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Conexão de parques eólicos offshore ao sistema

interligado nacional

Vandrianne Gianne Leite Rodrigues


1°Período de 2023

16 de junho de 2023

Universidade Federal do Rio de Janeiro


PEE - Programa de Engenharia Elétrica
CPE753 - Modelos de Planejamento da Expansão de SEE
Professor: Dr. Djalma M. Falcão
Sumário

1 Introdução 3

1.1 Definição do estudo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3

1.2 Objetivos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5

2 Parques eólicos offshore 5

2.1 Características gerais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5

2.2 Implantação no Brasil . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 8

3 Simulações 10

3.1 Cenário base . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 10

3.2 Definições do parque eólico offshore . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12

3.3 Regime permanente - resultados . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15

4 Conclusões 17

5 Referências Bibliográficas 19

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1 Introdução

1.1 Definição do estudo

Nos últimos anos observamos um crescimento grande e rápido na utilização de fontes re-
nováveis como matéria-prima para a geração de energia elétrica ao redor do mundo e, em
especial, no Brasil. Parques eólicos e conjuntos fotovoltaicos já não são tão surpreendentes
quanto nos primeiros protótipos e instalações. Essa mudança, de certa forma, abrupta, traz
inúmeras consequências, positivas e negativas, para os sistemas interligados mundiais. [1]
Destas consequências, podemos citar:

• Diminuição e, em alguns casos, substituição de fontes poluentes para fontes renováveis


e naturais;

• Geração intermitente proveniente das fontes renováveis, aumentando a complexidade


dos sistemas;

• Diminuição da inércia do sistema, até então com comportamento de massa-mola;

• Novas tecnologias para implementação e manutenção dos novos geradores e conversores


que integram os parques/conjuntos com o sistema.

No mundo, a utilização de geração eólica offshore está em crescimento, principalmente nos


países com uma matriz energética altamente poluente e baixo espaço geográfico para inserção
de parques renováveis onshore. Na figura 1 é possível observar o crescimento da capacidade
instalada ao redor do mundo e a influência de determinados países para este crescimento.

A figura 2 apresenta a capacidade instalada total de geração eólica offshore e o percentual


atribuído a cada país que utilizam esta tecnologia em sua matriz energética. [2]

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Figura 1: Capacidade instalada por ano, não cumulativa, de geração eólica offshore no
mundo.

Figura 2: Capacidade total instalada de geração eólica offshore no mundo.

O Brasil apresenta excelentes condições para instalação de parques eólicos e fotovoltaicos


onshore, entretanto, há uma limitação geográfica para expansão. Considerando esta res-
trição, precisamos começar a considerar a utilização de fontes renováveis na forma offshore,
especialmente a eólica, para atendimento da demanda e continuidade da transição energética.
Há uma estimativa de geração eólica offshore de um potencial de até 70 GW no território
brasileiro e com todo esse potencial é inevitável o uso deste modelo para geração de energia
no futuro, principalmente em uma sociedade cada vez mais digital e dependente de energia

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elétrica. [2]

Para que seja possível a escoação desta geração eólica offshore, algumas expansões são
necessárias no sistema interligado nacional para que a segurança e qualidade da energia
permaneçam em patamares adequados, isso significa que deverão ser realizados estudos ne-
cessários para garantir que o sistema suporte essas integrações. Sendo assim, neste trabalho,
abordaremos o estudo de regime permanente de uma pequena área na região Sudeste do
Brasil.

1.2 Objetivos

Pesquisa bibliográfica sobre integração de parques eólicos offshore, custos associados e esti-
mativa de expansão do sistema interligado nacional para escoamento destas gerações.

Serão apresentados resultados de simulações em regime permanente, realizado no ORGA-


NON, com o modelo de planejamento do PAR-PEL 2023-2027, considerando a capacidade
remanescente das instalações. [3]

2 Parques eólicos offshore

2.1 Características gerais

Os impactos provenientes da construção e interligação de parques eólicos offshore com o


sistema elétrico são dependentes de características construtivas dos próprios parques. O
local do parque e o ponto de conexão com o sistema, a fundação e as obras civis necessárias,
torres de medição próximas das turbinas, as conexões entre as turbinas para formação de um
conjunto, os custos e as dimensões da turbina, são algumas das muitas variáveis que devem
ser avaliadas.

