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PORTUGAL
O COMBATE AO BRANQUEAMENTO DE
CAPITAIS, FINANCIAMENTO DO TERRORISMO
E PROLIFERAÇÃO DE ARMAS DE
DESTRUIÇÃO EM MASSA
Índice
ENQUADRAMENTO ............................................................................................................. 3
VERTENTE PREVENTIVA.................................................................................................... 9
ANEXOS ............................................................................................................................. 44
2
Separata ao artigo publicado na revista InforBanca 117 / outubro 2019: Governance internacional no corporate governance – closing the fence to besiege crime
ENQUADRAMENTO
A perspetiva apresentada – apesar de ter por base o quadro legal – tem o foco no impacto
na ciência da gestão e administração das organizações públicas e privadas. Reflete sobre
o novo paradigma no combate ao branqueamento de capitais (BC), ao financiamento do
terrorismo (FT) e ao financiamento à proliferação de armas de destruição em massa (ADM)
[BC-FT-ADM] (“Regulations regarding Anti-Money Laundering (AML), Counter Terrorism
(CT), and financing the Proliferation of Weapons of Mass Destruction (WMD)”), que em
Portugal está refletido na Lei nº 83/2017, de 18 de agosto, que transpõe parcialmente as
Diretivas Europeias 2015/849/EU e 2016/2258/EU.
Este artigo discute de forma resumida, alguns aspetos relevantes do combate ao BC-FT-
ADM criminalidade em Portugal e apresenta o resumo de temas considerados pelos autores
mais relevantes para reflexão, como contributo para a melhoria dos processos e estruturas
de governance das entidades obrigadas públicas e privadas envolvidas.
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BC- consiste na transformação, por via de atividades criminosas, que visa a dissimulação da origem ou do proprietário
real dos fundos, dos proventos resultantes de atividades ilícitas, em capitais reutilizáveis nos termos da lei, dando-
lhes uma aparência de legalidade. Disponível em:
https://www.cmvm.pt/pt/CMVM/branqueamento/Pages/O-que-e_bcft.aspx
2
FT e ADM - consiste em toda e qualquer forma de facilitar meios financeiros e outros recursos a atividades terroristas
individuais ou coletivas, o qual está interligado ao terceiro conceito relativo ao financiamento à proliferação de armas
de destruição em massa (ADM), o FATF define a como a transferência e exportação de NRQB – Armas Nucleares,
Radiológicas, Químicas ou Biológicas, as respetivas formas de entrega e materiais relacionados. A proliferação pode
assumir diversas formas, envolvendo comumente a transferência ou exportação de tecnologia, bens, software,
serviços ou conhecimentos que possam ser utilizados em programas que envolvam armas NRQB, e sistemas de
entrega ainda podendo envolver tecnologia sofisticada – como no caso de mísseis – ou dispositivos simples.
Disponível em:
www.fatf-gafi.org/publications/fatfrecommendations/documents/guidance-counter-proliferation-financing.html e FATF
(2012-2019), International Standards on Combating Money Laundering and the Financing of Terrorism & Proliferation,
FATF, Paris, France, www.fatf-gafi.org/recommendations.html
3
Ver http://www.portalbcft.pt/pt-pt/content/miss%C3%A3o
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Serve ainda de mecanismo de ação comum contra crimes que incluem a corrupção, tráfico,
evasão fiscal e o terrorismo, crimes que têm subjacente o movimento de capitais e bens
qualificados como ilícitos, dada a forma [ilícita] como foram gerados ou obtidos, circulando
normalmente no denominado sistema informal até serem sub-repticiamente e de forma
sofisticada integrados no sistema formal.
4
Ver https://dre.pt/pesquisa/-/search/108021178/details/maximized
5
Lei nº 83/2017, Capítulo XII- Regime Sancionatório, Secção II-Ilícitos Contraordenacionais, Artº 169 –
Contraordenações
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uif.comunicaçoes@pj.pt
7
uai.dciap@pgr.pt
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UIF e DCIAP
Nacional e Internacional
Vertente sancionatória
e criminal
Autoridades Judiciárias,
Policiais e Tributária
VERTENTE SANCIONATÓRIA-CRIMINAL
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Foi ainda criado o Grupo Egmont de UIF – Unidades de Informação Financeira (FIU – Financial Intelligence Units)
com o objetivo de constituir um fórum das UIF’s mundiais com o fim de, confidencialmente, trocar informações para
combater a BC-FT-ADM, bem como outros delitos comuns. https://egmontgroup.org/en
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Lei nº 83/2017, Capítulo XII- Regime Sancionatório, Secção II-Ilícitos Contraordenacionais, Artº 169 –
Contraordenações e na secção III, Artº 183 ilícitos disciplinares
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Lei nº 83/2017, Capítulo XII- Regime Sancionatório, Secção II-Ilícitos Contraordenacionais, Artº 170 – Coimas e
Artº 172 sanções acessórias
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Quanto aos indivíduos que praticam o crime11 BC-FT-ADM, o enquadramento das suas
penas encontra-se no âmbito do Código Penal, sendo que o bloqueio e apreensão dos bens
e capitais, entre outros que estejam relacionados com o crime é a penalização imediata,
mas a moldura penal incluí também, no caso do crime de BC, uma pena de prisão entre 2 a
12 anos e no caso do crime de FT uma pena de prisão de 8 a 15 anos.
O Relatório FATF 2017 sobre a avaliação de Portugal12 para o período de 2012 – 2016,
conclui que na vertente sancionatória apresenta eficácia nos resultados, revelando um nível
elevado de compreensão do fenómeno BC-FT-ADM. Os resultados na vertente criminal
revelam que, apesar do aumento do reporte de suspeitas à UIF e DCIAP (STR – Suspicious
Transactions Reporting), a taxa de confirmação da suspeita decresceu de 16% em 2012
para 6 % em 2016. Relativamente à aplicação de coimas e sanções às entidades obrigadas
pelas autoridades sectoriais respetivas, foram aplicadas coimas num valor total de €4,8
milhões, sendo que 99% destas foram aplicadas pelo Banco de Portugal e pela CMVM. O
Banco de Portugal, neste período aplicou coimas e entidades financeiras no valor de €1
milhão e a pessoas individuais do setor financeiro num valor de €712 mil.
