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RESUMO
A interação entre os elementos do pavimento ferroviário é responsável pela magnitude de deslocamentos gerada
na passagem de trens. Esta interação no sentido vertical tem como resposta global da estrutura a deflexão medida
a partir do patim do trilho, que pode ser analisada por modelos como o de uma viga contínua sobre apoios elásticos
e relaciona carregamento e deflexão pelo módulo de via, parâmetro utilizado vastamente na avaliação da condição
estrutural do pavimento ferroviário. Neste artigo é realizada uma comparação entre dois métodos distintos para
obtenção do módulo de via, denominados método do tempo e da frequência, ambos originados de um mesmo
modelo analítico, mas com dados de entrada em domínios distintos. Os resultados obtidos no domínio da
frequência mostraram alto potencial de serem comparáveis aos obtidos no domínio do tempo, com a vantagem
principal de não serem necessários dados de carregamento para a sua determinação.
ABSTRACT
The interaction between railway track components is responsible for the magnitude of displacements generated by
passing trains. This interaction in the vertical direction has the rail deflection as a global response of the structure,
which can be analyzed by models such as the beam on elastic foundation (BOEF), which relates loading and
deflection by the track modulus, a parameter widely used in the assessment of the track condition. In this article,
a comparison is made between two different methods for obtaining track modulus, named the time and the
frequency methods, both obtained from the same analytical model, but in distinct domains. The results obtained
in the frequency domain showed a high potential to be comparable to those obtained in the time domain, with the
main advantage of determination without wagons axle load information.
1. INTRODUÇÃO
𝜕 4 𝑤(𝑥, 𝑡)
𝑝(𝑥, 𝑡) = 𝐸𝐼 + 𝑢𝑤(𝑥, 𝑡) (1)
𝜕𝑥 4
4𝑣 3 𝑁
−
𝑖𝜔𝑥𝑛
𝑤(𝜔) = ∑ 𝐹𝑛 𝑒 𝑣 (5)
4𝑢𝑣 4 + 4𝐸𝐼𝜔 4 𝑛=1
𝑖2𝜋𝑎𝑥𝑛
−
𝑤(𝑛 = 𝑎) 𝐿𝑣 3 𝑢 + 16𝐸𝐼𝑏 4 𝜋 4 𝑁 𝑒 𝐿𝑣
= 3 ∑ (6)
𝑤(𝑛 = 𝑏) 𝐿𝑣 𝑢 + 16𝐸𝐼𝑎4 𝜋 4 𝑖2𝜋𝑏𝑥
𝑛=1 − 𝐿 𝑛
𝑒 𝑣
Nesse contexto, o objetivo desse artigo foi comparar os resultados de módulo de via obtidos
com o uso de dados analisados no domínio do tempo (Equação 4) e frequência (Equação 6),
avaliando a aplicabilidade do método da frequência e as técnicas de processamento de sinais
necessárias para a sua utilização. Para tanto, analisou-se os sinais de deslocamento vertical
gerados pela passagem de trens em 4 segmentos da Estrada de Ferro Vitória Minas (EFVM).
Adicionalmente, foram apresentados dados de velocidade dos trens e sua variação no momento
da passagem do veículo pelo ponto instrumentado, informações facilmente obtidas no domínio
da frequência (Ju et al., 2009), consideradas também relevantes para análises do comportamento
dinâmico da via.
3. METODOLOGIA
Dada a influência da geometria do veículo no modelo analítico de uma viga sobre apoio elástico,
estudada por Le Pen et al. (2016), foi realizado um estudo teórico prévio para a calibração deste
modelo, adotando dados geométricos dos vagões GDE, que são normalmente utilizados para o
transporte de minério de ferro na EFVM. As características geométricas destes vagões são
apresentadas na Figura 1.
𝐿𝑏
𝐿𝑎 5,500 m
1,727 m
𝐿𝑣
9,750 m
Figura 1: Características geométricas dos vagões GDE
... ...
