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ISSN 1678-7234
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Aspectos da evolução
estrutural das interações
hospedeiro-convidado
Das interações moleculares aos sistemas químicos integrados
RESUMO
Introdução de buscar novas substâncias e ma- são das ligações químicas levou ao
teriais não disponíveis com base nos desenvolvimento de uma cultura
A Química, como todos os conhecimentos adquiridos. científica, onde todos os fenôme-
campos da Ciência, e principal- A necessidade de se compre- nos químicos deveriam ser expli-
mente como Ciência exata, se fun- ender a estrutura das moléculas e cados em termos das ligações quí-
damenta em teorias, leis e postu- sua reatividade química levou ao micas, aqui consideradas formais.
lados para procurar compreender, estudo das interações entre os ele- Outro aspecto importante a se res-
explicar e prever as reações quími- mentos químicos que constituem saltar é que os conceitos de liga-
cas e as propriedades das substân- a molécula, ou seja, ao estudo das ção química pressupõem a existên-
cias. E, como todo ramo da Ciên- ligações químicas. Dessa emprei- cia de uma estequiometria entre os
cia, está em um constante proces- tada surgiram os conceitos de li- constituintes da substância.
so evolutivo, processo este cuja gação iônica, covalente, forças fra- Paralelamente a esse desen-
força motriz é a insuficiência dos cas de van der Waals e modelos, volvimento, foram surgindo subs-
conhecimentos até então adquiri- como o do Orbital Molecular e da tâncias cuja interação com outras
dos de compreender e explicar repulsão entre os pares eletrônicos não podia ser explicada com base
comportamentos e propriedades, e da camada de valência (VSEPR). nos modelos de ligações químicas
também da necessidade do Homem Essa busca pela compreen- formais e de estequiometria. A
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compreensão destes tipos de inte- rial para uma dada aplicação. Deste lógica, serão enfocados inicialmen-
rações levou ao desenvolvimento modo, a busca por novas proprie- te os compostos onde as interações
dos conceitos de química supra- dades levou à combinação de di- ocorrem a nível molecular, isto é,
molecular, sinergismo e interação ferentes compostos, de modo a onde o hospedeiro é uma molécu-
hospedeiro-convidado, que rende- constituir os materiais compósitos. la, por exemplo, os éteres-coroa.
ram a C.J. Pedersen, J.M. Lehn e Proveniente do latim, em que o Em seguida, serão enfocados os
D.J. Cram o Prêmio Nobel de prefixo com, que significa “junto”, compostos onde a forma hospedei-
Química, em 1987. é associado a positu, que significa ra está na estrutura cristalina do
No final do século XIX “por, colocar”, tem-se que o ter- material, por exemplo, os clatra-
(1894), Ficher propôs um ponto mo compósito quer dizer colocar tos. Interações hospedeiro-convi-
essencial do processo envolvendo junto ou feito de partes separadas. dado, onde o hospedeiro se cons-
o reconhecimento molecular, O interesse em sistemas que titui em uma matriz porosa bi ou
quando formulou a idéia da cha- apresentam novas propriedades, tridimensional, por exemplo, só-
ve-e-fechadura. De acordo com sejam estas ópticas, eletrônicas, lidos lamelares e vidros porosos,
este conceito, o reconhecimento mecânicas, magnéticas e catalíticas, respectivamente, também serão
molecular representa a comple- abordados. E, por fim, o conceito
mentaridade da fechadura e da As interações de sistemas químicos integrados,
chave — a fechadura constitui o intermoleculares são a como conseqüência do desenvolvi-
receptor molecular e a chave cons- causa fundamental da mento das interações cooperativas.
titui o substrato que é reconheci- formação e cristalização
do, definindo um complexo recep- de supermoléculas, e são Desenvolvimento
tor-substrato. Passado um século, encontradas entre átomos
em meados de 1990, o reconheci- A Química das interações
que não estão ligados
mento molecular passou a repre- hospedeiro-convidado foi de difí-
sentar uma nova área na Quími-
diretamente. Algumas cil compreensão e desenvolvimen-
ca. Considerando que os quími- dessas interações são de to, pois envolve interações quími-
cos (orgânicos) do passado, por grande importância na cas não formais e, na grande maio-
volta dos anos 70, foram predo- construção ria dos casos, não obedece a regra
minantemente preocupados com supramolecular de estequiometria e, sim, apresen-
a natureza das ligações covalentes ta uma estequiometria variável,
nas moléculas, culminando com os tem sido de grande importância no dependendo dos parâmetros expe-
anos de ouro da síntese de produ- desenvolvimento da área de pes- rimentais. O entendimento das
tos naturais complexos, recente- quisa que envolve a combinação interações intermoleculares é tão
mente é desenvolvida uma nova de diferentes substâncias na obten- vital para a Química Supramole-
direção para a Química e a cha- ção de um material. Quando um cular e das interações hospedeiro-
mada “química supramolecular”, sistema, multicomponente e mul- convidado como o entendimento
a química que excede a molécula, tifásico, é arranjado de maneira a das ligações covalentes foi vital para
onde ligações não covalentes en- apresentar efeitos cooperativos, de a Química Molecular.
tre moléculas individuais formam modo que o sistema, como um As interações intermolecu-
um complexo específico hospedei- todo, passa a desempenhar uma lares são a causa fundamental da
ro-convidado, está em primeiro função específica, a qual difere formação e cristalização de super-
plano [(Weber e Vogtle, 1996), dos componentes individuais, é moléculas, e são encontradas en-
(Bradshaw et al., 1996)]. que se denomina modernamente tre átomos que não estão ligados
Dentro da necessidade de se de sistemas químicos integrados diretamente. Algumas dessas inte-
melhorar continuamente as pro- (Bard, 1994). rações definem a forma e o tama-
priedades dos materiais emprega- Este trabalho tem por obje- nho de moléculas e são de grande
dos nas mais diferentes áreas, tor- tivo apresentar uma evolução dos importância na construção supra-
nou-se cada vez menor o número “compostos” com interações hos- molecular. Tipicamente, as forças
de substâncias puras que indivi- pedeiro-convidado, do ponto de de médio alcance são isotrópicas e
dualmente satisfazem todas as exi- vista da estrutura dos hospedeiros. definem a forma molecular. Ge-
gências requeridas em um mate- Dentro de uma abordagem crono- ralmente essas forças são limitadas
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por interações C...H, C...C, H...H. levaram a um grande desenvolvi- molecular do estado sólido pode-se
As forças de longo alcance são ele- mento da química dos éteres-co- destacar duas classes: da estrutura
trostáticas, anisotrópicas e envol- roa, como pode ser constatado ana- cristalina (hidroquinona, uréia e
vem interações entre heteroáto- lisando a grande quantidade de ciclodextrina) e das redes inorgâni-
mos, isto é, interações entre N, O, estruturas e dados termodinâmi- cas de duas e três dimensões.
S, Cl, Br, I ou entre alguns desses cos e cinéticos apresentados em re- Paralelamente às proprieda-
elementos com carbono e hidro- visões publicadas na revista Che- des das moléculas dos éteres-coroa
gênio. Em um limite, essas forças mical Reviews [(Christensen et al., de fazerem interações hospedeiro-
adquirem algum caráter covalente 1974), (Izatt et al., 1985), (Izatt convidado, descobriu-se que algu-
e então são chamadas de ligações et al., 1991), (Zhang et al., 1997)]. mas substâncias bastante simples
fortes ou ligações de hidrogênio Particularmente, na revisão de e comuns, quando na forma crista-
convencional (N,O)-H ...(N,O) Izatt e colaboradores (1991), apre- lizada, produziam compostos de
(Desiraju, 1996). sentada em 364 páginas, são cita- inclusão. A história desses compos-
Dentre os compostos mole- das mais de 1170 referências bi- tos de inclusão data de 1823,
culares que fazem interação hos- bliográficas e apresentada uma quando Michael Faraday descre-
pedeiro-convidado, os éteres-coroa veu a preparação de clatratos hi-
(do inglês, crown-ethers) se consti- dratados de cloro. Outras obser-
tuem em compostos com múlti- vações posteriores incluem clatra-
plos átomos de oxigênio éteres in- tos de β-hidroquinona contendo
corporados a um esqueleto mono- H2S em 1849, de compostos de
cíclico. A Figura 1 ilustra a molé- inclusão de ciclodextrina em 1891,
cula do dibenzo-18-crown-6 Figura 1: Molécula do primeiro éter- clatratos de compostos de Dianin
coroa sintetizado: dibenzo-18-crown-6
(DB18C6), o primeiro éter-coroa (DB18C6) (Bradshaw et al., 1996).
em 1914, clatratos de fenol em
sintetizado; muitos outros foram 1935 e adutos de uréia em 1940
em seguida sintetizados, dando (Mak e Bracke, 1996).
origem a um ramo de estudo den- No final da década de 40,
tro das interações macrocíclicas. estudos pioneiros de cristalografia
O estudo dos éteres-coroa e de raios X, realizados por Powell
seus derivados levou a um impor- (1947,1948) com clatratos de β-
tante avanço na área do reconhe- hidroquinona, estabeleceram a ar-
cimento molecular e no surgimen- (a) quitetura da matriz hospedeira e a
to de novos conceitos, tais como a verdadeira natureza da associação
química do hospedeiro-convidado molecular desses sistemas. O ter-
e a química supramolecular. A mo clatrato passou a descrever
possibilidade de desenvolver hos- compostos de inclusão, os quais
pedeiros macrocíclicos com espe- possuíam uma matriz hospedeira
cificidade e seletividade para me- tridimensional com vazios para a
tais alcalinos e alcalinos-terrosos, acomodação de espécies convida-
de grande importância em sistemas das. A Figura 3 mostra a molécula
(b)
biológicos e em baterias de alta de β-hidroquinona e sua forma
energia, e para a química de isóto- Figura 2: Algumas estruturas de mo- cristalizada apresentando gaiolas
pos e radioquímica, transformou léculas de éteres-coroa: (a) Cat[Phen- onde podem ser acomodadas mo-
os éteres-coroa em importantes li- (1,4-B) 2 30C8] 2 -2 e (b) (1,3- léculas hospedeiras.
B)6A6[2.2.2]-1, onde R = OCH 3 (Izatt
gantes (não formais) para o estu- et al., 1991). Outras classes de clatratos
do da química dos íons metálicos. bastante estudadas são os clatratos
Outra aplicação importante dos grande quantidade de estruturas de uréia. Na sua estrutura cristali-
éteres-coroa com propriedade macrocíclicas. Alguns exemplos na, as moléculas de uréia estão co-
quiral é sua aplicação no reconhe- estão apresentados na Figura 2, nectadas por ligações de hidrogê-
cimento enantiomérico (Brad- permitindo observar a complexi- nio na forma de fitas helicoidais,
shaw et al., 1996). dade dessas macromoléculas. as quais são entrelaçadas simulta-
Tais potenciais aplicações Dentro da química supra- neamente, formando túneis hexa-
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gonais ordenados linearmente, os tando um grande desenvolvimen- as argilas são carregadas negativa-
quais acomodam as moléculas con- to nesse campo. Dentro do grupo mente, balanceadas por cátions na
vidadas (Figura 4) (Hollingsworth dos sólidos de estrutura lamelar, região interlamelar.
e Harris, 1996). pode-se destacar (Vansant, 1996): ⇒ Fosfatos lamelares:
As redes inorgânicas de duas ⇒ Argilas: são aluminossili- apresentam a fórmula geral
dimensões são caracterizadas pelos catos com uma estrutura bidimen- MIV(HPO4)2.H2O e as lamelas são
sólidos lamelares, tais como grafi- sional, apresentando o hábito de constituídas de cátions centrais
te, calcogenetos metálicos, fosfa- folhas na proporção de 2:1 de sili- coordenados octaedricamente
tos e fosfonatos metálicos, argilas catos de alumínio e de magnésio entre camadas de fosfatos tetraé-
catiônicas e aniônicas, óxidos la- (montmorillonita, mica, vermicu- dricos. Os fosfatos de zircônio e
melares e perovskitas. Do ponto de lita) e minerais na proporção de de titânio são os mais estudados.
vista cristalográfico, os planos dos 1:1, como no caso das caolinitas. A maior diferença com as argilas é
átomos da matriz estão presentes ⇒ Hidróxidos duplos lame- a ausência de molhabilidade nos
em todo o sólido cristalino, com- lares: são hidróxidos complexos de fosfatos lamelares.
portando-se como uma grade de fórmula geral MnIIMIII(OH)2+2nX, As redes tridimensionais
difração tridimensional para a ra- hospedeiras são caracterizadas pe-
diação de raios X. Portanto, é as- los sólidos porosos. A princípio,
sumido que o sólido exibe uma es- qualquer sólido apresenta um grau
trutura lamelar somente quando as de porosidade, detectável ou não,
ligações entre os átomos de um resultante da presença de cavida-
mesmo plano são muito mais for- des, canais ou interstícios. Os po-
tes do que ligações entre átomos ros podem ser classificados como
de planos adjacentes. Na maioria abertos ou fechados, segundo a sua
dos sólidos lamelares típicos há li- disponibilidade a fluxo externo. Os
gações covalentes entre átomos de poros fechados são inativos quan-
Figura 3: Estrutura hospedeira da β-
um mesmo plano e ligações de van hidroquinona (Mak e Bracke, 1996). to ao fluxo de líquidos e gases, mas
der Waals entre planos adjacentes. exercem influência sobre as pro-
Esses sólidos podem ser conside- priedades mecânicas, a densidade
rados como cristais moleculares e a condutividade térmica. A ru-
formados pelo empacotamento de gosidade da superfície também
gigantes macromoléculas planares. pode ser considerada como porosi-
No espaço entre cada plano ou la- dade. Os sólidos porosos são classi-
mela, denominada distância inter- ficados quanto a uma faixa de diâ-
lamelar, é que ocorrem as reações metros médios de poros em: micro-
hospedeiro-convidado (Alberti e poros (< 2 nm), mesoporos (2-50
Costantino, 1996). nm) e os macroporos (> 50 nm).
A literatura sobre sólidos la- As zeólitas são os materiais
melares e suas reações de interca- Figura 4: Estrutura de fita dos canais que apresentam o menor tamanho
hospedeiros, os quais repetem-se a
lação é bastante vasta. A química de poros e a distribuição de tama-
cada seis moléculas de uréia. As duas
de intercalação data de 1841 e o hélices são interagindo via ligações N- nhos de poros mais estreita. Na se-
campo foi por um longo tempo Ha...O (Hollingsworth e Harris, 1996). qüência temos os sólidos lamela-
dominado pelos estudos das pro- res. Para esses dois casos, a porosi-
priedades físicas e físico-químicas onde n = 2-5 e X é o balancea- dade é uma característica intrínse-
das reações de intercalação da gra- mento de carga aniônica. Os ca da estrutura cristalina e, nestes
fite. Desde 1960, contudo, o cam- ânions estão localizados no espa- casos, a porosidade intracristalina
po dos sólidos lamelares cresceu, çamento interlamelar. Os hidróxi- adquire geralmente dimensões
consideravelmente, com o enfoque dos duplos lamelares podem ser moleculares, apresentando arran-
voltado para outras estruturas hos- considerados como o inverso das jos bastante regulares.
pedeiras lamelares (argilas, fosfa- argilas molháveis porque as lame- A Figura 5 ilustra a represen-
tos, fosfonatos lamelares e hidró- las são carregadas positivamente, tação esquemática da estrutura de
xidos duplos lamelares), possibili- balanceadas por ânions, enquanto algumas zeólitas.
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diferentes, as vitrocerâmicas poro- cas, e sim de interações não for- entre moléculas que não seriam
sas integradas podem ser denomi- mais, sustentadas por forças fracas, possíveis do ponto de vista das li-
nadas de vitrocerâmicas micropo- cuja ação cooperativa, isto é, de gações químicas formais.
rosas multifuncionais, as quais sinergismo, estabiliza todo o com-
podem ter inúmeras aplicações. plexo, conferindo propriedades * Italo Odone Mazali é pós-douto-
Do ponto de vista estrutu- específicas, que não seriam obti- rado em Ciências pela Universida-
ral, evoluiu-se da molécula hospe- das se alguns dos componentes se de Estadual de Campinas (Uni-
deira para um arranjo sólido tridi- encontrassem na forma de sólidos camp) e professor de Química do
mensional, organizado e multi- estendidos (bulk) ou fora de um Curso de Bacharelado em Química
componente e cujas propriedades ambiente restrito, e de interações no IMAPES.
estão diretamente relacionadas à Vitrocerâmica
Vidro LiTi2(PO4)3 + β-Ca2(PO4)3
escala nanométrica, molecular e 4LI2O-24TiO2-39CaO-31P2O5 interconectadas
atômica. Portanto, estudos inten- Cristalização
ç
sos devem ser desenvolvidos a fim
de se buscar o entendimento das Proteção das faces com resina, exceto o topo
interações cooperativas e buscar e a base. Tratamento ácido > 50 oC; a
LiTi2(PO4)3 é convertida em Ti(HPO4)2.2H2O
ç
modelos que possibilitem com-
preender, explicar e prever as in-
Proteção das faces com resina,
terações hospedeiro-convidado.
