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3 REMODELAMENTO
Lilian S. Ballini Caetano
Médica Pós-graduanda da Disciplina de Pneumologia da Universidade Federal de São Paulo-
Escola Paulista de Medicina, Mestre em Pneumologia pela UNIFESP.
Andrea Barbieri
Médica Pós-graduanda da Disciplina de Pneumologia da Universidade Federal de São Paulo-
Escola Paulista de Medicina
Ana Luisa Godoy Fernandes
Profa. Adjunto de Pneumologia da UNIFESP-EPM
A asma é definida atualmente como doença infla- gas para asma, gerando a comprovação de que medi-
matória crônica das vias aéreas, associada a sintomas camentos anti-inflamatórios, particularmente os
agudos que revertem espontaneamente ou com o uso corticosteróides inalatórios e antileucotrienos, ao pro-
de broncodilatadores . Durante muitos anos, o moverem a estabilização clínica dos asmáticos, têm a
broncoespasmo, o edema e a hipersecreção foram propriedade de determinar a redução dos parâmetros
considerados como sendo as alterações básicas da inflamatórios nos exames de escarro e NO expirado.
asma. As evidências de inflamação brônquica surgi- Além disso, a retirada do medicamento anti-inflama-
ram através de estudos de hiperresponsividade tório promove o ressurgimento dos marcadores da
brônquica inespecífica, lavado broncoalveolar (LBA), inflamação.
biopsias brônquicas, escarro induzido e observações A sequência e a gravidade desses eventos é vari-
postmortem de pulmões de pacientes falecidos por ável e própria para cada paciente, demonstrando a
mal asmático ou por outras causas (1). Entretanto, a interação entre patrimônio genético, fatores indutores,
presença de inflamação crônica persistente em vias exposição a fatores desencadeantes, condução e ade-
aéreas de pacientes asmáticos pode ocasionar lesão são ao tratamento, comorbidade etc..., o que prejudi-
tecidual e conseqüentemente alterações estruturais com ca a identificação dos principais marcadores de prog-
queda irreversível da função pulmonar, cujo processo nóstico.
denominamos remodelamento das vias aéreas. O objetivo deste capítulo será o de revisar o con-
Esse fato gerou a mudança do conceito da asma, ceito atual do remodelamento brônquico, procurando
de uma doença caracterizada funcionalmente por obs- avaliar as consequências estruturais, clínicas e funci-
trução reversível das vias aéreas, para uma doença in- onais do processo inflamatório crônico nos asmáti-
flamatória crônica cuja intensidade de comprometimento cos.
pode depender da habilidade de se avaliar e controlar
o processo inflamatório subjacente. 1. Alterações estruturais e funcionais na asma.
A obtenção do controle ideal da asma minimiza,
mas não elimina a ocorrência de exacerbações, sendo Estudos em Pneumologia Pediátrica mostram que
a freqüencia e intensidade de sintomas associados a o período de desenvolvimento pulmonar pode ter im-
marcadores de gravidade, podendo refletir intensida- plicações futuras com relação às alterações estrutu-
de de inflamação ( 2 ),( 3 ). rais. Contribuiria para esta afirmação o fato de que
O controle dos sintomas e redução de exacerba- inúmeros fatores de crescimento são relacionados aos
ções passaram a se reproduzir nos ensaios clínicos processos inflamatórios que podem levar ao
projetados para testar a eficácia e a efetividade de dro- remodelamento.
Broncoespasmo Redução da
grave durante elasticidade
exacerbação Progressão de via aérea
da inflamação
Secreção Deposição de
mucosa impor- colágeno na
tante durante MB
exacerbação
O processo de remodelamento tem sido alvo atual muscular liso, edema, infiltração de células inflamató-
de vários estudos, provavelmente decorrente da per- rias, hipertrofia glandular, aumento da área vascular e
cepção de que o processo inflamatório por si só não deposição de tecido conectivo. Estas alterações fo-
consegue explicar todos os aspectos da fisiologia das ram observadas utilizando CT de tórax de alta resolu-
vias aéreas em pacientes asmáticos (5). Pesquisas atu- ção e resultam em aumento da resistência ao fluxo aé-
ais sugerem que o remodelamento pode contribuir para reo, particularmente quando ocorre contração
a hiperresponsividade de vias aéreas, a qual é a ca- brônquica e hiperresponsividade brônquica (1). O efei-
racterística essencial do fenótipo do asmático (5). to sobre o fluxo aéreo é decorrente do aumento de
Apesar de poucos estudos epidemiológicos rela- secreção mucosa e exsudato inflamatório, os quais são