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MEDITAÇÃO
Princípios gerais para a sua prática
UNIVERSALISMO
Sumário
Prefácio
1 — Definição de meditação
6 — Obstáculos à meditação
10 — Subconsciência e hiperconsciência
17 — A criação de clichês
18 — Meditação em diagramas
19 — Japa
29 — A meditação muda
30 — A prece muda
33 — A possibilidade de milagres
Epílogo
Bibliografia
Acredito que, mesmo no atual
período de perda total dos valores morais
e espirituais, ainda existem
almas vivas, inteligentes e
suficientemente inspiradas para não se deixarem
tragar pela tendência
à frustração predominante.
É para elas que escrevo.
Prefácio
Os resultados disso podem ser vistos hoje em dia ao nosso redor, e não há
necessidade de salientar detalhes para um leitor com discernimento. Basta
observar, e ele logo encontrará a verdade por si mesmo.
Neste livro tratarei do termo meditação, tão mal utilizado e pouco compreendido
— quando, na verdade, deveria ter um lugar de honra entre os esforços mais
elevados e inspirados do homem — para descobrir a Verdade real de si mesmo
e tomar seu devido lugar na vida consciente, livre das limitações da matéria
bruta, como é o seu revestimento temporário e mortal, no qual nenhuma
Realidade ou Verdade jamais pode ser encontrada.
Mas a meditação é uma ciência, uma arte, que requer preparo e estudos sólidos,
como todo ramo do conhecimento humano, com a diferença de que a média
intelectual pode competir muito bem com os “graus” oficiais, mas o mesmo não
pode ser dito sobre conquistar a habilidade para meditar. Onde reside a causa
disso? A ciência oficial lida com as experiências passadas dos homens; portanto,
o professor ensina aos alunos o que ele mesmo foi capaz de aprender e
descobrir em seu campo particular de estudo. Os estudantes tentam então
assimilar, memorizar e usar esse conhecimento adquirido de acordo com suas
necessidades, algumas vezes desenvolvendo-as depois, se sentirem atração
pela matéria. Sem dúvida, os estudos desenvolvem seus cérebros e os
preenchem com uma quantidade de fatos memorizados, fórmulas, teorias, leis,
etc.
Mas não devemos perder de vista o fato de que todos os exames pelos quais
passamos em nossa vida escolar são requisitos padronizados, impostos e
fixados por aqueles que possuem maior conhecimento num campo em particular.
Estarão eles interessados nas habilidades reais dos alunos, além das respostas
satisfatórias e da solução dos problemas propostos nas provas?
Esse relacionamento deve ser bem compreendido durante seu estudo futuro do
assunto, de modo que você seja capaz de discriminar entre o conhecimento
armazenado em seu cérebro e a HABILIDADE para usar o cérebro em qualquer
direção que precisar, e não apenas na que lhe é ensinada na escola.
É por isso que sou compelido a fazer a seguinte afirmação: antes de embarcar
no estudo prático deste livro, você deve invariavelmente se familiarizar com:
a) a teoria da concentração, e
Tudo isso faz parte do meu trabalho básico, Concentração, publicado pela
primeira vez em 1959. O livro Samadhi, especialmente a terceira parte, também
é recomendado para se ampliar o conhecimento dos temas para a meditação.
Deste ponto de vista, o presente trabalho é como uma continuação dos dois
livros acima mencionados, e estou escrevendo isso supondo que os meus dois
livros anteriores sejam conhecidos por você. Será impossível repetir em
Meditação o material já exposto em outros livros.
Você deve compreender claramente que a idéia popular (mas tão ilusória)
propagada por determinadas organizações pseudo-ocultistas e pseudo-
filosóficas: “Qualquer um pode meditar” é um absurdo total.
É possível atravessar o canal da Mancha sem saber nadar? Você pode dirigir
um carro depois de ler uma dúzia de manuais sobre montagem de motores e
como dirigir, sem passar várias horas praticando com um instrutor experiente?
Antes de começar este livro, você está autorizado a me fazer uma importante
pergunta e obter sua resposta a ela: SOB QUAIS CONDIÇÕES POSSO TER A
ESPERANÇA DE OBTER PROVEITO TOTAL DESTE LIVRO? VOCÊ PODE ME
GARANTIR O SUCESSO?
A principal condição será tratar este curso do mesmo modo que o fez com os
estudos obrigatórios, pelos quais passou para receber seus diplomas. Isso
significa ter que executar tudo o que está prescrito sem omitir ou abandonar
qualquer coisa por causa das dificuldades encontradas. Além do mais, se você
abandonasse certas partes de seus estudos, por exemplo, a álgebra,
simplesmente porque são entediantes, poderia passar pelos exames finais?
Você sabe que não.
Nessas circunstâncias, isto é, se você continuar até o final do curso, sua garantia
será a própria realização do autor neste campo, assim como muitos daqueles
que trabalharam de modo semelhante e receberam sua recompensa, a qual não
trocariam por nada no mundo.
Pelo que foi dito, você já viu que este livro não é para débeis mentais, mas para
homens e mulheres inteligentes e de bom senso. Um “iniciado”, ou homem que
é capaz de se tornar um iniciado, ESTUDA E COMPREENDE, enquanto um
“leigo”, incapaz de assim o fazer, apenas LÊ E FALA. Nisso reside toda a
diferença entre os homens. Portanto, um cientista bem versado em seu próprio
ramo particular de conhecimento é iniciado nele, enquanto uma pessoa
ignorante faz apenas suposições. Este é o nosso ponto de vista.
PRIMEIRA PARTE
PRELIMINARES
TEÓRICAS
1
Definição de meditação
O mais elevado instrumento para o ser humano médio atual é sua mente, com
seu órgão físico, o cérebro. Este fato é de fácil comprovação. Quando Descartes
propôs pela primeira vez seu famoso “Cogito ergo sum” (Penso, logo existo),
expressou essa idéia de um modo totalmente categórico. E para a maior parte
da humanidade nos dias de hoje isso parece estar certo.
Quanto mais vasta nossa experiência, mais nosso cérebro inferior está pronto
para reagir rapidamente desse modo tradicional. E assim fazendo, podemos de
fato sentir que é “nossa cabeça” (na verdade, seu “conteúdo”) que está
trabalhando a partir de reações e soluções de problemas similares. Se você está
interessado em informações, encontra-se justamente nesse nível de nosso
cérebro-consciência, o qual está envolvido principalmente com sonhos comuns,
em geral tão sem sentido e evidentemente apenas um tipo de repetição
automática — com muitas imperfeições — de nossas atividades ou memórias
diárias. Se pensamos intencionalmente a respeito de um determinado problema
durante o dia e continuamos esse processo especialmente um pouco antes de
dormir, o cérebro aparentemente trabalha no nível subconsciente durante a
noite, e algumas vezes acordamos com uma solução pronta, à qual não
havíamos conseguindo chegar na noite anterior.
Para aqueles que se sentem curiosos sobre esse estranho fato, posso dizer que
a explicação está na descoberta do clichê da solução de um modo
subconsciente, pois nosso intenso e prolongado desejo de descobrir algo é como
um magnetismo que atrai os clichês correlatos do mundo invisível, o qual
podemos chamar tradicionalmente de plano astro-mental. Uma explicação
completa desse importante termo “clichê” será dada com destaque nos próximos
capítulos.
Aqui, estou me limitando a expor a ligação que uma determinada parte de nossa
mentalidade humana tem com o órgão físico, que é responsável por transmiti-la
à ação em matéria, isto é, o item A do começo deste capítulo, e as considerações
que o mantêm.
Mas, do outro lado da mesma moeda, a afirmação contrária, o item B, nos dirá
algo diferente. A causa situa-se no fato de o nosso processo de pensamento não
estar de modo algum limitado aos acontecimentos, como no item A. Portanto, B
é válido por este outro aspecto. A mente humana pode ter idéias que não estão
relacionadas apenas com as necessidades e desejos diários do homem, mas
também com um número infinito de pensamentos obscuros, livres de todos os
apegos materiais, frequentemente nem mesmo adequados para serem incluídos
no processo usual de verbalização. Você não pode ter idéias a respeito, por
exemplo, de beleza, lealdade, amor, impaciência, depressão e assim por diante,
sem formar alguma imagem material ou fazer ligações com objetos e
sentimentos? A maioria das consciências mais desenvolvidas são perfeitamente
capazes de competir com um processo mental tão alto, sem sentir
absolutamente que estão limitadas e fixadas em seus crânios. Uma estranha
mas verdadeira consciência de liberdade do elo material desenvolve-se
naquelas pessoas que persistem em operar nesse tipo particular de atividade
mental.
Seu verdadeiro campo será, pelo contrário, o dos processos de pensamento que
não estão presos ao cérebro. Quer dizer, o tipo de processo que pertence à
categoria A.
Você pode ver imediatamente por si mesmo que essa afirmação implica uma
consequência lógica e natural. Nem todo mundo pode meditar, mas apenas
aqueles que se encontram felizes com o modo B de pensamento. Isso se refere,
é claro, apenas àqueles períodos de seu dia nos quais está livre da compulsão
da subsistência e de problemas similares que precisam ser solucionados. Não
se esqueça disso, pois você não pode, e não será capaz de dedicar (pelo menos,
por um período muito extenso de sua vida na forma corporal), todo o seu tempo
à meditação, não importa o quanto se considere devotado a isso.
Mas procure concentrar-se imediatamente nas soluções para a sua vida, pois,
sem isso, seus esforços em meditação podem ser frustrados. A filosofia básica,
a filosofia com a qual você vive, é a base do seu sucesso. Portanto, lembre-se
também da lei da periodicidade ondulatória, tão conhecida de todos os
verdadeiros ocultistas, e na qual consistem invariavelmente as encarnações
humanas. Ela é graficamente representada por uma curva sinuosa na figura 1.
Com tudo isso, você estará armado contra as dificuldades e incompreensões
iniciais e subsequentes.
Algum dia, após uma eternidade de lutas e progressos, você descobrirá esse
Reino de Deus, esse Nirvana, ou Realização final, e não haverá mais nenhuma
flutuação da curva sinuosa.
Como esse padrão se ajusta à meditação! Mas nós ainda estamos no início do
trabalho, portanto, vamos deixar isso para os últimos capítulos, quando
deveremos estar preparados para essa tarefa. Estou dando aqui apenas uma
idéia proveitosa para um início feliz.
Portanto, falarei agora da pretensão com que este trabalho preliminar foi
devidamente executado, portanto, do alfabeto da meditação que foi estudado
com sucesso.
Não seja apressado, pois isso pode frustrar até mesmo as melhores intenções.
Compreenda, além de qualquer dúvida, que, trabalhando ao longo das linhas
presentes, você estará trabalhando não apenas por uma encarnação, mas pela
eternidade. Você estará aprendendo a dominar habilidades que o acompanharão
para sempre, e não meramente preenchendo sua mente com conhecimentos
mortais, os quais podem ser úteis apenas para a presente encarnação e para as
condições deste planeta. Chegando ao outro mundo, você novamente terá de
adquirir conhecimentos condicionais similares. Espero que seja capaz de
compreender que, mesmo segundo simples cálculos matemáticos, surgidos do
fato reconhecido até pela astronomia oficial, existem bilhões de sóis com seus
planetas nas inumeráveis galáxias do Cosmos. Não tomarei sua atenção com
citações, apenas completarei dizendo que a existência de planetas habitáveis
que servem de base para seres inteligentes está além de qualquer dúvida
razoável. É simplesmente um resultado da combinação do número de galáxias
e seus sistemas solares e a derivação, pelos cálculos de probabilidades, da
necessidade para a existência de tais planetas.
Portanto, gostemos ou não, este é um fato e nada pode mudá-lo. Não obstante,
um tipo de consolo existe. Aqueles que vivenciaram a Realização sempre a
reconheceram, embora fossem incapazes de expressá-la em palavras.
Entretanto, se ainda existe uma pequena luz nele, então boas palavras podem
ajudá-lo. Deixemo-lo ler e pensar a respeito, por exemplo, dos DEZ
MANDAMENTOS, do SERMÃO DA MONTANHA, dos VERSOS DE OURO DE
PITÁGORAS, da Vida dos Santos, das Enéadas de Plotino e de todos os outros
escritos reconhecidos como verdadeiramente espirituais. Enumerei aqui apenas
alguns títulos como exemplos de diferentes abordagens para a mesma verdade
interior. Desenvolva-as como sentir melhor. Ninguém pode escolher por você.
Dentre os obstáculos, a maior parte de natureza física, que são óbvios para todo
mundo estão: a imoralidade, a desonestidade, a raiva, a mentira, as paixões, os
maus hábitos, a falta de força de vontade 1 e a falta de estabilidade e resistência.
Trabalhando com o que foi dado aqui, você provavelmente será capaz de
completar a “lista” por si mesmo.
Há diferentes leis que regem a vida física e mental do homem, e algumas delas
dizem respeito à meditação. Será sobre elas que iremos tratar na primeira parte
deste livro. Neste capítulo, falaremos sobre a lei principal, que é a dos CLICHÊS.
Normalmente, todo intelectual sabe a respeito das forças que operam em sua
consciência. Pelo trabalho anterior a este, o livro Concentração, vocês já tiveram
conhecimento da maioria das forças que podem ser encontradas na consciência
humana. Elas são: sentimentos e pensamentos. Assim, vamos nos ocupar delas
novamente, pois a meditação requer um conhecimento exato de ambos, uma
vez que serão confrontados durante este curso.
Pela leitura de Concentração, você já sabe como essas forças trabalham. Mas a
meditação transcende o conhecimento factual, pois seu verdadeiro campo de
atividade é muito mais vasto do que o domínio da mente e dos sentimentos
durante os exercícios apropriados. Em outras palavras, temos de ser capazes
de explicar as leis que usamos. Isso significa que temos de nos aprofundar no
assunto; então, muitos problemas surgirão, os quais precisam ser conhecidos e
resolvidos. Do contrário, nosso barco ficará à deriva.
Alguns espíritos humanos sublimes que vieram para este planeta ocuparam-se
de problemas similares e encontraram soluções úteis para eles; por meio da
infinita Corrente de Iniciados, essas soluções têm se tornado acessíveis aos
homens de boa vontade, que vivem até mesmo nesta época deplorável de
profundo mergulho geral num materialismo negligente que tende a negar tudo o
que não pode ser visto e tocado.
Estou dando aqui apenas o que é realmente necessário para o presente estudo.
No mundo ocidental, o conhecimento do Cósmico e de todos os outros clichês
derivados foi liberado para um círculo limitado de Iniciados apenas por volta do
último século.
Por esse motivo, eles foram capazes de renunciar à criação de novos temas,
uma vez que tinham acesso ao amplo tesouro disponível de sua antiquíssima
tradição.
Mas nosso curso de meditação pertence aos dias atuais, e é preferível que
trabalhemos sem dificuldades adicionais, as quais invariavelmente surgirão se
você começar a buscar soluções nos textos velados, a decifrar o que não é
acessível a tudo e a todos. É por isso que aqui precisamos ter uma exposição
pronta da ciência dos clichês. O termo “clichê” é muito amplo, assim como muito
vastas são as manifestações da vida total. Portanto, não podemos deixar de falar
das diferentes aplicações das LEIS DOS CLICHÊS, ao invés de dar uma
definição universal (mas impossível). Essa definição não existe. Mas, pelo
menos, estamos conscientes do porquê disso.
Os CLICHÊS compreendem o todo da Criação, pois, sem eles, nada jamais foi,
é ou será manifestado. Você sabe tudo sobre a Vida? É por isso que apenas
aqueles tipos de clichês que estão relacionados com as manifestações
CONHECIDAS podem ser reconhecidos. Isso parece claro, para mim, mas se
você tem alguma dúvida, pergunte a si mesmo: “Quais as formas de vida que
podem existir em outros planetas pertencentes à nossa galáxia, para não falar
de todos os milhões de outras galáxias?
Mas, assim como tudo aqui tem seu próprio clichê, o mesmo acontece com as
formas mais distantes de existência, as quais são desconhecidas para nós. Sem
conhecê-las não se podem conhecer seus clichês.
Em terceiro lugar, este é o momento para dar um exemplo de uma ação de clichê,
e isso provavelmente elucidará melhor o estudante.
O clichê de sua encarnação (no plano visível, é claro) começou com a união de
seus pais. Gradualmente, o processo de materialização de seu clichê levou-o
por suas subdivisões, isto é, por sua infância, juventude, período adulto e velhice,
terminando com o clichê de sua morte. Não se esqueça de que isso vem do
nosso ponto de vista limitado de que tudo acontece numa sequência que
chamamos de tempo. Na verdade, tudo isso existe no clichê indefinidamente, e
abarca o infinito inteiro do que se pode chamar de “futuro”.
Poderia parecer que o conhecimento de clichês (e isso pode ser apenas uma
teoria para você até que tenha experiências positivas sobre o assunto, como
outros tiveram) limita a vida humana, que é algo como um destino inexorável, o
qual nos privaria de nosso livre-arbítrio. Em essência, não é assim, pareceria
assim se pudéssemos ver o quadro completo de nossos clichês de uma só vez.
Mas não vemos, e isso nos deixa uma quantidade suficiente desse ilusório “livre-
arbítrio”. E digo ilusório deliberadamente.
Pois do QUE, ou de QUEM você gostaria que sua vontade fosse independente?
Se você é capaz de prever determinadas atividades sob dadas circunstâncias,
efetuadas por um ser menos desenvolvido do que você neste momento, seu
filho, por exemplo, então o fato de que você sabe o que essa criança fará em
determinadas circunstâncias limita o livre-arbítrio dela? Ou, se alguém mais
sábio do que você, que pode prever seu comportamento sob determinadas
circunstâncias, escreve isso de modo a lhe dar uma prova irrefutável de seu
conhecimento, e lhe mostra o que escreveu depois de você ter agido, você
sentirá que não estava agindo livremente, só porque alguém previu seu
comportamento?
Estas são frases simples, como você pode ver por si mesmo, mas pense
profundamente em seu significado, e poderá tirar surpreendentes e elucidativas
conclusões.
Assim é o lenhador para uma árvore que ele derruba; e o furacão que destrói
uma cidade, matando seus habitantes numa manifestação do clichê da morte
deles; as negociações entre os governos de algumas nações, as quais levarão
a uma declaração de guerra, são os primeiros traços dos clichês de morte e
sofrimento para os cidadãos dos países afetados; como seu amor por outro ser
humano ou animal pode ser seu clichê de felicidade.
E é por isso que falei sobre eles neste capítulo. Pois aqueles que pretendem
estudar a arte de meditar precisam saber bastante de antemão, e seu conceito
de vida e do mundo ao seu redor também deve ser preestabelecido, se bem que
em teoria, é claro.
A. Clarividência e clariaudiência
O fato irrefutável de que os seres humanos, sob determinadas condições, podem
perceber coisas e acontecimentos além do tempo presente tem sua justificativa
nas leis que governam os clichês. Depois do que já foi dito a respeito deles, só
um pequeno passo à frente é necessário para nos dar uma explicação completa
desses poderes chamados de psíquicos no homem. Como os clichês de todas
as coisas e ações existem além de nossas três subdivisões de tempo, para
perceber esses clichês em suas formas “passada” e “futura” só precisamos de
habilidade para lê-los. Essa habilidade pode ser inerente à pessoa ou
desenvolvida durante a sua vida. Ambos os modos têm uma base em comum, a
faculdade (consciente ou inconsciente) de ser capaz de, temporariamente,
acalmar as incessantes vibrações da mente, isto é, de eliminar todos os
pensamentos, exceto os que queremos que permaneçam. Então vem o fator
mais importante, a habilidade de silenciar por completo a mente, isto é, de cessar
todo o processo mental. Sim, nada menos do que isso. Não se pode ver uma
imagem claramente em meio às águas turbulentas de um poço, mas somente
quando a superfície tiver se tornado um espelho. Você pode ler centenas de
livros ocultistas e similares, executar os mais complicados exercícios físicos e de
respiração, jejuar, etc., mas, a menos que seja capaz de se separar do
movimento contínuo da mente, nunca será capaz de perceber nenhum clichê.
Esta é a parte passiva da faculdade. A ativa, e não menos essencial, é ser capaz
de direcionar uma pergunta muda (sem verbalizá-la) para ver ou ouvir um clichê.
Voltando ao meu caso, e tomando o último exemplo, isto é, este livro, ele
aconteceu deste modo. Depois de terminar o livro Teurgia e de ter visto alguns
volumes em livrarias, fiquei “livre” por algumas semanas. Como tem acontecido
há muitos anos, acordei por algum tempo, duas ou três horas após a meia-noite,
face a face com alguns pensamentos. Descartei-me deles e depois continuei
minha “vida astral”, isto é, permiti que o meu corpo voltasse a dormir.
Mas quando um clichê vem, as coisas são diferentes: sente-se que não se deve
e nem se pode tratá-lo como um pensamento comum, como uma criação da
nossa mente, ou seu reflexo. O encontro demora mais tempo a cada noite.
Correntes de idéias vêm como filmes se desenrolando e a pessoa fica como que
encantada com seu frescor e clareza.
Então, um dia, o título de um novo trabalho foi concebido, sendo que o conteúdo
já tinha sido “visto” na mente mais de uma vez. A máquina de escrever estava
em seu lugar habitual, um maço de papéis foi trazido, o prefácio e os capítulos
vieram a seguir e, como resultado, você está lendo estas linhas. Nenhum plano
foi estabelecido previamente, nem o título dos capítulos. O “índice” que
geralmente é feito antes do texto, neste caso, aparece quando o livro já está
pronto. É assim que acontece!
Nesse meio tempo, o garçom provavelmente já teria ido servir outros fregueses,
e as preocupações do homem a respeito de sua provável refeição teriam
estragado seu apetite e influído adversamente no fluxo de seus sucos gástricos,
convidando uma indigestão à sua mesa. A simples atividade de alimentar o corpo
físico se transformaria em deliberações desnecessárias e absurdas a respeito
de coisas que não são absolutamente pertinentes.
A meditação, juntamente com sua irmã gêmea, a prece, é o meio certo de se pôr
em contato com os clichês desejados. É por isso que estou dando aqui material
relacionado a ambas.
Você sabe o que acontece àqueles que são seduzidos por todas as práticas
ocultas, aconselhados por ignorantes e por crenças igualmente ignorantes, que
tentam desenvolver todos esses kundalinis e outros absurdos que não se
ajustam a nossas condições e modos de vida? Bem, tenho pilhas de cartas
pedindo socorro, quando o mal já foi feito e é impossível repará-lo. Pois há um
campo no qual a inabilidade, ou ação realizada por mera curiosidade (e não pode
haver qualquer outro motivo, nesses casos), é severamente punida e raramente
remediada. Assim é o campo oculto: pois nele o homem se põe em contato (se
for capaz) com forças que não conhece apropriadamente, e cuja associação é
ilegal para ele. Alguns tentam se justificar, dizendo que gostariam de ter mais
poderes “a fim de ajudar os outros”. Você sem dúvida concordará que isso é uma
completa inverdade. Aqueles que realmente querem ser úteis o serão, não
importa o quanto seus meios possam ser aparentemente limitados; enquanto
aqueles que são incapazes de dar assistência com suas habilidades atuais nem
mesmo pensarão a respeito disso se receberem poderes “sobrenaturais”. Eles
continuarão fazendo o mesmo que fazem agora: pensar apenas em seu próprio
ego.
Portanto, para nós, o termo “meditação” significa o mais elevado e o melhor uso
do enorme poder que repousa oculto em nós mesmos, em cada um de nós. É a
força espiritual do verdadeiro Espírito do homem. Nesta subdivisão do presente
capítulo temos de obter informações sobre como atrair os clichês apropriados e
positivos.
Quanto mais denso o campo no qual usamos nossa força de vontade, mais
limitados são os resultados. É muito difícil — mas é possível, sob certas
condições — produzir mudanças físicas pelo simples poder da força de vontade.
Por outro lado, nesses mundos menos materiais nos quais também vivemos e
operamos, isto é, no mundo dos sentimentos (astral) e dos pensamentos
(mental), a força de vontade produz resultados infinitamente maiores. Criando-
se sentimentos e pensamentos propositadamente, somos capazes de influenciar
os mesmos campos ao nosso redor. E como os fatos do mundo físico têm origem
no mundo das emoções e pensamentos, suas manifestações podem ser
afetadas pelos poderes usados nesses mundos. A cabala, a verdadeira magia e
a filosofia hermética baseiam-se justamente na aplicação correta dessas leis
simples. É dessa criação “misteriosa” e irradiação de “vórtices” que se fala no
Tarô Tradicional. Uma abordagem completa do assunto pode ser encontrada em
meu livro O tarô: um curso contemporâneo da quintessência do ocultismo
hermético.
4
Respostas a algumas
questões básicas
No segundo capítulo apareceram seis questões vitais, mas até agora nenhuma
delas foi respondida diretamente. Apenas depois de ler e compreender o
significado das páginas seguintes, assim como de todo o capítulo 3, é que algum
tipo de solução satisfatória será encontrada pelo estudante aplicado. Portanto,
presumo que só precisarei dar expressão formal às respostas que já estão em
sua mente.
Descobri isso nos recônditos do meu ser durante minhas meditações “mudas”,
sem palavras. É por isso que escrevi este livro para você, para que possa tentar
(e conseguir) obter a única coisa que realmente conta: a experiência pessoal
verdadeira.
Quando aos pés de Sri Maharshi, o último Grande Rishi indiano (1879-1950), já
mencionado, aprendi outra idéia, a do Eu Central, do Eu Verdadeiro, equivalente
ao que chamamos de “Deus”. Certa vez, Sri Maharshi disse: “O Eu Supremo é
Deus, pois, se assim não fosse, Deus seria o Não-Eu, o que é um absurdo”. Aqui,
a ausência do eu significa “falta do Eu ou Consciência”, e é por isso que o sábio
afirma que Deus é a própria Consciência.
Ao lado dos inúmeros clichês de menor significado, que estão próximos da raça
humana, existem outros fatores que ainda não foram mencionados no que diz
respeito ao encontro de um homem com um clichê. É o caso de um homem e
um clichê “contemplando” um ao outro, e quando o homem aceita esse clichê,
não apenas seu comportamento se modifica, mas o clichê é influenciado pela
consciência do homem. Ele se afasta levemente alterado, embora retenha seu
caráter primário. Quando um escritor percebe um clichê e o coloca em palavras,
recebe novas idéias e progride. E o mesmo acontece com o clichê: ele deixa a
contemplação mútua “magnetizado” e, talvez, intensificado em comparação com
o que era antes do encontro.
Como podemos ver, muitas questões difíceis podem ser respondidas por meio
do uso do conhecimento dos clichês, embora não possamos dizer que
abraçamos sua essência total.
Parece que, na época atual, muitas pessoas estão mais interessadas nas
manifestações elevadas da consciência humana do que nas já conhecidas,
usadas por homens e mulheres em sua vida diária. Vamos enumerar as
faculdades que já possuímos.
Portanto, até um determinado grau, podemos avaliar nosso mundo astral e suas
manifestações em todas as três subdivisões de tempo. Lembramos nossos
sentimentos no passado, conhecemo-los no presente e, até certo ponto,
podemos prevê-los no futuro, se as condições forem previstas por nossa mente.
Se nos recordamos de nosso trabalho quando algumas boas notícias nos foram
dadas, quando tivemos sucesso no que chamamos de “amor”, ou, por exemplo,
quando ganhamos uma grande quantidade de dinheiro, ou realizamos um
negócio lucrativo, podemos gostar de reviver esses sentimentos muitas e muitas
vezes, e, na verdade, muitos de nós fazemos isso constantemente. Esses são
apenas alguns exemplos simples, e você é livre para multiplicá-los tanto quanto
queira. O fato a se notar é que, SE AS RECORDAÇÕES ASTRAIS SÃO
BASEADAS EM NOSSAS EXPERIÊNCIAS PESSOAIS OU TEÓRICAS, ELAS
PODEM SER RECRIADAS E VIVIDAS NO PRESENTE TÃO BEM QUANTO SE
NÓS AS ESTIVÉSSEMOS VIVENDO NO PASSADO. Mas isso se aplica apenas
quando elas têm sua origem em nossas experiências e não em condições e
possibilidades completamente desconhecidas.
Isso significa que somos capazes, em geral, de rever os tipos de clichês pessoais
(algumas vezes até melhor) à vontade. Isso é suficientemente claro para uma
mente que pense com lógica; nada tem a ver com clarividência; é apenas uma
operação comum da consciência.
Imagine que, após ter estudado devidamente o material exposto neste livro, você
tente dar seus primeiros passos no campo da meditação. É vital que esses
primeiros passos estejam certos, que você não se sinta desorientado, pois um
início errado leva a um processo errado. E o inevitável caminho de volta, antes
de um novo início, é desencorajante e tedioso. Portanto, vamos evitar o que pode
ser evitado, e não permitir que a frustração envenene nossas melhores
aspirações, pois ela é, na verdade, o veneno mais mortal que se possa imaginar
em todos os campos e planos de vida. A mente tentará instilar em você a
convicção de que o pensamento fácil a respeito de um tema de meditação
escolhido, com numerosos desvios, interrupções, etc., é um tipo de meditação,
quando, na verdade, todos esses erros simplesmente nos levam para longe do
objetivo real. Portanto, você deve ter cuidado com esse tipo de ilusão e tratar
disso de um modo adequado: pela destruição das falsas sugestões da mente. É
algo como a destruição das células durante o processo de radioterapia, que
deixa as células saudáveis ilesas ou apenas muito levemente ou não seriamente
afetadas, enquanto atua sobre as malignas.
Esta é a primeira qualidade essencial que você precisa para começar o estudo
da meditação.
b) Vamos olhar para o Passado e ver como podemos operar nele. Esse “olhar”
é muito parecido com as atividades passadas em nosso mundo de sentimentos
(astral), com a diferença de que pode ser destituído dos elementos emocionais
do Astral. Posso recriar o quadro mental de mim mesmo datilografando este
trabalho ontem, e ainda lembrar o conteúdo dos capítulos escritos anteriormente.
Um esforço maior me permitirá reescrever (em minha mente) as páginas que
pertencem ao passado. Do mesmo modo, você pode evocar em sua mente
quadros vistos em dias ou mesmo em anos anteriores. E você os chamará de
“clichês mentais do passado”, o que estará perfeitamente correto. Mas essa
denominação fará disso um processo de percepção de clichês do passado não
vistos anteriormente, constituindo os mesmos uma clarividência do Passado? A
resposta será certamente negativa. Essa discriminação sempre deve ser usada
durante a prática da meditação. Você deve estar consciente e saber a respeito
das diferenças entre o processo de recordação, isto é, de reutilização de seus
próprios clichês mentais, e a leitura de clichés verdadeiros, que ocorrem durante
a meditação e para a qual a meditação é a verdadeira chave. Para as pessoas
que nunca estudaram qualquer manual abrangente sobre o assunto, essa falta
de discriminação geralmente é a principal causa de tantos erros e insucessos na
tentativa de meditar.
Tudo o que foi apresentado tem o intuito de auxiliá-lo no que diz respeito às
inevitáveis dificuldades do início da meditação e de ajudá-lo a lidar
apropriadamente com suas dificuldades, não permitindo que caprichos mentais
o desviem do caminho certo.
São noções que toda pessoa que medita deve conhecer, e nossos
predecessores, que seguiram o Caminho, descobriram essas leis por seus
incríveis trabalhos e esforços. E eles nos legaram suas descobertas no que
agora chamamos impessoalmente de “A TRADIÇÃO”.
Nenhuma energia consumida perece, mesmo que assim o pareça; é apenas uma
ilusão de nossa percepção imperfeita, que é incapaz de ver o processo eterno
de transformação que rege o universo.
Seu processo corporal também está em plena marcha, sem cessar: os tecidos
estão crescendo e sendo substituídos por novos e você está envelhecendo a
cada segundo, a caminho do fim comum ao ser físico. As montanhas,
lentamente, estão sofrendo erosão; o granito está se tornando um solo fértil; o
solo está sendo usado pelas plantas e tornando-se estéril, até que um novo
processo na superfície do planeta mude o quadro geral. Seus sentimentos e
pensamentos de hoje são muito diferentes dos de anos atrás. Os gregos antigos
expressaram isto de forma breve mas exata no famoso “Panta rei”, ou “tudo está
fluindo”. Podemos acrescentar que o Grande Rio do Tempo leva tudo com ele,
e nada neste mundo permanece imutável e estável.
Tal é o quadro, e assim deve ser visto nos três mundos manifestos conhecidos
por nós: o da matéria física, o dos sentimentos e o dos pensamentos. Sua
meditação estará sujeita à mesma Lei da Fluência, mas não para sempre, como
você ficará sabendo nos capítulos finais deste livro.
A principal tarefa para quem começa a meditar, após ter disciplinado a mente
como foi descrito no livro Concentração, é transformar seu fluxo incoerente de
pensamentos numa corrente de movimento sereno, cuja direção pertence ao
próprio aspirante. Em seu curso de concentração, você aprendeu a estabilizar a
mente, a compeli-la em direção a um objetivo único, sem qualquer desvio ou
interrupção. Foi um fixar de sua atenção em alvos imóveis. A seguir, aprendeu
também a exercitar sua concentração em quadros imaginários móveis, simples,
mas de forma definida. Então, veio a fase passiva, quando a mente se imobilizou
por completo, e nenhuma impressão exterior ou interior conseguiu perturbar
esse estado cristalizado.
Finalmente, para coroar seu trabalho, você foi instruído para expandir a sua
consciência — já equilibrada pela submissão da mente antes desregrada e
ansiosa — naquilo que reside além do domínio da mente, nessa sutilíssima
manifestação da matéria jamais conhecida.
