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ENERGIA EÓLICA OFFSHORE

Desafios e Oportunidades
Sumário

Energia Eólica Offshore: Desafios e Oportunidades 3

Energia Eólica Offshore: Características Principais e Perspectivas 4

Offshore no Mundo 6

O Mercado Eólico Atual na Europa 9

Capacidade Eólica por País Europeu 10

As Usinas Offshore na Europa 12

Offshore no Brasil 13

Características das Offshore 14

A Legislação 14

Projetos no Brasil 17

Projetos de Porto-Indústria no Brasil 25

Visão dos Especialistas 26

Análise de Geoprocessamento e Geofísica de Áreas em 40


Potencial Para Parques Eólicos Offshore

Características das Áreas com Potencial Eólico Offshore 40

Estudos Geofísicos Para a Instalação de Fazenda Eólica Offshore 41

Histórico de Pesquisas Brasileiras Sobre Potencial Eólico Nacional 45

Áreas na Costa Brasileira com Potencial Eólico Offshore 47


Sob a Perspectiva de Vento

Critérios Relevantes nos Estudos de Potencial Eólico Offshore 49

Principais Agentes Brasileiros Produtores de Dados 51

A Produção de Dados, no Cenário Mundial, Como Medida Para 53


Assegurar Empreendimentos Eólicos Offshore

A Produção de Dados, no Brasil, Como Medida Para Assegurar 54


Empreendimentos Eólicos Offshore
ENERGIA EÓLICA OFFSHORE
Desafios e Oportunidades

A energia eólica offshore é um dos temas que tem dado vazão para
a tão discutida transição energética global. Atentos à nova realidade do
mercado de energia, grande parte dos países têm investido esforços na
absorção de tecnologias mais sustentáveis e economicamente viáveis.

Neste estudo, é apresentada a análise do contexto das eólicas offshore no


Brasil e no mundo, baseada em levantamento de dados secundários. Com objetivo de
apresentar o contexto histórico do tema até as atualizações mais recentes, e assim
contribuir para o desenvolvimento dos profissionais da área, abordamos:

PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS
PERSPECTIVAS NO CONTEXTO NACIONAL
BASE LEGAL

PRINCIPAIS PONTOS DE ATENÇÃO PARA O


SUCESSO NA IMPLANTAÇÃO DESTE SETOR

Também são apresentadas entrevistas com especialistas no assunto no Brasil,


diante do cenário global e a realidade no nosso território.

No contexto ambiental, são apontados os principais impactos relacionados à


implantação de usinas eólicas offshore. É feita ainda uma análise das solicitações já
realizadas aos órgãos ambientais partícipes e seu atendimento nos projetos e
estudos já protocolados solicitando emissão de licença ambiental para implantação.

Desta forma, apresentamos informações importantes para compreensão e


contextualização das eólicas offshore no contexto global e nacional, sob distintas
perspectivas de mercado.

ENERGIA EÓLICA OFFSHORE – Desafios e Oportunidades


03
ENERGIA EÓLICA OFFSHORE
Características Principais e Perspectivas

Essa tem sido uma pauta cada vez mais frequente no mundo por ser uma
fonte renovável e no combate às mudanças climáticas, uma grande aliada na redução
da emissão dos gases do efeito estufa. A energia eólica pode ser onshore, quando os
parques são instalados no continente, ou offshore, quando os parques estão
localizados em alto-mar, em áreas distantes da costa.

A exploração do recurso eólico offshore apresenta algumas vantagens em


relação à capacidade de geração quando comparado ao onshore:

1. possibilidade de instalação de equipamentos de maior dimensão;


2. velocidade e perenidade dos ventos oceânicos, visto que não existem barreiras
físicas ou naturais;
3. menores limitações espaciais.

A grande maioria das turbinas eólicas offshore já instaladas estão presas ao


fundo do mar por uma fundação fixa, que é limitada à profundidades de água de 50
ou 60 metros. No entanto, o maior potencial do sistema offshore está localizado em
regiões com profundidade maior que 80 metros, e para a instalação nessas
profundidades são necessárias estruturas flutuantes, semelhantes às de plataformas
de petróleo.

O projeto Hywind de 30 megawatts administrado pela empresa norueguesa Equinor,


foi o primeiro parque eólico flutuante do mundo e está em operação desde 2017. O
parque possui apenas 5 turbinas e já quebrou recordes no Reino Unido em produção
de energia, sendo que uma única turbina de seis megawatts pode gerar uma
eletricidade suficiente para abastecer 4.000 casas.

A transmissão da energia dos parques eólicos offshore ocorre por meio de


cabos submarinos, permitindo a integração com sistemas de transporte de energia
em terra. Desta forma, a produção obtida nessas operações pode ser unida aos
Sistemas Integrados Nacionais, permitindo um incremento de geração bastante
relevante.

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04
O custo de implantação desses parques é elevado. Porém, uma forte garantia
de demanda permite que cadeias de fornecedores sejam formadas localmente, e o
atual estágio avançado de aprendizado do setor, em termos de tecnologias
disponíveis, também facilita uma redução nestes custos iniciais.

Os parques eólicos offshore demandam fortes investimentos de capital, tanto


para a implantação quanto para a sua manutenção. Existe uma demanda de mais
cuidados, em especial quanto à corrosão dos equipamentos. Além disso, a
mão-de-obra especializada e escassa também traz custos extras e fortes desafios
para o setor. Entretanto, a perspectiva é de que o potencial elevado de geração
compense estes custos, favorecendo uma redução no período de payback do
investimento efetuado.

As empresas do setor elétrico de grande porte e as de petróleo offshore têm


visto a eólica offshore como uma das tecnologias de mais rápido crescimento hoje e
como uma oportunidade de migração para o baixo carbono, principalmente devido à
necessidade de transição energética.

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OFFSHORE NO MUNDO

De acordo com o relatório anual do Global Wind Energy Council (GWEC) de


2022, a indústria eólica global teve seu segundo melhor ano em 2021, com quase 94
GW de capacidade adicionada globalmente, ficando atrás do crescimento recorde de
2020 em apenas 1,8%.

O mesmo relatório aponta que a capacidade eólica offshore comissionada


naquele ano foi de 21,1 GW, três vezes mais do que em 2020. Estes números tornam
2021 o melhor ano da história do setor de eólica offshore, elevando a participação do
mercado em novas instalações globais para 22,5% em 2021.

NOVAS INSTALAÇÕES DE SISTEMAS EÓLICOS GLOBALMENTE

-1.8%

Onshore 95.3 93.6


Offshore 6.9
21.1

60.8
53.5 6.2
4.5 50.7
4.4
95.3 93.6

60.8
53.5 50.7

FONTE:
GWEC, 2022.

2017 2018 2019 2020 2021

Esse crescimento foi impulsionado principalmente pela China, Reino Unido,


Dinamarca, Vietnã e Holanda que, por sua vez, lançou o segundo maior parque eólico
offshore no último ano. O parque, chamado de Gemini, tem uma capacidade de 600
MW e hoje só perde para o Hornsea 2, instalado no Reino Unido, que está em plena
operação e com uma capacidade de 1,3 GW. A China, porém, foi responsável por 80%
da nova capacidade instalada globalmente, e este é um nível de crescimento
surpreendente, pois levou três décadas para a Europa trazer sua capacidade eólica
offshore total para um nível semelhante.

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NOVAS INSTALAÇÕES DE SISTEMAS OFFSHORE (EM MW)

21,106

2,317

1,001

CAGR +47.4%

16,900
237

6,852
6,243
483
4,472 4,351 1,764
2,216

1,312 1,111
1,715
752
969 3,845
1,253
380 2,493
228 FONTE:
1,161 115 1,655 35 123 60 GWEC, 2022.
888
12

2017 2018 2019 2020 2021

Estados Unidos Other Asia China


Other Europe Alemanha Reino Unido

O mundo terminou 2021 com uma potência eólica offshore instalada de 57,2
GW, sendo a China responsável por 27,7 GW, o Reino Unido com 12,5 GW, a Alemanha
com 7,7 GW, a Holanda com 3 GW e a Dinamarca com 2,3 GW, os cinco países com
maior potência instalada (GWEC, 2022a). Dos quatro países destacados, apenas um
não pertence ao continente europeu.

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07
TOTAL DE INSTALAÇÕES OFFSHORE (%)

Resto do mundo 7% PR China 48%


Dinamarca 4%
Holanda 5%

Alemanha 13%
57,2 GW

Reino Unido 22% FONTE:


GWEC, 2022.

Em uma escala mundial, mais de 90 GW de energia gerada em operações


offshore deverão ser adicionados em todo o mundo entre 2022 e 2026. É esperada
uma média anual de instalações offshore de 18,1 GW.

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O Mercado Eólico Atual na Europa

No total, 236 GW de capacidade eólica já estão instalados na Europa, onde 12%


correspondem os parques eólicos offshore. A Alemanha continua a ter a maior
capacidade instalada do continente, seguida pela Espanha, Reino Unido, França e
Suécia. Sete outros países (Itália, Turquia, Holanda, Polônia, Dinamarca, Portugal e
Bélgica) têm mais de 5 GW instalados cada. Seis países adicionais têm mais de 3 GW
de capacidade: Irlanda, Grécia, Noruega, Finlândia, Áustria e Romênia (WindEurope,
2022).

CRESCIMENTO DA CAPACIDADE TOTAL DE GERAÇÃO


DE ENERGIA EÓLICA NA EUROPA ENTRE 2012 E 2021

250

200
Total Capacity (GW)

150

100

50

0
2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020 2021

Offshore 5 7 8 11 13 16 18 22 25 28

Onshore 104 114 126 136 148 161 170 182 194 207

Total 109 121 134 147 161 177 189 204 219 236
FONTE: WINDEUROPE, 2022.

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Capacidade Eólica por País Europeu

Cerca de 64% de toda a capacidade de energia eólica na Europa está


distribuída por cinco países: Alemanha (64 GW), Espanha (28 GW), Reino Unido (27
GW), França (19 GW) e Suécia (12 GW), seguidos por Itália, Turquia e Holanda com 11 GW,
11 GW e 8 GW respectivamente.

TOTAL DE INSTALAÇÕES EÓLICAS POR PAÍS

70
Alemanha
Outros 36%
60 36%
50
Capacity (GW)

Suécia Espanha
40 12%
5%
França Reino
30 8% Unido
11%
20

10

0
Alemanha

Espanha

Reino Unido

França

Suécia

Itália

Turquia

Holanda

Dinamarca

Polônia

Portugal

Bélgica

Noruega

Grécia

Irlanda

Outros

Offshore 8 0 12.7 0 0 - - 3 2 - 0 2 0 - 0.03 0

Onshore 56 28 14 19 12 11 11 5 5 6 6 3 5 4 4 18

Total 64 28 26.7 19 12 11 11 8 7 6 6 5 5 4 4 18
FONTE: WINDEUROPE, 2022.

Até 2021, o Reino Unido tinha 2,6 GW de instalações eólicas, sendo a produção
offshore equivalente a até 88% deste valor. As instalações offshore foram
impulsionadas pela conclusão dos parques Moray East e Triton Knoll. Embora as
operações onshore no Reino Unido tenham crescido ano a ano, ainda são o segundo
valor mais baixo desde 2005 (WindEurope, 2022).

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A Suécia passou por um ano recorde para instalações onshore, o valor mais do
que duplicou em 2021. Com 2,1 GW, o país alcançou a maior capacidade de geração
em operações onshore na Europa.

No mesmo período, a Alemanha foi o terceiro maior país em instalações


eólicas. As onshore subiram para 1,9 GW (contra 1,4 GW em 2020), refletindo melhoria
na situação de licenciamento. O descomissionamento de parques eólicos onshore foi
bastante baixo, sendo o equivalente a 0,2 GW, considerando os altos custos da
eletricidade no atacado que compensaram o aumento dos custos operacionais de
turbinas eólicas antigas.

A Turquia instalou um recorde de 1,4 GW de capacidade eólica, ligeiramente


superando um recorde anterior em 2016, seguida pela Holanda que instalou 1,3 GW de
onshore (952 MW).

A França possui 1,2 GW de capacidade onshore, 10% menor do que em 2020


(1,3 GW) e continuando uma tendência preocupante de instalações decrescentes
desde seu pico em 2017, quando 1,7 GW foram instalados.

A Rússia foi o sétimo maior mercado no mundo e o terceiro maior mercado


fora da União Europeia. Com 1,1 GW de instalações, o país obteve um aumento de 60%
nos números de operações de 2020.

