbito em trânsito) 99
2.3.4. Mortes em locais sem médico 99

Parte 3
RESPONDENDO ÀS QUESTÕES MAIS FREQUENTES 101

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 144

ANEXOS 149

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O ATESTADO DE ÓBITO

Prefácio

Por solicitação do PRO-AIM, Programa de Aprimoramento das In-


formações de Mortalidade de São Paulo, o CREMESP realizou uma
Plenária Temática sobre Atestado de Óbito, dia 21 de setembro de 2012.
Participaram a Dra. Maria Lúcia de Moraes Bourroul, médica do PRO-
AIM, a Dra. Maria Helena Prado de Mello Jorge, professora do Depar-
tamento de Epidemiologia da Faculdade de Medicina da USP e Dr.
Ruy Laurenti, professor do Departamento de Epidemiologia da Facul-
dade de Medicina da USP. Os temas abordados foram: Preenchimento
da Declaração de Óbito, Aspectos Legais e Conceituais na Declaração
de Óbito e Importância e Uso das Informações de Mortalidade.
A participação foi massiva e as exposições foram seguidas de um
debate caloroso e muito produtivo. Esta plenária foi multiplicada em
cidades do interior do Estado por solicitação dos médicos. Esta ne-
cessidade de informação sobre um tema tão pouco divulgado e dis-
cutido entre os médicos ficou tão patente, que os palestrantes propu-
seram a produção de um livro sobre o tema e outro sobre assuntos
que surgiram nos debates e não existem fontes organizadas para diri-
mir nossas dúvidas.
Foi criada uma parceria entre os professores e o CREMESP, e pos-
teriormente com a Faculdade de Saúde Pública da USP. Os trabalhos se
iniciaram em 2014 e hoje concluímos a primeira fase deste projeto. Os

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P REFÁCIO

autores organizaram os temas de maneira didática, o texto é claro e


responde a maioria de nossas dúvidas.
A importância deste tema é realçada neste projeto, abordando os
mais diversos aspectos da declaração de óbito, desde seu preenchi-
mento até implicações bioéticas relacionadas à morte.
Durante o desenvolvimento dos trabalhos tivemos oportunidade
de conhecer de perto a Professora Maria Helena e o Professor Ruy Lau-
renti, pessoas brilhantes, dedicadas e interessadas em colaborar com a
coletividade. Neste período surgiu um estreito laço de amizade entre
os organizadores e autores, que temos orgulho de cultivar.
O Prof. Ruy deixou vários textos prontos e, mesmo na sua ausên-
cia, os trabalhos continuarão sob a batuta da Professora Maria Helena.

João Ladislau Rosa


Diretor 2º tesoureiro

Reinaldo Ayer de Oliveira


Coordenador do Centro de Bioética do Cremesp

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O ATESTADO DE ÓBITO

Introdução

Atestados de óbito. A obrigatoriedade e os objetivos


A legislação brasileira determina a obrigatoriedade do Registro
Civil de nascimentos e óbitos. No caso das mortes, não se contenta a lei
com a simples declaração de familiares, mas exige que o registro seja
feito “à vista do atestado do médico, se houver no lugar”, visando à
comprovação oficial do desaparecimento do indivíduo – e seus conse-
quentes direitos – e esclarecendo se se trata de morte por causa natural
ou violenta. Atender à finalidade jurídica do atestado de óbito é, por-
tanto, o primeiro de seus objetivos.
O segundo, mas não menos importante, é o que se refere aos aspec-
tos quantitativos e qualitativos da mortalidade. Dados relativos a quan-
tos morrem, quais são as características dessas pessoas (como idade e
sexo, por exemplo) e, principalmente, quais as causas responsáveis por
esses óbitos são importantes para o conhecimento e o estabelecimento
do perfil epidemiológico da população e de ações governamentais rela-
tivas à sua prevenção. Assim, conhecer o nível de saúde de uma popula-
ção é relevante para elaborar programas e avaliar prioridades. Os cha-
mados indicadores de saúde facilitam a análise dessas informações, mas
sua qualidade vai depender da precisão dos sistemas de informação exis-
tentes que, por sua vez, está calçada na forma pela qual os dados são
produzidos, coletados e trabalhados. Os gestores de saúde estimam que

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I NTRODUÇÃO

uma das ferramentas mais importantes para a vigilância em saúde é o


reconhecimento de que a tríade “informação – decisão – ação” sintetiza,
hoje, a dinâmica da vigilância epidemiológica.(1)
A Rede Interagencial de Informações para a Saúde – RIPSA - refere que
“a qualidade de um indicador depende de uma série de fatores”(2), sendo
que, no caso da mortalidade, essa dependência recai sobre a figura do mé-
dico que é, em última análise, o produtor da informação sobre os óbitos.

O modelo
A Declaração de Óbito (DO) é um documento oficial usado em todo
o território nacional para a atestação da morte e se constitui na base do
Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM/MS) do país(3). O mo-
delo em vigor (anexo 1) é composto por nove blocos divididos em 59
campos, que abrangem informações capazes de fazer atingir seus obje-
tivos jurídicos e epidemiológicos referidos.

O preenchimento
O preenchimento e a consequente emissão da DO constituem-se
em um ato médico, estando, portanto, sujeitos às normas estabelecidas
pelo Código de Ética Médica.(4)
Pode parecer, à primeira vista, que somente o preenchimento das
causas que levaram ao óbito estaria afeto aos médicos. Niobey e col.,
1990(5), comentam que, em geral, os médicos consideram que as par-
tes menos nobres do atestado – como identificação e as demais – po-
deriam ser preenchidas por outras pessoas, deixando, assim, para fun-
cionários administrativos dos hospitais a tarefa de completar essas
informações(5). É preciso ficar claro, entretanto, que não é essa a de-
terminação da atual legislação do país, que estabelece como de com-
petência do médico toda a informação constante do formulário. Desta
forma, sob nenhuma hipótese deve o médico, assinar uma DO em
branco ou preencher os quesitos relativos à causa antes que a identi-
ficação esteja devidamente registrada no documento. A responsabili-
dade do médico em relação à DO, refere-se a todas as informações ali

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O ATESTADO DE ÓBITO

solicitadas, como será visto ao longo desta publicação.


Apesar do amparo da legislação e do que está estabelecido do ponto
de vista da ética médica, verificam-se ainda, nesse contexto, falhas e
imperfeições que podem e devem ser sanadas.
Variáveis como idade e sexo, por exemplo, apresentaram, respecti-
vamente, 0,04% e 0,3% de não preenchimento no total de 1.181.166 óbi-
tos captados pelo SIM/MS para o Brasil, em 2012(3). Essas proporções
já foram mais elevadas e seu declínio é bastante auspicioso no que se
refere à qualidade da informação.
Esses valores, entretanto, não devem iludir as autoridades, no sen-
tido de que os problemas estejam todos resolvidos.
Estudo feito em Belém/PA, em 2010, mostrou que aproximadamente
70% das DOs analisadas continham, pelo menos, um erro na declaração
da causa(6). No mesmo trabalho, a utilização de termos vagos para regis-
trar causas de morte foi referida em elevada proporção entre os médicos
que participaram da pesquisa. A resultado semelhante chegaram os estu-
dos de Lucena e col., 2014(7), em Santa Catarina, onde quase 40% dos mé-
dicos relataram usar, habitualmente, expressões como “parada cardíaca”
ou “falência de múltiplos órgãos” para retratar a causa da morte(7).
Quanto ao preenchimento de campos específicos, como por exemplo,
o conjunto representado pelo Bloco IV (para óbitos fetais e de mortes de
menores de um ano), Vanderley e col., 2002(8) verificaram que a omissão
de preenchimento variou entre 27,3% (para a duração da gestação) e 47,4%
(para a variável número de filhos nascidos mortos), mesmo tendo o traba-
lho sido realizado em instituição credenciada pelo Ministério da Saúde
como o Centro de Referência Nacional para a área materno-infantil(8).
Apesar de Struque e col., 2003(9), em pesquisa realizada em Belo
Horizonte para estudar DOs geradas por médicos de importante insti-
tuição hospitalar e por patologistas, terem verificado mais acertos do
que erros com relação ao preenchimento das questões referentes a óbi-
tos de mulheres em idade fértil(9), esse é ainda um campo bastante ne-
gligenciado, como mostram resultados do SIM para o Brasil. O desco-
nhecimento desse dado tem gerado empenho bastante intenso por parte

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I NTRODUÇÃO

de Secretarias Municipais e Estaduais de Saúde e do próprio Ministé-


rio no sentido do aprimoramento da qualidade da informação sobre
mortes maternas.
Outra informação que se enquadra nesse comentário é a que diz
respeito ao preenchimento do tempo decorrido entre o início da doen-
ça e a morte, que se constituiu na variável que apresentou maior núme-
ro de “brancos” (correspondendo a dado “não preenchido”), em todos
os trabalhos analisados.
Essas e outras falhas sinalizam para a necessidade de uma educa-
ção continuada de médicos e estudantes de Medicina sobre o proble-
ma dos atestados de óbito, de forma que estes venham a cumprir, total
e completamente, suas finalidades jurídicas e médico-estatísticas.
Laurenti, nos primeiros textos, ao analisar o preenchimento dos atesta-
dos de óbito por médicos, afirma que esses profissionais não estavam, ain-
da, totalmente preparados para esse mister visto que, não poucas vezes, se
deparavam com um atestado quando perdiam seu primeiro doente e se
viam, então, na contingência de preenchê-lo.
Na citada investigação de Lucena e col., 2014(7), 34,1% dos médicos
entrevistados referiram dificuldades no preenchimento dos atestados
em caso de óbitos sem assistência médica e cerca da quarta parte, ex-
pressamente, quanto à anotação da causa básica; 12,2% mencionaram
problemas quanto ao registro da causa externa e, em proporções não
desprezíveis, foram referidas dúvidas sobre os procedimentos a serem
adotados em casos de óbitos de recém-nascidos vivos com menos de
500 gramas, amputação de membros, entre outras. Tais questionamen-
tos foram atribuídos a um aprendizado ruim durante a graduação e,
também, posteriormente, em sua vida profissional(7).
Isso posto, esta publicação, que analisa os aspectos médicos, estatís-
ticos, jurídicos e éticos do atestado de óbito, soma-se ao material que
objetiva esclarecer médicos e estudantes de Medicina sobre o assunto,
contribuindo dessa forma, para que, dentro dos princípios legais e éti-
cos que norteiam o problema, seja possível obter dados cada vez mais
completos e mais corretos sobre o importante tema da morte.

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O ATESTADO DE ÓBITO

PARTE 1

O atestado de óbito do
ponto de vista médico

1.1. Considerações iniciais


Até fins do século XIX, cada país possuía um modelo diferente de
atestado de óbito, fato que fez com que a Organização de Saúde da Liga
das Nações constituísse uma Comissão para o estudo do problema. Em
1925 foi publicado um informe sugerindo um modelo único de atestado
para a declaração das causas de morte(10). No modelo proposto deveria
ser anotada, em primeiro lugar, a causa imediata da morte (causa final ou
terminal) e, a seguir, as condições mórbidas antecedentes àquela, caso hou-
vesse, ficando a causa primária em último lugar, de cima para baixo. O
novo modelo objetivava facilitar ao médico o registro da causa primária.
Em 1927, a Inglaterra e Gales adotaram o modelo sugerido e, em seguida,
o Canadá. Nestes países foi estabelecido um programa educativo nas es-
colas médicas e junto aos médicos, visando ao preenchimento correto do
novo documento(11). Outros países, entre os quais os Estados Unidos, em
1939, passaram também a usar o novo modelo(12).
A então recém-criada Organização Mundial da Saúde (OMS) pro-
moveu, em 1948, a “Conferência Internacional da Revisão da Classifica-
ção” que, ao aprovar a Sexta Revisão da Classificação Estatística Inter-
nacional de Doenças, adotou esse formulário como “Modelo Interna-
cional de Atestado de Óbito”(13), que passou a ser utilizado, a partir de
1950, praticamente por todos os países do mundo para a anotação das

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O ATESTADO DE ÓBITO DO PONTO DE VISTA MÉDICO

causas da morte. Aqui é importante salientar que o documento referido


como padrão dizia respeito somente à forma pela qual as causas de-
veriam ser anotadas, obedecendo às normas estabelecidas, embora o
impresso, em seu conjunto, pudesse ser diferente em cada área.
Esse modelo, usado até os primeiros anos da década de 1990, consta-
va de duas partes: Parte I, com três linhas (a, b, c) onde deveria estar decla-
rada, em último lugar, a causa básica; Parte II, onde deveriam ser informa-
das outras condições significantes que interferiram no curso do processo
mórbido, as assim chamadas causas contribuintes ou contributórias.
Em 1989, a OMS, na Conferência Internacional para a Décima Revi-
são, aprovou a 10ª Revisão da Classificação Internacional de Doenças e
Problemas Relacionados à Saúde (CID-10) (14) onde consta: “... adotou
uma recomendação segundo a qual, onde for necessário, os países devem conside-
rar a possibilidade de uma linha adicional (d), na Parte I do atestado...”. Tal
recomendação se deveu ao fato de as populações estarem envelhecen-
do e, com isso, “acumularem” mais doenças ou virem a apresentar
maior número de complicações no processo que conduziu à morte.
No Brasil, a CID-10 foi adotada para uso em mortalidade em 1996 e,
desde então, na Parte I do atestado, passou a constar também a linha “d”. A
figura 1 apresentada a seguir, mostra as quatro linhas da Parte I, e as duas
linhas da Parte II no modelo atualmente vigente no país (versão de 2011).
A partir do momento em que se adotou o modelo internacional do
atestado de óbito, houve uma preocupação muito grande no sentido de
educar e treinar os médicos para o preenchimento correto do novo
formulário e, muitos países, por meio de seus órgãos oficiais de epide-
miologia ou de estatística, publicaram folhetos, artigos ou livretos com
essa finalidade. Podem-se citar, entre outros, Alemanha, Canadá, Chile,
Checoslováquia, Dinamarca, Estados Unidos, Finlândia, França, Itália,
Japão, Líbano, Nova Zelândia, Noruega, Peru, Suíça, Venezuela e Iugos-
lávia(15). Alguns deles, embora escritos há muitos anos, são, pode-se di-
zer, bastante atuais e se constituem em verdadeiros clássicos no assunto
e referências obrigatórias, tais como os de Logan(16,17) e Moriyama(12,18).
No Brasil, em 1956, Lincoln de Freitas Filho publicou “O Clínico e

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O ATESTADO DE ÓBITO
Figura 1 – Bloco V da Declaração de Óbito: condições e causas da morte

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O ATESTADO DE ÓBITO DO PONTO DE VISTA MÉDICO

o Bioestatístico” (1956, Rio de Janeiro), livro no qual abordou, de ma-


neira bastante apropriada, o preenchimento do atestado de óbito. Essa
publicação foi muito utilizada por órgãos do Ministério da Saúde para
ensino e divulgação.
A implantação do “Modelo Internacional do Atestado”, no Brasil,
ocorreu também em 1950, em todo o território nacional. Entretanto, em-
bora a parte relativa à causa de morte fosse a internacional e, portanto,
padronizada, os dados referentes à identificação e outras informações
não seguiam modelo uniforme. O próprio impresso apresentava-se em
formatos e cores diferentes nos vários estados, diversificando também o
número de variáveis solicitadas e de vias a serem preenchidas.
Em 1976, o Ministério da Saúde, visando à implantação do Sistema
Nacional de Informações para o Setor de Saúde, no “Subsistema de In-
formações sobre Mortalidade”, adotou uma “Declaração de Óbito”
padronizada para todo o país. Esta, mantendo o modelo internacional
na parte relativa às causas de morte, uniformizava a maneira de regis-
trar todos os demais tipos de informações. A finalidade desse Subsiste-
ma foi compatibilizar os dados e permitir sua comparabilidade, con-
solidando-os em nível nacional, possibilitando, assim, maior raciona-
lização das atividades baseadas nas informações(19).
Na mesma ocasião, o Ministério da Saúde elaborou também um
“Manual de Instruções para o Preenchimento da Declaração de Óbi-
to”(20), que foi distribuído para as Secretarias de Saúde dos Estados, as
quais se encarregaram de encaminhar o material a todos os médicos.
Paralelamente, profissionais da Divisão Nacional de Epidemiologia do
Ministério da Saúde, bem como do Centro Brasileiro de Classificação
de Doenças (Centro da Organização Mundial da Saúde para a Classi-
ficação de Doenças em Português), recém-criado, passaram a visitar to-
das as capitais do País, discutindo os problemas advindos da implan-
tação do novo modelo bem como promovendo palestras, conferências,
discussões junto aos médicos, quer dos órgãos oficiais, quer de entida-
des privadas ou associações médicas.
A divulgação dada ao novo modelo de Declaração de Óbito e a

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O ATESTADO DE ÓBITO

ampla distribuição do “Manual de Instruções”, assim como outras ati-


vidades relacionadas, levaram a uma melhoria no preenchimento das
Declarações de Óbito. Avaliações nesse sentido foram feitas não só pelo
Centro Brasileiro de Classificação de Doenças como também pelo Mi-
nistério da Saúde, além de produções acadêmicas nas Universidades.
O modelo da Declaração de Óbito implantado em 1976 sofreu al-
gumas pequenas modificações visando ao seu aprimoramento e o mo-
delo em vigor, hoje, está no anexo 1.

1.2. Definições de causas de morte


As estatísticas de mortalidade podem ser apresentadas de várias
maneiras, entre outras, segundo sexo, idade, local, evolução no tempo
etc., constituindo, entretanto, a causa de morte o seu aspecto mais im-
portante, o que se compreende facilmente.
Até fins do século XIX não havia, de maneira geral, uniformidade de
critérios para a seleção quanto à causa que deveria aparecer como “causa
de morte”, ainda que, desde os trabalhos de Graunt, em 1662, se adotasse
o critério de atribuir estatisticamente, para cada morte, uma só causa(16).
A Primeira Conferência Internacional para a Revisão das Listas In-
ternacionais de Causas de Morte, realizada em 1900, adotou o princípio
de selecionar apenas uma causa para cada óbito. Segundo Dorn e
Moriyama(21), poucas pessoas salientaram o fato de se escolher arbi-
trariamente uma só causa quando duas ou mais eram referidas no
atestado de óbito; poucas também assinalaram a importância de estu-
dar todas as causas que haviam contribuído para a morte.
Vários países desenvolveram métodos diferentes entre si para se-
lecionar a causa que deveria aparecer nas estatísticas de mortalidade
quando duas ou mais eram informadas, fato que, obviamente, afetava
muito a comparabilidade das estatísticas.
Também o critério sobre qual a causa que deveria ser selecionada não
era uniforme, tendo denominações diferentes, entre outras, “causa da
morte”, “causa primária da morte”, “causa principal”, “causa fundamental
da morte”. Havia uma ideia geral de que esta causa deveria ser aquela

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O ATESTADO DE ÓBITO DO PONTO DE VISTA MÉDICO

sobre a qual, do ponto de vista de saúde pública, se deveria agir visando


à prevenção da morte ao nível inicial. As diferentes denominações, porém,
levaram a critérios diferentes de seleção da causa a ser tabulada.
A própria comissão, que foi encarregada de propor o modelo interna-
cional do atestado médico, estudou a questão da definição do que se de-
veria considerar a causa de morte para efeito de tabulações das estatísticas
de mortalidade. Foi proposta, e aceita, uma definição que, juntamente com
o modelo internacional do atestado, foi aprovada na Conferência Interna-
cional para a Sexta Revisão da Classificação Estatística Internacional de
Doenças, em 1948, sendo, a partir de então, adotada em todo o mundo.
A causa a ser tabulada nas estatísticas de mortalidade foi chamada
de causa básica de morte. Considerou-se que, do ponto de vista de
prevenção da morte, seria importante cortar a cadeia de eventos ou insti-
tuir a cura em algum ponto. Considerou-se, também, que o objetivo
mais eficaz da Saúde Pública “é prevenir a causa precipitante para que
ela não atue”. Para estes propósitos, a estatística mais simples é aquela
relativa à chamada causa básica da morte, a qual pode ser definida
como, segundo a OMS(13,14,22):
a doença ou lesão que iniciou a sucessão de eventos mórbidos que
levou diretamente à morte, ou (b) as circunstâncias do acidente ou
violência que produziu a lesão fatal
O modelo de atestado de óbito adotado permitia, pelas suas ca-
racterísticas, tornar mais fácil a seleção da causa básica quando eram
informados dois ou mais diagnósticos. Isto porque o médico, ao regis-
trar os diagnósticos no atestado, deveria colocar a causa básica em últi-
mo lugar da Parte I.
Assim, a causa básica, registrada dessa forma (último lugar da Par-
te I, linha d), dá origem a algumas complicações, chamadas causas
consequenciais, que devem ser registradas nas linhas acima (c, b e a). A
última causa consequencial, registrada na linha a, é chamada causa
terminal ou imediata. Ao se comentar acima que a causa básica dá
origem a algumas complicações e que estas são chamadas “causas con-
sequenciais” é preciso esclarecer que essa é uma terminologia, até certo

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O ATESTADO DE ÓBITO

ponto inadequada, embora esteja consagrada pelo uso; o correto seria


dizer “complicações” ou “consequências” e não “causas consequenci-
ais” visto que, a rigor, se é “causa” não pode ser “consequência”.
Como exemplo, suponha-se uma criança que teve difteria, a qual se
complicou com miocardite aguda, entrando a paciente em insuficiência
cardíaca e falecendo por edema agudo de pulmão. Pela definição, a
difteria é a causa básica, sendo que a miocardite aguda, a insuficiência
cardíaca e o edema agudo de pulmão são as causas consequenciais e a
última delas (edema agudo do pulmão) é a consequencial terminal ou
causa direta da morte. Esses diagnósticos devem ser registrados da
maneira apresentada a seguir.

Imaginando também, no exemplo dado, que essa criança apresen-


tasse uma anemia e que, na opinião do médico, esta se constituísse em
uma causa importante no agravamento do estado de saúde da pacien-
te, sem entrar na relação causal entre causa básica e causa terminal, a
anemia deveria aparecer registrada na Parte II, dado que também ha-
via estado presente no momento da morte e contribuído para ela.
No caso de a morte ter ocorrido por causa não natural ou, como mais
usualmente se diz, por “causa violenta” ou “causa externa”, também deve-
ria constar na última linha a causa básica, no caso, as circunstâncias da vio-
lência (queda, homicídio por arma de fogo, afogamento etc) e, acima da
básica, as consequenciais (fratura de crânio, rotura de fígado, esmagamento
de tórax etc). O registro dessas causas seria feito da forma expressa a seguir:

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O ATESTADO DE ÓBITO DO PONTO DE VISTA MÉDICO

Os atestados de óbito, nos casos de causas externas, são sempre


preenchidos por médicos legistas e, sobre esse aspecto, serão feitos
comentários mais à frente.
A publicação do Centro Brasileiro de Classificação de Doenças “Sé-
rie de divulgação” nº 10 trata do preenchimento de atestados de óbito
nos casos de mortes violentas ou acidentes: “Acidentes e Violências:
um guia para o aprimoramento da qualidade de sua informação”(23) e
mostra exemplos a respeito.
No item 1.4 desta publicação estão apresentadas histórias clínicas
reais que servem como exemplo, mostrando qual a maneira correta de
preencher os atestados de óbito e como foram preenchidos.

1.3. A precisão na declaração da causa básica


Ainda que a partir de 1948 fosse definida qual a causa a ser utiliza-
da para as tabulações de mortalidade e qual a maneira de registrá-la no
atestado, vários estudos têm demonstrado que as estatísticas de mor-
talidade por causa não são ainda inteiramente corretas.
James e col.(24) publicaram, em 1955, os resultados de um estudo
onde compararam os atestados de óbito originais com os dados obtidos
em relatórios de autopsias em Nova York, estudo esse que evidenciou
falta de precisão na declaração da causa de morte. Assim, os dados de
autopsia “mudaram” os valores de certas causas de morte, entre outras,
a tuberculose, que deveria ser declarada 16,7% a mais, a doença reumática
crônica do coração, 22,0%, a hiperplasia da próstata, 33,3% e as anomalias

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O ATESTADO DE ÓBITO

congênitas, 14,5%. Por outro lado, citam várias doenças que deveriam
ser declaradas como causa básica em menor número de vezes.
O que fica muito claro é que este fato - erro na declaração da causa
básica - é devido, principalmente, a não ter havido, em muitos locais,
suficientes programas de esclarecimento junto aos médicos sobre o
preenchimento correto do atestado de óbito. O mesmo pode ser dito
quanto ao ensino deste assunto nas escolas médicas.
Vários outros trabalhos sobre a precisão quanto ao preenchimento
do atestado de óbito têm sido realizados, sendo clássicos os de o Bea-
denkopt e col.(25), Moriyama e col.(26,27), Moriyama(28), Jablon e col.(29).
Não é raro, também, ocorrerem erros na declaração das causas de
morte quando uma causa materna atua como causa básica de uma mor-
te perinatal e o médico não informa essa causa, mas tão somente a
complicação. Como exemplo, suponha-se um caso de grávida que
apresenta descolamento prematuro de placenta com intensa hemorra-
gia e choque, sendo que a criança nasce com anoxia grave, vindo a fale-
cer uma hora após. Nesse caso, em último lugar no atestado de óbito da
criança, deve-se informar o desprendimento prematuro da placenta e,
na linha de cima, a anoxia. É muito frequente os médicos informarem
apenas a anoxia, deixando de registrar, no devido lugar, a causa básica.
O relatório sobre os problemas de certificação das causas de morte
feito em 1958, pelo “Committee on Medical Certification of Causes of De-
ath”, dos Estados Unidos(30), expôs também importantes aspectos do pro-
blema e, citando extensa bibliografia, fez referências à falta de exatidão
dos atestados. Os autores revelam a maneira inadequada dos mesmos
serem preenchidos, acentuando, porém, que seria possível obter significa-
tiva melhora, desse ponto de vista, desde que os médicos tivessem perfei-
to conhecimento do que é pedido na declaração das causas de morte, as-
sim como um maior senso de responsabilidade ao preencher os atestados.
A mesma publicação estimou em 20 a 25% o número de atestados em que
não ficava clara a opinião do médico sobre a causa básica da morte. Por
outro lado, cita estudos feitos junto aos médicos de Filadélfia, de Cleveland
e de zonas rurais de Ohio e Virgínia, cujo propósito era identificar os

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O ATESTADO DE ÓBITO DO PONTO DE VISTA MÉDICO

problemas que os mesmos tinham ao certificar as causas de morte e averi-


guar o grau de compreensão sobre a maneira de preencher os atestados. O
relatório não apresenta os resultados, porém, destaca o fato de que o gru-
po de médicos entrevistados desejava receber guias de instruções sobre o
procedimento correto quanto ao seu preenchimento.
No Brasil, a situação não se mostrou diferente. Milanesi e Laurenti,
1964(31), estudaram uma amostra de óbitos do Distrito de São Paulo. Entre
outros aspectos, analisaram qual a proporção daqueles considerados
corretos, sendo que “correto” foi definido como o atestado que mencio-
nasse a causa básica, mesmo tendo sido escrita fora do lugar apropriado,
inclusive na Parte II. A causa básica era conhecida através de informa-
ções adicionais, tais como entrevistas com os médicos que cuidaram do
falecido, consulta ao prontuário dos hospitais, laudos de autopsias e ou-
tros. Os autores verificaram que apenas 67,6% dos atestados foram pre-
enchidos corretamente, sendo que grande parte dos considerados incor-
retos deveu-se ao fato de que os médicos não os souberam preencher.
Fonseca e Laurenti, 1974(32), aproximadamente dez anos depois,
fizeram estudo semelhante para óbitos ocorridos na mesma área, tendo
verificado que os mesmos erros continuavam a existir.
Algumas investigações realizadas no país, sobre aspectos da
mortalidade em adultos(33), em crianças(34), bem como estudo de causas
múltiplas de morte(35), proporcionaram uma avaliação da qualidade das
informações referentes à causa básica registrada pelos médicos nos atesta-
dos de óbito. Assim, nas declarações de óbitos de adultos no período 1962/
64 em São Paulo, como causa básica, a tuberculose (todas as formas) deve-
ria ser declarada 16% a mais, o câncer no esôfago, 42%, o câncer no estôma-
go, 1%, a doença aterosclerótica do coração, 8%. Por outro lado, algumas
causas foram declaradas como básicas maior número de vezes do que
deveriam ser, pois o estudo mostrou que, na realidade, mesmo existindo
no caso daquelas mortes elas não tinham sido, a rigor, a sua causa básica.
É o que acontece muito frequentemente com as “Pneumonias” que deve-
riam ter sido declaradas 36% a menos. A mesma pesquisa mostrou que,
também em Ribeirão Preto, outra cidade onde a pesquisa foi realizada, a

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O ATESTADO DE ÓBITO

Doença de Chagas, que foi declarada como causa básica em 150 atestados,
deveria sê-lo em apenas 132; para as lesões vasculares que afetam o siste-
ma nervoso central, esses valores foram, respectivamente, 103 e 126(33).
A “Investigação Interamericana de Mortalidade na Infância”(34), que
permitiu fazer uma avaliação da qualidade das informações registradas
nos atestados de óbitos de crianças falecidas com menos de 5 anos de

Tabela 1 - Algumas doenças infecciosas declaradas como causa básica nos ates-
tados originais (declarados por médicos) e como causa básica verdadeira (conhe-
cida por investigação do caso), em menores de 5 anos, Recife, Ribeirão Preto e
São Paulo, 1968/1970 (Investigação Interamericana de Mortalidade na Infância).

ATESTADO APÓS
CIDADE/ ORIGINAL INVESTIGAÇÃO RELAÇÃO
CAUSA BÁSICA (1) (2) (2)(1)

RECIFE
Doença diarreica (009) 1.226 1.155 0,94
Tuberculose (010-019) 31 59 1,90
Coqueluche (033) 3 28 9,33
Septicemia (038) 36 21 0,58
Sarampo (055) 143 381 2,66

RIBEIRÃO PRETO
Doença diarreica (009) 190 322 1,75
Tuberculose (010-019) 3 2 0,66
Coqueluche (033) 1 7 7,00
Septicemia (038) 5 6 1,20
Sarampo (055) 26 46 1,77

SÃO PAULO
Doença diarreica (009) 863 1.198 1,39
Tuberculose (010-019) 25 26 1,04
Coqueluche (033) 19 35 1,84
Septicemia (038) 68 38 0,56
Sarampo (055) 91 156 1,71
Nota: Os números entre parênteses referem-se aos códigos das doenças na Classificação Internacional de
Doenças, 8ª Revisão. Fonte: Ref. Bibliográfica.(34)

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O ATESTADO DE ÓBITO DO PONTO DE VISTA MÉDICO

idade em três cidades brasileiras - Recife, Ribeirão Preto e São Paulo,


apresentou também erros desse tipo. As tabelas 1 e 2 mostram, para
algumas causas de morte, as incorreções existentes quanto à declaração
de doenças infecciosas em menores de 5 anos e a tabela 2 mostra os
erros quando as causas básicas consideradas foram as Perinatais, em
menores de 1 ano. Embora os dados apresentados nas Tabelas 1 e 2
sejam bastante antigos, é ilustrativo mostrá- los, visto que essas inves-
tigações são consideradas clássicas nesse assunto.
Estudando 1.832 casos que constituíram uma amostra de óbitos ocor-
ridos em hospitais da cidade de São Paulo, no período de 1971/1972,
Tabela 2 - Algumas causas perinatais declaradas como causa básica verdadeira
(conhecida por investigação do caso), em menores de 1 ano, Recife, Ribeirão Preto
e São Paulo, 1968/1970 (investigação interamericana de mortalidade na infância).

ATESTADO APÓS
CIDADE/ ORIGINAL INVESTIGAÇÃO RELAÇÃO
CAUSA BÁSICA (1) (2) (2)(1)

RECIFE
Afecções maternas (760-763) 3 27 9,00
Parto distócico (764-768) 5 81 16,20
Afecções da placenta e cordão (770-771) 5 57 11,40
Lesão ao nascer, causa não especificada (772) 49 46 0,94

RIBEIRÃO PRETO
Afecções maternas (760-763) 7 19 2,71
Parto distócico (764-768) 15 48 3,20
Afecções da placenta e cordão (770-771) 7 23 3,29
Lesão ao nascer, causa não especificada (772) 332 14 0,44

SÃO PAULO
Afecções maternas (760-763) 10 105 10,50
Parto distócico (764-768) 14 168 12,00
Afecções da placenta e cordão (770-771) 15 96 6,40
Lesão ao nascer, causa não especificada (772) 58 52 0,90
Nota: Os números entre parênteses referem-se aos códigos das doenças na Classificação Internacional de
Doenças, 8ª Revisão. Fonte: Ref. Bibliográfica.(34)

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O ATESTADO DE ÓBITO

óbitos estes de todas as idades, verificou-se que também existiam aqui


erros na declaração da causa básica, tanto para mais quanto para menos.
Assim, entre outros, a meningite meningocócica foi declarada como cau-
sa básica 3 vezes, quando deveria ser 10 vezes; o câncer de colo de útero,
8 e 11 vezes, respectivamente; as doenças hipertensivas 18 e 32 vezes; as
bronquites 18 e 31 vezes; as pneumonias 214 e 92 vezes(35).
Estudo feito com óbitos de menores de um ano na Região Metropo-
litana do Rio de Janeiro(5) mostrou uma proporção de atestados incorre-
tos de 53,1% para óbitos neonatais e 31,9% para óbitos pós neonatais.
Em pesquisa mais recente, sobre mortes de mulheres em idade fértil
(Tabela 3), evidenciou-se o mesmo problema e algumas causas de morte

Tabela 3 - Algumas causas básicas de morte segundo declaração de óbito “ori-


ginal” e “nova” (refeita após investigação). Mulheres de 10 a 49 anos, capitais
brasileiras, primeiro semestre 2002.

CAUSAS DO-ORIGINAL EXCLUI INCLUI DO-NOVA

NEOPLASIAS
Mama 390 2 35 423
Colo de Útero 196 18 68 246
Útero SOE 28 21 6 13
Pulmão 98 16 7 89

D. DO APARELHO CIRCULATÓRIO
Acidente Vascular Cerebral 569 94 102 577
Doença Isquêmica do Coração 337 149 90 278
Insuficiência Cardíaca 47 35 29 41

DIABETES 162 22 148 288

CAUSA EXTERNAS
Acidentes de Transporte 141 - 177 318
Suicídios 82 2 118 198
Homicídios 346 - 98 444
Causas Externas SOE 347 291 16 72

Fonte: Ref. Bibliográfica (36)

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O ATESTADO DE ÓBITO DO PONTO DE VISTA MÉDICO

nos atestados “originais” e “refeitos” (após a investigação de cada caso)


são apresentadas. Para cada doença, são mostrados quantos casos não
tinham aquela doença como causa básica (exclui) e quantos passaram a
ter (inclui)(36).
Lucena e col.(7), em artigo bastante atual, publicaram resultados de
pesquisa feita em área do Sul do país, em que analisaram 528 Declarações
de Óbito, verificando que cerca de metade, ainda, continha imperfeições.
A existência desses erros, entre nós, justifica plenamente os esforços no
sentido de educar ou treinar os alunos de Medicina, bem como os médi-
cos, sobre a maneira correta de preencher os atestados de óbitos, e esclare-
cer o que essas informações representam para a saúde pública.
Os resultados dos estudos realizados em nosso meio e acima des-
critos mostram que a situação não é ainda satisfatória e esta publicação,
em sucessivas edições desde 1979 – e que tem sido distribuída am-
plamente a médicos e estudantes de Medicina – tem contribuído para o
seu aprimoramento. Realmente, o Centro Brasileiro de Classificação de
Doenças, dentre suas atividades, faz, de maneira rotineira, avaliação da
qualidade do preenchimento do atestado de óbito e, embora lentamen-
te, tem sido constatada uma visível melhoria.

1.4. O problema das causas múltiplas


Embora se tenha comentado que, para fins de estatísticas oficiais
de mortalidade do país a causa selecionada seja sempre a básica, todas
as causas presentes no momento da morte ou que tenham contribuído
para a mesma devem ser mencionadas no atestado. O avanço da in-
formática, por sua vez, permite análises importantes sobre o assunto.
Esse procedimento vai possibilitar o estudo das chamadas causas
múltiplas de morte que objetiva:
1º) conhecer, para cada causa básica, quais as causas mais comu-
mente associadas;
2º) quantas vezes cada causa é mencionada nos atestados, inde-
pendente do fato de ser ou não selecionada como causa básica.
3º) do conjunto de menções, quantas vezes é selecionada como básica.

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O ATESTADO DE ÓBITO

Essa análise vai, assim, possibilitar estudos de associação de causas,


além de permitir que diagnósticos com pouca probabilidade de serem
selecionadas como causa básica possam ser conhecidos e mensurados.(37,35)
É o que ocorre por exemplo com os transtornos mentais que, segundo
dados do Ministério da Saúde, para o Brasil, em 2011, foram selecionados
como causa básica 13.725 vezes nas Declarações de Óbito, tendo, entretan-
to, sido mencionados como causa múltipla em 62.810 mortes(3).

1.5. O uso de termos vagos


Já foi referido inicialmente que o registro das causas de morte no
atestado objetiva fornecer informações para que os programas de saú-
de pública, elaborados a partir dessas evidências, sejam adequados à
população em estudo.
Com base nessa assertiva, os médicos devem sempre evitar a uti-
lização de termos vagos ou que representem sintomas, condições de
morte ou formas de morrer e não, propriamente, causas de morte. En-
quadram-se, nessa categoria “parada cardíaca”, “parada cardiorespi-
ratória”, “falência múltipla de órgãos”, entre outros, que são absolu-
tamente vagas para as estatísticas, planejamentos em saúde, ou segun-
do Murray e Lopez, 1996, correspondem a “garbage code”(38).
Em alguns óbitos decorrentes de causa externa, principalmente, sui-
cídio ou ingestão acidental de droga, medicamento ou outra substância
tóxica, é comum os legistas simplesmente anotarem “aguardando exa-
mes complementares”. Neste caso também, embora o que foi registrado
na DO não tenha nenhum valor do ponto de vista epidemiológico, o IML
pode enviar, posteriormente, ao Serviço de Estatística, uma retificação
esclarecendo sobre os resultados dos exames toxicológicos realizados.

1.6. O uso de siglas


O uso das siglas constitui-se em prática quase que universal, não só
no campo médico. Nesta área está também tão difundido que alguns hos-
pitais dispõem das publicações específicas para uso interno. Sua utiliza-
ção, entretanto, deve ser sempre evitada nos atestados de óbito, visto que

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O ATESTADO DE ÓBITO DO PONTO DE VISTA MÉDICO

uma mesma sigla pode significar doenças diferentes e, nesses casos, con-
fundir o codificador e, em última análise, alterar as estatísticas de mortali-
dade. É o caso por exemplo de IRA, que pode corresponder a Insuficiên-
cia Respiratória Aguda ou Insuficiência Renal Aguda; ICC, que pode sig-
nificar Insuficiência Cardíaca Congestiva ou Insuficiência Coronária Crô-
nica; TV corresponder a Trombose Venosa ou Taquicardia Ventricular.

1.7. O intervalo de tempo entre início da doença e a morte


Já foi referido anteriormente que, embora o médico mencione a Cau-
sa Básica na sequência de causas que conduziram à morte, nem sempre
o faz de maneira correta. Nesse sentido, o registro do tempo aproxima-
do entre o início da doença e o óbito é bastante importante para que a
correção possa ser feita.
Aqui é importante salientar que, em havendo dificuldade em pre-
cisar o início da doença, é aceitável fazer referência ao momento em
que foi feito o diagnóstico.
É importante referir que, anotando um só diagnóstico por linha, o
tempo entre o início da doença e a morte vai referir-se sempre àquele
diagnóstico.

1.8. CID (Classificação Internacional de Doenças)


Trata-se de espaço destinado aos codificadores dos serviços de
estatísticas das repartições encarregadas de trabalhar com o Sistema de
Informações de Mortalidade. Vai corresponder ao código de cada di-
agnóstico na Classificação Internacional de Doenças. O médico, portan-
to, deve deixá-lo em branco.

1.9. Exemplos sobre preenchimento de atestados de óbito


Neste item são apresentados 20 casos com as histórias clínicas que
ocasionaram o óbito. Em seguida, aparece a forma correta do preen-
chimento do atestado para cada caso. Na sequência, a maneira como o
atestado original foi preenchido pelo médico e alguns comentários que
julgamos pertinentes.

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O ATESTADO DE ÓBITO

CASO 1: MASCULINO, 8 MESES


Dia 3/12 começou a apresentar diarreia e vômitos de moderada intensida-
de até o dia 6, quando o quadro se intensificou e foi levado no Pronto Socor-
ro: estava desidratado (2º para 3º grau) e apresentava sinais de desnutrição
moderada. No dia 7, apresentou aspiração de vômitos, tendo-se desenvol-
vido quadro típico de broncopneumonia, comprovada pelo RX, dia 8. O
quadro se agravou, apresentando-se febril e diarréico. Faleceu no dia 10.
FORMA CORRETA

ATESTADO ORIGINAL

COMENTÁRIOS
O médico, no atestado original, não declarou a causa básica (gastroen-
terite) na Parte I, referindo apenas desidratação, que é uma complica-
ção da causa básica. Esse é um erro muito comum que deve ser evita-
do. Ainda que, quase sempre, a desidratação seja devido às síndromes
diarréicas, pode ocorrer como consequência de outros processos infec-
ciosos com quadro febril intenso. Não foi mencionado o tempo decor-
rido nem preenchidos os Campos 38 e 39.

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O ATESTADO DE ÓBITO DO PONTO DE VISTA MÉDICO

CASO 2: FEMININO, 30 ANOS


Há um mês teve várias hematêmeses e, desde então, queda do estado
geral, palidez acentuada e melena frequente. No dia da internação (18
de novembro), nova hematêmese. Ao exame físico: pressão arterial 80X60
mm Hg, pulso 128, hidratada, mucosas descoradas +++, baço a um
dedo, fígado a 1 dedo, liso e duro. Visto ser a paciente procedente de
zona endêmica de esquistossomose, foi feito o diagnóstico clínico de
rotura de varizes esofagianas consequentes da hipertensão portal por
fibrose hepática esquistossomótica. Este diagnóstico foi posteriormen-
te confirmado por biópsia hepática. Feito o tamponamento das varizes,
sem resultado. Operada (19 de novembro): esplenectomia e ligadura
das veias cardiotuberositárias. Persistiu, porém, a hematêmese e a pa-
ciente veio a morrer em choque irreversível no dia 22 de novembro.
Não foi realizada a autopsia.

FORMA CORRETA

32

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O ATESTADO DE ÓBITO

ATESTADO ORIGINAL

COMENTÁRIOS
Neste caso, o médico, no atestado original, não fez nenhuma referência
à causa básica (esquistossomose). Por outro lado, mesmo tendo coloca-
do o tempo e declarado a hemorragia como causa básica, não refere
qual a localização da mesma. Esse é um aspecto negativo nas estatísti-
cas de mortalidade, visto que hemorragia sem outra especificação pode
ser até decorrente de causa violenta. Nota-se que, apesar de se tratar de
óbito de mulher em idade fértil, o Campo 37 não foi preenchido, o que
é um erro. Idem, os Campos 38 e 39.

33

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O ATESTADO DE ÓBITO DO PONTO DE VISTA MÉDICO

CASO 3: FEMININO, 36 ANOS


Há 20 anos teve febre reumática, apresentando, como complicação, es-
tenose mitral. Há 5 anos vem apresentando insuficiência cardíaca con-
gestiva com compensação após tratamento. Ultimamente, o quadro se
agravou, sendo que a insuficiência cardíaca tornou-se irreversível. Fa-
leceu com esse quadro. Há 4 anos foi constatado ter hipertensão arteri-
al, a qual evoluiu com níveis variando de 190-160 mm Hg (sistólica) e
100-120 mm Hg (diastólica).

FORMA CORRETA

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O ATESTADO DE ÓBITO

ATESTADO ORIGINAL

COMENTÁRIOS
O médico colocou como causa terminal a estenose mitral e como causa
básica a insuficiência cardíaca. Isto é, informou que esta última foi a
causa daquela. Não somente existe um erro quanto à sequência, mas
também não foi informada corretamente a causa básica (febre reumáti-
ca), que aparece citada na Parte II do Atestado. O Campo 37 não foi
preenchido, embora se tratasse de óbito de mulher em idade fértil. Essa
também é uma falha bastante comum e vai obrigar o Serviço de Saúde
a promover uma investigação para saber se a falecida estava (ou havia
estado) grávida, a fim de, se for o caso, promover a devida correção
para óbito por causa materna.

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O ATESTADO DE ÓBITO DO PONTO DE VISTA MÉDICO

CASO 4: MASCULINO, 72 ANOS


Há 10 meses foi operado de câncer gástrico (comprovado por exame
histopatológico). Na evolução, apresentou metástases pulmonares e o
quadro clínico foi progressivamente piorando sendo que, uma semana
antes do óbito, apresentou quadro broncopneumônico. O paciente era
hipertenso há anos e 3 meses antes da morte teve um acidente vascular
cerebral, permanecendo hemiplégico.

FORMA CORRETA

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O ATESTADO DE ÓBITO

ATESTADO ORIGINAL

COMENTÁRIOS
Embora o médico que preencheu o atestado de óbito fosse quem sem-
pre tratou o doente, inclusive, conhecendo todos os exames comple-
mentares que comprovaram os diagnósticos, esses não foram registra-
dos no atestado. O paciente não tinha câncer de pulmão, mas sim, a
localização primária da neoplasia era no estômago. No pulmão, pelo
diagnóstico feito, havia metástase. Esse é um tipo de erro muito fre-
quente: o médico declara somente as metástases e não a localização
primária, que é a causa básica, o que deturpa as estatísticas de mortali-
dade segundo causas.
Deve-se notar também que o médico não declarou as outras afec-
ções que o paciente apresentava – Hipertensão Arterial e Acidente Vas-
cular Cerebral – que deviam ser anotadas na Parte II.

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O ATESTADO DE ÓBITO DO PONTO DE VISTA MÉDICO

CASO 5: MASCULINO, 3 HORAS


Criança nascida de parto normal, em precárias condições (APGAR 2). A ges-
tação havia sido normal até mais ou menos os 8 meses, quando a mãe come-
çou a apresentar hemorragia vaginal, não procurando médico nas primeiras
24 horas. Quando foi levada ao hospital já estava em pré-choque. Foi diag-
nosticado desprendimento prematuro da placenta. A criança nasceu cianóti-
ca, com sinais e sintomas de anoxia, falecendo 3 horas após o nascimento.
FORMA CORRETA

ATESTADO ORIGINAL

COMENTÁRIOS
É muito frequente, em casos de morte perinatais (nascidos mortos e mortes
na primeira semana de vida), o médico declarar somente anóxia ou hipóxia,
sem fazer referência à causa básica que levou a isso. É verdade que, em
muitos casos, não é fácil saber qual a causa que levou à anóxia e, às vezes, é
mesmo impossível. Nessa eventualidade, cabe somente informar a anóxia.
Porém, sempre que se conhecer o fator materno, fetal ou materno-fetal cau-
sador de anóxia, esse fator deve ser registrado como causa básica.

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O ATESTADO DE ÓBITO

CASO 6: FEMININO, 3 ANOS


Criança portadora de Tetralogia de Fallot; vinha passando relativamente
bem e estava sendo preparada para ser submetida à cirurgia. Numa
manhã, quando a mãe foi a seu quarto, encontrou-a morta.

FORMA CORRETA

ATESTADO ORIGINAL

COMENTÁRIOS
O diagnóstico básico estava bem estabelecido, porém não foi possível
estabelecer qual foi a causa terminal (arritmia cardíaca? crise anóxia?
outra complicação?). Nessas circunstâncias deve ser registrada somen-
te a causa básica, não se tentando “criar” algum diagnóstico que justifi-
que a morte. O atestado original apresenta dois erros: primeiro, a sequ-
ência é impossível; de fato, uma “parada cardíaca” não leva a uma “car-
diopatia congênita” e, sim, o contrário. Em segundo lugar, o médico

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O ATESTADO DE ÓBITO DO PONTO DE VISTA MÉDICO

registrou cardiopatia congênita quando o diagnóstico desta já estava


bem claro, isto é, tratava-se de Tetralogia de Fallot. Deve-se também
notar que o termo “parada cardíaca” é muito utilizado entre nós (às
vezes como única informação no atestado de óbito) mesmo naqueles
casos onde a causa básica não é uma doença cardíaca. Quando a morte
ocorre, obviamente, há a parada de batimentos cardíacos. Recomenda-
se não colocar o diagnóstico “parada cardíaca”.

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O ATESTADO DE ÓBITO

CASO 7: MASCULINO, 42 ANOS


Pedreiro estava trabalhando em um andaime, à altura do 12º andar, quan-
do caiu acidentalmente. Teve morte instantânea. O relatório de autopsia
(IML) evidenciou traumatismos múltiplos (crânio, bacia, membros).
FORMA CORRETA

ATESTADO ORIGINAL

COMENTÁRIOS
No caso de mortes violentas (acidentes, suicídios, homicídios), por definição,
a causa básica é a “circunstância do acidente”. No caso, a “queda acidental de
andaime” e, dessa maneira, deveria estar especificada. A circunstância do aci-
dente é a chamada causa externa da lesão e a consequência (traumatismo,
ferimento, queimadura etc.) é a chamada natureza da lesão. Para efeito de
estatísticas de mortalidade segundo causa básica, somente interessa a causa
externa. O problema que ocorre é que, nesses casos de mortes violentas, quem
preenche e assina os atestados de óbito é o médico do Instituto Médico Legal
(IML). Nesse caso, é importante que o legista preencha, também, os itens es-
pecíficos relativos à violência. Bloco VII da DO (ver Parte II desta publicação).

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O ATESTADO DE ÓBITO DO PONTO DE VISTA MÉDICO

CASO 8: FEMININO, 50 ANOS


Há 2 anos, nódulos na mama esquerda. Na ocasião da consulta, apresentava
grande aumento da mama, mamilo retraído e gânglios axilares palpáveis.
Foi levada à cirurgia (maio) com diagnóstico de câncer da mama com me-
tástases ganglionares, o que foi confirmado por cirurgia e biópsia. Passou
bem por quatro meses, quando o estado geral começou a piorar, aparecen-
do fígado aumentado de volume, nodular, ascite e icterícia. Dois dias antes
do óbito entrou em coma hepático, clínica e laboratorialmente comprovado.
Faleceu em janeiro do ano seguinte, não tendo sido realizada a autopsia.
FORMA CORRETA

ATESTADO ORIGINAL

COMENTÁRIOS
Na Parte I do atestado não fica claro o que o médico quis dizer. Neopla-
sia benigna ou maligna? Qual a localização? Na Parte II, anotou, como
causa, “Ca de seio”, quando provavelmente queria dizer “CA de mama”.
Nota-se que o intervalo de tempo entre o início da doença e a morte
também não foi referido.

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O ATESTADO DE ÓBITO

CASO 9: FEMININO, 31 ANOS


Gravidez de 8 meses, não fez pré-natal. Há semanas, as pernas ficaram
muito inchadas e assim permaneceu até agora. Há 5 dias vem tendo
muita dor de cabeça e ficou “torporosa”. Hoje “perdeu a consciência” e
quase não respondia nem reagia quando era chamada. Trazida ao Pronto
Socorro, encontrou-se: edema +++ de membros inferiores; taquicardia
(FC=120), PA= 210 X 140 mm Hg; coma superficial; pulmões com ester-
tores crepitantes, principalmente nas bases. Durante o exame apresen-
tou convulsão, tendo vomitado e aspirado vômito. Diagnóstico:
“eclâmpsia, convulsões, aspiração de vômito”. Um RX, no dia seguin-
te, mostrou “broncopneumonia”, evoluiu com febre alta, semicomato-
sa, tendo sido também diagnosticada “septicemia”. Esse último diag-
nóstico, entretanto, só apareceu uma vez na evolução e com interroga-
ção (?). Faleceu 4 dias após a internação, com o mesmo quadro.

FORMA CORRETA

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O ATESTADO DE ÓBITO DO PONTO DE VISTA MÉDICO

ATESTADO ORIGINAL

COMENTÁRIOS
Ainda que informada a causa básica (eclâmpsia), esta foi declarada in-
corretamente no atestado de óbito. De fato, ela foi declarada como conse-
quência ou devido à Broncopneumonia. Na “Forma Correta”, foi de-
clarada na Parte II “gestação de 8 meses”. Informação deste tipo tem
sido frequente em casos de morte materna. Por outro lado, não foi pos-
sível precisar o tempo ou intervalo de tempo de surgimento da eclâmp-
sia. Pela história clínica, julgou-se 2 semanas, colocando, por essa ra-
zão, uma interrogação (?). O médico, no atestado original, não fez men-
ção ao tempo.

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O ATESTADO DE ÓBITO

CASO 10: FEMININO, 61 ANOS


Em 09 de julho, com diagnóstico de adenocarcinoma de corpo uteri-
no comprovado por biópsia, submeteu-se a uma panhisterectomia.
Fez tratamento, a seguir, com quimioterápicos e transfusões de san-
gue. Tinha uma hipertensão arterial antiga (220 X 140 mm Hg) que
vinha sendo controlada com hipotensores e dieta hipossódica. Um
ano e dois meses após, em 24 de novembro, teve quadro de incons-
ciência, com desvio da boca para a esquerda, hemiplegia direita com
hiperreflexia patelar e Babinski esboçado. O quadro foi tratado como
acidente vascular cerebral, tendo havido recuperação parcial. No dia
do óbito, 11 de dezembro, entrou subitamente em coma profundo,
com total arreflexia. Faleceu horas após à instalação do quadro, sem
se recuperar. O exame de líquor revelou hemorragia.

FORMA CORRETA

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O ATESTADO DE ÓBITO DO PONTO DE VISTA MÉDICO

ATESTADO ORIGINAL

COMENTÁRIOS
O atestado original preenchido pelo médico estava correto, faltan-
do, apenas a informação relativa ao intervalo de tempo decorrido
entre o início da doença e a morte, além do preenchimento dos Cam-
pos 38 e 39.

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O ATESTADO DE ÓBITO

CASO 11: FEMININO, 48 ANOS


Há 20 anos diabética, mantendo-se bem compensada; há 10 anos, hiper-
tensão arterial, porém, nunca seguiu regularmente o tratamento recomen-
dado. Somente fazia o tratamento para diabetes (antidiabético oral e, oca-
sionalmente, insulina). Nos últimos dois anos, sua P.A., por várias vezes,
chegou a níveis superiores a 200 mm Hg, de máxima. Há 6 meses, apre-
sentou A.V.C. isquêmico, ficando com sequela de hemiparesia esquerda;
na ocasião do A.V.C. referiu dor precordial e o E.C.G apresentou “isque-
mia miocárdia intensa”. Esteve internada por 2 semanas. Desde então, vem
tomando vasodilatadores coronarianos e segue, rigorosamente, o trata-
mento para a hipertensão (hipotensor e diurético). Há um mês, metrorra-
gia moderada que melhorou com remédios receitados por farmacêutico;
há 3 dias, metrorragia intensa, ficando acamada e como não melhorasse
procurou o hospital. Suspeitando de “tumor uterino”, foi internada e fei-
tos vários exames que estavam todos normais, exceto o E.C.G., que mos-
trou sinais de isquemia miocárdia. Submetida à cirurgia, foi constatado
ser portadora de mioma uterino, tendo sido feita histerectomia. Passou
bem no 1º dia, sendo que, no 2º dia após a cirurgia, começou a apresentar
“desconforto” precordial. Feito E.C.G., que evidenciou taquicardia com
extrassístoles ventriculares. Levada à U.T.I, apresentou várias crises de fi-
brilação ventricular, tendo falecido numa dessas crises. Os E.C.G. não re-
velaram enfarte. Faleceu 52 horas após a cirurgia.

FORMA CORRETA

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O ATESTADO DE ÓBITO DO PONTO DE VISTA MÉDICO

ATESTADO ORIGINAL

COMENTÁRIOS
O atestado original estava correto quanto ao preenchimento das cau-
sas, inclusive, o tempo entre cada diagnóstico e a morte. Note-se que o
médico informou, ainda (embora tenha usado linha adicional), que a
paciente tinha mioma uterino há 6 meses. A incorreção apresentada re-
fere-se, apenas, ao não preenchimento dos Campos 37, 38 e 39.

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O ATESTADO DE ÓBITO

CASO 12: FEMININO, 10 MESES


Há 5 dias, febre moderada e um pouco de tosse e inapetência, não acei-
tando praticamente nada. Há 2 dias, febre alta e muita tosse. Ao exame
físico, apresentava sinais característicos de broncopneumonia; criança
em péssimo estado geral, desidratada ++, ofegante, batimento de asas
de nariz, temperatura 39,5ºC. Nessas condições, foi internada de ur-
gência: feita radiografia, que confirmou o diagnóstico de broncopneu-
monia. Faleceu 2 horas após a internação.

FORMA CORRETA

ATESTADO ORIGINAL

COMENTÁRIOS
Sem comentários! Apesar de todos os diagnósticos feitos, o médico não
colocou nenhum. Escreveu apenas “parada cardíaca”, expressão que
não se recomenda utilizar, conforme comentado no item 1.5 desta pu-
blicação. Nota-se que os Campos 38 e 39 não foram preenchidos.

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O ATESTADO DE ÓBITO DO PONTO DE VISTA MÉDICO

CASO 13: MASCULINO, 7 MESES


Há 10 dias, choro mais ou menos contínuo, tendo sido notada febre;
porém, a mãe não soube dizer a quanto chegou a temperatura. Per-
maneceu uns 2 dias assim, tomando apenas aspirina. Levou a criança
ao farmacêutico que disse ser “dor de ouvido” e receitou “gotas”. Como
não melhorasse, levou a um médico que examinou e diagnosticou “otite
média aguda”, referindo que era preciso levar a um especialista para
fazer paracentese. A mãe não levou e continuou com os remédios recei-
tados pelo farmacêutico. Há 2 dias, foi notado que a criança estava com
o pescoço “um pouco duro” e teve uma convulsão mais intensa, tendo
sido levada ao hospital. À admissão apresentava: temperatura 39ºC,
rigidez de nuca, desidratação, pulmões limpos. O exame O.R.L. reve-
lou otite média bilateral e o líquor mostrou-se purulento. Feito o diag-
nóstico de meningite purulenta e iniciado tratamento. Aproximadamen-
te 5 horas após a internação teve uma crise convulsiva bastante intensa,
falecendo logo a seguir.

FORMA CORRETA

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O ATESTADO DE ÓBITO

ATESTADO ORIGINAL

COMENTÁRIOS
O atestado original foi passado corretamente quanto às causas e sua
sequência, faltando, entretanto, o preenchimento dos Campos 38 e 39 e
o tempo decorrido entre cada diagnóstico e o óbito.

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O ATESTADO DE ÓBITO DO PONTO DE VISTA MÉDICO

CASO 14: FEMININO, 32 ANOS


Em 10 de maio foi admitida em estado de choque, num serviço de
emergência. Estava no final do 8º mês de gestação e fez apenas duas
consultas durante o pré-natal (no 4º e 5º mês de gestação). Essa era a
4ª gestação, sendo as anteriores normais e com filhos vivos. À entra-
da, não se conseguiu detectar a pressão arterial, pulso fino e taquicár-
dico (em torno de 140 por minuto). Anemia intensa de mucosas. Se-
gundo familiares, estava com hemorragia genital há “mais de uma
semana”, de início não muito abundante, porém, de intensidade cres-
cente. Há dois dias permaneceu na cama e hoje, ao levantar-se, des-
maiou, sendo então trazida ao Pronto Socorro. Foi diagnosticada: ane-
mia aguda por hemorragia devido a descolamento da placenta, com
feto morto. Foi realizada operação cesariana, tendo ocorrido o óbito
imediatamente após a cirurgia.

