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Mouni Sadhu

MEDITAÇÃO
Princípios gerais para a sua prática

UNIVERSALISMO
Sumário

Prefácio

PRIMEIRA PARTE — PRELIMINARES TEÓRICAS

1 — Definição de meditação

2 — A ciência dos clichês

3 — Adaptações das leis dos clichês

4 — Respostas a algumas questões básicas

5 — As possibilidades de realização pela meditação regular

6 — Obstáculos à meditação

7 — Auxílios no caminho da meditação

8 — Outras perguntas respondidas

9 — Diferentes tipos de meditação

10 — Subconsciência e hiperconsciência

SEGUNDA PARTE — TÉCNICAS DE MEDITAÇÃO

11 — As principais dificuldades para os iniciantes

12 — Exercícios introdutórios – série I

13 — Exercícios introdutórios – série II

14 — Exercícios introdutórios – série III

15 — Meditação elementar – série IV

16 — Meditação intermediária – série V

17 — A criação de clichês

18 — Meditação em diagramas
19 — Japa

TERCEIRA PARTE — MEDITAÇÃO REGULAR

20 — Um grupo ético de meditações – série I

21 — Meditações de Sankaracharya – série II

22 — Da sabedoria do Maharshi – série III

23 — Exercícios que lidam com a mente – série IV

QUARTA PARTE — MEDITAÇÃO AVANÇADA

24 — O Sermão da Montanha – série I

25 — Meditação sobre o mestrado – série II

26 — Meditação sobre Deus – série III

27 — Meditação sobre A imitação de Cristo de Thomas à Kempis – série IV

28 — Os axiomas da verdade e o Bhagavad-Gita – série V

QUINTA PARTE — INTRODUÇÃO À CONTEMPLAÇÃO

29 — A meditação muda

30 — A prece muda

31 — A contemplação como uma síntese da meditação e da prece

32 — Poderes místicos da contemplação

33 — A possibilidade de milagres

Epílogo

Bibliografia
Acredito que, mesmo no atual
período de perda total dos valores morais
e espirituais, ainda existem
almas vivas, inteligentes e
suficientemente inspiradas para não se deixarem
tragar pela tendência
à frustração predominante.
É para elas que escrevo.
Prefácio

Durante o século XX, o termo “meditação” tornou-se muito popular entre os


intelectuais de orientação filosófica e ocultista. O motivo evidente foi o interesse
dominante pelo ocultismo e o misticismo oriental no início da virada do século. A
princípio, o ocultismo e o misticismo atraíram apenas alguns membros da
intelectualidade, mas após a Primeira e a Segunda Guerras Mundiais, o
movimento tornou-se popular e alcançou outros setores da sociedade ocidental,
ao mesmo tempo que floresciam de um modo sem precedentes todos os tipos
de associações e grupos ocultistas, que não eram dirigidos apenas aos
“escolhidos”, mas a toda e qualquer pessoa.

Em breve, todos os membros das diversas organizações começaram a se


considerar qualificados para entender e julgar os assuntos ocultistas que
encontraram no número sempre crescente de livros que tratavam da chamada
“popularização do ocultismo”.

Os resultados disso podem ser vistos hoje em dia ao nosso redor, e não há
necessidade de salientar detalhes para um leitor com discernimento. Basta
observar, e ele logo encontrará a verdade por si mesmo.

Neste livro tratarei do termo meditação, tão mal utilizado e pouco compreendido
— quando, na verdade, deveria ter um lugar de honra entre os esforços mais
elevados e inspirados do homem — para descobrir a Verdade real de si mesmo
e tomar seu devido lugar na vida consciente, livre das limitações da matéria
bruta, como é o seu revestimento temporário e mortal, no qual nenhuma
Realidade ou Verdade jamais pode ser encontrada.

Mas a meditação é uma ciência, uma arte, que requer preparo e estudos sólidos,
como todo ramo do conhecimento humano, com a diferença de que a média
intelectual pode competir muito bem com os “graus” oficiais, mas o mesmo não
pode ser dito sobre conquistar a habilidade para meditar. Onde reside a causa
disso? A ciência oficial lida com as experiências passadas dos homens; portanto,
o professor ensina aos alunos o que ele mesmo foi capaz de aprender e
descobrir em seu campo particular de estudo. Os estudantes tentam então
assimilar, memorizar e usar esse conhecimento adquirido de acordo com suas
necessidades, algumas vezes desenvolvendo-as depois, se sentirem atração
pela matéria. Sem dúvida, os estudos desenvolvem seus cérebros e os
preenchem com uma quantidade de fatos memorizados, fórmulas, teorias, leis,
etc.
Mas não devemos perder de vista o fato de que todos os exames pelos quais
passamos em nossa vida escolar são requisitos padronizados, impostos e
fixados por aqueles que possuem maior conhecimento num campo em particular.
Estarão eles interessados nas habilidades reais dos alunos, além das respostas
satisfatórias e da solução dos problemas propostos nas provas?

Supõe-se que a memória, a concentração, a habilidade de orientação, etc.,


cresçam automaticamente durante os anos de estudo; contudo, elas ainda são
medidas pelos graus de dominação de um ramo particular do conhecimento
humano. Elas não são o principal objetivo ou a principal consideração. É por isso
que temos bons, mas não ótimos, cientistas, médicos, engenheiros, etc. Todos
são produtos das mesmas universidades, todos receberam seus diplomas, mas
há uma enorme diferença entre eles. Esta é a prova de que existe algo no
homem, além da capacidade de meramente aceitar a cota média de
conhecimento oferecida a ele durante seus anos de aprendizagem.

Mas as coisas se passam de um modo totalmente diferente no que diz respeito


à ciência da meditação. É a HABILIDADE de reger a própria mente em todas as
circunstâncias a única que conta, e não o acúmulo de assuntos memorizados e
utilizados que pertencem à manifestação inferior dos poderes da nossa mente.
Isso nunca surge no grau mais elevado de desenvolvimento da consciência
humana. Funciona acima e além da mente, embora abranja seus domínios do
mesmo modo que um homem, estando de pé no alto de uma montanha, ao
contemplar o vasto horizonte, pode ver também os objetos próximos a ele.

Esse relacionamento deve ser bem compreendido durante seu estudo futuro do
assunto, de modo que você seja capaz de discriminar entre o conhecimento
armazenado em seu cérebro e a HABILIDADE para usar o cérebro em qualquer
direção que precisar, e não apenas na que lhe é ensinada na escola.

O que a MEDITAÇÃO significa realmente? Ela é a retenção dinâmica de nossa


percepção sobre um tema ou assunto escolhido. É claro que esta é apenas uma
definição muito elementar, mas neste estágio não a ampliaremos, pois devemos
antes perceber quais as condições necessárias para a prática mental que
chamamos de meditação. É a HABILIDADE PARA MANTER
INABALAVELMENTE SUA PERCEPÇÃO SOBRE UM TEMA ESCOLHIDO,
PELO TEMPO QUE VOCÊ DECIDIR CONTINUAR COM ELE. Acredito que não
preciso dar maiores explicações, pois todo mundo descobrirá o verdadeiro nome
dessa habilidade: é o poder de CONCENTRAÇÃO. Sem ela, a tentativa de
meditar não será nada mais que uma flutuação desgovernada nas ondas de
pensamentos da própria pessoa, onda que vem de uma fonte desconhecida e
desafia os esforços para colocá-los em ordem de acordo com um plano
preconcebido.

Frequentemente tenho ouvido de pessoas incompetentes e iludidas que elas


“meditam” sentadas confortavelmente em poltronas macias e soprando a fumaça
de seus cigarros, enquanto pensam passivamente em qualquer assunto que
queiram. Como é de se esperar, os resultados são apenas frustrações, nada da
esperada iluminação e, no final, ceticismo em relação a tudo o que se relaciona
com o mais elevado desenvolvimento do homem.

É por isso que sou compelido a fazer a seguinte afirmação: antes de embarcar
no estudo prático deste livro, você deve invariavelmente se familiarizar com:

a) a teoria da concentração, e

b) desenvolver em si mesmo, por meio de exercício, um certo grau de dominação


de seu pensamento principal. Esse trabalho corresponderá pelo menos a duas
séries bem executadas de exercícios.

Tudo isso faz parte do meu trabalho básico, Concentração, publicado pela
primeira vez em 1959. O livro Samadhi, especialmente a terceira parte, também
é recomendado para se ampliar o conhecimento dos temas para a meditação.

Deste ponto de vista, o presente trabalho é como uma continuação dos dois
livros acima mencionados, e estou escrevendo isso supondo que os meus dois
livros anteriores sejam conhecidos por você. Será impossível repetir em
Meditação o material já exposto em outros livros.

Naturalmente, muitos livros têm sido publicados sobre o assunto meditação, e


alguns deles elucidam bem determinados aspectos dessa importante arte. Meu
objetivo é fechar todas as brechas existentes e dar, assim, ao estudante um
manual através do qual ele possa ser capaz de obter um razoável conhecimento
teórico do assunto, além de um guia sistemático para o desenvolvimento de
habilidades práticas.

Você deve compreender claramente que a idéia popular (mas tão ilusória)
propagada por determinadas organizações pseudo-ocultistas e pseudo-
filosóficas: “Qualquer um pode meditar” é um absurdo total.

É possível atravessar o canal da Mancha sem saber nadar? Você pode dirigir
um carro depois de ler uma dúzia de manuais sobre montagem de motores e
como dirigir, sem passar várias horas praticando com um instrutor experiente?

No momento, os termos “ocultismo”, “psicologia oculta”, “iniciação” e outros são


bem conhecidos da maior parte dos intelectuais. Mas existe muito joio no que se
supõe ser o trigo oculto. Escrevi detalhadamente a respeito desse triste fato no
capítulo 44 do livro Caminhos da auto-realização. Mas para uma discriminação
segura, até uma breve norma será suficiente: procure pelo bom senso do
começo ao fim de um livro e, se não puder encontrá-lo, rejeite o trabalho, pois
então ele não é de nenhum valor para você nem para ninguém.
Existe uma desafortunada desproporção entre o conhecimento materialista e a
psicologia prática, que, afinal, é apenas outro nome para o verdadeiro ocultismo.

Qualquer sábio concordaria em que há leis absolutas que regulam as


manifestações físicas da vida, como conhecemos pela ciência oficial, e ninguém
se atreveria a questioná-las sem ser considerado (de modo totalmente
justificado) um ignorante, mas apenas alguns supõem, e menos ainda
positivamente sabem, que as manifestações invisíveis da vida, como, por
exemplo, os processos de sentimento e pensamento, também estão sujeitos a
leis definidas que controlam e regulam esses processos ocultos, assim como
muitos outros que se encontram além dos poderes da mente concreta.

Os que durante o curso de suas vidas aprenderam a conhecer essas leis e a


fazer uso prático delas — como o químico ou o físico fazem em sua profissão —
saberão o significado do sorriso que acabei de dar. Em face do problema da
ciência da meditação, coloco-me a tarefa de explicar as leis a ela relacionadas e
a indicar as técnicas necessárias para a sua prática.

Consequentemente, este trabalho não será um discurso de fácil entretenimento,


e este não foi o meu objetivo. Minha esperança aqui baseia-se no fato de ter
recebido inúmeras perguntas sinceras de meus leitores de todas as partes do
mundo de língua inglesa, além daqueles que utilizam as traduções de meus
livros. Isso prova que, felizmente, ainda existem muitas pessoas que levam a
sério sua vida interior e desejam conhecê-la e controlá-la positivamente.
Portanto, estou dedicando o presente estudo a elas.

A primeira parte trata da teoria elementar da meditação, com a qual todo


aspirante deve estar familiarizado. As técnicas e textos convenientes das
primeiras e mais simples formas de meditação estão incluídos na segunda parte.
Para um posterior desenvolvimento, o uso do poder mental é incluído na terceira
e na quarta partes. Finalmente, a mais alta forma de dirigir a percepção, além
das formas verbais dos capítulos anteriores, é apresentada na quinta parte como
contemplação, na qual a consciência opera além do domínio da mente pensante,
e todo o movimento dela cessa, absorvido pela idéia contemplada. Em outras
palavras, o objetivo da verdadeira meditação é chegar a este estágio final:

O SUJEITO E O OBJETO TORNAM-SE UM SÓ.

As conclusões são alcançadas no epílogo, unindo a contemplação obtida à


chamada “Prece Muda”, como foi praticada por alguns santos eminentes, e
introduzindo o estudante no “mundo misterioso” do Espírito e da Realidade
suprema que nele reside.

Limitei intencionalmente a bibliografia a apenas alguns livros que contêm


material em comum com o presente trabalho. Isso foi feito a fim de não dispersar
a atenção do estudante, direcionando-a para trabalhos e sistemas
desnecessários, pois seriam de pouca ajuda e destituídos de caráter prático.

O assunto é bastante árduo, e a força e o tempo humano são limitados. Portanto,


a economia em relação a eles significa ajuda e maior ênfase no fator fundamental
da concentração na principal tarefa escolhida.

Antes de começar este livro, você está autorizado a me fazer uma importante
pergunta e obter sua resposta a ela: SOB QUAIS CONDIÇÕES POSSO TER A
ESPERANÇA DE OBTER PROVEITO TOTAL DESTE LIVRO? VOCÊ PODE ME
GARANTIR O SUCESSO?

A principal condição será tratar este curso do mesmo modo que o fez com os
estudos obrigatórios, pelos quais passou para receber seus diplomas. Isso
significa ter que executar tudo o que está prescrito sem omitir ou abandonar
qualquer coisa por causa das dificuldades encontradas. Além do mais, se você
abandonasse certas partes de seus estudos, por exemplo, a álgebra,
simplesmente porque são entediantes, poderia passar pelos exames finais?
Você sabe que não.

Nessas circunstâncias, isto é, se você continuar até o final do curso, sua garantia
será a própria realização do autor neste campo, assim como muitos daqueles
que trabalharam de modo semelhante e receberam sua recompensa, a qual não
trocariam por nada no mundo.

Pelo que foi dito, você já viu que este livro não é para débeis mentais, mas para
homens e mulheres inteligentes e de bom senso. Um “iniciado”, ou homem que
é capaz de se tornar um iniciado, ESTUDA E COMPREENDE, enquanto um
“leigo”, incapaz de assim o fazer, apenas LÊ E FALA. Nisso reside toda a
diferença entre os homens. Portanto, um cientista bem versado em seu próprio
ramo particular de conhecimento é iniciado nele, enquanto uma pessoa
ignorante faz apenas suposições. Este é o nosso ponto de vista.
PRIMEIRA PARTE

PRELIMINARES
TEÓRICAS
1
Definição de meditação

O mais elevado instrumento para o ser humano médio atual é sua mente, com
seu órgão físico, o cérebro. Este fato é de fácil comprovação. Quando Descartes
propôs pela primeira vez seu famoso “Cogito ergo sum” (Penso, logo existo),
expressou essa idéia de um modo totalmente categórico. E para a maior parte
da humanidade nos dias de hoje isso parece estar certo.

É muito comum ouvir as pessoas dizerem: “Estou com a cabeça repleta de


pensamentos”, pois elas realmente sentem que sua consciência está localizada
no cérebro. Essa convicção tem um duplo aspecto: (A) é verdadeira num sentido
e (B) errada em outro. Portanto, vamos examiná-la mais de perto.

Quando nosso processo de pensamento está diretamente ligado ao mundo físico


e seus acontecimentos, estamos usando a parte mais baixa de nossa mente, e
então operamos no campo bem conhecido de reações quase automáticas aos
acontecimentos que nos circundam. Por exemplo, alguém nos diz que podemos
vender alguma coisa de modo lucrativo, ou comprar um objeto de valor por bom
preço. Então, sem entrar em considerações futuras, nosso cérebro produz o que
acreditamos ser a decisão “natural”, isto é, explorar uma possibilidade e agir de
acordo com ela. Alguém nos pede para pagar uma conta, a qual acreditamos já
termos pago, e começamos a procurar provas tais como recibos, testemunhas,
e assim por diante.

Isso tudo e miríades de atividades similares de nossa mente inferior, as quais


encontramos diariamente em nossa vida, são derivadas do treinamento
puramente técnico que nosso cérebro recebe durante os anos de maturidade.

Quanto mais vasta nossa experiência, mais nosso cérebro inferior está pronto
para reagir rapidamente desse modo tradicional. E assim fazendo, podemos de
fato sentir que é “nossa cabeça” (na verdade, seu “conteúdo”) que está
trabalhando a partir de reações e soluções de problemas similares. Se você está
interessado em informações, encontra-se justamente nesse nível de nosso
cérebro-consciência, o qual está envolvido principalmente com sonhos comuns,
em geral tão sem sentido e evidentemente apenas um tipo de repetição
automática — com muitas imperfeições — de nossas atividades ou memórias
diárias. Se pensamos intencionalmente a respeito de um determinado problema
durante o dia e continuamos esse processo especialmente um pouco antes de
dormir, o cérebro aparentemente trabalha no nível subconsciente durante a
noite, e algumas vezes acordamos com uma solução pronta, à qual não
havíamos conseguindo chegar na noite anterior.

Para aqueles que se sentem curiosos sobre esse estranho fato, posso dizer que
a explicação está na descoberta do clichê da solução de um modo
subconsciente, pois nosso intenso e prolongado desejo de descobrir algo é como
um magnetismo que atrai os clichês correlatos do mundo invisível, o qual
podemos chamar tradicionalmente de plano astro-mental. Uma explicação
completa desse importante termo “clichê” será dada com destaque nos próximos
capítulos.

Aqui, estou me limitando a expor a ligação que uma determinada parte de nossa
mentalidade humana tem com o órgão físico, que é responsável por transmiti-la
à ação em matéria, isto é, o item A do começo deste capítulo, e as considerações
que o mantêm.

Mas, do outro lado da mesma moeda, a afirmação contrária, o item B, nos dirá
algo diferente. A causa situa-se no fato de o nosso processo de pensamento não
estar de modo algum limitado aos acontecimentos, como no item A. Portanto, B
é válido por este outro aspecto. A mente humana pode ter idéias que não estão
relacionadas apenas com as necessidades e desejos diários do homem, mas
também com um número infinito de pensamentos obscuros, livres de todos os
apegos materiais, frequentemente nem mesmo adequados para serem incluídos
no processo usual de verbalização. Você não pode ter idéias a respeito, por
exemplo, de beleza, lealdade, amor, impaciência, depressão e assim por diante,
sem formar alguma imagem material ou fazer ligações com objetos e
sentimentos? A maioria das consciências mais desenvolvidas são perfeitamente
capazes de competir com um processo mental tão alto, sem sentir
absolutamente que estão limitadas e fixadas em seus crânios. Uma estranha
mas verdadeira consciência de liberdade do elo material desenvolve-se
naquelas pessoas que persistem em operar nesse tipo particular de atividade
mental.

Portanto, neste caso, a afirmação B é verdadeira, mas a A, não. Nos capítulos


introdutórios deste trabalho tentarei explicar a tendência básica da psicologia, a
qual é necessária para um entendimento dos métodos e objetivos da verdadeira
meditação, do modo mais simples possível, como talvez você já tenha
observado. Isso porque o assunto não é fácil mesmo com esta assistência; e a
apresentação de teorias complicadas e a citação de outros autores que
escreveram sobre matérias a elas relacionadas (mas não idênticas) só
distrairiam o estudante de seu verdadeiro objetivo. Para finalizar esta breve
análise, quero salientar que a meditação está relacionada e opera apenas com
o tipo de processo mental B. Em outras palavras, o aspirante que está
meditando, ou tentando meditar, não precisa voltar para o caminho primitivo de
pensamento descrito em A.

Seu verdadeiro campo será, pelo contrário, o dos processos de pensamento que
não estão presos ao cérebro. Quer dizer, o tipo de processo que pertence à
categoria A.

Você pode ver imediatamente por si mesmo que essa afirmação implica uma
consequência lógica e natural. Nem todo mundo pode meditar, mas apenas
aqueles que se encontram felizes com o modo B de pensamento. Isso se refere,
é claro, apenas àqueles períodos de seu dia nos quais está livre da compulsão
da subsistência e de problemas similares que precisam ser solucionados. Não
se esqueça disso, pois você não pode, e não será capaz de dedicar (pelo menos,
por um período muito extenso de sua vida na forma corporal), todo o seu tempo
à meditação, não importa o quanto se considere devotado a isso.

E isso não é de modo algum necessário para o desenvolvimento harmonioso de


um ser humano em evolução. Vamos expor o assunto da maneira mais clara e
prática possível, pois prática significa REALIZAÇÃO, enquanto deliberações
teóricas levam apenas à frustração.

As palavras eternas: “Dê a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus”


são aqui a pedra fundamental de seu futuro templo interior. Todos nós — exceto
aqueles que há muito transcenderam o nível de humanidade, mas que mesmo
assim continuam a voltar aqui a fim de dar assistência aos verdadeiros e sinceros
aspirantes da verdade — temos de trabalhar em meio a contínuos e persistentes
binários, tais como: espírito e matéria, inspiração e depressão, felicidade e
sofrimento, luz e escuridão, paz e ansiedade, etc. Você pode adicionar a esses
inúmeros outros dilemas, de acordo com sua própria experiência, uma vez que
tenha compreendido o significado genérico dos que foram enumerados.

Mas procure concentrar-se imediatamente nas soluções para a sua vida, pois,
sem isso, seus esforços em meditação podem ser frustrados. A filosofia básica,
a filosofia com a qual você vive, é a base do seu sucesso. Portanto, lembre-se
também da lei da periodicidade ondulatória, tão conhecida de todos os
verdadeiros ocultistas, e na qual consistem invariavelmente as encarnações
humanas. Ela é graficamente representada por uma curva sinuosa na figura 1.
Com tudo isso, você estará armado contra as dificuldades e incompreensões
iniciais e subsequentes.

A linha reta central X-Y representa um movimento ou nível estático, inalterado;


o ponto mais alto dos arcos, o “a”, indica os picos de exaltação (júbilo positivo),
enquanto o ponto “b” mostra as depressões correspondentes, ou falácias. Você
pode se ajustar a todos os eventos de sua vida por este diagrama; tanto aos de
expansão e júbilo (ou, simplesmente, de felicidade), quanto aos de depressão e
desânimo (ou de infelicidade). A filosofia derivada disso será a compreensão de
que a vida segue esse padrão ondulatório, isto é, sobe e desce. Mas não se
esqueça de que há uma linha média, X-Y, com pontos “c”, a qual significa
equilíbrio absoluto — constância, ou paz plena, o ideal da Realização espiritual,
a herança eterna do Ser Perfeito.

Algum dia, após uma eternidade de lutas e progressos, você descobrirá esse
Reino de Deus, esse Nirvana, ou Realização final, e não haverá mais nenhuma
flutuação da curva sinuosa.

Como esse padrão se ajusta à meditação! Mas nós ainda estamos no início do
trabalho, portanto, vamos deixar isso para os últimos capítulos, quando
deveremos estar preparados para essa tarefa. Estou dando aqui apenas uma
idéia proveitosa para um início feliz.

Agora podemos nos aproximar mais do objetivo deste capítulo, de modo a


obtermos as primeiras instruções sobre o que é meditação, em comparação com
sua irmã gêmea chamada concentração. Como foi mencionado, o aspirante à
meditação deve ter como condição preliminar (e definida também) a passagem
pelas três primeiras séries do livro Concentração, isto é, dos capítulos 15 a 18.
Mas os capítulos de 1 a 17 também devem ser lidos atentamente várias vezes,
e plenamente compreendidos. Os exercícios em si são tratados com especial
destaque na terceira parte do livro, cujos capítulos de 15 a 18 deverão ser vistos
como um guia prático e um manual a ser seguido.

Portanto, falarei agora da pretensão com que este trabalho preliminar foi
devidamente executado, portanto, do alfabeto da meditação que foi estudado
com sucesso.

Não seja apressado, pois isso pode frustrar até mesmo as melhores intenções.
Compreenda, além de qualquer dúvida, que, trabalhando ao longo das linhas
presentes, você estará trabalhando não apenas por uma encarnação, mas pela
eternidade. Você estará aprendendo a dominar habilidades que o acompanharão
para sempre, e não meramente preenchendo sua mente com conhecimentos
mortais, os quais podem ser úteis apenas para a presente encarnação e para as
condições deste planeta. Chegando ao outro mundo, você novamente terá de
adquirir conhecimentos condicionais similares. Espero que seja capaz de
compreender que, mesmo segundo simples cálculos matemáticos, surgidos do
fato reconhecido até pela astronomia oficial, existem bilhões de sóis com seus
planetas nas inumeráveis galáxias do Cosmos. Não tomarei sua atenção com
citações, apenas completarei dizendo que a existência de planetas habitáveis
que servem de base para seres inteligentes está além de qualquer dúvida
razoável. É simplesmente um resultado da combinação do número de galáxias
e seus sistemas solares e a derivação, pelos cálculos de probabilidades, da
necessidade para a existência de tais planetas.

A compreensão plena de nosso papel no universo e a variedade de condições


de nossa existência dão uma maravilhosa extensão de nosso horizonte mental,
próxima ao êxtase. Isso porque o aroma da imortalidade é então sentido de um
modo sutil, mas irrefutável. Podemos começar a perceber a maior de todas as
verdades acessíveis aos filhos do Homem: que somos imortais, que nós, na
verdade, estamos NA CONSCIÊNCIA, a qual é eterna e sinônima do termo
“Espírito”. Não somos nossos corpos perecíveis, não importa quais substâncias
formem seus componentes.

Ao utilizar o termo “realização” refiro-me, é claro, não apenas a uma concepção


mortal, ou teórica, a qual pode vir e ir, mas exatamente ao conhecimento como
parte de nós mesmos, em outras palavras, que está em nós e além de nós.

É árduo prolongar esta explanação, a qual pertence à consciência que


transcende os termos de uma linguagem que é aceita, conhecida e vivenciada
por todos. Ao falarmos a respeito, por exemplo, de uma mesa, a maioria
esmagadora dos homens nos compreenderá prontamente. Ao falarmos da curva
de Pascal, ou de uma hipérbole, apenas algumas pessoas, isto é, os
matemáticos, compreenderão e aceitarão as provas da existência de ambos.

Mas a “Realização”, no sentido usado, não é uma experiência de muitos homens


e tampouco pode ser enquadrada numa combinação de elementos lógicos,
conhecidos e expressos pela linguagem da mente, nem se desdobrar em
componentes similares e, desse modo, finalmente tornar-se acessível à mente
externa.

Portanto, gostemos ou não, este é um fato e nada pode mudá-lo. Não obstante,
um tipo de consolo existe. Aqueles que vivenciaram a Realização sempre a
reconheceram, embora fossem incapazes de expressá-la em palavras.

Na língua francesa, tão admiravelmente adaptada à mais sutil espécie de


pensamento filosófico, há uma bela expressão: “l”odeur de sainteté”, isto é, “o
odor da santidade”. Usando o mesmo idioma, podemos dizer “o odor da
Realização”, numa tentativa de definir o indefinível.

Por meio da meditação profunda, um homem pode chegar a essa Realização,


mas apenas sob certas condições. Nada melhor do que citar Maharshi, esse
Mestre Espiritual de nossos dias, que partiu há não muito tempo, quando
respondeu às numerosas perguntas a respeito dos obstáculos que impediam
seus discípulos de chegar à Realização deste modo: “O PROBLEMA É SUA
MENTE ERRANTE E OS MEIOS PERVERTIDOS”, com o significado evidente
de “meios de vida”. Não posso encontrar nada mais próximo do que esse dito
exato e breve. Ambos os obstáculos precisam certamente ser removidos antes
que possamos meditar como pretendemos. Falamos a respeito da “mente
errante” no livro Concentração, mas o que dizer dos “meios de vida pervertidos”?
Para a pessoa iniciada não existem dúvidas ou indagações a respeito disso, pois
ela conhece a si mesma, sabe qual linha deve seguir em seu caminho. Contudo,
em todo homem há um critério para o qual ele sempre pode apelar quando
necessita: sua própria consciência. Conhecemos definitivamente o que está
certo e o que está errado, basta estarmos dispostos a abordar nosso critério mais
íntimo com sinceridade plena e incondicional.

Infelizmente, a experiência e a observação nos mostram que essa virtude cordial


de sinceridade interior não é “popular” entre os homens e mulheres deste século.
Pelo contrário, acontece justamente o oposto: enganos e mentiras parecem
dominar os horizontes moral e intelectual da humanidade nesta época infeliz e
conturbada. Portanto, o que posso dizer em face de tais circunstâncias?

Se a perversão dominou a consciência do homem tão profundamente que ele


não pode nem discriminar entre o bem e o mal, é prematuro falar-lhe sobre
meditação, pois a condição da mente como descrita em A, no início deste
capítulo, a exclui.

Entretanto, se ainda existe uma pequena luz nele, então boas palavras podem
ajudá-lo. Deixemo-lo ler e pensar a respeito, por exemplo, dos DEZ
MANDAMENTOS, do SERMÃO DA MONTANHA, dos VERSOS DE OURO DE
PITÁGORAS, da Vida dos Santos, das Enéadas de Plotino e de todos os outros
escritos reconhecidos como verdadeiramente espirituais. Enumerei aqui apenas
alguns títulos como exemplos de diferentes abordagens para a mesma verdade
interior. Desenvolva-as como sentir melhor. Ninguém pode escolher por você.

Dentre os obstáculos, a maior parte de natureza física, que são óbvios para todo
mundo estão: a imoralidade, a desonestidade, a raiva, a mentira, as paixões, os
maus hábitos, a falta de força de vontade 1 e a falta de estabilidade e resistência.
Trabalhando com o que foi dado aqui, você provavelmente será capaz de
completar a “lista” por si mesmo.

1. Veja o final do capitulo 15 de Concentração, 2ª ed., 1964.

Finalmente, chegamos ao término deste capítulo, e agora se requer uma


definição positiva do termo MEDITAÇÃO.

É a “DIREÇÃO ATIVA, CONSTANTE DE SUA CONSCIÊNCIA PARA UM TEMA


ESCOLHIDO, SEM QUAISQUER DESVIOS OU OMISSÕES, MANTENDO-O
DIANTE DE SUA MENTE PELO TEMPO NECESSÁRIO”.
2
A ciência dos clichês

Vocês logicamente concordarão comigo que, a fim de começar o estudo da


meditação, os aspirantes devem conhecer certas leis correlatas e suas
aplicações antes de começarem a praticar. Do contrário, a mente despreparada
certamente os desviará do caminho. Durante este curso, você encontrará muitas
provas para sustentar essa afirmação, mas as leis devem ser conhecidas de
antemão.

Há diferentes leis que regem a vida física e mental do homem, e algumas delas
dizem respeito à meditação. Será sobre elas que iremos tratar na primeira parte
deste livro. Neste capítulo, falaremos sobre a lei principal, que é a dos CLICHÊS.

Normalmente, todo intelectual sabe a respeito das forças que operam em sua
consciência. Pelo trabalho anterior a este, o livro Concentração, vocês já tiveram
conhecimento da maioria das forças que podem ser encontradas na consciência
humana. Elas são: sentimentos e pensamentos. Assim, vamos nos ocupar delas
novamente, pois a meditação requer um conhecimento exato de ambos, uma
vez que serão confrontados durante este curso.

Pela leitura de Concentração, você já sabe como essas forças trabalham. Mas a
meditação transcende o conhecimento factual, pois seu verdadeiro campo de
atividade é muito mais vasto do que o domínio da mente e dos sentimentos
durante os exercícios apropriados. Em outras palavras, temos de ser capazes
de explicar as leis que usamos. Isso significa que temos de nos aprofundar no
assunto; então, muitos problemas surgirão, os quais precisam ser conhecidos e
resolvidos. Do contrário, nosso barco ficará à deriva.

As questões apresentadas por esses problemas são:

a) De onde vêm nossos sentimentos e pensamentos?

b) Quais são sua origem, atuação e destino final?

c) Quais as relações existentes entre os acontecimentos deste mundo visível e


aqueles do mundo invisível?
d) Existe um fator independente do nosso tempo tridimensional, com suas três
subdivisões (passado, presente e futuro), no qual eles encontram sua fonte e
razão última de existência?

e) A habilidade de ver o passado e o futuro pode ser logicamente explicada,


dando-nos uma visão clara das técnicas que operam durante as manifestações
de clarividência, clariaudiência e faculdades transcendentais similares que
existem em nós?

f) O drama do universo manifestado já foi explicado? Se não nos recessos mais


profundos de sua “origem”, a qual transcende até mesmo os mais avançados
poderes humanos, então pelo menos nos métodos e fatores ativos, os quais são
como executores da imensa Vontade Primeira, tão inconcebível para a mente?

Alguns espíritos humanos sublimes que vieram para este planeta ocuparam-se
de problemas similares e encontraram soluções úteis para eles; por meio da
infinita Corrente de Iniciados, essas soluções têm se tornado acessíveis aos
homens de boa vontade, que vivem até mesmo nesta época deplorável de
profundo mergulho geral num materialismo negligente que tende a negar tudo o
que não pode ser visto e tocado.

É A GRANDE CIÊNCIA DOS CLICHÊS QUE TRAZ A RESPOSTA PARA OS


PROBLEMAS MENCIONADOS ACIMA, AO LADO DE MUITOS OUTROS QUE
ESTÃO ALÉM DESTE CURSO DE MEDITAÇÃO.

Estou dando aqui apenas o que é realmente necessário para o presente estudo.
No mundo ocidental, o conhecimento do Cósmico e de todos os outros clichês
derivados foi liberado para um círculo limitado de Iniciados apenas por volta do
último século.

Como você provavelmente sabe por meus trabalhos anteriores, a Tradição


Oculta nos diz que “há poucas coisas, conhecidas pela Iniciação ocidental, que
não têm correlativo na Tradição Oculta Oriental” e vice-versa. Deixe-me
acrescentar que essas “poucas” coisas não têm qualquer importância e
aplicação básicas, se me permitem expressar-me deste modo, não sobre
“estratégia”, mas apenas sobre “táticas”. Em outras palavras, as linhas de
abordagem sempre coincidem, mas os detalhes podem ter uma conotação
diferente. Portanto, o fator correspondente a nossos CLICHÊS é o AKASHA
vedântico, ou “clichês akáshicos”, como são frequentemente chamados.

Quais as principais diferenças entre as duas tradições? Os adeptos orientais,


acreditando que o conhecimento do Akasha não era muito essencial para as
massas humanas, ensinavam apenas a respeito das linhas gerais desses clichês
em seus ashrams. Isso aconteceu porque as meditações orientais usavam
inúmeros temas já prontos, disponíveis, dos arquivos volumosos de escrituras
dos arianos, como os Vedas e Upanixades hindus, e a literatura budista, cujo
trabalho principal é o seu famoso Dhammapada.

Por esse motivo, eles foram capazes de renunciar à criação de novos temas,
uma vez que tinham acesso ao amplo tesouro disponível de sua antiquíssima
tradição.

Na tradição ocidental, contudo, as coisas foram levemente diferentes. Os


Evangelhos, com sua sabedoria inexaurível, assim como algumas pérolas do
Velho Testamento, foram como que monopolizados pelas Igrejas que surgiram
em torno das palavras do Mestre. Ele foi o único capaz de dizer: “O céu e a terra
passarão, mas minhas palavras não passarão”. Assim, muitos ocultistas
verdadeiros, embora plenamente consciente dessa imensa verdade, procuraram
evitar qualquer colisão frontal com algumas atitudes arbitrárias e intolerantes de
determinadas Igrejas nos séculos passados, tendo encontrado alguns textos
diferentes para uso externo. Contudo, não devemos nos esquecer de que na
principal tradição cristã muito pouco foi conhecido ou divulgado sobre os
métodos práticos de elevação da consciência (meditação).

Certamente, Santo Inácio de Loiola introduziu técnicas admiráveis em seu


manual de meditação, e se as compararmos com as antiquíssimas técnicas do
rajaioga indiano, poderemos encontrar uma similaridade surpreendente no
método, a despeito da ideologia diferente. Há também ensinamentos práticos
assombrosos sobre meditações religiosas nas Escrituras, deixadas por Santos
das Igrejas Ortodoxa (grega e russa), mas, por vários séculos, eles foram menos
acessíveis, para aqueles que não pertenciam às ordens monásticas fechadas,
do que os Exercícios espirituais de Loiola.

Finalmente, é preciso uma mente excepcionalmente perspicaz e pesquisadora


para descobrir nas Igrejas cristãs (como a católica e a ortodoxa) o sentido oculto
nos poucos textos, os quais podem ser traçados para a Iniciação ao
conhecimento de clichês. Se você quiser provar, consulte atentamente os
escritos de certos Profetas da Bíblia, depois, é claro, os quatro Evangelhos, e
finalmente a Revelação de São João.

Mas nosso curso de meditação pertence aos dias atuais, e é preferível que
trabalhemos sem dificuldades adicionais, as quais invariavelmente surgirão se
você começar a buscar soluções nos textos velados, a decifrar o que não é
acessível a tudo e a todos. É por isso que aqui precisamos ter uma exposição
pronta da ciência dos clichês. O termo “clichê” é muito amplo, assim como muito
vastas são as manifestações da vida total. Portanto, não podemos deixar de falar
das diferentes aplicações das LEIS DOS CLICHÊS, ao invés de dar uma
definição universal (mas impossível). Essa definição não existe. Mas, pelo
menos, estamos conscientes do porquê disso.
Os CLICHÊS compreendem o todo da Criação, pois, sem eles, nada jamais foi,
é ou será manifestado. Você sabe tudo sobre a Vida? É por isso que apenas
aqueles tipos de clichês que estão relacionados com as manifestações
CONHECIDAS podem ser reconhecidos. Isso parece claro, para mim, mas se
você tem alguma dúvida, pergunte a si mesmo: “Quais as formas de vida que
podem existir em outros planetas pertencentes à nossa galáxia, para não falar
de todos os milhões de outras galáxias?

Mas, assim como tudo aqui tem seu próprio clichê, o mesmo acontece com as
formas mais distantes de existência, as quais são desconhecidas para nós. Sem
conhecê-las não se podem conhecer seus clichês.

Definitivamente, tudo o que podemos, ou não podemos, perceber tem seu


próprio clichê, do mesmo modo que tudo o que construímos tem sua planta ou
esboço. Nenhuma máquina ou peça de aparelho pode ser produzida sem um
plano previamente criado. Esta é a analogia mais próxima possível da idéia de
clichês. Mas, certamente, é apenas uma aproximação.

Os clichês são encarnados em todas as formas, não importa se resolvemos


chamá-las de “vivas” ou “mortas”. Na verdade, seria melhor que você
abandonasse a idéia falsa sobre “coisas mortas”. Elas não existem para nós,
assim como tudo tem uma certa graduação de vida, e são apenas nossas
limitações que não nos permitem ver a Vida Única em tudo. Eu digo “VER” e não
imaginar e cogitar a esse respeito. Existe uma enorme diferença entre suposição
teórica e conhecimento direto. Pode-se comparar isso ao nativo da África central
ou da Nova Guiné: ao ver invenções e máquinas trazidas pelos brancos, ele
pode, sem dúvida, fazer suposições a respeito de sua utilidade e construção
mais ou menos equivocadas. Mas aqueles que sabem como construir e utilizar
tais coisas têm um conhecimento direto. Assim, podemos prosseguir com a
explicação dos clichês.

Somos incapazes de dar qualquer definição direta e totalmente abrangente dos


CLICHÊS. Isso porque, em nosso mundo diário, não temos nada que
corresponda exatamente a essa concepção. No entanto, algumas aproximações
e exemplos bastarão para nos explicar as funções e sustentáculos dos clichês.

Em primeiro lugar, os clichês são similares a um plano, um esboço de cada


objeto, ação, acontecimento, sentimento, pensamento, enfim, de tudo o que
existe, existiu ou existirá no futuro. Os clichês estão num mundo superior, além
do nosso tempo e espaço, além de qualquer limite ou mesmo influência dos
propósitos e atividades dos clichês. Isso, é claro, não impede os clichês de
funcionar em todos os mundos mais baixos, isto é, no mental, astral e físico,
assim como em nós mesmos, que pertencemos ao chamado “mundo
tridimensional”, podemos compreender os conceitos uni e bidimensionais e até
mesmo utilizá-los em nossa matemática.
Normalmente, conscientizamo-nos dos clichês pertencentes ao presente. Isto é
totalmente compreensível, pois nos consideramos vivendo no presente. Por isso,
a outra subdivisão do tempo (artificial, é claro) que é o passado nos afeta menos,
ainda mais entretanto do que o faz a terceira subdivisão: o futuro. Não temos
nenhum controle real sobre nenhum deles, pelo menos enquanto homens
comuns.

Consequentemente, todo o nosso ser é uma espécie de materialização de um


clichê misterioso, do qual não conhecemos nem o passado nem o futuro. Até
este ponto, como você pode imaginar, estou temporariamente rejeitando todas
as teorias e suposições que se referem ao assunto.

Os clichês não são fatores incompreensíveis, e quando nossas limitações quanto


ao tempo presente forem removidas, em outras palavras, quando entrarmos em
nossa herança inquestionável do Espírito da Vida, os clichês se tornarão um livro
aberto para nós. Assim diz a Tradição, e a existência de seres altamente
desenvolvidos, que puderam ler e até mesmo operar clichês, fornece uma
verdade repleta de esperança para todos os filhos do homem desta terra que
pensam com profundidade.

Em segundo lugar, os clichês são a base de toda manifestação de vida —


objetos, ações, felicidade, desastres, e assim por diante; entretanto, nunca se
esqueça de que os clichês estão além das subdivisões de tempo, as quais
nossas limitações nos mostram como passado, presente e futuro. Como pode
ser isso? Bem, imagine um corpo geométrico multifacetado, como uma pirâmide,
por exemplo. Você não poderá ver três de seus lados ao mesmo tempo se estiver
em frente a um deles. O mesmo acontece com nossa concepção de tempo, a
qual pode ser comparada aos diferentes lados de um sólido geométrico. De
qualquer posição, somos capazes de perceber apenas uma parte desse sólido.
A fim de ver outra, precisamos mudar de posição.

Portanto, se quisermos ver outras manifestações de clichês, precisamos mudar


o alcance de nossa consciência. Isso é possível? Sim, se um homem for capaz
de ampliar sua consciência para além das limitações das três subdivisões
elementares de tempo. Como exemplo, podemos usar o estado de êxtase
espiritual, que se pode chamar de “Samadhi”, porque este termo já é aceito no
ocultismo e nos permite reduzir nossa terminologia, evitando assim frases
inteiras e substituindo-as por uma única palavra. 1
1. Ver o livro Samadhi, no qual este estado de consciência foi totalmente analisado e explicado.

No Samadhi não há nada como “tempo”, isto é, a sequência de acontecimentos.


Nele, tudo é UM, no mesmo momento, se podemos falar assim. Não há passado
nem futuro, apenas o glorioso e eterno PRESENTE, estendendo-se
infinitamente.
Nos tipos mais baixos de Samadhi, isto é, quando o adepto ainda experimenta
visões mentais, os clichês são mais perceptíveis, sem qualquer disfarce de
passado e futuro. Esta é a explicação para a verdadeira clarividência, mas
trataremos disso em outro capítulo.

Aqui fazemos uma descoberta surpreendente. Falando corretamente, se


compreendemos o que os clichês são, podemos admitir que a Manifestação
Cósmica total realmente está além do tempo, pois seu grande clichê existe fora
do tempo. Em resumo, é eterno. O fato de até este momento podermos ver
apenas determinados lados disso não muda a situação. Não podemos ver o
“outro” lado da Lua através de nossos telescópios, mas estamos certos de que
ele existe.

Em terceiro lugar, este é o momento para dar um exemplo de uma ação de clichê,
e isso provavelmente elucidará melhor o estudante.

O clichê de sua encarnação (no plano visível, é claro) começou com a união de
seus pais. Gradualmente, o processo de materialização de seu clichê levou-o
por suas subdivisões, isto é, por sua infância, juventude, período adulto e velhice,
terminando com o clichê de sua morte. Não se esqueça de que isso vem do
nosso ponto de vista limitado de que tudo acontece numa sequência que
chamamos de tempo. Na verdade, tudo isso existe no clichê indefinidamente, e
abarca o infinito inteiro do que se pode chamar de “futuro”.

O mesmo acontece a todas as manifestações de vida e existência. Um clichê,


então, é como um quadro exato, e reflete cada evento e cada fato. Por
conseguinte, em nosso esforço para dar uma explicação direta e algumas
comparações de clichês, podemos fazer a observação de que existem clichês
de nossas relações com outros seres humanos, animais, idéias, lugares,
estudos, interesses, sentimentos, pensamentos, de cada dia único de sua
existência, períodos de sua vida, estados de saúde, prosperidade, e assim por
diante.

Poderia parecer que o conhecimento de clichês (e isso pode ser apenas uma
teoria para você até que tenha experiências positivas sobre o assunto, como
outros tiveram) limita a vida humana, que é algo como um destino inexorável, o
qual nos privaria de nosso livre-arbítrio. Em essência, não é assim, pareceria
assim se pudéssemos ver o quadro completo de nossos clichês de uma só vez.
Mas não vemos, e isso nos deixa uma quantidade suficiente desse ilusório “livre-
arbítrio”. E digo ilusório deliberadamente.

Pois do QUE, ou de QUEM você gostaria que sua vontade fosse independente?
Se você é capaz de prever determinadas atividades sob dadas circunstâncias,
efetuadas por um ser menos desenvolvido do que você neste momento, seu
filho, por exemplo, então o fato de que você sabe o que essa criança fará em
determinadas circunstâncias limita o livre-arbítrio dela? Ou, se alguém mais
sábio do que você, que pode prever seu comportamento sob determinadas
circunstâncias, escreve isso de modo a lhe dar uma prova irrefutável de seu
conhecimento, e lhe mostra o que escreveu depois de você ter agido, você
sentirá que não estava agindo livremente, só porque alguém previu seu
comportamento?

Estas são frases simples, como você pode ver por si mesmo, mas pense
profundamente em seu significado, e poderá tirar surpreendentes e elucidativas
conclusões.

Gostaria de acreditar que você já vê QUEM é que conhece todos os clichês em


sua total extensão, e não apenas de um lado do tempo, como nós fazemos.
Talvez possa ver também que ELE deve ser o criador único de todos os
inumeráveis clichês do universo. Então muitos problemas aparentemente
insolúveis e desapontadores serão removidos de sua mente, e você poderá
perceber que a antiquíssima pergunta, nascida na mente mortal: “Por que as
coisas são como são?”, começa a perder sua ferroada venenosa.

O semeador, ao jogar grãos de trigo no solo, será o clichê de nascimento dos


futuros brotos de trigo, e a foice ou ceifadeira durante a colheita será seu clichê
de morte.

Assim é o lenhador para uma árvore que ele derruba; e o furacão que destrói
uma cidade, matando seus habitantes numa manifestação do clichê da morte
deles; as negociações entre os governos de algumas nações, as quais levarão
a uma declaração de guerra, são os primeiros traços dos clichês de morte e
sofrimento para os cidadãos dos países afetados; como seu amor por outro ser
humano ou animal pode ser seu clichê de felicidade.

Pense nesses exemplos e acrescente seus próprios registros a eles, pois no


desenvolvimento futuro de seu estudo você terá de aprender a usar os clichês
como temas principais para sua meditação.

E é por isso que falei sobre eles neste capítulo. Pois aqueles que pretendem
estudar a arte de meditar precisam saber bastante de antemão, e seu conceito
de vida e do mundo ao seu redor também deve ser preestabelecido, se bem que
em teoria, é claro.

A meditação abrirá novas perspectivas para ele, mais reais e próximas da


Verdade, a qual, no entanto, permanecerá inexprimível para sempre. O famoso
sábio da Índia, Sri Ramana Maharshi (1879-1950), ensinou que a única
linguagem capaz de expressar a verdade total é o SILÊNCIO.

A meditação bem-sucedida leva invariavelmente ao estabelecimento desse


silêncio.
3
Adaptações das leis
dos clichês

A. Clarividência e clariaudiência
O fato irrefutável de que os seres humanos, sob determinadas condições, podem
perceber coisas e acontecimentos além do tempo presente tem sua justificativa
nas leis que governam os clichês. Depois do que já foi dito a respeito deles, só
um pequeno passo à frente é necessário para nos dar uma explicação completa
desses poderes chamados de psíquicos no homem. Como os clichês de todas
as coisas e ações existem além de nossas três subdivisões de tempo, para
perceber esses clichês em suas formas “passada” e “futura” só precisamos de
habilidade para lê-los. Essa habilidade pode ser inerente à pessoa ou
desenvolvida durante a sua vida. Ambos os modos têm uma base em comum, a
faculdade (consciente ou inconsciente) de ser capaz de, temporariamente,
acalmar as incessantes vibrações da mente, isto é, de eliminar todos os
pensamentos, exceto os que queremos que permaneçam. Então vem o fator
mais importante, a habilidade de silenciar por completo a mente, isto é, de cessar
todo o processo mental. Sim, nada menos do que isso. Não se pode ver uma
imagem claramente em meio às águas turbulentas de um poço, mas somente
quando a superfície tiver se tornado um espelho. Você pode ler centenas de
livros ocultistas e similares, executar os mais complicados exercícios físicos e de
respiração, jejuar, etc., mas, a menos que seja capaz de se separar do
movimento contínuo da mente, nunca será capaz de perceber nenhum clichê.

Esta é a parte passiva da faculdade. A ativa, e não menos essencial, é ser capaz
de direcionar uma pergunta muda (sem verbalizá-la) para ver ou ouvir um clichê.

Na prática, ambas as habilidades são usadas quase simultaneamente, e o


operador não pensa: “Bem, primeiro vou clarear a minha mente. Depois, criarei
um desejo ativo com minha força de vontade para atrair o clichê para perto de
mim”. Talvez alguns principiantes muito imaturos ajam assim, mas só
temporariamente, até obterem de fato os poderes necessários.
Os que conhecem os clichês e estão em condições de operá-los pensam muito
pouco em palavras, ou absolutamente não pensam. Este é o verdadeiro segredo
da consecução. Parece simples, mas justamente nessa simplicidade repousa o
principal obstáculo para o sucesso. Quando perguntei por que tão poucas
pessoas obtêm sucesso em alcançar a Auto-Realização e o Conhecimento da
Consciência Espiritual, e que tipos de obstáculos impedem a obtenção de seus
objetivos, o sábio Ramana Maharshi disse simplesmente: “A MENTE ERRANTE
E OS MEIOS DE VIDA PERVERTIDOS”. Agora faça uma auto-avaliação e seja
o seu próprio juiz. Como vão as coisas para você? O seu próprio julgamento será
o mais importante e verdadeiro.

Permita-me uma ilustração tirada de minha própria experiência. Tive


conhecimento dos clichês e de seu papel em todas as manifestações da vida
bem antes de começar a escrever meus livros. Mas o conhecimento teórico não
tinha nenhum valor, como sempre acontece. Quando, em 1949, aos pés de meu
Mestre Espiritual, consegui finalmente me separar de minha mente, com todos
os resultados consequentes desse fato, 1 percebi também os clichês como
coisas reais, e que até então tinham sido apenas teóricas. Pouco depois,
consegui usar o conhecimento prático, que aumentou gradualmente a cada ano.
Finalmente, todos os meus livros foram produzidos deste modo: de repente, uma
idéia (se você preferir este termo para o mais “misterioso” dos clichês) me
encarava persistentemente, a todo momento. E, por ter sido capaz de abandonar
as atividades da mente relacionadas com os problemas do dia-a-dia, vi a
necessidade de começar a escrever certos pensamentos, conhecimentos
experimentados e métodos.

1. Veia o livro Dias de grande paz.

B. Como os clichês funcionam?


Existe uma lei definida, que regula as nossas relações com os clichês. Se
encararmos um clichê pela primeira vez, mas não o aceitarmos, ou começarmos
a perceber seu significado e objetivo, ele se afastará por um tempo, talvez dias
ou semanas. É como se esquecêssemos tudo sobre ele. Então ele volta pela
segunda vez, e o homem e o clichê novamente ficam face a face. Se ele é aceito,
ambos permanecem juntos por algum tempo, e a mente do homem fica
continuamente ocupada pelo conteúdo do clichê, confrontando-o. Dias e
semanas podem se passar nessa contemplação mútua. Se o clichê for aceito
durante sua primeira visita, a assimilação será quase espontânea e rápida. Mas
na segunda visita isso normalmente leva mais tempo, e a percepção é mais
difícil. Se a rejeição acontece pela segunda vez, o clichê se afasta por um longo
período e depois volta pela terceira e última vez. Nesse caso, a assimilação
demora mais, e é mais dolorosa e cheia de obstáculos aparentes do que na
primeira ou mesmo na segunda vez. Se ele é novamente rejeitado, então “è finita
Ia commedia”, como diriam nossos irmãos italianos, e o homem nunca mais terá
a oportunidade de usar esse clichê.

Na prática, raramente acontece de alguém que conheça todas essas leis


proceder como num “manual”. Raramente dirá a si mesmo: “Bem, esta é a
primeira vez que ele veio a mim. Esperarei que venha novamente!” Existem em
nós forças ocultas que direcionam nossas atividades de um modo ou de outro.
“Outro clichê?”, você poderia perguntar. Talvez, mas resolva isso por si mesmo.
Qualquer idéia induzida ou sugerida não será sua mesmo e, portanto, não terá
nenhum poder realizável.

Voltando ao meu caso, e tomando o último exemplo, isto é, este livro, ele
aconteceu deste modo. Depois de terminar o livro Teurgia e de ter visto alguns
volumes em livrarias, fiquei “livre” por algumas semanas. Como tem acontecido
há muitos anos, acordei por algum tempo, duas ou três horas após a meia-noite,
face a face com alguns pensamentos. Descartei-me deles e depois continuei
minha “vida astral”, isto é, permiti que o meu corpo voltasse a dormir.

Mas quando um clichê vem, as coisas são diferentes: sente-se que não se deve
e nem se pode tratá-lo como um pensamento comum, como uma criação da
nossa mente, ou seu reflexo. O encontro demora mais tempo a cada noite.
Correntes de idéias vêm como filmes se desenrolando e a pessoa fica como que
encantada com seu frescor e clareza.

Então, um dia, o título de um novo trabalho foi concebido, sendo que o conteúdo
já tinha sido “visto” na mente mais de uma vez. A máquina de escrever estava
em seu lugar habitual, um maço de papéis foi trazido, o prefácio e os capítulos
vieram a seguir e, como resultado, você está lendo estas linhas. Nenhum plano
foi estabelecido previamente, nem o título dos capítulos. O “índice” que
geralmente é feito antes do texto, neste caso, aparece quando o livro já está
pronto. É assim que acontece!

C. Como atrair um clichê


Se uma idéia assim surgir em sua mente, você poderá dizer que talvez seja o
próprio clichê que está se apresentando a você. Talvez você pense assim, e não
haverá nada de errado nisso. Os erros se iniciam quando começamos a deliberar
a partir de um ponto de vista mental inferior, tais como se você vai aceitar ou não
as novas idéias, se vai lhes dar forma, “encarnação”, etc. O que você diria se,
num restaurante, visse um homem faminto que foi até lá para satisfazer a fome
com uma substanciosa refeição, no que estaria sendo lógico e razoável, mas
então olhasse primeiro para o garçom e perguntasse seu nome, o número dos
cozinheiros que lá trabalham, como são, onde compram os produtos para
preparar os alimentos, etc.? E a seguir, olhando para o cardápio, começasse a
calcular o número provável de calorias de cada prato, depois, a porcentagem de
vitaminas, suas qualidades, e assim por diante?

Nesse meio tempo, o garçom provavelmente já teria ido servir outros fregueses,
e as preocupações do homem a respeito de sua provável refeição teriam
estragado seu apetite e influído adversamente no fluxo de seus sucos gástricos,
convidando uma indigestão à sua mesa. A simples atividade de alimentar o corpo
físico se transformaria em deliberações desnecessárias e absurdas a respeito
de coisas que não são absolutamente pertinentes.

O grande sábio Rishi Maharshi, já mencionado, uma vez explicou a natureza da


mente:

“A mente é apenas um embrulho de pensamentos; remova-os, pare de pensar e


mostre-me então onde está a mente. Quando muitos pensamentos aparecem ao
mesmo tempo na mente de um homem, todos eles são extremamente fracos e
ineficazes. Mas deixe um homem se concentrar em uns poucos ou em apenas
um pensamento e ele se tornará uma potência com um longo raio de alcance.”

Se quiser crescer e progredir, você poderá encontrar nestas palavras uma


instrução positiva e real para tratar do seu mecanismo de pensamento.

A meditação, juntamente com sua irmã gêmea, a prece, é o meio certo de se pôr
em contato com os clichês desejados. É por isso que estou dando aqui material
relacionado a ambas.

Como você já sabe pelas páginas anteriores deste livro, a meditação é um


processo cientificamente controlado em nossa consciência, em outras palavras,
em nós mesmos. Por conseguinte, nenhum absurdo deve ter acesso a nossa
meditação, ou será um obstáculo que nos deixará frustrados. Imagine (e esta é
a verdade) que seu presente ou seu futuro almejem a meditação, e o sucesso
ou fracasso deles também são clichês. Com qual deles você gostaria de se
associar? Lembre-se: “FAÇA SEMPRE A ESCOLHA CERTA: SUA ESCOLHA É
BREVE; É COMO UM MOMENTO, MAS É TAMBÉM ETERNA”.

Temos o direito de escolha. Temos livre-arbítrio também, limitado por certos


fatores e muito frequentemente por circunstâncias, mas o temos. Quanto mais
elevadas e progressistas forem as nossas intenções, mais livre-arbítrio teremos
a respeito disso. Mas, se as nossas intenções e desejos forem triviais,
encontraremos muitos obstáculos e fatores de atraso em nossa vida, os quais
trabalharão contra a nossa vontade. Mas, do ponto de vista prático, talvez não
estejamos então em posição de realizar essa vontade de modo algum.

“Meditar” a respeito, por exemplo, do nosso processo digestivo pode prejudicar


nosso corpo, pois determinadas atividades animais de nossos órgãos físicos se
desenvolvem melhor quando as deixamos inteiramente isoladas de nossa
interferência mental. Não nego que se nossos órgãos físicos não estão
funcionando satisfatoriamente, isto é, estão doentes, não estão saudáveis, o
controle exercido pela mente ou a ação prânica de nossa parte pode ser útil em
determinados casos. Mas usemos o senso comum e nos perguntemos quantas
pessoas sabem como conduzir e realizar os frutos de uma tal ação. Fazemos
parte desse pequeno grupo especialmente treinado e ensinado? Qualquer
inabilidade cometida pelo operador sem conhecimento e domínio total das forças
só traz resultados contrários, piorando seja o que for que queiramos melhorar.

Você sabe o que acontece àqueles que são seduzidos por todas as práticas
ocultas, aconselhados por ignorantes e por crenças igualmente ignorantes, que
tentam desenvolver todos esses kundalinis e outros absurdos que não se
ajustam a nossas condições e modos de vida? Bem, tenho pilhas de cartas
pedindo socorro, quando o mal já foi feito e é impossível repará-lo. Pois há um
campo no qual a inabilidade, ou ação realizada por mera curiosidade (e não pode
haver qualquer outro motivo, nesses casos), é severamente punida e raramente
remediada. Assim é o campo oculto: pois nele o homem se põe em contato (se
for capaz) com forças que não conhece apropriadamente, e cuja associação é
ilegal para ele. Alguns tentam se justificar, dizendo que gostariam de ter mais
poderes “a fim de ajudar os outros”. Você sem dúvida concordará que isso é uma
completa inverdade. Aqueles que realmente querem ser úteis o serão, não
importa o quanto seus meios possam ser aparentemente limitados; enquanto
aqueles que são incapazes de dar assistência com suas habilidades atuais nem
mesmo pensarão a respeito disso se receberem poderes “sobrenaturais”. Eles
continuarão fazendo o mesmo que fazem agora: pensar apenas em seu próprio
ego.

Portanto, para nós, o termo “meditação” significa o mais elevado e o melhor uso
do enorme poder que repousa oculto em nós mesmos, em cada um de nós. É a
força espiritual do verdadeiro Espírito do homem. Nesta subdivisão do presente
capítulo temos de obter informações sobre como atrair os clichês apropriados e
positivos.

Provavelmente, depois de ler os parágrafos anteriores, você já saberá a resposta


por si mesmo: é pela meditação de temas adequados e também pela oração,
dirigida à FONTE DE TODOS OS CLICHÊS, a seu Criador.

Quando, no devido tempo, chegarmos aos últimos capítulos, nos quais se


encontrarão instruções reais e conselhos sobre técnicas de meditação, você
poderá chegar à conclusão de que apenas as meditações elevadas e inspiradas
são dignas desse nome e desse esforço.

Quanto mais denso o campo no qual usamos nossa força de vontade, mais
limitados são os resultados. É muito difícil — mas é possível, sob certas
condições — produzir mudanças físicas pelo simples poder da força de vontade.
Por outro lado, nesses mundos menos materiais nos quais também vivemos e
operamos, isto é, no mundo dos sentimentos (astral) e dos pensamentos
(mental), a força de vontade produz resultados infinitamente maiores. Criando-
se sentimentos e pensamentos propositadamente, somos capazes de influenciar
os mesmos campos ao nosso redor. E como os fatos do mundo físico têm origem
no mundo das emoções e pensamentos, suas manifestações podem ser
afetadas pelos poderes usados nesses mundos. A cabala, a verdadeira magia e
a filosofia hermética baseiam-se justamente na aplicação correta dessas leis
simples. É dessa criação “misteriosa” e irradiação de “vórtices” que se fala no
Tarô Tradicional. Uma abordagem completa do assunto pode ser encontrada em
meu livro O tarô: um curso contemporâneo da quintessência do ocultismo
hermético.
4
Respostas a algumas
questões básicas

No segundo capítulo apareceram seis questões vitais, mas até agora nenhuma
delas foi respondida diretamente. Apenas depois de ler e compreender o
significado das páginas seguintes, assim como de todo o capítulo 3, é que algum
tipo de solução satisfatória será encontrada pelo estudante aplicado. Portanto,
presumo que só precisarei dar expressão formal às respostas que já estão em
sua mente.

a) Nossos sentimentos e pensamentos vêm de clichês, que nos abordam, são


aceitos e depois enviados para o espaço — não apenas o físico, é claro — pelo
poder vivo da nossa consciência pensante.

b) A questão quanto à origem e atuação de nossos sentimentos e pensamentos


encontra sua resposta em (a). Mas podemos acrescentar que determinadas
condições físicas também podem produzir certos tipos de sentimentos e,
algumas vezes, até de pensamentos. Estou falando a respeito de prazeres
físicos e de sofrimentos. Podemos nos sentir felizes ou miseráveis de acordo
com essas condições, se somos pessoas comuns e não estamos na posse do
pleno poder de nossas manifestações inferiores na matéria.

Mas a última parte deste problema, a do “destino final”, transcende a linguagem


da mente. E hão apresentarei teorias a respeito disso. Mas, como um homem
falando a um companheiro, gostaria de expressar minha postura: o destino final
de TUDO é a obtenção da Harmonia e da Paz.

Descobri isso nos recônditos do meu ser durante minhas meditações “mudas”,
sem palavras. É por isso que escrevi este livro para você, para que possa tentar
(e conseguir) obter a única coisa que realmente conta: a experiência pessoal
verdadeira.

c) A ligação entre os acontecimentos dos mundos visível e invisível surge porque


esses clichês são seres multiplanos. Eles se manifestam em todos os níveis da
consciência e da matéria, do mesmo modo que você vive tanto no plano físico
como no astral e mental.
d) Como vimos antes, o fator, independentemente de nosso tempo tridimensional
(passado, presente e futuro), existe, assim como um ser humano existe além de
seus sentidos, sentimentos e pensamentos. Há vários termos para descrever
esse estado além de tudo o que o homem conhece em sua consciência diária.
No Oriente, no Vedanta, por exemplo, é chamado de “Quarto Estado”, pois é o
que se segue imediatamente aos três primeiros mencionados. Os budistas o
chamam de “Nirvana”, a Aquisição final além de qualquer mudança. No ocultismo
ocidental, é conhecido como o “Espírito”, o todo-penetrante, mas imóvel em sua
perfeição, a Consciência, a Causa de tudo, o Alfa e Ômega dos Hermetistas, o
Começo e o Fim dos antigos filósofos gregos, e outros mais.

Os religiosos, quer dizer, aqueles da grande Tradição Cristã, chamam-no de


Reino de Deus, de Santíssima Trindade, de Paraíso. E na verdadeira tradição
rosa-cruz (há muito tempo extinta como um corpo), ele é o Infinito Senhor Eterno.

Quando aos pés de Sri Maharshi, o último Grande Rishi indiano (1879-1950), já
mencionado, aprendi outra idéia, a do Eu Central, do Eu Verdadeiro, equivalente
ao que chamamos de “Deus”. Certa vez, Sri Maharshi disse: “O Eu Supremo é
Deus, pois, se assim não fosse, Deus seria o Não-Eu, o que é um absurdo”. Aqui,
a ausência do eu significa “falta do Eu ou Consciência”, e é por isso que o sábio
afirma que Deus é a própria Consciência.

e) A percepção do passado, do presente oculto e do futuro encontra sua perfeita


explicação nos ensinamentos referentes a clichês. Como os clichês operam em
todas as subdivisões de tempo, as pessoas que são capazes de “vê-los” e de
“ouvi-los”, por esse único fato, participam do conhecimento dessas subdivisões.
Um dos fatores principais para o desenvolvimento de tais habilidades é o estudo
bem compreendido e bem conduzido da meditação, o qual nos ensina, no final,
como operar nossa consciência além dos limites do cérebro físico. Essas
faculdades já existem em nós e podem ser “descobertas” sob certas condições
e por um estudo preciso.

f) Como o drama do universo manifesto opera independentemente dos planos


concebidos por nós, e além deles também, não pode ser traduzido em palavras.
As teorias, sendo filhas da mesma mente limitada, não são conclusivas. No
estado mais elevado da consciência — chamado de Samadhi no Oriente e de
Estado de Graça no Ocidente —, este problema é resolvido individualmente, mas
não pode ser comunicado por palavras e pensamentos. A Vontade Primeira
também não pode ser explicada nem concebida nos termos limitados do cérebro
pensante. Uma vez mais as teorias não são conclusivas; portanto, são inúteis. É
muito mais sábio encarar a verdade do que se empenhar no que não pode ser
obtido. E isso nem mesmo é necessário: podemos ser felizes e bons sem esse
conhecimento. O Clichê Central do universo está além de qualquer forma de
tempo, pois nosso tempo, o qual, como dizemos, é “tridimensional”, não é o único
que existe. No plano mais próximo ao físico, isto é, o astral, o tempo é diferente,
assim como o espaço é diferente. O mesmo se aplica ao plano seguinte, o
mental.

Ao lado dos inúmeros clichês de menor significado, que estão próximos da raça
humana, existem outros fatores que ainda não foram mencionados no que diz
respeito ao encontro de um homem com um clichê. É o caso de um homem e
um clichê “contemplando” um ao outro, e quando o homem aceita esse clichê,
não apenas seu comportamento se modifica, mas o clichê é influenciado pela
consciência do homem. Ele se afasta levemente alterado, embora retenha seu
caráter primário. Quando um escritor percebe um clichê e o coloca em palavras,
recebe novas idéias e progride. E o mesmo acontece com o clichê: ele deixa a
contemplação mútua “magnetizado” e, talvez, intensificado em comparação com
o que era antes do encontro.

Como explicar o fato de algumas pessoas serem aparentemente mais


influenciadas pelos clichês de um tipo especial do que outras? Por que, por
exemplo, Edison foi capaz de ler certos clichês que eram inacessíveis a outras
pessoas e, como resultado, tivemos suas invenções, que mudaram tanto a vida
humana? Vamos primeiro usar um tipo de comparação que nos ajude a chegar
à idéia correta.

Existem receptores de rádio mais ou menos sensíveis e com maior ou menor


alcance. Existem radioamadores mais ou menos hábeis, e todos eles recebem
mensagens em seus aparelhos. Mas um receptor de rádio aprimorado e
poderoso captará estações bem mais distantes, inacessíveis aos aparelhos de
qualidade inferior, enquanto um amador perito provavelmente terá instrumentos
melhores do que um ouvinte sem qualificações de uma estação popular local. O
mesmo acontece com os clichês. Alguns homens possuem a habilidade de
receber determinados clichês complicados e, como norma, os clichês são
atraídos para cérebros mais bem equipados, com experiências anteriores do
mesmo tipo do representado pelo clichê.

Quando Pasteur descobriu a vacina, a idéia encontrou-o como um receptor


adequado, pois ele era provavelmente mais qualificado para captar o clichê do
que qualquer outra pessoa viva dessa época, quando o clichê teve de ser
materializado por sua descoberta. É por isso que importantes descobertas em
diferentes campos da ciência são normalmente feitas por cientistas que têm
educação correspondente. Nunca um sapateiro descobriu um remédio eficaz, e
não foi um padre quem desenvolveu a bomba atômica.

Agora você compreenderá o significado e o valor da preparação na forma da


educação ou estudo especial (incluindo o oculto) para contatar clichês
desejáveis. Esses ainda permanecem no campo dos estudos ocultos, pois o
conhecimento “oficial” não sabe, e aparentemente nem quer saber, nada a
respeito dos clichês. Isso não pode mudar o fato de que esses mesmos clichês
não reconhecidos executam o trabalho que lhes é prescrito e revelam aos
humanos o que está na hora de eles saberem, quer gostem ou não.

Como podemos ver, muitas questões difíceis podem ser respondidas por meio
do uso do conhecimento dos clichês, embora não possamos dizer que
abraçamos sua essência total.

Mas, afinal, quanto um homem comum conhece a respeito de si mesmo, e que


explicação pode oferecer de sua própria natureza? Contudo, mesmo assim ele
vive e age, sem saber qual o Poder que permite que isso ocorra.

Não me refiro aqui às pessoas que pertencem a determinadas iniciações


religiosas, que possuem poderosos agregados e que acreditam de acordo com
a sua fé. Tais pessoas têm muito menos com que se preocupar a respeito das
difíceis questões da vida, e da vida além, pois para elas Deus é a sua esperança
e o seu refúgio supremos. Elas estão erradas? De modo algum, pois: “NA CASA
DE MEU PAI HÁ MUITAS MORADAS”, e certamente há um clichê adequado de
grau mais elevado que olha por elas.

Parece que, na época atual, muitas pessoas estão mais interessadas nas
manifestações elevadas da consciência humana do que nas já conhecidas,
usadas por homens e mulheres em sua vida diária. Vamos enumerar as
faculdades que já possuímos.

1) Somos conscientes de nossa vida em nossos corpos físicos, normalmente


identificados como nós mesmos. Percebemos o mesmo tipo de vida ao nosso
redor nas formas chamadas de humana, animal, vegetal e mineral. Não há
necessidade de que nos convençam a respeito desses fatos por qualquer fator
exterior a nós mesmos, pois não duvidamos deles. São como axiomas para nós,
e em seu próprio campo de relatividade são concepções verdadeiras e
funcionais. Tornam-se erradas apenas quando tentamos fazer delas o único
conceito real e verdadeiro, o que elas não são.

2) Somos conscientes de nossos sentimentos, embora nossos conhecimentos


sobre sua origem e mecanismo não sejam tão definidos como se dá com a
formas físicas. Sem dúvida eles geralmente estão relacionados com nossas
impressões puramente físicas, como a dor, o bem-estar, o cansaço, o aumento
de energia, e assim por diante. Nesse aspecto, os sentimentos (a região astral,
no ocultismo) podem ser classificados e traçados no passado, no presente e até
no futuro. Pois podemos saber como nos sentiremos e reagiremos (falando
astralmente) segundo determinados acontecimentos físicos e circunstâncias.
Uma dor de cabeça ou de dente frequentemente provoca uma depressão geral
em nosso mundo de emoções. As atividades sexuais podem nos trazer certa
alegria e sentimentos de expansão de vitalidade. Quando o sol brilha após um
período de nuvens e chuvas, quase todos os seres humanos sentem uma reação
de prazer, enquanto uma tempestade acompanhada de escuridão, de raios e de
frio nos deixa deprimidos, de acordo com nossa receptividade e emoção.
Contudo, existem homens que podem barrar todas as influências externas
vindas do mundo físico que os cerca.

Portanto, até um determinado grau, podemos avaliar nosso mundo astral e suas
manifestações em todas as três subdivisões de tempo. Lembramos nossos
sentimentos no passado, conhecemo-los no presente e, até certo ponto,
podemos prevê-los no futuro, se as condições forem previstas por nossa mente.

Vejamos os seguintes exemplos:

a) Quando nos lembramos de uma doença séria que tivemos no passado,


podemos reviver nossos sentimentos de ansiedade e até de medo, no momento
dramático em que ouvimos o diagnóstico do médico, falando-nos das possíveis
complicações e mazelas, se não pior.

Se nos recordamos de nosso trabalho quando algumas boas notícias nos foram
dadas, quando tivemos sucesso no que chamamos de “amor”, ou, por exemplo,
quando ganhamos uma grande quantidade de dinheiro, ou realizamos um
negócio lucrativo, podemos gostar de reviver esses sentimentos muitas e muitas
vezes, e, na verdade, muitos de nós fazemos isso constantemente. Esses são
apenas alguns exemplos simples, e você é livre para multiplicá-los tanto quanto
queira. O fato a se notar é que, SE AS RECORDAÇÕES ASTRAIS SÃO
BASEADAS EM NOSSAS EXPERIÊNCIAS PESSOAIS OU TEÓRICAS, ELAS
PODEM SER RECRIADAS E VIVIDAS NO PRESENTE TÃO BEM QUANTO SE
NÓS AS ESTIVÉSSEMOS VIVENDO NO PASSADO. Mas isso se aplica apenas
quando elas têm sua origem em nossas experiências e não em condições e
possibilidades completamente desconhecidas.

Isso significa que somos capazes, em geral, de rever os tipos de clichês pessoais
(algumas vezes até melhor) à vontade. Isso é suficientemente claro para uma
mente que pense com lógica; nada tem a ver com clarividência; é apenas uma
operação comum da consciência.

b) Como exemplo, a projeção de nossos sentimentos no futuro pode nos servir


para a previsão de prazeres ou dores relacionados com acontecimentos
iminentes, similares aos que já vivemos no passado. A antecipação de um prazer
no encontro com pessoas ou atividades lucrativas, e assim por diante, criará
sentimentos atraentes e um desejo de repeti-los. A visita a um médico para um
exame periódico do estômago, por exemplo, relacionado com a sondagem de
seu interior, ou o sabor de líquidos que estão longe de serem gostosos, a
obturação ou extração de um dente, uma entrevista com uma pessoa que poderá
nos dizer coisas desagradáveis, ou pôr em perigo nossos bens materiais ou
posição social, trarão uma antecipação dolorosa à corrente de nossas emoções.
Em tais casos, uma vez mais estamos projetando nossas atividades astrais no
futuro, antes de elas acontecerem, mas isso ocorre somente quando já vivemos
algumas experiências anteriores, mesmo em nossa imaginação. Isso também
não é clarividência, nem a leitura de clichês pertencentes à subdivisão de tempo
do futuro.

Estou dando esses exemplos primários, facilmente compreensíveis, apenas a


fim de preveni-lo, de modo que, ao prosseguir na prática da meditação
verdadeira, não seja desviado por certos problemas que surgem na mente, na
mesma mente que tentará, a qualquer preço, impedi-lo de obter o comando
incondicional sobre ela pelos excelentes meios da meditação. O que pode, de
fato, acontecer?

Imagine que, após ter estudado devidamente o material exposto neste livro, você
tente dar seus primeiros passos no campo da meditação. É vital que esses
primeiros passos estejam certos, que você não se sinta desorientado, pois um
início errado leva a um processo errado. E o inevitável caminho de volta, antes
de um novo início, é desencorajante e tedioso. Portanto, vamos evitar o que pode
ser evitado, e não permitir que a frustração envenene nossas melhores
aspirações, pois ela é, na verdade, o veneno mais mortal que se possa imaginar
em todos os campos e planos de vida. A mente tentará instilar em você a
convicção de que o pensamento fácil a respeito de um tema de meditação
escolhido, com numerosos desvios, interrupções, etc., é um tipo de meditação,
quando, na verdade, todos esses erros simplesmente nos levam para longe do
objetivo real. Portanto, você deve ter cuidado com esse tipo de ilusão e tratar
disso de um modo adequado: pela destruição das falsas sugestões da mente. É
algo como a destruição das células durante o processo de radioterapia, que
deixa as células saudáveis ilesas ou apenas muito levemente ou não seriamente
afetadas, enquanto atua sobre as malignas.

A meditação, como você pode ver, precisa de um comportamento


profundamente racional e repleto de bom senso. Você quer ter isso resumido em
poucas palavras? Então aceite a verdade, que você e sua mente não são uma
coisa só, que sua mente pode levá-lo a desvios e que ela não está interessada
no desenvolvimento de seu autoconhecimento, ou em suas habilidades para
dominá-la. Saiba que se você puder paralisar as atividades da mente, mesmo
por um curto espaço de tempo, ou direcioná-las de acordo com a sua vontade,
é uma prova de que VOCÊ NÃO É A SUA MENTE, assim como o automóvel que
você dirige não se identifica com quem o está dirigindo. Esta é uma das
INICIAÇÕES MAIS IMPORTANTES POR QUE O HOMEM PODE PASSAR
DURANTE SEUS PRIMEIROS PASSOS PARA A VIDA ETERNA NA
CONSCIÊNCIA PURA. Após esta iniciação, a mente não será uma soma
desconhecida para você. Não posso explicar qual será o seu comportamento
interior depois de você ter passado por essa meditação básica, pois está além
do domínio dessa mesma mente e de suas filhas, as palavras. Entretanto, espero
que você siga meu conselho dado na parte inicial deste livro, e que tenha
estudado o livro Concentração de forma prática e bem-sucedida. Se assim for,
você sabe o que esta “Iniciação” é, e por esse único fato você já é um “iniciado”.

SÓ O SILÊNCIO DELIBERADO E PROLONGADO DO PENSAMENTO


PRINCIPAL IMPOSTO NO MOMENTO DESEJADO POR VONTADE PRÓPRIA
DÁ A INICIAÇÃO, E NADA MAIS PODE SUBSTITUÍ-LO.

Esta é a primeira qualidade essencial que você precisa para começar o estudo
da meditação.

3) Mas a operação tridimensional de seus pensamentos, da qual trataremos


agora, será muito mais fácil e mais compreensível quando o item (2) tiver sido
estudado cuidadosamente. A similaridade entre os sentimentos (astral) e
pensamentos (mental) permite-nos muitas analogias e comparações
elucidativas. Consequentemente, poderemos ser sucintos ao explicar o trabalho
da mente em nosso presente.

a) Não há necessidade de enfatizar as funções diárias de nossa mente na


subdivisão do tempo Presente. Todo mundo as conhece. Pensamos e temos
consciência desse fato. Ao ler estas linhas, você está supostamente no Presente,
assim como ocorre com os sentimentos verdadeiros. Em outras palavras, você
está consciente de seu mundo mental, com a devida restrição de que impressões
deste mundo estão sendo filtradas pelos mecanismos do seu cérebro. A partir
dessa afirmação podemos tirar conclusões de importância primordial. Assim
como os nossos cérebros diferem, com certas limitações, é claro, as impressões
mencionadas também diferem em determinado grau. Nenhum de nós vê e pensa
exatamente do mesmo modo que outra pessoa. A ciência oficial pode reconhecer
que até mesmo as cores físicas não são de modo algum percebidas de maneira
idêntica por diferentes indivíduos, porque suas retinas não são nem podem ser
matematicamente iguais. Mas essas diferenças, é claro, não são tão grandes
que uma mente acredite que duas vezes dois são quatro e outra ache que são
cinco. Neste caso, teríamos simplesmente uma aberração mental, com o pleno
direito de ser assim chamada. Similarmente, só o daltonismo pode fazer um
homem ver azul em vez de vermelho. Mas, em geral, o Presente mental é muito
parecido em todos os homens. Os impulsos mentais presentes encontram suas
reações imediatas, e assim o caráter mental do pensamento no Presente é
largamente retido.

b) Vamos olhar para o Passado e ver como podemos operar nele. Esse “olhar”
é muito parecido com as atividades passadas em nosso mundo de sentimentos
(astral), com a diferença de que pode ser destituído dos elementos emocionais
do Astral. Posso recriar o quadro mental de mim mesmo datilografando este
trabalho ontem, e ainda lembrar o conteúdo dos capítulos escritos anteriormente.
Um esforço maior me permitirá reescrever (em minha mente) as páginas que
pertencem ao passado. Do mesmo modo, você pode evocar em sua mente
quadros vistos em dias ou mesmo em anos anteriores. E você os chamará de
“clichês mentais do passado”, o que estará perfeitamente correto. Mas essa
denominação fará disso um processo de percepção de clichês do passado não
vistos anteriormente, constituindo os mesmos uma clarividência do Passado? A
resposta será certamente negativa. Essa discriminação sempre deve ser usada
durante a prática da meditação. Você deve estar consciente e saber a respeito
das diferenças entre o processo de recordação, isto é, de reutilização de seus
próprios clichês mentais, e a leitura de clichés verdadeiros, que ocorrem durante
a meditação e para a qual a meditação é a verdadeira chave. Para as pessoas
que nunca estudaram qualquer manual abrangente sobre o assunto, essa falta
de discriminação geralmente é a principal causa de tantos erros e insucessos na
tentativa de meditar.

c) A projeção de nossa mente no futuro torna-se clara agora. Simplesmente


sabemos, pelas experiências passadas, o que aconteceu durante determinadas
experiências mentais, as quais presumimos que se repetirão. Então formamos o
quadro mental ou, se preferir, criamos, baseados no passado, nosso clichê
pessoal do futuro. Preciso mencionar aqui que TODOS OS CLICHÊS
ARTIFICIALMENTE CRIADOS PELOS HOMENS, SEM QUALQUER
CONHECIMENTO TEÓRICO A RESPEITO DELES E SEM O USO DO PODER
DA ARTE DE CONCENTRAÇÃO, SÃO DE CURTA DURAÇÃO E TÊM MUITO
POUCO SIGNIFICADO PARA O QUADRO GERAL NO PLANO MENTAL.

Em resumo, isso significa que nossas recordações e processos de conjetura são


de pouca importância e de pouca duração. A razão? É fácil de se ver: a Energia
que criou os clichês básicos, materializados no quadro do universo, não pode
nem ao menos ser comparada com a faísca de vontade que evoca as imagens
do nosso passado ou futuro (limitado) em nossa mente. Além do mais, podemos
criar alguma coisa? Mesmo os cérebros mais avançados de nossa ciência estão
baseados na existência de leis e da matéria, utilizando e algumas vezes
transformando o que já existe, mas nunca criando alguma coisa a partir do
“nada”.

Os que estão mais familiarizados com a grande tradição da filosofia hermética e


com sua iniciação prontamente acrescentarão: esta é mais uma prova de que as
Tabelas de Esmeralda de Hermes estão certas: “O que existe embaixo, existe
em cima; o que existe em cima, existe embaixo” (a Lei da Analogia). Outros
também dirão: sim, a ciência física agora pode ver que as leis básicas da
construção da matéria são sempre as mesmas, diferindo apenas na forma em
que aparecem. O átomo é uma miniatura do sistema solar, e o último é uma
réplica do primeiro, imensamente aumentada. Uma relação similar deve existir
entre o sistema solar e as galáxias.

Tudo o que foi apresentado tem o intuito de auxiliá-lo no que diz respeito às
inevitáveis dificuldades do início da meditação e de ajudá-lo a lidar
apropriadamente com suas dificuldades, não permitindo que caprichos mentais
o desviem do caminho certo.

São noções que toda pessoa que medita deve conhecer, e nossos
predecessores, que seguiram o Caminho, descobriram essas leis por seus
incríveis trabalhos e esforços. E eles nos legaram suas descobertas no que
agora chamamos impessoalmente de “A TRADIÇÃO”.

Todavia, agradeçamos àqueles que nos mostraram o caminho e cujos restos


mortais desapareceram há centenas de milhares de anos da face do planeta.
Mas o Espírito deles continua iluminando o Caminho para os que são capazes
de evocar e atrair os Antigos Clichês da Realização.
5
As possibilidades de realização
pela meditação regular

Nenhuma energia consumida perece, mesmo que assim o pareça; é apenas uma
ilusão de nossa percepção imperfeita, que é incapaz de ver o processo eterno
de transformação que rege o universo.

Na verdade, nenhuma mente sã sequer duvida do trabalho incessante dessa Lei


de Transformação da matéria e da energia. Todos nós podemos ver isso
diariamente a cada momento através de nossos olhos mortais, que são capazes
de perceber apenas uma fração infinitesimal das atividades que preenchem o
campo infinito da Criação. Nenhum dia é exatamente igual ao outro, e nada
permanece sem qualquer mudança mesmo pelo menor período de tempo. Olhe
para o seu jardim. Quanto suas plantas mudaram durante a última noite?
Algumas murcharam, outras se abriram e estão chegando à maturidade. As
sementes germinaram, folhas velhas caíram, frutos amadureceram, antigos
brotos desapareceram, a grama está mais alta, e assim por diante.

Seu processo corporal também está em plena marcha, sem cessar: os tecidos
estão crescendo e sendo substituídos por novos e você está envelhecendo a
cada segundo, a caminho do fim comum ao ser físico. As montanhas,
lentamente, estão sofrendo erosão; o granito está se tornando um solo fértil; o
solo está sendo usado pelas plantas e tornando-se estéril, até que um novo
processo na superfície do planeta mude o quadro geral. Seus sentimentos e
pensamentos de hoje são muito diferentes dos de anos atrás. Os gregos antigos
expressaram isto de forma breve mas exata no famoso “Panta rei”, ou “tudo está
fluindo”. Podemos acrescentar que o Grande Rio do Tempo leva tudo com ele,
e nada neste mundo permanece imutável e estável.

Tal é o quadro, e assim deve ser visto nos três mundos manifestos conhecidos
por nós: o da matéria física, o dos sentimentos e o dos pensamentos. Sua
meditação estará sujeita à mesma Lei da Fluência, mas não para sempre, como
você ficará sabendo nos capítulos finais deste livro.
A principal tarefa para quem começa a meditar, após ter disciplinado a mente
como foi descrito no livro Concentração, é transformar seu fluxo incoerente de
pensamentos numa corrente de movimento sereno, cuja direção pertence ao
próprio aspirante. Em seu curso de concentração, você aprendeu a estabilizar a
mente, a compeli-la em direção a um objetivo único, sem qualquer desvio ou
interrupção. Foi um fixar de sua atenção em alvos imóveis. A seguir, aprendeu
também a exercitar sua concentração em quadros imaginários móveis, simples,
mas de forma definida. Então, veio a fase passiva, quando a mente se imobilizou
por completo, e nenhuma impressão exterior ou interior conseguiu perturbar
esse estado cristalizado.

Finalmente, para coroar seu trabalho, você foi instruído para expandir a sua
consciência — já equilibrada pela submissão da mente antes desregrada e
ansiosa — naquilo que reside além do domínio da mente, nessa sutilíssima
manifestação da matéria jamais conhecida.

A meditação começa onde a concentração termina. Nela, a habilidade de reter a


pureza da consciência imaculada pelas flutuações e mudanças no mental é
impulsionada para a frente. Lembre-se desta definição; ela será útil quando
começar o estudo prático nos capítulos subsequentes deste livro.

A consciência purificada é então dirigida apenas para o tema da meditação, o


qual, é claro, não pode ser longo, mas o mais breve possível, expresso
inicialmente em poucas palavras e depois fundido em UMA idéia além de
qualquer palavra. Mas você sabe que não pode criar nada no mundo dos
verdadeiros clichês, e as idéias pertencem a esse mundo. Como pode ser isso
e o que acontece? Esse processo precisa de uma explicação exata.

Em primeiro lugar, o termo “consciência purificada” deve ser esclarecido. O que


ela é em comparação à consciência “comum”? Uma vez mais, um velho e valioso
exemplo pode ser usado. Num poço sujo, de superfície turbulenta, você nunca
verá uma imagem clara. Consciência pura significa que um homem é capaz,
quando precisa e assim o quer, de acalmar sua mente e suas emoções, de
apaziguá-la e de clarear o campo para essa parte da consciência que repousa
além do oceano turvo de pensamentos e sentimentos ocasionais que vêm como
“do nada” e partem numa direção desconhecida.

