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2 Trilhos ............................................................................................................................ 5
3 Dormentes ................................................................................................................... 15
3.1 Dormentes de madeira .......................................................................................... 17
3.1.1 Alguns ensaios realizados nos dormentes de madeira ................................... 20
3.2 Dormentes de concreto.......................................................................................... 23
3.2.1 Alguns ensaios realizados nos dormentes de concreto ................................... 27
3.2.1.1 Ensaios de momentos ................................................................................ 29
3.3 Dormentes de aço .................................................................................................. 35
5 Lastro ........................................................................................................................... 45
A imagem da capa foi fotografada pelo autor no final do mês de julho/2014, durante as
obras do pátio intermodal ferroviário, na cidade de São Simão/GO.
1 Introdução, a bitola
A superestrutura ferroviária é caracterizada por todos os componentes acima do
sublastro, incluindo o lastro. Porém, em virtude de tecnologias de construção como o sublastro
betuminoso ou lajes de concreto (slab track), outros autores vêm considerando como
superestrutura todos os elementos acima do subleito ou das camadas finais de terraplanagem.
Em uma via lastrada (ou lastreada), a grade (trilhos, dormentes e acessórios de fixação) não é
rigidamente unida à camada inferior, sendo na verdade embutida no lastro.
Os componentes ou elementos da superestrutura definidos a seguir são: lastro,
dormentes, acessórios de fixação e trilhos. A bitola e o espaçamento entre os dormentes não
são considerados por alguns pesquisadores como componentes da superestrutura, apenas
propriedades físicas do pavimento, mas para este autor são sim características da
superestrutura, principalmente por alterarem a maneira como a distribuição das tensões é
desenvolvida, portanto têm sua relevância em particular.
A bitola é a distância interna entre trilhos, devendo ser padrão ao longo de toda a ferrovia,
que conforme (1) é medida a aproximadamente 1,5 cm abaixo do topo do boleto (mesma posição
em vias novas ou em construção), no intuito de se desconsiderar eventuais defeitos na superfície
do trilho (Figura 1.1). As principais bitolas existentes no mundo são:
a) métrica ou estreita, medindo 1,0 m;
b) normal ou padrão, medindo 1,435 m;
c) larga, maior que 1,5 m. No Brasil 1,6 m.
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Capítulo 1 - Introdução, a bitola
Uma representação mais atualizada da variação das bitolas no mundo é apresentada a
Figura 1.3. Nela, a cor de cada território representa a bitola predominante, podendo existir mais
de uma bitola. Países como Estados Unidos e Canadá têm a vantagem de adotar apenas uma
bitola, no caso a normal de 1,435 m, garantindo que um mesmo trem consiga circular em
praticamente todas as estradas de ferro dos dois países.
Diferentes tipos de bitola podem ter razões estratégicas. Bitolas menores proporcionam
menores custos de construção e manutenção da ferrovia. No passado, bitolas diferentes entre
países vizinhos era considerado uma estratégia de guerra, a exemplo da Rússia, que possui uma
bitola única no mundo até os dias atuais de 1520 mm. No caso de uma invasão militar, as
composições do país invasor teriam dificuldade em trafegar no país invadido.
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Capítulo 1 - Introdução, a bitola
a. lotação de 95 toneladas;
b. tara de 25 toneladas;
c. peso total de 120 toneladas
d. relação lotação/peso = 95/120 = 0,79.
b) bitola métrica de 1000 mm:
a. lotação de 75 toneladas;
b. tara de 15 toneladas;
c. peso total de 90 toneladas
d. relação lotação/peso = 75/90 = 0,83.
Para (4), a bitola métrica tem melhor aproveitamento na relação lotação/peso, a
depender de cada tipo de vagão, porém a bitola larga proporciona, sem dúvida, maior capacidade
de transporte de carga. A bitola métrica tem, sem dúvida, o menor custo de implantação por km.
As tolerâncias na bitola variam de -3 a +6 mm nas tangentes e até +10 mm nas curvas,
(4).
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Capítulo 1 - Introdução, a bitola
2 Trilhos
Os trilhos são perfis metálicos implantados sobre os dormentes com o intuito de guiar os
rodeiros ferroviários, resistindo a diversas ações químicas e mecânicas, atenuando e
retransmitindo esforços para as demais camadas do pavimento ferroviário.
Para isso, devem apresentar rigidez suficiente para dividir os carregamentos entre os
dormentes e evitar deflexões excessivas. Caso não tenham a rigidez adequada, as tensões
atuantes nas camadas inferiores poderão superar as tensões admissíveis, aumentando a
deformação permanente e ocasionando problemas recorrentes de nivelamento.
Trilhos também podem servir como condutores elétricos para circuitos de via ou como
linhas de transmissão para veículos possuindo motores elétricos, como locomotivas elétricas ou
carros de metrô.
O trilho pode ser considerado como uma viga contínua, apoiada sobre apoios
deformáveis e espaçados. Quanto maior o momento de inércia do trilho, maior a sua rigidez à
flexão, melhor a distribuição de tensões sobre os dormentes e menores serão os esforços
distribuídos às camadas inferiores do pavimento ferroviário.
A união dos trilhos se dá basicamente pela execução de soldas aluminotérmicas,
elétricas ou por talas de junção. Apesar da usual soldagem dos trilhos para a formação de trilhos
longos soldados (TLS), talas geralmente são inseridas como alternativa de isolamento em linhas
sinalizadas. Conforme (5), a utilização de TLS reduz os custos de manutenção, estende a vida
útil dos trilhos pela eliminação de juntas e melhora a qualidade do rolamento, reduzindo
desgastes no material rodante e da via. No entanto alguns cuidados devem ser tomados, pois
há maior probabilidade de flambagem ou ruptura do trilho em função das variações térmicas,
além da maior dificuldade no transporte e na troca dos perfis.
Segundo (2), nos primórdios da ferrovia os primeiros trilhos de aço eram simples perfis
de aço chatos, com baixa resistência à flexão, assentados sobre apoios contínuos (Figura 2.1).
A principal função era guiar as rodas dos veículos ferroviários, sem muita preocupação com a
durabilidade, não havendo também padronização dos perfis. Somente em meados do ano de
1831 o americano Stevens introduziu um perfil de trilho com características utilizadas até os dias
atuais, conhecido como trilho Vignole. Desde então os trilhos vêm sofrendo modificações em sua
geometria e composição, tendo como objetivo o aumento de sua resistência e durabilidade.
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Capítulo 2 - Trilhos
Figura 2.1 – Evolução histórica dos trilhos ferroviários, http://www.ndt-
ed.org/AboutNDT/SelectedApplications/RailInspection/RailInspection.htm. Acesso em 21 jun.
2013 às 21:33 h
No trilho Vignole padrão (Figura 2.2), a parte superior é chamada de boleto, a parte
inferior é denominada patim e a parte que liga o boleto ao patim é chamada de alma.
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Capítulo 2 - Trilhos
Figura 2.3 – Representação dos esforços verticais e laterais que atuam no trilho, (4)
Lembrando que é o trilho quem guia as rodas dos veículos ferroviários, o boleto foi
projetado para se compatibilizar com o aro e o friso das rodas, melhorando as condições de
rolamento. O trilho é implantado inclinado para o centro da via na proporção de 1:20 (5 %) ou
1:40 (2,5 %), a depender do projeto, formando um ângulo β entre o plano horizontal do topo do
boleto e o friso da roda (Figura 2.4), oferecendo uma superfície de rolamento levemente
abaulado, a fim de reduzir o desgaste do trilho e do aro da roda. A implantação dos trilhos sem
a inclinação acarreta no desgaste obliquo da superfície de rodagem dos trilhos na mesma
inclinação do aro das rodas (cônico), assim como um desgaste anormal da própria roda.
Figura 2.4 – Ângulo β entre o plano horizontal do topo do boleto e o friso da roda, (4)
O ângulo β gira em torno de 60º. Para ângulos β maiores, existe maior facilidade da roda
subir em juntas sem discordância no alinhamento, uma vez que o friso pode bater em uma “quina
viva”, Figura 2.5. Para ângulos β menores, existe maior facilidade do friso subir no trilho, podendo
ocasionar um descarrilamento.
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Capítulo 2 - Trilhos
Figura 2.5 – Junta com “quina viva” (seta indica sentido da roda) onde o friso da roda pode
bater e subir
Segundo (2) e (4), um perfil de trilho deve atender aos seguintes requisitos:
a) a superfície de rolamento do boleto deve ter largura suficiente para proporcionar
relações de contato entre a roda e trilho favoráveis, mantendo a tensão superficial
de compressão dentro dos limites elásticos;
b) o boleto deve ter altura que permita uma ampla margem de desgaste, da ordem de
12 a 15 mm, proporcionando assim uma longa vida útil para o trilho;
c) a alma e o patim devem ter espessuras suficientes para resistir à flexão, aumentando
a rigidez do perfil, inclusive quando enfraquecido por desgastes;
d) o patim deve ser tão largo quanto possível, fornecendo boa estabilidade ao
tombamento, assim como uma distribuição favorável da tensão de compressão
sobre o dormente ou placa de apoio;
e) o momento resistente do trilho deve ser tão grande quanto possível, ou seja, a altura
do trilho deve ser a maior possível, assim como as seções transversais do boleto e
do patim em relação à seção transversal da alma;
f) a altura do trilho comparada à largura do patim não deve ser excessiva e boas
relações altura/largura resultam em valores da ordem de 1 a 1,20;
g) por razões de técnicas de laminação e com a finalidade de se obter uma distribuição
favorável de tensões, todos os pontos de transição devem ser arredondados com o
maior raio possível.
Com vistas a apresentar uma resistência adequada às diversas solicitações a que é
submetido, segundo (6), o trilho deve apresentar como principais características:
a) elevados limites de escoamento e de resistência à tração;
b) elevada dureza e resistência ao desgaste;
c) elevada resistência à fadiga por contato;
d) elevada resistência à propagação de fratura, ou seja, boa tenacidade;
e) baixa suscetibilidade à fragilização pelo hidrogênio;
f) boa soldabilidade (juntas soldadas isentas de trincas e/ou constituintes frágeis);
a) confiabilidade em serviço, sem ocorrência de defeitos que comprometam a
segurança do tráfego ferroviário.
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Capítulo 2 - Trilhos
Tabela 2.1 – Composição química dos trilhos ferroviários, 98 % de ferro, (4)
Peso P máx. S máx.
C (%) Mn (%) Si (%) Cr (%)* Mn (%)*
(kg/m) (%) (%)
0,55 a 0,60 a 0,10 a
35 a 40 --- --- 0,04 0,05
0,68 0,90 0,25
0,64 a 0,60 a 0,10 a
40 a 45 --- --- 0,04 0,05
0,77 0,90 0,25
0,67 a 0,70 a 0,10 a
45 a 60 --- --- 0,04 0,05
0,80 1,0 0,25
0,69 a 0,10 a 0,70 a 0,80 a
> 60 0,7 a 1,0 0,04 0,05
0,82 0,25 1,20 % 1,30
* Elemento inserido em trilhos aço-liga especiais, geralmente acima de 60 kg/m.
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Capítulo 2 - Trilhos
Caso o material seja reprovado nos ensaios mecânicos, todos os trilhos da “corrida”, de
4 a 5 lingotes, deverão ser rejeitados, mostrando a importância da rastreabilidade. As
impressões de rastreabilidade são marcadas nos trilhos na sua alma, de ambos os lados,
devendo ser indicado (Figura 2.7):
a) A empresa e país de fabricação;
b) O tipo de forno de fundição: T = Thomas; B = Bessemer; M = Martin; E = elétrico;
SM = Siemens-Martir;
c) O tipo de trilho ou o seu nome comercial, geralmente denominado pelo peso em
metros (ver Tabela 2.3);
d) O ano e mês de fabricação;
e) O número da “corrida” e número do lingote;
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Capítulo 2 - Trilhos
Para a (10) as propriedades mecânicas dos trilhos são aquelas apresentadas na Tabela
2.2. Tais características são diretamente relacionadas com as condições de tratamento térmico
a que os trilhos são sujeitos.
