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Eólicas:

crescimento
e perspectivas
SUMÁRIO
CONTEXTO
INTRODUÇÃO FAVORÁVEL

CAPÍTULO

01
CAPÍTULO
UM SETOR
EM EXPANSÃO

02
CAPÍTULO
A COMPETITIVIDADE
DO VENTO

03 BUSCA PELA
EFICIÊNCIA

PERSPECTIVAS
CONCLUSÃO
E FUTURO
INTRODUÇÃO: CONTEXTO FAVORÁVEL

Contexto favorável
Hidrelétricas perdem espaço A partir do início do século passado, quando
investimentos pioneiros em usinas hidrelétricas
na matriz energética apareceram no Brasil, a fonte hidráulica passou
a protagonizar a matriz elétrica nacional. Ainda hoje
e geração eólica desponta essa realidade se mantém, com a geração a partir
como candidata a protagonista da força da água tendo participação de 62,5% na
energia elétrica produzida no país, segundo dados
na expansão da capacidade da Empresa de Pesquisa Energética (EPE).
instalada brasileira Hoje, entretanto, o momento é de perda de
espaço da energia hidrelétrica na matriz brasileira,
e algumas razões explicam isso. Entre elas, pode-se
citar a quase impossibilidade de construir usinas
próximas aos principais centros consumidores do
país, o que empurra sua expansão para locais mais
afastados, caso da região amazônica.

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INTRODUÇÃO: CONTEXTO FAVORÁVEL

A Crise do Apagão, de 2001,


ampliou o debate sobre a
necessidade de revisão do
protagonismo das hidrelétricas
na geração elétrica do país.

Aparecem aqui dois outros aspectos que


limitam o crescimento da fonte hidráulica:
altos custos para criação da infraestrutura de
transmissão necessária para atender às grandes
capitais e, claro, pressões ambientais, uma vez
que as usinas demandam grandes reservatórios,
o que implica no alagamento de enormes
espaços de terra para compensar a falta de água
nos rios durante os períodos de seca.
Não se pode esquecer também do peso da
segurança energética, fator que ganhou mais
notoriedade a partir da Crise do Apagão,
de 2001. Na época, a ausência de chuvas levou
ao esvaziamento dos reservatórios das usinas,
ampliando o debate sobre a necessidade de
revisão do protagonismo das hidrelétricas na
geração elétrica do país.
Segundo especialistas, nem mesmo
as chamadas usinas a fio d’água, que,
ao abrir mão dos grandes reservatórios,
tornam-se ambientalmente mais responsáveis,
são capazes de mitigar por completo os riscos
relacionados à segurança energética. Isso
abriu espaço para outras fontes, na esteira
da criação do Ambiente Livre de Contratação
(ACL), mais conhecido como mercado livre,
a partir de 2004.

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INTRODUÇÃO: CONTEXTO FAVORÁVEL

Renovável e extremamente competitiva, Em resultado, segundo estudo do Global Wind


a energia eólica talvez seja a fonte que melhor Energy Council (GWEC) de 2017, o Brasil é o oitavo
se aproveitou desse momento de transição. país no ranking mundial de capacidade eólica
Dados da Agência Nacional de Energia instalada, sendo ainda o sexto entre os mercados
Elétrica (Aneel) comprovam isso: de 2008 com maior número de novos investimentos na
a 2018, a capacidade instalada do setor cresceu área. Hoje, há 72 parques eólicos em construção
impressionantes 4.148%. Em decorrência, no país, além de outros 133 já aprovados, mas que
a participação na matriz também se expandiu, ainda não tiveram as obras iniciadas, de acordo
passando de 1% para 9% em igual período. com informações da Aneel.
Ao mirar o futuro, e vendo como o mercado No entanto, é importante entender que
de eólica vem se desenvolvendo e movimentando, a expansão do setor não representará o fim do
é impossível não o olhar com certo otimismo. protagonismo das hidrelétricas. Pelo contrário,
Grandes players globais – de fornecedores de esta continuará responsável pela maior parte da
pás e turbinas geradoras a fornecedores geração de energia elétrica no país, só ganhará
de produtos e serviços para a cadeia produtiva mais companhia dentro do Sistema Elétrico
– atuam e prestam serviços ao setor no país. Nacional (SIN).
Em paralelo, o clima favorável e sua grande Ainda assim, o potencial de crescimento
competitividade tornam o segmento da energia eólica é inquestionável no Brasil.
bastante atraente para investidores privados. Investimentos previstos e novas tecnologias,
Outro fator relevante é a demanda global bem como as perspectivas nos próximos anos,
por descarbonização. são o foco deste documento. Boa leitura!

