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REVISTA BRASILEIRA DE OFTALMOLOGIA


vol. 72 - nº 3 - Maio/Junho 2013

MAI/JUN 2013
VOLUME 72 NÚMERO 3 P. 151-212

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RBO 5

0
DESDE 1942

CAPA REVISTA-MAI-JUN-13
quarta-feira, 14 de agosto de 2013 17:01:52
151
ISSN 0034-7280

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SOCIEDADE BRASILEIRA DE OFTALMOLOGIA
SOCIEDADE BRASILEIRA DE CATARATA E IMPLANTES INTRAOCULARES
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Publicação bimestral Rev Bras Oftalmol, v. 72, n. 3, p. 151-212, Mai./Jun. 2013


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Presidente: Ari de Souza Pena Presidente: Ramon Coral Ghanem
Associação Maranhense de Oftalmologia Sociedade Cearense de Oftalmologia
Presidente: Romero Henrique Carvalho Bertand Presidente: Dácio Carvalho Costa
Associação Matogrossense de Oftalmologia Sociedade Goiana de Oftalmologia
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Sociedade Norte-Nordeste de Oftalmologia
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Presidente: Francisco de Assis Cordeiro Barbosa
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Sociedade de Oftalmologia do Amazonas
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Associação Rondoniense de Oftalmologia Presidente: Leila Suely Gouvea José
Presidente: Lhano Fernandes Adorno Sociedade de Oftalmologia da Bahia
Associação Sul Matogrossense de Oftalmologia Presidente: André Hasler Príncipe de Oliveira
Presidente: Janio Carneiro Gonçalves Sociedade de Oftalmologia do Nordeste Mineiro
Associação Sul-Mineira de Oftalmologia Presidente: Mauro César Gobira Guimarães
Presidente: Mansur Elias Ticly Junior Sociedade de Oftalmologia de Pernambuco
Sociedade Alagoana de Oftalmologia Presidente: João Pessoa de Souza Filho
Presidente: Mário Jorge Santos Sociedade de Oftalmologia do Rio Grande do Norte
Sociedade Brasileira de Administração em Oftalmologia Presidente: Ricardo Maia Diniz
Presidente: Flávio Rezende Sociedade de Oftalmologia do Rio Grande do Sul
Sociedade Brasileira de Catarata e Implantes Intraoculares
Presidente: Afonso Reichel Pereira
Presidente: Armando Crema
Sociedade Paraense de Oftalmologia
Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica Ocular
Presidente: Lauro José Barata de Lima
Presidente: Ricardo Morschbacher
Sociedade Paraibana de Oftalmologia
Sociedade Brasileira de Cirurgia Refrativa
Presidente: Saulo Zanone Lemos Neiva
Presidente: Renato Ambrósio Jr.
Sociedade Brasileira de Ecografia em Oftalmologia Sociedade Piauiense de Oftalmologia
Presidente: Norma Allerman André Uchoa Rezende Santana
Sociedade Capixaba de Oftalmologia Sociedade Sergipana de Oftalmologia
Presidente: César Ronaldo Vieira Gomes Filho Presidente: Bruno Campelo
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Publicação bimestral Rev Bras Oftalmol, v. 72, n. 3, p. 151-212, Mai./Jun. 2013

Sumário - Contents
Editorial
155 O valor da análise crítica da literatura para a atualização médica continuada
The value of the critical analysis of the literature for continuing medical updating
Newton Kara-Junior
157 Cefaleia rinogênica: visão otorrinolaringológica
Sinonasal Headache: Otolaryngologic view
Ricardo Ferreira Bento, Fabio de Rezende Pinna

Artigos originais
159 Interfaces da relação entre o médico e a dupla mãe-filho em um hospital público
Interfaces of the relationship between physician and mother-child in a public hospital
Ondina Lúcia Ceppas Resende, Rosa Maria de Araujo Mitre
164 Lentes progressivas: análise da potência do astigmatismo induzido
Progressive addition lenses – Analysis of the power of induced astigmatism
Celso Marcelo Cunha, Renato José Bett Correia, Antonio Augusto Sardinha Neto
168 Desempenho escolar: interferência da acuidade visual
School performance: visual acuity interference
Cibele Maria Ferreira da Silva, Driellen Rodrigues de Almeida, Rafael Ribeiro Bernardes, Félix Carlos Ocáriz
Bazzano, Marcos Mesquita Filho, Carlos Henrique de Toledo Magalhães, Dênia Amélia Novato Castelli Von Atzingen
172 Conhecimento em cirurgia refrativa entre estudantes de medicina
da Universidade Estadual de Londrina
Knowledge in refractive surgeryamong medical students State University of Londrina
Aluisio Rosa Gameiro Filho, Nathalia Mayumi Thomaz de Aquino, Eliana Barreiros de Arruda Pacheco,
Ana Paula Miyagusko Taba Oguido, Antonio Marcelo Barbante Casella
154

178 Facoemulsificação sob anestesia tópica: série de casos


Phacoemulsification under topical anesthesia: series of cases
Vinícius Neumann Tavares, Carina Graziottin Colossi, Vitor Saalfeld, Manuel Augusto Pereira Vilela
181 Relação entre estilos de aprendizagem e rendimento acadêmico dos estudantes
do quinto ano de medicina
Relationship between learning styles and academic performance of fifth graders enrolled in
the medical course
Mario Pellón, Sandra Nome, Angélica Arán

Relato de Casos
185 Predominantly hemorrhagic choroidal neovascular lesion from exsudative age-related
macular degeneration treated with intravitreal Ranibizumab therapy
Lesão neovascular predominantemente hemorrágica da degeneração macular relacionada à
idade, tratada com ranibizumab intravítrea
Miguel Hage Amaro, Aaron Brock Holler
188 Alterações eletrofisiológicas na doença de Oguchi
Electrophysiological findings in Oguchi disease
Regina Halfeld Furtado de Mendonça, Stefania Abbruzzese, Rocco Plateroti, Pasquale Plateroti,
Eliana Lucia Ferreira
191 Tratamento de cistos conjuntivais em cavidade anoftálmica com injeção intralesional de
ácido tricloroacético (ATA) a 25%
Treatment of conjunctival cysts in anophthalmic socket with intralesional injection of
trichloroacetic acid (ATA) 25%
Fabricio Lopes da Fonseca, Renata de Iracema Pulcheri Ramos , Suzana Matayoshi
194 Correção de estrabismo em paciente com síndrome de Saethre-Chotzen
Strabismus surgery in a patient with Saethre-Chotzen syndrome
Thiago Gonçalves dos Santos Martins, Veridiana Valence Melo Meuleman, Fábio Richieri Hanania, Mariza Polati
197 Adult foveomacular vitelliform dystrophy
Distrofia viteliforme foveomacular do adulto
Valdir Balarin, Rodrigo Pessoa Cavalcanti Lira, Michel Berezowsky, Andrea Mara Simões Torigoe
200 Topoplastia de Cvintal assistida por laser de femtossegundo
Femtosecond laser-assisted Cvintal topoplasty
Alexandre Takayoshi Ishizaki, Frederico Guerra, Issac Ramos, Renato Ambrosio Jr.

Artigo de Revisão
204 Tratamento cirúrgico da retinopatia diabética
Surgical management of diabetic retinopathy
Nelson Alexandre Sabrosa, Almyr Sávio Sabrosa, Katia Cocaro Gouvea, Paiva Gonçalves Filho

Instruções aos autores


210 Normas para publicação de artigos na RBO
EDITORIAL 155

O valor da análise crítica da literatura para


a atualização médica continuada
The value of the critical analysis of the literature
for continuing medical updating

A
atualização médica continuada é importante para o exercício da medicina com boa qualidade e segurança, sendo que,
atualmente, a maneira mais barata, acessível e confiável de se adquirir conhecimentos médicos é por meio da revisão da
literatura em bancos de dados eletrônicos, disponibilizados pela internet. Neste sentido, faz-se necessário um conhecimento
mínimo por parte do leitor para avaliar criticamente artigos científicos, a fim de evitar basear sua prática clínica em informações que
possam não representar a verdade(1,2).
Embora revistas com elevado “fator de impacto” submetam os estudos recebidos ao crivo de competentes revisores (revisão
por pares), ainda assim, não há garantia de que todos os artigos nelas publicados sejam de qualidade adequada, da mesma forma,
como é possível existir bons estudos publicados em revistas de baixo “fator de impacto” (3-5). É importante considerar também que
as publicações nem sempre expressam corretamente a verdade científica. Existem níveis de valores de estudos. Por exemplo, um
trabalho retrospectivo é menos confiável do que um ensaio clínico randomizado, que, por sua vez, apresenta um valor científico
menor do que uma metanálise, que é o tipo de publicação no qual os resultados mais se aproximam da verdade científica daquele
momento, pois a maneira com que a hipótese foi testada é mais precisa, sofrendo, em teoria, menor influência de outros fatores que
poderiam falsear os dados. Assim, devemos mensurar o valor da informação publicada, considerando o desenho de cada estudo (6).
É importante considerar também a validade do artigo, que é o grau de conformidade com a verdade. A Validade Externa
refere-se à possibilidade de se aplicar os resultados em diferentes realidades (generalização). Por exemplo, um artigo que identifique
as barreiras para o acesso à cirurgia de catarata em um hospital público do nordeste, talvez, não seja totalmente válido para a
realidade do sudeste ou para uma clínica privada, onde é possível que as dificuldades de acesso sejam outras. A Validade Interna
indica o nível em que os resultados da pesquisa refletem a verdade, ou seja, o quanto se pode confiar nos dados e está relacionada
à metodologia empregada, que nos permite mensurar a possibilidade de os resultados estarem distorcidos.
Assim, a parte mais importante da publicação, que deve ser cuidadosamente analisada, é a descrição da metodologia emprega-
da para obtenção dos dados. É neste item que se deve atentar para questões que poderiam falsear os resultados. Erros metodológicos
são chamados de Vieses e sua identificação reflete o quanto se pode confiar nos resultados do estudo. O Viés pode ser entendido
como um erro que conduz a uma conclusão inverídica, ou seja, tendenciosa, e pode ser aleatório ou sistemático. Os testes estatísticos
captam a ação do acaso na pesquisa (erro aleatório), mas não o erro sistemático (distorção sistemática entre a medida de uma
variável e seu valor real).
Vieses Aleatórios representam, em geral, características individuais da população estudada, não controladas pelo pesquisador,
que podem influenciar os resultados da pesquisa, como por exemplo, o fato de nem todo portador de diabetes, com controle
semelhante da glicemia, desenvolver retinopatia na mesma época, pois existem diferenças inerentes nas probabilidades de adoecer
entre a população. O impacto destas variações individuais no resultado do estudo costuma ser minimizado pelo tamanho adequado
da amostra e, na maioria dos casos, falseia tanto os dados do grupo controle, como os do grupo de intervenção.
Vieses Sistemáticos são perigosos, pois podem induzir grandes equívocos. São erros metodológicos relacionados a erros
técnicos da pesquisa, induzindo uma incerteza não mensurável que compromete a validade dos resultados. O ideal seria se os
pesquisadores eliminassem todos os Vieses. Porém, se não for possível, no mínimo seria importante que fossem minimizados. A
seguir, descreveremos alguns tipos de Vieses Sistemáticos.
Viés de Amostragem: amostra é um subconjunto de elementos pertencentes a uma população. A informação recolhida para
uma amostra é depois generalizada para toda a população. O Viés de Amostragem ocorre quando a amostra estudada não represen-
ta a população. Por exemplo, se o objetivo da pesquisa for estimar o grau de comprometimento visual por catarata nos pacientes que
procuram tratamento em São Paulo, não basta avaliar somente os indivíduos que procuram um hospital público de referência, é
necessário examinar tanto os pacientes do sistema de saúde público, como os do sistema privado (7).
Viés de Seleção: ocorre nas situações em que o grupo estudado e o grupo controle não são comparáveis. Por exemplo, ao
estudar os resultados de lentes intraoculares (LIOs) multifocais, seria um erro metodológico dar preferência para que pacientes
mais jovens compusessem o grupo que receberá a LIO multifocal, pois seria possível, em teoria, que estas pessoas apresentassem
outras variáveis que pudessem influenciar nos resultados, como a capacidade de responder melhor ao questionário de satisfação. O
Viés de Seleção talvez seja o erro metodológico mais comum, o qual pode ser neutralizado pela randomização dos grupos, com
alocação mascarada, ou seja, quando o pesquisador garante que todo sujeito selecionado para participar do estudo tenha exatamen-
te a mesma chance de compor cada um dos grupos. O autor ainda precisa explicar de que maneira a amostra foi formada. Porém,
mesmo que o autor “engane” o editor, relatando que o estudo tenha sido randomizado, o leitor poderá se proteger checando as
características de cada grupo, pois variáveis como idade, sexo, raça e escolaridade, devem ser semelhantes para ambos os grupos, em
estudos aleatorizados.
Viés de condução ou aferição: acontece quando o examinador trata de forma assimétrica os sujeitos do estudo, de maneira que
haja exposição a outros fatores além da intervenção de interesse. Por exemplo, quando o avaliador sabe que está medindo a
acuidade visual do participante que foi operado com a LIO multifocal, talvez ele tenha a tendência de estimular a leitura das letras

Rev Bras Oftalmol. 2013; 72 (3): 155-6


156 Kara-Junior N

na tabela de Snellen, insistindo mais para que o sujeito leia as letras menores, ao contrário dos indivíduos do grupo controle. Este
erro deve ser evitado com a padronização dos procedimentos e medidas do estudo, além de “mascarar” o avaliador, para que ele
desconheça a que grupo pertence os pacientes.
Perda de Seguimento: em geral, não é tolerada perda ou exclusão de indivíduos, uma vez incluídos no estudo, superior a 10%.
No caso da avaliação das LIOs, é mais provável que os indivíduos que não tenham comparecido aos retornos sejam justamente
aqueles que ficaram melhor e que julguem não ser mais preciso voltar ao hospital. Neste caso, o estudo revelaria incidência de
insatisfação irreal.
Viés de Detecção: relacionado à avaliação do desfecho. Por exemplo, o pesquisador, tendo utilizado para avaliação a tabela de
Snellen, afirmar que a acuidade visual de pacientes que receberam LIOs asféricas seja semelhante à dos que receberam LIOs
esféricas. É consenso, entre os pesquisadores, de que a tabela de Snellen não é apropriada para este tipo de mensuração, fazendo-
se necessário realizar o exame com a tabela de sensibilidade ao contraste (8). Outra situação ocorre quando o sujeito de estudo sabe
que recebeu o placebo. Neste caso, é mais provável que ele procure veladamente formas alternativas de tratamento, assim como
aqueles que sabem que receberam a droga estudada, sejam sugestionados a achar que melhoraram (efeito placebo). Este erro pode
ser eliminado, ao se “mascarar” os pacientes.
Um estudo é considerado mascarado quando o avaliador não sabe quem compõe cada grupo de estudo. Duplo-mascarado, se
adicionalmente o paciente não sabe a que grupo pertence. Triplo-mascarado, se a pessoa que fez a alocação dos sujeitos em cada
grupo também não sabe quem são os candidatos que está alocando.
Viés de Confundimento: é quando não se distingue o efeito de duas ou mais variáveis. Por exemplo, ao avaliar o consumo de
combustível de dois carros, testar um deles na estrada e outro na cidade. Neste caso, teremos duas variáveis influenciando o
resultado, os carros e o percurso. Da mesma forma, caso o cirurgião mais experiente opere somente o grupo da LIO multifocal,
estaremos testando o desempenho das LIOs e dos cirurgiões ao mesmo tempo. O ideal é que a variável a ser estudada esteja isolada,
ou seja, apenas ela influencie no resultado. No exemplo das LIOs, ou o mesmo cirurgião deve realizar todas as cirurgias ou sorteia-
se o cirurgião para cada procedimento.
Assim, principalmente para fins de atualização continuada, não é confiável considerar somente o título e o resumo dos artigos,
sem verificar se a metodologia está adequada, que, em ultima análise, é a indicação de que se pode acreditar nos resultados
apresentados. Todo pesquisador está sujeito a cometer erros, que podem interferir no resultado do estudo. Se os erros forem
sistemáticos, podem viciar o bom andamento da pesquisa. Para dar maior confiabilidade ao trabalho, o pesquisador deve estar
atento para que não ocorra tal viés. Assim como editores, revisores e, principalmente, leitores, precisam estar atentos para a
metodologia empregada na obtenção dos resultados.
Quando uma pesquisa clínica é idealizada, o objetivo é que uma dúvida seja esclarecida. A resposta para a dúvida do pesqui-
sador, em geral, também é um anseio dos demais profissionais, a fim acrescentar informações que possam melhorar sua prática.
Desta forma, é de se esperar que os resultados obtidos reflitam, dentro do possível, a verdade para a realidade do momento (9).
Enfatizamos que somente ler a conclusão dos artigos não é confiável, por esta, em geral, representar a interpretação pessoal
dos resultados, por parte do pesquisador. E a interpretação pessoal também pode estar enviesada (10). Por exemplo, se estimarmos
que a temperatura externa média em São Paulo no próximo inverno será de 21OC, uma pessoa do Recife poderá interpretar este
dado como sendo frio, assim como um indivíduo de Curitiba poderá interpretar que estará quente. O ideal é que o leitor reflita sobre
os resultados dos estudos, segundo sua razão e conjuntura, pois a verdade pode se apresentar de forma diferente para cada pessoa.
Carlos Drummond de Andrade assim definiu a “verdade” no livro O Corpo: “a porta da verdade estava aberta, mas só deixava
passar meia pessoa de cada vez. Assim, não era possível atingir toda a verdade, porque a meia pessoa que entrava só trazia o perfil
de meia verdade. E sua segunda metade voltava igualmente com meio perfil. E os meios perfis não coincidiam... Derrubaram a porta!
Chegaram ao lugar luminoso, onde a verdade esplendia seus fogos. Era dividida em metades diferentes, uma diferente da outra.
Chegou-se a discutir qual a metade mais bela. Nenhuma das metades era totalmente bela. E carecia optar... Cada um optou conforme
seu capricho, sua ilusão, sua miopia”.
Newton Kara-Junior
Professor Colaborador, Livre-Docente e de Pós-graduação da
Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo – USP – São Paulo, SP, Brasil

REFERÊNCIAS
1. Kara-Junior N. A democratização do conhecimento médico e seus desafios. Rev Bras Oftalmol. 2013;72(1):5-7.
2. Portes AJ. A RBO na era da informação digital. Rev Bras Oftalmol. 2011;70 (1):5-6.
3. Rocha e Silva M. Reflexões críticas sobre os três erres, ou os periódicos brasileiros excluídos. Clinics. 2011;66(1):3-7.
4. Chamon W, Melo JR LA . Fator de impacto e inserção do ABO na literatura científica mundial. Arq Bras Oftalmol. 2011;74(4):241-2.
5. Moraes Jr. HV, Rocha EM, Chamon W. Funcionamento e desempenho do sistema de revisão por pares. Arq Bras Oftalmol. 2010;73(6):487-8.
6. Lira RP, Arieta CE. Boas práticas de redação e o CONSORT. Arq Bras Oftalmol. 2012;75(2):85.
7. Temporini ER, Kara N Jr, Jose NK, Holzchuh N. Popular beliefs regarding the treatment of senile cataract. Rev Saúde Pública.
2002;36(3):343-9.
8. Santhiago MR, Netto MV, Barreto J Jr, Gomes BA, Mukai A, Guermandi AP, Kara-Junior N. Wavefront analysis, contrast sensitivity, and
depth of focus after cataract surgery with aspherical intraocular lens implantation. Am J Ophthalmol. 2010;149(3):383-9.e1-2.
9. Kara-Junior N. Como escolher o tema de um estudo científico. Rev Bras Oftalmol. 2013;72(2):5-7.
10. Chamon W. Paixão, publicação, promoção e pagamento: quais “Ps” motivam os cientistas?. Arq Bras Oftalmol. 2012;75(6):381-2.

Rev Bras Oftalmol. 2013; 72 (3): 155-6


EDITORIAL 157

Cefaleia rinogênica: visão otorrinolaringológica


Sinonasal Headache: Otolaryngologic view

Q
ueixas compatíveis com cefaleia de alguma natureza etiológica são muito comuns em consultórios de neu
rologistas, clínicos, otorrinolaringologistas, oftalmologistas odontologistas e até psiquiatras.
A Sociedade Internacional de Cefaleia (IHS – InternationalHeadacheSociety) (1) divide essa doença em
dois grandes grupos: primárias e secundárias. Dentre as secundárias estão as cefaleias ou dores faciais atribuídas a
distúrbios do crânio, pescoço, olhos, orelhas, nariz, seios paranasais, dentes, boca ou outras estruturas craniofaciais.
O termo cefaleia rinogência pode estar relacionado a qualquer doença nasossinusal, como as rinossinusites
agudas ou agudizações de rinossinusites crônicas. Entretanto, esse termo refere-se também a cefaleias originadas
de pontos em que ocorre contato mucoso entre estruturas do nariz(1,2).
Nesse contexto, pacientes apresentam cefaleia, congestão nasal e pontos de gatilho sem rinorréia ou outras
características da rinossinusite, sendo que a maioria deles se enquadra na classificação de enxaqueca sem aura. As
chamadas cefaleias de pontos de contato são aquelas causadas por persistente contato mucoso resultante de
alterações anatômicas como desvio septal, pólipos nasais, anormalidades de conchas e estreitamentos anatômicos
do infundíbulo etmoidal ou recesso do seio frontal (2).
Ainda que controversa, a fisiopatologia dessa entidade baseia-se no modelo de inervação da mucosa nasal.
As divisões oftálmica e maxilar do nervo trigêmeo possuem uma vasta rede de fibras adrenérgicas e colinérgicas,
cuja maioria passa pelo gânglio pterigopalatino e controla ações dos vasos e glândulas da mucosa. Estudos
recentes demonstraram que, além dos clássicos neurotransmissores noradrelina e acetilcolina, há pelo menos um
terceiro grupo de mediadores: os neuropeptídeos. Dentre os neuropeptídeos, o mais importante para a fisiologia
e patologia nasal parece ser a substância P, um polipeptídeo constituído por 11 aminoácidos, um dos mediadores
de fibras nervosas sensitivas e vagais, que são fibras do tipo C, não mielinizadas (1,2).
Tais mediadores induzem na mucosa nasal vasodilatação, hipersecreção, aumento da permeabilidade mucosa
e da atividade mucociliar, resultando em hiperemia e edema dessa mesma.A partir desse modelo, a congestão
nasal e a obstrução de um óstio sinusal rico em terminações nervosas podem servir como gatilho para desenvol-
vimento de diversas formas de cefaleia neurovascular.Além desse modelo descrito acima, a contato entre as
estruturas, promove um processo inflamatório local devido à disfunção mucociliar, o que pode levar à liberação
de mediadores que se relacionam com o processo doloroso.
Para confirmação dessa suspeita diagnóstica, além de uma anamnese bem detalhada, é fundamental o
exame físico otorrinolaringológico, nasofibrolaringoscopia e tomografia computadorizada de seios paranasais. A
nasofibrolaringoscopia permite visibilização de pontos de contato da mucosa nasal, características do meato
médio como estado da mucosa, presença ou de secreção, tipo de secreção e direção de drenagem dessa secreção.
Ou seja, esse exame é importante para definir se há sinais de inflamação dos seios paranasais. A tomografia é um
exame complementar imprescindível em casos de queixas álgicas na face. Ela permite uma avaliação tridimensional
dessas áreas de contato, assim como o grau de opacificação dos seios paranasais em doenças nasossinusais. Ainda
que não seja a nossa rotina, apalpação dos seios paranasais para avaliação de dor pode ser feita, mas não substitui
a riqueza de detalhes provenientes da nasofibrolaringoscopia e tomografia computadorizada (2-4).
Deste modo, o tratamento das cefaleias rinogênicas está focado em diminuir áreas de contato seja por
tratamento clínico focado na diminuição do edema inflamatório da mucosa nasal, seja por cirurgias que diminu-
am a possibilidade de áreas de contato.
É justamente no tópico de indicação cirúrgica onde encontramos polêmicas sobre a real eficácia desse
tipo de procedimento. Do ponto de vista prático, por não haver ainda embasamento científico e fisiopatológico
robusto sobre o papel das cirurgias nasais para o tratamento desse tipo de cefaleia, a indicação de cirurgia é
somente válida mediante a presença de outros sintomas nasais como obstrução nasal importante, rinorréia
persistente(2,5-7).

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158 Bento RF, Pinna FR

A indicação de cirurgia nasal com o intuito único e exclusivo de melhorar a dor mediante a presença de áreas
de contato ainda é incerta e, frente ao paciente, merece ser encarada como uma tentativa, após falência de diversas
outras alternativas clínicas.

Ricardo Ferreira Bento


Professor titular de Otorrinolaringologia da Faculdade de Medicina da USP

Fabio de Rezende Pinna


Doutor em Ciências pela FMUSP- Médico Assistente da Divisão de Otorrinolaringologia do HCFMUSP

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ARTIGO ORIGINAL
159

Interfaces da relação entre o médico


e a dupla mãe-filho em um hospital público
Interfaces of the relationship between physician
and mother-child in a public hospital

Ondina Lúcia Ceppas Resende1, Rosa Maria de Araujo Mitre 2

RESUMO

Objetivo: Investigar a percepção dos médicos sobre a experiência de atenderem ambulatorialmente crianças com doença ocular
grave e como compreendem sua interferência na relação mãe-filho. Métodos: Foram realizadas entrevistas semiestruturadas com os
oftalmologistas (setores de retina, glaucoma, segmento anterior e oftalmopediatria) e observação das consultas ambulatoriais
durante três meses. Resultados: Idealização da figura do médico e da mãe; dificuldades na hora de transmitir o diagnóstico; e
reconhecimento de que o profissional interfere na relação da dupla durante seus encontros. Conclusão: O desafio do médico está em
dar as informações sobre diagnóstico e tratamento; ter disponibilidade para escutar, esclarecer e orientar e nos casos graves mostrar
que a criança tem outras potencialidades além da visão.
Descritores: Relações médico-paciente; Relação mãe-filho; Comunicação; Doenças oculares/diagnóstico; Deficiência

ABSTRACT

Purpose: To investigate the perception of physicians about the experience of ambulatory with children who have a serious eye disease and
how they understand their interference in the mother-child relationship.Methods: Semi-structured interviews were performed with
ophthalmologists (sectors of retina, glaucoma, anterior segment and pediatric ophthalmology), and observation of outpatient appointments
of a public hospital during three months. Results: Idealization of the physician’s and mother’s role; physician’s difficulties on giving the
diagnosis; and the acknowledgment that the professionals have an influence on mother-child relationship during the assistance.Conclusion:
The challenge for physicians are giving information on diagnosis and treatment; being accessible to listening, clarifying and guiding
showing that the child has others capabilities beyond vision.
Keywords: Physician-patient relationships; Mother-child relationship; Communication; Eye diseases/diagnosis; Deficiency

1
Hospital Federal dos Servidores do Estado (HFSE) - Rio de Janeiro (RJ), Brasil;
2
Instituto Fernandes Figueira (IFF/Fiocruz) - Rio de Janeiro (RJ), Brasil.

O presente trabalho é parte da dissertação de mestrado de Ondina Lucia Ceppas Resende. A pesquisa foi realizada no ambulatório de
oftalmologia do Hospital Federal dos Servidores do Estado (HFSE).

Os autores declaram não haver conflitos de interesse


Recebido para publicação em: 18/10/2012 - Aceito para publicação em: 27/3/2012

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INTRODUÇÃO te e referência em oftalmologia pediátrica, que recebe um gran-


de contingente de crianças com traumatismos oculares e doen-
ças oculares graves.

