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São Paulo
2008
Seixas, Wânia Mendes
Memória fotográfica de Santos pelas lentes de José Dias Herrera /
Wânia Mendes Seixas - São Paulo : W.M. Seixas, 2008.
265 p. + anexos.
À Maria Luiza Tucci Carneiro e Dulcília Helena Schroeder Buitoni, pelas sugestões e
carinho;
E aos meus pais Flor e Walter (in memorian), que seguraram a minha mão e me
incentivaram no início dessa caminhada.
¨Fotografia é memória e com ela se confunde. Fonte
Boris Kossoy
RESUMO
documental da sua obra para a história de Santos. Nosso estudo procura abarcar o
período que vai de 1937, quando Herrera iniciou sua carreira como fotógrafo, até os
dias de hoje. Do seu enorme acervo, foram selecionadas imagens que documentam
políticos que afetaram o País, ao longo do tempo. É nossa esperança que este
This paper aims at carrying out a first analysis of the life and work of a santista
photographer called José Dias Herrera, taking into account his importance as a
professional in Brazil historical context, as well as the contribution of his work to the
history of Santos. This research tried to cover the period from 1937, when Herrera
initiated his career as a photographer, until today. From his collection it was selected
the images that show the transformation in the scenery and in the urban habits of
dramas that has affected the country through the years. We hope that this paper will
INTRODUÇÃO 11
3.1) Urbanismo 88
ANEXOS
11
INTRODUÇÃO
1. Objetivo
Aos 87 anos de idade, José Dias Herrera é um dos mais antigos fotógrafos em
1937, no jornal O Diário de Santos (da cadeia Diários Associados). Herrera também
material para a Folha de São Paulo, O Esporte e para a histórica revista O Cruzeiro.
visual da cidade de Santos; uma memória que precisa ser resgatada e divulgada
2. Objeto
craque no Santos Futebol Clube (SFC). A primeira foto de Pelé, como jogador
estreante, na Vila Belmiro, foi feita por Herrera, que também registrou toda a carreira
São Paulo (MASP) montou a exposição “Pelé, a arte do Rei”, que incluía diversas
fotos de Herrera e que depois excursionou por várias capitais brasileiras. Foi a
que codificam o olhar fotográfico de José Dias Herrera. O início de sua carreira se
imagem fotográfica. Como analisa Boris Kossoy: “A partir dos anos de 1940,
1
KOSSOY, Boris. Os tempos da Fotografia: o efêmero e o perpétuo. 2007, p.140.
13
mais direta era a revista americana Life) e inaugurou no país uma nova forma de
fazer jornalismo aliando reportagem e imagem. O fotógrafo passa a ser visto como
e estratégica como Santos, Herrera não foi o primeiro fotógrafo a registrar suas
Pretzel, que voltaram suas lentes para a cidade portuária, pela qual passava toda a
3. Justificativa
incansável de um homem que, além de ser “memória viva” de uma época e de uma
cidade, ainda tem muito a dizer às novas gerações. Poder conhecer a vida e a obra
santistas, revelando o seu trabalho, até agora pouco divulgado, ao grande público.
Vale aqui destacar que, nos últimos anos, a pesquisa na área de fotografia
4. Procedimentos Metodológicos
eventos que documentou. A baliza temporal vai de 1937 (ano que o fotógrafo iniciou
a sua carreira) até os dias atuais, visto que Herrera continua ativo na profissão.
15
seu acervo:
data, local, dados sobre a produção e a publicação, técnicas uti lizadas etc. Em
original, considerando que, grande parte do acervo está vinculado à mídia impressa.
2
A Fundação Arquivo e Memória de Santos é uma instituição que trabalha com o gerenciamento dos
arquivos públicos municipais e com a memória documental e iconográfica da cidade de Santos,
garantindo a salvaguarda, a preservação e a disseminação desse patrimônio. Em 2003, ao acervo
fotográfico da FAMS, que contava com cerca de oito mil imagens antigas, foi incorporada uma
coleção de 20 mil negativos – flexíveis, em chapa e de vidro - de Herrera, que hoje se encontram em
processo de identificação, higienização e catalogação.
3
Museu que resgata a memória do comércio cafeeiro da Cidade de Santos a partir do século XIX.
4
Órgão responsável pela organização e execução dos serviços de informação sobre as atividades da
Prefeitura Municipal, onde Herrera trabalha desde 1987.
5
Despachante aduaneiro, colecionador de cartões-postais antigos de Santos e publicou cinco livros,
como autor e co-autor, sobre temas da Santos antiga.
6
O fotógrafo possui em sua residência cerca de 300 mil negativos “guardados” em armários e
gavetas, sem identificação e sem obedecer a nenhuma ordem (data, assunto, lugar) de arquivamento.
7
Depoimento do fotógrafo. 07/03/2005.
8
Modelo em anexo.
16
fotógrafo para esta pesquisa. Eles constituem a alma das análises das imagens.
a esta pesquisa.
5. Referencial teórico
de Kossoy pode ser considerado uma verdadeira cartilha de “como fazer” a análise
Burke, que em seu livro Testemunha Ocular: História e Imagem faz um levantamento
outras épocas. Segundo ele, as imagens não devem ser consideradas simples
reflexões de suas épocas e lugares, mas sim, extensões dos contextos sociais em
que elas foram produzidas. No livro, ele disseca gravuras, pinturas, fotografias e
9
KOSSOY, Boris. Os Tempos da Fotografia: o Efêmero e o Perpétuo. 2007, p 55 e 56.
10
KOSSOY, Boris, Realidades e Ficções na Trama Fotográfica. 2002. p. 37.
11
KOSSOY, Boris, Fotografia & História. 2001, p. 55.
18
Outros autores trouxeram importantes luzes para este trabalho. Não posso
deixar de citar Walter Benjamin14 e a sua visão de que a fotografia em sua essência
trouxe uma nova forma de olhar, uma nova percepção, naquilo que ele chamou de
abordagem que contempla dois campos de relação entre a fotografia e aquele que a
fotografia é regida por códigos culturais e históricos, o que não significa que não
exista uma significância construída na e pela imagem. Por isso, a fotografia pode ser
analisada tanto do ponto de vista estético, como uma arte visual, quanto como um
documento que atesta uma realidade, como esclarece Barthes:”na fotografia jamais
posso negar que a coisa esteve lá. Há dupla posição conjunta: de realidade e de
12
BURKE, Peter, Testemunha Ocular: história e imagem. 2004, passim.
13
A nova história proposta pela Escola dos Annales (movimento que se contrapunha ao paradigma
da historiografia tradicional) abriu uma terceira via (multidisciplinar e abrangente) ao estudo da
história.
14
BENJAMIN, Walter. “A obra de arte na era da sua reprodutibilidade técnica” (1935/1936). In: Magia,
Técnica, Arte e Política: ensaios sobre literatura e história da cultura – Obras Escolhidas, vol. I. São
Paulo, Brasiliense, 1993.
15
BARTHES, Roland, A mensagem fotográfica, O óbvio e o obtuso: Ensaios críticos III. Rio de
Janeiro, Nova Fronteira, 1990, passim.
19
passado. E já que essa coerção só existe para ela, devemos tê-la, por redução,
Entre outros autores estudados durante este trabalho, também quero destacar
Susan Sontag que, em um de seus ensaios sobre fotografia, ressalta seu papel
mas que nos suscita dúvidas, parece-nos comprovada quando dela vemos uma
uma dimensão simbólica que estimula a lembrança sobre outros modos de viver e
passado.
específico é amplo, por isso, a análise será mais intensiva no período de atividade
do fotógrafo que vai da década de 1940 a 1970, intervalo no qual ocorre a parte
16
BARTHES, Roland, A Câmara Clara: nota sobre a fotografia, 1984, p. 115.
17
SONTAG, Susan, Ensaios sobre a fotografia, 1981, p. 5.
20
mais significativa da produção de Herrera. Isso nos permitirá relacionar sua atuação
Herrera, bem como, as análises de imagens que serão efetuadas nos capítulos
fundo para compreender a atuação de Herrera. Foi enfatizado o período que vai da
que vai desde seus primeiros passos em fotografia, a partir de 1937, quando
conseguiu seu primeiro emprego registrado no Diário de Santos, até 2007, data da
última fotografia analisada. Após ter deixado A Tribuna, Herrera continuou ativo
real”, como se seu olhar captasse o evento puro, no próprio ato intransitivo de
Transportes e Serviços, Porto e Pelé e o Santos Futebol Clube. Para cada bloco
temático, foram selecionadas entre duas e quatro imagens, das quais uma foi
CAPÍTULO 1
18
(Ricardo M. da Silva)
Santos é uma das povoações mais antigas do Brasil. O local onde a cidade se
situa, na Ilha de São Vicente, era chamado pelos índios guaianases na época do
18
SILVA, Ricardo M. da, Sombras sobre Santos: o longo caminho de volta, 1988, p. 161.
24
forma alongada da área, estendendo-se como uma tripa entre a serra e o mar). O
terras doadas por Martim Afonso a Brás Cubas, fundador da Santa Casa da
chegavam enfermos ou adoeciam aqui como Porto de Santos. Essa é uma das
Santos foi até o século XIX uma Vila pequena e sem grande expressão. Uma
a riqueza de Santos se devem ao Porto e ao “eixo” que a cidade forma com São
Paulo, de tal forma que até hoje a maior parte das exportações brasileiras ainda
Poucos anos depois, o porto chegou a monopolizar 95% do volume das exportações
Santos. Antes, as sacas de café eram transportadas com lentidão e muitas perdas
no lombo de mulas pela velha Estrada da Maioridade, que ligava Santos a São
Paulo. O café que chegava a Santos pela São Paulo Railway ia diretamente para os
Em 1892, foi inaugurado o primeiro trecho de 260 metros do cais do porto pela
ficou pronta a sede da Bolsa Oficial do Café, construída pela Companhia Construtora
apenas dois anos e com o que havia de melhor e mais caro em termos de materiais
21
VILAS BOAS, Sérgio, Santos: o centro histórico, o porto e a cidade, p. 53.
22
Ibid., p. 47.
26
esculturas, vitrais e três enormes painéis do pintor Benedito Calixto, o edifício era um
ressalta a historiadora Ana Lanna, a Bolsa Oficial era uma espécie de “propaganda
edificada”:
Contribuiu para isso o fato de Santos nunca ter sido um grande centro
1870, setores cada vez mais amplos da população livre da cidade envolviam-se na
23
Sobre todo o processo de construção da Bolsa Oficial do Café e sua importância no contexto da
economia cafeeira, cf. Gino C. Barbosa et alii, O palácio do café, São Paulo, Magma Cultural Editora,
2004.
24
LANNA, Ana, A transformação urbana: Santos 1870-1920, Revista da USP, nº 41 (1999), p. 108.
25
Os caifases eram a facção mais combativa do movimento abolicionista paulista. Sob a liderança do
advogado Antônio Bento, eles organizavam fugas coletivas, perseguiam capitães-do-mato e
ameaçavam senhores de escravos. Os negros foragidos eram enviados ao Quilombo Jabaquara e à
Província do Ceará, que era território livre desde 1884. Devido à ação dos abolicionistas, a maioria
das cidades paulistas já havia abolido a escravidão antes da Lei Áurea, em 1888. Cf. FONTES, Alice
Aguiar de Barros. Prática abolicionista em São Paulo: os caifases (1882-1888), Mestrado, São Paulo:
USP/FFLCH, 1976, 161 p.
27
1914, circularam nada menos do que 150 jornais na cidade, a maior parte de
e a clubes ou sociedades beneficentes. O único diário dessa época que dura até os
movimentos operários26.
da situação para ganhar dinheiro com uma causa humanitária ou obter mão-de-obra
26
RODRIGUES, Olao, História da Imprensa em Santos, Santos, A Tribuna, 1979.
27
LANNA, Ana L. D., Uma cidade na transição. Santos: 1870-1913, 1996, p. 193 et seq.
28
Brasil, responsável pela publicação “A ação social”. 28 A cidade foi palco de algumas
das primeiras greves do país, ligadas ao Porto: 1877 (portuários), 1888 (construção
geral do Brasil29 iniciada por duas categorias profissionais essenciais para a vida da
do Porto, imigrantes de várias partes do mundo, aos quais se deve, sem dúvida, o
produzidos por empresas subsidiadas pelo Estado. Santos consegue manter seu
28
A Ação Social era editada por Silvério Fontes, médico da Santa Casa de Misericórdia, participante
das campanhas abolicionista e republicana e pai do poeta Martins Fontes. O centro socialista estava
voltado inicialmente para a divulgação das idéias socialistas e a formação de cooperativas, mas lhe
faltava base social. Posteriormente, ele entra na formação do Partido Operário Socialista, que
defende entre suas causas a redução da jornada de trabalho. O poeta Martins Fontes (1884 – 1937)
participou, como o pai, da campanha sanitarista, mas em política optou pelo anarquismo de Piotr
Krototkin.
29
Sobre essa greve cf. Maria Lúcia C. Gitahy, Ventos do mar., 1992, p. 79-82.
30
PETRONE, Maria T. Shorer, O imigrante e a pequena propriedade (1824-1930), p.11.
31
GONÇALVES, Adelton, Barcelona Brasileira, 2003.
29
perfil portuário, mas são exportados pelo Porto os produtos das indústrias de
ditador Francisco Franco, que seria levada à Espanha por um navio da Alemanha
crime contra a segurança nacional e julgada como traição à pátria por um Tribunal
trabalhar à força, sob as ordens de um coronel integralista. Esse evento foi relatado,
em cores heróicas mas com fidelidade aos fatos, pelo escritor Jorge Amado no
32
Relatório Anual da Cosipa, 2003.
33
Sobre o contexto político desse período e os estivadores do Porto, cf. Fernando T. da Silva, A
Carga e a culpa. Os operários das Docas de Santos: Direitos e cultura de solidariedade 1937-1968,
30
Santista, com uma plataforma comum com o PTB de Vargas (o mesmo que reprimira
Em Santos, Prestes recebeu 45% dos votos para as eleições ao Senado em 1945,
seu plano de aliança com o populismo, contribuiu muito para a legitimação dessa
Nessa época, o café já havia perdido a importância que tivera até então. A
foi fechada em 1937 por tempo indeterminado. Foi reaberta em 1942, no contexto do
considerado de melhor qualidade e, hoje, o café brasileiro ainda participa com cerca
São Paulo-Santos, Hucitec-Prefeitura Municipal de Santos, 1995 e Ingrid Sarti, Porto Vermelho. Os
estivadores santistas no sindicato e na política, São Paulo, Paz e Terra, 1981.
34
TAVARES, Rodrigo Rodrigues, Moscouzinha Brasileira, 2007, passim.
35
VILAS BOAS, Sérgio, Santos; o centro histórico, o porto e a cidade, p. 53.
31
Até o início do século XX, Santos ainda era uma cidade semi-colonial, apesar
estava passando. Seu destino esteve, desde o princípio, ligado ao da cidade de São
convergência de toda a vida do planalto paulista 36. A importância desse eixo Santos-
Paulo.
um longo período de declínio e marasmo, entre os séculos XVII e XVIII. Mas o Porto
produzido no planalto a partir do fim do século XVIII. Duas medidas tomadas pelo
1792, inaugurou uma via, que ficou conhecida como “Calçada do Lorena”, ligando o
Em 1823, segundo o historiador Francisco Martins dos Santos 38, a cidade ainda
era uma pequena Vila de 4.700 habitantes, dos quais 2.000 eram escravos e 2.700
livres; entre os livres 1.400 eram mestiços. Em 1839, quando a Vila foi elevada à
categoria de cidade, Santos era “o tipo apurado de uma povoação colonial sem
fortuna e as praias lodosas do porto [...] freqüentadas por bandos de urubus davam
economia nacional, mas faltava à cidade uma infra-estrutura urbana compatível com
decorrer do qual a sua fisionomia se modifica radicalmente: Santos deixa de ser uma
só de febre amarela, 5.740 pessoas e entre 1890 e 1900 morreram ao total 22.588
38
SANTOS, Francisco Martins dos, e LICHTI, Fernando Martins. História de Santos, vol.2, 1986, p. 4.
