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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL

ESCOLA DE ENGENHARIA – DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE


PRODUÇÃO E TRANSPORTES

SUPERESTRUTURA FERROVIÁRIA:
TRILHOS

Disciplina: Infra Ferro-hidro-aero-dutoviária (ENG 09030)


Prof. Letícia Dexheimer

SUPER-ESTRUTURA FERROVIÁRIA

Elementos

– Sublastro
– Lastro
– Dormentes
– Trilhos

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1. FUNÇÕES

É um perfil metálico de seção especial,


destinado a formar a pista de rolamento dos
veículos ferroviários.

Os trilhos funcionam como vigas elásticas


que servem como suportes diretos e guias
das rodas.

1. FUNÇÕES

O perfil fabricado no Brasil é denominado Vignole e é


formado por patim, alma e boleto

BOLETO

ALMA

PATIM

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1. FUNÇÕES

BOLETO: deve ser “maçudo” o suficiente para que o


desgaste não afete o Momento de Inércia da seção.

ALMA: deve possuir altura suficiente para resistir à flexão.


Quanto maior a alma, maior a distância do boleto e do patim
com relação à linha neutra da seção. Quanto mais a massa
do trilho estiver concentrada no boleto e no patim, mais
resistente este trilho será à flexão. Entretanto, deve-se
conservar uma espessura mínima na alma capaz de garantir
adequada resistência e rigidez transversal. Tal espessura
leva ainda em consideração o desgaste provocado pela
corrosão atmosférica.

1. FUNÇÕES

PATIM: não deve ser muito fino, garantindo dessa forma que
a alma continue perpendicular ao dormente (ou placa de
apoio) durante as solicitações transversais (em curvas, por
exemplo). Se não possuir espessura adequada, pode
acumular deformações permanentes ao longo da vida útil e
provocar acidentes.

Assim como na alma, a espessura de fábrica do patim deve


prever a diminuição da mesma com o tempo devido a ação da
corrosão.

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1. FUNÇÕES

O perfil Vignole tem as seguintes especificações:

+ resistência
Tipo Peso (kgf/m)
TR-68 67,56
TR-57 56,9
TR-50 50,35
TR-45 44,65
TR-37 37,11
TR-32 32,05
TR-25 24,65
- resistência

Trilho de aço = ferro (dureza) + carbono (maleabilidade)

Maior resistência no suporte de cargas = TR-68

2. PERFIL DOS TRILHOS


Vignole

MÓDULO
A B C D F G H E
TR ASCE kg/m SO X RESISTÊNCIA cm3
mm mm mm mm mm mm mm mm
BOLETO PATIM

25 5040 24,6 98,4 98,4 54,0 11,1 68,3 3,1 43,7 139,7 25,4 81,6 86,7

32 6540 32,0 112,7 112,7 61,1 12,7 68,3 3,1 50,0 139,7 25,4 120,8 129,5

37 7540 37,1 122,2 122,2 62,7 13,5 68,3 3,1 53,8 139,7 28,6 149,1 162,9

45 9020** 44,6 142,9 130,2 65,1 14,3 68,3 3,1 65,5 139,7 28,6 16 205,6 249,7
50 10025* 50,3 152,4 136,5 68,2 14,3 68,3 3,1 68,7 139,7 28,6 16 247,4 291,7
57 11525* 56,9 168,3 139,7 69,0 15,9 88,9 3,1 73,0 152,4 28,6 40 295,0 360,7
68 135 RE* 67,6 185,7 152,4 74,6 17,4 88,9 3,1 78,6 152,4 28,6 40 391,6 463,8

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2. PERFIL DOS TRILHOS

TR-25

1. FUNÇÕES

Trilho Internacional

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3. CLASSIFICAÇÃO

ASTM (American Society of Testing Materials)

• trilho n° 1: trilho de seção uniforme em todo o seu comprimento


e retilíneo, podendo apresentar defeitos julgados toleráveis;

• trilho n° 2: trilho com defeito de superfície, em tal número ou de


tal modo, que possa ser aplicado em determinadas condições de
via; ou trilho que chegou às prensas desempenadoras com
empeno maior que o indicado por uma flecha central de 1,5% do
comprimento do trilho, medida na condição mais desfavorável;
qualquer falta de identificação também caracterizará trilho desta
classificação;

• trilho X: trilho proveniente do topo do lingote, que no corpo de


prova representativo do ensaio de fratura, apresenta indícios de
trincas, esfoliações, cavidades, inclusões, estrutura brilhante ou
granulação fina.

