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CORRELAÇÃO ENTRE DUREZA E TEMPERATURA DE TRANSIÇÃO VÍTREA EM

RESINAS POLIÉSTERES URETANIZADAS MODIFICADAS COM PVB.

V. Barbosa (1), I. Marini (1,2), H. Wiebeck (2).


(1) Renner Sayerlack S.A.
(2) Laboratório de Matérias-Primas Particuladas e Sólidos Não-Metálicos – LMPSol
Departamento de Engenharia Metalúrgica e de Materiais da Escola Politécnica da USP
Av. Prof. Lineu Prestes, 580 – CEP 05508-900 São Paulo, SP, Brasil.
e-mail:isabella.marini@poli.usp.br

RESUMO

Palavras-Chaves: dureza, poliéster e PVB.

O objetivo deste trabalho é encontrar uma correlação entre a dureza e o Tg (temperatura de


transição vítrea) para filmes obtidos com resinas poliésteres uretanizadas modificadas com 1% e 2%,
em massa, de aparas de PVB – poli(vinil butiral) e com diferentes quantidades de diisocianato. As
aparas de PVB utilizadas para a modificação da resina são geradas durante o processo de fabricação
de vidros laminados para a indústria automobilística e a sua adição em resinas poliésteres
uretanizadas pode vir a ser uma das formas de reciclagem deste resíduo. Uma das propriedades
físicas que pode ser analisada em filmes poliméricos é a sua dureza, que pode ser definida como a
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resistência de um filme em relação a forças mecânicas como pressão, fricção ou riscos. Neste
trabalho foram realizados dois tipos de dureza e ambos são baseados no processo pendular (dureza
Sward-Rocker e dureza Persoz). Os valores obtidos nos testes de dureza foram relacionados com os
valores de Tg encontrados por meio de análises térmicas realizadas por calorimetria de varredura
diferencial (DSC).

INTRODUÇÃO

A temperatura de transição vítrea (Tg) é usualmente associada à liberdade de movimentação


dos segmentos da cadeia polimérica e é muito utilizada para análise de filmes poliméricos. Esta
propriedade térmica pode ajudar na identificação de características importantes dos polímeros como,
por exemplo, uniformidade e qualidade, efeitos de plastificantes, grau de cura, compatibilidade de
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blendas, composição de fases, entre outras. Uma das propriedades físicas que pode ser associada
ao Tg é a dureza e tem-se como informação da literatura que, geralmente, quanto maior o Tg maior a
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dureza do filme. Neste trabalho os resultados de dureza foram comparados com os resultados de
Tg dos filmes obtidos.

MATERIAIS E MÉTODOS

As resinas utilizadas para a realização dos testes estão contidas na tabela I. Para a formação
do filme analisado foram acrescentados secantes metálicos às resinas e as mesmas foram
submetidas à secagem oxidativa durante 72 horas.

Tabela I – Resinas utilizadas.


Resina % de PVB % de Diisocianato
A 0 5
B 1 5
C 1 3,7

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D 2 2,5

Dureza Sward-Rocker
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Este ensaio foi baseado na norma ASTM D2134-93 e consiste na medida da dureza de um
filme por meio de um instrumento oscilatório chamado Sward-Rocker.
O aparelho utilizado foi o de marca Sheen Instruments Ltd. e consiste em um pêndulo
horizontal formado por dois anéis de bronze cromados de 4 polegadas de diâmetro e espaçados 1
polegada um do outro. No centro do círculo está um balancim de gravidade usado para regular as
freqüências de oscilações do sistema. A amplitude das oscilações é determinada por dois níveis de
bolhas situados na parte inferior de um dos anéis. O nível da esquerda indica o início do ensaio e o
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da direita, o seu término. A figura 1 é de um aparelho Sward-Rocker:

Balancim
Níveis de
bolhas

Filme de verniz a
ser analisado

Figura 1 – Aparelho Sward-Rocker.

Para a realização deste ensaio os vernizes foram aplicados em placas de vidro com extensor
barra fixa de 100 µm (extensor Bird do fabricante TKB Erichsen) e secados ao ar. Os testes de
dureza foram feitos 72 horas após a aplicação.
O teste em questão obedeceu ao seguinte procedimento: a princípio apoiou-se o aparelho
sobre o filme de verniz seco. Com um leve toque acionou-se o instrumento e observou-se o momento
em que cessou o deslocamento da bolha além da linha marcada sobre o corpo do nível da esquerda.
Neste momento iniciou-se a contagem das oscilações da bolha do corpo do nível da direita. Quando
esta bolha não ultrapassou mais a linha demarcatória, o ensaio foi considerado encerrado; em
seguida, o número de oscilações contado foi multiplicado por 2. Este resultado é expresso em dureza
Sward-Rocker.