Como você pode ver, a concentração vem novamente nos esclarecer. Sem ela
não se pode transcender as fronteiras e os obstáculos da mente descontrolada
comum e das emoções, os quais tornam nosso poço turvo e com superfície
irregular, incapaz, portanto, de servir como espelho.
Um homem que passou com êxito pelo curso de concentração possui uma
mentalidade e uma consciência completamente diferentes das de uma pessoa
destreinada. A meditação é mais fácil para ele, pois está familiarizado com o
domínio e com a eliminação, quando o deseja, de seus pensamentos.
O que, então, acarreta o hábito adquirido de meditar regularmente? Possuindo
o filtro de nossa consciência, que é a habilidade de aceitar e de excluir todas as
impressões astrais e mentais do espaço exterior, ou do mundo astromental que
nos circunda, podemos nos tornar conscientes de APENAS uma certa corrente,
entre clichês que precisamos ou queremos desenvolver. A mente começa a
trabalhar.
Mas o “Grande Rio” no qual queremos navegar durante nossas meditações ainda
existe, a despeito de todo o matagal que cobre suas margens. E encontrá-lo é o
nosso verdadeiro objetivo.
Acredito que, agora, a parte teórica do uso da meditação está basicamente clara
para o estudante. Os capítulos subsequentes serão dedicados à sua prática.
Por que estou escrevendo tudo isso? Simplesmente porque todo homem tem de
passar por enganos e frustrações ao longo de seu caminho na vida, mas pode
reduzir o seu número profano pelo uso racional da Lei da Discriminação:
“ESCOLHA SEMPRE O CERTO, POR MAIS BREVE QUE SEJA A SUA
ESCOLHA. É COMO UM MOMENTO, MAS ELE TAMBÉM É ETERNO”.
Uma vez mais, gostaria de citar uma frase proferida certa vez por alguém muito
mais sábio do que eu ou você:
Permita que seja esta a conclusão ao título deste capítulo que diz respeito às
realizações possíveis pela prática regular da meditação.
6
Obstáculos à meditação
Os dois tipos de fatores de oposição são muito semelhantes aos que impedem
nosso sucesso na prática da concentração. Isto é claro porque, como já
sabemos, a meditação e a concentração são na verdade irmãs gêmeas e, além
disso, se parecem com os gêmeos siameses que não podem separar-se, pois
morreriam se alguma tentativa cirúrgica fosse feita com esse intuito.
Não se deve tentar um estudo elementar da meditação quando não se está bem
de saúde. Quero enfatizar que isso se refere aos que estão começando, pois,
mais adiante, quando o homem já tiver experiências definitivas em atividades
superfísicas, será capaz de transferir sua consciência para regiões mais
elevadas, mesmo quando seu corpo estiver padecendo dores e desconforto.
Ramana Maharshi (1879-1950) sofreu com um sarcoma extremamente doloroso,
que afinal matou o seu corpo; contudo, ele nunca se queixou, nem perdeu a
compostura e a serenidade até o fim. Mas normalmente, em tais casos, os
mortais comuns estão sob constante e pesada sedação, para evitar que se
tornem violentos por causa do excesso de sofrimento, que não podem suportar.
Alguns poderão dizer que isso é impossível, pois não têm condições de estar a
sós e em paz durante sua vida diária. Infelizmente, isso não pode ser mudado.
Acredito, ainda, julgando por minha própria experiência, que se a decisão de
começar o estudo da meditação for suficientemente forte, a pessoa arrumará um
jeito. Senão, pode ser um sinal de que este caminho não serve para ela. Então
o caminho da Teurgia, que é o da prece sincera e intensa, pode ser aberto para
ela, e sem nenhuma significação inferior (na verdade, de um determinado ponto
de vista, é superior) ao da evolução pela arte de meditar. Lembre-se de que a
verdadeira prece sempre tem sua resposta, pois “o Supremo responde quando
abordado” (veja meu livro Teurgia: a arte da adoração eficaz).
Agora, vamos para o próximo tipo de obstáculo, o de caráter astral e mental, isto
é, o que está baseado em nossos sentimentos e pensamentos. Podemos
começar a meditar num estado de verdadeiro equilíbrio emocional ou mental, em
outras palavras, perturbados? Penso que NÃO. É como um iniciante em
atletismo que é incapaz, durante seus primeiros treinos, de levantar pesos que
serão o objetivo final de seu treinamento. Se estamos deprimidos, inseguros,
cheios de ansiedade a respeito das próximas horas ou dias, é melhor adiar o
início, pois há o perigo de nos tornarmos vítimas desse inimigo mortal, o
desapontamento ou a frustração, que é capaz de destruir a frágil planta do
estudo da meditação dentro de nós.
Esteja sempre de acordo com o nosso melhor amigo, o bom senso, e não tome
qualquer decisão no momento errado e sob más condições. Se o clichê de sua
realização for real, você não perderá nada adiando o trabalho por algumas horas
ou dias. Se esse clichê não existe para o período atual de sua vida, basta esse
fato para que você não leve o estudo com sucesso até o fim. Como podemos
adivinhar o que acontece de fato com esses clichês? Volte aos capítulos 2 e 3
para uma explicação detalhada. Preste atenção ao fato de que, se um clichê o
enfrentar, não o deixará tão facilmente, e você não será capaz de esquecê-lo de
imediato depois que a idéia tiver entrado em sua mente. Mas se acontecer de
você esquecê-lo, seja corajoso o suficiente para aceitar as consequências e
continue a busca em outra direção.
Contudo, vamos ser mais otimistas. Se o assunto não fosse de modo algum
ajustável a você, então o problema não surgiria em sua mente por um
considerável período de tempo. Sri Aurobindo Ghose de Pondicherry foi mais
além quando disse: “A aparente impossibilidade de se fazer alguma coisa agora
é apenas uma prova de que ela será feita no futuro”.
Além disso, os obstáculos surgem para serem superados. Sem eles, a realização
seria meramente como o vôo num planador, que conta com certas correntes e
condições térmicas da atmosfera, tornando a chegada ao objetivo pouco
dependente de nossa vontade e esforço. Entretanto, a presença de um motor
nos faz sentir-nos seguros de que podemos voar mesmo contra o vento e em
qualquer temperatura, sem nos preocuparmos com as correntes ascendentes e
outras. Então, simplesmente, rompemos através dos obstáculos e chegamos ao
nosso objetivo.
Finalmente, tudo o que foi dito aqui sobre obstáculos e suas conquistas diz
respeito apenas aos que têm a intenção sincera de seguir esse caminho. Os que
não sabem nada a respeito dele, ou não estão interessados, naturalmente estão
seguros por outros meios e não há necessidade de convencê-los ou tentar atraí-
los para algo que não faz parte da natureza deles.
Assim como há obstáculos, deve haver também certos fatores auxiliares para a
nossa meditação, e é essencial que saibamos a respeito deles.
A atitude da pessoa e os meios de vida também podem ser mudados pela própria
vontade dela, o que acelera os contatos que levam ao novo caminho. Vamos ver
agora o que podemos fazer para atrair esse auxílio para os nossos esforços.
Penso que a informação acima pode ser útil aos estudantes para elucidarem
certos problemas que algumas vezes aparecem para os aspirantes ao longo do
caminho da meditação. Quanto mais você souber e a quanto mais perguntas for
capaz de responder, mais paz terá durante a sua concentração e menos
ansiedade surgirá na sua mente curiosa. É por isso que estou dando todas estas
explicações neste capítulo.
Surge assim a conclusão de que a limitação de nossa leitura a poucos livros que
realmente interessam e a completa exclusão de produtos desnecessários de
ficção mental é de grande ajuda no Caminho.
Existem coisas que são independentes da vontade dos homens e de seus meios;
todavia eles continuam preocupados com acontecimentos que não podem evitar,
excluir ou mudar. Será este um comportamento correto para um homem que
espera conseguir mais sabedoria pela meditação? Se um homem é afetado
pelos dizeres, opiniões, relações com os outros, como destruirá a ansiedade nele
mesmo ao começar a meditação?
É uma lei de economia mental bem conhecida que a ansiedade traz enorme
perda de tempo e de energia, que, do contrário, serviria a propósitos muito mais
sublimes.
Talvez alguém me pergunte: “Uma vida tão controlada não se torna infinitamente
aborrecida e tediosa?” A resposta, que vem da experiência e da prática do que
foi anteriormente dito, é: “Justamente o contrário!” O sentimento de liberdade
interior e de certeza, desconhecido antes da conquista da mente, é
incomparavelmente mais precioso e satisfatório — sem considerar seu valor
prático — para o homem que pegou o leme do barco da vida em suas próprias
mãos e é capaz de pilotá-lo para o porto escolhido. Nunca um pensamento de
arrependimento sobre “os prazeres mentais” perdidos, já “condenados”, chega a
entrar na consciência do homem. E o que se chama de “futuro”, agora visto de
um ponto de vista completamente diferente, não traz (e nem pode trazer) nada
que seja irracional ou frustrante. O domínio do “presente” rege o “futuro”.
De um modo ou de outro, você deve chegar a essa convicção, pois sem ela não
pode haver qualquer consecução ou felicidade.
Grande auxílio lhe será dado se você iniciar um desapego gradual do que é
perecível e evanescente na vida. A mente, livre de suas paixões, torna-se um
animal bem domesticado, obediente, útil, mais produtivo e exato. O que, antes
de sua conquista, exigia três dias de intenso trabalho, pode ser feito numa fração,
em menos de um terço do tempo. Faça os seus deveres de maneira correta e de
acordo com o melhor do seu conhecimento, mas fique longe deles em seu
coração, que se tornará livre e feliz, uma vez que você não será mais afetado
pelas inevitáveis perdas e decepções que podem ocorrer durante os passos
iniciais ao longo do Caminho. Contudo, você tratará delas por meio de sua
meditação, sem ser afetado pelas curvas sinuosas da vida. Por meio da
meditação, verá que, após cada queda, vem sempre uma ascensão.
Algum dia, quando estiver num estágio avançado deste estudo, você virá a
meditar sobre estas palavras eternas da Verdade, da Vida, que nos foram ditas
há cerca de dois mil anos. Espero que descubra então o que outros descobriram,
e sua marcha para a Meta será rápida.
8
Outras perguntas
respondidas
Um “olho”, que até então desconhecia o assunto, foi aberto por um curto período
de tempo pela habilidade e poder do hipnotizador.
Mas os ocultistas sabem que pode haver outra explicação para o item 3. Refiro-
me à chamada “exteriorização do astral” do homem, ou de seu corpo sutil
normalmente invisível também chamado de “corpo astral” ou espectro. Sob as
ordens de um hipnotizador, o médium executa a sua “saída astral”, deixando o
corpo num estado de transe enquanto viaja, em seu veículo astral consciente,
para o lugar requerido, anota a informação e a traz de volta para o mundo físico.
B — Advertência
Sabemos que uma pessoa que se submete a experiências hipnóticas, e se
permite aceitar sugestões, inevitavelmente perde sua liberdade plena anterior e
torna-se suscetível à ação de uma vontade alheia. Presumimos que a maior
parte dos hipnotizadores são homens honestos, de boa reputação,
especialmente agora que geralmente são médicos e têm diplomas que os
autorizam a praticar o hipnotismo com propósitos terapêuticos. Portanto,
podemos crer que, nessa questão, a ameaça de uso errado ou abusivo é
pequena. Mas a dificuldade é que, uma vez hipnotizado, o homem permanece
suscetível e essa íntima influência psíquica persiste, não apenas em relação ao
primeiro operador, que exercitou seus poderes nele, mas a qualquer outra
pessoa que tenha habilidade para hipnotizar e que não tenha diplomas ou
conhecimento.
Em minha mente encontrei uma comparação simples que dá uma idéia disso de
modo claro sensível: por que não imaginar o correlato mental do homem como
ele mesmo tocando, por exemplo, um violino? Esse violino, é claro, será o
cérebro. Quanto melhor o músico, melhor o instrumento que ele gostaria de usar.
Com um violino medíocre, nem mesmo Paganini seria capaz de encher uma sala
de concerto com seus sons maravilhosos! Mas em nossa vida terrena
geralmente recebemos o que estamos merecendo no estado de um corpo físico,
incluindo suas qualidades.
A pessoa que estuda meditação toca melodias nobres, e deve ter consideração
para com o seu violino: o cérebro. Se é fácil danificar um instrumento musical de
madeira, muito mais perigoso é abusar de uma coisa tão sutil como o cérebro
humano.
Os exercícios que virão nos próximos capítulos são bem dosados, de modo que,
se você seguir as instruções exatamente como forem dadas, nenhum dano, seja
ele qual for, surgirá em seu cérebro ou sistema nervoso. Isso, é claro, desde que
siga determinadas regras de comportamento físico antes e durante os
exercícios.
1) Antes de uma hora (duas, de preferência) após as refeições. Beber água não
está incluído neste regulamento.
2) Antes de duas horas após ingerir álcool ou fumar, se você ainda tem esses
desafortunados hábitos. Quanto à bebida, estou falando de um copo de cerveja
ou de vinho, e quanto a fumar, refiro-me a cigarros. Se estiver muito intoxicado
de bebida ou cigarro, não tente meditar durante um dia inteiro.
4) Com o corpo numa posição desconfortável. Seria bom que lesse atentamente
o começo do capítulo 15 do livro Concentração, que disserta sobre a “Asana
ocidental”, pois é a que mais se ajusta à meditação.
Podemos evitar o prejuízo que vem de uma leitura espontânea, tola e igualmente
excessiva e superficial, se a controlarmos pelo bom senso. Quando tiver vontade
de comprar ou de pedir emprestado um livro, pergunte a si mesmo: “Preciso lê-
lo? Valerá a pena, considerando-se o tempo que gastarei? Ficarei mais
enriquecido mentalmente depois de lê-lo? Que instrução útil poderei extrair
dele?”
Você poderá acrescentar ainda muitas perguntas de sua escolha, se achá-las
úteis para afastá-lo e um alimento mental prejudicial, por cujo consumo você
pagará mais tarde de um modo irreparável.
C — Outros problemas
O último problema, o das relações sexuais, deve ser regulado de acordo com o
item “a”, seção 2, deste capítulo, A perda considerável de energia prânica e de
outras que resultam de tais relações baixará sua habilidade para controlar a
mente por um determinado tempo; portanto, é melhor aguardar o retorno ao
equilíbrio normal.
Se você observar seu corpo físico com a devida atenção e tirar conclusões
lógicas do que vê, chegará à convicção de que você NÃO é absolutamente algo
separado da matéria que o circunda. De uma célula microscópica inicial, seu
tamanho cresceu para os bilhões de células atuais, todas tiradas e assimiladas
a partir das mesmas fontes materiais que o circundam. E tudo isso não é,
propriamente dito, você! No devido tempo, você devolverá tudo à terra, de onde
elas vieram. Numa linguagem moderna, você está vivendo de capital
emprestado, que terá de ser devolvido. Se prestar bastante atenção nessa idéia,
talvez chegue ao mesmo sentimento de certeza que tenho ao escrever estas
linhas. Você está morando numa casa que é temporariamente sua, mas ela NÃO
É VOCÊ. É impossível acrescentar mais alguma coisa a esta nossa linguagem
humana a fim de que tenha a mesma experiência da verdade sobre você e sua
aparência externa. Mas, se pensar profundamente a respeito disso, chegará à
mesma convicção e experiência, o que lhe dará, então, uma maravilhosa
sensação de liberdade e de alegria, pois será um raio da Verdade em você.
Você descobrirá que todas essas informações são muito úteis quando começar
a verdadeira prática da meditação, e sabe por quê? Simplesmente porque elas
antecipam os questionamentos e ansiedades da mente que normalmente
precedem os exercícios, e o livram da ferramenta de combate que é a
interferência das atividades mentais.
Existe ainda uma outra atitude que facilitará o seu sucesso. Há milhares de anos
atrás ela foi expressa pelo espírito prático dos romanos como: “Festina lente”!
Isso significa: “acelere devagar” — aparentemente, um paradoxo. Mas NÃO é!
Enquanto estamos correndo, não podemos prestar atenção aos detalhes; e
como alcançar a meditação correta sem sermos exatos em nosso trabalho
interior?
Isso pode ser observado, ou melhor, sentido por nós, quando é expresso por
uma daquelas posições “charmosas” que o pequeno animal é capaz de exibir
para nossa admiração.
Agora, o que acontece quando a consciência “astral”, isto é, o nível das emoções
nos governa? Você provavelmente conhece a resposta.
Exemplos:
a) Quando estamos tão contentes, após termos recebido alguma boa notícia ou
outras impressões positivas, que o sentimento de “felicidade” torna-se supremo.
Por um curto espaço de tempo, não pensamos nem mesmo instintivamente,
sentindo que isso poderia interferir em nosso estado atual.
Assim como ocorre com a teórica “consciência puramente física”, não podemos
permanecer por muito tempo absolutamente mergulhados numa emoção: os
fatores físico e mental logo começam a se esquivar e a pôr em atividade os seus
atributos.
Sabemos que o homem não está limitado em sua consciência por essas três
subdivisões que acabamos de mencionar. Existe algo que pode usar e reger
todas as três. Necessariamente, ele não pode ser nenhum dos fatores
mencionados. É simplesmente impossível.
Quando um Mestre alcança a iniciação espiritual, isso significa que ele venceu
simultaneamente todas as batalhas e as deixou para trás. Ele não pode voltar a
ser fraco e ignorante. A Realização é PARA SEMPRE; não pode ser perdida nem
nesta nem em qualquer outra vida possível. Nunca esqueça isso! Portanto, o
Mestre Espiritual que tive o privilégio imerecido de encontrar em Ramana
Maharshi (veja Dias de grande paz, um diário a respeito do ashram dele) podia
estar doente e sofrer fisicamente em seus últimos dias na terra, sem que isso
afetasse de modo algum a sua Realização. Como o seu sofrimento era a sua
oferenda, sua ação redentora para nós, que precisávamos urgentemente de toda
a assistência, isso apenas sublimou a grandiosidade dele. Nenhum sinal de
eclipse espiritual ou de qualquer fraqueza foi sequer perceptível, ou melhor,
justamente o oposto: a Luz espiritual tornou-se mais brilhante ainda quando
resplandeceu através do corpo físico em declínio. E, para esse homem, a morte
em si é algo totalmente diferente do que para um ser humano comum; portanto,
não podemos nos comparar com a REALIZAÇÃO PLENA.
Embora esteja certo para um Mestre permitir que seu corpo se torne qualquer
coisa que ele consinta, o mesmo não acontece conosco. Uma vez alcançada a
Realização, não importa o que aconteça ao corpo, ao revestimento perecível, na
verdade abandonado há tempos, enquanto a consciência permanecer para
sempre no nível da UNIÃO COM O TODO, ou, se preferir, COM DEUS!
A doença cruel, cruel por ser dolorosa, de Maharshi não afetou sua consciência,
mergulhada como estava para sempre n’ELE, não mais do que um dedo
machucado nos afetaria no momento presente. E devemos ter isso sempre em
mente.
Olhe para um bebê: de quanto cuidado e ternura esse pequeno e frágil corpo
precisa para sobreviver! Mas espere alguns anos e verá um homem robusto ou
uma mulher forte, exercitando seu corpo sem nenhuma das debilidades da
infância.
Um dia, no passado, ele também começou como você agora. Algum dia, em
algum lugar, você terá, como ele, esse sorriso eterno de Sabedoria e Paz, que é
o prêmio da Realização, do retorno à CASA DO PAI, na qual há muitas moradas
esperando cada um de nós.
10
Subconsciência ou
hiperconsciência
Há alguns anos, ao preparar meu café da manhã, deixei cair um par de xícaras
de finíssima porcelana no chão de minha cozinha. Elas se quebraram em muitos
pedaços, e não aconteceu nada de excepcional nessa pequena ocorrência; foi
tudo de acordo com as Leis da Natureza.
Então, uma manhã, algum tempo depois, uma xícara escapou novamente da
minha mão e iniciou seu caminho para a destruição no chão. Mas dessa vez foi
diferente. Nessa fração infinitesimal de segundo entre o momento em que a
xícara escapou de minha mão e o da queda no chão, algo aconteceu em minha
consciência, além de qualquer pensamento ou desejo, e nisso reside toda a
dificuldade de tentar transmitir esse momento. Uma estranha e muda convicção
interior, acrescentada talvez à intenção de que a xícara não se quebrasse, surgiu
em mim, e nesse exato momento eu soube que nisso residia a força que pode
desafiar as leis físicas e executar o impossível. Não foi também um pensamento,
de modo algum, ou uma percepção em palavras, pois não havia palavras
presentes em minha consciência; apenas um silêncio profundo à parte de todos
os pensamentos.
Antes de a xícara cair, eu “soube” que dessa vez ela não se quebraria. E ela não
se quebrou. Ficou no mesmo chão duro sem qualquer prejuízo visível, e até hoje
eu a uso.
O mais antigo foi em minha infância, quando eu tinha cerca de seis anos de
idade. Fui brincar num jardim, construído no alto de uma colina rochosa,
enquanto meus pais estavam na casa de uns amigos, a um quilômetro de
distância. Alguma coisa me atraiu para subir ao ponto mais alto do jardim; então,
olhei para baixo, como num abismo, perdi o equilíbrio e comecei a rolar encosta
abaixo. De acordo com as leis físicas, havia uma pequena chance de eu
permanecer vivo e nenhuma de não me machucar. Mas eu soube que nada iria
me acontecer, enquanto rolava encosta abaixo por cerca de um quilômetro, entre
as rochas salientes e as fendas. Foi como se algo envolvesse meu corpo e o
preservasse de qualquer choque com o mundo material ao redor.
Em outra ocasião, há apenas alguns anos, fui envolvido num sério acidente, por
causa de autoridades rodoviárias relapsas, que colocaram toneladas de
pedregulhos soltos ao longo do acostamento de uma estrada íngreme e estreita
de uma montanha, que conduzia ao topo a cerca de noventa metros de altura.
Do lado esquerdo, havia uma descida muito inclinada de aproximadamente
sessenta metros de profundidade e, no fundo, a planície. O declive era coberto
por arbustos e árvores bastante separados uns dos outros, o que aparentemente
não oferecia nenhuma possibilidade de segurar qualquer coisa que rolasse para
baixo.
Eu não tinha percebido que pelo menos meio metro dos pedregulhos espalhados
pela vegetação não indicavam a verdadeira margem. Assim, quando um
automóvel grande veio descendo numa corrida doida em minha direção,
pareceu-me que haveria uma colisão frontal e desviei cerca de trinta centímetros
para a esquerda, tentando evitar o pior, como pensei.
O que aconteceu? Houve uma pancada e me vi capotando declive abaixo não
sei quantas vezes. Soube que a morte estava me esperando no fundo da
montanha. Então a estranha certeza de não chegar ao fundo fatal surgiu em
mim. Foi tão rápido que parecia além de qualquer medida de tempo. No mesmo
instante, senti que não estava mais rolando, e o automóvel parou calmamente
em suas quatro rodas, de costas para a estrada lá em cima. Não havia nenhum
vidro quebrado, nenhum dano maior, nem sangue em mim ou nas pessoas que
estavam comigo. Ao examinar em volta para ver se o automóvel tinha se
estabilizado apenas momentaneamente ou se voltaria a capotar caso eu abrisse
a porta, descobri um toco enorme sob as rodas traseiras. O automóvel estava
apoiado tão firmemente nele que parecia que nenhum movimento poderia
perturbar sua posição.
O que aconteceu depois não teve nenhuma importância para mim. Usando a
buzina repetidamente, finalmente atraímos a atenção dos automóveis que
passavam lá em cima, na estrada. Depois, uma longa corda nos foi atirada e
subimos e esperamos até um guincho puxar o automóvel de volta para a estrada.
Quando comecei a analisar isso, descobri que, quando esse estado se repetiu
mais tarde, não surgiu necessariamente como resultado de um esforço definido,
mas, ao contrário, pela evasão de todo o controle da mente, e sempre aconteceu
após uma meditação especialmente bem-sucedida, seguida por um silêncio
prolongado da mente. É por isso que estou mencionando tudo isso aqui, pois o
estudante também pode ser confrontado por essa HIPERCONSCIÊNCIA e,
conhecendo de antemão sua grandeza, saudará o Sol Nascente em si mesmo,
com confiança e alegria.
Conclusões posteriores poderão ser tiradas do que foi dito acima. Se a
manifestação infinitesimal da Hiperconsciência (como podemos chamar esse
poder misterioso de puro estado de alerta) é capaz de desafiar leis físicas
conhecidas, ou melhor, de predominar sobre elas, o que acontece quando a
PRÓPRIA FONTE AGE ou, em outras palavras, quando ela se manifesta com
seu pleno poder, isto é, na criação do universo?
É valioso lembrar o famoso dito das Escrituras: “Para Deus, nada é impossível”,
ou para a HIPERCONSCIÊNCIA, que deve possuir todas as características que
usualmente atribuímos ao Divino.
Se há em nós uma centelha desse algo que, mesmo não sendo matéria de modo
algum, ainda possui a habilidade de regular essa matéria, então a TOTALIDADE
desse Poder deve estar além de qualquer lei de possibilidade e impossibilidade,
ou de causa e efeito, e ambas as concepções tornam-se, portanto, irreais e
inexistentes. Então o enigma do universo deixa de ser um enigma. Estou ciente
de que é extremamente difícil tentar explicar isso com palavras ou pensamentos;
portanto, sei que a compreensão das idéias expostas neste capítulo
estabelecerá um obstáculo intransponível para muitos de vocês. Além disso,
acredito que, sem um vislumbre de intuição, elas certamente permanecerão sem
qualquer resposta na consciência do estudante. Mas não tenho a ambição de
escrever sobre esses assuntos mais profundos para todo mundo; isso seria
simplesmente ilógico, se não ridículo. Mas ALGUNS hão de reconhecer o cerne
da questão.
Nos próximos parágrafos, você encontrará uma explicação única dos milagres
de Cristo e da sabedoria sobre-humana dos ensinamentos contidos nas palavras
do Sábio Maharshi, já citado aqui, quando ele atribui tudo isso ao estado peculiar
de consciência do mestre, quando UNIDO AO PAI, isto é, à TOTALIDADE DA
ONISCIÊNCIA.
Tudo o que foi dito acima não diminui de modo algum nem desfaz as
maravilhosas ações e obras dos GRANDES SERES. Temos de estabelecer
firmemente em nós um critério, que nos ajudará a discriminar a respeito e a
comparar nossos próprios deres e habilidades com os dos Seres que nos
transcendem infinitamente.
Era impossível voltar ao Mestre e pedir-lhe algo: o adeus final fora dito e não se
podia tratar o Grande Rishi como um homem comum. Mais tarde, entendi o
motivo, e isso dissipou toda a minha mágoa aparente por não ter o autógrafo
desejado. Compreendi que, se eu tivesse levado a foto para ser assinada, duas
possibilidades surgiram: primeiro, o Rishi nunca assinara nada e, fazendo isso
por mim, ele seria imediatamente inundado por pedidos semelhantes de milhares
de outras pessoas ao redor dele, o que certamente ele não permitiria. Além do
quê, isso não teria sido bom para mim. Será que eu seria capaz de mostrar a
assinatura para o mundo exterior sem sentir o veneno do orgulho mudo por
causa dessa assinatura da Graça, que havia sido recusada para todos os outros?
Mesmo assim, eu seria o último homem a lhe dizer que a tarefa é inútil. É
justamente o oposto! Portanto, busque, bata à porta e poderá descobrir que ela
se abriu para você. Nesta época triste, a humanidade (em sua maioria, neste
caso) tenta arrasar tudo o que deseja, em vez de se elevar até o nível requerido
para obtê-lo, em vez de se elevar e desenvolver a percepção até o nível acima
e além da mente mortal, até o pico aonde queremos chegar!
Mesmo neste mundo materialista e cruel, tão cheio de desejos materiais, como
se pode ver claramente na política global do presente, essa tendência perniciosa
de corrupção é totalmente visível. Por exemplo, certas grandes nações, ainda
subdesenvolvidas, vendo a prosperidade de outras raças, que certamente não
foi alcançada “por nada”, mas pelo enorme esforço e trabalho de várias
gerações, gostariam simplesmente de espoliar essas nações prósperas de suas
riquezas, em lugar de tentar aprender como produzir esses valores de um modo
semelhante em seu próprio benefício. Elas não são capazes de ver que, mesmo
alcançando esse objetivo, isso resultaria apenas num empobrecimento que
dominaria toda a humanidade num curto espaço de tempo, em vez dos cinquenta
por cento, como é agora.
Certa vez ouvi uma velha e interessante história originada das lendas orientais.
Um rei, que governava um determinado país, ficou insatisfeito com a aparente
desigualdade entre seus súditos. Alguns eram ricos, mas a maioria era pobre e
tinha inveja das classes ricas. Finalmente, ele ordenou que todas as
propriedades fossem reunidas numa só, a ser dividida igualmente entre todos os
cidadãos, de modo que ninguém pudesse se queixar de qualquer injustiça da
parte dele.
Infelizmente, alguns anos mais tarde, quando ele partiu num cortejo para fora
dos vastos domínios do palácio, novamente viu mendigos nas estradas e
algumas pessoas aparentemente bem vestidas e alimentadas.
Com o passar dos anos, a diferença cresceu ainda mais, até que a velha ordem
quase se havia restabelecido.
Como sabemos, alguns clichês mais restritos, e não tão antigos, são
notavelmente fortes e, à parte o visual, podem até mesmo se estender às
impressões sonoras, que podem ser percebidas como visões com sons, mesmo
por ocultistas sem treino. Os famosos exemplos das batalhas de Edgehill, de
Naseby e de Waterloo, com suas mudanças de cena e trovões de batalhas
naturais, e que podem ser vistas por pessoas sensitivas em todo aniversário
desses acontecimentos históricos, são muito bem conhecidos para serem
descritos aqui novamente. Até mesmo os gritos realistas de pessoas feridas e
combatentes morrendo podem ser ouvidos.
Mas não devemos confundi-lo nunca com a última e mais elevada forma de
Supraconsciência conhecida, pelo menos em teoria. Ela é:
Este misterioso (apenas para nós, é claro) estado de Sahaja não apela para
qualquer limitação das funções corporais, como é o caso da forma Kevala. O
homem pode então viver neste mundo como qualquer ser humano normal e pode
andar, trabalhar e dormir, em resumo, pode agir do modo que preferir e, ainda
assim, NUNCA PERDER SUA CONSCIÊNCIA ESPIRITUAL, que pode se tornar
ininterrupta e eterna nele. Isso é tudo o que sabemos da boca daqueles que
experimentaram esse ápice de realização, e o testemunho de Maharshi sobre
isso é o mais direto e autorizado. Ele tinha graça suficiente para nos dizer tudo
o que podia ser expresso em linguagem humana sobre esse mistério, sendo ele
o único homem em nossa época que se elevou a esse ápice supremo.
Este não é o lugar para se sondar mais profundamente este domínio fascinante,
especialmente tendo em vista que foi tratado plenamente em outro livro —
Samadhi: a supraconsciência do futuro...
Pela análise dessas palavras do Sábio, que certamente conhecia mais sobre
Cristo do que qualquer outro filho do homem, podemos perceber uma imensa
Verdade. É a seguinte: o estado que permite a ocorrência do mais incrível dos
milagres é justamente a Hiperconsciência, mencionada em alguns exemplos no
começo deste capítulo. Apenas então ela é AMPLIADA EM INFINIDADE E
PERFEIÇÃO (no lugar de fragmentos infinitesimais, só acessíveis a nós em
certos casos muito raros, observados por um pequeno número de homens), que
é a UNIÃO COM O PAI (Eu e meu Pai somos UM), a totalidade da vida.
Mesmo assim, podemos ser capazes de analisar e supor a respeito dos pré-
requisitos, tornando a experiência da Hiperconsciência mais próxima e possível.
Mas em problemas tão profundamente enraizados podemos falar apenas por
nós mesmos. Ou você aceita este testemunho, ou busca outro por si mesmo.
Parece que a habilidade (algumas vezes inata, algumas vezes adquirida pelo
trabalho e empenho árduos) de tranquilizar a mente de modo voluntário, de se
separar das funções mentais, de aplainar as ondas da superfície desse poço
simbólico, que represe a mente, é o pré-requisito ESSENCIAL. Pode haver
outros que ainda não conhecemos, mas este é um dos pontos mais importantes.
Por quê? Simplesmente porque os flashes da Hiperconsciência invariavelmente
incluem a eliminação das funções da mente. Além disso, o treino bem dirigido de
meditação parece dispersar as nuvens ao redor da percepção espiritual pura que
estou definindo como “Hiperconsciência”.
Acredito que, ao iniciar o curso na arte prática da meditação, você está habilitado
a saber tanto quanto possível sobre tudo o que expus nos capítulos da primeira
parte deste livro, de modo que os exercícios não o pegarão despreparado, e sua
mente, que invariavelmente tentará colocar todos os obstáculos em seu
caminho, será mais bem conhecida por você. Essa mente, como você sem
dúvida concordará, se já tentou executar alguns exercícios iniciais de
concentração e meditação, é definitivamente inimiga dessa tarefa. A afirmação:
“A mente é a maior Assassina da Realidade. Deixe o Discípulo assassinar a
Assassina” (tirada de Vozes do silêncio) é e sempre será a Verdade suprema.
