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Eletricidade não existe!

Prof. Luiz Ferraz Netto


leobarretos@uol.com.br

Funciona com eletricidade


O termo eletricidade abrange um conjunto de proposições com muitos
significados. Infelizmente esses significados são contraditórios, e isso conduz ao
fato real de que não há nenhuma única substância ou energia que possa atender
ao que é chamado de "eletricidade". Eletricidade não existe!
Quando lemos quantidade de eletricidade, o texto em questão pode estar se
referindo a quantidade de partículas carregadas (portadores de cargas elétricas),
ou a energia elétrica, ou a potenciais elétricos, ou a forças elétricas, ou a campos
elétricos, ou a cargas elétricas em desequilíbrio, ou a potência elétrica ou, até
mesmo, sobre fenômenos elétricos. Todos esses tópicos são encontrados em
textos didáticos sob a palavra "eletricidade". Uma vergonha!

Parte desse problema desapareceria se nós usássemos a palavra Eletricidade


apenas para designar um campo da Ciência ou uma classe de fenômenos, da
mesma maneira que usamos os termos "Física" ou "Óptica" ou "Termologia".
Fazem (os autores) isso ocasionalmente. Não é raro encontrarmos livros com
títulos do tipo: FÍSICA - VOLUME 3 - ELETRICIDADE. Porém, com a mesma
freqüência, retornam ao seu uso inadequado e passam a seus alunos situações
elétricas destituídas de significado. As duas frases que coloco abaixo são
equivalentes e ambas igualmente bobas:

"ópticas" saem das lâmpadas e passam através das lentes.


"eletricidade" sai dos geradores e passa através dos fios, resistores e motores.

Vejamos alguns exemplos de erros cometidos pelo uso dos significados


contraditórios (e que pululam pelos livros didáticos e compêndios técnicos):

Erro 1--- Nos circuitos elétricos de corrente alternante, os portadores de carga


meneiam para frente e para trás, mas a energia avança continuamente. Isso é
análogo à propagação sonora no ar; a energia sonora avança continuamente,
enquanto as partículas oscilam para frente e para trás tentando reproduzir o
movimento da fonte.
Usando a palavra inadequadamente, acabaremos afirmando que a eletricidade
(usada como portadores de carga elétrica) nos circuitos de AC, fica oscilando
para frente e para trás, em cada ponto do circuito e, ao mesmo tempo, a
eletricidade (usada como energia) caminha rapidamente para a frente! Isso é o
mesmo que afirmar que o som e o vento são a mesma coisa!

Erro 2 --- Quando uma bateria elétrica faz acender uma lâmpada, explicam (tais
livros) que o caminho da eletricidade é sair da bateria, passar pelos fios, entrar
na lâmpada, sair da lâmpada e voltar à bateria. A seguir, citam que o fluxo de
eletricidade da bateria para a lâmpada é totalmente convertido em luz. E então?
A lâmpada consome eletricidade ou a eletricidade flui até a lâmpada e volta
novamente? O senso de crítica dos estudantes não é tão aguçado para
perceberem isso. Professores e autores é que devem providenciar para que não
ocorram tais contradições.

Erro 3 --- Há duas formas de eletricidade. São elas a positiva e a negativa. Isso
aparece em livros. É verdade? Vejamos algumas respostas:

NÃO, as duas formas de eletricidade são a estática (em repouso numa região) e
a móvel (corrente elétrica).
NÃO, há muitas outras formas de eletricidade: a triboeletricidade, a
bioeletricidade, a myoeletricidade, a piezeletricidade.
NÃO, eletricidade é uma forma de energia.

Qual é o correto?

Todos e nenhum, porque a palavra eletricidade é usada com múltiplas


definições contraditórias. Nenhuma delas é correta porque não há nenhuma
eletricidade que possa ser ao mesmo tempo carga, energia e fenômeno. E todos
são corretos (segundo alguns autores) porque a palavra eletricidade é
comumente usada para designar igualmente esses conceitos distintos. Vocês
não acham que o devido rigor científico nos textos, palestras e aulas conseguiria
consertar isso? Professores e autores têm se esmerado?