FORMA CORRETA

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O ATESTADO DE ÓBITO

ATESTADO ORIGINAL

COMENTÁRIOS
Trata-se de um caso de morte materna. Esse grupo de causas - mater-
nas - por várias razões, constitui aquele mais mal declarado pelos
médicos. Estima-se que exista uma subenumeração de aproximada-
mente 50% dos casos. Pelo atestado original, não existe nenhuma in-
dicação de que se trata de uma morte por uma complicação da gravi-
dez. O médico, nesse caso, deve estar atento aos itens específicos do
atestado de óbito, respondendo se a mulher estava grávida no mo-
mento da morte ou se esteve grávida nos doze meses que precede-
ram o óbito (Campo 37 do Bloco V).
Aqui é importante notar, também, que o atestado de óbito citado é
o relativo à morte da mãe, sendo necessário preencher outra Declara-
ção para o filho nascido morto, anotando, na 1ª casela da DO (Campo 1
do Bloco I), que se trata de óbito fetal (ver Parte II desta publicação).
O atestado médico de causa de morte para o nascido morto seria:

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O ATESTADO DE ÓBITO DO PONTO DE VISTA MÉDICO

CASO 15: MASCULINO, 26 ANOS


Há 3 anos foi diagnosticado ser portador do vírus HIV, sendo, entretan-
to, completamente assintomático. Há 10 meses começou a apresentar
febre, diarréias ocasionais, emagrecimento e “manchas” na pele. Pas-
sou a ter tosse e foi feito diagnóstico de tuberculose pulmonar, confir-
mado por exames complementares. O estado geral foi se agravando e
estava caquético. Há 6 dias, o estado geral piorou ainda mais, com muita
tosse, expectoração mucopuruleta e com laivos de sangue. RX de tórax
compatível com tuberculose e broncopneumonia. Quadro de intensa
dificuldade respiratória, dispnéico e ligeiramente cianótico. Faleceu
com quadro de insuficiência respiratória grave.

FORMA CORRETA

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O ATESTADO DE
OÓABITO DO PDE
TESTADO ÓBITO
ONTO DE VISTA MÉDICO

ATESTADO ORIGINAL

COMENTÁRIOS
Ainda que o médico tenha declarado a causa básica (AIDS), não co-
locou as complicações, fato que prejudica os estudos sobre as doen-
ças associadas à AIDS (causas múltiplas como referido em 1.4 desta
publicação). Além disso, fez o registro da causa em 1b e não em 1a
como seria de se esperar, se essa foi a única causa citada. Os Cam-
pos 38 e 39 não foram preenchidos, como também não mencionado o
tempo relativo à AIDS.

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O ATESTADO DE ÓBITO DO PONTO DE VISTA MÉDICO

CASO 16: MASCULINO, 63 ANOS


Diabético há 20 anos sendo que, ultimamente (mais ou menos 1 ano),
vem apresentando dores no peito, claudicação intermitente e pés frios.
Há mais ou menos um mês, esteve internado para fazer exames e teve
os diagnósticos: diabetes mellitus, aterosclerose generalizada, cardio-
patia isquêmica, arteriopatia periférica (diabética) e hipertensão arteri-
al. Há 4 dias, teve forte dor no peito e desmaiou. Ficou muito pálido e
com sudorese abundante. Trazido para a Emergência, chegou em razo-
ável estado geral, sendo que o E.C.G. mostrou “infarto extenso do mio-
cárdio”. Cinco horas após ser internado, teve arritmia cardíaca e, a se-
guir, edema agudo de pulmão e morte.
FORMA CORRETA

ATESTADO ORIGINAL

COMENTÁRIOS
O atestado original está correto. O médico admitiu a hipertensão arte-
rial como sendo consequência do diabetes de 20 anos, embora não te-
nha mencionado o tempo, nem preenchido os Campos 38 e 39.

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O ATESTADO DE ÓBITO

CASO 17: FEMININO, 22 ANOS


Chegou ao hospital trazida pelo zelador do prédio em que residia.
Havia sido encontrada caída, no hall social do edifício. Morreu logo
após. O Plantonista do serviço de Emergência suspeitou de intoxica-
ção exógena, encaminhando o corpo para o IML.
FORMA CORRETA

ATESTADO ORIGINAL

COMENTÁRIOS
Embora o atestado original esteja, praticamente, igual à forma correta,
nesses casos, após o resultado dos exames, se a causa vier a ser consta-
tada, o IML poderá enviar a informação ao Serviço de Estatística Local,
conforme referido no item 1.7 desta publicação.
Quanto à realização da necropsia em mulheres em idade fértil, é
importante o exame do útero e anexos, visando ao possível relaciona-
mento da causa com gravidez, e, portanto, correção dos casos de morte
materna. Notar que os Campos 37, 38 e 39 não foram preenchidos no
atestado original.

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O ATESTADO DE ÓBITO DO PONTO DE VISTA MÉDICO

CASO 18: MASCULINO, 70 ANOS


Ao atravessar a rua, foi atropelado por motocicleta que vinha em alta
velocidade. Foi recolhido pelo Serviço de Resgate e deu entrada ao PS
com ferimento na cabeça. Constatando traumatismo crânio-encefálico,
foi operado, evoluindo para óbito durante a cirurgia. O corpo foi enca-
minhado para o IML.

FORMA CORRETA

ATESTADO ORIGINAL

COMENTÁRIOS
Nota-se que o legista preencheu exclusivamente, a natureza da lesão,
não fazendo menção às circunstâncias do acidente responsável por es-
sas lesões. Além disso, usou apenas sigla, o que deve ser evitado. Os
Campos 38 e 39 não foram preenchidos, assim como o tempo (ver co-
mentário sobre o Caso 19).

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O ATESTADO DE ÓBITO

CASO 19: MASCULINO, 26 ANOS


No mesmo acidente anterior (CASO 18), ocorreu queda do condutor da
moto, que bateu a cabeça na guia (estava sem capacete). Chegou ao
hospital com TCE, foi submetido a cirurgia e, após 8 dias de interna-
ção, evoluiu para óbito. Corpo encaminhado ao IML.

FORMA CORRETA

ATESTADO ORIGINAL

COMENTÁRIOS
Ver comentário ao caso anterior (Caso 18). Além de usar sigla, o que deve
ser evitado, não fica claro qual a qualidade dessa vítima enquanto usuá-
ria da via pública, visto que o legista não colocou a circunstâncias do
acidente, nem o intervalo de tempo decorrido entre o acidente e a morte.
É possível notar que, relativamente ao Caso 18, este se refere a uma que-
da de moto (o falecido conduzia a moto), com óbito 8 dias após o aciden-
te. O Caso 18 diz respeito a atropelamento por moto, com óbito horas
após o acidente e ambos foram passados somente como TCE

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O ATESTADO DE ÓBITO DO PONTO DE VISTA MÉDICO

CASO 20: MASCULINO, 49 ANOS


Há 1 semana apresentou dor forte no peito, acompanhada de sudore-
se e tontura. Atendido em Serviço de Emergência foi diagnosticado
infarto agudo do miocárdio. Estava com PA 140X95, tendo informado
que tinha pressão alta desde a idade de 30 anos. Nunca seguiu trata-
mento. Durante a semana não passou bem, sempre com mal estar e,
às vezes, dor no peito. Há mais ou menos 30 minutos sentiu “fortes
palpitações e tontura”. O médico constatou arritmia cardíaca e, antes
de fazer um eletro, morreu.
FORMA CORRETA

ATESTADO ORIGINAL

COMENTÁRIOS
A exemplo do que foi dito em relação ao Caso 12, apesar de terem sido
feitos três diagnósticos, o médico errou ao colocar, apenas, “Parada
Cardíaca” na Parte I, informando o infarto, na Parte II, por meio de si-
gla. O tempo não foi sequer mencionado.

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O ATESTADO DE ÓBITO

1.10. Casos de óbitos fetais


Segundo dispõe o Conselho Federal de Medicina, em sua Resolu-
ção nº 1601 de 9 de agosto de 2000, considerada um marco, posterior-
mente revogada pela Resolução nº 1779(56) de 11 de novembro de 2005
(ver Parte II desta publicação), os médicos são obrigados a preencher
uma “Declaração de Perda Fetal” nos casos de mortes intra-útero, para
produtos de 20 semanas ou mais de gestação ou 500g de peso ou 25 cm
de estatura.
A declaração de morte ou perda fetal é feita no mesmo formulário
em que são feitas as declarações de óbitos, devendo ser assinalado,
no canto superior esquerdo do formulário, tratar-se de “Óbito Fetal”
(variável 1 do Bloco I). Entretanto, sabe-se que nem sempre é fácil
fazer uma declaração correta de causa de morte fetal. Em muitos ca-
sos, isso somente seria possível se fosse feita necropsia, o que não
ocorre rotineiramente.
A seguir são apresentados casos de mortes fetais: a história cons-
tante do prontuário, a forma correta de preencher a DO e como foi pre-
enchida, pelo médico, em sua forma original, seguidas de comentários
julgados pertinentes.

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O ATESTADO DE ÓBITO DO PONTO DE VISTA MÉDICO

CASO A: MASCULINO, 34 SEMANAS DE GESTAÇÃO (CONCEPTO MORTO)


Gestante deu entrada na emergência com história de “8 meses de gesta-
ção”, não fez pré-natal; pés e pernas muito inchadas, cefaléia intensa há 5
dias; há mais ou menos 8 ou 10 horas, não responde às perguntas feitas e
teve convulsões. Ao exame físico, além de edema de membros inferiores
(+++) apresentava pressão arterial 280 X 145 mm Hg, taquicardia e mu-
cosas secas. Não reage a estímulos. Feito diagnóstico de toxemia graví-
dica e, à ausculta fetal, batimentos cardíacos pouco audíveis. Enquanto
preparava medicação de urgência, ocorreu a morte da mulher. Feita ce-
sárea pós-mortem; porém o produto, de 2.300 gramas, estava morto
FORMA CORRETA

ATESTADO ORIGINAL

COMENTÁRIOS
De maneira geral, as declarações de morte fetal não foram bem preenchidas
pelos médicos, mesmo existindo diagnóstico da causa. No caso, declarou
apenas tratar-se de natimorto, quando, pela história, é possível esclarecer
que se trata de morte intra-útero em decorrência de uma eclâmpsia materna.

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O ATESTADO DE ÓBITO

CASO B: FEMININO, 29 SEMANAS DE GESTAÇÃO (CONCEPTO MORTO)


Gestante procurou o obstetra referindo que, há dias, não vinha sentindo
os movimentos fetais. Não apresentava nenhuma outra queixa. Consta-
tada a morte fetal, a paciente foi encaminhada ao hospital, onde foi feita
cesárea e o produto de 900 g apresentava-se extremamente normal. En-
caminhado à necropsia, esta revelou: 1) transposição dos grandes vasos
da base 2) ventrículo único 3) estenose da crossa da aorta 4) agenesia do
rim esquerdo 5) hidronefrose do rim direito 6) atresia de ureter.
FORMA CORRETA

ATESTADO ORIGINAL

COMENTÁRIOS
Ainda que a necropsia tivesse mostrado várias malformações congêni-
tas, o médico não as informou na declaração de perda fetal. Por outro
lado, na forma correta, preferiu-se colocar como causa básica “malfor-
mações congênitas múltiplas” em vez de especificar cada uma, pois
nem sempre é fácil, nesses casos, apontar a mais importante, responsá-
vel pela morte. Optou-se por descrever todas elas na Parte II.

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O ATESTADO DE ÓBITO DO PONTO DE VISTA MÉDICO

CASO C: MASCULINO, 34 SEMANAS DE GESTAÇÃO (CONCEPTO MORTO)


Gestante estava sentada ao lado do motorista do carro (seu marido)
quando, ao atravessar um cruzamento, houve colisão do veículo em
que se encontrava com ônibus, que vinha em alta velocidade. O moto-
rista morreu no local e a mulher foi levada a um hospital próximo.
Estava em choque, com escoriações múltiplas, hemorragia pela boca e
pelo genital. Laparotomia de urgência revelou rotura de fígado e baço,
com grande quantidade de sangue intra-abdominal. Foi retirado o feto
(2800g), que já estava morto. A mulher morreu durante a cirurgia. Este
é o atestado do concepto.
FORMA CORRETA

ATESTADO ORIGINAL

COMENTÁRIOS
Atestado original, o médico declarou “acidente grave com a mãe”, mas
não especificou qual, o que deveria ter feito. É possível notar, também,
que os Campos 38 e 39 não foram preenchidos, o que é aceitável, visto
tratar-se de óbito fetal.

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O ATESTADO DE ÓBITO

CASO D: FEMININO, 39 SEMANAS DE GESTAÇÃO (CONCEPTO MORTO)


Gestante deu entrada no Pronto Socorro em trabalho de parto e com
feto já sendo expulso. Produto de 3000g, morto, aparentemente normal
(não foi feita necropsia). A mãe referiu que a gravidez havia sido nor-
mal e fez pré-natal até o 4º mês de gestação. Não foi feito diagnóstico.

FORMA CORRETA

ATESTADO ORIGINAL

COMENTÁRIOS
Não foi possível estabelecer o(s) diagnóstico (s) responsável (is) pela
morte fetal. Nesses casos, é recomendado que o médico declare “causa
ignorada” como causa básica.

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O ATESTADO DE ÓBITO DO PONTO DE VISTA MÉDICO

CASO E: FEMININO, 34 SEMANAS DE GESTAÇÃO (CONCEPTO MORTO)


Gestante normal, tendo feito pré-natal rotineiro. Há 2 dias foi ao Posto
de Saúde para consulta normal de pré-natal e o médico a encaminhou,
urgente, ao hospital, pois “não estava ouvindo o bebê”. Apesar disso,
veio somente hoje e, ao exame, não se auscultavam os batimentos fe-
tais. Feita cesárea: feto morto, com várias circulares bastante apertadas
de cordão umbilical. Peso: 3000g.

FORMA CORRETA

ATESTADO ORIGINAL

COMENTÁRIOS
O médico informou a “Anoxia” sendo que, entretanto, colocou a causa
desta na Parte II, o que está incorreto.

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O ATESTADO DE ÓBITO

PARTE 2

O atestado de óbito dos


pontos de vista ético e jurídico

2.1. Preliminares
O problema referente às implicações jurídicas da morte está fun-
damentalmente ligado ao conceito desse evento vital e, consequente
consideração do que se entende por cadáver, quando começa e quando
termina sua existência. Ligado ainda a esse assunto, surge o problema
de se saber qual a obrigatoriedade desse profissional em fornecer o
atestado visto que
nenhum enterramento pode ser feito sem certidão do oficial do car-
tório, extraído após a lavratura do assento de óbito feito à vista do
atestado médico(39).

Do ponto de vista jurídico, a certidão de óbito lavrada em Cartó-


rio se constitui em prova cabal e incontestável do desaparecimento
do indivíduo, assegurando, assim, a realidade da morte, satisfazen-
do exigências da determinação de sua causa jurídica e esclarecendo
questões de ordem sanitária.
Neste aspecto, o atestado visa, principalmente, à elaboração de
estatísticas com a precisão exata da causa da morte. No que se refere
à causa jurídica, é importante que seja determinado se se trata de
morte natural ou violenta. A lei prevê o registro obrigatório do óbi-
to, não se contentando, no caso, com a simples informação do

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O ATESTADO DE ÓBITO DOS PONTOS DE VISTA ÉTICO E JURÍDICO

declarante: exige ela que o fato se documente com o atestado passa-


do pelo médico ou, nas localidades onde não exista esse profissio-
nal, com a declaração de duas testemunhas que tenham presenciado
ou verificado o óbito(40).
Regulamentam a matéria, em nível nacional, artigos dos Códigos
Civil, Penal, de Processo Penal, da Lei de Registros Públicos, do Códi-
go de Ética Médica, além de leis federais esparsas que, acompanhadas
por normas em cada Estado, além de Portarias/Resoluções Ministeriais
do País, constituem a legislação em vigor sobre a matéria.
O documento a ser fornecido por médico é a Declaração de Óbito
- DO – Esse documento, formado por três vias autocopiativas e de
cores diferentes, todas numeradas sequencialmente, constitui-se na
fonte principal e básica do Sistema de Informações sobre Mortalida-
de do Ministério da Saúde (SIM/MS), implantado no país em meados
da década de 70, como referido. Tal qual está estabelecido na Portaria
nº 116 de 11.02.2009 do Ministério da Saúde(41), é o documento pa-
drão para coleta de informações sobre mortalidade, subsidiando as
estatísticas vitais e a epidemiologia, no país.
Elaboração, alterações, distribuição, fluxo, recolhimento, avalia-
ção, investigação e elaboração de estatísticas são da competência do
Ministério da Saúde e podem ser conhecidas, também, por meio da
Portaria MS nº 116/2009 referida. O modelo de DO vem sofrendo,
desde a sua implantação, algumas modificações em seu “layout”, com
o objetivo de permitir trazer à luz maior número e mais precisas in-
formações para a área da Saúde por meio de um melhor entendimen-
to do médico sobre cada dado solicitado. O modelo em vigor no país,
desde 2011, é o apresentado no anexo 1, sendo composto por 9 partes
(Blocos), que passam a ser analisados a seguir.
Como observação geral, é importante salientar que, conforme pode
ser visto no modelo apresentado, trata-se de um documento oficial,
especialmente destinado a atestar ou declarar um óbito e, como tal,
não permite rasuras, devendo ser preenchido com letra legível, de for-
ma a não deixar quaisquer dúvidas quanto às respostas dadas.

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O ATESTADO DE ÓBITO

Bloco I – Identificação
Este bloco destina-se a identificar a pessoa que morreu, funda-
mentalmente para atender à sua finalidade jurídica. Para tanto, essas
informações devem, sempre, ser registradas na DO à vista de um do-
cumento com foto do falecido (RG, Carteira de Trabalho, Carteira Na-
cional de Habilitação ou assemelhados). Note-se que a DO faz refe-
rência somente ao número do Cartão SUS, embora este não esteja ain-
da totalmente implantado no país, o que permite sugerir sua substi-
tuição por outro documento.
Quanto ao tipo de óbito, é importante esclarecer que, embora o
mesmo formulário seja utilizado para declarar mortes e mortes fetais, a
distinção entre os dois tipos de eventos é feita quando da apuração dos
dados nos serviços responsáveis pelas estatísticas de saúde.
O Bloco é composto por 14 Campos que, ao lado do nome do fale-
cido, vão permitir a completa identificação do indivíduo e o estudo
epidemiológico da mortalidade segundo algumas características soci-
odemográficas.

Bloco II – Residência
Além da complementação das informações acima, permite, do
ponto de vista epidemiológico, ter uma distribuição espacial dos
óbitos em cada área, o cálculo de indicadores, feito em geral segun-
do local de residência e, do ponto de vista da vigilância em saúde,
possibilitar contato com a família visando à posterior investigação
de óbito, se necessário.

Bloco III – Ocorrência


As informações solicitadas têm como finalidade, além da com-
plementação dos dados de identificação pessoal, permitir retorno da
equipe de saúde ou pesquisa ao local (Instituição) onde ocorreu a
morte, para esclarecimentos sobre quaisquer dúvidas que, porventu-
ra, possam surgir.

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O ATESTADO DE ÓBITO DOS PONTOS DE VISTA ÉTICO E JURÍDICO
Bloco I – Identificação

Bloco III – Ocorrência


Bloco II – Residência

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O ATESTADO DE ÓBITO

Bloco IV – Fetal ou menor que 1 ano


(informações sobre a mãe)
Óbitos fetais e de menores de um ano têm em sua gênese, não pou-
cas vezes, fatores maternos pessoais (como idade) ou ligados à gravi-
dez ou ao parto (número de gestações, tipo de parto, por exemplo),
razão pela qual essas informações são extremamente importantes. A
inclusão da variável 36, que se refere ao número da Declaração de Nas-
cido Vivo, destina-se a permitir o relacionamento entre os Bancos de
Dados de Mortalidade (SIM/MS) e de Nascidos Vivos (SINASC/MS),
para estudos epidemiológicos, de natimortalidade, mortalidade peri-
natal e mortalidade infantil e seus componentes, além da verificação
do fato de todos os óbitos ocorridos entre os menores de um ano terem
tido sua Declaração de Nascido Vivo.

Bloco V – Condições e Causas do Óbito


Trata-se de Bloco composto por 4 campos, onde são registradas
algumas informações importantes como “presença de gravidez” em
óbitos de mulheres em idade fértil, o fato de ter recebido assistência
médica durante a doença que levou à morte, e ter sido ou não realiza-
da necropsia.
O campo 37 refere-se a, no caso de óbito de mulher em idade fér-
til (no Brasil, considerada de 10 a 49 anos), saber se ela estava grávida
no momento da morte ou tinha estado grávida até 1 ano antes do óbi-
to. Trata-se de uma informação importante e que representa subsídio
para melhor conhecimento das mortes maternas (resultantes da gra-
videz, parto ou puerpério), já que essas causas são bastante mal in-
formadas pelos médicos nas DO.
Quanto às causas da morte, os dados solicitados devem ser pre-
enchidos conforme referido na Parte 1 desta publicação, relembran-
do que todas as causas presentes no momento da morte – tenham
ou não contribuído para ela – devem ser anotadas, com vistas a
possíveis estudos de causas múltiplas, como referido em 1.4 desta
Publicação.

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O ATESTADO DE ÓBITO DOS PONTOS DE VISTA ÉTICO E JURÍDICO
Bloco IV – Fetal ou menor que 1 ano (informações sobre a mãe)

Bloco V – Condições e Causas do Óbito

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O ATESTADO DE ÓBITO

PARTE I
1a: doença ou estado mórbido que causou diretamente a morte (causa
terminal)
1b, c, d: causas antecedentes (doenças ou estados mórbidos, se existirem,
que contribuíram para a causa citada em 1a, mencionando, em último lugar,
a causa básica).

Aqui é importante verificar que, abaixo das linhas a, b e c encon-


tram-se as palavras “devido a ou como consequência de”, o que dá
efetivamente a noção de cadeia de causas.

PARTE II
Causas ou condições significativas que contribuíram para a morte, mas
não entraram na cadeia acima.

No preenchimento deste Campo é importante lembrar que:


1º – deve ser anotado apenas um diagnóstico por linha;
2º – o intervalo de tempo solicitado (entre o aparecimento de cada
diagnóstico citado e a morte), contribui para estabelecer a correta se-
quência de causas que o paciente possa apresentar. Se o tempo relativo
ao início da doença for desconhecido, citar o intervalo referente ao mo-
mento em que o diagnóstico foi feito;
3º – CID – refere-se ao código internacional de cada doença na Clas-
sificação Internacional de Doenças - 10ª Revisão referida, salientando-
se que essa informação não é de preenchimento a ser feito pelo médi-
co, mas do serviço responsável pelas estatísticas.

Bloco VI - Médico
Este Bloco objetiva identificar o médico que forneceu a DO, com
dados que permitam sua localização em caso de necessidade, por exem-
plo para esclarecimentos quanto à real causa básica da morte, sempre
que o que foi informado não possibilitar esse conhecimento.

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O ATESTADO DE ÓBITO DOS PONTOS DE VISTA ÉTICO E JURÍDICO

Bloco IX – Localidade sem Médico


Bloco VII – Causas Externas

Bloco VIII – Cartório


Bloco VI - Médico

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O ATESTADO DE ÓBITO

O Campo 43 diz respeito a saber em que condição o médico assi-


nou o atestado: se era o médico que tratava do paciente, se substituto,
se a DO foi fornecida pelo Instituto Médico Legal – IML – ou por Serviço
de Verificação de Óbito – SVO – ou se era médico da Secretaria de Saú-
de ou único médico da localidade, situação em que deverá ser anotada
a opção “outro”.
Aqui é importante salientar que a assinatura do profissional mé-
dico em um Bloco específico (e não junto às causas de morte) é a
prova de que o médico é o responsável por todas as informações
(ou sua falta) existentes na DO e não somente pelos diagnósticos
que levaram ao óbito.

Bloco VII – Causas Externas


Já foi referido na Parte 1 desta publicação como deve ser elaborada
e por quem deve ser preenchida a DO em caso de morte por um agravo
externo. A informação sobre o fato de se tratar de um “acidente” ou de
uma “violência” (auto ou hetero-consumada) é extremamente impor-
tante e o seu registro na DO independe da opinião do perito que reali-
zou a necropsia. O Campo 50 do documento especifica em que fonte
de informação baseou-se o médico para registrar as circunstâncias em
que a morte se deu (Boletim de Ocorrência, Hospital, Família ou ou-
tra). (Ver outras informações em 2.3.1 desta Publicação)

Bloco VIII – Cartório


Refere-se às informações relativas ao registro de óbito em Cartório,
a serem preenchidas, portanto, por ocasião do registro civil da morte.

Bloco IX – Localidade sem Médico


No caso especial de óbitos ocorridos em localidades sem médico,
a Lei prevê que duas testemunhas que tenham presenciado ou certifi-
cado a morte possam promover seu registro em Cartório, assinando o
documento DO existente nessa Instituição. (Ver outras informações no
item 2.3.3 desta Publicação).

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O ATESTADO DE ÓBITO DOS PONTOS DE VISTA ÉTICO E JURÍDICO

Quando da implantação do SIM/MS no Brasil, o Ministério da Saú-


de editou o “Manual de Instruções para o Preenchimento da Declara-
ção de Óbito” (20), publicação que vem sendo reeditada a cada nova
modificação da DO(42). A edição relativa às alterações introduzidas em
2011 encontra-se no prelo. Essa publicação deve também ser consulta-
da pelos médicos para um melhor entendimento do problema.
É importante referir que a DO deve ser preenchida em suas três vias
(autocopiativas): a primeira via permanece na Instituição, aguardando
que seja retirada pelos serviços locais responsáveis pelas estatísticas de
saúde (busca ativa) ou, em algumas áreas, é enviada a esses serviços. A
segunda é dada à família para que, com ela, procure o Cartório, a fim de
promover o Registro Civil da morte e o consequente sepultamento. A
terceira permanece na Instituição, constituindo-se em parte integrante
do prontuário do paciente. O Ministério da Saúde, gestor nacional do
Sistema de Informações sobre Mortalidade, tem normas sobre o assunto
(ver Portaria MS – nº 116 de 111 de fevereiro de 2009)(41).
Como medida de ordem geral, é importante salientar que:
1- o mesmo documento - DO - deve ser utilizado para óbitos e óbi-
tos fetais. A distinção entre os dois tipos de eventos é feita em nível dos
serviços responsáveis pelas estatísticas de saúde, por meio da variável
1 do Bloco I da DO;
2 - o médico é o responsável pelo preenchimento da DO em toda a
sua extensão, e não somente pela descrição das causas, respondendo
pelas informações ali existentes (ou sua falta).
A linha de raciocínio aqui adotada visa analisar a DO, dos pontos
de vista ético e jurídico, sob duas vertentes:
1ª) a quem fornecer a DO e
2ª) a quem incumbe o fornecimento desse documento.

2.2. A quem fornecer. Conceitos necessários


2.2.1. Óbito
A morte pode ser juridicamente entendida como desaparecimento per-
manente de todo sinal de vida, em um momento qualquer depois do nasci-

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O ATESTADO DE ÓBITO

mento ou, conforme definição da Organização Mundial da Saúde(14, 22):


o desaparecimento de todos os sinais de vida ou cessação das funções
vitais, sem a possibilidade de ressuscitar.

Esse conceito tradicional de morte, em face aos avanços atuais da


Medicina, e, principalmente, com o advento dos transplantes de ór-
gãos, vem sofrendo algumas transformações. A morte, que até há pou-
co tempo tinha por base a cessação definitiva das atividades respirató-
ria, cardíaca e neuropsíquica, hoje é considerada por muitos autores
como representada pela cessação da atividade cerebral – tida como
morte cerebral - embora ainda possam existir manifestações respirató-
rias e cardíacas. Os trabalhos iniciais sobre o assunto datam da década
de 60 do século passado e mostram, da evolução de seus conceitos até
hoje, algumas diferenças marcantes, relativamente aos critérios a se-
rem adotados (ver Lei dos Transplantes).
É preciso ficar claro, entretanto, que, morta uma pessoa, e adotado
um ou outro critério de morte, tem o médico o dever de fornecer o
atestado de óbito, preenchendo a DO com os elementos que couberem.
É importante lembrar que não deve ser esquecido o item 1 do Campo I,
que identifica a DO como de um óbito fetal ou não fetal.
Esta obrigatoriedade refere-se tanto aos casos de mortes por cau-
sas naturais quanto suspeitas e por causa externas, cujas diferenças se-
rão vistas em 2.3 desta publicação.

2.2.2. Nascido vivo que morre logo após o nascimento


É evidente que os conceitos de morte, vistos tanto do campo de Di-
reito quanto daquele da Saúde, fazem pressupor a existência anterior de
vida extra-uterina, pois somente terminada esta é que se pode, a rigor,
entender a morte. Se o indivíduo passa da vida à morte, não há dúvida
de que se tem um cadáver para o qual deve ser fornecido o atestado de
óbito. A vida humana aqui considerada começa com o nascimento, com
vida, e a Organização Mundial da Saúde (OMS), a fim de padronizar
conceitos e possibilitar a comparabilidade internacional de dados,

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O ATESTADO DE ÓBITO DOS PONTOS DE VISTA ÉTICO E JURÍDICO

estabeleceu, desde 1950, o conceito de nascimento vivo. Essa definição


vem sendo referendada pelas sucessivas revisões da Classificação Inter-
nacional de Doenças e hoje está enunciada nos seguintes termos(14, 22):
Nascido vivo é a expulsão completa do corpo da mãe, independen-
temente da duração da gravidez, de um produto de concepção que,
depois da separação, respire ou apresente qualquer outro sinal de
vida, tal como batimentos do coração, pulsações do cordão umbili-
cal ou movimentos efetivos dos músculos de contração voluntária,
estando ou não cortado o cordão umbilical e estando ou não des-
prendida a placenta.

Assim, a criança que nasce apresentando “sinal de vida”, quais-


quer que sejam o tempo de gestação e a viabilidade que o concepto
possa apresentar, deve ser considerada nascida viva e, como tal, objeto
de uma Declaração de Nascimento - DN - e posterior registro de nasci-
mento em Cartório (Painel nº 1).
Se, por qualquer motivo, incluídas as precárias condições de vida
que possa apresentar, o recém- nascido vier a morrer em um momento
qualquer posterior ao nascimento, será considerado cadáver, sujeito a
enterramento e, portanto, registro de óbito, devendo, assim, ser
fornecido o atestado. No caso de menores de um ano, ao ser feito o
registro de óbito, o oficial do cartório, em conformidade com a legisla-
ção em vigor, indagará se foi feito o registro de nascimento, devendo,
em caso negativo, fazê-lo concomitantemente ao do óbito(39).

Painel Nº 1
A Declaração de Nascido Vivo – DN – é o documento oficial do Ministério da
Saúde, base do Sistema de Informações sobre Nascidos Vivos – SINASC. Trata-
se de formulário específico, existente nos hospitais, e que seve ser preenchido
para todos os casos de produtos de concepção que venham à luz com vida.
Nota: o documento obrigatoriamente não necessita ser preenchido por médico,
mas deve ser fornecido à família, a fim de que o Registro Civil possa ser feito.

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O ATESTADO DE ÓBITO

Em resumo, desde que haja um nascimento com vida, sobrevindo


a morte, em cumprimento às exigências legais, deve ser fornecida a
DO, com preenchimento de todos os itens cabíveis, ressaltando-se que,
para os menores de um ano, não devem ser esquecidos os campos
constantes do Bloco IV.

2.2.3. Perdas fetais. O nascido morto


Profissionais médicos veem-se, muitas vezes, frente a problemas
relativos à conduta a ser adotada em casos de produtos de concepção
extraídos ou expelidos sem vida do corpo da mãe: se é necessário um
enterramento e se há necessidade do fornecimento de atestado. Em ou-
tras palavras, a partir de que características ou de quando esse atesta-
do é necessário, a partir de que ou de quando se começa a ter um cadá-
ver, sendo, portanto, preciso promover o seu enterramento, para o qual
esse documento é necessário.
Num raciocínio simplista, adotado por alguns juristas, princi-
palmente da linha alemã com alguns seguidores na Itália(43,44), ca-
dáver pode ser considerado “o corpo do homem que viveu: feto e
nascido morto não foram jamais homens, não viveram, não poden-
do, portanto, ser considerados cadáveres”(45,46). Assim, porque ja-
mais estiveram vivos e não chegaram sequer ao nascimento, escapa-
riam à tutela jurídica. Entretanto, a melhor doutrina e a mais autori-
zada jurisprudência, nacional e estrangeira, estão orientadas no sen-
tido de não ser necessária a busca ou procura de vida extrauterina,
afirmando que, atingindo o feto a maturação e sendo expulso ou
extraído, mesmo sem vida, do corpo da mãe, já possa ser considera-
do cadáver e, portanto, passível de enterramento(47). A Organização
Mundial da Saúde(14) considera que:
“Óbito fetal”, “perda fetal” ou “morte fetal” é a morte de um
produto de concepção antes da expulsão do corpo da mãe, inde-
pendente da duração da gravidez. A morte do feto é caracteriza-
da pela inexistência, depois da separação, de qualquer sinal des-
crito para o nascido vivo.

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O ATESTADO DE ÓBITO DOS PONTOS DE VISTA ÉTICO E JURÍDICO

Essa definição deixa claro que a duração da gestação não é levada


em conta no conceito global do evento. O critério “tempo” é usado,
somente, para classificar as perdas fetais.

Situação até 1995


Até 1995 essa classificação era feita segundo os seguintes critérios:
1 - Perdas precoces (com menos de vinte semanas);
2 - Perdas intermediárias (de vinte a vinte sete semanas completas);
3 - Perdas tardias (com vinte e oito ou mais semanas de gestação).
Embora usualmente se designasse por “nascido morto” todo aquele
que tivesse nascido morto, somente às perdas fetais de gestações de
vinte e oito semanas ou mais de duração é que, cientificamente, se dava
essa denominação, segundo a OMS(48). O conceito de nascido morto
estava baseado, fundamentalmente, em dois elementos: um para dis-
tingui-lo do nascido vivo e outro para diferenciá-lo do que se conhecia
como aborto, grupo que era representado pelas perdas fetais precoces
e intermediárias. O primeiro elemento – para distinguir um nascido
morto de um nascido vivo – é o já referido “sinal de vida”; no extremo
oposto, estabelecendo a distinção entre nascido morto e aborto, estava
colocado o período mínimo de vinte e oito semanas de gestação.
A distinção entre duas figuras citadas – nascido vivo e nascido morto
– é extremamente importante, tanto do ponto de vista jurídico quanto da-
quele de estatísticas de saúde. Erros quanto à inclusão de um nascimento
num ou noutro grupo podem originar problemas vários dentro do campo
do Direito das Sucessões, além de afetarem todos os indicadores da saúde
que, no numerador ou denominador, trabalham com esses valores(49,50).
A Lei dos Registros Públicos em vigor no Brasil(39), ao tratar do
nascimento e do óbito, obriga que:
mesmo no caso de ter a criança nascido morta, seja promovido o registro.
Dessa forma, embora a lei não definisse o que se deveria entender
por nascido morto, frente ao conceito médico-estatístico internacional,
devia ser ele considerado cadáver, sujeito a registro civil e consequen-
te enterramento.

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O ATESTADO DE ÓBITO

A fundamentação básica para que esse produto fosse considerado


cadáver, objeto de enterramento e, portanto, com fornecimento obriga-
tório de atestado (a fim de que o registro fosse feito), era a idade gesta-
cional (limite inferior igual a 28 semanas). Por representar, entretanto,
o critério cronológico, intrinsecamente, dado de obtenção às vezes não
muito fácil – visto que se baseava sempre na data da concepção – pen-
sou-se no estabelecimento de um paralelo entre ele e um critério pon-
deral; correspondendo este ao ganho de peso que o feto tem no decur-
so da gestação. Alguns trabalhos já haviam mostrado que o feto, cuja
gestação fosse de 28 semanas, pesava aproximadamente 1.000g e 500g,
quando o tempo de gestação era de cerca de 22 semanas(51,52). A Fede-
ração Internacional de Ginecologia e Obstetrícia (FIGO) – adota como
correspondentes ao tempo de 28 semanas o peso de gramas e o com-
primento de 35 centímetros, medidos do ponto mais alto da cabeça até
os calcanhares(53).
Assim, produtos expelidos ou extraídos sem vida do corpo da mãe,
com período de gestação de pelo menos 28 semanas, peso mínimo de
1.000 gramas ou comprimento de, pelo menos, 35 centímetros (critérios
que não necessariamente deveriam ser concomitantes), eram conside-
rados cadáveres e, como tal, passíveis de atestado e registro civil, para
posterior enterramento. São consideradas crianças nascidas mortas e
para elas deve ser fornecido atestado, com o preenchimento dos itens
correspondentes na Declaração de Óbito(54).
A noção de cadáver entrou para a lei brasileira – Código Penal(55) –
dentro do título dos crimes contra o sentimento religioso e contra o
respeito aos mortos (art. 211 e 212), espécies do mesmo gênero dada a
incontestável afinidade entre um e outro, pelo sentimento religioso que
comumente se tributa aos defuntos, sentimento profundo e difuso na
humanidade, sentimento que redunda em respeito, mesmo para os ma-
terialistas e agnósticos(47).
Dessa forma, se se considerava que a perda fetal tardia, embora
não tivesse tido vida extrauterina, era cadáver, surgia o problema de se
saber a razão pela qual o ordenamento jurídico tutelava, do ponto de

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O ATESTADO DE ÓBITO DOS PONTOS DE VISTA ÉTICO E JURÍDICO

vista do Registro Civil, o nascido morto e deixava de tutelar o feto antes


de 28 semanas de gestação ou de atingir peso igual a 1.000 gramas.
Na realidade, tem-se dito no Direito Penal que não é possível fazer
depender somente da idade gestacional a subsistência de crimes, por-
que, a rigor, a ética e o sentimento humano, que têm ditado as normas
jurídicas sobre esses pontos, induzem a não afastar da noção de cadá-
ver um feto com menor tempo de gestação ou menor peso. Era necessá-
rio, portanto, alargar os limites da noção de cadáver e não fazê-la de-
pender apenas de um critério cronológico.

De 1996 em diante
Essa situação perdurou até 1996 quando entrou em vigor no Brasil
a 10ª Revisão da Classificação Internacional de Doenças, onde aparecia
o novo conceito de período perinatal. A partir dessa data, a Organiza-
ção Mundial(14) da Saúde passava a considerar como limite inferior desse
período 22 semanas de gestação:
os produtos de gestação extraídos ou eliminados do corpo da mãe a
partir de 22 semanas de gestação (peso equivalente a 500g).

Com essa determinação, criou-se novo impasse no sentido de “como


determinar a obrigatoriedade do registro para perdas fetais com essas
características” (gestação entre 22 e 28 semanas e peso entre 500 e 1000
gramas). O problema foi resolvido por meio da Resolução nº 1601 do
Conselho Federal de Medicina (9 de agosto de 2000), hoje revogada
pela Resolução CFM nº 1779/2005(56) publicada no DOU de 5/12/2005
Seção I p. 121 que, assim, se expressa:
Em caso de morte fetal, os médicos que prestaram assistência à mãe ficam
obrigados a fornecer a Declaração de Óbito quando a gestação tiver dura-
ção igual ou superior a 20 semanas, ou o feto tiver peso corporal igual ou
superior a 500 gramas e/ou estatura igual ou superior a 25 centímetros.

Aliás, o próprio Ministério da Saúde adotou essa linha ao prever


no atestado, a partir de 1996, anotação especial para produtos de

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O ATESTADO DE ÓBITO

gestação entre 20 e 27 semanas que vêm à luz sem vida (item 37 – Cam-
po V da DO revogada em 2011, ocasião em que a variável relativa ao
tempo de gestação passou a ser aberta).
Neste caso, é importante salientar que, conforme já referido nesta
publicação, a DO deve ser preenchida ressaltando, o médico, no cam-
po 1 do Bloco I, que se trata de um óbito fetal. Este fato é importante
porque as apurações estatísticas relativas a óbitos e óbitos fetais são
feitas sempre separadamente.
Com relação ao item – NOME – deve ser colocado apenas que se
trata de uma perda fetal (óbito fetal ou morte fetal), para o qual, segun-
do a lei, não há nome a ser registrado. Os hospitais, em geral, referem-
se, nesse Campo, a “nascido morto de ... (nome da mãe)”, já que esta é
que é paciente da instituição. Saliente-se também aqui que não devem
deixar de ser preenchidos os itens compreendidos no Bloco IV da DO.
Para idade gestacional menor que 20 semanas, com feto pesando
menos de 500 gramas ou medindo menos que 25 centímetros, sem qual-
quer sinal vital, o registro da perda poderia se constituir em importante
subsídio para o estudo de abortamentos espontâneos e provocados. En-
tretanto, embora pudesse ser recomendado aqui o fornecimento do ates-
tado, tem-se demonstrado que existe grande subenumeração de seus
registros(49). Assim, não é obrigatório para estes casos o fornecimento
do atestado, podendo os produtos ser incinerados no hospital ou outro
estabelecimento ou, ainda, entregues à coleta hospitalar adequada, de
acordo com as normas estabelecidas para a matéria. É preciso, entretan-
to, ficar claro que, sob nenhuma hipótese, devem ser considerados como
lixo e entregues à coleta pública comum.
Legislação federal sobre o “Regulamento técnico para o gerencia-
mento de Resíduos Sólidos de Serviços de Saúde, 2003, prevê que,”
...os resíduos por produtos de fecundação sem sinais vitais, com peso
menor que 500 gramas ou estatura menor que 25 centímetros ou idade
gestacional menor que 20 semanas que não tenham mais valor científico
ou legal e/ou quando não houver requisição prévia pela família. (Reso-
lução RDC nº 306 de 27 de dezembro de 2004 – ANVISA, MS).(57)

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O ATESTADO DE ÓBITO DOS PONTOS DE VISTA ÉTICO E JURÍDICO

Prevê ainda que devem ser manejados de acordo com o estabeleci-


do, englobando normas desde a sua coleta, acondicionamento, arma-
zenamento, tratamento e destino final.
É preciso ficar claro também que, em face ao atual ordenamento
jurídico que tutela os direitos humanos (entre os quais o direito à vida
desde a sua concepção), recomenda-se que o mesmo seja feito para to-
dos os tipos, inclusive com base também no interesse médico que tal
fato representa. Acresce que, no período 20 a 27 semanas, a semelhança
humana já é completa(58).
O que poderia preconizar, também, seria a publicidade de adoção
dos conceitos da Organização Mundial de Saúde, por meio de legisla-
ção federal, a exemplo do que fez a lei portuguesa (decreto lei 44.128
de 28 de dezembro de 1961)(59) de modo a não permitir que, por falta
de padronização de entendimento do que sejam nascidos vivos e per-
das fetais, deixem os registros de cumprir suas reais finalidades, tanto
jurídica quanto estatística.

2.2.4. Peças anatômicas


Quanto a peças anatômicas retiradas por ocasião do ato cirúrgico
ou de membro amputado, salvo os casos em que sobrevenha a morte
do paciente, em nenhum outro deve ser preenchida uma DO, visto que
não se tem um óbito.
Essa é a atitude recomendável, mesmo que o destino da peça ou
membro venha a ser o enterramento. Nessa situação, o hospital deve
elaborar um documento, à semelhança de um laudo, em papel timbra-
do, narrando o procedimento realizado, documento esse que deverá
ser levado ao Cemitério. Assim, é importante citar que alguns Estados,
como é o caso do Rio de Janeiro, dispõem de um impresso específico
usado para esses casos. Trata-se de formulário em 3 vias, distribuído
pela Secretaria de Estado de Saúde, denominado “Declaração para Se-
pultamento Parcial” (instituído pela Resolução nº 1077/SES de 20 de
janeiro de 1996), publicada no DOU de 31/01/96 e destinada ao regis-
tro de amputações de membros (Anexo 2).

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O ATESTADO DE ÓBITO

Com relação ao destino a ser dado a essas peças retiradas de seres


humanos ou membros amputados, são importantes as seguintes reco-
mendações:
1º) Norma técnica sobre Lixo Hospitalar (Associação Brasileira de
Normas Técnicas), que se refere ao fato de que em todo Hospital deve-
rão ser previstos espaços e equipamentos necessários à coleta higiêni-
ca e eliminação dos lixos de natureza séptica e asséptica. O lixo de
natureza séptica, no qual se incluem fragmentos de tecidos e outras
unidades do Centro Cirúrgico e do Centro Obstetrício, deverá sempre
ser tratado por incineração.
2º) Aqui também é válida a Resolução RDC nº 306 de 27 de dezem-
bro de 2004 ANVISA/Ministério da Saúde, publicada no DOU de 05 de
março de 2003(57), referida, que expressamente prevê:
peças anatômicas (tecidos, membros e órgãos) do ser humano, que
não tenham mais valor científico ou legal, e/ou quando não houver
requisição prévia pelo paciente ou seus familiares...

e ainda devam ser manejadas de acordo com o estabelecido na


legislação, englobando normas desde a sua coleta, acondicionamento,
armazenamento, tratamento e destino final.

2.2.5. Partes de cadáver


Juridicamente, pode-se dizer que existe cadáver “enquanto persis-
tir a conexão entre as suas partes”(60), sendo esta, talvez, a razão pela
qual a lei é omissa ao tratar do registro e enterramento de suas partes.
Especificamente quanto a partes de cadáver, o problema escapa à
esfera médica, tornando-se eminentemente de ordem policial. No caso
de descoberta de ossada humana, por exemplo, a remoção deve ser
sempre feita pela autoridade policial que envia a(s) peça(s) ao Instituto
Médico Legal para expedição do laudo necroscópico, consequentes
atestado, registro e enterramento.
Tal linha de raciocínio deve ser seguida sempre que a peça for pas-
sível de ser relacionada com pessoa humana.

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O ATESTADO DE ÓBITO DOS PONTOS DE VISTA ÉTICO E JURÍDICO

Quando se tratar de ossada ou partes que, de alguma forma, não


permitam uma possível identificação do cadáver, todos os esforços de-
vem ser envidados nesse sentido. Se tal medida não se mostrar factível,
o atestado e o laudo devem fazer referência apenas a “desconhecido”,
ressalvada, entretanto, a conduta determinada pela Medicina Legal de
que deve o cadáver ser fotografado, assim como guardados pedaços
de suas vestes ou outros elementos que possibilitem qualquer identifi-
cação futura.(61,23)

2.3. A quem incumbe o fornecimento de atestados


A certidão de óbito é documento indispensável para que qualquer
enterramento seja feito. É o que determinava a anterior lei dos Registros
Públicos e o que reza a legislação atual – Lei Federal 6015 referida:(39)
Art. 77: Nenhum enterramento será feito sem certidão do oficial de
registro do lugar do falecimento, extraída após a lavratura do as-
sento do óbito, em vista do atestado médico, se houver no lugar, ou
em caso contrário, de duas pessoas qualificadas que tiverem presen-
ciado ou verificado a morte.
§ 2º Autuadas as declarações e encaminhadas à autoridade judi-
ciária competente, se outra for a que as tomou por termo, será
ouvido o órgão do Ministério Público e se realizarão as diligên-
cias necessárias para verificar a inexistência de impedimento para
o casamento.

Até certa época, em nosso meio, os atestados de óbito eram feitos


em via única no próprio receituário dos médicos. Oscar Freire, em 1919,
empenhou-se junto à Sociedade de Medicina e Cirurgia para que os
atestados passassem a ser feitos em folhas duplas, que contivessem
todas as indagações necessárias, a fim de atender às várias finalidades
desse documento:(61) uma das vias ficaria arquivada no Cartório e ou-
tra deveria seguir para a competente repartição de Estatística, para a
elaboração das correspondentes estatísticas de mortalidade.
Hoje, ao médico incumbe, nos termos da legislação em vigor, o forne-

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O ATESTADO DE ÓBITO

cimento do atestado de óbito, preenchendo o impresso “Declaração de


Óbito – DO” fornecido pelo Ministério da Saúde e existente em todos os
Hospitais e Cartórios de Registro Civil do território nacional. O médico,
conforme já salientado no item 2.1, deve preencher a DO e entregar o do-
cumento à família do falecido para os devidos registros e sepultamento.
É importante ressaltar que o médico é o responsável por todas as
informações constantes desse documento e não apenas ao que se refere
à causa do óbito (Bloco VI da DO – “Condições e causa de óbito”),
conforme já salientado. Este aspecto não deve ser relegado a um se-
gundo plano, na medida em que inúmeros casos demonstram que, não
poucas vezes, o profissional se atém à parte médica do atestado (con-
dições e causa da morte), deixando para outros funcionários o preen-
chimento do restante das informações; isso vem causando não poucos
problemas à área de Estatísticas de Saúde e pode, muitas vezes, gerar
implicações nos campos da Ética e do Direito.
Com relação a esse aspecto, pode-se lembrar que no atual modelo
da DO a parte que contém as informações referentes ao Médico (Bloco
V: Campos 37 a 40) constitui-se em campo próprio, não estando ligada
à parte relativa à causa da morte (Bloco VI: Campos 41 a 47) e esta é
uma prova incontestável de que, ao médico, não está afeta somente a
especificação da causa, mas sim, todas as informações constantes do
documento.
Os antigos Códigos de Ética Médica (em seu artigo 61 e parágra-
fos) e Código Brasileiro de Deontologia Médica (em seus artigos 52 e
53) também disciplinavam a matéria. O atual Código de Ética Médica
(CFM nº 1931/09(30) assim se refere ao assunto:
“É vedado ao médico:
Art. 83. Atestar óbito quando não o tenha verificado pessoalmente,
ou quando não tenha prestado assistência ao paciente, salvo, no
último caso, se o fizer como plantonista, médico substituto, ou em
caso de necropsia e verificação médico-legal.
Art. 84. Deixar de atestar óbito de paciente ao qual vinha prestan-
do assistência, exceto quando houver indícios de morte violenta”.

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O ATESTADO DE ÓBITO DOS PONTOS DE VISTA ÉTICO E JURÍDICO

O problema das “24 horas regulamentares”


O regulamento dos Cemitérios do Município de São Paulo (Ato nº
326 de 21 de março de 1932) registrava em seu artigo 16 que:
Art. 16 “os enterramentos não podem, como regra, ser feitos antes
de 24 horas do falecimento, salvo em casos especiais de moléstias
contagiosas ou epidemias, ou ainda se o cadáver apresentar sinais
inequívocos de princípio de putrefação”.

Pode causar espécie o fato de tal Resolução ainda se encontrar em


vigor, quando o próprio Código de Processo Penal (artigo 162)(62) fala
que as necropsias podem ser iniciadas depois de decorridas 6 horas do
falecimento.
Deve-se ter em mente, contudo, a realidade do momento de feitura
de cada uma das normas mencionadas. O ato paulistano surgiu numa
época em que não existiam outras previsões quanto a em que momen-
to, de fato, poderia a morte ser atestada. E isso se deu em 1932. Já o
Código de Processo Penal estabeleceu uma realidade, em nível nacio-
nal, praticamente dez anos depois. É de se entender, assim, que o Ato
Municipal perdeu a eficácia quanto a este pormenor.
Não poderia ser outro o entendimento, de vez que tal Ato simples-
mente proibia o enterramento antes de vinte e quatro horas, não obs-
truindo, contudo, a necropsia autorizada, depois de seis horas do óbi-
to, pelo Código de Processo Penal.
Dúvidas quanto a esse entendimento, entretanto, constituem a ra-
zão pela qual os médicos, no Município de São Paulo, ao assinarem os
atestados referem, ainda, muitas vezes, “Autorizo o sepultamento an-
tes de 24 horas regulamentares”.
Decorrem dessa determinação várias situações em que o médico
pode não estar obrigado a fornecer o atestado. Como proceder, então,
em face à Lei dos Registros Públicos, para promover o enterramento
desse cadáver?
Essas situações podem ser sumarizadas, fundamentalmente, em
dois grandes grupos – mortes decorrentes de acidentes ou de violênci-

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O ATESTADO DE ÓBITO

as e mortes por causas naturais – comportando algumas subdivisões,


que são analisadas nos itens 2.3.1 e 2.3.2.

2.3.1. Mortes decorrentes de acidentes ou violências


Em caso de morte não-natural – aquela que sobrevém em decor-
rência de um acidente ou qualquer tipo de violência – causas que a
OMS denomina globalmente de “causas externas” e, também, no caso
de mortes suspeitas – o enterramento somente será feito após necrop-
sia realizada pelo Instituto Médico Legal. É evidente que, nesse caso, a
determinação da causa de morte vai se constituir em elemento da pro-
va, do ponto de vista jurídico, razão pela qual deverá ser realizado o
exame necroscópico por peritos oficiais. O Código de Processo Penal
prevê especialmente que a autopsia só será feita pelo menos 6 horas
depois do óbito(62), como, aliás, já referido (art. 162 CPP e reiterado
pelo Regulamento do IML de São Paulo).
O perito médico-legista deve elaborar um laudo, sendo que o ates-
tado deve ser fornecido no mesmo impresso utilizado para o atestado
de óbito por causa natural (DO), colocando na causa da morte, a con-
clusão de seu laudo necroscópico (vide casos itens 1.9.1 e 1.9.2 desta
apresentação), anotando, no Bloco VII, Campos 48 a 52, o tipo de vio-
lência que ocasionou a morte (homicídio, suicídio), se acidente de tra-
balho (sim ou não, ignorado) e o local do acidente (trânsito, doméstico,
outros, ignorado), além de dar uma descrição sumária do evento (Cam-
po 51), e se a ocorrência foi em via pública, o endereço.
Aqui é importante lembrar que, como causa terminal, deve ser colo-
cada a lesão responsável pela morte (letra a da Parte I) que deverá ser
entendida como “devido a ou como consequência de” o tipo de aciden-
te/violência que a causou (e que será a causa básica daquela morte).
É necessário frisar que, não poucas vezes, o médico legista reluta
em preencher todos estes itens, alegando desconhecer o tipo de aci-
dente ou violência que levou à morte. Na realidade, ao realizar a ne-
cropsia, o legista terá elementos apenas para afirmar que a morte se
deu por um traumatismo crânio- encefálico, por uma hemorragia

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O ATESTADO DE ÓBITO DOS PONTOS DE VISTA ÉTICO E JURÍDICO

externa traumática, por um afogamento ou queimadura por exemplo


(descrição quanto à natureza da lesão). Entretanto, do ponto de vista
da Estatística de Saúde em especial, e da Saúde Pública, em geral, é
importante conhecer o tipo de causa externa que levou a esse trauma-
tismo, a essa hemorragia, a esse afogamento ou a essa queimadura,
visando exatamente a que se possam elaborar medidas de prevenção
específicas para essas mortes. Aliás, o assunto já foi discutido no item
1.2 desta publicação, quando da apresentação da definição de causa
básica da morte que, segundo a própria OMS, refere-se às “circunstân-
cias do acidente ou violência que produziu a lesão fatal”.(14)
A Classificação Internacional de Doenças, Lesões e Causas de Morte,
10ª Revisão, 1995(14) destina seu capítulo XIX às “Lesões e Envenenamen-
tos” (relativo à natureza das lesões que ocasionaram a morte, códigos S e
T) e seu Capítulo XX às Causas Externas (relativo ao tipo de acidente ou
violência que produziu as referidas lesões, códigos V, W, X e Y).
A alegação do legista quanto ao fato de desconhecer o tipo de causa
externa que levou à morte poderia ser invocada como verdadeira se os
Institutos de Medicina Legal não dispusessem de informações policiais
a respeito de cada caso. Isto não é, em geral, o que acontece e, portanto,
considera-se praticamente superada toda e qualquer restrição relativa
ao fato de o perito legista não dever se aventurar a tipificar a violência,
com base no fato de que esta seria de exclusiva competência da autori-
dade policial, após a conclusão do inquérito. Na realidade, poderia ser
levantada até a dúvida quanto ao fato de a verdadeira causa a ser coloca-
da no atestado só vir a ser conhecida após a decisão do Poder Judiciário.
Estas indagações não encontram eco nos casos em questão, visto que,
havendo, em geral, como se disse, no Instituto Médico Legal uma cópia
do Boletim de Ocorrência Policial, ou ao menos uma informação policial
sobre cada caso, esta informação deve ser anotada no atestado*. Aliás, o

* O Regulamento do Instituto Médico Legal de São Paulo explica em seu art. 12, parágrafo único,
que a requisição de perícia médico-legal “deve trazer dados sobre a identidade do examinado,
natureza do exame, circunstâncias em que se verificou a ocorrência...”, o que, também, colabo-
ra para que o médico registre esse fato na DO.

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O ATESTADO DE ÓBITO

modelo de Declaração de Óbito já traz a especificação relativa ao tipo de


causa externa, bem como qual a fonte de informação utilizada para o
preenchimento desse quesito, eximindo-se, portanto, o médico, de qual-
quer avaliação subjetiva quanto a esse aspecto (Campo 50 – Bloco VII).
Nos casos em que o IML não dispuser de cópia do Boletim de Ocor-
rência, o que se sugere é a adoção de procedimento segundo o qual, no
momento da retirada do corpo (e da DO) pela família, esta ser indaga-
da sobre as circunstâncias em que ocorreu cada evento (anotar no item
do campo VII). O Posto Médico Legal do Município de Cabo Frio - RJ,
criou, em 2003, um formulário específico para essas situações (Termo
Informativo das Circunstâncias da Morte), apresentado no anexo 3,
documento esse que vem sendo reproduzido em outros serviços, com
a mesma finalidade(23).
Outro problema que pode ser enfocado diz respeito ao seguinte:
ao elaborar o laudo necroscópico, o legista inicia seu relatório com
“examinando o corpo que nos foi indicado como sendo de ... (nome)
..., (idade)..., etc.” verificando-se que a identificação se constitui para o
médico, portanto, em uma presunção de identidade. Quanto à causa,
deveria ela sempre informar também que “consta ter sido vítima de ...
(homicídio, atropelamento, suicídio, etc.)”. Dessa maneira, não se com-
promete o médico em afirmar, no dizer de Fávero(61), qual a “causa
jurídica” daquela morte, pois vai preencher o atestado, neste caso, com
uma hipótese diagnóstica baseada na informação policial, hipótese com
a qual as Estatísticas de Saúde irão trabalhar.
Importante aspecto a ser salientado refere-se ao tempo decorrido entre
o evento lesivo e a morte. O exame necroscópico para elaboração do
laudo e fornecimento da DO deve ser requisitado mesmo nos casos em
que a morte não sobrevenha imediatamente ao acidente ou violência,
fato bastante comum em acidentes de trânsito, nas quedas e alguns tipos
de suicídio e envenenamento. Assim, mesmo que a pessoa tenha ou não
estado hospitalizada após o acidente ou violência, não importando o
tempo decorrido entre este e a morte, somente o Instituto Médico legal é
competente para o fornecimento do atestado de óbito nas mortes

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O ATESTADO DE ÓBITO DOS PONTOS DE VISTA ÉTICO E JURÍDICO

decorrentes de causas externas. Esse fato isenta o médico que tratava de


um acidentado, no hospital, do fornecimento da DO. Assim em caso de
paciente internado e cuja morte sobrevém no hospital – a juízo do médi-
co em decorrência das lesões sofridas – o corpo deve ser encaminhado
ao IML com um relatório sobre o caso, o que evidentemente será benéfi-
co para a realização da necropsia e elaboração do laudo e respectiva DO.
Problema mais grave surge nas localidades onde inexistem postos
do Instituto Médico Legal. É, de novo, o Código de Processo Penal(62)
que, analogicamente com os exames de corpo delito, refere-se ao fato de,
em não havendo na localidade peritos oficiais, será o exame feito
por duas pessoas idôneas, escolhidas de preferência entre as
que tiverem habilitação técnica relacionada com a nature-
za do evento.