ç exceto a base. Tratamento ácido
< 50 oC. A LiTi2(PO4)3 é
preservada. Eliminação da β-
Conclusão Troca iônica do Li+ por Ag+
Sistema TP/RTP/LTP/TP
ç
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RESUMO
2. O sistema computacional
do ICMC SW
SW SW Prédio 4 -
Biblioteca e salas
IBM PC de docentes
Router Linux SW
Contando com cerca de
1000 usuários, quatro centros de Prédio 3 -
SW
distribuição, uma dezena de ser- SW Administração e
salas de docentes
vidores corporativos, outra deze-
na de servidores departamentais e
Fig 2.1 – Esquema geral do
de grupos de pesquisa, e centenas Sistema Computacional do ICMC SW Prédio 1 -
Laboratórios de Ensino
de pontos de acesso à rede, o siste- e grupos de pesquisa
ma computacional do ICMC é
bastante complexo. Estação de Estação de
Server Server
rápida substituição e/ou reprodu- multiplicam-se pelo número de por docentes, funcionários, alunos
ção (“clonagem”), em caso de fa- sub-interfaces lógicas instanciadas, de pós-graduação e alunos de gra-
lha. Em contrapartida, o desem- sendo ainda a velocidade global do duação com bolsa de auxílio ao
penho do sistema computacional sistema limitada ao desempenho ensino e à pesquisa;
do ICMC está diretamente ligado na transmissão da informação en- loGrupo GRAD: compos-
ao desempenho desse sistema. tre esse adaptador e o comutador to pelos alunos de graduação sem
Embora existam posições defen- ao qual ele está ligado. bolsa de auxílio ao ensino e pes-
dendo um desempenho bastante Em continuidade o modelo quisa.
razoável para solução adotada, RM-OSI será substituído pela “pi- No decorrer desta seção, o
como pode ser encontrado em lha” TCP/IP, tendo em vista o uso termo Grupo Corporativo signifi-
Dawson (Dawson, 2000), tal de- maciço do protocolo IP no nível 3 cará a união dos grupos anterior-
sempenho é aquém do obtido com do modelo RM-OSI. Assim, tem- mente mencionados.
a utilização de hardware e software se no próximo nível os protocolos Esta divisão teve impacto na
desenvolvidos especificamente TCP, UDP, RTP e outros como definição dos domínios de NIS
para esse fim. apresentados em Comer (2000). (Network Information System)
II. A entidade de roteamen- Sobre eles são estabelecidos os ser- ICMC e GRAD que são a base de
to está localizada em um segmen- viços descritos no próximo item todo o sistema computacional cor-
to de rede do centro de distribui- desta seção. porativo do ICMC.
ção 1. Como o conjunto de IPs está Atualmente, no ambiente Assim, os sistemas disponi-
disperso nos centros de distribuição, computacional do ICMC há ser- bilizados no sistema computacio-
existe um uso intenso do segmento viços que utilizam os protocolos nal do ICMC, segundo seu domí-
do trecho “2” envolvendo transmis- TCP e UDP. Particularmente, o nio NIS, encontram-se demonstra-
são para roteamento, embora em serviço NFS (Network File System), dos a seguir:
alguns casos o destino da comuni- que será descrito em maiores deta- loCorporativos: DNS, FTP
cação seja um elemento localizado lhes a seguir, emprega em sua con- e WWW.
no mesmo centro de distribuição de figuração padrão o protocolo loICMC: NIS, E-Mail, Tel-
de pós-graduação e pesquisadores, estação pode operar com grande a atender um maior número de
graduação. autonomia para a maioria das fun- requisitos dos Sistemas Computa-
Analisando o sistema com- ções e atividades. cionais Distribuídos e aumentar a
putacional do ICMC como des- Pelo apresentado nos itens intensidade com que alguns des-
crito até o momento e estabelecen- anteriores, pode-se classificar o sis- ses requisitos são atingidos na im-
do um paralelo com o apresenta- tema computacional do ICMC co- plementação atual, aproximando
do até o momento, pode-se extrair mo um sistema computacional dis- de modo mais adequado o Siste-
algumas características e conside- tribuído do tipo “Network Ope- ma Computacional do ICMC dos
rações: ration System” como descrito em benefícios oriundos dos Sistemas
I. O sistema computacional Tanenbaum (1992). Assim, o siste- Computacionais Distribuídos.
do ICMC aproxima-se muito em ma computacional do ICMC não
termos de arquitetura de hardware pode atingir todos os objetivos 3.1. Modelo proposto para o
ao proposto para os Sistemas Com- propostos aos sistemas distribuídos sistema computacional
putacionais Distribuídos, sendo definidos por Tanenbaum para um do ICMC
possível classificá-lo como uma “True Distributed System”.
arquitetura Barramento/Multi- A proposta de um novo
computadores/MIMD com me- Investir em um novo modelo para a implementação Sis-
mória distribuída, ou seja, um ar- protocolo de acesso tema Computacional do ICMC é
ranjo composto por um conjunto teria grande impacto no baseada nas seguintes característi-
de processadores com seu próprio sistema, tanto no cas fundamentais:
espaço de memória, executando loManutenção da atual tec-
aspecto tecnológico
seus processos e se comunicando nologia de acesso: atualmente o
(implantação e
através da troca de mensagens so- Sistema Computacional do ICMC
bre uma rede de comunicação. maturação de uma nova é baseado em protocolo de acesso
II. Essa configuração pode tecnologia) como de etherneT e suas derivações. Inves-
conter máquinas de arquiteturas custo (troca de todos os tir em um novo protocolo de aces-
distintas, tais como servidores pontos de acesso) so teria grande impacto no sistema,
multiprocessados (ex: Xapacura), tanto no aspecto tecnológico (im-
sendo que essas máquinas serão Contudo, quanto mais pró- plantação e maturação de uma nova
vistas pelo sistema como um ele- ximo dos objetivos propostos para tecnologia) como de custo (troca de
mento idêntico aos demais. Essas os Sistemas Computacionais Dis- todos os pontos de acesso). Além
máquinas multiprocessadas não tribuídos estiver o sistema compu- disso, tem-se como diretriz básica
podem ser consideradas como um tacional do ICMC, mais próximo os projetos centrais da Universida-
banco de processadores, pois o sis- o sistema estará dos benefícios e de, sinalizando no sentido da ma-
tema hoje existente não permite a vantagens existentes nesses sistemas. nutenção deste protocolo.
alocação desses processadores para loExtensa utilização do con-
trabalhar de maneira a oferecer “ci- 3. Propostas de melhorias ceito de Lans Virtuais ou VLANs:
clos de processamento” a outras para o sistema As Lans Virtuais, propostas pelo
unidades do sistema. Internamen- computacional do ICMC protocolo 802.1Q (IEEE 802
te, essas máquinas se comportam LAN/MAN Stantards Committee,
como os modelos Barramento/ As propostas são apresenta- 2002), definem um domínio de
Multiprocessadores/MIMD de das na forma de um modelo para broadcast na camada 2 de rede (en-
memória compartilhada, ou seja, a estruturação do Sistema Com- lace) (Clark e Hamilton, 1999).
um sistema de múltiplos proces- putacional do ICMC. Esse mode- Considerando essas caracte-
sadores com espaço de memória lo é construído tendo como base rísticas fundamentais, o modelo se-
compartilhado. os conceitos apresentados, não re- rá construído partindo-se da rede
III. O sistema computacio- presentando em si uma mudança de comunicação, estabelecendo
nal do ICMC pode ser classifica- e/ou a criação de conceitos novos, uma nova estrutura ao sistema
do como “fracamente acoplado” mas sim uma nova estratégia de atual. O modelo será apresentado
sob o aspecto de software assim implementação do sistema. em uma visão top-down, partindo-
como de hardware, sendo que cada Esse modelo objetiva, ainda, se de estruturas funcionais
Revista Científica do IMAPES - Abril de 2004 Pág. 17
complexas, detalhando-as em
Internet
subestruturas mais simples.
O modelo proposto é ilus-
trado pela figura 3.1. ~
Pode-se perceber que o mo-
PoP
delo busca classificar os elementos CISC
do sistema atual em grupos lógi- Rede de Projetos centrais
Routeamento Firewall + NAT
cos, representados pelos blocos. monitoramento da Universidade
3802.1Q4
Existe uma uniformidade no aces-
3802.1Q4
3802.1Q4
3802.1Q4
3802.1Q4
so desses blocos, ou seja, todos eles
interagem com uma entidade de
acesso da mesma maneira (proto- ACESSO
3802.1Q4
3802.1Q4
3802.1Q4
3802.1Q4
3802.1Q4
colo).
Os grupos lógicos imple-
mentados nesse nível de abstração Rede de Rede de
Clientes Clientes Rede de
são descritos a seguir: públicos privados
serviços
públicos
serviços
privados
serviços
loPoP CISC (Ponto de pre-
sença do Centro de Informática de Fig 3.1 – Visão geral do modelo proposto para o ICMC
São Carlos): corresponde ao pon-
to de acesso à rede USPNet e seus toramento: rede privativa a ser uti- públicos: corresponde ao conjun-
serviços, tais como RECAD e, em lizada para o monitoramento do to de servidores corporativos que
ultima instância, à rede pública ambiente do ICMC, com o míni- por suas características de uso ne-
Internet. mo de características perturbado- cessitem utilizar endereços IP pú-
l oConexões 802.1Q: cor- ras do ambiente. Servidores de tri- blicos ou utilizem as funcionalida-
respondem às conexões física e ló- lha de auditoria (logs) devem per- des da entidade Firewall+NAT
gica baseadas no protocolo manecer nesta rede. para ter acesso e serem acessíveis
802.1Q sobre diversos protocolos l oEntidade Projetos Cen- através da rede pública.
de enlace tais como ethernet, fast trais USP: corresponde ao conjun- loEntidade rede de serviços
loEntidade Rede de Moni- loEntidade rede de serviços o modelo apresenta um núcleo (ca-
Pág. 18 Revista Científica do IMAPES - Abril de 2004
mada de acesso) que se comunica solução através de equipamento mínios de broadcast e multicast,
com todas as entidades de maneira dedicado à implementação das dificultando ações que se utilizem
uniforme (mesmo protocolo). Exis- funções de roteamento deve tra- desses recursos.
te no modelo a premissa de uni- zer um aumento significativo no loMonitoração: criação de
formizar os acessos até o nível dos desempenho do sistema, através da uma estrutura de segurança ba-
clientes em protocolo ethernet e de- diminuição da latência de rotea- seada no uso seletivo do sistema
rivados; assim o acesso será unifor- mento e diminuição da variância de Firewall+NAT e no uso inten-
me em todos os níveis. do tempo de acesso. sivo de IDSs. O sistema de
l oRedução do tempo de loDistribuição dos serviços Firewall+NAT, conjuntamente
convergência do protocolo STP: em públicos e privativos: esta me- com os IDSs, podem compor uma
com a divisão da rede em diversas dida busca melhorar a gestão so- ferramenta de segurança contra
VLANs é possível diminuir o tem- bre o uso dos endereços IPs dispo- ataques do tipo DoS (Denial of
po de convergência do protocolo níveis, permitindo identificar a real Service) e DDoS (Distributed
STP (utilizando o protocolo STP necessidade de IPs públicos. Isto Denial of Service) (Chapman e
por VLAN, é um recurso existen- aumenta a segurança do sistema, Zwicky, 1995).
te na maioria dos 3-Layer permitindo a criação de serviços l oSistema de Firewall
Switchers) abrindo a possibilidade cujos endereçamentos só tem sen- “StateFull”: o uso de um sistema
de adoção de conexões redundan- tido localmente e a obrigatorieda- de firewall permitirá um controle
tes em diversos níveis. de do uso de Firewall. mais efetivo do sistema, uma vez
loAumento da velocidade l oDistribuição do rotea- que não age somente como um fil-
nominal de acesso: a adoção de mento: o modelo permite um nú- tro de pacotes e sim como um con-
uma malha comutadora de alto de- mero arbitrário de entidades de ro- trolador das sessões abertas.
sempenho abre a possibilidade de teamento que podem ser configu- loUtilização de VPN: cria-
uso de conexões de alta velocida- radas de maneira a aumentar o ção da cultura de uso de VPN no
de entre as entidades descritas an- desempenho do sistema através da acesso de informações de conteú-
teriormente, sendo o protocolo distribuição de carga e/ou sua dis- do sensível.
802.1Q compatível com o proto- ponibilidade através de caminhos
colo ethernet e derivações empre- redundantes de roteamento. 4 . Conclusões
gadas nos acessos. loEstabelecimento de área
l oEliminação dos proble- de roteamento com o PoP CISC: Este artigo descreve o traba-
mas de multicast: o tráfego a presença de diversas unidades de lho de mestrado no qual se apre-
multicast poderá ser confinado à roteamento e/ou de entidades sentou uma revisão geral dos con-
VLAN que o originou ou ser ro- Firewall+NAT permite a criação ceitos envolvidos no projeto e im-
teado pelas entidades correspon- de uma VLAN entre estes elemen- plementação de Sistemas Compu-
dentes do sistema, se isso for inte- tos e o PoP do CISC, permitindo tacionais Distribuídos, visando,
ressante, como por exemplo em o acesso dos equipamentos direta- principalmente, o estabelecimento
uma transmissão de vídeo. Have- mente ao PoP do CISC. de um conjunto de diretrizes para
rá a possibilidade de efetivo con- Isso aumentará a disponibi- a revisão de um Sistema Computa-
trole de sua utilização. lidade do sistema, pois não haverá cional Distribuído complexo e real.
loConexões Redundantes: ponto único de falha comum a Baseado na investigação de-
como mencionado anteriormente, todos os clientes do sistema. Além senvolvida, realizou-se um estudo
a redução do tempo de convergên- disso, o acesso concorrente aos ser- de caso, de um Sistema Compu-
cia do protocolo STP permite a viços externos ao ambiente do tacional Distribuído real, adotan-
configuração de conexões redun- ICMC deverá trazer um ganho de do-se o Sistema Computacional
dantes. desempenho. Distribuído do ICMC-USP.
À luz dos conceitos acadê-
3.2.2. Camada de rede 3.2.3. Segurança do sistema micos e dos aspectos técnicos, fo-
(nível 3): computacional: ram mapeados os pontos de possí-
veis melhorias do sistema atual e
loAumento da capacidade oSegmentação: o uso de
l várias propostas foram apresenta-
de roteamento: a adoção de uma VLANs segmenta a rede em do- das, constituindo-se um novo
Revista Científica do IMAPES - Abril de 2004 Pág. 19
modelo para o Sistema Computa- unir-se os aspectos acadêmicos/ *Fernando C. Miranda é
cional Distribuído do ICMC. científicos da área de Sistemas bacharel em Ciências da Compu-
É importante ressaltar que, Computacionais Distribuídos à tação e mestre em Ciências Mate-
embora o modelo proposto esteja realidade técnica, levando à imple- máticas e de Computação pelo
em consonância com as políticas mentação de um sistema real, onde ICMC da USP em São Carlos. Le-
centrais da universidade e apresen- os graus de desempenho, confia- ciona Introdução à Computação e
te-se como uma evolução da situa- bilidade e segurança possam ser Programação de Objetos Distri-
ção atual, ele representa uma pro- aferidos, planejados e mantidos buídos no curso de Sistemas de In-
posta totalmente nova para o Siste- com mais facilidade, apesar da formação do IMAPES.
ma Computacional Distribuído do complexidade do sistema.
ICMC. Isso se confirma pela des- Finalmente, é importante **Marcos José Santana é en-
crição de entidades lógicas não exis- ressaltar que o trabalho atingiu seu genheiro eletricista pela USP-São
tentes no sistema atual, bem como objetivo na medida em que ma- Carlos, mestre em Ciências Mate-
a reconstrução dos conceitos envol- peou um sistema do mundo real máticas e de Computação pelo
vidos nas existentes atualmente. para um modelo abstrato, que ICMC da USP e PhD pela Uni-
De modo geral, este traba- pode representar um caminho de versidade de Southampton, na In-
lho demonstra a possibilidade de evolução ao sistema atual. glaterra.
