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UNIVERSIDADE DO VALE DO RIO DOS SINOS – UNISINOS


UNIDADE ACADÊMICA DE GRADUAÇÃO
CURSO DE PSICOLOGIA

TAÍS MESSINGER RIBEIRO

ANÁLISE DA EXPERIÊNCIA DO PROCESSO DE ESTÁGIO

São Leopoldo
2023
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TAÍS MESSINGER RIBEIRO

ANÁLISE DA EXPERIÊNCIA DO PROCESSO DE ESTÁGIO

Análise da Experiência do Processo de


Estágio na APAE de Farroupilha,
apresentado para o Curso de Psicologia
da Universidade do Vale do Rio dos Sinos
(UNISINOS).

___________________________________________
Aluna: Taís Messinger Ribeiro

___________________________________________
Orientador local: Gustavo Vanni – CRP 07/14525

___________________________________________
Orientador acadêmico: Melissa Hickmann Muller

São Leopoldo
2023
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SUMÁRIO

1 CONTEXTUALIZAÇÃO CRÍTICA DO LOCAL.......................................................05

1.1 Contextualização............................................................................................... 05

1.2 Inserção.............................................................................................................. 05

1.3 Atuação da Psicologia.......................................................................................06

1.4 Escolha da Intervenção.....................................................................................06

1.5 Reconhecimento de Demandas........................................................................06

2 APRESENTAÇÃO DO PROJETO.........................................................................08

2.1 Proposta de Intervenção...................................................................................08

2.2 Tema....................................................................................................................08

3 OBJETIVOS DA INTERVENÇÃO..........................................................................09

3.1 Objetivo Geral.................................................................................................... 09

3.2 Objetivos Específicos........................................................................................09

4 METODOLOGIA.....................................................................................................10

4.1 Sujeitos...............................................................................................................10

4.2 Forma Proposta de Intervenção.......................................................................10

4.2.1 Encontro de Abertura: O que Vamos Fazer?....................................................12

4.2.2 Encontro 2: Alegria........................................................................................... 12

4.2.3 Encontro 3: Tristeza..........................................................................................12

4.2.4 Encontro 4: Medo..............................................................................................12

4.2.5 Encontro 5: Raiva............................................................................................. 12

4.2.6 Encontro 6: Identificando as Emoções..............................................................12

4.2.7 Encontro 7: Identificando as Emoções..............................................................12

4.2.8 Encontro 8: Identificando as Emoções..............................................................13

4.2.9 Encontro 9: Identificando as Emoções..............................................................13

4.2.10 Encontro 10: O que ficou?..............................................................................13


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5 ANÁLISE DO PROCESSO DE INTERVENÇÃO....................................................14

REFERÊNCIAS......................................................................................................... 20
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1 CONTEXTUALIZAÇÃO CRÍTICA DO LOCAL

1.1 Contextualização

A Associação De Pais E Amigos Dos Excepcionais - APAE de Farroupilha foi aberta


em 01/02/1974, e conta com uma estrutura de 8 Salas de aula, 2 Salas de
Psicologia, 1 Sala de Fisioterapia, 1 Sala de T.O., 1 Sala de Fonoaudiologia, 1 Sala
de Cuidadora Educacional, 1 Sala de Direção, 1 Sala da Secretaria, 1 Refeitório e 1
Cozinha.
Tem em seu quadro de funcionários 1 Merendeira, 1 Higienizadora, 1 Diretora, 1
Secretária, 1 Assistente Social, 2 Fonoaudiólogas, 2 Psicólogos, 1 Fisioterapeuta, 1
Cuidadora Educacional, 4 Monitores pelo CIEE, 1 Terapeuta Ocupacional. Além de
contar com um quadro de 11 professores, sendo estes, 5 cedidos pela SEDUC e 6
funcionários da APAE de Farroupilha.

1.2 Inserção

Neste segundo semestre as turmas mudaram de formação, antes separados


por anos, agora separados por ciclos, agrupados de acordo com suas habilidades. A
turma que tinha sido pensada para o projeto foi dividida, optei por aplicar o projeto
na turma que ficou a maioria dos alunos nos quais pensei para o projeto.
Quando retornei para a escola foi muito bem recebida pelos alunos, e pela
nova professora. Logo acertamos os combinados para o projeto e tive todo o suporte
necessário, além do acolhimento.