A
discussão da relação médico-paciente até hoje se mos- Optamos pelo método qualitativo por se tratar de uma rela-
tra como um ponto central na prática médica. Não po- ção entre sujeitos, nos possibilitando analisar em profundidade as
demos esquecer que o encontro entre médico e pacien- relações e vivências e captar a subjetividade da realidade(12).
te é, antes de tudo, um encontro entre sujeitos e, como tal, desde Os sujeitos da pesquisa foram os médicos (staffs e residen-
o primeiro momento vem carregado de significados e expectati- tes) do serviço de oftalmologia de um hospital geral da rede pú-
vas que cada um tem em relação ao outro(1). blica. Os critérios de inclusão foram: atender às crianças com
Além disso, a convivência com o sofrimento do outro traz até cinco anos de idade, dos setores de retina, glaucoma, seg-
um sofrimento também para quem cuida, sendo o momento do mento anterior e oftalmopediatria; não estar de férias no mo-
diagnóstico e da comunicação de más notícias (nos casos gra- mento da ida ao campo; se mostrar disponível e aceitar a obser-
ves) extremamente delicado, cabendo ao médico este papel. No vação das consultas (com observadora dentro da sala).
entanto, há um despreparo dos profissionais em saber como, quan- Nos interessava avaliar a relação entre o médico e a du-
do e onde transmitir essas notícias(2). pla mãe-filho com doença ocular grave, a experiência de aten-
Nesse panorama vem sendo discutido um novo modelo de der esse tipo de criança em um hospital público, as dificuldades
relação baseada no diálogo, numa conjugação do conhecimento encontradas pelo médico e o momento mais difícil durante a as-
científico com o campo das vivências e o saber do censo comum. sistência.
Este modelo busca também enfatizar a necessidade de médico e A escolha dos setores se deu pelo fato de as crianças ali
paciente se verem como parceiros, para que haja colaboração e serem acompanhadas por um período mais prolongado, o que
participação do paciente e da família no tratamento(3). poderia interferir na relação do médico com a dupla.
A partir dessa perspectiva, o médico precisa levar em conta A partir da observação inicial do campo foram feitos os
a experiência da doença, as percepções e representações do ajustes necessários para a coleta de dados, que se deu por um
paciente para poder, desta forma, desenvolver a sensibilidade e período de três meses. Foram utilizadas basicamente duas técni-
capacidade de escuta para além da dimensão biológica. cas: a observação das consultas ambulatoriais e entrevistas semi-
Dentro de uma prática humanizada na assistência à saúde da estruturadas com os médicos, numa combinação entre perguntas
criança, é fundamental que o profissional compreenda o sofrimento abertas e fechadas.
a partir da valorização das experiências, expectativas, valores e A coleta de informações foi encerrada a partir do critério
necessidades da criança e da sua família, bem como das limitações de saturação, quando em um determinado momento não surgiu
que existem na relação entre médico e paciente/família(4). mais nenhuma informação significativamente nova(13).
Importante considerar que a doença ocular grave pode Tanto os médicos quanto as mães das crianças assinaram o
deixar sequelas, indo desde uma baixa acuidade visual até a ce- Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. A pesquisa foi
gueira total. Quando ocorre na infância, acarreta diversas inter- aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa do hospital onde foi
ferências na vida da criança, da família e da relação materno- realizado o estudo.
infantil que se encontra atravessada pelo adoecimento(5-7).
Para analisar o material colhido, utilizamos a análise de
Contudo, pela própria formação acadêmica - ainda restri-
conteúdo adaptada e sistematizada, privilegiando a técnica da
ta ao modelo biomédico - muitas vezes o médico não se sente
Análise Temática, que classifica o material coletado segundo te-
preparado para lidar com angústias e sentimentos mobilizados
mas. A análise das entrevistas se baseou na articulação de as-
(principalmente nos casos mais graves) de frustração, impotên-
pectos temáticos com o referencial teórico utilizado(14) .
cia, limitação e a conscientização da própria finitude(8-10).
Sendo a transmissão do diagnóstico um momento especial
na prática médica, estudos mostram que a forma como ele se dá RESULTADOS
repercute diretamente sobre o tratamento(11).
A comunicação interfere tanto na relação do médico com
o paciente e sua família, como na relação que estes terão com o Foram entrevistados treze (13) médicos, sendo nove (9)
processo de diagnóstico e tratamento. Quer dizer, o diálogo e a homens e quatro (4) mulheres. Destes, quatro eram staffs e nove
parceria são imprescindíveis neste processo(11) . residentes sendo, um R1, três R2 e cinco R3 (denominação para
Na verdade, encontramos um grande desafio na assistên- residentes de primeiro, segundo e terceiro ano respectivamen-
cia à criança com doença ocular grave. De um lado, uma situa- te). A faixa etária dos entrevistados ficou entre 27 e 55 anos.
ção que envolve dor e sofrimento para a criança e sua família, e Em relação ao tempo em que trabalhavam no hospital, o mais
de outro, a pressão sobre o profissional para dar conta de de- antigo tinha 30 anos de serviço e o mais novo, quatro meses.
mandas, muitas vezes além das possibilidades, visto que há uma A partir da observação das consultas no ambulatório de
escassez de serviços especializados dentro da rede pública e uma oftalmologia notamos que, apesar da sobrecarga de trabalho, os
grande demanda de pacientes. médicos se mostravam bastante cuidadosos e atenciosos com os
Este trabalho procurou investigar a percepção dos médi- pacientes: cumprimentavam a dupla mãe-filho quando entravam
cos sobre a experiência de atenderem ambulatorialmente crian- na sala; conversavam olhando nos olhos, davam as orientações e
ças com doença ocular grave e como percebem sua interferên- respondiam às perguntas em linguagem accessível; marcavam
cia na relação mãe-filho com doença ocular grave. retorno, lembrando que a garantia de continuidade na assistên-
cia é extremamente importante no suporte à mãe e a criança
MÉTODOS com doença ocular grave, a qual necessita de acompanhamento
médico ao longo de toda sua vida.
A vinculação dos entrevistados ao serviço devia-se a uma
O estudo foi realizado em um hospital federal do municí- escolha de ordem afetiva (foram residentes ou tiveram familiar
pio do Rio de Janeiro. Trata-se um hospital geral de grande por- que trabalhou no local) ou à qualidade do serviço (tanto para

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Reflexões sobre a ceratite fúngica por meio dos achados de exames histopatológicos 161

residência como para local de trabalho). diam o mesmo aparelho), e não raro, para agilizar o atendimento,
O fato de o hospital oferecer residência exige uma cons- acabavam atendendo mais de um paciente ao mesmo tempo.
tante atualização e reciclagem da equipe, favorecendo o cresci- Particularmente em relação aos residentes foi observada
mento destes profissionais. Além disso, sendo um hospital públi- uma sobrecarga de trabalho e, em alguns, certa desmotivação
co, permite atender uma grande variedade de casos e cirurgias por ter que atender em setores que não eram de sua escolha.
de pequeno e grande porte, propiciando uma experiência ímpar Apesar das dificuldades observadas, os entrevistados apon-
para o aprendizado e aprimoramento. taram como sendo fundamental, ter uma boa relação com a fa-
Entretanto, a despeito da qualidade da formação clínica, a mília devido à estreita relação de dependência entre criança-
grande maioria dos entrevistados destacou o despreparo do família. Os profissionais percebem o quanto os familiares são
médico para lidar com situações emocionalmente difíceis, como afetados pela doença da criança, principalmente a figura mater-
no caso das doenças oculares graves, de difícil tratamento e cura, na sobre a qual, geralmente, recai a responsabilidade pelos cui-
que mobilizam sentimentos de impotência e fracasso. dados e por conseguir o atendimento adequado.
Também apontaram a necessidade do médico obter maior - Eu me sinto fazendo um benefício não só para o atendi-
conhecimento que favoreça o estabelecimento de uma relação mento da criança com doença ocular grave, para a relação dos
empática médico e dupla mãe-filho, ajudando a mãe a lidar me- dois, mas para fazer entender melhor a relação da doença, da
lhor com a doença do filho e acolhê-lo. Na percepção dos entre- mãe e do filho (sujeito 3).
vistados, a responsabilidade pela adesão ao tratamento está na No entanto, se por um lado atender à criança traz dificulda-
maneira como o médico estabelece a comunicação com o paci- des (na ótica de alguns), diagnosticá-la e tratá-la a tempo, evitan-
ente e seus familiares. do a cegueira infantil, traz uma imensa gratificação para aqueles
- Depende da abordagem do médico para a pessoa saber que cuidam, assim como, logicamente, para a criança e família.
lidar melhor com a doença (sujeito 8). - [...] atender à criança traz um resultado e um benefício
- O médico tem sempre que ser o mais claro possível e tem porque ela tem uma vida pela frente (sujeito 3).
que se fazer entender. Faz parte da função do médico se fazer Observamos que a doença ocular grave na infância é
entender (sujeito 5). impactante tanto para a família (pela desidealização do filho so-
nhado), para a vida da criança (pelas limitações e repercussões),
As dificuldades do atendimento à criança quanto para o médico (pelos sentimentos de frustração e fracasso
A análise dos resultados apontou uma grande categoria pela impossibilidade de cura).
sobre a especificidade de atender às crianças, que requer um - O momento mais difícil é quando a gente não pode fazer
manejo especial, assim como um desejo do médico em exercer mais nada que devolva a visão da criança, ou quando temos como
esse tipo de assistência. É importante destacar que não estamos única hipótese tirar o olho, e às vezes um olho que ainda tem visão
falando de profissionais que a princípio escolheram trabalhar com (sujeito 9).
criança (pediatra), mas especialistas em oftalmologia, formados O sofrimento do médico na assistência à criança com do-
em sua maioria para atenderem adultos. No caso dos sujeitos da ença ocular grave apareceu principalmente pela percepção de
pesquisa, os residentes de primeiro e segundo ano precisavam que será uma infância marcada por uma série de impedimentos
passar por todos os setores, atendendo à criança e adulto, dife- e restrições que geralmente acompanham estes quadros.
rentemente dos residentes de terceiro ano que escolhiam o se- - O mais difícil é quando você não consegue reverter o qua-
tor onde desejavam se especializar. dro [...]. Você tenta atuar de uma maneira e não consegue rever-
Entretanto, independente de gostar ou não, todos reconhe- ter a doença [...]. Um prematuro que está perdendo a visão, você
ceram a importância de um atendimento especializado e a neces- vai lá e faz o laser, mas ele ainda assim continua e perde a visão
sidade de melhoria na assistência a essa clientela. Atender à cri- [...], e aí, o médico tem que informar que, apesar do seu esforço,
ança na prática do especialista, muitas vezes é considerado como não conseguiu salvar a criança. É o momento mais difícil porque
um desafio, na medida em que depende da cooperação dela (que há sempre a possibilidade da família não acreditar e achar que
nem sempre ocorre), exige mais tempo e disponibilidade da equi- você foi culpado. Para o médico, no caso das doenças muito gra-
pe, além de requerer uma boa interação do médico com a família. ves, você tentar salvar um dos olhos e não conseguir, e ter que
- [...] a criança não atende, chora, não coopera no exame, é tirar... No prematuro, você tentar salvar, não conseguir e perder...
mais difícil (sujeito 3). Isso tudo leva o médico a uma situação difícil, pois ele tem que
- A criança é mais difícil. Você tem que ter mais paciência e passar isso para a família que tem esperanças e não consegue se
maior dedicação (sujeito 4). conformar com a cegueira, e acha que você poderia ter feito algu-
Em relação à interação com a família um fator que pode ma coisa que não fez (sujeito 12).
interferir no encontro médico-dupla, na população pesquisada, é Ligado a isto, surgiram alguns sentimentos experimenta-
o rodízio dos residentes pelos diversos setores a cada três meses. dos pelos profissionais – como frustração, decepção, impotência
Apesar de necessário para oferecer uma maior experiência, não e desidealização da figura do médico – diante dos casos graves,
favorece ao acompanhamento dos casos ao longo do tempo nem difíceis de tratar e que podem deixar sequelas. Um exemplo dis-
a um maior vínculo. Devido à rotatividade, e dependendo da pe-
to pode ser observado quando um terço dos entrevistados rela-
riodicidade das consultas, muitas vezes o paciente é atendido
tou o mesmo caso, destacando-o como o mais marcante em sua
cada vez por um profissional diferente. Desta maneira, o pacien-
prática, ao serem perguntados à respeito das situações
te é referendado ao setor e não ao médico, e o vínculo acaba
sendo mais com a instituição do que com o profissional. mobilizantes que haviam vivenciado.
Existem também diversos fatores que ocorrem durante a Quando questionados sobre o momento mais difícil na as-
consulta ambulatorial e podem comprometer a qualidade da es- sistência à criança com doença ocular grave, destacaram a hora
cuta e a fluidez do diálogo. Durante as observações, encontra- de transmitir o diagnóstico aos pais. Também foram unânimes
mos vários médicos atendendo em uma mesma sala, sem priva- em reconhecer suas dificuldades diante dos casos mais graves e
cidade, sofrendo frequentes interrupções. Muitas vezes precisa- com prognóstico ruim, quando se deparam com a sua impotência
vam formar fila para examinar o paciente (vários residentes divi- e suas limitações.

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162 Rezende OLC, Mitre RMA

- O momento mais difícil é quando você tem que dar a pri- ções, como a doença grave em um paciente de pouca idade(4).
meira notícia para a mãe e para o pai, que o filho tem um tumor, Além de possíveis dificuldades pessoais, em geral há um
que vai ter que tirar o globo ocular, que o filho não enxerga [...]. despreparo do médico na sua formação acadêmica para lidar
Os pais chegam com a esperança de que você vai dar uma boa com o sofrimento(19).
notícia, dizer que tem tratamento e tem cura, e você quebra uma No caso da atenção à criança esta situação pode ser
ilusão. Esse é o momento mais difícil de lidar (sujeito 2). potencializada, uma vez que culturalmente aprendemos que a
- O momento mais difícil é a hora de dar o diagnóstico de infância é um período de desenvolvimento e realizações.
que a doença ocular é grave, e que não é uma doença que a gente Na verdade, independente da idade do paciente, o médico
possa tratar e curar (sujeito 4). ao se deparar com as suas limitações diante dos casos graves,
Ao se deparar com os casos mais graves, o médico experi- pode experimentar sentimentos de frustração, decepção e que-
menta sentimentos de ansiedade com os quais por vezes não bra da onipotência, levando-o a uma desidealização da sua pró-
sabe lidar e por isso, muitos apresentam uma atitude de aparen- pria figura(20,21) e podendo afetar seu narcisismo(22). Por outro
te frieza, assumindo uma postura apenas técnica, evitando con- lado, o remete a valores e afetos pessoais, e à sua dimensão
versas longas, não dando muito espaço para perguntas que tal- humana (23).
vez não possa ou não saiba responder. Não podemos esquecer que, antes de tudo, o médico é
uma pessoa atendendo a outra pessoa (24). Apesar de lhe ser
DISCUSSÃO atribuído as funções de autenticar a doença e viabilizar a cura, os
casos graves que podem levar à morte, trazem o confronto com
sua limitação e insignificância diante de situações irreversíveis,
A visão sobre a responsabilidade do médico na adesão ao assim como da sua própria finitude(4,9,23,).
tratamento nos remete para a questão da relação dialógica e de Os casos mais marcantes, que mobilizam a equipe durante
troca existente nas relações humanas(3,15,16), mas também à asso- a assistência, nos faz refletir sobre a vulnerabilidade do médico,
ciação existente entre o exercício da medicina e a gratificação em o quanto o afeto está presente nas relações, além da identifica-
ajudar o outro e sentir-se indispensável. ção empática permeando a prática médica(12).
A natureza da interação médico-paciente depende da for- Ocorre que o médico é formado para curar e salvar vidas
ma como o encontro acontece a partir de alguns fatores, tais e uma das expectativas quando busca a carreira da medicina é
como: setting, aspectos psicossociais do paciente e do médico curar todos os males onipotentemente(21,23).
(medos, expectativas, ansiedades, etc.), experiências anteriores, Apesar das dificuldades mobilizadas diante dos casos mais
personalidade de cada um, fatores psicológicos (estresse, frus- graves, é fundamental o manejo adequado da informação, pois a
tração, etc) e treinamento técnico do profissional. De modo ge- forma como ela é dada interfere diretamente na relação do paci-
ral em sua formação, o médico não é estimulado a pensar o ente com o diagnóstico e o tratamento(2,3). No entanto, o que se
paciente como um ser biopsicossocial e a perceber o significado percebe de forma geral é um despreparo do médico em relação
do adoecer para o paciente(17). à comunicação de más notícias(2,19,20).
Faz-se necessário haver uma sensibilidade por parte do
profissional para conhecer a realidade do paciente, ouvir suas CONCLUSÃO
queixas e encontrar, junto com ele, estratégias que o auxiliem na
adaptação ao estilo de vida exigido pela doença(8).
É importante estabelecer uma relação de parceria para A grande maioria dos médicos considerou que através da
favorecer a adesão ao tratamento. Para isso, os membros da escuta, fala e postura, o profissional interfere na relação da du-
dupla médico-paciente precisam se comunicar, se reconhecer pla mãe-filho com doença ocular grave. Entretanto, observamos
como parceiros e se compreender. E o médico precisa demons- que existe por parte dos profissionais uma idealização tanto da
trar que valoriza a colaboração e participação do paciente(3). figura do médico quanto da mãe. Nesta percepção, o médico
Dois indivíduos somente estão dialogicamente ligados e surge como o único responsável pela compreensão da mãe acer-
voltados um para o outro, se eles se reconhecerem como sendo ca da doença do filho. E a mãe, como sendo capaz de superar
mutuamente influenciados e se compreenderem(16). todas as dificuldades e, se corretamente orientada, funcionando
Na perspectiva da humanização da saúde, o processo como um espelho para o comportamento da criança.
comunicacional surge como um dos desafios, pois implica na
O tempo de consulta surge como um fator que pode in-
possibilidade de produzir entendimento através do diálogo. En-
terferir não-somente na relação do médico com a dupla, mas
tretanto, isto não significa um consenso de opiniões e ideias, mas
na própria escuta e qualidade do atendimento. Ainda existe na
sim a possibilidade de profissionais e usuários (pacientes e fami-
rede pública uma defasagem entre número de pacientes e nú-
liares) estarem dispostos a esta construção(18).
É preciso articular procedimentos técnicos com compro- mero de profissionais, além da pressão de produtividade diária
misso emocional para compreender o valor do sujeito, suas a ser cumprida por cada um desses profissionais, que pode
experiências, expectativas e limitações(4). Entretanto, a sobre- afetar esse encontro.
carga de trabalho, aliada ao fato de não ter sido uma escolha No entanto, as diferenças de ponto de vista e postura en-
trabalhar com determinada clientela (como no caso de crian- tre os médicos, não parece estar associada apenas ao fator tem-
ças), são outros fatores que também podem afetar o estabele- po. Está relacionada a outros fatores, como a sensibilidade e a
cimento de uma relação empática do médico com a díade mãe- capacidade de escuta, remetendo à questão da formação médica,
filho. Cabe lembrar que a empatia é fundamental para uma ao sofrimento pessoal que a doença grave gera no profissional,
boa relação entre profissional de saúde e paciente dentro do à ferida narcísica diante das impossibilidades vividas como fra-
ambiente hospitalar(4). casso e às características pessoais de cada um.
Ao mesmo tempo, a proximidade com o sofrimento do Não basta o médico fornecer as informações para a mãe
outro produz um impacto sobre a figura do médico, principal- sobre diagnóstico e tratamento, mas é preciso ter disponibilida-
mente dentro do ambiente hospitalar e diante de certas situa- de para escutar suas dúvidas e medos, esclarecer e orientar, de

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Reflexões sobre a ceratite fúngica por meio dos achados de exames histopatológicos 163

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Rev Bras Oftalmol. 2013; 72 (3): 159-63


164 ARTIGO ORIGINAL

Lentes progressivas: análise


da potência do astigmatismo induzido
Progressive addition lenses: analysis
of the power of induced astigmatism

Celso Marcelo Cunha¹, Renato José Bett Correia², Antonio Augusto Sardinha Neto³

RESUMO

Objetivo: Avaliar a potência do astigmatismo induzido nas lentes progressivas em um deflexômetro. Métodos: Foram incluídas onze
lentes progressivas com poder longe de +1,00D e adição 2,00D para perto. Avaliou-se o astigmatismo induzido em doze pontos do
campo intermediário, sendo seis de cada lado do corredor progressivo no deflexômetro. Resultados: Existem diferenças significati-
vas entre as somas dos astigmatismos induzidos de cada lado do corredor progressivo e no total geral nestas lentes estudadas, com
coeficiente de variação com forte dispersão (CV 10 a 13%). Conclusão: Existe uma variação importante das potências dos astigmatismos
induzidos nas lentes progressivas.
Descritores: Refração; Lentes oftálmicas; Lentes progressivas; Óptica; Presbiopia; Equipamentos e provisões; Brasil.

ABSTRACT

Objective: Evaluate induced astigmatism in progressive addition lenses into deflectometer measurements. Methods: Eleven progressive
addition lenses were included with power away from +1.00D and addition 2.00D. Induced astigmatism was assessed twelve points in the
zone intermediate, with six on each side of the progressive corridor in deflectometer.Results: There are significant differences between the
sums of induced astigmatism on each side of the corridor and in the general in progressive addition lenses studied, with coefficient of
variation with strong dispersion (CV 10-13%). Conclusion: There is an important variation of the power of induced astigmatism in
progressive addition lenses.
Keywords: Refraction; ophthalmic lens, Progressive addition lenses; Optics: Presbyopia; Equipment and supplies; Brazil

1
Oftalmocenter Santa Rosa. Cuiabá (MT), Brasil;
2
Hospital Geral Universitário – UNIC- Cuiabá (MT), Brasil;
3
Acadêmico de Medicina 3o ano, Universidade Gama Filho – UGF. Rio de Janeiro (RJ), Brasil.

Trabalho vencedor do 40º Prêmio Varilux 2011 - Catregoria Incentivo à Pesquisa: Refração

Os autores declaram não haver conflitos de interesse


Recebido para publicação em: 4/4/2012 - Aceito para publicação em: 4/8/2012

Rev Bras Oftalmol. 2013; 72 (3): 164-7


Lentes progressivas: análise da potência do astigmatismo induzido 165

INTRODUÇÃO Tabela 1

A
presbiopia está presente na maioria dos pacientes na Agrupamentos dos locais das medidas dos AI
quinta década de vida, sendo uma redução natural da
capacidade acomodativa(1). A utilização das lentes pro- Agrupamentos Locais e somas dos AI
gressivas (LP) no tratamento da presbiopia nos indivíduos
amétropes tem ocorrido com muita freqüência(2).. Soma nasal 1 N1 + N3 + N5
Tem sido notória a evolução das LP nos últimos 30 anos, po- Soma nasal 2 N2 + N4 + N6
rém ainda mantêm áreas em volta do corredor de progressão com Soma temporal 1 T1 + T3 + T5
aberrações em todas elas, chamadas de Astigmatismo Induzido (AI), Soma temporal 2 T2 + T4 + T6
em variáveis quantidades e distribuições, sendo que são diretamen- Total nasal Soma nasal 1 + Soma nasal 2
te proporcionais ao aumento da adição e inversamente proporcio- Total temporal Soma temporal 1 + Soma temporal 2
nais ao comprimento do corredor para um mesmo modelo dessas Total Altura 3 mm N1 + N2 + T2 + T1
lentes(3,4). Existem vários fabricantes de LP, e cerca de 140 modelos
Total altura 11 mm N5 + N6 + T6 + T5
disponíveis no Brasil, no entanto poucas informações técnicas so-
Total geral Total nasal + Total temporal
bre os AI são fornecidas aos oftalmologistas e ópticos. Existem poucos
estudos sobre estas informações na literatura mundial, sendo a
maioria estudos subjetivos baseados na satisfação dos pacientes(5). posicionaram a 5 e 10 milímetros de uma linha média entre a cruz de
Foi proposta neste estudo a avaliação de LP com adição montagem e o ponto central do campo perto, na altura mínima de
2,00D por meio de um deflexômetro (Rotlex Class Plus). Obser- montagem orientada pelos fabricantes de cada uma destas lentes.
varam-se as potências (Poderes Dióptrico Cilíndrico – DC) dos Verticalmente a 3, 7 e 11 milímetros abaixo da mesma cruz. O raio
astigmatismos induzidos em pontos específicos delas. de cada local avaliado tinha 0,5mm na forma DST. Um desenho
O objetivo deste estudo foi apresentar as diferenças exis- esquemático destes pontos é mostrado na figura 2.
tentes entre as potências dos astigmatismo induzido em algumas Os valores encontrados nos doze locais foram agrupados
lentes progressivas disponíveis no Brasil. como se segue na tabela 1.
Para determinar a altura do corredor de progressão foi
MÉTODOS medido o poder esférico da cruz de montagem até a área de
perto. O inicio do corredor foi considerado quando o poder atin-
Foram selecionados onze tipos de LP, de diferentes fabri- gia acréscimo de 0,25DE, e o final ao atingir 1,75DE.
cantes, com poder dióptrico de +1.00 esférico para longe e adi- Para análise dos resultados adotou-se nível de significância de
ção 2,00D para perto (Anexo 1). Todas as lentes eram do olho 5% (α =0,05), correspondente a probabilidade de erro (p) <0,05,
direito, em resina e recebidas surfaçadas. Foram selecionadas valor considerado estatisticamente significativo. Empregou-se o tes-
pela freqüência que são encontradas em nossa região (Mato te estatístico não paramétrico Wilcoxon Signed Ranks Test para com-
Grosso) e pela variedade de altura mínima de montagem. parar as somas. Houve diferenças estatísticas significativas entre as
As LP foram analisadas pelos autores no Rotlex Class Plus somas 1 e 2 de ambos os lados, e entre as somas da linha 3 e 11 mm de
da empresa Rotlex (1994) de Israel. Este instrumento detecta altura. Não houve diferença estatística entre as somas do total nasal
em segundos todas as medições dióptricas de uma lente em uma e temporal. Empregaram-se os programas Microsoft Excel 2000.
única medida. Ele é um deflexômetro do tipo “Móire”, que utili- Esta pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética do Hos-
za uma fonte divergente de “laser”, onde seus raios incidem so- pital Geral Universitário Registro: UNIC – 2011/048.
bre a lente testada. Os raios refratados pela lente sob medida
passam por duas grades e formam um padrão (Móire) em uma RESULTADOS
tela difusora, que é captada para formar mapas com poderes
esférico, cilindro e eixo em cada milímetro da lente (Figura 1). Os resultados das onze LP estudadas se encontram na ta-
As lentes foram centradas pelos pontos permanentes de re- bela 2 e a estatística descritiva se encontra na tabela 3.
marcação destas. Os arquivos das onze LP foram avaliados no software No gráfico 1 observa-se a distribuição das LP quanto ao
de análise do Rotlex e registrados em doze pontos laterais ao corre- AI do Total nasal, Total temporal e Total geral.
dor progressivo, sendo seis de cada lado. Lateralmente os pontos se No gráfico 2 demonstra-se uma fraca tendência de linearidade
negativa entre a altura do corredor e o AI Total geral.
No gráfico 3 demonstra-se uma forte tendência de
linearidade positiva entre AI Total geral e a soma do AI da linha
de 3 mm abaixo da cruz de montagem.

Figura 1: Mapa de análise do deflexômetro. A esquerda mapa Figura 2: Localizações dos doze locais das medidas das potências dos
isoesférico, e a direita mapa isoastigmático AI (nos quadrados)

Rev Bras Oftalmol. 2013; 72 (3): 164-7


166 Cunha CM, Correia RJB, Sardinha Neto AA

Tabela 2

Somas dos AI e alturas dos corredores progressivos coletados no deflexômetro

Lentes Soma Soma Soma Soma Soma Soma Soma Soma na Soma na Altura em mm
progressivas Nasal 1 Nasal 2 Temp 2 Temp 1 Total Total Total Altura Altura do corredor
nasal temp Geral de 3 mm de 11 mm progressivo

A 4,77 2,60 3,49 5,18 7,37 8,67 16,04 4,32 5,86 14


B 3,97 2,66 2,94 4,20 6,63 7,14 13,77 3,33 5,52 13
C 5,80 3,58 3,30 5,16 9,38 8,46 17,84 4,98 6,60 10
D 4,44 2,91 2,42 4,08 7,35 6,50 13,85 3,83 5,20 14
E 5,38 3,13 3,83 5,40 8,51 9,23 17,74 4,60 6,67 13
F 4,71 3,48 3,65 5,03 8,19 8,68 16,87 4,65 6,06 12
G 4,83 3,16 3,48 4,98 7,99 8,46 16,45 4,78 5,40 12
H 4,60 2,70 3,49 5,00 7,30 8,49 15,79 4,07 5,95 12
I 3,71 2,59 3,01 3,87 6,30 6,88 13,18 3,47 4,84 12
J 4,68 3,04 3,73 5,06 7,72 8,79 16,51 4,80 5,63 10
L 4,34 2,77 3,27 4,61 7,11 7,88 14,99 3,92 5,71 13
Obs. Soma dos AI em DC ( Dioptrias Cilíndricas)

Tabela 3

Estatísticas descritivas dos dados coletados

Lentes Soma Soma Soma Soma Soma Soma Soma Soma na Soma na Altura em mm
progressivas Nasal 1 Nasal 2 Temp 2 Temp 1 Total Total Total Altura de Altura de do corredor
nasal temp Geral 3 mm 11 mm progressivo

Media 4,66 2,97 3,33 4,78 7,62 8,11 15,73 4,25 5,77 12,27
Mediana 4,68 2,91 3,48 5,00 7,37 8,46 16,04 4,32 5,71 12,00
Desvio Padrão 0,58 0,35 0,41 0,51 0,87 0,89 1,60 0,56 0,55 1,35
Coeficiente de variacao 13% 12% 12% 11% 11% 11% 10% 13% 10% 11%

DISCUSSÃO Gráfico 1
As LP são caracterizadas pelo aumento gradual e contí- Distribuição das LP quanto as somas das potências dos AI
nuo do poder esférico até atingir a adição desejada, sem linhas
nos campos Nasal e Temporal, e Total Geral (em DC)
visíveis de demarcação. As vantagens ópticas e cosméticas das
LP são conhecidas há muitas décadas, e cada vez mais este con-
ceito estético tem sido solicitado pelos pacientes. Todavia, para
aquele aumento gradual existir, a mudança de curvatura em uma
das superfícies é necessária, ao qual leva ao astigmatismo indu-
zido nas laterais do corredor progressivo. O máximo empenho
dos projetistas para diminuir o AI tem sido observado em todos
os fabricantes deste setor óptico, com os projetos de desenhos
sendo mantidos em sigilo pelas razões comerciais óbvias.
Os AI não são as aberrações astigmáticas presente nas
lentes esféricas quando os raios de luz passam de forma oblíqua
ao eixo principal delas. Os usuários de LP podem queixar-se do
AI de diversas formas, tais como: distorção, borramento, e/ou
flutuação da imagem, que podem se relacionar com a inclinação relação linear positiva forte entre eles. No entanto, as duas LP com
do eixo do AI, poder do AI e variação do poder do AI ou do menores corredores (10 mm) estão entre os maiores AI (C : 17,84
equilíbrio binocular do poder DE e DC, respectivamente(6). e J : 16,51 DC) no total geral. Estas LP são sugeridas para serem
Observa-se neste estudo a diferença das potências/pode- montadas em armações com pequeno tamanho vertical. Em contra
res do AI nos pontos estudados nas lentes, e entre elas, como partida, as LP A e D que possuem os maiores corredores de pro-
mostrado nas tabelas 2, 3 e no gráfico 1, com valores estatísticos gressão (14 mm) não são as lentes com menores poderes de AI.
significativos. O coeficiente de variação (CV 10%) do AI total No gráfico 3 observa-se uma forte tendência linear positi-
geral demonstra este fato com alto valor. va (0,86) entre o AI Total geral com o AI da soma da linha de 3
No gráfico 2, a fraca tendência linear negativa (0,19) entre o mm abaixo da cruz de montagem, demonstrando claramente que
AI Total geral e a altura do corredor de progressão nos mostra o um início de progressão suave deixa o total do AI menor.
intenso trabalho dos fabricantes na redução daquele, sem aumen- O número elevado de desenhos de LP disponíveis nos dias atu-
tar tanto a altura do corredor, contrapondo os conceitos constata- ais no Brasil e no mundo, e a pouca informação técnica sobre elas
dos na literatura por estudos com LP que relacionam a altura deste dificultam a sua indicação, no entanto as novas LP com corredores
com a área de campo intermediário(7), onde demonstram uma cor- médios e altura mínima de montagem próxima de 17mm, quando mon-

Rev Bras Oftalmol. 2013; 72 (3): 164-7


Lentes progressivas: análise da potência do astigmatismo induzido 167

Gráfico 2 Gráfico 3

Dispersão entre as somas dos AI Dispersão entre as somas dos AI do Total Geral
Total Geral e a altura do corredor progressivo com a soma da linha da altura de 3 mm

Anexo 1 equilíbrio binocular, indução prismática e outros, podem deixar


um desenho mais tolerável que outro.
Relação das lentes progressivas
estudadas e seus fabricantes CONCLUSÃO
Lentes Nomes Fabricantes Comprovadamente existe um grande número de combinações
estudadas das LP das LP de desenhos de LP, com uma importante variação da potência do AI, e
consequentemente com as variações dos tamanhos dos campos inter-
A Espace Selective Brasilor mediário e perto. Logo, a indicação adequada da LP para o pacien-
B Gradal Top Zeiss te é importante para diminuir a insatisfação a estas lentes.
C Multivis Ampla Multivis Outros estudos devem ser realizados para demonstrarem
D Multivis Extra Multivis outras variáveis já citadas, para um melhor entendimento das
E Sapphire LP Segment LP disponíveis no Brasil.
F Sola Elan Zeiss
G Solamax Zeiss Agradecimentos
H Varilux Comfort Essilor Agradecemos às empresas: Zeiss, Essilor, Multivis, Segment
I Varilux Physio Essilor pelo fornecimento das lentes solicitadas e ao prof. Gilmar J. de
J Varilux Pix Essilor Oliveira Jr pelo suporte estatístico.
L Zeiss GT2 Zeiss
Notas
Outras empresas nacionais e multinacionais foram contactadas,
tadas nesta, normalmente, deixam o campo de perto com área mais mas não manifestaram interesse em participar deste estudo.
restrita nesta adição estudada, como já constatada na literatura(7).
A classificação das LP quanto ao seu desenho em Dura REFERÊNCIAS
(Hard) e Suave (Soft) pouco deveriam ser aplicados nas lentes
atuais, pois elas são um meio termo destas categorias, e somente 1. Netto AL, Alves MR, Lui AC, Lui GA, Giovedi Filho R, Lui TA, Murer
deveriam ser consideradas como mais suaves ou mais duras. EB, et al. Avaliação clínica comparativa de lentes progressivas na
Deve-se ressaltar ainda que muitos modelos atuais de LP são correção da presbiopia. Rev Bras Oftalmol. 2009; 68(3):129-33.
oferecidas com desenhos distintos pela variação das adições 2. Karp A. Lenses by the numbers. Lenses and Technology. 2004; 50-4.
(Multi Design – em adições menores mais suaves, e nas maiores 3. Sheedy J, Hardy RF, Hayes JR. Progressive addition lenses- measure-
mais duros)(5). Possuem também tamanhos verticais dos corre- ments and ratings. Optometry. 2006; 77(1): 23-39.
dores maiores com o aumento da adição, porém com aumentos 4. Minkwitz G. On the surface astigmatism of a fixed symmetrical as-
pheric surface. Opt Acta (Lond). 1963; 10: 223-7. German.
desproporcionais entre cada uma delas, demonstrando que esta
5. Monte FQ, Carvalho CJFilho. Proposta para uma visão clínica das
análise não pode ser estendida a todas as adições disponíveis de lentes progressivas. Rev Bras Oftalmol. 2008; 67(6): 69-81.
cada uma destas LP. Todavia, ainda pode-se considerar confor- 6. Schwendeman FJ, Ogden BB, Horner DG, Thibos LN. Effect of sphero-
me o Teorema de Minkwitz, aqui simplificado, quanto maior a cylinder blur on visual acuity. Optom Visc Sci. 1997; 74: 180-1.
adição, maior o AI(4), em um mesmo desenho de lente. 7. Sheedy JE. Progressive addition lenses - matching the specific lens to
Nos casos de pacientes míopes, ou nos emétropes que vão uti- patient need. Optometry. 2004; 75(2): 83-102. Comment in Optometry.
lizar as LP pela primeira vez, ou nos que necessitam campo amplo de 2004;75(7):412-3; author reply 413. Optometry. 2004;75(5):274.
longe (ex. motorista caminhão), deve-se sugerir lentes com início do
corredor progressivo o mais distante possível da cruz de montagem e
ter o mínimo possível de AI, neste estudo estas LP são a B, I, D e L. Autor correspondente
Isto, provavelmente, facilitará a adaptação a estas lentes. Celso Marcelo Cunha
Não podemos, de maneira alguma, deixar de considerar Hospital Universitário Geral de Cuiabá (UNIC)
que apenas um dos aspectos relacionados às LP foi estudado, e Rua 13 de Junho, nº 2101 Bairro Porto
outros fatores importantes, tais como: eixo do AI, tamanho dos Cuiabá - Mato Grosso (MT), Brasil
campos de baixo AI (<0.50DC), aberrações de segunda ordem, Email:celsomcunha@terra.com.br

Rev Bras Oftalmol. 2013; 72 (3): 164-7


168 ARTIGO ORIGINAL

Desempenho escolar:
interferência da acuidade visual
School performance: visual acuity interference

Cibele Maria Ferreira da Silva1, Driellen Rodrigues de Almeida1,Rafael Ribeiro Bernardes1, Félix Carlos Ocáriz Bazzano1,
Marcos Mesquita Filho1,Carlos Henrique de Toledo Magalhães1, Dênia Amélia Novato Castelli Von Atzingen1

RESUMO
Objetivo: Avaliar a prevalência de distúrbios visuais em alunos de 8 a 10 anos de idade em uma escola pública no município de Pouso
Alegre, Minas Gerais, e verificar a possível legitimidade da correlação entre um baixo desempenho escolar e algum tipo de deficit
visual. Métodos: Estudo transversal e quantitativo realizado em alunos matriculados de 2a a 4ª série na Escola Municipal Pio XII
durante o ano letivo de 2009. Foram realizados o exame de acuidade visual com o uso da Escala optométrica de Snellen e a análise
do boletim escolar. Resultados: Foram avaliadas 201 crianças. Quanto à acuidade visual, 11,4% da amostra apresentou acuidade
visual alterada. Na análise das notas de Matemática, foi observado que os alunos que tinham deficit visual apresentaram notas
significantemente menores que aqueles sem deficit (p=0,032). Não se observou significância estatística na comparação das notas de
português dos alunos com e sem deficit durante a triagem inicial. Conclusão: Este estudo demonstrou que um distúrbio visual não
diagnosticado pode interferir no desempenho escolar infantil.
Descritores: Acuidade visual; Baixo rendimento escolar; Distúrbios visuais; Saúde escolar; Saúde ocular; Desenvolvimento
infantil; Criança
ABSTRACT

Objective: We intend to evaluate the prevalence of visual disorders among 8 to 10-year-old students from a public school in Pouso Alegre,
state of Minas Gerais, as well as verify the possible legitimacy of the correlation between a poor school performance and some kind of
visual deficit. Methods: We conducted a transversal and quantitative study whose target were the students enrolled in the elementary
course (2nd to 4th grade) of Pio XII Municipal School in the academic year of 2009. We examined the students’ visual acuity using Snellen
optometric chart and investigating their report card. Results: We assessed 201 children. In what concerns visual acuity, 11.4% of the
sample showed altered visual acuity. When we analyzed their Mathematics grades, we observed that the students with visual deficit had
grades significantly lower than those ones with normal acuity (p = 0.032). We did not notice any statistical significance in the comparison
between their Portuguese grades during this initial sorting out. Conclusion: This study demonstrated that a non-identified visual
disorder may interfere in child school performance.
Keywords: Visual acuity; Underachievement; Visual disorders; School health; Eye health; Child development; Child

Faculdade de Ciências da Saúde Dr. José Antônio Garcia Coutinho - Universidade do Vale do Sapucaí (UNIVÁS) – Pouso Alegre (MG),
1

Brasil.