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Por criminosos entende-se neste contexto, os branqueadores de capital, corruptos, terroristas, traficantes de
armas, droga ou de pessoas e/ou de materiais perigosos, evasores fiscais, especuladores e promotores de
instabilidade económica e financeira.
12
FATF (2017), Anti-money laundering and counter-terrorist financing measures - Portugal, Fourth Round Mutual
Evaluation Report, FATF, Paris.
www.fatf-gafi.org/publications/mutualevaluations/documents/mer-portugal-2017.html
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VERTENTE PREVENTIVA
Há cinco conceitos base relevantes16 para uma reflexão sobre a evolução do combate a este
crime – sofisticado. Os dois primeiros são o conceito de branqueamento de capitais (BC) e
de financiamento do terrorismo (FT), respeitando o terceiro à proliferação de armas de
destruição em massa (ADM). O quarto é o de beneficiário efetivo (BEF), o qual está
intimamente ligado aos conceitos de KYC – Know Your Customer e de PEP – Politically
Exposed Person, sendo o quinto o de SPV – Special Purpose Vehicles17, que serve de
escudo de ‘proteção legal’ (shield) ao BEF.
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Teodora de Castro & Duarte Pitta Ferraz (2018). “Fit and Proper – Evitar um Cisne Negro ou há um Elefante na Sala”?
InforBanca, Instituto de Formação Bancária, nº 114 – Novembro 2018.
14
PEP - A Lei nº 83/2017, define como «as pessoas singulares que desempenham, ou desempenharam nos últimos 12
meses, em qualquer país ou jurisdição, sendo que a família próxima, ascendentes e descentes em 1º grau passam
também a qualificar-se como PEP
15
BEF - A Lei nº 83/2017A como a pessoa individual que, em última análise, possui ou controla um cliente, sociedade,
entidade e/ou aquele em cujo nome uma transação é conduzida. Inclui as pessoas que exercem controlo efetivo sobre
uma pessoa ou entidade ou sobre um acordo legal.
16
Conceitos definidos no artigo da revista Inforbanca nº117 (out.2019). O Governance Internacional no Corporate
Governance - Closing the Fence to Besiege Crime, dos autores Teodora de Castro e Duarte Pitta Ferraz
17
SPV – Special Purpose Vehicle, relativo às estruturas jurídicas formais utilizadas para a criação de sociedades de
fronting, que lhes atribui uma vertente de credibilidade legal, apesar do seu objetivo, nos casos criminalizados por
esta lei, ser ainda mais sofisticado, montando SPV’s (sociedades, fundos de investimento) em cadeia e cascata.
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ENTIDADES OBRIGADAS
No âmbito de aplicação da Lei nº 83/2017 são identificadas as entidades sujeitas (entidades
obrigadas), suas as obrigações e deveres que, se incumpridas geram na sua maioria, os
ilícitos contraordenacionais referidos na vertente sancionatória, bem como e as obrigações
e deveres que os supervisores e reguladores (autoridades setoriais) têm.
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OCDE (2019). A Governance Pública relaciona-se coma governance regulatória e estado de direito, a estrutura da
reforma regulatória, a coordenação entre governos, análise de impacto regulatório (RIA), o processo de consulta
pública, a simplificação da carga administrativa, a integridade do setor público, normas internacionais e legislação
nacional, bem como a fiscalização, mecanismos de revisão e iniciativas internacionais.
Disponível em: http://www.oecd.org/investment/toolkit/policyareas/publicgovernance/
OCDE (2019). A OECD defende que objetivo da governança corporativa [Corporate Governance] é ajudar a construir
um ambiente de confiança, transparência e responsabilização necessárias para promover a investimento, estabilidade
financeira e integridade comercial, apoiando crescimento mais forte e sociedades mais inclusivas. Disponível em:
https://www.oecd-ilibrary.org/docserver/9789264236882
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FATF (2017), Anti-money laundering and counter-terrorist financing measures - Portugal, Fourth Round Mutual
Evaluation Report, FATF, Paris www.fatf-gafi.org/publications/mutualevaluations/documents/mer-portugal-2017.html
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As atividades das Entidades Não Financeiras alvo das obrigações e deveres incluem atos
societários (e.g., constituição de sociedades, ou outras pessoas coletivas ou centros de
interesses coletivos sem personalidade jurídica); Fornecimento de sedes sociais, endereços
comerciais, administrativos ou postais ou de outros serviços relacionados a eventos de
gestão de entidades coletivas (e.g., prestação de outros serviços conexos de representação,
gestão e administração a sociedades, outras pessoas coletivas ou centros de interesses
coletivos sem personalidade jurídica), a prestação de serviços aos membros de órgãos
sociais, acionistas e sócios de sociedades, bem como de estruturas fiduciárias (e.g.,
desempenho de funções de administrador, secretário, sócio ou associado de uma sociedade
ou de outra pessoa coletiva, bem como execução das diligências necessárias para que outra
pessoa atue das referidas formas); desempenho de funções de administrador fiduciário
(trustee) de um fundo fiduciário explícito ou similar num centro de interesses coletivos sem
personalidade jurídica; Intervenção como acionista fiduciário por conta de outra pessoa
(nominee shareholder) que não seja uma sociedade cotada num mercado regulamentado.
No final deste artigo apresentamos quadros síntese de atividades e atos profissionais, por
setor, vulneráveis ao BC-FT-ADM, que nos parecem úteis por refletirem o histórico de
situações que já levaram ao crime.
