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São Leopoldo
2023
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Aluna: Taís Messinger Ribeiro
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Orientador local: Gustavo Vanni – CRP 07/14525
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Orientador acadêmico: Melissa Hickmann Muller
São Leopoldo
2023
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SUMÁRIO
1.1 Contextualização............................................................................................... 05
1.2 Inserção.............................................................................................................. 05
2 APRESENTAÇÃO DO PROJETO.........................................................................08
2.2 Tema....................................................................................................................08
3 OBJETIVOS DA INTERVENÇÃO..........................................................................09
4 METODOLOGIA.....................................................................................................10
4.1 Sujeitos...............................................................................................................10
REFERÊNCIAS......................................................................................................... 20
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1.1 Contextualização
1.2 Inserção
Ao longo das aulas pude observar muitas coisas, a forma como os alunos da
turma do EJA se comunicava, as dificuldades de expressarem alguns pensamentos,
dentre outras questões. Uma situação que me chamou a atenção, foram os alunos
comentarem sobre um antigo colega de sala, e a professora me informou que este
havia falecido. As formas de sentir e expressar o luto ali na sala eram muito
diferentes do que julgamos “normal”. Logo, pensei no tema: Emoções.
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Algo que me foi trazido em supervisão e que me fez querer trabalhar ainda
mais com este tema, foi a forma de sentir, os alunos não sentem como nós
sentimos, em decorrência dos seus diagnósticos. Então o tema estava decidido,
emoções, o sentir, o olhar que esses alunos têm sobre o outro, sobre o mundo.
faz ser ouvida, acolhe, e mesmo que as demandas surjam todos os dias, o fazer Psi
está presente no local.
É com o profissional da Psicologia que se busca o trabalho interdisciplinar
com foco nas relações humanas que fornecem um lugar para o estabelecimento de
práticas comuns para professores e outros profissionais da escola criar espaço para
o diálogo para que os problemas vivenciados na instituição possam ser
referenciados e compartilhados buscar soluções para que novos insights surjam das
práticas, evitando estereótipos e rótulos associados às disciplinas escolares.
O fazer Psi da APAE, mostrou-se comprometido com a criação das
possibilidades de participação e convivência social do sujeito. É para isso que são
realizadas intervenções que levam em conta as condições de existência de sujeitos
reais, somadas várias situações sociais que requerem atenção especial a
complexidade de cada caso.
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2 APRESENTAÇÃO DO PROJETO
Trabalhar diferentes oficinas a cada encontro, para cada semana haverá uma
atividade dentro da temática das emoções, podendo ser modificada com a demanda
que surgir. Serão utilizados recursos como: desenhos, pinturas, contação de história,
vídeos cortes, colagens dentre outras oficinas manuais.
Será levado em conta:
a) O que o aluno já sabe?
b) O que o aluno quer saber?
Com base nas questões acima, vamos pensar no conhecimento que o aluno
já possui, nas habilidades que ele tem. É importante ressaltarmos que não há uma
receita para conquistar um desenvolvimento emocional completo e o consequente
sucesso social. Esses dois itens são consequência de um trabalho conjunto entre
Aluno, Família e Escola.
2.2 Tema
3 OBJETIVOS DA INTERVENÇÃO
4 METODOLOGIA
4.1 Sujeitos
A turma sofreu alteração, antes era separado por idade, agora são separadas
por habilidades, composta por 13 alunos. Dentre estes alunos, algumas meninas
novas entraram na turma, e outras saíram, mas a maioria da turma permanecer a
mesma.
É uma turma tranquila de trabalhar, participativa durante as aulas, nota-se
algumas situações de intriga, onde os alunos acabam brigando entre si, mas basta
conversar com todos que logo tudo volta à normalidade.
humano". Assim, é fundamental que abramos espaço para que elas possam existir
na realidade educacional, podendo conhecer-se e expressar-se de diferentes
formas, que é o objetivo das dinâmicas dos encontros.
Nesse sentido, analisa-se a importância do brincar como ferramenta didático-
pedagógica a ser agregada à sala de aula para o desenvolvimento de habilidades de
aprendizagem. No processo de ensino e aprendizagem, a utilização de recursos
lúdicos são uma ferramenta que auxilia nesse processo e é utilizada como estímulo
para as crianças.
Diante das oportunidades oferecidas pelo jogo, a literatura aponta que é uma
ferramenta que possibilita o desenvolvimento cognitivo, emocional, afetivo,
psicomotor e a socialização das crianças. Além disso, ajuda a estimular a
criatividade e aumentar o conhecimento dos alunos, sendo essas atividades
diferentes que podem ser utilizadas como materiais didáticos no ambiente de
aprendizagem.
Vejamos agora que alterações os encontros sofreram, ao longo do processo
de intervenção.
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A única mudança que houve foi que não fomos para a biblioteca, pois a sala
de aula conta com uma TV, a qual utilizei para passar o vídeo.