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O tamanho da turbina é proporcional à sua capacidade nominal e quanto mais distante
da costa estiver a turbina, maior é possível que ela seja. Entretanto, neste cenário, maiores
serão também os custos para implementação das fundações (considerando que quanto mais
distante da costa, maior é a profundidade) e as quantidade de cabos submarinos necessário
para interligação deste parque com o sistema elétrico.

Na figura 3 é possível observar que a maior parte das turbinas já construídas no mundo
estão distantes da costa até 50 km, após essa quilometragem a complexidades e os custos
aumentam consideravelmente, sendo necessário ainda a consolidação de tecnologias para
utilização nestas condições. É possível observar que para distâncias maiores do que 150 km
da costa, não há projetos construídos, apenas aprovados. [2]

Figura 3: Relação distância da costa X Profundidade, de parques eólicos offshore.

A depender da distância da costa onde as turbinas serão instaladas, um dos pontos de


atenção é o tipo de fundação que será empregado. Para distâncias de até 50 km da costa, po-
demos observar as diferentes formas na figura 4 e a complexidade da fundação para distâncias
da costa maiores do que 50 km, conforme figura 5.

Considerando o tamanho das turbinas, podemos observar na figura 6 que há uma pers-
pectiva do diâmetro do rotor chegar até o tamanho de um avião AIRBUS A380, com uma

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Figura 4: Tipo de fundação para distâncias da costa de até 50 km.

Figura 5: Tipo de fundação para distâncias da costa maiores de 50 km.

pá de até 80m. Ainda não há perspectiva da capacidade nominal de uma turbina com essas
dimensões, mas com certeza seria bem superior aos 10 MW usualmente implementados.

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Figura 6: Diâmetro do rotor de turbinas eólicas offshore e suas capacidades nominais.

2.2 Implantação no Brasil

NO Brasil, ainda não foi iniciada a implantação de parques eólicos offshore, entretanto,
algumas empresas já realizaram solicitações de licenciamento ambiental para exploração
deste recurso, através do IBAMA. Na figura 7 podemos observar os pedidos para os estados
de Rio de Janeiro e Espírito Santo, ao longo de toda a costa. Vale ressaltar que esta imagem
é um recorte próprio de [4], com foco na área escolhida para o estudo de caso, sendo muito
maior quantitativamente o número de solicitações para licenciamento ambiental e também
de capacidade nominal esperada no território brasileiro.

Na figura 8, também recorte próprio de [4], podemos verificar que o total de capacidde
nominal de geração no estado do Rio de Janeiro, caso todas as solicitações de licenciamento
fossem aceitas e os parques construídos, é da ordem de 27.498 MW, quase 27,5 GW. En-
quanto que no estado do Espírito Santo, a capacidade nominal seria de 6.400 MW, quase 6,5
GW. Pela figura 7 é possível notar que a totalidade destes empreendimentos não poderão
ser finalizados, isso porque muitas das solicitações foram feitas para áreas sobrepostas, o
que acarreta em liberação apenas para um dos concorrentes, não sendo possível construir
parques eólicos sobrepostos um sobre o outro. Ainda assim, a capacidade nominal nestas
possibilidades é extremamente elevada e requer atenção.

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Figura 7: Solicitações de licenciamento ambiental para exploração de geração eólica offshore.

Figura 8: Expectativas de capacidade nominal de parques eólicos offshore.

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3 Simulações

3.1 Cenário base

Para as simulações utilizaremos o Organon e os arquivos com os casos de panejamento do


PAR-PEL 2023-2027, especificamente o caso do ano 2027 e o cenário de VERÃO, disponível
em [3].

A figura 9 apresenta a área elétrica escolhida para estudo, de forma resumida. Esta área
foi escolhida especificamente por já apresentar alguns problemas, nos dias de hoje, quando de
despacho máximo de geração térmica no setor de 345 kV (usinas de Termomacaé (UTMA),
Norte Fluminense (UTNF) e GNA 1 (alterada de nomenclatura no caso de planejamento
para Porto do Açu - PACU)), que acarreta em sobrecargas no setor de 138 kV, fora da rede
de operação do ONS, sendo mitigada apenas com redução/corte de geração nestas mesmas
usinas.

