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INTRODUÇÃO

O presente trabalho nasceu da necessidade de elaborarmos um método de educação a

distância para o ensino dos fundamentos teóricos e práticos do trombone para iniciantes. A

idéia de realizá-lo cresceu alimentando-se do resultado de vivências, inquietações e leituras

realizadas durante o curso de bacharelado em trombone. A partir destas, surgiu o desejo de

uma análise mais ampla sobre a pedagogia para iniciantes do Trombone e de uma busca mais

apurada de informações a respeito da pedagogia do instrumento. No transcorrer do

bacharelado, especificamente no estágio curricular, ministramos, através da Fundação de

Ação Comunitária (FAC), aulas de educação musical para crianças. Através dos resultados

positivos obtidos neste estágio, a nossa inquietação em resolver e entender o processo de

aproveitamento, acessibilidade e desenvolvimento do potencial artístico em nosso estado

atingiu o plano das idéias, que maturou na categoria de objetivo para nossa carreira

acadêmica, com a estada na cidade de Sousa, após a conclusão da graduação. Morar a

aproximadamente seiscentos quilômetros de distância dos dois centros mais próximos de

treinamento especializado em seu instrumento musical (João Pessoa - PB e Natal - RN) e não

dispor de recursos para custear viagens semanais ou mesmo mensais para um deles, é uma

grande limitação para um estudante. Limitação essa que instigou nossa proposta de elaboração

de um método, somando tecnologia e experiência já existentes no campo da Educação a

Distância, à metodologia dirigida ao iniciante na arte de tocar trombone.

Amenizar a distância de forma solidária e humanizar o conhecimento passou a ser o

objetivo do trabalho de dissertação, pois compreendemos que o talento depende do empenho

individual e das circunstâncias estruturais adequadas para o seu aprimoramento. Após

realização de algumas leituras e experiências, passamos a entender que o trabalho de

dissertação deveria ser constituído de elementos multidisciplinares da educação. Chamamos

de elementos multidisciplinares as particularidades do processo de produção dos primeiros


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sons, aprendizagem do posicionamento das notas musicais na vara do trombone, processos de

Educação a Distância existentes e outros temas não essencialmente técnicos como os

conceitos pedagógicos e filosóficos discutidos por artistas e pedagogos do cenário nacional e

internacional trombonístico.

Portanto, com o objetivo de elaborar um método de educação a distância para o

ensino dos fundamentos teóricos e práticos da iniciação ao trombone, decidimos, no

primeiro capítulo, dissertar sobre a Educação a Distância (EAD), que sustenta como

ferramenta de viabilização nossa proposta de elaboração deste método. Resolvemos, também,

descrever um pouco da história da EAD no Brasil, como ela pode cooperar com os

interessados em estudar o trombone a distância, e as circunstâncias que estimularam a opção

pelo seu uso como elemento estrutural da dissertação.

No segundo capítulo, trataremos da Pedagogia do trombone e sua abordagem para o

ensino do iniciante, dissertando sobre a literatura existente; relatando experiências com alunos

do curso de extensão do Departamento de Música (DeMús) da Universidade Federal da

Paraíba (UFPB) e apresentando a análise simples das respostas dos questionários pedagógicos

enviados por e-mail para professores de trombone do Brasil e de várias partes do mundo.

Já no terceiro capítulo, após analisar os resultados da pesquisa de campo,

relacionaremos seus pontos mais convergentes com os dos questionários respondidos pelos

professores apresentados no capítulo II, para compor o corpo final do método de educação a

distância para o ensino dos fundamentos teóricos e práticos do trombone a iniciantes.


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1 Educação a Distância

No mundo existe uma demanda cada vez maior de pessoas interessadas em aprimorar

seus conhecimentos, pelo menos é o que se compreende observando a desigualdade entre a

quantidade de instituições de ensino superior existentes em João Pessoa, por exemplo, e os

600.000 habitantes1 da capital paraibana. O fato é que na região nordeste existem apenas vinte

instituições credenciadas para a modalidade de Educação a Distância (EAD), e para aumentar

as delimitações apenas 50% destas são públicas2. A EAD é essencialmente devotada ao

desenvolvimento de uma prática educativa humanizada e social que se lança como uma

alternativa para ajudar o indivíduo na busca da sua capacitação intelectual, proporcionando

consequentemente uma maior probabilidade de inserção social e no mercado de trabalho.

Alimentando-se através do tempo pela busca natural do homem de encontrar soluções para

suas necessidades, esta prática educativa, que potencializa o indivíduo, é baseada na

autonomia/maturidade.

Autonomia e maturidade são muito mais fortes em quem não tem uma variedade de

opções e por isto precisa ser mais decidido nas escolhas de meios que constituam ferramentas

para a sobrevivência e realização dos seus sonhos. Aretio, uma das mais importantes

autoridades em EAD na Espanha, descreve um raciocínio fundamentado na teoria de

Wedemeyer3, justifica:

O surgimento da educação a distância é um processo natural e evolutivo


cronologicamente, a partir da aparição da escrita, passando pela invenção da
imprensa, da educação por correspondência e do aparecimento de teorias
filosóficas democráticas com o uso dos meios de comunicação para fins de
educação. (ARETIO, 1993, p. 56)

1
http://www.pbnet.com.br/openline/mfarias/joaopes.htm
2
http://portal.mec.gov.br
3
ARETIO, Garcia. Teorias da educação a distância. Madri, Espanha. Universidade Nacional de Educação a
Distância. Ed. UNED, 1993. Capitulo I, p. 56.
14

Em seu trabalho intitulado Teorias da Educação a Distância,4 Aretio descreve

alguns fatos relevantes da história da Educação a Distância, a partir dos quais podemos

remontar exemplos clássicos como as epístolas de Platão destinadas a Dionísio. O fato é que

historicamente existiram episódios que caracterizam uma educação não presencial ligada a

todo processo da evolução da comunicação humana, diluída através do tempo pela

necessidade humana de romper barreiras na comunicação, deixando para nós uma trilha,

como: o aparecimento em vinte de março de 1728 de um anúncio na Gazeta de Boston

oferecendo material de tutorias por correspondência; aproximadamente cem anos depois em

1833, outro anúncio similar ao da Gazeta de Boston é encontrado no número trinta do

periódico sueco Lunds Weckovblad avisando a quem cursava composição por

correspondência que durante o mês de agosto se encaminhasse a direção para os envios

postais; na Alemanha, em 1856, os lingüístas Charles Toussain e Gustv Laugenschied foram

patrocinados pela sociedade de línguas modernas para ensinar francês por correspondência,

fundando assim a primeira instituição de ensino verdadeiramente por correspondência; Aretio

destaca também a fundação, em 1890, nos EUA, da Internacional Correspondence School

(ICS); em 1914, na Noruega, a Norst Correspondanseskole, e quatro anos mais tarde a antiga

URSS implanta o sistema de educação por correspondência; sobre a necessidade de aprimorar

os mecanismos e discutir os avanços da modalidade de educação por correspondência, é

realizada, em 1938, no Canadá, a Primeira Conferência Internacional sobre a Educação por

correspondência; em 1939 para amparar os jovens atingidos pela segunda guerra mundial

(1939 a 1945), é criada na França o Centro Nacional de Ensino a Distância (CNED) e no

decorrer da década de quarenta, vários países do centro europeu aderem a esta modalidade de

estudo que teve consideráveis avanços com o desenvolvimento da tecnologia; em 1969 é

criada a Open University Britânica, verdadeiramente pioneira no que se entende como

4
ARETIO, 1993, Cap. I, p. 25 a 27.
15

educação superior a distância. Podemos verificar nos dados históricos fornecidos por Aretio,

cruzados com outras referências provenientes da Secretaria de Educação a Distância do

Ministério da Educação e Revista Eletrônica de Educação a Distância, que a notável

necessidade do homem em se comunicar ou registrar fatos ao longo da história da

humanidade, gerou uma maneira de informação/educação não presencial ligando narrador a

interlocutor pelas mais variadas maneiras, seja por desenhos nas cavernas, tambores ou sinais

de fumaça. O fato é que o homem, muito antes da escrita, utilizava-se de meios hoje comuns a

EaD e que, no espaço de tempo entre os sinais de fumaça e os de satélite, o anseio por saciar a

necessidade primária de comunicar-se a distância continua o mesmo, convergindo no

estabelecimento de um sistema, que mesmo sendo intrínseco ao desenvolvimento da

comunicação humana, como compreendemos, só passou a ser convencionado, formalizado, há

pouco mais de um século, como demonstra as datas descritas por Aretio.

Sobre os procedimentos de educação vigentes em nosso tempo, Aretio citando

Petters, Comenta:

Qualquer pessoa envolvida com educação deve compreender que existem


duas formas claramente diferenciadas de educação: o ensino tradicional cara-
a - cara, baseado na comunicação interpessoal e o ensino industrializado,
baseado nas formas técnicas e pré-fabricadas de comunicação (ARETIO,
1993, p. 25).

Não pretendemos aqui discutir a política educacional em nosso país e nem os

motivos que possam levar um aluno que nas circunstâncias de uma boa infra-estrutura, não

desenvolva interesse no processo de aprendizagem, mas sim, observar que as situações para

uma eficiente e abundante aprendizagem não estão acessíveis para toda a demanda de

interessados em estudar música, especialmente na Paraíba. A Federação Paraibana de Bandas

e Fanfarras promove um concurso anual, onde em media participantes em todas as etapas e

categorias é de 2.000 pessoas, com a média de idade entre 10 e 25 anos, estes são

instrumentistas da área de metais (trompete, trombone, trompa, tuba) e Percussão


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(VALGNES, 2005 p.1), que só dispõe de duas escolas de nível superior o DeMús da UFPB e

o Departamento de Arte (Darte) da Universidade federal de Campina Grande (UFCG), uma

de formação técnica (CEFET-PB), e uma a nível médio a Escola de Música Anthenor

Navarro, que está consolidada a mais de cinqüenta anos em nosso estado pertencendo

atualmente a Secretaria de Educação do Estado da Paraíba. Esses potencias estudantes de

música oriundos do meio bandístico, que em estatísticas da Paraibandas devem ser em sua

totalidade cerca 5.000, contando as corporações musicais que não participam dos

campeonatos, somam uma demanda superior as possibilidades de um eficiente atendimento,

isso se todos os interessados tivessem as viabilidades para freqüentar as instituições citadas,

“pois os estudos de conhecimentos específicos como o da música, depende de várias

particularidades para amparar uma boa formação”5. Não obstante, devemos observar que o

sucesso de um curso a distância depende basicamente do preceito de determinação do

indivíduo e da objetividade latentes nele, somando-se a uma estrutura de apoio pré-

estabelecida dentro dos parâmetros de suporte que precedem qualquer programa de educação.

