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As Revoluções Militares e

o surgimento do estado-maior
Pedro Henrique Luz Gabriel'

Introdução tipo de conselho para planejar as opera

Pouco se encontram publicados, mes


mo na historiografia militar, textos so
ções, executá-las e exercer o controle sobre
os exércitos ao longo das campanhas e nos
embates propriamente ditos. No entanto es
bre a origem dos estado-maiores e seu sas são afirmações de cunho filosófico e não
desenvolvimento. Essa constatação foi reali histórico, uma vez que é realmente difícil
zada por ao menos dois autores, o historia precisar em que momento efetívamente foi
dor norte-americano J. D. Hittle, no prefá instituído o estado-maior.
cio de seu livro de 1944, e o argentino Jorge Em seu estudo sobre o estado-maior,
Ariel Vigo (2005, p. 7). O lapso temporal de Vigo (2005, p. 7) compreendeu que este se
61 anos entre as duas obras é um indício de constituía em algo maior e mais complexo
como o assunto é pouco explorado, ao me do que uma simples organização funcional
nos diretamente. à disposição do comandante, mas este seria
O surgimento do estado-maior na his possuidor de um lugar próprio na história
tória militar ocorreu,como fora mencionado militar, como as armas e os serviços', e que,
por Hittle (1944) no prefácio do seu livro, de forma similar a estes, havia experimenta
ainda que de forma simbólica, no primeiro do um processo evolutivo ao longo do tem
momento em que "um chefe guerreiro so po, da mesma forma que a infantaria, a ca
licitou ajuda ou conselho de um de seus co- valaria ou a artilharia. Assim o estado-maior,
beligerantes". Essa é a lógica que orienta a como parte da estrutura organizacional dos
existência do estado-maior, a do conselho, exércitos, é um componente a ser estudado
do assessoramento, correspondendo até para a compreensão da evolução do pensa
os dias atuais a uma, se não a principal, de mento militar ocidental, pois suas origens es
suas funções. O já mencionado Jorge Vigo tão arraigadas na própria história bélica do
(2005), em sua introdução, afirma que os lí ocidente.
deres e comandantes dos exércitos, fossem Nesse sentido, este artigo se propõe a
eles os próprios reis, imperadores, monarcas realizar um breve estudo do surgimento do
ou mesmo os generais, se valiam de algum estado-maior moderno, utilizando-se como

Maj Art(AMAN/98), mestre em Operações Militares (EsAO), especialista em Ciências Militares (ECE-
ME). Atualmente c chefe da Divisão de Logística de Material e da Seção de Estudos Logísticos da Base
de Apoio Logístico do Exército.

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base os conceitos de "Revoluções Militares" e diversos países, têm buscado um conceito
"Revoluções em Assuntos Militares" (RAM), ou uma teoria que seja capaz de descrever
uma vez que tais conceitos possuem a capa o que ocorre quando a guerra tem seu ca
cidade de sintetizar a evolução da arte da ráter alterado de tal forma que, na prática,
guerra sob o ponto de vista do pensamento passa a existir um novo tipo de guerra. Co-
militar ocidental. Procurou-se manter o foco mumente tem sido empregada a expressão
de análise na identificação da incorporação "revolução", pois, a partir da ocorrência de
do estado-maior na doutrina militar, ou seja, tal fenômeno, boa parte das praticas, equi
no momento em que este teve as suas fun pamentos e táticas deixa de existir para dar
ções sistematizadas. lugar a uma nova foma de combate.
A evolução da arte da guerra é um Para alguns, tais revoluções são frutos
tema complexo e extenso, pois está imerso de modificações profundas na própria socie
no próprio processo de construção das so dade,como ocorrido na Revolução Francesa
ciedades. O conflito, as guerras, as revoltas de 1789 e a conseqüente formação do exér
e revoluções são parte e se confundem com cito revolucionário sob a liderança de Napo-
a própria história humana bem como estão leâo Bonaparte. Para outros, as Revoluções
sujeitas às influências provenientes das ide Militares são fruto das inovações tecnológi
ologias e mesmo das paixões. No entanto, cas que afetam de forma determinante as
para que seja possível realizar uma breve características da guerra. A discussão leva a
apresentação, pressupõe-se que os concei uma série de outros questionamentos, de
tos de Revoluções Militares e de RAM sejam pendendo do foco de análise.
suficientes para atender ao propósito deste
tra alho, mesmo com certo reducionlsmo Revoluções Militares x Revoluções
que esses conceitos, por vezes, possam apre- em Assuntos Militares, além de uma
sentar.
simples semântica?
Dessa forma, para se atender ao obje
tivo delineado,
. . . de uma lorma
o, ■
• e siste
lógica Os conceitos de Revoluções Militares e
mática, inicialmente «e
cuie se taz necessário reali de Revoluções em Assuntos Militares(RAM)
za reve discussão sobre os conceitos possuem origens distintas, mas com signifi
de Revoluções Militares e de RAM. Em se cados próximos e que se inter-relacionam.
qüência, apresentar o surgimento do estado- Essas diferenças e semelhanças entre os con
-maior moderno c
e sua
sua evolução
i - com u
base ceitos são mais notadas por historiadores do
nas revoluções militares. que por militares e, para ambos os casos,
possuem utilidade para o estudo da guerra.
Desenvolvimento Segundo o historiador e professor Le
andro José Clemente Gonçalves (2013, pp-
Estudiosos da evolução da guerra, 148-149), o conceito de Revolução Militar é
e eles histonadores, militares e altos proveniente dos estudos acadêmicos de his
fitnciottanos da adtniuistraçào pública de toriadores britânicos da década de 1950 que