Tabela 2.2 – Propriedades mecânicas dos trilhos, adaptado de (10)
Limite de Limite de Dureza
Qualidade do Alongamento em
resistência à escoamento Brinell a 30
trilho 2 pol. (%)
tração (MPa) (MPa) kN (HB)
Aço ao
936 487 10,2 269
carbono
Aço alto
1015 567 10,0 305
silício
Aço Cr-Mn-Si 1076 619 8,6 314
Aço Niobrás
1089 574 10,2 314
200
Boleto
1137 824 12,0 327
Endurecido
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Capítulo 2 - Trilhos
d) a velocidade máxima prevista para os trens;
e) a tensão admissível do aço do trilho;
f) o tipo de tração ferroviária a ser empregada.
Quanto maior a solicitação da via, menor a tensão admissível considerada. Isso ocorre
porque quanto maior o tráfego, maiores serão os desgastes, a fadiga dos materiais e a
probabilidade de falha. Para o caso mais crítico de σadm = 200 MPa, considerando a tensão de
escoamento do trilho igual a 500 MPa, tem-se um coeficiente de segurança igual a 2,5. Nas
tensões admissíveis apresentadas, dada a magnitude do coeficiente de segurança,
considerando uma linha bem conservada que não apresenta maiores problemas, admite-se
eventuais composições com sobrecargas, assim como acréscimos de forças laterais, tensões
térmicas, golpes oriundos de calos de roda, etc.
Segundo (15),
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Capítulo 2 - Trilhos
HAY (1982)1 sugere para a tensão admissível de tração a adoção de um fator
de segurança de 2,2 para trilhos de barras curtas e 2,8 para trilhos longos
soldados com relação a tensão de escoamento do aço empregado. Este fator
de segurança é adotado em função de tensões térmicas, esforços de flexão
laterais, superelevação não compensada, desgaste do trilho nas curvas e
rugosidades da via.
A máxima tensão solicitante nos trilhos ocorre quando todas as ações atuam
simultaneamente, na forma mais desproporcional possível. No entanto em uma análise
estatística essa possibilidade é de difícil ocorrência e mesmo que ocorra, em função da
velocidade do material rodante, sua duração seria quase instantânea, fazendo com que
dificilmente ocorra efeitos realmente nocivos à segurança da via, principalmente considerando
uma manutenção preditiva e preventiva adequada.
Segundo (2), quando todas as ações possíveis atuam de forma simultânea, a tensão já
se situa além de limite de escoamento do aço. No entanto os trilhos resistem bem a tais
solicitações e fraturas geralmente ocorrem quando existem falhas estruturais. A resistência a
supersolicitações existe porque raramente as ações ocorrem em sua máxima magnitude e
simultaneidade, e quando ocorrem não atuam em toda seção transversal do trilho. Assim a
melhor maneira de garantir a durabilidade dos trilhos é o controle de desgastes excessivos,
verificando periodicamente a existência de defeitos e sempre que possível utilizando trilhos de
alta resistência.
Uma maneira de estimar a tensão admissível é utilizando a equação (2.2), apresentada
por (16). Nela, os fatores de segurança A, B, C e D recomendados pelo autor são respectivamente:
a) em relação a flambagem lateral (A), recomendado 17 %;
b) condições de manutenção da via (B), recomendado 25 %;
c) desgaste do trilho e corrosão (C), recomendado 18 %;
d) superelevação desbalanceada (D), recomendado 20 %.
σy − Et α ∆t
σadm = (2.2)
(1 + A)(1 + B)(1 + C)(1 + D)
Para realidade brasileira a equação (2.2) resulta valores da ordem de 225 MPa. Definida
a categoria da linha e o momento máximo atuante, o perfil do trilho pode então ser dimensionado
conforme a equação (2.3), clássica da tensão na flexão.
M α Mmáx
σ= → σadm ≥ (2.3)
W Wa
Onde: σ = tensão na flexão [F][L]²; M = momento fletor atuante [F][L]; W = módulo resistente do
trilho novo [L]³; σadm = tensão na flexão admissível conforme categoria da linha [F][L]²; α =
coeficiente de majoração a ser aplicados nos carregamentos estáticos calculados em virtude dos
esforços dinâmicos; Mmáx = momento fletor máximo no trilho [F][L]; Wa = módulo de resistência
do trilho desgastado [L]³.
Para o módulo de resistência do trilho desgastado (W a), pode-se definir Wa = 0,75 W,
uma vez que segundo (17), desgastes aceitáveis são da ordem de 25 % do boleto, exemplo da
Figura 2.9.
1
HAY, W. (1982). ”Railroad Engineering”. 2nd, Ed. John Wiley & Sons. New York, USA 758 p.
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Capítulo 2 - Trilhos
Figura 2.9 – Exemplo de trilho com o boleto desgastado
Estará definido o perfil do trilho, dentre aqueles perfis disponíveis no mercado, aquele
que atender o valor de W calculado.
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Capítulo 2 - Trilhos
3 Dormentes
Reconhecido como elemento icônico da via permanente ferroviária juntamente com o
trilho, o dormente é parte relevante do pavimento ferroviário, podendo ser comparado à camada
de base do pavimento rodoviário.
Os dormentes são elementos estruturais transversais aos trilhos, cujas funções são as
seguintes:
a) receber os esforços dos trilhos e transmiti-los para as camadas inferiores,
convencionalmente para o lastro ou podendo ser uma laje de concreto (frequente no
sistema metroviário);
b) manter a bitola e a estabilidade da via, nos planos vertical e horizontal;
c) proporcionar rigidez à grade ferroviária, sem dificultar a manutenção geométrica;
d) proporcionar isolamento elétrico entre os dois trilhos em linhas sinalizadas;
e) gerar atrito entre a sua base e o topo do lastro, evitando o escorregamento da grade,
principalmente em curvas e em situações de frenagem e aceleração (dormentes fora
de esquadro, principalmente de madeira, são comuns em ferrovias com pequenos
raios de curva, onde uma das soluções é a inserção de pás de ancoragem no lastro,
que ficam aparafusadas nos dormentes);
f) amortecer parte das vibrações que serão transmitidas para as camadas inferiores.
Basicamente existem dormentes de madeira, concreto, aço e plástico (Figura 3.1), cada
um com vantagens e desvantagens características, conforme geometria e materiais constitutivos.
Os dormentes de madeira, graças a sua versatilidade e resistência mecânica foram os mais
utilizados no mundo até o final do século XX. Desde então, em virtude da escassez de madeira,
possibilidade de larga produção industrial e maior rigidez, os dormentes de concreto vêm sendo
utilizados em larga escala. Já os dormentes de plástico aparecem como uma solução alternativa
de reciclagem e tentativa de imitação dos dormentes de madeira, sendo que ainda não existem
normativos específicos para este tipo de dormente no Brasil e mais estudos ainda devem ser
realizados.
Figura 3.1 – Principais tipos de dormentes monoblocos. Da esquerda para direita: madeira,
concreto, aço e plástico, (1)
Para (18), a escolha do tipo de dormente depende de fatores como volume de tráfego,
velocidade média do trecho, carga por eixo, padrão de manutenção e estratégia da empresa
ferroviária.
Ao exercer a função de suportar os trilhos, os dormentes são submetidos a esforços
verticais, laterais e longitudinais, transmitindo-os ao lastro ou camada adjacente.
Consequentemente essa transmissão é afetada pela geometria da via, fatores climáticos e
dinâmicos. Em especial o dormente de concreto, conforme a (19), o projeto estrutural do
dormente consiste basicamente no dimensionamento à flexão das seções transversais
principais, uma vez que devido ao apoio elástico distribuído, os demais esforços resultam em
tensões de menor significância. Tais seções transversais principais são aquelas que passam
pela região de apoio do trilho e no centro do dormente.
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Capítulo 3 - Dormentes
De acordo com (2), o comprimento ideal total do dormente é definido conforme o sistema
de equações (3.1), desenvolvido para bitola padrão de 1435 mm e dormentes de madeira, e está
atrelado à distribuição das tensões no lastro, com relações geométricas ótimas resultando no
coeficiente r ≈ 0,27.
L< 2s
f1 = 2 s − L
(3.1)
f1 L
r= =2−
s s
Onde: L = comprimento total do dormente [L]; s = distância entre os eixos dos trilhos, igual a
bitola mais a largura de um boleto [L]; f1 = parte livre de tensões de compressão no centro do
dormente [L]; r = relação da parte livre com a distância entre os eixos do trilho.
Para a prática brasileira, o sistema de equações (3.1) de (2) resulta nas seguintes
considerações:
a) para bitola larga de 1,60 m e trilho UIC-60 ou TR-68 com boleto de 72 mm e 75 mm
de largura respectivamente, normalmente utilizando dormentes com comprimento de
2,8 m:
a. L < 2 s → L < 2 × 1,672 m → L < 3,344 m;
b. f1 = 2 s − L → f1 = 3,344 m − 2,8 m → f1 = 0,544 m;
f1 L 0,544 2,8
c. r= = 2− → r = = 2− → r = 0,33;
s s 1,672 1,672
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Capítulo 3 - Dormentes
3.1 Dormentes de madeira
Dormentes de madeira foram e ainda são em muitos países o principal tipo utilizado nas
ferrovias. Sua aplicação, no entanto, está condicionada a disponibilidade de madeira adequada,
outrora oriunda de desmatamento ilegal ou descontrolado, hoje é oriunda de reservas de
reflorestamento. A madeira em tempos de abundância foi o melhor material para a fabricação de
dormentes e mecanicamente até hoje se sobressai entre os demais, visto que tem boa
capacidade de absorção de impactos, boa elasticidade e fácil manejo por serem mais leves. Em
linhas com dormentes de concreto, na região dos aparelhos de mudança de via (AMV), ainda é
frequente o uso de dormentes de madeira, que em futuro próximo também tenderão a serem
substituídos por dormentes de concreto.
A escolha da madeira é fator importante na durabilidade do dormente na via. Conforme
(2), madeiras duras e pesadas podem ser amplamente utilizadas em regiões tropicais, mas nas
condições climatológicas europeias são facilmente deterioradas. Para (18), as principais
espécies utilizadas na fabricação de dormentes são aquelas apresentadas na Tabela 3.1. A (20),
conforme Tabela 3.2, define as propriedades necessárias da madeira para dormentes. Na Tabela
3.3 são apresentadas as dimensões normatizadas no Brasil.
Tabela 3.1 – Principais espécies de madeira utilizadas para dormentes (nome popular),
(18)
1ª classe 2 ª classe
Angico preto Angico vermelho
Aroeira do sertão Grápia
Jatobá Guajuvira
Sucupira amarela Peroba rosa
Maçaranduba Pessegueiro bravo
Ipê tabaco Canela preta
Pau roxo Imbuia
Coração de negro Canafístula
Angelim vermelho
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Capítulo 3 - Dormentes
e) elasticidade adequada, e boa resistência à tração, à compressão e a diversos tipos
de solicitações;
f) em descarrilamento não causa grandes impactos ao material rodante;
g) capacidade de reaproveitamento como mourão para cercas após descartado da via;
h) boa flexibilidade, resultando em excelente capacidade de suportar vibrações.
Figura 3.2 – Seção transversal do dormente de madeira com parte inferior em forma de telhado
Como é comum nos dormentes de madeira a ocorrência de fissuras e rachaduras,
geralmente aplica-se dispositivos anti-rachantes (gang nail), posicionados no topo do elemento
em uma área mínima de 70 % da seção transversal, como mostra a Figura 3.3. Todavia, tal
dispositivo não deve ser aplicado em dormentes de madeira apresentando fissuras
generalizadas, conforme demonstrado na Figura 3.4.
