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Museus e das
Coleções
Prof.a Alahna Santos da Rosa
Prof.a Julia Maciel Jaeger
Prof. Kimberly Terrany Alves Pires
a
Indaial – 2021
1a Edição
Elaboração:
Prof.a Alahna Santos da Rosa
Prof.a Julia Maciel Jaeger
Prof.a Kimberly Terrany Alves Pires
R788h
ISBN 978-65-5663-368-8
ISBN Digital 978-65-5663-364-0
CDD 020
Impresso por:
APRESENTAÇÃO
Olá, acadêmico! Seja bem-vindo ao Livro Didático História dos Museus
e das Coleções! O conteúdo auxiliará você nos processos de descobrimento e de
compreensão das instituições museológicas e das coleções através dos tempos.
Este livro possibilitará a você, estudante, uma visão ampla da história dos museus
e das coleções. Abordaremos desde a origem mítica dos museus até as perspectivas
atuais dessas instituições e dos acervos a nível mundial, mas, também, dando enfoque
específico para a realidade brasileira. Além disso, a partir deste livro, você será capaz de
compreender os períodos históricos que influenciaram as transformações nas práticas
e nas teorias acerca dos museus e das coleções no decorrer das décadas.
QR CODE
Olá, acadêmico! Para melhorar a qualidade dos materiais ofertados a você –
e dinamizar, ainda mais, os seus estudos –, nós disponibilizamos uma diversidade de QR
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que você acesse um conteúdo interativo relacionado ao tema que você está estudando. Para
utilizar essa ferramenta, acesse as lojas de aplicativos e baixe um leitor de QR Code. Depois,
é só aproveitar essa facilidade para aprimorar os seus estudos.
ENADE
Acadêmico, você sabe o que é o ENADE? O Enade é um
dos meios avaliativos dos cursos superiores no sistema federal de
educação superior. Todos os estudantes estão habilitados a participar
do ENADE (ingressantes e concluintes das áreas e cursos a serem
avaliados). Diante disso, preparamos um conteúdo simples e objetivo
para complementar a sua compreensão acerca do ENADE. Confira,
acessando o QR Code a seguir. Boa leitura!
LEMBRETE
Olá, acadêmico! Iniciamos agora mais uma
disciplina e com ela um novo conhecimento.
REFERÊNCIAS........................................................................................................65
REFERÊNCIAS...................................................................................................... 125
REFERÊNCIAS...................................................................................................... 193
UNIDADE 1 —
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:
PLANO DE ESTUDOS
A cada tópico desta unidade você encontrará autoatividades com o objetivo de
reforçar o conteúdo apresentado.
CHAMADA
Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure
um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações.
1
CONFIRA
A TRILHA DA
UNIDADE 1!
Acesse o
QR Code abaixo:
2
UNIDADE 1 TÓPICO 1 —
A ORIGEM DOS MUSEUS
1 INTRODUÇÃO
Caro acadêmico, a partir deste momento, iniciaremos os estudos a respeito
da história dos museus e das coleções. Começaremos essa narrativa abordando as
primeiras manifestações de espaços dedicados às artes, ao conhecimento e à cultura
material. Esses três eixos são essenciais para a concepção de museu que temos nos
dias de hoje.
Seguindo a linha temporal, o segundo ponto marcante para a história dos museus
é a criação do Mouseion, de Alexandria. Inspirado no templo das musas, esse espaço se
constituiu em um centro de salvaguarda, produção e classificação do conhecimento, e
até hoje é reconhecido como tal.
3
Sendo a Grécia antiga, o berço dos museus, das musas e de tantas outras
influências culturais do mundo ocidental, como nós o conhecemos hoje, é essencial
em relação às origens das instituições museais, que farão parte da sua vida profissional
depois que você concluir a sua graduação em Museologia.
Esperamos que você esteja preparado para começar esta viagem, vamos lá?!
DICA
Você já ouviu falar da Teogonia, de Hesíodo? O poema épico tem
1022 versos e foi escrito por Hesíodo, um dos grandes poetas
gregos entre os séculos VIII e VII a.C. No texto, o autor conta a
cosmogonia do mundo a partir da crença grega, apresenta as
musas e narra a existência do Caos, de Gaia (a Terra) e de outros
seres divinos que deram origem aos Titãs e, posteriormente, aos
deuses gregos, àqueles que a gente já está mais acostumado a
ouvir falar: Zeus, Poseidon, Hera e os outros olímpicos. O poema
também aborda outros mitos bem relevantes para os gregos,
como o mito de Prometeu e o de Pandora. É importante conferir.
Para Brandão (1986, p. 36), “[...] o mito expressa o mundo e a realidade humana,
cuja essência é, efetivamente, uma representação coletiva [...]”. Portanto, os mitos
correspondem a um dos meios que as sociedades desenvolveram, desde o princípio,
para dar sentido aos hábitos e vivências. Através deles, conhecemos civilizações antigas
que, há muito tempo, foram desaparecendo ou sendo incorporadas por outras mais
modernas.
4
[...] É necessário deixar bem claro, nesta tentativa de conceituar o
mito, que o ele não tem, aqui, a conotação usual de fábula, lenda,
invenção, ficção, mas a acepção que lhe atribuíam, e ainda atribuem,
às sociedades arcaicas, às impropriamente denominadas culturas
primitivas. O mito é o relato de um acontecimento ocorrido no
tempo primordial, mediante a intervenção de entes sobrenaturais
(BRANDÃO, 1986, p. 35).
ATENÇÃO
Quando falamos dos mitos, precisamos tomar cuidado para
não os confundir com outras textos de gênero narrativo,
principalmente, com as parábolas. A diferença entre um
mito e uma parábola é sutil, mas muito importante. Ainda
que ambos os textos sejam, na maioria das vezes, vinculados
a crenças religiosas, o mito tem, como característica, uma
mistura de personagens reais e fictícios, e a narrativa não
tem uma obrigação com a realidade. Além disso, o mito
não, necessariamente, tem um objetivo para cumprir com o
ouvinte, além da tentativa de explicar um acontecimento em
um período anterior à ciência. Por outro lado, a parábola
é uma história sempre protagonizada por seres humanos,
e carrega um objetivo bem claro: a moral da história. A
parábola tem, como objetivo, didatizar um ensinamento
ético e moral, que é considerado, pela sociedade na qual se
insere, essencial a todas as pessoas.
5
Já mencionamos que, no poema épico Teogonia, Hesíodo conta a história
da criação do universo como o conhecemos, pela perspectiva grega, e as primeiras
divindades retratadas são as musas. Isso porque, segundo o poema, as divindades
vêm, a ele, para oferecer o dom necessário para cantar aquela aventura. Observe
os versos 22-34:
FONTE: <https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Moreau,_Gustave_-_H%C3%A9siode_et_la_Muse_-
_1891.jpg>. Acesso em: 18 out. 2020.
6
As nove musas são figuras que personificam as artes e a ciência na mitologia
grega. Conforme seu mito, elas são filhas de Mnemósine, deusa da memória, e de Zeus,
rei dos deuses e representação do poder. Suas origens remontam à guerra denominada
de Titanomaquia, na qual os titãs (liderados por Cronos) lutaram contra os deuses
olímpicos (liderados por Zeus) pelo domínio do universo. Quando os olímpicos venceram,
pediram a Zeus para que fossem criadas divindades para celebrar a sua vitória e os
divertir no tempo livre. Atendendo aos pedidos dos deuses, Zeus se encontrou com
Mnemósine e, com ela, deitou-se por nove noites consecutivas. Após o devido tempo,
nasceram as nove musas (HACQUARD, 1996).
FIGURA 2 – DETALHE DA OBRA THE MUSES URANIA AND CALLIOPE, DE SIMON VOUET
(CIRCA 1634) - CALÍOPE SEGURA UM EXEMPLAR DO POEMA ÉPICO A ODISSEIA
7
• Clio: Musa da história, é representada com uma coroa de louro na cabeça, carregando
uma trombeta e um livro, ou, então, um rolo de pergaminho nas mãos e uma coroa de
louros na cabeça.
8
FIGURA 4 – MUSAS DANÇANDO COM APOLO, DE BALDASSARRE PERUZZI (S.D.)
9
De acordo com a mitologia grega, as musas viviam no Monte Hélicon, perto
do Monte Olimpo. O lugar cativo das musas ficou conhecido como Templo das Musas,
termo que se origina do grego Mouseion. Apesar de, inicialmente, não haver um espaço
físico e fixo, o Mouseion entrou para o imaginário de todos como um local dedicado às
artes e ao conhecimento, local de contemplação e de estudos científicos. Com o tempo,
os gregos que tinham interesse pelas artes e pelas ciências passaram a frequentar os
pés do Monte Hélicon, levando muitos objetos e oferendas para cultuarem às musas,
constituindo uma espécie de coleção.
ATENÇÃO
Você percebeu que mencionamos que as musas são filhas de Mnemósine, da memória, e
de Zeus, do poder? Ou seja, elas representam o produto da relação entre a memória e o
poder, relação que tem papel extremamente importante no contexto museológico.
Como veremos no decorrer deste livro, os museus são um espaço de discursos, onde
falamos a respeito do passado, mas, também, do futuro. Nesse sentido, perceba como
as musas se aproximam das funções e das formas de fazer e ser museu:
essas divindades escolhem as aventuras para dar voz, que se perpetuam
pela eternidade, e, por outro lado, escolhem quais narrativas devem
calar, condenando-as ao esquecimento.
4 O MOUSEION DE ALEXANDRIA
Após conhecer, apenas um pouco, de como surgiu o termo museu na Grécia
antiga, e entender as musas enquanto a presentificação das epopeias gregas, é preciso
falar das primeiras experiências de museu enquanto espaço físico.
10
Quando Felipe II, rei da Macedônia, subiu ao trono, assumiu dois objetivos: unificar
e centralizar os diversos povos gregos através de uma política expansionista. A partir do
século IV a.C. até meados do século II a.C., a Grécia foi dominada pela Macedônia, e é
nesse contexto que nasce um dos maiores expansionistas que a história já conheceu:
Alexandre, o Grande.
ATENÇÃO
A Grécia antiga possuía, como característica, a democracia, base
da organização política das pólis, ou cidades-estados, praticada
através de assembleias com os cidadãos gregos (na época, eram
considerados aptos, a vivenciar a vida política, os homens livres,
acima de 21 anos, e que fossem nascidos em terras gregas). Observe
que o projeto iniciado por Felipe II, e continuado por Alexandre, o
Grande, previa a destruição dessa organização e a instalação de
uma monarquia universalista, modificando a estrutura política e
social dos gregos (SOUZA; PEREIRA MELO, 2010).
Alexandre Magno era filho do rei macedônio Filipe II e da nobre grega Olímpia. Foi
educado por Aristóteles. Com a morte de seu pai, tornou-se rei aos 20 anos e seguiu
os planos de expansão dele, conquistando grande parte do mundo que era conhecido
naquela época e difundindo a língua e a cultura grega.
NOTA
Aristóteles (384-322 a.C.) foi um dos mais importantes filósofos da Grécia antiga.
Durante a vida, trabalhou com os mais variados temas, como a lógica, a metafísica, a
ética e o empirismo. Nascido na Macedônia, seu pai era o médico pessoal
de Amintas II, rei da Macedônia e pai de Filipe II. Aos 17 anos, mudou-se
para Atenas e ingressou na Academia de Platão, onde permaneceu por
20 anos, primeiramente, como aluno, depois, como professor. Em 338
a.C., retornou à Macedônia e começou a trabalhar como tutor de
Alexandre, o Grande. Com a conquista de Alexandre sob Atenas, o
filósofo retorna para o local, onde cria a sua própria academia,
denominada de Liceu.
11
FIGURA 5 – DETALHE DO MOSAICO DA BATALHA DE ISSUS (OU DE GAUGAMELA), FEITO DA PINTURA DE
PHILOXENUS OF ERETIA - MOSTRA ALEXANDRE NO SEU CAVALO, BUCÉFALO
FONTE: <https://commons.wikimedia.org/wiki/Alexander_the_Great#/media/File:BattleofIssus333BC-
mosaic-detail1.jpg>. Acesso em: 9 out. 2020.
NOTA
A antiguidade está dividida em três períodos: clássico, helenístico
e romano. O período helenístico (IV a.C.-II a.C.) compreende
desde a expansão de Alexandre, o Grande, até o fim das dinastias
dos generais, quando o Império Romano conquista o Oriente.
O nome faz referência à dominação grega, visto que os gregos
também eram chamados de helenos. O período foi marcado pelo
intercâmbio entre a cultura grega e a oriental, denominada de
cultura helenística, enquanto a cultura grega, com dominação
macedônia, é chamada de cultura helênica.
12
FIGURA 6 – THE MACEDONIAN EMPIRE, 336-323 B.C., MAPA DE WILLIAM R. SHEPERD,
ACERVO DA BIBLIOTECA DA UNIVERSIDADE DO TEXAS
FONTE: <https://legacy.lib.utexas.edu/maps/historical/history_shepherd_1923.html>.
Acesso em: 11 maio 2020.
Alexandria foi planejada pelo arquiteto grego Deinócrates de Rodes, que a concebeu
em uma planta ortogonal (planejamento que dispõe as ruas em paralelo, com traçado
geométrico ortogonal e sem a presença de ruas estreitas ou sem saída), diferenciando-a
da maior parte das cidades gregas até então construídas (CLÍMACO, 2013).
13
Alexandre, o Grande, lançou a pedra fundamental da cidade em 7 de abril de 331
a.C. Não é possível precisar como era arquitetura, além da ornamentação de Alexandria,
mas é um consenso historiográfico de que a aparência era de uma cidade grega, tendo
em vista a origem de Alexandre e dos arquitetos. Apesar disso, há indícios da presença
de vestígios egípcios e faraônicos, o que alguns historiadores percebem como um
resultado do intercâmbio das culturas grega e egípcia.
Em 323 a.C., Alexandre faleceu de forma repentina. O império conquistado por ele,
que englobava da Macedônia até a Índia, ficou sem o líder. Sem haver herdeiro imediato,
o império de Alexandre foi repartido em três, estando, cada parte, sob responsabilidade
de um dos generais. O Egito ficou sob o controle de Ptolomeu I, que constituiu a dinastia
de Ptolomeus (CASSON, 2018).
O Egito era muito mais rico do que as terras dos rivais. Em primeiro
lugar, o solo fértil, ao longo do Nilo, produzia uma abundante colheita
de grãos, e os grãos eram para os mundos grego e romano o que
o petróleo é para nós. Eles comandavam o mercado em todos os
lugares. Em segundo lugar, o Egito era o habitat por excelência
da planta do papiro, garantindo, dessa forma, aos governantes,
o monopólio do principal material de escrita do mundo. Todos
os monarcas helenistas buscavam adornar suas capitais com
grandiosa arquitetura e construir uma reputação para a cultura
(CASSON, 2018, p. 79).
14
A vontade imperial de tornar Alexandria um polo do conhecimento era tamanha,
pois existiram diversos incentivos para que cientistas, astrônomos, filósofos, poetas,
enfim, viessem a fazer parte do Mouseion. Além de financiar o espaço e a infraestrutura,
todos aqueles intelectuais que se tornassem membros do Mouseion teriam, à disposição,
patrocínio imperial, não precisando se preocupar com nada além da produção intelectual
(CASSON, 2018; MCNEELY; WOLVERTON, 2013).
NOTA
Não há um consenso historiográfico acerca de quem foi o Imperador
que criou o Mouseion de Alexandria. Alguns historiadores atribuem a
Ptolomeu I, e, outros, ao filho, Ptolomeu II.
15
FIGURA 7 – THE GREAT LIBRARY OF ALEXANDRIA, DE O. VON CORVEN - DATA-SE DO SÉCULO XIX
O império dos Ptolomeus teve fim com a invasão do Império Romano ao Egito,
que passou a ser uma província romana. Acerca do fim do Mouseion, há alguns relatos
conflitantes. Alguns relatam que os romanos mantiveram o local após a invasão,
mantendo o status erudito de Alexandria, outros dizem que o complexo foi destruído
em incêndios ocasionados ao longo dos anos (MCNEELY; WOLVERTON, 2013).
DICA
O filme Alexandria (2009), do diretor Alejandro Amenábar, aborda
uma das possíveis histórias acerca da destruição de Alexandria
e do Mouseion. O enredo gira em torno da filósofa Hipátia (355
d.C.-415 d.C.) e dos eventos que teriam ocasionado a destruição
do Mouseion, grande símbolo do poder e da cultura helenística.
16
Você sabia que, em 2003, foi inaugurada uma nova biblioteca de Alexandria?
O espaço foi construído com o apoio da Unesco, que, em 1989, lançou um concurso
público internacional voltado para a concepção e a construção da nova biblioteca.
Houve um grande engajamento: 524 propostas foram encaminhadas, originadas de 52
países. Quem venceu foi o arquiteto norueguês Ktejil Thorsen, do escritório Snohetta
(CHASSOT, 2002).
FONTE: <https://blog.galeriadaarquitetura.com.br/post/revivendo-a-historia-a-nova-biblioteca-de-alexandria>.
Acesso em: 15 maio 2020.
17
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você aprendeu:
18
AUTOATIVIDADE
1 Como vimos, as musas eram filhas da deusa Mnemósine e do deus Zeus. Elas foram
criadas com o objetivo de relembrar, além de celebrar os grandes feitos dos deuses.