A Hiperconsciência também está além da intuição, que pode ser definida como
a habilidade de conhecer sem pensar, cujo poder é infinitamente maior que o da
mente. Pois n’ELA não há nada mais para se conhecer, uma vez que tudo é
conhecido. Psicólogos eminentes, como o dr. C. Jung, sabiam a respeito dos
poderes da Hiperconsciência, que eles chamavam de camada “subconsciente”
da mente, porque a mente “normal” não estava presente nas operações do
“subconsciente”. Podemos apenas supor o motivo pelo qual eles não
perceberam que o termo é inadequado, já que os poderes manifestados nesse
estado são muito superiores ao usual da mente.
Isso poderia ser explicado pelo fato de que, para muitos psicólogos, o
pensamento é a manifestação mais alta da consciência humana. Portanto, se
eles descobriram alguma coisa separada e independente das funções da mente,
eles a colocaram abaixo, o que, de acordo com suas teorias, é o nível mais alto
que ela pode alcançar.
TÉCNICAS DE
MEDITAÇÃO
11
As principais dificuldades
para os iniciantes
Dei a este livro o subtítulo de “Esquema para um estudo prático” e gostaria que
esse caráter permanecesse por todo o trabalho. Isso significa que serei obrigado
a dar ao estudante sincero tudo o que ele precisa para iniciar com êxito e
prosseguir na arte da meditação até seu real domínio. Um livro assim só pode
ser escrito quando baseado na experiência prática e verdadeira de alguém que
tenha experimentado e percorrido esse caminho em sua própria vida e obtido os
resultados desejados. É por isso que exponho muitos detalhes que normalmente
suscitam perguntas e problemas aos iniciantes. Meu método será o mesmo
usado em minha Trilogia: antecipar e explicar esses problemas. Os que acharem
que já os resolveram antes devem ser pacientes em relação aos outros, que
ainda precisam de todas as minhas explicações dirigidas aos iniciantes.
É por isso que tão poucas pessoas obtêm êxito na meditação. Aqui, é claro, não
estou me referindo aos que apenas imaginam que “meditam” quando, na
realidade, estão meramente flutuando nas ondas indolentes de sua própria
mentalidade, que só fica feliz ao iludi-los nesse caminho traiçoeiro.
Frequentemente, essas pessoas mal orientadas nem mesmo acreditam quando
a verdade lhes é dita, continuando a imaginar que estão praticando a meditação,
a respeito da qual elas, na verdade, nada sabem.
Nos velhos tempos, havia na Índia um rei interessado em ioga que honrava os
homens sábios que frequentemente visitavam sua corte, sabendo que o bom rei
os manteria e ouviria seus ensinamentos. Um dia, um velho sábio fez um longo
discurso diante do rei e dos seus ministros, a respeito do fator fundamental da
ioga, que é o domínio do pensamento principal da pessoa, ou a habilidade de
concentração da mente. Ele explicou que a maior parte dos “milagres”
executados por certos iogues eram baseados apenas num poder perfeito de
concentração, isto é, na atenção firme num objeto escolhido.
Um dos ministros mais jovens discordou do velho iogue e lhe disse que não
acreditava que a mente humana pudesse ser dirigida como um navio o é por seu
leme. “Não acredito que mesmo os maiores iogues possam concentrar sua
atenção, sem se deixar distrair por outros pensamentos ou imagens”, disse,
ceticamente, o intelectual.
O rei, evidentemente, ficou descontente, e seu olhar se tornou duro. Depois de
um momento de reflexão, ele disse: “Traga o carrasco aqui com sua espada e o
cepo de decapitação; encha também uma das bacias de ouro com água”.
Quando as ordens foram cumpridas, o rei se voltou para o cético ministro e lhe
disse: “Sua opinião mostra que você é um tolo, e tem abusado de minha
confiança ao me servir. A penalidade para isso é a morte, e é por ela que o
carrasco está esperando. Mas lhe darei uma chance de salvar a sua vida. Pegue
essa bacia cheia de água em suas mãos, e fique olhando para ela enquanto
caminha ao redor do palácio e dos jardins; depois volte para cá. Sete guardas o
acompanharão, e, se eles virem até mesmo uma única gota espirrar da bacia,
você será decapitado imediatamente”.
O desafortunado ministro ficou pálido, mas não tinha escolha. Pegou a bacia
cheia de água e iniciou sua caminhada. Quando, após meia hora, ele retornou
exausto, os guardas confirmaram que nem uma única gota havia espirrado.
“Você está livre”, disse o rei, “mas sob a condição de que me conte o que viu
durante a sua marcha.” “Ah, meu soberano”, disse o ministro, “eu estava tão
ansioso observando a água na bacia a fim de não deixar cair nenhuma gota, que
não vi nem ouvi nada!”
O rosto do sábio rei ficou feliz: “Veja, meu filho”, ele disse ao homem, “a
concentração é perfeitamente possível, e você pode excluir todos os
pensamentos de sua mente, quando tem o desejo genuíno de assim o fazer.
Quando sua vida foi posta em risco, você usou todos os seus poderes, não se
distraiu, e escapou da espada”.
Agora, aqui está outro exemplo, de origem mais recente. Você também deve ter
tido experiências similares durante sua vida. Frequentemente, sento-me em meu
estúdio, ouvindo minhas músicas favoritas. Um dia, lembrei-me de que tinha de
ler um capítulo muito importante de um livro recentemente encomendado que
estava sobre a mesa, à minha frente. Então eu o abri, achei a referência que
queria e comecei a ler.
Enquanto isso, alguém entrou na sala, disse que a música havia acabado e
perguntou se eu queria continuar ouvindo a ópera que estivera tocando durante
a última meia hora. “Obrigado”, respondi, “coloque o disco para tocar novamente;
eu estava tão ocupado que não me lembro de ter ouvido nada.”
Mas estes exemplos não são tudo, pois precisamos tirar conclusões científicas
e lógicas deles, conclusões que sejamos capazes de usar durante nosso estudo
de meditação.
Como você vê, a concentração perfeita é POSSÍVEL, mas com uma condição
básica: que estejamos interessados em apenas um objeto de atenção, que se
sobreponha a toda curiosidade e a outros interesses em sua mente. Esta é a
conclusão correta e mais útil.
Agora, quando olho para trás, no passado, e comparo as dificuldades que tive
de encarar nas mesmas circunstâncias de um iniciante, com o uso real da
mesma mente, a verdade do papel predominante da lei da “Atenção” e do
“Interesse” torna-se mais resplandecente. Como as coisas agora são fáceis, as
mesmas que antes (veja em Dias de grande paz, capítulo 9, “Meu caminho até
Maharshi”), isto é, há dezoito anos, se apresentaram como obstáculos
aparentemente intransponíveis.
O que foi possível para um ser humano é possível para os demais. Portanto,
permita que esta afirmação o ajude em seus esforços. Para resumir, a primeira
dificuldade básica, a unificação do interesse e da atenção com o objeto de sua
meditação, foi agora explicada, e você SABE o que tem a fazer quando iniciar
seu primeiro exercício de meditação elementar. Assim sendo, não repetirei mais
esta lei. Mas, de qualquer modo, comece a usá-la imediatamente após o primeiro
obstáculo que aparecer, a fim de que os exercícios elementares sejam
executados corretamente. Caso contrário, os exercícios seguintes, que são mais
complicados e sérios, não serão factíveis, e o resultado final será o
desapontamento e a confusão.
Nas RAÍZES DA EXPECTATIVA reside uma das principais virtudes de todo ser
humano superior, que é a ESPERANÇA! Mas nossa capacidade de
discriminação deve colocar as coisas imediatamente em sua verdadeira
perspectiva. A Esperança é um clichê verdadeiro, e a associação com ele só
pode aumentar e estimular nosso progresso e trabalho. A expectativa mental
descontrolada é um clichê pervertido da Esperança, algo como um soberano
transformado num ceitil.
Conheci homens que, por muitos anos, sentiram prazer em fumar, até que
compreenderam que esse hábito poderia arruinar-lhes a saúde e provocar uma
doença incurável. Então começaram a se convencer de que o tabaco é uma
coisa abjeta, anti-higiênica e venenosa, e que cada inalação de sua fumaça
prejudica os pulmões e o aparelho digestivo. Como resultado, conseguiram
dominar o fumo e nunca mais voltar a ele.
Também, quando olho para trás, com a perspectiva de muitos anos, como fiz
para dominar a curiosidade da mente, parece-me que agora, poucos minutos
antes de começar a meditação, a atitude de expectativa é removida por um
simples ato de minha vontade. Talvez seja assim, mas fui capaz de usar a força
de vontade só depois de praticar os métodos que estão sendo recomendados
neste livro. Quando a habilidade para tratar desses dois obstáculos (pelos
métodos explicados anteriormente) nasce num homem, ele não precisa retornar
aos truques infantis para sobrepujar as dificuldades toda vez que começa a
meditar. Do mesmo modo como, ao ler estas palavras, não fazemos os primeiros
exercícios escolares com o alfabeto antes de conhecer cada letra.
Para resumir:
c) Na verdade, usei esta fórmula reduzida (ou, como alguns podem preferir
chamar, um tipo de “espada mágica” invisível, ou até exorcista) — NÃO ESTOU
INTERESSADO! — com pleno sucesso.
O ponto é que a energia que se introduz em sua mente sem permissão, ou contra
a sua vontade, é limitada, isto é, tanto pode ser fortalecida quanto enfraquecida,
dependendo de seu comportamento e de seu grau de conhecimento. Neste livro,
estou lhe dizendo tudo o que você deve e precisa saber, para que o momento
de ignorância seja totalmente aniquilado. Você não poderá dizer que não sabe
como se defender! Talvez não queira, mas isso é outra história. Ninguém pode
auxiliar ninguém que não queira ajudar a si mesmo.
Agora você pode entender por que as “Vozes do Silêncio” lhe dizem para
“assassinar a assassina”, que é a sua mente, e por que o Mestre Maharshi nos
aconselha igualmente a matar os defensores da fortaleza da mente. Essa
batalha pode ser fatal para um dos poderes em luta. Portanto, deixe que ela seja
fatal para o inimigo, não para você!
Quantos truques traiçoeiros esse inimigo usará! E tudo a fim de ter a permissão
para sugar o seu sangue, como os vampiros, para enfraquecê-lo e dominá-lo.
Pensamentos muito piedosos, conceitos brilhantes, idéias inspiradoras, tudo
baterá à porta de sua consciência pedindo para entrar. E todos eles, no final,
serão inúteis em sua aparente inspiração; mas, uma vez admitidos, transformam-
se de “anjos” em larvas sedentas de sangue, que não têm piedade nem simpatia
pelo tolo que acreditou neles e permitiu que poluíssem o templo de seu tesouro
e bem supremo — sua percepção pura.
Neste capítulo, você encontrou a última Iniciação na arte de meditar. Tudo foi
mencionado e explicado, de modo que nenhuma pergunta ou dúvida surja em
você. Se elas surgirem, saiba que não vêm de nenhum amigo e trate-se
devidamente. Então você vencerá.
12
Exercícios introdutórios
— série I
Agora que você conhece a parte teórica deste trabalho, podemos prosseguir com
os primeiros exercícios práticos.
Aqui está um aviso importante. Primeiro, você deve se imaginar sentado, como
estava ao iniciar, vendo APENAS O QUE PODE SER VISTO SEM VIRAR A
CABEÇA.
Em outras palavras, tente olhar quase exclusivamente para o que está à sua
frente. Provavelmente, verá a mesa, depois um quadro, que está na parede
oposta, um ou dois livros que estão sobre a mesa, etc. Tente imaginá-los o mais
possível reais, exatamente como estavam no momento em que os viu de olhos
abertos.
Quando achar que já “viu” o que podia ver em sua mente nessa direção, VIRE
IMAGINARIAMENTE A CABEÇA PARA O LADO DIREITO, E OBSERVE OS
OUTROS OBJETOS, VISÍVEIS DESSA NOVA POSIÇÃO.
Por último, vire a cabeça para o outro lado e “veja” o que puder. Com isso,
concluirá a primeira parte deste exercício inicial.
Você virou a cabeça quatro vezes em sua mente, a fim de “ver” os objetos que
o cercam de todos os lados. Quanto tempo você se permitiu ficar em cada uma
das quatro posições? Não seja muito apressado no começo; pelo contrário, tente
lembrar-se de todos os objetos que puder, e visualize-os exatamente com suas
formas definidas e não como se estivessem esfumaçados. Seus estudos
anteriores de concentração lhe permitirão que faça isso sem muito esforço. Esta
é uma introdução fácil e interessante à meditação elementar. Você não pode
começar a partir dos graus avançados, pois não teria êxito, nem eles seriam
exatos.
Exercício B: Agora faça a mesma coisa que tentou fazer com os olhos fechados
no Exercício A, com a mesma sequência de QUATRO ESTÁGIOS, cada um de
noventa graus, mas desta vez olhando à sua volta. Tente memorizar
completamente o máximo de detalhes que puder em seu campo de visão. Na
verdade, você deve memorizar TODOS ELES; portanto, recomenda-se que
comece num cômodo onde não haja muitos objetos.
Dedique cerca de dois minutos para cada volta de noventa graus. Se sentir que
é muito pouco, prolongue-os um pouco e, se achar que é demais, encurte-os.
Os quadros à sua frente devem ser claros e exatos. Esta é a proposta deste
grupo de exercícios.
Exercício C: Repita tudo o que fez nos exercícios A e B, mas em outra sala, onde
haja mais objetos. Quando eu estava concluindo esta série, os exercícios eram
feitos numa pequena igreja, durante as horas em que não havia nenhum ofício
programado. Isso significa que havia muitas coisas para serem lembradas e
recriadas pela mente, mas não recomendo essa tentativa antes que você fique
bem familiarizado com os exercícios em sua própria casa. O ponto importante
dos três exercícios da primeira série, A, B e C, é repetir mentalmente, com os
olhos fechados, tudo o que viu com eles abertos, isto é, ao observar os objetos
que devem ser lembrados. Isso incluirá, primeiramente, as voltas mentais de sua
cabeça, quando virar o rosto noventa graus. No começo, algumas pessoas
acham mais fácil fazer esse exercício virando a cabeça e o corpo, exatamente
como foi feito na preparação, mas, é claro, com os olhos fechados. Se você sentir
que isso facilita o seu trabalho, faça assim por um determinado tempo, mas
depois, quando for capaz de fazer a série 1 inteira perfeitamente, volte a fazer
os exercícios virando-se APENAS EM IMAGINAÇÃO. Esta primeira série ainda
pertence aos exercícios chamados de “estacionários”, isto é, sem qualquer
mudança da posição real do corpo, como, por exemplo, caminhar; você o fez
apenas sentado ou em pé. Depois de terminados os exercícios de A a C na
posição sentada, você DEVE FAZÊ-LOS DE PÉ. Isso se ajusta melhor ao
período de seu trabalho em que estiver realmente virando o corpo e a cabeça
com os olhos fechados.
O mais frequentemente que puder, mas no mínimo uma vez por dia, do contrário
seu progresso será muito lento e o intervalo entre os exercícios, muito longo, de
modo que o que você ganhar hoje, por exemplo, poderá ser dissipado e acabar
meio esquecido em três dias de inatividade.
Como ninguém mais é capaz de conseguir essas coisas para você, deve
simplesmente abandonar os estudos, pois talvez eles não se ajustem ao seu
carma.
Isso significa que ela ainda está imatura e que você não seguiu meu conselho
para, primeiro, estabelecer um firme enraizamento para o estudo da meditação
por meio do estudo da concentração. Ninguém pode adquirir a habilidade básica
para reger a mente por você, assim como ninguém pode se alimentar no seu
lugar, para se nutrir com sua comida.
5) Você pode aconselhar algum culto especial que sirva para a conquista da
mente e o domínio de sua resistência?
Há um bastante eficiente, mas requer bastante introspecção e o elemento básico
da Fé no Poder Onipotente Supremo. Eu mesmo entreguei minha mente a Ele e
lhe pedi para me conceder uma faísca de Sua Sabedoria infinita: “Ó Senhor,
livrai-me desta mente mortal, imperfeita, e sede misericordioso, dando-me até
mesmo o menor dos Vossos raios de luz”.
Eu já disse que este estudo não deve ser iniciado sem que o corpo físico esteja
relativamente bem equilibrado. A passividade excessiva, devido à fraqueza ou à
velhice, não permite a realização neste caminho, que requer considerável
esforço. Se suas circunstâncias são estas, por que não se volta para outro
caminho, não menos eficiente mas não tão complicado, que lhe ofereça uma
perspectiva melhor de auxílio imediato “vindo do alto”? Refiro-me ao Caminho
da Teurgia ou do Culto.
7) Devo falar para a minha família, para os amigos, etc., a respeito dos meus
esforços na meditação?
Todas essas organizações, onde se supõe que você seja “iniciado”, mediante o
pagamento de taxas de matrícula, por membros fixos (ou ocultos), podem e
facilitam apenas o bem-estar material de seus líderes, dando-lhes dinheiro,
casas luxuosas e a admiração de pessoas ingênuas, que infelizmente ainda
formam a grande maioria de homens e mulheres deste século.
A verdadeira magia também é definida como ciência, uma ciência muito especial
que requer um tipo especial de homem. Certos tipos de meditação são básicos
para o trabalho preparatório de uma encenação de magia. Você poderá
encontrar mais a respeito disso em meu livro Tarô, mas, pessoalmente, acho
que nesta época a magia não tem grande significado ou utilidade para a
humanidade, enquanto a teurgia é segura e não apresenta nenhum perigo.
Absolutamente não, além do prejuízo tanto para o corpo como para a mente.
Noventa por cento desses experimentos são fraudes, e os dez por cento
restantes pertencem à manifestação astral inferior, inútil e algumas vezes
perigosa para a sanidade dos participantes. Nenhum poder benéfico seria
atraído por grupos de pessoas reunidas casualmente, devoradas pelo hábito da
curiosidade e basicamente ignorantes quanto ao que estão fazendo. Além disso,
o espiritismo é capaz de levar alguns homens à ruína.
Nada de valor jamais foi conquistado com as sessões espíritas, e muitas pessoas
inteligentes que investigaram as “revelações” supostamente feitas pelos
“espíritos” descobriram que todas as respostas já estavam, de um modo ou de
outro, ocultas em suas próprias mentes. Em outras palavras, isso não traz nada
de novo. Além do mais, os inumeráveis livros e relatórios escritos sobre
atividades espíritas são tão contraditórios que até hoje ninguém foi capaz de nos
apresentar qualquer doutrina definitiva sobre as “condições após a morte” e
assuntos similares. Tais relatórios diferem apenas de acordo com a mente dos
questionadores e os supostos “espíritos”. É uma pena que esse tempo e esse
esforço não sejam utilizados de outro modo, com mais vantagem.
Se de fato elas são secretas, nada podemos saber a seu respeito. Mesmo que
você ou eu sejamos membros delas, jamais o revelaremos. Tais organizações
não se anunciam em público, nem tentam aumentar o número de sócios
contribuintes aceitando-os sem qualquer discriminação ou discernimento.
Quanto a mim, a única coisa que posso dizer é que seus prosélitos são
convidados de uma forma secreta e somente depois de se saber, sem sombra
de dúvida, que o neófito está maduro e se adapta aos propósitos da sociedade.
De que maneira eles conhecem tal fato continua a ser um segredo. As
sociedades “pseudo-secretas” são numerosas, mas, como é muito duvidoso que
sua cúpula seja integrada por mestres ou super-homens de verdade, a ordem
hierárquica e coisas que tais estão ao alcance do seu bom senso. No meu Tarô
você encontrará informações mais detalhadas concernentes a tais organizações,
às suas origens e atividades.
18) Em algumas religiões, encontro livros que oferecem meditações sobre temas
espirituais. Há algo em comum entre eles e esta obra?
Sim, há! Na terceira parte, que trata da meditação avançada, você encontrará
trechos tirados de certos livros religiosos, tanto cristãos como não-cristãos. A
arte da meditação não foi inventada ontem; trata-se de uma forma muita antiga
de supremo esforço espiritual do homem, na busca do Supremo. Tais livros estão
longe de ser secretos. Quem buscar os encontrará.
13
Exercícios introdutórios
— série II
Exercício D: Para este exercício, você precisa escolher um dia em que haja
nuvens movimentando-se razoavelmente depressa no céu, de modo que possa
segui-las com os olhos facilmente e sem tensões.
Encontre, é claro, um lugar calmo, num parque ou praia, de onde possa observar
o céu sem ser perturbado pelo que está à sua volta. Com um pouco de boa
vontade, você arranjará essa situação facilmente.
Olhe para o relógio e decida o momento em que está pronto para se dedicar ao
exercício. Na hora apropriada, comece a observar as nuvens perambulando na
parte do céu que está diretamente à sua frente. Tente memorizá-la por, digamos,
cinco minutos. Isso deve ser o suficiente para o nosso propósito. Então feche os
olhos e visualize o movimento em sua imaginação como foi observado, tentando
“ver” com a máxima clareza os contornos de formas definidas das nuvens,
justamente como os viu antes.
Na primeira vez, faça isso por cinco minutos. Entretanto, um aviso importante:
quero dizer CINCO MINUTOS DE EXERCÍCIO REAL, isto é, o quadro deve ser
mantido de modo ininterrupto em sua mente, nenhum outro pensamento deve
penetrá-la. Essa condição na verdade significa que você usará apenas UMA
faculdade da sua imaginação, isto é, você só usará a VISÃO, e nenhuma palavra
deve acompanhar a visualização das nuvens.
Se você falhar em manter uma visualização bem clara, por exemplo, no terceiro
minuto, retorne, comece de novo, e continue até que os CINCO MINUTOS
tenham se passado conforme foi pedido. Não se preocupe com os “lapsos”
inevitáveis. Todo iniciante teve de passar por eles, incluindo o autor, embora há
muitos anos.
Exercício E: Volte para o seu quarto, como antes, fique de pé no meio dele e
olhe ao redor, memorizando tudo, como fez nos exercícios da série I. Depois,
abra a porta e vá para o cômodo seguinte, para um corredor que leve ao jardim
ou para a rua. Ande até a porta, olhando tanto para o lado direito como para o
esquerdo com concentração total, a fim de memorizar tudo ao seu redor. Não
ande muito no começo. É preferível fazer bem o exercício por alguns metros a
percorrer um quarteirão de um quilômetro esfumaçado e sem uma visualização
exata. Lembre-se sempre disso.
Quando achar que está preparado para a próxima fase do exercício, volte para
o quarto e feche os olhos, tentando executar mentalmente a mesma curta
jornada, assim como no exercício anterior. A fim de “ver” melhor, você deve “virar
a cabeça” mentalmente para ambos os lados, como fez antes e, sem palavras,
observar os quadros que acabou de memorizar.
Repita esse exercício até sentir que está indo bem e que a imagem do que você
viu enquanto caminhava com os olhos abertos está próxima à imagem que
reteve em sua mente. Esse exercício deve ser feito de pé; não se sente de modo
algum.
Desenvolva o bom hábito de anotar todos os dias o que fez, num diário especial.
Escreva o mês, o dia, a duração do exercício e o número de “repetições”, quando
for compelido a começar de novo por causa das falhas que cometeu. Esse diário
será o espelho do seu desenvolvimento, e em nenhuma circunstância trate-o
levianamente.
Qual a diferença entre o estudo “oficial” nos colégios, nas universidades, etc., e
os métodos de treino ocultista, se podemos chamar assim os manuais de
concentração, de meditação e de prece? Esta é uma pergunta importante. No
PRIMEIRO caso, você está cumulando sua mente com muitos fatos, teorias e
assuntos técnicos, e adquirindo certas habilidades mentais como um benefício
extra. Não há dúvida de que, após ter passado de um ano para outro, a pessoa
está mais desenvolvida mentalmente (alguns são chamados de mais
inteligentes). Mas no nosso caminho, todo valor é colocado no desenvolvimento
da HABILIDADE, não apenas da mente, mas do domínio supermental,
inacessível sem um treino especial, a despeito de quantos “graus” você possua.
Seu objetivo agora será uma longa jornada, sendo melhor a que você
provavelmente faz com frequência, se não todos os dias, por trem, metrô ou
algum outro meio de locomoção, EXCETO DIRIGIR UM AUTOMÓVEL. Isso
porque, neste caso, você PRECISA estar, pelo menos parcialmente,
concentrado no ato de dirigir; sua atenção, então, estará compulsoriamente
dividida, e você será incapaz de registrar em sua mente, de modo exato, a
paisagem que está passando dos dois lados da rua.
O espírito de urgência e ansiedade deve ser banido durante seu estudo presente.
Olhe para o mundo ao seu redor: milhões de pessoas estão dedicando suas
vidas exclusivamente ao físico, às conquistas materiais, que elas não serão
capazes de levar consigo em sua viagem futura, além do túmulo. Mesmo assim,
algum dia elas também irão para a “Casa do Pai”, de um modo mais abrupto do
que o que está agora à sua frente. Essa compreensão pode acalmar a tensão
nervosa, que frequentemente nos ataca no início do Caminho.
Desta vez, caminhe fora de sua casa, quando as ruas não estiverem cheias de
gente, ou vá a um parque e comece a registrar em sua mente tudo o que passar
ao seu redor. Desvie o olhar das pessoas que encontrar, prestando atenção
apenas em objetos, como árvores, casas, e detalhes como portas, janelas,
ornamentações, etc. Tente ver a rua ou a estrada como se fosse um artista que
quisesse pintar um quadro com tudo o que está vendo.
A distância que vai percorrer depende de você. Ela não deve ser medida em
quilômetros, mas em centenas de metros. Quando, finalmente, você parar de
caminhar, tente conseguir uma reprodução exata dos quadros vistos em sua
mente, sentando-se calma mente em algum lugar e começando a projetá-los em
sua mente.
Exercício H: Olhe para a figura 1, que retrata a linha reta da meditação. Imagine-
a como um trilho no qual possa viajar, sem palavras ou qualquer outra atividade
mental numa distância infinita. Não há nada ao seu redor, e sua atenção está
concentrada exclusivamente nessa teta sem nome, correndo continuamente
diante de sua visão mental.
No começo, faça isso com os olhos fechados, pois é mais fácil para muitos
estudantes. Alguns aspirantes bem-sucedidos dizem que, primeiro, imaginaram
a LINHA como se começasse do ponto médio entre seus olhos, justamente na
base do nariz. Não tenho nada contra isso, embora tenha sido bem sucedido
sem esse tipo de visualização.
Enquanto estou datilografando este texto para você, paro frequentemente e faço
o exercício recomendado durante um tempo determinado, a fim de não omitir
nada de útil que possa ser dito a respeito do assunto. Houve um tempo, quando
iniciei estes exercícios, em que sentia uma certa inquietação, assim como ficava
um tanto entediado, mas assim mesmo eu executada o trabalho necessário.
Tudo isso, no entanto, passou e, à medida que minha mente se tornava cada
vez mais obediente, os exercícios começaram a ser um prazer, dando-me
sentimentos de paz e de força, que nenhuma outra experiência jamais me
proporcionou. O mesmo deve acontecer com você, pois somos todos seres
humanos e nossa essência natural é semelhante.
Portanto, agora, permita-me viajar com você nessa “linha reta” por alguns
minutos. Foi maravilhoso para mim. Espero que o seja igualmente para você.
À parte a execução clara, que não permite qualquer intromissão mental, um dos
sinais inconfundíveis de sucesso e de progresso será o sentimento de profunda
satisfação que cresce em você. E você precisará muito desse poder em seus
futuros estudos!
15
Meditação elementar
— série IV
Agora temos uma base teórica sólida de meditação a nos apoiar, mais os
exercícios introdutórios. Se eles foram feitos com êxito, chegou a hora de
enfrentar os primeiros graus de meditação propriamente dita, embora,
naturalmente, de natureza elementar.
Uma boa definição de meditação será útil para nós neste estágio: MEDITAÇÃO
É A UTILIZAÇÃO DE NOSSA MENTE DIRIGIDA DE UM MODO PROPOSITAL
E HARMONIOSO.
Nesse mundo dominado pela mente, devemos começar com algo acessível ao
nosso domínio presente — a mente que, no final, esperamos, ficará reduzida ao
seu próprio papel: O DE SERVO DO HOMEM, E NÃO DE SEU SENHOR.
Mas poderia eu viajar por elas no seu lugar, de modo que você alcance a meta
desejada? Seu bom senso dirá: NÃO! Os meios de transporte, os mapas do
campo, informações sobre os acontecimentos que podem ocorrer durante a sua
“jornada”, tudo isso pode ser transmitido a você durante esse curso. Contudo, a
viagem em si depende exclusivamente de você, e de ninguém mais. Se alguém
lhe disser o contrário e prometer assumir toda a responsabilidade do trabalho, a
fim de que você possa atingir a meta “sem fazer nada”, então se trata de um
trapaceiro perigoso, que está desperdiçando tempo e energia, nenhum dos quais
é ilimitado.
Leia várias vezes (quanto mais, melhor) o trecho deste capítulo que começa com
as palavras: “A concepção do papel...”, até que a idéia esteja completamente
clara para você. Trata-se de uma condição para o êxito total do trabalho e para
a compreensão de tudo o que vem a seguir.
Exercício K: O tema, o mais curto possível para um começo, é: “EU SOU”. Esta
é a sua encruzilhada. Portanto, agora vamos olhar para todos os lados, o mais
longe que pudermos “ver”!
1) “EU SOU” significa que tenho consciência da minha existência, aqui e agora,
na forma de um ser que chamamos de “humano”. Esta é uma definição quase
vazia e, portanto, insuficiente. Assim sendo, vamos prosseguir nessa estrada do
pensamento. Meu ser funciona de vários modos. Um deles é a consciência
mental, que eu uso para esse tipo de meditação. Estou pensando numa
determinada direção relacionada com o problema “EU SOU”. Este é o meu
objetivo. Meu ser tem o poder de controlar esse processo de pensamento no
qual se pode distinguir uma atividade dupla. Em primeiro lugar, quando tenho
determinados pensamentos breves, que não têm importância, pois não possuem
qualquer base real na vida ao meu redor. Em segundo lugar, posso me relacionar
com certos clichês que foram magnetizados pelo esforço da minha consciência
ao meditar sobre o tema “EU SOU”, e que mais se aproximou de mim. Não posso
expressar em linguagem mental qualquer definição formal DO QUE realmente
SOU, mas posso SABER e SENTIR o fato indubitável da minha existência e
ESTOU FAZENDO ISSO AGORA!
Essa pode ser a sua meditação, ou melhor, o início dela ao longo da primeira
estrada, a partir do cruzamento. Você deve perceber que se trata de uma simples
sugestão, e lembre-se disso nos trabalhos futuros, de modo a não ficar
escravizado aos meus caminhos, memorizando-os e substituindo-os pelo seu
próprio trabalho. Neste caso, tornei a tarefa mais fácil para você uma vez que a
PRIMEIRA ESTRADA, em sua essência, dificilmente pode ser mudada por
causa do caráter especial do seu TEMA.
2) O meu “EU SOU” não é algo imóvel e definido. Vem dessa subdivisão de
TEMPO relativo, que chamamos de “PASSADO”. O que sei sobre esse
passado?
3) Outra estrada leva ao FUTURO. Esta é a parte mais difícil da meditação. Pois
a única coisa que você pode ser capaz de projetar na subdivisão do tempo futuro
pertencerá necessariamente à sua personalidade, ao seu ego, que é irreal e
mortal. Vale a pena permitir que isso seja mencionado em sua meditação?
Explore a estrada pavimentada com o que você gostaria de fazer do seu “EU
SOU” no futuro, isto é, o que você gostaria de se tornar, mais sábio, melhor, mais
forte, mais útil aos outros, “EU SOU” pertencentes a seus companheiros
humanos em evolução. Você gostaria que ELE se tornasse o seu “EU SOU”
ABSOLUTO, que é a soma de todas as consciências separadas? Você está
aspirando à Casa do Pai?
Exercício L: O TEMA é: “A MINHA VIDA”. Simples, mas não tão fácil! Eu o estou
recomendando agora por ser breve e compacto, o que facilita a concentração e
evita a verbalização, inevitável se há muitas palavras ou sentenças no tema.
Você sabe que a verbalização é algo como um par de muletas para o
principiante, mas elas devem ser e serão rejeitadas quando você se firmar em
suas próprias pernas. Portanto, por que dedicar demasiado tempo e atenção a
algo tão temporal e irreal? Lembre-se de que a sua ATENÇÃO é a água mágica
da vida, não apenas para você, mas também para os inúmeros seres ao seu
redor, o que pode ser relembrado pelos capítulos anteriores.
Estrada 1: Minha vida é o que estou vivendo agora: minha consciência disso
manifesta-se pelos meus pensamentos, pelos sentimentos e pelas formas
corporais pelas quais ajo no mundo físico. Este é um tipo de desenvolvimento do
tema anterior, que era o “EU SOU”. No final, ambos se limitam, pois “A MINHA
VIDA” pode ser perceptível por outros egos e o “EU SOU” permanece um
mistério para todos, exceto para o próprio homem. Ninguém sabe (entre os
homens comuns) o que existe em meu ser, a não ser o meu “EU”. Agora, dê um
passo à frente e MERGULHE no intenso pensamento sobre “A MINHA VIDA”.
Esta estrada é muito pessoal para que outra pessoa a escolha por você.
Estrada 2: O que foi a minha vida no PASSADO? Aqui tenho um vasto campo
para meditação, pois acredito que sei bastante sobre o meu passado, pelo
menos nesta encarnação. Agora tentarei reordenar a minha vida, isto é, a minha
consciência, durante os meus anos passados, começando pela minha
lembrança mais antiga, que me tirará de minha infância quase inconsciente.
Acompanharei os momentos mais importantes do meu passado, reconstruindo-
os em quadros, não em palavras.
