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USP – Universidade de São Paulo

EACH – Escola de Artes Ciências e Humanidades

Fundamentos da Indústria Têxtil


(Parte I - Fibras)

Profa Dra Regina Ap. Sanches


Caio Vanoni
Março/2009
1. Fibras Têxteis
Segundo a ASTM D123-03 (2006), fibra têxtil é um termo genérico usado para todos os
materiais que formam um elemento básico têxtil e é caracterizado por ter um comprimento
100 vezes maior que seu diâmetro.
Por simplicidade, será adotada a seguinte definição: Fibra Têxtil é todo e qualquer
material fibroso passível de ser fiado e/ou tecido.
As fibras se apresentam no mercado em forma de filamentos, de fibras descontínuas,
ou em cabos de filamentos contínuos.
Os filamentos são fibras contínuas e longas, de comprimento indefinido. Pode tratar-se
de monofilamentos ou de multifilamentos, estes correspondem a um agrupamento de
filamentos que formam um fio.
As fibras descontínuas possuem comprimento definido e, normalmente, são expressos
em polegadas ou em milímetros. Todas as fibras naturais, exceto a seda, encontram-se em
forma de fibras descontínuas.

1.1 Classificação das fibras e suas origens


As fibras têxteis podem ter várias origens, e é esse o critério comumente utilizado para
sua classificação. Assim as fibras podem ser: de origem natural se são produzidas pela
natureza sob uma forma que as torne aptas para o processamento têxtil; ou de origem não
natural que são produzidas por processos industriais, quer a partir de polímeros naturais
transformados por ação de reagentes químicos (fibras regeneradas) ou no caso das fibras
sintéticas, por polímeros obtidos por sínteses químicas.
1.1.1 Fibras naturais
As fibras naturais são subdivididas em orgânicas e inorgânicas. A tabela 1 apresenta a
classificação destas fibras indicando a origem dos grupos.
FIBRAS NATURAIS
ORGÂNICAS INORGÂNICAS
VEGETAIS (estrutura celular e fibrilar celulósica) ANIMAIS (protéica) MINERAIS
FOLHA E
SEMENTE CAULE PSEUDOCAULES FRUTO SECREÇÕES DERME
Algodão Linho Sisal Coco Seda Lã Amianto
Teias de
Painas Cânhamo Abacá aracnídeos Pêlos
Juta Crina vegetal
Rami Curauá
Malva

Tabela 1: Classificação das fibras naturais

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a – Fibras vegetais
A celulose é um carboidrato constituído por uma cadeia linear formada por
condensação de mais de 3 mil unidades de “β-glicose” (C 6H10O5). Dizemos que esta estrutura
celulósica é um polímero, onde o motivo base ou monômero, é repetido grande número de
vezes. O número de repetições é chamado GRAU DE POLIMERIZAÇÃO (G.P.). O grau de
polimerização da celulose é dependente da fonte de extração da mesma, bem como dos
processos de purificação e beneficiamento a que será submetida durante todo o
processamento industrial até o uso final como material têxtil.

Figura 1: Macromolécula de celulose

A celulose é o composto químico mais importante na constituição das plantas. A


porcentagem de celulose varia nas diferentes espécies vegetais, a tabela 2 mostra a
porcentagem de celulose em algumas fibras vegetais.

Fibra % celulose Fibra % celulose Fibra % celulose


Algodão 92,3 a 94,6 Juta 62,3 a 67,3 Sisal 69,1
Paina 53,9 a 54,9 Rami 74,2 a 74,3 Kenaf 63,7 a 67,1
Linho 64,1 a 72,8 Cânhamo 69,4 a 76,8 Coco 39,9 a 42,9
Tabela 2: Porcentagem de celulose nas fibras

Estudos mostram que as cadeias celulósicas não se dispõem de forma totalmente


ordenada no interior das fibras. Existem regiões organizadas chamadas “cristalinas” e regiões
desorganizadas ditas “amorfas”, e cada macromolécula de celulose participa simultaneamente
das duas regiões.
A figura 3 mostra, a representação esquemática do modelo de disposição das
macromoléculas em uma fibra.