Tendo, como base, a leitura deste tópico, assinale a alternativa que indica o que as
musas representavam:
( ) Foi criado por Alexandre, o Grande, em 331 a.C., logo após a inauguração da cidade
de Alexandria.
( ) Possuía uma biblioteca com um vasto acervo, coletado, classificado e pesquisado
pelos membros do Mouseion.
( ) A causa da destruição foi a queda da dinastia dos Ptolomeus, com a invasão, do
território, pelos romanos.
( ) Os Ptolomeus proporcionaram auxílios financeiros para os membros do Mouseion
realizarem pesquisas e produção de conhecimento.
a) ( ) Templo do Museu.
b) ( ) Monte Hélicon.
c) ( ) Monte Olimpo.
d) ( ) Mouseion de Alexandria.
19
4 No Templo das Musas, observou-se que, até mesmo no mito da criação dos museus,
existe a relação entre memória x poder. Acerca dessa temática, escreva como você
percebe esse embate nas instituições museológicas atuais.
20
UNIDADE 1 TÓPICO 2 —
AS COLEÇÕES NO RENASCIMENTO I
1 INTRODUÇÃO
Caro acadêmico, neste tópico, antes de começarmos a retomada histórica,
precisamos falar de uma prática humana que caracteriza o período renascentista: o
colecionismo.
Você faz ou já fez coleção de alguma coisa? Canetas, selos, cartões, garrafas,
tazos? Até mesmo, na coleção mais simples, é possível observar a premissa crucial do
colecionismo: a seleção de determinados objetos. Estes são retirados do uso habitual
para compor uma coleção, na qual são representantes de algo (algum momento, alguma
pessoa).
2 O COLECIONISMO
Antes de continuar a apresentar como surgiram os museus, faz-se necessário
falar, apenas um pouco, daquilo que compõe o museu. Você sabe o que é? Se você disse
“coleções”, acertou.
21
DICA
Caros estudantes, um texto clássico que aborda a coleção é esse
que citamos, o do filósofo e historiador polonês Kristof Pomian. O
texto é um verbete da Enciclopédia Einaudi, publicado em 1989.
Uma parte dele está na Leitura Complementar desta unidade.
Indicamos a leitura completa, caso queira aprofundar os estudos
nessa temática.
Com relação aos objetos, o autor os denomina de semióforos, mas “o que quer
dizer isso?”, você deve estar se perguntando... Semióforo é aquele objeto que possui
um significado para além da materialidade e da utilidade. Uma coleção é composta,
portanto, por um conjunto de semióforos. Nesse sentido, podemos compreender, como
coleção, um grupo de objetos que não possui mais a função utilitária e que adquire uma
nova função, simbólica. São representativos de uma época, de um povo, de uma pessoa
ou de uma situação específica. Por exemplo, podemos citar a caneta de pena utilizada
pela princesa Isabel para assinar a Lei Áurea. Ao ser utilizada pela princesa, a caneta
cumpria a função utilitária: escrever. Com a atribuição de um significado histórico a esse
mesmo objeto, foi afastado da função original, visando ser um símbolo do evento. Desse
modo, não mais se escreveu com a referida caneta, que foi salvaguardada em uma
coleção e serve ao propósito de ser um representativo de um evento passado.
FONTE: <http://mapadecultura.rj.gov.br/manchete/museu-imperial#prettyPhoto[pp_gal]/6/>.
Acesso em: 18 fev. 2020.
22
NOTA
Você sabia que existem dois exemplares idênticos da caneta
que assinou a Lei Áurea, cada um localizado em um museu
brasileiro? Isso mesmo! Uma das canetas está no Museu
Histórico Nacional (Rio de Janeiro) e, a outra, no Museu Imperial
(Petrópolis). Os dois museus afirmam possuir a caneta original,
utilizada pela Princesa Isabel (PIRES, 2020).
Contudo, uma coleção não se faz sozinha. Para que existam coleções, são
necessárias duas figuras importantes: a do colecionador e a do observador. Sozinhos, os
objetos não possuem significado, além da utilidade. O colecionador é aquele que percebe
o valor simbólico do objeto, retirá-lo do meio, classificá-lo, expô-lo. Já o observador é
aquele que visualiza os objetos após esse tratamento feito pelo colecionador. São essas
duas lentes que atribuem sentido à coleção.
Agora que você sabe o que é uma coleção, mostraremos, brevemente, como
elas se constituíram ao longo dos anos e se desenvolveram até encontrar espaço,
também, nos museus.
ESTUDOS FUTUROS
Nesta unidade, faremos apenas um breve apanhado histórico.
Nas próximas, abordaremos, mais a fundo, os momentos mais
relevantes da história do colecionismo. Fique atento!
23
Atente-se para a relação entre o colecionismo e o poder! Desde os primórdios,
as coleções têm, como um dos objetivos, ser uma forma de manutenção do poder e da
distinção entre grupos sociais. Essa característica fica bem perceptível ao avançarmos
na história e chegarmos na Idade Média, quando a Igreja Católica se torna a grande
responsável por coleções de relíquias sagradas, tesouros e manuscritos, o que aumentou
o prestígio e a distinção social. Nesse período, a escrita e a leitura era privilégio do clero,
o que proporcionava a dominação dessa instituição.
ATENÇÃO
Fique atento! No próximo tópico, retornaremos aos períodos da
Idade Média e do Renascimento.
Com a ascensão da figura dos museus, é preciso citar que as coleções inseridas
em acervos museológicos passaram por um processo de significação diferente das
coleções privadas. Enquanto essas últimas atendem ao desejo de um colecionador,
as coleções museológicas são representativas de uma sociedade e se inserem como
vestígios de uma história conjunta.
24
[...] a propriedade que tem, um objeto material, de documentar uma
realidade através de outra realidade: no presente, é documento do
passado, no museu, é documento do mundo real, no interior de um
espaço, é documento de outras relações espaciais. A musealidade é
assim, o valor imaterial ou a significação do objeto, que nos oferece a
causa ou a razão da musealização (MAROEVIC, 1997, s.p.).
Pronto, agora que você sabe o que são coleções e como elas se desenvolveram
até o surgimento dos museus, podemos retomar a narrativa mais aprofundada em
períodos históricos.
3 O COLECIONISMO NO RENASCIMENTO
Para abordarmos o Renascimento, precisamos voltar um pouco na história e
falar da Idade Média (século V - século XV d.C.). Esse período histórico tem início com
a queda do Império Romano, invadido por tribos germânicas do norte da Europa. No
ocidente, esses povos formaram pequenos reinos. Converteram-se ao cristianismo,
religião que se tornou predominante no território, principalmente, em Roma. Nesse
período, duas instituições dominavam a Europa: o Sacro Império Romano-Germânico e
a Igreja Católica.
25
No período, a leitura e a escrita eram exclusividade das classes mais altas da
sociedade, mais especificamente, do clero. O conhecimento, a produção de livros e o
ensino estavam concentrados nos mosteiros católicos, que gerenciavam as informações
que seriam repassadas ao povo. Dessa forma, a máxima “conhecimento é poder” se aplica
à concepção da sociedade medieval, e o poder era exclusivo das classes abastadas.
Não apenas a Igreja era detentora das relíquias. Os nobres também acumulavam
tesouros familiares. Possuir coleções de objetos valorosos era, então, uma forma de
distinção social. A estas, dá-se o nome de coleções principescas.
NOTA
No século VIII, Carlos Magno (747-814) foi o primeiro imperador
do Sacro Império Romano-Germânico. Ele foi o responsável por
aquele que, hoje, chamamos de Renascimento Carolíngio, sendo
estabelecidas leis para que se preservasse tudo que remetesse à
cultura romana (CARLAN, 2008). Nesse sentido, observamos que
a preocupação com a preservação de vestígios do passado já se
manifestava (CARLAN, 2008).
26
A partir do século XI, com as relações estabelecidas entre Ocidente e Oriente,
através das Cruzadas, surgiram os burgos, cidades fora dos feudos, que tinham, como
atividade principal, o comércio. À classe comerciante, deu-se o nome de burguesia. Os
burgos modificaram a estrutura social do feudalismo, que se valia de uma relação de
subsistência, assim, com a abertura do comércio, começou a enfraquecer. É o chamado
Renascimento Comercial, que marca o fim do Feudalismo e o início do sistema capitalista.
NOTA
As Cruzadas (1096-1291) consistem em todas as investidas
militares pregadas pela Igreja Católica da Europa Ocidental
para o Oriente Médio, a fim de conquistar a Terra Santa e de
ocupá-la sob o domínio cristão, reforçando a imagem da igreja.
A justificativa divulgada era a de recuperar o Santo Sepulcro,
que estaria com os chamados “infiéis” (CALMON, 2014).
27
As mudanças de pensamentos e de valores ocorridas no Renascimento geraram,
também, a transformação da prática colecionista e das artes.
FONTE: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Da_Vinci_Vitruve_Luc_Viatour.jpg>.
Acesso em: 18 jun. 2020.
28
NOTA
O desenho de Leonardo da Vinci, o Homem Vitruviano, exemplifica
o mote do Renascimento: a retomada do pensamento grego
antigo e o foco no ser humano. Realizado pelo artista, a partir de
conceitos do arquiteto romano Marcus Vitruvius Pollio, o desenho
visa representar as proporções ideais do corpo humano.
29
3.1 OS GABINETES DE CURIOSIDADES
Vimos, anteriormente, que o Renascimento ascendeu uma nova vida à cultura
material, que passou a possuir destaque entre as camadas mais altas da sociedade.
Além disso, as grandes navegações possibilitaram o contato com as outras culturas,
que despertavam a curiosidade dos europeus. Do fascínio acerca das artes, do antigo
e do desconhecido, surgiram os gabinetes de curiosidades, espaços privados criados
para guardar e expor as coleções que se formaram.
30
FIGURA 11 – PINTURA DE UM GABINETE DE CURIOSIDADES, DE JOHANN GEORG HAIN
FONTE: <https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Johann_Georg_Hainz_-_Cabinet_of_Curiosities_-_
WGA11425.jpg>. Acesso em: 29 maio 2020.
31
DICA
O filme Wunderkammer - Os Quartos das Maravilhas, do diretor
Francesco Invernizzi, mostra-nos como eram os gabinetes de
curiosidades durante o Renascimento. Você pode conferir o
trailer no Youtube.
ATENÇÃO
Atente-se para o fato de que muitas das coleções particulares
foram incorporadas, posteriormente, ao acervo de museus,
começando a ser instituições de destaque após a Revolução
Francesa, a partir do século XIX.
32
NOTA
O maneirismo é um estilo artístico que teve destaque entre 1520 e 1600. As obras desse
estilo são caracterizadas por apresentarem estilização exagerada. O nome foi utilizado
pelo artista Giorgio Vasari para indicar a “maneira” de cada artista ao trabalhar, não
havendo, então, tantas regras, dando grande liberdade de interpretação aos artistas. A
seguir, você poderá conferir um exemplar desse estilo.
33
• Coleção dos Médici: os Médici foram uma família burguesa da época renascentista,
que ascenderam ao poder da cidade de Florença, na Itália. Constituíram-se como
grandes mecenas do Renascimento. Mecenas eram aqueles sujeitos, da camada
mais alta da sociedade, que financiavam e incentivavam as artes e os artistas. Esse
tipo de ação era bem visto e fazia, dos mecenas, figuras de grande prestígio. Os Médici
financiaram diversos artistas de renome da época, como Botticelli, Michelangelo,
Caravaccio, Donatello, enfim... Muitas das obras eram realizadas sob encomenda da
família e compunham uma coleção particular. Inclusive, quem fazia a conservação
da coleção era o próprio Michelangelo, a pedido de Lourenço de Médici (OS MUSEUS
NO MUNDO, 1979). Como veremos mais adiante, a coleção deu origem à Galeria Ufizzi,
que é, hoje, o museu mais famoso de Florença.
• Coleção de Ferrante Imperato: Ferrante Imperato era um boticário e naturalista. Seu
gabinete de curiosidades refletia isso, pois era voltado para itens naturais e minerais
que serviam para observação científica e experimentos. A coleção originou 28 livros
escritos pelo boticário, o chamado Dell’historia Naturale, que era todo ilustrado com
desenhos de itens do próprio gabinete (BIODIVERSITY LIBRARY, 2017).
FONTE: <https://blog.biodiversitylibrary.org/wp-content/uploads/sites/4/2017/03/spiders.jpg>.
Acesso em: 24 maio 2020.
34
• Coleção de Ole Worm: Assim como Ferrante, Ole Worm também possuía intenções
científicas com as coleções. Sua coleção é uma das mais conhecidas da Renascença.
Pelas características particulares, deixaremos para abordar essa coleção de maneira
mais aprofundada no próximo tópico, que abordará a origem dos museus de ciências
naturais.
NOTA
As coleções dos Gabinetes de Curiosidades podiam ser divididas
em quatro categorias, todas com nome em latim: artificialia, com
objetos criados ou modificados pela mão humana; naturalia,
com criaturas e itens da natureza; exotica, com plantas e
animais exóticos; e scientifica, com instrumentos científicos. Essa
organização categorizada não chegava aos espaços físicos dos
gabinetes, tendo em vista que as imagens que temos mostram
que os itens se encontravam todos misturados.
Desse modo, no próximo tópico, veremos como se deu a origem dos museus
de ciências naturais a partir das coleções de curiosidades. Depois, no próximo, acom-
panharemos a formação das galerias de arte e dos primeiros museus dessa tipologia.
DICA
O site Google Arts and Culture possui uma página dedicada
à temática dos Gabinetes de Curiosidades. Nela, você pode
conferir informações complementares e ilustrações diversas dos
gabinetes e dos acervos. Além disso, o site direciona para a página
dos museus que, atualmente, possuem acervos oriundos das
coleções particulares. Está em inglês, mas o próprio site possui
um recurso para traduzir o conteúdo através do Google Tradutor:
https://artsandculture.google.com/theme/4QKSkqTAGnJ2LQ.
35
3.2 A ORIGEM DOS MUSEUS DE CIÊNCIAS NATURAIS
Como vimos anteriormente, a expansão marítima possibilitou o contato do euro-
peu com outras terras e culturas. A curiosidade despertada pelos ideais renascentistas
fez com que coleções se formassem e fossem abastecidas com objetos e exemplares
trazidos do além-mar. Não apenas antiguidades, mas, em alguns Gabinetes de Curiosi-
dades, também se encontravam peças que, hoje, identificamos como etnográficas e de
história natural, acumuladas pelos europeus para fins de estudo e de admiração acerca
do outro (do povo além-mar, da fauna e da flora, dos minerais, enfim, de tudo que não
pertencia à realidade europeia).
NOTA
A etnografia, de maneira simplificada, é o estudo das diversas
culturas e das etnias humanas. Ao dizer que uma coleção é
etnográfica, significa que é referente a uma cultura que não
daquela pessoa ou da instituição em que está inserida.
36
FIGURA 14 – RETRATO DE OLE WORM
Você poderá conferir como era exposta essa miscelânea de itens a seguir.
37
FIGURA 15 – GABINETE DE CURIOSIDADE, DE OLE WORM, 1655
FONTE: <https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Museum_Wormiani_Historia_1655_Wellcome_
L0000128.jpg>. Acesso em: 18 maio 2020.
A partir da coleção, foi feito um terceiro catálogo, em 1655, após a morte de Ole
Worn. O texto está dividido em quatro livros, acerca das seguintes categorias: mineral,
vegetal, animal e artificialias.
Após a morte de Worn, o Rei Frederico III comprou a coleção, que foi transferida
para o Castelo de Copenhagen, onde grandes obras já faziam parte de uma coleção.
Com essa compra, dois tipos diferentes de coleções renascentistas foram unidos: a
coleção de arte do príncipe e um gabinete naturalista de um estudioso renascentista.
38
A coleção de Ole Worm evidencia a relação entre as coleções e a ciência do
período Renascentista, principalmente, as ciências naturais e a necessidade de
classificar o mundo. Além disso, os Gabinetes de Curiosidades se constituíram como
espaços de ensino e de aprendizagem através da observação e do contato direto com
as espécies e com os objetos.
FONTE: <https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Elias_Ashmole_by_John_Riley.jpg>.
Acesso em: 24 maio 2020.
39
FIGURA 17 – MUSEU ASHMOLEAN, INAUGURADO EM 1683
FONTE: <https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Ashmolean_Museum_in_July_2014.jpg>.
Acesso em: 18 maio 2020.
40
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você aprendeu:
41
AUTOATIVIDADE
1 Os Gabinetes de Curiosidades surgiram no século XIV em decorrência do holofote
que os ideais humanistas e as grandes navegações trouxeram para a aquisição de
objetos, obras e espécies, além da composição de coleções. Acerca dos Gabinetes
de Curiosidades, classifique V para as sentenças verdadeiras e F para as sentenças
falsas:
3 Você viu, neste tópico, que o colecionismo é uma prática que acompanha o ser
humano desde a origem, assim, disserte a respeito das diferentes perspectivas de
coleção no decorrer dos períodos históricos que abordamos até aqui.
42
4 Após fazer a leitura atenta deste tópico, disserte a respeito das mudanças que o
Renascimento provocou na prática colecionista.
5 Conforme você estudou neste tópico, complete a frase com os conceitos CORRETOS:
43
44
UNIDADE 1 TÓPICO 3 —
AS COLEÇÕES NO RENASCIMENTO II
1 INTRODUÇÃO
Caro leitor, neste tópico, agora, que já conhecemos um pouco do contexto do
Renascentismo, adentraremos nos últimos anos desse período, permeados pela cultura
do colecionismo e pelo surgimento das primeiras galerias de arte do mundo.
