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Florianópolis
2019
ISADORA DANTAS CARMO MAGALHÃES ALVES
Florianópolis
2019
À minha vó Célia e à minha mãe Rosa, a
mulheres mais fortes que eu conheço, por
me mostrarem amor incondicional, e ao
meu pai Márcio e meu tio Cau, por serem
os dois melhores pais que eu poderia ter.
AGRADECIMENTOS
A presente pesquisa tem como objetivo analisar o impacto das fake news e a era da
pós-verdade no Estado Democrático de Direito, para ao final apresentar uma
resposta ao problema de pesquisa que consiste na existência ou não de um risco á
democracia por parte destes dois fenômenos supramencionados. A pesquisa se
utiliza da metodologia de pensamento dedutivo, por meio da natureza qualitativa,
com procedimento monográfico através da documentação indireta utilizando-se
doutrina, textos jornalísticos e jurisprudência. O primeiro capítulo contém a
introdução. O segundo capítulo destina-se à conceituação de Estado e Democracia,
a fim de pontuar a evolução histórica do conceito de Estado até sua firmação como
Estado Democrático de direito, e a verificação da manutenção da Democracia na
sociedade atual. O terceiro Capítulo apresenta o Direito à Informação como direito
fundamental, demonstrando sua ligação direta com os pilares democráticos. O
quarto Capítulo analisa o fenômeno das fake news dentro do Estado Democrático de
Direito, a fim de verificar se sua propagação apresenta um risco para a manutenção
deste Estado Democrático de Direito. Ao final, a pesquisa concluiu que a
propagação de fake news é um dos fatores que fomentam a descrédito do Estado
Democrático de Direito e demais instituições democráticas frente à população,
levando os cidadãos a questionar sua validade e funcionamento, oferecendo risco à
sua manutenção.
1 INTRODUÇÃO.......................................................................................................9
2 ESTADO DEMOCRÁTICO DE DIREITO E DEMOCRACIA................................11
2.1 CONCEITO DE ESTADO..................................................................................11
2.1.1 Estado de Direito e Estado Democrático de Direito...................................13
2.2 CONCEITO DE DEMOCRACIA.........................................................................16
2.2.1 A Democracia nos tempos atuais................................................................18
2.2.2 Das promessas não cumpridas da Democracia.........................................19
3 DIREITO FUNDAMENTAL À INFORMAÇÃO.....................................................22
3.1 CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL DE 1988 E SUA
ESTRUTURA GERAL COMO DOCUMENTO JURÍDICO-POLÍTICO GARANTISTA22
3.2 DIREITOS FUNDAMENTAIS...............................................................................25
3.3 DIREITOS FUNDAMENTAIS: CLASSIFICAÇÃO E CARACTERÍSTICAS........29
3.4 DIREITO FUNDAMENTAL À INFORMAÇÃO COMO PRESSUPOSTO
DEMOCRÁTICO.........................................................................................................32
4 FAKE NEWS COMO UM DOS FATORES DE CRISE DO ESTADO
DEMOCRÁTICO DE DIREITO....................................................................................36
4.1 FAKE NEWS E A ERA DA PÓS-VERDADE......................................................36
4.2 FAKE NEWS E O ESTADO DEMOCRÁTICO DE DIREITO..............................42
5 CONCLUSÃO......................................................................................................49
REFERÊNCIAS.........................................................................................................52
9
1 INTRODUÇÃO
Com relação aos Direitos Fundamentais e sua teoria, Foi estabelecido por
Carl Schmitt, conforme ensina Paulo Bonavides (2017), dois critérios formais de
caracterização. Pelo primeiro, designa-se direito fundamental todo direito ou garantia
nomeado e/ou especificado na Constituição. Por sua vez, o segundo critério
estabelece que os direitos fundamentais são aqueles que receberam da Constituição
um status mais elevado de garantia e proteção, sendo portanto imutáveis ou, ao
menos, de mudança dificultada, vez que somente podem ser alterados mediante
emenda à Constituição.
A respeito do ponto de vista material, Bonavides (2017) informa:
Os direitos fundamentais, segundo Schmitt, variam conforme a ideologia, a
modalidade de Estado, a espécie de valores e princípios que a Constituição
Consagra. Em suma, cada estado tem seus direitos fundamentais
específicos.
Assim, a autora conclui que o direito à informação constitui uma das mais
fundamentais prerrogativas do ser humano na atualidade, vez que o conhecimento
determina o entendimento. Uma vinculação de informação correta configura como
um dos pilares de funcionamento de uma sociedade democrática, sendo
indispensável para desenvolver a capacidade crítica do ser humano (GONÇALVES,
2003 apud BERNADES, 2015 p. 71)
Pagliarini e Agostini (2009, p. 73) asseveram que o direito à informação é
essencial ao exercício da liberdade, alegando que é por meio deste que o ser
humano constrói um espaço de liberdade.