Figura 2: Influência do módulo de via nas deflexões geradas pelo modelo analítico
10 MPa 40 MPa
(a) (b)
(c) (d)
Figura 3: FFT de um sinal simulando a passagem de vagões GDE com 20 tf/eixo em uma via
com: (a) Módulo de via de 10 MPa, (b) Módulo de via de 40 MPa, (c) Módulo de via de 70
MPa, (d) Módulo de via de 100 MPa
Para obter o módulo de via a partir do sinal analisado no domínio frequencial, os valores dos
picos referentes ao primeiro e segundo harmônico são inseridos na Equação 6, variando 𝑢 em
um processo iterativo. Seguindo procedimento semelhante ao realizado por Le Pen et al. (2016),
é possível obter uma curva de calibração para a variação da relação entre as amplitudes dos dois
harmônicos predominantes dos vagões GDE, relacionando ao módulo de via, como pode ser
observado na Figura 5.
120
100
Módulo de via (MPa)
80
60
40
20
0
0,0 0,2 0,4 0,6 0,8 1,0 1,2 1,4 1,6 1,8 2,0
Razão de amplitude w(f2)/w(f1)
A instrumentação para obtenção dos sinais de deflexão vertical no patim do trilho foi realizada
em 4 segmentos (A, B, C e D) da EFVM, abrangendo condições diversas de materiais
constituintes da seção da via permanente (Tabela 1). A escolha de locais com diferentes
configurações do pavimento teve como objetivo validar a aplicação do modelo analítico para
condições diversas, não sendo objetivo deste artigo a comparação dos resultados obtidos em
cada segmento.
Tabela 1: Características estruturais das seções instrumentadas e sinais obtidos em cada seção
Nos locais selecionados, diversos equipamentos foram inseridos na via para registro de tensões
em diferentes profundidades e deslocamentos em diferentes componentes. No entanto, neste
artigo são analisados apenas dados de um Linear Variable Differential Transformer (LVDT)
utilizado para medir deslocamentos verticais no patim do trilho, conforme mostra a Figura 5.
Para atenuar o efeito das vibrações geradas pela passagem do trem na base de fixação do LVDT,
foi utilizado o Dispositivo para Medição de Deslocamentos (DMD), como proposto por Costa
(2016).
Figura 5: Medição de deslocamentos utilizando LVDT no DMD
O registro dos dados foi realizado com um sistema de aquisição PMX, que transforma o sinal
contínuo da passagem dos trens em discreto, realizando interpolações. A frequência de
amostragem escolhida foi de 1,2 kHz, bastante acima das frequências normalmente encontradas
para deslocamentos verticais oriundos da passagem de trens na ferrovia em questão (até 25 Hz
para trens com velocidade em torno de 40 km/h - Kouroussis, et al. 2015). A frequência de
amostragem escolhida atende o teorema de Nyquist, segundo o qual uma boa resolução
frequencial é obtida quando a frequência de amostragem é superior a duas vezes a maior
frequência do sinal analisado.
As cargas por roda foram consideradas como sendoa carga estática fornecida na ficha dos trens,
acrescida de um fator de impacto (AREMA, 2020), calculado com base na velocidade média
do trem e no diâmetro aproximado das rodas destes vagões (36 pol.). Além de dados teóricos
de momento de inércia dos trilhos TR68, sem considerar possíveis perdas de seção ocasionadas
pelo desgaste ao longo da vida útil do componente, considerou-se um módulo de elasticidade
de 210 GPa.
Prosseguindo para a análise no domínio da frequência, foi subtraída a média de todo sinal,
deixando-o centralizado em relação à média. Para a escolha do método de análise foi necessário
primeiro verificar se os sinais obtidos eram estacionários. Adotando um número de pontos
equivalente à passagem de aproximadamente 10 vagões, foram analisadas a média e a variância
móvel dos sinais. Concluiu-se que os sinais se tratavam de sinais não estacionários, ou seja,
média móvel de um conjunto de pontos variável ao longo do tempo, dadas as variações no
carregamento de cada vagão e de velocidade em situações de aceleração ou frenagem. Por
consequência, a FFT utilizada na seção 3.1 deste artigo não apresentou bons resultados para os
sinais reais, uma vez que este método não é capaz de modular variações de amplitude ou
frequência ao longo do tempo.
