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Editorial

M ais uma vez, aqui estamos para apresentar, à


comunidade do IMAPES, o produto dos estudos e
do esforço intelectual de nossos professores
e grupos de pesquisa. E o fazemos com redobrada satisfação, já
que, além de consolidar sua presença, mostrando-se viável e
necessária, a Revista Científica do IMAPES cresceu, enfeixando,
na presente edição, um número maior de temas e de páginas.
Esta revista reflete, em grande escala, a seriedade da Instituição
que a mantém. Desde sua criação, o IMAPES vem investindo
na implantação de laboratórios, na contratação de profissionais
especializados, na melhoria das instalações — enfim, na busca
incessante de qualidade. E foi neste contexto que, em 2003, o
Instituto criou mais este produto editorial, abrindo espaço para
a divulgação de trabalhos acadêmicos importantes.
Acima de tudo, esta revista evidencia a excelência de nossos
professores e o seu comprometimento com suas disciplinas.
Seus artigos são resultado de estudos profundos, e mostram,
mais do que conhecimento, a sede de descobrir, de questionar e
de transformar, que é a marca registrada dos bons educadores.
Boa leitura!

Nelson Raul da Cunha Fonseca


Diretor Geral - IMAPES
Instituto Manchester Paulista de Ensino Superior
Sorocaba, São Paulo, Brasil

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CONSELHO EDITORIAL Os artigos assinados são de


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Profa. Andréa Lúcia Braga Vieira Rodrigues falhas e sugerindo assuntos para artigos.

Ficha catalográfica elaborada pela Biblioteca do IMAPES

Revista Científica do IMAPES. - v. 2, n. 2 (2004) -


Sorocaba, SP : IMAPES, 2004-

Anual
ISSN 1678-7234

1. Periódicos brasileiros. 2. Produção científica.


3. Publicações científicas. I. Instituto Manchester
Paulista de Ensino Superior.

20. CDD - 001.42


Sumário
______________________________________________________________________________________

04 Aspectos da evolução estrutural das interações hospedeiro-convidado:


das interações moleculares aos sistemas químicos integrados
Italo Odone Mazali

12
______________________________________________________________________________________

Um novo modelo para o Sistema Computacional Distribuído do ICMC


Fernando Cesar Miranda e Marcos José Santana
______________________________________________________________________________________

20 Técnicas para preparar, dispersar e estabilizar dispersões sólido-líquido


em meios com elevada viscosidade
Cristiana Aparecida Ittner Mazali
______________________________________________________________________________________

28 Reciclagem e biodegradação de plásticos


Silvio Luis Toledo de Lima

35
______________________________________________________________________________________

Existe uma maneira brasileira de administrar? Uma discussão sobre a


utilização do conceito de cultura na Administração e Antropologia
André Ofenhejm Mascarenhas

41
______________________________________________________________________________________

Técnicas de record linkage e inteligência artificial para a construção de


um data warehouse aplicado à área de Saúde
Andréia Damásio de Leles
______________________________________________________________________________________

47 Balanço de pagamentos: uma abordagem econômica


Adilson da Rocha
______________________________________________________________________________________

53 Vantagens competitivas no desenvolvimento do produto utilizando os


sistemas Product Data Management (PDM) / Engineering Data
Management (EDM) e características de integração entre sistema de
gerenciamento da manufatura
Aldie Trabachini
______________________________________________________________________________________

58 Recuperação de prata a partir de radiografias reveladas


Marcelo Sartoratto, Aline Tatiane Andrade, Plácido José Lopes,
Ricardo Carvalho Canatto, Sérgio dal Belo

61
______________________________________________________________________________________

Processo de internacionalização organizacional


Maria Eliana Gomes Cardim de Queiroz Guimarães
______________________________________________________________________________________

64 Estudo de cimentos cerâmicos utilizados na restauração óssea


David Vogel, Eliane Lorenzon, Flávio Godoy, Luiz Carlos Henrique,
Juliana Moreli, Norberto Aranha
______________________________________________________________________________________

68 Aspectos do tratamento biológico de esgotos domésticos


Danielle Pires de Camargo Torres
______________________________________________________________________________________

71 Antocianinas: pigmento natural ou remédio?


Maria do Carmo Guedes
______________________________________________________________________________________

74 Informalidade e empregabilidade como conceitos de entendimento do


mercado de trabalho
Sergio Nagib Sabbag
______________________________________________________________________________________

76 Normas para publicação de artigos


Pág. 4 Revista Científica do IMAPES - Abril de 2004

Aspectos da evolução
estrutural das interações
hospedeiro-convidado
Das interações moleculares aos sistemas químicos integrados

Italo Odone Mazali*

RESUMO

Este trabalho enfoca alguns aspectos da evolução dos “compos-


tos” com interações hospedeiro-convidado, do ponto de vista da estrutu-
ra dos hospedeiros. Dessa forma, passaremos pelos compostos onde as
interações ocorrem a nível molecular, isto é, onde o hospedeiro é uma
molécula, por exemplo, os éteres-coroa. Em seguida, serão enfocados
os compostos onde a forma hospedeira está na estrutura cristalina do
material, por exemplo, os clatratos. Interações hospedeiro-convidado, onde
o hospedeiro se constitui em uma matriz porosa bi ou tridimensional (por
exemplo, sólidos lamelares e vidros porosos) também serão abordados.
E, por fim, o conceito de sistemas químicos integrados, como conse-
qüência do desenvolvimento das interações cooperativas. Os sistemas
químicos integrados são hoje o exemplo principal de que as proprieda-
des físicas e químicas de uma grande quantidade de materiais não sur-
gem ou dependem de ligações químicas formais e estequiométricas, e
sim de interações não formais, sustentadas por forças fracas, cuja ação
cooperativa, isto é, de sinergismo , estabiliza todo o complexo.

Introdução de buscar novas substâncias e ma- são das ligações químicas levou ao
teriais não disponíveis com base nos desenvolvimento de uma cultura
A Química, como todos os conhecimentos adquiridos. científica, onde todos os fenôme-
campos da Ciência, e principal- A necessidade de se compre- nos químicos deveriam ser expli-
mente como Ciência exata, se fun- ender a estrutura das moléculas e cados em termos das ligações quí-
damenta em teorias, leis e postu- sua reatividade química levou ao micas, aqui consideradas formais.
lados para procurar compreender, estudo das interações entre os ele- Outro aspecto importante a se res-
explicar e prever as reações quími- mentos químicos que constituem saltar é que os conceitos de liga-
cas e as propriedades das substân- a molécula, ou seja, ao estudo das ção química pressupõem a existên-
cias. E, como todo ramo da Ciên- ligações químicas. Dessa emprei- cia de uma estequiometria entre os
cia, está em um constante proces- tada surgiram os conceitos de li- constituintes da substância.
so evolutivo, processo este cuja gação iônica, covalente, forças fra- Paralelamente a esse desen-
força motriz é a insuficiência dos cas de van der Waals e modelos, volvimento, foram surgindo subs-
conhecimentos até então adquiri- como o do Orbital Molecular e da tâncias cuja interação com outras
dos de compreender e explicar repulsão entre os pares eletrônicos não podia ser explicada com base
comportamentos e propriedades, e da camada de valência (VSEPR). nos modelos de ligações químicas
também da necessidade do Homem Essa busca pela compreen- formais e de estequiometria. A
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compreensão destes tipos de inte- rial para uma dada aplicação. Deste lógica, serão enfocados inicialmen-
rações levou ao desenvolvimento modo, a busca por novas proprie- te os compostos onde as interações
dos conceitos de química supra- dades levou à combinação de di- ocorrem a nível molecular, isto é,
molecular, sinergismo e interação ferentes compostos, de modo a onde o hospedeiro é uma molécu-
hospedeiro-convidado, que rende- constituir os materiais compósitos. la, por exemplo, os éteres-coroa.
ram a C.J. Pedersen, J.M. Lehn e Proveniente do latim, em que o Em seguida, serão enfocados os
D.J. Cram o Prêmio Nobel de prefixo com, que significa “junto”, compostos onde a forma hospedei-
Química, em 1987. é associado a positu, que significa ra está na estrutura cristalina do
No final do século XIX “por, colocar”, tem-se que o ter- material, por exemplo, os clatra-
(1894), Ficher propôs um ponto mo compósito quer dizer colocar tos. Interações hospedeiro-convi-
essencial do processo envolvendo junto ou feito de partes separadas. dado, onde o hospedeiro se cons-
o reconhecimento molecular, O interesse em sistemas que titui em uma matriz porosa bi ou
quando formulou a idéia da cha- apresentam novas propriedades, tridimensional, por exemplo, só-
ve-e-fechadura. De acordo com sejam estas ópticas, eletrônicas, lidos lamelares e vidros porosos,
este conceito, o reconhecimento mecânicas, magnéticas e catalíticas, respectivamente, também serão
molecular representa a comple- abordados. E, por fim, o conceito
mentaridade da fechadura e da As interações de sistemas químicos integrados,
chave — a fechadura constitui o intermoleculares são a como conseqüência do desenvolvi-
receptor molecular e a chave cons- causa fundamental da mento das interações cooperativas.
titui o substrato que é reconheci- formação e cristalização
do, definindo um complexo recep- de supermoléculas, e são Desenvolvimento
tor-substrato. Passado um século, encontradas entre átomos
em meados de 1990, o reconheci- A Química das interações
que não estão ligados
mento molecular passou a repre- hospedeiro-convidado foi de difí-
sentar uma nova área na Quími-
diretamente. Algumas cil compreensão e desenvolvimen-
ca. Considerando que os quími- dessas interações são de to, pois envolve interações quími-
cos (orgânicos) do passado, por grande importância na cas não formais e, na grande maio-
volta dos anos 70, foram predo- construção ria dos casos, não obedece a regra
minantemente preocupados com supramolecular de estequiometria e, sim, apresen-
a natureza das ligações covalentes ta uma estequiometria variável,
nas moléculas, culminando com os tem sido de grande importância no dependendo dos parâmetros expe-
anos de ouro da síntese de produ- desenvolvimento da área de pes- rimentais. O entendimento das
tos naturais complexos, recente- quisa que envolve a combinação interações intermoleculares é tão
mente é desenvolvida uma nova de diferentes substâncias na obten- vital para a Química Supramole-
direção para a Química e a cha- ção de um material. Quando um cular e das interações hospedeiro-
mada “química supramolecular”, sistema, multicomponente e mul- convidado como o entendimento
a química que excede a molécula, tifásico, é arranjado de maneira a das ligações covalentes foi vital para
onde ligações não covalentes en- apresentar efeitos cooperativos, de a Química Molecular.
tre moléculas individuais formam modo que o sistema, como um As interações intermolecu-
um complexo específico hospedei- todo, passa a desempenhar uma lares são a causa fundamental da
ro-convidado, está em primeiro função específica, a qual difere formação e cristalização de super-
plano [(Weber e Vogtle, 1996), dos componentes individuais, é moléculas, e são encontradas en-
(Bradshaw et al., 1996)]. que se denomina modernamente tre átomos que não estão ligados
Dentro da necessidade de se de sistemas químicos integrados diretamente. Algumas dessas inte-
melhorar continuamente as pro- (Bard, 1994). rações definem a forma e o tama-
priedades dos materiais emprega- Este trabalho tem por obje- nho de moléculas e são de grande
dos nas mais diferentes áreas, tor- tivo apresentar uma evolução dos importância na construção supra-
nou-se cada vez menor o número “compostos” com interações hos- molecular. Tipicamente, as forças
de substâncias puras que indivi- pedeiro-convidado, do ponto de de médio alcance são isotrópicas e
dualmente satisfazem todas as exi- vista da estrutura dos hospedeiros. definem a forma molecular. Ge-
gências requeridas em um mate- Dentro de uma abordagem crono- ralmente essas forças são limitadas
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por interações C...H, C...C, H...H. levaram a um grande desenvolvi- molecular do estado sólido pode-se
As forças de longo alcance são ele- mento da química dos éteres-co- destacar duas classes: da estrutura
trostáticas, anisotrópicas e envol- roa, como pode ser constatado ana- cristalina (hidroquinona, uréia e
vem interações entre heteroáto- lisando a grande quantidade de ciclodextrina) e das redes inorgâni-
mos, isto é, interações entre N, O, estruturas e dados termodinâmi- cas de duas e três dimensões.
S, Cl, Br, I ou entre alguns desses cos e cinéticos apresentados em re- Paralelamente às proprieda-
elementos com carbono e hidro- visões publicadas na revista Che- des das moléculas dos éteres-coroa
gênio. Em um limite, essas forças mical Reviews [(Christensen et al., de fazerem interações hospedeiro-
adquirem algum caráter covalente 1974), (Izatt et al., 1985), (Izatt convidado, descobriu-se que algu-
e então são chamadas de ligações et al., 1991), (Zhang et al., 1997)]. mas substâncias bastante simples
fortes ou ligações de hidrogênio Particularmente, na revisão de e comuns, quando na forma crista-
convencional (N,O)-H ...(N,O) Izatt e colaboradores (1991), apre- lizada, produziam compostos de
(Desiraju, 1996). sentada em 364 páginas, são cita- inclusão. A história desses compos-
Dentre os compostos mole- das mais de 1170 referências bi- tos de inclusão data de 1823,
culares que fazem interação hos- bliográficas e apresentada uma quando Michael Faraday descre-
pedeiro-convidado, os éteres-coroa veu a preparação de clatratos hi-
(do inglês, crown-ethers) se consti- dratados de cloro. Outras obser-
tuem em compostos com múlti- vações posteriores incluem clatra-
plos átomos de oxigênio éteres in- tos de β-hidroquinona contendo
corporados a um esqueleto mono- H2S em 1849, de compostos de
cíclico. A Figura 1 ilustra a molé- inclusão de ciclodextrina em 1891,
cula do dibenzo-18-crown-6 Figura 1: Molécula do primeiro éter- clatratos de compostos de Dianin
coroa sintetizado: dibenzo-18-crown-6
(DB18C6), o primeiro éter-coroa (DB18C6) (Bradshaw et al., 1996).
em 1914, clatratos de fenol em
sintetizado; muitos outros foram 1935 e adutos de uréia em 1940
em seguida sintetizados, dando (Mak e Bracke, 1996).
origem a um ramo de estudo den- No final da década de 40,
tro das interações macrocíclicas. estudos pioneiros de cristalografia
O estudo dos éteres-coroa e de raios X, realizados por Powell
seus derivados levou a um impor- (1947,1948) com clatratos de β-
tante avanço na área do reconhe- hidroquinona, estabeleceram a ar-
cimento molecular e no surgimen- (a) quitetura da matriz hospedeira e a
to de novos conceitos, tais como a verdadeira natureza da associação
química do hospedeiro-convidado molecular desses sistemas. O ter-
e a química supramolecular. A mo clatrato passou a descrever
possibilidade de desenvolver hos- compostos de inclusão, os quais
pedeiros macrocíclicos com espe- possuíam uma matriz hospedeira
cificidade e seletividade para me- tridimensional com vazios para a
tais alcalinos e alcalinos-terrosos, acomodação de espécies convida-
de grande importância em sistemas das. A Figura 3 mostra a molécula
(b)
biológicos e em baterias de alta de β-hidroquinona e sua forma
energia, e para a química de isóto- Figura 2: Algumas estruturas de mo- cristalizada apresentando gaiolas
pos e radioquímica, transformou léculas de éteres-coroa: (a) Cat[Phen- onde podem ser acomodadas mo-
os éteres-coroa em importantes li- (1,4-B) 2 30C8] 2 -2 e (b) (1,3- léculas hospedeiras.
B)6A6[2.2.2]-1, onde R = OCH 3 (Izatt
gantes (não formais) para o estu- et al., 1991). Outras classes de clatratos
do da química dos íons metálicos. bastante estudadas são os clatratos
Outra aplicação importante dos grande quantidade de estruturas de uréia. Na sua estrutura cristali-
éteres-coroa com propriedade macrocíclicas. Alguns exemplos na, as moléculas de uréia estão co-
quiral é sua aplicação no reconhe- estão apresentados na Figura 2, nectadas por ligações de hidrogê-
cimento enantiomérico (Brad- permitindo observar a complexi- nio na forma de fitas helicoidais,
shaw et al., 1996). dade dessas macromoléculas. as quais são entrelaçadas simulta-
Tais potenciais aplicações Dentro da química supra- neamente, formando túneis hexa-
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gonais ordenados linearmente, os tando um grande desenvolvimen- as argilas são carregadas negativa-
quais acomodam as moléculas con- to nesse campo. Dentro do grupo mente, balanceadas por cátions na
vidadas (Figura 4) (Hollingsworth dos sólidos de estrutura lamelar, região interlamelar.
e Harris, 1996). pode-se destacar (Vansant, 1996): ⇒ Fosfatos lamelares:
As redes inorgânicas de duas ⇒ Argilas: são aluminossili- apresentam a fórmula geral
dimensões são caracterizadas pelos catos com uma estrutura bidimen- MIV(HPO4)2.H2O e as lamelas são
sólidos lamelares, tais como grafi- sional, apresentando o hábito de constituídas de cátions centrais
te, calcogenetos metálicos, fosfa- folhas na proporção de 2:1 de sili- coordenados octaedricamente
tos e fosfonatos metálicos, argilas catos de alumínio e de magnésio entre camadas de fosfatos tetraé-
catiônicas e aniônicas, óxidos la- (montmorillonita, mica, vermicu- dricos. Os fosfatos de zircônio e
melares e perovskitas. Do ponto de lita) e minerais na proporção de de titânio são os mais estudados.
vista cristalográfico, os planos dos 1:1, como no caso das caolinitas. A maior diferença com as argilas é
átomos da matriz estão presentes ⇒ Hidróxidos duplos lame- a ausência de molhabilidade nos
em todo o sólido cristalino, com- lares: são hidróxidos complexos de fosfatos lamelares.
portando-se como uma grade de fórmula geral MnIIMIII(OH)2+2nX, As redes tridimensionais
difração tridimensional para a ra- hospedeiras são caracterizadas pe-
diação de raios X. Portanto, é as- los sólidos porosos. A princípio,
sumido que o sólido exibe uma es- qualquer sólido apresenta um grau
trutura lamelar somente quando as de porosidade, detectável ou não,
ligações entre os átomos de um resultante da presença de cavida-
mesmo plano são muito mais for- des, canais ou interstícios. Os po-
tes do que ligações entre átomos ros podem ser classificados como
de planos adjacentes. Na maioria abertos ou fechados, segundo a sua
dos sólidos lamelares típicos há li- disponibilidade a fluxo externo. Os
gações covalentes entre átomos de poros fechados são inativos quan-
Figura 3: Estrutura hospedeira da β-
um mesmo plano e ligações de van hidroquinona (Mak e Bracke, 1996). to ao fluxo de líquidos e gases, mas
der Waals entre planos adjacentes. exercem influência sobre as pro-
Esses sólidos podem ser conside- priedades mecânicas, a densidade
rados como cristais moleculares e a condutividade térmica. A ru-
formados pelo empacotamento de gosidade da superfície também
gigantes macromoléculas planares. pode ser considerada como porosi-
No espaço entre cada plano ou la- dade. Os sólidos porosos são classi-
mela, denominada distância inter- ficados quanto a uma faixa de diâ-
lamelar, é que ocorrem as reações metros médios de poros em: micro-
hospedeiro-convidado (Alberti e poros (< 2 nm), mesoporos (2-50
Costantino, 1996). nm) e os macroporos (> 50 nm).
A literatura sobre sólidos la- As zeólitas são os materiais
melares e suas reações de interca- Figura 4: Estrutura de fita dos canais que apresentam o menor tamanho
hospedeiros, os quais repetem-se a
lação é bastante vasta. A química de poros e a distribuição de tama-
cada seis moléculas de uréia. As duas
de intercalação data de 1841 e o hélices são interagindo via ligações N- nhos de poros mais estreita. Na se-
campo foi por um longo tempo Ha...O (Hollingsworth e Harris, 1996). qüência temos os sólidos lamela-
dominado pelos estudos das pro- res. Para esses dois casos, a porosi-
priedades físicas e físico-químicas onde n = 2-5 e X é o balancea- dade é uma característica intrínse-
das reações de intercalação da gra- mento de carga aniônica. Os ca da estrutura cristalina e, nestes
fite. Desde 1960, contudo, o cam- ânions estão localizados no espa- casos, a porosidade intracristalina
po dos sólidos lamelares cresceu, çamento interlamelar. Os hidróxi- adquire geralmente dimensões
consideravelmente, com o enfoque dos duplos lamelares podem ser moleculares, apresentando arran-
voltado para outras estruturas hos- considerados como o inverso das jos bastante regulares.
pedeiras lamelares (argilas, fosfa- argilas molháveis porque as lame- A Figura 5 ilustra a represen-
tos, fosfonatos lamelares e hidró- las são carregadas positivamente, tação esquemática da estrutura de
xidos duplos lamelares), possibili- balanceadas por ânions, enquanto algumas zeólitas.
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(a) (b) (c) (d)


Figura 5: Representação esquemática mostrando a estrutura de alguns zeólitos.
(a) zeólito A; (b) zeólito X e Y; (c) erionita, (d) chabazita (Vansant, 1996).

Os aerogéis são materiais de com uma rede aleatória de poros


porosidade muito alta (tipicamente (a) tridimensionais, interconectados
> 75%) obtidos por processo sol- entre si [(Levitz et al., 1991),
gel, que forma um gel preenchido (Wultzius et al., 1987)].
por solvente, o qual é seco usando Seguindo o mesmo princí-
condições especiais para preservar pio de síntese, recentemente têm
a frágil rede sólida. O aerogel seco sido preparadas vitrocerâmicas
é um sólido poroso preenchido por (b) porosas a partir da devitrificação
ar, usualmente um monólito ou na controlada de um vidro precursor.
Figura 6: (a) Molécula globular de
forma granular. A microestrutura aminoadamantano estabilizada na
Um aspecto importante das vitro-
dos aerogéis consiste de partículas cavidade de um clatrasil; (b) molécu- cerâmicas porosas, em relação aos
e poros, os quais têm tamanhos la de dietilenotriamina estabilizada esqueletos vítreos, é que estas com-
nos canais de um zeosils (Gies e
menores que o comprimento da Marler, 1996).
binam as vantagens de um esque-
luz visível. Essa característica con- leto poroso, a facilidade de obten-
fere aos aerogéis excelentes pro- Uma nova classe de mate- ção e de controle da porosidade
priedades térmicas, acústicas e ele- riais porosos inclui os vidros po- com as funcionalidades do cristal.
trônicas. Os aerogéis são constituí- rosos e as vitrocerâmicas porosas, Dois preceitos fundamentam a
dos principalmente de óxidos inor- representada principalmente pelo obtenção de vitrocerâmicas poro-
gânicos, tais como: sílica (SiO2), vidro poroso Vycor, que apresenta sas a partir da devitrificação de um
alumina (Al2O3), zircônia (ZrO 2) uma distribuição de poros na fai- vidro precursor: I) que o processo
ou pela mistura desses óxidos xa de 100 Å a 1000 Å (Volf, 1990). de devitrificação proporcione pelo
[(Gesser e Goswami, 1989), O vidro poroso Vycor (PVG) é menos duas fases, uma solúvel e
(Hrubesh e Poco, 1995)]. produzido pelo método de fusão/ outra insolúvel, para uma deter-
As sílicas microporosas re- resfriamento, a partir da compo- minada condição de lixiviação e,
presentam outra classe importan- sição 75 mol% SiO2, 20 mol% II) que cada uma das fases separa-
te de materiais porosos, tendo po- B2O3 e os restantes 5 mol% for- das apresentem elevada conectivi-
ros abertos menores do que 2 nm. mados por Na2O, K2O e Al2O3. dade, a fim de preservar a estrutu-
A forma microporosa depende do Quando o vidro resultante da fu- ra porosa ao término do processo
número de unidades tetraédricas são/resfriamento é recozido, sob de lixiviação [(Gimenez, Mazali e
[SiO4] por nm3. As sílicas micro- condições controladas, ocorre uma Alves, 2001), (Mazali, 2001) e
porosas são denominadas porosils separação de fases do tipo espinoi- (Mazali e Alves, 2001)].
e divididas em duas classes: clatra- dal, sendo uma fase formada por Todos esses sistemas porosos
sils com vazios na forma de gaiola SiO2 e outra formada por B2O3, apresentados são sistemas capazes
(Figura 6a) e zeosils com vazios na Na2O, K2O e Al2O3. Após o reco- de realizarem interações hospedei-
forma de canais (Figura 6b) Os zimento, esta última fase, solúvel ro-convidado em seus poros. Es-
poros do material são ocupados em meio ácido, é lixiviada via sas interações são de natureza não
por moléculas convidadas, as quais imersão do vidro em HCl a 100 formal, estabilizadas principal-
o
interagem com a rede porosa so- C. O resultado dessa lixiviação mente por forças fracas do tipo van
mente via forças fracas de van der ácida é a obtenção de uma matriz der Waals e pontes de hidrogênio.
Waals (Gies e Marler, 1996). formada basicamente por SiO2, Durante as últimas duas dé-
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cadas, um novo campo de pesqui- rosa, sendo capazes de prevenir o moleculares e atômicas, onde o
sa vem se desenvolvendo ao redor ripening de Ostwald, visto que a aspecto interdisciplinar é uma ne-
da síntese e caracterização de ma- dimensão dos poros irá determi- cessidade intrínseca. Assim, os
teriais com tamanhos nanométri- nar o tamanho máximo do crista- SQIs terão sempre uma estrutura
cos. A partir da busca contínua lito (Moller, Jacob e Schmelzer, com diferentes componentes e di-
pela miniaturização dos materiais, 1998). Em tais sistemas, o tama- versas fases (multicomponentes e
foi possível constatar que mate- nho, a morfologia e a reatividade multifásicos), desempenhando
riais em escala nanométrica pode- dos cristalitos serão determinados uma propriedade específica, que
riam apresentar propriedades físi- pela morfologia, dimensões, tex- resulta da interação entre todos os
cas e químicas dependentes do ta- tura e natureza química dos po- componentes do sistema. Dessa
manho que diferem drasticamen- ros. Os poros, canais, lamelas ou maneira, poderíamos imaginar um
te daquelas relativas ao sólido es- cavidades que caracterizam essas SQI composto por um vidro po-
tendido [(Murray, Kagan e estruturas podem ser considerados roso, no qual são incorporadas
Bawendi, 2000), (Efros e Rosen, como microrreatores que cum- moléculas de éteres-coroa com se-
2000)]. A concepção da utilização prem, ao mesmo tempo, o papel letividade para um determinado
dos materiais em escala nanomé- íon metálico ou grupo orgânico ou
trica e suas propriedades na cons- Os SQIs terão sempre mesmo de reconhecimento enan-
trução de sistemas miniaturizados uma estrutura com tiomérico, cujo sistema passa a
foi lançada em 1959, pelo cientis- diferentes componentes desempenhar a função específica
ta Richard Feynman (2003), em e diversas fases de um sensor químico. Dessa ma-
sua famosa palestra “There’s plenty (multicomponentes e neira, portanto, teríamos a intera-
of room at the bottom” (‘Há mais multifásicos), ção do ambiente químico dos po-
espaço lá embaixo’, em tradução li- ros do vidro poroso com a molé-
desempenhando uma
vre). Tais fatos levaram à busca de cula de um éter-coroa e a intera-
métodos de síntese de nanopartí-
propriedade específica, ção desta com uma espécie quími-
culas monodispersas e ao desenvol- que resulta da interação ca específica. A propriedade final
vimento do conceito de efeito de entre todos os é definida pelo sinergismo entre
confinamento quântico de tama- componentes do sistema cada parte constituinte do sistema.
nho. Entretanto, as partículas de Um exemplo de sistema quí-
tamanho nanométrico apresentam de molde. De modo geral, a sínte- mico integrado, cuja funcionalida-
uma elevada instabilidade devido se de cristalitos em ambiente con- de vem da presença de cristais,
às suas altas tensões superficiais. finado pode ser tratada como uma ocorre em vitrocerâmicas obtidas
Sob condições normais de nuclea- reação do tipo hospedeiro-convi- a partir do sistema vítreo Li2O-
ção e crescimento, tais partículas dado, onde os materiais convida- TiO2-CaO-P2O5, onde foram ob-
tendem a crescer acima do domí- dos podem ser organizados e/ou tidos duas fases, variando as con-
nio nanométrico. Portanto, mes- estabilizados no interior dos espa- dições de lixiviação: LiTi2(PO4)3 e
mo que as nanopartículas sejam ços vazios da matriz hospedeira Ti(HPO4)2.nH2O (n = 1, 2). Esta
formadas, elas tendem a se agre- (Mazali e Alves, 2004). última, apresenta uma estrutura
gar ou a sofrer o ripening de Outro aspecto importante lamelar que confere ao cristal pro-
Ostwald (Cassagneau, 1994). De relacionado aos materiais porosos, priedades de troca iônica e de in-
acordo com Bard (1994), os ma- como os vidros porosos e as vitro- tercalação de moléculas orgânicas
teriais suportes porosos podem ser cerâmicas porosas, é a obtenção de polares entre as lamelas [(Hosono,
utilizados para controlar o tama- sistemas químicos integrados Imai e Abe, 1993), (Hosono e Abe,
nho do material sintetizado in situ. (SQI). Os SQI são sistemas com- 1995)]. A Figura 7 [pág. 10] mos-
Dentro desse contexto, um méto- plexos (macrosistemas) que apre- tra a rota de fabricação de siste-
do utilizado com sucesso para in- sentam, geralmente, uma hierar- mas químicos integrados envol-
terromper o crescimento dos cris- quia estrutural, ou seja, são arran- vendo vitrocerâmicas porosas in-
talitos, bem como estabilizá-los, jos de pequenas unidades que, por tegradas múltiplas, a qual foi pro-
envolve o uso de matrizes sólidas sua vez, são constituídas de uni- posta por Hosono (1993). Segun-
que controlam o tamanho do cris- dades menores e mais simples até do os Autores, desde que as fases
talito por meio da sua estrutura po- finalmente atingir-se as dimensões cristalinas tenham propriedades
Pág. 10 Revista Científica do IMAPES - Abril de 2004

diferentes, as vitrocerâmicas poro- cas, e sim de interações não for- entre moléculas que não seriam
sas integradas podem ser denomi- mais, sustentadas por forças fracas, possíveis do ponto de vista das li-
nadas de vitrocerâmicas micropo- cuja ação cooperativa, isto é, de gações químicas formais.
rosas multifuncionais, as quais sinergismo, estabiliza todo o com-
podem ter inúmeras aplicações. plexo, conferindo propriedades * Italo Odone Mazali é pós-douto-
Do ponto de vista estrutu- específicas, que não seriam obti- rado em Ciências pela Universida-
ral, evoluiu-se da molécula hospe- das se alguns dos componentes se de Estadual de Campinas (Uni-
deira para um arranjo sólido tridi- encontrassem na forma de sólidos camp) e professor de Química do
mensional, organizado e multi- estendidos (bulk) ou fora de um Curso de Bacharelado em Química
componente e cujas propriedades ambiente restrito, e de interações no IMAPES.
estão diretamente relacionadas à Vitrocerâmica
Vidro LiTi2(PO4)3 + β-Ca2(PO4)3
escala nanométrica, molecular e 4LI2O-24TiO2-39CaO-31P2O5 interconectadas
atômica. Portanto, estudos inten- Cristalização
ç
sos devem ser desenvolvidos a fim
de se buscar o entendimento das Proteção das faces com resina, exceto o topo
interações cooperativas e buscar e a base. Tratamento ácido > 50 oC; a
LiTi2(PO4)3 é convertida em Ti(HPO4)2.2H2O

ç
modelos que possibilitem com-
preender, explicar e prever as in-
Proteção das faces com resina,
terações hospedeiro-convidado.
ç exceto a base. Tratamento ácido
< 50 oC. A LiTi2(PO4)3 é
preservada. Eliminação da β-
Conclusão Troca iônica do Li+ por Ag+
Sistema TP/RTP/LTP/TP
ç

O conceito de sistema quí-


mico integrado vem agregar todo Tratamento ácido < 50 o C
ç
o conhecimento adquirido até en-
tão em relação às interações hos- Modificação dos poros TP pela intercalação de
H2N-C6H12 -NH2.
pedeiro-convidado em sistemas
Sistema TP-HMDA/RTP/LTP/TP-HMDA
supramoleculares, da química de
ç
clatratos, da química de intercala-
ção em sólidos lamelares e, mais
recentemente, das matrizes poro- ç
sas quanto a obtenção de nanopar-
ç
ç

tículas, polimerização in situ de po-


límeros condutores e efeitos de
confinamento quântico.
Os SQIs são hoje o exem-
plo principal de que as proprieda-
des físicas e químicas de uma gran-
de quantidade de materiais não
surgem ou dependem de ligações Figura 7: Rota de fabricação de sistemas químicos integrados envolvendo
químicas formais e estequiométri- vitrocerâmicas pososas integradas multifuncionais (Hosono, Imai e Abe, 1993).

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Pág. 12 Revista Científica do IMAPES - Abril de 2004

Um novo modelo para


o Sistema Computacional
Distribuído do ICMC
Fernando Cesar Miranda* e Marcos José Santana**

RESUMO

Este trabalho aborda aspectos técnicos e científicos relaciona-


dos com o projeto e implementação de sistemas computacionais distri-
buídos. Os conceitos fundamentais de projeto e implementação de sis-
temas computacionais distribuídos são aplicados a um sistema real,
levando a um novo modelo, que objetiva revisar a totalidade do sistema.
O modelo proposto é discutido levando-se em consideração tanto as-
pectos científicos como técnicos, focando na implementação real. O
modelo proposto, uma sugestão de implementação e diretrizes gerais
para a revisão de um sistema computacional distribuído são as princi-
pais contribuições deste trabalho.