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CAPÍTULO

01
UM SETOR
EM EXPANSÃO
CAPÍTULO 01: UM SETOR EM EXPANSÃO

Um setor em expansão
Do Proinfa ao momento Como citado na introdução, a demanda por
descarbonização da matriz energética mundial é fator
atual, muita coisa relevante para o impulso das chamadas energias
renováveis mundo afora, o que inclui a eólica.
aconteceu no mercado Aprovado e assinado pelos 195 países membros
de eólica, mas a tendência da Parte da Convenção Quadro das Nações Unidas
sobre a Mudança do Clima (UNFCCC, na sigla em
de crescimento nunca foi inglês), o Acordo de Paris colocou ainda mais pressão
revertida desde então nesse movimento.
Com o compromisso de manter o aumento
da temperatura média global menos de 2°C acima
dos níveis pré-industriais, o documento estabeleceu
metas ousadas de redução de emissões de gases de
efeito estufa (GEEs). Nesse contexto, Elbia Gannoum,
presidente executiva da Associação Brasileira da
Energia Eólica (Abeeólica), acredita que a energia
eólica surge como a melhor opção para expandir
o papel das renováveis, já que é barata, de baixo
impacto e de rápida implantação, com zero emissão
de CO₂ em sua operação.

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CAPÍTULO 01: UM SETOR EM EXPANSÃO

Segundo a dirigente, e pensando apenas


no mercado brasileiro, o fato de haver
uma cadeia produtiva nacionalizada torna
o ambiente ainda mais favorável para sua
expansão. “Hoje, o setor eólico representa 9%
da matriz elétrica do país e segue crescendo.
Sua expansão ajudará o Brasil a cumprir com
suas metas de redução da emissão de CO₂ e na
diversificação da matriz com fontes renováveis
complementares”, avalia.
Antes de apontar para o futuro, entretanto,
sempre é bom olhar para o passado, até para
compreender melhor aonde o setor pode
chegar. Em 1992, por exemplo, Fernando
de Noronha (PE) viu o primeiro aerogerador
entrar em operação no país, fruto de uma
parceria do Centro Brasileiro de Energia
Eólica (CBEE) com a Companhia Energética
de Pernambuco (Celpe). Até o setor ganhar
impulso efetivo e passar a instalar mais
parques geradores, contudo, passou-se
quase uma década.
O primeiro passo foi dado em meio
à crise de 2001, com a criação do Programa
Emergencial de Energia Eólica (Proeólica).
A iniciativa visava à contratação de 1.050
MW até dezembro de 2003, já mirando
complementaridade sazonal do regime
de ventos com os fluxos hidrológicos nos
reservatórios hidrelétricos. O projeto, no
entanto, não deslanchou como se esperava,
sendo paralisado a seguir.

Hoje, o setor eólico representa 9% da matriz elétrica do país


e segue crescendo. Sua expansão ajudará o Brasil a cumprir com
suas metas de redução da emissão de CO₂ e na diversificação
da matriz com fontes renováveis complementares.”
ELBIA GANNOUM

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CAPÍTULO 01: UM SETOR EM EXPANSÃO