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se dedicavam a pesquisar o desenvolvimento Ou seja, uma Revolução Militar, para
do Estado Moderno europeu no século XVII. ser considerada como tal, teria que ser pre
Os estudos do professor Michael Roberts,em cedida de uma revolução mais ampla nas
1955, falavam em Revolução Militar a partir sociedades, alterando o próprio curso da
da transformação de quatro elementos: a re história e, portanto, muito além da esfera
volução tátíca, pela mudança dos terços espa militar. Essa conclusão, tanto de Gonçalves
nhóis, com suas formações em quadrados de como de Jeremy Black, não desconsidera o
piqueiros para formações em linha dos mos importante papel que os militares, a tecnolo
queteiros; a revolução estratégica, pela for gia ou a guerra evidentemente possuem no
mação de exércitos permanentes e regulares transcurso da história, mas a diferenciação
ao invés de temporários; o crescimento dos entre o conceito de Revolução Militar e o de
exércitos, pela formação permanente de for RAM é importante, uma vez que não é raro
ças regulares e ampliação dos objetivos políti encontrar textos que fazem confusão entre
cos a serem conquistados com estes exércitos; esses conceitos.
e o impacto da guerra sobre a sociedade em De uma forma mais objetiva, em 1994,
razão dos custos mais elevados da guerra e o analista de política de defesa Andrew Kre-
pela necessidade de conscrição^. pinevich escreveu para a revista The National
Outro historiador, o britânico Jere- Interest o artígo Cavalry to Computer:thepattem
my Black, sustenta que, para a ocorrência of viilitary revolulions, no qual, segundo ele,
de uma Revolução Militar, esta deveria ser uma Revolução Militar:
precedida por uma mudança social que a
permitisse ocorrer. Cita como exemplo que, [...] é o que ocorre quando há a aplicação
de novas tecnologias em um número sig-
somente após superadas as "cisões religiosas
nificante de sistemas militares combinados
da Reforma Protestante e da Contrarrefor- com conceitos operacionais inovadores
ma Católica é que os governos puderam or e adaptação organizacional de tal ordem
ganizar e disciplinar seus exércitos" (BLA que altera fundamentalmente o caráter e a
CK,2007, p. 2, tradução nossa). condução dos conflitos (KREPINEVICH,
2008, p. 364),

Além disso, as definições de Revolução O autor traz ainda a idéia de que uma
Militar ofereceram muitas variações em Revolução Militar deve trazer, obrigatoria
aplicações da teoria, não somente em ter mente, um alto ganho de eficácia militar,
mos de duração, conteúdo e impacto, bem
como variações na sua utilização entre os
uma vez que tem de ser capaz de produ
níveis tático, operacional e estratégico e zir uma vantagem de tal ordem que altere
entre as dimensões militares e não milita a própria guerra. De qualquer forma, uma
res da guerra. As mudanças tecnológicas Revolução Militar depende de uma alte
são apenas parte da história, que pode ração social de maior vulto, cujos impactos
ser entendida por colocar essas mudanças
em um contexto social e organizacional.
sobre as forças militares as colocam, via de
(BLACK,2007, p. 2, tradução nossa) regra, em vantagem sobre as demais.

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Já o conceito de RAM,segundo Gon nário, de novas estruturas organizacionais e
çalves (2013, p. 150), deriva do antagonis novas formas de emprego das armas.
mo bipolar da Guerra Fria, quando, na Assim, Gonçalves(2013, p. 152)define
União das Repúblicas Socialistas Soviéticas a principal diferença entre Revolução Mili
(URSS), os chefes do Estado-Maior Nikolai tar e RAM: a primeira "seria uma transfor
Orgakov e Segei Akhromeyev desenvol mação de amplo escopo nas relações entre
veram o conceito de "Revolução Técnico- Estado, sociedade, economia e forças arma
-militar", que estaria em curso pelo de das".Já uma RAM "ocorreria apenas no am
senvolvimento de armas de alto grau de biente propriamente militar, conduzindo a
precisão e letalidade devido ao emprego novas formas de combate",
de tecnologia de ponta dos países do bloco O professor adjunto da Escola de Co
ocidental(Estados Unidos e integrantes da mando e Estado-Maior do Exército dos EUA
OTAN). A estratégia da OTAN e dos EUA Scott Sthephenson (2010, p. 79) parece de
para um possível conflito convencional' finir os limites entre os conceitos de Revolu
com a URSS na Europa Ocidental, devido ção Militar e RAM mencionando que:
ao maior efetivo de pessoal e veículos blin
dados do bloco comunista, era compensar Uma RAM,segundo Murray e Knox,é um
tal defasagem numérica com o desenvolvi fenômeno menor e mais restrito, que exige
mento de armas superiores em qualidade, a "reunião de uma combinação complexa
de inovações táticas, organizacionais, dou
ou seja, com larga aplicação de tecnologia trinárias e tecnológicas para a implantação
tornando os sistemas de armas, o comando de uma nova abordagem conceituai em re
e controle (C^), a inteligência e as comuni lação à guerra ou a um sub-ramo especiali
cações muito mais eficientes^. zado dela". Murray e Knox sustentam que,
Com a avassaladora derrota de Sadam se compararmos uma revolução militar a
um terremoto, as revoluções em assuntos
Hussein na Primeira Guerra do Golfo em
militares seriam os tremores secundários
1991 diante as forças aliadas lideradas pelos — anteriores e seguintes — que o acompa
EUA, muitos autores acreditaram que final nham.(STHEPHENSON,2010, p. 79)
mente estavam testemunhando uma nova
RAM. Neste ponto, Gonçalves(2013, p. 151) Esse limite entre os conceitos de Re
afirma que, em 1993, o analista Andrew volução Militar e RAM seria reafirmado
Marshall havia cunhado o termo Revolução pelo professor Gonçalves (2013) três anos
em Assuntos Militares (RAM), sendo este depois.
derivado do antigo conceito de "Revolução É necessário observar que, diante dos
Técnico-Militar", dos soviéticos; porém, di conceitos de Revolução Militar e Revolução
ferentemente do que acreditavam os sovié em Assuntos Militares explorados neste tra
ticos, a RAM não estava circunscrita a uma balho, ambos — além de interligados em
revolução tecnológica, mas a todo um com relação de causa e efeito — são capazes de
plexo de modificações com a necessidade de promover alterações na doutrina, ou seja,
desenvolvimento de novo arcabouço doutri adaptações e mesmo mudanças radicais na