39
Observação de Guilherme Álvaro, apud Maria Lúcia C. Gitahy, Ventos do Mar., p. 23.
40
LANNA, Ana L. D., Uma cidade na transição. Santos: 1870-1913, 1996, p. 52 e 69.
33
aumento populacional. Em 1890, Santos tinha 13.012 habitantes, passa a ter 88.967
Mas esse crescimento tem seu custo. A presença da lama negra, típica de
distância do mar, a cidade parecia negra, como observava o escritor Júlio Ribeiro em
1888: “vista do mar, do estuário a cidade é negra: black town lhe chamavam os
trabalhadores. A cidade foi construída sobre antigos mangues e estava rodeada por
áreas pantanosas, além do clima quente e úmido e dos verões prolongados que
todo santista conhece bem até hoje. Isso a tornava propícia às infestações: na
segunda metade do século XIX, proliferam doenças como a febre amarela, a varíola,
cidade.43
41
ANDRADE, Wilma Therezinha et alii, Presença da Engenharia e arquitetura – Baixada Santista,
2001, p. 61.
42
GITAHY, Maria Lúcia C., Ventos do Mar, 1992, p. 23.
43
LANNA, Ana L. D., Uma cidade na transição. Santos: 1870-1913, 1996, passim.
34
seu plano, posto em prática a partir de 1905, com o engenhoso sistema de canais de
século XX, começa a circular o sistema de bondes, inicialmente puxados por burros,
gás para a eletricidade em 1904. Nos bairros ricos são edificados casarões e
44
BERNARDINI, Sidney Piochi, Os planos da cidade: as políticas de intervenção urbana em Santos –
de Estevan Fuertes a Saturnino de Brito (1892 – 1910), 2006.
45
SANTOS, Ricardo Evaristo e MATOS, Paulo. Transporte coletivo em Santos: história e
regeneração, 1987.
46
Centenário dos Canais: a obra de Saturnino de Brito – Palestra da profª. e drª. Wilma Therezinha
Fernandes de Andrade, proferida em 25 de agosto de 2005 na CEV (Comissão Especial de
Vereadores) dos canais.
35
porto de Santos era administrado por uma empresa privada sob concessão do
Docas de Santos recebeu uma concessão para construí-lo e explorá-lo por 90 anos,
santista passou para a Companhia Docas do Estado de São Paulo (Codesp), ligada
pátios, frigorífico e linha férrea, atingiu 4.720 metros de rampa 48. A construção do
urbana de Santos.
47
LANNA, Ana L. D., Uma cidade na transição. Santos: 1870-1913, 1996, p. 80.
48
O movimento de mercadorias no Porto cresce exponencialmente, devido às obras. Em 1860 o
movimento no Porto foi de 36.250 sacas de café, em 1895 foi de 2 milhões de sacas e em 1909
atingiu a marca de 13.130.933 sacas exportadas. Dados de Maria Lúcia C. Gitahy, Ventos do Mar., p.
30.
36
“Babel portuária”, composta por trabalhadores das mais variadas origens e com
Santos.
1930, pelo Sindicato dos Estivadores, que negociava diretamente com a Companhia
Docas tudo o que se referia a salários, horários e condições de trabalho. Se, por um
trabalhadores do Porto, por outro, criou problemas, pois com a concentração das
CLT de Vargas instituiu, foi considerado uma das causas do elevado custo do Porto
49
Sobre a formação da Cia. Docas, sua importância e os conflitos que gerou, cf. Cezar Honorato, O
polvo e o porto. A Cia Docas de Santos (1888-1914), São Paulo-Santos, Hucitec-Prefeitura Municipal
de Santos, 1996.
50
FILHO, Brito. Direito Sindical: Análise do Modelo Brasileiro de Relações Coletivas de Trabalho a
Luz do Direito Comparado, 2000.
51
Revista Veja nº. 1235, 13 de maio de 1992.
37
até hoje em todo o litoral paulista), deslocava a população pobre cada vez mais para
residiam nos morros, destes 50% eram portugueses, 10% espanhóis e o restante
A partir dos anos 50, e principalmente após a construção da Via Anchieta, entre
Noroeste 53. A classe média paulistana desce a Serra, adquire imóveis utilizados
52
BEIGUELMAN, Paula, Morros santistas, Sociologia, nº 10 (1945), p. 32. Cf. também ARAÚJO Filho,
José Ricardo, “A expansão urbana de Santos”, in: A Baixada Santista: aspectos geográficos, São
Paulo, Edusp, 1965.
53
Com o crescimento populacional de Santos derramando-se pela zona Leste da ilha de São Vicente,
do Centro até a Ponta da Praia, e aí atingindo o limite, começou o processo no sentido contrário, para
ocupar as áreas que, em 1976, ganhariam oficialmente o nome de Zona Noroeste de Santos e que
hoje é formada por 12 bairros.
38
governavam sem a Câmara Municipal. Em 37, com o golpe que instituiu o regime de
suicídio de Vargas, mas não durou muito; pouco mais de dez anos após a
sociais manifestaram na cidade, todos esses fatores, fizeram com que Santos fosse
54
Sobre a urbanização de Santos e Baixada ao longo da segunda metade do século XX e, em
especial, sobre os problemas ecológicos resultantes de um modelo de urbanização descontrolado e
especulativo, cf. Cíntia Maria Afonso, A paisagem da Baixada Santista. Urbanização, transformação e
conservação, São Paulo, Edusp-Fapesp, 2006.
55
SILVA, Ricardo M. da, Sombras sobre Santos: o longo caminho de volta, 1988, passim.
39
governos autoritários.
líderes sindicais, que faziam parte do contingente de opositores que diariamente era
Santos era uma cidade considerada perigosa para os golpistas, por sua
“Barcelona brasileira” e depois da “Moscou brasileira”. Para criar uma opinião pública
socialista 56.
56
SILVA, Ricardo M. da, Sombras sobre Santos: o longo caminho de volta, 1988, passim.
40
O movimento sindical santista se uniu para convocar uma greve geral como
que foi nomeado capitão da Capitania dos Portos e recebeu “plenos poderes” para
atuar. Além dos sindicatos, também foi ocupada a refinaria Presidente Bernardes, de
combustível às forças armadas. Apesar das ameaças dos militares, liderados por
57
SILVA, Ricardo M. da, Sombras sobre Santos: o longo caminho de volta, 1988. p. 14.
58
Ibid. passim.
59
Influenciado pela ideologia do trabalhismo, o Fórum Sindical de Debates surgiu no final da década
de 1950, aglutinando mais de 50 sindicatos. Teve papel importante nas grandes greves que pararam
Santos nos primeiros anos da década de 1960.
41
por 21 dias. Os detidos foram enviados para a Fortaleza de Itaipu, antigo forte na
Praia Grande.
aos EUA, que enviaram em direção ao Porto de Santos quatro petroleiros com 136
mil barris de petróleo, na operação militar que ficou conhecida como Brother Sam. O
aviões, seis destróieres, aviões de caça etc) a fim de fornecer apoio tático e logístico
Com a intervenção militar, na prática, o poder era exercido pela Capitania dos
Portos. O prefeito José Gomes, eleito em 1961, tinha sido deposto, junto com o
delatar colegas, vizinhos ou conhecidos, motivados pelo medo de ser presos. Mas,
apoio à ação repressiva dos militares, inclusive oferecendo-se para atuar na caçada
60
Segundo o sindicalista Geraldo Silvino de Oliveira, na época presidente do Sindipetro, foi o próprio
presidente da Petrobrás, general Olvino Ferreira Alves, que teria mandado contaminar a gasolina,
com um telefonema a Geraldo. O general foi preso em 3 de abril. Cf. Silva, Ricardo M. da, Op. Cit., p.
44 e seg
61
SILVA, Ricardo M. da, Sombras sobre Santos: o longo caminho de volta, 1988, passim
42
apoio ao golpe, ficaram conhecidos como a “marcha da família com Deus pela
liberdade”. Até 20 de abril, 500 pessoas já haviam sido presas 63. O clima na cidade
policiais.
lei.64
de Vargas e João Goulart), pelo qual elegeu-se deputado estadual em 1962. Foi
eleito prefeito de Santos pelo MDB, pois o AI-2 havia instituído o bipartidarismo no
porém no início de 1969, após o AI-5, Tarquínio foi deposto, numa onda de
cassações que também subtraiu os direitos de políticos santistas como Mário Covas,
Gastone Righi, Athiê Jorge Cury e Oswaldo Justo (Justo viria a ser o primeiro
prefeitos “biônicos”, indicados pelo poder central, sem nenhuma identificação com a
ações.66
Mesmo com o processo de reabertura, iniciado no fim dos anos 70, Santos só
longo e duro período de intervenção militar, mas também pela crise econômica, o
65
LA SCALA JUNIOR, Francisco, Justo, uma trajetória de honradez, 2007, passim.
66
SILVA, Ricardo M. da, Sombras sobre Santos: o longo caminho de volta, 1988, passim
44
A partir dos anos 90, a alternativa encontrada pela administração pública foi
Santos pode ser considerada uma das cidades com melhor qualidade de vida do
país.
45
CAPÍTULO 2
consumidores. 67
Campo, 91, Barros permaneceu pouco tempo na cidade, mas foi um dos primeiros
67
BARBOSA, Gino Caldatto, Santos e seus Arrabaldes - Álbum de Militão Augusto de Azevedo, 2004,
passim.
68
KOSSOY, Boris, Dicionário Histórico-Fotográfico Brasileiro. Fotógrafos e Ofício da Fotografia no
Brasil (1833-1910), 2002, p.75.
47
segunda metade do século XIX, já que a cidade se posicionava quase como rota
café e desembarcava-se todo o tipo de novidade vinda da Europa. Por conta disso, a
população santista tinha acesso aos mais modernos costumes e a uma vasta gama
de informações.
Por essa época, passaram por Santos os fotógrafos: Eduardo Gnérin, retratista,
público nos fundos de uma casa incendiada, na Rua Santo Antônio, 26 72, entre
outros.
Santos, em 1861, seguido por Nicolau Huascar 73, retratista a óleo que percorreu o
imagens retratadas por meio de pintura a óleo, aquarela, pastel e crayon, obtendo
um resultado diferenciado.
69
Revista Commercial, 26/04/1858, p.4.
70
Revista Commercial, 24/12/1858, p.4.
71
Revista Commercial, 13/05/1865, p.4.
72
Revista Commercial, 23/07/1861, p.4.
73
Revista Commercial, 09/01/1862, p.3.
48
fotopintor. 75
não apenas servia para abreviar o tempo ao ar livre 78, mas se mostrava aliada
importante nas composições de teor histórico que desenvolveu nos séculos XIX e
XX. Para tanto, valeu-se muitas vezes de fotografias tiradas por ele mesmo ou por
para a série sobre a antiga cidade de São Paulo, encomendada por Affonso Taunay
Militão Augusto de Azevedo, jovem ator que trocou o teatro pela carreira
metade do século XIX. Ele retratou a paisagem santista num momento em que a
74
FERREZ, Gilberto. A Fotografia no Brasil. 1840-1900, 1985, p. 34.
75
TURAZZI, Maria Inez. Poses e Trejeitos – A Fotografia e as Exposições na Era do Espetáculo
(1839-1889). 1995, p. 112.
76
ALVES, Caleb Faria, Benedito Calixto e a Construção do Imaginário Republicano. 2003, p. 113.
77
Diário de Santos, 18/12/1887.
78
ALVES, Caleb Faria, Benedito Calixto e a Construção do Imaginário Republicano. 2003, p. 113.
79
BARBOSA, Gino Caldatto, Santos e seus Arrabaldes - Álbum de Militão Augusto de Azevedo. 2004.
49
pequeno e acanhado. No estilo típico dos álbuns de Militão, vemos uma paisagem
urbanas e sociais que, entre as últimas décadas do século XIX e o início do século
Ainda no final do século XIX, Santos acolheu o fotógrafo José Marques Pereira,
ao universo das imagens, o que fez com maestria. O português José Marques
monumentos, ruas e praças centrais de Santos numa série de cartões postais, entre
1902 e 1903. São 220 imagens que documentam o surgimento de uma cidade
imagens fotográficas. 82
foram reeditadas, junto com as da própria fotógrafa, o que permite contrastar dois
visual da cidade.83
80
VASQUEZ, Pedro Karp. Fotógrafos Alemães no Brasil do Século XIX. 2000, p. 180.
81
CORNEJO, Carlos e GERODETTI, João Emílio. Lembranças de São Paulo – O Litoral Paulista nos
Cartões-Postais e Álbuns de Lembranças. 2001, p. 186.
82
Sobre os cartões postais de José Marques Pereira, cf. LOBO, Maurício Nunes. Imagens em
circulação. Os cartões postais produzidos na cidade de Santos pelo fotógrafo José Marques Pereira
no início do século XX, Dissertação (Mestrado em História), Campinas: Instituto de Filosofia e
Ciências Humanas da Universidade Estadual de Campinas, 2004.
83
Este álbum não foi reeditado. Ele faz parte do acervo iconográfico da Fundação Arquivo e Memória
de Santos (FAMS).
51
Emílio Gottschaek, Carlos Weise, Pedro Peresin, Rafael Herrera e seu irmão José
84
Dias Herrera, objeto desta pesquisa.
atuação a serviço dos órgãos de imprensa, o que direciona e codifica o seu olhar.
ocorreu.
mais típicos bairros operários de São Paulo. Lá viviam imigrantes das mais diversas
cidade de São Paulo trabalhar na nascente indústria paulistana. Herrera era filho de
tiveram mais dois filhos - Francisco e Rafael Dias Herrera - e duas filhas - Fuensanta
84
BARBOSA, Gino Caldatto, Santos e seus Arrabaldes - Álbum de Militão Augusto de Azevedo. 2004,
passim.
52
e Maria Dias Herrera85. Em São Paulo, para sustentar os filhos, o pai de Herrera
trouxe da Espanha.
Assim que concluiu o curso primário, na Escola Barão do Rio Branco, a diretora
da escola, dona Diva Fialho Duarte, lhe conseguiu o primeiro emprego, na Casa
85
Atualmente, somente as irmãs estão vivas. Maria, com 80 anos completados em 11 de dezembro
de 2007, e Fuensanta, que completou 90 anos em 26 de maio de 2007.
86
Depoimento do fotógrafo. 14/09/2005.
87
Depoimento do fotógrafo. 14/09/2005.
53
Como outros meninos de sua idade, ele passava de casa em casa, de rua em rua,
empreendido pelos paulistas contra o golpe de Estado levado a efeito por Getúlio
Bueno, n.º 215. Ajudando o pai no polimento dos espelhos, acabou adquirindo um
conhecimento que lhe seria útil mais tarde quando, durante a Segunda Guerra, teve
que fabricar clichês de vidro para poder fotografar, pois a importação de material
Depois disso, Herrera foi trabalhar no Bar da Alfândega, que ficava no terceiro
café bem quente e eu era rápido, descia as escadas correndo para trazer o café
88
Depoimento do fotógrafo. 07/06/2004.