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O planeamento fiscal agressivo força ativamente os limites do permitido no espírito da lei ou pela lei, incluindo o
alargamento do conceito de uma definição ou termo na legislação, com o objetivo de identificar vazios jurídicos ou
mesmo envolvendo a preparação de um modelo que mascare a realidade.
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Desde logo a Lei nº 83/2017 estabelece que as Entidades Obrigadas têm em comum 10
deveres gerais: dever de controlo, identificação e diligência, comunicação, abstenção,
recusa, conservação, exame, colaboração, não divulgação e dever de formação.
A violação dos 10 deveres gerais e comuns a que estão sujeitas todas as entidades
obrigadas e as autoridades sectoriais enquadra-se na matriz de coimas e sanções
apresentada na vertente sancionatória. Dentro destas as infrações na própria entidade e em
terceira entidade, sendo nestas situações aplicáveis a pessoas coletivas ou entidades
equiparadas e a pessoas singulares. Nas entidades financeiras, os montantes das coimas
oscilam entre €12,5 milhões e €5 milhões e, nas entidades não financeiras entre €2,5
milhões e €1 milhão. De salientar a especial responsabilidade dos órgãos sociais como
coletivo e dos seus membros em termos individuais no cumprimento dos deveres
especificados na Lei nº 83/2017.
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CMVM (2019). Em 29 de agosto de 2019, a CMVM informou da falta de transparência da participação qualificada
imputada às entidades High Seas Capital Investments, LLC, High Bridge Unipessoal, Lda e Blackhill Holding Limited,
LLC no capital social da Pharol, SGPS, SA" sendo que "(...) fica imediata e automaticamente suspenso o exercício do
direito de voto e dos direitos de natureza patrimonial (...) inerentes à participação qualificada em causa, explicando
que a decisão assenta no facto de "atentos os elementos recolhidos em sede de supervisão, se verificar não se
encontrarem devidamente identificados os beneficiários efetivos (`Ultimate Beneficial Owners’) (...)".
Disponível em: www.cmvm.pt
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Para que possam dar cumprimento às cinco obrigações referidas, as Entidades Obrigadas
têm os seguintes direitos: estão autorizadas a realizar o tratamento de dados pessoais com
a finalidade exclusiva de prevenção do BC-FT-ADM, não podendo tais dados ser
posteriormente tratados para outros fins, adotar medidas de segurança de natureza física e
lógica para assegurar a efetiva proteção da informação e dados pessoais tratados,
assegurando a eliminação dos dados assim que decorram os prazos de conservação.
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Do ponto de vista dos fatores de risco inerentes ao produto, serviço, operação ou canal
de distribuição que permitem a aplicação de medidas simplificadas estão incluídos por
exemplo para a entidades financeiras: os contratos de seguro vida e fundos de pensões ou
produtos de aforro cujo prémio anual seja reduzido, contratos de seguro associados a planos
de pensão desde que não sejam resgatáveis ou possam ser utilizados como colateral,
regimes de pensão e planos complementares com contribuições efetuadas mediante
dedução nos salários e cujo regime vede aos beneficiários a possibilidade de transferência
de direitos, e produtos ou serviços financeiros que aumentem a inclusão financeira. A
aplicação de medidas agravadas no cumprimento dos seus deveres e obrigações incluem
produtos ou operações suscetíveis de favorecer o anonimato, pagamentos recebidos de
terceiros desconhecidos ou não associados com o cliente ou com a atividade, produtos
novos e práticas comerciais, incluindo novos mecanismos de distribuição e métodos de
pagamento, bem como a utilização de novas tecnologias ou tecnologias em
desenvolvimento. Finalmente, produtos em que os riscos de BC-FT-ADM são controlados
por fatores, como a transparência da titularidade, certos tipos de moeda electrónica e
moedas virtuais.
22
Lei 83/2017 nos 3 anexos apresenta listas de operações, Lista não exaustiva dos fatores e tipos indicativos de risco
potencialmente mais baixo, Lista não exaustiva dos fatores e tipos indicativos de risco potencialmente mais elevado,
em acréscimo às situações especificamente previstas na presente lei.
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AUTORIDADES SETORIAIS
A lei é clara na atribuição de sete deveres, obrigações e do poder sancionatório das
entidades setoriais – Reguladores e Supervisores – na sua vertente preventiva. Incluem os
deveres de capacitação dos recursos, de reporte, de formação, de segredo, de fiscalização,
de comunicação e de Fit & Proper. Têm a obrigação de verificar e adotar medidas para
assegurar o cumprimento, pelos seus membros, dos 10 deveres e 5 obrigações previstas
na Lei nº 83/2017. As Ordens Profissionais são equiparadas a autoridades setoriais,
designadamente nos poderes que lhes são conferidos e na necessidade de se dotarem de
recursos financeiros, humanos e técnicos para esse fim. Relativamente aos Supervisores e
Entidades Obrigadas Não Financeiras que tenham sede em território nacional, são de
salientar as entidades que supervisonam e/ou inspecionam entidades que tenham potencial
para servir de ‘plataforma’ à movimentação de capitais, bens tangíveis e intangíveis de valor
material, com origem em atividades criminosas, e que vulneráveis ao risco da sua introdução
no sistema formal.
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De relevar a especial responsabilidade junto dos seus membros na definição dos critérios a
adotar no modelo de risco e classificação de risco dos clientes do setor, alinhada com a
abordagem de risco nacional (ARN), que contempla riscos mínimos comuns e riscos
específicos dos setores. Os riscos mínimos comuns a considerar incluem os riscos
geográfico, de cliente e do produto/serviço, atividade e tipo de transação, a classificar como
baixo, medio e alto. A matriz é transversal aos três riscos, e exige a explicação dos critérios
de risco e sua probabilidade, frequência e intensidade, devendo classificar o perigo e
vulnerabilidade a BC-FT-ADM que cada entidade apresenta, bem como o plano de ação
para a sua mitigação e monitorização. A figura seguinte mostra a matriz resultante destas
exigências.