1.3 Reconhecimento de Demandas

Ao longo das aulas pude observar muitas coisas, a forma como os alunos da
turma do EJA se comunicava, as dificuldades de expressarem alguns pensamentos,
dentre outras questões. Uma situação que me chamou a atenção, foram os alunos
comentarem sobre um antigo colega de sala, e a professora me informou que este
havia falecido. As formas de sentir e expressar o luto ali na sala eram muito
diferentes do que julgamos “normal”. Logo, pensei no tema: Emoções.
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Algo que me foi trazido em supervisão e que me fez querer trabalhar ainda
mais com este tema, foi a forma de sentir, os alunos não sentem como nós
sentimos, em decorrência dos seus diagnósticos. Então o tema estava decidido,
emoções, o sentir, o olhar que esses alunos têm sobre o outro, sobre o mundo.

1.4 Escolha da Intervenção

Atrelado às aulas de Psicopatologia, as quais nos instigam a pensar sobre o


que é normal, essa situação do luto me fez pensar, os alunos não vivem o luto como
a sociedade taxa “normal”, eles se expressam de formas diferentes, e é este o
campo que desejo adentrar.
O sentir, queremos que seja sempre igual, padronizado, e não deve ser
assim, então me inspirei a buscar uma forma de ajudar os alunos a expressarem,
cada um do seu jeito, mas expressar e poder sentir e entender o que sente. Todos
podem se desenvolver emocionalmente e socialmente dentro de suas limitações.

1.5 Atuação da Psicologia

O serviço de Psicologia na APAE, tem por função contribuir no processo de


avaliação de forma interdisciplinar fornecendo subsídios básicos para organização
dos atendimentos, orientação aos educandos, às famílias e aos professores,
contribuindo para o equilíbrio e o ajustamento nas relações.
Durante todo o período de observação, vi o fazer Psi de diferentes formas, ele
não estava presente apenas na clínica durante os atendimentos individuais, estava
presente na escola, auxiliando os alunos que precisavam, acolhendo demandas dos
professores, e promovendo alguns projetos com os alunos.
Pude notar algumas vezes, que a Psi pode ser vista pelos outros como um
apagador de incêndios, que é acionado quando as demandas são complexas
demais, ou quando as coisas até fogem do controle (alunos em surto por exemplo).
Vejo isso como algo positivo, uma vez que a psicologia conquistou um espaço de
reparação, de valor, sendo vista como algo importante e que pode sim ajudar nas
demandas que surgem.
Mas percebo uma liberdade, um local que permite que a Psicologia tenha seu
espaço, trate das demandas, proponha projetos de variados temas, a Psicologia se
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faz ser ouvida, acolhe, e mesmo que as demandas surjam todos os dias, o fazer Psi
está presente no local.
É com o profissional da Psicologia que se busca o trabalho interdisciplinar
com foco nas relações humanas que fornecem um lugar para o estabelecimento de
práticas comuns para professores e outros profissionais da escola criar espaço para
o diálogo para que os problemas vivenciados na instituição possam ser
referenciados e compartilhados buscar soluções para que novos insights surjam das
práticas, evitando estereótipos e rótulos associados às disciplinas escolares.
O fazer Psi da APAE, mostrou-se comprometido com a criação das
possibilidades de participação e convivência social do sujeito. É para isso que são
realizadas intervenções que levam em conta as condições de existência de sujeitos
reais, somadas várias situações sociais que requerem atenção especial a
complexidade de cada caso.
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2 APRESENTAÇÃO DO PROJETO

2.1 Proposta de Intervenção

Trabalhar diferentes oficinas a cada encontro, para cada semana haverá uma
atividade dentro da temática das emoções, podendo ser modificada com a demanda
que surgir. Serão utilizados recursos como: desenhos, pinturas, contação de história,
vídeos cortes, colagens dentre outras oficinas manuais.
Será levado em conta:
a) O que o aluno já sabe?
b) O que o aluno quer saber?
Com base nas questões acima, vamos pensar no conhecimento que o aluno
já possui, nas habilidades que ele tem. É importante ressaltarmos que não há uma
receita para conquistar um desenvolvimento emocional completo e o consequente
sucesso social. Esses dois itens são consequência de um trabalho conjunto entre
Aluno, Família e Escola.