A Dinamarca instalou 754 MW em 2021, sendo a maior parte dos parques


eólicos offshore. Kriegers Flak, o primeiro projeto eólico offshore híbrido do mundo
(ligado à Dinamarca e Alemanha), contribuiu com 0,6 GW para instalações na
Dinamarca.

Estima-se que a Espanha tenha instalado 750 MW em 2019, representando


uma queda de 56% em relação à 2020. Isso se deve principalmente à falta de leilões
realizados no período entre 2018 e 2020.

As instalações na Noruega foram impulsionadas pelo esquema de certificado


verde descontinuado e alguns Contratos de Compra de Energia (PPA),
correspondendo a 0,7 GW.

A Finlândia passou por um ano recorde para novas instalações devido à forte
aceitação de PPAs e projetos comerciais, com a instalação de 0,7 GW. A Polônia (0,7
GW) também teve um ano expressivo, com capacidade leiloada em 2018 e 2019,
consolidando as instalações naquele país (WindEurope, 2022).

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Os Parques Eólicos Offshore na Europa

No ano de 2021, havia oito parques eólicos offshore instalados em três países
conectando turbinas à rede interligada.

Neste mesmo ano, o Reino Unido instalou três novos projetos, enquanto um
quarto projeto, o Hornsea Two, ainda está em construção com comissionamento
completo esperado até o final de 2022. Kincardine, o maior projeto flutuante
operacional do mundo, foi comissionado na costa da Escócia, com capacidade de
geração de 50MW. A Dinamarca concluiu a instalação de Kriegers Flak e a Holanda
iniciou a instalação de um parque eólico comercial e um projeto de demonstração na
zona de Borssele. Finalmente, a Noruega iniciou a instalação de um projeto de
demonstração com um novo conceito flutuante.

PORCENTAGEM DA DEMANDA POR ELETRICIDADE MÉDIA


ANUAL COBERTA POR CENTRAIS EÓLICAS EM 2021

EU+UK 15%
EU 14%

Dinamarca 44%
Irlanda 31%
Portugal 26%
Espanha 24%
Alemanha 23%
Reino Unido 22%
Suécia 19%
Grécia 18%
Holanda 15%
Bélgica 13%
Croácia 11%
Áustria 11%
Romênia 11%
Lituânia 10%
Turquia 10%
Finlândia 9%
Estônia 9%
Polônia 9%
Noruega 8%
França 8%
Itália 7%
Chipre 6%
Bulgária 4%
Letônia 2%
Hungria 1%
Tchéquia 1%
Suíça 0%
Eslovênia 0%
Eslováquia 0%

0% 10% 20% 30% 40% 50%


FONTE:
Onshore Offshore WINDEUROPE, 2022.

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OFFSHORE NO BRASIL

A energia eólica no Brasil tem sido marcada por um crescimento virtuoso ao longo na
última década, saltando de 1 GW em 2011 para 21 GW em janeiro 2022. Hoje, o vento é
a segunda maior fonte de geração de energia no país, representando 11% a matriz
elétrica, ficando atrás apenas das hidrelétricas, que representam cerca de 70% da
matriz energética do país.

Os valores alcançados no último ano, são considerados um marco de


capacidade e equivalem a 70% de toda a capacidade de energia eólica na América
Latina.

Estudos apontam que este crescimento recorde resultou de uma junção de


fatores, incluindo recuperação econômica, um aumento de 4,1% na demanda por
eletricidade no período e uma maior eficiência e consolidação da indústria de energia
eólica nacional.

O ano de 2021 também foi importante no quesito inovação, visto que foi
marcado pela chegada de novas forças para a energia eólica em o país como: a eólica
offshore, produção de hidrogênio verde e a regulação de projetos híbridos.

Diferentemente de outros países, a diferença de capacidade entre o onshore o


offshore no Brasil é menor, já que no Nordeste, principal região produtora onshore, as
turbinas já chegam a 60% de capacidade devido aos ótimos ventos da região,
enquanto na offshore, chegariam a 80%. E esse foi um dos fatores que fizeram com
que a chegada da offshore no Brasil demorasse mais.

Um estudo da Empresa de Pesquisa Energética (EPE) aponta que o Brasil teria


um potencial de geração de 700 GW pela eólica offshore considerando apenas a
instalação de parques em locais com até 50 metros de profundidade. Porém, devido
a algumas sensibilidades e restrições, talvez esse potencial não seja todo alcançado.

Hoje no Brasil temos 66 pedidos de licenciamento de parques eólicos offshore


protocolados junto ao IBAMA, localizados nos estados de Piauí, Ceará, Rio Grande do
Norte, Espírito Santo, Rio Grande do Sul e Rio de Janeiro. Juntos, eles somam um
potencial acumulado nominal de 169 GW.

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Características das Offshore

A fonte eólica offshore vem crescendo no mundo e motivando não somente


do setor elétrico como também da indústria de óleo e gás no Brasil, buscando
entender melhor o potencial e outras características referentes a essa fonte.

As vantagens do aproveitamento eólico offshore também se devem à


possibilidade de instalação próxima aos centros de consumo, tendo em vista que
grande parte da população reside próximo da costa. Porém, a superfície marinha é um
ambiente severo. Ondas, tempestades e água salgada exigem que os equipamentos
utilizados offshore sejam projetados especialmente para suportar estas condições,
aumentando os custos de instalação e manutenção. (MME, 2020)

A Legislação

Para entender como chegamos ao patamar de regulamentações das eólicas


em offshore, precisamos voltar um pouco no tempo e compreender de onde viemos.

1934
A primeira legislação que regula o setor de eletricidade com uso das nossas águas
vem com o Decreto nº 26.234, que é mais conhecido como o “Código de águas”.

1993
Foi lançada a Lei nº 8.617 que declarou expressamente o direito de soberania do Brasil
sobre a exploração dos recursos marinhos e hídricos nacionais em sua Zona
Econômica Exclusiva e Plataforma Continental, mostrando importante interesse em
regularizar sua costa e perspectivas de crescimento do país.

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1997
Percebendo os gargalos e oportunidades do setor energético nacional, foi lançada a
Lei nº 9.048, que instituiu a Política Energética Nacional, a qual incluiu um grande foco
sobre Pesquisa e Desenvolvimento do setor de energias renováveis. Alguns anos
depois, o país passou por uma crise hídrica que expôs sua baixa capacidade de
resiliência com relação a fontes energéticas, e nesse momento foi criada a Câmara de
Gestão da Crise de Energia Elétrica (GCE).

2001
A Resolução GCE nº22/2001 criou o primeiro programa focado no desenvolvimento
da energia eólica no Brasil, Proeólica. Porém, em função de obstáculos operacionais
este marco acabou não sendo regulamentado pela ANEEL.

2002
As discussões do setor estavam bastante avançadas, então foi lançado o Programa
de Incentivo às Fontes Alternativas de Energia Elétrica (PROINFA), com foco em
diversificar a matriz energética brasileira com fontes diversas, chegando inclusive a
fixar preços, concedendo garantias de compra de energia em contratos de 20 anos e
oferecendo financiamento para implantação desses projetos no setor. O êxito do
programa, porém, não atingiu seu ápice como esperado, mas ao menos favoreceu a
instalação de fábricas importantes de componentes e aerogeradores no Brasil, além
da realização de leilões e concessões públicas para empresas do ramo.

2011
A Lei nº 12.490 protagonizou o fomento à pesquisa e desenvolvimento de energias
renováveis, elevando-lhe para o status de princípio da Política Energética Nacional.
Assim, ganharam destaque e incentivo as pesquisas do setor e das áreas em
potencial para exploração desta nova possibilidade de mercado no território nacional,
seja no ambiente marinho, costeiro ou continental.
Ao mesmo tempo, os projetos de parques eólicas em offshore no exterior
começaram a ganhar forma e permitir expansões consideráveis de possibilidades de
mercado. Adquirir terrenos na costa pode ter altos custos, competindo com os usos
para ocupações humanas e outros. Olhando para esse cenário, as empresas mais
experientes do ramo de óleo e gás perceberam que sua já consolidada expertise em
estudos e projetos complexos no ambiente marinho poderia lhes favorecer nessa

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corrida. Por já possuírem knowhow sobre a logística, infraestrutura associada,
equipamentos e pessoal envolvido nas suas operações, essas empresas poderiam
sair na frente nessa busca por locais com grande potencial de viabilizar a
implantações destes projetos de eólica em offshore. A costa brasileira passou então
a ser objeto de estudos sobre áreas em potencial para a exploração de seus ventos, e
as empresas com grande experiência no exterior passaram a olhar para o país como
potencial investimento no setor.

O crescimento da agenda ESG entre stakeholders e os pactos globais firmados em


importantes convenções internacionais passaram a exigir cada vez mais o cuidado
com as emissões sobretudo de Gases de Efeito Estufa, o que é, em comparação com
outras formas de geração de energia, muito mais baixo na geração em eólicas
offshore.

2020
Começam então a surgir as primeiras solicitações de projetos do setor offshore.

2022
O Ministério das Minas e Energia estabeleceu normas e procedimentos
complementares para a cessão de uso onerosa do setor, e a Portaria Interministerial
MME/MMA nº3 trouxe ainda diretrizes e fluxos operacionais do Portal Único de
Gestão do Uso das Áreas Offshore (PUG-Offshore). Com essa legislação estabelecida,
os empreendedores interessados no setor deverão utilizar este Portal Único para
acompanhar o uso do bem público, permitindo também o acesso a informações
sobre evolução dos projetos de interesse comum no setor de eólicas offshore no
Brasil.

A publicação das duas portarias representa uma evolução significativa para a


geração de energia elétrica offshore no Brasil, contribuindo para o estabelecimento
de um marco legal seguro e adequado. Os resultados dependem efetivamente da
expertise e competência da ANEEL e da EPE, além das demais instituições
governamentais, de modo a aumentar sinergias para amplificar o potencial
energético brasileiro. Este é mais um importante passo do MME para proporcionar
mais investimentos privados no País, com o norte de previsibilidade, segurança
jurídica e regulatória característicos do setor elétrico.

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CONTRIBUIÇÕES

A elaboração das portarias contou com apoio dos Ministérios da Economia


(ME), do Meio Ambiente (MMA), da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), da
Infraestrutura (MINFRA), da Marinha do Brasil (MB), da Agência Nacional de Energia
Elétrica (Aneel), da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis
(ANP), da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), do Instituto Chico Mendes de
Conservação da Biodiversidade (ICMBio) e do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e
dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA).

Projetos no Brasil

O Brasil não possui nenhum parque eólico offshore instalado, mas já existem
66 pedidos de licenciamento protocolados junto ao IBAMA. A maioria dos projetos
protocolados estão localizados na região Nordeste, mas também existem projetos na
região Sul e Sudeste do país.

Os processos mais antigos são o de Caucaia e Asa Branca, protocolados,


respectivamente, em 2016 e 2017. Os anos seguintes seguiram sem muita expressão
numérica, porém no ano de 2022 tivemos o protocolo de 44 projetos.

Os empreendedores responsáveis pelos projetos são na maioria empresas


grandes do setor elétrico e petroleiras. A maior detentora de projetos é a Bluefloat
Energy do Brasil com 7 projetos, situados no Rio Grande do Norte, Rio de Janeiro e Rio
Grande do Sul. Logo atrás dela, temos as empresas: Equinor, Shell Brasil e Shizen
Energia do Brasil com 6 projetos protocolados, cada.

Já os empreendimentos com maiores capacidade são: Ventos do Sul, da


Ventos do Atlântico, com instalação no Rio Grande do Sul, com 6.507 MW, seguido do
Alpha, da Alpha Wind Morro Branco, no Ceará, com 6.000 MW e do Farol Wind Power
da SPE Bravo Vento , em Santa Catarina, com 5.700 MW de capacidade.

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ESTUDO DE CASO

O ÓRGÃO LICENCIADOR – IBAMA

Desde 2019 o IBAMA vem buscando informações em países que possuem


complexos eólicos marinhos em operação e que já conhecem os impactos
ambientais associados a este tipo de empreendimento, já implementam medidas
mitigadoras e estratégias de minimização de impactos e já possuem dados
relevantes de monitoramento, possuindo assim a expertise necessária para
embasamento do processo de licenciamento a ser implementado no Brasil.

Em 2019, o IBAMA firmou parceria com a União Europeia, por meio do


programa Diálogos Setoriais, visando o aprimoramento de projetos de energia
sustentável, o alcance das metas do Acordo de Paris, o aumento do fluxo de
conhecimento ambiental, e a expansão do canal de investimentos na área de energia
renovável. (IBAMA, 2022).