Existe ainda uma série de considerações a respeito do desenvolvimento do indivíduo,

sobretudo no campo de estilos cognitivos, que abrem precedentes para observar os diferentes

ritmos de aprendizagem que, mediante as circunstâncias e o meio educativo, podem ser mais

ou menos intensamente exploradas. Como diz Aretio citando Wedemeyer; “a aprendizagem é

um processo completamente individual”. Dentro deste parâmetro, Gonzalez (GONZÁLES,

2005 p 2)6 argumenta que lidar com esta individualidade, demanda uma postura de

conversação amistosa da parte do educador, mesmo no sistema de educação semipresencial,

que não favorece o sentimento de maior proximidade existente na relação aluno/professor do

processo convencional. É essencial, portanto, que o profissional atuando como

professor/tutor, possua entre outras qualidades a facilidade de comunicação, dinamismo,

5
NUNES, Radegundis, palestra realizada em julho de 2006 para alunos da escola Agrotécnica Federal de Sousa.
6
http://www.seednet.mec.gov.br
17

criatividade, liderança e iniciativa para realizar com eficácia o trabalho de facilitador, junto ao

grupo de alunos sob sua tutoria. “Portanto, é imprescindível que especialmente no sistema de

educação semipresencial o educador estimule a auto-estima do educando no seu caminho de

formação do pensamento e abra espaço para atender a expectativa do aluno em ‘aprender a

aprender’ como propõe Freire” (GONZALEZ, 2005 p.2).

A EAD abrangendo estes parâmetros pode, supõe Gonzalez, vencer plenamente o

problema da distância entre professor e aluno, utilizando-se racionalmente da escrita,

imprensa, correspondência, telecomunicações, fitas/CDs/DVDs e os textos programados. Em

síntese, EAD nos conceitos abordados implica em: estudar por si mesmo, mas não só.

1.1 Educação a Distância no Brasil

No Brasil, foi criado, em 1937, o serviço de Radiodifusão Educativa do Ministério da

Educação e, posteriormente, em 1939, o Instituto Monitor, primeira escola de ensino a

distância, no país. Outro grande passo foi a criação da Secretaria de Educação a Distância

(SEED) do Ministério da Educação responsável pela regularização de cursos de nível técnico,

superior e pela instalação da Universidade Livre do Brasil, tendo como referência, os

resultados satisfatórios de instituições como a Universidade Nacional de Ensino a Distância

(UNED) em Madri/Espanha. As bases legais para a modalidade de Educação a Distância,

descritas adiante, foram estabelecidas pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional

(Lei n.º 9.394, de 20 de dezembro de 1996), que foi regulamentada pelo Decreto n.º 5.622,

publicado no D.O.U. de 20/12/05 (que revogou o Decreto n.º 2.494, de 10 de fevereiro de

1998, e o Decreto n.º 2.561, de 27 de abril de 1998) com normatização definida na Portaria

Ministerial n.º 4.361, de 2004 (que revogou a Portaria Ministerial n.º 301, de 07 de abril de

1998).
18

Em três de abril de 2001, a Resolução n.º 1, do Conselho Nacional de Educação

estabeleceu as normas para a pós graduação lato e stricto sensu da EAD.

Transcrevemos a seguir, na íntegra, as bases legais para a modalidade de Educação a

Distância estabelecidas pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei n.º 9.394,

de 20 de dezembro de 1996):

a) EDUCAÇÃO BÁSICA na modalidade de Educação a Distância:

De acordo com o Art. 30º do Decreto n.º 5.622/05, "As instituições credenciadas para

a oferta de educação a distância poderão solicitar autorização, junto aos órgãos normativos

dos respectivos sistemas de ensino, para oferecer os ensinos fundamental e médio a distância,

conforme § 4o do art. 32 da Lei no 9.394, de 1996, exclusivamente para:

I. a complementação de aprendizagem; ou

II. em situações emergenciais.

Para oferta de cursos a distância dirigidos à educação fundamental de jovens e

adultos, ensino médio e educação profissional de nível técnico, o Decreto n.º 5.622/05

delegou competência às autoridades integrantes dos sistemas de ensino de que trata o artigo 8º

da LDB, para promover os atos de credenciamento de instituições localizadas no âmbito de

suas respectivas atribuições7.

Dentre os cursos de EAD consolidados e em andamento no Brasil, podemos destacar:

O lnstituto Universal Brasileiro, Fundado em 1941, que é um dos pioneiros no

Ensino a Distância em nosso país. Com seus cursos profissionalizantes livres de suplência e

suprimento e agora com os cursos oficiais supletivos de 1º e 2º graus, o lnstituto adquiriu a

confiança de milhares de pessoas.

Atualmente, cerca de 200 mil alunos matriculados em seus cursos estão estudando,

aprimorando ou atualizando uma profissão e complementando assim sua formação cultural. 8

7
http://www.mec.gov.br /seed/tvescola
8
http://www.institutouniversal.g12.br
19

O Telecurso 2000, que é um programa educacional supletivo a distância, dirigido a

jovens e adultos que pretendem cursar o ensino fundamental (antigo 1° grau) e o ensino

médio (antigo 2°grau), ou a quem parou de estudar e deseja continuar seus estudos.

É fácil estudar pelo Telecurso 2000 porque os conteúdos das disciplinas são

desenvolvidos a partir da realidade do aluno, com exemplos retirados da sua experiência

diária. O aluno estuda usando os livros do Telecurso, acompanhando as aulas pela televisão

(Rede Globo, TV Cultura, Rede Vida e TV Futura) e tirando dúvidas pelo Plantão TC 2000,

por carta, fax ou ainda por e-mail.9

No Brasil, os cursos eram esporádicos e se concentravam mais no estilo supletivo

(Telecurso) e só a Universidade de Brasília vinha oferecendo alguns cursos de

especialização e extensão por correspondência. Em 1995, foi criado sob caráter experimental

o curso de pedagogia dentro do sistema da EAD pela Universidade Federal do Mato Grosso,

para professores em serviço da rede pública estadual e municipal. A partir de 1998, observa-

se um crescente envolvimento de Instituições de Ensino Superior com cursos de educação a

distância. As solicitações de autorização ao Ministério de Educação foram, em sua grande

maioria, 80%, para cursos de graduação de formação de professores, principalmente de

Pedagogia e Normal Superior. Os atuais professores do ensino fundamental formam o

principal público alvo destes cursos, pois o artigo 87, § 4º, da LDB, estabelece que, até o final

da Década da Educação, ou seja, 2006, somente serão admitidos "professores habilitados em

nível superior ou formados por treinamento em serviço". Estima-se que essa exigência legal

tenha motivado uma demanda pontual da ordem de 700 mil novas vagas. Por outro lado, de

acordo com estudos do Centro de Informática Aplicada da Fundação Getúlio Vargas, estima-

se que o Brasil tenha cerca de 40 mil alunos matriculados em cursos superiores a distância,

sendo que destes, pelo menos 39 mil participam de cursos para formação de professores. Estes

9
http://www.sp.senai.br
20

números incluem cursos de graduação, de Pós-Graduação (principalmente Especialização) e

de Extensão.

Destacamos a seguir, algumas universidades e seus respectivos cursos superiores a distância:

 Faculdade de Administração de Brasília: Administração Geral;

 Universidade Federal do Espírito Santo: Licenciatura em Pedagogia nas Séries Iniciais

do Ensino Fundamental;

 Universidade Estadual do Maranhão: Licenciatura Plena em Magistério das Séries

Iniciais do Ensino Fundamental;

 Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul - Engenharia Química

(SOARES, 2002 p 251-257).

Dentre os projetos em andamento e consolidados no Brasil, podemos destacar:

Programa Nacional de Formação Continuada em Mídias na Educação:

Concebido pelo MEC, por meio do Departamento de Produção e Capacitação em Programas

de Educação a Distância (DPCEAD), da Secretaria de Educação a Distância (SEED), o

programa "Mídias na Educação" é realizado em parceria com a Universidade Virtual Pública

do Brasil (Unirede), entidade que congrega 70 instituições públicas de ensino superior. O

programa pretende oferecer formação continuada a profissionais da educação para o uso das

mídias no processo ensino-aprendizagem. Trata-se da consistente estratégia governamental

para capacitar professores da Educação Básica quanto ao uso das diversas tecnologias de

informação e comunicação via construção cooperativa de uma cultura de produção e oferta de

EAD.

O curso parte da real constatação de que um dos principais motivos de novas

tecnologias serem ainda pouco adotadas no processo ensino-aprendizagem é a deficiente

capacitação dos professores para seu uso adequado, fazendo com que eles sejam pouco

incentivados a incorporar as diversas mídias de forma mais efetiva em sala de aula.


21

Contribuindo para sanar tal deficiência, o programa, que deve capacitar 1,2 mil

tutores ainda este ano, procurando atingir mais de 10 mil docentes já em 2006, inclui módulos

dedicados às mídias como TV, rádio, informática e material impresso. A inovadora

metodologia adotada incentiva de forma especial a autoria [...] ou seja algo que a própria

pessoa escreveu ou criou mesmo partindo de algo já feito por outro, mas com a sua

individualidade, que é característico de cada pessoa [...]10 como estratégia de aprendizagem,

constituindo-se assim em programa modular de formação continuada para profissionais de

educação.

Conexão XXI: Utilizar a internet como forma de democratizar o acesso à

informação, expandindo uma experiência de sucesso, antes restrita a Santa Catarina e ao norte

do Rio Grande do Sul, para toda a extensão da rede mundial de computadores. Essa foi a idéia

da professora Gládis Leal, de Joinville, ao disponibilizar em um videolog (página pessoal na

internet que permite interação através de vídeos, textos, imagens e comentários) os programas

da série de TV Conexão XXI. Com tal iniciativa, docentes de todo o país ganharam uma

ferramenta para abordar em sala de aula os assuntos referentes ao dia-a-dia dos jovens.

A série, realizada pela produtora Setcom, mostra de maneira viva e criativa os

costumes e a vida dos jovens. "Ao longo dos anos, eles se tornaram alvo de inúmeras

campanhas publicitárias ou mesmo serviram como platéia de programas, mas raramente

ocuparam o papel de eixo central, de protagonistas de uma série de TV", explica Gládis Leal

que, além de coordenadora do Laboratório de Informática Educativa do Caic Mariano Costa,

em Joinville, foi convidada para ser coordenadora de produção e consultora pedagógica do

Conexão XXI.11

A Universidade Federal da Paraíba participa da UNIREDE que está

implementando, através da sua Coordenação de Educação a Distância - CEAD/UFPB - o seu

10
http://www.ufrgs.br/bioetica/autor.htm
11
http://portal.mec.gov.br/seed
22

projeto piloto de EAD. Esta Universidade vem promovendo treinamento sobre a utilização do

ambiente de autoria AulaNet para os seus docentes, de modo que com a capacitação

adequada, os seus profissionais estejam aptos a publicar cursos de nível universitário na

WEB. Em diversos provedores da UFPB, já se encontra instalado esse ambiente de tutoria

AulaNet: no NTI - Núcleo de Tecnologia da Informática; no CCEN - Centro de Ciências

Exatas e da Natureza; e no CCT - Centro de Ciências e Tecnologia.