54
quentinho pra ele” 89, lembra Herrera. Em 2004, quando esteve na Alfândega
fotografando a inspetora Diva Kodama para uma matéria, contou a ela essa história
e a inspetora fez questão de lhe servir, ela mesma, um cafezinho, como que para lhe
Foi nessa loja de artigos fotográficos, a Casa Worisptz, que Herrera começou a
sua trajetória no mundo das imagens. Lá ele era laboratorista; aprendeu a mexer
com química, a revelar e ampliar. Foi lá também que conheceu dois fotógrafos que
Pedro Peressin Barbado e José Severo Bonfim. Eles o chamaram para ajudar em
89
Depoimento do fotógrafo. 14/09/2005.
90
Depoimento do fotógrafo. 27/07/2004.
91
Depoimento do fotógrafo. 13/03/2004.
55
primeiro momento e que o acompanha até hoje. Conforme seus depoimentos, nesse
fotógrafo, que tinha que abrir e fechar com a mão o orifício da câmera, a fim de
controlar o tempo de exposição. Só era possível tirar uma foto por vez e, para cada
nova foto, era necessário introduzir uma nova chapa no chassi da máquina.
Num dos serviços que prestou para A Tribuna, quando fazia trabalhos avulsos,
Herrera teve que acompanhar o dono do periódico Milton Nascimento Júnior numa
assinada, convenceram Herrera a aceitar a oferta. Mais tarde, Herrera indicou seu
irmão Rafael como fotógrafo para A Tribuna. Rafael era assistente de Herrera no
Diário e aprendeu com ele a fotografar. O outro irmão caçula, Francisco (o Paco),
(duzentos cinqüenta cruzeiros) por mês. Foi assim que Herrera conseguiu seu
92
Depoimento do fotógrafo. 14/09/2005.
57
No Diário, Herrera tinha que estar disponível para o jornal praticamente das
mais fortes. O jornalismo ainda não era uma profissão reconhecida e o seu ofício
depoimento de Herrera sintetiza esse clima geral na passagem dos anos 30 para os
anos 40:
Nessa época, Herrera saía com freqüência em viagem para fazer reportagens
nos bairros mais afastados de Santos, como o Marapé e a Ponta da Praia, nos quais
não havia serviço de bonde e só se tinha acesso por vias de terra. Fotografou
grau de improviso e envolvia riscos. Quando Herrera trabalhou no Diário, não havia
93
Depoimento do fotógrafo. 30/09/2004.
58
As viagens para os litorais sul e norte eram feitas de trem, porque ainda não
havia estradas. Também não havia hotéis, hospedarias ou restaurantes, e ele tinha
que ficar hospedado na casa de algum morador indicado pelo jornal, para realizar a
ampliações, executadas sempre pelo próprio fotógrafo que, desta forma, era
responsável por todas as etapas do processo. A dificuldade de fazer fotos com tripé
e flash de magnésio em locais tão inacessíveis era enorme e, por isso, ele se
Justo Perez, que já atuava no veículo quando ele foi contratado. Nesse jornal,
94
Depoimento do fotógrafo. 23/09/2004.
95
Depoimento do fotógrafo. 14/09/2005.
96
Depoimento do fotógrafo. 14/09/2005.
59
acidentes. Como O Diário era um jornal popular, essas matérias ajudavam a vender
Mal pago, como a maior parte dos jornalistas numa época em que a profissão
ainda não era regulamentada, fazia também trabalhos para outros veículos. Mesmo
97
Depoimento do fotógrafo. 14/09/2005.
98
Depoimento do fotógrafo. 01/03/2006.
60
fotográfica própria. Quem o ajudou nisso foi um amigo: o dono da padaria Suíça
para a compra de uma câmera alemã Voigtländer de fole, tamanho 6x6 e dotada de
duas lentes, que lhe conferia mais nitidez nas imagens. Tratava-se de um
equipamento amador e usado, mas que lhe servia muito bem. O empréstimo não
tardou em ser restituído. Com sua câmera nova, Herrera podia sentir-se, enfim, um
no centro da cidade, Herrera aproximou-se demais do fogo e acabou por perder sua
emprestada por colegas do jornal até que conseguiu comprar uma nova.
Sua segunda câmera foi uma Speed Graphic de fabricação americana. Ele
gostou tanto que posteriormente comprou mais duas da mesma marca, uma delas
formato 6x6 e a outra 9x12 cm. Essas máquinas, apesar de grandes e pesadas,
chapas de vidro e chamavam a atenção pelas enormes lâmpadas tipo bulbo que se
Segunda Guerra. Mais tarde, Herrera comprou uma Rolleiflex, máquina alemã mais
leve, com a qual trabalhou durante anos e que considera ideal para qualquer tipo de
trabalho:
99
Depoimento do fotógrafo. 01/03/2006.
61
qual teve três. “São excelentes! São aquelas dos negativos mais atuais, 35mm.
Hoje, é o modelo que mais uso, principalmente para os serviços particulares”. 100
foi fechada por prazo indeterminado.102 Herrera recorda-se com humor desse
100
Depoimento do fotógrafo. 01/03/2006.
101
Depoimento do fotógrafo. 18/05/2004.
102
SANTOS, Francisco Martins e LICHTI, Fernando Martins, História de Santos - Poliantéia Santista,
1986.
62
perseguidos:
Porém, faz questão de ressaltar que ele, particularmente, não teve problemas
com a Ditadura:
Mundial
103
Depoimento do fotógrafo. 07/11/2006.
104
Depoimento do fotógrafo. 07/11/2006.
63
relacionados à guerra. Foi nessa época, que Herrera teve uma curta experiência
Para isso, a Rádio Atlântica 105 montou um peque no estúdio dentro da redação do
típico das transmissões da época, com a fala pontuada pelos erres bem marcados:
“PRG5 - Rádio Atlântica de Santos – diretamente da redação do Diário, com noticiário sobre
105
Fundada a 26 de maio de 1935 por Carlos Baccarat, foi a segunda emissora de rádio santista.
Durante mais de 30 anos, foi absoluta em audiência, não só em suas radionovelas, como em suas
programações esportivas. Em 1971, foi vendida ao grupo A Tribuna e, mais tarde, passou à Élio Ávila
de Souza. Atualmente, pertence ao sr. José Manoel Ferreira Gonçalves, que a transferiu para o
Guarujá. Iniciou com o prefixo PRG-5 e hoje tem o prefixo ZYK-534. Seu principal programa é Deus é
Amor.
106
Depoimento do fotógrafo. 01/03/2006.
107
Depoimento do fotógrafo. 01/03/2006.
64
principalmente importados, entre eles, filmes e química para revelação das fotos. O
delegado da cidade) para poderem entrar ou sair da cidade. Até mesmo para fazer a
travessia da balsa entre Santos e Guarujá era preciso apresentar esse salvo-
Caderneta de “salvo-conduto”
Em 1939, quando o País ainda era neutro em relação à Guerra, havia atracado
Vindo de um cruzeiro na costa africana, o navio decidiu se refugiar num porto seguro
da América do Sul para evitar ser bombardeado, pois foi justamente durante o
108
MARQUES, Nelson Salasar, Imagens de um mundo submerso, 1995, passim.
65
cruzeiro marítimo que Hitler deflagrou a Guerra com a invasão da Polônia.109 No ano
seguinte, ficou retido no Porto um outro transatlântico, o italiano Conte Grande, com
bar santista Heinz, o “bar alemão”, e o dono da cantina vicentina Hirondelle, ainda
japoneses, italianos e alemães foram obrigadas a deixar o litoral rumo ao interior, por
famílias iam embora deixando a maioria de seus pertences para trás. A perseguição
aos estrangeiros nesse período foi feroz: qualquer um que fosse visto falando
prisioneiros, montados por Vargas no interior de São Paulo. É provável que muitos
dos passageiros dos dois transatlânticos tenham ido parar nesses campos de
prisioneiros112.
109
CARVALHO, Beth Capelache de, Uma comunidade rica, que já foi formada por condes e barões,
jornal A Tribuna, 01 de agosto de 1982.
110
Cf. a série especial “Rota de Ouro e Prata” em A Tribuna, dias 3, 10, 17, 24 e 31/12/1992.
111
MARQUES, Nelson Salasar, Imagens de um mundo submerso, 1995, passim.
112
Sobre os campos de prisioneiros cf. Marlene de Favéri. Brasil teve 11 campos de concentração,
Nossa História, nº 21, 2005, p. 66.
113
Avião de dois lugares, asa alta, estrutura de madeira de tubos de aço cromo-molibdênio,
empregado largamente no treinamento de pilotos civis pelos aeroclubes. Contava com um motor
norte-americano Franklin, de 65 cavalos, e hélices de madeira fabricadas pelo IPT. Era uma aeronave
66
que seriam enviados à Guerra. Era preciso registrar o evento, mas devido aos
Então, Herrera teve que improvisar e para isso, lhe valeu a experiência adquirida
muitos anos antes com o trabalho na vidraçaria. Comprou uma placa grande de vidro
ele mesmo umas quinze chapas de vidro para fazer as fotografias. O expediente
Mas, de tudo o que aconteceu durante a Guerra, o fato que Herrera lembra
com maior emoção é o desfile em São Paulo, em 1945, quando uma multidão
situações adversas. Salta à vista também sua intuição e seu “faro” jornalístico para
buscar a notícia onde quer que ela se encontrasse, numa época em que os
notícia.
Clóvis Galvão115, que trabalhou com José Herrera no jornal A Tribuna, afirma
maior concentração de pessoas que já viu em toda sua vida foi quando Getúlio
Vargas apareceu num comício em São Paulo junto com Luiz Carlos Prestes, após
evento singular. Prestes havia sido perseguido e preso pelo governo de Vargas,
após a chamada Intentona Comunista (1935). Sua mulher, a militante judia Olga
Benário, foi entregue aos nazistas grávida de oito meses pelo chefe da Polícia de
lado a lado com o ditador que o encarcerou e condenou sua mulher ao suplício e à
morte 117. Mas nesse dia, apesar da chuva que caía torrencialmente, a multidão
115
Clóvis Galvão trabalha no jornal A Tribuna há 47 anos e atualmente é editor de Opinião.
Acompanhou toda a trajetória de José Herrera no jornal.
116
Depoimento de Clóvis Galvão. 03/02/2007.
117
Sobre a prisão e morte de Olga Benário Cf. MORAIS, Fernando, Olga, 1986.
68
permanecia de pé, fascinada, espalhada pelas ruas próximas à praça e até por
No início dos anos 1950, surgiu uma nova oportunidade na carreira de Herrera:
ele foi cedido pelo Diário, nos finais de semana, para a revista carioca O Cruzeiro,
célebre dupla Jean Manzon e David Nasser 118. A reformulação da revista Cruzeiro
Guarujá que era a sensação do momento, para onde vinham artistas, políticos e
118
David Nasser foi o repórter mais famoso de seu tempo - entre os anos 1950 e 1970. Escreveu
livros de grande repercussão e compôs cerca de 300 músicas, algumas de muito sucesso, como
Nêga do Cabelo Duro, Canta Brasil, Confete, Normalista e até a valsa que ainda hoje serve de
vinheta para o fim de ano da Rede Globo: Fim de Ano (‘Adeus ano velho, feliz ano-novo’).
119
“Graças ao Manzon, o fotógrafo brasileiro conquistou um novo lugar. Antes ele era tido como um
marginal, que ia para festa de casamento e roubava os presentes. Fotógrafo não usava nem paletó
nem gravata. Era um pobre desdentado, o equipamento de péssima qualidade e o salário miserável.
O Manzon chegou ao Brasil e moralizou a profissão” (Depoimento de Flávio Damm, apud COSTA,
Helouise e SILVA, Renato R. da, A fotografia moderna no Brasil, p. 103-104).
69
importante cassino 120, muito freqüentado até a proibição dos jogos de azar no Brasil
em 1946121. Contratado para cobrir a vida da high society no Guarujá, Herrera pode
ter um vislumbre do que era o modo de vida da burguesia que freqüentava o Grande
principesco das refeições. Ele narra como eram seus fins-de-semana no Grande
No início dos anos 1950, fazer matérias no litoral era uma verdadeira aventura.
Para o Litoral Sul e Vale do Ribeira (Mongaguá, Itanhaém, Peruíbe, Itariri, Iguape,
Cananéia, Registro) só era possível ir de trem. Não havia estradas: era quase tudo
120
GIRA UD, Laire José. et alii, Memórias da Hotelaria Santista, 1997, passim.
121
Após a proibição do jogo no Brasil em 1946, por decreto de Eurico Gaspar Dutra, muitos cassinos
foram fechados no país - na época existiam mais de 70 em funcionamento. A proibição do jogo
provocou o desespero em quem trabalhava no ramo, desempregou e levou alguns até mesmo ao
suicídio. No caso do cassino do Grande Hotel la Plage no Guarujá, houve uma mudança de função
na tentativa de evitar o seu fechamento. O cassino passou a ser utilizado para festas, shows e bailes.
Mesmo assim, ele não resistiu e foi demolido em 1962. SANTUCCI, Jane. O dia em que as roletas
pararam. Revista Nossa História, nº.35, 2006, pp.36-42.
122
Trata-se das lâmpadas tipo bulbo, que se queimavam após serem usadas. Em 1925, o alemão
Paul Vierköter inventou o flash de lâmpada. A invenção foi aperfeiçoada por Ostermeier, em 1929,
que introduziu um metal refletor na lâmpada. Em pouco tempo, os fotojornalistas adotaram o
dispositivo para substituir o flash de magnésio. Cf. SOUSA, Jorge P., Uma história crítica do
fotojornalismo ocidental, p. 73. No Brasil, essa e outras técnicas modernas começaram a ser
sistematicamente utilizadas somente após a Segunda Guerra.
123
Depoimento do fotógrafo. 10/11/2005.
70
mato. Para fazer as matérias, os jornalistas chegavam a ficar dez dias fora de casa
reportagens, que iam sendo publicadas paula tinamente. O Litoral Norte era ainda
mais distante ao qual se conseguia chegar e, assim mesmo, só de avião era a praia
de um guia nativo. Até a década de 1960 não havia interligação entre as cidades da
Baixada Santista. Na Praia Grande, por exemplo, onde Herrera e o irmão Rafael
fizeram várias reportagens, só se chegava pela areia da própria praia. O local era
esclarece o fotógrafo, ainda havia uma estrada de terra (Caminho do Mar) ligando
Santos a São Paulo. Quando chovia a estrada ficava escorregadia e havia o perigo
devido ao calor intenso, a passagem dos carros levantava uma nuvem de poeira tão
grande que era necessário parar o carro e esperar para evitar o choque com o
veículo à frente.125
Júnior, fez várias ofertas para tentar contratá -lo. Inicialmente, Herrera não aceitou,
124
MONTEIRO, Paulo Gonzalez, A Conquista da Serra do Mar, 2002, passim.
125
Depoimento do fotógrafo. 10/11/2006.
71
indicando, em vez disso, seu irmão mais novo, Rafael, também um mestre fotógrafo,
que trabalharia por cerca de 50 anos no jornal. Em 1952, após quatro tentativas,
Herrera foi para A Tribuna após ser devidamente registrado e recebendo um salário
maior do que o que ganhava no Diário. Além disso, A Tribuna montou um laboratório
um deslizamento no morro) dos dois túneis sob o Monte Serrat (ligando o Centro de
Serviços de Eletricidade e Gás S/A), em 1967, foi uma tragédia que deixou a
população em pânico. Herrera morava num bairro próximo ao local da explosão e foi
126
Depoimento do fotógrafo. 07/03/2005.