Outro dispositivo utilizado para evitar a abertura de fissuras no dormente de madeira é o
cintamento, utilizando-se duas cintas, uma em cada extremidade.
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Capítulo 3 - Dormentes
Figura 3.3 – Dispositivo anti-rachante aplicado em dormente de madeira
Figura 3.5 – Dormente de madeira reforçado pelo sistema Enka, VAN SANTVOORT e
TROOST (1986) apud. (21)
Vários fatores têm influência na durabilidade dos dormentes de madeira, como clima, a
drenagem da via, solicitações, lastro e ataque de agentes biológicos.
Segundo (2), quando não submetido a tratamentos adequados, no clima europeu, o
dormente de madeira tem durabilidade de 3 a 18 anos, dependendo da espécie da madeira, o
que torna sua utilização antieconômica.
Importante como a escolha da espécie de madeira correta é o tratamento químico para
preservação. O objetivo é proteger a madeira contra agentes naturais como fungos e insetos,
além de reduzir a penetração de água no interior do dormente, o que causa variações de volume
na peça e o afrouxando as fixações.
Existem diversas maneiras de tratamento da madeira como imersão à pressão
atmosférica, pintura ou absorção por pressão controlada em autoclave, este último o mais
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Capítulo 3 - Dormentes
eficiente com capacidade em torno 320 dormentes. Em autoclave, segundo (18), os dormentes
são submetidos a uma pressão de 10 MPa durante 24 h, sendo a retenção mínima de
preservativo da ordem de 9,6 kg/m³. Já (2) afirma que a retenção varia de 45 kg/m³ a 175 kg/m³
dependendo da espécie da madeira. Entre vários intervalos de aumento e redução da pressão
no interior da autoclave, a máxima é de aproximadamente 808 kPa e a duração total do processo
não ultrapassa 9 h.
Independente do método de tratamento, é sempre recomendado a secagem prévia da
madeira para aumentar a efetividade de penetração da química preservativa, geralmente por
anelamento da árvore ou secagem do dormente em pilhas. Conforme a (22), a umidade ótima
de impregnação é de 30 %. O tempo de secagem dependerá da espécie da madeira e do clima
da região.
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Capítulo 3 - Dormentes
No ensaio de módulo de elasticidade à flexão e de ruptura, o dormente deve ser
posicionado conforme a Figura 3.6. Os apoios elastoméricos devem ter 2,54 cm de espessura,
14 cm de largura e comprimento igual a largura do dormente. A força F deve ser aplicada a uma
taxa que proporcione uma tensão de 10 MPa/min nas fibras mais solicitadas, o que na prática é
de difícil controle.
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Capítulo 3 - Dormentes
Figura 3.8 – Diagrama tensão vs deformação específica para determinação da resistência à
compressão normal às fibras da madeira, (22)
Conforme apresentado na Figura 3.9, para verificar a resistência ao arrancamento
normal do tirefond, deve ser aplicada uma força de arrancamento no topo do parafuso,
perpendicular ao dormente, a uma taxa que ocorra o deslocamento vertical do tirefond de 25,4
mm/min. A resistência é então considerada como a força máxima obtida durante o ensaio.
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Capítulo 3 - Dormentes
equação (3.3). A força deve ser monotônica crescente, aplicada até que a esfera afunde seu raio
em um intervalo menor que 1 minuto.
𝐹𝑚𝑎𝑥
fH = 100 (3.3)
𝐴
Onde: fH = valor numérico da resistência à dureza Janka (MPa); 𝐹𝑚𝑎𝑥 = força máxima aplicada
ao corpo-de-prova necessária para a penetração da esfera de aço (N); A = área da seção
diametral da esfera (1 cm²).
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Capítulo 3 - Dormentes
(a) (b)
Figura 3.12 – Dormentes bi blocos de concreto no metrô do RJ. Blocos inseridos na laje
de concreto isoladamente (a), blocos unidos por uma barra rígida metálica (b)
(a) (b)
Figura 3.13 – Fábrica de dormentes de concreto (a), construção da via férrea utilizando
dormentes monoblocos de concreto (b)
O bi bloco (também conhecido como dormente francês RS, do seu criador francês Roger
Soneville em 1949) é de concreto armado, com apoios (blocos) isolados para os trilhos, podendo
estes estarem inseridos em uma laje de concreto a partir de uma fôrma polimérica ou unidos por
uma barra metálica rígida, ficando apoiados em uma laje de concreto ou no lastro. Suas
dimensões e tolerâncias são apresentadas na Figura 3.14 e Tabela 3.4. Conforme a (24), a viga
de interligação do dormente bi bloco deve ter resistência mínima de escoamento igual a 340
MPa, limite de ruptura mínima de 440 MPa, alongamento mínimo na ruptura de 18 % e espessura
mínima da chapa de 6 mm.
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Capítulo 3 - Dormentes
Tabela 3.4 - Limites dimensionais e tolerâncias para dormentes bi-bloco de concreto, (24)
Valor ou
Símbolo ou
Parâmetro expressão Tolerância
expressão
Mínimo Máximo
Ba Largura das mesas de apoio dos trilhos 16 cm 30 cm
± 3 mm
Bb Largura da base nas regiões dos trilhos 24 cm 33 cm
Altura da seção transversal que passa + 5 mm
Ha --- 25 cm
pelo centro da mesa de apoio do trilho - 3 mm
Altura da face inferior da viga de
Hv interligação com relação à base do 5 cm ---
± 5 mm
dormente
Lb Comprimento do bloco do dormente 52 cm 96 cm
i Inclinação das mesas de apoio do trilhoc 0 1/20 ± 0,25 º
Dormente de bitola estreita --- 280 kg
Peso total Dormente de bitola padrão --- 310 kg ±5%
Dormente de bitola larga --- 330 kg
Bi Bitola nominal da via --- --- ± 2 mm
L Comprimento total do dormente --- --- ± 10 mm
Distância entre apoios externos das + 2 mm
L1 --- ---
fixações - 1 mm
Posição de apoios externos das fixações
L2 com relação às respectivas bordas das --- --- ± 8 mm
cabeceiras do dormente
Planicidade das mesas de apoio dos
pm --- --- 1 mm
trilhos
(a) (b)
Figura 3.15 – Dimensões do dormente monobloco de concreto protendido: de base constante
(a); de base variável (b), (24)
Tabela 3.5 – Limites e tolerâncias para dormentes monoblocos de concreto, (24)
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Capítulo 3 - Dormentes
Símbolo ou Valor ou expressão
Parâmetro Tolerância
expressão Mínimo Máximo
αt Ãngulo da testeira com relação à vertical 0 15 ---
L − Lc Relação entre o comprimento total do 0,34 0,48
dormente e a distância entre os centros ---
L 0,42a 0,52a
das mesas de apoio dos trilhos
Ba Largura das mesas de apoio dos trilhos 16 cm 30 cm
Bb Largura da base nas regiões dos trilhos 24 cm 33 cm
± 3 mm
Largura da base na região central do
Bc 20 cm 33 cm
dormente
Altura da seção transversal do centro da 25 cm
Ha ---
mesa de apoio do trilho 27 cmb + 5 mm
Altura da seção transversal central do - 3 mm
Hc 0,8Ha Ha
dormente
i Inclinação das mesas de apoiod 0 1/20 ± 0,25 º
Dormente de bitola estreita --- 350 kg
400 a
Dormente de bitola padrão ---
Peso total 450 kgb ±5%
450 a
Dormente de bitola larga ---
500 kgb
Bi Bitola nominal da via --- --- ± 2 mm
L Comprimento total do dormente --- --- ± 10 mm
Distância entre apoios externos das + 2 mm
L1 --- ---
fixações - 1 mm
Posição de apoios externos das fixações
L2 com relação às respectivas bordas das --- --- ± 8 mm
cabeceiras do dormente
pm Planicidade das mesas de apoio --- --- 1 mm
Torção relativa entre as mesas de apoio
tm --- --- 1 mm
dos trilhos
a Somente para bitola estreita;
b Somente para vias com carga por eixo superior a 350 kN;
d Verificar a inclinação dos trilhos conforme projeto.
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Capítulo 3 - Dormentes
c) complicações na produção de dormentes especiais para aparelhos de mudança de
via (AMV), como peso excessivo, fôrmas e transporte especiais;
d) em caso de descarrilamento, pode danificar o material rodante permanentemente.
Das alíneas anteriores, os testes a, d, g e h devem ser realizados a cada 200 dormentes
produzidos. Os testes f e i a cada 2000 dormentes produzidos. Todos os ensaios devem ser
realizados no protótipo, que é o dormente modelo para todos os demais a serem produzidos.
O ensaio de carga repetida no apoio do trilho tem posicionamento do dormente igual ao
ensaio de momento positivo no apoio (𝑀𝑑 ). No entanto, a carga é aumentada a uma taxa de 22
kN/min até que ocorra a fissuração do dormente, da base até a camada inferior da armadura.
Remove-se então o carregamento estático e substitui-se as tiras de borracha por tiras
de madeira compensada de mesma largura, mas espessura de 6 mm. O dormente é então
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Capítulo 3 - Dormentes
submetido a 3 milhões de ciclos de carregamento dinâmico, com cada ciclo variando
uniformemente de 0,1𝑃𝑑 a 1,1𝑃𝑑 , a no máximo 10 Hz. A abertura característica de fissuras deve
ser menor que 0,05 mm após o descarregamento, analisada com o auxílio de uma lupa de
aumento em 20 vezes.
O ensaio de aderência não se aplica ao dormente bi-bloco, apenas na protensão e não
poderá haver alongamento maior que 1 % ou escorregamento dos cabos de protensão ou
abertura de fissuras maiores que 0,5 mm.
Com o dormente carregado na posição da Figura 3.18 (𝑀𝑑 ), no caso pré-protendido,
efetua-se um carregamento a uma taxa de 22 kN/min até a carga 1,5𝑃𝑑 . Mantendo a carga por 5
minutos e utilizando um LVDT ou relógio comparador com precisão de 0,0025 mm, o fio de
protensão mais externo da camada inferior não pode escorregar mais que 0,025 mm. Em
dormentes pós-protendidos, estes deverão apenas suportas a carga final durante 5 minutos.
Um dos ensaios nas fixações é o de arrancamento dos insertos (A), Figura 3.16,
realizado no dormente bi-bloco de concreto. Nele, uma carga até 𝑃7 , calculada conforme equação
(3.4) é progressivamente aplicada a uma taxa de 22 kN/min. Não poderá haver escorregamento
do inserto ou rachaduras no concreto. Em seguida, um torque de 340 N.m deve ser aplicado em
torno do eixo longitudinal do inserto, devendo ser mantido por 3 minutos, não devendo apresentar
rotação do inserto ou rachaduras no concreto. Esse ensaio também vale para demais tipos de
fixações chumbadas no concreto.
ℎ𝑡
𝑃7 = 𝑄𝑡 𝐷𝑓 ( − 0,5) (3.4)
𝐿𝑡
Onde: 𝑄𝑡 = carga estática da roda (kN); 𝐷𝑓 = fator de distribuição de carga, conforme
espaçamento entre dormentes, podendo ser considerado igual a 0,6 na falta de valores
representativos; ℎ𝑡 = altura do trilho (m); 𝐿𝑡 = largura do patim do trilho (m).
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Capítulo 3 - Dormentes
pH entre 5,8 e 8, resíduos sólidos inferiores a 2000 mg/L, sulfatos inferiores a 300
mg/L, cloretos inferiores a 500 mg/L e açucares inferiores a 5 mg/L;
e) no concreto fresco deve-se verificar o abatimento no tronco de cone e o teor de ar
incorporado.
A cura mal realizada do concreto é uma das principais fontes de problemas patológicos
no dormente. Ela pode ser a responsável por trincas de retração adjacentes aos cabos de
protensão e a longo prazo responsável pela perda total do dormente por um problema
denominado “etringita tardia”, que é melhor detalhado em livros específicos de concreto, como
(26).
