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AUTOR
BELO HORIZONTE
2009
Catalogação na fonte – Biblioteca do Centro Universitário Newton Paiva
BANCA JULGADORA
___________________________________________
1º Titular
________________________________________
2º Titular
1
- SUANNES, Adauto. Os Fundamentos Éticos do Devido Processo Penal. São Paulo: RT, 1999, pág.
33.
A justiça existe, é preciso que exista, quero
que exista. Vocês, juízes, têm de me ouvir.
Deixemos os astros em seu céu, ajudemo-nos
entre nós, aqui na terra, a mitigar de perto,
com um pouco de justiça humana, a injustiça
distante e impassível das estrelas2.
2
- CALAMANDREI, Piero. Eles, os Juízes, vistos por um advogado. São Paulo: Martins Afonso, 2000,
p. 16.
RESUMO
The present dissertation the analysis of the secondary effects of the penal
condemnation, inserted in the art. 91, II, b, of the penal code, as penal sanction, the loss of the
goods and values gained by the offender, with the practice of the crime, for ends of repair of
the damage. The theme was delimited, in the condemnation hypothesis for the practice of the
crime foreseen in the art. 1st of the Law 8.137/90 against the Federal Union. Analyzing the
loss of the goods and values to the light of the beginnings of the economical capacity, of the
proportionality, of the reasonable, of the causeless enrichment and of the social function of
the feather and, once recognized that those goods were acquired with the practice of the
criminal fact, and declared your loss in condemnatory penal sentence in favor of the Union,
several question appear, among other, if it is possible to compensate the value of the
confiscation in the ambit of the administrative sphere and, consequently, if the non
compensation would incur in abuse and deviation of power of the Union. More question
appear, in the sense of knowing the compensation of the confiscation can work as fact modify
or extinction of the right of the Union to demand the tributary credit in the exact ones we have
of the art. 326 of CPC c/c §1st, of the art. 45, of CP, well like this, as cause of extinction of
the punishment. It will be investigated, still: if it is possible accumulate the sanction of loss of
goods and values with the private feather of the freedom after the introduction of the Law
9.714/98 that altered the art. 43, II, of the penal code. It will be discovered, still: if the loss of
goods and values are the own restrictive feather of rights or it is mere secondary effect of the
penal condemnation. The effects of the private feather of freedom will be analyzed, the prison
system, the objectives of the Rules of Tokyo and the need of alternative solutions to the
prison, seeking to the reduction of the number of recluse and the criminals' social to reinsert
and the survival of the family as base of the society.
Key-words: Loss of Goods and Values, causeless Enrichment of the Union, Secondary
Effects of the Penal Condemnation, I Confiscate, Beginning’s of the Economical Capacity, of
the Proportionality and of Reasonable, of the causeless Enrichment, of the Social Function of
the Feather. Feather of loss and Confiscation. The Rules of Tokyo.
LISTA DE ABREVIATURAS
ac. – acórdão
Ap – Apelação
art. – artigo
CPC – Código de Processo Civil
c/c – combinado com
CC – Código Civil
CF – Constituição Federal
cf. - conforme
DJE – Diário Oficial da Justiça do Estado
DJU – Diário Oficial da Justiça da União
DL – decreto-lei
DOE – Diário Oficial do Estado
DOU – Diário Oficial da União
ed. – edição
EC – Emenda Constitucional
LJE – Lei dos juizados Especiais estaduais (L 9099/95)
LR – Lei dos Recursos (L 8038/90)
PEC –Projeto de Emenda Constitucional
PL – Projeto de Lei
RE – recurso extraordinário
REsp – recurso especial
RISTF – Regimento Interno do Superior Tribunal de Justiça
STF – Supremo Tribunal Federal
STJ – Superior Tribunal de Justiça
TJ – Tribunal de Justiça
trad. – tradutor
TRF – Tribunal Regional Federal
Ujur – uniformização da jurisprudência
Un. – unânime
v.u. – votação unânime
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO........................................................................................15
1. TEMA 16
1.1 PROBLEMA 16
1.2 Objetivo geral 18
1.3 Objetivos específicos 18
1.4 JUSTIFICATIVA 18
1.5 HIPÓTESES 19
1.6 METODOLOGIA 20
1.7 MARCO TEÓRICO 20
8 REGRAS DE TÓQUIO...........................................................................51
11 CONCLUSÃO..........................................................................................80
REFERÊNCIAS............................................................................................................
15
86
INTRODUÇÃO
3
- Brasil. STF. HC 70.355/MG. 2a T. Min. Rel. Néri da Silveira, julgado em 29.06.93.
4
- REALE, Miguel Júnior. Despenalização no Direito Penal Econômico Terceira Via Entre o Crime e a
Infração Administrativa, IBCCRIM.
18
CAPÍTULO I
1. Tema
Os efeitos secundários da condenação penal e o enriquecimento sem causa da
União – aqui delimitada à órbita dos Crimes Contra a Ordem Tributária - podem contribuir
efetivamente na defesa dos cidadãos submetidos à ação penal, proporcionando, assim, impedir
uma ruptura paradigmática entre o crédito tributário da Fazenda Pública derivado de fato
gerador de ato ilícito e o valor recebido em virtude do confisco, decorrente da condenação
penal, para fins de reparação do dano à União.
1.1. Problema
As conquistas recentes no campo do Direito Constitucional fizeram com que seja
possível relativizar o conhecimento cientifico e delimitar o objeto de estudo relacionado entre
os direitos penal, administrativo e tributário, conciliando os institutos e, não isoladamente. Tal
afirmação pode ser comprovada pela decisão do Supremo Tribunal Federal no HC n º 81.611-
SP: os delitos previstos no art. 1º da Lei 8.137/90, somente existem, após o exaurimento do
processo administrativo fiscal; precisa, necessariamente, que a autoridade administrativa
constitua o crédito tributário devido, para que sejam implementadas as condições dos seus
elementos penais.
