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ESTUDO DA ÁREA MINERADORA DE


BAUXITA DO TRO BETAS E SUAS
CONSEQÜÊNCIAS NA REGIÃO*
Irene Garrido Filha**

.·.·.;·:·:·.·:·:·:·.·.·:·:·:·.·.·:·.·-:-:-:::-:-:-:-:.:-:-~-:-:-:-·-:·:······ ... .. ·············.·.·.·.·.·.·.·.·.•.·.·.·,·.·.··:···:·:·:-:·:::::·:·:······.···

INTRODUÇÃO A ORGANIZACÃO DO ESPACO NA


ÁREA MINERÁDORA DE BAÚXITA
DO TROMBETAS
Este artigo se refere ao estudo da área mi-
neradora de bauxita localizada no Município
de Oriximiná, no noroeste do Pará, abran-
gendo a mina, o beneficiamento, o lança- Condições Ambientais Dominantes
mento de rejeites no lago Batata, o porto e o no Conjunto da Área Mineradora
núcleo residencial. Trata, ainda, das con-
seqüências regionais da política para o alu- As áreas requeridas pela Mineração Rio
mínio adotado na Amazônia. do Norte (MRN) abrangem 87 089 ha, que
A área mineradora de bauxita é uma re- contêm 720 milhões de toneladas de bauxi-
gião pouco ocupada e tradicionalmente ex- ta, correspondentes a mais de 60% das re-
tratara de castanha-do-brasil e de madeira, servas do vale do Trombetas. As restantes
em fase de transformação com a mine- pertencem à Billiton-Aicoa. Considerando-
ração, instalada desde 1979. -se que a produção anual é da ordem de 5
Este artigo dá continuidade ao anterior- milhões de toneladas, o tempo de explo-
mente elaborado sobre o estudo da área mi- ração previsto para a mina da MRN é de 120
neradora de Carajás. A metodologia é a anos.
mesma e consta do artigo de lrene Garrido Situam-se na margem direita do rio Trom-
et alii, de 1988. betas, no divisor Trombetas-Nhamundá,

• Recebido para publicação em 12 de janeiro de 1990.


• * Pesquisadora da Campanha Nacional de Defesa e pelo Desenvolvimento da Amazônia - CNDDA e da Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatfstica- IBGE.
A pesquisa foi realizada com financiamento do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico - CNPq.
A autora agradece à Mineração Rio do Norte, o apoio recebido em Porto Trombetas. Oriximiná, PA.
R. bras. Geogr., Rio de Janeiro, 52 (2): 37-58, abr./jun. 1990.
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ambos afluentes da margem esquerda do identificado por Nascimento et alii, 1976


Amazonas, no Município de Oriximiná. (Figura 1 ).
Constituem uma superfície aplainada nos
O encouraçamento bauxítico em relevos
sedimentos Barreiras (Piio-Pieistoceno), on-
residuais de supertrcie de aplainamento
de ocorrem baixos platôs, com rebordos
erosivos e desníveis entre 80 e 11 O m, com mais elevado do planalto dissecado rio
drenagem dendrítica. Neles se encontra a Trombetas-rio Negro é indício, conforme o
bauxita. A mina em exploração está no citado autor, das influências das flutuações
platô Sara cá IV, cortado pelo igarapé de climáticas que ocorreram durante o Qua-
mesmo nome. É o domínio morfoclimático ternário e que foram apontadas por Tricart,
do planalto dissecado e áreas pediplanadas 1974.

FIGURA 1
PLATÔS MINERALIZADOS EM BAUXITA E
ÁREAS REQUERIDAS PElA MIRN

~ REBORDO EROSIVO o..__J-_...JBkm. ............,.. FERROVIA

0 ÁREA DE CONCESSAO DE LAVRA OU PESQUISA À MRN


-
'X'
ESTRADA PAVIMENTADA
MINA
0 ÁREA PRETENDIDA PELA MRN PARA PROJETO AMBIENTAL Fonte:Mineroçoo Rio Norte (MRN). ~ PORTO
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As áreas requeridas pela MRN e seu en- A Mina - Morfologia da Exploração


torno são recobertas por densa floresta tro- em Grandes Faixas e Sistema de Mi-
pical dos baixos platôs da Amazônia, con- neração Intensivo. de Capital
forme RADAMBRASIL, 1976, cujo substra-
to é o latossolo amarelo distrófico, com boa A Morfologia da Exploração
retenção de água. São solos ácidos e de bai-
xa fertilidade, com deficiência em fósforo, A mina da MRN, com área mineralizada
cálcio e magnésio, e rico em alumínio e fer- de 700 ha, situa-se no platô de Saracá IV,
ro. É uma região pouco explorada, exceto um dos vários platôs existentes na área re-
pela coleta de castanha-do-brasil. querida pela empresa. Esgotada a explo-
O rio Trombetas apresenta diques aluviais ração em Saracá, provavelmente o próximo
que acompanham seu curso e se asseme- platô a ser explorado será o da serra Almei-
lham, às vezes, a barreiras, entre os quais o das. Trata-se de uma grande mina, pois mo-
rio corre paralelamente. Além disto, junto às vimenta 7 milhões de metros cúbicos de
margens, são numerosos os lagos como o material de capeamento e cerca de 5 mi-
Batata, situado a jusante do núcleo urbano lhões de toneladas de bauxita.
de Porto Trombetas. Para ele são canaliza- A exploração mineral se faz em 3 "blo-
dos os rejeitas da mineração, resultantes da cos", conjunto de faixas, tendo um deles
lavagem processada nas proximidades do (Bloco 8) 28 m de largura por 1 000 a
núcleo urbano. 1 500 m de extensão, em função da pre-
O clima dominante é o Aw' de Kõppen, sença de equipamentos pesados, especial-
com verão úmido e inverno seco. Há uma mente draglines e caminhões. As faixas
estação seca bem acentuada, em termos têm orientação norte-sul ou leste-
amazônicos, de pelo menos um mês com -oeste. O avanço da lavra se faz no sentido
precipitações inferiores a 60 mm, mas o pe- leste-oeste, se a orientação for norte-sul (Fi-
ríodo seco estende-se de junho a novembro, gura 2 e Foto 1 ).
de acordo com Pereira e Knowles, 1985; De acordo com Pereira e Knowles, 1985,
estes autores também indicam a precipi- o "perfil típico das áreas mineralizadas
tação média anual, nos últimos 10 anos, de apresenta uma cobertura densa de mata
2 107 mm, com 74% das chuvas ocorren- superpondo-se a uma camada de terra ve-
do de dezembro a maio. A temperatura getal com espessura variável de O a 50 em,
média, também nos últimos 1O anos, foi de seguida de camada de argila caulinítica
24°C, com máxima de 36°C e mínima de amarela com espessura máxima de 11 m.
18°C. Na base desta camada, ocorre a bauxita no-