As cores apresentadas seguem o disposto nos Procedimentos de Rede do Operador Naci-


onal do Sistema Elétrico, com a cor vermelha representando os equipamentos em 500 kV, o
azul em 345 kV, o verde em 230 kV e o amarelo em 138 kV. Todos os destaques em roxo são
indicações de informações adicionais de interligações com outros subsistemas de interesse.

Figura 9: Diagrama unifilar simplificado do caso base.

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Praticamente todo o setor de 500 kV é fruto de expansão, aumentando a confiabilidade
na interligação entre os estados de Minas Gerais e Rio de Janeiro, principalmente para
possibilitar a escoação de geração renovável do Nordeste, em especial parques eólicos onshore
localizados no sul da Bahia e também com previsão de expansão no período estudado.

Foi realizada uma primeira análise em regime permanente sem nenhuma alteração do caso
de planejamento, para verificação dos parâmetros de carregamento e de tensões base. Para
carregamento, a figura 10 nos indica os maiores percentuais de carregamento observados no
caso, em ordem crescente, considerando o critério de capacidade nominal dos equipamentos,
sem considerar limites de urgência ou emergência (longa e curta duração, respectivamente).

Figura 10: Carregamento dos equipamentos no caso base.

Na figura 11 conseguimos observar os menores valores de tensão do caso base do pla-


nejamento, com especial atenção para o fato de que não há nenhum barramento da área
monitorada fora do limite inferior de 0,90 pu, conforme determina os Procedimentos de
Rede do ONS. Na figura 12 pode ser observado o mesmo para valores superiores de tensão,
também com todos os barramentos dentro do limite de 1,10 pu.

Vale ressaltar que, para os relatórios apresentados neste trabalho, há um filtro aplicado
para que somente os barramentos e equipamentos monitorados sejam os da área estudada,
presente no diagrama unifilar simplificado apresentado na figura 9, considerando também os
setores de 138 kV da região que são vistos pelo ONS, já presentes nos casos de planejamento.

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Figura 11: Menores valores de tensão dos equipamentos no caso base.

Figura 12: Maiores valores de tensão dos equipamentos no caso base.

3.2 Definições do parque eólico offshore

Para este estudo, será considerado um parque eólico offshore com geração máxima de 1670,4
MW, conectado ao setor de 500 kV da subestação Campos 2, já presente no caso base,
através de 1 linha de transmissão conectada à subestação Aracatu, incluída neste estudo
como coletora para a escoação da geração eólica. Na subestação Aracatu serão considerados

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4 transformadores de 500 / 138 kV com capacidade nominal de 650 MVA.

A subestação Campos 2 no setor de 500 kV foi a escolhida para escoação da geração


eólica offshore por se tratar de um ponto com capacidade remanescente de 2800 MW, con-
forme podemos observar na figura 13. Para esta região, este seria o único ponto de conexão
com capacidade remanescente considerável, visto que as demais possibilidades na região não
possuem disponibilidade, como apresentado na figura 14.

Figura 13: Capacidade instalada na subestação Campos 2.

Não foram considerados as diferentes formas de conexão dos parques eólicos da coletora
offshore até a coletora onshore, como sistemas de correntes de contínua e corrente alternada
como indicado nas figuras 15, 16 e 17, mas vale ressaltar que esses parâmetros influenciam
diretamente nos custos do projeto e na confiabilidade do sistema. [2]

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Figura 14: Capacidade instalada da região estudada mais próxima à costa.

Figura 15: Conexão em corrente alternada com cabos submarinos para distâncias da costa
de até 80 km.

Figura 16: Conexão em corrente contínua com cabos submarinos.

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Figura 17: Transmissão em corrente alternada a baixa frequência com conversão para 60 Hz
na coletora onshore, para distâncias da costa entre 100 e 200 km.