As coleções de obras de arte têm origem nas coleções principescas que temos
registro desde o século XIV, transformadas, integralmente ou parcialmente, em museus,
posteriormente (SUANO, 1986). Na mesma época, Lorenzo de Médici, o terceiro na
geração da família clássica da aristocracia italiana, possuía, em casa, uma das maiores
coleções de arte da Europa, que viria a se tornar a primeira galeria de arte da Itália
(CRIPPA, 2005).
45
NOTA
Você já ouviu falar das coleções principescas?
FONTE: <https://pt.m.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Mona_Lisa,_by_Leonardo_da_Vinci,_from_
C2RMF_retouched.jpg>. Acesso em: 18 maio 2020.
46
A Mona Lisa foi pintada pelo italiano Leonardo Da Vinci. Iniciada em 1503, é
considerada, na atualidade, uma das suas obras mais emblemáticas. Durante os últimos
anos de vida, Da Vinci foi contratado pelo Rei Francisco I, da França, para prestar serviços
artísticos para a corte francesa. Após a sua morte, grande parte das obras foi vendida para
esse rei, que as expôs no Palácio de Versalhes e, posteriormente, no Louvre (PIRES, 2020).
ATENÇÃO
Você sabia que a Mona Lisa já foi roubada? É verdade, em 1911, a Mona Lisa foi roubada,
mas como isso aconteceu?
Ela foi roubada por um funcionário do Museu do Louvre, Vincenzo Peruggia, um italiano.
Ele conhecia o frágil sistema de segurança da instituição e tinha sido da equipe que
instalou o vidro que protegia a obra. Só em 1913 a tela retornou para o
Museu do Louvre, após ter sido encontrada na Itália. Peruggia foi preso,
e, posteriormente, alegou que tinha motivações patrióticas, pois ele
acreditava que Napoleão havia roubado a tela da Itália e gostaria de
devolvê-la para o país de origem, todavia, isso não é verdade. A tela
foi adquirida pelo rei da França, que havia criado uma boa relação de
amizade com Da Vinci nos últimos anos de vida (PIRES, 2020).
O amor pela arte foi incentivado, nesse período, pelo estímulo à ideia de satisfação
na contemplação dos objetos reais. Esse processo mobilizou forças sociais poderosas,
que criaram organizações para a conservação das materialidades das antiguidades e
das artes.
47
Com o desenvolvimento do status do artista, desponta a noção de criação
autônoma. Anteriormente, o artista deveria responder a uma exigência utilitária, sendo,
a arte, utilizada para embelezar, adornar, decorar e celebrar. Durante o Renascimento,
ainda que trabalhando para contratantes, os artistas tinham muita liberdade para a
criatividade e o incentivo para a produção, com temáticas e características de gosto
individual (AZZI, 2011). O consumo de obras se populariza entre as classes mais altas da
sociedade e cresce o mercado da arte.
Agora que conhecemos um pouco das mudanças das noções de bens artísticos
ocorridas durante o período do Renascimento, devemos compreender a origem das
instituições, que possibilitaram que esses elementos culturais fossem apreciados pelo
público.
A primeira galeria de arte de que temos registro é anterior aos primeiros museus
nos moldes contemporâneos. A Galeria Degli Uffizi, criada na Itália, foi idealizada pelo
pintor e arquiteto Giorgio Vasari, construída em 1581, pela Família Médici. Nesse espaço,
48
estavam objetos de arte antigos e modernos. Originalmente, foi criada para outra
finalidade, mas, naquele mesmo ano, já estava funcionando como espaço privado de
exposições de arte. Ainda hoje, é reconhecida como o primeiro museu moderno e a
primeira galeria de arte do mundo (SOUZA, 2009).
FONTE: <https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Uffizi_Gallery_hallway.JPG>.
Acesso em: 18 maio 2020.
NOTA
Em Florença, surge a ideia moderna do termo museum, durante
o século XV, “através de Cosimo I (1519-1574), que utiliza o termo
para se referir à coleção particular”. Cosimo I foi o personagem que
solicitou, a Giorgio Vasari, a concepção do prédio, que funcionaria
como escritório da magistratura de Florença, conhecida como
Galeria Uffizi, cujo terceiro andar virou a galeria da coleção artística
da família Médici (TRIGGER, 2004). Isso nos mostra a importância
que as galerias de arte tiveram na trajetória para a concepção do
museu moderno.
49
Entretanto, a origem da prática da exibição das coleções artísticas nem é feita
nas galerias. A exibição de obras de arte já era um costume entre os reis, que mantinham,
nos palácios, salões e corredores para essa função. Esses espaços deram origem, após
a Revolução Francesa, aos primeiros museus “públicos”, no fim do século XVIII. Todavia,
ainda existiam muitas restrições ao acesso desses ambientes para a grande população,
portanto, estavam longe de ser instituições públicas, como viriam a se tornar apenas no
século XX, com a grande escala de criação dos museus (KIEFER, 2002).
50
Na Itália, também existiram os Studiolos, que eram equivalentes ao Schatzkam-
mers germânicos. Uma coleção célebre desse período pertenceu à Marquesa de Mân-
tua Isabella d'Este (1474 - 1539), que contratou famosos pintores italianos para criarem
composições apresentadas nos salões do castelo. O quadro Parnasos, realizado por
Andrea Mantegna, foi um convite realizado pela marquesa, “exibido à admiração dos
visitantes selecionados que penetravam nesse gabinete do Palácio Ducal após atra-
vessarem um jardim onde estavam réplicas de célebres esculturas” (SOUZA, 2009, p. 6).
Atualmente, a tela se encontra no acervo do Museu do Louvre.
FONTE: <https://commons.wikimedia.org/wiki/File:La_Parnasse,_by_Andrea_Mantegna,_from_C2RMF_
retouched.jpg>. Acesso em: 29 maio 2020.
NOTA
Schatzkammer é uma palavra em alemão para tesouro ou arca
de tesouro. Logo, esse espaço era o local destinado à guarda
dos objetos que representavam a riqueza ou, até mesmo, que
despertavam uma grande curiosidade.
51
Na sequência, outros espaços começam a surgir em diferentes pontos da Eu-
ropa. Em 1620, é criada a Ashmolean Museu de Arte e Arqueologia, hoje, pertencente à
Universidade de Oxford, na Inglaterra. Essa instituição abrigava coleções de numismá-
ticas e objetos que despertavam a curiosidade. A partir de 1683, foram colocadas obras
de arte no acervo.
NOTA
Antiquários
52
FIGURA 21 – ARTISTA SAMUEL F. B MORSE, GALERIA DE EXPOSIÇÃO NO LOUVRE, 1832-1833
FONTE: <https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Gallery_of_the_Louvre_1831-33_Samuel_Morse.jpg>.
Acesso em: 18 maio 2020.
DICA
Ficou curioso para saber como eram organizadas as obras de arte nos
palácios? O filme A Arca Russa é um longa-metragem realizado pelo
diretor Alexandre Sokourov. Nele, você acompanhará um cineasta que,
misteriosamente, é enviado para o Palácio de Hermitage em 1700.
53
O desenvolvimento dos museus de arte se insere nos projetos filosófico e político
do Iluminismo. O Iluminismo foi caracterizado pela:
54
LEITURA
COMPLEMENTAR
COLEÇÃO
Kristof Pomian
[...]
1.2. As oferendas
Os actuais museus devem esse nome aos antigos templos das Musas. Todavia,
o mais famoso, o Museu de Alexandria, não era por causa das colecções de objectos;
tornou-se famoso graças à biblioteca e à equipe de sábios que aí vivia em comunidade.
Existe, porém, mais de uma semelhança entre os templos dos gregos e dos romanos
e os nossos museus. Com efeito, nos templos, acumulavam-se e eram expostas as
oferendas. O objecto oferecido ao deus e recebido por ele, segundo os ritos, torna-se
hieron ou racrum, e participa da majestade e da inviolabilidade dos deuses. Subtrai-
lo, deslocá-lo ou desviá-lo do uso ou apenas tocá-lo é acto sacrílego. De facto, não
se pode falar de uso nesse caso. O objeto entrado em um recinto sagrado passa, com
efeito, para um campo rigorosamente oposto ao das actividades utilitárias.
No interior do recinto, não se pode nem extrair pedras, nem tirar terra, nem cortar
lenha, nem construir, nem cultivar, nem habitar. Por isso, os objectos têm aí apenas uma
função: ser expostos ao olhar nos edifícios sagrados que decoram ou nas construções
feitas expressamente para dispor as oferendas quando se tornam tão numerosas que
estorvam os locais do culto.
Os peregrinos, que eram, ao mesmo tempo, turistas, iam aos templos não só
para rezar, mas, também, para admirar os objectos, e toda uma literatura, cujo exemplo
mais conhecido é a obra de Pausânia, que se aplicava em descrever os exemplares mais
notáveis, os que se distinguiam pelo material, pelas dimensões, pelas dificuldade de
execução, pelas circunstâncias extraordinárias ou por outros traços que os tornavam
fora do comum.
55
Uma vez oferecidos aos deuses, na teoria, os objectos deviam ficar para sempre
no templo que os tinha acolhido. Eram registrados em inventários e protegidos contra
os ladrões. Ainda que se deteriorassem, não eram eliminados de qualquer maneira.
Se eram de ouro ou de prata, procedia-se da seguinte maneira: um decreto do povo
emanado por proposta do sacerdote ou do tesoureiro sagrado, em conformidade com
um parecer do conselho, ordenava que as oferendas deterioradas fossem fundidas,
para serem reduzidas a lingotes ou transformadas em uma única oferenda. Utilizavam-
se, da mesma maneira, todos os restos de metal precioso. Os objectos de pouco
valor se estorvavam ou, se estavam partidos, eram retirados do templo e sepultados.
A consagração os tornava sagrados para sempre, por isso, não deviam reentrar em
circulação. Assim, foram formados aqueles amontoados de terracotas ou de bronzes
encontrados na vizinhança de certos santuários, em Tegeia, em Cnido, em Olímpia, por
exemplo [HOMOLLE, 1892, passim; cf. também THÉDENAT, 1896].
56
Em Roma, o general, que voltava de uma campanha vitoriosa, tinha o privilégio
de fazer ostentação dos homens submetidos e das riquezas que tinha conquistado.
Assim, ao terceiro triunfo que celebrou sobre os piratas, a Ásia, o Ponto, sobre as nações
e os reis enumerados no sétimo livro dessa obra, Pompeu fez desfilar um tabuleiro de
xadrez com as peças, feito de duas pedras preciosas, de três pés de largura por quatro.
Ainda, três camas de triclínio; baixela de ouro e de pedras preciosas, que enchiam
nove credências; três estátuas de ouro de Minerva, de Marte, de Apolo; 33 coroas de
pérolas; uma montanha de ouro quadrada, com cervos, leões e frutos de toda a espécie,
rodeada por uma videira de ouro; uma gruta em pérolas, encimada por um quadrante
solar [PLÍNIO; NATURALIS HISTÓRIA, XXXVII, 13-14]. Certos objectos, tirados ao inimigo,
depois de terem sido exibidos em triunfo, eram oferecidos aos templos, sendo expostos.
Por exemplo, Pompeu consagrou patetas e taças de murra a Júpiter Capitolino. Outros
ficavam na posse do general vitorioso.
57
colecções em sociedades pelas quais os historiadores da instituição, habitualmente,
não se interessam; a segunda, mais importante, é a do vínculo da colecção com os
comportamentos agonísticos. Voltaremos, mais tarde, a essas questões.
Foi o cristianismo que, ao difundir o culto dos santos, levou o das relíquias ao
apogeu. É impossível fazer, aqui, a história, pela parte que nos interessa, é suficiente
recordar que era considerado relíquia qualquer objecto que se pensasse que tivesse
tido contacto com um personagem da história sagrada, e, em primeiro lugar, uma parte
do corpo. Por mais ínfimo que fosse esse objecto e qualquer que fosse a natureza, este
conservava a inteira graça de que o santo era investido em vida. Por isso, uma relíquia
santificava o local onde isso se encontrava, de um modo não menos eficaz. Existiam
relíquias que sustinham a propagação de doenças e que curavam os enfermos; outras
protegiam as cidades e os reinos contra os inimigos. Todas garantiam a ajuda dos santos
e, logo, a prosperidade, por isso, eram tidas como os tesouros mais preciosos. Quando,
em 1125, depois da morte do marido, o imperador Henrique V, a rainha Matilde voltou
para a Inglaterra, levando consigo uma relíquia de S. Tiago, um cronista comentou o
acontecimento nesses termos: A rainha Matilde parte para a Inglaterra para junto do
seu pai, levando consigo a mão de S. Tiago, com o que causou um dano irreparável ao
reino dos Francos [citado in LEYSER, 1975, p. 491, nota 3]. Não era uma opinião isolada:
Frederico Barbaruiva empreendeu uma acção diplomática para recuperar a relíquia, mas
os ingleses não quiseram restituir.
58
acção miraculosa da relíquia. Na França setentrional, entre 1050 e 1550, os monges as
exibiam, muitas vezes, durante as colectas, que organizavam para financiar a construção
das igrejas e das abadias [HÉLIOT; CHASTANG, p. 1964-65]. Com relação às relíquias,
por serem muito cobiçadas, não se hesitava a obtenção por furto, assim, aquelas que
gozassem de uma muito grande celebridade tinham que ser vigiadas dia e noite por
soldados armados [SILVESTRE, 1952]. As relíquias eram, também, objecto de comércio,
e os cemitérios romanos serviam, por assim dizer, como minas, de onde se extraíam os
restos dos santos; vendê-los, depois, nos países transalpinos [GUIRAUD, 1906].
59
A inserção no circuito das actividades econômicas não se faz apenas pelo uso,
passa, também, pela recolha de objectos com o fim de acumular riquezas, e sem dúvida
que se recorria aos tesouros principescos cada vez que a necessidade se apresentava.
Assim, Carlos V transferiu, para a casa da moeda, uma parte da baixela: não era o primeiro
nem o último a usar esse expediente. De resto, estão registradas, nos inventários, as
vendas feitas para pagar certas despesas reais. A propósito de uma pequena coroa de
ouro de 13 florões, os compiladores do inventário das joias de Carlos VI, rei de França,
anotam: Da coroa, foram tiradas 117 pérolas entregues a Charles Poupart, tesoureiro real,
para que fossem confeccionados certos gibões e joias que ele mandou fazer para o rei
para a viagem a Saint-Omer, onde devia se encontrar com o rei da Inglaterra em pessoa
[DOUET D'ARCQ, 1864]. Pode-se citar vários casos análogos: por exemplo, o de Filipe de
Vallois, que enviou o grande camafeu da Sainte Chapelle ao papa Clemente VI, como
penhor de um empréstimo [BABELON, 1897]; as joias dos Hohenstaufen, que foram
empenhadas em 1253 ou vendidas a uma companhia de mercadores e de banqueiros
pela soma de 2522 liras genovesas, o equivalente a dois anos de salário do podestà
de Génova, a um ano de pagamento de cerca de 150 artesãos, ao preço do maior
barco de altura com a tripulação completa e provisões para quatro meses, ou a 630
vacas ou 400 cavalos [BYRNE, 1935]. Essas equivalências, que mostram o valor de um
tesouro muito menor do que o de Carlos V, por exemplo, permitem fazer uma ideia das
riquezas acumuladas nos palácios reais. No entanto, é impossível reduzir a acumulação
de objectos preciosos, feita pelos príncipes, a um simples entesouramento. Por outro
lado, ao que parece, fazia-se uma distinção, naquela época, entre joias e poupança, e
entre joias e baixela. O importante é saber se as joias eram expostas ao olhar e a quais
circunstâncias. O que se conclui, pelos inventários, é que estas estavam, normalmente,
fechadas em cofres ou armários, que estavam, por sua vez, em divisões bem guardadas,
sendo tirados, para fora, sobretudo, em ocasiões de cerimônia e festas: depois da morte
do rei, os regalia eram levados nas procissões fúnebres [TWINING, 1967]. Eram, também,
exibidas durante as entradas solenes nas cidades do reino, assim como as armas e as
armaduras de parada, os arreios decorados, os tecidos ricamente bordados e cobertos
de pedras preciosas. Eis como Carlos VII, rei da França, fez a entrada em Paris, em 12 de
Novembro de 1437. O rei estava armado com todas as peças, sobre um corcel branco,
e tinha um cavalo coberto de veludo de cor azul, salpicado de flores de lis de ouro
cinzeladas. Na frente, o primeiro escudeiro montado em um corcel coberto de fino pano
decorado com escaravelhos de ouro. Ainda, quatro corcéis, todos iguais entre si, com
três cavaleiros e escudeiro todos armados. Os enfeites dos corcéis eram semelhantes
aos de escudeiro. O escudeiro do rei levava, sobre um bastão, o elmo da armadura do rei,
e, em cima, uma coroa de ouro. No meio, sobre o penacho, uma grande flor de lis coberta
de ouro fino menos precioso. O rei, de armas, na frente, levava a cota, muito rica de
veludo azul com três flores de lis bordadas a ouro fino e decoradas com grandes pérolas,
e um outro escudeiro estava montado em um ginete, e levava uma grande espada, toda
salpicada de flores de lis de ouro fino cinzeladas [citado in GUENÉE; LEHOUX, 1968, p.