2.2 Tema

O tema se norteia nas emoções, como expressá-las e como acolher as


emoções do outro, lembrando de um livro de poemas que falava sobre o sentir, e
sobre chamar a pessoa para ver os sentimentos pela ótica do autor, nasceu o nome
do projeto, que também é o nome do livro, “Quer se ver no meu olho?”. Pensei neste
nome para sensibilizar não só os alunos, mas todas as pessoas sobre olhar as
emoções não apenas da sua forma pessoal, mas também pelo olhar do outro.
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3 OBJETIVOS DA INTERVENÇÃO

3.1 Objetivo Geral

Promover um aumento da capacidade dos alunos de integrar habilidades,


atitudes e comportamentos para lidar de forma eficaz com os desafios diários,
desenvolvendo as aptidões de dois tipos de comportamentos: a sua relação consigo
mesmo (intrapessoal) e, também, a sua relação com outras pessoas (interpessoal).

3.2 Objetivos Específicos

a) Identificar emoções, ter uma melhor percepção, reconhecer pontos fortes,


desenvolver autoconfiança e autoeficácia;
b) Saber olhar as coisas de diferentes formas, desenvolver empatia, apreciar
diversidade e respeitar os outros;
c) Desenvolver a comunicação, engajamento social, construção de relações e
saber trabalhar em grupo.
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4 METODOLOGIA

4.1 Sujeitos

A turma sofreu alteração, antes era separado por idade, agora são separadas
por habilidades, composta por 13 alunos. Dentre estes alunos, algumas meninas
novas entraram na turma, e outras saíram, mas a maioria da turma permanecer a
mesma.
É uma turma tranquila de trabalhar, participativa durante as aulas, nota-se
algumas situações de intriga, onde os alunos acabam brigando entre si, mas basta
conversar com todos que logo tudo volta à normalidade.

4.2 Forma Proposta de Intervenção

Foram propostos 10 encontros, com duração de mais ou menos 1 hora cada


um, estes aconteceram nas segunda-feira, das 14:00 às 15:00.
Os sentimentos trabalhados foram alegria, tristeza, raiva e medo, contando
também com um encontro de abertura para contextualizar com a turma o que será
feito, 6 encontros de oficinas as quais têm por objetivo vivenciar estes sentimentos e
um encontro de fechamento para que seja fixado o que ficou de cada momento
juntos.
O início do projeto foi na segunda semana do mês me março de 2023.
Para cada um destes encontros, foi utilizado algum tipo de material diferente,
usando estratégias mais lúdicas, visando um melhor aproveitamento e compreensão
do tema trabalhado. Dentre estes elementos lúdicos foi trabalhado com: argila,
livros, jogos, dinâmicas, pinturas, recortes, colagens, dentre outros.
Considera-se que o uso da ludicidade é fundamental, pois permite o
desenvolvimento cognitivo, emocional, afetivo, psicomotor e a socialização entre as
crianças. Além disso, a partir da utilização de dinâmicas lúdicas e jogos em sala de
aula possibilitará a estimulação da criatividade e a construção do conhecimento dos
alunos (LEAL, 2011).
A ideia de usar jogos e dinâmicas a partir do conceito de Pereira (2005, p.23),
"As brincadeiras são uma linguagem que perpassa toda a nossa experiência de vida.
Também nelas a criança se encontra e delas se apropria para se constituir como ser
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humano". Assim, é fundamental que abramos espaço para que elas possam existir
na realidade educacional, podendo conhecer-se e expressar-se de diferentes
formas, que é o objetivo das dinâmicas dos encontros.
Nesse sentido, analisa-se a importância do brincar como ferramenta didático-
pedagógica a ser agregada à sala de aula para o desenvolvimento de habilidades de
aprendizagem. No processo de ensino e aprendizagem, a utilização de recursos
lúdicos são uma ferramenta que auxilia nesse processo e é utilizada como estímulo
para as crianças.
Diante das oportunidades oferecidas pelo jogo, a literatura aponta que é uma
ferramenta que possibilita o desenvolvimento cognitivo, emocional, afetivo,
psicomotor e a socialização das crianças. Além disso, ajuda a estimular a
criatividade e aumentar o conhecimento dos alunos, sendo essas atividades
diferentes que podem ser utilizadas como materiais didáticos no ambiente de
aprendizagem.
Vejamos agora que alterações os encontros sofreram, ao longo do processo
de intervenção.
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4.2.1 Encontro de Abertura: O que Vamos Fazer?

A única mudança que houve foi que não fomos para a biblioteca, pois a sala
de aula conta com uma TV, a qual utilizei para passar o vídeo.