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BIS (2012). Core Principles for Effective Banking Supervision. Disponível em: https://www.bis.org/publ/bcbs230.pdf
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Contudo, a abordagem penal não deve ser a única estratégia para combater o BC-FT-ADM.
Após duas décadas, os pressupostos das diretivas demonstram que o mecanismo de
combate ao crime através de processo legislativo que envolve a maioria das entidades
vulneráveis, promove a educação e consciencialização sobre as atividades de BC-FT-ADM,
tanto nas atuais como nas futuras gerações, e a eficácia sobre a criminalidade relacionada.
De salientar os desafios que se colocam, em especial aos órgãos sociais como coletivo e
dos seus membros em termos individuais, no cumprimento dos 10 deveres gerais e comuns
a que estão sujeitas todas as entidades e autoridades sectoriais, especificados na Lei nº
83/2017. Estes desafios envolvem a necessidade de restruturação do quadro de governance
das instituições, da alteração da cultura de risco, da formação do talento necessário à
aplicação da lei e à montagem de processos e sistemas robustos baseados numa plataforma
de informática eficaz e robusta que permita controlar volumes significativos de operações e
informação.
Daqui que se evoluiu para uma cultura preventiva estabelecendo e exigindo o cumprimento
de deveres desta vertente preventiva. É adotada uma abordagem de risco, desenvolvendo
uma cultura de Compliance, de mitigação de risco que constituem parte integrante do
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O Risco tem duas vertentes: uma oportunidade de ganho, outra evitar uma perda, logo é
uma escolha e não um destino. Para melhor entendimento do conceito de risco global,
podemos recorrer à teoria do «world risk» de Beck25 (2006) que considera que os riscos
globais são a expressão de uma nova forma de interdependência global, não podendo ser
abordada adequadamente apenas por recurso à política nacional mas obriga a cooperação
internacional. O risco global tem três características: a deslocalização, a dificuldade ou
impossibilidade de quantificação e a não-compensabilidade. A primeira está ligada a causas
e consequências que, em princípio, são omnipresentes não estando limitadas à localização
geográfica. A segunda caraterística refere-se às consequências que são, frequentemente,
não quantificáveis, pois têm por base riscos hipotéticos baseados em indução do
desconhecido e dissidência normativa. E a terceira respeita ao facto da prevenção se
sobrepor à compensação, pois a precaução é a forma de prevenir, dado estarmos perante
riscos hipotéticos e, portanto, cuja existência não foi provada. Não há cálculo de risco
baseado em experiências passadas porque o crime não segue rotinas repetitivas, o risco
constitui um moving target e uma das causas da interdependência entre todos, nesta época
de e-lifestyle.
24
Uma das principais diferenças é a abordagem conceptual, pois a característica inerente a uma estrutura principles-
based approach é o potencial para diferentes interpretações numa transação semelhante, contrariamente à rule-
based approach que deixa menos espaço para interpretação.
25
Beck, U. (2006). Living in the world risk society. R.U.: Routledge
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Isabella Arndorfer e Andrea Minto (2015). Occasional Paper Nº 11, “The “four lines of defence model” for financial
institutions. Financial Stability Institute.
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de transações. Estão sob teste às suas capacidades de defesa também a 3ª linha onde se
situa a auditoria interna e 4ª linha relativa aos órgãos socais, auditores externos e a
reguladores e supervisores, que devem assegurar que os quadros de governance (GF –
Governance Framework), risco e de controlo interno (ICF – Internal Control Framework) da
organização que garantem aos órgãos sociais e de fiscalização, nomeadamente aos
administradores não executivos que têm responsabilidades pela supervisão dos
administradores executivos. O papel da 4ª linha de defesa, relativo à relação e envolvimento
– que assume frequentes vezes uma intensidade elevada – dos membros dos órgãos sociais
com os auditores externos, reguladores e supervisores, é crítico neste processo, pois deve
assegurar que os quadros de governance (Governance Framework), de risco (Risk Apetitte
Framework) e de controlo interno (ICF – Internal Control Framework) da organização
garantem aos órgãos sociais e de fiscalização, especificamente aos administradores não
executivos, que têm responsabilidades pela supervisão dos administradores executivos27,
uma base robusta para o exercício dos deveres e obrigações que lhes estão cometidos.
Há numerosos exemplos de casos mediáticos na última década que provam que tanto os
terroristas, corruptos, traficantes e evasores fiscais, são criminosos considerados pessoas
sofisticadas, educadas, com graus elevados de qualificação académica, com poder
tecnológico, elevados níveis de vida, integrados ou facilmente aceites na sociedade e
pertencentes a elites que abordam diretamente membros dos órgãos sociais executivos das
organizações com o objetivo de concretizarem negócios e transações. Esses membros de
órgãos sociais acabam, frequentemente, e, possivelmente, sem terem consciência total, por
atuar como agentes, através dessas entidades, que dispõe de plataformas sofisticadas e
obrigadas a sigilo bancário e profissional, que são, por vezes, utilizados para encobrir crimes
enquadrados nos conceitos de BC-FT-ADM.
27
EBA (2018). EBA/GL/2017/11 – Guidelines on Internal Governance. U.K.: European Banking Authority.