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Pág. 20 Revista Científica do IMAPES - Abril de 2004
RESUMO
respectivamente [(Parafit, 1973), sistirá ao avanço do líquido e a rão discutidos os aspectos técnicos
(Shamlou, 1993)]. pressão dentro do aglomerado irá das dispersões, bem como alguns
Na realidade, um sólido no aumentar, resultando basicamen- dos equipamentos mais utilizados
estado seco geralmente é consti- te em três conseqüências. A pri- na dispersão de um sólido em um
tuído por agregados e aglomerados meira é que o ar aprisionado no meio líquido viscoso.
de partículas primárias [(Parafit, interior dos aglomerados causaria
1973), (Nakajima, 1996)]. Os uma tendência dos mesmos a flu- I.3. Estabilização
agregados são clusters (flocos), nos tuarem. A outra, consiste na ocor-
quais as partículas primárias estão rência de um limite, a partir do Após a superfície ter sido
unidas face a face, de maneira que qual a molhabilidade não poderia molhada e os agregados e aglome-
a força necessária para separá-las é mais ocorrer. E finalmente, a ter- rados terem sido rompidos em par-
próxima daquela necessária para a ceira conseqüência consiste no tículas finamente divididas, estas
fratura de um cristal. Os aglome- aumento da pressão, o que resul- se dispersam por todo o meio lí-
rados são também clusters, porém, taria no colapso ou desintegração quido. A estabilização das partícu-
suas partículas primárias estão uni- do aglomerado [(Parafit, 1973), las em um meio disperso é consi-
das apenas pelos vértices, através (Shamlou, 1993)]. derada a etapa mais crítica do pro-
de interações muito fracas como as cesso de dispersão, pois as partí-
forças de London-van-der-Waals e Os agregados podem culas apresentam uma tendência
a energia coesiva. Devido à própria ser fragmentados em natural na redução em número
natureza das ligações entre as par- partículas individuais com o tempo [(Parafit, 1973),
tículas em cada caso, as distâncias utilizando uma ampla (Shamlou, 1993)].
entre as partículas no agregado são variedade de As partículas presentes em
menores do que as distâncias de um meio de dispersão estão sem-
equipamentos de
partículas nos aglomerados pre sujeitas ao movimento
dispersão, que
[(Parafit, 1973), (Sato e Ruch, Browniano, resultando em suas
1980)]. transmitem uma tensão colisões. Assim, a estabilidade da
A molhabilidade dos agrega- de cisalhamento ao dispersão é determinada pela inte-
dos e aglomerados de um sólido líquido ração das partículas durante as co-
considera os três estágios de mo- lisões, sendo que a freqüência des-
lhabilidade discutidos acima, mas, Normalmente, a fragmenta- sas colisões tem uma dependência
adicionalmente, considera também ção de um agregado é conduzida direta com a concentração e com
a necessidade de deslocar o ar das através da aplicação de uma ener- as propriedades físicas das partícu-
superfícies internas entre as partí- gia mecânica, garantindo assim a las, bem como com a viscosidade
culas que os constituem, bem molhabilidade completa do sólido. e com a temperatura do meio
como a molhabilidade das super- Como esperado, através das defi- [(Parafit, 1973), (Sato e Ruch,
fícies alcançadas (Parafit, 1973). nições de agregados e aglomerados, 1980), (Shamlou, 1993)].
Este quarto estágio de molhabili- a energia mecânica necessária para As interações estabelecidas
dade de agregados e aglomerados romper um aglomerado é consi- com as colisões podem ser atrati-
é denominado como processo de deravelmente menor do que aque- vas ou repulsivas. Quando a repul-
penetração, o qual é primordial na la necessária para romper um agre- são entre as partículas for domi-
molhabilidade de sólidos e, portan- gado [(Parafit, 1973), (Shamlou, nante, o sistema permanecerá no
to, no processo de obtenção das 1993)]. estado disperso. Contudo, se a
dispersões (Shamlou, 1993). Os agregados podem ser atração for dominante, as partícu-
fragmentados em partículas indi- las irão se aderir e a dispersão flo-
I.2. Quebra dos agregados e viduais utilizando uma ampla va- culará. A floculação consiste na
aglomerados riedade de equipamentos de dis- formação de clusters, onde a dis-
persão, os quais transmitem uma tância entre as partículas é maior
Se um aglomerado é imerso tensão de cisalhamento ao líqui- do que aquela encontrada nos
em um meio líquido, quando o lí- do, que permite a quebra dos mes- aglomerados [(Parafit, 1973),
quido penetra nos interstícios, o ar mos [(Wicks, 1985), (Endo e (Nelson, 1988), (Sato e Ruch,
preso dentro destes interstícios re- Kousaka, 1996)]. No item II se- 1980), (Shamlou, 1993)].
Revista Científica do IMAPES - Abril de 2004 Pág. 23
Segundo a literatura, exis- pectivamente [(Parafit, 1973), de fusão forem excedidos, ocorre
tem três tipos de interações que (Nelson, 1988), (Sato e Ruch, uma rápida queda da viscosidade
estão envolvidas na aproximação 1980), (Shamlou, 1993)]. da mistura. Estas duas componen-
ou não das partículas em um meio Como foi visto anterior- tes juntas são responsáveis pela
líquido [(Parafit, 1973), (Sato e mente, a freqüência das colisões migração das partículas no meio,
Ruch, 1980), (Schueler et al, tem uma dependência direta com promovendo o aumento na fre-
1997)]: a concentração e com as proprie- qüência de colisões (Parafit, 1973).
I) Forças de atração dades físicas das partículas, e com Embora os flocos formados
London-van-der-Waals: essas inte- a viscosidade e com a temperatura a partir das interações entre partí-
rações atrativas estão sempre pre- do meio [(Parafit, 1973), (Sham- culas possam ser facilmente rom-
sentes entre as partículas de com- lou, 1993)]. pidos com o auxílio de uma ten-
posições similares, e consistem em Quando a concentração das são de cisalhamento relativamen-
interações elétricas, ou seja, inte- partículas dispersas em um meio te baixa, as dispersões floculadas
rações entre dipolos, os quais po- líquido é alta, a freqüência das não são bem-vindas, pois afetam
dem ser dipolos permanentes em colisões aumenta consideravel- as propriedades finais dos compó-
partículas polares ou dipolos indu- sitos, como, por exemplo, a pre-
zidos em partículas não polares. Como a energia de sença de poros, deteriorando suas
II) Forças coulômbicas re- coesão entre as propriedades mecânicas [(Wicks,
pulsivas: consiste em interações partículas é 1985), (Hussain et al, 1996)].
repulsivas atribuídas ao fato das inversamente Com isso, algumas condições po-
superfícies das partículas torna- dem ser estabelecidas com o obje-
proporcional ao
rem-se carregadas. tivo de prevenir ou minimizar a
tamanho das mesmas,
III) Forças repulsivas causa- floculação das partículas imersas e,
das pelas camadas adsorvidas: a quanto menores portanto, estabilizar a dispersão.
presença de uma camada adsorvi- forem as partículas, Na prática, a adição de agen-
da na superfície das partículas dis- maior será a força de tes dispersantes contribui para a
persas em um meio líquido pode coesão entre elas não ocorrência da floculação. Os
impedir a floculação. dispersantes distribuem-se por
De maneira geral, uma dis- mente, pois as distâncias entre as todo o meio, de tal forma que sua
persão coloidal será considerada partículas dispersas são pequenas. concentração seja maior na região
estável, por um período razoável Com isso, as colisões são favoreci- interfacial do que no meio de dis-
de tempo, se a forças coulômbicas das, e conseqüentemente ocorre a persão. Portanto, os dispersantes
repulsivas ou as forças repulsivas formação de flocos [(Parafit, são compostos que apresentam
das camadas adsorvidas excederem 1973), (Shamlou, 1993)]. uma forte tendência de se concen-
as forças de atração London-van- Como a energia de coesão trarem próximos à interface sóli-
der-Waals. Quando as forças atra- entre as partículas é inversamente do-líquido, aumentando a compa-
tivas de London-van-der-Waals proporcional ao tamanho das mes- tibilidade do sólido com o líquido
excederem as forças coulômbicas mas, quanto menores forem as par- [(Parafit, 1973), (Sato e Ruch,
repulsivas ou as forças repulsivas tículas, maior será a força de coe- 1980), (Kumar e Gupta, 1998)].
das camadas adsorvidas, a disper- são entre elas. Portanto, principal- A primeira classificação dos disper-
são irá flocular tão rápido quanto mente para as partículas menores santes é feita de acordo com a sua
for a difusão das partículas que 1 mm, é necessário o trata- carga. Por exemplo, o dodecil ben-
[(Parafit, 1973), (Sato e Ruch, mento das superfícies para garan- zeno sulfonato de sódio é um dis-
1980)]. tir uma melhor dispersão persante aniônico, pois dissocia-se
A força coulômbica repulsi- (Shamlou, 1993). em íons sódio (cátion) e dodecil
va e a força repulsiva das camadas Os parâmetros temperatura benzeno sulfonato (ânion), o qual
adsorvidas constituem os dois me- e viscosidade estão inter-relaciona- se concentra na interface. O clo-
canismos básicos de estabilização dos. Se considerarmos o meio de reto de dodecil trimetil amônio é
das dispersões, e são comumente dispersão como sendo um políme- um dispersante catiônico, pois
denominados como estabilização ro sólido a temperatura ambiente, dissocia-se em íon cloreto (ânion)
elétrica e estabilização estérica, res- se os limites de sua temperatura e dodecil trimetil amônio (cátion).
Pág. 24 Revista Científica do IMAPES - Abril de 2004
Neste caso, é o cátion que se con- de equipamento a ser utilizado tros, e as resinas termofixas, como
centra na interface. A segunda clas- [(Parafit, 1973), (Kairalla et al, por exemplo as resinas fenólicas.
sificação é feita através dos grupos 1995)]. Além dos termoplásticos e termo-
funcionais presentes na cadeia. A seguir será feita uma des- fixos, as borrachas sintéticas e na-
Geralmente, boas dispersões são crição dos equipamentos utilizados turais também estão incluídas nes-
obtidas quando a cabeça é quimi- nas dispersões em meios líquidos te grupo (Parafit, 1973).
camente compatível com a super- com viscosidade elevada, viscosi- A dispersão nestes sistemas
fície da partícula e a cauda é qui- dade muito alta e viscosidade alta. é normalmente realizada quando
micamente compatível com o Em um meio líquido de ele- a resina encontra-se a uma tempe-
meio de dispersão (Nelson, 1988). vada viscosidade, a mobilidade das ratura próxima ao seu ponto de
A estabilização em meios partículas e, portanto, a velocida- fusão e sob condições de alta taxa
viscosos é uma conseqüência de de de floculação é reduzida. Neste de cisalhamento em um moinho
interações na interface sólido-lí- caso, as partículas podem ser dis- de dois rolos. Em uma produção
quido. Um exemplo muito co- persas sob condições de alta tem- em grande escala, os pellets dos ter-
mum encontrado na literatura peratura e alta taxa de cisalhamen- moplásticos são misturados às par-
consiste na estabilização estérica tículas, e então submetidos à mol-
A eficiência da
das partículas, através de macro- dagem por injeção e extrusão. A
moléculas, tais como copolímeros
dispersão de dispersão ocorre sob condições de
enxertados, que são aderidas fisi- partículas em um baixo cisalhamento na rosca de
camente ou por grafitização na meio líquido irá injeção ou extrusão (Parafit,
superfície da partícula [(Parafit, depender da 1973).
1973), (Fowkes e Pugh, 1984), viscosidade deste Os sistemas considerados
(Napper, 1983)]. meio líquido, sendo com alta viscosidade incluem a
que esta determinará maioria das tintas baseadas em óleo
II. Aspectos técnicos das o tipo de ou vernizes sintéticos. A dispersão
dispersões e equipamentos equipamento a ser das partículas, como por exemplo,
de dispersões utilizado os pigmentos, é realizada em um
moinho de três rolos, resfriados
O processo de dispersão é to. Os materiais poliméricos como com água, a alta velocidade. Um
inadequadamente denominado de a nitrocelulose, o acetato de celu- outro método de dispersar pig-
moagem. Neste caso, a moagem lose, várias resinas de poliamida, mentos consiste em uma pré-mis-
não tem sua conotação usual, que entre outras, são aquecidos em tura que é realizada com um disco
consiste na pulverização ou rup- temperaturas acima do seu ponto dispersor de alta velocidade. Em
tura de um material sólido em pe- de fusão, contribuindo para a ob- seguida é feita uma dispersão em
quenas partículas, mas é definida tenção de dispersões extremamen- um misturador de pás do tipo sig-
como um processo simples de in- te finas, o que geralmente não se ma e um resfriamento em um
corporação de partículas finamente obtém por outros métodos moinho de três rolos a uma alta
divididas ao meio líquido (Parafit, 1973). O equipamento velocidade (Parafit, 1973).
[(Kairalla et al, 1995), (Hussain et utilizado na dispersão de partícu- Apesar de a literatura con-
al, 1996)]. las em líquidos com elevada vis- siderar a eficiência das dispersões
As técnicas aplicadas a dis- cosidade é um moinho de dois ro- como basicamente dependente
persão de partículas sólidas em um los aquecidos [(Parafit, 1973), da viscosidade, é interessante co-
meio líquido baseiam-se em mui- (Kairalla et al, 1995)]. locar também a sua dependência
tas tentativas e grande consumo de Os sistemas com viscosida- em relação à força de interação
materiais, visando a busca de me- de muito alta englobam a maioria entre as partículas que formam
lhores condições de dipersabilida- dos termoplásticos, como por os agregados.
de (Kairalla et al, 1995). A eficiên- exemplo o poli(cloreto de vinila) Em um meio líquido visco-
cia da dispersão de partículas em rígido e flexível, as poliolefinas, o so, quando os agregados são fáceis
um meio líquido irá depender da poliestireno, o copolímero de serem rompidos, geralmente são
viscosidade deste meio líquido, acrilonitrila-butadieno-estireno, os utilizadas altas tensões de cisalha-
sendo que esta determinará o tipo polímeros de celulose, entre ou- mento, as quais são fornecidas por
Revista Científica do IMAPES - Abril de 2004 Pág. 25
discos dispersores de alta velocida-
de [(Parafit, 1973), (Kairalla et al,
1995), (Wicks, 1985)]. Por outro
lado, quando os agregados são
muito difíceis de serem rompidos,
são necessários equipamentos que
exerçam uma maior tensão de ci-
salhamento nos mesmos. Como
A B
exemplos destes equipamentos,
podemos citar os moinhos de bola,
moinhos de areia, extrusoras, en-
tre outros. No caso de agregados
que são ainda mais difíceis de se-
rem fragmentados, equipamentos
que proporcionam uma tensão de
cisalhamento ainda maior são em-
pregados, como por exemplo, os
moinhos de rolo, os quais podem C D
conter um, dois, três ou múltiplos Figura 2 - Representação esquemática (a) de um disco dispersor de alta veloci-
rolos (Wicks, 1985). dade em um tanque cilíndrico, (b) de um misturador com pás do tipo sigma, (c)
de um moinho de bolas e (d) moinho de três rolos [(Parafit, 1973), (Kairalla,
1995), (Lowel, 1985)].