4.2.2 Encontro 2: Alegria

A alteração que houve neste encontro, foi que no final, entreguei um pirulito
para cada aluno.

4.2.3 Encontro 3: Tristeza

A mudança que houve, foi que a partir deste encontro, sempre levei os alunos
para o pavilhão da APAE, onde tinha mais espaço, e saímos daquela ideia de sala
de aula, com mesa e do local onde eles estão todos os dias.

4.2.4 Encontro 4: Medo

Ficamos sentado no chão em roda, a alteração que houve, foi que no final
deste encontro, fizemos um momento de relaxamento.

4.2.5 Encontro 5: Raiva

Este encontro foi completamente modificado, fomos para o pavilhão e


trabalhamos com argila. Com a ideia de descontar a raiva na argila e transformar
isso em algo bonito, uma escultura por exemplo. Conversamos sobre situações que
nos causam esse sentimento e surgiram esculturas muito legais.

4.2.6 Encontro 6: Identificando as Emoções

A dinâmica do “Dado das Emoções” que estava previsto para o encontro 9, foi
antecipado e realizado neste encontro.

4.2.7 Encontro 7: Identificando as Emoções


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Ao invés de trazer o filme “Divertidamente” (2015) para o encontro, foi trazido


o livro “O Monstro das Cores” (2012) de Anna Llenas. Foi realizada a contação da
história e após isso, colorimos os monstros das respectivas emoções vistas na
história. O desenho dos monstros foi colado no caderno dos alunos, com o objetivo
de eles terem guardado esses momentos dos nossos encontros no físico. Aqui já
estava se preparando o fim do projeto.

4.2.8 Encontro 8: Identificando as Emoções

Neste encontro, fizemos uma dinâmica com relação ao livro “O Monstro das
Cores”. Levei papeis picados das cores dos monstros, estavam misturados, como o
monstro confuso. Cada aluno recebeu uma folha com os potes das emoções,
precisavam separar os papeis coloridos e colocar cada emoção em um pote.
Ao final, escreveram qual emoção representava cada cor dos portes, e
colaram essa atividade também em seus cadernos, a fim de terem mais registros do
projeto.
Encontro 100% modificado, pois estava previsto trabalhar o filme, que foi
substituído pelo livro.

4.2.9 Encontro 9: Identificando as Emoções

Encontro modificado para preparar o mural de exposição sobre o livro


trabalhado.

4.2.10 Encontro 10: O que Ficou?

Encontro modificado para retomar o que foi trabalhado e encerrar o mural de


exposição sobre o livro trabalhado.
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5 ANÁLISE DO PROCESSO DE INTERVENÇÃO

Dentro das alterações realizadas nos encontros, foi utilizado como base para
as intervenções o livro “Descobrindo Crianças: A Abordagem Gestáltica na
Educação", pensando em tornar os encontros mais práticos, utilizando diferentes
materiais, e para proporcionar melhores experiências para os alunos durante o
processo.
Utilizando princípios e técnicas da abordagem gestáltica, enfatizamos a
importância da percepção, da consciência e da interação no processo de
desenvolvimento e aprendizagem. Foram desenvolvidas atividades que
estimulassem a percepção sensorial dos alunos, como explorar diferentes texturas,
cores e formas. Isso ajuda a desenvolver a consciência corporal e sensorial,
promovendo uma maior conexão com o ambiente e consigo mesmo.
Eu inseri práticas de atenção plena, exercícios de focalização, ajudando os
alunos a se concentrarem no momento presente e a perceberem suas emoções,
pensamentos e sensações de forma mais consciente. Também incentivei os alunos
a expressarem suas emoções e experiências por meio de atividades criativas, como
desenho, pintura, modelagem de argila e escrita. Essas expressões podem servir
como uma forma de comunicação e autoexpressão.
Promovi dinâmicas e atividades em grupo para estimular a interação, a
expressão emocional dos alunos, criando um ambiente de apoio e compreensão
mútua.
Algo que pude observar durante os encontros foi a necessidade em ouvir os
alunos, me preocupando em como falar com eles, e o que falar durante o projeto,
mas a verdadeira necessidade estava em ouvi-los. A sensibilidade necessária para
cada momento, acolhendo e dando a importância para aquilo que eles tinham de
perspectiva sobre os sentimentos, de que forma eles sentiam. Eu não precisava de
grandes respostas, precisava ser sensível.
Com isso trago o conceito da “Educação e uma psicanálise sensível” proposto
por Sándor Ferenczi, afinal, essa sensibilidade não deveria ficar apenas nos
encontros que realizei, é algo que a instituição pode e deve levar para além do fazer
psi. “Um meio acolhedor, guiado pela escuta e pela solidariedade, pode promover
mudanças nas estruturas psicológicas do sujeito, garantindo certa estabilidade
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emocional, centralizada pela confiança no outro” (DE ALMEIDA, A. P.; NAFFAH