Disponivel em:
www.google.com/search?client=safari&rls=en&ei=LFFeXbPlLoKgjgaTnpqYBQ&q=eba%2Fgl%2F2017%2F11+guide
lines+on+internal+governance&oq=EBA%2FGL%2F2017%2F11INTER&gs_l=psy-
ab.1.0.0i8i13i30.20127.21149..27410...0.2..1.481.919.2j2j4-1......0....1..gws-wiz.......0i71.xltFX3TvZ50
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O crime pode ser considerado um espelho da sociedade, no sentido em que tem também a
sua estratificação que vai do crime sofisticado ao crime vulgar. No crime sofisticado,
nomeadamente aquele que tem alvos internacionais, não existem fronteiras nem jurisdições,
apenas a busca incessante por vulnerabilidades nas sociedades ditas organizadas (Estados
ou empresa) que constituem os seus alvos. Esses atores têm por objetivo explorar
vulnerabilidades das cúpulas (PEPs) dos governos de países, de empresas – sendo um alvo
fácil as que atravessam dificuldades financeiras – e ONGs – muitas dependentes
financeiramente de donativos –, na procura do elo mais fraco para exercer a pressão.
Neste tipo de crime, os criminosos dominam as leis, os usos e costumes e recorrem, por
vezes, a sociedades reputadas de advogados, de contabilistas, fiscalistas, instituições
financeiras, integram eventos sociais, têm formas sofisticadas de colocar notícias que lhes
deem credibilidade nos média, conquistam as elites, que lhes asseguram a credibilidade
inicial, necessária à primeira fase de integração das pessoas no sistema formal que, de
seguida, propagam as operações criminosas. Os alvos são normalmente indivíduos
ansiosos por negócios ou notoriedade milagrosos e resultados pessoais imediatos,
alavancam o fator surpresa e a informação assimétrica entre vários dos indivíduos com
poder de decisão, impedindo que todos tenham a visão do todo, a cada momento. Este é
um dos temas que levou à regulamentação sobre Fit & Proper nas estruturas de governo
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Disponível em: https://www2.deloitte.com/be/en/pages/financial-services/articles/credit-scoring.html
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De forma geral, ocorre que na criminalidade mais vulgar um fator que emergiu nos últimos
anos de forma crescente e ameaçadora, respeita à criminalidade cibernética, onde o
domínio das tecnologias é essencial, em especial as novas tecnologias que possam causar
dependência de uma entidade ou disrupção com os restantes sistemas legacia. O crime
nesta área recruta dos melhores especialistas em cada área e investe milhões em
experiências e tentativas de ataques tecnológicos, muitas das quais como é do domínio
público têm tido sucesso, que em termos de concretização de roubos, quer em termos de
disrupção de sistemas informáticos de grandes organizações.
Contudo, a criminalidade tem vulnerabilidades que permitem aos sistemas legais instalados
agir e proteger-se. A criminalidade tem uma elevada incapacidade de lidar com um sistema
organizado baseado em capacidade de antecipação através de decisões informadas,
protegendo o valor criado, com um comportamento organizacional alerta, resiliente e
preparado para agir, onde a cultura de risco está interiorizada e enraizada, bem como a
capacidade de conselhos de administração nesta área é elevada, identificando destes temas
como verdadeiras ameaças às empresas e à sociedade em geral. O Banco Central Europeu
através do SSM – Single Supervisory Mechanism29 considera como uma das suas
prioridades a auditoria à resiliência dos sistemas de informação, classificando ainda o
cibernético com uma prioridade de risco alto.
29
O Banco Central Europeu – Supervisão Bancária (2019) continuará a avaliar os riscos de IT e cibernéticos que os
bancos enfrentam e fará inspeções in loco nessa área e nos riscos de IT. Além disso, as instituições deve reportar
incidentes cibernéticos ao BCE, no âmbito do processo de relato de incidentes cibernéticos da SSM. Disponível em:
https://www.bankingsupervision.europa.eu/banking/priorities/html/ssm.supervisory_priorities2019.en.html#toc10
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Por outro lado, nas reflexões finais, há vários temas para as quais ainda não se encontram
respostas claras e objetivas, nomeadamente que poderão ajudar a aprofundar o trabalho e
coordenação entre todos os atores, em especial para manter a economia ágil e evitar que
este combate BC-FT-ADM se transforme numa barreira burocrática.
A questão debatida relativamente aos PEP’s é o momento temporal em que deixam de ter
essa qualificação, não definido no enquadramento legal. Há uma linha de pensamento que
faz uma leitura estrita e restritiva, defendendo que ‘PEP uma vez... PEP para sempre...’. No
entanto, tal como as jurisdições e/ou entidades são classificadas de High Risk por serem
muito vulneráveis ao BC-FT-ADM, caso implementem as medidas de defesa e se tornem
compliant e partilhem a força de combate ao crime, passam a ser menos vulneráveis ao
crime e por isso classificadas de baixo risco, bem como o inverso. Também os PEP’s
deveriam ter classificação de risco entre aqueles que são menos vulneráveis – sujeitando-
os a medidas menos restritivas –, i.e, sobre os quais nunca houve indícios ou suspeitas e
que exercem cargos em entidades públicas ou privadas de baixo risco, daqueles que são
mais vulneráveis e expostos a maior risco de BC-FT-ADM (sujeitos a medidas e
monitorização mais restritivas). O argumento prende-se com o risco reputacional que um
PEP continua a representar após a cessação de funções (mesmo após um possível período
de ‘quarentena’ que venha a ser definido) ou, no caso de empresas familiares, onde
gerações que incorporam os órgãos sociais das entidades, são afetadas por esta
classificação mesmo demonstrando que são compliant e partilham do combate ao crime.
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Outra área é como tratar e que critério utilizar para empresas de comércio electrónico – e-
commerce – global ou com cadeia de distribuição e valor global, sujeitas a várias jurisdições
e abordagens de risco distintas. Que impacto podem ter nomeadamente em processos de
distorção na concorrência?
Finalmente, os temas do big data, do controle de risco da inteligência artificial e data analysis
na tomada de decisão automatizada sobre reporte de suspeitas às autoridades da vertente
sancionatória, que podem gerar ‘falsos positivos’ como deve ser tratado? Pois se for seguido
sem critério pelas entidades obrigadas, podem as estar a colocar debaixo do radar pessoas
e entidades que não deveriam ser objeto de suspeita no processo ‘preventivo’?