III. Descrição dos Equipamentos
disco dispersor de alta velocidade muito rápida, o que pode produ-
Neste item serão descritos os é importante estabelecer as condi- zir flocos nas paredes do tanque.
principais equipamentos utilizados ções ideais de dispersão, ou seja, é O procedimento mais utilizado
na dispersão de um sólido em um necessário que seja feito o posi- consiste em adicionar pequenas
líquido viscoso. A Figura 2 apre- cionamento correto do disco no quantidades de líquido e sólido,
senta os equipamentos utilizados tanque cilíndrico. A Figura 2a ilus- alternadamente [(Nelson, 1988),
na dispersão de sólidos em líqui- tra a posição correta do disco dis- (Kairalla, 1995)].
dos, que serão descritos a seguir. persor no tanque cilíndrico Quando um sólido é adicio-
(Kairalla, 1995). nado a um meio líquido viscoso à
III.1. Dispersão com disco O procedimento da disper- temperatura ambiente, utiliza-se
dispersor de alta velocidade são do sólido no meio líquido vis- uma alta velocidade de dispersão,
coso consiste em transferir o líqui- com o objetivo de atingir uma alta
A dispersão utilizando um do para o tanque cilíndrico e adi- tensão de cisalhamento. Apesar de
disco dispersor é uma técnica sim- cionar aos poucos o sólido, toman- utilizar uma alta velocidade de dis-
ples, rápida e de baixo custo, por- do-se o cuidado de evitar a adição persão, o fluxo é caracterizado pelo
tanto, é a mais utilizada no pro- regime laminar, devido à alta vis-
cesso de pré-dispersão e dispersão Na dispersão com disco cosidade do meio. Com o tempo
de um sólido em um meio líquido de alta velocidade, de agitação, a energia cinética do
com alta viscosidade. O equipa- quando um sólido é meio é dissipada na forma de ca-
mento é constituído por um disco adicionado a um meio lor, resultando no aumento da
de bordas serradas e alternadas líquido viscoso à temperatura e, conseqüentemen-
montado em um eixo de alta rota- te, na diminuição da viscosidade.
temperatura ambiente,
ção, o qual é colocado verticalmen- Neste caso, ocorrerá o aumento da
utiliza-se uma alta tensão de cisalhamento, atingindo-
te em um tanque cilíndrico. O tan-
que cilíndrico não deve conter pla- velocidade de se um ponto crítico, onde o movi-
cas defletoras e cantos vivos, e sim dispersão, com o mento torna-se caótico (regime
um fundo abaulado e cantos objetivo de atingir uma turbulento). No regime turbulen-
chanfrados (Kairalla, 1995). alta tensão de to formam-se bolsões de materiais
Na técnica de dispersão com cisalhamento que não dispersam. Por outro lado,
Pág. 26 Revista Científica do IMAPES - Abril de 2004
no regime laminar a dispersão é lido a ser disperso giram, as mes- tos, comparados com os moinhos
efetiva, visto que ocorre o arraste mas cascateiam e produzem uma de bolas ou com um disco disper-
de uma camada sobre a outra, ação dispersante através do atrito sor de alta velocidade, por exem-
rompendo agregados e aglomera- e do cisalhamento. Os moinhos de plo [(Parafit, 1973), (Wicks,
dos. Assim, a dispersão ocorre em bola são empregados quando se 1985), (Lowell, 1985)].
regime laminar e a mistura em re- deseja dispersar sólidos difíceis Este equipamento é consti-
gime turbulento [(Nelson, 1988), (duros) [(Parafit, 1973), (Kairalla, tuído por um, dois, três ou múlti-
(Kairalla, 1995)]. Desta forma, 1995), (Lowell, 1985)]. A Figura plos rolos de aço altamente poli-
pode-se concluir que, quanto 2c ilustra um moinho de bolas. dos, os quais giram horizontal-
maior for a viscosidade do líqui- Entre as vantagens de se uti- mente a diferentes velocidades e
do, mais efetiva será a dispersão. lizar este equipamento pode-se ci- em direções opostas [(Parafit,
tar a facilidade de se trabalhar com 1973), (Lowell, 1985)]. O espaço
III.2. Misturador com pás líquidos em uma ampla faixa de entre os rolos é ajustado para 25
viscosidades e com uma concen- mm ou menos. O princípio de
Este misturador é caracteri- tração elevada de sólidos, além do funcionamento é o mesmo, inde-
zado pelo uso de duas hastes, nas pendentemente do número de ro-
O uso do misturador
quais as pás são ajustadas de acor- los. A Figura 2d ilustra um moi-
do com o tipo de processo a ser com pás nho de três rolos.
conduzido. As hastes giram a di- normalmente está No caso de um moinho de
ferentes velocidades e em diferen- associado a três rolos, uma pré-mistura é co-
tes direções, geralmente para den- dispersões de locada em uma tremonha sobre o
tro, como mostrado na Figura 2b. partículas finas em primeiro rolo e é carregada até a
As pás se apresentam em di- um meio líquido, o interface entre o primeiro e segun-
ferentes formatos, como, por que apresenta pouca do rolos. A pré-mistura continua
exemplo, a tradicional sigma — a afinidade natural do segundo rolo para a interface
qual fornece rápida homogeiniza- pela superfície da do segundo com o terceiro, e é re-
ção sob condições de alta tensão partícula movida do último rolo, com o au-
de cisalhamento —, as pás de con- xílio de uma pá, caindo dentro de
torno suave e as pás de três aletas, baixo custo de manutenção, entre um tanque. Estes moinhos são
as quais são capazes de uma maior outras. Por outro lado, apresentam equipamentos delicados, por isso
eficiência de dispersão e menor ho- as seguintes desvantagens: dificul- não se aconselha utilizá-los para
mogeinização (Parafit, 1973). dades de descarga, quando as dis- dispersar sólidos grosseiros e
O sistema que usa pá para a persões tendem a um excessivo abrasivos [(Parafit, 1973), (Lowell,
dispersão é empregado quando é aumento de viscosidade e a forma- 1985)].
necessária uma dispersão mais efi- ção de aglomerados por parte dos
ciente. O uso desse método de dis- sólidos que não apresentam boas IV. Considerações Finais
persão normalmente está associa- condições de molhabilidade, au-
do a dispersões de partículas finas mentando o tempo de processo A escolha da técnica de dis-
em um meio líquido, o que apre- [(Parafit, 1973), (Kairalla, 1995), persão de um sólido em um meio
senta pouca afinidade natural pela (Lowell, 1985)]. líquido viscoso irá depender de
superfície da partícula (Parafit, uma série de fatores. Entre estes
1973). III.4. Moinhos de rolo fatores pode-se citar: a natureza, a
concentração e o tamanho das par-
III.3. Moinhos de bola Os moinhos de rolo são ge- tículas, além da natureza do meio
ralmente utilizados apenas quan- de dispersão, como, por exemplo,
Os moinhos de bolas con- do não há disponibilidade de ou- sua temperatura e sua viscosidade.
sistem em um cilindro giratório tra alternativa. A razão é atribuída Estes parâmetros deverão ser mui-
horizontal, carregado de bolas de ao fato de que os moinhos de rolo to bem avaliados para selecionar a
cerâmica ou, principalmente, de exigem uma mão-de-obra especia- técnica, pois estão diretamente re-
aço. Quando as bolas do moinho lizada, e os seus custos de limpeza lacionados com a tensão de cisa-
contendo o líquido viscoso e o só- e manutenção são geralmente al- lhamento a ser aplicada.
Revista Científica do IMAPES - Abril de 2004 Pág. 27
Uma vez determinada a téc- dos para contornar este problema. da concentração iônica acaba sen-
nica adequada e o método, o qual A escolha do agente dispersante do o procedimento mais fácil e rá-
inclui a temperatura e a tensão de mais eficiente irá depender do co- pido para dispersar as partículas,
cisalhamento, a dispersão poderá nhecimento químico da superfície quando outras alternativas não são
ser bastante efetiva. Contudo, da partícula. possíveis.
muitas vezes esses requisitos não Acredita-se que a estabiliza-
são suficientes, sendo necessário a ção estérica seja mais efetiva que a *Cristiana Aparecida Ittner
utilização de agentes dispersantes. estabilização eletrostática, pois Mazali é doutora em Ciências pela
Na literatura, existe uma ampla muitas vezes é possível vencer a Universidade Estadual de Campi-
variedade de agentes dispersantes, barreira eletrostática, resultando na nas (Unicamp) e professora do Cur-
que apresentam diferentes meca- floculação das partículas dispersas. so de Bacharelado em Química no
nismos, que podem ser seleciona- Contudo, na prática, o aumento IMAPES.
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Pág. 28 Revista Científica do IMAPES - Abril de 2004
Reciclagem e
biodegradação de plásticos
Silvio Luis Toledo de Lima*
RESUMO
de matá-los, impedindo o resseca- mais difícil a degradação destes ta, transporte, armazenamento e
mento do material. materiais, o que favorece o acúmu- preparação do resíduo antes do
O teflon, por causa das li- lo no meio ambiente, sendo difí- processamento;
gações C-F pouquíssimo reativas, cil encontrar maneiras adequadas l oquantidade de material
Pág. 30 Revista Científica do IMAPES - Abril de 2004
1 2 3 4 5 6 7
pet pead pvo pebd/pelbd pp ps outros
Polietileno Polietileno Policloreto Polietileno Polipropile- Poliestireno
Tereftalato de Alta de Vinila de Baixa no
Densidade Densidade
Revista Científica do IMAPES - Abril de 2004 Pág. 31
O aglutinador também é pois utiliza equipamentos da mais Reciclagem química
utilizado para incorporação de alta tecnologia, com controles de
aditivos — como cargas, pigmen- emissão rigidamente seguros e con- A reciclagem química repro-
tos e lubrificantes. trolados, sem riscos à saúde ou ao cessa plásticos, transformando-os
meio ambiente (Baumann, 1999). em petroquímicos básicos: monô-
Extrusão meros ou misturas de hidrocarbo-
O plástico e a geração netos que servem como matéria-
A extrusora funde e torna a de energia prima em refinarias ou centrais pe-
massa plástica homogênea. Na saí- troquímicas, para a obtenção de pro-
da da extrusora, encontra-se o ca- loa presença dos plásticos é dutos nobres de elevada qualidade.
beçote, do qual sai um “espague- de vital importância, pois aumen- O objetivo é a recuperação
te” contínuo, que é resfriado com ta o rendimento da incineração de dos componentes químicos indi-
água. Em seguida, o “espaguete” é resíduos municipais; viduais para reutilizá-los como
picotado em um granulador e loo calor pode ser recupe- produtos químicos ou para a pro-
transformado em pellet (grãos plás- rado em caldeira, utilizando o va- dução de novos plásticos.
ticos). por para geração de energia elétri- Permite tratar mistura de
ca e/ou aquecimento; plásticos, reduzindo custos de pré-
Reciclagem energética l otestes em escala real na tratamento, custos de coleta e se-
Europa comprovaram os bons re- leção. Além disso, a reciclagem
É a recuperação da energia sultados da co-combustão dos resí- química permite produzir plásti-
contida nos plásticos através de duos de plásticos com carvão, tur- cos novos com a mesma qualidade
processos térmicos. A reciclagem fa e madeira, tanto técnica e eco- de um polímero original.
energética distingue-se da incine- nômica como ambientalmente; Existem poucas plantas de
ração por utilizar os resíduos plás- loa queima de plásticos em reciclagem química em operação
ticos como combustível na gera- processos de reciclagem energéti- no mundo. Uma delas é a da Veba
ção de energia elétrica. Já a sim- ca reduz o uso de combustíveis Oel na Alemanha (Spinacé, 2000).
ples incineração não reaproveita a (economia de recursos naturais). Os novos processos desenvol-
energia dos materiais. A recuperação energética vidos de reciclagem química per-
A energia contida em 1 (um) dos plásticos como combustível é mitem a reciclagem de misturas de
kg de plásticos é equivalente à con- uma alternativa de fácil e rápida plásticos diferentes, com aceitação
tida em 1 (um) kg de óleo com- implementação, especialmente se de determinado grau de contami-
bustível. considerarmos: nantes (ex.: tintas, papéis, etc.)
Cerca de 15% da reciclagem loa disponibilidade de tec- Existem vários processos de
de plásticos na Europa Ocidental nologias limpas para queima de reciclagem química, entre eles:
é realizada via reciclagem energé- descartes sólidos;
tica. A usina de Saint-Queen (em loa possibilidade de co-pro- Hidrogenação
Paris) assegura o suprimento de cessamento com outros combus-
eletricidade para 70.000 pessoas tíveis, por exemplo, para queima As cadeias são quebradas
com 15.400 megawats/ano. em fornos de cimento. mediante o tratamento com hidro-
Além da economia e recu-
peração de energia, ocorre ainda
uma redução de 70 a 90% da mas-
sa do material, restando apenas um Resíduos
resíduo inerte esterilizado. gasosos Filtros Emissão
gênio e calor, gerando produtos ca- devem ser considerados todos os Todos os polímeros são sen-
pazes de serem processados em re- parâmetros físicos (temperatura, síveis à luz em graus diferentes.
finarias. pressão...), a composição quími- Por esta razão, eles possuem
ca da água, do ar e do solo, além aditivos para retardar esse efeito.
Gaseificação dos parâmetros biológicos (ação Da mesma forma, eles podem
dos animais, vegetais e microor- conter aceleradores de fotodegra-
Os plásticos são aquecidos ganismos) que se mostram inter- dação que entram em ação assim
com ar ou oxigênio, gerando-se gás dependentes. que os retardadores sejam consu-
de síntese contendo monóxido de A degradação também pode midos. O problema, nesses casos,
carbono e hidrogênio. resultar da ação de parâmetros é que somente a parte exposta à
unicamente físicos, ou ainda ape- luz se degrada. Por outro lado, isso
Quimólise nas de uma reação química, sendo acaba sendo somente uma foto-
sua forma mais complexa o resul- fragmentação onde as macromo-
Consiste na quebra parcial tado da combinação de todos es- léculas não foram transformadas,
ou total dos plásticos em monô- ses parâmetros, como, por exem- mas sim cortadas pela fragilização
meros na presença de Glicol/Me- plo, a degradação química resul- dos aditivos.
tanol e Água. tante da ação física da luz. O resultado da fotodegrada-
A biodegradação não é, por- ção é um pó do plástico que estará
Pirólise tanto, resultado de uma simples presente em quantidade quase
ação de microorganismos, porque idêntica à massa de filme utiliza-
É a quebra das moléculas as condições nas quais eles atuam da. Não há inconveniente para o
pela ação do calor na ausência de estão relacionadas com todas as ca- meio ambiente, pois esse processo
oxigênio. Este processo gera fra- racterísticas do meio. de eliminação é assimilado. No
entanto, não há qualquer vanta-
Destinação gem ambiental.
Resíduos
A quimiodegradação
Aquecimento
Produto Hidrocarbonetos Óleo de Somente esse modo de de-
usado + resíduos pirólise
gradação é susceptível de modifi-
Gases e Refinaria car a estrutura física do material e
óleo
de transformá-la em substâncias
Gases
assimiláveis pelo meio natural. A
ções de hidrocarbonetos capazes de As diferentes maior parte do tempo, ele consis-
serem processados em refinarias. possibilidades de degradação te em uma oxidação, uma diges-
dos polímeros tão ou uma hidrólise, mais ou
Degradação menos complexa.
Se considerarmos a proble- Esse é um dos processos de
A “degradação” (passagem mática da eliminação dos resíduos “reciclagem química” ou de “valo-
de um estado de referência a um sólidos, a simples perda das pro- rização das matérias-primas”.
estado degradado) é uma modifi- priedades de um material, sem re- A biodegradação é uma das
cação estrutural do material carac- dução de sua massa, não possui variedades da quimiodegradação.
terizado por uma diminuição de grande interesse. A perda de mas- Os compostos quimicamente ati-
suas qualidades e desempenho. sa deve ser quase total. vos (as enzimas, na maior parte
Biodegradabilidade é a ca- do tempo) são, nesse caso, pro-
pacidade de um material ser de- A fotodegradação duzidos por parte dos microorga-
gradado sob a ação de elementos nismos.
vivos, sendo necessário levar em Nesse fenômeno, o fator Para os polímeros conten-
consideração o meio onde ocor- determinante da degradação é a do partes biodegradáveis inseridas
rem as reações para que a biode- ação da luz e, mais particularmen- em suas cadeias macromolecula-
gradação aconteça. Neste meio te, dos raios ultravioleta. res, a reação pode ser apenas par-
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cial. A quimiodegradação pode Os polímeros de síntese de segurança que tornam muito
ser completa. Os polímeros me- intrinsecamente biodegradáveis difícil o uso dos biodegradáveis
lhor adaptados a uma biodegra- (proteção de alimentos, constru-
dação completa são os polímeros Eles apresentam, em inter- ção, transportes, etc.). É, portan-
naturais são aqueles hidrolisáveis valos muito curtos, os grupamen- to, totalmente ilusório imaginar
a CO2 e H2O, ou a CH4 (celulo- tos hidrolisáveis do tipo éster (Mo- que os biodegradáveis podem vir
se, borracha natural...) e os polí- raes, 1999) (ver quadro): a substituir os materiais plásticos
meros sintéticos que possuam es-
truturas próximas a essas. Poliglicóis e Família dos produtos bioassimiláveis pelo organis-
Polilactídeos mo, utilizados na fabricação de fios cirúrgicos.
