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TRANSPORTE

ANO LECTIVO 2019-20

Licenciatura em Engenharia Civil


Eng. Geremias Freire Gonçalves
DIMENSIONAMENTO DE PAVIMENTO

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Objectivo
Estabelecer os critérios de dimensionamento de pavimentos para cumprimento
harmonizado nos projectos de construção e/ou reabilitação de pavimentos,
permitindo:
• Soluções técnicas bem definidas e comparáveis;
• Garantir uma homogeneidade de níveis de serviço;
• Fixar estratégicas técnico-económicas válidas para a rede rodoviária;
• Determinar as espessuras do pavimento em função dos níveis de serviço
pretendidos, do tráfego esperado, das condições ambientais e das condições
humanas.

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Função
A principal função de um pavimento, nomeadamente o rodoviário, é oferecer uma
superfície de rolamento livre e desempenhada, destinada a permitir a circulação
de veículos em adequadas condições de segurança conforto e economia.

Definição
De acordo com a definição estabelecida na especificação do LNEC E1 de 1962,
um pavimento é a parte da estrada, rua ou pista, que suporta directamente o
tráfego e transmite as respectivas solicitações à infra-estrutura (terreno, obras de
arte etc.), pode ser constituído por uma ou mais camadas tendo, no caso geral,
uma camada de desgaste e camadas de fundação

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Constituição
Um pavimento é por conseguinte uma estrutura constituída por um conjunto de
multi-camadas colocadas sobre uma plataforma de suporte. Abaixo da plataforma,
sobre a qual assenta o pavimento, tem-se a fundação do pavimento, geralmente
constituída pelo solo de fundação e pelo leito do pavimento.

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Leito do pavimento é uma camada de material de melhor qualidade do que a dos
solos disponíveis , que é construída na parte superior dos aterros (camada de
transição entre o solo de fundação/aterro e o corpo do pavimento), que tem por
finalidade:
▪ Obter uma capacidade de suporte da fundação mais uniforme e melhorada;
▪ Assegurar uma regularidade mais perfeita da superfície de apoio do pavimento;
▪ Proteger as terraplenagens dos efeitos das intempéries
▪ Assegurar uma função drenante , sobretudo nas escavações, contrariando a
subida de água até às camadas inferiores do pavimento.
▪ Suportar a circulação do equipamento de obra na fase de execução

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Os materiais utilizados nestas camadas são geralmente constituídas por materiais
granulares, consoante os níveis de tráfego.
O tipo de materiais e a espessura das camadas de base e de ligação, subjacentes à
camada e desgaste, depende:
• Do nível do tráfego;
• Das acções climáticas,
• Da qualidade de fundação
A camada de desgaste é a camada superior da estrutura do pavimento (muitas
vezes também denominada camada de rolamento) sobre a qual são directamente
exercidas as agressões conjugadas do tráfego e do clima.
A camada de desgaste contribui ainda para a durabilidade da estrutura do
pavimento nomeadamente quando apresenta funções de estanquidade à água das
chuvas.

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Função da fundação e das camadas de um pavimento
FUNÇÃO E MECANISMO DE DEGRADAÇÃO DA FUNDAÇÃO DE UM PAVIMENTO
Fundação do Função Mecanismo de degradação
pavimento
➢ Suporte do pavimento ➢ Deformação permanente
Terreno da ▪ São as suas características que excessiva
fundação condicionam o dimensionamento ➢ Rotura dos taludes de
aterro
➢ Evitar deformação do solo
➢ Homogeneidade das
características mecânicas da
fundação Deformação permanente
Leito do pavimento
➢ Plataforma construtiva excessiva
➢ Possibilidade de compactação das
camadas sobrejacentes em
adequadas condições

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Função da fundação e das camadas de um pavimento
FUNÇÃO E MECANISMO DE DEGRADAÇÃO DAS CAMADAS DE UM PAVIMENTO
Camadas do Função Mecanismo de degradação
pavimento
➢ Proteger durante a fase
construtiva as camadas inferiores
➢ Proteger a base da subida de água
capilar ➢ Deformação permanente
Sub-Base
excessiva
➢ Drenagem interna do pavimento
➢ Camada estrutural
➢ Resistência à erosão
➢ Deformação permanente
excessiva (materiais não
tratados)
➢ Camada estrutural ➢ Fendilhamento por fadiga
Base ➢ Degradação das cargas induzidas (materiais tratados com
pelo tráfego ligantes)
➢ Fendilhamento térmico
(materiais tratados c/
ligantes hidráulicos)