A alteração que houve neste encontro, foi que no final, entreguei um pirulito
para cada aluno.
A mudança que houve, foi que a partir deste encontro, sempre levei os alunos
para o pavilhão da APAE, onde tinha mais espaço, e saímos daquela ideia de sala
de aula, com mesa e do local onde eles estão todos os dias.
Ficamos sentado no chão em roda, a alteração que houve, foi que no final
deste encontro, fizemos um momento de relaxamento.
A dinâmica do “Dado das Emoções” que estava previsto para o encontro 9, foi
antecipado e realizado neste encontro.
Neste encontro, fizemos uma dinâmica com relação ao livro “O Monstro das
Cores”. Levei papeis picados das cores dos monstros, estavam misturados, como o
monstro confuso. Cada aluno recebeu uma folha com os potes das emoções,
precisavam separar os papeis coloridos e colocar cada emoção em um pote.
Ao final, escreveram qual emoção representava cada cor dos portes, e
colaram essa atividade também em seus cadernos, a fim de terem mais registros do
projeto.
Encontro 100% modificado, pois estava previsto trabalhar o filme, que foi
substituído pelo livro.
Dentro das alterações realizadas nos encontros, foi utilizado como base para
as intervenções o livro “Descobrindo Crianças: A Abordagem Gestáltica na
Educação", pensando em tornar os encontros mais práticos, utilizando diferentes
materiais, e para proporcionar melhores experiências para os alunos durante o
processo.
Utilizando princípios e técnicas da abordagem gestáltica, enfatizamos a
importância da percepção, da consciência e da interação no processo de
desenvolvimento e aprendizagem. Foram desenvolvidas atividades que
estimulassem a percepção sensorial dos alunos, como explorar diferentes texturas,
cores e formas. Isso ajuda a desenvolver a consciência corporal e sensorial,
promovendo uma maior conexão com o ambiente e consigo mesmo.
Eu inseri práticas de atenção plena, exercícios de focalização, ajudando os
alunos a se concentrarem no momento presente e a perceberem suas emoções,
pensamentos e sensações de forma mais consciente. Também incentivei os alunos
a expressarem suas emoções e experiências por meio de atividades criativas, como
desenho, pintura, modelagem de argila e escrita. Essas expressões podem servir
como uma forma de comunicação e autoexpressão.
Promovi dinâmicas e atividades em grupo para estimular a interação, a
expressão emocional dos alunos, criando um ambiente de apoio e compreensão
mútua.
Algo que pude observar durante os encontros foi a necessidade em ouvir os
alunos, me preocupando em como falar com eles, e o que falar durante o projeto,
mas a verdadeira necessidade estava em ouvi-los. A sensibilidade necessária para
cada momento, acolhendo e dando a importância para aquilo que eles tinham de
perspectiva sobre os sentimentos, de que forma eles sentiam. Eu não precisava de
grandes respostas, precisava ser sensível.
Com isso trago o conceito da “Educação e uma psicanálise sensível” proposto
por Sándor Ferenczi, afinal, essa sensibilidade não deveria ficar apenas nos
encontros que realizei, é algo que a instituição pode e deve levar para além do fazer
psi. “Um meio acolhedor, guiado pela escuta e pela solidariedade, pode promover
mudanças nas estruturas psicológicas do sujeito, garantindo certa estabilidade
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pessoa absorvia essa informação de uma forma que fornecesse o significado mais
adaptativo.
O uso dos elementos lúdicos pôde ser compreendido nessa atividade como
facilitador desse processo, por aumentar o nível de reconhecimento por similaridade,
atenção e abstração propostos por Moreira e Medeiros (2007).
O ponto alto dos encontros foi a escuta, que trago como algo que deve ser
considerado e colocado dentro das salas de aula da instituição, acolhendo
demandas e olhando cada aluno como único. O singular é aquilo que é só seu, seu
e de mais ninguém, porque fala de algo que foi construído e ainda está sendo
construído em sua própria história.
Sugiro que isso, seja levado para além da clínica, pois ao considerar as
dimensões emocionais e inconscientes dos alunos, é possível enxergá-los como
sujeitos únicos, com histórias e experiências pessoais que influenciam sua forma de
aprender e se desenvolver. Essa compreensão mais profunda permite que os
educadores adaptem suas estratégias pedagógicas e promovam uma educação
inclusiva e eficaz para os alunos da APAE.
Viu-se a necessidade de considerar as demandas que os alunos traziam a
cada semana, identificando aquele momento como um espaço livre para a fala e
onde teriam seu acolhimento. A escuta atenta e sensível, baseada nos princípios da
psicanálise, permite identificar e compreender as dinâmicas emocionais subjacentes,
facilitando a criação de um ambiente de apoio adequado. Isso ajudou na oferta de
intervenções específicas, como o aconselhamento em grupo, em todos os
encontros, e a mudança das estratégias de trabalho.