A coisa começou a caminhar de efetiva de energia a partir da força do


verdade com o Programa de Incentivo às vento só ocorreu dois anos depois,
Fontes Alternativas (Proinfa), criado no quando foi realizado o Leilão de Energia
ano seguinte pelo governo federal. Mais de Reserva (LER), voltado exclusivamente
do que estimular o desenvolvimento para a fonte. Desde então, foram
do setor, o projeto tinha como objetivo realizados outros 27 certames.
abrir caminho para a fixação de uma Hoje, devido à forte incidência de
indústria de componentes e turbinas ventos, as regiões Nordeste e Sul são
eólicas no Brasil, com exigências de as que mais têm conseguido explorar
conteúdo nacional. o aproveitamento da fonte de energia.
Na época, foram contratados 1.304 Bahia, Ceará e Rio Grande do Norte
MW de geração eólica em capacidade são os estados líderes no país tanto em
instalada, de acordo com a EPE. Ainda número de parques em operação quanto
assim, o ponto de virada definitivo foi a em capacidade instalada.
promulgação da Lei nº 10.848, de março “Há dez anos, tínhamos pouco mais
que 2004, que estabeleceu um novo de 600 MW instalados e, neste segundo
marco regulatório para o setor elétrico, semestre de 2019, estamos chegando
com a criação do mercado livre de energia. a 15,1 GW de capacidade instalada, com
A partir de então, são realizados leilões mais de 600 parques em operação e 7,5
regulares para a compra de energia, com mil aerogeradores em funcionamento”,
a fonte eólica fazendo-se presente com comenta Elbia. “De 2010 a 2018, o
assiduidade a partir de 2007. À época, investimento no setor foi de US$ 31,2
a tecnologia para geração eólica ainda bilhões”, acrescenta a executiva, citando
era muito cara e, por isso, a contratação dados da Bloomberg New Energy Finance.

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CAPÍTULO 01: UM SETOR EM EXPANSÃO

Nesse cenário de otimismo, é esperado que No ano passado, por exemplo, o setor
o segmento chegue a pelo menos 21 GW de fechou mais contratos no mercado livre do que
capacidade instalada até 2023. “Digo pelo menos no regulado – atendido pelas distribuidoras
porque o valor contém apenas as quantidades dos de energia elétrica – pela primeira vez. “Com
leilões já realizados no mercado regulado”, explica os leilões realizados, apenas em 2018 foram
Elbia. Ela acrescenta que o mercado livre vem viabilizados 1,25 GW de nova capacidade
crescendo muito, o que impacta essas previsões, instalada eólica, enquanto o mercado livre
aumentando os valores. negociou mais de 2 GW”, destaca.

Setor eólico:
estrutura, expansão e meio ambiente (2019)

15,3
15,3 GW
GW
613
613 7.536
7.536
DE CAPACIDADE PARQUES AEROGERADORES OPERANDO
O TAMANHO DEINSTALADA
CAPACIDADE EÓLICOS
PARQUES EM OPERAÇÕES
AEROGERADORES 12 ESTADOS
EMOPERANDO
O TAMANHO
DA INDÚSTRIA INSTALADA EÓLICOS EM OPERAÇÕES EM 12 ESTADOS
DA INDÚSTRIA
NO BRASIL
NO BRASIL

O que significa essa geração

CO₂
CO₂
21 MILHÕES
21 MILHÕES
DE TONELADAS
EVITADAS EM 2019
DE TONELADAS
=EM 2019
EVITADAS
= DE
CERCA
ABASTECER CERCA DE
16CERCA
MILHÕES
DE
26,1 MILHÕES
ABASTECER 78CERCA
MILHÕES
DE
16AUTOMÓVEIS
DE MILHÕES
DE26,1 MILHÕES
RESIDÊNCIAS/MÊS 78 MILHÕES
DE HABITANTES
DE AUTOMÓVEIS
DE RESIDÊNCIAS/MÊS DE HABITANTES

Fonte: Relatório InfoVento (20/10/2019), da Associação Brasileira de Energia Eólica (ABEEólica)

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CAPÍTULO

02
A COMPETITIVIDADE
DO VENTO
CAPÍTULO 02: A COMPETITIVIDADE DO VENTO

A competitividade
do vento
Fonte é barata e ganha O avanço tecnológico é o principal
indutor do crescimento da fonte eólica
espaço no mundo; questões pelo mundo. Hoje, fabricantes de
geradores e pás atingiram um nível
mercadológicas no Brasil têm tecnológico que posicionou a matriz
jogado os preços da energia entre as mais baratas fontes de energia
existentes. Além disso, com a maior
eólica anda mais para baixo maturidade dos mercados, empresas
fornecedoras passaram a fazer acordos
de venda que incluem vários países,
reduzindo ainda mais os valores cobrados
pelos equipamentos.

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CAPÍTULO 02: A COMPETITIVIDADE DO VENTO

Nossos primeiros projetos tinham torres


de 80 metros de altura. Era o mais alto que
se podia chegar sem trazer instabilidade
ao equipamento.”
MATHIAS MARTINS JUNIOR

“Avanço tecnológico é criação de valor.


