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IMPORTÂNCIA DOS CONSENSOS

1 NA ÁREA DE ASMA
Ana Carla S. Araújo
Médica-Residente de Pneumologia do Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto - USP
Elcio O. Vianna
Médico Pesquisador da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto - USP Seção de Pneumologia
Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto
Universidade de São Paulo

Introdução que serão aqui mencionadas, a aspectos específicos


das diferentes diretrizes visam oferecer ao leitor uma
Diretrizes para o atendimento do paciente as- perspectiva a mais para enxergar o assunto e ilustrar o
mático têm sido freqüentemente desenvolvidas por que está em discussão que, na realidade, é a asma.
grupos de estudiosos em asma e divulgadas com o
nome de “consenso” no meio médico nacional ou Importância dos Consensos
“consensus report” na literatura internacional. Essa
denominação deriva-se da tentativa de se chegar a Duas questões ligadas aos consensos surgiram
diretrizes que sejam de comum acordo entre os par- na literatura médica nos últimos anos.
ticipantes, o que nem sempre ocorre. Utilizamos, • Os consensos estão corretos?
portanto, o termo “consenso” para nos referir a di- • Os consensos são necessários?
retrizes formuladas por um conjunto de especialis- A primeira questão é científica e, realmente,
tas. Essas reuniões de especialistas têm sido orga- os autores dos consensos se preocupam com a qua-
nizadas por sociedades médicas, entidades gover- lidade da informação, tanto que a maioria dos con-
namentais e agências de saúde. O objetivo dos con- sensos contém novas versões não apenas por causa
sensos seria oferecer informações sobre asma aos da evolução do conhecimento, mas também por
profissionais que lidam com a doença para, por fim, causa de críticas recebidas por informações imper-
melhorar a forma como o paciente asmático é aten- feitas. A exemplo disso, temos diversas questões
dido. levantadas por Fabbri (2), relativas a orientações
As primeiras publicações de consensos sobre que necessitam maior fundamentação científica:
asma datam do início dos anos 90 e novas versões • Há vantagens do uso crônico de
destes consensos já foram publicadas (1). Apesar corticosteróides em crianças com asma leve?
de necessários, poucos estudos têm se dedicado a • Usar medidores de pico de fluxo melhora
avaliar o impacto destas publicações na prática parâmetros como número de consultas ao pronto-
médica. Este assunto será discutido nos próximos socorro, internações, sintomas, perda de dias de
parágrafos deste capítulo. E, a seguir, apresentare- trabalho ou escola?
mos alguns dos consensos mais importantes da lite- • A evolução do paciente durante exacerbação
ratura médica e o consenso brasileiro, comparan- aguda é melhor quando se utiliza medida de pico
do-os e buscando o que existe de comum entre eles de fluxo?
– aquilo que seria recomendável para qualquer gru- • Quais são os melhores horários para as medi-
po de especialistas em asma do mundo. As críticas, das de pico de fluxo? Uma vez ao dia ou duas vezes