1. Introdução pool de processadores, entre outros número de elementos do sistema


(Tanenbaum, 1992). aumenta, aumenta também a sua
Os Sistemas Computacio- Esses modelos arquiteturais, complexidade.
nais Distribuídos tiveram como cada qual utilizando seus recursos Sistemas Computacionais
primeira motivação a questão eco- e características, buscam atingir os Distribuídos reais apresentam um
nômica, pois manter um sistema objetivos propostos na criação dos alto grau de complexidade, dificul-
computacional centralizado é ex- sistemas computacionais distribuí- tando o gerenciamento diário em
tremamente caro, se comparado ao dos, tais como: compartilhamen- termos de se aferir e manter ga-
custo de computadores pessoais. to de recursos, abertura, controle nhos de desempenho, confiabili-
Contudo, um conjunto de outros de concorrência, etc. [(Coulouris, dade e segurança, de modo geral.
benefícios advém da adoção de um Dollimore e Kindberg, 1994) (Ta- Desta forma, o objetivo cen-
Sistema Computacional Distribuí- nenbaum e van Renesse, 1985)]. tral do projeto descrito neste arti-
do, tais como: desempenho, tole- A construção e a manuten- go é estabelecer diretrizes para se
rância a falha e crescimento gra- ção de Sistemas Computacionais fazer uma revisão racional de um
dual (Tanenbaum, 1992). Distribuídos é bastante complexa Sistema Computacional Distribuí-
Na construção de Sistemas quando ganhos de desempenho, do complexo real, visando aproxi-
Computacionais Distribuídos, di- confiabilidade e segurança são re- má-lo ao máximo possível de seus
versos modelos arquiteturais pas- quisitos a serem alcançados. Isso objetivos fundamentais, valorizan-
saram então a ser propostos, obje- se deve às próprias características do os aspectos de desempenho,
tivando a utilização eficiente e ra- de construção do sistema, ou seja, confiabilidade e segurança, além
cional dos recursos computacio- a união de um conjunto não ho- da modularidade do sistema.
nais disponíveis. Entre esses mo- mogêneo de equipamentos e pro- Para tal, este trabalho irá
delos encontram-se os modelos gramas (incluindo-se sistemas ope- abordar os aspectos técnicos e cien-
baseados em minicomputadores, racionais) em um único ambiente tíficos da área de Sistema Compu-
estações de trabalho e servidores, computacional. À medida que o tacional Distribuído e utilizará
Revista Científica do IMAPES - Abril de 2004 Pág. 13
como estudo de caso o Sistema
Computacional Distribuído do
Instituto de Ciências Matemáticas SW Prédio 5 -
PoP CISC Salas de Aula
e de Computação — ICMC-USP. e Laboratório
SW

2. O sistema computacional
do ICMC SW
SW SW Prédio 4 -
Biblioteca e salas
IBM PC de docentes
Router Linux SW
Contando com cerca de
1000 usuários, quatro centros de Prédio 3 -
SW
distribuição, uma dezena de ser- SW Administração e
salas de docentes
vidores corporativos, outra deze-
na de servidores departamentais e
Fig 2.1 – Esquema geral do
de grupos de pesquisa, e centenas Sistema Computacional do ICMC SW Prédio 1 -
Laboratórios de Ensino
de pontos de acesso à rede, o siste- e grupos de pesquisa
ma computacional do ICMC é
bastante complexo. Estação de Estação de
Server Server

Os centros de distribuição trabalho trabalho


Routeador
caracterizam-se por serem os pon-
tos de entroncamento entre a infra-
Trecho 1
estrutura externa e interna de cada
prédio atendido, sendo correspon- Trecho 1
SW Trecho 2 SW
dentes ao “ponto de entrada de
prédio” e “sala de equipamentos”
Server
como descrito pelo padrão de refe- Fig 2.2 – Modelo simplificado da
Estação de Estação de
rência EIA/TIA 568 (CCE, 1998). trabalho trabalho
rede de comunicação
Com o objetivo de simplifi-
car o estudo desse sistema, o tra- 2.1. Rede de comunicação blindados (UTP) categoria 5 ou
balho será dividido em dois gran- do ICMC superior. A construção dessa infra-
des blocos: rede de comunicação e estrutura está em consonância com
serviços, se concentrando nos sis- A rede de comunicação do o estabelecido pelo padrão EIA/
temas corporativos baseados em IP. ICMC abrange centenas de pon- TIA 568 e garante “longevidade”
O estudo da rede de comu- tos de acesso distribuídos em qua- ao sistema. A integração de ele-
nicação visa estabelecer um para- tro grandes centros de distribuição, mentos distintos a simples trans-
lelo entre a implementação atual e conforme descrito na figura 2.1. missão de dados, tais como siste-
os projetos em discussão, tais como Um modelo simplificado do mas de fonia e imagem, pode ser
“Programa de Fomento à Informá- sistema implementado no que se consolidada sobre a mesma infra-
tica - 2002” (Marques et al., refere à rede de comunicação é o estrutura.
2002), com os elementos encon- descrito pela figura 2.2. No trecho “2” (externamen-
trados em “parâmetros de compa- O modelo da figura 2.2, te aos prédios) encontram-se en-
ração” propostos em Soares, Lemos analisado sob a ótica do modelo laces em fibra ótica multimodo.
e Colcher (1995). O estudo sobre de referência RM-OSI (Reference Novamente o implantado encon-
os serviços implementados visa o es- Model – Open System Interconnec- tra-se respaldado no estabelecido
tabelecimento de comparativos do tion, ISO) (Tanenbaum, 1997) pelo padrão EIA/TIA e em con-
modelo atual e suas características apresenta-se: formidade com os demais proje-
com as descritas em Coulouris, tos propostos pela USP, tais como
Dollimore e Kindberg (1994) e 2.1.1. Camada física: a USPNet (CCE, 2002). Contu-
Tanenbaum (1992), utilizando do, os novos protocolos de acesso
conceitos apresentados nas taxono- Os trechos “1” (interno aos ao meio tais como 10 Gigabit
mias propostas por Flynn (1972) e prédios) são estruturados, utilizan- Ethernet (10 Gigabit Ethernet
revisadas em Flynn e Rudd (1996). do-se cabos de pares trançados não Alliance, 2001) e POS (Packet over
Pág. 14 Revista Científica do IMAPES - Abril de 2004

SDH/SONET) (Malis e Simpson, a) O ambiente completo da III. É possível simular o “en-


1999) e ainda tecnologias como rede de comunicação do ICMC dereço MAC” de uma entidade
WDM e DWDM (Wavelength corresponde a um único domínio qualquer da rede, incluindo um
Division Multiplexing e Dense de broadcast e multicast. elemento roteador e servidores, de
Wavelength Division Multiplexing) b) Embora exista um ele- maneira a comprometer o desem-
(Internacional Engineering Con- mento de nível 3 do modelo RM- penho do sistema e/ou interceptar
sortium, 2002) podem requerer a OSI (elemento de roteamento), informações que estejam “circu-
atualização dos enlaces de fibra todos os elementos são atingíveis lando” no ambiente.
para o modelo monomodo, polí- diretamente na camada 2 (enlace). IV. O trecho “2” pode estar
tica já adotada pela USP. Isso pode ser verificado através da sendo utilizado por tráfego que
O Centro de Informática de utilização de protocolos “não ro- deveria estar confinado ao inte-
São Carlos (CISC) representa o teáveis” tais como NetBEUI rior dos prédios, tais como busca
ponto de acesso (PoP – Point of (Microsoft) (Hertel, 2002). de servidores baseados no proto-
Presence) entre o sistema compu- c) Os domínios de colisão colo DHCP, serviços de busca de
tacional do ICMC e o resto da estão delimitados pelos comutado- compartilhamento no protocolo
comunidade da USP e a Internet. NetBEUI, etc (serviços baseados
O ambiente pode em broadcast).
2.1.2. Camada de enlace: facilmente tornar-se V. O uso do ambiente
indisponível ou ter CSMA/CD impossibilita a exis-
A camada de enlace é imple- seu desempenho tência de loops no ambiente. As-
mentada utilizando-se o protoco- fortemente sim, o estabelecimento de cami-
lo CSMA/CD (Carrier Sense comprometido nhos redundantes fica confinado
Multiple Access with Colision ao definido pelo protocolo
através da inserção
Detection) como descrito pelo pa- spanning tree (CISCO System,
drão IEEE 802.3 (Ethernet) e
acidental, ou não, 2002), restringindo o tempo de
IEEE 802.3u (Fast Ethernet) de tráfego convergência em caso de falha de
(IEEE 802 LAN/MAN Standards broadcast e ou algum caminho para o qual haja
Committee, 2002). multicast redundância. Ainda o uso do pro-
Assim, tem-se um conjunto tocolo spanning tree dificulta sobre-
de estações interconectadas a um res de pacote Ethernet (SW na fi- maneira a depuração de erros no
único barramento compartilhado. gura 2.2). ambiente de rede.
Ainda, o padrão CSMA/CD, den- O modelo descrito pelo con- Esses fatores, associados com
tro da camada MAC (Media Access junto dos itens anteriores apresenta os que serão apresentados para os
Control), define um plano de en- uma série de restrições, principal- demais níveis do modelo de refe-
dereçamento para transmissões mente no que se refere à seguran- rência RM-OSI e para os serviços
unicast, multicast e broadcast. En- ça do sistema computacional. Isso atualmente implementados, serão
tende-se por transmissão unicast é ilustrado pelos itens a seguir: a base das considerações a serem
aquela envolvendo um par de ele- I. O ambiente pode facil- tratadas na seção 3.
mentos (emissor e receptor). Na mente tornar-se indisponível ou
transmissão “multicast” tem-se um ter seu desempenho fortemente 2.1.3. Camada de rede:
conjunto de elementos sendo um comprometido através da inserção
o emissor, e os demais são recep- acidental, ou não, de tráfego Maciçamente IP. A rede de
tores da informação. Finalmente, broadcast e ou multicast. comunicação é dividida em seg-
na transmissão broadcast, tem-se II. O acesso a segmentos mentos lógicos IPs (subnets) com
um emissor transmitindo a todos compartilhados de rede (domí- roteamento realizado em máqui-
os elementos atingíveis no ambien- nios de colisão) permite o uso de na do próprio instituto.
te CSMA/CD. maneira bastante simples de ana- O uso dessa solução leva a
Retornando ao modelo ilus- lisadores de transmissão (sniffers), algumas considerações:
trado pela figura 2.2 e pelo acima permitindo acesso às informações I. O equipamento utilizado
exposto, pode-se extrair algumas presentes em outras sessões de co- como elemento de roteamento é
características da topologia atual: municação. um hardware de propósito geral,
Revista Científica do IMAPES - Abril de 2004 Pág. 15
na verdade um microcomputador (subnets) é realizado sobre uma 2.2. Serviços corporativos
modelo IBM PC. Como software única interface de rede. Assim,
é utilizado uma distribuição do todas as restrições existentes com Devido à heterogeneidade
Linux com a funcionalidade de relação ao desempenho do adap- de atividades, os usuários do siste-
roteamento (forward) habilitada. tador de rede em si, tais como ta- ma computacional do ICMC fo-
Tem-se, assim, uma solução de manho de buffers, adequação de ram divididos em dois grupos:
baixo custo e que permite uma drivers ao sistema operacional, loGrupo ICMC: composto

rápida substituição e/ou reprodu- multiplicam-se pelo número de por docentes, funcionários, alunos
ção (“clonagem”), em caso de fa- sub-interfaces lógicas instanciadas, de pós-graduação e alunos de gra-
lha. Em contrapartida, o desem- sendo ainda a velocidade global do duação com bolsa de auxílio ao
penho do sistema computacional sistema limitada ao desempenho ensino e à pesquisa;
do ICMC está diretamente ligado na transmissão da informação en- loGrupo GRAD: compos-

ao desempenho desse sistema. tre esse adaptador e o comutador to pelos alunos de graduação sem
Embora existam posições defen- ao qual ele está ligado. bolsa de auxílio ao ensino e pes-
dendo um desempenho bastante Em continuidade o modelo quisa.
razoável para solução adotada, RM-OSI será substituído pela “pi- No decorrer desta seção, o
como pode ser encontrado em lha” TCP/IP, tendo em vista o uso termo Grupo Corporativo signifi-
Dawson (Dawson, 2000), tal de- maciço do protocolo IP no nível 3 cará a união dos grupos anterior-
sempenho é aquém do obtido com do modelo RM-OSI. Assim, tem- mente mencionados.
a utilização de hardware e software se no próximo nível os protocolos Esta divisão teve impacto na
desenvolvidos especificamente TCP, UDP, RTP e outros como definição dos domínios de NIS
para esse fim. apresentados em Comer (2000). (Network Information System)
II. A entidade de roteamen- Sobre eles são estabelecidos os ser- ICMC e GRAD que são a base de
to está localizada em um segmen- viços descritos no próximo item todo o sistema computacional cor-
to de rede do centro de distribui- desta seção. porativo do ICMC.
ção 1. Como o conjunto de IPs está Atualmente, no ambiente Assim, os sistemas disponi-
disperso nos centros de distribuição, computacional do ICMC há ser- bilizados no sistema computacio-
existe um uso intenso do segmento viços que utilizam os protocolos nal do ICMC, segundo seu domí-
do trecho “2” envolvendo transmis- TCP e UDP. Particularmente, o nio NIS, encontram-se demonstra-
são para roteamento, embora em serviço NFS (Network File System), dos a seguir:
alguns casos o destino da comuni- que será descrito em maiores deta- loCorporativos: DNS, FTP

cação seja um elemento localizado lhes a seguir, emprega em sua con- e WWW.
no mesmo centro de distribuição de figuração padrão o protocolo loICMC: NIS, E-Mail, Tel-

origem da comunicação. UDP, por questões de desempe- net e NFS.


III. Todo o tráfego que se nho. Como na topologia atual da l oG R A D : NIS, E-
destina ao ambiente externo ao sis- rede a interface de acesso aos ser- Ma il, WWW, Telnet e NFS.
tema computacional do ICMC viços em um dado servidor é a As máquinas alocadas para
dirige-se ao mesmo segmento no mesma utilizada pelo serviço NFS, os serviços mencionados utilizam
centro de distribuição 1 para ser existe uma concorrência entre eles. as arquiteturas RISC SunSparc e
“roteado”. Isso cria a possibilidade Sendo o protocolo UDP não orien- Intel. Os sistemas operacionais
de se estabelecer um ponto de con- tado à conexão e sem confirma- utilizados são Sun Solaris e Linux.
trole para o tráfego, seja ele como ção, tal competição pode levar à Outro aspecto relevante da
controle de acesso (Firewall) ou degradação do serviço NFS e do administração do sistema distri-
como controle de consumo de sistema como um todo. buído do ICMC refere-se à alo-
banda (Rate Limit e/ou Traffic Com essas considerações se cação de áreas de disco para os
Shaping). Por outro lado, esse trá- encerram as análises iniciais sobre usuários do sistema. O espaço de
fego concorre diretamente com o a rede de comunicação que serve Inbox de todos os usuários encon-
existente entre as estações de tra- ao sistema computacional do tra-se centralizado, enquanto as
balho e os servidores corporativos. ICMC. No próximo item serão áreas de dados encontram-se dis-
IV. Atualmente, o “rotea- descritos os principais serviços ofe- tribuídas por categoria de usuário:
mento” de todos os segmentos IPs recidos por esse sistema. Docentes e Funcionários, Alunos
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de pós-graduação e pesquisadores, estação pode operar com grande a atender um maior número de
graduação. autonomia para a maioria das fun- requisitos dos Sistemas Computa-
Analisando o sistema com- ções e atividades. cionais Distribuídos e aumentar a
putacional do ICMC como des- Pelo apresentado nos itens intensidade com que alguns des-
crito até o momento e estabelecen- anteriores, pode-se classificar o sis- ses requisitos são atingidos na im-
do um paralelo com o apresenta- tema computacional do ICMC co- plementação atual, aproximando
do até o momento, pode-se extrair mo um sistema computacional dis- de modo mais adequado o Siste-
algumas características e conside- tribuído do tipo “Network Ope- ma Computacional do ICMC dos
rações: ration System” como descrito em benefícios oriundos dos Sistemas
I. O sistema computacional Tanenbaum (1992). Assim, o siste- Computacionais Distribuídos.
do ICMC aproxima-se muito em ma computacional do ICMC não
termos de arquitetura de hardware pode atingir todos os objetivos 3.1. Modelo proposto para o
ao proposto para os Sistemas Com- propostos aos sistemas distribuídos sistema computacional
putacionais Distribuídos, sendo definidos por Tanenbaum para um do ICMC
possível classificá-lo como uma “True Distributed System”.
arquitetura Barramento/Multi- A proposta de um novo
computadores/MIMD com me- Investir em um novo modelo para a implementação Sis-
mória distribuída, ou seja, um ar- protocolo de acesso tema Computacional do ICMC é
ranjo composto por um conjunto teria grande impacto no baseada nas seguintes característi-
de processadores com seu próprio sistema, tanto no cas fundamentais:
espaço de memória, executando loManutenção da atual tec-
aspecto tecnológico
seus processos e se comunicando nologia de acesso: atualmente o
(implantação e
através da troca de mensagens so- Sistema Computacional do ICMC
bre uma rede de comunicação. maturação de uma nova é baseado em protocolo de acesso
II. Essa configuração pode tecnologia) como de etherneT e suas derivações. Inves-
conter máquinas de arquiteturas custo (troca de todos os tir em um novo protocolo de aces-
distintas, tais como servidores pontos de acesso) so teria grande impacto no sistema,
multiprocessados (ex: Xapacura), tanto no aspecto tecnológico (im-
sendo que essas máquinas serão Contudo, quanto mais pró- plantação e maturação de uma nova
vistas pelo sistema como um ele- ximo dos objetivos propostos para tecnologia) como de custo (troca de
mento idêntico aos demais. Essas os Sistemas Computacionais Dis- todos os pontos de acesso). Além
máquinas multiprocessadas não tribuídos estiver o sistema compu- disso, tem-se como diretriz básica
podem ser consideradas como um tacional do ICMC, mais próximo os projetos centrais da Universida-
banco de processadores, pois o sis- o sistema estará dos benefícios e de, sinalizando no sentido da ma-
tema hoje existente não permite a vantagens existentes nesses sistemas. nutenção deste protocolo.
alocação desses processadores para loExtensa utilização do con-

trabalhar de maneira a oferecer “ci- 3. Propostas de melhorias ceito de Lans Virtuais ou VLANs:
clos de processamento” a outras para o sistema As Lans Virtuais, propostas pelo
unidades do sistema. Internamen- computacional do ICMC protocolo 802.1Q (IEEE 802
te, essas máquinas se comportam LAN/MAN Stantards Committee,
como os modelos Barramento/ As propostas são apresenta- 2002), definem um domínio de
Multiprocessadores/MIMD de das na forma de um modelo para broadcast na camada 2 de rede (en-
memória compartilhada, ou seja, a estruturação do Sistema Com- lace) (Clark e Hamilton, 1999).
um sistema de múltiplos proces- putacional do ICMC. Esse mode- Considerando essas caracte-
sadores com espaço de memória lo é construído tendo como base rísticas fundamentais, o modelo se-
compartilhado. os conceitos apresentados, não re- rá construído partindo-se da rede
III. O sistema computacio- presentando em si uma mudança de comunicação, estabelecendo
nal do ICMC pode ser classifica- e/ou a criação de conceitos novos, uma nova estrutura ao sistema
do como “fracamente acoplado” mas sim uma nova estratégia de atual. O modelo será apresentado
sob o aspecto de software assim implementação do sistema. em uma visão top-down, partindo-
como de hardware, sendo que cada Esse modelo objetiva, ainda, se de estruturas funcionais
Revista Científica do IMAPES - Abril de 2004 Pág. 17
complexas, detalhando-as em
Internet
subestruturas mais simples.
O modelo proposto é ilus-
trado pela figura 3.1. ~
Pode-se perceber que o mo-
PoP
delo busca classificar os elementos CISC
do sistema atual em grupos lógi- Rede de Projetos centrais
Routeamento Firewall + NAT
cos, representados pelos blocos. monitoramento da Universidade

3802.1Q4
Existe uma uniformidade no aces-

3802.1Q4

3802.1Q4

3802.1Q4

3802.1Q4
so desses blocos, ou seja, todos eles
interagem com uma entidade de
acesso da mesma maneira (proto- ACESSO

3802.1Q4

3802.1Q4

3802.1Q4

3802.1Q4

3802.1Q4
colo).
Os grupos lógicos imple-
mentados nesse nível de abstração Rede de Rede de
Clientes Clientes Rede de
são descritos a seguir: públicos privados
serviços
públicos
serviços
privados
serviços
loPoP CISC (Ponto de pre-

sença do Centro de Informática de Fig 3.1 – Visão geral do modelo proposto para o ICMC
São Carlos): corresponde ao pon-
to de acesso à rede USPNet e seus toramento: rede privativa a ser uti- públicos: corresponde ao conjun-
serviços, tais como RECAD e, em lizada para o monitoramento do to de servidores corporativos que
ultima instância, à rede pública ambiente do ICMC, com o míni- por suas características de uso ne-
Internet. mo de características perturbado- cessitem utilizar endereços IP pú-
l oConexões 802.1Q: cor- ras do ambiente. Servidores de tri- blicos ou utilizem as funcionalida-
respondem às conexões física e ló- lha de auditoria (logs) devem per- des da entidade Firewall+NAT
gica baseadas no protocolo manecer nesta rede. para ter acesso e serem acessíveis
802.1Q sobre diversos protocolos l oEntidade Projetos Cen- através da rede pública.
de enlace tais como ethernet, fast trais USP: corresponde ao conjun- loEntidade rede de serviços

ethernet e gigabit ethernet. to de redes cuja administração e privativos: corresponde ao conjun-


loCamada de acesso: corres- gerência, por definição, pertencem to de servidores corporativos que
ponde a um conjunto de equipa- à administração central da Univer- por suas características de uso não
mentos capazes de implementar sidade e são geridas por suas polí- necessitem utilizar IP públicos.
uma matriz da comutação de pa- ticas, fugindo ao escopo deste pro- Podem utilizar a entidade
cotes de alto desempenho em ní- jeto. Serão feitas somente conside- Firewall+NAT para as caracterís-
vel 2 (camada de enlace). rações sobre a interação das mes- ticas de segurança.
loEntidade de Roteamento: mas ao ambiente do ICMC. loEntidade rede de serviços:

conjunto de equipamentos e loEntidade clientes públi- entidade correspondente a uma


software responsáveis por imple- cos: corresponde a qualquer equi- rede privativa não roteável (poden-
mentar as funções de roteamento pamento de acesso (computadores, do ser somente implementada em
em nível 3, basicamente roteamen- estações de trabalho, servidores de nível 2 — enlace), responsável por
to IP. laboratórios, etc.) que por suas disponibilizar, aos servidores cor-
loEntidade Firewall e NAT características de uso necessitem porativos públicos e privados, ser-
(Network Address Translation): con- utilizar endereços IP públicos. viços tais como backup e armaze-
junto de equipamentos e softwares loEntidade clientes privati- namento (storage).
responsáveis pela implementação vos: corresponde a qualquer equi-
pamento de acesso que por suas 3.2. Vantagens apresentadas
das funções de Firewall (filtro de
características de uso não necessi- pelo modelo proposto
pacotes e controle de sessões -
statefull) e oferecimento de funções tem utilizar endereços IP públicos, 3.2.1. Camada de enlace (nível 2):
de tradução de endereços IP para podendo utilizar-se da entidade
o ambiente do ICMC. Firewall+NAT. oUniformização do acesso:
l

loEntidade Rede de Moni- loEntidade rede de serviços o modelo apresenta um núcleo (ca-
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mada de acesso) que se comunica solução através de equipamento mínios de broadcast e multicast,
com todas as entidades de maneira dedicado à implementação das dificultando ações que se utilizem
uniforme (mesmo protocolo). Exis- funções de roteamento deve tra- desses recursos.
te no modelo a premissa de uni- zer um aumento significativo no loMonitoração: criação de

formizar os acessos até o nível dos desempenho do sistema, através da uma estrutura de segurança ba-
clientes em protocolo ethernet e de- diminuição da latência de rotea- seada no uso seletivo do sistema
rivados; assim o acesso será unifor- mento e diminuição da variância de Firewall+NAT e no uso inten-
me em todos os níveis. do tempo de acesso. sivo de IDSs. O sistema de
l oRedução do tempo de loDistribuição dos serviços Firewall+NAT, conjuntamente
convergência do protocolo STP: em públicos e privativos: esta me- com os IDSs, podem compor uma
com a divisão da rede em diversas dida busca melhorar a gestão so- ferramenta de segurança contra
VLANs é possível diminuir o tem- bre o uso dos endereços IPs dispo- ataques do tipo DoS (Denial of
po de convergência do protocolo níveis, permitindo identificar a real Service) e DDoS (Distributed
STP (utilizando o protocolo STP necessidade de IPs públicos. Isto Denial of Service) (Chapman e
por VLAN, é um recurso existen- aumenta a segurança do sistema, Zwicky, 1995).
te na maioria dos 3-Layer permitindo a criação de serviços l oSistema de Firewall

Switchers) abrindo a possibilidade cujos endereçamentos só tem sen- “StateFull”: o uso de um sistema
de adoção de conexões redundan- tido localmente e a obrigatorieda- de firewall permitirá um controle
tes em diversos níveis. de do uso de Firewall. mais efetivo do sistema, uma vez
loAumento da velocidade l oDistribuição do rotea- que não age somente como um fil-
nominal de acesso: a adoção de mento: o modelo permite um nú- tro de pacotes e sim como um con-
uma malha comutadora de alto de- mero arbitrário de entidades de ro- trolador das sessões abertas.
sempenho abre a possibilidade de teamento que podem ser configu- loUtilização de VPN: cria-

uso de conexões de alta velocida- radas de maneira a aumentar o ção da cultura de uso de VPN no
de entre as entidades descritas an- desempenho do sistema através da acesso de informações de conteú-
teriormente, sendo o protocolo distribuição de carga e/ou sua dis- do sensível.
802.1Q compatível com o proto- ponibilidade através de caminhos
colo ethernet e derivações empre- redundantes de roteamento. 4 . Conclusões
gadas nos acessos. loEstabelecimento de área

l oEliminação dos proble- de roteamento com o PoP CISC: Este artigo descreve o traba-
mas de multicast: o tráfego a presença de diversas unidades de lho de mestrado no qual se apre-
multicast poderá ser confinado à roteamento e/ou de entidades sentou uma revisão geral dos con-
VLAN que o originou ou ser ro- Firewall+NAT permite a criação ceitos envolvidos no projeto e im-
teado pelas entidades correspon- de uma VLAN entre estes elemen- plementação de Sistemas Compu-
dentes do sistema, se isso for inte- tos e o PoP do CISC, permitindo tacionais Distribuídos, visando,
ressante, como por exemplo em o acesso dos equipamentos direta- principalmente, o estabelecimento
uma transmissão de vídeo. Have- mente ao PoP do CISC. de um conjunto de diretrizes para
rá a possibilidade de efetivo con- Isso aumentará a disponibi- a revisão de um Sistema Computa-
trole de sua utilização. lidade do sistema, pois não haverá cional Distribuído complexo e real.
loConexões Redundantes: ponto único de falha comum a Baseado na investigação de-
como mencionado anteriormente, todos os clientes do sistema. Além senvolvida, realizou-se um estudo
a redução do tempo de convergên- disso, o acesso concorrente aos ser- de caso, de um Sistema Compu-
cia do protocolo STP permite a viços externos ao ambiente do tacional Distribuído real, adotan-
configuração de conexões redun- ICMC deverá trazer um ganho de do-se o Sistema Computacional
dantes. desempenho. Distribuído do ICMC-USP.
À luz dos conceitos acadê-
3.2.2. Camada de rede 3.2.3. Segurança do sistema micos e dos aspectos técnicos, fo-
(nível 3): computacional: ram mapeados os pontos de possí-
veis melhorias do sistema atual e
loAumento da capacidade oSegmentação: o uso de
l várias propostas foram apresenta-
de roteamento: a adoção de uma VLANs segmenta a rede em do- das, constituindo-se um novo
Revista Científica do IMAPES - Abril de 2004 Pág. 19
modelo para o Sistema Computa- unir-se os aspectos acadêmicos/ *Fernando C. Miranda é
cional Distribuído do ICMC. científicos da área de Sistemas bacharel em Ciências da Compu-
É importante ressaltar que, Computacionais Distribuídos à tação e mestre em Ciências Mate-
embora o modelo proposto esteja realidade técnica, levando à imple- máticas e de Computação pelo
em consonância com as políticas mentação de um sistema real, onde ICMC da USP em São Carlos. Le-
centrais da universidade e apresen- os graus de desempenho, confia- ciona Introdução à Computação e
te-se como uma evolução da situa- bilidade e segurança possam ser Programação de Objetos Distri-
ção atual, ele representa uma pro- aferidos, planejados e mantidos buídos no curso de Sistemas de In-
posta totalmente nova para o Siste- com mais facilidade, apesar da formação do IMAPES.
ma Computacional Distribuído do complexidade do sistema.
ICMC. Isso se confirma pela des- Finalmente, é importante **Marcos José Santana é en-
crição de entidades lógicas não exis- ressaltar que o trabalho atingiu seu genheiro eletricista pela USP-São
tentes no sistema atual, bem como objetivo na medida em que ma- Carlos, mestre em Ciências Mate-
a reconstrução dos conceitos envol- peou um sistema do mundo real máticas e de Computação pelo
vidos nas existentes atualmente. para um modelo abstrato, que ICMC da USP e PhD pela Uni-
De modo geral, este traba- pode representar um caminho de versidade de Southampton, na In-
lho demonstra a possibilidade de evolução ao sistema atual. glaterra.

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Pág. 20 Revista Científica do IMAPES - Abril de 2004

Técnicas para preparar,


dispersar e estabilizar
dispersões sólido-líquido
em meios com elevada
viscosidade
Cristiana Aparecida Ittner Mazali*

RESUMO

Os termos suspensão, dispersão e slurry (pasta) não são dife-


renciados com clareza na literatura. Em muitos casos, são considera-
dos como o mesmo processo. No entanto, define-se como suspensão
um sistema bifásico constituído por uma fase de partículas sólidas imer-
sas em um meio líquido, sendo que neste caso a suspensão pode ser
classificada como dispersão ou slurry. A diferença entre dispersão e
slurry está relacionada à ordem de grandeza das partículas, ou seja, é
considerado slurry uma suspensão de partículas grosseiras (normal-
mente maiores que 1 mm) e dispersão, uma suspensão de partículas
finamente divididas.
Tendo em vista as definições acima, esse trabalho foi direcionado
ao estudo de suspensões de partículas com tamanho médio variando de
10-3 a 1 µm. A suspensão de partículas sólidas desta ordem de grandeza
em um meio líquido é denominada como dispersão coloidal. Atualmente,
as dispersões coloidais têm um papel importante na manufatura de com-
pósitos, os quais apresentam grande aplicação nas áreas de eletrônica e
aeroespacial, e com destaque especial na indústria de tintas, entre outras.