Foto 1 - Faixa já minerada da MRN, em Porto Trombetas. 1987


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fiGURA 2

MORFOLOGIA DA EXPLORAÇÃO DA MINA DE SARACA, NO TROMBETAS

SARACÁ :m:
N

SARACA :nz::

o 500m
~----'

INSTALAÇÕES ATUAIS DA MINA INSTALAÇÕES FUTURAS DA MINA


ISSl ÁREA LAVRADA EM 1979
A 1 - BRITADOR 9 l-LAVAGEM
~ ÁREA LAVRADA EM 1980
A2 - PRÉDIOS AOMINISTRACAO ATUAL 92- ADMINISTRAÇÃO
[!J!jJ ÁREA LAVRADA EM 19 81
A 3 - TELE PARÁ
ii::8 ÁREA LAVRADA EM 19 82 93- OFICINAS

IITI)JJI ÁREA LAVRADA EM 1983 94- PILHAS DE ROM FINOS


SUPER FINO~ E GRANULADOS
~ ÁREA LAVRADA EM 1984 95- SUBESTAÇÃO
IZII ÁREA LAVRADA EM 19 8 5 96- DEP6SITO DE REJEITO L(QUIDO
l:iSSj ÁREA LAVRADA EM 1986 Fonte: MRN 97- DEPÓSITO DE REJEITO ESPESSADO

dular, constituída por nódulos de gibbsita e com espessura variável entre 3 e 6 m. Ape-
pisolitos ferruginosos disseminados em ma- sar do nome, apenas a parte superior do
triz argilosa. Abaixo da bauxita nodular, cu- minério é compacta, ocorrendo minério
ja espessura varia até 2,5 m, há uma cama- friável na parte inferior da camada. A bauxi-
da de laterita ferruginosa em espessura ta compacta é entremeada verticalmente
máxima de 2m. Sotoposta à camada de la- por bolsões de argila caulinítica, que é lavra-
terita aparece a bauxita compacta (minério da juntamente com o minério e deve ser re-
atualmente lavrado), em horizonte único movida na lavagem. No contato inferior da
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camada de bauxita existe uma argila varie- etapas bem definidas, acompanhadas tecni-
gada de cor clara, facilmente separável do camente de desmatamento, retirada do solo
minério" (Figura 3). orgânico - o top soil, também chamado de
Os trabalhos na área da mina seguem a terra preta.
seguinte seqüência: desmatamento e retira- O desmatamento é a primeira operação,
da da camada de húmus, descapeamento e para o início dos trabalhos de lavra. O trator
lavra propriamente dita, com detonação e
faz a derrubada por empurrão. Formam-se
extracão. Posteriormente, faz-se a recupe- leiras de materiallenhoso, separando-se, na
racão. das áreas mineradas. Nas proximida- ocasião, as madeiras de lei. Elas são derru-
de-s da mina, ainda há a britagem, que é o
badas depois de o terreno ao redor estar lim-
processo ao qual se submete a bauxita ex- po. Desde 1 985, tem-se separado o restan-
traída. Em seguida, nas imediações do por- te da madeira segundo a espessura e para
to, a 28 km de distância, faz-se a lavagem e seu aproveitamento na usina de secagem
a classificação. do minério. O restante do material é quei-
mado. As cinzas e o carvão juntam-se aos
O Processo de Exportação:
restos de folhas e cascas no solo superfi-
Técnicas e Equipamentos
cial.
Como a MRN tem em desenvolvimento A frente de desmatamento apresenta
um programa de recuperação de áreas ·mi- avanco médio de um ano em relacão à fren-
neradas, o processo de extração ocorre em te de ·descapeamento, e abrange ha. áo
FIGURA 3
SECÇÃO TÍPICA DE UM PlATÔ
(Região Trombetas)

........
... A
. . ...
ESPESSURA MÁXIMA

.... . ......
•• • o

. . ..
••••

.................. ...
"
....
......
........ '""
.. ...... .. .. .. .. Solo e Argila (11m)

t/\2\·?\ Bauxita Nodular (2,5 m)

~1111JÍ'j ;j Loterita Ferruginosa (2m l


~ovgogo~~
oooooooo
o o o o
~
0
0
;
0
o o Bauxita Compacta (6 m)
o o o o
o o o o 00
o o o o o
o o o o o

Argila Variegada

Fonte: Mineração Metalurgia


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O desmatamento é feito durante a es- duas a diesel e uma elétrica, cujas caçam-
tação seca, de junho a novembro. Para bas têm capacidade para 1 7 j 3 e área de lan-
isto, a MRN utiliza dois tratores do tipo çamento de 53 m (Foto 3). Nas bordas dos
CAl D-8-K. platôs não se empregam as draglines, por-
Após o desmatamento, inicia-se o desca- que a espessura do estéril é mais fina. Aí,
peamento, que consiste na remoção do solo utilizam-se os motoscrapers, em número
vegetal, para posterior utilização na fase de de 4, com 24 j 3 de capacidade. Depois des-
recuperação, medida que vem sendo adota- te trabalho, a bauxita fica exposta.
da desde 1982 (Foto 2). Segue-se a retirada Atingindo-se o horizonte de bauxita com-
do material estéril, com 8 m de espessura, pacta, começa o processo de extração mi-
constituído de argila amarela, bauxita nodu- neral propriamente dito, que consiste na
lar e laterita. Usam-se dois métodos: no pri- perfuração visando à detonação para que-
meiro utilizam-se três draglines, sendo bra da camada dura de bauxita, operação

Foto 2 - Antes de iniciar-se a mineração, retira-se o solo para deixá-lo reservado e colocá-lo nas áreas em recuperação. Porto Trombe-
tas. 1987.

