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À MEMÓRIA DO COMPANHEIRO ARÃO KUNGA

I
No horizonte, trémula esta a esperança
Dos camponeses e operários sempre oprimidos
Da sua mobilização fazer uma força
Defender a Pátria amada todos unidos

II
Massa popular, poço inexpugnável
Dela formar soldados destemidos
Da filosofia princípios de oprimidos
Com ela escrever nossa história memorável

III
Dos intelectuais fazer quadros
Quadros do Povo, lutadores e amados
Colonialismo e imperialismo tudo extirpar
Bandeira da Liberdade ao alto alvorar

IV
Lembras-te Rúben de Arão Kunga?
Em nome da Pátria tudo sacrificou
O Povo sabe! Triste e paciente ficou
À espera de quem o leve para o porto

V
Filhos mandados os tempos idos levou
Liberdade procurando no exterior em vão
Regresso dos filhos à Pátria intimou
Lembras-te Rúben do companheiro morto Arão?

Feito em Dar-es-Salam, aos 20 de Janeiro de 1965

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É COM MEU PAI

I
Nas noites mais frias do Kuanza
Nos dias mais quentes do Katengue
Quando o trabalho te recusava a pausa
Contigo aprendi a crer e esperar

II
Os que morrem vivem para sempre
Se sua causa é de toda gente
Morte amedronta espíritos dormentes
Fortifica alma lutadora para sempre

III
Adeus Pai, amigo e mestre
Da sua coragem fico representante
Decidido para além da morte premente
Lutar, avançar na cena campestre

IV
Contigo já foram muitos mais
Crentes na liberdade dos demais
Liberdade exige mártires para durar
Foi contigo que aprendi a crer e esperar

Feito em 1967

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NÓS GRITAMOS NO DESERTO

I
Nós gritamos no deserto
Ninguém, ninguém nos ouve
No deserto porque ninguém nos ouve
Colonialismo é deserto, é deserto
A areia, o calor, o vento, o amor
O amor do Povo por tudo
Abdica não lutar? Não
A esmo no deserto lutar

II
O furor do vento no deserto
A coragem, a sede e a fome
Quem grita senão nós no deserto?
O mundo e a sua solidariedade
No deserto a independência e a orbe
A justiça, a luta tudo no deserto
Quem grita tem a voz da verdade
O mundo despreza a verdade

III
Morte, coragem e honra
Kapalandanda ficou e demais
Esperança, fé trabalho por honra
Kapalandanda único e jamais
Esperança levou Kapalandanda
Terra, ideologia e Revolução
Pátria Liberdade Unidade
Mortos ou vivos gritai pela grei
Feito no Massivi – Leste de Angola em 1971.

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5
ESPERAR

I
Esperar é sempre difícil
Esperar sem saber até quando
Sem saber quando é que é esperar

II
Saber esperar p´ra a sagrada esperança
Impor os outros esperar
Esperar pela almejada esperança
III
Nem todos sabem esperar
Qualidade primeira para vencer
Sagrada esperança ou esperança sagrada?

IV
Se morrermos esperando
Justiça se faça sobre a esperança
Esperança dos que souberam esperar

V
Esperança não morre
Morrem homens com esperança
Ver vencer sua esperança

VI
Esperou ele sagrada esperança?
Como não esperarmos nós esperança
sagrada? Africanos sabem esperar; somos
Africanos

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VII
Da dominação à luta é esperar
Esperar com força de quem
espera Esperar pela sagrada
esperança

VIII
Sede, descalço e faminto é esperar
Esperar com força de quem
espera Esperar pela sagrada
esperança

IX
Já é dia vale a pena esperar
Já é dia aprendemos a esperar Já é
dia não temos medo de esperar

X
Força do inimigo? Vamos esperar
Hesitação do Povo? Vamos esperar
Fará dia um dia? Vamos esperar

XI
Sofremos sempre a esperar
Com a certeza de esperança
Angola vencerá a esperança

XII
Jovens envelhecidos a esperar
Idade precoce na esperança
Da luta sempre a espera
Já é dia vamos esperar

XIII
Cubano impostor manda
esperar Angolano canado de
esperar
Aprende mais a esperar pela esperança

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XIV
Esperar pela dignidade esperada
Camponês sabe esperar pela esperança
Chuvas não controla mas espera

XV
Esperamos com a arma de esperar De
oportunidade sempre esperada
Conquistar a nossa esperança sagrada

XVI
Somos Africanos sabemos esperar
Humilhação dura, vamos esperar
Reunir coragem dura, vamos esperar
XVII
Cada dia um passo para a esperança
Esperar com força de quem espera Não
morreremos em vão, vamos esperar

XVIII
Há quem espera que deixemos de esperar
Cansados de tanto esperar
Deixar de esperar é morrer p´ra esperança

XIX
A Pátria morre um pouco p´ra esperar
A Pátria viverá sempre p´ra esperança
Os escravos são a Pátria a espera

XX
A Liberdade vive na esperança
A Liberdade é esperança de esperar
Esperamos todos pela esperança
sagrada

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XXI
Cada suspiro é mais esperança
Cada punho cerrado é esperança também
Quem morre leva sua esperança

XXII
Cubano impostor cria esperança
Cubano conhece nossa esperança
Até partir criaremos mais esperança

XXIII
É esperança na nossa esperança
Ver Cubano partir sem esperança
Cubano vai, fica nossa esperança

XXIV
Já é dia vale a pena esperar
Já é dia aprendemos a esperar
Já é dia não temos medo de espera
Feito em 1977

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BANDEIRA DOS POBRES

I
Estremecem de raiva, foram traídos
Foram sempre traídos pelos
opressores Opressores colonialistas,
foram traídos Imperialistas traidores,
são opressores

II
De repente hirtos corpos rígidos sacodem
Descobrem no horizonte além o
vermelho A cor do sangue dos irmãos que
morrem Têm no escarlate o futuro
vermelho
É nossa Bandeira, Unidade dos Povos
Pobres negros de angola unamo-nos
Unamo-nos contra todos os nossos
opressores Nosso sangue vermelho é unidade
dos pobres
III
Desfralda-te Bandeira vermelha
Nosso sangue damos com orgulho
Pobres de Angola nosso destino é
vermelho É rubra, é vermelha, a nossa
Bandeira

IV
Liberta-nos Bandeira vermelha
Une-nos Bandeira vermelha
Sangue jovem aqui oferecemos
Sangue novo aqui deixamos

V
Muitos jovens já por ti morreram
Crianças precocemente velhas
Com o seu sangue nossa Bandeira
pintaram Hoje todas as áreas estão
pintadas

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VI
Liberta-nos Bandeira vermelha
Une-nos Bandeira vermelha
Sangue jovem aqui oferecemos
Sangue nobre aqui deixamos

VII
Neste lugar sagrado de toda Angola
Jazem os nossos melhores camaradas
Começa aqui a Nação dos pobres de Angola
Bandeira vermelha é unidade dos camaradas

VIII
Camarada não perguntes Quo-Vadis
Vamos seguir Bandeira vermelha nossa
Exemplo muitos camaradas já pintaram
É rubra, é vermelha, é nossa Bandeira

Feito em 1977 na RM 11 no Mukunha, e memória


dos Chivukuvuku, Veríssimo, Sujo, etc.