I. Aspectos teóricos saltar que dispersão e homogenei- finamente divididas, da ordem de


fundamentais do processo zação não são sinônimos, pois as 10-3 a 1 µm, são geralmente cha-
de dispersão condições de processo muitas ve- madas de dispersões coloidais.
zes adequadas para uma mistura Com isso, podemos definir o ter-
O processo de dispersão ba- podem não ser adequadas para mo sol, que é usado para um siste-
seia-se na incorporação de partí- uma dispersão, e vice-versa. A mis- ma coloidal, no qual o meio de
culas sólidas a um meio líquido, tura implica em uma agitação con- dispersão é um líquido e a fase dis-
resultando numa dispersão con- junta ou homogeinização, resul- persa, na maioria das vezes, é um
centrada constituída de partículas tando em um produto final mais sólido (Parafit, 1973).
finamente divididas distribuídas grosseiro. Por outro lado, a disper- De maneira geral, os sóis
por todo o meio. Estas dispersões são implica em dispersar, ou seja, podem ser classificados, de acordo
concentradas apresentam certas separar partículas até uma distri- com a afinidade da partícula ao
propriedades, tais como a homo- buição de partículas primárias meio de dispersão, como colóides
geneidade e a estabilidade [(Parafit, (partículas individuais) (Kairalla et liofílicos e colóides liofóbicos. Nas
1973), (Nelson, 1988), (Sato e al, 1995). dispersões liofílicas, as partículas
Ruch, 1980)]. É importante res- As dispersões de partículas interagem entre si, de maneira que
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as forças de interação entre as par- depender de sua capacidade de este processo ocorre quando uma
tículas levam a sua agregação, re- deslocar todo o ar e contaminan- superfície sólida plana é colocada
sultando em dispersões instáveis. tes adsorvidos na superfície dos em contato com uma superfície lí-
Por outro lado, se considerarmos agregados e aglomerados, bem quida plana. A molhabilidade de
agora a existência de uma barreira como o ar aprisionado em seus adesão é caracterizada pela perda
entre duas partículas, as mesmas poros [(Parafit, 1973), (Kumar e de uma unidade de área interfa-
não seriam capazes de se aproxi- Gupta, 1998)]. Para que essa con- cial sólido-ar, quando ocorre a
marem umas das outras e, portan- dição seja satisfeita, é necessário substituição das unidades interfa-
to, de se aglomerarem. Nesta si- que a tensão superficial do meio ciais sólido-ar e líquido-ar, pela
tuação, as dispersões coloidais são de dispersão seja menor do que a unidade interfacial sólido-líquido
denominadas liofóbicas e podem energia superficial da partícula, [(Parafit, 1973), (Shamlou,
ser estáveis por um longo período garantindo com isso o contato di- 1993)].
de tempo [(Parafit, 1973), (Kumar reto entre o meio líquido e a par- II) Molhabilidade de imer-
e Gupta, 1998)]. tícula (Shamlou, 1993). são: ocorre quando a partícula co-
O processo global da disper- meça a afundar. Neste caso, cada
são de partículas primárias (partí- A efetividade da etapa unidade de área interfacial sólido-
culas individuais) pode ser dividi- de molhabilidade ar é substituída por uma unidade
do em três etapas: a molhabilida- de um sólido vai de área interfacial sólido-líquido.
de, a quebra de agregados e aglo- depender de sua Ao contrário da molhabilidade de
merados e a estabilização. Estes adesão, neste estágio não ocorre
capacidade de deslocar
processos não são necessariamen- nenhuma perda em área interfa-
todo o ar e contaminantes
te seqüenciais, mas na prática po- cial [(Parafit, 1973), (Shamlou,
dem ocorrer simultaneamente em adsorvidos na superfície, 1993)].
diferentes partes do sistema. Por bem como o ar III) Molhabilidade de distri-
outro lado, o último processo, o aprisionado em seus buição: para completar a incorpo-
de estabilização, se tornará relevan- poros ração das partículas, o líquido pre-
te apenas quando os dois primei- cisa se distribuir através da super-
ros processos, o de molhabilidade De maneira geral, a forma- fície superior e então submergir a
e o de quebra dos agregados e aglo- ção de uma interface sólido-líqui- partícula totalmente. Neste caso,
merados, estiverem substancial- do em uma partícula num meio há novamente um aumento na
mente completos (Parafit, 1973). de dispersão pode estar associada área interfacial, quando cada uni-
a três tipos de processos de mo- dade interfacial sólido-ar é substi-
I.1. Molhabilidade da partícula lhabilidade, e cada processo está tuída pelas unidades interfaciais
associado a uma variação de ener- sólido-líquido e por uma unidade
A molhabilidade de uma gia livre superficial. Os três pro- interfacial líquido-ar [(Parafit,
partícula primária consiste na cessos de molhabilidade são: mo- 1973), (Shamlou, 1993)].
substituição de uma interface só- lhabilidade de adesão; molhabili- A maneira mais simples de
lido-ar por uma interface sólido- dade de imersão e molhabilidade ilustrar as etapas do processo de
líquido. A efetividade da etapa de de distribuição (Parafit, 1973). molhabilidade que ocorre quan-
molhabilidade de um sólido vai I) Molhabilidade de adesão: do uma partícula sólida é imersa
em um líquido é considerar uma
partícula cúbica hipotética de
arestas igual a 1 cm. Os três está-
gios envolvidos na molhabilida-
de completa da partícula cúbica
são apresentados na Figura 1, e
são representados pelas mudan-
ças: (a) para (b), (b) para (c) e (c)
Figura 1 - Representação dos três estágios envolvidos na molhabilidade com- para (d), para a molhabilidade de
pleta de um cubo sólido por um líquido: (a) para (b) molhabilidade de adesão,
(b) para (c) molhabilidade de imersão e (c) para (d) molhabilidade de distribui-
adesão, molhabilidade de imersão
ção [(Parafit, 1973), (Shamlou, 1993)]. e molhabilidade de distribuição,
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respectivamente [(Parafit, 1973), sistirá ao avanço do líquido e a rão discutidos os aspectos técnicos
(Shamlou, 1993)]. pressão dentro do aglomerado irá das dispersões, bem como alguns
Na realidade, um sólido no aumentar, resultando basicamen- dos equipamentos mais utilizados
estado seco geralmente é consti- te em três conseqüências. A pri- na dispersão de um sólido em um
tuído por agregados e aglomerados meira é que o ar aprisionado no meio líquido viscoso.
de partículas primárias [(Parafit, interior dos aglomerados causaria
1973), (Nakajima, 1996)]. Os uma tendência dos mesmos a flu- I.3. Estabilização
agregados são clusters (flocos), nos tuarem. A outra, consiste na ocor-
quais as partículas primárias estão rência de um limite, a partir do Após a superfície ter sido
unidas face a face, de maneira que qual a molhabilidade não poderia molhada e os agregados e aglome-
a força necessária para separá-las é mais ocorrer. E finalmente, a ter- rados terem sido rompidos em par-
próxima daquela necessária para a ceira conseqüência consiste no tículas finamente divididas, estas
fratura de um cristal. Os aglome- aumento da pressão, o que resul- se dispersam por todo o meio lí-
rados são também clusters, porém, taria no colapso ou desintegração quido. A estabilização das partícu-
suas partículas primárias estão uni- do aglomerado [(Parafit, 1973), las em um meio disperso é consi-
das apenas pelos vértices, através (Shamlou, 1993)]. derada a etapa mais crítica do pro-
de interações muito fracas como as cesso de dispersão, pois as partí-
forças de London-van-der-Waals e Os agregados podem culas apresentam uma tendência
a energia coesiva. Devido à própria ser fragmentados em natural na redução em número
natureza das ligações entre as par- partículas individuais com o tempo [(Parafit, 1973),
tículas em cada caso, as distâncias utilizando uma ampla (Shamlou, 1993)].
entre as partículas no agregado são variedade de As partículas presentes em
menores do que as distâncias de um meio de dispersão estão sem-
equipamentos de
partículas nos aglomerados pre sujeitas ao movimento
dispersão, que
[(Parafit, 1973), (Sato e Ruch, Browniano, resultando em suas
1980)]. transmitem uma tensão colisões. Assim, a estabilidade da
A molhabilidade dos agrega- de cisalhamento ao dispersão é determinada pela inte-
dos e aglomerados de um sólido líquido ração das partículas durante as co-
considera os três estágios de mo- lisões, sendo que a freqüência des-
lhabilidade discutidos acima, mas, Normalmente, a fragmenta- sas colisões tem uma dependência
adicionalmente, considera também ção de um agregado é conduzida direta com a concentração e com
a necessidade de deslocar o ar das através da aplicação de uma ener- as propriedades físicas das partícu-
superfícies internas entre as partí- gia mecânica, garantindo assim a las, bem como com a viscosidade
culas que os constituem, bem molhabilidade completa do sólido. e com a temperatura do meio
como a molhabilidade das super- Como esperado, através das defi- [(Parafit, 1973), (Sato e Ruch,
fícies alcançadas (Parafit, 1973). nições de agregados e aglomerados, 1980), (Shamlou, 1993)].
Este quarto estágio de molhabili- a energia mecânica necessária para As interações estabelecidas
dade de agregados e aglomerados romper um aglomerado é consi- com as colisões podem ser atrati-
é denominado como processo de deravelmente menor do que aque- vas ou repulsivas. Quando a repul-
penetração, o qual é primordial na la necessária para romper um agre- são entre as partículas for domi-
molhabilidade de sólidos e, portan- gado [(Parafit, 1973), (Shamlou, nante, o sistema permanecerá no
to, no processo de obtenção das 1993)]. estado disperso. Contudo, se a
dispersões (Shamlou, 1993). Os agregados podem ser atração for dominante, as partícu-
fragmentados em partículas indi- las irão se aderir e a dispersão flo-
I.2. Quebra dos agregados e viduais utilizando uma ampla va- culará. A floculação consiste na
aglomerados riedade de equipamentos de dis- formação de clusters, onde a dis-
persão, os quais transmitem uma tância entre as partículas é maior
Se um aglomerado é imerso tensão de cisalhamento ao líqui- do que aquela encontrada nos
em um meio líquido, quando o lí- do, que permite a quebra dos mes- aglomerados [(Parafit, 1973),
quido penetra nos interstícios, o ar mos [(Wicks, 1985), (Endo e (Nelson, 1988), (Sato e Ruch,
preso dentro destes interstícios re- Kousaka, 1996)]. No item II se- 1980), (Shamlou, 1993)].
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Segundo a literatura, exis- pectivamente [(Parafit, 1973), de fusão forem excedidos, ocorre
tem três tipos de interações que (Nelson, 1988), (Sato e Ruch, uma rápida queda da viscosidade
estão envolvidas na aproximação 1980), (Shamlou, 1993)]. da mistura. Estas duas componen-
ou não das partículas em um meio Como foi visto anterior- tes juntas são responsáveis pela
líquido [(Parafit, 1973), (Sato e mente, a freqüência das colisões migração das partículas no meio,
Ruch, 1980), (Schueler et al, tem uma dependência direta com promovendo o aumento na fre-
1997)]: a concentração e com as proprie- qüência de colisões (Parafit, 1973).
I) Forças de atração dades físicas das partículas, e com Embora os flocos formados
London-van-der-Waals: essas inte- a viscosidade e com a temperatura a partir das interações entre partí-
rações atrativas estão sempre pre- do meio [(Parafit, 1973), (Sham- culas possam ser facilmente rom-
sentes entre as partículas de com- lou, 1993)]. pidos com o auxílio de uma ten-
posições similares, e consistem em Quando a concentração das são de cisalhamento relativamen-
interações elétricas, ou seja, inte- partículas dispersas em um meio te baixa, as dispersões floculadas
rações entre dipolos, os quais po- líquido é alta, a freqüência das não são bem-vindas, pois afetam
dem ser dipolos permanentes em colisões aumenta consideravel- as propriedades finais dos compó-
partículas polares ou dipolos indu- sitos, como, por exemplo, a pre-
zidos em partículas não polares. Como a energia de sença de poros, deteriorando suas
II) Forças coulômbicas re- coesão entre as propriedades mecânicas [(Wicks,
pulsivas: consiste em interações partículas é 1985), (Hussain et al, 1996)].
repulsivas atribuídas ao fato das inversamente Com isso, algumas condições po-
superfícies das partículas torna- dem ser estabelecidas com o obje-
proporcional ao
rem-se carregadas. tivo de prevenir ou minimizar a
tamanho das mesmas,
III) Forças repulsivas causa- floculação das partículas imersas e,
das pelas camadas adsorvidas: a quanto menores portanto, estabilizar a dispersão.
presença de uma camada adsorvi- forem as partículas, Na prática, a adição de agen-
da na superfície das partículas dis- maior será a força de tes dispersantes contribui para a
persas em um meio líquido pode coesão entre elas não ocorrência da floculação. Os
impedir a floculação. dispersantes distribuem-se por
De maneira geral, uma dis- mente, pois as distâncias entre as todo o meio, de tal forma que sua
persão coloidal será considerada partículas dispersas são pequenas. concentração seja maior na região
estável, por um período razoável Com isso, as colisões são favoreci- interfacial do que no meio de dis-
de tempo, se a forças coulômbicas das, e conseqüentemente ocorre a persão. Portanto, os dispersantes
repulsivas ou as forças repulsivas formação de flocos [(Parafit, são compostos que apresentam
das camadas adsorvidas excederem 1973), (Shamlou, 1993)]. uma forte tendência de se concen-
as forças de atração London-van- Como a energia de coesão trarem próximos à interface sóli-
der-Waals. Quando as forças atra- entre as partículas é inversamente do-líquido, aumentando a compa-
tivas de London-van-der-Waals proporcional ao tamanho das mes- tibilidade do sólido com o líquido
excederem as forças coulômbicas mas, quanto menores forem as par- [(Parafit, 1973), (Sato e Ruch,
repulsivas ou as forças repulsivas tículas, maior será a força de coe- 1980), (Kumar e Gupta, 1998)].
das camadas adsorvidas, a disper- são entre elas. Portanto, principal- A primeira classificação dos disper-
são irá flocular tão rápido quanto mente para as partículas menores santes é feita de acordo com a sua
for a difusão das partículas que 1 mm, é necessário o trata- carga. Por exemplo, o dodecil ben-
[(Parafit, 1973), (Sato e Ruch, mento das superfícies para garan- zeno sulfonato de sódio é um dis-
1980)]. tir uma melhor dispersão persante aniônico, pois dissocia-se
A força coulômbica repulsi- (Shamlou, 1993). em íons sódio (cátion) e dodecil
va e a força repulsiva das camadas Os parâmetros temperatura benzeno sulfonato (ânion), o qual
adsorvidas constituem os dois me- e viscosidade estão inter-relaciona- se concentra na interface. O clo-
canismos básicos de estabilização dos. Se considerarmos o meio de reto de dodecil trimetil amônio é
das dispersões, e são comumente dispersão como sendo um políme- um dispersante catiônico, pois
denominados como estabilização ro sólido a temperatura ambiente, dissocia-se em íon cloreto (ânion)
elétrica e estabilização estérica, res- se os limites de sua temperatura e dodecil trimetil amônio (cátion).
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Neste caso, é o cátion que se con- de equipamento a ser utilizado tros, e as resinas termofixas, como
centra na interface. A segunda clas- [(Parafit, 1973), (Kairalla et al, por exemplo as resinas fenólicas.
sificação é feita através dos grupos 1995)]. Além dos termoplásticos e termo-
funcionais presentes na cadeia. A seguir será feita uma des- fixos, as borrachas sintéticas e na-
Geralmente, boas dispersões são crição dos equipamentos utilizados turais também estão incluídas nes-
obtidas quando a cabeça é quimi- nas dispersões em meios líquidos te grupo (Parafit, 1973).
camente compatível com a super- com viscosidade elevada, viscosi- A dispersão nestes sistemas
fície da partícula e a cauda é qui- dade muito alta e viscosidade alta. é normalmente realizada quando
micamente compatível com o Em um meio líquido de ele- a resina encontra-se a uma tempe-
meio de dispersão (Nelson, 1988). vada viscosidade, a mobilidade das ratura próxima ao seu ponto de
A estabilização em meios partículas e, portanto, a velocida- fusão e sob condições de alta taxa
viscosos é uma conseqüência de de de floculação é reduzida. Neste de cisalhamento em um moinho
interações na interface sólido-lí- caso, as partículas podem ser dis- de dois rolos. Em uma produção
quido. Um exemplo muito co- persas sob condições de alta tem- em grande escala, os pellets dos ter-
mum encontrado na literatura peratura e alta taxa de cisalhamen- moplásticos são misturados às par-
consiste na estabilização estérica tículas, e então submetidos à mol-
A eficiência da
das partículas, através de macro- dagem por injeção e extrusão. A
moléculas, tais como copolímeros
dispersão de dispersão ocorre sob condições de
enxertados, que são aderidas fisi- partículas em um baixo cisalhamento na rosca de
camente ou por grafitização na meio líquido irá injeção ou extrusão (Parafit,
superfície da partícula [(Parafit, depender da 1973).
1973), (Fowkes e Pugh, 1984), viscosidade deste Os sistemas considerados
(Napper, 1983)]. meio líquido, sendo com alta viscosidade incluem a
que esta determinará maioria das tintas baseadas em óleo
II. Aspectos técnicos das o tipo de ou vernizes sintéticos. A dispersão
dispersões e equipamentos equipamento a ser das partículas, como por exemplo,
de dispersões utilizado os pigmentos, é realizada em um
moinho de três rolos, resfriados
O processo de dispersão é to. Os materiais poliméricos como com água, a alta velocidade. Um
inadequadamente denominado de a nitrocelulose, o acetato de celu- outro método de dispersar pig-
moagem. Neste caso, a moagem lose, várias resinas de poliamida, mentos consiste em uma pré-mis-
não tem sua conotação usual, que entre outras, são aquecidos em tura que é realizada com um disco
consiste na pulverização ou rup- temperaturas acima do seu ponto dispersor de alta velocidade. Em
tura de um material sólido em pe- de fusão, contribuindo para a ob- seguida é feita uma dispersão em
quenas partículas, mas é definida tenção de dispersões extremamen- um misturador de pás do tipo sig-
como um processo simples de in- te finas, o que geralmente não se ma e um resfriamento em um
corporação de partículas finamente obtém por outros métodos moinho de três rolos a uma alta
divididas ao meio líquido (Parafit, 1973). O equipamento velocidade (Parafit, 1973).
[(Kairalla et al, 1995), (Hussain et utilizado na dispersão de partícu- Apesar de a literatura con-
al, 1996)]. las em líquidos com elevada vis- siderar a eficiência das dispersões
As técnicas aplicadas a dis- cosidade é um moinho de dois ro- como basicamente dependente
persão de partículas sólidas em um los aquecidos [(Parafit, 1973), da viscosidade, é interessante co-
meio líquido baseiam-se em mui- (Kairalla et al, 1995)]. locar também a sua dependência
tas tentativas e grande consumo de Os sistemas com viscosida- em relação à força de interação
materiais, visando a busca de me- de muito alta englobam a maioria entre as partículas que formam
lhores condições de dipersabilida- dos termoplásticos, como por os agregados.
de (Kairalla et al, 1995). A eficiên- exemplo o poli(cloreto de vinila) Em um meio líquido visco-
cia da dispersão de partículas em rígido e flexível, as poliolefinas, o so, quando os agregados são fáceis
um meio líquido irá depender da poliestireno, o copolímero de serem rompidos, geralmente são
viscosidade deste meio líquido, acrilonitrila-butadieno-estireno, os utilizadas altas tensões de cisalha-
sendo que esta determinará o tipo polímeros de celulose, entre ou- mento, as quais são fornecidas por
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discos dispersores de alta velocida-
de [(Parafit, 1973), (Kairalla et al,
1995), (Wicks, 1985)]. Por outro
lado, quando os agregados são
muito difíceis de serem rompidos,
são necessários equipamentos que
exerçam uma maior tensão de ci-
salhamento nos mesmos. Como
A B
exemplos destes equipamentos,
podemos citar os moinhos de bola,
moinhos de areia, extrusoras, en-
tre outros. No caso de agregados
que são ainda mais difíceis de se-
rem fragmentados, equipamentos
que proporcionam uma tensão de
cisalhamento ainda maior são em-
pregados, como por exemplo, os
moinhos de rolo, os quais podem C D
conter um, dois, três ou múltiplos Figura 2 - Representação esquemática (a) de um disco dispersor de alta veloci-
rolos (Wicks, 1985). dade em um tanque cilíndrico, (b) de um misturador com pás do tipo sigma, (c)
de um moinho de bolas e (d) moinho de três rolos [(Parafit, 1973), (Kairalla,
1995), (Lowel, 1985)].
III. Descrição dos Equipamentos
disco dispersor de alta velocidade muito rápida, o que pode produ-
Neste item serão descritos os é importante estabelecer as condi- zir flocos nas paredes do tanque.
principais equipamentos utilizados ções ideais de dispersão, ou seja, é O procedimento mais utilizado
na dispersão de um sólido em um necessário que seja feito o posi- consiste em adicionar pequenas
líquido viscoso. A Figura 2 apre- cionamento correto do disco no quantidades de líquido e sólido,
senta os equipamentos utilizados tanque cilíndrico. A Figura 2a ilus- alternadamente [(Nelson, 1988),
na dispersão de sólidos em líqui- tra a posição correta do disco dis- (Kairalla, 1995)].
dos, que serão descritos a seguir. persor no tanque cilíndrico Quando um sólido é adicio-
(Kairalla, 1995). nado a um meio líquido viscoso à
III.1. Dispersão com disco O procedimento da disper- temperatura ambiente, utiliza-se
dispersor de alta velocidade são do sólido no meio líquido vis- uma alta velocidade de dispersão,
coso consiste em transferir o líqui- com o objetivo de atingir uma alta
A dispersão utilizando um do para o tanque cilíndrico e adi- tensão de cisalhamento. Apesar de
disco dispersor é uma técnica sim- cionar aos poucos o sólido, toman- utilizar uma alta velocidade de dis-
ples, rápida e de baixo custo, por- do-se o cuidado de evitar a adição persão, o fluxo é caracterizado pelo
tanto, é a mais utilizada no pro- regime laminar, devido à alta vis-
cesso de pré-dispersão e dispersão Na dispersão com disco cosidade do meio. Com o tempo
de um sólido em um meio líquido de alta velocidade, de agitação, a energia cinética do
com alta viscosidade. O equipa- quando um sólido é meio é dissipada na forma de ca-
mento é constituído por um disco adicionado a um meio lor, resultando no aumento da
de bordas serradas e alternadas líquido viscoso à temperatura e, conseqüentemen-
montado em um eixo de alta rota- te, na diminuição da viscosidade.
temperatura ambiente,
ção, o qual é colocado verticalmen- Neste caso, ocorrerá o aumento da
utiliza-se uma alta tensão de cisalhamento, atingindo-
te em um tanque cilíndrico. O tan-
que cilíndrico não deve conter pla- velocidade de se um ponto crítico, onde o movi-
cas defletoras e cantos vivos, e sim dispersão, com o mento torna-se caótico (regime
um fundo abaulado e cantos objetivo de atingir uma turbulento). No regime turbulen-
chanfrados (Kairalla, 1995). alta tensão de to formam-se bolsões de materiais
Na técnica de dispersão com cisalhamento que não dispersam. Por outro lado,
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no regime laminar a dispersão é lido a ser disperso giram, as mes- tos, comparados com os moinhos
efetiva, visto que ocorre o arraste mas cascateiam e produzem uma de bolas ou com um disco disper-
de uma camada sobre a outra, ação dispersante através do atrito sor de alta velocidade, por exem-
rompendo agregados e aglomera- e do cisalhamento. Os moinhos de plo [(Parafit, 1973), (Wicks,
dos. Assim, a dispersão ocorre em bola são empregados quando se 1985), (Lowell, 1985)].
regime laminar e a mistura em re- deseja dispersar sólidos difíceis Este equipamento é consti-
gime turbulento [(Nelson, 1988), (duros) [(Parafit, 1973), (Kairalla, tuído por um, dois, três ou múlti-
(Kairalla, 1995)]. Desta forma, 1995), (Lowell, 1985)]. A Figura plos rolos de aço altamente poli-
pode-se concluir que, quanto 2c ilustra um moinho de bolas. dos, os quais giram horizontal-
maior for a viscosidade do líqui- Entre as vantagens de se uti- mente a diferentes velocidades e
do, mais efetiva será a dispersão. lizar este equipamento pode-se ci- em direções opostas [(Parafit,
tar a facilidade de se trabalhar com 1973), (Lowell, 1985)]. O espaço
III.2. Misturador com pás líquidos em uma ampla faixa de entre os rolos é ajustado para 25
viscosidades e com uma concen- mm ou menos. O princípio de
Este misturador é caracteri- tração elevada de sólidos, além do funcionamento é o mesmo, inde-
zado pelo uso de duas hastes, nas pendentemente do número de ro-
O uso do misturador
quais as pás são ajustadas de acor- los. A Figura 2d ilustra um moi-
do com o tipo de processo a ser com pás nho de três rolos.
conduzido. As hastes giram a di- normalmente está No caso de um moinho de
ferentes velocidades e em diferen- associado a três rolos, uma pré-mistura é co-
tes direções, geralmente para den- dispersões de locada em uma tremonha sobre o
tro, como mostrado na Figura 2b. partículas finas em primeiro rolo e é carregada até a
As pás se apresentam em di- um meio líquido, o interface entre o primeiro e segun-
ferentes formatos, como, por que apresenta pouca do rolos. A pré-mistura continua
exemplo, a tradicional sigma — a afinidade natural do segundo rolo para a interface
qual fornece rápida homogeiniza- pela superfície da do segundo com o terceiro, e é re-
ção sob condições de alta tensão partícula movida do último rolo, com o au-
de cisalhamento —, as pás de con- xílio de uma pá, caindo dentro de
torno suave e as pás de três aletas, baixo custo de manutenção, entre um tanque. Estes moinhos são
as quais são capazes de uma maior outras. Por outro lado, apresentam equipamentos delicados, por isso
eficiência de dispersão e menor ho- as seguintes desvantagens: dificul- não se aconselha utilizá-los para
mogeinização (Parafit, 1973). dades de descarga, quando as dis- dispersar sólidos grosseiros e
O sistema que usa pá para a persões tendem a um excessivo abrasivos [(Parafit, 1973), (Lowell,
dispersão é empregado quando é aumento de viscosidade e a forma- 1985)].
necessária uma dispersão mais efi- ção de aglomerados por parte dos
ciente. O uso desse método de dis- sólidos que não apresentam boas IV. Considerações Finais
persão normalmente está associa- condições de molhabilidade, au-
do a dispersões de partículas finas mentando o tempo de processo A escolha da técnica de dis-
em um meio líquido, o que apre- [(Parafit, 1973), (Kairalla, 1995), persão de um sólido em um meio
senta pouca afinidade natural pela (Lowell, 1985)]. líquido viscoso irá depender de
superfície da partícula (Parafit, uma série de fatores. Entre estes
1973). III.4. Moinhos de rolo fatores pode-se citar: a natureza, a
concentração e o tamanho das par-
III.3. Moinhos de bola Os moinhos de rolo são ge- tículas, além da natureza do meio
ralmente utilizados apenas quan- de dispersão, como, por exemplo,
Os moinhos de bolas con- do não há disponibilidade de ou- sua temperatura e sua viscosidade.
sistem em um cilindro giratório tra alternativa. A razão é atribuída Estes parâmetros deverão ser mui-
horizontal, carregado de bolas de ao fato de que os moinhos de rolo to bem avaliados para selecionar a
cerâmica ou, principalmente, de exigem uma mão-de-obra especia- técnica, pois estão diretamente re-
aço. Quando as bolas do moinho lizada, e os seus custos de limpeza lacionados com a tensão de cisa-
contendo o líquido viscoso e o só- e manutenção são geralmente al- lhamento a ser aplicada.
Revista Científica do IMAPES - Abril de 2004 Pág. 27
Uma vez determinada a téc- dos para contornar este problema. da concentração iônica acaba sen-
nica adequada e o método, o qual A escolha do agente dispersante do o procedimento mais fácil e rá-
inclui a temperatura e a tensão de mais eficiente irá depender do co- pido para dispersar as partículas,
cisalhamento, a dispersão poderá nhecimento químico da superfície quando outras alternativas não são
ser bastante efetiva. Contudo, da partícula. possíveis.
muitas vezes esses requisitos não Acredita-se que a estabiliza-
são suficientes, sendo necessário a ção estérica seja mais efetiva que a *Cristiana Aparecida Ittner
utilização de agentes dispersantes. estabilização eletrostática, pois Mazali é doutora em Ciências pela
Na literatura, existe uma ampla muitas vezes é possível vencer a Universidade Estadual de Campi-
variedade de agentes dispersantes, barreira eletrostática, resultando na nas (Unicamp) e professora do Cur-
que apresentam diferentes meca- floculação das partículas dispersas. so de Bacharelado em Química no
nismos, que podem ser seleciona- Contudo, na prática, o aumento IMAPES.

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Pág. 28 Revista Científica do IMAPES - Abril de 2004

Reciclagem e
biodegradação de plásticos
Silvio Luis Toledo de Lima*

RESUMO

Este trabalho tem a finalidade de apresentar alguns progressos no


reciclo e degradação de plásticos, além dos recentes desenvolvimentos de
novos materiais plásticos biodegradáveis. O enfoque principal deste traba-
lho é apresentar e avaliar as implicações diretas destes processos na pre-
servação ambiental.

Introdução somente econômico, e não ecoló- ções, eles reúnem propriedades


gico). Quando a empresa norte- superiores às dos materiais natu-
Semelhantemente à grande americana Phelan and Collander, rais. Por exemplo, os plásticos po-
maioria dos casos registrados na fabricante de bolas de bilhar feitas dem ser mais resistentes do que a
história da Humanidade, o fator de marfim, ofereceu um prêmio madeira, sem apodrecer como ela,
preponderante para o surgimento de 10 mil dólares a quem apresen- ou mais leves que o ferro, sem a
dos materiais plásticos, já na segun- tasse um substituto adequado para desvantagem de enferrujar. Em
da metade do Século XIX, deveu- aquele material, coube a John terceiro lugar, como já foi dito, são
se principalmente a interesses eco- Wesley Hyatt criar o que se cha- mais fáceis de moldar, colar e cos-
nômicos. mou de celulóide. Apesar de ex- turar, se comparados a muitos
Antes do advento do plásti- tremamente inflamável, este ma- materiais naturais. Em resumo,
co, muitos artigos pessoais, como terial era versatilíssimo, pois po- pode-se dizer que, dadas suas pro-
pentes, fivelas, botões, eram con- dia ser satisfatoriamente moldável, priedades de leveza, resistência,
feccionados a partir da queratina, permitindo a confecção dos mais praticidade, versatilidade, durabi-
extraída de cascos e cornos de variados objetos, desde bolas de bi- lidade e relativo baixo custo, os
gado. Este material consiste de lhar e janelas para automóveis até plásticos são a expressão máxima
uma proteína insolúvel na maio- filmes fotográficos, o que popula- da idéia da tecnologia a serviço do
ria dos solventes, inclusive a água, rizou a fotografia e impulsionou o homem.
mas que se torna relativamente cinema a partir de 1890. Contudo, em virtude da sua
maleável quando aquecida. Hou- A partir de então, inúmeros não-degradabilidade, e também da
ve, porém, um declínio na comer- outros materiais plásticos foram redução progressiva dos estoques
cialização de objetos feitos a partir sendo desenvolvidos para as mais naturais de matérias-primas, eles
deste material, simultaneamente a diversas aplicações. O acetato de podem representar uma séria
uma ascensão do mercado dos celulose, por exemplo, veio subs- ameaça ao meio ambiente.
utensílios feitos de marfim. A exi- tituir os filmes cinematográficos, Surge, portanto, uma nova
gência da indústria dessa época por ser muito menos inflamável. preocupação dos cientistas que
quase provocou a total dizimação A grande expansão da pes- possuem uma responsabilidade
dos elefantes na Costa Oeste da quisa de materiais plásticos pode com o meio ambiente, que é ten-
África. Assim, à medida que a ser explicada por alguns motivos tar solucionar, ou até mesmo evi-
matéria-prima ia-se esgotando, fo- principais: primeiramente, sabe-se tar, o problema do acúmulo des-
ram sendo buscadas outras solu- que as reservas de madeira e mi- tes materiais nos aterros sanitários
ções para o problema (lembrando nério podem se extinguir, e, em e lixões municipais, através do de-
que, neste ponto, o interesse era segundo lugar, para muitas aplica- senvolvimento de metodologias de
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degradação ou reciclagem, bem possui baixa tendência de reagir de se tratar estes materiais quando
como o desenvolvimento dos bio- com outras substâncias químicas; forem descartados (de Paoli,
plásticos, que são uma mistura de dessa maneira, os átomos de flúor 1998).
polímeros sintéticos e naturais que constituem uma capa protetora
podem ser biodegradados (Canto, para a seqüência de carbonos da Impacto ambiental
1999). molécula.
O poliestireno é usado para O uso dos plásticos torna-
Características dos polímeros manufatura de seringas de injeção se cada vez mais freqüente, e uma
e copos plásticos. Quando fabri- das razões para isso é óbvia: a sua
O plástico mais conhecido cado de modo a conter bolhas de durabilidade. Plásticos, em geral,
e utilizado no Brasil é o polietile- ar em seu interior, recebe o nome não são biodegradáveis, como o
no, que está presente nas sacolas de isopor. papel, a madeira, o couro e teci-
de embalar compras dos supermer- Há também uma outra clas- dos de algodão o são, ou seja, não
cados. Alterando as condições em se de polímeros que têm um im- se decompõe sob a ação de micror-
que ocorre a polimerização, as in- pacto econômico e até mesmo cul- ganismos.
dústrias conseguem variar bas- tural, que são aqueles usados para Dados estatísticos mostram
tante a aparência e as proprieda- confecção das fibras têxteis sinté- que nos Estados Unidos são des-
des físicas de um plástico, poden- ticas, como o raiom, o náilon e o pejadas 160 milhões de toneladas
do gerar os PEAD’s (polietileno de poliéster. anuais de lixo sólido no meio am-
alta densidade) e os PEBD’s (po- biente. Dessa massa total, cerca de
lietileno de baixa densidade), que Aditivos 7% correspondem a plásticos, o
se diferenciam entre si pelo tama- que, em volume, equivale à dra-
nho das cadeias e os arranjos mo- Atualmente a indústria de mática quantia de 30%. No Japão,
leculares. plástico visa alcançar os mais va- na Europa e nos países em desen-
Outro plástico muito co- riados tipos de polímeros, capazes volvimento, o cenário não é mui-
mum é o polipropileno, que é usa- de resistir às condições mais adver- to diferente. Cada habitante nor-
do, geralmente, para fabricar os sas, como por exemplo o Nomex, te-americano descarta 70 kg de lixo
pára-choques plásticos dos auto- uma fibra têxtil de poliamida que plástico por ano. Na Europa, são
móveis (que exigem uma alta re- só queima quando submetida a 38 kg e, no Brasil, 10 kg. A pro-
sistência ao calor), ideal para ser 1.000 graus Celsius por mais de dução anual brasileira beira a mar-
empregado em objetos que reque- oito segundos, usada em roupas ca de 2,2 milhões de toneladas, dos
rem esterilização pelo aquecimen- especiais das equipes de automo- quais 40% se destinam à indústria
to, como mamadeiras e cabos de bilismo. Outro exemplo possível de embalagens (Reciclagem, 1999).
instrumentos cirúrgicos. é o Kevlar, também da família das Entre as possíveis opções
Há ainda o PVC (policlo- poliamidas, que destaca-se como para se resolver esse problema
reto de vinila), que é considerado um dos materiais sintéticos mais ambiental estão a reciclagem, a
o plástico mais fabricado e consu- resistentes conhecidos atualmente, incineração e a degradação, cada
mido no mundo contemporâneo. sendo empregado em coletes a pro- uma com vantagens e desvanta-
Sua estrutura é bastante rígida, po- va de balas e luvas isolantes térmi- gens.
rém, pode-se alcançar proprieda- cas, usadas por operadores de ma-
des de flexibilidade através do uso çaricos e bombeiros. Reciclagem
de plastificantes, que são respon- Vê-se portanto que através
sáveis por diminuir a força atrati- do desenvolvimento de novos ma- Assim como os outros pro-
va entre as moléculas do políme- teriais, associado à inserção de cessos, a garantia e sustentação da
ro; este, pode ser degradado por aditivos químicos, como antioxi- reciclagem deve levar em conside-
microrganismos, e por isso costu- dantes, estabilizantes térmicos, es- ração:
ma-se adicionar um biocida, capaz tabilizante U.V., torna-se cada vez locusto da separação, cole-

de matá-los, impedindo o resseca- mais difícil a degradação destes ta, transporte, armazenamento e
mento do material. materiais, o que favorece o acúmu- preparação do resíduo antes do
O teflon, por causa das li- lo no meio ambiente, sendo difí- processamento;
gações C-F pouquíssimo reativas, cil encontrar maneiras adequadas l oquantidade de material
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disponível e condições de limpeza; evitando combinações de plásticos Moagem


loproximidade da fonte ge- incompatíveis para algumas apli-
radora com o local onde será reci- cações, como, por exemplo, PS e Após separados os diferen-
clado o material; poliolefinas, PVC e PET. tes tipos de plásticos, estes são moí-
locusto do processamento São as seguintes as etapas bá- dos e fragmentados em pequenas
do produto; sicas desta forma de reciclagem: partes.
locaracterísticas e aplicações losistema de coleta dos des-

do produto resultante; cartes (coleta seletiva, coleta mu- Lavagem


l odemanda do mercado nicipal, catadores);
para o material reciclado. loseparação e triagem dos Após triturado, o plástico
diferentes tipos de plásticos; passa por uma etapa de lavagem
Uma vez cumpridos estes lolimpeza para retirada de com água para a retirada dos con-
requisitos, têm-se, ainda, três ti- sujeiras e restos de conteúdos; taminantes.
pos distintos de mecanismos de lorevalorização (produção É necessário que a água de
reciclagem: Reciclagem Mecânica, do plástico granulado). lavagem receba um tratamento
Energética e Química. A seguir, encontra-se o flu- para a sua reutilização ou emissão
xograma das principais etapas para como efluente.
Reciclagem mecânica a produção do plástico granulado.