NETO, 2019).
A compreensão das necessidades emocionais dos alunos e a promoção de
uma relação de confiança, empatia podem contribuir para o desenvolvimento integral
desses estudantes, em cada encontro, observando as particularidades e os desafios
enfrentados pelos alunos da APAE, considerando as dimensões emocionais e
psicológicas, percebi a importância de reconhecer a singularidade de cada aluno e
de estabelecer uma relação continua.
A psicanálise enfatiza a necessidade de salvar a singularidade humana por
meio da fala e das palavras. Por exemplo, os alunos precisam de professores que
lhes deem a oportunidade de se expressar para que possam falar e serem ouvidos,
pois a posição de escuta é importante para registrar as particularidades e hipóteses
de cada um (MRECH, 1999 apud BASTOS, 2009).
O objetivo do projeto foi mantido, considerando cada singularidade que os
alunos pouco a pouco, traziam para os encontros, não existindo certo ou errado,
levando em conta o que cada um entendia sobre emoções, e ajudando a nomear o
que era aquilo. Cada sujeito interpreta este ou aquele evento de acordo com a
experiência passada. Ferenczi afirma que cada criança reage a uma situação
ambiental de forma diferente das demais, ou seja, o mesmo evento pode ser
assimilado de forma diferente, sendo mais branda para algumas e mais traumática
para outras.
Refletindo sobre os princípios da psicanálise de Ferenczi podemos aplicar na
prática pedagógica, pensando na importância de criar um ambiente acolhedor, com
espaço para expressão emocional e respeito às diferenças individuais, além de, se
pensar em uma formação contínua dos educadores da instituição, para lidar com as
demandas emocionais dos alunos.
Também se observou que, à medida que os alunos têm mais idade,
desenvolvem uma compreensão mais avançada das emoções, experimentam
emoções mais específicas e começam a prestar mais atenção, às emoções
negativas. Parece que ao estimular o conhecimento emocional, as crianças se
tornam mais seguras, independentes, menos ansiosas e mais motivadas.
Tudo o que os alunos falavam nas rodas de conversa foi reforçado
independentemente de estar "correta" ou “não”, pois a percepção das emoções varia
de acordo com os contextos de vida dos alunos. Portanto, assumiu-se que cada
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pessoa absorvia essa informação de uma forma que fornecesse o significado mais
adaptativo.
O uso dos elementos lúdicos pôde ser compreendido nessa atividade como
facilitador desse processo, por aumentar o nível de reconhecimento por similaridade,
atenção e abstração propostos por Moreira e Medeiros (2007).
O ponto alto dos encontros foi a escuta, que trago como algo que deve ser
considerado e colocado dentro das salas de aula da instituição, acolhendo
demandas e olhando cada aluno como único. O singular é aquilo que é só seu, seu
e de mais ninguém, porque fala de algo que foi construído e ainda está sendo
construído em sua própria história.
Sugiro que isso, seja levado para além da clínica, pois ao considerar as
dimensões emocionais e inconscientes dos alunos, é possível enxergá-los como
sujeitos únicos, com histórias e experiências pessoais que influenciam sua forma de
aprender e se desenvolver. Essa compreensão mais profunda permite que os
educadores adaptem suas estratégias pedagógicas e promovam uma educação
inclusiva e eficaz para os alunos da APAE.
Viu-se a necessidade de considerar as demandas que os alunos traziam a
cada semana, identificando aquele momento como um espaço livre para a fala e
onde teriam seu acolhimento. A escuta atenta e sensível, baseada nos princípios da
psicanálise, permite identificar e compreender as dinâmicas emocionais subjacentes,
facilitando a criação de um ambiente de apoio adequado. Isso ajudou na oferta de
intervenções específicas, como o aconselhamento em grupo, em todos os
encontros, e a mudança das estratégias de trabalho.
Como desafio pessoal, tive pela primeira vez, contato direto com pessoas
portadoras da Síndrome de Down e deficiência intelectual, até então, só as conhecia
de ouvir falar. Esse movimento de sair da minha “zona de conforto”, vivenciando o
fazer Psi com este público, serviu não apenas de aprendizado, mas também de
mudanças dos meus “pré-conceitos”.
Foi observado na literatura que as pessoas com síndrome de Down
apresentam certos déficits cognitivos, incluindo o reconhecimento emocional.
Conforme OLIVEIRA, PACHECO, BRITO (2019):
A pessoa com Down tem uma condição genética que traz atrasos no
seu desenvolvimento global, incluindo déficit intelectual, motor e
comprometimento na linguagem. Considerando esses déficits, temos
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as seguintes hipóteses: de que tais comprometimentos implicam em