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SAMANJOLO IRMÃO

I
Sou camarada de armas
Sirvo a causa que te levou mais
cedo Tão cedo partiste Irmão
Samanjolo
Agora que descobrimos os seus dotes
Partiste tão cedo Irmão Samanjolo

São os melhores que partem


Partiste primeiro porque foste o melhor
II
É a raiva que controla o
imperialismo É a noção da minha
impotência
É a cobardia do mundo inteiro
É Angola dos Negros que observa
E ainda nos chama de intrusos

São os melhores que partem


Partiste primeiro porque foste o melhor
III
Foi assim com o Samwimbila em
Julho Agora contigo no Andulo em
Junho
Será assim com os melhores em luta Gaio,
Kazombuela, Pole-Pole deram luta Fostes
todos os melhores, partistes primeiro

Quem seguirá os passos?


Como sempre serão os melhores

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IV
O coração esmagado de dor
Partiste Samanjolo tão cedo
A força da causa reúne força
P´ra imperialismo esmagar com
força Mas Samanjolo partiste tão
cedo

Quem seguirá os passos?


Como sempre serão os melhores

V
Hipocrisia do Mundo a esmo
Liberdade tambores tocam ainda
Imperialismo cegueira e riqueza nossa
Angola dos teus filhos resta-te a vaidade
Vamo-nos bater até ao último

Fostes os melhores por isso partistes


São os melhores que partem primeiro

VI
Ao entardecer do mês de Junho
Terra-Mãe, Pátria querida
Terra fria calor da Pátria-Mãe
É mais uma oferenda este corpo É
Samanjolo que regressa tão cedo

VII
Honra aqueles que nos precederam Na
Juventude o pirão amargo comeste Do
colonialismo o fel do chicote bebeste Da
independência só o nome ouviste De
arma na mão pelo teu Povo caíste

É assim que se faz a história

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VIII
Do colonialismo nossa pele vergonha
tivemos Nossa luta nas chanas do Leste
resgatou Homem pobre, alma negra Pátria
negra Quem usurpara nossa vitória ímpar?
Morrem os melhores p’ra a História resgatar

Dos Povos do continente negro


Continente misterioso, porque é negro

IX
Imperialismo aviso te fica
Samanjolo não cai mais em vão
Punhos cerrados contra muros
batemos Teu socialismo é imperialismo
Meu morteiro meu amigo certeiro

Em vagas bateremos o
imperialismo É assim que se a
História

X
Meu morteiro minha arma mortalha
Morrer atacando com o meu morteiro
Colonialismo partiu e imperialismo
também Lacaios fantoches passarão um dia
Imperialismo, aqui aviso te fica também

XI
No canto dos olhos lágrimas
secaram Samanjolo, não caíste em
vão
Vamos levantar, vamos limpar tua arma
Quando amanhecer com tua arma
Estaremos a combater

É nosso abraço também

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É assim que se faz a história
Feito na RM11, no MUKONHA, em memória
ao Comandante SAMANJOLO, que tombou em
23 de Junho de 1977
na Missão do Chilesso-Andulo
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A PENA DO COMBATENTE

I
A maior contribuição a Pátria
A luta na mais eficaz trincheira
É a tua pena e a tua memória

II
Quando enfim nós passarmos
Como os homens da História passam
Deixemos para os continuadores o que não passa

III
Pensamento aprumo em sim desbobina
Momentos altos coração inspira
É sentimento, é passageiro, é fugaz

IV
Momentos tristes, noite de breu
Céus brandam Terra altiva,
Os lobos uivam – É desgraça!

V
E neste momento preciso, pensamento fugaz
Destaca-se desgraça e produz com graça
Aqui ficam os nossos melhores camaradas
Feito na RM 11, no Mukana em 1977

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O BATUQUE D´ÁFRICA NEGRA

I
Batuque velho, envelhecido no tempo
Batuque envelhecido no tempo velho
É o batuque que foi sempre no tempo ido
Tam-tam-tã-tã-tã-tam-tam

II
Quando negro nasce na floresta virgem
A alegria da aldeia no ar atinge
Com o batuque velho que anunciou a nova
É no tam-tam que se reúnem os velhos
Tam-tam-tã-tã-tã-tam-tam

III
Tocou assim o batuque velho de sempre
Tocou assim quando os velhos nasceram sempre
Tocou sempre assim nos acontecimentos de sempre
Tocou assim na floresta virgem de África misteriosa
Tam-tam-tã-tã-tã-tam-tam

IV
Estrangeiro vê no batuque apenas música
Estrangeiro vê música exótica, pele e pau
Estrangeiro nunca entendeu mensagem do batuque velho
Batuque que tocou sempre assim nos acontecimentos de sempre
Tam-tam-tã-tã-tam-tam

V
Batuque velho no tempo envelhecido
Batuque velho na África negra misteriosa
Batuque do pensamento velho na tradição velha
Batuque da velha cultura no pensamento
Tam-tam-tã-tã-tam-tam

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VI
Criança adulta entra na sociedade adulta
Circuncisão velha tradição da cultura velha Batuque
velho acompanha natalidade e maturidade A dor!
Batuque velho abafa! É crescimento
Tam-tam-tã-tã-tam-tam

VII
Mancebo constitui família e avança
Avança na sociedade e no tempo
É o velho batuque envelhecido no tempo
Saúda mais uma família e reúne os velhos
Tam-tam-tã-tã-tam-tam

VIII
Quando o tempo envelhecer o homem no
tempo É o tam-tam que lhe descobre a doença
É o velho batuque que afasta a moléstia
Num tam-tam frenético que supera o
tempo Tam-tam-tã-tã-tam-tã

IX
Envelhecido no tempo o homem e batuque Quando a
vida parar é o batuque que despede Num tam-tam
triste e lento, procura no tempo o alento Ouve-se de
longe o anunciar do infausto acontecimento
Tam-tam-tã-tã-tam-tã

X
O nosso batuque velho da cultura velha no tempo
Quando chorei ver colonialista, chegar com tempo
Batuque tocou assim sua última alegria
Num tam-tam de revolta não tinha ninguém em
volta Tam-tam-tã-tã-tam-tã

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XI
Quando Galo negro com Bandeira entrou
No Huambo, no Lobito, no Bié e Luanda também
Batuque velho envelhecido no tempo
acompanhou Num frenesim de alegria volvida no
tempo
Tam-tam-tã-tã-tam-tã

XII
O velho batuque do tempo ainda velho toca
Descobriu artimanha neocolonial que Angola
toca Eram Tugas a fugir deixa lugar a Cubanos
Velho batuque a todos avisou com ritmo e dor
Tam-tam-tã-tã-tam-tã

XIII
Hoje misturados tam-tam e tiros
Cadência do batuque velho e da Kalash nova
É o frenesim de uma Nação nova que nasce
Rodopiando no som do batuque velho envelhecido no
tempo Tam-tam-tã-tã-tam-tã
XIV
Batuque velho no tempo velho na esperança
Kalash nova na Nação nova que nasce
Estrangeiro nunca entendeu a mensagem do batuque
velho É no tam-tam velho que vai-se reunir a Nação
Tam-tam-tã-tã-tam-tã

XV

Quando Galo negro com Bandeira ressurgir


No Huambo, no Lobito, no Bié e Luanda também
Batuque velho envelhecido no tempo
acompanhará Num frenesim de alegria volvida no
tempo
Tam-tam-tã-tã-tam-tã

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XVI
Tocou sempre assim batuque velho de sempre
Estrangeiro vê música exótica, pele e pau
Tocou velho batuque nosso! Tocou aos finados Cubanos
Tocou com frenesim, tocou alegria volvida no tempo
Tam-tam-tã-tã-tam-tã
Feito no Cuando-Cubango em 1977
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PARTIR

I
Partir? Quem parte para onde?
No movimento contínuo do
Mundo Nada está parado e assim
parto
Parto sempre desde pequeno