Esses peritos, designados pela autoridade judicial ou policial (pe-


ritos ad- hoc), prestarão compromisso de bem e fielmente desempenhar
o encargo (parágrafo 2º do art. 159 CPP).(62) Nesse caso, será lavrado
um auto desse compromisso e os peritos designados, de acordo com o
parágrafo único do art. 162, poderão restringir-se ao exame externo do
cadáver, quando não houver infração penal que apurar ou quando as
lesões externas permitirem precisar a causa da morte e não houver ne-
cessidade de exame interno para a verificação de alguma circunstância
relevante (para outras especificações, ver Silveira, 1996)(63).
Sugere-se, nesses casos, que o perito ad-hoc coloque no laudo que
“procedeu a um exame externo no cadáver”, a fim de evitar qualquer
comprometimento futuro.
A Resolução CFM nº 1779/2005 (publicada no DOU de 5/12/2005,
Seção I, p. 121)(56) já referida, faz também menção expressa sobre esse
assunto, determinando essa obrigatoriedade.
Assim, em casos de mortes violentas ou não naturais, a declaração
de óbito deverá obrigatoriamente ser fornecida pelos serviços médi-
cos-legais, qualquer que seja o tempo decorrido entre o acidente/vio-
lência e a morte.(64)

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O ATESTADO DE ÓBITO

Há, entretanto, médicos que desconhecem essa norma e, para paci-


entes internados, vítimas de acidentes/violências, que vêm a falecer,
se permitem fornecer a DO. Essa atitude contraria o que determina a
legislação e, portanto, deve ser combatida, visto que o médico, por não
obedecer à lei, poderá expor-se às penas que a legislação determina,
dos pontos de vista jurídico e ético.

2.3.2. Mortes decorrentes de causas naturais


Surge o problema de se saber a quem incumbe o fornecimento do
atestado de óbito em caso de morte natural, caso que comporta algu-
mas situações especiais.

2.3.2.1. Paciente com médico assistente (hospitalizado ou não)


Neste aspecto, ficou claro que o próprio Código de Ética Médica(4)
estabelece que se o médico vinha prestando assistência a um paciente e
este vem a falecer (não havendo qualquer suspeita de que a morte tenha
sido violenta), cabe a esse médico a elaboração da Declaração de Óbito.
O Código fala, especificamente, em ser vedado ao médico deixar de atestar
óbito de paciente a quem vinha prestando assistência (Art. 84), “exceto
quando houver indício de morte violenta”. Para paciente hospitalizado,
na falta do médico assistente, a DO deverá ser fornecida pelo médico
substituto pertencente à Instituição. (Resolução nº 1779 de 11.11.2005)(56).
Essa postura é, aliás, referendada pela Resolução nº 116 do Minis-
tério da Saúde(41), também já referida.

2.3.2.2. Paciente sem médico assistente (hospitalizado)


Se o paciente não tiver um médico assistente, mas estiver sob os
cuidados de instituição hospitalar e evoluir para óbito, qualquer mé-
dico do hospital – no caso, o que estiver de plantão – deverá fornecer o
atestado. Nessa situação, no Campo 43 da DO deverá ter anotado que
se trata de médico substituto (ou plantonista) e o Campo 40, relativo à
causa de morte, poderá ser preenchido mediante consulta ao prontuá-
rio hospitalar. Enfatiza-se aqui a importância do prontuário que,

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O ATESTADO DE ÓBITO DOS PONTOS DE VISTA ÉTICO E JURÍDICO

contendo toda a anamnese, exames realizados, diagnósticos, tratamen-


to prescrito e evolução do paciente, permitirá um preenchimento ade-
quado da DO e se constituirá em elemento importante, responsável
por resguardar o médico de qualquer problema futuro, do tipo envol-
vimento com seguradoras, justiça etc.
Importante questão tem sido constantemente levantada com re-
lação aos óbitos hospitalares. Muitas instituições negam-se a forne-
cer declarações de óbito para pacientes que vêm a falecer dentro
dessas instituições, mas antes de completadas 24 (ou às vezes 48)
horas de internação. Nesse caso, é importante lembrar que é da com-
petência do hospital o fornecimento de atestados para todos os ca-
sos de óbito hospitalar, definido este pelo Ministério da Saúde como
“óbito hospitalar é o que se verifica no Hospital, após o registro do
paciente”(65), conceito reiterado no Manual de Preenchimento da DO.
O próprio Ministério da Saúde, na mesma publicação, define “óbito
hospitalar específico ou institucional, como aquele que se verifica
após 48 horas de internação do paciente”, e talvez seja esta a confu-
são que vem se estabelecendo em muitos casos. É necessário lembrar
que esse conceito, mais específico que o anterior (e usado, geral-
mente, para cálculo de estatísticas hospitalares), não elimina a com-
petência do hospital quanto ao fornecimento do documento antes
desse prazo. A título de exemplo, imagine-se um paciente que, ad-
mitido às 22 horas de um dia para submeter-se a uma cirurgia às 6
horas da manhã seguinte, evolua para óbito durante a cirurgia. Não
há como negar a responsabilidade e competência do hospital quan-
to ao preenchimento e fornecimento da DO: o paciente estava regis-
trado no hospital, sob a responsabilidade deste e o óbito sobreveio
durante um procedimento efetuado pelo médico da Instituição. A
exigência de internação maior que 24 horas para que o hospital for-
neça a declaração de óbito deve, portanto, ser totalmente abandona-
da, ficando o mesmo responsável pelo fornecimento da DO em to-
dos os casos de óbito ali verificados, ressalvados ajustes decorren-
tes de mortes violentas ou suspeitas, como já salientado.

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O ATESTADO DE ÓBITO

2.3.2.3. Paciente sem médico assistente (óbito no domicílio)


Se o paciente falece sem ter tido assistência médica ou, embora esta
tenha existido, a causa que levou ao óbito não está bem definida, duas
situações podem ocorrer: a) a morte ocorre em local onde existe o Ser-
viço de Verificação de Óbito – SVO e b) a morte ocorre em locais onde
não existe esse Serviço.

a. Em locais onde existe SVO


Os SVO são instituições que têm por finalidade a determinação da
realidade da morte, bem como a sua causa – desde que natural e não exter-
na – nos casos de óbitos ocorridos sem assistência médica ou com assis-
tência médica, mas em que a morte sobreveio por moléstia mal definida.
Neste sentido, é importante não confundir este órgão com o Insti-
tuto Médico Legal: ambos realizaram necropsias, mas com finalidades
diferentes. A necropsia médico-legal é feita em todos os casos de morte
por causa violenta ou suspeita, sendo indicada pela autoridade polici-
al ou judiciária. A anatomopatológica, por sua vez, feita pelo SVO, visa
determinar ou diagnosticar a causa de morte, esclarecer a evolução de
uma determinada doença, dizer da eficiência de uma norma terapêuti-
ca(61), todos em casos de morte por causa natural.
Em São Paulo, o SVO, criado pelo Decreto Estadual nº 4967 de 18
de abril de 1931, foi transferido para a Faculdade de Medicina da Uni-
versidade de São Paulo (FMUSP) para funcionar junto ao Departa-
mento de Anatomia Patológica, onde está até hoje. A lei nº 5452 de 22
de dezembro de 1986, que reorganizou os Serviços de Verificação de
Óbitos no Estado de São Paulo, permitiu estender esse serviço a ou-
tras instituições públicas ou privadas em quaisquer dos municípios
da Grande São Paulo, o que poderia ocorrer mediante credenciamen-
to dado pelo SVO da Capital. A mesma lei criou ainda o SVO do Inte-
rior (SVOI), - sob a responsabilidade do Departamento de Patologia
da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São
Paulo – com a competência de realizar necropsias nas condições refe-
ridas para mortes ocorridas no Município de Ribeirão Preto, bem como

95

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O ATESTADO DE ÓBITO DOS PONTOS DE VISTA ÉTICO E JURÍDICO

credenciar instituições públicas ou privadas para a instalação de SVO


em outros municípios do interior do Estado, excluídos os da Grande
São Paulo. As possibilidades abertas por essa lei quanto à criação de
SVO nos municípios que desejassem esse Serviço fazem prever gran-
des perspectivas para a melhoria da qualidade da informação sobre
as reais causas de morte, de vez que a realização de necropsias, com
essa finalidade, é não somente desejável como também imperiosa para
a Saúde Pública.

b. Em locais onde não existe SVO


Se a morte, sem assistência médica ou com diagnóstico de moléstia
mal definida, sobrevier no domicílio, em município no qual não haja
ainda SVO, qual o procedimento a ser adotado?
Diversamente do revogado Código de Deontologia Médica, o atu-
al Código de Ética Médica(4) não faz referência expressa ao Serviço de
Verificação de Óbito. Isso não implica dizer, no entanto, que ele o tenha
relegado a um plano secundário. Nele lê-se:
“É vedado ao médico;
Art. 83. Atestar óbito quando não o tenha verificado pessoalmente,
ou quando não tenha prestado assistência ao paciente, salvo, no
último caso, se o fizer como plantonista, médico substituto, ou em
caso de necropsia e verificação médico-legal”.

Como anteriormente se viu, o Serviço de Verificação de Óbito –


SVO – se destina a realizar necropsias em casos de morte natural em
que não tenha havido assistência médica, ou, embora tenha esta ocorri-
do, seja a causa da morte desconhecida.
A já referida Resolução nº 1779 de 2005, do Conselho Federal de
Medicina,(56) entretanto, prevê, especificamente:
Art. 2º Os médicos, quando do preenchimento da Declaração de
Óbito, obedecerão às seguintes normas:
1) morte natural
1. Morte sem assistência médica

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O ATESTADO DE ÓBITO

a) nas localidades com Serviço de Verificação de Óbitos SVO), a


Declaração de Óbito será fornecida pelos médicos do SVO.
b) nas localidades sem SVO, a Declaração de Óbito deverá ser for-
necida pelos médicos do serviço público de saúde mais próximo do
local onde ocorreu o evento; na sua ausência, por qualquer médico
da localidade.

É evidente que o médico, nestes casos, não terá elementos para


firmar o diagnóstico da doença que levou à morte, não podendo, por-
tanto, preencher devidamente os itens relativos às causas da morte. O
que se preconiza, neste caso, é que o médico forneça o atestado, a fim
de que o enterramento possa ser feito, anotando que se trata de óbito
sem assistência médica. É preciso, entretanto, ter em mente que, dada
função eminentemente legal do atestado de óbito – como se viu, fazer
prova de que o indivíduo não mais existe –, é preciso certificar-se da
realidade da morte, bem como da identificação do falecido. Não se
pode esquecer ainda, que a declaração do óbito deve ser preenchida
em decorrência de sua função social; há um corpo que precisa ser se-
pultado e, para tanto, é necessário um atestado.
O que acontece, nestes casos, é que se vai ter um atestado do óbi-
to e não atestado da causa do óbito – exigindo-se, pelo menos, que o
médico se certifique, pessoalmente, do fato de ter a pessoa realmente
falecido. Dessa forma, o médico não deverá fornecer a DO sem ter
visto e examinado o cadáver (fundamentalmente para afastar qual-
quer suspeita de morte por acidente ou violência). Deverá ele anotar
na DO que não assistiu o falecido, informando, no item relativo à causa
de morte, que se trata de óbito sem assistência médica, não colocan-
do, portanto, nenhum diagnóstico. Para as Estatísticas de Saúde o
conhecimento dessa informação “óbitos sem assistência médica” mos-
tra-se como um importante indicador de saúde. Aqui também se pre-
coniza que, para evitar problemas futuros quanto ao fato de ter dado
a DO sem a prestação de cuidados anteriores, após exame externo do
cadáver, coloque a expressão “não há sinais externos de violência!”,

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O ATESTADO DE ÓBITO DOS PONTOS DE VISTA ÉTICO E JURÍDICO

visando a afastar qualquer problema relativo a óbito por causa não


natural.
Quanto à identificação do falecido, solicitar sempre um documen-
to com foto, a fim de evitar possíveis problemas. Se a pessoa não pos-
suir qualquer prova de identidade, sugere-se solicitar a comprovação
de identidade a familiar que possua documento em mãos. Esse famili-
ar seria, assim, de certa forma, o responsável pela afirmação de que
aquela DO pertence àquele corpo.
Se o médico, ao examinar o cadáver, suspeitar de existência da vio-
lência, deve transferir o caso para a esfera policial, que procederá con-
forme o final do citado 2.3.1.
A legislação em vigor (Resolução nº 1779 – CFM)(56) explicita dois
casos para os quais é necessária atenção:
1º) paciente em tratamento sob regime ambulatorial que vem a fa-
lecer no domicílio. A resolução prevê que a DO deva ser fornecida por
médico da Instituição que prestava assistência ou pelo SVO e
2º) paciente em tratamento sob regime domiciliar (Programa de Saú-
de de Família, internação domiciliar e outros) que vem a falecer no
domicílio, terá sua DO fornecida pelo médico pertencente ao Progra-
ma no qual o paciente estava cadastrado ou pelo SVO, caso o médico
não consiga correlacionar o óbito com o quadro clínico concernente ao
acompanhamento do paciente.
Quanto à possibilidade da criação de SVO, preconiza-se que as
localidades interessadas em criá-lo conheçam as normas junto a servi-
ços já implementados, como o SVOC do Município de São Paulo que,
como referido, funciona junto ao Departamento de Patologia da Facul-
dade de Medicina da Universidade de São Paulo. Se na área já houver
IML instalado, os interessados podem, através de acordo/convênio/
contrato ou similar com essa Instituição, utilizar a estrutura física e a
capacidade instalada do IML para exercer suas atividades. Fica claro
que as necropsias do SVO devem ser realizadas por patologistas e, as
do IML, por legistas, mas a infraestrutura poderá ser única, a exemplo
do que já ocorre em algumas localidades.

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O ATESTADO DE ÓBITO

2.3.2.4. Paciente sem médico assistente (óbito em trânsito)


Ainda a título de exemplo, poder-se imaginar uma situação em que
o doente encontra-se no domicílio e começa a passar mal; a família cha-
ma a ambulância de um hospital; o médico que atende diagnostica um
infarto agudo e recomenda remoção imediata ao hospital, sobrevindo o
óbito, entretanto, na própria ambulância. O bom senso recomenda, neste
caso, o fornecimento do atestado feito pelo médico da ambulância (que
atendeu o paciente) visto que, analogicamente, a ambulância funciona
como uma extensão, um prolongamento ou a “longa manus” do hospital
e o doente já estava, portanto, sob a responsabilidade deste.
A contrário senso, se a ambulância que socorre o paciente não tem
médico, a situação assemelha-se a óbito no domicílio e os procedimen-
tos serão equivalentes ao apresentado em 2.3.2.3.

2.3.3. Mortes em locais sem médico


Trata-se de caso especial de morte de paciente sem assistência mé-
dica porque no local onde o óbito ocorre não existe esse profissional.
A citada Lei dos Registros Públicos(39), em seu artigo 77, prevê,
para localidades em que não existem médicos, que:
Art. 77. “... duas pessoas que tenham presenciado ou certificado a
morte” possam promover seu registro.

Esse recurso, porém, só deverá ser invocado nos locais onde não haja
médico, pois, caso contrário (morte sobrevindo sem assistência médica,
mas existindo o profissional na localidade), este não poderá se esquivar
do fornecimento do atestado, conforme se frisou no item anterior”.

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O ATESTADO DE ÓBITO

PARTE 3

Respondendo às questões
mais frequentes

Apesar de farta distribuição de material relativo à emissão de Decla-


ração de Óbito pelo médico, é comum, ainda, chegarem aos Conselhos
de Medicina consultas sobre questões específicas referentes ao assunto.
Resgate histórico foi realizado nos arquivos do CREMESP, com o
intuito de conhecer as dúvidas mais comuns que ocorrem entre os pro-
fissionais e as indagações mais frequentes para, frente à legislação em
vigor, oferecer respostas e normas de conduta. As consultas foram agru-
padas segundo temas e as mais pertinentes estão sumarizadas a seguir.

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RESPONDENDO ÀS QUESTÕES MAIS FREQUENTES

QUESTÃO 1
Óbito ocorrido em ambulância.
A quem compete a emissão da Declaração de Óbito?

A questão relativa a óbito ocorrido em ambulância comporta res-


postas diferentes, em razão da situação em que o mesmo se verifica:
fundamentalmente, se havia ou não médico no veículo.
Imagine-se paciente que, no domicílio, passa mal; serviço de emer-
gência é acionado e chega com médico que faz diagnóstico de provável
infarto, sugerindo remoção para um hospital. Durante o transporte, o
paciente apresenta parada cardiorrespiratória irreversível e evolui para
óbito. Em razão de o médico ter dado atendimento ao paciente, esta
situação assemelha-se ao óbito hospitalar e o médico da ambulância
deverá ser o responsável pela emissão da DO.
Em sentido contrário, se a ambulância não dispuser de médico, o
transporte será, em tudo, semelhante ao feito em veículo particular ou
viatura policial. Nesse caso, se houver SVO na localidade, o corpo de-
verá ser encaminhado para essa instituição, para a emissão da DO. Ine-
xistindo tal Serviço, no local, a situação se equipara à de óbito no domi-
cílio, na qual qualquer médico pode e o médico do Serviço Público tem
o dever legal de fornecer a DO. Fique claro, entretanto, que todas estas
situações são aplicáveis a mortes decorrentes de causas naturais, visto
que o procedimento, em caso de óbitos por causas externas, é sempre
enviar o corpo para o IML para necropsia.

EMBASAMENTO LEGAL
1. A DECLARAÇÃO de óbito: documento necessário e importante. Brasília, DF :
Ministério da Saúde, Conselho Federal de Medicina, Centro Brasileiro de Clas-
sificação de Doenças, 2006. 40 p. Disponível em: <http://bvsms.saude. gov.br/
bvs/publicacoes/declaracao_de_obito_final.pdf >. Acesso em: 10 abr. 2015.
2. BRASIL. Conselho Federal de Medicina. Resolução nº 1.779, de 11 de novem-
bro de 2005. Regulamenta a responsabilidade médica no fornecimento da
Declaração de Óbito. Diário Oficial da União; Poder Executivo, Brasília, DF, 5
dez. 2005, Seção 1, p. 121. Disponível em: <http://www.cremesp.org.br/library/
modulos/legislacao/versao_impressao.php?id=6285>. Acesso em 10 abr. 2015.

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O ATESTADO DE ÓBITO

QUESTÃO 2
Óbito ocorrido em serviços de emergência (Pronto Socorro
ou Pronto Atendimento). Quais os procedimentos a serem
adotados quanto ao fornecimento da Declaração de Óbito?

A fim de esclarecer a questão, imaginem-se as possíveis situações


de paciente que chega ao Serviço (PS):
SITUAÇÃO A: totalmente “parado”
SITUAÇÃO B: em parada cardiorrespiratória, mas submetido a
manobras de ressuscitação, responde positivamente; entretanto, logo
após, tem outra parada, esta irreversível
SITUAÇÃO C: em mau estado geral; é examinado e há suspeita de
infarto agudo. É medicado, mas evolui para óbito, logo após.
Aqui, é importante salientar que para cada situação os procedi-
mentos indicados quanto à emissão de atestados podem ser diferentes.

SITUAÇÃO A
É necessário verificar se o paciente apresenta alguma suspeita de
causa não natural, caso em que o corpo deverá ser encaminhado ao
IML para necropsia. Se não houver indício de violência e existir SVO
na localidade, este deverá ser o responsável pela emissão da DO. No
caso de inexistir SVO, o próprio médico plantonista do PS fornecerá a
DO, assinalando que “chegou morto ao PS. Paciente sem sinais exter-
nos de violência. Causa não determinada”
Nota: se o médico suspeitar de alguma causa, anotar “provável causa x”

SITUAÇÃO B
A morte no PS equivale ao óbito hospitalar e, portanto, se ocorreu
nas suas dependências, a competência do fornecimento da DO é da
instituição. Já foi comentado, em outra parte desta publicação, que o
conceito de óbito hospitalar (e, por via de consequência, em PS) inde-
pende do tempo de permanência do paciente na instituição. Nesse caso,
então, o médico que atendeu o paciente é o responsável pela emissão

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RESPONDENDO ÀS QUESTÕES MAIS FREQUENTES

da DO, ressalvada sempre a questão relativa a sinais externos de vio-


lência, caso em que o procedimento deverá ser igual ao da situação A.

SITUAÇÃO C
Não há dúvida de que se trata de óbito hospitalar e que, portan-
to, a DO deve ser fornecida pela instituição (no caso, pelo médico
que atendeu o paciente no PS). No item relativo à causa da morte,
colocar “infarto” (ou provável “infarto”), visto que esse foi o diag-
nóstico feito pelo médico, sendo que até medicação específica foi
prescrita e aplicada.

EMBASAMENTO LEGAL
1. A DECLARAÇÃO de óbito: documento necessário e importante. Brasília,
DF : Ministério da Saúde, Conselho Federal de Medicina, Centro Brasileiro
de Classificação de Doenças, 2006. 40 p. Disponível em: <http://
bvsms.saude. gov.br/bvs/publicacoes/declaracao_de_obito_final.pdf >.
Acesso em: 10 abr.2015.
2. BRASIL. Conselho Federal de Medicina. Resolução nº 1.779, de 11 de novem-
bro de 2005. Regulamenta a responsabilidade médica no fornecimento da
Declaração de Óbito. Diário Oficial da União; Poder Executivo, Brasília, DF, 5
dez. 2005, Seção 1, p. 121. Disponível em: <http://www.cremesp.org.br/library/
modulos/legislacao/versao_impressao.php?id=6285>. Acesso em 10 abr. 2015.

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O ATESTADO DE ÓBITO

QUESTÃO 3
Qual o destino a ser dado, nos hospitais e outras instituições
de saúde, a peças anatômicas e tecidos humanos?

A questão é extremamente pertinente, dada a frequência com que


situações desse tipo ocorrem em nossos hospitais. Foi, entretanto, prati-
camente solucionada pela Resolução nº 33 de 25 de fevereiro de 2003
da ANVISA/Ministério da Saúde (publicada no DOU de 05 de março
de 2003), que estabeleceu normas relativas a coleta, acondicionamento,
armazenamento, tratamento e destino final desse material.
Com relação a documentos comprobatórios desses procedimentos,
o que deve ser fornecido?
Aqui, é importante salientar que, sob nenhuma hipótese deve ser
fornecida uma DO, por exemplo, para membro amputado, ainda que o
destino da peça venha a ser o enterramento, visto que não se tem um
óbito. Neste caso, sugere-se a elaboração de um laudo, conforme espe-
cificação em 2.2.4 desta publicação.
Quanto a produtos de concepção, o item 2.2.3, também desta pu-
blicação, explica a matéria nos seguintes termos: “os resíduos de pro-
dutos de fecundação que vem à luz sem sinais vitais, com peso menor
que 500 gramas ou estatura menor que 25 centímetros ou idade gesta-
cional menor que 20 semanas, que não tenham mais valor científico ou
legal e/ou quando não houver requisição pela família...” podem ser
incinerados no próprio hospital ou destinados à coleta especial. Se a
família quiser promover o sepultamento do produto, poderá ser forne-
cida a DO, deixando claro tratar-se de uma perda fetal e preenchendo
os itens específicos com as características do produto. É importante sa-
lientar que a DO não é obrigatória, pois as características do produto
não configuram um natimorto.

EMBASAMENTO LEGAL
1. BRASIL. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Resolução nº 306, de 7 de
dezembro de 2004. Dispõe sobre o Regulamento Técnico para o

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RESPONDENDO ÀS QUESTÕES MAIS FREQUENTES

gerenciamento de resíduos de serviços de saúde. Diário Oficial da União;


Poder Executivo, Brasília, DF, 10 dez. 2004. Seção 1, p. 49-56. Disponível em:
< http://www.cremesp.org.br/library/modulos/legislacao/versao_impressao.
php?id=7848>. Acesso em: 10 abr. 2015
2. BRASIL. Conselho Federal de Medicina. Resolução nº 1.779, de 11 de novem-
bro de 2005. Regulamenta a responsabilidade médica no fornecimento da
Declaração de Óbito. Diário Oficial da União; Poder Executivo, Brasília, DF, 5
dez. 2005, Seção 1, p. 121. Disponível em: <http://www.cremesp.org.br/library/
modulos/legislacao/versao_impressao.php?id=6285>. Acesso em 10 abr. 2015.
3. ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE. Classificação Internacional de Do-
enças 10 (CID-10). Organização Mundial da Saúde; tradução Centro Cola-
borador da OMS para a Classificação de Doenças em Português. 10 ª ed. rev.
São Paulo: EDUSP, 2007. Disponível em: <http://www.datasus.gov.br/cid10/
V2008/cid10.htm>. Acesso em: 10 abr. 2015.

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O ATESTADO DE ÓBITO

QUESTÃO 4
Emissão de atestado de óbito para parente

Os Conselhos Regionais de Medicina têm emitido, com certa fre-


quência, pareceres sobre a possibilidade (ou não) de médicos fornece-
rem atestados – inclusive de óbito – para parentes, às vezes, próximos.
É importante salientar que não existe legislação que recomende
(ou vede) esse procedimento, razão pela qual depreende-se que a con-
duta do médico que forneça DO para parente não pode ser questiona-
da como antiética ou ilegal.
Entretanto, em recente parecer, o CREMESP assim se manifestou:

“... certamente questões emocionais podem influenciar em condutas


e decisões médicas racionais, influenciando ou prejudicando o de-
sempenho profissional. Daí ser corrente, na comunidade médica, a
inadequação do atendimento de parentes, principalmente, os mais
próximos. Por outro lado, se não há impedimentos éticos e legais para
que um médico assine atestado de óbito de parente próximo, essa prá-
tica pode ter alguns riscos, como uma suspeita de falsidade ou omis-
são de dados contidos no atestado, principalmente por empresas se-
guradoras ou até mesmo em lides éticas e legais. Portanto, no máxi-
mo, podemos dizer que essa prática não é recomendável” (Consulta
CREMESP nº 53627/10).

EMBASAMENTO LEGAL
1. BRASIL. Conselho Federal de Medicina. Resolução nº 1.931, de 17 de setem-
bro de 2009. Aprova o Código de Ética Médica. Diário Oficial da União; Po-
der Executivo, Brasília, DF, 24 set. 2009. Seção I, p. 90-2; Diário Oficial da
União; Poder Executivo, Brasília, DF, 13 out. 2009. Seção I, p. 173 – Retifica-
ção. Disponível em: http://www.cremesp.org.br/library/modulos/legislacao/
versao_impressao.php?id=8822. Acesso em: 10 abr. 2015.
2. SÃO PAULO (Estado). Conselho Regional de Medicina do Estado de São Pau-
lo. Consulta nº 53.627, de 14 jun. 2010. A questão é técnica. Certamente

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RESPONDENDO ÀS QUESTÕES MAIS FREQUENTES

questões emocionais podem influenciar em condutas e decisões médicas


racionais. Portanto, no máximo, podemos dizer que esta prática não é re-
comendável. Disponível em: http://www.cremesp.org.br/?siteAcao=
Pareceres&dif=s&ficha=1&id=9408&tipo=PARECER&orgao=Conselho
%20Regional%20de%20Medicina%20do%20Estado%20de%20S%E3o%20Paulo
&numero=53627&situacao=&data=14-06-2010. Acesso em: 10 abr. 2015.

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O ATESTADO DE ÓBITO

QUESTÃO 5
Ainda sobre nascidos mortos e sobre óbitos
de recém- nascidos logo após o nascimento.
Quais os documentos a serem emitidos?

Em face aos conceitos internacionais (referendados no Brasil) sobre


cada um desses eventos, e do esclarecimento trazido por Resolução do
CFM sobre o assunto (primeiro, a Resolução nº 1.601 de 09/08/2000 e,
depois, pela Resolução nº 1.779 de 11/11/2005), não é possível existi-
rem mais dúvidas a respeito dos procedimentos a serem tomados em
caso de óbitos fetais e de nascidos vivos que evoluem para óbito logo
após o nascimento (ver itens 2.2.1, 2.2.2 e 2.2.3 desta publicação). O
caso abaixo ilustra e esclarece mais uma vez a situação.
Mulher de 38 anos, com gravidez gemelar de 23 semanas (confor-
me caderneta de pré-natal), dá entrada no hospital em mau estado ge-
ral, quadro de eclampsia. Atendida no PS, é encaminhada diretamente
à UTI, onde é medicada. Horas depois apresenta piora de seu estado e
elimina, naturalmente, dois conceptos, evoluindo para óbito, logo após.
Características dos conceptos:

1. Masculino

Sinais vitais: ausentes


Peso: 620g Nascido morto
Estatura: 25 cm

2. Feminino

Sinais vitais: presentes


APGAR 1º minuto = 2 e Nascido vivo
APGAR 5º minuto = 0 (Constatado o óbito) que evoluiu
Peso: 480g para óbito
Estatura: 25 cm

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RESPONDENDO ÀS QUESTÕES MAIS FREQUENTES

Procedimentos relativos à documentação a ser fornecida:


Conforme a descrição dos casos, têm-se:

1) Mãe – Óbito (a ser atestado pelo obstetra que a atendeu). Trata-


se de morte materna, decorrente de eclampsia. É importante não es-
quecer o preenchimento dos campos/itens específicos.

2) Concepto masculino – Trata-se de óbito fetal – nascido morto -


(sinais vitais ausentes), com peso = 620g e estatura = 25 cm. Preencher
DO (preenchimento obrigatório, visto o peso ser maior que 500g e a
gestação maior que 20 semanas) anotando, na 1ª casela, que se trata de
óbito fetal. Não esquecer de preencher os campos/itens específicos.
Quanto à causa da morte = nascido morto em (1a) e eclampsia materna
em (1b), ambos da Parte I da Declaração de óbito.

3) Concepto feminino – Trata-se de nascido vivo com sinais vitais


presentes (APGAR 1º minuto = 2) que cessaram logo após (APGAR 5º
minuto = zero). Aqui é importante salientar que, embora o peso seja
menor que 500g, os sinais vitais PRESENTES caracterizam o produto
como nascido vivo, ainda que esses sinais cessem no minuto seguinte.
Fornecer DO e não se esquecer de preencher os campos/itens específi-
cos. Quanto à causa da morte = anóxia neonatal, decorrente de eclamp-
sia materna. Segundo a legislação em vigor (Resolução CFM nº 1.779
de 11/11/2005), o médico que prestou assistência à mãe é o responsá-
vel por fornecer a DO. Lembrar que, como nascido vivo, o hospital é
obrigado a preencher a Declaração de Nascido Vivo (DN), documento
que pode ser preenchido por qualquer servidor especialmente desig-
nado pelo hospital, e não obrigatoriamente pelo médico.

EMBASAMENTO LEGAL
1. BRASIL. Conselho Federal de Medicina. Resolução nº 1.779, de 11 de novem-
bro de 2005. Regulamenta a responsabilidade médica no fornecimento da
Declaração de Óbito. Diário Oficial da União; Poder Executivo, Brasília, DF, 5

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O ATESTADO DE ÓBITO

dez. 2005, Seção 1, p. 121. Disponível em: <http://www.cremesp.org.br/library/


modulos/legislacao/versao_impressao.php?id=6285>. Acesso em 10 abr. 2015.
2. ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE. Classificação Internacional de Doen-
ças 10 (CID-10). Organização Mundial da Saúde; tradução Centro Colabora-
dor da OMS para a Classificação de Doenças em Português. 10 ª ed. rev. São
Paulo: EDUSP, 2007. v. 2 Disponível em: <http://www.datasus.gov.br/cid10/
V2008/cid10.htm>. Acesso em: 10 abr. 2015.

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RESPONDENDO ÀS QUESTÕES MAIS FREQUENTES

QUESTÃO 6
Paciente doador de órgãos. De quem é a competência
quanto ao fornecimento da Declaração de Óbito?

Não há dúvida de que a prática da doação de órgãos vem cres-


cendo. Entretanto, questões relativas a procedimentos a serem adota-
dos pelos médicos em nível hospitalar ainda chegam aos Conselhos,
principalmente no que tange à competência para a emissão de DO.
As dúvidas têm fundamento e o tema se reveste de grande importân-
cia e suscita, na realidade, não poucos questionamentos.
A título de exemplo, imagine-se a seguinte situação:
Paciente masculino, 22 anos, internado na Instituição A entra em mor-
te encefálica e a família quer doar seus órgãos. O corpo necessita, entretan-
to, ser transportado para a Instituição B, de maior complexidade, para que
o procedimento de retirada dos órgãos possa ser efetuado. Pergunta-se:
quem deve fornecer a DO: hospital A ou hospital B? O corpo pode sair do
hospital A – corpo morto – sem documento comprobatório do óbito? Esse
documento deve, obrigatoriamente, ser a Declaração de Óbito?
Resposta: Aqui há que se ter em mente algumas premissas impor-
tantes:
1º) as regras mais comezinhas da administração hospitalar indicam
que existem os seguintes tipos de saída hospitalar: alta, óbito, transfe-
rência e evasão, havendo, para cada um, definições e procedimentos
específicos;
2º) a morte encefálica, segundo o art. 3º da Lei nº 9434 de 4.02.97,
chamada Lei dos Transplantes, deve ser constatada e registrada por
dois médicos não participantes da equipe de remoção ou transplante;
3º) embora o destino do paciente seja outro hospital, parece não se
tratar de transferência, mas de óbito.
Cabe, neste momento, a verificação importante que é a relativa a
saber se o óbito do provável doador se deu em decorrência de causas
naturais ou foi consequente às lesões provocadas por qualquer tipo de
acidente ou violência.

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O ATESTADO DE ÓBITO

Em situação normal, de NÃO DOAÇÃO DE ÓRGÃOS, ter-se-iam:

SITUAÇÃO 1: óbito em decorrência de causa natural deveria ter


sua DO assinada por médico da instituição A; após, iria para o registro
civil em cartório e sepultamento.

SITUAÇÃO 2: no caso de óbito por causa externa, o corpo seria enca-


minhado com uma guia, para o IML, para fins de exame necroscópico,
laudo, fornecimento da DO, registro civil e posterior sepultamento.
Em caso de DOAÇÃO de órgãos, paciente com morte encefálica,
nos termos da legislação em vigor (art. 3º Lei nº 9434 – Lei dos Trans-
plantes) deve ter o estado de morte encefálica diagnosticado, constata-
do e registrado por dois médicos não participantes da equipe da remo-
ção ou transplante, “mediante a utilização de critérios clínicos e tecno-
lógicos definidos por Resolução do Conselho Federal de Medicina para
morte encefálica” (A lei não especifica, entretanto, se se trata de morte
por causa natural ou externa).
Esta constatação de morte encefálica tem sido feita por meio da
emissão de DO assinada por dois médicos da instituição A, inclusive
segundo pareceres do CREMESP (consultas nº 51.863/07 e 83.001/08)
O artigo 8º da Lei dos Transplantes, entretanto, expressamente ma-
nifesta a vontade do legislador:
Art. 8º - “... após a retirada de tecidos, órgãos e partes, o cadáver
será imediatamente necropsiado e condignamente recomposto
para ser entregue, em segurança, aos parentes do morto ou seus
representantes legais para sepultamento”.

Ora, se a lei determina necropsia, é de se supor que o corpo deva


ser encaminhado ao IML e que a DO seja emitida por essa instituição.
Verifica-se, dessa forma, um conflito positivo de competência, vis-
to que – ao que parece – o corpo já saiu da instituição A com uma DO
assinada por dois médicos e deverá ter outra DO a ser fornecida pelo
IML pós-necropsia. O que fazer diante dessa situação? Como resolver

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RESPONDENDO ÀS QUESTÕES MAIS FREQUENTES

o problema? A DO assinada por 2 médicos da instituição A pode ser


desprezada? O IML retém esse documento? Com qual deles a família
se dirige ao cartório para o registro civil do evento?
À vista do que diz o art. 3º da Lei dos Transplantes, de que “diag-
nóstico de morte encefálica deve ser constatada e registrada por dois
médicos...” poderia ser imaginado que os médicos da instituição A,
não obrigatoriamente, teriam que emitir uma DO, bastando o forneci-
mento de um formulário impresso, especificamente desenhado para
esse fim, que seria preenchido com todos os dados do paciente e onde
seria comprovada, por dois médicos, a morte encefálica.
Esse documento serviria como uma guia para que o corpo pudesse
ser removido da instituição A para a instituição B, onde seriam retirados
os órgãos. Nesta, feito relatório desse procedimento, os dois documen-
tos “Termo de Constatação de Morte Encefálica” (ou Termo de Declara-
ção de Morte Encefálica, conforme Parecer CREMESP nº 83.001/08)* e
“Relatório de extração de órgãos” deveriam acompanhar o corpo ao IML
para necropsia e recomposição, conforme o art. 8º da Lei dos Transplan-
tes e, aí sim, emitida uma DO.
Em razão de estar o assunto ainda em aberto, sugere-se, para esse
fim, que o CREMESP crie Comissão de Estudos para que o problema
possa ser devidamente equacionado e resolvido.

EMBASAMENTO LEGAL
1. BRASIL. Conselho Federal de Medicina. Resolução nº 1.779, de 11 de novem-
bro de 2005. Regulamenta a responsabilidade médica no fornecimento da
Declaração de Óbito. Diário Oficial da União; Poder Executivo, Brasília, DF, 5
dez. 2005, Seção 1, p. 121. Disponível em: <http://www.cremesp.org.br/
library/modulos/legislacao/versao_impressao.php?id=6285>. Acesso em 10
abr. 2015.

* No Município de São Paulo, a Secretaria Municipal de Saúde, por meio da Portaria nº 253/2007
criou a Guia de Encaminhamento de Cadáver que, embora não se refira, especificamente a casos
de morte encefálica, deve ser usada para acompanhar o corpo transferido para o SVO (causas
mal definidas) ou IML (mortes violentas ou suspeitas)

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O ATESTADO DE ÓBITO

2. BRASIL. Lei nº 9.434, de 4 de fevereiro de 1997. Dispõe sobre a remoção de


órgãos, tecidos e partes do corpo humano para fins de transplante e trata-
mento e dá outras providências. Diário Oficial da União; Poder Executivo,
Brasília, DF, 5 fev. 1997. Seção 1, p. 2191. Disponível em: < http://
www.cremesp.org.br/library/modulos/legislacao/versao_impressao.
php?id=6174>. Acesso em: 10 abr. 2015.
3. SÃO PAULO (Estado). Conselho Regional de Medicina do Estado de São Pau-
lo. Consulta nº 51.863, de 27 de novembro de 2007. Disponível em: < http://
www.cremesp.org.br/library/modulos/legislacao/pareceres/versao_
impressao.php?id=8501>. Acesso em 10 abr. 2015.
4. SÃO PAULO (Estado). Conselho Regional de Medicina do Estado de São Pau-
lo. Consulta nº 83.001, de 23 de junho de 2009. Médicos, inclusive plantonis-
tas, que constatarem eventos de morte encefálica deveriam emitir a Decla-
ração de Óbito para encaminhar o corpo para doação de órgãos. A emissão
da Declaração de Óbito na instituição onde a morte encefálica foi constata-
da é o que torna oficial a morte do indivíduo, e só então o coloca na situa-
ção de doador-cadáver que permite a sua transferência para a instituição
responsável pela retirada dos órgãos para transplante. Disponível em: <
http://www.cremesp.org.br/library/modulos/legislacao/pareceres/
versao_impressao.php?id=8972 >. Acesso em: 10 abr. 2015.

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RESPONDENDO ÀS QUESTÕES MAIS FREQUENTES

QUESTÃO 7
Paciente sem documento. Como emitir Declaração de Óbito
e de quem é a competência para a emissão?

Em vários momentos neste trabalho, tem sido enfatizada a impor-


tância da DO em seus diferentes aspectos. Para as consecuções de to-
dos os seus objetivos, ela necessita ser completa e correta e, fundamen-
talmente, precisa em suas informações. Para o alcance dessa meta, a
recomendação dada é a de que o médico deve preencher o formulário,
sempre à vista de um documento (com foto) do falecido.
Há casos, entretanto, em que tal medida é impossível.

SITUAÇÃO A
Imagine-se uma situação em que mulher grávida passa mal em via
pública é encaminhada a um hospital próximo, evoluindo para óbito
durante o primeiro atendimento, após eliminar o produto da gestação
(M-2500g, sem sinais vitais). Como a mulher estava desacompanhada e
não portava qualquer documento, pergunta-se quais os procedimen-
tos a serem adotados pelo hospital com relação a:
1º) Providenciar DO para a mulher;
2º) O que fazer com o corpo do concepto.
O corpo da pessoa sem identificação deve, por força de lei, ser en-
caminhado ao IML para providências relativas à identificação e necrop-
sia. Se o procedimento não tiver sucesso antes da emissão da DO, esta
deve ser emitida fazendo constar no lugar do nome, “Desconhecido n°
...”. Na Instituição permanecem todos os elementos capazes de promo-
ver a identificação e, quando esta puder ser realizada, o IML deve pro-
videnciar a averbação do primeiro documento.
Quanto ao concepto, deve também ser emitida a DO-fetal – nasci-
do morto – fazendo menção, no espaço correspondente ao nome da
mãe, ao fato de, não estando ainda identificada, corresponder ao “Des-
conhecido nº...”. O documento é também passível de averbação quan-
do a situação for esclarecida.

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O ATESTADO DE ÓBITO

SITUAÇÃO B
Imagine-se situação em que médico do Serviço Público é convoca-
do para dar uma DO para paciente que morreu no domicílio em local
sem SVO e sem IML. A sequência de providências deverá ser:
1º) Ir ao local onde se encontra o corpo para verificar se há realmen-
te um óbito;
2º) Proceder a um exame externo do cadáver para a eliminação de
dúvidas quanto a se tratar de morte natural e não violenta;
3º) Se o paciente não tiver nenhum documento (supor perda ou
extravio), solicitar a algum parente para que, devidamente identifica-
do, responsabilize-se por afirmar nome e qualificação do falecido. Essa
pessoa deverá apor seu nome e assinatura em qualquer lugar da DO,
como prova de que conhece o falecido e, nessa condição, foi capaz de
fornecer seus dados básicos.

EMBASAMENTO LEGAL
1. BRASIL. Conselho Federal de Medicina. Resolução nº 1.779, de 11 de novem-
bro de 2005. Regulamenta a responsabilidade médica no fornecimento da
Declaração de Óbito. Diário Oficial da União; Poder Executivo, Brasília, DF, 5
dez. 2005, Seção 1, p. 121. Disponível em: <http://www.cremesp.org.br/library/
modulos/legislacao/versao_impressao.php?id=6285>. Acesso em 10 abr. 2015.
2. SÃO PAULO (Estado). Decreto nº 35.566, de 30 de setembro de 1959. Aprova
o Regulamento do Instituto Médico- Legal do Estado. Diário do Executivo;
Governo do Estado. São Paulo, 2 out. 1959. Disponível em: < http://
www.al.sp.gov.br/repositorio/legislacao/decreto/1959/decreto-35566-
30.09.1959.html>. Acesso em: 10 abr 2015.

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RESPONDENDO ÀS QUESTÕES MAIS FREQUENTES

QUESTÃO 8
Em que casos ou situações deve um corpo ser
encaminhado ao Instituto Médico Legal para necropsia?
Quais os conceitos de causa externa e morte suspeita?

A legislação brasileira é absolutamente clara quanto ao fato de que o


atestado de óbito decorrente de lesões provocadas por causas externas
deverá sempre ser fornecido por perito legista pós necropsia. A Resolu-
ção CFM nº 1.779 de 11/11/2005, faz referência a essa determinação, o
que poderia levar a pensar que o assunto estivesse totalmente resolvido.
Percebe-se, entretanto, que ainda pairam dúvidas quanto aos procedi-
mentos a serem adotados em algumas situações.
Mortes por causas externas (ou não naturais) são aquelas que so-
brevêm em decorrência de um acidente ou qualquer tipo de violência.
Isto posto, fica claro que devem ser incluídos os casos de óbitos
decorrentes dos seguintes eventos (cf. CID-10; OMS, 1995):
✔ Acidentes de transporte;
✔ Suicídios;
✔ Homicídios;
✔ Outros acidentes, aí englobados: afogamentos, queimaduras, que-
das, aspiração de corpo estranho, picada de animal peçonhento, enve-
nenamento (intoxicação), entre outros;
✔ Complicações de assistência médica e cirúrgica, englobando efei-
tos adversos de drogas e medicamentos, acidentes ocorridos com pa-
cientes durante a prestação de cuidados médicos e cirúrgicos, inci-
dentes adversos durante atos diagnósticos ou terapêuticos associa-
dos ao uso de dispositivos médicos e reação anormal em paciente ou
complicação tardia causados por procedimentos cirúrgicos e outros
procedimentos médicos;
✔ Sequelas de causas externas.
É importante salientar, entretanto, que, em todos esses casos, não
importa o tempo decorrido entre a evento lesivo e a morte, o que
quer dizer, em outras palavras, que, mesmo no caso de complicação

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O ATESTADO DE ÓBITO

das lesões, se a juízo do médico for possível estabelecer um nexo


causal entre a morte e o evento lesivo (acidente ou violência), esta
será sempre a causa básica da morte e o corpo deverá ser encami-
nhado para necropsia no IML. Parecer emitido pelo CFM em 1999
(CFM 57/99) fala em causas violentas imediatas ou tardias – todas
submetidas à necropsia no IML.
Com relação à morte suspeita, pode ser conceituada como: aque-
la em que o nexo causal é duvidoso ou que, embora o corpo possa
não apresentar sinais externos de violência, o caso pode sugerir, por
exemplo, um envenenamento. O Parecer CFM referido classifica a
morte suspeita como parte da morte violenta, até que se prove o con-
trário. Nesse caso, é também necessário enviar o corpo ao IML para
esclarecimento e emissão da DO.
Devem também ser enviados ao IML, para possível identificação
e determinação de causa de morte, os corpos de pessoas falecidas em
via pública (ou local público), mesmo que a morte seja, aparentemen-
te, natural.
Adicionalmente, corpos de pessoas sem identificação devem ser
enviados ao IML para providências junto ao Serviço de Identificação
da Secretaria da Segurança Pública do Estado de São Paulo.

EMBASAMENTO LEGAL
1. SÃO PAULO (Estado). Decreto nº 35.566, de 30 de setembro de 1959. Aprova
o Regulamento do Instituto Médico- Legal do Estado. Diário do Executivo;
Governo do Estado. São Paulo, 2 out. 1959. Disponível em: < http://
www.al.sp.gov.br/repositorio/legislacao/decreto/1959/decreto-35566-
30.09.1959.html>. Acesso em: 10 abr 2015.
2. ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE. Classificação Internacional de Do-
enças 10 (CID-10). Organização Mundial da Saúde; tradução Centro Cola-
borador da OMS para a Classificação de Doenças em Português. 10 ª ed. rev.
São Paulo: EDUSP, 2007. v.1. Disponível em: <http://www.datasus.gov.br/cid10/
V2008/cid10.htm>. Acesso em: 10 abr. 2015.
3. BRASIL. Conselho Federal de Medicina. Parecer nº 57, de 30 de setembro de

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RESPONDENDO ÀS QUESTÕES MAIS FREQUENTES

1999. O preenchimento e execução da declaração de óbito é ato médico, cuja


responsabilidade preferencial é do médico que tenha pleno ou provável co-
nhecimento das causas que produziram a morte – Resolução do CFM definirá
normas hierárquicas de responsabilidade pelo preenchimento – proposta de
revogação da Resolução CFM nº 1.290/89. Disponível em: < http:/www.portal
medico.org.br/pareceres/CFM/1999/57_1999.htm>. Acesso em: 10 abr. 2015.
4. BRASIL. Decreto-Lei nº 3.689, de 3 de outubro de 1941. Código de Processo
Penal. Diário Oficial da União; Poder Executivo, 13 out. 1941, p. 19699. Art.
162. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Decreto-Lei/
Del3689Compilado.htm>. Acesso em: 10 abr. 2015.
5. BRASIL. Conselho Federal de Medicina. Resolução nº 1.779, de 11 de novem-
bro de 2005. Regulamenta a responsabilidade médica no fornecimento da
Declaração de Óbito. Diário Oficial da União; Poder Executivo, Brasília, DF, 5
dez. 2005, Seção 1, p. 121. Disponível em: <http://www.cremesp.org.br/library/
modulos/legislacao/versao_impressao.php?id=6285>. Acesso em 10 abr. 2015.

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O ATESTADO DE ÓBITO

QUESTÃO 9
Sobre necropsias: autorização familiar para
a sua realização e tempo para seu início

A necropsia é procedimento obrigatório em caso de morte por causa


externa (em consequência das lesões decorrentes do evento lesivo) ou
suspeita, e está regulamentada pelo artigo 162 do Código de Processo
Penal Brasileiro (CPP), devendo ser feita por perito legista. Isso posto,
sua realização dispensa autorização da família e o corpo deve ser, sem-
pre, enviado para o IML, que é o órgão responsável por sua realização,
emissão de laudo detalhado sobre o que for encontrado à necropsia e
DO. É importante salientar que esta regra é válida qualquer que seja o
tempo decorrido entre o evento lesivo e o óbito. Quanto ao tempo para
que a necropsia seja realizada, ainda por força de lei, “só poderá ser
iniciada 6 horas após a constatação da morte, SALVO se os peritos, pela
evidência dos sinais de morte, julgarem que possa ser feita antes daque-
le prazo, o que deve ser declarado nos autos”. Nas localidades onde não
existir Posto do IML, qualquer médico da localidade pode ser investido
da função de perito, por ato da autoridade judicial ou policial da locali-
dade (ver item específico deste trabalho) e, nesse caso, realizar-se-á a
chamada “necropsia sumária”, que consiste somente no exame externo
do cadáver e, portanto, feita a qualquer momento.
Quanto às necropsias realizadas pelos Serviços de Verificação de
Óbito, feitas por patologistas, embora não haja regulamentação expressa
sobre a matéria (“a legislação é silente quanto a esse aspecto conforme
Resolução CFM nº 7.077/10), pode- se dizer que, por analogia com o
estabelecido pelo CPP, para as autopsias médico-legais valem as mes-
mas regras, com exceção da obrigatoriedade.
Assim, para necropsias em pacientes que morreram por causas na-
turais, a serem feitas no SVO:
1º) só devem ser iniciadas 6 horas após a constatação da morte e
2º) não sendo obrigatórias por Lei, devem, por essa razão, depen-
der da autorização (por escrito) de pessoa da família.

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RESPONDENDO ÀS QUESTÕES MAIS FREQUENTES

Em sentido contrário, manifestação do CREMESP datada de 2010,


estabelece que “a necessidade de autorização familiar (ou responsável
legal) para a realização da necropsia criaria óbice à aplicação efetiva da
lei, tornando inviável o cumprimento dos objetivos trazidos pelo dispo-
sitivo legal. Desse modo, em face à obrigatoriedade do exame post-mor-
tem, na hipótese aventada pelo consulente, este Departamento entende
que é desnecessária a autorização familiar ou representante legal para a
realização do procedimento (Consulta CREMESP nº 21.889/10)
Como proceder, então?
Nesse conflito de posições, fazer prevalecer a autorização escrita
da família parece ser a medida mais prudente pois, com certeza, isen-
tará o médico de qualquer problema ético-profissional futuro.

EMBASAMENTO LEGAL
1. BRASIL. Decreto-Lei nº 3.689, de 3 de outubro de 1941. Código de Processo
Penal. Diário Oficial da União; Poder Executivo, 13 out. 1941, p. 19699. Art.
162. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Decreto-Lei/
Del3689Compilado.htm>. Acesso em: 10 abr. 2015.
2. BRASIL. Conselho Federal de Medicina. Resolução nº 1.779, de 11 de novem-
bro de 2005. Regulamenta a responsabilidade médica no fornecimento da
Declaração de Óbito. Diário Oficial da União; Poder Executivo, Brasília, DF, 5
dez. 2005, Seção 1, p. 121. Disponível em: <http://www.cremesp.org.br/library/
modulos/legislacao/versao_impressao.php?id=6285>. Acesso em 10 abr. 2015.
3. SÃO PAULO (Estado). Decreto nº 35.566, de 30 de setembro de 1959. Aprova
o Regulamento do Instituto Médico- Legal do Estado. Diário do Executivo;
Governo do Estado. São Paulo, 2 out. 1959. Disponível em: < http://
www.al.sp.gov.br/repositorio/legislacao/decreto/1959/decreto-35566-
30.09.1959.html>. Acesso em: 10 abr 2015.

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O ATESTADO DE ÓBITO

QUESTÃO 10
Fratura patológica.
O médico do hospital pode fornecer a Declaração de Óbito
ou é necessário enviar o corpo para o IML?
Quem é competente para emitir a Declaração de Óbito?

A morte pode ser decorrente de causas naturais (consequente a uma


doença, fenômenos biológicos) ou de causas externas, aquelas que so-
brevêm por lesões, agressões ou outros eventos lesivos.
A legislação brasileira é clara ao determinar que as primeiras se-
jam atestadas por médicos que tratavam da pessoa que morreu (inclu-
sive plantonista ou substituto) e as segundas, por peritos legistas após
necropsia.
Com relação às fraturas é necessário ter clareza se as mesmas en-
quadram-se no primeiro ou no segundo caso, ou seja:
1º) se o paciente era portador, por exemplo, de uma osteoporose e
a fratura ocorreu, portanto, em decorrência dessa doença (fratura pato-
lógica) ou
2º) se a fratura sobreveio após um acidente, por exemplo, queda,
ou violência (agressão ou lesão auto infligida).
Se o médico tiver provas de que a doença ocasionou a fratura, in-
clusive com exames (por exemplo, de imagem), anotações em prontuá-
rio ou assemelhados, poderá ele mesmo atestar a morte, deixando cla-
ra a condição de NÃO VIOLÊNCIA. Nesse caso, o corpo não precisará
ir para o IML, visto que a competência dessa instituição é, como tem
sido ressaltado, trabalhar com causas externas.

EMBASAMENTO LEGAL
1. BRASIL. Conselho Federal de Medicina. Resolução nº 1.779, de 11 de novem-
bro de 2005. Regulamenta a responsabilidade médica no fornecimento da
Declaração de Óbito. Diário Oficial da União; Poder Executivo, Brasília, DF, 5
dez. 2005, Seção 1, p. 121. Disponível em: <http://www.cremesp.org.br/library/
modulos/legislacao/versao_impressao.php?id=6285>. Acesso em 10 abr. 2015.

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RESPONDENDO ÀS QUESTÕES MAIS FREQUENTES

QUESTÃO 11
Medico tratava de paciente que falece no domicílio.
Onde conseguir o formulário para a atestação da morte?

Declaração de óbito é o documento básico do Sistema de Informações


sobre Mortalidade, criado e gerido pelo Ministério da Saúde do País.
As DOs são distribuídas pelo Ministério às Secretarias Estaduais
de Saúde que, por sua vez, as disponibilizam para as Secretarias Muni-
cipais de Saúde (de cada Unidade da Federação). Estas, em nível de
cada Município, são responsáveis pela distribuição e controle das DOs
aos estabelecimentos de saúde, IML, SVO e Cartórios do Registro Civil
da localidade.
Assim, se um médico tem um cliente particular e este falece no do-
micílio, o profissional provavelmente não terá, em seu poder, o formulá-
rio DO para atestar a morte. Entretanto, poderá dirigir-se à Secretaria
Municipal de Saúde ou a qualquer hospital onde, apresentando sua iden-
tidade profissional, não terá dificuldade em obter o formulário.
Esse obstáculo foi propositadamente colocado no fluxo do docu-
mento, visto que a Secretaria de Vigilância em Saúde do Ministério da
Saúde, gestora do Sistema de Informações sobre Mortalidade, em ra-
zão da importância do documento, faz um controle rigoroso do mes-
mo. O documento é impresso com sequência numérica, com distribui-
ção e controle determinados pelo artigo 12 de Portaria nº 116 MS/SUS
de 11 de fevereiro de 2009, que estabelece, ainda, ser vedada a distri-
buição das DO para empresas funerárias.
A respeito de hospitais que somente fornecem DO para membros
de seu corpo clinico (Consulta CREMESP nº 8.243/97), o CREMESP
opina que isso poderia, inclusive, caracterizar infração e punição ético
profissional, visto que:
“... o documento DO deve ser acessível a todos os médicos em hos-
pitais, não lhes podendo ser negado, sob pena de ocorrer manifesta
limitação do exercício profissional, aqui caracterizado pelo ato mé-
dico de fornecer atestado de óbito”.

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O ATESTADO DE ÓBITO

EMBASAMENTO LEGAL
1. BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Portaria nº
116, de 11 de fevereiro de 2009. Regulamenta a coleta de dados, fluxo e perio-
dicidade de envio das informações sobre óbitos e nascidos vivos para os
Sistemas de Informações em Saúde sob gestão da Secretaria de Vigilância em
Saúde. Diário Oficial da União; Poder Executivo, Brasília, DF, 12 fev. 2009.
Seção I, p.37-43. Disponível em: < http://www.cremesp.org.br/library/modulos/
legislacao/versao_impressao.php?id=8158>. Acesso em: 10 abr. 2015.
2. SÃO PAULO (Estado). Conselho Regional de Medicina do Estado de São Pau-
lo. Consulta nº 8.243, de 10 de junho de 1997. Paciente falece no domicílio.
Disponível em: < http://www.cremesp.org.br/library/modulos/legislacao/
pareceres/versao_impressao.php?id=3581>. Acesso em: 10 abr. 2015.

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RESPONDENDO ÀS QUESTÕES MAIS FREQUENTES

QUESTÃO 12
Rasuras, correções ou retificações na Declaração de Óbito.
Isso é possível? É legal? Como proceder?