73]. Não tendo, a cena citada, nada de excepcional, pode-se constatar, sem multiplicar
os reenvios para as fontes, que as joias eram expostas ao olhar e que se destinavam,
principalmente, a isso.
60
As chamadas colecções mencionadas diferem em quase todos os aspectos
das contemporâneas, e, também, umas das outras. Não se formam nos mesmos locais;
os objectos acumulados não têm nem um mesmo carácter nem uma mesma origem;
os visitantes ou os espectadores não se comportam da mesma maneira. Certamente
que, em cada caso, encontra-se um conjunto de objectos que contempla, com certas
reservas, os critérios postos pela definição de colecção. Assimilar uns aos outros
conjuntos de objectos tão evidentemente heterogêneos não significa se comportar
como aquele louco, levado à cena, por Júlio Cortázar, que, por todo o lado, via colecções?
Um escritório, dizia ele, é uma colecção de funcionários; uma escola, uma colecção
de alunos; uma caserna, uma colecção de soldados; uma prisão, uma colecção de
detidos. O significado dessa anedota é que uma aproximação de instituições que
parecem díspares só pode ser legitimada na condição de ter sido fundada não em uma
semelhança externa, mas em uma homologia de funções.
FONTE: POMIAN, K. Coleção: Enciclopédia Einaudi. 1985. Disponível em: http://twixar.me/Jtcm. Acesso em:
24 out. 2020.
61
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você aprendeu:
• A Galeria Degli Uffizi foi construída para expor a coleção de uma das mais tradicionais
famílias italianas, os Médici. É o primeiro espaço de que se tem registro, criado com a
finalidade de expor uma coleção de arte. É considerada, ainda hoje, como o primeiro
museu moderno e a primeira galeria de arte do mundo.
62
AUTOATIVIDADE
1 Conforme aprendemos neste tópico, no período Renascentista, aconteceram
mudanças substanciais no campo da produção artística, assim, leia o trecho a seguir:
“A noção de criação artística surge no Renascimento, com o deslocamento da postura
de homem artesão/artífice para artista, como um sujeito criador”. Qual afirmação a
seguir não contempla as consequências desse processo?
2 Neste tópico, conhecemos a Galeria Degli Uffizi, uma das mais importantes instituições
do colecionismo ocidental. A partir dos conhecimentos adquiridos, disserte a respeito
da história da galeria.
4 O Renascentismo é conhecido pelo período das exposições nos palácios reais e nas
galerias de arte privadas, pertencentes à aristocracia. Entretanto, o museu de arte,
como nós conhecemos na atualidade, surgiu das ideias do Iluminismo. Quais dos
conceitos a seguir caracterizam essas ideias?
5 Vimos como se deu o surgimento dos museus de arte, por volta dos séculos XVII e
XVIII. Explique o processo que deu origem a essas instituições e as dinâmicas de
produção artística da época.
63
64
REFERÊNCIAS
ALMEIDA, C. A. F. de. O “colecionismo ilustrado” na gênese dos museus
contemporâneos. 2001. Disponível em: https://www.passeidireto.com/
arquivo/78946136/2-almeida-cicero-a-o-colecionismo-ilustrado-na-genese-dos-
museus-contemporaneos. Acesso em: 24 fev. 2021.
ARCHER, M. Arte contemporânea: uma história concisa. São Paulo: Martins Fontes,
2001.
BAUER, C. S.; ALVES, A. C. Z.; OLIVEIRA, S. História antiga. Porto Alegre: SAGAH, 2019.
BIODIVERSITY LIBRARY. Ferrante Imperato: step into his cabinet of wonders! 2017.
Disponível em: https://blog.biodiversitylibrary.org/2017/03/ferrante-imperato-step-
into-his-cabinet-of-wonders.html. Acesso em: 24 maio 2020.
65
CHASSOT, A. I. Biblioteca alexandrina: a fênix ressuscitada. Revista Química Nova na
Escola, São Paulo, v. 1, n. 16, p. 32-35, 2002.
GIRAUDY, D.; BOUILHET, H. O museu e a vida. Rio de Janeiro: Fundação Nacional Pró-
Memória; Porto Alegre: Instituto Estadual do Livro; Belo Horizonte: UFMG, 1990.
66
ISSA, G.; DETTIENE, M. Os deuses gregos: “a vida cotidiana”. São Paulo: Companhia
das Letras, 1989.
KLEINMAN, P. Tudo que você precisa saber sobre filosofia: de Platão e Sócrates até
a ética e metafísica, o livro essencial sobre o pensamento humano. São Paulo: Editora
Gente, 2014.
MORAES, I. Burguesia: quem é e qual sua origem? 2019. Disponível em: https://www.
politize.com.br/burguesia/. Acesso em: 18 maio 2020.
67
O’DOHERTY, B. No interior do cubo branco: a ideologia do espaço da arte. São Paulo:
Martins Fontes, 2002.
TORRANO, J. Teogonia: a origem dos deuses. São Paulo: Editora Iluminuras, 2011.
68
UNIDADE 2 —
A CONCEPÇÃO MODERNA
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:
PLANO DE ESTUDOS
A cada tópico desta unidade você encontrará autoatividades com o objetivo de
reforçar o conteúdo apresentado.
CHAMADA
Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure
um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações.
69
CONFIRA
A TRILHA DA
UNIDADE 2!
Acesse o
QR Code abaixo:
70
UNIDADE 2 TÓPICO 1 —
A CONCEPÇÃO MODERNA DOS MUSEUS
1 INTRODUÇÃO
Olá, caros estudantes! Já vimos como os museus foram se formando no
decorrer dos tempos, desde a antiguidade clássica até o Renascimento. Agora, neste
tópico, abordaremos como surgiu a concepção moderna dos museus, o início dessas
instituições como as conhecemos hoje.
Conforme menciona Julião (2006, p. 20), muitas coleções, formadas a partir dos
gabinetes renascentistas,
Mais à frente, abordaremos a relação dos novos museus com a construção dos
ideais nacionalistas. Os museus passaram a ser mais um mecanismo para firmar as
chamadas “identidades nacionais”.
Convidamos você a seguir conosco pela história dos museus. Vamos lá?!
71
2 OS MUSEUS NO ILUMINISMO
O Iluminismo foi um movimento intelectual ocorrido no século XVIII, na Europa.
72
A criação dos museus públicos franceses está atrelada a três decretos que
decorreram da Revolução Francesa: o que nacionalizou os bens da Igreja Católica, o que
determinou que os bens emigrados seriam confiscados e o que decretou a supressão
das Academias (BREFE, 1998). A partir disso, diversos bens materiais foram passados da
posse particular para a posse da nação francesa, gerando um imenso acervo e a dúvida
acerca do que deveria ser feito com ele.
Devemos informar, aqui, que, na época, esses objetos e essas obras do antigo
regime eram considerados o contrário daquilo que o regime republicano instaurado
pregava. Em um primeiro momento, inclusive, ocorreram depredações desses itens, o
que causou o descontentamento de alguns, que alegaram, à Assembleia Nacional, que o
“[...] patrimônio do antigo regime, em vias de desaparecimento, era composto de obras-
primas da arte universal e, como tal, merecia ser conservado como fonte inesgotável de
modelos aos artistas e de instrução para o cidadão” (BREFE, 1998, p. 306-307). Assim,
surgiu o projeto de criar um museu, que reuniria esses objetos em um único local. Desse
modo, observe que houve uma mudança na mentalidade francesa: ao invés de destruir
tudo aquilo que não fazia parte dos ideais republicanos, escolheu-se preservar como
ícones de um passado, que deu lugar a um período melhor.
ATENÇÃO
Atente-se para o termo patrimônio utilizado neste parágrafo.
Falaremos mais disso no próximo tópico.
73
A esses museus que, como na França, foram criados a partir da formação das
nações, dá-se o nome de museus nacionais. Foram laboratórios dos ideais iluministas
e inauguraram aquilo que conhecemos por “curadoria”, pois havia um discurso, além de
uma intenção, ao expor os itens relacionados à história nacional. “O museu é utilizado
como um instrumento que, de um lado, denuncia a decadência e a tirania das antigas
formas de controle, o ancien régime, e, de outro, enaltece a democracia e o caráter público
do novo regime, a República” (HOOPER-GREENHILL, 1992 apud FILHO, 2006, p. 47).
Tenha em mente que nenhuma escolha é por acaso quando se trata da história
apresentada nos museus nacionais. Ainda, é possível observar que essas instituições
proclamavam um passado nacional pertencente a todos, mas que excluía grande parte
da população ao representar apenas os grandes acontecimentos, os grandes heróis e
as personalidades nacionais.
A organização das salas, típicas dos palácios, convinha muito bem aos
museus nacionais, já que a sucessão de grandes salas interligadas
que caracterizavam essas edificações era adequada para a exposição
de telas e de todo tipo de objeto que os museus abrigavam. Além
disso, a tradicional segurança, com que esses edifícios já contavam,
garantia o controle dos tesouros, mas, como vimos, esse não foi o
único motivo. A questão política e de propaganda também pesou
muito. A imagem de edifício importante, já sacramentada na
população, respondia, com eficiência, à necessidade de mostrar
que ali estavam guardadas as riquezas da nação e que estavam ao
74
alcance de todos. Não deixava de ser uma forma de permitir que a
burguesia, ávida de poder, pudesse tomar posse dos palácios, ainda
que de forma simbólica (KIEFER, 2002, p. 16 -17).
• Museu do Louvre
FONTE: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Museu_do_Louvre#/media/Ficheiro:Louvre_Museum_Wikimedia_
Commons.jpg>. Acesso em: 18 maio 2020.
75
• Museu Britânico
Uma nova sede foi construída para o museu britânico no mesmo terreno da
antiga residência, e esse momento marca a constituição enquanto verdadeiro museu
nacional, em 1823. Ao longo dos anos, o acervo foi ampliado, abrigando, hoje, mais de
sete milhões de objetos oriundos de todos os continentes.
FONTE: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Museu_Brit%C3%A2nico#/media/Ficheiro:British_Museum_from_
NE_2.JPG>. Acesso em: 18 maio 2020.
• Museu do Prado
76
A inauguração foi realizada em 19 de novembro de 1819, com 311 obras expostas
e mais de 1.500 no acervo, que foi formado a partir das coleções dos monarcas e dos
nobres espanhóis. Atualmente, o museu conta com a mais importante coleção de arte
espanhola, abrigando obras dos mais renomados artistas do país.
FONTE: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Museu_do_Prado#/media/Ficheiro:Museo_del_Prado_2016_
(25185969599).jpg>. Acesso em: 18 maio 2020.
O Museu Real do Rio de Janeiro foi criado em 1818, onde, antes, existia a “Casa
de História Natural”. A criação se dá em decorrência da relação entre Brasil e Portugal, e
são importados, da Europa, os moldes dos museus nacionais europeus.
Dessa forma, inicialmente, o museu tinha, como objetivo, atender aos interesses
de promoção dos progressos cultural e econômico brasileiros. Inicialmente, foi sediado
na Casa dos Pássaros, no Campo de Santana. Posteriormente, em 1892, foi transferido
para o Paço de São Cristóvão, que, antes, servia de residência para a família real.
77
FIGURA 5 – MUSEU NACIONAL (RJ/BRASIL)
FONTE: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Museu_Nacional_(Rio_de_Janeiro)#/media/Ficheiro:Pal%C3%A1cio_
de_S%C3%A3o_Crist%C3%B3v%C3%A3o.jpg>. Acesso em: 18 maio 2020.
FONTE: <https://veja.abril.com.br/brasil/laudo-erros-na-instalacao-eletrica-causaram-incendio-no-museu-
nacional/>. Acesso em: 18 maio 2020.
78
DICA
O site Google Arts and Culture disponibiliza um tour virtual
pelas salas do museu antes do incêndio. Para aqueles que não
conheceram o espaço e para quem já visitou e quer relembrar, é
importante conferir.
4 AS EXPOSIÇÕES UNIVERSAIS
No século XIV, seguinte ao Iluminismo, ocorreu a Revolução Industrial. Houve
uma nova mudança de perspectiva e firmavam os avanços da ciência e do domínio da
razão. Foi marcada a transição das formas de produção, artesanais, para a produção por
máquinas, além de que a industrialização dos processos modificou toda a lógica social
que, até então, era conhecida (TURIM 1911, 2014).
Você deve estar se perguntando: como, naquela época, funcionava para que todos
os países se mobilizassem? Era assim: o país que sediava a exposição universal convidava
as outras nações para participarem. As nações escolhiam os melhores produtos produzidos
pela indústria e pela agricultura do país, além de fotos, folhetos, livros e todo material
que servisse para fazer a publicidade das riquezas nacionais. Alguns países realizavam
feiras regionais e nacionais, fazendo a seleção daquilo que seria enviado para as grandes
79
exposições (como é o caso do Brasil, que veremos logo mais). Todas as exposições eram
julgadas e os melhores expositores eram condecorados, o que rendia credibilidade no
comércio internacional.
80
FIGURA 8 – PALAIS DE L’INDUSTRIE ET DES BEAUX-ARTS, PALÁCIO DA INDÚSTRIA E DAS
BELAS ARTES, EXPOSIÇÃO UNIVERSAL DE 1855, FRANÇA
FONTE: <https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/d/de/Entr%C3%A9e_principale_du_palais_
de_l%27Industrie.jpg>. Acesso em: 18 maio 2020.
Devemos informar, caro leitor, que ocorriam disputas veladas entre as nações,
que queriam mostrar o que havia de melhor no país através das exposições, superando-
se a cada ano e, também, superando o que era apresentado pelos outros países. Observe
a dicotomia promovida pelas exposições:
81
A última exposição citada, de 1867, foi construída em Paris, um palácio em
forma elíptica, denominado de Palais du Champ-de-mars (Palácio do Campo de Marte).
De acordo com Lopes (1997, p. 51), havia o dobro de expositores em comparação à
exposição anterior. A divisão interna do espaço era feita por galerias, separadas por
tipologia de objeto, que eram “organizados hierarquicamente, segundo a utilidade, a
nível das necessidades humanas”.
FONTE: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Exposi%C3%A7%C3%A3o_Universal_de_1867#/media/
Ficheiro:Exposition_universelle_de_1867.png>. Acesso em: 21 dez. 2020.
82
mais”. Na exposição de 1939, em Nova York, EUA, Oscar Niemeyer e
Lúcio Costa criaram o Pavilhão do Brasil, e surpreendem o mundo
com uma visão poética e menos rigorosa da arquitetura modernista
inspirada nas ideias de Le Corbusier (CARVALHO, 2008, p. 4-5).
83
De acordo com Carvalho (2008), as exposições de caráter industrial se
multiplicaram no século XX, nos grandes centros urbanos, como feiras comerciais ou feira
de negócios, que possuem os mesmos princípios de divulgação e de comercialização
de produtos em comparação às exposições universais. Ainda hoje, as exposições
universais são realizadas, principalmente, na área de negócios e de tecnologia. Apesar
de mudadas as circunstâncias, seguem possuindo um caráter similar ao que vimos, de
elogio ao progresso e disputa entre as nações (TURIM 1911, 2014).
NOTA
Até hoje, alguns arquitetos utilizam pavilhões efêmeros para publicizar trabalhos e
constituir ideias inovadoras. Em Londres, por exemplo, a Serpentine Gallery promove
a construção de um pavilhão por ano e convida um renomado arquiteto para realizar o
projeto que, ao final, será instalado em um parque. Com relação aos arquitetetos que já
participaram, está o brasileiro Oscar Niemeyer.
FONTE: <http://www.modernarchitecturelondon.com/
buildings/serpentine-2003.php>. Acesso em: 18 dez. 2020.
84
[...] Enquanto participante, o Brasil pretendia mostrar, ao mundo,
os seus potenciais natural e industrial, de modo a atrair, além de
imigrantes, investidores e mercados externos. Com apoio e subsídio
de Dom Pedro II, essa era uma forma de inserir o país no grupo das
nações civilizadas, exibindo, para isso, os avanços científicos e a
estabilidade política (FIOCRUZ, 2010, s.p.).
NOTA
Naexposição universal de 1904, em Saint Louis, nos Estados Unidos, foi projetado um
pavilhão para o Brasil que fosse possível de ser desmontado e reutilizado. Dois anos após,
foi reerguido, no Rio de Janeiro, para sediar a Terceira Conferência Pan-Americana, e foi
batizado de Palácio Monroe (TURIM 1911, 2014). A edificação teve diversos usos no decorrer
dos anos, mas foi demolido em 1976.
PALÁCIO MONROE
85
Em 1908, o Brasil festejava o centenário de abertura dos portos. Esse marco foi
escolhido para a realização de uma grande exposição nacional brasileira, a Exposição
Nacional Comemorativa do 1° Centenário da Abertura dos Portos do Brasil.
Além disso, foram criados outros serviços para fazer com que o espaço fosse
ainda mais aproveitado. Havia um edifício para abrigar os correios e os telégrafos, foram
construídos um pavilhão de música, um teatro, um cinematógrafo e alguns restaurantes.
Ao fim do evento, foi contabilizado um total de um milhão de pessoas (TURIM 1911, 2014).
FONTE: <https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/8/8f/PSM_V74_D114_Exposition_palace_for_
official_receptions.png>. Acesso em: 18 dez. 2020.