II
Sempre vi gente partir
Partiram para a estrada trabalhar
Partiram em sardinha para o Uíge
Partiram, porque era obrigatório partir

III
Quando partem Kapalandanda no ar
Partindo em sardinha, porque era
obrigatório Partem com certeza na alma
Porque partir é sempre sem saber até quando

IV
Gostaria não partir para o inserto
Mas com Kapalandanda no ar partiram Uíge,
Katumbela, Primaveira, Partos e Pescas É a
incerteza, é o silêncio, é a despedida

V
Mas eu vi muita gente partir
Vi muita gente partir desde
pequeno E continuo ver muita gente
partir
Movimento contínuo é vida

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VI
Partem porque querem?
Partem porque é obrigatório partir
Partem porque movimento é vida
Partem com tristeza na alma
Porque partir é sempre sem saber até
quando Mas eu vi muita gente partir
Vi muita gente partir desde pequeno

VII
Partimos sempre nós para o inserto
Partiremos sempre sem saber até
quando É consolo partir, partir
colonialismo
Partir para sempre, viva Nacionalismo
Mas eu vi muita gente partir
Vi muita gente partir desde pequeno
Mas vida colonialismo partir também

VIII
É este momento de partir
Minha Mãe não me larga a mão
Quer sentir minha sina de partir
Mas parto, porque é obrigatório partir

IX
Vi muita gente partir para o Uíge
Partiram com tristeza na alma
Porque partiam para o incerto só
Em Julho partia eu também no <Uíge>

X
Era p´ra o incerto afinal
Partir, porque era preciso partir
Minha Mãe no ar acenava afinal
Já não mais com tristeza, porque eu nasci para partir

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XI
Longos anos de separação e de esperança
Anos que amadurecem a nossa esperança
É em Julho nosso encontro de esperança
Mas é triste partir, quando não se sabe até quando
Só vi muita gente partir desde pequeno

XII
Camaradas! Já vi muita partir
Partir para o incerto é morrer um pouco
Ver partir é triste, partir é triste também
Mas parto cumprir o meu dever p´ra o além

XIII
Vencer ou morrer a luta continua
Separados estamos na UNITA também
Cada um no seu posto olha para o além
O nosso encontro é certo no aquém
É a nossa Bandeira Rubra que nos une
Aqui, acolá, aquém ou além é a UNITA
Vi muita gente partir desde pequeno
Feito no Munkonha em Julho de 1977,
aquando da sua ida para o exterior

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OS MEUS COMPANHEIROS

I
Há quantos anos sofremos juntos
Há quantos anos lutamos juntos
Há quantos anos choramos os nossos mortos Há
quantos anos esperamos chegar aos nossos portos
Há exactamente doze anos que sofremos juntos

II
Mas todos éreis jovens com esperança
Quando nos encontramos para criar esperança
As vossas caras jovens tinham ilusões
Ilusões para um mundo jovem sem
apreensões Foi quando concordámos
desiludir-nos

III
Tudo era clandestino e interessante
Falávamos baixinho mas era impressionante
Crianças provocante velha ousavam forjar o futuro
Ainda não havia diferença entre aventura e futuro
Mas todos estávamos prontos para o nosso futuro

IV
No anexo, Vitoria hotel em Lusaka
Samwimbila jovem roía as unhas
Para animar o casaca
Samwimbila jovem tinha amadurecido em estucar
Confiava sua vida a outro jovem para o futuro

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V
Entravam e saíam no Hotel em Lusaka
Chiuka, Jacob, Kussia mais velho que o jovem casaca
Também escutavam com enlevo para o futuro
Novos e velhos estavam ousados forjar o futuro
Há exactamente doze anos
VI
Esconder tudo mesmo aos compatriotas
Luta armada não se releva mesmo aos
compatriotas Lusaka pululava de gente de toda
espécie
Até mesmo as gentes inimigas eram de toda espécie
Lutar é desconfiar para se forjar o futuro

VII
Dar e Temeke eram lugar de encontro secreto
Chiwale, jovem alto batido pelos segredos do secreto
Determinação firmeza, todos prontos para partir
Partir para o desconhecido forjar o futuro

VIII
Dúvidas e alterações planos e contra planos
Frustrações diante do futuro com poucos planos
Mas juntos prometemos forjar o nosso futuro próprio Não
podíamos sacrificar o futuro daqueles que tinham fé no futuro
Resistir era a palavra de ordem dos que tinham fé no futuro

IX
Entraram todos para Angola
Mas Pátria não sabia
Porque Tuga sagaz não queria
De Naquim para Angola
Era uma nova página que se abria
Mas a Pátria não sabia, porque sagaz Tuga não queria

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X
Erguemos a Bandeira do Camponês no Leste
Erguemos a Bandeira dos oprimidos no Leste
Paulino ficou, Samwimbila caiu também
Chiwale, Jacob e Kussia conheceram o carácter além
O jovem casaca tornou-se mais velho
Entre estamos forjando o nosso próprio futuro
Que estamos forjando o futuro
Feito no Cuando-Cubango em 1977
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PRECE DA MINHA MÃE

I
Eu era pequeno, por isso acreditava
Acreditava primeiro na minha Mãe
Acreditava, porque minha Mão também acreditava
Minha Mãe era tudo na casa-Mãe

II
Meu Pai vendendo força de trabalho
P´ra além do Katengue exótico
Era sempre hóspede quando chegava do
trabalho Mas a minha Mãe era tudo na casa-Mãe
III
A casa chovia e faltava sal
Todos em casa atacados de sarna
Só nos restava tentar a cura com cal
Com cal ou sem cal, a praga era sarna

IV
Pirão nosso pão de cada dia
Acompanhado de <Swanga> todos os dias sem
sal Prece da minha Mãe todo o dia
Agradecer o nosso <Swanga> sem sal

V
O nosso pão de cada dia nos dê hoje
Era pirão com <Swanga> sem sal hoje
Era pirão com <Swanga> sem sal amanhã
Aprendi a acreditar mesmo sem um
amanhã

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VI
De noite, minha Mãe variava a prece
Orávamos pelos viajantes da noite
Não tinham repouso, andavam de noite
Perguntávamos a Mãe quem eram os homens da prece da noite

VII
Minha Mãe respondia na próxima prece
Eram os que trabalhavam para além das suas forças?
Esperávamos impacientes pela próxima prece

VIII
Minha Mãe continuava a agradecer o <Swanga> sem sal
Minha Mãe falava dos que tinham a fome por
companheiro Nós com <Swanga> sem sal, tínhamos muito
mais que sal Era preciso agradecer, porque tínhamos um
companheiro

IX
Perguntávamos a Mãe porque havia fome como companheiro
P´ra alguns fome, p´ra outros carne com sal
Minha Mãe referia-se ao grande companheiro
Grande companheiro que tem tudo até sal

X
Um dia, chegado meu Pai do Katengue além
A prece da minha Mãe falou da dignidade do aquém
A prece falou dos justos e injustos no aquém
A prece falou dos humilhados recompensados no aquém

XI
Minha Mãe foi mudando de prece
Falava sempre da justiça para desamparados
Minha Mãe perguntava se não éramos
desamparados Minha Mãe perguntava aquém se era
hora da prece

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XII
Dia de luz, via compreensão na prece
Minha Mãe pede que nos seja restituído aquilo que nos foi
usurpado P´ra glória nas alturas quando for hora da prece
P´ra a paz na Terra sem mais usurpados todos juntos na prece

XIII
Prece da minha Mãe e minha prece
Só quando houver paz na Terra voltarei a prece
Só quando acreditar no amanhã
Só quando o grande companheiro nos der esse amanhã

XIV
Prece da minha Mãe respondia-se com próxima prece
Prece da minha Mãe é minha prece também
Único desgosto que levo p´ra minha Mãe também
Sou Tomás ver p´ra crer na próxima prece
XV
Sobem preces p´ra o grande companheiro
Pede-se justiça p´ra os humilhados e desamparados
também Aprendemos a prece e acreditar no grande
companheiro
Sabemos que hoje o Povo e a sua arma são grandes companheiros também

XVI
Prece da minha Mãe foi mudando
Foi mudando prece do Povo também
Povo e arma são grandes companheiros do aquém

Feito no Cuando-Cubango aos 22/08/77


_____________________________
Swanga – folhas de mandioqueira cozidas

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A MOCHILA DE SAMWIMBILA

I
Para onde vamos Samwimbila tão novo?
Porque partimos para o desconhecido novos que
somos? Porque Samwimbila empreendemos aventuras?
Os pais professando professorado no Léua além Podiam
resgatar-se do Povo e do carrasco p´ra o além Porque
partir então?