Como você pode ver, a concentração vem novamente nos esclarecer. Sem ela
não se pode transcender as fronteiras e os obstáculos da mente descontrolada
comum e das emoções, os quais tornam nosso poço turvo e com superfície
irregular, incapaz, portanto, de servir como espelho.

Um homem que passou com êxito pelo curso de concentração possui uma
mentalidade e uma consciência completamente diferentes das de uma pessoa
destreinada. A meditação é mais fácil para ele, pois está familiarizado com o
domínio e com a eliminação, quando o deseja, de seus pensamentos.
O que, então, acarreta o hábito adquirido de meditar regularmente? Possuindo
o filtro de nossa consciência, que é a habilidade de aceitar e de excluir todas as
impressões astrais e mentais do espaço exterior, ou do mundo astromental que
nos circunda, podemos nos tornar conscientes de APENAS uma certa corrente,
entre clichês que precisamos ou queremos desenvolver. A mente começa a
trabalhar.

Escolhemos a estrutura mental na forma de um pensamento profundo, de um


axioma, de um texto ou prece, estando conscientes de que cada uma dessas
correntes corresponde a um clichê definido, que se expande muito mais no
tempo e no espaço do que o tema escolhido. Portanto, começando a navegar
num pequeno riacho, chegamos a um rio mais largo e amplo para a nossa
consciência navegar. Espero que meus leitores me perdoem por meus exemplos
e comparações simples, pois ainda acho que são os melhores. É fácil compilar
sentenças complicadas, por trás das quais se pode esconder a falta de
experiência pessoal. Sei de muitos (muitos mesmo, infelizmente!) escritores de
livros espiritualistas e ocultistas que começam e terminam seus trabalhos com
uma pesquisa “conscienciosa”. Vamos ver como essa “pesquisa” é feita. Um
senhor vai às grandes e pequenas livrarias e procura títulos de livros afins; então
examina-os, para ver o que seus autores pensam a respeito disto ou daquilo.
Anota as opiniões de que gosta, enumera suas fontes e usa-as como uma
estrutura para os principais capítulos de seu futuro livro. O elemento de união
será dado por suas próprias suposições e interpretações das “fontes”. E, no final,
o trabalho parecerá muito erudito, mas, infelizmente, será inútil para qualquer
coisa além da simples leitura: não pode servir de base para o estudo prático de
ninguém. A ciência observa sutilmente o caráter dos trabalhos de cunho ocultista
e iniciatório (entre aspas) e logicamente, com total razão, os deprecia como não-
científicos e problemáticos. Por esse motivo, mentes evoluídas também os vêem
como algo leviano e, consequentemente, desdenham qualquer tipo de literatura
sobre ocultismo e sabedoria espiritual. Acrescentem-se ainda os inúmeros
charlatães que pregam para os ingênuos ávidos de “milagres” e poder-se-á ter o
quadro quase completo.

Portanto, precisamos aprender a separar o joio do trigo, o que não é de modo


algum uma tarefa fácil. É muito maior a chance de se encontrar falsidade e
ignorância, frequentemente revestidas de armadilhas esplêndidas, do que uma
fonte verdadeiramente prática e sincera de elevado conhecimento (veja o meu
livro Auto-realização).

Mas o “Grande Rio” no qual queremos navegar durante nossas meditações ainda
existe, a despeito de todo o matagal que cobre suas margens. E encontrá-lo é o
nosso verdadeiro objetivo.

O exemplo, que já mencionei antes, é o do plantio e da colheita. Quando


começamos a meditar, é como se colocássemos alguns grãos no solo (de nossa
consciência, neste caso) e, no final, obtivéssemos em troca espigas de trigo.
Agora você sabe por que os ocultistas meditam e aconselham os aspirantes a
fazerem o mesmo: eles enriquecem a partir do capital pago inicialmente, o qual
é muito pequeno em comparação com a consecução final. Os clichês vindouros
são a colheita.

Acredito que, agora, a parte teórica do uso da meditação está basicamente clara
para o estudante. Os capítulos subsequentes serão dedicados à sua prática.

Quando comecei a praticar a meditação, meu conhecimento interior das leis


básicas e de sua realização no domínio espiritual era como uma grande coleção
de suposições, mais ou menos lógicas, mas sem qualquer experiência vital. Li
bastante, entrei em contato com a maior parte dos autores relevantes em várias
línguas, e fiz palestras usando-os como guias e citando-os profusamente, de
modo a produzir o que os auditórios consideravam “exposições muito eruditas”.
É isso o que a maioria dos conferencistas de temas transcendentais faz ainda
hoje. Vá, por exemplo, a uma palestra teosófica, ou a uma reunião, e terá sua
prova disso em primeira mão. Eles facilmente lhe dirão quantas encarnações
você ainda tem de viver antes de se tornar um Arhat ou um Bodhisattva; qual o
“mestre” para o seu estado de desenvolvimento; o que você deve fazer para ser
rico na próxima encarnação, se percebem que está um pouco do lado de
“Mamon” nesta vida miserável; como você pode ajudar a humanidade durante o
seu sono (é muito mais fácil do que agir no plano físico, é claro), e assim por
diante. Em determinados casos, em outras organizações, você pode ser
regularmente instruído mediante uma taxa de matrícula, recebendo manuais
periódicos de “iniciação” ou “monografias”, classificadas como secretas, “apenas
para o seu uso pessoal”, mas compostas de sobras tiradas da literatura pseudo-
ocultista de segunda mão, de modo algum sujeitas às leis de direitos autorais.
Você será um afortunado se for capaz de descobrir que esses escritos “pessoais
e únicos” foram “pré-fabricados” e armazenados aos milhares muitos anos antes
de você ter sido “suficientemente iniciado” para recebê-los mediante uma taxa
razoável.

Mas são poucos os que não acreditam em alguma baboseira “misteriosa”,


simplesmente porque isso se encontra fora dos “estreitos” limites dos
ensinamentos religiosos ou se opõem a eles. Em meu próprio caso, quando
passei por todas essas “iniciações” amplamente apregoadas, deixei-as de lado
assim que percebi o que eram, sem qualquer mágoa ou desapontamento (como
infelizmente acontece com muitos). Jamais acolhi qualquer coisa estranha ao
coração e tive sempre um sentimento intuitivo de que as coisas verdadeiras são
simples, puras e vêm da Fonte que não pode se deixar de reconhecer como
suprema em sua santidade e Verdade.

Por que estou escrevendo tudo isso? Simplesmente porque todo homem tem de
passar por enganos e frustrações ao longo de seu caminho na vida, mas pode
reduzir o seu número profano pelo uso racional da Lei da Discriminação:
“ESCOLHA SEMPRE O CERTO, POR MAIS BREVE QUE SEJA A SUA
ESCOLHA. É COMO UM MOMENTO, MAS ELE TAMBÉM É ETERNO”.

Conheci esta pérola de controle interior na minha juventude, mas a extensão


plena de sua percepção só me veio, naturalmente, com a maturidade. Foi
também o resultado da meditação sistemática, de horas passadas em silêncio e
à parte do barulho do mundo exterior, quando outros estavam imersos nele com
prazer e paixão.

A meditação praticada com conhecimento e senso comum nos dá a habilidade


inestimável do conhecimento intuitivo da verdade ou da falsidade. Além disso,
você reconhecerá as pessoas que encontrar em seu caminho pela vida: se elas
SABEM, ou apenas imaginam saber, iludindo a si mesmas e aos outros. Deste
modo, você se desiludirá quanto a muitos “iniciados” e escritores que admirava
anteriormente, e os verá como pessoas comuns. Isso pode fazer com que o
número de “amigos” diminua e que as farpas do criticismo sejam dirigidas contra
você. E daí?

Uma vez mais, gostaria de citar uma frase proferida certa vez por alguém muito
mais sábio do que eu ou você:

“QUEM FOI CAPAZ DE PERCEBER E SENTIR UMA VEZ O ESPÍRITO DO


SUPREMO NÃO PODE ESQUECÊ-LO, CONFUNDI-LO NEM NEGÁ-LO. SE
VOCÊS NEGASSEM A EXISTÊNCIA DO MUNDO, MESMO COM VOZ
UNÂNIME, EU OS ABANDONARIA E AINDA ASSIM PRESERVARIA MINHA
FÉ!”

Permita que seja esta a conclusão ao título deste capítulo que diz respeito às
realizações possíveis pela prática regular da meditação.
6
Obstáculos à meditação

Se não houvesse obstáculos à meditação para todos os que a buscam, o mundo


estaria mudado, pois o número de pessoas que dirigiriam suas vidas de acordo
com os padrões mais elevados obtidos pelo uso racional da arte de meditar
cresceria consideravelmente. Como o mundo (isto é, a população humana deste
planeta) consiste, em última análise, em unidades singulares, os homens, o valor
e as qualidades de seus componentes são decisivos para o todo.

Infelizmente, apenas uma pequena porcentagem de todos os que tentam estudar


a meditação obtêm êxito. Deve haver razões definidas para esse fato, e neste
capítulo vamos nos ocupar com a busca das causas que impedem a maior parte
dos aspirantes de alcançar seus objetivos.

Para um melhor entendimento, podemos dividir os obstáculos em dois grupos


principais: os que surgem dos obstáculos físicos e os que provêm das qualidades
interiores dos homens.

Os dois tipos de fatores de oposição são muito semelhantes aos que impedem
nosso sucesso na prática da concentração. Isto é claro porque, como já
sabemos, a meditação e a concentração são na verdade irmãs gêmeas e, além
disso, se parecem com os gêmeos siameses que não podem separar-se, pois
morreriam se alguma tentativa cirúrgica fosse feita com esse intuito.

O bom senso nos aconselha a não minimizar as circunstâncias físicas de um


aspirante. Uma afirmação estranha talvez, vinda de um escritor que acredita
mais no invisível e no transcendental do que na matéria bruta. De modo algum!
Um momento de deliberação mostrará por quê.

Se dizemos que o domínio espiritual é mais real e, portanto, mais importante do


que o puramente físico, precisamos ter em mente as condições inerentes que o
sustentam e explicar nossa afirmação.

1) PARA QUEM é a meditação? Para todo mundo? CERTAMENTE QUE NÃO.

2) E a superioridade do espírito sobre a matéria, ela se revela


independentemente de qualquer condição? Uma vez mais — DE MODO
ALGUM!
As respostas às duas perguntas se encontram em sua própria sabedoria. No
caso da primeira, a resposta é que, para a maioria dos homens, as condições
materiais e os acontecimentos são de suma importância, uma vez que estão em
primeiro plano em suas consciências. Assim sendo, eles podem ignorar qualquer
obstáculo físico que surja quando começarem a praticar a meditação? Por
exemplo, como reagem quando têm uma violenta dor de dente; quando
problemas digestivos os tornam infelizes e perturbam seus esforços, e quando
sofrem com a falta do necessário descanso e do sono, de modo que, toda vez
que se sentam calmamente e se recolhem, começam a dormir? Não há
necessidade de outros exemplos, pois você já resolveu o problema.

Não se deve tentar um estudo elementar da meditação quando não se está bem
de saúde. Quero enfatizar que isso se refere aos que estão começando, pois,
mais adiante, quando o homem já tiver experiências definitivas em atividades
superfísicas, será capaz de transferir sua consciência para regiões mais
elevadas, mesmo quando seu corpo estiver padecendo dores e desconforto.
Ramana Maharshi (1879-1950) sofreu com um sarcoma extremamente doloroso,
que afinal matou o seu corpo; contudo, ele nunca se queixou, nem perdeu a
compostura e a serenidade até o fim. Mas normalmente, em tais casos, os
mortais comuns estão sob constante e pesada sedação, para evitar que se
tornem violentos por causa do excesso de sofrimento, que não podem suportar.

A resposta à segunda pergunta é semelhante, e aqueles que chegaram à


supremacia básica e incontestável do espírito sobre as qualidades terrenas
podem dispensar qualquer condição. Eles meditam não apenas no silêncio de
seus quartos, em locais fechados e especialmente arrumados, mas até enquanto
estão caminhando ou em transportes coletivos, enfim, quase sem qualquer
diferença nas condições externas. Isso também se aplica ao tempo de seu sono
físico — assunto que será examinado nos capítulos finais deste livro.

Agora sabemos alguma coisa a respeito de como devemos preparar as


circunstâncias e o ambiente durante os primeiros estágios da meditação.
Enquanto estiver no começo, COLOQUE-SE NA POSIÇÃO MAIS FAVORÁVEL.

Alguns poderão dizer que isso é impossível, pois não têm condições de estar a
sós e em paz durante sua vida diária. Infelizmente, isso não pode ser mudado.
Acredito, ainda, julgando por minha própria experiência, que se a decisão de
começar o estudo da meditação for suficientemente forte, a pessoa arrumará um
jeito. Senão, pode ser um sinal de que este caminho não serve para ela. Então
o caminho da Teurgia, que é o da prece sincera e intensa, pode ser aberto para
ela, e sem nenhuma significação inferior (na verdade, de um determinado ponto
de vista, é superior) ao da evolução pela arte de meditar. Lembre-se de que a
verdadeira prece sempre tem sua resposta, pois “o Supremo responde quando
abordado” (veja meu livro Teurgia: a arte da adoração eficaz).
Agora, vamos para o próximo tipo de obstáculo, o de caráter astral e mental, isto
é, o que está baseado em nossos sentimentos e pensamentos. Podemos
começar a meditar num estado de verdadeiro equilíbrio emocional ou mental, em
outras palavras, perturbados? Penso que NÃO. É como um iniciante em
atletismo que é incapaz, durante seus primeiros treinos, de levantar pesos que
serão o objetivo final de seu treinamento. Se estamos deprimidos, inseguros,
cheios de ansiedade a respeito das próximas horas ou dias, é melhor adiar o
início, pois há o perigo de nos tornarmos vítimas desse inimigo mortal, o
desapontamento ou a frustração, que é capaz de destruir a frágil planta do
estudo da meditação dentro de nós.

Esteja sempre de acordo com o nosso melhor amigo, o bom senso, e não tome
qualquer decisão no momento errado e sob más condições. Se o clichê de sua
realização for real, você não perderá nada adiando o trabalho por algumas horas
ou dias. Se esse clichê não existe para o período atual de sua vida, basta esse
fato para que você não leve o estudo com sucesso até o fim. Como podemos
adivinhar o que acontece de fato com esses clichês? Volte aos capítulos 2 e 3
para uma explicação detalhada. Preste atenção ao fato de que, se um clichê o
enfrentar, não o deixará tão facilmente, e você não será capaz de esquecê-lo de
imediato depois que a idéia tiver entrado em sua mente. Mas se acontecer de
você esquecê-lo, seja corajoso o suficiente para aceitar as consequências e
continue a busca em outra direção.

Estou tentando explicar detalhadamente estas questões sobre obstáculos por


causa da experiência com meus leitores durante a última década. Em meus livros
Concentração e Samadhi foram dadas determinadas orientações a respeito de
como devemos tratar do importante problema do começo. Mas as cartas
mostraram que muitos estudantes tiveram dificuldades iniciais e, algumas vezes,
ficaram perdidos entre os obstáculos e os ambientes inamistosos. Espero que
agora eles estejam suficientemente bem informados para enfrentar todas as
circunstâncias.

Contudo, vamos ser mais otimistas. Se o assunto não fosse de modo algum
ajustável a você, então o problema não surgiria em sua mente por um
considerável período de tempo. Sri Aurobindo Ghose de Pondicherry foi mais
além quando disse: “A aparente impossibilidade de se fazer alguma coisa agora
é apenas uma prova de que ela será feita no futuro”.

Além disso, os obstáculos surgem para serem superados. Sem eles, a realização
seria meramente como o vôo num planador, que conta com certas correntes e
condições térmicas da atmosfera, tornando a chegada ao objetivo pouco
dependente de nossa vontade e esforço. Entretanto, a presença de um motor
nos faz sentir-nos seguros de que podemos voar mesmo contra o vento e em
qualquer temperatura, sem nos preocuparmos com as correntes ascendentes e
outras. Então, simplesmente, rompemos através dos obstáculos e chegamos ao
nosso objetivo.

Agora, vejamos a respeito do “motor”, que, é claro, é a sua FORÇA DE


VONTADE. Você encontrará uma explicação completa e conselhos para
construir e usar esse “motor” no capítulo 15 da segunda edição do livro
Concentração; portanto, seria supérfluo repetir tudo neste trabalho.

Finalmente, tudo o que foi dito aqui sobre obstáculos e suas conquistas diz
respeito apenas aos que têm a intenção sincera de seguir esse caminho. Os que
não sabem nada a respeito dele, ou não estão interessados, naturalmente estão
seguros por outros meios e não há necessidade de convencê-los ou tentar atraí-
los para algo que não faz parte da natureza deles.

Dois dos mais perigosos obstáculos são a autopiedade e a auto-indulgência, que


precisam ser abandonadas antes de a verdadeira meditação começar. Quando
perdoamos em nós o que condenamos nos outros, barramos de modo muito
eficaz o nosso caminho. Mas julgando-nos severamente ganhamos mil vezes
mais, e obtemos paz interior e justiça. Não perdoe nem se permita fazer aquilo
que seria ruim para você mesmo. A preguiça, a ineficácia, a insinceridade, a
mente e os sentimentos impuros, tão repulsivos quando vistos nos outros, devem
ser considerados mais repulsivos se estiverem em você.

A REGULARIDADE NA MEDITAÇÃO é um fator decisivo. Sem ela, nada pode


ser feito, pois tentativas “ocasionais” são simples perda de tempo. Portanto, deve
ser escolhido um horário, que for mais adequado e calmo, o qual deve ser
seguido rigidamente, a menos que uma ocorrência extraordinária o torne
absolutamente impossível. O amanhecer e a noite são os melhores horários,
mas se você puder encontrar outro que seja regular, use-o. No livro
Concentração você encontrará uma explicação detalhada do “magnetismo do
tempo” que rege a lei da regularidade na meditação.
7
Auxílios no caminho
da meditação

Assim como há obstáculos, deve haver também certos fatores auxiliares para a
nossa meditação, e é essencial que saibamos a respeito deles.

O principal é, ao mesmo tempo, o mais simples:

1) UM HOMEM DEVE SER SUFICIENTEMENTE MADURO PARA DISTINGUIR


ENTRE ONDE ESTÁ A SUA VERDADEIRA HERANÇA (ESPIRITUAL) E ONDE
HÁ APENAS DISFARCES ILUSÓRIOS DA CORTINA MATERIAL QUE
ESCONDE DE SEUS OLHOS OS HORIZONTES MAIS AMPLOS.

Esta é a diferença primordial que torna algumas pessoas capazes de dominar


sua estrutura mental, enquanto outras nem mesmo vêem a possibilidade de
concentração da vida em regiões mais elevadas da consciência. A inteligência
tem pouco a ver com isso, pois ela sozinha não pode dar qualquer garantia de
espiritualidade; por outro lado, a inteligência de pessoas com visão espiritual vai
além da inteligência daquelas que são cegas a esses problemas.

Como essas incompatibilidades aparentes podem ser reconciliadas? A melhor


resposta será citar um trecho do diálogo entre o Mestre Andréas e seu discípulo,
como foi transposto por P. Sédir em seu famoso livro Iniciações.

Sédir: — Que verdade existe na crença popular de que a vinda de um cometa


(na época, 1910, o conhecido cometa Halley estava sendo visto no céu) significa
guerra na Terra?

Andréas: — As guerras não acontecem simplesmente porque um cometa


aparece no céu, assim como, quando a chuva é iminente, as lesmas aparecem;
mas a chuva não cai porque elas aparecem.

Temos de manter sempre a verdadeira sequência e interdependência dos


acontecimentos diante de nossa mente a fim de não confundi-la em sua
causalidade e cronologia.
2) Frequentemente, é como se a própria vida nos empurrasse em direção a
determinadas decisões; neste caso, é como se transferíssemos o sustentáculo
de nossa consciência para um plano mais elevado. Algumas pessoas afirmaram
que as perdas e problemas na vida criaram nelas, gradualmente, a convicção da
existência de valores diferentes, não tão frágeis, inconstantes e tão
condicionados quanto são as coisas na vida puramente material. Normalmente,
elas entram em contato com alguns livros sérios, que tratam dos aspectos
superiores da vida, ou encontram homens que estão ativamente envolvidos em
ocupações mais elevadas. Entretanto, essas circunstâncias aparecem por
causas invisíveis mais propriamente do que pelas causas em si. Falando na
linguagem dos clichês, que nos permite resumir definições e operar com breves
descrições, poderíamos dizer que, quando um certo clichê começa a nos
confrontar e a nos apresentar um novo padrão de vida, ele pode criar, se aceito,
inspiração e, no desenvolvimento posterior, dirigir esta vida ao longo de
caminhos diferentes.

O aparecimento desse clichê inspirador pode ser o resultado de uma pesquisa


anterior do homem, ou um ato de benevolência de um ser humano mais
adiantado, que supervisiona aqueles que estão suficientemente maduros para
entrar no caminho do desenvolvimento especial, como é sem dúvida o caso com
o estudo prático da meditação: em ambos os casos, o carma do homem tem um
papel decisivo.

A atitude da pessoa e os meios de vida também podem ser mudados pela própria
vontade dela, o que acelera os contatos que levam ao novo caminho. Vamos ver
agora o que podemos fazer para atrair esse auxílio para os nossos esforços.

A meditação é o fator evolucionário; portanto, pertence ao bem, ao chamado


OCULTISMO BRANCO. Falando no sentido exato, a meditação sobre o mal, isto
é, sobre temas egoístas ou que podem prejudicar os outros, não existe. O motivo
técnico disso é que as vibrações mentais mais elevadas estão fora do alcance
dos impulsos mais baixos do homem, e não podem ser expressas por eles em
seus domínios. Como, então, as almas retardadas, chamadas do OCULTISMO
NEGRO, operam? Elas não meditam propriamente, mas criam o mal, as
correntes egoístas e prejudiciais pela concentração nesses temas. Se uma
pessoa desprezível quer prejudicar um homem, de quem não espera resistência
suficiente, ela cria sentimentos intensos de medo, ódio, impureza, curiosidade
vazia, revolta contra o Divino, etc., e se concentra neles e os intensifica até que
chegue o momento do “arremesso”, isto é, quando acredita que a força é
suficientemente grande para ser lançada contra a vítima em perspectiva. De
qualquer modo, o ocultismo negro deve ter um contato material com o corpo que
pretende prejudicar, na forma de uma parte dele, como cabelos, unhas, sangue,
etc., ou até uma fotografia. No último caso, formalidades complicadas serão
necessárias a fim de estabelecer um contato entre a imagem no papel e o corpo
da vítima. Todas essas atividades não podem ser comparadas com a meditação.
Além disso, quando você realmente medita, nenhum dano pode ser feito a você
por qualquer pessoa má de um modo oculto. O mesmo, e até mais, se aplica a
quem se dedica à prece e a atividades altruísticas. Algumas vezes acontece de
um insensato mago negro, como esses homens maus e desprezíveis são
chamados, tentar atacar um ocultista branco, ou até um homem de vida
realmente santa, que sabe da iminência do ataque. Mas este tem uma terrível
arma à sua disposição, além da meditação, da prece, das atividades altruísticas,
e de não deixar ensejo em nenhum momento para uma atitude passiva da mente
e do coração: é o PERDÃO, o qual está finalmente relacionado com a prece
sincera ao Todo-Poderoso. Isso destrói todas as ciladas e armadilhas do inimigo,
normalmente junto com sua própria vida, ou pelo menos com sua saúde. Não
estou falando aqui das consequências astrais desse ataque, que têm um alcance
ainda maior.

Para perdoar os inimigos e orar por eles é preciso um desenvolvimento espiritual


especialmente elevado num homem, e isso resulta necessariamente numa força
espiritual poderosa.

Penso que a informação acima pode ser útil aos estudantes para elucidarem
certos problemas que algumas vezes aparecem para os aspirantes ao longo do
caminho da meditação. Quanto mais você souber e a quanto mais perguntas for
capaz de responder, mais paz terá durante a sua concentração e menos
ansiedade surgirá na sua mente curiosa. É por isso que estou dando todas estas
explicações neste capítulo.

No momento atual, quando tantas coisas pertencentes ao reino oculto (isto é, à


psicologia prática, que é o verdadeiro ocultismo) estão sendo reveladas em
inúmeros livros e também de outros modos, “novos” meios estão sendo
introduzidos na arte de meditar a fim de facilitar o avanço e remover os
obstáculos, dentro das possibilidades ao alcance de um aspirante. Fiquei
contente pelo fato de proeminentes representantes (poucos, infelizmente)
estarem dando grande importância ao conselho para usar o poder da prece (isto
é, das práticas teúrgicas), antes de se iniciar nos degraus avançados da
meditação.

Eu gostaria de acrescentar que isso trará os melhores resultados possíveis até


mesmo nos esforços elementares, e talvez ainda mais. Isso tem um sólido
fundamento no fato, tão mencionado pelos escritores sobre o assunto, de que:
A VERDADEIRA MEDITAÇÃO SILENCIOSA, QUANDO A CONSCIÊNCIA
DEIXA O CORPO FÍSICO E É DIRIGIDA PARA O MAIS ALTO NÍVEL MENTAL,
E DEPOIS PARA O QUARTO ESTÁGIO (Kevala Inicial, Samadhi Nirvikalpa),
TORNA-SE IDÊNTICA AO QUE É TÃO BEM CONHECICO ENTRE OS
SANTOS PELO NOME DE PRECE SILENCIOSA. Entretanto, dedicaremos mais
tempo a esse importante problema nos capítulos finais deste trabalho.
Grande auxílio neste Caminho vem da disciplina de leitura auto-imposta. O que
são, na verdade, a maioria dos livros? São pensamentos cristalizados de outros
homens, relacionados com os vários setores da vida humana. Não os
enumerarei aqui, pois você pode fazer isso por si mesmo, se quiser empregar
seu tempo nisso. A maior parte desses pensamentos impressos não têm
significado para um leitor inteligente que discrimina entre as disposições e os
desejos da mente. Não estou incluindo aqui todos os manuais e livros que tratam
diretamente de qualquer ramo da ciência humana. Os autores desses trabalhos
não escrevem apenas o que pensam (certo ou errado) a respeito disso ou
daquilo, mas simplesmente expõem conhecimentos acerca das leis da Natureza.
A literatura de ficção, entretanto, nos confina à mente do escritor, ao que ele
pensa ou ao que inventa por meio da mente. Essa literatura só floresce por causa
da passividade das mentes, encontrada na massa de homens e mulheres. Eles
gostam do processo de ler em si, isto é, seguem a corrente de ficção criada por
outra mente.

Do nosso ponto de vista, e no que diz respeito à concentração e à meditação,


tais leituras são desnecessárias e apenas enfraquecem a concentração e
atenção do aspirante, forças de que ele tanto precisa para estudar com sucesso
a meditação. Aprendemos a usar UMA idéia para o desenvolvimento do
processo essencial da cognição interior dos valores perenes e das habilidades
presentes em nossa consciência. Portanto, que utilidade têm para nós as
deliberações e ficções criadas por outras mentes não envolvidas em qualquer
pesquisa básica semelhante?

Na meditação, aprendemos a dirigir a mente de modo a selecionar objetivos, e


não apenas a revisar as funções inferiores de outras mentes.

Somos eternos nesta terra, onde criamos as causas e resultados do que


“alimentamos”, ou vivemos por nós mesmos quando deixamos este corpo? Cada
segundo, cada minuto, cada hora torna o caminho à nossa frente cada vez mais
curto, até o final, quando chega o momento inexorável e inevitável de deixar tudo.
Isso parece claro e verdadeiro. Mas olhe ao redor. O que os homens estão
fazendo em sua curta existência material neste planeta? Estão desperdiçando
incessantemente um tempo precioso, esse tempo limitado que nunca voltará.

O estudante de meditação deve estar informado sobre o que dissemos acima e


pronunciar seu firme veredicto, e então viver de acordo com ele. Este é o único
meio de evitar a frustração final, esse “fogo infernal”, como foi descrito no
capítulo 48 de Caminhos para a auto-realização.

Surge assim a conclusão de que a limitação de nossa leitura a poucos livros que
realmente interessam e a completa exclusão de produtos desnecessários de
ficção mental é de grande ajuda no Caminho.
Existem coisas que são independentes da vontade dos homens e de seus meios;
todavia eles continuam preocupados com acontecimentos que não podem evitar,
excluir ou mudar. Será este um comportamento correto para um homem que
espera conseguir mais sabedoria pela meditação? Se um homem é afetado
pelos dizeres, opiniões, relações com os outros, como destruirá a ansiedade nele
mesmo ao começar a meditação?

É uma lei de economia mental bem conhecida que a ansiedade traz enorme
perda de tempo e de energia, que, do contrário, serviria a propósitos muito mais
sublimes.

Talvez alguém me pergunte: “Uma vida tão controlada não se torna infinitamente
aborrecida e tediosa?” A resposta, que vem da experiência e da prática do que
foi anteriormente dito, é: “Justamente o contrário!” O sentimento de liberdade
interior e de certeza, desconhecido antes da conquista da mente, é
incomparavelmente mais precioso e satisfatório — sem considerar seu valor
prático — para o homem que pegou o leme do barco da vida em suas próprias
mãos e é capaz de pilotá-lo para o porto escolhido. Nunca um pensamento de
arrependimento sobre “os prazeres mentais” perdidos, já “condenados”, chega a
entrar na consciência do homem. E o que se chama de “futuro”, agora visto de
um ponto de vista completamente diferente, não traz (e nem pode trazer) nada
que seja irracional ou frustrante. O domínio do “presente” rege o “futuro”.

A meditação é, portanto, abordada como uma fonte de alegria e de felicidade, e


não como um dever desagradável, como frequentemente acontece no começo.
O conhecimento disso o ajudará a transpor a resistência da mente junto com
todas as suas extravagâncias, as quais algumas vezes podem ser ilusórias e
muito astutas. Aqui, o principal auxílio será a firme compreensão —
primeiramente em teoria e, mais tarde, na realidade — de que VOCÊ E A SUA
MENTE, JUNTO COM TODO O SEU PROCESSO DE PENSAMENTO, SÃO
DOIS, NUNCA UM SÓ!

De um modo ou de outro, você deve chegar a essa convicção, pois sem ela não
pode haver qualquer consecução ou felicidade.

Você prontamente concordará que não há nenhuma bênção na escravidão. Pois


então concordará também que a escravidão da mente e dos sentimentos pode
ser a principal causa da miséria humana. Os Grandes Seres assim o dizem.

Há muitos anos, tive o privilégio de ouvir a mesma coisa de um deles, quando


me sentei a seus pés num lugar retirado da Índia tropical. Chegar a esse lugar e
ser capaz de aí viver requereu muito esforço, o que alguém poderia chamar até
de “sacrifício”. Mas certamente não foi, se comparado com os valores obtidos.
Descobri esta verdade nessa mesma época.
Você pode ouvir agora as mesmas palavras sem fazer esforço e sem viajar
longas distâncias. Só por isso elas se tornariam então menos valiosas e úteis?
Recolha-se ao seu recesso mais íntimo e veja a resposta aí. Essa será a
resposta correta.

Grande auxílio lhe será dado se você iniciar um desapego gradual do que é
perecível e evanescente na vida. A mente, livre de suas paixões, torna-se um
animal bem domesticado, obediente, útil, mais produtivo e exato. O que, antes
de sua conquista, exigia três dias de intenso trabalho, pode ser feito numa fração,
em menos de um terço do tempo. Faça os seus deveres de maneira correta e de
acordo com o melhor do seu conhecimento, mas fique longe deles em seu
coração, que se tornará livre e feliz, uma vez que você não será mais afetado
pelas inevitáveis perdas e decepções que podem ocorrer durante os passos
iniciais ao longo do Caminho. Contudo, você tratará delas por meio de sua
meditação, sem ser afetado pelas curvas sinuosas da vida. Por meio da
meditação, verá que, após cada queda, vem sempre uma ascensão.

Finalmente, uma atitude constante de compreensão de cada ser que encontrar


em seu caminho também será de grande ajuda para a purificação e estabilidade
de sua meditação. O velho dito francês: “TOUTTT COMPRENDRE C’EST TOUT
PARDONNER”. (Compreender tudo significa tudo perdoar) sempre teve uma
fascinação para mim. E involuntariamente deve-se acrescentar: “E perdoe
nossas dividas, assim -como nós perdoamos os nossos devedores...”

Algum dia, quando estiver num estágio avançado deste estudo, você virá a
meditar sobre estas palavras eternas da Verdade, da Vida, que nos foram ditas
há cerca de dois mil anos. Espero que descubra então o que outros descobriram,
e sua marcha para a Meta será rápida.
8
Outras perguntas
respondidas

Um problema que pode surgir para alguns estudantes da arte de meditar


relaciona-se com o conceito de HIPNOTISMO e seus fundamentos. Não darei
nenhuma explicação especial a respeito desse poder nestas páginas, pois o
assunto já foi bastante descrito e analisado em muitos livros. Mas há uma faceta
do hipnotismo que está relacionada com os ensinamentos sobre clichês dados
nos capítulos anteriores.

Portanto, comentarei apenas os pontos que existem em comum:

A — Clarividência sob hipnose


Bons operadores podem influenciar os poderes ocultos da consciência humana
de diferentes modos. Um deles é a produção de determinados tipos de
clarividência, tais como: visão do passado e do futuro, assim como do presente,
isto é, dessa parte que é inacessível aos nossos meios comuns de conhecimento
num dado tempo.

1) Pela sugestão, um hipnotizador influencia as habilidades da pessoa


hipnotizada para ver o clichê desejado que agora pertence ao nosso passado.
Contam-se inúmeros casos nos quais a pessoa hipnotizada é capaz de ver e
relatar acontecimentos que ocorreram no passado e que eram desconhecidos
de qualquer outra pessoa presente. Como você sabe, os clichês abrangem as
três subdivisões do nosso tempo e se estendem além delas. Assim, como todas
as manifestações do hipnotismo, essa clarividência não é nenhum milagre.

Um “olho”, que até então desconhecia o assunto, foi aberto por um curto período
de tempo pela habilidade e poder do hipnotizador.

2) Essa explicação aplica-se também ao fenômeno da visão do futuro, embora


nem sempre seja possível estabelecer a veracidade dela imediatamente após a
sessão, como é natural. As pessoas têm de esperar até que os fatos previstos
pela clarividência que opera numa pessoa hipnotizada venham a se concretizar.
Clichês do futuro têm sido “lidos” e transmitidos em linguagem humana. A busca
de suas “revelações” depende da inteligência e habilidade tanto do operador
como do médium. Isto explica por que, em livros importantes, geralmente
encontramos as descrições mais triviais e limitadas dos quadros do passado e
do futuro. É porque os Grandes Clichês Cósmicos não são prontamente abertos
à curiosidade e à investigação humanas.

3) Quanto à clarividência hipnoticamente induzida no presente, isto é,


relacionada com acontecimentos que estão ocorrendo na hora da sessão de
hipnotismo, pode haver duas possibilidades e, consequentemente, duas
explicações. A primeira segue ao longo das mesmas linhas dos itens 1 e 2. O
médium vê a subdivisão presente do clichê requerido, o qual não é manifestado
no lugar onde a sessão está ocorrendo. Em outras palavras, o operador não
pede ao médium para dizer quantos copos estão sobre a mesa daquela sala, ou
o nome dos participantes. Não teria sentido se preocupar com coisas que podem
ser conhecidas sem o auxílio da clarividência. Ele envia a pessoa hipnotizada
para um lugar totalmente diferente, que não poderia ser conhecido ou visto pelas
pessoas daquela sala. A informação assim obtida, embora pertença ao tempo
presente, possui o caráter de algo além dos nossos meios “normais” de
conhecimento. É por isso que o caráter desses fenômenos pertence aos mesmos
tipos descritos nos itens 1 e 2.

Mas os ocultistas sabem que pode haver outra explicação para o item 3. Refiro-
me à chamada “exteriorização do astral” do homem, ou de seu corpo sutil
normalmente invisível também chamado de “corpo astral” ou espectro. Sob as
ordens de um hipnotizador, o médium executa a sua “saída astral”, deixando o
corpo num estado de transe enquanto viaja, em seu veículo astral consciente,
para o lugar requerido, anota a informação e a traz de volta para o mundo físico.

Uma história autêntica e assombrosa sobre tais viagens astrais, testemunhadas


por homens que nada têm em comum com o ocultismo, e que usaram os
resultados da ação para propósitos oficiais, pode ser encontrada no capítulo 5
do meu livro Tarô. Nesse caso, o operador que ordenou a exteriorização e o
médium que executou o fenômeno eram a mesma pessoa, um mágico poderoso
e um hipnotizador de nossos tempos.

B — Advertência
Sabemos que uma pessoa que se submete a experiências hipnóticas, e se
permite aceitar sugestões, inevitavelmente perde sua liberdade plena anterior e
torna-se suscetível à ação de uma vontade alheia. Presumimos que a maior
parte dos hipnotizadores são homens honestos, de boa reputação,
especialmente agora que geralmente são médicos e têm diplomas que os
autorizam a praticar o hipnotismo com propósitos terapêuticos. Portanto,
podemos crer que, nessa questão, a ameaça de uso errado ou abusivo é
pequena. Mas a dificuldade é que, uma vez hipnotizado, o homem permanece
suscetível e essa íntima influência psíquica persiste, não apenas em relação ao
primeiro operador, que exercitou seus poderes nele, mas a qualquer outra
pessoa que tenha habilidade para hipnotizar e que não tenha diplomas ou
conhecimento.

Neste capítulo mencionei a possibilidade de contatar o mundo dos clichês, para


que o estudante possa perceber por si mesmo a diferença entre a leitura de
clichês sob a influência da vontade de outra pessoa e a aquisição da mesma
habilidade por meio do estudo ativo da meditação por seu próprio esforço. Esse
caminho é muito melhor e de maior qualidade. Frequentemente, a pessoa
hipnotizada não sabe nem que tipo de informação trouxe do mundo astromental.
Mas o mesmo não acontece com um meditador ocultista. Ele opera por si mesmo
e obtém seu conhecimento em primeira mão, totalmente consciente da operação
que se tornou possível graças a seu próprio desenvolvimento, obtido pelo estudo
bem-sucedido da meditação.

Consequentemente, só me resta dar-lhe um conselho final:

NÃO PERMITA JAMAIS QUE ALGUÉM O HIPNOTIZE, SEJAM QUAIS FOREM


AS CIRCUNSTÂNCIAS, POIS, NA MELHOR DAS HIPÓTESES, VOCÊ NÃO
OBTERÁ NENHUM CONHECIMENTO OU TERÁ UM PREJUÍZO EVIDENTE E
IMEDIATO, E ESTARÁ AO MESMO TEMPO SE ARRISCANDO A PERDER
SEU LIVRE-ARBÍTRIO SEM NENHUM BENEFÍCIO.

Até mesmo a parte ativa do hipnotismo, isto é; a de comandar os outros, não é


muito segura e propícia para o seu carma: você poderá prejudicar os outros e,
mesmo que não tenha consciência disso, a responsabilidade continuará sendo
totalmente sua. O fato de ignorar as leis não desculpa os que a violam; esta é
uma norma do ocultismo.

Como o estudo da meditação implica esforço definido e tensão mental, assim


como qualquer outro estudo, o problema de participação e direcionamento das
funções cerebrais entra em questão. Como estamos vivendo na matéria física,
como a utilizamos e, até certo ponto, dependemos dela, temos como correlato
de nossa mente seu representante físico na forma do complicado mecanismo do
cérebro. Certa vez, ouvi alguém dizer que “a matéria que forma o cérebro é a
mais fina e evoluída deste planeta”. Isso é lógico, certamente, pois essa matéria
é que torna possível que as vibrações do plano mental, infinitamente mais sutil,
sejam refletidas no mundo físico. O que mais, exceto a mais fina combinação de
moléculas, poderia executar as funções infinitamente complicadas do cérebro?

Em minha mente encontrei uma comparação simples que dá uma idéia disso de
modo claro sensível: por que não imaginar o correlato mental do homem como
ele mesmo tocando, por exemplo, um violino? Esse violino, é claro, será o
cérebro. Quanto melhor o músico, melhor o instrumento que ele gostaria de usar.
Com um violino medíocre, nem mesmo Paganini seria capaz de encher uma sala
de concerto com seus sons maravilhosos! Mas em nossa vida terrena
geralmente recebemos o que estamos merecendo no estado de um corpo físico,
incluindo suas qualidades.

A pessoa que estuda meditação toca melodias nobres, e deve ter consideração
para com o seu violino: o cérebro. Se é fácil danificar um instrumento musical de
madeira, muito mais perigoso é abusar de uma coisa tão sutil como o cérebro
humano.

Eu gostaria que você reconhecesse a diferença entre as escolas comuns e os


estudos universitários pelos quais passamos e o estudo da meditação. Desde o
começo, com o estudo comum, preenchemos nossa memória com material
apropriado e gradualmente ampliamos nossa habilidade e compreensão,
associando e julgando tudo o que afeta as células do cérebro de um modo gentil
e indireto. Digo indireto porque memorizar o alfabeto, por exemplo, toca apenas
um lado do trabalho cerebral, deixando os outros à vontade. Quando passamos
para a matemática, então outra parte é afetada. Além disso, nosso cérebro está
acostumado a trabalhar desse modo, não apenas durante o período escolar, mas
também porque nossa mentalidade educou nossos cérebros anteriores no
passado e, embora você possa não perceber ou reconhecer isso, o fato
permanece.

Contudo, quando começamos a meditar, não estamos mais absorvendo


informações ou atividades padronizadas. Começamos a impor vibrações no todo
do nosso sistema de pensamento, a compeli-lo a trabalhar de um modo novo e
incomum para ele; CRIAMOS vibrações ao longo de uma linha especialmente
escolhida, sob o estrito controle da consciência, usando o poder de
concentração. Então as células têm uma matéria totalmente diferente com que
lidar. Tudo isso produz tensão, o mesmo acontecendo em seu inconsciente. É
por isso que você deve ter cuidado e não sobrecarregar seu veículo mental.

Os exercícios que virão nos próximos capítulos são bem dosados, de modo que,
se você seguir as instruções exatamente como forem dadas, nenhum dano, seja
ele qual for, surgirá em seu cérebro ou sistema nervoso. Isso, é claro, desde que
siga determinadas regras de comportamento físico antes e durante os
exercícios.

a) Nunca tente meditar:

1) Antes de uma hora (duas, de preferência) após as refeições. Beber água não
está incluído neste regulamento.
2) Antes de duas horas após ingerir álcool ou fumar, se você ainda tem esses
desafortunados hábitos. Quanto à bebida, estou falando de um copo de cerveja
ou de vinho, e quanto a fumar, refiro-me a cigarros. Se estiver muito intoxicado
de bebida ou cigarro, não tente meditar durante um dia inteiro.

3) Quando sentir febre, resfriado ou dor. Deixe-os passar antes de começar.

4) Com o corpo numa posição desconfortável. Seria bom que lesse atentamente
o começo do capítulo 15 do livro Concentração, que disserta sobre a “Asana
ocidental”, pois é a que mais se ajusta à meditação.

b) Alguns pranaiamas (veja o capítulo 15 de Concentração) farão muito por sua


mente. E também não sujeite seu cérebro a tensões adicionais pela leitura
intensiva durante o tempo que preceder imediatamente os exercícios,

Se seguir esses conselhos de modo exato e inteligente, estará fazendo o melhor


para a preparação e continuação de seu estudo, sem qualquer perigo, seja para
a saúde física ou para a saúde mental. Para os que já se desenvolveram antes
de empreender este estudo, a ponto de perceber o poder da prece, recomendo
que não deixem de fazer uma curta mas sincera oração na forma que melhor
corresponder à sua inspiração no momento. Do contrário, você encontrará uma
fonte de orações eficazes no livro Teurgia.

Antes de concluir a questão da higiene física e mental, como foi recomendado


para a meditação, é necessário tratar de outra praga desta época: a leitura
excessiva e sem motivo. Educamos nosso cérebro durante nossa vida de acordo
com o uso que fazemos dele. Assim como tudo o mais, isso também está sujeito
a hábitos anteriores, aos quais frequentemente nos referimos como “nossa
atitude mental”.

Ler excessivamente e sem um objetivo é como engolir comida sem mastigá-la,


compelindo o estômago a executar o trabalho que nossos dentes deixaram de
fazer.

Não há necessidade de explicar qual será o resultado de semelhante hábito. A


conta do médico lhe dará uma idéia melhor. O mesmo acontece com a leitura.
Os pensamentos cristalizados dos outros, que você encontra nos livros, às vezes
podem ser bons, facilmente digeríveis, mas às vezes podem ser justamente o
oposto.

Podemos evitar o prejuízo que vem de uma leitura espontânea, tola e igualmente
excessiva e superficial, se a controlarmos pelo bom senso. Quando tiver vontade
de comprar ou de pedir emprestado um livro, pergunte a si mesmo: “Preciso lê-
lo? Valerá a pena, considerando-se o tempo que gastarei? Ficarei mais
enriquecido mentalmente depois de lê-lo? Que instrução útil poderei extrair
dele?”
Você poderá acrescentar ainda muitas perguntas de sua escolha, se achá-las
úteis para afastá-lo e um alimento mental prejudicial, por cujo consumo você
pagará mais tarde de um modo irreparável.

C — Outros problemas
O último problema, o das relações sexuais, deve ser regulado de acordo com o
item “a”, seção 2, deste capítulo, A perda considerável de energia prânica e de
outras que resultam de tais relações baixará sua habilidade para controlar a
mente por um determinado tempo; portanto, é melhor aguardar o retorno ao
equilíbrio normal.

Uma ajuda importante que podemos obter à medida que avançamos na


meditação é a consciência da UNIDADE DA VIDA. Esta é uma crença muito
popular no século XX, pelo menos em teoria, pois na prática raramente terá
algum significado. Por isso eu a estou mencionando aqui, presumindo que o
estudante não esteja bem informado a respeito dela. Mas se está, dou-lhe os
parabéns, pois isso facilitará grandemente o seu progresso, quando a meditação
“muda” aparecer em seu esquema. Contudo, uma boa acolhida intelectual
bastará por ora.

Se você observar seu corpo físico com a devida atenção e tirar conclusões
lógicas do que vê, chegará à convicção de que você NÃO é absolutamente algo
separado da matéria que o circunda. De uma célula microscópica inicial, seu
tamanho cresceu para os bilhões de células atuais, todas tiradas e assimiladas
a partir das mesmas fontes materiais que o circundam. E tudo isso não é,
propriamente dito, você! No devido tempo, você devolverá tudo à terra, de onde
elas vieram. Numa linguagem moderna, você está vivendo de capital
emprestado, que terá de ser devolvido. Se prestar bastante atenção nessa idéia,
talvez chegue ao mesmo sentimento de certeza que tenho ao escrever estas
linhas. Você está morando numa casa que é temporariamente sua, mas ela NÃO
É VOCÊ. É impossível acrescentar mais alguma coisa a esta nossa linguagem
humana a fim de que tenha a mesma experiência da verdade sobre você e sua
aparência externa. Mas, se pensar profundamente a respeito disso, chegará à
mesma convicção e experiência, o que lhe dará, então, uma maravilhosa
sensação de liberdade e de alegria, pois será um raio da Verdade em você.

Se você olhar agora para os seus sentimentos e pensamentos, por certo


reconhecerá que eles não são completamente independentes do imenso oceano
de sentimentos e pensamentos que afetam os seus companheiros. A maior parte
das suas opiniões e convicções é compartilhada pelos outros, e é por isso que
podemos compreender os outros mesmo sem manifestar nossas emoções e
estados mentais por gestos exteriores. Observe a literatura atual, com seus
romances e histórias. Em todas elas, os autores não retratam friamente os
acontecimentos que atribuem a seus “heróis” e a outros tipos, mas abrem
determinadas facetas de sua mente e de sua psique para nós.

Isso só pode acontecer porque os CONHECEM por sua própria experiência, e


os leitores gostam de encontrar principalmente o que já conhecem como um
pequeno fragmento do todo. Então a história desenvolvida atrai sua atenção e
seu “gosto literário”. Aqui está a razão de alguns romances “leves” serem
impressos aos milhares, embora não revelem grande profundidade ou novos
modos de vida. Nesta segunda metade do século XX, as pessoas em geral estão
fixadas em sexo, isto é, gostam de ler a respeito de experiências similares dos
outros, mesmo que na prática não se permitam fazer o mesmo.

Entretanto, os livros sérios que apresentam experiências interiores, não-triviais,


requerem não apenas uma leitura superficial, mas, pelo contrário, uma
cooperação com o escritor e um trabalho ao longo das linhas que ele nos indica.
Como resultado, tais livros atraem bem menos leitores. É por isso que, como um
exemplo, o número de exemplares impressos deste livro que você tem agora
diante dos olhos é editado em poucos milhares, e não em centenas de milhares
(ou até mais), como os outros livros.

Pensando ao longo destas linhas, chegamos a outra conclusão: a de que nossas


emoções e nossos pensamentos talvez sejam comuns a muitos outros seres
humanos. Portanto, na realidade, não somos algo separado e exclusivo.

Estas deliberações mentais ainda estão longe da verdadeira experiência da


UNIDADE. Contudo, não se espera que esta iniciação seja alcançada no começo
do estudo da meditação, mas só como coroamento de sua Realização final.

Você descobrirá que todas essas informações são muito úteis quando começar
a verdadeira prática da meditação, e sabe por quê? Simplesmente porque elas
antecipam os questionamentos e ansiedades da mente que normalmente
precedem os exercícios, e o livram da ferramenta de combate que é a
interferência das atividades mentais.

Existe ainda uma outra atitude que facilitará o seu sucesso. Há milhares de anos
atrás ela foi expressa pelo espírito prático dos romanos como: “Festina lente”!
Isso significa: “acelere devagar” — aparentemente, um paradoxo. Mas NÃO é!
Enquanto estamos correndo, não podemos prestar atenção aos detalhes; e
como alcançar a meditação correta sem sermos exatos em nosso trabalho
interior?

Quando eu estava no Velho Continente, conheci outro provérbio simples:


“Devagar se vai ao longe!” É claro que ele foi inventado quando os meios de
locomoção estavam limitados a veículos puxados a cavalo. Naqueles dias,
quando as estradas não eram as nossas atuais rodovias asfaltadas, mas cheias
de buracos e outros obstáculos para os amantes das corridas, uma roda ou um
eixo quebrado significam sério risco e problema para os viajantes.

Mas, em meditação, acelerar significa apenas desequilíbrio interior e falta de


controle. Lembre-se dos capítulos anteriores, onde eu disse que a meditação
perfeita é como um rio claro, fluindo majestosamente em direção ao oceano, sem
cascatas, inclinações bruscas e outras irregularidades. Tal deve ser o seu
comportamento de agora em diante, e este será um dos fatores que lhe dará
mais assistência em seu trabalho.

Como você sabe, o livro Concentração é o irmão gêmeo deste manual de


meditação, e espero que você o tenha sempre à mão ao lado deste.

Observe o mais frequentemente possível as partes I, II e IV do livro, porque


também lhe servirão de ajuda no estágio atual.
9
Diferentes tipos de
meditação

A partir de nossa definição de que MEDITAÇÃO É A CONCENTRAÇÃO MÓVEL


SOBRE UM DETERMINADO TEMA, descobrimos que ela deve ser de vários
tipos, de acordo com os diferentes aspectos dos temas básicos utilizados.
Portanto, analisaremos aqui a direção principal e os canais nos quais nossa
consciência pode operar.

Consequentemente, consideraremos esses canais em capítulos separados,


começando pela meditação elementar, baseada em atividades físicas, e
terminando com a contemplação ou meditação além das palavras, sentimentos
e pensamentos.

É importante que você perceba e aceite como um fato que a meditação é um


ESTADO DE CONSCIÊNCIA NO QUAL O ELEMENTO MAIS ALTO (isto é, o
ESPIRITUAL) DA COMPLEXA ESTRUTURA DO HOMEM TOMA A
LIDERANÇA E AGE. Infelizmente, essa liderança iluminada só acontece como
exceção na vida do homem do século XX. Esta afirmação significa que, mais
frequentemente do que se pensa, outros elementos dominam o homem. Agora
precisamos provar isso.

1) Quando o físico, isto é, a consciência corporal prevalece e comanda?


Felizmente, os casos de consciência puramente física são quase tão raros
quanto os da verdadeira meditação. Para ser “apenas o seu corpo” basta que o
homem esteja mergulhado em seus sentidos físicos, sem mesclá-los com seus
correlatos astral e mental

Quando não pensamos nem temos qualquer emoção e percebemos apenas a


pulsação do corpo vivo, de alguns de seus sentidos, isto é, experimentamos
apenas sensações de tato, de frio, de calor, de fome, sensações de satisfação
física (após uma boa refeição, por exemplo), de dor (sem pensar nas possíveis
causas e sem ter medo de uma doença mais séria), então esse estado se
aproxima da percepção puramente física.
Entretanto, por ser muito raro, eu o estou mencionando e descrevendo aqui
apenas como um dever lógico para que não permaneça sem explicação, não
importa o quanto possa ser impraticável. Parece que nossos irmãos mais jovens,
os animais, e especialmente as espécies mais elevadas entre eles, os chamados
animais domésticos, que vivem e se relacionam conosco durante sua vida,
algumas vezes podem ser usados como um exemplo de consciência temporária
puramente física. Quando um gato bem alimentado e querido por uma família,
que não tem problemas ou medos, se deleita com os olhos fechados, mas sem
dormir, está provavelmente vivendo apenas em sua consciência física, tendo
excluído dele o mundo exterior.

Isso pode ser observado, ou melhor, sentido por nós, quando é expresso por
uma daquelas posições “charmosas” que o pequeno animal é capaz de exibir
para nossa admiração.

Agora, o que acontece quando a consciência “astral”, isto é, o nível das emoções
nos governa? Você provavelmente conhece a resposta.

2) Quando somos dominados pelas emoções? Presumo, é claro, que nenhum


acréscimo infinitesimal dos níveis físico e mental está associado a nós nesses
momentos.

Exemplos:

a) Quando estamos tão contentes, após termos recebido alguma boa notícia ou
outras impressões positivas, que o sentimento de “felicidade” torna-se supremo.
Por um curto espaço de tempo, não pensamos nem mesmo instintivamente,
sentindo que isso poderia interferir em nosso estado atual.

b) Quando a raiva é tão forte que somos incapazes de dominá-la e de pensar


em suas possíveis e desagradáveis consequências. Isso novamente representa
uma forma de dominação puramente emocional sobre nós.

c) Em todos os casos semelhantes a esses, o elemento mental parece estar


ausente, e a mente fica como que tolhida em sua capacidade de verbalização
usual.

Não há necessidade de multiplicarmos exemplos reais, pois todo mundo é


perfeitamente capaz de fornecer muitos mais.

Assim como ocorre com a teórica “consciência puramente física”, não podemos
permanecer por muito tempo absolutamente mergulhados numa emoção: os
fatores físico e mental logo começam a se esquivar e a pôr em atividade os seus
atributos.

3) Quando vivemos no nível puramente mental? Aparentemente, quando


pensamos, sem qualquer emoção ou reação física. Isso, também, não é muito
fácil, nem acontece com muita frequência. Mas na teoria deve existir. Tente fazer
um considerável esforço mental que ocupe tanto a sua consciência que,
temporariamente, o faça se esquecer do corpo e dos sentimentos. Você não
precisará deles para a sua tarefa mental. Isso é bastante possível, especialmente
para aqueles que possuem certo controle sobre a mente. Vamos imaginar um
número de três algarismos, como o 999. Comece então a diminuí-lo, isto é,
subtraia uma unidade (1) dele em sua mente, obtendo 998. Se isso for muito fácil
para você, isto é, se isso NÃO ABSORVER toda a sua atenção, torne-o mais
difícil, subtraindo duas, três ou até mais unidades. Contudo, lembre-se, o
processo deve absorver por completo a sua mente, e não deve haver ESPAÇO
para nada mais. Se conseguir isso, poderá então declarar, com justiça, que
durante um determinado tempo você esteve vivendo apenas em seu cérebro.

Incidentalmente, podemos mencionar aqui que tais exercícios são


frequentemente usados durante os cursos de concentração, com ótimos
resultados. Há muitos anos descobri que são muito úteis e podem propiciar às
pessoas uma grande auto-afirmação no nível mental, pois em todo tipo de
concentração há um elemento de poder presente, capaz de influenciar até
mesmo a matéria do mundo exterior que nos circunda. Há um livro, muito
interessante e bem escrito, no qual muitos exemplos dessa influência podem ser
encontrados. Se você ler o capítulo 10 (“Budismo tibetano”) de Explorando o
oculto, de Douglas Hunt, aprenderá a respeito dos fenômenos obtidos pela
concentração especial da mente.

Sabemos que o homem não está limitado em sua consciência por essas três
subdivisões que acabamos de mencionar. Existe algo que pode usar e reger
todas as três. Necessariamente, ele não pode ser nenhum dos fatores
mencionados. É simplesmente impossível.

O propósito da verdadeira meditação é DESCOBRIR esse ALGO desconhecido


mas essencial, sem o qual todas as outras manifestações vitais do homem
deixam de existir.

Naturalmente, o grande “salto” será efetuado da mais elevada plataforma


conhecida de nossa consciência: o plano mental.

Quando as pessoas mencionam a meditação, referem-se normalmente apenas


à meditação mental, e os dois níveis inferiores (o físico e o emocional, ou astral)
costumam ser omitidos, como se não existissem. Isso por certo é um engano,
pois o estudante deve saber tudo o que funciona em sua consciência, do
contrário se perderá em estágios mais elevados de estudo, por não ter uma base
firme nos níveis inferiores. Portanto, como é lógico, isso é frequentemente
esquecido e é por isso que há tantos fracassos até mesmo por parte de homens
de integridade dotados de suficiente força de vontade. Eles simplesmente
desconhecem certas coisas essenciais que inevitavelmente ocorrem durante
seus trabalhos.
No livro há pouco citado, Explorando o oculto, há uma afirmação muito justa que,
embora não seja nova, está bem colocada e enfatizada. O ponto principal é que,
pelo fato de o homem ser um conglomerado de propriedades físicas, emocionais
e mentais, mais o ápice espiritual que se sobrepõe a elas, a boa saúde dos três
primeiros é necessária para o desenvolvimento da espiritualidade consciente.
Isso é absolutamente verdadeiro, e é esse o motivo pelo qual em todos os
manuais de ocultismo, incluindo a magia, o operador aprende a estar com boa
saúde ao agir. Do mesmo modo, num capítulo anterior, eu disse que nenhuma
tentativa de meditação deve ser feita se o estudante não se sentir bem
fisicamente e de outros modos.

Em resumo, para lutar, você deve estar em sua melhor forma!

Os verdadeiros iogues também observam cuidadosamente sua saúde e boas


condições nos três planos, embora seus objetivos sejam bem mais elevados. A
hataioga, agora bastante popularizada, é uma preparação necessária para
aqueles que ainda não possuem uma saúde excelente e não têm nenhuma
Realização espiritual (a única verdadeira!). O faquirismo, isto é, a mutilação do
corpo a fim de mostrar a superioridade da pessoa, ou o domínio sobre o corpo,
é uma ilusão cruel. Existem melhores oportunidades para se fazer o mesmo, tais
como dominar um corpo saudável em vez de um corpo fraco e desfigurado, que
não pode oferecer qualquer resistência tanto ao bem quanto ao mal. E devemos
saber disso.

Mas como se explica, por exemplo, que um ser verdadeiramente espiritual, um


Mestre — como aconteceu comigo —, tenha o corpo fraco (na velhice) e sofra
de uma doença terrível? Aqui, o discernimento, o bom senso e a intuição devem
nos ajudar a resolver este enigma, aparentemente incompatível com a afirmação
anterior sobre a saúde corporal dos filhos mais adiantados do homem.

A resposta é esta: quando em combate, a pessoa deve estar no auge da forma


para a vitória. Depois que esta foi conquistada, o vitorioso permanece sempre
vitorioso e seus inimigos continuam mortos.

Quando um Mestre alcança a iniciação espiritual, isso significa que ele venceu
simultaneamente todas as batalhas e as deixou para trás. Ele não pode voltar a
ser fraco e ignorante. A Realização é PARA SEMPRE; não pode ser perdida nem
nesta nem em qualquer outra vida possível. Nunca esqueça isso! Portanto, o
Mestre Espiritual que tive o privilégio imerecido de encontrar em Ramana
Maharshi (veja Dias de grande paz, um diário a respeito do ashram dele) podia
estar doente e sofrer fisicamente em seus últimos dias na terra, sem que isso
afetasse de modo algum a sua Realização. Como o seu sofrimento era a sua
oferenda, sua ação redentora para nós, que precisávamos urgentemente de toda
a assistência, isso apenas sublimou a grandiosidade dele. Nenhum sinal de
eclipse espiritual ou de qualquer fraqueza foi sequer perceptível, ou melhor,
justamente o oposto: a Luz espiritual tornou-se mais brilhante ainda quando
resplandeceu através do corpo físico em declínio. E, para esse homem, a morte
em si é algo totalmente diferente do que para um ser humano comum; portanto,
não podemos nos comparar com a REALIZAÇÃO PLENA.

Embora esteja certo para um Mestre permitir que seu corpo se torne qualquer
coisa que ele consinta, o mesmo não acontece conosco. Uma vez alcançada a
Realização, não importa o que aconteça ao corpo, ao revestimento perecível, na
verdade abandonado há tempos, enquanto a consciência permanecer para
sempre no nível da UNIÃO COM O TODO, ou, se preferir, COM DEUS!

A doença cruel, cruel por ser dolorosa, de Maharshi não afetou sua consciência,
mergulhada como estava para sempre n’ELE, não mais do que um dedo
machucado nos afetaria no momento presente. E devemos ter isso sempre em
mente.

Olhe para um bebê: de quanto cuidado e ternura esse pequeno e frágil corpo
precisa para sobreviver! Mas espere alguns anos e verá um homem robusto ou
uma mulher forte, exercitando seu corpo sem nenhuma das debilidades da
infância.

Mesmo assim, precisamos, para nossa meditação, de algumas condições


especiais, de um ambiente propício, livre de distrações e de interrupções. É o
melhor para nós neste momento. Mas um Mestre está em meditação eterna,
mesmo ao responder a nossas perguntas não muito sábias — do ponto de vista
dele —, mesmo rodeado pela ansiedade febril e pelo mundo turbulento.

Um dia, no passado, ele também começou como você agora. Algum dia, em
algum lugar, você terá, como ele, esse sorriso eterno de Sabedoria e Paz, que é
o prêmio da Realização, do retorno à CASA DO PAI, na qual há muitas moradas
esperando cada um de nós.
10
Subconsciência ou
hiperconsciência

Na psicologia moderna, frequentemente ouvimos termos tais como


“inconsciente” ou “subconsciente”. Essas palavras são exatas, e os que as usam
têm alguma experiência a respeito de ambas, ou meramente dependem das
experiências relatadas pelos outros, cujos casos tentaram avaliar, de acordo
com suas próprias teorias e convicção? Na meditação você entrará em outro
mundo, repleto de novas experiências. Portanto, deve esperar de mim, por certo,
algumas informações prévias sobre o que talvez encontre e sobre como entrar
em sintonia com essas experiências.

Homens como o dr. C. Jung, que dedicaram a vida a pesquisas científicas no


campo da psicologia e da consciência humana, embora não de um modo
experimental (pessoalmente, é claro), inventaram os termos grifados no início
deste capítulo. Mas nós precisamos de mais, precisamos encontrar os valores
correspondentes, os fatores em si mesmos. Apenas então o que dissermos terá
significado.

Há alguns anos, ao preparar meu café da manhã, deixei cair um par de xícaras
de finíssima porcelana no chão de minha cozinha. Elas se quebraram em muitos
pedaços, e não aconteceu nada de excepcional nessa pequena ocorrência; foi
tudo de acordo com as Leis da Natureza.

Então, uma manhã, algum tempo depois, uma xícara escapou novamente da
minha mão e iniciou seu caminho para a destruição no chão. Mas dessa vez foi
diferente. Nessa fração infinitesimal de segundo entre o momento em que a
xícara escapou de minha mão e o da queda no chão, algo aconteceu em minha
consciência, além de qualquer pensamento ou desejo, e nisso reside toda a
dificuldade de tentar transmitir esse momento. Uma estranha e muda convicção
interior, acrescentada talvez à intenção de que a xícara não se quebrasse, surgiu
em mim, e nesse exato momento eu soube que nisso residia a força que pode
desafiar as leis físicas e executar o impossível. Não foi também um pensamento,
de modo algum, ou uma percepção em palavras, pois não havia palavras
presentes em minha consciência; apenas um silêncio profundo à parte de todos
os pensamentos.

Antes de a xícara cair, eu “soube” que dessa vez ela não se quebraria. E ela não
se quebrou. Ficou no mesmo chão duro sem qualquer prejuízo visível, e até hoje
eu a uso.

No devido tempo comecei a meditar a respeito do pequeno milagre, como eu


chamava esse evento em minha mente. Tentei me lembrar do estado de minha
consciência no exato momento em que a xícara caiu. Tentei revivê-lo, mas em
vão. O sentimento sutil dessa estranha intensidade em mim, que podia agir sobre
a “matéria morta” e produzir resultados impossíveis sob qualquer ponto de vista,
podia ser relembrado, mas isso era tudo. Entretanto, encontrei um elo com
acontecimentos similares.

O mais antigo foi em minha infância, quando eu tinha cerca de seis anos de
idade. Fui brincar num jardim, construído no alto de uma colina rochosa,
enquanto meus pais estavam na casa de uns amigos, a um quilômetro de
distância. Alguma coisa me atraiu para subir ao ponto mais alto do jardim; então,
olhei para baixo, como num abismo, perdi o equilíbrio e comecei a rolar encosta
abaixo. De acordo com as leis físicas, havia uma pequena chance de eu
permanecer vivo e nenhuma de não me machucar. Mas eu soube que nada iria
me acontecer, enquanto rolava encosta abaixo por cerca de um quilômetro, entre
as rochas salientes e as fendas. Foi como se algo envolvesse meu corpo e o
preservasse de qualquer choque com o mundo material ao redor.

Quando meus pais finalmente me encontraram no fundo do jardim, ao lado de


um alto muro de pedra, a primeira coisa que procuraram foi por ossos quebrados,
contusões, mas não havia nada.

Em outra ocasião, há apenas alguns anos, fui envolvido num sério acidente, por
causa de autoridades rodoviárias relapsas, que colocaram toneladas de
pedregulhos soltos ao longo do acostamento de uma estrada íngreme e estreita
de uma montanha, que conduzia ao topo a cerca de noventa metros de altura.
Do lado esquerdo, havia uma descida muito inclinada de aproximadamente
sessenta metros de profundidade e, no fundo, a planície. O declive era coberto
por arbustos e árvores bastante separados uns dos outros, o que aparentemente
não oferecia nenhuma possibilidade de segurar qualquer coisa que rolasse para
baixo.

Eu não tinha percebido que pelo menos meio metro dos pedregulhos espalhados
pela vegetação não indicavam a verdadeira margem. Assim, quando um
automóvel grande veio descendo numa corrida doida em minha direção,
pareceu-me que haveria uma colisão frontal e desviei cerca de trinta centímetros
para a esquerda, tentando evitar o pior, como pensei.
O que aconteceu? Houve uma pancada e me vi capotando declive abaixo não
sei quantas vezes. Soube que a morte estava me esperando no fundo da
montanha. Então a estranha certeza de não chegar ao fundo fatal surgiu em
mim. Foi tão rápido que parecia além de qualquer medida de tempo. No mesmo
instante, senti que não estava mais rolando, e o automóvel parou calmamente
em suas quatro rodas, de costas para a estrada lá em cima. Não havia nenhum
vidro quebrado, nenhum dano maior, nem sangue em mim ou nas pessoas que
estavam comigo. Ao examinar em volta para ver se o automóvel tinha se
estabilizado apenas momentaneamente ou se voltaria a capotar caso eu abrisse
a porta, descobri um toco enorme sob as rodas traseiras. O automóvel estava
apoiado tão firmemente nele que parecia que nenhum movimento poderia
perturbar sua posição.

O que aconteceu depois não teve nenhuma importância para mim. Usando a
buzina repetidamente, finalmente atraímos a atenção dos automóveis que
passavam lá em cima, na estrada. Depois, uma longa corda nos foi atirada e
subimos e esperamos até um guincho puxar o automóvel de volta para a estrada.

O importante foi apenas essa mudança súbita na consciência, quando todos os


pensamentos desapareceram e um novo estado surgiu, momentâneo mas
poderoso, silencioso mas eficiente, e intuitivamente eu soube que era
infinitamente maior do que a minha percepção diária.

Pouco antes de começar a escrever este livro, tentei avaliar e analisar a


consciência, que ocasionalmente tem sido revelada para mim durante a minha
vida. Jung, e outros de sua escola, chamariam isso de “poder do subconsciente”
ou de “jorrar do todo abrangente, da Fonte inconsciente”, sugerindo talvez o
conceito de Ser Supremo, ou Deus.

O que eu conheci é diferente, embora semelhante na aparência.

NÃO É SUBCONSCIENTE NEM INCONSCIENTE. ESTÁ ACIMA E ALÉM DE


TODOS OS TIPOS DE CONSCIÊNCIA CONHECIDOS, E TALVEZ APENAS O
TERMO “HIPERCONSCIÊNCIA” POSSA DESCREVER O PODER INFINITO,
MANIFESTADO DESSE MODO NA CONSCIÊNCIA VIVA.

Quando comecei a analisar isso, descobri que, quando esse estado se repetiu
mais tarde, não surgiu necessariamente como resultado de um esforço definido,
mas, ao contrário, pela evasão de todo o controle da mente, e sempre aconteceu
após uma meditação especialmente bem-sucedida, seguida por um silêncio
prolongado da mente. É por isso que estou mencionando tudo isso aqui, pois o
estudante também pode ser confrontado por essa HIPERCONSCIÊNCIA e,
conhecendo de antemão sua grandeza, saudará o Sol Nascente em si mesmo,
com confiança e alegria.
Conclusões posteriores poderão ser tiradas do que foi dito acima. Se a
manifestação infinitesimal da Hiperconsciência (como podemos chamar esse
poder misterioso de puro estado de alerta) é capaz de desafiar leis físicas
conhecidas, ou melhor, de predominar sobre elas, o que acontece quando a
PRÓPRIA FONTE AGE ou, em outras palavras, quando ela se manifesta com
seu pleno poder, isto é, na criação do universo?

Então tudo é explicado pelo simples fato da aniquilação do conceito de


impossibilidade. Vamos focalizar toda a nossa atenção neste problema! Quando
dizemos “impossível” conscientemente, ou inconscientemente, medimos o
“possível” de acordo com a nossa própria escala estéril de atividades, para a
qual tentamos reduzir tudo o mais, mesmo quando o que estamos analisando
está além de qualquer comparação com essas atividades. Do ponto de vista
puramente filosófico, isso é uma grande ilusão. Nós não estamos em condições
de emitir um julgamento ou de decidir sobre o “POSSÍVEL E IMPOSSÍVEL”, uma
vez que transcendemos as fronteiras limítrofes do mundo material, ou melhor,
dessa porção dele que acreditamos conhecer.

É valioso lembrar o famoso dito das Escrituras: “Para Deus, nada é impossível”,
ou para a HIPERCONSCIÊNCIA, que deve possuir todas as características que
usualmente atribuímos ao Divino.

Se há em nós uma centelha desse algo que, mesmo não sendo matéria de modo
algum, ainda possui a habilidade de regular essa matéria, então a TOTALIDADE
desse Poder deve estar além de qualquer lei de possibilidade e impossibilidade,
ou de causa e efeito, e ambas as concepções tornam-se, portanto, irreais e
inexistentes. Então o enigma do universo deixa de ser um enigma. Estou ciente
de que é extremamente difícil tentar explicar isso com palavras ou pensamentos;
portanto, sei que a compreensão das idéias expostas neste capítulo
estabelecerá um obstáculo intransponível para muitos de vocês. Além disso,
acredito que, sem um vislumbre de intuição, elas certamente permanecerão sem
qualquer resposta na consciência do estudante. Mas não tenho a ambição de
escrever sobre esses assuntos mais profundos para todo mundo; isso seria
simplesmente ilógico, se não ridículo. Mas ALGUNS hão de reconhecer o cerne
da questão.

E então acontecerá o que talvez seja o maior milagre: todos os problemas e


perguntas deixarão imediatamente de existir, sendo de uma vez por todas
resolvidos no momento de lucidez suprema do vislumbre da
HIPERCONSCIÊNCIA. Por exemplo: como você explicaria as palavras do
Grande Mestre, Cristo: “E QUE TRABALHO MAIOR DO QUE O MEU VOCÊ
FARÁ?”

Nos próximos parágrafos, você encontrará uma explicação única dos milagres
de Cristo e da sabedoria sobre-humana dos ensinamentos contidos nas palavras
do Sábio Maharshi, já citado aqui, quando ele atribui tudo isso ao estado peculiar
de consciência do mestre, quando UNIDO AO PAI, isto é, à TOTALIDADE DA
ONISCIÊNCIA.

A causa, então, reside na posse dessa Hiperconsciência. A meditação intensa e


profunda será necessária para se compreender essa afirmação curta e
aparentemente simples. Espero que você tente com êxito, e a respeito dela, eu
diria: se em qualquer forma de vida essa consciência é despertada, os milagres
deixam de ser milagres. Pois chamamos de “milagres” algo que transcende as
leis da Natureza, que conhecemos ou acreditamos conhecer, e também as
coisas que nunca vimos e nunca acreditamos que existissem. Mas, como você
certamente reconhecerá, a concepção de um “milagre” pertence exclusivamente
à nossa mente, e não existe separada dela. A Natureza, por exemplo, não
reconhece nem produz nenhum milagre.

Tudo o que foi dito acima não diminui de modo algum nem desfaz as
maravilhosas ações e obras dos GRANDES SERES. Temos de estabelecer
firmemente em nós um critério, que nos ajudará a discriminar a respeito e a
comparar nossos próprios deres e habilidades com os dos Seres que nos
transcendem infinitamente.

Disso emana a virtude cardeal de todo ocultista superior, de todo homem de


orientação espiritual: sua humildade. Essa virtude deve ter grande poder em si,
pois o famoso Monsieur Philippe, o grande teurgista e milagreiro do fim do século
XIX, disse aos que lhe perguntaram sobre a fonte de seu poder: “É porque sou
tão pequeno, muito pequeno. E vocês são grandes... Mas Deus só ajuda os que
são pequenos e fracos”. Assim falou o homem que conseguia curar qualquer
doença, e que conhecia o passado e o futuro do mesmo modo que acreditamos
conhecer o presente.

O tipo de superconsciência que conhecemos como Samadhi não possui o poder


da Hiperconsciência de que estou falando neste capítulo. Pelo menos, não em
suas formas inferiores. Não sabemos o que acontece com as mais elevadas,
simplesmente porque não as experimentamos, pois o Samadhi Sahaja é
privilégio exclusivo de um Mestre Espiritual.

Vou me antecipar às eventuais perguntas sobre este assunto e, ao mesmo


tempo, aconselhar o estudante sério e sincero. O “MERGULHO” na
HIPERCONSCIÊNCIA não depende nem de leve de nossa mente, ou de
qualquer outra atitude que possa induzi-lo. Em outras palavras, somos incapazes
de experimentar esse ESTADO deliberadamente em qualquer tempo desejado.
Cheguei a esta conclusão depois de muitas labutas e experimentos. Há sempre
um FREIO poderoso, mas desconhecido, que impede qualquer abuso ou
“mergulho” prematuro. O que é ele? Embora seja impossível dar qualquer
descrição verdadeira, ele se assemelha a um absoluto esquecimento do “modo”
e até da própria possibilidade de vivenciar ISSO. Tive um exemplo
impressionante de alguma coisa que agia além da minha mente e a despeito de
todos os meus esforços, quando cheguei ao final de minha estada aos pés do
Grande Rishi Ramana (o Maharshi) em seu ashram, no sul da Índia. Eu estava
muito próximo a ele espiritualmente após aqueles meses passados a seu lado,
sem falar muito, apenas mergulhando nas profundezas que ele era capaz de me
revelar. Então, na última noite antes da minha partida, quando, de acordo com o
costume, tive de pedir a permissão dele para ir embora e sua bênção para minha
vida futura, tive a idéia de pedir seu autógrafo numa fotografia sua que sempre
esteve em minha escrivaninha. Sabia que ele nunca havia assinado nada, mas
meu sentimento de intimidade espiritual com o Maharshi era tão forte que não
fui capaz de resistir à idéia. Assim, coloquei a foto sobre a mesa de meu quarto
juntamente com um lápis e uma prancheta para a assinatura, e comecei a me
vestir com o “traje de noite” em estilo indiano aceito no ashram, que consistia
numa túnica branca solta e calças também folgadas, em vez das calças curtas
habituais. Olhei para o rosto querido do Mestre, antecipando sua graciosa
assinatura, que seria um símbolo de sua Graça perpétua. Eu sabia que seus dias
estavam contados e restavam muito poucos. Finalmente, parei diante dele, e
aconteceu o que descrevi no capítulo 18 do meu Dias de grande paz. Mas
quando voltei para minha cela, vi a foto em cima da mesa, justamente como eu
havia preparado para a assinatura. Alguma força havia desviado de minha mente
a mais leve lembrança da foto durante nosso último encontro. Pareceu-me algo
absolutamente impossível, pois eu tinha pensado a respeito disso por muito
tempo. Teria sido mais fácil para mim esquecer meu próprio nome que levar a
fotografia para o Maharshi! Ainda assim era um fato, inacreditável, mas
totalmente real.

Era impossível voltar ao Mestre e pedir-lhe algo: o adeus final fora dito e não se
podia tratar o Grande Rishi como um homem comum. Mais tarde, entendi o
motivo, e isso dissipou toda a minha mágoa aparente por não ter o autógrafo
desejado. Compreendi que, se eu tivesse levado a foto para ser assinada, duas
possibilidades surgiram: primeiro, o Rishi nunca assinara nada e, fazendo isso
por mim, ele seria imediatamente inundado por pedidos semelhantes de milhares
de outras pessoas ao redor dele, o que certamente ele não permitiria. Além do
quê, isso não teria sido bom para mim. Será que eu seria capaz de mostrar a
assinatura para o mundo exterior sem sentir o veneno do orgulho mudo por
causa dessa assinatura da Graça, que havia sido recusada para todos os outros?

Em segundo lugar, se ele recusasse, eu ficaria profundamente magoado antes


de chegar à compreensão do que acabei de descrever. É claro para mim, agora,
que todas as razões eram opostas ao meu desejo, e ficarei feliz por isso pelo
resto de meus dias.

Portanto, há “limites” e freios em nossa consciência que apenas alguns


conhecem e com os quais menos ainda concordam.
Enquanto não pudermos estar razoavelmente seguros ao mergulhar num tipo
mais baixo de Samadhi (“Kevala Nirvikalpa”), após completar todo o treino
necessário (veja meu livro Samadhi: a supraconsciência do futuro), não
poderemos fazer o mesmo com qualquer certeza (em nossas mentes, é claro) a
fim de nos assegurarmos da HIPERCONSCIÊNCIA. O vislumbre interior, a
meditação prolongada e verdadeira e a vida pura e devotada são,
evidentemente, pré-requisitos indispensáveis para que ELA aconteça — mas,
mesmo assim, ELA é livre! Como o espaço, é absolutamente livre e não provém
de qualquer “comando”, mesmo que uma concepção tão tola pudesse surgir no
nível dessa velha impostora, a mente. A grandeza onipotente da
HIPERCONSCIÊNCIA está além de toda compulsão e até mesmo de todas as
leis. Só o que podemos fazer é preencher sinceramente as supostas
precondições e esperar.

Mesmo assim, eu seria o último homem a lhe dizer que a tarefa é inútil. É
justamente o oposto! Portanto, busque, bata à porta e poderá descobrir que ela
se abriu para você. Nesta época triste, a humanidade (em sua maioria, neste
caso) tenta arrasar tudo o que deseja, em vez de se elevar até o nível requerido
para obtê-lo, em vez de se elevar e desenvolver a percepção até o nível acima
e além da mente mortal, até o pico aonde queremos chegar!

Mesmo neste mundo materialista e cruel, tão cheio de desejos materiais, como
se pode ver claramente na política global do presente, essa tendência perniciosa
de corrupção é totalmente visível. Por exemplo, certas grandes nações, ainda
subdesenvolvidas, vendo a prosperidade de outras raças, que certamente não
foi alcançada “por nada”, mas pelo enorme esforço e trabalho de várias
gerações, gostariam simplesmente de espoliar essas nações prósperas de suas
riquezas, em lugar de tentar aprender como produzir esses valores de um modo
semelhante em seu próprio benefício. Elas não são capazes de ver que, mesmo
alcançando esse objetivo, isso resultaria apenas num empobrecimento que
dominaria toda a humanidade num curto espaço de tempo, em vez dos cinquenta
por cento, como é agora.

Certa vez ouvi uma velha e interessante história originada das lendas orientais.
Um rei, que governava um determinado país, ficou insatisfeito com a aparente
desigualdade entre seus súditos. Alguns eram ricos, mas a maioria era pobre e
tinha inveja das classes ricas. Finalmente, ele ordenou que todas as
propriedades fossem reunidas numa só, a ser dividida igualmente entre todos os
cidadãos, de modo que ninguém pudesse se queixar de qualquer injustiça da
parte dele.

Infelizmente, alguns anos mais tarde, quando ele partiu num cortejo para fora
dos vastos domínios do palácio, novamente viu mendigos nas estradas e
algumas pessoas aparentemente bem vestidas e alimentadas.
Com o passar dos anos, a diferença cresceu ainda mais, até que a velha ordem
quase se havia restabelecido.

Os que haviam desperdiçado seus bens, obtidos sem qualquer esforço ou


trabalho, retornaram ao antigo estado de mendicância, mas na maioria dos casos
as pessoas eficientes e capazes tinham retomado sua antiga posição.

Nenhum dos Grandes Mestres da humanidade jamais se preocupou com a


riqueza, como a história nos mostra infalivelmente. Quem está certo, nós ou
Eles?

Algumas vezes tentei fazer um paralelo entre essa “Hiperconsciência” e o


Samadhi, mas descobri que eles não incluem um ao outro. Pelo menos é assim,
julgando pelo que podemos saber da experiência prática de Samadhi. Ambos
são estados diferentes de consciência, ampliada além dos estreitos limites da
mente humana. Consequentemente, parece que seria útil explicar e descrever
aqui alguns aspectos de Samadhi. Este termo, cunhado por nossos irmãos
orientais (originalmente, os hindus vedantas) é muito útil e substitui longas
dissertações. Portanto, é melhor explicá-lo de UMA VEZ, e depois limitar-me a
usar a palavra. Certamente, os que estudaram meus livros Concentração e
Samadhi encontrarão pouca coisa de novo nas próximas linhas.

A — Há duas subdivisões principais de Samadhi: uma, que diz respeito a certas


visões da mente, é chamada de “VIKALPA SAMADHI” ou A QUE CONTÉM
FORMAS. Contudo, alguns dos espíritos de liderança da filosofia indiana, como
foi Ramana Maharshi (1879-1950), se recusam até mesmo a chamar esse tipo
de supraconsciência de Samadhi, limitando o termo meramente à definição de
“êxtase”, um estado inferior ao verdadeiro Samadhi. Por causa da utilidade dessa
análise e da definição que se segue, concordo plenamente com o Mestre
Maharshi. Mas, pelo motivo de muitos escritores (incluindo os do Oriente)
continuam usando este termo (Vikalpa Samadhi) para descrever o êxtase
mental, ele está sendo mencionado aqui como “A”. Do nosso ponto de vista, esse
estado tem uma conexão direta com a visualização de certos tipos de clichês do
mundo exterior, assim como de clichês de “dentro” da mente humana. O
Apocalipse de São João e as profecias de Nostradamus são exemplos clássicos
dos sistemas bem desenvolvidos de clichês cósmicos, de acordo com a
percepção dos videntes inspirados.

Como sabemos, alguns clichês mais restritos, e não tão antigos, são
notavelmente fortes e, à parte o visual, podem até mesmo se estender às
impressões sonoras, que podem ser percebidas como visões com sons, mesmo
por ocultistas sem treino. Os famosos exemplos das batalhas de Edgehill, de
Naseby e de Waterloo, com suas mudanças de cena e trovões de batalhas
naturais, e que podem ser vistas por pessoas sensitivas em todo aniversário
desses acontecimentos históricos, são muito bem conhecidos para serem
descritos aqui novamente. Até mesmo os gritos realistas de pessoas feridas e
combatentes morrendo podem ser ouvidos.

B — Vamos agora para a segunda categoria de Samadhi — que é o SEM


FORMA, ou NIRVIKALPA, em sânscrito. Nele, não há visões, de modo algum,
pois esse estado de Supraconsciência está além da mente e pertence ao que,
segundo a filosofia vedanta, é chamado de Quarto Estado (a consciência física
sendo o PRIMEIRO, a astral o SEGUNDO e a mental o TERCEIRO). Em nossa
terminologia, será simplesmente chamado de SUPRACONSCIÊNCIA
ESPIRITUAL.

Há duas formas diferentes de Nirvikalpa Samadhi, com muitas diferenças


essenciais.

1) O Kevala Nirvikalpa Samadhi, ou o temporário, que pode ser de duração longa


ou curta, mas após o qual um homem inevitavelmente retorna à sua consciência
“normal” do mundo físico. Esse estado de Samadhi temporário está relacionado
com a catalepsia do corpo, que é então mergulhado num estado de imobilidade
e rigidez, ou em outros sintomas similares. Após o retorno, o homem
normalmente tem um período de êxtase mental, que está relacionado com
felicidade, alegria e frequentes lágrimas, como resultado da experiência básica.
Isso é o que um homem, seja ele santo, iogue ou ocultista superior, pode esperar
vivenciar, até que seu desenvolvimento o leve a ingressar no mestrado, à
conclusão das lições de vida como um ser encarnado na matéria.

O Kevala Nirvikalpa Samadhi pode ser acompanhado por certos poderes


psíquicos chamados de Siddhis pelos hindus ocultistas, tais como clarividência,
clariaudiência, forças magnéticas que podem ser usadas para a cura de
determinadas doenças, e assim por diante.

Mas não devemos confundi-lo nunca com a última e mais elevada forma de
Supraconsciência conhecida, pelo menos em teoria. Ela é:

2) O Sahaja Nirvikalpa Samadhi, quando a palavra “Sahaja” é usada no lugar de


“Kevala”. Sahaja significa “o perene”, ou o estado eterno do espírito
supraconsciente, acessível apenas àqueles que terminaram sua evolução
terrena e aprenderam todas as suas lições e, portanto, nada mais têm para
saber.

Este misterioso (apenas para nós, é claro) estado de Sahaja não apela para
qualquer limitação das funções corporais, como é o caso da forma Kevala. O
homem pode então viver neste mundo como qualquer ser humano normal e pode
andar, trabalhar e dormir, em resumo, pode agir do modo que preferir e, ainda
assim, NUNCA PERDER SUA CONSCIÊNCIA ESPIRITUAL, que pode se tornar
ininterrupta e eterna nele. Isso é tudo o que sabemos da boca daqueles que
experimentaram esse ápice de realização, e o testemunho de Maharshi sobre
isso é o mais direto e autorizado. Ele tinha graça suficiente para nos dizer tudo
o que podia ser expresso em linguagem humana sobre esse mistério, sendo ele
o único homem em nossa época que se elevou a esse ápice supremo.