A etringita tardia é oriunda da cura do dormente em alta temperatura (acima de 65 ºC) e
do tipo de cimento, podendo ocasionar trincas generalizadas em todo dormente a médio-longo
prazo. Esse é um problema relativamente recente em dormentes no Brasil do qual este autor
teve experiência em campo e dificilmente verificado em produções regulares, portanto relevante
de ser comentado. Na cura acelerada pelo aumento da temperatura, deve-se preocupar com o
teor de trióxido de enxofre do cimento (SO3) do cimento, conforme o gráfico da Figura 3.17.
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Capítulo 3 - Dormentes
sujeito a condições de apoio e carregamento diferentes. Deve-se então definir qual o
carregamento será aplicado em laboratório para cada tipo de momento a ser analisado, como se
verá a seguir. As normas para dormente de concreto brasileiras definem 4 momentos principais
a serem analisados:
a) momento fletor positivo de projeto (𝑀𝑑 ), equação (3.5), Figura 3.18, correspondente
ao momento máximo que atua na seção transversal no centro da mesa de apoio do
trilho no dormente em posição de trabalho no lastro (virado para cima). Este ensaio
também é considerado como o de sobrecarga no dormente bi-bloco, onde o
dormente deverá suportar durante 5 minutos uma carga igual a 1,75𝑃𝑑 sem sofrer
ruptura no bordo comprimido ou fissura maior que 0,5 mm:
𝑃𝑑 2𝑋 2 𝑀𝑑
𝑀𝑑 = ( − 0,057) → 𝑃𝑑 = (3.5)
2 3 2𝑋
( − 0,057)
3
Onde: 𝑀𝑑 = momento fletor positivo no apoio do trilho (kN.m); 𝑃𝑑 = carga aplicada no ensaio (kN);
𝑋 = comprimento da cabeceira do dormente (m).
Onde: 𝑀1 = momento fletor negativo no apoio do trilho (kN.m), sinal negativa informa que o
dormente será virado; 𝑃1 = carga aplicada no ensaio (kN); 𝑋 = comprimento da cabeceira do
dormente (m).
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Capítulo 3 - Dormentes
Figura 3.19 – Ensaio do momento negativo no apoio, (19)
c) momento fletor negativo no centro (𝑀2 ), equação (3.7) e Figura 3.20 para dormente
monobloco, equação (3.8) e Figura 3.21 para dormente bi-bloco, ocorre
principalmente devido ao apoio do dormente no lastro e aos esforços transmitidos
aos dormentes nas curvas:
𝑃2 𝐿𝑐 −2 𝑀2
𝑀2 = − ( − 0,076) → 𝑃2 = (3.7)
2 2 𝐿
( 𝑐 − 0,076)
2
Onde: 𝑀2 = momento fletor negativo no centro (kN.m), sinal negativo informa que o dormente
será virado; 𝑃2 = carga aplicada no ensaio (kN); 𝐿𝑐 = distância entre os centros das mesas de
apoio dos trilhos (m).
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Capítulo 3 - Dormentes
Figura 3.21 – Ensaio do momento negativo no centro em dormente bi-bloco, com 𝑑𝐴 ≅ 254 𝑚𝑚,
adaptado de (19)
d) momento fletor positivo no centro (𝑀3 ), equação (3.9) e Figura 3.22 para dormente
monobloco, equalção (3.10) e Figura 3.23, ocorre devido a reversão elástica do
momento fletor (𝑀1 ) no caso dos dormentes monoblocos ou durante a passagem
dos trens nos dormentes bi-blocos:
𝑃3 𝐿𝑐 2 𝑀3
𝑀3 = ( − 0,076) → 𝑃3 = (3.9)
2 2 𝐿
( 𝑐 − 0,076)
2
Onde: 𝑀3 = momento fletor positivo no centro (kN.m); 𝑃3 = carga aplicada no ensaio (kN); 𝐿𝑐 =
distância entre os centros das mesas de apoio dos trilhos (m).
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Capítulo 3 - Dormentes
Figura 3.23 – Ensaio do momento positivo no centro em dormente bi-bloco, com 𝑑𝐴 ≅ 254 𝑚𝑚,
adaptado de (19)
Onde nas figuras anteriores, nos ensaios dos momentos para os dormentes monoblocos
(e semelhantemente para os dormente bi-blocos):
a) A é um tira de borracha com largura de 50 mm, espessura de 25 mm, comprimento
mínimo igual à largura do dormente e dureza de 50 pontos na escala do durômetro
Tipo A;
b) B é uma tira de borracha com largura de 25 mm, espessura de 12,5 mm,
comprimento mínimo igual a largura do dormente e dureza de 50 pontos na escala
do durômetro Tipo A;
c) C é uma rótula;
d) D é um atuador hidráulico;
e) E é uma placa de aço rígida para distribuir o carregamento sobre as tiras de
borracha;
f) F é uma placa de aço apropriada e rígida para o apoiar a tira de borracha e com
comprimento mínimo da largura do dormente;
g) G é um calço metálico apropriado para manter o dormente nivelado.
Qualquer que seja o momento, os dormentes monoblocos não podem apresentar
fissuras durante a execução dos ensaios de momento, sendo essas verificas com o auxílio de
uma lupa aumentada em 5x. Os carregamentos são monotônicos crescentes a uma taxa de 22
kN/min até que seja alcançada o valor de projeto, que é mantida por 3 minutos, tempo em que o
dormente é inspecionado e que não deve aparecer fissuras.
Já os dormente bi-blocos podem ter fissuras durante o ensaio de flexão de no máximo
0,15 mm, sendo média de 0,125 mm para 2 fissuras, 0,1 mm para 3 fissuras ou 0,075 mm para
4 ou mais fissuras. Nos ensaios de momentos não poderá haver fissuras entre a barra de ligação
e o dormente, nem rotação maior que 0,45º.
É necessário então definir os momentos 𝑀𝑑 , 𝑀1 , 𝑀2 e 𝑀3 de serviço. Várias teorias
podem ser utilizadas, mas aqui será apresentada o método do anexo C da (19). A norma ainda
tem um segundo método considerando a linha neutra do dormente, além de outro para dormente
de bitola mista, que não serão apresentados. No caso do dormente monobloco, a norma
considera em algumas situações para bitola estreita toda a área do dormente apoiada no lastro,
o que pode ser uma inverdade em um caso real, principalmente em uma linha antiga, e por isso
essa situação não será abordada.
O primeiro momento a ser calculado é o 𝑀𝑑 , para dormente monobloco de bitola larga
seguindo o esquema de reação da Figura 3.24 e equação (3.11). Para dormentes bi-blocos o
esquema da Figura 3.25 e equação (3.12).
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Capítulo 3 - Dormentes
Figura 3.24 – Esquema de carregamento e reação para cálculo de 𝑀𝑑 em dormente monobloco
de bitola larga, (19)
𝐹𝑑 𝐿𝑡
𝑀𝑑 = ϕ (𝑋 − ) (3.11)
4 2
Onde: 𝑀𝑑 = momento fletor positivo no apoio do trilho (kN.m) Φ = fator de correção do momento
fletor de projeto, igual a 1,14; 𝐹𝑑 = carga de projeto de uma roda, considerando acréscimos
dinâmicos, fator de distribuição etc (kN); 𝑋 = comprimento da cabeceira do dormente (m); 𝐿𝑡 =
largura do patim do trilho (m).
𝐹𝑑 𝑋 2 𝐿𝑡 𝐿𝑏
𝑀𝑑 = ϕ ( − ) , 𝑠𝑒𝑛𝑑𝑜 𝑋 = +𝜀 (3.12)
2 𝐿𝑏 4 2
Onde: 𝑀𝑑 = momento fletor positivo no apoio do trilho (kN.m) Φ = fator de correção do momento
fletor de projeto, igual a 1,05; 𝐹𝑑 = carga de projeto de uma roda, considerando acréscimos
dinâmicos, fator de distribuição etc (kN); 𝑋 = comprimento da cabeceira do dormente (m); 𝐿𝑏 =
comprimento do bloco do dormente bi-bloco (m); 𝐿𝑡 = largura do patim do trilho (m); 𝜀 =
excentricidade do centro da mesa de apoio do trilho (m): 𝜀𝑚í𝑛 = 0,9(0,075 − 𝐿𝑏 0,025).
Tanto para o dormente bi-bloco ou monobloco, o momento fletor negativo no apoio (𝑀1 )
é considerado igual a 70 % do momento 𝑀𝑑 , mas com sinal invertido.
Para o caso de momento fletor negativo no centro do dormente monobloco (𝑀2 ), utiliza-
se a equação (3.13) e o cálculo segue o esquema analítico da Figura 3.26.
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Capítulo 3 - Dormentes
Figura 3.26 – Esquema de carregamento e reação para cálculo de 𝑀2 em dormente
(19)
𝐹𝑑 𝐿 29,247 𝑋
𝑀2 = (1,573 − − 𝐿𝑐 ) (3.13)
2 2 22,1
Onde: 𝑀2 = momento fletor negativo no centro do dormente (kN.m) 𝐹𝑑 = carga de projeto de uma
roda, considerando acréscimos dinâmicos, fator de distribuição etc (kN); 𝑋 = comprimento da
cabeceira do dormente (m); 𝐿 = comprimento total do dormente (m); 𝐿𝑐 = distância entre centro
de mesas de apoio dos trilhos (m).
O momento fletor positivo no centro dos dormentes monoblocos (𝑀3 ) é considerado igual
a 70 % do momento 𝑀2 , mas com sinal invertido. Já no caso dos dormentes bi-blocos, o momento
𝑀3 é determinado seguindo o esquema analítico da Figura 3.27 e a equação (3.14).
𝑀3 = ϕ 𝐹𝑑 𝜀 (3.14)
Onde: 𝑀3 = momento fletor positivo no centro do dormente (kN.m) Φ = fator de correção do
momento fletor de projeto, igual a 1,05; 𝐹𝑑 = carga de projeto de uma roda, considerando
acréscimos dinâmicos, fator de distribuição etc (kN); 𝜀 = excentricidade do centro da mesa de
apoio do trilho (m): 𝜀𝑚í𝑛 = 0,9(0,075 − 𝐿𝑏 0,025).
O momento fletor negativo no centro do dormente bi-bloco (𝑀2 ) é considerado igual ao
momento 𝑀3 , porém com sinal negativo.
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Capítulo 3 - Dormentes
Figura 3.28 – Exemplo de esquema do dormente de aço, (29)
O peso teórico é de aproximadamente 28,46 kg/m, assim, para um dormente de bitola
métrica com 2,20 m de comprimento, tem-se um peso total de 62,61 kg por unidade, para bitola
padrão com 2,65 m, 75,42 kg, e para bitola larga medindo 2,80 m, 79,69 kg. O peso do dormente
de aço é menor que do dormente de madeira (em torno de 110 kg) aproximadamente 1,5 vezes,
e em relação ao dormente de concreto (em torno de 350 kg) aproximadamente 4,6 vezes. O aço
do dormente deve ter resistência à tração de 510 a 620 MPa e alongamento máximo de 18 %. A
chapa tem espessura média de 12 mm.
Alguns dormentes de aço têm conectores metálicos removíveis para a fixação dos trilhos,
que encaixam em furos pré-existentes na chapa metálica. Já outros modelos têm apoios
usinados para os trilhos, que só servirão para determinado tipo de trilho. Entre as vantagens dos
dormentes de aço, menciona-se as seguintes:
a) fácil modelagem por laminação e estamparia com vantagem na fabricação de
dormentes especiais, com possibilidade de produção nacional;
b) excelente resistência contra deslocamentos transversais e longitudinais;
c) boa manutenção da bitola;
d) longa vida útil em locais não agressivos, em torno de 30 a 40 anos;
e) possibilidade de reemprego, reparo e reciclagem, além de fácil estocagem, sendo
facilmente empilhados (Figura 3.29);
f) grande resistência a supersolicitações;
g) invulnerabilidade à fungos e insetos;
h) fácil venda como sucata.