Também aqui você tem um material quase ilimitado para a sua meditação;
entretanto, não tente reordenar os acontecimentos da sua vida, mas sim as suas
mudanças de comportamento, convicções, crenças, experiências, etc. Olhe-as
do ponto de vista do presente, julgando-as de acordo com o seu proveito ou
inutilidade para o estado presente. Faça várias “pausas” do TEMA, como fez
anteriormente.
Estrada 3: A todo momento, passo do efêmero “presente” para o FUTURO. Mas
posso parar por um tempo, a fim de considerar independentemente esse futuro
em minha vida. O que posso esperar dele? O que eu gostaria que acontecesse?
O que devo fazer e experimentar, antes que a página chamada “futuro” de minha
vida seja fechada pela mão da morte? Será a morte o final da minha vida futura
ou será apenas uma transformação da forma e do meio ambiente?
Uma vez mais, devo lhe dar apenas um esboço de meditação, e você poderá
desenvolvê-lo de acordo com suas próprias idéias, mas sempre com o cuidado
de NÃO SE DESVIAR DO TEMA e não escapar inconscientemente para algo
que tenha pouco em comum com o tema real.
Durante os primeiros dias — talvez semanas — haverá muitas distrações, e ao
começar com a idéia de meditar sobre os seus processos de pensamento, você
poderá terminar com algo muito diferente. Isso deve ser evitado e eliminado.
Lembre-se de que todo exercício interrompido, ou substituído em sua mente por
idéias não relacionadas com ele, deve ser cancelado e reiniciado a partir do
princípio. Ele deve ser repetido até que você seja capaz de fazer tudo
claramente, sem desvios, mas não necessariamente por um longo tempo. É
melhor um exercício bem feito por um minuto do que um exercício confuso e
frustrado por cinco minutos.
O tipo de pensamento acima descrito é muito criativo, pelo menos nos seus
estágios iniciais, isto é, quando você decide meditar em um PROPÓSITO
relacionado com a sua vida pessoal. Você começa, por assim dizer,
independentemente, mas sua meditação seguinte pode estar baseada num
clichê que esteja próximo a você. Não acredite, mesmo por um momento, que
possa ter em sua mente algo que nunca teve qualquer conexão com os
pensamentos de outros homens, nesta ou em outra época. Compreenda
também que eles serão contatados por outros homens no futuro, que os obterão
como um clichê pronto. Nada perece na Natureza; portanto, nenhuma força
jamais pode ser aniquilada; no máximo, pode ser transformada.
Assim, como você pode ver, a conexão entre nosso pensamento “independente”
e os clichês é muito íntima, e frequentemente é difícil distinguir onde há apenas
pensamentos e onde há clichês. Somente a prática lhe proporcionará essa
habilidade de discriminação.
Convivi com Ossowiecki nos anos de 1930 a 1935; depois voltei a encontrá-lo
esporadicamente. Nessa época, eu dava palestras públicas sobre hermetismo e
sua adaptação ao tarô. Depois de uma de minhas primeiras palestras, um senhor
de meia-idade veio até mim, apresentou-se como Ossowiecki e me disse que
estava interessado em ocultismo, especialmente em sua aplicação científica,
que ele podia perceber na filosofia do tarô. No final, ele convidou amavelmente
a mim e a um amigo meu, o dr. S., que havia participado de um dos meus grupos,
a visitá-lo em sua casa, situada numa elegante área residencial.
Quando chegamos, ele nos convidou para nos sentarmos num grande sofá e
arrumou as coisas de modo a se sentar no meio, o dr. S. à sua direita e eu à
esquerda. Ossowiecki era polonês de nascimento, mas havia passado sua
juventude em Moscou e de lá, provavelmente, trouxera o hábito cordial de
segurar pelo punho os visitantes que lhe eram bem-vindos. Foi um dos homens
mais agradáveis e sinceros que já encontrei.
Ele era capaz de dizer o paradeiro de qualquer homem, desde que tivesse um
objeto que pertencesse a essa pessoa. Bastava que o colocasse em sua testa
para começar a falar com uma voz calma e clara, mencionando lugares e
adjacências e afirmando se a pessoa estava viva ou morta e, no último caso, em
que circunstâncias a morte havia ocorrido.
Um dia, Ossowiecki foi fazer uma caminhada e nunca mais voltou. Segundo sua
família, ele deve ter sido capturado por alguma quadrilha e executado junto com
outras vítimas. Nem o mais leve traço dele permaneceu, pois o corpo
provavelmente foi lançado numa vala comum em algum lugar nos arredores da
cidade.
Evidentemente, ele não pôde prever seu próprio destino e o perigo que estava
correndo ao sair de casa naquele dia.
Durante toda a sua vida ele foi um homem amável, com um coração sincero e
apaixonado, sempre pronto a ajudar quem quer que fosse, de qualquer modo
que pudesse, aconselhando e gastando tempo e dinheiro com aqueles que
realmente necessitavam.
Escrevi então uma carta de Paris para aquela senhora, incluindo uma
apresentação pessoal a Ossowiecki. E eis o que aconteceu depois.
Espero que estas poucas linhas sejam um modesto tributo ao homem que foi
extraordinariamente dotado de um coração límpido como cristal, e que
permanece morto numa sepultura desconhecida num país distante. Se ele
tivesse vivido entre nós, no Ocidente, e sua morte prematura não tivesse cortado
a possibilidade de investigação científica, com seu auxílio raro, muitos poderes
que continuam ocultos em todos nós teriam sido explicados de uma maneira útil
e científica.
Essas quatro séries com exercícios elementares de meditação, tais como os das
letras K, L e M, servem como preparação para os próximos exercícios, mais
complicados. Entretanto, sem essa preparação não podemos passar com êxito
para o trabalho mais adiantado. A mente deve ser treinada até um determinado
grau, antes de o estudante ser capaz de “ler nas entrelinhas” quando chegar aos
capítulos sobre treinamento da meditação propriamente dita. E isso porque a
verdadeira meditação, além das palavras e pensamentos ligados a ela, alcança
o nível das atividades supramentais da consciência humana, que, naturalmente,
não pode ser escrita com exatidão na linguagem baseada nessas mesmas
palavras.
Se quiser, acrescente alguns outros temas a este capítulo e trabalhe com eles
como foi feito nessas séries. Não há dúvida de que serão úteis para o seu futuro
estudo da meditação. Por exemplo, desenvolva temas tais como: A MINHA
FALA, AS MINHAS CRENÇAS, O MEU CORPO, e assim por diante. Como vê,
recomendo os temas mais “pessoais”, porque você está desenvolvendo suas
habilidades e tentando influenciar por meios diretos — como foi explicado
anteriormente — as funções do seu cérebro. Portanto, é lógico que, no começo,
você opere com material mais próximo à sua personalidade. Os temas abstratos
virão mais tarde, quando os elementares estiverem bem assimilados e
dominados.
16
A Meditação intermediária
— série V
(Lidando com a mente)
A prática mostra que não podemos gastar demasiada energia quando estamos
lidando com a ferramenta primária da meditação, isto é, com a nossa mente.
Quanto mais conhecermos esse poder, que é nosso mas que não é NÓS
mesmos, melhores serão os resultados que podemos esperar do nosso esforço
para obter uma verdadeira habilidade para meditar. Nesta série de exercícios,
usaremos temas e definições tirados, em sua maioria, das Grandes Almas ou
dos verdadeiros Mestres que alcançaram o ápice e, portanto, podem nos
aconselhar melhor do que qualquer outra pessoa. E isso mesmo nos níveis mais
baixos, pois quando a pessoa se lembra de sua difícil escalada para perceber a
natureza da mente, essa lembrança o ajuda a compreender as atuais
dificuldades dos outros, que são inevitáveis e cujo único propósito é dar
experiência e conhecimento. A leitura deste livro não o levará ao domínio da
mente, nem à maestria na arte de meditar. É preciso compreender isso para
poupar desapontamentos e amarguras.
“Que afirmação!”, alguém poderia dizer. “Qual é então a utilidade de todo este
livro?”
Este livro, como qualquer outro manual, pode ser semelhante a um PRATO DE
COMIDA OFERECIDO A UMA PESSOA FAMINTA A FIM DE ALIMENTÁ-LA. A
comida contida no prato não resolverá todo o problema de salvá-la da inanição.
Há uma condição definida e positiva a ser cumprida se ela realmente precisa ser
alimentada. Uma ação dupla é necessária se é esse o propósito: COMER O
ALIMENTO E DIGERI-LO APROPRIADAMENTE.
Não importa o quanto isso seja simples e verdadeiro; muitas pessoas estão
inconscientes dessa verdade e esperam ser satisfeitas com uma simples
olhadela num livro. Para tais pessoas, eu digo: SE FOR ASSIM, ENTÃO,
QUANDO CHEGAR SUA PRÓXIMA REFEIÇÃO, OLHE PARA ELA, CHEIRE-A,
CALCULE QUANTAS CALORIAS OU VITAMINAS ELA PODE CONTER, SEU
SABOR APROXIMADO, O LUGAR ONDE ELA FOI COMPRADA, O NOME E
AS PARTICULARIDADES RELATIVAS À PESSOA QUE A PREPAROU, O
PREÇO, e qualquer outra coisa que queira, tudo exceto a última e única atividade
essencial: COLOCAR O CONTEÚDO DA REFEIÇÃO EM SUA BOCA,
MASTIGAR, ENGOLIR E SUBMETÊ-LO AO PROCESSO VITAL DA
DIGESTÃO.
Agora é a minha vez de lhe perguntar: “O que acontecerá se você fizer tudo isso
com a comida e não a comer? Será salvo da inanição?” Receio que NÃO! Nem
mesmo a ótima cozinheira que preparou a comida para você poderá ajudá-lo, se
ela comer e você não!
Entretanto, isso não é tudo, pois seria insuficiente. Assim, para encher o seu
“prato”, será adotado o seguinte método:
Exercício N:
Então, qual é a posição da nossa mente? Ela NÃO é o nosso cérebro, que não
passa de um instrumento físico. Quando nossa mente está inativa, em sono
profundo e sem sonhos, nosso cérebro continua existindo e é o mesmo órgão de
quando estávamos acordados, só que inativo, pois sua força motriz foi afastada
dele. Portanto, aprenda a fazer a distinção entre mente e cérebro.
Se a mente e o cérebro NÃO são a mesma coisa, qual é então o seu campo
inerente, verdadeiro, sem o qual não pode haver nenhum conceito de mente?
ELA É APENAS O PROCESSO DE PENSAR, ou, como o sábio Maharshi disse,
os seus PENSAMENTOS. Vamos fazer uma pequena experiência. Ao eliminar
TODOS os pensamentos (o que implica a mesma sorte para os meus
sentimentos) da minha consciência, nenhum PENSAMENTO PRINCIPAL
permanece. Nada mais faz com que se manifeste, e ninguém pode ver a minha
mente e me dizer: “Olhe, embora você não esteja consciente do seu pensamento
principal, eu posso percebê-lo!” Ou você espera que alguém lhe diga algo assim?
Eu espero que NÃO!
Depois, leia lentamente o “desenvolvimento” SETE VEZES, até que ele fique
totalmente claro para você. Não ouça mais nada de sua mente, pois é a mente
que fará todo o esforço para impedi-lo de extingui-la, mesmo por um momento.
Compreenda que esse poder quer viver, e seu impedimento significa a sua morte
temporária. Mas esse poder vive somente às suas custas, ocupando energia viva
da sua ATENÇÃO (veja os capítulos anteriores a respeito disso), e a vida dela
não é a sua vida, mas somente a de determinadas vibrações, sem as quais a
sua consciência é maior e mais pura, como você logo descobrirá. Portanto, não
tenha qualquer falsa sensação de “culpa” quando eu lhe disser que, silenciando
a mente, você estará provocando a sua morte temporária. De qualquer modo,
ela deve morrer quando a sua hora chegar; o que há, portanto, de errado em sua
liberação temporária de algo mortal?
Quando datilografei tudo isso, o trabalho “mecânico” foi feito pela mesma mente,
é verdade, mas... NADA MAIS! Isso parou na mesma hora em que as teclas da
máquina de escrever pararam. Como é grande a PAZ quando a mente está
silenciosa e tranquila!
Exercício O:
Eu a chamarei para a vida quando precisar de seus serviços. Que seja assim!
Não voltarei a mencionar essas regras após cada exercício, pois são idênticas
para todas as meditações, até você passar para a MEDITAÇÃO MUDA,
denominada algumas vezes CONTEMPLAÇÃO.
Exercício P:
TEMA: A mente é um bom servo, mas um mestre cruel. (As vozes do silêncio.)
Mas agora que a coloquei no seu devido nível, e ela é minha serva, posso ver
que a mente é um instrumento útil, sem o qual eu não poderia fazer muito neste
mundo, incluindo o meu estudo sobre a meditação.
Qual foi o fator decisivo dessa mudança de relacionamento entre mim mesmo e
a minha mente? Algo simples, mas imensamente importante: A PERCEPÇÃO
DE QUE EU E MINHA MENTE SOMOS DUAS COISAS DIFERENTES, E DE
QUE EU SOU CAPAZ DE DIRIGIR A MENTE.
Tendo concluído o assunto exposto no capítulo 16, podemos passar para o uso
das forças que surgem em nós como resultado da solução de nossos problemas
mentais. Como “conclusão”, no que diz respeito ao estudo de cada capítulo deste
livro, pretendo o domínio de seus exercícios, isto é, a satisfatória e frequente
repetição deles enquanto meditamos ao longo das linhas recomendadas, até a
verdade dos temas de meditação tornar-se NOSSA PRÓPRIA VERDADE,
inseparável de nossa recente atitude em relação a ela e da compreensão desses
temas. Em resumo, temos de moldar nossa mente nas formas que queremos, e
não de acordo com seus próprios padrões.
Sabemos que o imenso clichê do universo foi criado pela PURA CONSCIÊNCIA
ESPIRITUAL, a qual não é errado chamar de “HIPERCONSCIÊNCIA”, em
relação à consciência humana normal. Nossa ambição não pode ir muito longe,
pois a faísca não pode fazer o que é feito pelo FOGO INTEIRO. Portanto, não
ensinaremos a você como criar um mundo novo, e espero que você compreenda
isso totalmente, rejeitando assim todas as tolices e absurdos frequentemente (e
lamentavelmente) espalhados pelos falsos “profetas” e “mestres”. Temos de
conhecer nossas possibilidades e limitações, permitindo que a mãe-verdade
resida em nós.
Bem, então, que tipo de clichês somos capazes de produzir, com quais clichês
já existentes podemos nos associar? A resposta é simples e inequívoca: COM
OS QUE ESTÃO AO NOSSO ALCANCE. As habilidades elementares de
meditação, que você deve ter começado a perceber a partir do material
amplamente estudado nos capítulos anteriores, devem torná-lo capaz de fazer
determinadas coisas nesse sentido. Pois os clichês são o resultado direto da
meditação clara e intensa, com pleno poder de concentração, usado para esse
propósito. Com estas palavras, você é iniciado neste problema, que foi mantido
em segredo durante as épocas passadas. Sua meditação é a verdadeira força,
uma força criativa, e não há nem pode haver nada que a substitua. Agora você
pode compreender por que escrevi este livro. Espero que ele chegue às mãos
certas e seja usado como pretendi, para a CAUSA DA LUZ, não para a das
Trevas.
Pelo conteúdo dos quinze capítulos precedentes você pode ver que os altos
padrões morais e éticos foram estabelecidos como condições para a Realização.
Se alguém, com intenções impuras, tentar obter certas faculdades relacionadas
com a arte de meditar, será compelido a satisfazer esses padrões, o que significa
que deverá então deixar de ser um indivíduo vil e egoísta. Além do mais, para
se obter qualquer êxito, como se supõe neste trabalho, você invariavelmente
precisará da ajuda do ALTO. Isso só lhe será dado se a sua atitude garantir a
pureza de seus objetivos; do contrário, não. O Supremo vê através de você, e
nenhuma trapaça é possível neste caso. Esta é a válvula de segurança, da qual
estamos bem conscientes. Não ignoro a possibilidade de se utilizar os poderes
ocultos para o mal, isto é, para propósitos egoístas, mas seu alcance é muito
limitado e os resultados, muito efêmeros para serem levados a sério. Sem
dúvida, um “mago negro” é capaz de criar determinados problemas para algumas
pessoas que ele odeia e que não têm, elas mesmas, padrões muito elevados;
mas, de qualquer modo, ele é apenas um instrumento no carma negativo dessas
pessoas. Entretanto, ele jamais terá êxito em suas tentativas de prejudicar
qualquer verdadeiro ocultista branco ou homem santo. Até mesmo uma crença
simples e sincera em Deus e em Sua bondade por parte de um homem comum
é garantia suficiente contra as más influências. Saiba que NENHUM MAL
JAMAIS PODE NOS TOCAR SE NÃO POSSUÍMOS DENTRO DE NÓS
MESMOS OS GERMES DO MESMO TIPO DE MAL QUE PODE SER
LANÇADO CONTRA NÓS. Não há espaço aqui para desenvolver este assunto,
mas, se você estiver interessado nele, poderá encontrar todas as explicações e
conselhos nos capítulos do livro Tarô, que tratam de violações e de outros crimes
astrais.
Exemplos:
A — Imagine que você tem algum trabalho especial, ou um projeto, e quer fazer
tudo o que puder a fim de assegurar o seu sucesso, à parte, naturalmente, de
qualquer tipo de preparação física necessária. Você tem de fazer uma palestra
convincente numa companhia, pois dela dependem decisões favoráveis a você.
Sabe que, como regra geral, até mesmo os oradores comuns, que não usam os
métodos ocultistas, preparam suas palestras com antecedência, e depois as
praticam diante de um espelho de modo a exercer o máximo de influência no
auditório. Não há nada de errado nisso, mas devemos ir além, criando um
CLICHÊ TOTAL do futuro acontecimento.
É claro que, como em tudo, há exceções, mas elas apenas confirmam a lei
genérica da criação de clichês. Isso explica a mágica influência que alguns
homens maus (do nosso ponto de vista) têm sido capazes de exercer em suas
audiências passivas. Suspeito fortemente que, nos seus melhores anos, os
ditadores Hitler e Mussolini estavam sinceramente convictos de que lutavam por
uma causa justa, e esse forte magnetismo foi passado para as multidões ao
redor deles.
Entretanto, se o clichê não for bem definido, se a concentração não for muito
clara e a prece suficientemente sincera, os resultados nem sempre serão tão
benéficos como o esperado.
O método de criar clichês, dado aqui, pode ser aplicado a todo problema
autêntico que precisarmos resolver, providenciando a satisfação das condições
necessárias para que a ação seja conduzida. Já falei a respeito disso neste
capítulo.
Em ambos os casos, não posso lhe adiantar qualquer explicação, pois não há
palavras adequadas a esse propósito, e as aproximações ou comparações não
teriam qualquer utilidade neste assunto.
Em nosso mais íntimo recesso, quando a Paz suprema reina, nem mesmo
SABEMOS a respeito dessas criações sem forma, pois somos nós mesmos, em
essência, o ESPÍRITO SEM FORMA.
Nos diagramas que vêm a seguir (figuras 2 a 6), mostraremos as linhas gerais
desde o início até o subsequente estudo da meditação.
A nova parte da curva entre “b” e “c” demonstra essa atividade. Entretanto, pela
falta de treino, somos incapazes de permanecer na linha ideal e a ultrapassamos,
chegando apenas ao “c”, em vez de ao “d”. Daí novamente dirigimos nossa
atenção para a frente, passamos pelo “d” e chegamos ao ponto “e”.
Espero que depois desta curta exposição você seja capaz de orientar a sua
mente de acordo com o significado desses diagramas, de modo a não repetir os
mesmos desvios, mas simplesmente descrevê-los pelo desenho da linha de
meditação, como foi feito.
Outro passo defeituoso ocorre em “e”: aqui a mente se desviou por completo,
esqueceu-se do tema de meditação e começou a se ocupar com pensamentos
que têm pouco ou nada em comum com o tema. Isso está representado pelas
linhas interrompidas e dispersas irradiadas a partir do “e”. Uma visão triste e
deprimente.
Finalmente nos lembramos outra vez de que temos de voltar para a linha X—Y,
em alguma parte no ponto “f”, e começamos a caminhar para a frente. O desvio
seguinte nos leva ao “g”, daí para o “h”; então damos um grande passo na
direção certa, a qual é depois transformada num movimento oposto em “i”, e daí
prossegue numa longa curva de pensamentos de ordem estranha no “j”,
novamente vai em frente e... Mais uma vez a inconsciência interrompe a
meditação, deformando-a, transformando-a numa mistura de pensamentos
incoerentes, marcados por fragmentos dispersos.
Figura 5: Um progresso ainda maior! Embora ainda não seja capaz de chegar ao
X—Y por alguns espaços mensuráveis de tempo, o estudante pode dizer que
está, de fato, encontrando a técnica correta e que sua concentração progrediu
junto com sua força de vontade. Pois você deve saber que essas interrupções
na meditação, como foram descritas anteriormente, são provas convincentes de
que a força de vontade do aspirante ainda está fraca e é incapaz de assegurar
a continuidade do processo interior na consciência dele.
Talvez você possa ver agora aonde a meditação realmente leva seus adeptos e
os estudantes fiéis.
Relendo tudo o que foi escrito acima, tenho a mesma sensação de que tudo isso
é apenas um esboço da perfeita CONSTRUÇÃO futura. Cada um deve inserir
sua própria força nela, e assim construir o TEMPLO indestrutível, no qual
encontrará sua paz final.
19
Japa
Como já disse, você pode escolher quase qualquer coisa que considere
compatível com um texto para o japa, sob a condição de que não seja muito
longo ou enfadonho. Quanto mais curto, melhor. Portanto, não darei muitos
exemplos; desse modo você poderá usar algo diferente, se achar que se adapta
melhor à sua mentalidade. Se quiser saber a verdade, É DE POUCA
IMPORTÂNCIA A FÓRMULA QUE VOCÊ VAI USAR. Isso porque o japa é um
meio, um método técnico, que não possui outro objetivo a não ser o de ajudá-lo
a dominar a dispersão de sua mente, a discipliná-la e a fortalecer sua força de
vontade. Como pode ver, seu alcance é bastante amplo, e é por isso que
recomendo este antigo mas comprovado método para o período transitório entre
a “concentração” e o uso prático da meditação.
Eis aqui algumas sugestões: “EU SOU”; “QUEM SOU EU?” (o Vichara); o
GAYATRI (“Vamos meditar sobre a glória do UNO que criou este universo: deixe-
o iluminar nossas mentes); e “AUM MANI PADME HUM”. Para os que têm
inclinações religiosas, temos excelentes preces curtas que se adaptam bem ao
nosso propósito: “DEUS O SAGRADO, DEUS O SAGRADO E PODEROSO,
SAGRADO E IMORTAL, SEJA A GRAÇA EM NÓS: ABENÇOADO, Ó
SENHOR!”
Algumas vezes, uma fórmula mais curta como “AUM” (o mesmo que “OM”) se
ajusta melhor. Repito: é o modo como o japa é feito que conta, e não as palavras
da fórmula em si. É claro que, se um aspirante escolher uma prece curta e usá-
la com a devida devoção, não pode deixar de obter um benefício adicional na
forma de uma resposta de Quem é adorado. Para os que têm uma atividade
devocional em relação a Cristo, os versos a seguir, originados dos anos iniciais
do cristianismo, podem ser recomendados. Como você pode ver, é também uma
invocação poderosa que fortalecerá o seu japa espiritual: “CRISTO
RESSUSCITOU, DERROTANDO A MORTE PELA MORTE E GARANTINDO
VIDA ÀQUELES QUE ESTÃO NA SEPULTURA”. Certamente você pode
perceber que a expressão “que estão na sepultura” é semelhante, em
significado, às palavras que Cristo usou quando disse aos Seus discípulos:
“Sigam-me, deixem que os mortos enterrem os seus mortos”. Então a “garantia
de vida” para eles significava “ressurreição espiritual” do sono mortal na matéria,
como dizem os ocultistas.
Há uma outra regra muito importante: NÃO DIGA NADA A NINGUÉM SOBRE O
SEU TRABALHO COM O “JAPA”, OU SERÁ PREJUDICADO OU ATÉ MESMO
DESTRUÍDO. Muitos casos desse tipo são conhecidos, de modo que a violação
dessa regra é ABSOLUTAMENTE PROIBIDA para todo estudante de meditação,
ou mesmo para qualquer pessoa que use o japa para qualquer outro propósito.
A única exceção é no caso de um amigo ou companheiro fiel, QUE TAMBÉM
ESTEJA PRATICANDO ALGO SIMILAR, DESDE QUE VOCÊ SAIBA QUE ELE
ESTÁ MAIS ADIANTADO QUE VOCÊ. Em todos os outros casos, a REGRA é
absolutamente obrigatória e imprescindível, se você realmente quer obter
proveito de seu trabalho. Em resumo, se a fala é de prata, o SILÊNCIO é de ouro
puro. Naturalmente, se você sentir que precisa de mais alguma instrução (da
qual, na verdade, não deve precisar, pois tudo foi organizado neste curso de
modo que você tenha todas as informações e instruções necessárias neste livro,
e se seguir meu conselho de o ler pelo menos SETE vezes, não terá
absolutamente nenhum problema), pode escrever para mim, pois ficarei contente
em auxiliá-lo, desde que não pergunte algo que já esteja contido na obra.
Durante quanto tempo você deve trabalhar com o japa? Novamente, nenhum
tempo definido pode ser aconselhado, pois há uma regra pessoal para cada
estudante.
A flexibilidade do japa é uma das razões pela qual ele é tão admirado no Oriente
há milhares de anos.
A partir da minha experiência pessoal (e não escrevi nada que não fizesse parte
dessa experiência), sei que o japa é um excelente método. É simples,
relativamente fácil e um meio rápido para se chegar ao mais importante
conhecimento interior sobre a diferença entre o homem e sua mente. Ele dá ao
homem um sentimento tão maravilhoso de liberdade e certeza que dificilmente
há algo melhor ou mesmo comparável ao japa. Contudo, ele deve ser usado
como um meio, nunca como um fim, como alguns aspirantes ignorantes
(geralmente do Oriente) parecem acreditar. Não cometa esse erro. O japa não
deve ser confundido com algumas preces ou mantras importantes que certos
santos e iogues usaram durante a vida. Tais fórmulas foram temas constantes
de suas MEDITAÇÕES, mas NÃO exercícios com o objetivo de transformar e de
subjugar a mente, que eles já haviam abandonado há muito tempo.
TERCEIRA PARTE
MEDITAÇÃO
REGULAR
20
Um grupo ético de meditações
— série I
Os temas mais fáceis e atraentes serão textos éticos famosos, começando pelos
neoplatônicos e terminando com os contemporâneos. As técnicas a serem
usadas nos capítulos 20 e 21 permanecem as mesmas:
c) Depois de dez minutos (mais até, se sentir vontade), comece a ler devagar
cada sentença do desenvolvimento, pensando profundamente em cada uma e
acrescentando a versão que surgir em sua mente. Não se desvie, em hipótese
alguma, deste trabalho, e caso se surpreenda pensando em alguma coisa não
relacionada e não planejada para estar em conexão com o tema, reinicie o
trabalho desde o começo, isto é, “a”, depois “b”, e assim por diante.
Meus sentimentos em relação a meus companheiros são bons ou ruins? Sei que
nenhuma desculpa justifica minha feiúra interior, quando ela aparece em mim.
Portanto, preciso remover o mal e as emoções repulsivas de dentro de mim. Elas
são destrutivas, ainda que minha mente tente me convencer de que, em certas
circunstâncias, eu não poderia me comportar de um modo diferente. Eu poderia
e posso!
É a ilusão inata que faz os homens pensarem assim. Não quero mais ser um
escravo da ilusão, quero a libertação pela Verdade!
Pois a mente é imutável, e a pessoa não pode confiar nela. Quando ela domina,
é fonte de sofrimento. Quando é dominada, é um instrumento útil.
Há momentos em que vejo isso claramente, e parece então que algum Ser mais
elevado está em mim. Algumas vezes, sinto-me encantado pelos apegos e
realizações, mas esta não será a voz de futuros sofrimentos?
Posso ver que o sofrimento é auto-imposto, de modo que ele só pode ser
descartado pelo meu próprio ser.
Todo aquele que compreender isso chegará ao mais alto nível ético: não criará
desarmonia, ansiedade, medo, luxúria e raiva nem para si mesmo nem para os
outros. Este é o meu objetivo.
Portanto, até que o Rio deságue no Oceano, haverá sempre luta e esforço à
minha frente. A estrela guia será sempre a consciência de que a Busca é certa
e a Realização, segura.
10. TEMA: A Alegria de Ser não está limitada pelo tempo, pois ele não tem
começo nem fim. Deus só abandona uma forma para entrar em outra. (Sri
Aurobindo.)
No grande Silêncio interior não existem nem o mundo nem o seu barulho.
Portanto, o Silêncio é um dos acessos ao templo da Alegria. Desenvolverei este
Silêncio em mim até que se torne minha verdadeira natureza, pois ele é o destino
de toda a Vida manifesta.
11. TEMA: Enquanto vivermos neste mundo, não poderemos passar sem
tribulações e tentações. (Thomas à Kempis.)
13. TEMA: Frequentemente, não sabemos o que somos capazes de fazer, mas
as tentações nos mostram o que somos. (Thomas à Kempis.)
Desenvolvimento: Não existe nada que nos aconteça sem qualquer razão ou
propósito. Sou capaz de perceber isso agora. Portanto, a tentação que me vem
atacar contribui para o meu autoconhecimento, mostrando-me minhas fraquezas
e quedas. Algumas vezes, posso imaginar que sou muito mais forte do que sou
na verdade e tento omitir certas experiências necessárias como sendo obsoletas
no que me dizem respeito. Mas, nos momentos de tentação, quando tenho de
lutar com todas as minhas forças contra a corrente impura que tenta me tragar,
posso ver a mim mesmo muito melhor.
As tentações são como uma pedra de amolar, que torna uma lâmina afiada,
melhorando seu corte pela fricção. A fricção interior faz o mesmo comigo.
Portanto, não evitarei, pelo contrário, combaterei e dominarei as atribulações.
Assim, não reclamo delas, mas as aceito como um meio necessário, que me leva
ao desenvolvimento da força e da tranquilidade interiores.
14. TEMA: Os atos executados sem qualquer apego, no espírito de servir a Deus,
limpam a mente e indicam o caminho para a Libertação. (O Maharshi.)
As catorze meditações que você encontrou na série I têm uma finalidade: elas
possuem o material que você precisa trabalhar de modo a desenvolver novas
habilidades e experiências anteriores. Aceite-as de modo correto, isto é, como
um trabalho pessoal, do qual pode tirar vantagens e obter mais luz. É preciso se
aprofundar em todas elas? Se você pretende obter o máximo deste curso, sua
adesão aos textos recomendados será essencial.
Espero que você não imagine que possa passar com sucesso por este curso em
apenas alguns meses. Não será assim. Tenha sempre clara em sua mente a
diferença entre “ler” e “estudar”, e saiba o que pode esperar de ambos. Se você
lê um romance, não precisa estudá-lo, pois esse trabalho não é feito
normalmente com esse propósito, mas só como entretenimento.
Entretanto, com um livro como este, ler apenas definitivamente não funcionará
de modo algum. Aqui você tem de aprender algo a respeito de uma coisa que
antes desconhecia por completo, ou de que sabia muito pouco, e para que
aprenda, uma mera olhadela em seu conteúdo será inútil.
Na continuação deste curso, você verá que o material para meditação foi
livremente selecionado a partir de fontes bastante diferentes. No momento, há
inúmeros textos ótimos, disponíveis na forma de livros para os homens deste
século XX. É impossível coletar TODOS ELES num livro só. Além do mais, isso
é totalmente desnecessário e impraticável. A VERDADE real não pode ser
expressa ou explicada exatamente em nenhuma linguagem humana, pois Ela
transcende a mente. Portanto, nenhum livro escrito pelo homem pode conter
toda a VERDADE, que não é informação, teoria ou ensinamento.
Neste trabalho, você encontrará uma série especial de meditações que lidam
com diferentes aspectos da mente, mas ela é incapaz de expressar essa
Verdade, de modo que não permaneça nada a ser acrescentado. A Verdade
pode ser encontrada em nós mesmos; podemos percebê-la, senti-la, vivê-la,
mergulhar n’Ela, e tudo isso será certo para nós. Mas nunca seremos capazes
de “transplantá-la” em outras pessoas.
Sinto que nesta coletânea de meditações não devem faltar alguns textos
budistas do Dhammapada. Alguns estudantes que tive a oportunidade de
observar e de auxiliar têm uma inclinação peculiar para os textos sagrados do
budismo e por sua abordagem da ética íntima do homem, que leva ao futuro
desenvolvimento da espiritualidade. A filosofia de Buda é prática por excelência,
expressa em palavras muito simples e não requer muitas explicações ou
comentários. Portanto, meu papel nas páginas conclusivas deste capítulo será
limitado a dar a melhor seleção de versos, acompanhados por breves
comentários, quando a necessidade de esclarecer a meditação se fizer presente.
Todo o Dhammapada se baseia num profundo conhecimento da psicologia
humana e é, portanto, aplicável ao homem atuar, como o era muitos séculos
atrás. Essa é outra prova de que a psique básica do homem não muda muito,
mesmo num período tão longo.