O problema aqui estudado situa-se nesse âmbito, e repousa na literalidade do art.
91, II, “b” do Código Penal, ou seja, a possibilidade de o crédito tributário persistir exigível
pela Fazenda Pública, mesmo quando comprovadamente tenha se dado o confisco de bens ou
valores igual ou superior a obrigação tributária, trazendo como conseqüência a
impossibilidade econômica do cumprimento da prestação. Tal problema é relevante, não só
porque tem deixado de lado a observação aos princípios do enriquecimento sem causa, da
perda da capacidade contributiva e da proporcionalidade da pena, mas principalmente, porque
viola a função social da pena.
Para bem compreender essa questão, sugere-se a análise interdisciplinar dos
direitos penal, administrativo e tributário – através dos princípios constitucionais – como
fatores fundamentais para a observância da função social da pena, porque o confisco de bens
de igual valor ou superior a exigência tributária, deveria impedir o prosseguimento da
execução fiscal, sobretudo quando ocorrer a inexistência de bens no patrimônio do
devedor/condenado. Nesse sentido, a eficácia do direito constitucional, a partir dos princípios
19
1.4. Justificativa
Justifica-se a presente pesquisa pelos seus valores teórico, social e jurídico,
imprescindíveis ao conteúdo de um trabalho científico na seara do Direito Penal, eis que se
vive uma época de grandes transformações, onde a sociedade brasileira depara-se com os
crimes contra a ordem tributária, fazendo com que a comunidade jurídica, se posicione não só
21
para evitar os prejuízos do Estado, mas principalmente para evitar os danos irreparáveis ao
condenado e fazer valer a função social da condenação penal.
O tema escolhido – Os efeitos secundários da condenação penal e o
enriquecimento sem causa da União – justifica-se teoricamente por versar sobre novos
direitos, que ainda não foram suficientemente abordados pela doutrina e jurisprudência,
implicando em polêmicas que aqui são colocadas em debate, bem como porque a partir do
conhecimento e da compreensão do significado dos princípios da capacidade econômica, da
proporcionalidade, da razoabilidade, do enriquecimento sem causa, da função social da pena e
dos efeitos produzidos pelos mesmos no ordenamento jurídico pátrio, poder-se-á avistar se
eles, verdadeiramente, limitam o poder do Estado, assegurando os direitos e garantias
fundamentais do cidadão contra possíveis abusos e desvio de poder, na atuação judicial, no
exercício dos efeitos secundários da condenação penal.
O confisco, como efeito secundário da condenação penal, nos crimes contra a
ordem tributária, é assunto ainda pouco explorado, pela doutrina pátria e estrangeira; e,
quando se penetra no problema da efetividade dos princípios da capacidade contributiva, da
proporcionalidade e do enriquecimento sem causa, o campo de pesquisa reduz-se ainda mais.
As pouquíssimas doutrinas específicas sobre o assunto e a forma habitual com
que o tema tem sido tratado nas condenações penais, apesar da importância dos princípios
para limitar o poder do Estado, demonstram a razão da escolha do tema, para que o preceito
legal não continue sendo tratado como simples efeito secundário da condenação penal.
1.5. Hipóteses
Em decorrência da realidade anteriormente apresentada, a possibilidade que se
pretende indicar para responder ao problema aqui proposto situa-se na interdisciplinaridade do
direito penal, administrativo e tributário e não isoladamente, tendo como instrumento
essencial a efetivação da função social da condenação penal.
Desse modo, vislumbra-se, neste trabalho, estudar a interdisciplinaridade do
direito penal, administrativo e tributário como um todo e como novo paradigma para a
solução dos crimes contra a ordem tributária, buscando, a partir da integração dos princípios
da perda da capacidade econômica, do enriquecimento sem causa do Estado, da
proporcionalidade, da razoabilidade e da função social da pena, construir um freio
teoricamente efetivo, frente ao Poder da União, nas condenações penais, vez que, sob a
justificativa da independência das esferas penal, administrativa e tributária, sem dúvida, pelo
22
1.6. Metodologia
O presente trabalho terá como método a analogia e a síntese, posto que o que se
pretende é analisar os institutos jurídicos análogos, bem como, combinar as afirmações e
dúvidas em novas noções, restando o que elas têm de legítimo para construir o saber, travando
uma discussão crítica em torno do tema.
Relativamente ao procedimento de pesquisa adotado, poderá ser abordado sob três
pontos de vista. Quanto à natureza da pesquisa, está será básica, visto que objetiva gerar
conhecimentos novos, úteis para os operadores do Direito. Por outro lado, do ângulo de seus
objetivos, a pesquisa será essencialmente exploratória, sendo que, do ponto de vista de seu
objeto, deverá ser qualitativa, utilizando-se de pesquisa bibliográfica e documental, tendo em
vista o caráter preponderantemente teórico do estudo, possuindo como fontes privilegiadas, a
doutrina, a jurisprudência e as normatizações nacionais e internacionais existentes.
CAPÍTULO II
5
- REALE, Miguel Júnior. Despenalização no Direito Penal Econômico: Uma Terceira via entre o Crime
e a Infração. Ciências Criminais. Volume28, páginas 123/124, Outubro/Dezembro, 1999.
23
Pois bem. Como efeito secundário da condenação penal o agente tem a obrigação
de indenizar os prejuízos causados a União pelo crime consistente na supressão ou a redução
do tributo (art. 91, II, “b” do CP), in verbis:
6
- Brasil. STJ. REsp 927.321/DF, Min. Rel. Felix Fischer, julgado em 30.08.2007.