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Figura 3: Representação esquemática dos arranjos moleculares em uma fibra
A existência de regiões cristalinas e amorfas na estrutura das fibras produz diferentes
comportamentos físicos entre as diferentes fibras, mas também, cada região é responsável por
diferentes propriedades em uma mesma fibra.
No caso da celulose, quanto mais alinhadas estiverem as moléculas em relação ao eixo
longitudinal, maior será a resistência da fibra, isto acontece pois, existe um maior número de
moléculas aptas a suportar o esforço de tração.
A absorção de água é um fenômeno comandado pelas regiões amorfas, isto porque
dificilmente as moléculas de água conseguem romper o grande número de ligações das
regiões cristalinas para penetrá-las. A água irá penetrar nas regiões amorfas, onde as
moléculas estão orientadas ao acaso e existem menos ligações entre as macromoléculas, ou
seja, mais espaços vazios.
b - Extração das fibras vegetais
Os processos de extração das fibras vegetais podem ser agrupados em mecânicos,
biológicos e mistos. Após a extração a fibra deverá ser preparada para a utilização industrial.
Os processos mecânicos são: descaroçamento (descaroçadores), desfibragem (manual e
mecânica) e lavagem. Os processos biológicos e químicos são: macerações e tratamentos
químicos (desengomagem). Os mistos são: maceração e desfibragem mecânica.

1.2 Classificação geral das fibras têxteis


Na tabela 3 estão relacionadas as principais fibras têxteis, as mais importantes, para uso
em vestuário, estão destacadas em negrito.

ORIGEM/ PROCEDÊNCIA NOME SÍMBOLO


NATUREZA
Linho CL
Caule Rami CR
Juta CJ
Vegetais Cânhamo CH
(celulósicas) Folha Sisal CS
Caroa CN
Fruto Coco CK
Semente Algodão CO

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Carneiro Lã WO
Cabra angora Mohair WM
Animais Cabra cachemere Cachemere WK
(Protéicas) Coelho angora Angora WA
Coelho Pelo de coelho WE
Bombix mori Seda S
(bicho da seda)
Minerais Rochas Amianto A
Rayon viscose CV
Regeneradas/ Modal e (Tencel) CM e (CLY)
Artificiais Celulose Cupro CC
vegetal Polpa de madeira Acetato CA
Triacetato CT
Poliéster PES
Sintéticas Matérias primas Poliamidas PA
Petróleo sintetizadas Poliacrílicas PAN
Elastanos EL
Polipropileno PP
Tabela 3: Classificação das fibras

1.3 Fibras de Algodão


O algodão é uma fibra originada na parede das sementes do fruto (capulho) do
algodoeiro. A fibra é constituída de celulose, que é a matéria-prima dos vegetais. Através de
certos grupos químicos da celulose de características polares similares à da água, o algodão é
capaz de absorver umidade. Dizemos que a fibra de algodão é hidrófila, e isto é muito
importante para o conforto.

Breve histórico
A maioria das fontes indica que a mais importante das fibras têxteis seja originária da
Índia. Textos chineses datados de 2.200a.C, fazem referência a tecidos de algodão. No Egito,
onde se desenvolveram as espécies produtoras de fibras mais longas, existem evidências de
sua utilização antes do linho. No museu têxtil de Lyon (França) encontram-se tecidos muito
finos de algodão, que envolviam múmias da XVIII dinastia (1570 a.C).
As expedições de Alexandre Magno (356-326 a.C) levaram a fibra para a Grécia e a
ocupação árabe da Europa entre os séc. IX e X introduziu a fibra na Espanha (Valencia) e na
Itália (Sicília), com sementes provenientes da Síria. As campanhas das cruzadas entre os séc.
XI e XIII auxiliaram na disseminação da fibra pelo continente europeu.
Na América, o cultivo teve início no México e Peru, onde Cristovão Colombo
encontrou vastas plantações. Na América do Norte, o cultivo teve início no século XVII, onde
teve grande impulso pelo desenvolvimento da máquina de descaroçamento do algodão, criada

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em 1791 por Eli Whitney na Georgia, o que liberou a mão de obra escrava para a expansão
da agricultura. Em 1871 foi criada a primeira bolsa para o comércio de algodão em New
Orleans.
Devido a suas excepcionais características, permitindo seu emprego numa vasta gama
de aplicações, o algodão no final do século XIX já dominava por completo o mercado têxtil
mundial, com uma participação de 80%.
Com o desenvolvimento das fibras químicas, sua participação vem decrescendo, mas
ainda continua majoritária, atualmente em torno de 60% no mercado de vestuário.