"A eletricidade que flui pelos fios é produzida por baterias ou geradores"
Correntes elétricas em fios de cobre (por exemplo) são fluxos ordenados de
elétrons, e esses elétrons vêm dos átomos de cobre. Os elétrons estavam no
metal antes mesmo da bateria ter sido conectada. Eles estavam lá até mesmo
antes do cobre ter sido extraído do minério e transformado em fios!

Baterias e dínamos NÃO criam esses elétrons, apenas os ‘bombeiam’; os


elétrons comportam-se como um ‘fluido’ preexistente dentro dos fios. Também
NÃO produzem nenhuma eletricidade. Para explicarem os circuitos elétricos
seria mais cômodo para tais autores imaginarem que todos os fios estão
preenchidos com um tipo de 'eletricidade líquida'.

O gerador eletromecânico recebe elétrons do circuito externo por um dos


terminais, simultaneamente os cospe pelo outro e ainda, ao mesmo tempo, força
sua passagem pela bobina de fio de cobre em seu interior.
Os elétrons do circuito completo (interno e externo) movem-se como uma correia
móvel que passa por duas polias. Um dínamo ou bateria age como uma bomba,
mas não provê a substância que é bombeada. Um gerador assemelha-se a um
coração pulsando: move o sangue, mas não cria sangue. Quando um gerador
pára ou quando o circuito é aberto, todos os elétrons param onde estão e assim
os fios continuam cheios de elétrons (exatamente o quanto tinham antes). Será
que as capacitâncias do circuito alteram essa afirmação?

Em tempo: Quantos não são os livros que citam "dínamos de bicicleta" como
sendo geradores de corrente contínua? Será que tais autores nunca abriram um
desses "dínamos"? Quando será que aprenderão que "dínamo" de bicicleta não
é um dínamo e sim um alternador. Será que já experimentaram fazer um rádio a
pilhas funcionar ligados diretamente com tais "dínamos"?
Sem dúvida, os alternadores de bicicleta podem ser usados para alimentar
circuitos como rádios portáteis, pequenas TVs etc. Mas, para tanto deve ser
providenciado um 'retificador de corrente'; um simples circuito eletrônico dotado
de diodos e capacitores intercalado entre o alternador e o aparelho que funciona
com corrente contínua. Quantos foram os alunos que saíram frustrados de suas
feiras de ciências escolares pois, 'conforme disse o professor', o rádio de 4
pilhas (6V) poderia funcionar usando o dínamo da bicicleta?

"A eletricidade que flui dentro dos fios caminha à velocidade da luz"
Nos metais, a corrente elétrica é, em média, um fluxo de elétrons comandados
pelo campo elétrico que se estabelece. Muitos livros reivindicam que esses
elétrons fluem à velocidade da luz. Isso é incorreto.

Elétrons fluem, nos parâmetros humanos, com inacreditável lentidão. Nos


parâmetros atômicos podem ser considerados como "The Flash".
Para nós, milímetros por segundo (velocidade do elétron em fio de cobre) é uma
lentidão, mas se levarmos em conta o tamanho de um elétron é uma brutal
velocidade.

Nos circuitos elétricos, é a energia elétrica que desloca-se rapidamente, não os


elétrons. Quando elétrons são bombeados em uma certa região do circuito,
elétrons do interior dos condutores são forçados a fluir e a energia propaga-se
rapidamente pelo circuito todo. Vamos tentar entender isso.
Imagine uma roda de bicicleta (de uma bicicleta que foi apoiada no chão pelo
guidão e selim). Podemos imaginar que uma região qualquer dela simula um
gerador, outra região simula o consumidor (região onde se aplicam os freios, por
exemplo) e as demais regiões os condutores. Se dermos um empurrão na região
gerador, a roda inteira move-se como um todo e é assim que transmitimos
energia mecânica quase que instantaneamente a todas as partes da roda. Mas a
própria roda não se moveu rapidamente! O material da roda está na mesma
situação dos elétrons do fio; a energia elétrica propaga-se como o empurrão, a
onda de energia mecânica que enviamos a todas as partes da roda. A energia
mecânica move-se com incrível rapidez à todas as partes da roda, mas os
átomos da roda não tiveram que viajar com rapidez para lugar nenhum!

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