Embasado por essa parceria, no final de 2020 o IBAMA lançou o Termo de


Referência (TR) Padrão para Estudo de Impacto Ambiental e Relatório de Impacto
Ambiental (EIA/Rima) de Complexos Eólicos Marítimos. A padronização do TR trouxe
celeridade e qualidade às análises ambientais, além de diminuir a discricionariedade
e a insegurança jurídica, o que garante uma maior proteção ambiental e atração de
investidores. (IBAMA, 2022).

O que pode se observar é que em 2016, os processos protocolados não foram


norteados pelo Termo de Referência, elaborado apenas em 2020. Dessa forma, tanto
a entrega do estudo, quanto a análise do órgão ambiental, foram alvos de grande
gasto de energia, culminando na emissão de vários Pareceres Técnicos que por sua
vez, originaram grande volume de produtos fragmentados protocolados
parceladamente para atendimento das solicitações do órgão.

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ETAPAS PARA EMISSÃO DA LICENÇA PRÉVIA
EM EMPREENDIMENTOS EÓLICOS OFFSHORE

Baseado no Termo de Referência e Pareceres Técnicos emitidos pelo IBAMA,


incluindo as unidades geradoras de energia eólica; a rede conectora submarina; a
subestação marítima; rede de transmissão de energia até a conexão com o Sistema
Interligado Nacional - SIN.

Informações Dados do empreendedor, empresa de consultoria


Gerais e equipe multidisciplinar.

Contextualização do projeto no âmbito do Planejamento


Elétrico do país, do planejamento marinho e ambiental
Caracterização do nacional e regional, compatibilidade legal, Alternativas
empreendimento
Tecnológicas e Locacionais, Caracterização do
Empreendimento/Atividades e Cronograma.

Meio Físico (Climatologia e Meteorologia, Oceanografia,


Identificação de fenômenos extremos), Ruídos e Vibrações,
Geologia, Gemorfologia, Pedologia e Geotecnia, Qualidade
Diagnóstico da Água, Hidrodinâmica Costeira e Transporte de Sedimentos.
Ambiental Meio Biótico (Meio marinho e terrestre). Meio Socioeconômico
(Dinâmica Populacional, Econômica, Territorial, Sociocultural
e da Paisagem).

Avaliação de
Impactos
Ambientais
Identificação, descrição e avaliação dos impactos ambientais
Prognóstico gerados nas fases de planejamento, instalação, operação e
Ambiental desativação do empreendimento. Elaboração dos programas
ambientais e ações mitigadoras.

Medidas
Mitigadoras

ESTUDO DE IMPACTO AMBIENTAL


FONTE: OLIVEIRA, LEONARDO. 2022. FÓRUM ENERGIAS RENOVÁVEIS. ENERGIAS SEM LIMITES. NOV/2022. ADAPTADO.

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19
OS ESTUDOS

Os primeiros estudos protocolados comparados àqueles recebidos pelo órgão


em 2022 são, via de regra, inferiores tanto à qualidade técnica, quanto à compreensão
e dimensão dos estudos e levantamentos necessários para a implantação de um
parque eólico offshore.

Esse subdimensionamento, ocasionou o protocolo de estudos não robustos,


com ausência de análises e levantamentos que pudessem caracterizar os impactos
passíveis de ocorrer na implantação de um empreendimento offshore, bem como as
medidas mitigadoras necessárias.

ÁREAS COM ESTUDOS PROTOCOLADOS JUNTO AO IBAMA.

FONTE: IBAMA, 2022

ENERGIA EÓLICA OFFSHORE – Desafios e Oportunidades


20
MAPEAMENTO

O Instituto Senai de Inovação em Energias Renováveis (ISI-ER), sediado no Rio


Grande do Norte vem desenvolvendo um mapeamento eólico do Brasil, identificando
o potencial de produção de energia offshore. A área total inserida no levantamento
corresponde a 38,6% do litoral brasileiro e também inclui os estados do Ceará, Piauí,
Maranhão, Pará e Amapá.

O projeto prevê a identificação das melhores áreas de potencial eólico para


fomentar o desenvolvimento de projetos de parques eólicos e, além disso, auxiliar os
fabricantes de equipamentos a dimensionarem aerogeradores, torres e fundações
adequados ao perfil de vento do país.

Os trabalhos incluem medições de velocidade e direção dos ventos em pontos


estratégicos e o mapeamento de áreas para projetos eólicos offshore. (SENAI, 2022)

DISTRIBUIÇÃO DAS ESTAÇÕES CLIMATOLÓGICAS

FONTE: SENAI, 2022

Neste mês de novembro/22, foi lançada a Plataforma com o Atlas Eólico e


Solar do RN, pela FIERN, que disponibiliza informações medidas em campo por
estações meteorológicas instaladas, além de bases de dados públicas com
informações socioeconômicas e de infraestrutura que podem ser cruzadas para
realização de estudos e tomada de decisões das empresas investidoras.

ENERGIA EÓLICA OFFSHORE – Desafios e Oportunidades


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PLATAFORMA COM O ATLAS EÓLICO E SOLAR DO RN, PELA FIERN

ANÁLISE DE EIA-RIMA JÁ PROTOCOLADOS

Impactos Ambientais associados à Parques Eólicos Offshore

Com o aumento no número de projetos eólicos offshore instalados ao redor do


mundo, também se verifica o aumento no número de estudos voltados para a
compreensão das questões ambientais associadas a tais projetos (MME, 2018). Com
isso, são registrados impactos que afetam os meios biótico, físico e socioeconômico
nas fases de planejamento, instalação, operação e também no descomissionamento
desses empreendimentos.

As principais questões ambientais relacionadas ao desenvolvimento de projetos


eólicos offshore reportadas até o momento em estudos técnicos realizados em
outros países encontram-se resumidas mais à frente.

Complementarmente, as subseções seguintes descrevem de forma sucinta os


efeitos ambientais decorrentes da implantação dos aerogeradores no mar e dos
cabos submarinos, principais aspectos ambientais relacionados a esses
empreendimentos, assim como as estratégias de mitigação comumente adotadas.

Os primeiros pareceres técnicos emitidos pelo IBAMA apontaram inconsistências,


necessidades que vão desde equipes técnicas mal dimensionadas, proposições de
tecnologias ainda não disponíveis no mercado brasileiro; não solicitação de Anuência

ENERGIA EÓLICA OFFSHORE – Desafios e Oportunidades


22
junto aos intervenientes, bem como atendimento aos Termos de Referência
específicos emitidos por esses órgãos (INCRA, IPHAN, Fundação Palmares, FUNAI,
dentre outros).

Considerações sobre o licenciamento ambiental


brasileiro para parque eólicos offshore:

O que falta?

• Ausência de um planejamento espacial marinho no Brasil enquanto uma ferramenta


de planejamento ambiental para regulação do uso do espaço;

• Aplicação de metodologias de análises de impactos socioambientais adequados ao


cenário brasileiro, a exemplo da análise de sensibilidade da paisagem;

• Desenvolvimento de um Banco de Dados a partir dos dados coletados de


monitoramentos dos impactos ambientais quando estes se iniciarem em fases
posteriores à licença ambiental prévia;

• Existe uma lacuna de dados secundários que possa auxiliar até mesmo fases
anteriores ao licenciamento como prospecção de áreas, o que torna o processo de
licenciamento mais complexo;

• Aprendizado com a experiência dos primeiros parques, que serão os primeiros


exemplos no Brasil;

• Ausência de Infraestrutura portuária adequada;

• Baixa disponibilidade de mão de obra qualificada nas vertentes técnica, social e


ambiental.

Infraestrutura portuária

Quando se trata de instalações offshore, é necessária a existência de uma estrutura


portuária que suporte todo o serviço de construção, montagem e transporte. Esta
estrutura pode ser suprida pela malha de portos existente na região, aproveitando,
em alguns casos, construções feitas para atender a indústria de petróleo e gás, ou
ainda por instalações criadas especificamente para atender as necessidades da
indústria eólica offshore, como observado em alguns lugares do mundo. Os acessos
aos portos são essenciais para realizar a logística de suprimento necessária, para
recebimento e expedição de materiais.

Assim, para viabilizar a implantação de parques eólicos offshore, é fundamental a


análise da atual situação da infraestrutura portuária próxima das regiões com

ENERGIA EÓLICA OFFSHORE – Desafios e Oportunidades


23
potencial para essa fonte e a identificação dos esforços necessários para adaptação
dessas estruturas a fim de adequá-las para as atividades de suporte as operações de
instalação e manutenção dos parques.

Logística

O estabelecimento de uma cadeia de suprimentos global é uma das questões


mais difíceis no contexto da construção de uma indústria eólica offshore global. O
nível de maturidade e os preços competitivos observados atualmente no mercado
offshore europeu são resultados da presença de uma forte cadeia de fornecimento,
que demandou muito tempo, esforço e investimentos para alcançar tal patamar. Com
a tendência de que os projetos eólicos offshore sejam implementados em locais cada
vez mais distantes da costa, em águas mais profundas e sujeitos a condições
ambientais mais severa, além da adoção de tamanhos maiores de turbinas, surgem
novos desafios logísticos às atividades de construção de manutenção dessas
estruturas. Na etapa de construção desses projetos, existe um processo repetitivo de
transporte, em que a embarcação responsável pelo transporte dos componentes
chega vazia ao porto para efetuar o carregamento, em seguida segue carregada até o
local de instalação, onde descarrega (com a construção dos equipamentos) e retorna
vazia ao porto para recomeçar o processo. Sendo assim, uma das possíveis formas
para aumentar a eficiência é minimizar o número de fases/etapas, combinando as
atividades de transporte e instalação.

Se por um lado os fabricantes de turbinas eólicas precisam adaptar suas linhas


de produção para atender uma nova demanda local destinada a instalações offshore,
por outro lado também deve haver a disponibilidade, por exemplo, de embarcações
utilizadas para as operações, principalmente de construção, que são navios
desenvolvidos especificamente para esta finalidade.

Como já dito, esse setor tem grande probabilidade de sinergia com empresas
do setor de petróleo e gás, com a possibilidade de atrair um grupo muito diversificado
de participantes, como por exemplo companhias petrolíferas internacionais, que tem
experiência e expertise offshore. Como exemplos dessa sinergia, temos a Equinor, na
Noruega e a Shell, na Holanda e Reino Unido, empresas já consolidadas no setor de
petróleo o gás e que hoje em dia também fazem parte do mercado eólico offshore.

Custos

Os custos atuais de investimento estimados de projetos de usinas eólicas offshore


são aproximadamente duas vezes maiores que dos projetos onshore, podendo variar
entre USD 3.000/kW e USD 6.000/kW (IRENA, 2018b), devido principalmente aos
custos de fundações, de instalação e de transporte das estruturas. Além disso, existe
um custo adicional na fabricação dos equipamentos pois precisam ser projetados e
protegidos, tanto contra o efeito da corrosão quanto contra a ação das ondas e

ENERGIA EÓLICA OFFSHORE – Desafios e Oportunidades


24
marés. Outro item que impacta o custo da construção de usinas eólicas offshore é a
utilização de embarcações e de mão de obra específicas para transportar e instalar os
equipamentos. Esse serviço é desenvolvido por empresas especializadas (geralmente
do setor de óleo e gás) e possuem um custo bastante elevado (especialmente quando
comparados aos serviços de mesma natureza nos parques eólicos onshore). O custo
total de investimento (CAPEX) da energia eólica offshore também apresenta um
aumento à medida que os projetos se afastam da costa e são instalados em águas
mais profundas, não só pelo tipo de fundação, mas por ter que utilizar tecnologias
mais avançadas. Além disso, ainda comparando com os parques onshore, os prazos
de entrega dos projetos offshore são maiores e o planejamento e a construção são
mais complexos.

Projetos de Porto-Indústria no Brasil

MAPEAMENTO

Em setembro/2022, A EDF Renewables, uma das empresas líderes globais em


energia renovável, e a Prumo Logística, holding controlada pela EIG e responsável pelo
desenvolvimento do Porto do Açu, assinaram um Memorando de Entendimentos
para estudar o desenvolvimento e a infraestrutura de parques eólicos offshore na
região Norte Fluminense.

O Projeto prevê o uso do Porto do Açu como hub logístico e de energia


renovável, possibilitando, inclusive, a produção de hidrogênio verde (H2V) no maior
complexo porto-indústria da América Latina. (EDF, 2022).