Podemos apenas supor esses poderes espirituais ilimitados que estão


associados ao Sahaja julgando pelo próprio Maharshi, embora ele não gostasse
de mostrá-los de modo algum. Mas estes se manifestaram como conhecedores
de todas as três subdivisões de tempo, sendo capazes de ler as profundezas
mais íntimas da consciência humana; tornando-o visível em diferentes lugares
ao mesmo tempo; assistindo decisivamente o desenvolvimento espiritual e a
iluminação daqueles que se voltaram verdadeiramente para ele como seu
mestre e guia; estimulando as faculdades ocultas em seus devotos e levando-os
ao Samadhi de um modo seguro e sem obstruções; purificando suas mentes e
volvendo-os para a espiritualidade, no lugar das ilusões do visível, da existência
terrena; e supervisionando seu crescimento espiritual até mesmo depois de
deixar seu corpo físico, de acordo com sua própria promessa de “não nos
abandonar” após a morte. Involuntariamente, as grandes palavras de Cristo me
vêm à mente: “Não os deixarei órfãos, voltarei para vocês”.

Este não é o lugar para se sondar mais profundamente este domínio fascinante,
especialmente tendo em vista que foi tratado plenamente em outro livro —
Samadhi: a supraconsciência do futuro...

Entretanto, nas palavras do Mestre Espiritual do nosso período, podemos


encontrar uma afirmação surpreendente, de incalculável valor, para a nossa
investigação da Hiperconsciência e suas propriedades. Falando sobre Jesus
Cristo, o grande Rishi Maharshi disse: “Jesus, o homem, era totalmente
inconsciente de seu ser como algo à parte quando realizou seus milagres e
proferiu suas maravilhosas palavras. Ele era a LUZ BRANCA, a VIDA, que é
causa e efeito, agindo em perfeita harmonia: ‘EU E MEU PAI SOMOS UM’”.

Pela análise dessas palavras do Sábio, que certamente conhecia mais sobre
Cristo do que qualquer outro filho do homem, podemos perceber uma imensa
Verdade. É a seguinte: o estado que permite a ocorrência do mais incrível dos
milagres é justamente a Hiperconsciência, mencionada em alguns exemplos no
começo deste capítulo. Apenas então ela é AMPLIADA EM INFINIDADE E
PERFEIÇÃO (no lugar de fragmentos infinitesimais, só acessíveis a nós em
certos casos muito raros, observados por um pequeno número de homens), que
é a UNIÃO COM O PAI (Eu e meu Pai somos UM), a totalidade da vida.

Não há nenhum propósito nem necessidade de sondar o Insondável: “...Quem


pergunta é enganado, quem responde, engana...” Portanto, vamos ficar
tranquilos e tentar descobrir a resposta que não pode ser expressa em palavras.

Mesmo assim, podemos ser capazes de analisar e supor a respeito dos pré-
requisitos, tornando a experiência da Hiperconsciência mais próxima e possível.
Mas em problemas tão profundamente enraizados podemos falar apenas por
nós mesmos. Ou você aceita este testemunho, ou busca outro por si mesmo.

Parece que a habilidade (algumas vezes inata, algumas vezes adquirida pelo
trabalho e empenho árduos) de tranquilizar a mente de modo voluntário, de se
separar das funções mentais, de aplainar as ondas da superfície desse poço
simbólico, que represe a mente, é o pré-requisito ESSENCIAL. Pode haver
outros que ainda não conhecemos, mas este é um dos pontos mais importantes.
Por quê? Simplesmente porque os flashes da Hiperconsciência invariavelmente
incluem a eliminação das funções da mente. Além disso, o treino bem dirigido de
meditação parece dispersar as nuvens ao redor da percepção espiritual pura que
estou definindo como “Hiperconsciência”.

Acredito que, ao iniciar o curso na arte prática da meditação, você está habilitado
a saber tanto quanto possível sobre tudo o que expus nos capítulos da primeira
parte deste livro, de modo que os exercícios não o pegarão despreparado, e sua
mente, que invariavelmente tentará colocar todos os obstáculos em seu
caminho, será mais bem conhecida por você. Essa mente, como você sem
dúvida concordará, se já tentou executar alguns exercícios iniciais de
concentração e meditação, é definitivamente inimiga dessa tarefa. A afirmação:
“A mente é a maior Assassina da Realidade. Deixe o Discípulo assassinar a
Assassina” (tirada de Vozes do silêncio) é e sempre será a Verdade suprema.

A Hiperconsciência também está além da intuição, que pode ser definida como
a habilidade de conhecer sem pensar, cujo poder é infinitamente maior que o da
mente. Pois n’ELA não há nada mais para se conhecer, uma vez que tudo é
conhecido. Psicólogos eminentes, como o dr. C. Jung, sabiam a respeito dos
poderes da Hiperconsciência, que eles chamavam de camada “subconsciente”
da mente, porque a mente “normal” não estava presente nas operações do
“subconsciente”. Podemos apenas supor o motivo pelo qual eles não
perceberam que o termo é inadequado, já que os poderes manifestados nesse
estado são muito superiores ao usual da mente.

Isso poderia ser explicado pelo fato de que, para muitos psicólogos, o
pensamento é a manifestação mais alta da consciência humana. Portanto, se
eles descobriram alguma coisa separada e independente das funções da mente,
eles a colocaram abaixo, o que, de acordo com suas teorias, é o nível mais alto
que ela pode alcançar.

Essa atitude impede-os de fazer maiores descobertas, pois a transcendência e


dominação da mente é um pré-requisito. Em meu livro Concentração, que é,
como você já sabe, uma introdução necessária à Meditação, enfatizei que a
percepção de um homem que foi capaz de se separar de seu processo de
pensamento, de dominá-lo de acordo com a sua vontade e de deter todas as
funções mentais — que trazem os resultados de mais longo alcance — é muito
diferente da de uma pessoa comum. As pessoas desse último tipo não sabem
de onde vêm os pensamentos e como guiá-los. Como você pode supor, o
primeiro homem tem a habilidade de discriminar e selecionar clichês, enquanto
o outro toma quase tudo como se viesse para ele de um “espaço” misterioso, no
qual os clichês operam.

A meditação, se estudada sinceramente, pode colocá-lo nessa categoria


superior de homens, mas ela deve ser precedida por um estudo de concentração
prática, totalmente à parte das informações introdutórias que você encontra na
primeira parte deste curso.

Como em meus trabalhos anteriores, meus conselhos permanecem os mesmos:


leia cada capítulo pelo menos sete vezes, para obter os melhores resultados do
estudo. Pilhas de cartas de meus leitores, que confirmam que excelentes
resultados podem vir deste método, são a melhor prova de sua integridade. “Ler”,
apenas, é de pouco ou de nenhum valor.

Este capítulo não cobriria completamente o assunto deste título se a importante


idéia de Realização do verdadeiro Eu do Homem fosse omitida e a menos que
fosse analisada nesta última abordagem do problema de Hiperconsciência. A
Auto-Realização, ou a entrada na camada da consciência central, o todo-
abrangente, o grande EU (ou Deus, se você preferir este termo), embora muito
rara entre nossos companheiros contemporâneos, não é tão desconhecida como
o Sahaja Samadhi, a Hiperconsciência, ou o verdadeiro poder da Fé.

Houve e ainda há pessoas vivas que vivenciaram essa Realização em seus


momentos mais sublimes nesta terra. É verdade que elas não falam muito (ou
nada) sobre isso, pois sabem que a fala não tem poder para expressar as
experiências além da linguagem da mente.

Acredito que, quando o estado da Realização não é mais esporádico, mas


permanente, pode até mergulhar na Hiperconsciência, sendo um e o mesmo
estado. Maharshi chamou o Eu Supremo de Deus. Desde o primeiro parágrafo
deste capítulo pode-se ver que a Hiperconsciência possui evidentemente as
qualidades que atribuímos ao Onipotente.

Finalmente, temos estas estranhas e misteriosas palavras de Cristo: “...Se você


tiver a fé de um grão de mostarda, dirá para esta montanha: ‘Afaste-se daqui’, e
ela se afastará...” Isso se ajusta perfeitamente à idéia, expressa anteriormente,
de que, se mesmo um flash infinitesimal de Hiperconsciência em nós nos eleva
além de toda a física conhecida, e de outras leis, então períodos mais
prolongados deverão trazer resultados maiores. O termo “FÉ” ainda permanece
misterioso para a maioria esmagadora das pessoas, que muitas vezes o
confunde com algo totalmente diferente, que é a “crença” ou “credulidade”, que
tem pouco em comum com a verdadeira FÉ. Os que estiverem interessados
neste problema primordial encontrarão mais a respeito no capítulo 4 do meu livro
Teurgia.
Concluindo este capítulo, quero convidá-lo para fazer as descobertas finais
sobre a Hiperconsciência e outros estados elevados de consciência, como o
Samadhi, a Auto-Realização e a Fé, por si mesmo e por seus próprios esforços.
Será um exercício muito útil, antes de passarmos para a segunda parte deste
livro e antes de concluirmos, deste modo, sua “preparação teórica” para a
MEDITAÇÃO.
SEGUNDA PARTE

TÉCNICAS DE
MEDITAÇÃO
11
As principais dificuldades
para os iniciantes

Dei a este livro o subtítulo de “Esquema para um estudo prático” e gostaria que
esse caráter permanecesse por todo o trabalho. Isso significa que serei obrigado
a dar ao estudante sincero tudo o que ele precisa para iniciar com êxito e
prosseguir na arte da meditação até seu real domínio. Um livro assim só pode
ser escrito quando baseado na experiência prática e verdadeira de alguém que
tenha experimentado e percorrido esse caminho em sua própria vida e obtido os
resultados desejados. É por isso que exponho muitos detalhes que normalmente
suscitam perguntas e problemas aos iniciantes. Meu método será o mesmo
usado em minha Trilogia: antecipar e explicar esses problemas. Os que acharem
que já os resolveram antes devem ser pacientes em relação aos outros, que
ainda precisam de todas as minhas explicações dirigidas aos iniciantes.

Como mencionei num capítulo anterior, as dificuldades principais e básicas são


muito parecidas com as encontradas no estudo da concentração, e elas são:

O SOFRIMENTO DA PESSOA PARA MANTER FIRMEMENTE A ATENÇÃO


NUM TEMA DE MEDITAÇÃO, E AS DIFICULDADES PARA COMBATER O
ASSALTO FURIOSO DE PENSAMENTOS QUE, EM VEZ DE PERMITIR QUE
A MEDITAÇÃO SIGA UMA LINHA HARMONIOSA, AMPLIANDO-SE EM
DIREÇÃO AO OBJETO ESCOLHIDO, QUEBRAM A CONCENTRAÇÃO E
FAZEM COM QUE, AO CONTRÁRIO DE SER UMA CURVA ASCENDENTE,
SEJA DESCENDENTE. ISTO SOLAPA AS FORÇAS DO ASPIRANTE,
FRUSTRA SEUS ESFORÇOS E ROUBA-LHE O TEMPO, O QUE
NORMALMENTE TRAZ DESAPONTAMENTO E, FINALMENTE —
FRUSTRAÇÃO.

É por isso que tão poucas pessoas obtêm êxito na meditação. Aqui, é claro, não
estou me referindo aos que apenas imaginam que “meditam” quando, na
realidade, estão meramente flutuando nas ondas indolentes de sua própria
mentalidade, que só fica feliz ao iludi-los nesse caminho traiçoeiro.
Frequentemente, essas pessoas mal orientadas nem mesmo acreditam quando
a verdade lhes é dita, continuando a imaginar que estão praticando a meditação,
a respeito da qual elas, na verdade, nada sabem.

Prefiro não tentar convencê-las. Em assuntos espirituais, não existe nada


parecido com “convicção mental”: OU A PESSOA CONHECE, OU NÃO
CONHECE. E a Intuição não vem de um lugar qualquer, sem precedentes. Se
você a tem, ela é o resultado de seus esforços anteriores, sobre o qual a sua
mente, nesta encarnação, não pode saber nada pois foi totalmente destruída
durante sua SEGUNDA MORTE, e apenas as habilidades previamente
aprendidas foram transferidas para a manifestação seguinte da matéria.

Quando você se senta e começa a direcionar sua mente de acordo com o


objetivo escolhido, pode sentir muito bem que, após um período muito curto —
que talvez dure de alguns segundos a um minuto —, você perde o poder de
continuar com uma atenção ininterrupta em seu tema. OUTROS
PENSAMENTOS VÊM OCUPAR SUA MENTE, NÃO DEIXANDO ESPAÇO
PARA A MEDITAÇÃO. Este é um axioma e você deve checá-lo por si mesmo.
Isso significa que você tem de render-se e se resignar? Nunca! Saiba que todos,
incluindo os Mestres Espirituais, tiveram exatamente os mesmos problemas em
determinados períodos de sua vida, e eles os dominaram saindo vitoriosos em
suas batalhas contra a tirania do comportamento despótico da mente.

Certamente, após o estudo dos capítulos anteriores e sabendo alguma coisa


sobre clichês, você poderá me dizer que evidentemente diferentes clichês vieram
a você e tomaram o lugar do que planejava fazer. Bem, é assim, mas estou
procurando lhe explicar a causa desse acontecimento lamentável, pois sem esse
conhecimento é improvável que um homem vença este obstáculo primordial.

Para começar, dar-lhe-ei dois exemplos, deixando-o tirar suas próprias


conclusões, e depois acrescentarei a minha explicação.

Nos velhos tempos, havia na Índia um rei interessado em ioga que honrava os
homens sábios que frequentemente visitavam sua corte, sabendo que o bom rei
os manteria e ouviria seus ensinamentos. Um dia, um velho sábio fez um longo
discurso diante do rei e dos seus ministros, a respeito do fator fundamental da
ioga, que é o domínio do pensamento principal da pessoa, ou a habilidade de
concentração da mente. Ele explicou que a maior parte dos “milagres”
executados por certos iogues eram baseados apenas num poder perfeito de
concentração, isto é, na atenção firme num objeto escolhido.

Um dos ministros mais jovens discordou do velho iogue e lhe disse que não
acreditava que a mente humana pudesse ser dirigida como um navio o é por seu
leme. “Não acredito que mesmo os maiores iogues possam concentrar sua
atenção, sem se deixar distrair por outros pensamentos ou imagens”, disse,
ceticamente, o intelectual.
O rei, evidentemente, ficou descontente, e seu olhar se tornou duro. Depois de
um momento de reflexão, ele disse: “Traga o carrasco aqui com sua espada e o
cepo de decapitação; encha também uma das bacias de ouro com água”.
Quando as ordens foram cumpridas, o rei se voltou para o cético ministro e lhe
disse: “Sua opinião mostra que você é um tolo, e tem abusado de minha
confiança ao me servir. A penalidade para isso é a morte, e é por ela que o
carrasco está esperando. Mas lhe darei uma chance de salvar a sua vida. Pegue
essa bacia cheia de água em suas mãos, e fique olhando para ela enquanto
caminha ao redor do palácio e dos jardins; depois volte para cá. Sete guardas o
acompanharão, e, se eles virem até mesmo uma única gota espirrar da bacia,
você será decapitado imediatamente”.

O desafortunado ministro ficou pálido, mas não tinha escolha. Pegou a bacia
cheia de água e iniciou sua caminhada. Quando, após meia hora, ele retornou
exausto, os guardas confirmaram que nem uma única gota havia espirrado.

“Você está livre”, disse o rei, “mas sob a condição de que me conte o que viu
durante a sua marcha.” “Ah, meu soberano”, disse o ministro, “eu estava tão
ansioso observando a água na bacia a fim de não deixar cair nenhuma gota, que
não vi nem ouvi nada!”

O rosto do sábio rei ficou feliz: “Veja, meu filho”, ele disse ao homem, “a
concentração é perfeitamente possível, e você pode excluir todos os
pensamentos de sua mente, quando tem o desejo genuíno de assim o fazer.
Quando sua vida foi posta em risco, você usou todos os seus poderes, não se
distraiu, e escapou da espada”.

Agora, aqui está outro exemplo, de origem mais recente. Você também deve ter
tido experiências similares durante sua vida. Frequentemente, sento-me em meu
estúdio, ouvindo minhas músicas favoritas. Um dia, lembrei-me de que tinha de
ler um capítulo muito importante de um livro recentemente encomendado que
estava sobre a mesa, à minha frente. Então eu o abri, achei a referência que
queria e comecei a ler.

Enquanto isso, alguém entrou na sala, disse que a música havia acabado e
perguntou se eu queria continuar ouvindo a ópera que estivera tocando durante
a última meia hora. “Obrigado”, respondi, “coloque o disco para tocar novamente;
eu estava tão ocupado que não me lembro de ter ouvido nada.”

Não há nada de extraordinário nessa história, que aconteceu muitas vezes em


minha vida, não apenas com discos, mas até mesmo quando pessoas presentes
no mesmo local estavam falando umas com as outras. Em tais momentos, eu
estava mentalmente mergulhado em outra coisa, e acredito que você também já
deve ter tido experiências semelhantes. Não importa por quanto tempo lhe
aconteça excluir seus sentidos de sua atenção; o fato permanece único e fala
por si mesmo. Existe ALGO em nós que pode se desligar dos sentidos, mesmo
que, na verdade, você continue fisicamente influenciado por coisas exteriores
tais como a visão e as ondas sonoras, como você pode perceber claramente
pelos simples exemplos citados. Portanto, ninguém pode nos dizer que essa
concentração não é possível! Ela existe e não pode haver dúvida ou oposição a
essa idéia provada na prática.

Mas estes exemplos não são tudo, pois precisamos tirar conclusões científicas
e lógicas deles, conclusões que sejamos capazes de usar durante nosso estudo
de meditação.

Como você vê, a concentração perfeita é POSSÍVEL, mas com uma condição
básica: que estejamos interessados em apenas um objeto de atenção, que se
sobreponha a toda curiosidade e a outros interesses em sua mente. Esta é a
conclusão correta e mais útil.

O PODER que permite que alcancemos agudeza mental é denominado


ATENÇÃO ou INTERESSE NUM DETERMINADO ASSUNTO.

Nossas dificuldades de concentração e meditação vêm de uma mesma e única


fonte. Ao nos sentarmos para nossos exercícios, ainda não estamos livres de
nossa curiosidade mental e de outros interesses quanto ao que está
acontecendo e o que pode acontecer, mesmo se jurarmos a nós mesmos que
nos concentraremos ou meditaremos APENAS NO TEMA ESCOLHIDO. Na
prática, esse juramento pode ser insuficiente, a menos que esteja baseado no
conhecimento do papel decisivo do poder de atenção na concentração. A pessoa
simplesmente tem de ensinar a si mesma a se interessar apenas no assunto de
sua concentração, ao mesmo tempo criando em si mesma uma absoluta falta de
interesse por qualquer outra coisa. Como isso pode ser feito? Esta técnica é
semelhante à auto-sugestão. A mente é ensinada a acreditar no desinteresse
por qualquer outra coisa. Não há nada de errado nesse método, pois ele apenas
erradica o velho hábito mental de dissipar a atenção e, portanto, de perder o
poder da concentração, o único capaz de levar o estudante à conclusão bem-
sucedida de seu trabalho, seja ele de concentração ou de meditação. Não é de
surpreender que tenhamos de usar a contra-sugestão para exterminar a velha e
errônea atitude de nossa mente.

Agora, quando olho para trás, no passado, e comparo as dificuldades que tive
de encarar nas mesmas circunstâncias de um iniciante, com o uso real da
mesma mente, a verdade do papel predominante da lei da “Atenção” e do
“Interesse” torna-se mais resplandecente. Como as coisas agora são fáceis, as
mesmas que antes (veja em Dias de grande paz, capítulo 9, “Meu caminho até
Maharshi”), isto é, há dezoito anos, se apresentaram como obstáculos
aparentemente intransponíveis.

O que foi possível para um ser humano é possível para os demais. Portanto,
permita que esta afirmação o ajude em seus esforços. Para resumir, a primeira
dificuldade básica, a unificação do interesse e da atenção com o objeto de sua
meditação, foi agora explicada, e você SABE o que tem a fazer quando iniciar
seu primeiro exercício de meditação elementar. Assim sendo, não repetirei mais
esta lei. Mas, de qualquer modo, comece a usá-la imediatamente após o primeiro
obstáculo que aparecer, a fim de que os exercícios elementares sejam
executados corretamente. Caso contrário, os exercícios seguintes, que são mais
complicados e sérios, não serão factíveis, e o resultado final será o
desapontamento e a confusão.

A segunda dificuldade surgirá de outro hábito da mente humana — SUA


INQUIETUDE, EXPRESSA NA ATITUDE DE EXPECTATIVA CONSTANTE. E o
que é isso? Até um determinado grau, esse inimigo está relacionado com o vício
da CURIOSIDADE, como foi descrito anteriormente neste capítulo. Em resumo,
normalmente ESPERAMOS ALGO NO TEMPO E NO ESPAÇO. Esta lei não se
aplica a todo mundo, porque há algumas pessoas desiludidas e frustradas que
não têm qualquer expectativa definida, ou mesmo indefinida, do que lhes pode
acontecer. Felizmente, esta parte extremamente passiva da humanidade não é
muito numerosa, e a ela pertencem, na maioria das vezes, as pessoas muito
velhas e doentes que, de qualquer modo, não teriam chance ou desejo de
experimentar os estudos psicológicos ou ocultos. Portanto, vamos deixá-las de
lado e retornar à vida.

Se olharmos profundamente para esse obstáculo da atitude de constante


EXPECTATIVA, não controlada ou justificada por qualquer movimento sério em
nossa consciência, podemos descobrir algo que é um paradoxo.

Nas RAÍZES DA EXPECTATIVA reside uma das principais virtudes de todo ser
humano superior, que é a ESPERANÇA! Mas nossa capacidade de
discriminação deve colocar as coisas imediatamente em sua verdadeira
perspectiva. A Esperança é um clichê verdadeiro, e a associação com ele só
pode aumentar e estimular nosso progresso e trabalho. A expectativa mental
descontrolada é um clichê pervertido da Esperança, algo como um soberano
transformado num ceitil.

Não se esqueça de que há CLICHÊS PRIMÁRIOS, VERDADEIROS, assim


como os há distorcidos e deturpados e que são como uma caricatura dos
primeiros. Involuntariamente, chegamos ao grande problema de DEUS e do
DEMÔNIO. Lembre-se de como, nas Escrituras, o SENHOR DAS TREVAS, ou
o DEMO, assim como o chamam, é descrito como o PAI DAS MENTIRAS. De
acordo com o que sabemos a respeito da grande Lei dos Clichês, devemos ser
capazes de usá-la com êxito neste caso.

O ARQUÉTIPO, o clichê Perfeito do Universo, assim como foi concebido no


início dos tempos, tem como contrapartida o clichê desfigurado e degradado de
uma reflexão deformada na matéria. Isso também explica o antigo axioma dos
Mestres Espirituais de todos os períodos que a Matéria é Maia, ou ilusão, ligada
ao Demônio, enquanto o Espírito, sendo livre e independente desse Maia, é
eternamente bom e o único alvo verdadeiro de Realização. Algo como os dois
lados da mesma moeda, com a diferença de que o verso é real e o anverso é
ilusório. Penso que a verdadeira face do segundo inimigo foi suficientemente
revelada para iniciar a busca de um remédio contra isso.

Novamente, será semelhante à arma que recomendamos contra a curiosidade


da mente, que produz falta de atenção do assunto escolhido. COMPREENDA
QUE NÃO HÁ NADA PARA SE ESPERAR DURANTE O TEMPO QUE
DEDICAR A SEUS EXERCÍCIOS DE MEDITAÇÃO. Isso deve estar firmemente
fixado em sua mente, pelo mesmo processo de auto-sugestão. Aqui, as grandes
palavras de Hahnemann (o fundador da homeopatia): “SIMILIA SIMILIBUS
CURANTUR” (o semelhante cura o semelhante, isto é, a doença pode ser curada
por meios similares) têm sua plena aplicação. Quando um calço que você está
usando fica preso num pedaço grosso de madeira, ou num tronco de árvore,
você usa outro calço para libertar o primeiro. Simples, mas funcional.

Conheci homens que, por muitos anos, sentiram prazer em fumar, até que
compreenderam que esse hábito poderia arruinar-lhes a saúde e provocar uma
doença incurável. Então começaram a se convencer de que o tabaco é uma
coisa abjeta, anti-higiênica e venenosa, e que cada inalação de sua fumaça
prejudica os pulmões e o aparelho digestivo. Como resultado, conseguiram
dominar o fumo e nunca mais voltar a ele.

A sugestão funcionou apropriadamente para eles.

Também, quando olho para trás, com a perspectiva de muitos anos, como fiz
para dominar a curiosidade da mente, parece-me que agora, poucos minutos
antes de começar a meditação, a atitude de expectativa é removida por um
simples ato de minha vontade. Talvez seja assim, mas fui capaz de usar a força
de vontade só depois de praticar os métodos que estão sendo recomendados
neste livro. Quando a habilidade para tratar desses dois obstáculos (pelos
métodos explicados anteriormente) nasce num homem, ele não precisa retornar
aos truques infantis para sobrepujar as dificuldades toda vez que começa a
meditar. Do mesmo modo como, ao ler estas palavras, não fazemos os primeiros
exercícios escolares com o alfabeto antes de conhecer cada letra.

Para resumir:

a) NÃO ESTOU INTERESSADO EM NADA MAIS DURANTE A MINHA


MEDITAÇÃO.

b) NADA ACONTECERÁ DURANTE A MINHA MEDITAÇÃO,

Estas duas fórmulas fornecem a arma contra as duas dificuldades mais


embaraçosas que os iniciantes em meditação enfrentam.
Quando o estudante tem uma boa compreensão da parte teórica de sua defesa
contra os pensamentos intrusos indesejados, ele pode, para determinados
propósitos, reduzir essas duas fórmulas a UMA SÓ, que repelirá os dois tipos de
dificuldades que são a CURIOSIDADE da mente e o estado de EXPECTATIVA.

c) Na verdade, usei esta fórmula reduzida (ou, como alguns podem preferir
chamar, um tipo de “espada mágica” invisível, ou até exorcista) — NÃO ESTOU
INTERESSADO! — com pleno sucesso.

O ponto é que a energia que se introduz em sua mente sem permissão, ou contra
a sua vontade, é limitada, isto é, tanto pode ser fortalecida quanto enfraquecida,
dependendo de seu comportamento e de seu grau de conhecimento. Neste livro,
estou lhe dizendo tudo o que você deve e precisa saber, para que o momento
de ignorância seja totalmente aniquilado. Você não poderá dizer que não sabe
como se defender! Talvez não queira, mas isso é outra história. Ninguém pode
auxiliar ninguém que não queira ajudar a si mesmo.

O Mestre Maharshi, ao tratar deste mesmo assunto, dos obstáculos mentais à


meditação ou Auto-lnquirição, também chamada de VICHARA (Quem sou eu?),
deu-nos uma comparação: “Imagine que você está sitiando uma fortaleza. Essa
fortaleza é a sua mente desobediente. Seus defensores e habitantes, que são
os pensamentos, tentam fugir. Assim que eles aparecerem fora da fortaleza,
mate-os um após o outro com o Vichara. Se matar todos eles, a fortaleza
finalmente será sua, pois não terá mais defensores”.

O Mestre estava falando da arma da Auto-ReaIização, que é justamente a Auto-


lnquirição. Em nosso caso, podemos substituí-la pela fórmula: “NÃO ESTOU
INTERESSADO!” e obter os resultados desejados: acabar com a interferência
da mente em nossa meditação.

Se fosse possível reproduzir este método graficamente, ele apareceria como se


você estivesse voltando a cada pensamento seu, não querendo ter nada em
comum com ele. Está em nós a força misteriosa que é a centelha da vida, a única
força verdadeira que existe; a nossa consciência, a nossa atenção. É por isso
que todos esses pensamentos, clichês e até mesmo sentimentos tentam
desesperadamente sugar esse poder, que é vivificante para eles. Se você os
recusa, eles se enfraquecem e desaparecem; mas se você lhes der um lugar em
sua consciência, isto é, se você SE OCUPA COM ELES, então eles o escravizam
sem piedade e seus sonhos de tornar-se um ser forte, independente e sábio são
sufocados temporariamente.

Agora você pode entender por que as “Vozes do Silêncio” lhe dizem para
“assassinar a assassina”, que é a sua mente, e por que o Mestre Maharshi nos
aconselha igualmente a matar os defensores da fortaleza da mente. Essa
batalha pode ser fatal para um dos poderes em luta. Portanto, deixe que ela seja
fatal para o inimigo, não para você!
Quantos truques traiçoeiros esse inimigo usará! E tudo a fim de ter a permissão
para sugar o seu sangue, como os vampiros, para enfraquecê-lo e dominá-lo.
Pensamentos muito piedosos, conceitos brilhantes, idéias inspiradoras, tudo
baterá à porta de sua consciência pedindo para entrar. E todos eles, no final,
serão inúteis em sua aparente inspiração; mas, uma vez admitidos, transformam-
se de “anjos” em larvas sedentas de sangue, que não têm piedade nem simpatia
pelo tolo que acreditou neles e permitiu que poluíssem o templo de seu tesouro
e bem supremo — sua percepção pura.

Cada “justificativa” que aparecer em sua mente durante a “batalha” será um


espião, enviado pelo inimigo para derrotar suas defesas. Você terá de ouvir
essas idéias magníficas, esses pensamentos interessantes, esses conceitos
inspiradores (como eles parecem ser) quase o tempo todo, porque o inimigo quer
que você se renda a ele até mesmo nessa meia hora escassa que você quer
dedicar à meditação! Deve-se ter alguma consideração por um monstro tão
voraz? A decisão lhe pertence e, com ela, o seu destino: viver de acordo com o
seu ideal ou ser arremessado nas ondas da mente como um barco sem leme.

Neste capítulo, você encontrou a última Iniciação na arte de meditar. Tudo foi
mencionado e explicado, de modo que nenhuma pergunta ou dúvida surja em
você. Se elas surgirem, saiba que não vêm de nenhum amigo e trate-se
devidamente. Então você vencerá.
12
Exercícios introdutórios
— série I

Agora que você conhece a parte teórica deste trabalho, podemos prosseguir com
os primeiros exercícios práticos.

Exercício A: Tendo conseguido tempo e tendo se colocado na posição


recomendada na primeira parte deste livro, sente-se ao lado de uma mesa, faça
alguns pranaiamas (veja o capítulo 15 de Concentração) e feche os olhos. Tente
lembrar-se de todos os objetos ao seu redor que ainda tem na memória. Ficará
atônito ao perceber como são poucos em comparação com o número real.

Aqui está um aviso importante. Primeiro, você deve se imaginar sentado, como
estava ao iniciar, vendo APENAS O QUE PODE SER VISTO SEM VIRAR A
CABEÇA.

Em outras palavras, tente olhar quase exclusivamente para o que está à sua
frente. Provavelmente, verá a mesa, depois um quadro, que está na parede
oposta, um ou dois livros que estão sobre a mesa, etc. Tente imaginá-los o mais
possível reais, exatamente como estavam no momento em que os viu de olhos
abertos.

Quando achar que já “viu” o que podia ver em sua mente nessa direção, VIRE
IMAGINARIAMENTE A CABEÇA PARA O LADO DIREITO, E OBSERVE OS
OUTROS OBJETOS, VISÍVEIS DESSA NOVA POSIÇÃO.

A seguir, vire a cabeça noventa graus na mesma direção, e NOVAMENTE


ESTUDE A CENA À SUA FRENTE. Desse modo, você terá feito uma volta de
duzentos e setenta graus.

Por último, vire a cabeça para o outro lado e “veja” o que puder. Com isso,
concluirá a primeira parte deste exercício inicial.

Você virou a cabeça quatro vezes em sua mente, a fim de “ver” os objetos que
o cercam de todos os lados. Quanto tempo você se permitiu ficar em cada uma
das quatro posições? Não seja muito apressado no começo; pelo contrário, tente
lembrar-se de todos os objetos que puder, e visualize-os exatamente com suas
formas definidas e não como se estivessem esfumaçados. Seus estudos
anteriores de concentração lhe permitirão que faça isso sem muito esforço. Esta
é uma introdução fácil e interessante à meditação elementar. Você não pode
começar a partir dos graus avançados, pois não teria êxito, nem eles seriam
exatos.

Agora, abra os olhos e olhe vagarosa e calmamente ao seu redor, observando


quantos objetos esqueceu ou colocou numa posição errada com a mente. NÃO
VERBALIZE; opere exclusivamente com sua visão. Não diga mentalmente:
“Agora vejo essa parede amarela com um quadro representando uma rua de
aldeia, enquanto na mesa à minha frente está o livro Concentração, de capa
azul-clara” etc. ASSIM ESTÁ ERRADO. Você deve ter apenas os quadros
mentais, nada mais. Você ainda terá muitos problemas com a eliminação desse
hábito prejudicial da verbalização, quando passar para exercícios mais
complicados.

Exercício B: Agora faça a mesma coisa que tentou fazer com os olhos fechados
no Exercício A, com a mesma sequência de QUATRO ESTÁGIOS, cada um de
noventa graus, mas desta vez olhando à sua volta. Tente memorizar
completamente o máximo de detalhes que puder em seu campo de visão. Na
verdade, você deve memorizar TODOS ELES; portanto, recomenda-se que
comece num cômodo onde não haja muitos objetos.

Dedique cerca de dois minutos para cada volta de noventa graus. Se sentir que
é muito pouco, prolongue-os um pouco e, se achar que é demais, encurte-os.

NÃO SE ESQUEÇA DE ANOTAR NAS MARGENS DESTE LIVRO A HORA EM


QUE COMEÇOU E TERMINOU UM EXERCÍCIO. E FIQUE PRONTO PARA O
PRÓXIMO.

Os quadros à sua frente devem ser claros e exatos. Esta é a proposta deste
grupo de exercícios.

Depois de terminar sua observação, feche de novo os olhos e repita o Exercício


A, mas agora, é claro, com mais perfeição, pois já está mais preparado para ele.
IMPORTANTE: faça APENAS O QUE FOI PEDIDO durante cada exercício: não
permita que nenhum outro pensamento entre em sua mente. Se sentir que os
pensamentos estão se aproximando de sua consciência e prontos para ocupá-
la, afaste-os com as fórmulas do capítulo 11. Pela prática da concentração você
já deve sentir que os pensamentos e clichês estão se aproximando; portanto,
não permita que eles permaneçam em sua mente. Cace-os sem piedade, pois
eles tentarão destruir seus esforços e fazê-lo voltar para o nada!

No começo, esses dois exercícios, A e B, devem ser feitos juntos, na sequência


indicada. Os estudantes bem treinados que aproveitaram bem o estudo do livro
Concentração não precisarão despender muito tempo com o Exercício A, dando
mais atenção ao B, ou tratando-os igualmente. Eles esquecerão pouca coisa no
A, e recriarão os quadros exatamente, sem dificuldade.

Exercício C: Repita tudo o que fez nos exercícios A e B, mas em outra sala, onde
haja mais objetos. Quando eu estava concluindo esta série, os exercícios eram
feitos numa pequena igreja, durante as horas em que não havia nenhum ofício
programado. Isso significa que havia muitas coisas para serem lembradas e
recriadas pela mente, mas não recomendo essa tentativa antes que você fique
bem familiarizado com os exercícios em sua própria casa. O ponto importante
dos três exercícios da primeira série, A, B e C, é repetir mentalmente, com os
olhos fechados, tudo o que viu com eles abertos, isto é, ao observar os objetos
que devem ser lembrados. Isso incluirá, primeiramente, as voltas mentais de sua
cabeça, quando virar o rosto noventa graus. No começo, algumas pessoas
acham mais fácil fazer esse exercício virando a cabeça e o corpo, exatamente
como foi feito na preparação, mas, é claro, com os olhos fechados. Se você sentir
que isso facilita o seu trabalho, faça assim por um determinado tempo, mas
depois, quando for capaz de fazer a série 1 inteira perfeitamente, volte a fazer
os exercícios virando-se APENAS EM IMAGINAÇÃO. Esta primeira série ainda
pertence aos exercícios chamados de “estacionários”, isto é, sem qualquer
mudança da posição real do corpo, como, por exemplo, caminhar; você o fez
apenas sentado ou em pé. Depois de terminados os exercícios de A a C na
posição sentada, você DEVE FAZÊ-LOS DE PÉ. Isso se ajusta melhor ao
período de seu trabalho em que estiver realmente virando o corpo e a cabeça
com os olhos fechados.

EM NENHUMA CIRCUNSTÂNCIA ABRA OS OLHOS ANTES DE TERMINAR O


EXERCÍCIO. Se sentir que sua memória diminuiu em determinados momentos,
ao fazer a última virada (de duzentos e setenta graus), por exemplo, e perceber
que não pode recriar tudo a partir dessa posição, é melhor terminar com uma
visualização “nublada” e depois iniciar todo o exercício novamente; mas NÃO
ABRA os olhos nem mesmo por um momento para ver o que realmente está à
sua frente. Isso seria prejudicial, e serviria apenas para criar o hábito de repetir
esse método errôneo outra e outra vez. Se o exercício for prejudicado por esse
comportamento, não terá valor e sua força de vontade ficará mais enfraquecida.
Em resumo, será um fracasso total! Esse conselho fundamenta-se em longa
prática e experiência no assunto; assim, não há nenhum meio de você mudar as
coisas, especialmente se é um principiante. Para finalizar esta série, gostaria de
acrescentar que em geral ela não apresenta nenhuma grande dificuldade e
normalmente é realizada em cerca de três semanas, se os exercícios forem
feitos diariamente e do modo correto, como foi prescrito. O contrário só
acontecerá se o estudante negligenciar as instruções dos capítulos anteriores,
especialmente se elas foram omitidas, não passando por pelo menos três séries
de exercícios do livro Concentração (parte III), pois então ele está “verde” e não
pode esperar ser bem sucedido, assim como um aluno de primeiro grau não
pode saltar para a universidade sem passar pelo segundo grau. Uma das razões
pelas quais há tão poucos ocultistas e estudantes de meditação realmente bem-
sucedidos é que a maioria dos “adeptos” em perspectiva não são
suficientemente honestos, e acredito que são capazes de omitir, em sua
educação oculta, estágios de que eles não gostam ou que consideram
“entediantes”. Mas você deve compreender que os resultados serão exatamente
os mesmos que pode esperar ao tratar seus estudos “oficiais” da mesma
maneira. Isso significa simplesmente que nunca passará de ano.

Agora, algumas perguntas serão respondidas. Eu as selecionei das inumeráveis


cartas que recebi dos meus leitores durante os dez últimos anos; eles tentaram
praticar o que foi ensinado nos três livros que formam a minha trilogia.

1) Com que frequência os exercícios devem ser feitos?

O mais frequentemente que puder, mas no mínimo uma vez por dia, do contrário
seu progresso será muito lento e o intervalo entre os exercícios, muito longo, de
modo que o que você ganhar hoje, por exemplo, poderá ser dissipado e acabar
meio esquecido em três dias de inatividade.

2) O que fazer se não posso conseguir as condições necessárias para os


exercícios (falta de lugar adequado, circunstâncias, etc.)?

Como ninguém mais é capaz de conseguir essas coisas para você, deve
simplesmente abandonar os estudos, pois talvez eles não se ajustem ao seu
carma.

3) O que fazer se minha mente continua desobediente e me impede um


desempenho perfeito?

Isso significa que ela ainda está imatura e que você não seguiu meu conselho
para, primeiro, estabelecer um firme enraizamento para o estudo da meditação
por meio do estudo da concentração. Ninguém pode adquirir a habilidade básica
para reger a mente por você, assim como ninguém pode se alimentar no seu
lugar, para se nutrir com sua comida.

4) É possível pedir ajuda, e para quem?

Sim, é possível. O meio mais conhecido é o caminho da Teurgia, isto é, da prece


ao Senhor, pedindo sua bênção para os seus esforços. No livro Teurgia você
encontrará muitas fórmulas e preces adequadas, pois o Senhor responde
quando abordado humildemente e com plena sinceridade de coração.

5) Você pode aconselhar algum culto especial que sirva para a conquista da
mente e o domínio de sua resistência?
Há um bastante eficiente, mas requer bastante introspecção e o elemento básico
da Fé no Poder Onipotente Supremo. Eu mesmo entreguei minha mente a Ele e
lhe pedi para me conceder uma faísca de Sua Sabedoria infinita: “Ó Senhor,
livrai-me desta mente mortal, imperfeita, e sede misericordioso, dando-me até
mesmo o menor dos Vossos raios de luz”.

Se recitado apropriadamente, seus resultados podem se aproximar de um


“milagre” pessoal, mas incontestável. Em resumo: FUNCIONA!

6) Devo continuar com os exercícios quando estou excessivamente cansado?

Eu já disse que este estudo não deve ser iniciado sem que o corpo físico esteja
relativamente bem equilibrado. A passividade excessiva, devido à fraqueza ou à
velhice, não permite a realização neste caminho, que requer considerável
esforço. Se suas circunstâncias são estas, por que não se volta para outro
caminho, não menos eficiente mas não tão complicado, que lhe ofereça uma
perspectiva melhor de auxílio imediato “vindo do alto”? Refiro-me ao Caminho
da Teurgia ou do Culto.

7) Devo falar para a minha família, para os amigos, etc., a respeito dos meus
esforços na meditação?

Só se estiver cem por cento seguro da compreensão e simpatia deles. Conheço


um grande número de casos onde os esforços de um aspirante falador foram
destruídos pela resistência dos que o cercavam. Por outro lado, sei também de
muitos exemplos onde marido e mulher, estando ambos interessados em
ocultismo e espiritualismo, tentaram ajudar sinceramente um ao outro. Cabe a
você saber o que se aplica ao seu caso. Do contrário, sendo este estudo uma
tarefa íntima, deve ser mantido salvo da curiosidade deste mundo cruel.

8) Existe alguma regra especial em relação aos alimentos, durante esses


estudos?

Os alimentos devem manter seu corpo saudável e obediente ao seu espírito. Em


geral, uma dieta vegetariana é a melhor, se razoavelmente escolhida e sem
abusos. Ela mantém o corpo mais alerta, ativo e puro. Mas noções exageradas,
de modo a evitar os alimentos mais naturais e revigorantes, tais como o leite, o
mel, ovos, feijão, determinadas frutas, etc., são desnecessárias e adequadas
apenas para casos raros, em que as pessoas vivem como verdadeiros eremitas,
sem qualquer trabalho especial físico ou mental, sem ler, e assim por diante. Mas
as drogas, os narcóticos e o álcool são definitivamente prejudiciais aos nervos e
ao cérebro, que têm um papel importante no estudo da meditação. Lembre-se
sempre: “O domingo foi feito para o homem, e não o homem para o domingo”.
Qualquer coisa em excesso é um obstáculo.

9) Qual a melhor hora para os exercícios?


O alvorecer e o anoitecer são considerados os horários mais adequados do
ponto de vista das influências naturais relacionadas com o dia e a noite.
Entretanto, se puder encontrar uma hora tranquila além dessas, use-a sem
pensar duas vezes. Será tão boa quanto qualquer outra.

10) E sobre as relações sexuais?

Se elas não interferem no seu horário, nem o enfraquecem de modo algum, o


problema continua sendo seu. Os graus mais adiantados de meditação libertam
os homens de todos os seus hábitos físicos, incluindo o sexual. É inútil antecipar
ou premeditar o que vem apenas como resultado do verdadeiro progresso
interior. Essa antecipação também é uma arma do inimigo, a mente, que tenta
ocupá-lo com todos os problemas, exceto o do seu controle e da sua submissão
final. Não se esqueça disso.

11) Existem organizações capazes de facilitar o meu progresso? Existem tantas


advertências sobre isso na imprensa atual!

Todas essas organizações, onde se supõe que você seja “iniciado”, mediante o
pagamento de taxas de matrícula, por membros fixos (ou ocultos), podem e
facilitam apenas o bem-estar material de seus líderes, dando-lhes dinheiro,
casas luxuosas e a admiração de pessoas ingênuas, que infelizmente ainda
formam a grande maioria de homens e mulheres deste século.

Nenhuma sabedoria jamais veio de seus conselhos ou do pagamento de taxas.


Até mesmo a curiosidade, excitada por determinadas organizações pseudo-
ocultistas, nunca trouxe satisfação no final. Nenhum super-homem ainda foi
criado pelas pessoas que proclamam ter conseguido essa façanha. Todo o
“despertar da Kundalini” e outros absurdos, para a média dos homens, leva
apenas a neuroses (no melhor dos casos), ou à ruína moral e física, se tal
“adepto” realmente foi teimoso e imprudente o suficiente para executar essas
práticas arriscadas (e desnecessárias). Podemos encontrar alguns desses
supostos “super-homens” em hospitais psiquiátricos, normalmente entre os
pacientes incuráveis.

12) A meditação pode ser usada para a prática da magia?

A verdadeira magia também é definida como ciência, uma ciência muito especial
que requer um tipo especial de homem. Certos tipos de meditação são básicos
para o trabalho preparatório de uma encenação de magia. Você poderá
encontrar mais a respeito disso em meu livro Tarô, mas, pessoalmente, acho
que nesta época a magia não tem grande significado ou utilidade para a
humanidade, enquanto a teurgia é segura e não apresenta nenhum perigo.

13) O que me diz sobre a Filosofia hermética, incluindo o tarô?


Se seguida estritamente de acordo com a verdadeira tradição (e não é fácil
distinguir entre os muitos livros incompetentes e simplesmente inúteis que
existem) e sob a orientação de um expoente experimentado em ocultismo, ela
pode ser adequada para determinadas mentalidades intelectuais que, do
contrário, não seriam convencidas a respeito do grosseiro materialismo desta
era. A meditação é sabiamente usada no tarô. Como a magia, a filosofia prática
do tarô serve a um tipo definido de homem, muito raro em nossos dias. Ela
necessita de uma mente forte, bem disciplinada, e de uma intuitiva percepção
relativa aos caminhos direito e esquerdo do desenvolvimento, senão leva a
desvios.

14) A meditação é útil para o estudo da ioga?

Se você se refere às iogas, e há muitas, a resposta será afirmativa. As iogas


jnana, bhakti e raja são inseparáveis de certos métodos de meditação. Na
verdade, o interesse atual pela meditação foi criado há cerca de cinquenta anos
pelos ensinamentos da ioga, que penetraram no Ocidente vindos dos países
orientais, especialmente da Índia. Mas a preparação física chamada de hataioga
tem pouco em comum com a meditação. Ela é muito útil para a formação de um
corpo saudável e bem-equilibrado, capaz de se adequar posteriormente às
outras iogas acima mencionadas. Mas, usada como um sistema independente,
a hataioga é pouco melhor do que qualquer outro renomado método de ginástica,
como o sueco, e outros.

15) O que acha do pranaiama?

É de grande auxílio na meditação, especialmente no começo. Se praticado


corretamente, muitas vezes recompensará os esforços e o tempo devotados a
ele. Mas é apenas um meio e não um alvo em si mesmo.

16) Há alguma coisa de útil no espiritismo (erradamente chamado de


“espiritualismo” pelos seguidores ignorantes)?

Absolutamente não, além do prejuízo tanto para o corpo como para a mente.
Noventa por cento desses experimentos são fraudes, e os dez por cento
restantes pertencem à manifestação astral inferior, inútil e algumas vezes
perigosa para a sanidade dos participantes. Nenhum poder benéfico seria
atraído por grupos de pessoas reunidas casualmente, devoradas pelo hábito da
curiosidade e basicamente ignorantes quanto ao que estão fazendo. Além disso,
o espiritismo é capaz de levar alguns homens à ruína.

Nada de valor jamais foi conquistado com as sessões espíritas, e muitas pessoas
inteligentes que investigaram as “revelações” supostamente feitas pelos
“espíritos” descobriram que todas as respostas já estavam, de um modo ou de
outro, ocultas em suas próprias mentes. Em outras palavras, isso não traz nada
de novo. Além do mais, os inumeráveis livros e relatórios escritos sobre
atividades espíritas são tão contraditórios que até hoje ninguém foi capaz de nos
apresentar qualquer doutrina definitiva sobre as “condições após a morte” e
assuntos similares. Tais relatórios diferem apenas de acordo com a mente dos
questionadores e os supostos “espíritos”. É uma pena que esse tempo e esse
esforço não sejam utilizados de outro modo, com mais vantagem.

17) As assim chamadas “sociedades secretas” existem realmente?

Se de fato elas são secretas, nada podemos saber a seu respeito. Mesmo que
você ou eu sejamos membros delas, jamais o revelaremos. Tais organizações
não se anunciam em público, nem tentam aumentar o número de sócios
contribuintes aceitando-os sem qualquer discriminação ou discernimento.

Quanto a mim, a única coisa que posso dizer é que seus prosélitos são
convidados de uma forma secreta e somente depois de se saber, sem sombra
de dúvida, que o neófito está maduro e se adapta aos propósitos da sociedade.
De que maneira eles conhecem tal fato continua a ser um segredo. As
sociedades “pseudo-secretas” são numerosas, mas, como é muito duvidoso que
sua cúpula seja integrada por mestres ou super-homens de verdade, a ordem
hierárquica e coisas que tais estão ao alcance do seu bom senso. No meu Tarô
você encontrará informações mais detalhadas concernentes a tais organizações,
às suas origens e atividades.

18) Em algumas religiões, encontro livros que oferecem meditações sobre temas
espirituais. Há algo em comum entre eles e esta obra?

Sim, há! Na terceira parte, que trata da meditação avançada, você encontrará
trechos tirados de certos livros religiosos, tanto cristãos como não-cristãos. A
arte da meditação não foi inventada ontem; trata-se de uma forma muita antiga
de supremo esforço espiritual do homem, na busca do Supremo. Tais livros estão
longe de ser secretos. Quem buscar os encontrará.
13
Exercícios introdutórios
— série II

Depois de terminar satisfatoriamente a série I, você poderá passar para os


próximos exercícios, que envolvem movimento.

Exercício D: Para este exercício, você precisa escolher um dia em que haja
nuvens movimentando-se razoavelmente depressa no céu, de modo que possa
segui-las com os olhos facilmente e sem tensões.

Encontre, é claro, um lugar calmo, num parque ou praia, de onde possa observar
o céu sem ser perturbado pelo que está à sua volta. Com um pouco de boa
vontade, você arranjará essa situação facilmente.

Olhe para o relógio e decida o momento em que está pronto para se dedicar ao
exercício. Na hora apropriada, comece a observar as nuvens perambulando na
parte do céu que está diretamente à sua frente. Tente memorizá-la por, digamos,
cinco minutos. Isso deve ser o suficiente para o nosso propósito. Então feche os
olhos e visualize o movimento em sua imaginação como foi observado, tentando
“ver” com a máxima clareza os contornos de formas definidas das nuvens,
justamente como os viu antes.

Não pense em nada a não ser na silenciosa sequência dos movimentos


imaginários das nuvens diante da visão que reteve em sua mente.

Na primeira vez, faça isso por cinco minutos. Entretanto, um aviso importante:
quero dizer CINCO MINUTOS DE EXERCÍCIO REAL, isto é, o quadro deve ser
mantido de modo ininterrupto em sua mente, nenhum outro pensamento deve
penetrá-la. Essa condição na verdade significa que você usará apenas UMA
faculdade da sua imaginação, isto é, você só usará a VISÃO, e nenhuma palavra
deve acompanhar a visualização das nuvens.

Se você falhar em manter uma visualização bem clara, por exemplo, no terceiro
minuto, retorne, comece de novo, e continue até que os CINCO MINUTOS
tenham se passado conforme foi pedido. Não se preocupe com os “lapsos”
inevitáveis. Todo iniciante teve de passar por eles, incluindo o autor, embora há
muitos anos.

Tecnicamente falando, você deve observar apenas uma nuvem e segui-la


lentamente, pois isso o ajudará a ter uma imagem bem definida dela. Não há
necessidade de ter o céu inteiro em sua memória. Isso seria impossível, mesmo
para um estudante adiantado. Se quiser analisar a essência desse exercício,
descobrirá que ele se baseia na FIXAÇÃO DE SUA ATENÇÃO CONSTANTE
NUMA CENA EM MOVIMENTO. Quando chegar à verdadeira meditação, essa
habilidade será um sine qua non para a sua execução. Entretanto, tratando-se
de uma virada prática da mente, temos de fazer tudo gradualmente, passo a
passo, a fim de assegurar o sucesso. Esse exercício deve ser feito até que você
sinta que é capaz de manter a imagem mental da nuvem pelo menos por CINCO
MINUTOS, sem grande esforço ou falhas. Então poderá prosseguir.

Exercício E: Volte para o seu quarto, como antes, fique de pé no meio dele e
olhe ao redor, memorizando tudo, como fez nos exercícios da série I. Depois,
abra a porta e vá para o cômodo seguinte, para um corredor que leve ao jardim
ou para a rua. Ande até a porta, olhando tanto para o lado direito como para o
esquerdo com concentração total, a fim de memorizar tudo ao seu redor. Não
ande muito no começo. É preferível fazer bem o exercício por alguns metros a
percorrer um quarteirão de um quilômetro esfumaçado e sem uma visualização
exata. Lembre-se sempre disso.

Quando achar que está preparado para a próxima fase do exercício, volte para
o quarto e feche os olhos, tentando executar mentalmente a mesma curta
jornada, assim como no exercício anterior. A fim de “ver” melhor, você deve “virar
a cabeça” mentalmente para ambos os lados, como fez antes e, sem palavras,
observar os quadros que acabou de memorizar.

Repita esse exercício até sentir que está indo bem e que a imagem do que você
viu enquanto caminhava com os olhos abertos está próxima à imagem que
reteve em sua mente. Esse exercício deve ser feito de pé; não se sente de modo
algum.

Desenvolva o bom hábito de anotar todos os dias o que fez, num diário especial.
Escreva o mês, o dia, a duração do exercício e o número de “repetições”, quando
for compelido a começar de novo por causa das falhas que cometeu. Esse diário
será o espelho do seu desenvolvimento, e em nenhuma circunstância trate-o
levianamente.

Qual a diferença entre o estudo “oficial” nos colégios, nas universidades, etc., e
os métodos de treino ocultista, se podemos chamar assim os manuais de
concentração, de meditação e de prece? Esta é uma pergunta importante. No
PRIMEIRO caso, você está cumulando sua mente com muitos fatos, teorias e
assuntos técnicos, e adquirindo certas habilidades mentais como um benefício
extra. Não há dúvida de que, após ter passado de um ano para outro, a pessoa
está mais desenvolvida mentalmente (alguns são chamados de mais
inteligentes). Mas no nosso caminho, todo valor é colocado no desenvolvimento
da HABILIDADE, não apenas da mente, mas do domínio supermental,
inacessível sem um treino especial, a despeito de quantos “graus” você possua.

Da mesma forma, o homem que trabalha fisicamente fortalecerá, sem dúvida,


sua força muscular em comparação com o que ele era antes; mas o atleta que
faz exercícios especiais e treinos a fim de desenvolver harmoniosamente o seu
físico, além da capacidade de um homem comum, será sem dúvida muito mais
forte e orientado para quebrar recordes do que, por exemplo, um estivador que
trabalhe carregando pesos.

Um matemático, por exemplo, deve possuir necessariamente algum poder de


concentração, em função de seus estudos e do seu trabalho subsequente; mas
não o terá no mesmo grau, e com uma aplicação tão múltipla, como alguém que
fez estudos especiais no sentido de chegar ao domínio da mente pelos métodos
de um manual de concentração.

Exercício F: Depois de ter obtido êxito com o Exercício E, vamos passar ao


seguinte desta série.

Seu objetivo agora será uma longa jornada, sendo melhor a que você
provavelmente faz com frequência, se não todos os dias, por trem, metrô ou
algum outro meio de locomoção, EXCETO DIRIGIR UM AUTOMÓVEL. Isso
porque, neste caso, você PRECISA estar, pelo menos parcialmente,
concentrado no ato de dirigir; sua atenção, então, estará compulsoriamente
dividida, e você será incapaz de registrar em sua mente, de modo exato, a
paisagem que está passando dos dois lados da rua.

Como pode ver, essa situação é contrária à regra básica da concentração e da


meditação, sendo, portanto, inaceitável. Se, a despeito desse aviso, você tentar,
estará sujeito a negligenciar seu dever de motorista e a se envolver num
acidente.

Sente-se junto à janela do veículo em que você estiver, e observe


cuidadosamente o que está vendo (primeiro de um lado). No dia seguinte, viaje
com os olhos fechados e, em vez de olhar, construa a imagem dos arredores
pelos quais passou no dia anterior. É possível que necessite fazer isso muitas
vezes antes que seu quadro mental o satisfaça. Mas isso é natural e não um
motivo para preocupações.

O espírito de urgência e ansiedade deve ser banido durante seu estudo presente.
Olhe para o mundo ao seu redor: milhões de pessoas estão dedicando suas
vidas exclusivamente ao físico, às conquistas materiais, que elas não serão
capazes de levar consigo em sua viagem futura, além do túmulo. Mesmo assim,
algum dia elas também irão para a “Casa do Pai”, de um modo mais abrupto do
que o que está agora à sua frente. Essa compreensão pode acalmar a tensão
nervosa, que frequentemente nos ataca no início do Caminho.

Exercício G: Este é o último desta série de exercícios elementares e


preparatórios, que aparentemente podem ter pouco em comum com o conceito
geralmente aceito de meditação. Mas não é assim, e o treino que faz nascer sua
execução exata decidirá sobre desenvolvimentos futuros e mais complexos.

Desta vez, caminhe fora de sua casa, quando as ruas não estiverem cheias de
gente, ou vá a um parque e comece a registrar em sua mente tudo o que passar
ao seu redor. Desvie o olhar das pessoas que encontrar, prestando atenção
apenas em objetos, como árvores, casas, e detalhes como portas, janelas,
ornamentações, etc. Tente ver a rua ou a estrada como se fosse um artista que
quisesse pintar um quadro com tudo o que está vendo.

A distância que vai percorrer depende de você. Ela não deve ser medida em
quilômetros, mas em centenas de metros. Quando, finalmente, você parar de
caminhar, tente conseguir uma reprodução exata dos quadros vistos em sua
mente, sentando-se calma mente em algum lugar e começando a projetá-los em
sua mente.

Provavelmente, você sabe que as dificuldades de concentração e de meditação


originam-se em parte também do fato de esses exercícios envolverem
diretamente habilidades mentais e influenciar a superfície do cérebro, mudando
a forma e o número de circunvoluções. Esse processo é biológico, físico, e
necessita de um certo tempo, se o aspirante não for dotado de propriedades
suficientemente aprimoradas em seu cérebro. É daí que vem essa sensação
desagradável de impotência que frequentemente surpreende o principiante: o
correlato físico da mente (isto é, o cérebro) não está preparado. Contudo, não
pense que o que foi dito antes é uma prova da insuficiência de um cérebro
comum, pois o desenvolvimento especial é requerido apenas para propósitos
especiais.
14
Exercícios introdutórios
— série III

Se fizéssemos um diagrama do processo da verdadeira meditação, ele seria


como uma linha reta (veja a figura 6), sem qualquer deformidade ou digressões,
em direção ao alvo que é o tema ou assunto da meditação. Olhando para essa
representação gráfica da idéia, vemos que não deve haver desvios ou dispersão
em nossa percepção interior, não se devendo permitir que nenhum outro
pensamento se faça presente, nem mesmo nas proximidades. Depois de passar
pelo curso de concentração, provavelmente você terá certa habilidade mais
desenvolvida para “ver” os pensamentos e, se não para vê-los exatamente, para
“sentir” sua proximidade e entrada na consciência. Você lutou contra esses
intrusos e afinal aprendeu como repeli-los e eliminá-los “automaticamente”, isto
é, a não devotar nenhum canto da sua percepção a eles. Isso o levou a uma
execução “clara e bem-sucedida” dos exercícios de concentração, que lhe
deram, em troca, poder sobre a mente.

Agora, nossa “linha reta de meditação” é o resultado do estudo anterior, acima


mencionado. Este é um exemplo de manual, ou do que poderia ser chamado de
exposição teórica do fato. Na prática, pode não ser tão cor-de-rosa. A “linha”
talvez se curve, entorte e até se rompa (veja a figura 2), e os resultados surgirão
de acordo com ela. Acredito que estamos buscando algo melhor.

Portanto, para isso, vamos começar com novas técnicas.

Exercício H: Olhe para a figura 1, que retrata a linha reta da meditação. Imagine-
a como um trilho no qual possa viajar, sem palavras ou qualquer outra atividade
mental numa distância infinita. Não há nada ao seu redor, e sua atenção está
concentrada exclusivamente nessa teta sem nome, correndo continuamente
diante de sua visão mental.

No começo, faça isso com os olhos fechados, pois é mais fácil para muitos
estudantes. Alguns aspirantes bem-sucedidos dizem que, primeiro, imaginaram
a LINHA como se começasse do ponto médio entre seus olhos, justamente na
base do nariz. Não tenho nada contra isso, embora tenha sido bem sucedido
sem esse tipo de visualização.

Agora, em silêncio, VIAJE AO LONGO DESSA LINHA, não muito depressa, de


modo a estar consciente o tempo todo de seu movimento mental. Não permita
que qualquer outro quadro imaginário ou que qualquer outra impressão surja em
sua mente, pois isso o levará a parar o exercício e a começar de novo. A REGRA
PARA ESTE CURSO é: sempre que você permitir uma interrupção na meditação
ou num exercício, pare e comece outra vez, contando o tempo de novo a partir
desse ponto.

ESTA REGRA DEVE SER SEGUIDA ESTRITAMENTE, ou seu estudo


fracassará.

Enquanto estou datilografando este texto para você, paro frequentemente e faço
o exercício recomendado durante um tempo determinado, a fim de não omitir
nada de útil que possa ser dito a respeito do assunto. Houve um tempo, quando
iniciei estes exercícios, em que sentia uma certa inquietação, assim como ficava
um tanto entediado, mas assim mesmo eu executada o trabalho necessário.
Tudo isso, no entanto, passou e, à medida que minha mente se tornava cada
vez mais obediente, os exercícios começaram a ser um prazer, dando-me
sentimentos de paz e de força, que nenhuma outra experiência jamais me
proporcionou. O mesmo deve acontecer com você, pois somos todos seres
humanos e nossa essência natural é semelhante.

Portanto, agora, permita-me viajar com você nessa “linha reta” por alguns
minutos. Foi maravilhoso para mim. Espero que o seja igualmente para você.

O objetivo desta meditação simples e pequena serão os mesmos CINCO


minutos de execução perfeita. Todos os estágios intermediários devem ser
registrados em seu diário: a data, o tempo, a duração dos exercícios (o tempo
alcançado no seguimento ininterrupto da linha). As tentativas feitas durante uma
sessão com menor resultado não devem ser registradas. Anote apenas: “um
minuto e meio viajando na linha”, por dia.

Exercício J: Este exercício é como o H, mas, em vez da linha reta, imagine um


círculo bem grande, algo como uma grande pista de corridas, e siga-o várias
vezes, de acordo com o tempo que marcou para esse dia. QUANDO TIVER
CONSEGUIDO CONTINUAR POR CINCO MINUTOS, VOLTE AO H e faça-o
com os olhos abertos; depois o J, do mesmo modo.

Repita os dois exercícios até ficar satisfeito com sua execução.

À parte a execução clara, que não permite qualquer intromissão mental, um dos
sinais inconfundíveis de sucesso e de progresso será o sentimento de profunda
satisfação que cresce em você. E você precisará muito desse poder em seus
futuros estudos!
15
Meditação elementar
— série IV

Agora temos uma base teórica sólida de meditação a nos apoiar, mais os
exercícios introdutórios. Se eles foram feitos com êxito, chegou a hora de
enfrentar os primeiros graus de meditação propriamente dita, embora,
naturalmente, de natureza elementar.

Uma boa definição de meditação será útil para nós neste estágio: MEDITAÇÃO
É A UTILIZAÇÃO DE NOSSA MENTE DIRIGIDA DE UM MODO PROPOSITAL
E HARMONIOSO.

Nesse mundo dominado pela mente, devemos começar com algo acessível ao
nosso domínio presente — a mente que, no final, esperamos, ficará reduzida ao
seu próprio papel: O DE SERVO DO HOMEM, E NÃO DE SEU SENHOR.

Ainda temos de esperar por esse momento abençoado, no qual os papéis do


homem e de sua mente sejam devidamente invertidos. Um começo se fez com
a concentração, mas ela foi apenas um desenvolvimento técnico de uma
determinada forma de dominação da nossa ferramenta do pensamento. Foi uma
introdução necessária e útil à meditação, baseada no controle de TODAS as
funções de nossa consciência.

Nos próximos capítulos, organizaremos o material de modo que um PRIMEIRO


TEMA MENTAL de meditação seja apresentado e depois desenvolvido numa
corrente de pensamentos controlados, que formam justamente o primeiro degrau
da meditação.

A concepção do papel e da importância desse TEMA deve ser explicada com


todos os detalhes e com clareza total. Uma comparação nos ajudará neste
assunto. Imagine um vasto território à sua frente, coberto de campos, florestas,
arbustos, colinas e lagos. Num determinado ponto, que pode ser o seu centro
imaginário, há um grande cruzamento do qual saem estradas em diversas
direções, criando assim um desenho semelhante a uma estrela. Você se
encontra nesse cruzamento e pode chamá-lo de TEMA DA MEDITAÇÃO. A partir
daí, você pode usar qualquer estrada adjacente que preferir. Não se pode
perceber o final dessas estradas porque suas extensões e o ambiente que as
margeia limitam a perspectiva e o horizonte visível. Em outras palavras: quando
começamos a meditar não podemos dizer onde terminaremos. Tudo depende do
tempo e dos esforços dos estudantes devotados ao seu trabalho. Como no caso
do cruzamento, você pode desenvolver o tema da meditação em qualquer
direção, de modo a viajar do cruzamento central ao longo de qualquer uma das
estradas em conexão. Provavelmente, você já percebeu que o meu papel é o de
seu instrutor de meditação, de modo que posso ajudá-lo. Explicarei certas
estradas do pensamento, começando pelo tema, e darei exemplos de técnicas
de meditação e conselhos sobre como usar essas estradas.

Mas poderia eu viajar por elas no seu lugar, de modo que você alcance a meta
desejada? Seu bom senso dirá: NÃO! Os meios de transporte, os mapas do
campo, informações sobre os acontecimentos que podem ocorrer durante a sua
“jornada”, tudo isso pode ser transmitido a você durante esse curso. Contudo, a
viagem em si depende exclusivamente de você, e de ninguém mais. Se alguém
lhe disser o contrário e prometer assumir toda a responsabilidade do trabalho, a
fim de que você possa atingir a meta “sem fazer nada”, então se trata de um
trapaceiro perigoso, que está desperdiçando tempo e energia, nenhum dos quais
é ilimitado.

Leia várias vezes (quanto mais, melhor) o trecho deste capítulo que começa com
as palavras: “A concepção do papel...”, até que a idéia esteja completamente
clara para você. Trata-se de uma condição para o êxito total do trabalho e para
a compreensão de tudo o que vem a seguir.

Exercício K: O tema, o mais curto possível para um começo, é: “EU SOU”. Esta
é a sua encruzilhada. Portanto, agora vamos olhar para todos os lados, o mais
longe que pudermos “ver”!

1) “EU SOU” significa que tenho consciência da minha existência, aqui e agora,
na forma de um ser que chamamos de “humano”. Esta é uma definição quase
vazia e, portanto, insuficiente. Assim sendo, vamos prosseguir nessa estrada do
pensamento. Meu ser funciona de vários modos. Um deles é a consciência
mental, que eu uso para esse tipo de meditação. Estou pensando numa
determinada direção relacionada com o problema “EU SOU”. Este é o meu
objetivo. Meu ser tem o poder de controlar esse processo de pensamento no
qual se pode distinguir uma atividade dupla. Em primeiro lugar, quando tenho
determinados pensamentos breves, que não têm importância, pois não possuem
qualquer base real na vida ao meu redor. Em segundo lugar, posso me relacionar
com certos clichês que foram magnetizados pelo esforço da minha consciência
ao meditar sobre o tema “EU SOU”, e que mais se aproximou de mim. Não posso
expressar em linguagem mental qualquer definição formal DO QUE realmente
SOU, mas posso SABER e SENTIR o fato indubitável da minha existência e
ESTOU FAZENDO ISSO AGORA!
Essa pode ser a sua meditação, ou melhor, o início dela ao longo da primeira
estrada, a partir do cruzamento. Você deve perceber que se trata de uma simples
sugestão, e lembre-se disso nos trabalhos futuros, de modo a não ficar
escravizado aos meus caminhos, memorizando-os e substituindo-os pelo seu
próprio trabalho. Neste caso, tornei a tarefa mais fácil para você uma vez que a
PRIMEIRA ESTRADA, em sua essência, dificilmente pode ser mudada por
causa do caráter especial do seu TEMA.

Portanto, agora, vamos seguir as outras estradas.

2) O meu “EU SOU” não é algo imóvel e definido. Vem dessa subdivisão de
TEMPO relativo, que chamamos de “PASSADO”. O que sei sobre esse
passado?

Agora comece a trabalhar individualmente, respondendo à pergunta sobre esse


“passado” que só você pode resolver. Evite as teorias e as verbalizações sem
sentido, que não têm qualquer conteúdo real nem fornecem uma definição para
você, tais como: Vim de minhas reencarnações anteriores, ou, provavelmente
vivi em outras formas, talvez aqui ou em outro planeta. Isso não resolverá nada.
Busque outras respostas mais profundas. É claro que se acontecer de uma
percepção direta de seu “passado” (isto é, um verdadeiro clichê dele) aparecer
em sua consciência como um quadro ou idéia definida, mas sem qualquer
conjetura, a presença desse clichê deve ser considerada. Entretanto, mesmo
assim, não será de grande importância: você não pode mudar o passado nem o
presente, que é um resultado do passado. O que interessa aqui é a experiência
proporcionada pela meditação.

3) Outra estrada leva ao FUTURO. Esta é a parte mais difícil da meditação. Pois
a única coisa que você pode ser capaz de projetar na subdivisão do tempo futuro
pertencerá necessariamente à sua personalidade, ao seu ego, que é irreal e
mortal. Vale a pena permitir que isso seja mencionado em sua meditação?

Pense em algo melhor.

Explore a estrada pavimentada com o que você gostaria de fazer do seu “EU
SOU” no futuro, isto é, o que você gostaria de se tornar, mais sábio, melhor, mais
forte, mais útil aos outros, “EU SOU” pertencentes a seus companheiros
humanos em evolução. Você gostaria que ELE se tornasse o seu “EU SOU”
ABSOLUTO, que é a soma de todas as consciências separadas? Você está
aspirando à Casa do Pai?

Tais são algumas das estradas que emergem de um tema escolhido de


meditação. Explore outras e trabalhe com elas até sentir que seu estágio atual
de desenvolvimento exauriu todo o material possível. Um ponto muito importante
do qual você deve estar sempre consciente é o método de descanso entre as
“estradas”, ou mesmo durante a viagem por elas (ou seja, a meditação sobre
elas). Esse “descanso” não prejudica a sua meditação, e você pode usá-lo
sempre que quiser, simplesmente porque é a POSSE DO TEMA DA
MEDITAÇÃO EM SUA MENTE, e nada mais. Assim, por exemplo, entre as fases
do “passado” e do “futuro” da atual meditação do “EU SOU” você simplesmente
introduz essas duas palavras e permanece com elas, repetindo-as
vagarosamente em sua cabeça. Isso poderá até mesmo magnetizar um clichê
na sua vizinhança, atraí-lo; e, se um ser mais adiantado esteve trabalhando com
esse clichê antes, sua vantagem pode ser considerável, pois você obterá novos
e valiosos conceitos, os quais, do contrário, permaneceriam ocultos em seu
futuro distante.

Exercício L: O TEMA é: “A MINHA VIDA”. Simples, mas não tão fácil! Eu o estou
recomendando agora por ser breve e compacto, o que facilita a concentração e
evita a verbalização, inevitável se há muitas palavras ou sentenças no tema.
Você sabe que a verbalização é algo como um par de muletas para o
principiante, mas elas devem ser e serão rejeitadas quando você se firmar em
suas próprias pernas. Portanto, por que dedicar demasiado tempo e atenção a
algo tão temporal e irreal? Lembre-se de que a sua ATENÇÃO é a água mágica
da vida, não apenas para você, mas também para os inúmeros seres ao seu
redor, o que pode ser relembrado pelos capítulos anteriores.

Estrada 1: Minha vida é o que estou vivendo agora: minha consciência disso
manifesta-se pelos meus pensamentos, pelos sentimentos e pelas formas
corporais pelas quais ajo no mundo físico. Este é um tipo de desenvolvimento do
tema anterior, que era o “EU SOU”. No final, ambos se limitam, pois “A MINHA
VIDA” pode ser perceptível por outros egos e o “EU SOU” permanece um
mistério para todos, exceto para o próprio homem. Ninguém sabe (entre os
homens comuns) o que existe em meu ser, a não ser o meu “EU”. Agora, dê um
passo à frente e MERGULHE no intenso pensamento sobre “A MINHA VIDA”.
Esta estrada é muito pessoal para que outra pessoa a escolha por você.

Estrada 2: O que foi a minha vida no PASSADO? Aqui tenho um vasto campo
para meditação, pois acredito que sei bastante sobre o meu passado, pelo
menos nesta encarnação. Agora tentarei reordenar a minha vida, isto é, a minha
consciência, durante os meus anos passados, começando pela minha
lembrança mais antiga, que me tirará de minha infância quase inconsciente.
Acompanharei os momentos mais importantes do meu passado, reconstruindo-
os em quadros, não em palavras.

Também aqui você tem um material quase ilimitado para a sua meditação;
entretanto, não tente reordenar os acontecimentos da sua vida, mas sim as suas
mudanças de comportamento, convicções, crenças, experiências, etc. Olhe-as
do ponto de vista do presente, julgando-as de acordo com o seu proveito ou
inutilidade para o estado presente. Faça várias “pausas” do TEMA, como fez
anteriormente.
Estrada 3: A todo momento, passo do efêmero “presente” para o FUTURO. Mas
posso parar por um tempo, a fim de considerar independentemente esse futuro
em minha vida. O que posso esperar dele? O que eu gostaria que acontecesse?

Trabalhe com esses problemas por um tempo, usando diferentes aspectos


desse futuro, no setor dos empenhos intelectuais, das conquistas materiais e da
vida emocional.

O que devo fazer e experimentar, antes que a página chamada “futuro” de minha
vida seja fechada pela mão da morte? Será a morte o final da minha vida futura
ou será apenas uma transformação da forma e do meio ambiente?

Pense profundamente a respeito disso, ao descansar do “tema”, pois isso lhe


dará a oportunidade de entrar em contato com um clichê adequado. Quando isso
acontecer, permaneça com ele o máximo de tempo que puder, lembrando-se de
que os clichês vão embora se o homem não lhes der a devida atenção. Com
eles, surge também uma valiosa oportunidade de progresso, associado à
percepção de um clichê inspirado e altamente evoluído. Se uma corrente
indesejável de pensamentos tentar entrar em sua consciência — ou um falso
clichê de ansiedade, decepção, impureza, medo, blasfêmia, e assim por diante
— rejeite-a com o seu “NÃO ESTOU INTERESSADO” e, nos casos mais sérios,
recorra ao grande exorcismo do capítulo 9 de Concentração.

Exercício M: O MEU PENSAMENTO. Posso distinguir dois tipos de


pensamentos. O primeiro quando tenho algum tema a considerar ou o propósito
de dirigir meu pensamento para um determinado objetivo. Eu chamaria a isso
pensamento “intencional”. Se tiver de resolver um problema, por exemplo, de
impostos, esse será um processo mental induzido pelas circunstâncias em que
vivo e ditado por razões que surgem dessas circunstâncias. Em resumo: estou
usando aqui os meus poderes mentais a fim de viver de acordo com as
exigências do mundo exterior.

Se eu tentar me lembrar de algo que me interessou, o processo será muito


semelhante. O primeiro aspecto pertence ao tempo presente; o segundo, ao
passado.

Investigando o futuro, posso planejar hoje as minhas atividades de amanhã,


antecipando o que preciso fazer e como resolverei meus problemas futuros.
Novamente, podemos ver que, meditando com um propósito, não importa o
quanto ele possa parecer simples e elementar, as três subdivisões do tempo
podem ser claramente distinguidas e reconhecidas.

Uma vez mais, devo lhe dar apenas um esboço de meditação, e você poderá
desenvolvê-lo de acordo com suas próprias idéias, mas sempre com o cuidado
de NÃO SE DESVIAR DO TEMA e não escapar inconscientemente para algo
que tenha pouco em comum com o tema real.
Durante os primeiros dias — talvez semanas — haverá muitas distrações, e ao
começar com a idéia de meditar sobre os seus processos de pensamento, você
poderá terminar com algo muito diferente. Isso deve ser evitado e eliminado.
Lembre-se de que todo exercício interrompido, ou substituído em sua mente por
idéias não relacionadas com ele, deve ser cancelado e reiniciado a partir do
princípio. Ele deve ser repetido até que você seja capaz de fazer tudo
claramente, sem desvios, mas não necessariamente por um longo tempo. É
melhor um exercício bem feito por um minuto do que um exercício confuso e
frustrado por cinco minutos.

O tipo de pensamento acima descrito é muito criativo, pelo menos nos seus
estágios iniciais, isto é, quando você decide meditar em um PROPÓSITO
relacionado com a sua vida pessoal. Você começa, por assim dizer,
independentemente, mas sua meditação seguinte pode estar baseada num
clichê que esteja próximo a você. Não acredite, mesmo por um momento, que
possa ter em sua mente algo que nunca teve qualquer conexão com os
pensamentos de outros homens, nesta ou em outra época. Compreenda
também que eles serão contatados por outros homens no futuro, que os obterão
como um clichê pronto. Nada perece na Natureza; portanto, nenhuma força
jamais pode ser aniquilada; no máximo, pode ser transformada.

Assim, como você pode ver, a conexão entre nosso pensamento “independente”
e os clichês é muito íntima, e frequentemente é difícil distinguir onde há apenas
pensamentos e onde há clichês. Somente a prática lhe proporcionará essa
habilidade de discriminação.

O segundo tipo de pensamento aparece quando começo sem qualquer propósito


definido, sentando-me simplesmente de um modo tranquilo para captar os
pensamentos do espaço que me circunda. Sou, então, um mero receptor, sem
qualquer instrumento emissor, assim como um rádio comum.

Neste ponto, dois aspectos podem aparecer. Num, estou captando os


pensamentos das pessoas ao meu redor, ou mesmo distantes de mim, que ainda
não tiveram a oportunidade de ser fixados em clichês e estão apenas flutuando
no espaço “neste momento”. Posso também observar que os pensamentos dos
que estão vivendo comigo sob o mesmo teto, especialmente os membros de
minha família, são mais fáceis de “captar” e de recriar em minha mente. Isso
acontece porque existe certa afinidade entre nossas mentes e até mesmo
nossos contatos físicos, que tornam o mental mais fácil.

O segundo aspecto pertence à captação exclusiva de clichês, especialmente


daqueles que estão em sintonia com a nossa mente; em outras palavras, aqueles
com os quais há associação de idéias.

Este será o esboço para a meditação elementar sobre o próprio processo de


pensamento; mas, é claro, você pode elaborá-lo e desenvolvê-lo mais de acordo
com as suas próprias necessidades e desejos. Mas não fique sonolento ou
atordoado durante esses contatos mentais. Se sentir que está cansado, adie o
exercício até estar descansado e comece novamente, com consciência e força
revigoradas.

É verdade que esses exercícios podem parecer-lhe monótonos; mas o mesmo


aconteceu com o estudo elementar do alfabeto, com o soletrar, etc. Sem eles,
você nunca seria capaz de ler estas linhas. Portanto, sem esses exercícios
básicos e elementares de meditação, como você pode ter a esperança de
perceber e de galgar os degraus mais elevados desta arte? Seja sempre lógico
e tenha bom senso.

Como conclusão deste capítulo, contarei as minhas experiências e as de outros,


em leitura mental feita pelo primeiro telepata e clarividente, o famoso Stefan
Ossowiecki, a cujo respeito você pode encontrar muitos comentários na literatura
ocultista. Um comentário bastante interessante pode ser encontrado no livro de
Douglas Hunt, recentemente publicado. Explorando o oculto.

Convivi com Ossowiecki nos anos de 1930 a 1935; depois voltei a encontrá-lo
esporadicamente. Nessa época, eu dava palestras públicas sobre hermetismo e
sua adaptação ao tarô. Depois de uma de minhas primeiras palestras, um senhor
de meia-idade veio até mim, apresentou-se como Ossowiecki e me disse que
estava interessado em ocultismo, especialmente em sua aplicação científica,
que ele podia perceber na filosofia do tarô. No final, ele convidou amavelmente
a mim e a um amigo meu, o dr. S., que havia participado de um dos meus grupos,
a visitá-lo em sua casa, situada numa elegante área residencial.

Quando chegamos, ele nos convidou para nos sentarmos num grande sofá e
arrumou as coisas de modo a se sentar no meio, o dr. S. à sua direita e eu à
esquerda. Ossowiecki era polonês de nascimento, mas havia passado sua
juventude em Moscou e de lá, provavelmente, trouxera o hábito cordial de
segurar pelo punho os visitantes que lhe eram bem-vindos. Foi um dos homens
mais agradáveis e sinceros que já encontrei.

No começo, ele falou de suas numerosas experiências telepáticas e de


clarividência em Paris e outros lugares. Mas a essa altura eu estava menos
interessado nisso do que na atitude científica dele em relação ao fenômeno, que
era capaz de exibir tão bem. Pensei comigo mesmo: “Já ouvi bastante sobre
todas essas histórias, mas será que ele possui alguma explicação filosófica para
elas?”

Na mesma hora, O. interrompeu o que estava falando e me lançou um olhar


agudo: “Oh, sim!”, disse ele, “eu também tenho a minha ioga, talvez um pouco
diferente da sua. Também estou procurando uma explicação sobre os poderes
manifestados em mim”. Um vislumbre de intuição passou por minha mente. “Foi
pelo contato, senhor?”, perguntei-lhe, apontando para o meu punho direito, que
Ossowiecki ainda segurava em sua mão. “Ah, sim!”, respondeu ele, com um
sorriso. “O senhor certamente sabe que este é o meio mais fácil de ler os
pensamentos dos outros!”

Ele era capaz de dizer o paradeiro de qualquer homem, desde que tivesse um
objeto que pertencesse a essa pessoa. Bastava que o colocasse em sua testa
para começar a falar com uma voz calma e clara, mencionando lugares e
adjacências e afirmando se a pessoa estava viva ou morta e, no último caso, em
que circunstâncias a morte havia ocorrido.

Mais tarde, em outra ocasião, Ossowiecki queixou-se de que seus maravilhosos


poderes pareciam estar se esvanecendo, por causa da carga de
responsabilidade familiar e de vida social que era compelido a carregar, uma vez
que era membro da classe dirigente de seu país. Nosso contato se rompeu
alguns anos antes de se iniciar a Segunda Guerra Mundial e, no seu final, em
1946, um amigo me escreveu da Europa, contando-me que Ossowiecki havia
perecido durante o último ano de ocupação alemã em sua cidade natal, Varsóvia.
Nessa época, evidentemente, havia batidas frequentes feitas pela polícia alemã
nas ruas, sempre seguidas por algum ato de agressão por parte da resistência
polonesa. Portanto, era muito perigoso sair às ruas.

Um dia, Ossowiecki foi fazer uma caminhada e nunca mais voltou. Segundo sua
família, ele deve ter sido capturado por alguma quadrilha e executado junto com
outras vítimas. Nem o mais leve traço dele permaneceu, pois o corpo
provavelmente foi lançado numa vala comum em algum lugar nos arredores da
cidade.

Evidentemente, ele não pôde prever seu próprio destino e o perigo que estava
correndo ao sair de casa naquele dia.

Durante toda a sua vida ele foi um homem amável, com um coração sincero e
apaixonado, sempre pronto a ajudar quem quer que fosse, de qualquer modo
que pudesse, aconselhando e gastando tempo e dinheiro com aqueles que
realmente necessitavam.

Seus talentos incomuns foram descobertos durante a Primeira Guerra Mundial,


quando era um jovem estudante em Moscou. Seus colegas o levaram para ver
um sábio e famoso rabino, que tinha a fama de ser clarividente. Quando o velho
viu Ossowiecki, abraçou-o e disse: “Este homem recebeu um talento e poder do
Todo-Poderoso que ninguém mais possui. Ele pode ver a aura e o pensamento
humanos”.

Outro exemplo surpreendente de leitura perfeita de clichês por Stefan


Ossowiecki aconteceu no outono de 1941. Uma senhora, que conheci alguns
anos antes da guerra, escreveu-me pedindo que eu a apresentasse a
Ossowiecki. Nessa época, ele estava morando em Varsóvia, sob a ocupação
alemã, e tinha muito cuidado ao se encontrar com estrangeiros, por medo de
levantar suspeitas entre as autoridades da ocupação. O marido daquela
senhora, o sr. Oledzki, alto funcionário do Banco do Estado polonês, tinha
deixado a capital num carro, acompanhado por um amigo, pouco antes de os
alemães chegarem, e se dirigiram para a Romênia, assim como outros
poloneses nessa época. Conseguiram chegar apenas algumas milhas antes de
Lemberg, onde estiveram com outro amigo deles, um proprietário de terras. Isso
porque as tropas russas já estavam invadindo o país. Finalmente, os dois
homens decidiram deixar a cidade por causa do perigo ainda maior de serem
encontrados com um proprietário de terras, que seguramente seria roubado e
talvez até morto pela plebe. Nada mais se soube a respeito dos dois homens
perdidos por seus parentes quando Lemberg ficou sob a ocupação soviética e
separada de Varsóvia.

Escrevi então uma carta de Paris para aquela senhora, incluindo uma
apresentação pessoal a Ossowiecki. E eis o que aconteceu depois.

Ela obteve a permissão para visitar o famoso clarividente, levando consigo um


relógio de ouro, que seu marido tinha usado durante muitos anos antes da
guerra. Ossowiecki pegou o relógio, pressionou-o contra a testa e começou a lhe
dizer: “Vejo o seu marido e outro homem viajando numa carruagem. Então quatro
bandidos armados saíram de trás dos arbustos para a margem da estrada, dois
deles com o uniforme soviético. Eles pararam a carruagem, ordenaram aos
homens que saíssem e roubaram seus pertences. Logo depois, encontraram um
vagão acolchoado com uma pistola Browning costurada no estofamento.
Imediatamente colocaram os dois homens numa vala ao lado da estrada e
atiraram neles. O assassinato foi cometido pelos dois bandidos com roupas civis,
sendo ambos de cor escura. Os dois soldados ficaram apenas observando. No
final, eles despacharam o rapaz que estava dirigindo a carruagem, dizendo-lhe
para voltar para casa e não contar nada do que havia presenciado. Não procure
o corpo de seu marido. Vejo-o jogado numa vala comum com outros que foram
mortos ilegalmente nessa época”.

Quando, em 1941, os alemães ocuparam Lemberg durante sua ofensiva de


verão, a Sra. Oledzki conseguiu encontrar o prefeito da cidade onde morava o
rapaz que dirigia a carruagem na qual os desafortunados homens tinham viajado
pela última vez. Ele confirmou cada palavra da visão de Ossowiecki, que havia
acontecido mais de um ano antes e da qual ele, naturalmente, nada sabia.

Espero que estas poucas linhas sejam um modesto tributo ao homem que foi
extraordinariamente dotado de um coração límpido como cristal, e que
permanece morto numa sepultura desconhecida num país distante. Se ele
tivesse vivido entre nós, no Ocidente, e sua morte prematura não tivesse cortado
a possibilidade de investigação científica, com seu auxílio raro, muitos poderes
que continuam ocultos em todos nós teriam sido explicados de uma maneira útil
e científica.

Por enquanto, ainda há algumas dúvidas em relação aos experimentos


conduzidos por clarividentes e telepatas “profissionais”, mas Ossowiecki teria
sido capaz não só de produzir o fenômeno, mas também de colaborar em sua
investigação e explicação.

Essas quatro séries com exercícios elementares de meditação, tais como os das
letras K, L e M, servem como preparação para os próximos exercícios, mais
complicados. Entretanto, sem essa preparação não podemos passar com êxito
para o trabalho mais adiantado. A mente deve ser treinada até um determinado
grau, antes de o estudante ser capaz de “ler nas entrelinhas” quando chegar aos
capítulos sobre treinamento da meditação propriamente dita. E isso porque a
verdadeira meditação, além das palavras e pensamentos ligados a ela, alcança
o nível das atividades supramentais da consciência humana, que, naturalmente,
não pode ser escrita com exatidão na linguagem baseada nessas mesmas
palavras.