Fluxograma de obtenção
O algodão deve ser colhido logo depois da abertura da cápsula para prevenir que as
fibras se descorem e sujem pela ação do sol e das intempéries. Por outro lado, os capulhos das
partes inferiores da planta se desenvolvem antes dos outros e por causa deste
desenvolvimento desigual é necessário ir ao campo para colheita mais vezes a fim de retirar
da planta só o algodão maduro. O algodão pode ser colhido de duas maneiras; com emprego
de máquinas ou manualmente. A figura 4 apresenta a seqüência de operações para a
preparação do algodão para a utilização industrial.

Figura 4: Fluxograma de obtenção da fibra de algodão


Máquinas limpadoras: São unidades destinadas a separar as partículas menores de folhas,
cascas e outras partes vegetais que não o algodão em caroço.

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Secagem do algodão: por diversos motivos como chuva, orvalho, método de colheita, ou
ainda devido ao fato do algodão ser colhido verde, o descaroçamento se torna difícil. Para se
ter um bom descaroçamento, o teor de umidade do algodão deve ser baixo, não exercendo os
7%. A alta umidade dificulta a limpeza e contribui sensivelmente para formar NEPS.
Descaroçamento: A função do descaroçamento é remover o algodão das sementes (caroço).
Depois de completada a separação o algodão é enfardado e as sementes têm como destino as
fábricas de óleo.

Estrutura microscópica do algodão


A figura 5 mostra que as fibras de algodão são formadas por quatro camadas: cutícula, parede
primária, parede secundária e lúmen.

LÚMEN

Figura 5: Estrutura das fibras de algodão

a – Cutícula
É a parte mais externa da fibra e constitui uma camada de proteção, fina e resistente.
Nela são encontradas substâncias pécticas e microscópicas deposições de cera da ordem de
0,4% a 0,8% do peso total da fibra.
b – Parede primária
É constituída por celulose, que aparece no estado desorientado e formando uma rede de
fibrilas. A forma cristalina também é observada. A direção das fibrilas, seu maior ou menor
paralelismo e aproximação afetam profundamente a resistência da fibra.
c – Parede secundária
A parede secundária localiza-se abaixo da parede primária, representando a maior parte
da espessura desta. É constituída de várias camadas concêntricas de celulose quase, na forma
de fibrilas cristalinas aglomeradas em espirais, cujo sentido muda ao longo de uma mesma fi-
bra. Da sua natureza dependem fundamentalmente a resistência e a maturidade da fibra.

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d - Lúmen
É o canal central da fibra. De seção circular durante a formação desta, passa a ter con-
torno irregular após o processo de desidratação do algodão. Contém resíduo protéico do pro-
toplasma da célula que originou a fibra.

Morfologia
A forma da fibra de algodão está ilustrada na figura 6, a fibra mostra-se como uma fita
torcida sobre si mesma e dotada de um canal interno oco chamado lúmen.

Figura 6: Morfologia da fibra de algodão

A figura 7 mostra a vista longitudinal e o corte transversal das fibras de algodão.

Figura 7: Vista longitudinal Corte transversal

As principais características das fibras de algodão são a finura, o comprimento, as


torções e a maturidade. As três primeiras características estão relacionadas entre si e

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dependem da variedade do algodão. Assim ilustrativamente, pode-se observar na tabela 4 que
quanto maior for o comprimento da fibra, mais fina ela será e maior será o número de
torções.

Variedades Comprimento Nº de Diâmetro da


da Fibra Torções / Fibra
(mm) mm (mm)
Sea Island USA 41 11,8 0,016

Egípcio 36 9,0 0,017

Brasileiro 30 8,3 0,020


(G. Brasiliense)
Americano 26 7,6 0,021
(G. Hirsutum)
Indiano 22 5,9 0,030

Tabela 4: Características dos diversos tipos de algodão

Observando a tabela 4, pode-se concluir que quanto mais fino for o diâmetro da fibra,
mais flexível será a fibra, e como conseqüência mais maleável será o fio e também o tecido.
Logo, o toque do artigo final será mais suave.
As fibras de algodão não são do mesmo tamanho, ou seja, há diferenças grandes de
comprimento por melhor que seja o algodão. A figura 8 ilustra exemplos de diagramas de
comprimento destas fibras.