Foto 3 - Orag/ine trabalhando na lavra da MRN, em Porto Trombetas. 1987


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esta realizada pelas perfuratrizes do tipo tra- As demais fases do beneficiamento são
do e com a utilização de explosivos. O hori- feitas junto ao núcleo urbano e às instala-
zonte mineralizado varia de 3 a 7 m, com ções portuárias especializadas de Porto
teor de 51% de A 12 03; 3,5 a 4% de sílica Trombetas (Figura 4) e consistem na lava-
reativa e 8 a 10% de ferro, conforme gem e classificação, feitas em grandes ins-
Minérios, 1984. talações, porque se trata de grande mina,
A escavação é feita de duas maneiras: com movimentação de milhares de tonela-
por três retroescavadeiras com caçamba, das de material. 1
com capacidade para cerca de 12 j 3 , que
O minério transportado da mina pela fer-
trabalham no topo da camada de bauxita, rovia, (Foto 4) em composições de 1 760 t,
ou por pás carregadeiras com caçambas de desembarca no virador de vagões. São 14 a
7 j 3 de capacidade, que operam no contato
de base da camada de minério. .
Retirado o material, ele é transportado
18 composições por dia. Do virador de va-
gões, o minério vai para as diversas penei-
ras, onde é feita a lavagem.
por vários caminhões com capacidade para
Para a lavagem é captada água do rio
30, 50 ou 60 toneladas até o britador, dis-
Trombetas, estocada num reservatório com
tante dois quilômetros, onde se inicia o be-
capacidade para 9 000 m 3 • O consumo de
neficiamento.
água é de 3 000 e 3 100m3 /h, atendendo à
Na área da mina funciona a britagem, que
planta de beneficiamento, à usina ter-
faz a cominuição do minério. A britadeira
melétrica e ao abastecimento de água
tem capacidade para 1 600 t/h. Trabalha
potável.
1 400 t/h, no verão, e 1 200 t/h, no inver-
no, quando o minério fica muito úmido. Co- O material que chega da mina tem 30 t de
mo é argiloso, ele emplastra o classificador. argila muito fina. A lavagem inicial é para
Para que isto não ocorra, passa-se a traba- deslamagem. Daí o minério vai para a pilha.
lhar em velocidade mais baixa, diminuindo- O rejeito da lavagem, contendo finos e su-
-se, portanto, sua produtividade. perfinos, segue para os trommels, peneiras
Do britador, o minério vai através de cor- cilíndricas, e depois para os ciclones. Após
reias transportadoras por cerca de 1 000 m, a primeira ciclonagem, o material fica com
até a ferrovia, onde é descarregado automa- 46 a 4 7% de alumínio. Da segunda ciclona-
ticamente no terminal da mina, no sopé do gem, o material sai com 46 a 49% de alumí-
platô. nio (Foto 5).
Na mina trabalham em três turnos 400 Depois da lavagem, é retirado o rejeito,
pessoas, inclusive pessoal da manutenção que é lançado, por tubulação, no lago Bata-
dos equipamentos. Funcionando seis dias ta, através da Estação de Caranã. Hoje,
seguidos, numa semana, pára no sábado; lançam-se ali 7,5% de material sólido. An-
na outra, no domingo, para a manutenção tes da utilização dos finos e superfinos, até
dos equipamentos. 1985, a participação de sólidos era de
Assim, o sistema de mineração 15%. O bombeamento do rejeito no lago
caracteriza-se como intensivo de capital, Batata é da ordem de 2 500 a 2 800m 3 /h.
pois é grande o investimento em equipa- Após passar pelos ciclones, o material vai
mentos e pequeno o emprego de mão-de- para a filtragem, onde termina o processo
obra. úmido.
Da filtragem, o material, que deve sofrer o
O Beneficiamento da Bauxita processo de secagem, passa por dois silos e
dois secadores, um movido a óleo e out(o, a
Consiste na britagem, lavagem e classifi- óleo e a cavaco. A bauxita entra com 11 %
cação do minério. de umidade e sai com 3%. Dois exaustores
A britagem situa-se na área da mina, co- descarregam co2 e vapor d'água pelas cha-
mo já foi salientado e descrito. minés.2

1
Até fins de 1989. Depois, a lavagem foi transferida para o local da mina, a fim de evitar a colmatagem do lago Batata.
2
Em 1982, foi instalado um filtro, que reduziu a emissão de partículas a níveis bem inferiores aos permitidos pela legislçaão, com rendimento de 96%,
atestado pelo Instituto de Pesquisa Tecnológica- IPT, de São Paulo, de acordo com o relatório MAN, 1986.
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FIGURA 4
FLUXOGRAMA

LATERITA

BAUXITA COMPACTA

VIRAOOR DE VAGÕES-2770 T/h


~ULAGEM

Fonte: Mineração e Metalur;ia 43(414) p5, RJ set 79.

Foto 4 - Estrada de Ferro Trombetas. 1987.


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Foto 5- Correias que levam o granulado até o porto. Ao lado, pilhas de superfino e de granulado, em Porto Trombetas. 1987.

Geralmente funciona o secador a óleo e a ca- Batata, através da Estação de Caranã, pro-
vaco. Emprega-se o cavaco (6 000 t/mês) voca progressivo processo de assoreamen-
obtido, atualmente, de madeira retirada da to do lago, com conseqüências ambientais
área do futuro lago de barragem da Usina (analisadas adiante) das quais resultaram
Hidrelétrica - UHE de Cachoeira Porteira. medidas fiscalizadoras do DNPM, e que le-
Tal programa representa a significativa re- varam a estudos e à transferência da etapa
dução do consumo de óleo diesel em 30 mil de lavagem para junto da mina, no platô de
t/ano. i:xpecionalmente, quando há navios Saracá, utilizando tecnologia avançada.
aguardando, usa-se o secador a óleo. Ainda na zona industrial do núcleo de Por-
A planta termelétrica em leito fluidizado, to Trombetas, encontram-se a Usina Ter-
de 1985, também gera gás quente. No leito melétrica, o picador de madeira e as instala-
fluidizado usam-se 75% de bauxita e 25% ções do porto. Nestas, há o carregador de
de areia. Abaixo do leito fluidizado, há um navios, com capacidade para 6 000 t/h
coletor de ar atmosférico que faz funcionar (Foto 6). No porto, há também local de reti-
o processo, com a economia aproximada de rada de amostra, a cada 1 000 t de carga
16 000 t/ano de óleo diesel, conforme embarcada. Tal medida visa a atender à
Minérios, 1984. Sua capacidade é de exigência da comercialização, porque o
8,5MW. controle do teor é feito previamente. As ins-
A bauxita é vendida seca ou úmida, de talções portuárias permitem o carregamen-
to de navios de até 55 000 t. Para isto, o
acordo com o interesse dos compradores. A
Alumar, por exemplo, compra a bauxita cais se encontra a 120m da margem, a fim
úmida; já a Venezuela prefere a seca. de obter-se a profundidade de 12,2 m, na
estação seca. A montante dos portos, uma
Da secagem, a bauxita vai para a estoca- bacia natural com largura superior a 500 m
gem em depósito com capacidade para
e profundidade de 1 2, 2 m permite a mano-
1 50 000 ou 180 000 t, que corresponde a
bra dos navios. ·
9 ou 1O dias de produção.
O índice de nacionalização dos equipa-
O Núc~so Urbano de Porto
mentos de beneficiamento é de 54%.
Trombetas
O processo de beneficiamento não gera
poluição, porque só utiliza água e processos A sede da empresa em Porto Trombetas,
mecânicos. Mas o rejeito lançado no lago com população de 6 000 habitantes, come-
46 . ············.·.·.·.·,·.·..·.·.·.·.··:-:·;···:····-·.· ..
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Foto 6- Porto especializado para a exportação de bauxita, em Porto Trombetas. 1987.

