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INTRODUÇÃO

À HISTÓRIA DA MÚSICA
MÚSICAS DO ORIENTE
MÚSICA CHINESA
A TRADIÇÃO DO TAOÍSMO
E OS ELEMENTOS
ELEMENTOS
ELEMENTOS
Órgão Órgão
Elemento Estação Planeta Sabor Sentido Dedo
(yin) (yang)

Madeira Primavera Júpiter azedo visão fígado vesícula anular

intestino
Fogo Verão Marte amargo audição coração médio
delgado

Mudança
de
estação, baço,
Terra Saturno doce olfato estômago indicador
quatro pâncreas
vezes ao
ano

intestino
Metal Outono Vênus picante paladar pulmão polegar
grosso

Água Inverno Mercúrio salgado tato rim bexiga mínimo


ELEMENTOS
Elemento I Ching Característica Direção Cor Nota Musical
criatividade
vento, J ué 角
Madeira criação Leste verde
trovão (mi)
crescimento
paixão
Zhǐ 徵
Fogo fogo inteligência Sul vermelho
(sol)
movimento
equilíbrio
terra, Gōng 宮
Terra sustentáculo Centro amarelo
montanha (dó)
segurança
utilidade
Shāng 商
Metal céu, lago confiabilidade Oeste branco
(ré)
força
comunicação
Yǔ 羽
Água água intuição Norte azul
(lá)
sensibilidade
DIÁLOGO ENTRE
JOJU E O MESTRE NAM CHEONG
Joju: Mestre, qual é o verdadeiro caminho?
Nam Cheong: A mente cotidiana é o verdadeiro caminho.
Joju: Então, devo tentar mantê-la, ou não?
Nam Cheong: Se tentares mantê-la, já estás enganado.
Joju: Se não tentar mantê-la, como poderei compreender o
caminho verdadeiro?
Nam Cheong: O verdadeiro caminho não depende de
compreender ou não compreender. Compreender é ilusão;
não compreender é confusão. Se alcançares a perfeição do
não-pensamento será como um espaço límpido e vazio.
Então, porque distinguir o caminho correto do incorreto?
SISTEMA PENTATÔNICO
ESCALA KIN
A escala pentatônica Kin é formada por
uma sucessão de quintas justas:

1 2 3 4 5
dó ré mi fá sol

1 2 3 4 5
sol lá si dó ré

1 2 3 4 5
ré mi fá sol lá

1 2 3 4 5
lá si dó re mi

Escala Pentatônica Kin
Sucessão de Quintas
dó sol ré lá mi

Sequência de notas da Escala:

dó ré mi fá sol lá si
dó ré mi sol lá
gong shang jué zhi yu
Modos da Escala Kin

dó ré mi sol lá

ré mi sol lá dó

mi sol lá dó ré

sol lá dó ré mi

lá dó ré mi sol
Conjunto de sinos de
BIANZHONG bronze com afinação
precisa.
ZHENG
Duo de bianzhong e zheng

Música tradicional:
“Flores da ameixeira”
OS REIS E A NÃO-FORMA
Chuang Tzu

O Rei do Mar do Sul era age-conforme-teu-palpite,


O Rei do Mar do Norte era age-num-relâmpago.
O Rei do lugar entre um e outro era o Não-Forma.
Ora, o Rei do Mar do Sul
e o Rei do Mar do Norte
costumavam ir juntos frequentemente
a terra do Não-Forma.
Este os tratava bem.
Então, consultavam entre si,
pensavam num bom plano,
numa agradável surpresa para Não-Forma
como penhor de gratidão.
'Os homens', disseram, 'têm sete aberturas
para ver, ouvir, comer, respirar,
e assim por diante. Mas o Não-Forma
não tem aberturas. Vamos fazer nele
algumas aberturas'.
Depois disso
fizeram aberturas em Não-Forma,
uma por dia, em sete dias.
Quando terminaram a sétima abertura,
seu amigo estava morto.