(a) (b)
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Capítulo 3 - Dormentes
Figura 3.29 – Dormente de aço implantado na via (a); estoque de dormentes de aço (b), (28)
Historicamente, os dormentes de aço são menos utilizados no Brasil que os dormentes
de madeira e concreto, mas principalmente os de madeira vêm gradativamente sendo
substituídos por dormentes de aço, a exemplo da Estrada de Ferro Vitória Minas 2, que conforme
anunciado pela operadora da ferrovia, a VALE, todos os dormentes ao longo dos mais de 900
km da estrada de ferro deverão ser substituídos para aço. Entre as desvantagens desse tipo de
dormente, menciona-se:
a) ruído estridente durante a passagem dos veículos ferroviários;
b) dificuldade de isolamento em linhas sinalizadas;
c) baixo peso, reduzindo a estabilidade da via;
d) redução da vida útil em ambientes agressivos;
e) normalmente mais caro que os dormentes de madeira e concreto, a depender da
região.
No Brasil não existe norma específica para o dormente de aço, podendo-se mencionar
as normas estrangeiras DIN 5904:1995 (Steel sleepers - Dimensions, static values, steel types),
a BS 500:2000 (Steel sleepers) e a ISO 6305-3:1983 (Railway components - Technical delivery
requirements - Part 3: Steel sleepers).
Segundo (28), os ensaios de homologação no dormente de aço são:
a) cargas cíclicas combinadas, submetendo o dormente a um carregamento de 19,1 kN
a 191 kN, sob uma frequência de 5 Hz durante 30 ciclos;
b) ensaio de encaixe das fixações, onde o dormente é submetido a um torque em cada
inserção de 339 kN.m, mantido por 3 min. e os elementos embutidos devem resistir
a uma força de arrancamento de 60 kN sem ocorrer deformações residuais;
c) ensaio da suspensão das fixações para verificação do afrouxamento dos encaixes
ou soltura dos elementos de fixação;
d) ensaio longitudinal das fixações para verificar o deslocamento, translação ou rotação
dos trilhos;
e) ensaios dinâmicos das fixações, submetendo o dormente a uma carga senoidal
máxima de compressão de 133,5 kN e tração de 11,4 kN.
2
Disponível em <http://www.vale.com/brasil/pt/aboutvale/news/paginas/dormentes-de-aco-
ajudam-a-preservar-o-meio-ambiente.aspx>. Acesso em 28/03/2017.
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Capítulo 3 - Dormentes
4 Conjuntos ou acessórios de fixação
As fixações são elementos da superestrutura ferroviária que têm o objetivo de unir os
trilhos aos dormentes. Elas podem ser divididas em dois grupos, rígidas ou elásticas, existindo
grande variedade de modelos no mercado mundial. A escolha da fixação depende de
características dos dormentes e dos trilhos, além dos carregamentos impostos, dos raios de
curva e do poder de investimento da empresa ferroviária.
Conforme (5), as fixações devem evitar que os trilhos sofram deslocamentos verticais
ascendentes separando-os dos dormentes, laterais ou longitudinais em relação aos dormentes,
seja por ações dinâmicas provocadas pelos veículos ou por esforços oriundos das variações de
temperatura.
Na verdade, uma fixação é formada por um conjunto de elementos, mas geralmente se
acentua o elemento principal que prende o trilho, como um grampo ou prego de linha. Portanto
a nomenclatura correta seria “conjunto de fixação”, “sistema de fixação” ou “acessórios de
fixação” e não apenas fixação (Figura 4.1). Ocorre que o termo conjunto também pode se referir
às várias fixações ou vários conjuntos de fixações e nesse sentido é amplamente empregado
apenas a palavra fixação, no inglês “fastening”.
(a) (b)
Figura 4.1 – Conjunto de fixação separado (a); Conjunto montado (b). (1) tirefond; (2)
elastômero de apoio do trilho, geralmente não utilizado quando da existência da placa de apoio
metálica; (3) mola tensionadora; (4) elemento de fixação; (5) parafuso de pressão; (6) placa de
apoio metálica. Disponível em <http://en.wikipedia.org/wiki/Rail_fastening_system>. Acesso em
31/03/2015.
As fixações rígidas normalmente são utilizadas em dormentes de madeira e não
apresentam capacidade de deformação elástica considerável (como seria uma mola). Exemplos
desse tipo de fixação são o prego de linha (Figura 4.2-a) ou o tirefond (também conhecido como
tirefão), elementos que podem se afrouxar com as vibrações provocadas pelos veículos
ferroviários e com a variação volumétrica da madeira em virtude da umidade.
Já as fixações elásticas apresentam uma deformação elástica considerável, a exemplo
dos grampos elásticos, que tendem a manter uma pressão constante no patim do trilho, mas que
pode ser perdida com repetidas ações de retirada e colocação nos trabalhos de manutenção
(Figura 4.2-b).
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Capítulo 4 - Conjuntos ou acessórios de fixação
(a) (b)
Figura 4.2 – Prego de linha (a); Grampo elástico fastclip (b). Disponível em
<http://en.wikipedia.org/wiki/Rail_fastening_system>. Acesso em 31/03/2015.
No caso dos pregos de linha, o fuste é cravado na madeira a golpes, enquanto a parte
superior (cabeça) é pressionada contra o patim do trilho, prendendo o dormente ao trilho (Figura
4.3-a). Por ser um elemento que perde pressão com facilidade, seu uso deve estar restrito a
linhas secundárias, com grandes raios e baixo tráfego. Conforme (2), o prego elástico simples
exerce uma força no patim do trilho de 5 a 15 kN.
O tirefond é um parafuso de rosca soberba, utilizado para prender a placa de apoio de
conjuntos elásticos ao dormente de madeira ou também para prender diretamente o patim do
trilho, quando considerado fixação rígida (Figura 4.4-a). O tirefond ou tirafão é normatizado no
Brasil pela (30), sua cabeça é quadrada ou retangular e o comprimento do fuste tem em torno
de 18 cm, com diâmetro de 20 mm. No intuito de melhorar o desempenho desse tipo de fixação,
alguns conjuntos utilizam elementos entre o tirefond e o patim do trilho, as chamadas de
“castanhas”.
Com o tempo, pelas intempéries e apodrecimento da madeira, os pregos de linha e os
tirefonds tendem a se afrouxar. Para contornar essa situação, conforme (2), tentativas de utilizar
tirefonds maiores que ultrapassassem o dormente, aplicando-se uma porca na parte inferior em
contato com o lastro, fracassaram pela grande dificuldade de manutenção que essa solução
apresentava.
Outro tipo de conjunto de fixação é o K, também conhecido como GEO, concebida em
1926 na Alemanha na tentativa de padronizar todas as linhas daquele pais ao final da primeira
guerra mundial, (2). Esse tipo de fixação é usualmente adotado em dormentes de aço, sendo a
placa de apoio usinada juntamente com o dormente ou aparafusada.
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Capítulo 4 - Conjuntos ou acessórios de fixação
(a) (b)
Figura 4.4 – Tirefond prendendo diretamente o patim do trilho (a); Conjunto de fixação com
tirefond e castanha (b). Disponíveis em
<http://nsm01.casimages.com/img/2009/04/28//090428023705626893560576.jpg> e
<http://farm4.static.flickr.com/3640/4555925456_789fe154d2_m.jpg>. Acessos em 29/04/2015.
Conforme apresentado na Figura 4.5, na fixação K utiliza-se um tirefond para prender a
placa de apoio ao dormente, uma castanha para fazer pressão entre o patim do trilho e a placa
de apoio e um parafuso tipo T, preso por uma porca, responsável pela pressão entre a placa de
apoio e a castanha. As arruelas de pressão são utilizadas para melhorar a retenção da fixação
que é perdida ao longo do tempo, fornecendo pequena flexibilidade ao conjunto. Entre o trilho e
a placa de apoio pode-se adicionar uma borracha polimérica (coxim), no intuito de proporcionar
maior resiliência ao conjunto. Os coxins também aumentam a aderência entre o trilho e a placa
de apoio, gerando resistência ao movimento longitudinal do trilho em relação ao dormente.
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Capítulo 4 - Conjuntos ou acessórios de fixação
(a) (b)
Figura 4.6 – Fixação Pandrol e-clip. Para dormente de madeira (a); Para dormente de concreto
(b). Disponível em < http://en.wikipedia.org/wiki/Pandrol>. Acesso em 19/05/2014
Com o intuito de medir o deslocamento relativo horizontal entre os trilhos e os dormentes,
(31) realizou ensaios em um pavimento ferroviário em escala real e espaçamento entre
dormentes igual a 60 cm, utilizando o conjunto de fixação Pandrol e-clip para diferentes tipos de
dormentes, resultaram em:
a) um deslocamento de 0,13 mm para dormentes de madeira;
b) um deslocamento de 0,20 mm para dormentes de concreto protendido;
c) um deslocamento de 0,48 mm para dormentes de concreto bi bloco;
d) um deslocamento de 0,07 mm para dormentes de aço.
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Capítulo 4 - Conjuntos ou acessórios de fixação
Hz durante três milhões de ciclos, não podendo ocorrer falhas em qualquer elemento do conjunto
de fixação.
Existem diversos tipos de placas de apoio, com furos circulares, quadrados ou
retangulares, geralmente específicas para determinado tipo de fixação, rígida ou elástica. Elas
têm espessura em torno de 20 mm e declividade para o centro da via geralmente variando entre
1:20 (3,18º ou 5 %) ou 1:40 (1,59º ou 2,5 %), que ajuda a manter a estabilidade do material
rodante. O assentamento de trilhos na vertical resulta em maior probabilidade de tombamento
dos trilhos externos em curvas. As placas também apresentam variações nas dimensões
conforme o tipo de trilho (Figura 4.8).
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Capítulo 4 - Conjuntos ou acessórios de fixação
Figura 4.10 – Tensões entre o trilho e uma placa de apoio (1 psi ≅ 6,9 kPa), (35)
Para contornar o problema, algumas ferrovias adotam o uso de coxins entre o trilho e a
placa de apoio ou também entre a placa de apoio e o dormente (reveja a Figura 4.5). Segundo
(2), testes em meados de 1950 na Alemanha, utilizando coxins entre a placa de apoio e o
dormente de madeira apresentaram ótimos resultados, aumentando de maneira significativa a
durabilidade dos dormentes. O coxim, feito de polímero, permite melhor distribuição das tensões,
reduzindo o efeito nocivo das vibrações e ao mesmo tempo aumentando o atrito entre os
elementos e reduzindo o escorregamento longitudinal.
No dormente de aço a placa de apoio pode ser diretamente soldada no dormente (Figura
4.11-b). Outra maneira de unir o trilho ao dormente de aço é através de furos que já vêm usinados
no dormente (Figura 4.11-d). A palmilha isoladora/amortecedora geralmente é utilizada em casos
de linhas sinalizadas, onde se deseja isolar o trilho do dormente.