Este trabalho foi apoiado pela Universidade do Vale do Sapucaí (UNIVÁS) – Pouso Alegre (MG), Brasil pelo do Programa de Bolsas de Iniciação
Científica – PIBIC.

Os autores declaram não haver conflitos de interesse


Recebido para publicação em: 24/4/2012 - Aceito para publicação em: 3/9/2012

Rev Bras Oftalmol. 2013; 72 (3): 168-71


Desempenho escolar: interferência da acuidade visual 169

INTRODUÇÃO MÉTODOS

“O olho é a janela do corpo humano pela qual ele abre


os caminhos e se deleita com a beleza do mundo”
(Leonardo da Vinci). Sabe-se que 85% do contato
do homem com o mundo dá-se por meio da visão(1). A visão, es-
Trata-se de um estudo transversal e quantitativo realizado
em alunos matriculados de 2a a 4ª série na Escola Municipal Pio
XII, no município de Pouso Alegre - Minas Gerais, durante o ano
letivo de 2009. O total de alunos, matriculados da 2ª a 4ª série, na
sencial para o aprendizado, é responsável pela maior parte da escola estudada, no quantitativo de 381, todos foram convidados
informação sensorial que recebemos do meio externo(2). Devido a participar deste estudo. Deste total, 94 se encontravam fora da
ao rápido crescimento e desenvolvimento do aparelho ocular, a faixa etária proposta para o estudo (8 a 10 anos) e 86 não obti-
criança apresenta maior vulnerabilidade aos distúrbios visuais(3). veram autorização dos responsáveis, mediante assinatura do
Até a idade escolar, a deficiência visual pode passar despercebi- Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, sendo, portanto,
da pelos pais e familiares porque, no ambiente doméstico, a crian- excluídos do estudo. Assim, foram avaliados 201 alunos.
ça não tem noção que não enxerga bem, pois não exerce ativida- O estudo obedece a Resolução nº 196/96, a qual normatiza
des que demandem esforço visual. Isso fica agravado, principal- pesquisas com seres humanos, e foi realizado com a prévia auto-
mente, devido à ausência de exames oftalmológicos periódicos(4). rização da instituição. Após a aprovação pelo Comitê de Ética
A deficiência visual na infância pode acarretar ônus ao da UNIVÁS, sob protocolo n° 1016/09, e assinatura pelos res-
aprendizado e à socialização, alterando o desenvolvimento da ponsáveis do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, a
motricidade, cognição e linguagem durante os anos sensíveis do Escala optométrica de Snellen foi aplicada individualmente pe-
desenvolvimento da criança(5,6). los pesquisadores, de acordo com o dia e o horário estabelecido
Os problemas oftalmológicos destacam- se como a 3a cau- pela instituição. O examinador, previamente treinado, anotava o
sa mais frequente de problemas de saúde entre escolares, obser- valor equivalente a última linha lida sem dificuldade, ou seja, a
vando-se estreita relação entre os problemas visuais e o rendi- melhor acuidade visual em cada olho. Considerou-se normal a
mento escolar. A quase totalidade das crianças brasileiras em acuidade visual superior a 0,7, estabelecendo-se como deficit de
idade escolar nunca passou por exame oftalmológico, sendo que acuidade visual valores iguais ou inferiores a este, de acordo
menos de 10% das crianças que iniciam sua vida escolar, rece- com critérios propostos pela OMS. Os escolares que não conse-
beram exame oftalmológico prévio(7). guiram ler a 8a linha da escala foram encaminhados a um especi-
A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que cer- alista, para que o diagnóstico do distúrbio fosse realizado e tam-
ca de 7,5 milhões de crianças em idade escolar sejam portadoras bém seu devido tratamento.
de algum tipo de deficiência visual e apenas 25% delas apresen- Então foi realizada uma análise comparativa do desempe-
tem sintomas; os outros três quartos necessitariam de teste es- nho escolar dos alunos que apresentaram algum deficit na
pecífico para identificar o problema(2). Segundo o Conselho Bra- acuidade visual com os alunos com visão satisfatoriamente nor-
sileiro de Oftalmologia, 10% dos alunos primários necessitam mal, por meio da análise de boletins escolares.
de correção por serem portadores de erros de refração: O teste utilizado para a análise estatística foi o não
hipermetropia, miopia e astigmatismo; destes, aproximadamen- paramétrico de Mann-Whitney.
te 5% têm redução grave de acuidade visual, isto é, menos de
50% da visão normal(8). RESULTADOS
A deficiência visual é uma questão de saúde pública res-
ponsável pela evasão escolar de 22,9% dos estudantes de ensi-
Foram avaliadas 201 crianças. Da amostra estudada, 59 cri-
no fundamental no Brasil, conforme levantamento do programa
anças estavam cursando a 2ª série, 68 a 3ª série e 74 se encontra-
Alfabetização Solidária(9).
vam na 4ª série (tabela 1). Em relação ao gênero, 56,2% da amos-
A importância de se detectar os problemas de deficiência
tra era do gênero masculino (tabela 2). Quando investigadas sobre
visual na criança ainda em idade pré-escolar e escolar se deve
como consideravam sua visão, 103 crianças (51,2%) disseram en-
ao fato de que nesta faixa etária ocorre o pleno desenvolvimen-
xergar bem, 32 (15,9%) relataram dificuldade visual e 66 (32,8%)
to do aparelho visual; logo, o poder de resolução dos problemas
não conseguiram classificar a própria visão (tabela 3); 61,7% da
detectados seria muito maior, e as consequências da deficiência amostra estudada referiu a presença de cefaleia (tabela 4).
visual poderiam ser atenuadas ou mesmo evitadas, uma vez que Quanto à acuidade visual, 23 crianças (11,4% da amostra)
a deficiência visual interfere no processo de aprendizagem e no apresentaram acuidade visual alterada (tabelas 5, 6 e 7). Os alu-
desenvolvimento psicossocial da criança(10). nos que apresentaram baixa acuidade visual foram encaminha-
Nota-se também que a implementação dos programas de dos ao ambulatório de oftalmologia do Hospital das Clínicas
detecção de baixa acuidade visual e de prevenção de problemas Samuel Libânio (HCSL). Destes, 8,7% não compareceram a
oftalmológicos em países desenvolvidos têm demonstrado que nenhuma de 3 consultas previamente agendadas, e, dos que com-
os custos dessas ações são incomparavelmente menores do que pareceram, 33,3% tiveram seu diagnóstico de baixa acuidade
aqueles representados pelo atendimento a portadores de distúr- visual confirmado, sendo prescrito o uso de óculos (tabela 8).
bios oculares(11). Na análise das notas de matemática, foi observado que os
O exame de rotina da acuidade tem por objetivo assegu- alunos que tinham deficit visual apresentaram notas signifi-
rar boa saúde visual, colaborar na atenuação dos elevados índi- cantemente menores que aqueles sem deficit (p=0,032). Não se
ces de evasão escolar ou repetência, e prevenir diversas compli- observou significância estatística na comparação das notas de por-
cações oculares de maior âmbito(6). tuguês dos alunos com e sem deficit durante a triagem inicial.
O presente estudo tem como intuito avaliar a prevalência A média de nota da disciplina de português entre os alu-
de distúrbios visuais em alunos de 8 a 10 anos de uma escola nos foi 30,34 (em um total de 45), enquanto a média da discipli-
pública no município de Pouso Alegre e verificar a possível legi- na de matemática foi 29,10 (em um total de 45). Em relação aos
timidade da correlação entre um baixo desempenho escolar e alunos com acuidade visual alterada durante a aplicação da es-
algum tipo de deficit visual. cala de Snellen, a média de nota da disciplina de português foi

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170 Silva CMF, Almeida DR, BernardesRR, BazzanoFCO, Mesquita Filho M,Magalhães CHT, Von Atzingen DANC

Tabela 1 Tabela 2

Distribuição de acordo com a série e a idade Distribuição de acordo com o gênero

Série Total Gênero N %


2a 3a 4a
Masculino 113 56,2
Idade Feminino 88 43,8
8 59 0 0 59 Total 201 100
9 18 47 3 68 Fonte: Questionário sócio demográfico
10 5 28 41 74
Total 82 75 44 201
Fonte: Questionário sócio demográfico

Tabela 3
Tabela 4
Distribuição de acordo com o julgamento
da própria capacidade visual Distribuição de acordo com a presença de cefaléia
Capacidade visual N % Cefaléia N %
Enxerga bem 103 51,2 Não 77 38,3
Enxerga mal 32 15,9 Sim 124 61,7
Não sabe informar 66 32,8 Total 201 100
Total 201 100
Fonte: Questionário sócio demográfico
Fonte: Questionário sócio demográfico

Tabela 5 Tabela 6

Distribuição de acordo com o deficit visual Distribuição das crianças sem deficit visual
na leitura da escala de Snellen de acordo com a idade e gênero

Deficit visual N % Gênero

Não 178 88,6 Idade Masculino Feminino Total


Sim 23 11,4
8 23 25 48
Total 201 100
9 42 20 62
Fonte: Questionário sócio demográfico 10 36 32 68
Total 101 77 178

Tabela 7
Tabela 8
Distribuição das crianças com deficit visual de Distribuição de acordo com a prescrição
acordo com a idade e gênero de óculos na consulta com o oftalmologista

Gênero Prescrição de óculos N %


Idade Masculino Feminino Total Não 14 66,7
Sim 7 33,3
8 6 5 11 Total 21 100
9 4 2 6
10 2 4 6 Fonte: Questionário sócio demográfico
Total 12 11 23

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Desempenho escolar: interferência da acuidade visual 171

28,52 (Total =45) e para a disciplina de matemática foi 25,83 REFERÊNCIAS


(Total =45).
Os alunos que não relataram cefaleia apresentaram média
de 31,30 em português e 30,27 em matemática; enquanto que os 1. Ventura R, Ventura L, Brandt C, Ferraz D, Ventura B. Experiência em
escolares que referiram cefaleia tiveram média de 29,41 e 27,77, projeto: “Enxergando através das mãos”. Arq Bras Oftalmol.
respectivamente. 2007;70(5):823-6.
2. Granzoto JA, Ostermann CSPE, Brum LF, Pereira PG, Granzoto T.
Avaliação da acuidade visual em escolares da 1ª série do ensino fun-
DISCUSSÃO damental. Arq Bras Oftalmol. 2003;66(2):167-71.
3. Albuquerque RC, Alves JGB. Afecções oculares prevalentes em
A avaliação da saúde ocular de crianças deveria fazer par- crianças de baixa renda atendidas em um serviço oftalmológico na
te do exame pediátrico(12). A avaliação e a detecção de possíveis cidade do Recife - PE, Brasil. Arq Bras Oftalmol. 2003;66(6):831-4.
agravos oculares deve ser o mais precoce possível já que, quanto 4. Gasparetto MERF, Temporini ER, Carvalho KMM, Kara-José N.
Dificuldade visual em escolares: conhecimentos e ações de professores
maior o atraso na determinação de problemas visuais, menores
do ensino fundamental que atuam com alunos que apresentam visão
serão as chances de recuperação e correção do problema, além subnormal. Arq Bras Oftalmol. 2004;67(1):65-71.
de contribuir para o deficit de aproveitamento escolar e de soci- 5. Haddad MAO, Lobato FJC, Sampaio MW, Kara-José N. Pediatric and
alização e estar relacionado a alterações nos estados emocional adolescent population with visual impairment: study of 385 cases. Clin-
e psicológico das crianças(11). ics. 2006;61(3):239-46.
A prevalência de acuidade visual alterada encontrada nes- 6. Gianini RJ, Masi E, Coelho EC, Oréfice FR, Moraes RA. Prevalência
se estudo (11,4%) coincide com dados obtidos no município de de baixa acuidade visual em escolares da rede pública, Sorocaba.
São Carlos (11,9%) e também com os resultados de pesquisa Rev Saúde Pública. 2004;38(2):201-8.
realizada no Canadá, os quais variam de 10,5% a 13,8%(13,14). 7. Adam Netto A, Oechsler RA. Avaliação da acuidade visual de alunos
do primeiro grau de uma escola municipal de Florianópolis. ACM Arq
Com relação a disciplina de português, os resultados não
Catarin Med. 2003;32(1):21-4.
obtiveram significância estatística entre os alunos com acuidade 8. Conselho Brasileiro de Oftalmologia. Campanha “Veja Bem Brasil”:
visual normal e os alunos com alteração da acuidade visual manual de orientação. [s.l.]: Imprensa Oficial; 1998.
(p=0,183), mesmo as melhores notas pertencentes ao grupo de 9. Turazzi E. Software permite avaliação visual precoce em crianças.
acuidade visual satisfatória. Portal da oftalmologia; 2006 [internet]. Disponível em: http://
As melhores notas de matemática foram obtidas pelos alu- www.portaldaretina.com.br/home/noticias.asp?cod=623
nos sem deficit visual. Houve significância estatística (p=0,032). 10. Laignier MR, Castro MA, Sá PSC. De olhos bem abertos: investigando
Apesar de ser bem conhecido que as causas visuais, espe- acuidade visual em alunos de uma escola municipal de Vitória. Esc
cialmente os erros refrativos, não são causas frequentes de Anna Nery Rev Enferm. 2010;14(1):113-9.
cefaleia na infância(5,6), os alunos que possuíam dor de cabeça 11. Toledo CC, Paiva APG, Camilo GB, Maior MRS, Leite ICG, Guerra
MR. Detecção precoce de deficiência visual e sua relação com o
apresentaram nota média significantemente menor para ambas
rendimento escolar. Rev Assoc Med Bras (1992). 2010;56(4):415-9.
as disciplinas analisadas (p=0,010 para português e p=0,018 para 12. Sperandio AMG. Promoção da saúde ocular e prevenção precoce de
matemática. problemas visuais nos serviços de saúde pública. Rev Saúde Pública.
1999;33(5):513-20.
CONCLUSÃO 13. Figueiredo RM, Santos EC, Almas de Jesus IA, Castilho RM, Santos
EV. Proposição de procedimento de detecção sistemática de
perturbações oftalmológicas em escolares. Rev Saúde Pública.
Este estudo ratifica que um distúrbio visual não diagnosti- 1993;27(3):204-9.
cado pode interferir no desempenho escolar. 14. Robinson B, Bobier WR, Martin E, Bryant L. Measurement of the va-
Tratando e corrigindo afecções oculares e, por conseguin- lidity of a preschool vision screening program. Am J Public Health.
te, promovendo boa eficiência visual criam-se condições favorá- 1999;89(2):193-8.
veis para melhor aproveitamento escolar.

Agradecimentos
Ao médico oftalmologista Dr. José Arnaldo Tiburzio
Rezende pela sua colaboração no atendimento das crianças Autor correspondente:
triadas pela escala de Snellen. Cibele Maria Ferreira da Silva
À direção administrativa da Escola Municipal Pio XII pela Rua Paula Augusta Garcia, nº 30 – Colinas de Santa Bárbara
sua colaboração na realização deste trabalho, mediante CEP 37550-000 – Pouso Alegre (RG), Brasil
disponibilização de acesso aos alunos previamente autorizados Tel: (21) 25490854/(21)99534577
pelos responsáveis. E-mail: silvacmf@yahoo.com.br

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172 ARTIGO ORIGINAL

Conhecimento em cirurgia refrativa


entre estudantes de medicina
da Universidade Estadual de Londrina
Knowledge in refractive surgery among medical
students State University of Londrina
Aluisio Rosa Gameiro Filho1, Nathalia Mayumi Thomaz de Aquino2, Eliana Barreiros de Arruda Pacheco3, Ana Paula
Miyagusko Taba Oguido3, Antonio Marcelo Barbante Casella3

RESUMO

Objetivo: Avaliar o conhecimento de estudantes de Medicina da Universidade Estadual de Londrina (UEL), em cirurgia refrativa,
assim como analisar o percentual de estudantes que são portadores de ametropias, seus métodos de correção e seu interesse ou não
na realização do procedimento cirúrgico. Métodos: Realizou-se um levantamento através de questionário autoaplicável, previamen-
te testado, entre 154 estudantes do primeiro ao quarto ano de Medicina da Universidade Estadual de Londrina entre setembro e
novembro de 2011. Resultados: Foi relatado que 70,8% dos estudantes possuíam algum tipo de erro de refração, sendo a miopia o
erro mais prevalente, com 72,5% dos estudantes amétropes apresentando-a, associada ou não a outros erros de refração. Os óculos
foram o método de correção visual referido como o mais utilizado, por 80% dos pesquisados. Quanto à cirurgia refrativa, 85,7% dos
estudantes já haviam ouvido falar a respeito, porém, apenas 42,9% sabiam como o procedimento é realizado, sendo o oftamologista
a principal fonte de informação sobre o tema, para 23,5% dos alunos. Apenas 43,2% dos alunos têm interesse na realização da
cirurgia, e apenas 3 (1,9%) estudantes já foram submetidos ao procedimento. Conclusão: Apesar da importância da cirurgia refrativa
na Oftalmologia verificou-se baixo conhecimento acerca do tema entre os estudantes, o que afeta o interesse dos mesmos em serem
submetidos ao procedimento. Observou-se também uma taxa relativamente alta de falsa expectativa quanto ao seu resultado,
principalmente entre os estudantes que querem ser submetidos ao procedimento, provavelmente pelas fontes pouco confiáveis
alegadas pelos estudantes. Considerando o fato de que se tratam de futuros médicos, fica clara a necessidade de maiores esclareci-
mentos sobre o tema na graduação.
Descritores: Estudantes de medicina; Miopia; Acuidade visual;Erros de refração; Conhecimento

ABSTRACT

Objective: Evaluate the knowledge of medical students from Universidade Estadual de Londrina (UEL), about refractive surgery, as
well as analyzing the percentage of students that presents refractive errors, their correction methods and their interest (or not) in the
surgical procedure. Methods: We conducted a survey using self-evaluation questionnaire (previously tested) among 154 medical students
from first to fourth year, between september and november 2011. Results: It was reported that 70.8% of students had some type of
refractive error, and myopia was the most prevalent,with 72.5% of students with refractive erros presenting it, with or without other
refractive errors associated. The glasses were the most used method of visual correction . About refractive surgery, 85.7% of students had
already heard about, but only 42.9% knew how the procedure is performed, and the ophthalmologist was the main source of information
on the subject, to 23.5% of students. Only 43.2% of students have an interest in surgery, and only 3 (1.9%) students have been undergoing
the procedure. Conclusion: There has been little information and knowledge about refractive surgery among medical students,which
affects their interest in undergoing the procedure, which maybe due the fact that many of them do not have the most
adequate source of information to obtain knowledge about the subject.
Keywords: Students, medical; Myopia; Visual acuity; Refractive errors; Knowledge

1
Acadêmico do sexto ano de Medicina da Universidade Estadual de Londrina (UEL) – Londrina (PR), Brasil;
2
Acadêmica do sexto ano de Medicina da Universidade Estadual de Londrina (UEL) – Londrina (PR), Brasil;
3
Docentes da Disciplina de Oftalmologia da Universidade Estadual de Londrina (UEL) – Londrina (PR), Brasil.

Trabalho realizado na Universidade Estadual de Londrina - UEL – Londrina, PR, Brasil.

Os autores declaram não haver conflitos de interesse


Recebido para publicação em: 19/6/2012 - Aceito para publicação em: 29/1/2013

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Conhecimento em cirurgia refrativa entre estudantes de medicina da Universidade Estadual de Londrina 173

INTRODUÇÃO RESULTADOS

C
irurgia refrativa consiste em todo o procedimento cirúr- Dos 154 estudantes de Medicina, 109 (70,8%) afirmaram
gico que tem como finalidade a correção de um erro apresentar algum tipo de erro de refração, 38 (24,7%) referi-
refracional. É uma modalidade cirúrgica relativamente ram não apresentar deficiências visuais, 4 (2,6%) não souberam
recente já que foi no ano de 1898 que o dr. Lendeer Jans Lans referir, e apenas 3 (1,9%) afirmaram terem sido submetidos à
publicou seus resultados de ceratectomias e termoceratoplastias cirurgia refrativa.
em coelhos, para tratar astigmatismo(1). Em 1933, o oftalmolo- Dos 109 estudantes com problemas refracionais, 44 (40,4%)
gista japonês Sato iniciou estudo em um paciente com ceratocone apresentavam apenas miopia, 35 (32,1%) miopia e astigmatismo,
agudo associado à rotura da membrana de Descemet que de- 21 (19,3%) apenas astigmatismo, e 9 (8,3%) apresentavam ou-
senvolveu um achatamento da córnea e diminuição do grau de tros erros refracionais (ou combinações de erros) não menciona-
miopia, o que o levou a realizar, em 1939, as primeiras das previamente, conforme demonstra-se na tabela 1.
ceratotomias anteriores e posteriores para tratamento de Os estudantes apresentavam uma idade média de 21,88
astigmatismo e ceratocone. Porém, foi apenas após o estudo Perk anos (desvio padrão: 3,2).
(Prospective Evaluation of Radial Keratomy) do National Eye Quanto à raça, 126 (81,8%) se autodeclararam brancos,
Institute, em 1981, que a ceratotomia radial começou a apresen- 17 (11%) amarelos, 10 (6,5%) pardos e apenas 1 (0,6%) negro.
tar importância mundial. Desde então, os procedimentos evoluí- Em relação ao sexo, 68 (44,2%) eram homens e 86
ram em uma velocidade impressionante, motivada pelo grande (55,8%) mulheres. Entre os homens, 68,7% apresentavam al-
interesse de pacientes, médicos e pesquisadores, de achar uma gum problema de refração, sendo o percentual maior entre as
alternativa definitiva ao uso de óculos. mulheres 72,4%.
São vários os tipos de procedimentos cirúrgicos que po- Foram contabilizados 143 (92,8%) alunos que referiram
dem ser realizados a fim de corrigir olhos amétropes, tais como já terem sido consultados por oftalmologista, sendo que 76
lentes intraoculares, e implantes intracorneanos. Porém, atual- (53,1%) destes referiram a última consulta há menos de um ano,
mente, os métodos mais utilizados são os que utilizam o excimer 49 (34,3%) entre 1 a 3 anos, e 18 (12,6%) foram consultados
laser(2), como o PRK (PhotoRefractiveKeratectomy) e o Lasik pela última vez há mais de 3 anos. Quando levado em conta ape-
(Laser Assisted in Situ Keratomileusis), que são procedimentos nas os alunos que referiram erros refracionais encontramos 66
rápidos e seguros, com menor incidência de complicações em (60,5%) que se consultaram há menos de um ano, 39 (35,5%)
relação aos procedimentos mais utilizados no passado. entre 1 a 3 anos e apenas 4 (3,7%) referiram última consulta há
No presente estudo, realiza-se uma análise da prevalência mais de 3 anos.
dos erros de refração em estudantes de Medicina da Universi- Quanto ao tipo de correção visual utilizada, a maior parte
dade Estadual de Londrina (UEL), assim como de métodos de dos estudantes utiliza óculos (79,7% dos míopes e 60% com ou-
correção visual mais utilizados, número de estudantes que já fo- tros erros), associado ou não a lente de contato, além disso, 10,1%
ram submetidos à cirurgia refrativa, e, com base em estudo de dos míopes declararam que não utilizam nenhum tipo de corre-
Kara José(3) realizado com estudantes da Faculdade de Medici- ção visual, apesar de indicado, valor que se eleva para 26,7%
na do ABC, avaliar o conhecimento e interesse em cirurgia dos dos estudantes com erros refracionais que não a miopia, o que
estudantes referidos. pode se ver na tabela 2.
Conforme demonstra a tabela 3, dos 154 estudantes, 132
MÉTODOS (85,7%) referiram já ter ouvido falar sobre a cirurgia refrativa,
sendo que apenas 65 (49,2%) disseram saber como o procedi-
O estudo foi realizado no período de setembro a novembro mento é realizado. Dos estudantes que já ouviram falar, 95 apre-
de 2011, nas dependências do Centro de Ciências da Saúde (CCS) sentam erros de refração, o que corresponde a 72% destes. Quan-
da Universidade Estadual de Londrina (UEL), com 320 estudan- to às fontes de informação a respeito da cirurgia, o oftalmologista
tes de Medicina do primeiro ao quarto ano, utilizando-se um ques- foi o mais citado com 23,5% das respostas, seguido por familiares,
tionário autoaplicável padronizado (Anexo 1), que consistia em com 17% das respostas, conforme demonstrado na figura 1. Os
28 perguntas, sendo 26 de múltipla escolha, previamente testado estudantes portadores de erros refracionais foram também inda-
com alunos do primeiro ano de Fisioterapia da Universidade Es- gados quanto ao desejo de serem submetidos à cirurgia refrativa,
tadual de Londrina, como instrumento de coleta de dados. No ques- ao que 43,2% dos estudantes confirmaram, 38,9% declinaram e
tionário os estudantes foram indagados quanto a características os 17,9% restantes não sabiam ou não responderam.
epidemiológicas, prevalência referida de miopia e outros erros de O principal motivo para a não realização do procedimento
refração (astigmatismo, hipermetropia, presbiopia) e métodos de pelos que desejam ser submetidos à cirurgia refrativa é a
correção utilizados, conhecimento e interesse sobre cirurgia contraindicação médica, correspondendo a 30,2% das respostas,
refrativa, expectativas quanto ao procedimento e fontes de infor- seguido por problemas financeiros, motivo de 24,5% dos estudan-
mações utilizadas, tomando-se como base estudo semelhante rea- tes, o que pode ser visualizado no esquema a seguir na figura 2.
lizado na Faculdade de Medicina do ABC (3). Já os alunos que não desejam ser submetidos ao procedi-
Os questionários foram aplicados durante o horário letivo, mento, 74,4% alegam o baixo deficit visual como principal moti-
sendo que apenas os alunos presentes no momento da aplicação vo. Dentre os que não sabiam o último argumento também foi o
do teste e que quiseram participar da pesquisa, responderam ao mais mencionado, porém, com um prevalência de 35,5% das res-
mesmo, o que corresponde a 154 estudantes. postas, o que é demonstrado na figura 3.
Foram utilizados apenas dados selecionados do questioná- Quanto às expectativas, 89 (67,4%) dos estudantes que
rio, sendo os excedentes disponibilizados para possíveis futuros referem conhecimento a respeito do procedimento esperam ape-
estudos. nas uma diminuição da dependência visual após a realização da
O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética do Curso de cirurgia refrativa (tabela 4), sendo a porcentagem dos que espe-
Medicina (CEP), parecer nº 039/2011, da Universidade Estadu- ram a cura através da cirurgia é maior entre os estudantes que
al de Londrina, e todos os voluntários receberam informações a querem realizá-la, conforme demonstra a figura 4.
respeito dos objetivos e procedimentos do trabalho e participa- Percebemos também que, dentre os erros de refração, os es-
ram do estudo, após assinarem o termo de consentimento livre e tudantes míopes são os que mais veem o procedimento como uma
esclarecido. opção, já que 69,8% dos míopes desejam ser submetidos à cirurgia.