Disse Lao Tan: 'Organizar é destruir”


SISTEMA DOS DOZE LYUS
A oitava possui sete notas diatônicas

1 2 3 4 5 6 7 8
dó ré mi fá sol lá si dó

A oitava é dividida em 12 partes iguais

Cada parte é um LYU = semitom


1 2 3 4 5 6 7 8
dó réb ré mib mi fá solb sol láb lá sib si dó
dó# ré# fá# sol# lá#
CÍRCULO DE QUINTAS


Fá . ............... Sol

Sib Ré

Mib Lá

Láb Mi

Réb Si

Solb/Fá#
TODAS AS 60 ESCALAS
DO SISTEMA LYU
dó ré mi sol lá dó ré mi sol lá
ré mi fá# lá si ré mi fá# lá si
mi fá# sol# si dó# mi fá# sol# si dó#
sol lá si ré mi sol lá si ré mi
lá si dó# mi fá# lá si dó# mi fá#
dó ré mi sol lá dó ré mi sol lá
ré mi fá# lá si ré mi fá# lá si
mi fá# sol# si dó# mi fá# sol# si dó#
sol lá si ré mi sol lá si ré mi
lá si dó# mi fá# lá si dó# mi fá#
Orquestra Chinesa
“Todos os Pássaros peregrinam até Fênix”
Solo de suona
Instrumentos:
Dizi (flauta de bambu)
Ehru (cordas friccionadas)
Sheng (órgão de boca)
A MÚSICA DA ÍNDIA
REFERÊNCIA PARA A
TEORIA MUSICAL
Nathya-Sastra (Sobre a Arte Dramática)
século II a.C.
BASES PARA A IMPROVISAÇÃO

• TALAS – Ciclos de Tempo


• RAGAS – Ciclos Melódicos
SISTEMA DE TALAS

• Rítmica Aditiva
• Ritmo Organizado em Ciclos
• Instrumento principal: Tabla

TALA: ciclo de tempos de estrutura fixa,


articulado em segmentos através de marcações
indicadas por sílabas e por instrumentos de
percussão
Ritmo, Timbre e Sílabas
Ravi Shankar (1920-2012)
Alla Rakha (1919-2000)

Explicação do Sistema
De Talas Indiano
Tabla Tarang
Percussão Melódica
SISTEMA DE RAGAS
Um raga é a combinação de uma escala,
melodias criadas a partir dessa escala e
modelos melódicos utilizados para a
improvisação.
SIMBOLOGIA MUSICAL
Os graus (notas) da escala
representam a hierarquia social

VADI : fundamental do modo – corresponde ao Rei;

SAMAVADI : consonâncias (4ª e 5ª) – representam os


Ministros do Rei;

ANUVADI: assonâncias (3ª e 6ª) – correspondem aos


Súditos do Rei.

VIVADI : dissonâncias (2ª e 7ª) – equivalem aos Inimigos


do Rei;
Simbologia das 7 Notas Musicais
NOTA COR ANIMAL HOMEM CHACRA
Sa Vermelho Pavão Alma Muladara
(Raiz, Base)
Ri Laranja Búfalo Cabeça Svadistana
(Umbilical)
Ga Amarelo Bode Braços Manipura
(Plexo Solar)
Ma Verde Cegonha Peito Anahata
(Cardíaco)
Pa Turquesa Cuco Garganta Vishudha
(Laríngeo)
Dha Índigo Cavalo Ancas Ajna
(Frontal, Testa)
Ni Lilás Elefante Pés Sahasrara
(Coronário)
AS NOTAS E OS ELEMENTOS
No Sistema Hindustani, da Índia do Norte, há
vários tipos de escala pentatônica.

Cada uma das notas dessas escalas


correspondem a um dos cinco elementos da
natureza: água, terra, fogo, ar e éter.