PORTO INDÚSTRIA-MULTIPROPÓSITO
OFFSHORE DO RIO GRANDE DO NORTE

Localizado no litoral Norte, entre os municípios de Caiçara do Norte e São Bento do


Norte, a cerca de 160 km de Natal, o empreendimento é necessário para a exploração
da energia eólica offshore e exportação de outros produtos, como o Hidrogênio Verde
(H2V). A pretensão do estado é de iniciar o processo de licenciamento já em 2023,
com as fábricas começando até 2024 e concluídas em cinco anos. Os estudos
continuarão à cargo da UFRN. (SEDEC, 2022)

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25
ENERGIA EÓLICA OFFSHORE
Desafios e Oportunidades

VISÃO DOS
ESPECIALISTAS

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Roberta Cox
Engenheira ambiental (Universidade Federal de Itajubá - Unifei), mestranda em
Gestão Econômica do Meio Ambiente (Universidade de Brasília - UnB). Analista
Ambiental do IBAMA desde 2009, sempre atuando com licenciamento ambiental
federal.

Experiência como analista na coordenação de linhas de transmissão, na


coordenação de petróleo e gás, e na divisão de geração de energia por fontes nuclear,
térmica e outras fontes alternativas.

Participação na elaboração do Workshop Internacional de Eólicas Offshore e


na consulta pública do TR desta tipologia.

Foi Coordenadora de Licenciamento Ambiental de Portos e Estruturas


Marítimas do IBAMA de 2019 a 2022 e está como Assessora Especial do Ministro de
Meio Ambiente - MMA - desde agosto de 2022.

ENERGIA EÓLICA OFFSHORE – Desafios e Oportunidades


27
Roberta é uma referência quando se fala de Eólicas Offshore e Hidrogênio
Verde. Tivemos a oportunidade de discutir sobre o tema, e é muito nítido que além
dela ver grandes oportunidades para o Brasil nestes assuntos, esse também é um
tema que ela tem prazer em abordar.

Para ela o Brasil tem um potencial muito grande de geração de energia e um


papel muito importante na transição energética do mundo. Porém acredita que antes
de pensarmos em exportar essa energia, temos muitos pontos a serem explorados
internamente.

Falamos sobre a publicação da Portaria nº 52/GM/MME e da Portaria


Interministerial MME/MMA nº 03/2022. Roberta comentou esses últimos
acontecimentos com otimismo, ela considera que a insegurança jurídica gerada pela
falta de regulamentação dos parques eólicos offshore no Brasil, era o que estava
impedindo que os processos caminhassem com maior celeridade, refletindo também
no atraso da aposta dos investidores, considerando que os projetos são muito
onerosos desde os primeiros estudos de viabilidade e estudos socioambientais para
licença prévia até a implantação e operação.

Ela acredita que, após essas publicações e implantação do PUG-offshore, a


segurança dos empreendedores aumente, e com isso darão início aos trâmites para a
realização da coleta de dados primários para subsidiar os estudos socioambientais. O
PUG-offshore funcionará como um balcão único que irá unificar a consulta aos 9
intervenientes e tem previsão de lançamento para 2023.
Além disso, a publicação da portaria foi importante para dar maior direcionamento às
análises dos estudos junto ao IBAMA, visto que o volume de processos protocolados
é grande, agora a prioridade de análise será para aqueles quepossuírem a cessão de
uso.

Questionamos Roberta a respeito da qualidade dos estudos técnicos já


protocolados, ela acredita que como a maioria das empresas que protocolaram
projetos junto ao IBAMA são internacionais, houve um gargalo quanto ao nível de
detalhamento, já que muitos países já possuem algum instrumento de planejamento
como a avaliação ambiental estratégica e o planejamento espacial marítimo, o que
permitem delimitar áreas pré-definidas e reduzir a complexidade e detalhamento dos
estudos para licença ambiental.

Outro ponto muito importante dessa pauta foi sobre o alto valor de
investimento dos parques eólicos, contudo, Roberta foi otimista em defender que
apesar de serem projetos mais complexos e onerosos, são viáveis e muito vantajosos,
já que temos o setor de eólica onshore bem estabelecido no Brasil e no mundo
diversos parque eólicos offshore em operação, o que traz melhoria da tecnologia ao
longo do tempo e, consequentemente, uma redução dos custos. Adquirindo escala no
Brasil e no mundo, os custos irão reduzir.

ENERGIA EÓLICA OFFSHORE – Desafios e Oportunidades


28
Para Roberta os possíveis gargalos quando comparados os parques eólicos
offshore, com os onshore são:

• Cadeia produtiva de materiais – as empresas terão que se adaptar para produzir;

• Transporte das infraestruturas – Como elas são maiores, o transporte nas rodovias
pode chegar a ser inviável, dependendo do trecho, e uma opção é ter essas fábricas
de matérias localizadas próximas ao mar e realizar transporte marítimo;

• Processo de implantação – parte mais sensível ambientalmente, deverá ser bem


planejada, atenção também para logística e o gerenciamento de riscos;

• Escoamento da energia gerada – Proximidade com os portos é um ponto muito


positivo.

ENERGIA EÓLICA OFFSHORE – Desafios e Oportunidades


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Carlos Stenders
Economista formado pela Universidade de Fribourg (Suíça), Carlos hoje é CEO da Future
Motion Brasil. Possui vasta experiência nas indústrias de petróleo e gás, mercados de energia e
siderurgia, incluindo gerenciamento técnico, análises de negócios, joint ventures / aquisições.
Experiência e profundo conhecimento de métodos de trabalho de empresas chinesas, europeias e
americanas.

Familiarizado com grandes projetos / planos de negócios para grandes investimentos de


capital, incluindo serviços financeiros, licenças, ofertas e requisitos legais de bancos de fomento.
Tráfego consolidado com autoridades do governo brasileiro nos Ministérios de Minas e Energia e Meio
Ambiente, Petrobras, ANP (Agência Nacional de Petróleo), ANEEL (Agência Nacional de Energia Elétrica),
BNDES (Banco Brasileiro de Desenvolvimento).

Consultor de desenvolvimento de negócios na América do Sul do Grupo de Engenharia Wison


- Shangai de 2018 a 2019. O Wison Group é um grupo Chinês com foco em modularização de unidades
de processo, com três negócios principais, que incluem serviços de engenharia e construção de
módulos de processo para as indústrias química, petroquímica e refino incluindo módulos de
engenharia marítima e offshore.

De 2004 a 2018 desenvolveu atividades da Sinopec no Brasil, participando diretamente de


todos os principais projetos e investimentos, incluindo a construção e interconexão de redes de
gasodutos, exploração e produção de petróleo, usina de fertilizantes, energia renovável em fazendas
eólicas onshore, terminais de regaseificação de GNL. Trabalhou também como Diretor Executivo da TSL
Engenharia Ambiental LTDA entre 2000 e 2004, que trabalha com instalações de petróleo on e
off-shore, e como Diretor Gerente da VDM Metals Brazil de 1995 e 1999, que trabalha com uma ampla
gama de ligas metálicas.

ENERGIA EÓLICA OFFSHORE – Desafios e Oportunidades


30
No Brasil e no mundo, a geração de energia eólica offshore nasceu da realidade
da exploração do óleo e gás. Houveram algumas tentativas de mineração nessas
regiões marinhas, entretanto, a viabilidade para esta atividade de mineração é
extremamente baixa devido ao seu alto impacto ambiental em todas as fases de sua
execução. Por outro lado, a atividade eólica é sabidamente menos nociva, mas ainda
não temos um histórico consolidado dessa atividade no mundo que garanta que essa
afirmação é um fato.

Um dos grandes gargalos para o setor é a transmissão da energia para a terra,


uma vez que é necessária a emissão de cabos em alta e média tensão até os centros
de consumo, que podem estar localizados a cerca de 20 a 30km das hélices de
geração. Isso não é algo trivial, até mesmo porque no mar temos correntes que
movimentam bastante essas estruturas e podem causar danos severos em seu
funcionamento. Existe a necessidade de uma proteção robusta sobre essas
estruturas de conexão, o que pode encarecer muito estes projetos.

Alguns estudos podem ajudar a nortear a escolha pela área adequada e os


pontos corretos para instalação das estruturas das fazendas. Entre eles, estão a
análise geofísica do fundo e subsolo marinho, bem como os estudos sobre a
hidrodinâmica e dinâmica de sedimentos nessas localidades. Por serem estruturas
robustas e passíveis de níveis elevados de vibração, as torres eólicas também podem
ter interferência sobre a vida, tanto marinha quanto aérea, podendo afetar inclusive
rotas de aves migratórias e outras espécies voadoras. Dessa forma, os estudos sobre
a biota marinha e aérea tem grande importância nesse tipo de atividade.

Da mesma forma que nas plataformas de óleo e gás, essas estruturas


oceânicas atraem moluscos e outros organismos a se fixarem, e isso cria pequenos
ecossistemas modificados que podem inclusive atrair a vida marinha para suas
proximidades. Sob esse ponto de vista, pode até ocorrer uma interferência sobre as
zonas de pesca nas regiões de instalações dessas fazendas offshore, portanto devem
figurar nos estudos a abordagem a este tipo de impacto também.

Com relação à viabilidade econômica, estes são empreendimentos de custo


inicial considerável, com altos custos de manutenção e nível elevado de
especialidade em recursos humanos e de engenharia. As exigências por estruturas
apropriadas ao meio marinho tornam esse tipo de atividade ainda mais cara,
superando em muito os custos para instalação de uma fazenda onshore, apesar dos
menores custos com aquisição de terrenos.

O Brasil é um dos países que tem a matriz energética mais limpa no planeta,
sendo grande parte dela provinda de origem renovável. O que temos visto no nosso
território é uma influência grande das mudanças climáticas sobre o regime hídrico,
aliada ao aumento do desmatamento no território. Isso tudo pode influenciar nossa
matriz renovável e estamos precisando mudar por questões de segurança energética,

ENERGIA EÓLICA OFFSHORE – Desafios e Oportunidades


31
o que será um gargalo para um futuro próximo. O sistema precisa se compensar, e isso
pode ser feito por meio de energia eólica, solar e até mesmo de sistemas híbridos,
mas de toda forma é necessário entrar com outro tipo de energia para que haja um
equilíbrio. Hoje, temos feito isso no Brasil com usinas termelétricas, que encarecem o
fornecimento ao consumidor final.

Outra fonte que pode ser de interesse no futuro é o hidrogênio verde, que tem
grande potencial e que já é uma realidade no nosso país. Nas olimpíadas do Rio de
Janeiro haviam ônibus rodando pela cidade movidos a hidrogênio, e na USP, em São
Paulo, ainda tem alguns ônibus operando por meio desse tipo de célula combustível.
Entretanto, o Brasil não é um país que exporta essa tecnologia. Temos uma forte
demanda interna que não permite que tenhamos esse enfoque no exterior neste
momento. Nós temos ainda muitos sistemas isolados dentro do país, e o Brasil foi
concebido como um país onde se tem grandes centros de produção de energia que
são interconectados, e vamos precisar mudar para pequenos e médios centros de
distribuição local para compensar a rede. Redes muito extensas de distribuição são
ineficientes em função de grandes perdas, então a ideia é se tentar equilibrar isso ao
máximo com os centros locais.

Muito se fala no potencial do Brasil para exportar o hidrogênio verde, mas um


desafio muito grande seria o transporte dessas células combustíveis, uma vez que um
navio criogênico transportando hidrogênio seria algo extremamente caro e, portanto,
inviável. Para viabilizar o transporte, seria necessário transformá-lo em ureia ou
amônia para a movimentação, e ele somente seria retransformado em hidrogênio
após chegar no local de destino, em função do alto nível de geração de calor e risco.
Assim, o hidrogênio foi criado para uso em sistemas locais a pequenas distâncias, e
sempre para compensar outros sistemas energéticos.

Nesse cenário, a preferência óbvia é a energia solar, que é uma energia que hoje
se consegue instalar em regiões com escassez de água, já que não temos grandes
problemas com disponibilidade de solos. Mas uma forma de compensar tudo isso e
equilibrar esses sistemas localmente pode ser por meio do hidrogênio, porque se
houver um excesso pode-se simplesmente acumular esse hidrogênio e depois
devolvermos essa porção de energia ao sistema para reequilibrá-lo através da queima
ou da utilização das células de combustível armazenadas.