Se quiser, acrescente alguns outros temas a este capítulo e trabalhe com eles
como foi feito nessas séries. Não há dúvida de que serão úteis para o seu futuro
estudo da meditação. Por exemplo, desenvolva temas tais como: A MINHA
FALA, AS MINHAS CRENÇAS, O MEU CORPO, e assim por diante. Como vê,
recomendo os temas mais “pessoais”, porque você está desenvolvendo suas
habilidades e tentando influenciar por meios diretos — como foi explicado
anteriormente — as funções do seu cérebro. Portanto, é lógico que, no começo,
você opere com material mais próximo à sua personalidade. Os temas abstratos
virão mais tarde, quando os elementares estiverem bem assimilados e
dominados.
16
A Meditação intermediária
— série V
(Lidando com a mente)

A prática mostra que não podemos gastar demasiada energia quando estamos
lidando com a ferramenta primária da meditação, isto é, com a nossa mente.
Quanto mais conhecermos esse poder, que é nosso mas que não é NÓS
mesmos, melhores serão os resultados que podemos esperar do nosso esforço
para obter uma verdadeira habilidade para meditar. Nesta série de exercícios,
usaremos temas e definições tirados, em sua maioria, das Grandes Almas ou
dos verdadeiros Mestres que alcançaram o ápice e, portanto, podem nos
aconselhar melhor do que qualquer outra pessoa. E isso mesmo nos níveis mais
baixos, pois quando a pessoa se lembra de sua difícil escalada para perceber a
natureza da mente, essa lembrança o ajuda a compreender as atuais
dificuldades dos outros, que são inevitáveis e cujo único propósito é dar
experiência e conhecimento. A leitura deste livro não o levará ao domínio da
mente, nem à maestria na arte de meditar. É preciso compreender isso para
poupar desapontamentos e amarguras.

“Que afirmação!”, alguém poderia dizer. “Qual é então a utilidade de todo este
livro?”

Eu já esperava essa pergunta e estou pronto para responder a ela.

Este livro, como qualquer outro manual, pode ser semelhante a um PRATO DE
COMIDA OFERECIDO A UMA PESSOA FAMINTA A FIM DE ALIMENTÁ-LA. A
comida contida no prato não resolverá todo o problema de salvá-la da inanição.
Há uma condição definida e positiva a ser cumprida se ela realmente precisa ser
alimentada. Uma ação dupla é necessária se é esse o propósito: COMER O
ALIMENTO E DIGERI-LO APROPRIADAMENTE.

Não importa o quanto isso seja simples e verdadeiro; muitas pessoas estão
inconscientes dessa verdade e esperam ser satisfeitas com uma simples
olhadela num livro. Para tais pessoas, eu digo: SE FOR ASSIM, ENTÃO,
QUANDO CHEGAR SUA PRÓXIMA REFEIÇÃO, OLHE PARA ELA, CHEIRE-A,
CALCULE QUANTAS CALORIAS OU VITAMINAS ELA PODE CONTER, SEU
SABOR APROXIMADO, O LUGAR ONDE ELA FOI COMPRADA, O NOME E
AS PARTICULARIDADES RELATIVAS À PESSOA QUE A PREPAROU, O
PREÇO, e qualquer outra coisa que queira, tudo exceto a última e única atividade
essencial: COLOCAR O CONTEÚDO DA REFEIÇÃO EM SUA BOCA,
MASTIGAR, ENGOLIR E SUBMETÊ-LO AO PROCESSO VITAL DA
DIGESTÃO.

Agora é a minha vez de lhe perguntar: “O que acontecerá se você fizer tudo isso
com a comida e não a comer? Será salvo da inanição?” Receio que NÃO! Nem
mesmo a ótima cozinheira que preparou a comida para você poderá ajudá-lo, se
ela comer e você não!

Voltando ao nosso livro, você concordará que a cozinheira é o escritor e que a


pessoa que precisa comer (não apenas OLHAR) é você. Espero que agora você
compreenda o significado do início deste capítulo: foi para convencê-lo de que
deve COMER e não apenas OLHAR! E isso ainda não é o suficiente. Mesmo a
melhor comida devidamente mastigada e engolida nem sempre traz o resultado
esperado, a alimentação do corpo. Permanece ainda o fator mais importante:
DIGERIR APROPRIADAMENTE O ALIMENTO ENGOLIDO. Se as funções
digestivas estiverem imperfeitas, o alimento, como qualquer médico lhe dirá, não
será assimilado como deve.

Se a habilidade do estudante não alcançar a arte de digerir o conteúdo deste


livro, ele não dominará a meditação. Contudo, providenciei alguma coisa com
esse propósito, que é justamente o material preparatório contido nos quinze
primeiros capítulos. Talvez eles tenham sido entediantes para alguns leitores,
mas todos os que passaram por um processo semelhante de preparação e,
depois, pela digestão perfeita SABEM que ele é uma condição indispensável. No
mundo da literatura filosófica e mística, há bons trabalhos que nos fornecem
variada quantidade de material para meditação. Eu os usarei bastante nos
próximos capítulos, como temas básicos para o seu estudo. Mas este livro foi
escrito como um manual, para fornecer não apenas um esboço para o trabalho
interior que você tem a fazer, mas também todos os detalhes introdutórios, de
modo que, ao chegar aos textos, saiba como UTILIZÁ-LOS.

Entretanto, isso não é tudo, pois seria insuficiente. Assim, para encher o seu
“prato”, será adotado o seguinte método:

EM PRIMEIRO LUGAR, o texto ou, como o chamaremos, O TEMA PARA


MEDITAÇÃO será dado e, EM SEGUNDO LUGAR, haverá o
DESENVOLVIMENTO desse tema pelo autor. Ele continua então para que você
COLOQUE A FORÇA VITAL DE SUA ATENÇÃO E HABILDADE A FIM DE
GUIAR A MEDITAÇÃO nos desenvolvimentos, vivê-los e digeri-los a seu modo,
e não meramente segui-los de forma literal, como um escravo. Em nenhuma
circunstância você deve cometer esse erro. NÃO PENSE SEQUER POR UM
MOMENTO QUE VOCÊ PODE DELEGAR A DIGESTÃO DE SUA COMIDA
PARA O SEU COZINHEIRO. Não importa o quanto esse “cozinheiro” (isto é, o
escritor) possa ser amável e benevolente; ele não pode fazer mais do que
realmente é capaz de fazer. Portanto, se você encontrar um livro, ou uma pessoa
que lhe diga que “você só precisa ler ou ouvir, pois isso bastará para que resolva
os seus problemas”, diga-lhe o que ele merece ouvir. Não preciso fazer
sugestões futuras, pois você encontrará o jeito apropriado para tratar desses
casos por si mesmo.

Exercício N:

TEMA: O que é a mente? É apenas um pacote de pensamentos. Pare de pensar


e mostre-me, então, onde está a mente. (Ensinamentos do Maharshi.)

Desenvolvimento: A qualidade inerente de nossa mente é a atividade pensante.


Ela é muito diferente de qualquer outro objeto que possamos tomar como
comparação. A maior habilidade de um peixe, por exemplo, é nadar. Não
podemos imaginar um peixe sem nadar. Mas, se um peixe se imobilizar, o que é
perfeitamente possível (pelo menos, em teoria), ou for removido de seu habitat
nativo, a água, ele continuará sendo um peixe e não perderá a identidade com
sua espécie. A imobilização não priva qualquer objeto do mundo material de sua
existência. Quando um homem dorme sem sonhar, está inconsciente, como se
não existisse para si mesmo, mas para os outros ele continua sendo a mesma
pessoa, apenas está inconsciente do que o cerca.

Então, qual é a posição da nossa mente? Ela NÃO é o nosso cérebro, que não
passa de um instrumento físico. Quando nossa mente está inativa, em sono
profundo e sem sonhos, nosso cérebro continua existindo e é o mesmo órgão de
quando estávamos acordados, só que inativo, pois sua força motriz foi afastada
dele. Portanto, aprenda a fazer a distinção entre mente e cérebro.

Se a mente e o cérebro NÃO são a mesma coisa, qual é então o seu campo
inerente, verdadeiro, sem o qual não pode haver nenhum conceito de mente?
ELA É APENAS O PROCESSO DE PENSAR, ou, como o sábio Maharshi disse,
os seus PENSAMENTOS. Vamos fazer uma pequena experiência. Ao eliminar
TODOS os pensamentos (o que implica a mesma sorte para os meus
sentimentos) da minha consciência, nenhum PENSAMENTO PRINCIPAL
permanece. Nada mais faz com que se manifeste, e ninguém pode ver a minha
mente e me dizer: “Olhe, embora você não esteja consciente do seu pensamento
principal, eu posso percebê-lo!” Ou você espera que alguém lhe diga algo assim?
Eu espero que NÃO!

Prosseguindo, começo a aprender que, se posso apagar a minha mente como


uma vela, também posso acendê-la na hora que quiser. Em outras palavras,
sempre posso reiniciar a atividade da minha mente, e depois observar sua
atividade, a qual — como sei agora — é inseparável do pensamento.
Assim sendo, o Maharshi estava certo ou errado? Não me perderei aqui em
teorias e deliberações impraticáveis e inúteis, como, por exemplo, a de alguém
que gostaria de dizer: “Bem, mesmo você não tendo encontrado a sua mente
quando ela estava silenciosa, ela ainda existia, pelo menos em estado latente”.
Isso é apenas verbalização vazia, sem qualquer essência real, pois é demais
esperar que um homem sadio acredite em algo que ele sabe que deixou de
existir apenas porque alguém assim o quis. Não concordo com essa atitude. A
partir daí, não está longe a segunda fase de nosso tema: “A mente é apenas um
pacote de pensamentos. Pare de pensar e mostre-me onde está a mente!” É
como o lacre de um processo terminado, pois ninguém pode me mostrar
qualquer traço real da mente a não ser o de sua função, como ocorreu com o
peixe depois de retirado de seu domínio aquático. Ele continuou existindo, mas
a mente, não.

Esse axioma do Maharshi também tem outra consequência importante: depois


que eu extingo a minha mente, QUEM é este eu? Eu deixei de existir, passando
para um estado de inconsciência, de monotonia ou de perda de sentidos?
ABSOLUTAMENTE NÃO! Eu continuei a sentir a minha vida, embora além do
mundo material, que me circundava no estado físico de consciência. É verdade
que esta vida é difícil de ser descrita, pois, anulando a mente por um determinado
tempo, também anulei a linguagem das palavras, pois elas são, a expressão
exterior dos pensamentos. E mesmo assim eu vivia, mas com uma vida diferente,
mais etérea, que parecia estar LIVRE de tempo e espaço. Definitivamente, havia
algo em mim que estava acima e além da mente e dos sentidos.

Com isso, terminaremos nosso esboço do “desenvolvimento” da meditação, por


enquanto. A busca depois DISSO, que se encontra além da mente, será
abordada nos capítulos finais, quando você estará sabendo bem mais e,
consequentemente, será mais capaz de compreender as coisas que
transcendem o domínio da mente. Esse domínio parece ser o único real para a
maioria dos filhos dos homens deste período.

Podemos agora resumir o exercício.

Espero, contudo, que o método que seguiremos firmemente nos últimos


capítulos, que tratam da meditação propriamente dita, fique claro para você. Ele
não é simples, de modo algum. O TEMA deve ser bem memorizado, assim como
qualquer outra fórmula importante, e repetido vagarosamente SETE VEZES em
sua mente. Sussurre-o, se achar que isso ajuda.

Depois, leia lentamente o “desenvolvimento” SETE VEZES, até que ele fique
totalmente claro para você. Não ouça mais nada de sua mente, pois é a mente
que fará todo o esforço para impedi-lo de extingui-la, mesmo por um momento.
Compreenda que esse poder quer viver, e seu impedimento significa a sua morte
temporária. Mas esse poder vive somente às suas custas, ocupando energia viva
da sua ATENÇÃO (veja os capítulos anteriores a respeito disso), e a vida dela
não é a sua vida, mas somente a de determinadas vibrações, sem as quais a
sua consciência é maior e mais pura, como você logo descobrirá. Portanto, não
tenha qualquer falsa sensação de “culpa” quando eu lhe disser que, silenciando
a mente, você estará provocando a sua morte temporária. De qualquer modo,
ela deve morrer quando a sua hora chegar; o que há, portanto, de errado em sua
liberação temporária de algo mortal?

Para concluir este primeiro exercício básico de meditação sobre a mente


humana, devo acrescentar que, se nós a banirmos por um certo período de
tempo agora, e mais tarde pelo tempo que quisermos, ESTAREMOS
GANHANDO INCOMPARAVELMENTE MAIS DO QUE APARENTEMENTE
PERDENDO COM SEMELHANTE PROCESSO. A felicidade não existe no
mundo quando a mente domina. Mas ela existe após a revolução que expulsa
esse domínio, pois então vem ALGO que está perto de tudo e que anteriormente
estava oculto de nós pelas ondas lamacentas dessa mesma mente.

Quando datilografei tudo isso, o trabalho “mecânico” foi feito pela mesma mente,
é verdade, mas... NADA MAIS! Isso parou na mesma hora em que as teclas da
máquina de escrever pararam. Como é grande a PAZ quando a mente está
silenciosa e tranquila!

Exercício O:

TEMA: A mente é a grande assassina da realidade. Deixe que o discípulo mate


a Assassina. (As vozes do silêncio.)

Desenvolvimento: A partir dos exercícios anteriores, estou ciente de um


determinado papel que a mente não controlada representa em minha vida. Ela
tem uma influência que retarda e constrange. O que essa atitude do instrumento
que chamo de “mente” me trouxe de bom? Com certeza, absolutamente nada!
Sei que esse instrumento é necessário, pois sem uma chave de fenda não posso
extrair nem atarraxar um parafuso. Mas é a chave de fenda que realmente
trabalha? Qual a sua utilidade sem uma mão viva que a segure e a movimente?
Não acontece o mesmo com a minha mente? Sim, se ela for um instrumento
obediente, mas não enquanto for um aparelho incontrolável. Quando a mente
vibra de forma incessante e não tenho nenhum poder para interrompê-la, vejo
apenas o que a mente permite que eu veja. Sou um escravo, sem nenhuma paz
interior, sem nenhuma felicidade. A partir dos exercícios anteriores sei que a
REALIDADE está além da mente, e, se essa mente me impede de ver essa
REALIDADE, não é ela uma assassina, quero dizer, uma assassina impiedosa?
Vejo isso agora, a Verdade nua!

Se é assim, eu tenho o direito de dar um fim a essa tirania, de — nas palavras


do tema — matar a Assassina!
Sei o que esse assassinato significa: tornar a mente tranquila, e me tornar LIVRE
de qualquer inibição vinda de fora, inibição que é basicamente estranha a mim,
pois posso ficar feliz e permanecer vivo sem ela. Portanto, que a minha mente
fique morta pelo tempo que eu lhe ordenar!

Eu a chamarei para a vida quando precisar de seus serviços. Que seja assim!

Quando fizer esse exercício de meditação, não se esqueça das regras do


exercício anterior: leia o tema vagarosamente até memorizá-lo bem, depois leia
o “desenvolvimento” SETE VEZES, a seguir mantenha seu conteúdo diante de
sua visão interior, tentando fazer dele a sua meditação PESSOAL, para vivê-lo
nas profundezas do seu Eu verdadeiro.

Não voltarei a mencionar essas regras após cada exercício, pois são idênticas
para todas as meditações, até você passar para a MEDITAÇÃO MUDA,
denominada algumas vezes CONTEMPLAÇÃO.

Exercício P:

TEMA: A mente é um bom servo, mas um mestre cruel. (As vozes do silêncio.)

Desenvolvimento: Antes de começar a praticar a concentração, minha mente era


uma fonte de dificuldades incessantes para minha vida interior. Ela se recusava
a obedecer. Mas quando eu percebi que ela era apenas uma força que estava à
parte de meu verdadeiro Eu, e aprendi a usar essa força de acordo com as
minhas necessidades, a mente tornou-se minha serva, em vez do mestre
anterior, que me compelia a agir de acordo com seus próprios caprichos, e não
de acordo com meu verdadeiro Eu. Eu não conseguia concentrar meus
pensamentos quando precisava fazê-lo com urgência; eu sofria agonias mentais,
era incapaz de usar minha mente de um modo racional e desapaixonado, ditado
pelo meu bom senso, quando decisões fatais tinham de ser tomadas.

A falta de concentração trazia insegurança e instabilidade às minhas ações, que,


por sua vez, causavam sofrimento, derrotas e erros cometidos às minhas custas.
Minha força de vontade, enfraquecida pelo egoísmo da mente, que provocava
vibrações em vez de ficar em paz quando eu necessitava dessa paz, era incapaz
de tomar e realizar decisões logicamente corretas. Isso era igualmente uma
contínua fonte de sofrimento, tudo porque a mente representava seu papel de
usurpador de meu mestre. E que cruel era esse mestre!

Mas agora que a coloquei no seu devido nível, e ela é minha serva, posso ver
que a mente é um instrumento útil, sem o qual eu não poderia fazer muito neste
mundo, incluindo o meu estudo sobre a meditação.

Qual foi o fator decisivo dessa mudança de relacionamento entre mim mesmo e
a minha mente? Algo simples, mas imensamente importante: A PERCEPÇÃO
DE QUE EU E MINHA MENTE SOMOS DUAS COISAS DIFERENTES, E DE
QUE EU SOU CAPAZ DE DIRIGIR A MENTE.

Essa compreensão interrompeu o contínuo esvaziamento da minha força de


vontade, provocado pelo pensamento (vibração) desordenado de minha mente,
que literalmente não me dava tempo para que eu tivesse uma vida própria, isto
é, eu não quis mais contribuir para a vibração apaixonada inerente a uma mente
não subjugada. Assim como a submissão da minha mente, constatei que a
submissão de meus desejos tornou-se mais fácil e mais realizável, pois, sendo
capaz de interromper os pensamentos, passei a ser capaz também de
interromper as vibrações astrais que, em outras palavras, são os mesmos
desejos e emoções. Como conclusão a este exercício de meditação, posso dizer
que A HABILIDADE DE INTERROMPER VOLUNTARIAMETE O
PENSAMENTO É A CHAVE PARA TUDO ISSO.
17
A criação de clichês

Tendo concluído o assunto exposto no capítulo 16, podemos passar para o uso
das forças que surgem em nós como resultado da solução de nossos problemas
mentais. Como “conclusão”, no que diz respeito ao estudo de cada capítulo deste
livro, pretendo o domínio de seus exercícios, isto é, a satisfatória e frequente
repetição deles enquanto meditamos ao longo das linhas recomendadas, até a
verdade dos temas de meditação tornar-se NOSSA PRÓPRIA VERDADE,
inseparável de nossa recente atitude em relação a ela e da compreensão desses
temas. Em resumo, temos de moldar nossa mente nas formas que queremos, e
não de acordo com seus próprios padrões.

Uma das mais importantes atividades para um ocultista genuíno é a CRIAÇÃO


DE CLICHÊS DESEJÁVEIS E EVOLUÍDOS. Pelos capítulos anteriores, você
sabe que nós, humanos, assim como inumeráveis outros seres inteligentes do
imenso universo, possuímos invariavelmente (ou, para sermos mais exatos,
somos possuídos por) faíscas do PODER imortal, onipotente, que tentamos
explicar pelo termo HIPERCONSCIÊNCIA. O estudante fará bem em interromper
agora esta lição e voltar para o capítulo que trata do conceito de
HIPERCONSCIÊNCIA. Presumindo que você tenha seguido o meu conselho
podemos continuar.

Sabemos que o imenso clichê do universo foi criado pela PURA CONSCIÊNCIA
ESPIRITUAL, a qual não é errado chamar de “HIPERCONSCIÊNCIA”, em
relação à consciência humana normal. Nossa ambição não pode ir muito longe,
pois a faísca não pode fazer o que é feito pelo FOGO INTEIRO. Portanto, não
ensinaremos a você como criar um mundo novo, e espero que você compreenda
isso totalmente, rejeitando assim todas as tolices e absurdos frequentemente (e
lamentavelmente) espalhados pelos falsos “profetas” e “mestres”. Temos de
conhecer nossas possibilidades e limitações, permitindo que a mãe-verdade
resida em nós.

Bem, então, que tipo de clichês somos capazes de produzir, com quais clichês
já existentes podemos nos associar? A resposta é simples e inequívoca: COM
OS QUE ESTÃO AO NOSSO ALCANCE. As habilidades elementares de
meditação, que você deve ter começado a perceber a partir do material
amplamente estudado nos capítulos anteriores, devem torná-lo capaz de fazer
determinadas coisas nesse sentido. Pois os clichês são o resultado direto da
meditação clara e intensa, com pleno poder de concentração, usado para esse
propósito. Com estas palavras, você é iniciado neste problema, que foi mantido
em segredo durante as épocas passadas. Sua meditação é a verdadeira força,
uma força criativa, e não há nem pode haver nada que a substitua. Agora você
pode compreender por que escrevi este livro. Espero que ele chegue às mãos
certas e seja usado como pretendi, para a CAUSA DA LUZ, não para a das
Trevas.

Na verdade, não concordo com essas pessoas “supercautelosas”, que podem


ser encontradas em determinadas associações “pseudo-ocultistas” e que nunca
foram capazes de praticar nada que pertencesse à arte do desenvolvimento
interior do homem. A maioria dessas pessoas tenta hipocritamente, é claro,
dissuadir os outros de que qualquer uso prático das leis ocultas. Fazem isso
simplesmente porque elas mesmas nunca foram capazes de chegar a qualquer
realização verdadeira e, portanto, egoisticamente, não gostam que os outros
tentem fazer algo em que elas fracassaram. Olhe atentamente ao seu redor e
será capaz de desmascarar os hipócritas.

Pelo conteúdo dos quinze capítulos precedentes você pode ver que os altos
padrões morais e éticos foram estabelecidos como condições para a Realização.
Se alguém, com intenções impuras, tentar obter certas faculdades relacionadas
com a arte de meditar, será compelido a satisfazer esses padrões, o que significa
que deverá então deixar de ser um indivíduo vil e egoísta. Além do mais, para
se obter qualquer êxito, como se supõe neste trabalho, você invariavelmente
precisará da ajuda do ALTO. Isso só lhe será dado se a sua atitude garantir a
pureza de seus objetivos; do contrário, não. O Supremo vê através de você, e
nenhuma trapaça é possível neste caso. Esta é a válvula de segurança, da qual
estamos bem conscientes. Não ignoro a possibilidade de se utilizar os poderes
ocultos para o mal, isto é, para propósitos egoístas, mas seu alcance é muito
limitado e os resultados, muito efêmeros para serem levados a sério. Sem
dúvida, um “mago negro” é capaz de criar determinados problemas para algumas
pessoas que ele odeia e que não têm, elas mesmas, padrões muito elevados;
mas, de qualquer modo, ele é apenas um instrumento no carma negativo dessas
pessoas. Entretanto, ele jamais terá êxito em suas tentativas de prejudicar
qualquer verdadeiro ocultista branco ou homem santo. Até mesmo uma crença
simples e sincera em Deus e em Sua bondade por parte de um homem comum
é garantia suficiente contra as más influências. Saiba que NENHUM MAL
JAMAIS PODE NOS TOCAR SE NÃO POSSUÍMOS DENTRO DE NÓS
MESMOS OS GERMES DO MESMO TIPO DE MAL QUE PODE SER
LANÇADO CONTRA NÓS. Não há espaço aqui para desenvolver este assunto,
mas, se você estiver interessado nele, poderá encontrar todas as explicações e
conselhos nos capítulos do livro Tarô, que tratam de violações e de outros crimes
astrais.

Portanto, criaremos clichês positivos e úteis; é claro que, primeiro, bem


elementares e, depois, os altamente desenvolvidos.

Exemplos:

A — Imagine que você tem algum trabalho especial, ou um projeto, e quer fazer
tudo o que puder a fim de assegurar o seu sucesso, à parte, naturalmente, de
qualquer tipo de preparação física necessária. Você tem de fazer uma palestra
convincente numa companhia, pois dela dependem decisões favoráveis a você.
Sabe que, como regra geral, até mesmo os oradores comuns, que não usam os
métodos ocultistas, preparam suas palestras com antecedência, e depois as
praticam diante de um espelho de modo a exercer o máximo de influência no
auditório. Não há nada de errado nisso, mas devemos ir além, criando um
CLICHÊ TOTAL do futuro acontecimento.

Fique sozinho em seu quarto; estude bem o texto da palestra; imagine-se de pé


no auditório e visualize as pessoas à sua frente o mais claramente que puder.
Depois, com os olhos fechados, olhe em volta várias vezes, mentalmente, como
se estivesse observando o futuro ambiente no qual agirá, e mentalmente
pronuncie (ou sussurre, se preferir) “EU SOU!” com plena confiança em seu
poder de se tranquilizar. Finalmente, comece a falar, devagar, com clareza,
capacitando-se da firme intenção de ser ouvido, e concorde com cada
pensamento que expressar em palavras. Acredite que tudo acontecerá de
acordo com os seus planos e que a mente das pessoas da audiência estará em
sintonia com as suas conclusões e métodos. O fator mais decisivo na construção
de um clichê bem-sucedido é a sua convicção de que está certo, e de que está
autorizado a lutar por seus objetivos. Uma faísca da HIPERCONSCIÊNCIA, que
é onipotente, pode ser encarnada nesse fator. Talvez agora você compreenda
que, se a intenção for impura, esse momento decisivo inevitavelmente
fracassará, pois, em sua maioria esmagadora, os homens têm esse sentimento
de justiça oculto em si mesmos, o qual, neste caso, destruirá a confiança.

É claro que, como em tudo, há exceções, mas elas apenas confirmam a lei
genérica da criação de clichês. Isso explica a mágica influência que alguns
homens maus (do nosso ponto de vista) têm sido capazes de exercer em suas
audiências passivas. Suspeito fortemente que, nos seus melhores anos, os
ditadores Hitler e Mussolini estavam sinceramente convictos de que lutavam por
uma causa justa, e esse forte magnetismo foi passado para as multidões ao
redor deles.

B — Podemos prever os acontecimentos desejados meditando


sistematicamente neles com considerável pureza de concentração. Permita que
seu esforço seja semelhante ao da figura 5, ou pelo menos ao da 4, reproduzidas
neste livro. Com isso, quero indicar a corrente ininterrupta de esforço na
formação do clichê que emerge de você. Se você for ao encontro de alguém, por
exemplo, numa estação de trem, durante o dia, pense nisso e veja o
acontecimento o mais clara e nitidamente que puder, pronunciando mentalmente
o que gostaria de dizer a essa pessoa. Repita isso várias vezes durante a
sessão. A eficácia do clichê assim criado dependerá apenas de você, assim
como um bom pintor criará um quadro de valor, enquanto um menos talentoso
será incapaz de obter algo parecido.

C — Você está precisando de um determinado serviço ou mesmo do


desempenho favorável de um pedido seu a alguém. Coloque-se numa
circunstância semelhante à real. Imagine-se frente a frente com a pessoa e
comece a representar, falando convincentemente primeiro, depois fique em
silêncio enquanto exprime uma forte impressão de modo que ele, ou ela,
compreenda a sua intenção; veja isso sob uma luz favorável e esteja preparado
para ouvi-lo quando você realmente pedir. Você deve perceber que a preparação
tem de ser exata e intensa, se quiser que o clichê seja realizado de acordo com
a sua vontade. Você quer saber o verdadeiro segredo do sucesso? É sua firme
concentração e a habilidade de manter a sua mente “vazia” entre as diferentes
fases da ação. Em resumo, não estrague o seu clichê com pensamentos
incoerentes e desconexos. Se você aprendeu o texto do livro Concentração, não
encontrará qualquer obstáculo intransponível.

Há apenas um Poder que é superior à construção do clichê, até mesmo do mais


elaborado e definido. É o poder da verdadeira PRECE, feita com o coração
aberto e um propósito digno. Mas esse foi o assunto exposto no livro Teurgia, e
não há muito espaço para falar a respeito disso neste trabalho.

Frequentemente, uma prece evocando a participação da HIPERCONSCIÊNCIA,


e relacionada com clichês, pode produzir o que chamamos de “milagres”. Eles
não são “inexplicáveis” para os que conhecem na prática o que está escrito neste
livro, mas apenas a compreensão mental não leva à REALIZAÇÃO DE
MILAGRES! Tal concepção seria totalmente errônea. Um milagre é sempre um
“TOUR DE FORCE”, como dizem os franceses, e se você ler os Evangelhos de
Cristo, verá isso por si mesmo. O Grande Mestre, por exemplo, era capaz de
fazer milagres mesmo sem a participação da vontade d’Ele, como nem mesmo
foi o caso da mulher com hemorragia que tocou em Suas vestes por detrás.

Na verdade, em geral a prece está ligada à criação inconsciente de um clichê,


que dá um quadro do resultado desejado pelo devoto.

Entretanto, se o clichê não for bem definido, se a concentração não for muito
clara e a prece suficientemente sincera, os resultados nem sempre serão tão
benéficos como o esperado.
O método de criar clichês, dado aqui, pode ser aplicado a todo problema
autêntico que precisarmos resolver, providenciando a satisfação das condições
necessárias para que a ação seja conduzida. Já falei a respeito disso neste
capítulo.

Há tipos diferentes de clichês que não estão ligados a acontecimentos físicos,


mas a funções meditativas mais elevadas. No capítulo 16 temos três exemplos
de meditação sobre as propriedades da mente e sua manipulação (veja os
exercícios N, O e P). Primeiro, leia os temas. Depois, julgue por si mesmo se
conseguiu ou não construir clichês a partir deles; se for assim, quais. Como não
havia quadros mentais, como neste capítulo, nada parecido pode ser feito.
Temos de nos satisfazer com essa solução, pois não somos capazes de
descrever algo que está além da visualização, adaptado à linguagem das
palavras. Todavia, certos clichês podem surgir de meditações obscuras, assim
como daquelas de ordem mais elevada que nos ocorrem quando estamos
suficientemente maduros para aceitá-los. Quando, por exemplo, medito sobre a
VERDADE, pode haver duas origens diferentes: 1) O clichê vem a mim,
magnetizado por minha mente, e permite que eu o penetre mais profundamente
do que nas concepções mentais. Então fico ocupado com isso, empresto-lhe
essa força vital de atenção concentrada e, desse modo, ambos nos
enriquecemos: o clichê é fortalecido e eu recebo alguma experiência espiritual,
que nunca será perdida.

2) A idéia de VERDADE, que pode ser congenitamente minha, é desenvolvida


num clichê durante a meditação, que inicia mais tarde sua vida independente,
mesmo depois de terminada a minha meditação. Ele sai então “pelo espaço”, à
procura de alguém que possa acrescentar algo ao seu conteúdo, originando
assim uma corrente.

Em ambos os casos, não posso lhe adiantar qualquer explicação, pois não há
palavras adequadas a esse propósito, e as aproximações ou comparações não
teriam qualquer utilidade neste assunto.

Em nosso mais íntimo recesso, quando a Paz suprema reina, nem mesmo
SABEMOS a respeito dessas criações sem forma, pois somos nós mesmos, em
essência, o ESPÍRITO SEM FORMA.

Quando você também passar por essas experiências, o mesmo conhecimento


nascerá em você, e ele permitirá que você converta a essência deles em seus
companheiros. É por isso que muitos homens espiritualmente acordados têm
falado do SILÊNCIO como o ápice da iniciação.

Maharshi disse certa vez: “A fala é a bisneta da Verdade”. Portanto, quando


queremos chegar a essa Verdade, devemos transcender sentimentos e
pensamentos. Encontraremos o problema do SILÊNCIO ESPIRITUAL quando
chegarmos à MEDITAÇÃO MUDA e à sua relação com a PRECE MUDA, como
é praticada pelos grandes santos e mestres.
18
Meditação em diagramas

Poderá ser proveitoso se você tentar meditar, juntamente com as meditações


elementares e as experiências posteriores neste campo que termina na
meditação regular e bem-sucedida, segundo as formas em diagrama que
apresentaremos. Isso o ajudará a compreender os padrões que se formam por
seus esforços iniciais e pelos subsequentes desenvolvimentos deste estudo.
Todo principiante pensa que tudo o que lhe acontece é conhecido apenas por
ele, e que sua experiência é quase única. É claro que não é assim; e do mesmo
modo que o estudo convencional em nossas escolas, os professores sabem
bastante a respeito das dificuldades encontradas pelos alunos durante os anos
de aprendizagem.

Não é diferente com os estudos ocultos, se tratados com seriedade e se o


aspirante realmente tiver abandonado a idéia de que, neste tipo de
conhecimento, ele pode prescindir de certas condições e bastante esforço —
atitude que não é permitida nem nas escolas convencionais.

Nos diagramas que vêm a seguir (figuras 2 a 6), mostraremos as linhas gerais
desde o início até o subsequente estudo da meditação.

A Meditação, como já definimos, é a concentração no movimento, a atenção


dirigida para idéias vivas e clichês. Portanto, posso representar o curso ideal da
meditação como uma linha reta, e ela é mostrada em todos os diagramas como
a linha X—Y. As curvas de ambos os lados dela são padrões de nossas
meditações.

Figura 2: Começamos do ponto X e, se nossas habilidades estiverem como


devem estar, nosso caminho nos levará diretamente ao alvo final, marcado pelo
Y. É claro que, por enquanto, isso é impossível e, depois de um momento, sua
mente se dissocia da linha ideal X—Y e o leva para o ponto “a”. Vamos agora
seguir a curva com toda a atenção.

Se a linha X mostra a direção desejada, movendo-se no sentido do alvo, ou seja,


Y, o próximo estágio provavelmente será uma leve inclinação para baixo e,
depois, uma subida para “b”, mas você pode ver que esse ponto, mesmo
almejando o Y, está mais afastado da linha básica X—Y. Nosso pensamento de
algum modo se desviou. Nesse momento, podemos perceber o erro e fazer um
esforço para retornar ao pensamento correto.

A nova parte da curva entre “b” e “c” demonstra essa atividade. Entretanto, pela
falta de treino, somos incapazes de permanecer na linha ideal e a ultrapassamos,
chegando apenas ao “c”, em vez de ao “d”. Daí novamente dirigimos nossa
atenção para a frente, passamos pelo “d” e chegamos ao ponto “e”.

Espero que depois desta curta exposição você seja capaz de orientar a sua
mente de acordo com o significado desses diagramas, de modo a não repetir os
mesmos desvios, mas simplesmente descrevê-los pelo desenho da linha de
meditação, como foi feito.

Outro passo defeituoso ocorre em “e”: aqui a mente se desviou por completo,
esqueceu-se do tema de meditação e começou a se ocupar com pensamentos
que têm pouco ou nada em comum com o tema. Isso está representado pelas
linhas interrompidas e dispersas irradiadas a partir do “e”. Uma visão triste e
deprimente.

Finalmente nos lembramos outra vez de que temos de voltar para a linha X—Y,
em alguma parte no ponto “f”, e começamos a caminhar para a frente. O desvio
seguinte nos leva ao “g”, daí para o “h”; então damos um grande passo na
direção certa, a qual é depois transformada num movimento oposto em “i”, e daí
prossegue numa longa curva de pensamentos de ordem estranha no “j”,
novamente vai em frente e... Mais uma vez a inconsciência interrompe a
meditação, deformando-a, transformando-a numa mistura de pensamentos
incoerentes, marcados por fragmentos dispersos.

Depois de um tempo, nossa consciência se recobra e voltamos ao “k”, o qual


segue novamente em direção ao Y. Mas não por muito tempo. Um novo desvio
ocorre em “1”, corrigido pelo movimento “m”; depois uma nova curva ascendente
se inicia, cruzando a linha básica. Então um esforço de melhora se inicia, mas
nosso tempo acabou.

O diagrama 2, é claro, foi apenas um padrão geral, pois os casos individuais


podem variar consideravelmente; mas a idéia central de esforços iniciais sem
êxito será bastante semelhante ao diagrama da figura 2.
Figura 3: Este diagrama apresenta outro padrão de meditação, evidentemente
mais adiantado, pois nele o pensamento prossegue o tempo todo na direção
requerida, embora com muitas vibrações e desvios da linha correta X—Y. Aqui
também, num determinado momento “e”, a mente do aspirante se desvia,
esquece o tema e segue sua própria vontade. Devidamente compelida a voltar
para “f”, ela continua até o pico “g”; então uma nova queda interrompe a
meditação em “1”. Reaprendida em “i”, a consciência não se desprende da
verdadeira direção, mas passa por “j”, “k” e “1” e depois a meditação termina.

A próxima etapa a ser cumprida consistirá em estudar cuidadosamente ambos


os diagramas, enquanto você insere os seus próprios pensamentos, como foi
feito durante suas tentativas para meditar; depois, você deverá repetir o esforço
várias vezes, tentando evitar e cancelar as irregularidades acima descritas.

Figura 4: Aqui se apresenta a próxima meditação, num grau muito mais


adiantado. Nela vemos que o aspirante é capaz de eliminar completamente os
momentos inconscientes que teve nos diagramas anteriores e seguir uma curva
ininterrupta, sem qualquer movimento oposto definido, dirigindo-se
continuamente para Y. Naturalmente, as vibrações ainda podem ocorrer, como
nos pontos “b”, “c” e “d”, mas suas amplitudes não são agora tão grandes e
definidas. Isso significa que aquele que medita manteve a mente próxima à linha
básica X—Y.

Figura 5: Um progresso ainda maior! Embora ainda não seja capaz de chegar ao
X—Y por alguns espaços mensuráveis de tempo, o estudante pode dizer que
está, de fato, encontrando a técnica correta e que sua concentração progrediu
junto com sua força de vontade. Pois você deve saber que essas interrupções
na meditação, como foram descritas anteriormente, são provas convincentes de
que a força de vontade do aspirante ainda está fraca e é incapaz de assegurar
a continuidade do processo interior na consciência dele.

Figura 6: Este diagrama, como obviamente você pode supor, descreve a


meditação de um mestre, que não tem mais nada para aprender nesta terra e
que abandonou todas as fraquezas e imperfeições humanas. Uma meditação
tão forte deve levar, invariável e diretamente, ao ALVO, e é por isso que dizemos
que um mestre espiritual vive continuamente no Supremo. Em outras palavras,
ele e o Pai estão unidos NUM ÚNICO ESPÍRITO, NUMA SÓ REALIDADE,
NUMA SÓ VERDADE E NUM ÚNICO AMOR.

Talvez você possa ver agora aonde a meditação realmente leva seus adeptos e
os estudantes fiéis.

Relendo tudo o que foi escrito acima, tenho a mesma sensação de que tudo isso
é apenas um esboço da perfeita CONSTRUÇÃO futura. Cada um deve inserir
sua própria força nela, e assim construir o TEMPLO indestrutível, no qual
encontrará sua paz final.
19
Japa

Quanto mais sabemos sobre este assunto, melhor é nossa perspectiva de


concluir com êxito nosso estudo. Portanto, no presente caso, não omitirei o
antiquíssimo, mas patente e prático, método JAPA, tomado de empréstimo do
arsenal oculto de nossos irmãos hindus. Mas primeiro devemos ter uma
explicação total do que ele realmente é, de seu método, âmbito e objetivos.

Na verdade, o japa está a meio caminho entre a concentração estática e a


meditação, e por meio do livro Concentração, que é uma introdução teórica à
arte de meditar, sabemos tudo sobre os exercícios usados para se chegar a uma
direção única da mente.

Agora nos aproximamos do final da segunda parte deste trabalho, dedicado às


técnicas de meditação, e temos diante de nós a terceira parte, na qual
começaremos a praticar a verdadeira meditação, baseada nas habilidades (de
concentração) e no conhecimento (como foi apresentado aqui, nos capítulos de
1 a 18) que o estudante supostamente já adquiriu.

Portanto, vamos terminar a segunda parte com o conhecimento do japa. A


essência desse método é uma repetição mental contínua (algumas vezes oral)
de uma frase curta, de um mantra ou máxima, que deve OCUPAR TODA A
MENTE DO ESTUDANTE, durante cada minuto em que não for compelido por
seus deveres terrenos a atender aos assuntos correntes de sua vida diária. Na
Índia, há homens que devotam todo o seu tempo à busca espiritual, ou ioga,
limitando suas atividades terrenas apenas às atividades inevitáveis, tais como
comer, dormir, tomar banho, além de orar ou meditar. Essa categoria de místicos
“profissionais” frequentemente chamados de swamis e ocasionalmente de
sadhus, não tem nenhum ou tem poucos correlatos na sociedade ocidental,
exceto nos mosteiros ou conventos. Mas não falaremos dessas organizações,
pois elas pertencem a uma categoria diferente de homens e mulheres, que
seguem com pureza os caminhos religiosos, embora alguns métodos usados por
eles sejam bastante semelhantes àqueles da ioga oriental (na sua forma bhakti
ou mesmo raja).
No meu livro Em dias de grande paz você encontrará uma descrição detalhada
do japa usado por mim mesmo, em 1946, quando me preparava para deixar a
Índia.

Como já disse, você pode escolher quase qualquer coisa que considere
compatível com um texto para o japa, sob a condição de que não seja muito
longo ou enfadonho. Quanto mais curto, melhor. Portanto, não darei muitos
exemplos; desse modo você poderá usar algo diferente, se achar que se adapta
melhor à sua mentalidade. Se quiser saber a verdade, É DE POUCA
IMPORTÂNCIA A FÓRMULA QUE VOCÊ VAI USAR. Isso porque o japa é um
meio, um método técnico, que não possui outro objetivo a não ser o de ajudá-lo
a dominar a dispersão de sua mente, a discipliná-la e a fortalecer sua força de
vontade. Como pode ver, seu alcance é bastante amplo, e é por isso que
recomendo este antigo mas comprovado método para o período transitório entre
a “concentração” e o uso prático da meditação.

Eis aqui algumas sugestões: “EU SOU”; “QUEM SOU EU?” (o Vichara); o
GAYATRI (“Vamos meditar sobre a glória do UNO que criou este universo: deixe-
o iluminar nossas mentes); e “AUM MANI PADME HUM”. Para os que têm
inclinações religiosas, temos excelentes preces curtas que se adaptam bem ao
nosso propósito: “DEUS O SAGRADO, DEUS O SAGRADO E PODEROSO,
SAGRADO E IMORTAL, SEJA A GRAÇA EM NÓS: ABENÇOADO, Ó
SENHOR!”

Algumas vezes, uma fórmula mais curta como “AUM” (o mesmo que “OM”) se
ajusta melhor. Repito: é o modo como o japa é feito que conta, e não as palavras
da fórmula em si. É claro que, se um aspirante escolher uma prece curta e usá-
la com a devida devoção, não pode deixar de obter um benefício adicional na
forma de uma resposta de Quem é adorado. Para os que têm uma atividade
devocional em relação a Cristo, os versos a seguir, originados dos anos iniciais
do cristianismo, podem ser recomendados. Como você pode ver, é também uma
invocação poderosa que fortalecerá o seu japa espiritual: “CRISTO
RESSUSCITOU, DERROTANDO A MORTE PELA MORTE E GARANTINDO
VIDA ÀQUELES QUE ESTÃO NA SEPULTURA”. Certamente você pode
perceber que a expressão “que estão na sepultura” é semelhante, em
significado, às palavras que Cristo usou quando disse aos Seus discípulos:
“Sigam-me, deixem que os mortos enterrem os seus mortos”. Então a “garantia
de vida” para eles significava “ressurreição espiritual” do sono mortal na matéria,
como dizem os ocultistas.

Como mencionei antes, o japa deve preencher todos os nossos estados


despertos, que não estão ocupados por atividades profissionais, estudantis, e
outras, da mente. É surpreendente como a humanidade se desgasta em
atividades mentais desnecessárias e sem sentido, das quais não resulta nenhum
proveito; com isso ela adquire apenas um enfraquecimento da habilidade de se
concentrar ou de usar a força de vontade.

Na prática, o dia de um praticante de japa parecerá algo semelhante a isto: logo


ao acordar, comece pronunciando o seu “AUM”, ou outra fórmula escolhida, não
muito depressa, mas apenas para que NENHUM PENSAMENTO POSSA
ESCORREGAR ENTRE OS “JAPAS”! Esta é a condição, e tudo o mais é de
importância secundária. Quando alguém falar com você, ou se você tiver de falar
com alguém, interrompa as repetições, utilize sua mente e fale de modo normal.
Se estiver acostumado a ler o jornal pela manhã durante o café, ou a caminho
do trabalho, dedique apenas o tempo necessário para essa finalidade, estando
sempre consciente de que seu exercício com o japa é muito importante, mais do
que satisfazer a curiosidade de sua mente. Deixe que essa concessão a ela seja
a mais breve possível, pois isso é de seu próprio interesse e de ninguém mais.

Quando estiver trabalhando ou praticando atividades obrigatórias durante o dia,


provavelmente descobrirá que nem todo esse tempo está de fato ocupado, pois
a mente ainda pode encontrar frações de minuto ou até muito mais para seus
próprios desejos. É aqui que entra a ação decisiva do seu japa: em vez de
permitir que sua mente se ocupe com assuntos insignificantes, pratique o japa e
nada mais. Você ficará surpreso ao verificar que seu poder crescerá de forma
rápida e convincente e, com ele, a paz interior.

PORTANTO, REPETIREI: O PAPEL PRIMORDIAL DO “JAPA” É PREENCHER


A SUA MENTE EM CADA MOMENTO LIVRE EM QUE NÃO ESTEJA
OCUPADA POR QUALQUER ATIVIDADE OBRIGATÓRIA, desde o amanhecer
até a hora de dormir. Trata-se de um hábito bastante recomendável adormecer
tendo o japa em mente. Então você verá o que pode acontecer durante o sono,
como ele influenciará os seus sonhos. Não darei propositadamente qualquer
sugestão sobre isso, como resultado da execução rígida e fiel do japa, que é
sempre altamente benéfico de diferentes modos, dependendo da pessoa.

Há uma outra regra muito importante: NÃO DIGA NADA A NINGUÉM SOBRE O
SEU TRABALHO COM O “JAPA”, OU SERÁ PREJUDICADO OU ATÉ MESMO
DESTRUÍDO. Muitos casos desse tipo são conhecidos, de modo que a violação
dessa regra é ABSOLUTAMENTE PROIBIDA para todo estudante de meditação,
ou mesmo para qualquer pessoa que use o japa para qualquer outro propósito.
A única exceção é no caso de um amigo ou companheiro fiel, QUE TAMBÉM
ESTEJA PRATICANDO ALGO SIMILAR, DESDE QUE VOCÊ SAIBA QUE ELE
ESTÁ MAIS ADIANTADO QUE VOCÊ. Em todos os outros casos, a REGRA é
absolutamente obrigatória e imprescindível, se você realmente quer obter
proveito de seu trabalho. Em resumo, se a fala é de prata, o SILÊNCIO é de ouro
puro. Naturalmente, se você sentir que precisa de mais alguma instrução (da
qual, na verdade, não deve precisar, pois tudo foi organizado neste curso de
modo que você tenha todas as informações e instruções necessárias neste livro,
e se seguir meu conselho de o ler pelo menos SETE vezes, não terá
absolutamente nenhum problema), pode escrever para mim, pois ficarei contente
em auxiliá-lo, desde que não pergunte algo que já esteja contido na obra.

Durante quanto tempo você deve trabalhar com o japa? Novamente, nenhum
tempo definido pode ser aconselhado, pois há uma regra pessoal para cada
estudante.

A flexibilidade do japa é uma das razões pela qual ele é tão admirado no Oriente
há milhares de anos.

LOGO QUE A SUA MENTE COMEÇAR A FICAR AUTOMATICAMENTE


PREENCHIDA COM O “JAPA” EM TODOS OS PERÍODOS EM QUE ESTIVER
LIVRE DE QUALQUER ATIVIDADE OBRIGATÓRIA, QUE SÃO ACEITAS COM
O SEU CONSENTIMENTO, VOCÊ PODERÁ CONSIDERÁ-LA CONQUISTADA
NUM GRAU SUFICIENTE QUE VAI LHE PERMITIR UMA TRANSIÇÃO FÁCIL
PARA O PRÓXIMO ESTÁGIO DE SEU ESTUDO, ISTO É, A MEDITAÇÃO
REGULAR, que será exposta mais adiante, na terceira parte.

A partir da minha experiência pessoal (e não escrevi nada que não fizesse parte
dessa experiência), sei que o japa é um excelente método. É simples,
relativamente fácil e um meio rápido para se chegar ao mais importante
conhecimento interior sobre a diferença entre o homem e sua mente. Ele dá ao
homem um sentimento tão maravilhoso de liberdade e certeza que dificilmente
há algo melhor ou mesmo comparável ao japa. Contudo, ele deve ser usado
como um meio, nunca como um fim, como alguns aspirantes ignorantes
(geralmente do Oriente) parecem acreditar. Não cometa esse erro. O japa não
deve ser confundido com algumas preces ou mantras importantes que certos
santos e iogues usaram durante a vida. Tais fórmulas foram temas constantes
de suas MEDITAÇÕES, mas NÃO exercícios com o objetivo de transformar e de
subjugar a mente, que eles já haviam abandonado há muito tempo.
TERCEIRA PARTE

MEDITAÇÃO
REGULAR
20
Um grupo ético de meditações
— série I

Nosso trabalho de preparação terminou. Agora podemos passar para a


meditação regular, que envolve todo o conhecimento e as técnicas que fomos
capazes de recolher, apresentados nas duas primeiras partes deste curso.

Os temas mais fáceis e atraentes serão textos éticos famosos, começando pelos
neoplatônicos e terminando com os contemporâneos. As técnicas a serem
usadas nos capítulos 20 e 21 permanecem as mesmas:

a) Primeiro leia o tema várias vezes, até memorizá-lo completamente.

b) Depois tente penetrar em seu conteúdo sem olhar para o desenvolvimento,


colocado abaixo do tema. Faça o possível para compreendê-lo, lembrando-se
sempre de que ele é apenas a encruzilhada, de onde você deve começar a sua
viagem.

c) Depois de dez minutos (mais até, se sentir vontade), comece a ler devagar
cada sentença do desenvolvimento, pensando profundamente em cada uma e
acrescentando a versão que surgir em sua mente. Não se desvie, em hipótese
alguma, deste trabalho, e caso se surpreenda pensando em alguma coisa não
relacionada e não planejada para estar em conexão com o tema, reinicie o
trabalho desde o começo, isto é, “a”, depois “b”, e assim por diante.

d) Deste modo, trabalhe o texto todo do desenvolvimento, até terminá-lo


completamente. Depois, examine-o o máximo que puder na memória, numa
outra hora. Os primeiros estágios desse tipo de meditação devem ser feitos com
os olhos fechados e, para melhor concentração, com os olhos voltados para
cima, como se estivessem olhando para alguma coisa no teto. Isso ajuda a
dominar os baixos pensamentos que costumam atacar a mente e a sensação
física do corpo. Você não deverá se esquecer, por certo, de fazer alguns
pranaiamas antes de começar, quando estiver sentado na posição correta; eles
estão descritos junto com as técnicas de pranaiama do capítulo 15 de
Concentração. Embora o pranaiama não seja um acessório inevitável (mesmo
sendo útil e proveitoso, como você certamente já percebeu por si mesmo),
sentar-se na posição correta (chamada “asana ocidental”) é uma condição
decisiva, se não quiser ter dificuldades com o seu corpo que às vezes afetam
até a saúde. Sentar-se por um longo tempo numa posição desconfortável e
pouco saudável é obviamente prejudicial.

1. TEMA: Recolha-se em si mesmo e observe. E se ainda não se considera belo,


faça como o criador de uma estátua que deve ser bela; ele apara aqui, alisa ali,
torna esta linha mais suave, a outra mais pura, até que a estátua surja com um
belo rosto. Assim, faça o mesmo: retire tudo o que estiver em excesso, endireite
tudo o que estiver recurvado, ilumine tudo o que estiver sombreado, trabalhe
para tornar tudo resplandecente de beleza, e não pare de cinzelar sua estátua
até que ela o ofusque como o deus esplendoroso da virtude, até que veja a
divindade suprema seguramente estabelecida no santuário imaculado. (As
Enéadas, Plotino).

Desenvolvimento: Estou entrando em meu “eu” invisível, composto de


sentimentos e pensamentos. Primeiro, olho para meus sentimentos e emoções.
Todos eles são sempre agradáveis e bondosos? Que sentimentos tive quando
acordei hoje cedo? Estava ansioso e irritado, ou estava satisfeito e em paz?

(Analise tudo isso e depois prossiga para a próxima parte.)

Meus sentimentos em relação a meus companheiros são bons ou ruins? Sei que
nenhuma desculpa justifica minha feiúra interior, quando ela aparece em mim.
Portanto, preciso remover o mal e as emoções repulsivas de dentro de mim. Elas
são destrutivas, ainda que minha mente tente me convencer de que, em certas
circunstâncias, eu não poderia me comportar de um modo diferente. Eu poderia
e posso!

Não me esquecerei mais de que o Senhor reside em todas as formas, não


importa o quanto ela seja imperfeita, e não tenho o direito de ofender a Casa do
Senhor. Se os homens são injustos comigo ou até mesmo maliciosos, isso se
deve à ignorância deles. Devo ser ignorante também? Gostaria de ser assim?
Se não, deixe-me lembrar isso durante este dia, para que amanhã eu tenha um
saldo melhor do que hoje, e minha estátua interior ganhe em beleza e perfeição.

Agora, meus pensamentos! Sempre penso o que é racional, luminoso e belo?


Preciso enobrecer este lado meu também, do contrário minha imagem
permanecerá imperfeita, como agora. Mas quero criar a BELEZA, na qual a
Verdade residirá. Os pensamentos que dirijo para as pessoas estão cheios de
maldade, desprezo e impureza? Deixe-me observar isso. Removerei essa
aspereza da escultura, de modo que irradie uma nova harmonia. Quando a paz
e a harmonia estão em mim, o mundo exterior as reflete e torna-se mais belo.
Não tenho o direito de tornar o mundo mais feio e infeliz com os meus exemplos.
Esta é a minha decisão final de hoje; amanhã farei mais.
Este exemplo clássico da antiga ética pode ser trabalhado pelo tempo que você
sentir que está acrescentando valor e beleza à sua natureza interior. Você pode
desenvolvê-lo mais se tiver inspiração para tanto. Quando, deste ou de outro
modo, você sentir que fez o melhor que podia, então, na última sessão com este
tema, evoque o texto em sua memória e observe-o, lembrando-se do trabalho
desenvolvido até esse ponto. A essa altura você deverá ter uma compreensão e
um sentimento mais profundos da beleza da meditação de Plotino.

2. TEMA: O desejo de objetos dos sentidos surge da ilusão provocada pela


ignorância da verdadeira natureza do EU; assim como a ilusão de prata na pérola
provoca um apego a ela. (O Ashtavakra-Gita.)

Desenvolvimento: Este antigo ensinamento alcança a mais remota origem da


miséria humana nesta terra. O desejo de bens materiais é a principal razão do
desequilíbrio interior. Como eu seria livre se não tivesse nenhum apego a objetos
materiais! Deixe-me observar e descobrir agora como estão as coisas para mim:
O que mais quero nesta terra? Como reagirei se perder tudo o que tenho? Serei
infeliz? Se é assim, então sei, meu vadio pequeno eu, que o momento de
abandonar tudo o que vejo agora ao meu redor, e não apenas o que possuo, não
pode ser evitado. Portanto, qual o valor de se apegar a alguma coisa que
inevitavelmente será perdida? O fato de “possuir” certas comodidades da vida
material não é um mal em si; o meu apego e o medo de perdê-los é que são
perigosos, assim como a previsão do sofrimento futuro. É disso que tenho de
tratar!

Os Grandes Seres nunca se apegaram a qualquer bem terreno e eram, na


verdade, pobres do ponto de vista material. Portanto, posso crer que sou mais
feliz do que Eles, simplesmente porque tenho uma casa, um carro, dinheiro, etc.?

É a ilusão inata que faz os homens pensarem assim. Não quero mais ser um
escravo da ilusão, quero a libertação pela Verdade!

Guia-me da escuridão para a luz!

3. TEMA: A luxúria é radicalmente oposta ao conhecimento. Como é estranho


uma pessoa fisicamente enfraquecida e que chegou ao fim da vida ainda faminta
de prazeres sensuais. (O Ashtavakra-Gita.)

Desenvolvimento: O Conhecimento inclui o elemento de precisão e antecipação.


Sei que todo prazer sensual leva no final à frustração e ao desapontamento. Sou
agora indiferente aos objetos de minha luxúria no passado, e os êxtases
sensuais anteriores estão mortos e frios. Procurarei outros, a fim de experimentar
as mesmas mágoas e arrependimentos quando eles também se forem? Além
disso, eles dependem da mais frágil de todas as coisas: o corpo humano, meu
próprio corpo. Quando ele envelhecer, as façanhas anteriores se tornarão
impossíveis, e o fogo interior começará a me consumir quando eu não puder
satisfazê-lo mais. Quando chegará para mim o tempo da sabedoria e do
discernimento? Pois apenas então poderei guiar minha alma para o céu da paz
e da felicidade. Portanto, o autocontrole é o caminho mais seguro para a Paz.

4. TEMA: Conhecendo os objetos da percepção que serão anulados pela


natureza, o ser propenso à serenidade não aceita isto nem rejeita aquilo. (O
Ashtavakra-Gita.)

Desenvolvimento: Se eu sei, no fundo de minha consciência, que tudo o que


pode ser percebido pelos sentidos, experimentado pelas emoções ou pensado
pela mente é apenas uma ilusão temporária, posso atribuir qualquer realidade a
isso? Devo associar-me a eles internamente quando estiver recebendo
impressões exteriores, ou tentar rejeitá-los quando eles vierem, aguardando a
minha atenção? Não! Passarei por eles sem lhes dar atenção, de modo que sua
ausência ou presença não me afetem mais. Assim fazem os sábios: eles vivem
neste mundo, é verdade, mas não são deste mundo. E nisso residem a
serenidade e a bênção eternas. Suas palavras tencionam criar o mesmo em nós.
Há algum Caminho melhor do que seguir aqueles que SABEM e que ENSINAM
a VERDADE?

Agora estou pensando profundamente neste problema, de modo a compreender


a sabedoria do desapego em meu coração.

Pois a mente é imutável, e a pessoa não pode confiar nela. Quando ela domina,
é fonte de sofrimento. Quando é dominada, é um instrumento útil.

5. TEMA: Considere os amigos, propriedades, riqueza, mansões, cônjuge,


presentes e outras boas fortunas como um sonho ou um espetáculo de mágica
que dura apenas alguns dias. (O Ashtavakra-Gita.)

Desenvolvimento: Esta profunda reflexão sobre a ética absoluta necessita de um


pequeno comentário de minha mente. O ponto crucial do tema é a compreensão
do caráter ilusório de tudo o que me cerca. Portanto, a falta das coisas descritas,
se tal for meu destino nesta vida, é antes uma bênção, pois a dor de romper o
apego poderá, assim, ser-me poupada. Ansiarei por elas, se tiver compreendido
sua inutilidade?

Há momentos em que vejo isso claramente, e parece então que algum Ser mais
elevado está em mim. Algumas vezes, sinto-me encantado pelos apegos e
realizações, mas esta não será a voz de futuros sofrimentos?

Serenidade para discriminar, é disso que preciso e para isso eu rezo!

6. TEMA: Acabe com a riqueza, os desejos e com as boas e piedosas obras,


pois elas não trarão descanso para a sua mente. na floresta escura do mundo.
(O Ashtavakra-Gita.)
Desenvolvimento: Este parece ser o último passo no caminho do discernimento
e do desapego. A raiz do mal é o desejo: uma vez satisfeito, ele deslumbra e
cega; se insatisfeito, ele faz a pessoa sofrer como de uma sede mortal. No final,
os dois aspectos trazem sofrimentos, e os momentos de falsa felicidade durante
a satisfação do desejo são tão curtos e facilmente esquecidos, que mesmo a
lembrança deles é como as folhas mortas que caem das árvores no outono.
Percebo que, quando as palavras do tema desta meditação se tornarem
verdadeiras para mim, ficarei livre dos caminhos ilusórios que cruzam a floresta
do mundo.

Posso ver que o sofrimento é auto-imposto, de modo que ele só pode ser
descartado pelo meu próprio ser.

Todo aquele que compreender isso chegará ao mais alto nível ético: não criará
desarmonia, ansiedade, medo, luxúria e raiva nem para si mesmo nem para os
outros. Este é o meu objetivo.

7. TEMA: Transforme a sua mente em intuição controlada, deixe que tudo em


você seja luz. Pois este é o seu destino. (Sri Aurobindo.)

Desenvolvimento: A beleza notável desse aforismo torna a meditação mais fácil.


Sei que essa intuição é uma percepção fora e além do processo pensante (a
mente). Não confundirei esse poder mais elevado em mim com êxtases
emocionais ou mentais que não têm valor para um aprendiz sincero. Nada que
seja permanente ou que auxilie no Caminho pode vir deles. Controlando-os, serei
capaz de distingui-los da verdadeira Intuição, que é a Luz em si mesma. Ser
dirigido pela Intuição genuína significa residir na Luz.

E a Escuridão não me envolverá, quando eu estiver na Órbita da Luz. Sei que


no final do Caminho todos entrarão no reino da Luz, que ilumina todo homem
que vem a este mundo. Esse é o meu destino.

8. TEMA: Transforme seus esforços na corrente controlada e poderosa de sua


alma (o verdadeiro Eu). Permita que tudo em você seja uma força consciente.
Tal é o seu destino. (Sri Aurobindo.)

Desenvolvimento: Durante este curso, tenho visto que é necessário muito


esforço a fim de desenvolver a arte da meditação em mim. Sei também que
esses esforços não durarão para sempre. Quando a META for alcançada, a
corrente de meditação se transformará de um riacho irregular num rio majestoso,
fluindo incessante e seguramente para o Oceano da Verdade, no qual
encontrarei o Silêncio, a Luz, e a paralisação de todos os esforços, que são
inevitáveis apenas no estado de separação, que está no domínio da Inverdade.
Uma vez transcendida, a consciência torna-se imutável e permanente, e o
destino se dissolve na Bênção.
Contudo, não acreditarei na ilusão da expectativa de que esses ápices são de
fácil alcance, ou podem ser obtidos num curto espaço de tempo. Não me iludirei
com a falsa crença de que estou pronto, no limiar da Realização. Sou capaz de
encarar a verdade e ver as fases de forte empenho e progresso gradual que se
encontram à minha frente.

Portanto, até que o Rio deságue no Oceano, haverá sempre luta e esforço à
minha frente. A estrela guia será sempre a consciência de que a Busca é certa
e a Realização, segura.

9. TEMA: Transforme sua alegria no êxtase contínuo sem qualquer motivo.


Permita que tudo em você seja bênção. Esta é a sua meta. (Sri Aurobindo.)

Desenvolvimento: A alegria vem e vai embora. Quando estou fora de meus


revestimentos ilusórios, há alegria em mim. Mas como ainda não posso vivenciar
a alegria contínua, as sombras envolvem minha consciência. Conhecendo a
causa, posso reduzir os momentos de escuridão, transformando meu caminho
na bênção do êxtase (a antecessora do Samadhi). Como no verdadeiro Samadhi
não pode haver qualquer visão de objetos, as palavras do tema são a Verdade.
Quando não há nenhuma sombra, tudo em mim é Felicidade. Essa é a herança
eterna do homem.

Um mestre disse que o principal obstáculo para a Realização, que é a Bênção


suprema da Consecução, é a mente descontrolada e desordenada. É por causa
dela que não posso desfrutar perpetuamente da Alegria interior, que é a minha
meta. Agora posso ver a inimiga, que é a mente. Ela está tanto fora como dentro
de mim; do meu interior, ela me distrai da meditação e me ataca de fora. Quanto
mais ficar livre de sua interferência, mais próximos se tornarão os períodos de
Alegria, que um dia serão transformados em Felicidade suprema.

10. TEMA: A Alegria de Ser não está limitada pelo tempo, pois ele não tem
começo nem fim. Deus só abandona uma forma para entrar em outra. (Sri
Aurobindo.)

Desenvolvimento: Após a meditação anterior, a atual está aberta para mim: o


Senhor é a Alegria em Si e, portanto, como Ele, não pode ser limitada. É meu
propósito entrar em Sua Alegria. O Grande Mestre da Humanidade nos disse:
“Entrai na Alegria do Senhor!” Ela é a bênção da eternidade em minha
consciência. Tudo o que tenta limitá-la é uma sombra, o Maya irreal.

Devo desperdiçar minha vida dedicando-me à sombra em vez de me dedicar à


Luz? Minha existência, limitada à forma física, é oposta à minha Alegria
espiritual, mas conheço o meu Caminho e posso distinguir entre a verdade e a
mentira.

No grande Silêncio interior não existem nem o mundo nem o seu barulho.
Portanto, o Silêncio é um dos acessos ao templo da Alegria. Desenvolverei este
Silêncio em mim até que se torne minha verdadeira natureza, pois ele é o destino
de toda a Vida manifesta.

11. TEMA: Enquanto vivermos neste mundo, não poderemos passar sem
tribulações e tentações. (Thomas à Kempis.)

Desenvolvimento: Quanto tempo posso dedicar à meditação, na qual só posso


encontrar a Luz interior? Devo confessar que meus afazeres mundanos
absorvem a maior parte do meu tempo. As tribulações e tentações têm sua fonte
em nosso apego a este mundo, que está além de todas as medidas necessárias.
Frequentemente, esqueço de dar a Deus o que é de Deus, e me ocupo com as
coisas de César, como nos disse o Grande Mestre. Sob tais condições, estou
apenas me expondo a dificuldades vindas tanto de fora como de dentro —
porque não posso ser perfeito em minhas relações com o mundo exterior —
atraindo, portanto, dificuldades e expiando erros.

As tentações me são enviadas para serem dominadas e rejeitadas. Durante a


meditação, aproximo-me da compreensão e da aceitação dessa idéia, mas,
assim que o mundo me envolve de novo, caio nos mesmos velhos erros.

Entretanto, o entendimento da causa da miséria conduz às raízes da árvore da


Sabedoria. Quando a pessoa deixa de se sujeitar a alguma coisa que, em seus
momentos mais lúcidos (como na meditação profunda), reconhece como falsa,
o passo para a liberação foi dado.

12. TEMA: A origem de todas as tentações é a inconstância da mente e a pouca


confiança no Senhor. (Thomas à Kempis.)

Desenvolvimento: Como é espantosa a semelhança entre as palavras desse


santo monge cristão — que viveu há cerca de seiscentos anos — quando
comparadas às do sábio contemporâneo Maharshi, que definiu o principal
obstáculo para a Realização como “a mente errante e os meios de vida
pervertidos!” As palavras tornam-se verdadeiras quando vêm de uma
experiência verdadeira, e posso ver que as grandes almas têm experiências
espirituais semelhantes. Portanto, eu estava certo quando percebi a
necessidade de dominar minha mente, ao iniciar meu estudo de concentração,
que só pode prevenir a mente de suas perambulações e de sua intranquilidade.
A confiança em Deus não admite qualquer meio de vida pervertido, pois eles
constituem uma ofensa a Ele. Quando temos confiança no Senhor, somos
incapazes de nos envolver com os meios pervertidos. Agora vejo que essa
Verdade é universal e se manifesta em todas as épocas por meio das grandes
Almas, que são a vanguarda da humanidade.

13. TEMA: Frequentemente, não sabemos o que somos capazes de fazer, mas
as tentações nos mostram o que somos. (Thomas à Kempis.)
Desenvolvimento: Não existe nada que nos aconteça sem qualquer razão ou
propósito. Sou capaz de perceber isso agora. Portanto, a tentação que me vem
atacar contribui para o meu autoconhecimento, mostrando-me minhas fraquezas
e quedas. Algumas vezes, posso imaginar que sou muito mais forte do que sou
na verdade e tento omitir certas experiências necessárias como sendo obsoletas
no que me dizem respeito. Mas, nos momentos de tentação, quando tenho de
lutar com todas as minhas forças contra a corrente impura que tenta me tragar,
posso ver a mim mesmo muito melhor.

As tentações são como uma pedra de amolar, que torna uma lâmina afiada,
melhorando seu corte pela fricção. A fricção interior faz o mesmo comigo.
Portanto, não evitarei, pelo contrário, combaterei e dominarei as atribulações.

Assim, não reclamo delas, mas as aceito como um meio necessário, que me leva
ao desenvolvimento da força e da tranquilidade interiores.

14. TEMA: Os atos executados sem qualquer apego, no espírito de servir a Deus,
limpam a mente e indicam o caminho para a Libertação. (O Maharshi.)

Desenvolvimento: O ensinamento acima é idêntico a outros dados nesta série I


de meditações. O Grande Rishi, que viveu em nossa época (1879-1950), apoiou
as instruções espirituais de seus antecessores e contemporâneos, como Sri
Aurobindo Ghose. O apego é a fonte de miséria e pode ser comparado a um
peso nos pés de um nadador, que o faz afundar. Além disso, uma afirmação
muitíssimo importante do Sábio nos diz que os atos altruístas a serviço do
Senhor são um meio eficiente para a limpeza, ou, em outras palavras, para o
controle da mente. Eles levam à Libertação, que é o fim de todas as atribulações
na matéria. Olhando ao meu redor, sem qualquer preconceito, posso ver minhas
limitações, até mesmo minha escravidão às condições que me cercam, as quais
provêm de minhas atividades, centradas no ego (isto é, repletas de apegos
errôneos), neste mundo. Elas são as causas que criam os resultados, e se
refletem no destino, ou carma, em minhas encarnações. E a Libertação é o pico
elevado que nos é mostrado pelo Sábio.

As catorze meditações que você encontrou na série I têm uma finalidade: elas
possuem o material que você precisa trabalhar de modo a desenvolver novas
habilidades e experiências anteriores. Aceite-as de modo correto, isto é, como
um trabalho pessoal, do qual pode tirar vantagens e obter mais luz. É preciso se
aprofundar em todas elas? Se você pretende obter o máximo deste curso, sua
adesão aos textos recomendados será essencial.

Espero que você não imagine que possa passar com sucesso por este curso em
apenas alguns meses. Não será assim. Tenha sempre clara em sua mente a
diferença entre “ler” e “estudar”, e saiba o que pode esperar de ambos. Se você
lê um romance, não precisa estudá-lo, pois esse trabalho não é feito
normalmente com esse propósito, mas só como entretenimento.
Entretanto, com um livro como este, ler apenas definitivamente não funcionará
de modo algum. Aqui você tem de aprender algo a respeito de uma coisa que
antes desconhecia por completo, ou de que sabia muito pouco, e para que
aprenda, uma mera olhadela em seu conteúdo será inútil.

Esta série é chamada de “Ética”. Mas trata-se de uma ética diferente, em


comparação com o significado aceito superficialmente. Ela não diz muito respeito
ao que é exterior, ao mundo que nos rodeia, mas ao ser interior, ao domínio que
pertence apenas a você e a ninguém mais. Por conseguinte, seu trabalho de
meditação é só seu, e ninguém pode fazê-lo em seu lugar, como já mencionei
nos capítulos anteriores.

O desenvolvimento de uma ética interior harmoniosa e sábia é o seu problema,


e este trabalho foi planejado pelo autor como uma contribuição para solucioná-
lo. Sei que nem todo mundo aceitará este sistema, e se alguém puder construir
um padrão melhor que se adapte a si mesmo, isso é por conta dele. Esta não é
uma tarefa fácil e, conhecendo quantas experiências, fracassos e reconquistas
provêm dela, na formação de uma estrutura lógica e prática e, finalmente, no
auxílio espiritual que é necessário para uma tal compreensão, não posso estar
certo de que muitas pessoas terão tempo ou a preocupação de fazer isso.

Estas séries de meditações lhe permitem muita liberdade e não o vinculam a


uma adesão literal e estrita aos textos, mas apenas dirigem a sua atenção para
determinadas correntes de pensamento, relacionadas com os temas escolhidos
para você.

Na continuação deste curso, você verá que o material para meditação foi
livremente selecionado a partir de fontes bastante diferentes. No momento, há
inúmeros textos ótimos, disponíveis na forma de livros para os homens deste
século XX. É impossível coletar TODOS ELES num livro só. Além do mais, isso
é totalmente desnecessário e impraticável. A VERDADE real não pode ser
expressa ou explicada exatamente em nenhuma linguagem humana, pois Ela
transcende a mente. Portanto, nenhum livro escrito pelo homem pode conter
toda a VERDADE, que não é informação, teoria ou ensinamento.

Neste trabalho, você encontrará uma série especial de meditações que lidam
com diferentes aspectos da mente, mas ela é incapaz de expressar essa
Verdade, de modo que não permaneça nada a ser acrescentado. A Verdade
pode ser encontrada em nós mesmos; podemos percebê-la, senti-la, vivê-la,
mergulhar n’Ela, e tudo isso será certo para nós. Mas nunca seremos capazes
de “transplantá-la” em outras pessoas.

A verdade é que, pelos meios disponíveis de meditação, os homens são capazes


de chegar à realização da Verdade em si mesmos. Portanto, é lógico e correto
supor que o que foi bom para muitos será bom também para outros no futuro,
incluindo você, desde que siga o Caminho já comprovado.
Como você pode saber se está progredindo durante seus estudos? Haverá
certos indícios. Se você obtiver mais paz mental, se menos questões
perturbarem as suas meditações, se uma sensação maravilhosa de segurança
interior crescer em você, se os medos retrocederem, dando lugar à fé baseada
na experiência, e se você se tornar mais paciente e repleto de compaixão em
relação ao mundo exterior, é sinal que está progredindo. Mas não pense muito
a respeito de si mesmo; apenas trabalhe e tenha esperança! Esta talvez seja a
prova mais segura que você pode obter. A pergunta “Estou progredindo
rapidamente?” não é ditada pelo seu Eu verdadeiro, mas pela mente ansiosa.
Silenciar esse ego seria uma das vitórias mais decisivas para você. Um homem
que dominou a sua personalidade egoísta não está mais interessado na inimiga
deposta, e permite que ela seja enterrada para sempre.

Sinto que nesta coletânea de meditações não devem faltar alguns textos
budistas do Dhammapada. Alguns estudantes que tive a oportunidade de
observar e de auxiliar têm uma inclinação peculiar para os textos sagrados do
budismo e por sua abordagem da ética íntima do homem, que leva ao futuro
desenvolvimento da espiritualidade. A filosofia de Buda é prática por excelência,
expressa em palavras muito simples e não requer muitas explicações ou
comentários. Portanto, meu papel nas páginas conclusivas deste capítulo será
limitado a dar a melhor seleção de versos, acompanhados por breves
comentários, quando a necessidade de esclarecer a meditação se fizer presente.
Todo o Dhammapada se baseia num profundo conhecimento da psicologia
humana e é, portanto, aplicável ao homem atuar, como o era muitos séculos
atrás. Essa é outra prova de que a psique básica do homem não muda muito,
mesmo num período tão longo.

Afinal, quem sabe se alguns de vocês não ouviram o Pregador original, ou seus
discípulos, ou não entraram em contato com a filosofia viva do Ser Perfeito, de
um modo ou de outro? Essa lembrança pode não residir em seu cérebro, mas
ela é e deve ser preservada na faísca espiritual, no espectro de suas vidas que
o leva por inumeráveis existências materiais até a Libertação Final que Buda
chama de Nirvana. Do mesmo modo talvez muitos dos sinceros seguidores
atuais do Grande Mestre — que ensinou na Galiléia há quase vinte séculos —
podem ter caminhado, na mesma época que Ele, pelo chão da terra aonde Ele
veio para nos trazer a luz perene.

O objetivo deste manual é ajudar um círculo possivelmente maior de seguidores


sinceros, e as seleções concentradas aqui estão sendo dadas com esse
propósito. Elas são mais do que suficientes para dar-lhe uma base firme, na qual
possa compor seus próprios padrões de meditação. Se a sua mente lhe disser
que “talvez” haja textos bem melhores e diferentes, seja maduro o suficiente para
encontrar a resposta certa para essa impostora que tenta de todos os modos
possíveis desviar a sua atenção, escapando assim ao seu domínio. Ela está
agindo em seu próprio interesse, tentando continuar a dominá-lo para sempre.
No momento em que você compreender a verdade sobre esse jogo trágico, que
o impede de alcançar a Libertação e a Felicidade, estará verdadeiramente à
altura de descartá-la como líder, transformando-a devidamente em sua serva.

Seleção extraída do “Dhammapada”


1. TEMA: Ele me insultou, me bateu, me derrotou, me roubou — nos que
alimentam tais pensamentos o ódio nunca acabará.

Ele me insultou, me bateu, me derrotou, me roubou — nos que não alimentam


tais pensamentos o ódio acabará.

Pois o ódio não acaba pelo ódio em tempo algum; o ódio só acaba pelo amor —
esta é uma antiga lei.

Desenvolvimento: Quando leio essas linhas lembro-me das palavras eternas de


Cristo a respeito de como tratar nossos inimigos e aqueles que nos ofendem,
com seu conselho misterioso, e frequentemente tão difícil de compreender, para
“oferecer a outra face”, isto é, não se opor ao mal ou à injustiça aparentes.
Quando procuro uma comparação com este mundo físico inferior, posso ver que
o fogo jamais poderá ser extinto, atirando-lhe qualquer combustível. O óleo
derramado no fogo só o alimentará. O que precisamos é de algo mais que possa
atuar como um jato d’água. Essa água é o perdão e a calma. Eles liquidam a luta
cármica dos egos agitados, que todos nós temos nesta terra.

O conhecimento de que nada nos acontece sem motivo e de que ninguém pode
nos prejudicar sem que isso seja um resultado de nossas ações anteriores é
essencial aqui. Ele trará a paz nas mais intensas dificuldades; contudo, a ofensa
aos outros deve ser repelida.

2. TEMA: Aquele que quer colocar a veste amarela sem ter se limpado do
pecado, que negligencia a temperança e a verdade, não é digno de tal veste.

Desenvolvimento: Com que frequência o verdadeiro ascetismo deixa de ser


compreendido, e as pessoas ficam mudando seus rótulos — religiões, ou seitas
— a fim de progredirem espiritualmente, como erroneamente acreditam! Aceitar
os símbolos exteriores de ascetismo não significa nada mais do que um tipo
muito perigoso de hipocrisia, que é difícil de erradicar, porque um homem mal
orientado é capaz de acreditar sinceramente que está certo. O Maharshi
condenou claramente tais atitudes, quando assinalou que nenhuma “mudança
de rótulos” (nas suas palavras) tem qualquer utilidade. A atitude interior é a única
que conta, e é por isso que esse mestre espiritual contemporâneo insistia em
que a Realização é possível “tanto num apartamento barulhento de Londres
quanto num distante ashram indiano”.
3. TEMA: Assim como a chuva invade uma casa coberta de sapé mal trançado,
a paixão invade a mente que não reflete.

Desenvolvimento: Agora você compreende por que o autor de Concentração e


Samadhi insiste tanto na necessidade de treinar e dominar a mente. A idéia é
antiga, mas sempre verdadeira. Procurando novamente um paralelo mais
compreensível, no mundo exterior, descubro que até mesmo o mais talentoso
engenheiro não será capaz de apertar um parafuso vital em seu motor, sem uma
chave de fenda apropriada. Seu conhecimento não será de qualquer valor sem
os instrumentos apropriados, e suas unhas não serão um substituto para eles. O
combustível ou a água ficarão escoando até que uma válvula solta seja
consertada.

O mesmo acontece com a mente humana, que é, como já sabemos, uma


ferramenta importante da consciência. Nenhum gigante espiritual jamais foi tolo,
e todos eles eram mestres de suas mentes, e não escravos de pensamentos
vacilantes ou dos sentimentos. Como os sentimentos só podem ser regidos e
subjugados pelo poder mais alto, que, neste caso, é a mente em relação a eles,
esse poder deve ser treinado e operar de acordo com as minhas necessidades.
A pureza moral, portanto, é impossível sem uma mente pura e bem-controlada.

4. TEMA: Assim como a chuva não invade uma casa coberta de sapé bem
trançado, a paixão não invade uma mente que reflete bem.

Esta é simplesmente uma afirmação mais enfática do tema anterior (3); portanto,
não há necessidade do desenvolvimento.

5. TEMA: As pessoas sábias, dedicadas à meditação, calmas e sempre dotadas


de fortes poderes, chegam ao Nirvana, o ápice da felicidade.

Desenvolvimento: Encontro aqui uma forte ênfase, muito bem colocada, sobre a
necessidade da meditação como a mais alta função da consciência humana.
Devemos nos dedicar a ela o máximo que pudermos, pois nenhum outro meio
nos aproxima tanto da Realização descrita por Buda como o “ápice da felicidade”
(ou beatitude e paz). A persistência na meditação é uma certeza de sucesso.

6. TEMA: Os tolos buscam a futilidade. O homem sábio guarda a seriedade como


sua jóia mais valiosa.

Desenvolvimento: Uma vez mais é salientada a lei de que a meditação deve ser
estudada e compreendida. Sem ela, não passamos de tolos, destinados ao
fracasso, que inevitavelmente trará desapontamento e frustração, dos quais é
muito difícil se livrar. E, mesmo assim, até agora, pode-se ouvir em determinadas
sociedades pseudo-ocultistas, baseadas na ignorância, que “todo mundo pode
meditar”, que todos estão “convidados à meditação”, e assim por diante, como
se todo mundo pudesse ser convidado para usar um complicado computador ou
outras máquinas que requerem conhecimento e treinamento especiais.
7. TEMA: Assim como um arqueiro alinha o seu arco, am homem sábio alinha
os seus pensamentos tumultuados e intranquilos, que são difíceis de guardar e
de reter.

Desenvolvimento: Pouco se pode acrescentar a essas palavras do Mestre. A


idéia é clara, mas um método deve ser adotado a fim de dar-lhe uma forma
funcional. Para o controle e desenvolvimento da mente, o autor recomenda o seu
livro Concentração.

8. TEMA: É bom domesticar a mente, que é difícil de refrear e combater, pois ela
corre de um lado para outro; a mente dócil traz felicidade.

Nenhum desenvolvimento é necessário.

9. TEMA: Aquele que controla a mente que divaga, longe, de um lado para outro,
não tem corpo e se oculta na câmara do coração, será livre do cativeiro de Mara,
o tentador.

Desenvolvimento: O domínio da mente traz liberdade à consciência, que é, na


verdade, o próprio Homem, e não o seu corpo. O Tentador é apenas a mente,
que luta pela supremacia em detrimento do homem.

10. TEMA: Aquele que sabe que seu corpo é como a espuma, e aprendeu que
é tão inconsistente quanto uma miragem, quebrará a lança de Mara, e nunca
verá o rei da morte.

Desenvolvimento: O corpo perecível deve ser considerado pelo seu valor e não
como algo substancial ou permanente. Deve ser tratado racionalmente, do
mesmo modo que um cavalo é guiado pelo cavaleiro, e não mais que isso. A
identificação com o corpo mortal submete a pessoa ao terrível poder da Morte,
isto é, ao sofrimento pelo medo e a frustração.

11. TEMA: A morte domina o homem que está colhendo flores com a mente
distraída, antes de ele ser saciado em seus prazeres.

Desenvolvimento: Esta é apenas uma afirmação a mais sobre o fato daqueles


que se consideram — consciente ou subconscientemente — como sendo os
seus corpos. Esta é a pior ilusão possível.

12. TEMA: “Meus filhos e minha riqueza me pertencem” — com tais


pensamentos um tolo se atormenta. Ele próprio não pertence a si mesmo, quanto
mais os filhos e a riqueza!

O tolo que reconhece sua tolice, é sábio pelo menos quanto a isso. Mas o tolo
que pensa que é sábio é realmente um tolo.

Desenvolvimento: O caráter perecível de todas as coisas materiais está aqui


mais uma vez sublinhado, e a antiga verdade, de que “o tolo que começa a
perceber que é tolo, ao perceber isso, torna-se um sábio”, é novamente
reafirmada. Todo aquele que, embora sendo tolo e imaturo, isto é, que acredita
em sua riqueza e coisas assim, pensa ser sábio, cai no mais profundo abismo
de ignorância.

13. TEMA: Se um homem inteligente se associa, por um minuto apenas, a um


sábio, ele logo percebe a verdade, como a língua percebe o sabor da sopa.

Se um tolo se associa a um sábio, mesmo por toda a vida, percebe tão pouco a
verdade como uma colher percebe o sabor da sopa.

Desenvolvimento: Aqui, a importante doutrina do amadurecimento do homem é


proclamada. Ela é tão simples que o tema em si funciona como explanação e
desenvolvimento.

14. TEMA: Tão logo a inteligência de uma pessoa imatura se desenvolve no


sentido de sua própria ruína, ela destrói seu lado brilhante, arrebentando-lhe a
cabeça.

Desenvolvimento: Esta é uma advertência de que os “tolos eruditos” são piores


do que os ignorantes, pois podem causar mais prejuízo com seu aprendizado
parcial em certos ramos do conhecimento (material, é claro).

A destruição vem a seguir, e também o aprendizado de coisas perigosas, tais


como nossas descobertas nucleares, penduradas como a espada de Dâmocles
sobre a comunidade tola ou a humanidade inteira.

15. TEMA: Não tenha os malfeitores por amigos, nem as pessoas inferiores;
tenha por amigos as pessoas virtuosas, tenha por amigos os melhores entre os
homens.

Desenvolvimento: Em nossa época “iluminada”, sabemos bem a influência que


uma personalidade pode exercer sobre outra. O bem irradia bondade; o mal só
irradia escuridão. Cristo também nos aconselhou firmemente sobre isso, e o
inspirado rei-poeta Davi disse: “Abençoado é o homem que não segue os
conselhos do incrédulo, nem anda pelos caminhos dos pecadores...”

16. TEMA: Como uma rocha sólida não se parte ao vento, o sábio não vacila
entre a censura e o louvor.

Desenvolvimento: Os ventos do reconhecimento humano ou da reprovação não


são essenciais àquele que conhece a si mesmo. Ele está consciente de como é
difícil conhecer a si mesmo; portanto, está consciente de como são ignorantes
os que tentam julgar os outros, antes de possuírem o mais importante
conhecimento de si mesmos.
17. TEMA: Entre os homens, são poucos os que chegam à outra margem
(tornando-se arhats); a maioria fica correndo para cima e para baixo na mesma
margem.

Desenvolvimento: Esta é uma afirmação bastante conhecida no mundo cristão:


“Muitos são chamados (isto é, nascem e reencarnam), mas poucos são os
escolhidos” (isto é, os que chegam à Verdade na consciência espiritual). Esta
margem ou lado é a existência mortal, material, que sempre traz mais sofrimento
do que felicidade. A outra margem, o lado imortal, é o reino da pureza, da
CONSCIÊNCIA iluminada, além das encarnações e sofrimentos.

18. TEMA: As florestas são deleitáveis; onde o mundo não encontra deleite, os
destituídos de paixões o encontrarão, pois eles não buscam os prazeres.

Desenvolvimento: O lado exterior das coisas frequentemente é agradável, mas


suas raízes são amargas. Esforçamo-nos por obter algo, conseguimos e afinal o
perdemos. O sofrimento da separação que depois se apodera de nós é maior do
que o breve prazer de possuir. Qual é o caminho do SÁBIO?

19. TEMA: Se numa batalha um homem conquista mil vezes mil homens, e se
outro conquista a si mesmo, este é o maior dos conquistadores.

Desenvolvimento: Aqui o Senhor Buda está falando da Realização do Eu


verdadeiro no homem, que se segue ao domínio das perecíveis funções
inferiores e dos corpos. Esta é a verdadeira e perene conquista.

20. TEMA: Em comparação com uma pessoa de cem anos de idade que não vê
o Caminho da imortalidade, um dia na vida de um homem que o vê é maior.

Desenvolvimento: Vemos uma verdade semelhante expressa por Thomas à


Kempis quando ele fala da “inutilidade de desejar uma vida longa sem vivê-la
virtuosamente”. Todos os mestres espirituais são UM SÓ, disse o Maharshi.
Vemos a unidade deles na Verdade repetidas vezes, quando nos falam a mesma
linguagem em séculos tão distantes no tempo. Uma vida longa pode ser
frustrada, enquanto uma vida curta pode ser iluminada pelo discernimento e
pelas obras corretas.