Já foi salientado à saciedade que a DO é o documento padrão em


todo o território nacional, de uso exclusivo do médico, para a atestação
do evento morte. Com ele, a família deve dirigir-se ao Cartório do Re-
gistro Civil para o devido registro oficial do evento e posterior emis-
são da Certidão de Óbito, este, o documento hábil para a comprovação
jurídica da morte.
Fica claro, portanto, que a DO é um documento oficial do País e
como tal, não admite rasuras. O médico deve preenchê-lo tendo vistas
à veracidade, à fidedignidade e à completitude das informações. Isto
posto, recomenda-se: que o faça sempre mediante a apresentação de
um documento do falecido, do prontuário hospitalar ou laudo de ne-
cropsia, quando houver. No caso de erro no preenchimento da DO, deve
ser feita uma ressalva a respeito, apondo sua assinatura abaixo do mes-
mo para justificá-lo. Assim, quando se tratar de erro de pequena mon-
ta, a correção pode ser feita no próprio formulário.
Caso não seja possível a ressalva (exemplo, erro nos nomes ou na cau-
sa da morte), deve ser usado outro formulário, ficando a instituição
responsável pela devolução, à Secretaria Municipal de Saúde, do jogo de
DO “danificado”. É preciso lembrar que as DOs são numeradas, existindo
controle sobre o que é distribuído a cada instituição – e devolvido pela
mesma. Como exemplo, pode- se citar um erro do médico, ao anotar a
causa da morte (insuficiência hepática em vez de insuficiência cardíaca),
caso em que o jogo original de três DOs deve ser inutilizado (anotando
que foi substituído), e, posteriormente, devolvido à Secretaria de Saúde.
Retificação no documento será possível, por exemplo, no seguinte caso:
Suponha-se, corpo enviado ao IML com suspeita de intoxicação
exógena. Material para exame toxicológico é retirado das vísceras da
pessoa e enviado ao laboratório. O preenchimento da DO, entretanto,
precisa ser feito rapidamente e o legista, em geral, coloca:

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O ATESTADO DE ÓBITO

I a - Provável intoxicação exógena;


b – Aguardando exames de laboratório;
c–
d–
II -
Em casos como esse, admite-se que, para fins de esclarecimento da
causa da morte, o médico, ao receber o resultado do exame toxicológi-
co, possa enviar à Secretaria Municipal de Saúde um adendo à DO
emitida, informando a positividade (ou não) do exame e a confirmação
(ou não) da suspeita inicial de intoxicação exógena.
Situação análoga está prevista entre as atribuições do SVO no Esta-
do de São Paulo (Lei Estadual nº 5.452 de 22/12/1986)
Art. 3º ... VII - fazer as necessárias comunicações à Fundação
SEADE e, quando solicitado, a outros órgãos interessados, nos
casos em que, após exames complementares, for modificado ou com-
pletado o diagnóstico da causa básica da morte.
Outra alteração possível, inclusive incentivada pelas próprias au-
toridades do País, visto fazer parte de programa específico do Minis-
tério da Saúde, é o caso do óbito submetido à investigação. Suponha
caso de morte em que a causa básica registrada na DO era, simples-
mente, “parada cardiorrespiratória” e que a investigação permitiu
saber que se tratava, na realidade, de morte consequente a uma causa
bem definida (exemplo, esquistossomose); aqui, a causa, para fins
estatísticos/epidemiológicos, poderá ser corrigida. O Sistema de In-
formações sobre Mortalidade, no entanto, reterá a informação inicial,
mostrará que o caso foi submetido a investigação e exibirá a causa
bem definida obtida após esta.
Resta claro, porém, que em todos os casos a modificação de causa
é feita para fins epidemiológicos, ficando registradas no Sistema a no-
tação de que o caso foi submetido a investigação, a causa anterior e a
devidamente esclarecida.
Nas demais situações, a alteração de dados na DO só será possível
em retificação de documento público já assentado, por solicitação à

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RESPONDENDO ÀS QUESTÕES MAIS FREQUENTES

Vara dos Registros Públicos conforme, inclusive, Parecer já emitido pelo


CREMESP (Consulta 109198/06)

EMBASAMENTO LEGAL
1. A DECLARAÇÃO de óbito: documento necessário e importante. Brasília, DF
: Ministério da Saúde, Conselho Federal de Medicina, Centro Brasileiro de
Classificação de Doenças, 2006. 40 p. Disponível em: <http://bvsms.
saude.gov.br/bvs/publicacoes/declaracao_de_obito_final.pdf >. Acesso em:
10 abr.2015.
2. SÃO PAULO (Estado). Lei nº 5.452, de 22 de dezembro de 1986. Reorganiza os
Serviços de Verificação de Óbitos no Estado de São Paulo. Diário Oficial do
Estado; Poder Executivo, São Paulo, SP, de 23 dez. 1986. Seção 1.<Disponível
em: < http://www.cremesp.org.br/library/modulos/legislacao/versao_
impressao.php?id=6129>. Acesso em: 10 abr. 2015
3. SÃO PAULO (Estado). Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo.
Consulta nº 109.198, de 19 de junho de 2009. O CREMESP recomenda que a
alteração dos dados da Declaração de Óbito deverá ser feita mediante autori-
zação do Poder Judiciário. Disponível em: < http://www.cremesp. org.br/library/
modulos/legislacao/pareceres/versao_impressao.php?id=8497>. Acesso em:
10 abr. 2015.
4. BRASIL. Secretaria de Vigilância em Saúde. Portaria nº 116, de 11 de feverei-
ro de 2009. Regulamenta a coleta de dados, fluxo e periodicidade de envio
das informações sobre óbitos e nascidos vivos para os Sistemas de Infor-
mações em Saúde sob gestão da Secretaria de Vigilância em Saúde. Diário
Oficial da União; Poder Executivo, Brasília, DF, 12 fev. 2009. Seção I, p.37-43.
Disponível em: < http://www.cremesp.org.br/library/modulos/legislacao/
versao_impressao.php?id=8158>. Acesso em: 10 abr. 2015.

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O ATESTADO DE ÓBITO

QUESTÃO 13
Investigação de óbito. O que é, em que consiste e qual
a sua finalidade? O médico é obrigado a responder às
indagações feitas pelas secretarias de saúde?

Tem sido bastante enfatizada, nesta publicação, a função epidemio-


lógica da DO, na medida em que seus dados constituem a base do Siste-
ma de Informações sobre Mortalidade do Ministério da Saúde – SIM/
MS. A informação dada pelos médicos na DO, principalmente sobre a(s)
causa(s) da morte, vai ser responsável pelo estabelecimento do panora-
ma epidemiológico sobre a saúde da população. Assim, toda vez que
ocorre um óbito sem assistência médica (portanto, com causa não deta-
lhada) ou, embora com assistência médica, a causa não esteja bem defi-
nida, por força de determinação do Ministério da Saúde, o caso passa a
fazer parte do Programa “Redução do Percentual de Óbitos com Causa
Mal Definida”. Este objetiva, em última análise, o aprimoramento das
informações sobre mortalidade, com vistas a qualificar as análises de
situação de saúde que irão subsidiar o planejamento em saúde (Progra-
ma criado no Plano Plurianual 2004-2008 do Ministério da Saúde) (1).
A investigação consta de dois momentos: dados obtidos em consulta
aos documentos médicos do paciente (ou visita/contato com os médicos/
instituições que cuidaram do falecido) e, quando isso não for ainda sufici-
ente para estabelecer a real causa básica da morte, visita domiciliária para
preenchimento do formulário “autopsia verbal” (1), deve ser realizada.
A investigação do óbito é, portanto, uma etapa importante no contexto
do aprimoramento da qualidade da informação e os médicos, quando ques-
tionados a respeito, não devem se negar a responder. No Município de
São Paulo, o Programa de Aprimoramento das Informações de Mortalida-
de (PROAIM) da Secretaria Municipal de Saúde, não poucas vezes, solici-
ta, aos médicos, esclarecimentos sobre pacientes que evoluíram para óbi-
to e sobre cuja causa básica da morte, anotada na DO, existe alguma dúvida.
(1) MS. Manual para investigação do óbito com causa Mal Definida. Brasília, DF, 2009 (Série A.
Normas e Manuais Técnicos).

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RESPONDENDO ÀS QUESTÕES MAIS FREQUENTES

Esses profissionais têm questionado sobre suas responsabilidades e deve-


res sobre o tema, principalmente, se estão obrigados a responder.
Parecer do CREMESP, do ano de 2005, estabelece que:
“... 1º) o dever ético de todos os profissionais médicos para com a
qualidade das informações prestadas na DO é indiscutível;
2º) as respostas às solicitações devem ser dadas, preferencialmente,
pelo médico que assinou a DO, na sua impossibilidade, por médico
que acompanhou o caso ou, finalmente, por membro da Comissão
de Revisão de Óbito, nos hospitais”.
Fica claro, portanto, que a colaboração dos médicos é imprescindível,
devendo, portanto, ser dada sempre que o mesmo for, para isso, solicita-
do. Visando a facilitar os contatos, é importante que o médico que assi-
nou a DO deixe seu endereço, telefone e e-mail registrados no formulário.

EMBASAMENTO LEGAL
1. BRASIL. Conselho Federal de Medicina. Resolução nº 1.931, de 17 de setem-
bro de 2009. Aprova o Código de Ética Médica. Diário Oficial da União; Po-
der Executivo, Brasília, DF, 24 set. 2009. Seção I, p. 90-2; Diário Oficial da
União; Poder Executivo, Brasília, DF, 13 out. 2009. Seção I, p. 173 – Retifica-
ção. Disponível em: http://www.cremesp.org.br/library/modulos/legislacao/
versao_impressao.php?id=8822. Acesso em: 10 abr. 2015.
2. BRASIL. Conselho Federal de Medicina. Resolução nº 1.779, de 11 de novem-
bro de 2005. Regulamenta a responsabilidade médica no fornecimento da
Declaração de Óbito. Diário Oficial da União; Poder Executivo, Brasília, DF, 5
dez. 2005, Seção 1, p. 121. Disponível em: <http://www.cremesp.org.br/library/
modulos/legislacao/versao_impressao.php?id=6285>. Acesso em 10 abr. 2015.
3. BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Portaria nº
116, de 11 de fevereiro de 2009. Regulamenta a coleta de dados, fluxo e perio-
dicidade de envio das informações sobre óbitos e nascidos vivos para os
Sistemas de Informações em Saúde sob gestão da Secretaria de Vigilância em
Saúde. Diário Oficial da União; Poder Executivo, Brasília, DF, 12 fev. 2009.
Seção I, p.37-43. Disponível em: < http://www.cremesp.org.br/library/modulos/
legislacao/versao_impressao.php?id=8158>. Acesso em: 10 abr. 2015.

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O ATESTADO DE ÓBITO

QUESTÃO 14
Ao decriminar a(s) causa(s) de morte na Declaração de Óbito,
o médico não estaria infringindo o sigilo profissional?
Não seria melhor colocá-la(s) em código?

A questão do sigilo profissional é bastante valorizada em Medici-


na e seus Códigos de Ética têm enfatizado o assunto em todas as suas
versões, sinalizando sempre que, conforme redação atual, é vedado ao
médico “revelar fato de que tenha conhecimento em virtude do exercí-
cio de sua profissão, salvo por motivo justo, dever legal ou consenti-
mento, por escrito, do paciente” (Art. 73 CEM)
Nessas ressalvas, enquadra-se o fornecimento do atestado de óbito
pelo médico, inclusive com a discriminação das causas que conduzi-
ram o paciente à morte.
O que justifica a “quebra do sigilo” na atestação da morte é, sem
dúvida, a preponderância do interesse público sobre o interesse indi-
vidual, de vez que pensar na morte do ponto de vista da Saúde Pública
significa ver e reconhecer que a elaboração do quadro epidemiológico
de hoje, objetiva, em última análise, salvar vidas amanhã, por meio de
ações postas em prática pelo poder público.
Quanto à colocação das causas em códigos, visando à Classifica-
ção Internacional de Doenças, é prática que não tem sido indicada, vis-
to que o médico não é um codificador, não sendo de seu conhecimento
as mais simples regras usadas internacionalmente. A recomendação é,
portanto, de que o médico coloque, sempre, as causas que conduziram
ao evento letal (conforme as regras internacionais descritas na Parte 1
desta publicação), para que o atestado possa cumprir, totalmente, suas
finalidades médicas, jurídicas, estatísticas e éticas.

EMBASAMENTO LEGAL
1. BRASIL. Conselho Federal de Medicina. Resolução nº 1.931, de 17 de setem-
bro de 2009. Aprova o Código de Ética Médica. Diário Oficial da União; Po-
der Executivo, Brasília, DF, 24 set. 2009. Seção I, p. 90-2; Diário Oficial da

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RESPONDENDO ÀS QUESTÕES MAIS FREQUENTES

União; Poder Executivo, Brasília, DF, 13 out. 2009. Seção I, p. 173 – Retifica-
ção. Disponível em: http://www.cremesp.org.br/library/modulos/legislacao/
versao_impressao.php?id=8822. Acesso em: 10 abr. 2015.
2. ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE. Classificação Internacional de Do-
enças 10 (CID-10). Organização Mundial da Saúde; tradução Centro Cola-
borador da OMS para a Classificação de Doenças em Português. 10 ª ed. rev.
São Paulo: EDUSP, 2007. v.1, 2 e 3. Disponível em: <http://www.datasus.gov.br/
cid10/V2008/cid10.htm>. Acesso em: 10 abr. 2015.

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O ATESTADO DE ÓBITO

QUESTÃO 15
O que é Declaração de Óbito Epidemiológica?

Consulta nº 102.613/03 dirigida ao CREMESP indaga sobre o con-


ceito e finalidade da chamada DO Epidemiológica e qual o papel do
médico nesse contexto.
Trata-se de documento padrão elaborado pelo Ministério da Saú-
de, de uso obrigatório em todo o território nacional, especificamente
concebido para a coleta de óbito não conhecido pelo Sistema de Infor-
mações sobre Mortalidade (SIM/MS) e que, tardiamente, chega ao co-
nhecimento das autoridades locais de saúde. O requisito para a sua
emissão é o de que o sepultamento já tenha sido realizado, não sendo
possível, portanto, emitir uma DO normal.
A DO e a DO Epidemiológica são em quase tudo iguais, havendo,
entretanto, algumas diferenças importantes como cor, fluxo, responsá-
vel pelo preenchimento, entre outros.
O instrumento é impresso em uma só via, não é valido para o Re-
gistro Civil e, importante, sua distribuição é feita somente para as
Secretarias Estaduais e Municipais de Saúde e seu preenchimento é de
responsabilidade dos gestores do SIM nessas instituições.
Percebe-se, assim, que se trata de um documento sem caráter legal,
criado pelas autoridades de saúde com vistas ao aprimoramento quan-
titativo do Sistema de Informações sobre Mortalidade. Isso posto, fica
claro que os médicos, em geral, estão fora dos procedimentos relativos
a preenchimento/fornecimento da DO Epidemiológica, a não ser o pro-
fissional ligado à Secretaria de Saúde e que, para tal fim, tenha sido
designado pelo gestor local da Saúde.

EMBASAMENTO LEGAL
1. BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento
de Análise de Situação de Saúde. Manual de Instruções para o preenchimento
da Declaração de Óbito. Brasília, DF: Ministério da Saúde, Secretaria de Vigilân-
cia em Saúde, Departamento de Análise de Situação de Saúde, 2011. (Série A.

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RESPONDENDO ÀS QUESTÕES MAIS FREQUENTES

Normas e Manuais Técnicos). Disponível em: < http:/ www.google.com.br/


url?sa=t&rct=j&q=&esrc=s&source=web&cd=1&cad=rja&uact=8&ved=0CB4Q
FjAA&url=http%3A%2F%2Fsvs.aids.gov.br%2Fdownload%2Fmanuais% 2FManual_
Instr_Preench_DO_2011_jan.pdf&ei=UzE-Ve2GBIGYNr78gKAO&usg=AFQjCNGFZ
w_u81tS-MjxA-TYpLgoHlfo0w&bvm= bv.91665533,d.eXY> Acesso em: 27 abr 2015.

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O ATESTADO DE ÓBITO

QUESTÃO 16
É admissível que Declaração de Óbito preenchida no
formulário correto e assinada por médico devidamente
qualificado seja rejeitada por algum órgão/serviço?
O que fazer nesse caso?

A DO preenchida com essas características e retratando a verdade,


com relação ao falecido, não pode ser rejeitada, a não ser nos casos em
que esteja contrariando a legislação em vigor.
Assim, por exemplo, o Cartório do Registro Civil tem competência
legal para não aceitar DO que constitua infração a qualquer dispositi-
vo legal.
Situações em que o cartório pode rejeitar a DO (quando infringir
qualquer determinação legal):
1) corpo destinado à cremação com DO assinada por um só médico
(a legislação em vigor exige duas assinaturas);
2) nos municípios onde existir SVO, atestado com anotação de que
o óbito foi decorrente de causa mal definida (ver Lei Estadual nº 5.452 de
1986, que reorganiza o Serviço de Verificação de Óbito no Estado de São Paulo);
3) nos municípios onde existir posto do IML, óbito decorrente de
causa externa com DO não oriunda dessa Instituição.
Quanto à possível rejeição de DO por agência funerária ou compa-
nhia de seguro, a melhor doutrina estabelece não ser isso possível, na
medida em que a emissão da DO é ato privativo do médico que, subsi-
diado por prontuário hospitalar/laudo necroscópico, terá a maior e
melhor condição de preencher adequadamente o documento.

EMBASAMENTO LEGAL
1. BRASIL. Lei nº 6.015, de 31 de dezembro de 1973. Dispõe sobre os registros
públicos e dá outras providências. Diário Oficial da União; Poder Executivo,
Brasília, DF, 31 dez. 1973. Seção 1. Disponível em: http://legis.senado.leg.br/
sicon/#/pesquisa/lista/documentos Acesso em: 27 abr. 2015.
2. SÃO PAULO (Estado). Lei nº 5.452, de 22 de dezembro de 1986. Reorganiza os

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RESPONDENDO ÀS QUESTÕES MAIS FREQUENTES

Serviços de Verificação de Óbitos no Estado de São Paulo. Diário Oficial do


Estado; Poder Executivo, São Paulo, SP, n. 245, de 23 dez. 1986. Seção 1.
Disponível em: < http://www.cremesp.org.br/library/modulos/legislacao/
versao_impressao.php?id=6129> Acesso em: 27 abr. 2015.

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O ATESTADO DE ÓBITO

QUESTÃO 17
Paciente vítima de queda de motocicleta, internado durante
52 dias, morre em decorrência de septicemia. Quem fornece
e como deve ser preenchida a Declaração de Óbito?

A primeira regra a ser levada em consideração é a relativa ao fato


de que se trata de um óbito por causa externa (mesmo que tenha ocor-
rido tardiamente) e, como tal, deve ter sua DO emitida por perito legis-
ta pós-necropsia (no IML) e não pelo hospital onde o paciente estava
internado.
A afirmativa de que o óbito se verificou em decorrência de septice-
mia não procede, de vez que esta é causa terminal de um processo que
se iniciou com a queda de moto, que se constitui, portanto, na causa
básica da morte.
O hospital deve enviar um relatório ao IML onde constem, inclusi-
ve, as datas de internação e do surgimento das complicações.
Assim, a DO deve ser preenchida no IML, informando as causas e
o tempo de cada uma.
I a – Septicemia
b – Politraumatismo
c – Queda de moto
d–
II -

EMBASAMENTO LEGAL
1. BRASIL. Conselho Federal de Medicina. Resolução nº 1.779, de 11 de novem-
bro de 2005. Regulamenta a responsabilidade médica no fornecimento da
Declaração de Óbito. Diário Oficial da União; Poder Executivo, Brasília, DF, 5
dez. 2005, Seção 1, p. 121. Disponível em: <http://www.cremesp.org.br/library/
modulos/legislacao/versao_impressao.php?id=6285>. Acesso em 10 abr. 2015.

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RESPONDENDO ÀS QUESTÕES MAIS FREQUENTES

QUESTÃO 18
Cobrança pela emissão da Declaração de Óbito

A cobrança de honorários médicos pela emissão/fornecimento da


Declaração de óbito constitui em questão polêmica e sobre a qual não
há ainda unanimidade.
Resgate histórico de pareceres a consultas enviadas ao Conselho
traz, conforme o momento considerado, diferentes posicionamentos (em
face à legislação vigente) e, por via de consequência, aponta diferentes
condutas a serem adotadas pelos médicos.
Embora o CFM em seu CEM trate, não poucas vezes, do tema ho-
norários, não fica clara, em nenhuma de suas colocações, a postura re-
lativa à cobrança pelo fornecimento da DO.
O próprio CFM, coautor da publicação “Declaração de Óbito: do-
cumento necessário e importante” opina no sentido de que a emissão
da DO não pode ser cobrada.
Entretanto, no Parecer (nº 17/1988), o Conselho Fedral esclarece que:
“O ato médico de examinar e constatar o óbito, ..., poderá ser cobra-
do, desde que se trate de paciente particular, a quem o médico não
vinha prestando assistência...”.
O folder “Orientações para o Preenchimento da Declaração de
Óbito”*, elaborado pela Prefeitura do Município de São Paulo, não tra-
ta de matéria relativa ao pagamento.
A publicação do CREMESP “Atestado Médico: prática e ética” consi-
dera um equívoco “cobrar pelo atestado de óbito em si. Segundo a pró-
pria autonomia, o profissional pode optar por cobrar ou não pelo tempo
despendido e/ou pelo deslocamento ao local em que está o corpo”.
Parece ser, esta última, a melhor posição a ser adotada (e recomen-
dada), visto que deixa claro que o preenchimento/fornecimento da DO
é tarefa que não deve ser cobrada, podendo ser possível, porém, cobrar
o ato de ir ver o corpo e o de examiná-lo, a fim de constatar a morte.
* http://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/upload/saude/arquivos/mortalidade/
preenchimentoDO.pdf

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O ATESTADO DE ÓBITO

EMBASAMENTO LEGAL
1. BRASIL. Conselho Federal de Medicina. Resolução nº 1.931, de 17 de setem-
bro de 2009. Aprova o Código de Ética Médica. Diário Oficial da União; Po-
der Executivo, Brasília, DF, 24 set. 2009. Seção I, p. 90-2; Diário Oficial da
União; Poder Executivo, Brasília, DF, 13 out. 2009. Seção I, p. 173 – Retifica-
ção. Disponível em: http://www.cremesp.org.br/library/modulos/legislacao/
versao_impressao.php?id=8822. Acesso em: 10 abr. 2015.
2. A DECLARAÇÃO de óbito: documento necessário e importante. Brasília, DF :
Ministério da Saúde, Conselho Federal de Medicina, Centro Brasileiro de Clas-
sificação de Doenças, 2006. 40 p. Disponível em: <http://bvsms.saude.gov.br/
bvs/publicacoes/declaracao_de_obito_final.pdf >. Acesso em: 10 abr.2015.
3. OSELKA, Gabriel (Coord.). Atestado médico: prática e ética. São Paulo: Con-
selho Regional de Medicina do Estado de São Paulo, 2013. Disponível em: <
http://www.cremesp.org.br/?siteAcao=Publicacoes&acao=detalhes&
cod_publicacao=68> Acesso em: 27 abr. 2015.

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RESPONDENDO ÀS QUESTÕES MAIS FREQUENTES

QUESTÃO 19
Oficial de Cartório do Registro Civil questiona o Conselho
sobre a existência de duas Declarações de Óbito para a
mesma pessoa. Isso é possível? Quem errou?

O missivista refere que dois médicos diferentes deram DO, com


causas diferentes, para uma mesma pessoa. Sem conhecer a história em
detalhes, sem saber as datas em que os atestados foram emitidos (e
registrados), e desconhecendo a condição dos médicos que assinaram
as DOs, fica prejudicada qualquer avaliação sobre quem teria cometi-
do o erro, inclusive se o segundo médico sabia (ou não) da existência
do primeiro atestado.
No terreno das hipóteses, pode se imaginar, por exemplo, que:
1. O primeiro médico deu uma DO com causa indeterminada. A
família, por qualquer razão, não se conformou com a situação, solici-
tando a outro médico uma nova DO.
2. O segundo médico, se soubesse da existência da primeira DO,
não poderia fornecer uma segunda DO uma vez que a primeira pode-
ria já estar registrada. Teria havido, nesse caso, importante infração éti-
co-profissional
Se a existência da primeira DO fosse ignorada pelo segundo médi-
co, pergunta- se se este teria ido ver o cadáver e, em que condição (mé-
dico da família, por exemplo), teria assinado o documento.
A recomendação aos médicos é que procurem conhecer a legisla-
ção a respeito e estejam certos do fato de poderem fornecer o docu-
mento e se as condições estipuladas na Resolução CFM nº 1.779 de 11/
11/2005 estão sendo contempladas.
É bom lembrar que a emissão da DO tem, inerente a si, uma
importante função social, mas que a legislação existente deve ser
cumprida.
Menção especial deve aqui ser feita à Lei que reorganiza o Serviço
de Verificação de Óbito da Capital de São Paulo – SVO-C (1986) e que,
expressamente prevê:

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O ATESTADO DE ÓBITO

Art. 4º Os corpos encaminhados pela polícia aos Serviços de Verifi-


cação de Óbitos somente serão restituídos às famílias, após necrop-
sia e com atestado fornecido por esses Serviços.
Parágrafo único – No caso de apresentação de dois atestados de óbito
para o mesmo corpo, será considerado válido aquele expedido pelos
Serviços a que se refere este artigo, após a realização da necropsia.

EMBASAMENTO LEGAL
1. BRASIL. Conselho Federal de Medicina. Resolução nº 1.779, de 11 de no-
vembro de 2005. Regulamenta a responsabilidade médica no fornecimen-
to da Declaração de Óbito. Diário Oficial da União; Poder Executivo, Brasília,
DF, 5 dez. 2005, Seção 1, p. 121. Disponível em: <http://www.cremesp.org.br/
library/modulos/legislacao/versao_impressao.php?id=6285>. Acesso em 10
abr. 2015.
2. SÃO PAULO (Estado). Lei nº 5.452, de 22 de dezembro de 1986. Reorganiza os
Serviços de Verificação de Óbitos no Estado de São Paulo. Diário Oficial do
Estado; Poder Executivo, São Paulo, SP, de 23 dez. 1986. Seção 1.<Disponível
em: < http://www.cremesp.org.br/library/modulos/legislacao/versao_
impressao.php?id=6129>. Acesso em: 10 abr. 2015

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RESPONDENDO ÀS QUESTÕES MAIS FREQUENTES

QUESTÃO 20
Dúvidas sobre cremação de cadáver

A cremação de corpos sem vida é prática milenar em muitas civili-


zações. Entre nós, só recentemente começa a ser implementada, inclu-
sive por questões de espaço e de Saúde Pública, em seus aspectos liga-
dos, principalmente, à contaminação do solo.
Do ponto de vista jurídico é procedimento permitido, estando sua
regulamentação ligada a leis, regulamentos e posturas municipais.
Legislação federal (Lei dos Registros Públicos) prevê sua realiza-
ção em seu art. 77 § 2º, nos seguintes termos:
Art.77 – Nenhum sepultamento será feito sem certidão do oficial do
registro do lugar do falecimento extraída após a lavratura do assen-
to óbito, em vista do atestado do médico se houver no lugar, ou em
caso contrário de duas pessoas qualificadas que tiveram presencia-
do ou verificado a morte.
...
§ 2º A cremação do cadáver somente será feita daquele que houver
manifestado a vontade de ser incinerado ou no interesse da saúde
pública e se o atestado de óbito houver sido firmado por 2 (dois)
médicos ou por 1 (um) médico legista e, no caso de morte violenta,
depois de autorizada pela autoridade judiciária.
Isso posto, no que tange especificamente ao interesse dos médicos,
é o fato de que a Declaração de Óbito seja assinada por dois profissio-
nais devidamente qualificados.

EMBASAMENTO LEGAL
1. BRASIL. Lei nº 6.015, de 31 de dezembro de 1973. Dispõe sobre os registros
públicos e dá outras providências. Diário Oficial da União; Poder Executivo,
Brasília, DF, 31 dez. 1973. Seção 1. Disponível em: http://legis.senado.leg.br/
sicon/#/pesquisa/lista/documentos Acesso em: 27 abr. 2015.
2. SÃO PAULO (Município). Lei nº 7.017, de 19 de abril de 1967. Institui a prática
de cremação de cadáveres e incineração de restos mortais no Município, e

142

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O ATESTADO DE ÓBITO

dá outras providências. Diário Oficial do Município; São Paulo, SP, 20 abr.


1967, p.1. Disponível em: < http://www.cremesp.org.br/library/modulos/
legislacao/versao_impressao.php?id=9980> Acesso em: 27 abr. 2015.

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R EFERÊNCIAS B IBLIOGRÁFICAS

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2 REDE INTERAGENCIAL DE INFORMAÇÕES PARA A SAÚDE - RIPSA. Indicado-
res e Dados Básicos para a Saúde no Brasil: conceitos e aplicações. 2. ed.
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3 BRASIL. Ministério da Saúde. Sistema de Informações sobre Mortalidade,
2011. Disponível em tabnet.datasus.gov.br/cgi/tabcgi.exe?sim/cnv/
obt10vf.def
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Nº 1931, de 17 de setembro de 2009. Aprova o código de ética médica. Diário
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8 VANDERLEI, L. C. et al. Avaliação da qualidade de preenchimento das decla-
rações de óbito em unidade terciária de atenção à saúde materno-infantil.
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9 STRUQUE, C. O.; CORDERO, J. A.; CURY, P. M. Avaliação dos erros ou falhas
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logistas. Jornal Brasileiro de Patologia e Medicina Laboratorial, Rio de Janei-
ro, v. 39, n. 4, p. 361-364, 2003.
10 SELLERS, A. H. The Physician’s statement of cause of death. American Journal
and Public Health and Nations Health, v. 28, p. 430-4, 1938.
11 DEPORTE, J. V. Mortality Statistics and the Physician: An Argument for
Classifying Deaths According to Informed Medical Judgment. American
Journal of Public Health and Nations Health, v. 31, p. 1051-1056, 1941.
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14 ORGANIZACÃO MUNDIAL DA SAÚDE. Classificação Internacional de Doen-
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15 OFICINA SANITARIA PANAMERICANA. Educacion y Adiestramiento em
Certification Medica (Informe Del Grupo de Trabajo) – La Enseñanza de La
Certificatión Medica de las causas de Defunción – Boletín de la Oficina
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1274, 1953.
17 LOGAN, W. P. D. Instruction of medical practitioners in death certification
in England and Wales. Bulletin of World Health Organization, v. 11, n. 1-2, p.
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18 MORIYAMA, I. M. Improving the quality of medical certification of causes of
death in the USA. Bulletin of the World Health Organization. v. 11, n. 1-2, p.
791-794, 1954.
19 LAURENTI, R.; MELLO JORGE, M. H. P.; GOTLIEB, S. L. D. O Sistema de Infor-
mações sobre Mortalidade: Passado, Presente e Futuro. São Paulo: Centro
Brasileiro de Classificação de Doenças, 2006.
20 BRASIL. Ministério da Saúde. Manual de instruções para o preenchimento
da Declaração de Óbito. Brasília, 2011.

21 DORN, H. F.; MORIYAMA, I. M. Uses and significance of multiple cause


tabulations for mortality statistics. American Journal of Public Health and
Nations Health, v. 54, p. 400-406, 1964.

22 ORGANIZACÃO MUNDIAL DA SAÚDE. Classificação Estatística Internacio-


nal de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde. 10. rev. São Paulo: Cen-
tro da OMS para a Classificação de Doenças, 1995.

23 MELLO JORGE, M. H. P.; CASCÃO, A. M.; SILVA, R. C. Acidentes e violências:


um guia para o aprimoramento da qualidade de sua informação. São Paulo:
Centro Brasileiro de Classificação de Doenças, 2003 (Série Divulgação, 10).

24 JAMES, G; PATTON, R. E.; HESLIN, A. S. On the significance of cause of death as


recorded on death certificates. Public Health Reports, v. 70, n. 1, p. 39-51, 1955.

25 BEADENKOPT, W. G. et al. An assessment of certain medical aspects of


death certificate data for epidemiologic study of arteriosclerotic heart
diseases. Journal of Chronic Diseases. v. 16, p. 249-62, 1962.

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26 MORIYAMA, I. M. et al. Evaluation of diagnostic information supporting


medical certification of deaths from cardiovascular disease. In: HAEUSZOL,
W. (ed.). Epidemiology approaches to the study cancer and other chronic
diseases. National Cancer Institute, Bethesda, MD, p. 405-419. 1966.
27 MORIYAMA, I. M. et al. Inquiry into diagnostic evidence supporting medical
certifications of death. American Journal and Public Health and Nations
Health. v. 48, p. 1376-1387, 1958.
28 MORIYAMA, I. M. Factors in diagnosis and classification of deaths from
c.v.r. diseases. Public Health Report. v. 75, n. 3, p. 189-195, 1960.
29 JABLON, S. et al. On the significance of cause of death as recorded on death
certificates in Hiroshima and Nagasaki, Japan. In: HAEUSZOL, W. (ed.).
Epidemiological approaches to the study of cancer and other chronic
diseases. National Cancer Institute, Bethesda, MD, p. 445-465, 1966.
30 COMMITTEE ON MEDICAL CERTIFICATION OF CAUSES OF DEATH. Problems
in the medical certification of causes of death. American Journal of Public
Health and Nations Health. v. 48, n. 1, p. 71-80, 1958.
31 MILANESI, M. L.; LAURENTI, R. O estudo interamericano de mortalidade em
São Paulo: I-Estado atual da certificação médica da causa de óbito no distri-
to da Capital. Rev. Ass. Med. Bras, v. 10, p. 111-6, 1964.
32 FONSECA, L. A. M.; LAURENTI, R. A qualidade da certificação médica de
causa de morte em São Paulo. Revista de Saúde Pública, São Paulo, v. 8, n. 1,
p. 21-29, 1974.
33 PUFFER, R. R.; GRIFITTH, G. W. Patterns of urban mortality. Washington D.C.:
Pan American Health Organization, 1973
34 PUFFER, R. R.; SERRANO, C. V. Patterns of mortality in childhood. Washing-
ton D.C.: Pan American Health Organization, 1973
35 LAURENTI, R. Causas múltiplas de morte. Tese de Livre-Docência. 1973. Tese.
Faculdade de Saúde Pública, Universidade de São Paulo, 1973.
36 LAURENTI, R.; MELLO JORGE, M. H. P.; GOTLIEB, S. L. D. Estudo da mortalida-
de de mulheres de 10 a 49 anos de idade com ênfase na mortalidade mater-
na. Ministério da Saúde, Brasília DF, 2006 (Série C. Projetos, Programas e
Relatórios).
37 LAURENTI, Ruy. As manifestações de sofrimento mental mais frequentes
na comunidade. In: Margarita Antonia Villar Luis. (Org.). Os Novos Velhos
Desafios da Saúde Mental. Ribeirão Preto: Fundação Instituto de Enferma-
gem de Ribeirão Preto, 2008, p. 21-32.38 MURRAY, C. J. L; LOPEZ, A. D. The

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O ATESTADO DE ÓBITO

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disability from diseases, injuries, and risk factors in 1990 and projected to
2020. Boston: Harvard University Press; 1996.
39 BRASIL. Registros Públicos. Lei 6015 de 31 de dezembro de 1973 (alterada
pela Lei 6216 de 30 de junho de 1975). São Paulo: Atlas, 1976.
40 SILVEIRA, M. H.; LAURENTI, R. Os eventos vitais: aspectos de seus registro e
inter-relação da legislação vigente com as estatísticas de saúde. Revista de
Saúde Pública, São Paulo, v. 7, p. 37-50, 1973.
41 BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria nº 116 de 11 de fevereiro de 2009.
Regulamenta a coleta de dados, fluxo e periodicidade de envio das informa-
ções sobre óbitos e nascidos vivos para os Sistemas de Informações em
Saúde sob gestão da Secretaria de Vigilância em Saúde. Diário Oficial da
União, Poder executivo, Brasília, DF, 12 fev. 2009. Seção 1, p.37-43
42 BRASIL. Ministério da Saúde. Manual de instruções para preenchimento de
declaração de óbito. 2. ed. Brasília: Ministério da Saúde, 1985. (Série A: Nor-
mas e Manuais Técnicos, 24).
43 DALL’ORA, A. Sulla nozione giuridico-penale di cadaver. Rivista italiana di
diritto penale, Milan, n. 2, p. 18-41.
44 INTRONA, F. Sulla nozione di cadavere. Arch. Pen., n. 1, p. 281-9, 1954.
45 SANTOS, J. M. C. Cadáver. In: Repertório enciclopédico do direito brasileiro.
6. ed. Rio de Janeiro: Borsol, 1966.
46 HUNGRIA, N. Comentários ao Código Penal. 4 ed., Rio de Janeiro: Forense,
1958.
47 SILVEIRA, M. H. A tutela jurídica do cadáver. 1966. Dissertação. (Especializa-
ção)- Faculdade de Direito, Universidade de São Paulo, São Paulo, 1966.
48 NACIONES UNIDAS. Departamento de Assuntos Economicos y Sociales.
Manual de metodos de estadisticas vitales. Nueva York, 1955 (Estudos
Metodológicos, Série F, 7)
49 SILVEIRA, M. H. Perdas Fetais do Distrito de São Paulo. 1974. Monografia. (Mestrado)-
Faculdade de Saúde Pública, Universidade de São Paulo, São Paulo, 1974.
50 SILVEIRA, M. H.; LAURENTI, R. Os eventos vitais: aspectos de seus registro e
inter-relação da legislação vigente com as estatísticas de saúde. Revista de
Saúde Pública, São Paulo, v. 7, p. 37-50, 1973.
51 GRUENWALD, P. Growth of the human fectus. American Journal of Obstetrics
and Gynecology, vol.94, n. 8, p. 112-119, 1966.

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birth weith data at 24 to 42 weeks for gestation. Pediatrics, v. 32, n. 5, p. 703-
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53 WHO: Recommended definitions, terminology and formal for statistics
tables related to the perinatal period and use of a new certificate for cause
of perinatal death. Acta Obstetricia et Gynecologica Scandinavica, v. 56, n.
3, p. 247-253, 1977.
54 UNITED NATIONS. Principles and recommendations for a vital statistics
system. 2. rev. New York: United Nations Publication, 2001.
55 BRASIL. Código de Processo Penal Brasileiro: Decreto nº 3689 de 3 de outu-
bro de 1941 (legislação atualizada). São Paulo: Saraiva, 2014.
56 BRASIL. Conselho Federal de Medicina. Resolução CFM nº 1779, de 11 de
novembro de 2005. Regulamenta a responsabilidade médica no fornecimento
da declaração de óbito. Diário Oficial da União, Poder Executivo, Brasília,
DF, 5 dez. 2005. Seção 1, p. 121.
57 BRASIL. Ministério da Saúde. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Re-
solução RDC nº 33 de 25 de fevereiro de 2003. Dispõe sobre o Regulamento
técnico para o gerenciamento de resíduos de Serviços de Saúde. Diário Ofi-
cial da União, Poder Executivo, Brasília, DF, 5 mar. 2003. Seção 1, p. 45.
58 REZENDE, J.(ed.). Obstetrícia. 2 ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1969.
59 ALMEIDA, J. A.; DUARTE, F. J. M. Legislação médica anotada. Lisboa: Bertrand-
Amadora, 1973.
60 BENGOA, F. B. Temas de Derecho Penal. Montevídeo: Centro de Estudiantes
de Notariano, 1962.
61 FAVERO, F. Medicina Legal. São Paulo: Martins, 1962.
62 BRASIL. Código Penal Brasileiro: Decreto 2848 de 7 de dezembro de 1940
modificado pela Lei nº 7209 de 11 de julho de 1984. São Paulo: Saraiva, 2014.
63 SILVEIRA, R. M. J. O atestado médico falso. São Paulo: Centro Brasileiro de
Classificação de Doenças, 1996 (Série Divulgação n, 9).
64 BRASIL. Ministério da Saúde. A Declaração de Óbito: documento necessário
e importante. Brasília: Ministério da Saúde, 2007. (Série A: Normas e Manu-
ais Técnicos)
65 BRASIL. Ministério da Saúde. Terminologia Básica em Saúde. Brasília: Mi-
nistério da Saúde, 1983. (Série B: Textos básicos de saúde, 4)

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O ATESTADO DE ÓBITO

ANEXO 1 – DECLARAÇÃO DE ÓBITO

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A NEXOS

ANEXO 2 – DECLARAÇÃO PARA SEPULTAMENTO PARCIAL

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O ATESTADO DE ÓBITO

ANEXO 3 – INFORMATIVO DAS CIRCUNSTÂNCIAS DA MORTE (CABO FRIO/RJ)

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A NEXOS

ANEXO 4 – RESOLUÇÃO CFM Nº 1.779/2005

RESOLUÇÃO CFM Nº 1.779, 11 de novembro de 2005


Publicada no DOU, 5 dez. 2005, Seção 1, p. 121
Regulamenta a responsabilidade médica no fornecimento da Declaração de Óbito.

O CONSELHO FEDERAL DE MEDICINA, no uso das atribuições


conferidas pela Lei nº 3.268, de 30 de setembro de 1957, regulamentada
pelo Decreto nº 44.045, de 19 de julho de 1958, e
CONSIDERANDO o que consta nos artigos do Código de Ética
Médica:
“Art. 14. O médico deve empenhar-se para melhorar as condições
de saúde e os padrões dos serviços médicos e assumir sua parcela de
responsabilidade em relação à saúde pública, à educação sanitária e à
legislação referente à saúde.
É vedado ao médico:
Art. 39. Receitar ou atestar de forma secreta ou ilegível, assim como
assinar em branco folhas de receituários, laudos, atestados ou quais-
quer outros documentos médicos.
Art. 44. Deixar de colaborar com as autoridades sanitárias ou infrin-
gir a legislação vigente.
Art. 110. Fornecer atestado sem ter praticado o ato profissional que
o justifique, ou que não corresponda a verdade.
Art. 112. Deixar de atestar atos executados no exercício profissio-
nal, quando solicitado pelo paciente ou seu responsável legal.
Art. 114. Atestar óbito quando não o tenha verificado pessoalmente,
ou quando não tenha prestado assistência ao paciente, salvo, no último
caso, se o fizer como plantonista, médico substituto, ou em caso de
necropsia e verificação médico-legal.
Art. 115. Deixar de atestar óbito de paciente ao qual vinha prestan-
do assistência, exceto quando houver indícios de morte violenta”;

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O ATESTADO DE ÓBITO

CONSIDERANDO que Declaração de Óbito é parte integrante da


assistência médica;
CONSIDERANDO a Declaração de Óbito como fonte imprescindí-
vel de dados epidemiológicos;
CONSIDERANDO que a morte natural tem como causa a doença
ou lesão que iniciou a sucessão de eventos mórbidos que diretamente
causaram o óbito; CONSIDERANDO que a morte não-natural é aquela
que sobrevém em decorrência de causas externas violentas;
CONSIDERANDO a necessidade de regulamentar a responsabili-
dade médica no fornecimento da Declaração de Óbito;
CONSIDERANDO, finalmente, o decidido em sessão plenária re-
alizada em 11 de novembro de 2005,
RESOLVE:
Art. 1º O preenchimento dos dados constantes na Declaração de
Óbito é da responsabilidade do médico que atestou a morte.
Art. 2º Os médicos, quando do preenchimento da Declaração de
Óbito, obedecerão as seguintes normas:
1) Morte natural:
I. Morte sem assistência médica:
a) Nas localidades com Serviço de Verificação de Óbitos (SVO): a
Declaração de Óbito deverá ser fornecida pelos médicos do SVO;
b) Nas localidades sem SVO: a Declaração de Óbito deverá ser forneci-
da pelos médicos do serviço público de saúde mais próximo do local onde
ocorreu o evento; na sua ausência, por qualquer médico da localidade.
II. Morte com assistência médica:
a) A Declaração de Óbito deverá ser fornecida, sempre que possí-
vel, pelo médico que vinha prestando assistência ao paciente.
b) A Declaração de Óbito do paciente internado sob regime hospi-
talar deverá ser fornecida pelo médico assistente e, na sua falta por
médico substituto pertencente à instituição.
c) A declaração de óbito do paciente em tratamento sob regime
ambulatorial deverá ser fornecida por médico designado pela
instituição que prestava assistência, ou pelo SVO;

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A NEXOS

d)A Declaração de Óbito do paciente em tratamento sob regime


domiciliar (Programa Saúde da Família, internação domiciliar e outros)
deverá ser fornecida pelo médico pertencente ao programa ao qual o
paciente estava cadastrado, ou pelo SVO, caso o médico não consiga
correlacionar o óbito com o quadro clínico concernente ao acompa-
nhamento do paciente.
2) Morte fetal:
Em caso de morte fetal, os médicos que prestaram assistência à mãe
ficam obrigados a fornecer a Declaração de Óbito quando a gestação
tiver duração igual ou superior a 20 semanas ou o feto tiver peso corpo-
ral igual ou superior a 500 (quinhentos) gramas e/ou estatura igual ou
superior a 25 cm.
3) Mortes violentas ou não naturais:
A Declaração de Óbito deverá, obrigatoriamente, ser fornecida pe-
los serviços médico-legais.
Parágrafo único. Nas localidades onde existir apenas 1 (um) médi-
co, este é o responsável pelo fornecimento da Declaração de Óbito.
Art. 3º Esta resolução entra em vigor na data de sua publicação e
revoga a Resolução CFM nº 1.601/00.

Edson de Oliveira Andrade


Presidente

Livia Barros Garção


Secretária-Geral

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1

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Guia prático sobre


Atestados Médicos
Leis, Normas, Pareceres
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Questões mais Comuns

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Guia prático sobre atestados médicos


Leis, normas, pareceres, resoluções, questões mais comuns

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II, salas 301 a 314, Brasília, DF, CEP 70340-906, tel. (61) 3322 0001, fax (61) 3226
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Leis, normas, pareceres, resoluções, questões mais comuns /
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Simônides da Silva Bacelar


Luiz Fernando Galvão Salinas
José Ferreira Nobre Formiga Filho

1. Medicina Manual. Atestado Médico. 2 . Conselho Médico. 3. Leis e Legislação Mé-


dica. 4. Médico e Paciente.

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CONSELHO REGIONAL DE MEDICINA DO DISTRITO FEDERAL

DIRETORIA (GESTÃO 2007 2008)

Presidente – JOSE FERREIRA NOBRE FORMIGA FILHO


Vice-presidente JOSE NAVA RODRIGUES NETO
1.o Secretário SONIA ELIZABETH MARIA GADELHA DIAS
2.o Secretário LUIZ FERNANDO GALVAO SALINAS
Tesoureiro ANTONIO EVANILDO ALVES

CONSELHEIROS
AFONSO HENRIQUES PINTO DE A FERNANDES
ANDRE LUIS DE AQUINO CARVALHO
ANTONIO EVANILDO ALVES
ARIVALDO BIZANHA
ARMANDO JOSE CHINA BEZERRA
AUGUSTO CESAR DE FARIAS COSTA
CLAUDIO FERREIRA CAMPOS VIEIRA
EDUARDO PINHEIRO GUERRA
ERALDO PINHEIRO PINTO
FERNANDO CLAUDIO GENSCHOW
GLEIM DIAS DE SOUZA
GUSTAVO DE PAIVA COSTA
IVAN DE FARIA MALHEIROS
JAIRO MARTINEZ ZAPATA
JOAO BATISTA DE SOUSA
JOSE CARLOS DE ALMEIDA
JOSE FERREIRA NOBRE FORMIGA FILHO
JOSE HUMBERTO FRAZAO DE MENEZES
JOSE NAVA RODRIGUES NETO
LARA REGINA ROCHA FERNANDES
LUCIANNE ANDRÉIA M. DA COSTA REIS
LUCIANO DIAS BATISTA COSTA
LUCIANO DOS SANTOS FLORES
LUCILA NAGATA
LUIZ ALBERTO DE MENDONCA LIMA
LUIZ FERNANDO GALVAO SALINAS
MARIA DA GRACA BRITO DA SILVA AKUAMOA
MARIA LUIZA ALVES PENTEADO
MARIO MARCIO MOURA DE OLIVEIRA
MAURICIO LOPES DE VASCONCELLOS
ODILIO LUIZ DA SILVA
PARIZZA RAMOS DE LEU SAMPAIO
PAULO CESAR MACIEL DE MORAES
PEDRO PABLO MAGALHAES CHACEL
RENATO ANGELO SARAIVA
SERGIO ZERBINI BORGES
SIMÔNIDES DA SILVA BACELAR
SONIA ELIZABETH MARIA GADELHA DIAS
WENDEL DOS SANTOS FURTADO

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4

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5

APRESENTAÇÃO
Não existe no mundo profissão mais regulamentada do que a
medicina, e seu exercício é um dos mais delicados do ponto
de vista legal (Roberto Luiz D vila).

Atestar é afirmar ou provar em caráter oficial.

São incontáveis as emissões de atestados médicos diariamente, documentos, porta n-


to, de eminente importância na relação médico-paciente. Ao mesmo tempo, denún-
cias e sindicâncias relacionadas a problemas na emissão e mau uso dos atestados
pontuam alto em incidência e prevalência no âmbito dos conselhos.

O desconhecimento, motivado por ausência ou rejeição da leitura sobre leis e normas


que regem a elaboração e o bom uso dos atestados, é causa de atribulações pernicio-
sas com efeitos permanentemente prejudiciais ao profissional médico. Convém an o-
tar que, infelizmente, na literatura médica existem raros trabalhos publicados em p e-
riódicos científicos sobre o tema.

Tendo em vista essas questões, além de se ocupar das áreas médicas mais nobres
diagnoses e tratamentos de doenças , é imprescindível que o médico adquira conhe-
cimentos que complementem e amparem suas atividades básicas.

Cabe aos conselhos de medicina elaborar, apoiar e estimular ações de educação con-
tinuada sobre assuntos relacionados à ética no exercício profissional. De acordo com
o art 5.o, inciso II, da Constituição Federal, ninguém será obrigado a fazer ou deixar
de fazer alguma coisa senão em virtude de lei . A Lei Federal n. o 3.268/57 dota de
personalidade jurídica de direito público os conselhos federal e regionais de medicina
(art. 1.o), e estatui que estes são os órgãos supervisores da ética profissional em toda
a República e, ao mesmo tempo, julgadores e disciplinadores da classe médica (art.
2.o). Na qualidade de disciplinadores, têm, assim, o poder legal de determinar e fazer
cumprir normas, em geral denominadas resoluções, conquanto corroborem ou, então,
não contrariem as leis formalmente estabelecidas.

Contudo, para repelir ilicitudes, muito além das cominações, que se aplicam sempre
com desgostos e inquietações, estão as atividades educativas dos conselhos, que d e-
vem ter papel cardinal na formação médica, ora como fator preventivo de m ales, ora
como fator de conforto no exercício médico-profissional. O valor da Ética como
indispensável elo de desenvolvimento e sua ausência como causa de entraves sist e-
máticos no meio assistencial torna urgentes todas as medidas dirigidas à cientifica-
ção de sua importância. Para esse mister, existem numerosas matérias elaboradas nos
conselhos de medicina e nas legislações específicas.

Em moção contributiva a esse amplo esforço pelo amparo à ética, o Conselho Regi o-
nal de Medicina do DF divulga, em forma de manual, as orientações contidas em
pareceres e resoluções normativas sobre atestados, especialmente as oriundas do
CFM e do próprio CRM-DF, um guia utilitário por sua objetividade e praticidade,
para esclarecer os profissionais da área assistencial, administrativa e mesmo pacie n-
tes. Também se apresenta uma seleção de dúvidas sobre situações existentes no meio
médico e sugestões de solução com fulcro em documentos normativos oficiais.

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Para conhecimento das questões alusivas ao tema, foram consultados médicos das
mais diversas especialidades e localidades do País, além da literatura específica. Im-
porta acrescentar que as orientações se limitam apenas ao interesse relacionado à
medicina, à doença e ao doente, não havendo, portanto, considerações correlatas às
injunções administrativas.

A equipe responsável pela editoração da presente obra considerou oportuno e neces-


sário proceder às correções ortográficas e gramaticais do texto de acordo com as
normas oficiais e tradicionais da língua portuguesa, tendo em vista a percepção deste
exemplário como material, além de normativo, também de cunho didático, que tam-
bém pode ser dirigido a acadêmicos das áreas assistenciais ao enfermo.

O leitor interessado será bem-vindo para apresentar suas sugestões e acrescentar co-
nhecimentos em benefício do doente, do médico, da medicina, de outros profissionais
assistenciais, das instituições assistenciais e, particularmente, da ética médica.

Brasília, setembro de 2007.

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CONTEÚDO

CONSIDERAÇÕES GERAIS
TERMINOLOGIA
TIPOS DE ATESTADOS
Atestado de acompanhamento
Parecer-Consulta CRM-DF n.º 41/1998
Parecer-Consulta CRM-DF n.º 24/2004
Atestado de doença
Modelo de atestado médico
Atestado ou declaração de óbito
Atestado de saúde
Modelo de atestado de saúde
Prazo de validade dos atestados de saúde
Atestado de saúde ocupacional (ASO)
Atestado admissional
Atestado de mudança de função
Atestado de retorno ao trabalho
Atestados periódicos
Atestado demissional
Atestado de vacinação
Atestados médicos administrativos
Atestados médicos judiciários
Atestados médicos oficiosos
Atestado ou declaração de comparecimento
Modelo do atestado
Parecer-Consulta CRM-DF n.º 44/1998. Atestados de comparecimento.
Atestado para licença-maternidade e casos de abortamento
Atestado para educação ou aptidão física
Atestado para gestantes em viagens aéreas

QUESTÕES E DÚVIDAS MAIS COMUNS


Anotação da CID nos atestados
Parecer-Consulta CRM-DF n.º 57/2005
Anotação dos dados de atestado no prontuário
Atestado a pedido
Atestado de fisioterapeuta
Atestado de psicólogo
Parecer-Consulta CRM-DF n.º 89/2005
Atestado do odontologista
Parecer-Consulta CRM-DF n.º 7/2004
Atestados e perícia médica
Direito dos médicos-peritos de pedir relatórios para qualquer doença
Resolução CRM-DF n.º 119/94
Parecer-Consulta CRM-DF n.º 61/1998
Parecer-Consulta CRM-DF n.º 4/2004
Parecer-Consulta CRM-DF n.o 6/1996
Parecer-Consulta CRM-DF n.º 35/1997
Parecer-Consulta CRM-DF n.º 34/1998
Atestado médico coletivo

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Atestado para pessoa da própria família


Atestado sem carimbo médico
Atestado pré-datado
Entrega do atestado médico no dia da falta
Exigência de especialidade para expedição de atestado médico
Exigência de carteira de identidade do paciente para emitir atestado
Atestados e médicos do trabalho
Atestado médico falso
Indicação de repouso por um dia devida a uma breve consulta
Indicações de afastamento do trabalho ou de aposentadoria em atestados médicos
Período de doença para constar em atestado
Parecer-Consulta CRM-DF n.º 29/1999
Recusa do empregador a aceitar atestado médico
Parecer-Consulta CFM n.o 56/2002
Valor legal do atestado

ATESTADO OU DECLARAÇÃO DE ÓBITO


Terminologia
Causa de morte
Óbito por causa natural
Óbito não-natural ou por causa externa
Finalidades da declaração de óbito
Recomendações especiais
Orientações para preenchimento do formulário
Recomendações especiais
Emissão de atestado de óbito
Morte natural
Morte não natural
Declaração de óbito sem assistência médica prévia
Morte em ambulância
Morte ocorrida durante procedimentos por odondologista
Morte fetal
Constatação do óbito
Peças anatômicas retiradas por ato cirúrgico
Antecedentes ético-legais
Código de Ética Médica
Resolução CFM n.º 1.641/2002
Resolução CFM n.º 1.779/2005
Lei n.º 6.015/1973

LEGISLAÇÃO
Resolução CFM n.º 1.488/1998
Resolução CFM n.º 1.641/2002
Resolução CFM n.º 1.658/2002
Resolução CFM n.º 1.779/2005
Código Penal Brasileiro
Código de Ética Médica
Consolidação das Leis do Trabalho (CLT)
Decreto 27.048/49
Lei n.º 10.876

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Lei Orgânica da Seguridade Social n.º 8.112


Portaria do Ministério da Previdência e Assistência Social n.º 1.722
Lei Trabalhista n.º 605/49

SÍTIOS ÚTEIS PARA CONSULTAS


CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
ÍNDICE ALFABÉTICO

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CONSIDERAÇÕES GERAIS

Atestar significa afirmar ou provar oficialmente, como se registra nos dicionários, do


qual o particípio atestado passou também a significar documento comprobatório. Do
latim attestatus ou adtestatus, testemunhado, provado, particípio de attestaris ou
adtestaris, provar, testemunhar; de ad, junto de, em direção a, e testaris, testemu-
nhar; de testis, testemunha. Assim, em rigor, atestado é documento em que se faz
atestação, isto é, em que se afirma a veracidade de certo fato ou a existência de certa
obrigação da qual o signatário constitui a testemunha. No âmbito jurídico, é declara-
ção escrita e assinada que alguém dá a outrem para servir de certificado ou testemu-
nho (Bernasse, 2000). Quando é um médico que o emite, fala-se em atestado médico.
A validade do documento emana de lei federal que confere ao profissional da medi-
cina, habilitado na forma da lei, o poder da fé pública em sua profissão, fé do ofício à
semelhança dos cartórios de notas na emissão do atestado médico.

Para emitir o atestado, são necessárias algumas observações, ou seja, o documento


deverá ser elaborado e ser assinado pelo médico que examinou o assistido, com lin-
guagem simples, clara; omitir a revelação explícita do diagnóstico, salvo quando for
caso de dever legal, sob solicitação judicial, justa causa ou pedido expresso do e n-
fermo; expressar as recomendações médicas pertinentes, se há necessidade de af as-
tamento do trabalho e por quanto tempo; o profissional deverá estar inscrito no Co n-
selho Regional de Medicina da circunscrição em que houve a produção do documen-
to, estando o médico subscritor em pleno gozo de suas prerrogativas profissionais.
Há obrigação de constar a verdade na elaboração do atestado em cujo teor identifica-
se a competência do médico que o assina. Por tratar-se de instrumento público, in-
vestido de fé pública de ofício, é de efeito probatório, que o médico entrega ao pac i-
ente, e este poderá utilizá-lo para confirmar a veracidade de sua condição de saúde
ou de doença.

O atestado médico é de grande importância para a sociedade e faz parte das prerro-
gativas legais que o legislador concedeu ao médico. Está disciplinado pelo Conselho
Federal de Medicina e não poderá ser contemplado como documento destituído de
importância. Deverá ser sempre admitido como verdadeiro, inclusive em juízo, com
matizes renovadas nos tribunais de pequenas causas. Quando de sua contestação,
esta deverá acompanhar-se de justificativas claras e objetivas, dos motivos da dis-
cordância, sujeitando-os à responsabilidade do emitente ou, por outro aspecto, da-
quele que rejeitar um documento público revestido de fé de ofício (Vieira, 2007).

É mister que todos os atestados sejam elaborados com clareza, concisão, legibilid ade,
sem rasuras. O contrário obscuridade, verbosidade confusa, ilegibilidade e riscos
sobre as letras pode ser interpretado como indício de fraudes. É necessário sempre
verificar se o modelo oferecido pela instituição em que o médico atua está acond i-
cionado aos termos da Resolução 1.658 do Conselho Federal de Medicina. Ficará
explícito que a emissão do atestado ocorreu depois de efetuados os procedimentos
médicos dispensados ao doente. Os tempos verbais devem expressar indicação méd i-
ca, pois ordenamentos obrigatórios podem ser tomados como atitudes contrárias á
autonomia do doente. O número de dias precisa ser escrito em algarismos arábicos
com 0 à esquerda e, a seguir, por extenso, para que os dolos possam ser evitados.

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TERMINOLOGIA

É de importância observar denominações com exatidão em seus significados sob o


risco de cometimento de erros, induzidos por defeitos gramaticais, sobretudo obsc u-
ridades, ambigüidades e solecismos. Por seu caráter de seriedade e precisão, relatos
formais como os científicos e os usados em documentos, precisam ser expressos em
linguagem gramatical normativa, por sua disciplina e estruturação, baseada e elab o-
rada por instrutos profissionais de letras ao longo de séculos.

atestado certidão certificado declaração. Na linguagem prosaica, esses ter-


mos são mais ou menos equivalentes, e os dicionários, em geral, os dão como sin ô-
nimos. Da análise semântica cuidadosa do que registram dicionários de valor (Aule-
te, Aurélio, Houaiss e outros) verifica-se que, em rigor e no conceito de documentos,
são termos diferentes. Atestado contém afirmação de caráter oficial ou de pessoa
qualificada, que afirma a veracidade de um fato (atestado de pobreza, atestado médi-
co, atestado de óbito). Acrescentam que as repartições públicas, em razão de sua n a-
tureza, fornecem atestados e não declarações; atestar é principalmente afirmar ou
provar oficialmente ou como testemunha, testificar. Certidão é documento passado
por funcionário que tem fé pública, como escrivãos e tabeliães (certidão de nasci-
mento, certidão de casamento, certidão de óbito). Certificado é documento em que se
certifica algo, isto é, se afirma a certeza de alguma coisa (certificado de boa conduta,
certificado de depósito bancário, certificado de reservista); certificar tem conceito
principal de afirmar a certeza de, asseverar, assegurar. Declaração é documento em
que se revela algo para conhecimento público ou revelar algo ainda oculto (declara-
ção de bens, declaração de rendas, declaração de óbito); declarar significa essenci-
almente dar a conhecer, expor, revelar.