Rev Bras Oftalmol. 2013; 72 (3): 172-7


174 Gameiro Filho AR, AquinoNMT, Pacheco EBA, OguidoAPMT, Casella AMB

Tabela 1

Tipos de erro de refração encontrados


na população estudada (n=109)

Erro de refração Número Frequência (%)

Miopia 44 40,4
Miopia e astigmatismo 35 32,1
Astigmatismo 21 19,3
Hipermetropia 5 4,6
Astigmatismo e hipermetropia 3 2,8
Presbiopia 1 0,9
Total 109 100,0

Tabela 2

Tipos de correção visual entre os portadores de erros refracionais (n=109)

Método de correção visual Miopia Outros erros refracionais*


Número total Frequência (%) Número total Frequência (%)

Somente óculos 38 48,1 18 60


Somente lente de contato 4 5,1 0 0
Óculos e lente de contato 25 31,6 0 0
Não foi indicado 4 5,1 3 10
Não usa, apesar de indicado 8 10,1 8 26,7
Não respondeu 0 0,0 1 3,3
Total 79 - 30
*Por outros erros, entende-se qualquer erro não associado com miopia, indivíduos com miopia+astigmatismo foram contabilizados no item
miopia
Tabela 3

Estudantes, separados de acordo com seus erros refracionais, que já ouviram ou não falar sobre cirurgia refrativa(n=151)

Outros erros Sem erros Não sabem


Miopia
refracionais refracionais referir ametropia
Já ouviu falar? Número total % Número total % Número total % Número total %

Sim 69 87,3 26 86,7 30 78,9 4 100,0


Não 10 12,7 4 13,3 8 21,1 0 0,0

Tabela 4

Expectativas quanto à cirurgia refrativa (n=132)

Expectativas Miopia % Outros erros % Não tem % Não sabe % Operou % Total %

Cirurgia 25 36,2 4 15,4 10 33,3 1 25 3 100 43 32,6


Diminuição 44 63,8 22 84,6 20 66,7 3 75 0 0 89 67,4
da dependência
O n se refere ao número de alunos que já ouviram falar do procedimento

Apenas 3 estudantes referem já ter realizado cirurgia onário, nenhum referia apresentar deficit visual, sendo assim,
refrativa, sendo dois homens e uma mulher, com idades de 22, 23 declararam terem ficado satisfeitos com o resultado. Quanto à
e 33 anos. Todos referiram terem sido consultados com oftalmo- fonte de informações em relação à cirurgia, todos assinalaram a
logista há menos de 1 ano. Observou-se também que o diagnós- opção oftalmologista, e, mesmo já tendo realizado o procedimento
tico da ametropia foi feito entre os 6 e 12 anos de idade nos três 1 dos estudantes (33,3%) refere que ainda gostaria de saber
estudantes. Foi observado que ambos os pais dos estudantes em mais.
questão também apresentavam algum erro de refração. Os três As cirurgias citadas foram realizadas no mesmo ano da
referiram que tinham como expectativa a cura completa antes aplicação do questionário, sendo uma realizada através de con-
da realização da cirurgia, e, no momento da aplicação do questi- vênio médico, e duas particulares. Quanto ao grau de deficit vi-

Rev Bras Oftalmol. 2013; 72 (3): 172-7


Conhecimento em cirurgia refrativa entre estudantes de medicina da Universidade Estadual de Londrina 175

Figura 1 Figura 2

Fontes de informação sobre cirurgia refrativa entre os Motivos referidos pelos que têm interesse em ser
estudantes que já ouviram falar do procedimento (n=132) submetido à cirurgia refrativa mas não a realizam

Figura 4

Como cada alternativa das contempladas na tabela, permitem mais de


Comparação de expectativas da cirurgia refrativa entre
uma resposta, algumas apresentam um total de respostas maior que o N
estudantes que conhecem o procedimento, que têm ou
não interesse em serem submetidos ao procedimento

Figura 3

Motivos referidos para o não interesse


em ser submetido à cirurgia refrativa

Cirurgias Diminuição da
Dependência

sual antes da cirurgia, dois apresentavam entre -1,25 a -3,00 esse tema, percebe-se que os indivíduos que expressam desejo
dioptrias e 1 mais que -3 dioptrias. A renda familiar de todos era de serem submetidos ao procedimento são os que mais esperam
superior a 15 salários mínimos. a cura como resultado final.
Outro dado relevante verificado na análise dos questio-
DISCUSSÃO nários foi a qualidade da informação e quanto a mesma depende
da fonte. O percentual de alunos que receberam informações do
Entre os estudantes de Medicina pesquisados, 109 (70,8%) oftalmologista é maior entre os alunos que referem saber como
referiram apresentar algum erro de refração. A miopia foi o erro o procedimento é realizado, assim como entre os que conhecem
refracional mais encontrado, referida por 40,4% dos estudantes os riscos da cirurgia. Por outro lado, entre os alunos que já ti-
pesquisado. Essa prevalência é o dobro da encontrada em estu- nham ouvido falar de cirurgia refrativa, mas não sabiam como
dos anteriormente realizados na população em geral, que gira esta é realizada, as principais fontes de informação encontradas
em torno de 25%(4). Esse dado corrobora com estudos prévios foram televisão e amigos, consideradas fontes precárias, por pro-
realizados com estudantes de Medicina, que também encontra- verem apenas informações restritas, o que poderia explicar o
ram prevalência dobrada nessa população(5,6). Um exemplo foi o conhecimento parcial sobre o assunto nesse grupo.
estudo realizado na Universidade Federal do Paraná, no qual Os principais motivos que levam os alunos que desejam
48,23% dos estudantes de Medicina eram míopes(7). ser submetidos ao procedimento mas não a realizaram ainda são
Entre os estudantes pesquisados, apenas 82 (85,7%) já a contraindicação médica e problemas financeiros, com 30,2% e
haviam ouvido falar sobre cirurgia refrativa, índice considerado 24,5%, respectivamente. Esse dado condiz com trabalho seme-
baixo já que os indivíduos pesquisados são estudantes de Medi- lhante realizado na Faculdade de Medicina do ABC, no qual
cina e a cirurgia refrativa é uma das mais notórias na Oftalmolo- 39,6% das respostas indicaram contraindicação médica e
gia. Esse índice é menor que o encontrado no estudo de Kara 24,7%(3) problemas financeiros.
José(3) realizado na Faculdade de Medicina do ABC, que era de Já o principal motivo citado como responsável pela ausên-
92,8%. cia de vontade de ser submetido à cirurgia foi o baixo grau de
Por outro lado, no presente estudo, apenas 32,6% dos alu- deficit visual, que também foi o mais encontrado no estudo na
nos referiam esperar a cura total com a realização da cirurgia, Faculdade de Medicina do ABC(3).
em contraste com 69% dos alunos do estudo de Kara José(3), que Outra observação relevante é a de que o medo do proce-
referiram apresentar tal falsa expectativa. Ainda em relação a dimento ou de seus resultados foi declarado como motivo quase

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176 Gameiro Filho AR, de Aquino NMT, Pacheco EBA, Oguido APMT, Casella AMB

Anexo 1

QUESTIONÁRIO

1. Sexo: ( ) Feminino ( ) Masculino


2. Cor : ( ) Branco ( ) Negro ( ) Pardo ( ) amarelo ( ) vermelho
3. Idade: ____
4. Curso: ( ) Medicina ( ) Moda
5. Já foi consultado(a) por um oftalmologista? ( ) Sim ( ) Não
6. Se sim, quando foi sua última consulta? ( ) Menos de um ano ( ) 1-3 anos ( ) Mais de 3 anos.
7. Enfrenta alguma dificuldade para enxergar?
( ) Não ( ) Sim, para longe ( ) Sim, para perto ( ) Sim, para perto e longe
8. Foi diagnosticado pelo MÉDICO como portador de algum vício de refração (miopia, astigmatismo, hipermetropia, presbiopia)? (mais de uma opção pode ser
marcada)
( ) Sim, miopia (dificuldade para visão longe)
( ) Sim, astigmatismo (dificuldade para visão de longe e perto. Borramento visual heterogêneo, ou seja, algumas partes da imagem são mais nítidas ou mais borradas
que outras.)
( ) Sim, hipermetropia (dificuldade para visão de perto)
( ) Sim, presbiopia (dificuldade de visão para perto que, em geral, se inicia a partir dos 40 anos)
( ) Não sei (pular para questão 13)
( ) Não foi diagnosticado como portador de vícios de refração (pular para questão 13)
9. Com que idade foi diagnosticado o problema?
( ) entre 1 e 5 anos ( ) entre 6 e 12 anos ( ) entre 13 e 15 anos ( ) entre 16 e 18 anos ( ) mais de 18 anos
10. Qual o grau de seu deficit visual? (mais de uma opção pode ser marcada)
Miopia: ( ) -1,00 DO ou menos ( ) entre -1,25 e -3,00 DO ( ) mais que -3,00 DO ( ) não tem miopia ( ) tem miopia mas não sabe o grau
Hipermetropia: ( ) +1, ,00 DO ou menos ( ) entre +1,25 e +3,00 DO ( ) mais que +3,00 DO ( ) não tem hipermetropia ( ) tem hipermetropia mas não sabe o grau
Astigmatismo: ( ) 1,00 DO ou menos ( ) entre 1,25 e 3,00 DO ( ) mais que 3,00 DO ( ) não tem astigmatismo ( ) tem astigmatismo mas não sabe o grau
Presbiopia: ( ) +1, 00 DO ou menos ( ) entre +1,25 e +3,00 DO ( ) mais que +3,00 DO ( ) não tem presbiopia ( ) tem presbiopia mas não sabe o grau
11. Usa lentes de contato ou óculos para correção? ( ) Sim, usa óculos ( ) Sim, usa lentes de contato ( ) Sim, usa óculos e lentes de contato
( ) Foi indicado mas não usa ( ) Não foi indicado ( ) Não usa mais pois fez cirurgia de correção
12. Se usa métodos de correção (óculos ou lentes de contato), em qual (quais) momento(s)? (marque todas as situações em que usa):
( ) o tempo todo ( ) para trabalho e ou estudo ( ) para dirigir ( ) para assistir TV ou cinema ( ) para computador ( ) outros. Qual (quais)?__________________
13. Seu pai já foi diagnosticado pelo MÉDICO como portador de algum vício de refração? (pode ser marcada mais de uma alternativa)
( ) sim, miopia ( ) sim, astigmatismo ( ) sim, presbiopia ( ) sim, hipermetropia ( ) sim, mas não sei qual vício de refração ( ) não ( ) não sei
14. Sua mãe já foi diagnosticada pelo MÉDICO como portadora de algum vício de refração? (pode ser marcada mais de uma alternativa)
( ) sim, miopia ( ) sim, astigmatismo ( ) sim, presbiopia ( ) sim, hipermetropia ( ) sim, mas não sei qual vício de refração ( ) não ( ) não sei
15. Quantas horas, em média, você gasta por semana lendo?
( ) 18 horas ou mais ( ) 14-17 horas ( ) 10-13 horas ( ) 6-9 horas ( ) 3-6 horas ( ) menos de 3 horas
16.Quantas horas por semana você gasta, em média, realizando as seguintes atividades ?
Televisão: ( ) menos de 2 horas ( ) 3-2 horas ( ) 5-4 horas ( ) 6-7 horas ( ) 8-9 horas ( ) 10 horas ou mais
Videogame: ( ) menos de 2 horas ( ) 3-2 horas ( ) 5-4 horas ( ) 6-7 horas ( ) 8-9 horas ( ) 10 horas ou mais
Computador : ( ) menos de 2 horas ( ) 3-2 horas ( ) 5-4 horas ( ) 6-7 horas ( ) 8-9 horas ( ) 10 horas ou mais
Escrita ou desenho: ( ) menos de 2 horas ( ) 3-2 horas ( ) 5-4 horas ( ) 6-7 horas ( ) 8-9 horas ( ) 10 horas ou mais
17. Já ouviu falar de cirurgia refrativa (cirurgia para correção de problemas visuais de refração)? ( ) sim ( ) não (pular para questão 28)
18. Sabe como o procedimento é realizado? ( ) Sim, sei ( ) Não sei
19. Como você se informou a respeito? (pode ser marcada mais de uma alternativa):
( ) oftalmologista ( ) médico não o oftalmologista ( ) outro profissional da saúde ( ) faculdade ( ) jornal ( ) TV ( ) familiares ( ) amigos ( ) não sei nada
a respeito ( ) outros
20. Conhece os riscos da cirurgia?( ) Sim ( ) Não
21. Quais as suas expectativas quanto a cirurgia refrativa? ( ) cura definitiva ( ) diminuição da dependência de correção
22. Você já fez cirurgia refrativa? ( ) Já fiz ( ) Nunca fiz (pular para questão 25)
23. Se sim, ficou satisfeito(a) com o resultado? ( ) Sim ( ) Parcialmente ( ) Não

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Conhecimento em cirurgia refrativa entre estudantes de medicina da Universidade Estadual de Londrina 177

24. Qual é a sua renda familiar mensal?


( ) 1 a 3 salários mínimos ( ) 3 a 5 salários mínimos ( ) 5 a 10 salários mínimos ( ) 10 a 15 salários mínimos ( ) 15 a 20 salários mínimos
( ) Mais que 20 salários mínimos ( ) Não Sei
25. Como foi realizado o procedimento? ( ) Através de convênio médico ( ) Particular ( ) Outros Quais: ________________________________________
26. Qual foi tipo e o grau de deficit visual corrigido pela cirurgia refrativa?
OLHO DIREITO:
Miopia: ( ) -1,00 DO ou menos ( ) entre -1,25 e -3,00 DO ( ) mais que -3,00 DO ( ) não sei
Hipermetropia: ( ) +1, ,00 DO ou menos ( ) entre +1,25 e +3,00 DO ( ) mais que +3,00 DO ( ) não sei
Astigmatismo: ( ) 1,00 DO ou menos ( ) entre 1,25 e 3,00 DO ( ) mais que 3,00 DO ( ) não sei
Presbiopia: ( ) +1, 00 DO ou menos ( ) entre +1,25 e +3,00 DO ( ) mais que +3,00 DO ( ) não sei
OLHO ESQUERDO:
Miopia: ( ) -1,00 DO ou menos ( ) entre -1,25 e -3,00 DO ( ) mais que -3,00 DO ( ) não sei
Hipermetropia: ( ) +1, ,00 DO ou menos ( ) entre +1,25 e +3,00 DO ( ) mais que +3,00 DO ( ) não sei
Astigmatismo: ( ) 1,00 DO ou menos ( ) entre 1,25 e 3,00 DO ( ) mais que 3,00 DO ( ) não sei
Presbiopia: ( ) +1, 00 DO ou menos ( ) entre +1,25 e +3,00 DO ( ) mais que +3,00 DO ( ) não sei
27. Que idade você tinha quando foi realizado o procedimento?
___________________________________________________________________________________________________________________________________
28. Se nunca fez, pensa em fazer? ( ) Sim ( ) Não (pular para questão 27) ( ) Não sei (pular para questão 27)
29. Se você gostaria de fazer a cirurgia refrativa, por que ainda não a fez? (mais de uma alternativa pode ser marcada):
( ) contra-indicação médica ( ) problemas financeiros ( ) falta de confiança no médico e/ou procedimento ( ) falta de conhecimento ( ) falta de oportunidade
( ) medo dos resultados ( ) outros
30. Se você não gostaria de fazer ou não sabe, qual é o motivo? (mais de uma alternativa pode ser marcada):
( ) baixo grau de deficit visual ( ) falta de interesse ( ) falta de confiança ( ) falta de conhecimento ( ) medo dos resultados ( ) problemas
financeiros ( ) contra--indicação médica ( ) outros
31. Gostaria de saber mais a respeito? ( ) Sim ( ) Não

que exclusivamente por estudantes que referiam não saber como comparação aos que não querem realizá-la, isto é, esperam a
o procedimento é realizado. Esse grupo foi também o que menos cura total do erro de refração. Essa situação foge do ideal, já
referiu interesse em realizar a cirurgia. que, a satisfação dos pacientes tende a ser maior quanto mais
Foram encontrados apenas 3 estudantes que foram sub- realistas forem suas expectativas.
metidos à cirurgia refrativa na amostra estudada. Isso se deve Percebe-se, dessa forma, a necessidade de maiores escla-
provavelmente à baixa idade dos indivíduos, que apresentavam recimentos quanto ao assunto para a população em geral e prin-
uma média de idade de 21 anos, idade em que normalmente ain- cipalmente aos estudantes da área médica. Esse fato assume gran-
da não houve a estabilização do grau visual, um pré-requisito de importância considerando que esses também terão, no futuro,
indispensável para a realização da mesma. a função de tirar dúvidas da população leiga em relação ao as-
sunto.
CONCLUSÃO
Agradecimentos
O ensino médico brasileiro atual tende a priorizar certas Marcelo Rosa Gameiro e Leonardo Thomaz de Aquino Filho
áreas da Medicina em detrimento de outras, sendo a Oftalmolo-
gia pouco valorizada no currículo médico. Esse dado fica evidente REFERÊNCIAS
quando se analisa que apesar de um número significativo de estu-
dantes referirem conhecer o procedimento, menos da metade dos 1. Alves AA. Refração. 5a ed. Rio de Janeiro: Guanabara-Koogan; 2008.
mesmos sabem como esse é realizado. Desta forma, observa-se 2. Victor G, Urbano A, Marçal S, Porto R, Francesconi CM, Forseto AS, et
uma evidente falta de conhecimento a respeito de um dos proce- al. Primeiro censo brasileiro em cirurgia refrativa. ArqBras Oftalmol.
dimentos mais frequentes e comentados da área, o que pode ser 2005;68(6):727-33.
demonstrado pelo fato de que o Lasik é uma das cirurgias mais 3. Kara-José FC, Passos LB, Jervásio AC, Salomão GH. Interesse e
realizadas no mundo. Percebe-se que faltam informações a res- conhecimento em cirurgia refrativa entre estudantes de medicina.
peito da área a amostra, a qual, por lógica, deveria ter muito mais ArqBras Oftalmol.2002;65(1):71-4.
conhecimento sobre o assunto, se tratando da área médica. 4. Sperduto RD, Seigel D, Roberts J, Rowland M. Prevalence of myopia
Percebe-se também que a falta de conhecimento a respei- in the United States. Arch Ophthalmol. 1983;101(3):405-7.
to do assunto acaba por afetar o interesse dos entrevistados em 5. Midelfart A, Aamo B, Sjøhaug KA,Dysthe BE. Myopia among medi-
realizar a cirurgia, considerando que, entre os que não sabiam cal students in Norway. ActaOphthalmol(Copenh). 1992;70(3):317-
como a cirurgia era realizada o índice de falta de desejo de rea- 22. Comment in ActaOphthalmol (Copenh). 1993;71(3):429.
lizar a cirurgia foi consideravelmente maior. 6. Chow YC, Dhillon B, Chew PT, Chew SJ. Refractive errors in Singapore
O principal objetivo da cirurgia refrativa é a diminuição medical students. Singapore Med J. 1990;31(5):472-3.
da dependência de métodos de correção. Fato peculiar é que os 7. Barreto Júnior J, PrevedelloLM, Silveira CA, Yared JH, Abib FC.
estudantes que referiram desejo de serem submetidos à cirurgia Prevalência da miopia em estudantes de medicina da Universidade
apresentam um índice maior de falsa expectativa quando em Federal do Paraná. RevBras Oftalmol. 2000;59(10):719-23.

Rev Bras Oftalmol. 2013; 72 (3): 172-7


178 ARTIGO ORIGINAL

Facoemulsificação sob anestesia tópica:


série de casos
Phacoemulsification under topical anesthesia: series of cases

Vinícius Neumann Tavares1; Carina Graziottin Colossi2; Vitor Saalfeld2; Manuel Augusto Pereira Vilela3

RESUMO
Objetivo: Avaliar a eficácia e a segurança da facoemulsificação sob anestesia tópica em casos com complexidade diversa.
Métodos: Os prontuários dos pacientes submetidos à facoemulsificação sob anestesia tópica no período de janeiro de 2009 a abril de
2011 foram revisados. Os dados pré-operatórios avaliados foram: sexo, idade, cor, a presença de doenças sistêmicas, comorbidades
oculares, o tipo da catarata e a acuidade visual pré-operatória. As informações intra e pós-operatórias colhidas foram: acuidade pós-
operatória, complicações intra e pós-operatórias, a necessidade de conversão anestésica e o poder da LIO utilizada. Foram excluí-
dos pacientes com prontuários incompletos. Resultados: Cento e onze (111) casos foram avaliados. Apenas comorbidades oculares
mostraram significância estatística na acuidade visual pós-operatória (p=0,004). Conclusão: A análise indica que a facoemulsificação
realizada sob anestesia tópica em casos com complexidades variadas é eficaz e segura.
Descritores: Facoemulsificação; Anestesia tópica; Anestesia/métodos, Comorbidades
Registrado no clinicaltrials.gov com a seguinte ID: NCT01381783

ABSTRACT
Purpose: To evaluate the outcome and safety of phacoemulsification performed under topical anesthesiain cases with several complexities.
Methods: Cases performed under topical anesthesia from january 2009 to april 2011 were analyzed. Variables analyzed included
patients age, sex, race, systemic diseases, eyes comorbidities, type of cataract, visual acuity before and after the surgery, complications,
number of conversions to peribulbar anesthesia and IOL power. Patients with uncompleted data were excluded from analysis. Results:
A total of 111 eyes were analyzed; only cases with ocular comorbidities were statistically significant (p=0,004).
Conclusion: the data analysis suggests that phacoemulsification performed under topical anesthesia is safeand effective in cases of
different complexities.
Keywords: Phacoemulsification; Anesthesia,topical; Anesthesia/methods; Comorbidity
Registrado no clinicaltrials.gov com a seguinte ID: NCT01381783

1
Residente do Instituto de Oftalmologia Ivo Correa-Meyer – Porto Alegre (RS), Brasil;
2
Médico Preceptor do Instituto de Oftalmologia Ivo Correa-Meyer – Porto Alegre (RS), Brasil;
3
Pós-Doutor; Professor Titular de Oftalmologia, Universidade Federal de Pelotas (RS), Brasil.

Trabalho realizado na Universidade Federal de Pelotas (RS) e Curso de Especialização Prof. Ivo Corrêa-Meyer, Porto Alegre (RS), Brasil.

Os autores declaram não haver conflitos de interesse


Recebido para publicação em: 19/6/2012 - Aceito para publicação em: 11/2/2013

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Facoemulsificação sob anestesia tópica: série de casos 179

INTRODUÇÃO colírio de cloridrato de tetracaína 1% (Anestésico® colírio) via


transcorneana, sem o uso de suplementação intracameral, com e

A
anestesia tópica vem se popularizando nas cirurgias de sem comorbidades. Todos foram operados pelo mesmo cirurgião,
catarata como uma opção segura e barata. Ela tem experimentado com a técnica (VS), utilizando-se dos equipamen-
ampla aceitação especialmente nos EUA onde Ezra e tos Universal II e Infinity (Alcon).
Allan estimam que é adotada por 61% dos cirurgiões(1). Os dados pré-operatórios avaliados foram: sexo, a idade, a
Pode ser acompanhada de anestesia intracameral e de cor, a presença de doenças sistêmicas, comorbidades oculares e
sedação do paciente. Mesmo que ambos diminuam a dor, nos a acuidade visual pré-operatória. As informações intra e pós-
estudos disponíveis na literatura não se encontra nenhuma dife- operatórias colhidas foram: acuidade pós-operatória, complica-
rença estatística significante a favor da necessidade dessa ções intra e pós-operatórias, a necessidade de conversão
suplementação(1,2). anestésica e o poder da LIO utilizada.
Como vantagens desta técnica, destaca-se a ausência dos ris- Foram excluídos os casos sem as informações completas
cos das injeções na órbita e a recuperação funcional muito mais disponíveis nos prontuários e procedimentos onde
rápida. Além disso, elimina o risco de diplopia no pós-operatório, trabeculectomia estava combinada.
reduz o tempo e o custo da cirurgia(3), dispensa uso de oclusor, As variáveis foram analisadas através do programa
minimiza o risco de náuseas e mal-estar, permitindo a possibilidade STATA 11.0, utilizando-se os testes T de Student, Qui-Quadra-
de operar via transcorneana casos com distúrbio de coagulação(4). do e Regressão Logística. Dois desfechos foram analisados: ne-
Estudos mostram que, apesar de potencialmente mais prová- cessidade de conversão e acuidade pós-cirúrgica. Foram consi-
veis de produzir dor, as anestesias tópicas resultam em níveis de derados significantes valores de p<0,05.
satisfação comparáveis às técnicas de anestesia tradicionais(5-7).
A anestesia tópica, por outro lado, deve ser usada em RESULTADOS
pacien-tes selecionados e por um cirurgião experimentado. Não
propiciando acinesia, pode ser perigosa em doentes pouco colabo- Todos os casos operados neste período tinham as informa-
rativos(8,9). Deve-se estar preparado para usar formas de imobi- ções necessárias nos prontuários e foram incluídos no estudo (sem
lização ocular caso necessário(10). A percepção de experiências perdas).
visuais durante a cirurgia pode causar ansiedade ao paciente e A média de idade foi de 72 anos (36-91 anos, DP=12), sen-
convém ser informada no pré-operatório(11,12). Reflexo óculo-car- do que as mulheres representaram 56,4% dos casos.
díaco pode ocorrer nessa modalidade de anestesia(13). Doenças sistêmicas estavam presentes em 59,5% dos pa-
Outra possível intercorrência é o risco de irritação causa- cientes, sendo as mais comuns as moléstias cardiocirculatórias e
da pela instilação do anestésico, causando instabilidade do filme o diabetes.
lacrimal, toxicidade corneana e reação alérgica(4). Trinta e cinco por cento (35%) dos pacientes tinham
Existem poucos artigos na literatura disponíveis sobre a comorbidades oculares, sendo as mais comuns o glaucoma (11 casos)
anestesia tópica relacionando com complicações trans e pós-ope- e a DMRI (9 casos). Seis (6) casos com descolamento de retina pré-
ratórias. Desta forma a proposta deste trabalho foi a de analisar vio foram operados, três destes com silicone presente. Três (3) casos
o uso desta técnica em uma série de casos. com retinopatia diabética proliferativa e 2 casos com buraco macular
foram submetidos à cirurgia de catarata e foram incluídos no estudo.
MÉTODOS Os pacientes operados tinham acuidade visual média an-
tes da cirurgia de 0,3 (0,4-0,7) (figura 1). A acuidade visual média
Foram analisados retrospectivamente os prontuários das pós-operatória foi de 0,8 (0,4-1,0) (p<0,001, teste T) (figura2).
cirurgias realizadas no setor de catarata de nossa instituição no Cinco pacientes (4,5%) tiveram complicações
período de janeiro de 2009 a abril de 2011. Os casos incluídos transoperatórias, sendo que 3 tiveram ruptura de cápsula e 2 per-
foram aqueles submetidos à facoemulsificação com o uso de da de vítreo. Em nenhum caso foi necessário converter a anestesia.

Figura 1 Figura 2

Acuidade visual pré-operatória média de 0.3 Acuidade visual pós-operatória média de 0.8

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180 Tavares VN, Colossi CG, Saalfeld V, Vilela MAP

Não houve complicações pós-operatórias significativas. 2. Ezra DG, Nambiar A, Allan BD. Supplementary intra-
Em apenas um paciente foi necessário o uso de sedação camerallidocaine for phacoemulsification under topical anesthesia.
(<1%). Sutura na incisão foi necessária em 2 pacientes (1,8%). A meta-analysis of randomized controlled trials. Ophthalmology.
2008;115(3):455-87.
Na regressão logística apenas um fator (comorbidade ocu- 3. Malot J, Combe C, Moss A, Savary P, Hida H, Ligeon-LigeonnetP.[Cost of
lar) mostrou associação com acuidade visual pós-cirúrgica cataract surgery in a public hospital]. J FrOphtalmol. 2011;34(1):10-6. French.
(p=0,004). Os demais (sexo, idade, raça, comorbidade sistêmica, 4. The Royal College of Anaesthetists and The Royal College of
tipo de catarata, acuidade pré-operatória, necessidade de sutu- Ophthalmologists,Local anaesthesia for intraocular surgery. London; 2001.
ra, tipo de implante) não mostraram associação. Disponível em http://www.anestesiaclinic. net/documents/oft/Ophthalmo-
logic%20 Anesthesia%20Guidelines%20-%20RCARCO.pdf
DISCUSSÃO 5. Gupta SK, Kumar A, Kumar D, Agarwal S. Manual small incision cata-
ract surgery under topical anesthesia with intracameral lignocaine:
study on pain evaluation and surgical outcome. Indian J Ophthalmol.
Apesar do uso cada vez maior da anestesia tópica não são 2009;57(1):3-7. Comment in Indian J Ophthalmol. 2010;58(1):83-4;
muitos os trabalhos comparativos e com adequado tamanho author reply 84.
amostral disponíveis. 6. Zhao LQ, Zhu H, Zhao PQ, Wu QR, Hu YQ. Topical anesthesia versus
Em 1996, Rezende e Bernardes apresentaram um estudo regional anesthesia for cataract surgery: a meta-analysis of random-
sobre a anestesia tópica na facotranscorneana temporal em 50 ized controlled trials.Ophthalmology. 2012; 119(4):659-67.
casos. A técnica mostrou-se eficaz e segura, permitindo conforto 7. Coelho RP,WeissheimerJ, RomãoE, Cruz AA. Comparação entre a dor
provocada pela facoemulsificação com anestesia tópica e a pela
e rápida recuperação visual dos pacientes(14).
infiltração peribulbar sem sedação. Arq Bras Oftalmol.2005;68(1):45-8
Em uma série de 476 cirurgias, Jacobi et al. não encontra- 8. Ermisº SS, Öztürk F, Inan UU. Comparing the efficacy and safety of
ram diferença nas complicações intra e pós-operatórias compa- phacoemulsification in white mature and other types of senile
rando a anestesia tópica com a retrobulbar em olhos considera- cataracts.Br J Ophthalmol. 2003;87(11):1356-9.
dos de maior risco(15). Os mesmos autores, em outro estudo, não 9. Rand WJ, Stein SC, Velazquez GE.Rand-Stein analgesia protocol for
detectaram aumento nas complicações usando a anestesia tópi- cataract surgery.Ophthalmology. 2000;107(5):889-95.
ca em pacientes glaucomatosos(16). 10. The Royal College of Anaesthetists and the Royal College of Oph-
thalmologists. Local Anaesthesia for ophthalmic surgery: Joint guide-
Menapace analisou a capsulotomia posterior primária em
lines from the Royal College of Anaesthetists and the Royal College
uma série de 500 casos e escolheu a anestesia tópica como mé- of Ophthalmologists. London; 2012.Disponível em http://
todo, e esta se mostrou uma opção segura(17). www.rcoa.ac.uk/node/2272
Zhaoet al., em uma meta-análise de 15 estudos, mostraram 11. Ang CL, Au Eong KG, Lee SS, Chan SP, Tan CS. Patients’ expectation
que, apesar de uma maior percepção de dor por parte dos pacien- and experience of visual sensations during phacoemulsification un-
tes, a anestesia tópica foi preferida em relação às técnicas tradici- der topical anaesthesia.Eye (Lond). 2007;21(9):1162-7.
onais(6). Em sua série de 40 cirurgias, Roman et al. registraram 12. Rengaraj V, Radhakrishnan M, Au Eong KG, Saw SM, Srinivasan A,
Mathew J, et al.Visual experience during phacoemulsification under
queixa de dor em 10% dos casos(18). Weller et al., em 281 olhos
topical versus retrobulbar anesthesia: results of a prospective, ran-
operados, obtiveram relato de dor em 16% das vezes(19). domized, controlled trial.Am J Ophthalmol. 2004;138(5):782-7.
Fichman investigou a pressão arterial, frequência cardía- 13. Walsh A, Pinheiro AP, Cordeiro Júnior A, Crema AS. Reflexo óculo-
ca e respiratória dos pacientes submetidos à anestesia tópica e cardíaco em facoemulsificação. Anestesia tópica x anestesia
as outras modalidades, e não percebeu diferença nesses peribulbar. RevBrasOftalmol. 2000;59(10):731-5.
parâmetros(20). Não há, igualmente, diferença significativa no ní- 14. Rezende F, Bernardes F. Anestesia tópica na facotranscorneana tem-
vel de cortisol durante a cirurgia, indicando que o procedimento poral (primeiros 50 casos). RevBrasOftalmol. 1996;55(10): 727-34.
15. Jacobi PC, Dietlein TS, Jacobi FK.A comparative study of topical
é bem tolerado e não gera stress adicional ao paciente(20).
vsretrobulbar anesthesia in complicated cataract surgery. Arch
Em nosso estudo, depois de testadas todas as variáveis, os Ophthalmol. 2000;118(8):1037-43.
casos com comorbidades oculares foram os mais relacionados 16. Jacobi PC, Dietlein TS, Jacobi FK.Cataract surgery under topical an-
com baixa acuidade visual e foram os únicos que tiveram esthesia in patients with coexisting glaucoma.J Cataract Refract Surg.
significância estatística (p=0,004, qui-quadrado). Todas as ou- 2001;27(8):1207-13.
tras variáveis não foram estatisticamente significantes na rela- 17. Menapace R. Routine posterior optic buttonholing for eradication of
ção com baixa acuidade visual, ou necessidade de conversão. posterior capsule opacification in adults: report of 500 consecutive
cases.J Cataract Refract Surg. 2006;32(6):929-43. Erratum in J Cata-
A amostra do estudo permite inferir que existe segurança
ract Refract Surg. 2006;32(9):1410. Comment in J Cataract Refract
na anestesia tópica, para casos com diferentes complexidades, Surg. 2006;32(6):903-4.
quando feitas por cirurgiões experimentados. Nossa série incluiu 18. Roman S, Pietrini D, Auclin F, Keller M, Ullern M. [Phacoemulsification
olhos com glaucoma, vitrectomizados, com e sem óleo de silicone, and topical anesthesia.Apropos of 40 cases].J FrOphtalmol.1996;19(1):32-
e com ruptura capsular. 8. French.
O número de complicações encontradas nas cirurgias reali- 19. Weller A, Pham DT, Häberle H, Müller A, Cieschinger W, Ledergerber
zadas foi de 4,5%, percentual compatível com os dados encontra- M. [Sponge anesthesia with intraocular lidocaineapplication in cata-
ract surgery]. Ophthalmologe. 2000;97(1):51-3. German.
dos na literatura e comparável com a chance de complicações de
20. Fichman RA. Use of topical anesthesia alone in cataract surgery.J
outras técnicas cirúrgicas(21).O manejo das intercorrências foi fei- CataractRefractSurg. 1996;22(5):612-4.
to sem necessidade de conversão anestésica. 21. RezendeMS,Sperb RR, Iramina E, Souza SB, Ribeiro LE, Dib O.
A anestesia tópica é uma opção atrativa, de menor custo, Facoemulsificação sob anestesia tópica realizada por residentes do
segura e confortável, mesmo em casos com diferentes formas de terceiro ano de Oftalmologia. RevBras Oftalmol. 2008;67(2):82-5.
complexidades.

