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21/03/2021 O Mago e o Louco - Clube do Tarô - Tarot

De Mago e Louco todo mundo tem um pouco...


João Cláudio Fontes

De Mago e Louco todos nós temos um pouco...


Vou me focar no Mago e fazer uns paralelos com o Louco.
O caminho na Árvore que corresponde a esse Arcano é o 11, que liga Keter a Hokmah. É o
primeiro caminho no sentido descendente. Representa o primeiro impulso criador do
supremo, que de Keter a Hokmah ainda se parece mais com um sopro de vento. Corresponde
ao "Alef", a letra A do Hebraico.
Interessantemente, no Budismo Tibetano, que é o Budismo
Tântrico esotérico, também há esse ensinamento sobre a
"sílaba semente A". É um dos ensinamentos mais elevados do
Dzogchen, que é o ensinamento supremo do Budismo. Nos
ensinamentos do Dzogchen se diz que o mundo todo, todos os
fenômenos do cosmos, são como a exibição de um Mago. Do
Vazio primordial, todos as coisas e fenômenos surgem como
que por mágica, como que saídos da cartola de um grande
mágico.
Por isso se diz que viver é o grande ato de magia...
Do Nada, o Ain dos cabalistas, surge um universo inteiro,
com milhões de Sóis, planetas, galáxias e vida em todos os
cantos do cosmos (acho que ninguém acredita que só no
nosso planetinha há vida, né...) e outros seres além dos
humanos como Deuses, Arcanjos, Anjos, demônios,
elementais e tudo o mais.
Mas tudo isso surge em padrões ordenados, seguindo leis
universais, do mais sutil ao mais denso, como é representado
na Árvore da Vida. O Mago
O Mago, portanto, seria aquele que conhece essas leis e Tarot des Magiciens

as manipula ("bend", dobra, um dos significados de "Wicca") de acordo com a sua Vontade.
Todos aqui devem conhecer a definição clássica de magia dada pelo terrível (mas genial!)
Aleister Crowley: "Magia é a ciência e a arte de causar mudanças de acordo com a Vontade".
A parte da ciência seria o conhecimento dessas leis cósmicas. A parte da arte, além de todos
os implementos, roupas coloridas e armas mágicas, seria a intuição de como se utilizar
criativamente dessas leis pra se conseguir o que se quer. O Mago então seria aquele que
imita ou participa do próprio ato criativo de Deus...
É claro que isso já fez com que vários aspirantes a magos, ou aprendizes de feiticeiros, e
inclusive alguns Magos renomados (como o que eu acabei de citar) ficassem loucos... Piraram
mesmo, brincando de Deus (ou Diabo: os Magos negros). Daí porque, talvez, o Louco
também seja associado por alguns autores ao caminho 11.
Essa associação do Arcano O Mago com o décimo primeiro caminho é a seguida pelo
Constantino na correlação que ele faz dos caminhos da Árvore da Vida e dos Arcanos,
seguindo, acredito eu, a linha dos ocultistas franceses e principalmente do grande ocultista
russo G.O Mebes. Eu recomendo vividamente os dois livros do Mebes publicados pela ed.
Pensamento, Os Arcanos Maiores do Tarô e Os Arcanos Menores do Tarô. Verdadeiras
enciclopédias de ocultismo e esoterismo!
A associação do Louco com o caminho 11 segue a
Escola Inglesa, ou seja, a Golden Dawn. Foram eles
quem primeiro fizeram essas associações dos
caminhos e da Árvore, que são as mais conhecidas.
Mas, devo admitir que, apesar de seguir o sistema
da GD em quase tudo relacionado à magia, em
relação a essa associação do Tarô com a Árvore
prefiro o Mebes e os franceses. Me parece mais
precisa. Para maiores esclarecimentos veja: Árvore
da Vida e Caminhos
Mas voltando ao nosso Arcano, ou melhor,
Arcanos, gostaria de citar uma passagem do
livro Jung e o Tarô da Sallie Nichols, ed.
Pensamento, na qual ela compara os dois Arcanos:
"Se o Louco representa o impulso profundo do
inconsciente que nos incita a buscar, o Mago
simboliza um fator em nós que dirige essa energia e

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ajuda a humanizá-la. Sua varinha mágica liga-o ao


seu antepassado, Hermes, o deus das revelações.
Como o alquímico Mercúrio, que possuía poderes
mágicos, o Mago pode iniciar o processo de auto-
compreensão, que Jung denominava individuação, e

O Louco e o Rei Davi


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guiar nossa viagem pelo mundo inferior dos nossos eus mais profundos. Os seres humanos
sempre reconheceram a existência de um poder que transcende o ego, e procuraram
propiciá-lo através de ritos mágicos.
Tanto o Louco quanto o Mago se acham à vontade no mundo transcendental. O Louco
dança nele como criança inconsciente, o Mago cruza-o como viajante amadurecido. Ambos
estão relacionados com o arquétipo do Embusteiro, porém de maneiras diferentes. As
diferenças entre o Louco e o Mago a esse respeito assemelham-se às que existem entre uma
brincadeira e um ato mágico. O Louco nos prega peças, o Mago nos arranja demonstrações.
Se Louco perpetra suas surpresas às nossas costas, o Mago é capaz de
realizar a sua mágica diante de nós, bastando que para isso
assistamos às suas representações. O Bufão nos engana e
nos faz rir, Mago nos mistifica e nos faz pensar.
O Louco é um amador despreocupado. O Mago é um
profissional sério..." (S. Nichols, Jung e o Tarô, pp. 59-60)
Como eu disse, de Mago e Louco, todos nós temos um
pouco. Mas é preferível que o nosso lado Mago prevaleça.
Uma vez eu li algo sobre a diferença entre o místico e o
louco psicótico que eu acho ajuda a entender bem essa
questão. O místico seria aquele que entra no mar (o
inconsciente, o mistério) e aprende a nadar e a surfar. O
psicótico se afoga ou é devorado pelos tubarões...
No entanto, existe no Budismo, no Sufismo, no
Hinduísmo e até no Cristianismo (São Francisco, por
exemplo) um caminho chamado "Crazy Wisdom", Sabedoria
Louca. São os "Loucos de Deus" que dizem que, na
verdade, a maioria das pessoas é que são loucas, vivendo
as suas vidinhas medíocres e sem graça, como robôs.
Eles desafiam as convenções e se comportam, de acordo
com os padrões convencionais, como loucos. Só que eles
fazem isso conscientemente, e estão conectados
diretamente ao Divino. É uma linha muito tênue essa entre
O Mago e "Louco de Deus"
a Loucura e a Sabedoria, entre o delírio e a genialidade. O
www.lilela.net
Crowley que o diga...
Um Lama Tibetano muito sábio disse que a melhor maneira de sabermos se a "crazy
wisdom" está funcionando pra nós é ver se estamos ficando mais sábios ou mais loucos!
hahaha
Não existe Sabedoria verdadeira sem Compaixão.
Possamos nós conhecermos a nossa loucura e, dessa forma, nos tornar sábios!
Assim seja.

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