Então, é impossível não apontar esse fator
como preponderante para o aumento da
competitividade do setor nos últimos anos”,
explica Carlos de Mathias Martins Junior,
ex-diretor da Ecopart, que é dona de parques
eólicos no Nordeste, e atual membro do
conselho da ERB – Energias Renováveis do
Brasil, empresa especializada em investimento,
construção e operação de unidades de
cogeração de energia. “Nossos primeiros
projetos tinham torres de 80 metros de altura.
Era o mais alto que se podia chegar sem trazer
instabilidade ao equipamento”, exemplifica
Martins. “Hoje, as torres têm até 200 metros,
com maior produtividade porque conseguem
captar mais vento”, completa.
Ainda assim, a conjuntura do mercado
brasileiro tem permitido ao setor ser ainda
mais competitivo. Da primeira participação
nos leilões de contratação de energia elétrica
até hoje, as usinas eólicas têm conseguido
oferecer preços cada vez mais baixos. Exemplo
disso foi o deságio de quase 50% ocorrido no
último certame A-6, de outubro de 2019, com
valor de R$ 98,88 por Megawatt-hora (MWh).
Fontes “rivais”, como termelétrica (-30,71%,
com R$ 202,33 por MWh) e hidrelétrica
(-16,6%, com R$ 237,70 por MWh), tiveram
depreciação menor.

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CAPÍTULO 02: A COMPETITIVIDADE DO VENTO

Elbia acrescenta que o intervalo de quase como concorrente à altura para a eólica entre as
dois anos sem contratação de energia em leilões renováveis, assim como a biomassa. Entre as fontes
regulados, devido à recessão econômica, teve mais sujas, o destaque fica para as termelétricas
influência no deságio. “De dezembro de 2015 a gás natural, sobretudo em função das perspectivas
a dezembro de 2017 não vendemos nada no exploratórias advindas do pré-sal.
mercado regulado, o que acabou formando um “De fato, há vários fatores envolvidos na
contingenciamento de projetos. Quando ocorreu escolha entre uma fonte e outra. Certo é que
o leilão de dezembro de 2017, havia uma grande o investidor opta sempre pela mais barata naquela
oferta, muito maior que a demanda”, explica. circunstância”, explica Martins Júnior. “Por exemplo:
Para os próximos leilões, a dirigente acredita não há como a eólica competir com a solar no Rio
que os preços novamente refletirão a conjuntura de Janeiro e em São Paulo, onde não há vento
do momento, lembrando que falamos de constante”, completa.
um mercado que está passando por grandes O empresário destaca que um indicador favorece
transformações, especialmente se for considerada a geração eólica frente à solar em regiões como
a migração de carga do mercado regulado para o o Nordeste brasileiro, onde existem vento e radiação
livre. “No último certame, realizado em outubro de solar abundantes. Trata-se da densidade de
2019, vimos preços levemente mais altos do que potência, que é medida a partir da quantidade
os anteriores, o que pode indicar algum ajuste”, de área inutilizada para cada MWh produzido.
acrescentou a presidente executiva da Abeeólica. “No Nordeste, as condições climáticas são
Embora seja difícil cravar que determinada favoráveis para as duas fontes. No entanto, a solar
fonte seja mais competitiva do que outra, porque é mais ineficiente nesse contexto, pois precisa de
isso depende de vários fatores (como localização, muita terra para gerar a mesma carga de energia
por exemplo), é possível apontar a geração solar do que eólica”, comenta.

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CAPÍTULO 02: A COMPETITIVIDADE DO VENTO

Eólicas offshore: qual o futuro?

