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REVOLUÇÃO FRANCESA

Aos contrário do que se pensa, a França do século XVIII não era a França falida
financeiramente por conta do apoio à Independência Americana em 1777, uma revanche
contra a Guerra dos Sete Anos contra a Inglaterra, ou um clássico modelo de monarquia
absolutista que não conseguiu resolver a crise de abastecimento ocasionado por más
colheitas na década de 1780. Originando uma grande movimentação popular que deu
origem a uma revolução, que iniciou com a destruição da Bastilha, símbolo da opressão
da nobreza. E ao saber que o povo estava sem pão, a rainha Maria Antonieta sugeria que
o povo comesse brioches. Assim, a burguesia rebelou-se por não ser ouvido pelo rei e
declarou uma Assembleia Nacional para atender as reinvindicações do povo, criando a
Declaração dos Direitos Universais do Homem e do Cidadão. Trazendo para a política
os ideais de Liberdade, Igualdade e Fraternidade. No qual o rei, considerado um traidor
foi preso e guilhotinado, algo que ocorreria com todos que se pusessem contra os ideais
revolucionárias. Até que Napoleão colocasse um fim no movimento e os ideais originais
se transformassem em corrupção. Mas tudo isso são meias verdades.
O rei Luís XVI estava longe de ser um rei absolutista, ele foi um dos reis mais
fracos e inseguros da história da França. O país de fato estava de fato falido por conta
das guerras de que participou, mas o rei passou a fazer uma economia severa de gastos a
partir de 1787:
O ministro Brienne também havia obtido o acordo do rei para uma
economia severa em seus gastos, a situação financeira parecia melhorar a
longo prazo. No entanto, no futuro imediato, ainda havia necessidade de um
empréstimo. (AFTALION, Florin. L´economie de la Revolution Française.
Pluriel, 2007)

Aquela indiferença à crise por parte do rei e da rainha, como é perpetuado, não é
verídica. Inclusive, não existe qualquer fonte que sustente que Maria Antonieta tenha
dito ao povo que comessem brioches, nem os panfletos revolucionários que difamavam
o rei e a rainha tinham afirmado isso:
Ela, Maria Antonieta, estava ciente dos detalhes da vida dos pobres. [...]
Numa carta à mãe ela escreveu: “vendo que as pessoas nos tratam tão bem
apesar de seu infortúnio, agora mais do que nunca é nossa obrigação lutar
por sua felicidade. Parece que o rei compreende esta realidade”. (FRASER,
Antonia. Marie Antoniette, the Jounay. 2022)

Na verdade, essa mesma frase já era conhecida há um século, quando foi atribuída
à princesa espanhola Maria Tereza, esposa de Luís XIV.
Além disso, as reformas de Luís XVI que pretendia colocar em prática não eram
tímidas, ele queria acabar com as tarifas alfandegarias cobradas entre as províncias e
cobradas por elas, para tentar baratear o trigo em todo o país e pretendia cobrar
impostos da nobreza. Fazendo com que quase toda a aristocracia se voltasse contra ele.
Turgot estabeleceu a livre circulação de grãos, a única maneira de evitar
que uma província sofresse escassez enquanto outra tivesse um excedente.
Um primeiro passo foi dado com aabolição da corveia real em janeiro de
1776. As corporações, um obstáculo à liberdade de trabalho, foram
abolidas. (QUÉTEL, Claude. Crois ou Meurs! Historie incorrecte de la
Révolution Française. Tallandier. 2019)
Calonne sabia desde o início que somente uma reforma profunda poderia
salvar o reino da falência iminente. [...] um plano que defendia a introdução
e um único imposto direto na forma de um “subsídio territoria” pago por
todos os proprietários de imóveis, incluindo os privilegiados, e proporcional
à renda bruta. (QUÉTEL, Claude. Crois ou Meurs! Historie incorrecte de la
Révolution Française. Tallandier. 2019)

