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Selênio Feio da
Silva**
[selenio@ufpa.br]
Resumo: O trilho é o elemento estrutural mais importante da via permanente, pois o mesmo recebe
diretamente o carregamento vertical oriundo das rodas do trem e o transmite para os elementos sub-
jacentes. Diante disso, esse estudo foi desenvolvido com a finalidade de analisar, a partir do método
de Talbot e de posse de dados operacionais da Estrada de Ferro Carajás, as tensões e deformações
num perfil de trilho, considerando diferentes valores para o módulo de via, de modo a comtemplar
os cenários de baixa, média e alta qualidade da via quanto a sua rigidez. Foram realizadas análises
comparativas através dos diagramas de deflexão, de momento fletor e de tensão normal no patim do
trilho, bem como a verificação das tensões máximas em relação aos valores admissíveis, além de uma
análise qualitativa da via baseada nas deflexões máximas. Constatou-se que quanto menos rígida é a
via (menor módulo de via), maiores são os valores do momento fletor e da deflexão no trilho, bem
como é maior a possibilidade de as tensões normais excederem o limite admissível e menos durável
tende a ser a via.
Abstract: The rail is the most important structural element of the permanent track, as it directly receives
the vertical load from the train wheels and transmits it to the underlying elements. Therefore, this study
was developed with the purpose of analyzing, using the Talbot method and possession of operational
data from the Carajas Railway, the stresses and strains on the rail, considering different values for the
track modulus, in order to contemplate the low, medium and high-quality scenarios of the railway as to
its rigidity. Comparative analyzes were performed using the deflection, bending moment and normal
stress diagrams of the rail, as well as checking the maximum stresses in relation to the allowable values,
in addition to a qualitative analysis of the track based on the maximum deflections. It was found that
the less rigid the track (smaller track modulus), the greater the values of bending moment and deflection
on the rail, as well as the greater the possibility that normal stresses will exceed the allowable limit and
the less durable it tends to be the way.
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DE VIA NO PROCESSO revistaeixo.ifb.edu.br
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dados pelas equações 6 e 7, conforme demonstrado em Hay estudo realizado pelo IPT (1993) na EFC encontrou os valores
(1982). de 4,2 kN/cm² e 3,7 kN/cm² para duas diferentes locações.
Quanto ao aspecto qualitativo Hay (1982) indica que 1,4
(6) kN/cm² é o valor mínimo do módulo de via a ser requerido
para garantia de um desempenho satisfatório para a via. Alias
(7) (1977) classifica a qualidade da via em função do módulo de
via, conforme mostra a Tabela 1.
Os valores máximos para o momento fletor (eq. 8) e defle-
xão (eq. 9) ocorrem no ponto de aplicação da carga, quando TENSÕES NORMAIS DEVIDO A FLEXÃO
é igual a .
Uma vez determinado o momento fletor máximo no tri-
(8) lho, é necessário verificar se a tensão de flexão produzida ul-
trapassa ou não as recomendações. Para a determinação da
(9) máxima tensão de tração no trilho devido a flexão, Hay (1982)
recomenda a aplicação da eq. 11.
Módulo de via
(11)
O módulo de via representa a combinação da rigidez verti- Onde:
cal dos dormentes, das fixações, do lastro, sub lastro e da infra- = tensão máxima de tração na flexão no trilho.
estrutura. O seu valor é afetado por variáveis como: a qualida- = momento fletor máximo no trilho.
de dos dormentes, o seu tamanho e o espaçamento entre eles, = momento de inércia da seção do trilho.
a densidade e a espessura da camada de lastro e do sub lastro, = distância da linha neutra até a base do trilho.
bem como a resiliência da fundação (DIPILLATO; SIMON,
1983). Desse modo seu valor tende a variar, inclusive na mes- A equação 11 pode ser colocada em função do módulo re-
ma ferrovia. sistente da seção transversal do trilho, que é dado a partir da
Para Hay (1982), o módulo da via não pode ser determina- seguinte relação:
do através de uma medida direta, porém pode-se medir a de-
flexão máxima e a partir daí calcular o seu valor, como mostra
a equação 10. (12)
(13)
(10)
Como o Patim do trilho é o elemento que resiste aos maio-
Talbot indicou os limites de variação para o módulo de via res esforços normais devido a flexão, a AREMA (2013) indi-
como valores indo de 0,37 kN/cm² a 3,04 kN/cm² (BASTOS, ca utilizar o módulo resistente do Patim ( para o cálculo,
1999). Conforme um trabalho realizado pelo IPT (1985) na conforme a equação 14.