3. CLASSIFICAÇÃO

Uso no assentamento de vias segundo a classificação

• trilhos n°° 1: podem ser assentados em qualquer via;


• trilhos n°° 2: podem ser assentados em qualquer via menos em:
a) Curva de raio inferior a 400m;
b) túnel;
c) ponte;
d) aparelho de mudança de via (AMV);
e) travessão;
f) cruzamento;
g) conexão com os aparelhos mencionados de d até f.
• trilhos X: só podem ser assentados em via acessória e como
contra-trilhos de passagem de nível, de obra de arte ou de curva.

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4. ESPECIFICAÇÃO DE FORNECIMENTO

Comprimentos e áreas da seção transversal


• o comprimento padrão dos trilhos é de 12 m;
• é possível solicitar a entrega de trilhos curtos. Neste caso o
comprimento está compreendido entre 11,7 m e 7,8 m, variando
de 30 em 30 cm;
• também é possível o fornecimento de trilhos com
comprimento de 18 m.

Tipo do trilho
Características
TR-37 TR-45 TR-50 TR-57 TR-68
Área 19.87 20.58 24.51 25.22 31.35
Boleto
% do total 42.0% 36.2% 38.2% 34.7% 36.4%
Área 9.94 13.68 14.52 19.68 23.35
Alma
Área % do total 21.0% 24.0% 22.6% 27.1% 27.1%
(cm²) Área 17.48 22.64 25.16 27.68 31.42
Patim
% do total 37.0% 39.8% 39.2% 38.1% 36.5%
Área total 47.29 56.9 64.19 72.58 86.12

5. LIGAÇÕES

Ligação dos trilhos (talas de junção)


• a ligação entre duas barras de trilho pode ser feita por
meio de talas de junção de 4 ou 6 furos ou por meio de
soldas (elétricas, a oxigênio ou aluminotérmica);
• no caso da ligação por talas, cada TR utiliza a tala de
junção (TJ) correspondente:

Massa (kg)
Tipo
4 furos 6 furos
TJ-37 9,35 14,04
TJ-45 14,03 21,09
TJ-50 15,17 22,81
TJ-57 16,48 24,71
TJ-68 17,1 25,6

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5. LIGAÇÕES

Ligação dos trilhos (talas de junção)

Tala de junção plana Tala de junção angular


Flat joint-bar Angle-bar
Eclisa plana Eclisa angular

TJ Kg E H J L J1 L1 PO K
4 6

25 5,8 139,7 139,7 95,2 609,5 22,2 28,6

32 8,4 139,7 139,7 95,2 609,5 22,2 28,6


37 9,4 14,0 139,7 139,7 95,2 609,5 108 914,5 25,4 31,7
45 14,0 21,1 139,7 139,7 95,2 609,5 108 914,5 27,0 35,7
50 15,2 22,8 139,7 139,7 95,2 609,5 108 914,5 27,0 35,7
57 16,5 25,0 152,4 181,0 61,9 609,5 61,9 914,5 27,0 35,7
68 17,1 25,6 152,4 181,0 61,9 609,5 61,9 914,5 27,0 35,7

5. LIGAÇÕES

Ligação dos trilhos (talas de junção)

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5. LIGAÇÕES

• nas ligações feitas por talas de junção, é necessária a


inserção de uma folga entre os topos dos trilhos dada da
seguinte forma:

Temperatura Folga na junta (mm)


Mínima Máxima Trilho 12m Trilho 18m
-3 10 4,8 6,35
11 24 3,2 3,97
25 38 1,5 1,5
38 - unidos unidos

5. LIGAÇÕES

Ligações nos TLS

• nas linhas onde são empregados os TLS (trilhos longos


soldados) as barras podem atingir comprimentos que vão de
estação a estação só sendo interrompidas junto aos AMV’s;

• não existe uma norma específica quanto a medida da folga


entre dois TLS consecutivos.

• é comum adotar para barra de 60 a 250 metros uma folga de


9,53mm para o intervalo de –3°C a +10°C, de 6,53mm para
+11°C a +24°C, de 2,38mm para +25°C a +38°C e topados para
temperaturas superiores a +38°C;

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5. LIGAÇÕES

Ligações nos TLS

• nos TLS a parte central não sofre nenhum movimento por


efeito da variação de temperatura;

• os TLS deverão ser tão longos quanto possível, a fim de não


só diminuir as zonas de folga, que representam pontos
instáveis, como também suprimir as talas de junção que são
pontos fracos da via;

• os TLS podem ser assentados nas tangentes e curvas de raio


maior que 500m para bitola larga e raio maior que 400m para
bitola estreita. Em linhas com dormentes de concreto é
permitido o uso de TLS em curvas com raio inferior aos
limites.