dificuldades na demarcação das diferentes emoções; e de que,
devido às limitações na fala, os sujeitos com Down apresentam
diferenças na curva melódica da alegria e tristeza em comparação
com sujeitos sem a síndrome.

E esse foi um grande desafio, trabalhar as emoções, com um público que não
estava habituada, e que a literatura me apresentava mais dificuldades. Por essa
razão foi incluído intervenções lúdicas, onde pudéssemos vivenciar as emoções,
conversando sobre o que entendiam, e retomando a cada encontro o que foi falado
para haver melhor fixação.
Foram trabalhadas quatro emoções principais: a alegria, a tristeza, o medo e
a raiva. No encontro sobre a alegria, trabalhei com desenhos, o que mais chamou a
atenção foi que a alegria dos alunos trazida em forma de desenho, não se baseava
em pessoas ou objetos, muitos desenharam a si mesmos, e coisas muito simples,
como por exemplo a porta da casa do irmão.
A simplicidade dessas manifestações sobre o que era a alegria para eles me
tocou bastante, afinal, vivemos em uma sociedade onde busca-se cada vez por
mais, e cada vez temos menos esse sentimento de alegria. De acordo com
(GALATI, MANZANO e SOTGIU, 2006 apud MIGUEL, 2015), “o significado de
alegria atualmente tornou-se muito próximo de satisfação com a vida e bem-estar
subjetivo, sendo que esses termos têm sido frequentemente utilizados para
descrever o mesmo tipo de fenômeno”.
No dia que trabalhamos a tristeza, o foco principal foi as questões familiares.
Quase 100% dos relatos era que quando os pais brigavam com eles, ou os
repreendem, sentindo-se tristes. Aqui podemos ver que não existe essa ideia de
“pessoas com demência ou Downs que não entendem o que acontece, ou o que
falamos”. Eles não apenas entendem e sentem sobre o que é dito.
Muitos paradigmas foram quebrados com esse encontro, os alunos me
mostraram que absorvam tudo o que é dito sobre eles, e o quanto isso causa
emoções neles, incluindo tristezas. Vejo aqui a falta de orientação às famílias, uma
vez que poderiam colocar os limites aos filhos, mas explicar o motivo, a situação e
orientar os filhos, não apenas aplicar punições com a ideia de “ele não vai entender
se eu explicar”.
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Quando trabalhamos o medo, houve a necessidade de fazer um momento de


mindfulness, os alunos estavam muito estressados e agitados neste encontro, além
de terem ficado mais agitados, após a roda de conversa sobre medos. A prática
regular de mindfulness tem sido associada a uma série de benefícios, incluindo a
redução do estresse, melhoria da saúde mental e o aumento da resiliência
emocional, por essas razões, optei por esse momento com os alunos.
Ao final, os alunos mostraram-se mais calmos e centrados, e relataram que o
seu estresse tinha passado. Expliquei aos alunos como poderíamos reproduzir a
meditação quando se sentissem tristes, ansiosos, com raiva ou com medo. De
acordo com DA CONCEIÇÃO, CAMPELLO, CASTELO BRANCO (2017):
São diversos os benefícios tantos físicos com psíquicos que a
meditação pode proporcionar aos indivíduos que pratiquem a
meditação em seu dia a dia. Tendo uma prática constante ela servirá
não somente como tratamento mais como forma preventiva também.