(a) (b)
(c) (d)
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Capítulo 4 - Conjuntos ou acessórios de fixação
(e)
Figura 4.11 – Conjunto de fixação no dormente de aço: (a) cavidade do grampo soldada e sem
palmilha isoladora/amortecedora; (b) placa de apoio soldada ao dormente; (c) castanhas
aparafusadas no dormente; (d) furos usinados; (e) fixação fastclip e placa de apoio para
dormente de aço . Disponível em <http://www.atrq.net/wp-content/gallery/angrams/Installing-
100th-Steel-or-Concrete-Sleeper-Mainline-Sat-9th-Aug-2014-BB.jpg>,
<http://www.royaltrack.com/product_photo/13758553551_21.jpg> e
<http://www.jekay.com/products/rss.png>. Acessos em 15/02/2016
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Capítulo 4 - Conjuntos ou acessórios de fixação
5 Lastro
O lastro é uma camada do pavimento ferroviário que se situa acima do sublastro ou do
subleito e abaixo dos dormentes, sendo, sempre que possível de pedra britada, que conforme
(5), (36), (37) e (38), tem as funções de:
a) suportar e distribuir uniformemente as tensões verticais, transmitindo-as para as
camadas de sublastro e subleito;
b) garantir a estabilidade da grade em relação a forças laterais, longitudinais e verticais,
preenchendo os espaços entre os dormentes, tanto longitudinalmente quanto
transversalmente (ombro de lastro);
c) prover suficiente permeabilidade e facilitar a drenagem da via;
d) facilitar a manutenção, permitindo o rearranjo das partículas durante as operações
de nivelamento e alinhamento da via, provendo a mínima deformação plástica
durante as socarias mecanizadas;
e) prover nível aceitável de durabilidade e resiliência para o pavimento, minimizando as
cargas dinâmicas e amortecendo as vibrações;
f) resistir ao levantamento da grade pelo atrito com os dormentes e ter resistência
adequada à ataques químicos e desgastes;
g) absorver ruídos em virtude da vibração dos trens;
h) prover resistência elétrica adequada em linhas sinalizadas.
O lastro de pedra britada ainda pode ser dividido em algumas zonas, segundo o arranjo
em relação à grade (Figura 5.1):
a) berço – material entre dormentes que colabora contra o deslocamento longitudinal
do dormente e não sofre tensões verticais consideráveis;
b) ombro – material adjacente às seções transversais nas extremidades dos
dormentes, formando o talude de lastro, que colabora contra o movimento
transversal do dormente em relação ao comprimento longitudinal da via. Geralmente
se admite larguras do ombro de lastro entre 30 a 40 cm. Para a inclinação do talude
do lastro admite-se uma proporção 2:3 ou 1:1,25;
c) lastro inferior – material sob o dormente, podendo ainda ser dividido em parte
superior, que recebe as maiores tensões e é afetada pela socaria, e parte inferior,
em contato com o sublastro, geralmente não afetado pela socaria, podendo estar
degradado por partículas fora de granulometria oriundas da própria quebra do lastro
superior ou com materiais diversos, oriundos das camadas inferiores ou das cargas
transportadas.
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Capítulo 5 - Lastro
(a) (b)
Figura 5.1 – Exemplo de vias lastradas. Via em construção sem o lastro de berço (a); via com o
lastro de berço (b). Disponíveis em <http://www.railjoint.com/news/why-no-ballast-on-high-
speed-rail-track.html> e <https://www.globalrailwayreview.com/article/60926/ballast-track-
degradation/>. Acessos em 19/03/2015
Tabela 5.1 – Características físicas do lastro conforme normativos brasileiros, (40) e (39)
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Capítulo 5 - Lastro
Característica Limite (40) Limite (39)
Massa específica aparente mínima 24 kN/m³ 25 kN/m³
Limite de massa unitária no estado solto --- 12,5 kN/m³
Absorção máxima de água 1% 0,8 %
Porosidade máxima aparente 1% 1,5 %
Resistência à intempérie, perda máxima em
5% 10 %
sulfato de sódio
Máximo de partículas planas e/ou alongadas 10 % Forma média cúbica.
Partículas não
Máximo de partículas lamelares 10 %
cúbicas, máx. 15 %
Índice máximo de desgaste por abrasão obtido
40 % 30 %
no teste Los Angeles
Resistência ao choque, índice de tenacidade
20 % 25 %
Treton máximo
Resistência mínima à compressão simples
100 MPa 100 MPa
axial
Máximo de materiais pulverulentos 1% 1%
Máximo de torrões de argila 0,5 % 0,5 %
Máximo de fragmentos macios e friáveis 5% 5%
Tabela 5.2 – Características físicas do lastro conforme normativos estrangeiros, adaptado (37)
Característica Austrália EUA Canadá
Massa específica aparente mínima 25 kN/m³ --- 26 kN/m³
Limite de massa unitária no estado
12 kN/m³ 11,5 kN/m³ ---
solto
Resistência à intempérie, perda
--- 10 % 5%
máxima em sulfato de sódio
Flakiness Index 30 % --- ---
Índice máximo de desgaste por
25 % --- ---
esmagamento
Índice máximo de desgaste por
25 % 40 % 20 %
abrasão obtido no teste Los Angeles
Em relação aos ensaios de abrasão Los Angeles e Treton é importante salientar que os
normativos brasileiros vigentes não apresentam variações na tolerância para diferentes tipos de
rochas. Na opinião do autor, o certo seria que as normas especificassem para cada tipo de rocha
e finalidade (ou grupos) a percentagem máxima de perda em massa nos ensaios, pois diferentes
tipos de rochas apresentarão diferentes características para finalidades diversas.
No ensaio de abrasão Los Angeles deve-se ter atenção com o peso das esferas, que
conforme a (41) pode variar entre 390 a 445 g cada, uma variação de aproximadamente 14 %.
Quanto maior o peso das esferas, maior a energia aplicada nos agregados, não sendo facilmente
encontrado estudo que trata da influência dessa variação. Para a granulometria do lastro,
geralmente as faixas de ensaio são a F e G, com amostras de 10 kg sendo solicitadas a 1000
rotações do tambor entre 30 e 33 rpm. Para esse ensaio os limites australianos e canadenses
(extremamente recomendados pela experiência de campo do autor) são bem mais rigorosos que
os brasileiros e norte americanos.
O ensaio de Abrasão Los Angeles seria inclusive mais adequado para avaliar a
resistência mecânica do lastro do que o Treton, simulando mais adequadamente o
comportamento real do lastro, pois conforme (42) “o esforço do impacto que as partículas sofrem
é causada pelo choque entre elas e das esferas de aço”, “o resultado é a produção de mais finos
no Los Angeles por causa de uma agressividade maior no ensaio e principalmente porque os
novos fragmentos formados são oriundos das quebras das arestas do material primário”.
No ensaio Treton, dada a granulometria do lastro, pode-se encontrar problemas para
obter a quantidade suficiente de fragmentos em uma amostra de 140 kg de lastro, valor definido
por (40). Recomenda-se então o recolhimento in situ da amostra, obtida entre as peneiras com
abertura de 19 e 16 mm, sendo necessários 60 fragmentos.
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Capítulo 5 - Lastro
Outro fato importante a ser mencionado são os limites definidos em especificações
brasileiras, que podem ter sido copiados de normas estrangeiras, como a absorção e porosidade
máxima, apresentadas na Tabela 5.1. Valores parecidos foram encontrados na norma norte
americana (43), que varia a percentagem limite conforme o tipo de rocha. Há de se verificar que
o maior problema da absorção para o lastro é em regiões onde há gelo e desgelo, que não é o
caso da maior parte do território brasileiro. Logicamente isso não caracteriza a aceitação de
material com estrutura vesicular, comum em basaltos.
A água absorvida pelo fragmento de lastro quando congelada expande e pode contribuir
para a sua quebra. No Brasil limites menos exigentes poderiam ser estabelecidos, conforme o
tipo de rocha, região e aplicabilidade. Este é um critério que também deveria estar associado ao
tipo geológico da rocha. Comparativos de amostras de fragmentos de lastro oriundos de uma
mesma pedreira de basalto, mas com diferenças mecânicas significativas, inclusive porosidade
e absorção de água acima dos limites das normas nacionais são apresentados por (44).
Atenção especial deve ser dada à massa específica aparente, definida em relação ao
peso saturado e superfície seca, e não em relação ao peso totalmente seco, o que tende a reduzir
o valor obtido. O ensaio deve ser realizado em 10 fragmentos individuais de uma mesma amostra
e logicamente o resultado deve apresentar 10 resultados individuais e a análise estatística. Tal
prática não é comum entre construtores, que geralmente apresentam apenas a média final ou
pesam em balança hidrostática todos os fragmentos ao mesmo tempo. A porosidade e absorção
são obtidos por correlações matemáticas no ensaio de massa específica aparente.
Conforme (45), alguns agregados que inicialmente apresentam boas propriedades
podem sofrer processos de desintegração química quando expostos às intempéries, como
alguns tipos de basalto. Nesse caso é necessário realizar ensaios específicos para averiguar a
resistência química do lastro, que segundo a (39) consiste em atacar o agregado com uma
solução saturada de sulfato de sódio (Na2So4). O agregado seco em estufa é colocado em um
recipiente com a solução por no mínimo 8 h. Especificamente para o lastro ferroviário, diferente
de materiais para pavimentos rodoviários, esse procedimento é repetido 40 vezes e ao final
verifica-se a diferença entre o peso inicial e final.
Um ensaio não previsto para o lastro nas normas brasileiras atuais é o de resistência ao
esmagamento da partícula. Conforme (46), tal análise é um fator importante que governa a
degradação da partícula e depende da resistência da rocha mãe, da geometria dos fragmentos,
do ponto de aplicação do carregamento e da direção do carregamento. Analisando a interação
entre os fragmentos do lastro de maneira mais aprofundada, realmente pode-se constatar que a
transferência de tensões ocorre entre os contatos pontuais das partículas. Tal ensaio considera
a resistência à fratura medida indiretamente pela resistência à compressão diametral, utilizando
a equação (5.1).
P
σ= (5.1)
d²
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Capítulo 5 - Lastro
Tabela 5.3 – Exemplos de rochas utilizadas para lastro ferroviário, (2)
Tipo de rocha e % de utilização no Massa unitária Resistência à compressão
mundo (kN/m³) (MPa)
Diabase (7,6 %) 14,2 180 a 250
Basalto (61,7 %) 14,9 250 a 400
Dioritos (3,5 %) 13,6 170 a 300
Porfiritos de quartzo (0,9 %) 13,2 180 a 300
Gnaisse (1,0 %) 14,0 48 a 230
Glauconita de quartzo (6,6 %) 13,0 150 a 300
Quartzito (0,2 %) 13,3 150 a 300
Granito (5,8 %) 13,5 160 a 240
Fonolitos (0,2 %) 12,5 170 a 250
Calcária (1,3 %) 13,0 20 a 180
Escoria de alto forno 13,5 180 a 270
(46) comenta que, de maneira geral, atualmente o tamanho dos fragmentos do lastro
situam-se em torno de 10 a 50 mm. De acordo com as normas brasileiras (39) e (40), inclusive
especificadas pelo DNIT, os fragmentos do lastro devem passar inteiramente na peneira de 50,8
mm e ficarem retidos na peneira de 12,7 mm, Tabela 5.4 e Figura 5.3. A faixa B da (39) é aquela
que permite os maiores fragmentos de lastro, com maior probabilidade de quebra. Já a faixa da
(40) é aquela que permite uma maior quantidade de fragmentos menores. Especificamente, a
(39) divide a faixa granulométrica do lastro em dois padrões:
a) A, para aplicação em linhas principais;
b) B, para linhas de pátios.