6. DIMENSIONAMENTO

• as EF adotam fórmulas para o cálculo do peso do trilho


por metro, necessário para suportar uma determinada
carga;

• uma das mais utilizadas é a que se baseia na experiência


ferroviária alemã. A expressão é a seguinte:

P×e
g = ks × kv × kd ×
4,5σ max

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6. DIMENSIONAMENTO
P × e
g = ks × kv × kd ×
4 , 5 σ max
Onde:
g é o peso do TR em kgf/m;
Ks é um coef. para as cargas estáticas, que depende do afastamento
das cargas e cujo valor é:
• 0,290 para um eixo isolado;
• 0,240 para eixos extremos;
• 0,190 para eixos intermediários;
Kv é o coef. dinâmico ( o mesmo utilizado para o cálculo da pressão
no lastro). Deve-se considerar o valor mínimo igual a 1,4;
Kd é o coef. que considera os esforços horizontais, tendo os
seguintes valores:
• 1,3 para veículos tratores;
• 1,15 para veículos rebocados;
σmax é a tensão máxima admissível do aço utilizado no trilho.

7. FIXAÇÃO DOS TRILHOS

• A fixação dos trilhos aos dormentes de qualquer tipo pode


ser executada com ou sem interposição de placas de apoio;
• As placas de apoio são peças de aço interpostas entre o
patim do trilho e o dormente, principalmente nos dormentes
de madeira, com a finalidade de distribuir melhor a carga do
trilho e, assim aumentar a sua vida útil;

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7. FIXAÇÃO DOS TRILHOS

7. FIXAÇÃO DOS TRILHOS

• A placa de apoio recebe a


sigla PA. É designada de
acordo com o trilho que irá
receber:

Dimensões (mm)
Tipo Massa (kg)
Comprimento Largura
PA-37 3,2 228,6 152,4
PA-45 3,8 254 158,8
PA-50 5,3 266,7 196,9
PA-57 8,9 330,2 196,9
PA-68 13,9 406,4 196,9

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7. FIXAÇÃO DOS TRILHOS

Fixação dos
dormentes (placa de
apoio)

Comp. Largura Peso p/ Diâmetro Nº de


Tipo
mm mm Placa Kg Furo Furos
PA-25 228,6 152,4 3,2 19 3
PA-32 228,6 152,4 3,2 19 3
PA-37 228,6 152,4 3,2 19 3/4
PA-45 254,0 158,8 3,8 19 3/4
PA-50 266,7 196,9 5,3 19 3/4
PA-57 330,2 196,9 8,9 Ø23,8 6
PA-68 406,4 196,9 13,9 Ø23,8 6

8. VIDA ÚTIL

• A vida útil é limitada pelo desgaste do trilho ou pela ruptura por


fadiga decorrente do carregamento cíclico.

• Geralmente o desgaste é o fator limitante que ocorre primeiro.

• O desgaste é decorrente da ação mecânica entre a roda e o


trilho, que podem ou não possuir a mesma dureza. A rapidez com
que surge o desgaste é função do raio das curvas e do peso da
carga transportada pelos veículos. O limite geralmente
estabelecido para o desgaste é de 25% da área total do boleto
(seção transversal).

• A fadiga é o fenômeno que leva o trilho à ruptura mesmo


quando solicitado com uma tensão menor que a de ruptura. Isso
acontece devido ao acúmulo de rearranjos dos cristais do metal
que ocorrem a cada ciclo de solicitação. As passagens
intermitentes do trem ao longo dos anos constituem um
carregamento cíclico que pode levar o trilho à ruptura por este
fenômeno.

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9. SUPERESTRUTURA FERROVIÁRIA

Trilho-guia para teste: Maglev no Japão

Trem voador Maglev levita a 10 centímetros do solo. A tecnologia deste trem


é baseada na energia magnética criada pelos grandes ímãs instalados no
trem. Os trens ultrapasam 500 km/h.

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exercícios
Uma estrada de ferro com extensão de 200km será construída em
bitola larga para escoar a produção de minério de ferro. Determine a
altura da camada de lastro necessária sob os dormentes. Faça
também a representação da seção tipo e determine o volume de
material necessário para a execução da obra.

Carga total por vagão= 119000kg


Velocidade operacional= 70km/h
Número de eixos por veículo = 4
Distância entre eixos = 2m
CBR plataforma = 18,5%
Coeficiente NS = 5,5
Soca = 40cm para cada lado do eixo dos trilhos
Ombreira 30cm
Espaçamento entre dormentes = 55cm = 1820 dorm/km
Dimensões do dormente 2,8 x 0,24 x 0,17m
Inclinação talude = 1:1,5
Fator majoração sobre a compactação = 10%

P×e
g = ks × kv × kd ×
4,5σ max
e = 55 cm (dado no exercício)
Ks = 0,24 (dado)
Kd = 1,15 (rebocado)
Sigma = 1500kg/cm² (dado) Tipo Peso (kgf/m)
TR-68 67.56
TR-57 56.9
P = 14875 kg (calculado)
TR-50 50.35
Kv = 1,4 (calculado)
TR-45 44.65
TR-37 37.11
G = 0,24*1,4*1,15*((14875*55)/(4,5*1500)) TR-32 32.05
= 46,8 kg/m TR-25 24.65

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Determine a altura da camada de lastro para um EF de bitola estreita e
350km de extensão destinada ao transporte de produtos agrícolas e
carga geral. Represente a seção tipo e determine o volume de material
necessário.