86
DICA
O edifício construído para ser o pavilhão dos Estados na Exposição
Nacional de 1908, atualmente, é sede do Museu de Ciências da Terra,
que tem, como principais temáticas, a geologia e a paleontologia. Você
pode saber mais em http://mcter.cprm.gov.br/.
NOTA
Uma das obras previstas foi a demolição do chamado Morro do Castelo, local histórico
da cidade do Rio de Janeiro, onde, efetivamente, iniciou-se a urbanização da cidade. Na
época, houve uma intensa discussão. De um lado, defendiam a derrubada do morro,
visando à construção de prédios e à modernização da cidade; de outro, a preservação
enquanto parte da memória carioca. Por fim, a “modernização” venceu, levando, ao chão,
o Morro do Castelo. O espaço foi utilizado para a realização da exposição de 1922.
FONTE: <http://www0.rio.rj.gov.br/rio_memoria/1922.htm>.
Acesso em: 18 dez. 2020.
87
A parte brasileira da exposição abordou as principais atividades econômicas
do país, como lavoura, pecuária, pesca, indústrias, meios de transporte e tecnologias
de comunicação, além das ciências e das artes. No espaço dedicado aos pavilhões
das outras nações, treze se fizeram presentes: Argentina, México, Inglaterra, França,
Itália, Portugal, Dinamarca, Suécia, Tchecoslováquia, Bélgica, Noruega, Japão e Estados
Unidos (MOTTA, 1992).
FONTE: <https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/c/c0/Exposi%C3%A7%C3%A3o_do_
Centen%C3%A1rio_de_1922-_Selo_comemorativo.jpg>. Acesso em: 18 dez. 2020.
88
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você aprendeu:
• O Brasil começa a aparecer na história dos museus com a criação do primeiro museu
brasileiro, o Museu Nacional, em 1818, além da participação nas exposições universais.
89
AUTOATIVIDADE
1 Conforme o que foi apresentado neste tópico, assinale verdadeiro ou falso a seguir:
a) ( ) Modernos e perenes.
b) ( ) Modernos e efêmeros.
c) ( ) Góticos e efêmeros.
d) ( ) Clássicos e perenes.
1- Museu do Louvre
2- Museu Britânico
3- Museu do Prado
4- Museu Nacional (Brasil)
90
Assinale a alternativa CORRETA:
a) ( ) 3-1-2-4.
b) ( ) 2-1-4-3.
c) ( ) 4-3-1-2.
d) ( ) 2-4-1-3.
4 Vimos, neste tópico, que os revolucionários franceses tiveram duas opções acerca
do que fazer com as materialidades que eram posse do Estado. Disserte a respeito
dessas opções e das intenções dos revolucionários franceses ao criarem o Louvre.
5 Acerca das exposições universais, disserte a respeito de como elas ocorriam e das
principais características.
91
92
UNIDADE 2 TÓPICO 2 —
PATRIMÔNIO:
HISTORICIDADE DOS CONCEITOS
1 INTRODUÇÃO
Caro estudante, seja bem-vindo ao Tópico 2 da Unidade 2!
93
Os bens, entendidos como objetos de valor, econômicos ou simbólicos, são
alvos nos períodos de guerra e conquistas de territórios. Muitos acabam sendo vítimas
de saques ou de destruição durante os conflitos. Nesse cenário, surgem as primeiras
convenções e os acordos internacionais para a proteção dos bens culturais. Um dos
primeiros marcos documentais desse movimento foi o tratado de Vestfália, além do fim
da Guerra de Trinta Anos, em 1648, conflito que ocorreu no território europeu. Nesse
tratado, estava estipulada a restituição de bens privados e culturais, que, durante a
guerra, não eram penhorados (ROBICHEZ, 2015).
94
Após os momentos, considerados na história da proteção do patrimônio,
como tempos de guerras, surgem novos desafios, como o alargamento da definição de
patrimônio, a gestão e a preservação em diferentes espaços e territórios.
DICA
Durante o evento de 1954, foram criados alguns protocolos que
podem ser vistos no vídeo realizado pela UNESCO. Acesse o link e
conheça um pouco desse tratado, tão importante para a história
da proteção do patrimônio cultural: https://www.youtube.com/
watch?v=mqdgj1aPHqs&t=40s.
95
[...] O patrimônio cultural é um retrato da origem e da evolução
humana. Por outro lado, o patrimônio cultural tem valor pelo que
expressa em termos estéticos, históricos e religiosos, isto é, possui
uma importância intrínseca, pois a existência nos dá satisfação.
Outrossim, os bens culturais que pertencem a um grupo em particular
fomentam a dignidade, uma vez que promovem a autoidentificação
e a autocompreensão. Ainda, ajudam a definir a singularidade como
povo e, para alguns grupos étnicos, são garantidores de força e de
segurança (BISCHOFF, 2004, p. 276).
96
FIGURA 13 – DEMANDAS PARA ELABORAÇÃO DA GESTÃO DO PATRIMÔNIO
FONTE: O autor
97
[...] A partir de denúncias de intelectuais acerca do abandono das
cidades históricas e da dilapidação do que seria um "tesouro" da
nação, perda irreparável para as gerações futuras, pela qual as elites e
o Estado seriam chamados a responder, inclusive, perante as nações
civilizadas, o tema passou a ser objeto de debates nas instituições
culturais, no Congresso Nacional, nos governos estaduais e na
imprensa (FONSECA, 2017, p. 81).
3 PATRIMÔNIO MUNDIAL
Começaremos retornando às definições de patrimônio. Segundo Robichez (2015,
p. 108), pode ser considerado “[...] um conjunto de elementos imateriais, assim como ma-
teriais, que participa da construção e da vida das identidades humanas”. O patrimônio
pode ser considerado essa herança transmitida à posteridade. Em pequenos grupos, essa
dinâmica é mais facilmente vista, mas existem alguns patrimônios que ultrapassam a
territorialidade e os grupos sociais, considerados de relevância mundial. Assim, compre-
enderemos o que caracteriza um patrimônio mundial e as diretrizes para a escolha.
98
NOTA
Apesar da Convenção ter participação mundial, é necessária
a ratificação de cada um dos países para o cumprimento do
documento, só assim o acordo se torna vigente. A história da
proteção do patrimônio cultural mundial está alicerçada a boas
relações diplomáticas e a longos períodos de conversa.
No Brasil, a partir do Decreto Legislativo n° 80.978, de 12 de
dezembro de 1977, a Convenção para a Proteção do Patrimônio
Mundial Cultural e Natural entrou em vigor. Esse processo
ocorreu durante o governo do presidente Ernesto Geisel.
DICA
Você tem cinco minutinhos? A UNESCO produziu, de forma concisa
e introdutória, uma breve apresentação do que foi a Convenção
do Patrimônio Mundial, além dos objetivos. Ficou curioso? Então,
acesse https://www.youtube.com/watch?v=lOzxUVCCSug.
99
Atualmente, o conceito está baseado nas Diretrizes Operacionais, criadas em
2005, que, desde então, foram revisadas frequentemente. O documento serve para a
Implementação da Convenção do Patrimônio Mundial, recurso que promove a orientação
das práticas necessárias para a inscrição e a gestão do patrimônio mundial. Conforme a
última edição, realizada em 2012, a definição de Valor Universal Excepcional diz respeito
a um significado cultural e/ou natural que é excepcional ao ponto de transcender as
fronteiras nacionais e de ter importância comum para as gerações presentes e futuras
de toda a humanidade.
O bem se
O bem
encaixa O bem
cumpre as
em um ou cumpre os
condições de
mais dos requisitos
integridade e
critérios do de proteção
autenticidade,
Patrimônio e gestão
se relevantes
Mundial
FONTE: O autor
100
Em um primeiro momento, não houve a preocupação ao conceituar o termo
valor excepcional, sendo, anos depois, incorporado. Há uma breve descrição de como o
comitê do Patrimônio Mundial procederia, realizando uma lista de bens que considera
ter Valor Universal Excepcional, conforme os critérios estabelecidos. Após isso, um novo
filtro foi criado, o Comitê de Avaliação dos Bens Culturais. A etapa do processo validou
se o bem integrou os critérios de VUE. A seguir, veremos a descrição dos critérios.
Não é necessário que o patrimônio cultural integre os dez critérios aqui descritos,
porém, a inclusão de mais de um item é interessante para facilitação da aprovação.
101
DICA
Achou a temática do patrimônio mundial interessante? Você pode
ter acesso, na íntegra, aos modelos dos documentos solicitados para
o pedido de inscrição de um bem cultural na lista dos patrimônios,
através do manual chamado de Orientações para a Aplicação da
Convenção do Patrimônio Mundial, no site da UNESCO. Acesse http://
whc.unesco.org/en/guidelines/. Quem sabe, você possa apresentar um
dossiê em uma das convenções da UNESCO.
O Centro Histórico de Ouro Preto (MG) foi tombado em 1938, identificado como um
conjunto arquitetônico e urbanístico. Também foi o primeiro patrimônio cultural brasileiro
a receber o título de patrimônio histórico e cultural da humanidade, pela UNESCO
(integrando a lista do patrimônio mundial), em 1 de janeiro de 1980 (IPHAN, 2020c).
FONTE: <https://www.turismoouropreto.com/blog/por-que-ouro-oreto-se-tornou-patrimonio-cultural-da-
humanidade>. Acesso em: 29 dez. 2020.
102
Inscritos na lista de Patrimônios Mistos, estão Paraty e Ilha Grande (RJ), pois
integram as classificações das listas de Cultura e de Biodiversidade (IPHAN, 2020c).
4 PATRIMÔNIO NATURAL
Durante a Convenção da UNESCO, de 1972, denominada de Convenção para
a Proteção do Patrimônio Mundial, Cultural e Natural, foi incorporada a definição de
patrimônio natural, ainda pouco problematizada no cenário internacional. O documento
criado durante o evento determinou que seriam considerados patrimônios naturais os
seguintes itens:
103
Ainda, “ o valor de uma paisagem cultural decorre da função e da capacidade
de reter marcas e registros antrópicos” (DELPHIM, 2004, p. 5). Dessa forma, a paisagem
permite a compreensão dos fenômenos ocorridos ao longo do tempo, pela geologia,
pela paleontologia ou pela arqueologia.
No Brasil, temos sete sítios inscritos na lista dos patrimônios mundiais naturais.
O primeiro deles é o Parque Nacional do Iguaçu, em Foz do Iguaçu, no Paraná, e recebeu
essa denominação em 1986. Em visita ao parque, é possível conhecer as cataratas do
Iguaçu, que fazem divisa entre três países: Brasil, Paraguai e Argentina. Atualmente, é
um grande ponto turístico do cone sul, visitado por pessoas do mundo todo.
FONTE: <https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Parque_Nacional_do_Igua%C3%A7%C3%BA_-_
Igua%C3%A7u_National_Park_(14116137781).jpg>. Acesso em: 24 dez. 2020.
Desde então, nenhum outro sítio do patrimônio natural do Brasil foi acrescen-
tado à lista internacional. Para que isso aconteça, é necessária a criação de um dossiê
detalhado acerca do histórico e da importância atual do patrimônio para o contexto
mundial. Assim como a inclusão do patrimônio natural ao debate mundial foi um grande
avanço, outros elementos, recentemente, ganharam espaço nas discussões da prote-
ção do patrimônio, como os bens culturais imateriais.
104
5 PATRIMÔNIO CULTURAL IMATERIAL
A categoria do patrimônio imaterial foi uma das últimas definições incorporadas
ao grande guarda-chuva do patrimônio. O conceito de patrimônio cultural imaterial, de
importância mundial, surge na Conferência Geral da UNESCO, chamada, também, de
Convenção da Unesco para a Salvaguarda do Patrimônio Cultural Imaterial, realizada
em Paris, em 2003. O documento só viria a ser ratificado, pelo Brasil, em março de 2006.
105
património em perigo; adotar medidas de ordens jurídica, técnica, administrativa e
financeira; favorecer a criação e a estruturação de instituições de formação em gestão
do patrimônio; garantir acesso ao patrimônio; e criar instituições para documentar o
processo de desenvolvimento do patrimônio imaterial. Como vimos anteriormente,
essas funções fazem parte da cadeia de atividades relacionadas à gestão do patrimônio.
I- as formas de expressão;
II- os modos de criar, fazer e viver;
III- as criações científicas, artísticas e tecnológicas;
IV- as obras, objetos, documentos, edificações e demais espaços
destinados às manifestações artístico-culturais;
V- os conjuntos urbanos e sítios de valores histórico, paisagísti-
co, artístico, arqueológico, paleontológico, ecológico e científico
(BRASIL, 1988, s.p.).
106
Diferentemente dos bens materiais, que são tombados, os bens imateriais
devem ser registrados, pois são elementos móveis e mutáveis da constituição da
sociedade. No Brasil, são, atualmente, utilizados quatro diferentes Livros de Registro:
Saberes, Celebrações, Formas de Expressão e Lugares. Veremos essa temática na
próxima unidade deste livro, com a apresentação histórica do processo que deu origem
ao atual Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), responsável pela
proteção dos patrimônios cultural, natural e imaterial do Brasil.
107
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você aprendeu:
• A história da proteção dos bens culturais é dividida em dois períodos: tempos de guerra
e tempos de paz. Os tratados e acordos, realizados nesses períodos, tinham, como
objetivos, respectivamente, evitar a destruição dos bens culturais e impossibilitar o
tráfico ilícito dos bens culturais.
108
AUTOATIVIDADE
1 Conforme a breve história apresentada neste tópico, a respeito da proteção do patrimô-
nio cultural, dos eventos, das convenções e dos acordos, estão divididos em dois perío-
dos: os tempos de guerra e os tempos de paz. Defina o que caracteriza cada um deles.
4 O Brasil detém alguns bens naturais que estão inscritos na lista do patrimônio mundial.
Qual das alternativas a seguir não apresenta um desses elementos, considerado
patrimônio natural/paisagístico?
109
110
UNIDADE 2 TÓPICO 3 —
CONCEITUANDO O MUSE
1 INTRODUÇÃO
Olá, acadêmico! Seja bem-vindo ao Tópico 3 da Unidade 2!
111
Em 1919, com o fim da Primeira Guerra Mundial (1914-1918), foi criada a Socie-
dade das Nações, também conhecida como Liga das Nações. Foi a primeira organização
internacional de escopo universal em bases permanentes, voluntariamente integrada
por Estados soberanos, com os objetivos principais de instituir um sistema de seguran-
ça coletiva, promover a cooperação e assegurar a paz futura. Essa organização é con-
siderada antecessora da UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, a
Ciência e a Cultura).
Em julho de 1926, foi criado o Escritório Internacional dos Museus (OIM). Tinha,
como objetivos, “o estabelecimento de vínculos entre todos os museus do mundo, a or-
ganização de intercâmbios e congressos, e a unificação dos catálogos” (CRUZ, 2008, p. 4).
NOTA
Os museus europeus durante a segunda guerra
Esses dados nos fazem pensar: Como os museus europeus se comportaram durante
a Segunda Guerra Mundial, constituindo-se em um reduto repleto de obras? Nesse breve
espaço, focaremos em uma instituição francesa extremamente relevante: o Museu do Louvre.
No período, o Louvre foi evacuado a partir de um plano de evacuação estabelecido por
Jacques Jaujard (diretor dos museus franceses). Quando os nazistas tomaram Paris, já não
existiam obras na instituição, apenas algumas réplicas e obras menos relevantes para a
história da arte. Graças a esse movimento de evacuação e à constante mudança de local
de armazenamento das obras, o Museu do Louvre conseguiu manter a coleção intacta
após o fim da segunda guerra. Jacques Jaujard recebeu a medalha de honra ao mérito da
resistência francesa (POIRIER, 2014).
112
MUSEU DO LOUVRE ESVAZIADO NO PERÍODO
DA SEGUNDA GUERRA
FONTE: <https://segredosdeparis.com/museu-
do-louvre-durante-a-segunda-guerra-mundial/>.
Acesso em: 18 dez. 2020.
DICA
A indicação é dupla. Para saber mais dos roubos das obras de artes
ocorridos no período da Segunda Guerra Mundial, indicamos o
filme e o livro Os Caçadores de Obras-Primas. A trama se passa
durante o declínio de Adolf Hitler na Alemanha, e acompanha um
grupo de 13 especialistas, que é reunido para reencontrar obras de
arte roubadas pelos nazistas.
Não pense você que os museus ficaram “desamparados” por muito tempo. Em
1946, sete anos após o fim da OIM, é criado o órgão que, até hoje, ocupa-se das políticas
internacionais para museus: o Conselho Internacional de Museus (ICOM).
113
3 O CONSELHO INTERNACIONAL DE MUSEUS (ICOM)
(1946-ATUALMENTE)
Como você viu, o Conselho Internacional de Museus (ICOM) é um herdeiro do
Escritório Internacional de Museus. É uma associação profissional sem fins lucrativos,
financiada, predominantemente, pela contribuição dos membros, por atividades que
desenvolve e pelo patrocínio de organizações públicas e privadas. Atualmente, a sede é
junto com a UNESCO, em Paris, na França.