Afinal, quem sabe se alguns de vocês não ouviram o Pregador original, ou seus
discípulos, ou não entraram em contato com a filosofia viva do Ser Perfeito, de
um modo ou de outro? Essa lembrança pode não residir em seu cérebro, mas
ela é e deve ser preservada na faísca espiritual, no espectro de suas vidas que
o leva por inumeráveis existências materiais até a Libertação Final que Buda
chama de Nirvana. Do mesmo modo talvez muitos dos sinceros seguidores
atuais do Grande Mestre — que ensinou na Galiléia há quase vinte séculos —
podem ter caminhado, na mesma época que Ele, pelo chão da terra aonde Ele
veio para nos trazer a luz perene.
Pois o ódio não acaba pelo ódio em tempo algum; o ódio só acaba pelo amor —
esta é uma antiga lei.
O conhecimento de que nada nos acontece sem motivo e de que ninguém pode
nos prejudicar sem que isso seja um resultado de nossas ações anteriores é
essencial aqui. Ele trará a paz nas mais intensas dificuldades; contudo, a ofensa
aos outros deve ser repelida.
2. TEMA: Aquele que quer colocar a veste amarela sem ter se limpado do
pecado, que negligencia a temperança e a verdade, não é digno de tal veste.
4. TEMA: Assim como a chuva não invade uma casa coberta de sapé bem
trançado, a paixão não invade uma mente que reflete bem.
Esta é simplesmente uma afirmação mais enfática do tema anterior (3); portanto,
não há necessidade do desenvolvimento.
Desenvolvimento: Encontro aqui uma forte ênfase, muito bem colocada, sobre a
necessidade da meditação como a mais alta função da consciência humana.
Devemos nos dedicar a ela o máximo que pudermos, pois nenhum outro meio
nos aproxima tanto da Realização descrita por Buda como o “ápice da felicidade”
(ou beatitude e paz). A persistência na meditação é uma certeza de sucesso.
Desenvolvimento: Uma vez mais é salientada a lei de que a meditação deve ser
estudada e compreendida. Sem ela, não passamos de tolos, destinados ao
fracasso, que inevitavelmente trará desapontamento e frustração, dos quais é
muito difícil se livrar. E, mesmo assim, até agora, pode-se ouvir em determinadas
sociedades pseudo-ocultistas, baseadas na ignorância, que “todo mundo pode
meditar”, que todos estão “convidados à meditação”, e assim por diante, como
se todo mundo pudesse ser convidado para usar um complicado computador ou
outras máquinas que requerem conhecimento e treinamento especiais.
7. TEMA: Assim como um arqueiro alinha o seu arco, am homem sábio alinha
os seus pensamentos tumultuados e intranquilos, que são difíceis de guardar e
de reter.
8. TEMA: É bom domesticar a mente, que é difícil de refrear e combater, pois ela
corre de um lado para outro; a mente dócil traz felicidade.
9. TEMA: Aquele que controla a mente que divaga, longe, de um lado para outro,
não tem corpo e se oculta na câmara do coração, será livre do cativeiro de Mara,
o tentador.
10. TEMA: Aquele que sabe que seu corpo é como a espuma, e aprendeu que
é tão inconsistente quanto uma miragem, quebrará a lança de Mara, e nunca
verá o rei da morte.
Desenvolvimento: O corpo perecível deve ser considerado pelo seu valor e não
como algo substancial ou permanente. Deve ser tratado racionalmente, do
mesmo modo que um cavalo é guiado pelo cavaleiro, e não mais que isso. A
identificação com o corpo mortal submete a pessoa ao terrível poder da Morte,
isto é, ao sofrimento pelo medo e a frustração.
11. TEMA: A morte domina o homem que está colhendo flores com a mente
distraída, antes de ele ser saciado em seus prazeres.
O tolo que reconhece sua tolice, é sábio pelo menos quanto a isso. Mas o tolo
que pensa que é sábio é realmente um tolo.
Se um tolo se associa a um sábio, mesmo por toda a vida, percebe tão pouco a
verdade como uma colher percebe o sabor da sopa.
15. TEMA: Não tenha os malfeitores por amigos, nem as pessoas inferiores;
tenha por amigos as pessoas virtuosas, tenha por amigos os melhores entre os
homens.
16. TEMA: Como uma rocha sólida não se parte ao vento, o sábio não vacila
entre a censura e o louvor.
18. TEMA: As florestas são deleitáveis; onde o mundo não encontra deleite, os
destituídos de paixões o encontrarão, pois eles não buscam os prazeres.
19. TEMA: Se numa batalha um homem conquista mil vezes mil homens, e se
outro conquista a si mesmo, este é o maior dos conquistadores.
20. TEMA: Em comparação com uma pessoa de cem anos de idade que não vê
o Caminho da imortalidade, um dia na vida de um homem que o vê é maior.
21. TEMA: Se um homem pecar, não o deixe fazer isso novamente, não o deixe
regozijar-se no pecado: o acúmulo de maldade é doloroso.
24. TEMA:
Mas agora,
Vós, Construtor deste Tabernáculo,
Eu vos conheço! E nunca mais construirei estes muros de dor,
Não erguerei a morada dos enganos, nem assentarei alicerces na lama;
Vossa casa está destruída e suas estacas, rachadas! A desilusão a talhou!
Seguro, eu passo por isso — para alcançar a Libertação!
(A luz da Ásia, Sir Edwin Arnold.)
Não há nenhum “último desejo” que, uma vez satisfeito, me torne livre, pois não
há desejo que não crie um outro desejo, ainda mais ilusório e cruel.
Acabar com eles, aqui e agora, é o único meio de firmar meus pés no caminho
que leva à Bênção da Libertação. O primeiro passo deve ser dado; e por que
não HOJE?
Você tem agora muitos temas próprios para meditação, e espero que a pratique
como foi prescrito. Se assim o fizer, então estará, sem dúvida, se aproximando
da SÍNTESE de todas as meditações, que provém de uma única FONTE, que
podemos chamar de SABEDORIA. Seu propósito, agora, no curso avançado de
meditações que se seguirá será consolidar o que foi conseguido até aqui com
vistas a futuros passos.
21
Meditações de Sankaracharya
— série II
1. TEMA: Quem vive nesta terra com a alma mais morta do que aquele que,
tendo obtido uma encarnação humana e um corpo masculino, se esforça
loucamente na consecução de objetivos egoístas?
Acredito que posso conceber essa Verdade, que se revela apenas no Silêncio
perfeito. Estou mergulhando n’ELA.
Desenvolvimento: Meu Atmã é outro termo para o meu verdadeiro Eu: Portanto,
esta meditação pode ser idêntica à anterior. Sinto que o “conhecimento” da
verdadeira natureza do Atmã significa mergulhar nele, excluindo todas as
camadas de consciência material, de sentimentos e pensamentos. Isso me
levará ao Silêncio. Quando eu entrar n’Ele, serei Ele. Não posso estar separado
d’Ele. Este é o maior mistério, mas precisa e pode ser solucionado. Farei isso.
Eu sou o SILÊNCIO!
Desenvolvimento: Vejo que o fogo da vida egoísta deve ser extinto antes que o
descanso possa ser alcançado. A busca do perecível deve cessar antes que a
chama deixe de queimar. Só então serei capaz de estar além de todas as
considerações pessoais, pois verei a irrealidade do ego em mim mesmo tão bem
como nos outros. E se aqueles que ainda estão inconscientes dessa verdade
buscarem a minha ajuda, eu a darei de modo natural e sem expectativa de
qualquer reconhecimento ou recompensa.
6. TEMA: Saúdo-vos, ó Senhor, pleno de compaixão, amigo dos que se inclinam
diante de vós. Caí no oceano do nascimento e do renascimento. Livrai-me da
falta de vosso raio de luz, do qual chove a ambrosia da sinceridade e da
misericórdia.
Agora eu vejo por que a fixação da mente no Espírito puro é a atitude certa,
auspiciosa e a única salutar.
Como posso fazer isso? Pois o Espírito não pode ser descrito nem definido como
outros fatores da minha vida! O Espírito é consciência pura, e a consciência pura
aparece quando as vibrações dos sentidos e da mente estão tranquilas. Agora
posso ver onde está o Caminho para o Indestrutível: separar-me de tudo o que
é exterior e entrar no Santuário Silencioso da consciência interior. Ele vem por
si mesmo quando as vibrações cessam. Então permanece a verdadeira
Essência da Vida, simples, silenciosa, pura, indestrutível e onipotente.
Por que adiar a tentativa de realizar o Eterno em mim? Quem me impede? Vejo
isso claramente agora. É a minha mente, que está com medo de ser posta de
lado, de ser dominada e se tornar escrava em vez de ditadora. Agora reconheço
a Inimiga, e não a deixarei me enganar mais, como o Senhor Buda disse quando
alcançou sua iluminação: Estou em silêncio tanto por fora como por dentro;
contemplo o Real. Não há mais pensamentos, tudo em mim está em paz.
9. TEMA:
O supremo e único Espírito está dentro de mim, no mais profundo do meu ser,
onde nenhuma vibração ou “inimigo” se atreve a entrar. Isso é discernimento.
Minha meta eterna é entrar nesse Templo interior dentro de mim mesmo, pois
nenhum outro de fora pode substituir o Verdadeiro Espírito em mim.
Vejo agora a estrada que leva até ele. Darei o meu primeiro passo hoje?
10. TEMA: Os filhos e amigos podem saldar as dívidas de um pai; mas ninguém,
exceto a própria pessoa, pode acabar com sua escravidão.
11. TEMA: Os outros podem remover a dor (causada pelo peso) de fardos
colocados sobre a cabeça, mas a dor (que nasce) da fome e do desejo não pode
ser removida a não ser pela própria pessoa.
12. TEMA: O homem doente pode ser curado pela ajuda da medicina e de uma
dieta apropriada, mas não pelos atos executados por outras pessoas.
Hindu, de origem brâmane, ele conseguiu uma feliz combinação entre a antiga
tradição clássica vedântica de sua raça e a facilidade contemporânea de
expressão e terminologia. Na verdade, sua filosofia, que nada tem em comum
com as teorias inúteis baseadas no cérebro e as cognições lógicas do padrão
oficial do Ocidente, pode ser vivida, ao contrário das matérias obscuras acima
mencionadas, que são reconhecidas apenas pelos esforços da mente humana.
Eu não gostaria de solapar o papel da mente humana, nem de leve, pois isso
seria totalmente errado. Sem essa mente eu não poderia nem mesmo escrever
estas linhas que você tem agora diante dos olhos!
Não existe nada além da verdadeira Realização do Eu, pois ela é a Conquista
final, após a qual não há mais nada para aprender ou experimentar. A evolução
da pessoa chega então ao seu fim abençoado. “A gota de orvalho desliza para
o Oceano Brilhante!” Ela se une ao TODO, ou, como Cristo nos disse, vai morar
na Casa do Pai, onde há muitas moradas para todos os Filhos do Homem.
Está na hora de amadurecer para decisões importantes, uma das quais está
expressa neste tema de meditação.
7. TEMA: Você precisa se libertar da idéia de que ainda não realizou o seu Eu.
Você já é o EU, aqui e agora.
Desenvolvimento: Agora vejo por que tantas pessoas criam obstáculos para si
mesmas ao imaginar, erroneamente, que têm de fazer alguma coisa, ou de agir
de um determinado modo, a fim de realizar seu verdadeiro Eu. Nenhuma ação
fará isso. Somente a mudança interior, a conscientização, podem me levar ao
meu objetivo. Tenho de me aprofundar em mim mesmo, tenho de mergulhar no
cerne do meu consciente, esquecendo de pensar e do mundo que me cerca.
Então, eu mesmo criarei as condições que permitirão que eu mergulhe nas
profundezas, onde não há condições nem ambiente, mas a VIDA, simplesmente.
Parece-me que agora compreendo o que muitos santos disseram quando
insistiram na paz interior e mergulharam em Deus! Pois ELE está justamente
nessa Paz suprema, imperturbável, de que fala o Velho Testamento.
A Realidade não pode nascer nem morrer: se não fosse assim, não mereceria o
nome de Realidade. Pois o Real é o QUE existe além de nossas três subdivisões
mortais de tempo: passado, presente e futuro. Não existe tempo para a
Realidade. Surge então uma importante conclusão: sou o EU para sempre, e
nunca houve nem haverá um tempo no qual o EU deixe de existir. E é justamente
isso que o Sábio nos diz. Portanto, por que não posso realizar o Eu
imediatamente, aqui e agora? Porque NÃO estou olhando para ELE, mas para
as aparências irreais do mundo exterior, que foram criadas, como o Maharshi
diz, pela mente em nós. Como posso ver o REAL, se toda a minha atenção está
dirigida para MAYA, se dedico todos os meus pensamentos e sentimentos à
APARÊNCIA e não à ESSÊNCIA das coisas? Esta meditação pode ser uma
iniciação para mim, se eu chegar à conclusão certa. Percebo-o agora. Vejo
também que meio poderoso é a meditação, como abre novas perspectivas e
horizontes para nós.
Desenvolvimento: A primeira frase desta meditação não é nova para mim, agora
que passei pelos capítulos anteriores. Vejo agora como o Eu pode ser alcançado
ou, melhor dizendo, como posso permitir que o meu verdadeiro Eu desça à
minha consciência de hoje. É pela REMOÇÃO DE TUDO O MAIS, exceto do
Silêncio em mim. Isso é o que a SOLIDÃO requer. E compreendo agora por que
o apego às coisas exteriores deve ser reduzido, pelo menos nos momentos em
que me dedico à meditação. Mas se eu estiver absolutamente mergulhado no
mundo material o dia inteiro, sem nenhum retiro voluntário e deliberado na
meditação sobre o Silêncio, será imensamente difícil para mim criar a atitude
requerida para a duração relativamente curta de meus exercícios de meditação.
Posso ver que a meditação deve ser gradualmente prolongada em períodos,
mais do que apenas uma ou duas meditações por dia. O principal obstáculo para
desligar minha mente do irreal é que acredito que o mundo exterior é mais
importante do que a minha vida interior. Isso é apego aos objetos mundanos.
Não importa como e quanto eles possam ser diferentes.
Mas vejo um raio de esperança: num dos capítulos anteriores, falou-se sobre a
influência da CONSCIÊNCIA no mundo material, a qual, na linguagem da mente,
equivale aos milagres. Por que então não devo começar a praticar a
aproximação com a Hiperconsciência?
Sei que preciso conseguir o controle da mente, e é por isso que estudei a
concentração. O objetivo final dela é a eliminação da mente (isto é, de todos os
pensamentos), por um período desejado e predeterminado. A verdade só pode
ser encontrada depois que a mente for efetivamente silenciada, o que é possível
pelo estudo prático da concentração. Descobrirei a solução de todos os meus
problemas, incluindo o mais importante, que é o do meu verdadeiro EU.
É por isso que um mestre verdadeiro nunca está ansioso para falar. Ele só usa
a linguagem da mente quando questionado e quando a mais alta expressão, isto
é, a FALA DO SILÊNCIO, acima mencionada, é inacessível aos que o rodeiam,
pela insuficiência de seu desenvolvimento. E o mestre SABE quem está ao redor
dele e age de acordo com isso.
Espero que o rio da minha consciência, isto é, o meu próprio eu, nunca se desvie
dos caminhos do Silêncio.
10. TEMA: A mente, o corpo e o mundo não estão separados do EU. E não
podem existir separados do EU, pois são como que a sua manifestação inferior.
Mas o EU pode perfeitamente existir separado e além dessas manifestações,
que o homem confunde com a realidade do mundo. Elas não afetam o EU.
Em segundo lugar, se imagino o Eu como aquele que vê, então o mundo visto
será como uma grande tela, na qual representam a luz e a sombra da vida
relativa. E QUEM pode ver essa representação? É o puro, o Eu não manifesto,
o único que vê.
Sinto que está aqui a solução oculta do problema da Vida como o único fator
imortal da Manifestação.
Quando Buda alcançou essa Luz, imediatamente proclamou sua vitória sobre o
irreal e disse que, nele, nunca mais a ilusão seria capaz de construir qualquer
prisão para a Luz.
Posso ver, cada vez mais, que a meditação pode me levar a esse Ápice.
Portanto, o que mais posso fazer?
É por isso que continuarei meu estudo presente, pois este trabalho produzirá
resultados além da minha atuai encarnação, isto é, levarei o fruto de meus
esforços comigo pata a Eternidade, que é a minha verdadeira pátria.
11. TEMA: Se a mente está voltada para dentro, para a Fonte de Iluminação, o
conhecimento objetivo cessa e o EU sozinho resplandece como o Coração.
Quando é noite, a luz da lua constitui uma ajuda abençoada para o viajante
noturno. Mas ninguém compararia o nosso satélite com a fonte de toda a luz, o
sol. Sinto que há uma profunda verdade nessa comparação. Enquanto não
negamos a utilidade da mente em determinadas circunstâncias, estamos
mostrando a inadequação do sucedâneo comparado com a Fonte.
Posso ver que a idéia desta meditação é criar em mim um solo propício para a
verdadeira compreensão do relacionamento entre a mente e o Espírito. Alguns
seguidores de mente estreita tentam rejeitar o conceito total da mente, mesmo
antes de terem aprendido a viver no Espírito. Eles desembarcam numa ilha
vazia, estéril e desabitada. O sábio não comete essa tolice.
É o do método que será mais útil para o estudante sincero. A experiência mostra
que o sucesso num estudo de meditação depende do uso correto dos poderes
da mente, como uma introdução, depois da reprodução do desenvolvimento e
da volta ao tema. Isso deve ser bem explicado.
a) Leia o tema bem devagar e com concentração plena várias vezes, até
memorizá-lo por inteiro. Como você pode ver, estou dando apenas temas curtos
e concentrados, e a idéia pode ser abarcada por sua mente sem maiores
dificuldades. Alguns estudantes precisam ler o tema, por exemplo, apenas setes
vezes, mas outros terão de dedicar mais tempo a fim de gravar o tema
firmemente em sua mente. Isso é imaterial, pois só o resultado final é que conta.
O fato de você precisar de cinco ou quinze minutos para isso não deve ser motivo
para maiores preocupações. O que deve ser evitado é a perambulação da
mente, que vai de um pensamento a outro, não permitindo que ela penetre no
conteúdo da meditação. Mas isso não acontecerá se você tiver passado
honestamente pelo curso recomendado de concentração, que deve capacitá-lo
a afastar logo todos os desejos da mente.
Se você começar com o tema 1 deste capítulo, por exemplo, que trata dos
valores da Realização do verdadeiro Eu do homem, e terminar suas tentativas
absorto em pensamentos sobre faquires indianos, sobremesas servidas em
folhas de bananeira nos ashrams ou sobre a performance do último lutador
negro, e assim por diante, terá uma boa razão para ficar preocupado com o
estado de seu controle mental. Nesse caso, você deve voltar ao livro
Concentração e disciplinar sua mente, até poder usá-la sem a interferência de
correntes de pensamentos, desnecessários e prejudiciais, que se infiltram em
sua consciência contra a sua vontade.
Não pense em qualquer distração, pois elas o desviarão para caminhos que têm
muito pouco ou nada em comum com o seu TEMA básico. Não há dúvida de que
isso será suficiente ao trabalhar desse modo. Quando sentir que sua tarefa está
momentaneamente feita, passe para a próxima frase do desenvolvimento, e
assim por diante, até a última.
A segunda possibilidade para uma futura meditação aparecerá quando você não
estiver satisfeito com apenas UMA estrada, como foi dada no desenvolvimento,
e sentir que tem PODER suficiente para explorar outras estradas, criando-as
independentemente a partir da encruzilhada do tema. Para tanto, por certo você
precisará de mais tempo e esforço, e isso o deixará exposto a perigos maiores
de desvios e erros em relação à idéia real que você tem de trabalhar com sua
meditação. Contudo, você está totalmente autorizado a seguir esse caminho; e,
se obtiver sucesso, isso o aproximará mais rapidamente da Meta, mas só
QUANDO VOCÊ OBTIVER PLENO SUCESSO EM SEU PRÓPRIO CAMINHO
E NÃO ESTIVER FAZENDO MERAS ACROBACIAS MENTAIS, que não levam
a lugar algum e não ajudam na absorção do tema.
Finalmente, uma última observação para estas séries; como você provavelmente
já deve ter percebido, a meditação, como está prescrita, levará mais tempo do
que você supunha quando começou. Penso que cada tema deva durar mais do
que uma sessão, antes de estar completo, como foi recomendado. O trabalho
negligente levará apenas ao fracasso, fique certo disso! Neste curso você
encontrará várias séries de meditações, cada uma com cerca de doze ou mais
itens. Não é absolutamente necessário trabalhar com todos eles; você pode
escolher apenas alguns de cada série, os que achar mais adequados e
inspiradores para você. Mas nenhuma série deve ser abandonada, pois isso leva
o estudante a um desenvolvimento desarmonioso.
23
Exercícios que lidam com
a mente — série IV
A mente não vê nada além de seu próprio interesse egoísta, de sua própria vida,
expressa no movimento incessante, e pouco se importa com o que é benéfico
ou desvantajoso para essa FONTE. Entretanto, a mente sente, de um modo bem
forte, que, se essa consciência independente no homem for despertada,
invariavelmente a colocará em seu devido lugar, isto é, no de serva, compelida
a vibrar de acordo com a vontade do homem e até mesmo parar todas as
vibrações e mergulhar no Silêncio. É o que ela menos deseja; e é por isso que
ela luta de modo tão desesperado e astuto pela sua supremacia.
Mas sua consciência estava viva, ou era como se você estivesse desmaiado,
fora de si mesmo?
Isso é verdade, pois apenas pela prática um homem pode se tornar firmemente
estabelecido no novo padrão de sua consciência.
3. TEMA: Você não sente, depois de um exercício assim, como se alguma coisa
estivesse nascendo em você, calma, pacifica, segura de si, eternamente livre e
feliz?
Desenvolvimento: Tenho como que uma antecipação disso. Ainda não está
muito clara e definida, mas a sensação existe.
Desenvolvimento: Posso viver sem pensar, mas a percepção de estar vivo deve
desaparecer, se estou para me perder nisso que permanece em mim quando o
pensamento foi extinto. Isso pode acontecer quando desmaio, ou quando estou
sob o efeito de anestésicos, mas então não tenho nenhuma prova de que estou
vivo. O testemunho daqueles que podem observar meu corpo inconsciente não
traz qualquer prova da minha existência nessa hora, pois estabeleci tempos atrás
que MINHA VIDA não é outra senão CONSCIÊNCIA dessa vida. Se ela cessa,
o que então permanece, de fato?
6. TEMA: Qual é a arma usada pela mente a fim de derrotar nossas tentativas
para dominá-la?
Desenvolvimento: A principal arma da mente parece ser a curiosidade, o desejo
mental subconsciente de colocar a atenção da pessoa em cada assunto que é
apresentado pelas correntes da mente. Digo subconsciente porque não há
escolha consciente do clichê que se aproxima. Um homem não pode dizer para
si mesmo: “Admitirei este pensamento? Preciso dele? Não tenho nada melhor
para aceitar na luz da minha consciência?” Normalmente, tal seleção não
acontece, e, assim, o homem é tragado pelas correntes que chegam.
Sinto que a meditação sobre tudo isso pode conferir mais paz e estabilidade a
minha consciência, assim como posso perceber que nada perece e que não sou
obrigado a abrigar todos os clichês e alimentá-los com meus poderes de
ATENÇÃO e INTERESSE. Sinto que posso chegar à percepção de que A COISA
MAIS IMPORTANTE EM TODO O UNIVERSO, ASSIM COMO ALÉM DELE, É
APENAS UMA: A ENERGIA DA MINHA CONSCIÊNCIA PURA, LIVRE DE
TODAS AS CAMADAS EXTERNAS E APEGOS.
Por outro lado, ninguém negaria que muitas pessoas, mesmo nas melhores
condições possíveis, tiveram de se elevar além da trivialidade e da habilidade
medianas.
12. TEMA: O tema final desta série será: a meditação sobre a atitude correta em
relação ao nosso corpo, às nossas emoções e aos nossos pensamentos. Qual
deve ser?
Esta série termina aqui, e considero que o estudante deve ter obtido uma sólida
base para lidar com sua mente. Ele já sabe o que é a mente; as leis pelas quais
ela funciona; como usar determinadas propriedades da mente humana; como
dominá-la; como torná-la útil em seu próprio campo e, finalmente, como se
separar da mente, entrando na melhor e mais elevada consciência — a Vida.
Eles serão também mais difíceis, mas, afinal de contas, quem espera que a
entrada para o concerto de um virtuose seja barata?
QUARTA PARTE
MEDITAÇÃO
AVANÇADA
24
O Sermão da Montanha
— série I
Vocês não chegaram a este capítulo como iniciantes, pois as três primeiras
partes deste trabalho já fazem parte de sua bagagem. Portanto, estão em melhor
situação para um aproveitamento pleno desse inspirado texto do que aqueles
que não tiveram a oportunidade de lidar cientificamente com sua ferramenta de
conhecimento, a mente humana. Contudo, isso não será suficiente para um
mergulho espiritual na Verdade transmitida por Cristo. É necessária uma atitude
apropriada, uma atitude espiritual!
Quanto mais avançadas nossas meditações durante este curso, mais espirituais
elas se tornarão. Provavelmente você está sentindo isso mesmo agora. Portanto,
como adquirir essa atitude espiritual para a leitura dos textos iniciatórios no
mesmo espírito em que eles foram originalmente transmitidos a nós?
Agora você pode ver qual a atitude necessária para lidar com este texto:
humildade e entusiasmo pela verdade expressa em nossa linguagem mortal, a
única compreensível para nós. Ouvindo as palavras do Grande Mestre da
humanidade, estamos assentando em nós mesmos as bases para um templo
espiritual em nossa consciência mais profunda, um santuário que não é material
e, portanto, é indestrutível no tempo e no espaço.
Se você ouvir a menção de “outros rebanhos, que não são deste mundo” e que
Cristo também encaminhou para Ele, poderá ter um vislumbre de intuição sobre
a imensa profundidade do significado dessas palavras. Não há necessidade de
ser excepcionalmente inteligente para compreender que nossa família humana
nesta pequena Terra não é, e não pode ser, a única, ou mesmo a mais evoluída.
O universo infinito não existe meramente para agradar aos nossos olhos,
imaginação e fantasia. Ele é tão vivo como o nosso próprio planeta; portanto, o
mais simples cálculo nos mostrará que deve haver milhões de planetas com
condições ambientais para a existência de seres inteligentes, e muitos deles
devem ser mais evoluídos do que nós.
E essas grandes almas são a verdadeira Luz do mundo. Mas, para nós, há um
fato mais profundo: essa Luz continua EM TODOS NÓS ATÉ AGORA, só que a
maior parte das pessoas não A conhece, nem A experimentou de modo algum.
Contudo, permanece o fato de que Ela está em nós, e depende de nós deixá-LA
brilhar através dos revestimentos da matéria, como o sol brilha quando as
nuvens se dispersam. Não se trata de uma esperança, mas de uma CERTEZA,
como Cristo afirma categoricamente, e nessa certeza reside todo o segredo da
Realização final. Não nos deixemos iludir; para a maioria dos seres humanos
não é uma questão de hoje ou amanhã. Isso não pode ser medido em nosso
conceito limitado de Tempo e, aqui, todas as suposições são antes fatores de
adiamento do que de progresso, porque são criações da nossa mente, que não
pode nunca participar da Luz, e nem é seu desejo ajudar no seu descobrimento.
Pelo contrário, a mente faz e fará tudo a fim de evitar que o homem chegue ao
status espiritual, livre dessa mente, colocando, assim, um fim em seu domínio.
Mas para uma pessoa com orientação espiritual, o tempo que a separa da
Realização não é um fator importante. Até nos graus mais avançados de
meditação o homem aprende a viver além do tempo e do espaço, embora retorne
inevitavelmente à sua consciência física depois desse alto vôo.
Podemos ver como essa certeza da Realização pode ser forte pelos numerosos
exemplos de santos, mártires e almas orientais evoluídas. Todos eles
menosprezaram a vida terrena quando se confrontaram com o abandono do
corpo físico a fim de alcançar o mais elevado estado de existência. Alguns deles
foram alegremente ao encontro da morte, frequentemente terrível, enquanto
outros demonstraram uma fé inabalável no Espírito, ao qual se referiam como a
única Realidade verdadeira. Por que essas pessoas são uma minoria? A maioria
está sempre certa?
Olhe ao seu redor de modo imparcial, com a mente calma e o coração puro, e
pergunte a si mesmo se é o mundo que está certo, ou se foi o Mestre que nos
ensinou a “estar no mundo, mas não ser dele”.
Analise os objetivos pelos quais a humanidade está batalhando desde que você
nasceu. Observe a história humana no processo de criação atual durante estes
anos do século XX. Se você for capaz de observar a partir da posição ideal do
tema B, sua resposta poderá ser claramente antecipada. Se olhar, como milhões
de outros ao seu redor, do ponto de vista materialista, desprovido de qualquer
Sabedoria, será incapaz de perceber qualquer solução. Semelhante estado é
chamado de “VIVER NA IGNORÂNCIA”.
Agora posso ver a verdade desse versículo do Sermão. A pessoa não deve ter
“muito espírito” em sua mente e humor, pois é preciso dominá-los e colocá-los
em seu devido lugar, como servos controlados e não como senhores! A mente
não pode levar-nos à imortalidade nem à “salvação”, que significa, como já
sabemos, chegar à consciência contínua, eterna, à VIDA imortal. Nesta época,
a humanidade coloca quase toda a ênfase na mente e seus derivados. O Grande
Mestre conhecia esse engano em Seu tempo, e, como um ser com controle pleno
de todos os clichês, tanto os que pertencem ao passado e ao presente como os
que pertencem ao futuro, Ele via também o tempo no qual nós vivemos agora, e
Suas palavras, como sempre, retiveram sua atualidade e frescor para os homens
de todos os tempos, nos quais seres inteligentes passariam suas encarnações
físicas, as classes inferiores da grande ESCOLA DA VIDA.
Durante esta meditação, estou utilizando as descobertas que estou obtendo dela
para mim mesmo. Que isso irradie mais Luz em meus caminhos!
Uma dívida é sempre um peso, e, se estou muito endividado, deve haver razão
para a minha tristeza, quando não posso descobrir qualquer explicação para ela.
Quando o peso é descartado, o homem fica livre dele. Quando os débitos
cármicos são pagos, somos confortados, as condições de nossas vidas tornam-
se mais propícias e menos difíceis. É isso o que aqueles que choram e estão
tristes devem saber: há profundas razões para o sofrimento. Na grande
prestação de contas da vida humana, nenhum erro é possível: o que já foi pago
não será cobrado novamente. Posso ver agora a sabedoria de aceitar e o erro
de afastar instintivamente todo sofrimento. Muitos dos proeminentes filhos dos
homens, como os mártires e outros que sofreram pela Verdade, chegaram a
aceitar deliberadamente o sofrimento quando perseguidos por pessoas
ignorantes.
Eles estavam errados? Não, no cômputo final, eles estavam certos, e vejo na
atitude deles um exemplo correto para mim mesmo. Que o farol brilhante da
ESPERANÇA, aceso pelas palavras conclusivas desse versículo do Sermão do
Grande Mestre, ilumine o meu caminho.
Examine este “desenvolvimento” e, se puder, ligue-se a ele e veja como virá mais
luz de seus próprios esforços. Esse método será muito eficaz. Não se prenda
demais apenas às experiências pessoais do autor, pois você tem a mesma Luz
em você e, se for sincero e se esforçar pela Verdade, o Mestre Espiritual verá
seus esforços, e Seu auxílio sagrado chegará a você.
Muitas pessoas têm ficado surpresas com o fato de como é exato e certo esse
auxílio que nos é dado quando nossos corações são simples e estão repletos de
sinceridade.
Outro famoso mestre espiritual do final do século XIX, Philippe Nizier de Lyon
(França), dirigindo-se àqueles que lhe pediram uma explicação de seus poderes
sobre-humanos, disse: “Sou alguém muito insignificante, e o Todo-Poderoso
sempre protege pessoas assim, mas não os que se sentem importantes e
sábios”. Assim falou o homem que conseguia curar qualquer doença, conhecia
o passado e o futuro de cada homem que se aproximava dele e que professava
que todas as suas obras eram devidas exclusivamente à Vontade de Deus.
Sabemos que Cristo enviou seus discípulos para visitar todas as terras e pregar
as Boas Novas (a tradução inglesa da antiga palavra grega original como hoje é
usada é “Evangelho”). E os Filhos serviram bem ao Pai.
4. TEMA: Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, pois eles serão
saciados.
Para cumprir meu destino, como ficou demonstrado acima, devo praticar a justiça
em minha vida diária, de modo a não haver qualquer contradição entre palavras
e obras, pois tal discordância só retardará o cumprimento da promessa do
Mestre. E a responsabilidade disso será minha.
Desde tempos imemoriais, a sede de justiça tem estado viva nos homens
evoluídos. E, na Antiguidade, Ovídio deu expressão a isso em sua descrição da
suposta “Idade de Ouro”, quando não havia tribunais, polícia, etc... simplesmente
porque as pessoas dessa possível época abençoada observavam
espontaneamente as regras morais de boa vontade, sem qualquer coerção pela
lei ou o medo de punição. Deve haver um meio de retornar a esse estado, que
só pode ser através do coração de todos os homens, quando chegar a hora
certa.
A misericórdia é pacífica, assim como o Espírito. Ela deve ser silenciosa, pois as
manifestações espirituais não requerem muita ou nenhuma fala. Seus irmãos
são a compreensão e o amor.
Como com todas as coisas deste mundo, que têm o seu lado luminoso mas
também o seu lado sombrio, a virtude da misericórdia pode ser corrompida e
deformada. Quando isso pode acontecer? Quando alguma imperfeição humana,
como um veneno sutil, tem permissão para se infiltrar dentro da virtude mais
pura. E nenhuma virtude está livre disso.