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ao dia? Medidas contínuas por longos períodos ou por O conhecimento dos médicos sobre os consen-
um período curto de duas semanas? sos também foi pesquisado. Doerschug e colabora-
• Quais são as evidências de que um plano de dores avaliaram o conhecimento de médicos sobre as
ação para exacerbação ou para o tratamento crôni- diretrizes do último consenso americano, em termos
co melhore o controle da asma? de diagnóstico e tratamento da asma, aplicando um
• Qual é o papel dos antibióticos no tratamen- questionário a diferentes tipos de médicos de uma ins-
to da asma aguda em crianças e adultos? tituição acadêmica (6). Os resultados demonstraram
Enfim, essas e outras questões ainda precisam que o treinamento e a especialização dos profissionais
de respostas baseadas em evidências, mas, mesmo melhoram o conhecimento sobre o consenso. Médi-
assim, já foram incorporadas como condutas por cos residentes obtiveram a menor pontuação, mas as
alguns consensos. notas melhoraram progressivamente à medida que o
Por mais que os consensos sejam baseados em tempo de residência aumentava. Isso sugere que o trei-
evidências e discutidos profundamente do ponto de namento desses residentes era adequado em relação
vista científico, o esforço não deve se limitar apenas à à asma. Um outro achado interessante deste estudo
produção do seu texto. A atenção também deve ser foi o fato de que especialistas (pneumologistas e
dirigida à disseminação e aplicação prática das diretri- alergologistas) tiveram os melhores resultados, o que
zes elaboradas. Estudos recentes têm demonstrado que provavelmente reflete o maior contato destes profissi-
há falhas nessas fases, o que põe em discussão a ne- onais com o consenso através de publicações, con-
cessidade de se ter um consenso. gressos e simpósios. Apesar deste efeito positivo do
Num estudo de Taylor e colaboradores, anali- treinamento sobre os resultados, de modo geral os
sou-se o conhecimento sobre asma e a forma de tra- médicos obtiveram notas baixas. A média das notas
tamento de pacientes que procuraram um serviço de foi 60%. Os erros mais comuns eram:
pronto-socorro. Os pacientes demonstraram um co- • Incapacidade de identificar os sintomas diários
nhecimento muito fraco sobre asma e seguiam, e, portanto, classificar como asma moderada;
freqüentemente, tratamento inadequado. Aproximada- • Incapacidade de reconhecer que o uso diário
mente 60% dos pacientes estavam usando medica- de ß2-agonista significa controle inadequado da do-
ções aquém do necessário e mais de 80% não possu- ença;
íam um plano de ação para exacerbações. Em relação • Incapacidade de correlacionar sintomas no-
ao uso de corticosteróide inalado para asma modera- turnos semanais com asma moderada.
da e grave, somente 50% dos pacientes nessa popu- Os organizadores do consenso britânico, pre-
lação empregavam algum tipo de corticosteróide e, ocupados com as críticas recebidas, não apenas atu-
dentre estes, alguns de maneira inadequada (3). alizaram e expandiram as diretrizes, como também
Em outro estudo recente, foram pesquisados pa- criaram um projeto de disseminação e aplicação do
cientes associados a uma grande organização consenso em seus países. Os métodos de dissemi-
prestadora de serviços de saúde (plano de saúde). nação foram correspondências (com uma cópia do
Dentre os pacientes com asma grave, 72% possuí- consenso) para 60.000 profissionais; simpósios es-
am um corticosteróide inalado, mas apenas 54% palhados pelo Reino Unido (total de 19); comuni-
destes o usavam diariamente. Para medida de pico cados através da imprensa médica; e, comunicados
de fluxo, só 26% tinham um medidor e 16% destes através da imprensa leiga. Os organizadores avalia-
faziam medidas todos os dias. Vale lembrar que é ram o impacto dessas medidas e concluíram que hou-
uma população privilegiada por ter direito à medi- ve melhora no tratamento do paciente asmático, mas
cação, aos medidores de pico de fluxo e acesso ao ressaltam que o sistema de disseminação e incentivo à
atendimento médico (4). Para Poponick, os médicos aplicação do consenso deve ser contínuo (7).
responsáveis pelo atendimento do paciente asmático
em unidades de emergência podem contribuir muito CONSENSOS - CLASSIFICAÇÃO DE GRA-
para a aplicação dos consensos através da educação VIDADE
do paciente e encaminhamento adequado (5).