C digo In e nacional de Doen a (CID). Oficialmente existe a Classificação


Internacional de Doenças, cuja sigla é CID, termo consagrado em medicina a despei-
to de a denominação atual ser Classificação Estatística Internacional de Doenças e
Problemas Relacionados à Saúde, cujo subtítulo é CID-10, por Classificação Interna-
cional de Doenças 10.a revisão), como está na publicação da EDUSP, 1995. Inexis-
te o título Código Internacional de Doenças como aparece na literatura médica. Na
realidade, a Classificação traz uma coleção de códigos relacionados a uma variedade
de condições, situações, sinais e sintomas, inclusas as doenças. É, assim, inadequado,
em textos formais como documentos oficiais, redação de leis, normas, pareceres,
resoluções formais, por sua seriedade e rigorosidade ética, quando a referência for à
Classificação Internacional de Doenças, referir-se a CID como Código Internacional
de Doenças , daí, o CID , o que configura termo informal, isto é, de cunho coloqui-
al. Confere-se, de fato, o código internacional de uma determinada doença, o que
justificaria dizer, por exemplo, código internacional da doença erisipela (A46) se-
gundo a CID, ou diagnóstico codificado da erisipela. Finalmente, usar CID ora como
código, ora como classificação configura ambigüidade, um defeito de linguagem co-
mo está nas gramáticas, impróprio em redações que poderiam primar pela seriedade e
rigorosidade em suas denominações. Código, em termos jurídicos, significa e deno-
mina uma relação de leis ou normas como o é o Código Penal, o Código Civil Bras i-
leiro, o Código de Ética Médica. Assim, em relatos formais, ou nas situações em que
for necessário usar linguagem mais bem cuidada, seria denominação mais apropri a-
da, em relação a uma doença, dizer diagnóstico codificado da CID ou código da CID.

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Atestado de tratamento de saúde. São questionáveis usos desnecessários do termo


saúde como sinônimo de doença. Embora em alguns casos esse uso seja insubstituí-
vel por motivo de clareza ou de registro oficial, no mais das vezes o nome saúde p o-
de ser substituído por assistência ao doente ou por doença, morbidade ou equivalen-
tes adequados. Por exemplo, atestado para tratamento de sa de , afastamento por
problemas de sa de , são expressões coloquiais indevidas em uso formal, embora
existentes na linguagem, já que saúde significa essencialmente estado de ausência de
doença e essa condição não poderia constituir um problema ou alvo de terapia. Pode-
se dizer apenas atestado médico ou, na maioria dos casos, atestado para tratamento
médico, de outra especialidade não-médica ou de doença.

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TIPOS DE ATESTADOS
Fazer men o a aposentadoria, auxílio-doença, afastamento do trabalho etc. são referên-
cias administrativas que o médico assistente não deveria, sob o ponto de vista da perícia,
em fun o das leis previdenciárias, fazer constar em atestado (Eduardo Henrique Rodri-
gues de Almeida, Associação Nacional de Médicos Peritos).

ATESTADO DE ACOMPANHAMENTO

Também se diz declaração de acompanhamento. Documento em que o médico declara, a


pedido do interessado, que a pessoa acompanhou o doente durante consulta, exames di-
versos, internações hospitalares e situações semelhantes.

No caso da declaração para acompanhante, inexistem leis que abonem essa forma
de atestado como instrumento que obrigue empregadores a fornecer licença a um
servidor para acompanhar pacientes ou prestar-lhe assistência. Assim, é facultativa a
emissão desse tipo de atestado pelo médico, assim como a sua aceitação pelo empr e-
gador, salvo se houver normas convencionais particulares no âmbito patronal ou da
categoria do servidor que, regulamentem a matéria (Conselho, 2001, p. 20). No en-
tanto, o médico pode registrar no atestado ser imprescindível, se for o caso, a presen-
ça de um cuidador como parte do tratamento. A critério do empregador, este poderá
fazer as necessárias dispensas do servidor ao trabalho tendo em vista motivo de força
maior.

Sobre esse assunto, cabe incluir alguns pareceres elaborados pelo Conselho Regional de
Medicina do Distrito Federal.

Parecer-Consulta CRM-DF n.º 41/1998. O assunto deve ser tratado sob a óptica da
concessão de licença para acompanhamento de pessoa enferma, licença esta que não
está prevista na legislação aplicada aos trabalhadores em geral. Na Lei n.º 8.112/90,
que trata do Regime Jurídico do Servidor Público, há previsão, além da licença por
motivo de doença disciplinada nos artigos 202 a 206, da concessão de licença por
motivo de doença em pessoa da família, nos artigos 81, inciso I, e 83, com algumas
restrições, quais sejam: a) o caput do artigo relaciona os familiares que poderão ense-
jar o afastamento: cônjuge ou companheiro, pais, filhos, padrasto ou madrasta, ente-
ado e dependente que viva às expensas do servidor e conste de seus registros funci o-
nais: b) o parágrafo 1.º assenta que só será deferida a licença se a assistência direta
do servidor for indispensável e não puder ser prestada simultaneamente com o exer-
cício do cargo ou mediante compensação de horário, na forma do artigo 44, inciso II;
c) o artigo 44, inciso II, estabelece a hipótese de compensação de horário até o mês
subseqüente ao da ocorrência da falta, a ser estabelecida pela chefia imediata; d) o
parágrafo 2.º estabelece que a licença tem prazo limitado de 60 dias com remuner a-
ção e mais 60 sem remuneração.

Além dessa previsão da Lei n.º 8.112/90, sabe-se da existência de acordos coletivos
de trabalho em que se prevê a concessão de licenças para acompanhar pessoas en-
fermas da família, com remunerações e critérios de concessão os mais variados. Cita-
se, como exemplo, o caso do Banco do Brasil, que concede a seus funcionários lice n-

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ça para assistir pessoa enferma da família quando essa assistência for imprescindível,
assegurando-lhes 70% dos proventos gerais, não contando o período da licença como
tempo de serviço.

Diante da exposição acima, entende-se que, se não houver nenhuma previsão do as-
sunto em convenção coletiva com seus trabalhadores, a declaração não infringe a
legislação, uma vez que o código 2.065.0/4 faz referência a pessoa sadia e, portanto,
não pode ser encarado como comprovante de doença do trabalhador. O assunto não
merece a manifestação médica, a não ser no que diz respeito à informação ao setor de
pessoal de que aqueles atestados não se referem a recomendação de afastamento por
motivo de doença do empregado.

Parecer-Consulta CRM-DF n.º 24/2004. Habitualmente, na prática médica, o que


se utiliza para justificar eventuais ausências ao trabalho por parte do empregado que
acompanha determinado doente é o que se convencionou chamar de atestado de
comparecimento . Existem, inclusivamente, algumas instituições que dispõem de
formulários impressos para isso, em que o médico atesta nominalmente que aquele
empregado compareceu ao local de atendimento com a finalidade de acompanhar o
doente.

Tal atestado pode ser aceito ou não pelo empregador, cabendo a este, dentro de sua
política de assistência ao trabalhador, avaliando-se custos e benefícios de tais con-
cessões, estabelecer as condições de sua aceitação, visando a justificar a ausência ou
mesmo os atrasos ocasionais ao trabalho. Em havendo necessidade de especificar o
respectivo código da Classificação Internacional de Doenças (CID), deverá ser utili-
zado o 2065.0/4, da CID-10, que se refere à pessoa sadia que acompanha o doente.

Nesse caso, o médico deverá emitir atestado em nome do servidor, especificando a


pessoa ou o familiar que poderá ensejar essa licença de afastamento, bem como as
demais condições dispostas nos parágrafos do artigo 83 da Lei n.º 8.112/90.

ATESTADO DE DOENÇA

Documento em que o médico atesta que a pessoa apresenta estado mórbido, perm a-
nente ou provisório, e pode acrescentar que necessita de repouso absoluto ou relativo
durante determinado período. Há grande variedade desse tipo de atestado, desde o
atestado médico de enfermidade sem especificações a atestados de internação hosp i-
talar, atestado de tratamento ambulatorial e outros. O uso de termos como afasta-
mento do trabalho , incapacidade para o trabalho e indicações de aposentadoria,
têm sido causas de graves conflitos, já que tais determinações poderão ser legalmente
feitas por médico perito ou junta médica pela instituição empregadora (v. lei n.º
10.876, arts. 1.o e 2.o e incisos, p. ) por configurar, em muitos casos, atribuições
trabalhistas e administrativas.

Pode ser emitido em formato impresso ou manuscrito legível, em folha de papel,


timbrada ou não, observado o art. 113 do Código de Ética Médica. Mas, em padrão
geral, deverão constar nome da instituição, se for o caso, com designação do estab e-
lecimento específico, com o título ATESTADO MÉDICO, texto com: Atesto que o
Sr(a). (nome completo sem abreviaturas) foi atendido(a) no(a) (nome da instituição:

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unidade, consultório, clínica), em (data completa), de(as) hora(s) à(s) hora(s) e n e-


cessita de (citar o período) de repouso a partir desta data . Data da emissão, assinat u-
ra com carimbo (com nitidez das letras) ou número do CRM do médico assistente.
Deve haver espaço para observações e anotação do diagnóstico codificado (n. o de
revisão da CID) ou explícito, sempre com a autorização por escrito e assinada pelo
doente ou por seu responsável com os relativos dados de seu documento de identifi-
cação (figura 1). Por exemplo: Eu, (nome do paciente), RG (n mero e local de r e-
gistro) autorizo registrar neste atestado o(s) diagnóstico(s) em código (CID) ou por
extenso .

Nome da instituição (logomarca)

ATESTADO MÉDICO

Atesto que o Sr(a)_______________________________

doc ident. _____________________________________

foi atendido(a) no_______________________________

do___________________________________________

no período de (horas)_____às_______no dia___/___/__

e necessita de____(____________) dia(s) de repouso a


partir desta data.

Local e data___________________________________

Assinatura____________________________________

N.o reg. CRM (carimbo)_________________________

Observações:

Figura 1. Modelo de atestado médico

ATESTADO OU DECLARAÇÃO DE ÓBITO (v. p. ).

ATESTADO DE SAÚDE

Documento em que o médico, após exame clínico do paciente, que deve constar em
prontuário, atesta que a pessoa tem bom estado de saúde física e mental ao exame
clínico, com citação ou não da finalidade do atestado. O fornecimento de atestados
de saúde requer o exame clínico do usuário e seu respectivo registro no prontuário
(Parecer-Consulta CRM-DF n.º 2117/1995).

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Esse atestado pode ser emitido em forma impressa ou manuscrita legível, em folha de
papel, timbrada ou não, observado o art. 113 do Código de Ética Médica. Mas, em
padrão geral, deverão constar nome da instituição, se for o caso, com designação do
estabelecimento específico, com o título ATESTADO DE SA DE, texto com: Ates-
to que o Sr(a). (nome completo sem abreviaturas), no momento, apresenta bom est a-
do de saúde física e mental sem morbidades constatáveis ao exame clínico geral .
Localidade e data da emissão, assinatura com carimbo (com nitidez das letras) ou
número do CRM do médico assistente (figura 2). Deixar espaço para anotação do
diagnóstico codificado (n. o da CID) ou explícito, sempre com a autorização por escri-
to e assinada pelo doente ou por seu responsável com os respectivos dados de seu
documento de identificação.

Nome da Instituição (logomarca)

ATESTADO DE SAÚDE

Atesto que ____________________________

doc. de identificação ___________________

no momento, apresenta bom estado de saúde

física e mental, sem morbidades constatáveis

ao exame clínico geral.

Local e data __________________________

Assinatura____________________________

N.o reg. CRM ou carimbo _______________

Observações:

Figura 2. Modelo de atestado de saúde

Prazo de validade dos atestados de saúde. Parecer-Consulta CRM-DF n.º


63/1998. O conceito genérico de atestado indica o documento em que se faz atesta-
ção , isto é, em que se afirma a veracidade de certo fato ou a existência de certa o-
brigação. É assim o seu instrumento.

Nesse sentido, o atestado médico é documento de conteúdo informativo, exarado por


médico, como atestação de ato por ele praticado. Por outro lado, entende-se saúde,
sensu strictu, o estado do indivíduo em que há normalidade das funções orgânicas.
Dessa forma, ao emitir um atestado de saúde, após examinar o beneficiário daquele

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documento, o médico informa não ter constatado ao exame clínico, naquele momen-
to, alterações orgânicas.

Não há sentido assentar prazos quanto à sua validade, bem como admitir qualquer
forma de discriminação, contrariando um princípio fundamental de todo cidadão. O
atestado médico deve ser considerado verdadeiro por presunção, e sua recusa propi-
cia o oferecimento de reclamação tendente à garantia dos direitos representados pela
declaração.

ATESTADO DE SAÚDE OCUPACIONAL (ASO)

Este documento atende à Portaria n.º 24, de 29/12/94, Diário Oficial da União, 30 -
12-94, Secretaria de Segurança e Saúde do Trabalhador, com alterações introduzidas
pela Portaria n.º 8, de 8-5-96. O empregado precisa passar por avaliações médicas,
antes de ser admitido, durante a vigência do contrato de trabalho e quando for demi-
tido. Os exames são: admissional, periódico, de retorno ao trabalho, de mudança de
função e o demissional. Sem esses exames, a empresa poderá ser considerada culp a-
da por todas as doenças contraídas pelo trabalhador durante o contrato de trabalho,
respondendo inclusive por eventuais ações indenizatórias por acidente de trabalho ou
doença do trabalho.

A sétima norma regulamentadora do trabalho (NR-7), cujo título é Programa de Contro-


le Médico de Saúde Ocupacional PCMSO, estabelece a obrigatoriedade de elaboração
e implementação, por empregadores e instituições que admitam trabalhadores como
empregados, com o objetivo de promoção e preservação da saúde do conjunto dos seus
trabalhadores. Têm caráter preventivo, de rastreamento e diagnose precoce dos agra-
vos à saúde relacionados ao trabalho, inclusive de natureza subclínica, além de cons-
tatação da existência de casos de doenças profissionais ou danos irreversíveis à saú-
de dos trabalhadores.

De regra, os atestados devem ser feitos por médico do trabalho. Mas, em localidades
que não dispõem desses especialistas, outro médico poderá emitir o atestado. Alguns
cuidados, no entanto, devem ser observados, ou seja, a empresa solicitante deve dis-
ponibilizar ao médico a síntese do PCMSO, o médico necessita de registrar no ates-
tado seu endereço e telefone, o nome e o número de registro no respectivo CRM do
coordenador do Programa, registrar o tipo de risco a que o empregado está exposto
em suas atividades laborais (ruídos, calor, frio, radiações danosas ao organi smo) se
houver. O servidor não é obrigado a se submeter aos exames, sobretudo os invasi-
vos, mas o empregador deve estimulá-lo a cumprir essas normas.

Para cada exame, o médico emite o atestado em duas vias. A primeira fica arquiv ada
na empresa para eventual apresentação à fiscalização do trabalho. A segunda deve
ser entregue ao trabalhador, mediante recibo.

O atestado deve conter, no mínimo, nome completo do empregado; n.º da cédula de


identidade; sua função; os riscos ocupacionais específicos existentes ou a ausência
deles, na atividade do empregado; indicação dos procedimentos médicos a que foi
submetido o empregado, incluindo exames complementares e a data em que foram
realizados; o nome do médico coordenador, quando houver, com CRM; definição de

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apto ou inapto para a função específica que o empregado vai exercer, exerce ou exer-
ceu; nome do médico encarregado do exame e endereço ou forma de contato; data e
assinatura do médico encarregado do exame e carimbo contendo seu número de in s-
crição no CRM.

O Parecer CFM n. o 15/1999 traz considerações sobre o sigilo de saúde em atestado


de saúde ocupacional (ASO). Proclama que o atestado médico é documento que re-
gistra a veracidade em relação a datas, assistência, internações a necessidade de e-
xames complementares, todos de maneira genérica, sem especificar a doença. Desti-
na-se também a atestar a aptidão para práticas desportivas, para utilização de ambie n-
tes coletivos, bem como a aptidão ao trabalho. No caso específico do atestado de s a-
úde ocupacional, a aptidão ao trabalho, correlacionada à função laborativa. Eventu-
almente, em alguns locais, exige-se a informação médica de serviço médico próprio,
a qual segue codificada (CID), sempre com a anuência tácita do paciente trabalhador,
em atestados eventuais.

Acrescenta que, no caso do ASO, o médico coordenador está submisso ao que consta
no tem 7.4.4.3 da Norma Regulamentadora n. o 7 (NR-7). Essa norma orienta e regu-
lamenta a aposição dos dados de identificação do trabalhador, a citação dos exames
complementares realizados, os dados do médico coordenador e de outros médicos
que participaram da avaliação, a definição da aptidão ou não ao trabalho relativa à
função que irá desempenhar. Orienta, ainda, que podem ser anotados os riscos in e-
rentes à função, como ruído, chumbo, calor, etc.

Ressalta que o legislador, por meio da NR-7, não esquecerá de citar a importância e o
dever com o sigilo, ao prever na nota apontada no item 7.4.5.2: "A guarda dos pron-
tuários médicos é de responsabilidade do coordenador. Por se tratar de documento
que tem informações confidenciais da saúde das pessoas, o seu arquivamento deve
ser feito de modo a garantir o sigilo dos mesmos". O ASO não pode conter informa-
ções sobre hábitos pessoais ou doenças crônicas. Estas estarão devidamente guard a-
das sob sigilo no prontuário em poder do médico coordenador, na empresa, em seu
consultório, até mesmo, informatizadas, caso se tenha certeza do sigilo previsto na
Norma Regulamentadora n. o 7. Informações sobre malformações ou defeitos físicos
igualmente deverão constar somente no prontuário, mesmo que aparentes.

Conclui considerando que a obrigação do médico é tão somente afirmar se o trab a-


lhador está apto para a função laborativa que está sendo ou será exercida. As sa nções
pelo não-acatamento a estas orientações são as previstas no Código de Processo Éti-
co-Profissional, a depender da Instrução de Processo e do julgamento do caso, não
sendo possível tipificar essa falta especificamente com qualquer uma das penalid ades
previstas.

Os exames médicos previstos no Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional


compreendem: avaliação clínica, abrangendo anamnese ocupacional e exame físico e
mental; exames complementares, realizados de acordo com os termos especificados na
NR-7, e seus anexos. Para cada exame médico realizado, de acordo com a NR-7, o mé-
dico que o realizou emitirá o atestado de saúde ocupacional. Conforme retromencionado,
existem cinco tipos de atestados: admissional, mudança de função, retorno ao trab a-
lho, periódico e demissional.

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Atestado admissional. Consiste de parecer médico com finalidade de detecção de


condições clínicas no indivíduo que possam incapacitá-lo para o trabalho pretendido.
Nesse caso, o médico solicita exames complementares para declarar o pretendente
como apto ou inapto para o trabalho em questão. Segundo o Programa, o exame mé-
dico admissional deverá ser realizado antes que o empregado assuma suas atividades.
Assim o exame deverá ser prestado ainda na fase de seleção de pessoal, não na fase
de registro. (Fonte:
http://www.sato.adm.br/guiadp/paginas/selecao_rec_praticos_exame_medico.htm,
acessada em 20-8-07).

O exame admissional é uma avaliação médica feita para verificar se o trabalhador


está em condições físicas e psíquicas para desenvolver a atividade para a qual está
sendo contratado. O referido exame é realizado por um médico, com especialização
em Medicina do Trabalho.O exame é recomendado para evitar sérios aborrecimentos
e prejuízos para o empregador, vez que poderá contratar um empregado que já tenha
problemas de enfermidades com origem do serviço anterior e poderá reclamar na
justiça que adquiriu a doença no trabalho atual, pleiteando estabilidade no empr ego.

No caso de readmissão do trabalhador, deverá ser feito um novo exame admissional.


No exame admissional, não são permitidos testes de gravidez, de esterilização e e-
xame de HIV (AIDS), por se constituir prática discriminatória.

Os exames deverão ser anuais em trabalhadores menores de dezoito e maiores de


quarenta e cinco anos de idade. Para os trabalhadores entre dezoito anos e quarenta e
cinco anos de idade o exame deve ser realizado a cada dois anos. No caso do trab a-
lhador que estiver afastado de suas funções por período igual ou superior a trinta di-
as, por motivo de doença ou acidente, de natureza ocupacional ou não, ou parto, o
exame deve ser realizado obrigatoriamente no primeiro dia da volta ao trabalho (v.
atestado de retorno). (Fonte:
http://www.neteconomize.com.br/pres_servico/acomacmaringa/bus_mostra_servico.
asp?id=1060, acessada em 20-8-07).

Atestado de mudança de função. Se houver mudança de função do empregado, o


exame médico deve ser realizado obrigatoriamente antes da data da alteração, desde
que implique na exposição do trabalhador em risco diferente daquele a que estava
exposto antes da mudança. Entende-se por mudança de função qualquer alteração de
atividade, posto de trabalho ou de setor que exponha o trabalhador a risco diverso do
que estava exposto antes da mudança.

Atestado de retorno ao trabalho. No exame médico de retorno ao trabalho, a avalia-


ção clínica deverá ser realizada obrigatoriamente no primeiro dia da volta ao trabalho de
trabalhador ausente por período igual ou superior a trinta dias por motivo de doença ou
acidente, de natureza ocupacional ou não, ou de parto.
(Fonte. http://www.medicinadotrabalho.com.br/pcmso_duvidas.asp#10, acessada em
28-9-2007).

Atestados periódicos. O exame periódico deverá ser realizado quando o trabalhador


estiver sempre exposto a risco ou situações de trabalho que impliquem no desencad e-
amento ou agravamento de doença ocupacional, ou ainda, para aqueles que sejam
portadores de doenças crônicas. Os exames deverão ser repetidos, dentro do prazo

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legal. Elaborados para atestar controle clínico de servidores, realizados bianualme n-


te. Em casos de doenças, as avaliações serão anuais. Após 45 anos de idade, as avali-
ações serão também anuais.
(Fonte. http://www.medicinadotrabalho.com.br/pcmso_duvidas.asp#10, acessada em
28-9-2007).

Atestado demissional. Tem como finalidade comum determinar ou afastar existência


de estados mórbidos decorrentes do trabalho correlatos ao servidor demitido. Ev ita-
se, desse modo, que o empregador seja instado a responder por doenças alegadas i n-
tencionalmente ou não pelo servidor demitido como decorrentes do trabalho realiza-
do na instituição da qual fora servidor. Convém que seja realizada pelo médico do
trabalho e que estabeleça e realize exames complementares específicos a esses obj e-
tivos. Deve ser realizado obrigatoriamente dentro dos quinze dias que antecedem o
desligamento definitivo do trabalhador.

ATESTADO DE VACINAÇÃO

Pode ser emitido por médicos do quadro do serviço de saúde pública da União ou
médicos em exercício de atividades privadas, devidamente credenciadas para tal fim
pela autoridade de saúde competente, conforme disposto no art. 5. o da Lei 6.529/75 e
na Portaria n. o 597/gm de 8 de abril de 2004, que dispõe o calendário obrigatório de
vacinações. Nesse atestado, registram-se o estado de paciente vacinado, com as do-
ses, datas, e a especificação da vacina aplicada.

ATESTADOS MÉDICOS ADMINISTRATIVOS

São os exigidos pelas autoridades administrativas, especialmente de repartições p ú-


blicas. São dessa categoria os que são obrigados a apresentar os empregados públicos
quando solicitam licença ou requerem aposentadoria, licença-maternidade, que, de
regra, são fornecidos por médicos peritos ou juntas médicas de inspeção de saúde.

ATESTADOS MÉDICOS JUDICIÁRIOS

São geralmente requisitados por juiz, ex.: atestados que os jurados justificam suas
faltas ao tribunal do júri. Qualquer atestado médico pode se tornar judicial e integrar
um processo em Juízo.

ATESTADOS MÉDICOS OFICIOSOS

São assim denominados os atestados médicos solicitados por quaisquer pessoas, a


cujo interesse atendem. Podem ser contestados, pois representam uma opinião, um
diagnóstico médico sobre as condições clínicas de um doente, que pode não ser a de
outro médico. Tendo em vista esse fato, o atestado poderia não ser expressão da ve r-
dade (v. art. 110 do CEM), mas nesse caso, logicamente, não constitui fraude, mas é
relevante acrescentar que as denúncias sobre atestados médicos são freqüentes no
âmbito dos conselhos e, por indícios de atestado inidôneo ou falso, a maioria passa a
constituir processos ético-disciplinares (Conselho, s.d.).

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ATESTADO OU DECLARAÇÃO DE COMPARECIMENTO

Nesse documento, o médico declara, a pedido do interessado, o comparecimento do


paciente à consulta, a exames e outras atividades relacionadas a cuidados médicos.
Existem questionamentos sobre a terminologia a respeito. As declarações de compa-
recimento aos serviços médicos, sejam governamentais ou privados, não podem ja-
mais ser confundidas com atestados médicos por quem quer que seja. Elas apenas
relatam que o doente ou seu responsável, no caso de crianças ou de outros dependen-
tes, compareceu à consulta naquele dia e devem conter a expressão "Declaração" e
iniciar com: "Declaro, a pedido da parte interessada, que...". Alguns médicos, ao d a-
tar a declaração, registram também o intervalo horário do atendimento ou expressões
como "nesta manhã", "nesta tarde" (Conselho, s.d.).

Modelo do atestado. Pode ser emitida em forma impressa ou manuscrita legível, em


folha de papel, timbrada ou não, observado o art. 113 do Código de Ética Médica (v.
p. ). Mas, em padrão geral, deverão constar nome da instituição, se for o caso, com
designação do estabelecimento específico, com o título DECLARAÇÃO DE COM-
PARECIMENTO, texto com: Declaro a pedido da parte interessada (ou: Declaro)
que o Sr(a). (nome completo sem abreviaturas), documento de identificação (número
da carteira de identidade ou outro documento comprobatório), compareceu ao (nome
do local (ambulatório, consultório, pronto-socorro, centro cirúrgico, enfermaria, la-
boratório e similares) do (nome da instituição: unidade, clínica), em (data completa),
no período de(as) hora(s) à(s) hora(s) para (citar o objetivo: acompanhar paciente,
consulta, tratamento, exame [especificar] ou outros). Localidade, data da emissão,
assinatura com carimbo (com nitidez das letras) ou número do CRM do médico assis-
tente (figura 3). Deve haver espaço para observações, como anotação do diagnóstico
codificado (n. o da CID) ou explícito, sempre com a autorização por escrito e assinada
pelo assistido ou por seu responsável com os respectivos dados de seu documento de
identificação.

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Nome da instituição (logomarca)

DECLARAÇÃO DE COMPARECIMENTO

Declaro que __________________________

Documento de identificação _____________

compareceu a _________________________

do __________________________________

no período de _________________________

para _________________________________

Localidade e data ______________________

Assinatura ____________________________

N.o reg. CRM ou carimbo________________

Observações___________________________

Figura 3. Modelo de declaração


de comparecimento

Se o atestado de comparecimento refere-se à necessidade acompanhamento de paci-


ente, aconselha-se constar o nome do doente atendido e informação sobre a necessi-
dade de prestação de assistência por um acompanhante (v. Consulta n. o 1.485/93).

Não constitui propriamente um atestado, mas uma declaração. É bom que se faça a dife-
renciação entre atestado e declaração de comparecimento. A declaração não necessaria-
mente precisa ser exarada por médicos e poderá justificar uma falta, porém nunca corre-
lação diagnóstica de uma doença com a conseqüente incapacitação ao trabalho (Parecer
CFM n.o 33/1999).

Parecer-Consulta CRM-DF n.º 44/1998. Nos atestados de comparecimento, há


que se caracterizar sua finalidade. Não há o que dizer sobre a validade e veracidade
deles. O que se pode interrogar é para que valem. Obviamente, como a maioria dos
atestados médicos são emitidos para justificar as ausências ao trabalho. Centramos
então nossos entendimentos na validade de tais atestados para fins de concessão de
licença por motivo de doença.

A respeito de licenças por motivo de doença, buscamos subsídio na Lei n.º 605/49,
que, no seu artigo 60, trata do repouso semanal remunerado, declarando que: não
será devida a remuneração quando, sem motivo justificado, o empregado não tiver
trabalhado durante toda a semana anterior. No parágrafo 1. do citado artigo, são
mencionados os motivos justificados, referidos no caput: f) doença do empregado,
devidamente comprovada . No parágrafo 2. , se estabelece como será comprovada a

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doença do empregado: a doença será comprovada mediante atestado médico: da


instituição de previdência do empregado, e sucessivamente: do Serviço Social do
Comércio e da Indústria; do médico da empresa ou por ela designado; dos servi-
ços públicos incumbidos dos assuntos de higiene e saúde pública; e de médico de
sua escolha.

Na Lei n.º 8.112/90, que trata do Regime Jurídico do Servidor Público, há previsão
da licença por motivo de doença, disciplinada nos artigos 202 a 206. O artigo 202
prevê: Será concedida ao servidor licença para tratamento da saúde, a pedido ou
de ofício, com base em perícia médica, sem prejuízo da remuneração a que fizer
jus . No artigo 203 da mesma Lei n. 8.112/90 se estabelece como será feita a perícia
médica referida no artigo 202: Para licença até 30 dias, a inspeção será feita por
médico do setor de assistência do órgão de pessoal e, se por prazo superior, por jun-
ta médica oficial.

Nota-se que qualquer atestado médico que recomende afastamento do trabalho pode
necessitar de avaliação por médicos peritos. Esse procedimento é justificável te ndo
em vista que o médico designado para a perícia deverá ter pleno conhecimento da
atividade laborativa do examinado, sendo, portanto, o mais indicado para julgar a
interferência da doença em sua capacidade para o desempenho da atividade.

A respeito da consulta em si, podemos observar que não se trata de recomendação de


repouso por motivo de doença. Em alguns casos, porém, pode o simples fato de o
empregado ter comparecido a algum local com a finalidade de realizar avaliações,
consultas, procedimentos terapêuticos ou outras ações, justificar sua ausência por
motivo de doença, porquanto, embora não tenha sido afirmado que o paciente se en-
contre incapacitado para o trabalho, o médico perito poderá, analisando o conteúdo
de tal declaração e relacionando-a com os antecedentes do examinado, concordar que
aquele comparecimento por si só justifica a concessão da licença-saúde. Como e-
xemplo, gostaríamos de citar o paciente que, com doença crônica não incapacitante,
tendo que se submeter a exame especializado em localidade distante de seu domicí-
lio, exame esse indisponível no local de origem, pode perfeitamente ser caracterizado
como uma ausência motivada por doença o tempo necessário para o deslocamento.

Propomos então o entendimento de que o atestado de comparecimento, por não ser


um atestado de incapacidade laborativa, pode ou não ser aceito pelo empregador para
justificar ausências ao serviço. Cabe ao empregador, dentro de sua política de assi s-
tência aos trabalhadores, avaliar os custos e benefícios de tais concessões, definir
pelo acatamento ou não desses atestados, bem como as condições para sua aceitação.

Entendemos que a melhor conduta, buscando inclusive possibilitar o atendimento do


artigo 196 da Constituição Federal que estipula: a sa de é direito de todos e dever
do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do
risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e se r-
viços para sua promoção, proteção e recuperação é que, desde que não se trans-
formem em um abuso por parte do empregado, tais atestados devem, no mínimo, jus-
tificar os atrasos ocasionais ao trabalho.

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ATESTADO PARA LICENÇA-MATERNIDADE E CASOS DE ABORTAMENTO

De acordo com a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), art. 392, e a Lei n.º
10.421 (v. p. ) a servidora gestante sob esse regime trabalhista tem direito à licen-
ça-maternidade de cento e vinte dias. O atestado médico notificará a data do início
do afastamento do emprego, que poderá ocorrer desde o vigésimo oitavo dia antes do
parto até a ocorrência deste. Os períodos de repouso, antes e depois do parto, poderão
ser aumentados de duas semanas cada um, mediante atestado médico. Mediante o
atestado médico, é facultado à gestante romper o compromisso resultante de qualquer
contrato de trabalho se este prejudicar a gestação (CLT, art. 394). A lei n. o 8.112,
preceitua que será concedida licença à servidora gestante por cento e vinte dias co n-
secutivos, sem prejuízo da remuneração. A licença poderá ter início no primeiro dia
do nono mês de gestação, salvo antecipação por prescrição médica. No caso de nas-
cimento prematuro, a licença terá início a partir do parto. No caso de natimorto, d e-
corridos trinta dias do evento, a servidora será submetida a exame médico e, se ju l-
gada apta, reassumirá o exercício. Para amamentar o próprio filho, até a idade de seis
meses, a servidora lactante terá direito, durante a jornada de trabalho, a uma hora de
descanso, que poderá ser parcelada em dois períodos de meia hora (art. 209). À ser-
vidora que adotar ou obtiver guarda judicial de criança até 1 (um) ano de idade, serão
concedidos 90 (noventa) dias de licença remunerada. No caso de adoção ou guarda
judicial de criança com mais de 1 (um) ano de idade, o prazo de que trata este artigo
será de trinta dias (Lei n. o 8.112, arts. 207 e parágrafos, 209, 210 e parágrafo).

Se ocorrer abortamento não criminoso, mediante atestado médico oficial, a paciente


terá direito a repouso de duas semanas (remunerado), ficando-lhe assegurado o direi-
to de retornar à função que ocupava antes de seu afastamento (CLT, art. 395). No
caso de aborto atestado por médico oficial, a servidora terá direito a trinta dias de
repouso remunerado (Lei n. o 8.112, art. 207, parágrafo 4.o).

ATESTADO PARA EDUCAÇÃO OU APTIDÃO FÍSICA

Documento que comprova aptidão física para exercícios, importante para atletas,
alunos no âmbito escolar, grupos ou pessoas com atividades pertinentes. O texto
deverá conter: Atestado Médico. Atesto para os devidos fins que o aluno/atleta (indicar
o nome) está apto para prática desportiva. Por ser verdade, firmo o presente (local, data,
assinatura, carimbo ou n.o do registro no CRM). O exame clínico deve constar em ficha
ou prontuário médico.

ATESTADO PARA GESTANTES EM VIAGENS AÉREAS

Empresas de aviação exigem atestados médicos com antecedência de 48 horas para


gestantes a partir do sétimo mês de gestação, sendo obrigatório a partir do oitavo mês
de gestação ao termino do 9º (nono) mês, apresentar atestado médico completo, no
check-in, autorizando textualmente a gestante a realizar a viagem por via aérea até de-
terminada data. Caso o atestado médico não contenha este teor, a gestante pode viajar,
se acompanhada por um médico. Durante os sete dias que antecedem o parto, o embar-
que não é permitido.

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ATESTADO OU DECLARAÇÃO DE ÓBITO


A morte n o a falência da medicina nem dos médicos,
mas apenas uma parte do ciclo da vida que se completa
(Edson de Oliveira Andrade, presidente do CFM).

O atestado ou declaração de óbito é um dos mais expressivos documentos médicos.


Só com ele se consegue o registro de óbito pelo notário, ato que cessa juridicamente
a vida de uma pessoa. As resoluções do CFM n. os 1.779/2005 e 1641/2002 estabele-
cem normas éticas sobre o tema.

A responsabilidade pelo correto preenchimento da declaração ou atestado de óbito


tem sua formulação ético-legal embasada em rico acervo documental, não havendo
motivos para controvérsias. Entretanto, a conceituação formulada por grande parte
dos médicos, mandatários obrigatórios por este ato, é simplória, por vezes traduzida
apenas como documento para família ou guia que permite o sepultamento .

Diante dessa consideração, torna-se imprescindível aclamar-se com algumas infor-


mações sistematizadas a importância desse registro como ato médico de fundamental
importância na assistência, com repercussões sociais no planejamento e na avaliação
de ações e políticas de saúde. A emissão da declaração de óbito é uma atividade emi-
nentemente médica, parte da assistência, responsabilidade social, ética e legal do
médico, que tem obrigação de desempenhá-la de modo exemplar (Formiga Filho,
2006).

Terminologia. Atestado e declaração são sinônimos, mas declaração de óbito é o


nome oficial do formulário no Brasil em que se atesta a morte, conforme está escrito
no próprio formulário e constante da Portaria n. o 20 de 3-10-2003, do Ministério da
Saúde e da Secretaria de Vigilância em Saúde, art. 8. o e da Resolução CFM
1.779/2005. Certidão de óbito é o documento jurídico fornecido pelo cartório de re-
gistro civil em que se registra o óbito, nome que consta da Portaria retrocitada e no
mesmo artigo (Ministério, 2006, p. 29).

No entanto, atestado médico, em lugar de declaração de óbito, é também expressão


usada em lei federal. Consta da lei n.º 6.015, de 31 de dezembro de 1973, modifica-
da pela lei n. o 6.216/1975, a qual dispõe sobre os registros públicos, art. 77, que ne-
nhum sepultamento será feito sem certidão, do oficial de registro do lugar do faleci-
mento, extraída após a lavratura do assento de óbito, em vista do atestado de médico,
se houver no lugar ou, em caso contrário, de duas pessoas qualificadas que tiv eram
presenciado ou verificado a morte.

Importam essas considerações de terminologia, pois existem normas estabelecidas


pelos conselhos alusivas a atestados médicos que poderiam ser aplicadas à declar a-
ção como forma de atestado. O Parecer Consulta n.º 7/1997 do CRM-DF, sobre de-
claração de óbito, expressa que, apesar de o Ministério da Saúde reservar ao docu-
mento a ser passado pelo médico a denominação "Declaração" e considerar o "Ates-
tado" somente o referido na parte IV da Declaração, ambas as expressões são usadas
como sinônimas.

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Causa de morte. De acordo com a Assembléia Mundial da Saúde e do art. 23 da


Constituição da Organização Mundial da Saúde, as causas de morte são os estados
mórbidos ou as lesões que produziram morte ou que contribuíram para ela, as ci r-
cunstâncias do acidente que produziu as lesões.

Causa básica de morte é a doença ou a lesão que iniciou a cadeia de acontecimentos


mórbidos que conduziram diretamente a pessoa à morte ou as circunstâncias do ac i-
dente ou violência que produziu a lesão fatal (Organização, 2000, p. 1183).

Óbito por causa natural é aquele cuja causa básica é um estado mórbido. Morte na-
tural tem como causa doença ou lesão que iniciou os eventos que levaram à morte.

Óbito não-natural ou por causa externa é o que decorre de lesão provocada por vio-
lência, qualquer que tenha sido o tempo entre o evento e a morte.

Finalidades da declaração de óbito. Implantado desde 1976 pelo Ministério da Sa-


úde, o modelo único de declaração de óbito documento-base do Sistema de Infor-
mações sobre Mortalidade, do Ministério da Saúde deve ser usado em todo o terri-
tório nacional com dois objetivos primordiais, como documento-padrão para:

(1) coleta de informações sobre mortalidade, base de cálculos estatísticos vitais e


epidemiológicos brasileiros e documento jurídico (v. lei n.o 6.015/73 e art. 44 do
CEM); (2) lavratura por cartórios de registro civil da certidão de óbito para formali-
dades legais do sepultamento (Ministério, 2006, p. 7).

O capítulo IX da lei n.º 6.015, de 31 de dezembro de 1973, que dispõe sobre os regis-
tros públicos, determina normas sobre óbitos. O artigo 77, por exemplo, dá proibição
de sepultamento sem a certidão do oficial de registro do lugar do falecimento em
vista do atestado médico.

A declaração é também documento médico que atesta a cessação da vida de uma pes-
soa; tem valor de registro civil do fato; determina cessação e possibilita transmissão
de direitos e obrigações; propicia elementos para efetivação de condutas sanitárias
pelo poder público.

Preenchimento do formulário. A declaração de óbito contém nove partes de preen-


chimento obrigatório (Formiga Filho, ob. cit.):

Parte I. Reservada às informações do cartório de registro civil.

Parte II. Utilizada para identificação do falecido de grande importância judicial.

Parte III. Para anotação do endereço completo do falecido.

Parte IV. Destina-se ao fornecimento de informações sobre o local da ocorrência do


óbito.

Parte V. Utilizada apenas em casos de óbito fetal ou menores de um ano, dados im-
portantes para estudos de condições materno-infantis.

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Parte VI. Utilizada para qualquer tipo de óbito. Como observações úteis, no óbito de
mulheres em idade fértil, deve-se investigar sempre sobre gestação nos últimos doze
meses, usando-se os campos 43 e 44 da parte VI da declaração de óbito. O campo 49,
causas da morte, dispõe de suas partes: parte 1 com quatro linhas a , b , c e d ,
nas quais devem constar as causas que levaram à morte, organizadas em seqüência
lógica. Deve-se registrar na linha a a causa imediata do óbito e, nas linhas subse-
qüentes, as causas que deram origem às anteriores, ficando, na última linha, registr a-
da a causa básica da morte. Na parte 2, devem ser anotadas outras causas que contri-
buíram para a morte.

Parte VII. Destina-se à identificação do médico que atestou o óbito.

Parte VIII. Reservada para os casos de prováveis mortes não-naturais.

Parte IX. Apenas preenchida em localidades onde não há médicos e o registro tem de
ser feito por duas testemunhas.

Se for registrada insuficiência de órgão ou de sistema, sempre declarar sua causa na


linha imediatamente abaixo (p. ex., insuficiência respiratória devido a pneumonia).
Se não identificar a causa básica, anotar causa ignorada . No caso de neoplasias,
indicar sempre a localização primária e sua natureza. Em caso de desconhecimento
da localização primária, registrar como neoplasia maligna de sítio primário desc o-
nhecido. As fraturas, exceto as patológicas, são lesões de causas externas, devendo,
portanto, ser atestadas por médico legista (Formiga Filho, ob. cit.).

Recomendações especiais. O médico tem responsabilidade ética e jurídica pelo pre-


enchimento da declaração, pelas informações aí registradas, pela assinatura (Minist é-
rio, 2006, p. 9). Assim:

tomar os dados de identificação diretamente de um documento da pessoa falecida. Se


não houver nenhum documento, encaminhar o caso à autoridade policial para proce-
dimentos cabíveis para reconhecimento do corpo;

preencher os itens com letra legível (v. art. 39 do CEM), sem abreviações nem rasu-
ras; anotar tempo aproximado entre o início da doença ou lesão e a morte;

registrar as causas de morte com um diagnóstico por linha;

emitir o atestado em caso de concepto que tem morte logo depois do nascimento seja
este de qualquer peso, estatura ou idade gestacional;

após o preencher o documento e antes de a asssiná-lo, fazer revisão cuidadosa e certi-


ficar-se de que todos os campos foram adequadamente preenchidos;

não se pode cobrar pela elaboração do documento, além da cobrança da consulta em


casos de atendimentos particulares (Parecer CFM n. o 17/1988);

não assinar declarações de óbito em branco (v. art. 39 do CEM);

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em caso de ser registrado no cartório atestado com preenchimento incorreto, a retifi-


cação será feita mediante pedido judicial feito por advogado na Vara de Registros
Públicos ou equivalentes;

anotar o código da Classificação Internacional de Doenças (CID) relativo a cada do-


ença mencionada no espaço a ele destinado;

é erro grosseiro atestar como causa de morte ou causa básica de morte o modo de
morrer com termos vagos, como colapso cardíaco, parada cardiorrespiratória, asfixia,
falência de múltiplos órgãos, uma vez que todos morrem com parada cardiorrespir a-
tória, o que é conseqüência, não causa da morte (Alcântara, ob. cit., p. 337).

Emissão de atestado de óbito. Apenas aos médicos cabe a atribuição de emitir declara-
ções de óbito. O médico que assistiu um paciente, independentemente do tempo dispen-
sado nessa assistência, tem o dever de atestar o óbito, se decorrente de morte natural,
com os elementos diagnósticos que dispuser. Caso solicite a realização de necropsia,
esta dependerá de consentimento da família ou, em caso de recusa desta, de autorização
judicial (Parecer CRM-DF n.º 196/00). No entanto, devem ser observadas as situa-
ções e indicações específicas e legais quanto ao tipo de declaração e ao profissional
emitente, conforme relacionados a seguir, com fundamento no que declara a Resolu-
ção CFM n.º 1.779/2005 (v. p. ).

Morte natural sem assistência médica. Nas localidades com Serviço de Verificação
de Óbitos (SVO), a declaração de óbito deverá ser fornecida pelos médicos do SVO.
Nas localidades sem SVO, a declaração de óbito deverá ser fornecida pelos médicos
do serviço público de saúde mais próximo do local onde ocorreu o evento; na sua
ausência, por qualquer médico da localidade.

O médico não deve atestar um óbito sem que tenha assistido o respectivo paciente
falecido (v. art. 14 do CEM). Contudo, há exceções. Se, por exemplo, o médico
plantonista recebe um paciente com parada cardiorrespiratória e procede às mano-
bras de reanimação, mas o doente falece, deve verificar se a causa da morte é natural
ou externa. Se chegar ao diagnóstico pela anamnese tomada de acompanhantes, pre-
ferencialmente pessoas da família, e pelo exame do corpo, o médico emitirá o ate s-
tado. Se houver dúvidas, deverá encaminhar o corpo ao Serviço de Verificação de
Óbito. Se este não existir na localidade, deverá anotar no atestado que a cau sa da
morte é desconhecida (Ministério, 2006, p. 23). Assim, se o médico for plantonista,
médico substituto ou patologista responsável pela necropsia e tiver acesso ao prontuário
do paciente morto, não poderá se esquivar de fornecer a declaração de óbito por alega-
ção de desconhecimento do motivo ou dos detalhes da morte (Código de Ética Médica,
art. 114). Excetuam-se os casos de morte por violência, mesmo que seja por complica-
ção tardia do trauma. Nesse caso, encaminhar-se-á o caso à verificação médico-legal.

A causa de morte não deve ser registrada com siglas, abreviaturas, nem apenas com
códigos da Classificação Internacional de Doenças.

Cumpre acrescentar que o artigo 72 do Código de Ética Médica proíbe indiretamente a


emissão de atestado de óbito pelos médicos incumbidos de captação de órgãos para do-
ações.

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Morte natural com assistência médica. A declaração de óbito deverá ser fornecida,
sempre que possível, pelo médico que vinha prestando assistência ao enfermo. Se o
doente estava internado sob regime hospitalar, a declaração de óbito deverá ser for-
necida pelo médico assistente e, na sua falta, por médico substituto pertencente à
instituição, médico plantonista para doentes internados, médico designado pela insti-
tuição que prestava assistência ambulatorial ao paciente, médico assistente em pro-
gramas de atendimento domiciliar em casos de óbitos em domicílio. Se estava em
tratamento sob regime ambulatorial, a declaração deverá ser fornecida por médico
designado pela instituição que prestava assistência ou pelo SVO. A declaração de
óbito do paciente em tratamento sob regime domiciliar (Programa Saúde da Família,
internação domiciliar e outros) deverá ser fornecida pelo médico pertencente ao pro-
grama ao qual o enfermo estava cadastrado, ou pelo SVO, caso o médico não consiga
correlacionar o óbito com o quadro clínico concernente ao acompanhamento do paci-
ente.

Mortes violentas ou não naturais. A declaração de óbito deverá, obrigatoriamente, ser


fornecida pelos serviços médico-legais. Nas localidades onde existir apenas um médico,
este será o responsável pelo fornecimento da declaração de óbito. Em casos de morte
não-natural (homicídios, suicídios, acidentes, mortes suspeitas), o atestado será dado por
médico legista qualquer que tenha sido o tempo entre o evento e a morte. Se um paciente
for vítima de lesão por causa externa, por exemplo, fratura óssea por queda e, depois de
intervenção cirúrgica feita pelo ortopedista, falece de infecção por broncopneumonia
adquirida no ambiente hospitalar, por exemplo, o corpo será encaminhado ao Instituto
Médico-Legal para exames, e o atestado será emitido pelo médico legista após os proce-
dimentos de praxe (Ministério, 2006, p. 23). Isso decorre do nexo de causalidade entre a
morte e a queda que provocou lesão de origem externa.

Morte não natural. Se a localidade não dispuser de médico legista, qualquer médico
investido pela autoridade judicial ou policial terá função de perito legista. Quando o
médico for o único da cidade, será o indicado pelas autoridades policiais e jud iciárias
locais para ser o legista. Deverá examinar o corpo, anotar a natureza das lesões que
houver, as circunstâncias do evento e emitir o atestado de óbito com preench imento
dos campos 56 a 60 do bloco VIII.

Será acionado o Serviço de Verificação de Óbito para emissão do atestado caso o


médico se declarar sem condições de correlacionar o óbito com o quadro clínico des-
crito no prontuário ou na ficha do doente previamente assistido.Em casos de morte de
pessoa desprovida de assistência médica, o médico do Serviço de Verificação de
Óbito atestará o óbito. Nos locais onde não existe SVO, a responsabilidade ética pela
declaração de óbito caberá aos médicos do serviço público de saúde mais próximo do
local onde ocorreu o evento. Se não houver, qualquer outro médico da localidade
emitirá a declaração.

Morte em ambulância. Se o doente for transferido em ambulância de um estabeleci-


mento assistencial para outro e falecer durante o trajeto por causa natural o óbito
será atestado pelo médico que acompanhou o falecido no veículo se houver informa-
ções suficientes para tal; se a causa for externa, encaminhar o corpo ao IML

Se não houve acompanhamento de um médico na ambulância, a declaração de óbito


poderá ser fornecida pelo médico receptor do paciente morto se houver relatório mé-

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dico que o possibilite concluir o diagnóstico da causa de morte. Também o poderá


fazer o médico que o encaminhou. Se houver impossibilidades, o corpo deverá ser
levado ao Serviço de Verificação de Óbito e, em caso de morte por causas externas,
ao IML. Em localidades onde esses órgãos não existirem, será o atestado emitido por
qualquer médico, declarado na parte I (causa da morte, desconhecida). Convém notar
que a ausência de relatório médico constitui ilicitude antiética (Resolução CFM n. o
1.672/2003).

Morte ocorrida durante procedimentos por odondologista. Se ocorrer óbito do doen-


te submetido à cirurgia bucomaxilofacial, por exemplo, realizada exclusivamente por
cirurgião-dentista, o atestado de óbito será fornecido pelo serviço de patologia, de
verificação de óbito ou pelo instituto médico legal, de acordo com a organização ins-
titucional local e em atendimento aos dispositivos legais (Resolução CFM n.º 1.536,
de 11-11-1998, artigo 5.º).

Morte fetal. Em caso de morte fetal, os médicos que prestaram assistência à mãe
ficam obrigados a fornecer a declaração de óbito quando a gestação tiver duração
igual ou superior a 20 semanas ou o feto tiver peso corporal igual ou superior a 500
(quinhentos) gramas e ou estatura igual ou superior a 25 cm (Resolução CFM n.º
1.779/2005, art. 2.o, inciso II e). A Resolução RDC n. o 306, de 7-12-2004, da Agên-
cia Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa, www.anvisa.gov.br), dispõe como resí-
duos de serviço de saúde peças anatômicas do ser humano, tecidos, membros, órgãos
e fetos com peso inferior a 500 g, estatura inferior a 25 cm e idade gestacional menor
que 20 semanas. Se não tiver sido requisitado pela família e não tiver valor legal ou
científico será feito registro no local da geração e encaminhado para sepultamento no
cemitério com a autorização de órgão competente municipal, estadual ou do distrito
federal (itens 7.1, 7.1.1, inciso I). Se o concepto nasceu vivo e faleceu pouco instan-
tes depois do nascimento não se trata de óbito fetal, porquanto existiu vida extra-
uterina. O conceito de nascido vivo depende, exclusivamente, da presença de sinal
de vida, ainda que esta dure poucos instantes. Se esses sinais cessaram, significa que
a criança morreu e a declaração de óbito deve ser fornecida pelo médico do hospi-
tal. Não se trata de óbito fetal, dado que existiu vida extra-uterina. O hospital provi-
denciará também a emissão da declaração de nascido vivo para que a família efetue
o registro civil do nascimento e do óbito (Ministério, 2006, p. 21,22). A responsabi-
lidade do preenchimento da declaração do óbito fetal cabe ao médico que prestar a s-
sistência à gestante.

Constatação do óbito. O médico não deve, em hipótese alguma, atestar óbito sem o ter
constatado, sobretudo quando não se tratar de paciente seu (v. arts. 110 e 114 do CEM) e
o preenchimento dos dados constantes na declaração de óbito é da responsabilidade
do médico que atestou a morte (Resolução CFM n.º 1.779/2005, art. 1.º). O momento
da morte da pessoa é o momento da morte encefálica (Lei n.o 9.437, de 4-2-97, art. 3.o).
Ao examinar o corpo para constatar o óbito, deve o médico verificar se há indícios de
causas externas, inclusive envenenamentos, e anotar no campo 59 da declaração de óbito
que não detectou sinais de violência. Se houver denúncia de envenenamento e exumação
vier a comprovar, o médico estará isento de responsabilidade perante a Justiça.

A constatação da morte é um ato médico. Assim, ao lado da emissão do atestado de óbi-


to, é necessário anotar no prontuário os dados do exame do corpo, sobretudo os que
constataram a morte. Em caso de morte em domicílio, é preciso fazer as anotações sobre

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o atendimento em um prontuário ou uma ficha, que pode ficar sob a guarda do médico
para as finalidades que forem necessárias. É vedado aos médicos conceder declaração
de óbito em que o evento que levou à morte possa ter sido alguma medida com intenção
diagnóstica ou terapêutica indicada por agente não-médico ou realizada por quem não
esteja habilitado para fazê-lo, devendo, neste caso, tal fato ser comunicado à autoridade
policial competente a fim de que o corpo possa ser encaminhado ao Instituto Médico
Legal para verificação da causa mortis (Resolução CFM n.º 1.641/2002, art. 1.º).

Peças anatômicas retiradas por ato cirúrgico. Para serem sepultadas, o médico
elaborará um relatório em papel timbrado com descrição do procedimento realizado,
que será apresentado ao departamento administrativo do cemitério. A Resolução
RCD n.o 306 de 7-12-2004, da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa)
dispõe sobre o regulamento técnico para o gerenciamento dos resíduos de serviços de
saúde, que inclui peças anatômicas humanas e fetos com peso menor que 500 g, est a-
tura inferior a 25 cm e idade gestacional menor que vinte semanas (v.
www.anvisa.gov.br).

Atestado de óbito de paciente sem identificação. Parecer-Consulta CRM-DF n.º


18/2000. As normas existentes nessa situação encontram-se estabelecidas na Lei n.º
6.015, de 31 de dezembro de 1973, que trata dos Registros Públicos, mais especifi-
camente em seu artigo 81, in verbis: Sendo o finado desconhecido, o assento deve-
rá conter declaração de estatura ou medida, se for possível, cor, sinais aparentes,
idade presumida, vestuário e qualquer outra indicação que possa auxiliar no futuro
o seu reconhecimento... Parágrafo único: Nesse caso, será extraída a individual
dactiloscópica, se no local existir esse serviço. Nesse sentido, deve o médico assis-
tente emitir documento a ser anexado ao prontuário do doente, contendo as inform a-
ções acima e, se possível, acompanhado de foto do falecido. Ademais, deve-se entrar
em contato com o Instituto de Identificação para que possa ser extraída a individual
dactiloscópica (impressões digitais). O corpo deverá ser encaminhado ao Serviço de
Anatomia Patológica, onde deverá permanecer guardado por período de até quinze
dias e, em não sendo identificado após esse período, poderá ser encaminhado à Fa-
culdade de Medicina para fins de estudo ou ser sepultado como indigente. Quanto ao
preenchimento dos dados destinados às informações gerais sobre a identidade e resi-
dência do falecido (Blocos II e III da declaração de óbito), deve-se apor o termo Ig-
norado ou Não-Identificado , jamais se deixando espaços em branco. Ressalte-se
que tais normas dizem respeito ao preenchimento da declaração de óbito de doente
hospitalizado, que tenha falecido por tipo de morte não-violenta , uma vez que, se o
motivo da internação foi de causa violenta, o corpo deverá ser encaminhado ao IML,
tendo em vista o que declara o art. 115 do CEM, sendo vedado ao médico deixar de
atestar óbito de doente ao qual vinha prestando assistência, exceto quando houver
indícios de morte violenta.

Antecedentes ético-legais

Código de Ética Médica (v. p. )

Resolução n.º 1.779/2005 (v. p ). Regulamenta a responsabilidade médica no forne-


cimento da Declaração de Óbito. Revoga a Resolução CFM n. 1.601/2000.

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Resolução CFM n.º 1.641/2002 (v. p. ) Veda a emissão de declaração de óbito pelo
médico nos casos em que houve atuação profissional não médica e dá outras provi-
dências.

Lei n.º 6.015/1973, alterada pela Lei n.º 6.216/1975, artigo 77. Torna obrigatórios o
sepultamento e a certidão de óbito expedida pelo cartório com base na declaração de
óbito emitida pelo médico.

Art. 2.º Os médicos, quando do preenchimento da declaração de óbito, obedecerão


as seguintes normas.

1) Morte natural

I. Morte sem assistência médica

a) Nas localidades com Serviço de Verificação de Óbitos (SVO), a declaração de


óbito deverá ser fornecida pelos médicos do SVO.

b) Nas localidades sem SVO, a declaração de óbito deverá ser fornecida pelos méd i-
cos do serviço público de saúde mais próximo do local onde ocorreu o evento; na sua
ausência, por qualquer médico da localidade.

II. Morte com assistência médica

a) A declaração de óbito deverá ser fornecida, sempre que possível, pelo médico que
vinha prestando assistência ao enfermo.

b) A declaração de óbito do doente internado sob regime hospitalar deverá ser forn e-
cida pelo médico assistente e, na sua falta por médico substituto pertencente à insti-
tuição.

c) A declaração de óbito do paciente em tratamento sob regime ambulatorial deverá


ser fornecida por médico designado pela instituição que prestava assistência, ou pelo
SVO.

d) A declaração de óbito do paciente em tratamento sob regime domiciliar (Programa


Saúde da Família, internação domiciliar e outros) deverá ser fornecida pelo médico
pertencente ao programa ao qual o doente estava cadastrado, ou pelo SVO, caso o
médico não consiga correlacionar o óbito com o quadro clínico concernente ao a-
companhamento do paciente.

3) Mortes violentas ou não naturais

A declaração de óbito deverá, obrigatoriamente, ser fornecida pelos serviços médico-


legais.

Parágrafo único. Nas localidades onde existir apenas 1 (um) médico, este é o respon-
sável pelo fornecimento da declaração de óbito.

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QUESTÕES E DÚVIDAS MAIS COMUNS

ANOTAÇÃO DA CID NOS ATESTADOS

Por constituir segredo profissional, condição protegida por numerosos dispositivos


legais desde a Constituição Federal a jurisprudências, qualquer exigência para que o
diagnóstico, codificado ou não, conste em um atestado é ilegal. Pode também cons-
tituir constrangimento ilegal, exceto se houver pedido ou autorização do doente, c a-
sos especiais que configurem justa causa ou que sejam determinados por lei (v. Reso-
lução CFM n.o 1.658/2002, art. 3. o, alínea b, e art. 5. o e respectivo parágrafo). A lei
8.112, art. 205, assevera: O atestado e o laudo da junta médica não se referirão ao
nome ou natureza da doença, salvo quando se tratar de lesões produzidas por aci-
dente em serviço, doença profissional ou qualquer das doenças especificadas no art.
186, § 1.o (v. (*) p. ).

A Portaria do Ministério da Previdência de n. o 3.291, de 20-2-1984, que exige atesta-


do médico para fins de justificação de faltas ao trabalho por motivo de doença, impõe
o uso do diagnóstico codificado de acordo com a Classificação Internacional de Do-
enças (CID). Tal exigência é constrangedora para o paciente e, em vez de protegê-lo,
o expõe à revelação do seu mal, sendo pois antiética e ostensivamente ilegal (Conse-
lho, s.d.). Pode-se imaginar que, em alguns casos, a anotação do código no atestado
pode expor a doença de um servidor à curiosidade geral no âmbito familiar ou em
seu serviço, o que equivale à publicação do diagnóstico. Considere-se que os diag-
nósticos podem ser hipóteses e a doença pode ser outra ou mesmo inexistir.