REFERÊNCIAS Autor correspondente:


Vinicius Neumann Tavares
1. Ezra DG, Allan BD. Topical anesthesia alone versus topical anaesthe- Rua Felix da Cunha, nº 496 Bairro Floresta Temuco
sia with intracamerallidocaine for phacoemulsification. Cochrane Da- Porto Alegre (RS), Brasilo - Fax: (51) 3346-3423
tabase Syst Rev. 2007;(3):CD005276. Review. E-mail: viniciusnt@yahoo.com.br

Rev Bras Oftalmol. 2013; 72 (3): 178-80


ARTIGO ORIGINAL181

Relação entre estilos de aprendizagem


e rendimento acadêmico dos estudantes
do quinto ano de medicina
Relationship between learning styles and academic
performance of fifth graders enrolled in the medical course

Mario Pellón1,2, Sandra Nome3, Angélica Arán4

RESUMO
Objetivo: O objetivo deste estudo foi determinar o(s) estilo(s) de aprendizagem dos estudantes do quinto ano do curso de
medicina que frequentaram a disciplina de Oftalmologia e o nível de relação com o seu rendimento acadêmico. Métodos: Foram
aplicados questionários de estilos de aprendizagem de Kolb e Programação Neurolinguística (PNL) para determinar o estilo de
aprendizagem dos estudantes e estes foram relacionados com as avaliações finais obtidas. As variáveis foram analisadas através
do teste r de Pearson. Resultados: Foi observado que existe relação entre as variáveis estilos de aprendizagem e rendimento
acadêmico (p ≤ 0,05). Segundo o modelo de Kolb os estudantes com estilo reflexivo obtiveram melhor rendimento e de acordo
com o modelo PNL, foram os estudantes com estilo visual. Conclusão: As variáveis estilos de aprendizagem a partir dos modelos
de PNL e Kolb atuam independentemente do rendimento acadêmico dos estudantes do curso de medicina, indicando predomí-
nio dos estilos visual e reflexivo.
Descritores:Aprendizagem; Estudantes; Oftalmologia; Fenômenos e processos psicológicos; Programação neurolinguística;
Questionários

ABSTRACT
Objective: The aim of this study was to determine the learning styles of fifth-year medical students who attended the ophthalmology course
and to also determine the correlation with their academic performance. Methods: Kolb’slearning style and neurolinguistic programming
(NLP) questionnaires were applied and related tothe final grades obtained. The variables were analyzed using Pearson’s r test. Results:I
trevealed a relation between the variables of learning styles and academic performance (p ≤ 0.05).According to Kolb’s model, students
with better performance were reflective style and according to the NLP model, students with visual style.Conclusion: learning styles
variables from the NLP mode land Kolb, actingin dependently of the academic performance of students ina medical career, marking the
highest preference forthe visual style andreflective questionnaires applied based on both models.this study is consistent with other research
in this field conducted with students of the samerace.
Keywords: Learning; Students; Ophthalmology; Psychological phenomena processes; Neurolinguistic programming; Questionnaires

1
Professor Associado da Universidad de La Frontera, Temuco, Chile;
2
Programa de Doutorado em Ciências Morfológicas, Universidad de La Frontera, Temuco, Chile;
3
Professora, Escola de Educação da Universidad Mayor, Sede Temuco, Chile;
4
Doutora em Psicologia Humana, Universidad Mayor, sede Temuco - Temuco, Chile.

Instituição onde o trabalho foi desenvolvido: Universidade Mayor Temuco Chile.

Os autores declaram não haver conflitos de interesse


Recebido para publicação em: 3/9/2012 - Aceito para publicação em: 24/11/2013

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182 Pellón M, Nome S, Arán A

INTRODUÇÃO tificar os estilos de aprendizagem em estudantes de medicina e


sua relação com a escola de procedência, gênero e mudança no

A
formação profissional na área médica se fortalece quan- estilo, o estilo reflexivo volta a ter maior predomínio e o estilo
do os profissionais que participam dessa formação se ativo a mais baixa predominância(10).
interessam em conhecer os processos cognitivos envol- Uma avaliação comparativa dos estilos de aprendizagem em
vidos no aprendizado de seus alunos, o que lhes possibilita ativar estudantes de graduação na disciplina de patologia, médicos resi-
à luz desse conhecimento os processos cognitivos que permitem dentes e profissionais da carreira docente, resultou na preponde-
a seus alunos aprender melhor, fortalecer competências especí- rância que vem sendo apontada, que nos estilos de alunos de medi-
ficas sob a égide das mesmas e, portanto, garantir no futuro um cina, de médicos residentes e de profissionais que estão exercendo
melhor desempenho profissional (1). a carreira docente há predominância do estilo reflexivo (11).
Reconhecer os estilos de aprendizagem baseados no Mo- Em função da importância que tem o domínio do conhecimen-
delo de Kolb(2) e na Programação Neurolinguística de Bandler to sobre a maneira como os estudantes processam a informação e
e Grinder(3-5), permite implementar estratégias de ensino que desenvolvem competências específicas a partir de seus estilos de
possibilitam a geração da ativação cognitiva específica necessá- aprendizagem (12), procurou-se neste estudo abordar o reconheci-
ria para uma determinada aprendizagem. mento dos estilos de aprendizagem dos estudantes do quinto ano do
A partir dos modelos de aprendizagem por experiência, curso de Medicina que frequentaram a disciplina de Oftalmologia na
que supõem que para aprender alguma coisa é necessário pro- Universidade Mayor, sede Temuco - Chile. Com isso espera-se me-
cessar a informação recebida partindo de uma experiência dire- lhorar a prática docente no sentido de fortalecer a ativação dos pro-
ta ou concreta, foram identificados quatro modelos de estilos de cessos cognitivos e de processamento da informação(1), de forma que
aprendizagem: ativo, reflexivo, teórico e pragmático(2,3). Para permita aos clínicos gerais fazer um diagnóstico diferencial correto e
aprender, o aluno deve trabalhar ou processar a informação re- assim instaurar o tratamento adequado e, além disso, saber quando
cebida, a qual pode ser de uma experiência direta e concreta encaminhar ou não o paciente ao especialista.
(ativo); de uma experiência abstrata, a qual é obtida através da
leitura ou contada por alguém (teórico); de experiências con- MÉTODOS
cretas ou abstratas que se transformam em conhecimento quan-
do se reflete ou se pensa sobre elas (reflexivo) ou experimen- Foi projetado um estudo do tipo descritivo, transversal e
tando de forma ativa a informação recebida (pragmático)(2). correlacional para determinar os estilos de aprendizagem dos
O modelo de estilos de aprendizagem da Programação estudantes do quinto ano de Medicina da Universidade Mayor,
Neurolinguística (PNL)(4) considera que a via de ingresso da in- sede Temuco - Chile, que frequentaram a disciplina de Oftalmo-
formação ao cérebro é fundamental nas preferências daquele logia no segundo semestre de 2011.
que aprende ou ensina. Este modelo estabelece que as pessoas A disciplina foi cursada por 26 estudantes, dos quais 19 (13
possuem três sistemas para representar mentalmente a infor- mulheres e 6 homens) aceitaram participar deste estudo. Os mo-
mação: visual, auditivo e sinestésico, os quais são utilizados de delos de estilos de aprendizagem foram determinados aplicando
forma desigual, potencializando uns sobre os outros, com a ca- o Questionário de Honey-Alonso de Estilos de Aprendizagem
pacidade de desenvolver-se ou formar-se intencionalmente (4,5). (QHAEA) a partir do modelo de Kolb(2) e o questionário para
Algumas pesquisas sobre estilos de aprendizagem com estu- identificar o tipo de inteligência de percepção dominante (Mode-
dantes de medicina são coincidentes em observar uma tendência lo PNL) Bandler e Grinder (4,5), aplicados no início da disciplina.
dos mesmos para o estilo reflexivo baseado no modelo de Kolb. Em Os estudantes fizeram 3 provas parciais (70%, o peso relativo
uma pesquisa com estudantes universitários e médicos residentes da nota ponderada) e um exame final (30%, o peso relativo da nota
da Argentina foram confirmadas a presença de um estilo teórico e ponderada), dos quais se obteve a média final. As avalia-ções foram
reflexivo (assimilador) no início do curso, contudo, ao finalizá-lo e teórico-práticas. Foi analisada a correlação entre as variáveis dos
no pós-graduação foi constatada a diminuição do estilo “assimilador”, modelos de estilo de aprendizagem e as médias finais dos estudantes
especialmente às custas do crescimento “convergente” (6). através do teste r de Pearson, com nível de significância de p ≤ 0,05.
Na mesma linha, num estudo realizado na Europa e na
América Latina, verificou-se que no perfil dos estudantes de RESULTADOS
medicina predominavam os traços reflexivos e teóricos, os quais
sobreporiam os estilos ativos e pragmáticos (7). Apresenta-se primeiramente os resultados associados à dis-
Em outra pesquisa, foi comparada a média dos escores de tribuição dos exames finais na disciplina de Oftalmologia (figura
estilos de aprendizagem em estudantes da Faculdade de Medici- 1), em seguida, as correlações entre os estilos de aprendizagem e
na da Universidade de Valparaíso. Em média, o resultado foi 15,12 desempenho acadêmico, e finalmente a predominância dos estilos
para o estilo de aprendizagem reflexivo, 13,35 para o teórico, de acordo com o modelo de Kolb e da PNL (tabela 1).
12,67 para o pragmático e 11,25 para o ativo (8). Neste estudo, se Os estudantes têm em média um desempenho que se concen-
considerou importante incorporar a mensuração dos estilos de tra em valores superiores a 5,0. Não existe dispersão de casos entre
aprendizagem a fim de melhorar o planejamento das disciplinas os valores 4,4 e 5,8. Os estudantes que mostraram um melhor rendi-
em relação aos métodos de ensino-aprendizagem utilizados. mento tendem para um estilo de aprendizagem reflexivo e teórico
Além disso, num estudo realizado com estudantes que en- baseado no modelo de Kolb(2), e visual e cinestésico, segundo PNL(4).
tram no curso de Medicina da Pontifícia Universidade Católica Aplicado o coeficiente de correlação r de Pearson, as va-
do Chile (PUC), os resultados obtidos foram condizentes com os riáveis estilos de aprendizagem e rendimento acadêmico obtêm
da literatura que indica, que em geral, as ciências básicas atra- valores a nível de significância inferiores a 0,5 e portanto, pode-
em preferencialmente aprendizes abstratos, enquanto que as mos afirmar que ambas as variáveis atuam com independência.
carreiras artísticas e humanísticas a aprendizes concretos.(9) Nes- Realizada a análise descritiva de relações entre variáveis quan-
te sentido, podemos esperar que o desempenho acadêmico dos titativas (rendimento) e qualitativas (estilos de aprendizagem) obser-
estudantes com habilidades abstrato-reflexivas proporcione van- va-se que os resultados tendem a concentrar-se nas categorias visual e
tagens no ciclo básico do curso e os concreto-ativos no ciclo clí- sinestésica conforme o modelo de estilos de aprendizagem PNL.
nico e internato. O estudo conclui que de cada 10 estudantes que Isto implica que os sujeitos deste estudo que possuem um
entram na escola de medicina da PUC, 7 se caracterizam por estilo visual têm melhor rendimento na disciplina de Oftalmolo-
analisar a informação de uma forma lógica, objetiva e imparcial. gia, seguidos daqueles cujas representações mentais da infor-
Na Universidade Autônoma do México, por sua vez, ao se iden- mação situam-se no sinestésico.

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Relação entre estilos de aprendizagem e rendimento acadêmico dos estudantes do quinto ano de medicina 183

Figura 1 Como mostra a figura 2 a média mais alta dos estilos de


aprendizagem dos estudantes do quinto ano do Curso de Medici-
Distribuição dos exames finais dos estudantes do quinto na na disciplina de Oftalmologia da Universidade Mayor (sede
ano do Curso de Medicina da Universidade Mayor, Temuco) determinados pelo QHAEA, baseado no modelo de
sede Temuco - Chile, na disciplina de Oftalmologia Kolb,(2)ocorreu no estilo reflexivo com uma média de 15,3 segui-
do do estilo teórico com um valor de 14,1.
Os resultados obtidos do questionário de estilos de apren-
dizagem do Modelo PNL(4) mostraram o valor mais alto para o
estilo visual com 47%, seguidos dos estilos cinestésico e auditi-
vo, com valores de 28% e 24%, respectivamente(Figura 3).

DISCUSSÃO
A formação universitária de um médico requer, no campo da
Oftalmologia, o desenvolvimento de competências específicas para
realizar um bom diagnóstico da patologia ocular, o que implica em
melhorar suas capacidades de aprendizagem visual, para que a partir
da clínica geral possa contribuir para a saúde dos pacientes evitan-
do riscos posteriores com diagnósticos mal realizados e patologias
não detectadas oportunamente. Neste aspecto é de grande ajuda o
uso de realidades virtuais(13), uma vez que os campos clínicos são
cada vez mais escassos e com limitações em seu uso.

Tabela1

Correlação de Pearson entre as variáveis dos estilos de aprendizagem segundo modelo de Kolb(3) e as notas dos
estudantes do quinto ano de Medicina na disciplina de Oftalmologia da Universidade Mayor, sede Temuco – Chile

Correlações Média final Estilo Estilo Estilo Estilo


do aluno ativo reflexivo teórico pragmático

Média final do aluno Correlação de Pearson 1,000 0,307 0,344 -0,091 0,174
Sig. (bilateral) 0,201 0,150 0,711 0,477
N 19,00 19 19 19 19
Estilo ativo Correlação de Pearson 0,307 1 -0,220 -0,383 0,431
Sig. (bilateral) 0,201 0,365 0,105 0,065
N 19 19 19 19 19
Estilo reflexivo Correlação de Pearson -0,344 -0,220 1 0,601** 0,259
Sig. (bilateral) 0,150 0,365 0,007 0,284
N 19 19 19 19 19
Estilo teórico Correlação de Pearson -0,091 -0,383 0,601** 1 0,209
Sig. (bilateral) 0,711 0,105 0,007 0,391
N 19 19 19 19 19
Estilo pragmático Correlação de Pearson 0,174 0,431 0,259 0,209 1
Sig. (bilateral) 0,477 0,065 0,284 0,391
N 19 19 19 19 19
(**) A correlação é significativa no nível 0,01 (bilateral)

Figura 2 Figura 3

Caracterização dos estilos de aprendizagem Caracterização dos estilos de aprendizagem de acordo


de acordo com o modelo de Kolb com o modelo de Programação Neurolinguística (PNL)

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184 Pellón M, Nome S, Arán A

Metodologicamente os docentes nem sempre utilizam uma CONCLUSÃO


informação que lhes permita conhecer seus alunos sob esta pers-
pectiva(4,6,14), e ainda, identificar aqueles condicionantes, que no Os estilos de aprendizagem dos estudantes do quinto ano
âmbito da Oftalmologia, possibilitem ativar processos cognitivos de medicina, na disciplina de Oftalmologia, não afetam seu ren-
que desenvolvam a capacidade para um bom exame oftalmológico. dimento acadêmico, ou seja, ambas as variáveis atuam com in-
Este fato se torna relevante em função do alto número de pacien- dependência uma da outra.
tes que chegam aos serviços de urgência com patologias oculares Ainda que as variáveis não se correlacionem a um nível
que não foram diagnosticadas oportunamente pelo médico de significância superior a 0,05 os melhores rendimentos acadê-
generalista, o que pode prejudicar o curso clínico de uma doença. micos indicam tendência para o estilo visual baseado no modelo
Considerando os estilos de aprendizagem baseados no de PNL e reflexivo baseado no modelo de Kolb.
modelo de Kolb, as conclusões deste estudo são coincidentes com Considerando os estilos de aprendizagem e suas predispo-
as de outros trabalhos realizados nesta linha com estudantes de sições, baseado no modelo de PNL aplicado nos sujeitos desse
medicina no que diz respeito à prevalência do estilo reflexivo. estudo, os mesmos indicam maior tendência ao estilo visual.
Assim, estes estudantes percebem a informação de maneira mais Conforme a aplicação do questionário QHAEA baseado
abstrata, mas procedem reflexivamente, ou seja, respondem de no modelo de Kolb, o estilo reflexivo, seguido do teórico foram os
modo mais assimilador e analítico, com um enfoque de pensa- mais frequentes nos estudantes que fizeram parte desse estudo.
mento divergente. Por sua vez, a partir deste estilo assumem uma A formação profissional no campo da medicina e Oftalmologia,
postura de observador, analisando suas experiências de distin- poderia melhorar caso os docentes conhecessem os processos cognitivos
tos pontos de vista, o que os faz precavidos, observando todas as implicados na aprendizagem de seus alunos e direcionassem técnicas
implicâncias de qualquer ação antes de atuar. docentes que determinassem um melhor rendimento acadêmico.
O estilo teórico marcou a segunda tendência de aprendi-
zagem, onde os sujeitos adaptam e integram as observações que REFERÊNCIAS
realizam em teorias complexas e bem fundamentadas
logicamente. Analisam e sintetizam a informação e em suas atu- 1. Biggs J. Calidad del aprendizaje universitario. 2a ed. Madrid: Narcea; 2006
ações primam a lógica e a racionalidade. 2. Kolb DA. Experimental learning: experience as the source of learn-
ing and development. New Jersey: Prentice-Hall; 1984.
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dantes na disciplina de Oftalmologia tendem a concentrar-se com the transformation of meaning. Moab, UT: Real People Press; 1982.
maiores pontuações nas categorias visual e sinestésica, confor- 4. Canalejas Pérez MC, Martínez Martín ML, Pineda Ginés MC,Vera Cortés
me o modelo de estilos PNL(4). Destes, o primeiro estilo se obser- ML, Soto González M, Martín Marino AM, et al. Estilos de aprendizaje
vou na maioria dos estudantes. en los estudiantes de enfermería. Educ Méd. 2005;8(2):33-40.
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No estilo visual, os estudantes preferem o estético, dando kinestésico?Estilos de aprendizaje desde el modelo de la Programación
importância à imagem, falam rápido e as imagens em sua cabe- Neurolingüística(PNL). RevIberoam Educ. 2005;38(2):1-9.
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observando demonstrações e procedimentos. Nos processos de aprendizaje en estudiantes universitarios y médicos residentes. Educ
Med. 2008;11(4):229-38.
leitura preferem as descrições, com um olhar minucioso imagi- 7. Diaz-Veliz G, Mora S, Lafuente-Sánchez JV, Gargiulo PA, Bianchi R,
nam as cenas de forma intensa e detalhada. Terán C, et al. Estilos de aprendizaje de estudiantes de medicina en
No estilo sinestésico, os estudantes aprendem fazendo, envol- universidades latinoamericanas y españolas: relación con los contextos
vendo-se diretamente, movem-se quando leem, lembram melhor o geográficos y curriculares. Educ Med. 2009;12(3):183-94.
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de la Universidad de Valparaíso. Rev Educ Cienc Salud. 2009;6(1):34-41.
Os estilos são relativamente estáveis, mas podem ser mo- 9. Bitran C M, Zúñiga P D, Lafuente G M, Viviani G P, Mena C B. Tipos
dificados nos ambientes de aprendizagem nos quais os estudan- psicológicos y estilos de aprendizaje de los estudiantes que ingresan a
tes convivem quando é possível direcionar, a partir da função Medicina en la Pontificia Universidad Católica de Chile.Rev Méd
docente, o descobrimento dos mesmos para aprender a adapta- Chile. 2003;131(9):1067-78.
10. Fortoul TI, Varela Ruíz M, Ávila Costa MR, López Martínez S, Nieto
los às suas experiências educativas. Assim, existem experiências DM. Fatores que influyen en los estilos de aprendizaje en el estudiante
de ensino no uso de novos instrumentos para examinar o fundo de medicina. Rev Educ Sup. 2006;35(2):55-62.
de olho, com resultados na aprendizagem de seu uso e capacida- 11. Napoli J, Formosa MI, Urssi L. Evaluación comparativa de lós estilos
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residentes y profesionales de la Carrera docente. Rev Assoc Med Arg.
A implementação de protótipos didáticos ou estratégias 2010;123(4):18-22.
específicas de ensino(16), baseados no reconhecimento dos esti- 12. Gómez L. Manual de estilos de aprendizaje. México DF: Secretaria
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de Currículum y Formación del Profesorado). 2005;9(2):1-24.
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Dentro das limitações do presente estudo deve ser menci- oftalmologia na graduação médica: Estudo comparativo de
aprendizado na oftalmoscopia direta com oftalmoscópio convencional
onado que se desconhece o estilo de aprendizagem que os estu- e de campo amplo (Panoptic). Rev Bras Oftalmol. 2009;68(4):231-6.
dantes tinham no seu ingresso na escola de medicina, e, além 16. OCDE. Banco Mundial. La educación superior en Chile: Revisión de
disso, se este estilo mudou no decorrer dos quatro primeiros anos. políticas nacionales de educación. Santiago de Chile: MINEDUC; 2009.
Da mesma forma, ao longo do tempo não foi feito um acompa- 17. Lopes Filho JB, Leite RA, Leite DA, Castro AR, Andrade LS.Avaliação
dos conhecimentos oftalmológicos básicos em estudantes de Medicina
nhamento do grupo de estudantes participantes deste estudo de
da Universidade Federal do Piauí. Rev Bras Oftalmol. 2011;70(1):27-31.
maneira que fosse possível detectar eventuais efeitos em seu
rendimento proveniente do conhecimento que cada um deles teve
do seu estilo de aprendizagem. Autor correspondente:
Outra limitação foi não contar com estudos prévios neste Dr. Mario Pellón Oftalmólogo Mcs Profesor Asociado
grupo de estudantes que permitissem comparar o possível efeito Facultad de Medicina Universidad de la Frontera, Casilla 54-D
de outros métodos de ensino-aprendizagem que tenham sido apli- Temuco - Chile - Teléfono: 56-45-325570 - Fax: 56-45-325600
cados nos mesmos. E-mail: mpellon@ufro.cl

Rev Bras Oftalmol. 2013; 72 (3): 181-4


RELATO DE CASO185

Predominantly hemorrhagic choroidal


neovascular lesion from exsudative age-related
macular degeneration treated with intravitreal
ranibizumab therapy
Lesão neovascular predominantemente hemorrágica
da degeneração macular relacionada à idade,
tratada com ranibizumab intravítrea

Miguel Hage Amaro1; Aaron Brock Holler2

ABSTRACT

The authors relate a predominantly hemorrhagic choroidal neovascular lesion from neovascular. Age-related macular degeneration
patient case treated with intravitreal ranibizumab therapy. Monthly ranibizumab (six intravitreal injections) displayed a promising
response but this limited report is insufficient to guarantee the indication for all predominantly hemorrhagic choroidal neovascular
lesion from neovascular age-related macular degeneration. Further studies will be necessary for complete validation of our results for
all predominantly hemorrhagic choroidal neovascular lesions from CNV due to AMD.
Keywords: Macular degeneration/drug therapy; Choroidal neovascularization/drug therapy; Angiogenesis inhibitors/therapeutic
use; Antibodies monoclonal; Case reports

RESUMO

Os autores apresentam um caso de paciente com lesão neovascular predominantemente hemorrágica com degeneração macular
relacionada à idade, tratada mensalmente com injenções intravítrea com ranibizumab. Discutem sua evolução, que apesar da boa
resposta terapêutica, necessita de maiores estudos para confirmação de seus resultados.
Descritores: Degeneração macular /quimioterapia; Neovascularização coroidal/quimioterapia; Inibidores da angiogênese/uso
terapêutico; Anticorpos monoclonais/uso terapêutico; Relato de casos

1
Private Practice. Belém (PA) Brazil;
2
Retina Service, University of Iowa, USA.

Study carried out at Retina Service,University of Iowa,USA

The authors declare no conflicts of interest


Recebido para publicação em: 22/7/2011 - Aceito para publicação em: 10/6/2012

Rev Bras Oftalmol. 2013; 72 (3): 185-7


186 Amaro MH, Holler AB

INTRODUCTION as compared to no-treatment or intravitreal anti-vascular


endothelial growth factors and drugs including ranibizumab or

P
redominantly hemorrhagic choroidal neovascular lesions bevacizumab, have been demonstrated (4-16).
are defined as present when at least 50% of the choroidal The aim of this report was to assess the results of a predominantly
neovascular lesion is occupied by blood under the retina hemorrhagic choroidal neovascular lesion from a exsudative AMD
(1,2)
. Predominantly hemorrhagic choroidal neovascular lesions patient treated with intravitreal ranibizumab therapy.
are caused by choroidal neovascularization (CNV) from age-
related macular degeneration (AMD) and display a poor CASE REPORT
prognosis.1-4 At three years of follow-up, the visual outcomes in
such cases are reported to be 20/1700 and patients have lost an A caucasian 78-year old woman who was followed due
average of 3.5 lines of Snellen visual acuity (VA) (3,4). The atrophic geographic AMD (figure 1), right eye color image in both
hemorrhage thickness impacts more highly on the final visual eyes using AREDS formulation displayed a subtle visual loss in
acuity than the hemorrhage area, although both display her right eye. Through ophthalmological evaluation, the visual
significant visual effects (3). One mechanism of damage is from acuity was counting fingers in the right eye and 20/200 in the left
a subretinal blood barrier effect that prevents photoreceptors eye. The anterior segment was unremarkable in both eyes.
from receiving metabolic support from the retinal pigment Fundoscopic examination (figure 2) displayed a predominantly
epithelium and choroids.3,5 The natural course of hemorrhages hemorrhagic choroidal neovascular lesion overlying an inferior
improve in those not affected by AMD, even in thick region of the extense area of a pre-existing geographic AMD.
hemorrhages, although some experimental models have shown Fluorescein angiography (figure 3 and 4) showed a blockage of
irreversible photoreceptor damage (5). fluorescein due to extensive subretinal hemorrhage (predominantly
The visual prognosis improves when the hemorrhage is hemorrhagic choroidal neovascular lesions) and dye staining in
subretinal, as compared to below the retinal pigment epithelium the residual atrophic area. The stratus OCT presented a central
(RPE), in that when patients with subretinal neovascularization subfield thickness of 649 microns. The patient was treated with
from AMD bleed, the blood spreads beneath the RPE and monthly intravitreal ranibizumab (0.5 mg/0.05ml), receiving six
penetrates the subretinal space (6,7). In other conditions, such as injections for a total of six months. During this time, Argon green
trauma or the presumed ocular histoplasmosis syndrome, the laser photocoagulation around the site of choroidal
hemorrhage is present almost exclusively in the subretinal space.6,7 neovascularization was performed. At the end of the treatment
No randomized clinical trials have provided an effective period, the subretinal hemorrhage reabsorbed and subretinal
treatment for predominantly hemorrhagic lesions. Submacular fibrosis developed (figure 5). The visual acuity improved to 20/
surgical trials (SST) found that evacuation of the hemorrhage 200 in the eye, with no recurrences in the two years of follow-up.
and associated CNV did not improve or stabilize vision (2) . The
pneumatic displacement of the hemorrhage to avoid possible DISCUSSION
photoreceptor toxicity and allow visualization of the underlying
CNV with subsequent photodynamic therapy treatment or intra- Predominantly hemorrhagic choroidal neovascular lesions
vitreal agents has also been suggested as a treatment approach. due to AMD have not been enrolled in clinical studies. 17-20
However, no definitive evidence of the precise risks and benefits, However, randomized trials using photodynamic therapy with

Figure 1: Geographic atrophy from AMD Figure 2: Color picture showing subretinal Figure 3: Fluorescein angiography showing
hemorrhage blockage of dye due subretinal hemorrhage

Figure 4: Late
phase of
fluorescein Figure 5:
angiography Color picture
showing showing
blockage of reabsortion of
subretinal hemorrhage
hemorrhage and and residual
staining in areas subretinal
of geographic fibrosis
atrophy

