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Paulo Lobato 25 de mar.

4 min para ler

Trilhos ferroviários: conceitos e


características
Atualizado: 13 de jul.

Introdução

Seguindo nossa linha de postagens, vamos falar, hoje, sobre mais um elemento da superestrutura ferroviária: o
trilho. Iremos explorar conceitos e definições, bem como as funções de suas partes e a classificação desse
componente.

O trilho

Esse componente é o mais importante da superestrutura ferroviária e é responsável pelo suporte do material
rodante e pela pista de rolamento, ou seja, a guia dos veículos. Além disso, o trilho dá sustentação aos veículos,
transferindo as solicitações das rodas aos dormentes.
A resistência à flexão é talvez a principal característica do trilho. Esta caracterísitca está principalmente associada
às suas dimensões e formas. assim, diferentes perfis de trilho possuem diferentes resistências à flexão.
O formato de trilho utilizado atualmente em todas as ferrovias do mundo é o chamado trilho "Vignole", ilustrado
na imagem a seguir:

Trilho Vingnole
Partes e funções

Na imagem abaixo podemos ver que o trilho é composto por 3 partes: boleto, alma e patim.

Partes do trilho
O Boleto é onde ocorre o contato da roda com o trilho, portanto é a parte que recebe primeiro toda a carga do
veículo ferroviário e que sofre mais desgaste. Devido a isso, os engenheiros desenvolveram técnicas para
aumentar a dureza do boleto. O método mais comumente adotado é o tratamento térmico, ou resfriamento
controlado, do boleto.
Já a Alma é a parte mais estreita do trilho, fazendo a ligação do patim com o boleto. Por causa da sua forma, a
alma fica responsável pela resistência à flexão vertical do trilho. Assim, quanto maior sua altura, maior a
capacidade de carga do trilho.
O Patim é a área inferior achatada do trilho e tem a função de distribuir a pressão ao dormente e de receber a
fixação. Tal parte fica confinada pela placa de apoio, garantindo a restrição ao movimento do trilho.

Classificação dos trilhos em função do peso


próprio

Os trilhos podem ser classificados em função do seu peso próprio, sendo que cada padrão de trilho possui
características geométricas diferentes. É válido dizer que, às vezes, um mesmo padrão geométrico pode possuir
diferentes qualidades físico-químicas. Em relação ao peso próprio temos a seguintes classificações segundo à UIC
(Union Internationale des Chemins de Fer):

S41 – 41 Kg/m

S54 – 54 Kg/m

S60 – 60 Kg/m

Já na classificação dada pela AREMA (American Railroad Engineering and Maintenance-of-Way Association) o peso
próprio é dado em lb/jardas, originando seus nomes:

90 ARA-A – 90 lb/jardas

115 RE – 114,7 lb/jardas

136 RE – 136,2 lb/jardas

A UIC e a AREMEA são os principais padronizadores de trilhos e de outros temas ferroviários no mundo, sendo
que o primeiro é europeu e o segundo americano.
As nomenclaturas nacionais de cada perfil de trilho têm pequenas diferenças em relação às nomenclaturas
internacionais, no entanto, os perfis são os mesmos. Veja a tabela de correlação a seguir:
A tabela a seguir apresenta as características de diferentes perfis de trilhos utilizados no Brasil:

É importante destacar aqui o porquê de existir diferentes tipos de trilhos. Isso se da pelo fato de que,
antigamente, as cargas transportadas pelos vagões e os próprios vagões eram muito menores, logo havia a
necessidade de trilhos com uma resistência muito menor do que se exige hoje. Sendo assim, os trilhos foram
evoluindo para atender os diferentes pesos de cargas transportadas.

Classificação dos trilhos em função de sua


composição e tratamento térmico

Além da classificação dos trilhos quanto à sua geométrica, temos, também, a classificação quanto a sua
composição e tratamento térmico.
Os trilhos foram sendo alterados com o tempo para atender as necessidades do modal ferroviário. Com isso, para
se obter melhores resultados os trilhos foram modificados através de manipulação na sua composição química do
aço e tratamento térmico. Dessa maneira, diferentes elementos químicos e tratamentos conseguiram alcançar
diferentes objetivos, como: dureza, elasticidade, tenacidade entre outros.
Na tabela abaixo, temos a classificação dos trilhos de acordo com a ABNT – NBR 7590/2021, a qual mostra os
requisitos para o trilho Vignole:
As composições químicas máximas e mínimas para os trilhos de aço-carbono e aço-liga, são apresentados abaixo:

As propriedades mecânicas do trilho estão associadas à sua geometria e ao material utilizado, que, geralmente, é
de aço-carbono, apesar de que alguns países produzem trilhos especiais de aço-liga, de maior vida útil. Além
disso os trilhos podem receber tratamento térmico para melhorar suas propriedades mecânicas. As principais
propriedades mecânicas de classificação da qualidade do trilho são: resistência à tração; ponto de escoamento e a
dureza. Na tabela abaixo podemos observar 3 classificações de trilhos e suas propriedades.
Na imagem abaixo, que exemplifica o resultado do tratamento térmico do trilho na sua dureza, podemos ver que
o trilho de boleto tratado possui valores bem mais altos de dureza na região de contato do trilho com a roda em
relação ao restante do trilho.

Resultado do tratamento de resfriamento térmico

Identificação dos trilhos

Na imagem a seguir vemos o padrão ABNT utilizados nos trilhos aqui produzidos, os quais a fabricação foi
interrompida na década de 90. No entanto, ainda encontramos estes padrões de identificações e por isso
precisamos conhecê-los.

Conclusão
Chegamos ao final de mais uma postagem, desta vez aprendemos um pouco mais sobre os trilhos. Foi destacados
alguns detalhes sobre a sua definição, suas partes, bem como sua função e como a geometria do trilho influencia
na sua finalidade.

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Escrito por Paulo Lobato,PMP e Laura Lima


Especialista em manutenção de via permanente ferroviária
Elevada experiência em gerenciamento de projetos e análise de viabilidade técnica-
econômica de novos projetos
Engenheiro Civil formado pela UFMG em 2010 com curso de extensão em ferrovia e
transportes pela École Nationale des Ponts et Chaussées em Paris/França
Certificado em Gestão de Projetos pelo Project Management Institute (PMI)
Certificado em Inglês Avançado (CAE) pela Cambridge University
Pós-graduado em Engenharia Ferroviária pela PUC-Minas
Pós-graduado em Gestão de Projetos pelo IETEC
Pós-graduado em Restauração e Pavimentação Rodoviária pela FUMEC
Contato: (31) 98789-7662
E-mail: phlobato01@gmail.com

Cover picture: maximilianschiffer - Flicker CC 2.0

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