çou a ser construída em 1978, nas proximi- aeroporto, servido por linha regular da
dades do locai destinado ao porto, com- VARIG/Cruzeiro do Sul. Além disto, junto ao
preendendo a parte residencial, na chamada rio Trombetas, há uma área conhecida como
Vila Velha, e a parte industrial, com o setor Feirinha, com 35 lojas, inclusive dois res-
de beneficiamento (Figura 5). Foi construída tatJrantes, e onde se localizam a Receita Fe-
por empreitada da Empresa Andrade Gutier- deral, a Capitania dos Portos, a DOCENA VE
rez, que fez o completo desmatamento do e um ambulatório. Nas proximidades de Por-
conjunto da área residencial, industrial e to Trombetas, existe um aglomerado, com
portuária, em 1977. Posteriormente, com cerca de 30 casas, denominado Brega, que
base no projeto do paisagista Burle Marx, é a zona de prostituição.
procedeu-se à arborização do núcleo. O as- Na escola, contratada em Belo Horizonte,
faltamento foi realizado em 1983, quando e com professores mineiros, estão matricu-
já havia sido implantado o filtro de gases no lados 1 500 alunos, inclusive os filhos de
secador, que eliminou a poeira vermelha ex- cerca de 200 famílias que moram no "bei-
pelida. radão". Estas famílias são cadastradas e re-
As casas, no núcleo urbano, distribuem- cebem educação e assistência médica.
se de acordo com os padrões salariais. No hospital, há 36 leitos e trabalham 1O
Observam-se a área do pessoal de nível su- médicos, 3 dentistas e 4 enfermeiras (duas
perior, a dos empregados de nível médio outras estão lotadas no ambulatório). O
(Foto 7) e os alojamentos dos trabalhadores hospital dispõe de laboratório de análise e
sem qualificação e braçais (Foto 8). Há de vários serviços, como clínica geral, gine-
também uma zona própria de comércio, cologia/obstetrícia, cirurgia geral e medicina
com um centro comunitário, onde se encon- do trabalho. Uma vez por semana, um oftal-
tram o centro econômico e o centro admi- mologista dá atendimento à população.
nistrativo. Nas proximidades do centro co- A empresa conta com 11 2 empregados
munitário, encontram-se um dos dois clu- de nível superior e 578 de nível médio, to-
bes e a escola de 1? e 2? graus. Há, na vila, dos de fora da região. Desta são apenas os
ainda, um hospital. Nas proximidades, um trabalhadores não qualificados e os braçais.
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FIGURA 5
NÚClEO URBANO DE PORTO TROMBETAS

I ZONA INDUSTRIAL

I - VIRADOR DE VAGÕES I I - ESCRITÓRIO


LIMITE DAS ZONAS (Industrial, Residencial)
2- LAVAGEM 12-TANAGEM

ÁREA RESIDENCIAL ANTIGA 3- REJEITO 13 - OFICÍNAS, ETC

4- PILHA DE REGULAGEM
RESID~NCIAS DO STAFF ZONA RESIDENCIAL
5- SECAGEM
RESIDÊNCIAS DO PESSOAL DE NÍVEL SUPERIOR 6 - FILTRAGEM 14- HOSPITAL

7- ESTOCADOR DE BAUXITA SECA 15 - CASA DE HÓSPEDES


RESIDÊNCIAS DO PESSOAL DE NÍVEL MÉDIO
8- PICADOR 16- ESCOLA
RESIDÊNCIAS DOS BRAÇAIS 9- CASA DE FORÇA 17 - ÁREA DE ESPORTES

CENTRO COMERCIAL lO- CARREGADOR DE NAVIO IB -CLUBE SOCIAL


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Foto 7- Casas de técnicos de nível médio, em Porto Trombetas. 1987.

Foto 8- Alojamento dos peões, em Porto Trombetas. 1987.

Batata, e depois diretamente no lago, da or-


·PROBLEMAS AMBIENTAiS E dem de 1, 5 milhão de toneladas por ano !30
MEDIDAS CONSERVAC~ONISTAS a 35% do ROM), contendo partrculas iner-
tes de óxido de alumínio (21 %), silicato
147%) e óxido de ferro (21 %), misturadas
com água, desenvolveu um processo cres-
A lavagem da Bauxita, o cente de co!matagem do lago Batata
Assoreamento do lago Batata e as (Figura 6).
Medidas tomadas pela MRN Diante do perigo· de transbordameoto do
material do rejeito nas águas do próprio rio
O lançamento dos rejeitas, inicialmente Trombetas, a MRN, em 1982, procurou
no igarapé Caranã, que drena para o lago construir diques de 1O m de aitura, no iga-
FIGURA 6 :::u
I:D
C)
PROCESSO DE ASSOREAMENTO DO LAGO BATATA

-<"Jc·

J,,. 0 2 4kF

Cf1 MEA DE MAIOR ASSOREAMENTO DO LAGO BATATA •-- 2 CANALIZAÇÃO INICIAL PARA LANÇAMENTO DE REJEITO -+--+- FERROVIA
NO IGARAPÉ CARANÃ
- - ESTRADA -IMENTAOA
D ÁREA DE MENOR ASSOREAMENTO DO LAGO BATATA • - - • CANALIZAÇÃO PARA LANÇAMENTO DE REJEITO NO LAGO BATATA

o ÁREA CRiTICA, LOCAL DE POSSfVEL TRANSBORDAMENTO DO LAGO BATATA ._,..\--- BARRAGENS PARA DIMINUIR O ASSOREAMENTO DO IGARAPÉ CARANÃ,
E DO U\GO BATATA EM DOIS PONTOS
""'
.. AEROPORTO

PORTO ~
·:·:·:·:·:·:·'·'•'•'•'•'•'•'•'•'•'•'•'•'•'•'•'•'•'•'•'•'•'•'•'•'• .•.•.•.•.•.•.•.•.•.•:•.·:·:·:·:·:·:·:·: :·:·:·:·:·:·:·:·:·:·:·:·:·:·:·:·: :·:·:·:·:·:·:·:·:·······:···:····:·:·:·:·.·:·:·:·:·:·:·:·:·.