Figura 8: Diagrama de comprimento das fibras de algodão

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A maturidade representa a espessura da parede da fibra. As seções transversais das
fibras maduras, imaturas e do algodão morto, vistas ao microscópio, estão ilustradas na
próxima figura.

Seções transversais das fibras madura, imatura e do algodão morto

As fibras imaturas, apresentam parede celular delgada e as torções são poucas ou muito
irregulares e concentradas em curtos segmentos. O algodão morto é o nome dado às fibras
que morreram antes de desenvolver o comprimento característico da espécie. A parede celular
é muito fina e praticamente não possui torções. Nos fios de algodão a presença maior ou
menor destas fibras imaturas e mortas é causa de diversos defeitos que prejudicam a
qualidade dos artigos confeccionados.
A fibra de algodão possui propriedades tais que, pode ser considerada como a fibra
natural de maior utilidade. As propriedades favoráveis combinadas com seu baixo custo
fazem com que possam ser convenientemente empregadas em múltiplas aplicações. O seu uso
tem uma abrangência que cobre as várias aplicações destinadas ao vestuário até os tecidos
industriais.

1.4 Características dimensionais das fibras


As considerações, realizadas neste item, sobre as características dimensionais, são
válidas para todas as fibras.
O comprimento da fibra tem direta relação com a resistência do fio. Basta observar a
figura 9, onde são comparados dois fios, um com fibras longas outro com fibras curtas. A
resistência de um fio é dada pela facilidade ou dificuldade das fibras deslizarem entre si ao
estender um fio até rompê-lo. Ora, quanto maior for a área de contato entre as fibras, maior

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será o atrito a ser vencido para desencaixar estas fibras e romper o fio. Portanto, fibras mais
longas resultam em fios mais resistentes.
A linha transversal desenhada na figura 9 mostra o caminho necessário para o
desencaixe das fibras nos dois casos.

Figura: Fio com fibras longas e fio com fibras curta

No caso do fio de algodão que não é formado de fibras de mesmo comprimento, e sim
de fibras de tamanhos diferentes, percebe-se logo que quanto maiores forem às diferenças de
comprimento, mais fraco será o fio, pois as fibras curtas, no meio das fibras longas no fio,
impedirão que a área de contato entre elas seja grande. A figura 10 ilustra esta situação.

Figura 10: Fio com fibras regulares e fio com fibras irregulares

A qualidade dos fios é influenciada pela regularidade de comprimento e pelo


comprimento, a ponto de desclassificar o fio para determinado uso.
A figura 11 representa o corte transversal de um fio, onde aparecem as seções
transversais das fibras que o compõem, percebe-se que, se compararmos dois fios de mesma
finura, quanto mais fina for a fibra, maior será o número destas na seção transversal. e maior
a área de contato entre as mesmas. Logo, o fio fabricado com fibras mais finas é mais
resistente.

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Figura 11: Seção transversal de fios finos e grossos

Se no caso do algodão as fibras longas também forem as mais finas, então por dois
motivos o fio é mais resistente.
Resumindo a questão das características das fibras de algodão percebemos o quanto
estas influenciam na resistência do fio, na sua elasticidade e maleabilidade. Já o fio irá
influenciar no toque, no caimento, na resistência, na elasticidade etc. do artigo final.
Não devemos no entanto pré estabelecer que as fibras melhores são sempre as mais finas
e longas.

Na realidade, a melhor fibra é aquela que atende tanto às exigências técnicas


necessárias para o tipo de artigo e aplicação, quanto ao menor custo para viabilizar o artigo
para a aplicação pretendida. Normalmente as fibras mais finas e longas são as mais caras.