No caso dos sistemas em offshore, está ocorrendo uma corrida ao mar para
compensar o custo da transmissão, uma vez que se for possível instalar estas
estruturas em lugares próximos dos centros de consumo poderá se balancear o custo
extra que se tem por estar no mar. Obviamente, são necessários ainda mais estudos
para se saber a viabilidade técnica e econômica dessas instalações, mas sendo
instaladas nesses locais parece fazer mais sentido.

ENERGIA EÓLICA OFFSHORE – Desafios e Oportunidades


32
Como qualquer mercado em fase inicial, possivelmente veremos
empreendedores interessados nesse mercado com o enfoque da sustentabilidade e
também aqueles que procuram o uso especulativo desse mercado novo. Existem
hoje poucos grupos de investidores no mundo com capital suficiente para esse
aporte em fazendas eólicas marinhas, já que qualquer exploração em offshore, por
menor que seja, é uma exploração de risco e de capital intensivo. É necessário o uso
de embarcações especializadas, planejamento logístico em terra e no mar, pessoal
altamente qualificado e especializado, além de toda a estrutura preparada para este
ambiente. O tipo de serviço mais próximo ao de offshore são as operações de óleo e
gás, e é possível fazer uma analogia bastante fiel à realidade fazendo essa
comparação.

Outra possibilidade é a utilização de plataformas antigas de óleo que estão


sendo desmobilizadas por empresas do setor, que podem ser adaptadas e
transformadas em bases eólicas, o que já é fruto de muitos estudos no território
nacional. Dessa forma, a economia financeira, de recursos naturais e humanos pode
ser relevante o suficiente para ser cogitada. Além disso, os prestadores de serviços
para as petroleiras estão interessados nesse mercado em virtude de já terem
disponibilidade de estrutura, equipamentos, pessoal, bases de perfuração, portos e
áreas portuárias para esse tipo de operação, o que poderia facilitar todo o processo
de produção de energia nas fazendas e otimizar as estruturas desta outra atividade.
Nesse caso, a localização do empreendimento não seria mais escolhida em função
dos ventos, mas sim da proximidade dos grandes centros distribuidores.

Contudo, a geração offshore ainda pende de regulamentação, tema que


atualmente é frequente pauta de discussão perante o Congresso Nacional e os
estados brasileiros.

No setor eólico, destaca-se o Nordeste brasileiro, responsável por 89% da


produção de energia eólica do país, de acordo com o Boletim Anual da ABBEólica de
2019. A região possui uma geração média diária de 8.650 MW. Um ponto que favorece
a energia eólica no Nordeste são os ventos fortes que predominam geralmente entre
agosto e setembro, um período apelidado de “safra dos ventos”.

Entretanto, apesar da maior parte dos parques eólicos brasileiros estarem no


Nordeste, o Rio Grande do Sul possui o maior campo eólico do país. Localizado no
extremo sul do estado, o Conjunto Santa Vitória do Palmar tem capacidade para
582,79 MW. Ceará e Bahia também possuem condições naturais mais favoráveis e
ficam em evidência na produção de energia. Veja os outros estados em destaque:

1. Rio Grande do Norte com 4.066 MW


2. Bahia com 3.951 MW
3. Ceará com 2.045 MW
4. Rio Grande do Sul com 1.832 MW

ENERGIA EÓLICA OFFSHORE – Desafios e Oportunidades


33
De acordo com o relatório publicado pela Agência Internacional de Energias
Renováveis, que em inglês recebe a sigla IRENA, as eólicas podem atender até 35%
das necessidades globais em energia, tornando-se a principal fonte de geração do
mundo até 2050.

“No caso do Brasil, a boa notícia é que temos como uma das suas principais
vantagens comparativas em relação a uma grande maioria dos países o fato de
sermos uma potência energética com uma grande diversidade de energias limpas. E,
no caso das eólicas, tem ainda o fato de que o Brasil possui um dos melhores ventos
do mundo, o que significa energia muito competitiva”, diz Elbia Gannoum, Presidente
da ABEEólica.

Ficando atrás apenas das hidrelétricas, essa matriz já possui uma capacidade
instalada de 15,45 GW no país. Os estados que receberam maior parte dos
investimentos foram Bahia, Rio Grande do Norte e Maranhão. A implementação
ocorre em grande parte nessa região, pois os ventos são de boa qualidade, com um
fator de capacidade superior a 50%, sendo que a média mundial varia entre 20% a
25%.

Especialistas afirmam que o Brasil é um dos países mais competitivos do


mundo em energia renovável não só pela energia solar, mas também pela energia
eólica. Portanto, podemos concluir que a energia dos ventos é uma das grandes
apostas energéticas do futuro no Brasil tanto por ser uma fonte limpa quanto por sua
abundância.

Após o Brasil passar pela pior seca dos últimos 91 anos, em 2021 as
hidrelétricas das regiões Sudeste e Centro-Oeste – responsáveis por cerca de 70% da
capacidade de armazenamento energético do país – finalizaram o mês de abril
daquele ano com um dos menores volumes de armazenamentos registrados na
história. Ao mesmo tempo, o país bateu recorde de geração de energia por
termelétricas, mais caras e poluentes; nunca antes o Brasil gerou tanta eletricidade a
partir dessa fonte, fato que impacta diretamente no aumento das contas de luz dos
brasileiros.

Em meio a este cenário de preocupação com a crise energética e os impactos


ambientais, e também levando em consideração as mudanças climáticas,
pesquisadores estão empenhados em desenvolver alternativas adequadas ao
desenvolvimento sustentável. “A longo prazo, a energia eólica é bastante constante e
complementa a geração hidráulica, principalmente na seca, onde o vento aumenta
em relação ao período de chuva”, argumenta o professor do Programa de
Pós-Graduação em Engenharia Elétrica, Edimar de Oliveira. Em seguida, o próprio
pesquisador explica uma solução para lidar com a imprevisibilidade da fonte de
energia eólica: os ventos. “Na operação horária, o vento varia muito e é de difícil
previsão, sendo necessário reservar energia nas térmicas e nas hidráulicas para suprir

ENERGIA EÓLICA OFFSHORE – Desafios e Oportunidades


34
as variações. Uma alternativa promissora a esse arranjo tradicional é a ideia de
guardar parte da energia na própria turbina eólica.” É justamente esta alternativa o
foco do estudo orientado por Edimar de Oliveira e desenvolvido pelo mestrando
Gabriel Schreider da Silva. Recentemente, um artigo sobre a pesquisa de Oliveira e
Silva foi publicado em uma revista com Qualis A1, a “International Journal of Electrical
Power and Energy Systems”. Com o título “Load Frequency Control and Tie-Line
Damping Via Virtual Synchronous Generator”, o trabalho é relacionado ao modo de
operação de usinas eólicas que permite a participação das mesmas na regulação da
frequência do sistema, bem como na redução de oscilações nas linhas de
interligação. “O sistema elétrico brasileiro vem passando por um processo de
transição, e o provável é que, daqui a alguns anos, a geração eólica e a solar sejam
responsáveis por altos percentuais da geração de eletricidade do país, o que pode
levar a uma redução da inércia do sistema. Nesse sentido, as conclusões do artigo
contribuem para que se evite a ocorrência de problemas no Brasil semelhantes aos
que causaram o blecaute de 2019 no Reino Unido, permitindo que as fontes de
energia limpas, como solar e eólica, avancem com mais intensidade”, elucida o
mestrando Gabriel Schreider da Silva.

Ainda segundo Silva, o percentual de geração eólica de energia no Brasil já


aumentou desde a publicação do trabalho. “Em março de 2021, a geração eólica
atingiu 10,4% da capacidade instalada de geração no país, de acordo com dados da
plataforma do Operador Nacional do Sistema (ONS). O Brasil é um país com alto
potencial eólico, principalmente no Nordeste e no Sul, onde já existem várias usinas
eólicas e cada vez mais novas usinas surgem.” O professor Edimar de Oliveira
complementa que “o crescimento é exponencial. Para 2024, a previsão é de que a
energia eólica atingirá 11% da matriz energética brasileira”.

Grupos de pesquisa em energia eólica têm buscado a resolução de problemas


comuns a este tipo de matriz energética, como os ruídos e a mortalidade de pássaros
e morcegos. Na Escola Politécnica da USP, o grupo Poli Wind e o pesquisador em
estágio de pós-doutorado Joseph Youssif Saab Jr. encabeçam um projeto de pás mais
silenciosas para turbinas. O projeto gerou um pedido de patente e pode se
caracterizar como uma contribuição genuinamente brasileira para o
desenvolvimento de tecnologia de aerogeradores. No que diz respeito à mortalidade
de pássaros e morcegos, o grupo Poli Wind também se preocupa em atenuar as
colisões desses animais com as pás eólicas. A recomendação nacional e internacional
é estabelecer parques fora do trajeto de rotas migratórias, o que, segundo Saab, nem
sempre é observado no Brasil.

ENERGIA EÓLICA OFFSHORE – Desafios e Oportunidades


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Mario Orestes Aguirre González
Doutor em Engenharia de Produção (Inovação de Produtos e Integração de Clientes) pela
Universidade Federal de São Carlos (2010). Mestre em Engenharia de Produção pela Universidade
Federal do Rio Grande do Norte (2005) e Graduado em Engenharia Industrial pela “Universidad
Nacional de Ingenieria – Perú” (2000). Especialista em Gestão da Qualidade Total (2004) e em Gestão
da Inovação Tecnológica, na abordagem Open Innovation (2010).

Possui experiência no desenvolvimento de projetos de Inovação Tecnológica executados pelo


Centro de Caracterização e Desenvolvimento de Materiais da UFSCar junto às empresas ABM, Vale e
Volkswagen. Foi presidente do Instituto de Inovação e Gestão de Desenvolvimento de Produtos (IGDP)
no período 2014-2015, organizando os eventos: IX Congresso Brasileiro de Inovação e Gestão de
Desenvolvimento de Produto e o X Workshop do IGDP. Foi editor da revista [Product: Management &
Development] no período 2016-2019.

Atualmente é Professor Associado junto ao Programa de Pós-graduação em Engenharia de


Produção e ao Programa de Pós-graduação em Ciência e Engenharia do Petróleo da UFRN, onde
leciona, pesquisa e forma recursos humanos em 'Engenharia do Produto', 'Inovação e otimização de
processos', 'gestão projetos de inovação' e 'coordenação global de cadeias de valor'. Sua produção
científica recente envolve artigos publicados em periódicos indexados ao JCR como, por exemplo:
Journal of Cleaner Production [Qualis A1-Eng. III], Renewable and Sustainable Energy Reviews [Qualis
A1-Eng III], Energy Policy [Qualis A1-Eng III], Renewable Energy [Qualis A2-Eng. III], International Journal
of Energy Research [Qualis A2-Eng. III]. É Coordenador e Fundador do grupo de pesquisa “CREATION -
Inovação de produtos e processos nas cadeias de valor de energias renováveis (eólica, solar e
hidrogênio)”. É representante adjunto da UFRN na Câmara Temática de Capacitação de RH do
Programa Nacional do Hidrogênio - PNH2. Temas que atua: Inovação e otimização de Produtos e
Processos em Redes de Operações Globais; Cadeias Produtivas e de Valor de Energia Eólica, Solar,
Hidrogênio verde e Power-to-X.

ENERGIA EÓLICA OFFSHORE – Desafios e Oportunidades


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De acordo com o Prof. Mario González, “para que o Brasil avance no mercado
offshore é necessário adquirir o máximo de conhecimento e experiência nas áreas de
onshore e de petróleo e gás, uma vez que elas se comunicam entre si.” No que se
refere ao licenciamento ambiental a ser aplicado para eólicas offshore, para o
professor, as adaptações serão realizadas com base nos conhecimentos já adquiridos
nas eólicas onshore e óleo e gás.

É importante considerarmos o tempo no que diz respeito à corrida para a


efetiva implantação das eólicas offshore por alguns fatores principais, dentre eles, o
fato de que o licenciamento para estas áreas necessita de adaptação proveniente do
onshore e do óleo gás offshore, considerando o ecossistema brasileiro e não o
internacional.

O Professor destaca ainda o custo elevado da fabricação de determinadas


peças para a implantação das turbinas eólicas offshore no Brasil. Como o Brasil ainda
não possui fábricas para a produção dessas peças, há a necessidade de planejar a sua
instalação de fábricas, dos grandes componentes, próximo das áreas com maior
potencial eólico offshore, a fim de reduzir os custos de instalação e de O&M.