São inúmeros os mecanismos normativos que asseguram ao direito à
informação a sua condição de essencialidade: A Declaração Universal dos Direitos
Humanos, o Convênio Europeu para a Proteção dos Direitos Humanos, bem como
as Constituições contemporâneas como a Carta Espanhola, a Constituição Chilena e
a nossa Carta Magna, que estimulou o direito à informação, atribuindo-lhe a
liberdade de comunicação, o acesso à informação e a comunicação social
(PAGLIARINI; AGOSTINI, 2009, p. 74).
Bernades (2015, p. 72) divide o direito à informação em quatro fases, em
análise à sua evolução histórica:
a primeira (fase), que coincide com o Estado Absolutista e possui como
característica a censura de todos os escritos e um governo de segredo; a
segunda fase, que surge com o advento do Estado de Direito, marcada pelo
reconhecimento dos direitos humanos de primeira geração, como o direito à
liberdade de expressão e opinião e liberdade de imprensa e o princípio da
transparência e publicidade dos negócios públicos. Mais adiante, a terceira
fase, na qual o poder dos meios de comunicação começa a sofrer certa
intervenção do Estado. Por fim, a quarta fase, momento em que se objetiva
a regulamentação dos meios de comunicação coadunando com o ideário
democrático, assegurando o desempenho da função pública conforme os
ditames do Estado Democrático de Direito, dando ao povo o direito à
informação indispensável para controlar e influir no modo de condução da
sociedade.
Dito isto, tem-se que o direito à informação não surgiu já ocupando o
papel de relevância que desfruta hoje dentro da sociedade. Ele foi sendo
reconhecido e positivado dentro do ordenamento jurídico a partir do momento em
que o debate sobre o assunto foi se tornando necessário, em razão do crescimento
dos veículos de mídia, bem como a popularização da internet.
Plagliaria e Agostini (2009, p. 77) dizem que uma sociedade democrática
somente se constrói se nela for assegurado o exercício da liberdade de expressão e
de informação, vez que a livre circulação de ideias é o pressuposto para um governo
democrático.
A respeito da importância do direito à informação para a participação
democrática da sociedade, Bernades (2015, p. 76) assevera que “o direito de
informar se refere à liberdade que as pessoas têm para veicular qualquer tipo de
informação, e “está na essência do regime democrático, vez que decorre
diretamente do princípio constitucional da liberdade de expressão e de informação
em todas as suas formas””.
Assim, encontra-se no direito à informação uma importante ferramenta
para os integrantes de uma determinada sociedade. É através de tal ferramenta que
torna-se possível o acompanhamento dos acontecimentos não só no seu país, como
também em todo o globo, proporcionando aos cidadãos o exercício democrático e
fundamental da sua liberdade de pensamento e convicção através da livre circulação
de ideias e informação pelos demais meios de comunicação.
A democracia moderna é, segundo Noberto Bobbio (1986 apud
GENTILLI, 2005, p. 127) a “sociedade dos cidadãos”, sendo definida também, por
ele, como “a democracia do poder visível”.
Assim, resta implícita que a sua compreensão que para que o conceito de
“poder público em público” de Bobbio seja concentro, o cidadão precisa ter
assegurado o seu direito de acesso à informação pública, funcionando também
como uma das premissas de ampliação dos seus direitos (GENTILLI, 2005, p. 127)
Neste sentido Victor Gentilli (2005, p. 128) assevera:
O direito á informação, portanto, deve ser compreendido como um direito
relacionado diretamente aos outros direitos, incluindo, obviamente, as
contradições e os antagonismos destes. É um direito que fomenta o
exercício da cidadania e permite ao cidadão o acesso e a crítica aos
instrumentos necessário ao exercício pleno dos direitos de cidadania.
Evan Davis (2017 apud FONSECA, 2018) usa como definição da mentira
todas as informações inverídicas e não claras, incluindo nesse espectro tanto as
mentiras políticas para fins eleitorais como uma propaganda enganosa de um SAC
de empresa. Outrossim, Davis deixa claro que existem diversos motivos para se ficar
aquém das razões de se processar uma verdade pura e cristalina, sendo evidente
que um dos motivos mais fortes é o sucesso político e eleitoral, onde o político
precisa se sustentar até a vitória garantida nas urnas.
Assim, em uma análise não moral das Fake News, o ora autor conclui que
ela funciona por motivos alheios à vontade de comunicar a verdade.
Matthew D’ancoma (2018, fls. 25-29) apresenta a problemática da era da
pós-verdade através da análise de dois fenômenos: o Brexit e a eleição de Donald
Trump nos Estados Unidos, vez que segundo o autor, ambos fenômenos criaram a
sua própria narrativa que “impôs, até certo ponto, uma ordem bruta sobre as
complexidades mutáveis da vida moderna”, deixando de lado a exposição de fatos e
detalhes ao eleitorado.