1.5 Classificação do algodão em pluma

O algodão em pluma é classificado no Brasil segundo os seguintes parâmetros:


1. Quanto ao tipo: em função do grau de limpeza, da coloração, etc.
Para a classificação do algodão em pluma, beneficiado em descaroçadores de serras, foram
estabelecidos 9 (nove) tipos, sendo o primeiro o melhor e o nono o pior. Esta classificação de
acordo com os tipos é efetuada de maneira visual em função dos parâmetros acima
mencionados por técnicos especializados na Bolsa de Mercadorias de São Paulo e outras
instituições.
2. Quanto ao comprimento da fibra, é observada, com exclusão dos números ímpares, a
variação de 2 mm (dois milímetros).
O algodão em pluma será classificado por tipo e comprimento das fibras

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Tipo: será representado por códigos compostos por dois dígitos que corresponderão à cor das
fibras, à presença de folhas (impurezas) e ao modo de preparação (beneficiamento) do
produto.

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Grau da folha: será determinado por meio de códigos que referem-se à quantidade de
impureza que está dentro das escala representada por um jogo de amostras dos Padrões
Físicos Universais

Comprimento de fibras: será designado por um Código Universal que expressará sua medida
relacionada com as medidas em polegadas que usadas internacionalmente

Código Universal para determinação do comprimento de fibras

Micronaire da fibra: é o índice determinado pela complexo finura/maturidade da fibra

Fora de padrão: será considerado Fora de Padrão o algodão que for classificado com os tipos
de códigos: 81, 82, 83, 84 e 85.

Algodão colorido

O algodão colorido foi desenvolvido pelos incas e astecas há 4500 a.C. e por outros povos
antigos das Américas, África e Austrália. Possui na maioria dessas espécies primitivas, fibras
na tonalidade marrom, porém já foram descritos algodões coloridos nas tonalidades verde,

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amarela, azul e cinza. No Brasil, foram coletadas plantas de algodoeiros asselvajados, nas
tonalidades creme e marrom, em misturas com algodoeiros brancos cultivados, conhecidos
como algodões arbóreos.

A herança da coloração da fibra normalmente é controlada por um gene dominante, mas com
alelos em locus diferentes. Algumas tonalidades de cores são fortemente influenciadas pelo
ambiente (luz solar, tipo de solo, ano). Entre as tonalidades de cores, a verde é a mais
influenciada pelo ambiente, enquanto a creme e a marrom são as mais estáveis.

Esses algodões foram, por longos períodos, descartados pela indústria têxtil mundial e até
mesmo foi proibida sua exploração em vários países por serem considerados como
contaminação indesejável dos algodões de tonalidade branca normal. No Brasil, a partir de
1989, foi iniciado o trabalho de melhoramento genético, após uma visita de empresários
têxteis japoneses, que demonstraram interesse em adquirir este tipo de fibra.

O trabalho de melhoramento consistiu em elevar a resistência das fibras, a finura, o


comprimento e a uniformidade, bem como estabilizar a coloração das fibras nas tonalidades
creme e marrom e elevar a sua produtividade no campo. Para isso, utilizou-se a biotecnologia
de transferência de genes que controlam a expressão de várias tonalidades de cores. A partir
de 1996 foram incluídas nas pesquisas algodões de coloração verde e procuradas novas
combinações de cores, através de cruzamentos dos algodões marrom, creme e verde. A tabela
5 ilustra as características tecnológicas de fibras das linhagens de algodão colorido eleitas
para multiplicação (CNPA 95-653 e CNPA 92-1139) em comparação com variedades
comerciais brancas (ITA 90 e CNPA 80H).Touros - RN, 1998.
Linhagem CNPA CNPA ITA 90 CNPA 80H
95-653 1 92-1139 2
Comprimento S.L. 27,6 28,7 29,9 29,1
2,5%
Uniformidade (%) 44,1 46,6 51,3 47,1
Resistência (gf/tex) 20,5 22,6 27,0 26,0
Alongamento (%) 5,3 5,8 5,8 5,7
Finura (μ) 3,9 4,0 3,8 3,6
Tabela 5: Características das fibras de algodão colorido
1.6 Fibras de Linho e Rami

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São fibras extraídas dos caules. A matéria-prima de que são constituídas é também,
como no algodão, celulose na sua maior parte. O linho é considerado uma fibra liberiana por
ter atuação no vegetal como condutor da seiva e não como elemento estrutural do caule. É
dita também fibra macia.