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estrutura organizacional das forças arma É importante o entendimento de que
das, entre elas o estado-maior. Assim, tor coexistem na estrutura militar em geral dois
na-se possível supor que ambos os concei tipos de estados-maiores. O primeiro é o que
tos são importantes para o foco de análise Hitüe (1944, pp. 4-5) denominou "estado-
deste trabalho. -maior supremo", que funciona como uma
"agência controladora" da organização mili
Sobre o estado-maior tar como um todo, sendo responsável pela
direção geral de uma força armada de uma
Definida a questão entre Revolução nação, que prepara os planos para execução
Militar e RAM, cabe neste momento res da política militar nacional e que determina
ponder à indagação sobre o que vem a ser a maneira pela qual as forças de campanha
essencialmente o estado-maior e mais preci serão empregadas, estando sob o comando
samente, quando e como se institucionalizou da maior autoridade militar de um país;
na organização das forças armadas, sendo também pode ser chamado de estado-maior
que hoje em dia é possível se considerar geral {general staff) ou ainda, na época da
como uma parte onipresente nas estruturas implantação do sistema de estado-maior de
organizacionais militares, ainda que existam Von Moltke, do grande estado-maior (great
diferenças entre Estados. Segundo (VIGO, general slaff).
2005, p. 12), para que seja possível fazer a Já o segundo tipo é o que Hittle(1944)
guerra, é necessário que se cumpram cada identificou como o "estado-maior de campo
umas das seguintes funções básicas, relativas e que se refere aos grupos subordinados
ao comando: "1. Recrutamento; 2. Organi dos demais escalões da força armada, que,
zação; 3. Treinamento; 4. Abastecimento; 5. conforme a estrutura militar de cada país,
Informação; 6. Planejamento; 7. Operação; podem existir em diferentes níveis de hie
8. Coordenação"(VIGO, 2005, p. 12, tradu rarquia. Suas funções estão relacionadas ao
ção nossa). cumprimento das determinações dos esca
Hittle (1944, p. 2), ao considerar as lões superiores, para o assessoramento do
definições clássicas de um estado-maior, comandante do escalão considerado na to
menciona que todos os estados-maiores em mada de suas decisões, pela confecção dos
suas épocas possuem como atribuição a assis planos de combate, pela transmissão das
tência ao comando em suas funções, as mes ordens emanadas pelo comandante e pela
mas já citadas por Vigo (2005). Assim, suas verificação do cumprimento dessas ordens.
atribuições básicas são É interessante verificar como a organi
zação de um estado-maior deixa de ser algo
produzir informações ao comandante, como um simples conselho e passa a ser efe
preparar os detalhes do seu planejamento, tivamente organizado e estruturado em um
traduzir suas decisões em planos e ordens
momento de intensas modificações na arte
e, em seguida, fazendo com que as ordens
sejam transmitidas para as tropas.''(HIT da guerra e principalmente fruto da neces
TLE, 1944, p.3) sidade de um melhor gerenciamento (em

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termos de planejamento e comando e con A primeira é por ele denominada "Revolu
trole) do campo de batalha. Tal organização ção da Infantaria", quando, depois de sécu
tinha como principais finalidades a redução los de domínio da cavalaria nos campos de
dos imprevistos inerentes à própria guerra batalha da Idade Média, a infantaria reapa
e compensar a existência de um "gênio mili rece, por meio das formaçties dos piqueiros
tar" adversário, o que oferece sentido à fra suíços e dos arqueiros britânicos, basicamen
se do general Antoine Henri dejomini, que te no decorrer da Guerra dos Cem Anos
abre a obra de Hitde (1944):"Uma boa equi (1337-1453), sendo que a capacidade da in
pe tem a vantagem de ser mais duradoura fantaria em vencer batalhas fora demonstra
do que o gênio de um único homem". da nas batalhas de Laupen (1339) e Crecy
(1346) e como conseqüência trouxe um
As Revoluções Militares expressivo aumento do número de baixas
no campo de batalha. Como adaptação or
Retomando a definição Krepinevich ganizacional, essa Revolução Militar trouxe
(2008, p. 364), Revolução Miliur é o que novas formações de batalhas com piqueiros
ocorre diante de aplicação de novas tecno e cavaleiros sem montaria, porém apoiados
logias em uma quantidade expressiva de sis
temas mUitares, combinados com conceitos por arqueiros, o que exigiu maior coordena
operacionais inovadores e adaptação organi ção dos comandantes.
zacional, de forma a alterar o caráter da con A segunda RAM postulada pelo au
dução dos conflitos. Ela abarca basicamen tor foi a "Revolução da Artilharia", quando,
te quatro elementos: mudança tecnológica mesmo após ter aparecido na Europa em
desenvolvimento de sistemas, inovação ooe' 1267, a pólvora e os canhões efetivamente
revolucionaram a guerra ao serem empre
racion^ e adaptação organizacional, sendo
que cada um desses é um elemento necessá gados em 1420 contra os muros das cidades.
rio mas não suficiente para, isoladamente Antes do emprego em maior escala dos ca
nhões, as cidades sitiadas resistiam até sua
realizar um grande ganho de efiri^ . ' rendição pela fome e sede proporcionada
htar que caracteriza uma revnl. -
Nesse sentido, „ ZT-'° pelos cercos. Simplesmente "centenas de
um produto direto da adapta^-"^^'^^ anos de dominação da defesa na guerra de
cional conforme fora mencion^n^ ^fganiza- sítio" vieram abaixo com os canhões à base
pinevich. Ou seja, no decorrer de pólvora e, mais uma vez, houve uma
volução Militar, ou mesmo de ^ grande adaptação dos exércitos, que passa
possível que a estruturação e é ram a contar com nova.s estruturas, como os
dos estados-maiores sofram rnod^fl'^^^^° trens de cerco para a artilharia (KREPINE
significativas, caracterizando assim VICH,2008, p. 366).
I •
raçao na doutrina.
âlfp- Segundo Krepinevich (2008, p. 366)a
terceira revolução militar teria sido de cará
Para Krepinevich (2008, p. 365)e ■
ram em torno de dez "revoluções militarèV'" ter naval, a "Revolução da Vela e do Tiro",
que alterou de forma dramática o caráter