50 RBG

rapé Água Fria. Tal medida não resolveu o Inc., através da transferência da planta da
problema, que também não foi solucionado lavagem para a mina, com descarte e confi-
com a mudança do local de lançamento do namento dos rejeitas na própria área mine-
rejeito para a borda NO do lago Batata, em rada, envolvendo custos da ordem de
1984. O processo do assoreamento conti- US$ 52 milhões, de acordo com Mineração
nua. Pode ser perfeitamente observado, Rio do Norte S.A., 1986.
quando se chega de avião a Porto Trombe- A nova área de lavagem vai instalar-se
tas (Foto 9). Grande parte do lago está as- junto à mina, em área já minerada, que está
soreada pela argila vermelha lançada na la- em fase de preparação para a transferência
vagem de bauxita, no setor de beneficia- em 1989, em função da fabricação dos
mento, junto ao porto. Em 1986, com a im- equipamentos necessários, da integração
plantação da usina de beneficiamento de com outras fases do beneficiamento, do vo-
superfinos, a quantidade de rejeitas sólidos lume dos diques a serem construídos e da
reduziu-se em 30%, conforme cálculos da transferência progressiva, para não haver
empresa, mas a área já colmatada é grande paralisação da mina.
e o processo continua. Na área sedimentada O novo procedimento seguirá, no come-
artificialmente, a MRN plantou gramíneas, ço, as mesmas etapas hoje adotadas para a
como é o caso das proximidades da Estação recuperação das áreas mineradas, mas os
de Caranã. O estudo limnológico do lago Ba- rejeitas serão bombeados com 70% de ma-
tata está sendo desenvolvido pela Universi- terial sólido para um reservatório, com
dade de S. Carlos (SP). 50 ha de área, em construção na mina.
Considerando a questão, o DNPM apre- De acordo com o Relatório da MRN,
sentou exigências, em 1986, pelo ofício 1986, no reservatório, em seis meses a um
número 204, e publicada no Diário Oficial ano, os rejeitas com 30 a 35% de sólidos
da União de 12-6-86. A MRN encomendou concentrados serão dragados e bombeados
projeto elaborado pela Internacional de En- para células construídas na área já lavrada.
genharia S.A., Paulo Abid Engenharia S.A. e Nestas células serão armazenados os rejei-
Bromwell & Carrier Inc., utilizando tecnolo- tas por vários anos. Aí o material se adensa
gia norte-americana, já adotada em projeto e a água presente se infiltra, evapora ou
para o Estado da Flórida - uma das mais será bombeada para o reaproveitamento na
exigentes unidades da federação america- usina. Aliás, a água da lavagem do minério
na, em função das atividades turísticas que será principalmente esta, exceto nos primei-
ali se desenvolvem. Tal. projeto visa a elimi- ros anos, quando será bombeada de um iga-
nar o lançamento do rejeito da mineração no rapé das proximidades. Com o ressecamen"
lago Batata. É o sistema Bromwell & Carrier to dos rejeitas nessas células, num período

Foto 9- Lago Batata em processo de assoreamento pela deposição de rejeitas da MRN, em Porto Trombetas. 1987.
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de dois anos, a área será recuperada, na Enquanto se prepara o terreno nas áreas
rnedida em que se processa a~avra, utilizan- lavradas, outras providências são tomadas.
do as mesmas técnicas atualmente adota- A MRN tem dois mateiros, que coletam, ao
das de replantio de essências nativas. longo do ano, sementes de espécies da flo-
resta nativa, as quais são plantadas, duran-
te a estação seca (julho/novembro), em vi-
Recuperação das Áreas Mineradas veiros, localizados na Vila.
- uma tentativa válida e As mudas são acondicionadas a partir de
interessante sementes da floresta nativa da região, cole-
tadas e armazenadas durante o ano. As se-
A MRN optou pela recuperação através mentes pré-germinadas são postas em sa-
do plantio de essências da região, conforme cos plásticos, enchidos com terra rica em
Pereira e Knowles, 1985, e entrevista com nutrientes orgânicos. Atenta-se também
o segundo autor. para as condições de temperatura e supri-
Há 350 ha reflorestados em áreas já mi- mento de água.
neradas, datando os primeiros plantios de O transplante se dá, em média, depois de
1981. Trata-se de um processo complexo e 70 dias no viveiro.
que exige cuidados especiais, quanto ao As espécies que apresentaram melhor de-
terreno e às mudas (Figura 7). senvolvimento, até o momento, foram: la-
Quando se retira o material estéril pelo cre, curumim, ucuúba, angelim-da-mata,
emprego de draglines, esse material é em- angelim-pedra, cumaru, jutaí, castanha-do-
pilhado nas adjacências do local de onde foi -pará, castanha-do-brasil, cupiúba, louro,
extraído. As pilhas formadas são espalha- muiricatiara, tatajuba, piquiá e bacaba.
das por trator a fim de reconstituir o topo
O principal método de plantio é o de aber-
plano existente nos platôs. Reconstituída a tura manual de covas e transplante de mu-
topografia, remove-se e espalha-se, numa
das do saco plástico para o buraco. O terre-
espessura de até 20 em, o solo orgânico
no previamente recoberto de solo rico em
que havia sido retirado pelo trator de esteira
nutrientes orgânicos será escarificado o
e colocado nas áreas chamadas de "bota- mais profundamente possível. Além disto, o
-fora", isto é, onde é jogado o estéril. O solo
plantio só deve ser feito depois do início efe-
orgânico será disposto em grandes quanti-
tivo da estação chuvosa. No transplante,
dades de sementes "em dormência", por
impõe-se especial cuidado com o raizame
falta de luz. O solo deve ser escarificado {is- (Foto 10).
to é, revolvido) até 20 em de profundidade,
e depois até 90 em, a fim de melhorar a es- É fundamental considerar, no transplante,
trutura e aumentar a permeabilidade super- a composição das espécies. O conjunto das
ficial, facilitando-se o armazenamento de mudas deve constar de 60% de espécies de
sementes e, conseqüentemente, o cresci- rápido crescimento e vida curta (entre 5 e 8
mento de vegetação. anos). Estas sombrearão as demais.
O revolvimento do solo deve atingir a Também é básico o plantio de leguminosas,
maior profundidade possível, conforme ex- que fixam o nitrogênio, e de frutíferas, que
periência australiana, ficando limitado pelas atraem a fauna, cujo papel disseminador é
condições do equipamento. conhecido, fazendo o intercâmbio entre as
Nas áreas de motoscrapers não existe áreas em recuperação e a floresta nativa.
necessidade de aplainamento do rejeito, Quando as condições das áreas em de-
porque o material é descarregado horizon- senvolvimento apresentarem húmus, micro-
talmente em forma seqüencial. A recupe- fauna, sombra, etc., nelas far-se-á o enri-
ração e o espalhamento do solo orgânico quecimento com madeiras nobres.
são feitos pelo próprio equipamento. A es- Os resultados até agora obtidos não são
carificação ocorre de maneira semelhante à definitivos, porque o tempo é ainda curto,
do processo precedente. mas as perspectivas são, de modo geral,
Estes dois métodos foram os que deram boas.
melhores resultados, mas outros também Há, no entanto, dificuldades relativas ao
se utilizaram, até 1983. crescimento das plantas, que não é unifor-
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52 RBG