A misericórdia imaculada não procura tirar vantagens de suas ações, nem fama,
nem reconhecimento do mundo. Mas, como é rara uma manifestação pura de
misericórdia! E como é frequente o desejo de ser conhecido como um benfeitor,
de ser reverenciado, de despojar a misericórdia de sua mais elevada radiação!
Qual então será a recompensa para uma virtude deformada? Podemos
encontrá-la nas próprias palavras do Mestre quando, ao falar desses homens
que gostam de ver o reconhecimento popular de suas obras, Ele disse: “...eles
já receberam a sua recompensa”, isto é, a admiração e o louvor humanos.
Mas Cristo não estava falando dessa recompensa quando prometeu abundância
de misericórdia para aqueles que a praticam em relação aos outros: “...quando
der esmola, não deixe que sua mão esquerda saiba o que faz a direita”.
Quer dizer então que a misericórdia ativa não dá nenhuma recompensa para o
homem capaz de preservar a pureza de sua virtude?
Mas a misericórdia não é cega nem insensata. Sem pensar, ela sabe quando
agir e em benefício de quem agir. O discernimento Espiritual deve acompanhar
sempre as ações, de modo que o homem não se torne como o tolo que joga
pérolas aos porcos.
Há pouco mais que possa ser acrescentado, pois a INTUIÇÃO é que dirige
nossos passos para a misericórdia. Como tal, ela está além da mente, o que
significa estar além das palavras.
Na verdade, nenhum homem são e racional contestaria que não há e não pode
haver qualquer criação separada do Criador.
Pode haver alguma coisa maior ou mais elevada? E isso não contradiz o
inevitável atributo da onipresença, mesmo que as pessoas digam, a despeito
disso, que não podem “ver” (estar conscientes) a Deus. Isso acontece pela
própria imperfeição delas, por sua impureza, assim como não se pode ver nada
através de um vidro escuro ou sujo.
Portanto, não estão os pacificadores executando uma tarefa para o Senhor? Não
é de admirar que o Grande Mestre os mencione em Seu Sermão: eles são os
verdadeiros FILHOS DE DEUS.
De certo modo, todos nós somos seus filhos; entretanto, isso nem sempre se
manifesta em nós. Mas Cristo falou sobre aqueles nos quais a Luz é visível e
sensível, os que irradiam a Paz que Ele trouxe para o nosso planeta. Podemos
ver essa Paz? Onde ela está? Em nenhum lugar, exceto no mais sagrado
recesso da consciência, no silêncio espiritual do coração. E assim é propagada
de coração para coração, e o Maharshi não pôde deixar de expressar isso
quando disse: “Que utilidade têm as palavras, quando o coração fala ao
coração?”
Este é o modo pelo qual o filho do homem torna-se filho de Deus. Meditarei sobre
as eternas palavras que não passarão, mesmo que o céu e a terra passem.
Neste ponto eu gostaria de lhe contar algo a respeito do modo como podemos
“desenvolver” os temas de nossas meditações, isto é, de como consegui produzir
esses exemplos, neste trabalho, que têm a intenção de ajudá-lo em seu estudo
e na realização da arte de meditar. Presumo que vocês e outros já o saibam,
mesmo antes de ler as linhas que vêm a seguir.
Segui estritamente as regras e métodos que lhe recomendei até agora. Cabe a
você julgar os resultados deste trabalho.
Você sabe a respeito das condições que tornam possível a atração dos clichês
desejáveis, vindos da imensidade do tempo e do espaço, e dos QUE estão além
de qualquer tempo e espaço. Sua atitude é a força motriz primária, e o treino de
seus instrumentos é que lhe permite o uso dessa força.
Pela educação de sua força de vontade, pelo domínio das funções desordenadas
da mente e pela purificação de suas emoções são criadas as condições que
abrem a “porta secreta” em sua consciência, e por essa abertura você pode
“olhar” para o campo onde os clichês habitam.
O tema de sua meditação é a chave para abrir essa “porta” interior, como você
certamente já percebeu. Mas só a abertura não nos pode garantir a visão: para
isso é necessário preencher as três condições grifadas no parágrafo anterior,
isto é, educação, domínio e purificação. Isso é tudo o que se requer para a
pessoa ser capaz de abrir e ver.
Vamos ser francos: mesmo que, no momento atual e com os atuais meios de
conhecimento, não sejamos capazes de resolver o enigma do universo,
podemos contudo discernir alguns importantes padrões que se mostram na
trama da criação. Para os que estão familiarizados com o tarô iniciatório, isto é,
a filosofia hermética, não há dúvida a respeito de um desses claros padrões na
Criação: a Lei da Luz e da Sombra. É possível, com nossos sentidos e nossas
habilidades de percepção mental, imaginar a idéia da Luz sem ter, subconsciente
ou explicitamente, uma idéia do oposto, do pano de fundo, que é a Sombra? Isso
é mesmo mais extraordinário e difícil de se conciliar com a compreensão de algo,
como a eterna coexistência e interdependência de ambos os conceitos
aparentemente opostos e mutuamente exclusivos, isto é, o da Luz e o da
Escuridão que está por trás dela. A luz penetra a escuridão, e a escuridão e a
sombra recuam diante da luz. Isto é certo e não pode ser negado. Mas, ao
mesmo tempo, quando a luz se vai ou desaparece, a escuridão volta, automática
e inevitavelmente, embora ela não possa encarar essa luz. E assim é na visível
e sensível Criação manifesta, relacionada com Tempo e Espaço. O que está
além não é acessível; portanto, nossa linguagem é incapaz de expressá-lo nos
termos adequados e exatos.
Pelo exemplo de tantas almas evoluídas, como é o caso dos promotores da Luz
neste planeta, como os Santos, os eminentes ocultistas Brancos e os filósofos
ocidentais e orientais, sabemos que todos eles tiveram de lutar muito antes de
chegar à vitória. Não existe vitória sem luta, e nenhuma fuga do campo de
batalha jamais foi capaz de assegurar a vitória.
Com referência ao “mundo prático”, posso ver que este mundo de modo algum
é sempre direito e que uma maioria não significa automaticamente verdade e
retidão. Sob certas circunstâncias, uma unidade pode combater e rejeitar o
mundo ao seu redor. Nisso somos sustentados pela segunda parte do atual tema
de meditação, que nos assegura da necessidade de resistência: “Mas eu venci
o mundo!”
Sei como é árduo, algumas vezes, receber acusações injustas e maliciosas dos
que nos cercam, e esses esforços do mundo exterior são maléficos, quando
tentam DERRUBAR TUDO O QUE É MORALMENTE SUPERIOR, porque a
pureza ofende a imundície e a santidade escandaliza a perversidade dos
homens. Poucas das grandes Almas escaparam do insulto quando ainda
estavam presentes neste planeta. Mas a posteridade mostrou como elas
estavam certas! O Maharshi, contra quem não se conhecem acusações, nos
disse que “apenas o ego do homem pode ser afetado pelos mexericos e
maledicências”. O Sábio permanece verdadeiro para sempre.
10. TEMA: Alegrai-vos e exultai, porque é grande a vossa recompensa nos céus,
pois assim perseguiam os profetas que viveram antes de vós.
Mas isso tem um significado muito profundo para nós, quando encontramos tais
perseguições declaradas ou ocultas em nossa própria vida. Isso nos sustenta
em nossas horas críticas. Dá-nos a firme convicção de que os seres humanos
ímpares podem estar certos e a massa pode estar errada. Quase todo estudante
de meditação foi ou será confrontado por este problema; é bom que ele não se
esqueça desse décimo versículo do Sermão da Montanha. Seus sofrimentos
foram previstos pelo Grande Mestre, é verdade, mas Ele também emitiu Seu
consolo final (“Alegrai-vos e exultai...”) para nós; e qual a pessoa que, tendo
passado por uma doença dolorosa e conseguido depois ter a saúde restaurada
plenamente, gosta de lembrar ou de lamentar o passado morto que desapareceu
no oceano do Tempo irrevogável?
O ponto principal da presente mensagem é nunca olhar para trás, mas sempre
para o desenvolvimento futuro. Já sei que a coisa mais ardilosa é a idéia
filosoficamente concebida de tempo PRESENTE. É como uma lâmina, quase
sem nenhuma espessura em seu lado afiado! O que estou vendo agora
imediatamente torna-se passado; então, eu entro no tempo que está vindo do
FUTURO e, ao abraçá-lo, estou transformando-o em PASSADO.
Que significado tem a dor que submergiu tempos atrás nos clichês insondáveis
pertencentes ao PASSADO?
Meditarei sobre esta Verdade, até que se torne uma realidade clara e irrefutável
para mim. Sei que o resultado final será a desejada BEM-AVENTURANÇA.
11. TEMA: Vós sois o sal da terra, porém, se o sal perder seu sabor, com que
será ele salgado? Para nada mais serve senão para ser lançado fora e calcado
pelos homens.
Não serei como esse sal que perdeu sua verdadeira virtude e que se tornou,
portanto, uma substância inútil que só presta para ser rejeitada no abismo da
condenação.
Sei que minha vida tem um propósito e, embora eu ainda não seja capaz de
descobrir todo o seu significado, estou consciente de seu valor. Não ouso frustrá-
lo, pois pagarei caro por isso. A frustração é o próprio fogo que queima mas não
nos consome, após ter pronunciado o julgamento sobre a nossa encarnação, se
foi bem sucedida, depois de nos liberarmos do corpo físico.
12. TEMA: Vós sois a Luz do mundo. Não se pode esconder uma cidade situada
sobre um monte; nem se acende uma lanterna e se põe debaixo do alqueire,
mas sobre um candeeiro, a fim de que dê luz a todos os que estão em casa.
Assim brilha a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas
obras e glorifiquem Vosso Pai que está nos céus.
Que nós, homens, somos a Luz deste mundo foi dito no parágrafo de abertura
deste capítulo. O exemplo da cidade construída numa colina e da vela acesa no
alto fala-nos do tratamento dessa luz em nós. Ela não deve estar oculta, pois o
propósito de toda luz é iluminar o que a cerca. O pouco que tenho dessa luz
agora, em estado desenvolvido, deve estar disponível para os que trilham o
caminho ao meu lado. Este é o melhor modo de cumprir com o meu dever! O
Mestre não nos deixou dúvidas a respeito disso. Vendo nossas boas obras, os
homens verão a Luz do Pai e O glorificarão por isso. Portanto, estas são as obras
que iluminam nossos irmãos ao nosso redor e essas são as ações que trazem a
glória para o nosso Pai eterno no céu!
Quem melhor para nos falar sobre o Mestrado do que os próprios Mestres?
Portanto, reuni temas extraídos de palestras dos Mestres sobre seus próprios
caminhos e vidas, assim como de seus ensinamentos diretos. Na vida espiritual
acontece o mesmo que na material: quem conhece mais instrui e auxilia os que
sabem menos e não têm experiência. Sem a sabedoria que vem dos eminentes
Filhos do Homem, a humanidade evoluiria mais devagar e cometeria mais erros,
cuja retribuição é o sofrimento.
Portanto, é uma proposição natural e sábia nos voltarmos para a luz daqueles
que possuíam essa Luz.
Escrevi vários capítulos a respeito dos Mestres, assim como de Um deles, o qual
tive a permissão de encontrar nesta minha vida. 1 Mas os Mestres raramente
vêm à terra e há muitos que são falsos e se fazem de genuínos. Eles são
facilmente reconhecidos por todos os homens que possuem senso comum e
experiência para discernir. Uma vida irrepreensível e santa é a melhor prova de
Mestrado.
1. Veja meus livros In days of great peace e Ways to self-realization, Allen & Unwin, 1957 e 1964.
Nesse Caminho e com esse Líder não pode haver qualquer erro. Esse Caminho
é iluminado pela Sua Luz.
Desenvolvimento: Aqui, com suas próprias palavras, tenho uma definição dada
por um Super-Homem Espiritual sobre o Mestrado. Tudo indica que não pode
haver nenhuma definição melhor do que dada por alguém que atingiu o mais
elevado estado do Homem Perfeito. E o mesmo acontece com esta meditação.
Tenho de aceitá-la como uma verdade.
Ela significa que a atividade anterior do Mestre era meditar sobre a FONTE DE
TUDO, sobre NOSSO PAI, se usarmos as inspiradas palavras do Grande
Mestre, Cristo. O Mestre sabe o que é essencial e se prende a isso firmemente.
É por isso que ele medita constantemente em Deus. Posso presumir que não há
melhor propósito para uma grande alma como a do verdadeiro Mestre, que
passou por todas as experiências humanas muito antes de nós, adquiriu toda a
Sabedoria e está pronto para irradiar sua Luz sobre todos os que são capazes
de aceitá-la e permitem de boa vontade que ela os ilumine para sempre.
A mente não tem capacidade para expressar ou retratar todo o conteúdo da idéia
de Deus, e as comparações não passam de um meio de despertar o fogo
receptivo no coração de alguém que busca o Supremo. Na descrição do caminho
do Maharshi, na qual o Mestre (que era ele mesmo) se relaciona com Deus, a
comparação com o oceano é habilmente utilizada. Ela inspira e resolve todos os
problemas. Dá uma antecipação da imensa, indescritível bem-aventurança e da
paz final, que é o destino da “gota” da consciência humana quando alcança o
estado de amadurecimento e retorna para o OCEANO, de onde evaporara, num
longo processo de evolução, pela imensidade do tempo e do espaço. Esta é a
sabedoria básica que o Mestre possui e é como ele pode ser reconhecido. Ele
não se ocupa com nada mais, a não ser residir no Senhor e irradiar sua Luz,
derivada dessa união, para aqueles que têm olhos para ver.
Desenvolvimento: Aqui posso ver uma das principais diferenças entre o Mestre
e os outros homens, não importa o quanto eles possam nos parecer inteligentes
e brilhantes! Todos eles, incluindo eu mesmo, estão vivendo principalmente em
suas personalidades ou egos, e isso é o mais importante em suas vidas. Esta é
a razão pela qual tais homens não podem “ver” (mergulhar em) Deus. Com esse
propósito, o Homem Perfeito, o Mestre, esquece e abandona sua percepção
iluminada, que acreditamos ser nós mesmos, o nosso ser individual. “Vejo” agora
a causa da aparente impossibilidade de os homens obterem essa experiência de
Deus na qual um Mestre espiritual vive perpetuamente.
E é por isso que Jesus nos disse: “Não se pode servir a Deas e ao Diabo (ao
mesmo tempo)”.
Que o Mestre Espiritual, invisível mas real, que cuida da minha alma na busca
da Verdade, me ajude a cruzar esta ponte difícil, que separa a vida ilusória,
egoísta, da região plena de verdadeira Luz na qual eu e meu Criador estamos
unidos, como uma gota mergulhada no oceano sem limites.
Ele conhece minhas dificuldades, pois passou por todas elas, conquistou-as e
se tornou, assim, o mestre da vida.
Desenvolvimento: Vejo aqui o Mestre sob outro ângulo, em seu verdadeiro papel
neste mundo de relatividade. O Maharshi nos disse que o Mestre é um
instrumento de Deus, que ele age como um transmissor da vontade e
ensinamento de Deus. Nisso ele concorda plenamente com todas as Escrituras
reveladas ao homem desde tempos imemoriais. Tem havido sempre homens
inspirados por Deus, que ensinam palavras verdadeiras e sábias a despeito do
fato de os homens frequentemente recusarem aceitar a mais elevada fala dos
Iniciados.
Vejo também que o meio pelo qual o Mestre expressa suas palavras de
sabedoria é diferente da fala dos homens comuns, que preparam
cuidadosamente suas palestras importantes, tomam nota, planejam, etc... E a
mente que opera nesses homens, não é o Espírito de Deus, que fala por meio
dos Mestres.
É como se o Senhor abrisse Seus clichês — inacessíveis aos homens comuns
— para Seus filhos fiéis, e eles podem então lê-los e transmitir algo de sua
sabedoria.
Quando um filósofo forja suas teorias e suposições, não importa o quanto sua
forma exterior possa ser brilhante, tais coisas são espiritualmente mortas, e
raramente sobrevivem a seus criadores — as mentes humanas. Refiro-me ao
fato de viver de acordo com suas teorias. Olhe ao seu redor. Quantas pessoas
estão fazendo isso mesmo nos nossos dias? Mas há palavras que não passarão
mesmo que o céu e a terra passem.
A leitura desses clichês que estão além do tempo e do espaço é como ler um
livro aberto onde não há dúvidas sobre a autenticidade do texto. É por isso que
as palavras de um Mestre são proferidas sem premeditação ou esforço.
5. TEMA: Quando o Mestre levanta uma mão, Deus torna a fluir através dela, e
FAZ UM MILAGRE. (O Maharshi.)
Ao mesmo tempo, ela explica o modo pelo qual os milagres acontecem. Neste
mundo que pensamos conhecer, a Criação manifestada está evidentemente
sujeita à lei de CAUSA E EFEITO. Mas será possível que Ele, que impôs essas
leis, seja limitado por elas? Até mesmo nossa mente imperfeita nos diz que isso
é muito improvável. O Senhor está MUITO ACIMA E ALÉM de qualquer lei, tanto
das que conhecemos como daquelas acerca das quais não temos a mais leve
premonição.
Estamos familiarizados com o fato de que em nossa existência limitada, que está
sujeita a leis definidas, tudo acontece de acordo com elas. E o que está além
delas é como que um milagre para nós. Entretanto, isso não se aplica aos que
conhecem outras leis básicas mais sutis e, sobretudo, ao PODER QUE IMPÔS
ESSAS LEIS AO UNIVERSO MANIFESTO E CRIADO. Esta é a verdadeira
explicação da possibilidade e da existência dos “milagres”.
Estamos fazendo um bom uso das leis físicas conhecidas por nós, e adquirindo
mais conhecimento sobre a aplicação dessas leis, assim como descobrindo
outras, novas, que regem a matéria. Vamos comparar a ciência física de cem
anos atrás com o conhecimento adquirido no século XX. As atuais invenções
pareceriam milagres para os nossos ancestrais, se eles pudessem vê-las. E, no
futuro, a descoberta de novas leis poderá parecer um milagre para a geração
atual.
Desenvolvimento: Estas palavras são tão simples e claras que não necessitam
de explanação. O que preciso fazer é memorizá-las e meditar sobre elas, com o
mesmo espírito do tema de meditação anterior. Mas nos próximos textos dos
ensinamentos do Mestre encontramos afirmações de enorme valor para o
seguidor; portanto, vamos ouvi-los e pensar sobre eles.
Não devemos fixar nossa atenção no fenômeno do mundo que nos circunda, nas
coisas transitórias, como a vida (física), a morte, etc.
Os que tentaram este sublime Caminho sabem que ele leva também às
manifestações de diferentes siddhis, mas de um modo inconsciente, sem
qualquer esforço por parte do seguidor para desenvolvê-los.
Vejo que as palavras do Mestre grifadas acima com letras maiúsculas são uma
iniciação direta para os que têm olhos para ver e ouvidos para ouvir. Isto é, essa
visão espiritual “invertida”, que decide sobre o nosso progresso e a nossa
realização. Como é simples, deve ser meditada constantemente, até que a Luz
venha. E ela invariavelmente vem, se agimos sabiamente, como o Mestre nos
ensinou.
AQUELE QUE VÊ ESTÁ DENTRO DE VOCÊ, ele acrescentou. É possível o
objeto de um seguidor estar mais perto do que ESTE? Ele espera em santo
Silêncio, que nossa voz interior O chame para o fundo de nossos corações.
Talvez fosse útil lembrar aos que não estudaram alguns dos trabalhos anteriores
do escritor (especialmente Concentração, Samadhi e Caminhos para a auto-
realização), que esse estado sublime de consciência é chamado de “SAHAJA
SAMADHI”, no Oriente, ou de “Superconsciência Perene”, que só podem possuir
aqueles que concluíram sua evolução como seres humanos e se uniram com o
Todo. É um estado ininterrupto e natural para eles, embora alguns discípulos
avançados possam alcançar um estado similar de consciência, mas só por um
tempo limitado e enquanto seus corpos estão imobilizados, como em catalepsia.
Então suas ações subsequentes podem ser iluminadas pela luz desse êxtase,
mas não pelo Espírito reto, experimentado no SAHAJA SAMADHI, que, como
sabemos, continua sem interrupção por toda a vida física do Mestre. Portanto,
as ações do Mestre são infalíveis, enquanto as pessoas que podem operar
apenas na Luz refletida não são necessariamente perfeitas. Esse conhecimento
pode explicar a confiança absoluta e a obediência aos Mestres Espirituais
oferecidas a eles no Oriente por seus verdadeiros e inteligentes discípulos. O
homem que obteve a graça de encontrar um Mestre verdadeiro em sua vida
possui a Fé de que falou Cristo.
“...AQUELE QUE VÊ...” Aí está o segredo! Isso deve ser meditado SEM
VERBALIZAÇÃO, isto é, sem palavras, nem frases admitidas em nossa
consciência, se realmente queremos ser iniciados na arte de meditar. Procure
apenas por AQUELE QUE VÊ E OUVE, num total silêncio interior, adquirido pela
habilidade da concentração passiva e guardado por sua irmã ativa (veja
Concentração). A solução deste grande mistério reside no SILÊNCIO DIRIGIDO
DA CONSCIÊNCIA. Você compreende o significado? Apenas a concentração
passiva não é o suficiente, pois no final deve ser interrompida por pensamentos
e clichês, sobre os quais você, por enquanto, pode não ter controle, se não tiver
dirigido sua consciência para se abrir APENAS PARA UMA DETERMINADA
INFLUÊNCIA, que, neste caso, será A QUE VÊ E OUVE O TODO. Você sabe o
Seu nome! Ele é acessível apenas pelo SILÊNCIO, mas não um silêncio
mecânico, mental, obtido meramente por um treino mental de concentração.
Não; este é apenas um instrumento e não deve ser confundido com a ação
consciente do seu Espírito quando entra em contato com o Espírito do TODO.
Em resumo, o que você tem de fazer? MEMORIZAR, SEM PALAVRAS, O TEMA
DE SUA MEDITAÇÃO E MERGULHAR NO SILÊNCIO, BASEADO NO
ESPÍRITO DESSE TEMA. Talvez você precise meditar primeiro sobre esta
sentença antes de chegar à ação apropriada, e é isso o que o aconselho
veementemente a fazer. Foi isso o que nos ensinou o Mestre Maharshi, como
também outras Grandes Almas. Podemos confiar nas palavras daqueles que
CONHECEM.
10. TEMA: Devemos afastar o mundo que origina as nossas dúvidas, que anuvia
a nossa mente, e a Luz de Deus brilhará claramente. (Declaração do Maharshi.)
Se olharmos atentamente para a vida dos Santos, dos místicos, dos iogues, dos
Mestres espirituais e dos homens que alcançaram a consciência espiritual,
descobriremos um fato em comum nas suas filosofias e ensinamentos. Todos
eles reconheceram o mundo visível como um obstáculo a sua realização
espiritual, a menos que o apego a esse mundo tenha sido controlado ou
removido.
O símile do Maharshi, comparando o mundo com um prisma que desvia e
decompõe a LUZ BRANCA original do Supremo, é única. Ela explica por que
não vemos as coisas como elas realmente são, pois não há nem pode haver
uma percepção real, objetiva nos raios coloridos. Mas, ao mesmo tempo, a idéia
da luz branca incólume mostra o meio de sair desse impasse: retornar à visão
real, inalterada, da Luz branca pura.
O mestre Maharshi não nos conclama a abandonar o mundo visível como tal. O
fato de que ainda temos nossos corpos, que pertencem claramente ao mundo
material e dependem dele, nos diz que ainda temos algumas lições para
aprender nesse campo denso. O que ele salienta é a atitude correta para com o
irreal e o perecível: colocar as coisas em seus devidos lugares, não estabelecer
ídolos destrutíveis no trono que pertence ao Espírito Vivo. Ele desaprova
igualmente o homem desalmado que acredita apenas em seu corpo, como um
faquir fanático que usa supostamente sua cama de pregos para conquistar o
inimigo — o corpo. Ele chama a atenção para o verdadeiro discernimento e para
o senso comum, que frequentemente faltam em muitos de nós.
11. TEMA: O corpo e a mente são apenas instrumentos do EU, que é o espírito
ilimitado, no qual está a liberdade suprema do homem. (O Maharshi.)
O que teve um início deve ter um fim, e o que é limitado não pode abarcar o
ilimitado. Como essas afirmações parecem lógicas! Todavia, por que os homens
não as põem em prática? Por que vivem como se fossem ficar aqui para sempre,
e por que eles tentam operar apenas com os recursos limitados da mente,
dependendo de um instrumento tão frágil (e mortal) como o cérebro humano?
Basta uma pequena escoriação, e um gênio pode se tornar instantaneamente
um idiota.
12. TEMA: A erudição Sagrada (as Escrituras) só tem valor enquanto a pessoa
não se volta para o seu interior, em busca do Eu. Tão logo o faça, tudo o que ela
aprendeu é esquecido e perdido. (O Maharshi, citação de Maha Yoga.)
Desenvolvimento: Este tema deve servir como uma descrição final da atitude de
um Mestre que chegou ao seu objetivo. Torna-se óbvio, então, como estão
erradas todas essas seitas espalhadas pelo mundo que escolhem uma ou outra
parte dos escritos religiosos (tais como o Velho Testamento, os Upanixades,
etc... assim como todas as teorias filosóficas), e se fixam exclusivamente nelas
porque as consideram o único material com valor verdadeiro, desprezando tudo
o mais.
Como você pode ver, este manual de meditação não é limitado por qualquer
credo, filosofia ou religião em particular. Meu propósito é dar-lhe a liberdade de
escolher o tipo de meditação que se adapte melhor a você: o que estiver mais
perto de seu coração. É por isso que não se pode usar de nenhuma coação para
forçá-lo a escolher este ou aquele caminho.
Se você voltar atrás, para os primeiros capítulos, verá como essas condições
foram manipuladas no texto e como o seu conhecimento sobre técnicas e
material com os quais teve de operar foram desenvolvidos diante de seus olhos.
Isso é o que podemos pensar, aceitar, acreditar e colocar aqui. Essa “Luz
interior” nos diz que é assim e não de outro modo”. E nossa mente pode sustentar
essa revelação, pois está no reino dos fatos que são funcionais para ela. Mas
não há resposta para a pergunta “POR QUÊ”? É uma pena perder tempo
tentando resolver o que não pode ser resolvido. Para meus leitores místicos,
posso citar apenas a resposta dada ao conhecido místico, ocultista e filósofo
francês Paul Sédir, de Paris, por seu mestre espiritual, o misterioso Monsieur
Andréas, como ele o chamava. Em resumo, esta foi a resposta: “Talvez, algum
dia, quando estivermos suficientemente maduros, o bom Pai nos revele POR
QUE as coisas são como são”. Esse “dia” deve estar a uma eternidade de
distância.
Sua mente pode lhe sugerir: “É claro que você pode ter idéias muito melhores
do que as descritas pelo autor; você deve rejeitá-las usando as suas idéias”.
Teoricamente, isso soa bem, mas a armadilha pode ser que essas “idéias
melhores” sejam simplesmente transformadas por sua mente em vibrações
descontroladas, “flutuando” sem objetivo para longe do tema. Em outras
palavras, será a vitória delas sobre a sua concentração e sobre o plano de
trabalho que você queria realizar. Se for incapaz de paralisar a malfeitora, ela
poderá sugerir, depois de você ter sido devidamente exaurido pelos desejos da
mente, que você é um fracasso, não porque não observou as instruções dadas
neste livro, mas porque este livro não é suficientemente bom para você, e assim
por diante. Se você aceitar os sussurros maliciosos, perderá a batalha. Os anos
passarão e eles nunca mais voltarão; em vez de praticar, você estará apenas
procurando livros diferentes. O resultado final você pode descobrir por si mesmo.
2) A onisciência inerente ao Senhor torna a nossa meditação mais fácil, pois não
precisamos explicar tudo a Ele, como faríamos a outra pessoa, que nada sabe
de nós a menos que lhe digamos. Isso também é um absurdo! Além disso, a
meditação mais elevada, como você virá a saber mais tarde, é a que está além
de qualquer palavra ou pensamento, uma meditação muda, paralela ao tipo mais
elevado de prece — a prece muda. Portanto, a elevação da consciência pode
estar livre da verbalização, e essa atitude será a mais pura e eficiente de todas.
É possível refletir algo dos poderes que pertencem ao Ser Supremo em nossa
mente? Sim, até certo ponto, se temos um receptor alerta, bem desenvolvido e
familiarizado com o pensamento oculto. Se você tiver feito o exercício final 9 da
série V de Concentração, então não terá nenhuma dificuldade em experimentar
essas DUAS qualidades de Deus — a ONIPRESENÇA e ONISCIÊNCIA, em
relação, é claro, ao seu próprio Eu.
Aqui está outra expressão, usada por alguns Santos que foram capazes de se
conscientizar do Todo-Poderoso. Eles falam sobre “viver” no Senhor. Acho que
este termo é muito profundo e inspirador.
Os clichês mais puros, nos planos mais elevados, os mais próximos do Ser
Absoluto são provavelmente inacessíveis, até “A gota de orvalho deslizar para o
Oceano Brilhante!”, perdendo sua identidade no OCEANO DE DEUS, como o
sábio Maharshi disse. Há pessoas que sentem a verdade dessa afirmação, se
não através de sua mente, pelo coração. Elas são afortunadas, pois têm um
consolo final, inefável, e esperança enquanto ainda vivem em seus corpos
físicos.
O Senhor não está do lado de fora, e devemos erradicar esse conceito, que pode
estar profundamente enraizado em nós, desde nossas encarnações anteriores,
quando éramos menos desenvolvidos e incapazes de obter uma visão mais clara
e mais próxima da verdade. Ele o penetra totalmente, mas o significado pleno
desse fato surge em nós quando nos CONSCIENTIZAMOS dele! E um dos
objetivos da Escola da Vida é nos ensinar isso.
A expressão vocal daqueles que conseguiram essa grande Realização pode nos
servir como uma bóia luminosa. Em alguns capítulos de A imitação de Cristo
você encontrará experiências desse tipo.
Mas o Senhor nunca pode ser um objeto, pois Ele é a própria TOTALIDADE.
Novamente, a condição de tranquilidade diz que, através dela, podemos nos
aproximar d’Ele.
a) Que Ele está presente em cada partícula do Cosmos manifestado. Esta idéia
não é nova para nós, pois uma ênfase total tem sido dada a esta verdade em
quase todas as religiões do mundo. Mas foi importante para nossos irmãos
orientais, por causa dos muitos cultos, de muito menor sutileza e alcance, que
prevaleciam em suas classes mais baixas, para quem a elevada idéia do ÚNICO
SEM SEGUNDO era abstrata demais e de difícil concepção. De qualquer modo,
quando o cristianismo entrou na Índia, seu ensinamento a respeito de um DEUS
ÚNICO, mesmo na forma de três Pessoas, não foi revolucionário nesse país
cheio de templos e com milhares de figuras de diferentes deuses no amplo
Panteão nacional hindu. Os círculos mais cultos e iluminados, familiarizados com
a filosofia do Vedanta, estavam bem preparados para confirmar essa doutrina,
que era natural para eles.
O autor ficou especialmente encantado com o belo hino Para a glória do Senhor
do Universo cantado após a meditação vespertina aos pés do mestre Maharshi,
por um coro selecionado de devotos brâmanes do Grande Rishi.
Uma vez compreendida esta parte do tema, tente sentir a Grande Verdade d’Ele
em você mesmo, como uma experiência viva. ELA É POSSÍVEL, pois até mesmo
nos dias de hoje há homens que estão fazendo isso, e todos nós somos filhos
do mesmo Pai, que fica feliz quando seus filhos se aproximam d’Ele por vontade
própria e com compreensão. Que essas palavras lhe sirvam de encorajamento
e inspiração. Ele está em você agora, neste momento. Ele está ouvindo a voz
silenciosa de sua alma e SABE que num dia glorioso você se reunirá ao Seu
eterno JÚBILO DE UNIÃO NA VERDADE DO ESPÍRITO.
b) A segunda parte de nosso tema nos ensina que o Senhor não existe apenas
em Sua Criação, mas que Ele tem um ser independente, além de todas as
Manifestações, como Ele era antes de a Criação começar no Tempo e no
Espaço. Somos incapazes de conceber isso, assim como as misteriosas
palavras iniciatórias de São João, quando ele revelou que: “Não haverá mais
nenhum tempo”.
Seria bom lembrar a bela e significativa concepção vedanta dos Manvantaras e
os Dias e Noites de Brahma quando meditar agora. A idéia deles é a de que o
Supremo cria os CICLOS DA VIDA, isto é, em determinados períodos ELE
escala a Manifestação, e depois a aniquila no processo de inalação cósmica. Os
períodos de intervalos são chamados de “Pralaya” ou Descanso universal.
É n’Ele que encontramos a Paz eterna, depois de ter passado por eternidades
de perambulação em matérias de todos os tipos.
Desse modo, cada meditação será mais profunda e instrutiva do que a anterior,
e ele progredirá de um modo perceptível neste caminho.
É por isso que a afirmação de tal homem tem um valor bem diferente das teorias
mentais, das suposições e verbalizações dos representantes da filosofia formal,
que nunca viveram o que tentam divulgar. Tais pessoas escondem a falta de
experiência espiritual sob brilhantes sentenças selecionadas com excelente
forma exterior. Sem querer, a comparação de Jesus sobre os “sepulcros caiados”
me vem à mente.