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Para maior facilidade em correlacionar quadro Classificação pelos Sintomas Noturnos
clínico com tratamento e indicar o tratamento na apre-
sentação inicial, a asma recebe uma classificação de Em relação à ocorrência de sintomas notur-
acordo com a gravidade de sua apresentação clínica. nos, os consensos são imprecisos. Não colocam li-
Contudo, existem diferenças entre as classificações mites exatos entre os níveis. Para o americano, não
apresentadas em consensos de diversos países (8-12). há separação clara entre as formas moderada e gra-
Os itens mais usados nas classificações dos con- ve, pois asma moderada seria a ocorrência de sin-
sensos são: a freqüência dos sintomas, a ocorrência tomas noturnos em mais de cinco noites por mês, e
de sintomas noturnos, a necessidade do uso de β2- a asma grave seria a ocorrência freqüente de sinto-
agonista para alívio, a variabilidade do pico de fluxo mas noturnos. Sendo assim, um paciente apresen-
expiratório (PFE), e os valores percentuais em rela- tando sintomas noturnos de 3 a 4 vezes por semana
ção ao predito do volume expiratório forçado no pri- poderia se encaixar em qualquer dos níveis de gra-
meiro segundo (VEF1) ou do PFE. vidade (moderada ou grave). Portanto, o critério =
A apresentação dos dados correspondentes à 5 noites por mês para asma moderada pode impedir
classificação da asma deve ser feita de maneira didáti- que um paciente avance para classificação grave,
ca, de forma que o leitor facilmente correlacione os que, por sua vez, é definida por um termo impreci-
dados do seu paciente com a classificação mostrada. so: “freqüentes”. No consenso canadense, há uma
Uma das formas mais comuns é a apresentação atra- representação qualitativa em vez de quantitativa,
vés de tabelas como ocorre nos consensos americano em cruzes (+ ou +++), sem conceituar o que seria
e canadense, e não é visto no consenso brasileiro, onde essa simbologia em relação à ocorrência do sinto-
o texto foi a forma de apresentação escolhida para ma noturno em um intervalo de tempo (dia, sema-
classificação. na, mês). Concluímos que o parâmetro sintomas
Além da forma de apresentação, o acesso à clas- noturnos necessita melhor definição para seu em-
sificação também deve ser considerado ao se editar o prego prático.
consenso. Deve-se preparar um índice e/ou uma se- Além disso, a asma noturna é supervalorizada
ção para sinopse dos principais tópicos, onde a clas- segundo o consenso americano. Conforme discutire-
sificação, certamente, seria uma parte fundamental. mos no item seguinte, a variabilidade do PFE é usada
Realizados esses comentários sobre a apresentação para a classificação e também é um indicativo da osci-
das classificações, discutiremos, a seguir, cada item lação circadiana da função pulmonar e, portanto, um
empregado para classificar a gravidade da asma. Abor- parâmetro de piora noturna. Dessa maneira, esta clas-
daremos esses itens através de uma análise compara- sificação supervaloriza a piora noturna empregando-a
tiva e fazendo comentários críticos com a intenção duas vezes como critério.
puramente construtiva. Ao final, sugerimos uma clas-
sificação baseada nos diversos consensos, sem expres-
sar nossa opinião sobre qual classificação é a melhor. Classificação pela Variabilidade da Função
Pulmonar
Classificação pela Freqüência dos Sintomas
Também em relação a este parâmetro, o consen-
Os consensos americano e brasileiro possuem so americano dificulta a separação entre asma mode-
classificação semelhante em relação à ocorrência dos rada e asma grave porque para qualquer destes níveis
sintomas, sendo = 2 vezes/semana a asma leve, > 2 a variabilidade deve ser > 30%.
vezes/semana até diários, a asma moderada, e os sin- Apenas o consenso nórdico explica a fórmula
tomas contínuos classificam a asma como grave. Con- a ser empregada para o cálculo da variabilidade da
tudo, o consenso canadense classifica como leve, a função pulmonar:
necessidade de β2-agonista de alívio a cada 8 horas,
o que corresponderia à forma moderada de outros Variabilidade (em %) = 100 x (maior PFE – menor
consensos. PFE)/maior PFE