Estrada de Ferro Carajás (EFC), foram encontrados valores
para o módulo de via de 4,15 kN/cm² e 6,78 kN/cm². Outro
(14)
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A 0,15
B 0,25
C 0,15
D 0,15
70000 (psi)
20000 (psi)
A tensão admissível indica o quanto de tensão um ma- AREMA (2013) propôs limites recomendáveis para a
terial suporta com certa margem de segurança. Conforme a magnitude das deflexões nos trilhos, que devem ser mantidas
AREMA (2013) a tensão admissível ( ) para esforços de dentro da faixa de 1/8 pol. (3,175 mm) a 1/4 pol. (6,35 mm).
flexão no trilho, considerando um trilho longo soldado, pode Lundgren et al. (1970) incorporaram essa recomendação e
ser calculada através da equação 15. propuseram um diagrama baseado em critérios de durabilida-
de, que apresenta os limites de deflexão vertical dos trilhos. O
digrama é apresentado na Figura 4.
(15) A: Faixa de deflexões para a via que durará indefinidamen-
te (0 mm a 5,08 mm).
Onde é a tensão de escoamento do trilho, é a tensão B: Valores normais de deflexões máximas desejáveis para
normal devido a variações de temperatura (tensões térmicas), vias de carga pesada, de modo a combinar bom nível de rigi-
e os coeficientes A, B, C e D são, respectivamente: fatores de dez e flexibilidade, indo de 3,175 mm a 6,35 mm, segundo a
segurança devido a flexão lateral, condições da via, desgaste recomendação da AREMA (2013).
do trilho e sua corrosão, e superelevação não balanceada. A C: Limite desejável para uma via com perfil de trilho leve
Tabela 2 mostra os valores indicados pela AREMA (2013), (≤ 50 kg/m).
para os parâmetros citados. D: Via com deficiências de manutenção, que se deteriorará
Aplicando-se os dados da Tabela 2 na equação 15, tem-se o rapidamente.
seguinte valor para a tensão normal admissível no trilho:
ESTUDO DE CASO: METODOLOGIA E
= psi = 1757,6 kgf//cm²
APRESENTAÇÃO
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de tensão normal no patim em um perfil de trilho, bem como de vagões e rodas ferroviárias GBMX (2019), foi escolhido um
comparar valores máximos desses parâmetros com valores li- perfil com 36 polegadas de diâmetro.
mites admissíveis. Serão consideradas três condições de rigi- A seguir estão algumas considerações importantes para o
dezes verticais das vias conforme o módulo de via, a partir da desenvolvimento do estudo de caso.
classificação de Alias (1977). Para a obtenção dos resultados 1ª) O perfil TR 68 será considerado novo, com suas pro-
numéricos e dos diagramas foi utilizado o software Maple. priedades geométricas mantidas de fábrica.
Alguns dados necessários para o desenvolvimento do es- 2º) O desenvolvimento dos cálculos se dará considerando
tudo, como o tipo de perfil utilizado, a velocidade máxima o carregamento de uma roda do veículo.
do trem carregado e o peso máximo por eixo foram obti- A Tabela 4 traz as propriedades físicas e geométricas
dos de uma ferrovia real em operação no Brasil, a partir da de um perfil de trilho do tipo TR 68 a serem utilizadas nas
Declaração de rede 2018 da ANTT serão utilizados dados da análises, já a Figura 5 ilustra a seção transversal do mesmo.
Estrada de Ferro Carajás (EFC), ver Tabela 3.
Outra variável necessária para a análise do estudo de caso
é o raio da roda do veículo considerado. A partir do fabricante
Fonte: Adaptada de DNIT, PIM 001 – Trilho para a linha férrea (2015)
Figura 5 – Perfil TR 68
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Determinação do fator de impacto dinâmico dentes a cada condição de via. As equações já estão em função
e do carregamento dinâmico da roda ( ) do carregamento ajustado pelo impacto dinâmico.
Para momento fletor:
Para a determinação das tensões e deformações no trilho é
necessário conhecer primeiro o esforço atuante. Por isso será
determinado o fator de impacto dinâmico ( ) correspon- Para a deflexão:
dente a velocidade e o raio da roda fornecidos no comando,
calculado a partir a formulação da AREMA (2013), expressa
na equação 16.