A reciclagem mecânica con- Destinação


siste na conversão dos descartes Resíduos
plásticos pós-industriais ou pós-
consumo em grânulos que podem Matéria-prima
Embalagem reciclada e
ser reutilizados na produção de usada
Triturar e
resíduos Produtos reciclados
lavar Matéria-prima
outros produtos, como sacos de reciclada
lixo, solados, pisos, conduítes,
mangueiras, componentes de au- Separação Secagem
tomóveis, fibras, embalagens não-
alimentícias e outros. É a separação em uma estei- Nesta etapa, o excesso de
Essa reciclagem possibilita a ra dos diferentes tipos de plásticos, água é retirado num secador que a
obtenção de produtos a partir de de acordo com a identificação ou centrifuga.
misturas de diferentes plásticos em com o aspecto visual. Nesta etapa,
determinadas proporções, ou pro- são separados também rótulos de Aglutinação
dutos compostos por um único materiais diferentes, tampas de gar-
tipo de plástico. rafas e produtos compostos por Além de completar a seca-
Estima-se que no Brasil se- mais de um tipo de plástico, emba- gem, o material é compactado, re-
jam reciclados mecanicamente lagens metalizadas, grampos, etc. duzindo-se assim o volume que
15% dos resíduos plásticos pós- Um fator determinante da será enviado à extrusora.
consumo (Sammarco, 1999). qualidade é a fonte do material a O atrito dos fragmentos
A identificação dos plásticos, ser separado, sendo que aquele contra a parede do equipamento
conforme mostrado abaixo, tem oriundo da coleta seletiva é mais rotativo provoca elevação da tem-
um papel muito importante, pois limpo em relação ao material pro- peratura, levando à formação de
possibilita a separação dos mesmos, veniente dos lixões ou aterros. uma massa plástica.

1 2 3 4 5 6 7
pet pead pvo pebd/pelbd pp ps outros
Polietileno Polietileno Policloreto Polietileno Polipropile- Poliestireno
Tereftalato de Alta de Vinila de Baixa no
Densidade Densidade
Revista Científica do IMAPES - Abril de 2004 Pág. 31
O aglutinador também é pois utiliza equipamentos da mais Reciclagem química
utilizado para incorporação de alta tecnologia, com controles de
aditivos — como cargas, pigmen- emissão rigidamente seguros e con- A reciclagem química repro-
tos e lubrificantes. trolados, sem riscos à saúde ou ao cessa plásticos, transformando-os
meio ambiente (Baumann, 1999). em petroquímicos básicos: monô-
Extrusão meros ou misturas de hidrocarbo-
O plástico e a geração netos que servem como matéria-
A extrusora funde e torna a de energia prima em refinarias ou centrais pe-
massa plástica homogênea. Na saí- troquímicas, para a obtenção de pro-
da da extrusora, encontra-se o ca- loa presença dos plásticos é dutos nobres de elevada qualidade.
beçote, do qual sai um “espague- de vital importância, pois aumen- O objetivo é a recuperação
te” contínuo, que é resfriado com ta o rendimento da incineração de dos componentes químicos indi-
água. Em seguida, o “espaguete” é resíduos municipais; viduais para reutilizá-los como
picotado em um granulador e loo calor pode ser recupe- produtos químicos ou para a pro-
transformado em pellet (grãos plás- rado em caldeira, utilizando o va- dução de novos plásticos.
ticos). por para geração de energia elétri- Permite tratar mistura de
ca e/ou aquecimento; plásticos, reduzindo custos de pré-
Reciclagem energética l otestes em escala real na tratamento, custos de coleta e se-
Europa comprovaram os bons re- leção. Além disso, a reciclagem
É a recuperação da energia sultados da co-combustão dos resí- química permite produzir plásti-
contida nos plásticos através de duos de plásticos com carvão, tur- cos novos com a mesma qualidade
processos térmicos. A reciclagem fa e madeira, tanto técnica e eco- de um polímero original.
energética distingue-se da incine- nômica como ambientalmente; Existem poucas plantas de
ração por utilizar os resíduos plás- loa queima de plásticos em reciclagem química em operação
ticos como combustível na gera- processos de reciclagem energéti- no mundo. Uma delas é a da Veba
ção de energia elétrica. Já a sim- ca reduz o uso de combustíveis Oel na Alemanha (Spinacé, 2000).
ples incineração não reaproveita a (economia de recursos naturais). Os novos processos desenvol-
energia dos materiais. A recuperação energética vidos de reciclagem química per-
A energia contida em 1 (um) dos plásticos como combustível é mitem a reciclagem de misturas de
kg de plásticos é equivalente à con- uma alternativa de fácil e rápida plásticos diferentes, com aceitação
tida em 1 (um) kg de óleo com- implementação, especialmente se de determinado grau de contami-
bustível. considerarmos: nantes (ex.: tintas, papéis, etc.)
Cerca de 15% da reciclagem loa disponibilidade de tec- Existem vários processos de
de plásticos na Europa Ocidental nologias limpas para queima de reciclagem química, entre eles:
é realizada via reciclagem energé- descartes sólidos;
tica. A usina de Saint-Queen (em loa possibilidade de co-pro- Hidrogenação
Paris) assegura o suprimento de cessamento com outros combus-
eletricidade para 70.000 pessoas tíveis, por exemplo, para queima As cadeias são quebradas
com 15.400 megawats/ano. em fornos de cimento. mediante o tratamento com hidro-
Além da economia e recu-
peração de energia, ocorre ainda
uma redução de 70 a 90% da mas-
sa do material, restando apenas um Resíduos
resíduo inerte esterilizado. gasosos Filtros Emissão

Este tipo de reciclagem é Destinação

mais facilmente encontrado em Embalagem Embalagem Queima


amassada Resíduos
países com limitada reserva de fon- usada
sólidos
tes energéticas, diferentemente do
que ocorre no Brasil. A reciclagem
energética é realizada em diversos Energia Aquecimento
Eletricidade
de água
países da Europa, EUA e Japão,
Pág. 32 Revista Científica do IMAPES - Abril de 2004

gênio e calor, gerando produtos ca- devem ser considerados todos os Todos os polímeros são sen-
pazes de serem processados em re- parâmetros físicos (temperatura, síveis à luz em graus diferentes.
finarias. pressão...), a composição quími- Por esta razão, eles possuem
ca da água, do ar e do solo, além aditivos para retardar esse efeito.
Gaseificação dos parâmetros biológicos (ação Da mesma forma, eles podem
dos animais, vegetais e microor- conter aceleradores de fotodegra-
Os plásticos são aquecidos ganismos) que se mostram inter- dação que entram em ação assim
com ar ou oxigênio, gerando-se gás dependentes. que os retardadores sejam consu-
de síntese contendo monóxido de A degradação também pode midos. O problema, nesses casos,
carbono e hidrogênio. resultar da ação de parâmetros é que somente a parte exposta à
unicamente físicos, ou ainda ape- luz se degrada. Por outro lado, isso
Quimólise nas de uma reação química, sendo acaba sendo somente uma foto-
sua forma mais complexa o resul- fragmentação onde as macromo-
Consiste na quebra parcial tado da combinação de todos es- léculas não foram transformadas,
ou total dos plásticos em monô- ses parâmetros, como, por exem- mas sim cortadas pela fragilização
meros na presença de Glicol/Me- plo, a degradação química resul- dos aditivos.
tanol e Água. tante da ação física da luz. O resultado da fotodegrada-
A biodegradação não é, por- ção é um pó do plástico que estará
Pirólise tanto, resultado de uma simples presente em quantidade quase
ação de microorganismos, porque idêntica à massa de filme utiliza-
É a quebra das moléculas as condições nas quais eles atuam da. Não há inconveniente para o
pela ação do calor na ausência de estão relacionadas com todas as ca- meio ambiente, pois esse processo
oxigênio. Este processo gera fra- racterísticas do meio. de eliminação é assimilado. No
entanto, não há qualquer vanta-
Destinação gem ambiental.
Resíduos
A quimiodegradação
Aquecimento
Produto Hidrocarbonetos Óleo de Somente esse modo de de-
usado + resíduos pirólise
gradação é susceptível de modifi-
Gases e Refinaria car a estrutura física do material e
óleo
de transformá-la em substâncias
Gases
assimiláveis pelo meio natural. A
ções de hidrocarbonetos capazes de As diferentes maior parte do tempo, ele consis-
serem processados em refinarias. possibilidades de degradação te em uma oxidação, uma diges-
dos polímeros tão ou uma hidrólise, mais ou
Degradação menos complexa.
Se considerarmos a proble- Esse é um dos processos de
A “degradação” (passagem mática da eliminação dos resíduos “reciclagem química” ou de “valo-
de um estado de referência a um sólidos, a simples perda das pro- rização das matérias-primas”.
estado degradado) é uma modifi- priedades de um material, sem re- A biodegradação é uma das
cação estrutural do material carac- dução de sua massa, não possui variedades da quimiodegradação.
terizado por uma diminuição de grande interesse. A perda de mas- Os compostos quimicamente ati-
suas qualidades e desempenho. sa deve ser quase total. vos (as enzimas, na maior parte
Biodegradabilidade é a ca- do tempo) são, nesse caso, pro-
pacidade de um material ser de- A fotodegradação duzidos por parte dos microorga-
gradado sob a ação de elementos nismos.
vivos, sendo necessário levar em Nesse fenômeno, o fator Para os polímeros conten-
consideração o meio onde ocor- determinante da degradação é a do partes biodegradáveis inseridas
rem as reações para que a biode- ação da luz e, mais particularmen- em suas cadeias macromolecula-
gradação aconteça. Neste meio te, dos raios ultravioleta. res, a reação pode ser apenas par-
Revista Científica do IMAPES - Abril de 2004 Pág. 33
cial. A quimiodegradação pode Os polímeros de síntese de segurança que tornam muito
ser completa. Os polímeros me- intrinsecamente biodegradáveis difícil o uso dos biodegradáveis
lhor adaptados a uma biodegra- (proteção de alimentos, constru-
dação completa são os polímeros Eles apresentam, em inter- ção, transportes, etc.). É, portan-
naturais são aqueles hidrolisáveis valos muito curtos, os grupamen- to, totalmente ilusório imaginar
a CO2 e H2O, ou a CH4 (celulo- tos hidrolisáveis do tipo éster (Mo- que os biodegradáveis podem vir
se, borracha natural...) e os polí- raes, 1999) (ver quadro): a substituir os materiais plásticos
meros sintéticos que possuam es-
truturas próximas a essas. Poliglicóis e Família dos produtos bioassimiláveis pelo organis-
Polilactídeos mo, utilizados na fabricação de fios cirúrgicos.
Polímeros sintéticos “ditos” Policapro-
biodegradáveis (não aromáticos) Degradabilidade total mais lenta (mais de um ano).
lactonas

Eles contêm, em sua cadeia Poli hidróxi-


Síntese bioquímica dos copolímeros
molecular, grupos químicos hidro- do butirato
lisáveis, porém as dificuldades e o Poli hidróxi- Degradação aeróbica rápida, anaeróbica mais lenta
tempo de fragmentação são depen- do valerato
dentes de suas formulações.
Polímeros verdadeiramente não degradáveis na totalidade de
Os polímeros aditivados com biodegradáveis suas aplicações. Conseqüentemen-
polímeros naturais te, os mercados tecnicamente aces-
Quase exclusivamente re- síveis aos biodegradáveis serão
A incorporação de um ami- presentados por polímeros naturais aqueles ligados ao papel, papelão
do de milho altamente disperso em como a borracha natural, papel, e madeira e, mesmo assim, onde
um polímero servirá, essencial- papelão e a madeira. Trata-se, no tenham um preço competitivo.
mente, para responder às preocu- entanto, de polímeros com mer-
pações de eco-marketing porque, cados de aplicação muito especiali- Os falsos biodegradáveis
apesar dos efeitos anunciados, a zados.
eficácia é praticamente nula. So- As propriedades dos políme- Parcialmente degradáveis ou
mente uma pequena parte das par- ros sintéticos biodegradáveis estão, fragmentáveis, eles não apresentam,
tículas de amido estarão acessíveis geralmente, muito próximas da ce- a não ser em raras exceções, função
à biodegradação. A maior parte do lulose, ou seja, que atende a um outra que não seja a exploração pu-
amido estará preso dentro da mas- mercado muito distante dos ma- blicitária pseudo-ecológica.
sa polimérica. teriais plásticos, e mais próximos O cúmulo da exploração
das aplicações voltadas ao papel e abusiva das pretendidas qualidades
Os polímeros papelão. ecológicas se encontra em certas
“enxertados” com Em razão de seu preço mais aplicações dos polímeros hidrosso-
polímeros naturais elevado, eles não podem ser esco- lúveis. Fora de seus usos específi-
lhidos, a não ser em casos muito cos, é injustificada sua aplicação.
Eles contêm, em proporções particulares onde possam trazer ca- Algumas vezes, eles são apresenta-
diversas, enxertos de amido na ca- racterísticas importantes e deter- dos como tendo a propriedade de
deia polimérica (em geral do tipo minantes (pureza, rigidez, elastici- “desaparecer” na água, sendo, as-
éster em cadeias curtas). dade, transparência, bioassimilabi- sim, qualificados como biodegra-
Os ensaios de degradação se lidade) e que excedem às obtidas dáveis. É, portanto, uma qualifi-
revelaram verdadeiramente decep- com o uso do papel ou papelão. cação imprópria. Esses produtos
cionantes. Os mais degradáveis Por outro lado, as dezenas não são biodegradáveis, mas sim-
apresentaram propriedades (per- de milhões de toneladas de mate- plesmente solúveis. Eles não desa-
meabilidade, estabilidade à água) riais plásticos consumidos a cada parecem; eles somente são coloca-
muito distantes daqueles outros ano em todo o mundo servem jus- dos em solução na água e, mesmo
materiais plásticos e muito mais tamente a aplicações nas quais são esses produtos dissolvidos, são
próximos das do papel. impostas características essenciais pouco ou nada biodegradáveis. Na
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realidade, a dissolução somente quer coleta de metano provenien- bio-acumuláveis? Estas respostas
aumenta os teores de DQO — de- te da degradação dos biodegradá- são importantes, pois a degrada-
manda química de oxigênio e veis. Mesmo levando em conside- ção dos materiais pode gerar efei-
DBO — demanda bioquímica de ração os conceitos do Desenvolvi- tos negativos, diferentemente da
oxigênio, parâmetros essenciais na mento Sustentável, os processos de degradação dos vegetais.
medição da poluição das águas. reutilização do plástico normal são Nas aplicações onde estão
incontestavelmente mais ecológi- acessíveis as características de de-
A biodegradação como cos que os da biodegradação. gradabilidade, os materiais natu-
desperdício de um material nobre rais satisfazem perfeitamente os
Conclusão requisitos necessários. Nos outros
A biodegradação não permi- casos, há a necessidade de substi-
te valorizar o material ao final de Os conceitos de biodegrada- tuí-los pelos materiais sintéticos.
sua vida, a não ser uma fração mui- bilidade e a propaganda engano- Em razão de sua biodegradabili-
to pequena dos recursos utilizados. sa, caso não explicados de forma dade, os materiais naturais (papel,
A digestão anaeróbica per- correta, podem sugerir ao consu- papelão, madeira e borracha) não
mitiria recuperar um pouco do midor que ele pode abandonar os podem satisfazer a todos os usos.
metano, isso se coletado, mas os resíduos plásticos na Natureza, É por esse motivo que é indispen-
plásticos biodegradáveis reagem uma vez que eles seriam reintegra- sável manter a disponibilidade de
em meio aeróbico onde não há a dos ao meio ambiente, da mesma materiais não degradáveis.
formação de metano. forma que fazemos com as cascas Ratificando o exposto, há
Já o composto obtido após de laranja. Em vez de reduzir o pro- aplicações específicas onde o uso de
a biodegradação teria uma quali- blema ambiental, ocorreria o con- materiais biodegradáveis é justifi-
dade muito ruim como fertilizan- trário. É, portanto, fundamental cado e necessário, caso dos fios ci-
te em razão da ausência dos oligo- mostrar que mais ecológico seria o rúrgicos, por exemplo. Fora dessas
elementos e dos compostos de azo- tratamento correto do plástico tra- aplicações, o uso dos materiais sin-
to que encontramos normalmen- dicional, uma vez que ele é estável téticos vem trazendo enormes be-
te nas biomassas. e não polui o ar, a água nem o solo. nefícios à sociedade há centenas de
Já os materiais plásticos nor- A compostagem aeróbica anos. O problema ambiental deve
mais possuem múltiplos modos de dos plásticos degradáveis produz o ser resolvido através da disposição
valorização: reuso, reutilização, gás carbônico, responsável pelo correta desses materiais e coleta se-
reciclagens mecânica, química e efeito estufa. O balanço desses ga- letiva para seu posterior reaprovei-
valorização energética. A reintro- ses não pode ser considerado nulo. tamento material ou energético.
dução dos resíduos plásticos no Por outro lado, todo políme-
ciclo de fabricação de um produto ro deve conter aditivos complexos *Silvio Luis Toledo de Lima
ou de uma energia permite obter para que possam ser transforma- é mestre em Química Analítica pela
redução dos recursos naturais não dos. Quais são os produtos dessa Unicamp e professor de Química do
renováveis muito superior a qual- degradação? São eles nocivos ou Curso de Bacharelado do IMAPES.

Referências Bibliográficas
BAUMANN, M. H., Fatores Econômicos Determinam a Forma de Gerenciar Resíduos Plásticos, Plástico Industrial, Ano I, no. 7, 1999,
pg. 98
CANTO, E. L., Plástico: Bem Supérfluo ou Mal Necessário?, Ed. Moderna, 6ª Impressão, 1999.
DE PAOLI, M. A., Estabilização e Degradação de Polímeros, Monografia, 2ª Ed., Laboratório de Polímeros Condutores e Reciclagem,
Instituto de Química – UNICAMP, 1998
MORAES, R., Biodegradável encontra nichos de comercialização, Plástico Moderno, Agosto, 1999, pg.36
RECICLAGEM: vida longa para os plásticos, Polímeros: Ciência e Tecnologia, Out/Dez – 1992, pg. 10
SAMMARCO, C.; DELFINI, L., Mercado Brasileiro tem Potencial para Ampliar a Reciclagem de Plásticos, Plástico Industrial, Ano I, no.
7, 1999, pg. 106
SPINACÉ, M. A. S., Reciclagem de Resíduos Plásticos, Monografia final do curso de Especialização em Gestão Ambiental, da Escola de
Extensão da Unicamp, 2000
Revista Científica do IMAPES - Abril de 2004 Pág. 35

Existe uma maneira


brasileira de administrar?
Uma discussão sobre a utilização do conceito de
cultura na Administração e Antropologia
André Ofenhejm Mascarenhas*

RESUMO

A abordagem típica da teoria das organizações em relação à cul-


tura tende a considerá-la como algo substantivo, passível de ser isola-
da de seu contexto, estudada e medida. As próprias características da
administração, como uma disciplina essencialmente prática, justificam
esta instrumentalização do conceito. Considerando que a pergunta que
dá título a este artigo é reflexo desta abordagem, pretende-se discutir a
utilização deste conceito nos estudos organizacionais através de uma
comparação entre os seus pressupostos teóricos e aqueles da vertente
interpretativa da antropologia.
A partir de um conceito de cultura essencialmente semiótico, típi-
co da antropologia influenciada pelas idéias de Geertz, este artigo pre-
tende analisar a contribuição de teóricos organizacionais em estudos
sobre cultura organizacional, mostrando como o desenvolvimento teóri-
co desta disciplina não acompanhou as discussões antropológicas so-
bre seu conceito básico, a cultura. A partir desta análise, e em um con-
texto em que a antropologia se consolida como disciplina que fornece
subsídios à teoria das organizações, é indicada ainda uma nova pers-
pectiva à abordagem do tema na Teoria das Organizações.

Introdução não são os mesmos assumidos por objetiva a maximização dos resul-
aquela ciência social. As diferen- tados organizacionais.
Cultura Organizacional é ças entre as duas disciplinas em Como conseqüência, os
um tema consolidado em adminis- relação ao seu objeto de estudo e pressupostos adotados em estudos
tração. Desde 1983, ano da publi- preocupações teóricas podem ex- organizacionais em relação ao con-
cação de edições especiais sobre o plicar estes desvios conceituais. ceito de cultura levaram ao desen-
assunto pelas revistas Administrati- A antropologia, como uma volvimento de diversas teorias, ou
ve Science Quarterly e Organiza- ciência social pura, preocupa-se linhas de pesquisa, que refletem as
tional Dynamics, o assunto é obje- com o estudo do homem e sua preocupações práticas da adminis-
to de pesquisas acadêmicas, maté- missão finda com a conquista do tração e levam a um distanciamen-
rias feitas pela imprensa e preocu- conhecimento sobre seu objeto de to cada vez maior entre teóricos
pações de executivos (Freitas, estudo. A administração, como organizacionais e antropólogos.
1991). uma ciência social aplicada, preo- A própria pergunta que dá
Apesar de tomar empresta- cupa-se, em sua maioria, com va- título ao artigo — “existe uma
do da antropologia seu conceito riáveis encontradas dentro de or- maneira brasileira de adminis-
básico, a administração produz um ganizações, e que influenciam os trar?” — traz implícitas as preo-
conhecimento sobre a cultura em seus objetivos e resultados. Sua cupações e o tratamento da ques-
organizações cujos pressupostos abordagem é intervencionista e tão por parte dos teóricos da ad-
Pág. 36 Revista Científica do IMAPES - Abril de 2004

ministração. A “maneira brasilei- Malinowski em Argonautas do Pa- ciência social aplicada, é uma dis-
ra de administrar” seria portanto cífico Ocidental, obra resultante da ciplina essencialmente prática, e
um conjunto de traços culturais clássica etnografia realizada nos seus temas de análise são, em sua
compartilhados que nos faria di- arquipélagos da Nova Guiné: maioria, relacionados a variáveis
ferentes de outros povos. “Há, porém, um ponto de vis- encontradas dentro de organiza-
Como o conceito de cultu- ta mais profundo e ainda mais im- ções e que influenciam os seus
ra organizacional na administração portante do que o desejo de experi- objetivos e resultados. Seus teóri-
se articula com o tratamento an- mentar uma variedade de modos cos privilegiam, historicamente, a
tropológico de seu conceito bási- humanos de vida: o desejo de trans- objetividade e a funcionalidade de
co? Este artigo pretende traçar um formar tal conhecimento em sabe- suas teorias em abordagens instru-
panorama do desenvolvimento do doria. Embora possamos por um mentais e intervencionistas.
tema cultura organizacional com- momento entrar na alma de um sel- O próprio crescimento da
parando-o à abordagem essencial- vagem e através de seus olhos ver o importância do tema cultura or-
mente semiótica da cultura, típica mundo exterior e sentir como ele deve ganizacional é justificado a partir
da antropologia influenciada pe- sentir-se ao sentir-se ele mesmo, nos- do pragmatismo da disciplina.
las idéias de Geertz. A partir de Com a percepção de que as pro-
estudos organizacionais de cultu- Descobrir a verdade duções simbólicas em uma orga-
ra, este artigo pretende mostrar sobre o homem exige nização são relevantes para a com-
como o desenvolvimento teórico uma longa familiarização preensão de seu funcionamento, o
desta disciplina não acompanhou com seu modo de ser e estudo da cultura organizacional
as discussões antropológicas sobre de atuar, em que a pode produzir teorias que expli-
seu conceito básico. Ao final, con- riqueza e complexidade quem melhor o comportamento
siderando a consolidação da antro- organizacional, possibilitando o
da realidade humana
pologia como disciplina que for- seu controle e a maximização dos
fazem com que
nece subsídios à teoria das organi- resultados empresariais.
zações, o artigo indica uma nova antropólogos se
perspectiva ao tratamento do tema aproximem dela desde A antropologia e o conceito
pela Teoria das Organizações. diversas perspectivas de cultura

Administração e antropologia so objetivo final ainda é enriquecer Como a ciência do homem,


e aprofundar nossa própria visão de a antropologia estuda a cultura
A administração e a antro- mundo, compreender nossa própria sem o caráter instrumental e in-
pologia são duas disciplinas com natureza e refiná-la intelectual e tervencionista típico da adminis-
objetivos teóricos muito distintos. artisticamente. Ao captar a visão es- tração. A abordagem antropoló-
A percepção destas diferenças faz- sencial dos outros com reverência e gica da cultura possibilitou que
se necessária para se entender o verdadeira compreensão que se deve antropólogos desenvolvessem
distanciamento entre as aborda- mesmo aos selvagens, estamos contri- grande capacidade e criatividade
gens do conceito de cultura co- buindo para alargar nossa própria para a compreensão e interpreta-
muns em ambas as disciplinas. visão.” (Malinowski, 1976, p. 374) ção de sistemas simbólicos, sem
A antropologia, enquanto Como destacam Stork e que métodos para a intervenção,
uma ciência social pura, ocupa-se Echevarría (1999), sobre as preo- mudança ou controle cultural nos
do estudo do homem. A discipli- cupações da disciplina, descobrir grupos estudados tenham histo-
na, como definiram seus mestres, a verdade sobre o homem não ricamente os preocupado.
tem como objetivo principal a pode ser repentino, exige uma lon- A antropologia, em sua ver-
transformação da experiência de ga familiarização com seu modo de tente interpretativa, defende um
seus pesquisadores em sabedoria, ser e de atuar, em que a riqueza e conceito de cultura essencialmen-
através de uma dupla tarefa: a complexidade da realidade huma- te semiótico. Como diz Geertz,
transformação do exótico em fami- na fazem com que antropólogos se “acreditando, como Max Weber,
liar e a do familiar em exótico aproximem dela desde diversas que o homem é um animal amar-
(DaMatta, 1987). Esta dupla ta- perspectivas. rado a teias de significados que ele
refa foi apresentada já por A administração, como uma mesmo teceu, assumo a cultura
Revista Científica do IMAPES - Abril de 2004 Pág. 37
como sendo estas teias e sua análise; delo administrativo. conceito de cultura. Em uma das
portanto, não como uma ciência Desta maneira, como desta- mais importantes tradições teóri-
experimental em busca de leis, mas ca Freitas, “a descrição dos elemen- cas, um dos elementos mais im-
como uma ciência interpretativa, à tos que constituem a cultura orga- portantes a marcar a cultura de
procura do significado” (Geertz, nizacional, a forma como eles fun- uma organização é a cultura nacio-
1989, p. 15). cionam e, ainda, as mudanças que nal, e as características da cultura
Geertz defende a abordagem eles provocam no comportamento de uma sociedade devem ser en-
interpretativa no contexto da an- são maneiras de dar ao assunto um tendidas como fatores que in-
tropologia destacando como ela se tratamento mais concreto e de mais fluenciam a formação da cultura
adapta especialmente bem ao clás- fácil identificação. Nesse sentido, de uma empresa.
sico objetivo do alargamento do é bastante comum encontrarmos a Tomemos como exemplo o
universo do discurso humano. Se- cultura sendo conceituada a par- clássico trabalho de Hofstede
gundo o autor, “como sistemas en- tir de seus próprios elementos” (1980), um dos mais citados so-
trelaçados de signos interpretáveis, (Freitas, 1991, p.75). bre o assunto. Interessado na inte-
a cultura não é um poder, algo ao ração entre padrões de valores na-
qual podem ser atribuídos casual- O estudo de cionais e organizacionais, ele rea-
mente os acontecimentos sociais, os Hofstede, junto a lizou uma ampla pesquisa numa
comportamentos, as instituições ou outros estudos mesma organização em 40 países.
os processos; ela é um contexto, algo importantes na área, Dela resultaram quatro dimensões
dentro do qual eles podem ser des- que explicariam cerca de 50% das
marca o início desta
critos de forma inteligível — isto é, diferenças entre padrões de valo-
grande discussão:
descritos com densidade” (Geertz, res relacionados com o trabalho.
1989, p. 24). como se relacionam a O autor sugere então, a partir do
A antropologia interpretati- cultura brasileira e a isolamento destas dimensões, es-
va tem como objeto de estudo a cultura de uma quemas de classificação dos países
cultura tomada em pequenos re- organização? pesquisados. Uma das implicações
cortes, que é minuciosamente ana- desta pesquisa é a possibilidade de
lisada através do método etnográ- Portanto, o tema cultura controle cultural que organizações
fico. Sua abordagem, cujo pressu- organizacional é abordado por transnacionais podem exercer a
posto é o conceito de comunidade, muitos pesquisadores em adminis- partir do conhecimento das di-
tem como característica uma gran- tração através de estudos compa- mensões que afetam diretamente
de riqueza de detalhes em relação rativos, esquemas classificatórios e o autoconceito dos indivíduos, o
à dinâmica cultural reconhecível metodologias de intervenção e que dá subsídios para a adminis-
a partir dos processos sociais ine- mudança. Como destaca Barbosa tração do comportamento organi-
rentes ao grupo estudado. (1996), a administração trata o zacional e para o desenvolvimen-
tema com um enfoque instrumen- to empresarial. O estudo de
A administração e o tal: a construção de tipologias, do Hofstede, junto a outros estudos
conceito de cultura tipo culturas fortes e fracas ou boas importantes na área, marca o iní-
e más, e o desenvolvimento de cio desta grande discussão: como
Como visto, as característi- metodologias para a mudança cul- se relacionam a cultura brasileira
cas da administração como disci- tural evidenciam a grande preocu- e a cultura de uma organização?
plina e suas preocupações teóricas pação da disciplina, que vê na in- Em contexto brasileiro,
privilegiam uma abordagem mais tervenção e no controle da cultu- Motta e Caldas (1997) fornecem
pragmática do conceito de cultu- ra em organizações a saída para os ingredientes básicos para o en-
ra. Este conceito, desta forma, ten- torná-la uma variável controlável tendimento de nossa cultura orga-
de a ser analisado como um fator no interior dos modelos adminis- nizacional. Para Motta (1997), é
substantivo, cujas características, trativos. possível perceber em empresas bra-
que têm influência no desenvolvi- Uma breve revisão da lite- sileiras padrões de comportamen-
mento da organização, devem ser ratura sobre o tema revela as pe- tos como: uma tendência autocrá-
controladas ou manipuladas para culiaridades da abordagem típica tica dos dirigentes superiores; uti-
a maximização do sucesso do mo- da administração em relação ao lização de intensiva comunicação
Pág. 38 Revista Científica do IMAPES - Abril de 2004