Para transpor o fato dos sinais serem não estacionários, prosseguiu-se com o uso de um método
tempo-frequência, sendo a Short-Time Fourier Transform (STFT) escolhida. Neste método, foi
necessário encontrar a melhor relação de número de pontos por amostragem, para obter
resultados com boa resolução tanto no tempo (menor número de pontos por janela) quanto na
frequência (maior número de pontos por janela). Para tal, foi minimizado o erro relativo pela
variação do tamanho de janelas hamming, de 4.000 até 30.000 pontos por janela, com os
melhores resultados ficando entre 4.000 e 12.000 pontos, a depender do sinal analisado,
utilizando uma sobreposição de 50% do número de pontos entre janelas adjacentes.
No que se refere aos cálculos do módulo de via, adotou-se: (i) método da freqüência (𝑢𝑓𝑟𝑒𝑞. ) de
acordo com a Equação 6; e (ii) domínio do tempo (𝑢𝑡𝑒𝑚𝑝𝑜 ), determinado com os valores de
pico de deslocamento registrados na passagem de cada vagão.
4. RESULTADOS
(b)
Figura 6: Exemplos de espectrogramas obtidos dos sinais reais: (a) Sinal 1 – Trem com leve
redução de velocidade; (b) Sinal 11 – Trem com aumento de velocidade
A fim de obter o módulo de via (𝑢𝑓𝑟𝑒𝑞. ) pelo método da frequência (Equação 6), os valores de
magnitude dos picos correspondentes aos dois primeiros harmônicos são obtidos com o
espectrograma. No domínio do tempo, o módulo de via (𝑢𝑡𝑒𝑚𝑝𝑜 ) foi determinado com os
valores de pico de deslocamento registrados na passagem de cada vagão. Ambos métodos
resultaram em distribuições de valores para cada sinal, na Tabela 3 são apresentadas as médias
e os respectivos desvios padrão.
Em uma análise do resultados, é possível identificar que os maiores desvios padrão do método
da frequência são referentes aos pontos de maior rigidez. Isto se deve à forma da curva de
calibração (Figura 5), que leva o módulo de via a ser mais suscetível a variações na razão de
amplitudes para valores altos. Outro ponto importante é que o método de determinação do
módulo de via no domínio do tempo apresentou desvio padrão menor quando comparado ao
método no domínio da frequência, indicando que o primeiro método levou a resultados mais
próximos da média.
Na Figura 7 são apresentados os resultados dos dois métodos plotados com uma linha de
igualdade. A maior parte dos dados se concentraram na faixa entre 0 e 20 MPa, onde a maior
parte dos valores de 𝑢𝑓𝑟𝑒𝑞. foram menores que 𝑢𝑡𝑒𝑚𝑝𝑜 . Destaca-se no gráfico o ponto referente
ao sinal 11, que resultou em 𝑢𝑓𝑟𝑒𝑞. de 16 MPa e 𝑢𝑡𝑒𝑚𝑝𝑜 de 43 MPa, é importante enfatizar que
neste sinal e no sinal 12 houveram as maiores variações de velocidade, o que pode ter levado a
uma componente dinâmica diferente da estimada, que considerou apenas o diâmetro da roda e
a velocidade média do trem. Outros pontos que se destacam no gráfico são referentes aos sinais
3 e 4, que foram obtidos no segmento B onde os dormentes são de concreto, neste caso os
valores foram superiores aos observados para os dormentes de aço, mas mesmo assim os dois
pontos seguiram margeando a linha de igualdade. É importante enfatizar novamente que o
presente artigo não teve como objetivo a comparação de resultados obtidos para diferentes tipos
de dormente ou outras diferenças estruturais entre os segmentos, sendo estas características
apenas apresentadas para mostrar que os métodos aqui utilizados são aplicáveis às diversas
configurações.