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dos conflitos após as galés das fiotas oci novos conceitos operacionais, uma nova or
dentais terem dado continuidade à "Revo ganização militar que combinava piqueiros,
lução da Artilharia". Na Batalha de Preveza mosqueteiros, cavalaria e uma grande e ágil
(1538), as galés venezianas obtiveram uma artilharia, utilizando táticas lineares, que re
esmagadora vitória sobre o Império Turco- dundaram em vários sucessos, sendo a mais
-otomano; esse resultado teria sido repetido famosa a batalha de Lutzen (1632).
na Batalha de Lepanto em 1571. A grande Até essas cinco primeiras Revoluções
adaptação organizacional foi que os navios Militares, as estruturas dos exércitos perma
haviam deixado de ser uma "guarnição flu nentes estavam sendo refundadas seguindo
tuante de soldados" para se transformar em inicialmente o sistema mercenário vigente
uma "plataforma de artilharia". desde a queda do Império Romano. Esse sis
Já no século XVI,de acordo com Kre- tema, segundo Vigo (2005, p. 71), alcançou
pinevich (2008, p. 366), ocorrera a "Revo sua máxima expressão e seu esgotamento
lução das Fortificações" em decorrência da durante a Guerra dos Trinta Anos, estando
construção de fortes empregando muros os comandos superiores misturados com as
mais baixos e paredes mais espessas, cons cortes que se caracterizavam por aconselha
tituindo um sistema de fortificações deno mentos realizados por conselhos de guerra''.
minadas trace italienne, sendo mais comum Assim, a assistência ao comandante ainda era
um formato baseado em estrela, com diver baseada nas famílias da aristocracia. Os che
sas angulaçôes e bastiões que deveriam ser fes e comandantes militares tinham somente
capazes de desviar o ângulo de tiro dos ca uma pequena capacidade de assessoramento
nhões e não necessariamente absorver todo aos reis e imperadores, limitando suas ativi
seu impacto. dades à condução das tropas.
A última das cinco primeiras revolu
ções foi a chamada "revolução das armas de As Revoluções Militares e o surgimen
fogo", quando o uso dos mosquetes foi capaz to do estado-maior
de perfurar as armaduras a partir da segun
da metade do século XVI. Mesmo com o ex A Revolução Francesa de 1789 foi im-
pressivo aumento dos custos, um mosquetei pactante em todos os sentidos, e no campo
ro poderia ser treinado de forma muito mais militar não foi diferente. Várias alterações
rápida do que um arqueiro longbow^ britâni ocorreram, como descreveu o professor da
co, não havendo mais a necessidade de um Universidade Federal de São Carlos (UFS-
grande número de piqueiros para proteger CAR) Carlos Eduardo M. Viegas da Silva
a infantaria das cargas de cavalaria. Segun (2003):
do Krepinevich (2008, p. 367), essa revolu
ção atingiu seu ápice nas idéias de Gustavo Foi uma época de revoluções e transfor
mações. Os exércitos que serviam as mo
Adolfo, que, durante a Guerra dos Trinta narquias absolutistas do século XVIII
Anos (1618-1648), aplicou o que foi descrito eram relativamente pequenos em contin
como "sistema militar sueco", ao introduzir gente, comandados por aristocratas, ad-

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mitiam como corriqueiro o uso de tropas Segundo Hiltle (1944, p. 81). no final
não nacionais em seus quadros, usavam
mercenários e lutavam de maneira rígida, do "Antigo Regime", em 1788, o Conselho
obedecendo a preceitos cavalheirescos e Superior de Guerra já levava em considera
esquemas táticos que visavam transformá- ção mudanças para melhoria do sistema de
-los em grandes mecanismos militares. Em estado-maior do Exército, e. em outubro de
pouco mais de três décadas, no período 1790, a Assembléia promulgou uma lei alte
que vai da Revolução Francesa de 1789 ao
início do século XIX, uma outra revolu rando a organização do estado-maior. Dois
ção, em assuntos militares®, havia ocorri anos depois, a Convenção Nacional havia
do. O grande exército que Napoleão levou criado o título de chefe do estado-maior
à Rússia em 1812 tinha mais de 500.000 geral, com outros quatro generais como
homens,era ideologicamente revolucioná assistentes, sendo que os generais adjuntós
rio, seus comandantes-alguns no posto
de general-tinham origem plebeia. Era continuaram, cada vez mais, a assumir maior
quase todo consütuído por cidadãos fran importância organizacional e logo passaram
ceses conscntos, pagava soldo em papel a assumir a função de chefe de estado-maior
moeda e lutava sem observar rituais ca das divisões e corpos de Exército. Esse tato era
valheirescos. inovando na tática e apenas semelhante ao que ocorria na Prússia, onde o
com um objetivo: destruir totalmente^
exército inimigo.(SILVA. 2003, p. 24) Estado-Maior Geral fornecia alguns dos mais
qualificados oficiais adjuntos do comandante.
De fato, a profusão de transformações
Krepinevch
alem do aumento (2008. p.367)que
dos efetivos, afirma
levouque da Revolução Francesa, com profundos im
pactos no campo militar, trouxe à tona uma
reorganização dos exércitos em campanha.
Logo as forças armadas de diversos países
autossuficie„te„oeamporfia:r'::r
tagios iniciais da Revolução i,,,i . iriam "copiar" o sistema de conscrição fran
mitiram aos franceses padroni cês e o apelo ao nacionalismo para levar as
de sua anilharia.carruCrêc" nações à guerra,seja pela identificação cultu
a fabricar partes (peças) intercarnUá"'^-''''''' ral, pela defesa da coroa ou pela sobrevivên
reduzir o peso de seus canhões ^^ cia do estado- Mas, no escopo deste trabalho,
de, oferecendo nova mobilidade interessa apreciar que, em 1796, o general
Mas a grande mudança pronor ^ Pierre Alexandre Berthier (1753-1815),
Revolução Francesa e pelo chefe do Estado-Maior de Napoleão para o
Napoleão Bonaparte, mendonad ^ Exército da Itália, redigiu um trabalho cha
pinevich (2008, p. 367) e que ef mado Document sur le Service de IlÉtat-Major
interessa para este trabalho, foi General a VAnnée ães Alpes, no qual, conforme
introduzida na integração dos ava"""^^"^^ Hittle (1944, p. 83), ele "esboçou a maneira
nológicos com os sistemas militares pela qual acreditava que um estado-maior
ganizações militares, enfatizando-sl''^' de um quartel-general deveria funcionar .
caso, as mudanças em seu estado-maior^^''^ Se não há como marcar definitivamen
te um momento no qual os estados-maiores