Rev Bras Oftalmol. 2013; 72 (3): 185-7


Predominantly hemorrhagic choroidal neovascular lesion from exsudative age-related macular degeneration treated with intravitreal ... 187

verteporfin, intravitreal pegaptanib or intravitreal ranibizumab 7. Gass JD. Choroidal neovascular membranes--their visualization and
specifically excluded this type of lesion.17-20 Data from MARINA treatment. Trans Am Acad Ophthalmol Otolaryngol.
and ANCHOR trials for predominantly hemorrhagic lesions must 1973;77(3):OP310-20.
be performed with caution as it is unclear whether the efficacy 8. Chen CY, Hooper C, Chiu D, Chamberlain M, Karia N, Heriot WJ.
Management of submacular hemorrhage with intravitreal injection
of ranibizumab for predominantly hemorrhagic lesions is of tissue plasminogen activator and expansile gas. Retina.
modulated by the presence of large areas of subretinal blood.19,20 2007;27(3):321-8.
Current research has not indicated whether these drugs can 9. Hassan AS, Johnson MW, Schneiderman TE, Regillo CD, Tornambe
penetrate the target site of the CNV. Although clinical trials have PE, Poliner LS, et al. Management of submacular hemorrhage with
provided no effective treatments for predominantly hemorrhagic intravitreous tissue plasminogen activator injection and pneumatic
lesions, submacular surgery trials (SST) found that surgery for displacement. Ophthalmology. 1999;106(10):1900-6; discussion 1906-
hemorrhages and associated CNV did not improve or stabilize 7. Comment in Ophthalmology. 2000;107(12):2118-9. Ophthalmology.
vision.2 A report of a case series reported that the visual acuity of 2000;107(12):2119-20.
10. Hattenbach LO, Klais C, Koch FH, Gümbel HO. Intravitreous injec-
the subjects treated may have been limited through pre-existing tion of tissue plasminogen activator and gas in the treatment of
retinal damage and subretinal fibrosis due to CNV or the submacular hemorrhage under various conditions. Ophthalmology.
subsequent loss of retinal tissue from the hemorrhage or from the 2001;108(8):1485-92. Comment in Ophthalmology. 2002;109(5):824;
ensuing fibrotic destruction of retinal tissue.15 author reply 825.
Intravitreal bevacizumab and ranibizumab therapy for 11. Hattenbach LO, Brieden M, Koch F, Gümbel H. [Intravitreal injection
predominantly hemorrhagic CNV has been reported.(15,16) A case of rt-PA and gas in the management of minor submacular hemor-
series of bevacizumab in 21 eyes of 19 patients found an rhages secondary to age-related macular degeneration].Klin Monatsbl
improvement in the Snellen VA based on at least a single letter Augenheilkd. 2002;219(7):512-8. German.
12. Handwerger BA, Blodi BA, Chandra SR, Olsen TW, Stevens TS. Treat-
improvement in 48% of the treated eyes, no letter changes in ment of submacular hemorrhage with low-dose intravitreal tissue plas-
9%, and a single letter or greater decrease in the Snellen VA in minogen activator injection and pneumatic displacement. Arch
43% of subjects, 4 months following the first injection(17). The Ophthalmol. 2001;119(1):28-32. Comment in Arch Ophthalmol.
median VA did not change from baseline to 4 months and 2002;120(1):102-3; author reply 203.
remained at 20/100. When 12 of these eyes were followed for 1 13. Hesse L, Schmidt J, Kroll P. Management of acute submacular hemor-
year, only 25% maintained an improvement in vision, 17% rhage using recombinant tissue plasminogen activator and gas. Graefes
displayed no changes and 58% lost at least a single letter of Arch Clin Exp Ophthalmol. 1999;237(4):273-7.
vision. In the ranibizumab series at 12 months, the median visual 14. Schulze SD, Hesse L. Tissue plasminogen activator plus gas injection
in patients with subretinal hemorrhage caused by age-related macu-
acuity letter score was 30 (Snellen equivalent: 20/250), with a lar degeneration: predictive variables for visual outcome. Graefes
median change from baseline to last follow-up of +7 letters.16 Arch Clin Exp Ophthalmol. 2002;240(9):717-20.
Three of 7 subjects (43%) gained 2 or more lines of vision, whilst 15. Stifter E, Michels S, Prager F, Georgopoulos M, Polak K, Hirn C, Schmidt-
no subjects lost 2 or more lines. Three months of treatment with Erfurth U. Intravitreal bevacizumab therapy for neovascular age-re-
Sulfur hexafluoride gas, an intravitreal tissue plasminogen lated macular degeneration with large submacular hemorrhage. Am
activator, and bevacizumab injection in 19 patients with relatively J Ophthalmol. 2007;144(6):886-92.
small hemorrhagic lesions, improved the mean VA from 20/133 16. Chang MA, Do DV, Bressler SB, Cassard SD, Gower EW, Bressler NM.
to 20/74 (21). However, this study included only small sized Prospective one-year study of ranibizumab for predominantly hemor-
rhagic choroidal neovascular lesions in age-related macular degen-
hemorrhages and no extended follow up was performed. eration. Retina. 2010;30(8):1171-6. Comment in Retina.
In the present case, monthly ranibizumab (six intravitreal 2011;31(9):1749-52.
injections) displayed a promising response but this limited report is 17. Blinder KJ, Bradley S, Bressler NM, Bressler SB, Donati G, Hao Y, Ma
insufficient to guarantee the indication for all predominantly C, Menchini U, Miller J, Potter MJ, Pournaras C, Reaves A, Rosenfeld
hemorrhagic choroidal neovascular lesions from CNV due to AMD. PJ, Strong HA, Stur M, Su XY, Virgili G; Treatment of Age-related
Further studies will be necessary for complete validation of our results. Macular Degeneration with Photodynamic Therapy study group;
Verteporfin in Photodynamic Therapy study group. Effect of lesion
Acknowledgement size, visual acuity, and lesion composition on visual acuity change
with and without verteporfin therapy for choroidal neovascularization
To professor James Folk, MD, chief of the Vitreoretina secondary to age-related macular degeneration: TAP and VIP report
service of Iowa University no. 1. Am J Ophthalmol. 2003;136(3):407-18.
18. Gragoudas ES, Adamis AP, Cunningham ET Jr, Feinsod M, Guyer DR;
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Rev Bras Oftalmol. 2013; 72 (3): 185-7


188 RELATO DE CASO

Alterações eletrofisiológicas
na doença de Oguchi
Electrophysiological findings in Oguchi disease

Regina Halfeld Furtado de Mendonça1, Stefania Abbruzzese2, Rocco Plateroti3, Pasquale Plateroti4, Eliana Lucia Ferreira5

RESUMO

Descrever as alterações eletrofuncionais em um caso raríssimo da Doença de Oguchi. Paciente do sexo feminino, italiana de 17 anos
de idade se queixava de cegueira noturna. A resposta escotópica de bastonetes, do ERG era não registrável. A resposta escotópica
ao estímulo branco forte demonstrava uma diminuição de amplitude da onda B. As respostas ao flicker de 30Hz e ao EOG eram
dentro dos limites da normalidade. Era presente o fenômeno de Mizuo-Nakamura. Os exames eletrofuncionais são muito importan-
tes no diagnóstico de certeza da doença de Oguchi. É nítida, no presente caso, a discordância entre EOG e ERG. Considerando a
função dos bastonetes, as respostas normais do EOG contrastam com a ausência de respostas dos bastonetes em condições
escotópicas no ERG. Mais estudos são necessários para entender o complexo mecanismo eletrofuncional dessa doença e melhor
definir a origem dos componentes sensíveis à luz do EOG.
Descritores: Cegueira noturna; Doença de Oguchi; Eletrorretinografia; Eletro-oculografia; Fenômeno de Mizuo-Nakamura;
Relatos de casos

ABSTRACT

To describe the electrophysiological alterations in a very rare case of Oguchi's disease. A 17-year-old italian girl complaining of night
blindness underwent complete ophthalmological exams, including electrophysiological tests. Rod responses were nondetectable in full-
field electroretinogram (ERG). The photopic ERG funtions, including the 30 Hz flicker ERG response was normal, while the scotopic
b-wave was diminished in amplitude. The electrooculography (EOG) ratios within the normal range were 208% in the right eye and
222% in the left eye. The Mizuo-Nakamura phenomenon was present. The electrophysiological tests are important tools in Oguchi's
disease diagnosis. In the present case, it's clear the non correspondance between EOG and ERG. Considering the rod function, the
normal EOG ratio contrast with non-detectable rod ERG responses. More studies are necessary to understand the compless electrofuntional
mecanism of the disease helping to understand the origin of the light-sensitive component of the EOG.
Keywords: Night blindness; Oguchi's disease; Electroretinography; Electrooculography; Mizuo-Nakamura phenomenon; Case
reports

1
Doutor, professor da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) - Juiz de Fora (MG), Brasil; Professor convidado da Universidade La
Sapienza, Roma - Itália;
2
Especialista pela Universidade La Sapienza, Roma - Itália;
3
Professor da Universidade La Sapienza, Roma - Itália;
4
Aluno da graduação da Universidade La Sapienza, Roma - Itália;
5
Doutor, professor titular da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) - Juiz de Fora (MG), Brasil.

Trabalho realizado na Universidade La Sapienza - Roma - Itália; Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) - Juiz de Fora (MG), Brasil.

Os autores declaram não haver conflitos de interesse


Recebido para publicação em: 7/8/2011 - Aceito para publicação em: 24/10/2012

Rev Bras Oftalmol. 2013; 72 (3): 188-90


Alterações eletrofisiológicas na doença de Oguchi 189

INTRODUÇÃO O potencial oscilatório era alterato (figura 2C). As respostas


fotópicas (figura 2D) e ao flicker de 30Hz (figura 2E) eram den-
tro dos limites da normalidade. A resposta do eletro-oculograma

E
xistem três formas de cegueira noturna estacionária (CNE): (EOG) era de 208%, no olho direito, e de 222%, no olho esquer-
cegueira noturna congênita estacionária(CNCE), fundus do (Figura 2F). Era presente o fenômeno de Mizuo-Nakamura.
albipunctatus e doença de Oguchi.
A doença de Oguchi é uma forma rara, congênita,
autossômica recessiva de CNE, caracterizada por uma peculiar
descoloração acinzentada ou verde-amarelada do fundo do olho
1, que reverte à normalidade após uma prolongada adaptação
ao escuro (fenômeno de Mizuo-Nakamura)(2).
Pacientes com doença de Oguchi podem ser classificados
em dois tipos, dependendo da morfologia da curva de adaptação
ao escuro1. No tipo I, a adaptação dos bastonetes é
marcadamente lenta. Nesse caso, a função se recupera totalmente
após horas de adaptação ao escuro e os traçados são normais ou
discretamente alterados. No tipo II, a adaptação de bastonetes
não é evidenciada, a alteração da retina é menos evidente e o
fenômeno de Mizuo pode ser ausente.
As alterações eletrofuncionais são muito importantes no
diagnóstico de certeza na doença de Oguchi. Os exames de
eletrorretinograma e eletro-oculograma ajudam a entender o
complexo mecanismo dessa doença.
O objetivo deste trabalho é descrever as alterações
eletrofuncionais em um caso raríssimo da doença de Oguchi.

RELATO DE CASO

Paciente do sexo feminino, branca, italiana de 17 anos de


idade se queixava de cegueira noturna. Negava doenças sistêmicas
ou outros antecedentes pessoais. A paciente foi submetida a exa-
me oftalmológico completo, incluindo exames eletrofuncionais na
Universidade la Sapienza em Roma no ano de 2007. O
eletrorretinograma de campo total foi realizado com o aparelho
da Metrovision (MONPAK3 Moniteur Ophtalmologique -
Electrophysiologie visuelle). Os estímulos utilizados foram os pa-
dronizados pela ISCEV: resposta de bastonetes (luz branca fraca
em condições escotópicas), resposta máxima (luz branca forte em
condições escotópicas), potencial oscilatório, resposta de cones (luz
branca forte em condições fotópicas), e flicker de 30 Hz. O eletro-
oculograma, de oscilação lenta, foi realizado com o aparelho da
Biomedica Mangoni BM6000-MAXI. O paciente foi pré-adapta-
do por um período de 15 minutos.
A acuidade visual era de 20/20 nos dois olhos. Os exames
de biomicroscopia e tonometria eram normais. No exame
fundoscópico, evidenciava-se o aspecto amarelo metálico, com
vasos de coloração acentuada (figura 1).
No ERG, a resposta de bastonetes (luz branca fraca em Figura 2 : A) A resposta de bastonetes (luz branca fraca em condi-
condições escotópicas), não era registrável(figura 2A). A res- ções escotópicas), não era registrável;
posta máxima (luz branca forte em condições escotópicas) de- B) A resposta máxima (luz branca forte em condições escotópicas)
monstrava uma diminuição de amplitude da onda b (Figura 2B). demonstrava uma diminuição de amplitude da onda B; C) Resposta
do potencial oscilatório;
D e E) A resposta fotópica e ao flicker de 30Hz era dentro dos limi-
tes da normalidade; F) EOG dentro dos limites da normalidade em
ambos os olhos

COMENTÁRIOS
A doença de Oguchi é uma forma de CNE muito rara. No
Figura 1: A retinografia documenta o aspecto amarelo metálico com Brasil, poucos casos foram descritos(2). Talvez a mais relevante
vasos de coloração acentuada, típica da doença de Oguchi. característica da resposta elétrica na Doença de Oguchi seja a

Rev Bras Oftalmol. 2013; 72 (3): 188-90


190 Mendonça RHF, Abbruzzese S, Plateroti R, Plateroti P, Ferreira EL

falta de correspondência entre a sensibilidade visual e a ampli- REFERÊNCIAS


tude da onda B, apesar dos traçados escotópicos se normaliza-
rem geralmente após 4 horas de adaptação ao escuro; a onda b
permanece muito reduzida(4). 1. Krill AE. Congenital stationary night-blindness. In: Krill AE. Krill's
No exame fundoscópico, evidenciava-se o aspecto amare- hereditary retinal and choroidal disease. Maryland, USA: Harper &
lo metálico, típico da doença de Oguchi (5,6). O fenômeno de Row; 1977. v. 2. p. 391-420.
Mizuo-Nakamura era presente (2,5,6) e a adaptação dos bastonetes 2. Mizuo G. On new discovery in dark adaptation in Oguchi's disease.
era marcadamente lenta, tratando-se, provavelmente, de uma Acta Soc Ophthalmol Jpn. 1913;17:1148-50.
doença de Oguchi tipo I. É importante ressaltar que os fenôme- 3. Goulart DG, Myai C, Atique D, Takahashi WY, Aihara T. Doença de
nos de Mizuo-Nakamura, verificados no fundo do olho, e a curva Oguchi: relato de caso e revisão bibliográfica. Arq Bras Oftalmol.
de adaptação ao escuro podem não se correlacionar (4). 2002;65(6):669-73
No ERG, a resposta de bastonetes (luz branca fraca em 4. Carr RE, Ripps H. Rhodopsin kinetics and rod adaptation in Oguchi's
condições escotópicas), era não registrável e a resposta máxima disease. Invest Ophthalmol Vis Sci. 1967;6(4):426-36.
(luz branca forte em condições escotópicas) demonstrava uma 5. Yamamoto S, Hayashi M, Takeuchi S, Shirao Y, Kita K, Kawasaki K.
Normal S cone electroretinogram b-wave in Oguchi's disease. Br J
diminuição de amplitude da onda B, concordando com a literatu-
Ophthalmol. 1997;81(12):1043-5. Comment in Br J Ophthalmol.
ra segundo a qual, em condições escotópicas, a amplitude da onda
1997;81(12):1027.
a é normal e da onda B é marcadamente diminuída ou ausente
6. Yoshii M, Murakami A, Akeo K, Nakamura A, Shimoyama M, Ikeda Y,
(7)
. As respostas dentro dos limites da normalidade ao flicker de et al. Visual function and gene analysis in a family with Oguchi's
30 Hz confirmam a perfeita função dos cones, fato comum na disease. Ophthalmic Res. 1998;30(6):394-401.
doença de Oguchi (4). 7. Carr RE, Gouras P. Oguchi's disease. Arch Ophthalmol. 1965;73:646-56.
O EOG dentro dos limites da normalidade concorda com al- 8. Miyake Y, Horiguchi M, Suzuki S, Kondo M, Tanikawa A. Electro-
guns casos já relatados (4) e discorda de outros (8). Exames histológicos physiological findings in patients with Oguchi's disease. Jpn J
demonstram que os bastonetes estão presentes e que existe uma Ophthalmol. 1996;40(4):511-9.
adaptação secundária, demonstrando que, em certas circunstânci- 9. François J, Verriest G, De Rouck A. La maladie d'Oguchi.
as, esses bastonetes podem funcionar. Acredita-se também que os Ophthalmologica. 1956;131(1):1-40.
bastonetes possam ter dificuldades de converter a energia lumino-
sa em nervosa por causa da menor concentração ou ausência de
pigmentos fotossensíveis(9). De qualquer modo, a resposta normal
do EOG confirma a hipótese de que a fase sensível à luz do EOG
pode não depender somente da função dos bastonetes. Autor correspondente:
Os exames eletrofuncionais são muito importantes no di- Regina Halfeld Furtado de Mendonça
agnóstico de certeza da doença de Oguchi. É nítida, no presente Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), Faculdade de
caso, a discordância entre EOG e ERG. Considerando a função Educação Física e Desportos, Grupo de Pesquisa em Inclusão,
dos bastonetes, as respostas normais do EOG contrastam com a Movimento e Ensino à Distância - Campus Universitário s/nº
ausência de respostas dos bastonetes em condições escotópicas Bairro - Martelos
no ERG. Mais estudos são necessários para se entender o com- CEP 36036-900 - Juiz de Fora (MG), Brasil
plexo mecanismo eletrofuncional dessa doença e melhor definir Fone: 55 (32) 2102-3283
a origem dos componentes sensíveis à luz do EOG. E-mail: regina.halfeld@uab.ufjf.br

Rev Bras Oftalmol. 2013; 72 (3): 188-90


RELATO DE CASO191

Tratamento de cistos conjuntivais em cavidade


anoftálmica com injeção intralesional de ácido
tricloroacético (ATA) a 25%
Treatment of conjunctival cysts in anophthalmic socket with
intralesional injection of trichloroacetic acid (ATA) 25%

Fabricio Lopes da Fonseca1, Renata de Iracema Pulcheri Ramos2 , Suzana Matayoshi3

RESUMO

Cistos conjuntivais em cavidades anoftálmicas podem ter implicações funcionais e estéticas negativas para os pacientes. Dentre as
opções terapêuticas disponíveis, o uso do ácido tricloroacético é relativamente recente. Os casos relatados apresentaram boa
evolução após 30 dias do tratamento, sendo bem tolerado pelos pacientes e possibilitando maior preservação de tecido conjuntival.
Descritores: Doenças da túnica conjuntiva/quimioterapia; Órbita; Ácido tricloroacético/uso terapêutico; Ácido tricloroacético/
administração & dosagem; Prótese ocular; Relatos de casos

ABSTRACT

Conjunctival cysts in anophthalmic socket may have functional and aesthetic implications for the patients. Among the available treatment
options, the use of trichloroacetic acid is relatively recent. Our reported cases showed a good outcome after 30 days of treatment, that was
well tolerated by patients, with greater conjunctival tissue preservation.
Keywords: Conjunctival diseases/drug therapy; Orbit; Trichloroacetic acid/therapeutic use; Trichloroacetic acid/administration &
dosage; Eye, artificial; Case reports

1
Médico Oftalmologista; Fellow do Setor de Plástica Ocular, divisão de Clínica Oftalmológica, Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina,
Universidade de São Paulo (USP) - São Paulo (SP), Brasil;
2
Médica Oftalmologista, preceptora da Divisão de Clínica Oftalmológica, Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina, Universidade de São
Paulo (USP) - São Paulo (SP), Brasil;
3
Livre-docente, professora associada e Chefe do Setor de Plástica Ocular, divisão de Clínica Oftalmológica, Hospital das Clínicas da Faculdade
de Medicina, Universidade de São Paulo (USP) - São Paulo (SP), Brasil.
Setor de Plástica Ocular - Divisão de Clínica Oftalmológica - Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo
(USP) - São Paulo (SP), Brasil.

Os autores declaram não haver conflitos de interesse


Recebido para publicação em: 14/10/2011 - Aceito para publicação em: 21/12/2011

Rev Bras Oftalmol. 2013; 72 (3): 191-3


192 Fonseca FL, Ramos RIP, Matayoshi S

INTRODUÇÃO

C
isto cojuntivais são complicações que ocorrem em cavi-
dades anoftálmicas, podendo acarretar descon-

forto local e dificuldade na aposição da prótese ocular na super-


fície anterior da cavidade.
As opções terapêuticas incluem excisão, marsupialização Figura 1: Aspecto antes (esquerda) e depois (direita) da injeção de
e alcoolização (1,2). O uso de ácido tricloroacético (ATA) é rela- ATA 25%
tivamente novo nessa situação (3,4).
Relatamos o uso de ATA 25% em três casos de cistos
conjuntivais.

MÉTODOS

Os pacientes foram posicionados em decúbito dorsal hori-


zontal. Instilou-se uma gota de colírio de proximetacaína a 0,5%
5 minutos e imediatamente antes do procedimento. Após anti-
sepsia, assepsia e colocação de blefarostato, o cisto foi puncionado
com agulha 31 x 4 mm conectada a seringa de 3ml, contendo 1
ml de solução aquosa de ATA 25%. O conteúdo aspirado foi
então reinjetado, até o cisto adquirir aparência esbranquiçada.
O conteúdo foi então novamente aspirado até o colabamento
das paredes do cisto.
Os pacientes utilizaram colírios de ofloxacino 0,3% e
prednisolona 1%, uma gota a cada 6 horas, por 7 dias. Foram
reavaliados após 1 semana e também após 1 mês do procedimento.
Figura 2: Em sentido horário, da figura superior à esquerda: aspecto
antes, imediatamente após, no 7o dia e no 30o dia após a injeção de
RELATO DE CASOS ATA 25%

Caso 1: Paciente de 54 anos de idade, sexo masculino, sub-


metido à evisceração de olho esquerdo após perfuração ocular há
2 anos. Encaminhado ao Setor de Plástica Ocular do HCFMUSP
com queixa de lesão conjuntival à esquerda de aumento gradual
há 3 meses e dificuldade de uso da prótese ocular.
O paciente foi submetido à injeção de 1ml de ATA 25%
intralesional (Figura 1), porém não retornou para seguimento
ambulatorial.
Caso 2: Paciente de 56 anos de idade, sexo feminino, sub-
metida a 2 transplantes de córnea tectônicos em olho esquerdo,
sendo o último há 1 ano. Evoluiu com phitisis bulbi. Encaminha-
da ao Setor de Plástica Ocular do HCFMUSP com queixa de
lesão conjuntival de aumento gradual há 6 meses. Relatava des-
conforto local ao piscar.
A paciente foi submetida à injecão de 1ml de ATA 25%
intralesional. Em seguimento atual de 1 mês pós procedimento,
apresenta-se sem queixas (figura 2) .
Caso 3: Paciente de 78 anos de idade, sexo feminino, sub- Figura 3: Em sentido horário, da figura superior à esquerda: aspecto
metida à evisceração de olho esquerdo há 3 anos por endoftalmite antes, imediatamente após, no 7o dia e no 30o dia após a injeção de
ATA 25%
pós-operatória. Encaminhada ao Setor de Plástica Ocular do
HCFMUSP com queixa de lesão conjuntival de aumento gradu-
al há 9 meses e desconforto ao uso da prótese ocular.
A paciente foi submetida à injecão de 1ml de ATA 25% Não houve complicações no período de estudo, com regenera-
intralesional. Em seguimento atual de 1 mês pós-procedimento, ção conjuntival adequada e ausência de recidiva nas 2 pacientes
apresenta-se sem queixas (figura 3) . que retornaram para seguimento.
O tratamento dos cistos conjuntivais em cavidades
anoftálmicas se faz necessário quanto dificulta o uso da prótese
DISCUSSÃO ocular, causa desconforto ou acarreta implicações cosméticas
negativas para o paciente.
O procedimento foi bem tolerado por todos os pacientes, Dentre as opções terapêuticas descritas, as mais consagra-
que relataram leve desconforto durante a aplicação do ATA 25%. das são excisão e marsupialização(1). Entretanto, é necessário

Rev Bras Oftalmol. 2013; 72 (3): 191-3


Tratamento de cistos conjuntivais em cavidade anoftálmica com injeção intralesional de ácido tricloroacético (ATA) a 25% 193

novo procedimento cirúrgico e a ressecção completa do cisto REFERÊNCIAS


pode ser difícil, o que aumenta o risco de recidivas.
Hornblass et al. (2) descreveram uma série de 4 casos
tratados com injeção intralesional de álcool absoluto. Houve 1. McCarthy RW, Beyer CK, Dallow RL, Burke JF, Lessell S. Conjuncti-
resolução em 2 casos, porém o tempo de seguimento não foi val cysts of the orbit following enucleation. Ophthalmology.
informado. 1981;88(1):30-5.
O uso de ATA é descrito por Owji et al.,(3) em série de 2. Hornblass A, Bosniak S. Orbital cysts following enucleation: the use of
casos de 4 pacientes com cistos conjuntivais anteriores gigan- absolute alcohol. Ophthalmic Surg. 1981;12(2):123-6.
tes em cavidades anoftálmicas. Foi realizada injeção 3. Owji N, Aslani A. Conjunctival cysts of the orbit after enucleation: the
intralesional de ATA 20% em todos os pacientes. O tempo use of trichloroacetic acid. Ophthal Plast Reconstr Surg.
médio de seguimento foi de 16 meses (variando de 8 a 33 me- 2005;21(4):264-6.
ses). Nesse período nenhum paciente apresentou recidiva . 4. Sánchez EM, Formento NA, Pérez-López M, Jiménez AA. Role of
trichloroacetic acid in treating posterior conjunctival cyst in an
Sánchez et al.(4) utilizaram solução de ATA para tratamen-
anopthalmic socket. Orbit. 2009;28(2-3):101-3.
to de cisto conjuntival posterior em cavidade anoftálmica, obser-
vando resolução da lesão e ausência de recidiva em seguimento
de 10 meses. Autor correspondente:
O uso de ATA 25% nos casos estudados se mostrou sim- Fabricio Lopes da Fonseca
ples, seguro e eficaz no período de seguimento. Novos estudos Rua Xavier de Almeida, nº 1135 apto. 121 - Ipiranga
são necessários para avaliação da eficácia a longo prazo, em CEP 04211001 - São Paulo (SP), Brasil
maior número de pacientes. E-mail: fabricio89@gmail.com

Rev Bras Oftalmol. 2013; 72 (3): 191-3


R
194 ELATO DE CASO

Correção de estrabismo em paciente com


síndrome de Saethre-Chotzen
Strabismus surgery in a patient with Saethre-Chotzen syndrome

Thiago Gonçalves dos Santos Martins1, Veridiana Valence Melo Meuleman2, Fábio Richieri Hanania2, Mariza Polati2

RESUMO

A síndrome de Saethre-Chotzen é uma doença rara, que pode causar alterações craniofaciais e estrabismo. A incidência é de 1 para
50.000 nascidos vivos. A inteligência costuma ser normal, mas alguns casos podem ter retardo mental. Crianças com essa síndrome
devem ser acompanhadas por uma equipe multidisciplinar. A correção do estrabismo nesses pacientes pode ser mais difícil, devido
à ocorrência frequente de inserções anômalas dos músculos extraoculares. Recomendam-se técnicas de imagem para avaliar even-
tuais alterações das inserções e trajeto dos músculos extraoculares.
Descritores: Estrabismo/diagnóstico; Síndrome de Saethre-Chotzen; Relato de casos

ABSTRACT

Saethre-Chotzen syndrome is a very rare congenital syndrome characterized by craniosynostosis. The incidence of it is around 1: 50,000
live births. Intelligence is usually normal, but a few affected individuals may have mild to moderate mental retardation. Children with
Saethre-Chotzen syndrome should be evaluated by members of an experienced interdisciplinary team as treatment usually involves
many different specialities. The strabismus surgery in these patients is difficult, because they usually have anomalous insertion and
misdirection of the extraocular muscles. Imaging techniques are recommended in order to investigate the anatomical aspects of the
extraocular muscles and their insertions.
Keywords: Strabismus/diagnosis; Saethre-Chotzen syndrome; Case reports

1
Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) - São Paulo (SP), Brasil;
2
Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) - São Paulo (SP), Brasil.

Trabalho realizado no Setor de Estrabismo do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) - São
Paulo (SP), Brasil.

Os autores declaram não haver conflitos de interesse


Recebido para publicação em: 14/11/2011 - Aceito para publicação em: 26/9/2012

Rev Bras Oftalmol. 2013; 72 (3): 194-6


Correção de estrabismo em paciente com síndrome de Saethre-Chotzen 195

INTRODUÇÃO Antecedentes
Nascimento de parto cesariano a termo, sem

A
síndrome de Saethre-Chotzen é uma cranios- sinostose intercorrências, com 3750 gramas. Apresentava desenvolvimen-
de herança autossômica dominante.Possui incidência de to neuropsico-motor adequado para idade.
1:50000 nascidos vivos (1). É anomalia decorrente da
fusão prematura das suturas cranianas. A plagiocefalia decorre Exame oftalmológico
do fechamento prematuro de apenas um lado da sutura coronal, Acuidade visual com correção 0,2 (+ 4,00 DE -1,00 DC X
levando a quadro de assimetria facial, com elevação da órbita e 90) no olho direito e 0,6 (+1,00 DE) no olho esquerdo. Exame
supercílio ipsilateral. A inteligência desses pacientes não costu- de biomicroscopia e fundoscopia normais.
ma ser afetada e o quadro pode estar associado com sindactilia e O primeiro exame da motilidade ocular extrínseca reali-
estrabismo. zado em 05/10/2001 revelou:
Fixação monocular central, estável em cada olho.
RELATO DE CASO Fixação Binocular = sem correção e com correção óptica
longe e perto, exotropia (XT) e hipotropia direita, desvio de olho
A paciente T.A.L feminina, 13 anos, estudante e proce- direito.
dente de Mauá-SP, foi encaminhada ao serviço de estrabismo do Exciclotropia direita 50 no teste de duplo Maddox
HCFMUSP referindo posição viciosa de cabeça desde o nasci- Teste de cobertura Alternado com prismas: com correção
mento. Era acompanhada desde os 8 anos de idade no setor de (figura 1A) e versões (figura 1B).
genética médica e neurocirurgia, onde foi realizado o diagnósti- Durante o exame observou-se que a paciente inclinava a ca-
co de Síndrome de Saethre-Chotzen. A cirurgia para a correção beça para o ombro direito e na avaliação das versões apresentava
da craniossinostose foi realizada em julho de 1998, após o diag- aparente anisotropia em "X" (desvio aumentava quando olhava para
nóstico de plagiocefalia. cima e para baixo), embora o fato não se confirmasse nas medidas

Figura 1B: Primeiro exame da motilidade ocular extrínseca


Os quadros superiores são das medidas fixando olho direito e os inferiores fixando em 05/10/2001
olho esquerdo. Para perto medidas feitas em frente e para baixo. Rotações binoculares:
Hiperfunção oblíquo inferior + 2 ambos os olhos
Figura 1A : Primeiro exame da motilidade ocular extrínseca (05/10/2001) Hiperfunção oblíquo superior + 3 ambos os olhos

Figura 2B: Exame da motilidade ocular extrínseca em 21/


Os quadros superiores são das medidas fixando olho direito e os quadros inferiores 08/2002
fixando olho esquerdo. Para perto medidas feitas em frente e para baixo. Rotações binoculares:
Hipofunção reto lateral direito -1
Hipofunção reto medial esquerdo -1
Figura 2A: Exame da motilidade ocular em 21/08/2002. Hiperfunção oblíquo superior +3 ambos os olhos

Rev Bras Oftalmol. 2013; 72 (3): 194-6


196 Martins TGS, Meuleman VVM, Hanania FR, Polati M

Figura 3B: Exame da motilidade ocular extrínseca em 12/


11/2008
Os quadros superiores indicam as medidas fixando olho direito e os inferiores fixando
olho esquerdo. Para perto medidas feitas em frente e para baixo. Não apresentava mais torcicolo.
Rotações binoculares:
Hipofunção obliquo inferior direito -1
Hiperfunção obliquo superior +3 ambos os olhos
Figura 3A: Exame da motilidade ocular realizado no dia 12/11/2008 Leve abaixamento dos dois olhos em adução

Programou-se a segunda cirurgia no olho esquerdo, realiza-


da dois anos após a cirurgia do olho direito. Na prova das duções
forçadas passivas não havia restrição do movimento ocular.
No per-operatório observou-se que o músculo reto lateral
se inseria a 8,0mm e o reto medial a 6,0mm do limbo (as inser-
ções não eram oblíquas), e a inserção do reto lateral era mais
inferior sendo que a sua extremidade superior correspondia ao
meridiano corneano das 3-9h.
Nessa cirurgia foram feitos o retrocesso do reto lateral de
6,0 mm e a ressecção do reto medial de 6,0 mm. O retrocesso do
reto lateral foi feito seguindo a orientação anômala da inserção.
Um ano e meio após a segunda cirurgia, o exame da
motilidade ocular extrínseca apresentava: fixação binocular = sem
correção e com correção óptica, para longe e perto, exotropia,
desvio do olho direito (XT OD); teste de cobertura alternada com
prismas: com correção óptica (figura 3A) e versões (figura 3B).
A paciente não tinha mais torcicolo, mas ainda mantinha
discreta hiperfunção dos músculos oblíquos.
A tomografia de controle realizada quatro anos após a
primeira cirurgia não mostrava alterações anatômicas dos mús-
culos extraoculares (Figura 4).