Polímeros sintéticos “ditos” Policapro-
biodegradáveis (não aromáticos) Degradabilidade total mais lenta (mais de um ano).
lactonas
realidade, a dissolução somente quer coleta de metano provenien- bio-acumuláveis? Estas respostas
aumenta os teores de DQO — de- te da degradação dos biodegradá- são importantes, pois a degrada-
manda química de oxigênio e veis. Mesmo levando em conside- ção dos materiais pode gerar efei-
DBO — demanda bioquímica de ração os conceitos do Desenvolvi- tos negativos, diferentemente da
oxigênio, parâmetros essenciais na mento Sustentável, os processos de degradação dos vegetais.
medição da poluição das águas. reutilização do plástico normal são Nas aplicações onde estão
incontestavelmente mais ecológi- acessíveis as características de de-
A biodegradação como cos que os da biodegradação. gradabilidade, os materiais natu-
desperdício de um material nobre rais satisfazem perfeitamente os
Conclusão requisitos necessários. Nos outros
A biodegradação não permi- casos, há a necessidade de substi-
te valorizar o material ao final de Os conceitos de biodegrada- tuí-los pelos materiais sintéticos.
sua vida, a não ser uma fração mui- bilidade e a propaganda engano- Em razão de sua biodegradabili-
to pequena dos recursos utilizados. sa, caso não explicados de forma dade, os materiais naturais (papel,
A digestão anaeróbica per- correta, podem sugerir ao consu- papelão, madeira e borracha) não
mitiria recuperar um pouco do midor que ele pode abandonar os podem satisfazer a todos os usos.
metano, isso se coletado, mas os resíduos plásticos na Natureza, É por esse motivo que é indispen-
plásticos biodegradáveis reagem uma vez que eles seriam reintegra- sável manter a disponibilidade de
em meio aeróbico onde não há a dos ao meio ambiente, da mesma materiais não degradáveis.
formação de metano. forma que fazemos com as cascas Ratificando o exposto, há
Já o composto obtido após de laranja. Em vez de reduzir o pro- aplicações específicas onde o uso de
a biodegradação teria uma quali- blema ambiental, ocorreria o con- materiais biodegradáveis é justifi-
dade muito ruim como fertilizan- trário. É, portanto, fundamental cado e necessário, caso dos fios ci-
te em razão da ausência dos oligo- mostrar que mais ecológico seria o rúrgicos, por exemplo. Fora dessas
elementos e dos compostos de azo- tratamento correto do plástico tra- aplicações, o uso dos materiais sin-
to que encontramos normalmen- dicional, uma vez que ele é estável téticos vem trazendo enormes be-
te nas biomassas. e não polui o ar, a água nem o solo. nefícios à sociedade há centenas de
Já os materiais plásticos nor- A compostagem aeróbica anos. O problema ambiental deve
mais possuem múltiplos modos de dos plásticos degradáveis produz o ser resolvido através da disposição
valorização: reuso, reutilização, gás carbônico, responsável pelo correta desses materiais e coleta se-
reciclagens mecânica, química e efeito estufa. O balanço desses ga- letiva para seu posterior reaprovei-
valorização energética. A reintro- ses não pode ser considerado nulo. tamento material ou energético.
dução dos resíduos plásticos no Por outro lado, todo políme-
ciclo de fabricação de um produto ro deve conter aditivos complexos *Silvio Luis Toledo de Lima
ou de uma energia permite obter para que possam ser transforma- é mestre em Química Analítica pela
redução dos recursos naturais não dos. Quais são os produtos dessa Unicamp e professor de Química do
renováveis muito superior a qual- degradação? São eles nocivos ou Curso de Bacharelado do IMAPES.
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Extensão da Unicamp, 2000
Revista Científica do IMAPES - Abril de 2004 Pág. 35
RESUMO
Introdução não são os mesmos assumidos por objetiva a maximização dos resul-
aquela ciência social. As diferen- tados organizacionais.
Cultura Organizacional é ças entre as duas disciplinas em Como conseqüência, os
um tema consolidado em adminis- relação ao seu objeto de estudo e pressupostos adotados em estudos
tração. Desde 1983, ano da publi- preocupações teóricas podem ex- organizacionais em relação ao con-
cação de edições especiais sobre o plicar estes desvios conceituais. ceito de cultura levaram ao desen-
assunto pelas revistas Administrati- A antropologia, como uma volvimento de diversas teorias, ou
ve Science Quarterly e Organiza- ciência social pura, preocupa-se linhas de pesquisa, que refletem as
tional Dynamics, o assunto é obje- com o estudo do homem e sua preocupações práticas da adminis-
to de pesquisas acadêmicas, maté- missão finda com a conquista do tração e levam a um distanciamen-
rias feitas pela imprensa e preocu- conhecimento sobre seu objeto de to cada vez maior entre teóricos
pações de executivos (Freitas, estudo. A administração, como organizacionais e antropólogos.
1991). uma ciência social aplicada, preo- A própria pergunta que dá
Apesar de tomar empresta- cupa-se, em sua maioria, com va- título ao artigo — “existe uma
do da antropologia seu conceito riáveis encontradas dentro de or- maneira brasileira de adminis-
básico, a administração produz um ganizações, e que influenciam os trar?” — traz implícitas as preo-
conhecimento sobre a cultura em seus objetivos e resultados. Sua cupações e o tratamento da ques-
organizações cujos pressupostos abordagem é intervencionista e tão por parte dos teóricos da ad-
Pág. 36 Revista Científica do IMAPES - Abril de 2004
ministração. A “maneira brasilei- Malinowski em Argonautas do Pa- ciência social aplicada, é uma dis-
ra de administrar” seria portanto cífico Ocidental, obra resultante da ciplina essencialmente prática, e
um conjunto de traços culturais clássica etnografia realizada nos seus temas de análise são, em sua
compartilhados que nos faria di- arquipélagos da Nova Guiné: maioria, relacionados a variáveis
ferentes de outros povos. “Há, porém, um ponto de vis- encontradas dentro de organiza-
Como o conceito de cultu- ta mais profundo e ainda mais im- ções e que influenciam os seus
ra organizacional na administração portante do que o desejo de experi- objetivos e resultados. Seus teóri-
se articula com o tratamento an- mentar uma variedade de modos cos privilegiam, historicamente, a
tropológico de seu conceito bási- humanos de vida: o desejo de trans- objetividade e a funcionalidade de
co? Este artigo pretende traçar um formar tal conhecimento em sabe- suas teorias em abordagens instru-
panorama do desenvolvimento do doria. Embora possamos por um mentais e intervencionistas.
tema cultura organizacional com- momento entrar na alma de um sel- O próprio crescimento da
parando-o à abordagem essencial- vagem e através de seus olhos ver o importância do tema cultura or-
mente semiótica da cultura, típica mundo exterior e sentir como ele deve ganizacional é justificado a partir
da antropologia influenciada pe- sentir-se ao sentir-se ele mesmo, nos- do pragmatismo da disciplina.
las idéias de Geertz. A partir de Com a percepção de que as pro-
estudos organizacionais de cultu- Descobrir a verdade duções simbólicas em uma orga-
ra, este artigo pretende mostrar sobre o homem exige nização são relevantes para a com-
como o desenvolvimento teórico uma longa familiarização preensão de seu funcionamento, o
desta disciplina não acompanhou com seu modo de ser e estudo da cultura organizacional
as discussões antropológicas sobre de atuar, em que a pode produzir teorias que expli-
seu conceito básico. Ao final, con- riqueza e complexidade quem melhor o comportamento
siderando a consolidação da antro- organizacional, possibilitando o
da realidade humana
pologia como disciplina que for- seu controle e a maximização dos
fazem com que
nece subsídios à teoria das organi- resultados empresariais.
zações, o artigo indica uma nova antropólogos se
perspectiva ao tratamento do tema aproximem dela desde A antropologia e o conceito
pela Teoria das Organizações. diversas perspectivas de cultura
fora das horas de trabalho, e, como los, o empresário levou para as modelo que denominam “Sistema
conseqüência disto, um processo unidades produtivas a mesma ló- de Ação Cultural Brasileiro” for-
de tomada de decisões mais rápi- gica gerencial que desenvolvera mado por quatro subsistemas: o
do e continuado; decisões rápidas durante séculos em suas proprie- institucional (ou formal) e o pes-
e arriscadas devido ao uso de in- dades rurais. Desta forma, um pro- soal (ou informal), o dos líderes e o
formações de obtenção fácil e ge- cesso autoritário se torna presente dos liderados. Estes subsistemas são
ralmente pobres em conteúdo; e no contexto produtivo e “os traços organizados a partir de traços cul-
grande distância de poder que, se- deste personagem [coronel] passa- turais que formam um estilo bra-
gundo o autor, parece lembrar a ram para o mundo organizacional. sileiro de administrar: postura de
distribuição de renda nacional e o Tanto as empresas privadas quan- espectador, formalismo, impuni-
passado escravocrata, além de ba- to as organizações ligadas ao Esta- dade, lealdade pessoal, tentativa de
sear-se em controles de um lado do conviveram historicamente com evitar conflito, concentração de
do tipo masculino, com o uso da a mesma lógica gerencial: autori- poder, personalismo, paternalismo
autoridade, e de outro do tipo fe- tarismo, nepotismo, clientelismo, e flexibilidade (adaptabilidade e
minino, com o uso da sedução. favoritismo, ausência de critérios criatividade).
Da mesma forma, Alexan-
dre Freitas (1997) descreve cinco Para Vasconcelos, o Antropologia x administração:
“traços brasileiros” que mais niti- empresário levou para conflitos de duas abordagens
damente influenciam no âmbito as unidades
organizacional: 1. Hierarquia: a produtivas a mesma Uma das razões para a in-
centralização de poder; distância lógica gerencial que trodução de conceitos da antropo-
do poder; passividade e aceitação desenvolvera durante logia em estudos organizacionais
dos grupos inferiores; 2. Persona- séculos em suas foi metodológica. A mudança do
lismo: personalização das relações; propriedades rurais; paradigma da organização como
busca de proximidade e afeto nas um processo racional e repleta de fatos objeti-
relações; paternalismo; 3. Malan- vos para a organização como um
autoritário está
dragem: flexibilidade e adaptabi- grupo onde significados são so-
presente na produção
lidade; “jeitinho” brasileiro; 4. cialmente construídos levou à uti-
Sensualismo: gosto pelo sensual e internos nas organizações. Quan- lização da abordagem interpreta-
pelo exótico nas relações sociais; to à inserção nos mercados, estes tiva como uma maneira de com-
5. Aventureiro: mais sonhador do têm sido definidos e protegidos pelo preender os fenômenos organiza-
que disciplinado; tendência à aver- setor público, para o aproveitamen- cionais.
são ao trabalho manual ou metó- to de alguns amigos privilegiados. Entretanto, a mudança de
dico. O paternalismo nasceu com as nos- paradigma não foi totalmente al-
Autores que discutem a cul- sas empresas. O gerente autoritá- cançada. Como analisa Wright
tura brasileira e a cultura organi- rio, a ausência da valorização da (1994), houve um distanciamen-
zacional identificam vários ele- competência em favor do favoreci- to entre os teóricos da administra-
mentos que podem revelar a in- mento da lealdade pessoal, tudo ção e da antropologia por causa das
fluência da primeira sobre a segun- isto desenvolveu-se na base do ca- diferenças básicas entre as duas
da. Vasconcelos (1996), por exem- pitalismo brasileiro” (Vasconcelos, disciplinas, mostradas nas seções
plo, afirma que um traço marcan- 1996, p.230). anteriores. Wright (1994) analisa
te da cultura nacional, muitas ve- Um último exemplo de um este fenômeno através das contra-
zes presente nas organizações bra- trabalho organizacional sobre cul- dições existentes na abordagem
sileiras, é o coronelismo. O autor tura é o de Prates e Barros (1996). organizacional do conceito de cul-
mostra como o clientelismo e o A partir de um estudo de 2500 tura sob o ponto de vista antropo-
nepotismo agem sobre o desenvol- dirigentes e gerentes em 520 em- lógico.
vimento sócio-econômico brasilei- presas de médio e grande porte do A autora parte de um autor
ro e criam um conjunto de obstá- Sudeste e Sul do Brasil, os autores organizacional clássico, Edgar
culos à modernização, determi- identificam os traços culturais pre- Schein, que, segundo ela, adota
nando também a gestão de orga- sentes nas empresas brasileiras. A uma postura interpretativa e posi-
nizações no país. Para Vasconce- partir disso, eles propõem um tivista ao mesmo tempo, o que
Revista Científica do IMAPES - Abril de 2004 Pág. 39
pode parecer contraditório a um ambigüidade é essencial, já que controle administrativo (Wright,
antropólogo. Schein usa o argu- permite que este processo de trans- 1994).
mento antropológico que a cultu- formação avance. Desta maneira, muitos teó-
ra reside em categorias conceituais Os diferentes pressupostos ricos da administração privilegiam
e modelos mentais. Por isso, argu- apontados até agora causam dife- em seus trabalhos a identificação
menta o autor, a cultura não pode renças marcantes entre as duas e discussão de elementos constitu-
ser pesquisada através de descrições abordagens no que se refere ao ca- tivos da cultura — elementos que
de suas características superficiais, ráter sistêmico da cultura. A an- estruturam a cultura de uma or-
já que não daria conta de seus as- tropologia interpretativa não con- ganização, como valores, crenças,
pectos holísticos e sistemáticos. sidera a cultura como um sistema costumes.
Entretanto, o autor adota formal, fechado e coerente, reco- É esta sistematização da cul-
uma postura positivista ao consi- nhecível como um padrão para um tura, a partir da identificação des-
derar a cultura como um objeto grupo. Desta maneira, a cultura tes elementos, que leva à identifi-
passível de ser compreendido fora não poderia ser tratada a partir do cação do modo brasileiro de ges-
de seu contexto: “Não podemos isolamento de seus elementos e tão, caracterizado por traços cul-
construir um conceito útil de cul- turais específicos, considerados
tura se não concordarmos em como As diferenças entre as padrão para o grupo, e que dife-
defini-la, medi-la, estudá-la e preocupações teóricas renciam os padrões de interação
aplicá-la ao mundo real das or- da administração e da dos indivíduos em organizações no
ganizações” (Schein, 1991, antropologia Brasil em relação a outros países.
p.243).
causaram tratamentos
Wright destaca diferenças Considerações finais
distintos do conceito
básicas entre os pressupostos atual-
mente adotados por grande parte de cultura, o que As diferenças entre as preo-
dos teóricos organizacionais e levou a um cupações teóricas da administração
aqueles da antropologia em rela- distanciamento das e da antropologia causaram trata-
ção ao conceito de cultura. Como duas disciplinas mentos distintos do conceito de
aponta Schein, a cultura é sistemá- cultura, o que levou a um distan-
tica, permeia todos os aspectos da especificação das relações entre ciamento das duas disciplinas.
vida diária, é duradoura e compar- eles, o que passaria a caracterizar Ao mesmo tempo em as pes-
tilhada. “Se não há consenso, ou se todo o sistema de uma forma ge- quisas antropológicas privilegiam
há conflito ou se as coisas são ambí- ral. Segundo Geertz, esta aborda- o sistema simbólico articulado
guas então, por definição, aquele gem hermética corre o risco de através do fluxo do comportamen-
grupo não tem uma cultura em re- prejudicar a análise cultural em seu to (ou da ação social) dentro do
lação àquelas coisas... o compartilha- objetivo, a lógica informal da vida contexto das comunidades, a abor-
mento e consenso são centrais à defi- real (Geertz, 1989). dagem da administração tende a
nição, e não escolhas empíricas” Diferentemente, a aborda- caracterizar a cultura como um sis-
(Schein, 1991, p. 248). gem típica da administração ten- tema fechado, reconhecível como
O consenso, o conflito e o de a considerar a cultura um siste- padrão para um grupo, no contex-
compartilhamento parecem ser ma fechado e reconhecível como to das sociedades. Esta abordagem,
diferenças importantes entre a padrão de um grupo. Esta abor- apesar de estar alinhada aos obje-
abordagem interpretativa da antro- dagem vem ao encontro das ne- tivos desta disciplina, descaracte-
pologia e a abordagem comum em cessidades da disciplina, já que riza o conceito como utilizado na
estudos organizacionais. Para a possibilita um tratamento mais antropologia interpretativa por
antropologia influenciada pelas concreto ao tema. Segundo valer-se de pressupostos teóricos
idéias de Geertz, a cultura é carac- Wright, nos estudos organizacio- distintos.
terizada por um conjunto comum nais, a cultura virou algo que as O caráter instrumental e
de idéias que são retrabalhadas organizações têm, invés de algo em intervencionista da abordagem da
continuamente de maneira imagi- que as organizações estão: de um administração dificulta a consoli-
nativa, sistemática, explicável, mas processo imerso em um contexto, dação do paradigma interpretati-
não previsível. Desta maneira, a para algo substantivo passível de vo na teoria das organizações e,
Pág. 40 Revista Científica do IMAPES - Abril de 2004
pode-se dizer, causa uma diminui- indivíduos em seus ambientes de pretativa capaz de gerar um conhe-
ção considerável do potencial de trabalho. As próprias característi- cimento mais próximo da realida-
compreensão da atuação humana cas do método clássico desta disci- de cotidiana dos membros das or-
no contexto das organizações. plina, a etnografia, priorizam a ganizações.