É interessante lembrar que, para os chineses, os


elementos também são cinco, porém dois deles
são diferentes: em vez de éter e ar, estão
madeira e metal.
PRÁTICA DOS RAGAS

Segundo Parahamansa Yogananda (Autobiografia de um


Iogue), os seis ragas básicos são estes:

1. Hindole-raga – deve ser tocado na primavera, à noite,


para evocar sentimentos relativos ao amor universal;
2. Deepaka-raga – deve ser tocado no verão, ao
anoitecer, para instigar os ouvintes à devoção religiosa e
à piedade;
3. Megha-raga – deve ser tocado ao meio-dia, na época
das monções, para incitar sentimentos de coragem e
firmeza de espírito;
4. Bhairavi-raga – toca-se nas manhãs de agosto, para
estimular a calma e a serenidade de espírito;
5. Sri-raga – deve ser tocado no outono, ao entardecer,
e sua função é conduzir o ouvinte a estados de amor
puro;
6. Malkosh-raga – deve ser tocado no inverno, à meia-
noite, para despertar senso de bravura e tornar os
ouvintes valorosos.
A partir desses seis ragas básicos, ao longo dos séculos,
foram elaborados mais de 6.000 ragas.
Há autores que fazem referência a um número ainda maior
e consideram que o número de ragas do Sistema
Carnático, típico do Sul, chega a milhares de escalas e
melodias tradicionais.
Entretanto, o número de ragas registrados e praticados
na atualidade é cerca de 126.
Desses ragas, são elaborados inúmeros modelos
melódicos tradicionais que servem à improvisação.
Malkosh-raga

Sajan Mishra
&
Rajan Mishra
MORFOLOGIA DA
MÚSICA INDIANA
Na música clássica da Índia, a forma básica
contém três partes principais:
1. Alap – Introdução
2. Jor – Crescimento
3. Jhala – Desenvolvimento e clímax
4. Gat – quando necessário, os músicos
acrescentam uma parte opcional com a função
de finalizar a música
1. Alap – Introdução, com apresentação dos
elementos característicos do raga que será
desenvolvido na improvisação posterior;
normalmente sem instrumentos de percussão e com
ritmo livre
2. Jor – a métrica torna-se progressivamente mais
precisa e o andamento é acelerado, pouco a pouco;
entram os instrumentos de percussão
3. Jhala – é o ponto culminante da improvisação,
em que cada músico demonstra o máximo de suas
potencialidades no improviso e na ornamentação
Raga Bhairavi
Improviso sobre o raga Bhairavi
Raghunath Prasanna, shahnai
Durga Prasanna, shahnai
Katvaru lal, khurdak
A MÚSICA DA INDONÉSIA

Nação Transcontinental
GAMELÃO
TIPOS DE GAMELÃO

Na música clássica da Indonésia, há dois tipos


básicos de instrumentos:
1. Pelog – com base em uma escala de 7 sons
2. Slendro – com base em uma escala de 5 sons

Um gamelão (orquestra) completo contém


instrumentos com os dois tipos de escala.
Pelog

Considera-se que o gamelão de Pelog tem


caráter feminino, possui sonoridade suave e doce e
representa os mistérios da Natureza.

Os instrumentos de Pelog são construídos com


base em uma escala heptatônica assimétrica (de
intervalos diferentes): bem (mi), gulu (fá), dada
(sol↓), pelog (lá↑), lima (si), nem (dó), barang (ré↓)
Slendro

Considera-se que o gamelão de Slendro possui


caráter masculino, com temperamento austero e
solene. A palavra seria derivada de um dos epítetos
de Shiva – “Shilendra”, o Senhor das Virtudes.