25
CAPÍTULO III
26
7
- CANOTILHO, J. J. Gomes. Direito constitucional e teoria da constituição. 4. ed. Coimbra: Almedina,
2000. Página 1124-1125.
27
valor de cada qual, pois declarou que compete exclusivamente à administração dizer,
primeiro, se o tributo é devido, depois, então, autorizar o Parquet iniciar a persecução penal,
distinguindo que um dos princípios merece ser mais considerado nos crimes do art. 1º da Lei
8.137/90, não significando dizer, que em outra situação não se possa entender de modo
diverso, nos crimes formais ou de mera conduta, em que não se requer esgotar a esfera
administrativa para dar início a ação penal, porque não exigem resultado.
Com isso, o STF vem demonstrando que os princípios nem sempre podem ser
aplicados simultaneamente, porque às vezes eles podem tornar-se antagônicos e de difícil
compatibilidade, mas sim que devem conviver de forma harmônica.
Desta forma, é necessário para compatibilizar o exercício dos princípios o
sacrifício momentâneo de um em beneficio do outro, levando em conta o peso e a relevância
de cada um deles, adequando-os um ao outro, com o mínimo de restrição e, tendo como norte
a essência dos direitos constitucionais envolvidos na questão, sob pena da decisão se tornar
ilegítima, inconstitucional e injusta.
A decisão deverá, pois, revestir de elementos harmonizadores entre os princípios
tencionados, evitando a eliminação de um em prol do outro princípio colidente, verificando os
seus traços mais marcantes e sopesando proporcionalmente e racionalmente, os valores em
jogo na busca da solução que melhor recomenda os direitos lesados ou ameaçados. Com isso,
o julgador formulará a solução mais adequada ao caso concreto, manterá a integridade do
ordenamento jurídico e garantirá os direitos fundamentais, eis que observará as normas
especificas.
Já as regras não possuem tais dimensões, porque se o conflito ocorrer só irá
prevalecer apenas uma delas em virtude de seu peso maior. Sim, as regras, no mundo da
normatividade jurídica, são partidárias do tudo ou nada, enquanto os princípios se
contemporizam, podem ser contrapostos sem se excluírem mutuamente. Por isso se diz o
conflito entre normas de antinomia jurídica própria, e entre princípios, imprópria.
CAPÍTULO IV
4. Confisco e Pena de Perdimento no Direito Tributário
30
Sendo assim, não há como forçar uma distinção entre perdimento de bens e
confisco, pois o primeiro é espécie do segundo, que é gênero.
Cumpre observar que a legislação pátria não admite a incidência tributária sobre
bens que tenham sido objeto de pena de perdimento, conforme disposto no art. 85 do Decreto
nº 91.030/85:
Diante do que foi exposto até aqui, parece plenamente justificada a assertiva
constante no art. 85 do Decreto nº 91.030/85 de que, não incide imposto quando a autoridade
fiscal impõe pena de perdimento, tendo em vista que o confisco adentra ao campo da pena de
privação própria, em face do cometimento de ato ilegal, que é punido através da tomada de
seu patrimônio, conforme disposto no inc. II do art. 43 do CP.
A jurisprudência pátria vem reconhecendo a impossibilidade de se cumular a
perda dos bens com a cobrança de tributos:
Da mesma forma, se o Juiz impõe ao réu o confisco, como ocorre com os efeitos
secundários da condenação penal (art. 91, II, “b”, do CP), o tributo só será devido, naquele
quantum não alcançado pelo confisco. Se assim não fosse, o sujeito que praticasse o
descaminho (art. 334, CP - ilícito penal tributário), restaria beneficiado – uma vez que nessa
hipótese ocorreria apenas a incidência da pena de perdimento sobre os bens –, enquanto, para
o sujeito que praticasse os ilícitos previstos no art. 1º da Lei 8.137/90, dar-se-ia tratamento
exacerbado, pois, além da aplicação do confisco, seriam cobrados os tributos de um beneficio
que nunca existiu, na medida em que o proveito obtido pelo agente foi perdido em favor da
União, sendo que ambos os crimes, tem como fim iludir, no todo ou em parte o pagamento de
tributo, o que implicaria violação aos princípios da razoabilidade e da proporcionalidade.
Por outro lado, confisco está ligado à sanção (pena) por ato ilícito. O tributo limita
a propriedade e, se justifica, para a própria garantia do direito de propriedade, ao passo que o
confisco subtrai e aniquila a propriedade.
Contudo, os dois institutos se aproximam quando se aplica a regra do art. 91 do
CP, tendo em vista a obrigação do infrator de indenizar o dano causado pela sonegação fiscal,
através da perda em favor da União, do produto do crime ou de qualquer bem ou valor, que
constitua proveito auferido com a prática do fato criminoso.
O crime descrito no art. 1º da Lei 8.137/90 exige a supressão ou redução de
tributo na qual se opera com a produção do resultado, como fato natural do tipo penal, na
esfera da realidade do infrator. Esse acréscimo ilícito no seu patrimônio, que autoriza o
confisco, se realiza pela afetação do bem jurídico tutelado pela norma, isto é, pelo dano
propriamente dito que sofre a União pelo não recolhimento do tributo.
O resultado dano causado pelo crime previsto no art. 1º da Lei 8.137/90 é a
exigência de supressão ou redução do tributo com real prejuízo a União. A ação do infrator
consiste em sonegar o crédito tributário devido a União. Deixa de recolher aos cofres públicos
o tributo para ficar para si. O dano a União é real e necessário para que o tipo penal seja
incrementado nas hipóteses do art. 1º que contemplam resultado de dano. As ações somente
são puníveis se tiver ocorrido o efetivo prejuízo a União através da supressão ou da redução
de tributo. Do contrário, não se poderá cogitar dano ao erário.
Realizada a ação criminosa para encobrir a obrigação tributária, emerge o
interesse estatal na persecutio criminis e o dever de o infrator indenizar o dano causado.