Mas quando um homem dá testemunho de cada palavra proferida por ele através
de uma vida cristalina, livre de pecado, de erro e de egoísmo, e repleta de
santidade e sabedoria, só podemos ter uma consideração diferente por seus
ensinamentos.
O Sábio não foi culpado, de modo algum, do erro cometido pelos panteístas,
uma vez que não idolatrou nenhuma força ou manifestação da Natureza, e não
atribuiu nenhum significado ou valor mais elevado a elas do que seu limitado
campo da matéria. E, mesmo assim, encontramos a afirmação: “Deus é tudo e
tudo é Deus”.
Entretanto, para nosso propósito, estamos buscando outra solução, que nos
afeta em nossa consciência mais profunda. Os homens normalmente sentem
que estão “separados” do Senhor, e em sua afirmação o Maharshi combateu
esse engano, que torna impossível para eles abordar o Supremo em suas
meditações, assim como na vida diária.
Aprendemos que a definição que damos dos dois termos, “existência”, e “não-
existência”, frequentemente usados em nossa filosofia “formal”, são vazios e
inúteis quando aplicados ao Supremo, que está totalmente além delas. Quanto
ao termo “duplicatas”, podemos compreender certos aspectos de Sua
manifestação, capazes de se refletir em nossa mente.
Mas eles NÃO são “partes” nem “componentes” de Deus, e o Sábio nos preveniu
sobre esse equívoco, salientando que falar de Deus é difícil e inadequado.
Esta meditação me mostra o verdadeiro Caminho para Ele. Mas ninguém pode
percorrer esse Caminho por mim, se quero alcançar a meta,
O mestre diz, no final, que este “conhecimento” que ele possui não é como
qualquer outro, que contém um sujeito e um objeto a serem conhecidos, mas é
como uma “visão”. Como podemos “ver” Deus? Certamente não é através de
uma visão ou impressão externa, e as palavras do Maharshi sobre o
“conhecimento de dentro” nos dizem isso.
Talvez apenas uma comparação nos dê uma idéia desse difícil conceito. Vamos
voltar à “Gota que desliza para o Oceano Brilhante”. Que experiência essa gota
pode ter? Provavelmente, será a consciência da Luz infinita penetrando esse
Oceano. Posso ver nisso o melhor reflexo da idéia.
6. TEMA: A realização nada mais é do que ver a Deus, literalmente. Nosso maior
erro é que pensamos em Deus de um modo simbólico e alegórico, em vez de
pensar n’Ele de uma forma prática e literal. (O Maharshi.)
Mas, uma vez, pressionado de todos os lados, ele interrompeu seu longo silêncio
e deu uma breve resposta à pergunta sobre como via o mundo e as pessoas ao
redor dele. “Vocês são irreais para mim, como sombras”, foram suas palavras.
Sendo como somos, sem qualquer conhecimento interior mais profundo baseado
na experiência espiritual (não perecível), e totalmente absortos pela vida física
como a única realidade acessível a nós, será que existimos realmente?
Sem dúvida, é uma grande realização ser capaz de sentir Deus de um modo
prático e literal, como o Maharshi nos aconselha. E isso pode ser alcançado, pois
outros já o conseguiram.
Se lermos as vidas dos Santos, poderemos ver por nós mesmos como eles
tinham segurança em sua fé e como era real para eles a Presença Eterna do
Senhor. Eles sabiam disso de um modo prático.
Desenvolvimento: A razão pela qual não podemos ver Deus é dada nesta
meditação, e nós já a conhecemos: é o mundo, ou, mais exatamente, nosso
apego a seus valores e condições perecíveis, que refrata a LUZ BRANCA DO
SENHOR, assim como os prismas refratam a cor branca básica em muitas
outras. Colocando outro prisma diante do espectro, novamente somos capazes
de obter a Luz primordial, indivisível, pelo processo de reintegração sintética.
Enquanto a negligência, o sentimentalismo, a vida física e a ignorância, reunidas
pelo apego à existência mundana, dividiram e obscureceram o primeiro prisma,
o segundo, o reintegrador, é composto de fatores opostos. Estes são o controle
da mente e das emoções, a sabedoria da verdadeira vida e o desapego em
relação ao que inevitavelmente se perderá no tempo e no espaço. Outro
conselho místico, mas muito realista, é dado na afirmação seguinte do tema. Não
devemos nos enganar com as formas vivas, com sua aparência exterior, que é
apenas ilusória, mas sim olhar mais profundamente para o sustentáculo genuíno
de sua verdadeira vida. Ao olhar para um homem, não devemos ver a
personalidade perecível, envolta no material espesso do corpo, assim como para
seus correlatos astral e mental (sentimentos e pensamentos), mas APENAS
PARA O QUE REALMENTE O ANIMA, a Luz do Supremo, sem a qual não há
vida alguma, apenas matéria em decomposição.
Você sabe que existem pessoas “boas” e outras que não o são. Como isso
acontece? A última frase de nosso tema dá uma resposta inequívoca: o corpo
não obedece perfeitamente à sua LUZ INTERIOR, assim como o navio não
obedece ao seu leme.
Sei que você gostaria de fazer imediatamente outra pergunta. Por que acontece
isso com o corpo e o navio? A resposta direta, absoluta, é conhecida apenas
pelo ÚNICO, que originou o universo e você com ele. É inútil perguntar a respeito
de assuntos que estão além dos poderes da mente e da habilidade para refletir
sobre a verdade.
As circunstâncias, como sua mente talvez sugira, não pertencem ao campo das
CAUSAS que lhe deram vida deste ou de outro modo. São simplesmente como
uma tela na qual a sua vida e atividades se refletem, assim como um filme no
cinema. A ação pertence a nós, homens, assim como a responsabilidade.
Se você adquirir o hábito de olhar para cada ser vivo, em primeiro lugar, é claro,
do modo como foi descrito acima, uma estranha, misteriosa mas benéfica
mudança além de qualquer imaginação ocorrerá, e você verá o mundo com
muito mais clareza do que jamais viu. Uma das principais vantagens disso será
a aniquilação de qualquer amargura interior, a despeito dos sempre possíveis
reveses e “injustiças” do mundo exterior. Não há dúvida de que, em
circunstâncias similares, adversas ou propícias, dois seres humanos diferentes
se comportarão diferentemente. Um sofrerá mais, outro menos, e um será mais
iludido pelo alívio temporário do que o outro.
Ninguém pode viver nossa vida em nosso lugar, e só nós somos os responsáveis
por nossas reações a circunstâncias e choques advindos do mundo. Eles foram
merecidos por nós em nosso passado distante e são o nosso carma, como
alguns afirmam. Enquanto não puderem ser mudados, nossa atitude pode mudar
de insensata para sábia.
8. TEMA: Acima de tudo, o que é Deus? Uma eterna Criança, brincando com um
brinquedo eterno num jardim eterno... (Aurobindo Ghose.)
Vamos analisá-lo mais de perto. Uma criança é essencialmente livre para brincar
com o que quiser: portanto, quem limitaria o Poder Infinito, que produz o universo
sem esforço e labuta, mas apenas na Alegria ilimitada da Criação?
Sob esta luz, o drama do universo toma a forma de um jogo eterno, e seu clichê
final é a Bem-Aventurança e a Perfeição para todos os seus participantes. O
Jardim no qual o Grande Jogo acontece também é eterno; assim como são
eternos o jogador e o jogo. Esta meditação tem um toque sutil de otimismo
espiritual, e muitos de vocês nela encontrarão inspiração e alegria.
9. TEMA:
Este longo tema precisa de uma explanação especial. Tem agora cerca de
duzentos anos de idade e foi extraído da Ode a Deus, escrita pelo eminente
poeta e filósofo russo Denis Derjavin, que viveu no tempo da imperatriz Catarina
II, chamada de “a Grande”. Com a tradução, é impossível transmitir a beleza
original dos versos e a musicalidade de uma língua tão distante da nossa.
Portanto, limito-me a uma tradução mais exata e ideologicamente verdadeira,
que forma o presente tema para a meditação. Na vida de muitas pessoas
eminentes há momentos de elevada inspiração, quando parece que a VERDADE
transcendente se torna perceptível à mente humana. A ode de Derjavin foi
escrita, sem dúvida, durante um desses momentos de êxtase. Você já sabe
bastante sobre o Senhor pelas meditações anteriores, e está consciente de que
Ele pode nos garantir a Graça e nos enviar um raio de Sua Sabedoria.
Então, a alma humana A reflete e é inspirada por ELA. Esse reflexo sobrevive a
nós e às vezes é ressuscitado de seu longo esquecimento por outra alma que
faça a si mesma uma pergunta semelhante. E uma afinidade mística, mas
verdadeira, de espíritos humanos novamente aparece em todo o seu esplendor.
Pense a respeito disso, compreenda e memorize o tema. Da minha parte, farei
o melhor que puder, seguindo o desenvolvimento da ode.
Deus pode ser percebido como agente nos movimentos da matéria em Seu
universo manifesto. Essa compreensão nos permite também fazer a próxima
abordagem d’Ele: pois Ele é eterno e está além de todo tempo e espaço, estando
presente em ambos (compare com o tema 3 deste capítulo). Já sabemos algo a
respeito disso por nossas meditações anteriores.
Derjavin nos diz que o Espírito único, onipresente, que transcende todas as
condições conhecidas pelos homens, é “impossível de ser conhecido”. Isso é
apenas natural e lógico. Uma gota não pode refletir o imenso oceano em si
mesma, uma vez que é parte desse oceano.
As palavras da ode são tão simples e diretas que não há necessidade de mais
explicações. Encontre o verdadeiro reflexo em seu próprio coração.
O caminho mais seguro é o que nos conduz por uma vida boa, honesta e pura,
acompanhada por intensas meditações, tendo por base o desejo interior de nos
unirmos com a Fonte, com o Pai, em resumo, com O ÚNICO SEM SEGUNDO.
Aqui, se quiser, você poderá substituir a palavra “meditação” por “prece”, pois
ambas são sinônimas no campo espiritual. Você observará isso no epílogo deste
livro.
Perto do final de sua última noite, durante as horas conclusivas de seu terrível
sofrimento físico (a Cruz, que ele aceitou por nós), e pouco antes de deixar seu
corpo, suas palavras foram: “Pai, Pai!”
11. TEMA: O céu estrelado está acima de mim, a Lei da Moral Eterna está em
mim. (Emmanuel Kant.)
Quando, numa noite clara e calma, olhamos para o céu escuro, semeado de
inúmeras estrelas que nossos olhos podem perceber, e quando compreendemos
que esses pontos luminosos são mundos em si mesmos, provavelmente muito
maiores do que o nosso planeta, isso nos permite chegar mais perto de uma
apreciação correta das nossas possibilidades de percepção e compreensão.
Essa é a Luz que ilumina todo homem que vem ao mundo, mas poucos estão
conscientes dela, e para a maioria é como se não existisse. Mas a ignorância
não destrói a Realidade. Até mesmo no plano mais baixo da existência, o
chamado plano “físico”, não conhecemos muito mais do que um fragmento das
leis físicas, de acordo com as quais nossos corpos são constituídos e vivem.
Contudo, tanto um selvagem primitivo como um “homem culto” usam essas leis
subconscientemente, e isso permite que eles vivam e desfrutem a vida.
Mas diferentes leis morais dirigem, por exemplo, um filósofo como Kant e um
inculto habitante da África central.
Vamos agora para a conclusão final deste tema de meditação. A LUZ INTERIOR,
equivalente à Lei de Kant, é um reflexo do ÚNICO SEM SEGUNDO em nós, isto
é, de Deus. O Senhor não se preocupa com os nomes que damos a Ele, nem
com as teorias que construímos em torno das concepções d’Ele em nossa
mente. Ele ESTÁ PRESENTE PARA SEMPRE, e pouco importa como os
homens preferem chamá-Lo. Sabemos que um dos “atributos” do Todo-
Poderoso é a Sua INFINITUDE, “que está acima de todos os atributos que nossa
mente limitada possa imaginar para Ele”.
12. TEMA: Todavia, eu vivo, disse o Senhor, e estou pronto para vos ajudar e
vos dar o maior conforto possível, se confiardes em mim e Me chamardes
sinceramente. (A imitação de Cristo, de Thomas à Kempis.)
É por isso que aqui temos uma confirmação categórica da verdade da existência
d’Ele, que está acima e além de toda existência, como o sábio indiano Ramana
Maharshi nos disse, concordando plenamente com o misticismo cristão do mais
alto nível.
Se o misterioso conhecimento da realidade de Deus nos penetra, então
participamos de Sua Graça, sem a qual nossas meditações nunca chegam ao
ápice para mergulhar n’Ele. Precisamos pensar, agora, profundamente nisso
antes de seguirmos até a próxima encruzilhada. A iluminação final virá no
Silêncio profundo.
Em segundo lugar, o Senhor está pronto para nos ajudar! Que verdade generosa
e auspiciosa está encerrada nessas simples palavras! Sei que, quanto maior for
o meu problema, mais alto será o Poder de que preciso para resolvê-lo. Contarei
apenas com a minha pobre e pequena personalidade, que não pode ter certeza
nem do que acontecerá na próxima hora? Posso apenas supor, e a suposição é
inconsistente e carece de felicidade. Se, de acordo com as palavras do Senhor,
eu me voltar para Ele, encontrarei um protetor melhor, mais gracioso e
onipotente, a quem Cristo nos ensinou a chamar de “NOSSO PAI QUE ESTÁ
NO CÉU”? Meditando nessas palavras, estou abrindo a porta secreta pela qual
Ele pode vir e iluminar toda a minha vida, removendo meus medos e problemas,
mostrando-me o único objetivo valioso e santificando meu espírito-consciência,
que ainda está aqui enquanto estou enfrentando minhas batalhas na gaiola
carnal da existência temporal na matéria.
Portanto, que Ele decida o quê, quando e de que modo Seu auxílio pode descer
sobre mim, não como um consolo temporário, mas como a eterna graça do Deus
Pai. Sei que os Santos se voltaram para o Senhor deste modo. Eu gostaria de
seguir a Sabedoria deles com humildade e admiração.
Em terceiro lugar, Ele só pode dar o maior conforto, pois a Onisciência não
comete erros, nem é afetada pela negligência nem pela ignorância humanas. É
por isso que Ele diz que pode me garantir o conforto supremo, após o qual não
haverá mais escuridão nem sofrimento para mim. A condição? Posso vê-la
claramente agora: É A ABSOLUTA SINCERIDADE E O FIEL RETORNO PARA
ELE, COM PLENA CONSCIÊNCIA DE SUA INFALIBILIDADE E ONISCIÊNCIA,
A QUAL NÃO PODE SER ENGANADA NEM OBSCURECIDA POR QUALQUER
FRAQUEZA HUMANA.
Esse conforto não virá de fora, mas de dentro de mim mesmo, pois está no mais
profundo recesso da percepção do coração, onde Ele reside e de onde Ele fala...
Isso significa que minha atitude será correta e que os problemas exteriores e
interiores serão desarmados e se renderão inocentemente, por Sua Voz, que
fala em mim. Este é o meio pelo qual tenho de compreender e me aproximar
d’Ele.
Em quarto lugar, tudo isso só acontecerá se eu confiar incondicionalmente no
Senhor. Isso é natural, após ter meditado sobre as três primeiras partes do
presente tema. A entrega espiritual pela fé absoluta no Altíssimo deve ter um
poder especial em si mesma, pois posso lembrar as poderosas palavras do
Maharshi, proferidas para os que estavam ao seu redor e se lamentavam sobre
as dificuldades para dominar a mente e chegar à paz interior: “Rendam-se a mim,
e eu derrubarei a mente”.
13. TEMA:
Podemos ver neste mundo, através de nossos próprios olhos, que o mal existe,
que ele luta contra Deus e provoca dificuldades de todos os tipos, desde
sofrimentos e crimes pessoais até enormes conflagrações entre nações, que
tentam destruir uma à outra, por motivos materialistas e egoístas. Sabemos que
a Luz existe, mas existe também a Sombra, da qual São João, o Evangelista,
disse: “A Escuridão é incapaz de absorver a Luz”. Deus é Luz e Verdade, e o
Mal é escuridão e ilusão. A personificação do Mal foi chamada nas Escrituras de
“O Pai das Mentiras”.
Mas aqui, na terra, estamos no reino dos fatos e, de acordo com eles, pedimos
a remoção do Mal, ou dos inimigos do Senhor, de nossa visão. Agora podemos
passar para a próxima linha do tema.
Essa derrota dos Inimigos pode ser como o desaparecimento da cera dura
quando atingida pelo fogo, que acaba inexoravelmente com qualquer forma que
ela possa ter tido. Pense profundamente nesse símbolo e verá o meio pelo qual
o Mal deve ser derrotado por Deus. A segunda comparação é com a derrota
apresentada a nós pela figura da fumaça que desaparece quando dispersa pelos
movimentos do ar, a que denominamos vento. Em ambos os casos, o modo de
aniquilar é semelhante e é, contudo, o único em sua realidade oculta. Nada mais
pode ser dito sobre isso, mas tente pensar profundamente nos dois modos de
derrotar o Mal e chegará à conclusão certa, embora inexprimível em palavras.
A linha seguinte fala daqueles “que odeiam o Senhor”. É uma verdade triste e
revoltante, mas ainda assim uma verdade que não pode ser negada. Seria um
jogo certo nas mãos daqueles que “odeiam o Senhor”, se sucumbíssemos aos
esforços traiçoeiros do Inimigo para confundir o maior número de homens
possível e se, de um modo insensato, recusássemos o reconhecimento do real
estado das coisas. Sei do caso de um velho senhor, “ministro” de uma seita
obscura, que, enquanto tentava fazê-la passar por cristã, atrevidamente
procurava convencer os jovens da “não-existência e do absurdo histórico da
pessoa de Cristo”.
Isso aconteceu no lugar onde estou escrevendo estas linhas, e todo domingo
esse “ministro” colocava uma espécie de vestimenta sacerdotal onde se via,
bordada, a cruz de Cristo.
Isso pode servir de exemplo de como o Mal pode encontrar caminhos traiçoeiros,
mesmo sob a cobertura do signo da Luz. Esse exorcismo pede para tais inimigos
desaparecerem da VISÃO DO SENHOR, assim como a escuridão desaparece
diante da Luz.
Sabemos de grandes nações, dominadas pelos “que odeiam ao Senhor”, que
tentam de todos os modos possíveis erradicar todas as idéias a respeito de Deus
de seus vassalos infelizes e tiranicamente governados. Mas sabemos também
que o Grande Mestre previu tudo e nos aconselhou a persistir na Verdade e na
Luz, dizendo: “Aqueles que resistirem até o fim serão salvos”.
Você encontrará aqui duzentos exercícios e temas para meditação, mas não é
PRECISO obter perfeição em TODOS ELES, especialmente se alguns estiverem
em desacordo com seu coração e com suas convicções. O autor trabalhou com
meditação durante toda a sua vida e, consequentemente, sabe por experiência
própria o que é possível (e recomendável) e o que não é. Tudo depende de sua
linha interior e de sua sintonia com determinadas correntes espirituais, muitas
das quais estão representadas neste livro. Utilize o que sentiu que “lhe pertence”
(da terceira parte até a quinta) e faça o melhor que puder. Mas a primeira e a
segunda parte DEVEM ser estudadas atentamente, pois disso depende o
sucesso das partes posteriores. Ninguém pode ler ou escrever, a menos que
conheça o bê-á-bá, e, neste caso, os CAPÍTULOS PREPARATÓRIOS de 1 a 19
são o bê-á-bá da meditação. Meu conselho continua o mesmo: antes de começar
de fato a trabalhar (com exercícios e meditações) leia todo o manual pelo menos
SETE vezes. Só então a mente estará bem familiarizada com o assunto e você
não terá nenhum obstáculo técnico ou dificuldade para memorizar. Quando meu
outro manual — Concentração — foi publicado, muitos anos atrás, recebi
naturalmente muitas cartas de estudantes. Os que seguiram o meu conselho —
de primeiro ler o texto sete vezes — fizeram perguntas razoáveis, provenientes
de experiências que ocorreram com eles em exercícios e com certos fenômenos
que podem ocorrer com determinados tipos de pessoa. Mas houve também
muitas cartas com perguntas e problemas que foram totalmente explicados no
texto do livro, pois sempre tento ver o meu trabalho do ponto de vista do
estudante, que pode ter os mesmos problemas que tive quando comecei neste
mesmo caminho, muitos anos atrás. Portanto, não estou escrevendo “do meu
ponto de vista”, que não seria aceitável para principiantes. E acredito que estou
certo nisso.
Então, que tipo de solução existe para esse problema? Devemos evitar o
conhecimento? De modo algum, mas somos obrigados a moldar nossa vida,
nossas ações, sentimentos e pensamentos de acordo com o padrão mais alto
de nossa inteligência.
O inspirado autor de A imitação nos diz que o julgamento será mais severo para
um homem instruído, a menos que ele sintonize sua encarnação de acordo com
o que sabe.
Se realmente nos esforçamos pelo que é perene e não estamos ofuscados pelo
mundo visível e perecível, a lição para nós será que nossas ações têm de seguir
paralelamente nosso desenvolvimento mental. Em resumo, A MORALIDADE
DEVE SER EQUIVALENTE AO CONHECIMENTO. Isso é um axioma.
O que acontecerá se não for esse o caso? A atual situação do mundo é a melhor
resposta. O conhecimento corre à frente com enorme velocidade, nunca
encontrada antes na história humana. Mas este planeta está mais feliz por causa
disso? Em nenhuma outra época houve tanta animosidade entre nações e idéias,
tanto sofrimento, tanto egoísmo cego, envenenando tudo, desde o indivíduo, a
família e a vida social, até nações inteiras.
Sabemos muito, mas, moralmente, avançamos muito pouco. É por isso que as
descobertas mais maravilhosas desta época estão voltadas para os perigos da
destruição, em vez de estarem voltadas para o trabalho construtivo. Isso se
refere, naturalmente, não só a uma nação ou a grupos políticos nacionais, mas
a todos, embora alguns, evidentemente, sejam mais agressivos e famintos ao
tentar elevar seu status material pelo roubo planejado.
3. TEMA: Grandes palavras não tornam um homem santo e justo, mas uma vida
virtuosa torna-o amado por Deus.
O que seria mais importante para um homem sadio que, por exemplo, estivesse
num deserto: um selvagem ignorante salvar a sua vida ameaçada pela sede,
oferecendo-lhe água ou levando-o até um poço, sem qualquer palavra ou gesto
refinado, ou um erudito, egoísta e desalmado, passar por ele e pronunciar uma
“sábia sentença” sobre a justiça contida em toda tragédia e sofrimento como
reparo por seus “erros” anteriores, deixando-o perecer?
Devemos ser cuidadosos para não cair na armadilha do Inimigo, que geralmente
assume a máscara da falsa sabedoria. Ele é também o produto da mente egoísta
(ela sempre é egoísta), não enobrecida pela luz e pela ternura do coração.
Ele diz que a Justiça Suprema, que é o Próprio Senhor, fará a escolha certa.
Você sabe QUAL será. Só o que importa é se ESTAREMOS INCLUÍDOS NESSA
ESCOLHA.
E isso não acontecerá para nós “por si mesmo”, sem qualquer ação de nossa
parte. Como você sabe, no desenvolvimento espiritual do homem, a meditação
precede a ação, e é por isso que estamos aprendendo a meditar. É claro que
também existem “ações espontâneas e inspiradas”, mas elas são imprevisíveis
e não podemos esperar até que a intuição venha, ficando, nesse meio tempo,
indolentes física e espiritualmente. É verdade que as Grandes Almas agem
exclusivamente por intuição, isto é, sabem sem pensar. Mas nós ainda não
atingimos esse estágio; portanto, as regras delas são prematuras para nós,
embora nós também certamente haveremos de ter momentos abençoados de
verdadeira intuição quando amadurecermos.
Mas a Graça, embora também seja uma experiência interior, foi bem mais
explorada por aqueles que foram e são suficientemente afortunados para
participar dela. O material básico pode ser encontrado nos capítulos que tratam
de meditações sobre a Presença do Senhor (veja os capítulos 24 e 26). Parece
que nossas experiências acerca da Presença e da Graça de Deus são muito
semelhantes. Em todo caso, é difícil traçar uma linha divisória entre elas. E é
desnecessário, se compreendemos que todas essas tentativas para “classificar”
o que está além de qualquer classificação são apenas outro truque de nossa
mente, que não pode participar nem da consciência da presença do Senhor, nem
de Sua Graça. Você sabe, é claro, que em ambos os estados de bem-
aventurança não há e não pode haver pensamentos, porque eles destroem a
concentração de nosso espírito com suas vibrações.
Contudo, uma coisa é certa: no Estado de Graça você AMA A DEUS SOBRE
TODAS AS COISAS. Se não fosse assim, você não se alegraria com a Sua
Graça.
1. Veja o meu livro Theurgy, the art of effective worship, publicado pela editora George Allen &
Unwin Ltd., de Londres.
5. TEMA: Vaidade é seguir os desejos da carne e trabalhar por aquilo pelo qual
devereis sofrer depois dolorosa punição.
O campo astro-mental é hostil a ele porque, em sua vida física, ele criou muitos
clichês negativos, visíveis aos residentes desses mundos que são mais sutis.
Esses clichês atraem um tipo semelhante de seres astrais e, por serem os
sentimentos e pensamentos visíveis a esse mundo, esses residentes e suas
emanações geralmente têm aparência horrível e repulsiva. Portanto, o homem
sensual e insensato é vítima desses “demônios” que o assustam e que o fazem
sofrer, embora, é claro, não haja mais dores físicas. É nisso que estão as raízes
de determinadas religiões e narrativas sobre os horrores do inferno e do
purgatório após a morte.
Para os que estão familiarizados com a filosofia oculta, o problema é até mais
óbvio, pois eles sabem que nenhuma energia colocada em ação perece, e que
a toda força se opõe uma força igual e diametralmente oposta.
Este é um dos principais erros que a humanidade está sujeita a cometer neste
período de seu desenvolvimento e pelo qual, consequentemente, tem que pagar
um preço elevado.
Esta meditação será útil para trabalhos posteriores na sequência dos temas
extraídos d’A Imitação.
6. TEMA: Vaidade é desejar uma vida longa, e não cuidar de vivê-la bem.
Desejar uma vida longa com propósitos tão inconsistentes é loucura. Viver bem
significa compreender o propósito evolucionário da vida e entender que cada dia
e ano são lições valiosas e irrevogáveis, que temos de aprender. Como nós
aprendemos? Será com boa vontade e inteligência, ou de um modo estúpido e
hesitante, dependendo de nossa maturidade e inteligência, assim como de
nosso avanço espiritual? Morrer com a satisfação de termos cumprido o nosso
dever durante a encarnação, com a certeza de que o Senhor nos chamará de
“servos bons” e não nos rejeitará como trastes inúteis, significa concluir uma
existência valiosa e esperar uma recompensa justa de paz e felicidade.
Agora, medite sobre o tema, pois ele é simples e claro para todo homem
inteligente.
Então você perderá o desejo de viver muito tempo e com propósitos menores e
fúteis e parará simplesmente de pensar a esse respeito.
A parábola de Cristo sobre as doze virgens sábias e as doze virgens tolas é uma
bela ilustração para isso. 2
Quando não estamos preparados para uma mudança súbita em nossa vida, ela
vem com um sabor amargo. Se não fazemos provisão para a nossa existência,
quando o corpo físico nos é tirado, ficamos como que perdidos num deserto.
Alguém disse corretamente que “a melhor preparação para a morte é uma vida
bem vivida”.
Agora podemos ver que tipo de “provisão” para a existência futura nos é
requerido. Mesmo que, nesse plano imperfeito da vida física, a humanidade
continue tentando estabelecer suas regras primitivas de justiça, não podemos
acreditar que, num nível mais elevado, em condições menos materialistas, num
nível no qual vivemos sem o corpo e apenas através de nossas emoções e
pensamentos, não haja nenhuma justiça ou leis invioláveis.
Meditemos sobre isso e alguma luz mais interior talvez nos recompense. Sem
esforços para aprofundar nossa compreensão acerca dos problemas perenes de
nossa vida, não pode haver qualquer solução para nós no futuro. O que
plantamos, colhemos! Que esta meditação conclua nossa lição de hoje.
Thomas à Kempis diz que a alegria eterna nos espera após nossa peregrinação
terrena, mas isso só é válido para aqueles que conheceram o propósito de suas
viagens e perceberam o seu objetivo.
O apego ao que se desvanece e não se mantém é vaidade, e seu custo é
realmente elevado para os homens tolos, que dedicaram sua vida à obtenção do
que deve ser e será perdido.
O encanto temporário da vida tem, sem dúvida, uma influência tóxica sobre a
maioria das pessoas, mas ele só é possível por causa de suas mentes limitadas
e instáveis, assim como por sua visão curta do futuro. Sabemos que felicidade
imutável e a satisfação permanente na vida não existe de modo algum entre nós,
na terra. Podemos ter alguns períodos em que imaginamos ser felizes, mas logo
chega a próxima cena do filme de nossa vida sempre em desenvolvimento, e
outro quadro mais dramático substitui o anterior.
Até a saúde mais vigorosa será destruída e o corpo mais robusto encontrará seu
descanso final na poeira da sepultura.
Aqueles que buscam uma forma diferente de vida nunca ficarão desesperados
ao perder sua parte terrena, pois sabem que não há aniquilação da vida, e uma
vida bem vivida é a melhor segurança para o futuro.
9. TEMA: Vaidade também é lutar por honras e subir até um alto grau.
Tendo tudo isso em mente durante a vida, seremos capazes de reduzir nossos
desapontamentos e nossas frustrações mundanas, que afetam de forma tão
amarga os ignorantes.
Por que espécie de “graus” vale a pena se empenhar? São aqueles concedidos
também pelo ignorante, ou são posições mundanas de poder e popularidade?
Se o mundo fosse guiado pela verdadeira moral e pelos padrões espirituais,
poderia ser assim, mas, infelizmente, sabemos com plena certeza que acontece
justamente o oposto.
Devemos pensar nos homens que morrem quando estão ricos: eles não
ofereceriam todas as suas riquezas a fim de adiar esse momento inexorável, no
qual têm de abandonar tudo o que amealharam e a que se apegaram durante
sua vida? Coloque-se numa posição semelhante, e compreenderá onde está a
verdade.
11. TEMA: Aqueles que seguem sua luxúria maculam sua própria consciência e
perdem a Graça de Deus.
12. TEMA: Vaidade das vaidades, tudo é vaidade, exceto amar a Deus e só a
Ele servir.
Com tais qualidades, Thomas à Kempis falará sobretudo aos que são capazes
de superar suas frequentes indisposições em relação ao comportamento
religioso, e isso os ajudará a tirar proveito dos tesouros espirituais d’A imitação.
Mas outros podem preferir os capítulos de caráter diferente, e é por isso que,
neste livro, providenciei uma grande variedade de temas para meditação,
merecedores desse nome. A regra geral para sua seleção e prática permanece
sempre a mesma: escolha o que seu coração mandar e saiba que é o modo pelo
qual você medita, e não meramente o número de temas, o que decidirá sobre os
conhecimentos que você espera adquirir neste curso.
Contudo, seria bastante proveitoso aqui, para todo estudante sério, se ele
examinasse o maior número de temas que achar inspiradores para ele e que,
além disso, pelo menos lesse todos os capítulos, sem exceção, pois poderá
facilmente encontrar em determinados assuntos algo que não lhe seja muito
familiar. Pois quem procurar encontrará e quem bater à porta a terá aberta. A
pior coisa é “pular” as páginas do livro, sem se concentrar e sem a devida
consideração pelo seu conteúdo. Outro perigo também espreita os adeptos da
leitura contínua e indiscriminada. Eu diria que quando você começa a estudar
um assunto como a meditação, sinceramente, deve abandonar outros livros
durante esse tempo. Do contrário, sua concentração se dissipará e, como você
sabe, sem a devida concentração, nenhuma meditação pode ser bem sucedida.
Este tema, com os onze que vêm a seguir, é um magnífico material para
CONTEMPLAÇÃO, e será usado como tal depois que seu treinamento em
meditação tiver sido concluído com êxito.
4. TEMA: A Verdade é energia criativa total, sabedoria total, bondade total; e fora
da verdade não pode haver e nem há energia criativa ou inteligente, nem
bondade.
5. TEMA: A Verdade é Amor total; a Verdade é vida total; fora da Verdade não
pode haver Amor, nem vida. O Amor total e a vida total provém da Verdade, e
são aspectos e símbolos de sua totalidade.
Desenvolvimento: Como o Espírito é a única coisa real que existe, sua identidade
com a Verdade é evidente. Eles são mutuamente idênticos, e é apenas na
linguagem das palavras que encontramos termos diferentes para eles. A
existência total é outro atributo da Verdade e a Verdade-Espírito é o cerne da
própria existência. Tudo o que está à parte d’Ela não possui vida ou existência.
7. TEMA: A Verdade deve ser vista em todo lugar, pois todo lugar habita nela.
11. TEMA: O Sábio sempre busca aquilo que, uma vez conhecido, faz com que
tudo seja conhecido.
12. TEMA: Há apenas uma Verdade, mas os homens a chamam por diversos
nomes. Acima do tempo, além do espaço e livre das causas, reside para sempre
AQUELE QUE É TUDO.
Excertos do “Bhagavad-Gita”
Num curso de meditação como este, seria impossível omitir os valiosos temas
provenientes de alguns excertos da Canção do bem-aventurado (o Bhagavad-
Gita), a mais alta expressão da Iniciação espiritual, criada por nossos irmãos
arianos, os hindus.