Figura 4 : Tomografia de controle realizada 4 anos após a primeira REFERÊNCIAS


cirurgia.
realizadas no teste de cobertura alternada com prismas. Realizou-se 1. Behrman RE,Jenson HB,Kliegman RM,editors.Nelson tratado de pediatria.
a primeira cirurgia no olho direito em 18/04/2002, pois este apresen- Tradução da 17a ed. Rio de Janeiro: Elsevier; 2005. p. 2113-4.
tava a pior acuidade visual. Não havia restrição de movimento dos 2. Somani S, Mackeen LD, Morad Y, Buncic JR, Armstrong DC, Phillips
dois olhos na prova das duções forçadas passivas. Realizaram-se o JH, et al. Assessment of extraocular muscles position and anatomy by
retrocesso do reto lateral de 6,0 mm e a ressecção do reto medial de 3-dimensional ultrasonography: a trial in craniosynostosis patients. J
6,0 mm, com deslocamento superior destes músculos meia inserção, AAPOS. 2003;7(1):54-9.
corrigindo-se a obliqüidade das inserções musculares. Observou-se 3. Kanski JJ. Clinical ophthalmology: a systematic approach. 7th ed.
Edinburgh: Elsevier; 2011. p. 736-80.
que o músculo reto lateral tinha trajeto oblíquo, de baixo para cima
até a sua inserção. Além disso, as inserções esclerais dos dois múscu-
los tinham orientação oblíqua, sendo a extremidade superior deles
1,0mm mais próxima do limbo que a inferior. Autor correspondente:
O exame de motilidade ocular extrínseca quatro meses Thiago Gonçalves dos Santos Martins
após a primeira cirurgia revelou: Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universida-
Teste de cobertura alternado com prismas: com correção de de São Paulo (USP) - Serviço de Oftalmologia
óptica (figura 2A) e versões (figura 2B) Av. Dr. Enéas de Carvalho Aguiar, prédio dos ambulatórios
A paciente mantinha a inclinação da cabeça sobre o ombro 6º andar, sala 8
direito e anisotropia em X, porém havia diminuído a hiperfunção CEP 05403-000 - São Paulo (SP)
dos músculos oblíquos. E-mail: thiagogsmartins@yahoo.com.br

Rev Bras Oftalmol. 2013; 72 (3): 194-6


RELATO DE CASO197

Adult foveomacular vitelliform dystrophy


Distrofia viteliforme foveomacular do adulto

Valdir Balarin 1, Rodrigo Pessoa Cavalcanti Lira1, Michel Berezowsky1, Andrea Mara Simões Torigoe1

ABSTRACT

Adult foveomacular vitelliform dystrophy is a rare pathology. Less than 1% of the reported cases display perifoveal capillary permeability.
The three-year follow-up period of the case revealed a rare form, which had not yet been documented. The patient was a 40-year-old
female with normal visual acuity, and a minor complaint of metamorphopsia on the left eye. Retinography showed a perifoveal yellowish
subretinal area OS. Angiography showed perifoveal leakage OS. Follow up showed that, over 3 years, capillary incompetence disappeared
and the yellow area underwent alterations, becoming atrophic OS. Angiography also showed hyperfluorescence (windows defect).
Towards the end, it resembled the appearance of late stage of Best's Disease.
Keywords: Macula; Macular degeneration; Macular edema; Telangiectasis; Case reports

RESUMO

Distrofia viteliforme foveomacular do adulto é uma patologia rara. Menos de 1% dos casos relatados mostram permeabilidade
capilar perifoveal. O acompanhamento de 3 anos deste paciente revelou uma forma rara, ainda pouco documentada. O paciente era
uma mulher de 40 anos de idade com acuidade visual normal, mas com queixa de metamorfopsia leve no olho esquerdo. A
retinografia mostrou uma área sub-retiniana amarelada, perifoveal, com hiperfluorescência na angiofluoresceinografia. O segui-
mento mostrou, em 3 anos, que a incompetência capilar desapareceu e que a área, antes amarelada, tornou-se atrófica, com
hiperfluorescência na angiografia, lembrando o aspecto tardio da doença de Best.
Keywords: Mácula; Degeneração macular; Edema macular; Telangiectasia; Relatos de casos

1
Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) - Campinas (SP), Brasil.

The authors declare no conflicts of interest


Recebido para publicação em: 21/12/2011 - Aceito para publicação em: 15/7/2012

Rev Bras Oftalmol. 2013; 72 (3): 197-9


198 Balarin V, Lira RPC, Berezowsky M, Torigoe AMS

INTRODUCTION

T
he differential diagnosis of macular pathologies in adults
includes a myriad of conditions, both acquired and inherited.
In general, age related macular degeneration is the prime
suspect in patients over 50 years of age, whereas hereditary
conditions are the most frequent in the first two decades of life(1).
Adult foveomacular vitelliform dystrophy (AFVD) was first
described by Gass in 1974(2). The onset typically occurs between
the ages of 30 and 50. Patients report mildly blurred vision or
metamorphosis.
Macular telangiectasia (MacTel) type 2 consists of a retinal
vascular anomaly exclusive of the capillaries of the juxtafoveolar
region, which may result in retinal edema and progressive vision loss(3).
The typical AFVD angiogram shows the yellow area as
hypofluorescent, surrounded by a hyperfluorescent ring(1,4). The
angiographic aspect of perifoveal capillary permeability is
described in only 0,83% of registered AFVD cases. Angiography
evolution in cases of the disease which initially manifest as the
three cases described by Dubovy has never been registered before,
as well as the follow up(5).
The diagnosis is confirmed by angiographic changes in a three
years follow up.

CASE REPORT
A 40-year-old female consulted an ophthalmologist in 2003
after realizing that she had a scotoma in the central field along
with minor complaint of metamorphosis in the left eye (OS).
Visual acuity without correction was 20/20 and J1,
photomotor pupillary reflexes were normal, as well as external
ocular motility, and biomicroscopy of the anterior segment, with
no signs of inflammation, transparent lens, vitreous without cells
or Tyndall. Goldman tonometry was 12 mm Hg and chromatic
vision, according to HRR-AO test, was also normal. Amsler test
showed mild pericentral metamorphosis in the OS.
Binocular indirect ophthalmoscopy and retinal
biomicroscopy showed, in the OS, a yellowish subretinal lesion in
the temporal and upper foveal region.
The complementary tests ordered were hemogram,
immunofluorescence for toxoplasmosis and lues, fasting glucose
- all with normal results. Full-field ERG was normal, as was EOG,
with an Arden index of 2 in the right eye (OD) and 2,1 on the
OS.
Retinography revealed a normal OD (figure 1A) and a
perifoveal subretinal yellowish area OS (figure 1B).
Angiography of the OD was normal, with only a small area
of alteration in the perifoveal capillary ramification (figure 1C). Figure 1: Adult foveomacular vitelliform dystrophy retinography, 2003
Fluorescent angiography of the OS showed a slightly (OD fig.1A and OS fig.1B); angiography (OD fig.1C and OS fig.1D/
hypofluorescent area in the region corresponding to the lesion 1F); retinography, 2004, OS (fig.1G); angiography, OS (fig.1H);
and permeability of juxtafoveolar capillaries, which became more retinography, 2006, OS (fig.1L); angiography, OS (fig 1J).
noticeable during the exam, creating a final scenario of diffuse
macular edema with no cystoids characteristics (figure 1D-F).
In 2004, exams were repeated. Retinography of the OS impregnated by the dye. There was also a hypofluorescent area,
showed signs of epithelium atrophy in the upper edge of the which was smaller than the one previously found (figure 1H).
yellow lesion, with a decrease in the vitelliform area (figure 1G). In 2006, exams were repeated. In the OS there was an
Angiography, of the same eye shows a significant decrease in increase in area of atrophy of the epithelium in the upper edge
the retinal capillary permeability, in the area of altered pigment of the yellow lesion, with a concurrent decrease in the vitelliform
epithelium, where an early transmitted hyperfluorescent point aspect figure 1L). Angiography showed, in early stages, growth
appears, in more advanced phases there is a moderate staining of the hyperfluorescent area transmitted on the upper edge of
of the surrounding area, which suggests that the scar tissue was the lesion, and disappearance of retinal capillary permeability.

Rev Bras Oftalmol. 2013; 72 (3): 197-9


Adult foveomacular vitelliform dystrophy 199

In later stages, the hypofluorescent area showed a decrease in resemble the pseudohypopyon phase of Best's disease appear
size, with liquid level; the upper area showed impregnation of the yellow area.
scarring tissue (figure 1J). Visual acuity of the OS in this occasion At present, new diagnostic methods enable a better
had decreased to 20/25. characterization of AFVD. Optical coherence tomography (OCT)
shows a hyper-reflective structure in the region of the vitelliform
lesion, located between the pigment epithelium and the
DISCUSSION photoreceptor layers. The pigment epithelium remains without
elevation, while the neurossensorial retina over the hyper-
Diagnosis of AFVD was based on normal visual acuity, reflective structure is elevated due to the presence of vitelliform
normal EOG and ERG, minor distortion of Amsler grid, the material, but with diminished thickness(7).
presence of a single subretinal perifoveal round yellowish lesion, In the future, similar cases that may present will benefit
in the OS, and also on the bibliographic research which confirmed from these new diagnostic and characterization methods.
the similarity with uncommon angiographic aspect of perifoveal
capillary permeability as described by Fishman(3). REFERENCES
Dubovy registered three cases of macular capillary
permeability, with subretinal yellowish lesion, and named this
pathology pseudovitelliform macular degeneration (PMD), whose 1. Renner AB, Tillack H, Kraus H, Kohl S, Wissinger B, Mohr N, et all.
angiographic findings are very similar to the ones described in Morphology and functional characteristics in adult vitelliform macu-
this case we were able to describe its follow up(4). lar dystrophy. Retina. 2004;24(6):929-39.
Even though this disease usually presents bilaterally, uni- 2. Gass JD. A clinicopathologic study of a peculiar foveomacular dystro-
lateral forms, as well as development of bilateral conditions after phy. Trans Am Ophthalmol Soc. 1974;72:139-56.
unilateral onsets, have been reported. Visual prognosis is usually 3. Fishman GA, Trimble S, Rabb MF, Fishman M. Pseudovitelliform
good(5,6). Conditions with subretinal macular yellow deposits macular degeneration. Arch Ophthalmol. 1977;95(1):73-6.
include: foveomacular vitelliform dystrophy, dominant slowly 4. Sabates R, Pruett RC, Hirose T. Pseudovitelliform macular degenera-
progressive macular dystrophy, butterfly-shaped and pattern tion. Retina; 1982; 2(4):197-205.
dystrophy with yellow plaques. All these hereditary conditions 5. Dubovy SR, Hairston RJ, Schatz H Schachat AP, Bressler NM,
Finkelstein D Grenn WR. Adult-onset foveomacular pigment epithe-
have common characteristics. Whether they present phenotypic
lial dystrophy: clinicopathology correlation of three cases. Retina
expressions regardless of age, or are multiple pathological
2000;20(6):638-49.
dysfunctions of foveal EPR caused by different genetic defects,
6. Gutman T, Walsh JB, Henkind P. Vitelliform macular dystrophy and
remains to be established. butterfly- shaped epithelial dystrophy: a continuum? Br J Ophthalmol.
Epstein and Rabb state, for the cases they studied, that as 1982;66(3):170-3.
the vitelliform lesion progresses, there is an increase in retinal 7. Epstein GA, Rabb MF. Adult vitelliform macular degeneration: diagno-
exudation, and that this would be the cause of retinal leakage in sis and natural history. Br J Ophthalmol. 1980;64(10):733-40.
later stages, probably from choir-capillaries(7). In the case at
hand, such evolution has not been observed. The disappearance
of retinal capillary permeability occurred before retinographic Corresponding Author:
and angiographic alterations of the vitelliform lesion took place. Valdir Balarin
In the angiography, perifoveal capillary permeability disappears Rua 6, nº1353
at the same time that atrophic areas of pigment epithelium appear CEP 13500-190 - Rio Claro - São Paulo
in the vitelliform lesion area. And, finally, alterations which Phone (19) 3524.2711 - Fax (19) 3524.9334

Rev Bras Oftalmol. 2013; 72 (3): 197-9


R
200 ELATO DE CASO

Topoplastia de Cvintal assistida


por laser de femtossegundo
Femtosecond laser-assisted Cvintal topoplasty

Alexandre Takayoshi Ishizaki1, Frederico Guerra2, Issac Ramos3, Renato Ambrosio Jr.4

RESUMO
Apresentamos um relato de astigmatismo tardio progressivo pós-transplante de córnea para ceratocone, associado à afinamento
periférico na junção doador-receptor, o que presumidamente pode ser considerado como recorrência da ectasia. O caso foi tratado
por meio de Topoplastia de Cvintal assistida por laser de femtossegundo para a confecção da incisão com geometria "top hat",
seguido de sutura com ajuste per-operatório guiado por ceratoscopia.
Descritores: Astigmatismo/etiologia; Córnea/patologia; Ceratoplastia penetrante/efeitos adversos; Ceratocone/cirurgia; Tera-
pia a laser/métodos; Complicações pós-operatórias; Relatos de casos

ABSTRACT
We present a case of late high progressive astigmatism following penetrating keratoplasty for keratoconus, which was associated with
peripheral thinning in the donor-receptor area, which may be recognized as recurrence of ectasia. Treatment was accomplished with
Cvintal's Topoplasty assisted by femtosecond laser for a "top hat", followed by resuture with peroperative adjustment guided by
ceratoscopy.
Keywords: Astigmatism/etiology; Cornea/pathology; keratoplasty, penetrating/adverse effects; keratoconus/surgery; Lasers therapy/
methods; Postoperative complications; Case reports

1
Residente segundo ano do Serviço de Oftalmologia do Instituto Benjamin Constant - Rio de Janeiro (RJ) Brasil;
2
Colaborador do Setor de Córnea do Instituto Benjamin Constant - Rio de Janeiro (RJ), Brasil;
3
Colaborador no Instituto de Olhos Renato Ambrósio - Rio de Janeiro (RJ), Brasil;
4
Professor associado do programa de pós-graduação em Oftalmologia da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP) - São Paulo (SP),
Brasil; Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC) - Rio de Janeiro (RJ), Brasil; Instituto de Olhos Renato Ambrósio - Rio de
Janeiro (RJ), Brasil; Consultor da Oculus.

Estudo realizado no Instituto Benjamin Constant e Instituto de Olhos Renato Ambrósio - Rio de Janeiro (RJ), Brasil.

Os autores declaram não haver conflitos de interesse


Recebido para publicação em: 21/3/2012 - Aceito para publicação em: 3/9/2012

Rev Bras Oftalmol. 2013; 72 (3): 200-3


Topoplastia de Cvintal assistida por laser de femtossegundo 201

INTRODUÇÃO

O
astigmatismo é a causa mais comum de baixa acuidade
visual após transplante de córnea. Estu-dos descrevem
que o astigmatismo médio é de 2,76 dioptrias (D) aos
24 meses após o procedimento, sendo em 15% dos casos maior
que 5D(1). Entretanto, o astigmatismo irregular associado a aber-
rações de alta ordem, limita o resultado visual pois não é total-
mente corrigido com uso de óculos (2,3). Com isso, a adaptação de
lentes de contato especiais apresenta importante papel para re-
abilitação visual nestes casos.
O controle do astigmatismo pós-transplante é um grande Figura 1: Biomicroscopia OD: botão corneano transparente 15 anos
desafio para qualquer cirurgião de córnea. A tentativa de con- após transplante penetrante para ceratocone; botão levemente
trole do astigmatismo começa durante a cirurgia, ao se realizar descentrado na direção nasal, com afinamento (recorrência presumi-
uma sutura estável, com tensão equilibrada em todos os eixos da da da ectasia) na junção doador-receptor em meridiano correspon-
ceratoplastia. A remoção seletiva de pontos separados com base dente com o mais plano e mais elevado na tomografia
na evolução topográfica tem papel fundamental na abordagem
do astigmatismo pós-CP.
Opções cirúrgicas para correção do astigmatismo pós-trans-
plante incluem incisões relaxantes, cirurgia refrativa foto-ablativa
a laser (LASIK ou ablação de superfície), inserção de segmentos
de anel intraestromal, ressecção em cunha com sutura de com-
pressão, lentes intraoculares fácicas tóricas e retransplante(4).
O advento do laser de femtossegundo (FS) proporcionou
um aumento da precisão e eficiência das cirurgias corneanas (5).
O transplante de córnea assistido por laser FS permite a combi-
nação de uma menor taxa de complicações intraoperatórias e
pode facilitar o controle do astigmatismo pós-operatório(5,6).
A topoplastia, técnica descrita pelo Dr. Tadeu Cvintal, apre-
senta-se também como uma opção cirúrgica para casos com alto
grau de astigmatismo após transplante de córnea (7). O objetivo
deste trabalho é descrever o primeiro caso de topoplastia de
Cvintal assistida por laser FS em um paciente com alto grau de
astigmatismo associado a afinamento na córnea do receptor, pre-
sumidamente relacionado com recidiva da ectasia após CP.

RELATO DE CASO

Paciente do sexo feminino, com 54 anos de idade, raça


caucasiana, em acompanhamento oftalmológico no departamento Figura 2: Topografia OD - alto grau astigmatismo corneano
de córnea do Instituto Benjamin Constant. A paciente referiu
histórico de ceratocone, tendo sido submetida à ceratoplastia
penetrante no olho direito há 16 anos e, no olho esquerdo há 8
anos. O transplante do olho esquerdo evoluiu com rejeição apresentou achados similares, com toricidade elevada nas super-
imunológica e glaucoma, com perda da transparência. A pacien- fícies anterior e posterior da córnea. Além disso, o estudo
te referia piora progressiva da visão em olho direito e não se tomográfico demonstrou o afinamento corneano inferior, compa-
adaptava a lentes de contato rígidas nem óculos. tível com o exame clínico à lâmpada de fenda (Figura 3) (8).
Ao exame oftalmológico, a acuidade visual (AV) não O exame de aberrometria total ou análise de frente de
corrigida era de 20/200 no olho direito e vultos no olho esquer- onda (iTrace, Tracey Technologies Corp. EUA) demonstrou acha-
do. A acuidade visual corrigida do olho direito era de 20/80 com dos compatíveis com os observados nos exames de topografia e
uma refração manifesta de -2,75 -8,00 x 8º. A acuidade visual do de tomografia, com similaridade no padrão do astigmatimso.
olho esquerdo não apresentava melhora com correção. Observou-se contagem de 888 células endoteliais por milímetro
O exame biomicroscópico do olho direito revelou enxerto quadrado no exame de microscopia especular.
corneano transparente e levemente descentrado na direção na- Considerando a paciente não ter boa visão com óculos e
sal, com adelgaçamento na junção doador-receptor e afinamento não apresentar adaptação com lentes de contato, a solução ci-
na córnea do receptor (Figura 1). A biomicroscopia do olho es- rúrgica mostrou-se necessária. A paciente apresentava indica-
querdo revelou enxerto corneano opacificado com edema difuso. ção de novo transplante penetrante por dois cirurgiões de córnea,
O mapa de curvatura sagital ou axial obtido por topografia considerando-se a magnitude do astigmatismo e o afinamento
corneana de reflexão de Placido em olho direito (Figura 2) de- encontrado, bem como a contagem celular endotelial relativa-
monstrou um astigmatismo corneano superior a 14D. Os mapas mente baixa. Entretanto, considerando os achados, optou-se pela
de curvatura e elevação obtidos pelo tomógrafo com fotografia realização da topoplastia descrita por Cvintal assistida pelo laser
de Scheimpflug rotacional (Pentacam HR, Oculus, Alemanha) de femtossegundo.

Rev Bras Oftalmol. 2013; 72 (3): 200-3


202 Ishizaki AT, Guerra F, Ramos I, Ambrósio Jr R

Figura 4: Primeiro dia pós-operatório; note suturas mais apertadas


no eixo que era mais plano

Figura 3: Tomografia de córnea com pentacam OD e imagem de


Scheimpflug demonstrando afinamento corneano inferior

Tabela 1
Plano cirúrgico com Intralase
Parâmetros femtossegundo iEK
Diâmetro externo 8.6mm
Diâmetro interno 7.4mm
Energia 1.70
Profundidade posterior 330µm Figura 5: Mapa sagital diferencial e imagem de Scheimpflug:
Profundidade anterior 270µm Pré x Pós-op
Corte lamelar completo Desligado
Incisões alinhamento Desligado ção de incisões corneanas, evitando-se o uso de lâminas e trépano
Corte lateral anterior e posterior Ligado (tabela 1). Realizou-se uma trepanação circunferencial de espes-
sura parcial e geometria complexa de top hat (9,10) no botão doador
Resumo da técnica cirúrgica tradicional com auxílio de laser de FS (Intralase iFS, AMO. EUA)
A técnica cirúrgica da topoplastia de Cvintal, previamen- Durante a aplicação do laser FS, verificou-se a presença
te citada(7), será apenas brevemente descrita aqui. É uma com- de bolhas de ar na câmara anterior, sendo uma consequência da
binação de quatro atos cirúrgicos: interação do laser com o humor aquoso.
- Ceratotomia marginal; Uma vez completada a etapa de trepanação, a paciente foi
- Ceratectomia marginal seletiva com broca; transportada a outra sala onde, sob microscópio cirúrgico e cuidados
- Delaminação profunda das margens cirúrgicas; realizada de assepsia e antissepsia, procedeu-se à injeção de viscoelástico para
em direção ao centro nos meridianos mais curvos e à periferia estabilização da câmara anterior. Foram realizados 24 pontos de su-
nos meridianos mais planos; tura separados, usando fio mononylon 10/0. Os pontos mais aperta-
- Ressutura com aposição corretiva das margens da inci- dos foram elaborados no eixo mais plano. O astigmatismo final foi
são: No meridiano mais plano a agulha da sutura é inserida no ajustado recorrendo a um dispositivo de ceratoscopia intraoperatório.
terço superficial da margem corneana central e na camada mais No primeiro dia de pós-operatório, a biomicroscopia do olho
direito revelou enxerto de córnea transparente, câmara anterior
profunda na margem periférica. No meridiano mais curvo, a agulha
formada, sem Seidel, pupila regular, fotorreativa e lente intraocular
é introduzida na camada mais profunda, no lado corneano cen- bem posicionada (figura 4). A acuidade visual sem correção do
tral e no terço superficial do lado periférico. olho direito foi de 20/40.
No primeiro mês evoluiu com AV de 20/60, que melhorou
Técnica cirúrgica realizada com a retirada de um ponto para 20/50. A paciente evoluiu bem
A cirurgia foi realizada sob sedação leve associada à anestesia no pós operatório e mantém-se com quadro estável há 4 meses.
tópica. Não foram registradas intercorrências intraoperatórias. O último exame de tomografia corneana ilustra bem o resultado
O laser FS utilizado foi o Intralase iFS (AMO, EUA) para realiza- do tratamento (figura 5).

Rev Bras Oftalmol. 2013; 72 (3): 200-3


Topoplastia de Cvintal assistida por laser de femtossegundo 203

Formatos incisionais, sendo os mais frequentemente reali- guimento não houve qualquer registro de intercorrências, sinais
zados o top hat, o mushroom, o zigzag e o christmas tree(9,10). Es- biomicroscópicos e topográficos de progressão da ectasia corneana.
tas incisões com formatos complexos melhoram o encaixe e a Assim, a topoplastia assistida por laser FS facilita a abor-
estabilidade da junção doador-hospedeiro(6). Assim, teoricamen- dagem do astigmatismo e o tratamento da recidiva de ectasia
te, menos suturas são necessárias e a sua remoção pode ser rea- em olhos previamente transplantados, garantindo excelentes re-
lizada mais precocemente. sultados pós-operatórios.
Na literatura encontramos vários estudos que testam dife- Esta cirurgia mostrou-se eficaz no tratamento do alto
rentes técnicas para atenuar o astigmatismo decorrente do trans- astigmatismo associado à recorrência de ceratocone após CP. A
plante de córnea. Chamberlain et al. descreveram o astigmatismo paciente em questão apresentou uma melhora significativa da
pós-operatório numa série de casos submetidos à CP, comparan- acuidade visual e estabilidade refrativa e topográfica após um
do a técnica manual com a assistida por laser FS (11). A segunda mês de pós-operatório, com manutenção até 4 meses após o últi-
opção contribuiu para um melhor controle do astigmatismo no mo procedimento. Até o momento, com um ano de seguimento,
pós-operatório precoce. No entanto, ao final de 6 meses de se- não houve necessidade de realizar um novo transplante de córnea.
guimento não se verificou diferença significativa no astigmatismo
pós-operatório entre os dois grupos.
O laser FS é uma opção para a ressecção em cunha arque-
REFERÊNCIAS
ada, com o intuito de corrigir o astigmatismo pós-CP. O procedi-
mento guiado por laser permite uma excisão controlada e preci- 1. Olson RJ, Pingree M, Ridges R, Lundergan ML, Alldredge C Jr, Clinch
sa do tecido. Após a cirurgia, pode haver uma redução de 14,5 D TE. Penetrating keratoplasty for keratoconus: a long-term review of
no astigmatismo corneano, conforme descrito previamente (12). results and complications. J Cataract Refract Surg. 2000;26(7):987-91.
Nubile et al. estudaram a eficácia da ceratotomia astigmática 2. Krachmer JH, Fenzl RE. Surgical correction of high postkeratoplasty
guiada por laser FS para tratar astigmatismo pós-ceratoplastia(13). astigmatism. Relaxing incisions vs wedge resection. Arch Ophthalmol.
O procedimento consiste na realização de incisões no meridiano 1980;98(8):1400-2.
corneano mais curvo, localizadas na periferia do enxerto e numa 3. Rajan MS, O'Brart DP, Patel P, Falcon MG, Marshall J. Topography-
profundidade de 90% da espessura total do estroma. Os resulta- guided customized laser-assisted subepithelial keratectomy for the
dos demonstraram uma redução do astigmatismo pré-operatório treatment of postkeratoplasty astigmatism. J Cataract Refract Surg.
2006;32(6):949-57.
de 7.16 D (+/- 3.07) para 2.23 D (+/- 1.55), e estabilidade refrativa.
4. Lavery GW, Lindstrom RL, Hofer LA, Doughman DJ. The surgical
Desfechos semelhantes foram descritos por outros autores.(14) management of corneal astigmatism after penetrating keratoplasty.
No caso clínico apresentamos uma paciente submetida pre- Ophthalmic Surg. 1985;16(3):165-9.
viamente à CP bilateralmente devido a ceratocone. Esta molés- 5. Ambrosio Júnior R. A revolução dos lasers de femtossegundo na
tia é uma doença ectásica e degenerativa da córnea, sendo a sua oftalmologia. Rev Bras Oftalmol. 2011;70(4):207-10.
progressão um evento raro na faixa etária em que se enquadra- 6. Yoo SH, Hurmeric V. Femtosecond laser-assisted keratoplasty. Am J
va a paciente. O olho esquerdo apresenta falência endotelial do Ophthalmol. 2011;151(2):189-91.
transplante, o que justifica a opacificação do enxerto. O botão 7. Cvintal T. Topoplastia. In: Cvintal T. Complicações do transplante de
doador do olho direito apresentava boa transparência, no entan- córnea. São Paulo: Santos Editora; 2004. p. 283-8.
to, evidenciava-se um adelgaçamento na junção doador-recep- 8. Ambrósio R Jr, Belin MW. Imaging of the cornea: topography vs to-
tor, sinal clínico de recorrência de ceratocone. mography. J Refract Surg. 2010;26(11):847-9.
O elevado grau de astigmatismo do caso clínico deve-se 9. Bahar I, Kaiserman I, McAllum P, Rootman D. Femtosecond laser-
assisted penetrating keratoplasty: stability evaluation of different
não só à recorrência de ceratocone mas também a provável pre-
wound configurations. Cornea. 2008;27(2):209-11.
sença de astigmatismo pós-transplante. A recidiva do processo 10. Ignacio TS, Nguyen TB, Chuck RS, Kurtz RM, Sarayba MA.Top hat wound
ectásico contribui para a desorganização da estrutura corneana, configuration for penetrating keratoplasty using the femtosecond laser: a
tornando o astigmatismo mais elevado e irregular. A baixa laboratory model. Cornea. 2006;25(3):336-40.
acuidade visual do olho direito da paciente reflete o impacto deste 11. Chamberlain WD, Rush SW, Mathers WD, Cabezas M, Fraunfelder
erro refrativo no sistema óptico. FW. Comparison of femtosecond laser-assisted keratoplasty versus
Optou-se pela topoplastia assistida pelo laser de FS por conventional penetrating keratoplasty. Ophthalmology.
tratar-se de uma cirurgia mais simples, precisa, com maior redu- 2011;118(3):486-91.
ção do astigmatismo quando comparado com as demais técnicas 12. Ghanem RC, Azar DT. Femtosecond-laser arcuate wedge-shaped
descritas e pela disponibilidade do aparelho. Entretanto esta téc- resection to correct high residual astigmatism after penetrating kerato-
nica carece de instrumental de elevado custo financeiro, disponí- plasty. J Cataract Refract Surg. 2006;32(9):1415-9.
vel em apenas poucos centros cirúrgicos no Brasil. 13. Nubile M, Carpineto P, Lanzini M, Calienno R, Agnifili L, Ciancaglini
M, et al. Femtosecond laser arcuate keratotomy for the correction of
high astigmatism after keratoplasty. Ophthalmology.
CONCLUSÃO 2009;116(6):1083-92.
14. Kumar NL, Kaiserman I, Shehadeh-Mashor R, Sansanayudh W,
Ritenour R, Rootman DS. IntraLase-enabled astigmatic keratotomy
A recorrência de ceratocone em olho submetido previa- for post-keratoplasty astigmatism: on-axis vector analysis. Ophthal-
mente à CP pode ser considerada uma indicação para novo trans- mology. 2010;117(6):1228-35.e1.
plante de córnea. No entanto, a realização de uma nova CP é
uma abordagem muito complexa. A técnica cirúrgica descrita
permite manter o tecido do enxerto corneano, evitando a expo-
sição a novos antigenos que poderiam desencadear uma respos-
ta imunológica de rejeição. Outro aspecto importante associado Autor correspondente:
a esta técnica é a possibilidade de regularizar o astigmatismo e a Instituto de Olhos Renato Ambrósio
topografia da córnea. Rua Conde de Bonfim, nº 211/712 - Tijuca
No primeiro dia de pós-operatório verificou-se melhora do CEP 20520-050 - Rio de Janeiro - (RJ), Brasil
resultado visual, refrativo e topográfico. Durante o período de se- Tel/Fax: 55 (21) 2234-4233/2264-4430

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204 ARTIGO DE REVISÃO

Tratamento cirúrgico da retinopatia diabética


Surgical management of diabetic retinopathy

Nelson Alexandre Sabrosa1, Almyr Sávio Sabrosa1,2, Katia Cocaro Gouvea1, Paiva Gonçalves Filho1

RESUMO

A retinopatia diabética é a causa mais frequente de cegueira na população ativa nos países desenvolvidos. A prevalência da
retinopatia diabética aumenta com a duração da diabetes, e praticamente 100% dos pacientes com diabetes tipo I (DM I) e mais do
que 60% dos pacientes com o tipo II (DM II) apresentarão algum sinal de retinopatia após 20 anos. Além de um controle sistêmico
rigoroso dos níveis glicêmicos, lipídicos, colesterol e da pressão arterial, o exame oftalmológico de rotina, com a identificação precoce
da retinopatia diabética, podem detectar anormalidades em estágios primários, o que possibilita o tratamento ainda na fase inicial do
problema; o uso adequado da fotocoagulação e a utilização da terapia antiangiogênica pode reduzir o número de pacientes com
hemorragia vítrea ou descolamento tracional da retina. Infelizmente, em vários pacientes, a retinopatia progride mesmo com as
melhores condutas tomadas pelo paciente e pelo oftalmologista, embora vários olhos podem se beneficiar com o tratamento
cirúrgico, a vitrectomia posterior via pars plana. Esta revisão apresenta as indicações atuais para cirurgia vitreorretiniana em
pacientes portadores de retinopatia diabética proliferativa.
Descritores: Retinopatia diabética/cirurgia; Doenças retinianas/cirurgia

ABSTRACT

Diabetic retinopathy is the leading cause of blindness among the working population in the developed world. The prevalence of diabetic
retinopathy increases with duration of diabetes, and nearly 100 percent of patients with type I diabetes and more than 60 percent of those with
type II have some signs of diabetic retinopathy after 20 years. A number of approaches have proved to be useful in the treatment of diabetic
retinopathy, such as laser photocoagulation and tight systemic control of blood glucose, lipids, cholesterol and blood pressure. Unfortunately,
in many patients the retinopathy progresses in spite of the best efforts on the part of the patient and of the ophthalmologist. Many such eyes
may be helped by vitrectomy surgery, however. About 5 percent of patients with proliferative diabetic retinopathy, as well as carefully selected
patients with diabetic maculopathy, require pars plana vitrectomy, despite ostensibly adequate laser treatment and good glycemic and
hypertensive control. This article reviews the current indications for vitreous surgery in severe diabetic retinopathy and strategies and
techniques employed to minimize surgical complications.
Keywords: Diabetic retinopathy/surgery; Retinal diseases/surgery

1
Residência em Oftalmologia pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), doutor da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo
(FMUSP), São Paulo (SP); Setor de Retina e Vítreo Departamento de Oftalmologia 1ª Enfermaria da Santa Casa de Misericórdia do Rio de Janeiro - Rio
de Janeiro (RJ), Brasil;
1,2
Setor de Retina e Vítreo do Departamento de Oftalmologia da Faculdade de Medicina de Universidade de São Paulo (USP) - São Paulo (SP), Brasil.