Assim, por exemplo, se inserido elemento inexato em livro exigido pela lei fiscal,
mas disso não resultou supressão ou redução de tributo, não poderá falar-se em confisco,
porque o crime não se consumou, pois não houve dano a União. Isto porque, ainda não estarão
preenchidos todos os elementos da definição legal. Teria se realizado o núcleo do
complemento, porém não o núcleo principal do tipo, porque depende da criação da obrigação
tributária e do conseqüente dever de reparar o dano (pagar o tributo) que passa a ter o infrator.
Esse dano foi que justificou a regra do art. 91 do CP e neutralizaria o processo
criminal, caso a esfera administrativa, eventualmente, anule o lançamento fiscal, pois
influenciará no juízo penal, eis que o dano não ocorreu, porque a obrigação tributária não
aconteceu consubstanciada na supressão ou redução de tributo, situação condicionada à
existência do dano pela obrigação tributária devida.
35
Revela destacar que, se houver fraude, mas se dessa fraude o fato não gerar dano,
é porque não teve condição de gerar uma obrigação tributária. Logo, impossível falar-se em
confisco perda de bens ou valores em favor da União.
A essa altura, caberia indagar: por que não se pode compensar o crédito da União
se os bens ou valores foram perdidos em face da obrigação do infrator em indenizar o dano
causado pelo crime descrito no art. 1º da Lei 8.137/90?
Portanto, mesmo tendo natureza distinta o crédito tributário (fato gerador da
obrigação tributária) e o confisco (sanção pelo ato ilícito praticado) como efeito secundário da
condenação penal, ainda assim, não altera o direito de compensá-los, porque para existir
confisco houve primeiro dano a União consistente na redução ou supressão de tributo.
Não se trata, portanto de vedar o confisco, mas de evitar o enriquecimento sem
causa da União e punição excessiva ao infrator. Penalização injusta, frise-se, quando não
compensado o crédito tributário pelo confisco, porque a perda de bens e valores foi confiscada
ao final pelo não recolhimento do tributo devido.
Evidentemente, alguém objetará que mesmo essa circunstância não impedirá o
confisco acrescido da cobrança do tributo ao argumento de naturezas diversas. Creio, porém,
que essa afirmação incidirá em erro jurídico. Trata-se de silogismo simplista, com todas as
vênias possíveis, o argumento é muito pobre, inclusive, porque viola o espírito do legislador
ao inserir a regra do art. 91 do CP, que foi tornar certa a obrigação de indenizar o dano
causado pelo crime.
Não obstante essas considerações, MIZABEL DERZI9 esclarece com base em
outros fundamentos, por outro ponto de vista, que não pode ocorrer o confisco e a obrigação
tributaria, com base no mesmo fato gerador, porque um elimina o outro:
9
- DERZI, Mizabel. Crimes Contra a Ordem Tributária. São Paulo: IOB, 2002, pág. 81 a 96.
36
“já vimos que são nulos os atos jurídicos, por expressa disposição
do art. 145, II, do CC quando for ilícito ou impossível seu objeto.
Isso é irrelevante para o CTN. Pouco importa, para a sobrevivência
da tributação sobre determinado ato jurídico, a circunstância de ser
ilegal, imoral, ou contrário aos bons costumes, ou mesmo
criminoso o seu objeto, como o jogo proibido, a prostituição, o
lenocínio, a corrupção, a usura, o curandeirismo, o câmbio negro,
etc”.
Ora, de longa data, entre nós, as leis prevêem o destino dos bens de
origem criminosa. O Código Penal disciplina a matéria, o decreto-Lei
nº 9.760, de 05 de setembro de 1946, diz incluírem-se entre os bens
da União, “os bens perdidos pelo criminoso condenado por sentença
proferida em processo judiciário federal” (art. 1º, k). O Código de
Processo Penal (Decreto-Lei nº 3689/41) determina o seqüestro de
bens imóveis ou móveis (sendo o caso, busca e apreensão) adquiridos
pelo indiciado com os proventos do crime. O perdimento daqueles
bens, produto da infração, é assim a regra. Antes e depois da Lei nº
9.613/98, o correto é concluir que, estando comprovado o crime do
qual se originaram os recursos ou o acréscimo patrimonial, seguir-se-
á a apreensão ou o seqüestro dos bens, fruto da infração.
Coerentemente, a Lei nº 9.613/98, que coíbe a prática dos crimes de
lavagem de dinheiro, disciplinou, renovando em alguns aspectos, as
normas processuais pertinentes e determinou, como efeitos da
condenação, a perda dos bens, direitos e valores, objeto do crime,
assim como a interdição do exercício de cargo ou função pública de
qualquer natureza (art. 7º, I e II).
CAPÍTULO V
5. Abuso e Desvio de Poder
45
Mutatis mutandi, tendo em vista que a sentença penal condenatória tem natureza
de título executivo, permitindo ao ofendido reclamar a indenização no juízo cível, sem que o
condenado possa discutir a existência do crime ou a sua responsabilidade, bem como deduzir
o valor pago na esfera penal, também deve ter natureza de recibo o confisco das condenações
penais nos crimes contra a ordem tributária, permitindo ao infrator compensá-lo na
administração ou no juízo cível onde tramita a execução fiscal o valor do confisco, tendo em
vista a unidade do ilícito, e as suas diferentes esferas de repercussão.
Pois bem. Não está se sustentando que a regra do art. 91 do CP seja
inconstitucional, mas sim, que quando ela entrou em vigor em 1940, ainda não existiam as
previsões expressas nos arts. 44, 43, II, e §1º, 45, todos do CP, que só ocorreram em 1998.
Logo, mostra-se evidente abuso de poder e desvio de finalidade a não dedução do confisco,
46
porque se a regra do art. 91 do CP, visa impedir que os bens e valores do crime enriqueçam o
patrimônio do infrator, também não deve enriquecer o patrimônio da União
injustificadamente. Assim, constitui desvio de finalidade e abuso de poder a não compensação
do confisco, porque a perda se deu para garantir a reparação do dano causado pelo crime.