60
50
utempo (MPa)
40
30
20
10
0
0 10 20 30 40 50 60
ufreq. (MPa)
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Neste trabalho foram analisados 12 sinais de deslocamento vertical obtidos com a passagem de
trens em 4 diferentes segmentos da Estrada de Ferro Vitória Minas. A partir de resultados
observados no domínio do tempo e da frequência, as seguintes conclusões podem ser extraídas:
• Os deslocamentos verticais no pavimento ferroviário geram em grande maioria sinais
não estacionários, uma vez que as cargas e velocidades registradas entre vagões variam
consideravelmente, portanto é desejável utilizar métodos tempo-frequência como a
STFT para a análise destes sinais;
• Na análise de sinais usando STFT é necessário um estudo prévio da quantidade de
pontos a ser utilizada em cada janela, uma vez que esta interfere na resolução no tempo
e na frequência, janelas pequenas devem ser escolhidas em casos com alta variabilidade
de cargas e deslocamentos entre vagões adjacentes;
• Os espectrogramas gerados pelas STFT fornecem informações da variação de
velocidade de um trem ao passar por determinado ponto e da variação de magnitude nos
harmônicos que constituem o domínio da frequência. Tais dados podem auxiliar em
estudos futuros de análise do comportamento mecânico da via;
• O módulo de via determinado no domínio da frequência 𝑢𝑓𝑟𝑒𝑞. apresentou a maioria dos
valores próximos aos obtidos no domínio do tempo 𝑢𝑡𝑒𝑚𝑝𝑜 . É importante que no futuro
seja ampliada a quantidade de dados, para preencher também a região do gráfico para
módulos entre 20 MPa e 40 Mpa;
• Comparando o método 𝑢𝑓𝑟𝑒𝑞. para o 𝑢𝑡𝑒𝑚𝑝𝑜 , o primeiro método tem como grande
vantagem não precisar de dados de carregamento dos vagões, evitando não só incertezas
relacionadas à pesagem dos vagões, mas também em relação à componente dinâmica
pelo trem em movimento. Tal característica também é vantajosa para identificação
rápida de locais que precisam de manutenção, uma vez que apenas os dados de
deslocamento vertical e geometria do trem são necessários.
Agradecimentos
Os autores agradecem à Vale S.A. pela parceria em projetos de pesquisa e pela disponibilidade da equipe de
manutenção da via permanente da Estrada de Ferro Vitória Minas.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
AREMA (2020) American Railway Engineering and Maintenance-of-way Association, Lanham, Maryland.
Costa, R. C. (2016) Proposição de dispositivo de medidas “in situ” para avaliação do comportamento mecânico de
lastro ferroviário: Estudo de caso na Estrada de Ferro Carajás. Universidade de São Paulo, São Paulo.
Ju. S., Lin, H., Huang, J. (2009) Dominant frequencies of train-induced vibrations. Journal of Sound and Vibration.
Kouroussis G., Caucheteur, C., Kinet D., et al. (2015) Review of trackside monitoring solutions: from strain gages
to optical fibre sensors. Sensors.
Le Pen, L., Milne, D., Thompson, D., Powrie, W. (2016) Evaluating railway track support stiffness from trackside
measurements in the absence of wheel load data. Can. Geotech. J..
Li, D., Hyslip, J., Sussmann, T., Chrismer, S. (2016) Railway Geotechnics. CRC Press.
Milne, D., Le Pen, L., Thompson, D., Powrie, W. (2016) Properties of train load frequencies and their
applications. Journal of Sound and Vibration.
Powrie, W., Le Pen, L. (2016) A guide to track stiffness. Cross Industry Track Stiffness Working Group.