Utilizando-se do portal da SEEDNET, podemos também encontrar artigos, Teses e

Dissertações escritos por estudiosos da EAD no Brasil, dentre os quais destacamos:

Mathias Gonzáles coordenador da Rádio Escola, afirma: “os meios de comunicação


imitam a arte da sedução pedagógica ou aprendem com ela, exercendo sobre as massas um
efeito quase hipnótico, ao utilizar-se de imagens, sons e movimentos, para cativar seu público,
levando-o ao caminho desejado” (GONZÁLES, 2005 p 2)12. Por esta razão ele escreveu o
artigo A Arte da Sedução Pedagógica na Tutoria em Educação a Distância, que tem como
objetivo refletir os limites e possibilidades do educador na função de professor/tutor na
modalidade de Ensino a Distância.
Outro exemplo de material de referência produzido por teóricos brasileiros é o

trabalho de dissertação da Profª. Ms Flávia Amaral Rezende, Mestre em Multimeios pela

UNICAMP. O artigo “Formação Continuada de Educadores para a Inclusão Social e as

TICs” trata das Características de Ambiente Virtual Construcionista de Ensino e

Aprendizagem na Formação de professores Universitários e recebeu o Prêmio ABED de

Excelência em Educação a Distância/2005 na categoria Pesquisa. A professora Flavia A.

Rezende é também Coordenadora-colaboradora do Núcleo de Educação a Distância da

Universidade Cidade de São Paulo e há três anos, aproximadamente, desenvolve pesquisa-

ação mediante parceria entre o Programa de Mestrado em Educação da Universidade Cidade

de São Paulo (UNICID) e a Escola Municipal Cidade de Osaka, da rede municipal, localizada

na zona Leste da cidade de São Paulo com o tema: Como criar instituições "inteligentes",

12
http://www.seednet.mec.gov.br
23

capazes de interagir critica e criativamente, com a realidade na qual se inserem. Durante o

desenvolvimento do Projeto, os educadores e funcionários da escola identificaram prioridades

e formas de equacioná-las, sempre visando a melhoria da qualidade da educação, em

harmonia com a política dos órgãos dirigentes do sistema escolar municipal, de modo especial

com a atenção para a inclusão de todos os usuários e prestadores de serviço em um espaço que

se caracteriza como "escola aberta"; desenvolveram competências para elaboração de Projetos

e apresentaram novas demandas do que resultou na formação da Rede Educadora para

Inclusão Social (REIS).

Ainda tomando como referência as informações disponíveis no portal da Secretaria

de Educação a Distância do Ministério da Educação, escolhemos um dos artigos escritos por

um especialista em EaD da nossa região, o potiguar Luiz Augusto de Morais Filho do Pólo de

Educação a Distância de Nova Cruz/RN que escreveu o artigo intitulado: O que significa a

autonomia do aluno de EaD fundamentada na flexibilidade do tempo e do espaço. O

estudo das características do alunado e do meio onde este vive é pontuado por FILHO como

um termômetro para medir as necessidades cuidando assim da escolha dos conteúdos a serem

incluídos no curso. Filho ainda destaca a avaliação constante dos resultados e reações dos

educandos nas suas relações com o conteúdo aplicado que pode gerar uma margem

consideravelmente grande de aproveitamento, já que os conteúdos e estratégias ancoram-se

nas características específicas do educando, somando ao autogerenciamento dos estudos

deste, um programa acessível e motivador. Ele conclui que a determinação do tempo para

realização das suas atividades de estudo confere ao aluno vantagens, dentre as quais, a

possibilidade de compatibilizar o horário de estudo com os horários de trabalho, de lazer e

para solucionar problemas pessoais e/ou familiares, inclusive, podendo utilizar os dias de

domingo e os dias feriados.


24

Localizamos também a tese escrita pela Drª. Regina Célia Souza Cajazeira, orientada

pela profª. Drª. Alda Oliveira, intitulada Educação continuada a distância para músicos da

Filarmônica Minerva: gestão e Curso Batuta, caracterizada como Método de Educação a

Distância para músicos de Banda.

O Curso Batuta, criado pela Profa. Regina Cajazeira no decorrer


do seu doutorado, na Escola de Música da UFBA, tem sido um inegável
sucesso. Foi criada uma matriz válida para ser repetida e/ou adaptada nas
outras filarmônicas do Estado da Bahia e de outros Estados brasileiros onde
há tradição desse tipo de bandas musicais. O curso teve avaliação muito boa
quanto à Dimensão Pedagógica e Impacto Social, ressaltando a relevância e
a atualidade do curso que atingiu de um modo positivo a comunidade de
Cachoeira/Bahia (ROBERT, 2003)13.

1.2 Alguns desdobramentos para o ensino da música a distância

No tocante a questão das escolas de música, como para qualquer outra atividade

descrita dentro e fora dos parâmetros de nossa sociedade, existe uma necessidade de tornar o

conhecimento um bem ao alcance de todos. A iniciação musical, o aprendizado de um

instrumento, enfim o aperfeiçoamento de um talento musical é um direito a que todos devem

ter acesso sem restrições. É importante estar ciente que, mesmo com todas as dificuldades, o

sistema educacional convencional felizmente ainda atende a uma grande parcela da população

em nível de educação fundamental, mas isto não acontece com o estudo das artes em geral,

onde os centros de referência são poucos para a demanda e o custo de estudar em um centro

especializado de artes é extremamente restritivo para os padrões da grande massa assalariada.

Na questão da educação Musical, tivemos avanços e retrocessos ao longo dos

tempos. Por exemplo, tínhamos a música na grade curricular do ensino fundamental até 1978.

De 1978 até os dias de hoje, a música ficou fora desta grade curricular, agravando ainda mais

o problema do acesso a educação musical no país. Consideramos que a existência da

disciplina “música” não é o único fator determinante para o descobrimento de grandes

13
Esta nota consta na conclusão da Tese de Regina Cajazeira, escrita por Robert Verhine, diretor do Instituto
Superior de Pesquisa (ISP) da UFBA.
25

talentos musicais, mas temos convicção que soma fortemente para o encaminhamento e

aprimoramento destes talentos. No Brasil, existem poucas universidades com departamento de

música completo, isto é, que abranja todas as áreas do conhecimento da música e apesar de

termos uma grande variedade de artistas talentosos, apenas contamos, por exemplo, com dois

doutores e menos de dez mestres em trombone (que é nosso objeto de estudo) para servir um

país de dimensões continentais como o Brasil. A ausência de professores habilitados em

determinadas áreas específicas para educar nossos jovens estudantes de música impede um

crescimento mais regular desta área. Não está em questão a qualidade do ensino da música no

sistema tradicional, mas sim, o acesso razoavelmente restrito a este ensino, dada a

desproporcionalidade da distribuição geográfica das escolas de música no país. Portanto,

acreditamos ser importante avaliar novas possibilidades de desenvolvimento e aplicabilidade

de ferramentas tecnológicas de educação nesta área.

Neste aspecto, para amparar o estudo da música informal existe disponibilizado no

mercado uma série de obras que se caracteriza como métodos de Educação a Distância, sendo

estes, vídeos-aulas em fascículos, cursos por correspondência ou via NET, dentre os quais

destacamos alguns de fácil acessibilidade como: as vídeos-aulas para violão, guitarra, contra

baixo (elétrico) e teclado da Editora Escala, que são elaboradas em uma linguagem dinâmica e

simples com um conteúdo dirigido ao público iniciante no estudo destes instrumentos. São de

baixo custo e facilmente encontrados nas bancas de revista.

Curso de violão oferecido pelo instituto universal: este curso oferece ao aluno uma

visão das origens do instrumento, sua construção e evolução histórica, ilustrada com

comentários oportunos sobre o desempenho dos seus mais brilhantes compositores e

intérpretes. Apresenta a matéria de forma agradável, sempre acompanhada de desenhos,

esquemas e fotos que ilustram as explicações. Fotografias, desenhos, vistas internas, pautas

musicais e recursos gráficos são utilizados com freqüência. Logo nas primeiras aulas é
26

explicado no conteúdo, desde o modo correto de segurar o violão, até o momento de tocar os

primeiros acordes. A técnica didática para a obtenção de resultados, utiliza o método passo a

passo, através do qual o professor orienta todas as etapas do processo de familiarização entre

o aluno e o instrumento. Considerando a essência basicamente sonora do curso, foi

desenvolvida uma técnica de acompanhamento didático, gravada em CD de áudio que servirá

como ilustração musical de apoio aos ensinamentos contidos nas aulas. As aulas deste método

de acordo com o enunciado de apresentação no site do Instituto Universal, foram elaboradas

segundo uma técnica de diagramação e apresentação visual que motiva o aluno, facilitando

seu entendimento.

Explicasax: desenvolvido pelo professor Ivan Meyer, disponibiliza no site

www.explicasax.com.br para downloads de vídeos-aulas sobre embocadura, afinação e

harmônicos no saxofone e um fórum criado em 11/02/2003 pelo idealizador do método, com

centenas de perguntas e respostas sobre saxofone.

Berklee Practice Method book/CD de Jeff Galindo. O Berklee Practice Method

Book/CD Pack é dirigido ao aluno que quer aprender a tocar trombone em uma banda e inclui

os seguintes tópicos: técnica de aquecimento, como organizar um cronograma diário de

estudos, desenvolvimento da percepção auditiva, teoria e técnica, improvisação, leitura,

formas das canções, interpretação de partitura etc. A rotina de prática diária é desenhada para

prática individual ou com outros instrumentistas e o CD de acompanhamento foi gravado por

grandes instrumentistas da Berklee cobrindo uma grande variedade de estilos como Rock,

Funk, Jazz, Blues, Swing e Bossa nova.


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2 Abordagens Pedagógicas para aprendizes de nível iniciante do trombone

2.1 Literatura já existente

Neste capítulo, além de consultar a literatura já existente dirigida a iniciantes no

aprendizado do trombone, pretendemos discutir as abordagens pedagógicas para alunos

incipientes, cujos professores são de várias partes do mundo e, para tanto, elaboramos um

questionário pedagógico, enviado por e-mail para estes pedagogos e também para os do

Brasil.

Da literatura já existente, selecionamos os seguintes trabalhos:

2.2 Método Completo de Trombone a Coulisse – André Lafosse

André Lafosse, solista da Ópera de Paris e professor do Conservatório Nacional de

Música de Paris de 1948 a 1960, propõe uma abordagem pedagógica progressiva dos

principais assuntos necessários à formação de um trombonista, descrito em seu método para

trombone publicado em três volumes. De acordo com a metodologia pedagógica de Lafosse, o

trombonista iniciante encontra instruções sobre postura e manuseio adequado do instrumento

já no início de seu Volume I. Ele indica a nota “Fá” da quarta linha da clave de Fá como

primeiro som a ser produzido pelo aluno no trombone. As lições iniciais são estruturadas em

combinações rítmicas elementares, escritas num registro intermediário bastante cômodo, com

articulações básicas, demanda técnica e fraseado simples, que se repetem em praticamente

todos os exercícios do primeiro volume, de forma a não apresentarem dificuldades até mesmo

para um instrumentista que nunca teve uma aula de teoria e está aprendendo sobre os

conceitos de organização da leitura musical, como foi o nosso caso e de vários outros

estudantes da classe de trombone no DeMús da UFPB.