FIGURA 7
ÁREAS MINERADAS E ÁIRIEAS JA REFLORESTADAS NA MINA DE SARACA. NO
TROMBETAS

SARACÁ nz:

o.___ _ ____.soo m

INSTALAÇÕES ATUAIS DA MINA INSTALAÇÕES FUTURAS DA MINA

~ ÁREA LAVRADA ATÉ 1987 A 1- BRITADOR B 1- LAVAGEM

~ ÁREA MINERADA REFLORESTADA A2- PRÉDIOS ADMINISTRAÇÃO ATUAL B 2 -ADMINISTRAÇÃO

A3- TELE PARA 83- OFICINAS

84- PILHAS DE ROM FINOS


SUPER FINOS E GRANULADOS

B 5 - SUBESTAÇÃO

B 6- DEPÓSITO DE REJEITO LIQUIDO

Fonte: MRN 87- DEPÓSITO DE REJEITO ESPESSADO


RBG 53

Foto 1O- Plantio de vegetação nativa em áreas já mineradas da MRN, em Porto Trombetas. 1987.

me. Oiiver Knowles, consultor da MRN para choeira Porteira, a ser construído pela
assuntos ambientais, supõe que se trate de ELETRONORTE. A madeira é transportada
problemas com o raizame. A empresa está em toras até Porto Trombetas, onde é pica-
.interessada na assessoria técnica específica da e transformada em cavaco.
para atender à questão. A madeira chega a Porto Trombetas em
toras longas e é cortada com moto-serras
A Utilização do Cavaco como em toras de 4 m, trabalho realizado por em-
Combustível em Substituicão ao preiteira local. Este corte se faz junto ao ra-
Óleo Diesel · chador, para onde é levada. Aí as toras de
4 m são cortadas em 4 partes longitudinais,
A MRN está procedendo à substituição que passam, então, para o picador, com
do óleo diesel, utilizado nos secadores de três facas. O sistema de preparação doca-
bauxita e na usina termelétrica, pelo cava- vaco provoca rufdos fortes. São produzidas
co, com a finalidade de diminuir o custo da 20 t de cavaco por ano. Do picador, o cava-
produção. É objetivo da empresa após o co vai em correias para a usina termelétrica
choque do petróleo e em atendimento à po- ou para a secagem.
lítica do Governo, desde 1981, diminuir o
Na termelétrica, com 8 500 kW/h de
uso do óleo diesel. Para isto, a MRN implan-
potência, consomem-se 11 t/ano de cava-
tou em Porto Trombetas um combustor, com co. No secador, a mesma quantidade de ca-
capacidade térmica de 40 milhões de kcal/h
vaco seca 360 t/h de bauxita.
ou 47 MW, queimando gás quente para a
secagem da bauxita, conforme artigo em A área de inundação do lago da UHE de
Minérios, 1984. Tal medida representa Cachoeira Porteira é de 1 094 km 2 , sendo o
economia de 30 000 t/ano de óleo diesel. potencial madeireiro da área de 326 m 3 /ha,
Há também a planta termelétrica de com- isto é, 326 t/ha, de acordo com o inventário
bustão em leito fluidizado, já referida, que florestal realizado, mas a MRE só utilizará a
utiliza tanto o cavaco como o carvão mine- madeira encontrada em 350 ha, pois seu
ral e outros combustíveis sólidos, em subs- consumo anual corresponde a 70 ha/ano.
tituição ao diesel. Para o aproveitamento florestal da área
O investimento para tal substituição é de do futuro lago de barragem, a MRN fez con-
USS 20 milhões, com recursos próprios. trato com a ELETRONORTE e com o IBDF. É
Para alimentar o novo sistema de seca- do interesse da ELETRONORTE o desmata-
gem, a empresa está utilizando, desde mento da área, cuja barragem será fechada
1985, a biomassa extraída da área do futu- em 1995, de acordo com as atuais previ-
ro reservatório da Usina Hidrelétrica de Ca- sões da empresa. A MRN atenderá muito
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pouco às necessidades da estatal da eletri- volvimento do programa de replantio de