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O âmbito da Lei nº 83/2017, tem potencial para criar dilemas éticos a alguns destes
profissionais, principalmente originados por uma cultura forte de sigilo profissional a que
estiveram sujeitos ao longo de décadas, bem como potenciais perspetivas opostas às da lei
na interpretração do seu papel na sociedade e na relação com o cliente, como pode ocorrer
nomeadamente no caso dos advogados. A questão que emerge está relacionada com esta
‘nova obrigação’ que, pelo articulado da lei, não se sobrepõe ao sigilo profissional, mas
coloca o desafio adicional requerido em relação à comunicação às autoridades judiciais. A
American Bar Association, o Council of Bars and Law Societies of Europe recomendam aos
advogados31 que devem tomar as medidas preventivas de acordo com os regulamentos no
caso de suspeitarem que um cliente ou um cliente potencial, bem como alguém que lide com
seu cliente, esteja a violar regras de BC-FT-ADM. As ações podem incluir a tentativa de
dissuadir o cliente da conduta, escalar o assunto na hierarquia do cliente, relatar às
autoridades ou recusar-se a atuar e assistir o cliente.
Mas parecem ser as autoridades setoriais não financeiras enquanto supervisores BC-FT
(OROC: Ordem dos Revisores Oficiais de contas, OCC – Ordem Contabilistas Certificados
–, OA – Ordem Advogados –, e o IMPIC – Instituto dos Mercados Públicos, do Imobiliário e
da Construção –, as que enfrentam os maiores desafios e responsabilidades no
desempenho dos seus membros neste combate BC-FT-ADM.
A forte mudança de paradigma obriga, tanto nas organizações públicas como privadas, a
um investimento significativo no talento, no desenvolvimento de plataformas informáticas
30
‘Fé pública’ é um termo jurídico que indica o crédito a atribuir – geralmente por força de lei – a certidões e documentos
emitidos por alguns servidores públicos ou pessoas do foro das profissões liberais, com privilégios que incluem a
delegação do poder público no exercício de suas funções, reconhecendo-os como fidedignos. Algumas destas
profissões incluem, nomeadamente, os revisores oficiais de contas, os notários públicos e privados, os conservadores.
31
A Lawyer’s Guide to Detecting and Preventing Money Laundering (2014). A collaborative publication of the International
Bar Association, the American Bar Association and the Council of Bars and Law Societies of Europe.
30
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potentes e sofisticadas capazes de captar situações que devem ser perseguidas –e não
falsos-positivos– e à transformação organizacional do seu quadro de governance, de que é
uma pedra angular a cultura de risco da organização. De referir que, os Guidelines da
European Banking Authority EBA/GL/2017/11 sobre o governo interno das instituições
financeiras pode ser fonte de inspiração também para as entidades não financeiras.
Por outro lado, para evitar distorções na concorrência entre entidades obrigadas do mesmo
setor, ao classificarem os seus clientes em termos de risco de BC-FT-ADM, as autoridades
setoriais devem harmonizar e estandardizar as medidas simplificadas e as reforçadas, bem
como os seus critérios de aplicação, para que não haja entidades do mesmo setor a
simplificar ou a reforçar medidas para um mesmo cliente/ entidade ou tipo de transação.
O segundo desafio será o de criar nas suas áreas de controlo interno equipas específicas
com especialização em BC-FT-ADM, implementar o processo Fit & Proper da avaliação
dessas pessoas que exercem funções de Administração e Direção nos seus membros, criar
equipas de inspeção e processo de aplicação de sanções aos membros, efetuar
autoavaliação sobre a eficácia dos resultados e implementar melhorias e ajustamento
31
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O terceiro desafio será o de Identificar e reportar as entidades membros que revelam maior
risco de serem vulneráveis ao crime. As estruturas de licenciamento ou registo de membros
devem remover “atores ruins”. Publicar a lista de empresas ou indivíduos aos quais foi
vedado o acesso à atividade, tomar as medidas necessárias para impedir que criminosos
ou seus associados sejam credenciados profissionalmente ou possuam ou sejam o
beneficiário efetivo de um interesse significativo ou controlador ou que exerçam uma função
de administração ou direção.
A título de exemplo e numa breve e análise sobre os estatutos e códigos de ética e conduta
das autoridades setoriais, a maioria integra já uma parte dos deveres e obrigações aqui
descritos. No entanto, a última revisão foi anterior a 2017 logo não integrado o disposto na
Lei nº 83/2017, nem o EBA/GL/2017/11 - Governo Interno das Instituições Financeiras. A
melhoria destes códigos setoriais, maior detalhe e robustez, considerando as exigências,
para que, igualmente, o possam exigir aos seus membros.
32
Separata ao artigo publicado na revista InforBanca 117 / outubro 2019: Governance internacional no corporate governance – closing the fence to besiege crime
O FATF está em processo de conclusão dos seus Guidelines32 – FATF-RBA Guidance for
Accountants e FATF-RBA Guidance for Legal Professionals após a consulta pública que
terminou em junho de 2019.