Uma nova modalidade de energia eólica desenvolver com segurança no Brasil”,


que vem ganhando espaço ao redor do observa Elbia.
mundo é a offshore. No Brasil, a falta Quem também está se mexendo é
de regulamentação específica atrapalha a Petrobras, que já trabalha em um projeto
o desenvolvimento do segmento, mas piloto. Em outubro de 2019, a estatal
agências reguladoras do país começam apresentou pedido ao Instituto Brasileiro
a se mobilizar em torno do tema. do Meio Ambiente e dos Recursos
A EPE, por exemplo, realizou workshop Naturais Renováveis (Ibama) para obter
no primeiro semestre de 2019 para discutir licença prévia e de instalação para uma
as características do potencial eólico em planta no Rio Grande do Norte, cujo prazo
alto mar, além das melhorias regulatórias para início de operação é 2022.
necessárias para implementá-lo. Do Em paralelo, a Petrobras assinou
encontro deve sair um roadmap memorando de entendimento com a
sobre o assunto, que será publicado Equinor para avaliação conjunta de projetos
posteriormente. no país. De origem norueguesa, a empresa
De acordo com a Abeeólica, a publicação gere parques eólicos offshore no Reino
é considerada importante, porque vem Unido, Alemanha e Noruega. Segundo
da agência responsável por pesquisa especialistas, a maior produtividade dos
e planejamento do setor elétrico brasileiro. geradores em alto-mar é um dos fatores
“Mais ainda, sinaliza um desejo importante que pode atrair atenção para o segmento,
do governo de trabalhar para que a geração diante do esgotamento futuro de áreas para
a partir do vento offshore possa se geração na costa brasileira.

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CAPÍTULO 02: A COMPETITIVIDADE DO VENTO

“Questões regulatórias ainda não


definidas dificultam hoje. Além disso,
os custos de manutenção são mais altos
do que em terra firme”, observa Hugo
Carneiro, gerente de Contas do segmento
de Geração de Energia da Moove,
detentora do direito de produção
e comercialização da marca Mobil™ no Brasil.
“No entanto, a produtividade offshore
é muito maior: as novas tecnologias em
desenvolvimento de turbinas eólicas
terrestre têm capacidade de até 8 MW.
Sabemos que No mar, as novas tecnologias devem
empresas e governo chegar a 20 MW de capacidade.”
estão se mobilizando Ainda assim, o potencial de expansão
da geração eólica em terra é ainda muito
para desenvolver grande, com alto fator de capacidade, o que
o segmento, que é ainda deve manter as atenções do mercado
relevante por abrir sobre ela por um bom tempo. A grande
competitividade é um das razões pela qual
uma nova fronteira o Brasil talvez ainda não tenha entrado de
para a energia eólica cabeça no negócio em alto-mar.
no Brasil.” “Vejo mais como uma tendência futura,
mas os grandes fabricantes mundiais de
HUGO CARNEIRO
aerogeradores têm investindo em pesquisa
e desenvolvimento na área”, avalia Hugo
Carneiro. “Sabemos que empresas
e governo estão se mobilizando para
desenvolver o segmento, que é relevante
por abrir uma nova fronteira para a energia
eólica no Brasil”, acrescenta a presidente
executiva da Abeeólica.

16
CAPÍTULO

03
BUSCA PELA
EFICIÊNCIA
CAPÍTULO 03: BUSCA PELA EFICIÊNCIA

Busca pela
Quem observa o mercado de energia eólica
nacional hoje rapidamente percebe que muita
coisa mudou desde o primeiro leilão de 2009.
A tecnologia avançou, os preços foram caindo

eficiência
e a cadeia produtiva se tornou cada vez mais
forte e eficiente. Em paralelo, o Brasil aprendeu
que tem um dos melhores ventos do mundo.
“Além disso, quando falamos de gestão do
sistema elétrico e de suas variadas fontes, é muito
importante frisar que a energia eólica foi ganhando
em confiabilidade e previsibilidade”, afirma Elbia
Setor de eólica cresce, Gannoum, da Abeeólica. “E isso redundou em
atrai investimentos do atratividade e investimento. O mercado de capitais,
por exemplo, formatou produtos específicos para
mercado de capitais e acirra atender ao segmento”, completa.
Em outubro de 2019, o Banco Nacional de
competição interna entre Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES)
as empresas, que miram no anunciou a liberação de uma linha de crédito
de R$ 1,26 bilhão para o Complexo Eólico
ganho de produtividade Umburanas, na Bahia, composto por 18 parques
eólicos com potência instalada total de 360 MW.

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CAPÍTULO 03: BUSCA PELA EFICIÊNCIA

Ele acrescenta que a empresa oferta no


mercado um pacote baseado em seis pilares:

OilXplorer Industrial
Serviço periódico de análise de óleo
usado das turbinas.