72
casamento, que Herrera conheceu Ilza Queiroz, sua futura esposa. Após o namoro
15/03/1990).
127
Depoimento do fotógrafo. 11/01/2005.
73
Futebol Clube em 1956, quando começou sua carreira e ainda não era conhecido
por ninguém. No início, Pelé era um jogador tímido, que tinha vergonha de ser
a serviço do jornal, acabou acompanhando Pelé na sua trajetória: foi Herrera quem
É dele a famosa foto com o Pelé, que foi utilizada para uma campanha da Coca-Cola
também um ofício mais romântico e mais criativo do que hoje. Perseguia-se o furo
Em 1961, houve uma greve histórica dos jornalistas que mudou o modo de
profissionais.128 Foi a partir desse momento, que começou a haver uma maior
jornalista Samuel Wainer, na década de 1950, foi um marco em todo esse processo.
formato dos jornais atuais. Wainer também se destacou pela coragem e ousadia em
criar um jornal independente das tradicionais dinastias familiares que até hoje
Foi nessa época, que o jornalista Lauro Tubino 131 tornou-se colega de Herrera
Tubino chegou em Santos em 1961, vindo do interior do Rio Grande do Sul. Sua
primeira experiência como jornalista foi no Última Hora. Já a partir de 1962, passou
para A Tribuna, época em que Giusfredo Santini, o “chefe da dinastia dos Santini”,
anos, ele observa que a época da Ditadura “foi muito difícil para todos nós: para
128
Jornal dos Jornalistas nº. 273, abril de 2005. (Nas lutas específicas da categoria, o Sindicato foi
responsável pela organização de uma greve histórica de 1961, totalmente vitoriosa, que conquistou o
primeiro piso salarial para uma categoria profissional no país e a jornada de cinco horas).
129
O jornal Última Hora, diário e vespertino, foi um marco na história do jornalismo brasileiro.
Fundado pelo jornalista Samuel Wainer em 12 de junho de 1951, refletiu em suas páginas a
conturbada situação política do Brasil e do mundo nas décadas de 1950 a 1970. Representou uma
revolução político-cultural e editorial em seu meio. Em 1971, o jornal foi vendido a um grupo
empresarial liderado por Maurício Nunes de Alencar. De 1973 até 1987, a responsabilidade pela
edição passou à Arca Editora S.A. Após ser vendido ao empresário José Nunes Filho, a Última Hora
encerrou definitivamente suas atividades em 26 de julho de 1991, quando teve sua falência decretada
pela Justiça, devido a uma dívida que chegava a 450 milhões de cruzeiros.
130
Cf. sobre o Última Hora e a trajetória de seu fundador, cf. o relato autobiográfico de Samuel
Wainer, Minha razão de viver, 1998.
131
Lauro Tubino trabalhou no jornal A Tribuna de 1961 até 2001. Foi criador e editor do caderno de
Turismo e atuou ao lado de José Herrera durante 15 anos.
75
pesquisa e o editor era obrigado a colocar toda informação que tivesse à sua
disposição. O marido de Patrícia Galvão 133 (Pagu), Geraldo Ferraz, era secretário de
jornal mais populista, que satisfazia os anseios dos trabalhadores; já A Tribuna era
Lauro Tubino nos contou um pouco sobre todo o clima que precedeu o golpe
FSD.135 Era ele que tomava as decisões e convocava as greves. Contudo, após
plantão na porta da Capitania dos Portos e nos quartéis do Exército para saber
Santos era uma cidade de perfil cosmopolita, muitas pessoas chegavam a vir
de São Paulo para usufruir da vida noturna de Santos, tida como mais barata e mais
sua vida urbana durante o período da ditadura militar, declínio do qual vem se
Um ano que ficou gravado na memória dos santistas foi 1964, quando aportou
presídio, era um aviso e uma afronta àqueles que pensassem em se opor ao poder
militar. 137 Flutuando ameaçador no cais, bem próximo do centro de Santos, e cheio
de presos políticos, o chamado “navio do medo” podia ser visto por todos os que por
ali passavam diariamente. Herrera conta que não teve problemas para fotografar os
presos do Raul Soares. Foram os próprios militares que chamaram a imprensa, para
136
Depoimento de Lauro Tubino. 15/08/2006.
137
MELO, Lídia Maria de, Raul Soares, um navio tatuado em nós, 1995, passim.
138
Depoimento do fotógrafo. 21/08/2006.
77
Antes de 1964, Santos era uma cidade cuja base da economia era o Porto e a
classe trabalhadora e sua força de mobilização declina ram. Da década de 1990 para
terminais foram privatizados, o Porto foi separado da Cidade. Cada empresa passou
a contratar por conta própria seu grupo de trabalhadores, terceirizando serviços. 139
de seus profissionais, mas acredita que, com o passar dos anos, o trabalho foi
perdendo o seu valor e encanto, tanto para o contratado como para o contratante
Eu precisava provar todo dia que era bom, não existia uma foto
impossível pra mim. Eu tinha que seguir um estilo jornalístico diferente
para cada assunto. Hoje, não existe mais esse tipo de cobrança.
Antigamente, tirávamos foto de tudo, tínhamos que estar em todos os
lugares, tínhamos que produzir sempre fotos atuais... Era trabalho
duro mesmo. Hoje, tiram uma foto rapidinho ou até usam imagem de
arquivo.
139
RODRIGUES, José e PÁSCOAL, José, Porto de Santos – Uma década de transformações (1990-
1999), 2001, passim.
78
E completa :
jornalista Hamleto Rosato 142, Herrera é um exemplo a ser seguido, “pois nunca se
140
Depoimento do fotógrafo. 01/03/2006.
141
Depoimento do fotógrafo. 01/03/2006.
142
Hamleto Rosato trabalha no jornal A Tribuna desde a década de 1950 até hoje. Foi o criador do
suplemento infanto-juvenil A Tribuninha, o primeiro da América Latina.
79
deixou corromper por nada ou ninguém, e nem produzia imagens que pudessem
143
Depoimento de Hamleto Rosato. 25/08/2007.
144
Miriam Guedes trabalhou no jornal A Tribuna de janeiro de 1968 a junho de 2001. Foi repórter,
repórter especial, sub-chefe de reportagem, chefe de reportagem, 3ª editora, 2ª editora e editora-
chefe do jornal. Atuou ao lado de José Herrera durante oito anos.
145
Depoimento de Miriam Guedes. 05/04/2007.
146
Depoimento de Miriam Guedes. 05/04/2007.
80
sustento da família, José Herrera sempre foi muito dedicado e preocupado com os
pais e irmãos. Por isso, começou a trabalhar tão cedo.147 Segundo a irmã mais nova,
Maria148, “Herrera sempre foi o pai dos irmãos; sempre esteve presente quando
precisaram dele, desde novinho”. 149 Fuensanta 150, a irmã mais velha, lembra que o
situação da nossa família; ninguém precisou obrigá-lo a arranjar emprego, ele foi por
Paco), que aprenderam o ofício com o irmão mais velho. Os três chegaram a
trabalhar juntos por diversas vezes. Infelizmente, somente José Dias Herrera
permanece vivo. “Dos homens, eu era o mais velho. Eles eram bonitos, fortes; eu
147
Conforme já citado no início deste capítulo, José Herrera começou a trabalhar com pouco mais de
dez anos.
148
Maria Dias Herrera completou 80 anos em dezembro de 2007.
149
Depoimento de Maria Dias Herrera. 01/09/2007.
150
Fuensanta Herrera completou 90 anos em maio de 2007.
151
Depoimento de Fuensanta Herrera. 01/09/2007.
152
Depoimento do fotógrafo. 14/09/2005.
81
era o mais franzino, mais feinho, mais desajeitado. E, no fim, sou o único vivo. É a
vida, né?”.153
153
Depoimento do fotógrafo. 14/09/2005.
154
Depoimento do fotógrafo. 14/09/2005.
82
porque saía documentado. A imagem não era apenas uma ilustração que
acompanhava a notícia, ela é que dava credibilidade ao que estava sendo escrito.
As fotos que Herrera fez do Santos Futebol Clube, entre as décadas de 1950 e
2002, foi organizada sob a curadoria do francês Romeric Buel e patrocínio da Coca-
várias cidades do Brasil e do exterior, incluindo Paris. Neste mesmo ano, a fotografia
Santos. Ainda em 2003, foi homenageado também pela Câmara dos Deputados de
São Paulo. O Memorial das Conquistas do Santos Futebol Clube, em 2004, realizou
a exposição “Nas Lentes de Herrera”, com as principais fotos que Herrera fez do
155
A presença sistemática dos fotógrafos nos acontecimentos públicos os tornaram mais respeitados
pelos políticos, artistas e figuras públicas em geral. “Consta mesmo que o ministro britânico dos
negócios estrangeiros, no início de uma reunião intergovernamental, teria perguntado, com certo
humor: - `Onde está o doutor Salomon?´ Não podemos começar sem ele, pois o público pensará que
este encontro não teve importância. E o Primeiro Ministro prussiano, Otto Braun, terá dito também
que: ´hoje pode ter-se uma conferência sem ministros, mas não sem o doutor Solomon´”. Cf. Jorge
Pedro Sousa, Uma história crítica do fotojornalismo ocidental, pág. 77-79. Erich Salomon pode ser
considerado o precursor do fotojornalismo. É com ele que nasce a chamada Candid Photograph, a
fotografia não posada, não protocolar que visa captar a verdadeira personalidade das figuras públicas
no seu cotidiano.
83
exposição “José Dias Herrera: mais de 70 anos de fotografia”. A obra de José Dias
identificação. No que diz respeito ao jornal A Tribuna, a maior parte do acervo foi
Santos (Secom), onde permanece até hoje. Todos os dias, ele chega pontualmente
às oito da manhã, pega sua pauta e sai para as ruas para mais um dia de fotografia.
Declara que só pára quando morrer e continua a fazer belas fotos, escolhendo
fazer seu trabalho na secretaria com uma máquina digital, embora para os trabalhos
particulares, que nunca deixou de fazer mesmo na época em que trabalhava nos
jornais, utilize a máquina analógica, com a qual tem mais familiaridade e confia mais:
podemos considerar a foto como um documento, ou seja, como uma prova definitiva
156
Cruzados – moeda da época.
157
Depoimento de fotógrafo. 01/03/2006.
85
Em atuação desde 1937, Herrera tem hoje (2007) 87 anos de idade, sendo 70
atividade no Brasil. Mestre do ofício, Herrera costuma declarar aos repórteres que o
procuram para fazer matérias sobre ele que, para fotografar é preciso,
vez, não pode e não quer mais parar. Eu fotografo quase todos os dias este
José Dias Herrera, a “memória viva da cidade”, já documentou até agora mais
das ruas. Ele fotografou a vida da cidade de Santos e a sua própria vida foi
inteiramente dedicada à paixão pela fotografia: “Quero morrer nas ruas, trabalhando,
fotografando, porque é isso que eu sei fazer. Essa é a minha vida”. 159
158
Depoimento de fotógrafo, 11/03/2006.
159
Depoimento do fotógrafo, 16/03/2004.
86
87
CAPÍTULO 3
representativas dos diversos períodos e temas retratados por José Herrera durante a
mesmo assunto , porém, somente uma fotografia foi analisada. Ao todo, são 125
quanto o seu valor estético. Aqui, realizamos, além da análise externa e contextual
da imagem, uma análise interna que permitiu uma apreciação mais aprofundada dos
reflexões do fotógrafo.
3.1 Urbanismo
início por volta de 1870, com a ocupação do Centro da Cidade, que logo ficou
aparecer dando origem aos bairros da orla, como Gonzaga, Boqueirão e José
mais distantes, formando bairros como Vila Belmiro, Campo Grande, Jabaquara e
Macuco. A Ponta da Praia foi o último bairro da orla a ser ocupado e a Zona
modernização urbanística de Santos foi fotografado por José Dias Herrera, desde a
160
ANDRADE, Wilma Therezinha F. de, Santos – um encontro com a História e a Geografia, p.66, 68
e 69.
89
um antigo prefeito santista que abraçou a causa de sua construção, o Túnel Rubens
entre o Centro e os bairros situados na orla, até a divisa com São Vicente, e os
cerca de 3.500 veículos circulem por hora apenas pela Waldemar Leão, rua que dá
161
Túnel será totalmente recuperado. Diário Oficial de Santos. 24 de maio de 2006, p.06.
90
Como podemos ver na imagem, houve solenidade festiva com cortejo de carros
comitiva é do prefeito. O túnel foi escavado sob o Monte Serrat com o objetivo de
ligar a região central de Santos ao bairro do Jabaquara e daí às praias. José Herrera
162
Depoimento do fotógrafo. 13/03/2006.
91
projeto. O cronograma inicial de dois anos de duração não pôde ser cumprido,
época. A primeira pista do túnel foi inaugurada no dia 6 de setembro de 1954 163 e a
163
Entregue ao trânsito, na manhã de ontem, a primeira via do túnel do Monte Serrat. A Tribuna.
Santos. 07 de setembro de 1954, p.24.
164
Iluminados, com luz fluorescente, foram entregues ontem os dois túneis. A Tribuna. 24 de
dezembro de 1955, p.16.
92
Ana Costa concentra uma grande variedade de atividades e tem à sua volta os mais
Trecho final da Avenida Ana Costa, em foto tirada do alto do Monumento aos
Andradas, na Praça Independência, no sentido da praia, no ano de 1937.
Balneário Hotel e, à direita, o edifício que abrigava o Atlântico Hotel e o Cine Teatro
Casino (sic) Atlântico, cujo teto móvel se abria nos dias de calor. Mais tarde, o
com a avenida da praia, que está bastante modificado. O espaço que abrigava o
cassino é ocupado por uma loja de departamentos, uma lanchonete, uma farmácia e
uma livraria. Ao centro, a fileira de Palmeiras Imperiais que estão presentes em toda
a extensão da avenida.
Para José Herrera, a avenida Ana Costa é a mais conhecida dos santistas: “É,
sem dúvida, a avenida mais famosa da Cidade. Impossível quem não conheça a Ana
Costa... Ela é bastante movimentada, tem tudo... É larga, bonita. Gosto muito das
165
Depoimento do fotógrafo. 13/03/2006.
94
conhecida como Avenida das Palmeiras por ter dispostas ao longo do seu canteiro
Além disso, Fernando Lichti explica que a Avenida Ana Costa foi a primeira via
de Mendonça. 167
166
A Avenida Ana Costa. Almanaque Santista. Boqueirão News. Santos, fevereiro de 2000, p.04.
167
LICHTI, Fernando Martins, História de Santos – Poliantéia Santista, 1996, p.44.
95
A Praça Independência foi oficializada pela Lei. N°. 647, de 16 de fevereiro de 1921,
168
RODRIGUES Olao, Veja Santos. 1975, p. 309.
96
que permanecia lotado até de madrugada e que teve sua porta estragada por nunca
partir de 1958.
fazendo esquina com a Avenida Ana Costa, o Cine Atlântico e o Bar Regina, que era
ponto de encontro de artistas, jornalistas e boêmios da época. Por lá, era comum ver
Tanah Corrêa, Patrícia Galvão, Jonas Mello, Ney Latorraca, Geraldo Ferraz, Plínio
Marcos e outros. O posto Esso aparece na esquina da praça com a Rua Galeão
hidráulico e abrigava pontos de paradas de bondes à sua volta. Por isso, era cortada
Santos. De autoria do escultor Antonio Sartori, a obra, que é toda em granito, com
magistrado.169
169
BREFE, Ana Cláudia Fonseca, O Monumento aos Andradas, 2005, p.73.