II
O pai e a mãe sabem que vamos partir?
Samwimbila prepara sua mochila não
responde Mas mano, vamos para longe tão
novos
Samwimbila decidido quer apanhar o comboio não
responde Ele sabe que pai sabe, não podia dizer a gente
Novos, pai sabe ou não é hora de partir

III
Sabia Samwimbila quiçá que mochila seria
nossa? Decidia Samwimbila destino dos
oprimidos?
Calmo e firme, Samwimbila Preparava sua primeira mochila
O pai e a mãe sabiam ou não, era hora de partir
Samwimbila puxa pelo Estevão para se aviar
Avisar-se para partir nós outros partirão sem nós
Novos, pai sabe ou não é hora de partir

IV
Teixeira de Sousa passar é o mundo transporto
Mundo de opressões e de calúnia depostos
Congo, Lumumba, Ksazavubo, Mobutu, Kachamura postos?
Vamos Estevão para o mundo partir
Regressar p´ra os postos não para a morte nossa
Vamos lutar pela Pátria nossa

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V
Samwimbila, Estêvão e mochila passaram
Quando contando p´ra nós é o cabo da taporbana
Será o adamastor no cabo com visões?
Será Juventude Angolana passando o cabo?
Será na mochila de Samwimbila o peso de Angola?
Será Teixeira de Sousa passou mochila o peso?
Será que certeza passou com Samwimbila no peso?

VI
Colonialismo confidente deixa passar mochila
Passa também connosco nossa mochila
Vamos falar, vamos gritar, vamos libertar Angola
Vamos explicar a dor e humildade para além de Angola
Estêvão: olha! Passamos para além da taporbana
Passamos p´ra tudo dizer além do cabo
Agora vamos Estêvão: já partimos para o mundo

VII
Mochila leve e pesada no Léua formada
Mochila do Povo Teixeira de Sousa passa
Colonialismo confiante deixa passar nossa mochila!
Mochila do Povo, quem lhe avalia o peso real?
Mochila de Katumbela e da Primavera pesada
Passa Teixeira de Sousa, Zâmbia e Pequim também
Mochila regressa para Angola pesada

VIII
Mochila de desprezo e dor passou
Mochila de Samwimbila nosso
E a nossa mochila com o peso real da mochila
Mochila às costas é tudo que a vida nos custa!
Caída de Kavimbi continua a caminhada
É a nossa mochila que tanto nos custa
Feito no Cuando-Cubango em 1977

31
REGRESSAR

I
Era sempre de tarde quando regressava
Regressava, porque nunca foi para ficar que
partia Partia para regressar

II
Nas tardes do cachimbo
O frio obrigava o regresso
Regresso para a casa paterna
Regresso, porque nunca foi para ficar
Nunca foi p´ra ficar que partia

III
Cumprida a missão de pastar o gado
Regressava para a casa paterna
P´ra recolher recompensa
Recompensada da jornada cumprida

IV
Depois do ano lectivo regressava p´ra a
aldeia Regressava a aldeia como dever
Regressava, porque era parte da aldeia
Regressava, porque nunca p´ra ficar que partia
V
Depois da guerra colonial
Regressava p´ra o Huambo
Regressava p´ra recolher a recompensa
Recompensa que Huambo soube dar
Regresso Huambo foi temporário então

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VI
Regressar é uma prenda para os que
regressam É privilégio e é honra regressar
Recolher recompensa da jornada cumprida
Mas regressar é mais que galardão

VIII
Regressar é no tempo e no espaço renascer
Contam-se acontecimentos (e dor) idos
Dentro e fora cada um conta o que tem
Contam-se p´ra se preencher as separações

IX
Regressar é obra de trabalho e de fé
Quem não acredita não regressa
Quem não luta não regressa
Quem não trabalha não regressa

X
Regressar a Angola que luta é fenómeno
ímpar É derrotar quem nos oprime
É atravessar o rubicão incólume
É trazer na mochila certeza na vitória

XI
Regressar é gratidão expressa para com
todos Camaradas de armas, nossa gratidão
Povo oprimido em Angola na esperança! A nossa
gratidão Povos amigos que actuam como aliados! A
nossa gratidão

33
XII
Regressar para uma Angola que hoje crê
Que crê na sua luta e na sua causa
Que crê na solidariedade anti cubana
Solidariedade no mundo é anti cubana

XIII
Nunca partir de Angola para ficar
Regresso para ficar; sou parte de Angola
Foi sempre meu dever regressar a casa paterna
Mas regressar em si só é mas do que galardão

XIV
Aos que partiram comigo, aminha gratidão Gratidão na
esperança de regressar, mas um pouco mais Gratidão
para cada dia regressar mais e melhor Gratidão de
regressar, mas por toda Angola que espera

XV
Na nossa mochila regressa connosco a
certeza Certeza de mais lutas e vitórias
Certeza de solidariedade anti cubana
Certeza de chegarmos no fim da caminha

XVI
Regressarmos, porque nunca partimos para
ficar Agora vamos regressar até Luanda
Luanda que nos acolheu e recompensou
Luanda que será o fim da nossa jornada

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XVII
Regressar, regressar, regressar sempre a casa paterna
A Pátria vai agora regressar connosco
Vai regressar connosco a Pátria
Num grito de Kwacha da Pátria regressada
Feit no Cuando-Cubango, aquando o regresso do exterior, em 1977

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A MORTE BATEU MAIS UMA VEZ

I
Oh morte impiedosa! Oh impiedosa morte!
Da sua acção destruidora és forte
És forte mais que o furacão ó morte
Só te manifestas quando és forte
Quando da vida nos arrancas ó morte

II
Sabemos que vives connosco
Vives connosco ó morte porque és vida
És vida na morte expressão dialéctica
És vida no inverso de viver connosco
Mas quando te manifestas és forte, oh morte!

III
Se hoje estas sempre presente
Sem pré que vida houver, tu estais presente
Mas quando te manifestas, és forte oh morte!
Mas sabemos que tu és vida no inverso
Só gostaria de ter sempre presente que tu estás presente

IV
És forte, porque da vida és o inverso
És forte, porque da vida és matreira
És forte, porque nos esquecemos que estais sempre
presente És forte, porque quando bates és forte
És forte enquanto vida houver na força.