Como desafio pessoal, tive pela primeira vez, contato direto com pessoas
portadoras da Síndrome de Down e deficiência intelectual, até então, só as conhecia
de ouvir falar. Esse movimento de sair da minha “zona de conforto”, vivenciando o
fazer Psi com este público, serviu não apenas de aprendizado, mas também de
mudanças dos meus “pré-conceitos”.
Foi observado na literatura que as pessoas com síndrome de Down
apresentam certos déficits cognitivos, incluindo o reconhecimento emocional.
Conforme OLIVEIRA, PACHECO, BRITO (2019):
A pessoa com Down tem uma condição genética que traz atrasos no
seu desenvolvimento global, incluindo déficit intelectual, motor e
comprometimento na linguagem. Considerando esses déficits, temos
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E esse foi um grande desafio, trabalhar as emoções, com um público que não
estava habituada, e que a literatura me apresentava mais dificuldades. Por essa
razão foi incluído intervenções lúdicas, onde pudéssemos vivenciar as emoções,
conversando sobre o que entendiam, e retomando a cada encontro o que foi falado
para haver melhor fixação.
Foram trabalhadas quatro emoções principais: a alegria, a tristeza, o medo e
a raiva. No encontro sobre a alegria, trabalhei com desenhos, o que mais chamou a
atenção foi que a alegria dos alunos trazida em forma de desenho, não se baseava
em pessoas ou objetos, muitos desenharam a si mesmos, e coisas muito simples,
como por exemplo a porta da casa do irmão.
A simplicidade dessas manifestações sobre o que era a alegria para eles me
tocou bastante, afinal, vivemos em uma sociedade onde busca-se cada vez por
mais, e cada vez temos menos esse sentimento de alegria. De acordo com
(GALATI, MANZANO e SOTGIU, 2006 apud MIGUEL, 2015), “o significado de
alegria atualmente tornou-se muito próximo de satisfação com a vida e bem-estar
subjetivo, sendo que esses termos têm sido frequentemente utilizados para
descrever o mesmo tipo de fenômeno”.
No dia que trabalhamos a tristeza, o foco principal foi as questões familiares.
Quase 100% dos relatos era que quando os pais brigavam com eles, ou os
repreendem, sentindo-se tristes. Aqui podemos ver que não existe essa ideia de
“pessoas com demência ou Downs que não entendem o que acontece, ou o que
falamos”. Eles não apenas entendem e sentem sobre o que é dito.
Muitos paradigmas foram quebrados com esse encontro, os alunos me
mostraram que absorvam tudo o que é dito sobre eles, e o quanto isso causa
emoções neles, incluindo tristezas. Vejo aqui a falta de orientação às famílias, uma
vez que poderiam colocar os limites aos filhos, mas explicar o motivo, a situação e
orientar os filhos, não apenas aplicar punições com a ideia de “ele não vai entender
se eu explicar”.
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E por fim, no encontro onde tratamos sobre a raiva, usamos a argila, para
colocar o sentimento para fora e poder transformar em algo bom. Vários alunos
bateram com força na argila, mas ao final, surgiram jardins e ursinhos de argila.
Segundo a literatura a raiva surge quando você encontra um obstáculo
percebido como hostil que atrapalha o que você está fazendo ou prestes a fazer.
Poder acolher as demandas dos alunos, mas mostrar que podemos dar novos
significados para esses sentimentos, foi um privilégio.
Me surpreendi com o resultado do projeto, os alunos tiveram uma
compreensão muito boa, associando emoções com cores, materiais e situações que
foram utilizados em cada encontro. O padrão expressivo das pessoas com síndrome
de Down deve ser observado não só do ponto de vista do comprometimento, mas
também do ponto de vista do indivíduo: cada pessoa tem traços de personalidade e
seu próprio nível de desenvolvimento.
O fazer Psi, me mostrou o quão possível e incrível é trabalhar dentro de uma
instituição como a APAE, quebrando paradigmas, olhando cada sujeito como único,
vivendo cada encontro, acolhendo e sendo acolhida. Falei tanto em emoções, e os
alunos as expressavam a cada chegada minha na escola, com abraços, apertos de
mão, ou falas como “hoje não estou bem”.
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Isso é fazer Psi, é viver a psicologia para além da clínica, para além de
pessoas típicas, para além dos grupos. É viver os corredores, os intervalos, acolher
os abraços, retribuir os sorrisos, sabendo que cada encontro será tão único, quanto
os alunos da instituição.
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REFERÊNCIAS
APAE-BH. APAE-BH & A Educação Socioemocional. Belo Horizonte, 28 ago.
2019. Disponível em: https://apaebh.org.br/artigos/apae-bh-a-educacao-
socioemocional. Acesso em: 15 out. 2022.
PEREIRA, E. T. (2005). Brincar e criança. Em: A., Carvalho; &, cols. (orgs), Brincar
(es). Belo Horizonte: Editora UFMG.