cidade na Amazônia, porque a área desma- áreas mineradas da empresa.
tada pela MRN representa 1 % do total.
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Conforme o contrato, até 1990 serão ex-
ploradas 600 000 t, que representam CONSEQÜÊNCIAS REGIONAIS DA
US$ 15 milhões, a US$ 25/t. MINERAÇÃO DE BAUXITA NO
A exploração da madeira pela MRN é por VALE DO TROMBETAS
empreitada, estabelecida com a Empresa ::;.;:;:;.;:;:;:;:;.;.;:::::;.;:::: ::::::::::::::::::::::::::::::: ::::::::::;:;:: .•.•.•.·....;.;.;.;.;.;.•.;.;.;.;.·.····~·=·······==~·=·······=············ ..
Andrade Gutierrez, na qual trabalham 200
pessoas. A utilização da madeira não é to- Mineracão Rio do Norte - uma
tal, porque só se aproveita o fuste, isto é, "ilha" Município de Oriximiná no
65% do total da árvore e para aquelas com
A Mineração Rio do Norte situa-se no vale
menos de 65 em de diâmetro. Também não
do Trombetas, no Município de Oriximiná,
se usam as árvores tortuosas ou muito du-
na região do Médio Vale do Amazonas pa-
ras. O rendimento, portanto, é inferior ao
raense, cujo principal centro é Santarém. A
previsto no inventário florestal. É de apenas
montante de Porto Trombetas se encontra a
180 m 3 /ha, em vez de 326 m 3 /ha.
Cachoeira Porteira, cuja utilização pela
Fechado o lago de barragem da UHE de ELETRONORTE está em via de concretizar-
Cachoeira Porteira, a área fornecedora de se (Figura 8).
madeira para o programa da MRN, a expec- A localização da MRN se deve à presença
tativa de vida da mina é de mais 20 anos. A da bauxita. A empresa não mantém víncu-
empresa espera contar já com a produção los com o município em que se situa, exceto
de madeira das chamadas florestas os de natureza fiscal, porque parte do Im-
energéticas, em implantação, juntamente posto Único sobre Minerais - IUM reverte
com o plano de reflorestamento das áreas ao município.
mineradas, com essências nativas. A ALCAN, que iniciou as pesquisas na
O consumo de madeira neste prazo de 20 área, em 1964/65, obteve os primeiros êxi-
anos fica, portanto, dependendo do desen- tos em 1967, quando foram descobertas as

FIGURA 8
A REGIÃO DO TROMBETAS

A REGIÃO DO TROMBETAS

o 2 4km
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jazidas de bauxita. /J. partir daí, foi feita a sobretudo de Oriximiná, empregada em Por-
programação da exploração: implantação to Trombetas. Sai desta vila às sextas ou
da mina, em 1978/79, quando também se sábados à noite e retorna nas segundas-
construíram o núcleo urbano, o setor de be- feiras, de manhã cedo.
neficiamento e as instalações portuárias. A população não-local dificilmente viaja
Para isto, foi contratada firma empreitei- pela região, a não ser lugares de excepcio-
ra, a Andrade Gutierrez, que arregimentou nais belezas naturais, visitados em grupos.
7 000 operários, especialmente em San- Não se verifica entrosamento entre os de
tarém, Oriximiná e Óbidos. Concluídas as fora e os locais, talvez porque haja uma
obras, de acordo com informações obtidas compartimentação social bastante rígida.
na MRN, os operários foram trabalhar na Há, por exemplo, um clube social para to-
construção da Usina Hidrelétrica de Balbina, dos os empregados, e um outro de que só
no Amazonas. participam os sócios. A este último perten-
Permaneceram em Porto Trombetas ape- cem os empregados de nível superior e dele
nas os empregados da empresa mineradora. não fazem parte os de nrvel médio e os não
Os de nível superior e médio vêm direta- qualificados.
mente do Sudeste, principalmente de Minas Porto Trombetas é, portanto, uma "ilha"
Gerais. Os trabalhadores sem qualificação e na região do vale do Trombetas e no Municí-
os braçais são contratados na própria re- pio de Oriximiná.
gião, especialmente em Oriximiná, e repre- A empresa tem interesse na preservação
sentam parcela substancial. ambiental da área junto à mina e da que
Há problemas de fixação dos empregados contorna os platôs ricos em bauxita, à se-
em Porto Trombetas, provocados, inclusi- melhança do que a Companhia Vale do Rio
ve, pelo isolamento, sendo o turn-over de Doce - CVRD fez em Carajás. No passado,
21%, de acordo com o Relatório Anual da pretendeu essa área com cerca de
MRN, 1986. 83 000 ha, porém nada ficou decidido pelo
Governo. A MRN procura, segundo informa-
Como não há mão-de-obra qualificada na
ções locais colaborar com o Instituto Brasi-
região, a MRN tem enviado alguns filhos de
empregados para fazerem cursos fora. A leiro de Desenvolvimento Florestal - IBDF
na preservação da reserva biológica do vizi-
empresa também recebe estagiários, que
nho Tabuleiro das Tartarugas. Nesta área,
permanecem, em Porto Trombetas, de 3 a 6
embora esteja bastante conservada (é inci-
meses..
piente, ainda, a ocupação desse trecho da
A escola local de 1? e 2? graus é a Pitágo-
margem esquerda do Amazonas), são gran-
ras, de Minas Gerais, e seus professores
des os danos às tartarugas, dada a
são, em conseqüência, quase todos minei- freqüência dos roubos de seus ovos.
ros. Embora a escola seja freqüentada, se-
gundo informações da empresa, pela popu-
lação ribeirinha das imediações e o ambu- A Exploração da Bauxita do
latório também a atenda, os contatos com Trombetas e a Política Regional
os moradores locais são pequenos. para o Alumínio
Em Porto Trombetas estão estabelecidas
Seções da Receita Federal, a Capitania dos A Mineração Rio do Norte é uma socieda-
Portos e a DOCE NAVE. de anônima formada em 1967, como subsi-
As ligações externas se limitam aos vôos diária da ALCAN, quando se confirmaram
diários de Santarém por linha regular da as descobertas altamente significativas de
VARIG/Cruzeiro do Sul, que serve basica- jazidas de bauxita na margem direita do rio
mente à empresa, no percurso San- Trombetas. No entanto, o interesse da em-
tarém-Porto Trombetas. Há também linha presa arrefeceu, em 1972, com risco de pa-
regular de barcos, com capacidade para ralisação das obras no Trombetas, por cau-
21 O passageiros, que liga o núcleo da MRN sa da situação de baixa dos preços interna-
a Oriximiná, Óbidos e Santarém, três vezes cionais e, possivelmente, também pela des-
por semana em cada direção. Esta linha ser- coberta de outras jazidas de bauxita fora do
ve fundamentalmente à população regional, Brasil, de acordo com Dantas, 1981/82.
56 RBG