Breve histórico (linho)


Considerada a mais nobre das fibras de origem vegetal, o linho já era cultivado na
Mesopotâmia há 4000 anos. No Egito, onde sua importância era equivalente à do trigo,
conforme atestam desenhos antigos de túmulos, eram produzidos tecidos finos para o
vestuário de nobres e sacerdotes, assim como o envolvimento de múmias.
Nos escritos de Heródoto e Virgílio, encontram-se referências às propriedades do linho
que permitem obter tecidos leves e resistentes.
Na Europa, seu cultivo teve início na Gália e Espanha, sendo atualmente a Rússia o
maior produtor mundial, com mais de 50% de participação.
Fluxograma de obtenção (linho)
Planta herbácea de cultura anual, com altura de 0,5m a 1,5m. Os feixes de fibras para
processamento são extraídos do caule.

Figura 12: Fluxograma para extração das fibras de linho

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O linho é pouco utilizado nos artigos têxteis atuais. Os métodos de produção são
laboriosos e custosos, de tal forma que, seu uso se reserva a artigos de maior preço. O linho é
utilizado em artigos de alta qualidade tais como: vestuários finos, toalhas, lençol, etc.
Considerando-se a sua grande resistência dinamométrica, utiliza-se também na
fabricação de telas para velas de barcos e lonas de alta resistência.

Breve histórico (rami)


 O Rami, a mais resistente das fibras de origem vegetal é originária da Ásia Oriental,
nativa dos vales do sudoeste da China. Existem referências à utilização desta fibra no séc.
X.a.C.
             Os principais produtores atuais são: a China, Índia, Filipinas e Japão.

Fluxograma de obtenção (rami)

As aplicações mais importantes do rami são para os tecidos de decoração, correias


especiais, cintas transportadoras, toldos, tecidos para velas de embarcações.

Morfologia

A figura abaixo mostra a vista longitudinal e o corte transversal das fibras de linho.

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Vista longitudinal Corte transversal

A figura abaixo mostra a vista longitudinal e o corte transversal das fibras de rami.

Vista longitudinal Corte transversal

As fibras de linho e rami são usadas em vestidos, conjuntos, tecidos planos geralmente
para ternos, calças, blazers masculinos e casacos, etc. femininos com fios 100% ou em
misturas principalmente com poliéster. Há também especialidades como meias masculinas,
lençóis, etc.

1.6.1 Características dimensionais das fibras de linho e rami

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As fibras comerciais tanto de linho como as de rami são constituídas de várias fibras
elementares. As de rami têm 60 a 150 mm de comprimento e um diâmetro médio de 20 a 40
µm (0,020 a 0,040 mm). As de linho têm aproximadamente 25 mm de comprimento menor, e
diâmetro médio da ordem de 19-25 µm.

1.7 Fibras de Lã
Cresce na pele de animais vertebrados, CARNEIRO, camelo, angorá, cashemire, alpaca,
lhama, vicunha...

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Morfologia
A figura abaixo mostra a vista longitudinal e o corte transversal das fibras de lã.

Vista longitudinal Corte transversal

O corte transversal das fibras de lã revela que estas são elípticas. Em geral as fibras mais finas
(merino) e algumas ligeiramente mais grossas (cruzas).

1.7.1 Características Dimensionais da lã

As características dimensionais da lã são bastante variadas em função da origem e espécie do


carneiro. Para a lã, mais fina é a fibra, mais curta e regular ela é, e mais ondulações possui.
Desta maneira, todas as características vão no sentido de conferir ao artigo de vestuário um
toque mais macio e suave, mais elástico e de melhor caimento.

As fibras merino mais finas tem por exemplo um comprimento de 55 a 60mm e uma finura
de 17 a 18 µm. O mícron metro (µm) é a milésima parte do milímetro.

As aplicações da lã são bastante conhecidas. A fibra se presta por excelência a artigos de


inverno e meia estação pela sua isolação térmica. Entra ao 100% ou em misturas com acrílico
para malhas coletes, etc. Nos tecidos planos, os gabardinas de 100% lã para calças, ternos,
coletes, blaizers masculinos e vestidos, casacos entre outras aplicações femininas. Há também
meias, artigos de chapelaria, echarpes, etc.

1.8 Fibras de seda

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Morfologia
A seda é produzida a partir da excreção do bicho da seda (Bombix – Mori). No seu ciclo de
vida, da larva à borboleta, forma o casulo, que é um invólucro oval formado de dois
filamentos de seda na qual a larva se encerra para sofrer a sua metamorfose.