O retorno ao referencial teó- interpretação do comportamento
rico-metodológico da antropolo- simbólico humano no nível micro *André Ofenhejm Mascare-
gia, como defendido por diversos de análise. Trata-se de se abando- nhas é bacharel em Administração
autores atualmente (Mascarenhas, nar realmente a busca da objetivi- (EAESP/FGV) e Ciências Sociais
2002; Bresler, 2000 e 1996; Serva dade no tratamento do tema cul- (FFLCH/USP), mestre em Orga-
& Jaime Júnior, 1995; Chanlat, tura organizacional, o que com- nizações e Recursos Humanos
1994), possibilitaria a interpreta- provadamente tem gerado resulta- (EAESP/FGV) e doutorando em
ção mais profunda do comporta- dos limitados aos administrados, Organizações e Recursos Humanos
mento simbólico e subjetivo dos para se adotar a abordagem inter- (EAESP/FGV).
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Revista Científica do IMAPES - Abril de 2004 Pág. 41
RESUMO
1. Introdução dos serviços de saúde, as aplicações tais como hábitos alimentares, prá-
voltadas para a área educacional. tica desportiva e atividades de la-
A tecnologia da informação Além disso, com a grande utiliza- zer. Todos os eventos relacionados
está sendo amplamente utilizada ção dos recursos da Internet, jun- à saúde do indivíduo devem estar
em saúde. Destacam-se nesta área tamente com os grandes avanços registrados neste prontuário, do
de atuação as seguintes aplicabili- na área de tecnologia de informa- nascimento à morte, agregados em
dades: os sistemas de informação ção, as áreas de saúde e computa- torno de um identificador único
hospitalar (SIH), os sistemas de ção estão unindo esforços para ge- ou chave unívoca. A informação
apoio à decisão, os sistemas espe- rar uma grande base de dados de deve estar representada de tal modo
cialistas, a telemedicina, as redes RES (Cook; Olson; Dean, 2001). que a troca de informações entre
de comunicação digital para a saú- Idealmente, um RES é o re- instituições e a recuperação de da-
de, as aplicações destinadas à saú- gistro conciso e fidedigno da vida dos sejam feitas de forma transpa-
de comunitária, o processamento de um indivíduo, não somente dos rente para aqueles que estiverem
de sinais e imagens biológicas, o eventos relacionados à doença, mas acessando a informação. Acima de
controle e avaliação de qualidade também de informações de saúde, tudo, o RES deve atender aos re-
Pág. 42 Revista Científica do IMAPES - Abril de 2004
quisitos essenciais de integridade, conjunto de dados, não volátil, vindo como ferramenta de apoio
autenticidade, disponibilidade e orientado a tópicos, integrado, que em pesquisas científicas e epide-
privacidade da informação. varia com o passar do tempo e que miológicas, com a finalidade de
Em computação, o RES serve para o processo de tomada proporcionar melhorias e avanços
pode ser considerado uma grande de decisão da gerência. dos serviços de saúde.
base de dados, que poderá otimi- Tradicionalmente, o DW é
zar o trabalho de rotina dos pro- a tecnologia de informação ampla- 2. Construção de um Data
fissionais da área de saúde como mente empregada nas empresas Warehouse para Saúde
também apoiar a decisão clínica e para geração de sistemas de apoio à
auxiliar pesquisas. decisão com a finalidade de aumen- Universalmente, os projetos
Na área de saúde, médicos tar a inteligência nos negócios, for- de DW requerem infra-estrutura
e profissionais em suas atividades necendo aos executivos, gerentes e e arquitetura (Inmon, 1997). Para
rotineiras, como avaliação médi- administradores dados e informa- a área de saúde, esses requisitos não
ca, definição de diagnóstico e ções históricas empresariais, as quais são diferentes, sendo necessários os
prescrição de tratamento clínico, são a base concreta para a tomada seguintes procedimentos:
devem fundamentar-se em dados loReunião de dados de di-
linkage, é uma abordagem relati- para a construção do mesmo. bém de áreas distintas.
vamente nova, principalmente No momento que for desen- As pesquisas nas áreas de
quando propõe a construção de volvido o sistema que permita a computação e estatística estão
um servidor para pareamento de geração de uma chave unívoca para unindo esforços e atingindo avan-
registros de diferentes bases de unir registros de bases distintas de ços para desenvolver o sistema de
dados a partir de um identificador forma fidedigna e rápida, de ma- DW com chave unívoca a partir
único baseado em dados não nu- neira a identificar um indivíduo de de dados não numéricos. No en-
méricos. Com esse objetivo, mé- forma única a partir de dados não tanto, a aplicação e o gerenciamen-
todos estatísticos, mais precisa- numéricos como nome, endereço to estratégico desta possível tecno-
mente probabilísticos, estão sen- e data de nascimento, não somente logia será uma das funções do pro-
do otimizados por técnicas de a área de saúde será beneficiada, fissional de sistemas de informa-
machine learning e data mining. mas também áreas de interesse pú- ção, de forma a garantir o sucesso
As tecnologias de DW e data blico como segurança. O armazém do trabalho de pesquisa que está
mining são geralmente empregadas de dados históricos de indivíduos e sendo realizado, permitindo que as
nas áreas comercial e de inteligên- cadastros civis poderia servir na in- diferentes áreas alcancem suas
cia para negócios corporativos. No vestigação de possíveis suspeitos ou metas e objetivos.
entanto, conforme discutido nes- permitir avanços na pesquisa de
te artigo, não existe um rótulo de combate ao crime, identificando *Andréia Damásio de Leles
aplicação para as tecnologias e, áreas de perigos e possíveis crimi- é mestre em Engenharia Elétrica
sim, tendências. Técnicas de data nosos. Assim, talvez seria mais cor- pela Unicamp, professora de Mi-
mining, que na maioria das vezes reto denominar o sistema mencio- croinformática Aplicana no curso
são utilizadas como ferramentas nado como chave de indexação de Sistemas de Informação do IMA-
para extração de conhecimento a pública, a qual permitiria unir não PES e atua profissionalmente nas
partir de um DW, também podem somente registros de bases diferen- áreas de sistemas e tecnologia de
ser utilizadas como ferramentas tes de uma mesma área, mas tam- informação.
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Revista Científica do IMAPES - Abril de 2004 Pág. 47
Balanço de pagamentos:
uma abordagem econômica
Adilson Rocha*
RESUMO
lização das nações (PASSOS & l oArgumento da segurança o registro contábil de todas as tran-
NOGAMI, 2003): nacional sações de um país com outros paí-
loas desigualdades entre as Deve-se procurar proteger ses do mundo, através do método
nações no tocante às reservas não indústrias consideradas estratégi- das partidas dobradas (débito e
reprodutíveis (recursos naturais); cas do ponto de vista de segurança crédito). Assim, no balanço de
lodiferenças internacionais nacional. pagamentos estão registrados to-
no tocante a fatores climáticos (que das as importações que o Brasil
são determinados por fatores rela- loArgumento da proteção ao faz de outros países do mundo,
tivamente estáticos como altitude, emprego todas as exportações brasileiras, os
latitude, topografia e tipo de su- Deve-se promover a substi- fretes pagos a navios estrangeiros,
perfície) e a fatores edáficos (na- tuição das importações por bens os empréstimos que o Brasil re-
tureza e distribuição de solos); fabricados no próprio país. Dessa cebe em moeda estrangeira, o ca-
lodesigualdades nas dispo- forma, estimula-se a criação de pital das firmas estrangeiras que
nibilidades estruturais de capital e novas indústrias e a geração de sai do Brasil etc.
trabalho; e novos empregos. As compras de moedas es-
lodiferenças nos estágios de trangeiras são efetivadas para im-
desenvolvimento tecnológico. O comércio externo portar mercadorias de outros paí-
Por decorrência, o comércio tem contribuído, ses, para pagar serviços prestados
externo tem contribuído, contínua continuamente, por estrangeiros a brasileiros, para
e persistentemente, para a inter- para a que as firmas estrangeiras possam
nacionalização dos processos eco- internacionalização enviar seus lucros aos países de ori-
nômicos e, é inegável, para o gra- dos processos gem, para pagamento de juros de
dativo aumento das taxas de de- econômicos e, é empréstimos estrangeiros ou para
pendência de cada economia pagamento de royalties e patentes a
inegável, para o
com relação ao resto do mundo. outras nações do mundo.
gradativo aumento Já as vendas de moedas es-
3. Intervenção governamental no das taxas de trangeiras são efetivadas pelos ex-
comércio internacional dependência de cada portadores que receberam suas re-
(PASSOS & NOGAMI, 2003) economia com ceitas em dólares, pelas firmas es-
relação ao resto do trangeiras que estão montando
Mesmo com as vantagens mundo filiais no Brasil e precisam de reais
existentes advindas do livre comér- ou pelas entidades que receberam
cio, em certos casos se aconselha a l oArgumento do combate aos empréstimos de outros países e
intervenção do Estado, com a fi- déficits comerciais precisam convertê-los em reais
nalidade de restringir a entrada de Nesse caso, deve-se procu- para realizar seus pagamentos.
determinados produtos no país. rar combater os déficits entre im- Todas as compras de moe-
São as chamadas “medidas prote- portações e exportações. da estrangeira são registradas no
cionistas”, cujas justificativas são Dessa forma, a adoção de lado esquerdo do balanço de pa-
dadas a seguir: barreiras tarifárias ou incentivos é gamentos, isto é, são lançadas a
a maneira mais usual de o gover- débito. Por outro lado, todas as
l oArgumento da indústria no intervir no Comércio Interna- vendas de moeda estrangeira são
nascente cional. No entanto, em condições registradas no lado direito do ba-
Uma indústria nascente especiais da economia de um país, lanço de pagamentos, isto é, são
pode não estar em condições de a aplicação das políticas adotadas lançadas a crédito.
sobreviver à competição externa, poderá ser exatamente inversa, ou O total de compras de moe-
devendo adotar, mesmo tempora- seja, incentivar as importações e da estrangeira deve ser, sempre,
riamente, altas tarifas ou cotas até desestimular as exportações. exatamente igual ao total de ven-
que consiga desenvolver eficiência das de moeda estrangeira, pois,
tecnológica e economias de escala 4. O Balanço de Pagamentos sempre que alguém está venden-
que lhes possibilitassem competir do alguma coisa, outra pessoa está
com as indústrias estrangeiras. O balanço de pagamentos é comprando alguma coisa.
Revista Científica do IMAPES - Abril de 2004 Pág. 49
Os dados do balanço de pa- investimento em carteira; total de Conceitos do Grupo de Contas:
gamentos são, normalmente, di- operações com derivativos, ativos e (PASSOS & NOGAMI, 2003)
vulgados em dólares norte-ameri- passivos; e outros investimentos
canos, a valores correntes, sem (que inclui, entre outros, créditos l oBalança Comercial
ajustamento sazonal. Compreen- comerciais, empréstimos, moeda e São registradas nesta rubri-
dem as transações realizadas por depósitos, outros ativos e passivos ca as exportações e importações de
todo o país com o resto do mundo e operações de regularização). mercadorias. As primeiras compu-
e estão compilados de acordo com O plano de contas do Ba- tadas com um sinal positivo (cré-
os critérios estabelecidos na quin- lanço de Pagamentos será tão ana- dito) e as segundas com um sinal
ta edição do Manual de Balanço lítico quanto as Autoridades Mo- negativo (débito), sendo compu-
de Pagamentos do Fundo Monetá- netárias do país desejarem. Mas se tadas pelo valor FOB (free on board
rio Internacional - FMI (BPM-5). o país for membro do FMI, deve- — correm por conta do vendedor,
As transações econômicas rá incorporar, pelo menos, as con- ao preço contratado, todas as des-
podem ser agrupadas em três gran- tas definidas por esse órgão. pesas e riscos por perdas e danos,
des itens: até a colocação da mercadoria a
Estrutura Geral do Balanço bordo do veículo que a transpor-
loTransações Correntes: ex-
de Pagamentos: tará ao país destino), ou seja, pelo
portações, importações e saldo da valor de embarque, não inclusos
balança comercial; receita, despe- DISCRIMINAÇÃO os valores referentes aos seguros e
sas e saldo de serviços e rendas; re- aos fretes.
1. Balança Comercial (FOB)
ceita, despesa e saldo de serviços
Exportações
totais e os relacionados a transpor- loServiços
Importações
tes, viagens internacionais, segu- São registradas nesta rubri-
ros, financeiros, computação e in- 2. Serviços ca as receitas e despesas de divisas
formação, royalties e licenças, alu- Transportes oriundas de transações de bens in-
guel de equipamentos, serviços Viagens Internacionais tangíveis, tais como recebimentos
governamentais e outros; receita, Seguros e pagamentos de viagens de resi-
Financeiros
despesa e saldo de rendas, incluí- dentes ao Exterior e de não-resi-
Computação e Informações
dos salários e ordenados, renda de Royalties e Licenças dentes ao país, seguros, etc.
investimento direto (lucros e divi- Aluguel de Equipamentos Registram-se também os ser-
dendos e juros de empréstimos Serviços Governamentais viços financeiros que compreen-
intercompanhia), renda de inves- Outros Serviços dem as intermediações bancárias,
timentos em carteira (lucros e di- tais como: corretagens, comissões,
3. Rendas
videndos e juros de títulos de dí- garantias e fianças e outros encar-
Remuneração do
vida) e renda de outros investimen- Trabalho Assalariado
gos acessórios sobre o endivida-
tos (incluem juros de empréstimos, Rendas de Investimentos mento externo.
financiamentos, depósitos e outros Rendas de Outros Em outros serviços estão con-
ativos e passivos); saldo de trans- Investimentos solidadas as informações refe-
ferências correntes; e saldo de tran- rentes a serviços de corretagens e
sações unilaterais correntes; 4. Transferências Correntes comissões mercantis, serviços téc-
nico-profissionais, pessoais, cultu-
5. Saldo em Transações Correntes
loConta de Capital: saldo da rais e de recreação.
(1+2+3+4)
conta capital(inclui transferências
de patrimônio e compra e venda 6. Conta Capital
loRendas
vestimento direto abrangem lucros transferências unilaterais, na for- Poupança Externa Negativa, tam-
e dividendos relativos a participa- ma de bens e moeda para consu- bém chamada de Ativo Externo
ções no capital de empresa e os mo. Excluem-se as transferências Líquido.
juros correspondentes aos emprés- relativas a patrimônio de migran-
timos intercompanhias nas moda- tes internacionais, alocadas na loConta Capital
Mercosul, foi assinado acordo de vol.58, nº 1, páginas 56 e 57). primeiro é no aspecto interno do
livre-comércio com a Colômbia, A atual estratégia de realiza- país, ou seja, melhoria e eficácia
Equador e Venezuela, além dos já ção de uma rede de acordos diver- na produção e uma tendência de
existentes com Bolívia, Peru e sificada é um dos instrumentos de queda na taxa Selic, e, conseqüen-
Chile, cumprindo quase na sua assegurar mercados, principalmen- temente, resultados satisfatórios na
totalidade a meta da formação de te, para as exportações. No entan- área social, como, por exemplo, a
uma área de livre-comércio na to, uma vez garantido o acesso, o geração de empregos.
América do Sul, além de serem segundo desafio é procurar diver- O segundo ponto é no as-
acertadas concessões em relação à sificar a pauta e aumentar a venda pecto externo. O país começa a se
tarifa externa comum (TEC). de produtos de maior valor adi- destacar no mercado internacional,
Esse acesso a mercados na cionado, incluindo, nesse ponto, inclusive sendo apontado como
América do Sul é importante às as diretrizes da política industrial uma das promessas de comércio
exportações brasileiras, mas não é e agrícola (Conjuntura Econômi- para o futuro, juntamente com
suficiente para assegurar as metas ca — jan/2004, vol.58, nº 1, pá- China e Índia, atraindo investido-
de crescimento desejadas pelo go- ginas 56 e 57). res estrangeiros.
verno. Dessa forma, há necessida- Enfim, o país começa bem
de de avanços em outras áreas de neste início de ano e podemos vis- *Adilson Rocha é graduado em
negociação, inclusive de criar pro- lumbrar um cenário satisfatório, Ciências Econômicas, mestre em Ad-
jetos de infra-estrutura, diminuin- principalmente no tocante ao cum- ministração, pós-graduado em Econo-
do o foco do Mercosul como ape- primento das metas do governo. mia Empresarial e Didática do Ensi-
nas um acordo de comércio (Con- Dessa forma, teremos dois no Superior. Leciona Economia e Eco-
juntura Econômica - jan/2004, pontos positivos em destaque: o nomia Internacional no IMAPES.
Referências Bibliográficas
CARBAUGH, Robert J. Economia Internacional. São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2004.
Equipe de Professores da USP. Manual de economia: 3ª ed. São Paulo: Saraiva, 2002.
MENDES, Judas T. G. Economia: fundamentos e aplicações. São Paulo: Pearson-Prentice Hall, 2004.
PASSOS, Carlos Roberto Martins & NOGAMI, Otto. Princípios de economia: 4ª ed. São Paulo: Pioneira Thomson, 2003.