170
Depoimento do fotógrafo. 03/03/2006.
98
171
Depoimento do fotógrafo. 03/03/2006.
172
Praça da Independência é entregue hoje à população. Diário Oficial de Santos. 02 de setembro de
2000, p.4.
99
3.1.4 - ARRANHA-CÉUS
Edifício Enseada, o primeiro prédio na orla da Vista panorâmica da orla praiana no trecho do
Ponta da Praia, ainda em construção. Foi bairro do Boqueirão, em frente à Av. Conselheiro
projetado pelo autodidata João Artacho Jurado, Nébias. Santos. Década de 1970. Gelatina/prata,
responsável por obras que se tornaram 6x9 cm. Acervo FAMS.
referência em Santos e São Paulo. Santos.
Década de 1950. Gelatina/prata, 9x6cm. Acervo
José Dias Herrera.
173
ANDRADE, Wilma Therezinha F., Presença da Engenharia e Arquitetura – Baixada Santista, 2005
p. 84 et seq.
100
José Herrera confessa que nunca imaginou que os grandes prédios tomariam
conta da Cidade:
céus que, a partir década de 1950, se multiplicaram como um claro indício daquilo
no José Menino, famoso por ter sido o precursor dos altos edifícios de apartamentos;
174
Depoimento do fotógrafo. 05/04/2007.
175
GIRAUD Laire José et alli, Memórias da Hotelaria Santista, 1997, passim.
176
ANDRADE, Wilma Therezinha F., Presença da Engenharia e Arquitetura – Baixada Santista, 2001,
p. 84.
102
das praias. Na época, o bairro do Estuário e a Zona Noroeste ainda não contavam
Santos. Nota-se também que os carros estão estacionados dentro da praia, na areia,
República, o general Ernesto Geisel, que veio a Santos para a inauguração, com
de contratos no valor de Cr$ 11,2 bilhões para execução de novas obras de água e
recolhe as águas dos canais de drenagem foi construído sob a faixa de areia numa
profundidade que vai de dois a quatro metros e possui uma extensão de 4.900
177
Depoimento do fotógrafo. 05/07/2006.
178
Manifestação a Geisel na Baixada/Geisel inaugura Emissário e afirma que receberá Paulo Maluf. A
Tribuna. 22 de julho de 1978, p.01
105
abrigar eventos diversos e passou a ser freqüentado pela população, como recorda
José Herrera:
Otake, que será um parque público projetado com áreas verdes e uma enorme
escultura da artista plástica japonesa Tomie Ohtake. A obra deve ser entregue à
179
www.santos.sp.gov.br/comunicacao/historia/emissario
180
Depoimento do fotógrafo. 05/07/2006.
181
Sinal verde para projeto no Emissário. Jornal da Orla. Santos. 18 e 19 de agosto de 2007, p.9.
106
Conhecido como um dos mais belos cartões postais de Santos, os jardins da orla
estão no Guinness Book of Records, o livro dos recordes, desde 2001, como o
jardim frontal de praia de maior extensão do mundo. São 5.335 metros distribuídos
direção da avenida, podemos ver a Praça das Bandeiras com a Fonte Nove de Julho
praia, existia uma via mais estreita onde carros estão estacionados, que não existe
José Herrera observa que a avenida da praia sofreu grandes alterações, mas
área do José Menino foi construída e as já existentes melhoradas com obras de arte,
floridos. 183
182
Depoimento do fotógrafo. 05/07/2006.
183
LICHTI, Fernando Martins, História de Santos – Poliantéia Santista, 1996, p.145.
109
em 2008.
A foto mostra a frente do Monumento a Braz Cubas. Nota -se, na parte inferior,
Dois escudos de bronze, nas laterais da obra, ostentam a palavra Labor. Existe
também uma coroa de bronze abaixo das alegorias, onde vê -se o brasão da Cidade
111
como era na época: dos chanfros pendem festões de louro, que representam a
honra e a vitória.
estético. Dizem que na sua base estão os restos mortais de Braz Cubas, retirados
da República.184
O jovem português Braz Cubaz veio para o Brasil com a expedição de Martim
do Brasil. 185
184
LICHTI, Fernando Martins, Poliantéia Santista, 1996, p. 178.
185
ANDRADE, Wilma Therezinha F., Santos – um encontro com a História e a Geografia, 1992, p.
117.
112
14 anos José Barreto, o trabalhador mais jovem da estrada, que cortou a fita
simbólica, ato que inaugurou oficialmente a rodovia. José Herrera lembra como era a
velha estrada:
Caminho do Mar, demandou mais de 17 anos para ser concretizada: quatro anos
186
Depoimento do fotógrafo. 07/10/2005.
114
construção. E, ainda assim, a nova rodovia foi aberta operando apenas a pista
julho de 1953.187
“Foi a primeira estrada do Brasil a ter túneis. As pessoas ficavam maravilhadas com
aquilo tudo. Eu mesmo fiquei. Era tudo bem moderno e diferente mesmo. Foi um
entre o planalto e o litoral. Em 1948, ano seguinte à sua inauguração, 830 mil
veículos passaram pela estrada. Quatro anos depois, esse movimento saltava para
nova rodovia:
187
MONTEIRO, Paulo Gonzalez, A Conquista da Serra do Mar, 2002, p.80.
188
Depoimento do fotógrafo. 07/10/2005.
189
MONTEIRO, Paulo Gonzalez. A Conquista da Serra do Mar, p.80.
190
Ibid, p.85
115
191
Via Anchieta, estrada-marco da grandeza de São Paulo, a glorificar a memória do jesuíta lendário.
A Tribuna. Santos, 23 de abril de 1947, p.3
116
feridos.
Deslizamento do Morro do Marapé. Santos. Março Deslizamento do Morro do Marapé, que obstruiu a
de 1956. Gelatina/prata, 6x9cm. Acervo FAMS. linha dos bondes. Santos. Março de 1956.
Gelatina/prata, 6x9cm. Acervo FAMS.
192
O caso que foi atribuído a um milagre de Nossa Senhora do Monte Serrat, a santa padroeira da
Cidade.
117
Uma forte chuva provocou uma avalanche que soterrou cerca de 20 chalés no
sopé do morro, no lado final da Rua João Caetano 193. Os veículos que aparecem na
São Bernardo do Campo, junto com mais de 140 homens para ajudar no rescaldo.
193
Na Rua Godofredo Fraga, todo um quarteirão foi atingido. As chuvas começaram às 14h30 e se
intensificaram após as 16 horas, por cerca de 8 horas. Infelizmente, 22 pessoas morreram. A Tribuna,
No Morro do Marapé, 22 mortes, 03 de março de 1956, p.3.
118
194
Depoimento do fotógrafo. 31/05/2006.
119
Documentando o passado, elas fazem com que ele permaneça entre nós. Ou,
demolidas, como o antigo hotel Parque Balneário. Todas estas imagens preservam
195
ANDRADE, Wilma Therezinha F., Presença da Engenharia e Arquitetura – Baixada Santista, 2001.
Apresentação.
120
1960. Tinha cassino, boate, grill de verão, centro de convenções, bar executivo,
196
LICHTI, Fernando Martins, História de Santos - Poliantéia Santista. 1996, p. 242.
121
tinham piso em mosaico português, vemos também muitas palmeiras e plantas com
Para José Herrera, a demolição do Parque Balneário foi o maior crime que se
por um shopping center, por outro hotel de mesmo nome e por edifícios residenciais.
197
Depoimento do fotógrafo. 10/11/2005.
198
Hotel Parque Balneário. Diário Oficial de Santos. 28 de maio de 2004, p.2. (coluna Memória
Santista).
123
atual Praça Visconde de Mauá. O terceiro, inaugurado pelo Dr. Cláudio Luiz da
Costa em 1836, junto ao morro de São Jerônimo, atual Monte Serrat, foi
Como podemos observar na foto, não existia nada no entorno da Santa Casa
interessante e muito bonito. O salão nobre era uma obra de arte. Foi um absurdo
abandonarem e depois demolirem... Poderiam ter utilizado para outros fins ”. 199
capacidade para 1400 leitos, o hospital era um dos maiores e mais bem equipados
da época. Atualmente, com 700 leitos ativos, ainda é considerado um dos maiores e
hospital foi reproduzido no jornal A Tribuna: “Quando for feita a história da filantropia
199
Depoimento do fotógrafo. 14/02/2006.
200
Henrique Seiji Ivamoto, A Fundação da Misericórdia e do Hospital. www.scms.org.br. Santos:
Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de Santos, 2006.
201
Jornal A Tribuna. Acontecimento exponencial na vida de Santos – A solenidade de inauguração do
novo hospital da Santa Casa. Santos, 03 de julho de 1945, p.5.
126
Construído para abrigar a Prefeitura Municipal de Santos, que até então funcionava
nos antigos casarões do Largo Marquês de Monte Alegre, o Palácio José Bonifácio
teve suas obras iniciadas em 1937 e foi inaugurado a 26 de janeiro de 1939, como
de Cidade.
Praça Mauá e, ao fundo, o Palácio José Bonifácio, que abriga o Paço Municipal
(Prefeitura), no Centro de Santos, na década de 1970.
que o piso da Praça Mauá era todo em mosaico português. À esquerda, vemos o
prédio dos Correios, que tem uma abóbada na parte de cima. Nota-se que o palácio
e a praça eram separados por uma rua, que atualmente não existe mais. Também
percebemos que o centro da praça era vazio, sem jardins , canteiros ou fontes,
Municipal impressiona pela sua beleza e imponência. Seu estilo arquitetônico segue
detalhes das portas, do piso, e do teto, o magnífico hall de entrada, o Salão Nobre
202
Depoimento do fotógrafo. 21/11/2006.
203
Paço Municipal Diário Oficial de Santos, 10 de outubro de 2003, p.02. (coluna Memória Santista)
129
A Igreja do Embaré, como é mais conhecida, era, no ano de 1875, uma capela que
media 12 metros do altar até a porta, construída por Antonio Ferreira da Silva, o
reitor da Capela, tratando de promover a sua reforma, que ficou pronta em menos de
se o dia de Santo Antônio e aos domingos havia apenas uma missa às 10h30. Em
Basílica de Santo Antonio do Embaré. Santos. Basílica de Santo Antonio do Embaré. Santos.
Década de 1950. Gelatina/prata, 120mm, Setembro de 2002. Gelatina/prata, 35mm,
6x9cm. Acervo José Dias Herrera. 10x15cm. Acervo Secretaria de Comunicação.
204
Igreja do Embaré. Diário Oficial de Santos, 25 de julho de 2003, p. 02. Memória Santista.
130
de Santo Antônio pregando aos peixes, que foi esculpida por Luiz Morone e
205
LICHTI, Fernando Martins, Poliantéia Santista, 1996, p.180.
131
A basílica que conhecemos hoje, erguida no lugar da antiga capela, teve sua
de sagração, pelo Bispo D. Idílio José Soares. No dia 13 de junho de 1949, o templo
novembro de 1952.208
206
ANDRADE, Wilma Therezinha F., Presença da Engenharia e Arquitetura – Baixada Santista, 2001,
p.101.
207
Igreja do Embaré. Diário Oficial de Santos,, 25 de julho de 2003, p. 02. coluna Memória Santista.
208
ANDRADE, Wilma Therezinha F., Presença da Engenharia e Arquitetura – Baixada Santista, 2001,
p.101.
132
209
BARBOSA, Gino Caldatto, O palácio do café, 2004, p. 64 e 82.
133
formada pelas ruas XV de Novembro e Frei Gaspar - o antigo Quatro Cantos, lugar
Porto, na esquina das ruas Frei Gaspar e Tuiuti. Tais referências físicas exerceram
210
BARBOSA, Gino Caldatto, O palácio do café, 2004, p.78.
134
José Herrera ressalta que o prédio da Bolsa de Café sempre foi ponto de
da economia nacional, a Bolsa Oficial de Café foi criada junto com a Câmara
início da I Guerra Mundial, só puderam ser instaladas em maio de 1917, num salão
inaugurado pelo então presidente Washington Luiz. Com a quebra da Bolsa de Nova
York, em 1929, a economia cafeeira do Brasil foi afetada e a Bolsa foi desativada em
1937. No ano de 1942, voltou a operar como Bolsa de Café e Mercadorias, mas os
Com o fim dos pregões, o prédio começou a ser ocupado por repartições do
211
Depoimento do fotógrafo. 05/04/2007.
212
LICHTI, Fernando Martins, Poliantéia Santista, p.177.
135
(Condephaat) garantiu que não fosse descaracterizado. José Herrera recorda com
conservação:
1998. Atualmente, abriga o Museu dos Cafés do Brasil e conserva a sala de pregões
com a mesma mobília em jacarandá usada pelos antigos corretores e as três telas
de Benedito Calixto retratando Santos nos anos de 1545, 1822 e 1922. No lugar
existe ainda o Centro de Preparação do Café, que ministra cursos sobre o tema,
213
Depoimento do fotógrafo. 05/04/2007.
214
Jornal Diário Oficial de Santos. Bolsa do Café completa 85 anos. Santos, 07 de setembro de 2007,
p.12.
136
na rota mundial do teatro. Estrelas como a francesa Sarah Bernhardt, uma das mais
ficou em ruínas 215e hoje está sendo restaurado com recursos da Lei Rouanet.
215
Fernando Martins Lichti, História de Santos - Poliantéia Santista, p.61.
137
Ruínas do antigo Teatro Guarani, localizado na Praça dos Andradas, esquina com a
Rua Amador Bueno, em 1991.
e da lateral da Rua Amador Bueno. Toda a área interna parece um grande pátio, que
está tomado pela vegetação, já visível na fachada. O edifício foi construído em estilo
216
Depoimento do fotógrafo. 27/10/ 2005.
138
realizando o restauro com recursos obtidos por meio da Lei Rouanet para
217
LICHTI, Fernando Martins, História de Santos - Poliantéia Santista, 1996, p.61.
218
Diário Oficial de Santos. Prefeitura compra Teatro Guarany. 30 de junho de 2003, p.16.
219
Depoimento do fotógrafo. 27/10/2005.
139
O Coliseu Santista passou por três fases distintas, mas sempre funcionou no mesmo
local. Quando foi inaugurado (1896), era um ginásio de madeira e suas atividades
teatros do Brasil, sendo que em seu palco pisaram grandes nomes como Vicente
Celestino, Cacilda Becker, Procópio Ferreira, Carmem Miranda e tantos outros. 221
220
Pista para corridas de bicicletas
221
LICHTI, Fernando Martins, História de Santos – Poliantéia Santista, 1996, p. 61.
140
222
Espaço entre o palco e a platéia, na altura da platéia, onde cabiam cem músicos.
141
apresentou lá, mas o espetáculo mais bonito que fotografei nem era
famoso, foi um bailado francês.223
Na década de 1950, a parte dos fundos do teatro foi vendida para a construção de
ocasião, o hall de entrada foi dividido para construção de lojas comerciais. Nessa
época, o Coliseu já funcionava mais como cinema do que como teatro. Em 1982, o
restauração do imóvel.225
milhões, bancados pelo Poder Público e iniciativa privada, o Teatro Coliseu foi
internas, desenhos de anjos no teto, o magnífico piso, o corrimão de scalole 226 e até
227
a decoração, cuidadosamente pesquisada de modo a recriar a original.
223
Depoimento do fotógrafo. 07/02/2007.