Os instrumentos de Slendro são construídos


com base em uma escala pentatônica isométrica (de
intervalos iguais – 3ªm baixa): barang (ré), gulu (mi↑),
dada (sol), lima (sib↓), nem (dó)
Como na música indiana, na Indonésia cada
padrão melódico foi concebido para ser tocado em
diferentes horas do dia e em diferentes épocas do
ano, em cerimônias sociais ou religiosas específicas.
Gamelão Javanês
Cudamani: Truna Candrung (“Jovem Apaixonado”)
A narrativa é centrada na exuberância lúdica da juventude.
A partir de ensinamentos de Pak Wayan Gandra.
MÚSICAS
DA PÉRSIA

E DO
MUNDO
ÁRABE
TRADIÇÃO ARÁBICO-ISLÂMICA

Pode-se compreender a tradição islâmica em três


regiões:
1. Pérsia (Irã)
2. Ásia Ocidental (Iraque, Arábia, Síria, Líbano,
Iêmen, etc.)
3. África do Norte (Egito, Sudão, Somália) e
Magrebe (Mauritânia, Marrocos,, Argélia,
Tunísia, Líbia)
ESTRUTURA RÍTMICA
Há dois métodos de organização rítmica:
1. Ritmo Livre
Derivado da prosódia da língua falada.

1. Ritmo Fixo
Organizado em modos cíclicos chamados
iqa'at (singular iqa').
ORGANIZAÇÃO CÍCLICA
(IQA'AT )
• Polirritmia
• Assimetria Rítmica: Ritmos Cruzados
• Instrumento principal: Darbak

ASSIMETRIA RÍTMCA: combinação de ritmos desiguais, com


padrões de diferentes durações

RITMO CRUZADO: combinação irregular de ciclos de 2 ou 3


notaS (5=3+2; 7=2+3+2)

POLIRRITMIA: sobreposição de ritmos diversos,


com diferentes divisões
CICLOS RÍTMICOS

Os ciclos podem ter duas origens:


1. Prosódia Poética
Com base na métrica da poesia cantada

2. Ritmo Estritamente Musical


A partir da invenção dos músicos e teóricos
através dos iqa'at .
Na tradição persa, o ritmo é ensinado através das
sílabas ‘ta’, ‘tan’, ‘na’ e ‘nan’, chamado de atânin.

• ta – sílaba inicial, medial ou final de um grupo


rítmico, equivale a uma unidade de tempo
• tan - sílaba inicial ou final de um grupo rítmico,
equivale a duas unidades de tempo
• na – sílaba medial de um grupo rítmico, equivale a
uma unidade de tempo
• nan - sílaba medial ou final de um grupo rítmico,
equivale a duas unidades de tempo
Isso tem por base a prosódia da poesia persa,
elaborada em seis unidades métricas básicas,
denominadas arkân.

1. Sabab Khafif tan q


2. Sabab Saqil ta ta ee
3. Vatad Maqrun ta nan eq
4. Vatad Mafruq tan ta q e
5. Fâsele Soghrâ ta na nan eeq
6. Fasêle Kobrâ ta ta na nan eeeq
A combinação de diferentes arkâns formam oito
padrões métricos de referência, denominados afâ’il.
No sistema aruz, descendente da prosódia grega,
são usados os símbolos: ᴗ sílaba breve;
– sílaba longa;
1. FA’ULON ᴗ–– eq q
2. FÂ’ELON –ᴗ– q eq
3. MAFÂ’ILON ᴗ––– eq q q
4. MOSTAF’ELON ––ᴗ– q q eq
5. FÂ’ELATON –ᴗ–– q eq q
6. MAFÂ’ELATON ᴗ–ᴗ–– eq eq q
7. MOTEFÂ’ELON ᴗᴗ–ᴗ– eeq eq
8. MAF’ULÂTO –––ᴗ q q q e
Assim, existe equivalência entre os sistemas atânin e aruz.
Por exemplo, o afâ’il Fa’Elâton ( q e q q ) pode ser grafado
de duas formas: 1) – ᴗ – – (3 +2 + 2)
2) tan ta nan tan
Este afâ’il gera o ciclo rítmico masnavi, considerado como
um dos mais importantes na prosódia persa por ter sido
empregado no poema Masnavi, de Jalâl ad-Dîn Rumi, com
versos formados por: 7 (3+2+2) + 7 (3+2+2) + 5 (3+2):
Fa’Elâton Fa’Elâton Fa’Elon
– ᴗ– – – ᴗ – – – ᴗ –
tan ta nan tan tan ta nan tan tan ta nan
q eq q q e q q q e q
Cada verso do poema Masnavi, de Rumi, é elaborado por
três segmentos métricos: Fa’Elâton-Fa’Elâton-Fa’Elon.
Abaixo, estão os dois versos iniciais do poema:
Besh no az ney chon he kâ yat mikonad
– ᴗ – – |– ᴗ– –|– ᴗ–
Az jo dâ ey hâ she kâ yat mikonad
– ᴗ – – |– ᴗ – –|– ᴗ–