OilXplorer Analytics
Ferramenta de análise de dados para balizar
tomada de decisões relacionadas ao plano
de lubrificação do parque e definição de
Os recursos representam ações para manter a condição adequada
78,8% do investimento do lubrificante e evitar desgastes e falhas
total do projeto, que prematuras nos componentes da gearbox.
é de R$ 1,6 bilhão
Fornece visão mais ampla do parque eólico.

– o financiamento se Data mining


dá no âmbito do Finem, Mineração de dados e análise estatística
de tendências com objetivo de avaliar
destinado a à geração de o desempenho do lubrificante em
energia eólica. determinado período.

Inspeções boroscópicas
Técnica de inspeção visual na turbina feita
Os recursos representam 78,8% do remotamente a partir de um endoscópio
investimento total do projeto, que é de industrial. Por meio dele, é possível atingir
R$ 1,6 bilhão – o financiamento se dá no pontos não acessíveis a olho nu, identificando
âmbito do Finem, destinado à geração de depósitos de borra, verniz, contaminantes
energia eólica. e modos de falha característicos dos
Esse cenário de atratividade e componentes lubrificados.
expansão, contudo, torna o mercado de
eólica no Brasil bastante competitivo em Treinamentos in company
toda a cadeia produtiva. “Hoje, os principais Total de 12 horas de capacitação, nivelando
players globais atuam e têm plantas aqui, o conhecimento sobre lubrificantes
casos de GE (General Eletric), Vestas, e lubrificação da equipe técnica.
Siemens Gamesa e Nordex Acciona”,
explica Hugo Carneiro, da Moove. Consultoria para conversão
Diante disso, o setor faz uma busca No caso de trocas de fornecedores
incessante por maior produtividade e de lubrificantes, processos mal conduzidos
eficiência. “Somos uma ponta importante podem levar à perda de desempenho do
nesse processo. No segmento, buscamos novo óleo. Testes de compatibilidade feitos
essa diferenciação técnica”, explica em laboratório fazem parte do conjunto de
Hugo Carneiro. procedimentos de conversão previsto.

19
CAPÍTULO 03: BUSCA PELA EFICIÊNCIA

Segundo Hugo Carneiro, da Moove, dez anos. Com ela, que deve chegar ao Brasil
a vida útil do lubrificante de gearbox em 2020, eliminamos a necessidade uma
dentro das turbinas pode chegar troca de óleo, promovendo uma redução
a cinco, sete anos dependendo da de custos considerável”, revela.
tecnologia do lubrificante e condições “A partir desse pacote de serviços,
de operação. Já os aerogeradores têm procuramos elevar a produtividade dos
vida útil de 20 anos. “Com o pacote de parques e trazer mais segurança na
serviços que oferecemos, podemos operação, já que conseguimos reduzir
monitorar este lubrificante durante a interação homem-máquina”, afirma
o período de operação com nosso Hugo Carneiro. “Com isso, entregamos
lubrificante”, comenta. “Já temos uma maior confiabilidade em todo o processo
nova tecnologia com durabilidade de operacional”, finaliza.

20
CONCLUSÃO
PERSPECTIVAS
E FUTURO
CONCLUSÃO: PERSPECTIVAS E FUTURO

Perspectivas e futuro
Ventos a favor parecem levar Para a Abeeólica há, de fato, uma revolução
clara e evidente acontecendo na geração de
o setor eólico no Brasil e no energia. Cada vez mais, o mundo se afasta das
fontes poluentes e vem priorizando renováveis
mundo para um horizonte de baixo ou baixíssimo impacto ambiental. Em
bastante promissor, mas alguns países isso está se dando rapidamente,
enquanto em outros o processo de transição é
algumas barreiras precisam mais lento. Independentemente da velocidade,
ser superadas fato é que a mudança é irreversível e devemos
nos engajar para que aconteça de forma cada
vez mais eficiente e rápida.
Estudo recente da International Renewable
Energy Agency (Irena) traça um futuro bastante
otimista para a indústria eólica global. Segundo
o relatório Future of Wind, a instalação acelerada
de energia eólica, juntamente com o aumento
da eletrificação, poderia contribuir com um quarto
(ou quase 6,3 gigatoneladas) das reduções
anuais de emissão de CO₂ necessárias até 2050.