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E o consenso brasileiro descreve uma outra fór- canadense, como grave. A ocorrência e característi-
mula que define a amplitude: cas dos episódios de exacerbação não são parâmetros
de classificação nos consensos nórdico e americano.
Amplitude (em%) = 100 x (maior PFE – menor Empregar a história de crise potencialmente fatal para
PFE)/média PFE classificar a asma se justifica porque os pacientes que
apresentaram asma aguda nessa intensidade são con-
Ou a fórmula abaixo, que é mais comumente siderados de maior risco para complicações em no-
empregada porque a função pulmonar é maior à vos episódios de exacerbação. É, portanto, conveni-
tarde (pico às 16:00 horas) e menor de madrugada ente tratá-los e seguí-los com maior rigor independen-
(nadir às 4:00 horas), mas esse consenso não usa o temente do resultado de outros parâmetros de classi-
resultado para classificação: ficação. Entretanto, por razões sócio-econômicas,
muitos pacientes procuram o pronto-socorro para fa-
Variabilidade = 100 x (PFE noite – PFE manhã)/ zer uso de medicação de rotina (inalações, por exem-
PFE noite. plo) sem realmente apresentar asma aguda. Esses ca-
sos podem confundir uma classificação baseada na
Classificação pela Função Pulmonar visita ao pronto-socorro. Enfim, como sugerido na Ta-
bela 1 (de classificação), a história de crise potencial-
Os consensos americano e canadense permi- mente fatal deve ser valorizada, mas o atendimento
tem o uso do VEF1 na classificação da asma, e o em pronto-socorro não o deve.
consenso brasileiro emprega apenas o PFE. Sabe-
se que este parâmetro é bastante controverso. A Classificação pela Medicação Necessária
medida do PFE é um teste de função pulmonar sim-
ples que pode ser medido através de aparelhos no Este parâmetro é utilizado apenas pelo consenso
domicílio, porém, com a grande desvantagem de brasileiro. Seu uso é limitado por diversos aspectos
refletir, principalmente, a gravidade da obstrução sociais. Pacientes de classes econômicas
nas vias aéreas maiores e ser muito dependente de desfavorecidas podem utilizar corticosteróides
esforço. O VEF1 é relativamente independente de sistêmicos pela disponibilidade e não pela necessi-
esforço do paciente e reflete a gravidade da obstru- dade. Como exemplo, temos pacientes que procu-
ção global das vias aéreas. Além disso, o próprio ram a rede pública para obtenção de medicamentos
consenso brasileiro descreve estas deficiências do e a corticoterapia sistêmica é a única medicação
PFE e acrescenta a menor sensibilidade desta medi- antiinflamatória disponível. Assim como podem re-
da: em geral, há correlação entre PFE e VEF1, po- almente necessitar desta por ser um caso grave, mas
rém alguns asmáticos, como ocorre em portadores esta gravidade decorrente de não aderir a outro tra-
de enfisema, têm PFE preservado com VEF1 tamento que seria a primeira escolha.
grandemente reduzido; e alguns indivíduos produ-
zem PFE muito elevado, que guarda pouca relação A classificação é realmente necessária?
com a função pulmonar, realizando manobra de tos-
se. Os consensos americano e canadense também No consenso britânico, não há necessidade de
são sujeitos a críticas, pois aceitam que os valores classificação, há necessidade de se estabelecer o tra-
de PFE e VEF1 (em % do predito) são equivalen- tamento adequado.
tes. Os autores adotam uma abordagem terapêutica
com cinco níveis para obter o controle imediato da
Classificação pela História das Exacerbações asma. Os médicos devem escolher um nível para inici-
ar o tratamento, e este nível deve ser o que mais pro-
A história pregressa de internações devido crise vavelmente se aplica àquele caso. A finalidade é o
asmática ou a história de ventilação mecânica classifi- desaparecimento dos sintomas o mais rapidamente
ca a asma, de acordo com os consensos brasileiro e possível, e otimização dos valores de PFE. Uma vez o

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controle seja obtido, a dose de corticosteróide deve vidade da asma e cuja aplicação fosse exeqüível nas
ser reduzida. Há diretrizes para orientar as mudanças condições recomendáveis de atendimento ao paciente
de nível, entretanto, a medida de VEF1 não é empre- asmático (Tabela 1). Cada parte da classificação é
gada e a abordagem inicial é deixada a cargo de médi- oriunda de algum dos consensos citados.
cos que nem sempre serão competentes para esta es-
colha. CONSENSOS
O tratamento, portanto, passa a ser prioridade, e TRATAMENTO CRÔNICO DA ASMA
apenas os níveis de abordagem terapêutica precisam
ser divulgados e assimilados pelos profissionais que A abordagem farmacológica varia pouco entre os
estudam as diretrizes, o que facilita o emprego e dis- consensos e a seqüência de medicamentos preconiza-
seminação do consenso. Além disso, as classifica- da por cada consenso está demonstrada na Tabela 2.
ções são úteis apenas para a abordagem inicial. Após As Tabelas 3 e 4 apresentam características dos me-
o início do tratamento, ocorrem mudanças do quadro dicamentos para o tratamento crônico da asma.
clínico, da classificação, e o tratamento passa a de-
pender da resposta do paciente e não mais das classi- CONSENSOS
ficações. TRATAMENTO DA ASMA AGUDA