28

2.3 Método Para Iniciantes de Gilberto Gagliardi

Um dos mais importantes pedagogos do trombone no Brasil, que contribuiu de forma

efetiva para construção do alicerce de uma escola brasileira do trombone. Um dos fundadores

da Associação Brasileira de Trombonistas (ABT); é também responsável direto pelo atual

nível de destaque no aprimoramento do trombone fabricado no Brasil e exportado para o

mundo. Gagliardi tem uma produção literária musical de grande abrangência que inclui

Métodos para Trombone Tenor e Baixo, Solos para trombone e piano, e música de Câmera.

O Método para Iniciantes é resultado de uma vida dedicada à pedagogia do trombone e foi

segundo o próprio autor “escrito para seus alunos, considerando o perfil do trombonista

brasileiro e as exigências do mercado de trabalho nacional” (Gagliardi, p. 3). Além de indicar

também a nota “Fá” da quarta linha da clave de fá como primeiro som a ser produzido pelo

aluno no trombone, as primeiras lições do Método para iniciantes de Gagliardi são também

estruturadas, a exemplo de Lafosse, em combinações rítmicas elementares, escritas num

registro intermediário bastante cômodo, com articulações básicas, demanda técnica e fraseado

simples, que se repetem em praticamente todos os exercícios do método, de forma a não

apresentarem dificuldades até mesmo para um instrumentista que nunca teve uma aula de

teoria e está aprendendo sobre os conceitos de organização da leitura musical. O trabalho do

Professor Gagliardi traz ainda um adendo peculiar, quando inclui, neste método, elementos

rítmicos, melódicos e harmônicos da música brasileira. Em suma, Gagliardi contempla o

estudante incipiente com um material sólido e apropriado para o estudo do trombone.

2.4 Método Completo para Trombone de Vara, Serse Peretti

No Brasil, além dos recomendados trabalhos de Lafosse e Gagliardi que

consideramos mais apropriados a iniciação do trombone, por estar em maior consonância com

nossa proposta metodológica de ensino no DeMús da UFPB, consideramos analisar, por


29

recomendação de alguns dos professores consultados em nosso questionário e-mail. O método

de Peretti esta dividido em duas partes: a primeira, trata de elementos básicos voltados para os

parâmetros elementares (sonoridade, afinação, ritmo, dinâmica e articulação), o estudo de

todas as tonalidades maiores e suas relativas menores harmônicas. A segunda parte, contém

estudos e duetos na clave de dó na quarta e terceira linha com elementos mais avançados,

sugestões de exercícios clínicos diários e estudos e duetos de autores diversos. Na classe de

trombone do DeMús, o uso do método de Peretti é tratado como material de estudo

secundário, porém o conteúdo do mesmo, que abrange as características do trombone e suas

peculiaridades técnicas, poderia seguramente substituir os métodos que empregamos

habitualmente, a saber: A. Lafosse e G. Gagliardi.

2.5 Complete Arban´s Famous Method for Trombone

Joseph Jean Baptiste Laurent Arban, nascido em 28 de fevereiro de 1825, na cidade

de Lyon, França, solidificou o cornet como instrumento de grande popularidade. Grande

virtuoso e pedagogo de seu tempo, Arban aborda todas as características do cornet em seu

método que ao longo dos tempos vem sendo transcrito para outros instrumentos da família

dos metais. A mais popular transcrição deste método para o trombone foi feita por Charles L.

Randall e Simone Mantia, trombonistas e pedagogos norte-americanos do começo do século

vinte. André Lafosse também tem em seus trabalhos pedagógicos uma edição dos estudos

característicos de Arban, na qual faz adequações as características do trombone de vara.

Arban emprega uma linguagem didática em seu trabalho que é, originalmente, para o cornet,

abrangendo em seu conteúdo os principais elementos da técnica para a formação deste

instrumento. Sua obra é largamente popularizada e é referência para escritores de vários

trabalhos posteriores do gênero.


30

O método de Arban foi transcrito para o trombone, eufhonium e tuba, privilegiando

de melhor forma os instrumentos com mecanismos semelhantes ao do cornet (pistões e

válvulas). O trombonista iniciante encontrará neste trabalho certo grau de dificuldade, pois o

mesmo contém estudos de nível mais avançados. Estes estudos foram escritos sem a

preocupação com o domínio do trombonista iniciante sobre técnicas específicas do trombone

de vara como precisão na definição da altura dos sons, cuja subjetividade na performance

chega a uma percentagem aproximada dos 90%, gerando uma necessidade especial de

adequação na construção de referenciais para tocar com precisão os intervalos e os

movimentos gerados pelas várias combinações de posições, o que não é o principal problema

para um estudante de tuba, eufhonium ou trompete, já que estes possuem, em suas

construções, posições melhor definidas por seus mecanismos modulatórios (combinação de

válvulas ou pistons). Após considerarmos as questões de natureza intrínseca do mecanismo de

modulação das séries harmônicas do trombone, avaliamos que o Arban é caracterizado como

um método para alunos de nível intermediário avante, apesar de ser também usado por alguns

pedagogos, para iniciar aprendizes do trombone. Na classe de trombone do departamento de

Música da UFPB, o estudo do Método de Arban direciona-se para a prática de elementos de

estudos mais avançados como técnica de staccato duplo e triplo, trinados, gruppettos,

opoggiaturas e outros ornamentos. Os estudos característicos de Arban, através da transcrição

de Lafosse, constituem parte do conteúdo das avaliações para o ingresso no bacharelado em

trombone do DeMús.
31

2.6 Questionário Pedagógico

O questionário sobre procedimentos pedagógicos é uma de nossas bases para colher

e analisar dados atuais, comparando-os aos tradicionais, que poderão constar do objeto final

deste trabalho, o “Método de Educação a Distância para o ensino dos fundamentos

teóricos e práticos da iniciação ao trombone”. Enviamos questionários para todos os

professores de trombone que tivemos acesso a endereço eletrônico ou mesmo telefone, sendo

o único critério para inclusão das respostas em nosso trabalho a devolução do questionário

respondido. Dos vinte questionários enviados, doze retornaram e passaram a compor o nosso

material de estudo. Portanto, priorizaremos a análise comparativa simples das respostas,

convergentes e divergentes, às perguntas que dizem respeito a tópicos fundamentais para o

processo de formação do trombonista iniciante, que constam no questionário e estão

organizadas na ordem de prioridade a seguir:

2.6.1 Postura e respiração:

Analisando as respostas às perguntas sobre a introdução do ensino da postura e

respiração, encontramos divergências e convergências sobre a maneira de introduzir estes

fundamentos na aprendizagem inicial do trombonista. Considerando estas convergências e

divergências pedagógicas salutares para nossa pesquisa, selecionamos os argumentos que

acreditamos estar em maior consonância com a finalidade do nosso trabalho. Vejamos a

proposta de Alciomar Oliveira, Mestre em Música e professor de trombone da UNB, que

aconselha falar sobre estes fundamentos logo nos primeiros contatos com o aluno. Segundo

Alciomar: “É importante ensinar maneiras de respirar, a fim de tornar orgânico o

desenvolvimento respiratório, pois em momentos posteriores o músico não deve mais

preocupar-se com problemas básicos de formação”. Com relação à postura, ele acredita que

“quanto antes o aluno tenha uma boa postura, terá menos problemas para corrigir no futuro”.
32

Alciomar acredita que o professor deve ter a sensibilidade de estudar a individualidade de

cada aluno a fim de favorecer seu desenvolvimento, e completa: “é fácil trabalhar em grupo se

tivermos perfis parecidos. O difícil é colocar cada aluno iniciante no mesmo padrão de

entendimento e aproveitamento. Uma única justificativa seria suficiente para evidenciar essas

diferenças, mas podemos pensar que alunos iniciantes rasos de conhecimento têm históricos

de vida diferentes antes do estudo do instrumento musical, o que nos leva a constatar que

precisamos respeitar essa individualidade”.

O colombiano Ricardo Cabreira, que teve sua formação na escola Russa e lecionou

trombone no Conservatório Carlos Gomes e no Curso de Bacharelado em Trombone da

Universidade Estadual do Pará em Belém, atualmente instalado como professor de trombone

na Universidade do Valle, Cali, Colômbia, sugere: “recomendo estudar em pé, já que assim é

mais fácil trabalhar com a respiração, considero ainda muito importante encontrar bom ângulo

de posição do instrumento” e sobre a respiração, “acho mais importante no começo falar dos

procedimentos de respiração de forma espontânea através das frases musicais, para a criação

de capacidade respiratória, sobretudo no caso de iniciação de crianças”. Ricardo Cabreira

recomenda o método de trabalho respiratório dos cantores, assim como Charles Vernon,

Trombone baixo da Chicago Symphony. Renato Farias Bacharel em Música, professor de

trombone da Faculdade Santa Marcelina em São Paulo-SP, demonstra em seus argumentos

uma consonância com o pensamento do professor colombiano Cabreira, acrescentado ao

discurso deste que [...] “para os alunos é importante atentar para os alongamentos de braços e

mãos feitos antes e depois de sua jornada de estudos, para que não sofra posteriormente de

LER–Lesão por Esforço Repetitivo” [...].

Uma outra perspectiva para este tópico é defendida por Sérgio Rocha Mestre em

Trombone e professor de trombone da Universidade de São João Del Rei, licenciado e atuante

no campo da psicanálise em Minas Gerais. Rocha argumenta: “De uma maneira geral, a idéia
33

de fragmentar uma ação, sobretudo para iniciantes, não me agrada. O processo inverso, ou

seja, começar pelo todo, e, a partir de problemas específicos surgidos da situação global, a

mim, me parece mais consistente. Um bom exemplo disso (analogia) seria a situação de uma

criança aprendendo a andar de bicicleta: Não me parece prático decompor todos os

movimentos e dar instruções específicas de cada ação (pegar no guidão, pedalar, equilibrar,

etc.). Certamente que os problemas irão surgir, e, ao seu tempo, a intervenção/orientação deve

ser dada. É como se você tentasse ensinar um aprendiz de natação, ainda fora d’água, como

ele deve respirar quando for nadar o estilo “crow”. Fazer isso fora d’água é só arriscar uma

compreensão equivocada e apreensiva sobre o processo que ainda não aconteceu. No caso do

contato com o instrumento musical, não acho recomendável que já de início coloquemos

dúvidas num processo que poderia não ter problemas. Recomendo primeiro o contato com o

instrumento, experimentar a produção sonora, ainda que incipiente, para, a partir dos

problemas, intervir/orientar cada um dentro da sua individualidade”. O Professor de trombone

da Universidade Nacional de Brasília e Coordenador do Laboratório de Tecnologia Musical

do Depto. de Música, Dr. Carlos Eduardo Mello, de certa maneira em consonância com

Sérgio Rocha, argumenta sobre este ponto: “muitos professores de trombone enfatizam

demais exercícios para aumentar a capacidade de ar, quando na verdade os alunos estão tendo

problemas em colocar o ar para fora”.