Carga total por vagão= 90.000kg


Velocidade operacional= 70km/h
Número de eixos por veículo = 4
Distância entre eixos = 1,574m
CBR sublastro = 30%
Coeficiente NS = 5,5
Soca = 30cm para cada lado do eixo dos trilhos
Ombreira 30cm
Espaçamento entre dormentes = 55cm – 1820 dorm/km
Dimensões do dormente 2 x 0,22 x 0,16m
Inclinação talude = 1:1,5
Fator majoração sobre a compactação = 10%

P×e
g = ks × kv × kd ×
4,5σ max
e = 55 cm (dado no exercício)
Ks = 0,24 (dado)
Kd = 1,15 (rebocado) Tipo Peso (kgf/m)
TR-68 67.56
Sigma = 1500kg/cm² (dado)
TR-57 56.9
TR-50 50.35
TR-45 44.65
TR-37 37.11
TR-32 32.05
P = (calculado)
TR-25 24.65
Kv = 1,4 (calculado)
G = 35,42 kg/m

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Determine a altura da camada de lastro para uma EF de bitola larga
destinada ao tráfego de trens urbanos de passageiros. O trecho tem
extensão de 50km. Também representar a seção tipo e determinar a
quantidade de material para o lastro.

Carga total por vagão= 90.000kg


Velocidade operacional= 85km/h
Número de eixos por veículo = 4
Distância entre eixos = 2m
CBR plataforma = 17%
Coeficiente NS = 5,5
Soca = 40cm para cada lado do eixo dos trilhos
Ombreira 30cm
Espaçamento dormentes = 60cm 1667 dorm/km
Dimensões do dormente 2,8 x 0,24 x 0,17m
Inclinação talude = 1:1,5
Fator majoração sobre a compactação = 10%

P×e
g = ks × kv × kd ×
4,5σ max
P = (calculado)
e = 60cm (dado no exercício)
Ks = 0,24 (dado) Tipo Peso (kgf/m)
Kv = 1,4 (calculado) TR-68 67.56
Kd = 1,15 (rebocado) TR-57 56.9
Sigma = 1500kg/cm² (dado) TR-50 50.35
TR-45 44.65
TR-37 37.11
G = 38,64 kg/m TR-32 32.05
TR-25 24.65

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CURIOSIDADES

4 pés e 8.5 polegadas

A bitola das estradas de ferro (distância entre os 2 trilhos) dos


Estados Unidos é de 4 pés e 8,5 polegadas (1,435 m).

Por que foi usado este número?

Porque era esta a bitola das estradas de ferro inglesas e, como


as estradas de ferro americanas foram construídas pelos
ingleses, esta medida foi usada.

Por que os ingleses usavam esta medida?

Porque as empresas inglesas que construíam os vagões eram


as mesmas que construíam as carroças antes das estradas de
ferro e utilizaram as mesmas bitolas das carroças.

Por que era usada a medida (4 pés e 8,5 polegadas) para as


carroças?

Porque a distância entre as rodas das carroças deveria caber


nas estradas antigas da Europa que tinham esta medida.

E por que tinham as estradas esta medida?

Porque estas estradas foram abertas pelo antigo império


romano aquando das suas conquistas, e estas medidas eram
baseadas nos carros romanos puxados por 2 cavalos.

E por que as medidas dos carros romanos


foram definidas assim?

Porque foram feitas para acomodar 2


cavalos.

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Finalmente…

O vaivém espacial americano,


o Space Shuttle, utiliza 2
tanques de combustível (SRB -
Solid Rocket Booster) que são
fabricados pela Thiokol no
Utah.

Os engenheiros que projetaram estes tanques queriam fazê-los


mais largos, porém, tinham a limitação dos túneis ferroviários
por onde eles seriam transportados, que tinham as suas
medidas baseadas na bitola da linha, que estava limitada ao
tamanho das carroças inglesas que tinham a largura das
estradas européias da época do império Romano, que tinham a
largura de 2 cavalos.

Conclusão:

O exemplo mais avançado da engenharia mundial em design e


tecnologia é baseado no tamanho do traseiro do cavalo
romano!

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