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começaram a funcionar ou foram regula nização e estabelecimento dos quartéis-ge
mentados, os escritos do General Berthier, nerais e dos quartéis de comando de orga
ainda que baseados no trabalho realizado nizações conexas, ou seja, da instalação dos
pelo Conselho Superior de Guerra de 1788, postos de comando e também dos trabalhos
marcaram uma série de princípios, técnicas como o de polícia militar (VIGO, 2005, p.
e teoria que se aplicam mesmo nos dias atu 116).
ais. Cada uma das quatro funções básicas Outro general francês, Paul Thie-
dos integrantes do estado-maior delineadas bault, que então ocupava o cargo de chefe
por Berthier corresponde aproximadamen de estado-maior da divisão do general Mas-
te às funções adotadas pelo Exército dos Es sena, certa feita foi inspecionado por Na-
tados Unidos da América na época em que poleão, que o questionou a respeito de as
publicou seu livro^(HITTLE, 1944, p. 83). suntos como o efetivo da divisão, o efetivo e
Segundo Vigo (2005, p. 116), o es a localização dos destacamentos, a condição
tado-maior pensado por Berthier era di do armamento, a situação dos suprimentos
vidido em quatro seções básicas, sendo a e a situação do inimigo. Todas as perguntas
primeira responsável pelos registros de pareciam elementares para Napoleão, mas
efetivos, organização das leis (assuntos le foram extremamente embaraçosas ao jo
gais), organização, prisioneiros de guerra vem oficial. Evidentemente, não havia uma
desertores e questões legais (para crimes de sistematização suficiente no Estado-Maior
guerra) e arquivos de estado-maior. A se para responder a tal massa de informações
gunda seção era responsável pelos registros de forma imediata (HITTLE, 1944, p. 87).
oficiais do exército, pelo armamento, pela Conforme Vigo (2005, p. 116), des
artilharia, engenharia, as questões de sub contente cora a situação, Thiebault não
sistência, pelos hospitais, pela polícia mili somente procurou resposta aos questio
tar e pelo quartel-general do comandante, namentos de Napoleão como iniciou um
semelhante ao papel desempenhado pela trabalho com base em sua experiência pes
quarta seção dos tempos atuais. soal e nos escritos de Berthier, de forma a
A terceira seção cobria as funções de sistematizar, atribuir funções e organizar o
reconhecimento, planos operacionais, co Estado-Maior. Mesmo para os padrões de
municações, serviços postais, emprego de 1944, como se refere Hittle (1944, p. 87),
guias e outras questões relacionadas. De o manual escrito por Thiebault e publicado
ve-se observar que as atividades de inteli em 1800 foi surpreendentemente comple
gência, hoje desempenhadas pela segunda to. O Manuel des Adjudants-Généraux et des
seção de estado-maior, é claramente dife Adjoints employes dans les États-Majors Divisio-
renciada por Berthier dos planejamentos naires des Amiées foi o primeiro manual de
operacionais, atualmente desempenhados estado-maior da história'" e pouco depois
pela terceira seção, ainda que, para Ber foi publicado na Espanha, Prússia, nos es
thier, estivessem reunidas em uma única tados alemães e ganhou uma edição inglesa
seção. Já a quarta seção se ocupava da orga em 1801 (VIGO, 2005, p.ll7).

ADN 63
PQUADRIMESTRE DE 2016
A ascenção do Estado-Maior Prussiano influência do chefe do Estado-Maior sobre
todos os generais.
A origem francesa do estado-maior, Cabe ressaltar que, naquele momen
mesmo sendo conseqüência de uma Revolu to, se deu a origem do estado-maior como
ção Militar, não exclui importantes contribui órgão de direção-geral(ODG)de uma força
ções de outras nações no seu desenvolvimen armada, bem diferente do que fora pensa
to. Talvez uma das maiores contribuições do pelos generais de Napoleão ao redigir os
tenha sido a do Estado-Maior Alemão, mais precursores dos manuais de trabalho do Es
precisamente da Prússia. Segundo o histo tado-Maior, ainda que existam semelhanças
riador germano-americano e especialista so nos assuntos estudados.
bre a história moderna alemã Hajo Holborn É interessante notar também que, se
(2001, p. 378), os reformadores do exército gundo o historiador canadense-americadno
prussiano do século XIX,entre eles Gerhard William Haardy McNeill (2014, pp- 260-
Johann David Waitz von Scharnhorst e Au- 261), o trabalho de Scharnhorst e de seu
gust Count Niethardt von Gneisenau. in substituto Gneisenau", como chefes do Esta
troduziram mudanças em grande parte se do-Maior do general Gebhard Lebrecht von
gundo o modelo francês, pois sabiam que as Blücher, foi capaz de
novas formas de guerrear "eram expressões
das profundas mudanças políticas e sociais traduzir as intenções em detalhadas or
produzidas pela Revolução Francesa". Entre dens de operações, que previam e comu
tais mudanças estava a adoção da conscrição nicavam muitos dos fatores que, de outra
universal. forma, teriam tornado impossível a obedi
Ainda segundo Holborn (2001 p ência pontual.
380), os novos estrategistas prussianos ins
tituíram, entre 1803 e 1809, seu próprio Ou seja, o trabalho de estado-maior,
organismo no Estado-Maior Geral, que se ainda que com as particularidades e exigên
transformou no "cérebro e no centro nervo cias dos escalões mais elevados do exército
so do exército". O Estado-Maior Geral era prussiano, mantinha como base os trabalhos
responsável por planejar, organizar, educar de estado-maior dos escalões menos eleva
e instruir o Exército em tempo de paz, além
dos da concepção original frnacesa, ou seja.
de preparar as operações militares median dentro da lógica do assessoramento e da
te o estudo das informações topográficas, da concretização das idéias do comandante por
meio de ordens mais detalhadas.
direção da tática e da estratégia. Tornou-se
comum que os oficiais treinados e formados
Sabendo com antecedência, por meio de
por Scharnhorst no Estado-Maior, por meio mapas, com o que se parecia com a topo
de jogos de guerra e do estudo detalhado grafia local, um oficial de estado-maior
da logística e de campanhas do passado, fos competente poderia calcular, fruto da ex
sem designados como assessores das grandes periência passada e regras práticas codifi
cadas, que ritmos de progressão os trens
unidades do exército, estendendo assim a de um batalhão, um grupo de artilharia