fora das horas de trabalho, e, como los, o empresário levou para as modelo que denominam “Sistema
conseqüência disto, um processo unidades produtivas a mesma ló- de Ação Cultural Brasileiro” for-
de tomada de decisões mais rápi- gica gerencial que desenvolvera mado por quatro subsistemas: o
do e continuado; decisões rápidas durante séculos em suas proprie- institucional (ou formal) e o pes-
e arriscadas devido ao uso de in- dades rurais. Desta forma, um pro- soal (ou informal), o dos líderes e o
formações de obtenção fácil e ge- cesso autoritário se torna presente dos liderados. Estes subsistemas são
ralmente pobres em conteúdo; e no contexto produtivo e “os traços organizados a partir de traços cul-
grande distância de poder que, se- deste personagem [coronel] passa- turais que formam um estilo bra-
gundo o autor, parece lembrar a ram para o mundo organizacional. sileiro de administrar: postura de
distribuição de renda nacional e o Tanto as empresas privadas quan- espectador, formalismo, impuni-
passado escravocrata, além de ba- to as organizações ligadas ao Esta- dade, lealdade pessoal, tentativa de
sear-se em controles de um lado do conviveram historicamente com evitar conflito, concentração de
do tipo masculino, com o uso da a mesma lógica gerencial: autori- poder, personalismo, paternalismo
autoridade, e de outro do tipo fe- tarismo, nepotismo, clientelismo, e flexibilidade (adaptabilidade e
minino, com o uso da sedução. favoritismo, ausência de critérios criatividade).
Da mesma forma, Alexan-
dre Freitas (1997) descreve cinco Para Vasconcelos, o Antropologia x administração:
“traços brasileiros” que mais niti- empresário levou para conflitos de duas abordagens
damente influenciam no âmbito as unidades
organizacional: 1. Hierarquia: a produtivas a mesma Uma das razões para a in-
centralização de poder; distância lógica gerencial que trodução de conceitos da antropo-
do poder; passividade e aceitação desenvolvera durante logia em estudos organizacionais
dos grupos inferiores; 2. Persona- séculos em suas foi metodológica. A mudança do
lismo: personalização das relações; propriedades rurais; paradigma da organização como
busca de proximidade e afeto nas um processo racional e repleta de fatos objeti-
relações; paternalismo; 3. Malan- vos para a organização como um
autoritário está
dragem: flexibilidade e adaptabi- grupo onde significados são so-
presente na produção
lidade; “jeitinho” brasileiro; 4. cialmente construídos levou à uti-
Sensualismo: gosto pelo sensual e internos nas organizações. Quan- lização da abordagem interpreta-
pelo exótico nas relações sociais; to à inserção nos mercados, estes tiva como uma maneira de com-
5. Aventureiro: mais sonhador do têm sido definidos e protegidos pelo preender os fenômenos organiza-
que disciplinado; tendência à aver- setor público, para o aproveitamen- cionais.
são ao trabalho manual ou metó- to de alguns amigos privilegiados. Entretanto, a mudança de
dico. O paternalismo nasceu com as nos- paradigma não foi totalmente al-
Autores que discutem a cul- sas empresas. O gerente autoritá- cançada. Como analisa Wright
tura brasileira e a cultura organi- rio, a ausência da valorização da (1994), houve um distanciamen-
zacional identificam vários ele- competência em favor do favoreci- to entre os teóricos da administra-
mentos que podem revelar a in- mento da lealdade pessoal, tudo ção e da antropologia por causa das
fluência da primeira sobre a segun- isto desenvolveu-se na base do ca- diferenças básicas entre as duas
da. Vasconcelos (1996), por exem- pitalismo brasileiro” (Vasconcelos, disciplinas, mostradas nas seções
plo, afirma que um traço marcan- 1996, p.230). anteriores. Wright (1994) analisa
te da cultura nacional, muitas ve- Um último exemplo de um este fenômeno através das contra-
zes presente nas organizações bra- trabalho organizacional sobre cul- dições existentes na abordagem
sileiras, é o coronelismo. O autor tura é o de Prates e Barros (1996). organizacional do conceito de cul-
mostra como o clientelismo e o A partir de um estudo de 2500 tura sob o ponto de vista antropo-
nepotismo agem sobre o desenvol- dirigentes e gerentes em 520 em- lógico.
vimento sócio-econômico brasilei- presas de médio e grande porte do A autora parte de um autor
ro e criam um conjunto de obstá- Sudeste e Sul do Brasil, os autores organizacional clássico, Edgar
culos à modernização, determi- identificam os traços culturais pre- Schein, que, segundo ela, adota
nando também a gestão de orga- sentes nas empresas brasileiras. A uma postura interpretativa e posi-
nizações no país. Para Vasconce- partir disso, eles propõem um tivista ao mesmo tempo, o que
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pode parecer contraditório a um ambigüidade é essencial, já que controle administrativo (Wright,
antropólogo. Schein usa o argu- permite que este processo de trans- 1994).
mento antropológico que a cultu- formação avance. Desta maneira, muitos teó-
ra reside em categorias conceituais Os diferentes pressupostos ricos da administração privilegiam
e modelos mentais. Por isso, argu- apontados até agora causam dife- em seus trabalhos a identificação
menta o autor, a cultura não pode renças marcantes entre as duas e discussão de elementos constitu-
ser pesquisada através de descrições abordagens no que se refere ao ca- tivos da cultura — elementos que
de suas características superficiais, ráter sistêmico da cultura. A an- estruturam a cultura de uma or-
já que não daria conta de seus as- tropologia interpretativa não con- ganização, como valores, crenças,
pectos holísticos e sistemáticos. sidera a cultura como um sistema costumes.
Entretanto, o autor adota formal, fechado e coerente, reco- É esta sistematização da cul-
uma postura positivista ao consi- nhecível como um padrão para um tura, a partir da identificação des-
derar a cultura como um objeto grupo. Desta maneira, a cultura tes elementos, que leva à identifi-
passível de ser compreendido fora não poderia ser tratada a partir do cação do modo brasileiro de ges-
de seu contexto: “Não podemos isolamento de seus elementos e tão, caracterizado por traços cul-
construir um conceito útil de cul- turais específicos, considerados
tura se não concordarmos em como As diferenças entre as padrão para o grupo, e que dife-
defini-la, medi-la, estudá-la e preocupações teóricas renciam os padrões de interação
aplicá-la ao mundo real das or- da administração e da dos indivíduos em organizações no
ganizações” (Schein, 1991, antropologia Brasil em relação a outros países.
p.243).
causaram tratamentos
Wright destaca diferenças Considerações finais
distintos do conceito
básicas entre os pressupostos atual-
mente adotados por grande parte de cultura, o que As diferenças entre as preo-
dos teóricos organizacionais e levou a um cupações teóricas da administração
aqueles da antropologia em rela- distanciamento das e da antropologia causaram trata-
ção ao conceito de cultura. Como duas disciplinas mentos distintos do conceito de
aponta Schein, a cultura é sistemá- cultura, o que levou a um distan-
tica, permeia todos os aspectos da especificação das relações entre ciamento das duas disciplinas.
vida diária, é duradoura e compar- eles, o que passaria a caracterizar Ao mesmo tempo em as pes-
tilhada. “Se não há consenso, ou se todo o sistema de uma forma ge- quisas antropológicas privilegiam
há conflito ou se as coisas são ambí- ral. Segundo Geertz, esta aborda- o sistema simbólico articulado
guas então, por definição, aquele gem hermética corre o risco de através do fluxo do comportamen-
grupo não tem uma cultura em re- prejudicar a análise cultural em seu to (ou da ação social) dentro do
lação àquelas coisas... o compartilha- objetivo, a lógica informal da vida contexto das comunidades, a abor-
mento e consenso são centrais à defi- real (Geertz, 1989). dagem da administração tende a
nição, e não escolhas empíricas” Diferentemente, a aborda- caracterizar a cultura como um sis-
(Schein, 1991, p. 248). gem típica da administração ten- tema fechado, reconhecível como
O consenso, o conflito e o de a considerar a cultura um siste- padrão para um grupo, no contex-
compartilhamento parecem ser ma fechado e reconhecível como to das sociedades. Esta abordagem,
diferenças importantes entre a padrão de um grupo. Esta abor- apesar de estar alinhada aos obje-
abordagem interpretativa da antro- dagem vem ao encontro das ne- tivos desta disciplina, descaracte-
pologia e a abordagem comum em cessidades da disciplina, já que riza o conceito como utilizado na
estudos organizacionais. Para a possibilita um tratamento mais antropologia interpretativa por
antropologia influenciada pelas concreto ao tema. Segundo valer-se de pressupostos teóricos
idéias de Geertz, a cultura é carac- Wright, nos estudos organizacio- distintos.
terizada por um conjunto comum nais, a cultura virou algo que as O caráter instrumental e
de idéias que são retrabalhadas organizações têm, invés de algo em intervencionista da abordagem da
continuamente de maneira imagi- que as organizações estão: de um administração dificulta a consoli-
nativa, sistemática, explicável, mas processo imerso em um contexto, dação do paradigma interpretati-
não previsível. Desta maneira, a para algo substantivo passível de vo na teoria das organizações e,
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pode-se dizer, causa uma diminui- indivíduos em seus ambientes de pretativa capaz de gerar um conhe-
ção considerável do potencial de trabalho. As próprias característi- cimento mais próximo da realida-
compreensão da atuação humana cas do método clássico desta disci- de cotidiana dos membros das or-
no contexto das organizações. plina, a etnografia, priorizam a ganizações.
O retorno ao referencial teó- interpretação do comportamento
rico-metodológico da antropolo- simbólico humano no nível micro *André Ofenhejm Mascare-
gia, como defendido por diversos de análise. Trata-se de se abando- nhas é bacharel em Administração
autores atualmente (Mascarenhas, nar realmente a busca da objetivi- (EAESP/FGV) e Ciências Sociais
2002; Bresler, 2000 e 1996; Serva dade no tratamento do tema cul- (FFLCH/USP), mestre em Orga-
& Jaime Júnior, 1995; Chanlat, tura organizacional, o que com- nizações e Recursos Humanos
1994), possibilitaria a interpreta- provadamente tem gerado resulta- (EAESP/FGV) e doutorando em
ção mais profunda do comporta- dos limitados aos administrados, Organizações e Recursos Humanos
mento simbólico e subjetivo dos para se adotar a abordagem inter- (EAESP/FGV).

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Revista Científica do IMAPES - Abril de 2004 Pág. 41

Técnicas de record linkage


e inteligência artificial
para a construção de um
data warehouse aplicado
à área de Saúde
Andréia Damásio de Leles*

RESUMO

Este artigo tem como objetivos discutir os desafios para a constru-


ção de um data warehouse (DW) com chave unívoca baseada em dados
não numéricos e evidenciar que essa tecnologia de informação pode ser
aplicada não somente com propósito comercial ou inteligência para negó-
cios. O DW seria o alicerce para o desenvolvimento de uma grande base
de dados de registros eletrônicos em saúde (RES), auxiliando médicos e
profissionais da área em suas tarefas rotineiras e, principalmente, para
suporte à decisão e às pesquisas científicas. No entanto, a construção de
um DW com essas características não é um trabalho trivial devido à inexis-
tência de uma chave unívoca para realizar a ligação de registros de dife-
rentes bases de dados. O foco é apresentar a complexidade das etapas de
limpeza e transformação de dados, fases que devem ser realizadas para a
criação da chave unívoca fidedigna, a qual identifica um indivíduo de forma
única. Assim, serão discutidas algumas técnicas já implementadas ou em
pesquisa, utilizadas nas etapas de limpeza e transformação dos dados
para construção de um DW específico à área de saúde. As técnicas discu-
tidas serão a de record linkage, machine learning (técnicas de inteligência
artificial) e data mining.

1. Introdução dos serviços de saúde, as aplicações tais como hábitos alimentares, prá-
voltadas para a área educacional. tica desportiva e atividades de la-
A tecnologia da informação Além disso, com a grande utiliza- zer. Todos os eventos relacionados
está sendo amplamente utilizada ção dos recursos da Internet, jun- à saúde do indivíduo devem estar
em saúde. Destacam-se nesta área tamente com os grandes avanços registrados neste prontuário, do
de atuação as seguintes aplicabili- na área de tecnologia de informa- nascimento à morte, agregados em
dades: os sistemas de informação ção, as áreas de saúde e computa- torno de um identificador único
hospitalar (SIH), os sistemas de ção estão unindo esforços para ge- ou chave unívoca. A informação
apoio à decisão, os sistemas espe- rar uma grande base de dados de deve estar representada de tal modo
cialistas, a telemedicina, as redes RES (Cook; Olson; Dean, 2001). que a troca de informações entre
de comunicação digital para a saú- Idealmente, um RES é o re- instituições e a recuperação de da-
de, as aplicações destinadas à saú- gistro conciso e fidedigno da vida dos sejam feitas de forma transpa-
de comunitária, o processamento de um indivíduo, não somente dos rente para aqueles que estiverem
de sinais e imagens biológicas, o eventos relacionados à doença, mas acessando a informação. Acima de
controle e avaliação de qualidade também de informações de saúde, tudo, o RES deve atender aos re-
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quisitos essenciais de integridade, conjunto de dados, não volátil, vindo como ferramenta de apoio
autenticidade, disponibilidade e orientado a tópicos, integrado, que em pesquisas científicas e epide-
privacidade da informação. varia com o passar do tempo e que miológicas, com a finalidade de
Em computação, o RES serve para o processo de tomada proporcionar melhorias e avanços
pode ser considerado uma grande de decisão da gerência. dos serviços de saúde.
base de dados, que poderá otimi- Tradicionalmente, o DW é
zar o trabalho de rotina dos pro- a tecnologia de informação ampla- 2. Construção de um Data
fissionais da área de saúde como mente empregada nas empresas Warehouse para Saúde
também apoiar a decisão clínica e para geração de sistemas de apoio à
auxiliar pesquisas. decisão com a finalidade de aumen- Universalmente, os projetos
Na área de saúde, médicos tar a inteligência nos negócios, for- de DW requerem infra-estrutura
e profissionais em suas atividades necendo aos executivos, gerentes e e arquitetura (Inmon, 1997). Para
rotineiras, como avaliação médi- administradores dados e informa- a área de saúde, esses requisitos não
ca, definição de diagnóstico e ções históricas empresariais, as quais são diferentes, sendo necessários os
prescrição de tratamento clínico, são a base concreta para a tomada seguintes procedimentos:
devem fundamentar-se em dados loReunião de dados de di-

históricos de um determinado A existência de diversas ferentes bases;


paciente que podem ser encontra- bases de dados loIntegração dos dados (a

dos no RES. informatizadas em parte complexa da arquitetura) em


Também na área da pesqui- diferentes localidades, uma única estrutura física;
sa clínica é indiscutível o avanço desenvolvidas com loTratamento de grande vo-

que proporcionaria o RES, tornan- características lume de dados;


do muito mais fácil a tarefa de co- diferentes, faz com que loPreparação de dados para

letar informações disponíveis nos análise;


a integração de dados
prontuários, de forma a ser a base loOrganização dos dados no

para gerar sistemas de informação


totalmente nível de granularidade mais baixo
de apoio à decisão e permitir a ge- padronizados não seja no ponto em que a flexibilidade
ração de valiosas informações epi- uma tarefa fácil seja mais importante.
demiológicas. Da mesma forma, a A existência de diversas ba-
auditoria (controle de qualidade da de decisão em busca da eficácia e ses de dados em saúde informati-
assistência médica) também seria competitividade de mercado em zadas, em diferentes localidades,
beneficiada pelo RES, otimizando diferentes áreas, incluindo teleco- desenvolvidas com características
procedimentos e recursos na área municações, varejo, atividades ban- diferentes, faz com que a integra-
de saúde. cárias, financeiras e outras. ção de dados totalmente padroni-
Assim, para que um médi- Entretanto, as vantagens do zados, disponibilizando-os de for-
co possa consultar um prontuário DW não estão limitadas ao comér- ma rápida e precisa para análise,
eletrônico de um paciente que já cio e à inteligência nos negócios. não seja uma tarefa fácil.
passou por diversos hospitais, clí- Esta tecnologia oferece grandes A complexidade está na exe-
nicas e consultórios em diferentes vantagens para a área de saúde, cução dos processos de extração,
localidades, é necessário antes de mais especificamente para a gera- transformação e carga dos dados
tudo reunir e integrar todos esses ção do RES, devido as suas princi- (ETC). Inmon (1997) estimou que
dados que provavelmente venham pais características como armaze- 80% do tempo gasto na constru-
de bases de dados diferentes, em namento e retenção de dados his- ção de um DW seria em ETC, sen-
diferentes formatos. Uma das so- tóricos e de possuir a capacidade do que esse fato demonstra, de ma-
luções, talvez a mais viável, seria de tratar grandes volumes de da- neira clara, a complexidade dessas
integrar e armazenar os dados de dos. Portanto, o RES seria uma etapas, mas que também são a base
diversas fontes em um único ban- grande base de dados que teria para um DW eficiente e funcional.
co de dados. Esse banco de dados dupla aplicação: auxiliar as ativi- Portanto, serão discutidas, a
teria as características de um DW. dades rotineiras de médicos e ou- seguir, as técnicas aplicadas aos
De acordo com a definição tros profissionais da área e gerar procedimentos de extração, trans-
de Inmon (1997), um DW é um sistemas de suporte à decisão, ser- formação e carga de dados especi-
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ficamente para geração de um DW etapa de transformação, para o dados envolve o desenvolvimento
à área de saúde. DW definitivo que será a base de ou a utilização de algoritmos para
dados utilizada para fins analíticos, corrigir algumas imperfeições,
Extração de dados atendendo o usuário final. principalmente de campos não
numéricos como nome, onde téc-
A extração dos dados se faz 2.1 Técnicas empregadas no nicas de validação são pouco con-
a partir dos mais diversos bancos processo de transformação troladas. Como exemplo, pode-se
de dados, que podem ter os mais de dados em banco de citar os algoritmos de eliminação
variados formatos, em diferentes dados de saúde de espaços em brancos no início
plataformas. Para isso, é necessá- do campo, transformação de letras
rio uma fonte de dados temporá- O relacionamento e a inte- de maiúscula para minúscula, eli-
ria com padronização de ambien- gração de registros em diferentes minação de pontuação, limitar
te de desenvolvimento que permita bases de dados é tarefa trivial nos número de caracteres de campo,
a recepção dos dados das diferen- casos que os registros de cada base inclusão de máscaras em campos e
tes bases, sendo que as configura- incluam campo comum que per- outros de acordo com as exigên-
ções das tecnologias de hardware, cias do projeto (Oliveira, 2002).
sistema operacional e banco de Na área de saúde, Após a etapa de limpeza, os
dados sejam o primeiro padrão a existe um protocolo dados devem ser padronizados para
ser aplicado ao DW em constru- padrão internacional um único formato, evitando re-
ção. Para efetuar a extração dos que permite a dundâncias e inconsistências dos
dados, gateways e interfaces-padrão comunicação entre dados. Um DW deve ser carrega-
são utilizadas e o momento da ex- do apenas com dados padroniza-
diversas fontes
tração poderá ser definido pelos dos, evitando a apresentação ao
heterogêneas de
projetistas em comum acordo com usuário final de dados iguais em
os usuários do sistema, sendo um dados formatos diferentes. Um exemplo
pré-requisito a ser considerado efe- definido como HL7 clássico é em relação ao campo
tuar a extração em períodos que (Health Level 7) sexo, que pode ser armazenado
apresentem menos congestiona- como “M” para Masculino e “F”
mento da rede. mita a identificação de cada regis- para Feminino ou “H” para Mas-
tro de forma unívoca, como, por culino e “M” para Feminino.
Transformação dos dados exemplo, CPF. Entretanto, em Geralmente, a padronização
base de dados de saúde um campo deve ser efetuada de forma unifor-
Uma etapa crítica e desafia- com essa característica dificilmen- me sugerida pelo próprio usuário
dora na implementação de DW é te está presente (Camargo; Coeli, ou aproveitar padrões da área de
a transformação dos dados. Re- 2000). O processo de relaciona- conhecimento para o desenvolvi-
dundâncias e inconsistências de mento deve ter como base a utili- mento do DW. Na área de saúde,
formatos podem existir em um zação de campos menos específi- existe um protocolo padrão inter-
único banco de dados e são prati- cos ou não numéricos como nome, nacional que permite a comuni-
camente certas quando são utili- data de nascimento e endereço. À cação entre diversas fontes hetero-
zados muitos bancos de dados. medida que o número de registros gêneas de dados definido como
Portanto, rotinas de limpeza e a se relacionar cresce, aumenta a HL7 (Health Level 7). A idéia é
transformações de dados são ne- complexidade de realização desse definir de forma única uma série
cessárias e as suas características processo. Neste contexto, a etapa de atributos que serão utilizados
devem ser armazenadas e docu- de transformação dos dados pode amplamente por todos os interes-
mentadas como metadados. ser dividida em três processos: lim- sados em trocar informações de
peza dos dados, padronização dos forma padronizada.
Carga de dados dados e pareamento dos dados.
Pareamento de dados
O processo de carga de da- Limpeza e padronização dos dados
dos tem por finalidade transferir Os dados padronizados são
os dados padronizados, gerados da O processo de limpeza de o pré-requisito fundamental para
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realizar o pareamento de registros putação. Portanto, técnicas de pouca probabilidade da ocorrên-


originados de fontes ou bases de machine learning, métodos de com- cia de erros em registros. Ao con-
dados distintas, tendo como resul- paração de strings, data mining, al- trário, a escolha de “sobrenome”
tado um novo registro. Para esse goritmos para classificação de valo- como campo-chave otimizaria bas-
processo, algoritmos baseados em res ocorridos e métodos de escore tante o processo de comparação,
técnicas de record linkage, inteli- podem ser utilizados. aumentando a probabilidade de os
gência artificial e de data mining O desenvolvimento de registros serem unívocos, mas é um
estão sendo amplamente utilizados probabilistic record linkage exige campo que apresenta grande proba-
e pesquisados (Winkler, 2000). primeiramente a escolha de um bilidade de ocorrer erros de preen-
Record linkage tem por fun- campo chave. A seguir, duas téc- chimento em registros. Sendo as-
ção unir registros de duas ou mais nicas serão desenvolvidas: bloca- sim, deve haver um equilíbrio na
bases de dados para criar um novo gem de bases e pareamento de re- escolha de campos-chaves, com a
registro em uma nova base de da- gistros. A blocagem de bases con- finalidade de aumentar a probabi-
dos, ou seja, em um DW. Para isso, siste em dividir a base de dados em lidade da ocorrência de registros
uma chave de indexação, com fun- blocos mutuamente exclusivos de unívocos nas bases relacionadas.
cionalidade apenas no DW, deve A técnica de pareamento de
ser criada. Esta chave pode ser um A técnica de record registros é a etapa que se aplica
campo ou uma combinação de linkage tem por mais diretamente à probabilidade
campos. Como já mencionado função unir estatística. A seguir, será discutida
anteriormente, na área de saúde é registros de duas ou essa técnica de forma sucinta e sem
muito comum a inexistência de efetuar demonstrações. Para maio-
mais bases de
um campo que identifique um re- res detalhes ou uma análise mais
gistro de forma unívoca. Portan-
dados para criar um profunda, as referências Fellegi;
to, dados de identificação pessoal novo registro em Sunter (1969) e Jaro (1989) são
de um indivíduo ou, mais apro- uma nova base de recomendadas.
priadamente para a área de saúde, dados, ou seja, em Os pares obtidos na etapa de
de um paciente, são requisitados: um DW pareamento de registros serão clas-
nome, data de nascimento, raça, sificados de acordo com a defini-
endereço, telefone e outros, de acordo com a chave escolhida. ção de escores inferior e superior.
acordo com a especificidade do Exemplo: se a chave escolhida fosse Os pares que atingirem valor de
projeto. Esses dados, além de não o campo “sexo”, a base de dados escore acima ao limiar superior são
ter a característica unívoca, podem seria dividida em dois grandes blo- considerados verdadeiros, os que
mudar com o tempo. Sendo assim, cos. Em outro caso, se a chave es- atingirem escore abaixo ao limiar
métodos de record linkage podem colhida fosse o campo “sobreno- inferior são considerados falsos e
ser simples algoritmos de fusão de me”, a base de dados seria dividi- os que tiverem valores interme-
chaves unívocas ou algoritmos da em diversos blocos mutuamente diários serão considerados duvido-
complexos, envolvendo técnicas de exclusivos, aumentando a proba- sos e deverão ser submetidos a aná-
probabilidade estatística no caso da bilidade de pareamento entre as lise manual.
inexistência de uma chave unívo- bases envolvidas. Os registros não A probabilidade mi é defi-
ca. Em relação a este último caso, pareados voltam a ser blocados e nida ao campo i em caso de con-
o relacionamento probabilístico de nova chave é escolhida. Repete-se cordância entre registros (par ver-
registros (probabilistic record o processo, dependendo da dispo- dadeiro) e a probabilidade ui do
linkage) está sendo utilizado con- nibilidade dos campos-chaves es- campo concordar por tratar-se de
sideravelmente. colhidos. par falso. Com as definições des-
O relacionamento probabi- A escolha do campo-chave tas probabilidades, são criados dois
lístico de registros foi inicialmente deve ser realizada de forma crite- critérios de ponderação: um, para
proposto por Newcombe (1959) e riosa. A escolha de “sexo” como a situação de concordância, e ou-
formalizado por Fellegi; Sunter campo-chave para o processo de tro, para a situação de discordân-
(1969). Atualmente, esse processo blocagem não traria grandes van- cia. Exemplo: compara-se o cam-
é cada vez mais otimizado devido tagens ao processo de comparação, po do primeiro registro com o do
aos grandes avanços da área de com- mas é um campo que apresenta segundo registro. Se os campos
Revista Científica do IMAPES - Abril de 2004 Pág. 45
concordarem, aplica-se o fator de deração estipulados ou os proces- te para mineração de dados, de-
ponderação de concordância e, em sos de blocagem e pareamento de signados como associação, classi-
caso contrário, o de discordância. registros se tornam lentos e inefi- ficação e clusterização (Oliveira,
A próxima etapa é a deter- cientes, principalmente quando 2002).
minação do escore total do par, grandes bases de dados (na ordem O método de associação en-
obtido a partir da soma dos crité- de milhões de registros) estão en- contra relacionamentos significa-
rios de ponderação atribuídos após volvidas. tivos entre dados armazenados. O
a comparação de cada campo ava- As técnicas de machine principal objetivo desta tarefa é
liado. Como mi é geralmente maior learning — que engloba tecnolo- encontrar tendências que são de-
que ui, o fator de concordância gias de IA como redes neurais ar- tectadas e podem ser exploradas
contribui positivamente para o es- tificiais (RNA), algoritmos gené- para determinação de comporta-
core final, enquanto o fator de dis- ticos e outras — possibilitaram a mento dos dados.
cordância contribui negativamen- descoberta de relações interessan- A classificação utiliza dados
te (Jaro, 1989). tes em bases de dados, tendo am- armazenados para criar modelos de
A decisão sobre a concor- pla aplicação na área de minera- comportamento com a finalidade
dância ou discordância entre dois ção de dados (data mining). de determinar um conjunto de
campos de determinado par não é dados treinados como padrão, os
uma tarefa trivial. Sendo assim, As ferramentas de quais serão a base para o treina-
muitas vezes é difícil escolher qual mineração de dados mento e classificação de dados não
o critério de ponderação a ser atri- procuram por treinados. Assim, pode-se classifi-
buído como resultado da compa- informações car dados que estão fora ou dis-
ração de dois campos. interessantes e tanciados do padrão. As principais
Os valores de mi e ui, assim úteis em bancos de técnicas utilizadas nesse processo
como os valores de limiar superior são as RNAs, os algoritmos gené-
dados,
e inferior, podem ser estimados. ticos e as árvores de decisão.
Fellegi; Sunter (1969) e Jaro
descobrindo A clusterização tem os mes-
(1989) apresentaram uma meto- informações válidas e mos princípios da técnica de blo-
dologia para a estimativa destes não óbvias de forma cagem para a realização de record
parâmetros e sua aplicação propor- eficiente linkage para itens não numéricos.
ciona resultados satisfatórios. A diferença é que o próprio siste-
A aplicação clássica das fer- ma descobre blocos a partir das
Inteligência Artificial e ramentas de data mining ocorre na alternativas encontradas na base de
Data Mining descoberta de conhecimento em dados, otimizando o processo,
grandes bases de dados corporati- principalmente em relação a redu-
As técnicas de inteligência vas, com a finalidade de aumentar ção de tempo. Neste processo, as
artificial (IA) e data mining são a vantagem estratégica das empre- RNAs e classificadores bayesianos
empregadas com a finalidade de sas. No entanto, pesquisas realiza- são aplicados.
otimizar os sistemas automáticos das nos últimos anos mostraram Portanto, os métodos de as-
de record linkage baseados em re- que as técnicas de data mining e sociação e classificação estão sen-
lacionamento probabilístico de re- de machine learning podem ser do empregados como alternativas
gistros. Os principais problemas adequadas para solucionar proble- de otimização para o pareamento
que são verificados em sistemas mas das técnicas automáticas de de registros e a clusterização como
automáticos de record linkage são record linkage (Christen; Chur- solução para agilizar o processo de
identificação inequívoca do par, ches, 2003). blocagem em record linkage
ocasionada por preenchimentos As ferramentas de minera- (Winkler, 2000) e (Gu; Baxter;
diferentes de mesmos campos ou ção de dados procuram por infor- Vickers; Rainsford, 2003).
ausência de alguns campos que mações interessantes e úteis em
participam da identificação do bancos de dados, descobrindo in- 3. Conclusão
campo-chave. Conseqüentemente, formações válidas e não óbvias de
muitas vezes resulta em falha na forma eficiente. Para isso, existem O desenvolvimento de um
determinação dos fatores de pon- métodos principais que dão supor- DW, utilizando técnicas de record
Pág. 46 Revista Científica do IMAPES - Abril de 2004

linkage, é uma abordagem relati- para a construção do mesmo. bém de áreas distintas.
vamente nova, principalmente No momento que for desen- As pesquisas nas áreas de
quando propõe a construção de volvido o sistema que permita a computação e estatística estão
um servidor para pareamento de geração de uma chave unívoca para unindo esforços e atingindo avan-
registros de diferentes bases de unir registros de bases distintas de ços para desenvolver o sistema de
dados a partir de um identificador forma fidedigna e rápida, de ma- DW com chave unívoca a partir
único baseado em dados não nu- neira a identificar um indivíduo de de dados não numéricos. No en-
méricos. Com esse objetivo, mé- forma única a partir de dados não tanto, a aplicação e o gerenciamen-
todos estatísticos, mais precisa- numéricos como nome, endereço to estratégico desta possível tecno-
mente probabilísticos, estão sen- e data de nascimento, não somente logia será uma das funções do pro-
do otimizados por técnicas de a área de saúde será beneficiada, fissional de sistemas de informa-
machine learning e data mining. mas também áreas de interesse pú- ção, de forma a garantir o sucesso
As tecnologias de DW e data blico como segurança. O armazém do trabalho de pesquisa que está
mining são geralmente empregadas de dados históricos de indivíduos e sendo realizado, permitindo que as
nas áreas comercial e de inteligên- cadastros civis poderia servir na in- diferentes áreas alcancem suas
cia para negócios corporativos. No vestigação de possíveis suspeitos ou metas e objetivos.
entanto, conforme discutido nes- permitir avanços na pesquisa de
te artigo, não existe um rótulo de combate ao crime, identificando *Andréia Damásio de Leles
aplicação para as tecnologias e, áreas de perigos e possíveis crimi- é mestre em Engenharia Elétrica
sim, tendências. Técnicas de data nosos. Assim, talvez seria mais cor- pela Unicamp, professora de Mi-
mining, que na maioria das vezes reto denominar o sistema mencio- croinformática Aplicana no curso
são utilizadas como ferramentas nado como chave de indexação de Sistemas de Informação do IMA-
para extração de conhecimento a pública, a qual permitiria unir não PES e atua profissionalmente nas
partir de um DW, também podem somente registros de bases diferen- áreas de sistemas e tecnologia de
ser utilizadas como ferramentas tes de uma mesma área, mas tam- informação.

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Balanço de pagamentos:
uma abordagem econômica
Adilson Rocha*

RESUMO

Segundo informações do Banco Central do Brasil, o mercado elevou


ligeiramente suas projeções para o superávit comercial e a entrada de inves-
timentos estrangeiros no país neste ano, inclusive mostrando uma pequena
variação na estimativa da taxa Selic para o final do ano de 13,80% aa. para
13,75% aa. Essas projeções de superávit da balança comercial subiram de
US$ 19 bilhões para US$ 20 bilhões, sendo ainda conservadoras.
A boa performance das operações de comércio exterior sustenta o
otimismo do Banco Central (BC) em relação às contas externas, pois, em
janeiro, o balanço de pagamentos registrou superávit de US$ 4,2 bilhões.
O acesso a mercados na América do Sul é importante às exporta-
ções brasileiras, mas não é suficiente para assegurar as metas de cresci-
mento desejadas pelo governo. Dessa forma, há necessidade de avanços
em outras áreas de negociação, inclusive de criar projetos de infra-estrutu-
ra, diminuindo o foco do Mercosul como apenas um acordo de comércio.
A atual estratégia de realização de uma rede de acordos diversifica-
da é um dos instrumentos capazes de assegurar mercados, principalmen-
te para as exportações. No entanto, uma vez garantido o acesso, o segun-
do desafio é procurar diversificar a pauta e aumentar a venda de produtos
de maior valor adicionado, incluindo, nesse ponto, as diretrizes da política
industrial e agrícola.
Enfim, o país começa bem neste início de ano e podemos vislum-
brar um cenário satisfatório, principalmente quanto ao cumprimento das
metas do governo.