Com a crise do petróleo e a modificação Já em 13 de agosto de 1 971, é feito o pri-


da Geografia do Alumínio no mundo, em meiro embarque de bauxita do Trombetas
que se visava à exploração das jazidas dos para o mercado internacional, porque ainda
países abundantes em hidrelétricas, não existiam indústrias de alumínio, nem
buscou-se solucionar a situação da MRN em São Luís, nem em Barcarena, nas proxi-
através da associação com a estatal Com- midades de Belém.
panhia Vale do Rio Doce - CVRD e a Com- Podia-se pensar que a destinação interna-
panhia Brasileira de Alumínio - CBA, do cional da produção da bauxita do Trombe-
Grupo Votorantim. Pelos grupos estrangei- tas cessaria com a construção das
ros participaram a ALCAN Empreendimen- indústrias da ALUMAR e da ALBRÁS.
tos S.A., detentora dos decretos de lavra na Vê-se, porém, que hoje o mercado nacional
região, e outras empresas. Então, o projeto consome apenas 36% da produção de
teve seu sucesso garantido, conforme Re- 4 472 952 t, em 1986, e a única compra-
latório Anual, 1986, da MRN. Atualmente, dora na Amazônia é a ALUMAR. A MRN ex-
a composição acionária é a seguinte: CVRD porta para a Venezuela e para o Canadá, on~
(46%), ALCAN-A!umínio da América Lati- de se situam subsidiárias da ALCAN, 36% e
na (19%), ALCAN-Aiuminium Ltda. (5%), 26%, respectivamente, da produção, con-
CBA (10%), Billiton Metais S.A. (5%), Billi- forme Relatório Anual da MRN, 1986.
ton VB (5%), Reynolds Alumínio do Brasil O comportamento das exportações de
(5%) e Norsk Hydro Comércio e Indústria bauxita no Brasil, segundo o Sumário Mine-
Ltda. (5%). ral, 1987, é o seguinte:
Dantas, 1981/82, ressalta que, não ten-
do as empresas brasileiras a maioria das destinados à ALCAN, no Ca-
~ções, as decisões da MRN dependem sem- nadá ............................. . 47%
pre de seus associados. Além disto, para o Billiton, na Holanda .......... . 26,5%
estabelecimento de uma política regional de Norsk Hydro, na Noruega .. . 13,4%
produção de alumínio, o Brasil assumiu a Reynolds, nos Estados Uni-
construção da Usina Hidrelétrica de Tucu- dos ............................... . 11,3%
ruí, no rio Tocantins, pois a energia é funda-
mental para a produção de alumínio Considerando-se a exportação nacional
primário, e aceitou implantar subsídios alta- de bauxita, verifica-se que esta atende mais
mente interessantes para as empresas pro- às necessidades de abastecimento em
dutoras de alumínio: a ALUMAR, em São matérias-primas das grandes empresas
Luís, do Grupo ALCOA e associados, e a transnacionais do alumínio, do que a uma
ALBRÁS/ALUNORTE, da Associação CVRD política nacional para o alumínio. E esta polí-
com a NALCO japonesa. tica é a de produção do alumínio primário,
Pela Figura 9 tem-se a idéia da imensa que não é a ideal para o desenvolvimento
área que in.teressa à Geografia do Alumínio econômico e social do País, mas, sim, a pro-
na Amazônia, compreendendo as minas da dução de artigos mais elaborados.
MRN, no Trombetas; as usinas de alumínio
de São Luís e das proximidades de Belém e
a Usina Hidrelétrica de Tucuruí.

FIGURA 9 CONCLUSÕES
A MRN E A INDÚSTRIA DE ALUMÍNIO
NAAMAZONIA Do ponto de vista da morfologia da explo-
ração mineral e dos sistemas de mineração,
este trabalho mostra as peculiaridades da
mineração de bauxita.
Avalia, ainda, a orgahização do espaço na
área mineradora, em que se criaram boas
condições de vida para uma população de
cerca de 6 000 pessoas. Ressaltam-se,
RBG 57

também, os problemas ambientais e as me- Discute, ainda, a política regional para o


didas que vêm sendo tomadas. alumínio, que pretendia a produção de alu-
Salienta, no entanto, as condições de iso- mínio primário, mas que mantém a área de
lamento em que vive a população de Porto Porto Trombetas basicamente como expor-
Trombetas, relativamente à região em que a tadora de matéria-prima meramente benefi-
MRN se instalou. ciada.

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tal., 43 (414): 4-1 O, Rio de Janeiro, set./1979.
TROMBETAS - com a produção vendida e mão-de-obra fixada. Minérios, 35-46. Rio de Janeiro,
dez./1984.

RESUMO

Nos platôs situados sobre os sedimentos Barreiras. na margem esquerda do Médio Amazonas.
encontram-se os jazimentos de bauxita explorados pela Mineração Rio do Norte, em faixas ortogonais.
O processo de extração é feito com grandes equipamentos, prevendo-se a recuperação da área mine-
rada. O processo de beneficiamento. que provocou o assoreamento do lago Batata. descrito no texto,
foi completamente modificado para evitar problemas ambientais.
A implantação de grandes minas na Amazônia e, em especial. no Trombetas, provocou a ocupação
de novas áreas e a criação de núcleos urbanos, como é o caso de Porto Trombetas, mas resultou num
isolamento que não propicia a fixação da mão-de-obra. Há. também, a considera~ que a política para o
alumínio, que englobou a construção da Usina Hidrelétrica de Tucuruí. visando à p~odução do alumínio
primário. não atingiu seus objetivos no Trombetas. uma vez que a Mineração Rio do Norte exporta
bauxita, pelo menos em parte.
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........................·.·.··..·...·.··.·.· ..·.·.·.·.·.·, .................·:·:·:·:•:•.•.·.•.·:·:·:·.•.·.·.·.·.·.·.·.•.·.•.·.·.·.·.·.•.·.•.·.•.·.·.·.·.·.·.·.·.·.·.·.·.·.•.••.·.··.·.•.·.•.·.························.
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ABSTRACT
On the Barreiras sediment" at the left bank of the Middle Amazonas are found deposits of bauxita
exploited by Mineraçlio Rio do Norte. The extraction process intended to avoid ambiental degradation.
The way of preparing the mineral for its utilization that silted up Batata lake was completely changed
to avoid ambiental problems.
lmplantation of big mines in Amazonic area. chiefly in Trombetas. has contributed for the occupa-
tion of new areas and emergence of urban nucleus like Porto Trombetas. The occupation did not in-
cresse because the isolation of the area. Another factor to consider was the aluminium politics. res-
ponslble for Tucurul water-power plant construction for alumlnium productlon dld not achleve its aim
In Trombetas.

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