22
CONCLUSÃO: PERSPECTIVAS E FUTURO

Outras previsões do estudo

• Energia eólica pode cobrir mais


de um terço das necessidades
globais de energia (35%).

• Para cumprir esse objetivo,


a capacidade instalada do setor
no mundo deveria atingir 6 mil
GW (mais de dez vezes o nível
atual) até 2050.

• Ásia despontará como mercado


eólico dominante, representando
mais de 50% das instalações onshore
e 60% offshore globais até 2050.

• Ainda sobre a região, a capacidade


instalada pode crescer de
230 GW, em 2018, para
mais de 2,6 mil GW, em 2050.

• Para Irena, esse processo


de desenvolvimento poderia
criar 6 milhões de empregos
no mundo, contra 1 milhão
existentes atualmente.

Fonte: Future of Wind, da International


Renewable Energy Agency (Irena)

23
CONCLUSÃO: PERSPECTIVAS E FUTURO

“A energia eólica é hoje uma indústria presente


em mais de 90 países, 30 dos quais com mais de
1GW instalados e nove com mais de 10 GWs, como
é o caso do Brasil, que tem 15,1 GW de capacidade
e ocupa o oitavo lugar no ranking mundial desse
quesito”, ressalta Elbia Gannoum, da Abeeólica,
para quem o futuro é promissor no país.
“O Brasil está batendo recordes atrás de
recordes, chegando a atender mais de 85% da
demanda de eletricidade no Nordeste, e seguimos
instalando mais parques”, destaca. “O setor
vive expansão forte, impactando inclusive na
perspectiva de geração termelétrica, algo que
não se previa no mercado atual”, acrescenta Hugo “O Brasil está batendo
Carneiro, da Moove. recordes atrás de recordes,
Números da Empresa de Pesquisa Energética chegando a atender mais
(EPE) reforçam a expectativa das fontes ouvidas para
o mercado de eólica. Conforme prevê o PDE 2019 de 85% da demanda de
do órgão governamental, que considera o horizonte eletricidade no Nordeste,
decenal, a expansão indicativa do setor aponta para e seguimos instalando
crescimento substancial, chegando a 39,5 GW em
2029. O montante representa elevação superior mais parques.”
a 100% quando comparado aos 15,3 GW atuais. ELBIA GANNOUM

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CONCLUSÃO: PERSPECTIVAS E FUTURO

O nível de maturidade do setor, que já acumula


dez anos de participação em leilões de energia e
consegue atrair interesse do mercado de capitais,
faz acreditar que o cenário traçado pela EPE está
distante apenas no tempo. Ainda assim, existem
desafios a serem superados, como avalia Carlos
de Mathias Martins Junior, do ERB – Energias
Renováveis do Brasil.
“Sem dúvidas o segmento tem ainda bons anos
de expansão à frente, mas o vejo próximo do platô
de crescimento. Entre outros fatores, o mercado
vai esbarrar na escassez de terras para instalação
de parques, principalmente no Nordeste”, avalia.
“Acredito que a própria sociedade imporá algum
grau de limite. Pesa nisso a questão da beleza
cênica: quem vai querer ver um exagero de
parques eólicos espalhados pelas lindas praias
brasileiras?”, questiona. “A solução pode estar
nas baterias, mas ainda há um longo caminho de
desenvolvimento tecnológico para isso. Hoje, há
muita perda de energia no uso delas.”
Elbia também reconhece que há desafios, mas
aponta caminhos para superar essas fronteiras.
Segundo a dirigente, a resposta virá de novos
modelos de negócios, como parques híbridos,
e do desenvolvimento de baterias, que ela vê em
franca evolução. “Há ainda um bom potencial de
eólica offshore para explorar. Além disso,
a ampliação do mercado livre para o segmento
traz bastante otimismo”, finaliza.

Sem dúvidas o segmento tem ainda bons anos de expansão


à frente, mas o vejo próximo do platô de crescimento. Entre
outros fatores, o mercado vai esbarrar na escassez de terras
para instalação de parques, principalmente no Nordeste.”
MATHIAS MARTINS JUNIOR

25
CONCLUSÃO: PERSPECTIVAS E FUTURO

www.mobilindustrial.com.br

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