Destarte, é medida desumana e injusta, a União ficar com o produto do crime e ao
mesmo tempo não compensar os valores recebidos a título de indenização pela supressão ou
redução de tributo causado pelo crime, considerando, que o mesmo crédito tributário que
embasou a condenação penal, é o mesmo que foi suprimido ou reduzido; é o mesmo que
fundamentou o confisco; e, é o mesmo que embasou a Certidão da Dívida Ativa, pois
constituem um único proveito auferido pelo agente com a prática do mesmo fato criminoso.
Assim, embora o crédito tributário tenha natureza jurídica distinta do confisco,
não compensá-lo, implica em evidente violação aos princípios da proporcionalidade, da
razoabilidade, da capacidade econômica, do enriquecimento sem causa e da função social da
pena, além de incorrer o Estado em manifesto abuso e desvio de poder, já que o confisco não
pode servir para suprir a crescente falta de verba do Estado.
O abuso aqui é cometido pelo Poder Judiciário e não pelo Poder Legislativo ou
Executivo que não está interpretando corretamente os limites e as balizas do art. 91 do CP, em
face da alteração do Código Penal introduzida pela Lei 9.714, de 25/11/1998.
CAPÍTULO VI
6. Mutação na Interpretação das Leis
47
Leis há, sem dúvida, que durante todo o período de sua vigência,
sofrem pequenas alterações semânticas, mantendo quase intocável a
sua conotação originária. Isso ocorre quando não se verifica mudança
de relevo na tábua dos valores sociais, nem inovações de monta no
concernente aos suportes fáticos.
Muitas e muitas vezes, porém, as palavras das leis conservam-se
imutáveis, mas a sua acepção sofre um processo de erosão ou, ao
contrário, de enriquecimento, em virtude da interferência de fatores
diversos que vêm amoldar a letra da lei a um novo espírito, a uma
imprevista ratio júris. Tais alterações na semântica normativa podem
resultar:
a) do impacto de valoração novas, ou de mutações imprevistas na
hierarquia dos valores dominantes;
b) da superveniência de fatos que venham modificar para mais ou para
menos os dados da incidência normativa;
c) da intercorrência de outras normas, que não revogam propriamente
uma regra em vigor, mas interferem no seu campo ou linha de
interpretação; (...).
10
- REALE, Miguel. Filosofia do Direito, 9ª. Ed., São Paulo: Saraiva, 1982, p. 563-564.
48
11
- BRASIL. STF. Inq. AgR 2.537-2/GO. Pleno. Min. Rel. Marco Aurélio, julgado em 10.03.2008, DJE
12.06.2008.
49
12
- BRASIL. STJ. HC 82.397/RJ. 6. Turma. Min. Rel. Hamilton Carvalhido, julgado em 25.09.07, DJe
19.05.08.
50
CAPÍTULO VII
7. Evolução Histórica da Pena no Brasil
51
13
- DOTTI, René Ariel. Bases e alternativas para o sistema de penas. 2.ed. São Paulo: RT, 1.998, p. 44.
52
conclusão que as penas extremamente severas, não eram suficientes para reduzir os delitos – o
sistema de “vingança institucionalizada” não produzia os efeitos desejados.
Isso vem sendo discutido desde épocas mais remotas, como evidencia
MONTESQUIEU14 em sua singular obra, “O Espírito das Leis”:
CAPÍTULO VIII
8. Regras de Tóquio Sobre as Penas e Medidas Alternativas
desrespeito pelos direitos humanos constitui atos bárbaros e que os direitos humanos devem
ser protegidos pelo Estado, para que o homem não seja compelido à opressão. Veja-se:
(...)
Considerando que o desprezo e o desrespeito pelos direitos
humanos resultaram em atos bárbaros que ultrajaram a
consciência da Humanidade e que o advento de um mundo em
que os homens gozem de liberdade de palavra, de crença e da
liberdade de viverem a salvo do temor e da necessidade foi
proclamado como a mais alta aspiração do homem comum,
Considerando essencial que os direitos humanos sejam
protegidos pelo Estado de Direito, para que o homem não seja
compelido, como último recurso, à rebelião contra tirania e a
opressão,
(...)
Assim, foi que surgiram as Regras Mínimas das Nações Unidas sobre as Medidas
Não-privativas de Liberdade, como resposta a Escola Clássica que vê o delito como uma
ofensa ao Estado, punindo com pena rigorosa, visando retribuir ao infrator o mal por ele
praticado, além de inibir a ocorrência de novos delitos, sem qualquer caráter de
ressocialização.
Considerando que a pena-prisão constitui punição desumana, eis que degradante,
cruel e torturante, surgiram as penas restritivas de direito como medidas alternativas à prisão,
inclusive para evitar os abusos e arbitrariedades que sempre ensejaram a prisão para aqueles
casos de pequena e média criminalidade.
A Assembléia Geral das Nações Unidas expediu a Resolução 45/110, aprovada
em 14/12/90 na 68.ª sessão plenária, adotando as Regras de Tóquio que estabelecem em
síntese, a necessidade de soluções alternativas à prisão, visando à redução do número de
reclusos e a reinserção social dos delinqüentes, e no item 4., solicita aos Estados membros, na
qual o Brasil faz parte, que apliquem as Regras de Tóquio e dê especial publicidade a elas
levando-as ao conhecimento dos responsáveis pelas suas aplicações, inclusive “do Ministério
Público, dos Juízes, dos funcionários encarregados de controlar a liberdade condicional, dos
advogados, das vítimas, dos delinqüentes, dos serviços sociais e das organizações
governamentais que participam na aplicação das medidas não privativas de liberdade, e dos
representantes do poder executivo e do corpo legislativo assim como da população”, nos
seguintes termos:
54
I - PRINCÍPIOS GERAIS
1. Objetivos fundamentais
3. Garantias jurídicas
4. Cláusula de proteção
II - ANTES DO PROCESSO
6.1. A prisão preventiva deve ser uma medida de último recurso nos
procedimentos penais, tendo devidamente em conta o inquérito sobre
a presumível infração e a proteção da sociedade e da vítima.