Os autores declaram não haver conflitos de interesse


Recebido para publicação em: 15/11/2011 - Aceito para publicação em: 16/3/2012

Rev Bras Oftalmol. 2013; 72 (3): 204-9


Tratamento cirúrgico da retinopatia diabética 205

INTRODUÇÃO

A
retinopatia diabética (RD) é a causa mais frequente
de cegueira na população economicamente ativa nos
países desenvolvidos. A prevalência da RD aumenta
com a duração da diabetes(1), e praticamente 100% dos pacien-
tes com diabetes tipo I (DM I) e mais do que 60% dos pacientes
com o tipo II (DM II) apresentarão algum sinal de RD após 20
anos. Uma série de condutas já pré-estabelecidas são úteis no
tratamento da RD, como a fotocoagulação com laser e a terapia
anti-VEGF, além de um controle sistêmico rigoroso dos níveis
glicêmicos, lipídicos, colesterol e da pressão arterial (2,3). Infeliz-
mente, em vários pacientes, a retinopatia progride mesmo com
as melhores condutas tomadas pelo paciente e pelo Oftalmolo-
gista, embora vários olhos podem se beneficiar com o tratamen-
to cirúrgico, a vitrectomia posterior via pars plana(4). Em torno
de 5% dos pacientes com RD proliferativa, como também em
alguns pacientes com maculopatia relacionada à diabetes, ne-
cessitam da vitrectomia, independente do tratamento à laser
(fotocoagulação) adequado, e o bom controle glicêmico e
pressórico(5). Essa revisão ilustra as indicações atuais para cirur-
gia vítreorretiniana na RD avançada, estratégias e técnicas em-
pregadas para minimizar complicações cirúrgicas.

Patogênese da Retinopatia Diabética


A retinopatia diabética é uma complicação microvascular
da diabetes e é caracterizada pela perda funcional dos pericitos
e pela oclusão capilar progressiva, ocasionando uma isquemia
retiniana e quebra da barreira hemato-retiniana. Isso pode re-
sultar em alterações edematosas na retinopatia diabética não-
proliferativa (RDNP) e em proliferação de neovasos e na for-
mação de membranas fibrocelulares contráteis na superfície
retiniana na retinopatia diabética proliferativa (RDP)(6,7).
A perda visual na RDP é causada pela combinação de
isquemia retiniana, hemorragia vítrea e/ou descolamento de reti-
na tracional (DRT). Geralmente se inicia com a proliferação Figura 1: Ultrassonografia: descolamento de retina tracional (DRT)
neovascular no disco óptco (NVD) e na retina (NVE). O cresci-
mento dos neovasos (NV) ocorrem ao mesmo tempo que a proli- com DM II, a hemorragia vítrea recente pode ser tratada de forma
feração fibroblástica na interface vitreorretiniana, usando como conservadora, na esperança de uma resolução espontânea para que
suporte a hialóide posterior(8). Contrações subsequentes das mem- o tratamento com laser possa ser realizado. A hemorragia vítrea crô-
branas fibrocelulares causam tração progressiva nos NV, resul- nica e persistente (maior do que 3 meses) pode ser indicação de VVPP
tando em hemorragia intravítrea e/ou sub-hialóidea. A tração mais e endofotocoagulação. Em contraste, o "Diabetic Retinopathy
acentuada e generalizada pode-se complicar com um DTR ou a Vitrectomy Study" (DRVS) mostrou um evidente benefício na cirur-
combinação de um descolamento tracional e regmatogênico da gia precoce em pacientes com DM I, já que esses pacientes tendem a
retina - descolamento de retina misto (DRTR)(9). uma proliferação fibrovascular mais agressiva(14,15). O DRVS mos-
trou também que 25% dos pacientes submetidos à vitrectomia pre-
Indicações de Cirurgia na RDP coce recuperam uma boa acuidade visual, em torno de 20/40 ou me-
A vitrectomia posterior via pars plana (VVPP) para tratar lhor, comparados a 15% dos pacientes tratados convencionalmen-
as complicações da RDP foi descrita pela primeira vez há mais te(15). Embora tenha havido um maior risco ligado ao tratamento, é
de 25 anos(10). A VVPP permite a remoção de opacidades do importante ressaltar que a técnica cirúrgica evoluiu consideravel-
meio, como a hemorragia vítrea além de proporcionar a libera- mente desde a conclusão desse estudo (ex. uso do endolaser).
ção de eventuais trações vitreorretinianas. Além disso, a A vitrectomia precoce também pode ser considerada em
fotocoagulação retiniana no intraoperatório ajuda a estabilizar casos de hemorragia vítrea retro-hialóidea, já que nesse espaço
o processo vasoproliferativo intraocular(9,11). A ultrassonografia o sangue tende a ser reabsorvido mais lentamente do que quan-
ocular em pacientes com opacidades densas é imprescindível para do ele atravessa a hialóide posterior para cavidade vítrea. O
se fazer o diagnóstico de descolamento de retina e para diferen- tempo certo para a cirurgia é também influenciado pela condi-
ciar o DRT e DRTR (DR misto) no pré-operatório. Embora a ção do olho contralateral e a presença de outras alterações, como
acuidade visual final após a vitrectomia pode variar muito, a DRT com envolvimento macular e/ou a presença de glaucoma
maioria dos pacientes se beneficiam do procedimento(12,13). neovascular (figura 1). Nesta última situação, a espera para a
absorção da hemorragia pode causar danos irreversíveis.
Hemorragia Vítrea Outros fatores, que também podem ser usados como indica-
A hemorragia vítrea é a complicação mais frequente da RDP, ção para cirurgia precoce são a falta de fotocoagulação prévia e
a qual pode ocasionar uma redução importante na acuidade visual ocasionalmente pacientes que necessitam de uma recuperação vi-
além de interferir no exame e tratamento do paciente. Em pacientes sual rápida (ex. trabalho/profissão que requer boa estereopsia) (16).

Rev Bras Oftalmol. 2013; 72 (3): 204-9


206 Sabrosa NA, Sabrosa AS, Gouvea KC, Gonçalves Filho P

Descolamento de Retina
O descolamento de retina tracional (DRT) envolvendo a
fóvea causa uma perda visual importante e é uma indicação co-
mum de cirurgia em pacientes com RDP (figura 2). Uma recente
publicação ilustrou que em olhos com DRT com envolvimento
macular, 57% alcançaram uma acuidade visual melhor ou igual a
20/400, enquanto que em olhos sem descolamento macular, 84%
alcançaram uma acuidade visual melhor ou igual a 20/400(13).
A urgência para realização da cirurgia vitreorretiniana va-
ria de paciente para paciente, porém na maioria dos pacientes
esse tipo de procedimento é melhor planejado quando todas as
condições, como centro cirúrgico, equipe médica e material es-
tão disponíveis. Olhos com história recente de descolamento
foveal, têm uma chance melhor de recuperação visual quando
comparados a olhos com história mais antigas, mesmo que um
bom resultado anatômico seja alcançado(17).
Os DRTs fora da área macular podem ser monitorados Figura 2: Olho direito de um paciente com descolamento de retina
de maneira conservadora, já que se mantêm estáveis e o risco tracional com envolvimento macular
de complicações intraoperatória ou pós-operatória podem ser
inaceitáveis(18). Outro estudo mostrou que somente 14% dos
olhos com DRT extramacular tiveram perda visual em um
ano(19). De qualquer maneira, a VVPP deve ser considerada
eventualmente, mesmo antes do comprometimento macular,
quando a fotocoagulação não pode ser realizada devido à he-
morragia vítrea ou à presença de tecido fibrovascular sobre a
superfície retiniana, ou quando a progressão do descolamento
tracional paramacular for documentado.
O descolamento de retina misto (DRTR) é relativamente
incomum e pode ocorrer tanto durante o estágio da proliferação
fibrovascular quanto numa complicação tardia. Na maioria dos Figura 3: Tomografia de coerência óptica (OCT): hialóide posterior
casos, as roturas retinianas se localizam na região posterior ao esticada/espessada em um paciente com retinopatia diabética.
equador e são frequentemente associadas a membranas
fibrovasculares altamente aderentes. Esse tipo de descolamento a VVPP mostrou resultados anatômicos e funcionais positivos
progride rapidamente, resultando em uma configuração bolhosa em olhos com membrana hialóide posterior esticada/espessada
do fluido sub-retiniano, estendendo-se até a ora serrata. A VVPP (MHE) e tração macular (figura 3)(21,25), outros estudos suge-
imediata geralmente é necessária, com o objetivo de liberar as rem que a VVPP pode também ser útil em casos sem nenhuma
trações vitreorretinianas, para que então a fotocoagulação seja evidência clínica de tração. Acredita-se que a com a remoção do
realizada ao redor das roturas, uma vez que a retina esteja apli- córtex vítreo, com ou sem remoção (peeling) da membrana
cada com o uso de um tamponante intraocular, como por exem- limitante interna (MLI), a liberação de trações vitreomaculares
plo ar, gás ou óleo de silicone(20). subclínicas, melhora a oxigenação retiniana e/ou reduz a con-
centração de fatores de crescimento (ex. VEGF) no segmento
Indicações Cirúrgicas na Retinopatia Diabética Não- posterior, além de outras citoquinas liberadas pela retina
Proliferativa (RDNP) isquêmica (26,27).
Em um estudo controlado, randomizado, comparando a
Edema Macular VVPP com remoção da MLI versus fotocoagulação com laser
O edema macular diabético (EMD) ou o espessamento focal, não houve nenhuma diferença nos resultados anatômicos
retiniano é a principal causa de diminuição da acuidade vi- ou funcionais entre as duas modalidades de tratamento(28). Um
sual em pacientes com Diabetes Mellitus. Enquanto que a estudo piloto, randomizado com pacientes com EMD sem tração
patogênese do EMD é multifatorial, o vítreo pode contribuir macular também não mostrou nenhum benefício visual ou na
para o desenvolvimento do EMD em alguns casos (21). Vaza- redução da espessura macular(29).
mento vascular e isquemia são responsáveis por grande par-
te da perda visual relacionada à maculopatia diabética. O Técnicas Cirúrgicas
fator de crescimento endotelial vascular (VEGF), conside- Quando há hemorragia vítrea, a VVPP padrão é realizada
rado o fator de crescimento mais importante, causa uma que- primeiramente e a hialóide posterior identificada; se houver uma
bra na barreira hemato-retiniana interna, resultando um au- grande quantidade de sangue atrás da hialóide posterior, cria-se
mento na permeabilidade vascular retiniana e edema uma pequena abertura na mesma para que o sangue retro-
retiniano (22). Enquanto que a retina saudável também con- hialóideo possa ser aspirado, permitindo então que se tenha uma
têm VEGF, as mudanças induzidas pela diabetes causam uma visão adequada da retina(30). É fundamental que seja liberado
alteração na sua regulação (23) . Desse modo, os níveis de qualquer tipo de tração por membranas pré-existentes na reti-
VEGF estão bem elevados em olhos com EMD(24). na. Geralmente essas membranas são vascularizadas, logo elas
O papel do vítreo no desenvolvimento do EMD ainda não não podem ser simplesmente removidas da superfície retiniana,
está totalmente compreendido, mas é intrigante que estudos que já que isso pode resultar em hemorragias significativas e/ou
avaliam a história natural, o edema macular parece se resolver roturas na retina(30,31). As principais técnicas cirúrgicas de mani-
seguido da separação vitreomacular espontânea. Enquanto que pulação de tecidos fibróticos epirretinianos são a segmentação,

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Tratamento cirúrgico da retinopatia diabética 207

delaminação, ressecção em bloco (en bloc) e a dissecção A finalidade é alcançar os melhores resultados em benefí-
bimanual, empregadas na cirurgia de vitrectomia no paciente cio do paciente; enfim, uma combinação das técnicas previamente
diabético(30,31,32). descritas pode ser utilizada.

Segmentação Laser (Fotocoagulação)


A segmentação baseia-se na dissecção de fibroses A endofotocoagulação é sempre empregada até mesmo
epirretinianas, geralmente com o uso de tesouras verticais ou em olhos previamente tratados com panfotocoagulação, com o
com a própria ponteira do vitreófago. Inicialmente remove-se a objetivo de diminuir o estímulo neovascular e minimizar hemor-
hialóide posterior 360 graus seguida pela identificação de plano ragias recorrentes ou retardar novos sangramentos. Uma avali-
de clivagem entre a retina e as membranas fibróticas. Reduz-se ação de toda retina periférica é realizada antes do final da cirur-
a a tração tangencial com auxílio da tesoura, cortando as mem- gia, na tentativa de se identificar qualquer tipo de rotura retiniana
branas e separando-as dos epicentros. A técnica é empregada pré-existente ou iatrogênica (ex. roturas nas esclerotomias). Caso
para liberação de trações circunferenciais quando outros méto- seja encontrado alguma rotura, a mesma deve ser tratada com
dos, como a delaminação são difíceis devido à mobilidade da re- fotocoagulação ou com crioterapia, associada ao uso de algum
tina na presença de roturas. Não é necessário a remoção total agente tamponante (ex. ar, gás expansor ou óleo de silicone).
das membranas, ficando geralmente no final da cirurgia, peque- Em um estudo prospectivo de 174 vitrectomias consecutivas, 39%
nas ilhas de fibrose sobre a retina. Isso pode ser considerado dos olhos apresentaram rotura retiniana; 27% das roturas eram
uma desvantagem dessa técnica, já que esses tecidos posteriores, e ocorreram durante dissecção das membranas, en-
fibrovasculares residuais podem tornar a proliferar e sangrar quanto que 17% desses olhos apresentaram roturas no sítio das
novamente (30,31,32). esclerotomias. No total, 49% desses olhos necessitaram de al-
gum agente tamponante: 8% ar, 24% SF6, 10% C3F8 e 7% óleo
Delaminação de silicone(13).
O risco de novo sangramento no pós-operatório pode ser
reduzido com a remoção completa das membranas fibrovas- Vitrectomia no Edema Macular Diabético (EMD)
culares aderidas à retina. Nessa técnica, a remoção dessa mem- A VVPP para o EMD pode ser realizada com ou sem a
brana é feita através da dissecção horizontal no plano de clivagem remoção da membrana limitante interna. A cromovitrectomia
entre a fibrose e a retina. Encontrar o plano de clivagem correto com corantes como a indocianina verde e o azul brilhante, pode
entre a hialóide posterior e a retina próximo do epicentro vascular ser utilizada durante a vitrectomia, com a finalidade de corar a
é crucial, para se evitar roturas iatrogênicas(30,31). Normalmente membrane limitante interna e melhorar a sua visualização.
são usadas tesouras horizontais o que permite que a membrana Um estudo comparativo de vitrectomia para o tratamento
fibrótica seja removida completamente. Como na técnica anteri- do edema macular difuso clinicamente significativo, demonstrou
or, logo no início do procedimento é feita a retirada da hialóide uma melhora estrutural na Tomografia de Coerência Óptica
posterior. Após a remoção, a membrana é removida com o (OCT) - espessamento foveal e melhora significativa no volume
vitreófago(30,32,33). macular - porém uma melhora limitada da acuidade visual no
décimo segundo mês de pós-operatório(34).
Ressecção em Bloco
A dissecção em bloco utiliza técnicas de delaminação de Terapia Antiangiogênica
membranas, porém sem remoção da hialóide. Procura-se de for- Os antiangiogênicos foram introduzidos na prática
ma delicada a separação da hialóide posterior mantendo-se oftalmológica há poucos anos para o tratamento da degenera-
aderida aos tecidos fibróticos e a base vítrea. O diferencial nes- ção macular relacionada à idade. Diversos estudos vêm também
sa técnica é a manutenção da hialóide intacta. Uma pequena demonstrando o benefício de sua utilização na retinopatia dia-
abertura na hialóide posterior, parcialmente descolada, é reali- bética proliferativa(35,36). Esses estudos descrevem a utilização
zada para que então uma tesoura horizontal possa ser introduzida do ranibizumabe e do bevacizumabe, como monoterapia, em
no espaço retro-hialóideo. O uso desta técnica aproveita a tra- pacientes com hemorragia vítrea ou como preparação para rea-
ção anteroposterior da hialóide como auxiliar na remoção das lização de vitrectomia. Nas hemorragias vítreas, com o possível
membranas. Toda a hialóide e o tecido fibrótico são removidos bloqueio temporário da atividade neovascular, parece haver um
em bloco, utilizando-se pinças e tesouras, e depois os tecidos se- favorecimento na absorção da hemorragia vítrea. Em casos mais
parados são cortados e aspirados pela sonda de vitrectomia(32,33). complicados, com proliferação fibrovascular e DRT, esses dro-
gas parecem exercer um papel importante na rápida involução
Dissecção Bimanual da neovascularização da retina e íris, bem como facilitar a remo-
Nos descolamentos mistos pode ser útil a combinação da ção das membranas, diminuindo diretamente o sangramento
delaminação e da segmentação, devido à dificuldade de separar intraoperatório(37-39). Alguns casos mostram piora do DRT ou
completamente as membranas fibróticas de uma retina descola- mesmo surgimento de DR regmatogênico associado, após à ad-
da. A técnica de dissecção bimanual pode ser empregada em ministração dos antiangiogênicos. Essas complicações geralmente
casos complexos com a utilização de uma iluminação/fonte de surgem devido a contração vítrea nas primeiras 2 a 3 semanas,
luz auxiliar, o que permitirá ao cirurgião o uso de dois instru- sendo importante a realização da vitrectomia num período de
mentos para dissecção(30,32). até duas semanas após a injeção do antiangiogênico(38,40).
Com o avanço dos sistemas e aparelhos de vitrectomia, prin-
cipalmente com as aberturas mais distais das sondas de Complicações Cirúrgicas
vitrectomia, a maioria das membranas e cirurgias de DRT podem As principais complicações cirúrgicas em pacientes dia-
ser realizadas com a sonda do vitreófago. A sonda de vitrectomia béticos submetidos à VVPP incluem a hemorragia vítrea re-
fica posicionada próximo das membranas, e por meio de corte e corrente, descolamento de retina regmatogênico (DRR),
aspiração, retira-se as mesmas da superfície retiniana, com toda rubeosis iridis e glaucoma neovascular.
cautela para não provocar roturas iatrogênicas. A hemorragia vítrea no pós-operatório imediato é comum

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208 Sabrosa NA, Sabrosa AS, Gouvea KC, Gonçalves Filho P

e geralmente se resolve de forma espontânea após algumas 2. The effect of intensive treatment of diabetes on the development and
semanas. A hemorragia vítrea no pós-operatório tardio ocorre progression of long-term complications in insulin-dependent diabetes
apenas em 10% dos olhos diabéticos, e pode estar relacionada mellitus. The Diabetes Control and Complications Trial Research
à proliferação neovascular na base vítrea, normalmente no lo- Group. N Engl J Med. 1993;329(14):977-86. Comment in N Engl J
cal das esclerotomias. Uma publicação recente mostrou que a Med. 1994;330(9):642. N Engl J Med. 2006;354(16):1751-2; author
complicação pós-operatória mais comum foi a hemorragia ví- reply 1751-2. N Engl J Med. 1994;330(9):641-2. N Engl J Med.
trea, a qual ocorreu em 22% dos olhos(13). Crioterapia anterior, 1994;330(9):641; author reply 642. ACP J Club. 1994;120 Suppl 2:30-1.
endofotocoagulação confluente e posterior à ora serrata e laser N Engl J Med. 1993;329(14):1035-6.
transescleral podem reduzir o risco de crescimento fibrovascular 3. Intensive blood-glucose control with sulphonylureas or insulin com-
e hemorragia recorrente(41). A realização de ecografia periódi- pared with conventional treatment and risk complications in patients
with type 2 diabetes (UKPDS 33). UK Prospective Diabetes Study
ca, em olhos sem possibilidade de visualização do fundo de olho,
(UKPDS) Group. Lancet. 1998;352(9131):837-53. Erratum in Lancet
deve ser resalizada para excluirmos a presença de
1999;354(9178):602.
descolamento de retina. O descolamento de retina
4. Helbig H, Sutter FK. Surgical treatment of diabetic retinopathy.
regmatogênico (DRR) após a vitrectomia, geralmente é devi-
Graefes Arch Clin Exp Ophthalmol. 2004;242(8):704-9. Review.
do às roturas retinianas não encontradas no intraoperatório e 5. Flynn HW Jr, Chew EY, Simons BD, Barton FB, Remaley NA, Ferris
requer tratamento cirúrgico de urgência na tentativa de se pre- FL 3rd. Pars plana vitrectomy in the Early Treatment Diabetic Retin-
venir o desenvolvimento da vitreorretinopatia proliferativa opathy Study. ETDRS report number 17. The Early Treatment Dia-
(PVR) e/ou rubeosis iridis(14,42). Em outro estudo, uma incidên- betic Retinopathy Study Research Group. Ophthalmology.
cia de 4,7% de DRR foi encontrado(43). O risco de DRR após a 1992;99(9):1351-7.
vitrectomia em pacientes diabéticos parece está diminuindo, 6. Arnos AF, McCarty DJ, Zimmet P. The rising global burden of diabe-
provavelmente devido ao uso de sistemas de visualização de tes and its complications: estimates and projections to the year 2010.
grande angular, que permitem uma avaliação mais detalhada e Diabet Med. 1997;14 Suppl 5:S1-85.
precisa de retina periférica (43,44), e dos novos sistemas de 7. Klein R, Klein BE, Moss SE, Davis MD, DeMets DL. The Wisconsin
vitrectomia de 23-gauge e 25-gauge(45,46). O descolamento de epidemiologic study of diabetic retinopathy. IV. Diabetic macular
retina associa-se a rubeosis iridis em até 83% dos casos(32). edema. Ophthalmology. 1984;91(12):1464-74.
O glaucoma neovascular apresenta taxa de incidência va- 8. Gotzaridis EV, Lit ES, D'Amico DJ. Progress in vitreoretinal surgery
riável, de acordo com a gravidade pré-opertória do caso, po- for proliferative diabetic retinopathy. Semin Ophthalmol.
dendo chegar até 20% dos casos operados(32). 2001;16(1):31-40. Review.
No segmento anterior, defeitos epiteliais da córnea tam- 9. Mason JO 3rd, Colagross CT, Haleman T, Fuller JJ, White MF, Feist
bém tornaram-se menos comuns, devido à introdução dos siste- RM, et al. Visual outcome and risk factors for light perception and no
mas de visualização de não-contato (ex. BIOM). Embora a ca- light perception vision after vitrectomy for diabetic retinopathy. Am J
tarata nuclear se desenvolve normalmente após a VVPP, isso é Ophthalmol. 2005;140(2):231-5.
menos comum em pacientes diabéticos. Uma publicação, de- 10. Smiddy WE, Flynn HW Jr. Vitrectomy in the management of diabetic
monstrou uma incidência da remoção da catarata em 15% após retinopathy. Surv Ophthalmol. 1999;43(6):491-507.
VVPP em pacientes diabéticos, comparado a 66% e 53% após 11. Two-year course of visual acuity in severe proliferative diabetic ret-
vitrectomia para tratamento do buraco macular e da membra- inopathy with conventional management. Diabetic Retinopathy Study
(DRVS) report #1. Ophthalmology. 1985;92(4):492-502.
na epirretiniana respectivamente(47). A cirurgia combinada de
12. Thompson MJ, Ip MS. Diabetic macular edema: a review of past,
VVPP e facoemulsificação com implante de lente intraocular
present, and future therapies. Int Ophthalmol Clin. 2004;44(4):51-67.
(facovitrectomia) está ganhando popularidade. Entretanto, não
Review.
está recomendada para pacientes com isquemia retiniana acen-
13. Yorston D, Wickham L, Benson S, Bunce C, Sheard R, Charteris D.
tuada, rubeosis iridis e em pacientes com DRT(48).
Predictive clinical features and outcomes of vitrectomy for prolifera-
tive diabetic retinopathy. Br J Ophthalmol. 2008;92(3):365-8.
Considerações Finais 14. Diabetic Retinopathy Vitrectomy Study Group. Early vitrectomy for
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), severe vitreous hemorrhage in diabetic retinopathy. Four-year results
aproximadamente 150 milhões de indívíduos são atualmente afe- of a randomized trial: Diabetic Retinopathy Vitrectomy Study Report
tados pela diabetes, número que pode duplicar nos próximos 10/ 5. Arch Ophthalmol. 1990;108(7):958-64. Erratum in Arch Ophthalmol
15 anos. A retinopatia diabética é a principal causa de cegueira 1990;108(10):1452.
nos países industrailizados entre as populações ativas, 15. Early vitrectomy for severe vitreous hemorrhage in diabetic retin-
correspondendo a 30% dos pacientes cegos. O diagnóstico pre- opathy. Two-year results of a randomized trial. Diabetic Retinopathy
coce e o tratamento oportuno podem reduzir em mais de 80% Vitrectomy Study report 2. The Diabetic Retinopathy Vitrectomy Study
diagnóstico precoce e o tratamento oportuno podem reduzir o Research Group. Arch Ophthalmol. 1985;103(11):1644-52.
risco de cegueira entre aqueles pacientes. 16. Michels RG. Proliferative diabetic retinopathy: pathophysiology of
Nos últimos anos, publicou-se inúmeros avanços no trata- extraretinal complications and principles of vitreous surgery. Retina.
mento da retinopatia diabética, graças a estudos multicêntricos 1981;1(1):1-17.
e novas perspectivas de melhores resultados que apareceram 17. Cohen HB, McMeel JW, Franks EP. Diabetic traction detachment. Arch
com o advento de melhores técnicas cirúrgicas, equipamentos Ophthalmol. 1979;97(7):1268-72.
mais modernos e novas medicações para aplicações intravítreas. 18. D'Amico DJ. Diabetic traction retinal detachments threatening the
fovea and panretinal argon laser photocoagulation. Semin Ophthalmol
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Tratamento cirúrgico da retinopatia diabética 209

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Ophthalmol. 2006;124(9):1350-3. final para o inglês, está será publicada na versão eletrônica
antecipadamente a publicação impressa (ahead of print).
Arnarsson A, Sverrisson T, Stefansson E, Sigurdsson H, Sasaki
H, Sasaki K, et al. Risk factors for five-year incident age-related * Nota importante: A “Revista Brasileira de Oftalmologia” em
macular degeneration: the Reykjavik Eye Study. Am J Ophthalmol. apoio às políticas para registro de ensaios clínicos da Organização
2006;142(3):419-28. Mundial de Saúde (OMS) e do Intemational Committee of Medical
Joumal Editors (ICMJE), reconhecendo a importância dessas
Livros: iniciativas para o registro e divulgação internacional de informação
Yamane R. Semiologia ocular. 2a ed. Rio de Janeiro: Cultura sobre estudos clínicos, em acesso somente aceitará para
Médica; 2003. publicação, a partir de 2008, os artigos de pesquisas clínicas
que tenham recebido um número de identificação em um dos
Capítulos de Livro: Registros de Ensaios Clínicos validados pelos critérios
Oréfice F, Boratto LM. Biomicroscopia. In: Yamane R. estabelecidos pela OMS e ICMJE, disponível no endereço: http:/
Semiologia ocular. 2ª ed. Rio de Janeiro: /clinicaltrials.gov ou no site do Pubmed, no item
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Dissertações e Teses:
Cronemberger S. Contribuição para o estudo de alguns as- O número de identificação deverá ser registrado abaixo do
pectos da aniridia [tese]. São Paulo: Universidade Federal de São resumo.
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Publicações eletrônicas: Os trabalhos poderão ser submetidos pelos Correios ou pela
Herzog Neto G, Curi RLN. Características anatômicas das vias Internet.
lacrimais excretoras nos bloqueios funcionais ou síndrome de Milder. a) Internet: submissão pelo site - “rbo.emnuvens.com.br”
Rev Bras Oftalmol [periódico na Internet]. 2003 [citado 2006 jul b) Correios: Revista Brasileira de Oftalmologia
22];62(1):[cerca de 5p.]. Disponível em: www.sboportal.org.br Rua São Salvador, 107 - Laranjeiras
Tabelas e Figuras: A apresentação desse material deve ser em CEP 22231-170 - Rio de Janeiro - RJ

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Revista
Brasileira de
Oftalmologia
Declaração dos Autores (é necessária a assinatura de todos os autores)

Em consideração ao fato de que a Sociedade Brasileira de Oftalmologia está interessada em editar o manuscrito a ela enca-
minhado pelo(s) o(s) autor(es) abaixo subscrito(s), transfere(m) a partir da presente data todos os direitos autorais para a Socie-
dade Brasileira de Oftalmologia em caso de publicação pela Revista Brasileira de Oftalmologia do manuscri-
to............................................................. . Os direitos autorais compreendem qualquer e todas as formas de publicação, tais como na
mídia eletrônica, por exemplo. O(s) autor (es) declara (m) que o manuscrito não contém, até onde é de conhecimento do(s) mesmo(s),
nenhum material difamatório ou ilegal, que infrinja a legislação brasileira de direitos autorais.
Certificam que, dentro da área de especialidade, participaram cientemente deste estudo para assumir a responsabilidade por
ele e aceitar suas conclusões.
Certificam que, com a presente carta, descartam qualquer possível conflito financeiro ou de interesse que possa ter com o
assunto tratado nesse manuscrito.

Título do Manuscrito___________________________________________________________________________

Nome dos Autores_______________________________________________________________________________

_____________________________________________________________________________________________

Minha assinatura abaixo indica minha total concordância com as três declarações acima.

Data____________Assinatura do Autor____________________________________________________________

Data____________Assinatura do Autor____________________________________________________________

Data____________Assinatura do Autor_____________________________________________________________

Data____________Assinatura do Autor_____________________________________________________________

Data____________Assinatura do Autor____________________________________________________________

Data____________Assinatura do Autor_____________________________________________________________

Rev Bras Oftalmol. 2013; 72 (3): 210-2

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