114
• ICMEMO - Comitê Internacional de Museus de Memoriais em Homenagem às Vítimas
de Crimes Políticos
• ICMS - Comitê Internacional para Segurança de Museus
• ICOFOM - Comitê Internacional para Museologia
• ICOMAM - Comitê Internacional para Museus e Coleções de Armas e História Militar
• ICOM–CC - Comitê para a Conservação
• ICOMON - Comitê Internacional para Museus de Valores e Bancos
• ICR - Comitê Internacional para Museus Regionais
• ICTOP - Comitê Internacional para Treinamento de Pessoal
• INTERCOM - Comitê Internacional sobre Administração
• MPR - Comitê Internacional para Marketing e Relações Públicas
• NATHIST - Comitê Internacional para Museus e Coleções de História Natural
• UMAC - Comitê Internacional para Acervos e Museus Universitários
NOTA
A primeira reunião do Comitê Nacional brasileiro, do Conselho Internacional de Museu,
aconteceu em 9 de janeiro de 1948, no Museu Nacional de Belas Artes, no Rio de Janeiro.
Essa instituição esteve presente e envolvida com o ICOM, através dos profissionais, desde
a primeira reunião do ICOM, realizada no Louvre, em 1946 (CRUZ, 2008).
FONTE: <https://www.museus.gov.br/museu-nacional-de-belas-artes-
celebra-78-anos-com-exposicao-inedita/>. Acesso em: 18 dez. 2020.
115
O ICOM, organização de caráter internacional, possibilitou intercâmbios de ideias
e de experiências dos trabalhadores de museus, criando um espaço importante para o
desenvolvimento do pensamento museológico, ampliando os conceitos de museu e de
patrimônio. Desde a criação do ICOM, a definição de museu evoluiu, buscando refletir as
mudanças sociais e a realidade museológica a nível internacional.
A partir dos encontros e das reuniões do ICOM, foram escritos diversos docu-
mentos, livros, relatórios, normativas, enfim, que contribuíram para o desenvolvimento
do conceito de museu e para a construção da Museologia enquanto ciência. No âmbito
do ICOM, nota-se que existe uma permanente avaliação das funções social e cultural
dos museus.
Poucos anos depois, em 1951, identifica-se uma nova definição nos estatutos
do ICOM:
116
Nos anos de 1960 e 1970, com o advento da nova museologia, há uma
aproximação ainda maior do museu com a população e com as comunidades do entorno
(CARVALHO, 2008). Essas novas perspectivas foram incorporadas às discussões do
ICOM, e começaram a influenciar, também, na elaboração do conceito de museu.
O Código de Ética Profissional para Museus foi aprovado, por unanimidade, na 15ª
Assembleia Geral do ICOM, realizada em Buenos Aires, em 1986. É um documento que
aponta “os padrões mínimos de conduta e de atuação” para os profissionais de museus.
DICA
Todo o profissional da Museologia deve conhecer o Código de Ética
Profissional para Museus. Indicamos a leitura desse documento,
que rege a nossa atuação. Você o encontra procurando na internet.
117
Na última conferência trienal do ICOM, realizada em Milão (Espanha), em 2016,
foi designado um novo comitê, denominado de Comitê sobre a Definição de Museu,
Perspectivas e Possibilidades (MDPP). Tinha, como objetivos, criar e apresentar uma nova
definição de museu na conferência seguinte. A partir do amplo diálogo e da contribuição
dos membros do ICOM, em julho de 2019, foi divulgada a seguinte definição:
118
LEITURA
COMPLEMENTAR
MUSEU
André Desvallées
François Mairesse
MUSEU
1. A maioria dos países definiu o museu, pelos textos legislativos ou por meio
das organizações nacionais, de formas variadas. A definição profissional de museu mais
conhecida, atualmente, continua sendo a que se encontra nos estatutos do Conselho
Internacional de Museus (ICOM), de 2007: o museu é uma instituição permanente, sem
fins lucrativos, a serviço da sociedade e do desenvolvimento, aberto ao público, que
adquire, conserva, estuda, expõe e transmite os patrimônios material e imaterial da
humanidade e do seu meio, com fins de estudo, educação e deleite. Essa definição
substitui, então, aquela que serviu de referência ao mesmo Conselho durante mais
de 30 anos: o museu é uma instituição permanente, sem fins lucrativos, a serviço da
sociedade e do desenvolvimento, aberto ao público, e que realiza pesquisas a respeito
dos testemunhos materiais do homem e do meio, que adquire, conserva, investiga,
comunica e expõe, com fins de estudo, educação e deleite (Estatutos de 1974).
119
2. Para muitos museólogos, particularmente, para aqueles que, de algum modo,
foram influenciados pela museologia ensinada nos anos 1960-1990 pela escola tcheca
(Brno ea International Summer School of Museology), o museu constitui um meio pelo
qual se dá uma “relação específica do homem com a realidade”, sendo essa relação
determinada pela coleção e pela conservação, consciente ou sistemática, e [...] as
utilizações científica, cultural e educativa de objetos inanimados, materiais, móveis
(sobretudo, tridimensionais), que documentam o desenvolvimento da natureza e da
sociedade (GREGOROVÁ, 1980).
Antes de o museu ser definido como tal, no século XVIII, segundo um conceito
emprestado da antiguidade grega e a ressurgência durante o Renascimento ocidental,
existia, em quase todas as civilizações, certo número de lugares, de instituições e
de estabelecimentos que se aproximava mais ou menos diretamente daquilo que
englobamos, atualmente, com esse vocábulo. A definição do ICOM é analisada, nesse
sentido, como fortemente marcada pela época e pelo contexto ocidental, mas, também,
como uma definição muito normativa, visto que o fim é, essencialmente, corporativo.
Uma definição “científica” de museu deve, assim, distanciar-se de alguns dos elementos
apontados pelo ICOM, como o caráter não lucrativo do museu: um museu lucrativo (como
o Museu Grévin, em Paris) ainda assim é um museu, mesmo que não seja reconhecido
pelo ICOM. É possível, assim, definir o museu, de maneira ampla e mais objetiva, como
uma instituição museal permanente, que preserva as coleções de documentos físicos
e produz conhecimento a partir deles (VAN MENSCH, 1992). Schärer, por sua vez, define
museu como um lugar em que as coisas e os valores que se ligam são salvaguardados
e estudados, e comunicados, enquanto signos, para a interpretação de fatos ausentes
(SCHÄRER, 2007), ou, de maneira à primeira vista tautológica, o lugar onde se realiza
a musealização. De modo mais amplo ainda, o museu pode ser apreendido como um
“lugar de memória” (NORA, 1984-1987; PINNA, 2003), um “fenômeno” (SCHEINER, 2007),
englobando as instituições, os lugares diversos ou os territórios, as experiências, os
espaços imateriais.
120
4. Essa última acepção remete, notadamente, aos princípios do ecomuseu, na
concepção inicial, como uma instituição museal que associa, ao desenvolvimento de
uma comunidade, a conservação, a apresentação e a explicação dos patrimônios natural
e cultural pertencentes a essa mesma comunidade, com a representação de um modo
de vida e de trabalho de um dado território, além da pesquisa associada. O ecomuseu, [...]
sobre um território, exprime as relações entre o homem e a natureza através do tempo
e através do espaço desse território; ele se compõe de bens, de interesses científicos e
culturais reconhecidos, representativos do patrimônio da comunidade: bens imóveis não
construídos, espaços naturais selvagens, espaços naturais humanizados; bens imóveis
construídos; bens móveis; e bens integrados. Compreende um centro de gestão, no qual
estão localizadas as estruturas principais: recepção, centros de pesquisa, conservação,
exposição, ação cultural, administração, abrangendo, ainda, os laboratórios de campo,
outros órgãos de conservação, salas de reunião, um ateliê sociocultural, moradias
etc., percursos e estações para a observação do território que compreende, diferentes
elementos arquitetônicos, arqueológicos, geológicos etc., assinalados e explicados
(RIVIÈRE, 1978).
FONTE: DESVALLÉES, A.; MAIRESSE, F. Conceitos-chave de museologia. São Paulo: Comitê Brasileiro
do Conselho Internacional de Museus, Pinacoteca do Estado de São Paulo, Secretaria de Estado da Cultura,
2013. p. 64-67.
121
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você aprendeu:
• O Escritório de Museus foi o primeiro organismo criado para reger e unir as instituições
a nível global. Teve a atuação atrelada à Liga das Nações.
122
AUTOATIVIDADE
1 O primeiro organismo internacional relativo aos museus surgiu no âmbito da
___________, criada no fim da Primeira Guerra Mundial. O nome desse organismo
era ________________________, ou, de acordo com a sigla, ____.
4 Após tudo o que vimos neste tópico, disserte, brevemente, a respeito da concepção
de museu, que se modificou com o passar dos anos.
123
124
REFERÊNCIAS
BARBUY, H. A cidade-exposição: comércio e cosmopolitanismo em São Paulo, 1860-
1914. São Paulo: Edusp, 2006.
125
CRUZ, H. de V. Era uma vez, há 60 anos atrás...: O Brasil e a criação do Conselho
Internacional de Museus. 2008. Disponível em: www.academia.edu/3519747/
Era_uma_vez_ha_60_anos_atras..._O_Brasil_e_a_criacao_do_Conselho_
Internacional_de_Museus. Acesso em: 18 dez. 2020.
IPHAN. Centro Histórico de Ouro Preto (MG). 2020c. Disponível em: http://portal.
iphan.gov.br/pagina/detalhes/71. Acesso em: 21 dez. 2020.
126
IPHAN. Patrimônio imaterial. 2020e. Disponível em: http://portal.iphan.gov.br/
pagina/detalhes/234. Acesso em: 18 dez. 2020.
KELLNER, A. W. A. Museu Nacional: saindo do luto, indo para a luta. Ciência Hoje, v. 1,
n. 1, p. 1, 2019.
PÉREZ, X. P. Turismo cultural: uma visão antropológica. Espanha: PASOS Edita: n° 02,
2009.
POIRIER. A. Saviour of France’s art: how the Mona Lisa was spirited away from the
Nazis. 2014. Disponível em: https://www.theguardian.com/world/2014/nov/22/mona-
lisa-spirited-away-from-nazis-jacques-jaujard-louvre. Acesso em: 29 dez. 2020.
127
SANTOS, P. C. M. O Brasil nas exposições universais (1862 a 1911): mineração,
negócio e publicações. São Paulo: Universidade Estadual de Campinas, 2009.
TURIM 1911. Vestígio de uma exposição universal. São Paulo: Pinacoteca do Estado,
2014.
128
UNIDADE 3 —
OS MUSEUS BRASILEIROS
E AS NOVAS PERSPECTIVAS
DO CAMPO
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:
PLANO DE ESTUDOS
A cada tópico desta unidade você encontrará autoatividades com o objetivo de
reforçar o conteúdo apresentado.
CHAMADA
Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure
um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações.
129
CONFIRA
A TRILHA DA
UNIDADE 3!
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130
UNIDADE 3 TÓPICO 1 —
OS MUSEUS BRASILEIROS E A PROTEÇÃO
DO PATRIMÔNIO CULTURAL
1 INTRODUÇÃO
Olá, caro estudante! Seja bem-vindo ao Tópico 1 da Unidade 3!
2 OS MUSEUS BRASILEIROS
O Brasil recebeu grande influência dos movimentos que ocorreram na Europa,
principalmente, da onda dos museus nacionais. No entanto, isso veio a acontecer no
Brasil apenas com a chegada da Família Real, no século XIX. No período, o país já possuía
alguns museus, como o Museu Nacional, no Rio de Janeiro; o Museu Paraense Emílio
Goeldi, em Belém; e o Museu Paulista, em São Paulo. Todas essas instituições surgiram
nos moldes de museus de ciências naturais (LOPES, 1997).
131
O primeiro expoente que alterou esse panorama foi o Museu Histórico Nacional
(MHN), já no século XX. Antes dele, os museus brasileiros não se interessavam em
contar a história da nação (SANTOS, 2000). Essa instituição foi dedicada à história da
pátria, responsável por formular as representações de nacionalidade. O museu criou as
histórias oficiais, apresentando acervos oriundos das elites do Brasil (JULIÃO, 2006).
Alguns pesquisadores especulam que o acervo da Casa dos Pássaros deu origem
ao Museu Real (hoje, chamado de Museu Nacional), inaugurado em 1818. Com o término
do Vice Reinado de D. Luiz de Vasconcelos, em 1790; a morte de Xavier dos Pássaros,
em 1810; e o desinteresse dos sucessores do reinado, a Casa foi sendo abandonada.
Extinta em 1813, por D. João VI (D’ALMEIDA; DANTAS, 2020), muitas questões ficaram
no ar, acerca do destino da coleção e do tratamento que recebeu até a inauguração do
Museu Real.
132
ATENÇÃO
Convém ressaltar que o envio de material científico para Portugal, nesse
período, antes da chegada da Família Real, estava regulamentado por
lei. Logo, muitas coleções de espécimes saíram do território no período
e, até hoje, compõem o acervo de museus portugueses (PAPAVERO;
TEIXEIRA, 2006).
FONTE: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Museu_Goeldi#/media/Ficheiro:Parque_Zoobot%C3%A2nico_do_
Museu_Paraense_Em%C3%ADlio_Goeldi-01.jpg>. Acesso em: 29 jan. 2021.
133
Surgia o Museu Paraense, em 1866, na cidade de Belém (PA). O fundador
foi o Secretário do Estado do Pará, Domingos Soares Ferreira Penna, e o projeto foi
influenciado pelas expedições do suíço Jean Louis Rodolphe Agassiz (1807-1873), que,
junto com outros intelectuais locais, expressou a vontade de formar um museu de
história natural na região. Projetos como esse já vinham sendo discutidos desde 1840,
com os intuitos de instruir a população e de expor os produtos naturais locais (COSTA,
2015). As justificativas políticas para a criação da instituição eram o progresso econômico
da região, a divulgação dos produtos naturais e o incentivo ao empreendedorismo local,
possibilitando exportações.
134
• Museu Paulista
FONTE: <https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Museu_Paulista_2016_26_(cropped).jpg>.
Acesso em: 30 jan. 2021.
135
O museu se tornou conhecido pela celebração da memória nacional, consoli-
dando-se como um monumento (OLIVEIRA, 2002). Para a comemoração do Centenário
da Independência, em 1922, o museu teve espaços expositivos reorganizados, reforçan
do o caráter histórico da instituição, incluindo, neste momento, o destaque da história
de São Paulo (MUSEU PAULISTA, 2021).
DICA
Conhecemos um pouco da história das primeiras instituições
museológicas do nosso país. Durante as últimas décadas, ocorreu
um aumento constante da criação de novos museus, e, conforme
os últimos dados disponibilizados pelo IBRAM, já possuímos, com
cadastro, mais de três mil instituições no território brasileiro.
136
3 A CHEGADA DA MODERNIDADE: A SEMANA DE
ARTE MODERNA
A Semana de Arte Moderna foi um marco simbólico no processo de modernização
da cultura brasileira, ocorrida em fevereiro de 1922, ano de comemoração do centenário
da independência do país. Uma manifestação composta por artistas e intelectuais,
majoritariamente paulista, esses indivíduos apresentavam a necessidade da renovação
da arte brasileira e das concepções. O evento paulista teve ressonância em diversos
outros Estados, e muitas das propostas apresentadas ali foram inseridas nas discussões
e nas ações culturais, mas de distintas formas.
NOTA
O que foi o Modernismo? Você sabe? O modernismo teve início
entre a segunda e a terceira década do século XX, no período
entre guerras. Foi um movimento artístico-cultural, porém, nunca
foi apresentado de forma homogênea. Defendeu o rompimento
do tradicionalismo estético oriundo da Europa, com a procura por
expressões genuinamente brasileiras. O movimento valorizava
expressões do cotidiano e foi fundamental para a reconstrução da
identidade nacional. O Modernismo foi expressivo na literatura, nas
artes plásticas e na arquitetura.
137
ATENÇÃO
Você sabia que a tela Abaporu tem forte relação com o Movimento Antropofágico?
ABAPORU
FONTE: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Abaporu#/media/Ficheiro:Abaporu.jpg>.
Acesso em: 19 jan. 2021.
138
4 AS POLÍTICAS DE PROTEÇÃO PATRIMONIAL CULTURAL
NO BRASIL
Os intelectuais modernistas tiveram papel decisivo na concepção do patrimônio
cultural. Utilizado no contexto brasileiro, a partir da conceituação de arte, de história,
de tradição e de nação, adotada, posteriormente, pelo Estado, ocorreu a implantação
de sistemas de proteção às obras de arte e à história do país. Esses agentes alertavam,
constantemente, a respeito das ameaças irreparáveis que os monumentos de arte
colonial sofriam no país. Alceu Amoroso, Mário de Andrade, Carlos Drummond de
Andrade e Martins Almeida, além de outros modernistas, publicaram, em revistas e em
periódicos, relatos da falta de proteção e da degradação dos bens culturais no Brasil
(FONSECA, 2005).
139
manifestações eruditas e populares”, além da descrição da função social do órgão
(FONSECA, 2005). Para Mário, a preservação, a divulgação da arte e o patrimônio brasi-
leiro eram uma forma de alfabetizar a população, além de despertar os sentimentos de
pertencimento e de responsabilidade pelos bens culturais (DUARTE, 1977).
FONTE: <http://portal.iphan.gov.br/noticias/detalhes/4088/reuniao-celebra-80-anos-do-conselho-
consultivo-do-patrimonio-cultural>. Acesso em: 29 jan. 2021.
140
Após a criação, foi constituído um Conselho Consultivo. Os participantes eram
o diretor do SPHAN, os diretores dos museus nacionais e outros integrantes escolhidos
pelo Presidente da República. Também foram determinadas duas divisões técnicas:
Divisão de Estudos e Tombamento (DET) e Divisão de Conservação e Restauração (DCR)
(FONSECA, 2005).