Assim, para o autor, esses dois acontecimentos foi a política da pós-
verdade em seu mais puro estado, funcionando como um “trunfo visceral sobre o
racional”, prendendo o eleitoral por afinidades e crenças pessoais, deixando de lado
a apresentação de dados objetivos e fatos. O Brexit utilizou primordialmente a
problemática da imigração, para criar a narrativa de que o fluxo migratório é “um jogo
se soma de zero”, onde o indivíduo que migra para o Reino Unido é um parasita que
ocupa lugares de direito dos britânicos nativo, e o Donald Trump ofereceu alguns
tipo de bodes expiatórios para os norte-americanos, inflando um discurso
conservador radical, apresentando a construção do muro que dividiria os Estados
Unidos do México como uma de suas soluções para uma das crises norte-
americanas, que também é o fluxo migratório (D’ANCONA, 2018).
Um dos pilares que sustentam a era da pós-verdade é a erosão da
confiança. Em razão dos escândalos protagonizados pela política partidária e pela
imprensa, que preencheram a segunda metade do Século XX, onde ambas
funcionavam como um conluio para ludibriar a população, moldando manobras de
interesses a fim de garantir o status quo. Entretanto, fora apenas em 2008, no
contexto da crise financeira, que foi identificado o momento germinal que levou, em
anos, à era da pós-verdade, marcando a era do ceticismo em relação ao jornalismo
e à apreciação dos fatos para fins de informação, bem como formação de opinião e
posicionamento. (D’ANCONA, 2018).
A respeito da descrença da população na imprensa nesse novo milênio,
Michiko Kakutani (2018, p. 152) traz como uma de suas consequências o fato da
população procurar meios alternativos à mídia para se informarem: em 2017, nos
Estados Unidos, dois terços da população norte-americana afirmaram usar a redes
sociais como seu principal meio de notícia.
Assim, para D’ancona (2018, p. 45) a pós-verdade floresceu no contexto
em que “os firewalls e o os anticorpos se enfraqueceram”, ou seja, quando aqueles
que deveriam ser fiéis à verdade, como a imprensa, foram falhos, fazendo com que
seus atos respingassem sobre a verdade e a enfraqueceram junto com suas
reputações.
Segundo a Kakutani (2018), Fake News não são uma novidade, claro. No
entanto, o advento da internet e das redes sociais permitem que em frações de
segundos, boatos, especulações e mentiras espalhem-se ao redor do globo de
maneira totalmente desenfreada.
No entanto, cabe ressaltar a existência de outros elementos que ajudam a
corroborar com a notícia falsa em si, como por exemplo a sua origem, o grau de
credibilidade das pessoas que a disseminam ou referendam – como no caso dos
digital influencers, bem como a quantidade das pessoas que a estão compartilhando
(CARVALHO; KANFNER, 2018).
Aléx Grijelmo (2017) assevera que a mentira se sustenta por meio de dois
elementos básicos: a insistência na informação falsa e a desqualificação da pessoa
que a contradiz, somada com a quantidade considerável de pessoas que não se
informam pelos meios de comunicação que se preocupam em analisar a veracidade
dessas informações, mas sim se informam diretamente das fontes manipuladoras.:
Assim, segundo Grijelmo (2017):
Dessa forma, milhões de norte-americanos acreditaram em uma mentira
comprovada como a afirmação de Donald Trump de que Barak Obama é um
muçulmano nascido no estrangeiro e milhões de britânicos estavam
convencidos de que, com o Brexit,o Serviço Nacional de Saúde teria por
semana 350 milhões de libras (1,4 bilhão de reais) adicionais.
A utilização desses trolls na atividade das fakes news contribui ainda para
a volta de guerras culturais. Durante a campanha de Donald Trump, nos Estados
Unidos, este utilizou de diversas divisões partidárias norte-americanas para
conseguir se eleger, apelando, por exemplo, para o medo de seus eleitores brancos
de classe média, pertencentes à classe operária, que estavam preocupados com um
“mundo de mudanças” e lhe ofereceu bodes expiatórios, como os imigrantes e os
mulçumanos. Assim, foi verificada a utilização de trolls russos usando perfis falsos
nas redes sociais com o intuito de ampliar ainda mais estas divisões, conseguindo
eleger Trump e minando o sistema democrático norte-americano (KAKUTANI, 2018,
fls. 59-60).
A utilização de perfis falsos para fins eleitorais foi alvo de reportagem
investigativa da BBC, que analisou a atividade destes perfis para manipulação de
opinião pública principalmente nas eleições de 2014, demonstrando o tamanho do
impacto de suas atividades dentro do Estado Democrático de Direito. Este impacto
será alvo de análise na próxima seção deste capítulo.
.
5 CONCLUSÃO
ALEXY, Robert. Teoria dos direitos fundamentais. 2. ed. São Paulo: Malheiros,
1986.
BONAVIDES, Paulo. Ciência Política. 10. ed. São Paulo: Malheiros, 2000.
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<http://www.tse.jus.br/imprensa/noticias-tse/2018/Outubro/fake-news-tse-lanca-
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FONSECA, Joel Pinheiro da. Quem se importa com os fatos? Exame, 5 maio
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Edipucrs, 2005.
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2012.
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MERRIAM-WEBSTER. The Real Story of 'Fake News': The term seems to have
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