A publicação nos últimos anos de Guidelines33 internacionais coloca desafios relevantes aos
novos atores. A exigência de formação dos operadores e o estabelecimento de sistemas
32
Ver http://www.fatf-gafi.org/publications/fatfgeneral/documents/public-consultation-guidance-tcsp.html
33
FATF-RBA Guidance for Legal Professionals; FATF-RBA Guidance for Accountants; FATF-RBA Guidance for Trust
and Company Service Providers; FATF Guidance - Securities Sector (October 2018); FATF Guidance - Life Insurance
Sector (October 2018); FATF Concealment of Beneficial Ownership (July 2018); FATF REPORT Professional Money
Laundering (July 2018); FATF Report Financial Flows from Human Trafficking (July 2018); FATF President’s Paper-
Anti-money laundering and counter terrorist financing for judges & prosecutors (June 2018); FATF Recommendations
International Standards on Combating Money Laundering and the Financing of Terrorism & Proliferation (update
February 2018);FATF Guidance on counter proliferation financing the implementation of financial provisions of united
nations security council resolutions to counter the proliferation of weapons of mass destruction (February 2018); FATF
Report Financing of Recruitment for Terrorist Purposes (January 2018);FATF Guidance Anti-Money Laundering and
Terrorist Financing Measures and Financial Inclusion - With a Supplement on Customer Due Diligence (November
2017); FATF Guidance - Private Sector Information Sharing (November 2017); FATF Recommendations Consolidated
FATF Standards on Information Sharing (Updated November 2017); FATF Guidance on Correspondent Banking
Services (October 2016); Consolidated FATF Standards on Information-sharing (June 2016); BCBS Guidelines on
Sound management of risks related to money laundering and financing of terrorism (February 2016) ; FATF Guidance
on Transparency and beneficial ownership (October 2014);FATF Guidance for a risk-based approach for the banking
sector (October 2014); FATF Best Practices paper managing the anti-money laundering and counter-terrorist financing
policy implications of voluntary tax compliance programmes (October 2012).
33
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O processo de avaliação dos fatores de risco tem uma função crítica no processo de decisão
e, naturalmente, no nível de responsabilidade a que a mesma é tomada nas organizações.
Dada a importância desta decisão, a mesma deve ser tomada pelos órgãos sociais de topo
– e não apenas ao nível diretivo e/ou meramente técnico –, pois está intimamente ligada ao
quadro de governance i.e., às estruturas e processos para a tomada de decisão. Um dos
desafios poderá residir na falta de sistemas de informação e comunicação que alertem estas
hierarquias para estes novos desafios. O tema tem de ser depois tratado num modelo de
top-down, onde deverá presidir uma cultura denominada tone from the top, mas muito
conhecedora do tema BC-FT-ADM, para assegurar que a cultura de risco é influenciada
positivamente no sentido correto e que os incumpridores serão alvo de sanções e
consequências profissionais, nomeadamente por poderem expor a organização aos riscos
antes referidos relativos a regulação, reputação, operacional e legal.
34
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O Relatório FATF 2017 sobre Portugal, considera que o sistema financeiro tem evoluído
positivamente neste combate ao BC-FT-ADM. Assim, relata que «In the financial sector, the
application of proportionate mitigation measures by financial institutions (FIs) is satisfactory.
Progress still needs to be made regarding the understanding of the beneficial ownership (BO)
requirements. The application of risk-based supervisory models is ongoing, with Banco de
Portugal being the most advanced in this regard».
Como a responsabilidade não é apenas coletiva, isto é, não a entidade financeira que
assume as consequências de más práticas que possam permitir a entrada no sistema de
atividade criminal, mas é igualmente uma responsabilidade pessoal de todos os que
trabalham nas entidades do setor. Esta responsabilidade pessoal (deveres de identificação,
diligência, cooperação, transparência) está definida na lei mas igualmente nos códigos de
conduta destas instituições que refletem os princípios gerais de legalidade, transparência,
imparcialidade, probidade, integridade e honestidade, urbanidade e diligência.
35
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Um tema que parece apresentar ainda fragilidades no sistema bancário, prende-se com o
controlo exercido sobre as atividades dos seus colaboradores e órgãos sociais, bem como
sobre as subsidiárias – quer a casa mãe tenha ou não representantes nos órgãos sociais -,
continuando a haver casos de BC-FT-ADM envolvendo subsidiárias de bancos relevantes
da UE como a UBS34 (€ 4,5 mil milhões), o Danske Bank35 (Dinamarca), o Deutsche Bank36
(Alemanha) e o Swedbank37 (Suécia), a quem foram aplicadas multas e penas aplicadas
nos últimos anos. Estes bancos ajudavam clientes a organizar estruturas que se enquadram
no conceito de planeamento fiscal agressivo e não executavam os procedimentos
adequados para prevenir de BC-FT-ADM. Adicionalmente no caso do Deutsche Bank,
membros dos órgãos sociais e colaboradores foram investigados.
Em termos das transações e das jurisdições onde têm origem ou destino, são relevantes as
Cross-Border transactions, o relacionamento com o sistema financeiro internacional
envolvendo a contrapartes da banca de correspondentes (ou cadeia de bancos
intermediários), transações com câmbios sucessivos de moeda, os riscos que podem
emergir de jurisdições de risco, a fraude e enriquecimento ilícito, bem como transações que
34
Reuters (2019). “A French court found Swiss bank UBS AG guilty of illegally soliciting clients and laundering the
proceeds of tax evasion, ordering it to pay 4.5 billion euros ($5.1 billion) in penalties.” Disponível em:
https://www.reuters.com/article/us-ubs-trial-fraud/ubs-to-appeal-after-fined-4-5-billion-euros-in-french-tax-fraud-case-
idUSKCN1Q91DR
35
Danske Bank (2019). “The conclusions of the investigations into Danske Bank’s Estonia branch (…) [revealed that] is
clear that the problems (…) were much bigger than anticipated (…). The investigations showed that from 2007 and
2015 reprehensible conditions at (…) at Group level allowed (…) [the] misused for suspicious transactions, and they
also showed that we reacted too late and too slowly.” Disponível em: https://danskebank.com/about-us/corporate-
governance/investigations-on-money-laundering
36
Bloomberg (2019). About 80 former and current employees of Deutsche Bank AG are suspects in an investigation by
German prosecutors into an alleged tax fraud (…) [and a] growing number of Deutsche Bank employees have been
ensnared (…), including ex-CEO J. Ackermann and former co-CEO A. Jain.