Ele aponta que as infraestruturas portuária e rodoviária são espaços que


exigem aperfeiçoamento. A maioria dos portos brasileiros não fornece suporte ao
setor eólico e impossibilita o transporte de componentes como as pás, principais
ferramentas na estrutura básica dos aerogeradores. Há seis anos, o cenário era
diferente, uma vez que esses equipamentos eram menores e atualmente chegam ao
cumprimento de 73 metros (para turbina onshore) e 115 metros (para a turbina
offshore) . O setor não precisa somente de componentes para instalação, mas
também de que os grandes componentes (pás, fundações, torres, nacelle, etc)
possam ser fabricados localmente. Para isso é necessária infraestrutura portuária
apropriada.

Mas não são apenas as barreiras técnicas que atravessam a produção de


energia renovável. As mudanças climáticas são uma preocupação constante,
sobretudo quando se trata da geração de energia hidrelétrica no Brasil. Com a
instabilidade do clima, o nível da água diminui nos reservatórios e aumenta o custo da
energia elétrica para a sociedade civil. Devido a isso, é necessário maior inserção na
matriz elétrica brasileira de outras fontes renováveis como a solar, eólica onshore e
eólica offshore.

Sobre os investidores no setor de eólica offshore, podemos considerar 3


grupos: aqueles que realmente farão acontecer, por ter experiência na área,
principalmente as empresas voltadas à produção de óleo e gás e/ou que possuem
parques eólicos offshore em outros países; aqueles que já trabalham com o
desenvolvimento de projetos de parques eólicos, principalmente os com experiência
em onshore; e aqueles que objetivam apenas a demarcação do território para

ENERGIA EÓLICA OFFSHORE – Desafios e Oportunidades


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posteriormente consolidarem as empresas que irão instalar as offshores.

Nesse sentido, o Projeto de Lei em estudo para ser publicado definirá os


grupos de investidores. A regulamentação das eólicas offshore vem avançando em
duas frentes: no Congresso Nacional e em discussões no Ministério das Minas e
Energia (MME). No Legislativo, o Projeto de Lei (PL) 576/21 foi aprovado pela Comissão
de Infraestrutura do Senado Federal e seguiu diretamente para análise da Câmara dos
Deputados. A regulamentação, entretanto, também pode vir por meio de iniciativa do
Executivo — por decreto.

Há de se considerar que a regulamentação pelo Congresso proporcionaria


maior segurança jurídica para os investidores, reduzindo riscos de que no futuro o
decreto seja questionado.

O PL 576/21 regula todo o tipo de exploração de energia em alto mar, lagoas,


lagos e espelhos d’água. Além da energia eólica, ele também abarca a solar e a das
marés. De acordo com a proposta, a União fará uma concessão do direito de uso
desses bens (quando houver concorrência) ou o autorizará mediante outorga (quando
não houver concorrência).

O Professor cita como exemplo, a Alemanha que permitiu por meio da FIT
(feed-in tariff), acelerar o investimento em microgeração renovável.

A FIT é uma política pública voltada para o incentivo na adoção de fontes de


energia renováveis. Em outras palavras, consiste no pagamento de tarifas para as
unidades geradoras que lidam com meios alternativos de produção energética).

Para o professor, “ainda existe tempo e espaço na corrida das eólicas offshore,
uma vez que, existe um cascata de processos para que elas sejam de fato
implementadas:

Lei Diretrizes Ex: medição de vento Contratação de estudos ambientais

Por fim, o professor comentou que o IBAMA avançou com a elaboração do


termo de referência para estudo de impactos ambientais em complexos eólicos
offshore, mas que os estudos que serão realizados pelos interessados demandam de
tempo em virtude do levantamento e análise de dados necessários no local do
empreendimento, o que é necessário para que os impactos ambientais sejam os
mínimos possíveis. Salienta ainda que é preciso que o Brasil esteja preparado para
esta demanda, que só poderá ser suprida através de equipe qualificada em diferentes
áreas (geologia marinha, biologia marinha, dentre outros).

ENERGIA EÓLICA OFFSHORE – Desafios e Oportunidades


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Para a capacitação técnica é necessária experiência na área onshore eólica e
na indústria de petróleo e gás offshore. Quando se possui preparo técnico, se aprende,
sempre, como exemplo disso, temos a Bélgica que avançou muito nos últimos anos
no desenvolvimento sustentável e desenvolvimento de atividades econômicas no
ambiente marítimo.

O trabalho com empresas europeias é consolidado por meio da confiança.


Na Dinamarca por exemplo, o estudo ambiental é bancado pelo governo por meio de
licitação. Posteriormente, de posse dos estudos ambientais, a área é licitada para
empresas que implantarão a usina offshore e que reembolsarão o governo os estudos
pagos.

ENERGIA EÓLICA OFFSHORE – Desafios e Oportunidades


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ANÁLISE DE GEOPROCESSAMENTO
E GEOFÍSICA DE ÁREAS EM POTENCIAL
PARA PARQUES EÓLICOS OFFSHORE

Características das Áreas


com Potencial Eólico Offshore

O potencial que uma área apresenta para a geração de energia eólica depende
de determinadas condições climáticas, geográficas e geofísicas. Para serem
consideradas áreas de interesse é preciso que estas condições ocorram de forma
simultânea.

Para exemplificar basta pensar no relevo. Dependendo da sua forma, o relevo


pode ser um obstáculo para o vento, ou um acelerador de vento. Mas não é só o relevo
que influencia. A rugosidade, que é a variação da superfície formada pelos elementos
naturais e urbanos, como por exemplo as florestas e as edificações das cidades, ao
entrarem em contato com os ventos também afetam a sua dinâmica.

Nos ambientes offshore, tanto o relevo como a rugosidade continentais, por


mais que estejam distantes destas zonas, ainda assim exercem suas influências. Isto
acontece, pois, estes elementos apresentam características que afetam as dinâmicas
da Circulação Geral da Atmosfera.

A direção, força e quantidade de vento dependem de diversas condições,


como por exemplo, da: Radiação Solar; diferença de Pressão Atmosférica entre a
Linha do Equador e os Trópicos; e Temperatura das águas dos oceanos e do relevo de
cada região.

Os ventos são ocasionados pela diferença de pressão entre duas ou mais


regiões, que por sua vez está diretamente relacionada à incidência de radiação solar.
Nas zonas de alta pressão, onde o ar é mais denso e frio, a tendência é que a massa
de ar se desloque para as áreas de baixa pressão, onde o ar é menos denso. É esse
deslocamento que dá origem aos ventos.

No Brasil, país de dimensão continental, encontram-se diferentes zonas de


incidência. Grande parte do país está na zona intertropical. Na extremidade mais a

ENERGIA EÓLICA OFFSHORE – Desafios e Oportunidades


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nordeste do país, como Rio Grande do Norte, Ceará e Maranhão, a incidência solar
anual é muito elevada. Isto é ocasionado por estes estarem mais próximos à Linha do
Equador, o qual a maior taxa de incidência solar ocorre. Sendo assim, nesta grande
área formam-se zonas de baixa pressão as quais recebem as massas de ar vindas dos
trópicos, movimento que é chamado de ventos alísios.

É preciso lembrar que, em uma observação de maior detalhe, devido às


diferenças de superfície, pode existir ligeiras modificações no perfil geral da circulação
atmosférica descrita antes.

Na região geográfica Litorânea Norte-Nordeste, que vai do Amapá ao Rio


Grande do Norte, a combinação entre brisas marinhas/terrestres e ventos alísios faz
com que ocorram ventos de boa qualidade em partes daquela região. Estas brisas são
decorrentes da pouca vegetação e umidade que recobre o solo, o que favorece o
aquecimento da superfície e a formação de uma massa de ar quente e seca durante
o dia. Já na parte da noite, período de menor intensidade solar, essa massa formada
durante o dia acaba sendo empurrada pela chegada de uma massa de ar com
características fria e úmida gerada sobre o oceano atlântico.

Como dito, é preciso que existam condições favoráveis para que uma área seja
atrativa para empreendimentos eólicos. Nesta busca também é fundamental a
garantia da estabilidade do assoalho oceânico brasileiro. Este ponto é relevante pois,
diferente das questões climáticas e geográficas, que focam em questões de vento e
sua qualidade, o aspecto geofísico garante a segurança das instalações,
principalmente em termos de estrutura.

Estudos Geofísicos Para a


Instalação de Parques Eólicos Offshore

Para o empreendimento de instalação de parques eólicos offshore, é


fundamental um estudo robusto a partir dos levantamentos geofísicos necessários.

Por muito tempo, as instalações de parques eólicos offshore eram feitas sem
o estudo de geohazard¹ por meio de geofísica. Com isso, muitas dessas turbinas
apresentaram problemas de sustentação, problemas nos cabos e também
problemas de impactos ambientais decorrentes desse descuido.

¹ Geohazard é uma condição geológica que pode gerar riscos a estruturas, ao ambiente e à vida. Seu
estudo é fundamental para esse tipo de instalação, e a grande maioria dos países já o realizam por

ENERGIA EÓLICA OFFSHORE – Desafios e Oportunidades


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Após conhecer esse erro, foram procuradas maneiras de mitigar esses
impactos para evitar problemas em futuras instalações. Aí que entra a geofísica. Já é
exigido pelo IBAMA o estudo do fundo oceânico, mas sem mencionar
especificamente a geofísica, ao contrário da legislação europeia, por exemplo.

Aplicações de geofísica

A partir da geofísica é possível localizar o local mais seguro para a construção


e para o posicionamento de cabos, identificando rochas em superfície, materiais
arqueológicos, camadas de sedimento, rochas em subsuperfície e até mesmo
comunidades biogênicas, como corais.

Para este empreendimento, considerando a área desejada a uma profundidade entre


50m e 80m, seriam necessários 3 métodos diferentes, que juntos compõem uma
metodologia chamada de “geofísica de casco”:

Batimetria multifeixe

Na batimetria multifeixe, o equipamento faz uma varredura com ondas


acústicas e as registra quando refletidas pelo fundo oceânico, calculando o tempo
que as ondas levam neste percurso em vários pontos, o que fornece a profundidade
em cada um.

AQUISIÇÃO DE PERFIS DE BATIMETRIA MULTIFEIXE

FONTE: ADENILSON GIOVANINI

ENERGIA EÓLICA OFFSHORE – Desafios e Oportunidades


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RESULTADO DA BATIMETRIA MULTIFEIXE

FONTE: SALT AMBIENTAL

Perfilagem sísmica contínua

Funciona de forma similar à batimetria, emitindo ondas acústicas e calculando


seu tempo de chegada, a diferença entre os dois métodos é a penetração. Nos
métodos sísmicos, ao contrário da batimetria, conseguimos observar o que há
debaixo do fundo oceânico. A resolução e a profundidade dependem de vários
fatores, como o tipo de equipamento e da frequência utilizada.

FONTE: RESEARCH GATE: RADOSLAW J. PUCHALA

ENERGIA EÓLICA OFFSHORE – Desafios e Oportunidades


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Sidescan Sonar

Este equipamento também trabalha com as ondas acústicas, dessa vez em


formato de cone ou leque, em uma posição diferente e com 1 ou 2 frequências. O
resultado obtido é um mapeamento de alta resolução do fundo oceânico.

RESULTADO DA BATIMETRIA MULTIFEIXE

FONTE: NOAA OCEAN EXPLORATION

Vale lembrar que existem outras formas de fazer o levantamento, com um AUV
por exemplo, uma espécie de máquina controlada remotamente que faz a aquisição
dentro d’água, porém exige um investimento muito maior, por se tratar de um
equipamento novo e extremamente sofisticado.

Como dito anteriormente, a geofísica é de extrema importância no estudo


prévio e até mesmo no monitoramento das estruturas e cabos ao longo do tempo.
Como fatores mais importantes, podem ser citados:

• Geologia do local, que, caso seja embasado por rochas cristalinas, a instalação da
fazenda se torna arriscada ou até inviável;

• Comunidades biogênicas (recifes de coral, etc.);

• Objetos antrópicos ou de interesse arqueológico;

• Hidrodinâmica;

• Dinâmica de sedimentos.

ENERGIA EÓLICA OFFSHORE – Desafios e Oportunidades


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Para o atendimento de todos os fatores acima são necessários levantamentos
geofísicos, que têm capacidade de caracterizar a geologia do local, identificar
possíveis comunidades biogênicas e objetos antrópicos, além de permitir o estudo da
hidrodinâmica a partir do equipamento ADCP. Além disso, é possível estudar a
dinâmica de sedimentos a partir da geologia local, da hidrodinâmica e do relevo, com
auxílio de estudos complementares.