Dureza Persoz
O princípio deste aparelho é semelhante ao do Sward-Rocker, isto é, baseia-se no
amortecimento das oscilações de um pêndulo. A diferença é que, neste caso, o pêndulo, que pesa
200 ± 0,2 g, é apoiado sobre duas esferas, ou seja, dois pontos de apoio de diâmetro = 5 ± 0,005
mm. Em vez de as oscilações serem contadas com o auxílio de níveis de bolha, elas são monitoradas
por um contador automático que registra quantas vezes o pêndulo passa por ele (este contador está
situado a um ângulo de 4° de cada lado). Na figura 2 é mostrada uma fotografia do aparelho
König/Persoz utilizado nos testes. É da marca Sheen e modelo 707/KJ. O contador utilizado foi o
Pendulus Hardness Rocker Counter, também da marca Sheen.

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Figura 2 - Pêndulo König/Persoz.
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Este teste foi baseado na norma ASTM D4366-95. Para sua realização, os vernizes foram
aplicados, em triplicata, sobre placas de vidro com extensor de 50 µm (extensor de barra
quadrangular com 4 faces – 25, 50, 75 e 100 µm – do fabricante TKB Erichsen). Após 72 horas da
aplicação, os filmes foram avaliados. A seqüência do teste é a seguinte: colocaram-se as placas de
vidro no suporte do aparelho, as esferas foram abaixadas até que estivessem em contato com o
filme, o pêndulo foi então arrastado até o ângulo de 12° e em seguida foi solto. Automaticamente, o
contador disparou a contagem e registrou quantas vezes o pêndulo passou por ele. Quando o valor
no contador se estabilizou, o teste foi finalizado.

Temperatura de Transição Vítrea (Tg)


A temperatura de transição vítrea (Tg) de cada resina foi obtida através de gráficos gerados
pela análise térmica através da técnica de DSC num equipamento Mettler Toledo, modelo DSC 822e,
com fluxo de calor igual a 20°C/min. A faixa de temperatura de operação utilizada foi entre -30°C e
180°C, o gás usado para ajustar a atmosfera na compartimento da amostra foi o nitrogênio com um
fluxo de 50mL/min, e o cadinho foi o de alumínio 40ul. A massa utilizada de cada amostra para as
análises está na tabela a seguir:

Tabela II – Massa utilizada na análise térmica de cada resina.


Resina Massa (mg)
A 7,34
B 8,32
C 15,39
D 10,86

RESULTADOS E DISCUSSÕES

Dureza

Tabela III –Resultados obtidos de dureza Sward-Rocker e Persoz.


Resina Dureza Sward-Rocker (SHR)* Dureza Persoz**
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ASTM D2134-93 ASTM D4366-95
A 10 260
B 10 242
C 8 145
D 4 72

Considerando os dados da tabela acima, pode-se observar que os filmes formados pelas
resinas C e D são mais flexíveis do que aqueles formados com as resinas A e B.

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Nos testes de dureza Sward-Rocker, nota-se que a dureza do filme formado com a resina C é
um pouco menor (o valor não diminuiu significativamente) e a dureza do filme formado com a resina D
caiu praticamente pela metade.
Nos ensaios de dureza Persoz, que são mais sensíveis do que o de dureza Sward-Rocker,
observou-se que: a dureza do filme formado com a resina B já apresentou uma dureza um pouco
menor do que o filme com a resina A, o filme formado com a resina C, uma dureza de 55% da dureza
do filme formado com a resina A, e o filme formado com a resina D, uma dureza de 28% da dureza do
filme formado com a resina A.
Para a análise da redução da dureza das resinas deve-se levar em conta dois fatores: a
introdução do PVB (nas resinas B, C e D), que é um polímero flexível (além de conter
aproximadamente 30% de plastificante), e a diminuição da quantidade de diisocianato (nas resinas C
e D), que por sua vez influencia de duas maneiras. Em primeiro lugar, por estar em menor proporção,
o que acarreta um menor entrecruzamento das moléculas. Em segundo, por apresentar estrutura
aromática e, portanto, mais rígida.
O aumento de flexibilidade é importante, pois, quando um verniz é aplicado sobre determinados
substratos ele deve ser capaz de acompanhar a elongação desta matéria resultante de expansão da
mesma pela absorção de umidade ou pelas alterações de temperatura. Caso contrário, o verniz irá
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trincar.

Temperatura de transição vítrea


Os resultados de Tg obtidos através dos gráficos gerados utilizando a técnica de DSC estão
demonstrados na tabela IV.