64 ADN 1°QUADRIMESTRE DE 2016


ou uma unidade de infantaria poderiam volução Industrial, que trouxera uma série
sustentar pelo terreno em questão. Isso de inovações, entre elas o uso das ferrovias,
lhe permitiria antecipar qual intervalo de
facilitando o transporte e movimentação das
tempo seria necessária para completar os
movimentos a serem executados. Quan tropas: do telégrafo, que auxiliou na veloci
do Iniciar o movimento de cada unidade dade e volume das informações de combate,
e que linhas de avanço seguir, puderam e o raiamento dos canos e tubos das armas
então ser especificados com tal exaüdão com produção em série, ampliando o alcan
que o comandante de campo era capaz de
exercer maior controle sobre suas tropas ce e precisão dos armamentos.
do que antes, sem tal trabalho de estado- A "Revolução da Guerra Terrestre"
-maior (McNEILL,2014, pp. 260-261). atingiu sua maturidade na Primeira Guer
ra Mundial, quando ocorreu o efeito da es
Ainda segundo McNeilI(2014, p. 261), tabilização das frentes devido à introdução
esse relacionamento entre Blücher e seus de maior quantidade de armas automáticas,
subordinados imediatos no Estado-Maior, como a metralhadora, e o aumento dos cali
Scharnhorst e Gneisenau, continuou in bres das armas coletivas, como os canhões.
fluenciando o pensamento prussiano mesmo Ainda conforme Krepinevich (2008, p. 368),
após 1815, ainda que o "prestígio dos oficias a falta de visão dos líderes e comandantes so
de estado-maior" não estivesse plenamente bre efeitos da tecnologia no campo de bata
consolidado até que Helmuth von Moltke lha produziu desastres em termos de baixas,
(1800-91), no decorrer da Guerra Austro- como a Ofensiva Nivelle'^, dos franceses, o
-Húngara de 1866, tivesse demonstrado Somme, para os britânicos, e em Verdun,
como o planejamento de estado-maior pode para os franceses e alemães. Ainda como
acelerar e controlar o desdobramento estra conseqüências da Revolução Industrial na
tégico de vastos efetivos", uma conseqüência Primeira Guerra Mundial, foram realizados
do levée en masse da Revolução Francesa e diversos melhoramentos nas marinhas de
portanto um resultado da Revolução Militar. guerra, não somente pelos novos motores a
Assim, o trabalho de estado-maior de combustão, mas pela entrada em campo dos
monstrava sua capacidade de gerenciar o grandes vasos de guerra e principalmente
enorme acréscimo de efetivos de soldados dos submarinos, ao que Krepinevich (2008,
no campo de batalha bem como as novas p. 368)chamou de Revolução Naval.
características das armas disponibilizadas. Duas outras Revoluções Militares ain
Cabe ressaltar que a Guerra da Criméia da foram elencadas por Krepinevich (2008,
(1853-1856) e a Guerra de Secessão nos p. 369): a chamada Revolução na Mecani
EUA (1861-1865), ambas anteriores à Guer zação, Aviação e Informação e a Revolução
ra Austro-Húngara (1866), no século XIX, Nuclear, sendo a primeira a representação
já davam sinais da próxima Revolução Mi do ápice da guerra industrial. No campo da
litar mencionada por Krepinevich (2008, mecanização, novas unidades inteiras surgi
p. 368), ao que chamou de "Revolução da ram, como as divisões Panzer dos alemães.
Guerra Terrestre" em conseqüência da Re Na aviação, novos motores de combustão in-