2.6.2 Formação da Embocadura:

Neste tópico, a maioria dos professores é quase unânime em recomendar a nota “Fa”

da quarta linha da clave de Fá como primeiro som a ser produzido pelo aluno de trombone.

Sobre a questão do buzzing (abelhinha/besourinho) a quase unanimidade está em não

recomendar o referido estudo. Entre aqueles que recomendam o buzzing, existe um número

maior de professores que o fazem com reservas e restrições. Vejamos o argumento do


34

professor Ricardo Cabrera que defende o uso do Buzzing, acreditando que as pessoas tenham

uma idéia diferente sobre este assunto: “muitos pensam que fazem buzzing quando logram

estabelecer atrito no ar que há entre os dentes e os lábios em uma suposta posição de

‘embocadura’, quando acredito ser necessário, para fazê-lo, abrir os lábios para estabelecer

uma saída plena do ar, que sem atrito com os dentes faça vibrar os lábios mantendo suas

extremidades (cantos da boca) firmes”. A importância do buzzing, no entender do professor

Cabrera, encontra-se em estabelecer uma clara compreensão de movimento do ar no

desenvolvimento dos registros, ajudando a evitar o excesso de pressão nos lábios, gerando

uma boa sonoridade pela plenitude do trabalho do ar. Renato Farias, de forma parecida,

recomenda o estudo com a vibração de lábios. Porém, no seu entender, a prática somente com

o bocal, não permite que o aluno obtenha a mesma pressão dos lábios, obtida quando tocando

o instrumento. O Mestre em Música e professor de trombone da UNB Alciomar Oliveira não

recomenda o buzzing como exigência inicial para o estudante do trombone. Segundo ele, “é

evidente que muitos instrumentistas nunca o fizeram e tocam com excelente sonoridade”. Em

resumo conclui: “se for positivo para o estudante fazer este tipo de estudo, adotemo-lo”.

Júlio Rizzo, principal trombone da Orquestra Sinfônica de Porto Alegre, recomenda

aproximadamente cinco minutos de prática diária do buzzing, o suficiente para ativar a

musculatura facial, respiração e vibração dos lábios, mas com parcimônia, segundo ele. Já o

Sérgio Rocha não recomenda o uso do buzzing. Ele argumenta: “Não recomendo o buzzing

enquanto uma técnica de produção sonora. O prof. Vern Kagarice, da University of North

Texas, por ocasião do X Encontro de Trombonistas realizado em São Leopoldo em 2004,

argumentou: ‘o buzzing é, no máximo, um aquecimento da musculatura orbicular. A técnica

de emissão sonora através da vibração dos lábios no bocal é outra’. Daí não se recomendar.

Eu compartilho desse pensamento e acho que a principal atividade de alunos iniciantes é o

contato com o instrumento, descobrindo, brincando, aprendendo coisas que para ele são
35

novidades e a partir daí, com as dúvidas geradas nesse processo de experimentação do

instrumento, venham às perguntas iniciais”. “O oxigênio do músico instrumentista é a vontade

de tocar músicas. O ideal é poder tocar algum tipo de repertório. Mesmo que seja simples”

(Oliveira, 2006).

2.6.3 Disciplinamento

Sobre o tópico disciplinamento, que trata da quantidade de tempo e ordem de

distribuição dos fundamentos anteriormente relacionados, as respostas variam entre a sugestão

mínima de cinco a dez minutos e a sugestão máxima de uma a três horas para prática diária de

um iniciante no estudo do trombone. Há também, claro, algumas sugestões de acréscimo

gradativo de tempo de estudo mês a mês. Vejamos os argumentos que sustentam tais

organizações de tempo e prática diária do iniciante no estudo do trombone. Comecemos com

o professor Alciomar Oliveira (UnB), que sugere o seguinte: “o tempo de estudo deve ser

proporcional ao problema de cada aluno. Pois, aqui sim, vejo o grande problema do aluno

iniciante. Cada um tem o seu tempo de desenvolvimento e percepção dos fenômenos musicais

e físicos que compõem o novo panorama de estudos e descobertas”. Alciomar estipula o

tempo de 1 hora, que considera suficiente e conclui dizendo: “a disciplina deve ser

estabelecida de forma proporcional à tolerância e à necessidade de cada aluno. O importante é

que o aluno iniciante tenha tempo para construir e solucionar as suas necessidades de

performance para o crescimento e a ampliação do vocabulário instrumental e musical”.

Sobre a organização da rotina de estudos, Alciomar explana: “é comum que todos os

músicos precisem estudar escalas, legato, estacato, leitura e repertório. Acredito que todos

esses tópicos devam ser contemplados diariamente nos estudos. Aliás defendo que os estudos

diários devam contemplar as necessidades musicais de cada instrumentista e não as


36

necessidades do professor. O professor deve ser honesto em traduzir e interpretar essa

realidade”.

O professor Carlos Eduardo Mello (UnB), descreve um outro ângulo sobre o assunto

do tópico disciplinamento. Vejamos como ele organiza o tempo e estudos para seus alunos

iniciantes: “Uma a duas horas no primeiro mês, 2 a 3 horas no segundo e 4 horas daí por

diante, mas sempre distribuindo o estudo ao longo do dia, com espaços para descansar a

embocadura”. Sobre a distribuição dos estudos diários, Carlos Eduardo sugere: “5% de

respiração e vibração no bocal, 10% de estudos lentos com notas ligadas e pouco uso da

língua, 15% de escalas e arpejos, 20% de estudos técnicos (métodos etc.), 50% de música”.

O primeiro trombone da OSPA Júlio Rizzo considera que a quantidade de tempo

delimitado para o estudo do iniciante deve ser a maior possível e descreve alguns cuidados

para essa proposta: “Tomando cuidados com o stress labial, muscular, mental e a fadiga da

sustentação do instrumento, acho que quanto mais tempo o aluno estiver em contacto com o

trombone, melhor e mais rápido poderá atingir seus objetivos. Mas em média, se fosse medir,

talvez recomendasse umas três horas, intercaladas com intervalos e outras atividades”. Sobre

a organização da rotina diária, o professor Rizzo sugere: “Penso em repartir entre notas

longas, arpegios, escalas, estudos melódicos, e Repertório”. E acrescenta: “É sempre bom e

saudável juntar aos estudos diários doses de descontração, como ouvir discos (CD)”.

De maneira objetiva e em consenso com todos os outros entrevistados citados

anteriormente, Sérgio Rocha da Universidade Federal de São João Del Rei argumenta o

seguinte: “Considero que o período de 18 meses já produz grandes variações na capacidade de

resistência dos alunos. Assim, nos três primeiros meses, recomendaria apenas 1h/dia,

dividida, se possível em 3 tempos de 20 minutos. Esse tempo seria gradativamente aumentado

até esse tempo colocado por você, de 18 meses. No final desse período, recomendaria, por

exemplo, 2h/dia, divididas, se possível, em 3 tempos de 40 minutos. No caso de ser possível


37

dividir o tempo total em três períodos por dia, faria da seguinte forma: Primeiro Período de 40

minutos: Aquecimento, 15 minutos; Escalas: 20 minutos; Relaxamento: 5 minutos. Segundo

período de 40 minutos: Aquecimento, 10 minutos; Métodos, 25 minutos; Relaxamento, 5

minutos. Terceiro período de 40 minutos: Aquecimento, 5 minutos; Peças/Passagens

orquestrais, 35 minutos. Desta forma, soma-se um total de 120 minutos para os três períodos.

Sérgio faz uma variação do mesmo esquema para o caso de não haver possibilidade de divisão

do tempo diário para estudo, ele sugere: Aquecimento, 15 minutos; Escalas, 20 minutos;

Intervalo, 10 minutos; Método, 20 minutos; Relaxamento, 5 minutos; Intervalo, 10 minutos;

Peças/ passagens, 35 minutos; Relaxamento, 5 minutos. Totalizando também 120 minutos”. E

acrescenta: “O princípio da individualidade biológica deve sempre ser respeitado. Assim

sendo, haverá alunos que terão que se adaptar a uma rotina menos intensa assim como outros

sentirão a necessidade de um maior tempo de treinamento e não sentirão sobrecarga. Isso deve

ser cuidadosamente avaliado caso a caso. A divisão feita na resposta anterior é, portanto,

apenas uma sugestão preliminar. Obviamente os ajustes poderão ser feitos a partir das

necessidades de cada um, nas diferentes épocas do período letivo”.

Renato Farias, Professor de trombone da Faculdade Santa Marcelina, que também

aplica, neste tópico, metodologia consonante com todos os professores citados até aqui,

complementa dizendo que devemos “estudar Teoria para melhor compreensão da montagem

das escalas e série harmônica”.

2.6.4 Literatura:

As respostas sobre literatura de referência para o estudo de alunos iniciantes do

trombone variam muito e, por esta razão, resolvemos expor esta diversidade em sua totalidade

de sugestões, com a finalidade de tentar formar uma idéia a partir da abrangência desta

variedade de obras dedicadas à pedagogia para iniciantes do estudo do trombone, com seus
38

respectivos autores. Começando pelas sugestões de James C. Lebens, Professor Doutor da

Faculdade de Música da Universidade de Laval - Québec, Canadá. Para o início do trabalho,

James Lebens recomenda a “literatura Standard de excelência”. Apesar de ele não especificar,

acreditamos poder incluir na lista desta “literatura Standard de excelência” obras pedagógicas

como as de A. Lafosse, J. B. Arban, Peretti etc., já citadas anteriormente.

Sobre a idéia da utilização de melodias populares, ele acha que é sempre uma boa

idéia integrar repertório popular e clássico, estimulando o estudante a desenvolver com

propriedade sua percepção e domínio de estilos diferentes. James completa: “a partir do

começo, tente tocar música da melhor qualidade possível. Mesmo que seja uma peça para

iniciante que pode e deve, ser tocada de maneira a soar como se fosse uma das peças mais

representativas do repertório do trombone”. Sobre sugestões de complemento para a literatura,

ele indica o ‘Music Minus One’ (gravação contendo o acompanhamento de determinadas

obras, sem a parte solo) e diz ser uma excelente ferramenta para ajudar o aluno iniciante a

desenvolver sua capacidade de interpretação. Enfatiza: “escutar e imitar é crucial para o

aprendizado do iniciante”.