8. Penas
10. Vigilância
62
VI - PESSOAL
15. Recrutamento
16.1. A formação visa fazer com que o pessoal tome consciência das
suas responsabilidades em matéria de reinserção dos delinqüentes, da
proteção dos direitos dos delinqüentes e da proteção da sociedade.
Deve igualmente sensibilizá-lo para a necessidade de uma cooperação
e de uma coordenação das atividades com outros órgãos competentes.
19. Voluntários
Como se vê, existe expressa solicitação e determinação das Nações Unidas aos
Estados Membros no item 4. “a levarem as Regras de Tóquio à atenção, especialmente dos
responsáveis pela aplicação das leis”, no entanto, não são divulgadas e quase nada aplicadas
no nosso ordenamento jurídico.
Embora no item 17.1. as Regras de Tóquio determinem o encorajamento e a
participação da coletividade, porque constitui um recurso capital e um dos meios mais
importantes de reforçar laços entre os delinqüentes submetidos as medidas não privativas de
liberdade e as suas famílias e a comunidade, contudo, até hoje não mereceram atenção
especial, seja pelos responsáveis pela divulgação, seja pelos responsáveis pela aplicação,
sobretudo, quando considera a participação da coletividade “como uma oportunidade para os
seus membros de contribuírem para a proteção da sua sociedade”.
Isso, entretanto, não nos faz desatentos, ao fato de que consta expressamente no
item 14.4., que: “em caso de modificação ou de revogação da medida não privativa de
liberdade, a autoridade competente esforça-se por encontrar uma solução de substituição
adequada. Uma pena privativa de liberdade só pode ser pronunciada se não existirem outras
medidas adequadas”. Contudo, temos visto na jurisprudência pátria a imediata conversão em
pena privativa de liberdade pelo descumprimento da pena restritiva de direitos.
Assim, as autoridades competentes e os operadores do Direito Penal têm à sua
disposição uma vasta gama de medidas para evitar a prisão, reduzir o número de reclusos e
ajudar o delinqüente a se reinserir rapidamente na sociedade.
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Com efeito, não há como negar que as Regras de Tóquio apresentam forças
jurídicas obrigatórias por integrarem o direito costumeiro internacional e os princípios gerais
do direito. Aliás, para a ONU, se a Declaração Universal dos Direitos Humanos não era,
originalmente, compulsória, hoje tem força de jus cogens, ou seja, é um direito “que obriga”,
que se impõe objetivamente aos Estados por integrar o direito costumeiro internacional. Logo,
as Regras de Tóquio possuem imperatividade de caráter especial, diante de sua solenidade e
universalidade.
Tal circunstância, todavia, não vem merecendo a necessária importância das
autoridades públicas brasileiras, muito embora seu conteúdo tenha originado as penas
alternativas e diversos tratados internacionais sobre direitos humanos; conjunto de regras de
ordem pública impositiva e vinculante aos Estados-membros no sentido de que todos devem
envidar esforços para introduzi-las no direito interno.
Ademais, a natureza das obrigações de proteção aos direitos humanos consagra o
indivíduo como principal preocupação da responsabilidade internacional por violação dos
direitos humanos. Daí, a prerrogativa de buscar a tutela junto a ONU pelo descumprimento
das Regras de Tóquio, inclusive com imposição de sanções ao Estado.
Deste modo, qualquer pessoa do povo pode exigir junto a ONU a
responsabilidade do Brasil para que cumpra as Regras de Tóquio tendo em vista que a
jurisprudência internacional considera a responsabilidade do Estado como sendo um princípio
69
geral do Direito Internacional. Mas, o que importa aqui, é ressaltar que as Regras de Tóquio
impõem um equilíbrio (1.4, 3.2, 5.1, etc.) entre os interesses do infrator (ressocialização), da
vítima (reparação do dano) e da comunidade na prevenção e segurança jurídica, promovendo
a utilização de medidas destinadas a reduzir o delito e a reinserção do infrator na sociedade,
conforme consta expressamente no item 8.1., in verbis:
Conclui-se, pois, que não poderá mais haver pena de prisão para os crimes de
pequena e média criminalidade (como nos crimes contra a ordem tributária - sem violência),
porque as Regras de Tóquio exigem a redução das penas de prisão e o número de reclusos no
item 8.2., “c”, “d”, “e” e “f”, bem como porque a perda de bens e valores constitui a própria
pena privativa de direito, por força do art. 43, II, do Código Penal, não podendo coexistir
cumulativamente com a pena privativa de liberdade, conforme se passa a demonstrar.
CAPÍTULO IX
9. Caráter Autônomo e Substitutivo das Penas Restritivas de Direito
Pois bem. O que interessa aqui, nesse tópico, é demonstrar que a pena restritiva de
direito é autônoma e substitui a pena privativa de liberdade, como explicita o art. 44 do
Código Penal. O conceito de autonomia, no referido dispositivo legal, diz respeito ao fato de
que a pena restritiva de direito, por si só, já satisfaz o cumprimento da pena privativa de
liberdade. A pena restritiva de direito não pode coexistir com a pena privativa de liberdade, ou
se aplica uma, ou se aplica outra, jamais as duas cumulativamente.
Celso Delmanto15 leciona que: “dentro desse contexto, foram imaginadas as penas
restritivas de direitos: sanções autônomas, que substituíssem as penas privativas de liberdade
(reclusão, detenção ou prisão) por certas restrições ou obrigações, quando preenchidos as
condições legais para a substituição”.
