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(Kenneth Grant)
A
Magia Goética reveste de um papel excepcional dentro das artes
mágikas, atraindo muitos iniciados e curiosos em geral. Na idade
média a crença em demônios e bruxas era disseminada. E o destino
reservado aos acusados de bruxaria ou comércio com os demônios era
serem queimados na fogueira, como no caso de Joana d’Arc, que se negou a admitir que
seus contatos espirituais eram demoníacos. Ainda que fosse assim sempre existiram
indivíduos que ousaram contestar as proibições da Igreja nessa época, muitos inclusive
eram clérigos e pertenciam a ordens sacras. Eles se dedicaram as artes proibidas da
Magia e os mistérios da demonologia foram por eles explorados, seus territórios
mapeados, e seus habitantes explicitamente identificados.
O daemon grego poderia ser descrito, de um modo geral, como uma força ou energia
menos potente que a de “Theos”, ou Deus, mas muito mais potente que a dos seres
humanos. As relações desse daemon com os humanos eram, ambivalentes, às vezes, os
Para a Igreja, o poder da Magia se originava nos “demônios”, que eram, aos olhos dos
primeiros padres cristãos, simples espíritos do mal chefiados por Satã. Essa noção do
mal absoluto encarnado em uma figura satânica era estranha às crenças e às práticas
gregas, egípcias e babilônicas, países tidos como intimamente ligados às origens da
Magia. Para os pagãos todos os deuses tinham um lado bom e outro mau, sendo que
ambos eram necessários ao equilíbrio natural.
Crowley negou e disse que não valia nem a pena pronunciar o nome.
Bennet replicou:
Crowley junto com o seu companheiro magico George Cecil Jones, utilizou a Goetia e
evocaram o demônio Buer, que a sua particularidade é a cura das doenças; os dois
desejavam ajudar o mestre mágiko de Crowley, Alan Bennet, que era gravemente
doente de asma: Bennet deveria viajar em lugares com o clima mais quente, mas não
havia os meios para fazer isso. Foi então que Crowley e George Cecil Jones resolveram
evocar o demônio Buer fazendo o mesmo aparecer visivelmente, mas como o seu
aspecto não correspondia à descrição da Goetia, os dois pensaram que a operação
tivesse fracassado. Pouco depois, segundo Aleister Crowley, as coisas começaram a
andar bem de maneira milagrosa: Bennet conseguiu se transferir ao Sri Lanka, como
desejava. Crowley entendeu que, no final das contas, a operação foi um sucesso.
A Magia Goética é uma magia telúrica que invoca as forças infernais e ctónicas e que,
por sua natureza, exige o controle do lado sombra da mente. Crowley observa em The
Confessionis que goety é “a palavra técnica empregada para cobrir todas as operações
daquela magia que lida com forças brutas, malignas ou sem luz”. Os encantamentos de
fato sugerem muito fortemente o uivo dos lobos, os latidos dos chacais e o riso ululante
e agudo das hienas, animais tradicionalmente associados com a feitiçaria e o mundo
oculto.
Etimologicamente a palavra “goetia” vem de uma raiz grega que indica a magia e a
bruxaria: um goetes era um tipo de mago escuro ou feiticeiro, diferente do teurgista que
era um magus-sacerdote. Hoje, o termo Magus pode também abranger as formas mais
A magia goética muitas vezes é chamada “Baixa Magia”, o contrário da “Alta Magia”
ou Teurgia. A Baixa Magia, como no caso da Magia Goética, é muitas vezes vista como
uma forma de magia finalizada a objetivos mesquinhos, mas se estudamos os dois tipos
de magia é evidente que todas as duas satisfazem tipologias altas e baixas de desejos
humanos.
O conceito de “Baixa Magia”, quando falamos de Goetia, não deve ser interpretado em
termos qualitativos; os demônios ensinam também as artes mais refinadas e dão
sabedoria (gnosis), vidência e iluminação. A crença em que os demônios objetivavam
qualidades internas do operador nos possibilita reconhecer a verdadeira natureza desse
tipo de magia – um sistema de controle da consciência.
Mesmo sendo a Goetia o documento principal da Magia Goética prática, essa tradição
não é baseada somente nela; existem outros textos salomônicos e demonológicos, como
Na Ordo Lotus Nigra a denominação “Teurgia Goética” cobre todo o sistema mágico
qliphóthico da “Mão Esquerda”, o que envolve a Magia Sexual. O objetivo maior não é
o uso de espíritos goéticos para obter favores ou vantagens materiais, mas antes na
descoberta do Deus Oculto do magista (homem ou mulher) que é seu Anjo-Daemon.
No contexto das práticas magísticas da OLN o termo "Teurgia Goética" forma a base
prática para contatar o Deus Oculto (o mais oculto de todos os deuses ou daemons) que
assume a forma de Sagrado Anjo Guardião. A manifestação do Deus Oculto ilumina os
Abismos internos do iniciado, trazendo à sua consciência atavismos pré-humanos e
poderes latentes sob o domínio da Vontade.
Os espíritos elementais são espíritos não-humanos que pertencem às essências sutis dos
elementos água, ar, terra e fogo. Esses espíritos da natureza podem ser adequadamente
evocados na prática goética embora os mais importantes, do ponto de vista da magia
prática, são as energias da mente subconsciente, que adquirem forma sensível quando
adequadamente evocadas. Eles representam os poderes da consciência anteriores à sua
incorporação em forma humana. Pertencem à natureza dos atavismos, e são conjurados
por Adeptos que desejam exercer atividades sobre-humanas, são então conhecidos como
servidores mágikos ou espíritos familiares.
Atavismos são fatores no fundo da mente que, segundo a teoria do moderno ocultismo,
são remanescentes dos ancestrais pré-humanos do homem, legados do tempo de
criaturas parte homem e parte fera. São essas forças primais que podem ser evocadas
pelo feiticeiro (ou mago ocultista) a tomarem forma no Plano Astral. Ele então direciona
essas forças para cumprir determinadas tarefas, o que dispensa a ajuda, eventual, de
elementais comuns. A exaltação de atavismos pelo feiticeiro é também utilizado para
despertar níveis subliminares de consciência de modo a revitalizar poderes sobre-
humanos adormecidos. Isto se relaciona com o conceito de deuses animais para as suas
origens xamânicas, onde o shaman descobre o seu animal de poder, e passa a trabalhar
magikamente com ele.
Num sentido mais amplo, a palavra atavismo é usada pelos ocultistas para designar o
aparecimento de caracteres vindos de muito longe e que constituem reencarnações ou
corporificações recentes de consciências pré-humanas; ou então de fatos, cuja origem
remonta a um passado em que as criaturas eram metade humanas e metade animais.
Atavismos deste tipo são bastante raros e quase nunca aparecem espontaneamente.