Parecer-Consulta CRM-DF n.º 57/2005, sobre registro de códigos da CID em ates-


tados. A anotação de códigos da Classificação Internacional de Doenças (CID) em
atestados médicos somente pode ser feita com a concordância do paciente. O m édico-
perito, quando da homologação do atestado, diante da falta do código da CID e ju l-
gando insuficientes as informações prestadas pelo doente, poderá solicitar relatório
médico ao médico-assistente.

O relatório médico é documento de médico para médico e não implica quebra de s i-


gilo, o que faz toda a diferença. No caso, os atestados são homologados por empresa
especializada e a exigência da colocação do código da CID nos atestados homologa-
dos não tem nenhuma justificativa. Mesmo porque, quando do pagamento da fatura, a
situação mórbida da quase totalidade dos empregados da empresa terceirizada já não
poderá mais ser detectada. Além disso, uma revisão de homologação de atestado mé-
dico, no caso de suspeita fundada, somente poderá ser feita por junta médica. Escr e-
ver um código da CID em atestados médicos, sem a autorização do enfermo, é des-
respeito ao sigilo médico. Na falta de informações suficientes para a homologação do
atestado, o médico perito pode solicitar ao médico-assistente um relatório.

No caso de fundada dúvida, a revisão da homologação de atestado médico por em-


presa especializada somente poderá ser feita por junta médica. A presença de um
código da CID nos atestados anexados à fatura da empresa prestadora de serviços,
sem autorização do empregado, é considerada quebra de sigilo.

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ANOTAÇÃO DOS DADOS DE ATESTADO NO PRONTUÁRIO

Atestar constitui ato médico em que se registram diagnose e tratamento (período de re-
pouso) em um documento. É um ato médico em que este elabora um documento no qual
registra uma afirmação baseada em procedimentos médicos, como o exame clínico do
doente. Pelo art. 2.º da Resolução n.o 1.658/2002, ao fornecer o atestado, deverá o mé-
dico registrar em ficha própria e ou prontuário médico os dados dos exames e tratamen-
tos realizados, de maneira que possa atender às pesquisas de informações dos médicos-
peritos das empresas ou dos órgãos públicos da Previdência Social e da Justiça . As-
sim, é imprescindível que os dados do atestado sejam escritos no prontuário do paciente
como comprovação da sua emissão e para fins de controle clínico e pesquisas notada-
mente periciais (Conselho, 2006). Exemplo: Por solicitação do doente, forneci atestado
com CID-10 (escrever o código) e repouso durante oito dias a partir desta data . Pode-se
também deixar no prontuário uma cópia carbonada ou fotocópia do atestado, opção mais
prática. Tais cuidados visam também à proteção do médico contra possíveis dolos.

O atestado médico não poderá ter valor pleno e absoluto por si. Deve sempre ter o cará-
ter de um instrumento de fé pública que consubstancia um relatório pericial técnico fir-
mado por um médico e que esteja registrado em um prontuário, em um parecer ou do-
cumento similar, porquanto constitui essencialmente um meio de comprovação. Em ca-
sos de perícias, demandas judiciais, éticas, administrativas e similares, o que ficou ano-
tado no prontuário pode vir a ser a principal defesa do médico. Acrescenta-se ainda,
como reforço, que o Parecer-Consulta CRM-DF n.º 2117/1995 dispõe: “o forneci-
mento de atestados de saúde requerem o exame clínico do usuário e seu respectivo
registro no prontuário .

ATESTADO A PEDIDO

Pode ocorrer que, por não ter consigo seu carimbo, um médico emitir atestado para
seu paciente e pedir a outro colega para assinar e carimbar o atestado. É vedado ao
médico atender um paciente e pedir a outro médico que desconhece o caso, assinar e
carimbar atestado sem que este tenha feito o atendimento. O atestado é um ato médi-
co e deve estar consubstanciado pelas correspondentes anotações no prontuário assi-
nadas pelo médico emitente. O mesmo ocorre em relação a atestados com rubrica ou
assinatura de um médico e carimbo de outro colega.

ATESTADO DE FISIOTERAPEUTA

O Parecer CFM n.º 06/2001, sobre laudos, pareceres e atestados emitidos por fisiote-
rapeuta, em consulta quanto á competência do profissional fisioterapeuta para emitir
atestados médicos com prescrição de dispensa do serviço, afirma que os atestados
para afastamento do trabalho só podem ser emitidos por médicos ou, em casos espe-
cíficos, por odontólogos.

O sistema da Previdência Social brasileira é regulamentado pela Constituição Fed e-


ral; pela Lei Orgânica da Seguridade Social (Lei n.º 8.212/91); pela Lei Complemen-
tar n.º 70/91; pelo Regulamento da Organização e Custeio da Seguridade Social (D e-
creto n.º 612/92) e pela Lei dos Planos de Benefício (Lei n.º 8.213/91). A Po rtaria
MPAS n.º 1.722, de 25 de julho de 1979, explicita: "O documento hábil de dispensa
do serviço por doença, fornecido ao segurado, será emitido por médicos do I-

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NAMPS, de empresas, instituições públicas e paraestatais, que mantenham firmado


contrato e ou convênios com a Previdência Social, e por odontólogos, nos casos e s-
pecíficos relacionados com a especialidade, sejam esses do INAMPS, de empresas,
instituições públicas e paraestatais que mantenham contrato e ou convênios com a
Previdência Social". O fisioterapeuta, ainda que tenha habilidade para emitir laudos,
pareceres e atestados, estes, quando para efeito de afastamento do serviço, são prer-
rogativa de médicos e, nos casos específicos, dos odontólogos, de acordo com a l e-
gislação vigente. Conforme a lei, somente os médicos têm o direito de diagnost icar
doenças e emitir o correspondente atestado. Atestados médicos só podem ser atesta-
dos por médicos.

ATESTADO DE PSICÓLOGO

Conforme registra o Parecer CFM n.º 2/1986, sobre emissão de atestado de enfermi-
dade por psicólogo no Brasil, a Lei Federal n.º 4.119, de 27 de agosto de 1962, regu-
lamentada pelo Decreto n.º 53.464, de 21 de janeiro de 1964, dispõe sobre a profis-
são de psicólogo. Esse decreto, no art. 4.º, especifica as atribuições dos psicólogos,
da forma que segue.

São funções do psicólogo: (1) utilizar métodos e técnicas psicológicas com o objetivo
de: a) diagnóstico psicológico; b) orientação e seleção profissional; c) orientação psico-
pedagógica; d) solução de problemas de ajustamento. (2) Dirigir serviços de psicologia
em órgãos e estabelecimentos públicos, autárquicos, paraestatais, de economia mista
e particulares. (3) Ensinar as cadeiras ou disciplinas de psicologia nos vários níveis
de ensino, observadas as demais exigências da legislação em vigor. (4) Supervisionar
profissionais e alunos em trabalhos teóricos e práticos de psicologia. (5) Assessorar,
tecnicamente, órgãos e estabelecimentos públicos, autárquicos, paraestatais, de eco-
nomia mista e particulares. (6) Realizar perícias e emitir pareceres sobre a matéria de
psicologia. Por sua vez, a Lei 4.119, no § 2.º do art. 13, dispõe: "É da competência
do psicólogo a colaboração em assuntos psicológicos ligados a outras ciências."

A legislação específica atribui ao psicólogo competência para formular diagnóstico


psicológico e emitir pareceres sobre a matéria de psicologia. Ainda assim, outra é a
situação quando se trata de fazer diagnóstico de uma doença ou emitir atestado de
enfermidade, procedimentos que a lei não autoriza que sejam realizados por psicól o-
gos, mas que se incluem nas atribuições e competência dos médicos. É claro que o
médico pode, e às vezes é aconselhável que o faça, recorrer ao psicólogo para a fo r-
mulação de um diagnóstico psicológico.

Esse diagnóstico abrange a descrição de fenômenos, ocorrências e configurações psi-


cológicas, dentro das variações da normalidade; e ainda a descrição das alterações
das funções psíquicas, ainda assim sem caracterizar ou delimitar uma entidade nos o-
lógica. Todavia o diagnóstico psiquiátrico, em que, apropriadamente, é feita a defini-
ção da existência de doença mental ou não e a especificação da natureza da doença
por ventura existente, é atribuição exclusiva dos médicos.

Se o psicólogo emitir atestado de enfermidade, estará excedendo os limites previstos


nos diplomas legais que regulamentam sua profissão e invadindo área de atuação do
profissional da medicina e incorre, portanto, na prática do ilícito capitulado no art.
282 do Código Penal: "exercer, ainda que a título gratuito, a profissão de médico,

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dentista ou farmacêutico, sem autorização legal ou excedendo-lhe os limites". Quem


aceitar o atestado incorrerá na sanção da lei, seja pessoa física ou jurídica, de vez que
"ninguém se escusa de cumprir a lei, alegando que não a conhece" consoante o De-
creto-Lei n.º 4.657, de 4-9-1942, art. 3.º, Lei de Introdução ao Código Civil Brasilei-
ro, com a redação trazida pela Lei n.º 3.238, de 19-8-1957.

Tendo em vista essas considerações, não é permitido ao psicólogo emitir atestado de


enfermidade ou declaração congênere, para justificar incapacidade ou não, conte ndo
diagnóstico, literal ou codificado, das doenças constantes da CID. Há violação e a-
cumpliciamento de pessoa jurídica ou física na aceitação de tal atestado ou declar a-
ção, mesmo que solicitado, por estar sendo infringido o art. 282 do Código P enal.

Parecer-Consulta CRM-DF n.º 89/2005. Quando o servidor apresentar atestado de


psicólogo para requer concessão de licença para tratamento médico, deverá ser su b-
metido a exame pericial por junta médica oficial. O psicólogo, ainda que tenha hab i-
lidades para emitir laudos, pareceres e atestados, estes, para efeito de afastamento do
serviço, são prerrogativas de médicos e, nos casos específicos, dos odontól ogos, de
acordo com a legislação vigente.

Em conclusão, atestados para afastamento do trabalho só podem ser emitidos por


médicos ou, em casos específicos, por odontólogos.

ATESTADO DO ODONTOLOGISTA

O artigo quarto da Lei 1.314, de 17-1-51, que regulamentou o exercício profissional


dos cirurgiões-dentistas em todo o território nacional, determina o direito de os ci-
rurgiões-dentistas atestarem estados mórbidos no campo de sua responsabilidade pro-
fissional. A Lei 5.081, de 24-8-66, artigo 6.º, parágrafo III, com a Lei 6.215, de 30-6-
75, dá direito ao cirurgião-dentista de atestar estados mórbidos na área de sua res-
ponsabilidade profissional e justificar falta ao trabalho.

Nas considerações preliminares da Resolução CFM n. o 1.658/2002, registra-se que


somente os médicos e odontólogos têm a prerrogativa de diagnosticar enfermidades
e emitir os correspondentes atestados . O art. 6.º da mesma Resolução, firma que
somente aos médicos e aos odontólogos, estes no estrito âmbito de sua profissão, é
facultada a prerrogativa do fornecimento de atestado de afastamento do trabalho .

O atestado será emitido em duas vias assinadas pelo profissional. A segunda via será
assinada pelo doente, que comprovará o recebimento da via original. A duração má-
xima do período de repouso do paciente é de até 72 horas. Se a intervenção odonto-
lógica demandar mais tempo, o cirurgião-dentista dará outro atestado para prorroga-
ção do tempo de repouso
(http://www.uniodonto.com.br/site/fique_atualizado.php#atestado, acessado em 12-
8-07). Só a médicos e odontólogos é permitido emitir atestados de doença.

Parecer-Consulta CRM-DF n.º 7/2004, sobre homologação de atestados de odontó-


logos, explicita que não há, na legislação específica (v. Resolução CFM n.º
1.658/2002, art. 6.o e parágrafos), referências a tratamento médico ou odontológico,
e sim a tratamento de doenças, seja o problema médico ou dentário. Os únicos profis-
sionais designados por lei para avaliação da capacidade laborativa, da deficiência

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física ou mental, homologação de atestados e demais atividades periciais são os m é-


dicos, na condição de peritos singulares ou componentes de juntas médicas oficiais.

Eventualmente, uma junta médica poderá convidar outros profissionais, tanto da área
biomédica como de outras áreas, quando estiver sendo analisado algum assunto da
competência desses últimos. Ainda assim, as conclusões e o parecer final sempre
serão da alçada exclusiva dos componentes da junta médica oficial propriamente dita.

ATESTADOS E PERÍCIA MÉDICA

Documentos especiais comumente destinados a esclarecimentos para autoridades


judiciais ou institucionais empregadoras. Nesses casos, o perito não tem a finalidade
de esclarecer o periciado sobre a condição clínica deste.

Direito dos médicos-peritos de pedir relatórios para qualquer doença. Com base
na Resolução CFM n.o 1.658/2002, art. 6. o, parágrafos 2.o e 3.o, (v. p. ) o médico pe-
rito pode solicitar relatórios do médico assistente de um doente para consubstanciar
sua perícia, qualquer que seja o caso que lhe suscite dúvidas ou em que haja necessi-
dade de relatórios como comprovações complementares.

A lei N.º 10.876, de 2-6-2004 (v. p. ), que cria a carreira de perícia médica da Previdên-
cia Social, art. 2.o, parágrafo nico, dispõe que os peritos médicos da Previdência Soci-
al poderão requisitar exames complementares e pareceres especializados a serem reali-
zados por terceiros contratados ou conveniados pelo INSS, quando necessários ao de-
sempenho de suas atividades .

A Resolução CRM-DF n.º 119/94, art. 4.º, § 2. o, estabelece que, a fim de subsidiar
a conclusão pericial, deverá o médico da empresa ou do órgão público solicitar do
médico assistente relatório com informações necessárias para a homologação do ate s-
tado.

Parecer-Consulta CRM-DF n.º 61/1998. A Lei n.º 8.112/90, aplicável aos servido-
res públicos do Regime Estatutário, assenta: art. 203 (...) § 1.º. Para licença de até
trinta dias, a inspeção será feita por médico do setor de assistência de pess oal e, se
por prazo superior, por junta médica oficial. § 2.º. Inexistindo médico do órgão ou
entidade no local onde se encontra o servidor, será aceito atestado passado por médi-
co particular. § 3.º. No caso do parágrafo anterior, o atestado só produzirá efeitos
depois de homologado pelo setor médico do respectivo órgão. A homologação do
atestado médico está prevista somente quando inexistir médico do setor de pessoal no
local onde se encontra o servidor, devendo o médico do órgão público solicitar do
médico assistente relatório médico com as informações necessárias para a homologa-
ção do atestado.

Parecer-Consulta CRM-DF n.º 4/2004, sobre homologação de atestados médicos


nos órgãos públicos na ausência do servidor. É vedado ao médico, no exercício da
atividade médico-pericial, a homologação de atestados, prorrogação de licença médi-
ca e demais atividades periciais sem a presença do servidor, a fim de submetê-lo ao
exame médico pericial. Legislação (v. Lei n.º 8.112/90: art. 203 e parágrafos; Pro-
cesso-Consulta CFM n.º 9.609/00; Código de Ética Médica, art. 119).

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Existe a figura da homologação administrativa, eventualmente prevista na estrutura


de funcionamento de determinados órgãos ou entidades. No entanto, a homologação
médica é obrigatória para que o atestado produza efeitos e deverá anteceder obrigat o-
riamente à homologação administrativa. Devido à extensão territorial, ao número
elevado e à distribuição geográfica das cidades ou localidades do nosso país, muitos
órgãos públicos de âmbito nacional padecem do problema de homologação médica
de atestados provenientes de locais distantes de suas bases. A cobertura de todo o
território nacional com um quadro próprio de peritos médicos é impraticável, em
razão dos custos financeiros, da escassez de médicos habilitados e outros fatores.

A própria criação de juntas médicas itinerantes não resolveria o problema, pois além
do custo excessivo com as despesas de deslocamento e pagamento de diárias aos pe-
ritos médicos, em muitas ocasiões a chegada da junta já poderia encontrar o servidor
curado da afecção que ensejou sua licença médica, não havendo mais o que periciar.
No intuito de possibilitar o cumprimento do art. 203 da Lei n.º 8.112/90, os legisla-
dores incluíram no art. 230 e parágrafos da mesma lei (com redação dada pela Lei n.º
9.527/97), a opção da celebração de convênios com unidades do sistema público de
saúde ou entidades sem fins lucrativos, declaradas de utilidade pública, ou com o
INSS.

Na impossibilidade, devidamente justificada, da celebração desses convênios, a lei


possibilita a alternativa da contratação de pessoa jurídica para a prestação de serviços
periciais médicos. Na homologação médica de atestados, é necessária a presença do
doente para ser examinado por médico ou junta médica oficial. A homologação ad-
ministrativa só deve ocorrer após a anterior, pois só ela tem o poder legal de fazer
com que os atestados produzam seus efeitos.

Parecer-Consulta CRM-DF n.o 6/1996, sobre homologação de atestado médico


para abono de faltas ao trabalho. Os dispositivos legais determinam, com clareza,
que é prerrogativa e dever do médico, investido de função pericial (médico-perito),
realizar a inspeção médica (exame médico-pericial), que defina se existe ou não in-
capacidade laboral motivada por doença ou acidente. O atestado do médico assiste n-
te, embora considerada informação importante para, a investigação pericial, não é
indispensável, tampouco sua apresentação dispensa a realização do exame a seu car-
go.

Ademais, a perícia médica (avaliação médico-pericial) deve ser competente o sufici-


ente para constatar se o exercício da atividade laborativa é ou não compatível com as
limitações física ou mentais decorrentes de doença ou acidente de que é vítima o
trabalhador ou servidor. Como se vê, conhecer apenas o diagnóstico é muito pouco
para determinar uma conclusão médico pericial, legal e eticamente acertada. Portan-
to, o atestado com a CID ou sem ela faz pouca ou nenhuma diferença, pois a investi-
gação médica é obrigatória nos termos da legislação pertinente.

Por outro lado, como preceitua o Código de Ética Médica, o médico assistente, do
serviço público ou do setor privado, indiferentemente, deve atestar, a pedido do pa-
ciente ou do seu responsável legal, o ato médico que praticou. Na verdade, o que
deveria ser informado seriam os resultados dos exames feitos e os tratamentos pre s-
critos, aí incluídas as recomendações sobre as restrições quanto ao exercício laboral.

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Parecer-Consulta CRM-DF n.º 35/1997, sobre justificativa de atestados, explici-


ta que:

o médico deve justificar seus atestados quando solicitado por quem de direito (no
caso, o solicitante é o médico perito). Ao fornecer o atestado, deverá o médico re-
gistrar em ficha própria e ou prontuário médico os dados dos exames e tratamentos
realizados, de maneira que possa atender às pesquisas de informações dos médicos
peritos das empresas, ou dos Órgãos Públicos da Previdência Social e da Justi a
(Resolução CRM-DF n.º 119/94, art. 1. o, § 2.o);

os médicos peritos têm o direito de pedir relatórios para qualquer doença, conforme
consta no parágrafo segundo do artigo 4.º da Resolução CRM-DF n.º 119/94;

um segundo ou mais relatório médico sobre o enfermo deverá ser fornecido, quando
solicitado; se houver fatos novos que possam modificar o parecer pericial. Caso co n-
trário, o médico assistente poderá solicitar ao perito informações que possam subsi-
diar o novo relatório ou reiterar o anterior;

é direito da junta pericial recusar as informações prestadas pelo médico assistente,


desde que fundamentadas;

não necessariamente a junta pericial é formada de médicos especialistas. Fica a seu


critério, quando julgar necessário, a consulta a especialistas.

Parecer-Consulta CRM-DF n.º 34/1998, sobre o prazo para a troca de atestado


médico. Preliminarmente, convém esclarecer sobre o que significa "troca de atesta-
do médico" para fins de concessão de licença por incapacidade laboral, produzida
por doença ou acidente. A licença médica somente será concedida quando for cons-
tatada a incapacidade laborativa, verificada em exame médico a cargo de médico
investido em função pericial, portanto, o atestado do médico assistente é apenas uma
importante informação, não o suficiente para a concessão. Dessa maneira, o traba-
lhador terá que se submeter ao exame médico-pericial, como determina a legislação
pertinente. É esse procedimento que recebe a denominação de "troca de atest ado".

Lei n.o 8.213/91, art. 60.


§ 3.º Durante os primeiros 15 (quinze) dias consecutivos ao do afastamento da
atividade por motivo de doença, incumbirá à empresa pagar ao segurado empreg a-
do o seu salário integral ou, ao segurado empresário, a sua remuneração.

§ 4º. A empresa que dispuser do serviço médico, próprio ou em convênio, terá a seu
cargo o exame médico e o abono das faltas correspondentes ao período referido no
§ 3º somente devendo encaminhar o segurado à perícia médica da Previdência S o-
cial a incapacidade ultrapassar 15 (quinze) dias.

Sempre que possível, o trabalhador, ao ser atendido pelo médico assistente, deve
logo procurar o serviço médico de sua empresa (próprio ou credenciado) para a re a-
lização do exame pericial.

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Embora a legislação previdenciária não estabeleça prazo para o comparecimento do


trabalhador ao exame médico-pericial, os regulamentos de pessoal das empresas ou
dos órgãos públicos incluem normas que disciplinam tais procedimentos. O trab a-
lhador deve estar atento para o fiel cumprimento dessas normas, sobretudo para evi-
tar que o atraso no comparecimento ao serviço médico possa dificultar o reconheci-
mento da incapacidade laboral, com evidentes prejuízos na concessão do benefício.

ATESTADO MÉDICO COLETIVO

Para fornecimento de atestado médico se requer pelo menos o exame clínico do do-
ente em que esteja fundamentado o documento emitido. O exame deve constar no
prontuário de cada doente. A emissão de atestado coletivo que não contemple essa
atitude estará em desacordo com o Código de Ética Médica (Parecer-Consulta CRM-
DF n.o 010/2006).

ATESTADO PARA PESSOA DA PRÓPRIA FAMÍLIA

O médico, à exceção dos casos de perícia judicial, de tratamento de doença grave ou


toxicomania e de situações outras previstas em legislação especifica, não está impe-
dido de emitir atestado médico parte do ato ou tratamento médico a pessoa da
própria família. O Processo-Consulta CFM n. o 380/90 também dispõe esses dizeres
se efetivamente o médico praticou o ato ou tratamento que justifique o atest ado. O
Código de Ética Médica estabelece outra exceção a perícia médica (art. 120). En-
tretanto, os citados impedimentos desaparecem quando se tratar do único médico na
localidade (Decreto n.º 20.931/32).

O médico tem habilitação legal para a emissão de atestado médico, que é a tradução
do ato médico praticado, amparado por todos os requisitos que lhes conferem valida-
de, com a presunção sempre presente de que o ato médico tem por requisitos, além
da habilitação legal, a perícia técnica e a lisura profissional de quem o pratica (Pro-
cesso-Consulta CFM 05/1991).
ATESTADO SEM CARIMBO MÉDICO

Não invalida o atestado, visto que o médico não poderia ser anulado em suas ações pro-
fissionais por ausência de carimbo. Sua assinatura de praxe, ao lado do seu número de
registro no CRM de sua jurisdição, é prova documental autêntica ou que se comprove
o contrário. Por via da credibilidade, recomenda-se evitar uso de simples rubricas em
documentos formais. Carimbos e assinaturas podem ser falsificados. Assim, para fins de
comprovação e de segurança, a existência de registro no prontuário dos dados contidos
no atestado podem possibilitar comprovação de dolos. Constitui infração à ética um mé-
dico carimbar e assinar um atestado, preenchido ou não, a pedido de outro médico, por
este não estar como o carimbo, por exemplo, a menos que este último também atenda ao
respectivo doente e faça as anotações pertinentes ao atendimento no prontuário (v. ates-
tado a pedido, p. ).

O Parecer CFM n. o 44/1999, em consideração à necessidade de carimbo em atestado


médico para afastamento do trabalho, dispõe que um atestado médico para afasta-
mento de trabalho será escrito em folha de receituário médico com as indicações de
nome, inscrição no CRM, endereço e especialidade do emitente, o que consolida a
responsabilidade deste. A aposição do carimbo serve apenas para reforçar esta identi-

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ficação, ficando a critério exclusivo do médico. Pode-se observar que o atestado para
afastamento de trabalho pode ser feito em papel com a identificação do médico.

ATESTADO PRÉ-DATADO

Todos os atestados devem ser expressão da verdade sobre o que foi realizado com o
doente. Emitir atestados com datas anteriores ao dia do atendimento contraria essa
norma ética (arts. 110 e 116 do Código de Ética Médica). No entanto, o médico pode
atestar que o início do estado mórbido do enfermo ocorreu em determinado período
anterior à data constante do atestado, conquanto suas afirmações sejam consubstanc i-
adas por evidências médicas incontestes, sobretudo contidas no prontuário.

ENTREGA DO ATESTADO MÉDICO NO DIA DA FALTA

A validade de um atestado médico é permanente. Quanto à aceitação ou não do ates-


tado pelo serviço ou pela perícia médica do serviço apenas no dia da falta é que stão
trabalhista e administrativa, que deve ser questionada em foro próprio.

EXIGÊNCIA DE ESPECIALIDADE PARA EXPEDIÇÃO DE ATESTADO MÉDI-


CO

É impróprio condicionar emissão de atestado médico a determinada especialid ade,


pois todo médico tem competência e habilitação técnica e legal para expedi-los (Con-
selho, s.d.) como está disposto na Lei Federal n. o 3.268/57 e fulcro no artigo 5.o, in-
ciso XIII, da Constituição Federal.

Segundo o Parecer CFM n.º 28/1987 sobre o condicionamento de apresentação de ates-


tado passado por médico especialista para o exercício de determinada profissão, pro-
clama a Lei n.º 3.268, de 30 de setembro de 1957, art. 17, que para exercer legalmente a
medicina deve o médico estar regularmente inscrito no Conselho sob cuja jurisdição se
achar o local de sua atividade. Desse modo, estando ele inscrito regularmente no Conse-
lho Regional de Medicina competente, poderá praticar todos os atos inerentes à sua pro-
fissão. Em suma, tem o médico competência lata para a prática de todos os atos médicos
independentemente de sua área de especialização.

Condicionar a emissão de atestado à especialização do médico constitui lesão aos prin-


cípios constitucionais que norteiam o livre exercício profissional e às normas que regu-
lamentam o exercício da medicina. A apresentação de atestado médico, visando a com-
provar a higidez física e mental de um indivíduo para o exercício da profissão de mer-
gulhador, é providência digna de elogio.

Parecer-Consulta CRM-DF n.º 16/2001. O conceito genérico de atestado indica do-


cumento em que se faz atestação , isto é, em que se afirma a veracidade de certo fato
ou a existência de certa obrigação. É assim o seu instrumento. Excetuando-se aquelas
situações estabelecidas por lei, não se justifica a exigência de que um exame médico só
possa ser atestado, ou seja, de exclusividade de determinados profissionais. O atestado
médico deve ser considerado verdadeiro por presunção e sua eficácia pode depender das
normas e regulamentos da instituição à qual ele é apresentado e da sua finalidade

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EXIGÊNCIA DE CARTEIRA DE IDENTIDADE DO PACIENTE PARA EMITIR


ATESTADO

Existem possibilidades e mesmo casos denunciados no âmbito dos conselhos de um


indivíduo se registrar com o nome de terceiros para obtenção de atestados médicos
para fins ilícitos. Nesse episódio, embora inconscientemente, o médico incorrerá na
emissão de atestado falso. O art. 4. o da Resolução CFM n. o 1.658/2002 e parágrafos
seguintes tornam obrigatório exigir prova de identidade aos interessados na obtenção
de qualquer atestado médico e os dados do documento de identidade devem constar
no atestado emitido. Recomenda-se que nos formulários impressos para emissão de
atestados conste o item para anotação de documento de identidade. Esses dados co n-
tidos no atestado constarão também no prontuário ou na ficha médica, conduta dada
como obrigatória no texto do art. 2. o da resolução mencionada.

ATESTADOS E MÉDICOS DO TRABALHO

O Parecer CFM n.º 33/1999 expõe orientações sobre algumas questões pertinentes.

Pode o médico do trabalho questionar ou até mesmo negar o número de dias de a-


fastamento solicitado pelo colega quando este informa a patologia e esta por si só
não justifica o período de ausência, como dez dias de afastamento devido a disme-
norréia, quatro dias devido a endoscopia digestiva com diagnóstico de gastrite leve,
vinte dias por pneumonia sem menção de complicações, quinze dias devido a estado
gripal, um dia para consulta médica em horário distinto da jornada de trabalho, sete
dias devido a stress, etc.?

A atividade burocrática carreia a fria avaliação estanque e distante do paciente, pelo


que não se pode, com absoluta isenção, afirmar ou infirmar que um desvio da home-
ostase não necessite de um certo número de dias de licença. Cada caso é um caso e
cada paciente se apresenta diferentemente, mesmo sofrendo de uma mesma doença.
Eventualmente, o número de dias de licença e a doença são díspares, quando aí se
vislumbra o abuso ou exagero. O enfermo não tem culpa da decisão do médico quan-
to à duração do seu atestado, haja vista que esta decisão pertence ao âmbito profis-
sional, de responsabilidade única e exclusiva do médico. O interesse do doente, seja
qual for, não deve prevalecer para influenciar esta decisão.

O médico do trabalho, caso suspeite, embasado em relevante motivo, de que existe


conivência contumaz ou aleatória por parte do médico para beneficiar o ilícito, tem a
obrigação de denunciar esse fato ao Conselho Regional de Medicina onde aquele
profissional está registrado. A depender do caso em questão, guardados o devido
bom-senso técnico e respeito ao trabalhador, poderá o abono ao atestado ser negado
parcial ou totalmente.

Pode o serviço médico de uma instituição pública conceder uma só licença, quando
o afastamento se deu em dias alternados, por exemplo, 2 e 9 do mesmo mês, desco-
nhecendo os motivos?

A resposta à primeira pergunta responde a esse item. O desconhecimento dos mot i-


vos pode comprometer a eficácia do atestado, conforme preceitua a legislação (Porta-
ria MPAS n.º 3.291/84).

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Tem de acatar atestado de colega que solicita afastamento de servidor do trabalho


por motivo de saúde futuro, isto é, no atestado datado do dia 2 solicita dispensa p a-
ra o dia 7?

A burocracia muitas vezes estimula a atitude antecipada. Em muitos locais de trab a-


lho, a chefia não aceita um comprovante de que o empregado submeteu-se a um e-
xame complementar, pelo que o doente, para não perder os proventos do seu dia de
trabalho, recorre ao médico solicitante do exame para exarar o documento para afas-
tamento antecipado. No entanto, esse não é o papel do médico, nem mesmo é o obj e-
tivo do atestado médico. Um atestado explica, confirma, corrobora, ou seja, atesta
um fato já ocorrido. A resposta a esta pergunta é não, à exceção de licença-
maternidade, prevista em lei.

Deve afastar funcionários do trabalho baseado em atestado fornecido por cirurgião-


dentista sem a devida justificativa e independente do número de dias?

O odontólogo atua em área específica, e quanto a ela poderá manifestar-se conforme


a sua consciência profissional, ante o que está previsto na lei que regulamenta a pr o-
fissão. Quando necessário, esse profissional solicitará acompanhamento médico con-
comitante. Quando atuando sozinho, emite atestado odontológico, regulamentado
pela da Portaria PT/GM n.º 1.722, de 28-7-79, publicada no Diário Oficial da União,
de 31-7-79. O médico do trabalho utilizará os mesmos critérios para aceitação do
atestado médico, condicionando a eficácia do documento, ao que está previsto na
Portaria MPAS n.º 3.291/84, além de avaliá-lo com seu conhecimento técnico.

Pode o médico do trabalho recusar atestado de colega que repetidamente solicita


afastamento do trabalho de empregados da mesma empresa e coincidentemente é
candidato a cargo eletivo estando em período de eleições, ou exerce cargo político?

Respondido no primeiro item.

Fornecer atestado de condição que não verificou, baseado apenas na informação do


paciente de que em tal dia, já passado esteve doente e sem condições de trabalhar?

Este é um exemplo de atestado gracioso e que deve ser denunciado ao Conselho R e-


gional de Medicina. Ele somente atesta o que o médico não viu e não fez.

Fere o artigo 102 do Código de Ética Médica o médico que justifica em atestado
dirigido a outro colega o diagnóstico que motivou o afastamento do funcionário ao
trabalho? Ou este ato configuraria "justa causa", não ferindo, portanto, o referido
artigo?

Trata-se de questão controversa, recomenda-se que nessas situações o médico obte-


nha a autorização expressa do paciente.

Qual deveria ser a conduta ética do médico quando o servidor informa, como ca usa
de sua ausência do trabalho, uma doença diferente da que está codificada no atesta-
do trazido por ele?

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O livro da CID, composto de extensa lista e de vários algarismos, pode eventualmen-


te ser a causa de falha na codificação. O doente, em sua visão leiga ou por ser o po r-
tador do sofrimento, pode dar a informação errada ou parcial ao supervalorizar um
sintoma, sendo então necessário o médico do trabalho, perito ou auditor, realizar in-
quérito específico e minucioso, após a anuência do paciente, com o intuito de produ-
zir nexo com o código apresentado e dirimir dúvidas. Caso nada disto explique a dis-
paridade entre a informação do médico e a do paciente, o atestado estará eivado de
suspeição e esse fato deverá ser denunciado junto ao Conselho Regional de Medic i-
na.

Por fim, é o médico do trabalho obrigado a aceitar todos os atestados fornecidos por
outros colegas solicitando afastamento do trabalho?

Atestados médicos exarados com lisura e perícia, no entanto em desconformid ade


com a Lei n.º 605/49, são documentos válidos, ainda assim ineficazes para a finali-
dade de abono de falta por motivo de doença, salvo nos casos de comprovada urgê n-
cia. A recusa da empresa em aceitar o documento não contesta a idoneidade ou ver a-
cidade dos fatos, mas age em conformidade com o texto legal. O que o empregador
não pode contestar é o que a lei preceitua. O médico do trabalho, por fim, não é obr i-
gado a aceitar todos os atestados médicos.

O Ministério da Previdência e Assistência Social, pela Portaria Ministerial n.º


3.291/84, subordina a eficácia do atestado médico, para justificativa de faltas ao se r-
viço por motivo de doença, à anotação do diagnóstico codificado conforme a Classi-
ficação Internacional de Doenças (CID). No entanto, o médico só deverá inseri-lo
quando expressamente autorizado pelo doente. A lei trabalhista n.º 605/49 normatiza
que "a doença será comprovada por médico da Previdência Social a que estiver su-
bordinado o empregado e na falta deste, e sucessivamente, da unidade do Serviço
Social do Comércio ou da Indústria, do médico da empresa ou por ela designado; do
médico da repartição federal, estadual ou municipal incumbida de assuntos da higi-
ene ou saúde pública; ou não existindo estes na localidade em que trabalhar, de m é-
dico da sua escolha".

ATESTADO MÉDICO FALSO

É uma das mais comuns infrações à ética e das que mais comprometem o prestígio
médico. Constitui falsidade ideológica e é passível de punição legal pelo artigo 302
do Código Penal (França, 2003). É bem conhecida a frase do criminalista italiano
Vicenzo Manzini, em que se a lei fosse efetivamente cumprida, a maior parte dos
médicos seria punida, porque em certas relações o certificado médico não verdadei-
ro a regra, e o verdadeiro, exce o (Manzini, 1946). Em casos de constatação de
fraude por meio de processo ético-disciplinar, o profissional em falta incorrerá tam-
bém em afronta ao art. 110 do Código de Ética Médica, o que tem levado a apena-
ções no âmbito dos conselhos médicos.

É possível que grande parte dos profissionais da área assistencial ignorem que é gr a-
ve o caráter criminoso da emissão de atestados falsos (v. Código Penal Brasileiro,
arts. 299, 301 e 302, p. ) o que atinge aqueles que o elaboram e os que se benefici-
am com o documento frio (Coutinho, 2004). Passar atestado falso não pode ser
tomado como normal , coisa que todo o mundo faz que no fim beneficia muita

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gente . Práticas assim contribuem para o descrédito de um relevante instrumento


médico que deve sempre merecer a fé pública. A legalização de serviços de perícia
médica em instituições para avaliação de atestados de médicos assistentes concorr e-
ram para a criação de serviços periciais médicos para evitar faltas de seus servidores
abonados por erros de diagnóstico e de tratamento, exageros, indicações inadequadas
de licença ou afastamentos definitivos (aposentadorias) e mesmo fraudes.

Vale considerar que é bem possível a existência de atestados médicos passados por
leigos, até com inclusão dos códigos da CID, que dispõem de carimbo médico e bl o-
cos de impressos de atestados, destinados ou não à venda para qualquer solicitante.

Cumpre notar que, em casos de solicitação de atestados frios para justificar falt as
ao trabalho, o médico, ao expressar sua justa recusa, pode orientar o solicitante a
obter o abono por intermédio da própria chefia do serviço, pois esta, diante de um
motivo justo e de força maior, tem poder legal de abonar a falta do servidor, como
proclama a lei 605, de 5-1-49, regulamentada pelo decreto 27.048, de 12-8-49, art.
6.o, em que são motivos justificados (parágrafo 1. o), que a ausência do emprega-
do, devidamente justificada, a critério da administração do estabelecimento (alínea
b).

Também a lei 8.112, de 11-12-90 estatui que o servidor perderá a remuneração do dia
em faltar o serviço sem motivo justificado (art, 44, inciso I); mas as faltas justific a-
das, decorrentes de casos fortuitos ou de força maior, poderão ser compensadas a
critério da chefia imediata, sendo assim consideradas como efetivo exercício (pará-
grafo único). Cabe também ao médico avaliador, diante de um atestado comprov a-
damente falso, formular uma denúncia no conselho regional de medicina de sua ju-
risdição e tanto o profissional que fez o documento falso quanto o seu beneficiário
cometeram atos de fraude (Coutinho, 2004, p. 257). Acrescenta-se que, em caso de
indício de falsidade no atestado, detectado por médico em função pericial, este se
obriga a representar ao Conselho Regional de Medicina de sua jurisdi-
o (Resolu o CFM n. o 1.658/2002, art. 6.o, §4.o). A confiança de um indivíduo
contar sempre com um atestado médico falso para ausentar-se do trabalho em um
período pré-determinado por ele próprio constituiria um dos mais prosaicos motivos
de ironia, e a emissão de tal atestado, uma das mais sérias afrontas à ética médica,
notadamente quando for fato conhecido e consentido pelos colegas de serviço, pelo
próprio chefe do serviço, pelo servidor e pelo próprio médico emissor do documento.

INDICAÇÃO DE REPOUSO POR UM DIA DEVIDA A UMA BREVE CONSUL-


TA

Quando não houver indicação de repouso por motivo de doença, é questionável o


médico indicar todo o dia em repouso quando o doente fez apenas consulta que durou
alguns minutos. É necessário que o médico ateste em relação ao estado de doença do
paciente e indicar no atestado o tempo em horas em que este esteve presente durante
a consulta e indicar repouso regularmente como parte do tratamento médico. A n e-
cessidade de afastamento de um dia de trabalho, por exemplo, devido à distância do
serviço médico em relação à empresa é matéria que refoge à competência do médico
e deve ser tratada nas negociações entre os representantes dos trabalhadores e dos
empregadores.

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46

INDICAÇÕES DE AFASTAMENTO DO TRABALHO OU DE APOSENTADORIA


EM ATESTADOS MÉDICOS

A resolução CFM n. o 1.658/2002, art. 6. o, faculta o médico atestar a necessidade de


afastamento laboral. Se a causa da morbidade for decorrente do trabalho, o médico de-
verá ser específico em determinar o afastamento das atividades laborais, como está na
parte das considerações preliminares da resolução CFM n.o 1.488/1998. De fato, a saú-
de, a recuperação e a preservação da capacidade de trabalho são direitos garanti-
dos pela Constituição Federal; o médico é um dos principais responsáveis pela pre-
servação e promoção da saúde; que o trabalho é um meio de prover a subsistência e
a dignidade humana, não devendo gerar mal-estar, doenças e mortes . Adicional-
mente, o art. 1.º e o inciso II, da mesma resolução estatuem que aos médicos que
prestam assistência médica ao trabalhador, independentemente de sua especialidade
ou local em que atuem, cabe fornecer atestados e pareceres para o afastamento do
trabalho sempre que necessário, considerando-se que o repouso, o acesso a terapias
ou o afastamento de determinados agentes agressivos fazem parte do tratamento.
No entanto, se não houver nexo causal entre a doença e as atividades laborais do do-
ente, o médico assistente pode indicar essencialmente nos atestados o estado de do-
ença do paciente, provisório ou permanente, e determinar um período de repouso
como parte do tratamento, que, se for longo, será revisto periodicamente em segu i-
mento médico com renovações correspondentes dos atestados. A indicação de afas-
tamento do trabalho e de aposentadoria tornou-se tarefa de peritos e de juntas mé-
dico-periciais das instituições empregadoras, conduta amparada por leis. Tais indica-
ções realizadas por médicos assistentes têm levado à ocorrência de muitos casos de
conflitos graves entre pacientes e peritos, como se depreende do âmbito dos conse-
lhos de medicina e dos tribunais de justiça. A prescrição de repouso é atribuição m é-
dica do âmbito terapêutico, e está implícito, pela lógica, o afastamento do trabalho,
de toda atividade que submeta o organismo a esforços físicos e atribulações psíqui-
cas. Em caso de doença debilitante que comprometa definitivamente a realização das
atividades corriqueiras do indivíduo, ou condições semelhantes, o médico indicará no
atestado que o doente deve ser afastado de suas atividades laborais. O atestado será,
por si, instrumento que o guiará à obtenção, por exemplo, de aposentadoria. Do pon-
to de vista legal, o parecer do médico perito será conclusivo quanto à capacidade
laboral para fins previdenciários (Lei 10.876, art. 2. o, inciso II, v. p. ). O art. 202
da Lei 8.112, estatui que será concedida ao servidor licença para tratamento de
saúde, a pedido ou de ofício, com base em perícia médica

Ao emitir um atestado que será avaliado por perícia, pode ser boa norma que este
seja bem fundamentado e suas conclusões sejam, sempre que possível, redigidas para
evitar confronto de opiniões entre o médico-perito e o paciente, como muitas vezes
ocorre, em detrimento do bem-estar do doente. É recomendável esclarecer o paciente
quanto ao fato, para evitar que determinações conflitantes entre médico assistente e
médico perito submetam o enfermo a situações inquietantes por conflituosas. A apli-
cação, no atestado do médico assistente, dos verbos no modo subjuntivo e não no
imperativo pode ser um procedimento favorável.

Tendo em vista tais circunstâncias, convém ao profissional médico conhecer e tornar


consabidos os dispositivos legais existentes sobre esse tema em busca de consider a-
ções e condutas harmoniosas em benefício do meio médico e do doente.

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PERÍODO DE DOENÇA PARA CONSTAR EM ATESTADO

Parecer-Consulta CRM-DF n.º 29/1999. Veracidade do período usual de atestado


médico com CID 789-0 (dor abdominal), tendo em vista um empregado ter entregue
atestado com indicação de dez dias de repouso. Não existem períodos pré-
determinados a serem concedidos para cada doença ou suas manifestações. Cada caso
deve ser avaliado individualmente, cabendo somente ao médico assistente defini-los,
levando em consideração suas particularidades. Se houver dúvidas quanto à sua vali-
dade, a empresa deverá recorrer a um médico perito por ela designado, para que este
solicite ao médico emitente do atestado a documentação pertinente, com a finalidade
de homologação ou não, de forma justificada.

RECUSA DO EMPREGADOR A ACEITAR ATESTADO MÉDICO

Parecer-Consulta CFM n.o 56/2002. Em tese, qualquer atestado médico pode abo-
nar falta ao serviço e sua recusa por parte do empregador configura violência ao di-
reito do trabalhador, pois todo atestado médico é documento que se reveste, também,
de idoneidade, veracidade e, conseqüentemente, validade. A recusa, quando em total
obediência ao que preceitua o parágrafo 2.º do art. 6.º da Lei n.º 605/49, tem respaldo
legal e ético.

VALOR LEGAL DO ATESTADO

O atestado médico tem fé pública, ou seja, tem presunção de veracidade, é consid e-


rado verdadeiro até prova contrária. O atestado médico goza da presunção de vera-
cidade, devendo ser acatado por quem de direito, salvo se houver divergência de
entendimento por m dico da institui o ou por perito (Resolu o CFM n. o
1.658/2002, art.6.o, § 3.º). Para ser legalmente válido é obrigatório que o médico
emitente esteja regularmente inscrito no conselho médico de sua região. Os médicos
somente devem aceitar atestados para avaliação de afastamento de atividades quan-
do emitidos por médicos habilitados e inscritos no Conselho Regional de Med icina
(Resolução CFM n.o 1.658/2002, art.6.o, §1.o). O valor legal ou moral dos atestados
médicos é amplamente reconhecido e utilizado para registrar nascimentos, documen-
tar o estado clínico de servidores demitidos ou admitidos, afastamentos do trabalho,
aposentadorias, sepultamentos, demandas policiais, judiciais e éticas. O médico tem
a obrigação de tudo fazer para não desmoralizar o atestado médico de qualquer tipo,
pois ele é um instrumento da verdade e da justiça, que define a probidade de quem o
emite e da profissão do emitente. O profissional que vulgariza o atestado médico fa l-
ta com a verdade por não ter praticado os atos médicos atestados, causa prejuízos às
empresas, ao governo e a terceiros e está sujeito às penas da lei por praticar ato anti é-
tico, ilícito civilmente e crime doloso junto ao beneficiado por atestado falso ou in i-
dôneo.

Parecer-Consulta CRM-DF n.º 48/1997. Qualquer médico, legalmente habilitado


para o exercício profissional, pode emitir atestado médico para as mais diversas fin a-
lidades. Um atestado médico somente poderá ser contestado por outro médico, e tal
contestação terá que ter fundamentação técnica, obtida pelo exame do doente e por
exames complementares, caso se façam necessários.

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DISPOSITIVOS LEGAIS

RESOLUÇÃO CFM n.º 1.488/1998


Dispõe de normas específicas para médicos que atendam o trabalhador.

(Publicada no Diário Oficial da União, 6 de março 1998, Seção I, p. 150)


(Modificada pela Resolução CFM n. o 1.810/2007)

O Conselho Federal de Medicina, no uso das atribuições conferidas pela Lei n.º
3.268, de 30 de setembro de 1957, regulamentada pelo Decreto n.º 44.045, de 19 de
julho de 1958 e,

CONSIDERANDO que o trabalho é um meio de prover a subsistência e a dignidade


humana, não devendo gerar mal-estar, doenças e mortes;

CONSIDERANDO que a saúde, a recuperação e a preservação da capacidade de tra-


balho são direitos garantidos pela Constituição Federal;

CONSIDERANDO que o médico é um dos principais responsáveis pela preservação


e promoção da saúde;

CONSIDERANDO a necessidade de normatizar os critérios para estabelecer o nexo


causal entre o exercício da atividade laboral e os agravos da saúde;

CONSIDERANDO a necessidade de normatizar a atividade dos médicos que prestam


assistência médica ao trabalhador;

CONSIDERANDO o estabelecido no artigo 1º, inciso IV, artigo 6º e artigo 7.º, inciso
XXII da Constituição Federal; nos artigos 154 e 168 da Consolidação das Leis do
Trabalho, bem como as normas do Código de Ética Médica e a Resolução CREMESP
n.º 76/96;

CONSIDERANDO as recomendações emanadas da 12.ª Reunião do Comitê Misto


OIT/OMS, realizada em 5 de abril de 1995, onde foram discutidos aspectos relaci o-
nados com a saúde do trabalhador, medicina e segurança do trabalho;

CONSIDERANDO a nova definição da medicina do trabalho, adotada pelo Comitê


Misto OIT/OMS, qual seja: proporcionar a promoção e manutenção do mais alto n í-
vel de bem-estar físico, mental e social dos trabalhadores;

CONSIDERANDO as deliberações da 49.ª Assembléia Geral da OMS, realizada em


25-8-96, onde foram discutidas as estratégias mundiais para a prevenção, controle e
diminuição dos riscos e das doenças profissionais, melhorando e fortalecendo os ser-
viços de saúde e segurança ligados aos trabalhadores;

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CONSIDERANDO que todo médico, independentemente da especialidade ou do vín-


culo empregatício estatal ou privado , responde pela promoção, prevenção e recu-
peração da saúde coletiva e individual dos trabalhadores;

CONSIDERANDO que todo médico, ao atender seu paciente, deve avaliar a possibi-
lidade de que a causa de determinada doença, alteração clínica ou laboratorial possa
estar relacionada com suas atividades profissionais, investigando-a da forma adequa-
da e, caso necessário, verificar o ambiente de trabalho;

CONSIDERANDO, finalmente, o decidido na Sessão Plenária realizada em 11 de


fevereiro de 1998,

RESOLVE:

Art. 1.º Aos médicos que prestam assistência médica ao trabalhador, independen-
temente de sua especialidade ou local em que atuem, cabe:

I assistir ao trabalhador, elaborar seu prontuário médico e fazer todos os encam i-


nhamentos devidos;

I I fornecer atestados e pareceres para o afastamento do trabalho sempre que neces-


sário, considerando-se que o repouso, o acesso a terapias ou o afastamento de deter-
minados agentes agressivos fazem parte do tratamento;

III fornecer laudos, pareceres e relatórios de exame médico e dar encaminhamento,


sempre que necessário, para benefício do doente e dentro dos preceitos éticos, quanto
aos dados de diagnóstico, prognóstico e tempo previsto de tratamento. Quando r e-
querido pelo paciente, deve o médico por à sua disposição tudo o que se refira ao seu
atendimento, em especial cópia dos exames e prontuário médico.

Art. 2.º Para o estabelecimento do nexo causal entre os transtornos de saúde e as


atividades do trabalhador, além do exame clínico (físico e mental) e os exames co m-
plementares, quando necessários, deve o médico considerar:

I a história clínica e ocupacional, decisiva em qualquer diagnóstico e ou investiga-


ção de nexo causal;

II o estudo do local de trabalho;

III o estudo da organização do trabalho;

IV os dados epidemiológicos;

V a literatura atualizada;

VI a ocorrência de quadro clínico ou subclínico em trabalhador exposto a condi-


ções agressivas;

VII a identificação de riscos físicos, químicos, biológicos, mecânicos, estressantes


e outros;

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VIII o depoimento e a experiência dos trabalhadores;

IX os conhecimentos e as práticas de outras disciplinas e de seus profissionais, se-


jam ou não da área da saúde.

Art. 3.° Aos médicos que trabalham em empresas, independentemente de sua espe-
cialidade, é atribuição:

I atuar visando essencialmente à promoção da saúde e à prevenção da doença, co-


nhecendo, para tanto, os processos produtivos e o ambiente de trabalho da empresa;

II avaliar as condições de saúde do trabalhador para determinadas funções e ou


ambientes, indicando sua alocação para trabalhos compatíveis com suas condições de
saúde, orientando-o, se necessário, no processo de adaptação;

III dar conhecimento aos empregadores, trabalhadores, comissões de saúde, CIPAS


e representantes sindicais, por meio de cópias de encaminhamentos, solicit ações e
outros documentos, dos riscos existentes no ambiente de trabalho, bem como dos
outros informes técnicos de que dispuser, desde que resguardado o sigilo profissi o-
nal;

IV promover a emissão de Comunicação de Acidente do Trabalho, ou outro docu-


mento que comprove o evento infortunístico, sempre que houver acidente ou molés-
tia causada pelo trabalho. Essa emissão deve ser feita até mesmo na suspeita de nexo
causal da doença com o trabalho. Deve ser fornecida cópia dessa documentação ao
trabalhador;

V notificar, formalmente, o órgão público competente quando houver suspeita ou


comprovação de transtornos da saúde atribuíveis ao trabalho, bem como recomendar
ao empregador a adoção dos procedimentos cabíveis, independentemente da necessi-
dade de afastar o empregado do trabalho.

Art. 4.° São deveres dos médicos de empresa que prestam assistência médica ao
trabalhador, independentemente de sua especialidade:

I atuar junto à empresa para eliminar ou atenuar a nocividade dos processos de


produção e organização do trabalho, sempre que haja risco de agressão à saúde;

II promover o acesso ao trabalho de portadores de afecções e deficiências para o


trabalho, desde que este não as agrave ou ponha em risco sua vida;

III opor-se a qualquer ato discriminatório impeditivo do acesso ou permanência da


gestante no trabalho, preservando-a, e ao feto, de possíveis agravos ou riscos decor-
rentes de suas funções, tarefas e condições ambientais.

Art. 5.º Os médicos do trabalho (como tais reconhecidos por lei), especialmente
aqueles que atuem em empresa como contratados, assessores ou consultores em saú-
de do trabalhador, serão responsabilizados por atos que concorram para agravos à
saúde dessa clientela conjuntamente aos outros médicos que atuem na empresa e que

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estejam sob sua supervisão nos procedimentos que envolvam a saúde do trabalhador,
especialmente com relação à ação coletiva de promoção e proteção à sua saúde.

Art. 6.° São atribuições e deveres do perito-médico de instituições previdenciárias


e seguradoras:

I avaliar a capacidade de trabalho do segurado, mediante o exame clínico, anali-


sando documentos, provas e laudos referentes ao caso;

II subsidiar tecnicamente a decisão para a concessão de benefícios;

III comunicar, por escrito, o resultado do exame médico-pericial ao periciando,


com a devida identificação do perito-médico (CRM, nome e matrícula);

IV orientar o periciando para tratamento quando eventualmente não o estiver fa-


zendo e encaminhá-lo para reabilitação quando necessária.

Art. 7.º Perito-médico judicial é aquele designado pela autoridade judicial, assis-
tindo-a naquilo que a lei determina.

Art. 8.º Assistente técnico é o médico que assiste as partes em litígio.

Art. 9.º Em ações judiciais, o prontuário médico, exames complementares ou ou-


tros documentos poderão ser liberados por autorização expressa do próprio assistido.

Art. 10. São atribuições e deveres do perito-médico judicial e assistentes técnicos:

I examinar clinicamente o trabalhador e solicitar os exames complementares neces-


sários;

II o perito-médico judicial e assistentes técnicos, ao vistoriarem o local de trabalho,


devem fazer-se acompanhar, se possível, pelo próprio trabalhador que está sendo
objeto da perícia, para melhor conhecimento do seu ambiente de trabalho e de sua
função;

III estabelecer o nexo causal, considerando-se o exposto no artigo 4.° e incisos.

Art. 11. Deve o perito-médico judicial fornecer cópia de todos os documentos dis-
poníveis para que os assistentes técnicos elaborem seus pareceres. Caso o perito -
médico judicial necessite vistoriar a empresa (locais de trabalho e documentos sob
sua guarda), ele deverá informar oficialmente o fato, com a devida antecedência, aos
assistentes técnicos das partes (ano, mês, dia e hora da perícia).

Art. 12. O médico de empresa, o médico responsável por qualquer programa de


controle de saúde ocupacional de empresa e o médico participante do serviço especi-
alizado em segurança e medicina do trabalho não podem atuar como peritos judiciais,
securitários, previdenciários ou assistentes técnicos nos casos que envolvam a firma
contratante e ou seus assistidos (atuais ou passados). (Redação dada pela Res olução
CFM n.o 1.810/2007.)

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Art. 13. A presente Resolução entrará em vigor na data de sua publicação, revo-
gando-se as disposições em contrário.

RESOLUÇÃO CFM n.º 1.641/2002


Veda a emissão, pelo médico, de declaração de óbito nos casos em que houve atu a-
ção de profissional não-médico e dá outras providências.

(Publicada no Diário Oficial da União, 29-7-2002, seção I, p. 229.)

O Conselho Federal de Medicina, no uso das atribuições que lhe confere a Lei n.º
3.268, de 30 de setembro de 1957, regulamentada pelo Decreto n.º 44.045, de 19 de
julho de 1958, e

CONSIDERANDO que toda atividade médica deve servir aos melhores interesses da
sociedade e da humanidade;

CONSIDERANDO que a práxis médica, inclusive a declaração de óbito, não deve


servir para encobrir qualquer violação de norma legal ou dos direitos humanos;

CONSIDERANDO que o ato médico não deve encobrir, especialmente, os danos


causados a alguma pessoa por quem exerce ilegalmente ou ilegitimamente a Medici-
na;

CONSIDERANDO que todos os procedimentos terapêuticos decorrem do diagnósti-


co das entidades clínicas a que pretendem tratar;

CONSIDERANDO que o diagnóstico de doenças humanas e a indicação das provi-


dências são atos privativos de médicos, excetuando a competência legal dos profi s-
sionais da odontologia;

CONSIDERANDO que atos privativos de médicos vêm sendo performados por pro-
fissionais não-médicos, o que pode provocar danos à saúde dos pacientes ou, até
mesmo, levar ao óbito;

CONSIDERANDO o decidido em sessão plenária de 12 de julho de 2002.

RESOLVE:

Art. 1.º É vedado aos médicos conceder declaração de óbito em que o evento que
levou à morte possa ter sido alguma medida com intenção diagnóstica ou terapêutica
indicada por agente não-médico ou realizada por quem não esteja habilitado para
fazê-lo, devendo, nesse caso, tal fato ser comunicado à autoridade policial competen-
te a fim de que o corpo possa ser encaminhado ao Instituto Médico Legal para verifi-
cação da causa mortis.

Art. 2.º Sem prejuízo do dever de assistência, a comunicação à autoridade policial,


visando ao encaminhamento do paciente ao Instituto Médico Legal para exame de

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corpo de delito, também é devida, mesmo na ausência de óbito, nos casos de lesão ou
dano à saúde induzida ou causada por alguém não-médico.

Art. 3.º Os médicos, na função de perito, ainda que ad hoc, ao atuarem nos casos
previstos nesta resolução, devem fazer constar de seus laudos ou pareceres o tipo de
atendimento realizado pelo não-médico, apontando sua possível relação de causa e
efeito, se houver, com o dano, lesão ou mecanismo de óbito.

Art. 4.º Nos casos mencionados nos artigos 1.º e 2.º deve ser feita imediata comu-
nicação ao Conselho Regional de Medicina local.

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RESOLUÇÃO CFM N.º 1.658/2002.


Normatiza a emissão de atestados médicos, dá outras providências e revoga as r e-
soluções CFM 982/79, 1.484/97 e 1.548/99.

(Publicada no diário oficial da união, 20-12-02, seção I, p. 421.)