A velocidade dada na Tabela 3 está em km/h, precisando RESULTADOS E DISCUSSÕES
ser convertida para milhas por hora para a aplicação da for-
mulação da AREMA (2013), através de seguinte relação: A Tabela 5 e os diagramas, mostram os valores das defle-
xões e momentos fletores nas vias em função da distância do
local de aplicação da carga ao longo do trilho.
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deflexão é de 0,0002 cm na via Boa, 0,0325 cm na via média e normalizados, considerando o momento máximo na via boa
0,2227 cm na via ruim. como 1, conforme mostra a Tabela 7.
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Condição da via Valor reais para os momentos máximos (×105 kgf.cm) Valor normalizado para os momentos máximos
Via boa 5,0175 1
Via média 5,9668 1,1892
Via ruim 7,8528 1,5650
Condição da via Valor normalizado para as deflexões máximas Valores normalizados para os momentos máximos
Via boa 1 1
Via média 1,6818 1,1892
Via ruim 3,8337 1,5650
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ciou com maior sensibilidade a variação dos valores máximos Considerando o valor admissível como 1,7576×10³ kgf/cm²
de deflexão do que os de momento fletor. (conforme a AREMA, 2013) tem-se:
Via boa: 1085,7×10³ kgf/cm² < 1,7576 ×10³ kgf/cm²
Tensões normais na base do patim do trilho O perfil atende a inequação.
Via média: 1,2911×10³ kgf/cm² < 1,7576×10³ kgf/cm²
A tensão máxima de tração no Patim é dada pela equação O perfil atende a inequação.
17: Via ruim: 1,6992×10³ kgf/cm² < 1,7576×10³ kgf/cm²
Verificação: O perfil atende a inequação.
(17)
Análise das deflexões máximas a partir
Para o método de Talbot, essa equação representa a tensão de critérios de durabilidade da via
normal na base do patim do trilho abaixo do pondo de apli-
cação da carga, onde = 0 e . Para se obter Os valores obtidos para as deflexões máximas nas três
a função da tensão normais na base do patim para qualquer condições de via serão analisados com base no diagrama apre-
distância , basta substituir a função do momento na equação sentado por Lundgren et al. (1970), que mostra os limites de
17, obtendo-se a equação 18: deflexão separados por faixas, de acordo com critérios de du-
rabilidade. A Figura 8 mostra o diagrama, e a Tabela 10 mostra
o significado e os limites de cada faixa.
(18) Na Figura 8, a letra C não constitui uma faixa, e sim um
Abaixo tem-se a Tabela 9, com valores de tensões para dife- valor limite desejável para uma via com perfil de trilho leve (<
rentes distâncias de aplicação da carga. É importante destacar 50 kg/m), portanto não se aplica a esse estudo de caso, pois o
que as curvas de tensão são semelhantes às de momento, dife- perfil TR 68 excede os 50 kg/m, sendo esse utilizado em ferro-
rindo na magnitude e unidade de medida. vias de carga pesada. Desse modo as deflexões máximas para
Verificação de tensões: Para que o perfil atendas as soli- cada condição de via serão analisadas com base na compara-
citações com segurança, a tensão máxima deve ser menor ou ção com as faixas A, B e D.
igual a tensão admissível. I- Para a via boa: A deflexão máxima na via boa foi de
0,2304 cm ou 2,304 mm. Esse valor indica que a via está dentro
da faixa A (0 a 5,08 mm) porém abaixo do limite inferior da
Os valores para as tensões máximas no patim segundo a faixa B (3,175 mm). Isso significa que a via boa apresenta um
Tabela 9 são: 1,6992×10³ kgf/cm² para a via ruim, 1,2911×10³ valor baixo de deflexão, que permitirá ter uma durabilidade
kgf/cm² na via média e 1,0857×10³ kgf/cm² para a via boa. indefinida, porém não combina a rigidez e a flexibilidade de
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maneira desejável, indicando que é pouco mais rígida que o dade (Conforme: 5.2.5 Análise das deflexões máximas a partir
ideal. de critérios de durabilidade da via).
II- Para a via média: A deflexão máxima na via média é
de 0,3875 cm ou 3,875 mm, o que coloca a via dentro das fai- REFERÊNCIAS
xas A e B. Nessa condição, além da via média ter durabilidade
indefinida, apresenta também uma combinação desejável de ALIAS, J. “La voie ferrée: Techiniques de construction et d’
rigidez e flexibilidade. entretien”. Paris: Édition Eyrolles, 1977.