RATTI, Bruno. Comércio internacional e câmbio: 10ª ed. São Paulo: Aduaneiras, 2000.
PEREIRA, Lia V. Acordos na pauta de exportações. Revista Conjuntura Econômica, Rio de Janeiro, v. 58, n. 1, jan. 2004.
Referências complementares
info@intermanagers.com.br - Diversos informativos - “Resumo do dia”.
www.bcb.gov.br - Relatórios sobre Balanço de Pagamentos (Notas e Demonstrativos).
www.mdic.gov.br - Relatório sobre Balança Comercial Brasileira.
www.fgvdados.fgv.br - Relatório Econômico.
www.valoronline.com.br - Diversos artigos (mês de janeiro e fevereiro/2004).
Revista Científica do IMAPES - Abril de 2004 Pág. 53
Vantagens competitivas no
desenvolvimento do produto
utilizando os sistemas Product
Data Management (PDM) /
Engineering Data Management
(EDM) e características de
integração entre sistema de
gerenciamento da manufatura
Aldie Trabachini*
RESUMO
aplica-se na mente das pessoas. Nas feito manualmente na forma de (EDM), eletronic data management
organizações, está freqüentemen- papel, para controlar as modifica- (EDM), product information man-
te envolvido, não somente nos ções de engenharia. Os problemas agement (PIM); computer integrated
documentos ou arquivos, mas decorrentes desta forma de contro- end program information manage-
também nas rotinas, processos, le podem afetar diretamente o de- ment (PIM), technical data man-
práticas e normas organizacio- sempenho do processo de desen- agement (TDM) entre outras.
nais... O conhecimento deriva de volvimento de produtos. Cópias de (MILLER et. al., 1994). (Ver Fi-
informações (que por sua vez de- desenhos desatualizadas, circulação gura 1.)
riva de dados), havendo necessi- lenta de documentos, alto índice A tecnologia PDM e EDM
dade de total envolvimento huma- de retrabalho, dificuldade de se propõe-se a explorar ao máximo
no para que essa derivação ocor- obter informações dos produtos os benefícios da engenharia simul-
ra”. (DAVENPORT T.H. & são problemas comuns na maior tânea, controlando a informação
PRUSAK L. “Working Knowl- parte das empresas. e distribuindo sistematicamente o
edge”, Harvard Business School O sistema de gerenciamen- conhecimento e os documentos,
Press, 1998.) to de dados do produto PDM restringindo a forma de utilização
Geralmente, costuma-se de- (Product Data Management) é uma dos mesmos, conforme a função e
finir um documento como sendo tecnologia de software que visa ge- as competências das pessoas envol-
cartas, e-mails, memorandos, etc. renciar todas as informações e pro- vidas no processo.
Porém, a definição de documento cessos relativos ao ciclo de vida de
possui uma maior amplitude. De um produto, possuindo, assim, 2. Histórico
maneira simplificada, pode-se di- funcionalidades especiais como o
zer que um documento em uma controle da estrutura de produto Com o aumento da comple-
empresa é um registro de uma e o controle das modificações de xidade no desenvolvimento do
transação de negócio ou de uma engenharia. Os sistemas EDM produto, os gerentes de projeto
decisão que pode ser vista por uma (Electronic Data Management) são passaram a trabalhar com volume
unidade organizacional que utili- focados no gerenciamento de do- muito grande de dados, e a rápida
za essa informação para a realiza- cumentos, podendo ou não estar localização das informações e sua
ção de sua atividade. Portanto, a relacionados à engenharia. “PDM segurança passou a ser um fator
gerência de documentos é o pro- define os processos que são utili- determinante para potencializar o
cesso de supervisionar os registros zados para transmitir e gerenciar tempo no desenvolvimento. “Um
de transações, decisões e os docu- dados do produto que são criados dos maiores desafios para a im-
mentos de grande importância e detalhados em diferentes áreas da plantação bem sucedida da enge-
(SUTTON, 1996). empresa.” (PIKOSZ 1997, p.8). nharia simultânea é o gerencia-
A concepção e desenvolvi- Várias terminologias para o mento de todos os dados relati-
mento de novos produtos pelas PDM surgiram no decorrer de seu vos ao produto, pois com o uso
empresas vêm se deparando com desenvolvimento: product data desta filosofia os dados podem ser
a dificuldade de gerenciar as infor- management (PDM), engineering utilizados, quando completos, ou
mações geradas neste processo, data management (EDM), engi- nos estágios iniciais de desenvol-
prejudicando a implantação efi- neering document management vimento (PRASAD, 1996). Além
ciente de novas técnicas e méto-
dos de trabalho para o funciona-
mento da engenharia simultânea, Product Data Management (PDM)
que visa uma abordagem sistemá-
Engineering Data Management
tica para o desenvolvimento inte-
Engineering Document Management
grado e paralelo do projeto de um Eletronic Data Management
produto e os processos relaciona- Product Information Management
dos, incluindo manufatura e su- Computer Integrated end Program Information Management
porte (WINNER et al., 1988 Technical Data Management
PRASD, 1996).
O controle das informações Figura 1 - PDM, um termo amplo que engloba todos os conceitos
na engenharia do produto ainda é (CIMDATA,1996 e DICKESON,1996).
Revista Científica do IMAPES - Abril de 2004 Pág. 55
disso, é necessário que estes da-
Usuário Usuário
dos estejam disponíveis sempre
78
78
que necessário, pois de 40% a
50% do tempo de desenvolvi-
Aplicativos 88 88 Sistema PDM
mento é gasto na comunicação e
na transmissão de informações.” CAD/CAM/Office
8
7
(WARNECKE & ZEIHSEL, Controle Controle
Documentos
1995).
7
7
78
88
Ferramentas de gerencia- Dados Dados
onde os documentos são armaze- produto ainda em processo de de- loRespostas rápidas aos re-
nados com segurança e controle de senvolvimento, destacando funcio- gistros do cliente (MILLER et al.,
acesso; nalidades como o controle do pro- 1994);
l oCriação de hierarquias cesso de criação e aprovação de loPossibilidade de integra-
dos usuários para o acesso e modi- desenhos e componentes, contro- ção de sistemas de informação e
ficação de dados. le das informações de especifica- gerenciais de manufatura (MRP,
loGerenciamento do fluxo de ções, processo e qualidade do pro- MRP II e ERP).
trabalho ou workflow: automatiza os duto; possui uma grande integra-
processos através da circulação, ro- ção com os sistemas CAD, pois 5. Conclusões
teamento e controle de tarefas; normalmente é o aplicativo bási-
loGerenciamento da estru- co de projeto; Atualmente, o controle da
tura de produto: gerencia a confi- loManufatura: pode ser de- informação é fundamental para o
guração das partes do produto e finido pelos sistemas focados no tra- desenvolvimento das empresas e
seus relacionamentos; tamento de informações de produ- para o controle do ciclo de vida
loIdentificação e classifica- to já aprovados. Estes produtos pos- do produto; o PDM vem de en-
ção de itens: são mecanismos de suem ênfase em funcionalidades contro com esta necessidade das
identificação e classificação de da- como o processo de alterações de organizações, gerenciando os da-
dos necessários para permitir bus- engenharia e controle de informa- dos do produto.
cas e recuperação de informações; ções dos processos de fabricação; As tendências de integração
loGerenciamento de proje- loProjeto: engloba os siste- entre sistemas PDM e os de ges-
tos: esta funcionalidade, ainda mas que enfatizam características tão da manufatura (ERP, MRP e
pouco desenvolvida nos sistemas de gerenciamento de projeto, tais outros) podem resultar em uma
PDM, gerencia as atividades, pra- como controle de prazos, controle série de benefícios para as empre-
zos e recursos no processo de de- de versão e status e gerenciamento sas, como aumento da consistên-
senvolvimento de produtos. de configuração. cia dos dados devido a sua entrada
As funções complementares ser realizada em um único banco
visam suportar atividades de comu- 4. Benefícios dos sistemas PDM de dados, e a redução do tempo
nicação e notificação, transporte e de transferência das informações
conversão de dados, visualização e Os benefícios esperados com da engenharia para a produção,
comentários eletrônicos (markup) a implantação de um sistema PDM permitindo o gerenciamento efi-
de documentos, e serviços adminis- dependem do tipo, tamanho e es- ciente dos dados do produto ao
trativos (CIMDATA,1996). copo do sistema a ser considerado. longo do ciclo de vida (Figura 4).
Segundo SWANTON Os benefícios comuns obti- As companhias Boeing, Xe-
(1997), todos os sistemas PDM dos com a implantação de sistemas rox, Texas Instrumentos, Grupo
possuem uma base funcional co- PDM são (OMOKAVA, 1996): Schneider, Honeywell e General
mum que é o gerenciamento de loRedução nos custos: está Electric estão usando atualmente
documentos, ou seja, a capacida- diretamente relacionada a otimi- um sistema de PDM como parte
de de organizar, controlar e garan- zação do trabalho de engenharia e de seus esforços para desenvolvi-
tir a segurança de arquivos eletrô- manufatura. Segundo Department mento de produto. Estão conse-
nicos. Porém, fora o gerenciamen- of Trade and Industry (1995), os guindo melhorias no tempo de de-
to de documentos, os sistemas ganhos com otimização no manu- senvolvimento do produto, redu-
PDM devem possuir funcionali- seio de informações podem ultra- zindo perdas e agilizando as infor-
dades específicas, que podem de- passar os 25%. mações entre as equipes de proje-
finir três diferentes campos funcio- loRedução do time to market: to, com respostas mais rápidas aos
nais de aplicação: produto, manu- segundo Department of Trade and clientes.
fatura e projeto. Industry (1995), algumas empresas O uso do PDM permite
loProduto: é o caso mais co- pesquisadas tiveram redução de gas- uma clara vantagem competitiva
mum e mais desenvolvido atual- tos na ordem de 25%; às empresas, devido à segurança e
mente nos sistemas PDM. Este loRedução do número de agilidade no gerenciamento de
grupo engloba os sistemas focados alterações de engenharia (ECO) dados. Porém, sua implantação de
no tratamento de informações do em até 80% (CARROL, 1996); ser amplamente analisada para a
Revista Científica do IMAPES - Abril de 2004 Pág. 57
escolha do sistema PDM que per- Desenvolver Geração
mita a melhor integração dos sis- integração com Integração de
outros sistemas. com sistemas
temas de projeto e de gerencia- informações e
MRP, ERP, etc. documentos.
mento da manufatura, possibili- Usuário
Referências Bibliográficas
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informações básicas e artigos, 2004.
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artigos, 2004.
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DAVENPORT, T.H.; PRUSAK, L. “Working Knowledge”, Harvard Business School Press, 1998.
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Contém bastante conteúdo sobre desenvolvimento de produtos e sistemas PDM, incluindo links e bibliografia, 2004.
GASCOIGNE, B. PDM. The essential technology for concurrent engineering. World Class Manufacture. v. 2, n. 1, p. 38-42. (t:200),
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GUERREIRO, V.; OLIVEIRA, C. B. M.; ROZENFELD, H.; ZANCUL, E. S.. Análise das abordagens de integração entre sistemas
PDM e ERP, Society of Automotive Engineers, Inc, 1998.
GUERREIRO, V.; ROZENFELD, H.. Proposta de classificação de sistemas PDM., Universidade Federal de São Carlos, Escola de
Engenharia de São Carlos, 1998.
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MILLER, E; MACKRELL, J.; MENDEL, A.; PHILPOTTS, M.. PDM buyer,s guide. E. ed. Ann Arbor, CIMdata, 1994.
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PRASAD, B. Concurrent engineering companies. Integrated product and process organization. New Jersey, Prentice Hall, 1995.
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SUTTON, T.B.; SHANE, W.W. Epidemiology of the perfect stage of Glomerella cingulata on apples. Phytopathology 73:1179-1183.
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Pág. 58 Revista Científica do IMAPES - Abril de 2004
RESUMO
Referências Bibliográficas
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3 - CETESB – Manual de Tratamento de Efluentes Químicos Gerados em Laboratório , 2000.
4 - CETESB – Legislação Estadual – Controle da Poluição Ambiental do Estado de São Paulo, Março 1992.
5 - CONAMA – Legislação Ambiental do Conselho Nacional do Meio-Ambiente, 1999.
Revista Científica do IMAPES - Abril de 2004 Pág. 61
Processo de Internacionalização
Organizacional
Maria Eliana Gomes Cardim de Queiroz Guimarães*
RESUMO
Desde a última década do US$ 100 milhões, treze a mais do passou de 957 para 1.093.
século XX, observa-se uma gran- que em 2002. Estas empresas ex- Levantamento feito pela
de modernização no parque indus- portaram US$ 42,69 bilhões, re- Fundação Centro de Estudos de
trial brasileiro, que está mais pro- presentando 58% do total vendi- Comércio Exterior (Funcex) cons-
dutivo, dinâmico e moderno. Esse do pelo Brasil. tatou que a cada ano, desde 1990,
fato está permitindo um aumento 3.350 empresas brasileiras, em mé-
Número de
na pauta exportadora brasileira, Ano empresas dia, iniciam na atividade de expor-
com produtos de alto valor agre- tação, mas apenas 20% deste total
1990 8.537
gado, como, por exemplo, aviões, 1991 9.473 permanecem no setor. Isso signifi-
ônibus, celulares e máquinas agrí- 1992 11.624 ca que anualmente cerca de 2,6 mil
colas. Portanto, nesta nova década, 1993 13.628 empresas estreantes no comércio ex-
pode-se considerar que o desafio do 1994 14.296 terior desistem da atividade.
1995 13.433
comércio exterior brasileiro será o As micros e pequenas em-
1996 13.397
aprimoramento das exportações. 1997 13.850 presas correspondem a 98% das
Há uma grande demanda empresas brasileiras. Entretanto,
Fonte: SECEX/MDIC
1998 13.966
internacional para os produtos bra- 1999 15.370 no tocante às exportações, uma
sileiros; entretanto, a participação 2000 16.246 pesquisa realizada no ano passado
2001 17.267
brasileira no comércio mundial é pelo Sebrae-SP mostrou que, das
2002 17.407
modesta, com exportações equiva- 2003 17.743 empresas exportadoras no Brasil,
lentes a 1% do comércio total, fi- apenas 29% são micro, pequenas
cando seu desempenho abaixo de Tabela 1: Empresas Exportadoras no e médias empresas. Esse conjunto
Brasil - 1990/2003
seu potencial. corresponde a apenas 1,7% (US$
Segundo dados do Ministé- A maior concentração de 800 milhões) do valor total expor-
rio do Desenvolvimento, Indústria empresas exportadoras está na fai- tado no País.
e Comércio Exterior (MDIC), em xa entre US$ 100 mil e US$ 400 Esses números comprovam
2003, 17.743 companhias expor- mil. Em 2002, eram 3.064 firmas a importância de se estabelecer um
taram, contra 17.407 no ano an- nesta faixa. No ano passado, foram plano de internacionalização, tan-
terior (Tabela 01). O valor vendi- 3.323, totalizando 259 empresas a to a nível governamental como
do também aumentou, passando mais. Outro crescimento significa- empresarial, onde sejam levanta-
de US$ 60,361 bilhões para US$ tivo foi verificado na faixa entre das as estratégias necessárias para
73,084 bilhões. No ano passado, US$ 1 bilhão e US$ 2 bilhões: o conquistar e manter clientes em
117 empresas venderam acima de número de empresas exportadoras mercados internacionais.