36
V
O combate desigual pela vida faz-te forte O
teu ataque inesperado dá-te força A tua
acção destruidora é a tua força Bate
impiedosamente com toda a força Bates,
rogas aos justos e injustos com força

VI
Queria-me evadir de ti, oh morte
Procurar as profundezas da terra
Queria voar no firmamento sem fim
Queria deixar a terra só enfim
Mas enquanto houver vida, tu és morte

VII
Sei quão és cruel e injusta
Sei porque já me tocaste de injusto
Como me tocaste sei que és injusta
Falei de mim e para a terra justa
Falei p’ra os céus para te combatermos juntos
VIII
Quando amanha abateres minha porta Como
tu és traiçoeiro, matreira e injusta Estarei
pronto para te receber fora da porta
Sentarás lá fora no lugar que te reservei
Minha vida é morto, por isso te conheço bem

37
IX
Aceite o desafio da morte na vida
Liberdade a vida da morte: luta é minha divisa
É minha divisa para que a morte baterá?
A morte vai deixar de bater os vivos
A morte vai ser ultrapassada na vida libertada.

Feito aos 29 de Janeiro de 1978 no LUATUTA, no Cuando-Cubango, em


homenagem á ARLINDA KASSOVA, por Jonas Malheiro Savimbi.
38
NÃO ACREDITES CAMARADA

I
Cansados de lutar a luta nossa
Cansados de ouvir juízos sobre a luta
Cansados de dormir sem acordar
Sem acordar para o nosso amanhã

II
Nasce o sol todos os dias para sofrer
Para sofrer a dor da luta
Oh luta da nossa terra
A luta de todo o Povo nosso
A luta dos que negam a morte
Mas a dor tenta nos aceder?
Não acredites nela camarada!

III
Ontem foi o chicote e o colonialismo
Hoje os massacres e o imperialismo
Só não sabemos o que será amanhã
É por isso que lutamos pelo nosso
amanhã Chicote, negro levou, mas não
hesitou
Negro luta encetou e colonialismo
desabou Mas colono foi e jurou não sair
Não acredites na força dele camarada

IV
Já tivemos medo de morrer
Já tememos a ideia de morrer
De morrer vivo na carne que nega morrer
Hoje porém sabemos que estamos
morrendo Morrendo aos poucos pela Pátria
que nasce Há quem teme ainda morrer pela
vida?
Não acredites nele camarada

39
V
A morte atroz venceu a vida um dia
Naquele dia em que Ginga cedeu
Naquele dia em Ekuikui morreu
Naquele dia triste em que Ndunduma morreu
Naquele dia frio em que Samuimbila morreu
também A morte continua atroz ainda hoje?
Não acredites nela camarada!

VI
A morte baterá mais na luta
A nossa luta com o nosso Povo
A nossa luta da terra nossa
A nossa luta total, porque é nossa
Há quem tema ainda falhar?
Não acredites nela camarada!
VII
Já no Leste cantos ouvi
Cantos ouvi da força do colono infame
Colono que tem flecha susano
Mas colono partiu flecha continua
susano Não acredites nela camarada!

VIII
Órgão Staline Huambo fama deixou
Migs terror semeando respeito criou
Tanques estradas destruindo
Respeito teve também
Com Cubanos e Congolenses
mercenários Tuga partiu mercenário
continua susano Não acredites nela
camarada!

40
IX
Já ninguém acredita em nós
Nunca souberam acreditar em nada também
Acreditam naquilo que nós não acreditamos
Acreditam na força do colono
Acreditam nos Cubanos malvados
Não acredites nela camarada!

X
Mas vai haver um dia
Um dia no amanhã
Em que como Tuga, Cubano desandará
Como flecha pelo Tuga, FAPLA pelo Cubano gritará
Onde estará a força imperialista?
Foi bom não acreditares neles camarada!
Feito no LUATUTA, Janeiro de 1978
41
42
E DEPOIS
I
Povo nação oprimido ansioso
No labor a canção esconde a
tristeza No ar canção misturada a
tensão
É a Nação que morre e não se deixa matar

II
E depois
O sol sempre
Triste pelo esforço conjunto em vão Em vão,
porque é esforço explorado A canção no ar
misturada à tensão é tristeza

III
Mas depois!
Dias, meses e anos passam
Passaram com o Povo Nação oprimido
Passaram mas o Povo Nação sobreviveu
Sobreviveu com os que morreram antes

IV
Mas depois!
Quando velhos histórias contavam
Contavam para os novos histórias velhas
Contavam para não morrer
Não morrer a história na alma do Povo Nação

V
Foi assim e depois
Forasteiro suas virtudes acredita
Civilizar para melhor explorar
Destruir a história ficar sem
história Mas o Povo Nação na alma
resistiu

43
VI
E depois
Forasteiro compreendeu
Que Povo Nação na alma resistiu
No ar a canção triste se transforma em gritos
Gritos de dor e de alegria para a libertação

VII
Afinal só depois
Oh! Vaidade colonialista onde está a sua força?
Partiste triste e envergonhado também
No ar ficou a canção e a história
Afinal forasteiros são sempre vomitados pelo Povo Nação

VIII
Mas foi só depois
O Povo Nação libertou-se e não ficou livre
No ar a canção triste sobe outra vez
Cubano, Russo, é forasteiro também
É a Nação que morre e não se deixa matar
IX
Mas depois
É a história dos homens que se procuram
Que buscam com resistência o seu destino
Que sabem a luz está no fim da noite
Que sabem que haverá um dia, um depois

Feito no Cuando-Cubango em 1978, aquando da sua visita à RM 11

44
JUVENTUDE ANGOLANA

I
Juventude flor de amanhã
Sol nascente és tu no nosso horizonte
Trevas desfazes geadas fundes de amanhã Quem
tirita a noite por ti espera a força nascente

II
Juventude negra de África emergente
Com a pena resgata o vulto enorme
Com os teus braços viris opressão sustenta
Sustenta opressão, liberdade caminho descortinas

III
Juventude coragem legendária aventura contém
Em tua frente colosso desafias
Desafias, porque tua coragem aventura contém
Contém aventura mas na tua força te fias

IV
Das comunas dos velhos tua raiva entreténs Dos
contos de opressão teu coração inflamas Das
mortes do colonialismo teu discurso professas Do
desespero da Nação tua esperança alimenta

V
Juventude flor de amanhã
Sol nascente és tu no nosso horizonte
Quando do frio alheio de manta te cobrires E da
geada no chão que teu corpo sentias a sorte

45
VI
De pequeno grandes empreendimentos fadados estás
Ekuikui, Numa, pequenos foram também
Do peso esmagador da opressão venceram forças
Tu soldado jovem estás na senda de Numa também

VII
Juventude negra brilhante no horizonte ainda escuro
Brilhante de negro na faina das Nações libertadas
Força das forças do desespero ânimo sustentar
Da velha história reter para sempre brilhar no escuro

VIII
Oh Juventude negra força dos Povos encarnas
É Tuga colono? Onde está a nossa Juventude?
É Cubano mercenário? Juventude onde estás também?
É Russo imperialista? Juventude nossa Pátria resgatar

IX
Jovens caem com sorriso nos lábios em acção
Jovens intitulados com esperança nos olhos se vêm
Kapitopito, Mbandua, Jamba em pouco tempo se
despedem Sapalalo perde a mão; é nossa Juventude na
emulação

X
Oh Juventude flor de amanhã aventura contida
A ti com confiança ceptro te passamos enfim
De jovens nos resta coragem e aventuras contidas
Continuar donde deixámos marchar
De liberdade sem fim

Cuando-Cubango – À Juventude Angolana,


caminhando para a RM 11- 1978

46
A HORA

I
Tinha chegado a hora nossa na granja Na
granja tinha tocado a hora nossa Nossa
na granja p´ra fome preço receber
Receber na granja o preço da fome
nossa Do Kapalnadanda sua terra chorou
Chorar no Kapalnadanda terra ermanar

II
Hora que marca o tempo contado na
granja Hora da granja do opressor o tempo
seu Hora que não conta o preço meu
Hora que cada hora no preço sempre é
seu Do Kapalnadanda sua terra chorou
Chorar no Kapalnadanda terra ermanar

III
Hora que chegou tarde porque contagem é sua
Hora que vinte e quatro horas ainda são suas
Hora de badaladas mas ainda no esoa Do
Kapalnadanda terra sua
Do Kapalnadanda também lágrimas suas

IV
Camponês na hora sua sem tempo seu
Camponês na hora do tempo do céu
Camponês sem céu não tempo seu
Do Kapalnadanda um céu dos seus
Do Kapalnadanda uma hora dos seus
47
V
Do Kapalandanda no choro seu no céu nosso
Do Kapalandanda no céu nosso do choro seu
Kapalandanda armas suas na terra nossa
Kapalandanda chorar porquê?
Chorar Kapalandanda, porque terra é um quê?