E por fim, no encontro onde tratamos sobre a raiva, usamos a argila, para
colocar o sentimento para fora e poder transformar em algo bom. Vários alunos
bateram com força na argila, mas ao final, surgiram jardins e ursinhos de argila.
Segundo a literatura a raiva surge quando você encontra um obstáculo
percebido como hostil que atrapalha o que você está fazendo ou prestes a fazer.
Poder acolher as demandas dos alunos, mas mostrar que podemos dar novos
significados para esses sentimentos, foi um privilégio.
Me surpreendi com o resultado do projeto, os alunos tiveram uma
compreensão muito boa, associando emoções com cores, materiais e situações que
foram utilizados em cada encontro. O padrão expressivo das pessoas com síndrome
de Down deve ser observado não só do ponto de vista do comprometimento, mas
também do ponto de vista do indivíduo: cada pessoa tem traços de personalidade e
seu próprio nível de desenvolvimento.
O fazer Psi, me mostrou o quão possível e incrível é trabalhar dentro de uma
instituição como a APAE, quebrando paradigmas, olhando cada sujeito como único,
vivendo cada encontro, acolhendo e sendo acolhida. Falei tanto em emoções, e os
alunos as expressavam a cada chegada minha na escola, com abraços, apertos de
mão, ou falas como “hoje não estou bem”.
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Isso é fazer Psi, é viver a psicologia para além da clínica, para além de
pessoas típicas, para além dos grupos. É viver os corredores, os intervalos, acolher
os abraços, retribuir os sorrisos, sabendo que cada encontro será tão único, quanto
os alunos da instituição.
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REFERÊNCIAS
APAE-BH. APAE-BH & A Educação Socioemocional. Belo Horizonte, 28 ago.
2019. Disponível em: https://apaebh.org.br/artigos/apae-bh-a-educacao-
socioemocional. Acesso em: 15 out. 2022.

ARTIGO. Disponível em: file:///C:/Users/taisr/Downloads/5337-Manuscrito%20em


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Acesso em: 15 out. 2022.

ARVORE. Veja 4 brincadeiras para trabalhar emoção com crianças. Disponível


em: https://www.arvore.com.br/blog/brincadeiras-para-trabalhar-emocao. Acesso em:
15 out. 2022.

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São Paulo, v. 13, n. 13, p. 91-98, out. 2009. Disponível em
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CORREA, Claudia. Plano de aula: sentimentos e emoções de acordo com a BNCC.


Disponível em: https://escoladossonhosclaudia.blogspot.com/2019/05/plano-de-aula-
sentimentos-e-emocoes-de.html. Acesso em: 15 out. 2022.

DA CONCEIÇÃO, Danielle Patrícia Silva; CAMPELLO, Patricia Carvalho; CASTELO


BRANCO, Favonia Reis. A POSTURA ÉTICA DOS PROFISSIONAIS DE
PSICOLOGIA NA UTILIZAÇÃO DAS PRÁTICAS MEDITATIVAS MINDFULNESS
EM SAÚDE. REVISTA ACADÊMICA UNIVERSO SALVADOR, v. 2, n. 3, 2017.

DANTAS, Taísa Caldas. Estímulos geradores da raiva em estudantes com


deficiência intelectual sob a perspectiva da educação emocional. Disponível
em: https://periodicos.ufsm.br/educacaoespecial/article/view/44426/html. Acesso em:
15 out. 2022.

DE ALMEIDA, A. P.; NAFFAH NETO, A. Psicanálise e educação escolar:


ressonâncias de Sándor Ferenczi para uma pedagogia do cuidado. Estilos da
Clínica, [s. l.], v. 24, n. 2, p. 262–275, 2019. DOI 10.11606/issn.1981-
1624.v24i2p262-275. Disponível em: https://search.ebscohost.com/login.aspx?
direct=true&AuthType=ip,shib&db=fap&AN=143112140&lang=pt-br&site=ehost-live.
Acesso em: 26 maio. 2023.

LEAL, F.L. A Importância do Lúdico na Educação Infantil. Monografia


apresentada ao curso de Licenciatura Plena em Pedagogia, da Universidade Federal
do Piauí – UFPI, 2011.

MIGUEL, F. K. (2015). Psicologia das emoções: uma proposta integrativa para


compreender a expressão emocional. Psico-usf, 20(1), 153–162.
https://doi.org/10.1590/1413-82712015200114

MOREIRA, Márcio Borges; DE MEDEIROS, Carlos Augusto. Princípios básicos de


análise do comportamento. Artmed, 2007.
21

OAKLANDER, Violet. Descobrindo crianças: abordagem gestáltica com crianças


e adolescentes. São Paulo: Summus, 1980.

OLIVEIRA, Marian; PACHECO, Vera; BRITO, Thaís Ferreira. Expressão emocional


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