21. TEMA: Se um homem pecar, não o deixe fazer isso novamente, não o deixe
regozijar-se no pecado: o acúmulo de maldade é doloroso.

Desenvolvimento: Aqui a Lei da Causa e Efeito, ou, como nossos irmãos


orientais a chamam, o carma, é de novo enfatizada. A Justiça, na filosofia
hermética, também dá a mesma idéia. O que o homem semeia, colherá. O
ensinamento de Buda é aqui repetido.
22. TEMA: Nem no céu, nem no meio do oceano, nem se entrarmos nas grutas
das montanhas, há um lugar conhecido em todo o mundo onde a morte não
possa dominar o mortal.

Desenvolvimento: O que teve um início também deve ter um fim. Como é


frequente esquecermos esta verdade inexorável, que assusta o tolo e ilumina o
sábio que não acredita na ilusão desta existência temporária na matéria!
Enquanto o primeiro tenta evitar ou retardar a morte, o sábio não é afetado por
isso: ele não quer morrer antes que chegue a sua hora, nem quer prolongar sua
jornada física aqui por qualquer meio. Isso eu descobri dentro de mim mesmo
pela meditação profunda no silêncio do meu coração.

23. TEMA: A nudez, o cabelo raspado, a sujeira, o jejum, deitar-se na terra,


esfregar-se com cinzas, sentar-se imóvel, nada disso pode purificar um mortal
que não dominou seus desejos.

Desenvolvimento: Neste versículo, o Mestre está falando da inutilidade dos


meios exteriores para a limpeza da alma. É claro que isso se aplica apenas
quando as ações físicas acima mencionadas não são acompanhadas pela
iluminação espiritual e pelo empenho sincero. Os homens espiritualmente
orientados podem negligenciar facilmente a aparência exterior até um
determinado ponto, mas nunca se mostrarão asquerosos ou ridículos. A
simplicidade e a conquista de desejos não significam monstruosidade ou
absurdo. Qualquer exibicionismo é apenas uma prova da falta de valores
interiores em tal pessoa.

Infelizmente, quanto exibicionismo, em suas formas mais feias e traiçoeiras, nos


cerca hoje em dia! Tome, por exemplo, os falsos iogues com seus igualmente
falsos expoentes, e suas teorias ridículas e absurdas divulgadas entre pessoas
ingênuas e tolas, suficientemente crédulas para serem enganadas e roubadas.
Como se algo de verdadeiro pudesse acontecer! Meditarei profundamente sobre
isso, a fim de não me permitir cair nesse antigo, mas ainda perigoso, abismo.

24. TEMA:

Mas agora,
Vós, Construtor deste Tabernáculo,
Eu vos conheço! E nunca mais construirei estes muros de dor,
Não erguerei a morada dos enganos, nem assentarei alicerces na lama;
Vossa casa está destruída e suas estacas, rachadas! A desilusão a talhou!
Seguro, eu passo por isso — para alcançar a Libertação!
(A luz da Ásia, Sir Edwin Arnold.)

Desenvolvimento: Nestes últimos versos extraídos dos Ensinamentos do Senhor


Buda, vemos o coroamento dos resultados dos esforços obtidos pelo sábio em
sua luta pela Liberdade. O Mestre compara os fatores físico e emocional a uma
casa, construída de ilusão e desejo. E não é isso mesmo? Se eu observar todas
as minhas ações, e as dos companheiros que me cercam, devo concordar com
a verdade desses versos, uma Verdade realizável, viva, que traz a bênção da
Realização.

“CONHEÇA A VERDADE E ELA O LIBERTARÁ”, esse é o ensinamento básico


de Cristo. Empenhar-se no que é perecível é tolice; só traz escravidão e
sofrimento. Sri Aurobindo disse corretamente: “Os homens clamam pela
liberdade, mas continuam enamorados de seus cativeiros!” Que paradoxo! Isso
é muito trágico.

Não há nenhum “último desejo” que, uma vez satisfeito, me torne livre, pois não
há desejo que não crie um outro desejo, ainda mais ilusório e cruel.

Acabar com eles, aqui e agora, é o único meio de firmar meus pés no caminho
que leva à Bênção da Libertação. O primeiro passo deve ser dado; e por que
não HOJE?

Você tem agora muitos temas próprios para meditação, e espero que a pratique
como foi prescrito. Se assim o fizer, então estará, sem dúvida, se aproximando
da SÍNTESE de todas as meditações, que provém de uma única FONTE, que
podemos chamar de SABEDORIA. Seu propósito, agora, no curso avançado de
meditações que se seguirá será consolidar o que foi conseguido até aqui com
vistas a futuros passos.
21
Meditações de Sankaracharya
— série II

1. TEMA: Quem vive nesta terra com a alma mais morta do que aquele que,
tendo obtido uma encarnação humana e um corpo masculino, se esforça
loucamente na consecução de objetivos egoístas?

Desenvolvimento: Aqui, o sábio Sankara apresenta a questão de modo


totalmente físico. Ele expressa o erro deplorável e trágico de quem devota sua
vida à busca de objetivos irreais, perecíveis e evanescentes. Devo seguir esse
caminho infeliz? Devo depositar meu único tesouro, meu verdadeiro Eu, numa
margem que eu sei que irá desbarrancar? Devo perseguir objetivos materiais e
metas dirigidas para conquistas egoístas, que não irão além de meu túmulo?
Como a solução individual e prática desse problema pode ser difícil, é preciso
tratá-lo devidamente. Portanto, buscarei no mais profundo do meu ser a resposta
silenciosa, que transcende a vida efêmera de hoje e ilumina o caminho para o
Infinito. O Infinito é a casa do pai, não esta pequena mancha de matéria lançada
no espaço como uma morada temporária para aqueles que estão passando
comigo pela difícil escola da existência separada. Agora estou tentando
encontrar a solução.

(Pense profundamente no que leu; depois, tente permanecer no silêncio da


mente e dos sentidos. A solução virá sem palavras.)

2. TEMA: Aquele que tem um intelecto privilegiado, que é um homem instruído


e tem poderes de compreensão, é um homem qualificado para semelhante
investigação (espiritual).

Desenvolvimento: Agora compreendo bem por que o desenvolvimento do meu


poder sobre a minha mente era uma condição para o estudo da meditação. Não
há método melhor, nem mais perspicaz, para obter a inteligência requerida do
que treinar minha mente de acordo com minha vontade e aguçá-la pela
concentração. A meditação é a arma que conquista os instrumentos de busca e
investigação espirituais. Como toda arma, ela deve ser aguda, limpa e capaz de
penetrar no âmago de qualquer problema que surja em mim. Portanto, vou
pensar em meus deveres espirituais.

3. TEMA: Entre os instrumentos de emancipação (liberação), o supremo


instrumento é a devoção. A meditação sob a verdadeira forma do Eu real é
chamada de devoção.

Desenvolvimento: Vejo que a meta suprema da meditação é a aproximação com


o Senhor. O sábio Sankara fundamenta essa afirmação nos versos acima
citados. Nenhum progresso espiritual é possível sem um reconhecimento
intuitivo e firme do Supremo. Minha origem e meu fim estão n’Ele. Meu Eu real
e verdadeiro é o Seu reflexo, e a verdadeira forma do Eu é a meta da meditação
progressiva. Que forma é essa? De qualquer modo, ela tem pouco em comum
com qualquer coisa que posso ver no mundo manifesto da matéria. Esta “forma”
deve ser inexprimível, mas sinto que serei capaz de abordá-la, de mergulhar
n’ELA! Não posso vê-la como algo fora de mim, pois então haverá uma
dualidade: ELA e eu! E QUEM então seria eu, separado d’ELA?

Acredito que posso conceber essa Verdade, que se revela apenas no Silêncio
perfeito. Estou mergulhando n’ELA.

(Pare de pensar, esqueça tudo ao seu redor, e mergulhe no Silêncio.)

4. TEMA: Dizem que a devoção é a meditação sobre a natureza do Atmã. Aquele


que possui todas essas qualificações está pronto para conhecer a verdadeira
natureza de Atmã.

Desenvolvimento: Meu Atmã é outro termo para o meu verdadeiro Eu: Portanto,
esta meditação pode ser idêntica à anterior. Sinto que o “conhecimento” da
verdadeira natureza do Atmã significa mergulhar nele, excluindo todas as
camadas de consciência material, de sentimentos e pensamentos. Isso me
levará ao Silêncio. Quando eu entrar n’Ele, serei Ele. Não posso estar separado
d’Ele. Este é o maior mistério, mas precisa e pode ser solucionado. Farei isso.
Eu sou o SILÊNCIO!

5. TEMA: Aquele que alcançou o descanso no espírito, como a chama que


obteve descanso quando o combustível foi consumido, e aquele cuja bondade
não é estimulada por considerações pessoais e que está ansioso por ser amigo
dos que buscam por auxílio (ele é o guru).

Desenvolvimento: Vejo que o fogo da vida egoísta deve ser extinto antes que o
descanso possa ser alcançado. A busca do perecível deve cessar antes que a
chama deixe de queimar. Só então serei capaz de estar além de todas as
considerações pessoais, pois verei a irrealidade do ego em mim mesmo tão bem
como nos outros. E se aqueles que ainda estão inconscientes dessa verdade
buscarem a minha ajuda, eu a darei de modo natural e sem expectativa de
qualquer reconhecimento ou recompensa.
6. TEMA: Saúdo-vos, ó Senhor, pleno de compaixão, amigo dos que se inclinam
diante de vós. Caí no oceano do nascimento e do renascimento. Livrai-me da
falta de vosso raio de luz, do qual chove a ambrosia da sinceridade e da
misericórdia.

Desenvolvimento: Sinto admiração pelas Grandes Almas que iluminam a


escuridão do mundo com sua presença e ação. Sei como é difícil dominar a
natureza inferior do ser; portanto, posso ver quão poderosos e belos são esses
Grandes Seres, que já executaram a grande tarefa! O que posso sentir por eles
senão devoção, estima e amor? Um Ser assim é um verdadeiro amigo, pois
compreende tudo, conhece minhas dificuldades e está ansioso por me ajudar;
basta que eu aceite a sua ajuda. O oceano de Maya não pode ser cruzado sem
um guia que conheça as correntes traiçoeiras e as rochas ocultas. A ambrosia
da sinceridade e da compaixão, que vem da Sabedoria suprema, flui do mestre
espiritual. Que eu possa encontrá-lo, da forma que ele considerar adequada para
mim.

7. TEMA: Os seres bons e pacíficos vivem regenerando o mundo como a


primavera ao chegar e, depois de eles próprios terem cruzado o oceano da
existência corporal, ajudam os que tentam fazer o mesmo, sem motivos
pessoais.

Desenvolvimento: Ao meu redor, vejo diferentes pessoas em graus muito


diversos de desenvolvimento, de sabedoria e de virtude. A escala se estende
tanto para cima como para baixo. Os que estão mais próximos do topo são os
Grandes Seres aos quais se refere o Sábio. Eles são uma necessidade
irrefutável e há a certeza da existência deles no progresso gradual dos homens.
Elevando-se além da personalidade, os Grandes Seres estendem suas mãos
poderosas para os que estão sedentos de seguir seus passos. Este é o mistério
da relação com o mestre. Abençoados são os seguidores suficientemente
privilegiados para encontrar um tal mestre em seu caminho, pois então todas as
dúvidas, que destroem tantas almas honestas, serão erradicadas deles para
sempre.

8. TEMA: A constante fixação da mente no Espírito puro é chamada de


Samadhana (a verdadeira concentração). Mas a distração da mente com objetos
mundanos ilusórios, não.

Desenvolvimento: Nestas importantes palavras, temos a Verdade suprema da


Realização. Todos obtêm aquilo por que se esforçam. As distrações da vida
diária materialista apegam-se aos carmas humanos como sanguessugas e é
muito difícil removê-las. Elas sugam as energias vitais do homem, consumindo-
as em metas efêmeras de curta duração. Dá-se uma dispersão de forças; há a
preparação de sofrimentos sem conta para a pessoa imprudente.
Concentrar a atenção em coisas que hoje parecem estar vivas, mas que
amanhã, inevitavelmente, não existirão mais, é ajudar a própria morte, após um
período curto de “existência” ilusória.

A vida é consciência indestrutível, isto é, Espírito. Participar da consciência do


ser significa vida verdadeira e sem interrupção.

Agora eu vejo por que a fixação da mente no Espírito puro é a atitude certa,
auspiciosa e a única salutar.

Como posso fazer isso? Pois o Espírito não pode ser descrito nem definido como
outros fatores da minha vida! O Espírito é consciência pura, e a consciência pura
aparece quando as vibrações dos sentidos e da mente estão tranquilas. Agora
posso ver onde está o Caminho para o Indestrutível: separar-me de tudo o que
é exterior e entrar no Santuário Silencioso da consciência interior. Ele vem por
si mesmo quando as vibrações cessam. Então permanece a verdadeira
Essência da Vida, simples, silenciosa, pura, indestrutível e onipotente.

Então a Hiperconsciência pode aparecer, mostrando o caminho para a


Consecução final. Vejo que não há terminologia complicada, nem memorização
de coisas, assim como nenhum exercício laborioso. A consecução, na verdade,
é tão simples e está tão próxima que os homens passam por ela e não
conseguem perceber a Verdade bem ao seu alcance.

Por que adiar a tentativa de realizar o Eterno em mim? Quem me impede? Vejo
isso claramente agora. É a minha mente, que está com medo de ser posta de
lado, de ser dominada e se tornar escrava em vez de ditadora. Agora reconheço
a Inimiga, e não a deixarei me enganar mais, como o Senhor Buda disse quando
alcançou sua iluminação: Estou em silêncio tanto por fora como por dentro;
contemplo o Real. Não há mais pensamentos, tudo em mim está em paz.

9. TEMA:

O que é escravidão? Qual a sua origem?


Como ela é mantida? Como é eliminada?
O que é o não-espirito? O que é o espírito supremo?
Como podemos distingui-los?

Desenvolvimento: Nestes versos de Sankara, posso ver que me estão sendo


endereçadas algumas perguntas básicas. Mas agora posso responder a elas.

A escravidão é o desejo de mudança, de separação na mente e nos sentimentos,


e a ocupação de mim mesmo com esses dois desejos, durante toda a minha
vida, como fazem milhões de outras pessoas. Sua origem está em mim mesmo,
em meus desejos ocultos, na extroversão, na curiosidade a respeito de coisas
perecíveis, na escravização aos sentidos e na falta de discernimento, de força
de vontade e de paz.
Se eu chamar esses malfeitores diante do tribunal de minha verdadeira
consciência e condená-los, eles serão removidos e não mantidos. Eles são o
não-espírito, e a minha sentença contra eles remove o irreal, que é o não-
espírito.

O supremo e único Espírito está dentro de mim, no mais profundo do meu ser,
onde nenhuma vibração ou “inimigo” se atreve a entrar. Isso é discernimento.
Minha meta eterna é entrar nesse Templo interior dentro de mim mesmo, pois
nenhum outro de fora pode substituir o Verdadeiro Espírito em mim.

Vejo agora a estrada que leva até ele. Darei o meu primeiro passo hoje?

10. TEMA: Os filhos e amigos podem saldar as dívidas de um pai; mas ninguém,
exceto a própria pessoa, pode acabar com sua escravidão.

Desenvolvimento: Como esta meditação é clara, agora que a precedente foi


compreendida! Quem mais pode comer a minha comida, ou beber a minha
água? Minha salvação está em minhas próprias mãos.

11. TEMA: Os outros podem remover a dor (causada pelo peso) de fardos
colocados sobre a cabeça, mas a dor (que nasce) da fome e do desejo não pode
ser removida a não ser pela própria pessoa.

12. TEMA: O homem doente pode ser curado pela ajuda da medicina e de uma
dieta apropriada, mas não pelos atos executados por outras pessoas.

O desenvolvimento das meditações 11 e 12 está agora totalmente ao alcance do


estudante; portanto, não darei qualquer parecer a esse respeito. Mas não se
iluda pela aparente facilidade de encontrar uma tal solução. O objetivo principal
da meditação não é a concordância mental com a verdade óbvia de um tema,
mas a apreensão segura das consequências do entendimento alcançado e sua
prática a partir desse momento. Seja sábio e aja adequadamente.
22
Da sabedoria do Maharshi
— série III

Agora vamos para os temas de meditação extraídos dos ensinamentos do sábio


e mestre espiritual contemporâneo Ramana Maharshi.

Hindu, de origem brâmane, ele conseguiu uma feliz combinação entre a antiga
tradição clássica vedântica de sua raça e a facilidade contemporânea de
expressão e terminologia. Na verdade, sua filosofia, que nada tem em comum
com as teorias inúteis baseadas no cérebro e as cognições lógicas do padrão
oficial do Ocidente, pode ser vivida, ao contrário das matérias obscuras acima
mencionadas, que são reconhecidas apenas pelos esforços da mente humana.
Eu não gostaria de solapar o papel da mente humana, nem de leve, pois isso
seria totalmente errado. Sem essa mente eu não poderia nem mesmo escrever
estas linhas que você tem agora diante dos olhos!

A diferença, que é a básica, é que o sábio nos ensinou a colocar a mente em


seu DEVIDO LUGAR em nossa consciência, no papel de um instrumento dirigido
pelo Poder mais elevado do homem, sua consciência espiritual, seu EU
verdadeiro. Quando estou datilografando as páginas deste livro, não estou
imaginando nem pesquisando às cegas, com minha mente, sobre o que tenho
para dizer e se há alguma coisa “melhor” para pesquisar em minha mente. Mas
há uma compreensão muito realista e segura de que as idéias não vêm de
pensamentos elaborados e de consultas à mente. E isso me dá a certeza de que
a minha mente está cooperando: não há dúvida sobre isso, e justamente do
modo que eu quero. Ela está formando “a corrente” entre pensamentos e
palavras quando assim lhe ordeno. Mas ela é silenciosa e não exerce obstrução
quando a corrente pára. Acho que você compreende o que quero dizer, portanto,
vou me abster de futuras explicações. O Maharshi disse abertamente que, de
acordo com seus ensinamentos, sua mente estava morta. E mesmo assim
podemos encontrar em suas palavras a profundidade e sabedoria que não
vemos naqueles que sublimaram sua mentalidade e a colocaram no trono, que
certamente pertence ao Eu real e espiritual do homem.
Leia esta curta introdução várias vezes antes de começar a meditar sobre os
parágrafos seguintes deste capítulo. Quanto mais você souber, melhor para
você, e nada é tão útil quanto o vasto conhecimento sobre si mesmo e seu
processo mental, para o desenvolvimento de uma habilidade verdadeira e bem-
sucedida em dirigir sua consciência pelos caminhos da atividade controlada, que
podemos chamar de MEDITAÇÃO.

1. TEMA: A meta mais elevada da experiência espiritual para o homem é a Auto-


Realização.

Desenvolvimento: O sábio Maharshi acreditava que o conhecimento pleno de


nosso Eu, ou a essência imortal, é o meio supremo para se alcançar todas as
outras qualidades inerentes a nós mesmos, como o Amor, o elevado código
moral, a paz mental, a devoção ao Supremo, e assim por diante. Ele enfatizava
que todo mal e falta de desenvolvimento são resultado direto da ignorância do
homem. Aquele que CONHECE não age de modo estúpido, não tem atitudes
más e egoístas. A sabedoria suprema do homem ilumina toda a sua natureza,
removendo as manchas do materialismo e do egoísmo, filhos pródigos da
ignorância básica. Se eu sei aquilo de que realmente preciso, não roubarei nem
insultarei os outros, pois meu bem supremo está além do alcance dessa trindade
profana, ego-mente-personalidade, que dirige a vida dos homens não-
realizados.

Não existe nada além da verdadeira Realização do Eu, pois ela é a Conquista
final, após a qual não há mais nada para aprender ou experimentar. A evolução
da pessoa chega então ao seu fim abençoado. “A gota de orvalho desliza para
o Oceano Brilhante!” Ela se une ao TODO, ou, como Cristo nos disse, vai morar
na Casa do Pai, onde há muitas moradas para todos os Filhos do Homem.

2. TEMA: O trabalho executado com apego é uma algema, enquanto o trabalho


feito sem apego não afeta o executante. Mesmo enquanto trabalha, ele está em
solidão.

Desenvolvimento: Nesta meditação, é resolvido o problema que tão


frequentemente afeta e embaraça muitos estudantes capazes. Eles pensam que
o trabalho no mundo exterior, que são compelidos a fazer a fim de se
sustentarem, é um obstáculo para a conquista espiritual. Aqui o Mestre remove
esse engano e dá uma explicação exata de como devemos “dar a César o que
é de César...” Nunca mais me queixarei das condições de minha vida, pois isso
seria uma incompreensão insensata, oposta ao caminho espiritual. Lembro-me
de outra frase do Sábio, que expressa a mesma verdade: “Você pode cumprir
seus deveres mundanos e mesmo assim obter a ILUMINAÇÃO ESPIRITUAL”.
Certamente o Maharshi sabia o que estava dizendo, pois mostrava isso com seu
próprio exemplo. Portanto, não posso ter qualquer dúvida a esse respeito. Se
minha mente tentar me embaraçar com sua traição usual, pondo em dúvida tudo
o que almejo com o seu domínio, saberei de onde essas dúvidas indesejáveis
estão vindo.

3. TEMA: Se alguém puder se manter tranquilo, sem se dedicar a nenhum outro


propósito, será muito bom. Se isso não puder ser feito, de que vale estar tranquilo
no que diz respeito à Realização?

Desenvolvimento: Aqui posso ver a virtude primordial necessária para a


Realização. Nenhum homem pode progredir espiritualmente até que acalme sua
natureza inferior e amorteça assim o barulho que o cerca, tanto o visível como o
invisível. A voz do Verdadeiro Espírito só pode ser ouvida quando paro de ouvir
o desnecessário barulho mundano. Ou melhor, quando, estando no meio de
qualquer tipo de barulho, não o ouço mais, ouvindo apenas a voz sem som que
fala incessantemente com cada ser humano, mesmo que ele não queira e,
portanto, não possa ouvi-la. Certamente, posso me lembrar de momentos em
minha vida em que barulhos muito fortes me cercavam, mas estava tão
intensamente mergulhado em problemas interiores que fiquei como se estivesse
completamente inconsciente de todo o tumulto exterior.

Este é um marco em meu Caminho. Em vez de ouvir coisas vazias e sem


importância, ouvirei a voz salutar que fala em meu interior.

Refrear meu envolvimento com qualquer outro propósito, exceto o do meu


caminho, é uma coisa sábia, como revelou o mestre Maharshi. Ou, em outras
palavras, de acordo com outro grande mestre: “Esteja no mundo, mas não seja
dele”. Nisso reside a solução para a vida diária. Mesmo simples assim, esta é
talvez uma das coisas mais difíceis para o iniciante no Caminho. O mundo tem
uma atração poderosa sobre o ego humano. A realização coloca o meu ego em
seu devido lugar: como uma expressão temporária inferior de mim. Estou, na
verdade, bem além e acima disso. É o que tenho de compreender, e a meditação
a respeito disso me trará sabedoria.

4. TEMA: O ego é a fonte dos pensamentos.

Desenvolvimento: Aqui está a mais importante solução para o problema da


mente: o processo do pensamento, se não estiver firmemente dirigido, torna-se
a fonte do ego, que agora estou tentando combater. Portanto, quando um
estudante permite que seus pensamentos vagueiem segundo a vontade deles
— ou da mente —, está alimentando essa fonte. A todo momento que sou
subjugado pelo pensamento descontrolado e sem objetivo, estou destruindo uma
ponte vital em meu caminho. Mais tarde, terei de construí-la novamente com
muito esforço e dor. Portanto, é melhor para mim não permitir que poderosos
inimigos coloquem obstáculos em meu caminho agora. Mas a iniciativa deve
partir de mim mesmo.
5. TEMA: A mudança de ambiente é desnecessária. A mente é que sugere essa
idéia errônea. Seus esforços podem ser feitos agora, seja qual for o ambiente.

Desenvolvimento: Este ensinamento do sábio Ramana atinge diretamente o


próprio centro da fraqueza humana: a idéia de que as atuais condições não são
adequadas, e que é preciso primeiro criar um ambiente propício para seu
progresso espiritual. Como isso está errado! Contudo, esse engano impede que
milhões de pessoas dêem um passo decisivo e tomem seus destinos nas
próprias mãos.

Não são as condições e ambientes que nos impedem de meditar; nossa


escravidão à mente é que inventa tudo o que é possível a fim de nos distrair do
caminho porque ele trará a submissão da mente. Se sou de fato capaz de
empreender um estudo prático da meditação, que pode elevar minha
consciência além do domínio da morte e do sofrimento, devo fazê-lo AGORA,
HOJE MESMO, e não amanhã! A força que me compele a adiar o início está
dentro de mim, e deve ser combatida de DENTRO, não de FORA. Agora
compreendo isso. Adiar significa simplesmente que eu ainda considero certas
coisas mais importantes do que o meu desenvolvimento interior, o meu cerne, a
verdadeira vida. Algumas vezes, não quero confessar isso, mas sei que é assim,
pois não pode ser diferente. Não se pode servir a Deus e ao Diabo ao mesmo
tempo.

Tomarei agora uma decisão crucial. Só eu posso fazer isso.

6. TEMA: Dedicar-se ao Eu significa dedicar-se ao trabalho. Por acreditarem que


são os seus corpos, as pessoas pensam que o trabalho é feito por elas. Mas, na
verdade, é apenas o Eu a verdadeira força motriz que está por trás de todas as
nossas atividades.

Desenvolvimento: Outro problema primordial está resolvido. Ao acreditar que é


o meu pequeno ego personalista que executa qualquer trabalho, ele pode ser
fatigante e constrangedor para mim. Mas, ao perceber que todas as atividades
têm suas raízes no Eu real, não em meu corpo, que tem pouco em comum com
o que quer que seja, então sou capaz de trabalhar e de observar esse processo
como se estivesse à parte e não me sentir como o executante. Isso faz com que
qualquer tipo de trabalho se torne fácil e não deprimente, pois então eu estou À
PARTE, observando a máquina trabalhar — meu corpo, com seu cérebro, seu
poder muscular, etc. Lembro-me desta idéia desde o estudo do ocultismo
ocidental, quando ensinei a mim mesmo a ficar “separado” dessa impressão de
que “eu mesmo” é que estou trabalhando e me cansando. Lembro-me de todos
os resultados positivos adquiridos desde a época em que aceitei pela primeira
vez essa atitude.

Está na hora de amadurecer para decisões importantes, uma das quais está
expressa neste tema de meditação.
7. TEMA: Você precisa se libertar da idéia de que ainda não realizou o seu Eu.
Você já é o EU, aqui e agora.

Desenvolvimento: Agora vejo por que tantas pessoas criam obstáculos para si
mesmas ao imaginar, erroneamente, que têm de fazer alguma coisa, ou de agir
de um determinado modo, a fim de realizar seu verdadeiro Eu. Nenhuma ação
fará isso. Somente a mudança interior, a conscientização, podem me levar ao
meu objetivo. Tenho de me aprofundar em mim mesmo, tenho de mergulhar no
cerne do meu consciente, esquecendo de pensar e do mundo que me cerca.
Então, eu mesmo criarei as condições que permitirão que eu mergulhe nas
profundezas, onde não há condições nem ambiente, mas a VIDA, simplesmente.
Parece-me que agora compreendo o que muitos santos disseram quando
insistiram na paz interior e mergulharam em Deus! Pois ELE está justamente
nessa Paz suprema, imperturbável, de que fala o Velho Testamento.

A Realidade não pode nascer nem morrer: se não fosse assim, não mereceria o
nome de Realidade. Pois o Real é o QUE existe além de nossas três subdivisões
mortais de tempo: passado, presente e futuro. Não existe tempo para a
Realidade. Surge então uma importante conclusão: sou o EU para sempre, e
nunca houve nem haverá um tempo no qual o EU deixe de existir. E é justamente
isso que o Sábio nos diz. Portanto, por que não posso realizar o Eu
imediatamente, aqui e agora? Porque NÃO estou olhando para ELE, mas para
as aparências irreais do mundo exterior, que foram criadas, como o Maharshi
diz, pela mente em nós. Como posso ver o REAL, se toda a minha atenção está
dirigida para MAYA, se dedico todos os meus pensamentos e sentimentos à
APARÊNCIA e não à ESSÊNCIA das coisas? Esta meditação pode ser uma
iniciação para mim, se eu chegar à conclusão certa. Percebo-o agora. Vejo
também que meio poderoso é a meditação, como abre novas perspectivas e
horizontes para nós.

8. TEMA: A solidão é o SILÊNCIO INTERIOR. Ela está na mente do homem.


Mas o homem apegado às coisas da vida exterior não consegue ficar só, pois
sua mente não é controlada nem silenciada.

Desenvolvimento: A primeira frase desta meditação não é nova para mim, agora
que passei pelos capítulos anteriores. Vejo agora como o Eu pode ser alcançado
ou, melhor dizendo, como posso permitir que o meu verdadeiro Eu desça à
minha consciência de hoje. É pela REMOÇÃO DE TUDO O MAIS, exceto do
Silêncio em mim. Isso é o que a SOLIDÃO requer. E compreendo agora por que
o apego às coisas exteriores deve ser reduzido, pelo menos nos momentos em
que me dedico à meditação. Mas se eu estiver absolutamente mergulhado no
mundo material o dia inteiro, sem nenhum retiro voluntário e deliberado na
meditação sobre o Silêncio, será imensamente difícil para mim criar a atitude
requerida para a duração relativamente curta de meus exercícios de meditação.
Posso ver que a meditação deve ser gradualmente prolongada em períodos,
mais do que apenas uma ou duas meditações por dia. O principal obstáculo para
desligar minha mente do irreal é que acredito que o mundo exterior é mais
importante do que a minha vida interior. Isso é apego aos objetos mundanos.
Não importa como e quanto eles possam ser diferentes.

Mas vejo um raio de esperança: num dos capítulos anteriores, falou-se sobre a
influência da CONSCIÊNCIA no mundo material, a qual, na linguagem da mente,
equivale aos milagres. Por que então não devo começar a praticar a
aproximação com a Hiperconsciência?

Sei que preciso conseguir o controle da mente, e é por isso que estudei a
concentração. O objetivo final dela é a eliminação da mente (isto é, de todos os
pensamentos), por um período desejado e predeterminado. A verdade só pode
ser encontrada depois que a mente for efetivamente silenciada, o que é possível
pelo estudo prático da concentração. Descobrirei a solução de todos os meus
problemas, incluindo o mais importante, que é o do meu verdadeiro EU.

De hoje em diante, tentarei praticar mergulhando no Silêncio, não apenas


durante o tempo regular de meditação, como agora, mas também durante todos
os momentos apropriados do dia.

9. TEMA: O Estado que transcende a fala e os pensamentos é chamado de


MOUNA (ou Silêncio). É meditação sem atividade mental. Subjugar a mente é
meditar: a meditação profunda é a fala eterna.

Desenvolvimento: Vejo que a meta da meditação é, em primeiro lugar, subjugar


a mente, a fim de que já não possa ser um obstáculo a uma clara visão do clichê
supremo. Em segundo lugar é o silêncio pleno da mente, de modo que a
consciência se torne semelhante à superfície espelhada de um lago calmo.
Posso, então, ver nela o verdadeiro Reflexo da Verdade. O Maharshi chamou
essa meditação de “meditação sem atividade mental”, pois a mente permanece
em paz e inativa. Meu verdadeiro Eu está então mais perto de mim e, portanto,
tenho a oportunidade de vivenciar esse EU.

Enquanto na meditação “normal” — que para mim é de um tipo inferior — a


mente é dirigida para os canais desejáveis, e pode vibrar apenas de acordo com
minha vontade e intenção, na meditação MUDA a mente simplesmente não está
presente de modo algum. E mesmo assim estou vivo e consciente do meu ser.
Onde poderia encontrar uma prova melhor de que não sou a minha mente ou
meus sentimentos? Estou tentando agora gravar esta grande verdade nos mais
profundos recessos da minha memória, de modo que esteja sempre presente
como uma experiência para todo o meu trabalho espiritual.
Sei que dois homens, ambos usando a meditação muda ao mesmo tempo,
compreenderão um ao outro imensamente melhor do que pelos meios da fala.
Esse Silêncio, como disse o mestre Maharshi, é a nossa FALA ETERNA.

É por isso que um mestre verdadeiro nunca está ansioso para falar. Ele só usa
a linguagem da mente quando questionado e quando a mais alta expressão, isto
é, a FALA DO SILÊNCIO, acima mencionada, é inacessível aos que o rodeiam,
pela insuficiência de seu desenvolvimento. E o mestre SABE quem está ao redor
dele e age de acordo com isso.

O silêncio espiritual não tem nada em comum com a inatividade artificialmente


induzida da mente, como no caso de desmaio, choque, hipnose ou perturbação
cerebral. O silêncio espiritual é ÚNICO, e vem quando o homem o convida e é
capaz de manter o seu poder e a sua paz.

Meu objetivo é alcançar esse Silêncio, pelo processo gradual de meu


desenvolvimento interior. É por isso que estou estudando este livro e fazendo os
exercícios recomendados.

Espero que o rio da minha consciência, isto é, o meu próprio eu, nunca se desvie
dos caminhos do Silêncio.

10. TEMA: A mente, o corpo e o mundo não estão separados do EU. E não
podem existir separados do EU, pois são como que a sua manifestação inferior.
Mas o EU pode perfeitamente existir separado e além dessas manifestações,
que o homem confunde com a realidade do mundo. Elas não afetam o EU.

Desenvolvimento: No tema desta meditação vejo dois importantes aspectos da


verdade. Em primeiro lugar, tudo o que é visível e sensível é irreal, pois tem um
início e, portanto, deve ter um fim. Mas posso ver o começo, ou o fim do Eu
Espiritual, essa HIPERCONSCIÊNCIA sobre a qual li nos capítulos anteriores?
Sei que ELA é onipotente e está além de todas as limitações de tempo e espaço.
É verdadeiramente o reino do Eu, e é por isso que sou imortal, pois sou nada
menos do que essa HIPERCONSCIÊNCIA.

Em segundo lugar, se imagino o Eu como aquele que vê, então o mundo visto
será como uma grande tela, na qual representam a luz e a sombra da vida
relativa. E QUEM pode ver essa representação? É o puro, o Eu não manifesto,
o único que vê.

Sinto que está aqui a solução oculta do problema da Vida como o único fator
imortal da Manifestação.

Minha imortalidade pertence ao meu Eu mais profundo e verdadeiro, que


independe de tudo o mais, do meu corpo até a mais longínqua galáxia, que são
igualmente meras sombras diante da LUZ DA CONSCIÊNCIA imóvel e imutável,
purificada de todas as condições e aspectos. Posso chamá-LA de Espírito, como
Cristo o fez.

Quando Buda alcançou essa Luz, imediatamente proclamou sua vitória sobre o
irreal e disse que, nele, nunca mais a ilusão seria capaz de construir qualquer
prisão para a Luz.

Busco esse momento abençoado, no qual serei capaz de expressar a mesma


Verdade que, então, viverá em mim.

Posso ver, cada vez mais, que a meditação pode me levar a esse Ápice.
Portanto, o que mais posso fazer?

É por isso que continuarei meu estudo presente, pois este trabalho produzirá
resultados além da minha atuai encarnação, isto é, levarei o fruto de meus
esforços comigo pata a Eternidade, que é a minha verdadeira pátria.

11. TEMA: Se a mente está voltada para dentro, para a Fonte de Iluminação, o
conhecimento objetivo cessa e o EU sozinho resplandece como o Coração.

Desenvolvimento: Posso considerar esta afirmação do sábio Maharshi como


uma instrução técnica direta para a meditação espiritual. A mente deve ser
dirigida para a sua fonte, para a sua origem, esse reino misterioso onde o
primeiro pensamento nasceu em mim. Além dela, está o EU REAL, limpo de
pensamentos ou de sentimentos. Compreendo agora o objetivo para o qual a
presente meditação me leva. É o IMORTAL. O esteio em mim, do qual projeto o
meu corpo com todos os seus atributos, em inumeráveis encarnações, até a
Realização da única Fonte real começar a brilhar por todos os meus
pensamentos, sentimentos e obras. Então o meu caminho estará próximo do fim.
A GOTA CAIRÁ NO OCEANO BRILHANTE.

O que o conhecimento objetivo pode me ensinar? Só a sabedoria necessária


para viver nos mundos materiais e, mesmo assim, para cada um deles será
necessário um tipo diferente de conhecimento. Não posso ver nenhuma
realidade nesse conhecimento. Os homens mais sábios morreram e nada que
seja visível permaneceu deles nesta terra. Se foram para outras terras, em
formas mais perfeitas, por certo se esqueceram de suas experiências
elementares aqui. E o mesmo acontecerá comigo!

Essa compreensão me proporciona uma verdadeira avaliação dos valores do


mundo. Tudo estará perdido no momento da minha partida. Nunca mais viverei
de acordo com esses valores. Portanto, por que devo me apegar ao
evanescente, aqui e agora?

A luz do EU é a única que vale a pena tentar alcançar.


12. TEMA: A lua brilha pelo reflexo da luz do sol. Quando o sol se põe, a lua
pode ser útil para se descobrir objetos. Quando o sol se levanta, ninguém precisa
ou procura pela lua, mesmo que ela continue visível no céu. O mesmo acontece
com a mente e o coração. Quando temos apenas a luz refletida, somos
compelidos a usá-la. Mas quando a Fonte Direta está no alto, torna-se a única
Luz de que necessitamos.

Desenvolvimento: Esta comparação esplêndida é bastante luminosa para mim.


Não nega a utilidade parcial da mente, mas coloca essa mente em seu devido
lugar, mostrando que há coisas muito melhores e mais reais do que ela. Conheço
essa intuição que é, na verdade o conhecimento sem pensamentos; é muito mais
elevada do que os processos mentais comuns. Mas a humanidade ainda não
possui a habilidade plena do uso dessa intuição, que até o presente momento é
apenas uma manifestação esporádica em uns poucos homens.

Quando é noite, a luz da lua constitui uma ajuda abençoada para o viajante
noturno. Mas ninguém compararia o nosso satélite com a fonte de toda a luz, o
sol. Sinto que há uma profunda verdade nessa comparação. Enquanto não
negamos a utilidade da mente em determinadas circunstâncias, estamos
mostrando a inadequação do sucedâneo comparado com a Fonte.

Posso ver que a idéia desta meditação é criar em mim um solo propício para a
verdadeira compreensão do relacionamento entre a mente e o Espírito. Alguns
seguidores de mente estreita tentam rejeitar o conceito total da mente, mesmo
antes de terem aprendido a viver no Espírito. Eles desembarcam numa ilha
vazia, estéril e desabitada. O sábio não comete essa tolice.

Agora posso ver por que os homens espiritualmente evoluídos da história


humana criticaram a mente, pois tinham algo infinitamente melhor na
consciência deles — a Luz do Espírito, que lhes mostrava claramente o Caminho
para a Meta.

Eles não eram sonhadores ou irrealistas, mas justamente o oposto: eram


pessoas muito sinceras e inteligentes, que se empenharam apenas naquilo que
sabiam ser a verdadeira Meta, a Realização.

Todas as nossas ciências materialistas tratam de coisas terrenas e, mesmo


assim, são incapazes de criar condições realmente propícias para a maioria, mas
apenas para uma minoria de homens. E essas condições não podem sobreviver
à vida deles: eles não podem levar nenhuma descoberta para o outro lado.

Enquanto não negar certos valores na criação de um ambiente melhor para o


maior número de pessoas possível, não posso compará-los com a busca dos
valores perenes.

Que o exemplo da lua e do sol me confira a visão verdadeira enquanto continuo


vivendo neste mundo relativo!
Você já tem algumas séries de meditação em sua bagagem e pode ser que surja
a questão sobre qual o melhor meio para lidar com esses temas, que na verdade
não são muito difíceis. Eles não estão divorciados da nossa velha tutora — a
Lógica; portanto, não devem apresentar dificuldades mentais. Mas o problema
que eu gostaria de analisar é de um caráter diferente.

É o do método que será mais útil para o estudante sincero. A experiência mostra
que o sucesso num estudo de meditação depende do uso correto dos poderes
da mente, como uma introdução, depois da reprodução do desenvolvimento e
da volta ao tema. Isso deve ser bem explicado.

a) Leia o tema bem devagar e com concentração plena várias vezes, até
memorizá-lo por inteiro. Como você pode ver, estou dando apenas temas curtos
e concentrados, e a idéia pode ser abarcada por sua mente sem maiores
dificuldades. Alguns estudantes precisam ler o tema, por exemplo, apenas setes
vezes, mas outros terão de dedicar mais tempo a fim de gravar o tema
firmemente em sua mente. Isso é imaterial, pois só o resultado final é que conta.
O fato de você precisar de cinco ou quinze minutos para isso não deve ser motivo
para maiores preocupações. O que deve ser evitado é a perambulação da
mente, que vai de um pensamento a outro, não permitindo que ela penetre no
conteúdo da meditação. Mas isso não acontecerá se você tiver passado
honestamente pelo curso recomendado de concentração, que deve capacitá-lo
a afastar logo todos os desejos da mente.

Se você começar com o tema 1 deste capítulo, por exemplo, que trata dos
valores da Realização do verdadeiro Eu do homem, e terminar suas tentativas
absorto em pensamentos sobre faquires indianos, sobremesas servidas em
folhas de bananeira nos ashrams ou sobre a performance do último lutador
negro, e assim por diante, terá uma boa razão para ficar preocupado com o
estado de seu controle mental. Nesse caso, você deve voltar ao livro
Concentração e disciplinar sua mente, até poder usá-la sem a interferência de
correntes de pensamentos, desnecessários e prejudiciais, que se infiltram em
sua consciência contra a sua vontade.

De qualquer modo, presumo que essa dificuldade tenha sido dominada de um


modo ou de outro, e que o conteúdo dos temas tenha sido absorvido. E assim
passaremos para o próximo passo.

b) Do mesmo modo que fez em “a” leia o desenvolvimento que acompanha o


tema várias vezes, tentando sintonizar suas idéias ao longo das linhas, estando
consciente o tempo todo de que essa é apenas uma das estradas que se
irradiam do tema. Aqui você pode encontrar duas possibilidades para futuras
meditações. A primeira será quando você reconhecer que o desenvolvimento o
satisfaz totalmente, e que não sente necessidade de se empenhar em qualquer
outra estrada. Então leia cada sentença devagar e separadamente, fechando os
olhos e pensando nela até sentir que fez o máximo a fim de iluminar a idéia
contida na sentença ou, se preferir esta comparação, que você a tenha digerido
bem. Esse processo deve ser bem controlado e não se transformar nos desejos
da mente, o que não tem nada a ver com a idéia que você está trabalhando. O
melhor método é fixar firmemente uma frase em sua mente, assim como se
estivesse segurando um copo d’água que não pode sofrer qualquer vibração
forte ou tremor de suas mãos, para não derramar o conteúdo. ESTOU DANDO
UMA IMPORTÂNCIA CAPITAL A ESTA TÉCNICA, POIS É A MAIS
CONHECIDA E GRATIFICANTE.

Não pense em qualquer distração, pois elas o desviarão para caminhos que têm
muito pouco ou nada em comum com o seu TEMA básico. Não há dúvida de que
isso será suficiente ao trabalhar desse modo. Quando sentir que sua tarefa está
momentaneamente feita, passe para a próxima frase do desenvolvimento, e
assim por diante, até a última.

A segunda possibilidade para uma futura meditação aparecerá quando você não
estiver satisfeito com apenas UMA estrada, como foi dada no desenvolvimento,
e sentir que tem PODER suficiente para explorar outras estradas, criando-as
independentemente a partir da encruzilhada do tema. Para tanto, por certo você
precisará de mais tempo e esforço, e isso o deixará exposto a perigos maiores
de desvios e erros em relação à idéia real que você tem de trabalhar com sua
meditação. Contudo, você está totalmente autorizado a seguir esse caminho; e,
se obtiver sucesso, isso o aproximará mais rapidamente da Meta, mas só
QUANDO VOCÊ OBTIVER PLENO SUCESSO EM SEU PRÓPRIO CAMINHO
E NÃO ESTIVER FAZENDO MERAS ACROBACIAS MENTAIS, que não levam
a lugar algum e não ajudam na absorção do tema.

Certamente, não preciso mencionar que o procedimento com as “estradas” de


sua própria criação deve ser exatamente o mesmo do primeiro caso, isto é, você
deve trabalhar cada frase como foi feito com os desenvolvimentos dados neste
curso. Provavelmente, você terá de registrar por escrito a sua própria “estrada”,
e depois “dissecá-la” de acordo com o método dado anteriormente.

Qual seria o meu conselho pessoal? Sem esconder nada de você e


reconhecendo sua liberdade de escolha no desenvolvimento dos temas dados,
acredito que, com poucas exceções (relativas aos estudantes bem treinados,
que possuem pleno poder de concentração), seria melhor se você limitasse seus
esforços aos textos dados aqui, sem se aventurar por outros caminhos. Depois,
quando estiver mais seguro e independente, terá bastante oportunidade e
liberdade para retornar a estas séries (de I a III) e trabalhá-las novamente,
acrescentando suas próprias “estradas” de abordagem. Seria
incomparavelmente melhor para o estudante executar exata e claramente tudo
o que encontrar aqui do que acrescentar mais material e não trabalhá-lo de forma
apropriada.
Bem, de um modo ou de outro, você trabalhou com o desenvolvimento. E agora?
COM SUA CONSCIÊNCIA ENRIQUECIDA PELO TRABALHO JÁ FEITO,
CONFRONTE NOVAMENTE O TEMA, FIXANDO-O FIRMEMENTE DIANTE DE
SUA VISÃO INTERIOR. Você ficará atônito e, provavelmente, encantado com a
diferenciação entre a luz que era capaz de lançar sobre o tema ANTES de ter
trabalhado o desenvolvimento e AGORA! Poderá ver como a sua concepção
será mais sábia e como poderá “ver” melhor agora o verdadeiro conteúdo do
tema da meditação.

Finalmente, uma última observação para estas séries; como você provavelmente
já deve ter percebido, a meditação, como está prescrita, levará mais tempo do
que você supunha quando começou. Penso que cada tema deva durar mais do
que uma sessão, antes de estar completo, como foi recomendado. O trabalho
negligente levará apenas ao fracasso, fique certo disso! Neste curso você
encontrará várias séries de meditações, cada uma com cerca de doze ou mais
itens. Não é absolutamente necessário trabalhar com todos eles; você pode
escolher apenas alguns de cada série, os que achar mais adequados e
inspiradores para você. Mas nenhuma série deve ser abandonada, pois isso leva
o estudante a um desenvolvimento desarmonioso.
23
Exercícios que lidam com
a mente — série IV

Chegamos agora ao ponto onde devemos consolidar tudo o que sabemos na


prática a respeito de nossa mente. Isso é necessário, pois se permanecer até
mesmo um pequeníssimo canto escuro, uma brecha em nosso conhecimento de
todas as atividades da mente, as meditações mais intensas podem se tornar
irrealizáveis. Por quê? Porque a mente é um poder muito inteligente e traiçoeiro,
bem consciente de seus ganhos e perdas, mas não possui as habilidades
múltiplas que estão ocultas e potencialmente presentes na verdadeira
consciência do homem. Alguns ocultistas compararam o caráter da mente a uma
força superanimal muito bem desenvolvida, que sabe totalmente “como” agir em
seu próprio interesse, mas não possui a habilidade de conceber o “porquê”. E
justamente nesse ponto fraco do poder mental reside nossa superioridade e
habilidade para dominá-la. Se ocorresse o contrário, nenhum progresso
espiritual jamais seria possível e imaginável.

Você já sabe que a mente NÃO está interessada no desenvolvimento do homem


e vê o ser humano meramente como uma fonte de poder que, se dominado e
iludido, pode fornecer a essa mente novas forças, vibrações e experiências.

A mente não vê nada além de seu próprio interesse egoísta, de sua própria vida,
expressa no movimento incessante, e pouco se importa com o que é benéfico
ou desvantajoso para essa FONTE. Entretanto, a mente sente, de um modo bem
forte, que, se essa consciência independente no homem for despertada,
invariavelmente a colocará em seu devido lugar, isto é, no de serva, compelida
a vibrar de acordo com a vontade do homem e até mesmo parar todas as
vibrações e mergulhar no Silêncio. É o que ela menos deseja; e é por isso que
ela luta de modo tão desesperado e astuto pela sua supremacia.

Se posso paralisar todo o processo de pensamento e eliminar as atividades e


vibrações da mente, isso só pode acontecer PORQUE CONHEÇO A VERDADE
SOBRE ESSA MENTE DE MODO EXPERIMENTAL: ELA É APENAS O MEU
INSTRUMENTO, NÃO EU MESMO, NEM É ALGO QUE POSSUI UMA
CONSCIÊNCIA INDEPENDENTE DE MIM. Sei que seu poder sobre a sua mente
nunca é manifestado de modo mais enérgico do que quando você a compele ao
silêncio e depois observa o que acontece como resultado de sua ação soberana.

Nesse silêncio da mente, encontramos uma fonte inexaurível de poder e de


profunda satisfação, que se aproxima da Paz além de todo entendimento. Isso
significa que a mente não entende nem pode entender POR QUE o homem quer
dominá-la e limitar suas atividades, até agora soltas e sem nenhum senhor. Mas
o fato de que a mente bem dominada é a melhor serva permanece.

Muitos cientistas ficariam surpresos se pudessem experimentar o poder


crescente de investigação, conclusão e intuição disponível para aqueles que,
pelo esforço interior, conseguem se separar do pensamento fundamental,
reduzindo-o a um fato controlável em sua consciência.

Nesta série IV de exercícios, praticaremos a meditação falando conosco


mesmos, tendo como objetivo a solução final do perene binário: o HOMEM e sua
MENTE.

1. TEMA: Estou parando de pensar. Não preciso de qualquer pensamento


introduzido ou emitido por minha mente.

Desenvolvimento: Aja de acordo com a afirmação. Sente-se em uma asana


moderada e feche os olhos durante os primeiros estágios desse exercício, mas
depois aprenda a olhar para o espaço à sua frente, vagamente, sem perceber
nada e absolutamente desinteressado de qualquer coisa que esteja diante de
seus olhos.

Você está vivendo durante este curto espaço de tempo?

É claro que estou vivendo.

Em que está pensando?

Em nada, como foi proposto!

Então onde estava a sua mente durante esse tempo?

Parece que estava inativa, em silêncio.

Bem, não havia nenhum traço de sua atividade, e, consequentemente, nenhum


traço da mente.

Sim, eu não estava consciente de minha mente.

Mas sua consciência estava viva, ou era como se você estivesse desmaiado,
fora de si mesmo?

Não, não perdi a consciência da vida.


2. TEMA: Pelo tema anterior, você pode ver que sua mente NÃO É um fator
essencial em sua consciência, que pode haver estados separados de sua
percepção mental.

Desenvolvimento: Falando logicamente, tenho de admitir essa possibilidade,


mas parece que terei mais experiências assim e mais exercícios para fazer.

Isso é verdade, pois apenas pela prática um homem pode se tornar firmemente
estabelecido no novo padrão de sua consciência.

3. TEMA: Você não sente, depois de um exercício assim, como se alguma coisa
estivesse nascendo em você, calma, pacifica, segura de si, eternamente livre e
feliz?

Desenvolvimento: Tenho como que uma antecipação disso. Ainda não está
muito clara e definida, mas a sensação existe.

Dessa sensação surgirá a certeza e, da certeza, o CONHECIMENTO positivo de


que você e seu instrumento mental são duas coisas diferentes. E disso virá sua
própria consciência de que, quando está sem pensamentos, está perto do seu
EU VERDADEIRO e a outra (a consciência mental) pode ser subjugada,
removida ou aceita, de acordo com a sua VONTADE DE NÃO PENSAR.

4. TEMA: O que então é mais importante, real e independente? A máquina


pensante em você, ou ISSO que está acima do processo do pensamento?

Desenvolvimento: Posso viver sem pensar, mas a percepção de estar vivo deve
desaparecer, se estou para me perder nisso que permanece em mim quando o
pensamento foi extinto. Isso pode acontecer quando desmaio, ou quando estou
sob o efeito de anestésicos, mas então não tenho nenhuma prova de que estou
vivo. O testemunho daqueles que podem observar meu corpo inconsciente não
traz qualquer prova da minha existência nessa hora, pois estabeleci tempos atrás
que MINHA VIDA não é outra senão CONSCIÊNCIA dessa vida. Se ela cessa,
o que então permanece, de fato?

5. TEMA: A separação da mente dá uma base firme para o presente conceito de


imortalidade. O corpo, uma manifestação perecível e temporária, é antes uma
prova de mortalidade do que de sobrevivência.

Desenvolvimento: Realmente, não posso ir em busca da eternidade com os


olhos do meu corpo. A única coisa que resta é ir em busca de outro elemento
menos perecível em mim. No tema número 4, encontrei material suficiente para
meditar sobre essa busca.

6. TEMA: Qual é a arma usada pela mente a fim de derrotar nossas tentativas
para dominá-la?
Desenvolvimento: A principal arma da mente parece ser a curiosidade, o desejo
mental subconsciente de colocar a atenção da pessoa em cada assunto que é
apresentado pelas correntes da mente. Digo subconsciente porque não há
escolha consciente do clichê que se aproxima. Um homem não pode dizer para
si mesmo: “Admitirei este pensamento? Preciso dele? Não tenho nada melhor
para aceitar na luz da minha consciência?” Normalmente, tal seleção não
acontece, e, assim, o homem é tragado pelas correntes que chegam.

7. TEMA: De onde a mente recebe todos os pensamentos, idéias, quadros


mentais e teorias que nos assaltam durante nossas tentativas de meditação e
concentração?

Desenvolvimento: Se estudamos atentamente os capítulos que tratam dos


clichês cósmicos, então já temos a resposta. De qualquer modo, sabemos que
não há nada de novo, ou “nascido ontem”, no todo da Criação, ou, melhor ainda,
na MANIFESTAÇÃO ÚNICA. Sua imensa consciência criativa, que os homens
denominam “Espírito”, operando além de todas as limitações de tempo e espaço
(que Ele mesmo criou), contém eternamente tudo o que, em nossa concepção
estreita e limitada, FOI, É e SERÁ. Dessa fonte inesgotável, diferentes Forças
Cósmicas manifestas (e a mente é uma das principais) extraem tudo o que lhes
permitem. Desse modo, inúmeros clichês são reproduzidos e colocados diante
das mentes humanas separadas. Se aceitos, eles florescem e se fortalecem;
senão perambulam pelo infinito de diferentes modos de espaço e tempo,
buscando outra oportunidade para obter uma nova autorização, energia vital de
uma consciência viva, não necessariamente humana. Pois penso que existem
inúmeros mundos que dão abrigo a outros seres encarnados, segundo seus
meios particulares de reintegração, os quais talvez até sejam parecidos com os
nossos, ou muito diferentes e mesmo incompreensíveis para a imaginação
humana.

Sinto que a meditação sobre tudo isso pode conferir mais paz e estabilidade a
minha consciência, assim como posso perceber que nada perece e que não sou
obrigado a abrigar todos os clichês e alimentá-los com meus poderes de
ATENÇÃO e INTERESSE. Sinto que posso chegar à percepção de que A COISA
MAIS IMPORTANTE EM TODO O UNIVERSO, ASSIM COMO ALÉM DELE, É
APENAS UMA: A ENERGIA DA MINHA CONSCIÊNCIA PURA, LIVRE DE
TODAS AS CAMADAS EXTERNAS E APEGOS.

Resumindo tudo isso, descubro que: a dissipação de minha atenção me leva à


frustração, mas a concentração de meu esteio mais íntimo preenche os
desígnios do Criador de todos os Clichês do Cosmos.

Como consequência, vejo que minhas meditações podem obter auxílio da


FONTE para a qual elas são dirigidas. Alguém disse: “Se dermos um único passo
em direção ao Senhor, Ele dará dois em nossa direção”.
8. TEMA: A principal qualidade de uma consciência humana evoluída é a
habilidade de retornar sem esforço da mente para o Silêncio várias vezes por dia
durante a vida diária.

Desenvolvimento: Quando experimento até mesmo um curto período de Silêncio


em mim, sinto que esse Estado é supremo, está acima de todas as outras
manifestações da minha consciência. Se ainda não posso residir
permanentemente nesse Estado, é apenas por causa do meu desenvolvimento
insuficiente. Entretanto, assim como toda criança se torna um adulto, minha
infância na experiência espiritual (começando com o silêncio em mim) não durará
para sempre, não pode ser permanente. Quando o tempo certo chegar, o SOL
PLENO surgirá em minha consciência, e todas as sombras atuais, como o
pensamento, e toda a sua variedade de informações desaparecerão para
sempre diante da Luz Suprema. Sei que essa idéia pode parecer irreal, ou até
absurda para aqueles que não estão no Caminho. Mas como isso pode me
afetar? Cada um é responsável apenas por sua própria célula do Espírito que
reside oculto nele, em seus véus ou corpos. Portanto, não há motivo para
preocupações, mesmo que o mundo inteiro desaprove minhas convicções.

Por meio de um retorno voluntário ao Silêncio interior, estou provando minha


superioridade sobre minhas ferramentas: a mente e os sentimentos. Não há
nenhum outro método ou experiência igualmente convincente. Sabendo disso,
farei o melhor que puder para ir o mais frequentemente possível até a FONTE
verdadeira de meu ser que repousa no SILÊNCIO perfeito.

9. TEMA: Diz-se que os Mestres Espirituais da humanidade que chegaram ao


ápice do desenvolvimento interior estavam no Silêncio eterno e usavam seus
poderes mentais apenas quando necessário para se comunicarem com os
homens terrenos.

Desenvolvimento: Embora eu não possa julgar sobre a provável verdade do tema


de meditação acima, porque não tenho nenhuma experiência pessoal com um
mestre espiritual, sinto que é lógico e aceitável, porque os processos de
pensamento NÃO são as atividades mais elevadas do homem, nem as únicas.
Quando estou cansado de pensar, procuro alguma paz interior. Algum dia,
poderei obter essa Paz, e uma das primeiras manifestações dela será a
libertação de todas as intrusões exteriores que chegam de minha mente. Meu
pensamento não pode mudar meu destino; portanto, pode ser descartado
quando eu estiver suficientemente maduro.

10. TEMA: A mente humana não é um poder independente, que se desenvolve


SEM RESTRIÇÃO DE TODAS AS CONDIÇÕES EXTERNAS. Uma mente
destreinada provavelmente não realiza muito neste mundo, se ela só depende
das CONDIÇÕES AMBIENTAIS. O poder que organiza o treino e
desenvolvimento de nossa mente pessoal é por certo diferente dessa mente.
Esse poder tem a liberdade de escolha, o que não é o caso da mente humana.
Desenvolvimento: É claro que a educação e o ambiente são fatores muito fortes
para o desenvolvimento da nossa mente. O fato de alguns gênios inicialmente
terem tido condições muito favoráveis não invalida a regra. No final, eles também
foram capazes de dirigir suas mentes para onde queriam.

Por outro lado, ninguém negaria que muitas pessoas, mesmo nas melhores
condições possíveis, tiveram de se elevar além da trivialidade e da habilidade
medianas.

O problema é resolvido quando compreendemos as Leis dos Clichês. A escolha


dos clichês não pertence só à mente, mas, numa medida bem maior, ao âmago
“desconhecido” do homem, que está acima e além da mente. É nesse “âmago”
que repousam as sementes da LIBERDADE real e determinados aspectos da
HIPERCONSCIÊNCIA, da qual falamos na primeira parte deste trabalho. A
realização da liberdade essencial da nossa consciência é um dos meios mais
poderosos para desenvolver a meditação regular e verdadeira. Sem essa
liberdade nada pode ser alcançado. Entretanto, como temos muitos exemplos
de feitos sobre-humanos e também de alguns acima da média de nossos
companheiros, a verdade da liberdade no homem é incontestável. Alguém pode
dizer que a maioria das pessoas não sentem realmente essa liberdade e agem
como se fossem levadas exclusivamente pelo destino, como dizem. Mas o
atributo humano mais alto não pertence aos espécimes mais baixos do homem,
e é esse fato que muitos aspirantes à filosofia não conseguem perceber.

11. TEMA: Frequentemente, ouvimos falar da “unidade” de todos os homens. E,


como uma consequência lógica, vem a convicção de que tudo o que nos UNE
está certo e de que tudo o que nos separa está errado. Contudo, a verdade não
condiz com essa afirmação. Ela depende de com O QUE estaríamos unidos,
com quais manifestações de vida deveríamos nos unir e de quais deveríamos
nos separar.

Desenvolvimento: A discriminação deve nos mostrar o caminho. Sei, pelas


meditações anteriores, que a SEPARAÇÃO É ESSENCIAL quando aplicada aos
poderes mais baixos e finitos do homem, sua mente e seus sentimentos (esfera
astral), pois, do contrário, nenhuma liberdade interior ou progresso espiritual é
possível. Posso meditar enquanto estou à mercê de minha mente e de minhas
emoções? Então, separar-me-ei delas e, desse modo, tornarei a meditação
possível. Por que os fatores mais baixos, mencionados anteriormente, NÃO são
capazes de unir os homens; são muito diferentes e tendem para uma
diferenciação ainda maior. Ninguém insistirá em dizer que os homens têm
exatamente os mesmos sentimentos e pensamentos, embora as linhas ao longo
de ambos os trabalhos se assemelhem. O único fator verdadeiramente unificante
é aquele no qual não há nenhuma diferenciação nem oposição.

É o ESPÍRITO, manifestando a Si mesmo no Silêncio, e o SILÊNCIO é, e pode


ser, APENAS UM! Nenhum ser sadio falará sobre “diferentes” Silêncios! Agora
vejo onde existe a UNIÃO perfeita. É no SILÊNCIO-ESPÍRITO, misteriosamente
idêntico ao Hiperconsciente. É inútil tentar expressar isso em palavras, pois no
exato momento em que a fala começa, o SILÊNCIO desaparece, e a
HIPERCONSCIÊNCIA degenera em atividade mental. Tentarei não esquecer
nunca esta descoberta feita hoje durante a meditação.

12. TEMA: O tema final desta série será: a meditação sobre a atitude correta em
relação ao nosso corpo, às nossas emoções e aos nossos pensamentos. Qual
deve ser?

Desenvolvimento: Devemos “matar” todas as emoções e funções da mente em


nossa consciência? Mesmo que isso fosse possível, essa atitude transformaria
um ser vivo num autômato sem alma. Se no “Jardim do Senhor” (isto é, o
universo inteiro) existem certos poderes, condições, fenômenos, e assim por
diante, deve haver uma razão profunda para isso, e não podemos alcançar a
CAUSA de todos eles. Temos de ser realistas e não tentar mudar o que não pode
ser mudado, uma vez que isso está muito além de nossos poderes e
possibilidades. ELE SABE, mas nós não. Contudo, podemos escolher os
melhores caminhos e flores do JARDIM, e isso não desagrada ao JARDINEIRO.
Esta é a solução! Não aniquilar, mas pegar o que precisamos e deixar o que
sabemos ser inútil.

Chegando agora ao problema concreto da mente e do coração, vejo que minha


solução não será negar o que não pode ser negado, mas me separar das
manifestações indesejáveis e inadequadas para mim, porém provavelmente
úteis para outros participantes da grande marcha evolutiva! O que há de errado
com o triciclo quando usado por um menino de sete anos? Ninguém condenaria
isso; na verdade, todo mundo provavelmente acharia agradável ver a criança
dirigindo o veículo. Mas ninguém iria me admirar, a mim, que sou um ser humano
adulto tentando meditar e dirigido por leis diferentes daquelas da criança, se me
visse dirigindo o mesmo pequeno veículo no pátio de sua casa!

O que é bom para um pode ser errado para outro.

Os animais, ao contrário de nós, não podem controlar suas emoções e suas


atividades mentais primitivas. Eles reagem instantânea e mesmo
automaticamente. Em circunstâncias idênticas, eles se comportam de acordo
com seus hábitos e reações inerentes à sua espécie. Eles ainda precisam
desenvolver a habilidade de perceber muitas vibrações astrais e mentais; se não
forem capazes de fazê-lo, simplesmente perecem, incapazes de sobreviver.

Os problemas e o destino do homem são diferentes: é isso o que é preciso saber


e é nisso que precisamos meditar. A compreensão, já mencionada, da
necessidade de discernir entre os poderes que atuam no universo traz a paz.
Sinto essa paz agora.
Um velho provérbio me vem à mente: “Tudo é maravilhoso no melhor dos
mundos”.

Esta série termina aqui, e considero que o estudante deve ter obtido uma sólida
base para lidar com sua mente. Ele já sabe o que é a mente; as leis pelas quais
ela funciona; como usar determinadas propriedades da mente humana; como
dominá-la; como torná-la útil em seu próprio campo e, finalmente, como se
separar da mente, entrando na melhor e mais elevada consciência — a Vida.

Iremos agora encarar outros aspectos da meditação, mais sublimes e efetivos


em sua aproximação com o Altíssimo.

Eles serão também mais difíceis, mas, afinal de contas, quem espera que a
entrada para o concerto de um virtuose seja barata?
QUARTA PARTE

MEDITAÇÃO
AVANÇADA
24
O Sermão da Montanha
— série I

Durante toda a minha vida, só me defrontei duas vezes com o Sermão da


Montanha. A primeira vez foi durante as aulas de religião na escola e a segunda
vez após ter voltado de minha viagem à Índia, onde havia me encontrado com o
Grande Rishi Ramana, mais conhecido por Maharshi. Acredito, e tenho boas
provas disso, que tudo acontece em nossas vidas na hora certa, embora poucas
pessoas sejam capazes de perceber isso. E foi exatamente o caso com o
Sermão da Montanha. A presença e a iniciação do Maharshi abriu para mim uma
nova visão e tornou muitos textos inspirados das Escrituras compreensíveis do
ponto de vista espiritual. Isso aconteceu não só com as Escrituras indianas, mas
do mesmo modo com as de Cristo. O Grande Rishi também era um sincero
admirador de Cristo, e quem poderia compreender o Grande Mestre senão outro
mestre, enviado a nós em nossa própria época? Falei a respeito disso em meu
livro Teurgia, fazendo citações inteiras dos ensinamentos do sábio Ramana a
respeito de Cristo. Consequentemente, não as repetirei aqui. De qualquer modo,
os Evangelhos aparecerão para mim com uma luz diferente, muito mais brilhante
do que jamais o fora.

Como resultado, o Sermão da Montanha vem a seguir. Seu valor para a


meditação é insuperável. As PALAVRAS VIVAS nutrem a Verdade Viva no
coração daqueles que são capazes de compreendê-las, e um dos principais
meios para isso é certamente a verdadeira meditação.

Vocês não chegaram a este capítulo como iniciantes, pois as três primeiras
partes deste trabalho já fazem parte de sua bagagem. Portanto, estão em melhor
situação para um aproveitamento pleno desse inspirado texto do que aqueles
que não tiveram a oportunidade de lidar cientificamente com sua ferramenta de
conhecimento, a mente humana. Contudo, isso não será suficiente para um
mergulho espiritual na Verdade transmitida por Cristo. É necessária uma atitude
apropriada, uma atitude espiritual!

Quanto mais avançadas nossas meditações durante este curso, mais espirituais
elas se tornarão. Provavelmente você está sentindo isso mesmo agora. Portanto,
como adquirir essa atitude espiritual para a leitura dos textos iniciatórios no
mesmo espírito em que eles foram originalmente transmitidos a nós?

Você sabe que não existe nenhum meio de se expressar a VERDADE


ESPIRITUAL em palavras. Tudo o que podemos ler e ouvir são ainda induções
a ELA. A primeira condição por parte do estudante deve ser aceitar as palavras
do Grande Mestre com humildade sincera. Nelas só existe a Luz que pode
dissipar a fumaça e a poeira da mente humana comum. E é com essa atitude
que tentarei apresentar este capítulo para vocês.

Portanto, antes de entrarmos no Sermão propriamente dito, darei dois textos


iniciatórios e introdutórios, sobre os quais você deve trabalhar com toda a sua
atenção e concentração.

A — TEMA: O céu e a terra passarão, mas minhas palavras não passarão.

Desenvolvimento: Nenhuma outra boca jamais foi capaz de pronunciar uma


afirmação tão profunda e nenhum outro dito humano contém tanto poder e
verdade para iluminar a sensibilidade do estudante.

Agora você pode ver qual a atitude necessária para lidar com este texto:
humildade e entusiasmo pela verdade expressa em nossa linguagem mortal, a
única compreensível para nós. Ouvindo as palavras do Grande Mestre da
humanidade, estamos assentando em nós mesmos as bases para um templo
espiritual em nossa consciência mais profunda, um santuário que não é material
e, portanto, é indestrutível no tempo e no espaço.

Se você ouvir a menção de “outros rebanhos, que não são deste mundo” e que
Cristo também encaminhou para Ele, poderá ter um vislumbre de intuição sobre
a imensa profundidade do significado dessas palavras. Não há necessidade de
ser excepcionalmente inteligente para compreender que nossa família humana
nesta pequena Terra não é, e não pode ser, a única, ou mesmo a mais evoluída.
O universo infinito não existe meramente para agradar aos nossos olhos,
imaginação e fantasia. Ele é tão vivo como o nosso próprio planeta; portanto, o
mais simples cálculo nos mostrará que deve haver milhões de planetas com
condições ambientais para a existência de seres inteligentes, e muitos deles
devem ser mais evoluídos do que nós.

Esta é a luz sob a qual devemos compreender o tema A. A conclusão? Você


deve acreditar nessas sábias palavras; você é capaz de compreendê-las
devidamente? A crença depende inteiramente de você, de seu grau de
desenvolvimento espiritual. Só esse desenvolvimento pode lhe dar a melhor
resposta. Preste atenção ao que vem do silêncio do seu Templo Interior, quando
ouve as palavras do Mestre e as conhece, não por mim, ou pelos outros, mas
por si mesmo. Não interferirei no que não deve sofrer interferência.

B — TEMA: Vós sois a Luz do mundo.


Desenvolvimento: Quando a absoluta confiança nas palavras do Mestre for
estabelecida em você, outra recomendação decisiva estará pronta para ser
assimilada. Isto é, o tema B. Quando ele diz que a Luz do mundo está em nós,
refere-se ao elemento imortal no homem, sobre o qual já sabemos o suficiente
pelos capítulos anteriores deste livro. É claro que não é o homem inteiro, como
nós o vemos, que está ligado a essa Luz. O que é apenas temporário e mortal
não participa da Eternidade. Mas sabemos que, na verdade, somos justamente
esse elemento perene, o Espírito de Cristo, o Eu verdadeiro do Maharshi, o
Reintegrado Adam Kadmon dos hermetistas, e assim por diante. Quando o
Grande Mestre falou sobre a luz em nós, Ele se referia ao Imortal. Mas quantos
estão conscientes disso? Todos somos chamados, mas poucos são os
escolhidos. Estes são as almas “realizadas”, nas quais a Luz atravessou as
camadas materiais, os véus que envolvem a consciência do homem comum, e
começou a brilhar, sem qualquer impedimento.

E essas grandes almas são a verdadeira Luz do mundo. Mas, para nós, há um
fato mais profundo: essa Luz continua EM TODOS NÓS ATÉ AGORA, só que a
maior parte das pessoas não A conhece, nem A experimentou de modo algum.
Contudo, permanece o fato de que Ela está em nós, e depende de nós deixá-LA
brilhar através dos revestimentos da matéria, como o sol brilha quando as
nuvens se dispersam. Não se trata de uma esperança, mas de uma CERTEZA,
como Cristo afirma categoricamente, e nessa certeza reside todo o segredo da
Realização final. Não nos deixemos iludir; para a maioria dos seres humanos
não é uma questão de hoje ou amanhã. Isso não pode ser medido em nosso
conceito limitado de Tempo e, aqui, todas as suposições são antes fatores de
adiamento do que de progresso, porque são criações da nossa mente, que não
pode nunca participar da Luz, e nem é seu desejo ajudar no seu descobrimento.
Pelo contrário, a mente faz e fará tudo a fim de evitar que o homem chegue ao
status espiritual, livre dessa mente, colocando, assim, um fim em seu domínio.

Mas para uma pessoa com orientação espiritual, o tempo que a separa da
Realização não é um fator importante. Até nos graus mais avançados de
meditação o homem aprende a viver além do tempo e do espaço, embora retorne
inevitavelmente à sua consciência física depois desse alto vôo.

Podemos ver como essa certeza da Realização pode ser forte pelos numerosos
exemplos de santos, mártires e almas orientais evoluídas. Todos eles
menosprezaram a vida terrena quando se confrontaram com o abandono do
corpo físico a fim de alcançar o mais elevado estado de existência. Alguns deles
foram alegremente ao encontro da morte, frequentemente terrível, enquanto
outros demonstraram uma fé inabalável no Espírito, ao qual se referiam como a
única Realidade verdadeira. Por que essas pessoas são uma minoria? A maioria
está sempre certa?
Olhe ao seu redor de modo imparcial, com a mente calma e o coração puro, e
pergunte a si mesmo se é o mundo que está certo, ou se foi o Mestre que nos
ensinou a “estar no mundo, mas não ser dele”.

Analise os objetivos pelos quais a humanidade está batalhando desde que você
nasceu. Observe a história humana no processo de criação atual durante estes
anos do século XX. Se você for capaz de observar a partir da posição ideal do
tema B, sua resposta poderá ser claramente antecipada. Se olhar, como milhões
de outros ao seu redor, do ponto de vista materialista, desprovido de qualquer
Sabedoria, será incapaz de perceber qualquer solução. Semelhante estado é
chamado de “VIVER NA IGNORÂNCIA”.

Como já mencionei, os dois temas A e B são uma preparação para a meditação


baseada no Sermão da Montanha. A partir da minha experiência, acredito
firmemente que sempre devemos tentar estar preparados para um novo passo
à frente, e não começar a caminhar como para um campo desconhecido e
impenetrável. Pois esta é a causa principal de muitos fracassos, mesmo que a
busca tenha sido feita com a mais elevada das intenções. Assim como nenhum
viajante são se aventuraria sozinho por uma floresta desconhecida, sem
estradas, nenhum “viajante” espiritual deve empreendê-la sem uma exploração
prévia, sem o “mapeamento” do caminho. Agora, sabendo que as palavras do
Grande Mestre são a Própria Verdade, e que elas podem ser realizadas em nós,
pois temos a Luz necessária, podemos começar as meditações sobre o Sermão
da Montanha.

1. TEMA: Bem-aventurados os pobres de espírito, pois deles é o reino dos céus.

Desenvolvimento: O Sermão da Montanha se abre como uma afirmação


singular, que inicia cada um dos Ensinamentos. É a afirmação concernente ao
benefício e à sublimidade de uma certa qualidade interior do homem (“bem-
aventurados...”), seguida pela descrição do tipo de “recompensa” que espera
pelas almas afortunadas que possuem essa qualidade espiritual.

Uma bênção dessa qualidade é uma indicação da necessidade de possuí-la para


que o homem seja salvo do espectro da morte que ameaça toda criatura, que
até agora não pôde transferir sua existência, sem consciência, para a região
imortal do Espírito. Tive de reter isso em minha mente durante toda a meditação
sobre cada versículo do Sermão.

Para mim, ele é um farol, mostrando-me o que preciso desenvolver em mim


mesmo. Mas, primeiro, devo conhecer o significado exato da virtude mencionada
pelo Grande Mestre.

Ser pobre de espírito não pode significar a ausência da verdadeira consciência


Espiritual, pois então seria uma decepção e um absurdo totais. O significado é
outro: sob a palavra “espírito” reside a sua sombra, tão frequentemente
confundida com o próprio Espírito.

Em algumas línguas, existe até uma perigosa identificação da palavra Espírito


com o significado de mente! Além das línguas antigas, o grego e o latim, isso
acontece ainda hoje em línguas vivas. Por exemplo, em francês, l’esprit pode
significar mente, humor e intenção em alguns casos, enquanto, no alemão, Der
Geist significa exatamente a mesma coisa. Em inglês, o verdadeiro significado
do que aceitamos como Espírito é, em algumas outras línguas, apenas uma das
expressões possíveis e utilizáveis.

Agora posso ver a verdade desse versículo do Sermão. A pessoa não deve ter
“muito espírito” em sua mente e humor, pois é preciso dominá-los e colocá-los
em seu devido lugar, como servos controlados e não como senhores! A mente
não pode levar-nos à imortalidade nem à “salvação”, que significa, como já
sabemos, chegar à consciência contínua, eterna, à VIDA imortal. Nesta época,
a humanidade coloca quase toda a ênfase na mente e seus derivados. O Grande
Mestre conhecia esse engano em Seu tempo, e, como um ser com controle pleno
de todos os clichês, tanto os que pertencem ao passado e ao presente como os
que pertencem ao futuro, Ele via também o tempo no qual nós vivemos agora, e
Suas palavras, como sempre, retiveram sua atualidade e frescor para os homens
de todos os tempos, nos quais seres inteligentes passariam suas encarnações
físicas, as classes inferiores da grande ESCOLA DA VIDA.

Os “pobres de espírito” são os homens que compreendem o papel temporário da


mente e das emoções, com sua presunção e inabilidade para levá-los a qualquer
Realização final. Eles controlam seus pensamentos e emoções e NÃO
ATRIBUEM QUALQUER VALOR PERMANENTE A NENHUM DOS DOIS
TIPOS DE VIBRAÇÃO. Eles podem usá-los, se necessário, mas não os
confundem com seu cerne imortal, não importa o quanto eles possam estar
profunda e firmemente revestidos, no momento, dos dois véus acima
mencionados. Os “pobres de espírito” carecem de auto-admiração, de auto-
sublimação e da trágica aceitação dessa caricatura do verdadeiro Eu que é o
ego.

Os “pobres de espírito” não têm arrogância nem desprezo por seus


companheiros. Não se empenham em acumular riquezas ou poderes mundanos,
pois compreendem sua inutilidade. São humildes pois são capazes de ver a
grandeza do ÚNICO; por meio dessa humildade conquistam a Sabedoria além
de todo conhecimento comum, e essa Sabedoria é uma das bênçãos mais
brilhantes que pode ser conferida a um homem.

Os “pobres de espírito” possuem incomparavelmente mais LIBERDADE real do


que os que estão apegados às luzes efêmeras e ilusórias da vida instável,
perecível, que os amarram com as grossas cordas, compostas de suas paixões,
desejos, sentimentos egoístas e coisas similares. Nenhuma dessas ilusões pode
persistir, uma vez que inevitavelmente abandonam os homens a quem
prenderam em submissão, deixando atrás delas as algemas da frustração e do
desespero.

Durante esta meditação, estou utilizando as descobertas que estou obtendo dela
para mim mesmo. Que isso irradie mais Luz em meus caminhos!

Como podemos ver, a sentença curta do primeiro verso do Sermão desenvolve-


se numa meditação longa, se usada como foi planejada pelo Grande Mestre.
Você verá o mesmo processo nas que se seguem.

2. TEMA: Bem-aventurados os que choram, pois eles serão confortados.

Desenvolvimento: O que é o choro de que o Grande Mestre fala aqui? Outra


interpretação da palavra traduzida “choro” é “estar triste”. Por quê? Tristeza e
choro são estados nos quais o homem sofre. Sei que o sofrimento é a principal
forma de reparação do mal, uma vez feito, não importa se podemos nos lembrar
dele ou não. Alguns provavelmente diriam que se trata de uma liquidação de
dívidas cármicas. De um modo ou de outro, o sofrimento nos livra de parte de
nossos erros passados. Através da história humana, os santos e os homens
espiritualmente evoluídos nunca tentaram evitar o sofrimento do modo como as
pessoas ignorantes tentam fazê-lo. Eles devem saber o verdadeiro significado
do sofrimento. Estou tentando conhecê-lo agora do mesmo modo que eles.

Uma dívida é sempre um peso, e, se estou muito endividado, deve haver razão
para a minha tristeza, quando não posso descobrir qualquer explicação para ela.
Quando o peso é descartado, o homem fica livre dele. Quando os débitos
cármicos são pagos, somos confortados, as condições de nossas vidas tornam-
se mais propícias e menos difíceis. É isso o que aqueles que choram e estão
tristes devem saber: há profundas razões para o sofrimento. Na grande
prestação de contas da vida humana, nenhum erro é possível: o que já foi pago
não será cobrado novamente. Posso ver agora a sabedoria de aceitar e o erro
de afastar instintivamente todo sofrimento. Muitos dos proeminentes filhos dos
homens, como os mártires e outros que sofreram pela Verdade, chegaram a
aceitar deliberadamente o sofrimento quando perseguidos por pessoas
ignorantes.

Eles estavam errados? Não, no cômputo final, eles estavam certos, e vejo na
atitude deles um exemplo correto para mim mesmo. Que o farol brilhante da
ESPERANÇA, aceso pelas palavras conclusivas desse versículo do Sermão do
Grande Mestre, ilumine o meu caminho.

Examine este “desenvolvimento” e, se puder, ligue-se a ele e veja como virá mais
luz de seus próprios esforços. Esse método será muito eficaz. Não se prenda
demais apenas às experiências pessoais do autor, pois você tem a mesma Luz
em você e, se for sincero e se esforçar pela Verdade, o Mestre Espiritual verá
seus esforços, e Seu auxílio sagrado chegará a você.

Muitas pessoas têm ficado surpresas com o fato de como é exato e certo esse
auxílio que nos é dado quando nossos corações são simples e estão repletos de
sinceridade.

3. TEMA: Bem-aventurados os mansos, pois eles herdarão a terra.

Desenvolvimento: Numa meditação anterior, tivemos uma boa explicação do


significado de “mansidão” como resultado da Sabedoria crescente num homem.
A compreensão do verdadeiro relacionamento da centelha de consciência
espiritual contida em cada ser humano com o TODO, ou o infinito oceano eterno
da CONSCIÊNCIA ABSOLUTA, que os homens chamam de Deus, cria uma
sábia humildade no homem evoluído. P. Sédir, citando seu mestre espiritual, o
misterioso Monsieur Andréas, disse que “somos muito íntimos da morte muitas
vezes todos os dias, mas não estamos conscientes disso, nem de nada que
realmente nos aconteça até nossa hora chegar”. Esta é uma afirmação bastante
elucidativa; descreve o quanto somos pequenos como mortais, homens
encarnados, e o quanto são absurdos o orgulho e a ostentação, tão
frequentemente encontrados entre nossos companheiros.

Outro famoso mestre espiritual do final do século XIX, Philippe Nizier de Lyon
(França), dirigindo-se àqueles que lhe pediram uma explicação de seus poderes
sobre-humanos, disse: “Sou alguém muito insignificante, e o Todo-Poderoso
sempre protege pessoas assim, mas não os que se sentem importantes e
sábios”. Assim falou o homem que conseguia curar qualquer doença, conhecia
o passado e o futuro de cada homem que se aproximava dele e que professava
que todas as suas obras eram devidas exclusivamente à Vontade de Deus.

A segunda parte deste versículo do Sermão parece mais complicada. A


expressão herdarão a terra precisa de uma visão profunda para não ser tomada
apenas no sentido físico. O manso possui a Sabedoria interior, que apraz ao
Criador. Possuir os planetas pode significar o domínio sobre eles e sua
população, em cumprimento aos desígnios do Senhor.

Quer dizer que o Todo-Poderoso utiliza os serviços de Seus filhos iluminados, e


podemos ver isso até mesmo na história da raça humana, limitada como é pelo
tempo e pelo espaço.

Assim como o Pregador da montanha usava constantemente o termo “Pai” como


adequado para a nossa atitude em relação ao Senhor, o termo subsequente
“filhos” é plenamente justificado para nós.

Sabemos que Cristo enviou seus discípulos para visitar todas as terras e pregar
as Boas Novas (a tradução inglesa da antiga palavra grega original como hoje é
usada é “Evangelho”). E os Filhos serviram bem ao Pai.
4. TEMA: Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, pois eles serão
saciados.

Desenvolvimento: Outra qualidade que inicia o homem no Reino de Deus é seu


empenho pela retidão ou justiça. No nosso mais profundo recesso existe um
desejo e esperança de justiça, em todas as suas múltiplas manifestações. Nem
todo mundo tem, a todo momento, pronto acesso ao tesouro oculto. Isso
depende da intensidade e sinceridade da busca interior do homem. Lembro-me
das profundas palavras do Grande Mestre quando Ele disse: “Peça, e lhe será
dado; busque, e encontrará; bata, e a porta se lhe abrirá”.

Nessas palavras há a feliz certeza na Busca da eterna Justiça — da retidão. A


segunda parte deste versículo do Sermão confirma essa certeza com a
afirmação incondicional de que a sede sagrada será saciada antes de
retornarmos à Casa do Pai. Este é o ponto central da presente meditação.

Para cumprir meu destino, como ficou demonstrado acima, devo praticar a justiça
em minha vida diária, de modo a não haver qualquer contradição entre palavras
e obras, pois tal discordância só retardará o cumprimento da promessa do
Mestre. E a responsabilidade disso será minha.

Ao tratar de seus problemas sociais e morais, a humanidade produziu um


substituto grosseiro para a verdadeira justiça espiritual, da qual nos fala o
presente versículo. Há diferentes códigos e leis, criados para preencher o vazio
entre a má vontade de alguns indivíduos e o “bem comum” da sociedade
humana. Vejo a razão pela qual essa justiça “exterior” teve de ser aplicada: por
causa da ausência do desejo “interior” de retidão em almas imaturas.

Desde tempos imemoriais, a sede de justiça tem estado viva nos homens
evoluídos. E, na Antiguidade, Ovídio deu expressão a isso em sua descrição da
suposta “Idade de Ouro”, quando não havia tribunais, polícia, etc... simplesmente
porque as pessoas dessa possível época abençoada observavam
espontaneamente as regras morais de boa vontade, sem qualquer coerção pela
lei ou o medo de punição. Deve haver um meio de retornar a esse estado, que
só pode ser através do coração de todos os homens, quando chegar a hora
certa.

Depende de mim mesmo quando isso me acontecerá.

5. TEMA: Bem-aventurados os misericordiosos, pois eles alcançarão a


misericórdia.

Desenvolvimento: O que é misericórdia? Quando, em minha vida normal,


cumpro minhas obrigações, estou fazendo apenas o meu dever, que se supõe
deve ser cumprido de acordo com determinadas leis e condições. Há pouco
mérito espiritual nisso. Quando as pessoas me pagam o que estão me devendo,
acontece o mesmo. Nos dois exemplos, não há nenhum elemento espiritual de
sacrifício.

A misericórdia é algo muito mais elevado. Quando o Samaritano se deteve,


embora pudesse facilmente ter deixado o homem ferido para trás, como outros
o fizeram, ele demonstrou com isso uma qualidade mais elevada de alma. Pois
fez muito mais do que era “obrigado” a fazer. Esforçou-se, sacrificou tempo e
dinheiro, providenciando cura e cuidados para o viajante desafortunado. Ele não
podia esperar qualquer recompensa por isso, exceto em sua própria consciência.
Foi um ato típico de pura misericórdia, e é sobre pessoas como ele que o Grande
Mestre nos fala, invocando a bênção para aqueles dentre nós que têm o espírito
de misericórdia e compaixão, realizado não apenas em palavras, mas em
verdadeiras obras.

Não tenho nenhuma dúvida de que há em todo ser um elemento oculto de


misericordiosa compaixão, mas frequentemente ele está encoberto pelos véus
do egoísmo, da preguiça e até mesmo da negligência, de tal modo que não pode
se manifestar em ações. Portanto, as pessoas misericordiosas são aquelas em
quem o fogo oculto da compaixão teve permissão para se desenvolver na chama
flamejante do amor ativo, que é o outro nome da misericórdia.

Quando essa chama aparece em nossos corações, a beleza espiritual começa


a brilhar através dela, iluminando toda a consciência durante esse tempo.
Quanto mais momentos e horas assim um homem tem em sua vida, mais
misericordioso ele se torna; então, chegamos à segunda parte da verdade
contida nesse versículo: ele pode estar certo de que alcançará a misericórdia
para si mesmo, em sua necessidade, além da justiça humana trivial.