Classificação – Uma proposta baseada nos Conforme mencionado para asma crônica, o con-
consensos senso americano preconiza o uso de medidas de PFE
ou VEF1 e dá a mesma importância para ambos, in-
Compilamos os dados para a formação de uma clusive com os mesmos valores, em relação ao pre-
classificação didática, onde os componentes dito, para se definir condutas. O consenso brasileiro
correspondessem com fidedignidade ao nível de gra- emprega apenas o PFE, o que é mais coerente pela

Tabela 1 - Classificação da Asma Segundo os Consensos

LEVE MODERADA GRAVE

VEF1 (% do previsto) > 80% 60 – 80% < 60%

Sintomas ou
necessidade de < 2 vezes > 2 vezes por semana de 8 em 8h
BD (não considerando por semana até 2 vezes ao dia até contínuo
o uso profilático)

História de intubação 0 0 +
ou terapia intensiva

Sintomas noturnos Os consensos são imprecisos no uso do sintoma noturno


para a classificação (ver texto para maiores detalhes)

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dificuldade que um paciente em crise teria para reali- a 30 minutos. Do ponto de vista prático, o exame físi-
zar esforços durante a espirometria. co é o parâmetro que mais auxilia na determinação da
Além do mais, os valores de PFE e VEF1 não se conduta seguinte. Valorizar a medida de PFE em detri-
alteram na mesma proporção na asma (discutido no mento ao exame clínico seria inadequado à maioria dos
item “Classificação pela Função Pulmonar”). consensos.
O exame físico deve ser prioritário na avaliação Os consensos tendem a apresentar abordagem e
do paciente em crise aguda. Inclusive, com tratamento da asma sob a forma de figuras complexas,
reavaliações periódicas, a cada inalação ou a cada 15 algoritmos difíceis de serem lidos e memorizados, ou

Tabela 2 – Tratamento crônico da asma

Tratamento Consenso Consenso Consenso Consenso Consenso


crônico americano brasileiro britânico canadense nórdico

Drogas de 1a ß2-agonista ß2-agonista ß2-agonista Salbutamol ß2-agonista


escolha p/alívio p/ alívio p/ alívio p/ alívio p/ alívio

Drogas de 2a CS inalado ou CS inalado ou CS inalado CS inalado ou CS inalado


escolha Cromonas Cromonas Anti-leucotrienos
Anti-leucotrienos
Drogas de 3a ß2-agonista a ß2-agonista ß2-agonista ß2-agonista Anti-leucotrienos
escolha ação prolongada ação prolongada ação prolongada prolongada e/ou ou cromonas
com ou sem ‹ CS inalado ou
cromona Anti-leucotrienos

Drogas de 4a Teofilina Teofilina Teofilina Teofilina e ß2-agonista


escolha ipratrópio ação prolongada
Cromonas

Drogas de 5a CS sistêmico CS sistêmico Anti-leucotrienos CS sistêmicos CS sistêmicos


escolha CS sistêmicos Teofilina

CS: corticosteróides;

Tabela 4 – Doses e equivalência dos corticosteróides inalados.

Droga Dose baixa Dose média Dose alta Intensidade


do efeito*
Beclometasona 200 – 500 mcg 500 – 1000 mcg Mais de 1000 mcg 600
Budesonida 200 – 400 mcg 400 – 600 mcg Mais de 600 mcg 980
Fluticasona 100 – 250 mcg 250 – 500 mcg Mais de 1000 mcg 1200
Flunisolida 500 – 1000 mcg 1000 – 2000 mcg Mais de 2000 mcg 330
Triancinolona 400 – 1000 mcg 1000 – 2000 mcg Mais de 2000 mcg 330

* A intensidade do efeito refere-se à intensidade do branqueamento (efeito de antagonismo ao eritema)


cutâneo.