VI
Kapalandanda terra sua nos olhos o quê?
Kapalandanda chorar nos olhos terra porquê?
Kapalandanda chorar a terra é um quê!
Kapalandanda nosso Kafundanga chorar o quê!
Kapalandanda nosso, Samwimbila nosso chorar por quem!

VII
Hora tardia recolher na vida além
Hora Damião que Prata encontra além
Hora que Kapalandanda chama todos além

VIII
Tinha chegado a hora na granja
Tinha chegado nossa hora da fome receber a canja
Tinha chegado a 25ª hora para libertar a canja

Feito em 1979 no Cuando-Cubango,


por ocasião da traição dos países domentes.
48
A NOITE MAIS LONGA

I
Tu que surpreendeste mamã no dia três
Tu que nunca anuncias a tua chegada
Tu para quem não há calendário nem tempo
Aceito, surpreendeste-me
Juro não te repetirás

II
Noite longa, lúgubre de ansiedade
Noite quinze velha três anos de idade
Noite longa que longa que não descansa o homem de
idade Meu direito combater-te
Combater-te hoje e sempre

III

Vejo-te, constato-te enfim rejeito-te


Noite quinze velha três anos de idade
Noite triste Fevereiro no Huambo entraste
Arrojo-me direito combater-te
Combate cerrado hoje e sempre

IV
Noite mais longa aliado imperialismo
Cubano Noite mais longa do ladrão do
antanho
Noite mais longa pusilânime tamanho
Aceito, acordaremos mortos pois não morremos
49
V
Vejo-te, constato-te enfim rejeito-te
Vi-te Lugue-Bungo trair Povo nosso
Vi-te Mombaça povo nosso infiltrar
Vi-te Alvor repetir!
Juro que não te repetirás

VI
Tu, noite linga destino imperialista
Tu que minha mão levaste conformista
Tu outro Alvor preparas imperialista
Aceito, surpreendeste-me
Juro que não te repetirás

VII
Oh Juventude sã alerta e viril
Ouve! Outros povos te ouviram do covil
Covil dos bombos ferozes destino subtil
Aceito, traíste mas não perdemos
Lembras-lhes amanhã venceremos

Feito em 1979 no Cuando-Cubango,


por ocasião da traição dos Povos domentes.
50
PAI

Pai amigo que quiseste outros mais


Pai Loth teu nome voa outros sóis
Pai com outros estandarte levantas ainda mais

II
Pai Kapuka João, teu nome da tradições não quis
Pai João Kapuka Pastor na tua luta ele quis Pai
com os outros pais cá deixaram a raiz

III
Quem do Pai amor repreensão não
sentiu Quem da Mãe carinho e amor não
viu
Quem do Pai a lei na vida ainda não sentiu

IV
Kapuka João do Chipeio amor viveu
Do Chipeio o João amor do Povo
ouviu Do Chipeio a sua vida ali ficou

V
Pai LOTH doutrina de guerrilha de ti
senti Pai, o nome nobre de assenti
Pai que carinho sacrifício teu acedi
VI
Pai Jonatão, Lutukuta, Mussili, Ekuikui sois Pai
Terra nossa Nação nossa ainda estrangeiro sois
Pai, estrelas da nossa Nação soubemos onde
estais

51
VII
Pai dos pais de quem agora sou
Pai da Bandeira da liberdade já sou
Pai da serra que na agonia já revelou

VIII
Pai que levou crisântemos aos mortos seus
Pai que pede reunião evitou para os seus
Pai crisântemos queriam lhe levar aos seus
Pai, cada um de nós na terra sua algo plantou
Pai planta na terra sua algo seu deixou
Pai deixou ele a terra liberdade vingou

Feito no Cuando-Cubango em 1979


- Numa reflexão profunda
52
MAMÃ

I
Mamã Mbundu, tu Mamã Mbundu
Mamã que acordaste na manhã do
Mbundu Mamã, queremos dormir ainda no
Mbundu Mamã, não queremos acordar; há
Mbundu

II
Mãe, acordamos, estamos todos
nós Mãe, aceitamos o sol subiu p´ra
nós Mãe não temos o comer para
nós
Mãe, porque acordamos todos nós?

III
Lavar a cara? Onde está o manjar?
Lavar a mão? Não há manjar para
ninguém Lavar ardósia? Professor tem
manjar!

IV
Mamã Mbundu, tu Mamã Mbundu
Mamã doente estás, quiseste casa no Mbundu
Mamã chama avô Massanga, entra no
Mbundu Mamã, avó Massanga sura no
Mbundu

V
Mbundu com crianças sofrendo só
Mbundu da aldeia ajudar sempre só
Mbundu, cunhadas raiva contra Mbundu
só Mbundu Resignada estoira só

53
VI
Mbundu é nevoeiro no tempo voando
Mbundu é ar é bruma sempre ndando
Mbundu é calma na opressão aceitando
Mbundu é revolta interior sempre acalmando

VII
Mamã minha é mamã nossa aqui
Mamã é dor expoente alma aqui
Mamã é o traidor que esteve aqui
Mamã são teus que não morrem aqui

VIII
Mbundu Mamã a dor continua sem fim
Mbundu Mamã temos mais opressão sem fim
Mbundu Mamã Kañoma não aceitou enfim
Mbundu Mamã, porque inimigo treme enfim

IX
Lavar a cara? Onde está a água
Lavar a mão? Porque fugiram com a água
Lavar a ardósia? Fiquei sempre escravo na água

Feito no Cuando-Cubango em 1979

54
NAKAMELA

I
Nakamela mãe da folha nossa
Nossa no Povo nosso que é teu
Folha brilhante no colo teu que escreveste com
adúnia Folha de leitura e nunca de compromisso na
agonia É folha nossa no Povo teu que é nosso
O Povo teu na UNITA te conhece

II
Folha que só tu sabes escrever
Como Ginga mulher à dextra que alienígena reconheceu
Noutros tempos que hoje se reconheceu
É hoje Nakamela que teu Povo te reconhece

III
Tua luta com Kapalandanda adunar
Com Kapalandanda ser par da luta nossa no Povo teu que é nosso
Aduna na vontade de sobreviver a luta

IV
A luta sem medo na vontade concretizada
Concretizada no fogo do desprezo
No fogo contundente mas formada da vontade
Da vontade tua do Povo teu que é nosso
Nakamela é mãe da folha nossa no vocábulo que é
nosso Teu Povo na UNITA tua te conhece

V
Nakamela ainda ontem moça sem destino
Destino que pai sabia Marcolino
Nakamela do Povo nosso no desprezo nosso
Nakamela de Chiayaka nosso que é hoje destino nosso

55
VI
Menina moça Nakamela luta enfrentar
Elende nuvem nossa no horizonte nosso
Horizonte de luta de Chiyaka (guião) herdar
Herdar para folha colocar no horizonte nosso