Estou chamando sua atenção para alguns versos escolhidos, que contêm gotas
concentradas da verdade e estou omitindo todos os ornamentos externos
pertencentes a essa época tão distante e legendária de Rishis e guerreiros da
Índia. Há muitos entusiastas desse magnífico memorial de gênios humanos, e
alguns vão mais longe, comparando o Bhagavad-Gita aos Evangelhos de Cristo.
Rendendo todo o devido respeito e admiração à Canção do bem-aventurado,
reconheço que ela possui conteúdos iniciatórios de primeira classe, próximo do
reino onde reside a Verdade Absoluta. E muitos de meus leitores se juntarão a
mim nessa admiração. Portanto, que eles usem os textos que vêm a seguir para
melhorar suas habilidades e que a idéia do Espírito absoluto que prevalece sobre
a matéria encontre um solo fértil em seus corações.
Mas as palavras do Grande Mestre nos Evangelhos, tão breves, concentradas,
simples na forma exterior e insuperáveis em sabedoria e poder, apontam para a
Eternidade e dão um impulso instantâneo para os que estão suficientemente
maduros para compreendê-las, levando-os para o Reino onde nenhum germe
da corrupção, nem roubos ou dúvidas têm acesso, como Ele nos disse. Em
nenhum ensinamento humano podemos encontrar os incomensuráveis oceanos
espirituais revelados em algumas palavras simples, que falam direto ao mais
profundo cerne do homem, seu coração. Talvez porque não sejam ensinamentos
humanos.
1. TEMA: O Eu nunca nasce, nem morre; nem, uma vez tendo existido, vai para
a não-existência. Esse Eu é inato, eterno, imutável, antigo; Ele nunca é
destruído, nem mesmo quando o corpo se destrói.
Desenvolvimento: Este texto é tão claro e simples que não são necessários
comentários especiais, e você pode começar a meditar sobre ele imediatamente.
O único ponto que talvez necessite de alguma explanação é o que fala do Eu
“imutável”. Alguns pensam que o Eu progride e se desenvolve durante os
inúmeros nascimentos e encarnações. Isso seria um grande engano, e devemos
estar avisados a respeito disso. Quando dizemos que um homem evolui, não
significa que o seu Eu-Espírito está evoluindo. Sendo um raio do Imortal, da
Bem-Aventurança do ÚNICO Perfeito, como esse Eu poderia participar de
qualquer mudança? São os nossos “invólucros”, nossos meios de cognição e,
finalmente, nossa CONSCIÊNCIA que avançam, tornando-se cada vez mais
conscientes do seu CERNE eterno, imortal e perfeito — Atmã, Espírito, Eu, não
importa como você O denomine! E nisso reside a diferença entre os montes e os
vales da nossa consciência. Aqueles que estão conscientes d’lsso, do que
realmente são, são almas avançadas, e aqueles que ainda acreditam que são
seus diferentes corpos (físico, astral e mental) fazem parte dos seres ainda não
desenvolvidos.
2. TEMA: Alguns olham para esse Eu com admiração, outros falam sobre Ele
com admiração, contudo ainda há os que, mesmo depois de ouvir a respeito
d’Ele, não o conhecem.
Desenvolvimento: A COISA mais real, a única que de fato existe, o nosso EU,
frequentemente é desconhecida, mesmo quando um homem ouve sobre Ela e
tem acesso a ensinamentos a Seu respeito. Isso porque nem todos os que têm
ouvidos podem ouvir e nem todos os que têm olhos podem ver.
Desenvolvimento: Sabendo que você não tem nada em comum com o corpo
mortal e com seus condicionamentos, você deve se comportar como Krishna
ensina neste verso.
10. TEMA: O homem que é devotado ao Eu, que se sente satisfeito com o Eu e
contente no Eu apenas, não tem nada mais a fazer.
13. TEMA: Aquele que vê inação na ação e ação na inação é inteligente entre
os homens; é um homem de sabedoria constante e um perfeito executante de
todas as ações.
14. TEMA: O ignorante, aquele que não tem fé e cuja mente duvida de tudo,
perece. Não existe este mundo, nem o próximo, nem a felicidade para o eu que
duvida.
É por isso que Krishna diz que, para tais pessoas, não há felicidade ou realização
em nenhum mundo possível.
15. TEMA: Tanto a renúncia à ação como a execução da ação levam à liberdade.
Mas, das duas, a execução é SUPERIOR à renúncia.
16. TEMA: O Senhor onipresente não compartilha nem das boas, nem das más
obras. A sabedoria é encoberta pela ignorância, e deste modo os mortais são
iludidos. Mas para aqueles cuia ignorância é destruída pelo Autoconhecimento,
seu conhecimento do Eu, como o Sol, ilumina o Supremo.
Essa ilusão deve ser firmemente rejeitada; então nosso Espírito ficará livre do
cativeiro da mente mortal.
17. TEMA: Aquele cujo coração desapegou-se dos contatos externos dos
sentidos, percebe a felicidade que está no Eu; estando unido ao Brahma pela
meditação, ele alcança a eterna bem-aventurança.
Entretanto, a alternativa “Eu ou a minha mente” deve ser resolvida pela evolução
do meu “Eu”, ou estarei perdido. A meditação sobre este verso lhe proporcionará
mais luz.
22. TEMA: Aqueles que Me conhecem no reino físico, no reino Divino e no reino
do sacrifício, sendo firmes de coração, Me conhecem até mesmo na hora da
morte.
23. TEMA: Eu sou a Origem de tudo, e tudo vem de mim. Sabendo disso, o sábio
Me venera com amor e êxtase.
24. TEMA: Aqueles que, fixando a mente em mim, me veneram com DEVOÇÃO
PERPÉTUA, dotados de suprema fé, são os melhores conhecedores da ioga.
Meu conselho é que trabalhem com todos eles de um modo normal, prestando
especial consideração àqueles que os atraem mais. O verdadeiro trabalho com
temas é a meditação sobre eles, usando-se o desenvolvimento como um
começo, sem permitir que pensamentos estranhos e não relacionados com eles
perturbem o trabalho. Em resumo, pense apenas no que foi requerido, e não se
desvie do tema e do desenvolvimento.
O sucesso não pode vir a não ser de seu próprio esforço, uma vez que não posso
meditar no seu lugar, de modo a ampliar e aprimorar a sua consciência.
INTRODUÇÃO À
CONTEMPLAÇÃO
29
A meditação muda
Durante seu trabalho com as partes anteriores deste livro, certamente você
experimentou a verdade das palavras do Sábio.
Trata-se, a bem dizer, da única meditação digna desse nome. Nosso problema
agora é: Como transformar nossa meditação mental, como foi praticada nas
partes anteriores deste livro, na verdadeira meditação, a MEDITAÇÃO MUDA,
independente de qualquer linguagem? Essa é uma tarefa terrível, pois é muito
mais difícil descrever ou transmitir o que está além das palavras. Mas tentarei
fazer o melhor que puder. A dificuldade é que, nesse estágio, o estudante tem
de estar invariavelmente bem familiarizado com as formas anteriores da
meditação (da segunda à quarta partes). Do contrário, o acesso ao tipo mais
elevado certamente não estará ao alcance dele, pois aqui só posso usar a
linguagem compreensível aos homens que já se separaram de seu processo de
pensamento e são capazes de “resistir” por algum tempo sem qualquer
pensamento em suas consciências.
Se você já chegou a esse ponto, então continue a ler. Do contrário, volte atrás e
pratique as partes anteriores deste trabalho até obter êxito. As instruções que
vêm a seguir são para aqueles que já obtiveram êxito.
Numa linguagem técnica, você deve fixar a idéia do tema como se ele estivesse
diante de seus olhos ou, melhor ainda, diante de sua mente, imóvel e sem
permitir-se qualquer pensamento. Sature sua consciência com o tema, digira-o
e exclua tudo o mais. Isso é tudo o que pode ser dito sobre a Meditação Muda.
Em que condições você pode ser bem sucedido? Só se compreender o que
estou tentando lhe transmitir agora, com a linguagem insuficiente das palavras e
dos pensamentos humanos. Aqui, seu amadurecimento interior será o melhor
critério. Neste ponto, um dos obstáculos perigosos será a tendência para dormir,
ao tentar excluir toda verbalização de sua consciência. Ela vem como resultado
do desenvolvimento insuficiente (ou demorado) do cérebro, que talvez ainda não
seja capaz de refletir o que você lhe pede, isto é, o confronto puro de idéias.
Preciso enfatizar que o lado físico não deve ser esquecido. Nunca se sente para
meditar quando estiver com sono ou quando achar que descansou por um tempo
insuficiente. Sem dúvida, as almas avançadas — como foram as de alguns
santos e ocultistas de grande prestígio — são suficientemente fortes para privar
seus corpos de sono e descanso por longos períodos, o que é impossível para
o homem comum. Sua força interior permite que isso aconteça. Se você sentir
que pode imitá-los, experimente! Não há perigo algum nisso, mas lembre-se de
que deve estar devidamente preparado para o caso de fracassar e de que não
deve ficar frustrado ou desanimado por causa disso.
Lembre-se de que as palavras que você vai ler agora NÃO são um quadro exato
dessa experiência — que está além de toda palavra —, mas algo como o corte
transversal de uma complicada peça de uma máquina.
TEMA: A Verdade
a) Ela É. É a única coisa que realmente É. Todo Ser pertence à verdade, e fora
dela nada existe. (Agora, esvazie sua mente por algum tempo — cerca de um
ou dois minutos — e encare a VERDADE...)
Como foi mencionado no início deste curso, há uma grande afinidade entre a
meditação muda (isto é, a mais elevada) e a prece muda, e as técnicas são
semelhantes. Agora, você já sabe bastante sobre a meditação muda e pode
obter, em detalhes, o conhecimento sobre a prece muda em meu livro Teurgia.
Portanto, não repetirei muita coisa, limitando-me apenas a uma definição que
abranja todo o conceito de prece. Ela é: A RELAÇÃO DO HOMEM COM SEU
CRIADOR.
Um Santo, em suas preces, não se esforça pelo mesmo reino espiritual onde ele
espera encontrar o Supremo?
Deixe-nos acrescentar ainda uma afirmação de longo alcance feita pelo Sábio
Ramana: “Esse ponto no qual todas as religiões se encontram é a Realização”,
e a identidade da meditação e da prece espirituais verdadeiras (ambas mudas,
é claro, além das palavras e dos pensamentos) ficará clara para nós. Por tudo o
que foi dito antes, você perceberá que existe pouca possibilidade de se dar uma
definição ou descrição exata da meditação ou da prece espiritual, pelo menos
em termos acessíveis a toda e qualquer pessoa. Certas experiências pessoais
são absolutamente necessárias para se compreender algo dessa região sublime
da Vida. As palavras sempre são palavras, mesmo que sejam usadas para
descrever estados supermentais da consciência.
É algo semelhante ao que acontece com o virtuose do violino que toca as notas
da partitura à sua frente sem pensar de modo algum em quais os dedos que
deve pressionar e em qual parte do braço do instrumento deve fazê-lo. Tudo é
transferido da partitura para os sons vivos, como se a execução fosse
automática.
É inútil fazer suposições ou pensar a respeito disso. Contudo, está expresso nas
Escrituras que “o olho não pode ver e o ouvido não pode ouvir a felicidade
preparada pelo Senhor para os homens fiéis”. Isso foi para enfatizar a grandeza
da “recompensa”.
Se não é na súplica por bens terrenos, então deve ser na atração, admiração e
amor ao Senhor, que dominam essa prece. E isso é o que temos de fazer:
mergulhar n’Ele sem palavras nem pensamentos, por meio de algum dos
elementos acima mencionados da prece muda. Isso é tudo! Se você puder
encontrar mais alguma coisa além dessas, que o eleve e ilumine igualmente em
suas preces, não hesite em usá-la. Muitos são os caminhos que levam ao
Senhor, e toda alma tem algo peculiar a ela para oferecer a Ele; essas formas
individuais de adoração são como um presente abençoado.
Conhecemos em linhas gerais duas delas, que são mencionadas neste trabalho:
o caminho da Meditação e o da Prece. Qual o melhor? A resposta é o que for
natural para você. Alguns devem meditar, assim como outros devem orar. Isso
é tudo!
31
A contemplação como
uma síntese da meditação
e da prece
O estado no qual nos confrontamos com o Supremo, até onde nossa consciência
limitada nos permite, é chamado de CONTEMPLAÇÃO. Não importa se o
alcançamos pela meditação ou pela prece, pois neste nível ambas são iguais e
levam ao mesmo Clichê Eterno da Verdade. É fácil cometer um erro teórico
quando falamos sobre a Contemplação sem ter uma experiência pessoal dela.
Muitos ocultistas, que fizeram apenas suposições a esse respeito, sem ter
elevado suas consciências à altura da Contemplação, vêem pouca diferença
entre ela e os pontos culminantes da meditação ou da prece. É por aí que se
pode distinguir os compiladores dos conhecedores genuínos.
Quando você contempla o UNO que só pode ser contemplado (e não meditado),
ele é sempre o Ser Supremo. E nesse estado de Iluminação você não pode
existir separado d’Ele. Nada mais existe.
Chegamos agora à última parte deste capítulo, aos métodos práticos, úteis para
elevar a consciência aos pontos culminantes da Contemplação. Como isso pode
ser feito?
Embora eu não pretenda com isso nenhuma exclusividade, posso indicar alguns
caminhos pelos quais a Meta pode ser alcançada, como a experiência nos
ensinou. Para CONTEMPLAR, você precisa primeiro desenvolver sua Meditação
ou Prece muda até o ponto em que ela transcenda o reino dos pensamentos.
Essa é a condição.
Se não for esse o caso, não caia no pessimismo ou no ceticismo, pois esses
estados sublimes (a santidade ou Auto-Realização) são atingíveis. E nesta terra,
nesta época, há homens vivos que os alcançaram. Mas eles não se vangloriam
disso, nem trazem isso escrito na testa, de modo que os outros possam
reconhecê-los! Eles vivem como as outras pessoas, e só aqueles que já
desenvolveram em si mesmos algum “sentido” sutil são capazes de reconhecer
seus irmãos superiores. E eles manterão silêncio sobre suas incríveis
descobertas, cientes do perigo de se “jogar pérolas aos porcos”, como Cristo nos
preveniu.
32
Poderes místicos da
contemplação
Ao nos explicar a relação de Cristo com o Pai, o Rishi Ramana nos mostrou a
Verdade do Poder Espiritual. Isso não era algo estranho para ele, pois o Vedanta
Advaíta — o mais elevado sistema filosófico de seu país, a Índia — baseia-se
justamente nessa UNIDADE do Espírito, que muitos cristãos quase esqueceram.
Agora deve estar claro para você o motivo pelo qual todo aumento e
fortalecimento da consciência em nós também leva à aquisição de Poder. Trata-
se de uma Iniciação, expressa em poucas palavras, mas os que estão
suficientemente maduros, os que têm olhos para ver e ouvidos para ouvir, farão
pleno uso dela! Agora você vê como na Contemplação, que é um poderoso salto
à frente para nós, existem forças sobre as quais as pessoas ignorantes não têm
sequer idéia.
Todo mundo sabe que essa doença não pode desaparecer em vinte e quatro
horas, sem deixar vestígios, assim como todos os seus sintomas exteriores, tais
como febre, dores, fraqueza, etc., e nunca mais voltar.
Neste caso, houve uma vez mais uma mudança radical na estrutura material dos
órgãos afetados (os pulmões), que, do contrário, no caso de uma cura “natural”
por tratamento especial e medicamentos, levaria meses (se não anos) e, o que
é mais importante, pode sempre ser diagnosticada mais tarde por causa das
cicatrizes e tubérculos calcificados que permanecem, visíveis em todos os
exames subsequentes feitos com raios X. Neste caso, vinte e quatro horas foram
suficientes para erradicar todos os vestígios.
Aconteceu também que eu pude observar outro “milagre” com meus próprios
olhos, a despeito do fato de ser muito crítico em relação ao experimento que
descreverei agora.
Não havia nenhum cheiro de carne queimada, nem seus pés ficaram quentes ou
machucados quando ele terminou essa fantástica caminhada. Mais tarde, li num
jornal de Londres a respeito de um experimento parecido feito pelo mesmo
homem na Inglaterra, na presença de muitos médicos e de outras pessoas
descrentes de tais “milagres”. Nenhuma explicação jamais foi oferecida, só o fato
claro e simples.
Para mim, é claro, esses fatos não provam nenhum “milagre”, em absoluto. Há
tempos, eu já conhecia o poder que certos estados de consciência podem
exercer sobre acontecimentos materiais. O faquir usou uma certa atitude interior,
provavelmente relacionada com um alto grau de concentração, e praticou o
dhyana, que lhe permitiu manter a pele dos pés temporariamente impermeável
a determinados fatores físicos, neste caso, o calor intenso.
Mas o que estou tentando transmitir neste capítulo é o fato de que, como lemos
no capítulo 32, a consciência pode afetar decididamente a matéria física.
Com que finalidade estou citando exemplos desta Lei e suas explicações? Bem,
você agora está no limiar do estudo da meditação, que sem dúvida tem o objetivo
de influenciar e até mesmo de transformar sua consciência e torná-lo consciente
de coisas que você não sabia antes. Acredito que o estudante deve saber o
máximo possível, e é por isso que estou citando exemplos, com as respectivas
explicações, nos dois capítulos finais deste livro.
Para nós, que vivemos no reino de determinadas Leis, que consideramos firmes
e imutáveis, tudo o que transcende essas Leis parece ser milagre.
2) Podem ser o resultado de uma ação direta da Consciência Criativa, que impôs
essas Leis, mas que está acima de toda a Sua criação e das suas leis.
Não podemos chamar as ações de Cristo de outra coisa que não milagres, uma
vez que demonstraram total domínio sobre a matéria e suas manifestações. A
ressurreição de um cadáver em decomposição, a transformação da água, a
transformação de uma pequena porção de comida numa quantidade enorme,
fora as inumeráveis curas, que também exigiram mudanças na estrutura da
matéria viva, tudo isso pertence a essa suprema categoria do PODER DA
CONSCIÊNCIA, que domina tudo.
a) Podemos nos familiarizar com as leis até agora desconhecidas para nós.
Algumas pessoas talvez recuem diante de tal afirmação. Bem, não há nenhuma
convicção factual nesse assunto, exceto uma habilidade do homem para elevar
sua consciência além do nível médio e operar no reino da intuição (o
conhecimento sem o pensamento).
Mas para os muito “incrédulos” eu gostaria de fazer uma pequena sugestão: você
sabe que tudo o que estamos fazendo em nosso mundo tridimensional seria uma
corrente ininterrupta de milagres para um ser limitado a apenas duas
dimensões? E, também, que muitos matemáticos e filósofos expressaram idéias
sobre a necessidade da inexistência de mais de três dimensões?
Mas a simples aplicação de uma lei, com sua possibilidade de pertencer a uma
“dimensão superior”, estaria inevitavelmente ligada a uma quantidade de
“milagres” para nós, estranhos e inexistentes nas três dimensões. Além disso,
para os seres que vivem na dimensão superior, nossas técnicas mais
avançadas, tais como as viagens espaciais e a energia atômica, pareceriam
invenções canhestras e as condições de vida dos homens se assemelhariam às
da Idade da Pedra.
Tudo o que foi apresentado até aqui aos leitores serve como material para o
pensamento independente, e eles devem encontrar suas próprias soluções.
Você já sabe sobre a possibilidade de influenciar a matéria por determinadas
operações da consciência humana, baseada em recentes relatos tais como a
história do faquir que anda sobre brasas.
Para os que têm queda para a matemática, sugerirei aqui algumas possibilidades
relacionadas com a existência de dimensões superiores às nossas três
dimensões que, acreditamos, são bem conhecidas.
Essa terceira dimensão limita o mundo no qual acreditamos viver esta vida.
Agora vem o nosso ponto crucial. Vamos seguir a próxima dimensão usando (o
que é lógico, uma vez que estamos conscientes da lei da formação de
dimensões) um método semelhante. (Veja as figuras de 7 a 10.)
Tome uma unidade da nossa dimensão mais alta, isto é, um cubo, acrescente
outra, semelhante à primeira, e movimente-a na direção perpendicular, como foi
feito com a formação do cubo e do quadrado.
Você pode dizer que isso é inconcebível! Bem, mas um ser bidimensional diria
exatamente o mesmo se lhe falassem sobre o cubo ou sobre outro corpo
tridimensional, recusando-se a acreditar em sua existência! Todavia,
discordaríamos e permaneceríamos com o nosso conhecimento “superior” das
coisas, segurando o cubo em nossas mãos como prova.
Desse modo, podemos viver num mundo limitado, que é apenas um corte
transversal de uma dimensão superior, e assim imaginar que algo mais é
possível.
1) Pegue uma pequena caixa, uma caixa de fósforos, por exemplo, ou algo
parecido. Olhe intensamente dentro dela e estude-a de modo que todos os
detalhes fiquem firmemente impressos na sua mente e você possa então recriá-
la totalmente em sua imaginação, quando não estiver olhando para ela. Não é
fácil, eu sei, mas nenhuma tarefa importante, rica em resultados, jamais foi fácil!
3) Agora vem o verdadeiro teste: tente obter em sua mente a imagem do lado
interno e do lado externo dessa caixa simultaneamente. Se tiver sucesso, terá
enriquecido a si mesmo com uma certa ampliação da consciência que levará a
uma compreensão da possibilidade de dimensões mais elevadas.
Este exercício pode levar muito tempo (semanas ou meses) para ser feito com
perfeição. E é possível que você se sinta completamente incapaz de fazer isso.
Então deixe-o de lado; ninguém pode exceder seus verdadeiros poderes, e isso
não é essencial.
Após o término da leitura deste livro, duas possibilidades podem surgir. Talvez
você não se interesse pelo uso prático de seu conteúdo e o considere apenas
uma teoria para ser estudada, e que não encontra receptividade em você. Neste
caso, o epílogo acrescentará muito pouco aos capítulos que você deixou para
trás. Entretanto, alguns de meus leitores podem descobrir neste manual algo
pelo qual estiveram procurando, e ver nele o caminho que leva à sua desejada
busca de realização. Para estes, tenho algumas palavras a dizer.
Assim como o seu estudo normal, a MEDITAÇÃO requer persistência por parte
do aprendiz. Talvez ela se torne mais difícil porque será feita por sua própria
conta; esse será um estudo privado, que não lhe dará diplomas oficiais nem
representará uma fonte de subsistência, como os outros. Aqui não existem
sanções para quem não aprende direito, como nas escolas comuns, e você não
pode obter certificados vitais para o seu bem-estar material.
Se não devemos indagar sobre nada ao Todo-Poderoso, como filhos que oram
ao Pai, então que tipo de relação com Ele deve ser aceita? Certamente, somos
incapazes de ordenar algo a Ele, nem qualquer homem sadio aceitaria como
possível uma relação de igualdade com Ele, como com nossos companheiros.
Você conhece a “meditação e a prece muda”, e certamente pode ver que essas
habilidades não são conquistadas de um dia para o outro, mas são um “PONTO
CULMINANTE”, que só é alcançado após intenso trabalho.
Colocar uma meta realmente inatingível para toda e qualquer pessoa, não
importa o quanto ela possa ser “sublime”, significa impedi-la de dar os passos
intermediários, que são absolutamente necessários e essenciais a qualquer
realização. Pois, quando uma pessoa imatura tenta dar um salto à frente, um
salto além de suas possibilidades, obtém apenas desapontamento e frustração.
E ambos são nossos inimigos mortais.
Todavia, quando olho para o passado, descubro que o inverso que resulta de
um estudo da meditação sem persistência existe, embora num nível diferente.
Como eu me sentiria frustrado se tivesse abandonado, anos atrás, o estudo da
concentração e da meditação, tão entediante no começo, e que mais tarde
passou a ter um papel decisivo na formação do meu mundo interior!
É por isso que estou lhes dando tanta ênfase. Se você não as tem em quantidade
apreciável, minha admoestação não o ajudará, pois permanecerá sem resposta
em você. Mas se você está no ponto de escolher o seu caminho, e se esteve
interessado durante os trinta e três capítulos que acabou de ler, então este
epílogo poderá ser o grão que sugerirá a escala da sua decisão.
Talvez o clichê de sua futura Realização esteja esperando até você se
familiarizar com o material exposto aqui e, consequentemente, esteja agora à
sua frente.
Você já sabe como agir na presença de um clichê desejado. Mas não se esqueça
de que, se ele não for aceito, não permanecerá indefinidamente! Ele pode ser
perdido, assim como pode ser alcançado.
Este “milagre” não ficará escrito em sua testa e, provavelmente, ninguém a não
ser você mesmo o conhecerá. Mas o que importa? Alguém mais pode viver a
sua vida, e você pode ser liberado pelo fato de outra pessoa ter sido liberada?
Antes de começar minhas experiências com drogas, eu não acreditava que seria
capaz de me envolver em qualquer processo mental involuntário, constituído em
sua maior parte pelas visões e coisas semelhantes. Mas só a experiência poderia
dar uma resposta categórica. Assim, afinal, consegui organizar uma sessão com
três amigos, todos eles médicos que tinham feito experiências com psilocibina e
mescalina.
Contudo, foi na segunda sessão, para a qual convidei dois dos médicos que
estavam na primeira e um psicólogo (que tinha experiência pessoal com LSD),
para assegurar um pleno controle, que consegui obter resultados.
Denis (um dos médicos) tomou todas as precauções necessárias, testou meu
coração, a pressão sanguínea, os pulmões e, finalmente, me declarou apto a
prosseguir. Dessa vez, a dose foi bem maior, cerca de vinte e quatro miligramas.
O antídoto, para o caso de eu querer interromper a ação da droga, foi preparado,
assim como pequenas doses de brandy, para o caso de a náusea tornar-se
insuportável, como acontece às vezes com determinadas pessoas. Ronald, o
psicólogo, disse que gostaria de fazer alguns testes quando a droga começasse
a agir. Esperamos e conversamos por cerca de vinte minutos. Então, comecei a
sentir os efeitos da droga: forte pressão nos ouvidos, juntamente com uma leve
sensação de náusea na região do plexo solar. Então os rostos ao meu redor me
pareceram ter-se tornado cerca de vinte anos mais velhos: narizes alongados,
queixos proeminentes e expressões peculiares de selvageria em certos
momentos. Mas isso só ocorria quando eu permitia que a droga causasse
alucinações. A qualquer momento, um esforço de vontade era o suficiente para
restaurar ao mundo exterior a sua forma normal. A dra. Eva, que teve uma
experiência semelhante, afirmou que não conseguia interromper as ilusões.
“Mas isto é fácil”, observei-lhe, “pois, pelo que me afirmou, minha dose foi maior
do que a sua.”
A essa altura, Ronald, com a caneta na mão, pedia-me para descrever a sala,
como eu a via nos primeiros estágios da droga. “Nada mudou”, respondi, “sinto
apenas como se a levitação estivesse tomando conta de meu corpo, mas só se
eu o permitir. Posso interromper isto no momento em que quiser.”
Então nós quatro nos sentamos e conversamos calmamente, enquanto minha
esposa estava ausente preparando o jantar, que seria servido duas horas mais
tarde, cerca de oito horas da noite, na mesma sala. Nesse meio tempo, a náusea
tornou-se mais insistente e desagradável, embora de modo algum ficasse fora
de controle. Mencionei isso a Denis; ele tirou minha pulsação e examinou minhas
pupilas. “Tudo certo!”, declarou. “Mas se não estiver se sentindo bem, tome um
pouco de brandy quando quiser e acabe com isso.”
— Podemos compreendê-lo muito bem — disse Ronald —, não fale se isso for
penoso para você!
— Penoso para mim? — Como algo penoso poderia me tocar, então? Minha
náusea fora esquecida e eu sabia que meu corpo estava fluindo de bem-estar.
— Bem — disse Ronald —, vamos fazer um teste preliminar. Você consegue ver
esta sala e todos nós? Se consegue, como percebe cada coisa?
Abri os olhos e disse: — Tudo está normal, nenhuma visão. Entretanto, quando
fecho novamente os olhos, sei que para permanecer atento a este mundo
maravilhoso da Realidade, no qual estou agora, devo evitar minha visão física.
Ela não é necessária, pois posso ver o rosto de vocês, com as pálpebras
fechadas, se eu quiser. Indiferença, liberdade feliz e harmonia absoluta são uma
parte infinitesimal de meu estado atual, que posso descrever em palavras. É
semelhante à minha primeira experiência de consciência espiritual, feita no verão
de 1949 aos pés do Rishi indiano Ramana. Mais tarde, esse mesmo estado foi
provocado muitas vezes pela meditação profunda baseada na completa
concentração da mente pela exclusão de todos os pensamentos; mas ele
requeria sempre a quietude do corpo, o desligamento de todos os sentidos e a
impossibilidade de falar, de ouvir ou de se mover. E, durante o tempo todo, era
preciso ter cuidado para não ser lançado de volta para o mundo físico pela
interrupção da concentração. Mas, agora, tudo é tão simples, sem nenhum
esforço! Eu sou essa concentração, e, quando entro em contato com o mundo
abandonado, trata-se apenas de uma concessão, como se eu tivesse descido
um pouco.
Olhei através de minhas pálpebras fechadas e disse: — Pelo contrário, pois não
vejo as personalidades de vocês, suas expressões perecíveis, mas só o que
realmente são, além de todas as limitações, como eu sou agora. — E senti um
desejo irresistível de me unir a todos eles, que estavam sentados ao redor da
mesa, em minha esfera mágica de consciência absoluta, de paz e de felicidade
indescritíveis. Então, eu disse devagar, com a devida gravidade: — Venham aqui
comigo, a este estado de Verdade, de Eternidade; estejam comigo, tão felizes
quanto eu estou!
— Nós tentaremos — disse Ronald —, penso que tenho uma idéia acerca da
sua experiência atual, pois passei por algo semelhante, só que de um modo
rápido e talvez incompleto.
Então Denis disse: — Eu gostaria de estar com você, deve ser maravilhoso!
E senti que minha vontade estava sendo cumprida, pelo menos em parte, pois o
rosto de Ronald ficou solene, inspirado, a cabeça levantada para cima, os olhos
fechados. Denis segurou a cabeça nas mãos, concentrando-se fortemente e com
intensidade, enquanto Eva tinha um meio sorriso no rosto; estava calada, mas
evidentemente em sintonia com o nosso círculo mágico. Fez-se silêncio, e esse
silêncio poderia persistir para sempre: quem iria querer interromper aquela
herança espiritual que se tornara acessível para nós? Eu tinha encontrado a
Coisa, a única importante, diante da qual tudo o mais é apenas ilusão e fumaça
passageira. Disse isso para meus três amigos e continuei: “Tentem descobrir
isso; está além de tudo. Quando A tiverem, nada mais será necessário. Tudo é
ilusão, a não ser este Estado de Verdade!”
Então ouvi sua voz, perto de meu ouvido, de modo que os outros não pudessem
ouvir. — Você pode me dizer alguma coisa sobre minha encarnação anterior? O
que me espera no futuro? Cristo viajou muito, antes de Seus três anos de
pregação? Você pode ver se é verdade o que dizem sobre Jesus ter tido irmãos?
A Virgem Maria realmente teve outros filhos além de Jesus?
Eu sabia que essas perguntas poderiam ser respondidas, mas para quê? Tendo
perdido minha própria personalidade e estando absolutamente livre de todas as
limitações da vida individual, limitada, como eu poderia imergir novamente no
mundo da relatividade, das perguntas, dos desejos? Se tudo isso não existia
para mim, deveria acontecer o mesmo para meus amigos. Eles não seriam
elevados caso satisfizessem sua curiosidade.
Expliquei isso a Denis e ele relutantemente aceitou meu ponto de vista. Mas
havia algo que eu precisava dizer a ele, pois a Verdade assim me compelia:
— Denis, sei que Cristo nunca deixou a Palestina, e que a Virgem Maria nunca
teve relações físicas com nenhum homem.
— Se seu estado foi basicamente semelhante aos que teve antes, pelo seu
próprio esforço, então a droga foi como a porta dos fundos do mesmo templo,
que dá acesso sem qualquer esforço — disse Ronald argutamente.
— Sim, é o que parece — repliquei. — Mas essa porta dos fundos só pode ser
aberta por aqueles que já estiveram no templo, que entraram pela porta da frente
por seu próprio esforço.
— Julgando pelo fato de que a maioria das pessoas que a tomam não têm
nenhuma experiência espiritual, mas simplesmente visões e alucinações, que
aumentam suas próprias faculdades mentais e sua memória, parece-me que as
drogas executam apenas as funções de uma lente de aumento, operando sobre
os valores existentes no homem. Mas elas não podem “criar” ou “acrescentar”
nada. Não existe nenhuma sabedoria a ser alcançada pelas drogas, e nenhuma
revelação pode ser produzida.
Mas podemos recomendar o uso dessas drogas para qualquer pessoa? Isso
seria o maior erro, o maior absurdo, pelo que acabamos de ver. Só os que são
capazes de, antes, excluir os desejos de suas mentes podem contar com uma
verdadeira experiência espiritual. Para todos os outros, a lente de aumento da
droga só ampliará suas fraquezas e fragilidades. Nenhum homem de bom senso
deve ingressar num caminhão tão inútil e perigoso. É isso que devemos saber.
Bibliografia
Sadhu, Mouni, Trilogia (In days of great peace; Concentration; Samadhi (“Dias
de Grande Paz”; “Concentração”; “Samadhi”); Theurgy: the art of effective
worship (“Teurgia: a arte da devoção efetiva”); Ways to self-realization
(“Caminhos para a auto-realização”).