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Capítulo 5 - Lastro
VALEC ABNT A ABNT B
110
100
90
80
% retida acumulada
70
60
50
40
30
20
10
0
10 20 40 80
Abertura da peneira (mm)
Figura 5.3 – Curvas granulométricas das faixas VALEC e ABNT para lastro, geradas a partir
das informações de (40) e (39)
Tabela 5.5 – Faixas granulométricas para o lastro, norma australiana AS2758.7, adaptado de
(37)
% passante em massa
Abertura da peneira (mm)
Faixa I Dormentes de aço Faixa II Bem graduada
63,0 100 100 --- ---
53,0 85 a 100 95 a 100 100 100
37,5 20 a 65 35 a 70 90 a 100 70 a 100
26,5 0 a 20 15 a 30 20 a 55 ---
19,0 0a5 5 a 15 0 a 15 40 a 60
13,2 0a2 0 a 10 --- ---
9,5 --- 0a1 0a5 10 a 30
4,75 0a1 --- 0a1 0 a 20
1,18 --- --- --- 0 a 10
0,075 0a1 0a1 0a1 0a1
100
90
80
70
% passante
60
50
40
30
20
10
0
0,1 1 10 100
Abertura da peneira (mm)
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Capítulo 5 - Lastro
Tabela 5.6 – Faixas granulométricas para o lastro, norma Norte Americana AREMA, adaptado
de (43)
% passante em massa
Abertura da peneira (mm)
A B C D
76,2 100 100 --- ---
63,5 90 a 100 80 a 100 100 100
50,8 --- 60 a 85 95 a 100 90 a 100
38,1 25 a 60 50 a 70 35 a 70 60 a 90
25,4 --- 25 a 50 0 a 15 10 a 35
19,1 0 a 10 --- --- 0 a 10
12,7 0a5 5 a 20 0a5 ---
9,5 --- 0 a 10 --- 0a3
4,75 --- 0a3 --- ---
100
90
80
70
% passante
60
50
40
30
20
10
0
1 10 100
Abertura da peneira (mm)
A B C D
Figura 5.5 – Faixas granulométricas para o lastro, norma Norte Americana AREMA
Tabela 5.7 – Faixas granulométricas para o lastro nas ferrovias francesas, adaptado de (47),
2006
% passante em massa
Abertura da peneira (mm)
Padrão Desejável
80 100 ---
63 98 100
50 80-100 86-100
40 35-76 40-80
25 0-5 0-10
14 0 0
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Capítulo 5 - Lastro
100
90
80
70
% passante
60
50
40
30
20
10
0
10 100
Abertura da peneira (mm)
Padrão Desejável
100
90
80
70
60
% passante
50
40
30
20
10
0
1 10 100
Abertura da peneira (mm)
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Capítulo 5 - Lastro
a−b
hmin = (5.2)
2 tg(∝)
Onde:
hmin = espessura mínima do lastro [L];
a = distância entre eixo dos dormentes no sentido longitudinal da via [L];
b = largura do dormente [L];
∝ = ângulo sob o qual se processa a distribuição das pressões (°).
Para (2), a altura do lastro é medida tomando-se como referência o eixo da via. Já
conforme (48), Figura 5.8, deve-se medir a espessura do lastro tomando-se como referência o
eixo do trilho. A opção de considerar a espessura do lastro sob o trilho corrobora com a região
onde surgem as maiores tensões de compressão, portanto a região crítica e correta do ponto de
vista da distribuição das tensões. No entanto, como geralmente existem tolerâncias na altura do
lastro, a opção de considerar a altura da camada tomando como referência o eixo da via é
preferível do ponto de vista da segurança, principalmente levando em consideração a
possibilidade de erros construtivos na cota do greide da plataforma. Em obras correntes no brasil,
este autor já se deparou com erros construtivos da ordem de 10 cm para uma camada de lastro
especificada de 30 cm, para mais ou para menos. A questão não se limita a equívocos na
execução da camada, mas erros topográficos que advém desde a execução do subleito e
sublastro.
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Capítulo 5 - Lastro
Figura 5.9, baseado no CBR da plataforma e no tráfego de trens. As curvas de tráfego estão em
sua maioria correlacionando um CBR menor que 20 %, ao passo que as normas brasileiras, a
exemplo de (50), consideram este valor como o mínimo para o sublastro.
3
RIVES, F. O.; PITA, A. L. & PUENTE, M. J. M. (1977). “Tratado de Ferrocarriles I - Via”.
Madri. Ed. Rueda. 690p.
4
PITA, A. L. (1976). “Estudio de la Deformabilidad del Sistema Balasto-Plataforma en Una via
ferrea, bajo la Accion de Cargas Verticales”. Tesis M.Sc, Associacion de Investigacion del Transporte
(AIT), Madrid, Espanã.
5
HEUKELOM, W.; KLOMP, A. J. G. (1962). ”Dynamic Testing as a Means of Controlling
Pavements During and After Construction”. Proceedings, 1 International Conference of Structures Design
of Asphalt Pavements, 1962, Ann Arbor, University of Michigan, p.667 – 79.
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Capítulo 5 - Lastro
Figura 5.10 – Ábaco para determinação da espessura do lastro, LÓPEZ PITA, 19764 apud (49)
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Capítulo 5 - Lastro
6 Retensores e pás de ancoragem
6.1 Retensores
Retensores são dispositivos fixados por pressão no patim do trilho, imersos no lastro,
objetivando impedir parte do deslocamento longitudinal do trilho e da grade, Figura 6.1.
Tipo T
Tipo V
Figura 6.2 – Tipos de retensores, (51)
O retensor é inserido no patim do trilho utilizando-se uma marreta com aproximadamente
5 kg, sem aplicação de força extrema que poderá danificar o retensor, o próprio trilho ou o
dormente. Os retensores devem resistir a inúmeras atividades de reaplicações, sem apresentar
perda de retensão, que equivale a uma força longitudinal de 15 kN, sem apresentar
deslocamento superior a 1 mm, (51).
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Capítulo 6 - Retensores e pás de ancoragem
6.2 Pás de ancoragem
As pás de ancoragem são dispositivos presos aos dormentes (quase sempre de madeira)
e inseridos no lastro objetivando aumentar a resistência transversal da linha, Figura 6.3 e Figura
6.4.
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Capítulo 6 - Retensores e pás de ancoragem
7 A superestrutura sobre obras de arte especiais (OAE)
Nas OAE é comumente utilizado uma superestrutura convencional, com o lastro lançado
diretamente sobre o tabuleiro da estrutura. Já em outras OAE que não têm tabuleiro é comum o
lançamento de dormentes especiais diretamente nas longarinas da obra de arte. Os dormentes
são então travados rigidamente por cantoneiras de aço ou outro dispositivo que restrinja seu
movimento (Figura 7.1).
Em OAE com lastro, a espessura da camada geralmente é inferior daquela utilizada em
linhas convencionais, sendo calculada em função da resistência da base da estrutura, que nesse
caso é bem maior do que um solo convencional. Nessa situação deve-se tomar cuidado para a
qualidade do agregado, pois quanto mais rígida é a base, maior a tenção solicitante no lastro e
em camadas superiores, podendo ocorrer rápida deterioração.
Figura 7.1 – OAE sem tabuleiro e dormentes lançados diretamente em longarinas (esquerda);
OAE com lastro lançado diretamente sobre o tabuleiro da ponte
Conforme (2), montar a grade diretamente na estrutura da ponte pode trazer riscos, pois
os esforços transversais atuantes serão transferidos diretamente para a estrutura. Deve-se então
procurar uma maneira de evitar este problema, como utilizando fixações especiais que permitam
o movimento longitudinal do trilho, pouco usuais no Brasil. Nesse aspecto torna-se recomendável
a utilização de lastro sobre as obras de arte especiais.
7.1 Contratrilhos
Ainda conforme demonstra a Figura 7.1, é usual e extremamente necessário a utilização
de contratrilhos nas OAE, especialmente em regiões que atravessam cursos hídricos, túneis etc.
Os contratrilhos são trilhos posicionados ao lado dos trilhos principais (onde efetivamente
passa o material rodante) que objetivam conter e guiar as rodas dos veículos ferroviários em
caso de descarrilamento ou até mesmo impedir o descarrilamento. A intenção é manter a roda
descarrilada entre os trilhos principal e do contratrilho até que seja ultrapassado a região de risco,
onde a queda de veículos seja um perigo em potencial, mesmo que isso custe a destruição da
fixação, dos dormentes etc.
A implantação dos contratrilhos requer dormentes especiais, principalmente caso esses
sejam de concreto ou aço. No caso dos dormentes de madeira, em geral, basta executar uma
nova furação. Geralmente, os trilhos que compõem o contratrilho são de tamanho inferior ao
trilho principal, uma vez que não são projetados para receber o carregamento dos trens.
Normalmente utiliza-se trilhos descartados, antigos.
No caso de impedir o descarrilamento, o contratrilho deve ser implantado a uma distância
do trilho principal, tal qual, quando a roda que está com o friso sobre o boleto do trilho tente se
movimentar no sentido transversal, a mesma tocará o contratrilho. Considere a Figura 7.2 para
o cálculo da distância entre o trilho principal e o contratrilho, afim de evitar o descarrilamento
(contratrilhos posicionados internamente na via). A equação (7.1) formula matematicamente a
situação. Para bitola métrica, uma distância entre as rodas de 0,925 m, uma espessura de friso
igual a 3 cm e uma superlargura de 2 cm, a distância entre o trilho principal e o contratrilho é da
ordem de 6,5 cm.
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Capítulo 7 - A superestrutura sobre obras de arte especiais (OAE)
Figura 7.2 – Distância entre o trilho principal e o contratrilho para evitar o descarrilamento, (4)
Onde: b = bitola[L]; S = superlargura, no caso de curva [L]; 𝑐 = distância interna entre as rodas
de um mesmo rodeiro [L]; 𝑒 = espessura do trilho das rodas [L]; 𝜀 = distância de boleto a boleto
entre o trilho principal e o contratrilho, interno na via [L].
Para que o contratrilho guie as rodas no caso de um descarrilamento, agravando o
acidente, este deve ser implantando a uma distância que permita a passagem da roda,
geralmente em torno de 15 cm, posicionado do lado externo em relação aos trilhos principais.
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Capítulo 7 - A superestrutura sobre obras de arte especiais (OAE)
8 Superestruturas especiais
Mais de 150 anos depois de inaugurada a primeira estrada de ferro para cargas
comerciais no Brasil, em 1854 pelo Barão de Mauá, muitas inovações tecnológicas foram
concebidas nas construções das ferrovias no país. Na via permanente, tem-se como exemplos
de evolução a melhoria na resistência dos trilhos, o avanço no sistema de fixação elástica e da
tecnologia do concreto, possibilitando a fabricação de dormentes em larga escala em
substituição aos dormentes de madeira, ainda muito utilizados.
Já em relação as camadas geotécnicas, como lastro, sublastro e subleito, pouco mudou
desde meados do século XX. No Brasil, as ferrovias para cargas por eixo maiores que 300 kN
continuam sendo concebidas com lastro de pedra britada, como o basalto ou gnaisse, sublastro
granular geralmente de cascalho ou mistura solo-brita e subleito com as três últimas camadas
de compactação a 100 % do Proctor Normal. O controle tecnológico é baseado principalmente
na granulometria, CBR e grau de compactação.
Superestruturas especiais são aquelas que fogem do sistema convencional de trilho,
fixações, dormente, lastro, sublastro granular e subleito.
Algumas possuem lajes de concreto apoiadas diretamente sobre o subleito (slabtracks),
não existindo o lastro. Já outros tipos de vias possuem materiais distintos àqueles geralmente
utilizados no pavimento ferroviário, seja em substituição ou em adição a algum elemento ou
camada. Como exemplo, tem-se a adição de uma camada de sublastro de concreto asfáltico ou
a substituição completa do sublastro granular por este.
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Capítulo 8 - Superestruturas especiais
Figura 8.2 – Encaixe dor dormente
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Capítulo 8 - Superestruturas especiais
Conforme (54), desde 1970 na Itália o CA vem sendo utilizado nas ferrovias de alta
velocidade com sucesso. Atualmente existem mais de 1200 km de vias de alta velocidade no
país, possuindo SCA com 12 cm de espessura. Como vantagens, constatou-se a menor
quantidade de agregados quando comparado com as vias possuindo lajes de concreto (slab-
track, geralmente de 20 cm), raras trincas e o ganho no tempo de endurecimento da massa
asfáltica para liberação da camada, que é muito menor que o tempo de endurecimento do
concreto. Os pontos críticos ocorreram nas regiões com concentrações de tensões, como
encabeçamento de pontes e passagem em nível.
(55), seguindo os padrões italianos de construção e utilizando modelos viscoelásticos
em 2D, mostraram uma redução de 40 % na tensão atuante no subleito, quando utilizado a
solução de SCA com 12 cm de espessura. Tal estudo também considerou variações térmicas no
pavimento entre 10 e 25 ºC, não havendo interferência significativa no deslocamento vertical no
topo do trilho, que no caso ficou em torno de 3 mm.