Tradução:
Ouça a flauta que lamenta, que depõe,
Narra histórias que o desterro sobrevém
Ciclo Rítmico Masnavi
Shahram Nazeri & Âref Ensemble
Na música árabe, são empregadas onomatopeias
derivadas da execução do derbak para representar
os diferentes iqa’at (padrões rítmicos):

• dum – ataque no centro da pele do instrumento, o


que produz um som grave e encorpado;
• tak – ataque na lateral do instrumento, que produz
um som agudo e seco;
• ka – empregado para subdivisões do tempo.
Derbak
Nahman Rajabi & Pedran Donavazi (Pérsia)
Duo de Derbaks
ESCALAS ( MAQĀMAT)
Dois métodos:

• escalas formadas com base no intervalo de quinta

• escalas formadas pela divisão da oitava em partes


aproximadamente equidistantes (a partir do alaúde)

No séc. XIII, Safi Ad-Din chegou a dividir a oitava em


17 partes.
Este é o sistema de afinação usado até hoje.
A estrutura microtonal produziu um sistema musical com
84 escalas, a maioria com 7 notas. As escalas são
formadas por grupos de três notas (tricordes), quatro
notas (tetracordes) ou cinco notas (pentacordes).
O tetracorde mais comum chama-se Hijaz, formado por:
semitom – tom-e-meio – semitom; ré-mib-fá#-sol). As
escalas formadas por tetracordes Hijaz são percebidas
como sendo tipicamente árabes pelos músicos ocidentais.
Na tradição persa, as escalas são chamadas de dastgâh;
na tradição árabe, são maqâmat (plural de maqâm).
Santur
Instrumento de cordas de origem bíblica

Manoochehr Saddeghi, santur


MORFOLOGIA NA MÚSICA ÁRABE
Taksim
É considerada a forma instrumental mais
elaborada da música árabe, sendo improvisada, com
ritmo livre e sem acompanhamento. O músico
demonstra seu conhecimento sobre determinado
maqâm, através de modulações.
Os instrumentistas que alcançam maestria na
realização do Taksim gozam de grande prestígio
entre os músicos árabes, persas e turcos.
Os dois maqâmat mais comuns para a realização
de Taksim são Rast e Bayati.
Naseer Shamma (alaúde): Taqsim Rast
TRADIÇÃO DA MÚSICA PERSA
Sufismo e Arte
SUFISMO
Sufi é um termo de origem árabe que tem o
sentido de busca da vida interior através de práticas
místicas.
Há duas raízes etimológicas, na língua árabe:
Safa – pureza
Suf – lã (referência àqueles místicos que
defendiam o estado de pobreza e vestiam apenas lã)
Atualmente entendida como corrente islâmica de
caráter místico e esotérico, há quem considere que
suas origens remontam às práticas místicas do antigo
Egito, com sentido de pureza da alma.
Considera-se que os mestres sufis vêm de uma
linhagem direta a partir do profeta Maomé, através
se seu cunhado Ali Ibn Abi Talib, que teria sido o
primeiro mestre sufi.
O mestre sufi Inayat Khan, em suas viagens pela
Europa e Estados Unidos entre 1910-1926,
difundiu uma forma indiana do sufismo, embasada na
diversidade cultural e no sincretismo religioso ao
aceitar participantes de várias crenças.
Khan fundou a Ordem Sufi Internacional,
desconsiderada pela ortodoxia islâmica por
blasfêmia.
Para os sufis, a ascensão da alma e o contato
imediato com a Divindade estão intimamente ligados
às práticas místicas (Devran) que envolvem:

• Dhirk - vocalizações em nome de Deus


• Música - cânticos e música instrumental
• Sama – dança sagrada (ordem Mavlevi)
• Muraqaba – prática meditativa
• Transe - abandono do ego (nafs)
• Êxtase – estado de elevação espiritual
Devran Sufi (Cerimônia Religiosa)
Sufi Inayat Khan (1882-1927)

As cinco espécies de alma (formas como os que prezam a


vida interior se manifestam exteriormente)
1. Caráter religioso: oração, meditação, contato direto
com a divindade;
2. Mente filosófica: contemplação, reflexão;
3. Ser servidor: busca o bem em seus atos;
4. Forma mística: “o místico pode ter a face voltada para o
Norte e está olhando para o Sul”
5. Madzub (“alma forte, coração sereno”): alma que
aparenta ser ingênua, estranha ou desequilibrada, mas
que tem força descomunal
Da Espiritualidade

Em geral, vemos no mundo dois temperamentos. Um


deles diz: “Não ouvirei música no domingo, é um dia
religioso. Gostar de cores é emocional. Não olhe as
pinturas, é excitante”. Apreciar qualquer perfume, gostar
de fragrância, pensa que é sensual. O outro temperamento
é o que sente a vibração das cores, gosta de alimentos
deliciosos, admira a linha reta e a curva, vibra e se comove
com a música, sente-se exaltado com a beleza da Natureza.
Qual a diferença entre eles? A diferença está em que um
vive e ao outro falta-lhe vida. Um está vivendo porque tem
receptividade a todos os aspectos da beleza; quer toque
seus olhos, ouvidos, o sentido do gosto ou o tato. O outro
é incapaz de gozar a beleza.
Da Sabedoria Divina
Se a um sufi for perguntado qual o objetivo da Criação,
ele responderá que o Conhecedor desejou conhecer-Se e
só havia uma condição para conhecer a Si mesmo: era
fazer-se Ele mesmo inteligível ao Seu próprio Ser, pois a
Inteligência em si mesma é um Ser, mas não se conhece a Si
própria. A Inteligência torna-se conhecida a si mesma
quando há algo inteligível. Por conseguinte, o Conhecedor
tinha que manifestar-se a Si mesmo, tornando-se, assim, um
objeto a ser conhecido e por meio desse conhecimento, o
Conhecedor alcança a perfeição. Não quer dizer que lhe
faltasse perfeição, pois toda a perfeição lhe pertence.
Apenas tornou-se cônscio de sua perfeição. Assim, na
consciência da perfeição reside o objetivo de toda a
manifestação [divina]. O sufi diz: “Deus é amor”.
O HOMEM E O SÁBIO
(Poema de Inayat Khan)

Enquanto, pelo errar, vê-se o homem decair,


O sábio, do erro, tira do que se instruir.

Enquanto, sem pensar, diz o homem o quanto sente,


O sábio, em tudo o que diz, pensa primeiramente.

Enquanto aos outros o homem julga por sua Moral,


O sábio pesa o bem sentir de cada qual.
Enquanto sofre ou ri, o homem, se cai ou vence,
O sábio percebe que tudo à vida pertence.

Enquanto o homem acusa pelo que padece,


O sábio primeiro indaga a pena, se a merece.

Enquanto o homem deplora o seu triste passado,


O sábio busca o presente e um porvir melhorado.