Disponível em: https://www.bloomberg.com/news/articles/2019-06-11/deutsche-bank-tax-probe-targets-about-80-
current-former-staff
37
Reuters (2019). Swedbank – Major breaches of AML (anti-money laundering) obligations identified in Swedbank
Estonia (…) including accepting customers posing a high risk of money laundering (…) despite the lack of information
regarding beneficial owners, corporate structure, source of funds and the real nature and purpose of the business
relationship. “A significant number of the HRNR (high-risk, non-resident) customers should never have been
onboarded,” the report said. Swedbank also failed to report suspicious transactions and activities.
Disponível em: https://www.reuters.com/article/us-europe-moneylaundering-swedbank/swedbank-report-spotted-anti-
money-laundering-breaches-swedish-tv-idUSKCN1R721L
36
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FATF (2012-2019), International Standards on Combating Money Laundering and the Financing of Terrorism &
Proliferation, FATF, Paris, France, www.fatf-gafi.org/recommendations.html
37
Separata ao artigo publicado na revista InforBanca 117 / outubro 2019: Governance internacional no corporate governance – closing the fence to besiege crime
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Separata ao artigo publicado na revista InforBanca 117 / outubro 2019: Governance internacional no corporate governance – closing the fence to besiege crime
• O Relatório FATF 2017 sobre Portugal, considera que o sistema financeiro tem
evoluído positivamente com uma atuação considerada satisfatória no combate ao
BC-FT-ADM. Estão a ser aplicadas medidas proporcionadas de mitigação de risco
pelas instituições financeiras, indicando contudo a necessidade de progredir no
melhor entendimento e controlo dos BEFs. Por outro lado, estão a ser aplicados
modelos de supervisão baseados em risco, sendo o Banco de Portugal o mais
avançado neste processo.
A legislação tem impacto relevante na cultura de risco e vigilância das entidades não
financeiras, alterando o paradigma vigente. Podendo mesmo representar um
impacto ético-cultural na forma como as consideram, dada a prática de gestão num
paradigma de sigilo profissional e confidencialidade, bem como a necessidade de
aplicar uma abordagem de risco estruturada. Parece resultar claro que processo de
adaptação exige formação pedindo às universidades a inclusão obrigatória nos seus
programas escola – nomeadamente nas faculdades de direito, finanças e gestão –,
e ser parte das provas de acesso às profissões envolvidas.
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• Foram definidas políticas aplicáveis aos colaboradores das entidades sem exceção,
num paradigma facilitador dum estado de alerta permanente relativo ao BC-FT-ADM,
bem como melhorar a cultura de risco, o que constitui um desafio significativo que
deve ter uma resposta estruturada. As políticas vão desde a adoção de códigos de
ética e conduta, política de aceitação de clientes, política de conflito de interesses,
bem como o estabelecimento de modelos de tomada de decisão, a redefinição de
competências delegadas, segregação de funções e decisões automatizadas (STP –
Straight-Through Processing), como ainda a definição, controlo e processos formais
de captação, tratamento e arquivo de informação.
40
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Este modelo parece inadequado no atual quadro de governance, visto que o modelo
de negócio (business model) tem ligação íntima à 1ª Linha de Defesa e o impacto
nos rácios prudenciais, particularmente de capital e liquidez. Estes temas eram
geridos de forma pouco intrusiva, tanto pelos conselhos de administração, como
pelos reguladores e supervisores, nomeadamente na parte relativa à supervisão
comportamental, sobretudo na proteção dos interesses dos clientes – os que tem
primeira prioridade em termos de stakeholders, que a lei coloca à frente dos
acionistas na cadeia de importância.
• O crime sofisticado com alvos internacionais não tem fronteiras nem jurisdições,
focando-se incessantemente nas vulnerabilidades das sociedades organizadas, i.e.,
dos Estados e empresas. Exploraram vulnerabilidades de PEP’s nos dos governos,
das empresas – sendo alvo fácil as que atravessam dificuldades financeiras, bem
como as ONGs – muitas dependentes financeiramente de donativos –, na procura
do elo mais fraco para exercer a pressão.
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mesmo retirar autorização para o exercício das funções, quando não sejam
adotadas as providências que garantam o cumprimento do requisito em falta.
• Finalmente e relativamente aos PEP, uma reflexão sobre a aceitação de uma função
que qualifica alguém como PEP passa esse estatuto para os ascendentes,
descendentes e afins em 1º grau, bem como para outros com quem está
especialmente relacionado. Assim, a qualificação como PEP pode levantar um
dilema termos éticos e a geração de conflitos de interesse nas pessoas referidas,
bem como nas limitações e exigências que as passam a afetar. Por isso parece ser
relevante que a aceitação duma posição que qualifique alguém como PEP seja
consensual nesse circulo familiar e pessoal, para que os envolvidos tenham a noção
do significado desse estatuto. Uma questão debatida relativamente aos PEP’s é a
definição do momento temporal em que deixam de ter essa qualificação, havendo
uma leitura restritiva defendendo que ‘PEP uma vez... PEP para sempre...’, com
base no argumento de que o risco reputacional continua após a cessação de
funções.
Os desafios e reflexões apresentados nos dois artigos mostram que o caminho é exigente
e está a ser feito com maior velocidade nas entidades obrigadas financeiras. Coloca contudo
pressão significativa ao nível dos órgãos sociais e de fiscalização e a profissionais de certas
profissões, bem como a gestores de instituições e organizações públicas diretamente
chamadas a este combate contra a BC-FT-ADM. Em resultado, a revisão do quadro de
governance destas organizações deve constituir uma prioridade elevada, bem como em
particular temas ligados à alteração ou ajustamento da cultura de risco das organizações.
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Separata ao artigo publicado na revista InforBanca 117 / outubro 2019: Governance internacional no corporate governance – closing the fence to besiege crime
ANEXOS
39
Baseado em publicações: OCDE, FATF, EU, BdP
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