O líder dos descontentes era seu primo, Luís Felipe II José, Duque d´Orléans,
conhecido como Philippe Égalité, que no seu castelo, o Palais-Royal de Paris, imprimia
jornais e panfletos sensacionalistas atacando o rei e a rainha e alardeando que a fome
estava prestes a tomar conta do país.
Tentando enfrentar os seus opositores, luís XVI publicou decretos que criavam
impostos sobre a terra e atingiu diretamente a aristocracia, maior proprietária de terras
na França. Foi quando o Parlamento de Paris, uma prefeitura com poderes jurídicos,
anulou os decretos reais na sua região. Os parlamentares de Paris foram exilados como
punição. Imediatamente os panfletos de Philippe Égalité apresentaram sua versão dos
fatos: colocando tais parlamentares como heróis que lutavam contra a tirania do rei, e a
população ficaria do lado dos parlamentares. Com medo da opinião pública, o rei
recuou e perdoou os parlamentares, uma demonstração de fraqueza que estimulou
outros parlamentos municipais a derrubarem os impostos promulgados pelo rei.
Brissot começou a usar seu talento único de escritor para emitir declarações
em nome do Duque que atacavam o poder do rei e elogiavam os esforços dos
verdadeiros democratas para provocar uma mudança fundamental na
sociedade francesa. (AMBROSE, Tom. Godfather of the Revolution. The
life of Philippe Êgalité. London. 2008)

Luís XVI não comanda nada nem ninguém. Seus arroubos de autoridade
multiplicam suas admissões de fraqueza. Não lhe falta inteligência e sua
educação é sólida, mas ele é desajeitado, tímido e indeciso. (AMBROSE,
Tom. Godfather of the Revolution. The life of Philippe Êgalité. London.
2008)

Neste clima, o Duque de Orleans propôs convocar os Estados Gerais, um


congresso temporário que servia para discutir soluções para os problemas enfrentados
pelo Estado francês, que em quatro ou cinco meses era dispensado. Era um legislativo
provisório. Sendo que, o duque de Orleans já planejava um golpe para estabelecer uma
monarquia constitucional como na Inglaterra, onde também esperava ser o novo rei.
Gradualmente, o Palais-Royal foi se tornando a base para uma verdadeira
resistência política ao poder de Versalhes, e o duque de Orleans foi cada vez
mais visto como o rei democrático à espera. (AMBROSE, Tom. Godfather
of the Revolution. The life of Philippe Êgalité. London. 2008)

Jornais por toda a França assustava a população com noticias que a forme estava
prestes a tomar o país, e que a única saída para esta crise era a convocação dos Estados
Gerais. Dentre os disseminadores do alarmismo para colocar a população contra o rei
estava o abade Emmanuel Joseph Sieyès, que publicou o famoso manifesto:
O que é o Terceiro Estado? Tudo.
O que ele tem sido até agora na ordem política? Nada.
O que ele pede? Tornar-se alguma coisa.
(SIEYÈS, Emmanuel. Qu´est-ce que le Tiers-État?. 1789)
Sieyès era patrocinado pelo Duque de Orleans e era membro da mesma loja
maçônica onde o mesmo era grão-mestre. Seu slogan era “Liberdade, Igualdade e
Fraternidade / LIBERTÉ, ÉGALITÉ, FRATERNITÉ”. Os primeiros revolucionários
eram maçons, favoráveis a uma monarquia constitucional como o governo inglês e suas
ações para a tomada de poder já estavam articuladas e anunciados “o Terceiro Estado
sozinho não pode formar os Estados Gerais. Tanto Melhor! Ele formará uma
Assembleia Nacional” (SIEYÈS. 1789).
No início de 1789, as manifestações ficaram mais encaloradas, pedindo o fim das
obrigações feudais e dos impostos alfandegários que encareciam o trigo. Outras
tornaram-se tão violentas que multidões começaram matar padeiros ou qualquer pessoa
envolvida com o comércio ou transporte de trigo. O ministro Necker passou a comprar
trigo, mas assim que chegava aos portos era pilhado por uma multidão ou ainda por
opositores do rei. Quando a reunião dos Estados Gerais deu início, em maio de 1789 em
Versalhes, as expectativas da população eram enormes, mas as discussões se arrastaram
por mais de 40 dias sem chegar a lugar algum, até que o Terceiro Estado se juntou a
parte dos deputados do Primeiro e do Segundo Estados para formar uma Assembleia
Nacional.
A partir de 17 de junho, a maioria do clero e 47 deputados da nobreza se
uniram ao Terceiro estado e criam uma Assembleia Nacional. Eles foram
liderados pelo Duque de Orleans. (QUÉTEL, Claude. Crois ou Meurs!
Historie incorrecte de la Révolution Française. Tallandier. 2019)