O fio de seda retirado por desenrolamento do casulo, antes que a larva o perfure, é constituído
de dois filamentos de aproximadamente 1 denier cada e com comprimento variando de 800 a
1000 m.

A figura abaixo mostra a vista longitudinal e o corte transversal das fibras da seda.

Vista longitudinal Corte transversal

A seção transversal dos filamentos é triangular, o que dá aos mesmos um grande brilho.

O emprego da seda pode ser muito variado, porém sempre em produtos de alta
qualidade. Como exemplos, temos os tecidos para blusas femininas, camisas, gravatas, xales,
lenços, etc.

1.9 Fibras de rayon viscose

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O rayon viscose é uma fibra celulósica transformada quimicamente. Por causa destas
modificações a fibra é mais fraca e delicada e absorve mais umidade do que as outras fibras
celulósicas como o algodão o linho e o rami.

Pode-se produzir fios contínuos multifilamentos que são chamados simplesmente de Rayon
(uma alusão à continuidade do raio), ou fibras cortadas, que recebem o nome de viscose ou
fiocco viscose.

Morfologia

A figura abaixo mostra a vista longitudinal e o corte transversal das fibras de viscose.

Vista longitudinal Corte transversal

Tanto o rayon viscose como a viscose em seção transversal, mostram uma superfície irregular
chamada de “serrada” que aparece longitudinalmente como estrias.

A forma “serrada” da seção transversal é a que dá ao rayon viscose um brilho característico.


Os raios de luz tocam a superfície da fibra que atua como um conjunto de espelhos côncavos
que concentram a luz refletida. Este efeito está representado na próxima figura.

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Efeito de brilho causado pela seção transversal do rayon viscose

Os filamentos de rayon viscose podem ser produzidos opacos e de tom fosco, semi opacos ou
ainda brilhantes e relativamente transparentes, dependendo dos aditivos na fabricação. Com
isso, estes fios podem atender a diversas aplicações mencionadas e aos vários requisitos que a
moda impõe.

A produção de fibras e fios multifilamentos de Rayon viscose no mundo está em declínio já


de a muitos anos, especialmente devido ao processo ser altamente poluidor.

Os fios multifilamentos são mais e mais usados apenas em artigos de moda feminina como
vestidos, saias blusas e para camisaria com tecidos como a javanesa. As fibras cortadas são
usadas na fabricação de fios fiados ou em mistura com poliéster para diversas aplicações de
vestuário feminino e em misturas para camisaria e calças masculinas.

1.10 Fibras de liocel


Morfologia
O liocel é uma fibra de seção redonda e bastante regular ao contrário do rayon viscose de
seção serrada.

A figura abaixo mostra a vista longitudinal e o corte transversal das fibras de liocel.

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Vista longitudinal Corte transversal

As fibras de liocel são fibras celulósicas também, porém o processo de fabricação difere
muito daquele do rayon viscose entre outras coisas por ser ecologicamente correto. Esta fibra
apresenta-se com seção redonda e em tom opaco e pouco brilhante ao contrário do rayon.

O Tencel é fruto de muitos anos de pesquisa, onde o desafio maior era obter um solvente não
tóxico e ecologicamente correto para a celulose, recuperável e economicamente viável.

As aplicações do Tencel são similares às do algodão para vestuário. Ao 100% ou em mistura


com o próprio algodão ou com poliéster tem destino em malhas, camisaria de tecidos planos,
calças masculinas e femininas, etc.

1.11 Fibras de poliéster


São produzidas por fusão de grânulos de poliéster e extrusão, obtendo-se fios multifilamentos
ou fibras descontínuas, isto é, fibras cortadas.

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Morfologia
A figura abaixo mostra a vista longitudinal e o corte transversal das fibras de poliéster.

Vista longitudinal Corte transversal

As fibras descontínuas bem como os fios multifilamentos de poliéster se apresentam com


seção transversal geralmente redonda e superfície lisa.

As fibras de poliéster podem ter seção transversal diferenciada como a trilobal, muito comum
no mercado. Estas fibras com seção trilobada são mais brilhantes pelo efeito de espelho
côncavo similar ao do rayon viscose.