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Tabela 3 – Drogas e suas características

Nome genérico Dose Efeitos colaterais Indicação Ação

ß2-agonista O mínimo para Taquicardia, tremor Alívio imediato Broncodilatação


Salbutamol alívio dos sintomas hipocalemia, cefaléia, dos sintomas
Fenoterol (na asma crônica) hiperglicemia,
Terbutalina piora acidose láctica.

Corticosteróide inalado Dose inicial: Em doses elevadas: Prevenção dos Antiinflamatória


Beclometasona 800-1500 mcg Supressão adrenal, sintomas
Budesonida divididos em 2 osteoporose, retardo do Reduzir a
Fluticasona doses/dia. Reduzir crescimento, fragilidade necessidade de
Flunisolida 25-50% a cada e hematomas cutâneos. corticosteróide ora
Triancinolona 3 meses.

ß2-agonista AP Salmet: 50 mcg, Taquicardia, tremor, Prevenção dos Broncodilatação


Formoterol 2x/dia. hipocalemia e sintomas noturnos prolongada
Salmeterol Formot: 24 mcg, prolongamento do e da asma induzida
2x/dia. intervalo QT. por exercício

Cromonas 2 a 4 jatos, 3x/dia Gosto desagradável Prevenção dos Antiinflamatória


Cromoglicato ou 4x/dia dos sintomas,
Nedocromil da asma induzida
e por alérgenos.

Metilxantina 10 mg/kg/dia Insônia, gastrite, Prevenção dos Broncodilatação


Teofilina até 600 ou piora de úlcera ou RGE sintomas
Aminofilina 800 mg/dia. taquicardia, náuseas principalmente
Dosar nível vômitos, arritmias, noturnos.
sérico. cefaléia, hematêmese,
hiperglicemia e
hipocalemia.

Anti-leucotrienos Monteluc: 10 Zafirlucaste: Asma moderada Broncodilatação e


Montelucaste mg/dia. Zafirluc: aumento de Asma induzida antiinflamatória
Zafirlucaste 20 mg x 2/dia enzimas hepáticas por aspirina
ou outros AINH

Anti-colinérgicos 1 a 2 jatos, Gosto desagradável Alívio da asma Broncodilatação


Ipratrópio 4 a 6 vezes/dia aguda e crise por
ß-bloqueadores

Corticoster. sistêmico Hidroc: máximo Hiperglicemia, Exacerbação Antiinflamatória


Metilprednisolona de 15 mg/kg/dia aumento do apetite, da asma
Prednisolona Pred: 40 a 60 mg/ ganho de peso, Asma grave
Prednisona dia, e reduzir dose retenção hídrica,
Hidrocortisona se possível HAS, úlcera péptica
e alteração do humor.

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Figura 1 - TRATAMENTO DA ASMA AGUDA

Leve ou Moderada Grave – TERAPIA INTENSIVA e/ou INTUBAÇÃO

ß2 inalatório Critérios de gravidade


ou subcutâneo Não pode falar
(3 doses na 1a h) sibilos ausentes
Inconsciência/Sonolência/Confusão
Corticosteróide Bradicardia
sistêmico FR > 40 rpm
PaO2 < 60mmHg ou saturação < 90% usando O2
Ipratrópio PaCO2 > 45 mmHg
(3 doses na 1a h) Parada respiratória

Aminofilina

Adrenalina subcutânea
Critérios de Alta
Sulfato de Mg Condição de uso correto da medicação em casa
(alternativo) Estável e medicado há mais de 24 horas
PFE > 70% do predito ou do melhor
Outros tratamentos valor pessoal
alternativos Em uso de corticosteróide sistêmico e inalado
Plano escrito para tratamento de exacerbação
INTERNAÇÃO