1 = QUADRIMESTRE DE 2016 I ADN 65


terna e desenho das aeronaves deram maior p. 373), essa guerra caracterizou o início de
capacidade de ataque a alvos terrestres e na uma, ainda incompleta. Revolução Militar,
vais, incluindo também os bombardeios es uma vez que "os Estados Unidos ainda não
tratégicos. Na informação, as comunicações apresentaram uma mudança dramática na
por rádio e o emprego dos radares possibili doutrina" e também "nenhuma nova gran
taram aos comandantes e seus estados-maio- de estrutura ou organizações militares". No
res o acompanhamento mais cerrado das entanto, cabe re.ssaUar que existem algumas
operações bem como fecilitaram sobrema mudanças que têm efetivamente o potencial
neira a coordenação do emprego das armas para mudar o caráter da guerra; o recen
no campo de batalha. Isso permitiu adapta te aparecimento da Guerra Cibernética, a
ções na doutrina, como no caso da BUtúrieg questão do uso de robôs como os recentes
e o melhoramento do apoio de fogo naval às ataques com drones remotamente pilotados
operações anfíbias.
ou pré-programados.
A última Revolução Militar menciona
da por Krepmevich (2008,p. 369), a Revolu Conclusão
ção Nuclear, caracterizada pelo uso dos arte
fatos nucleares que destruíram as cidades de A Revolução na Informação em par
Hiroshima e Nagasaki no final da II Guerra ticular, ainda na era industrial, gerou um
Mundial, inaugurou um novo tipo de guer outro problema aos comandantes e seus
ra.Já nos níveis político e estratégico Ouan estados-maiores: o aumento significativo do
Socialistasa bomba
tica^(URSS)conseguiu desenvolver Lié- volume de informações que chegam até os
postos de comando. Esse problema tem sido
nuclear em 1949essa
e. posteriormente, os meios solucionado pelo aumento de especialistas
de lançamento, Revolução Militar Z que trabalham junto aos estados-maiores,
trou em um impasse, uma vez que ambas L flexibilizando assim sua estrutura. Foram
superpotências, EUA e URíiç
ter condições de se destruírem' ^ inseridos como auxiliares e adjuntos aos
Dessa forma,surgiram as cham^dargu^ras oficiais de estado-maior, militares e civis de
diversas áreas do conhecimento, como me
por procuração" ^roxv war^\ guerras
teorologistas, oficiais de informação e inteli
eURSS.viaderegra,!p::t:^;^^"-^^^
opunham um ao outro,como gência e auxiliares em comunicações etc.
Guerra do Vietnam (1955-1975^^ exemplo a Essa situação tem sido agravada atu
do Afeganistão (1979-1989) ^ ^ Guerra almente, uma vez que a aplicação da tecno-
Quanto à discussão se jQgja como o uso de banco de dados, de
Guerra do Golfo de I993 ést informações de geoposicionamento global
não diante de uma RAM,ou (GPS), de informações coletadas pela inte
Revolução Militar provocada p^^ ligência no campo da cibernética, do reco
nhecimento e ataque realizado por meio de
conhecimento, é necessário qug
aeronaves remotamente pilotadas(ARP),en
diagnóstico preciso. Para ^'"epinevich(200^ tre tantos outros tipos de informações que

66 ADN I 1 = QUADRIMESTRE DE 2016


chegam aos postos de comando(PC)— de convencionais, uma vez que as guerras no
safia os comandantes e seus estados-maio- século XXI se têm tornando cada vez mais
res. Na atualidade é comum, nos exércitos entre grupos armados e não entre estados,
mais avançados, a utilização de sistemas exigindo muitas vezes especialidades em
informatizados e software de apoio à de áreas das ciências humanas e sociais, como
cisão para reunir, processar e selecionar a ajuda de antropólogos e sociólogos para
informações relevantes aos comandantes, lidar com diferentes culturas, e de especia
devido justamente ao enorme volume de listas em Relações Internacionais e Direito
informações entregues. Internacional, de forma a manter a legiti
Com o fim da bipolaridade da Guer midade das operações.
ra Fria, nas palavras do escritor libanês Quanto maior a complexidade das
Amin Maalouf (2011, p. 24), os conflitos operações, normalmente mais numeroso é
passaram a ter um teor mais identidário o estado-maior. Um exemplo é o do Estado-
do que ideológico. Essa questão tem trazi -Maior Conjunto, segundo a doutrina brasi
do novos desafios aos estados-maiores em leira, quando as forças armadas são empre
face da natureza mais incerta e do ambien gadas em operações militares que envolvem
te mais difuso das operações militares não forças navais, terrestres e aéreas (Figura 1).

Chefe EMCj O Lig das F Cte

01 D2 03 D4 D5 06 07 D8 D9 010 On

Figura 1- Composição do Estado-Maior Conjunto


Fome; Brasil (2011, pp. 63-64)
Dl - 13 Seção - Pessoal
D2 - 2® Seção - Inteligência
D3 - 33 Seção - Operações
D4 - 43 Seção - Logística
D5 - 53 Seção - Planejamento
D6 - 03 Seção - Comando e Controle
D7 - 73 Seção - Comunicação Social
D8 - 8' Seção - Operações Psicológicas
D9 - 93 Seção - Assuntos Civis
D10 - 10® Seção - Administração Financeira

PQUADRIMESTRE DE 2016 ADN 67


Parece claro que, confor
me o manual do Ministério da
Defesa do Brasil, a estrutura do -T- ,
Estado-Maior Conjunto é previs
ta para ter um oficial para cada w
ECAF

L N
área básica necessária às opera
ções militares — notadamente as
quatro funções básicas elencadas
desde a Primeira Guerra Mun
dial e primeiramente vislum
bradas pelo general Berthier —,
obviamente acrescida de outras.
Nota-se também que, conforme
LEOBMOA
a necessidade da operação, po
•RelaçiodsSubenllnaçae
dem-se acrescer outros oficiais •EM Q«ral

ou assessores, o que é represen • EM Espacial


•Livre Fluxo d« IntonnaçOos ontre aa SeçOos do EM
tado na Figura 1 pela sigla Dn.
O mesmo pode ser dito, ao se Secftea do EM FTC
ei — Po»» aal E7 — Coniunlcogao Soclot
observar a estrutura do estado- E2 — lntollg6nela 66 — Operações do Informação

-maior previsto para uma força E3 — Oporaçõos E9 — Asauntos Cfvia

E4 - Logística E10Administração PInancoIra


terrestre em operações — no B9 — pianojamortto ECAF — Elemento de Coor Ap F

caso da atual doutrima mili le


69 — Comande e Controle En — Outraa Seções üulgadoo
Nuceasârlas

tar brasileira, a Força Terrestre


Componente (FTC) —, confor Figura 2 - Estado-Maior da FTC

me apresentado na Figura 2. Fonte: Brasil (2014, p. 3-5)

Portanto, é importante ve
rificar que o estado-maior, tanto é copiada pelos demais países, ao se verifica
como um órgão de direção de uma força ar rem suas vantagens.
mada como um todo, como em sua função Por fim, é importante esclarecer que
de assistência aos comandantes em diversos alterações no sistema de assessoramento ao
níveis da hierarquia militar, se tornou uma comandante, pela instituição, composição
estrutura comum aos exércitos de várias ou mesmo por mudanças radicais, podem
partes do mundo, adotado inclusive em ser um interessante sinal da evolução da arte
países que não possuem uma tradição oci da guerra e mesmo foco de análise para se
dental. Esse é um dos efeitos trazidos pelas perceber se há ou não uma nova Revolução
Revoluções Militares, mencionado por Kre-
Militar ou RAM em andamento, uma vez
pinevich (2008, p. 370), segundo o qual as que se trata de uma importante adaptação
características de uma Revolução Militar têm
organizacional no nível decisório das opera
uma vida cada vez mais curta, uma vez que ções militares. ..