Alcançar misericórdia ou perdão significa algo além do que um homem merece


na verdade: trata-se de um excedente de graça, que não vem por qualquer
código ou cálculo, mas diretamente do reino do Espírito, que é perfeito em sua
própria essência.

A misericórdia é pacífica, assim como o Espírito. Ela deve ser silenciosa, pois as
manifestações espirituais não requerem muita ou nenhuma fala. Seus irmãos
são a compreensão e o amor.

Vamos meditar agora sobre o silêncio interior.

Como com todas as coisas deste mundo, que têm o seu lado luminoso mas
também o seu lado sombrio, a virtude da misericórdia pode ser corrompida e
deformada. Quando isso pode acontecer? Quando alguma imperfeição humana,
como um veneno sutil, tem permissão para se infiltrar dentro da virtude mais
pura. E nenhuma virtude está livre disso.

A misericórdia imaculada não procura tirar vantagens de suas ações, nem fama,
nem reconhecimento do mundo. Mas, como é rara uma manifestação pura de
misericórdia! E como é frequente o desejo de ser conhecido como um benfeitor,
de ser reverenciado, de despojar a misericórdia de sua mais elevada radiação!
Qual então será a recompensa para uma virtude deformada? Podemos
encontrá-la nas próprias palavras do Mestre quando, ao falar desses homens
que gostam de ver o reconhecimento popular de suas obras, Ele disse: “...eles
já receberam a sua recompensa”, isto é, a admiração e o louvor humanos.

Mas Cristo não estava falando dessa recompensa quando prometeu abundância
de misericórdia para aqueles que a praticam em relação aos outros: “...quando
der esmola, não deixe que sua mão esquerda saiba o que faz a direita”.

Quer dizer então que a misericórdia ativa não dá nenhuma recompensa para o
homem capaz de preservar a pureza de sua virtude?

Quem já experimentou isso sabe: paz na mente, certeza de realização e


momentos de influxo da Graça, que esse homem não trocaria por todos os
tesouros do mundo — estes são alguns dos muitos deleites espirituais
conhecidos do misericordioso.

Mas a misericórdia não é cega nem insensata. Sem pensar, ela sabe quando
agir e em benefício de quem agir. O discernimento Espiritual deve acompanhar
sempre as ações, de modo que o homem não se torne como o tolo que joga
pérolas aos porcos.

Há pouco mais que possa ser acrescentado, pois a INTUIÇÃO é que dirige
nossos passos para a misericórdia. Como tal, ela está além da mente, o que
significa estar além das palavras.

Após estudar cuidadosamente o DESENVOLVIMENTO, de acordo com sua


própria compreensão do problema, acrescente ou subtraia aquilo que for
necessário, se sentir que isso lhe trará mais luz; depois retorne à contemplação
do tema.

6. TEMA: Bem-aventurados os puros de coração, pois eles verão a Deus.

Desenvolvimento: Sei que a pureza de coração abrange tudo: pureza de


sentimentos, pensamentos e atos. O que é o CORAÇÃO? Certamente não é o
órgão de carne situado do lado esquerdo do peito. Encontrei uma definição muito
bonita, exata e inspirada dada pelo Grande Rishi Ramana, que frequentemente
falava sobre isso. O CORAÇÃO é o cerne mais íntimo, o cerne supremo da
consciência humana, sem o qual o homem não é nada, um vazio. Ele
transcende, é claro, toda manifestação da mente e dos sentimentos (o mental e
o astral dos ocultistas), e o Sábio costuma chamá-lo de Eu verdadeiro do
homem.

Em comparação, Cristo definiu o coração como a fonte de tudo o que emerge


das atividades do homem, seus pensamentos, sentimentos e atos. Desse modo,
podemos ver a identidade de ambos os conceitos, concorrendo em
superioridade em relação a tudo o mais em nós.

Agora podemos nos aproximar das palavras do versículo: os puros de coração,


como sendo a pureza da FONTE de todas as atividades humanas nos três
planos (ou mundos) nos quais o homem vive. Agora vejo inequivocamente que
o homem puro de coração é absolutamente puro, pois é incapaz de suscitar
qualquer imundície exterior e de reter qualquer mácula em si. Vários caminhos
verdadeiros para o desenvolvimento interior dão os métodos para alcançar esse
sublime estado de pureza de coração.

As escolas ocultistas orientais (os diferentes ramos da verdadeira e tradicional


ioga), assim como as Fontes Ocidentais de Iniciação (as práticas rosa-cruzes,
que estão inativas há cerca de duzentos anos, o martinismo, o neomartinismo,
certas organizações ocultistas realmente secretas, que por isso não podem ser
mencionadas, e outras) adotam uma abordagem parecida, a do desenvolvimento
gradual, de baixo para cima, semelhante aos métodos normais de ensino
utilizados no mundo material. Conhecimento e poderes são então garantidos
pelos professores a seus alunos, de acordo com o progresso e o
desenvolvimento das habilidades de cada um. Em resumo, através da viagem
cármica acelerada, tendo o distante e elevado ápice da realização diante de sua
visão espiritual, o discípulo sobe cada vez mais alto, ajudado por seus
instrutores, se assim o quiser. Em alguns desses caminhos, num determinado
estágio de desenvolvimento, o discípulo pode compreender QUEM está no
ápice. A partir desse momento, ele pode participar da Graça, que acelerará a
sua subida e encurtará o tempo necessário para isso.

Mas existe outro tipo de Realização, que descarta todas as práticas


progressistas das iogas oriental e ocidental e utiliza um método diferente. Nessa
senda, o homem tem apenas UMA META e UM CAMINHO: dirige-se diretamente
para o seu criador, concentrando todos os esforços em direção ao topo do Pico,
ignorando todas as técnicas e sistemas elaborados sobre os quais já falamos.
Em vez de uma aquisição gradual das virtudes e poderes necessários, o
teurgista (pois esse é o nome para os que seguem esse caminho íngreme, mas
sublime) acredita que, com a Obtenção da Graça do Senhor, tudo o mais será
alcançado simultaneamente. O Poder do Supremo, que responde quando
abordado, une-se então aos esforços do homem piedoso, atraindo-o como um
ímã para o ponto do mergulho final (da gota que desliza para o Oceano
Brilhante). A pureza de coração é alcançada também ao longo desse Caminho,
pois a aproximação do Supremo leva à purificação do âmago do homem.

Qual é o caminho melhor e mais rápido? Tudo depende do homem, isto é, do


nível em que ele começou sua jornada para o Pico. No caminho tradicional (ioga
e ocultismo) há muitas armadilhas, e o discípulo, se não for auxiliado por um
verdadeiro líder espiritual, pode cair, e essa queda é naturalmente muito
dolorosa.

E não é fácil (algumas vezes, é simplesmente impossível) encontrar um líder


experiente e ter sua assistência, pois nem todos eles aceitam discípulos.

No caminho da Ascensão Direta, que chamamos de Teurgia (veja o meu livro


com o mesmo título), o esforço pode ser enorme, e normalmente o é, mas a
possibilidade de fracasso é infinitamente menos perigosa, pois então o Mestre é
o Próprio Senhor. Preciso dizer mais alguma coisa? Vamos meditar sobre o que
acabamos de ler.

De um modo ou de outro, a pureza de coração resolve tudo. O Grande Mestre


nos diz que então somos capazes de ver o Próprio Senhor. É difícil compreender
isso. Contudo, essas palavras não devem ser tomadas literalmente, pela simples
razão de que então o processo de VER implicaria uma consequência impossível:
quando vemos alguma coisa, estamos separados dessa coisa. E como podemos
estar separados da onipresença e da onipotência do Senhor?

Com seu modo usual de descrever o Supremo como o Eu verdadeiro, que


identificou a Deus, o Maharshi disse: “QUEM É VOCÊ SEPARADO DO EU?”

Na verdade, nenhum homem são e racional contestaria que não há e não pode
haver qualquer criação separada do Criador.

Qual é, então, nas palavras de Cristo, o significado de “VER A DEUS”? É claro


que é a CONSCIÊNCIA DE SUA ONIPRESENÇA!

Pode haver alguma coisa maior ou mais elevada? E isso não contradiz o
inevitável atributo da onipresença, mesmo que as pessoas digam, a despeito
disso, que não podem “ver” (estar conscientes) a Deus. Isso acontece pela
própria imperfeição delas, por sua impureza, assim como não se pode ver nada
através de um vidro escuro ou sujo.

Vejo agora que as palavras de Cristo são maravilhosamente simples e claras: só


o CORAÇÃO PURO capacita um homem a estar consciente de Seu Senhor.

No Samadhi (a mais alta Superconsciência), essa elevada PERCEPCÃO é


também obtida, mas só nos momentos em que a consciência do estudante está
perfeitamente limpa de toda impureza. Este é o “Céu temporário” de que falam
algumas pessoas.

Finalmente, eu gostaria de mencionar uma experiência pessoal que tive há


muitos anos, quando estava visitando o Escritório Central da Ordem de São
Vicente de Paulo, na Rue de Sèvres. Havia um grande quadro pendurado no
amplo refeitório do mosteiro denominado A presença de Deus. Nele, São Vicente
é visto ajoelhado, com as mãos cruzadas, olhando para cima, e uma luz vinda
de cima se reflete em sua cabeça, espalhando-se por toda a tela. Uma tentativa
de imaginar o inimaginável? Talvez, mas mesmo numa forma tão “ingênua”, a
idéia é “captada” por aqueles que são capazes de olhar além das formas, direto
para o próprio âmago das coisas. O artista foi capaz de visualizar algo que surgiu
na alma do Santo, quando ele se viu diante da SUPREMA PRESENÇA, isto é,
da Luz do Ser Eterno refletida em sua própria consciência. Na tentativa de pintar,
ou de expressar de algum modo esses momentos sublimes da vida humana, o
artista participa deles, até certo ponto, ao tentar tornar isso visível para os outros,
a inspiração o auxilia em sua tarefa. Ao olhar para um trabalho assim, alguma
coisa dessa idéia pode penetrar na consciência do observador.

7. TEMA: Bem-aventurados os pacificadores, pois eles serão chamados filhos


de Deus.

Desenvolvimento: Lemos muita coisa a respeito da idéia de PAZ nos capítulos


anteriores. A Paz é, sem dúvida, um dos atributos da Realização Espiritual. Sem
paz não pode haver consciência espiritual no homem. A mente e os sentimentos
conturbados mostram apenas desequilíbrio, injustiça e estado de sofrimento no
homem. Quantas vezes ouvimos homens se queixando de “intranquilidade”,
nervosismo e falta de paz! Ninguém inveja esses estados de alma e todo mundo
gostaria de se livrar deles se isso pudesse ser feito o mais rápido possível. Vejo
agora o importante papel daqueles que são capazes de contribuir para a paz de
seus companheiros. Eles nos curam das mais insidiosas e turbulentas aflições.
A paz nos aproxima do Senhor, que só pode ser abordado com a perfeita
tranquilidade de todas as nossas vibrações inferiores, que chamamos de
sentimentos e pensamentos. Recordo-me do importante versículo das
Escrituras: “ESTEJA EM PAZ E SABERÁ QUE EU SOU O SENHOR”.

Incidentalmente, este será um tema para meditação especial nos capítulos


seguintes. Nele o Senhor nos dá Sua instrução de como abordá-Lo com
segurança: permanecendo EM PAZ.

Agora posso compreender a grandeza do papel daqueles que são capazes de


nos ajudar a conseguir a PAZ interior. Na verdade, eles são poucos, mas
precisamos, acaso, de muitos sóis para transformar nossas noites em dias
brilhantes? A luz ilumina a escuridão, mas a escuridão não pode fazer sombra a
essa luz.

Portanto, não estão os pacificadores executando uma tarefa para o Senhor? Não
é de admirar que o Grande Mestre os mencione em Seu Sermão: eles são os
verdadeiros FILHOS DE DEUS.

De certo modo, todos nós somos seus filhos; entretanto, isso nem sempre se
manifesta em nós. Mas Cristo falou sobre aqueles nos quais a Luz é visível e
sensível, os que irradiam a Paz que Ele trouxe para o nosso planeta. Podemos
ver essa Paz? Onde ela está? Em nenhum lugar, exceto no mais sagrado
recesso da consciência, no silêncio espiritual do coração. E assim é propagada
de coração para coração, e o Maharshi não pôde deixar de expressar isso
quando disse: “Que utilidade têm as palavras, quando o coração fala ao
coração?”

Este é o modo pelo qual o filho do homem torna-se filho de Deus. Meditarei sobre
as eternas palavras que não passarão, mesmo que o céu e a terra passem.

Neste ponto eu gostaria de lhe contar algo a respeito do modo como podemos
“desenvolver” os temas de nossas meditações, isto é, de como consegui produzir
esses exemplos, neste trabalho, que têm a intenção de ajudá-lo em seu estudo
e na realização da arte de meditar. Presumo que vocês e outros já o saibam,
mesmo antes de ler as linhas que vêm a seguir.

Já falei o suficiente a respeito dos ensinamentos sobre CLICHÊS, a fim de que


você perceba seu funcionamento no mundo que nos cerca. Os
“desenvolvimentos” deste livro foram escritos do mesmo modo.

Segui estritamente as regras e métodos que lhe recomendei até agora. Cabe a
você julgar os resultados deste trabalho.

Você sabe a respeito das condições que tornam possível a atração dos clichês
desejáveis, vindos da imensidade do tempo e do espaço, e dos QUE estão além
de qualquer tempo e espaço. Sua atitude é a força motriz primária, e o treino de
seus instrumentos é que lhe permite o uso dessa força.

Pela educação de sua força de vontade, pelo domínio das funções desordenadas
da mente e pela purificação de suas emoções são criadas as condições que
abrem a “porta secreta” em sua consciência, e por essa abertura você pode
“olhar” para o campo onde os clichês habitam.

O tema de sua meditação é a chave para abrir essa “porta” interior, como você
certamente já percebeu. Mas só a abertura não nos pode garantir a visão: para
isso é necessário preencher as três condições grifadas no parágrafo anterior,
isto é, educação, domínio e purificação. Isso é tudo o que se requer para a
pessoa ser capaz de abrir e ver.

Na meditação, os TEMAS são como a encruzilhada, sobre a qual já conhecemos


bastante. Agora você deve fazer um sumário do que se requer para caminhar
por outras estradas, começando pela encruzilhada, a partir dos exemplos dados
aqui como meus “desenvolvimentos”.

Preenchidos esses requisitos, trace novos e melhores caminhos do que os


encontrados aqui. Ninguém está proibido ou impedido desse pioneirismo, se
realmente quiser empreendê-lo. E tal esforço fortalecerá certos clichês,
tornando-os mais disponíveis aos nossos companheiros. Nenhuma energia é
perdida e nenhum esforço permanece sem resultado, se houver realmente um
esforço e não apenas um pensamento imaginário ou uma trama emocional, sem
o substrato do poder e do conhecimento. Vamos passar agora ao próximo
versículo do Sermão.

8. TEMA: Bem-aventurados os que são perseguidos por amor à justiça, pois


deles é o reino dos céus.

Desenvolvimento: Todos sabem que atualmente, neste planeta, a justiça nem


sempre é reconhecida ou reverenciada. Há muitos casos em que acontece
justamente o oposto. Então aqueles que professam a justiça são perseguidos e
sofrem com a índole vingativa dos homens, que preferem a escuridão e a sombra
à luz e ao esplendor.

Vamos ser francos: mesmo que, no momento atual e com os atuais meios de
conhecimento, não sejamos capazes de resolver o enigma do universo,
podemos contudo discernir alguns importantes padrões que se mostram na
trama da criação. Para os que estão familiarizados com o tarô iniciatório, isto é,
a filosofia hermética, não há dúvida a respeito de um desses claros padrões na
Criação: a Lei da Luz e da Sombra. É possível, com nossos sentidos e nossas
habilidades de percepção mental, imaginar a idéia da Luz sem ter, subconsciente
ou explicitamente, uma idéia do oposto, do pano de fundo, que é a Sombra? Isso
é mesmo mais extraordinário e difícil de se conciliar com a compreensão de algo,
como a eterna coexistência e interdependência de ambos os conceitos
aparentemente opostos e mutuamente exclusivos, isto é, o da Luz e o da
Escuridão que está por trás dela. A luz penetra a escuridão, e a escuridão e a
sombra recuam diante da luz. Isto é certo e não pode ser negado. Mas, ao
mesmo tempo, quando a luz se vai ou desaparece, a escuridão volta, automática
e inevitavelmente, embora ela não possa encarar essa luz. E assim é na visível
e sensível Criação manifesta, relacionada com Tempo e Espaço. O que está
além não é acessível; portanto, nossa linguagem é incapaz de expressá-lo nos
termos adequados e exatos.

Contudo, o problema permanece conosco: de que lado temos de estar e de


permanecer? Todos os Mestres Espirituais nos advertiram de que o direito é o
lado luminoso e nos preveniram sobre o esquerdo, o reino da sombra.

No grande binômio Luz-Escuridão, os opostos são inimigos, e assim é com a


virtude e o vício. É por isso que Cristo nos ensinou a estar do lado direito e, ao
mesmo tempo, nos deixou saber que podemos esperar investidas violentas da
Escuridão e sofrer por elas. Mas também salientou a recompensa para os que
são perseverantes e não se rendem a essas investidas. Suas palavras nos
asseguram que a Luz finalmente vencerá a batalha e os combatentes do lado
direito entrarão no estado abençoado que ele chamou de “Reino do Céu”.

Pelo exemplo de tantas almas evoluídas, como é o caso dos promotores da Luz
neste planeta, como os Santos, os eminentes ocultistas Brancos e os filósofos
ocidentais e orientais, sabemos que todos eles tiveram de lutar muito antes de
chegar à vitória. Não existe vitória sem luta, e nenhuma fuga do campo de
batalha jamais foi capaz de assegurar a vitória.

O glorioso clichê apresentado a nós pelo Grande Mestre é claro e inequívoco:


“Todo aquele que for perseguido, no final será salvo”. Isso significa que ele
chegará à Paz Final da perfeição na qual não há mais mudanças, pois mudança
significa apenas necessidade de aperfeiçoamento. Entretanto, uma vez
alcançada a Meta, nada mais acontece, e o Reino nos envolve com o abraço
eterno da Paz.

Com referência ao “mundo prático”, posso ver que este mundo de modo algum
é sempre direito e que uma maioria não significa automaticamente verdade e
retidão. Sob certas circunstâncias, uma unidade pode combater e rejeitar o
mundo ao seu redor. Nisso somos sustentados pela segunda parte do atual tema
de meditação, que nos assegura da necessidade de resistência: “Mas eu venci
o mundo!”

Como em todas as nossas meditações, o tema 8 traz uma experiência


profundamente espiritual e nos assegura o predomínio do espiritual sobre os
fatos transitórios do mundo exterior.

Pode-se sentir que, mesmo em nossa próxima transformação, relacionada com


o abrigo de nosso revestimento físico, que podemos chamar de “morte”, a
verdade pode ser mais clara para nós, pois a principal causa da ilusão — o corpo
e a idéia de que “eu sou o corpo”, que está relacionada de tantos modos com
isso — é irrevogavelmente destruída e fica comprovado que tudo não passa de
poeira. E, acima disso tudo, brilha a Luz imutável da Morada, na qual existe o
descanso final e a bem-aventurança.

9. TEMA: Bem-aventurados sois quando vos insultarem, perseguirem e disserem


falsamente todo o mal contra vós por minha causa.

Desenvolvimento: Este versículo, na verdade, aprofunda a explanação do


precedente. Quantos idealistas devotados e inspirados foram ridicularizados,
não foram reconhecidos e foram acusados de crimes que nunca cometeram!
Isso acontece porque, embutido profundamente no ego humano, há ainda o
desejo sinistro de não se ter ao nosso redor homens que nos excedam em
qualidades morais e intelectuais, especialmente as de superioridade moral. Pois
às vezes é impossível combater e derrotar pessoas com altas qualificações
mentais, na medida em que seus conhecimentos e habilidades são necessários
em muitos ramos da vida humana. A educação nos fornece graus defensáveis e
incontestáveis. Mas não com a imponderabilidade da elevação moral. Quanto a
isso, todo mundo se considera um juiz competente e, pela crítica dos valores
éticos, é improvável que a pessoa se coloque em sérias dificuldades, como
ocorreria com a ciência oficial.
Quando alguém se dedica a um elevado ideal espiritual, como o de Cristo,
nenhuma lei escrita o defende de seus oponentes “agnósticos”. O Grande Mestre
sabia disso; por essa razão temos este nono versículo de seu Sermão.

O sofrimento causado por essas ofensas do mundo exterior será recompensado


pela felicidade muito mais elevada da BEM-AVENTURANÇA prometida pelo
Mestre. Para o ocultista, isso não é novidade, pois ele conhece a lei perene do
equilíbrio, que recompensa a todos de acordo com seus méritos, não importa
quanto tempo seja necessário até que a Lei pronuncie seu veredicto. Alguns a
chamam pelo termo oriental — a Lei do Carma.

Sei como é árduo, algumas vezes, receber acusações injustas e maliciosas dos
que nos cercam, e esses esforços do mundo exterior são maléficos, quando
tentam DERRUBAR TUDO O QUE É MORALMENTE SUPERIOR, porque a
pureza ofende a imundície e a santidade escandaliza a perversidade dos
homens. Poucas das grandes Almas escaparam do insulto quando ainda
estavam presentes neste planeta. Mas a posteridade mostrou como elas
estavam certas! O Maharshi, contra quem não se conhecem acusações, nos
disse que “apenas o ego do homem pode ser afetado pelos mexericos e
maledicências”. O Sábio permanece verdadeiro para sempre.

10. TEMA: Alegrai-vos e exultai, porque é grande a vossa recompensa nos céus,
pois assim perseguiam os profetas que viveram antes de vós.

Desenvolvimento: A certeza da recompensa final continua nesta parte do


Sermão. Ela é reforçada pelo exemplo vivo de outros homens espiritualmente
evoluídos, como os profetas, que foram ridicularizados e perseguidos porque a
Verdade que eles pregavam era incômoda para a maioria de seu próprio povo.
Esta é uma história bem conhecida e não precisa de muita explicação.

Mas isso tem um significado muito profundo para nós, quando encontramos tais
perseguições declaradas ou ocultas em nossa própria vida. Isso nos sustenta
em nossas horas críticas. Dá-nos a firme convicção de que os seres humanos
ímpares podem estar certos e a massa pode estar errada. Quase todo estudante
de meditação foi ou será confrontado por este problema; é bom que ele não se
esqueça desse décimo versículo do Sermão da Montanha. Seus sofrimentos
foram previstos pelo Grande Mestre, é verdade, mas Ele também emitiu Seu
consolo final (“Alegrai-vos e exultai...”) para nós; e qual a pessoa que, tendo
passado por uma doença dolorosa e conseguido depois ter a saúde restaurada
plenamente, gosta de lembrar ou de lamentar o passado morto que desapareceu
no oceano do Tempo irrevogável?

O ponto principal da presente mensagem é nunca olhar para trás, mas sempre
para o desenvolvimento futuro. Já sei que a coisa mais ardilosa é a idéia
filosoficamente concebida de tempo PRESENTE. É como uma lâmina, quase
sem nenhuma espessura em seu lado afiado! O que estou vendo agora
imediatamente torna-se passado; então, eu entro no tempo que está vindo do
FUTURO e, ao abraçá-lo, estou transformando-o em PASSADO.

Que significado tem a dor que submergiu tempos atrás nos clichês insondáveis
pertencentes ao PASSADO?

Só as mentes neuróticas e desequilibradas atribuem qualquer significado ao que


FOI e NÃO É mais. Não é este o meu caminho!

Meditarei sobre esta Verdade, até que se torne uma realidade clara e irrefutável
para mim. Sei que o resultado final será a desejada BEM-AVENTURANÇA.

11. TEMA: Vós sois o sal da terra, porém, se o sal perder seu sabor, com que
será ele salgado? Para nada mais serve senão para ser lançado fora e calcado
pelos homens.

Desenvolvimento: Neste versículo, o Grande Mestre enfatiza a importância e o


valor do homem. Na verdade, de todas as criaturas visíveis desta terra, o homem
é, sem dúvida, o mais evoluído. Com isso, aumenta a responsabilidade dele por
suas atividades, pois ninguém espera tal atitude de um animal ou outra forma
inferior de vida. Tenho, portanto, de pensar profundamente no meu papel neste
mundo e nas responsabilidades que me cabem durante minha vida terrena.

Não serei como esse sal que perdeu sua verdadeira virtude e que se tornou,
portanto, uma substância inútil que só presta para ser rejeitada no abismo da
condenação.

Sei que minha vida tem um propósito e, embora eu ainda não seja capaz de
descobrir todo o seu significado, estou consciente de seu valor. Não ouso frustrá-
lo, pois pagarei caro por isso. A frustração é o próprio fogo que queima mas não
nos consome, após ter pronunciado o julgamento sobre a nossa encarnação, se
foi bem sucedida, depois de nos liberarmos do corpo físico.

Mas nessa afirmação de Cristo há também uma imensa força de esperança e de


encorajamento: NÓS SOMOS O SAL DA TERRA!

Lembro-me de meditações anteriores da segunda parte deste livro, nas quais


tratei da construção de clichês. Os quadros essenciais ou os clichês de minhas
atividades neste planeta não são acessíveis à minha consciência diária.
Contudo, é meu dever saber deles o que eu puder agora. E a consciência de que
não devo nem posso permitir que “meu sal” se torne uma massa inútil,
indiferente, é o estágio final do desenvolvimento desta meditação. Tenho
suficiente experiência dos resultados tristes que advêm de uma vida frustrada e
inútil, se um homem nunca é despertado para o verdadeiro objetivo de sua
existência. Este mundo está repleto desses exemplos. E o impasse atual deve-
se justamente a esse fato, pois o mundo é a soma total de seus moradores —
os homens. “O MUNDO É UMA CONSEQUÊNCIA DO QUE VOCÊ É”, disse-nos
o sábio Maharshi. Contribuindo para o lado positivo do mundo, estou
contribuindo para minha evolução; aperfeiçoando-me, estou aperfeiçoando o
mundo. Este é o único meio real de ação acessível a nós.

12. TEMA: Vós sois a Luz do mundo. Não se pode esconder uma cidade situada
sobre um monte; nem se acende uma lanterna e se põe debaixo do alqueire,
mas sobre um candeeiro, a fim de que dê luz a todos os que estão em casa.
Assim brilha a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas
obras e glorifiquem Vosso Pai que está nos céus.

Desenvolvimento: Este versículo já foi tratado no texto anterior, de modo que


sobre ele há pouco a acrescentar. Entretanto, a fim de completar meu curso de
meditação sobre o Sermão da Montanha, prosseguirei com todos os detalhes.

Que nós, homens, somos a Luz deste mundo foi dito no parágrafo de abertura
deste capítulo. O exemplo da cidade construída numa colina e da vela acesa no
alto fala-nos do tratamento dessa luz em nós. Ela não deve estar oculta, pois o
propósito de toda luz é iluminar o que a cerca. O pouco que tenho dessa luz
agora, em estado desenvolvido, deve estar disponível para os que trilham o
caminho ao meu lado. Este é o melhor modo de cumprir com o meu dever! O
Mestre não nos deixou dúvidas a respeito disso. Vendo nossas boas obras, os
homens verão a Luz do Pai e O glorificarão por isso. Portanto, estas são as obras
que iluminam nossos irmãos ao nosso redor e essas são as ações que trazem a
glória para o nosso Pai eterno no céu!

Alguns provavelmente retrucarão: “Mas disseram-nos que devemos primeiro


purificar nossos sentimentos e pensamentos”. Isso está perfeitamente certo,
pois, se os nossos sentimentos e pensamentos são puros e retos, estamos
acaso em posição de executar obras com más intenções? Um momento de
reflexão nos mostrará que isso é impossível. A raiz de nossas ações sempre está
em nosso coração, como disse o Mestre, e CORAÇÃO significa o CERNE da
consciência do homem, da qual se irradiam os sentimentos e pensamentos. Há
outro mistério, desconhecido da maior parte das pessoas, em nossa vida interior:
uma boa obra produz bons sentimentos e pensamentos. Posso, se quiser,
comprová-lo. Depois de praticar uma boa ação, a paz e o conforto vêm a nós, se
não nos perdermos em qualquer “avaliação” dela: “...que a mão esquerda não
saiba o que faz a direita”. Existe Algo muito mais elevado em nós do que o
processo do pensamento. Que a minha meditação me ensine a dirigir minha
consciência para ISSO!
25
Meditação sobre o mestrado
— série II

Na série anterior de nossas meditações, trabalhamos com doze temas


espirituais. Neste capítulo, apresentaremos temas de outro tipo, tendo por base
as meditações sobre os que estão tão adiantados espiritualmente em sua
evolução que normalmente são chamados de “Mestres”. Assim como em outros
assuntos ocultistas, existe uma considerável confusão acerca do Mestrado e de
sua relação com o resto da humanidade.

O propósito das próximas meditações será acabar com o absurdo e promover


um conceito realista dos grandes filhos da humanidade, de quem só podemos
obter instruções verdadeiras em nossos esforços pela realização espiritual e pela
paz final.

Quem melhor para nos falar sobre o Mestrado do que os próprios Mestres?
Portanto, reuni temas extraídos de palestras dos Mestres sobre seus próprios
caminhos e vidas, assim como de seus ensinamentos diretos. Na vida espiritual
acontece o mesmo que na material: quem conhece mais instrui e auxilia os que
sabem menos e não têm experiência. Sem a sabedoria que vem dos eminentes
Filhos do Homem, a humanidade evoluiria mais devagar e cometeria mais erros,
cuja retribuição é o sofrimento.

Portanto, é uma proposição natural e sábia nos voltarmos para a luz daqueles
que possuíam essa Luz.

É um raro privilégio e igualmente uma grande responsabilidade um homem ter


permissão para se encontrar com um verdadeiro Mestre Espiritual durante sua
presença física na terra. Nada jamais pode ser comparado ao conhecimento
desse mestre, que passou por todas as experiências humanas e obteve a
sabedoria plena, pela qual despendemos nossas inumeráveis encarnações.
Outro fator marcante é que esses Mestres ensinam que: “Todos os Mestres são,
em essência, UM SÓ”, isto é, a mesma Luz do Espírito brilha através deles.

Escrevi vários capítulos a respeito dos Mestres, assim como de Um deles, o qual
tive a permissão de encontrar nesta minha vida. 1 Mas os Mestres raramente
vêm à terra e há muitos que são falsos e se fazem de genuínos. Eles são
facilmente reconhecidos por todos os homens que possuem senso comum e
experiência para discernir. Uma vida irrepreensível e santa é a melhor prova de
Mestrado.

1. Veja meus livros In days of great peace e Ways to self-realization, Allen & Unwin, 1957 e 1964.

I. TEMA: Eu sou a ressurreição, o caminho e a vida: aquele que me seguir, não


se perderá.

Desenvolvimento: Com estas palavras, o Grande Mestre nos mostra o Caminho


correto. É seguir os passos do Mestre. Quem nos mostraria o Caminho se não
houvesse nenhum Mestre? Um de Seus verdadeiros discípulos, que escreveu o
incomparável Imitação de Cristo, trabalhou com este tema a partir de sua própria
experiência. Nesse livro podemos encontrar um tesouro de iniciação espiritual,
resumido na afirmação de que o Mestre virá visitar Seu discípulo fiel, que
demonstrou, através de sua vida, inteira dedicação a Ele.

Antes do despertar espiritual, ou do início da opção pela vida espiritual em


detrimento da existência terrena, um homem está como que morto, e por isso
Cristo nos disse: “Deixem que os mortos enterrem os seus mortos”. A
ressurreição é necessária, e pode ser encontrada n’Ele. Muitos já a encontraram
e eu também posso encontrá-la!

O Mestre se refere à “VIDA” como pertencente apenas àqueles que foram


acordados, e é por isso que Ele diz: “Eu sou a vida”.

Um ensinamento iniciatório do Oriente diz: “Não se pode viajar no Caminho antes


de se tornar o próprio Caminho”. É por isso que, em nosso tema para a
meditação, lemos: “Eu sou o Caminho”. Na estrada da Realização tudo se
dissolve: o homem, o Mestre e o Caminho. Meditarei profundamente sobre isso
em meu coração.

Nesse Caminho e com esse Líder não pode haver qualquer erro. Esse Caminho
é iluminado pela Sua Luz.

Nesta série, como nas outras, aprofunde-se no desenvolvimento, lendo-o


primeiro várias vezes e memorizando-o. Depois, acrescente seus próprios
comentários — mas em frases curtas e precisas —, se sentir que necessita de
algo mais do que encontrou neste texto. Finalmente, volte ao tema, repita-o
várias vezes mentalmente, então pare de pensar e ouça o Silêncio surgindo em
você. Ele estará chamando pelos clichês espirituais relacionados com o tema.
Se a sua concentração ocorrer com êxito e a mente estiver realmente calma,
você poderá perceber o verdadeiro clichê do tema em sua consciência, sem
palavras ou movimentos da mente.
2. TEMA: Mestre é aquele que, tendo meditado exclusivamente em Deus, lançou
sua total personalidade no oceano de Deus... (O Maharshi.)

Desenvolvimento: Aqui, com suas próprias palavras, tenho uma definição dada
por um Super-Homem Espiritual sobre o Mestrado. Tudo indica que não pode
haver nenhuma definição melhor do que dada por alguém que atingiu o mais
elevado estado do Homem Perfeito. E o mesmo acontece com esta meditação.
Tenho de aceitá-la como uma verdade.

Ela significa que a atividade anterior do Mestre era meditar sobre a FONTE DE
TUDO, sobre NOSSO PAI, se usarmos as inspiradas palavras do Grande
Mestre, Cristo. O Mestre sabe o que é essencial e se prende a isso firmemente.
É por isso que ele medita constantemente em Deus. Posso presumir que não há
melhor propósito para uma grande alma como a do verdadeiro Mestre, que
passou por todas as experiências humanas muito antes de nós, adquiriu toda a
Sabedoria e está pronto para irradiar sua Luz sobre todos os que são capazes
de aceitá-la e permitem de boa vontade que ela os ilumine para sempre.

Aqui o Mestre compara Deus ao oceano, no qual a personalidade de um homem


tem de ser lançada, Deste modo, ele se une ao OCEANO, justamente como nas
palavras de Edwin Arnold: “As gotas de orvalho deslizam para o Oceano
Brilhante” do Nirvana, ou Deus.

A mente não tem capacidade para expressar ou retratar todo o conteúdo da idéia
de Deus, e as comparações não passam de um meio de despertar o fogo
receptivo no coração de alguém que busca o Supremo. Na descrição do caminho
do Maharshi, na qual o Mestre (que era ele mesmo) se relaciona com Deus, a
comparação com o oceano é habilmente utilizada. Ela inspira e resolve todos os
problemas. Dá uma antecipação da imensa, indescritível bem-aventurança e da
paz final, que é o destino da “gota” da consciência humana quando alcança o
estado de amadurecimento e retorna para o OCEANO, de onde evaporara, num
longo processo de evolução, pela imensidade do tempo e do espaço. Esta é a
sabedoria básica que o Mestre possui e é como ele pode ser reconhecido. Ele
não se ocupa com nada mais, a não ser residir no Senhor e irradiar sua Luz,
derivada dessa união, para aqueles que têm olhos para ver.

Isso é o que devemos saber, em primeiro lugar, sobre o Mestrado, a fim de


sermos salvos de todos os erros e ilusões possíveis.

3. TEMA: Um Mestre esquece tudo sobre sua personalidade ao mergulhar no


oceano de Deus.

Desenvolvimento: Aqui posso ver uma das principais diferenças entre o Mestre
e os outros homens, não importa o quanto eles possam nos parecer inteligentes
e brilhantes! Todos eles, incluindo eu mesmo, estão vivendo principalmente em
suas personalidades ou egos, e isso é o mais importante em suas vidas. Esta é
a razão pela qual tais homens não podem “ver” (mergulhar em) Deus. Com esse
propósito, o Homem Perfeito, o Mestre, esquece e abandona sua percepção
iluminada, que acreditamos ser nós mesmos, o nosso ser individual. “Vejo” agora
a causa da aparente impossibilidade de os homens obterem essa experiência de
Deus na qual um Mestre espiritual vive perpetuamente.

O extenso e limitado muro do ego nos separa segura e eficientemente da


percepção do Supremo.

Vejo que todos os esforços de alguns filósofos e ocultistas para provar a


existência ou não-existência de Deus estão condenados a ser infrutíferos. É
porque eles tentam rebaixar o que não pode ser rebaixado para o domínio de
suas mentes, isto é, o Supremo, e até mesmo o Seu reflexo. Quando não
conseguem executar a tarefa impossível de rebaixar o Sol para seus pequenos
recipientes, dizem que “ELE NÃO EXISTE”. Como disse, com verdade, o
Maharshi: “A IGNORÂNCIA É A RAIZ DE TODO MAL E SOFRIMENTO!”

E é por isso que Jesus nos disse: “Não se pode servir a Deas e ao Diabo (ao
mesmo tempo)”.

Que o Mestre Espiritual, invisível mas real, que cuida da minha alma na busca
da Verdade, me ajude a cruzar esta ponte difícil, que separa a vida ilusória,
egoísta, da região plena de verdadeira Luz na qual eu e meu Criador estamos
unidos, como uma gota mergulhada no oceano sem limites.

Ele conhece minhas dificuldades, pois passou por todas elas, conquistou-as e
se tornou, assim, o mestre da vida.

4. TEMA: O Mestre torna-se apenas o instrumento de Deus, e quando sua boca


se abre, fala as palavras de Deus sem esforço ou premeditação. (O Maharshi.)

Desenvolvimento: Vejo aqui o Mestre sob outro ângulo, em seu verdadeiro papel
neste mundo de relatividade. O Maharshi nos disse que o Mestre é um
instrumento de Deus, que ele age como um transmissor da vontade e
ensinamento de Deus. Nisso ele concorda plenamente com todas as Escrituras
reveladas ao homem desde tempos imemoriais. Tem havido sempre homens
inspirados por Deus, que ensinam palavras verdadeiras e sábias a despeito do
fato de os homens frequentemente recusarem aceitar a mais elevada fala dos
Iniciados.

Vejo também que o meio pelo qual o Mestre expressa suas palavras de
sabedoria é diferente da fala dos homens comuns, que preparam
cuidadosamente suas palestras importantes, tomam nota, planejam, etc... E a
mente que opera nesses homens, não é o Espírito de Deus, que fala por meio
dos Mestres.
É como se o Senhor abrisse Seus clichês — inacessíveis aos homens comuns
— para Seus filhos fiéis, e eles podem então lê-los e transmitir algo de sua
sabedoria.

Quando um filósofo forja suas teorias e suposições, não importa o quanto sua
forma exterior possa ser brilhante, tais coisas são espiritualmente mortas, e
raramente sobrevivem a seus criadores — as mentes humanas. Refiro-me ao
fato de viver de acordo com suas teorias. Olhe ao seu redor. Quantas pessoas
estão fazendo isso mesmo nos nossos dias? Mas há palavras que não passarão
mesmo que o céu e a terra passem.

A leitura desses clichês que estão além do tempo e do espaço é como ler um
livro aberto onde não há dúvidas sobre a autenticidade do texto. É por isso que
as palavras de um Mestre são proferidas sem premeditação ou esforço.

O Maharshi conhecia esta verdade e permitiu que participássemos de seus


benefícios.

5. TEMA: Quando o Mestre levanta uma mão, Deus torna a fluir através dela, e
FAZ UM MILAGRE. (O Maharshi.)

Desenvolvimento: Nesta sentença, o Maharshi faz uma nova tentativa de nos


explicar o modo pelo qual o Supremo age através de seus “Instrumentos” — os
Mestres. Levantar a mão é um ato de força, de poder. O papel de Deus é
semelhante ao de uma corrente que passa através de um condutor. Essa
comparação, feita por um sábio que sabia muito bem o que dizia a partir de sua
própria experiência, é extremamente elucidativa para mim. Remove os conceitos
antropomórficos grosseiros que ainda existem em muitas religiões. Mas o
mesmo Maharshi nunca condenou esses conceitos, porque sabia que, na
verdade, o modo como os homens imaginam o Supremo é imaterial. O que
realmente importa é o MODO como eles se voltam para Ele. Mas, para a maior
parte dos homens evoluídos, o antropomorfismo é agora um tabu mental; é para
eles que o mestre Maharshi fez esta comparação aceitável e inspirada.

Ao mesmo tempo, ela explica o modo pelo qual os milagres acontecem. Neste
mundo que pensamos conhecer, a Criação manifestada está evidentemente
sujeita à lei de CAUSA E EFEITO. Mas será possível que Ele, que impôs essas
leis, seja limitado por elas? Até mesmo nossa mente imperfeita nos diz que isso
é muito improvável. O Senhor está MUITO ACIMA E ALÉM de qualquer lei, tanto
das que conhecemos como daquelas acerca das quais não temos a mais leve
premonição.

Estamos familiarizados com o fato de que em nossa existência limitada, que está
sujeita a leis definidas, tudo acontece de acordo com elas. E o que está além
delas é como que um milagre para nós. Entretanto, isso não se aplica aos que
conhecem outras leis básicas mais sutis e, sobretudo, ao PODER QUE IMPÔS
ESSAS LEIS AO UNIVERSO MANIFESTO E CRIADO. Esta é a verdadeira
explicação da possibilidade e da existência dos “milagres”.

Estamos fazendo um bom uso das leis físicas conhecidas por nós, e adquirindo
mais conhecimento sobre a aplicação dessas leis, assim como descobrindo
outras, novas, que regem a matéria. Vamos comparar a ciência física de cem
anos atrás com o conhecimento adquirido no século XX. As atuais invenções
pareceriam milagres para os nossos ancestrais, se eles pudessem vê-las. E, no
futuro, a descoberta de novas leis poderá parecer um milagre para a geração
atual.

6. TEMA: O Mestre recebe os poderes ocultos, como a clarividência, a


clariaudiência e coisas assim, apenas como uma forma de AUTO-SACRIFÍCIO,
porque a iluminação e a paz são maiores sem elas do que com elas.
(Ensinamentos do Maharshi.)

Desenvolvimento: Esta é uma afirmação surpreendente, vinda de alguém que


sabe o que é melhor. Todavia, quando entro nos recessos mais profundos de
minha consciência, sinto instintivamente que a Grande Alma estava certa.
Falando devidamente, qual a utilidade dos “Siddhis”, que são os poderes físicos
e ocultos, conforme os designam nossos irmãos orientais? A quem eles
pertencem e para quem são necessários? Se desenvolvidos pelos esforços
especiais e pelo empenho de um indivíduo, são apenas outra manifestação
desse arquiinimigo, o ego humano, ao tentar se sublimar perante os “outros”. Há
em tudo isso uma noção de profunda separação, a qual, como o Grande Rishi
nos disse, é justamente esse misterioso pecado “original” que destrói todos os
esforços do homem para se elevar até a Verdade de seu próprio ser.

A manifestação de poderes ocultos não convence os que não estão


suficientemente maduros para dar o primeiro passo real no Caminho da
Realização Espiritual. E os que estão maduros entrarão no Caminho mesmo sem
qualquer exibição de Siddhis. Por outro lado, até mesmo os mais incríveis e
poderosos exemplos desses poderes não convencem as pessoa imaturas, que
frequentemente ficam revoltadas contra quem demonstra desenvolvimento e
força superiores. Os exemplos de Jesus, dos Santos e dos Profetas são bastante
conhecidos para serem citados. Como o Maharshi foi sábio em nos falar a esse
respeito!

Ele possuía todos esses poderes, mas raramente os manifestava. Mesmo em


sua biografia genuína, escrita por um de seus verdadeiros devotos, encontramos
apenas alguns exemplos que podem ser descritos como de Siddhis possuídos
por ele. (Veja Auto-realização, ou A vida e os ensinamentos de Ramana
Maharshi, publicado por seu ashram, Tiruvannamala, sul da Índia.) Agora posso
ter uma visão melhor do motivo pelo qual o Mestre nos falou em “sacrifício”
relacionado com o uso de seus poderes ocultos.
Além disso, as coisas que atraem os homens para esses poderes incomuns são
a mera curiosidade e o desejo de se aproveitarem deles, sem que para isso
façam qualquer esforço. Isso é bom e desejável?

Nestes tempos, em que tantos farsantes tentam explorar a fraqueza humana e


atrair homens para eles com seus supostos Siddhis, esta afirmação do Mestre
sempre deve ser lembrada.

7. TEMA: A idéia de que um Mestre é simplesmente aquele que adquiriu poderes


sobre vários sentidos ocultos mediante uma longa prática, oração ou qualquer
coisa desse tipo é absolutamente falsa. Nenhum Mestre jamais se importou de
forma alguma com tais poderes ocultos, pois eles não têm necessidade disso em
sua vida diária. (Ensinamentos do Maharshi.)

Desenvolvimento: Estas palavras são tão simples e claras que não necessitam
de explanação. O que preciso fazer é memorizá-las e meditar sobre elas, com o
mesmo espírito do tema de meditação anterior. Mas nos próximos textos dos
ensinamentos do Mestre encontramos afirmações de enorme valor para o
seguidor; portanto, vamos ouvi-los e pensar sobre eles.

Não devemos fixar nossa atenção no fenômeno do mundo que nos circunda, nas
coisas transitórias, como a vida (física), a morte, etc.

O único objetivo a ser perseguido e que nos compensará é: PENSAR APENAS


EM QUEM É O RESPONSÁVEL POR TODAS AS MANIFESTAÇÕES DA VIDA;
EM QUEM VÊ SOZINHO TUDO ISSO E QUAL É O MEIO USADO PELO
MESTRE QUANDO ATINGE SEU ELEVADO ESTADO. EM RESUMO, FIXE
SUA ATENÇÃO FIRMEMENTE N’AQUELE QUE VÊ.

Se tentarmos compreender o profundo significado desses ensinamentos,


poderemos ser atraídos por seu poder e encanto espiritual. Olhe apenas para
ISSO, que é a origem do TODO! Onde está o segredo da aquisição desse
Caminho, que tem sido frequentemente chamado de “Caminho da Sabedoria de
Jnana” e que o Mestre Maharshi chamou simplesmente de “Caminho Reto”?

Os que tentaram este sublime Caminho sabem que ele leva também às
manifestações de diferentes siddhis, mas de um modo inconsciente, sem
qualquer esforço por parte do seguidor para desenvolvê-los.

Vejo que as palavras do Mestre grifadas acima com letras maiúsculas são uma
iniciação direta para os que têm olhos para ver e ouvidos para ouvir. Isto é, essa
visão espiritual “invertida”, que decide sobre o nosso progresso e a nossa
realização. Como é simples, deve ser meditada constantemente, até que a Luz
venha. E ela invariavelmente vem, se agimos sabiamente, como o Mestre nos
ensinou.
AQUELE QUE VÊ ESTÁ DENTRO DE VOCÊ, ele acrescentou. É possível o
objeto de um seguidor estar mais perto do que ESTE? Ele espera em santo
Silêncio, que nossa voz interior O chame para o fundo de nossos corações.

8. TEMA: O Mestre reside no estado perpétuo de consciência espiritual, além


da mente e dos sentimentos (ramos mental e astral), isto é, além das ilusões do
mundo e dos seres separados, com única diferença que, de um modo
incompreensível para nós, ele pode usar a mente, o corpo e o intelecto sem
voltar a cair na ilusão de ter uma consciência à parte. (O Maharshi.)

Desenvolvimento: As palavras do Grande Rishi são tão claras que não há


necessidade de mais explicações. Portanto, continue a meditar sobre elas
diretamente, a fim de obter a iluminação.

Talvez fosse útil lembrar aos que não estudaram alguns dos trabalhos anteriores
do escritor (especialmente Concentração, Samadhi e Caminhos para a auto-
realização), que esse estado sublime de consciência é chamado de “SAHAJA
SAMADHI”, no Oriente, ou de “Superconsciência Perene”, que só podem possuir
aqueles que concluíram sua evolução como seres humanos e se uniram com o
Todo. É um estado ininterrupto e natural para eles, embora alguns discípulos
avançados possam alcançar um estado similar de consciência, mas só por um
tempo limitado e enquanto seus corpos estão imobilizados, como em catalepsia.

Após ter experimentado esse tipo de Superconsciência temporária denominada


“KEVALA SAMADHI”, o homem frequentemente sente o êxito da bênção mental,
como um reflexo da consciência espiritual que foi capaz de alcançar.

Então suas ações subsequentes podem ser iluminadas pela luz desse êxtase,
mas não pelo Espírito reto, experimentado no SAHAJA SAMADHI, que, como
sabemos, continua sem interrupção por toda a vida física do Mestre. Portanto,
as ações do Mestre são infalíveis, enquanto as pessoas que podem operar
apenas na Luz refletida não são necessariamente perfeitas. Esse conhecimento
pode explicar a confiança absoluta e a obediência aos Mestres Espirituais
oferecidas a eles no Oriente por seus verdadeiros e inteligentes discípulos. O
homem que obteve a graça de encontrar um Mestre verdadeiro em sua vida
possui a Fé de que falou Cristo.

9. TEMA: Quando um Mestre medita, embora seus olhos e ouvidos estejam


abertos, fixa sua atenção tão firmemente n’AQUELE QUE VÊ, que não vê, nem
ouve, nem tem qualquer consciência física ou mental, mas apenas espiritual. (O
Maharshi.)

Desenvolvimento: Aqui temos a chave da verdadeira meditação, dada a nós por


aquele que dominava essa arte plenamente. Não pode haver nada melhor para
um sincero estudante da meditação do que dedicar a este tema 9 o máximo de
tempo e atenção de que for capaz. A meditação ao longo das linhas mostradas
pelo Maharshi é insuperável para nosso progresso, uma vez que abre os olhos
de nosso espírito, encoberto pela ilusão do mundo que nos circunda. Estou
mergulhando nele agora.

“...AQUELE QUE VÊ...” Aí está o segredo! Isso deve ser meditado SEM
VERBALIZAÇÃO, isto é, sem palavras, nem frases admitidas em nossa
consciência, se realmente queremos ser iniciados na arte de meditar. Procure
apenas por AQUELE QUE VÊ E OUVE, num total silêncio interior, adquirido pela
habilidade da concentração passiva e guardado por sua irmã ativa (veja
Concentração). A solução deste grande mistério reside no SILÊNCIO DIRIGIDO
DA CONSCIÊNCIA. Você compreende o significado? Apenas a concentração
passiva não é o suficiente, pois no final deve ser interrompida por pensamentos
e clichês, sobre os quais você, por enquanto, pode não ter controle, se não tiver
dirigido sua consciência para se abrir APENAS PARA UMA DETERMINADA
INFLUÊNCIA, que, neste caso, será A QUE VÊ E OUVE O TODO. Você sabe o
Seu nome! Ele é acessível apenas pelo SILÊNCIO, mas não um silêncio
mecânico, mental, obtido meramente por um treino mental de concentração.
Não; este é apenas um instrumento e não deve ser confundido com a ação
consciente do seu Espírito quando entra em contato com o Espírito do TODO.
Em resumo, o que você tem de fazer? MEMORIZAR, SEM PALAVRAS, O TEMA
DE SUA MEDITAÇÃO E MERGULHAR NO SILÊNCIO, BASEADO NO
ESPÍRITO DESSE TEMA. Talvez você precise meditar primeiro sobre esta
sentença antes de chegar à ação apropriada, e é isso o que o aconselho
veementemente a fazer. Foi isso o que nos ensinou o Mestre Maharshi, como
também outras Grandes Almas. Podemos confiar nas palavras daqueles que
CONHECEM.

10. TEMA: Devemos afastar o mundo que origina as nossas dúvidas, que anuvia
a nossa mente, e a Luz de Deus brilhará claramente. (Declaração do Maharshi.)

Desenvolvimento: Após nosso estudo do material anterior deste livro, não


devemos ficar perplexos nem nos sentir despreparados diante de semelhante
afirmação. O Maharshi, em sua sabedoria, compara Deus à LUZ BRANCA, não
dispersada pelo prisma do mundo. Remova o prisma, e as cores ilusórias
desaparecerão por si mesmas; então você verá a LUZ, que é o VERDADEIRO
DEUS. Que poderosa recomendação de darmos um pulo à frente há nestas
simples palavras!

Se olharmos atentamente para a vida dos Santos, dos místicos, dos iogues, dos
Mestres espirituais e dos homens que alcançaram a consciência espiritual,
descobriremos um fato em comum nas suas filosofias e ensinamentos. Todos
eles reconheceram o mundo visível como um obstáculo a sua realização
espiritual, a menos que o apego a esse mundo tenha sido controlado ou
removido.
O símile do Maharshi, comparando o mundo com um prisma que desvia e
decompõe a LUZ BRANCA original do Supremo, é única. Ela explica por que
não vemos as coisas como elas realmente são, pois não há nem pode haver
uma percepção real, objetiva nos raios coloridos. Mas, ao mesmo tempo, a idéia
da luz branca incólume mostra o meio de sair desse impasse: retornar à visão
real, inalterada, da Luz branca pura.

Não é por coincidência que a luz sempre é considerada um símbolo ou mesmo


um atributo do Altíssimo em todas as escolas de filosofia e religião, enquanto a
escuridão ou ausência de Luz é vista como um símbolo do mal e do sofrimento.

O mestre Maharshi não nos conclama a abandonar o mundo visível como tal. O
fato de que ainda temos nossos corpos, que pertencem claramente ao mundo
material e dependem dele, nos diz que ainda temos algumas lições para
aprender nesse campo denso. O que ele salienta é a atitude correta para com o
irreal e o perecível: colocar as coisas em seus devidos lugares, não estabelecer
ídolos destrutíveis no trono que pertence ao Espírito Vivo. Ele desaprova
igualmente o homem desalmado que acredita apenas em seu corpo, como um
faquir fanático que usa supostamente sua cama de pregos para conquistar o
inimigo — o corpo. Ele chama a atenção para o verdadeiro discernimento e para
o senso comum, que frequentemente faltam em muitos de nós.

11. TEMA: O corpo e a mente são apenas instrumentos do EU, que é o espírito
ilimitado, no qual está a liberdade suprema do homem. (O Maharshi.)

Desenvolvimento: Nesta meditação da série II encontramos o ensinamento final


sobre a verdadeira relação entre o físico e o espírito do homem. Nenhuma
pessoa sã negaria que o físico de todo ser vivo é mortal e não-permanente. O
Maharshi o chama de “instrumento do verdadeiro Eu-Espírito”, que o utiliza para
determinados propósitos, nem sempre claros para os homens.

O que teve um início deve ter um fim, e o que é limitado não pode abarcar o
ilimitado. Como essas afirmações parecem lógicas! Todavia, por que os homens
não as põem em prática? Por que vivem como se fossem ficar aqui para sempre,
e por que eles tentam operar apenas com os recursos limitados da mente,
dependendo de um instrumento tão frágil (e mortal) como o cérebro humano?
Basta uma pequena escoriação, e um gênio pode se tornar instantaneamente
um idiota.

Definitivamente, a humanidade não é muito científica no que diz respeito a seus


problemas mais vitais, que tocam sua própria existência. Em vez disso, ela se
vangloria de sua “ciência” em matérias secundárias, relacionadas com condições
físicas variáveis, limitadas no tempo a uma fração infinitesimal em comparação
com a vastidão da duração cósmica do universo visível. O homem tenta dominar
o espaço infinito, mas é incapaz de dominar sua própria concha, na qual vive
apenas por um curto período. Essa expansão exterior sem consolidação dos
fatores internos (moral, intelectual e espiritual) é como uma bolha de sabão que
se expande por um curto espaço de tempo, brilhando por fora com muitas cores,
mas vazia por dentro, para cair, ao final, na forma de algumas gotas de líquido
inconsequente, ao estourar.

Meu propósito é estabelecer a verdadeira relação entre o perecível e o perene


em mim mesmo. Ninguém pode fazer isso senão eu mesmo.

A meditação sobre as palavras d’AQUELE QUE CONHECE é dedicada à


aquisição da sua sabedoria.

12. TEMA: A erudição Sagrada (as Escrituras) só tem valor enquanto a pessoa
não se volta para o seu interior, em busca do Eu. Tão logo o faça, tudo o que ela
aprendeu é esquecido e perdido. (O Maharshi, citação de Maha Yoga.)

Desenvolvimento: Este tema deve servir como uma descrição final da atitude de
um Mestre que chegou ao seu objetivo. Torna-se óbvio, então, como estão
erradas todas essas seitas espalhadas pelo mundo que escolhem uma ou outra
parte dos escritos religiosos (tais como o Velho Testamento, os Upanixades,
etc... assim como todas as teorias filosóficas), e se fixam exclusivamente nelas
porque as consideram o único material com valor verdadeiro, desprezando tudo
o mais.

Vejo a estreiteza da mente humana limitada, sem qualquer luz de Inspiração


Espiritual. O Maharshi sabia disso, e o uso de suas palavras como tema vieram
a partir desse conhecimento. Deixe-me observar do ponto de vista do Mestre e
não com minha própria mente, que só pode me levar a desvios.

A verdade está acima e além do processo de pensamento. A meditação deve


me ensinar gradualmente a transferir minha consciência para além desse
processo.
26
Meditação sobre Deus
— série III

Como você pode ver, este manual de meditação não é limitado por qualquer
credo, filosofia ou religião em particular. Meu propósito é dar-lhe a liberdade de
escolher o tipo de meditação que se adapte melhor a você: o que estiver mais
perto de seu coração. É por isso que não se pode usar de nenhuma coação para
forçá-lo a escolher este ou aquele caminho.

Contudo, há certas condições que acredito estarem sendo preenchidas neste


trabalho. Em primeiro lugar, quando você quer dar um salto, precisa estar
apoiado num ponto de onde seu corpo possa saltar. Em segundo lugar, esse
ponto deve ter bordas suficientemente fortes para suportar a força da gravidade
por um momento, e permitir que você lance seu corpo para o ar. E, em terceiro,
você tem de ser capaz de direcionar as ações de seus músculos de um modo
apropriado, a fim de manter o equilíbrio e assegurar uma aterrisagem segura.

Se você voltar atrás, para os primeiros capítulos, verá como essas condições
foram manipuladas no texto e como o seu conhecimento sobre técnicas e
material com os quais teve de operar foram desenvolvidos diante de seus olhos.

Não entrarei em maiores ponderações a esse respeito, pois é seu dever


encontrar e seguir a síntese dos três fatores acima mencionados. Você precisa
digeri-los mentalmente e depois encaminhá-los para o seu “coração”, isto é, para
o âmago do seu ser. Se tiver executado os exercícios como lhe foi proposto e
aconselhado, você já tem uma base firme sob os seus pés para saltar, força para
ajustar seus músculos à ação e uma certa visão para lhe mostrar aonde está
indo. Não cabe a mim fazer uma estimativa e tirar conclusões em seu lugar,
como você, sem dúvida, compreenderá e aceitará.

Há também outro aspecto da meditação para o qual gostaria de chamar a sua


atenção. A meditação, como você sabe, é a função mais alta possível de nossa
consciência; baseia-se nas experiências e poderes da mente, mas não é, de
modo algum, limitada por eles.
Nesta parte do presente trabalho, não precisamos usar qualquer conceito
relacionado com essa outra alta função da consciência humana, que é a
ORAÇÃO. Temos tempo e espaço suficientes para isso nos capítulos finais. A
despeito disso, posso ver o delicado filete que corre, frequentemente sem termos
definidos, pelos temas e desenvolvimentos. É a idéia do Poder Supremo, como
um receptor final da energia vinda da meditação e o sustentáculo da
concentração a ela inerente. É por isso que, no mais alto nível da consciência
humana, o SÓ aparece como ELE MESMO, sendo o único objetivo valioso para
o esforço supremo do HOMEM INTERIOR. Estou simplesmente afirmando o
fato, sem entrar em “porquês” inúteis e insolúveis. Não sabemos! Bem dentro de
nós, quando o Silêncio começa e a tempestade do mundo e da mente se
acalmam, aparece uma Luz tênue, como uma delicada pétala de flor, mas firme
e inacessível a qualquer choque exterior. Todos os místicos A conhecem, mas
Ela não está confinada apenas aos “especialistas” dos negócios espirituais,
como podemos dizer jocosamente. O cerne básico de todos os homens é o
mesmo, a consciência espiritual, que tem sua manifestação dinâmica na
Hiperconsciência.

Como o Espírito é imutável, uniforme, imóvel (em nosso significado terreno),


ilimitado (é por isso que ele não faz nenhum movimento, nem está sujeito a
qualquer mudança), onipenetrante e onipotente por causa de sua existência
(Realidade) única e verdadeira, assim não pode haver dois ou mais Espíritos;
pois de que modo eles poderiam ser distintos? A concepção do Espírito é
equivalente a Deus, e muitas pessoas preferem esse termo, e por bons motivos.

Isso é o que podemos pensar, aceitar, acreditar e colocar aqui. Essa “Luz
interior” nos diz que é assim e não de outro modo”. E nossa mente pode sustentar
essa revelação, pois está no reino dos fatos que são funcionais para ela. Mas
não há resposta para a pergunta “POR QUÊ”? É uma pena perder tempo
tentando resolver o que não pode ser resolvido. Para meus leitores místicos,
posso citar apenas a resposta dada ao conhecido místico, ocultista e filósofo
francês Paul Sédir, de Paris, por seu mestre espiritual, o misterioso Monsieur
Andréas, como ele o chamava. Em resumo, esta foi a resposta: “Talvez, algum
dia, quando estivermos suficientemente maduros, o bom Pai nos revele POR
QUE as coisas são como são”. Esse “dia” deve estar a uma eternidade de
distância.

Portanto, nossa próxima série de meditações avançadas será sobre a


concepção do Ser Supremo, como nos foi transmitida por mestres espirituais,
pertencentes a diferentes escolas, raças e religiões. É claro que serão apenas
alguns itens selecionados, pois estou consciente de que você pode encontrar
outros que se adaptem melhor ao seu uso. Experimente-os também, mas
lembre-se de que eles não devem provir de nenhum jardim murado, sectário,
mas preferivelmente aos homens de tolerância e profunda experiência. Eles
devem ser curtos, como os deste livro, pois do contrário não estarão em
condições de cooperar apropriadamente com o cerne da meditação e com seu
próprio TEMA.

O método será o mesmo. Em primeiro lugar, trabalhe com o desenvolvimento,


após ter lido o tema várias vezes. Qual o propósito desse procedimento? Colocá-
lo na “encruzilhada” (o tema) e, depois, pelo desenvolvimento, marcar o caminho
que se irradia do ponto central em qualquer direção. Os desenvolvimentos
contêm as idéias básicas e sua elaboração, que o ajudarão e ampliarão seu
horizonte mental. E certamente neles haverá algum material novo e útil para
você. Contudo, repito, se se sentir tão forte que possa passar pelo
desenvolvimento disponível e criar o seu satisfatoriamente, vá em frente sem
pensar duas vezes. Mas lembre-se de que nossa mente é traiçoeira e, ao sentir
que essa meditação bem-sucedida nos levará para um domínio ainda maior dela,
fará tudo para impedi-lo de obter sucesso.

Sua mente pode lhe sugerir: “É claro que você pode ter idéias muito melhores
do que as descritas pelo autor; você deve rejeitá-las usando as suas idéias”.
Teoricamente, isso soa bem, mas a armadilha pode ser que essas “idéias
melhores” sejam simplesmente transformadas por sua mente em vibrações
descontroladas, “flutuando” sem objetivo para longe do tema. Em outras
palavras, será a vitória delas sobre a sua concentração e sobre o plano de
trabalho que você queria realizar. Se for incapaz de paralisar a malfeitora, ela
poderá sugerir, depois de você ter sido devidamente exaurido pelos desejos da
mente, que você é um fracasso, não porque não observou as instruções dadas
neste livro, mas porque este livro não é suficientemente bom para você, e assim
por diante. Se você aceitar os sussurros maliciosos, perderá a batalha. Os anos
passarão e eles nunca mais voltarão; em vez de praticar, você estará apenas
procurando livros diferentes. O resultado final você pode descobrir por si mesmo.

Meu dever é avisá-lo: o seu é aceitar ou rejeitar este aviso.

Antes de passarmos para as meditações sobre Deus, de acordo com os textos


extraídos de guias espirituais e autoridades filosóficas, seria útil elucidar certas
linhas de nossa relação com o Poder Supremo que podem ser concebidas e
aceitas pelo nosso intelecto. 1) Aceitação necessária da onipresença de Deus
leva a uma conclusão bastante profunda. Não podemos estar SEPARADOS
d’ELE, em nenhuma circunstância, pois do contrário isso significaria que existem
alguns lugares onde Ele não está presente, lugares que estão além de Seu
alcance, o que naturalmente é absurdo. Portanto, estamos “mergulhados” n’ELE,
e todo o processo de nossa estrutura física e espiritual reside em Sua plena
percepção; nada pode escapar disso. Se pensarmos mais profundamente nesse
axioma, poderemos ver a importância da atitude correta em relação a Ele, bem
além dessas crenças infantis, subconscientes, de que um homem pode esconder
algo do Supremo e que isso pode não ser conhecido por Ele. É por isso que, por
exemplo, na Teurgia, que opera através da volta direta ao Senhor por meio da
prece, a necessidade absoluta de sinceridade plena para com Ele é tão
enfatizada. Do contrário, a prece insincera seria apenas uma ação hipócrita, que
não traz os resultados desejados, mas uma justa punição.

Igualmente, em sua meditação, esteja totalmente consciente disso e não permita


que sua mente o engane com a falsa idéia de que você pode esconder alguma
coisa e mesmo assim desfrutar da bênção da boa prece ou da meditação. Este
aviso pode parecer supérfluo para muitos de vocês, pois talvez tenham
compreendido há tempos a importância decisiva de abrir totalmente o coração
diante do Senhor, sem deixar sequer o menor e mais feio canto dele na sombra.
Não existe sombra diante de Sua luz!

2) A onisciência inerente ao Senhor torna a nossa meditação mais fácil, pois não
precisamos explicar tudo a Ele, como faríamos a outra pessoa, que nada sabe
de nós a menos que lhe digamos. Isso também é um absurdo! Além disso, a
meditação mais elevada, como você virá a saber mais tarde, é a que está além
de qualquer palavra ou pensamento, uma meditação muda, paralela ao tipo mais
elevado de prece — a prece muda. Portanto, a elevação da consciência pode
estar livre da verbalização, e essa atitude será a mais pura e eficiente de todas.

É possível refletir algo dos poderes que pertencem ao Ser Supremo em nossa
mente? Sim, até certo ponto, se temos um receptor alerta, bem desenvolvido e
familiarizado com o pensamento oculto. Se você tiver feito o exercício final 9 da
série V de Concentração, então não terá nenhuma dificuldade em experimentar
essas DUAS qualidades de Deus — a ONIPRESENÇA e ONISCIÊNCIA, em
relação, é claro, ao seu próprio Eu.

Para a primeira (a Onipresença), a idéia do ESPAÇO infinito servirá melhor.


Agora siga meu pensamento com muita atenção. Você pode imaginar um fim
para o espaço? Isto é, um lugar ou uma circunstância onde não haveria nenhum
espaço? Se a sua mente, de modo impensado, disser talvez, então pergunte a
si mesmo, trabalhando o tempo todo com sua imaginação. O QUE estaria além
desse espaço “não-existente”? Você verá que é impossível, que o espaço não
pode ser aniquilado, pelo menos em relação ao que nós somos agora nesta terra.
A continuidade do espaço é um axioma de senso comum para toda mente
desenvolvida. É exatamente o mesmo que espaço onipenetrante. Por exemplo:
imagine uma sala parcialmente mobiliada; você pode eliminar, mudar ou limitar
o espaço dela? As dimensões dessa sala mudam por causa da presença de
determinados objetos? É claro que não! É por isso que o Grande Espaço
Cósmico não é afetado, de modo algum, por nenhuma das inumeráveis galáxias
e universos contidos nele. Pense nisso, compreenda e depois experimente
comparar a onipresença do Senhor com esse espaço todo-penetrante, e não
estará longe da Verdade. Ele está em todo lugar e nada pode ficar fora d’Ele.
Você está mergulhado n’Ele!
A segunda (a Onisciência) requer menos exploração, pois é fácil imaginar que a
ONIPRESENÇA não pode estar inconsciente de nada que esteja ao Seu
alcance, isto é, em qualquer lugar e sob qualquer condição. Portanto, Ele deve
conhecer o seu pensamento, o seu sentimento, as batidas do seu coração, cada
movimento em você e de você, a circulação de suas partículas sanguíneas, as
correntes de seu cérebro e nervos, em resumo, todo o seu ser, tanto o físico
como o não-físico.

Conscientizar-se realmente de tudo o que acabei de dizer, praticar essa


percepção todos os dias, todas as horas, é uma das mais elevadas “Iniciações”
pela qual um homem pode passar. Ela conquista a morte e esclarece a vida, e é
o mais caro tesouro que os sábios guardaram, trabalhando arduamente por
eternidades.

1. TEMA: Eu sou o que sou.

Desenvolvimento: Esta breve sentença é de enorme significado, pois foi tirada


da Bíblia, na qual o Todo-Poderoso, como o sábio Maharshi nos disse, proferiu
Seu verdadeiro Nome e substância. O Nome não pode ser apresentado como
algo para nosso uso, pois não há comparação com o único sem segundo. Todo
nome terreno tem algum significado ou origem, mas onde você buscaria pela
origem d’AQUELE que é EM SI MESMO A ORIGEM DE TUDO? Todavia, até
mesmo essa definição que Moisés transmitiu para nós de suas relações com o
Supremo tem enorme significado e inspiração para os que estão suficientemente
maduros para conseguir elevar a mente além de seus limites usuais e “ler” o
Nome Único.

Nessa sentença podemos ver o elemento de existência ilimitada, além de todas


as leis e condições com as quais nós, como humanos, estamos física ou
mentalmente familiarizados. Portanto, nenhuma definição mais próxima pode ser
transferida da Região Mais Elevada para a mente mortal. Mas os que são
suficientemente puros e avançados para elevar sua consciência ao Reino
Espiritual ou, como dizem os iniciados orientais, ao QUARTO estado ou
Samadhi, têm a real e inequívoca EXPERIÊNCIA de Deus. Isso não acontece
vendo-O, porque a visão implica necessariamente estar SEPARADO d’Ele, o
que é, como já sabemos, uma ilusão absoluta.

Aqui está outra expressão, usada por alguns Santos que foram capazes de se
conscientizar do Todo-Poderoso. Eles falam sobre “viver” no Senhor. Acho que
este termo é muito profundo e inspirador.

Os clichês mais puros, nos planos mais elevados, os mais próximos do Ser
Absoluto são provavelmente inacessíveis, até “A gota de orvalho deslizar para o
Oceano Brilhante!”, perdendo sua identidade no OCEANO DE DEUS, como o
sábio Maharshi disse. Há pessoas que sentem a verdade dessa afirmação, se
não através de sua mente, pelo coração. Elas são afortunadas, pois têm um
consolo final, inefável, e esperança enquanto ainda vivem em seus corpos
físicos.

Esta importante sentença tem a propriedade de acalmar a mente, e permite-nos


uma aproximação maior com sua realização.

Antes de terminarmos este desenvolvimento, tente unir ao tema as palavras de


Sir Edwin Arnold, de modo a alcançar a experiência que não pode ser expressa
em palavras.

2. TEMA: Esteja tranquilo e conhecerá que EU SOU O SENHOR.

Desenvolvimento: Este é outro belo versículo da Bíblia, dinâmico por excelência.


A sua meditação leva à compreensão da importância decisiva de se acalmar a
mente, antes que qualquer experiência espiritual possa ser alcançada. Você já
sabe, pelo estudo da concentração, que a mente deve ser silenciada pela força
de vontade do homem e durante o tempo que ele desejar. Vemos aqui um uso
mais importante do domínio da mente: APENAS COM A PAZ PODEMOS TER
A PERCEPÇÃO DA EXISTÊNCIA DO SENHOR. Por “existência” quero dizer
naturalmente a EXPERIÊNCIA, mas não a suposição ou teoria, que não têm
valor. Infelizmente, inúmeros trabalhos, que pretendem ser espirituais e
“inspirados”, são incapazes de fazer algo melhor do que apenas verbalizar e
teorizar, quando só uma experiência viva o fará! Certamente você já os
encontrou várias vezes em sua vida. Agora, não se iluda, e separe
corajosamente o joio do trigo.

O Senhor não está do lado de fora, e devemos erradicar esse conceito, que pode
estar profundamente enraizado em nós, desde nossas encarnações anteriores,
quando éramos menos desenvolvidos e incapazes de obter uma visão mais clara
e mais próxima da verdade. Ele o penetra totalmente, mas o significado pleno
desse fato surge em nós quando nos CONSCIENTIZAMOS dele! E um dos
objetivos da Escola da Vida é nos ensinar isso.

A expressão vocal daqueles que conseguiram essa grande Realização pode nos
servir como uma bóia luminosa. Em alguns capítulos de A imitação de Cristo
você encontrará experiências desse tipo.

O CONHECIMENTO a que se refere o nosso tema é o mais elevado de todos.


Seria melhor chamá-lo de SABEDORIA, e não de conhecimento, pois neste
termo está incluída a idéia do CONHECEDOR e do OBJETO de conhecimento.

Mas o Senhor nunca pode ser um objeto, pois Ele é a própria TOTALIDADE.
Novamente, a condição de tranquilidade diz que, através dela, podemos nos
aproximar d’Ele.

3. TEMA: Tendo o Universo inteiro penetrado por uma parte de mim, Eu


permaneço. (Vedanta.)
Desenvolvimento: Este tema, tirado da Tradição Vedanta, iguala-se em
grandeza aos outros dois do início deste capítulo. Vemos o esforço da mente
humana finita para expressar a Verdade, de outro modo inexprimível em
palavras, de tal maneira que pode acender na consciência do estudante o fogo
da verdadeira intuição, levando-o à realização do tema. Aqui o Senhor confirma
dois axiomas:

a) Que Ele está presente em cada partícula do Cosmos manifestado. Esta idéia
não é nova para nós, pois uma ênfase total tem sido dada a esta verdade em
quase todas as religiões do mundo. Mas foi importante para nossos irmãos
orientais, por causa dos muitos cultos, de muito menor sutileza e alcance, que
prevaleciam em suas classes mais baixas, para quem a elevada idéia do ÚNICO
SEM SEGUNDO era abstrata demais e de difícil concepção. De qualquer modo,
quando o cristianismo entrou na Índia, seu ensinamento a respeito de um DEUS
ÚNICO, mesmo na forma de três Pessoas, não foi revolucionário nesse país
cheio de templos e com milhares de figuras de diferentes deuses no amplo
Panteão nacional hindu. Os círculos mais cultos e iluminados, familiarizados com
a filosofia do Vedanta, estavam bem preparados para confirmar essa doutrina,
que era natural para eles.

A Consciência Espiritual Central única do EU CÓSMICO é, para eles, apenas


outro nome para o SENHOR ÚNICO.

O autor ficou especialmente encantado com o belo hino Para a glória do Senhor
do Universo cantado após a meditação vespertina aos pés do mestre Maharshi,
por um coro selecionado de devotos brâmanes do Grande Rishi.

Uma vez compreendida esta parte do tema, tente sentir a Grande Verdade d’Ele
em você mesmo, como uma experiência viva. ELA É POSSÍVEL, pois até mesmo
nos dias de hoje há homens que estão fazendo isso, e todos nós somos filhos
do mesmo Pai, que fica feliz quando seus filhos se aproximam d’Ele por vontade
própria e com compreensão. Que essas palavras lhe sirvam de encorajamento
e inspiração. Ele está em você agora, neste momento. Ele está ouvindo a voz
silenciosa de sua alma e SABE que num dia glorioso você se reunirá ao Seu
eterno JÚBILO DE UNIÃO NA VERDADE DO ESPÍRITO.

Suas boas-vindas foram a esperança e a inspiração de muitas almas perfeitas,


bem antes de você vir a este mundo para aprender.

b) A segunda parte de nosso tema nos ensina que o Senhor não existe apenas
em Sua Criação, mas que Ele tem um ser independente, além de todas as
Manifestações, como Ele era antes de a Criação começar no Tempo e no
Espaço. Somos incapazes de conceber isso, assim como as misteriosas
palavras iniciatórias de São João, quando ele revelou que: “Não haverá mais
nenhum tempo”.
Seria bom lembrar a bela e significativa concepção vedanta dos Manvantaras e
os Dias e Noites de Brahma quando meditar agora. A idéia deles é a de que o
Supremo cria os CICLOS DA VIDA, isto é, em determinados períodos ELE
escala a Manifestação, e depois a aniquila no processo de inalação cósmica. Os
períodos de intervalos são chamados de “Pralaya” ou Descanso universal.

Como não podemos transcender nosso pensamento relativo, os períodos de


não-existência do universo talvez sejam inconcebíveis para nós, mas ele não é
necessário para nossa meditação. Temos de encarar esta verdade e deixar que
a voz interior da intuição faça o resto.

O Senhor Buda também ensinou que haverá o fim da existência condicionada


no Nirvana, quando todas as ilusões da existência separada em formas se
extinguirão para sempre.

É n’Ele que encontramos a Paz eterna, depois de ter passado por eternidades
de perambulação em matérias de todos os tipos.

Continuamos agora nossa meditação de acordo com os temas que se seguem,


selecionados a propósito deste capítulo, isto é, DEUS. Em todas as próximas
meditações, o estudante é fortemente instado a não esquecer as anteriores, que
fornecem concepções sobre o mesmo assunto.

Desse modo, cada meditação será mais profunda e instrutiva do que a anterior,
e ele progredirá de um modo perceptível neste caminho.

É surpreendente como os espíritos mais avançados da raça humana estiveram


interessados na idéia do Supremo por inumeráveis períodos de tempo, e o
mesmo é válido para a nossa época. Muitos estudantes deste trabalho
encontrarão neste capítulo maior iluminação do que nos outros por causa da
importância de seus temas.

4. TEMA: O ponto onde todas as religiões se encontram é a compreensão, não


no sentido místico, mas no sentido mais universal e corriqueiro de que DEUS É
TUDO, e de que TUDO É DEUS. (O Maharshi.)

Desenvolvimento: Além do valor nominal de uma afirmação, temos de aceitar


que este valor pode ser também positivamente influenciado pela pessoa que a
proferiu. As palavras de uma autoridade reconhecida sobre um determinado
assunto têm um valor totalmente diferente das de uma pessoa desconhecida.
Isso é natural. O Maharshi, o mais recente Rishi indiano, que representou o
melhor da mais alta tradição dos antigos sábios vedantas, foi também um homem
contemporâneo, que não se afastou nem ignorou as condições de vida de nossa
época, este fascinante século XX.

Ele representou a união feliz do ápice espiritual de desenvolvimento e da


santidade com um intelecto lúcido e poderoso, capaz de compreender todos os
aspectos da vida humana e, consequentemente, oferecer um ensinamento
realista e realizável para os homens modernos (veja Em dias de grande paz).

É por isso que a afirmação de tal homem tem um valor bem diferente das teorias
mentais, das suposições e verbalizações dos representantes da filosofia formal,
que nunca viveram o que tentam divulgar. Tais pessoas escondem a falta de
experiência espiritual sob brilhantes sentenças selecionadas com excelente
forma exterior. Sem querer, a comparação de Jesus sobre os “sepulcros caiados”
me vem à mente.

Mas quando um homem dá testemunho de cada palavra proferida por ele através
de uma vida cristalina, livre de pecado, de erro e de egoísmo, e repleta de
santidade e sabedoria, só podemos ter uma consideração diferente por seus
ensinamentos.

O tema 4 parece difícil de se meditar, pois suas afirmações são incomuns.


Portanto, vamos analisá-las dentro do espírito em que foram proferidas.

O Sábio não foi culpado, de modo algum, do erro cometido pelos panteístas,
uma vez que não idolatrou nenhuma força ou manifestação da Natureza, e não
atribuiu nenhum significado ou valor mais elevado a elas do que seu limitado
campo da matéria. E, mesmo assim, encontramos a afirmação: “Deus é tudo e
tudo é Deus”.

No tema 3 deste capítulo falamos bastante acerca da onipotência e onisciência


do Ser Supremo, para sermos capazes de compreender o que a afirmação do
Sábio significa realmente. Como todos nós existimos no Oceano de Deus, então
Ele está em nós e em todos os lugares, em todas as coisas, pois nada pode
existir separado d’Ele. É por isso que, em nosso tema, o significado não é que,
literalmente, “tudo” (como uma pedra, uma planta ou qualquer outro objeto) é
Deus, o que seria absurdo, mas que Ele está em tudo, assim como o Espaço
penetra o universo inteiro.

Entretanto, para nosso propósito, estamos buscando outra solução, que nos
afeta em nossa consciência mais profunda. Os homens normalmente sentem
que estão “separados” do Senhor, e em sua afirmação o Maharshi combateu
esse engano, que torna impossível para eles abordar o Supremo em suas
meditações, assim como na vida diária.

Além disso, ensinando-nos a perceber a existência de Deus como uma verdade


real, assim como consideramos nossa vida pessoal e nosso meio ambiente, o
Maharshi destruiu o mito do regente “distante” do universo, idéia que pode levar
(e leva) os homens à concepção errônea e infantil de que podem esconder
alguma coisa de Deus.

Raramente somos capazes de nos aprofundar e de investigar os aspectos mais


elevados dos ensinamentos religiosos (estou falando aqui das poucas grandes
religiões, fundadas pelos verdadeiros Gigantes Espirituais), e mesmo então pode
nos faltar habilidade para compreendê-los corretamente. É por isso que apenas
uns poucos sabem algo a respeito dos objetivos finais dessas religiões. O
Maharshi nos faz lembrar desse fato.

Finalmente, o verdadeiro significado do tema virá quando tentarmos contemplá-


lo com o espírito da idéia que ele abraça, e então encará-lo e deixá-lo penetrar
nossa consciência e nossa vida. Sendo assim, retornemos ao tema, armados
com as explanações e idéias do desenvolvimento, e teremos então uma chance
de realmente compreendê-lo.

A compreensão, que vem da meditação bem-sucedida, como mencionei


anteriormente, permite-nos viver nossos dias n’ELE, que se torna então a única
realidade digna desse nome, e essa realização nos segue durante todas as
nossas perambulações subsequentes por outros estados de consciência, assim
como pelos diferentes mundos entre as encarnações.

5. TEMA: Deus é infinito, portanto, a existência e a não-existência são apenas


Suas duplicatas. Não que eu queira dizer que Deus é formado de partes
componentes DEFINIDAS. É difícil ser compreensível quando se fala de Deus.
O verdadeiro conhecimento vem de dentro, não de fora. E o verdadeiro
conhecimento não consiste em “conhecer”, mas em “ver”. (Ensinamentos do
Maharshi.)

Desenvolvimento: Seria lógico se eu dissesse que, quanto mais perto um homem


está de Deus, mais e melhor ele é capaz de falar sobre Ele. Se um homem, como
o Maharshi — que dedicou sua vida inteira à busca e ao encontro com o Supremo
—, concorda em nos dizer algo a respeito disso, então deve estar mais próximo
e ser mais claro do que uma pessoa comum, sem a experiência do Sábio indiano,
poderia imaginar. E ainda assim a linguagem humana é incapaz de expressar o
que o Maharshi chamou de “Infinito”, pois nossa mente pára em reverência
diante da concepção realista de infinito.

Contudo, vamos aproveitar o que pudermos deste tema.

Aprendemos que a definição que damos dos dois termos, “existência”, e “não-
existência”, frequentemente usados em nossa filosofia “formal”, são vazios e
inúteis quando aplicados ao Supremo, que está totalmente além delas. Quanto
ao termo “duplicatas”, podemos compreender certos aspectos de Sua
manifestação, capazes de se refletir em nossa mente.

Mas eles NÃO são “partes” nem “componentes” de Deus, e o Sábio nos preveniu
sobre esse equívoco, salientando que falar de Deus é difícil e inadequado.

A única abordagem d’Ele é de DENTRO de um homem, nunca de FORA. É mais


fácil compreender isso depois de termos alguma experiência da VIDA INTERIOR
EM NÓS, a partir do nosso trabalho anterior de meditação, dos capítulos
precedentes.

Só os padrões dessa vida interior — silenciosos, do ponto de vista de nossa


mente agitada — podem ser aplicados à procura d’Ele, como fizeram enquanto
viveram todos os Santos, os verdadeiros Iogues e os Ocultistas Brancos
Avançados e que alcançaram a PAZ final, além de toda a compreensão humana.

Esta meditação me mostra o verdadeiro Caminho para Ele. Mas ninguém pode
percorrer esse Caminho por mim, se quero alcançar a meta,

O mestre diz, no final, que este “conhecimento” que ele possui não é como
qualquer outro, que contém um sujeito e um objeto a serem conhecidos, mas é
como uma “visão”. Como podemos “ver” Deus? Certamente não é através de
uma visão ou impressão externa, e as palavras do Maharshi sobre o
“conhecimento de dentro” nos dizem isso.

Talvez apenas uma comparação nos dê uma idéia desse difícil conceito. Vamos
voltar à “Gota que desliza para o Oceano Brilhante”. Que experiência essa gota
pode ter? Provavelmente, será a consciência da Luz infinita penetrando esse
Oceano. Posso ver nisso o melhor reflexo da idéia.

No próximo excerto de seus ensinamentos, o Maharshi nos dirá mais a respeito


disso.

6. TEMA: A realização nada mais é do que ver a Deus, literalmente. Nosso maior
erro é que pensamos em Deus de um modo simbólico e alegórico, em vez de
pensar n’Ele de uma forma prática e literal. (O Maharshi.)

Desenvolvimento: Temos aqui outra grande recomendação: de como devemos


perceber o Supremo. Ver Deus literalmente é nada menos do que a culminação
plena do poder da Fé em nós. A fé nada tem em comum com o que os homens
chamam de “crença”, que pertence apenas a uma das funções de nossa mente
mortal. A crença é impotente, enquanto a Fé pode remover montanhas. Há
poucos que realmente sabem o que é a Fé. Mas ela traz necessariamente a
visão de Deus. Jesus falou sobre a possibilidade dessa visão (veja o tema 6, do
Sermão da Montanha), e não é de admirar que o Maharshi o tenha dito, pois
TODOS OS MESTRES SÃO UM SÓ E ELES NUNCA SE CONTRADIZEM.

Sendo incapazes de transcender nossas mentes limitadas e operando apenas


entre certos estados de nossa consciência, podemos cometer justamente o erro
mencionado na frase seguinte deste tema: pensarmos em Deus como algo irreal,
simbólico. Esta é a prova de que não possuímos a verdadeira Fé. Você pensa
que os Mártires e Santos, que foram homens eminentes sob qualquer padrão ou
ponto de vista, cometeriam algo como o sacrifício de suas vidas, por uma idéia
imaginária, obscura, ou por uma “crença”? Indague à sua própria consciência!
Você sacrificaria a sua vida por um propósito duvidoso? É claro que estou
falando aqui sobre homens dotados de sanidade total e de equilíbrio mental, pois
muitas pessoas desequilibradas, com habilidades mentais inferiores, foram e são
capazes de cometer suicídio em sua insensatez. Não há dúvida de que, se um
homem sadio, mental e fisicamente, sacrifica sua vida por uma idéia, ela deve
ser poderosa e, se isso significa agir motivado pela atração do Poder supremo,
esse Poder deve ser inteiramente real, e não alegórico ou duvidoso. Portanto,
as palavras do Sábio Ramana se justificam outra vez, e sua própria vida foi a
prova final disso. Ele não teve medo da morte, pois a considerava apenas uma
transição para a vida real, mais elevada, em comparação com a vida material no
corpo físico, que é apenas um sonho repleto de fantasias. Frequentemente lhe
perguntavam sobre o modo como ele via esse mundo onde todos nós vivemos,
como se estivéssemos num ambiente real. Geralmente o Sábio preferia não
responder a essas perguntas, pois provavelmente tinha consciência da
inutilidade de revelar às pessoas algo que elas não podiam experimentar por si
mesmas e, portanto, não podiam aceitar como verdade.

Mas, uma vez, pressionado de todos os lados, ele interrompeu seu longo silêncio
e deu uma breve resposta à pergunta sobre como via o mundo e as pessoas ao
redor dele. “Vocês são irreais para mim, como sombras”, foram suas palavras.