224
LICHTI, Fernando Martins, História de Santos – Poliantéia Santista, 1996, p. 61.
225
LICHTI, Fernando Martins, História de Santos – Poliantéia Santista, 1996, p. 61.
226
Tipo de pintura que imita o granito original da época da inauguração, em 1924.
227
Revista Beach & Co, Coliseu volta a encantar. Santos, março de 2006, p. 8, 9 e 10.
142
Mesmo estando hoje em ruínas, o que resta dos antigos Casarões do Valongo
anos de 1867 e 1872 pelo comendador Manoel Joaquim Ferreira Neto, foram
228
ANDRADE, Wilma Therezinha F., Presença da Engenharia e Arquitetura – Baixada Santista, 2001,
p. 78 e 79.
143
da direita ainda mantinha todas as paredes, que seriam abaladas após outro
incêndio, em 1988. Com o passar dos anos, as outras paredes foram caindo e hoje
229
Antonio Gomide Ribeiro dos Santos, prefeito de Santos de 17/01/1938 a 14/07/1938 e de
01/07/1941 a 31/08/1945.
230
Depoimento do fotógrafo. 07/08/2006.
144
a construção, no local, do Museu Pelé. O projeto prevê o restauro das fachadas dos
imóveis e a construção interna de três blocos modernos, que abrigarão lojas, café,
231
Jornal Boqueirão News , coluna Almanaque Santista, Os Casarões do Valongo. Santos, 23 de
agosto de 2003, p.04.
232
Jornal da Orla, O gol definitivo. Santos, 25 e 26 de agosto, p. 04 e 05.
145
Santos sempre teve uma tradição de contestação política, que ficou evidente
Fora as ilustres visitas dos chefes de Estado, Santos também passou por
Uma história política com direito a capítulos de cassação, renúncia e até morte.
toda a região, mas sempre soube manter a sua isenção nos momentos em que
esteve trabalhando. Por isso, nem mesmo durante a ditadura encontrou problemas
Santos, e com o título de Irmão Benemérito, pela Santa Casa de Santos. 233
233
Irmão Benemérito. A Tribuna, Santos, 07 de agosto de 1962, p.09.
147
Princesa Isabel, ao fundo, é um óleo sobre tela do pintor milanês Ângelo Cantú,
intitulado “A Redentora”. A foto registra partes das arandelas instaladas no recinto 235.
permanecem no espaço.
234
JK Cidadão Santista. A Tribuna. Santos, 07 de agosto de 1962, p.14.
235
As arandelas de bronze e cristal foram importadas da Bohemia, província da antiga
Tchecoslováquia, atual República Tcheca, em 1938.
148
236
Depoimento do fotógrafo. 26/10/2005.
237
Depoimento do fotógrafo. 26/10/2005.
149
Getúlio Vargas esteve várias vezes em Santos. Segundo o escritor Nelson Salasar
Além desta vez, Santos recebeu o ditador em julho de 1945, para as inaugurações
Herrera conta também que lembra de Getúlio Vargas estar em Santos em muitas
238
MARQUES, Nelson Salasar, Imagens de um Mundo Submerso, passim.
239
Acontecimento exponencial na vida de Santos, Santos, A Tribuna, 03 de julho de 1945, p.5 e 6.
150
quem até um livro já foi escrito: O Anjo da Fidelidade, de José Louzeiro. José
240
Depoimento do fotógrafo. 05/03/2007.
152
O ex-presidente Jânio Quadros esteve em Santos diversas vezes, entre elas durante
Santos para a Europa. Quando retornou ao Brasil, morou durante algum tempo no
Guarujá.
em 28 de novembro de 1959, após uma viagem que realizou com sua esposa Eloá,
a mãe Leonor e a filha Dirce Maria ao redor do mundo, oportunidade em que visitou
(UDN).241
José Herrera afirma que Jânio foi um dos políticos que mais fotografou e que
241
Jornal A Tribuna. 29 de novembro de 1959.
154
"tostão contra o milhão" desde os tempos da prefeitura paulistana, deu início a sua
anos de política, com 48% dos votos apurados, exatos 5 milhões 636 mil 632 votos.
agosto de 1961, rumo ao seu exílio para Londres. O povo esperou em vão no cais
do armazém 15, pois, assim que embarcou, recolheu-se à cabine, não mais
242
Depoimento do fotógrafo. 05/03/2007.
243
Jânio Quadros morre em SP aos 75 anos. A Tribuna. Santos. 17 de fevereiro de 1992, p. A7, A8 e
A9.
244
Todo o mundo comenta a renúncia do presidente Jânio Quadros. A Tribuna, Santos. 27 de agosto
de 1961, p.01.
245
Lágrimas sentidas. A Tribuna, Santos. 29 de agosto de 1961, p.01.
155
Clube, do qual era sócio remido desde 1963. Ao final da faculdade, confessou a
alguns amigos que seus sonhos eram ser prefeito de Santos e presidente do Santos
Futebol Clube.
O então candidato à Prefeitura de Santos, Mário Covas, posando para a foto em seu
comitê eleitoral, em 1961.
Prefeitura de Santos, Mário Covas, está posando para foto em tom de brincadeira
segurando duas girafas, uma em cada mão. A girafa foi adotada como mascote e
que um quadro com a gravura de Jesus Cristo enfeita a sala do comitê do candidato,
de março e Mário Covas não conquistou a prefeitura de Santos. Com 22.369 votos,
ficou em segundo lugar, atrás do eng.° Luiz La Scala Jr, que foi eleito prefeito com
28.286 votos. 246 Quanto às eleições naquela época, José Herrera cita o fato do povo
Em 1962, Mário Covas foi eleito deputado federal pelo PST e reeleito, em
1966, pelo MDB. Teve a carreira política interrompida pela cassação e seus direitos
políticos suspensos pelo Ato Institucional n.º 5 em 1968, retornando à vida pública
Santista. Em 1983, foi nomeado prefeito de São Paulo pelo governador Franco
Com a maior votação da história política do país, 7,7 milhões de votos, elegeu-
1988. No ano de 1989, foi derrotado nas eleições para a Presidência da República.
São Paulo em 1994, reelegendo-se em 1998, com 9 milhões e 800 mil votos. No dia
do mesmo ano, Mário Covas faleceu vítima de falência múltipla dos órgãos. 249
249
www.fmcovas.org.br/perfil
159
de Santos em novembro de 1968, com cerca de 45 mil votos, não chegou a tomar
eleito Oswaldo Justo, chocado com a situação, decidiu não assumir a Prefeitura e
250
Justo renuncia: vem intervenção. A Tribuna, Santos. 29 de março de 1969, p.01.
160
membros do partido MDB, com destaque para o então deputado Athiè Jorge Coury,
na sede do Santos Futebol Clube, um jantar foi oferecido a Tarquínio pelo próprio
Clube.
Esmeraldo Tarquínio foi eleito prefeito de Santos e, para José Herrera, o fato
Todo mundo gostava dele; ele quase não conseguia andar pela rua
porque era parado pelo povo a todo instante... E ele dava atenção a
todos.251
José Herrera. Para o fotógrafo, a renúncia de Osvaldo Justo foi a melhor atitude
naquela ocasião.
vida e depois de falecido. O Salão Nobre da Prefeitura de Santos, por exemplo, tem
251
Depoimento do fotógrafo. 29/11/2006.
252
Depoimento do fotógrafo. 29/11/2006
253
A homenagem de Santos a Esmeraldo Tarquínio. Jornal da Orla, Santos. 14 e 15 de abril de 2007,
p.02.
162
Osvaldo Justo foi prefeito entre 1984 e 1988, o primeiro após a recuperação da
Tarquínio, Justo, que era seu vice, não concordou em assumir o cargo, embora não
houvesse restrições a seu nome por parte do Governo Militar. Após deixar a
Prefeitura, Justo foi deputado estadual por dois mandatos consecutivos, o último
O então prefeito de Santos, Osvaldo Justo, vistoriando a O então prefeito de Santos, Osvaldo Justo,
pavimentação do caminho São Jorge, na Zona Noroeste. praticando caratê Santos. Década de 1980.
Santos. 30 de agosto de 1988. Gelatina/prata, 35mm, Gelatina/prata, 35mm, 10x15cm. Acervo José Dias
10x15cm. Acervo José Dias Herrera. Herrera.
163
consagrou a sua autonomia política com a posse de Osvaldo Justo, eleito prefeito da
254
Posse de Justo restaura autonomia. A Tribuna. Santos. 10 de julho de 1984, p.01.
164
255
Depoimento do fotógrafo, em 29/11/2006.
256
Santos reconquista a liberdade. A Tribuna, Santos. 04 de junho de 1984, p.05.
257
Santos nas urnas. A Tribuna, Santos. 03 de junho de 1984, p.01.
258
Depoimento do fotógrafo, em 29/11/2006.
165
dias depois.
259
Depoimento do fotógrafo. 29/11/2006.
260
Depoimento do fotógrafo. 29/11/2006.
166
foi prefeito da cidade natal e de São Paulo. Em 1920, foi eleito governador do
Estado, quando proferiu sua famosa frase "Governar é abrir estradas". Investiu na
então diretor do grupo A Tribuna, que recebeu o ex-presidente durante a sua estadia
chegou a Santos no dia 01 e declarou que permaneceria na Cidade até o fim do mês
Balneário Hotel.261
261
Jornal A Tribuna, Em Santos o Dr. Washington Luiz. Santos. 09 de julho de 1953, p.07.
168
Cubatão. Mas foi a Companhia Siderúrgica Paulista (Cosipa) que ajudou a marcar a
importância da Cidade para a região, para o Estado de São Paulo e para o Brasil.
262
Caderno especial Cubatão 49 anos. A Tribuna, Santos. 09 de abril de 1998, p.02.
169
imprensa - onde ele e outros jornalistas estavam - ficava a uma distância de 100
263
Depoimento do fotógrafo, em 23/09/2005.
264
A Tribuna. Santos. 16 de outubro de 1964, p.3.
171
3.3.9 – GREVES
Desde o final do século XIX e início do XX, e entre os anos de 1940 e 1964, Santos
organizando com o propósito de lutar por seus direitos, salários e pela diminuição da
a partir de 1930. Com o Golpe de 1964, a fase das manifestações grevistas teve
fim. 265 A primeira greve depois de 1964 - a dos trabalhadores portuários - aconteceu
Forças policiais ocupam a garagem dos bondes da Cavalaria da Força Pública vigiando o cais do
Vila Mathias durante a greve dos transportes Porto, próximo ao atracadouro do ferry-boat para
coletivos. Santos. Setembro de 1962. Guarujá, durante as greves. Santos, 1963.
Gelatina/prata, 24x36cm. Acervo FAMS. Gelatina/prata, 24x36cm. Acervo FAMS.
265
Santos e o Golpe de 64. Diário Oficial de Santos, 16 de abril de 2004, , p.2. Memória Santista.
266
A primeira greve depois de 1964, A Tribuna, Santos, 18 de março de 1980.
172
garagem dos bondes, localizada na Av. Rangel Pestana, na Vila Mathias, durante a
observar que os policiais usam capacete, uniforme completo com botas tipo coturno
e carregam um cacetete preso ao cinto nas costas. A foto mostra também quatro
bondes estacionados.
O fotógrafo Herrera recorda que, em Santos, o povo sempre foi muito politizado
267
Depoimento do fotógrafo. 29/11/2006.
173
explicações.
174
foram executados em Santos pela The City of Santos Improvements & Co. Ltd., mais
A City manteve o serviço de transporte coletivo até 1950, quando entregou todo
(SMTC). Forneceu água a Santos, São Vicente e Cubatão até 1953, abasteceu
Santos com gás encanado 268 até 1965, quando aconteceu a explosão do gasômetro,
circulavam pelas ruas de Santos até a década de 1970, época em que o Brasil ainda
268
Gás de rua
269
Os serviços de eletricidade passaram da Light para a Eletrobrás (1980) e desta para a Eletropaulo
(1981). Em 1998, os serviços foram privatizados e passaram para a Companhia Piratininga de Força
e Luz (CPFL), que atua em Santos até hoje.
270
LICHTI, Fernando Martins, História de Santos - Poliantéia Santista, 1996, p. 32 et seq.
175
sete anos depois, mais de 1 milhão e 200 mil. No início de 1953, já eram mais de 2
1940. E tem mais: nesses países, a proporção era de um carro para cada 75
271
América Latina: o maior mercado automobilístico. A Tribuna. Santos. 25 de julho de 1953, p. 05.
176
José Herrera explica que, até a década de 1970, a maioria dos carros que
E completa:
272
Depoimento do fotógrafo. 24/09/2007.
273
Depoimento do fotógrafo. 24/09/2007.
178
Bonde 19 com reboque. Porto de Santos. Início Primeira tentativa de reativar o Bonde como
da década de 1940. Gelatina/prata, 6x9cm. atração turística em Santos, na orla da praia, pelo
Acervo FAMS. prefeito Paulo Barbosa. 10 de junho de 1984.
Gelatina/prata, 10x15cm. Acervo FAMS.
274
LICHTI, Fernando Martins, História de Santos - Poliantéia Santista, 1996, p.115.
179
até o Macuco, perto do Porto. Nota-se que a rua é de paralelepípedo e que, na parte
à direita, da bebida Vermouth Gancia, uma das mais famosas da época. Segundo
Fernando Martins Lichti, o serviço de anúncios nos bondes, tanto internamente como
275
LICHTI, Fernando Martins, História de Santos - Poliantéia Santista, 1996, p.115.
180
lugares.
tipos de bonde como o “fúnebre”, que surgiu em 1903 e levava o caixão e seus
ruas, em princípios de 1913, e o “assistência”, que levava auxílio aos bondes que
O último bonde a sair de circulação foi o veículo prefixo 258, da linha 42, que ia
da Praça Mauá, no Centro, à Ponta da Praia, pela Avenida Ana Costa. O carro foi
Municipal fez a primeira tentativa de trazer o Bonde de volta, como atração turística.
276
Depoimento do fotógrafo. 09/03/2006.
277
LICHTI, Fernando Martins, História de Santos - Poliantéia Santista, 1996, p.115.
181
O veículo circulou até 1986 e hoje está parado na Praça das Bandeiras, no
setembro de 2000 e hoje é uma das principais atrações de Santos. Com 1.700
Porto, que foi inaugurado em 26 de janeiro de 2006 e deu início ao Museu Vivo do
recordam as histórias dos lugares por onde passam. No ponto do Bonde, antes da
ficam à disposição dos interessados para contar curiosidades sobre este meio de
278
Bondes de diversos países circulando pela Linha Turística. A vinda de mais veículos já está sendo
negociada e a expectativa da Prefeitura é que, em breve, estarão circulando mais dois bondes
portugueses, um italiano, um paraguaio, um japonês e um dos Estados Unidos.
279
Idosos que trabalharam como motorneiros ou condutores de bonde em Santos.
182
Prefeitura Municipal, que não conseguia garantir um serviço eficiente. Por isso, no
ano seguinte, o serviço foi transferido para a Prodesan280, que passou a ser
280
Progresso e Desenvolvimento de Santos – empresa de economia mista em que a Prefeitura de
Santos detém capital majoritário.
183
que o veículo possa ser utilizado como caminhão de lixo. Vemos também que o
lixeiros que estão na calçada usem luvas, nota-se que o funcionário em cima do
caminhão tem uma de suas mãos desprotegida. A imagem mostra também que a
coleta está sendo feita em local próximo à entrada da Cidade. A rua é larga e feita
administração dos serviços de limpeza pública, que são executados pela Terracom
porte.