III- Para a via ruim: A via ruim apresentou uma deflexão
máxima de 0,8833 cm ou 8,833 mm, consideravelmente acima AMERICAN SOCIETY OF CIVIL ENGINEER; AMERICAN
dos limites superiores das faixas A (5,08 mm) e B (6,35 mm), RAILWAY ENGINEERING ASSOCIATION (AREA). “Special
sendo mais próximo do limite inferior da faixa D (10,16 mm). Committee on Stresses in Railroad Track”. First Progress Report in
Desse modo se conclui que a via ruim não apresenta condições Transport. ASCE. V. 82. 1918
desejáveis de serviço, com uma tendência a se deteriorar mais
rapidamente. ANTT. Declaração de rede 2018. Disponível em: <http://www.antt.
gov.br/ferrovias/arquivos/Declaracao_de_Rede_2018.html>, Acesso
CONCLUSÕES em 30 de outubro de 2019.
Com relação aos momentos fletores no trilho, com base AREMA. Manual for Railway Engineering, Volume 1 - Chapter
nos diagrama comparativo da Figura 7 e na Tabela 5, os maio- 30 - Ties - Part 1 “General considerations”. American Railway
res valores do módulo de via os momentos são menores, bem Engineering and Maintenance of Way Association, USA, 2013.
como é menor a distância em que seus efeitos se anulam. Como
as tensões normais na base do patim são função do momento, AREMA. Manual for Railway Engineering, Volume 1 - Chapter 4 -
as mesmas considerações feitas para a análise de momento são Rail - Part 2 “Manufacture of rail”. American Railway Engineering
válidas para estas (ver Tabela 9). and Maintenance of Way Association, USA, 2013.
A partir da análise dos diagramas comparativos e das tabe-
las para a deflexão nas três vias, se concluiu que quanto menos AREMA. Manual for Railway Engineering, Volume 4 - Chapter
rígida é uma via (menor módulo de via) maiores são as defle- 16 - Part 10 “Economics of Railway Engineering and Operations
xões, bem como é maior a distância de alcance das deflexões – Construction and Maintenance Operations”. American Railway
a partir do ponto de aplicação da carga, ou seja, a extensão da Engineering and Maintenance of Way Association, USA, 2013.
bacia de deflexões (ver Figura 6 e Tabela 5).
Observa-se também que a variação do módulo de via in- BASTOS, P. S. dos S. “Análise Experimental de Dormentes de
fluenciou de maneira mais sensível os valores máximos de de- Concreto Protendido Reforçados com Fibras de Aço”. Tese
flexão que os de momento fletor. As deflexões máximas na via (Doutorado) –Escola de Engenharia de São Carlos, Arquitetura e
ruim foram mais de três vezes maiores que na via boa, enquan- Urbanismo, Universidade de São Paulo, São Carlos, 1999.
to os momentos máximos na via ruim foram cerca de 1,6 vezes
maiores que na via boa (Tabela 8). DIPILATO, M. A.; STEINBERG, E. I.; SIMON, R. M. “Ballast
Quanto a análise das deflexões máximas por critério de du- and subgrade requirements study. Railroad track substructure.
rabilidade, constatou-se que a via sofreu deflexões acima dos Design and performance. Evaluation Practices”. Federal Railroad
limites desejáveis, indicando que ela terá uma durabilidade Administration. Office of Research and Development. Washington,
menor. Foi visto também que tanto a via boa e a via média D.C., USA, 1983.
apresentaram deflexões que lhes permitem ter durabilidade
indefinida. Porém quanto a combinação desejável de rigidez ESVELD, C. “Modern Railway Track”. Delft: MRT Productions,
e flexibilidade, a via boa apresentou deflexões que indicam ser 2001.
mais rígida que o ideal, já as deflexões na via média mostram
que a mesma apresentou boa combinação de rigidez e flexibili- FORTUNATO, E. M. C. “Renovação de Plataformas Ferroviárias,
Estudos Relativos à Capacidade de Carga”. 628 p. Tese (Doutorado)
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HAY, W.W.“Railroad Engineering, Second”. New York: John Wiley ** Doutor em Estruturas e Construção Civil.
and Sons, Inc., 1982. Universidade Federal do Pará. Lattes: http://lattes.cnpq.
br/6377530179701831
INSTITUTO DE PESQUISAS TÉCNOLÓGICAS. Determinação do
modulo de via na Estrada de Ferro Carajás. São Paulo. Relatório
IPT n.31.220 53 p. 1993.
KERR, A.D. “On the Stress Analysis of Rails and Ties” In: Report nº
FRA – ORD&D – 76 – 234. Washington DC. September, 1976.
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