Se pensarmos profundamente nessa afirmação aparentemente crítica, podemos


encontrar a chave certa para ela. Até mesmo Krishnamurti, em resposta a uma
pergunta semelhante, durante sua visita à América do Sul, muitos anos atrás,
disse: “Seus eus” (isto é, egos) “são inexistentes, mesmo agora!”

Sendo como somos, sem qualquer conhecimento interior mais profundo baseado
na experiência espiritual (não perecível), e totalmente absortos pela vida física
como a única realidade acessível a nós, será que existimos realmente?

Como sabemos, a partir do estudo dos capítulos anteriores, o curto período de


algumas dezenas de anos passados em nossos corpos físicos, que depois se
desintegram em poeira e inutilidade, não pode ser considerado uma existência
real.

Uma profunda conclusão pode ser tirada desta meditação. Se possuímos a


PERCEPÇÃO, que significa a consciência da existência em Deus, então somos
seres reais, não subjugados pela destruição e pela morte. Senão, isto é, se Deus
não é real para nós, então somos apenas sombras temporárias, esperando por
alguma confirmação de vida futura.

As relações “práticas” com o Supremo implicam, é claro, a fé total e a experiência


de Sua presença e influência no homem. Meditamos a respeito disso nos temas
anteriores.

O Maharshi falava principalmente sobre a percepção do verdadeiro Eu (ou


Espírito) do homem, mas, por ensinar constantemente que o Eu verdadeiro é ao
mesmo tempo Deus, essa Percepção não significava justamente a percepção do
Supremo no homem.

Podemos ver como os dois estão estreitamente ligados. Conhecendo nossa


verdadeira natureza, chegamos, ao mesmo tempo, mais perto do ESPÍRITO-
CONSCIÊNCIA CENTRAL, que é o que chamamos de Deus.

Sem dúvida, é uma grande realização ser capaz de sentir Deus de um modo
prático e literal, como o Maharshi nos aconselha. E isso pode ser alcançado, pois
outros já o conseguiram.

Apenas uma abordagem real do Senhor dará ao homem essa confiança


suprema, paz e felicidade, aqui e além-túmulo, mas as teorias e suposições não
farão nada de permanente por ele. Até mesmo o sofrimento físico, se não for
contrabalançado pela certeza espiritual interior, pode facilmente romper a
resistência e o equilíbrio de um homem.

Se lermos as vidas dos Santos, poderemos ver por nós mesmos como eles
tinham segurança em sua fé e como era real para eles a Presença Eterna do
Senhor. Eles sabiam disso de um modo prático.

Embora essa Presença seja imutável e incessante, milhões (atualmente, a


maioria) de homens não a sentem e não sabem nada a respeito dela. Para eles,
é como se não existisse. A partir daí, podemos ver que É A ATITUDE INTERIOR
DE UM HOMEM QUE DECIDE TUDO, assim como uma boa visão lhe permite
ter uma idéia exata do que o circunda. Uma pessoa cega nada sabe sobre o sol,
embora essa estrela vivificante exista e exerça sua influência nela, assim como
naqueles que podem vê-la.

A meditação tem como um de seus principais objetivos desenvolver em nós a


“visão” correta em relação à realidade do interior não-perecível e da vida
material.

É com esse espírito que devemos estudar a meditação e praticá-la.

7. TEMA: Devemos afastar o mundo, que dá origem às nossas dúvidas, anuvia


nossa mente, e a Luz de Deus brilhará claramente. Isso pode ser feito se, ao
olharmos para um homem, pensarmos por exemplo: “É Deus que está animando
o seu corpo, que reage mais ou menos perfeitamente segundo a direção de
Deus, assim como um navio reage mais ou menos perfeitamente segundo o seu
leme. (Dos ensinamentos do Maharshi.)

Desenvolvimento: A razão pela qual não podemos ver Deus é dada nesta
meditação, e nós já a conhecemos: é o mundo, ou, mais exatamente, nosso
apego a seus valores e condições perecíveis, que refrata a LUZ BRANCA DO
SENHOR, assim como os prismas refratam a cor branca básica em muitas
outras. Colocando outro prisma diante do espectro, novamente somos capazes
de obter a Luz primordial, indivisível, pelo processo de reintegração sintética.
Enquanto a negligência, o sentimentalismo, a vida física e a ignorância, reunidas
pelo apego à existência mundana, dividiram e obscureceram o primeiro prisma,
o segundo, o reintegrador, é composto de fatores opostos. Estes são o controle
da mente e das emoções, a sabedoria da verdadeira vida e o desapego em
relação ao que inevitavelmente se perderá no tempo e no espaço. Outro
conselho místico, mas muito realista, é dado na afirmação seguinte do tema. Não
devemos nos enganar com as formas vivas, com sua aparência exterior, que é
apenas ilusória, mas sim olhar mais profundamente para o sustentáculo genuíno
de sua verdadeira vida. Ao olhar para um homem, não devemos ver a
personalidade perecível, envolta no material espesso do corpo, assim como para
seus correlatos astral e mental (sentimentos e pensamentos), mas APENAS
PARA O QUE REALMENTE O ANIMA, a Luz do Supremo, sem a qual não há
vida alguma, apenas matéria em decomposição.

Nas meditações anteriores, você já viu que o homem é basicamente a LUZ


INTERIOR QUE ESTÁ NELE (como São João nos disse); assim, esta afirmação,
que está de acordo tanto com um sábio indiano como com um inspirado discípulo
de Cristo, deve estar além de qualquer dúvida para você agora.

Você sabe que existem pessoas “boas” e outras que não o são. Como isso
acontece? A última frase de nosso tema dá uma resposta inequívoca: o corpo
não obedece perfeitamente à sua LUZ INTERIOR, assim como o navio não
obedece ao seu leme.

Sei que você gostaria de fazer imediatamente outra pergunta. Por que acontece
isso com o corpo e o navio? A resposta direta, absoluta, é conhecida apenas
pelo ÚNICO, que originou o universo e você com ele. É inútil perguntar a respeito
de assuntos que estão além dos poderes da mente e da habilidade para refletir
sobre a verdade.

Contudo, há um meio de se obter uma resposta pessoal, convincente, e ela virá


de seu próprio íntimo, que lhe é pouco conhecido.

Pergunte a si mesmo POR QUE SE COMPORTA DE UM MODO QUE DEPOIS


LHE TRAZ ARREPENDIMENTOS. Pergunte com energia e sinceridade totais e
você poderá obter a resposta mesmo sem palavras. Outros já fizeram isso e
aprenderam sua própria verdade. Mas a Verdade está refletida em cada ser vivo
e, portanto, também em você. Em você reside a FONTE DA SABEDORIA, e só
depende de você olhar ou não para ela. E dessas alternativas depende também
você possuir ou não o conhecimento!

As circunstâncias, como sua mente talvez sugira, não pertencem ao campo das
CAUSAS que lhe deram vida deste ou de outro modo. São simplesmente como
uma tela na qual a sua vida e atividades se refletem, assim como um filme no
cinema. A ação pertence a nós, homens, assim como a responsabilidade.
Se você adquirir o hábito de olhar para cada ser vivo, em primeiro lugar, é claro,
do modo como foi descrito acima, uma estranha, misteriosa mas benéfica
mudança além de qualquer imaginação ocorrerá, e você verá o mundo com
muito mais clareza do que jamais viu. Uma das principais vantagens disso será
a aniquilação de qualquer amargura interior, a despeito dos sempre possíveis
reveses e “injustiças” do mundo exterior. Não há dúvida de que, em
circunstâncias similares, adversas ou propícias, dois seres humanos diferentes
se comportarão diferentemente. Um sofrerá mais, outro menos, e um será mais
iludido pelo alívio temporário do que o outro.

Ninguém pode viver nossa vida em nosso lugar, e só nós somos os responsáveis
por nossas reações a circunstâncias e choques advindos do mundo. Eles foram
merecidos por nós em nosso passado distante e são o nosso carma, como
alguns afirmam. Enquanto não puderem ser mudados, nossa atitude pode mudar
de insensata para sábia.

8. TEMA: Acima de tudo, o que é Deus? Uma eterna Criança, brincando com um
brinquedo eterno num jardim eterno... (Aurobindo Ghose.)

Desenvolvimento: Pode parecer que este aforismo do famoso filósofo é um tanto


controvertido. Mas apenas a um primeiro olhar. Ele não atribui à Criança Divina
as qualidades de uma criança humana, isto é, intelecto não desenvolvido, falta
de experiência e fraqueza. Este não é o significado que Sri Aurobindo usou para
o termo “Criança”.

Vamos analisá-lo mais de perto. Uma criança é essencialmente livre para brincar
com o que quiser: portanto, quem limitaria o Poder Infinito, que produz o universo
sem esforço e labuta, mas apenas na Alegria ilimitada da Criação?

Nem todos os meus estudantes aceitarão este aforismo do filósofo e ocultista


indiano, mas, para aqueles que aceitarem, continuarei o desenvolvimento do
tema.

Não precisamos de nenhuma prova especial de que o elemento ALEGRIA existe


em toda experiência espiritual. O êxtase dos Santos, a elevação no Samadhi, a
bem-aventurança na admiração e comunicação com Cristo, todos eles são
preenchidos pela Alegria e felicidade supremas. Mas são apenas um reflexo de
algo ilimitável, eterno, nos seres até agora limitados e mortais. A imaginação
pára espantada diante do conceito de como deve ser grande e poderosa a
Alegria em sua FONTE, isto é, no Próprio Senhor. O Grande Mestre usou a
expressão (dirigida ao justo): “ENTRE NO JÚBILO DO SEU SENHOR!”

Não devemos pensar que os Santos, os verdadeiros Iogues e outros ascetas


trocaram seus prazeres terrenos por algo menor, nem pelo sofrimento. Isso seria
um absurdo cruel, uma falsidade, que obstruiria o Caminho para todos os filhos
do homem inteligentes e inspirados.
Basta ler suas vidas e experiências para ver onde está a verdade real. Esses
homens avançados foram e são felizes além de qualquer medida terrena, e a
felicidade deles não se limita apenas às encarnações terrenas, pois eles a levam
consigo para as esferas mais altas e reais da vida.

Sob esta luz, o drama do universo toma a forma de um jogo eterno, e seu clichê
final é a Bem-Aventurança e a Perfeição para todos os seus participantes. O
Jardim no qual o Grande Jogo acontece também é eterno; assim como são
eternos o jogador e o jogo. Esta meditação tem um toque sutil de otimismo
espiritual, e muitos de vocês nela encontrarão inspiração e alegria.

9. TEMA:

Ó Vós, ser infinito no espaço,


Vivo em todos os movimentos da matéria,
Eterno além de todo tempo e espaço,
Só, e contudo manifesto na Santíssima Trindade!
Ó Único e Onipresente Espírito!
Transcendental a lugares e causas,
Impossível de ser conhecido
E a Quem ousamos denominar — Deus!
Mesmo que alguma mente elevada pudesse
Penetrar as profundezas dos oceanos,
Contar os raios das estrelas e os grãos da areia
Ainda assim não haveria para Vós número ou medida.
(Denis Derjavin)

Este longo tema precisa de uma explanação especial. Tem agora cerca de
duzentos anos de idade e foi extraído da Ode a Deus, escrita pelo eminente
poeta e filósofo russo Denis Derjavin, que viveu no tempo da imperatriz Catarina
II, chamada de “a Grande”. Com a tradução, é impossível transmitir a beleza
original dos versos e a musicalidade de uma língua tão distante da nossa.
Portanto, limito-me a uma tradução mais exata e ideologicamente verdadeira,
que forma o presente tema para a meditação. Na vida de muitas pessoas
eminentes há momentos de elevada inspiração, quando parece que a VERDADE
transcendente se torna perceptível à mente humana. A ode de Derjavin foi
escrita, sem dúvida, durante um desses momentos de êxtase. Você já sabe
bastante sobre o Senhor pelas meditações anteriores, e está consciente de que
Ele pode nos garantir a Graça e nos enviar um raio de Sua Sabedoria.

Então, a alma humana A reflete e é inspirada por ELA. Esse reflexo sobrevive a
nós e às vezes é ressuscitado de seu longo esquecimento por outra alma que
faça a si mesma uma pergunta semelhante. E uma afinidade mística, mas
verdadeira, de espíritos humanos novamente aparece em todo o seu esplendor.
Pense a respeito disso, compreenda e memorize o tema. Da minha parte, farei
o melhor que puder, seguindo o desenvolvimento da ode.

Desenvolvimento: Vemos que, nos momentos de inspiração espiritual, as


concepções humanas a respeito do Supremo frequentemente tomam uma forma
exterior semelhante. E assim é com o presente tema de meditação. Já
aprendemos a usar a comparação da infinitude do Espaço, a fim de permitir que
a idéia básica da onipresença e infinitude de Deus germine em nossas mentes.
O Maharshi enfatizou esse assunto (veja capítulo 26, tema 5), explicando que
essa Infinitude torna difícil descobrir uma expressão para o Supremo na
linguagem humana. Mas a onipresença e a continuidade de Espaço são
acessíveis à nossa mente. Daí a presente comparação.

Deus pode ser percebido como agente nos movimentos da matéria em Seu
universo manifesto. Essa compreensão nos permite também fazer a próxima
abordagem d’Ele: pois Ele é eterno e está além de todo tempo e espaço, estando
presente em ambos (compare com o tema 3 deste capítulo). Já sabemos algo a
respeito disso por nossas meditações anteriores.

Agora vêm as três misteriosas manifestações da Divindade Absoluta, em Suas


três formas, conhecidas pela iniciação cristã como Deus, o Pai, o Filho e o
Espírito Santo. Não há muito a acrescentar, mas a meditação sobre a Santíssima
Trindade, após você ter lido os ensinamentos de Cristo a esse respeito, pode
ajudá-lo a obter uma concepção espiritual verdadeira.

Derjavin nos diz que o Espírito único, onipresente, que transcende todas as
condições conhecidas pelos homens, é “impossível de ser conhecido”. Isso é
apenas natural e lógico. Uma gota não pode refletir o imenso oceano em si
mesma, uma vez que é parte desse oceano.

Chegamos agora à sábia comparação dos poderes da mente com o Senhor


Infinito. Derjavin dá o exemplo de poderes imensos, quase inimagináveis, que
podem ser possuídos (em teoria) pela mente humana. Poderes tais como esse
da contagem dos inúmeros raios das numerosas estrelas (e sabemos agora
sobre bilhões delas) ou a figura, igualmente inconcebível, que revela o número
de grãos de areia em nosso planeta, e então afirma que Deus transcende
infinitamente todas essas coisas difíceis de imaginar:

“...não haveria para Vós número nem medida”.

As palavras da ode são tão simples e diretas que não há necessidade de mais
explicações. Encontre o verdadeiro reflexo em seu próprio coração.

10. TEMA: A onipresença do Senhor está em mim, não importa se estou


consciente ou não desse fato.
Desenvolvimento: É inconcebível, para uma mente sadia, que possa haver algo
separado de Deus ou além de Seu alcance. Mas, de um conceito intelectual até
sua realização, há um caminho muito longo. E essa é justamente a diferença
entre os que sabem e os que não sabem. Isso foi salientado pelo Maharshi. O
Grande Mestre nos disse brevemente: “CONHEÇA A VERDADE E SERÁ
LIVRE!” Não há nem pode haver verdade maior do que a percepção de Deus.
Tudo o mais é relativo, temporal e mental. Podemos confiar nessas
manifestações evanescentes da vida como as vemos ao nosso redor, a cada
momento e dia de nossa vida física?

Há um meio, um meio abençoado, que permite que um homem se torne


consciente da onipresença do Supremo, por meio da percepção de Sua
presença nele. É possível “sentir” essa presença, estar certo dela e de sua
infinita superioridade sobre todas as outras consciências, o que é a melhor prova
de sua verdade.

O caminho mais seguro é o que nos conduz por uma vida boa, honesta e pura,
acompanhada por intensas meditações, tendo por base o desejo interior de nos
unirmos com a Fonte, com o Pai, em resumo, com O ÚNICO SEM SEGUNDO.

Aqui, se quiser, você poderá substituir a palavra “meditação” por “prece”, pois
ambas são sinônimas no campo espiritual. Você observará isso no epílogo deste
livro.

A transformação da verdadeira meditação em verdadeira prece espiritual vem


imperceptivelmente num processo natural e, portanto, efetivo. Quando você
começar a descartar palavras e outras variedades de verbalizações em sua
consciência, e aprender a perceber sem a participação grosseira de sua mente,
então descobrirá — como o sábio Maharshi previu — que tudo se une em um
ponto, que é a REALIZAÇÃO, ou a consciência de Deus.

Assim falou o Rishi indiano, que era considerado um representante da ESCOLA


DA SABEDORIA, ou jnana, na terminologia vedanta. E sua Sabedoria se fundiu
em Deus.

Perto do final de sua última noite, durante as horas conclusivas de seu terrível
sofrimento físico (a Cruz, que ele aceitou por nós), e pouco antes de deixar seu
corpo, suas palavras foram: “Pai, Pai!”

11. TEMA: O céu estrelado está acima de mim, a Lei da Moral Eterna está em
mim. (Emmanuel Kant.)

Desenvolvimento: Raramente podemos encontrar uma sentença tão breve


exteriormente, mas tão profunda e bela em seu verdadeiro significado.

O grande filósofo de Königsberg sabia da existência de inúmeros universos no


espaço ilimitado. Estava consciente da enormidade da Criação, mas isso não o
deixou oprimido pela comparação com a pequenez aparente do homem, porque
ele estava consciente também de outra grandeza, desta vez dentro dele mesmo,
como em todo homem. Ele a chamou de “Lei da Moral Eterna”, evitando assim
o termo frequentemente tão mal usado e compreendido — Deus.

Quando, numa noite clara e calma, olhamos para o céu escuro, semeado de
inúmeras estrelas que nossos olhos podem perceber, e quando compreendemos
que esses pontos luminosos são mundos em si mesmos, provavelmente muito
maiores do que o nosso planeta, isso nos permite chegar mais perto de uma
apreciação correta das nossas possibilidades de percepção e compreensão.

Sabemos, praticamente, que o mais rápido movimento conhecido é o do raio de


luz no espaço. É preciso milhões de anos-luz para que a luz desses mundos
mais distantes chegue até nossos olhos, de modo que possamos ver esse
pequeno ponto luminoso no céu escuro.

Ao mesmo tempo, há um poder em nós que é muito superior, em velocidade, a


esse raio de luz. Com o nosso pensamento, a nossa mente, a imaginação,
somos capazes de nos transportar para o mais longínquo planeta ou estrela num
momento, num espaço de tempo quase incalculável de tão curto. Num tratado
vedanta há uma afirmação da capacidade de “um Rishi (isto é, de um Sábio
perfeito) para ver, com sua consciência oniabrangente, o universo inteiro como
numa gota de água diante de seus olhos”. Vale a pena dar a devida consideração
a essa afirmativa.

Aqueles que passaram com êxito pelo curso de concentração e chegaram ao


estágio da iluminação, obtendo a permissão para “irromper” no Espaço (veja
Concentração, capítulo 20, exercícios 9 e 9A), terão a oportunidade de
experimentar isso. E não é tão “impossível” como muitos pensam. Portanto, o
céu estrelado é uma base propícia para nos ligarmos de novo ao Infinito, e assim
ampliar enormemente nossa capacidade de percepção. É por isso que esse
quadro trouxe tanta inspiração a Emmanuel Kant. Pode acontecer o mesmo
conosco, se tentarmos com clareza de mente e habilidade concentrá-la num
tema elevado.

Entretanto, o grande filósofo não parou simplesmente neste ponto. Encontrou


algo mais alto: sua própria alma. Ele a chamou de “LEI DA MORAL ETERNA”.
Por Lei ele compreendia o papel inato que impera numa consciência avançada,
manifestando-se no valor moral de um homem. Isso significa que esse homem
vive de acordo com essa lei, e não como uma unidade emocional e mentalmente
descontrolada. E essa Lei é mais alta do que todas as leis materiais que regem
a manifestação física do imenso universo.

Essa é a Luz que ilumina todo homem que vem ao mundo, mas poucos estão
conscientes dela, e para a maioria é como se não existisse. Mas a ignorância
não destrói a Realidade. Até mesmo no plano mais baixo da existência, o
chamado plano “físico”, não conhecemos muito mais do que um fragmento das
leis físicas, de acordo com as quais nossos corpos são constituídos e vivem.
Contudo, tanto um selvagem primitivo como um “homem culto” usam essas leis
subconscientemente, e isso permite que eles vivam e desfrutem a vida.

Mas diferentes leis morais dirigem, por exemplo, um filósofo como Kant e um
inculto habitante da África central.

A consciência da mais alta lei da moralidade e o predomínio dela na vida da


pessoa estabelecem toda a diferença. Essa lei nos permite controlar o mar
tempestuoso de nossa vida emocional e mental, quando outros estão se
debatendo entre as ondas, como barcos sem leme.

Vamos agora para a conclusão final deste tema de meditação. A LUZ INTERIOR,
equivalente à Lei de Kant, é um reflexo do ÚNICO SEM SEGUNDO em nós, isto
é, de Deus. O Senhor não se preocupa com os nomes que damos a Ele, nem
com as teorias que construímos em torno das concepções d’Ele em nossa
mente. Ele ESTÁ PRESENTE PARA SEMPRE, e pouco importa como os
homens preferem chamá-Lo. Sabemos que um dos “atributos” do Todo-
Poderoso é a Sua INFINITUDE, “que está acima de todos os atributos que nossa
mente limitada possa imaginar para Ele”.

Isso abrange a totalidade de atributos, livre de todas as suas limitações.

12. TEMA: Todavia, eu vivo, disse o Senhor, e estou pronto para vos ajudar e
vos dar o maior conforto possível, se confiardes em mim e Me chamardes
sinceramente. (A imitação de Cristo, de Thomas à Kempis.)

Desenvolvimento: Nossa série de meditações a respeito de Deus seria


incompleta sem este texto do livro A imitação de Cristo, inspirado em toda a sua
simplicidade. É como se ouvíssemos o Senhor falando e nos revelando o que
tanto precisamos saber para vencer durante nossas encarnações. Nesta
meditação relativamente curta temos pelo menos cinco pontos para trabalhar,
enquanto caminhamos pelo seu texto.

Em primeiro lugar, há a afirmação de que o Senhor VIVE. É assim para todos


nós? E a humanidade precisa realmente dessa lembrança? Naturalmente, em
sua grande maioria, os homens se esqueceram, e nem mesmo querem saber de
nada sobre o Poder Superior, em cujas mãos está toda vida e existência. Eles
desperdiçam suas encarnações perseguindo alvos efêmeros, fazendo tudo
exceto aproximar-se do Absoluto de quem eles emanaram antes que o tempo
começasse.

É por isso que aqui temos uma confirmação categórica da verdade da existência
d’Ele, que está acima e além de toda existência, como o sábio indiano Ramana
Maharshi nos disse, concordando plenamente com o misticismo cristão do mais
alto nível.
Se o misterioso conhecimento da realidade de Deus nos penetra, então
participamos de Sua Graça, sem a qual nossas meditações nunca chegam ao
ápice para mergulhar n’Ele. Precisamos pensar, agora, profundamente nisso
antes de seguirmos até a próxima encruzilhada. A iluminação final virá no
Silêncio profundo.

Em segundo lugar, o Senhor está pronto para nos ajudar! Que verdade generosa
e auspiciosa está encerrada nessas simples palavras! Sei que, quanto maior for
o meu problema, mais alto será o Poder de que preciso para resolvê-lo. Contarei
apenas com a minha pobre e pequena personalidade, que não pode ter certeza
nem do que acontecerá na próxima hora? Posso apenas supor, e a suposição é
inconsistente e carece de felicidade. Se, de acordo com as palavras do Senhor,
eu me voltar para Ele, encontrarei um protetor melhor, mais gracioso e
onipotente, a quem Cristo nos ensinou a chamar de “NOSSO PAI QUE ESTÁ
NO CÉU”? Meditando nessas palavras, estou abrindo a porta secreta pela qual
Ele pode vir e iluminar toda a minha vida, removendo meus medos e problemas,
mostrando-me o único objetivo valioso e santificando meu espírito-consciência,
que ainda está aqui enquanto estou enfrentando minhas batalhas na gaiola
carnal da existência temporal na matéria.

Não suplicarei a ele que me ajude em minhas necessidades particulares, pois


não há ninguém que saiba melhor aquilo de que realmente preciso do que essa
Luz Central do Ser, que é o Senhor. N’Ele não há sombra nem imperfeição, e é
isso o que Ele espera que seja despertado em minha alma.

Portanto, que Ele decida o quê, quando e de que modo Seu auxílio pode descer
sobre mim, não como um consolo temporário, mas como a eterna graça do Deus
Pai. Sei que os Santos se voltaram para o Senhor deste modo. Eu gostaria de
seguir a Sabedoria deles com humildade e admiração.

Em terceiro lugar, Ele só pode dar o maior conforto, pois a Onisciência não
comete erros, nem é afetada pela negligência nem pela ignorância humanas. É
por isso que Ele diz que pode me garantir o conforto supremo, após o qual não
haverá mais escuridão nem sofrimento para mim. A condição? Posso vê-la
claramente agora: É A ABSOLUTA SINCERIDADE E O FIEL RETORNO PARA
ELE, COM PLENA CONSCIÊNCIA DE SUA INFALIBILIDADE E ONISCIÊNCIA,
A QUAL NÃO PODE SER ENGANADA NEM OBSCURECIDA POR QUALQUER
FRAQUEZA HUMANA.

Esse conforto não virá de fora, mas de dentro de mim mesmo, pois está no mais
profundo recesso da percepção do coração, onde Ele reside e de onde Ele fala...
Isso significa que minha atitude será correta e que os problemas exteriores e
interiores serão desarmados e se renderão inocentemente, por Sua Voz, que
fala em mim. Este é o meio pelo qual tenho de compreender e me aproximar
d’Ele.
Em quarto lugar, tudo isso só acontecerá se eu confiar incondicionalmente no
Senhor. Isso é natural, após ter meditado sobre as três primeiras partes do
presente tema. A entrega espiritual pela fé absoluta no Altíssimo deve ter um
poder especial em si mesma, pois posso lembrar as poderosas palavras do
Maharshi, proferidas para os que estavam ao seu redor e se lamentavam sobre
as dificuldades para dominar a mente e chegar à paz interior: “Rendam-se a mim,
e eu derrubarei a mente”.

No Oriente, um grande líder espiritual, como foi o Rishi, é considerado uma


emanação do Divino. De qualquer modo, um tal homem está muito mais perto
do Senhor do que as pessoas comuns, fracas e pecadoras, e não tenho a menor
dúvida a esse respeito. Até uma mente lógica, mas não totalmente pervertida,
confirmará essa verdade.

Um ser humano é incapaz de obter ou de suportar uma visão desvelada do


Senhor. Nenhuma imaginação ajudaria neste problema, só a EXPERIÊNCIA
ESPIRITUAL direta. Mas, para obter tal experiência, um homem deve estar
acima do nível médio, e são necessárias muitas encarnações para alcançar esse
estado. Não existem, portanto, meios pelos quais possamos nos aproximar do
alvo, enquanto estamos neste corpo e sob estas condições? Existem, se formos
capazes de ver e reconhecer uma das grandes almas durante sua encarnação
terrena, pois elas são o REFLEXO do Senhor Infinito, feito visível aos olhos
mortais. Render-se a um tal Ser é nos render ao Senhor, que aceita
graciosamente nossa devoção e zelo.

Em quinto lugar, resta ainda o último esforço no Caminho: o PEDIDO DE AJUDA


AO SENHOR. Sinto que isso deve ser aceito de modo literal e não simbólico,
como o Grande Rishi Ramana nos ensinou (veja o tema 6 deste capítulo), isto é:
é preciso chamar como chamaríamos alguém para nos ajudar em caso de
necessidade. Há muitos obstáculos para esse passo decisivo: nosso egoísmo
absurdo, expresso em falso orgulho e autoconfiança, mal dirigido e que, portanto,
anula qualquer abordagem ao Supremo; a seguir, vem nossa falta de fé, seguida
pelas DÚVIDAS incessantes quanto à existência do Senhor, a possibilidade de
alcançá-Lo pela prece humana e a hesitação em resolver nossas dificuldades
por outros meios. Não há razão para enumerar todos os enganos, ditados pelo
ego, esse fantasma mortal, que gostaria que morrêssemos junto com ele! Não
vamos sucumbir à voz da Escuridão, mas seguir a LUZ, que nunca erra nem nos
desorienta.

13. TEMA:

Que o Senhor se eleve e Seus inimigos desapareçam,


Como a cera se derrete diante do fogo,
Como a fumaça se dispersa com o vento!
Que todos os que odeiam o Senhor desapareçam de sua visão.
E que o justo se rejubile!
Como tema de conclusão para as meditações a respeito de Deus, dou aqui um
antigo e poderoso EXORCISMO, que data do início da era cristã, usado como
um meio efetivo de resistência às forças do mal que atacam aqueles que tentam
dedicar sua vida ao Senhor. Ele é conhecido dos círculos teúrgicos
contemporâneos e foi brevemente mencionado em meu livro Concentração.

Aqui ele será plenamente explicado, sendo apropriado aos objetivos da


meditação.

Desenvolvimento: A primeira frase do Exorcismo não deve ser mal


compreendida. Deus existe para sempre e além de qualquer tempo e espaço;
portanto, não pode haver nenhum momento em que Ele esteja ausente de Sua
Criação. Esta é a verdade básica sobre Ele; mas há outra, uma verdade relativa,
que diz respeito a nós, homens. Nem sempre estamos conscientes da Presença
d’Ele, nem temos Fé suficiente. Há períodos (infelizmente muito longos) em
nossa vida em que simplesmente não pensamos n’Ele, é como se Ele não
existisse para nós. Esses são justamente os momentos em que o Mal nos ataca,
enviando-nos dificuldades, desastres, medos e paixões para nos levar a
colapsos espirituais, e coisas assim. Nesses momentos, precisamos d’Ele, e se
nós O chamarmos sinceramente e com fé, ELE SE ELEVARÁ EM NÓS E POR
NÓS, EM NOSSA DEFESA. É desta maneira que devemos meditar sobre esta
parte do nosso tema.

Podemos ver neste mundo, através de nossos próprios olhos, que o mal existe,
que ele luta contra Deus e provoca dificuldades de todos os tipos, desde
sofrimentos e crimes pessoais até enormes conflagrações entre nações, que
tentam destruir uma à outra, por motivos materialistas e egoístas. Sabemos que
a Luz existe, mas existe também a Sombra, da qual São João, o Evangelista,
disse: “A Escuridão é incapaz de absorver a Luz”. Deus é Luz e Verdade, e o
Mal é escuridão e ilusão. A personificação do Mal foi chamada nas Escrituras de
“O Pai das Mentiras”.

Finalmente, compreendemos que, onde há luta, deve haver também


animosidade. Nesta parte de nossa meditação, pedimos o desaparecimento, a
aniquilação dos inimigos do Senhor. Isso pode parecer um pouco estranho para
aqueles que seguiram nossas meditações anteriores, que estão convencidos da
onipotência de Deus e que consideram que esse atributo deve excluir qualquer
probabilidade da existência de inimigos Seus.

Aqui estamos entrando no MUNDO DAS CAUSAS, que está absolutamente


além da capacidade de compreensão de nossa mente mortal. Como já
mencionamos num dos capítulos anteriores, não podemos penetrar na
CONSCIÊNCIA ABSOLUTA, INCONDICIONAL DO SUPREMO, assim como,
por exemplo, um glóbulo vermelho de nossa corrente sanguínea não pode
conhecer POR QUE E O QUE O HOMEM em cujo corpo este glóbulo vive e se
move ESTÁ PENSANDO. Há um muro branco para o conhecimento mental
humano, e esse muro nos impede eficientemente de entrar no reino que não
pertence à mente. Por outro lado, isso não significa que devamos permanecer
eternamente na ignorância! Pois o que é inacessível à mente do ser humano é
claro para o seu Espírito, uma vez que ele se torna capaz de elevar sua
consciência até o ESPÍRITO ÚNICO. Nesse estado mais elevado não há
perguntas, problemas, sistemas binários e semelhantes atributos da mente para
serem resolvidos. A consciência mais elevada, não importa se a chamamos de
“Êxtase Espiritual” ou “Samadhi” (como nossos irmãos orientais), está além de
todos os problemas e questionamentos, pois nela não há sombras, apenas LUZ.
Você encontrará a mais bela tentativa de converter o inacessível no Apocalipse
de São João, ao descrever o amor e a ternura do Senhor para com Seus filhos,
os homens.

Mas aqui, na terra, estamos no reino dos fatos e, de acordo com eles, pedimos
a remoção do Mal, ou dos inimigos do Senhor, de nossa visão. Agora podemos
passar para a próxima linha do tema.

Essa derrota dos Inimigos pode ser como o desaparecimento da cera dura
quando atingida pelo fogo, que acaba inexoravelmente com qualquer forma que
ela possa ter tido. Pense profundamente nesse símbolo e verá o meio pelo qual
o Mal deve ser derrotado por Deus. A segunda comparação é com a derrota
apresentada a nós pela figura da fumaça que desaparece quando dispersa pelos
movimentos do ar, a que denominamos vento. Em ambos os casos, o modo de
aniquilar é semelhante e é, contudo, o único em sua realidade oculta. Nada mais
pode ser dito sobre isso, mas tente pensar profundamente nos dois modos de
derrotar o Mal e chegará à conclusão certa, embora inexprimível em palavras.

A linha seguinte fala daqueles “que odeiam o Senhor”. É uma verdade triste e
revoltante, mas ainda assim uma verdade que não pode ser negada. Seria um
jogo certo nas mãos daqueles que “odeiam o Senhor”, se sucumbíssemos aos
esforços traiçoeiros do Inimigo para confundir o maior número de homens
possível e se, de um modo insensato, recusássemos o reconhecimento do real
estado das coisas. Sei do caso de um velho senhor, “ministro” de uma seita
obscura, que, enquanto tentava fazê-la passar por cristã, atrevidamente
procurava convencer os jovens da “não-existência e do absurdo histórico da
pessoa de Cristo”.

Isso aconteceu no lugar onde estou escrevendo estas linhas, e todo domingo
esse “ministro” colocava uma espécie de vestimenta sacerdotal onde se via,
bordada, a cruz de Cristo.

Isso pode servir de exemplo de como o Mal pode encontrar caminhos traiçoeiros,
mesmo sob a cobertura do signo da Luz. Esse exorcismo pede para tais inimigos
desaparecerem da VISÃO DO SENHOR, assim como a escuridão desaparece
diante da Luz.
Sabemos de grandes nações, dominadas pelos “que odeiam ao Senhor”, que
tentam de todos os modos possíveis erradicar todas as idéias a respeito de Deus
de seus vassalos infelizes e tiranicamente governados. Mas sabemos também
que o Grande Mestre previu tudo e nos aconselhou a persistir na Verdade e na
Luz, dizendo: “Aqueles que resistirem até o fim serão salvos”.

O final do tema nos diz que o “JUSTO SE REJUBILARÁ”. É o triunfo final de


Deus sobre o Mal. Aqueles dentre nós que, durante sua vida, tiveram de lutar
realmente contra o mal que havia em si mesmos, sabem da felicidade dessa
vitória espiritual, quando a impureza é substituída pela pureza e a escuridão,
pela Luz. Essa bênção seria possível se não houvesse luta, se tudo viesse “por
si mesmo”, sem a nossa participação? Se fosse esse o caso, haveria apenas
uma degradação de nosso ser ao papel de um autômato morto, e o presente da
VIDA não nos seria dado para semelhante destino.
27
Meditação sobre “A imitação de
Cristo”, de Thomas à Kempis
— série IV

Neste capítulo, darei alguns fragmentos de um antigo livro espiritual que se


adapta muitíssimo bem à meditação mais profunda, escrito por uma pessoa que
realmente viveu tudo o que disse em seu trabalho imortal. O objetivo de meu
livro é fornecer-lhe determinados conhecimentos e técnicas da arte da meditação
que possam ser praticados durante sua vida diária, sem a exigência de votos
monásticos ou circunstâncias afins. Do mesmo modo, não estou tentando
convertê-lo a nenhuma das correntes religiosas existentes, pois a escolha
pertence exclusivamente ao estudante e deve ser feita de um modo natural e
livre. Estou fornecendo também material para que você possa aplicar o
conhecimento teórico que adquiriu nas duas primeiras partes deste livro.

O espaço de um livro não é suficiente para se sugerir muito material para


meditação; entretanto, isso não é necessário. O valor de um estudo prático de
meditação não está no número ou na variedade dos temas com os quais o
estudante deve trabalhar, mas na QUALIDADE desse trabalho, isto é, no grau
de elevação que ele é capaz de alcançar em sua consciência durante esse
trabalho mental.

Você encontrará aqui duzentos exercícios e temas para meditação, mas não é
PRECISO obter perfeição em TODOS ELES, especialmente se alguns estiverem
em desacordo com seu coração e com suas convicções. O autor trabalhou com
meditação durante toda a sua vida e, consequentemente, sabe por experiência
própria o que é possível (e recomendável) e o que não é. Tudo depende de sua
linha interior e de sua sintonia com determinadas correntes espirituais, muitas
das quais estão representadas neste livro. Utilize o que sentiu que “lhe pertence”
(da terceira parte até a quinta) e faça o melhor que puder. Mas a primeira e a
segunda parte DEVEM ser estudadas atentamente, pois disso depende o
sucesso das partes posteriores. Ninguém pode ler ou escrever, a menos que
conheça o bê-á-bá, e, neste caso, os CAPÍTULOS PREPARATÓRIOS de 1 a 19
são o bê-á-bá da meditação. Meu conselho continua o mesmo: antes de começar
de fato a trabalhar (com exercícios e meditações) leia todo o manual pelo menos
SETE vezes. Só então a mente estará bem familiarizada com o assunto e você
não terá nenhum obstáculo técnico ou dificuldade para memorizar. Quando meu
outro manual — Concentração — foi publicado, muitos anos atrás, recebi
naturalmente muitas cartas de estudantes. Os que seguiram o meu conselho —
de primeiro ler o texto sete vezes — fizeram perguntas razoáveis, provenientes
de experiências que ocorreram com eles em exercícios e com certos fenômenos
que podem ocorrer com determinados tipos de pessoa. Mas houve também
muitas cartas com perguntas e problemas que foram totalmente explicados no
texto do livro, pois sempre tento ver o meu trabalho do ponto de vista do
estudante, que pode ter os mesmos problemas que tive quando comecei neste
mesmo caminho, muitos anos atrás. Portanto, não estou escrevendo “do meu
ponto de vista”, que não seria aceitável para principiantes. E acredito que estou
certo nisso.

No caso do segundo tipo de cartas, é evidente que os estudantes simplesmente


“tocaram” de leve no livro, sem memorizar nenhum material básico. E, uma vez
que é totalmente impraticável repetir capítulos inteiros de um livro numa carta,
vejo-me frequentemente compelido a chamar a atenção deles para o texto, que
trata de suas perguntas de um modo completo. Isso resulta simplesmente em
considerável perda de precioso tempo, tanto para os estudantes como para mim
mesmo, o que pode ser facilmente evitado.

O sucesso de um profundo estudo prático e psicológico como os de


concentração, meditação, contemplação e desenvolvimento da mais alta
consciência de um homem, depende da atitude racional e, portanto, científica do
estudante, exatamente como ocorreu durante seu aprendizado “oficial” em
escolas e universidades. Se eles perdiam alguma parte do estudo, punham em
risco o resultado final dos exames, e as informações perdidas criavam neles
certo desapontamento, pois podiam ser reprovados. Com nosso tipo de estudo,
o elemento reprovação está ausente, mas, fora isso, tudo continua igual: a
negligência pode causar desapontamento e fracasso. Só os manuais sem valor
asseguram que alguém “pode fazer todo o trabalho por nós” e que basta a sua
leitura para se obter “resultados maravilhosos”. Nenhuma pessoa inteligente
aceitaria semelhante absurdo.

1. TEMA: Quanto maior o vosso conhecimento, quanto melhor a vossa


compreensão, mais severamente sereis julgado, a menos que vossa vida seja
também mais santa.

Desenvolvimento: Temos aqui uma grande Lei espiritual expressa em sua


totalidade. Até mesmo a justiça humana tem alguma consideração pela medida
da responsabilidade de uma ofensa cometida, se o culpado não estiver em
posição de compreender o mal que fez. Embora Thomas à Kempis
provavelmente não tenha sido instruído na filosofia hermética, que ensina que “o
que está em cima está embaixo e que o que está embaixo está em cima”, suas
palavras nos dizem o mesmo. Aqui, a justiça humana segue claramente, embora
de modo inconsciente, a doutrina hermética. O conhecimento impõe certas
obrigações ao homem que o possui. Em nossa consciência, que é um reflexo da
Lei do Senhor em nós, encontraremos pleno suporte para a afirmação de que
aqueles que são mais iluminados têm maior responsabilidade e que o que pode
ser perdoado numa pessoa ignorante não será perdoado numa pessoa instruída.

Então, que tipo de solução existe para esse problema? Devemos evitar o
conhecimento? De modo algum, mas somos obrigados a moldar nossa vida,
nossas ações, sentimentos e pensamentos de acordo com o padrão mais alto
de nossa inteligência.

O inspirado autor de A imitação nos diz que o julgamento será mais severo para
um homem instruído, a menos que ele sintonize sua encarnação de acordo com
o que sabe.

Se realmente nos esforçamos pelo que é perene e não estamos ofuscados pelo
mundo visível e perecível, a lição para nós será que nossas ações têm de seguir
paralelamente nosso desenvolvimento mental. Em resumo, A MORALIDADE
DEVE SER EQUIVALENTE AO CONHECIMENTO. Isso é um axioma.

O que acontecerá se não for esse o caso? A atual situação do mundo é a melhor
resposta. O conhecimento corre à frente com enorme velocidade, nunca
encontrada antes na história humana. Mas este planeta está mais feliz por causa
disso? Em nenhuma outra época houve tanta animosidade entre nações e idéias,
tanto sofrimento, tanto egoísmo cego, envenenando tudo, desde o indivíduo, a
família e a vida social, até nações inteiras.

Sabemos muito, mas, moralmente, avançamos muito pouco. É por isso que as
descobertas mais maravilhosas desta época estão voltadas para os perigos da
destruição, em vez de estarem voltadas para o trabalho construtivo. Isso se
refere, naturalmente, não só a uma nação ou a grupos políticos nacionais, mas
a todos, embora alguns, evidentemente, sejam mais agressivos e famintos ao
tentar elevar seu status material pelo roubo planejado.

Mas os grandes conglomerados de seres humanos são apenas um reflexo ou


um resultado dos valores individuais, que formam todas as nações. Portanto, o
problema do mundo só pode ser resolvido PELA SOLUÇÃO INDIVIDUAL DE
CADA HOMEM. Multiplicando um estopim, obteremos apenas estopins, não
importa quantos milhões deles existam. Multiplicando homens ignorantes e
egoístas por milhões, o que podemos obter como resultado final? Parece que os
homens não estão conscientes desta verdade absoluta e incontestável. É nisso
que reside a tragédia da humanidade em nosso planeta.
Uma sociedade formada de indivíduos infelizes só criará uma unidade social
igualmente infeliz, pois não há “salvação” para números isolados.

A partir desta meditação, devemos estabelecer uma nova perspectiva, mais


realista, em vez da confusão geral. O próximo texto de A imitação nos trará mais
esclarecimentos.

2. TEMA: Se compreendi todas as coisas deste mundo, e não fui caridoso, em


que isso me beneficiará aos olhos de Deus, QUE me julgará de acordo com as
minhas obras?

Desenvolvimento: Esta meditação é como uma continuação e um


desenvolvimento da anterior. O fator caridade (ou amor) é mostrado como
decisivo na vida do indivíduo. É esta qualidade que torna inofensivo e útil o
conhecimento maior. A caridade não pode destruir, mas apenas construir! E
nossas obras são o reflexo direto de nosso mundo moral, interior. Digo MORAL
e não intelectual. A mente pode justificar quase tudo o que se adapte a ela, e a
“filosofia dialética”, que ainda governa uma grande parte deste planeta, é apenas
outra prova disso. NÃO É A MENTE que será o salvador, e não é a mente que
inspirará a criação de uma sociedade e de condições melhores entre nós.
Contudo, essa mente-intelecto pode ser uma ferramenta valiosa, um instrumento
para os planos que nascem no CORAÇÃO. Pois é no CORAÇÃO que a
SABEDORIA reside; se esse é o único objetivo, desde que ele seja alcançado,
tudo o mais o será.

3. TEMA: Grandes palavras não tornam um homem santo e justo, mas uma vida
virtuosa torna-o amado por Deus.

Desenvolvimento: Embora essas palavras tenham sido escritas há muitos


séculos, seu profundo significado está talvez mais vivo do que nunca em nossa
época. Podemos ler e ouvir inúmeras palavras aparentemente boas e sábias,
mas podemos ver também ações desagradáveis ao nosso redor. Assassinatos
brutais e guerras, acompanhados por declarações e idéias acaloradas.

O que seria mais importante para um homem sadio que, por exemplo, estivesse
num deserto: um selvagem ignorante salvar a sua vida ameaçada pela sede,
oferecendo-lhe água ou levando-o até um poço, sem qualquer palavra ou gesto
refinado, ou um erudito, egoísta e desalmado, passar por ele e pronunciar uma
“sábia sentença” sobre a justiça contida em toda tragédia e sofrimento como
reparo por seus “erros” anteriores, deixando-o perecer?

Devemos ser cuidadosos para não cair na armadilha do Inimigo, que geralmente
assume a máscara da falsa sabedoria. Ele é também o produto da mente egoísta
(ela sempre é egoísta), não enobrecida pela luz e pela ternura do coração.

Já sabemos o verdadeiro significado deste termo em nossa filosofia; portanto,


não há necessidade de repeti-lo.
O que realmente precisamos é nos sentar calmamente e meditar várias vezes
sobre esse precioso tema, dado a nós pelo grande asceta e sábio, cujo coração
se iluminou em seu interior.

Ele diz que a Justiça Suprema, que é o Próprio Senhor, fará a escolha certa.
Você sabe QUAL será. Só o que importa é se ESTAREMOS INCLUÍDOS NESSA
ESCOLHA.

E isso não acontecerá para nós “por si mesmo”, sem qualquer ação de nossa
parte. Como você sabe, no desenvolvimento espiritual do homem, a meditação
precede a ação, e é por isso que estamos aprendendo a meditar. É claro que
também existem “ações espontâneas e inspiradas”, mas elas são imprevisíveis
e não podemos esperar até que a intuição venha, ficando, nesse meio tempo,
indolentes física e espiritualmente. É verdade que as Grandes Almas agem
exclusivamente por intuição, isto é, sabem sem pensar. Mas nós ainda não
atingimos esse estágio; portanto, as regras delas são prematuras para nós,
embora nós também certamente haveremos de ter momentos abençoados de
verdadeira intuição quando amadurecermos.

4. TEMA: Mesmo que conhecêsseis a Bíblia inteira de cor, e os ditos de todos


os filósofos, que proveito teríeis sem o amor de Deus e Sua Graça?

Desenvolvimento: A primeira parte deste tema já foi esclarecida, pois é


semelhante ao espírito no qual os temas anteriores (de 1 a 3) foram escritos.
Mas outra lição é dada aqui: o problema do amor de Deus e de Sua Graça. O
modo pelo qual a pessoa chega a esse amor é um mistério profundo. Portanto,
é extremamente difícil discuti-lo, pois tudo o que se disser virá de um ponto de
vista individual, que tem infinitas variações próprias a cada ser humano. O
melhor conselho aqui seria prestar especial atenção às meditações em que Deus
é abordado e tentar compreender Seus atributos. Descubra isso num dos
capítulos anteriores.

Mas a Graça, embora também seja uma experiência interior, foi bem mais
explorada por aqueles que foram e são suficientemente afortunados para
participar dela. O material básico pode ser encontrado nos capítulos que tratam
de meditações sobre a Presença do Senhor (veja os capítulos 24 e 26). Parece
que nossas experiências acerca da Presença e da Graça de Deus são muito
semelhantes. Em todo caso, é difícil traçar uma linha divisória entre elas. E é
desnecessário, se compreendemos que todas essas tentativas para “classificar”
o que está além de qualquer classificação são apenas outro truque de nossa
mente, que não pode participar nem da consciência da presença do Senhor, nem
de Sua Graça. Você sabe, é claro, que em ambos os estados de bem-
aventurança não há e não pode haver pensamentos, porque eles destroem a
concentração de nosso espírito com suas vibrações.
Contudo, uma coisa é certa: no Estado de Graça você AMA A DEUS SOBRE
TODAS AS COISAS. Se não fosse assim, você não se alegraria com a Sua
Graça.

A doutrina dos Santos enfatiza a importância decisiva da Graça na vida do


homem. E a Teurgia 1 nos ensina o mesmo, que todas as suas operações, preces
e exorcismos têm um único propósito: implorar e assegurar a Graça para o
operador, ou para aqueles por quem ele está agindo. Esta Graça pode tomar a
forma de cura, de consolo ou de iluminação espiritual e de bem-aventurança.

1. Veja o meu livro Theurgy, the art of effective worship, publicado pela editora George Allen &
Unwin Ltd., de Londres.

5. TEMA: Vaidade é seguir os desejos da carne e trabalhar por aquilo pelo qual
devereis sofrer depois dolorosa punição.

Desenvolvimento: Um homem que dedica sua encarnação (ou mesmo parte


dela) a perseguir prazeres físicos não está cuidando de seus corpos mais
permanentes, ou seja, das emoções (astral) e dos pensamentos (mental). Desse
modo, ele adquire um grande carma negativo, envolve-se em laços cármicos
perigosos e custosos e não progride espiritualmente, pois simplesmente não tem
tempo nem vontade para prestar atenção às coisas que virão depois que seu
corpo estiver inevitavelmente afetado pela morte. Portanto; ele contrai novos
débitos e deve pagá-los, enquanto, ao mesmo tempo, não está preparado para
a vida entre uma encarnação e outra e entra em mundos desconhecidos e hostis,
sozinho e com medo.

O campo astro-mental é hostil a ele porque, em sua vida física, ele criou muitos
clichês negativos, visíveis aos residentes desses mundos que são mais sutis.
Esses clichês atraem um tipo semelhante de seres astrais e, por serem os
sentimentos e pensamentos visíveis a esse mundo, esses residentes e suas
emanações geralmente têm aparência horrível e repulsiva. Portanto, o homem
sensual e insensato é vítima desses “demônios” que o assustam e que o fazem
sofrer, embora, é claro, não haja mais dores físicas. É nisso que estão as raízes
de determinadas religiões e narrativas sobre os horrores do inferno e do
purgatório após a morte.

Há uma estranha lembrança no homem que vem de suas encarnações


anteriores e reflete seu sofrimento em suas vidas físicas. Essa é uma das causas
do medo subconsciente da morte. Ao mesmo tempo, essa é a razão do destemor
dos Santos, dos verdadeiros iogues e de outras pessoas espiritualmente
avançadas, que não recebem clichês perigosos após a morte, mas apenas os
positivos, compostos de sentimentos e pensamentos bons e nobres, e o poder
desenvolvido durante a subjugação de todas as paixões inferiores. Portanto,
nenhum ser mau ou monstruoso do mundo astral tem poder ou mesmo acesso
a elas.
Esta é a “punição” da qual Thomas à Kempis fala. O próprio homem cria o seu
“inferno” e o seu “paraíso”. Agora podemos ver o significado e o propósito da
vida física, que é a VIDA DAS CAUSAS, CRIADAS EM SEU TEMPO, QUE
AFETAM DECISIVAMENTE AS FUTURAS PERAMBULAÇÕES DO HOMEM. A
vida após a morte é, portanto, uma existência de resultados, durante a qual
pouco pode ser mudado em nosso destino, tão bem merecido na terra.

Portanto, o evidente pessimismo do autor de A imitação é justificado até certo


ponto. Sabemos muito bem que, para a grande maioria de pessoas desta época,
não importa muito a vida após a morte física, e muitos nem mesmo acreditam
nela absolutamente. Assim, elas se comportam de acordo com isso, e
consequentemente merecem sua “punição”, que não é imposta por um Deus
cruel, mas por elas mesmas, como uma pedra jogada para cima cairá sobre
quem a jogou.

Para os que estão familiarizados com a filosofia oculta, o problema é até mais
óbvio, pois eles sabem que nenhuma energia colocada em ação perece, e que
a toda força se opõe uma força igual e diametralmente oposta.

É estranho ver como pessoas inteligentes, até mesmo cientistas, que


reconhecem as leis fixas e imutáveis da Natureza (isto é, do Inundo físico), não
conseguem entender logicamente seu conhecimento e, assim, perceber que, de
um modo semelhante, a moral e as forças mentais podem ter suas leis e regras
imutáveis.

Eles pensam que as emoções e os pensamentos não estão sujeitos a leis e,


principalmente, a essa lei de CAUSA E EFEITO, tão inexorável na vida terrena.

Este é um dos principais erros que a humanidade está sujeita a cometer neste
período de seu desenvolvimento e pelo qual, consequentemente, tem que pagar
um preço elevado.

Recomendo que o estudante deste trabalho divida este “desenvolvimento” em


partes, tornando assim a meditação mais fácil e exata, porque os comentários
são muito longos para serem trabalhados de uma só vez. A memória poderá
sofrer alguns lapsos se for sobrecarregada com um excesso de material.

Esta meditação será útil para trabalhos posteriores na sequência dos temas
extraídos d’A Imitação.

6. TEMA: Vaidade é desejar uma vida longa, e não cuidar de vivê-la bem.

Desenvolvimento: O problema que nos é colocado é: o QUE É A NOSSA VIDA


E QUAL É O SEU PROPÓSITO? É apenas uma certa soma de alimentos e
bebidas que são ingeridos, de prazeres, ambições, sofrimentos e reveses?
Todas as grandes Almas reconheceram que a vida tem valores muito mais altos,
e a realização deles é o seu único propósito. Durante nossa vida, podemos
experimentar coisas muito diferentes, mas todas elas cairão numa das
categorias acima mencionadas. Viver em função do físico e do mental, ou dos
prazeres sexuais é como construir uma casa sobre areia, ou cruzar um rio nas
costas de um crocodilo, acreditando que ele é um tronco de árvore, como o
Sankaracharya disse sabiamente. Uma vida assim não tem futuro e termina no
pesadelo da morte física, com todos os seus sofrimentos e frustrações.

Desejar uma vida longa com propósitos tão inconsistentes é loucura. Viver bem
significa compreender o propósito evolucionário da vida e entender que cada dia
e ano são lições valiosas e irrevogáveis, que temos de aprender. Como nós
aprendemos? Será com boa vontade e inteligência, ou de um modo estúpido e
hesitante, dependendo de nossa maturidade e inteligência, assim como de
nosso avanço espiritual? Morrer com a satisfação de termos cumprido o nosso
dever durante a encarnação, com a certeza de que o Senhor nos chamará de
“servos bons” e não nos rejeitará como trastes inúteis, significa concluir uma
existência valiosa e esperar uma recompensa justa de paz e felicidade.

Thomas à Kempis, um bom conhecedor da psique humana, fala por experiência


própria. Ele era o superior de um mosteiro e tinha de lidar não só com almas
errantes, mas também com almas felizes, e por isso adquiriu conhecimento e
autoridade. É por esse motivo que seus escritos continuam vivos para os homens
do século XX e muitos de nós somos instruídos espiritualmente por eles.

Agora, medite sobre o tema, pois ele é simples e claro para todo homem
inteligente.

Submeta-se a essa LUZ INTERIOR em você, e verá a aproximação da


inspiração e da paz.

Então você perderá o desejo de viver muito tempo e com propósitos menores e
fúteis e parará simplesmente de pensar a esse respeito.

7. TEMA: Vaidade é preocupar-se apenas com a vida presente, e NÃO FAZER


PROVISÃO para o que virá mais tarde.

Desenvolvimento: Com a meditação anterior, o significado da atual vida física foi


firmemente estabelecido no espírito do autor d’A imitação. Esta vida deve ser
considerada como uma preparação inevitável para a outra existência, mais real
e importante.

Embora ainda existam almas suficientemente atrasadas para negar a idéia de


vida futura após a morte, não precisamos seguir esses indivíduos retrógrados,
mas sim aqueles que demonstram altas qualidades em si mesmos. Os homens
mais desenvolvidos invariavelmente têm a certeza intuitiva de sua imortalidade
e vivem a vida física apenas como um estágio intermediário para algo mais
importante e sublime. Eles vêem também claramente que as imperfeições da
existência material, com suas dificuldades, sofrimentos e frustrações, superam
os prazeres e a felicidade momentânea.

A parábola de Cristo sobre as doze virgens sábias e as doze virgens tolas é uma
bela ilustração para isso. 2

2. Em Mateus, 12:1, são dez as virgens. (N. da T.)

Quando não estamos preparados para uma mudança súbita em nossa vida, ela
vem com um sabor amargo. Se não fazemos provisão para a nossa existência,
quando o corpo físico nos é tirado, ficamos como que perdidos num deserto.
Alguém disse corretamente que “a melhor preparação para a morte é uma vida
bem vivida”.

Agora podemos ver que tipo de “provisão” para a existência futura nos é
requerido. Mesmo que, nesse plano imperfeito da vida física, a humanidade
continue tentando estabelecer suas regras primitivas de justiça, não podemos
acreditar que, num nível mais elevado, em condições menos materialistas, num
nível no qual vivemos sem o corpo e apenas através de nossas emoções e
pensamentos, não haja nenhuma justiça ou leis invioláveis.

Meditemos sobre isso e alguma luz mais interior talvez nos recompense. Sem
esforços para aprofundar nossa compreensão acerca dos problemas perenes de
nossa vida, não pode haver qualquer solução para nós no futuro. O que
plantamos, colhemos! Que esta meditação conclua nossa lição de hoje.

8. TEMA: Vaidade é amar o que rapidamente se desvanece, e não apressar esse


lado no qual a alegria eterna vos espera.

Desenvolvimento: À luz da meditação anterior, estes versos tornam-se


explanação e inspiração adicionais para nós. Ninguém pode negar que tudo
neste mundo se desvanece e se perde na eternidade. A cada dia, os seres
humanos envelhecem e se aproximam de seu túmulo, não importa o quanto
sejam jovens, fortes e atraentes no presente. É como num teatro onde, uma vez
encerrada a peça, deixamos a platéia, de onde estávamos vendo o drama de
nossa vida.

Onde estão as famosas beldades, as glamourosas atrizes e os admirados atores,


os líderes poderosos, os filósofos eminentes do século passado? Seus dias se
foram, e apenas a memória deles continua viva em algumas mentes da geração
atual. Mas isso não pode revivê-los, pois não existe retorno do túmulo.

Thomas à Kempis diz que a alegria eterna nos espera após nossa peregrinação
terrena, mas isso só é válido para aqueles que conheceram o propósito de suas
viagens e perceberam o seu objetivo.
O apego ao que se desvanece e não se mantém é vaidade, e seu custo é
realmente elevado para os homens tolos, que dedicaram sua vida à obtenção do
que deve ser e será perdido.

O encanto temporário da vida tem, sem dúvida, uma influência tóxica sobre a
maioria das pessoas, mas ele só é possível por causa de suas mentes limitadas
e instáveis, assim como por sua visão curta do futuro. Sabemos que felicidade
imutável e a satisfação permanente na vida não existe de modo algum entre nós,
na terra. Podemos ter alguns períodos em que imaginamos ser felizes, mas logo
chega a próxima cena do filme de nossa vida sempre em desenvolvimento, e
outro quadro mais dramático substitui o anterior.

Até a saúde mais vigorosa será destruída e o corpo mais robusto encontrará seu
descanso final na poeira da sepultura.

Aqueles que buscam uma forma diferente de vida nunca ficarão desesperados
ao perder sua parte terrena, pois sabem que não há aniquilação da vida, e uma
vida bem vivida é a melhor segurança para o futuro.

9. TEMA: Vaidade também é lutar por honras e subir até um alto grau.

Desenvolvimento: Quem concede, na verdade, as honras baseadas nas virtudes


reais do homem? E são essas virtudes um motivo verdadeiro para a concessão
de distinções mundanas? Sabemos que, geralmente, não é assim.

A virtude real, isto é, a evolução espiritual não encontra qualquer reconhecimento


entre os homens comuns, que não estão numa busca semelhante e que estão
interessados apenas no lado material das coisas. Isso porque uma experiência
adequada é necessária e ela não está presente nas massas mundanas. Assim,
não devemos nos empenhar na obtenção de coisas inconsistentes e, portanto,
sem valor. É por isso que Thomas à Kempis chamou corretamente esses
esforços de vaidade.

Quando meditarmos sobre esse desenvolvimento com a devida atenção e a


visão clara, compreenderemos por que todos os homens espiritualmente
orientados desta terra nunca se interessaram por isso, a despeito de todas as
honras mundanas e de outros sinais de reconhecimento. Que valor pode ter algo
que é concedido pelo ignorante, e que perda um verdadeiro homem sábio teria
ao ser privado desse tipo de “satisfação” tão duvidosa?

Tendo tudo isso em mente durante a vida, seremos capazes de reduzir nossos
desapontamentos e nossas frustrações mundanas, que afetam de forma tão
amarga os ignorantes.

Por que espécie de “graus” vale a pena se empenhar? São aqueles concedidos
também pelo ignorante, ou são posições mundanas de poder e popularidade?
Se o mundo fosse guiado pela verdadeira moral e pelos padrões espirituais,
poderia ser assim, mas, infelizmente, sabemos com plena certeza que acontece
justamente o oposto.

Basta olhar atentamente para as ocupações mundanas ao nosso redor.


Involuntariamente, a antiga verdade de que “O TODO DEPENDE DE SUAS
PARTES” me vem à mente. Uma sociedade de seres humanos espiritualmente
dirigida criaria certamente condições muito melhores de vida e organização do
povo. Mas uma sociedade de egoístas, como nós, produz em sua grande maioria
justamente os resultados que podemos ver: perigos ao nosso redor, existência
insegura, malícia, moral baixa e traiçoeira, os quais se estendem desde o
indivíduo até a sociedade.

10. TEMA: Vaidade é buscar riquezas perecíveis e confiar nelas.

Desenvolvimento: Esta é uma continuação da meditação anterior, desta vez


dirigida para a inutilidade dos ganhos materiais. Na verdade, não há nada de
errado em ter alguns acessórios necessários para a nossa vida física, mas a
humanidade exagera muito, esquecendo-se dos valores reais e estabelecendo
outros em lugar dos valores mais profundos e imperecíveis do homem. E esta é
a verdadeira causa de todas as aflições que afetam tanto os indivíduos como
nações inteiras. Isso deve ser evitado por uma direção espiritual e
verdadeiramente inteligente, pois é pura vaidade.

Devemos pensar nos homens que morrem quando estão ricos: eles não
ofereceriam todas as suas riquezas a fim de adiar esse momento inexorável, no
qual têm de abandonar tudo o que amealharam e a que se apegaram durante
sua vida? Coloque-se numa posição semelhante, e compreenderá onde está a
verdade.

“VIVA NO MUNDO, MAS NÃO SEJA DELE” — estas palavras permanecerão


para sempre como a solução para todos aqueles que realmente buscam e
querem encontrar a solução para suas vidas.

A segunda parte desta meditação é igualmente elucidativa. Como podemos


confiar em algo que será incondicionalmente perdido e de modo algum
preservado, que de nada servirá para nós contra o frustrante final trazido pelas
riquezas terrenas? Mas não imagine que apenas sendo mendigos podemos
evitar a frustração e o sofrimento relacionados com a morte. É interessante notar
como o Maharshi explicou esse problema. Ele não advogou nenhuma pobreza
ou ascetismo compulsório, pois sabia como estão erradas as pessoas que
simplificam demais essa questão. Na famosa frase de Jesus Cristo relacionada
com os deveres mundanos e espirituais (César e Deus), encontramos apoio para
as afirmações do Sábio Ramana, que ensinou que o ascetismo e a renúncia
verdadeiros devem estar em nossa mente, não do lado exterior da vida. Ele nos
disse que o apego é o mal básico, e não o fato de se possuir mais de uma roupa,
e assim por diante. Isso está maravilhosamente explicado na famosa lenda
indiana sobre o rei e o iogue. O rico rei não ficou afetado ao perder todos os seus
tesouros, mas o pobre iogue se desesperou ao perder sua única muda de roupa,
seu traje amarelo de monge. Ele ainda era governado pelo apego.

11. TEMA: Aqueles que seguem sua luxúria maculam sua própria consciência e
perdem a Graça de Deus.

Desenvolvimento: O que são, na verdade, a luxúria e as paixões? Apenas o


desejo de experimentar certos prazeres carnais, certas emoções. É possível
reter seu corpo para sempre, ou mantê-lo sempre pronto para satisfazer suas
luxúrias? E o tempo e energia dedicados às paixões acrescentam alguma coisa
a seus valores interiores, e estes não produzirão uma frustração mortal e a
anarquia nessa hora em que seu principal instrumento — o corpo físico —
encarar a destruição? O vício da luxúria só mostra a superficialidade do ser
humano que se permite tornar-se vítima de suas paixões.

Há certas formas de vida emocional, ligadas à satisfação física, que estão


embutidas na grande maioria da humanidade de hoje pela própria Natureza. A
luxúria sexual é uma das principais. Contudo, há uma justificativa neste caso,
pois aqui a Natureza está seguindo os seus próprios objetivos, e o principal deles
é a continuação da espécie humana. Nossa raça ainda precisa de encarnações
físicas para sua evolução futura, e os egos humanos ainda são incapazes de
progredir num campo puramente espiritual sem passar pelas experiências da
vida material. Portanto, são necessários corpos, e as leis da Natureza compelem
homens e mulheres à união física, a fim de produzir esses corpos para seus
descendentes. Isso é básica e exatamente o que fazem todos os animais,
levados por um instinto semelhante, mas menor que a nossa elaboração humana
do “amor” sexual, com todas as suas complicações e frequentes perversidades.
De modo idêntico, a mesma lei leva à formação de famílias, que agem a favor
da limitação do egoísmo negligente, primitivo, do selvagem: o cuidado com a
esposa e os filhos.

Mas a colocação da luxúria e da paixão num trono indigno, como podemos


facilmente ver nestes tempos, leva à perda da Graça do Supremo, pois não é
natural e degrada, sendo uma deformação das funções naturais, que têm a
finalidade evolucionária para as pessoas comuns. Os que são avançados, é
claro, transcendem esse campo inferior e compreendem a grande Lei do Amor
de um modo muito mais elevado e digno, ampliando-o do físico para o universal,
para o reino espiritual. Medite profundamente sobre este desenvolvimento, até
que sua plena compreensão ilumine a sua consciência.

12. TEMA: Vaidade das vaidades, tudo é vaidade, exceto amar a Deus e só a
Ele servir.

Desenvolvimento: Esta meditação final, extraída d’A imitação de Cristo, completa


o ciclo de idéias que estão perfeitamente contidas no tema anterior. Depois de
denunciar a luxúria como uma idéia falsa e depravada do verdadeiro Amor, você
recebe agora instruções totalmente positivas sobre a verdade dele.

Toda forma de “amor”, se não é dirigida diretamente ao TODO, que é Deus, no


final se mostrará como vaidade, isto é, algo errado e irreal, que se perderá por
causa dos atributos limitados e perecíveis que pertencem a esse “amor”.

Isso significa, então, que “amar só a Deus” é ser indiferente a nossos


companheiros e a todo o reino da Natureza no qual estamos recebendo as lições
de nossas encarnações? Não! Os exemplos de todos os homens espiritualmente
avançados, que abandonaram há muito tempo todos os traços de vaidade e de
amores falsos em sua evolução, mostram que eles desenvolveram uma caridade
incomparável em relação a tudo o que vive neste mundo e aos homens, é claro,
em primeiro lugar.

O amor de Buda, sua compaixão; o supremo sacrifício de amor por toda a


humanidade, demonstrado por Cristo; os exemplos de todos os Santos e Sábios
orientais, plenos de caridade e compaixão, falam por si mesmos. Cristo nos
ensinou a servir a nossos semelhantes, dizendo que desse modo estamos
servindo melhor a Ele.

E nesse amor não há nenhum fator feio, como o egoísmo, o ciúme, a


possessividade e as limitações, todos eles pertencentes às manifestações
inferiores do mesmo Grande Poder.

Mas, tendo a inestimável Graça desse Amor, servimos a nossos vizinhos. Um


grande místico deste século disse que, por esse serviço, os homens serão
recompensados sendo servidos por anjos.

Chegamos ao final das doze meditações baseadas no inspirado livro A imitação


de Cristo. Elas são conclusivas em toda a sua simplicidade e em sua linguagem
direta; contudo, talvez não sejam atraentes para todos vocês, pois são inflexíveis
e fortes em sua clareza e têm um colorido nitidamente religioso.

Com tais qualidades, Thomas à Kempis falará sobretudo aos que são capazes
de superar suas frequentes indisposições em relação ao comportamento
religioso, e isso os ajudará a tirar proveito dos tesouros espirituais d’A imitação.

Mas outros podem preferir os capítulos de caráter diferente, e é por isso que,
neste livro, providenciei uma grande variedade de temas para meditação,
merecedores desse nome. A regra geral para sua seleção e prática permanece
sempre a mesma: escolha o que seu coração mandar e saiba que é o modo pelo
qual você medita, e não meramente o número de temas, o que decidirá sobre os
conhecimentos que você espera adquirir neste curso.

Contudo, seria bastante proveitoso aqui, para todo estudante sério, se ele
examinasse o maior número de temas que achar inspiradores para ele e que,
além disso, pelo menos lesse todos os capítulos, sem exceção, pois poderá
facilmente encontrar em determinados assuntos algo que não lhe seja muito
familiar. Pois quem procurar encontrará e quem bater à porta a terá aberta. A
pior coisa é “pular” as páginas do livro, sem se concentrar e sem a devida
consideração pelo seu conteúdo. Outro perigo também espreita os adeptos da
leitura contínua e indiscriminada. Eu diria que quando você começa a estudar
um assunto como a meditação, sinceramente, deve abandonar outros livros
durante esse tempo. Do contrário, sua concentração se dissipará e, como você
sabe, sem a devida concentração, nenhuma meditação pode ser bem sucedida.

Entraremos agora num tipo de meditação muito interessante e, para alguns


estudantes, mais atraente, extraído da melhor tradição vedanta, que consiste
nos Doze axiomas da verdade. Sua beleza transcendente e seu significado
profundo são únicos. Por seu caráter axiomático, assim como pela enorme
extensão de conteúdo estruturado em apenas algumas palavras, o verdadeiro
desenvolvimento deles depende mais da consciência de quem medita do que de
um texto explicativo.

Esses versos são excelentes também para o trabalho contemplativo, ao qual é


dedicada a quinta parte deste livro. Será necessário todo o treinamento e
persistência em meditação que você já tiver alcançado para estar à altura desses
axiomas. Se prestar a devida atenção a eles, do modo prescrito, sua consciência
se tornará bem mais ampla.
28
Os axiomas da verdade e o
“Bhagavad-Gita” — Série V

O Maharshi, que gostava de afirmações e definições simples mas precisas,


explicou certa vez que a meditação, como um processo passivo, consiste em se
fixar num único pensamento, que assim ilumina todos os outros. Quando
meditamos, exploramos em primeiro lugar o desenvolvimento colocado abaixo
de cada tema; depois, com a mente sintonizada no tema por esse
desenvolvimento, nós o examinamos e, por ora, continuamos com ele.

Em outras palavras, ESTAMOS ENCARANDO OS CLICHÊS MENTAIS


RELACIONADOS COM O TEMA DA MEDITAÇÃO. Não se esqueça de que
estamos tratando do CLICHÊ MENTAL e nada mais. Sabemos que a extensão
dos clichês está além de nossos três planos de existência (físico, astral e mental)
e que, portanto, transcende o que chamamos de tempo e espaço, embora lance
seus reflexos sobre todos esses mundos. Como um ser humano, eu também sou
o reflexo de um determinado clichê, em sua manifestação física chamada “eu”,
como você prontamente pode perceber. A meditação, em sua forma mais
elevada, almeja a discriminação entre o número infinito de clichês ao nosso redor
e a fixação de nossa atenção no clichê escolhido, que assim se beneficia dessa
confrontação. Mas a meditação não chega à substância dos clichês, isto é, à sua
essência real ou, se preferir, AO ESTADO NO QUAL ELES FORAM CRIADOS
PELA SUPERCONSCIÊNCIA DO ÚNICO SEM SEGUNDO. Para a abordagem
dos clichês, como eles são, é necessário um processo mais elevado, e nós o
chamamos de contemplação. Este será o assunto da quinta parte deste estudo.

Enquanto isso, temos de finalizar nosso trabalho sobre a meditação passando


para os temas sutis e inspiradores, extraídos do Vedanta e compostos pelos
antigos Rishis (Sábios) para serem usados por seus discípulos mais avançados.
Esta herança está agora diante de seus olhos. Os doze temas para meditação
que vêm a seguir darão o polimento final antes de iniciarmos a contemplação; e
aqui a meditação deve ser plena, sem interrupções ou desvios. Nada deve existir
para nós, ao meditarmos, exceto o TEMA, após termos trabalhado com ele,
estudando e acompanhando o DESENVOLVIMENTO.
1. TEMA: A Verdade é uma só — os homens a chamam por diversos nomes.

Desenvolvimento: Neste primeiro verso dos Axiomas da verdade, tenho seu


principal atributo, que é a UNIDADE. Não pode haver DUAS verdades, se
compreendidas como absolutas, isto é, o conceito de verdade em si necessita
da exclusão de qualquer conceito semelhante. Se houver DUAS verdades, uma
delas não pode ser a verdade. É como a Vida e a Morte: não podem estar juntas.
O que vive não está morto e o que está morto não vive. As manifestações de
ambas são pólos opostos do mesmo magnetismo, mas jamais podem estar
unidas.

Este tema, com os onze que vêm a seguir, é um magnífico material para
CONTEMPLAÇÃO, e será usado como tal depois que seu treinamento em
meditação tiver sido concluído com êxito.

2. TEMA: Verdade é tudo o que existe — tudo o mais é mentira.

Desenvolvimento: A verdade é oniabrangente, e, em nossos vôos mentais mais


elevados, podemos VER esse fato. A verdade é uma manifestação de Deus e,
como tal, é onipresente e onipenetrante. O que pode existir separado ou além
da verdade? Só a mentira, que não existe de modo algum, que é uma miragem
inconsistente, uma imaginação sem qualquer substrato, ou, como os hindus
dizem, Maya. Deste ponto de vista, Maya, sendo semelhante à matéria, com
suas transformações e dependências intermináveis da Energia-Espírito, não tem
existência à parte ou real. O que não é permanente é apenas um quadro
temporário na tela imóvel do Espírito. Houve um tempo em que não existia;
portanto, inevitavelmente, voltará ao estado de não-existência.

3. TEMA: A Verdade é substância total, poder total, existência total, e fora da


verdade não pode haver nenhuma substância, nenhum poder, nenhuma
existência.

Desenvolvimento: Esses atributos são derivados do desenvolvimento anterior


(verso 2). Aqui, as palavras serão de pouca utilidade para a pessoa meditar. Uma
vez que o tema é claro e simples, o melhor a se fazer é meditar diretamente
sobre ele, até nossa mente se familiarizar e ser capaz de digeri-lo.

4. TEMA: A Verdade é energia criativa total, sabedoria total, bondade total; e fora
da verdade não pode haver e nem há energia criativa ou inteligente, nem
bondade.

Desenvolvimento: Talvez o melhor caminho para o desenvolvimento deste verso


seja criar, em nossa mente, um clichê que retrate esses atributos. A energia
criativa contém a verdade em si, dirigida pela onisciência, a única que pode
exercer essa liderança. O que é BONDADE? Todo ser a conhece, mas esse
conhecimento está além das palavras e dos pensamentos. Ela só pode ser
VIVIDA, não pode ser observada de fora, pois este problemático lado de fora
deve estar DE FORA da Verdade-Sabedoria e, portanto, não existe.

Como a energia criativa, a inteligência e a bondade só podem estar na Verdade;


não há nada separado d’Ela.

5. TEMA: A Verdade é Amor total; a Verdade é vida total; fora da Verdade não
pode haver Amor, nem vida. O Amor total e a vida total provém da Verdade, e
são aspectos e símbolos de sua totalidade.

Desenvolvimento: Gradualmente podemos ver que a Verdade abrange tudo o


que consideramos mais elevado e valioso no mundo. Sabendo que o Amor e a
Vida são manifestações da Verdade, sentimo-nos mais próximos d’Ela, pois Ela
é a fonte de ambos,

6. TEMA: A Verdade é o que É; o Espírito é o que a Verdade É; Verdade é


Espírito, Espírito é Verdade, a Verdade-Espírito é tudo o que existe; tudo o mais
é mentira.

Desenvolvimento: Como o Espírito é a única coisa real que existe, sua identidade
com a Verdade é evidente. Eles são mutuamente idênticos, e é apenas na
linguagem das palavras que encontramos termos diferentes para eles. A
existência total é outro atributo da Verdade e a Verdade-Espírito é o cerne da
própria existência. Tudo o que está à parte d’Ela não possui vida ou existência.

7. TEMA: A Verdade deve ser vista em todo lugar, pois todo lugar habita nela.

Desenvolvimento: A onipresença da Verdade torna este verso compreensível.


Não há lugar onde possa haver mais ou menos ou nenhuma Verdade. É por isso
que os Mestres Espirituais sempre ensinam que não há necessidade de se ir a
qualquer lugar para encontrar a Verdade. Deste ponto de vista, não há motivo
para se supor que a Verdade esteja mais perto ou mais longe de nós
dependendo do lugar.

8. TEMA: A Verdade sempre habita no interior. Aquele que compreende essa


Verdade torna-se mestre de sua vida.

Desenvolvimento: Há uma importante recomendação nessas palavras: como a


Verdade não tem lugar definido para habitar, mas está ao mesmo tempo em todo
lugar, o mais adequado seria procurar por ela num lugar que sempre está
conosco. Esse lugar é o nosso “interior” espiritual. No silêncio magnífico do
nosso mais profundo recesso espiritual encontramos a Verdade, que na
realidade sempre esteve conosco; simplesmente não podíamos perceber sua
presença. A compreensão de nossa Luz interior imperecível, que é a Verdade,
nos capacita a nos tornarmos mestres de nossa vida, dirigindo-a para o único e
real objetivo que habita na Verdade.
9. TEMA: Alegrai-vos e rejubilai-vos, pois a Luz do mundo está dentro de vós.

Desenvolvimento: Sabemos que a consciência espiritual proporciona uma


alegria incomensurável. Os que viveram esse êxtase espiritual confirmam que
esse fato está além de qualquer alegria concebível. Portanto, as palavras de
Cristo, idênticas às do tema 9, são outro incentivo para se descobrir essa
ALEGRIA eterna. Essas palavras nos dizem que somos merecedores da Luz
que ilumina todo homem que vem ao mundo. Poderíamos encontrar algo mais
encorajador e inspirador para um seguidor sincero?

10. TEMA: Na percepção do Um sempre-resplandecente existe apenas


liberdade, sabedoria e bem-aventurança.

Desenvolvimento: O mestre Maharshi frequentemente falava sobre a


resplandecência do Eu-Espírito, no qual está a liberdade final e a liberação para
nós. O que é necessário para essa Obtenção? Apenas a habilidade para
percebê-la. Isso nos dá sabedoria e bem-aventurança, baseadas na eterna
liberdade do Espírito.

11. TEMA: O Sábio sempre busca aquilo que, uma vez conhecido, faz com que
tudo seja conhecido.

Desenvolvimento: O valor desta afirmação para o verdadeiro seguidor é


inestimável. Olhe para o mundo passado e presente: ele busca o Real ou os
objetivos efêmeros e perecíveis? A descoberta do que ilumina tudo basta para
dar a paz e a compreensão da Vida. E então todos os outros objetivos menos
valiosos são conquistados ao mesmo tempo. Quando olhamos primeiro para os
detalhes, perdemos o Todo. O discernimento elevado ao auge leva-nos a essa
aquisição. Vale a pena tentar conhecer alguma coisa exceto o SER ÚNICO, o
ÚNICO REAL? Mas para isso precisamos conhecer intuitivamente SUA
existência e SEU significado.

12. TEMA: Há apenas uma Verdade, mas os homens a chamam por diversos
nomes. Acima do tempo, além do espaço e livre das causas, reside para sempre
AQUELE QUE É TUDO.

Desenvolvimento: O círculo mágico dessa meditação é fechado pela mesma


afirmação que o iniciou: a variedade de nomes para a Verdade. Já meditamos
sobre isso. Mas aqui é acrescentada a idéia final a respeito de Deus, já
conhecida nos outros temas dos capítulos anteriores, mas imperecível em sua
beleza e pureza na Verdade expressa. A trágica questão, colocada por Pilatos
(talvez em nome de toda a humanidade de seguidores) para o Grande Mestre:
“O QUE É A VERDADE?”, pode ser solucionada, não externamente, em
palavras, mas no mais sagrado templo interior da alma humana, pedindo pela
iluminação final a Seu Pai, que está no Céu. Cristo nos disse positivamente que
podemos encontrar a Verdade. Não do modo desafortunado de Pilatos, mas em
nosso íntimo, onde está a “Luz do mundo”. Quantos passam por essa Luz e
nunca a vêem?

O campo da Verdade está além do tempo e do espaço, assim como além e


independente da aparentemente imutável Lei da Causação. A mente dificilmente
pode imaginar a ausência de sua lei básica no universo manifesto. Mas pode
uma tal lei refrear o ÚNICO, que “penetrou todo o universo com uma partícula de
Si mesmo, e que mesmo assim persiste?”

Estamos vivendo num mundo estranho, e as tendências mais materialistas


dominam a massa; entretanto, ao mesmo tempo, há muitas almas vivas que,
como nunca anteriormente, são capazes de elevar sua consciência para além
de todas as limitações, como foi descrito neste tema 12 de meditação. Existe
uma condição? Sim, é a que abre a porta que esteve fechada para nós durante
muitos séculos, escondida sob as vozes barulhentas do mundo e de nossa
consciência. Agora o segredo está como que aberto à nossa frente. Queremos
aceitá-lo? Seu verdadeiro nome é: o Espírito silencioso, conquistado pelo próprio
esforço do homem, acompanhado pela Graça do ÚNICO, que espera por esse
momento, a fim de nos deixar abordá-Lo, como a ovelha perdida ao encontrar
seu verdadeiro dono.

A meditação é um dos principais meios para se obter a liberdade em relação aos


pensamentos ruidosos e para se estabelecer a pureza do Silêncio.

Excertos do “Bhagavad-Gita”
Num curso de meditação como este, seria impossível omitir os valiosos temas
provenientes de alguns excertos da Canção do bem-aventurado (o Bhagavad-
Gita), a mais alta expressão da Iniciação espiritual, criada por nossos irmãos
arianos, os hindus.

Estou chamando sua atenção para alguns versos escolhidos, que contêm gotas
concentradas da verdade e estou omitindo todos os ornamentos externos
pertencentes a essa época tão distante e legendária de Rishis e guerreiros da
Índia. Há muitos entusiastas desse magnífico memorial de gênios humanos, e
alguns vão mais longe, comparando o Bhagavad-Gita aos Evangelhos de Cristo.
Rendendo todo o devido respeito e admiração à Canção do bem-aventurado,
reconheço que ela possui conteúdos iniciatórios de primeira classe, próximo do
reino onde reside a Verdade Absoluta. E muitos de meus leitores se juntarão a
mim nessa admiração. Portanto, que eles usem os textos que vêm a seguir para
melhorar suas habilidades e que a idéia do Espírito absoluto que prevalece sobre
a matéria encontre um solo fértil em seus corações.
Mas as palavras do Grande Mestre nos Evangelhos, tão breves, concentradas,
simples na forma exterior e insuperáveis em sabedoria e poder, apontam para a
Eternidade e dão um impulso instantâneo para os que estão suficientemente
maduros para compreendê-las, levando-os para o Reino onde nenhum germe
da corrupção, nem roubos ou dúvidas têm acesso, como Ele nos disse. Em
nenhum ensinamento humano podemos encontrar os incomensuráveis oceanos
espirituais revelados em algumas palavras simples, que falam direto ao mais
profundo cerne do homem, seu coração. Talvez porque não sejam ensinamentos
humanos.

A essência da Canção do bem-aventurado é a Verdade do ser real do homem,


o seu Eu. Nisto as palavras do Senhor Krishna são insuperáveis. Lendo-as, a
pessoa parece compreender quem inspirou o último Rishi da Índia, o Maharshi,
que esteve entre nós em nossa época.

1. TEMA: O Eu nunca nasce, nem morre; nem, uma vez tendo existido, vai para
a não-existência. Esse Eu é inato, eterno, imutável, antigo; Ele nunca é
destruído, nem mesmo quando o corpo se destrói.

Desenvolvimento: Este texto é tão claro e simples que não são necessários
comentários especiais, e você pode começar a meditar sobre ele imediatamente.
O único ponto que talvez necessite de alguma explanação é o que fala do Eu
“imutável”. Alguns pensam que o Eu progride e se desenvolve durante os
inúmeros nascimentos e encarnações. Isso seria um grande engano, e devemos
estar avisados a respeito disso. Quando dizemos que um homem evolui, não
significa que o seu Eu-Espírito está evoluindo. Sendo um raio do Imortal, da
Bem-Aventurança do ÚNICO Perfeito, como esse Eu poderia participar de
qualquer mudança? São os nossos “invólucros”, nossos meios de cognição e,
finalmente, nossa CONSCIÊNCIA que avançam, tornando-se cada vez mais
conscientes do seu CERNE eterno, imortal e perfeito — Atmã, Espírito, Eu, não
importa como você O denomine! E nisso reside a diferença entre os montes e os
vales da nossa consciência. Aqueles que estão conscientes d’lsso, do que
realmente são, são almas avançadas, e aqueles que ainda acreditam que são
seus diferentes corpos (físico, astral e mental) fazem parte dos seres ainda não
desenvolvidos.

Ressurreição significa nada menos do que o despertar dessa CONSCIÊNCIA


PURA, que nunca morre. E agora você pode ver por que Cristo insistiu em que,
sem essa ressurreição, não pode haver salvação para os filhos do Homem.

Esse verso do Bhagavad-Gita produz algumas afirmações sobre as


“propriedades” do Eu, que devem ser bem compreendidas.

2. TEMA: Alguns olham para esse Eu com admiração, outros falam sobre Ele
com admiração, contudo ainda há os que, mesmo depois de ouvir a respeito
d’Ele, não o conhecem.
Desenvolvimento: A COISA mais real, a única que de fato existe, o nosso EU,
frequentemente é desconhecida, mesmo quando um homem ouve sobre Ela e
tem acesso a ensinamentos a Seu respeito. Isso porque nem todos os que têm
ouvidos podem ouvir e nem todos os que têm olhos podem ver.

3. TEMA: Observando do mesmo modo o prazer e o sofrimento, o ganho e a


perda, a vitória e a derrota, lute em sua batalha. Assim o pecado não o maculará.

Desenvolvimento: Sabendo que você não tem nada em comum com o corpo
mortal e com seus condicionamentos, você deve se comportar como Krishna
ensina neste verso.

4. TEMA: Você tem o direito apenas de trabalhar, nunca o de receber os frutos


do trabalho. Não aja pelos frutos da ação nem fique apegado à inatividade.

Desenvolvimento: Uma lei moral notável de desapego dos frutos do próprio


trabalho! Olhe ao redor, para todas as grandes almas, Santos, Mestres, Rishis,
e verá a plena realização dessa regra. Essa é a lei da vida espiritual.

5. TEMA: O sábio, possuidor de conhecimento, abandona os frutos de suas


ações, livra-se dos grilhões do nascimento e alcança esse estado que está além
de todo o mal.

Desenvolvimento: O apego à ação e a seus frutos é a causa dos nascimentos e


das mortes, a fonte de todo mal e sofrimento.