esquemas pouco elucidativos. Da interpretação des- Critérios para Internação


tes esquemas e algoritmos, sugerimos um esquema,
que difere apenas na forma da apresentação. O obje- Dispnéia ao repouso
tivo desta figura é transmitir as mesmas informações Assume posição sentada
num formato mais simples para o estudo e compreen- Fala apenas palavras
são. Dado que esta figura é sucinta, repetimos abaixo, Agitação
de forma mais completa, a lista de critérios para FR > 30
internação e para tratamento intensivo e/ou intubação Uso de musculatura acessória
oro-traqueal para ventilação mecânica. Estas listas fo- Sibilância intensa
ram criadas através da soma de informações dos con- FC > 120 bpm
sensos já mencionados. Pulso paradoxal (>25 mmHg)
PFE < 50% do predito ou do melhor
valor pessoal
PaO2 < 60 mmHg ou cianose e/ou PaCO2 > 42
Saturação de O2 < 91%

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Critérios para Tratamento Intensivo Drogas Controversas

Não pode falar Assuntos controversos ligados à asma são bas-


Fadiga respiratória tante comuns. Provavelmente, muitos concordariam que
Cianose controvérsias não deveriam fazer parte dos consen-
Inconsciência/sonolência/confusão sos. Pois, em havendo muita discordância, como cha-
Uso de musculatura tóraco-abdominal mar de consensual qualquer que seja a conclusão? Por
Sibilos ausentes outro lado, as diretrizes têm como objetivo esgotar o
Bradicardia assunto e determinar condutas a serem seguidas para
PaO2 < 60 mmHg ou saturação baixa melhorar o atendimento médico. Dessa forma, existe,
com uso de O2 sim, a discussão de assuntos controversos e a fizemos
Parada respiratória aqui, pelo menos parcialmente, para drogas usadas no
tratamento da asma.

Drogas Controversas - Brometo de Ipratrópio


Tratamento da Asma Aguda (BI)
– Drogas O BI age reduzindo o tônus colinérgico in-
trínseco das vias aéreas e, conseqüentemente oca-
A seqüência abaixo é uma proposta de tratamento sionando relaxamento da musculatura lisa dos
que se inicia com os medicamentos de primeira linha e brônquios. Causa broncodilatação mais gradual que
se continua com as drogas a serem adicionadas con- os ß2-agonistas, produzindo 50% de seu efeito má-
forme a necessidade. A decisão de usar o próximo ximo em 3 minutos e 80% em 30 minutos, com
medicamento depende de dois fatores: a gravidade da broncodilatação máxima de 1 a 2 horas após sua
apresentação inicial e a resposta ao tratamento já ad- administração. Sua dose preconizada é de 0,5 mg
ministrado. Por exemplo, paciente necessitando de tra- (40 gotas).
tamento intensivo deve receber todos os recursos dis- É o tratamento de escolha para o broncoes-
poníveis independentemente de ainda não ter sido ava- pasmo devido ao uso de ß-bloqueadores. Segundo
liada a resposta ao tratamento inicial. os consensos americano e canadense, o BI causa
efeito benéfico aditivo ao ß2-agonista no tratamen-
1 – ß2-agonista inalado ou subcutâneo (terbutalina to de exacerbação grave da asma. Os consensos
0,25 – 0,5 mg, a cada 20 minutos, total = 3 doses). brasileiro e americano indicam o uso de BI associ-
Inalado: fenoterol ou salbutamol 2,5 – 5 mg = 10 - 20 ado ao ß2-agonista de alívio a cada 30 minutos até
gotas em 4 ml de soro fisiológico com 6 – 8 l/min de 4 horas, se PFE<50%, ou seja, sugerindo o uso re-
O2 ou 400 – 800 mcg (4 a 8 jatos) petido do BI como é feito para o ß2-agonista.
2 – Corticosteróide sistêmico (ver Tabela 3)
3 – Brometo de ipratrópio (0,5 mg = 40 gotas ou Drogas Controversas - Aminofilina
120 mcg = 6 jatos a cada 30 minutos até 3 doses,
depois, a cada 2 – 4 horas) A aminofilina, metilxantina com baixa potên-
4 – Aminofilina (6 mg/kg em 20 minutos, para manu- cia broncodilatadora, é usada há mais de 50 anos
tenção, ver Tabela 3) no tratamento da asma e por muito tempo foi con-
5 – Adrenalina (0,3 – 0,5 mg a cada 20 minutos até 3 siderada a droga de escolha para o tratamento des-
doses, contra-indicada em casos de angina, infarto sa doença. Com completa e rápida absorção, atin-
recente ou arritmia) gindo concentrações máximas no plasma em torno
6 – Sulfato de magnésio (ineficaz segundo consenso de 2 horas e meia vida média de 8 a 9 horas em
brasileiro) adultos, a aminofilina é causadora de um grande
7 – Tratamentos alternativos (exemplo: heliox nos número de efeitos colaterais e, por isso, seu nível
casos de ventilação mecânica) sérico deve ser monitorizado (sintomas inaceitáveis