Ex-presidente da Associação Internacional de Trombonistas, o Norte americano

Steve Wolfinbarger, Dr. em Trombone Performance, diz: “meu método favorito para

iniciantes é o Elementary Method by Newell Long (conhecido como "Rubank Method.").

Também uso Walter Beeler, Method book 1 (Como acelerar o progresso do estudante

iniciante) ou o Tanner/Weber Trombone Student, book 1. Sobre a inclusão de melodias

populares na iniciação do trombonista ele argumenta: “certamente é uma boa idéia. Mas

inicialmente, a não ser que estas melodias estejam escritas, uma boa parte dos alunos não terá

habilidade de tocar de ouvido. Com estudantes de nível mais avançado que tenham pelo

menos três anos de experiência, eu exijo que alguns deles toquem de ouvido, em todas as

tonalidades, uma melodia simples que denomino de ‘canção da semana’. Pode ser algo como
39

‘Fere Jacques’, ‘Ode To Joy’ ou ‘Row, Row, Row Your Boat’ cuja estrutura melódica é

composta basicamente de graus conjuntos e arpejos na tônica e dominante. É uma boa

maneira de eles desenvolverem a percepção musical e praticar escalas e arpejos, aprendendo

como estes elementos compõem a melodia”.

Lyndon Brett Baker, primeiro trombone da Banda da Guarda Real Britânica,

recomenda o método ‘How trombone players do it’ de Peter Gane e Eric Crees. Sobre a

inclusão de melodias populares na iniciação do trombonista ele argumenta: “Acredito que

ensinar temas folclóricos, canções populares ou melodias conhecidas do repertório da música

erudita ajuda, sim, o aprendiz iniciante do trombone a desenvolver sua capacidade

interpretativa. Recomendo também tocar peças musicais que sejam divertidas como obras

fáceis da literatura do Jazz, transcrições da literatura do Cello e da Clarineta (Livros para

iniciantes)”.

Ricardo Cabreira da Universidade do Valle, Cali, Colômbia recomenda os

trabalhos pedagógicos do professor Gilberto Gagliardi, Arban, Bloom, Reixe, Blazevich

(estes últimos, claro, nas suas primeiras lições). Ricardo acha que o ensino de temas

folclóricos de domínio popular, ou o estudo das melodias mais conhecidas do repertório

erudito é importante para o desenvolvimento do senso interpretativo do aluno iniciante. Um

outro tipo de literatura que ele recomenda são duos para serem praticados com o professor.

Jiggs Whigham, professor Norte americano de jazz radicado na Alemanha,

recomenda os trabalhos de Bordoni/Rochut, The Jiggs Whigham ‘Trombone Book’ (Schott) e

aconselha: “ouvir muito e copiar grandes instrumentistas. Acredito que ensinar temas

folclóricos, canções populares ou melodias conhecidas do repertório da música erudita ajuda o

aprendiz iniciante do trombone a desenvolver sua capacidade interpretativa em 1000%”.

Dr. Pete Madsen, coordenador de estudos de jazz e professor de trombone assistente

da University of Nebraska in Omaha, escreve: “Eu acredito que tocar canções populares
40

ajuda, porque geralmente o aluno já conhece as melodias, outra coisa é que eles também se

divertem tocando a música ao invés de se preocupar só com os mecanismos de tocar o

trombone. Como não ensino a alunos iniciantes, não tenho nem um livro específico para

recomendar. Acredito que estimular o aluno a ir aos concertos e a ouvir gravações quando

jovens é crucial para seu desenvolvimento e continuidade do seu interesse”.

Dr. Carlos Eduardo Mello, Prof. de Trombone, Coordenador do Laboratório de

Tecnologia Musical do Depto. de Música - UnB, indica para alunos iniciantes os vocalizes de

Rochut e o método do professor Gagliardi e acredita que o domínio de temas folclóricos ou o

estudo das melodias mais conhecidas do repertório erudito e de domínio popular é essencial.

Sobre um complemento do literário para o aluno iniciante Carlos Eduardo aconselha: “estudar

peças de outros instrumentos, obras que o aluno goste de ouvir e tenha prazer em tocar

(mesmo que tenham que ser adaptadas para o trombone) Música de todo tipo de estilo, gênero

ou prática musical”.

Alciomar Oliveira, Mestre em Música e professor de trombone da UNB, escreve: “a

meu ver no Brasil, Gagliardi é acessível, porém cada professor deve e pode ter seu material

próprio para favorecer seus estudantes. Hoje em dia já contamos com as multimídias, que

também devem ser mais bem exploradas para o aprendizado”. Sobre o estudo de temas

folclóricos e melodias mais conhecidas do repertório popular e erudito ele diz: “não apenas

acho como acredito que é determinante, deve sim ser utilizado de maneira mais consciente

para favorecer o aprendizado”. Ele recomenda como suplemento uma “literatura que

complemente a música no seu aspecto mais universal, sem fronteiras ou preconceitos

castrativos”.

Júlio Rizzo da Orquestra Sinfônica de Porto Alegre sugere para alunos iniciantes os

trabalhos de Breeze-Easy method 1 - John Kinyon. (Warner Bros. Inc.); First Book of

Practical Studies for Trombone - Gerald Bordner. (Belwin Mills Publishing Corporation);
41

Método de Trombone para Iniciantes - Gilberto Gagliardi. (Ricordi Brasileira S/A). Ele acha

que o ensino de temas folclóricos de domínio popular, ou das melodias mais conhecidas do

repertório erudito, é fundamental e importante para o desenvolvimento do senso interpretativo

do aluno iniciante. Júlio complementa: “Acho que a maior parte do tempo um aluno de

trombone fica sozinho estudando e, por esta razão, recomendaria alguns métodos com ‘Play

Along’ (com CD), disponíveis no mercado”.

Renato Farias, Professor da FASM-Faculdade Santa Marcelina – São Paulo-SP,

recomenda para alunos iniciantes o Gilberto Gagliardi, método para Trombone (iniciantes) e o

Arban. Renato acha que o ensino de temas folclóricos de domínio popular, ou mesmo

melodias mais conhecidas do repertório erudito é importante para o desenvolvimento do senso

interpretativo do aluno iniciante. Um outro tipo de literatura que ele acha importante ser

aplicado no ensino do aluno iniciante do trombone é o repertório barroco e renascentista para

que o aluno saiba diferenciar os estilos.

Marcos Flávio, Mestre em Trombone e professor da Escola de Música a

Universidade Federal de Minas Gerais, recomenda os trabalhos de Gagliardi e Peretti. Sobre a

importância do ensino de temas folclóricos de domínio popular, ou mesmo melodias mais

conhecidas do repertório erudito, para o desenvolvimento do senso interpretativo do aluno

iniciante, ele diz: “Qualquer melodia conhecida e de gosto do aluno faz com que o

aprendizado seja otimizado”. Sobre outras literaturas que podem ser aplicadas no ensino do

aluno iniciante do trombone, Marcos Flávio argumenta: “Cada aluno deve ser tratado de

maneira individual, traços de personalidade, talento, idade influenciam muito na literatura

escolhida para o trabalho com o professor. É complicado traçar uma regra, pois cada aluno

responde diferentemente aos mesmos estímulos”.

Sérgio Rocha Mestre em Trombone e Professor da Universidade Federal de São

João Del Rei escreve: “Recomendo, com ênfase para treinamento básico voltado para os
42

parâmetros elementares (sonoridade, afinação, ritmo, dinâmica e articulação), os seguintes

métodos: Peretti, Serse. Método para Trombone de Vara; e Gagliardi, G. Método para

Trombone a Vara”. Na questão sobre o ensino de temas folclóricos de domínio popular, ou

mesmo melodias mais conhecidas do repertório erudito e sua importância para o

desenvolvimento do senso interpretativo do aluno iniciante, Rocha argumenta: “Sem dúvida,

acho fundamental, a exemplo do que PAULO FREIRE passou a vida defendendo, que os

conteúdos do ensino sejam adaptados à realidade de cada aluno. A questão é estimular o

ganho de informações culturais de cada aluno para que esse tenha, cada vez mais, uma visão

progressivamente mais abrangente sobre o seu fazer artístico”. Sobre uma literatura

alternativa, comenta: “Os materiais disponíveis hoje em dia são muito diversos. Existe um

método de Duos que, em seu volume I, apresenta uma série de duos simples e de grande

importância para o desenvolvimento da percepção musical praticada com o colega. Além dos

métodos e peças, recomendaria a escuta crítica de CD’s, vídeos, DVD’s e outras mídias; a

participação sistemática, se possível, em Encontros de Trombonistas, ainda que regionais,

para a troca de materiais. Os Encontros são uma ótima forma de se estimular o interesse por

novos materiais”.

2.7 Estudo Comparativo das metodologias pedagógicas empregadas nos métodos para

alunos iniciantes no trombone de André Lafosse e Gilberto Gagliardi

A nossa experiência enquanto estudante do curso de trombone a nível de extensão e

o posterior trabalho como monitor, acompanhando os novos alunos matriculados na classe de

trombone do DeMús da UFPB, todos iniciados através do método de A. Lafosse, levou-nos a

realizar experiências com alunos iniciantes, com os quais aplicamos de modo comparativo, os

métodos de trombone para iniciantes de André Lafosse e Gilberto Gagliardi, que

consideramos mais apropriados para o trabalho com iniciantes. Para tanto, elaboramos um
43

projeto intitulado “Projeto de realização de estudos especiais: experimentos pedagógicos na

iniciação ao trombone” que substituiu a disciplina optativa do segundo semestre de 2005 no

Curso de Mestrado do PPGM do Departamento de Música da UFPB. Através desse projeto

também observamos a eficácia de alguns exercícios clínicos a serem incluídos no produto

final do nosso projeto de pesquisa o “Método de Educação a Distância para o ensino dos

fundamentos teóricos e práticos da iniciação ao trombone”, cadastrado neste Programa.

O trabalho de pesquisa contou com a participação dos alunos de extensão Eltom

Eufrásio da Silva Melo (dezenove anos), Poliana Maia (vinte e dois anos), Thiago Pereira (16

anos). Durante a pesquisa realizada com estes alunos, acompanhamos o desenvolvimento de

cada um dentro dos parâmetros regulares de aula oferecida pelo DeMús para alunos de

trombone, onde os mesmos são atendidos individualmente duas vezes por semana para o

acompanhamento do desenvolvimento das lições de método e aprendizado das escalas

maiores e suas relativas menores harmônicas, segundo a organização do pedagogo francês

André Lafosse.

Os três alunos participantes da pesquisa têm peculiaridades distintas que achamos

importante destacar. Vamos começar com o sujeito 1, que foi o motivador para o

requerimento da referida pesquisa e com o qual usamos o volume I do Método de André

Lafosse. O sujeito 1 tem um censo rítmico que lhe permite discorrer sobre os estudos do

método sem maiores complicações para seu nível, porém queixava-se de desconforto na

produção do seu som e de não conseguir alcançar o registro médio agudo do trombone. Dizia

estar sentido uma sensação de que o instrumento poderia está com algum tipo de entupimento.