281
Depoimento do fotógrafo. 26/11/ 2007.
282
www.prodesan.com.br/limpezapublica
185
fornecimento de gás encanado para Santos deixou de existir, dando lugar aos
Sales. À direita, vê-se a Rua Marechal Pego Júnior e, abaixo, a Avenida Conselheiro
José Herrera:
tinha vindo o clarão. Fomos pra lá. Quando cheguei ainda tinha fogo
no local. 283
contava com fornecimento de gás encanado residencial, sendo uma das primeiras
cidades do País a contar com o serviço, implantado a partir de 1870. Dois dias após
possui um sistema moderno e seguro, que não armazena o gás, e sim, o traz direto
283
Depoimento do fotógrafo. 07/03/2005.
284
A cidade nunca viu algo semelhante, A Tribuna, Santos, 10 de janeiro de 1967, p.24.
285
Aumenta procura por gás engarrafado. A Tribuna, Santos, 11 de janeiro de 1967, p.2
286
Santistas deverão ter gás natural em um ano. A Tribuna, Santos, 28 de julho de 2006, p. A4.
188
1950, os cassinos estavam entre as opções mais procuradas por aqueles que
na região:
Galvão, Plínio Marcos, Cacilda Becker, Cleide Yáconis, Ney Latorraca e tantos
outros. Além disso, o Porto santista foi a porta de entrada de inúmeras celebridades
Toscanini e o cantor americano Nat King Cole, ambos fotografados pelas lentes de
Herrera.
287
Depoimento do fotógrafo. 30/11/2005.
189
No início dos anos de 1950, José Herrera foi cedido pelo jornal O Diário, nos finais
dia, a maioria dos hóspedes fotografados eram mulheres, que gostavam de ser
inteiros, escuros e lisos. As peças eram confeccionadas em helanca 288 ou nylon, que
afinava a cintura, realçava os quadris, ajustava-se melhor ao corpo e era pri vilégio
das mais abastadas, por serem caras e geralmente feitas sob medida. A lycra surgiu
no final da década de 1970. Vale ressaltar também que, apesar do biquíni ter sido
desenhado no ano de 1946, a peça só começou a ser usada como item básico a
288
Malha mais grossa, normalmente usada em roupas de educação física.
191
José Herrera lembra que o Guarujá era freqüentado somente por famílias
289
Depoimento do fotógrafo. 17/03/2006.
192
Situado 147 metros acima do nível do mar, o antigo cassino do Monte Serrat foi
proibido em todo País. Hoje, o lugar é atração turística e de seu terraço é possível
Monte Serrat, que atualmente tem o nome de Monte Serrat – Cassino Elevadores
Ltda.
sem o mirante que existe hoje. Como a foto tirada no dia 08 de setembro de 1958,
comenta:
290
Depoimento do fotógrafo. 30/11/2005.
291
A extinção do jogo – comentários em torno do decreto-lei de ontem, do governo federal. A Tribuna,
Santos. 01 de maio de 1946, p.1.
292
Depoimento do fotógrafo. 30/11/2005.
293
As praias de Santos sem jogo – Havia ontem por toda a parte uma atmosfera de melancolia e
tristeza. A Tribuna. Santos. 03 de maio de 1946, p.14.
195
personalidades que freqüentavam o lugar. Este foi um dos trabalhos mais rentáveis
Como podemos observar, trata-se de uma foto posada antes do início de uma
grandes coreografias, cenário suntuoso e figurino ousado (mini saia e top, com a
barriga de fora), valorizando o corpo da mulher. Posam para a foto 15 atores, dos
Eles tinham que posar antes do show porque eu não podia tirar
a fotografia durante o espetáculo por causa da fumaça que o
magnésio produzia... Eu não podia atrapalhar a apresentação e nem
o público. Ah! Outra coisa: tudo acontecia no cassino sim, mas não
usavam a palavra ‘cassino’ para evitar problemas, pois o jogo era
proibido. 294
294
Depoimento do fotógrafo. 17/03/2006.
197
295
Depoimento do fotógrafo. 17/03/2006.
296
VENEZIANO, Neyde. O teatro de revista. In: O TEATRO através da história. Rio de Janeiro:
Centro Cultural Banco do Brasil, 1994. p. 154 et seq.
198
Municipalidade.
jornal A Tribuna. Pode-se ver, no alto do caminhão, no canto esquerdo, a atriz Glória
Menezes, o diretor Anselmo Duarte no centro e, à sua direita, o ator Geraldo Del
297
A Tribuna homenageia Anselmo Duarte. A Tribuna, Santos, 05 de julho de 1962, p.01.
200
298
Depoimento do fotógrafo. 05/02/2007.
201
Uma das atrizes mais brilhantes que o Brasil produziu, Cacilda Becker Yáconis
em Pirassununga, interior paulista, veio aos dez anos com a família para Santos,
onde foi descoberta e iniciou a sua carreira. Mesmo depois que se mudou para São
vezes. 299
299
Cacilda Becker e Paulo Autran dão nomes a espaços do Coliseu, A Tribuna. Santos, 16 de outubro
de 2007, p.D4.
202
festival Théàtre des Nations. A atriz posa para a foto atrás do cartaz do espetáculo,
chamado Cycle Du Bresil, que é segurado por dois homens e uma mulher,
tipo passeio. Os homens usam chapéu, calça social, camisa e gravata, e um deles
ainda veste um casaco. A mulher, que também está de chapéu, usa luvas, vestido e
Ziembinski. Depois, foi para o TBC301, onde ficou dez anos. Saiu em 1958 para
300
Depoimento do fotógrafo. 26/02/2007.
301
Teatro Brasileiro de Comédia.
302
Paulo Autran e Cacilda Becker terão nomes eternizados no Coliseu, Diário Oficial de Santos. 17 de
outubro de 2007, p.20.
303
Paulo Autran e Cacilda Becker terão nomes eternizados no Coliseu, Diário Oficial de Santos. 17 de
outubro de 2007, p.20.
204
304
Delegação de jornalistasAniversário:
que vieramQuanta saudade!, A Tribuna, Santos, 27 de janeiro de 2006, p. A3.
de várias
305
Acontecimento exponencial
cidades para conhecer o Aquário Municipal. Na na vida de Santos, No Aquário Municipal. A Tribuna, Santos, 03 de
julho de 1945, p.6.
imagem, todos posam com um pingüim, uma das
principais atrações do parque. Santos, julho de
1945, Gelatina/prata, 6x9cm. Acervo FAMS
205
Ao fundo vê-se a orla da praia. As duas ruas ao lado não existem mais. A via
da esquerda, a antiga Alameda Luiz Carlos Durante, foi fechada em 2005, para a
306
Prefeito de Santos na época em que o Aquário estava sendo contruído.
307
Depoimento do fotógrafo. 31/05/2006.
308
Novo Aquário com espaço triplicado será entregue nesta quinta-feira, Diário Oficial de Santos, 25
de janeiro de 2006, p.3.
207
altura, foi feita entre 1652 e 1655 pelo escultor beneditino frei Agostinho de Jesus . A
capela foi erguida entre 1599 e 1611 no alto do morro, cuja subida pode ser feita por
meio de bondes funiculares ou pelo Caminho Monsenhor Moreira, com 415 degraus
309
LICHTI, Fernando Martins, História de Santos - Poliantéia Santista, 1996, p.153.
acompanhada por milhares de fiéis, que saíam da Praça Mauá, entravam na Rua
Dom Pedro II e que, nesse momento, atravessam a Rua João Pessoa em direção ao
310
Depoimento do fotógrafo. 11/11/2006.
209
solenidades. 311
fortes que, em 1955, Nossa Senhora do Monte Serrat foi proclamada a padroeira da
312
Cidade de Santos.
311
Recanto onde vivem a fé e a tradição de séculos. A Tribuna, Santos, 31 de maio de 1953, p.24.
312
LICHTI, Fernando Martins, História de Santos - Poliantéia Santista, 1996, p.153.
210
3.6 Carnaval
momentos diferentes e teve fases bem destacadas: corsos, ranchos e choros, blocos
décadas, José Herrera acompanhou o Carnaval santista por anos. Em seu acervo,
Em 2000, o carnaval de rua, já bastante decaído, foi proibido na Cidade por ter
313
JÚNIOR, Bandeira, História do Carnaval Santista, 1974, p.94 et seq.
314
Depoimento do fotógrafo, em 22/11/2005,
315
De volta à folia: Santos retoma os desfiles. Perspectiva, Santos, fevereiro de 2006, p.5.
211
Corte Carnavalesca: rei Momo Waldemar Esteves Rei Momo Waldemar Esteves da Cunha e a
da Cunha, rainha Claudici dos Santos, princesas e rainha Irma Milani em baile carnavalesco de
o bobo-da-côrte. No palanque, ao fundo, membros salão. 1959. Gelatina/prata, 6x6cm. Acervo
da Associação de Cronistas Carnavalescos de particular José Herrera.
Santos. 1958. Gelatina/prata, 6x6cm. Acervo
particular José Herrera.
316
JÚNIOR, Bandeira, História do Carnaval Santista, p.94 e 95.
212
Na foto vemos o rei momo Waldemar Esteves da Cunha, a rainha Mause Prée
para a história do Carnaval, pois o seu reinado foi o mais longo que se tem notícia
317
no Brasil. Na época, as roupas dos homens eram feitas de veludo com apliques e
bordados. Já a rainha veste um modelo a rigor com corpete bordado com pedrarias.
Ela ostenta ainda a coroa, o cetro e a faixa. Nota -se que o público permanecia
317
Rei Momo de Santos foi o mesmo por 41 anos. A Tribuna, Santos, 26 de fevereiro de 2006, p.A5.
213
318
Depoimento do fotógrafo. 22/11/2005.
214
3.6.2 - CORSOS
acontecendo tanto nas pistas da praia como no Centro. Com o surgimento dos
Guerra Mundial, o corso foi acabando. Em 1964, voltou a ser realizado somente na
orla, mas, no ano de 1966, foi extinto por determinação das autoridades policiais por
319
JÚNIOR, Bandeira, História do Carnaval Santista, 1974, p.80 et seq.
215
Rover.
do fotógrafo:
Ontem não houve corso ao longo das praias. Quer dizer, corso
organizado, embora se observassem centenas de carros pelas
pistas do Gonzaga ao José Menino. O desfile de blocos, ranchos e
escolas de samba impediu o uso da chamada parte nobre das pistas
da praia. Na noite de sábado o corso foi até à 1 hora da madrugada,
predominando a alegria dos brotos [...] Ontem, no entanto, com
pistas livres, o desfile de carros foi simplesmente impressionante.
Como o desfile de hoje se realiza no centro da cidade, a pista das
praias estará livre para o grande corso de automóveis, que, desse
modo, oferece perspectivas assombrosas, tal o elevado número de
carros do planalto que se encontra na Baixada.321
320
Depoimento do fotógrafo. 22/11/2005.
321
Corso da brotolândia. A Tribuna. Santos, 03 de março de 1965, p. 20.
216
decide oficializar o Carnaval como atração popular e turística em 1954. A partir daí,
os blocos tomam conta das ruas e superam o sucesso dos bailes de salão. O
322
JÚNIOR, Bandeira, História do Carnaval Santista, p.94 e 95.
217
sacadas do Atlântico Hotel. A Avenida Ana Costa ainda não tinha o canteiro central
nesta faixa.
José Herrera sempre trabalhou muito no Carnaval, pois tinha que acompanhar
todas as manifestações.
Nesta época, ainda não existiam as escolas de samba. Os desfiles nas ruas
eram dos blocos, que competiam entre si. Os mais conhecidos eram os Chineses do
Mercado, Baby do Jardim da Infância, Agora Vai, Cruz de Malta, entre outros. Já nos
máscaras. 324
323
Depoimento do fotógrafo. 22/11/2005.
324
JÚNIOR, Bandeira, História do Carnaval Santista, 1974, passim.
219
Onda?”, uma passeata que reunia vários blocos de patuscada, e que chegou a ser a
Brincadeira da patuscada “Dona Dorotéia, vamos Multidão assistindo a passagem do bloco dorotiano
furar aquela onda?” acontecendo na areia da praia do nas areias da praia do Gonzaga. 1954. Santos.
Gonzaga. 1954. Santos. Gelatina/prata, 6x6cm. Gelatina/prata, 6x6. Acervo FAMS.
Acervo FAMS.
325
JÚNIOR, Bandeira, História do Carnaval Santista, 1974, p.75 et seq.
220
Vamos furar aquela onda?’ estão posando para a foto. Nota-se que todos são
Cunha, sentado, fantasiado de Dona Dorotéia, usando uma fantasia de baiana com
turbante na cabeça e faixa com a inscrição Dona Dorotea (sem a letra “i”). Percebe-
221
cômicas.
José Herrera acredita que a brincadeira fazia mais sucesso do que o próprio
Carnaval:
do antigo trampolim que existia quase em frente à sede do C.R. Saldanha da Gama.
Na década de 1950, o desfile foi transferido para a praia do Gonzaga, mas os foliões
em frente ao clube. Entre 1962 e 1966, o Banho da Dorotéia foi reali zado na praia do
voltou a acontecer na Ponta da Praia.327 Em 1997, foi encerrado de vez por conta da
violência.
326
Depoimento do fotógrafo. 16/11/2005.
327
A originalidade santista do Dona Dorotéia. Diário Oficial de Santos, fevereiro de 1990, caderno
especial História do Carnaval Santista, p.2.
222
328
Depoimento do fotógrafo. 16/11/2005.
223
Rouxinol, seu intérprete, tinha apenas 14 anos. Por onde ele passava provocava
risos e aplausos da platéia que, nos dias de Carnaval, ia às ruas assistir aos
de pé. Mais atrás deve haver uma arquibancada, pois notamos também pessoas
sentadas.
dançando com uma boneca amarrada aos pés ou puxando um carrinho de lixo sem
fundo. Participava como avulso junto aos blocos ou à frente da escola de samba
Brasil. Recebeu vários prêmios, como a fantasia mais original e o folião mais
José Herrera diz que o Carlitos ficou famoso e era muito aguardado pelo
público.
329
A originalidade santista da Dona Dorotéia. Diário Oficial de Santos, fevereiro de 1990, caderno
especial História do Carnaval Santista, p.2.
330
Depoimento do fotógrafo. 16/11/2005.
225
3.7 O Porto
particulares como da então Província de São Paulo, que havia obtido, desde 1870,
autorização para execução das obras. Somente em 1886, um grupo liderado pelos
milhões e 700 mil metros quadrados de área pelos quais circulam cerca de 40% do
José Dias Herrera lembra que sempre fotografou o Porto, principalmente entre
cobertura para o caderno Porto & Mar, criado em 1953, pelo jornalista Francisco
Azevedo.
331
www.portodesantos.com.br – site oficial da Codesp (Companhia Docas do Estado de São Paulo)
332
Porto: uma história de recordes, Jornal da Orla. Santos, 30 de janeiro de 2005, p.06.
226
333
Depoimento do fotógrafo. 13/02/2006.
227
Açúcar, café, algodão, banana, laranja, grãos em geral e até tratores. O Porto de
Santos sempre foi a porta de saída dos produtos e riquezas brasileiras que
conquistaram o mundo.
destinadas ao mercado europeu, eram embarcadas por meio de dalas 334, a partir de
barcaças. O navio que recebeu as bananas foi o Brasil Star. A imagem foi publicada
334
Espécie de esteira transportadora.
229
Esse declínio já era sentido na década de 60, como divulgou o jornal A Tribuna, em
1963.