Nesse sentido, é o posicionamento de Ruy Rosado de Aguiar Júnior 16, nos
seguintes termos:
Desta forma, não encontra apoio legal, a cumulação da perda de bens e valores
com a pena privativa de liberdade, ainda que seja ao argumento de efeitos secundários da
condenação penal, porque a regra do art. 44 do CP, estabelece que as penas restritivas de
direitos sejam sempre autônomas, não podendo coexistir com a pena privativa de liberdade.
CAPÍTULO X
10. Princípio do Enriquecimento sem Causa
18
- GARCÍA DE ENTERRIA, Eduardo; RAMÓN FERNÁNDEZ, Tomás. Curso de Derecho
Administrativo. 3.ed., vol. I. Madrid: Civitas, 1981, p. 400.
19
- MELLO, Celso Antônio Bandeira. O Princípio do Enriquecimento Sem Causa em Direito
Administrativo. Revista Eletrônica de Direito Administrativo Econômico, Salvador, Instituto de Direito
Público da Bahia, n.º 5, fev./mar./abril de 2006, p. 5.
76
direito e nem substituem a pena privativa de liberdade. Aliás, ninguém cogitaria de impor o
confisco, senão pelos efeitos que produz ou que poderia produzir.
Ademais, cumpre ressaltar que não se trata de erro na aplicação da regra do art.
91, II, “b”, do CP, por parte do juiz, pois é constitucional, mas o recebimento de verba pelos
efeitos secundários da condenação penal, ao argumento de tornar certa a obrigação de
indenizar o dano causado a União pelo crime, a qual não poderia locupletar-se, sem
compensar os créditos tributários exigidos pela Administração, seja porque tais créditos
fundamentam a condenação penal, seja porque tais créditos são os próprios danos causados
pelo crime do art. 1º da Lei 8.137/90.
Nesse sentido, leciona Ruy Rosado de Aguiar Júnior20, que a pena substitutiva de
prestação pecuniária tem natureza indenizatória pelo dano causado pelo crime, in verbis:
20
- ROSADO DE AGUIAR, Ruy Júnior. Revista Síntese de Direito Penal e Processual Penal nº 03 -
AGO-SET/2000, pág. 24.
77
Art. 202. Os tributos terão caráter pessoal sempre que isso for
possível, e serão graduados conforme a capacidade econômica do
contribuinte.
21
- MACHADO, Hugo de Brito. Curso de direito tributário. 26. ed., São Paulo: Malheiros, 2005, p. 146.
78
Destarte, se o agente perde os bens e valores que foram auferidos com a prática do
fato criminoso por deixar de repassar o tributo devido a União, não poderá ser intitulado
contribuinte, porque não mais possui a riqueza resultante do crime praticado, em virtude do
confisco, que ocasionou a perda da capacidade econômica. Daí, ainda deriva o direito do
condenado de compensar o crédito tributário, dos valores já percebidos pela União por meio
do confisco, porque a perda de bens e valores irradia seus efeitos também à capacidade
econômica do infrator.
pela reprovação do crime; a bagatela por revelar desnecessária a pena, embora relevante o
fato, mas insignificantes as conseqüências, sendo excessiva e desnecessária a pena.
Desse modo, é que a pena de prisão vem perdendo a sua indistinta e genérica
aplicação, aproveitando, apenas, aos casos excepcionais, como uma excelente providência de
política criminal para evitar que o infrator sem periculosidade, no cárcere, venha ser mais um
especialista na faculdade do crime, tendo em vista que o nosso sistema carcerário é muito
bonito somente no papel. Na prática é um desastre!
Dessa forma, é necessário verificar se a pena tem cumprindo a sua função social,
garantindo a sua eficácia e relevância, tendo como norte o fim que se destina o Direito Penal,
que é a proteção e o equilíbrio da sociedade através da defesa dos bens jurídicos relevantes,
superando o costume da privação da liberdade como solução genérica dos problemas da
sociedade, pois a pena suficiente e necessária passa pelo crivo da racionalidade.
Assim, impõe-se, atualmente, um novo raciocínio jurídico das penas, raciocínio
esse que atenda aos anseios constitucionais sobre a aplicação da pena, que atenda a sua função
social, isto é, que seja capaz de devolver a sociedade o condenado em condição melhor do que
quando ele entrou no sistema carcerário. As penas restritivas de direitos vêm atendendo essa
função social, eis que tem alcançado redução maior de reincidência que as penas privativas de
liberdade.
Portanto, o juiz tem o dever constitucional de aplicar penas que realmente atenda
a função social, inclusive, no lugar de prestação de serviço à comunidade ou a entidades
públicas, deveria ministrar cursos de valores éticos de cidadania e profissionalizantes,
inserindo o infrator no mercado de trabalho, com inclusão da função social na sua família,
pois não se pode esquecer que a família é a base da sociedade e que todo infrator, de alguma
forma, teve a sua origem em uma família, reintroduzindo em sua origem as idéias e os valores
sociais do trabalho e da livre iniciativa de todos os cidadãos.
Destarte, as penas necessitam passar pelo crivo da racionalidade contemporânea,
impedindo que o condenado se torne um instrumento de revolta, violência e represália, pois só
assim o Direito Penal poderá cumprir a sua função preventiva e socializadora. Este novo
modelo racional de Política Criminal é o que se defende para o nosso país.
Por conseguinte, a pena eficaz é aquela adaptada as circunstâncias de modo,
tempo e lugar, e aos avanços e dificuldades da sociedade, prevenindo e socializando o
infrator, pois toda pena exacerbada, é desnecessária, desumana e tirânica.
81
CAPÍTULO XI
11. Conclusão
naquela época o confisco dispensava sua expressa declaração na sentença condenatória e, uma
vez condenado, a partir do momento em que se torna irrecorrível, incidiam os efeitos
secundários da condenação penal para fins de reparação de dano.
Em reação a Escola Clássica, surgiram as Regras de Tóquio solicitando aos
Estados-Membros a aplicação de penas alternativas à prisão, visando à redução do número de
reclusos e a reinserção social dos delinqüentes e o seu afastamento da família e da sociedade.