141
NOTA
Quem foi Aloísio Barbosa Magalhães?
ALOÍSIO MAGALHÃES
Aloisio dedicou atenção para o fazer popular, entendia que, apesar de inseridos
na vida cotidiana, não estavam incorporados na categoria de patrimônio cultural.
Entretanto, com base nesses bens, consolidavam-se os valores da nação (MAGALHÃES,
1985). As metas do momento eram semelhantes às dos movimentos da Semana de Arte
Moderna, pois se pretendia atualizar a reflexão acerca da realidade brasileira. Por essa
razão, foi convidado para coordenar o Centro Nacional de Referência Cultural (CNRC).
142
DICA
O museu ao ar livre Princesa Isabel, Orleans/SC, inaugurado em 1980,
é identificado como um espaço de experimentação e de projetos
culturais pouco ortodoxos. Dessa forma, foi um dos cases de estudo
do CRNC.
Aloisio Magalhães morreu em 1982, durante uma viagem realizada para participar
de uma reunião da UNESCO. O sucessor, Marcos Vinicios Vilaça, dá continuidade às
propostas que já estavam sendo realizadas, entretanto, ainda não tínhamos, no Brasil,
um ministério para centralizar e para priorizar as questões culturais.
143
Somente em 1985, o presidente eleito criou o Ministério da Cultura, desmembrado
no antigo Ministério da Educação e Cultura. O novo ministério partiu de três ações: a
criação de assessorias especiais, do negro, do indígena, da mulher etc.; a realização
de seminários, para reunião de intelectuais e artistas, visando à elaboração de políticas
culturais; e, por fim, a implantação da Lei Sarney, de incentivos fiscais, foi revogada
durante o governo Collor, posteriormente, retornando como Lei Rouanet.
DICA
Durante o seminário, em comemoração aos 60 anos do
IPHAN, foi redigida a Carta de Fortaleza. O documento indica
a necessidade da criação de ferramentas para identificar,
proteger, promover e fomentar os processos e os bens
culturais imateriais. Para consultar o documento na íntegra,
acesse http://portal.iphan.gov.br/uploads/ckfinder/arquivos/
Carta%20de%20Fortaleza%201997.pdf.
Fique por dentro! Indicamos a leitura complementar do
documento, que dá as diretrizes iniciais para a discussão do
patrimônio cultural imaterial no Brasil.
144
O trabalho iniciado instituiu o registro de bens culturais de natureza imaterial.
Dessa forma, foram criados quatro Livros de Registro: Livro dos Saberes, Livro das
Celebrações, Livro das Formas de Expressão e Livro dos Lugares. Para a gestão desses
processos, no âmbito do Iphan, foram criados, em 2004, o Departamento do Patrimônio
Imaterial (DPI), que incorporou o Centro Nacional de Folclore e Cultura Popular (CNFCP),
e, com o Conselho Consultivo, em 2010, a Câmara Setorial do Patrimônio Imaterial.
Os bens que recebem o registro, de acordo com o Iphan, são aqueles que detêm
continuidade histórica, possuem relevância para a memória nacional e fazem parte
das referências culturais de grupos formadores da sociedade brasileira (IPHAN, 2021).
Conforme dados do último levantamento, realizado em 2018, atualmente, o Brasil já tem
os registros oficializados em todos os Estados, compondo 47 diferentes bens culturais
imateriais. A Roda de Capoeira e o Ofício dos Mestres de Capoeira são os únicos itens
registrados em todos os Estados do país.
Você deve estar se perguntando: onde está a gestão, a nível federal, dos museus
nessa trajetória? Quais foram os órgãos responsáveis pela defesa do campo museal? A
história dos museus, como setor organizado no Brasil, é recente. Por um longo período,
foi o SPHAN, posteriormente, IPHAN, que respondeu por essas demandas.
145
Apenas em 2003, com a reestruturação do MinC, foi criada a Política Nacional
de Museus (PNM), que, por sua vez, determinava a abertura do Departamento de
Museus e Centros Culturais (DEMU) no âmbito do IPHAN. Até o momento, não existia,
formalmente, um setor, na área federal, voltado às ações no campo da museologia.
As gestões anteriores do MinC não tinham se voltado às necessidades do campo
museológico . Segundo Santana (2019), a PNM influenciou o IPHAN na criação de
políticas relacionadas às diferentes áreas de preservação, como aos patrimônios
material, imaterial, arqueológico etc.
146
Promover e garantir a implementação de políticas públicas para o
setor museológico, visando contribuir para organização, gestão e
desenvolvimento dos museus e dos acervos.
Incentivar programas e ações que viabilizem a preservação e a
sustentabilidade do patrimônio museológico brasileiro; contribuir
para a divulgação, em âmbitos nacional e internacional, dos acervos
museológicos brasileiros.
Promover a permanente qualificação dos recursos humanos do setor.
Garantir os direitos das comunidades organizadas de participarem
dos processos de identificação e de definição do patrimônio a ser
musealizado (AMAZONAS, 2010, p. 9).
Região Nordeste:
Museu Casa Histórica de Alcântara – Alcântara (MA)
Museu da Abolição – Recife (PE)
Região Centro-Oeste:
Museu Casa da Princesa (Casa Setecentista) – Pilar de Goiás (GO)
Museu das Bandeiras – Cidade de Goiás (GO)
Museu de Arte Sacra da Boa Morte – Cidade de Goiás (GO)
Região Sul:
Museu das Missões – São Miguel das Missões (RS)
Museu Victor Meirelles – Florianópolis (SC)
147
Região Sudeste:
Museu Casa da Hera – Vassouras (RJ)
Museu Casa de Benjamin Constant – Rio de Janeiro (RJ)
Museus Castro Maya – Rio de Janeiro (RJ)
Museu da Inconfidência – Ouro Preto (MG)
Museu da República – Rio de Janeiro (RJ)
Museu de Arqueologia/Socioambiental de Itaipu – Niterói (RJ)
Museu de Arte Religiosa e Tradicional – Cabo Frio (RJ)
Museu de Arte Sacra de Paraty – Paraty (RJ)
Museu do Diamante – Diamantina (MG)
Museu do Ouro – Casa Borba Gato – Sabará (MG)
Museu Forte Defensor Perpétuo – Paraty (RJ)
Museu Histórico Nacional – Rio de Janeiro (RJ)
Museu Imperial – Petrópolis (RJ)
Museu Lasar Segall – São Paulo (SP)
Museu Nacional de Belas Artes – Rio de Janeiro (RJ)
Museu Regional Casa dos Ottoni – Serro (MG)
Museu Regional de Caeté – Caeté (MG)
Museu Regional de São João del-Rei (MG)
Museu Solar Monjardim – Vitória (ES)
Museu Villa-Lobos – Rio de Janeiro (RJ) (IBRAM, 2021)
148
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você aprendeu:
• Durante um longo período, o setor museal foi administrado pelo IPHAN. Somente
em 2003, com a reestruturação do MinC, foi criada a Política Nacional de Museus
(PNM), e ocorreu a abertura do Departamento de Museus e Centros Culturais (DEMU),
ainda sob administração do IPHAN. A partir do DEMU, foi institucionalizado o Sistema
Brasileiro de Museus. Finalmente, em 2009, ocorreu a criação do Instituto Brasileiro
de Museus. A medida possibilitou que o setor museológico se estruturasse com
a criação de políticas específicas para a realidade brasileira, como o Estatuto dos
Museus.
149
AUTOATIVIDADE
1 Disserte a respeito do contexto histórico no qual estava inserida a conhecida “Casa
dos Pássaros”, além da importância para a história dos museus no Brasil.
2 A Semana de Arte Moderna de 1922 foi um marco na história cultural do Brasil, com-
posta por diversos artistas e intelectuais, que se manifestaram a partir da literatura,
da arte e da arquitetura. Acerca da revisão da categoria de patrimônio cultural e da
proteção, qual foi a importância dos modernistas?
4 Poucas pessoas conhecem as leis que balizam as políticas culturais no Brasil. Com
relação aos setores dos museus, cite a lei que criou o Instituto Brasileiro de Museus
(IBRAM), 425 (quatrocentos e vinte e cinco) cargos efetivos do Plano Especial de
Cargos da Cultura, cargos em comissão do Grupo-Direção e Assessoramentos
Superiores (DAS) e Funções Gratificadas, no âmbito do Poder Executivo Federal, e
que deu outras providências.
5 O Sistema Brasileiro de Museus surgiu para suprir algumas demandas do setor. Foi,
responsabilidade dele, a realização de qual das atividades listadas a seguir?
150
UNIDADE 3 TÓPICO 2 —
MUSEUS NO CONTEMPORÂNEO —
A NOVA MUSEOLOGIA
1 INTRODUÇÃO
Olá, caro acadêmico! Seja bem-vindo ao Tópico 2 da Unidade 3!
2 A NOVA MUSEOLOGIA
A Nova Museologia, ou Museologia Social, é um paradigma dentro do campo da
Museologia. Surgiu na década de 1970, fruto da reflexão e da movimentação de diversos
profissionais de museus, e se propôs a atualizar as instituições em relação à realidade
do mundo contemporâneo. Tratou-se de uma forma de tornar as instituições museais
mais democráticas e inclusivas, o que inclui as seguintes tendências observadas por
Moutinho, em 1993:
151
O evento ocorreu entre os dias 20 e 31 de maio de 1972, e contou com a presença
de representantes dos seguintes países: Chile, Bolívia, Brasil, Colômbia, Costa Rica,
Equador, Guatemala, México, Panamá, Peru e El Salvador. Esteve presente, também, o
Diretor do Escritório Regional da Unesco. O objetivo geral era discutir os problemas e as
potencialidades dos museus.
DICA
Você se lembra de que citamos o ICOFOM na unidade anterior?
O ICOFOM é o Comitê Internacional para Museologia, dedicado
à reflexão e à construção da teoria que rege a Museologia e a
prática museológica. Você pode ter acesso a informações e a
publicações em http://icofom.mini.icom.museum/. Confira!
152
Passados 20 anos da Mesa Redonda de Santiago do Chile, aconteceu, em
Caracas, na Venezuela, o Seminário “A Missão dos Museus na América Latina Hoje:
Novos Desafios”, entre os dias 6 de janeiro a 6 de fevereiro de 1992, o que originou
a Declaração de Caracas (1992). Teve participantes da Argentina, Bolívia, Brasil, Chile,
Colômbia, Cuba, Equador, México, Nicarágua e Venezuela.
Com a teoria da Nova Museologia, era, também, executada a prática, tão ou mais
importante para esse paradigma museal. Através das novas tipologias dos museus, os
ecomuseus e os museus comunitários, os ideais da Nova Museologia tomaram forma
e auxiliaram na construção dessa teoria que conhecemos hoje. Nos próximos tópicos,
veremos mais a respeito dessas mudanças e dos museus comunitários e ecomuseus.
153
QUADRO 1 – MUSEU TRADICIONAL X ECOMUSEU/MUSEUS COMUNITÁRIOS
NOTA
Hugues de Varine: Nascido em 1935, é arqueólogo, historiador e museólogo francês. Foi
Diretor do Conselho Internacional de Museus (ICOM), de 1965 a 1974. É o criador do
termo ecomuseu e referência na área da Nova Museologia.
HUGUES DE VARINE
FONTE: <https://www.levante-emv.com/valencia/2018/06/02/
hugues-varine-vemos-huerta-atraccion-11960312.html>.
Acesso em: 9 jan. 2020.
154
Como vimos, a Nova Museologia modificou até mesmo a forma como os museus
tradicionais se configuravam, deu vasão e foi sendo construída a partir da experiência de
uma nova tipologia de museu, na qual estão os ecomuseus e os museus comunitários.
Nascidos em torno de uma mesma ideologia, mais à frente, falaremos desses dois tipos
de museus.
NOTA
Interessou-se pela Nova Museologia e quer conhecer mais
através de autores que são referência na temática? Segue
uma breve lista com algumas referências importantíssimas:
3 ECOMUSEUS
O conceito de ecomuseu começou a ser criado e delimitado a partir de 1970,
utilizado, primeiramente, por Hugues de Varine, e amplamente teorizado por ele e por
George Henri Riviére. Junção da palavra eco, que, em grego, significa terra, planeta,
casa, e da palavra museu, que, como você viu anteriormente, são (pelo menos até o
presente momento):
De acordo com François Hubert e Ignacio Balerdi (1985; 2002 apud SANTOS,
2017), existem três gerações de ecomuseus:
• Primeira: dos parques regionais, quando ainda não se utilizava o conceito de ecomuseu.
• Segunda: marcada pela Nova Museologia e pela criação do Ecomuseu Le Creusot-
Montceau-les-Mines. Desencadeia a criação de outros ecomuseus voltados para a relação
dos seres humanos com a territorialidade. Começa-se a utilizar o termo ecomuseu.
155
• Terceira: dos ecomuseus, que se distanciam da concepção inicial dessa tipologia de
museu. Passam a utilizar outras denominações, como museus comunitários, museus
de vizinhança etc.
NOTA
GEORGES HENRI RIVIÈRE
Georges Henri Rivière foi um museólogo
francês e o primeiro diretor do Conse-
lho Internacional de Museus (ICOM), de
1946 a 1962. Teve destacada relevância
no âmbito da Nova Museologia, mais es-
pecificamente, da ecomuseologia e dos
museus de etnografia.
FONTE: <http://twixar.me/bcSm>.
Acesso em: 29 jan. 2021.
156
A participação e o envolvimento da comunidade nos processos de concepção,
de implementação, de preservação e de gestão do patrimônio têm, como grande
objetivo, o desenvolvimento local (PRIMO, 2008). Inclusive, Hugues de Varine (2014)
concebe os ecomuseus (e todo o tipo de museu de comunidade) como uma ferramenta
para o desenvolvimento e para o fortalecimento das comunidades em que está inserido.
Nesse sentido, assim como a comunidade, na qual está o ecomuseu, é extremamente
mutável, também é o ecomuseu.
Varine (2014) atribuiu, aos ecomuseus e aos museus comunitários (que veremos
mais à frente), a palavra processo, museus como um processo, ou seja:
157
FIGURA 5 – LE MARTEAU-PILON, SÍMBOLO DA INDÚSTRIA NA REGIÃO DE CREUSOT
FONTE: <https://www.creusotmontceautourisme.fr/decouvrir/le-creusot/passe-industriel/un-patrimoine-
industriel-preserve/le-marteau-pilon>. Acesso em: 29 jan. 2021
158
FIGURA 6 – ECOMUSEU CREUSOT MONTCEAU-LES-MINES
FONTE: <https://montceau-news.com/culture/596885-ecomusee-creusot-montceau-81.html>.
Acesso em: 18 jan. 2021.
159
FIGURA 7 – FOTO DE CIMA DO BAIRRO DE SANTA CRUZ, RJ
FONTE: <http://www.ecomuseusantacruz.com.br/sobre/ecomuseu_de_santa_cruz>.
Acesso em: 18 jan. 2021.
FONTE: <https://g1.globo.com/ce/ceara/noticia/2020/12/26/ecomuseu-do-mangue-da-sabiaguaba-e-
declarado-patrimonio-historico-cultural-e-natural-de-fortaleza.ghtml>. Acesso em: 29 jan. 2021.
160
• Ecomuseu da Ilha da Pólvora (Rio Grande, RS)
O Ecomuseu da Ilha da Pólvora foi inaugurado em 1999, faz parte dos museus
da Universidade de Rio Grande. Alguns dos objetivos são: contribuir para a preservação
dos patrimônios natural e cultural da ilha e ser um espaço propício para a realização de
pesquisas e para a educação ambiental.
A Ilha da Pólvora possui cerca de 42 hectares de marismas (zona úmida com solo
rico em minerais), o que atribui, ao local, uma grande biodiversidade. A ilha já pertenceu a
um inglês no século XIX, e foi vendida ao Império em 1854, que construiu um edifício para
o paiol do exército. O projeto para a criação do ecomuseu é datado de 1987, realizado em
parceria com o exército e a Universidade de Rio Grande (SANTOS, 2017).
FONTE: <https://tvbrasil.ebc.com.br/conhecendomuseus/episodio/museu-oceanografo-rio-grande>.
Acesso em: 29 jan. 2021.
DICA
Quer conhecer outros ecomuseus? Confira a dissertação de
Suzy da Silva Santos, na qual ela realiza um mapeamento de
todos os ecomuseus e dos museus comunitários brasileiros.
O trabalho tem, como título, Ecomuseus e Museus Comunitários
no Brasil: Estudo Exploratório de Possibilidades Museológicas, e foi
defendido pelo Programa de Pós-Graduação Interunidades em
Museologia da Universidade de São Paulo.
161
4 MUSEUS COMUNITÁRIOS
Você deve estar se perguntando: qual a diferença entre os ecomuseus e os
museus comunitários? Essas duas tipologias realmente são muito próximas, e possuem
a mesma origem na Nova Museologia. Seguem as principais diferenciações:
Esses museus podem ou não ter sedes fixas, podem ou não possuir coleções de
objetos ou de documentos. O objetivo, conforme expressado na citação anterior, é ser
um espaço de participação de uma comunidade na preservação do patrimônio (material
e/ou imaterial) e da história (SANTOS, 2017).
162
de atuação ou de conceber um modelo específico. A dinâmica é livre e a permanência,
a extinção ou a transformação depende, unicamente, dos interesses comunitários
(SANTOS, 2017, p. 125).