Representação esquemática do efeito de brilho das fibras trilobais

Outras seções transversais de fibras de poliéster tem outros objetivos, como é o caso da marca
CoolMaX da Invista, que devido à seção transversal perfilada produz um efeito capilar
intenso o conduz rapidamente a umidade e suor, evitando assim que o corpo fique molhado.
A próxima figura mostra a seção transversal desta fibra

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Seção transversal da fibra Coolmax®

As aplicações do poliéster são inúmeras, sendo para as fibras cortadas, freqüente a mistura
poliéster/algodão e poliéster/viscose nas proporções 67/33% e 50/50% para diversas
aplicações de vestuário.

As fibras de poliéster são muito utilizadas em vestimentas e aplicações industriais. Quando se


trata de vestuário, o poliéster é utilizado como multifilamento e normalmente texturizado,
principalmente para as malhas. A fibra descontínua só é empregada quando há misturas com
outras fibras: viscose, lã, linho e, principalmente o algodão.

1.12 Fibras de poliamida

Morfologia

As fibras de poliamidas ou simplesmente nylons mais comuns são a poliamida 6 e a 66.

As fibras poliamídicas são produzidas principalmente na forma de fios multifilamentos


contínuos, pensando em artigos para vestuário. A seção pode ser qualquer, mas as mais
importantes são a redonda e a trilobada.

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A figura abaixo mostra a vista longitudinal e o corte transversal das fibras da poliamida.

Vista longitudinal Corte transversal

Através do uso ou não de aditivos os filamentos podem ser brilhantes, semi opacos ou opacos
para atender às diversas aplicações e efeitos solicitados pela moda.

O nylon é utilizado amplamente em lenços, roupas interiores, suéteres e outros artigos


de malha. Para as aplicações domésticas encontramos o nylon em carpetes e tapetes. No
segmento dos produtos industriais podemos mencionar os cordões para pneus, pára-quedas,
velas de barcos, etc.

1.13 Fibras poliacrílicas ou acrílicas

Morfologia

As fibras acrílicas são fibras sintéticas que podem ser fiadas a seco ou a úmido.

É interessante notar o fato que as fibras acrílicas possuem, pelo seu processo de fabricação,
micro fissuras distribuídas aleatoriamente na superfície da fibra e são justamente estas
fissuras as responsáveis pela capacidade de isolação térmica. Nas fibras de lã o ar retido,
devido a presença de escamas, o responsável pela ótima isolação térmica da fibra.

As fibras acrílicas, ao contrário das fibras de poliéster são sempre muito diferentes entre as
várias marcas.

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A figura abaixo mostra a vista longitudinal e o corte transversal das fibras de acrílico
Acrilan®.

Vista longitudinal Corte transversal

As fibras de acrílico empregam-se principalmente na fabricação de malhas exteriores.


Também é importante a sua aplicação no segmento industrial tal como filtros.

1.14 Fibras de poliuretano

As fibras de poliuretano também chamadas de elastanos são fios multifilamentos têxteis, que
aos olhos aparecem como fio monofilamento, pois os filamentos estão colados entre si. Estes
fios são muito elásticos e tem comportamento similar ao da borracha natural (látex), com a
vantagem de poderem ser muito mais finos.

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Morfologia

A figura abaixo mostra o corte transversal das fibras de Lycra ® .

As aplicações são diversas, em meias em geral, no soquete, em artigos de vestuário elásticos


em malhas e tecidos especialmente feminino, lingerie, moda esportiva e moda banho, etc.

1.15 Fibras metalizadas (Lurex)

As fibras de Lurex são monofilamentos de seção retangular de poliéster metalizado à vácuo


ou acetato e lamina de alumínio em diversas cores. A cor metalizada é obtida através de uma
micro deposição de alumínio, que misturado a pigmentos coloridos resulta no brilho metálico
da cor. O efeito é idêntico àquele da fotografia colorida, onde o visão não consegue distinguir
entre os pigmentos azuis, amarelos e vermelhos que compõem um castanho por exemplo. No
Lurex o pigmento amarelo mais a deposição de micro partículas de alumínio se unem para dar
o dourando.

As fibras de Lurex são usadas unicamente como adorno e a aplicação depende muito das
tendências da moda feminina. Aparecem mais freqüentemente em tecidos planos para paletós,
vestidos de noite, lenços de cabeça, etc.

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