Enquanto o homem reúne a fortuna fungível,


Junta o sábio um tesouro – eterno, imperecível.
Ostad Siamak Nasr (Setar)
A vida silenciosa

A Vida Absoluta, que é a origem de tudo o que é sentido,


visto e percebido, e na qual, com o tempo, tudo isso se
funde, é uma vida silenciosa, imóvel e eterna. Entre os
Sufis é chamada de zat. Cada movimento emanado dessa
vida silenciosa é uma vibração e é um criador de vibrações.
Dentro de uma vibração muitas vibrações são criadas.
Assim como o movimento gera movimento, a vida silenciosa
torna-se ativa numa certa parte e cria a cada instante mais e
mais atividade, perdendo, pois, a paz da vida silenciosa
primitiva.
O grau de atividade dessas vibrações é o que importa, nos
vários planos da existência.
A criação começa com a atividade da consciência, que pode
ser chamada de vibração. Toda vibração oriunda de sua
fonte original é igual, havendo diferença somente no tom e
no ritmo causada por maior ou menor grau de força atrás da
vibração. No plano do som a vibração causa diversidade de
tons e no mundo dos átomos, diversidade de cor. Quando
as vibrações se agrupam tornam-se audíveis, mas em sua
trajetória para a superfície multiplicam-se e, à proporção
que avançam, materializam-se. O som dá à consciência uma
prova de sua existência, embora a parte ativa da consciência
é que realmente se transforma em som. Aquele que
conhece, a bem dizer, torna-se conhecido de si mesmo, em
outras palavras, a consciência dá testemunho de sua
própria vez. Ê assim que o homem é afetado pelo som.
Os Elementos e o Som

Terra

A Terra tem vários aspectos de beleza e diversidade de


sons. Seu ponto de maior ressonância é a superfície, seu
formato é um crescente e sua cor é amarela. O som da
Terra é pouco claro e surdo e produz no corpo humano
uma comoção, uma atividade e movimento. Todos os
instrumentos de fio de arame e de tripa e os instrumentos de
percussão como o tambor, o címbalo, etc. representam o
som da Terra.
Água

O som da água é profundo, tem a forma de uma serpente, é


de cor verde e ouve-se melhor no rugido do mar. O som da
água corrente, dos riachos nas montanhas, o gotejar e bater
da chuva, o som da água despejada de um pote para uma
jarra, de um cano para uma tina, de uma garrafa para um
copo, todos estes sons têm efeito agradável e vivificante,
cuja tendência é produzir imaginação, fantasia, sonho,
afeição e emoção. O instrumento chamado Jalatarang é um
arranjo de tigelas e copos de porcelana graduados por
tamanhos e cheios de água na proporção da escala
desejada: para abaixar o tom usa-se maior quantidade de
água e para elevar o tom usa-se menor quantidade.
Fogo

O som do fogo é de alta ressonância, sua forma é a espiral


e é de cor vermelha. Ê ouvido na queda de um raio e numa
erupção vulcânica, no som de um fogo quando crepita, no
barulho de foguetes, bombas, rifles, espingardas e canhões.
Todos eles têm a tendência de produzir medo.
Ar

O som do ar é ondulante, tem a forma do ziguezague e sua


cor é azul. Sua voz é ouvida nas tempestades, quando o
vento sopra e no murmúrio da brisa matinal. Tem o efeito de
romper, arrebatar e comover. O som do ar encontra
expressão em todos os instrumentos de sopro feitos de
madeira, cobre e bambu. Seu efeito é acender o fogo dos
corações, como Rumi escreveu em seu Masnavi a respeito
da flauta. Khrishna é sempre mostrado na arte Indiana com
uma flauta. O som do ar domina todos os outros sons, pois
é vivificante e em qualquer aspecto sua influência produz o
êxtase.
Éter