1. Introdução auto-abastecimento e vender ou 2. O comércio internacional


trocar o excedente por outras coi-
Se tivéssemos a liberdade sas que porventura desejasse. A existência do comércio
de produzir os nossos alimentos, Esse fenômeno da especia- internacional faculta aos países o
indumentárias, transportes, imó- lização também ocorre entre os aproveitamento de suas aptidões,
veis, enfim, buscar satisfazer to- países, uma vez que os recursos empregando seus recursos na pro-
das as nossas necessidades e de- existentes são distribuídos desi- dução daqueles bens de custos re-
sejos, provavelmente nosso pa- gualmente: uns países são mais lativamente mais baixos e trocan-
drão de vida declinaria, pois fal- bem dotados de terra, outros de do-os por bens de custos relativa-
tariam os recursos materiais, ha- mão-de-obra especializada e ou- mente mais altos.
bilidades e tempo para se conse- tros, ainda, são mais bem dota- Assim, os países produzem
guir tudo isso. dos de capital. e trocam entre si maior variedade
Uma opção seria, segundo Dessa forma, os países ten- e quantidade de bens que seriam
David Ricardo, com sua Teoria da dem a ser mais ricos e outros mais menores e teriam custo mais ele-
Vantagem Comparativa, a de se pobres com relação a determina- vado caso cada país tentasse ser
especializar nas coisas que se faz do fator de produção, variando de auto-suficiente.
melhor. Assim, cada pessoa pode- país para país os custos de produ- A partir da combinação de
ria produzir uma quantidade ção, surgindo, nesse momento, o quatro fatores, surge a divisão in-
maior do que necessário ao seu comércio internacional. ternacional do trabalho, a especia-
Pág. 48 Revista Científica do IMAPES - Abril de 2004

lização das nações (PASSOS & l oArgumento da segurança o registro contábil de todas as tran-
NOGAMI, 2003): nacional sações de um país com outros paí-
loas desigualdades entre as Deve-se procurar proteger ses do mundo, através do método
nações no tocante às reservas não indústrias consideradas estratégi- das partidas dobradas (débito e
reprodutíveis (recursos naturais); cas do ponto de vista de segurança crédito). Assim, no balanço de
lodiferenças internacionais nacional. pagamentos estão registrados to-
no tocante a fatores climáticos (que das as importações que o Brasil
são determinados por fatores rela- loArgumento da proteção ao faz de outros países do mundo,
tivamente estáticos como altitude, emprego todas as exportações brasileiras, os
latitude, topografia e tipo de su- Deve-se promover a substi- fretes pagos a navios estrangeiros,
perfície) e a fatores edáficos (na- tuição das importações por bens os empréstimos que o Brasil re-
tureza e distribuição de solos); fabricados no próprio país. Dessa cebe em moeda estrangeira, o ca-
lodesigualdades nas dispo- forma, estimula-se a criação de pital das firmas estrangeiras que
nibilidades estruturais de capital e novas indústrias e a geração de sai do Brasil etc.
trabalho; e novos empregos. As compras de moedas es-
lodiferenças nos estágios de trangeiras são efetivadas para im-
desenvolvimento tecnológico. O comércio externo portar mercadorias de outros paí-
Por decorrência, o comércio tem contribuído, ses, para pagar serviços prestados
externo tem contribuído, contínua continuamente, por estrangeiros a brasileiros, para
e persistentemente, para a inter- para a que as firmas estrangeiras possam
nacionalização dos processos eco- internacionalização enviar seus lucros aos países de ori-
nômicos e, é inegável, para o gra- dos processos gem, para pagamento de juros de
dativo aumento das taxas de de- econômicos e, é empréstimos estrangeiros ou para
pendência de cada economia pagamento de royalties e patentes a
inegável, para o
com relação ao resto do mundo. outras nações do mundo.
gradativo aumento Já as vendas de moedas es-
3. Intervenção governamental no das taxas de trangeiras são efetivadas pelos ex-
comércio internacional dependência de cada portadores que receberam suas re-
(PASSOS & NOGAMI, 2003) economia com ceitas em dólares, pelas firmas es-
relação ao resto do trangeiras que estão montando
Mesmo com as vantagens mundo filiais no Brasil e precisam de reais
existentes advindas do livre comér- ou pelas entidades que receberam
cio, em certos casos se aconselha a l oArgumento do combate aos empréstimos de outros países e
intervenção do Estado, com a fi- déficits comerciais precisam convertê-los em reais
nalidade de restringir a entrada de Nesse caso, deve-se procu- para realizar seus pagamentos.
determinados produtos no país. rar combater os déficits entre im- Todas as compras de moe-
São as chamadas “medidas prote- portações e exportações. da estrangeira são registradas no
cionistas”, cujas justificativas são Dessa forma, a adoção de lado esquerdo do balanço de pa-
dadas a seguir: barreiras tarifárias ou incentivos é gamentos, isto é, são lançadas a
a maneira mais usual de o gover- débito. Por outro lado, todas as
l oArgumento da indústria no intervir no Comércio Interna- vendas de moeda estrangeira são
nascente cional. No entanto, em condições registradas no lado direito do ba-
Uma indústria nascente especiais da economia de um país, lanço de pagamentos, isto é, são
pode não estar em condições de a aplicação das políticas adotadas lançadas a crédito.
sobreviver à competição externa, poderá ser exatamente inversa, ou O total de compras de moe-
devendo adotar, mesmo tempora- seja, incentivar as importações e da estrangeira deve ser, sempre,
riamente, altas tarifas ou cotas até desestimular as exportações. exatamente igual ao total de ven-
que consiga desenvolver eficiência das de moeda estrangeira, pois,
tecnológica e economias de escala 4. O Balanço de Pagamentos sempre que alguém está venden-
que lhes possibilitassem competir do alguma coisa, outra pessoa está
com as indústrias estrangeiras. O balanço de pagamentos é comprando alguma coisa.
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Os dados do balanço de pa- investimento em carteira; total de Conceitos do Grupo de Contas:
gamentos são, normalmente, di- operações com derivativos, ativos e (PASSOS & NOGAMI, 2003)
vulgados em dólares norte-ameri- passivos; e outros investimentos
canos, a valores correntes, sem (que inclui, entre outros, créditos l oBalança Comercial
ajustamento sazonal. Compreen- comerciais, empréstimos, moeda e São registradas nesta rubri-
dem as transações realizadas por depósitos, outros ativos e passivos ca as exportações e importações de
todo o país com o resto do mundo e operações de regularização). mercadorias. As primeiras compu-
e estão compilados de acordo com O plano de contas do Ba- tadas com um sinal positivo (cré-
os critérios estabelecidos na quin- lanço de Pagamentos será tão ana- dito) e as segundas com um sinal
ta edição do Manual de Balanço lítico quanto as Autoridades Mo- negativo (débito), sendo compu-
de Pagamentos do Fundo Monetá- netárias do país desejarem. Mas se tadas pelo valor FOB (free on board
rio Internacional - FMI (BPM-5). o país for membro do FMI, deve- — correm por conta do vendedor,
As transações econômicas rá incorporar, pelo menos, as con- ao preço contratado, todas as des-
podem ser agrupadas em três gran- tas definidas por esse órgão. pesas e riscos por perdas e danos,
des itens: até a colocação da mercadoria a
Estrutura Geral do Balanço bordo do veículo que a transpor-
loTransações Correntes: ex-
de Pagamentos: tará ao país destino), ou seja, pelo
portações, importações e saldo da valor de embarque, não inclusos
balança comercial; receita, despe- DISCRIMINAÇÃO os valores referentes aos seguros e
sas e saldo de serviços e rendas; re- aos fretes.
1. Balança Comercial (FOB)
ceita, despesa e saldo de serviços
Exportações
totais e os relacionados a transpor- loServiços
Importações
tes, viagens internacionais, segu- São registradas nesta rubri-
ros, financeiros, computação e in- 2. Serviços ca as receitas e despesas de divisas
formação, royalties e licenças, alu- Transportes oriundas de transações de bens in-
guel de equipamentos, serviços Viagens Internacionais tangíveis, tais como recebimentos
governamentais e outros; receita, Seguros e pagamentos de viagens de resi-
Financeiros
despesa e saldo de rendas, incluí- dentes ao Exterior e de não-resi-
Computação e Informações
dos salários e ordenados, renda de Royalties e Licenças dentes ao país, seguros, etc.
investimento direto (lucros e divi- Aluguel de Equipamentos Registram-se também os ser-
dendos e juros de empréstimos Serviços Governamentais viços financeiros que compreen-
intercompanhia), renda de inves- Outros Serviços dem as intermediações bancárias,
timentos em carteira (lucros e di- tais como: corretagens, comissões,
3. Rendas
videndos e juros de títulos de dí- garantias e fianças e outros encar-
Remuneração do
vida) e renda de outros investimen- Trabalho Assalariado
gos acessórios sobre o endivida-
tos (incluem juros de empréstimos, Rendas de Investimentos mento externo.
financiamentos, depósitos e outros Rendas de Outros Em outros serviços estão con-
ativos e passivos); saldo de trans- Investimentos solidadas as informações refe-
ferências correntes; e saldo de tran- rentes a serviços de corretagens e
sações unilaterais correntes; 4. Transferências Correntes comissões mercantis, serviços téc-
nico-profissionais, pessoais, cultu-
5. Saldo em Transações Correntes
loConta de Capital: saldo da rais e de recreação.
(1+2+3+4)
conta capital(inclui transferências
de patrimônio e compra e venda 6. Conta Capital
loRendas

de ativos não produzidos/não fi- São registradas nesta rubri-


nanceiros); 7. Conta Financeira ca as remunerações do trabalho
assalariado e as rendas de investi-
l oConta Financeira: total da 8. Erros e Omissões mentos, que correspondem à re-
conta financeira, que engloba a re- muneração das modalidades de
ceita, a despesa e o saldo dos inves- 9. Resultado do Balanço de Pagamentos aplicação detalhadas na conta fi-
timentos diretos; receita, despesa e (5+6+7+8) nanceira. Assim, as rendas de in-
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vestimento direto abrangem lucros transferências unilaterais, na for- Poupança Externa Negativa, tam-
e dividendos relativos a participa- ma de bens e moeda para consu- bém chamada de Ativo Externo
ções no capital de empresa e os mo. Excluem-se as transferências Líquido.
juros correspondentes aos emprés- relativas a patrimônio de migran-
timos intercompanhias nas moda- tes internacionais, alocadas na loConta Capital

lidades de empréstimos diretos a conta capital. Esta conta registra as trans-


título de qualquer prazo, não se ferências de capital relacionadas
incluindo os ganhos de capital, loTransações Correntes com o patrimônio dos migrantes
classificados como investimento É o resultado do somatório e a aquisição/alienação de bens
direto na conta financeira. dos saldos da Balança Comercial, não financeiros não produzidos,
As rendas de investimento de Serviços, de Rendas e de Trans- tais como cessão de patentes e
em carteira englobam os lucros, ferências Correntes. O Saldo em marcas.
dividendos e bonificações relativos Transações Correntes indica se
às aplicações em ações e os juros houve poupança externa negativa l oConta Financeira
correspondentes às aplicações em ou positiva. Os quatro itens desta conta
títulos da dívida de emissão domés- são desdobrados em ativos e passi-
tica (título da dívida interna pú- Caso o Saldo em vos, ou seja, há um item destina-
blica, debêntures e outros títulos Transações do a registrar fluxos envolvendo
privados) e no Exterior (bônus, Correntes seja ativos externos detidos por residen-
notes e commercial papers) de qual- superavitário, tes no Brasil e outro para registrar
quer prazo. Excluem-se deste cál- significará que o país a emissão de passivos por residen-
culo os juros relativos à colocação tes cujo credor é não-residente.
vendeu mais bens e
de papéis entre empresas ligadas, Essas contas de ativos e passivos
serviços ao Exterior
alocados em rendas de investimen- são, em seguida, novamente des-
to direto, assim como os ganhos
do que comprou. dobradas para evidenciar detalhes
de capital relativos a investimen- Neste caso, específicos de cada conta.
tos em carteira, contabilizados na haverá uma A conta de Investimentos
conta financeira. Poupança Externa Diretos registra os ativos externos
As rendas de outros investi- Negativa detidos por residentes no Brasil
mentos registram os demais juros sob a forma de investimento dire-
de empréstimos, financiamentos, Se o Saldo em Transações to, bem como representa a conta
créditos comerciais, depósitos e Correntes for deficitário, significa de passivo do grupo de investido-
outros ativos e passivos. Abran- que o país comprou mais bens e res direto. Estão divididas em duas
gem, portanto, os juros relativos serviços do Exterior do que ven- modalidades: participação no ca-
aos financiamentos de exportações deu, indicando ter havido uma pital e empréstimos intercom-
e importações, tais como: os cré- poupança externa positiva. Em panhias.
ditos de compradores e de forne- outras palavras, é um montante de A rubrica Investimentos em
cedores, agências governamentais, renda que não foi consumido no Carteira registra o fluxo de ativos
organismos internacionais e ban- “resto do mundo”, isto é, foi pou- e passivos constituídos pela emis-
cos e, também, os juros de emprés- pado, e transferido para o país que são de títulos de crédito comumen-
timos diretos, excetuando-se os apresentou o déficit em transações te negociados em mercados secun-
relativos a empréstimos intercom- correntes. A poupança externa dários de papéis. Compõem esses
panhias, alocados em rendas de positiva é chamada de Passivo Ex- ativos os títulos de renda variável,
investimento direto. terno Líquido, uma vez que au- negociados no país ou no Exterior
menta as obrigações financeiras e os títulos de renda fixa. Os passi-
loTransferências Correntes com o Exterior. vos de investimento em carteira re-
São registradas nesta rubri- Caso o Saldo em Transações gistram as aquisições por não-resi-
ca as receitas e despesas de divisas Correntes seja superavitário, sig- dentes de títulos de renda variável
decorrentes de donativos, manu- nificará que o país vendeu mais (ações) e de renda fixa (títulos da
tenções de estudantes no Exterior bens e serviços ao Exterior do que dívida) de emissão brasileira.
e aposentadorias. Corresponde às comprou. Neste caso, haverá uma A conta de Derivativos Fi-
Revista Científica do IMAPES - Abril de 2004 Pág. 51
nanceiros registra os fluxos finan- tivos a valorizações ou desvaloriza- tos de 2004, com base nos bons
ceiros relativos à liquidação de ha- ções das moedas estrangeiras e do resultados do comércio exterior.
veres e obrigações decorrentes de ouro em relação ao dólar norte- Essa projeção de superávit da ba-
operações de swap, opções e futu- americano e os ganhos ou perdas lança comercial subiu de US$ 19
ros e os fluxos relativos aos prê- relativos a flutuações nos preços dos bilhões para US$ 20 bilhões, ain-
mios de opções. títulos e da cotação do ouro. da conservadora.
A conta de Outros Investi- Em janeiro, o balanço de
mentos, por sua vez, compreende 5. Considerações finais sobre o pagamentos registrou superávit de
os empréstimos e financiamentos Balanço de Pagamentos US$ 4,2 bilhões. Tanto as transa-
de curto e longo prazos, a movi- ções correntes como a conta fi-
mentação de depósitos mantidos Conforme pesquisa realiza- nanceira apresentaram superávit,
no Exterior na forma de disponi- da pelo Banco Central do Brasil, o respectivamente, de US$ 669 mi-
bilidades, cauções, depósitos judi- mercado elevou ligeiramente suas lhões e US$ 3,8 bilhões. Destaca-
ciais e, ainda, as garantias para os projeções para o superávit comer- ram-se novamente o superávit da
empréstimos vinculados a expor- cial e a entrada de investimentos balança comercial, US$ 1,6 bilhão,
tações, bem como a variação dos e os investimentos estrangeiros em
depósitos no Exterior dos bancos Em janeiro, o balanço carteira, US$ 2,6 bilhões
comerciais. de pagamentos (www.bcb.gov.br, nota para a im-
registrou superávit de prensa, 19/02/2004).
l oErros e Omissões US$ 4,2 bilhões. Os gastos líquidos com ser-
Os lançamentos a crédito e Tanto as transações viços somaram US$ 84 milhões
a débito efetuados no Balanço de correntes como a em janeiro, retração de 58% em
Pagamentos provêm de diferentes relação ao ocorrido em janeiro do
conta financeira
fontes de informações, gerando, na ano anterior.
prática, um total líquido diferente
apresentaram As remessas líquidas de ren-
de zero, apesar deste fluxo ser superávit, da para o Exterior somaram US$
contabilizado pelo método das par- respectivamente de 1,1 bilhão, aumento de 2,8% em
tidas dobradas. US$ 669 milhões e relação a janeiro de 2003 e 2004.
A principal razão está nas US$ 3,8 bilhões Os investimentos estrangei-
discrepâncias temporais das diver- ros diretos líquidos no país soma-
sas origens dos dados utilizados. estrangeiros no país neste ano, in- ram US$ 993 milhões em janeiro,
Com isso, torna-se necessário o clusive mostrando uma pequena crescimento de 9,7% em relação a
lançamento de partida que permi- variação na estimativa da taxa Selic janeiro do ano anterior.
ta o balanceamento das contas. para o final do ano de 13,80% aa. Outros investimentos es-
Esta rubrica serve, portanto, para para 13,75% aa. trangeiros somaram amortizações
compensar toda superestimação ou A boa performance das ope- líquidas de US$ 232 milhões. O
subestimação dos componentes rações de comércio exterior sus- crédito comercial de fornecedo-
registrados. tenta o otimismo do Banco Cen- res registrou desembolsos líquidos
tral (BC) em relação às contas ex- de US$ 610 milhões, com amor-
l oSaldo do Balanço de Paga- ternas. Para o chefe do Departa- tização líquida de US$ 85 milhões
mentos mento Econômico do BC, de recursos de longo prazo e de-
Equivale à soma algébrica Altamir Lopes (Valoronline - 19/ sembolso líquido de US$ 695 mi-
das contas do Balanço de Paga- 02/2004), o resultado das transa- lhões de recursos de curto prazo.
mentos, Conta Corrente, Conta ções correntes em fevereiro deve Os empréstimos de longo prazo
Capital e Financeira e Erros e seguir positivo, depois de janeiro somaram amortizações líquidas de
Omissões. registrar US$ 669 milhões, o US$ 846 milhões e os emprésti-
O seu resultado representa a melhor superávit para o mês de mos de curto prazo totalizaram
variação das reservas internacionais janeiro desde 1992. amortizações líquidas de US$ 246
do país, detidas pelo Banco Cen- O executivo do BC desta- milhões.
tral, no conceito de liquidez inter- cou “uma discreta” revisão nas Em dezembro de 2003, na
nacional, deduzidos os ajustes rela- projeções do balanço de pagamen- 25ª reunião do Conselho do
Pág. 52 Revista Científica do IMAPES - Abril de 2004

Mercosul, foi assinado acordo de vol.58, nº 1, páginas 56 e 57). primeiro é no aspecto interno do
livre-comércio com a Colômbia, A atual estratégia de realiza- país, ou seja, melhoria e eficácia
Equador e Venezuela, além dos já ção de uma rede de acordos diver- na produção e uma tendência de
existentes com Bolívia, Peru e sificada é um dos instrumentos de queda na taxa Selic, e, conseqüen-
Chile, cumprindo quase na sua assegurar mercados, principalmen- temente, resultados satisfatórios na
totalidade a meta da formação de te, para as exportações. No entan- área social, como, por exemplo, a
uma área de livre-comércio na to, uma vez garantido o acesso, o geração de empregos.
América do Sul, além de serem segundo desafio é procurar diver- O segundo ponto é no as-
acertadas concessões em relação à sificar a pauta e aumentar a venda pecto externo. O país começa a se
tarifa externa comum (TEC). de produtos de maior valor adi- destacar no mercado internacional,
Esse acesso a mercados na cionado, incluindo, nesse ponto, inclusive sendo apontado como
América do Sul é importante às as diretrizes da política industrial uma das promessas de comércio
exportações brasileiras, mas não é e agrícola (Conjuntura Econômi- para o futuro, juntamente com
suficiente para assegurar as metas ca — jan/2004, vol.58, nº 1, pá- China e Índia, atraindo investido-
de crescimento desejadas pelo go- ginas 56 e 57). res estrangeiros.
verno. Dessa forma, há necessida- Enfim, o país começa bem
de de avanços em outras áreas de neste início de ano e podemos vis- *Adilson Rocha é graduado em
negociação, inclusive de criar pro- lumbrar um cenário satisfatório, Ciências Econômicas, mestre em Ad-
jetos de infra-estrutura, diminuin- principalmente no tocante ao cum- ministração, pós-graduado em Econo-
do o foco do Mercosul como ape- primento das metas do governo. mia Empresarial e Didática do Ensi-
nas um acordo de comércio (Con- Dessa forma, teremos dois no Superior. Leciona Economia e Eco-
juntura Econômica - jan/2004, pontos positivos em destaque: o nomia Internacional no IMAPES.

Referências Bibliográficas
CARBAUGH, Robert J. Economia Internacional. São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2004.
Equipe de Professores da USP. Manual de economia: 3ª ed. São Paulo: Saraiva, 2002.
MENDES, Judas T. G. Economia: fundamentos e aplicações. São Paulo: Pearson-Prentice Hall, 2004.
PASSOS, Carlos Roberto Martins & NOGAMI, Otto. Princípios de economia: 4ª ed. São Paulo: Pioneira Thomson, 2003.
RATTI, Bruno. Comércio internacional e câmbio: 10ª ed. São Paulo: Aduaneiras, 2000.
PEREIRA, Lia V. Acordos na pauta de exportações. Revista Conjuntura Econômica, Rio de Janeiro, v. 58, n. 1, jan. 2004.

Referências complementares
info@intermanagers.com.br - Diversos informativos - “Resumo do dia”.
www.bcb.gov.br - Relatórios sobre Balanço de Pagamentos (Notas e Demonstrativos).
www.mdic.gov.br - Relatório sobre Balança Comercial Brasileira.
www.fgvdados.fgv.br - Relatório Econômico.
www.valoronline.com.br - Diversos artigos (mês de janeiro e fevereiro/2004).
Revista Científica do IMAPES - Abril de 2004 Pág. 53

Vantagens competitivas no
desenvolvimento do produto
utilizando os sistemas Product
Data Management (PDM) /
Engineering Data Management
(EDM) e características de
integração entre sistema de
gerenciamento da manufatura
Aldie Trabachini*

RESUMO

Com as rápidas transformações nos processos de concepção e de-


senvolvimento do produto, as empresas precisam administrar as informa-
ções geradas, de forma a possibilitar o acesso rápido, seguro e eficiente
das mesmas para um desempenho eficaz do trabalho e do gerenciamento
do ciclo de vida do produto, acarretando uma estruturação e controle do
conhecimento e dos documentos. O fluxo de informação existente neste
processo — os dados, sua estrutura, formato e meios de circulação —
vem tomando proporções que, conforme forem gerenciadas, podem deter-
minar a competitividade do produto no mercado, isto é, lançar produtos em
um menor tempo (lead-time), tornando-se um dos processos-chave para a
competitividade na manufatura.
O controle das informações na engenharia do produto, quando feito
manualmente na forma de papel, pode ocasionar falhas, com cópias de
desenhos desatualizadas, circulação lenta de documentos, alto índice de
retrabalho, dificuldade de se obter informações dos produtos, afetando o
desempenho do processo de desenvolvimento do produto. Os sistemas de
gerenciamento de dados do produto EDM (Engineering Data Management)
e PDM (Product Data Management) são uma tecnologia de software que
visa gerenciar todas as informações e processos relativos ao ciclo de vida
de um produto, possuindo assim funcionalidades especiais como o contro-
le da estrutura de produto e o controle das modificações de engenharia. As
suas características, benefícios e dificuldades de implantação serão abor-
dados neste artigo.

1. Introdução ma a possibilitar o acesso rápido, “Conhecimento é uma


seguro e eficiente das mesmas para composição de experiências, valo-
Com as rápidas transforma- um desempenho eficaz do traba- res, informação contextualizada e
ções nos processos de concepção e lho e do gerenciamento do ciclo idéias de especialistas que resulta
desenvolvimento do produto, as de vida do produto, acarretando em uma estrutura para a avaliação
empresas estão tendo de adminis- uma estruturação e controle do e incorporação de novas experiên-
trar as informações geradas de for- conhecimento e dos documentos. cias e informações. Origina-se e
Pág. 54 Revista Científica do IMAPES - Abril de 2004

aplica-se na mente das pessoas. Nas feito manualmente na forma de (EDM), eletronic data management
organizações, está freqüentemen- papel, para controlar as modifica- (EDM), product information man-
te envolvido, não somente nos ções de engenharia. Os problemas agement (PIM); computer integrated
documentos ou arquivos, mas decorrentes desta forma de contro- end program information manage-
também nas rotinas, processos, le podem afetar diretamente o de- ment (PIM), technical data man-
práticas e normas organizacio- sempenho do processo de desen- agement (TDM) entre outras.
nais... O conhecimento deriva de volvimento de produtos. Cópias de (MILLER et. al., 1994). (Ver Fi-
informações (que por sua vez de- desenhos desatualizadas, circulação gura 1.)
riva de dados), havendo necessi- lenta de documentos, alto índice A tecnologia PDM e EDM
dade de total envolvimento huma- de retrabalho, dificuldade de se propõe-se a explorar ao máximo
no para que essa derivação ocor- obter informações dos produtos os benefícios da engenharia simul-
ra”. (DAVENPORT T.H. & são problemas comuns na maior tânea, controlando a informação
PRUSAK L. “Working Knowl- parte das empresas. e distribuindo sistematicamente o
edge”, Harvard Business School O sistema de gerenciamen- conhecimento e os documentos,
Press, 1998.) to de dados do produto PDM restringindo a forma de utilização
Geralmente, costuma-se de- (Product Data Management) é uma dos mesmos, conforme a função e
finir um documento como sendo tecnologia de software que visa ge- as competências das pessoas envol-
cartas, e-mails, memorandos, etc. renciar todas as informações e pro- vidas no processo.
Porém, a definição de documento cessos relativos ao ciclo de vida de
possui uma maior amplitude. De um produto, possuindo, assim, 2. Histórico
maneira simplificada, pode-se di- funcionalidades especiais como o
zer que um documento em uma controle da estrutura de produto Com o aumento da comple-
empresa é um registro de uma e o controle das modificações de xidade no desenvolvimento do
transação de negócio ou de uma engenharia. Os sistemas EDM produto, os gerentes de projeto
decisão que pode ser vista por uma (Electronic Data Management) são passaram a trabalhar com volume
unidade organizacional que utili- focados no gerenciamento de do- muito grande de dados, e a rápida
za essa informação para a realiza- cumentos, podendo ou não estar localização das informações e sua
ção de sua atividade. Portanto, a relacionados à engenharia. “PDM segurança passou a ser um fator
gerência de documentos é o pro- define os processos que são utili- determinante para potencializar o
cesso de supervisionar os registros zados para transmitir e gerenciar tempo no desenvolvimento. “Um
de transações, decisões e os docu- dados do produto que são criados dos maiores desafios para a im-
mentos de grande importância e detalhados em diferentes áreas da plantação bem sucedida da enge-
(SUTTON, 1996). empresa.” (PIKOSZ 1997, p.8). nharia simultânea é o gerencia-
A concepção e desenvolvi- Várias terminologias para o mento de todos os dados relati-
mento de novos produtos pelas PDM surgiram no decorrer de seu vos ao produto, pois com o uso
empresas vêm se deparando com desenvolvimento: product data desta filosofia os dados podem ser
a dificuldade de gerenciar as infor- management (PDM), engineering utilizados, quando completos, ou
mações geradas neste processo, data management (EDM), engi- nos estágios iniciais de desenvol-
prejudicando a implantação efi- neering document management vimento (PRASAD, 1996). Além
ciente de novas técnicas e méto-
dos de trabalho para o funciona-
mento da engenharia simultânea, Product Data Management (PDM)
que visa uma abordagem sistemá-
Engineering Data Management
tica para o desenvolvimento inte-
Engineering Document Management
grado e paralelo do projeto de um Eletronic Data Management
produto e os processos relaciona- Product Information Management
dos, incluindo manufatura e su- Computer Integrated end Program Information Management
porte (WINNER et al., 1988 Technical Data Management
PRASD, 1996).
O controle das informações Figura 1 - PDM, um termo amplo que engloba todos os conceitos
na engenharia do produto ainda é (CIMDATA,1996 e DICKESON,1996).
Revista Científica do IMAPES - Abril de 2004 Pág. 55
disso, é necessário que estes da-
Usuário Usuário
dos estejam disponíveis sempre

78

78
que necessário, pois de 40% a
50% do tempo de desenvolvi-
Aplicativos 88 88 Sistema PDM
mento é gasto na comunicação e
na transmissão de informações.” CAD/CAM/Office

8
7
(WARNECKE & ZEIHSEL, Controle Controle
Documentos
1995).

7
7
78

88
Ferramentas de gerencia- Dados Dados

mento de dados foram desenvol- Arquivos Arquivos Dados


8 Metadados
vidas com tecnologias de vaulting confidenciais controlados

(local onde os arquivos gerencia-


dos ficam armazenados, garantin- Figura 2 - Vista funcional do sistema PDM. (GASCOIGNE, 1996)

do a segurança das informações e


3. Características da estrutura data de criação, entre outros (Fi-
o controle de acesso dos usuários).
e da funcionalidade do gura 2).
No final da década de 80, os fa-
sistema PDM O sistema PDM desempe-
bricantes de CAD/CAE/CAM e
nha uma função de integrador
alguns desenvolvedores indepen-
Existe uma grande varieda- dentro da empresa. O sistema
dentes introduziram sistemas
de de sistemas PDM disponíveis PDM deve ser capaz de se inte-
PDM no mercado, visando melho-
no mercado; entretanto, são utili- grar a outros sistemas, tanto para
ria significativa na eficiência da en-
zados princípios semelhantes para receber como para fornecer infor-
genharia. Esta primeira geração de
gerenciar as informações. Eles po- mações. Os sistemas de engenha-
PDM foi desenvolvida para refor-
dem se diferenciar em vários as- ria (CAD/CAE/Office), que ge-
çar procedimentos de engenharia
pectos, tais como: domínio de apli- ram as informações dos produtos,
(HOW, 1996, p1), controlando
cação, arquitetura do sistema, e sistemas de gestão (MRP/ERP)
apenas documentos e processos
abrangência de funcionalidades, utilizam informações gerenciadas
bem definidos.
preço, entre outros. pelo PDM para a realização de suas
Atualmente, muitos proje-
Os arquivos gerenciados fi- atividades (Figura 3).
tos estão utilizando os conceitos
cam armazenados no vault (cofre). As interfaces dos sistemas
de Trabalho Cooperativo Supor-
É a parte do sistema que garante a comerciais são geralmente gráficas
tado por Computador (CSCW -
segurança das informações e o con- e permitem que o usuário acesse
Computer Supported Cooperative
trole de acesso dos usuários. Os as informações disponíveis rapida-
Work). CSCW reúne um conjun-
metadados são uma outra base de mente, na forma de imagens, ta-
to de técnicas, sistemas e tecno-
dados de informações sobre os ar- belas e gráficos.
logias para utilização de compu-
quivos, que permitem que estes Conforme CIMDATA
tadores, com a finalidade de pro-
sejam gerenciados. Alguns exem- (1996), as funções principais de
ver suporte ao trabalho em gru-
plos de metadados são: descrição um sistema PDM são:
po de pessoas que possuem um
do arquivo, autor, part number, · Criação do vault: local
objetivo comum de negócio. E,
para isso, os sistemas de gerencia- GERAÇÃO DE GESTÃO
INFORMAÇÕES DA
mento de documentos (PDM) DO PRODUTO PRODUÇÃO
têm um papel essencial na estru-
turação dos documentos eletrôni- CAD è è MRP

cos, de forma a garantir a segu- PDM


rança, a organização e a consis-
CAE è è MRP II
Função
tência das informações. Office è integradora è ERP
Estes sistemas fornecem re-
cursos de busca rápida, controle de etc. è
versão e status, anotações eletrôni-
cas, entre outros, organizando o Figura 3 - Relações de Integração do Sistema PDM (Baseado em:
fluxo de trabalho (workflow). GUERREIRO, OLIVEIRA, ROZENFELD E ZANCUL; 1998)
Pág. 56 Revista Científica do IMAPES - Abril de 2004

onde os documentos são armaze- produto ainda em processo de de- loRespostas rápidas aos re-

nados com segurança e controle de senvolvimento, destacando funcio- gistros do cliente (MILLER et al.,
acesso; nalidades como o controle do pro- 1994);
l oCriação de hierarquias cesso de criação e aprovação de loPossibilidade de integra-

dos usuários para o acesso e modi- desenhos e componentes, contro- ção de sistemas de informação e
ficação de dados. le das informações de especifica- gerenciais de manufatura (MRP,
loGerenciamento do fluxo de ções, processo e qualidade do pro- MRP II e ERP).
trabalho ou workflow: automatiza os duto; possui uma grande integra-
processos através da circulação, ro- ção com os sistemas CAD, pois 5. Conclusões
teamento e controle de tarefas; normalmente é o aplicativo bási-
loGerenciamento da estru- co de projeto; Atualmente, o controle da
tura de produto: gerencia a confi- loManufatura: pode ser de- informação é fundamental para o
guração das partes do produto e finido pelos sistemas focados no tra- desenvolvimento das empresas e
seus relacionamentos; tamento de informações de produ- para o controle do ciclo de vida
loIdentificação e classifica- to já aprovados. Estes produtos pos- do produto; o PDM vem de en-
ção de itens: são mecanismos de suem ênfase em funcionalidades contro com esta necessidade das
identificação e classificação de da- como o processo de alterações de organizações, gerenciando os da-
dos necessários para permitir bus- engenharia e controle de informa- dos do produto.
cas e recuperação de informações; ções dos processos de fabricação; As tendências de integração
loGerenciamento de proje- loProjeto: engloba os siste- entre sistemas PDM e os de ges-
tos: esta funcionalidade, ainda mas que enfatizam características tão da manufatura (ERP, MRP e
pouco desenvolvida nos sistemas de gerenciamento de projeto, tais outros) podem resultar em uma
PDM, gerencia as atividades, pra- como controle de prazos, controle série de benefícios para as empre-
zos e recursos no processo de de- de versão e status e gerenciamento sas, como aumento da consistên-
senvolvimento de produtos. de configuração. cia dos dados devido a sua entrada
As funções complementares ser realizada em um único banco
visam suportar atividades de comu- 4. Benefícios dos sistemas PDM de dados, e a redução do tempo
nicação e notificação, transporte e de transferência das informações
conversão de dados, visualização e Os benefícios esperados com da engenharia para a produção,
comentários eletrônicos (markup) a implantação de um sistema PDM permitindo o gerenciamento efi-
de documentos, e serviços adminis- dependem do tipo, tamanho e es- ciente dos dados do produto ao
trativos (CIMDATA,1996). copo do sistema a ser considerado. longo do ciclo de vida (Figura 4).
Segundo SWANTON Os benefícios comuns obti- As companhias Boeing, Xe-
(1997), todos os sistemas PDM dos com a implantação de sistemas rox, Texas Instrumentos, Grupo
possuem uma base funcional co- PDM são (OMOKAVA, 1996): Schneider, Honeywell e General
mum que é o gerenciamento de loRedução nos custos: está Electric estão usando atualmente
documentos, ou seja, a capacida- diretamente relacionada a otimi- um sistema de PDM como parte
de de organizar, controlar e garan- zação do trabalho de engenharia e de seus esforços para desenvolvi-
tir a segurança de arquivos eletrô- manufatura. Segundo Department mento de produto. Estão conse-
nicos. Porém, fora o gerenciamen- of Trade and Industry (1995), os guindo melhorias no tempo de de-
to de documentos, os sistemas ganhos com otimização no manu- senvolvimento do produto, redu-
PDM devem possuir funcionali- seio de informações podem ultra- zindo perdas e agilizando as infor-
dades específicas, que podem de- passar os 25%. mações entre as equipes de proje-
finir três diferentes campos funcio- loRedução do time to market: to, com respostas mais rápidas aos
nais de aplicação: produto, manu- segundo Department of Trade and clientes.
fatura e projeto. Industry (1995), algumas empresas O uso do PDM permite
loProduto: é o caso mais co- pesquisadas tiveram redução de gas- uma clara vantagem competitiva
mum e mais desenvolvido atual- tos na ordem de 25%; às empresas, devido à segurança e
mente nos sistemas PDM. Este loRedução do número de agilidade no gerenciamento de
grupo engloba os sistemas focados alterações de engenharia (ECO) dados. Porém, sua implantação de
no tratamento de informações do em até 80% (CARROL, 1996); ser amplamente analisada para a
Revista Científica do IMAPES - Abril de 2004 Pág. 57
escolha do sistema PDM que per- Desenvolver Geração
mita a melhor integração dos sis- integração com Integração de
outros sistemas. com sistemas
temas de projeto e de gerencia- informações e
MRP, ERP, etc. documentos.
mento da manufatura, possibili- Usuário

tando o sucesso deste processo.


Integração
*Aldie Trabachini é gradua-
entre sistemas
do em Engenharia de Produção Arquivos
Mecânica (Unimep), especializado gerenciados
(vault)
em Gestão de Produção (Ufscar) e Software
Controle
e
em Metodologia do Ensino Superior Garante a PDM
gerenciamento.
(Centro Universitário Nossa Senhora segurança das
informações e o
do Patrocínio). Desenvolve mestra- seu controle.
Base
do na área de desenvolvimento do de dados
produto na Unimep e leciona Ad- e arquivos do Informações
projeto sobre os
ministração de Recursos Materiais e Figura 4 – Integração de arquivos
Patrimonial no IMAPES. Sistemas com o uso do PDM gerenciados.

Referências Bibliográficas
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DAVENPORT, T.H.; PRUSAK, L. “Working Knowledge”, Harvard Business School Press, 1998.
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Contém bastante conteúdo sobre desenvolvimento de produtos e sistemas PDM, incluindo links e bibliografia, 2004.
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GUERREIRO, V.; ROZENFELD, H.. Proposta de classificação de sistemas PDM., Universidade Federal de São Carlos, Escola de
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NÚCLEO DE MANUFATURA AVANÇADA - (NUMA). www.numa.org.br/
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SUTTON, T.B.; SHANE, W.W. Epidemiology of the perfect stage of Glomerella cingulata on apples. Phytopathology 73:1179-1183.
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WARNECKE; ZEIHSEL.; Systematic product development using information end commuicatiom technology. Production Engineering,
v.5, n.1, p.107-110, 1995.
Pág. 58 Revista Científica do IMAPES - Abril de 2004

Recuperação de prata a partir


de radiografias reveladas
Marcelo Sartoratto*, Aline Tatiane Andrade**, Plácido José Lopes**,
Ricardo Carvalho Canatto**, Sérgio dal Belo**

RESUMO

Em continuidade ao Projeto 2002 de Iniciação Científica, que envol-


via o tratamento dos efluentes gerados nos laboratórios químicos da Orga-
nização Sorocabana de Ensino (OSE-COC) e do Instituto Manchester Pau-
lista de Ensino Superior (IMAPES), o Projeto 2003 focalizou o reaproveita-
mento da prata recuperada dos efluentes químicos e a recuperação da
prata residual contida em radiografias já reveladas.
Os aspectos químicos envolvidos no processo de recuperação de
reagentes foram, certamente, muito importantes para o aprimoramento
intelectual dos alunos participantes desse grupo de trabalho; entretanto, o
conceito de conscientização ambiental recebeu destaque.
Este artigo mostra todo o levantamento e tratamento desenvolvidos
para a recuperação da prata a partir das radiografias já reveladas, coletadas
a partir de um programa espontâneo de doações desse material, desen-
volvido internamente nas Instituições de Ensino acima citadas.