Esta sensação descrita pelo sujeito 1 foi também o motivo inicial de minha quase desistência

do estudo do trombone e, por conseguinte, da música.

Entender os motivos deste desconforto para oferecer uma solução instigou nosso

trabalho, através do qual verificamos não existir dificuldade de ordem física que gerasse o
44

desconforto descrito por Eltom, na produção do seu som, mas sim, uma dificuldade para

definir e reproduzir os sons. Chegamos a esta conclusão após pedir-lhe que cantasse as frases

do exercício. Como esta tarefa pareceu difícil e muito desconfortável, propomos-lhe cantar

uma melodia sua conhecida e então verificamos que o sujeito 1 na verdade tinha apenas um

problema de percepção musical. Para tentar ajudá-lo a aprimorar sua percepção musical,

propomos inicialmente que ele cantasse algumas notas com o piano ignorando o nome destas

e apenas concentrando-se no som que deveria reproduzir em uníssono com o piano. Superada

esta etapa, sugerimos que este sujeito praticasse a entonação com a referência do som emitido

pelo trombone, já que este é o objetivo final do trabalho. Estimulamos também o sujeito 1 a

usar o trombone como referencial, para que o mesmo se habituasse ao som e timbre do

instrumento ajudando assim na prática do solfejo. Após duas semanas de trabalho,

mantivemos seções com a duração de uma hora; trabalhamos escalas e graus conjuntos

harmonizados ao piano por acordes de tríades em estado fundamental, gerando um campo

harmônico que facilitou o trabalho de entonação desse sujeito. Ao fim de um mês de rotina

semanal, os sinais de adaptação ao solfejo tornaram o sujeito 1 mais seguro em relação a sua

percepção musical e conseqüentemente mais preciso na afinação do trombone. Para

continuidade do trabalho, o aluno foi encaminhado a uma turma de iniciação a teoria e solfejo.

O caso do sujeito 1 reforça uma prática pedagógica muito aplicada atualmente, cujo

princípio está em estimular o aluno a adquirir cada vez mais consciência sobre seu objeto de

estudo, ou seja, o quê, quando, como e com quem estudar. Segundo o médico e neurocientista

Iván Izquierdo (IZQUIERDO, 2004, p. 87) “[...] não existe a menor dúvida de que na

aquisição e na evocação de todas as memórias de curta e longa duração participa ativamente e

de maneira essencial a memória de trabalho [...]”. De maneira geral, relevamos esta

informação para enfatizar a importância da prática diária e das referências que temos para a

formação da memória de trabalho e a desenvoltura em lidar com novos elementos. Na fase


45

inicial do aprendizado, a convivência do aluno em um ambiente freqüentado por vários

trombonistas dos mais variados níveis, adicionada à pratica de exercícios de escalas com o

apoio harmônico do piano é imprescindível, na medida em que oferece uma referência

auditiva necessária para tornar o som emitido pelo aluno mais próximo do som desejado.

Trabalhada a dificuldade de solfejar do sujeito 1, voltamos ao trabalho com o

Método do A. Lafosse, cujo material foi elaborado em combinações de intervalos e registros

que permitem uma emissão confortável dos sons nos estudos iniciais, porém, acreditamos

estar estes elementos pensados para uma suposta realidade onde o estudante tem acesso prévio

ao solfejo na sala de aula; ao ouvir concertos dos mais variados gêneros, incluindo

regularmente a música sinfônica. Tudo isso, somado ao interesse do estudante, pode tornar o

aprendizado mais sólido, mesmo que estas referências sejam absorvidas inconscientemente. A

adaptação do sujeito 1 ao Método do Lafosse aconteceu dentro da normalidade.

Experimentamos a metodologia pedagógica do método para aprendizes iniciantes do

trombone do Professor Gagliardi com o sujeito 2. Nas seis aulas, com duração de meia hora

cada, o aluno teve suas primeiras noções de notação e leitura musical, apresentando

desenvoltura e rápida assimilação dos exercícios. Para cada posição na técnica da vara do

trombone, inicialmente, o método de Gagliardi não trabalha com o sexto harmônico que seria

o ‘F’ do terceiro espaço suplementar superior da clave de Fá, tomando como exemplo a

primeira posição e considerando o pedal como referência fundamental do trombone. Sobre a

desistência do aluno, podemos relevar que fatores sociais de ordem econômica infelizmente

sobrepõem-se a vontade de estudar, o que não nos convém aprofundar neste trabalho.

A terceira pessoa que atendeu ao nosso convite para participar da pesquisa, estudou

trombone em uma rotina semanal organizada para ser realizada apenas com a presença do

professor. Ela não dispunha de instrumento, nem tinha pretensão de se tornar trombonista,

portanto seu caso serviu para experimentarmos e avaliarmos o quanto de informação um


46

aluno poderia reter a cada seção com a duração de trinta minutos, sem ser-lhe apresentado

nenhum dos procedimentos habituais para iniciação de um aprendiz da classe de trombone

DeMús, como informações sobre respiração, postura, embocadura, etc. Simulamos a realidade

de uma pessoa que não pode levar o instrumento para casa e que vai aprender a tocar o

trombone apenas observando e/ou escutando um instrumentista mais experiente. Também não

lhe foi apresentado qualquer material escrito a fim de observar quanto de informação ela

poderia reter de forma descompromissada com o estudo do trombone e sem nenhuma

referência, a não ser sua própria memória.

Nesse experimento, a aluna apenas foi incentivada a cantar cada exercício, tocar com

o trombone da maneira mais a vontade possível e observar atentamente nossa performance

para posteriormente imitá-la com seu trombone.

Consideramos o resultado desta experiência positivo, pois mesmo não praticando em

casa e apenas tendo acesso ao trombone em duas seções semanais de meia hora, rapidamente

o som dessa aluna adquiriu consistência, tendo uma sonoridade homogênea, nos registros

médio e grave. É especialmente válido ressaltar que este sujeito já tinha adquirido

conhecimentos musicais antes desta pesquisa e, mesmo não tendo idéia dos nomes dos sons

que estava projetando através do trombone, foi capaz de reproduzi-los cantando em um

registro cômodo a sua voz. Através desta experiência entendemos que uma boa formação da

percepção aliada a uma sólida referência de interpretação e domínio do instrumento constitui

uma estratégia eficiente para o estudo e desenvolvimento do trombonista.


47

3 Apresentação dos trabalhos realizados e resultados obtidos através da

pesquisa de campo em Sousa-PB.

Finalmente, depois de dissertar sobre história, teorias e metodologias pedagógicas da

Educação a distância, pedagogia do trombone, e analisar as respostas do questionário

pedagógico enviado por e-mail para professores de várias partes do Brasil e do mundo,

chegamos ao ponto de realização da pesquisa de campo. A partir da análise dos resultados

desta pesquisa, elaboramos o Método de Educação a Distância para o Ensino dos

Fundamentos Teóricos e Práticos do Trombone para Iniciantes. Programamos, portanto,

para este capítulo, uma análise simples das respostas adquiridas com a aplicação das

entrevistas da pesquisa de campo destinadas aos alunos do naipe de trombone da Banda

Marcial Elieu Nunes Rodrigues, da Escola Agrotécnica Federal de Sousa.

A pesquisa dividiu-se em cinco visitas, compreendendo o período de agosto a

dezembro de 2005. Levamos a campo cinco fitas VHS gravadas no Auditório do

Departamento de Música da Universidade Federal da Paraíba, nas quais incluímos o material

de estudo que também descreveremos neste capítulo e que em sua maior parte compõe o

trabalho final citado acima. Cada visita, para entrega das fitas VHS contendo o material

didático de estudo da pesquisa, foi precedida de um momento de esclarecimento a respeito da

utilização do método (as fitas e textos explicativos), entrevistas com perguntas a respeito do

conteúdo das fitas, sendo estas com a finalidade de avaliar o conhecimento dos alunos sobre

os assuntos incluídos nas fitas VHS e, em um segundo momento (normalmente na ocasião da

entrega de um novo conteúdo), avaliar a assimilação do conteúdo pedagógico estudado.

Documentamos através de registros escritos (entrevistas para avaliação de aprendizagem) os

estágios de desenvolvimento da pesquisa, para melhor fundamentarmos as decisões finais de

elaboração do nosso Método de Educação a Distância para o Ensino dos Fundamentos


48

Teóricos e Práticos do Trombone para iniciantes. Os procedimentos descritos acima e

arquivados para análise, seguem como anexo deste trabalho.

3.1 Análise dos resultados da aplicação do material didático (Fitas, Método de A.

Lafosse - Vol. 1) e dos questionários da Pesquisa de Campo.

A aplicação do material didático e das entrevistas da pesquisa de campo abrangeram

diversos aspectos. Começamos pela coleta de dados individuais dos alunos como: idade,

motivos pelos quais os alunos escolheram o trombone, verificação do nível de conhecimento

teórico musical e de prática do instrumento e motivação que os levou a integrar a banda

Marcial Elieu Nunes Rodrigues. Em cada entrevista, sugerimos que os alunos falassem a

respeito de suas dúvidas e sugestões para melhorar o material didático aplicado com eles, com

o propósito de aprimorar o conteúdo final das fitas que formam o corpo principal do método

de Educação a Distância para alunos Iniciantes no estudo do Trombone. A ordem do conteúdo

gravado nas fitas para a aplicação da pesquisa de campo com os alunos da Banda Marcial

Elieu Nunes Rodrigues foi decidida considerando-se alguns aspectos prioritários de

ensinamento dos fundamentos básicos do instrumentista de sopro. Verificou-se, durante a

aplicação do conteúdo da segunda fita, a necessidade de reforço da parte teórica e por esta

razão elaboramos também uma fita com conceitos teóricos básicos para melhorar o nível de

leitura elementar dos alunos, que foi anexada ao conteúdo programado para a terceira fita de

vídeo.

3.1.1 Primeira Visita da Pesquisa de Campo (08/08/2005).

Para realização da pesquisa de campo organizamos uma equipe, da qual

participamos, juntamente com o orientador da pesquisa, prof. Dr. Radegundis Feitosa Nunes e

o cinegrafista Egon Andrés Fiqueroa Elgueta. Na primeira visita, levamos a primeira


49

entrevista, orientação disciplinar, instruções de uso do material didático, cópia do método A.

Lafosse - Vol. 1 e a 1ª Fita VHS da pesquisa de campo.

3.1.2 Análise das respostas da entrevista aplicada na primeira visita de campo.

Nesta análise, objetivamos coletar dados individuais tangíveis como idade, endereço,

tempo de estudo, conhecimento técnico e de repertório do trombone e dados intangíveis como

o porquê da escolha do trombone e motivações para o ingresso na Banda Marcial Elieu Nunes

Rodrigues. Os fatores que dificultam o desenvolvimento musical do alunado na região

também foram questionados, como por exemplo, a falta de professor de instrumento e teoria

musical.