VII
Nakamela épica esteve folha nossa
Folha nossa que só tu podes mãe nossa
Mãe na coragem sem compromisso na
agonia Mãe da Pátria que nasce na agonia
nossa
Para destino que pai sabia Marcolino
Destino de Chiayaka que é hoje nosso destino

IX
Nakamela mãe da folha nossa
Sabe que folha nossa é ardósia
Do Kangumbe a Penina com homens torpes
Torpes que procuram engana o destino do Povo forte

X
Tua luta com Kafundanga a adunar
Nem agonia compromisso tem arrufar
Nem a morte a emolestar
A Pátria que vem morrendo um pouco a lutar
De Chiayaka sempre a forjar
Chiyaka nosso que é hoje nosso a lutar
XI
Nakamela responde pronto pela refrega
Para a refrega da humilhação p´ra a liberdade
Luanda, Nankuru, com homens torpes
Torpes, porque procuram enganar o destino do Povo forte

56
XII
Nakamela nem agonia compromisso tem a arrojar
Nem a morte dialética provar
Porque é da vontade tua do Povo teu que é nosso
Oiça, Nakamela no horizonte teu canhão troar
Troar no Elende teu, forjar nosso destino
Canhão da liberdade nossa que pai sabia Marcolino

XIII
Nakamela a vida é a morte vivida
Vivida intensamente p´ra causa altiva
Altiva, quando vivida com a tua com teus filhos ficando na
sina Vivida altiva como Samanjolo na faina
Que a morte matreira apenas agigantou na vida
Nós estamos com ela p´ra vencê-la na vida

Feito no Cuando-Cubango em 1979


Homenagem à Maria Nakamela – 30.04.79
57
A REPLICA

I
Andamos perdidos à busca da Nação
Nação da vontade Negro-Africana
Andamos à busca de nós mesmos na
Nação Nação alienada pelo colonialismo
Nação desaculturada pela assimilação
Nação que pedia de imediato uma réplica

II
A Nação confundida buscava aprender o saber
Saber nas brechas da alienação situado
Porque colonialismo desaculturava para dar o
saber Na ânsia do saber buscava o além
Na busca do destino cruel ficava no aquém
Na imaginação alienada queria-se <outrem>
Mas é réplica que a Nação pedia de
imediato

III
Patriotismo resistiu nos contos heroicos despontados
História sem escrita firmou-se na alma descantada No
segredo da dor a Nação buscava a réplica imediata
No trabalho forçado nasceu a raiva da Nação Do café
criou-se organização de alteração
E nas viúvas ficadas sós na base da réplica
A réplica de ontem que é de hoje a réplica

IV
Vimos o luto vestir Nação baseando-se na réplica Vimos
velhos morrer com honra e fé na réplica Vimos
<pioneiros> emudecer arautos que eram da réplica
Buscando o saber para réplica

58
V
Iludiram o colonialismo astuto e cego
Vestiram-se da fé no além como réplica
Mas a Nação buscava a réplica
Contra o colonialismo astuto e cego

VI
Salva-Terra Chiumbo é da Nação a réplica
Terra para era a Nação que se pronunciava inédita
Procurando o saber para dar ao colonialismo a réplica?
Ekuikui vestiu-se de fé no além como réplica
Semente de todos os ventos espalhar para a Nação inédita
Ekuikui cárcere conheceu do colonialismo alienador
Ekuikui tombou do Neto as balas traidor
Mas não fica por lá a réplica da Nação inédita

VII
Da Primavera do quinze de Março foi a Nação
Dos contratados oprimidos na Fazenda foi a réplica
Morrendo matando pela Nação era nossa opção
Gritos do Mundo contra a Nação era de esperar
Dos traidores das comunas bradavam ao selvagem
Selvagens que buscavam na Primavera a réplica
A réplica de ontem que é de hoje a réplica
VIII
Dos acordos falaciosos mão inimiga era colonialismo
Colonialismo astuto e cego
Colonialismo confiante na Nação que explora espera
Espera p´ra além onde a Nação não esquece e estanca
Neto, Cubano, Russo já têm réplica
Alianças duvidosas já tiveram réplica
Aqui fica a Nação para todos para todos responderem na réplica Feito no

Cuando-Cubango em 1978

59
QUANDO A TERREA VOLTAR A SORRIR UM DIA

I
Voltará a alegria dos tempos nos rostos,
Haverá ânimo nos quimbos e alvoroços,
O alvoroço já não de medo,
Quando a Terra voltar a sorrir um dia.

II
As crianças habituadas a chorar,
Chorar de fome e de medo também,
Terão medo de começar a rir um dia
Mas não resistirão quando a Terra voltar a sorrir nesse dia.

III
Há já muito que não se ria no quimbo,
O cantar ao luar desapareceu nos quimbos,
Terão todos medo começar a rir um dia
Quando a Terra voltar a sorrir nesse dia.

IV
Sofrimento e mágoa outra natureza nossa,
O Sol nasce mais cedo p´ra castigos nossos,
O céu tem outra cor da dos velhos tempos
idos, Esperando que a Terra volte a sorrir
algum dia.

V
O futuro sonhado alto desvaneceu,
O sorrir preparado alto fundiu,
A lua nasceu tarde e pôs-se cedo demais,
Até quando a Terra voltar a sorrir um dia.

60
VI
O frio do cacimbo ficou mais fio.
As longas caminhadas às ficaram mais longas,
Longas, porque muitos jamais regressam delas
À espera que a Terra volte a sorrir nesse dia.

VII
Troveja mais forte e as nuvens mais escuras,
Tudo é medo na dilação mais obscura.
Os seios sem leite asseguram crianças sem alvura,
Esperando que a Terra volte a sorrir um dia.

VIII
Nossa Terra, nosso Povo, nosso queixume,
Nossa lua outrora redonda e bela…
Ao seu luar dançavam belas donzelas.
Tudo a espera até quando a Terra voltar a sorrir um dia.

IX
Nosso Povo cansado de esperar pelo dia,
Dia do Cubano que parte da Pátria nossa,
Povo nosso quando a Terra voltar a sorrir um dia.

X
Crianças nossas buscando as palavras à Terra,
Terra nossa Terra de exílio, é Terra também
Mas crescem sem aprender a sorrir,
Não resistirão, quando a Terra voltar a sorrir um dia.

XI
Não haverá mais cânticos p´ra chorar,
Não mais luar para azáfama acabar a chorar,
Não mais partir sem vontade de voltar,
Quando a Terra voltar a sorrir um dia.

61
XII
Esquecida a mágoa da humiliação da Terra,
Quando o Sol nascer cedo e quente
E a lua redonda soltar o batuque velho e quente
Então estará voltando a sorrir a Terra nesse dia.

XIII
As nossas crianças sem medo vão sorrir,
Vão aprender as velhas danças com belas donzelas.
Vão rodopiar, vão cantar, vão conhecer a Terra
Então estará voltando a sorrir a Terra nesse dia.