Nunca Louis Philippe Joseph foi tao popular como naquele momento [...]. O
que poderia ser mais natural do que seus colegas delegados o elegerem
presidente da nova Assembleia Nacional? Quando a votação foi realizada,
uma maioria esmagadora de 553 dos 660 delegados votou a seu favor.
(AMBROSE, Tom. Godfather of the Revolution. The life of Philippe Êgalité.
London. 2008)

Mas como um personagem tão determinante para a primeira etapa da revolução


pode ser deixado de lado na história? Seu anonimato permitiu criar-se o discurso de que
a revolução surgiu do seio da população e não, como na verdade foi, um golpe
articulado pela própria nobreza que manipulou parte da população com falsidades.
Tendo que admitir que a revolução não foi uma revolução puramente burguesa, como
Karl Marx afirmava, mas sim uma luta por poder. Os poucos empresários daquele
período, eram em sua maioria nobres, suas atividades se concentravam na mineração, na
siderurgia e nas atividades bancárias. Além disso, nem os deputados do Terceiro estado
defendiam o capitalismo liberal, pois sua grande maioria era de advogados com
tendências que iam de contra a um mercado sem grandes regulamentações estatais,
como Danton, Robespierre, Brissot, Desmoulins, entre outros.
É completamente equivocado equiparar as categorias do Antigo Regime com
as classes socias e confundir uma luta política com uma luta prla posse de
fatores de produção. (AFTALION, Florin. L´economie de la Revolution
Française. Pluriel, 2007)

Eles [os deputados revolucionários] estavam longe de defender


sistematicamente o livre comercio. Muitas vezes se comprtavam como
representantes de interesses econômicos particulares, exigindo liberdade para
si e proibição para seus opositores. (AFTALION, Florin. L´economie de la
Revolution Française. Pluriel, 2007)

De fato, na Revolução Francesa, o único deputado a defender a livre iniciativa


de mercado, o laissez faire, foi o desconhecido Samuel Dupont.
Depois da fundação da Assembleia, o rei estava acuado e isolado, talvez até
quisesse usar o exército para acabar com a rebelião dos deputados, mas a maior parte
dos soldados já estava ligados a franco-maçonaria e tomadas pelas ideias de mudança
do Duque de Orleans, que espalhara lojas maçônicas por toda e França, sendo
responsáveis por espalhar os ideias iluministas por meio da maçonaria.
É sabido que uma ação muito precisa tinha sido desencadeada pela franco-
maçonaria para neutralizar as tropas: as lojas [maçônicas] militares
tinham-se multiplicado. (BRANCOURT, Jean-Pierre. BRANCOURT,
Isabelle. O 14 de julho de 1789: espontaneidade com premeditação. O Livro
Negro da Revolução Francesa. 2015)

10:21
Uma enorme lacuna se abriu no exército entre os oficiais e as tropas. Desde uma
portaria de 1781, os soldados só podiam alcançar a categoria de “baixo oficial” [...] e
recebiam uma ninharia. As deserções estavam se tornando cada vez mais numerosos.
[...] O regimento da Guarda Francesa estava cada vez mais indisciplinado. (AMBROSE,
Tom. Godfather of the Revolution. The life of Philippe Êgalité. London. 2008)

10:39
11:11 Honoré Mirabeau
Lemos muitas vezes que o rei pensou num golpe de força, mas nunca aproveitou a
oportunidade, como em 9 de julho [criação da Assembleia], quando, fortalecida a partir
de agora por sua impunidade, a Assembleia Nacional proclamou-se Constituinte, com
grandes demonstrações de alegria no Palais-Royal. (QUÉTEL, Claude. Crois ou Meurs!
Historie incorrecte de la Révolution Française. Tallandier. 2019)

11:15
O que é conhecido em Versalhes como “o castelo da Bastilha” foi deixado
parcialmente indefeso para os manifestantes, que logo tentaram invadi-la”. QUÉTEL,
Claude. Crois ou Meurs! Historie incorrecte de la Révolution Française. Tallandier. 2019)

11:45
[...] torna-se evidente que o duque d´Orléans tinha assumido os riscos de induzir
um clima de insurreição na capital pela difusão do pavor da fome, favorável às suas
ambições políticas. A propagação de noticias falsas estava em conformidade com o
‘plano estabelecido’. (BRANCOURT, Jean-Pierre. BRANCOURT, Isabelle. O 14 de julho de 1789:
espontaneidade com premeditação. O Livro Negro da Revolução Francesa. 2015)

11:45

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