Histórico de Pesquisas Brasileiras


Sobre Potencial Eólico Nacional
No Brasil muito se fala sobre o “Atlas do Potencial Eólico Brasileiro –
Simulações 2013”. Este estudo foi publicado em 2017 com o objetivo de identificar as
áreas com maior potencial eólico.

No entanto, desde a década de 70 o potencial eólico brasileiro tem sido objeto


de estudo. Como exemplo pode ser citado a publicação do primeiro “Atlas do
Levantamento Preliminar do Potencial Eólico Nacional”, publicado em 1979 pela
ELETROBRÁS-CONSULPUC, e a sua revisão em 1980 com a ajuda da Fundação Padre
Leonel Franca.

O atual atlas (2017) foi publicado pela primeira vez 2001 e é considerado um
importante marco no desenvolvimento do setor eólico no país. O estudo elaborado
pelo CEPEL, em parceria com Camargo Schubert Engenharia Eólica e TrueWind
Solution, foi proposto com a intenção de fornecer informações sobre vento de
qualidade para uso em projetos de geração de energia eólica e foi considerado
indispensável para o planejamento.

No passado, o estudo já havia sido desenvolvido sob os aspectos das mais


modernas tecnologias de aquisição e tratamento de dados, pois na época já se tinha
em mente que um dos principais motivos que limitavam os investimentos nos
empreendimentos eólicos era justamente a falta de dados sobre as condições de
vento no território brasileiro.

Com os dados indispensáveis ao estudo, tais como, dados coletados de


anemômetros, informações de relevo, cobertura da terra, uso do solo, trocas térmicas;
e demais outras variáveis, este estudo se propôs a apresentar não só o potencial de
energia eólico, mas também a sua relação com outros sistemas energéticos já
implantados no Brasil, uma vez que devido a vasta extensão territorial, a sazonalidade
influencia no uso e gestão de nossa matriz energética. Todo o estudo foi orientado ao
desenvolvimento de um modelo matemático que simulasse o comportamento dos
ventos em nosso território.

ENERGIA EÓLICA OFFSHORE – Desafios e Oportunidades


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Em 2001, a realidade daquela época já permitia a elaboração de estudos de
ventos para a altura de 50 metros, compatível com as tecnologias dos aerogeradores
da época. Esta especificação do estudo foi o principal salto comparado aos estudos
de décadas anteriores, pois todos os estudos realizados até o final da década de 1980
foram considerados prejudicados pelo uso exclusivo de dados de anemômetros que
operavam a altura máximas de 10 metros, os quais são bastante influenciados por
obstáculos naturais e artificiais próximos.

Como é de se esperar, as técnicas e tecnologias avançaram e hoje temos


novos aerogeradores que operam de diferentes formas e em diferentes condições,
tanto de altura, como de vento. Assim como, também é realidade a evolução e
expansão das técnicas de coleta de dados em âmbito nacional. Devido a estas
condições, somado a importante implementação do Programa de Incentivo às
Fontes Alternativas de Energia Elétrica (Proinfa) e aos leilões de energia, em 2017 foi
publicado o novo “Atlas do Potencial Eólico Brasileiro – Simulações 2013”.

Atlas do Potencial Eólico Brasileiro – Simulações 2013. Publicação em 2017:


O atlas de 2017 foi desenvolvido através de uma parceria entre o CEPEL e CEPTEC
(INPE). O projeto foi uma atualização do atlas de 2001 promovido pelo Ministério da
Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) e financiado pelo Comitê Gestor do Fundo
Setorial de Energia (CT-ENERG) o qual foi implementado pela Financiadora de Estudos
e Projetos (Finep) procurou estimar a velocidade e a direção do vento em todo o país
para as alturas de 30, 50, 80, 100, 120, 150 e 200 metros, totalmente ajustado às
tecnologias e as tendências mais recentes de mercado.

Semelhante ao estudo publicado anteriormente, o trabalho mais recente


também utilizou um modelo numérico para investigar o potencial eólico. O estudo
empregou o modelo de mesoescala intitulado Brams (Brazilian developments on the
Regional Atmospheric Modeling System), que é uma consolidação das adaptações do
modelo Rams (Regional Atmospheric Modeling System), amplamente usado por
meteorologistas para previsão do tempo.

Além da rica contribuição dada pela CEPTEC através da disponibilização de


conhecimento científico, supercomputadores e uma rede de dados meteorológicos
formado principalmente por mais de 300 estações meteorológicas do INMET e
METAR (DECEA), a grande novidade do estudo foi contar com dados de 12
empreendimentos eólicos privados que disponibilizaram informações de 39 parques
eólicos onshore que estavam em operação na época.

Um ponto de fundamental importância a citar é que, devido ao fato de não


haver uma rede robusta de dados anemométricos offshore, os produtos de mapas
temáticos referentes ao potencial eólico offshore são resultados obtidos das
simulações do modelo Brams, isto é, resultados frutos de interpolação, não
recebendo assim ajustes com dados coletados in loco, ou seja, no local.

ENERGIA EÓLICA OFFSHORE – Desafios e Oportunidades


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Assim como o Atlas, também é preciso citar o esforço institucional que a EPE,
juntamente ao Instituto SENAI de Inovação em Energias Renováveis (ISI-ER), realizou
para publicar o mapeamento do recurso eólico, voltado especialmente para o
offshore ao longo do litoral brasileiro. Este estudo foi intitulado “Roadmap Eólica
Offshore Brasil” e teve como objetivo principal identificar possíveis barreiras e
desafios do setor.

Apesar da metodologia utilizada pela EPE aparentar ser bastante simplificada,


quando comparada a adotada no trabalho elaborado pelo INPE, os estudos tendem a
se complementarem uma vez que o “Roadmap Eólica Offshore Brasil” permite uma
análise quantitativa do potencial eólico offshore do Brasil.

Áreas na costa brasileira com potencial


eólico offshore sob a perspectiva de vento

As áreas com aptidão para a construção de parque eólicos em ambientes


offshore são identificadas sob diferentes perspectivas. Nestas áreas não somente a
estimativa da velocidade e comportamento dos ventos na região definem a aptidão,
mas também são consideradas toda a diversidade de vida que podem ser
encontrados no local de implantação, a topografia do assoalho oceânico e as
dinâmicas geofísicas em que a área está submetida.

Desta forma, é comum primeiramente fazer estimativas da condição de


ventos em uma escala de menor detalhe para que em posterior momento possam ser
realizados os estudos em função de se buscar identificar as áreas mais exatas e
factíveis de serem exploradas, seja por questões de proteção ao meio ambiente, tal
como as áreas de rotas migratórias de aves, seja por proteção a comunidades
tradicionais que dependem de tal zona para a garantia de sua subsistência, ou seja
por segurança a outros empreendimentos, tal como por rotas comerciais e áreas de
exploração de petróleo e gás.

O “Atlas do Potencial Eólico Brasileiro – Simulações 2013” demonstra que parte


do litoral brasileiro apresenta forte aptidão à produção de energia eólica. Dos
melhores trechos para a produção, grande parte localiza-se na região Nordeste,
sobretudo do litoral do Rio Grande do Norte até o Maranhão, onde já é possível
encontrar mais de 250 projetos onshore. Em parte do litoral da Bahia e Sergipe
também são identificadas áreas com potencial de vento com média anual superior a
7m/s² na maioria das estimativas.

² Para ser considerada atrativa, segundo o “Roadmap Eólica Offshore Brasil” da EPE, uma área deve
apresentar média anual de vento acima de 7m/s.

ENERGIA EÓLICA OFFSHORE – Desafios e Oportunidades


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No Sudeste também se encontram trechos do litoral norte do Rio de Janeiro e Espírito
Santo, com média anual de ventos superiores à velocidade base de 7m/s. Nestas
regiões, a sazonalidade do regime de ventos contribui para uma média anual mais
baixa em relação a outras regiões da costa brasileira.

Quanto ao Sul do país, os litorais do Rio Grande do Sul e sobretudo Santa


Catarina também são apontados como áreas com grande potencial de vento. Estas
áreas, mesmo que ainda apresentem menos parques onshore implementados,
quando comparado a região Nordeste do País, para o setor offshore tendem a ser
uma nova seção de potencial para exploração eólica.

ENERGIA EÓLICA OFFSHORE – Desafios e Oportunidades


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Critérios Relevantes nos
Estudos de Potencial Eólico Offshore:

Os estudos do potencial eólico brasileiro são realizados observando três


vertentes: Técnica; ambiental; e social. Em cada uma destas vertentes, os critérios
mais relevantes são:

VERTENTE VERTENTE VERTENTE


TÉCNICA AMBIENTAL SOCIAL

V E RT E NTE TÉCNICA

Conexão à rede SIN

É preciso que um parque eólico offshore possa escoar a energia produzida.


Para isto é necessário a proximidade à linhas de transmissão e à subestação de
eletricidade. No Brasil existe o conjunto de instalações de transmissão de energia
elétrica do Sistema Interligado Nacional (SIN), logo, se um empreendimento está fora
da área de cobertura deste sistema, consequentemente será necessário maior
recurso financeiro, maior intervenção ambiental e mobilização por parte do poder
público para licenciar novas obras em espaço onshore, o que pode provocar a
inviabilidade do projeto offshore.

Nível de Profundidade

Para cada nível de profundidade há um modelo de estrutura eólica adequada.


Conforme a tecnologia avança e é barateada, novas profundidades passam a ser
tecnicamente, e economicamente, viáveis de serem aproveitadas. Hoje, as turbinas
eólicas offshore costumam ser instaladas a aproximadamente 50 metros de
profundidade e o modelo mais comum de fundação é o monopile.

ENERGIA EÓLICA OFFSHORE – Desafios e Oportunidades


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Dinâmica dos Ventos

Critério de velocidade mínima do vento é, dentre os critérios, o mais


importante para a compreensão do potencial eólico offshore. Esse estudo da
dinâmica dos ventos é a porta de entrada para se pensar o empreendimento e busca
compreender se a área alvo apresenta ventos com velocidade suficientes para a
produção de energia, grau de turbulência baixo e a constância da direção dos ventos.

Proximidade com os Portos

A distância dos portos é um dos critérios mais importantes. Mas não é só isso.
O seu apoio à logística, devido a sua estrutura já existente, também é uma das
condições indispensáveis para a construção dos parques.

Proximidade com centro consumidor

Os ventos são importantes, mas a proximidade das fazendas offshore com os


centros consumidores é um fator importante. Há muitas perdas de energia ao se
concentrar o que é produzido para posteriormente distribuir, logo, quanto mais
próximo ao centro consumidor, mas eficiente se torna o empreendimento.

V E RTE NTE AM B IE NTAL

Áreas protegidas em Lei

Quanto aos critérios ambientais, os mais relevantes são aqueles relacionados


a áreas protegidas/sensíveis e os Grupos Biológicos. Dentre os primeiros, estão os
critérios de Unidade de Conservação, sobretudo as áreas de Proteção Integral e Uso
Sustentável; e as áreas prioritárias para Conservação. Já nos grupos Biológicos, dentre
os priorizados estão os recifes, aves, mamíferos marinhos e bentos.

V E RTE NTE SO CIAL

Poluição Visual

De cunho social, destaca-se como critérios relevantes a distância da costa


devido ao impacto visual provocados pelos parques offshore;

ENERGIA EÓLICA OFFSHORE – Desafios e Oportunidades


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Área de Pesca e Rotas Mercantis

As zonas de pesca e outras explorações legais, tais como, as zonas já com


infraestruturas implementadas, são alvo de disputas

Herança cultural

As zonas com elementos relativos à herança cultural submersos também


devem ser alvo de proteção.

Principais Agentes Brasileiros


Produtores de Dados

A disponibilidade de dados primários coletados in loco é um dos grandes


desafios que Governo e setor privado enfrentam quando o tema do assunto é
Estudos Ambientais. Os dados são de grande importância para orientar políticas
públicas de fiscalização, planejamento e intervenção ambiental, pois são uma
fotografia do status das condições ambientais.

No Brasil, país de dimensões continentais, existe muita diversidade em seus


ecossistemas terrestres e marinhos. Obter informações precisas e de boa cobertura
espacial e temporal através de Centro de Pesquisas, Órgãos de Planejamento,
Fiscalização ou qualquer outro provedor de dados e informações renomeado, é uma
importante atividade pois favorece e assegura os investimentos em diversos tipos de
empreendimentos.