Em razão disso, a sociedade passou a exigir do Estado o reconhecimento a
dignidade da pessoa humana como fundamento da liberdade, para que o homem não seja
compelido à punição degradante e, foi então que no dia 5 de outubro de 1988 foi promulgada
a Constituição da República Federativa do Brasil, reconhecendo a prevalência dos direitos
humanos como princípio fundamental a reger o Brasil, limitando as punições cruéis e
torturantes e evitando os abusos e arbitrariedades que sempre ensejaram a prisão.
Assim, as mudanças drásticas e céleres de cunho social e política criminal,
passaram a exigir transformações e atualizações nas penas e no direito penal brasileiro. E,
portanto, foram essas exigências da sociedade moderna que influenciaram as Regras de
Tóquio e, por conseqüência, o Código Penal através da Lei 7.209/84 introduziu as penas
restritivas de direito e, posteriormente, a Lei 9.714/98, que alterou a redação do art. 43, II, do
CP, que passou a ser pena restritiva de direito a perda de bens e valores.
É patente que nos últimos tempos o direito penal brasileiro tem abraçado os
tratados internacionais sobre direitos humanos que apresentam forças jurídicas obrigatórias
jus cogens que impõem objetivamente aos Estados por integrarem o direito costumeiro
internacional. Assim, a dicotomia clássica do direito penal positivo vem perdendo campo,
dando lugar a novas interpretações do direito penal e da aplicação das penas, com o objetivo
de reduzir o número de reclusos, soluções alternativas à prisão e reinserção social do infrator
como a melhor maneira para a preservação da dignidade da pessoa humana.
O direito penal racional não aceita o Estado opressivo, injusto e cruel, punindo
com penas rigorosas visando apenas retribuir ao infrator o mal por ele praticado, sem qualquer
caráter de ressocialização, sobretudo, sem a preservação da dignidade da pessoa humana,
como cerne de todo o sistema jurídico penal. A tendência moderna é no sentido de que o
direito penal deve utilizar de meios eficazes para prevenir a criminalidade, o que só pode ser
alcançado melhorando o tratamento dos transgressores.
83
Todavia, como foi dito no início, este é um trabalho em curso e face limitação da
monografia e tempo, por estar cursando atualmente 9 (nove) matérias, não foi possível
esclarecer todas as indagações, mas certamente serão num futuro próximo.
88
REFERÊNCIAS
1 Livros completos:
DERZI, Mizabel. Crimes Contra a Ordem Tributária. São Paulo: IOB, 2002.
BECCARIA. Dos Delitos e das Penas. São Paulo: Hemus Editora Limitada, 1983.
NOJIRI, Sergio. A Interpretação Judicial do Direito. São Paulo: Revista dos Tribunais,
2005.
FREITAS PASSOS, Gilberto e Vladimir. Abuso de Autoridade. 7.ed São Paulo: Revista dos
Tribunais, 1997.
COSTA, Helena Regina. Princípio da Capacidade Contributiva. 3.ed São Paulo: PC, 2003.
FARIA, Eduardo José. Direito e Justiça a Função Social do Judiciário. São Paulo: Ática,
1994.
SANTIAGO, Myrian Passos. Tributação do Ilícito. Belo Horizonte: Del Rey, 2005.
SUANNES, Adauto. Os Fundamentos Éticos do Devido Processo Penal. São Paulo: Revista
dos Tribunais, 1999.
2 Partes de livros:
DOTTI, René Ariel. Bases e alternativas para o sistema de penas. 2.ed São Paulo: Revista
do Tribunais, 1.998, p. 44.
REALE, Miguel Júnior. Filosofia do Direito, 9ª. Ed., São Paulo: Saraiva, 1982, p. 563-564.
MONTESQUIEU. in "Do Espírito das Leis", Coleção Os Pensadores, Nova Cultural, 2000.
BRITO MACHADO, Hugo. Curso de Direito Tributário. São Paulo: Malheiros Editores,
24ª edição, 2004, p. 135.
DELMANTO, Celso. Código Penal Comentado, 6.ed, Rio de Janeiro: Renovar, 2002, p. 84.
89
MELLO, Celso Antônio Bandeira de. Curso de Direito Administrativo, 11. Ed, São Paulo:
Malheiros Editores, 1999.
GOMES, Luiz Flávio. Direito Penal, v. 1 e v. 2. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2007.
MIRABETE, Julio Fabbrini. Manual de Direito Penal, v. I, II e III, 19.ed. São Paulo: Atlas,
2003.
NUCCI, Guilherme de Souza. Manual de Direito Penal: parte geral: parte especial, 5.ed. São
Paulo: Revista dos Tribunais, 2009.
NUCCI, Guilherme de Souza. Leis Penais e Processuais Penais Comentada, 4.ed. São
Paulo: Revista dos Tribunais, 2009.
DINIZ, Maria Helena. Compêndio de Introdução à Ciência do Direito, 18.ed. São Paulo:
Saraiva, 2006.
MAZLOUM, Ali. Tratado Temático de Processo Penal. São Paulo: Juarez de Oliveira,
2002.
3 Artigos em periódicos:
REALE, Miguel Júnior. Despenalização no Direito Penal Econômico: Terceira Via Entre o
Crime e a Infração Administrativa? Revista Brasileira de Ciências Criminais, São Paulo:
IBCCRIM, v7, n.28, out. / dez. 1999.
ROSADO DE AGUIAR, Ruy Júnior. Revista Síntese de Direito Penal e Processual Penal,
n.03, ago. / set. 2000, p. 24.
MELLO, Celso Antônio Bandeira de. O Princípio do Enriquecimento Sem Causa em Direito
Administrativo. Revista Eletrônica de Direito Administrativo Econômico, Salvador,
Instituto de Direito Público da Bahia, n.º 5, fev./mar./abril de 2006, p. 4.
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