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de toxicidade usualmente aparecem a partir de con- Referência Bibliografica
centração plasmática = 20 mcg/ml).
1.Guidelines for the management of asthma in adults. I –
Seu efeito broncodilatador é proporcional à sua Chronic persistent asthma. Statement by the British Thoracic
concentração sérica e o aumento do VEF1 é maior Society. Br Med J 1990, 301: 651-3.
com nível sérico entre 10 a 20 mcg/ml. Seu efeito 2.Partridge MR, Fabbri LM, Chung KF. Delivering effective
antiinflamatório, pela inibição das fosfo-diesterases 3 asthma care – how do we implement asthma guidelines? Eur
e 4, é visto nos níveis séricos entre 5 e 10 mcg/ml. Respir J 2000, 15:235-7.
3.Taylor DM, Auble TE, Calhoun WJ, Mosesso Jr, VN. Current
Atualmente, a aminofilina é uma droga de tercei- outpatient management of asthma shows poor compliance
ra ou quarta linha no tratamento crônico, após ß2- with international consensus guidelines. Chest 1999; 116:1638-
agonistas e corticosteróides inalados. Segundo os con- 45.
sensos brasileiro e canadense, a aminofilina é eficaz no 4.Legorreta AP, Christian-Herman J, O’Connor RD, Hasan MM,
controle da asma noturna, porém os ß2-agonistas de Evans R, Leung KM. Compliance national asthma management
guidelines and specialty care. Arch Intern Med 1998; 158:457-
longa duração são superiores, proporcionando o con- 64.
trole dos sintomas noturnos e diminuindo a necessida- 5.Poponick J. Asthma. We need to do better. Chest 1999;
de de ß2-agonistas de alívio, e têm menos efeitos 116:1509-10.
colaterais. 6.Doerschug KC, Peterson MW, Dayton CS, Kline JN. Asthma
Os consensos brasileiro e britânico preconizam o guidelines. An assessment of physician understanding and
practice. Am J Respir Crit Care Med 1999; 159:1735-41.
uso da aminofilina na crise de asma potencialmente fatal 7.Partridge MR, Harrison BDW, Bellamy D. The British Asthma
e como tratamento aditivo para pacientes hospitaliza- Guidelines – Their production, dissemination and
dos que não respondem ao uso vigoroso de ß2- implementation. Respir Med 1998; 92:1046-52.
agonistas e corticosteróides sistêmicos. Apesar de 8.National Heart, Lung, and Blood Institute. Expert Panel Report
preconizá-la, relatam haver a falta de efeito adicional e 2: Guidelines for the Diagnosis and Management of Asthma.
Bethesda, 1997 (NIH Publication, No. 97-4051A).
maior números de efeitos colaterais quando a 9.Sociedades Brasileiras de Alergia e Imunopatologia, Pedia-
aminofilina é adicionada aos ß2-agonistas em doses tria, Pneumologia e Tisiologia. II Consenso Brasileiro no Ma-
adequadas e elevadas em pacientes tratados na nejo da Asma. J Pneumol 1998; 24:171-276.
emergência. 10.The British Guidelines on Asthma Management. 1995
review and position statement. Thorax 1997; 52:S1-S21.
11.Boulet LP, Becker A, Berube D, Beveridge R, Ernst P.
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Livro de Atualização em Pneumologia - Volume IV - Capítulo 1 - Página 10

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