DICA
ABREMC – Associação Brasileira de Ecomuseus e Museus Comunitários
FIGURA 10 – MUQUIFU
163
• Museu da Maré (Rio de Janeiro, RJ)
FONTE: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Museu_da_Mar%C3%A9#/media/Ficheiro:Palafita-MuseudaMare.jpg>.
Acesso em: 29 jan. 2020.
164
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você aprendeu:
• Os museus comunitários têm, como foco, uma comunidade que ocupe determinado
território, buscando todas as nuances: história, memória e patrimônios. Preocupa-
se, também, com a situação da comunidade no presente, e funciona como um
mecanismo para traçar um futuro melhor.
165
AUTOATIVIDADE
1 A Nova Museologia modificou as estruturas do museu tradicional, marcada pela
edificação, pelo acervo e por um público visitante. Nos ecomuseus e nos museus
comunitários, vamos ter: um ___________, um ____________ e uma
_____________.
4 Explique, com as suas palavras, por que Hughes de Varine aponta os museus
comunitários e os ecomuseus como sendo “processos”.
166
UNIDADE 3 TÓPICO 3 —
A RENOVAÇÃO MUSEAL
1 INTRODUÇÃO
Atualmente, vivemos em um contexto sociocultural altamente influenciado
pelas tecnologias digitais da informação e da comunicação (TDICS), e isso se reflete
em todos os campos da sociedade, e na área da cultura não seria diferente. É natural
esperar que os museus busquem por alguma maneira de reformular as exposições, os
sistemas e a forma de comunicação, mas sem perder a essência de ser museu.
Embora já exista uma nova definição em curso, esta ainda não foi definida,
como mencionamos no Tópico 3 da Unidade 2. Nesse sentido, o ICOM desenvolveu uma
metodologia a fim de buscar a maior e a melhor definição para os museus ao redor do
mundo. Essa metodologia consiste em abrir um processo de consulta disponível para
os membros do Comitê, solicitando que cada membro sugira palavras e conceitos essenciais
para os museus. Esse processo já começou em dezembro de 2020, e está previsto para
ser encerrado em agosto de 2022, na próxima Assembleia Geral Extraordinária do ICOM,
em Praga, na República Tcheca, onde ocorrerá a votação final do novo conceito.
167
Perceba que ela não se diferencia muito da versão de 2007, com exceção de
algumas nuances no texto, mantendo a mesma linha de pensamento. A definição original
perdurou por mais de 30 anos, e a segunda está sendo revista em 15 anos. Diversas
razões podem contribuir para esse panorama de temporalidade, como a evolução super
rápida da tecnologia ou as mudanças provenientes de discussões sociais, visando
à representatividade das minorias em espaços públicos, além das necessidades
financeiras que as instituições têm enfrentado ou da necessidade de captação de novos
públicos que buscam diferentes dinâmicas e estímulos.
168
Pensar em museus no campo virtual acende rapidamente uma luz vermelha
nas nossas cabeças. Isso acontece porque é comum que façamos uma analogia entre
a realidade e a virtualidade, como se fossem conceitos antagônicos. Lévy (1996, p. 15)
explica que, “[...] no uso corrente, a palavra virtual é empregada com frequência para
significar a pura e simples ausência de existência, a “realidade”, supondo uma efetuação
material, uma presença tangível”. Nesse sentido, o uso do termo virtual acabaria por
contrapor a principal base das comunicações museológicas: a realidade. No entanto,
o autor também contrapõe essa possibilidade, afirmando que a virtualidade não é uma
oposição à realidade, mas à atualidade.
Portanto, o conceito de virtual sugere uma forma de ser, que ainda não é, mas tem
potência. Seguindo esse conceito, Lévy (1996, p. 18) disserta a respeito da virtualização,
conceituando-a como uma dinâmica que “[...] consiste em uma passagem do atual ao
virtual, em uma “elevação, à potência”, da entidade considerada. A virtualização não é
uma desrealização [...], mas uma mutação de identidade”, e exemplifica:
169
DICA
Super atual essa citação do Lévy, não é?! Até parece que foi
escrita em 2020. Esse exemplo nos mostra que a busca pela
virtualização, na prática, é uma constante atualização e reparação
de problemas que surgem no caminho. Pierre Lévy é um dos
autores mais importantes no contexto dos estudos da tecnologia,
da virtualidade e dos processos que se desenvolvem nesse
campo, por isso, ele deve aparecer aqui diversas vezes. Se você
quiser conhecer mais a produção do autor, seguem algumas
obras que você pode ler: As Tecnologias da Inteligência (1992), O
que é Virtual? (1996) e Cibercultura (1999).
170
em formato digital, até o uso das mídias sociais e da virtualização
dos museus (LESHCHENKO, 2015, p. 240 apud MAGALDI; BRULON;
SANCHES, 2018, p. 137).
• Folheto eletrônico: tem, como objetivo, apresentar o museu, e funciona como uma
ferramenta de comunicação e de marketing. Costuma exibir o histórico da institui-
ção, as informações de funcionamento, a complexidade. A elaboração depende dos
recursos disponíveis no museu, mas é o mais comum.
171
• Museu no mundo virtual: tem informações mais elaboradas, pode oferecer visitas
virtuais, acesso à base de dados do acervo, disponibilizando informações de objetos
que não estejam em exposição ou que sejam pouco explorados no contexto físico.
• Museus realmente interativos: o website tem relação direta com o museu físico, mas
inclui outras atividades de interatividade no ambiente virtual. Apresenta opções e
aprofunda conceitos, que podem ser encontrados na exposição, portanto, o site
funciona como um complemento ao museu físico. A autora usa, como exemplo,
o website do Museu de Ciência e Tecnologia da PUC/RS (Pontifícia Universidade
Católica do Rio Grande do Sul).
ATENÇÃO
Veja bem, caro estudante, a pesquisa de Henriques foi realizada em
2004, e, a classificação de Piacente, em 1996, portanto, é natural que
esses conceitos já tenham evoluído consideravelmente, visto que já
estamos na segunda década dos anos 2000 e nossas tecnologias
não correspondem mais às mesmas que estavam disponíveis na
época das autoras. Nesse caso, para os exemplos a seguir, atente-
se, justamente, às possibilidades que cada uma dessas classificações
acaba abrangendo no contexto atual.
FONTE: O autor
172
FIGURA 14 – POST DO SITE DO MUSEU JULIO DE CASTILHOS
FONTE: O autor
Você pode notar que o site da instituição é um blog, portanto, pressupõe mais
interação com o público. Ainda assim, acaba atuando como um veículo exclusivo de
informação e de comunicação das ações já realizadas na instituição. Torna-se parte
da publicização das pesquisas e das atividades do museu, mas não promove interação
com o público e não permite contribuição do público no conteúdo do espaço.
FONTE: O autor
173
FIGURA 16 - SITE DO MUSEU APRESENTA A PROGRAMAÇÃO DA INSTITUIÇÃO
FONTE: O autor
Perceba que o site é simples. Recebe o visitante com uma página de boas-
vindas, apresenta a programação, as exposições abertas, mas o diferencial aparece
quando fornece informações do acervo, além do link de acesso ao repositório digital,
no qual os acervos estão disponíveis para as pesquisas online. Além disso, o museu
construiu, nessa parceria com o Google Arts & Culture, uma série de exposições on-line,
que conta com as imagens e as informações do acervo, e com recursos oferecidos pela
plataforma Google, como o Street View e outros:
FONTE: O autor
174
FIGURA 18 – REPOSITÓRIO DIGITAL TAINACAN - MUSEU HISTÓRICO NACIONAL
FONTE: O autor
FONTE: O autor
175
FIGURA 20 – EXPOSIÇÃO ON-LINE QUE CONTA COM IMAGEM DO ACERVO E ACESSO AO RECURSO GOOGLE
STREET VIEW COMO COMPLEMENTO À EXPOSIÇÃO DAS OBRAS
FONTE: O autor
FONTE: O autor
176
FIGURA 22 – EXPERIÊNCIAS ON-LINE, OFERECIDAS NO SITE DO MUSEU DA PUC/RS
FONTE: O autor
177
Interessante, não é?! Os autores propõem diferentes perspectivas para um
museu virtual, desde a possibilidade de ser uma réplica do museu físico até uma
instituição que só exista no meio virtual, tornando-se independente de qualquer outra
no meio físico. Nesse sentido, pesquisas estão sendo realizadas para tentar classificar e
organizar esses fenômenos:
FONTE: O autor
178
3 O FUTURO DA MUSEOLOGIA
Estamos chegando ao fim dos estudos. O caminho que você percorreu até aqui
começou na Grécia antiga, e acompanhou o desenvolvimento dos museus através da
história. Você viu a era do Iluminismo, o colecionismo dos nobres, até chegarmos ao
universo do digital. Saiba que, como museólogo, será seu trabalho propor exposições
que, olhando para o passado, buscam refletir o futuro. Portanto, agora, refletiremos,
brevemente, a respeito do futuro da Museologia e dos museus em um cenário particular
do século XXI.
Como você também já viu no tópico anterior, o ICOM está promovendo uma
atualização da definição do conceito de museu que, até a produção deste material, não
estava finalizada. No entanto, esse processo começou em meados de 2017/2018, antes
de passarmos pela pandemia, causada pelo Coronavírus, que fez com que optássemos
pelo distanciamento social e passássemos a cumprir, com as nossas necessidades,
exclusivamente, via internet e meios digitais.
ATENÇÃO
É importante que fiquemos atentos para o fato de que nem a iniciativa
para buscar uma nova definição e nem a pandemia em si garantem
que as ações museológicas digitais e que acontecem no meio virtual
devem estar contempladas nessa nova definição de museu. Existe uma
expectativa em função do cenário comunicacional atual, no qual somos
constantemente mediados pela tecnologia, mas nenhuma garantia.
179
FIGURA 23 – PERFIL DO COVID ART MUSEUM NO INSTAGRAM
FONTE: O autor
FONTE: O autor
180
FIGURA 25 – OBRA EXPOSTA NO FIGURA 26 – OBRA EXPOSTA NO
COVID ART MUSEUM COVID ART MUSEUM
FONTE: O autor
181
FIGURA 28 – PERFIL DO MEMORIAL INUMERÁVEIS NO INSTAGRAM
FONTE: O autor
182
Podemos perceber que, especialmente, nesses dois casos, existe uma vontade
de registrar a história desse período, e as mídias sociais acabam se aproximando dos
lugares de memória. Para Nora (1993 apud OLIVEIRA, 2017), existe uma “vontade de
memória”, uma “intenção de memória”. É possível que as mídias sociais também se
aproximem das questões de memória social, como os lugares de memória, visto que
são construídas em grupo.
183
LEITURA
COMPLEMENTAR
HUGUES DE VARINE E OS MUSEUS COMUNITÁRIOS NO BRASIL
184
Algumas pistas da relação de Hugues de Varine com a Museologia e os museus
comunitários brasileiros podem ser evidenciadas, por exemplo, nos textos de Odalice
Priosti, Maria de Lourdes Parreiras Horta e Roberto Fernandos dos Santos Junior, e na
entrevista que concedeu para o museólogo Mario Chagas.
185
realização é única, porque cada comunidade, cada patrimônio e território são únicos.
A Sociomuseologia é uma disciplina acadêmica, de origem luso-brasileira, que tenta
definir, cientificamente, os fenômenos e os conceitos da Nova Museologia e da
Ecomuseologia. Analisa as experiências, visando observar as características comuns.
186
frequentemente, de “museus comunitários”. Ver http:// www.museoscomunitarios.
org. O único país onde os ecomuseus possuem um “rótulo” oficial é na Itália, onde as
12 regiões adotaram "leis de ecomuseus” e estabeleceram critérios para a aprovação
de tais ecomuseus, métodos de avaliação, redes regionais etc. Na China, os poucos
ecomuseus se tornaram modelos para as "novas cidades". O mesmo ocorreu na Coréia.
Por isso, o fórum organizado em Milão, em julho passado, para os ecomuseus italianos,
abarcou "os ecomuseus e os museus comunitários”.
H. V.: Tudo começou em 1987, quando Fernanda Camargo Moro, que eu tinha conhecido
quando eu dirigia o Conselho Internacional de Museus, traduziu e publicou, em português,
o meu livro O Tempo Social (Editora Eça - em francês, L'initiative Communautaire).
Depois, eu participei, em 1992, da primeira reunião internacional de ecomuseus no
Rio de Janeiro, também organizada por Fernanda. Fui, diversas vezes, para Itaipu,
Rio Grande do Sul e Petrópolis (com Maria de Lourdes Parreiras Horta, que dirigia a
equipe do Museu Imperial). Em 2001 e 2004, participei ativamente do segundo e do
terceiro Encontro Internacional de Ecomuseus e Museus Comunitários (II e III EIEMC), no
ecomuseu de Santa Cruz. Eu creio que duas razões expliquem o meu envolvimento com
o Brasil: eu poderia falar do relacionamento dos museus com o desenvolvimento local,
graças ao meu passado no Conselho Internacional de Museus, e da minha profissão
de agente de desenvolvimento; e, também, eu poderia falar um pouco de português,
que eu aprendi em quase três anos em Portugal (1982-1984), como diretor do Instituto
Franco-Português, em Lisboa. Eu poderia, assim, acompanhar projetos de campo, com
um olhar muito diferente, não como museólogo, mas associado a uma experiência de
museus com um outro desenvolvimento dos territórios. Eu nunca quis dar conselhos ou
fingir orientar os projetos, eu queria manter o meu lugar estrangeiro ou de observador
participante, os atores locais que decidiriam o que queriam e poderiam fazer a partir
deles mesmos. Meus relatórios são, realmente, notas de visitas, contendo minhas
187
reações subjetivas e questões que eu observava a partir dessa experiência. Eu creio
que a minha presença ocasional e o meu apoio permanente a distância ajudaram a
abrir perspectivas diferentes para os líderes de projetos e para os programas locais. Eu
também estava trazendo experiência internacional e contatos, muitas vezes, úteis, não
como modelos, mas como referências.
H. V.: Essas missões foram, geralmente, curtas, entre três dias e uma semana no campo.
Foram seguidas por contatos frequentes, via internet.
• Rio Grande do Sul – 1992-2012 – visitas, quase todos os anos, para consulta em
diversos sítios: Rio dos Sinos, Picada Café, Quarta Colônia, Porto Alegre (Orçamento
Participativo e Lomba do Pinheiro), São Miguel das Missões, Pelotas.
Intervenções diversas:
• Fundação Oswaldo Cruz – 1994 (?) – relação da Fundação com as favelas vizinhas.
188
Todas as ações foram objeto de notas e relatórios em francês, o principal foi
traduzido para o português, mas esses documentos são propriedade dos organismos
que me contrataram.
VARINE, H. de. Hugues de Varine e os museus comunitários no Brasil. Entrevista concedida a Roberto
Fernandes dos Santos Junior e Clovis Carvalho Britto. Museologia & Interdisciplinaridade, Brasília,
v. 8, n. 15, p. 323-327, 2019. Disponível em: https://periodicos.unb.br/index.php/museologia/article/
view/24973. Acesso em: 4 jan. 2021.
189
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você aprendeu:
190
AUTOATIVIDADE
1 A respeito dos exemplares de museu no âmbito virtual, assinale V ou F nas sentenças
a seguir e marque a alternativa correspondente:
a) ( ) V – V – V.
b) ( ) F – F – F.
c) ( ) F – V – V.
d) ( ) F – F – V.
2 Você viu, nesta unidade, que, embora as discussões acerca da nomenclatura dos
museus no campo virtual não estejam definidas, já estão avançadas. Além disso,
também viu as classificações que foram desenvolvidas por Lima (2009), assim,
disserte a respeito dos exemplos que foram apresentados no decorrer da unidade e
como se aplicam a essas classificações.
191
5 O contexto tecnológico no qual estamos inseridos nos dias atuais, todas as nossas
interações são, ou podem ser, feitas através de dispositivos digitais e aplicativos.
Esse cenário deu origem a diversos conceitos pertinentes ao uso dessas tecnologias
na sociedade. A seguir, relacione as colunas que correspondem à definição e ao
conceito, depois, marque a alternativa que oferece a sequência CORRETA:
1- Ciberespaço
2- Virtual
3- Cibercultura
a) ( ) 2 – 3 – 1.
b) ( ) 2 – 1 – 3.
c) ( ) 2 – 1 – 3.
d) ( ) 3 – 2 – 1.
192
REFERÊNCIAS
AMAZONAS, A. R. Políticas de museus do governo Lula da Silva. Salvador: Facom-
UFBa, 2010.
193
DESVALLÉES, A.; MAIRESSE, F. Conceitos-chave de museologia. 2013. Disponível
em: http://www.icom.org.br/wpcontent/uploads/2014/03/PDF_Conceitos-Chave-de-
Museologia.pdf. Acesso em: 24 jan. 2021.
194
LÉVY, P. O que é virtual? São Paulo: Ed. 34, 1996.
MUSEU PARAENSE EMILIO GOELDI. Emílio Goeldi (1859-1917). 2021b. Disponível em:
https://www.museu-goeldi.br/assuntos/o-museu/historia-1/Emilio-Goeldi. Acesso em:
18 jan. 2021.
195
OLIVEIRA, J. C. A. de. Do museu casa ao ecomuseu: aproximações e
distanciamentos na sociedade e no turismo. 2015. Disponível em: http://www.seer.ufal.
br/index.php/ritur. Acesso em: 6 jan. 2021.
196