68 ADN I^QUADRIMESTRE DE 2016


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[S.l.]: Ministério da Defesa.,2011

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MCNEILL, William Hardy. Em Busca do Poder. Rio de Janeiro, RJ: Bibliex Cooperativa, 2014.
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XXI. Um estudo sobre a atualidade do paradigma de Clausewitz. 2003. 158 f. Dissertação de
Mestrado - Universidade Federal de São Carlos, São Carlos, 2003. Disponível em: <http://www.
arqanalagoa.ufscar.br/tesesdisserta/Disserta%20Caco.pdf>.
STHEPHENSON,Scott. A Revolução em Assuntos Militares: 12 Observações sobre uma Idéia
Fora de Moda. Military Review, 4" Bimestre (Julho-Agosto) 2010. p. 78-88.
VIGO,Jorge Ariel. EI Estado Mayor: La asistencia al comandante desde Egipto hasta Prusia.
Buenos Ares: Folgore Ediciones, 2005. Disponível em: <https;//www.academia.edu/8502962/
El_Estado_Mayor>. Acesso em: 17 maio 2015.

A expressão "armas e serviços" neste texto se refere às diversas especialidades das tropas empregadas
em um campo de batalha. No caso do Exército Brasileiro(EB),são a Infantaria, a Cavalaria, a Atilharia,
a Engenharia, as Comunicações, o Serviço de Intendência e o Quadro de Material Bélico. Tendo ainda
o Serviço de Saúde, entre outros. Essa composição varia entre os diversos países.

l^QUADRIMESTRE DE 2016 I ADN 69


' Gonçalves(2013, p. 149)destaca ainda a atuação do historiador Geoffrey Parkcr, que estudou períodos
anteriores ao de Michael Roberts, mas que, no entanto, confirmou sua teoria de existência de uma Re
volução Militar, assim como ClifFord Rogers, para o qual a primeira revolução teria ocorrido ainda no
século XV,com a primazia da infantaria sobre a cavalaria simbolizada pela Batalha de Agincouri(1415).
' De feto, no período da Guerra Fria, a possibilidade de um conflito nuclear entre EUA e URSS e aliados
de ambos os lados era remota diante da possibilidade da Destruição Mútua Assegurada(DMA)ou MAD
em inglês.
" Segundo Gonçalves(2013 p.l50), o secretário de defesa dos EUA, Harold Brown,era adepto da estra
tégia da superioridade tecnológica em relação à URSS.
® Uma observação importante apresentada por Hittle (1944, p.3)é que, na função de transmitir ordens,
verificar se as ordens do comandante estão sendo seguidas e depois supervisionando a execução dessas
ordens,os elementos do estado-maior não possuem a autoridade para comandar. Eles são considerados
como agindo em nome do comandante por delegação deste.
Longbow pode ser traduzido como "arco-longo". Consistia em um arco de maior tamanho e enver^-
dura, utilizado pelos britânicos em diversas batalhas da Idade Média. Por suas características, permitia
o tiro de flechas a disfencias muito superiores às dos demais arcos utilizados no período. Sua eficiência
ficou demonstrada principalmente nas batalhas de Crecy (1346), Poitiers(1356)e Agincourt(1415), na
Guerra dos Cem Anos.
' Para Vigo (2005, p. 27), há uma diferença entre o conselho de guerra e o estado-maior. O conselho de
guerra possui somente a função de aconselhar o soberano ou o chefe militar, não possuindo as demais
funções comuns ao estado-maior, como a de buscar informações ao comandante, traduzir decisões em
ordens ou supervisionar a execução dos planos e ordens Além do mais. um estado-maior necessita ter
um chefe de esmdo-rnaior. o que não é obrigatório em um conselho, e ainda possui caráter temporário
sendo convocado por ordem do comandante
a Para efeito deste artigo,consideramos que houve uma Revolução Militar e não uma RAM.uma vez que
a Revolução Francesa atingiu praticamente todos os campos de poder; portanto, muito mais profunda
em termos de sociedade do que somente uma RAM
'Mundial
Publicou seuaslivro
colocana em^madas
Forças 1944.justamente no momento
dos Estados Unidos daem que a iminente
América como umavitória
espécienade
II modelo
Guerra
doutrinário a ser copiado pelas demais forças armadas de diversos países, influenciando assim o pen
samento mihtar ocdenml. Posteriormente, com o tSmino da Guerra Fria, a doutrina de emprego das
drvrofo"Lr ^ ^ ^-de fome de inspiração para a formulação da doutrina de
EsXmS: eTdt brasileiro é o''Manua. de C-P-
atualização no Estado-Maior do L2 Publicado em 2003. Atualmente, encontra-se ern ta^
alunos da Escola de Comando e EsmH Maior do Exército no biênio 2014-2015. mterdisciplinar
" Apos o falecimento de bcharnhorst em I813
A Ofensiva Nivelle foi um ataque dos Aliados em 1917 na Frente Ocidental, durante a Primeira Guerra
Mundial, hderado pdo general

NR: A adequação do texto c das refcrg - „^„„irõcs da Associação Brasileira de Normas


Técnicas(ABNT)é de exelustva

70 ADN ! 1®QUADRIMESTRE DE 2015

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