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Função da fundação e das camadas de um pavimento
FUNÇÃO E MECANISMO DE DEGRADAÇÃO DAS CAMADAS DE UM PAVIMENTO
Camadas do Função Mecanismo de degradação
pavimento
➢ Desgaste provocado pela
acção do tráfego em
condições climáticas
➢ Deformação permanente
➢ Adequada circulação do tráfego em condições excessivas de
com conforto e segurança temperatura e tráfego
Desgaste ➢ Drenagem ou impermeabilização ➢ Fendilhação por ascensão
➢ Distribuição das tensões das fendas das camadas
induzidas pelo tráfego subjacentes
➢ Fendilhação por fadiga
devida a uma má aderência
à camada subjacente
➢ Fendilhamento termico

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Tipos de pavimentos
É usual considerar-se os seguintes três tipos de pavimentos, em função dos
materiais utilizados na sua composição.
1.Pavimento flexível, no qual a(s) camada(s) superior(es) são em misturas
betuminosas, sendo a(s) camada(s) subjacente(s) à(s) betuminosa(s) e
sobrejacente(s) ao leito do pavimento em materiais granulares;

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Tipos de pavimentos
2.Pavimento semi-rígido, no qual a(s) camada(s) superior(es) são em misturas
betuminosas, sendo a(s) camada(s) subjacente(s) à(s) betuminosa(s) e
sobrejacente(s) ao leito do pavimento em materiais granulares tratados com
ligantes hidráulicos, com uma importante influencia na capacidade de carga do
pavimento;

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Tipos de pavimentos
2.Pavimento rígido, no qual a camada de desgaste é constituída por um betão de
cimento de elevada resistência

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Materiais a empregar em pavimentação
Podem referir-se os seguintes materiais:
I. Solos (quer os de fundação, abaixo da plataforma do pavimento, quer os
empregues em camadas se sub-base)
II. Misturas de agregados não tratados, denominado por agregado britado de
granulométria extensa (ou continua) - AGE;
III. Misturas com ligantes betuminosos, entre os quais o macadame betuminosos,
a mistura betuminosa densa, o betão betuminosos, o betão ou micro betão
betuminoso rugoso, entre outros.
IV. Misturas com ligantes hidráulicos , entre os quais o solo-cimento, o betão
pobre, o agregado britado de granulométria extensa tratado com cimento
(AGEC) e o betão de cimento.

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Dimensionamento de pavimentos Consiste em:

– calcular as espessuras das camadas

– especificar as características dos materiais dessas camadas por forma a limitar,


durante a vida de projecto, a ocorrência de degradações.

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Manual de Concepção de Pavimentos
para a Rede Rodoviária Nacional (JAE, 1995)

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INDICE

Recolha e sistematização dos dados

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Definição das estruturas de pavimento possíveis

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Objetivo do manual

Apoiar e orientar a conceção das infraestruturas de pavimento e respetivas


fundações, a adotar na construção de novas infraestruturas rodoviárias.

Estrutura do pavimento

Para definir a estrutura do pavimento torna-se necessário dispor de dados


relativas a:

• Tráfego

• Condições climáticas

• Condições de fundações

• Materiais de pavimentação

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Tráfego

Para o dimensionamento dos pavimentos rodoviários apenas é considerado o


efeito do tráfego de veículos pesado.

Veículo pesado:
Veículo de peso bruto igual ou superior a 3 tf
Classes:
F, G, H, I, J e K (IEP)

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Para efeito de dimensionamento, considera-se o trafego médio diário
anual de veículos pesados no ano de abertura, por sentido de
circulação, na via mais solicitada por estes veículos (TMDAp)

A verificação da capacidade de carga dos pavimentos é feita com base no numero


acumulado de veículos pesados que se prevê irão circular sobre o pavimento
durante aquele período, considerando-se:

• O trafego médio diário anual de veículos pesados no ano de abertura;


• O período de dimensionamento;
• A taxa média de crescimento anual de veículos pesados no período de
dimensionamento;
• A distribuição de tráfegos pelas vias existentes num dado sentido.

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TRAFEGO MÉDIO DIÁRIO ANUAL DE VEÍCULOS PESADOS

O valor do trafego médio diário anual de veículos pesados, a considerar como


dado para o dimensionamento, refere-se ao ano de abertura e à vias mais
solicitada. O seu valor deve ser obtido a partir de um estudo de tráfego.
Quadro 2.1 – Classes de tráfego

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DISTRIBUIÇÃO DO TRÁFEGO PESADO PELAS VIAS

A circulação do tráfego pesado, se faça predominantemente na via situada mais à


direita, podendo repartir-se pelas diversas vias existentes num dado sentido, caso
exista mais do que uma.
No caso de duas ou mais vias no mesmo sentido poderão considerar-se as
percentagens indicadas no quadro 2.2, para a via mais solicitada.
Quadro 2.2 – Percentagem de tráfego na via mais solicitada

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PERÍODO DE DIMENSIONAMENTO. PERÍODO DE ANÁLISE DE PROJETO

O dimensionamento de um pavimento visa assegurar adequadas condições de


circulação do tráfego durante um dado período (período de
dimensionamento), minimizando a necessidade de obras de conservação nesse
período.