O Conselho Federal de Medicina, no uso das atribuições conferidas pela Lei n.º
3.268, de 30 de setembro de 1957, regulamentada pelo Decreto n.º 44.045, de 19 de
julho de 1958, e

CONSIDERANDO a necessidade de regulamentação de aspectos relacionados ao


atestado médico;

CONSIDERANDO que o ser humano deve ser o principal alvo da atenção médica;

CONSIDERANDO o que preceitua a Lei n.º 605, de 5 de janeiro de 1949, no pará-


grafo 2.º de seu artigo 6.º, referindo-se à comprovação de doença;

CONSIDERANDO o que determina a Lei n.º 8.112, de 11 de dezembro de 1990,


acerca de licença para tratamento de saúde, licença à gestante, licença-paternidade,
licença por acidente em serviço e licença por motivo de doença em pessoa da família;

CONSIDERANDO o definido no Decreto n.º 3.048/99, alterado pelos Decretos n. os


3.112/99 e 3.265/99, que aprova o Regulamento da Previdência Social e dá outras
providências;

CONSIDERANDO os artigos 38, 44, 45 e 142 do Código de Ética Médica;

CONSIDERANDO que o artigo 8.º do Código de Ética Médica determina que o mé-
dico não pode se submeter a restrições ou imposições que possam prejudicar a efic á-
cia e a correção de seu trabalho;

CONSIDERANDO que é vedado ao médico atestar falsamente sanidade ou atestar


sem o exame direto do paciente;

CONSIDERANDO que o profissional ao faltar com a verdade nos atos médicos ates-
tados, causando prejuízos às empresas, ao governo ou a terceiros, está sujeito às p e-
nas da lei;

CONSIDERANDO que as informações oriundas da relação médico-paciente perten-


cem ao paciente, sendo o médico apenas o seu fiel depositário;

CONSIDERANDO que o ordenamento jurídico nacional prevê situações excludentes


do segredo profissional;

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CONSIDERANDO que somente os médicos e odontólogos têm a prerrogativa de


diagnosticar enfermidades e emitir os correspondentes atestados;

CONSIDERANDO ser indispensável ao médico identificar o paciente ao qual assis-


te;

CONSIDERANDO as resoluções CFM n. os 1.484/97 e 1.548/99 e resoluções dos


Conselhos Regionais de Medicina dos estados de Goiás, Amazonas, Alagoas, Rio de
Janeiro, São Paulo, Rio Grande do Norte, Minas Gerais, Bahia e Distrito Federal;

CONSIDERANDO, finalmente, o decidido na Sessão Plenária de 13-12-2002,

RESOLVE:

Art. 1.º O atestado médico é parte do ato médico, sendo seu fornecimento direito
inalienável do paciente, não podendo importar em qualquer majoração de honorários.

Art. 2.º Ao fornecer o atestado, deverá o médico registrar em ficha própria e ou


prontuário médico os dados dos exames e tratamentos realizados, de maneira que
possa atender às pesquisas de informações dos médicos-peritos das empresas ou dos
órgãos públicos da Previdência Social e da Justiça.

Art. 3.º Na elaboração do atestado médico, o médico assistente observará os se-


guintes procedimentos:

a) especificar o tempo concedido de dispensa à atividade, necessário para a completa


recuperação do paciente;

b) estabelecer o diagnóstico, quando expressamente autorizado pelo paciente;

c) registrar os dados de maneira legível;

d) identificar-se como emissor, mediante assinatura e carimbo ou número de registro


no Conselho Regional de Medicina.

Art. 4.º É obrigatória, aos médicos, a exigência de prova de identidade aos interes-
sados na obtenção de atestados de qualquer natureza, envolvendo assuntos de saúde
ou de doença.

§ 1.º Em caso de menor ou interdito, a prova de identidade deverá ser exigida de


seu responsável legal.

§ 2.º Os principais dados da prova de identidade deverão obrigatoriamente constar


dos referidos atestados.

Art. 5.º Os médicos somente podem fornecer atestados com o diagnóstico codifica-
do ou não quando por justa causa, exercício de dever legal, solicitação do próprio
paciente ou de seu representante legal.

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Parágrafo único. No caso da solicitação de colocação de diagnóstico, codificado ou


não, ser feita pelo próprio paciente ou seu representante legal, esta concordância de-
verá estar expressa no atestado.

Art. 6.º Somente aos médicos e aos odontólogos, estes no estrito âmbito de sua pro-
fissão, é facultada a prerrogativa do fornecimento de atestado de afastamento do tra-
balho.

§ 1.º Os médicos somente devem aceitar atestados para avaliação de afastamento


de atividades quando emitidos por médicos habilitados e inscritos no Conselho Regi-
onal de Medicina, ou de odontólogos, nos termos do caput do artigo.

§ 2. º O médico poderá valer-se, se julgar necessário, de opiniões de outros profis-


sionais afetos à questão para exarar o seu atestado.

§ 3.º O atestado médico goza da presunção de veracidade, devendo ser acatado por
quem de direito, salvo se houver divergência de entendimento por médico da institui-
ção ou por perito.

§ 4.º Em caso de indício de falsidade no atestado, detectado por médico em função


pericial, este se obriga a representar ao Conselho Regional de Medicina de sua juri s-
dição.

Art. 7.º O determinado por esta Resolução vale, no que couber, para o fornecimen-
to de atestados de sanidade em suas diversas finalidades.

Art. 8.º Revogam-se as resoluções CFM n. os 982/79, 1.484/97, 1.548/99 e as de-


mais disposições em contrário.

Art. 9.º Esta Resolução entra em vigor na data de sua publicação.

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RESOLUÇÃO CFM n.º 1.779/2005


Regulamenta a responsabilidade médica no fornecimento da Declaração de Óbito.
Revoga a Resolução CFM n. 1.601/2000.

O Conselho Federal de Medicina, no uso das atribuições conferidas pela Lei n.º
3.268, de 30 de setembro de 1957, regulamentada pelo Decreto n.º 44.045, de 19 de
julho de 1958, e

CONSIDERANDO o que consta nos artigos do Código de Ética Médica:

Art. 14. O médico deve empenhar-se para melhorar as condições de saúde e os pa-
drões dos serviços médicos e assumir sua parcela de responsabilidade em relação à
saúde pública, à educação sanitária e à legislação referente à saúde.

É vedado ao médico

Art. 39. Receitar ou atestar de forma secreta ou ilegível, assim como assinar em
branco folhas de receituários, laudos, atestados ou quaisquer outros documentos m é-
dicos.

Art. 44. Deixar de colaborar com as autoridades sanitárias ou infringir a legi slação
vigente.

Art. 110. Fornecer atestado sem ter praticado o ato profissional que o justifique, ou
que não corresponda à verdade.

Art. 112. Deixar de atestar atos executados no exercício profissional, quando solici-
tado pelo paciente ou seu responsável legal.

Art. 114. Atestar óbito quando não o tenha verificado pessoalmente, ou quando não
tenha prestado assistência ao paciente, salvo, no último caso, se o fizer como plant o-
nista, médico substituto, ou em caso de necropsia e verificação médico-legal.

Art. 115. Deixar de atestar óbito de paciente ao qual vinha prestando assistência, ex-
ceto quando houver indícios de morte violenta;

CONSIDERANDO que declaração de óbito é parte integrante da assistência médica;

CONSIDERANDO a declaração de óbito como fonte imprescindível de dados epi-


demiológicos;

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CONSIDERANDO que a morte natural tem como causa a doença ou lesão que ini-
ciou a sucessão de eventos mórbidos que diretamente causaram o óbito;

CONSIDERANDO que a morte não-natural é aquela que sobrevém em decorrência


de causas externas violentas;

CONSIDERANDO a necessidade de regulamentar a responsabilidade médica no for-


necimento da declaração de óbito;

CONSIDERANDO, finalmente, o decidido em sessão plenária realizada em 11 de


novembro de 2005,

RESOLVE:

Art. 1.º O preenchimento dos dados constantes na declaração de óbito é da respon-


sabilidade do médico que atestou a morte.

Art. 2.º Os médicos, quando do preenchimento da declaração de óbito, obedecerão


as seguintes normas.

1) Morte natural

I. Morte sem assistência médica

a) Nas localidades com Serviço de Verificação de Óbitos (SVO), a declaração de


óbito deverá ser fornecida pelos médicos do SVO.
b) Nas localidades sem SVO, a declaração de óbito deverá ser fornecida pelos méd i-
cos do serviço público de saúde mais próximo do local onde ocorreu o evento; na sua
ausência, por qualquer médico da localidade.

II. Morte com assistência médica

a) A declaração de óbito deverá ser fornecida, sempre que possível, pelo méd ico que
vinha prestando assistência ao enfermo.

b) A declaração de óbito do paciente internado sob regime hospitalar deverá ser for-
necida pelo médico assistente e, na sua falta por médico substituto pertencente à in s-
tituição.

c) A declaração de óbito do paciente em tratamento sob regime ambulatorial deverá


ser fornecida por médico designado pela instituição que prestava assistência, ou pelo
SVO.

d) A declaração de óbito do paciente em tratamento sob regime domiciliar (Programa


Saúde da Família, internação domiciliar e outros) deverá ser fornecida pelo médico
pertencente ao programa ao qual o paciente estava cadastrado, ou pelo SVO, caso o
médico não consiga correlacionar o óbito com o quadro clínico concernente ao a-
companhamento do paciente.

2) Morte fetal

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59

Em caso de morte fetal, os médicos que prestaram assistência à mãe ficam obrigados
a fornecer a declaração de óbito quando a gestação tiver duração igual ou superior a
20 semanas ou o feto tiver peso corporal igual ou superior a 500 (quinhentos) gramas
e ou estatura igual ou superior a 25 cm.

3) Mortes violentas ou não naturais

A declaração de óbito deverá, obrigatoriamente, ser fornecida pelos serviços médico-


legais.

Parágrafo único. Nas localidades onde existir apenas 1 (um) médico, este é o respo n-
sável pelo fornecimento da declaração de óbito.

Art. 3.º Esta resolução entra em vigor na data de sua publicação e revoga a Resolu-
ção CFM n.º 1.601/00.

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60

CÓDIGO PENAL BRASILEIRO

Art. 299. Omitir, em documento público ou particular, declaração que dele devia
constar, ou nele inserir ou fazer inserir declaração falsa ou diversa da que devia ser
escrita, com o fim de prejudicar direito, criar obrigação ou alterar a verdade sobre
fato juridicamente relevante. Pena: reclusão, de 1 (um) a 5 (cinco) anos, e multa, se o
documento é público, e reclusão de 1 (um) a 3 (três) anos, e multa, se o documento é
particular.

Parágrafo único. Se o agente é funcionário público, e comete o crime prevalecen-


do-se do cargo, ou se a falsificação ou alteração é de assentamento de registro civil,
aumenta-se a pena de sexta parte.

Art. 301. Atestar ou certificar falsamente, em razão de função pública, fato ou cir-
cunstância que habilite alguém a obter cargo público, isenção de ônus ou de serviço
de caráter público, ou qualquer outra vantagem: pena detenção, de 2 (dois) meses a
1 (um) ano.

§ 1.º Falsificar, no todo ou em parte, atestado ou certidão, ou alterar o teor de certi-


dão ou de atestado verdadeiro, para prova de fato ou circunstância que habilite al-
guém a obter cargo público, isenção de ônus ou de serviço de caráter público, ou
qualquer outra vantagem. Pena: detenção, de 3 (três) meses a 2 (dois) anos. § 2.º Se
o crime é praticado com o fim de lucro, aplica-se, além da pena privativa de liberda-
de, a de multa.

Art. 302. Dar o médico, no exercício da sua profissão, atestado falso. Pena: deten-
ção, de 1 (um) mês a 1 (um) ano. Parágrafo único. Se o crime é cometido com o
fim de lucro, aplica-se também multa.

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61

CÓDIGO DE ÉTICA MÉDICA

É vedado ao médico

Art. 39. Receitar ou atestar de forma secreta ou ilegível, assim como assinar em
branco folhas de receituários, laudos, atestados ou quaisquer outros documentos m é-
dicos.

Art. 60 Exagerar a gravidade do diagnóstico ou prognóstico, ou complicar a tera-


pêutica, ou exceder-se no número de visitas, consultas ou quaisquer outros procedi-
mentos médicos.

Art. 110. Fornecer atestado sem ter praticado o ato profissional que o justifique, ou
que não corresponda à verdade.

Art. 111. Utilizar-se do ato de atestar como forma de angariar clientela.

Art. 112. Deixar de atestar atos executados no exercício profissional, quando soli-
citado pelo paciente ou seu responsável legal.

Parágrafo único. O atestado médico é parte do ato ou tratamento médico, sendo o


seu fornecimento direito inquestionável do paciente, não importando em qualquer
majoração de honorários.

Art. 113. Utilizar-se de formulários de instituições públicas para atestar fatos veri-
ficados em clínica privada.

Art. 114. Atestar óbito quando não o tenha verificado pessoalmente, ou quando não
tenha prestado assistência ao paciente, salvo, no último caso, se o fizer como planto-
nista, médico substituto, ou em caso de necropsia e verificação médico-legal.

Art. 115. Deixar de atestar óbito de paciente ao qual vinha prestando assistência, ex-
ceto quando houver indícios de morte violenta.

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62

CONSOLIDAÇÃO DAS LEIS DO TRABALHO (CLT)

Art. 373-A. Ressalvadas as disposições legais destinadas a corrigir as distorções


que afetam o acesso da mulher ao mercado de trabalho e certas especificidades est a-
belecidas nos acordos trabalhistas, é vedado: IV exigir atestado ou exame, de qual-
quer natureza, para comprovação de esterilidade ou gravidez, na admissão ou perm a-
nência no emprego;

Art. 392. A empregada gestante tem direito à licença-maternidade de 120 (cento e


vinte) dias, sem prejuízo do emprego e do salário. (Redação dada pela Lei n.º 10.421,
de 15-04-2002, Diário Oficial da União, 16-4-2002.) § 1.º A empregada deve, me-
diante atestado médico, notificar o seu empregador da data do início do afastamento
do emprego, que poderá ocorrer entre o 28.º (vigésimo oitavo) dia antes do parto e
ocorrência deste. (Redação dada pela Lei n.º 10.421, de 15-4-2002, Diário Oficial da
União, 16-4-2002.) § 2.º Os períodos de repouso, antes e depois do parto, poderão
ser aumentados de 2 (duas) semanas cada um, mediante atestado médico. (Redação
dada pela Lei n.º 10.421, de 15-4-2002, Diário Oficial da União, 16-4-2002.)

Art. 394. Mediante atestado médico, à mulher grávida é facultado romper o com-
promisso resultante de qualquer contrato de trabalho, desde que este seja prejudicial
à gestação.

Art. 395. Em caso de aborto não criminoso, comprovado por atestado médico ofi-
cial, a mulher terá um repouso remunerado de 2 (duas) semanas, ficando-lhe assegu-
rado o direito de retornar à função que ocupava antes de seu afastamento.

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63

DECRETO 27.048/49

Aprova o regulamento da Lei 605/49, no artigo 12, §1.º e 2.º, dispõe sobre as fo r-
mas de abono de faltas mediante atestado médico.

Art. 12. ...

§ 1.º A doença será comprovada mediante atestado passado por médico da empresa
ou por ela designado e pago.

§ 2.º Não dispondo a empresa de médico da instituição de previdência a que esteja


filiado o empregado, por médico do Serviço Social da Indústria ou do Serviço S ocial
do Comércio, por médico de repartição federal, estadual ou municipal, incumbido de
assunto de higiene ou saúde, ou, inexistindo na localidade médicos nas condições
acima especificados, por médico do sindicato a que pertença o empregado ou por
profissional da escolha deste.

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64

LEI N.º 10.876, DE 2 DE JUNHO DE 2004.


Cria a Carreira de Perícia Médica da Previdência Social.

Art. 1.º Fica criada, nos termos desta Lei, a Carreira de Perícia Médica da Previ-
dência Social, constituída pelos cargos efetivos de Perito Médico da Previdência So-
cial.

Art. 2.º Compete privativamente aos ocupantes do cargo de Perito Médico da Pre-
vidência Social e, supletivamente, aos ocupantes do cargo de Supervisor Médico -
Pericial da carreira de que trata a Lei no 9.620, de 2 de abril de 1998, no âmbito do
Instituto Nacional do Seguro Social - INSS e do Ministério da Previdência Social -
MPS, o exercício das atividades médico-periciais inerentes ao Regime Geral da Pre-
vidência Social de que tratam as Leis nos 8.212, de 24 de julho de 1991, e 8.213, de
24 de julho de 1991, à Lei no 8.742, de 7 de dezembro de 1993 Lei Orgânica da
Assistência Social, e à aplicação da Lei no 8.112, de 11 de dezembro de 1990, e, em
especial:

I emissão de parecer conclusivo quanto à capacidade laboral para fins previdenciá-


rios;

III caracterização da invalidez para benefícios previdenciários e assistenciais;

Parágrafo único. Os peritos médicos da Previdência Social poderão requisitar ex ames


complementares e pareceres especializados a serem realizados por terceiros contrata-
dos ou conveniados pelo INSS, quando necessários ao desempenho de suas ativid a-
des.

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65

LEI ORGÂNICA DA SEGURIDADE SOCIAL N.º 8.112, DE 11 DE DEZEM-


BRO DE 1990.

Dispõe sobre o regime jurídico dos servidores públicos civis da União, das autar-
quias e das fundações públicas federais.

Título VI. Da Seguridade Social do Servidor


Capítulo II. Dos benefícios
Seção IV. Da licença para tratamento de saúde

Art. 202. Será concedida ao servidor licença para tratamento de saúde, a pedido ou
de ofício, com base em perícia médica, sem prejuízo da remuneração a que fizer jus.

Art. 203. Para licença até 30 (trinta) dias, a inspeção será feita por médico do setor
de assistência do órgão de pessoal e, se por prazo superior, por junta médica oficial.

§ 2.o Inexistindo médico no órgão ou entidade no local onde se encontra ou tenha


exercício em caráter permanente o servidor, e não se configurando as hipóteses pre-
vistas nos parágrafos do art. 230, será aceito atestado passado por médico particular.
(Redação dada pela Lei n.º 9.527, de 10-12-97.)

§ 3.o No caso do parágrafo anterior, o atestado somente produzirá efeitos depois de


homologado pelo setor médico do respectivo órgão ou entidade, ou pelas autorid ades
ou pessoas de que tratam os parágrafos do art. 230. (Redação dada pela Lei n.º 9.527,
de 10-12-97.)

§ 4.o O servidor que durante o mesmo exercício atingir o limite de trinta dias de li-
cença para tratamento de saúde, consecutivos ou não, para a concessão de nova li-
cença, independentemente do prazo de sua duração, será submetido a inspeção por
junta médica oficial. (Incluído pela Lei n.º 9.527, de 10-12-97.)

Art. 204. Findo o prazo da licença, o servidor será submetido a nova inspeção médi-
ca, que concluirá pela volta ao serviço, pela prorrogação da licença ou pela aposent a-
doria.

Art. 205. O atestado e o laudo da junta médica não se referirão ao nome ou natureza
da doença, salvo quando se tratar de lesões produzidas por acidente em serviço, d o-
ença profissional ou qualquer das doenças especificadas no art. 186, § 1.o(*).

Seção V. Da licença à gestante, à adotante e da licença-paternidade

Art. 207. Será concedida licença à servidora gestante por 120 (cento e vinte) dias
consecutivos, sem prejuízo da remuneração.

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66

§ 1.o A licença poderá ter início no primeiro dia do nono mês de gestação, salvo an-
tecipação por prescrição médica.

§ 2.o No caso de nascimento prematuro, a licença terá início a partir do parto.

§ 3.o No caso de natimorto, decorridos 30 (trinta) dias do evento, a servidora será


submetida a exame médico, e se julgada apta, reassumirá o exercício.

§ 4.o No caso de aborto atestado por médico oficial, a servidora terá direito a 30
(trinta) dias de repouso remunerado.

Art. 208. Pelo nascimento ou adoção de filhos, o servidor terá direito à licença-
paternidade de 5 (cinco) dias consecutivos.

Art. 209. Para amamentar o próprio filho, até a idade de seis meses, a servidora lac-
tante terá direito, durante a jornada de trabalho, a uma hora de descanso, que poderá
ser parcelada em dois períodos de meia hora.

Art. 210. À servidora que adotar ou obtiver guarda judicial de criança até 1 (um) ano
de idade, serão concedidos 90 (noventa) dias de licença remunerada.

Parágrafo único. No caso de adoção ou guarda judicial de criança com mais de 1


(um) ano de idade, o prazo de que trata este artigo será de 30 (trinta) dias.

Seção VI. Da licença por acidente em serviço

Art. 211. Será licenciado, com remuneração integral, o servidor acidentado em ser-
viço.

Art. 212. Configura acidente em serviço o dano físico ou mental sofrido pelo servi-
dor, que se relacione, mediata ou imediatamente, com as atribuições do cargo exerci-
do.

Parágrafo único. Equipara-se ao acidente em serviço o dano:

I decorrente de agressão sofrida e não provocada pelo servidor no exercício do ca r-


go;

II sofrido no percurso da residência para o trabalho e vice-versa.

Art. 213. [...]

Art. 230. [...]

*Art. 186. § 1º Consideram-se doenças graves, contagiosas ou incuráveis, a que se refere o inciso I deste artigo, tuberculose ativa,
alienação mental, esclerose múltipla, neoplasia maligna, cegueira posterior ao ingresso no serviço público, hanseníase, cardiopatia
grave, doença de Parkinson, paralisia irreversível e incapacitante, espondiloartrose anquilosante, nefropatia grave, estados avança-
dos do mal de Paget (osteíte deformante), Síndrome de Imunodeficiência Adquirida - AIDS, e outras que a lei indicar, com base na
medicina especializada.

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PORTARIA DO MINISTÉRIO DA PREVIDÊNCIA E ASSISTÊNCIA SOCIAL


N.º 1.722, DE 25 DE JULHO DE 1979

O documento hábil de dispensa do serviço por doença, fornecido ao segurado, será


emitido por médicos do INAMPS, de Empresas, Instituições Públicas e Paraestatais
que mantenham firmado contrato e/ou convênios com a Previdência Social; e por
odontólogos, nos casos específicos relacionados com a especialidade, sejam estes do
INAMPS, de Empresas, Instituições Públicas e Paraestatais que mantenham contrato
e/ou convênios com a Previdência Social.

LEI TRABALHISTA N.º 605/49

A Lei n.° 605, de 5 de janeiro de 1949, continua em pleno vigor. Normatiza que "a do-
ença será comprovada por médico da Previdência Social a que estiver subordinado o
empregado e na falta deste, e sucessivamente, da unidade do Serviço Social do Comér-
cio ou da Indústria, do médico da empresa ou por ela designado; do médico da repartição
federal, estadual ou municipal incumbida de assuntos da higiene ou saúde pública; ou
não existindo estes na localidade em que trabalhar, de médico da sua escolha".

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Por todo o exposto, resulta-se que é imprescindível ter o médico conhecimentos especí-
ficos sobre a elaboração e utilização dos atestados. A maioria das irregularidades exis-
tentes a respeito decorre do desconhecimento, e esse, muitas vezes, por falta de leitura
dos dispositivos que normatizam o atestado médico e suas aplicações. Em moldes gerais,
por sua importância, reiteram-se aqui alguns preceitos fundamentais.

O atestado médico fornecido por médico-assistente é oficioso, pois transmite uma opini-
ão sobre o estado do paciente, que pode ser questionada por outro médico.

O atestado deve sempre expressar seriedade e ética. É instrumento de fé pública e,


portanto, sua aplicação dolosa milita contra a ética da profissão médica.

A existência de sérios conflitos entre médicos, médicos-peritos e pacientes, inclusos


processos judiciais e éticos desgastantes e mesmo casos de atentados contra a vida de
profissionais médicos têm apontado que as indicações diretas, escritas em atestados, de
afastamento do trabalho , de aposentadoria e similares precisam ser reconsideradas e
que a simples prescrição de determinado período de repouso ou indicações de incapaci-
dades e deficiências específicas, permanentes ou provisórias, pode, talvez em grande
parte, abrandar essas atribulações, em benefício dos profissionais médicos e dos pacien-
tes.

O médico-perito tem atribuições previstas em lei para examinar o periciando, solicitar


pareceres e exames não invasivos, para consubstanciar diagnósticos e indicações de afas-
tamento do trabalho, de aposentadoria e outros pareceres que podem ser determinantes
para a área administrativa.

É indispensável que o profissional médico se ocupe também de atualizações sobre os


dispositivos éticos e legais pertinentes a atestados.

Não constar o diagnóstico, salvo casos previstos em ordenamentos oficiais.

Fácil legibilidade.

Sem rasuras.

Observar a devida identificação do doente.

Sempre elaborado pelo médico que atendeu e examinou o paciente.

Sempre anotar no prontuário os dados constantes do atestado emitido ou nele deixar


uma segunda via.

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Datação do dia em que for emitido.

Clara identificação do médico emissor (assinatura, carimbo, número do CRM).

Não deixar em branco um atestado assinado.

SÍTIOS ÚTEIS PARA CONSULTAS

Associação Médica Brasileira AMB


http://www.amb.org.br/
Agência Nacional de Saúde Suplementar ANS
http://www.ans.gov.br/portal/site/home/index.asp
Agência Nacional de Vigilância Sanitária Anvisa
http://www.anvisa.org.br
Associação de Peritos Judiciais ASPEJUDI
http://www.aspejudi.com.br/aspejudi.htm
Conselho Federal de Medicina CFM
http://www.portalmedico.org.br/
Classificação Internacional de Doenças (CID 10)
http://www.datasus.gov.br/cid10/webhelp/cid10.htm
Conselho Regional de Medicina do Distrito Federal CRM-DF
http://www.crmdf.org.br
Federação Brasileira de Hospitais
http://www.fbh.com.br/
Genival Veloso de França
http://www.pbnet.com.br/openline/gvfranca/intro.htm
Perícia e auditorias médicas
http://www.periciamedicadf.com.br/cfm/parecereseresolucoes8.php
Planos de saúde
http://www.planosdesaude.net/
Tabelas de planos
http://www.tabelasdasaude.com.br/
Tabela TNM
http://www.inca.gov.br/tratamento/tnm/
Sociedade brasileira de perícia médica SBPM
http://www.periciasmedicas.org.br/
Supremo Tribunal Federal STF
http://www.stf.gov.br
Supremo Tribunal de Justiça STJ
http://www.stj.gov.br

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70

REFERÊNCIAS

1. Alcântara HR, França GV, Vanrell JP, Galvão LCC, Martin CCS. Perícia Mé-
dica judicial, 2.a ed., Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2006.
2. Bernasse PR. Dicionário jurídico de bolso, 1. a ed., Campinas, São Paulo: Bo-
okseller; 2000.
3. Conselho Federal de Medicina. Código de ética médica, resolução CFM
1.216/1988. Código de processo ético-profissional, resolução CFM
1.617/2001, 6. a ed., 2.a tiragem, Distrito Federal: Teixeira Gráfica e Editora;
2001.
4. Conselho Regional de Medicina de Santa Catarina. Manual de orientação éti-
ca e disciplinar, s.d., parte III, os atestados médicos e as declarações de com-
parecimento, http://200.102.6.108/homepage/etica/sumario.htm, acessado em
2-9-2007).
5. Conselho Regional de Medicina do Distrito Federal. Consultas, vol. 1, 2. a ed.,
Brasília: WMoura Editora; 2003.
6. Conselho Regional de Medicina do Distrito Federal. Consultas, vol. 2, Bras í-
lia: Estação Gráfica; 2001.
7. Conselho Regional de Medicina do Distrito Federal. Consultas, vol. 3, Bras í-
lia: WMoura Editora; 2006.
8. Conselho Regional de Medicina do Distrito Federal. Consultas, vol. 4, Brasí-
lia: Repro-Set; 2003.
9. Conselho Federal de Medicina, Pareceres 1998 2003, Brasília: Via Brasil
Consultoria e Marketing; 2004.
10. Conselho Federal de Medicina. Pareceres 1998 2003, Brasília: Via Brasil
Consultoria e Marketing; 2004.
11. Conselho Regional de Medicina do Distrito Federal. Prontuário médico do
paciente, Brasília: Starprint, 2006.
12. Coutinho LM. Código de Ética Médica comentado. 4. a ed., Florianópolis:
OAB/SC; 2004.
13. Ferreira AG. Dicionário de latim-português, Porto, Portugal: Porto Editora;
1996.
14. Formiga Filho JFN, Rocha MNC. Declaração de óbito, Ética Revista
2005;3(6):10-1.
15. Organização Pan-americana da Saúde, Organização Mundial da Saúde. CID-
10, Classificação estatística internacional de doenças e problemas relaciona-
dos à saúde, 10.a revisão, Vol. I, São Paulo: EDUSP; 2000.
16. França GV. Direito médico, 8. a ed., São Paulo: Byk; 2003.
17. http://www.portalmedico.org.br/pareceres/cfm/1999/44_1999, acessado em
22-4-07.
18. Manzini V. Trattato di diritto penale italiano. Turim: Lex; 1946. p. 798.
19. Ministério da Saúde, Conselho Federal de Medicina. Declaração de óbito: do-
cumento necessário e importante, Brasília: Ministério da Saúde; 2006.

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71

20. Vieira CFC. Fornecimento de atestado médico. Anais e Programa do II Con-


gresso de Ética Médica do Distrito Federal. Brasília: Conselho Regional do
DF; 2007. p. 52-53.

ÍNDICE ALFABÉTICO

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PARECER CFM nº 36/16
INTERESSADO: Infraero

ASSUNTO: Atestado Médico poder ser tratado como documento


administrativo.

RELATOR: Cons. Rosylane Nascimento das Mercês Rocha

EMENTA: O atestado médico não é um mero


documento administrativo com acesso irrestrito, o que
configuraria flagrante exposição da privacidade e da
intimidade do trabalhador em ofensa à Constituição
Brasileira e ao Código de Ética Médica, devendo ser
tratado como sigiloso, obrigando a quem o maneja a
guardar sigilo nos termos da constituição e da lei.

DA CONSULTA
A Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária - Infraero possui
empregados em diversas localidades do Brasil e, dentro de sua rotina administrativa,
recebe destes empregados atestados médicos de saúde para fins de justificativa de
falta ao trabalho e consequente abono de frequência ao serviço.
Sobre o tema, solicitamos o cordial apoio de V.Sa. em esclarecer a
esta Empresa se o atestado médico original entregue pelo empregado, em que
conste ou não o CID, pode ser tratado como documento administrativo, sem
necessidade de atribuição como documento de acesso restrito.
Consulto ainda, se existe óbice quanto ao processo de sigilo médico
caso o referido atestado tramite pelas áreas de recursos humanos para o
procedimento de abono de faltas, área de serviço social para cumprimento de
legislação previdenciária, ou ainda, pela área jurídica para subsídios de resposta a
processos trabalhistas.

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DO PARECER
Em síntese, trata-se de solicitação de manifestação deste egrégio
conselho sobre o entendimento da instituição consulente acerca da possibilidade do
atestado médico original entregue pelo empregado, em que conste ou não a CID
(Classificação Internacional de Doenças), poder ser tratado como documento
administrativo, sem necessidade de tratamento como documento de acesso restrito.
O tema sigilo médico está umbilicalmente ligado ao princípio da
dignidade da pessoa humana, tendo em vista que a devassa de tais informações
terá força suficiente para expor a intimidade do individuo, já que qualquer pessoa
poderá pesquisar seu estado de saúde, na internet, por meio da identificação da
CID.
A Constituição Cidadã de 1988 em seu Art. 5o, Inciso X assim
resguardou a privacidade e o sigilo:
X - são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem
das pessoas, assegurado o direito à indenização pelo dano material
ou moral decorrente de sua violação.

O Código Penal Brasileiro (Lei no 2.848/40), a seu turno, determinou a


guarda do sigilo por meio do Art.154:

Art. 154 - Revelar alguém, sem justa causa, segredo, de que tem
ciência em razão de função, ministério, ofício ou profissão, e cuja
re ela o possa produ ir dano a outrem ( )

O Código de Ética Médica instituído pela Resolução CFM nº


1.931/2009 destinou um capítulo inteiro (Capítulo X) ao sigilo médico, sagrado
instituto hipocrático, além, de resoluções e diversos pareceres atinentes ao tema em
apreço.
Quanto ao atestado médico, este é parte integrante do ato médico,
sendo seu fornecimento direito inalienável do paciente, devendo o médico registrar
em ficha própria e/ou prontuário médico os dados dos exames e tratamentos
realizados, de maneira que possa atender às pesquisas de informações dos

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médicos peritos das empresas ou dos órgãos públicos da Previdência Social e da
Justiça.
Na elaboração do atestado médico, o médico assistente deverá seguir
o disposto na Resolução CFM nº 1658/2002 (alterada pela Resolução CFM nº
1851/2008), estabelecendo o diagnóstico com aposição de CID, somente mediante
autorização expressa, por escrito, do paciente.
Neste sentido, esclarecemos à saciedade que o atestado médico não
pode ser considerado um mero documento administrativo, com acesso irrestrito, sob
pena de expor a privacidade e a intimidade do trabalhador ao arrepio da
Constituição Brasileira e ao Código de Ética Médica.
O atestado médico, quando fornecido e utilizado para fins de
justificação de falta do empregado junto a seu empregador deve seguir os ditames
da lei n° 605, de 05 de janeiro de 1949, que entre outras disposições, regulamentou
em seu Art. 6°, §2° a ausência ao trabalho por motivo de doença, devidamente
comprovada:
Art. 6° ( )
§2° - A doença será comprovada mediante atestado de médico da
instituição da Previdência Social a que estiver filiado o empregado, e,
na falta deste, e sucessivamente, de médico do Serviço Social do
Comércio ou da Indústria; de médico de empresa ou por ela
designado; de médico a serviço de repartição federal, estadual e
municipal, incumbida de assuntos de higiene ou de saúde pública; ou
não existindo estes na localidade em que trabalhar, de médico de
sua escolha.

Neste diapasão, nas ações judiciais, os atestados médicos e demais


documentos ausentes e considerados importantes para defesa da parte, poderão ser
solicitados em petição ao juízo para que o perito médico tenha acesso ao prontuário
do trabalhador.
Consoante a área de serviço social para cumprimento de legislação
previdenciária, o trabalho será realizado com base no relatório do médico da
empresa e/ou de próprio expediente oriundo daquela autarquia.

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DA CONCLUSÃO

Não há sustentação legal para que o atestado médico seja tratado


como mero documento administrativo com acesso irrestrito, o que configuraria
flagrante exposição da privacidade e da intimidade do trabalhador em ofensa à
Constituição Brasileira e ao Código de Ética Médica. Como tal, todos que lidam com
as informações nele contido estão presos ao sigilo, que deixa de ser apenas médico
para ser também documental.

Este é o parecer, SMJ.

Brasília, 29 de setembro de 2016.

ROSYLANE NASCIMENTO DAS MERCÊS ROCHA


Conselheira Relatora

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RESOLUÇÃO CFM n.º 1.658/2002
(Publicada no D.O.U. de 20 de dezembro de 2002, Seção I, pg. 422)

(Alterada pela Resolução CFM nº 1851/2008)

Normatiza a emissão de atestados médicos e


dá outras providências.

O Conselho Federal de Medicina, no uso das atribuições conferidas pela Lei n.º 3.268, de
30 de setembro de 1957, regulamentada pelo Decreto nº 44.045, de 19 de julho de 1958,
e

CONSIDERANDO a necessidade de regulamentação de aspectos relacionados ao


atestado médico;

CONSIDERANDO que o ser humano deve ser o principal alvo da atenção médica;

CONSIDERANDO o que preceitua a Lei nº 605, de 5 de janeiro de 1949, no parágrafo 2º


de seu artigo 6º, referindo-se à comprovação de doença;

CONSIDERANDO o que determina a Lei nº 8.112, de 11 de dezembro de 1990, acerca


de licença - para tratamento de saúde, licença à gestante, licença-paternidade, licença por
acidente em serviço e licença por motivo de doença em pessoa da família;

CONSIDERANDO o definido no Decreto nº 3.048/99, alterado pelos Decretos nºs


3.112/99 e 3.265/99, que aprova o Regulamento da Previdência Social e dá outras
providências;

CONSIDERANDO os artigos 38, 44, 45 e 142 do Código de Ética Médica;

CONSIDERANDO que o artigo 8º do Código de Ética Médica determina que o médico


não pode submeter-se a restrições ou imposições que possam prejudicar a eficácia e a
correção de seu trabalho;

CONSIDERANDO que é vedado ao médico atestar falsamente sanidade ou atestar sem o


exame direto do paciente;

CONSIDERANDO que o profissional que faltar com a verdade nos atos médicos
atestados, causando prejuízos às empresas, ao governo ou a terceiros, está sujeito às
penas da lei;

CONSIDERANDO que as informações oriundas da relação médico-paciente pertencem


ao paciente, sendo o médico apenas o seu fiel depositário;

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CONSIDERANDO que o ordenamento jurídico nacional prevê situações excludentes do
segredo profissional;

CONSIDERANDO que somente os médicos e odontólogos têm a prerrogativa de


diagnosticar enfermidades e emitir os correspondentes atestados;

CONSIDERANDO ser indispensável ao médico identificar o paciente ao qual assiste;

CONSIDERANDO as Resoluções CFM nºs 982/79, 1.484/97 e 1.548/99 e resoluções dos


Conselhos Regionais de Medicina dos estados de Goiás, Amazonas, Alagoas, Rio de
Janeiro, São Paulo, Rio Grande do Norte, Minas Gerais, Bahia e Distrito Federal;

CONSIDERANDO, finalmente, o decidido na Sessão Plenária de 13.12.2002,

RESOLVE:

Art. 1º O atestado médico é parte integrante do ato médico, sendo seu fornecimento
direito inalienável do paciente, não podendo importar em qualquer majoração de
honorários.

Art. 2º Ao fornecer o atestado, deverá o médico registrar em ficha própria e/ou prontuário
médico os dados dos exames e tratamentos realizados, de maneira que possa atender às
pesquisas de informações dos médicos peritos das empresas ou dos órgãos públicos da
Previdência Social e da Justiça.

Art. 3º Na elaboração do atestado médico, o médico assistente observará os seguintes


procedimentos:

I - especificar o tempo concedido de dispensa à atividade, necessário para a recuperação


do paciente;
II - estabelecer o diagnóstico, quando expressamente autorizado pelo paciente;
III - registrar os dados de maneira legível;
IV - identificar-se como emissor, mediante assinatura e carimbo ou número de registro no
Conselho Regional de Medicina.

Parágrafo único. Quando o atestado for solicitado pelo paciente ou seu representante
legal para fins de perícia médica deverá observar:

I - o diagnóstico;
II - os resultados dos exames complementares;
III - a conduta terapêutica;
IV - o prognóstico;
V - as conseqüências à saúde do paciente;
VI - o provável tempo de repouso estimado necessário para a sua recuperação, que
complementará o parecer fundamentado do médico perito, a quem cabe legalmente a

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decisão do benefício previdenciário, tais como: aposentadoria, invalidez definitiva,
readaptação;
VII - registrar os dados de maneira legível;
VIII - identificar-se como emissor, mediante assinatura e carimbo ou número de registro
no Conselho Regional de Medicina. (Redação aprovada pela Resolução CFM nº 1851/2008)

Redação anterior:
Art. 3º Na elaboração do atestado médico, o médico assistente observará os seguintes procedimentos:
a. especificar o tempo concedido de dispensa à atividade, necessário para a completa recuperação do paciente;
b. estabelecer o diagnóstico, quando expressamente autorizado pelo paciente;
c. registrar os dados de maneira legível;
d. identificar-se como emissor, mediante assinatura e carimbo ou número de registro no Conselho Regional de
Medicina.

Art. 4º É obrigatória, aos médicos, a exigência de prova de identidade aos interessados


na obtenção de atestados de qualquer natureza envolvendo assuntos de saúde ou
doença.

§ 1º Em caso de menor ou interdito, a prova de identidade deverá ser exigida de seu


responsável legal.

§ 2º Os principais dados da prova de identidade deverão obrigatoriamente constar dos


referidos atestados.

Art. 5º Os médicos somente podem fornecer atestados com o diagnóstico codificado ou


não quando por justa causa, exercício de dever legal, solicitação do próprio paciente ou
de seu representante legal.

Parágrafo único No caso da solicitação de colocação de diagnóstico, codificado ou não,


ser feita pelo próprio paciente ou seu representante legal, esta concordância deverá estar
expressa no atestado.

Art. 6º Somente aos médicos e aos odontólogos, estes no estrito âmbito de sua profissão,
é facultada a prerrogativa do fornecimento de atestado de afastamento do trabalho.

§ 1º Os médicos somente devem aceitar atestados para avaliação de afastamento de


atividades quando emitidos por médicos habilitados e inscritos no Conselho Regional de
Medicina, ou de odontólogos, nos termos do caput do artigo.

§ 2º O médico poderá valer-se, se julgar necessário, de opiniões de outros profissionais


afetos à questão para exarar o seu atestado.

§ 3º O atestado médico goza da presunção de veracidade, devendo ser acatado por


quem de direito, salvo se houver divergência de entendimento por médico da instituição
ou perito.

§ 4º Em caso de indício de falsidade no atestado, detectado por médico em função


pericial, este se obriga a representar ao Conselho Regional de Medicina de sua jurisdição.

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Art. 7º O determinado por esta resolução vale, no que couber, para o fornecimento de
atestados de sanidade em suas diversas finalidades.

Art. 8º Revogam-se as Resoluções CFM nºs. 982/79, 1.484/97 e 1.548/99, e as demais


disposições em contrário.

Art. 9º Esta resolução entra em vigor na data de sua publicação

Brasília, 13 de dezembro de 2002.

EDSON DE OLIVEIRA ANDRADE RUBENS DOS SANTOS SILVA


Presidente Secretário-Geral

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PROCESSO Nº TST-RO-268-11.2014.5.12.0000

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A C Ó R D Ã O
(SDC)
GMMCP/rss/rom

RECURSO ORDINÁRIO - AÇÃO ANULATÓRIA


CLÁUSULA 39 – ATESTADO MÉDICO –
EXIGÊNCIA DE PREVISÃO DA CID
A exigência da CID nos atestados
estipulada por norma coletiva obriga o
trabalhador a divulgar informações
acerca de seu estado de saúde sempre que
exercer o seu direito - garantido pelo
a . 6 , 1 , f , da Lei 605/1949
- de justificar a ausência no trabalho
por motivo de doença comprovada. Essa
exigência, por si só, viola o direito
fundamental à intimidade e à
privacidade do trabalhador, sobretudo
por não existir, no caso, necessidade
que decorra da atividade profissional.
Recurso Ordinário conhecido e
desprovido.

Vistos, relatados e discutidos estes autos de Recurso


Ordinário n° TST-RO-268-11.2014.5.12.0000, em que é Recorrente SINDICATO
DAS EMPRESAS DE ASSEIO, CONSERVAÇÃO E SERVIÇOS TERCEIRIZADOS DO ESTADO
DE SANTA CATARINA e são Recorridos MINISTÉRIO PÚBLICO DO TRABALHO DA 12ª
REGIÃO, SINDICATO DOS VIGILANTES E EMPREGADOS EM EMPRESAS DE SEGURANÇA
E VIGILÂNCIA, PRESTADORAS DE SERVIÇOS DE ASSEIO E CONSERVAÇÃO E DE
TRANSPORTE DE VALORES DE JOAÇABA E REGIÃO E OUTROS e FEDERAÇÃO DOS
VIGILANTES E EMPREGADOS EM EMPRESAS DE SEGURANÇA E VIGILÂNCIA,
PRESTADORAS DE SERVIÇO, ASSEIO E CONSERVAÇÃO E DE TRANSPORTE DE VALORES
DE SANTA CATARINA.

O D. Ministério Público do Trabalho da 12ª Região


ajuizou Ação Anulatória contra o Sindicato das Empresas de Asseio,
Conservação e Serviços Terceirizados do Estado de Santa Catarina
SEAC/SC e Outros.
O Eg. Tribunal Regional do Trabalho da 12ª Região, em
acórdão de fls. 209/229, julgou procedente a Ação Anulatória.

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O Sindicato das Empresas de Asseio, Conservação e
Serviços Terceirizados do Estado de Santa Catarina SEAC/SC interpõe
Recurso Ordinário, às fls. 231/245.
Despacho de admissibilidade, à fl. 251.
Contrarrazões, às fls. 255/264.
A intervenção do Ministério Público dispensa o parecer
(art. 83, IV, da Lei Complementar nº 75/93).
É o relatório.

V O T O

I – CONHECIMENTO

Atendidos os requisitos extrínsecos de


admissibilidade tempestividade (fl. 250), regularidade de
representação (fls. 133) e preparo (fls. 229 e 246) , conheço do Recurso.

II – MÉRITO

1 – CLÁUSULA 39 – ATESTADO MÉDICO – EXIGÊNCIA DE


PREVISÃO DA CID

O Eg. TRT da 12ª Região decretou a nulidade da cláusula


39 da convenção coletiva de trabalho, que obriga que os atestados médicos
apresentados pelos empregados contenham a CID Classificação
Internacional de Doenças, com base nos seguintes fundamentos:

1. Ação anulatória. Exigência de indicação do CID nos atestados


médicos
O Ministério Público do Trabalho pretende a declaração de nulidade da
cláusula 39 (trinta e nove) da convenção coletiva de trabalho celebrada pelos réus,
com vigência no período de 1º de janeiro de 2014 a 31 de dezembro de 2014,
registrada no MTE sob o nº SC000123/2014, que apresenta a seguinte redação:
CLÁUSULA TRIGÉSIMA NONA - ATESTADOS MÉDICOS
Os atestados médicos apresentados pelos empregados deverão
conter o CID Código Internacional de Doenças, independentemente
de serem particulares ou emitidos por médicos do SUS.

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Sustenta que a cláusula transcrita extrapola o âmbito da negociação coletiva,
uma vez que afronta a legislação vigente.
Refere que o código de ética médica, aprovado pela Resolução nº 1.931/2009
do Conselho Federal de Medicina, estabelece, no item XI, que "O médico guardará
sigilo a respeito das informações de que detenha conhecimento no desempenho de
suas funções, com exceção dos casos previstos em lei". Ainda, ressalta que o código
veda ao médico "Revelar o fato de que tenha conhecimento em virtude do exercício
de sua profissão, salvo por justa causa, dever legal ou autorização expressa do
paciente".
Invoca, também, o art. 5º da Resolução do CFM nº 1.658/2002 (que
normatiza a emissão de atestados médicos e dá outras providências) cujo teor
estabelece que "Os médicos somente podem fornecer atestados com o diagnóstico
codificado ou não quando por justa causa, exercício de dever legal, solicitação do
próprio paciente ou de seu representante legal".
Ainda, faz referência ao teor da Resolução do CFM de nº 1.488/1998 e,
também, de nº 1.819/2007, que, em seu art. 1º, resolve:
(...) Vedar ao médico o preenchimento, nas guias de consulta e
solicitação de exames das operadoras de planos de saúde, dos campos
referentes à Classificação Internacional de Doenças (CID) e tempo de
doença concomitantemente com qualquer outro tipo de identificação
do paciente ou qualquer outra informação sobre diagnóstico, haja vista
que o sigilo na relação médico-paciente é um direito inalienável do
paciente, cabendo ao médico a sua proteção e guarda.
O autor pretende demonstrar que a ética médica alça o sigilo de diagnóstico
ao patamar das garantias inafastáveis da relação médico/paciente, de forma a
salvaguardar o direito fundamental da inviabilidade à intimidade, inserto no art. 5º,
X, da Constituição da República.
Argumenta o Ministério Público do Trabalho que, nas relações de trabalho,
além de promover a exposição da intimidade do trabalhador, a exigência de CID nos
atestados médicos, que visam à justificação de afastamentos, pode se prestar,
também, a fins abusivos e discriminatórios, promovendo, por exemplo, a
segregação do empregado acometido por alguma doença estigmatizante.
Frisa que não há permissão legal para a inserção do CID nos atestados
médicos e que estes gozam de presunção de veracidade, "devendo ser acatado por
quem de direito, salvo se houver divergência de entendimento por médico da
instituição ou perito", nos moldes do art. 6º, 3º, da Resolução nº 1.658/2002 do
CFM.
Colaciona arestos jurisprudenciais para amparar a sua tese.
O primeiro réu defende a validade da cláusula ao argumento de que as
convenções coletivas de trabalho traduzem a vontade das partes. Pondera que a
violação do direito a intimidade, disposto no art. 5º, X, da Constituição da
República, somente ocorreria pela divulgação por parte do empregador do
diagnóstico do empregado acometido por alguma doença. Aduz que o fato de conter
a CID no atestado médico, por si só, não fere o direito constitucional a intimidade,
bem como não gera qualquer dano ao empregado. Ainda, defende que não haver
afronta às normas do Conselho Federal de Medicina, porquanto a anotação da CID
se daria no interesse do empregado, com base em norma coletiva firmada pelos
representantes dos empregados e empregadores. Sustenta que a possibilidade do
empregado gozar o benefício previdenciário está diretamente atrelada à
identificação da doença através da CID. Destaca que a exigência da CID em
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atestado médico se justifica pela proteção ao trabalhador, tendo em vista que a
doença que o acomete poderia até mesmo vir a ter relação com o ambiente de
trabalho.
O princípio da autonomia da vontade coletiva, consagrado no art. 7º, XXVI,
da CF/88, não é absoluto, mas subordinado à lei.
A instituição de cláusula em que se estabelece a obrigação de o atestado
médico apresentado pelo empregado conter a indicação do CID (classificação
internacional de doenças), porque viola o direito de intimidade, configura afronta ao
art. 5º, inc. X, da Constituição da República.
Diante disso, as Resoluções expedidas pelo Conselho Regional de Medicina
orientam os médicos no sentido de não colocarem o CID nos atestados médicos, a
não ser mediante expressa autorização do paciente (Resoluções de nºs 1.658/2002 e
1.851/2008), vedando, ainda sua aposição nas guias de consulta e solicitação e
exames (Resolução nº 1.819/2007).
Há de se destacar que os atestados médicos apresentados pelos empregados,
para fins de abonos de faltas, contêm regulamentação própria e possuem presunção
de veracidade relativa, conforme se infere dos termos da Resolução nº 1.658/2002
do CFM, não podendo ser recusados. No caso de impugnação quanto à
autenticidade e validade do documento, incumbe à empregadora confirmá-lo,
podendo, inclusive, requisitar a instauração do competente inquérito policial e/ou
procedimento administrativo disciplinar, perante o Conselho Regional de Medicina.
Nesse sentido, cito PARECER Nº 1828/2007 CRM-PR:
O atestado médico é contemplado no Código de Ética Médica
em seus artigos 110 a 117, pela Resolução 1658/2002 do CFM, pelo
Parecer CFM 19/88 e Parecer CREMEC 10/2004
Da leitura deste material, contemplando o questionamento
referido, relacionam-se os seguintes argumentos para formular a
conclusão:
O atestado médico é parte integrante do ato médico, sendo seu
fornecimento direito inalienável do paciente. Ao fornecer o atestado,
deverá o médico registrar em ficha própria e/ou prontuário médico os
dados dos exames e tratamentos realizados para eventuais consultas de
médicos peritos das empresas ou dos órgãos públicos da Previdência
Social e da Justiça.. É obrigatória, aos médicos, a exigência de prova
de identidade aos interessados na obtenção de atestados médicos. Os
médicos somente podem fornecer atestados com o diagnóstico
codificado ou não quando por justa causa, exercício de dever legal,
solicitação do próprio paciente ou de seu representante legal. No caso
de solicitação de colocação do diagnóstico, codificado ou não, ser feita
pelo próprio paciente ou seu representante legal, esta concordância
deverá estar expressa no atestado. O atestado médico goza da
presunção da veracidade devendo ser acatado por quem de direito,
salvo se houver divergência de entendimento por médico da instituição
ou perito. Segundo o Parecer CFM 19/88, a exigência de Diagnóstico
Codificado, conforme o CID, inicialmente prevista pela Portaria
3291/1984 do Ministério Previdência e Assistência Social (MPAS)
fere os princípios mais elementares da Ética Médica, além de colocar o
profissional na condição de infrator por delito de violação do segredo
profissional, tipificado no art. 154 do Código Penal vigente. (grifei)

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(CONSELHO REGIONAL DE MEDICINA DO PARANÁ, 2007,
disponível em: . Acesso em 29.09.2014).
A alegação de que a exigência do CID busca proteger a saúde do empregado
não se mostra razoável e eficaz na prática, uma vez que essa prevenção poderá se
efetivar, com maiores chances de sucesso, por meio de exames médicos regulares
como o admissional, periódico e demissional, além de campanhas educativas que
podem ser promovidas no ambiente de trabalho para a conscientização da
importância da prevenção com os cuidados da saúde. Outrossim, o programa de
prevenção de riscos ambientais (PPRA) e o programa de controle médico de saúde
ocupacional (PCMSO) têm importante função na busca de garantir a saúde do
empregado. Logo, não se justifica a conduta defendida pelo primeiro réu porquanto
se traduz em ofensa a direito constitucionalmente assegurado.
Quanto à suposta necessidade de identificação da doença para fins de
concessão de benefícios previdenciários, como bem colocou o Ministério Público
do Trabalho, a legislação previdenciária condiciona a percepção do auxílio-doença
ao diagnóstico da doença, por meio do exame pericial realizado pelo INSS, não se
mostrando necessária a identificação da moléstia nos atestados médicos
apresentados pelos empregados que visam apenas justificar as faltas ao trabalho.
Sobre a matéria em exame, cito o julgado:
INDENIZAÇÃO POR DANO MORAL COLETIVO.
EXIGÊNCIA DE ATESTADOS COM INDICAÇÃO DO CID.
VIOLAÇÃO À INTIMIDADE DO EMPREGADO. O atestado
médico é o meio hábil para abonar faltas ao serviço, possuindo
presunção de veracidade relativa, a qual pode ser investigada mediante
instauração de inquérito policial e representação ao Conselho Regional
de Medicina, sendo que a exigência, pelo empregador, de indicação da
doença no documento, afronta interesses coletivos, na medida em que
viola a intimidade dos empregados, impondo-se a condenação ao
pagamento de indenização por danos morais (TRT-2 - RO:
14869520125020 SP 00014869520125020041 A28, Relator: SONIA
MARIA PRINCE FRANZINI, Data de Julgamento: 06/08/2013, 3ª
TURMA, Data de Publicação: 13/08/2013).
Assim, impõe-se acolher a pretensão do Ministério Público do Trabalho para
que seja declarada a nulidade da cláusula 39 (trinta e nove) da convenção coletiva de
trabalho 2014/2014 firmada pelos réus.
Julgo procedente a ação para declarar a nulidade da cláusula 39 (trinta e nove)
da convenção coletiva de trabalho firmada pelos réus, com vigência de 1º de janeiro
de 2014 a 31 de dezembro de 2014 e registrada no Ministério do Trabalho e
Emprego sob o nº SC000123/2014. (fls. 211/214 grifos
acrescidos)

No Recurso Ordinário, o Recorrente afirma que a


cláusula em tela visa à saúde e segurança do trabalhador, que supostamente
não sofrerá nenhum prejuízo. Alega que o sigilo do médico pode ser
mitigado por justa causa, dever legal ou autorização do paciente,
hipóteses que autorizariam a vigência da cláusula. Assevera que isso
permitiria ao empregador ter a ciência da condição de saúde do empregado,
Firmado por assinatura digital em 18/08/2015 pelo sistema AssineJus da Justiça do Trabalho, conforme MP
2.200-2/2001, que instituiu a Infra-Estrutura de Chaves Públicas Brasileira.