Introdução ladas, promovendo a pesquisa de mais é do que uma folha de aceta-


métodos de tratamento e recicla- to de celulose com uma fina ca-
A preocupação com o meio- gem desse tipo de matriz, respon- mada de grãos de brometo de pra-
ambiente deve ser uma constante, sável pela poluição ambiental de ta e gelatina; essa parte é chamada
haja visto que os recursos naturais, lençóis freáticos quando descarta- de “emulsão fotográfica”.
principalmente a água potável, se- da de modo inadequado em ater- Esses grãos de prata, ao en-
rão o foco da atenção mundial no ros sanitários. Além disso, esse pro- trarem em contato com a luz, so-
presente século. É sabido que, num jeto permitiu dar continuidade aos frem decomposição fotoquímica.
futuro muito próximo, 25% da trabalhos desenvolvidos em 2002, O uso da gelatina ocorre devido
população mundial terão sérios quando prata havia sido recupera- sua composição ser à base de en-
problemas de abastecimento de da de efluentes químicos tratados. xofre, substância que aumenta a
água, o que culminará em confli- Nesse trabalho atual, conse- sensibilidade dessa decomposição
tos armados regionais pela posse guiu-se transformar a prata inor- (catalisador).
desse recurso. Mesmo no Brasil, gânica em prata metálica, permi- Uma película fotográfica
onde há a detenção de uma signi- tindo a sua reutilização em labo- (Fig. 1), num corte transversal am-
ficativa parte da água potável mun- ratório e gerando o conceito de co- pliado, apresenta as seguintes ca-
dial, a conscientização ambiental mercialização, baseado na trans- madas:
da população é de suma importân- formação dos recursos Sobrecamada
cia para a manutenção dos nossos oriundos desse processo de gelatina
recursos naturais, já grandemente em benefícios para a pró- Emulsão
afetados pela ocupação humana. pria Instituição de Ensino. Camada da Espessura
Suporte de triacetato igual das
Seguindo esse enfoque, re- base, de
gelatina e da película camadas
solveu-se trabalhar dentro do con- Entendendo o que celulose

texto da reciclagem de materiais, é a fotografia Camada


posterior de
com o tema Recuperação de Pra- gelatina
ta a partir de Radiografias Reve- A fotografia nada Figura 1 - Película Fotográfica
Revista Científica do IMAPES - Abril de 2004 Pág. 59
A base, geralmente em po- provoca a sua intensificação, a pon- Parte experimental
liéster, possui na extremidade uma to de se tornarem visíveis muito
camada “anti-halo”, cuja função é antes de o processo tomar propor- O tratamento utilizado foi
impedir que os raios de luz que ções importantes nos cristais que baseado inteiramente na bibliogra-
atravessam a emulsão e o éster se- foram pouco ou nada sensibiliza- fia de Kuya1, que permitiu a recu-
jam refletidos de volta para a emul- dos. O resultado prático desta di- peração da prata já obtida a partir
são, provocando halos de luz cir- ferenciação de velocidades de redu- dos efluentes químicos tratados no
cular indesejáveis. ção é a própria fotografia, pois, se a Projeto 2002, e também da prata
Os sais de prata empregados reação de oxidação-redução for sus- residual contida em radiografias já
em fotografia são o cloreto, bro- tida em devido tempo, somente reveladas.
meto e iodeto daquele metal. haverá deposição evidente de prata
Sob a designação de revela- nos cristais expostos à luz, que será Tratamento dos efluentes
ção agrupa-se todo um conjunto tanto mais intensa quanto maior inorgânicos contendo prata3,4,5
de fenômenos químicos e físicos, tiver sido a sensibilização, tendo
cujo efeito final se traduz pela in- como resultado a formação da ima- Os sais de prata caracteri-
tensificação dos núcleos de prata gem. Caso seja permitido o evoluir zam-se pelo alto custo de aquisi-
metálica originados durante a ex- da reação, a formação de prata me- ção entre os reagentes utilizados
posição à luz da emulsão, a ponto tálica irá continuar, a ponto de os nas práticas de laboratório. Dessa
de se tornarem visíveis e formarem cristais não sensibilizados acabarem forma, a recuperação da prata, per-
a imagem fotográfica. A fotogra- igualmente por serem afetados. O mitindo a reutilização em novas
fia popular em preto e branco tira limite deste processo será a com- práticas, representa uma economia
proveito essencialmente de um pleta redução da prata e o enegre- para a Instituição, que pode assim
processo químico: a redução dos cimento total da emulsão. investir em melhorias para os pró-
íons de prata presentes nos sais prios alunos.
(cloreto, brometo e iodeto, e ge- Programas de recuperação O tratamento foi feito acer-
nericamente designados por hale- de prata tando-se o pH do efluente na faixa
tos), que fazem parte da constitui- de 5-6 com solução de hidróxido
ção da emulsão fotográfica. Sob o Durante a pesquisa biblio- de sódio técnico a 10% e adicio-
ponto de vista químico, trata-se de gráfica sobre processos de recupe- nando-se, na seqüência, uma solu-
um processo de oxidação-redução, ração da prata, constatou-se um ção de cloreto de sódio, também a
em que os íons de prata são redu- fato interessante: nos países euro- 10%, para a formação e precipita-
zidos à prata metálica, de cor ne- peus, dando-se destaque para Por- ção dos respectivos cloretos.
gra, enquanto alguns constituin- tugal e Espanha, existem progra- Novamente, a solução so-
tes do agente de redução (o reve- mas oficiais de coleta de radiogra- brenadante, isenta de prata, foi tra-
lador) são oxidados e transforma- fias, para a recuperação de prata, tada convencionalmente (acerto de
dos em outras substâncias que fi- com o propósito de reutilização do pH na faixa de 5-9) e descartada
cam no banho revelador. metal e destinação correta das ra- na rede de esgotos.
Os processos de oxidação- diografias utilizadas. Os programas
redução são fenômenos vulgares e de coleta estimulam o cidadão a Tratamento das radiografias
bem conhecidos. O que torna no- encaminhar as radiografias já re-
tável a revelação fotográfica é que veladas para postos de arrecadação, Uma das principais dificul-
a redução da prata é fortemente mediante o pagamento simbólico dades enfrentadas durante o desen-
acelerada pela presença dos nú- desse serviço. Os resultados já ob- volvimento do procedimento de
cleos deste metal originados duran- tidos refletem uma tendência de recuperação eram as condições
te a fase de sensibilização da emul- crescimento desses projetos na extremamente caseiras, descritas
são pela luz. Europa e deveriam ter o mesmo no método. As radiografias a se-
Assim, e apesar de a forma- efeito nos países do nosso conti- rem tratadas eram manipuladas
ção de prata metálica ocorrer em nente, onde muito material desse individualmente, o que gerava ex-
toda a emulsão, ela é muito mais tipo é desperdiçado, tendo como posição direta do operador aos pro-
rápida nos cristais de haletos onde destino final aterros sanitários não dutos químicos e lentidão.
estes núcleos estão presentes, o que preparados para este fim. Dessa forma, além de testar
Pág. 60 Revista Científica do IMAPES - Abril de 2004

o processo químico do método, a so químico, o hipoclorito reagia na depositada sobre o filme


equipe de Iniciação Científica des- com a prata metálica, formando polimérico aumentou a velocidade
pendeu esforços no sentido de au- cloreto de prata e óxido de prata e a eficiência do processo de recu-
tomatizar o método, evitando os (onde deve-se ressaltar que parte peração, além de evitar o contato
problemas citados. do oxigênio do meio originava-se do operador com a solução de hi-
O método consistiu em da proteína desnaturada): poclorito de sódio, naturalmente
montar um recipiente estanque 4Ag0 + 2ClO- + H 2O à agressiva ao organismo. Uma vez
com tampa, que permitia realizar 2AgCl + Ag2O + 2OH- que o sistema é estanque, a opera-
as Fases 1 e 2, abaixo descritas, em ção dele pode ser executada fora do
Fase 3: o tratamento quími-
bateladas com 10 radiografias, sem co subseqüente transformava toda ambiente da capela do laboratório,
o contato do operador, através de a prata contida nas radiografias em permitindo uma maior liberdade de
um sistema a ar comprimido, que Ag2O e, posteriormente, em Ag0. ocupação do espaço de trabalho.
gerava uma circulação da solução Na Fase 2, uma parte da pra- O êxito do projeto foi de-
de hipoclorito de sódio entre as ta estava na forma de AgCl. Para monstrado pelo interesse dos visi-
radiografias, desnaturando a pro- oxidar essa prata no respectivo óxi- tantes da III Semana Profissional
teína e liberando a prata para a do, adicionou-se sacarose (açúcar) em aplicar, a nível comercial, o
solução (Fig. 2). ao meio, juntamente com hidróxi- processo de recuperação da prata.
do de sódio (soda cáustica). O açú- Esse tipo de negócio comercial já
car fornecia o oxigênio necessário é realizado com esse tipo de ma-
triz, embora com outra metodo-
à transformação do cloreto de pra-
ta no seu respectivo óxido, pois o logia, bastante rudimentar e não
oxigênio da matéria orgânica exis- tão segura. E, além de todo o co-
tente (proteína) era insuficiente nhecimento adquirido por esse tra-
para esse fim. Ocorreu também a balho, mais uma vez a conscienti-
oxidação da sacarose em CO2: zação entre os alunos pela dimi-
2AgCl + C 6H 12O 6 + nuição de descarte dos efluentes de
2NaOH à Ag2O + CO2 + H2O maneira inapropriada, viabilizan-
+ 2Na+ + 2Cl- do a recuperação de reagentes e
Na reação acima, observa-se auxiliando na defesa do meio am-
a formação de intermediário de biente, foi ponto de destaque.
Figura 2 - Sistema Estanque para a
ácido levulínico e ácido fórmico2. *Marcelo Sartoratto é bacha-
Desnaturação da Proteína das Radio-
grafias Reveladas Fase 4: queimou-se o Ag2O rel em Química Tecnológica pela
em mufla a 1000 oC para a forma- Unicamp, professor de Química no
Fase 1: submeteu-se as ra- ção da prata metálica. IMAPES, onde orienta um Grupo
diografias usadas a uma solução de Ag2O(S) à 2Ag0 + ½ O2(g) de Iniciação Científica, e encarre-
hipoclorito de sódio, alterando o
Conclusão gado do laboratório de Análises Am-
pH do meio (p/ alcalino). Essa
bientais do Centro Tecnológico da
variação de pH desnaturava a pro- A metodologia aplicada é viá- Marinha em São Paulo (CTMSP).
teína, liberando a prata: vel, permitindo a recuperação da
(Proteína - Ag0) + OH- à prata residual contida nas radiogra- **Alunos do terceiro ano do
Ag + Proteína + OH-
0
fias já reveladas. O sistema auto- Curso de Bacharelado em Quími-
Fase 2: dentro desse proces- mático de desnaturação da proteí- ca do IMAPES.

Referências Bibliográficas
1 – KUYA, M.K. – Recuperação de Prata de Radiografias: Uma Experiência Usando Recursos Caseiros, Química Nova 16 (5), 1993.
2 – ALEKSEEYSKII, E.V., GOLDBERG, M.B., J. Gen. Chem. ( USSR ), 1, 475, C.A. 26:2386, 1991.
3 - CETESB – Manual de Tratamento de Efluentes Químicos Gerados em Laboratório , 2000.
4 - CETESB – Legislação Estadual – Controle da Poluição Ambiental do Estado de São Paulo, Março 1992.
5 - CONAMA – Legislação Ambiental do Conselho Nacional do Meio-Ambiente, 1999.
Revista Científica do IMAPES - Abril de 2004 Pág. 61

Processo de Internacionalização
Organizacional
Maria Eliana Gomes Cardim de Queiroz Guimarães*

RESUMO

A necessidade de garantir o crescimento das exportações brasilei-


ras tem gerado uma busca mais intensa para o entendimento da operacio-
nalidade do comércio exterior. Empresas nacionais têm se defrontado, ten-
do, de um lado, uma acirrada concorrência internacional, e, do outro, bar-
reiras protecionistas nos mercados importadores. Para aumentar a partici-
pação brasileira no comércio internacional, profissionais dos setores públi-
cos e privados precisam caminhar na mesma direção, com estratégias se-
guras formuladas diante da dinâmica que o mercado internacional exige.

Desde a última década do US$ 100 milhões, treze a mais do passou de 957 para 1.093.
século XX, observa-se uma gran- que em 2002. Estas empresas ex- Levantamento feito pela
de modernização no parque indus- portaram US$ 42,69 bilhões, re- Fundação Centro de Estudos de
trial brasileiro, que está mais pro- presentando 58% do total vendi- Comércio Exterior (Funcex) cons-
dutivo, dinâmico e moderno. Esse do pelo Brasil. tatou que a cada ano, desde 1990,
fato está permitindo um aumento 3.350 empresas brasileiras, em mé-
Número de
na pauta exportadora brasileira, Ano empresas dia, iniciam na atividade de expor-
com produtos de alto valor agre- tação, mas apenas 20% deste total
1990 8.537
gado, como, por exemplo, aviões, 1991 9.473 permanecem no setor. Isso signifi-
ônibus, celulares e máquinas agrí- 1992 11.624 ca que anualmente cerca de 2,6 mil
colas. Portanto, nesta nova década, 1993 13.628 empresas estreantes no comércio ex-
pode-se considerar que o desafio do 1994 14.296 terior desistem da atividade.
1995 13.433
comércio exterior brasileiro será o As micros e pequenas em-
1996 13.397
aprimoramento das exportações. 1997 13.850 presas correspondem a 98% das
Há uma grande demanda empresas brasileiras. Entretanto,
Fonte: SECEX/MDIC

1998 13.966
internacional para os produtos bra- 1999 15.370 no tocante às exportações, uma
sileiros; entretanto, a participação 2000 16.246 pesquisa realizada no ano passado
2001 17.267
brasileira no comércio mundial é pelo Sebrae-SP mostrou que, das
2002 17.407
modesta, com exportações equiva- 2003 17.743 empresas exportadoras no Brasil,
lentes a 1% do comércio total, fi- apenas 29% são micro, pequenas
cando seu desempenho abaixo de Tabela 1: Empresas Exportadoras no e médias empresas. Esse conjunto
Brasil - 1990/2003
seu potencial. corresponde a apenas 1,7% (US$
Segundo dados do Ministé- A maior concentração de 800 milhões) do valor total expor-
rio do Desenvolvimento, Indústria empresas exportadoras está na fai- tado no País.
e Comércio Exterior (MDIC), em xa entre US$ 100 mil e US$ 400 Esses números comprovam
2003, 17.743 companhias expor- mil. Em 2002, eram 3.064 firmas a importância de se estabelecer um
taram, contra 17.407 no ano an- nesta faixa. No ano passado, foram plano de internacionalização, tan-
terior (Tabela 01). O valor vendi- 3.323, totalizando 259 empresas a to a nível governamental como
do também aumentou, passando mais. Outro crescimento significa- empresarial, onde sejam levanta-
de US$ 60,361 bilhões para US$ tivo foi verificado na faixa entre das as estratégias necessárias para
73,084 bilhões. No ano passado, US$ 1 bilhão e US$ 2 bilhões: o conquistar e manter clientes em
117 empresas venderam acima de número de empresas exportadoras mercados internacionais.
Pág. 62 Revista Científica do IMAPES - Abril de 2004

O mercado internacional é CAMPOS (1990) afirma que este econômicos, a fim de proteger os
extremamente competitivo e exi- tipo de comércio é um regulador interesses locais, podem pressionar
ge um fluxo constante de investi- da vida econômica dos países, pois os governantes quanto à produção
mentos em tecnologia e qualifica- permite obter produtos que, de de determinados bens internamen-
ção da mão-de-obra, sendo a ino- outra forma, seria impossível uti- te, mesmo que os mesmos pudes-
vação tecnológica a principal for- lizar; torna mais lucrativa a divi- sem ser adquiridos de outros paí-
ma de se obter vantagem compe- são do trabalho; intensifica a con- ses com custos menores;
titiva, pois permite redução de corrência entre produtores de mer- losonho da industrialização

custo, levando a empresa a obter cadorias similares às que são im- - produtos primários sofrem cons-
uma liderança de custo significa- portadas e permite maior flexibi- tantes flutuações de preços, e as po-
tiva na disputa do competitivo lidade diante de oscilações econô- líticas destinadas aos setores indus-
mercado global. micas entre a oferta e a procura. triais, além de elevar o nível de vida
Ainda no que diz respeito a Um dos primeiros autores a da população, dão prestígio para
custos, com a liberação do comér- se dedicar ao estudo do comércio governantes que as introduzem.
cio e a nova integração dos merca- internacional foi o economista in- MONTGOMERY e POR-
dos mundiais, as companhias tra- glês Adam Smith, em sua obra “A TER (1998) afirmam que as na-
taram de redistribuir geografica- Riqueza das Nações”, editada em ções têm sucesso em setores indus-
mente os vários segmentos de pro- 1776. Em sua doutrina, Adam triais onde são particularmente
dução, de acordo com as caracte- Smith procurou mostrar que a boas em criação de fatores que en-
rísticas de cada país. A liberdade aplicação da divisão do trabalho na volvem investimento pesado e sus-
comercial permitiu às empresas área internacional contribuía para tentado. Segundo eles, uma nação
privadas adquirirem mobilidade, a melhoria do bem-estar das po- não herda, mas, em vez disso, cria
instalando-se nos países onde o pulações, permitindo a especiali- os mais importantes fatores de pro-
custo de produção é menor, tendo zação de produções, aliada às tro- dução, recursos humanos habi-
também, como atrativo, o merca- cas entre as diversas nações. Sua litados e uma sólida base científica.
do interno destes países. Conside- doutrina deu origem ao princípio É difícil uma nação ser com-
rando estes dois fatores, o Brasil, básico da chamada Teoria das Van- petitiva em todos, ou mesmo na
depois da abertura comercial e es- tagens Absolutas: cada país deve maioria dos setores industriais. As
tabilização política, tornou-se um concentrar-se naquilo que pode nações têm sucesso em certos se-
grande captador de investimentos produzir a custo mais baixo e ex- tores porque seu ambiente inter-
diretos: “A possibilidade de vender portar parte dessa produção para no é o mais avançado, dinâmico e
em outros mercados permite às em- outros países. desafiador. Quando o ambiente
presas obter ganhos de escala, ven- Atualmente, o que se veri- nacional é formado por esforços e
dendo muito mais, mesmo que por fica são vários países produzindo comprometimento em conjunto,
um preço mais baixo. Estes ganhos praticamente de tudo e, segundo permite obter informações novas
geram investimentos e poupança, RATTI (2002), algumas razões e pressiona as empresas para que
dando maior estabilidade e solidez que fazem com que essa prática inovem e invistam, além de ga-
à economia do país. Por outro lado, ocorra são: nharem vantagem competitiva e
os valores que são injetados nas eco- lolimitações na especialização modernização.
nomias dos exportadores em troca - se um país aplicar todos os seus As empresas podem se abas-
dos produtos comercializados au- fatores de produção na fabricação tecer no comércio internacional de
mentam a quantidade de moeda de um único artigo poderá enfren- materiais, componentes ou tecno-
estrangeira, permitindo ao país ex- tar falta de procura por parte do logia, porém isso não agregará à
portador a valorização da moeda.“ mercado externo ou mesmo dimi- nação um grande efeito na inova-
LUPPI (2001, p.135) nuição do valor de seu produto por ção. É importante ter a presença
O Comércio Internacional excesso de oferta; de fornecedores locais internacio-
propicia, além do progresso uni- losegurança nacional - a es- nalmente competitivos, pois estes
versal planejado pelos países con- pecialização e o comércio livre propiciam insumos mais eficien-
forme as prioridades dos seus ob- criam uma interdependência en- tes em termos de custos e agilida-
jetivos econômicos e sociais, uma tre os países; de logística. E quando esses for-
maior harmonia no mundo. logrupos de pressão - grupos necedores são concorrentes glo-
Revista Científica do IMAPES - Abril de 2004 Pág. 63
bais, as empresas beneficiam-se ao dos, não bastam para pagar a com- demanda internacional.
máximo, pois os esforços são dire- pra desses mesmos produtos, às Porém, não é uma tarefa fá-
cionados a baixar os custos, a me- vezes, em alta no mercado inter- cil, pois exigirá, antes de tudo, de-
lhorar qualidade e serviços e a nacional. senvolver uma cultura organizacio-
criar produtos e processos. As medidas de política in- nal que envolva todos os colabo-
Atualmente, os consumido- dustrial e comercial afetam de for- radores internos e externos da
res não compram somente produ- mas diferentes os interesses dos empresa, com objetivos e metas
tos, mas estilos de vida, atitudes, produtores, dos consumidores, dos devidamente planejadas e integra-
valores. É necessário acompanhar residentes no país ou fora dele. das, o que significa ter uma visão
permanentemente as tendências Durante os últimos 20 anos, tive- do processo, saber se o que ela real-
internacionais, entender a opera- mos um tipo de gestão econômica mente produz satisfaz às necessi-
cionalidade e implementar mu- voltada exclusivamente para o cur- dades do seu cliente internacional,
danças estruturais eficientes para to prazo, para situações de emer- desenvolver um fluxo eficiente de
produzir com um custo mínimo, gência, seja inflação elevada, sejam informação, estar ciente de seu
mais e melhor. as crises continuadas. Com isso, custo versus benefício e sua plena
É evidente que não adianta perdeu-se de vista a perspectiva utilização, conquistar a união dos
produzir e ser competitivo, se não estrutural da economia brasileira, setores frente aos desafios do co-
há mercado para o produto fabri- seus obstáculos e seu potencial, em mércio internacional e dos recur-
cado. Com economias mundiais termos de mercado e possibilida- sos disponíveis.
desaquecidas, as empresas têm de de expansão. Como qualquer outra ativi-
menos mercados para seus produ- Portanto, as atividades de dade, a exportação está sujeita a
tos. Desta forma, exportar deman- comércio exterior devem ser reali- riscos e, para vencê-los, é impor-
da regras pré-estabelecidas com zadas com estratégias que visem tante identificar, avaliar e conquis-
base em estudos macroeconômicos fortalecer o conjunto das relações tar as oportunidades. Só consegui-
adequados. comerciais internacionais em lon- rão vencer no mercado competiti-
Campos (1990) comenta go prazo, avaliando-se criteriosa- vo internacional as nações e suas
que os países em desenvolvimen- mente seu custo e benefício, evi- empresas que tiverem criatividade
to, na ânsia de crescimento rápido tando-se penalizar as empresas e os necessária a inovação, qualidade e
e na tentativa de alcançar o status consumidores. profissionais comprometidos com
de desenvolvidos, procuram ex- O velho modelo de expor- os objetivos nacionais e com talen-
portar além dos seus excedentes de tação cujas estratégias são moeda to gerencial, capazes de adequar a
produção, acarretando, mais tar- desvalorizada, tarifas protetoras, organização e o produto no mer-
de, não raras vezes, problemas de mão-de-obra barata e subsídios cado internacional.
abastecimento de suas populações, não funciona em longo prazo.
porque o que lhes sobra em recur- Entende-se, hoje, que um alto grau *Maria Eliana Gomes Car-
sos cambiais lhes falta em provi- de competitividade da produção dim de Queiroz Guimarães é mes-
são interna da mercadoria expor- doméstica é um dos fatores para a tre em Engenharia de Produção pela
tada. E, na importação de produ- sustentação das exportações, onde Universidade Metodista de Piraci-
tos similares oriundos de outros o importante é identificar, desen- caba, especialista em Gestão do Co-
países com os quais mantêm rela- volver, implementar estratégias e mércio Internacional, professora e
ções comerciais, freqüentemente táticas organizacionais visando coordenadora de estágio do Curso
os recursos cambiais, antes obti- atender com pro-fissionalismo a de Administração do IMAPES.

Referências Bibliográficas
CAMPOS, Antônio. Comércio Internacional e Importação. São Paulo: Aduaneiras. 1990.
LUPI, André L. P. Bastos. Soberania, OMC e Mercosul. São Paulo: Aduaneiras, 2001. p.135.
MONTGOMERY, Cynthia A.; PORTER, Michael E. Estratégia: A Busca Da Vantagem Competitiva. Tradução de Bazán Tecnologia e
Linguística. Rio de Janeiro: Campus, 1998.
RATTI, Bruno. Comércio Internacional e Câmbio. São Paulo: Aduaneiras. 2002.
Pág. 64 Revista Científica do IMAPES - Abril de 2004

Estudo de cimentos cerâmicos


utilizados na restauração óssea
David Vogel*, Eliane Lorenzon*, Flávio Godoy*, Luiz Carlos Henrique*,
Juliana Moreli*, Norberto Aranha**

RESUMO

Neste trabalho, foram testadas algumas composições para a obten-


ção de cimentos inorgânicos à temperatura ambiente, a serem utilizados na
restauração de defeitos ósseos. O intuito é obter um cimento de fácil prepa-
ração e manipulação que também possa ser injetado diretamente na região
lesada do osso. Foram escolhidos reagentes contendo cálcio e o fósforo, por
serem esses os elementos responsáveis pela parte inorgânica dos tecidos
ósseos. Neste estudo, foram realizadas diferentes combinações de reagen-
tes variando a razão Ca/P. Entretanto, estão sendo investigadas com maior
atenção somente as composições que satisfizeram os seguintes critérios: a)
baixa temperatura de síntese (temperatura ambiente), b) tempo de cura de
até 15 minutos, c) valores de dureza compatíveis com o osso. Estes mate-
riais foram caracterizados pela técnica de difratometria de raios-x, onde cons-
tatou-se a formação de hidroxiapatita em algumas amostras estudadas

Introdução forma geral, não existe uma inte- reparação de partes danificadas ou
ração íntima (que envolva ligações destruídas do corpo humano, vem
A preocupação do homem ou reações químicas) entre o ma- sendo estudada a longo tempo
em desenvolver equipamentos e terial ou equipamento e o tecido (Prolo, 1985; Chase, 1955; Barth,
materiais utilizados por pessoas vivo. Aqui temos uma atuação 1998). Um dos materiais estuda-
portadoras de algum tipo de de- mecânica, como os ajustes realiza- dos a partir da década de 30 foi a
ficiência física, seja ela de nascen- dos numa muleta ou óculos, e a Hidroxiapatita (HA) (HENCH,
ça ou provocada por acidente, minimização do peso de próteses, 1995, 1971), composta basica-
vem de longa data. Ao longo dos tais como pernas mecânicas. Com mente de cálcio e fósforo,
séculos, o homem tem avançado isto, há um maior conforto para Ca10(PO4)6(OH)2, que por apre-
no desenvolvimento de técnicas, as pessoas que utilizam esses mate- sentar uma estrutura semelhante
equipamentos e materiais capazes riais. Já na atuação interna, há a ao osso é até hoje muito utilizada.
de melhorar as condições dessas utilização de tubos para respiração Todos os materiais estuda-
pessoas. artificial, catéteres, endoscópios dos e testados têm como caracte-
Podemos, a princípio, divi- para visualização de tecidos, órgãos rística a compatibilidade com o
dir a atuação para a melhora das ou mesmo na ajuda de interferên- organismo humano, seja ela bioa-
condições de vida dessas pessoas cia cirúrgica. No caso de repara- tiva e/ou mecânica (biocompatibi-
em dois grupos: externo e interno ção ou substituição de tecidos vi- lidade) (HENCH, 1995, 1971),
ao organismo humano. A atuação vos, tem-se testado, ao longo dos de modo a evitar danos ou rejei-
externa diz respeito ao desenvol- últimos anos, diferentes materiais, ção por parte do organismo. Os
vimento de equipamentos que cor- ou mesmo técnicas cirúrgicas, na avanços na melhora da performan-
rijam e/ou minimizem algum tipo tentativa de restaurar as funções ce desses biomateriais têm possi-
de deficiência física como, por normais de funcionamento destes. bilitado um aumento no número
exemplo, óculos, lentes de conta- A possibilidade de utilizar de implantes (ortopédicos, dentá-
to, cadeira de rodas, próteses me- materiais inorgânicos em aplica- rios, etc.) e, como conseqüência,
cânicas, etc. Neste caso, de uma ções médicas, especificamente na um aumento na expectativa de
Revista Científica do IMAPES - Abril de 2004 Pág. 65
vida dos pacientes. vestigadas diversas fases de fosfato 8 amostras com composições di-
O osso é um material com- de cálcio para serem utilizados ferentes. Na tabela 1 são apresen-
posto por uma parte orgânica e como biomateriais em cirurgias tas todas as composições testadas
outra inorgânica, sendo que esta ortopédicas, na reparação de de- e as diferentes soluções utilizadas.
última apresenta uma estrutura feitos ósseos ou no aumento do As amostras, após a mistura
compacta e/ou porosa. Esta carac- tamanho do osso. entre os pós e as soluções, também
terística de porosidade varia de- Com o objetivo de estudar foram aquecidas numa mufla a
pendendo do tipo de osso. Em esses materiais, propusemos neste temperatura de 80 oC por 1 hora.
vista disso, a forma na qual o bio- projeto a obtenção de cimentos Após este procedimento, foram
material deva ser conformado de- inorgânicos, sintetizados à tempe- resfriadas até a temperatura am-
pende de sua função no organis- ratura ambiente a partir de reagen- biente, na taxa normal de resfria-
mo. Implantes para preenchimen- tes comerciais, para serem aplica- mento da mufla.
to de tecido ósseo, como no caso dos na restauração de tecidos ós- As amostras foram caracte-
da restauração de maxilar, são usa- seos, ou mesmo serem injetáveis rizadas pela técnica de difratome-
dos na forma de pó, partículas ou na região lesada. tria de raios-x, utilizando um di-
materiais porosos. Em regiões fratômetro da marca Philips, mo-
onde é necessário melhorar as Parte experimental delo PW3710, com tubo gerador
propriedades químicas interfaciais de Cu, do Laboratório de Mate-
e a fixação mecânica, como, por As colas inorgânicas foram riais Nucleares — LABMAT do
exemplo, no caso de próteses me- obtidas a partir da mistura de: Centro Experimental ARAMAR.
tálicas para a fixação do fêmur, CaCO 3, Ca(OH)2 e (NaPO3)n.
utilizam-se filmes de Hidroxiapa- Esses reagentes, em quantidades Resultados e discussão
tita, cerâmicas ou mesmo vitro- pré-estabelecidas, foram mistura-
cerâmicas bioativas sobre a pró- dos em almofariz de ágata. Após a Todas as composições tes-
tese metálica. Implantes na for- mistura adicionou-se, a cada com- tadas resultaram em amostras
ma de “bulk” são aplicados nas posição, uma solução composta de com diferentes tempos de cura e
regiões do corpo humano subme- Na2HPO4 (diluído em água desti- graus de dureza, dependendo da
tidas a maiores cargas. lada) e H3PO4 (concentrado), até relação entre os reagentes de par-
Entre os materiais testados formar uma pasta consistente. tida e da quantidade e tipo de
na restauração e substituição de Esta, em seguida, foi colocada em solução adicionada para a forma-
tecidos ósseos, os fosfatos de cál- recipientes plásticos abertos para ção das colas.
cio têm atraído grande atenção na secagem à temperatura ambiente. As soluções 3 e 4 foram des-
medicina, particularmente nas Deste modo, obteve-se um total de cartadas, uma vez que, tanto mis-
áreas odontológica e ortopédica,
Reagentes Composição A Composição B
por apresentar excelente biocom- [g] [g]
patibilidade devido suas proprie-
dades de reparar ossos. Existem es- CaCo3 0,784 1,496
tudos na literatura (Prolo, 1985; Ca(OH)2 2,036 1,384
Chase, 1955; Barth, 1998;
(NaPO3)n 1,18 1,12
Huggins, 1937; Narasaraju, 1996)
envolvendo a síntese, caracterização
e implantação de cimentos (ou co-
Soluções 1g Na2HPO4 H3PO4
las) de fosfatos de cálcio injetáveis diluído em 99g de Concentrado
utilizando-se α e β fosfato tricálci- água destilada
co, α-TCP e β-TCP (Ca3(PO4)2),
monohidrogeno fosfato de cálcio 1 50% 50%
dihidratado, DCPD (CaHPO4.2 2 100% —
H2O), fosfato de octacálcio, OCP 3 — 100%
(Ca8H2(PO4)6.5H2O), carbonato 4 10% 90%
de cálcio, ácido fosfórico, entre
outros. Nesses estudos, foram in- Tabela 1 - Composições e soluções utilizadas
Pág. 66 Revista Científica do IMAPES - Abril de 2004

turadas às composições A e B, ti- das pelas fases CaCO3 (calcita) e


Na tentativa
veram um tempo de secagem mui- CaPO3(OH) (monetita). Na rea-
de garantir a
to longo (> 1 hora), além de não lidade, a quantidade de picos pre-
formarem um material sólido con- secagem do material, sentes no difratograma da figura
sistente. as amostras 1 dificultou um pouco a deter-
A composição A, misturada foram aquecidas em minação do CaCO3, mas esta fase
às soluções 1 e 2, resultou num tem- mufla a 80 oC por estava presente na amostra antes
po de secagem em torno de 10 e 17 uma hora. Esse teste de ser aquecida, uma vez que este
minutos, respectivamente. Já a resultou em carbonato foi um dos reagentes
composição B, misturada à solução diminuição das fases utilizados na mistura inicial do
1, teve um tempo de secagem bem existentes no cimento. Este fato, porém, não
reduzido, em torno de 2 minutos. material ocorreu com a composição B
Esta mesma composição, mistura- quando misturada à solução 2.
da com a solução 2, levou 19 mi- foram: Ca(OH) 2 e Ca10(PO 4) 3 Neste caso, o aquecimento, nas
nutos para secar. A solução 5, adi- (CO3)3(OH)2 (hidroxiapatita car- mesmas condições citadas acima,
cionada às composições A e B, ape- bonatada) (figura 2). A composi- não alterou a estrutura cristalina
sar de resultar num tempo de seca- ção B, por sua vez, formou as fa- do material, mantendo o CaCO3
gem elevado, em torno de 90 mi- ses: CaPO3(OH)2H2O (brushite) (calcita) e, principalmente, a fase
nutos, não foi descartada, uma vez e CaHPO 4 (monetita) quando Ca5(PO4)3(OH) (hidroxiapatita),
que apresentou fases cristalinas im- misturada à solução 1 (figura 4), e como confirmado pelos difrato-
portantes para este estudo. ao ser utilizada a solução 2 houve gramas das figuras 5 e 6.
Todas as amostras estudadas, a formação de CaCO3 (calcita) e Nesses resultados prelimi-
com diferenças na relação entre os Ca5(PO4)3(OH) (hidroxiapatita) nares, fica claro que a presença do
reagentes de partida e tipo de so- (figura 5). ácido fosfórico inibe a formação
lução, formaram diferentes estru- O aquecimento da amostra de fases apatitas, em particular a
turas cristalinas confirmadas pelos foi outro fator que provocou alte- hidroxiapatita, o que não ocorreu
difratogramas de raios-X, confor- rações significativas na estrutura com a solução 2 (Na 2HPO4 +
me especificado abaixo de cada cristalina do material. Na tentati- H2O), que formou hidroxiapati-
difratograma. va de garantir a secagem do mate- ta quando utilizada nas composi-
O tipo de solução é funda- rial, as amostras foram aquecidas ções A e B (figuras 2, 5 e 6). Este
mental na formação das fases cris- em mufla a 80 oC por uma hora. resultado é muito importante,
talinas, como pode ser observado Esse teste resultou em diminuição uma vez que a Hidroxiapatita é a
nas figuras 1, 2, 4 e 5. Na amostra das fases existentes no material. fase inorgânica formadora de te-
da composição A com a solução 1, Como exemplo, temos a compo- cido ósseo. A possibilidade de
os picos presentes nos difratogra- sição A com a solução 1, que teve obtê-la via mistura de reagentes à
mas referem-se às fases: Na2HPO4 suas fases Na2HPO4 e Na2HPO4. temperatura ambiente torna este
e Na2HPO4.7H2O (figura 1). Já 7H2O, formadas inicialmente à método interessante devido a sua
com a solução 2, as fases formadas temperatura ambiente, substituí- simplicidade e custo.