Quadro 2.3 – Período de dimensionamento

Para as classes de tráfego T5, T6 e T7, os periodos de dimensionamento podem


ser inferiores aos indicados no quadro, podendo adotar-se um valor entre 10 a 15
anos.
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TAXA DE CRESCIMENTO ANUAL

A avaliação da taxa de crescimento anual do tráfego pesado deve ser realizada


com base em estudo específico, onde sejam ponderados os diversos aspetos
condicionantes da sua evolução ao longo do período de dimensionamento.

Para as diferentes classes de tráfego, e em situação onde não se disponha de


estudo especifico, considera-se taxas geométrica médias anuais de crescimento,
durante o período de dimensionamento, de 3, 4 e 5%, de acordo com o quadro
2.4
Quadro 2.4 – Taxa média de crescimento anual

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FATOR DE AGRESSIVIDADE

Para exprimir o efeito de um dado número acumulado de passagens de veículos


pesados com características muito diversas faz-se a sua conversão em passagens
equivalente de um eixo padrão, adotando para tal fatores de agressividade,
cujo valores são definidos no presente manual em função do tráfego médio diário
anual de veículos pesado no ano de abertura, por sentido a na via mais solicitada.
(TMAD)P
Quadro 2.5 – Factores de agressividade do tráfego

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NUMERO ACUMULADO DE EIXOS PADRÃO

Tendo em conta os valores admitidos para a taxa média de crescimento anual e


para o fator de agressividade, o tráfego acumulado de eixos padrão durante o
período de dimensionamento, corresponde às varias classes de trafego e é dado
por:

𝟏+𝒕 𝒑−𝟏
𝑵𝒅𝒊𝒎,𝟖𝟎 =∝× 𝟑𝟔𝟓 × 𝑻𝑴𝑫𝑨 𝒑 ×
𝒕

Onde:
Ndim é o numero acumulado de passagens do eixo padrão
t é a taxa média de crescimento anual do tráfego pesado
α é o fator de agressividade do tráfego
p é o período de dimensionamento

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Consideração do tráfego no dimensionamento

𝑁𝐴𝑉𝑃 = 365 × 𝑇𝑀𝐷𝐴 𝑝 ×𝐶×𝑝

Factor de crescimento de tráfego


1+𝑡 𝑝−1
𝐶=
𝑝×𝑡

1+𝑡 𝑝−1
𝑁 𝑑𝑖𝑚 =∝× 365 × 𝑇𝑀𝐷𝐴 𝑝 ×
𝑡
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Quadro 2.6 – Elementos relativos ao tráfego

𝑑𝑖𝑚
𝑁80 - número acumulado de eixos padrão de 80 kN
30 𝑑𝑖𝑚
𝑁130 - número acumulado de eixos padrão de 130 kN
Fundação
Fundação do pavimento – camada de leito do pavimento mais terrenos
subjacentes que condiciona o seu comportamento.

Para o efeito de dimensionamento devem analisar-se as características dos


terrenos até à profundidade de 1 metro

Quadro 4.1 – Classes de fundação

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Quadro 4.2 – Classes de terrenos de fundação

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Quadro 4.3 – Características das classes de terrenos de fundação

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Quadro 4.5 – Classes de solos tratados

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Quadro 4.6 – Camada de leito em materiais não ligados

35 (As espessuras são dadas em cm)


Quadro 4.7 – Camada de leito em materiais tratados com ligantes hidráulicos

36 (As espessuras são dadas em cm)


CBR - índice CBR do terreno situado sob o leito do pavimento, até à
profundidade de 1m
Ef - modulo de deformabilidade da fundação do pavimento (incluindo a camada de
leito na espessura indicada no quadro
(1) - (Caso em que não há leito do pavimento individualizado) Em escavação deve
ser escarificada e recompactada na profundidade necessária à garantia de
uma espessura final de 30 cm bem compactada: em aterro as condições
de fundação estão garantidas
Nota: em escavação em rocha, e tendo em vista uma fundação do tipo F4, é
necessário realizar uma regularização em material pétreo devidamente
compactado com cilindro de pneus, e colocar uma camada do mesmo tipo
de material com a espessura mínima de 15 cm

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Estruturas tipo
BASE BETUMINOSA MATERIAIS:
BD – betão betuminoso em
camada de desgaste
MB – macadame betuminoso
em camada de regularização
MBD – mistura betuminosa
densa em camada de
regularização
SbG – material britado sem
recomposição (tout-venant)
aplicado em camada de sub-
base

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Estruturas tipo
BASE GRANULAR
MATERIAIS:
BD – betão betuminoso em
camada de desgaste
MB – macadame betuminoso
em camada de regularização
MBD – mistura betuminosa
densa em camada de
regularização
BG – base granular
SbG – material britado sem
recomposição (tout-venant)
aplicado em camada de sub-
base

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Perfil transversal
Variações de espessuras admissíveis, de acordo com o tipo de pavimento e a
natureza dos materiais das camadas.