O som do éter conserva-se dentro de si mesmo e tem todas


as formas e cores. Ê a base de todos os sons e o seu
subtom é que é contínuo. Seu instrumento é o corpo
humano porque pode se tornar audível através dele.
Embora penetre em tudo, mesmo assim não é audível.
Manifesta-se no homem quando este purifica seu corpo das
propriedades materiais. O corpo pode se tornar seu
instrumento apropriado quando o homem abre um espaço
dentro de si, quando todos os canais e veias ficam livres.
Assim, o som que existe externamente no espaço se
manifesta também internamente.
Combinação dos Elementos

A mistura do som da terra e do som da água produz ternura


e delicadeza. O som da terra e do fogo produz aspereza. O
som da terra e do ar produz vigor e força. O som da água e
do fogo tem efeito vivificador e animador. O som da água e
do éter tem efeito calmante e reconfortante. O efeito do
som do fogo e do ar é terror e medo. O som do fogo e do
éter tem efeito de rompimento e liberação. O som do ar com
o éter produz calma e paz.
Behzad Forouhari (Nai)
O Ritmo

O Sufi, para acordar no homem esta parte de sua natureza


emocional, que geralmente está adormecida, tem uma prática
rítmica que coloca todo o mecanismo do corpo e da mente
em ritmo. Existe, em todas as pessoas, consciente ou
inconscientemente, uma tendência para o ritmo. [...] O ritmo
em qualquer de suas formas, chamando-o de jogo,
recreação, divertimento, poesia, música ou dança, é a
verdadeira natureza de toda a constituição humana.
Quando todo o mecanismo do corpo humano está
trabalhando em sincronia, os ritmos do pulso, do coração,
da cabeça, a circulação do sangue, a fome e a sede, tudo
mostra ritmo e é a quebra desse ritmo o que chamamos de
doença.
A Dança
Na tradição Sufi Rakhs, a dança sagrada do êxtase
espiritual, [...] tem sua origem no tempo em que a
contemplação do Criador imprimia a maravilhosa realidade
de sua visão tão profundamente no coração de Jelal-ud-
Din Rumi, que ele se tornou inteiramente absorvido na total
e individual imanência da Natureza que deu uma pirueta
mística, fazendo com que a saia de sua túnica formasse um
círculo e o movimento de suas mãos e pescoço também
descrevesse um círculo. Em memória deste momento de
visão é que os dervixes celebram sua dança. [...] Entre
animais e pássaros, sua alegria sempre é expressada pela
dança. Um pássaro como o pavão, quando consciente de
sua beleza e da beleza da floresta ao seu redor, expressa
sua alegria na dança. A dança desperta paixão e emoção
em todas as criaturas.
Som Abstrato

O som do abstrato é chamado nos Vedas de Anahad, o


que significa som ilimitado. Os Sufis dão a ele o nome de
Sarmad, que sugere a ideia de intoxicação. A palavra
intoxicação é aqui usada para significar elevação, a
libertação da alma de sua servidão terrena. As pessoas que
podem ouvir o Saut-e Sarmad e meditam sobre ele ficam
aliviadas de todas as preocupações, ansiedades, tristezas,
temores e doenças e a alma se liberta do cativeiro dos
sentidos no corpo físico. A alma do ouvinte transforma-se
em consciência. Que tudo penetra e seu espírito torna-se a
bateria que mantem o universo inteiro em movimento.
O Sufi conhece o passado, o presente e o futuro de todas
as coisas da vida porque tem capacidade para conhecer a
direção do som. Cada aspecto de um ser no qual o som se
manifesta tem um efeito peculiar sobre a vida, pois a
atividade das vibrações tem efeito especial em cada direção.
O que conhece o mistério do som sabe o mistério de todo
universo. [...] O som abstrato está sempre em direção ao
interior, ao redor e sobre o homem. Em via de regra, o
homem não o ouve devido ao fato de estar sua consciência
inteiramente centralizada na sua vida material. O homem fica
tão absorvido nas suas experiências do mundo exterior
através do corpo físico que o espaço, com todas as suas
maravilhas de luz e som lhe parece vazio.
Ostad Mohammed-Reza Lofti (Kamantchê)

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