Pág. 62 Revista Científica do IMAPES - Abril de 2004
O mercado internacional é CAMPOS (1990) afirma que este econômicos, a fim de proteger os
extremamente competitivo e exi- tipo de comércio é um regulador interesses locais, podem pressionar
ge um fluxo constante de investi- da vida econômica dos países, pois os governantes quanto à produção
mentos em tecnologia e qualifica- permite obter produtos que, de de determinados bens internamen-
ção da mão-de-obra, sendo a ino- outra forma, seria impossível uti- te, mesmo que os mesmos pudes-
vação tecnológica a principal for- lizar; torna mais lucrativa a divi- sem ser adquiridos de outros paí-
ma de se obter vantagem compe- são do trabalho; intensifica a con- ses com custos menores;
titiva, pois permite redução de corrência entre produtores de mer- losonho da industrialização
custo, levando a empresa a obter cadorias similares às que são im- - produtos primários sofrem cons-
uma liderança de custo significa- portadas e permite maior flexibi- tantes flutuações de preços, e as po-
tiva na disputa do competitivo lidade diante de oscilações econô- líticas destinadas aos setores indus-
mercado global. micas entre a oferta e a procura. triais, além de elevar o nível de vida
Ainda no que diz respeito a Um dos primeiros autores a da população, dão prestígio para
custos, com a liberação do comér- se dedicar ao estudo do comércio governantes que as introduzem.
cio e a nova integração dos merca- internacional foi o economista in- MONTGOMERY e POR-
dos mundiais, as companhias tra- glês Adam Smith, em sua obra “A TER (1998) afirmam que as na-
taram de redistribuir geografica- Riqueza das Nações”, editada em ções têm sucesso em setores indus-
mente os vários segmentos de pro- 1776. Em sua doutrina, Adam triais onde são particularmente
dução, de acordo com as caracte- Smith procurou mostrar que a boas em criação de fatores que en-
rísticas de cada país. A liberdade aplicação da divisão do trabalho na volvem investimento pesado e sus-
comercial permitiu às empresas área internacional contribuía para tentado. Segundo eles, uma nação
privadas adquirirem mobilidade, a melhoria do bem-estar das po- não herda, mas, em vez disso, cria
instalando-se nos países onde o pulações, permitindo a especiali- os mais importantes fatores de pro-
custo de produção é menor, tendo zação de produções, aliada às tro- dução, recursos humanos habi-
também, como atrativo, o merca- cas entre as diversas nações. Sua litados e uma sólida base científica.
do interno destes países. Conside- doutrina deu origem ao princípio É difícil uma nação ser com-
rando estes dois fatores, o Brasil, básico da chamada Teoria das Van- petitiva em todos, ou mesmo na
depois da abertura comercial e es- tagens Absolutas: cada país deve maioria dos setores industriais. As
tabilização política, tornou-se um concentrar-se naquilo que pode nações têm sucesso em certos se-
grande captador de investimentos produzir a custo mais baixo e ex- tores porque seu ambiente inter-
diretos: “A possibilidade de vender portar parte dessa produção para no é o mais avançado, dinâmico e
em outros mercados permite às em- outros países. desafiador. Quando o ambiente
presas obter ganhos de escala, ven- Atualmente, o que se veri- nacional é formado por esforços e
dendo muito mais, mesmo que por fica são vários países produzindo comprometimento em conjunto,
um preço mais baixo. Estes ganhos praticamente de tudo e, segundo permite obter informações novas
geram investimentos e poupança, RATTI (2002), algumas razões e pressiona as empresas para que
dando maior estabilidade e solidez que fazem com que essa prática inovem e invistam, além de ga-
à economia do país. Por outro lado, ocorra são: nharem vantagem competitiva e
os valores que são injetados nas eco- lolimitações na especialização modernização.
nomias dos exportadores em troca - se um país aplicar todos os seus As empresas podem se abas-
dos produtos comercializados au- fatores de produção na fabricação tecer no comércio internacional de
mentam a quantidade de moeda de um único artigo poderá enfren- materiais, componentes ou tecno-
estrangeira, permitindo ao país ex- tar falta de procura por parte do logia, porém isso não agregará à
portador a valorização da moeda.“ mercado externo ou mesmo dimi- nação um grande efeito na inova-
LUPPI (2001, p.135) nuição do valor de seu produto por ção. É importante ter a presença
O Comércio Internacional excesso de oferta; de fornecedores locais internacio-
propicia, além do progresso uni- losegurança nacional - a es- nalmente competitivos, pois estes
versal planejado pelos países con- pecialização e o comércio livre propiciam insumos mais eficien-
forme as prioridades dos seus ob- criam uma interdependência en- tes em termos de custos e agilida-
jetivos econômicos e sociais, uma tre os países; de logística. E quando esses for-
maior harmonia no mundo. logrupos de pressão - grupos necedores são concorrentes glo-
Revista Científica do IMAPES - Abril de 2004 Pág. 63
bais, as empresas beneficiam-se ao dos, não bastam para pagar a com- demanda internacional.
máximo, pois os esforços são dire- pra desses mesmos produtos, às Porém, não é uma tarefa fá-
cionados a baixar os custos, a me- vezes, em alta no mercado inter- cil, pois exigirá, antes de tudo, de-
lhorar qualidade e serviços e a nacional. senvolver uma cultura organizacio-
criar produtos e processos. As medidas de política in- nal que envolva todos os colabo-
Atualmente, os consumido- dustrial e comercial afetam de for- radores internos e externos da
res não compram somente produ- mas diferentes os interesses dos empresa, com objetivos e metas
tos, mas estilos de vida, atitudes, produtores, dos consumidores, dos devidamente planejadas e integra-
valores. É necessário acompanhar residentes no país ou fora dele. das, o que significa ter uma visão
permanentemente as tendências Durante os últimos 20 anos, tive- do processo, saber se o que ela real-
internacionais, entender a opera- mos um tipo de gestão econômica mente produz satisfaz às necessi-
cionalidade e implementar mu- voltada exclusivamente para o cur- dades do seu cliente internacional,
danças estruturais eficientes para to prazo, para situações de emer- desenvolver um fluxo eficiente de
produzir com um custo mínimo, gência, seja inflação elevada, sejam informação, estar ciente de seu
mais e melhor. as crises continuadas. Com isso, custo versus benefício e sua plena
É evidente que não adianta perdeu-se de vista a perspectiva utilização, conquistar a união dos
produzir e ser competitivo, se não estrutural da economia brasileira, setores frente aos desafios do co-
há mercado para o produto fabri- seus obstáculos e seu potencial, em mércio internacional e dos recur-
cado. Com economias mundiais termos de mercado e possibilida- sos disponíveis.
desaquecidas, as empresas têm de de expansão. Como qualquer outra ativi-
menos mercados para seus produ- Portanto, as atividades de dade, a exportação está sujeita a
tos. Desta forma, exportar deman- comércio exterior devem ser reali- riscos e, para vencê-los, é impor-
da regras pré-estabelecidas com zadas com estratégias que visem tante identificar, avaliar e conquis-
base em estudos macroeconômicos fortalecer o conjunto das relações tar as oportunidades. Só consegui-
adequados. comerciais internacionais em lon- rão vencer no mercado competiti-
Campos (1990) comenta go prazo, avaliando-se criteriosa- vo internacional as nações e suas
que os países em desenvolvimen- mente seu custo e benefício, evi- empresas que tiverem criatividade
to, na ânsia de crescimento rápido tando-se penalizar as empresas e os necessária a inovação, qualidade e
e na tentativa de alcançar o status consumidores. profissionais comprometidos com
de desenvolvidos, procuram ex- O velho modelo de expor- os objetivos nacionais e com talen-
portar além dos seus excedentes de tação cujas estratégias são moeda to gerencial, capazes de adequar a
produção, acarretando, mais tar- desvalorizada, tarifas protetoras, organização e o produto no mer-
de, não raras vezes, problemas de mão-de-obra barata e subsídios cado internacional.
abastecimento de suas populações, não funciona em longo prazo.
porque o que lhes sobra em recur- Entende-se, hoje, que um alto grau *Maria Eliana Gomes Car-
sos cambiais lhes falta em provi- de competitividade da produção dim de Queiroz Guimarães é mes-
são interna da mercadoria expor- doméstica é um dos fatores para a tre em Engenharia de Produção pela
tada. E, na importação de produ- sustentação das exportações, onde Universidade Metodista de Piraci-
tos similares oriundos de outros o importante é identificar, desen- caba, especialista em Gestão do Co-
países com os quais mantêm rela- volver, implementar estratégias e mércio Internacional, professora e
ções comerciais, freqüentemente táticas organizacionais visando coordenadora de estágio do Curso
os recursos cambiais, antes obti- atender com pro-fissionalismo a de Administração do IMAPES.
Referências Bibliográficas
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Pág. 64 Revista Científica do IMAPES - Abril de 2004
RESUMO
Introdução forma geral, não existe uma inte- reparação de partes danificadas ou
ração íntima (que envolva ligações destruídas do corpo humano, vem
A preocupação do homem ou reações químicas) entre o ma- sendo estudada a longo tempo
em desenvolver equipamentos e terial ou equipamento e o tecido (Prolo, 1985; Chase, 1955; Barth,
materiais utilizados por pessoas vivo. Aqui temos uma atuação 1998). Um dos materiais estuda-
portadoras de algum tipo de de- mecânica, como os ajustes realiza- dos a partir da década de 30 foi a
ficiência física, seja ela de nascen- dos numa muleta ou óculos, e a Hidroxiapatita (HA) (HENCH,
ça ou provocada por acidente, minimização do peso de próteses, 1995, 1971), composta basica-
vem de longa data. Ao longo dos tais como pernas mecânicas. Com mente de cálcio e fósforo,
séculos, o homem tem avançado isto, há um maior conforto para Ca10(PO4)6(OH)2, que por apre-
no desenvolvimento de técnicas, as pessoas que utilizam esses mate- sentar uma estrutura semelhante
equipamentos e materiais capazes riais. Já na atuação interna, há a ao osso é até hoje muito utilizada.
de melhorar as condições dessas utilização de tubos para respiração Todos os materiais estuda-
pessoas. artificial, catéteres, endoscópios dos e testados têm como caracte-
Podemos, a princípio, divi- para visualização de tecidos, órgãos rística a compatibilidade com o
dir a atuação para a melhora das ou mesmo na ajuda de interferên- organismo humano, seja ela bioa-
condições de vida dessas pessoas cia cirúrgica. No caso de repara- tiva e/ou mecânica (biocompatibi-
em dois grupos: externo e interno ção ou substituição de tecidos vi- lidade) (HENCH, 1995, 1971),
ao organismo humano. A atuação vos, tem-se testado, ao longo dos de modo a evitar danos ou rejei-
externa diz respeito ao desenvol- últimos anos, diferentes materiais, ção por parte do organismo. Os
vimento de equipamentos que cor- ou mesmo técnicas cirúrgicas, na avanços na melhora da performan-
rijam e/ou minimizem algum tipo tentativa de restaurar as funções ce desses biomateriais têm possi-
de deficiência física como, por normais de funcionamento destes. bilitado um aumento no número
exemplo, óculos, lentes de conta- A possibilidade de utilizar de implantes (ortopédicos, dentá-
to, cadeira de rodas, próteses me- materiais inorgânicos em aplica- rios, etc.) e, como conseqüência,
cânicas, etc. Neste caso, de uma ções médicas, especificamente na um aumento na expectativa de
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vida dos pacientes. vestigadas diversas fases de fosfato 8 amostras com composições di-
O osso é um material com- de cálcio para serem utilizados ferentes. Na tabela 1 são apresen-
posto por uma parte orgânica e como biomateriais em cirurgias tas todas as composições testadas
outra inorgânica, sendo que esta ortopédicas, na reparação de de- e as diferentes soluções utilizadas.
última apresenta uma estrutura feitos ósseos ou no aumento do As amostras, após a mistura
compacta e/ou porosa. Esta carac- tamanho do osso. entre os pós e as soluções, também
terística de porosidade varia de- Com o objetivo de estudar foram aquecidas numa mufla a
pendendo do tipo de osso. Em esses materiais, propusemos neste temperatura de 80 oC por 1 hora.
vista disso, a forma na qual o bio- projeto a obtenção de cimentos Após este procedimento, foram
material deva ser conformado de- inorgânicos, sintetizados à tempe- resfriadas até a temperatura am-
pende de sua função no organis- ratura ambiente a partir de reagen- biente, na taxa normal de resfria-
mo. Implantes para preenchimen- tes comerciais, para serem aplica- mento da mufla.
to de tecido ósseo, como no caso dos na restauração de tecidos ós- As amostras foram caracte-
da restauração de maxilar, são usa- seos, ou mesmo serem injetáveis rizadas pela técnica de difratome-
dos na forma de pó, partículas ou na região lesada. tria de raios-x, utilizando um di-
materiais porosos. Em regiões fratômetro da marca Philips, mo-
onde é necessário melhorar as Parte experimental delo PW3710, com tubo gerador
propriedades químicas interfaciais de Cu, do Laboratório de Mate-
e a fixação mecânica, como, por As colas inorgânicas foram riais Nucleares — LABMAT do
exemplo, no caso de próteses me- obtidas a partir da mistura de: Centro Experimental ARAMAR.
tálicas para a fixação do fêmur, CaCO 3, Ca(OH)2 e (NaPO3)n.
utilizam-se filmes de Hidroxiapa- Esses reagentes, em quantidades Resultados e discussão
tita, cerâmicas ou mesmo vitro- pré-estabelecidas, foram mistura-
cerâmicas bioativas sobre a pró- dos em almofariz de ágata. Após a Todas as composições tes-
tese metálica. Implantes na for- mistura adicionou-se, a cada com- tadas resultaram em amostras
ma de “bulk” são aplicados nas posição, uma solução composta de com diferentes tempos de cura e
regiões do corpo humano subme- Na2HPO4 (diluído em água desti- graus de dureza, dependendo da
tidas a maiores cargas. lada) e H3PO4 (concentrado), até relação entre os reagentes de par-
Entre os materiais testados formar uma pasta consistente. tida e da quantidade e tipo de
na restauração e substituição de Esta, em seguida, foi colocada em solução adicionada para a forma-
tecidos ósseos, os fosfatos de cál- recipientes plásticos abertos para ção das colas.
cio têm atraído grande atenção na secagem à temperatura ambiente. As soluções 3 e 4 foram des-
medicina, particularmente nas Deste modo, obteve-se um total de cartadas, uma vez que, tanto mis-
áreas odontológica e ortopédica,
Reagentes Composição A Composição B
por apresentar excelente biocom- [g] [g]
patibilidade devido suas proprie-
dades de reparar ossos. Existem es- CaCo3 0,784 1,496
tudos na literatura (Prolo, 1985; Ca(OH)2 2,036 1,384
Chase, 1955; Barth, 1998;
(NaPO3)n 1,18 1,12
Huggins, 1937; Narasaraju, 1996)
envolvendo a síntese, caracterização
e implantação de cimentos (ou co-
Soluções 1g Na2HPO4 H3PO4
las) de fosfatos de cálcio injetáveis diluído em 99g de Concentrado
utilizando-se α e β fosfato tricálci- água destilada
co, α-TCP e β-TCP (Ca3(PO4)2),
monohidrogeno fosfato de cálcio 1 50% 50%
dihidratado, DCPD (CaHPO4.2 2 100% —
H2O), fosfato de octacálcio, OCP 3 — 100%
(Ca8H2(PO4)6.5H2O), carbonato 4 10% 90%
de cálcio, ácido fosfórico, entre
outros. Nesses estudos, foram in- Tabela 1 - Composições e soluções utilizadas
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Pág. 68 Revista Científica do IMAPES - Abril de 2004
Aspectos do tratamento
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Danielle Pires de Camargo Torres*
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Revista Científica do IMAPES - Abril de 2004 Pág. 71
Antocianinas: pigmento
natural ou remédio?
Maria do Carmo Guedes*
RESUMO
As Antocinidinas, sendo ins- coumárico e 1 molécula de ácido leceram um nível de ingestão que
táveis e muito menos solúveis que malônico (6). não produz efeitos de 7,5% de
as Antocianinas, não se acumulam Antocianina na dieta, equivalen-
na planta (3) e os pigmentos que Metabolismo de antocianinas te a 5 g/Kg de peso corpóreo/dia.
ocorrem nas flores, frutas e folhas
estão na forma glicosídica, com os Evidências disponíveis atra- Propriedades farmacológicas
açúcares conferindo solubilidade e vés de estudos metabólicos com de antocianinas
estabilidade às Antocinidinas (4). animais indicam que as Antocia-
Os ácidos mais comumente ninas não são somente não tóxicas Antocianinas são conheci-
encontrados nas Antocianinas são, e não-mutagênicas como possuem das por apresentar propriedades
por ordem de ocorrência: coumá- propriedades terapêuticas benéfi- farmacológicas, sendo utilizadas
rico, caféico, ferúlico, p-hidroxi- cas (7). Becci et al. (1983) estabe- para propósitos terapêuticos.
benzóico, sinápico, malônico, acé-
tico, succínico, oxálico, málico (5). Nome Modelo de substituição Cor
A maior molécula de anto- R3' R4' R5'
cianina conhecida é o pigmento
Ternatin A1 das pétalas azuis da Pelargonidina H OH H Laranja
Cianidina OH OH H Vermelha
ervilha “butterfly” (Clitoria ternatea Delfinidina OH OH OH Vermelha azulada
L. leguminosoe). Ela é um deriva- Peoniodina OCH3 OH H Vermelha azulada
do poliacilado da Delfinidina 3, 3', Petunidina OCH3 OH OH Vermelha azulada
5' - triglicosídeo, composta da Malvidina OCH 3 OCH3 OH Vermelha arroxeada
Delfinidina com 7 moléculas de
glicose, 4 moléculas de ácido p- Tabela 1. Antocianidinas de maior ocorrência na natureza
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Informalidade e empregabilidade
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Sergio Nagib Sabbag*
RESUMO
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