6. TEMA: O homem de sabedoria serena, que subjugou todos os seus sentidos,


está fixo no Supremo. Sua Sabedoria será estabelecida quando os sentidos
estiverem sob controle. O pensamento em objetos dos sentidos torna o homem
apegado a eles. Do apego surge o desejo e do desejo nasce a raiva.

Desenvolvimento: O controle dos sentidos é o atributo da Sabedoria do homem.


E Sabedoria significa nada mais do que fixar toda a atenção no Supremo, ou em
Deus. Os apegos são as raízes das emoções negativas.

7. TEMA: Não há sabedoria para o intranquilo, nem há meditação; e sem


meditação não há paz. Como pode haver felicidade para quem não tem paz?

Desenvolvimento: Este é o verso mais importante para todos nós, que


estudamos a meditação. Vemos que, para conseguir a habilidade de meditar, a
mente deve ser estabilizada, isto é, privada de atividades descontroladas. É por
isso que, na primeira parte deste manual, deu-se tanta ênfase à preparação
adequada para meditar, que é a CONCENTRAÇÃO. Ela torna a mente tranquila,
e essa habilidade nos permite iniciar a verdadeira meditação, que seria
impossível sem a submissão da mente. Outra afirmação básica é a de que, sem
meditação, não existe paz para o homem. Portanto, podemos ver onde se situa
o fundamento da PAZ INTERIOR.
Finalmente, sem paz não pode haver verdadeira felicidade; portanto, na série
completa de passos para a felicidade, as fases intermediárias são: primeiro, a
concentração; depois, a meditação, a Paz e, no final, a Bênção da Realização,
ou a solução do eterno problema do nosso ser.

8. TEMA: Como o oceano permanece calmo e inalterado quando as águas fluem


para ele, o Santo autocontrolado permanece imóvel quando os desejos entram
nele; só um Santo assim alcança a Paz, e não o que anseia pelos objetos do
desejo.

Desenvolvimento: Os desejos são o esteio de todos os obstáculos do caminho.


Eles são intermináveis, e a satisfação deles significa apenas futura escravidão a
eles. Os desejos destroem toda a paz no homem, mas seus objetivos não se
limitam ao cumprimento desses desejos, uma vez que eles só aumentam em
número e força. É isso o que o discípulo que medita deve compreender e, assim,
descobrir o principal inimigo que o impede de fazer a meditação regular.

9. TEMA: O homem não alcança a liberdade da ação deixando de executá-la,


nem alcança a perfeição meramente desistindo da ação.

Desenvolvimento: Esta é a solução para o antigo problema que atrapalha muitos


seguidores: o papel da atividade em suas vidas em relação à sua liberação. O
fato de estarmos aqui, neste mundo de ação, deve significar que temos de
desempenhar nele um certo papel. Mas, como o Grande Rishi Ramana também
ensinou, nossa ação deve ser sem apegos e, como vimos nos versos anteriores,
sem qualquer expectativa em relação aos frutos da ação. Só assim elas não
constituirão um vínculo para o homem sábio, mas apenas algo semelhante a um
sonho, sem nenhuma influência na vida consciente do homem.

10. TEMA: O homem que é devotado ao Eu, que se sente satisfeito com o Eu e
contente no Eu apenas, não tem nada mais a fazer.

Desenvolvimento: A vida espiritual começa quando um homem mergulha em seu


verdadeiro Eu e une-se a Ele, tornando-se livre de todas as atividades. A
percepção do EU significa o fim da escola da vida, passada em diferentes
existências e corpos.

A consciência espiritual no Eu traz a Bem-Aventurança e o contentamento final,


que não existem sob nenhuma outra condição. Este é o nosso verdadeiro
objetivo.

11. TEMA: Aquele que encontra falhas no ensinamento do Senhor e não o


segue, está se iludindo, evitando todo conhecimento e discriminação, sem os
quais é destruído.

Desenvolvimento: É bem conhecida a história dos homens sem consciência


espiritualizada, ansiosos por descobrir alguma imperfeição imaginária nos mais
puros e elevados ensinamentos. Este é o modo que encontram para seduzir a si
mesmos e aos demais. A raiz de tal atitude é conhecida para nós: trata-se de
uma espécie de justificação (falsa e inútil) para a inatividade e a preguiça deles.
A falta da virtude básica, necessária para todo discípulo, a DISCRIMINAÇÃO, é
claramente visível aqui.

12. TEMA: Os sentidos são considerados superiores (ao corpo), a mente é


superior aos sentidos, o intelecto é superior à mente; e o superior ao intelecto é
ELE (o Atmã, o Eu).

Desenvolvimento: Traduzido para a terminologia oculta contemporânea


conhecida de todos nós, este versículo torna-se mais compreensível para a
meditação: astral (emoções e sentidos), mental (mente concreta), mental
superior (mundo das idéias) e Espírito (Eu). O mais importante é a experiência
do Atmã, isto é, a consciência acima de toda manifestação mental.

Isso é possível se tivermos desenvolvido o domínio do nosso pensamento


principal. O estado de bem-aventurança além de todos os pensamentos,
emoções e sensações físicas é o QUARTO ESTADO, o estágio final da nossa
evolução.

Nenhuma leitura ou estudo nos aproximará d’ELE, mas apenas o trabalho


incessante, o controle da mente e do corpo pela arte da concentração e pela
exclusão de tudo, exceto do nosso “Eu” supremo.

13. TEMA: Aquele que vê inação na ação e ação na inação é inteligente entre
os homens; é um homem de sabedoria constante e um perfeito executante de
todas as ações.

Desenvolvimento: O misterioso equilíbrio entre ação e inação, como é visto pelo


mundo exterior e ignorante, é para o sábio o fruto de sua iniciação espiritual.
Mesmo estando neste mundo, na verdade ele “NÃO É DESTE MUNDO”, como
Cristo disse. Mesmo no nível mais baixo do trabalho físico, a exclusão do
elemento astral, isto é, a exclusão do desejo e da excitação tornam o mesmo
trabalho muito mais eficiente e menos cansativo. Aquele que põe seus “nervos”
e humores em suas ações é um tolo que apenas exaure a si mesmo sem nenhum
proveito: nem para ele mesmo, nem para a qualidade e o volume de trabalho.
Essa é a sabedoria da ação.

14. TEMA: O ignorante, aquele que não tem fé e cuja mente duvida de tudo,
perece. Não existe este mundo, nem o próximo, nem a felicidade para o eu que
duvida.

Desenvolvimento: O Bhagavad-Gita tem milhares de anos, mas seu


conhecimento da alma humana, ou do que chamamos agora de psicologia, é
facilmente aplicável ao mundo moderno. A ignorância e a falta de fé são
obstáculos mortais para a realização espiritual, mas estão presentes em nossa
época, quando podemos ver os resultados destrutivos da mente humana em
dúvida. Se olharmos ao nosso redor, veremos quanta gente “está buscando”,
como dizem, uma vida mais elevada, mas suas mentes impedem que consigam
qualquer sucesso em seus esforços. Eles pulam de uma teoria para outra, de
uma seita para outra e de um absurdo para conceitos ainda mais frustrantes.
São incapazes de se concentrar e de discriminar quando a verdadeira Luz está
diante deles. No final, eles partem para um outro mundo desconhecido e
frequentemente assustador sem ter obtido qualquer iluminação ou certeza
quanto ao seu destino e à sua vida futuros.

A discriminação e a mente que duvida estão em pólos opostos e nunca se


juntam! Sem a discriminação racional e elucidativa seremos vítimas de forças
obscuras e nocivas, e com uma mente sempre em dúvida, indecisa e
descontrolada, simplesmente não daremos nunca o primeiro passo ao longo de
nosso caminho, permanecendo indefinidamente no mesmo lugar, sem progredir,
apenas desperdiçando encarnações.

É por isso que Krishna diz que, para tais pessoas, não há felicidade ou realização
em nenhum mundo possível.

Este verso da Canção do bem-aventurado é um poderoso aviso para nós e deve


ser aceito como tal.

15. TEMA: Tanto a renúncia à ação como a execução da ação levam à liberdade.
Mas, das duas, a execução é SUPERIOR à renúncia.

Desenvolvimento: Encontramos um importante ensinamento neste verso: a ação


executada sem apego é certamente mais recomendável por sua maior utilidade
no Caminho. Por ela, a velha e duvidosa crença de que, para conseguir a
Liberação, é preciso esquecer o mundo e negar qualquer atividade nele está
definitivamente destruída. Medite a respeito disso até que se faça a Luz!

16. TEMA: O Senhor onipresente não compartilha nem das boas, nem das más
obras. A sabedoria é encoberta pela ignorância, e deste modo os mortais são
iludidos. Mas para aqueles cuia ignorância é destruída pelo Autoconhecimento,
seu conhecimento do Eu, como o Sol, ilumina o Supremo.

Desenvolvimento: Desde tempos imemoriais a relação do Senhor onipresente e


onipenetrante com a Criação tem sido a pedra contra a qual muitos homens que
poderiam se iluminar quebraram suas cabeças. Isso aconteceu porque eles não
conseguiram discriminar totalmente o papel da mente traiçoeira que tenta
estabelecer uma imagem antropomórfica do Superior para seus seguidores
iludidos. Eles simplesmente não distinguem entre a ONIPRESENÇA e A
PENETRAÇÃO TOTAL e a responsabilidade pelas obras executadas por
consciências separadas. O Bhagavad-Gita dá um sopro mortal nessa heresia.
Nunca devemos nos esquecer dessa verdade!
Essa ignorância pode ser destruída pela espada onipotente do
Autoconhecimento ou Auto-Realização, quando a Luz plena é vista e nenhuma
ilusão pode escurecer a tela da consciência do homem sábio. Por que é assim?
Você se lembra de algumas meditações precedentes, quando discorremos sobre
o desapego do verdadeiro Eu de nossas obras, sentimentos e pensamentos?
Que o Eu começa onde todos os três véus acima mencionados são totalmente
compreendidos e rejeitados como irreais diante do supremo tribunal do Eu-
Espírito? Se assim é, então você sabe que o Grande Infinito, o EU Absoluto que
chamamos de Deus, está além e acima de todas as ações e da lei de causa e
efeito.

Conheço pessoas inteligentes que, durante a vida inteira, tentaram penetrar o


mistério de Deus através da mente, e desse modo, inconscientemente,
atribuíram ao Senhor a dependência dessas leis que nos vinculam a esta terra!
A verdade de que, para o Senhor não há leis, limites ou causalidade é, às vezes,
difícil de ser aceita por certas pessoas.

Essa ilusão deve ser firmemente rejeitada; então nosso Espírito ficará livre do
cativeiro da mente mortal.

17. TEMA: Aquele cujo coração desapegou-se dos contatos externos dos
sentidos, percebe a felicidade que está no Eu; estando unido ao Brahma pela
meditação, ele alcança a eterna bem-aventurança.

Desenvolvimento: Já sabemos como é importante romper as algemas do apego;


mas, por que isso é tão difícil para a maioria das pessoas, mesmo quando
possuem um intelecto sutil? É porque elas ainda têm um medo subconsciente
de que, se abandonarem o ego e pararem de se esforçar pelos objetivos
terrenos, ficarão miseráveis e perderão o estado que elas ainda estimam. Essa
é a principal dificuldade que importuna essas pessoas. O desapego final da vida
egoísta, materialista, é difícil, sem dúvida. Mas tem de ser conseguido, se se
quiser alcançar a verdadeira felicidade! As condições exteriores, a cujo respeito
estamos tão ansiosos, são muito limitadas no tempo e no espaço; assim, por que
se agarrar a elas tão desesperadamente e perder o que gostaríamos de obter —
a verdadeira felicidade? O Vedanta nos diz que o poder que impede esse passo
decisivo para a frente é o poder de MAYA, esse mundo ilusório, tão difícil de
dominar. Mas sabemos que aqueles que o fizeram nunca se arrependeram de
ter dado o salto para a frente, e estão felizes em sua Realização.

Em todos nós, há uma Luz silenciosa no fundo do coração, independente de


qualquer coisa, que ilumina tudo ao seu redor. Essa Luz calma do Eu
indestrutível é tudo o que realmente possuímos ou, muito melhor, TUDO O QUE
REALMENTE SOMOS!

Nenhum acréscimo é necessário, pois tudo perece no final, e só a Luz Interior


permanece, unindo-nos ao Grande Sol Espiritual de Deus.
18. TEMA: Os Rishis Eu-subjugados (Seguidores da Verdade) que se limparam
de suas impurezas, que destruíram suas dúvidas e se comprometeram a fazer o
bem para todos os seres, alcançam a Suprema Liberação.

Desenvolvimento: Não há muito o que se acrescentar a esse verso, pois ele é


totalmente claro, não é necessário dissecá-lo. Nele, os resultados da Realização
são uma vez mais enfatizados. Devemos atentar para a afirmação sobre os
“Rishis que destruíram suas dúvidas”. Um dos sinais mais seguros da
proximidade da Iluminação é a ausência de dúvidas e de problemas. Por outro
lado, se você buscar fervorosamente “novas” teorias ou ensinamentos, esteja
certo de que o inimigo — a mente — continuará a agarrá-lo com suas garras
impuras. A realização é possível, pois ao seu redor estão aqueles que já a
alcançaram.

19. TEMA: Aquele que conquistou a si mesmo pelo Eu é amigo de si mesmo;


mas aquele cujo eu não foi conquistado, tem seu eu agindo como seu inimigo,
como um adversário de fora.

Desenvolvimento: Aqui o Eu com letra maiúscula significa o verdadeiro. Eu em


nós e, com letra minúscula, o ego-mente perecível e conquistável, que é inimigo
da Auto-Realização. Assim como um cavalo selvagem não se mostra feliz com
os esforços do domador para dominá-lo, o mesmo acontece com a mente
humana. Se posso despender todo o tempo em que, por circunstâncias
exteriores, não sou compelido a pensar, sem qualquer pensamento em minha
mente silenciosa, a mente torna-se uma escrava em vez de senhora, como
acontece com a maioria dos homens. E a mente é um poder, com sua
inteligência à parte, limitada, mas frequentemente maior do que a de um
pensador destreinado. É natural que esse poder não queira ser dominado.

Entretanto, a alternativa “Eu ou a minha mente” deve ser resolvida pela evolução
do meu “Eu”, ou estarei perdido. A meditação sobre este verso lhe proporcionará
mais luz.

20. TEMA: Um iogue deve praticar constantemente a concentração do coração,


permanecendo retirado, dominando o corpo e a mente e se livrando dos desejos
e dos bens materiais (o sentido de propriedade).

Desenvolvimento: Apenas umas poucas explanações são necessárias aqui. O


“coração” significa, neste caso, o recesso mais íntimo da consciência, no qual
sempre há paz. A submissão do corpo não significa dormir numa cama de pregos
ou absurdos semelhantes, mas simplesmente resistir aos desejos irracionais e
supérfluos de nossa natureza física, tal como o gosto por comidas e bebidas
especiais. A submissão da mente significa a concentração que você já conhece
bem.
21. TEMA: Aquele cujas paixões foram aquietadas e cuja mente foi perfeitamente
serenada, que se tornou um com o Brahma, livre de todas as impurezas, para
esse iogue é outorgada a suprema bem-aventurança.

Desenvolvimento: Esta é apenas mais uma definição do tema anterior; portanto,


não precisa de mais explicações.

22. TEMA: Aqueles que Me conhecem no reino físico, no reino Divino e no reino
do sacrifício, sendo firmes de coração, Me conhecem até mesmo na hora da
morte.

Desenvolvimento: Isso significa que temos de compreender o Supremo, pensar


sobre Ele e estar firmemente ligados a Ele em todas as condições da vida: na
consciência física, nos sentimentos e nos pensamentos. Vem então a firmeza do
CORAÇÃO, isto é, do Espírito em nós. Não é de admirar, então, que estejamos
com o Senhor quando finalmente abandonarmos nossa forma corporal.

23. TEMA: Eu sou a Origem de tudo, e tudo vem de mim. Sabendo disso, o sábio
Me venera com amor e êxtase.

Desenvolvimento: Se meditarmos constantemente sobre este tema,


compreendendo a Grande Verdade nele contida, alcançaremos o êxtase
indescritível da Paz e da Bem-Aventurança interior, que nos leva ao Samadhi. A
compreensão de que estamos sempre no Senhor e que Ele é o nosso refúgio
mais seguro destrói todos os medos e dúvidas para sempre.

24. TEMA: Aqueles que, fixando a mente em mim, me veneram com DEVOÇÃO
PERPÉTUA, dotados de suprema fé, são os melhores conhecedores da ioga.

Desenvolvimento: Aqui Krishna aponta para a supremacia da verdadeira


devoção ao Senhor, como a base de toda busca espiritual, chamada aqui de
“ioga”. E todos aqueles que sempre praticaram a meditação concordarão que a
melhor parte de seu trabalho acontece quando elevam seus corações ao
Supremo.

Estamos agora no fim de nosso estudo sobre a meditação e no limiar do próximo


passo, que leva ao estudo da CONTEMPLAÇÃO. Não vamos esquecer que ela
só pode prosseguir com êxito se o material dado na terceira e na quarta partes
tiver sido trabalhado devidamente. A esta altura, recomendo que você escolha
dessas duas partes do livro um certo número de temas para meditar, aqueles de
que goste mais e que considere efetivos como base para a Contemplação.
Escreva-os numa folha de papel e coloque-a junto com a quinta parte. Deste
modo você terá um material bem conhecido sobre o estudo da meditação, que
será fácil memorizar e utilizar para fins avançados.
Você descobrirá que a Contemplação é muito diferente da Meditação, porque
todo o esforço dela não gira em torno do trabalho mental sobre os temas, mas
da transcendência de pensamentos e da entrada no reino além deles.

Alguns estudantes talvez se perguntem se TODOS os temas de meditação


dados nos capítulos anteriores devem ser igualmente trabalhados, ou se alguns
podem ser omitidos.

Meu conselho é que trabalhem com todos eles de um modo normal, prestando
especial consideração àqueles que os atraem mais. O verdadeiro trabalho com
temas é a meditação sobre eles, usando-se o desenvolvimento como um
começo, sem permitir que pensamentos estranhos e não relacionados com eles
perturbem o trabalho. Em resumo, pense apenas no que foi requerido, e não se
desvie do tema e do desenvolvimento.

As meditações sem suficiente concentração o desapontarão, pois os resultados


poderão estar abaixo de suas expectativas. Isso é natural, se você não
preencher os requisitos exigidos neste livro. E de quem será a culpa?

O sucesso não pode vir a não ser de seu próprio esforço, uma vez que não posso
meditar no seu lugar, de modo a ampliar e aprimorar a sua consciência.

Espero que você não tenha tais idéias!

Se for um homem do tipo devocional, inicie cada meditação ou contemplação


com uma prece, que poderá tirar do meu livro Teurgia: a arte da adoração efetiva,
no qual encontrará muitos textos, organizados sistematicamente e extraídos de
diversas fontes e épocas, de acordo com a eficácia e a inspiração nelas contidas.
QUINTA PARTE

INTRODUÇÃO À
CONTEMPLAÇÃO
29
A meditação muda

O Grande Rishi Ramana, em sua palestra sobre meditação extraída do livro


Mahaioga (escrito por um de seus verdadeiros discípulos a respeito de seus
ensinamentos), disse: “A Meditação (dhyana) é uma batalha; pois é o esforço
para fixar apenas um pensamento, excluindo tudo o mais; outros pensamentos
surgem e tentam destruir o primeiro; mas, se este se fortalece, os outros são
expulsos”.

Durante seu trabalho com as partes anteriores deste livro, certamente você
experimentou a verdade das palavras do Sábio.

A batalha da meditação deve ser vencida, do contrário não se pode esperar


nenhum resultado. Encontramos uma das mais importantes recomendações do
Maharshi sobre o segredo do controle mental em outra citação do Mahaioga: “A
mente não pode ser controlada por quem se afeiçoa a ela como algo real”. Neste
curso, você já descobriu que uma das condições para o sucesso, como o autor
explicou, é que a pessoa deve se separar da própria mente, e não se identificar
(consciente ou inconscientemente) com suas atividades mentais. Esse estágio
precede a atitude recomendada pelo Maharshi, que é a solução final do grande
problema da vida espiritual. Se você se separar da mente, o próximo passo virá
facilmente, pois o senso comum e a pesquisa lhe mostrarão claramente que essa
“mentalidade separada” não existe de modo algum e só aparece quando o
homem a invoca e permite que ela ocupe sua consciência. Além disso, até a
mais simples filosofia de vida nos diz que a Realidade não pode ser dominada
ou abolida. No caso da mente, se ela fosse real, não poderia ser dominada ou
aniquilada (como o Maharshi gostava de dizer), pois a realidade não pode ser
destruída.

Após o período de batalha de nossa meditação, devemos seguir para o próximo


período, a fase mais elevada da meditação: A MEDITAÇÃO SEM PALAVRAS E
SEM VERBALIZAÇÃO MENTAL. Nós a chamamos de MEDITAÇÃO MUDA.

Trata-se, a bem dizer, da única meditação digna desse nome. Nosso problema
agora é: Como transformar nossa meditação mental, como foi praticada nas
partes anteriores deste livro, na verdadeira meditação, a MEDITAÇÃO MUDA,
independente de qualquer linguagem? Essa é uma tarefa terrível, pois é muito
mais difícil descrever ou transmitir o que está além das palavras. Mas tentarei
fazer o melhor que puder. A dificuldade é que, nesse estágio, o estudante tem
de estar invariavelmente bem familiarizado com as formas anteriores da
meditação (da segunda à quarta partes). Do contrário, o acesso ao tipo mais
elevado certamente não estará ao alcance dele, pois aqui só posso usar a
linguagem compreensível aos homens que já se separaram de seu processo de
pensamento e são capazes de “resistir” por algum tempo sem qualquer
pensamento em suas consciências.

Se você já chegou a esse ponto, então continue a ler. Do contrário, volte atrás e
pratique as partes anteriores deste trabalho até obter êxito. As instruções que
vêm a seguir são para aqueles que já obtiveram êxito.

1) Escolha um pequeno tema que o atraia de um modo especial. Recomendo


principalmente: “Eu Sou”, “Quem Sou Eu?” e “AUM” (cujos significados devem
estar bem compreendidos). Depois, os AXIOMAS DA VERDADE, que são
insuperáveis para esse propósito, seguidos pelos temas 1, 4, 7 e 8 do capítulo
22, o tema 12 do capítulo 25, os temas 1, 2 e 3 do capítulo 26 e, finalmente, tudo
o que o inspire e acalme sua mente (pensante), permitindo-lhe alcançar um
período de paz interior, independentemente da vibração do processo pensante.

2) Como antes, medite sobre um dos assuntos escolhidos e, depois de ter


trabalhado o desenvolvimento com um cuidado especial, encare o tema e
permaneça assim durante o maior tempo que puder. Gradualmente, transforme
as palavras do tema na IDÉIA. Qual a diferença prática entre IDÉIA e
PENSAMENTO? Não são eles bastante próximos? De modo algum! A idéia é a
função mais elevada da nossa mente; ela está no limiar da consciência, vive na
mente, mas está livre da poluição mental (isto é, do pensamento). Uma idéia
pode ser revestida por um pensamento, mas também pode existir
independentemente dele. A fim de vivenciar isso, você deve declarar guerra total
a qualquer processo de verbalização em sua consciência, isto é, parar de pensar
em palavras. A partir desse ponto, poderá encontrar o caminho apropriado para
o mundo das idéias e viver nele, realizando assim a MEDITAÇÃO MUDA, como
foi requerida.

Numa linguagem técnica, você deve fixar a idéia do tema como se ele estivesse
diante de seus olhos ou, melhor ainda, diante de sua mente, imóvel e sem
permitir-se qualquer pensamento. Sature sua consciência com o tema, digira-o
e exclua tudo o mais. Isso é tudo o que pode ser dito sobre a Meditação Muda.
Em que condições você pode ser bem sucedido? Só se compreender o que
estou tentando lhe transmitir agora, com a linguagem insuficiente das palavras e
dos pensamentos humanos. Aqui, seu amadurecimento interior será o melhor
critério. Neste ponto, um dos obstáculos perigosos será a tendência para dormir,
ao tentar excluir toda verbalização de sua consciência. Ela vem como resultado
do desenvolvimento insuficiente (ou demorado) do cérebro, que talvez ainda não
seja capaz de refletir o que você lhe pede, isto é, o confronto puro de idéias.

O principal remédio, é claro, seria a realização enérgica e cheia de fé dos tipos


anteriores de meditação, pois eles influenciam diretamente o desenvolvimento
das circunvoluções da superfície de nosso cérebro. Não existe outro meio para
se alcançar esse propósito, exceto o de esperar que isso aconteça durante
muitas encarnações. Aqui estamos nos esforçando por resultados nesta vida
mesmo, e daí nascem nossas dificuldades. Mas elas podem ser superadas, pois,
se muitos obtiveram êxito, por que não você?

Preciso enfatizar que o lado físico não deve ser esquecido. Nunca se sente para
meditar quando estiver com sono ou quando achar que descansou por um tempo
insuficiente. Sem dúvida, as almas avançadas — como foram as de alguns
santos e ocultistas de grande prestígio — são suficientemente fortes para privar
seus corpos de sono e descanso por longos períodos, o que é impossível para
o homem comum. Sua força interior permite que isso aconteça. Se você sentir
que pode imitá-los, experimente! Não há perigo algum nisso, mas lembre-se de
que deve estar devidamente preparado para o caso de fracassar e de que não
deve ficar frustrado ou desanimado por causa disso.

Finalmente, farei uma tentativa para descrever as experiências de um homem


que experimentou a meditação muda, após a devida preparação, como foi
descrita acima. O sucesso dependerá de você e não de mim.

Lembre-se de que as palavras que você vai ler agora NÃO são um quadro exato
dessa experiência — que está além de toda palavra —, mas algo como o corte
transversal de uma complicada peça de uma máquina.

TEMA: A Verdade

Desenvolvimento em meditação muda:

a) Ela É. É a única coisa que realmente É. Todo Ser pertence à verdade, e fora
dela nada existe. (Agora, esvazie sua mente por algum tempo — cerca de um
ou dois minutos — e encare a VERDADE...)

b) A Verdade preenche o todo da Manifestação, até a última galáxia e além dela,


em direção ao Infinito. (Pare de pensar novamente.)

c) A Verdade é como o Espaço: onipenetrante, silenciosa, transparente,


inimaculável. (Esvazie totalmente a mente. Encare o vazio infinito, preencha-o
com a Verdade e alegre-se com isso. Se não o conseguir, pare, pois ainda tem
muito a aprender antes de obter êxito.)

d) A Verdade é Bem-Aventurança: permanente, imóvel, imaterial, inominável,


onipenetrante. (Vivencie isso!)
e) A Verdade está em mim. Não, ela sou Eu, quando me elevo à Sua altura. Ela
não desce até onde estou. Eu é que preciso ir até Ela. (Mergulhe no espaço
como uma “substância”, que é o símbolo da Verdade. Esqueça tudo o mais,
inclusive você mesmo. Você não pode existir SEPARADO da Verdade; pode
apenas dissolver-se n’Ela.)

f) Estou dissolvendo meu ser no Infinito da Verdade...

A iguaria lhe foi oferecida. Você a experimentou?

Do mesmo modo, desenvolva outros temas em meditação muda, substituindo o


tema pela idéia que escolher. Oriente-a de um modo semelhante ao indicado nos
itens de “a” a “f”.
30
A prece muda

Como foi mencionado no início deste curso, há uma grande afinidade entre a
meditação muda (isto é, a mais elevada) e a prece muda, e as técnicas são
semelhantes. Agora, você já sabe bastante sobre a meditação muda e pode
obter, em detalhes, o conhecimento sobre a prece muda em meu livro Teurgia.
Portanto, não repetirei muita coisa, limitando-me apenas a uma definição que
abranja todo o conceito de prece. Ela é: A RELAÇÃO DO HOMEM COM SEU
CRIADOR.

Veja, a prece não é a súplica ao Supremo para se livrar de doenças, ou de outras


circunstâncias difíceis, quando todos os outros meios se mostraram inúteis.
Sabemos que as grandes almas que passaram toda a vida em oração (como
muitos santos) não se limitaram a fazer pedidos a Deus, mas antes a oferecer
todo o seu ser a Ele. De suas vidas sabemos também que eles oravam
principalmente em silêncio, mergulhados em sua adoração e amor pelo Senhor.
Agora você pode ver que a forma mais elevada da verdadeira prece é bastante
semelhante à forma mais elevada de meditação, quando ambas são silenciosas
e estão além das palavras e mesmo dos pensamentos.

Se você se lembrar do papel dos clichês na vida interior do homem, a


semelhança será mais notável ainda.

Um ocultista eminente tenta se relacionar com o clichê mais elevado possível


através do aspecto mais elevado de sua meditação. Esse tipo de clichê, como
sabemos pelos capítulos anteriores, está além das limitações tridimensionais de
tempo, espaço e planos da existência material (física, astral e mental). Isso
significa o campo puramente espiritual, no qual os clichês primordiais residem,
criados pelo Senhor, além do tempo e do espaço.

Um Santo, em suas preces, não se esforça pelo mesmo reino espiritual onde ele
espera encontrar o Supremo?

Deixe-nos acrescentar ainda uma afirmação de longo alcance feita pelo Sábio
Ramana: “Esse ponto no qual todas as religiões se encontram é a Realização”,
e a identidade da meditação e da prece espirituais verdadeiras (ambas mudas,
é claro, além das palavras e dos pensamentos) ficará clara para nós. Por tudo o
que foi dito antes, você perceberá que existe pouca possibilidade de se dar uma
definição ou descrição exata da meditação ou da prece espiritual, pelo menos
em termos acessíveis a toda e qualquer pessoa. Certas experiências pessoais
são absolutamente necessárias para se compreender algo dessa região sublime
da Vida. As palavras sempre são palavras, mesmo que sejam usadas para
descrever estados supermentais da consciência.

Portanto, apenas mencionarei algumas idéias que, sem dúvida, pertencem à


PRECE ESPIRITUAL MUDA.

a) A concentração na prece obtém a exclusão plena de todos os pensamentos


da mente da pessoa que reza.

b) A forma passiva de concentração não permanece como tal na consciência,


mas é imediatamente transformada na IMERSÃO DE ADORAÇÃO E AMOR ao
Supremo.

c) Isso significa que no estado de prece muda o homem transcende ambas as


formas de concentração (a ativa e a passiva), que são bem conhecidas de nós,
e o aparente vazio é preenchido pela Consciência Espiritual, que é diferente de
ambas, mas as tem como seus pilares de suporte, condição sem a qual esse
sublime estado não pode ser alcançado.

As pessoas que obtiveram sucesso com a concentração (com ambas as formas,


é claro) dizem que suas meditações tornaram-se muito próximas da prece e suas
preces, quase idênticas à meditação muda. Entretanto, elas dizem que, quando
estão praticando esses vôos, não têm nem mesmo um leve pensamento sobre
os meios que lhes permitiram alcançá-los, isto é, sobre as técnicas de
concentração.

É algo semelhante ao que acontece com o virtuose do violino que toca as notas
da partitura à sua frente sem pensar de modo algum em quais os dedos que
deve pressionar e em qual parte do braço do instrumento deve fazê-lo. Tudo é
transferido da partitura para os sons vivos, como se a execução fosse
automática.

Essa idéia parece ser a mais próxima da realidade da prece e da meditação


mudas. Pense nisso profundamente até que se torne claro para você, ou até que
você veja a luz, mostrando-lhe como você mesmo pode começar essas
experiências.

O homem que tenha adquirido essas experiências possui necessariamente uma


fé firme e inabalável em Deus, e seu único objetivo torna-se então o constante e
crescente aprofundamento dessa fé viva. Existe um objetivo definido, final, após
o qual um homem pode “descansar” sobre os louros da vitória? Este é um
problema difícil, mas pode-se tentar uma certa abordagem para a sua solução.
Em determinadas religiões e filosofias ocultas, encontramos que “se um homem
chegou ao nível definitivo de desenvolvimento espiritual” (Nirvana, Reino dos
Céus, Liberação, e assim por diante) “não volta mais a este mundo, pois já
aprendeu todas as lições que a terra pode lhe oferecer”. Esta verdade é lógica.
Mas ela expressa a última palavra? Certamente que não! Essa realização é
imensa, mas ainda relativa. E isso porque a existência terrena não é o auge, e a
liberação final dela não significa que não haja mais nada a ser alcançado.

Deus é infinito; portanto, as possibilidades de imergir n’Ele, de admirá-Lo e amá-


Lo também são infinitas. Isso é certo, mas QUEM SABE o que há além da escola
da vida em existências separadas, como ocorre durante as encarnações
planetárias?

É inútil fazer suposições ou pensar a respeito disso. Contudo, está expresso nas
Escrituras que “o olho não pode ver e o ouvido não pode ouvir a felicidade
preparada pelo Senhor para os homens fiéis”. Isso foi para enfatizar a grandeza
da “recompensa”.

No que consiste a PRECE MUDA?

Se não é na súplica por bens terrenos, então deve ser na atração, admiração e
amor ao Senhor, que dominam essa prece. E isso é o que temos de fazer:
mergulhar n’Ele sem palavras nem pensamentos, por meio de algum dos
elementos acima mencionados da prece muda. Isso é tudo! Se você puder
encontrar mais alguma coisa além dessas, que o eleve e ilumine igualmente em
suas preces, não hesite em usá-la. Muitos são os caminhos que levam ao
Senhor, e toda alma tem algo peculiar a ela para oferecer a Ele; essas formas
individuais de adoração são como um presente abençoado.

Conhecemos em linhas gerais duas delas, que são mencionadas neste trabalho:
o caminho da Meditação e o da Prece. Qual o melhor? A resposta é o que for
natural para você. Alguns devem meditar, assim como outros devem orar. Isso
é tudo!
31
A contemplação como
uma síntese da meditação
e da prece

Tanto a meditação como a prece muda têm essencialmente o mesmo objetivo,


isto é, MERGULHAR NA REALIDADE SUPREMA, EM DEUS, NO ESPÍRITO,
que são termos sinônimos, embora nenhum dos dois possa ser realmente
descrito em palavras. As experiências além das palavras pertencem a um mundo
diferente, desconhecido de todos, exceto daqueles que conseguiram alcançá-lo
e residir nele. Contudo, certas abordagens podem ser feitas em palavras,
traduzindo algumas das linhas mais gerais dessas experiências transcendentais.

O estado no qual nos confrontamos com o Supremo, até onde nossa consciência
limitada nos permite, é chamado de CONTEMPLAÇÃO. Não importa se o
alcançamos pela meditação ou pela prece, pois neste nível ambas são iguais e
levam ao mesmo Clichê Eterno da Verdade. É fácil cometer um erro teórico
quando falamos sobre a Contemplação sem ter uma experiência pessoal dela.

Muitos ocultistas, que fizeram apenas suposições a esse respeito, sem ter
elevado suas consciências à altura da Contemplação, vêem pouca diferença
entre ela e os pontos culminantes da meditação ou da prece. É por aí que se
pode distinguir os compiladores dos conhecedores genuínos.

Os Vedantas conhecem muito bem a diferença, pois ela frequentemente é


sublinhada em suas Escrituras, especialmente no Vedanta Advaíta (baseado na
não-dualidade). Nossa Tradição concorda plenamente com nossos irmãos
indianos. A meditação e a prece continuam a ser ações, degraus para a
Realização, setas para essa Realização, não importa se a chamamos de Reino
dos Céus, Nirvana, Liberação ou Paraíso. Mas trata-se, de qualquer modo, do
homem que medita ou ora e do objeto de seus esforços.

NA CONTEMPLAÇÃO, SUJEITO E OBJETO ESTÃO IMERSOS NO UNO, E


TODAS AS DUALIDADES DESAPARECEM PARA SEMPRE. Esta é a
diferença, e ela deve ser bem compreendida. Na Contemplação, o seguidor se
confronta com sua Meta final, mas não pode permanecer separado d’Ela. Então
ambos se fundem. O Grande Círculo abrange o menor, como um oceano
dissolve a gota de chuva que nele cai. Essas comparações são quase tudo o
que pode ser dito sobre a Contemplação do Altíssimo. Por causa da sublimidade
dos meios que levam a esse Objetivo, ele não pode ser nada menos do que o
Supremo. Você não pode contemplar algo material ou sensorial. Se assim for, o
objeto será inferior, e então o que você acredita ser contemplação será apenas
um processo de pensamento, ligado totalmente ao reino mental, isto é, não tem
nada em comum com o Espírito. Seu clichê está dentro da limitação
tridimensional de tempo, espaço e pensamento, e não tem relação com o
Verdadeiro Clichê Eterno (veja os capítulos 2, 3 e 17).

Se a Contemplação é desejada e pode ser vivenciada pela vontade do adepto,


ela passa, normalmente, de um modo imperceptível para outra experiência
espiritual, que é a da verdadeira Superconsciência ou Samadhi (veja os capítulos
9 e 10). Se ela é acompanhada por um atributo do Poder, significa a
manifestação da Hiperconsciência, na terminologia que adotamos neste
trabalho. Isso significa que estou fazendo a distinção entre dois termos
aparentemente idênticos, mas, como expliquei no capítulo 10, não há outro meio,
se dois clichês diferentes têm de ser reconhecidos como tal.

Em alguns outros trabalhos sobre temas semelhantes, talvez você encontre


conceitos sobre a “contemplação de certas virtudes”, tais como o Amor, a
Pureza, a Sabedoria, a Caridade, e assim por diante. Mas vamos nos aprofundar
na análise deles. Como você já sabe, o elemento de dualidade foi
completamente banido da verdadeira Contemplação, e é isso que constitui a
verdadeira diferença até mesmo nos mais altos graus da meditação.

Quando você contempla o UNO que só pode ser contemplado (e não meditado),
ele é sempre o Ser Supremo. E nesse estado de Iluminação você não pode
existir separado d’Ele. Nada mais existe.

As Virtudes são da mesma ordem do Supremo? No melhor dos casos, são


apenas ATRIBUTOS, que devem pertencer a alguém, até mesmo a você, se os
alcançou em seu coração. Mas o Senhor é INFINITO, e está além de todos os
atributos, se contemplado além do reino da mente. Não se pode substituir o
Infinito e o Transcendental pelo que é finito e limitado.

Portanto, podemos apenas meditar sobre as Virtudes, mas não podemos


contemplá-las no verdadeiro sentido dessa palavra.

Talvez você me pergunte: o que me diz então da experiência da PRESENÇA de


DEUS, como foi mencionada num dos capítulos anteriores? Tudo o que
podemos dizer é que certamente tal experiência está acima de qualquer
meditação, embora ela possa ocorrer como um resultado da meditação espiritual
bem-sucedida. Pessoalmente, penso que a Presença de Deus pode ter outro
termo sinônimo, que é CONTEMPLAÇÃO; pois nada menor ou diferente
satisfaria nossa intuição.

Chegamos agora à última parte deste capítulo, aos métodos práticos, úteis para
elevar a consciência aos pontos culminantes da Contemplação. Como isso pode
ser feito?

Embora eu não pretenda com isso nenhuma exclusividade, posso indicar alguns
caminhos pelos quais a Meta pode ser alcançada, como a experiência nos
ensinou. Para CONTEMPLAR, você precisa primeiro desenvolver sua Meditação
ou Prece muda até o ponto em que ela transcenda o reino dos pensamentos.
Essa é a condição.

Então a sua própria concepção do Supremo, sem verbalização mental, deve


tomar o lugar do objetivo anterior da sua meditação e permanecer assim: imóvel,
imutável e sem forma.

As condições são semelhantes às do Samadhi, e esteja certo de que a


Contemplação, assim como a Superconsciência, não virá fácil e rapidamente, a
menos que você esteja próximo da santidade ou da realização do seu verdadeiro
Eu. Mas nesse caso você não precisa de nenhuma instrução, pois a Fonte eterna
da Sabedoria, presente em todo ser humano, embora encoberta e oculta para a
maioria dos homens, ensinar-lhe-á diretamente tudo o que precisa nesse grau
de desenvolvimento.

Se não for esse o caso, não caia no pessimismo ou no ceticismo, pois esses
estados sublimes (a santidade ou Auto-Realização) são atingíveis. E nesta terra,
nesta época, há homens vivos que os alcançaram. Mas eles não se vangloriam
disso, nem trazem isso escrito na testa, de modo que os outros possam
reconhecê-los! Eles vivem como as outras pessoas, e só aqueles que já
desenvolveram em si mesmos algum “sentido” sutil são capazes de reconhecer
seus irmãos superiores. E eles manterão silêncio sobre suas incríveis
descobertas, cientes do perigo de se “jogar pérolas aos porcos”, como Cristo nos
preveniu.
32
Poderes místicos da
contemplação

Vamos nos confrontar agora com uma verdade surpreendente, baseada em


inúmeros fatos da vida de homens espiritualmente superiores nesta terra. Todos
sabemos a respeito dos milagres de Cristo, de Seus Santos e mártires. Na
Iniciação Oriental há uma literatura volumosa nos livros sagrados hindus sobre
os poderes de seus Rishis e iogues. Tudo isso não pode ser rejeitado com um
“não” categórico. Embora sempre haja a possibilidade de algumas lendas terem
sido acrescentadas aos fatos básicos, os fenômenos superfísicos não podem ser
desdenhados pelos que encontram dificuldade em investigar e verificar esses
fatos.

Contudo, este não é o momento para desviar a atenção de nosso principal


assunto; portanto, passaremos diretamente para essa lei mística que regula a
energia que chamamos de “consciência”. O Grande Rishi Ramana, ao falar sobre
os milagres de Cristo, expressou claramente a verdade do PODER DINÂMICO
DA CONSCIÊNCIA, como o SUSTENTÁCULO DE TODOS OS MILAGRES, isto
é, dos atos executados fora de todas as leis físicas conhecidas. Isso é o que
você tem de compreender: a base de todos os fenômenos sobrenaturais é a
CONSCIÊNCIA ATIVA, que opera sobre eles. Tomada superficialmente, essa é
apenas uma confirmação do axioma: O ESPÍRITO REGULA A MATÉRIA. Mas
essas palavras geralmente se transformam numa afirmação trivial não muito
acreditada no tumulto do mundo exterior. Estamos sujeitos a ignorá-las sem
entender de fato seu verdadeiro significado.

O que precisamos é de explanação e exemplos.

“Jesus, o homem, estava totalmente inconsciente de si como ser individual, finito,


separado, quando fazia milagres e pronunciava palavras maravilhosas. Ele era
a Luz Branca, a Vida, que é Causa e Efeito, agindo em perfeita sintonia. MEU
PAI E EU SOMOS UM.” Assim falou aquele que teve, ele mesmo, a mais elevada
experiência espiritual acessível ao homem em sua vida terrena, o Maharshi, o
último Grande Rishi indiano, ao render sua homenagem a Cristo. E quem seria
mais adequado nesta época para pronunciar palavras tão belas e importantes?
Ele sabia, e falou a linguagem da verdadeira sabedoria.

Nessa curta sentença encontramos tudo de que precisamos,


independentemente do nosso estudo dos capítulos anteriores deste trabalho.
Você sabe bastante a respeito dos poderes contidos na HIPERCONSCIÊNCIA,
gerados pela meditação correta e completados pela Contemplação, que é a
imersão da consciência humana no “Mar de Deus”, como o Maharshi também
nos disse. Ouvimos falar do poder da verdadeira Fé que pode remover
montanhas. Mas você sabe o QUE é essa Fé? Presumo que esteja
suficientemente maduro — especialmente se estudou o livro Teurgia — para não
confundir “crenças” com FÉ, que é um Poder que independe das teorias mentais
que formam as crenças.

Não gosto de dogmatizar; portanto, não expressarei minha própria e íntima


convicção a respeito desse assunto. Mas se você compreender, do fundo do seu
coração (a mente é absolutamente inadequada para essa grande tarefa), o que
é a Hiperconsciência e o estado de consciência que é a verdadeira FÉ, chegará
à conclusão de que AMBAS SÃO IDÊNTICAS. “Tudo é possível para aquele que
tem Fé.”

De um modo ou de outro, a pessoa é compelida a chegar à conclusão final de


que O ESTADO DE CONSCIÊNCIA É O VERDADEIRO FATOR QUE REGE O
UNIVERSO. Em seu significado último, é a consciência infinita do Criador,
penetrando cada átomo do Cosmos ilimitável, o derradeiro substrato de cada
coisa e acontecimento. É por isso que, ao instruir a humanidade, todas as
Grandes Almas foram definitivas ao insistir na reforma e na ressurreição (do sono
mortal da matéria) da alma humana (isto é, da consciência em nós) como a única
ação que importa aqui e em todos os outros mundos.

Ao nos explicar a relação de Cristo com o Pai, o Rishi Ramana nos mostrou a
Verdade do Poder Espiritual. Isso não era algo estranho para ele, pois o Vedanta
Advaíta — o mais elevado sistema filosófico de seu país, a Índia — baseia-se
justamente nessa UNIDADE do Espírito, que muitos cristãos quase esqueceram.

Agora deve estar claro para você o motivo pelo qual todo aumento e
fortalecimento da consciência em nós também leva à aquisição de Poder. Trata-
se de uma Iniciação, expressa em poucas palavras, mas os que estão
suficientemente maduros, os que têm olhos para ver e ouvidos para ouvir, farão
pleno uso dela! Agora você vê como na Contemplação, que é um poderoso salto
à frente para nós, existem forças sobre as quais as pessoas ignorantes não têm
sequer idéia.

Chamamos essas forças de “místicas” porque, para a maioria da humanidade


contemporânea, elas são misteriosas e até mesmo problemáticas; mas para os
que estão bem próximos delas, trata-se de uma realidade viva.
Elas não podem ser exibidas à toa ou para impressionar. Pertencem ao cerne
sacrossanto do espírito humano, para o qual todo o mundo visível e invisível é
“como uma sombra”, para citar as palavras do Maharshi.
33
A possibilidade de milagres

A lei básica que regula os acontecimentos que a humanidade chama de


“milagres” foi explicada nos capítulos anteriores. Resta apenas esclarecer o
assunto e dar exemplos. Em todos os lugares onde há poderes agindo além das
limitações das leis físicas, deve haver uma CONSCIÊNCIA superior agindo na
retaguarda.

Tenho lido reportagens sobre algumas curas “milagrosas” de Lourdes, não


oriundas de problemas nervosos ou similares, que não podem ser explicadas a
não ser como ações sobrenaturais. Tem havido casos de doenças, confirmados
fora de qualquer dúvida por médicos especialistas como doenças malignas,
visíveis mesmo aos olhos de um leigo, que foram removidas em minutos e com
plena recuperação do paciente moribundo. As pessoas interessadas poderão
encontrar maiores detalhes na descrição de um milagre de Lourdes feita pelo dr.
Carrel e publicada há alguns anos em fragmentos na revista Reader’s Digest.
Minha experiência pessoal aconteceu em 1949, quando um homem que sofria
de problemas pulmonares, confirmados por radiografia tirada no país do autor e
com os conhecidos sintomas de tuberculose, após meditar e rezar na sepultura
de um Santo maometano local em Tiruvannamalai (residência do último
Maharshi), no dia seguinte tirou uma radiografia que mostrava seus pulmões
completamente limpos, que lhe permitiu deixar a Índia imediatamente.

Todo mundo sabe que essa doença não pode desaparecer em vinte e quatro
horas, sem deixar vestígios, assim como todos os seus sintomas exteriores, tais
como febre, dores, fraqueza, etc., e nunca mais voltar.

Neste caso, houve uma vez mais uma mudança radical na estrutura material dos
órgãos afetados (os pulmões), que, do contrário, no caso de uma cura “natural”
por tratamento especial e medicamentos, levaria meses (se não anos) e, o que
é mais importante, pode sempre ser diagnosticada mais tarde por causa das
cicatrizes e tubérculos calcificados que permanecem, visíveis em todos os
exames subsequentes feitos com raios X. Neste caso, vinte e quatro horas foram
suficientes para erradicar todos os vestígios.
Aconteceu também que eu pude observar outro “milagre” com meus próprios
olhos, a despeito do fato de ser muito crítico em relação ao experimento que
descreverei agora.

Durante minha estada na Índia, eu visitava ocasionalmente uma cidade onde um


famoso faquir exibia seus poderes. Dessa vez, ele caminhou por uma superfície
de alguns metros de comprimento, coberta de carvão em brasa. O homem, um
hindu alto de aparência convencional, pele escura, sentou-se calmamente na
posição de lótus como se em profunda meditação e executou claramente um
pranaiama profundo, enquanto as brasas eram preparadas e colocadas numa
extensão de sete metros de comprimento. Finalmente, quando tudo estava
pronto, ele se levantou com os braços cruzados no peito, os olhos voltados para
cima e começou a caminhar lentamente pelo leito de brasas. Observei
intensamente cada um de seus movimentos e vi seus pés firmemente encobertos
pelas brasas toda vez que ele transferia o peso do corpo de um pé para o outro,
lentamente, como se estivesse andando normalmente.

Não havia nenhum cheiro de carne queimada, nem seus pés ficaram quentes ou
machucados quando ele terminou essa fantástica caminhada. Mais tarde, li num
jornal de Londres a respeito de um experimento parecido feito pelo mesmo
homem na Inglaterra, na presença de muitos médicos e de outras pessoas
descrentes de tais “milagres”. Nenhuma explicação jamais foi oferecida, só o fato
claro e simples.

Para mim, é claro, esses fatos não provam nenhum “milagre”, em absoluto. Há
tempos, eu já conhecia o poder que certos estados de consciência podem
exercer sobre acontecimentos materiais. O faquir usou uma certa atitude interior,
provavelmente relacionada com um alto grau de concentração, e praticou o
dhyana, que lhe permitiu manter a pele dos pés temporariamente impermeável
a determinados fatores físicos, neste caso, o calor intenso.

Mas o que estou tentando transmitir neste capítulo é o fato de que, como lemos
no capítulo 32, a consciência pode afetar decididamente a matéria física.

Com que finalidade estou citando exemplos desta Lei e suas explicações? Bem,
você agora está no limiar do estudo da meditação, que sem dúvida tem o objetivo
de influenciar e até mesmo de transformar sua consciência e torná-lo consciente
de coisas que você não sabia antes. Acredito que o estudante deve saber o
máximo possível, e é por isso que estou citando exemplos, com as respectivas
explicações, nos dois capítulos finais deste livro.

Consequentemente, um conselho inevitável deve ser dado. Seu objetivo deve


permanecer firmemente fixado no desenvolvimento de sua consciência, que está
em sintonia com a lei da evolução ou do progresso espiritual. Fazendo isso, um
homem realiza a vontade de seu Pai, de seu Criador, e está autorizado a
conhecer e a pedir auxílio nesse virtuoso empreendimento.
O auxílio lhe será garantido, se não se permitir ficar cego pelo tolo desejo de
obter poderes como o alvo principal de seus esforços. Se assim o fizer, estará
cavando sua própria sepultura. Pois foi dito claramente para todos nós:
“PORTANTO, PROCURE PRIMEIRO PELO REINO DE DEUS, E SUA
JUSTIÇA, E TODAS ESSAS COISAS LHE SERÃO ACRESCENTADAS”.

Você já sabe que o verdadeiro poder, além de todas as manifestações da vida


no universo, é o da CONSCIÊNCIA, que também pode ser chamada de
ESPÍRITO. Ela é o único Poder criativo, responsável pela EXISTÊNCIA, como
sabemos, e também além de nosso conhecimento. Por causa da dificuldade (da
quase impossibilidade) de defini-la, aqueles que foram capazes de contatá-LA
mais de perto que os demais têm feito tentativas para LHE dar nomes mais
acessíveis à mente humana e à sua linguagem. Assim, encontramos um
exemplo surpreendente no Evangelho de São João, onde ele A denomina de o
VERBO, ou de a PALAVRA DIVINA. Essa Palavra criou tudo, isto é, o Clichê
Central do universo como um todo.

Isso, em última análise, significa, consequentemente, que as Leis que regem o


universo, e entre elas as poucas que fomos capazes de “descobrir”, pertencem
ao mesmo Criador, e o Poder que as impôs também pode agir fora e acima delas.
Precisamos compreender essa verdade em nossa mente além de qualquer
dúvida, pois, do contrário, seremos incapazes de acompanhar as próximas
afirmações.

Para nós, que vivemos no reino de determinadas Leis, que consideramos firmes
e imutáveis, tudo o que transcende essas Leis parece ser milagre.

Mas os milagres podem não ter uma, mas DUAS explicações:

1) Eles são o resultado da aplicação das mesmas Leis de um tipo superior,


DESCONHECIDO para nós em nosso mundo limitado.

2) Podem ser o resultado de uma ação direta da Consciência Criativa, que impôs
essas Leis, mas que está acima de toda a Sua criação e das suas leis.

Nos capítulos anteriores, dissemos o suficiente a respeito do papel da


Consciência e de seu domínio sobre a matéria; assim, não vou repeti-lo aqui.
Portanto, a confirmação final de que o Espírito-Consciência (quero dizer, a
CONSCIÊNCIA ABSOLUTA, não a limitada, que pertence aos seres isolados) é
o fator onipotente, será mais fácil para você compreender e aceitar.

Ao tentar explicar essa idéia, o Maharshi usou a comparação da tela e dos


quadros que aparecem nela. Essa TELA imutável, disse ele, é o EU (seu termo
para Deus-Espírito) e a manifestação do mundo forma os quadros que aparecem
n’ELA, quadros que não existem fora dessa tela; contudo, a tela pode existir sem
eles.
Outra idéia básica, a de que a Consciência criativa onipenetrante e onipresente
é onipotente por causa desses dois atributos, pode requerer também profunda
meditação para ser compreendida por você. Mas essa compreensão é acessível,
pois muitos já a conseguiram, tendo encontrado a paz e a sabedoria para
sempre.

Agora estamos perto da compreensão da possibilidade da existência do que


chamamos (não de modo exato) de milagres. Seu âmbito depende apenas do
âmbito da consciência que opera na sua retaguarda. O Maharshi, ao falar sobre
os milagres e os ensinamentos de Cristo, expressou uma idéia semelhante
quando os atribuiu à união de Cristo com o Pai, referindo-se à maior extensão
possível da consciência e, por conseguinte, ao maior dos milagres.

Não podemos chamar as ações de Cristo de outra coisa que não milagres, uma
vez que demonstraram total domínio sobre a matéria e suas manifestações. A
ressurreição de um cadáver em decomposição, a transformação da água, a
transformação de uma pequena porção de comida numa quantidade enorme,
fora as inumeráveis curas, que também exigiram mudanças na estrutura da
matéria viva, tudo isso pertence a essa suprema categoria do PODER DA
CONSCIÊNCIA, que domina tudo.

Vamos agora para a conclusão mais importante. Uma certa graduação de


milagres deve existir de acordo com e proporcionalmente à grandeza da
Consciência que neles opera. Isso está perfeitamente exemplificado pela vida e
pelos milagres de seres humanos superiores em nossa terra.

Santos do Ocidente e do Oriente fornecem material suficiente de investigação


para os que estiverem interessados nesse assunto. Isso significa que, pelo
desenvolvimento da Luz da Consciência em nós, podemos chegar mais perto
desses milagres mencionados nos itens 1 e 2 deste capítulo.

Descobrimos também que:

a) Podemos nos familiarizar com as leis até agora desconhecidas para nós.

b) Podemos participar do Espírito-Consciência, a origem e o soberano de tudo o


que existe.

Algumas pessoas talvez recuem diante de tal afirmação. Bem, não há nenhuma
convicção factual nesse assunto, exceto uma habilidade do homem para elevar
sua consciência além do nível médio e operar no reino da intuição (o
conhecimento sem o pensamento).

Mas para os muito “incrédulos” eu gostaria de fazer uma pequena sugestão: você
sabe que tudo o que estamos fazendo em nosso mundo tridimensional seria uma
corrente ininterrupta de milagres para um ser limitado a apenas duas
dimensões? E, também, que muitos matemáticos e filósofos expressaram idéias
sobre a necessidade da inexistência de mais de três dimensões?

Mas a simples aplicação de uma lei, com sua possibilidade de pertencer a uma
“dimensão superior”, estaria inevitavelmente ligada a uma quantidade de
“milagres” para nós, estranhos e inexistentes nas três dimensões. Além disso,
para os seres que vivem na dimensão superior, nossas técnicas mais
avançadas, tais como as viagens espaciais e a energia atômica, pareceriam
invenções canhestras e as condições de vida dos homens se assemelhariam às
da Idade da Pedra.

Tudo o que foi apresentado até aqui aos leitores serve como material para o
pensamento independente, e eles devem encontrar suas próprias soluções.
Você já sabe sobre a possibilidade de influenciar a matéria por determinadas
operações da consciência humana, baseada em recentes relatos tais como a
história do faquir que anda sobre brasas.

O desenvolvimento de nossas habilidades de conhecimento, de julgamento e de


Realização espiritual depende de nossos esforços, e o estudo prático da
meditação é o principal meio para se atingir esse objetivo.

Para os que têm queda para a matemática, sugerirei aqui algumas possibilidades
relacionadas com a existência de dimensões superiores às nossas três
dimensões que, acreditamos, são bem conhecidas.

Vamos nos referir, em primeiro lugar, à geometria elementar. Um ponto, que


pode ser definido como uma interseção de duas (ou mais) linhas, não tem
dimensão em si, não pode ser medido ou comparado com outros, uma vez que
todos os pontos são igualmente desprovidos de dimensão.

Mas esse conceito imaterial contribui para a formação da nossa PRIMEIRA


dimensão: movimente esse ponto e traçará uma linha, um elemento geométrico
que já é um fator mensurável: seu comprimento, a sua única dimensão.

Como podemos formar a próxima dimensão do modo mais simples, usando a


primeira como ponto de partida? Basta colocar outra linha perpendicular a ela, e
movimentar a segunda linha ao longo da primeira, até chegar ao final da que lhe
deu início. Veremos que essa operação traçou uma nova figura retangular (figura
9). Com o propósito de simplificar essa experiência, vamos sempre tomar um
comprimento, considerando-o como uma “unidade”, tal como uma polegada, um
pé, etc. Então a nova figura já tem DUAS DIMENSÕES (comprimento e largura),
uma unidade de área ou superfície, igual a uma polegada ao quadrado, ou um
pé ao quadrado, de acordo com a medida linear usada por nós.

Mas nosso mundo se estende além dessas duas dimensões, e, se repetirmos o


processo para formar uma nova unidade, teremos de acrescentar uma outra ao
nosso quadrado, ao longo e perpendicularmente aos lados desse quadrado, e
movê-las novamente na mesma direção até encontrarmos o lado oposto.
Olhando para a figura traçada, veremos que ela formou um CUBO, com TRÊS
dimensões: comprimento, largura e altura. Uma vez mais, teremos uma unidade
em seu próprio campo, uma polegada cúbica, um pé cúbico ou outra medida
qualquer.

Essa terceira dimensão limita o mundo no qual acreditamos viver esta vida.

É o fim? Aparentemente, não: pois vários matemáticos e quase todos os


ocultistas insistem em que deve haver uma dimensão mais alta, inacessível aos
nossos sentidos, assim como, para um ser bidimensional (se tal existisse), nosso
mundo tridimensional pareceria um corte transversal dele com a base
perfeitamente plana e a superfície (área) ilimitada como o aspecto do mundo
bidimensional. Por tanto, nosso cubo seria apenas um quadrado, uma esfera
seria apenas um círculo para um ser bidimensional; e se traçarmos uma linha
completa ao redor desse ser, nós o encerraremos como numa posição de muros
impenetráveis. Isso porque, não tendo a terceira dimensão (aqui, com a
espessura de uma linha), a criatura perfeitamente plana não estaria em posição
de se separar de seu mundo plano.

Agora vem o nosso ponto crucial. Vamos seguir a próxima dimensão usando (o
que é lógico, uma vez que estamos conscientes da lei da formação de
dimensões) um método semelhante. (Veja as figuras de 7 a 10.)
Tome uma unidade da nossa dimensão mais alta, isto é, um cubo, acrescente
outra, semelhante à primeira, e movimente-a na direção perpendicular, como foi
feito com a formação do cubo e do quadrado.

Você pode dizer que isso é inconcebível! Bem, mas um ser bidimensional diria
exatamente o mesmo se lhe falassem sobre o cubo ou sobre outro corpo
tridimensional, recusando-se a acreditar em sua existência! Todavia,
discordaríamos e permaneceríamos com o nosso conhecimento “superior” das
coisas, segurando o cubo em nossas mãos como prova.

Desse modo, podemos viver num mundo limitado, que é apenas um corte
transversal de uma dimensão superior, e assim imaginar que algo mais é
possível.

P. D. Ouspensky, um pensador de considerável profundidade, tentou reconciliar


o fenômeno oculto com a ciência e se propôs a explicar os “milagres” como
ações derivadas de dimensões superiores. Ele acreditava que elas se estendiam
até a quinta ou mesmo até a sexta dimensão. Podemos ver que um ser, por
exemplo, da quarta dimensão, seria capaz de fazer truques conosco,
semelhantes aos que poderíamos fazer com os seres bidimensionais antes
mencionados. Alguns ocultistas de grande valor aceitam a existência de
dimensões separadas para os mundos Astral e Mental, o que parece lógico. Isso
explicaria por que, no ocultismo, o mundo físico é concebido como um reflexo do
mundo Astral, que possui extensão e possibilidades muito mais amplas do que
o anterior. O fenômeno mediúnico e outros fenômenos relacionados com o
aparecimento e o desaparecimento de objetos sólidos, e assim por diante,
podem ser análogos à nossa remoção deles a partir da visão dos seres
bidimensionais, que são incapazes de explicar esse “milagre”. A meditação
sobre dimensões mais elevadas, como as aqui apresentadas, pode contribuir
bastante para a sua consciência.

Certas insinuações no tema da meditação especial sobre as dimensões mais


elevadas podem ser úteis àqueles que realmente estão interessados neste tema
fascinante. Contudo, esse “interesse” apenas não será suficiente: uma grande
habilidade para pensamentos imaginativos, precisos e intrincados é uma
condição para que haja uma esperança razoável de sucesso. Darei um exercício
bastante conhecido como exemplo, que é muito eficiente a despeito de sua
aparente simplicidade, e que, ao mesmo tempo, é um bom teste para as
habilidades do aspirante que tenta “espreitar” a dimensão seguinte.

1) Pegue uma pequena caixa, uma caixa de fósforos, por exemplo, ou algo
parecido. Olhe intensamente dentro dela e estude-a de modo que todos os
detalhes fiquem firmemente impressos na sua mente e você possa então recriá-
la totalmente em sua imaginação, quando não estiver olhando para ela. Não é
fácil, eu sei, mas nenhuma tarefa importante, rica em resultados, jamais foi fácil!

2) Quando tiver terminado de estudar o “interior” da caixa e puder construir uma


figura exatamente igual em sua mente, passe a estudar a superfície exterior,
exatamente como fez com o lado de dentro. Observe os resultados
cuidadosamente, de modo que o novo quadro fique como o primeiro, claro e
definido.

3) Agora vem o verdadeiro teste: tente obter em sua mente a imagem do lado
interno e do lado externo dessa caixa simultaneamente. Se tiver sucesso, terá
enriquecido a si mesmo com uma certa ampliação da consciência que levará a
uma compreensão da possibilidade de dimensões mais elevadas.

Este exercício pode levar muito tempo (semanas ou meses) para ser feito com
perfeição. E é possível que você se sinta completamente incapaz de fazer isso.
Então deixe-o de lado; ninguém pode exceder seus verdadeiros poderes, e isso
não é essencial.

Muito provavelmente, você gostaria de ser informado a respeito do modo como


uma unidade da quarta dimensão, por exemplo, seria em relação a seu
predecessor, o cubo. Bem, ela seria construída pela criação de um corpo
simultaneamente perpendicular a todas as superfícies do cubo, como nos
mostraram nossas considerações sobre as três dimensões conhecidas e sua
formação. Só uma inteligência matematicamente hábil poderia ver de forma clara
essa possibilidade.

Cabe a você resolver o problema e tentar por si mesmo.

Incidentalmente, essa “fantástica” unidade quadridimensional, derivada do cubo,


costuma ser chamada de TESSARACT. 1

1. Representação tridimensional de um cubo em quarta dimensão. (N. da T.)


Epílogo

Após o término da leitura deste livro, duas possibilidades podem surgir. Talvez
você não se interesse pelo uso prático de seu conteúdo e o considere apenas
uma teoria para ser estudada, e que não encontra receptividade em você. Neste
caso, o epílogo acrescentará muito pouco aos capítulos que você deixou para
trás. Entretanto, alguns de meus leitores podem descobrir neste manual algo
pelo qual estiveram procurando, e ver nele o caminho que leva à sua desejada
busca de realização. Para estes, tenho algumas palavras a dizer.

Assim como o seu estudo normal, a MEDITAÇÃO requer persistência por parte
do aprendiz. Talvez ela se torne mais difícil porque será feita por sua própria
conta; esse será um estudo privado, que não lhe dará diplomas oficiais nem
representará uma fonte de subsistência, como os outros. Aqui não existem
sanções para quem não aprende direito, como nas escolas comuns, e você não
pode obter certificados vitais para o seu bem-estar material.

E, ao lado do indubitável e crescente interesse pela meditação e pela prece,


temos de observar também uma tendência extremamente prejudicial dirigida
pelas forças do Mal. Elas tomam as mais traiçoeiras formas exteriores, e as
deliberações intelectuais mal-orientadas são um dos aspectos disso. Não se
trata de algo novo. Há tempos atrás, descrentes tentaram desenvolver a idéia de
que, por causa da onipresença e da onipotência óbvias de Deus, qualquer
“interferência” nelas por parte dos seres humanos é indesejável e inútil. Ninguém
pode ensinar ao Supremo o que Ele deve fazer.

Essa “lógica” só pode convencer aos homens de pensamento muito sombrio,


privados de qualquer luz espiritual e muito próximos do pensamento de um
autômato. Essa “filosofia” tenta nos privar de nosso mais valioso tesouro, a
PRECE, como uma forma natural da relação do homem com seu Criador. Mas
essa teoria invalida a si mesma.

Se não devemos indagar sobre nada ao Todo-Poderoso, como filhos que oram
ao Pai, então que tipo de relação com Ele deve ser aceita? Certamente, somos
incapazes de ordenar algo a Ele, nem qualquer homem sadio aceitaria como
possível uma relação de igualdade com Ele, como com nossos companheiros.

Restaria o nada, ou a ausência de qualquer relação, e este é o objetivo óbvio


daqueles que tentam nos dissuadir do poder da prece.
Eles falam “amavelmente” sobre a obscura e estéril abordagem “não pessoal” de
Deus, pois sabem que isso seria apenas uma atitude negativa, mortal, E, assim,
afastando um esforço mental abstrato e indefinido como seu objetivo supremo,
arruínam gradativamente a tendência natural do coração humano de adorar o
Supremo com amor, apresentando isso como algo “primitivo” e sem valor.

Você conhece a “meditação e a prece muda”, e certamente pode ver que essas
habilidades não são conquistadas de um dia para o outro, mas são um “PONTO
CULMINANTE”, que só é alcançado após intenso trabalho.

Colocar uma meta realmente inatingível para toda e qualquer pessoa, não
importa o quanto ela possa ser “sublime”, significa impedi-la de dar os passos
intermediários, que são absolutamente necessários e essenciais a qualquer
realização. Pois, quando uma pessoa imatura tenta dar um salto à frente, um
salto além de suas possibilidades, obtém apenas desapontamento e frustração.
E ambos são nossos inimigos mortais.

Todavia, quando olho para o passado, descubro que o inverso que resulta de
um estudo da meditação sem persistência existe, embora num nível diferente.
Como eu me sentiria frustrado se tivesse abandonado, anos atrás, o estudo da
concentração e da meditação, tão entediante no começo, e que mais tarde
passou a ter um papel decisivo na formação do meu mundo interior!

Neste empenho, nós, homens, somos todos semelhantes! Podemos reagir


diferentemente ao perder ou ganhar coisas materiais, mas no reino do espírito
não podemos nos permitir a perda. Só podemos adiar, e esse adiamento é em
si um negócio muito caro.

Em nossa última hora, lembramo-nos invariavelmente das oportunidades


perdidas, e o amargor dessa consciência pode nos seguir em nossas andanças
futuras, em outros mundos e em outras condições.

Pois, na verdade, o homem é apenas a sua CONSCIÊNCIA, e ele a leva consigo


para além do que chamamos aqui de sepultura.

A formação e a iluminação dessa consciência são o objetivo mais elevado a que


um homem pode se dedicar, pois neste assunto não há limitações de idade, de
sexo ou de qualquer condição exterior. A única coisa decisiva num homem é a
LUZ INTERIOR, que ilumina o seu caminho durante as suas encarnações. A
força de vontade e o poder de resistência são as CONDIÇÕES INTERIORES
das quais depende o sucesso ou o fracasso.

É por isso que estou lhes dando tanta ênfase. Se você não as tem em quantidade
apreciável, minha admoestação não o ajudará, pois permanecerá sem resposta
em você. Mas se você está no ponto de escolher o seu caminho, e se esteve
interessado durante os trinta e três capítulos que acabou de ler, então este
epílogo poderá ser o grão que sugerirá a escala da sua decisão.
Talvez o clichê de sua futura Realização esteja esperando até você se
familiarizar com o material exposto aqui e, consequentemente, esteja agora à
sua frente.

Você já sabe como agir na presença de um clichê desejado. Mas não se esqueça
de que, se ele não for aceito, não permanecerá indefinidamente! Ele pode ser
perdido, assim como pode ser alcançado.

Normalmente, os seguidores ficam perplexos e ansiosos com seus problemas,


questões, dúvidas e fracassos, até encontrarem o verdadeiro Caminho e
começarem a caminhar por ele. Eles não podem caminhar sem a ajuda dessa
bengala, que é o estudo bem-sucedido, que nos permite dominar a mente e
tomar o destino em nossas próprias mãos. Um dos meios mais eficientes de
estudo será o da meditação, se não formos inclinados à Teurgia, isto é, ao
Caminho da Devoção.

Assim, sabemos que o sucesso em ambas significa a liberação plena e final de


todas as aflições acima mencionadas.

Os bem-sucedidos não têm problemas, incertezas, dúvidas ou medo: todos eles


se aquecem no fogo da Sabedoria Interior, que vem quando um homem participa
da Grande Consciência, elevando-o além do alcance de todas as dificuldades.

Este “milagre” não ficará escrito em sua testa e, provavelmente, ninguém a não
ser você mesmo o conhecerá. Mas o que importa? Alguém mais pode viver a
sua vida, e você pode ser liberado pelo fato de outra pessoa ter sido liberada?

O elemento íntimo, perene e sublime em um homem — seu ESPÍRITO-


CONSCIÊNCIA — pertence apenas a esse homem, e é esta a “Gota de orvalho
que cai no Oceano do Todo”.

O estudo da percepção, que foi parcialmente exposto neste livro, é talvez um


dos mais fascinantes assuntos para leitores com inclinação científica. Para eles,
eu gostaria de acrescentar a narrativa, em primeira mão, das minhas
experiências com drogas alucinógenas, agora muito utilizadas na psiquiatria e
na psicologia práticas.

Resolvi experimentá-las porque supunha, e ainda suponho, que os meios físicos


(refiro-me aqui às drogas), sendo fatores materiais, podem influenciar apenas
nos correlatos materiais do homem, neste caso, o seu cérebro e o sistema
nervoso, talvez pelas mudanças enzimáticas e por outras condições conhecidas
pelo mundo da medicina. Como o processo de pensamento está, sem dúvida,
ligado ao cérebro, parece lógico que ele também possa ser afetado pelas drogas.
Portanto, a possibilidade e a justificação das alucinações em forma de visões,
etc., não podem ser logicamente negadas.
Mas o que acontecerá se um ser humano for capaz de transcender a atividade
compulsória normal de sua mente sem, nem de leve, perder sua consciência de
vida, da existência contínua como tal?

Antes de começar minhas experiências com drogas, eu não acreditava que seria
capaz de me envolver em qualquer processo mental involuntário, constituído em
sua maior parte pelas visões e coisas semelhantes. Mas só a experiência poderia
dar uma resposta categórica. Assim, afinal, consegui organizar uma sessão com
três amigos, todos eles médicos que tinham feito experiências com psilocibina e
mescalina.

A primeira dose de quinze miligramas de psilocibina, tomada oralmente, não


tinha sido suficiente. Fora a tensão nos ouvidos e a deformação do rosto das
pessoas presentes, pouco mais ocorreu. Eu estava totalmente consciente de
tudo e fui até capaz de iniciar um jogo de xadrez por sugestão de um dos
médicos. Não havia visões, nem qualquer perturbação emocional ou mental.

Contudo, foi na segunda sessão, para a qual convidei dois dos médicos que
estavam na primeira e um psicólogo (que tinha experiência pessoal com LSD),
para assegurar um pleno controle, que consegui obter resultados.

Denis (um dos médicos) tomou todas as precauções necessárias, testou meu
coração, a pressão sanguínea, os pulmões e, finalmente, me declarou apto a
prosseguir. Dessa vez, a dose foi bem maior, cerca de vinte e quatro miligramas.
O antídoto, para o caso de eu querer interromper a ação da droga, foi preparado,
assim como pequenas doses de brandy, para o caso de a náusea tornar-se
insuportável, como acontece às vezes com determinadas pessoas. Ronald, o
psicólogo, disse que gostaria de fazer alguns testes quando a droga começasse
a agir. Esperamos e conversamos por cerca de vinte minutos. Então, comecei a
sentir os efeitos da droga: forte pressão nos ouvidos, juntamente com uma leve
sensação de náusea na região do plexo solar. Então os rostos ao meu redor me
pareceram ter-se tornado cerca de vinte anos mais velhos: narizes alongados,
queixos proeminentes e expressões peculiares de selvageria em certos
momentos. Mas isso só ocorria quando eu permitia que a droga causasse
alucinações. A qualquer momento, um esforço de vontade era o suficiente para
restaurar ao mundo exterior a sua forma normal. A dra. Eva, que teve uma
experiência semelhante, afirmou que não conseguia interromper as ilusões.
“Mas isto é fácil”, observei-lhe, “pois, pelo que me afirmou, minha dose foi maior
do que a sua.”

A essa altura, Ronald, com a caneta na mão, pedia-me para descrever a sala,
como eu a via nos primeiros estágios da droga. “Nada mudou”, respondi, “sinto
apenas como se a levitação estivesse tomando conta de meu corpo, mas só se
eu o permitir. Posso interromper isto no momento em que quiser.”
Então nós quatro nos sentamos e conversamos calmamente, enquanto minha
esposa estava ausente preparando o jantar, que seria servido duas horas mais
tarde, cerca de oito horas da noite, na mesma sala. Nesse meio tempo, a náusea
tornou-se mais insistente e desagradável, embora de modo algum ficasse fora
de controle. Mencionei isso a Denis; ele tirou minha pulsação e examinou minhas
pupilas. “Tudo certo!”, declarou. “Mas se não estiver se sentindo bem, tome um
pouco de brandy quando quiser e acabe com isso.”

Minutos se passaram e eu não sentia nada, exceto mais náusea. “Provavelmente


este teste também fracassará”, disse a meus amigos. “Acho melhor tomar o
brandy e acabar com isso.”

— Você provavelmente é imune às drogas — disse Ronald —, pois esta é a


primeira vez que um paciente reage (ou melhor, não reage) deste modo.

— É possível! — disse Denis. — Ou talvez seja uma resistência subconsciente,


porque você consegue paralisar suas funções mentais à vontade.

Eu quis replicar, mas então aconteceu! No momento seguinte, eu estava fora da


sala e de minha própria personalidade. Totalmente consciente e com os olhos
fechados, eu percebia o meu corpo como se estivesse a uma grande distância,
enquanto ele continuava calmamente sentado no divã, mas eu não estava ligado
a ele. Sabia que estava tudo bem com ele, mas seu pulso era imperceptível para
MIM. Eu não via nada, nem escuridão, nem luz. Um sentimento dominante de
felicidade, não muito mais que uma grande felicidade, envolvia todo o meu ser.
Havia uma paz plena e absoluta, além do tempo, do mais leve pensamento ou
emoção. Eu estava imerso como que numa substância imaterial, cristalina,
sendo, ao mesmo tempo, a minha verdadeira consciência; eu era inseparável
d’ELA, ELA era TUDO! Por qual meio me lembrei de tudo isso? Não foi pelo
pensamento; era um conhecimento direto, além de qualquer processo mental.
Eu sabia que poderia falar, se preciso, e podia ouvir as palavras dirigidas a mim
por meus amigos em volta da mesa, a cerca de um metro de mim. E tomei uma
firme decisão: NÃO ESQUECER ESTA EXPERIÊNCIA POR PREÇO NENHUM.
Então ordenei a meu corpo distante (mas, ao mesmo tempo, muito perto, quando
eu queria) que falasse. “Aconteceu!”, exclamei. “Estou naquele Estado, além de
tudo e de todos, mas continuo vivo e mais consciente do que nunca. Não posso
comparar a grande felicidade desse Estado com nada; ele está além de todas
as palavras e pensamentos. Perdoem-me por estar falando devagar, mas não
sinto vontade de falar. Só estou falando por causa da finalidade do experimento.
Mas tenho de escolher cada palavra. É completamente diferente do estado
comum de consciência.”

— Podemos compreendê-lo muito bem — disse Ronald —, não fale se isso for
penoso para você!
— Penoso para mim? — Como algo penoso poderia me tocar, então? Minha
náusea fora esquecida e eu sabia que meu corpo estava fluindo de bem-estar.

— Pergunte-me o que for necessário para suas anotações — disse eu.

— Bem — disse Ronald —, vamos fazer um teste preliminar. Você consegue ver
esta sala e todos nós? Se consegue, como percebe cada coisa?

Abri os olhos e disse: — Tudo está normal, nenhuma visão. Entretanto, quando
fecho novamente os olhos, sei que para permanecer atento a este mundo
maravilhoso da Realidade, no qual estou agora, devo evitar minha visão física.
Ela não é necessária, pois posso ver o rosto de vocês, com as pálpebras
fechadas, se eu quiser. Indiferença, liberdade feliz e harmonia absoluta são uma
parte infinitesimal de meu estado atual, que posso descrever em palavras. É
semelhante à minha primeira experiência de consciência espiritual, feita no verão
de 1949 aos pés do Rishi indiano Ramana. Mais tarde, esse mesmo estado foi
provocado muitas vezes pela meditação profunda baseada na completa
concentração da mente pela exclusão de todos os pensamentos; mas ele
requeria sempre a quietude do corpo, o desligamento de todos os sentidos e a
impossibilidade de falar, de ouvir ou de se mover. E, durante o tempo todo, era
preciso ter cuidado para não ser lançado de volta para o mundo físico pela
interrupção da concentração. Mas, agora, tudo é tão simples, sem nenhum
esforço! Eu sou essa concentração, e, quando entro em contato com o mundo
abandonado, trata-se apenas de uma concessão, como se eu tivesse descido
um pouco.

— Você tem uma sensação mais profunda de conhecer nossas individualidades,


mais complacente, talvez? — perguntou Ronald.

Olhei através de minhas pálpebras fechadas e disse: — Pelo contrário, pois não
vejo as personalidades de vocês, suas expressões perecíveis, mas só o que
realmente são, além de todas as limitações, como eu sou agora. — E senti um
desejo irresistível de me unir a todos eles, que estavam sentados ao redor da
mesa, em minha esfera mágica de consciência absoluta, de paz e de felicidade
indescritíveis. Então, eu disse devagar, com a devida gravidade: — Venham aqui
comigo, a este estado de Verdade, de Eternidade; estejam comigo, tão felizes
quanto eu estou!

— Nós tentaremos — disse Ronald —, penso que tenho uma idéia acerca da
sua experiência atual, pois passei por algo semelhante, só que de um modo
rápido e talvez incompleto.

Então Denis disse: — Eu gostaria de estar com você, deve ser maravilhoso!

E senti que minha vontade estava sendo cumprida, pelo menos em parte, pois o
rosto de Ronald ficou solene, inspirado, a cabeça levantada para cima, os olhos
fechados. Denis segurou a cabeça nas mãos, concentrando-se fortemente e com
intensidade, enquanto Eva tinha um meio sorriso no rosto; estava calada, mas
evidentemente em sintonia com o nosso círculo mágico. Fez-se silêncio, e esse
silêncio poderia persistir para sempre: quem iria querer interromper aquela
herança espiritual que se tornara acessível para nós? Eu tinha encontrado a
Coisa, a única importante, diante da qual tudo o mais é apenas ilusão e fumaça
passageira. Disse isso para meus três amigos e continuei: “Tentem descobrir
isso; está além de tudo. Quando A tiverem, nada mais será necessário. Tudo é
ilusão, a não ser este Estado de Verdade!”

Meus sentidos tornaram-se mais aguçados. Ouvi o sussurro entre Ronald e


Denis: “Nunca vi nada igual; é diferente de todas as minhas experiências
anteriores e já fiz mais de duzentas até agora!”

— Ele deve estar vendo os clichês — disse Denis. — Perguntarei a ele.

Então ouvi sua voz, perto de meu ouvido, de modo que os outros não pudessem
ouvir. — Você pode me dizer alguma coisa sobre minha encarnação anterior? O
que me espera no futuro? Cristo viajou muito, antes de Seus três anos de
pregação? Você pode ver se é verdade o que dizem sobre Jesus ter tido irmãos?
A Virgem Maria realmente teve outros filhos além de Jesus?

Eu sabia que essas perguntas poderiam ser respondidas, mas para quê? Tendo
perdido minha própria personalidade e estando absolutamente livre de todas as
limitações da vida individual, limitada, como eu poderia imergir novamente no
mundo da relatividade, das perguntas, dos desejos? Se tudo isso não existia
para mim, deveria acontecer o mesmo para meus amigos. Eles não seriam
elevados caso satisfizessem sua curiosidade.

Expliquei isso a Denis e ele relutantemente aceitou meu ponto de vista. Mas
havia algo que eu precisava dizer a ele, pois a Verdade assim me compelia:

— Denis, sei que Cristo nunca deixou a Palestina, e que a Virgem Maria nunca
teve relações físicas com nenhum homem.

— Como pode ser? — perguntou.

— Você queria a verdade e eu a disse. Isso é tudo!

A essa altura, eu estava sentindo o cheiro de comida na sala. Provavelmente era


a sopa que minha mulher havia trazido. Os sentidos de meu corpo registraram
tudo, mas eu não podia nem pensar em comer. Entretanto, não fiz objeção a que
os outros comessem. Na verdade, eu estava vivendo em dois mundos: o real,
repleto da bênção eterna, meu verdadeiro lar, meu estado quando eu finalmente
abandonar o meu corpo, e o mundo exterior, que se estendia além de minhas
pálpebras fechadas. Um leve movimento, e retornei a ele. Mas eu não queria
retornar. Senti que precisava trazer aquele mundo real para a minha vida diária,
que ele estaria à minha espera quando as horas de Luz se fossem. Sim! Eu seria
capaz de fazer isso, nunca mais seria o mesmo homem de antes!

A seguir, foram feitos alguns testes formais. Respondi a todas as perguntas,


devagar e de boa vontade, mas sempre como se estivesse a uma distância
infinita, em outra galáxia ou planeta. Eu sabia que havia perdido a habilidade
para ser inimigo de alguém; eu simplesmente não podia encontrar mais esse
sentimento. Eu estava em Deus? Entretanto, uma vez mais, esta era apenas
uma palavra, uma limitação, agora inaceitável para mim. Eternidade, Verdade,
Amor, Harmonia, Paz, Bem-Aventurança — se estes são os atributos d’Ele,
então eu estava n’Ele. Eu não sabia mais nada; mas, se quisesse, poderia saber
tudo, isso era certo! Apenas, não havia mais nada em mim que quisesse indagar
sobre alguma coisa. Eu sou — isso é tudo, para sempre!

— Você tem noção do tempo? — perguntou Ronald. — Diga-me, quanto tempo


você acha que ficou nesse estado?

Sem imaginar qualquer relógio com seus ponteiros, eu disse simplesmente: —


Deve ter sido mais ou menos uma hora.

— Está certo! — ouvi sua voz confirmar.

Então eles começaram a jantar, enquanto eu permanecia em meu novo mundo.


Eu sentia que gradualmente estava “voltando”. Mas mesmo esse processo era
tão natural e indolor que quase não o percebia. Nunca mais eu seria como antes;
portanto, para que me preocupar com o “retorno”?

Então sentei-me com os olhos abertos, enquanto os quatro à mesa comiam a


sobremesa. Uma cadeira, que havia sido reservada para mim, estava vazia. Fui
até lá e me sentei.

Juntos, tentamos tirar conclusões da minha experiência.

— Se seu estado foi basicamente semelhante aos que teve antes, pelo seu
próprio esforço, então a droga foi como a porta dos fundos do mesmo templo,
que dá acesso sem qualquer esforço — disse Ronald argutamente.

— Sim, é o que parece — repliquei. — Mas essa porta dos fundos só pode ser
aberta por aqueles que já estiveram no templo, que entraram pela porta da frente
por seu próprio esforço.

— Qual é, então, o verdadeiro papel da droga? — perguntou Denis.

— Julgando pelo fato de que a maioria das pessoas que a tomam não têm
nenhuma experiência espiritual, mas simplesmente visões e alucinações, que
aumentam suas próprias faculdades mentais e sua memória, parece-me que as
drogas executam apenas as funções de uma lente de aumento, operando sobre
os valores existentes no homem. Mas elas não podem “criar” ou “acrescentar”
nada. Não existe nenhuma sabedoria a ser alcançada pelas drogas, e nenhuma
revelação pode ser produzida.

“Contudo, nos casos em que o indivíduo é capaz de eliminar a consciência de


sua mente antes da experiência, como no meu caso, a lente de aumento é
incapaz de captar qualquer ‘objeto’. Em vez disso, a droga contribui
evidentemente para a supressão de todas as funções inferiores do homem,
assim como dos esforços de concentração e meditação feitos antes, e deixa
então o homem diante de seu correlato imperecível, o seu Eu espiritual. Um
aparente privilégio é que então não somos compelidos a entrar em qualquer tipo
de transe, como alguns iogues e ocultistas fazem, a fim de vivenciar o Altíssimo
e, sem perder nosso Estado espiritual, podemos nos comunicar com nosso meio
ambiente com proveito mútuo. E ainda permanece algo em nós, que torna as
experiências seguintes mais fáceis, mesmo sem qualquer droga.”

Mas podemos recomendar o uso dessas drogas para qualquer pessoa? Isso
seria o maior erro, o maior absurdo, pelo que acabamos de ver. Só os que são
capazes de, antes, excluir os desejos de suas mentes podem contar com uma
verdadeira experiência espiritual. Para todos os outros, a lente de aumento da
droga só ampliará suas fraquezas e fragilidades. Nenhum homem de bom senso
deve ingressar num caminhão tão inútil e perigoso. É isso que devemos saber.
Bibliografia

(Livros a serem consultados junto com Meditação, conforme recomendação do


autor.)

Ashtavakra-Gita (tradução para o inglês de Hari Prasa Shastri).

Aurobindo, Sri Ghose, Selected thoughts (“Pensamentos selecionados”).

Bhagavad-Gita (textos extraídos de Wisdom of India (“Sabedoria da Índia”) de


Lin Yutang).

Maharshi, Sri Ramana, Teachings (“Ensinamentos”) (publicados antes de 1950


apenas).

Kant, Immanuel, Aphorisms (“Aforismos”).

Nola, Alphonso M. Di, Prayers of man (“Preces do homem”).

Plotino, Enneads (“Enéadas”),

Sadhu, Mouni, Trilogia (In days of great peace; Concentration; Samadhi (“Dias
de Grande Paz”; “Concentração”; “Samadhi”); Theurgy: the art of effective
worship (“Teurgia: a arte da devoção efetiva”); Ways to self-realization
(“Caminhos para a auto-realização”).

Sankaracharya, Viveka-Chudamani, The crest jewel of wisdom (“A mais preciosa


jóia da sabedoria”) (traduzido para o inglês por Mohini M. Chatterji).

Sédir, Paul, Initiations (“Iniciações”).

O Sermão da Montanha, Evangelhos de Cristo.

Thomas à Kempis, The imitation of Christ (“A imitação de Cristo”). “Who”


(“Quem”), Mahaioga.

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