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podendo adotar medidas necessárias a seu bem-estar. Sustenta que a norma
coletiva seria uma autorização dos empregados para que o médico preceitue
a CID no atestado. Afirma que as normas coletivas deveriam prevalecer
sobre as Resoluções do Conselho Federal de Medicina - CFM. Alega que a
violação à intimidade ocorreria apenas se divulgado o diagnóstico pelo
empregador. Assevera que os programas de prevenção de doenças não são
os únicos que asseguram a saúde do empregado. Sustenta que o
encaminhamento previdenciário pela empresa depende de prévia ciência da
CID. Alega que o acórdão regional viola a livre autonomia da negociação
coletiva, pois a cláusula beneficiaria tanto os empregadores quanto os
trabalhadores. Assevera que a cláusula não deve ser analisada
isoladamente, mas sim considerando seu conjunto, pelo princípio do
conglobamento. Aponta violação aos arts. 6º e 7º, XXVI, da Constituição
da República, 3º da Resolução nº 1.851/2008 do CFM e à Resolução nº
1.931/2009 do CFM. Colaciona arestos.
A Constituição da República, em seu artigo 5º, X,
garante a inviolabilidade da intimidade e da vida privada das pessoas,
mandamento que projeta seus efeitos também para as relações de trabalho.
O empregado é titular do direito fundamental à
intimidade e à privacidade por expressa disposição constitucional, que
deve ser respeitada pelo empregador. É direito do trabalhador o resguardo
de informações pessoais, como aquelas relativas à sua saúde.
Amauri Mascaro Nascimento, no livro Curso de Direito
do Trabalho, discorre sobre a intimidade e a privacidade nas relações
de trabalho:

O trabalhador e o empregador devem guardar sigilo quanto à intimidade da


vida privada. O direito à reserva da intimidade da vida privada abrange o acesso, a
divulgação de aspectos da esfera íntima e pessoal e da vida familiar, afetiva e
sexual, o estado de saúde e as convicções políticas e religiosas. (...) O
empregador não pode exigir do candidato a emprego ou dos empregados que
prestem informações relativas à sua vida privada, à sua saúde, salvo quando
particulares exigências inerentes à natureza da atividade profissional o justifiquem
ou forem estritamente necessárias e relevantes para a avaliação da sua aptidão para
o trabalho. (...) (Curso de Direito do Trabalho: história e
teoria geral do direito do trabalho, relações individuais
e coletivas do trabalho, 27. ed., São Paulo: Saraiva, p.
779/780)

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Tribunal Superior do Trabalho fls.7

PROCESSO Nº TST-RO-268-11.2014.5.12.0000

Este documento pode ser acessado no endereço eletrônico http://www.tst.jus.br/validador sob código 1000FA8AE00EE4F398.
A exigência da CID nos atestados estipulada por norma
coletiva obriga o trabalhador a divulgar informações acerca de seu estado
de saúde sempre que exercer o seu direito - garantido pelo art. 6º, §
1 , f , da Lei nº 605/1949 - de justificar a ausência no trabalho por
motivo de doença comprovada.
Essa exigência, por si só, viola o direito fundamental
à intimidade e à privacidade do trabalhador, sobretudo por não existir,
no caso, necessidade que decorra da atividade profissional.
A Resolução nº 1.685/2002 do CFM, que normatiza a
emissão de atestados médicos, preceitua no art. 3º, II, alterado pela
Resolução nº 1.851/2008 do CFM, que a previsão do diagnóstico no documento
em questão depende de autorização expressa do paciente.
O art. 5º da mencionada Resolução reforça essa
disposição ao afirmar que os médicos só podem fornecer atestados com a
previsão do diagnóstico em três hipóteses: justa causa, dever legal e
solicitação do paciente. Entretanto, o caso em tela não evidencia a
configuração de nenhuma dessas hipóteses.
Não se pode falar em autorização do paciente por meio
da norma coletiva, pois os já mencionados arts. 3º, II, e 5º da Resolução
nº 1.685/2002 do CFM exigem a autorização do próprio paciente, justamente
em virtude de a saúde estar relacionada a aspectos da intimidade e
personalidade de cada indivíduo.
No próprio âmbito da Medicina, a obrigatoriedade da
previsão da CID em atestado é vista como prejudicial ao trabalhador. Nesse
sentido, Genival Veloso de França, ao analisar a figura do atestado médico
oficial:

(...) nosso en endimen o q e a obriga oriedade do diagn s ico


codificado , no a es ado m dico oficial, em vez de proteger o trabalhador, cria-lhe
uma situação de constrangimento e, ao ser relatado o seu mal, mesmo em código,
suas relações no emprego são prejudicadas, pela revelação de suas condições de
sanidade, principalmente se é ele portador de uma doença cíclica que o afastará
outras vezes do trabalho. (...) Concluindo, podemos afirmar que a indicação do
diagnóstico em atestados ou outros documentos médicos, de forma declarada ou
pelo CID, constitui infração aos princípios éticos que orientam o exercício
profissional, a não ser que expressamente autorizada pelo paciente, por justa causa

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PROCESSO Nº TST-RO-268-11.2014.5.12.0000

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ou por dever legal. (Direito Médico, 11. ed., Rio de Janeiro:
Forense, 2013, p. 123 grifos acrescidos)

Não há conflito entre norma coletiva e Resolução, mas


entre norma coletiva e disposição constitucional que protege a intimidade
e privacidade dos trabalhadores, razão pela qual a cláusula 39 da
convenção coletiva de trabalho não deve prevalecer.
A imposição constitucional de reconhecimento das
convenções e acordos coletivos de trabalho, oriunda do art. 7º, XXVI,
não concede liberdade negocial absoluta para os sujeitos coletivos, que
devem sempre respeitar certos parâmetros protetivos das relações de
trabalho e do próprio trabalhador.
Um desses parâmetros é a tutela da intimidade e
privacidade do empregado.
Nesse contexto, não deve prosperar o argumento do
Recorrente de que a cláusula em questão não pode ser analisada
isoladamente, mas sim considerando todo o conjunto da convenção coletiva
com base no princípio do conglobamento.
Isso porque esta C. SDC entende ser possível a anulação
de uma única cláusula de norma coletiva, em atenção aos aludidos
parâmetros protetivos das relações trabalhistas. Eis alguns precedentes:

RECURSO ORDINÁRIO EM AÇÃO ANULATÓRIA. PARTICIPAÇÃO


NOS LUCROS E RESULTADOS. CLÁUSULA CONSTANTE DA
CONVENÇÃO COLETIVA DE TRABALHO 2011/2012 DOS
TRABALHADORES EM TRANSPORTES AQUAVIÁRIOS DO ESTADO DO
ESPÍRITO SANTO. (...) 4. IMPOSSIBILIDADE DE NULIDADE DE UMA
ÚNICA CLÁUSULA CONVENCIONAL. TEORIA DO CONGLOBAMENTO.
Esta Corte tem mantido, de forma irredutível, seu posicionamento no sentido de que
o reconhecimento constitucional da validade dos instrumentos normativos não
implica ampla e irrestrita liberdade às partes para flexibilização de direitos.
Ademais, entende que a concessão de certas vantagens em determinadas cláusulas
não justifica o estabelecimento de outras normas que suprimem ou reduzem direitos
do trabalhador, legalmente previstos. Nego provimento ao recurso. (...) (RO -
2000-57.2012.5.17.0000, Relatora Ministra Dora Maria da
Costa, SDC, DEJT 19/12/2014 grifos acrescidos)

(...) B) RECURSO ORDINÁRIO INTERPOSTO, NA FORMA


ADESIVA, POR SOBRARE - SERVEMAR LTDA. E OUTROS.
IMPOSSIBILIDADE JURÍDICA DO PEDIDO DE NULIDADE DE UMA
ÚNICA CLÁUSULA CONVENCIONAL. FLEXIBILIZAÇÃO E TEORIA DO
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CONGLOBAMENTO. Não há, no ordenamento jurídico, qualquer vedação a que
sejam impugnadas, pela via judicial, cláusulas constantes de acordo ou convenção
coletiva de trabalho, cujas disposições tendem a se sobrepor às normas de ordem
pública ou que possam eventualmente desrespeitar princípios constitucionais
vigentes, estando o Ministério Público do Trabalho legitimado a fazê-lo, nos termos
dos arts. 127 da Constituição Federal, 7º, § 5º, da Lei nº 7.701/1988 e 83 da Lei nº
75/1993. Acrescenta-se que esta Corte tem mantido, de forma irredutível, seu
posicionamento no sentido de que o reconhecimento constitucional da validade dos
instrumentos normativos não implica ampla e irrestrita liberdade às partes para
flexibilização de direitos, e que a concessão de certas vantagens em determinadas
cláusulas não justifica o estabelecimento de outras normas que suprimem ou
reduzem direitos do trabalhador, legalmente previstos. Assim, não há falar em
impossibilidade jurídica do pedido. Recurso ordinário adesivo conhecido e não
provido. (RO - 50000-25.2011.5.17.0000, Relatora Ministra
Dora Maria da Costa, SDC, DEJT 15/5/2015)

Também não se pode argumentar que a exigência da CID


nos atestados médicos permitiria a ciência das empresas sobre a condição
de saúde do empregado. Como bem ressaltado no acórdão regional, o
bem-estar do trabalhador pode ser verificado por exames médicos
regulares, campanhas educativas e programas específicos que são
estimulados pela própria legislação.
Do mesmo modo, a concessão de benefícios
previdenciários não depende da identificação do diagnóstico da doença
pela empresa.
Ademais, os arestos acostados às fls. 236/238, que
buscam demonstrar a suposta necessidade de indicação da CID nos atestados
médicos, não devem ser considerados, pois dizem respeito à confissão
ficta de parte intimada que não comparece à audiência para depor e
apresenta atestado sem a previsão do diagnóstico da doença.
O mesmo deve ser dito quanto aos arestos de fls.
241/244, que não se referem a norma coletiva com cláusula que viole
direito fundamental à privacidade e à intimidade do trabalhador.
Por fim, esta C. Seção, em situação idêntica, já
declarou a nulidade de cláusula em acordo homologado por Tribunal
Regional que só reconhecia como válido o atestado com a indicação da CID,
in verbis:

RECURSO ORDINÁRIO. MINISTÉRIO PÚBLICO DO


TRABALHO. DISSÍDIO COLETIVO DE NATUREZA ECONÔMICA.
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HOMOLOGAÇÃO DE ACORDO. (...) CLÁUSULA VIGÉSIMA SEGUNDA.
ATESTADOS MÉDICOS E ODONTOLÓGICOS. EXIGÊNCIA DE
PREENCHIMENTO DO CID. A Constituição Federal elegeu a intimidade e a vida
privada como bens invioláveis. Trata-se, pois, de direito fundamental albergado no
art. 5.º, X, da Constituição Federal. A exigência de indicação expressa do CID nos
atestados médicos vai de encontro à referida diretriz constitucional, por se tratar de
ingerência na vida privada do cidadão. A cláusula 22.ª, tal como redigida, não se
coaduna com o Precedente Normativo n.º 81 desta Corte Superior, pois, além de
conter obrigação à margem da lei e da Constituição Federal, não contempla a
necessidade de convênio com a Previdência Social, no que se refere aos serviços
ofertados pelos sindicatos da categoria profissional. (...)
(RO-20238-58.2010.5.04.0000, Relatora Ministra Maria de
Assis Calsing, SDC, DEJT 19/10/2012)

Diante do exposto, nego provimento.

ISTO POSTO

ACORDAM os Ministros da Seção Especializada em


Dissídios Coletivos do Tribunal Superior do Trabalho, por unanimidade,
conhecer do Recurso Ordinário e, no mérito, por maioria, vencido o Exmo.
Ministro Ives Gandra da Silva Martins Filho, negar-lhe provimento.
Brasília, 17 de Agosto de 2015.

Firmado por assinatura digital (MP 2.200-2/2001)


MARIA CRISTINA IRIGOYEN PEDUZZI
Ministra Relatora

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A C Ó R D Ã O
SDC
KA/ks/pr

AÇÃO ANULATÓRIA. RECURSO ORDINÁRIO.


PRELIMINAR. ILEGITIMIDADE ATIVA AD
CAUSAM DO MINISTÉRIO PÚBLICO DO
TRABALHO. NÃO CONFIGURADA. Os arts. 127
da Constituição Federal, 83 da Lei
Complementar nº 75/93 e 7º, § 5º, da Lei
nº 7.701/88 definem a legitimidade e o
interesse de agir do Ministério Público
para propor as ações cabíveis para
declaração de nulidade de cláusula de
contrato, acordo coletivo ou convenção
coletiva que viole as liberdades
individuais ou coletivas ou os direitos
individuais indisponíveis dos
trabalhadores, bem como a faculdade de
interpor recurso contra acordo
formalizado e homologado pelo Tribunal.
Rejeita-se a preliminar. CLÁUSULA
TRIGÉSIMA SEXTA – ATESTADOS MÉDICOS E
ODONTOLÓGICOS. EXIGÊNCIA DE PREVISÃO DA
CID (CLASSIFICAÇÃO INTERNACIONAL DE
DOENÇAS). INVALIDADE. A Constituição da
República, em seu artigo 5º, X, garante
a inviolabilidade da intimidade, da
honra, da imagem e da vida privada das
pessoas, mandamento que projeta seus
efeitos também para as relações de
trabalho. Portanto, deve ser respeitada
pelo empregador. A exigência do
diagnóstico codificado nos atestados
médicos, estabelecida por norma
coletiva, obriga o trabalhador a
divulgar informações acerca de seu
estado de saúde, sempre que exercer o
seu direito de justificar a ausência no
trabalho, por motivo de doença
comprovada. Embora importante no
aspecto informativo, quanto ao
conhecimento por parte do empregador da
espécie da moléstia acometida ao
empregado, por outro lado, a exigência
em norma coletiva da codificação da
enfermidade nos atestados médicos fere
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direitos fundamentais. De acordo com o
Código de Ética Médica e com a Resolução
nº 1.658/2002, oriundas do Conselho
Federal de Medicina, é o próprio
paciente que deve autorizar a
identificação do diagnóstico. Isso se
deve ao fato de a saúde estar
relacionada a aspectos da intimidade e
personalidade de cada indivíduo.
Observa-se, no caso concreto, que o
conflito exposto não é entre norma
coletiva e Resoluções do Conselho
Federal de Medicina, mas entre norma
coletiva e preceitos constitucionais,
que protegem a intimidade e a
privacidade dos trabalhadores. A
imposição constitucional de
reconhecimento das convenções e acordos
coletivos de trabalho (art. 7º, XXVI)
não concede liberdade negocial absoluta
para os sujeitos coletivos, que devem
sempre respeitar certos parâmetros
protetivos das relações de trabalho e do
próprio trabalhador. Um desses
parâmetros é a tutela da intimidade e
privacidade do empregado. No caso,
forçoso reconhecer que a cláusula
negociada, que condiciona a validade de
atestados médicos e odontológicos à
indicação do CID (Classificação
Internacional de Doenças), afronta
normas reguladoras oriundas do Conselho
Federal de Medicina, bem como viola as
garantias constitucionais da
inviolabilidade da intimidade, vida
privada, honra e imagem (art. 5º, X, da
Constituição Federal). Recurso
ordinário a que se nega provimento.

Vistos, relatados e discutidos estes autos de Recurso


Ordinário n° TST-RO-213-66.2017.5.08.0000, em que é Recorrente SINDICATO
DOS TRABALHADORES NAS INDÚSTRIAS DE ALIMENTAÇÃO NOS ESTADOS DO PARÁ E
AMAPÁ e são Recorridos MINISTÉRIO PÚBLICO DO TRABALHO DA 8ª REGIÃO e
MERCÚRIO ALIMENTOS S.A.

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PROCESSO Nº TST-RO-213-66.2017.5.08.0000

Este documento pode ser acessado no endereço eletrônico http://www.tst.jus.br/validador sob código 1001F3FE2F7C1F2508.
O Ministério Público do Trabalho da 8ª Região ajuizou
ação anulatória, com pedido de liminar, visando a declaração de nulidade
da Cláusula Trigésima Sexta do Acordo Coletivo de Trabalho, com vigência
para o período 2016/2017, firmado entre o Sindicato dos Trabalhadores
nas Indústrias de Alimentação nos Estados do Pará e Amapá e Mercúrio
Alimentos S.A.
O Desembargador do Trabalho, Dr. Vicente Jose
Malheiros da Fonseca, deferiu o pedido liminar para que fosse imediatamente
suspensa a eficácia da CLÁUSULA TRIGÉSIMA SEXTA - ATESTADOS MÉDICOS E
ODONTOLÓGICOS do Acordo Coletivo de Trabalho 2016/2017 (Id ed99406), firmado entre o
SINDICATO DOS TRABALHADORES NA INDUSTRIA DA ALIMENTAÇÃO NO ESTADO DO
PARÁ E DO AMAPÁ e MERCURIO ALIMENTOS S/A, c f e f da e ; (...) ,
consoante os termos da decisão de fls. 23/27.
O Tribunal Regional do Trabalho da 8ª Região julgou
p oceden e a a o e decla o a nulidade da Cláusula Trigésima Sexta do Acordo Coletivo
de Trabalho 2016/2017 (Id. ed99406), firmado entre o SINDICATO DOS TRABALHADORES NAS
INDUSTRIAS DA ALIMENTAÇÃO NO ESTADO DO PARÁ E DO AMAPÁ e MERCURIO
FRIGORIFICO FABRIL E EXPORTADORA DE ALIMENTOS LTDA., e ratificar a liminar
concedida, sob Id. e393400. Custas pelos réus, na quantia de R$20,00 (vinte reais), calculadas sobre
valor de R$1.000,00 (um mil reais), dado à causa , no e mo do ac d o de fl .
139/144.
O Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias de
Alimentação nos Estados do Pará e Amapá interpôs recurso ordinário contra
a decisão do Tribunal Regional (fls. 160/164), que foi admitido pelo
despacho de fl. 169.
O Ministério Público do Trabalho da 8ª Região
apresentou contrarrazões, às fls. 176/183.
Dispensada remessa à Procuradoria-Geral do Trabalho.
É o relatório.

V O T O

1. CONHECIMENTO
Preenchidos os pressupostos recursais.
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PROCESSO Nº TST-RO-213-66.2017.5.08.0000

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Conheço.

2. MÉRITO
O Ministério Público do Trabalho da 8ª Região ajuizou
ação anulatória perante o TRT da 8ª Região visando a nulidade da Cláusula
Trigésima Sexta do Acordo Coletivo de Trabalho 2016/2017 firmado entre
o Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias de Alimentação nos Estados
do Pará e Amapá e Mercúrio Alimentos S.A.
O TRT de origem julgou procedente a ação anulatória
e declarou a nulidade da referida cláusula.
O Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias de
Alimentação nos Estados do Pará e Amapá interpôs recurso ordinário
arguindo preliminar de ilegitimidade ativa do Ministério Público do
Trabalho. E, no mérito, insurge-se contra a decisão do TRT que declarou
nula a Cláusula Trigésima Sexta do Acordo Coletivo de Trabalho.

2.1. PRELIMINAR. ILEGITIMIDADE ATIVA AD CAUSAM DO


MINISTÉRIO PÚBLICO DO TRABALHO
O recorrente argui a ilegitimidade do Ministério
Público do Trabalho para figurar no polo ativo da ação, uma vez que a
titularidade do direito pertence ao trabalhador.
Requer seja conhecida a ilegitimidade do MPT, ante a
inexistência de direito indisponível a ser defendido.
O recorrente não tem razão.
É evidente a legitimidade do Ministério Público do
Trabalho para a dedução da pretensão.
De fato, os arts. 127 da Constituição Federal, 83 da
Lei Complementar nº 75/93 e 7º, § 5º, da Lei nº 7.701/88, definem a
legitimidade e o interesse de agir do Ministério Público para propor as
ações cabíveis para declaração de nulidade de cláusula de contrato,
acordo coletivo ou convenção coletiva que viole as liberdades individuais
ou coletivas ou os direitos individuais indisponíveis dos trabalhadores,
bem como a faculdade de interpor recurso contra acordo formalizado e
homologado pelo Tribunal.
Nesse sentido, os seguintes precedentes desta Corte:
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PROCESSO Nº TST-RO-213-66.2017.5.08.0000

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"RECURSO ORDINÁRIO. AÇÃOANULATÓRIA.
ILEGITIMIDADEATIVA ad causam DO MINISTÉRIOPÚBLICODO
TRABALHO. No art. 83, inc. IV, da Lei Complementar nº 75, de
20/05/1993, confere-se legitimidade, de forma expressa, ao Ministério
Público do Trabalho para ajuizar ação anulatória de cláusula de convenção
coletiva de trabalho, no resguardo da liberdade individual de associação a
sindicato (arts. 5º, XX, e 8º, V, da CF/88).
CONTRIBUIÇÃOASSISTENCIAL. Acórdão regional em que se declara a
nulidade de cláusula de convenção coletiva de trabalho, relativa à
contribuição assistencial, exclusivamente no tocante aos trabalhadores não
filiados à entidade sindical profissional, por contrariar o princípio
constitucional da livre associação sindical. Decisão em consonância com o
Precedente Normativo nº 119 da Seção Normativa deste Tribunal. Recurso
ordinário a que se nega provimento." (Processo: ROAA -
52300-33.2006.5.17.0000 Data de Julgamento:
09/03/2009, Relator Ministro: Fernando Eizo Ono,
Seção Especializada em Dissídios Coletivos, Data de
Publicação: DEJT 07/04/2009.)

"AÇÃO ANULATÓRIA. RECURSO ORDINÁRIO. ACORDO


COLETIVO DE TRABALHO. 1 - PRELIMINAR DE ilegitimidade ad
causam DO MINISTÉRIO PÚBLICO. O Ministério Público do Trabalho
tem legitimidade ativa e interesse de agir para ajuizar ação anulatória de
cláusula de contrato, acordo coletivo ou convenção coletiva de trabalho que
viole as liberdades individuais ou coletivas, ou os direitos individuais
indisponíveis dos trabalhadores, na forma dos arts. 127 da Constituição
Federal e 83, IV, da Lei Complementar nº 75, de 20.5.1993. 2 - TAXA
NEGOCIAL. CONTRIBUIÇÃO ASSISTENCIAL DE NÃO
ASSOCIADOS. PRECEDENTE NORMATIVO Nº 119. A imposição de
contribuição assistencial a empregados não sindicalizados em favor de
entidade sindical configura violação do princípio da livre associação, nos
termos do Precedente Normativo nº 119 do TST. Recurso ordinário a que se
nega provimento." (ROAA - 47200-63.2007.5.17.0000 Data de
Julgamento: 09/11/2009, Relatora Ministra: Kátia

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Magalhães Arruda, Seção Especializada em Dissídios
Coletivos, Data de Publicação: DEJT 20/11/2009).

Assim, ante a jurisprudência pacífica que consagra a


legitimidade e o interesse de agir do Ministério Público para propor as
ações cabíveis para declaração de nulidade de cláusula de contrato,
acordo coletivo, ou convenção coletiva, que viole as liberdades
individuais ou coletivas, ou os direitos individuais indisponíveis dos
trabalhadores, bem como a faculdade de interpor recurso contra acordo
formalizado e homologado pelo Tribunal, nos termos dos arts. 127 da
Constituição Federal, 83 da Lei Complementar nº 75/93 e 7º, § 5º, da Lei
nº 7.701/88, rejeito a preliminar.

2.2. CLÁUSULA TRIGÉSIMA SEXTA – ATESTADOS MÉDICOS E


ODONTOLÓGICOS
O TRT declarou a nulidade da referida cláusula, pelos
seguintes fundamentos:
CLÁUSULA TRIGÉSIMA SEXTA - ATESTADOS
MÉDICOS E ODONTOLÓGICOS
Para justificativa da ausência ao serviço por motivo de
doença, se a EMPRESA ACORDANTE não contar com serviço
médico-odontológico próprio, esta aceitará como válidos, os
atestados médicos e odontológicos fornecidos pelos médicos e
odontólogos credenciados pelo sindicato da classe, INSS ou
SUS, desde que conste o CID da doença.
Parágrafo Único - Fica estabelecido que os atestados
médicos deverão ser apresentados em até 48 (quarenta e oito
hora) após a sua emissão, devendo essa entrega ser feita
pessoalmente pelo empregado ou na impossibilidade deste por
seu representante, os quais serão recebidos pelo empregado do
Departamento de Pessoal do empregador, mediante protocolo de
entrega fornecido pela EMPRESA ACORDANTE.
O Decreto nº 27.048, de 12.08.1949, que aprova o regulamento da Lei
nº 605/1949, que dispõe sobre o repouso semanal remunerado e o pagamento
de salário nos dias feriados civis e religiosos, em seu artigo 12, §§ 1º e 2º,
regula sobre as formas de abono de faltas mediante atestado médico, cuja
ordem preferencial estabelece:
Art. 12. Constituem motivos justificados:

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[...]
§ 1º: A doença será comprovada mediante atestado passado por médico
da empresa ou por ela designado e pago.
§ 2º: Não dispondo a empresa de médico da instituição de previdência
a que esteja filiado o empregado, por médico do Serviço Social da Indústria
ou do Serviço Social do Comércio, por médico de repartição federal, estadual
ou municipal, incumbido de assunto de higiene ou saúde, ou, inexistindo na
localidade médicos nas condições acima especificados, por médico do
sindicato a que pertença o empregado ou por profissional da escolha deste.
A Resolução nº 1.658/2002, do Conselho Federal de Medicina, que
normatiza a emissão de atestados médicos (parcialmente alterada pela
Resolução nº 1851/2008), dispõe:
Art. 5º Os médicos somente podem fornecer atestados com o
diagnóstico codificado ou não quando por justa causa, exercício de dever
legal, solicitação do próprio paciente ou de seu representante legal.
Parágrafo único No caso da solicitação de colocação de diagnóstico,
codificado ou não, ser feita pelo próprio paciente ou seu representante legal,
esta concordância deverá estar expressa no atestado.
Art. 6º - Somente aos médicos e aos odontólogos, estes no estrito
âmbito de sua profissão, é facultada a prerrogativa do fornecimento de
atestado de afastamento do trabalho.
[...]
§ 3º - O atestado médico goza da presunção de veracidade, devendo
ser acatado por quem de direito, salvo se houver divergência de
entendimento por médico da instituição ou perito.
Cite-se, ainda, a Resolução nº 1.819/2007, do Conselho Federal de
Medicina, que "proíbe a colocação do diagnóstico codificado (CID) ou
tempo de doença no preenchimento das guias da TISS de consulta e
solicitação de exames de seguradoras e operadoras de planos de saúde
concomitantemente com a identificação do paciente" (parcialmente alterada
pela Resolução nº 1.976/2011):
Art. 1º Vedar ao médico o preenchimento, nas guias de consulta e
solicitação de exames das operadoras de planos de saúde, dos campos
referentes à Classificação Internacional de Doenças (CID) e tempo de
doença concomitantemente com qualquer outro tipo de identificação do
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PROCESSO Nº TST-RO-213-66.2017.5.08.0000

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paciente ou qualquer outra informação sobre diagnóstico, haja vista que o
sigilo na relação médico-paciente é um direito inalienável do paciente,
cabendo ao médico a sua proteção e guarda.
Pela leitura dos dispositivos acima citados, conclui-se, tal como
apontado pelo d. Parquet, na petição inicial, que "1) o atestado médico
emitido por médico legalmente habilitado possui a presunção de veracidade
de seu conteúdo, pelo que é válido para a comprovação a que se destina,
somente podendo ser recusado em caso de discordância fundamentada por
médico ou perito; 2) o médico só deverá prestar a informação sobre a
Classificação Internacional de Doenças (CID) se solicitado pelo próprio
paciente ou de seu representante legal" (Id. 42bbed8 - Pág. 3-4) (grifo nosso).
A cláusula normativa que condiciona a validade de atestados médicos e
odontológicos à indicação do CID (Classificação Internacional de Doenças)
vai de encontro ao que estabelecem as Resoluções do Conselho Federal de
Medicina e atentam contra as garantias constitucionalmente asseguradas de
inviolabilidade da intimidade, vida privada, honra e imagem (art. 5º, X, da
Constituição Federal).
Nesse sentido, precedentes desta E. Seção Especializada
I: AÇÃO ANULATÓRIA DE CLÁUSULA CONVENCIONAL.
DIREITO À PRIVACIDADE. CLÁUSULA QUE OBRIGA QUE OS
ATESTADOS MÉDICOS APRESENTEM A CID.
INCONSTITUCIONALIDADE. Fere o direito à privacidade dos
trabalhadores cláusula de instrumento coletivo que determina que os
trabalhadores deverão suprir as ausências de CID em seus atestados médicos,
sob pena de desconto das ausências. O direito à privacidade tem assento
constitucional e deve ser respeitado pelas normas coletivas, não estando à
mercê dos interesses do empregador. Ação Anulatória que se julga
procedente (Acórdão/TRT-8ª/SE-I/AACC 0000233-91.2016.5.08.0000.
Relatora: Desembargadora Francisca Oliveira Formigosa. Julgado em
25.08.2016).
CLÁUSULAS CONVENCIONAIS. VIOLAÇÃO AOS DIREITOS
INDIVIDUAIS INDISPONÍVEIS. NULIDADE. A Constituição da
República Federativa do Brasil reconhece as convenções e acordos coletivos
de trabalho (art. 7º, XXVI) e garante a liberdade e autonomia dos Sindicatos
representativos das categorias econômicas e profissionais estipularem
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condições de trabalho, excepcionando, inclusive, algumas hipóteses de
flexibilização de direitos do trabalhador, por meio de negociação coletiva de
trabalho (art. 7º, VI, XIII, XIV), mas essa liberdade e autonomia encontra
limites na lei e nos princípios de proteção ao trabalhador, não podendo as
entidades sindicais estipularem normas que contrariem as garantias mínimas
previstas na constituição, sob pena de nulidade. No presente caso, a regra
estipulada na cláusula do Acordo coletivo de Trabalho firmado pelos réus
não só transgride os princípios de proteção ao trabalhador, mas viola as
normas de ética médica na relação médico-paciente e atenta contra o
ordenamento jurídico constitucional, que garante ao indivíduo o direito à
inviolabilidade a sua intimidade, à vida privada, à honra e à imagem (art. 5º,
X, da CRFB).(Acórdão/TRT-8ª/SE-I/AACC 0000625-65.2015.5.08.0000.
Relator: Desembargador José Edílsimo Eliziário Bentes. Julgado em
09.06.2016).
Desse modo, entendo, assim como defendido pelo d. Parquet, que a
Cláusula Trigésima Sexta do Acordo Coletivo de Trabalho de 2016/2017,
celebrado entre os réus, deve ser anulada, pois, diante das normas e
princípios que visam a melhoria da condição social do trabalhador, está
evidente que a cláusula normativa, em questão, afronta o disposto no art. 7º,
caput, da Constituição Federal, além de violação ao direito à intimidade, vida
privada, honra e imagem (art. 5º, X, da Carta Magna).
Por fim, ratifico a liminar concedida, sob Id. e393400.

O recorrente alega que a cláusula em questão é


absolutamente constitucional, não havendo qualquer violação de direito
à privacidade, à intimidade, à vida privada, à honra e à imagem do
trabalhador.
Diz que a cláusula não fere as normas éticas-médicas
na relação médico e paciente.
Reforça que não há violação a direito indisponível dos
trabalhadores nem afronta dispositivos constitucionais e
infraconstitucionais.
Salienta que o instrumento normativo não vai de
encontro com a resolução do CFM Conselho Federal de Medicina.

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Apon a q e o art. 73, do Código de Ética Médica, excepcionam os casos
em que as informações do paciente podem ser reveladas, quais sejam: justa causa, dever legal e
autorização do paciente.
Postula a reforma da decisão, a fim de que seja
restabelecida a Cláusula Trigésima Sexta no Acordo Coletivo de Trabalho.
Analiso:
Eis a cláusula impugnada:
CL USULA TRIG SIMA SEXTA - ATESTADOS MÉDICOS E
ODONTOLÓGICOS.
Para justificativa da ausência ao serviço por motivo de doença, se a
EMPRESA ACORDANTE não contar com serviço médico-odontológico
próprio, esta aceitará como válidos, os atestados médicos e odontológicos
fornecidos pelos médicos e odontólogos credenciados pelo sindicato da
classe, INSS ou SUS, desde que conste o CID da doença.
Parágrafo Único - Fica estabelecido que os atestados médicos deverão
ser apresentados em até 48 (quarenta e oito hora) após a sua emissão,
devendo essa entrega ser feita pessoalmente pelo empregado ou na
impossibilidade deste por seu representante, os quais serão recebidos pelo
empregado do Departamento de Pessoal do empregador, mediante protocolo
de e e a f ec d e a EMPRESA ACORDANTE.

Esta Seção Especializada entendia que a exigência da


CID, para justificar faltas e atrasos, por si só, violava o direito
fundamental à intimidade e à privacidade:
RECURSO ORDIN RIO - AÇÃO ANULATÓRIA CLÁUSULA 39
- ATESTADO MÉDICO - EXIGÊNCIA DE PREVISÃO DA CID. A
exigência da CID nos atestados estipulada por norma coletiva obriga o
trabalhador a divulgar informações acerca de seu estado de saúde sempre que
exercer o seu direito - garantido pelo art. 6º, § 1º, "f", da Lei nº 605/1949 - de
justificar a ausência no trabalho por motivo de doença comprovada. Essa
exigência, por si só, viola o direito fundamental à intimidade e à privacidade
do trabalhador, sobretudo por não existir, no caso, necessidade que decorra
da a dade f a . Rec Od c ec d e de d . (RO
- 268-11.2014.5.12.0000 Data de
Julgamento: 17/08/2015, Relatora Ministra: Maria
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Cristina Irigoyen Peduzzi, Seção Especializada em
Dissídios Coletivos, Data de Publicação:
DEJT 18/09/2015).

RECURSO ORDIN RIO. MINIST RIO P BLICO DO


TRABALHO. DISSÍDIO COLETIVO DE NATUREZA ECONÔMICA.
HOMOLOGAÇÃO DE ACORDO. (...). CLÁUSULA VIGÉSIMA
SEGUNDA. ATESTADOS MÉDICOS E
ODONTOLÓGICOS. EXIGÊNCIA DE PREENCHIMENTO DO CID. A
Constituição Federal elegeu a intimidade e a vida privada como bens
invioláveis. Trata-se, pois, de direito fundamental albergado no art. 5.º, X, da
Constituição Federal. A exigência de indicação expressa do CID nos
atestados médicos vai de encontro à referida diretriz constitucional, por se
tratar de ingerência na vida privada do cidadão. A cláusula 22.ª, tal como
redigida, não se coaduna com o Precedente Normativo n.º 81 desta Corte
Superior, pois, além de conter obrigação à margem da lei e da Constituição
Federal, não contempla a necessidade de convênio com a Previdência Social,
no que se refere aos serviços ofertados pelos sindicatos da categoria
profissional. (...). (RO - 20238-58.2010.5.04.0000, Relatora
Ministra: Maria de Assis Calsing, Seção Especializada
em Dissídios Coletivos, Data de Publicação:
DEJT 19/10/2012).

Entretanto, no julgamento do processo


RO-480-32.2014.5.12.0000, em 14/12/2015, este Colegiado, pelo voto
prevalente da Presidência, ocasião em que fiquei vencida, juntamente com
os Exmos. Ministros Mauricio Godinho Delgado (relator) e Maria de Assis
Calsing, decidiu de forma diversa acerca da exigência da CID em atestados
médicos.
Naquela assentada, a cláusula normativa, de igual teor
a esta, foi man ida ao f ndamen o de q e a necessidade de conhecimento da espécie
de moléstia diz respeito justamente a saber se inviabiliza a modalidade laboral na qual se ativa o
empregado. (...). No caso dos empregadores, a Súmula 122 do TST exige, para afastar revelia em
audiência, que o atestado médico apresentado posteriormente indique expressamente condição de
impossibilidade de locomoção do proposto no momento da audiência. Não parece lógico e justo que, no
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caso dos empregados, os atestados possam ser genéricos, sem qualquer indicação do motivo do
afastamento. Nesse sentido, não se pode anular cláusula firmada com a tutela sindical dos trabalhadores
com base em resolução de conselho regulador de profissão, que não é lei, e em dispositivo
constitucional de caráter genérico, garantidor do direito à intimidade, quando essa garantia
constitucional deve ser aplicada de acordo com os princípios da proporcionalidade e razoabilidade, já
que o direito à intimidade não é absoluto. (...). Ademais, não se nomina a doença no atestado, mas se
coloca apenas o seu código, exigindo pesquisa sobre a sua natureza. (RO -
480-32.2014.5.12.0000 Data de Julgamento: 14/12/2015, Redator
Ministro: Ives Gandra Martins Filho, Seção Especializada em Dissídios
Coletivos, Data de Publicação: DEJT 04/03/2016).
Nesse mesmo sentido, transcrevo outro julgado:
RECURSO ORDINÁRIO EM DISSÍDIO COLETIVO.
MOTORISTAS. HOMOLOGAÇÃO PARCIAL DOS
INSTRUMENTOS NEGOCIAIS AUTÔNOMOS, FIRMADOS NO
DECORRER DA AÇÃO. (...). 3. CLÁUSULAS 18 DA CCT 2015/2016
(CATEGORIA DO FRETAMENTO) E 36 DO ACT 2015/2016
(SETOR URBANO VOTORANTIM) - ATESTADOS MÉDICOS.
EXIGÊNCIA DE COLOCAÇÃO DO CID (CLASSIFICAÇÃO
INTERNACIONAL DE DOENÇAS). Esta Seção Especializada decidiu
no julgamento do Recurso Ordinário em Ação Anulatória nº
480-32.2014.5.12.0000 (Data de Julgamento: 14/12/2015, Redator
Designado Ministro Ives Gandra Martins Filho, DEJT de 4/3/2016) que a
cláusula convencionada, de igual teor à que ora se examina, e que
expressamente exigia a menção ao CID , foi mantida ao fundamento de que
"a necessidade de conhecimento da espécie de moléstia diz respeito
justamente a saber se ela inviabiliza a modalidade laboral na qual se ativa o
empregado, inexistindo violação constitucional a respeito". Restou assente,
também, que "não se pode anular cláusula firmada com a tutela sindical dos
trabalhadores, com base em Resolução de conselho regulador de profissão,
que não é lei, e em dispositivo constitucional de caráter genérico, garantidor
do direito à intimidade, quando essa garantia constitucional deve ser
aplicada de acordo com os princípios da proporcionalidade e razoabilidade,
já que o direito à intimidade não é absoluto". Nesse contexto, dá-se
provimento ao recurso, para declarar a validade das cláusulas 18 da CCT
2015/2016 e 36 do ACT 2015/2016, com a seguinte redação: "ATESTADOS
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MÉDICOS - A empresa, para efeito de justificação e abono de faltas e
atrasos, reconhecerá todos os atestados médicos e odontológicos, desde que
contenham o CID da doença e o CRM do médico". (RO -
6126-68.2016.5.15.0000 Data de
Julgamento: 13/03/2017, Relatora Ministra: Dora Maria
da Costa, Seção Especializada em Dissídios
Coletivos, Data de Publicação: DEJT 17/03/2017).

Pois bem, o Código de Ética Médica estabelece, no seu


art. 73, que é vedado ao médico revelar fato de que tenha conhecimento
em virtude do exercício de sua profissão, salvo por motivo justo, dever
legal ou consentimento, por escrito, do paciente.
A Resolução nº 1.658/2002 do Conselho Federal de
Medicina CFM, que normatiza a emissão de atestados médicos, disciplina,
no seu art. 3º, os procedimentos que devem ser observados pelos médicos
na emissão do atestado médico:
Art. 3º Na elaboração do atestado médico, o médico assistente
observará os seguintes procedimentos:
I - especificar o tempo concedido de dispensa à atividade, necessário
para a recuperação do paciente;
II - estabelecer o diagnóstico, quando expressamente autorizado pelo
paciente; (gn)
III - registrar os dados de maneira legível;
IV - identificar-se como emissor, mediante assinatura e carimbo ou
número de registro no Conselho Regional de Medicina.
(...).
Art. 6º Somente aos médicos e aos odontólogos, estes no estrito âmbito
de sua profissão, é facultada a prerrogativa do fornecimento de atestado de
afastamento do trabalho.
(...).
§ 3º O atestado médico goza da presunção de veracidade, devendo ser
acatado por quem de direito, salvo se houver divergência de entendimento
por médico da instituição ou perito.

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Tem-se também a Resolução 1.819/2007 do CFM, que
proíbe a colocação do diagnóstico codificado (CID) ou tempo de doença
no preenchimento das guias da TISS de consulta e solicitação de exames
de seguradoras e operadoras de planos de saúde concomitantemente com a
identificação do paciente:
Art. 1º Vedar ao médico o preenchimento, nas guias de consulta e
solicitação de exames das operadoras de planos de saúde, dos campos
referentes à Classificação Internacional de Doenças (CID) e tempo de
doença concomitantemente com qualquer outro tipo de identificação do
paciente ou qualquer outra informação sobre diagnóstico, haja vista que o
sigilo na relação médico - paciente é um direito inalienável do paciente,
cabendo ao médico a sua proteção e guarda.

Assim, infere-se dos dispositivos mencionados que a


emissão de atestado médico com a identificação do diagnóstico codificado,
sem a autorização expressa do paciente, constitui procedimento antiético
do profissional de medicina. Ademais, o atestado médico emitido por
profissional legalmente habilitado possui presunção de veracidade de seu
conteúdo, sendo válido para a comprovação a que se designa.
A questão proposta aqui é saber até que ponto a vontade
coletiva supre a vontade individual do trabalhador e se a norma coletiva
pode afastar direitos fundamentais individuais.
A Constituição da República, em seu artigo 5º, X,
garante a inviolabilidade da intimidade, da honra, da imagem e da vida
privada das pessoas, mandamento que projeta seus efeitos também para as
relações de trabalho. Portanto, deve ser respeitado pelo empregador.
A exigência do diagnóstico codificado nos atestados
médicos, estabelecida por norma coletiva, obriga o trabalhador a divulgar
informações acerca de seu estado de saúde, sempre que exercer o seu
direito de justificar a ausência no trabalho, por motivo de doença
comprovada.
Embora importante no aspecto informativo, quanto ao
conhecimento por parte do empregador da espécie da moléstia acometida
ao empregado, conforme destacou o Exmo. Min. Ives Gandra em seu voto no
processo RO-480-32.2014.5.12.0000, por outro lado, a exigência em norma
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coletiva da codificação da enfermidade nos atestados médicos fere
direitos fundamentais.
Segundo a Exma. Min. Maria Cristina Irigoyen Peduzzi,
relatora do processo RO-268-11.2014.5.12.0000, na qual se discutia
questão semelhante, a exigência da CID nos atestados médicos viola, por
si só, o direito fundamental à intimidade e à privacidade do trabalhador,
sobretudo por não existir, no caso, necessidade que decorra da atividade
profissional.
Observa-se, no caso concreto, que o conflito exposto
não é entre norma coletiva e Resoluções do CFM, mas entre norma coletiva
e dispositivos constitucionais que protegem a intimidade e a privacidade
dos trabalhadores.
De acordo com os dispositivos das normas reguladoras
já mencionadas, como o Código de Ética Médica e a Resolução nº 1.658/2002,
oriundas do CFM, é o próprio paciente que deve autorizar a identificação
do diagnóstico. Isso se deve ao fato de a saúde estar relacionada a
aspectos da intimidade e personalidade de cada indivíduo, conforme
discorre Amauri Mascaro Nascimento, no livro Curso de Direito do
Trabalho:
O trabalhador e o empregador devem guardar sigilo quanto à
intimidade da vida privada. O direito à reserva da intimidade da vida privada
abrange o acesso, a divulgação de aspectos da esfera íntima e pessoal e da
vida familiar, afetiva e sexual, o estado de saúde e as convicções políticas e
religiosas. (...) O empregador não pode exigir do candidato a emprego ou
dos empregados que prestem informações relativas à sua vida privada, à sua
saúde, salvo quando particulares exigências inerentes à natureza da atividade
profissional o justifiquem ou forem estritamente necessárias e relevantes
para a avaliação da sua aptidão para o trabalho. (...) (Curso de
Direito do Trabalho: história e teoria geral do
direito do trabalho, relações individuais e coletivas
do trabalho, 27. ed., São Paulo: Saraiva)

A imposição constitucional de reconhecimento das


convenções e acordos coletivos de trabalho, oriunda do art. 7º, XXVI,
não concede liberdade negocial absoluta para os sujeitos coletivos, que
devem sempre respeitar certos parâmetros protetivos das relações de
trabalho e do próprio trabalhador. Um desses parâmetros é a tutela da
intimidade e privacidade do empregado.
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Até mesmo a Lei 13.467/2017, que autoriza, em algumas
situações, a prevalência do negociado sobre o legislado, traz um rol,
no seu art. 611-B, de direitos que não podem ser reduzidos nem suprimidos
mediante negociação coletiva. Essa mesma lei incluiu na CLT o Título II-A,
que trata do dano extrapatrimonial. A nova regra diz, no seu art. 223-B,
que causa dano de natureza extrapatrimonial a ação ou omissão que ofenda
a esfera moral ou existencial da pessoa física ou jurídica, as quais são
as titulares exclusivas do direito à reparação. O art. 223-C elenca os
bens tutelados inerentes à pessoa física:
Art. 223-C. A honra, a imagem, a intimidade, a liberdade de ação, a
autoestima, a sexualidade, a saúde, o lazer e a integridade física são os bens
juridicamente tutelados inerentes à pessoa física.

Nota-se que a Reforma Trabalhista tratou de bens


intimamente ligados à personalidade do trabalhador, como, por exemplo,
a imagem e a intimidade, cabendo a responsabilização em casos de ofensa.
Consabido é que a Lei nº 13.467/2017 não se aplica ao
caso concreto, mas, em tese, podemos considerar que qualquer violação
à imagem do trabalhador, decorrente de situação de exposição do seu estado
de saúde, pode gerar a obrigação de indenização àquele que deu causa.
Como bem pontuado no acórdão do Tribunal Regional, a
cláusula normativa que condiciona a validade de atestados médicos e odontológicos à indicação do
CID (Classificação Internacional de Doenças) vai de encontro ao que estabelecem as Resoluções do
Conselho Federal de Medicina e atentam contra as garantias constitucionalmente asseguradas de
ab dade da dade, da ada, a e a e (a . 5 , X, da C Fede a ).
Nesse contexto, considero acertada a decisão do
Tribunal a quo que declarou nula a Cláusula Trigésima Sexta pelo Tribunal
de origem.
Pelo exposto, nego provimento ao recurso ordinário.

ISTO POSTO

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ACORDAM os Ministros da Seção Especializada em
Dissídios Coletivos do Tribunal Superior do Trabalho: I - por
unanimidade, rejeitar a preliminar de ilegitimidade ativa "ad causam"
do Ministério Público do Trabalho; II - por maioria, vencidos os Exmos.
Ministros Ives Gandra Martins Filho, Dora Maria da Costa e Guilherme
Augusto Caputo Bastos, negar provimento ao recurso ordinário.
Brasília, 19 de fevereiro de 2019.

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KÁTIA MAGALHÃES ARRUDA
Ministra Relatora

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Resumo: O autor aborda o atestado médico no tocante ao seu conceito, finalidades e seus
limites. Quanto ao seu conteúdo e veracidade diz que o atestado pode ser idôneo, gracioso,
imprudente e falso. Estabelece diferença entre a falsidade material e a falsidade ideológica.
Enfatiza a importância da qualidade da informação médica e sua contribuição com a ordem
pública e o equilíbrio social. Estabelece a diferença entre atestado e laudo médicos realçando o
alcance e os limites do atestado em relação ao laudo médico. Chama atenção para a importância
e a insuprível exigência do laudo, valorizando a descrição como sua parte mais significativa.
Conclusões.

Unitermos: Certificado médico. Atestado de doença. Informação médica.

Introdução

Entende-se por atestado ou certificado o documento que tem por objetivo firmar a veracidade de
um fato ou a existência de determinado estado, ocorrência ou obrigação. É um instrumento
destinado a reproduzir, com idoneidade, uma específica manifestação do pensamento médico.

O atestado ou certificado médico, portanto, é uma declaração por escrito de uma dedução médica
e suas possíveis consequências. Tem a finalidade de resumir, de forma objetiva e singela, o que
resultou do exame feito em um paciente, sua doença ou sua sanidade, e as consequências mais
imediatas. É, assim, um documento particular, elaborado sem compromisso prévio e
independente de compromisso legal, fornecido por qualquer médico que esteja no exercício
regular de sua profissão. Desta forma, tem unicamente o propósito de sugerir um estado de
sanidade ou de doença, anterior ou atual, para fins de licença, dispensa ou justificativa de faltas ao
serviço, entre outros.

Mesmo tão singelo e desprovido de formalidades o atestado médico admite, estando o médico
inscrito regularmente no Conselho Regional de Medicina competente, possuir competência para
atestar, independentemente de especialidade, desde que se sinta capacitado para tanto. Assim se
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manifesta o Parecer-Consulta CFM no 28/87.

É sempre elaborado de forma simples, em papel timbrado, podendo servir até o usado em
receituário ou, quem exerce a profissão em entidades públicas ou privadas, em formulários da
respectiva instituição. Na maioria das vezes, ele durge a pedido do paciente ou de seus
responsáveis legais.

Não tem o atestado uma forma definida, porém deve conter as seguintes partes constitutivas:
cabeçalho – onde deve constar a qualificação do médico; qualificação do interessado – que é
sempre o paciente; referência à solicitação do interessado; finalidade a que se destina; o fato
médico quando solicitado pelo paciente ou seu responsável, ou por justa causa, ou por dever
legal; suas conseqüências; e local, data e assinatura com o respectivo carimbo profissional, onde
contenham nome do médico e número de inscrição no Conselho Regional de Medicina da
jurisdição sede de sua atividade.

A utilidade e a segurança do atestado estão necessariamente vinculadas à presunção de sua


veracidade. Sua natureza institucional e seu conteúdo de fé pública é o pressuposto de verdade e
exatidão que lhe é inerente, daí a preocupação e o interesse que o atestado desperta, com diz
Sérgio Ibiapina Ferreira Costa[1]: “Uma declaração duvidosa tem, no campo das relações sociais,
o mesmo valor de uma declaração falsa, exatamente por não imprimir um conteúdo de certeza ao
seu próprio objeto”.

O atestado médico quanto a sua procedência ou finalidade pode ser: administrativo, quando serve
ao interesse do serviço ou do servidor público; judiciário, quando por solicitação da
administração da justiça; oficioso, quando dado no interesse das pessoas física ou jurídica de
direito privado, como para justificar situações menos formais em ausência das aulas ou para
dispensar alunos da prática da educação física.

Há um fato que sempre mereceu profundas controvérsias: a questão da declaração do diagnóstico


nos atestados. Uns admitem que deva ser sempre omitida a fim de responder aos imperativos
dogmáticos que norteiam o sigilo médico; outros acham desnecessária a guarda do segredo,
principalmente quando a autoridade administrativa exige o diagnóstico com a finalidade de
estabelecer a relação entre os dias perdidos e a gravidade da doença, por exemplo. O certo é que,
na medida do possível, deve-se evitar a declaração do diagnóstico no atestado, a não ser quando
permite o Código de Ética Médica: por justa causa, dever legal ou a pedido do paciente ou de
seus representantes legais.

Quanto à necessidade de se colocar o CID (Código Internacional de Doenças e Causas de Morte)


nos atestados médicos, como previa a Portaria nº 3.291, de 20 de fevereiro de 1984, do Ministério
da Previdência Social, decidiu o Conselho Federal de Medicina nos Pareceres- Consulta nº 11/88,
25/88 e 32/90, que o médico só pode firmar atestado revelando o diagnóstico, na forma codificada
ou não, nas hipóteses referidas no artigo 102 do Código de Ética Médica (por justa causa, dever
legal ou permissão do paciente ou de seus responsáveis legais).

Deve-se entender ainda que o atestado é diferente de declaração. No atestado, quem o firma, por
ter fé de ofício, prova, reprova ou comprova. Na declaração exige-se apenas um relato de
testemunho. Entendemos que, na área de saúde, apenas os profissionais responsáveis pela
elaboração do diagnóstico são competentes para firmarem atestados. Os demais podem declarar o
acompanhamento ou a coadjuvação do tratamento, o que não deixa, também, de constituir uma
significativa contribuição como valor probante.

Hermes Rodrigues de Alcântara[2] classifica o atestado médico, quanto ao seu conteúdo ou


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veracidade, em: idôneo, gracioso, imprudente e falso.

Mesmo não sendo exigida certa formalidade e um compromisso legal de quem o subscreve – e,
por isso, uma peça meramente informativa e não um elemento final para decidir vantagens e
obrigações -, deve merecer o atestado todos os requisitos de comprovada validade, visto que ele
exerce uma função do mais alto interesse social. Fica o médico, portanto, no dever de dizer a
verdade sob pena de infringir dispositivos éticos e legais, seja ao artigo 73 do Código de Ética
Médica, seja por delito de falsidade de atestado médico por infração ao artigo 302 de nossa
legislação penal.

Não deve ser recusado “a priori”, como vez por outra ocorre, pois sempre se deve ter a
presunção de lisura de quem firma o atestado. Isto não quer dizer, todavia, que o atestado seja um
fato conclusivo ou consumado, ou que não tenha um limite de eficácia em certas eventualidades,
principalmente para o que ele não se destina.

Em documentos particulares, escritos e assinados, ou apenas assinados, presumem-se verdadeiros


em relação ao signatário. Quando houver referência de determinado fato ligado à ciência, o
documento particular prova a declaração, mas não o fato declarado, competindo ao interessado
em sua veracidade o ônus de provar o fato (artigo 368 do Código de Processo Civil).

O atestado gracioso, também chamado de complacente ou de favor, vem sendo concedido por
alguns profissionais menos responsáveis, desprovidos de certos compromissos e que buscam
através deste condenável gesto uma forma de obter simpatia, sem nenhum apreço ao Código de
Ética Médica.

Muitos destes atestados graciosos são dados na intimidade dos consultórios ou das clínicas
privadas, tendo como finalidade a esperteza de agradar o cliente e ampliar, pela graciosidade, os
horizontes da clientela.

Já o atestado imprudente é aquele que é dado de forma inconseqüente, insensata e intempestiva,


quase sempre em favor de terceiros, tendo apenas o crédito da palavra de quem o solicita.

O atestado falso seria aquele dado quando se sabe do seu uso indevido e criminoso, tendo por
isso o caráter doloso.

Se for fato que alguns médicos resistem, igualmente certo é também que, em alguns casos, o
profissional é induzido por questões de amizade ou de parentesco, e assim, sem uma análise mais
acurada, fornece um atestado gracioso ou falso, mesmo que seu Código de Ética diga que tal
atitude é ilícita e o Código Penal veja como infração punível. Tais sanções são justas porquanto o
Estado tem o direito de resguardar o bem jurídico da fé pública, cuja finalidade é sempre proteger
uma verdade.

A ilicitude do atestado médico está na sua falsidade ideológica. Está fraudado na sua substância,
no seu conteúdo. A sua irregularidade, portanto, está no seu teor, na sua natureza intelectual,
praticada por um agente especial que é o médico, quando subverte o exercício regular de um
direito. Na sua essência material ele pode até ser correto, pois foi firmado por alguém habilitado a
fazê-lo. A falsidade material diz respeito apenas a sua falsificação, quando por exemplo ele é
expedido por alguém que não possui habilitação legal nem habilitação profissional, ouse seja, por
alguém que não é médico.

A falsidade pode ser na existência ou na inexistência de uma enfermidade, na falsa condição de


higidez pretérita ou atual, num tipo de patologia, na causa mortis e no seu agente causador, ou em
qualquer
Brunna informação
Pires Barbosa dessa ordem que
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O que se pune nesta forma de delito é tão-somente a inveracidade que o atestado pretende provar.
E mais: a falsidade pode ser praticada tanto em relação ao que é fundamental (diagnóstico) como
ao que é secundário (tempo de convalescença), desde que altere em substância o conteúdo do
atestado e o juízo feito global sobre o mesmo.

Com certeza a liberalidade dispensada a este importante e necessário documento é perniciosa a


todos: aos médicos, pela quebra da credibilidade do que atestam; à medicina, pelo seu descrédito
entre as coisas sérias e úteis; e à sociedade, pelo que ela perde de utilidade em um instrumento de
tão significativo e de real valor.

Entre os atestados falsos há um outro tipo: o atestado piedoso. Sempre são pedidos como forma
de suavizar um diagnóstico mais severo, principalmente quando se trata de pacientes portadores
de doenças graves e incuráveis. E assim, alguns facultativos, atendendo a solicitação de
familiares, atestam enfermidade diversa, sempre de caráter benigno, na intenção de confortar o
paciente. Embora piedoso, tal gesto é reprovável.

Concordamos com o pensamento de que o médico, ao conceder conscientemente um atestado de


óbito falso, alterando assim a verdade no Registro Público, comete crime de falsidade ideológica
em documento público e não falsidade de atestado médico, inclusive com pena muito mais grave.

Alcance e limites do atestado em relação ao laudo médico

Mesmo assim, com todo zelo que se deve ter pelo atestado, é justo dizer que ele tem seus limites.
A comprovação de uma entidade mórbida complexa e multifatorial, algumas até de origem ainda
no campo das teorias, não pode ser decidida apenas com três ou quatro linhas simplistas, apostas
num atestado médico, cuja finalidade é tão-só servir de início de informações numa comprovação
de direitos. Para tanto, existem as Juntas Médicas e por isso elas não estão adstritas aos atestados,
podendo aceitá-los no todo, na parte, ou simplesmente não os acatar.

Muitas vezes é necessário um laudo bem elaborado onde esteja realçada a descrição,
fundamentada em elementos fisiopatológicos consagrados pela Lex artis e em resultados
laboratoriais, e onde fique patente em que foi baseada esta ou aquela afirmativa. Só assim é
possível a afirmação do diagnóstico, a evolução do processo mórbido, a devida observação dos
resultados terapêuticos e o prognóstico esperado.

Hoje não se pode mais aplaudir a idéia do “é porque é”, nem muito menos a de se admitir que
alguém possa simplesmente se escudar por trás de uma autoridade que aparente condições de se
fazer sempre acreditar e valer suas opiniões.

É necessário afirmar justificando, mencionar interpretando, descrever valorizando e relatar


esmiuçando. E tal procedimento só é possível na elaboração de um laudo. Em apreciações de
certo significado, em que se defrontam de um lado uma questão diagnóstica de certa delicadeza e
de outro a defesa e a proteção de um direito próprio e legítimo, este justo embate não pode ser
resolvido com a rapidez de um meteoro, através da afirmação apressada de um atestado médico.
Mas tão-somente por meio de um laudo bem elaborado onde esteja realçada a necessária
descrição, fundamentada em elementos fisiopatológicos consagrados pela Lex artis e em
resultados laboratoriais, e onde fique patente em que foi baseada esta ou aquela afirmativa. Só
assim é possível a elaboração do diagnóstico, a avaliação evolutiva do processo mórbido, a
devida e necessária observação dos resultados terapêuticos e o prognóstico esperado.

Fora desta conduta indeclinável é subtrair de quem tem a competência de decidir os pressupostos
do seu soberano convencimento. Dizer, por exemplo, que alguém é portador deste ou daquele
mal,Pires
Brunna sem descrever
Barbosa as particularidades
Lopes - brunnapiresadv@gmail.com - CPF:que cada síndrome com suas características, sem a
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comprovação dos recursos insupríveis do diagnóstico por imagem ou pelos recursos microscópios
da anatomia patológica, não levam ninguém a nenhuma convicção definitiva. Dizer pura e
simplesmente que alguém é portador de uma doença, sem qualquer justificativa de comprovação
semiológica, também não concorre para a busca da verdade que se quer revelar.

Uma particularidade bem descrita, técnica e cientificamente, tem o poder de transferir a doença
para o laudo ou de transportar o pensamento do analista para o instante em que se comprovou
determinada entidade nosológica. A boa qualidade do laudo, pelo conhecimento técnico que dá ao
julgador, é condição estrutural de imensurável e inestimável importância.

Com tais cuidados, mesmo para os resultados das análises de pesquisas clínicas, o Conselho
Federal de Medicina[3], determinou que “na área de Patologia Clínica, Citologia, Anatomia-
Patológica, Imuno-Hematologia, Radiologia, Radio-Isotopologia, Hemoterapia, Hemoterapia e
Fisioterapia sejam fornecidos sob a forma de laudos médicos firmados pelo médico responsável
pela sua execução. Estes laudos devem conter, quando indicado, uma parte expositiva e outra
conclusiva. O laudo médico fornecido é de exclusiva competência e responsabilidade do médico
responsável pela sua execução”.

Conclusões

Levando em conta a delicadeza de certas circunstâncias em que se apura uma determinada


patologia, que traz na sua esteira um amontoado de dúvidas na sua etiologia e na sua causalidade
ou concausalidade, e quando um erro de interpretação pode redundar em prejuízos para as partes
envolvidas, torna-se imprescindível uma declaração mais detalhada

Está mais que provado ser laudo médico ou pericial o instrumento mais valorizado nas questões
de maior complexidade na área médica, pois o atestado pela sua singeleza e carência de descrição
não alcança todas as particularidades que certos casos encerram. Daí porque só o laudo atende a
tal necessidade. Deixar de registrar e analisar tais características são simplesmente formas de
despojar quem vai analisar o laudo de uma idéia pessoal e tirar-lhe a oportunidade de se
convencer da verdadeira natureza do mal. Pelo menos, a inadmissibilidade da concessão de
interdição com base apenas em atestado médico e a imprescindibilidade do laudo pericial está na
inteligência do artigo 1.183 do Código de Processo Civil: “Decorrido o prazo a que se refere o
artigo antecedente, o juiz nomeará perito para proceder ao exame do interditando. Apresentado o
laudo, o juiz designará audiência de instrução e julgamento”. Há, portanto, necessidade de
apresentação de laudo completo e circunstanciado do estado do interditando sob pena de anulação
do processo.

Nestes casos, o laudo médico é obrigatório e não facultativo, e o exame pericial é imprescindível
para a segurança da decisão judicial (RT 715/133). Como afirmam Nelson Nery Júnior e Rosa
Maria Andrade Nery: “A lei exige a realização de perícia médica em processo de interdição, sob
pena de nulidade. A tarefa do perito consiste em apresentar laudo completo e circunstanciado da
situação físico-psíquica do interditando, sob pena do processo ser anulado. O laudo não pode se
circunscrever a mero atestado médico em que se indique por código a doença do suplicado”[4].

O primeiro e único objetivo do laudo médico ou do laudo pericial é dar à autoridade julgadora
elementos precisos para sua convicção. E por isso a substância da análise que o laudo reflete é
oferecer a imagem mais real possível do dano e do seu modo etio-patogênico do qual foi ele
resultante.

Todo dano corporal à saúde, seja físico ou psíquico, como um verdadeiro corpo lesional, carrega
no seu conjunto uma lista sem fim de detalhes que necessitam de registro para uma apurada
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interpretação. E tudo depende de quem vai valorizá-lo na medida exata de cada caso.

Não se pode considerar como elemento probante, de consistência técnica e científica, a afirmação
simples e por escrito contida num atestado, sem uma descrição judiciosa das estruturas
comprometidas, de suas causas e de seus nexos causais, capazes de justificar aquela afirmação. O
atestado, em que pese o respeito que merece seu ilustre subscritor, é um documento unilateral que
não pode se sobrepor ao lado médico.

O médico e o perito têm obrigação de mencionar no relatório em que elementos estruturais ou


funcionais ou em que resultados laboratoriais ou radiológicos se basearam para fazer tal ou qual
afirmativa[5].

Bibliografia

FRANÇA, G. V. AIDS – um enfoque ético-político. Revista da Sociedade Brasileira da Medicina


Tropical, n. 26 (3), p. 187-192, jul.-set. 1993.

   . Comentários ao Código de Ética Médica. 6ª ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan,
2010.

______ Direito Médico, 12ª edição, Rio de Janeiro: Editora Forense, 2014.

   . Obtenção de carteira de saúde – Considerações médico-sociais a reliquats grosseiros


em tuberculose. Residência Médica, v. 9, n. 6, jun. 1980.

URBAN, C. A. Bioética clínica. Rio de Janeiro: Revinter, 2002.

VIANA, M. G. Ética geral e profissional. Porto: Livraria Figueirense, 1976.

[1] in Atestado médico – considerações ético-jurídicas, na obra Desafio Éticos, Brasília: Publicação do Conselho
Federal de Medicina, 1993.

[2] In Deontologia e diceologia – normas éticas e legais para o exercício da medicina, São Paulo: Organização
Andrei Editora, 1979.

[3] Resolução CFM nº 813/77.

[4] in Código de processo civil comentado, São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 1999.

[5] In França, GV, Comentários ao Código de Ética Médica, 6ª. edição, Rio de Janeiro: Editora Guanabara
Koogan, 2009.

Veja também:

Castração química
O anteprojeto ao código penal brasileiro e seus excludentes de ilicitude do aborto
Em favor do direito médico
Informativo de Legislação Federal: resumo diário das principais movimentações
legislativas.

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