XIV
Ao de longe o trovejar brando e ameno será amigo
Lembrará apenas canhão que libertara a Terra
A Terra, única herança p´ra nossas crianças a dádiva
Só assim voltará a Terra a sorrir nesse dia

Feito no Cuando-Cubango, por ocasião do 2º aniversário natalício


de Aleluiah Chilala Chofeka, dedicado a todas as crinças
de Angola 30.07.79
_______
quimbo – aldeia
62
O COMPASSO DO TEMPO

I
Bruma se aproxima além
Serenidade guarda aquém
Nela descobrir atrás dela
Nosso caminho para além dela

II
É o compasso do tempo com o nosso
tempo Para ver quem resiste no tempo
Porque luta é questão de tempo
Só perde quem falhar no tempo

III
O tempo não se espera
O tempo como compasso do tempo
O tempo no compasso do seu tempo
É o tempo que espera

IV
O inimigo espera pelo tempo para ganhar O
inimigo já tem mais tempo para esperar O
inimigo no seu compasso já não há mais tempo
O inimigo no seu tempo já gastou todo tempo

V
O Povo é compasso do nosso tempo
O Povo está no tempo com impaciência do compasso
O Povo crê, deu-nos já muito tempo
Mas Partido jovem procura tempo no seu compasso

63
VI
O tempo só se conta no tempo com compasso
O tempo não se conta no tempo sem compasso
A Luta não tem tempo sem compasso
É no tempo do Povo em que está o seu tempo

VII
Dias passam, meses também no tempo
Passam anos há quem não tenha compasso do tempo
Por outros anos se espera sem compasso no tempo
É assim que tempo passa sem ter compasso no tempo

VIII
Revolução só no compasso do seu tempo se faz
Revolução não espera pelo tempo sem compasso
Revolução é o compasso no seu tempo fugaz
Revolução é o Povo no tempo com impaciência do compasso

Cuando-Cubango,

1979
64
SAUDADE

I
Palavra que diz o passado que
queremos Que queremos porque
passou
Passou ontem, passou agora, passou
aqui Porque passou, mas ficou a saudade

II
Escravos passaram lá, passaram aqui
Passaram de Katombela, Luena Zambeze
passado Passado lá onde ninguém passou então
Passaram os pombeiros
Pombeiros que não são se não
fumbeiros Fumbeiros que hoje canto
Canto, porque também sou pombeiro

III
No ar fiou a história
Na Terra a mentira que é história
Pombeiro é hoje ladrão
Ficou fumbeiro sem história
Morreu e não morreu
Morte ficou com inimigo
Morre a morte dele
Morreram sós os que não morreram
Mesmo o Rivungo que há fumbeiros

IV
Saltaram a saudade
Esqueceram-se da saudade que
queremos Que queremos o que passou
Passou o que ficou a saudade

65
V
Colonialismo passou
Passou quem ainda é saudade
Da escravatura e do ser combatente
Saudade é para não esquecer

VI
No ar ficou a história
História nossa que o mundo sabe
Sabe e não ousa dizer a história
História do pombeiro
Que é o fumbeiro a saudade

VII
Não há adeus ao fumbeiro
Nem aos finados à honra
Nunca ninguém foi pombeiro
Nesta hora do pombeiro
Que é hoje fumbeiro

VIII
Na hora da UNITA pioneira
No luar a história
Na morte a certeza
Venceremos a saudade

Feito no Cuando Cubango em 1980.


66
A ESTRADA DA VIDA

I
A vida é uma realidade fugaz
Daquele que constrói o que faz
Na juventude fugaz e célere que se esvai
Ontem pequena tibieza fugaz
Hoje realidade da vida que constituindo se
desfaz É vida é dialéctica que se faz
É vida que viemos celebrando o que se
desfaz Vida que desfaz fazendo-se fugaz

II
No ontem despreocupado andando fugaz
No hoje realizando missão pesada que faz
É ainda juventude que na dialéctica agindo se faz
Foi nossa juventude e é nossa juventude que se
faz É juventude, é ideal, e audácia
É juventude, é ilusão e é visão
É juventude, é coragem na luta e inteligência

III
Fugindo a repressão do momento inteiro
sagaz Fugindo o arregimentamento extremo
voraz Fugindo doutrinas estranhas pelo amigo
tenaz Fugindo a amarra do barco não vaga
veloz
É o despertar da consciência de pobre
É o pensar de pobre sem alfobre
É o pobre que rompe com a corrente em que geme
67
IV
A juventude esperança nossa
Nossa que fomos também juventude nossa
Tem nossa representante nesta
Quem que da juventude faz vossa missão nossa
É idade que faz a juventude
É a juventude na luta virtude
É a juventude no desespero para o Povo o alarde

V
Juventude desgarrada o inimigo procura
Juventude tenaz na luta se procura
Juventude jovem na Direção actua
Juventude velha na trincheira se situa
Hoje é um convencido
Hoje são muitos da Direcção desconhecidos
Hoje são aqueles são aqueles da vitória convencidos

VI
O mundo dos velhos é dos jovens desconhecido
O mundo dos jovens é dos velhos conhecido
O mundo que se prolonga do velhos para os jovens destemidos É o
mundo dialéctico que da morte tira vida de muitos desconhecidos É o
mundo dialéctico que da morte tira a vida de muitos desconhecidos
Consciência é matéria de luta, consciência é da juventude a luta
Consciência é para a juventude a labuta

Feito no Kakuchi (Cuando-Cubango), aquando do aniversário natalício


Do Camarada Brigadeiro Sachipengo, aos 13 de Setembro de
1980.
68
O LEAO DA ANHARA

I
De pequena aprendeu a arte de rugir
De pequeno reconheceu na selva o viver
De pequeno aprendeu perigo desafiar
Desafiar os pequenos e os grandes
Desafiar quem seu domínio violar

II
Na lida do dia-a-dia criou astúcia
A astúcia de emboscar sempre com argúcia
Só atacar certo o primeiro com perícia
Na selva habita sua segurança

III

No tempo passado cresceu-lhe a barba No


ginasticar da vida a destreza á larga
Endureceu-lhe os músculos no ginasticar a vida
O rugido seu é grito de vitoria
Presença do leão com astúcia

IV

De pequeno aprendeu a força


Em campo aberto ou por detrás do capinzal gigante
O leão da anhara é astúcia e é força gigante O
rugido seu é grito de vitoria
É por vezes também cedência de vitória

V
Nosso pequeno leão de anhara envelheceu
No ginasticar da vida músculos destemperou

69
Ficou-lhe a astúcia e o rugido da vitória
Rugido seu que é sempre presença
Presença do leão da anhara com astúcia

VI
Chamavam-se lobos na ausência do leão da anhara
Chamavam-se ursos das estepes sem anhara
Passaram pelas anharas sem ser dono da anhara
Seu rugido velho é ainda presença
Presença inconfundível do dono das nossas anharas

Homenagem as FALA aos 27 de Novembro de 1988

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VIANDANTE DA LIBERDADE

I
Sempre a fugir e a reagir
Criando tempestade de convicções
Para na vontade do povo parar
Parar para começar a lutar

II
Viandante da Liberdade
Caminhando ao longo do tempo
Fugindo a ira e á vaidade
Para criar a vontade

III
Fugindo sem ser para o exílio
Vendendo medo e temor
Criando certezas contra rumores
Estacar, morrendo de pé como árvores

IV
Sempre a fugir para reagir
Inimigo astuto é insistente
Vontade de lutar é persistente
Só crer na unidade se é persistente

V
Viandante da Liberdade
É a porta deixada aberta
É a família sem alerta
É estarmos nós sois na ribalta

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VI
Fugindo caminhando sempre
Homens, mulheres e animais
Também fugindo a ira e a vaidade de aquém
É ser viandante sem ter ainda um além

VII
Viandante nosso é liberdade
Coragem ganha na manhã mais nova
No grito obstimado do sangue dos mortos á aurora
Do Menongue á Luanda ser apenas questão da hora.

Dedicado a memória do Major Kangawichi


tombado no dia 31 de 5 de 1981 no campo
da honra glória aos nossos heróis.
Feito no dia 1 de 6 de 1981, por Jonas Malheiro Savimbi.

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