Exemplos de pavimentos com sublastros de concreto asfáltico são apresentados na
Figura 8.3.
Figura 8.3 - Linha com camada asfáltica (esquerda); Exposição do SCA (meio); Linha com SCA
há 47 anos (direita), (56) e (57)
Já a (58) e (59) apresenta a linha de testes do TGV (trem de alta velocidade francês)
possuindo SCA, construída na França em 2003. Até então a linha padrão do TGV era composta
por 30 cm de lastro, sobre 20 cm de SG e 50 cm de calcário granular (Figura 8.4). Na via com
SCA possuindo 3 km, retirou-se os 50 cm de calcário granular, inserindo-se 14 cm de SCA sobre
os 20 cm de SG anteriores, gerando uma economia de 5000 m³ de material por km de via. No
topo da camada de SG foi aplicado um revestimento superficial betuminoso, a uma taxa de 1,5
kg/m² com agregado fino. A camada de SCA possuía 10,7 m de largura e sobre ela também foi
aplicado um revestimento superficial a uma taxa de 0,8 kg/m². Durante 4 anos a linha ficou em
testes com sensores de temperatura, aceleração, pressão, deformação e deslocamentos, sendo
aberta ao público em Junho de 2007. Atualmente todas as linhas do TGV são construídas com
a metodologia apresentada.
Figura 8.4 - Pavimento típico do TGV antes e depois da inserção do SCA (esquerda); Camada
de SCA sendo construída (direita), (59)
Considerando a tensão vertical em uma análise possuindo lastro com 35 cm de
espessura, para (60), uma camada de SCA com 12 cm de espessura equivale a uma de 30 cm
de SG. O mesmo valeria para uma camada de SG com 20 cm mais uma asfáltica de 6 cm,
mostrando uma equiparação não linear.
A eficiência da aplicação do SCA sob a camada de lastro pode ser justificada pelo
trabalho de (61). Os autores simularam uma camada de mistura asfáltica com 15 cm de
espessura em diversas partes do pavimento, seja sob os dormentes, sob o lastro ou sob os
últimos 70 cm do aterro, a partir da base do lastro. A conclusão foi que a camada de mistura
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asfáltica sobre o subleito proporciona o melhor desempenho em relação ao deslocamento
vertical (em torno de 2 mm), tensão no subleito e deformação na base da camada asfáltica.
Ainda segundo a (54), dentre as principais vantagens do SCA, tem-se o melhoramento
da estabilidade e durabilidade da via, redução da vibração e ruído (principalmente se utilizado
asfalto modificado por polímeros), redução da deformação vertical permanente e
consequentemente redução da manutenção. A maior rigidez do SCA além de aumentar a rigidez
total da estrutura, também proporciona uma melhor distribuição das tensões, reduzindo
deteriorações e mantendo por mais tempo a geometria da via. Com uma estrutura mais rígida,
haverá a redução das tensões de cisalhamento, consequentemente ocasionando menor fadiga
e menor degradação das partículas do lastro. O CA também possui a capacidade de resistir a
esforços de tração, fornecendo uma contribuição extra à resistência global do pavimento.
(53) alerta para a vantagem da utilização do SCA em ferrovias que atravessam regiões
densamente populosas. Como a camada asfáltica atenua ruídos e vibrações, a execução de
SCA pode ajudar a evitar danos em construções vizinhas, problema comum em regiões próximas
às vias férreas.
Segundo (62), geralmente os agregados utilizados no SG também servem para a mistura
asfáltica e quando a distância de transporte é grande, possivelmente existirá economia financeira
na execução do SCA, que na maioria dos casos possui custo elevado em relação ao SG. A
quantidade de agregados utilizados na mistura asfáltica chega a ser a metade, ou menos,
daquela utilizada no SG. Outra vantagem do SCA é o aumento da rigidez do pavimento,
reduzindo desgastes no lastro e aumentando sua vida útil.
Utilizando uma extensiva quantidade de dados, uma análise de custos foi realizada por
(63). Nela, os autores afirmam que a chave da economia da utilização de SCA está na distância
média de transporte (DMT) em função da quantidade de material granular economizado. Uma
camada granular pode ter seu preço dobrado quando a DMT varia em torno de 80 km. No caso
de um SG construído com DMT em torno de 60 a 80 km, seu custo inicial pode inclusive ser
superior ao de um SCA possuindo 12 cm de espessura. Depois da distância de transporte o
preço do betume fica em segundo lugar no custo do SCA. No caso estudado, existiu ainda uma
economia de lastro em torno de 200 m³/km em virtude das características impermeáveis da
camada de SCA, que requer menor inclinação.
Conforme (64), até 1985 custos de manutenção em determinado túnel ferroviário com
problemas crônicos de acúmulo de água, que giravam em torno de $ 20.000 por ano, caíram
para $ 1.000 depois da implantação de SCA, o que pagou seu custo de implantação em apenas
2 meses, inclusive reduzindo interdições da via. Em 20 anos foram economizados mais de $
600.000, apenas com a implantação de camadas asfálticas em 2 túneis. Posteriormente o SCA
também foi utilizado nos encabeçamentos de pontes e passagens em nível, com ótimos
resultados.
Ainda segundo (52), nos EUA têm sido observados subleitos com umidade ótima
preservada, mesmo em regiões onde há a possibilidade de congelamento do pavimento. Como
o SCA ainda está protegido pelo lastro, o envelhecimento da mistura asfáltica é muito mais lento
do que em uma rodovia. A deformação permanente e a exsudação do ligante também não são
preocupantes, e o aumento de ligante na mistura ainda proporciona maior impermeabilização do
subleito.
(65) compararam características de pavimentos ferroviários com SCA solicitados por
cargas pesadas em pleno funcionamento nos EUA, possuindo entre 12 e 25 anos de idade.
Foram obtidas 7 amostras em 4 estados federativos diferentes de forma a variar as condições
climáticas e geotécnicas. As camadas asfálticas não possuíam de forma excessiva desgastes,
endurecimento e deterioração por fadiga, constatado através de ensaio no reômetro de
cisalhamento dinâmico (DSR) em 5 amostras, onde todas apresentaram resultados bem
inferiores a 5 MPa. Em aproximadamente 10 anos, 4 de 6 amostras tiveram aumento do módulo
de resiliência da mistura asfáltica. As umidades ótimas do subleito ainda possuíam valores
próximos daqueles de projeto, com variação em torno de 1 %. Em 9 anos, houve pequena
redução do CBR do subleito, principalmente em solos argilosos.
Conforme (54) apesar dos eixos ferroviários possuírem maior peso que os eixos
rodoviários, a tensão aplicada pela roda do veículo ferroviário é dissipada no trilho, no dormente
e no lastro, chegando à camada asfáltica com uma tensão inferior daquela encontrada no
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pavimento rodoviário. Em valores aproximados, uma roda com 57,5 kN provocaria no pavimento
rodoviário uma tensão no topo da camada asfáltica de 0,8 MPa, enquanto no pavimento
ferroviário uma roda com 112,5 kN provocaria uma tensão de 0,25 MPa. Isso corresponde a uma
tensão 69 % menor em relação a uma carga 96 % maior.
Utilizando uma locomotiva com carga máxima na roda de 160 kN em uma via com lastro
de 20 cm de espessura, (62) mediram no topo de uma camada de SCA com 13 cm de espessura
picos de tensão entre 90 e 120 kPa. Os autores chegaram à conclusão que a camada de SCA
deve possuir entre 12,5 e 15 cm de espessura, podendo atingir 20 cm em áreas onde o subleito
possui baixa capacidade de suporte. Nos testes a largura utilizada foi de 3,7 m. Para a aplicação
ferroviária, a percentagem de ligante na mistura asfáltica deve aumentar 0,5 % em relação a
misturas dimensionadas para rodovias e a percentagem de vazios deve girar em torno de 1 a 3
%, tendo-se então uma mistura mais densa.
(53), efetuando simulações numéricas do pavimento ferroviário utilizando o modelo de
Drucker-Prager para camadas granulares e propriedades visco-elásticas para a camada de SCA
em uma linha simétrica com 11 dormentes, concluiu que a camada de SCA deve possuir entre
12 e 14 cm de espessura para garantir um bom comportamento teórico em termos de tensões e
deslocamentos. Tal espessura poderia chegar a 9 cm caso fosse realizado um asfalto de boa
performance. No entanto, aumentar a espessura da camada de SCA é mais efetivo do que
aumentar o módulo de elasticidade do material.
Em suas simulações, (61) consideraram um módulo médio da camada asfáltica igual a
4 GPa. Os autores afirmam que este valor sofre variações conforme a temperatura, frequência
de carga, tipo de mistura e do método usado para sua determinação. (57) encontraram para uma
mesma mistura asfáltica, um módulo de 4,8 GPa na primavera, 2,6 GPa no verão, 8,6 GPa no
outono e 15,5 GPa no inverno. (60) utilizaram modelo elástico linear e consideraram o módulo
da mistura asfáltica igual a 6 GPa.
Segundo (58), o módulo de rigidez do SCA utilizado nas linhas do TGV deve ser maior
que 9 GPa. A resistência à fadiga a 10 ºC e 25 Hz deve ser suficiente para 110 µε a um milhão
de ciclos. Variando a rigidez do subleito, (66) encontram diferentes deformações na base do
SCA. Em valores aproximados, 300 µε para um módulo de 21 MPa, 200 µε para um módulo de
82 MPa e 150 µε para um módulo de 144 MPa.
O sublastro asfáltico deve ser projetado para ser durável, dada a dificuldade de
manutenção. Conforme (54), o tempo de vida da camada deve superar 50 anos, necessitando
de cuidados especiais durante a execução como uma boa compactação e controle de
temperatura, problemas comuns em obras. Conforme (56), a compactação deve estar de 96 a
98 % da densidade máxima, seguindo o padrão Marshall. Testes de especificação devem ser
realizados a cada 10.000 m³ executados e a verificação da resposta dinâmica pode ser realizado
com 3 testes a cada 100 m, utilizando o Falling Weight Deflectometer (FWD).
(67) mostram que dependendo da rigidez do subleito, a solução de SCA pode dobrar a
vida útil, chegando a triplicar, caso o SCA seja usado em conjunto com outra camada de SG.
Conforme (66), um pavimento com SCA solicitado por uma roda de 162 kN, possuindo um
subleito de módulo em torno de 21 MPa, resultaria em uma vida de serviço em torno de 13 anos.
Tal tempo de vida aumentaria para 27 anos com um módulo de 82 MPa e 45 anos para um
módulo de 124 MPa.
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Capítulo 8 - Superestruturas especiais
Figura 8.5 – Palmilhas sob a base de dormentes de concreto protendido,
Conforme (68), as primeiras implantações desse tipo de solução ocorreram nas ferrovias
suíças em 1986. A instalação das palmilhas resilientes reduz a frequência ressonante do
carregamento e magnitude das tensões aplicadas no lastro entre 20 e 30 %, consequentemente
possibilitando a redução da espessura da camada de lastro em cerca de 10 cm.
Testes com diferentes configurações de apoio e diferentes frequências de carga foram
realizados por (68), Figura 8.6. Os resultados são apresentados na Figura 8.7, onde é possível
perceber redução da vibração quando da utilização das palmilhas resilientes em todos os testes.
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Capítulo 8 - Superestruturas especiais
Figura 8.6 – Estruturas de teste: Tipo A1 e B1 (esquerda); Tipo A2 e B2 (direita), (68)
Figura 8.7 – Vibrações na laje de concreto para diferentes configurações de pavimentos com
palmilhas resilientes, (68)
As palmilhas não podem ser nem muito rígidas nem muito elásticas, e conforme WITT
(2008) apud. (38), recomenda-se módulos de elasticidade em torno de 100 MPa.
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Capítulo 8 - Superestruturas especiais
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