Figura 2 – Composição A + Solução 2,


Figura 1 - Composição A + solução 1
X = Ca10(PO4)3(CO3)3(OH)2 (hidroxiapatita
(Na2HPO4 e Na2HPO4.7H2O) carbonatada)
Revista Científica do IMAPES - Abril de 2004 Pág. 67

Figura 3 – Composição A + solução 1, Figura 4 - Composição B + Solução 1;


aquecida a 80 oC; CaCO3 (calcita) e X = CaPO3(OH)2H2O (brushite),
CaPO3(OH) (monetita). CaHPO4 (monetita).

Figura 5 - Composição B + Solução 2; Figura 6 - Composição B + Solução 2


CaCO3 (calcita) e o = Ca5(PO4)3(OH) (aquecida a 80oC); CaCO3 (calcita) e
(hidroxiapatita) o = Ca5(PO4)3(OH) (hidroxiapatita)

Conclusões (CO3)3(OH)2 (hidroxiapatita car- * Alunos de Iniciação Cientí-


bonatada) e Ca5(PO4)3(OH) (hi- fica do Curso de Bacharelado em
As amostras obtidas neste droxiapatita). Química do IMAPES.
trabalho apresentaram diferentes Os resultados preliminares
fases cristalinas. Em particular, sugerem que a composição e o ** Norberto Aranha é doutor
destacam-se as composições A e processo de síntese desses cimen- em Ciências pela Unicamp, profes-
B, que utilizaram a solução 2 tos inorgânicos viabiliza a forma- sor de Física do Curso de Química
como fase líquida para preparar ção de hidroxiapatita e, deste do IMAPES e professor de Mate-
o cimento, que apresentaram, res- modo, podem ser utilizados na riais do Curso de Engenharia Me-
pectivamente, as fases: Ca10(PO4)3 restauração óssea. cânica da Facens.

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Pág. 68 Revista Científica do IMAPES - Abril de 2004

Aspectos do tratamento
biológico de esgotos domésticos
Danielle Pires de Camargo Torres*

Introdução vação dos corpos hídricos onde os Os esgotos domésticos têm


mesmos são lançados. O esgoto características bem definidas, que
A poluição do meio am- não tratado lançado nas águas dos variam em função dos costumes e
biente tornou-se de interesse pú- rios pode causar uma série de im- das condições sócio-econômicas
blico em todo o mundo, já que pactos ao corpo hídrico e à sua fau- das populações, e compõem-se
muitos países vêm sendo afetados na, sendo o principal a redução do basicamente de águas de banho,
por seus graves impactos. Um dos oxigênio dissolvido na água, devi- urina, fezes, restos de alimentos,
principais problemas ambientais é do ao seu consumo pelos micror- sabões, detergentes e águas de la-
a utilização da água dos rios como ganismos (especialmente bacté- vagem. A quantidade de esgoto
principal meio de transporte para rias) para a degradação da matéria produzido por uma cidade depen-
os esgotos. É neste contexto que orgânica, o que prejudica peixes e de primeiramente do volume de
as ações do saneamento devem as- outros organismos aquáticos, po- água consumido; assim, quanto
segurar um meio ambiente saudá- dendo até causar a morte destes, mais água é utilizada, mais esgoto
vel à vida humana e à vida de ou- em casos de exaustão do oxigênio é produzido. É comum a utiliza-
tros seres vivos, através do contro- dissolvido da água. ção de 120 L/pessoa/dia de água,
le da poluição da água. Os esgotos lançados sem tra- onde cerca de 60 a 80% desta se
A disposição adequada dos tamento nos rios, além dos pro- transforma em despejos.
esgotos é essencial à proteção da blemas ligados à saúde pública e A composição do esgoto do-
saúde pública. Aproximadamente dos impactos aos recursos hídricos, méstico é razoavelmente constan-
cinqüenta infecções podem ser podem propiciar o aparecimento te, sendo formado por cerca de
transmitidas por diferentes cami- de maus odores, a formação de es- 99,9% de água. A fração restante
nhos, envolvendo os excretos hu- pumas (especialmente em pontos são impurezas de natureza física,
manos transportados pelos esgotos, de agitação da massa líquida), além química e biológica e é devido a essa
os quais podem contaminar a água, de outros problemas estéticos. fração de 0,1% que há a necessida-
os alimentos, o solo, etc., causan- Diante destes problemas, se de de se tratar os esgotos sanitários.
do a proliferação de doenças. Al- justifica a importância de se efe- Enquanto os esgotos domés-
gumas doenças que podem ser tuar o tratamento dos esgotos, atra- ticos têm características bem defi-
transmitidas pela disposição inade- vés do qual se removem as impu- nidas e composição praticamente
quada dos esgotos sem tratamen- rezas físicas, químicas e biológicas, constante, os efluentes industriais
to, como febre tifóide, cólera, di- além de organismos patogênicos. (que provêm de qualquer utiliza-
senterias, hepatite infecciosa e inú- ção da água para fins industriais)
meros casos de verminoses, são Esgotos sanitários são extremamente diversos. Eles
responsáveis por elevados índices adquirem características próprias
de mortalidade em países do ter- O esgoto doméstico é a par- em função dos processos indus-
ceiro mundo, especialmente de cela mais significativa dos esgotos triais empregados, cuja composi-
crianças. sanitários, sendo proveniente de ção varia em função do tipo e do
Além do problema de saúde residências e de quaisquer edifica- porte da indústria. Assim, o efluen-
pública que representa a disposi- ções que contenham instalações de te de cada indústria deve ser con-
ção de esgotos não-tratados, outra banheiros, lavanderias, cozinhas, ou siderado isoladamente, podendo
razão que justifica a importância qualquer dispositivo de utilização ser submetido a diversos proces-
de se tratar os esgotos é a preser- da água para fins domésticos. sos de tratamento de acordo com
Revista Científica do IMAPES - Abril de 2004 Pág. 69
as suas características. O mesmo de lodos ativados (fig.1). Neste pro- biana envolvida nos processos ae-
não ocorre com esgoto doméstico, cesso de tratamento, os microrga- róbios de tratamento é constituí-
que é tratado por processos natu- nismos responsáveis pela depuração da basicamente por bactérias e pro-
rais, caracterizando o chamado tra- ficam suspensos na massa líquida tozoários, sendo as bactérias orga-
tamento biológico. do reator, na forma de flocos (fig.2), nismos de maior importância, pois
que são aglomerações de grande va- estas decompõem a matéria orgâ-
Tratamento biológico riedade de microrganismos, mate- nica complexa, transformando-a
riais coloidais orgânicos e inorgâ- em compostos orgânicos mais sim-
A tecnologia empregada no nicos, e grande quantidade de ma- ples e estáveis. Outros organismos,
tratamento biológico dos despejos terial particulado, todos juntos como rotíferos, anelídeos, nema-
baseia-se no processo natural de numa matriz gelatinosa de polissa- tóides e fungos também podem ser
biodegradação da matéria orgâni- carídeos produzida por bactérias. encontrados em estações de trata-
ca que ocorre no curso de um rio Os flocos geralmente têm diâme- mento de lodos ativados, mas, de
ou num lago poluído por despejos tro entre 0,2 a 1 mm. modo geral, a diversidade de espé-
orgânicos, a chamada autodepura- cies dos microrganismos compo-
ção, cujos princípios são aplicados nentes da biomassa é baixa.
nas estações de tratamento de es-
gotos. Assim, nas estações de tra- Lançamento de esgotos nos
tamento de esgotos, o homem pro- rios e a Legislação
cura repetir os processos naturais
de decomposição dos compostos Numa estação de tratamen-
orgânicos que se observam nos rios Fig. 1 - Reator biológico (tanque de to de esgotos domésticos, deseja-
aeração) de estação de tratamento de
e lagos, criando condições favorá- lodos ativados. se a remoção de matéria orgânica,
veis ao desenvolvimento rápido de sólidos em suspensão e organismos
microrganismos e uma intensa ati- patogênicos. E a qualidade dos es-
vidade decompositora, utilizando gotos que deve ser obtida através
áreas pequenas, curto período de do tratamento deve satisfazer às
tempo e emprego de tecnologia. legislações específicas que foram
Em outras palavras, trata-se de criadas como instrumento de con-
uma autodepuração em ambiente trole da poluição das águas natu-
confinado e restrito. Fig. 2 - Fotomicrografia mostrando o rais, que expressam padrões de
Praticamente todos os com- aspecto de flocos de lodos ativados de qualidade dos corpos receptores
tanque de aeração, com presença de
postos encontrados nos esgotos do- protozoário ciliado pedunculado (au-
(rios) e padrões para o lançamen-
mésticos são instáveis e se decom- mento de 100 X). to de efluentes.
põem rapidamente, através do pro- Desta forma, a qualidade a
cesso biológico de depuração, onde Microbiota responsável ser mantida no corpo d’água é ex-
as impurezas orgânicas dos esgo- pela depuração pressa na forma de padrões, atra-
tos são transformadas em compos- vés da Resolução nº 20 do
tos simples, sais minerais e gás car- O papel desempenhado pe- CONAMA (Legislação Federal) e
bônico. A depuração, que ocorre los microrganismos no tratamento do Decreto Estadual nº 8.468 (Le-
por meio de uma interação de di- de esgotos depende do processo a gislação Estadual de São Paulo).
versos mecanismos para degradar ser utilizado. Em geral, os princi- Ambas as legislações apresentam
a matéria orgânica, é realizada atra- pais grupos de microrganismos pre- ainda padrões para o lançamento
vés de reações enzimáticas de mi- sentes nos esgotos, suas caracterís- de efluentes nos corpos d’água.
crorganismos que se desenvolvem ticas principais e a importância des- Os padrões de qualidade dos
e proliferam rapidamente no esgo- tes no tratamento biológico dos es- corpos receptores e os padrões para
to rico em substâncias orgânicas gotos são apresentados na Tabela 1. o lançamento de efluentes nestes
que lhes servem de alimento. Os principais microrganis- estão interrelacionados, e o obje-
Um dos processos de trata- mos encontrados nos esgotos são tivo de ambos é a preservação da
mento biológico de despejos mais bactérias, protozoários, fungos, ví- qualidade do corpo d’água. No
empregados no mundo é o sistema rus e algas. Porém, a massa micro- entanto, os padrões de lançamen-
Pág. 70 Revista Científica do IMAPES - Abril de 2004

Microrganismo Descrição A água é um recurso finito


e, embora não exista escassez glo-
Organismos unicelulares São os principais responsáveis pela bal de água, muitos problemas lo-
Fonte: Von Sperling (1996).

Bactérias estabilização da matéria orgânica Algumas bactérias são


patogênicas, causando principalmente doenças intestinais
cais já estão acontecendo. A in-
terferência do homem na geração
Organismos unicelulares e lançamento de despejos domés-
A maioria é aeróbia ou facultativa ticos ou industriais sem tratamen-
Protozoários Alimentam-se de bactérias, algas e outros microrganismos
São essenciais no tratamento biológico para a manutenção de to prévio está piorando o proble-
um equilíbrio entre os diversos grupos. Alguns são patogênicos. ma, uma vez que os mananciais
Tabela 1. Principais microrganismos de importância no tratamento
superficiais e subterrâneos ainda
biológico, e suas características continuam sendo poluídos, ten-
do a qualidade de suas águas afe-
to existem apenas por uma ques- dos nossos recursos. Todos os se- tadas.
tão prática, já que é difícil ter o res vivos necessitam de água para Assim, torna-se urgente a
controle efetivo das fontes polui- sua sobrevivência, pois as reações necessidade de serem tomadas
doras baseando-se apenas na qua- bioquímicas que acontecem du- medidas mais rigorosas para a pro-
lidade do corpo receptor. Assim, o rante o metabolismo e o cresci- teção das águas, e uma das atitu-
interrelacionamento entre os dois mento das células ocorrem so- des que devem ser tomadas é a ces-
padrões se dá no sentido de que mente em meio aquoso. sação do lançamento de águas
um efluente, além de satisfazer aos No entanto, a importância residuárias (esgotos) nas bacias
padrões de lançamento, deve pro- da água é freqüentemente esque- hidrográficas, sem tratamento.
porcionar condições para que a cida. Nós usamos, desperdiçamos
qualidade do corpo receptor não e a poluímos, sem pensar no futu- *Danielle Pires de Camargo
seja alterada. ro, na sua qualidade e se haverá Torres é bióloga, mestranda em En-
água disponível. Além disso, es- genharia Hidráulica e Sanitária
Conclusão quecemos o longo percurso das pela USP e professora de Educação
águas retiradas do meio ambiente Ambiental no Curso de Licenciatu-
A água é o mais precioso até chegar às nossas torneiras. ra em Química do IMAPES.

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Revista Científica do IMAPES - Abril de 2004 Pág. 71

Antocianinas: pigmento
natural ou remédio?
Maria do Carmo Guedes*

RESUMO

Antocianinas, importantes pigmentos naturais vermelhos, presen-


tes em uma grande diversidade de plantas e alimentos, apresentam, além
de suas funções biológicas, propriedades farmacológicas e terapêuticas,
como vasodilatador, agente antioxidante, protetor para o coração e doen-
ças cardíacas associadas com alto nível de colesterol, entre outras. Os
estudos em humanos ou células humanas precisam ser intensificados para
comprovação dos efeitos benéficos.

Introdução ao grupo geral de compostos de- da natureza e do número de açú-


nominados Flavonóides, conside- cares (glicosídeo) ligados à molé-
As Antocianinas são pig- rados metabólitos secundários das cula e da posição da ligação e da
mentos aquossolúveis responsáveis plantas. Existem cerca de 4.000 natureza e número de ácidos
pela cor vermelha das flores, fru- Flavonóides, dos quais mais de 300 alifáticos e aromáticos ligados aos
tos e plantas. são Antocianinas. açúcares na molécula.
Sua cor vermelha pode va- A molécula da Antocianina As Antocinidinas de maior
riar de tonalidade desde o alaran- é formada de duas partes a três ocorrência são a Pelargonidina,
jado (como no morango) até o ro- partes, compreendendo a Aglico- Cianidina, Delfinidina, Peonidina,
xo (berinjela), passando pelo azul na ou Antocinidina, um grupo de Petunidina e Malvidina, cujas co-
(especialmente em flores). açúcares e um grupo de ácidos. res variam de acordo com os gru-
A cor das Antocianinas está Quimicamente, são glicosídeos po- pos substituintes da molécula,
especialmente associada com fru- lihidroxilados e polimetoxilados como resumido na tabela 1.
tas (açaí, acerola, ameixa, amora, derivados do cátion 2-fenilbenzo- Os açúcares encontrados
cereja, figo, framboesa, groselha, piriluim ou cátion Flavílium, con- com maior freqüência na nature-
maçã, morango, uva) e também forme apresentado na figura 1. za ligados às agliconas são: glicose,
com vegetais, cereais, raízes e grãos As diferenças estruturais ramnose, xilose, galactose, arabi-
(azeitonas, repolho roxo, batata entre as Antocianinas individuais nose e frutose. Podem estar na for-
doce roxa, etc.). (1) são resultado do número de gru- ma de monoglicosídeos, diglicosí-
Dados de ingestão apontam pos hidroxilas na molécula, do deos e triglicosídeos.
o consumo de Antocianinas de grau de metilação desses grupos,
cerca de 215 mg no verão e 180 O-R1
mg durante o inverno. O vinho +
tinto, uma das mais ricas fontes de R7-O
O
Antocianinas, contendo cerca de O-R2
200 mg/L (2), apresenta a maior
via de ingestão do pigmento, prin-
cipalmente na Europa e EUA.
O-R3
O-Glicosídeo
Química das Antocianinas
O-R5
As Antocianinas pertencem Figura 1 - Molécula básica da Antocianina.
Pág. 72 Revista Científica do IMAPES - Abril de 2004

As Antocinidinas, sendo ins- coumárico e 1 molécula de ácido leceram um nível de ingestão que
táveis e muito menos solúveis que malônico (6). não produz efeitos de 7,5% de
as Antocianinas, não se acumulam Antocianina na dieta, equivalen-
na planta (3) e os pigmentos que Metabolismo de antocianinas te a 5 g/Kg de peso corpóreo/dia.
ocorrem nas flores, frutas e folhas
estão na forma glicosídica, com os Evidências disponíveis atra- Propriedades farmacológicas
açúcares conferindo solubilidade e vés de estudos metabólicos com de antocianinas
estabilidade às Antocinidinas (4). animais indicam que as Antocia-
Os ácidos mais comumente ninas não são somente não tóxicas Antocianinas são conheci-
encontrados nas Antocianinas são, e não-mutagênicas como possuem das por apresentar propriedades
por ordem de ocorrência: coumá- propriedades terapêuticas benéfi- farmacológicas, sendo utilizadas
rico, caféico, ferúlico, p-hidroxi- cas (7). Becci et al. (1983) estabe- para propósitos terapêuticos.
benzóico, sinápico, malônico, acé-
tico, succínico, oxálico, málico (5). Nome Modelo de substituição Cor
A maior molécula de anto- R3' R4' R5'
cianina conhecida é o pigmento
Ternatin A1 das pétalas azuis da Pelargonidina H OH H Laranja
Cianidina OH OH H Vermelha
ervilha “butterfly” (Clitoria ternatea Delfinidina OH OH OH Vermelha azulada
L. leguminosoe). Ela é um deriva- Peoniodina OCH3 OH H Vermelha azulada
do poliacilado da Delfinidina 3, 3', Petunidina OCH3 OH OH Vermelha azulada
5' - triglicosídeo, composta da Malvidina OCH 3 OCH3 OH Vermelha arroxeada
Delfinidina com 7 moléculas de
glicose, 4 moléculas de ácido p- Tabela 1. Antocianidinas de maior ocorrência na natureza

Fonte de Antocianinas Propriedade farmacológica — uso terapêutico Ref.

Vaccinium myrtillus Vasoproteção e Antiinflamatório (16)


Vaccinium myrtillus Redução da permeabilidade e fragilidade de vasos capilares
Antocianinas atuando como vasodilatadores (9)
Vaccinium myrtillus Infeções oftalmológicas (10)
Vaccinium myrtillus Atividade antiúlcera (11)
Uvas Efeito anticonvulsante (12)
Malvidina-3-glicosídeo (da uva) Redução do nível de colesterol e triglicérides (13)
Cianidina Redução da toxicidade de complexos de platina
Antocianinas como quimioprotetores durante terapia
com drogas contendo platina (14)
Cianidina e delfinidina Proteção contra Indução de danos ao DNA induzidos
-glicosídeos e rutinosídeos por tert-butil-hidroperóxido
Antocianinas atuando como agentes antioxidantes (15)
Proantocianidinas Cardioproteção
Antocianinas atuando como agentes antioxidantes (17)
Procianidinas da fruta Manutenção da saúde do trato urinário (18)
cranberry e amora
Extrato de Chamenerion Proteção contra vírus da gripe Influenza (19)
angustifolium
Vinhos tintos Supressão de Radicais Livres
Antocianinas atuando como agentes antioxidantes (20)

Tabela 2. Principais propriedades farmacológicas das Antocianinas


Revista Científica do IMAPES - Abril de 2004 Pág. 73
A tabela 2 (pág. 73) apre- secundários das plantas, além de mente se considerarmos a possibi-
senta as principais propriedades suas propriedades biológicas como lidade de drogas à base de Anto-
farmacológicas e terapêuticas in- atrair insetos para facilitar polini- cianinas.
vestigadas e relatadas pelos pesqui- zação e distribuição de sementes,
sadores. colaborador na fotossíntese e co- *Maria do Carmo Guedes é
rante, possuem diversas proprieda- graduada em Química pela Uni-
Conclusão des farmacológicas importantes, camp, doutora em Ciência de Ali-
comprovadas por meio de estudos mentos (FEA-Unicamp), professora
As Antocianinas, pigmentos em animais. do IMAPES e FEA-Unicamp e
naturais aquossolúveis, de cor ver- Esses estudos precisam ser orientadora de Projeto de Iniciação
melha, consideradas metabólitos amplamente realizados, principal- Científica no IMAPES.

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Informalidade e empregabilidade
como conceitos de entendimento
do mercado de trabalho
Sergio Nagib Sabbag*

RESUMO

Este artigo é um comentário do texto “Mercado de Trabalho, Ontem e


Hoje: Informalidade e Empregabilidade como Categorias de Entendimento”,
de Luiz Antonio Machado da Silva, que analisa os conceitos sociológicos da
Informalidade e da Empregabilidade. Estas categorias analíticas demons-
tram imprecisão e pouca consistência teórica, o que contribui para distor-
ções na compreensão de fenômenos sociais e comportamentos no mundo
do trabalho. Apresentam-se ilustrações sobre situações atuais e propõe-se
um maior aprofundamento por parte de pesquisadores e profissionais sobre
o assunto, para uma maior eficácia na busca desta compreensão.

Introdução desta categoria, as noções de “em- aspectos dessa transformação: a ter-


pregabilidade e empreendedoris- ceirização e a flexibilização. (Ma-
O presente artigo baseia-se mo”. O argumento básico é que, chado da Silva, 2003, p. 159, 160)
no comentário de alguns concei- desde mais ou menos o final dos A reestruturação produtiva
tos descritos no artigo “Mercado anos 60 até o início dos anos 80, a tem sido associada com a “infor-
de Trabalho, Ontem e Hoje: In- noção de informalidade era uma ca- malização” das relações do traba-
formalidade e Empregabilidade tegoria cognitiva em torno da qual lho, caracterizada pela oposição
como Categorias de Entendimen- existia um debate mais ou menos entre o ter ou não ter carteira de
to”, de Luiz Antonio Machado da estruturado. Nas últimas décadas, trabalho assinada. Os informais
Silva (2003). Este autor realiza perdeu seu valor catalizador. Daí a são vistos como um bloco homo-
uma revisão de como os conceitos dificuldade de construir seu atual gêneo. Esta visão traz uma série de
de informalidade e empregabilida- perfil, com uma noção tão expan- mitos, um dos quais que o traba-
de são utilizados como categorias dida que torna-se inespecífica. (Ma- lho informal seria uma solução
de entendimento na Sociologia do chado da Silva, 2003, p. 140,141) para a redução de postos de traba-
Trabalho, destacando sua impre- Enfatiza o quanto o termo lho formais. No Brasil, o chama-
cisão. O presente artigo propõe-se “informal” tem sido utilizado para do desemprego aberto é bastante
a comentar estes conceitos, ilus- discutir o outro lado do emprego. reduzido, pois são os postos de tra-
trando com situações práticas e O foco tem sido as dificuldades e balho “informais” que absorvem a
destacando as representações dos distorções da incorporação dos tra- mão-de-obra liberada pela redução
trabalhadores sobre o mercado e o balhadores no processo produtivo, de empregos “formais”. (Macha-
contexto do trabalho. centrando-se nos estratos mais des- do da Silva, 2003, p.167,168)
favorecidos. (Machado da Silva, Segundo Antunes (1998, p.
Informalidade e 2003, p. 142,143) 15), “a década de 1980 apresen-
empregabilidade Descreve que estamos em tou profundas transformações no
pleno período de desconstrução do mundo do trabalho (...) Vivem-se
O autor destaca as dificulda- assalariamento, um multifacetado formas transitórias de produção
des na caracterização de um perfil processo de reorganização do tra- cujos desdobramentos são contun-
da informalização no Brasil atual. balho que afeta todos os aspectos dentes nos direitos do trabalho,
Fala sobre dois desdobramentos da estrutura social. Destaca dois sendo desregulamentados, flexibi-
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lizados, com direitos e conquistas o grande número de pequenos co- atentos para os entrelaçamentos
dos trabalhadores substituídos ou merciantes que vem se estabelecen- dos processos de trabalho e da ca-
eliminados da produção.” do nas médias e grandes cidades, deia produtiva, evitando visões
O processo de “informaliza- algumas vezes bem sucedidos, mas simplistas da informalização e da
ção” e a sua derivada “empregabi- na maior parte das vezes não, por empregabilidade. Termos vagos e
lidade” fazem parte da cadeia pro- falta de qualificação para o traba- imprecisos podem levar a interpre-
dutiva e não são, como costuma- lho na nova função ou por ausên- tações errôneas mais ligadas a um
se dizer, um fato isolado. Parte do cia de capital. O segundo grupo, entendimento oportunista do que
mercado informal funciona como mais privilegiado em relação aos a uma compreensão mais profun-
peça de um processo de produção grupos anteriores, é dos profissio- da dos comportamentos humanos
“terceirizado”, como poderíamos nais qualificados. Contudo, neste ligados ao trabalho.
ilustrar com os catadores de mate- caso, também há conseqüências O “informal” deve ser visto
riais recicláveis (Sabbag, 2003). como o sacrifício do tempo de la- como um trabalhador inserido na
Outra parte é a própria ilegalida- zer. (Machado da Silva, 2003, p. cadeia produtiva, com um grande
de, com a existência de muitos pos- 171). Uma ilustração, neste caso, grau de precarização do trabalho na
tos de trabalho invisíveis em ter- são os consultores. maior parte dos casos. Seu papel
mos jurídicos e fiscais (Machado deve ser considerado como inseri-
da Silva, 2003, p. 170). Como Considerações finais do em um processo e não um blo-
ilustração podemos citar o grande co à parte, isolado do contexto. Esta
contingente de empregados do- Os pontos levantados por visão de isolamento só contribui
mésticos sem registro. Uma tercei- estas considerações no campo da para situá-lo em um lugar margi-
ra parte seriam os não assalariados. Sociologia do Trabalho estimulam nal no sistema e aumentar a idea-
Como ilustração, os ambulantes. a reflexão sobre o funcionamento lização do trabalho formal, com
Esta última categoria, de grande do mercado de trabalho e as vivên- carteira assinada, que aliás também
importância em termos de sobre- cias do trabalhador, expressas em está sujeito à precarização.
vivência, também não deve ser iso- depoimentos (Sabbag, 2003). O sis- Concluindo, as alterações
lada do contexto mais amplo e tema capitalista estimula e apóia a no mercado de trabalho, no mo-
deve ser vista como inserida no visão de que o livre arbítrio e a li- mento do desenvolvimento capi-
processo produtivo, apesar de vre iniciativa são características hu- talista em que nos encontramos,
apresentar comumente este enca- manas importantes que têm como tornam necessárias grandes altera-
deamento de forma mascarada. derivado o empreendedorismo. ções no modo de compreensão dos
Há ainda dois outros grupos Estas iniciativas, algumas fenômenos humanos ligados ao
de trabalhadores que enfrentam o vezes bem sucedidas, na maior trabalho, por parte de cientistas e
enxugamento dos postos de traba- parte das vezes são associadas a profissionais.
lho pela reorganização produtiva. processos de precarização do tra-
O primeiro, ex-assalariados que se balho (Segnini, 2000). *Sergio Nagib Sabbag é psi-
transformam em pequenos empre- Por isso, devem os pesqui- cólogo, mestre e doutor em Adminis-
sários (Machado da Silva, 2003, p. sadores, bem como os profissionais tração de Saúde Pública e professor
170). A ilustração para este caso é das Ciências Humanas, estarem do IMAPES.

Referências Bibliográficas
ANTUNES, Ricardo Adeus ao trabalho?: ensaio sobre as metamorfoses e a centralidade do mundo do trabalho. 5ª ed. São Paulo: Cortez,
1998.
MACHADO DA SILVA, Luiz A. Mercado de trabalho, ontem e hoje: informalidade e empregabilidade como categorias de entendimen-
to. In: SANTANA, Marco A.; RAMALHO, José R. Além da fábrica: trabalhadores, sindicatos e a nova questão social. 1ª ed. São
Paulo: Boitempo editorial, 2003, p. 140-78.
SABBAG, Sergio N. A percepção do trabalhador sobre o desemprego e a estruturação do trabalho cooperativado. [Tese de doutorado apresenta-
da como exigência parcial para obtenção do título de Doutor em Saúde Pública, Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São
Paulo]. São Paulo: 2003.
SEGNINI, Liliana R. P. Constantes recomeços: homens e mulheres na situação de desemprego. Campinas: Fapesp-Unicamp, 2000. Texto
inédito.
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A Revista Científica do IMAPES destina-se, primordialmente, à 5. Sugestão para estruturação de texto
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Instituto, mas também está aberta às colaborações externas. Para or- sentarão suas idéias. Entretanto, para efeito de organização e padro-
ganizar a participação dos autores, facilitar a leitura e também padro- nização editorial, sugere-se que resumos de teses, dissertações e ou-
nizar as publicações do ponto de vista formal, foram elaboradas algu- tros textos de maior profundidade obedeçam à seguinte estrutura:
mas normas, para as quais pede-se a máxima atenção. a. Título do trabalho
1. Tipos de artigos b. Nome(s) completo(s) do(s) autor(es)
A Revista Científica do IMAPES destina-se à divulgação de tex- c. Resumo de até 200 palavras.
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• artigos de análise e opinião; f. Referências bibliográficas.
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• resenhas de livros, artigos e trabalhos científicos; Os textos poderão ser desenvolvidos por tópicos, sendo desejá-
• resumos de conferências. vel, mas não obrigatório, que possuam uma introdução e considera-
Não há limite mínimo ou máximo de espaço para os artigos, ções finais.
mas, por aspectos de adequação editorial, sugere-se entre 6 mil a 12 6. Convenções de texto
mil caracteres (com espaços) para artigos em geral, e entre 24 mil a 32 Veja exemplos de citações, notas e outras convenções.
mil caracteres (com espaços) para análises de maior profundidade.
(Como referência, considerar que 4 mil caracteres equivalem a uma Citações trazem autor e data de publicação:
página A4, preenchida na fonte Arial, corpo 10, entrelinha normal). Os dados indicam que a população regional cresceu 4% em 1998
(Smiths, 2002).
2. Entrega dos textos
Os textos devem ser fornecidos em disquete de 3,5" ou CD, ou, Citações literais vêm entre aspas e indicam a página de onde
ainda, enviados por e-mail. O autor receberá um protocolo (impres- foram extraídas:
so, quando a entrega for feita pessoalmente; por fax, quando o envio “A população regional cresceu 4% em 1998.” (Smiths, 2002, p.
for feito por Correio, ou eletrônico, quando este ocorrer via inter- 142)
net), informando a data do recebimento do artigo, nome do funcio- Sínteses de passagens literárias dispensam aspas. Usa-se Cf. an-
nário que o recebeu e um número de referência. tes do nome do autor. Exemplo:
Os textos, devidamente titulados, revisados e atualizados, devem Em 98, o crescimento populacional da região foi de 4%. (Cf.
ser gravados em Word for Windows (formatos “doc” ou “rtf ”). O autor Smiths, 2002, p. 142)
deve fazê-los acompanhar de uma declaração de autoria e cessão de
direitos autorais para publicação (ver modelo abaixo). Quando o au- Se o nome do autor estiver no corpo do texto, acrescenta-se ape-
tor utilizar-se de e-mail para enviar o artigo, esta declaração, devida- nas referência ao ano da publicação. Exemplo:
mente assinada, poderá ser enviada por fax ou pelo correio. Smiths (2002) afirma que a população...
Fotos, tabelas, mapas e outras figuras devem ser fornecidos em Caso a obra citada tenha até três autores, deve-se citar a todos:
arquivos que utilizem o sistema de bitmap (tiff, bmp, jpg), com reso- (Smiths, Stevenson e Martinelli, 2001).
lução de 300 dpis.
Se houver mais de três autores, deve-se nomear a todos na pri-
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RAIS apenas o nome do primeiro autor, seguido da expressão “et al.”:
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publicação autorizo, sem que disso decorra qualquer tipo de ônus
para a Instituição. Citação de livro:
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considerado, como fator desejável, embora não obrigatório, o inedi- /www.empresavirtual.org.br/artigos/schmidt. Acessado em 23 out. 2003.
tismo do texto. Os artigos não utilizados numa edição poderão ser
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programados para outras edições, podendo o Conselho Editorial, neste gráfica, citando apenas o número respectivo no corpo do texto. Exem-
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plo:
Os editores reservam-se o direito de proceder a pequenas ade- Em (3) vemos que...
quações em parágrafos e gráficos, com vistas às necessidades da dia-
gramação. Também serão corrigidos erros gramaticais e aspectos de Para um detalhamento dos exemplos acima, bem como os casos
estilo, sem prejuízo do conteúdo. Os títulos poderão ser modificados, omissos nestas normas, indicamos o livro Metodologia do Trabalho
para atender a aspectos de paginação. Científico, de Antônio Joaquim Severino (Cortez Editora, 22a edi-
ção), págs. 106 a 132, disponível na biblioteca do IMAPES.

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