335
Depoimento do fotógrafo. 13/02/2006.
336
Bananas: 1 milhão a menos de cachos exportados, A Tribuna. Santos, 11 de agosto de 1963,
p.24.
337
Depoimento do fotógrafo. 13/02/2006.
230
ancorado junto a Ilha Barnabé, foi utilizado, de maio a outubro, como prisão para os
uma forma de manchar o orgulho da cidade que, por tradição, era uma das mais
FEB aos campos de batalha na Europa, para lutar contra as forças do Eixo. Nada
338
Depoimento do fotógrafo. 30/09/2005.
339
MELO, Lídia Maria de, Raul Soares, um navio tatuado em nós, 1995, p.92.
232
mais resta do velho navio. Suas chapas de aço foram desmontadas e viraram
sucata.340
340
Sindicato dos Empregados no Comércio de Santos. Pesquisa: Gazeta Sindical/maio-1998 e
artigos do Diário Popular e Folha de São Paulo.
233
341
LICHTI, Fernando Martins. História de Santos - Poliantéia Santista, 1996, p.105.
234
342
Depoimento do fotógrafo. 18/10/2005.
235
junto ao Armazém 25. O incêndio não foi controlado a tempo e a embarcação foi
toda destruída. O fogo teve início no porão 4, em uma lingada 343 de sacos de salitre
apagadas por volta das 6 horas da manhã do dia 3 de janeiro. Porém, na manhã do
contendo as moedas uruguaias foram retiradas dias após intactas e o Austral foi
Porto de Santos:
343
Conjunto de sacos, numa amarração com cordas, que é içado de uma só vez pelo guindaste.
344
ROSSINI. José Carlos, Sinistros Marítimos - Costa do Estado de São Paulo / 1900-1999, p.46.
345
Depoimento do fotógrafo. 18/10/2005.
236
3.7.4 - TRANSATLÂNTICOS
1960. Foram tempos dourados, em que o cais vivia repleto de pessoas embarcando
passageiros.346
346
GIRAUD, Laire José, Transatlânticos em Santos / 1901-2001, 2001, p.12
237
município de Guarujá. Vale destacar que o transatlântico Conte Grande fazia par
Siqueira Campos, que faziam a linha regular para a Europa, antes da Segunda
Guerra Mundial (1939-1945). O autor destaca ainda que um dos navios norte-
O fotógrafo conta também que sempre tinha ‘alguém importante’ viajando num
Por isso, sempre que chegava um navio, ele tinha que entrar a bordo. Para
uma nova finalidade: o turismo de lazer. A primeira temporada desta ‘nova fase’
ressalta:
347
Depoimento do fotógrafo, em 13/02/2006.
348
Laire José Giraud, Transatlânticos em Santos / 1901-2001, p.13 e 14.
349
Depoimento do fotógrafo, em 13/02/2006.
239
350
Depoimento do fotógrafo. 13/02/2006.
240
barcos de formas elegantes. Quem vive em uma cidade portuária como Santos,
mesmo sem sediar uma base da Marinha, mantém uma relação de proximidade
navios de perto durantes as visitas da armada ao porto, são uma mostra concreta
351
Bem perto das grandes armas. Jornal da Orla, Santos, 27 de agosto de 2005, p.09.
241
O cruzador Barroso, da Marinha de Guerra do Brasil, cujo prefixo era C11 (inscrição
no casco), manobrando no estuário de Santos, em 1958.
352
Depoimento do fotógrafo. 13/02/2007.
242
Craveiro Lopes, de Salvador para o Rio de Janeiro; foi a Portugal participar das
metros e deslocamento de 14 mil toneladas. Seu raio de ação era de 8.900 milhas e
105 milímetros. Sua guarnição era composta de 1.003 homens (57 oficiais) e a
potência de suas máquinas era de 100 mil HP, o que daria para iluminar uma grande
353
A despedida de um velho barco que foi de guerra. A Tribuna. Santos, 8 de julho de 1973.
243
Apesar de ser ‘especializado em tudo’, como gosta de dizer, José Herrera dedicou
serviços avulsos para a Gazeta Esportiva, Folha de São Paulo, O Estado de São
Paulo e O Esporte.
E José Herrera também confessa que foi a convivência com o time que o
354
Depoimento do fotógrafo. 31/05/2007.
244
Pelé chegou ao Santos Futebol Clube em 1956, com 16 anos. Com a fama de
355
Site oficial do Santos Futebol Clube: www.santos.globo.com/clube_historia_pbiografia
246
Pelé assinando o contrato com o Santos Futebol Clube, assim que chegou na Vila
Belmiro, em Santos, no ano de 1956.
A foto mostra o garoto Pelé assinando o contrato com o Santos Futebol Clube,
assim que chegou na Vila Belmiro, no dia 8 de agosto de 1956. Na ponta direita, de
Colocando a mão sobre o ombro de Pelé, o então diretor do clube Athié Jorge Coury
e, ao seu lado esquerdo, de terno cinza, o também diretor Augusto da Silva Saraiva.
Atrás de Pelé, de camisa de manga curta branca e cinto preto, o então presidente do
Durante a sua longa trajetória, Pelé conseguiu, pelo Santos Futebol Clube, os títulos
Campeão Mundial nos anos de 1958, 1962 e 1970. Em toda a sua carreira foram
Pelé recebendo a faixa e medalha de Campeão do Pelé, Zito e Dorval – companheiros na Seleção
Mundo em 1958 pela seleção brasileira. Reprodução Brasileira. Reprodução Acervo Pelé.
Acervo Pelé.
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Site oficial do Santos Futebol Clube: www.santos.globo.com/clube_historia_pbiografia
249
pé: Nilmar, Zito, Dalmo, Calvet, o goleiro Gilmar e Mauro. Da esquerda para direita,
convocado para usar a camisa verde e amarela, levando o país a conquistar o título
Paulista de 1957, do qual foi artilheiro, fazendo 36 gols. Em 1958, veio a sua
250
primeira Copa do Mundo, com vitória – foi o primeiro título mundial da Seleção
do Torneio Rio-São Paulo de 1959, ambos pelo Santos Futebol Clube. Entre os anos
No ano de 1962, a Seleção Brasileira, cujo principal jogador era Pelé, disputou
e venceu mais uma Copa do Mundo. Na copa seguinte, em 1966, a seleção foi
torcedores. Três anos depois, chegou a vez de dar adeus ao Santos Futebol Clube,
durante uma partida contra a Ponte Preta. A despedida definitiva do futebol veio em
1977, no amistoso Cosmos (o time americano pelo qual Pelé jogou quando saiu do
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Site oficial do Santos Futebol Clube: www.santos.globo.com/clube_historia_pbiografia
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Site oficial do Santos Futebol Clube: www.santos.globo.com/clube_historia_pbiografia
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Depoimento do fotógrafo. 31/05/2007.
252
A foto mostra Pelé brincando de cavalinho com Jenifer, a sua primeira filha da
união com Rosemeri Cholbi, que aparece ao lado deles de bata estampada. Nota-se
que a menina já segura uma bola de futebol. O casamento entre Pelé e Rosemeri
durou de 1966 até 1978, e gerou mais dois filhos: Edinho e Kelly Cristina.
José Herrera conta que não mantém mais uma relação de proximidade com
Pelé, mas possui uma bola autografada e algumas fotos. Há alguns anos, o Rei
Considerações finais
Dias Herrera e sua visão dos eventos que documentou. O balizamento temporal vai
do final da década de 1930, quando o fotógrafo iniciou a sua carreira até os dias
atuais, visto que Herrera continua praticando seu ofício de fotógrafo. Nossa análise
foi mais intensiva do período que vai de 1937 à retomada da autonomia da cidade
de Santos em 1984.
Tal período inclui os principais dramas históricos pelos quais o Brasil passou no
olhar do fotógrafo José Dias Herrera e sua história de vida, mas simultaneamente
foram condicionados por ele, na medida em que sua câmera contribuiu para
Herrera sobre o contexto, a época e a cidade, assim como, explicitar sua perspectiva
sobre a atividade de fotógrafo, tendo em vista seu repertório cultural e sua bagagem
identidade, dada pelo cosmopolitismo e as lutas sociais, de que Santos foi palco
dos jornais numa época em que nem pauta havia, sua relação com a técnica
pormenorizadamente uma imagem por tema cada grupo de três a cinco imagens,
Santos e dos santistas, mas também caracterizar melhor o olhar do fotógrafo, sua
aguarda por outros estudos. Pensamos que traçar a trajetória pessoal e profissional
de um fotógrafo como José Dias Herrera constitui tarefa importante tanto para a
história da fotografia no Brasil, como para a história da cidade de Santos. Nos seus
Santos que precisa ser resgatada e disponibilizada para o público, contribuindo para
como fotógrafo e sobre a cidade de Santos. O objetivo seria montar uma narrativa
256
documentário aqui proposto teria maior duração e enfocaria muito mais o olhar do
José Dias Herrera, que poderia ser hospedado no site da FAMS ou da Prefeitura
essas propostas só serão viáveis na medida em que for feita essa organização do
acervo Herrera. Há várias instituições públicas enfim, que poderiam encampar essas
360
Cabe lembrar aqui que, em 2007, Herrera foi homenageado com um documentário intitulado
“Herrera: o homem por trás da lente”, que participou do 5º Festival Santista de Curtas -Metragens.
257
Referências Bibliográficas
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(1935/1936). In: Magia, Técnica, Arte e Política: ensaios sobre literatura e história da
2006.
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2004.
2003.
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2001.
Política, 1978.
262
41 (1999).
na cidade de Santos pelo fotógrafo José Marques Pereira no início do século XX,
MEIHY, José Carlos S Bom. Manual de história oral, São Paulo: Loyola, 1996.
MELO, Lídia Maria de. Raul Soares, um navio tatuado em nós. São Paulo:
Pioneira, 1995.
PRADO Jr, Caio. Evolução Política do Brasil e outros estudos, São Paulo:
Brasiliense, 1958.
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SILVA, Ricardo Marques da, Sombras sobre Santos: o longo caminho de volta,
THOMPSON, Paul. A voz do passado. História Oral, São Paulo: Paz e Terra,
1992.
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Prata”.
27/08/1961. p.1.
A9.
28/03/1961, p.1.
As praias de Santos sem jogo – havia ontem por toda a parte uma atmosfera
16/10/2007, p.D4.
p.24.
Almanaque Santista.
Almanaque Santista.
15/4/2007, p.2 .
2/9/2000, p.4.
Novo Aquário com espaço triplicado será entregue nesta quinta-feira. Diário
Memória Santista.
Santista.
Memória Santista.
268
2006, p.5.
http://www.santos.sp.gov.br/frames.php?pag=/comunicacao/historia/historia.html
http://www.fmcovas.org.br/mariocovas/
http://www.prodesan.com.br/opencms/opencms/system/modules/br.com.prodesan/js
p/paginadepto.jsp?subFolder=/Prodesan/aempresa/areasdeatuacao/lp/
santos.globo.com/clube_historia?pbiografia
ANEXOS
ANEXO A – Modelo de ficha iconográfica
Nós quem?
Eu e o jornalista que me acompanhava de vez em quando. Nós ficamos hospedados
nas casas dos moradores daquelas cidadezinhas, que não tinham nada. Os
moradores valorizavam bastante o nosso trabalho porque a gente fazia reportagens
sobre as dificuldades de acesso, de locomoção. As nossas matérias tinham como
objetivo melhorar a vida e a condição das pessoas daquele fim de mundo, e elas
ficavam agradecidas... Conversavam com a gente, davam alojamento, comida,
acompanhavam a alguns lugares... O engraçado é que sempre comentavam que,
indo pro Litoral, eu pelo menos comeria bastante banana. Que nada!!! Não existia
banana coisa nenhuma. O que tinha estava tudo verde, nunca madura... porque eles
cortavam tudo verde para exportar e fornecer para região, nem esperavam
amadurecer porque poderia estragar, né?
E na Tribuna?
Aí eu viajei demais. Por causa do Santos Futebol Clube eu viajei o mundo inteiro.
ANEXO C – Entrevista com José Dias Herrera no dia 01 de março de 2006.
Como era ser repórter fotográfico na época em que o senhor trabalhava nos
jornais?
Os fotógrafos faziam de tudo, eram responsáveis por todo o processo da fotografia.
Quando eu comecei, eu trabalhava numa casa comercial de artigos fotográficos e
ficava testando várias máquinas para ver com qual eu me adaptava melhor. Lá, eu
vendia máquinas e filmes, revelava, ampliava, fazia de tudo... Quando eu resolvi
partir para a fotografia mesmo, eu comprei um modelo usado porque, além de não
ter dinheiro, eu precisava fotografar um pouco para ver se tinha jeito para a
profissão... porque o resto (revelar, ampliar etc) eu já sabia fazer mais ou menos...
Como surgiu a oportunidade de atuar como speaker numa rádio? E como foi
essa experiência?
Isso foi mais uma brincadeira... Eu tinha amizade com a Rosinha Mastrângelo e ela
era uma das pessoas que comandava aquilo. E um dia ela precisou de alguém para
fazer o programa e fiz pra ela... Eu fiz comercial, entrevistas e até rádio novela... Não
tinha ninguém para fazer o papel e eu fiz para quebrar o galho. E eu não ganhava
nada, era só por amizade mesmo.
Em que rádio?
Fazia pra Rádio Clube de Santos e fiz uma vez na Rádio Atlântica.
Já que o senhor citou a foto da Coca-Cola, existe uma história sobre ela. O
senhor poderia nos esclarecer?
A foto é do Pelé com o Coutinho e o Dorval tomando coca-cola. Eu queria R$ 5 mil
pelo negativo, mas o Pelé pechinchou e me pagou R$ 4 mil. Daí, ele vendeu o
negativo para Coca-Cola por uma fortuna. Fiquei sabendo que isso gerou um
desentendimento entre eles (Pelé, Coutinho e Dorval), mas que, no fim, acabou tudo
bem.
O senhor chegou a jogar com o time ou até com o próprio Pelé só por
brincadeira, durante os treinos mesmo ou na casa de algum dos jogadores,
por exemplo?
De jeito nenhum. Nunca misturei trabalho com lazer. Minha função era fotografar.
Não tinha nada disso de brincadeira; eu não podia jogar, tinha que trabalhar
seriamente.
De todas as fotos que o senhor tirou de Pelé, qual considera mais especial?
Além da foto em que vestiu pela primeira vez a camiseta 10 do Santos, tem uma foto
interessante que eu fiz lá na França do Pelé com a cabeça baixa e triste no vestiário,
enquanto a multidão enlouquecida gritava o nome dele. Na ocasião, ele estava
machucado e não podia jogar. Enquanto ele não se apresentou no gramado apenas
para que todos pudessem ao menos vê-lo, o público não sossegou. Outra imagem
bem interessante é dele conversando com o Garrincha, que era o craque do
Botafogo. Os dois eram os melhores jogadores do Brasil e até do mundo.
esquerda para direita: Antonio Vargas (Agência Folha de Notícias, TV Tupi, SBT e
Pontes (jornal A Tribuna e Prodesan), Luiz Fernando (Jornal da Orla) e Yasuo Kinjo
máquina mais alta é a famosa Rolleiflex e, ao seu lado direito, está uma Mamiya.
foto que havia tirado quando o mesmo era candidato a prefeito de Santos, em 1961.
Álbum de família.
ANEXO L: José Herrera recebendo do então prefeito de Santos, Beto Mansur, uma
placa alusiva aos seus 60 anos de profissão como fotógrafo, em 1997. Na imagem