Para o setor de Energia Eólica offshore, como dados fundamentais para as


análises de implementação de parques, os seguintes agentes podem ser citados
como fomentadores de dados dentro das seguintes áreas de estudo:

DADOS DE VELOCIDADE DO VENTO

Os dados de velocidade de vento são obtidos por estações climatológicas


espalhadas por todo o Brasil. No geral, estas estações pertencentes ao Instituto
Nacional de Meteorologia (Inmet), ao Centro de Previsão de Tempo e Estudos
Climáticos (CPTEC/Inpe), ao Centro de Hidrografia da Marinha (CHM); e ao Instituto de
Controle do Espaço Aéreo (ICEA / DECEA). Apesar da maior parte destes agentes
atuarem no continente, estes dados são de suma importância pois através de
interpolação permitem a expansão das informações para além da costa.

ENERGIA EÓLICA OFFSHORE – Desafios e Oportunidades


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DADOS DE PROFUNDIDADE

Quanto à produção de dados de profundidade, a Companhia de Pesquisa de


Recursos Minerais (CPRM) do Serviço Geológico do Brasil disponibiliza dados de
batimetria provenientes do Projeto Batimetria. Estes dados são úteis para orientar os
novos empreendimentos, baseados nas atuais tecnologias e tendências, a qual área
offshore a instalação pode ser feita.

DADOS DE ÁREAS DE PESCA E OUTRAS ESTRUTURAS

As informações de áreas de pesca e de outras estruturas são fornecidas


através de Cartas de Sensibilidade Ambiental a Derramamentos de Óleo (Cartas SAO).
Estes mapas devem localizar praias, áreas de proteção ambiental, pesqueiros, rotas
migratórias, indicar correntes marítimas, ventos, além de listar as espécies da flora e
da fauna existentes. Apesar de não ser o responsável pela produção dos dados, é o
Ministério do Meio Ambiente (MMA) quem define as normas técnicas para a
elaboração destes mapas.

DADOS DE UNIDADE DE CONSERVAÇÃO E ÁREA PRIORITÁRIA PARA


CONSERVAÇÃO: RECIFES, AVES, MAMÍFEROS MARINHOS E BENTOS

Para a localização das unidades de conservação e áreas protegidas o Instituto


Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade e o Instituto Brasileiro de Meio
Ambiente (IBAMA) disponibilizam dados dos limites destas áreas. Esta informação
também cobre todo território nacional, o que inclui as áreas offshore.

DADOS DE PORTOS E ROTAS COMERCIAIS

A base de dados geográficos do Ministério da Infraestrutura (MINFRA) e da


Agência Nacional de Transportes Aquaviários (ANTAQ) disponibilizam as informações
de poligonais das áreas dos portos organizados para todo o território brasileiro. Além
da distribuição, a base caracteriza o tipo de porto e sua infraestrutura. Essa
informação é útil para as estratégias de logística que os empreendimentos devem
adotar para que as implantações offshore tornem-se economicamente viáveis.

DADOS DE ECONOMIA

De maneira resumida, destacam-se como grandes fomentadores de dados no


aspecto econômico os agentes: Associação Brasileira de Energia Eólica (ABEEólica);
Empresa de Pesquisa Energética (EPE); Agência Nacional de Energia (ANEL); Centro de
Pesquisas de Energia Elétrica (CEPEL).

Estas instituições são responsáveis pela elaboração de estudos, sobretudo


quantitativo, que respondem por subsidiar políticas públicas com dados de maior

ENERGIA EÓLICA OFFSHORE – Desafios e Oportunidades


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qualidade possível, direcionar ações para o desdobramento de estudos importantes,
apresentar os ganhos, prejuízos, estratégias e desafios no setor energético e
regulamentar as atividades para que haja justiça e igualdade no acesso à energia por
todos os brasileiros.

A Produção de Sados, no Cenário


Mundial, Como Medida Para Assegurar
Empreendimento Eólicos Offshore

No cenário mundial, existem alguns exemplos de iniciativas promovidas pelos


Governos para alavancarem a produção de dados com o objetivo de atrair, favorecer
e assegurar os investimentos em empreendimentos eólicos offshore.

Na Alemanha, por exemplo, o Governo criou um programa de monitoramento


com o objetivo de coletar dados sobre a força, direção e turbulência do vento, além
da altura e propagação das ondas do mar, que podem atingir as torres. Para esse
monitoramento foram construídas três plataformas de pesquisa (FINO 1, 2 e 3). Todas
as plataformas foram construídas e gerenciadas pelo Ministério de Meio Ambiente
Alemão³.

Além da coleta de dados, as plataformas, devido à importância de também


conhecer os impactos ambientais relacionados a parques eólicos offshore, as
plataformas de pesquisa passaram a monitorar também as condições do subsolo do
fundo marinho. Estudos como ruídos, comunidades bentônicas, peixes e mamíferos
marinhos são alguns dos exemplos que passaram a fazer parte da lista de atividades
de monitoramento.
Já na Dinamarca, no modelo de licenciamento open-door, para incentivar a
produção de dados, o governo propôs como etapa do processo a apresentação de
projeto para licença de pré-investigação.

Essa pré-investigação é feita por uma autoridade responsável, tanto pelo EIA,
quanto pelos estudos geofísicos e geotécnicos da área de interesse. O objetivo é,
através destes estudos, produzir dados de qualidade para que as ofertas de
empreendimentos sejam qualificadas e competitivas. Essa estratégia, além de reduzir
tempo de licenciamento, também dá segurança para os empreendimentos.

Ao fim do estudo, todos os dados são tornados públicos e quem ganhar


adquire o direito de explorar o potencial eólico da área arca com os custos do estudo
de pré-investigação.

³ Ministério de Meio Ambiente, Conservação da Natureza, Construção e Segurança Nuclear (BMUB).

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A Produção de Dados, no Brasil,
Como Medida para Assegurar
Empreendimentos Eólicos Offshore:

Já no cenário nacional existem algumas políticas públicas que favorecem a


produção de dados para o desenvolvimento do setor eólico. Como exemplo,
podemos falar da Seleção Pública realizada pelo BNDES para a contratação de Estudo
Técnico para a “Elaboração da caracterização e mapeamento dos usos atuais e
potenciais do ambiente marinho para concepção do Projeto-Piloto do Planejamento
Espacial Marinho (PEM) na Região Marinha do Sul do Brasil”.

Além deste exemplo, outra realização importante foi a publicação do Decreto


nº 10.946, de 25 de janeiro de 2022. O decreto dispõe sobre a cessão de uso de
espaços físicos para a geração de energia elétrica a partir de empreendimentos
offshore. Nele estão previstos 2 tipos de procedimento para cessão da área. Na
Cessão independente o prisma é requerido por iniciativa dos interessados em
explorá-los. Já na Cessão Planejada, compete ao Ministério de Minas e Energia,
juntamente com a Empresa de Pesquisa Energética - EPE e a Aneel, definir quais serão
os prismas disponíveis a serem oferecidos, o que requer a necessidade de dados para
tal.

Mas independentemente do tipo de cessão ou trâmite, o que o decreto traz de


promissos é que os dados obtidos nos estudos realizados, que deverão seguir as
regras do Ministério de Minas e Energia, deverão integrar um banco de dados de total
acesso público. Esses dados, que obrigatoriamente deverão ser fornecidos à Aneel,
vão precisar ser certificados por entidades certificadoras independentes e farão parte
um robusto inventário brasileiro de energia offshore.

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Equipe Técnica Responsável
Elaine Cardoso
É Bióloga, especialista em perícia ambiental, com mais de 20 anos atuando em licenciamento
ambiental, tendo participado da elaboração e execução de diversos estudos ambientais. Tem
experiência com metodologias ágeis, tendo atuado junto ao Ministério do Meio Ambiente, entre 2000
e 2008, na Secretaria de Políticas para o Desenvolvimento Sustentável, participando de grandes
eventos da legislação ambiental brasileira.

Lorena Vaz
É Gestora de Projetos, formada em Engenharia Florestal. Trabalha com licenciamento ambiental há
mais de 10 anos, onde atuou em estudos ambientais de alta complexidade. É referência em
metodologias ágeis aplicadas em estudos ambientais e apesar de amar um Inventário Florestal, se
apaixonou pela transição energética e Energia Eólica Offshore.

Natan Moraes
É estudante de geofísica na Universidade de Brasília, atuando como diretor de negócios da Phygeo,
Empresa Júnior de Geofísica da Universidade. Tem experiência com processamento e aquisição de
dados geofísicos, busca explorar o mercado da geofísica voltada ao meio ambiente e possui uma
paixão por geofísica aquática.

Raphael Coelho
É mestre em Planejamento e Gestão Ambiental pelo PPGG-UFRJ, especialista em Cientista de Dados e
Big Data formado pela PUC Minas e Geógrafo de formação pela UFRJ. Possui conhecimento em
Geoprocessamento e Sensoriamento Remoto com ênfase em automatização de processos,
gerenciamento e análise avançada de dados espaciais.

Thaís Dias
É analista de sustentabilidade, com Graduação em Biologia Marinha e Costeira e Mestrado em Ciências
Ambientais. Atua com enfoque na ecoeficiência produtiva e migração para uma economia de baixo
carbono. Com 11 anos de experiência na execução de projetos de sustentabilidade e energias
renováveis.

André Peixoto Gabriel Etel


Head de Novos Negócios no Grupo
Designer gráfico sênior e
Zago, responsável pela idealização,
diretor criativo do estudo.
direção edição do estudo.

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Referências:
IBAMA. Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis. Disponível em
http://www.ibama.gov.br/laf/consultas/mapas-de-projetos-em-licenciamento-complexos-eolicos-offshore. 2022. Acessado
em 23/10/2022.

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MELO, D.; GONZÁLEZ, M. O. A; VASCONCELOS, R. M.; NETO, F. C. G.; MAZETTO, B. M.; NUNES, J. P. C. S; Estrutura de Custo de
Empreendimento Eólico Offshore: Estudo de Caso Comparativo de Projetos da Europa e da América do Sul. BWP. 2019.

IRENA. RENEWABLE ENERGY STATISTICS 2018. [s.l: s.n.]

DANISH ENERGY AGENCY (Dinamarca). Danish Experiences from Offshore Wind Development. Copenhagen K: DEA, 2015a. 36 p.
______. Wind turbines in Denmark. Copenhagen K: DEA, 2015b. 32 p. ______. Energy Policy Toolkit on Physical Planning of Wind
Power: experiences from Denmark. Copenhagen K: DEA, 2015c. 42 p.

DELAY, T.; JENNINGS, T. Offshore wind power: big challenge, big opportunity: Maximising the environmental, economic and
security benefits. London: The Carbon Trust, 2008. 112 p.

PÉREZ, L. F. LaVanguardia. ¿Por qué no hay molinos para aprovechar la energía eólica en las costas de España? 01.07.2018.
Disponível em: . Acesso em: 12 de agosto de 2019.

GWEC – Global Wind Energy Council. Offshore Wind Policy and Market Assessment: a global outlook. Facilitating Offshore Wind
in India Project. Brussels: GWEC, 2014. 76 p. Disponível em:. Acesso em: 29 de julho de 2019.

GWEC – Global Wind Energy Council. Offshore Wind Policy and Market Assessment: a global outlook. Facilitating Offshore Wind
in India Project. Brussels: GWEC, 2021... Acesso em: 11 de novembro de 2022.

4COFFSHORE. Offshore Wind Farms – Belgium. Disponível em: . Acesso em: 09 de julho de 2019.

EDP – Energias de Portugal. WindFloat regressa ao porto depois de missão bem-sucedida no mar. Publicado em 03 de junho de
2016. Disponível em:
https://www.edp.com/pt-pt/noticias/2016/06/03/windfloat-regressa-ao-porto-depois-de-missao-bem-sucedida-no-mar.
Acesso em: 19 de julho de 2019.

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Disponível em:
https://www.epe.gov.br/sites-pt/publicacoes-dados-abertos/publicacoes/PublicacoesArquivos/publicacao-227/topico-416/03.
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IBAMA. Instituto Brasileiro de Meio Ambiente. Disponível em:


https://www.gov.br/mma/pt-br/noticias/publicacao-define-normas-para-elaborar-mapas-de-sensibilidade-ambiental

ICMBIO. Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade. Disponível em: https://www.gov.br/icmbio/pt-br.

MMA. Ministério do Meio Ambiente. Disponível em: https://www.gov.br/mma/pt-br.

SENADO NOTÍCIAS. Agência Senado. Disponível em:


https://www12.senado.leg.br/noticias/materias/2022/08/17/ci-aprova-marco-legal-para-exploracao-da-energia-gerada-em-alt
o-mar.

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