3.3 Regime permanente - resultados

Apesar da capacidade de escoação máxima de 2800 MW na subestação Campos 2, conforme


informado no site do ONS, não foi explorado esse valor máximo na inclusão do parque eólico
offshore indicado.

Na figura 18 podemos observar que houve indicação de alguns circuitos de 138 kV da região
com sobrecarga considerando a inserção do parque éolico offshore com geração de 1670,4 MW,
número muito inferior à capacidade máxima remanescente na subestação Campos 2.

Figura 18: Carregamento dos equipamentos após inserção de eólica offshore.

Para a avaliação das tensões, podemos observar na figura 19 que apenas a tensão da pró-
pria coletora Aracatu ficou abaixo de 0,90 pu, com indicação de 0,74 pu. Para esta situação,

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Figura 19: Menores valores de tensão dos equipamentos após inserção de eólica offshore.

Figura 20: Maiores valores de tensão dos equipamentos após inserção de eólica offshore.

como não foram incluídos nos estudos iniciais equipamentos para controle de reativo, seria
interessante avaliar a possibilidade de inserção de um equipamento com este fim, especial-
mente um compensador síncrono, que poderia compensar também as variações de tensão ao
longo do dia por conta da intermitência da fonte. Os demais barramentos da região ficaram
dentro dos limites estabelecidos pelos Procedimentos de Rede do ONS, inclusive quando
considerados os maiores valores de tensão da região conforme figura 20, sem indicação de

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barramentos com tensões acima de 1,10 pu.

4 Conclusões

De uma forma geral, é possível sim a implementação de parques eólicos offshore no sistema
interligado nacional, entretanto, são necessárias algumas adaptações para que seja possível
toda a energia proveniente destas fontes, principalmente referente à carregamento das linhas
de distribuição de 138 kV, conforme mostrado no caso estudado.

Os custos envolvidos na implementação de parques eólicos offshore são muito elevados


na construção, mas, no caso de determinados pontos do sistema interligado nacional, as
expansões necessárias para possibilitar essa implementação também acarretam em custos
elevados, que serão de alguma forma revertidos nas contas de energia dos consumidores.
Este é um ponto de atenção principalmente para os órgãos reguladores. Com o auxílio do
Simulador de Orçamento da ANEEL [5], por exemplo, conseguimos estimar um valor de quase
707 milhões de reais para a construção da nova subestação coletora, linha de transmissão e
transformadores associados.

Com o potencial grande de energia eólica offshore é possível que não haja interligação
com o sistema elétrico e que seja utilizado para a produção de hidrogênio verde, o que pode
ser extremamente benéfico para o país com um novo mercado de exportação desta fonte, e
não acarretar problemas adicionais no sistema interligado, hoje já bastante complexo por
conta das micro e mini gerações distribuídas e o grande número de elos de corrente contínua
operando em paralelo com a rede em corrente alternada.

Como trabalho futuro é sugerido que sejam realizadas avaliações em regime permanente
para o cenário de inverno do mesmo caso de planejamento do PAR-PEL 2023-2027, ano
2027, além de iniciar estudos de capacidade de curto-circuito e transitórios eletromagnéticos

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também utilizando casos de planejamento.

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5 Referências Bibliográficas

[1] Y. Liu, Y. Fu, L. ling Huang, Z. xu Ren, and F. Jia, “Optimization of offshore grid
planning considering onshore network expansions,” Renewable Energy, vol. 181, pp.
91–104, 2022. [Online]. Available: https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/
S0960148121012854

[2] EPE. Roadmap eólica offshore brasil. [Online]. Available: https://www.epe.gov.br/pt/


publicacoes-dados-abertos/publicacoes/roadmap-eolica-offshore-brasil

[3] ONS. Mapa indicativo da capacidade remanescente do sin. [Online]. Available:


https://www.ons.org.br/paginas/sobre-o-sin/mapas

[4] IBAMA. Complexos eólicos offshore. [Online]. Available: https://www.ibama.gov.br/


phocadownload/licenciamento/2023-03-24_Usinas_Eolicas_Offshore_Ibama.pdf

[5] ANEEL. Simulação de orçamento. [Online]. Available: https://bprsimulador.aneel.gov.


br/

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