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Condições climáticas
As condições ambientais são, um fator importante no dimensionamento,
condicionando os trabalhos de construção e conservação dos pavimentos, e
também a segurança da circulação rodoviárias.

No que diz respeito ao dimensionamento, as condições climáticas afetam as


propriedades mecânicas dos materiais, constituem, no caso de pavimentos
rígidos e semi-rígidos, uma solicitação a considerar no dimensionamento.

Fatores climáticos que mais influenciam o comportamento dos


pavimentos

• Fatores térmicos
• Fatores hídricos

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Condições climáticas
• Fatores hídricos

As condições hídricas afetam o estado da humidade das camadas granulares e


do solo de fundação, e condicionam deste modo o seu comportamento
mecânico.

• Fatores térmicas
Nos pavimentos flexíveis, as condições térmicas afetam as propriedades
mecânicas das misturas betuminosas. Nos pavimentos rígidos e semi-rígidos, a
variação diária e anual da temperatura pode levar ao enfunamento das camadas
de desgastes (pavimentos rígidos), e contribuir para a propagação de fissuras
(pavimentos semi-rígidos)

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Condições climáticas
No manual, considera-se a influencia da temperatura nas propriedades das
misturas betuminosas, designadamente o efeito de temperatura elevadas na
evolução das deformações permanentes resultante da ação do tráfego.

No caso de Portugal o país se encontra dividido em três zonas (temperada


média e quente) em função das temperaturas máximas que ocorrem no período
estival.

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Condições climáticas
No quadro seguinte apresenta –se a classe de betume de destilação a empregar
em misturas betuminosas a quente em cada zona climática, função do tipo de
camada do pavimento e do nível de trafego.

a. Em camadas de desgaste – 60/70


b. Em camadas de regularização e de base:

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Condições climáticas
Para as classes de tráfego T1, T2 e T3 e sempre que se verifique a existência de
trechos com inclinação longitudinal superior a 5%, deverão ser utilizados
betumes da classe 40/50, independentemente da zona.

Para as classes de tráfego T5, e T6 e para as zonas térmicas temperada a média,


poderão ser utilizados betumes da classe 180/200.

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REFERENCIA BILBIOGRÁFICAS

LNEC – “Vocabulário de estradas e aeródromos” – Especificação E1 do LNEC. Lisboa 1962.

LCPC/SETRA - “Conception et Dimensionnemant des Strutures de Chaussée. Guide Technique”. Paris, Dezembre de 1994.

MINISTÉRIO DE FOMENTO – “Secciones de Firme. Instrucción de Carreteras. Norma 6.1 IC”. Madrid, Novembro de 2004.

MINISTÉRIO DE FOMENTO – “Rehabilitación de Firmes. Instrución de Carreteras. Norma 6.3 IC”. Madrid, Novembro de 2003.

AASHTO – “AASHTO Guide for designe of Pavement Strutures”, American Association of State Highway and transportation
Officials, Washington; D.C. 1993.

AASHTO – “Supplement to the AASHTO Guide for designe of Pavement Strutures. Part II, - Rigid Pavement Design & Rigid
Pavement Joint Design”, American Association of State Highway and transportation Officials, Washington; D.C. 1998.

SCETAUROUTE – “ Manuel de Conception des Chausées D`Autoroutes”. Paris, 1997.

SHELL – “Shell Pavement Manual. Asphalt Pavement and Overlays for Road Traffic”. Shell International Petroleum Company Ltd,
London, 1978.

ULLIDTZ, PER – “Pavement Analysis”, Elsevier Science. New York, USA, 1987.

ULLIDTZ, P.; PEATTIE, K. – “Programmable Calculators in the Assessment of Overlays and Maintenance Strategies”. Proceedings,
3rd International Conference on the Strutural Design of Asphalt Pavement. Delft, The Netherlands, 1892.

HUANG, YANG – “Pavement Analysis”, Second Edition. Pearson Education, Inc. University of Kentucky, USA, 2004.

BARDESI, A. – “Baes de Alto Módulo”. Jornadas Sobre Mezclas de Alto Módulo, CEDEX e Centro de Investigacio Elpidio Sánchez
Marcos, Madrid, 1994.

MCPPRRN – “Manual de Concepção de Pavimentos Para a Rede Rodoviária Nacional” (Jae 1995)

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