Tabela IV – Resultados de Tg obtidos.


Resina Tg (°C)
A 125,29
B 71,06
C 108,37
D -10,29

Como pode ser observado pela tabela IV, a resina B apresentou queda de Tg em relação à
resina A. Isto provavelmente se deve ao fato de que foi introduzido 1% de PVB na resina B que, neste
caso, está agindo como um plastificante diminuindo assim a Tg da mesma. Na resina C, houve um
aumento na Tg em relação à resina B, porém uma diminuição em relação à resina A. A diminuição da
Tg em relação à resina A é facilmente explicada, pois além da incorporação de 1% de PVB houve a
diminuição da quantidade do elemento de entrecruzamento que seria o diisocianato. O aumento da
Tg em relação à resina B talvez possa ser explicado pelo fato de que a resina C apresente
modificações na porcentagem de ligações cruzadas na estrutura do material, quando da secagem
oxidativa, fazendo com que haja diminuição da mobilidade da molécula, aumentando assim o Tg. No
caso da resina D observa-se que a Tg cai bruscamente, em relação às demais resinas, já que esta
resina possui 2% de PVB e apenas 2,5% de diisocianato. Convém ressaltar que este é um caso
bastante específico e está relacionado com as interações desses materiais.

CONCLUSÃO

Quando os valores de dureza e Tg obtidos para as resina B e C são levados em consideração,


não é possível estabelecer uma correlação entre dureza e temperatura de transição vítrea. A resina C
apresenta valores de dureza menores do que a resina B e deveria, portanto, apresentar um valor de
Tg menor também, o que não ocorreu. Assim, a resina C apresenta moléculas com mobilidade menor
do que as moléculas da resina B - o que faz com que a Tg seja maior - e que pode ser devido a um
número maior de ligações cruzadas deste polímero após a secagem oxidativa - como já foi citado
anteriormente. Deve-se, entretanto, ressaltar mais uma vez que este caso é uma exceção (encontra-
se na literatura que a Tg diminui com a queda de dureza) e que depende da interação entre os
materiais aqui estudados.
Para as demais resinas, A e D, a correlação é possível e observa-se que quanto menor a
dureza menor a Tg.

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AGRADECIMENTOS

À Renner Sayerlack S.A.


Ao Gilberto Camargo da Renner Sayerlack e ao Rodrigo Maciel da Micronal pelas análises
térmicas.

REFERÊNCIAS

1. Byk Gardner. Instruments 2001– gloss, color, physichal testing. (Instrument Catalog).
2. BAIR, H.E. et al. Thermal characterization of polymeric materials. New Jersey, Academic Press,
Inc.
3. MISCHKE, P. Acrylates in coatings applications. European Coating Journal, Hannover, n. 7-8, p.
71-72, 2000.
4. AMERICAN SOCIETY FOR TESTING AND MATERIALS. Test method for determining the
hardness of organic coatings with a Sward-type hardness Rocker - D2134-93. Philadelphia,
2001. v.06.01.
5. FAZANO, C.A.T.V. Tintas: métodos de controle de pinturas e superfícies. São Paulo, Hemus.
6. AMERICAN SOCIETY FOR TESTING AND MATERIALS. Standard test method for hardness of
organic coatings by pendulum damping tests - D4366-95. Philadelphia, 2001. v.06.01.
7. WICKS, Z.W.; JONES, F.N.; PAPPAS, S.P. Organic coatings: science and technology. New York,
John Wiley, 1994. V.II.

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CORRELATION BETWEEN HARDNESS AND GLASS TRANSITION
TEMPERATURE IN URETHANIZED POLYESTER RESINS MODIFIED WITH PVB.

ABSTRACT

Key-words: hardness, polyester and PVB.

The purpose of this work is to find a correlation between hardness and Tg (glass transition
temperature) for films obtained with urethanized polyester resins modified with 1% e 2%, in mass, of
poly(vinyl butyral) – PVB scraps and with different amounts of diisocianate. The scraps of PVB, utilized
to modify the resins, are originated from the fabrication process of laminated glasses used in the
automobile industry and its addition into urethanized polyester resins may be one of the ways to
recycle this residue. One of the physical propriety that can be analysed in polimeric films is its
hardness, that is defined as the resistance of the film in relation of mechanical forces like pressure,
(1)
friction and schratchs. In this work, two types of hardness tests were made and both are based in a
pendular process (Sward Hardness Rocker and Persoz hardness). The values obtained in the
hardness tests were related with the values of Tg measured by thermal analysis realized by
Differential Scanning Calorimetry (DSC).

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