Consideramos também o fato de que nenhum aluno possui instrumento próprio nem

dispõe de escola especializada no seu objeto de estudo, dificultando assim seu aprendizado.

Participaram seis alunos com idade entre dez e vinte e um anos, todos do sexo masculino,

sendo que, quatro dos participantes moram nas dependências do internato da EAFS, um nas

proximidades desta e um no Núcleo Dois. Todas estas localidades fazem parte do perímetro

irrigado de São Gonçalo, distrito que está localizado a quinze quilômetros da cidade de Sousa.

Observamos que estes escolheram o instrumento por curiosidade ou por acharem o

instrumento bonito, conforme a fala de um deles: “pela beleza, curiosidade”.

O tempo de contato com o instrumento é um fator de grande alternância entre os

participantes iniciantes: um deles nunca tinha tocado o trombone até o momento de nossa

pesquisa, outros já tocavam o instrumento há dois ou mais anos. Verificamos que, antes desta

pesquisa de campo, 50% dos alunos já tinham tido contato temporário com professores

especializados de trombone enquanto os outros 50% não tiveram esta oportunidade. Apenas

um dos trombonistas respondeu conhecer um método de trombone. Questionados sobre a

participação em grupos musicais como orquestras, bandas e outras formações, os integrantes


50

da pesquisa responderam estar familiarizados apenas com as atividades da Banda Elieu Nunes

Rodrigues, como também apenas conhecer o repertório desta banda. 100% dos participantes

da pesquisa apontaram à falta de escola especializada, instrumento (trombone) e de recursos

financeiros, como fatores que dificultavam o seu aprendizado.

3.1.3 Orientações disciplinares e instruções de uso da fita VHS e do Método de

Trombone de A. Lafosse - v. 1.

Este item serviu como uma espécie de “manual de instruções de uso do material

didático” para o aluno. Recomendamos aos alunos Ver/Ouvir o conteúdo da fita, por

completo, por pelo menos 15 dias do mês (sugerimos dia sim, dia não). Na primeira semana,

praticar regularmente 01 hora diária (podendo ser dividida em três seções de 20 minutos

cada), pelo menos, exercícios de postura, respiração, vibração dos lábios e produção dos

primeiros sons com o bocal e instrumento, tudo de acordo com o demonstrado na fita. Na

segunda semana, deveria ser feita revisão dos exercícios de postura, respiração, vibração

labial e produção dos sons com o bocal e iniciar os estudos (também pelo menos 01 hora por

dia, como sugerido acima) sobre as notas das 1ª e 2ª posições, conforme o demonstrado na fita

e usando o método sugerido (A. Lafosse, v. 1, começando na pg. 03) exercícios 01, 02, 03 e

04 para notas da primeira posição e exercícios 05, 06, 07 e 08 para notas da segunda posição.

Na terceira semana, fazer revisão dos exercícios de postura, respiração, vibração labial e

produção dos sons com o bocal e iniciar os estudos (também pelo menos 01 hora por dia,

como sugerido acima) sobre as notas das 3ª, 4ª e 5ª posições, conforme o demonstrado na fita

e usando o método sugerido (A. Lafosse, v. 1) exercícios 11, 12, 13, 14 para notas da terceira

posição, exercícios 19, 20, 21, e 22 para notas da quarta posição e exercícios 26, 27, 28, e 29

para notas da quinta posição. Na quarta semana, fazer revisão dos exercícios de postura,

respiração, vibração labial e produção dos sons com o bocal e iniciar os estudos (também pelo
51

menos 01 hora por dia, como sugerido acima) sobre as notas das 6ª e 7ª posições, conforme o

demonstrado na fita e usando o método sugerido (A. Lafosse, v. 1) exercícios 33, 34, 35, 36

para notas da sexta posição e exercícios 40, 41, 42, e 43 para notas da sétima posição.

Visando disciplinar os estudos e o aprendizado diário do aluno, recomendamos que a

rotina de estudos descrita acima, fosse seguida rigorosamente por alunos de nível iniciante.

3.1.4 Descrição do material didático gravado na primeira fita cassete:

A primeira fita abordou, em seu primeiro item, o estudo e demonstração da postura

correta para tocar o trombone em pé e sentado. Em seu segundo item a fita didática tratou da

respiração, demonstrando os procedimentos para a inspiração e expiração necessários ao ato

de tocar o trombone, exemplificando através de exercícios o ato de soprar o ar o mais

corretamente possível no instrumento. Ainda foi tratado no conteúdo da primeira fita, como

terceiro item, a vibração labial e seu procedimento de prática nos registros graves, médios e

agudos através de vibrações lentas, médias e rápidas, respectivamente. Na continuidade do

item sobre as vibrações, foram abordados os procedimentos de como soprar no bocal, com

demonstrações das vibrações lentas, médias e rápidas com o bocal, seguidas de um estudo

para a prática das combinações destas vibrações. Após o estudo das vibrações labiais e com o

bocal, chegamos ao quarto item que tratou da produção dos primeiros sons do trombone.

Incluímos, portanto, neste item, exercícios demonstrativos de como o aluno encontrar um

primeiro som mais fácil de produzir no trombone e uma demonstração para estimular o aluno

a encontrar uma dinâmica adequada para o estudo dos primeiros exercícios do primeiro

volume do método para iniciantes de André Lafosse.


52

3.1.5 Resultados da 1ª. visita

3.1.5.1 Avaliação de aprendizagem do conteúdo pedagógico da primeira fita VHS,

entregue na primeira visita de campo (por ocasião da segunda visita de campo em

19/09/2005)

Após entrevistar os alunos sobre o conteúdo da fita VHS, aplicação dos exercícios e

práticas recomendadas na primeira visita da pesquisa de campo, pudemos observar o

aprendizado do aluno com relação aos exercícios de postura e respiração contidos nesta.

Verificamos que neste primeiro estágio, a assimilação do conteúdo foi satisfatória, baseando-

se nas observações e respostas da entrevista sobre a assimilação do conteúdo da primeira fita

VHS. Vejamos algumas das respostas dos alunos sobre o item postura: “Sei que devo sentar

com a coluna reta e ficar em pé reto, sei também como segurar o trombone e que não devo

tocar para baixo”; Sobre respiração: “Devemos respira lento como nos exercícios e soprar

bem à vontade, procurar respirar pela boca para tocar o trombone”; sobre vibração labial:

“Tem a vibração lenta, média e rápida que é a mesma coisa que se faz com o bocal, grave,

médio e agudo”; sobre as notas das posições do trombone: “na primeira posição tem o Sib, Fá,

Sib, Ré, Fá, na segunda tem o Lá, Mi, Lá, Dó sustenido e o Mi agudo”. Partindo destes dados,

concluímos ter havido uma assimilação em torno de 80% e acreditamos que a prática

disciplinada num espaço maior de tempo elevará, com certeza, o nível de maturidade e

domínio deste conteúdo pelos alunos. Estimulamos também os alunos a fazer observações

críticas sobre o conteúdo pedagógico de cada fita e, já neste primeiro estágio, um dos alunos

deu sua contribuição sugerindo o aperfeiçoamento da dicção nas gravações e que fossem

fornecidos, escrito numa apostila, todos os textos das vídeos-aulas como material adicional.

Estas sugestões foram de grande importância, pois com elas constatamos o interesse dos

integrantes da pesquisa em aprimorar o material didático para uma melhor assimilação.


53

Concluímos, também, existir a necessidade de um material suplementar de teoria musical

básica para ajudar os alunos na assimilação do conteúdo das fitas.

3.1.6 Segunda visita de campo. (19/09/2005)

Para a segunda visita de campo, preparamos uma entrevista e uma fita VHS

abordando assuntos sobre a limpeza e manutenção do instrumento (trombone), elementos

importantes para realização de uma boa performance e metodologia disciplinar de como

estudar os exercícios do método (André Lafosse, v. 1).

3.1.6.1 Descrição do conteúdo da segunda fita levada a campo.

A segunda fita abordou em seu primeiro item a limpeza e manutenção do trombone

e, portanto, incluímos os procedimentos mais adequados, utensílios e lubrificantes necessários

para tal fim. O segundo item incluído na fita apresentou definições, com demonstrações

práticas, sobre alguns elementos importantes para realização de uma boa performance: ritmo,

notas, técnica, estilo/fraseado e postura de performance. Como terceiro item, incluímos uma

metodologia disciplinar de como estudar os exercícios do método (André Lafosse, v. 1).

3.1.6.2 Análise das respostas da entrevista aplicada na segunda visita de campo.

Para a segunda visita de campo, foi elaborada uma entrevista que levantou os

conhecimentos acerca da limpeza e manutenção do trombone. 50% dos alunos demonstraram

ter uma vaga idéia de como fazer a limpeza e manutenção do trombone. Questionados sobre

os elementos da música que eles achavam importantes ter domínio sobre para realização de

uma boa performance musical, observamos, apesar de todos citarem a respiração, haver uma

grande variedade de opiniões, como podemos verificar nas respostas de alguns deles:

“exercícios, respiração e da a nota no tempo certo e na hora h”; “respiração, limpeza,


54

aquecimento e estudo; “respirar bem”. Concluindo a entrevista da segunda visita de campo, os

alunos responderam unanimemente não ter estudado nenhum método. No material didático

levado a campo nesta visita, constava ainda um guia de utilização da segunda fita entregue

naquela ocasião.

3.1.6.3 Avaliação de aprendizagem do conteúdo pedagógico da segunda fita VHS,

entregue na segunda visita de campo (por ocasião da entrega da terceira fita em

06/10/2005).

A assimilação sobre os procedimentos de limpeza e manutenção do trombone foi

efetiva, como podemos ver nas respostas dos alunos a seguir: “Deve-se desmontar o trombone

e lavar com água morna e sabão neutro, para lubrificar a vara usar um pedaço de pano para

retirar a sujeira da vara e o ferro de limpeza com um pedaço de pano preso na ponta para

limpar por dentro da vara”. Contudo, o aprendizado sobre os elementos fundamentais da

performance não foram totalmente assimilados, como podemos ver na resposta deste mesmo

aluno: “Ritmo, técnica e postura”; sobre a sugestão de como estudar o Método para iniciantes

de André Lafosse. Outro aluno demonstrou ter assimilado bem este item, conforme sua

resposta: “Sim sei que devemos estudar de compasso em compasso e depois as frases e olhar

a clave, o tom e o compasso”. Após conversarmos com os participantes da pesquisa,

passamos a creditar a dificuldade de assimilação ao não cumprimento das rotinas sugeridas,

justificadas pela inexperiência na administração do tempo e carga de compromissos

particulares e coletivos dos alunos nas funções e deveres da escola e da banda, no decorrer

desse período. Após esta experiência, ficou claro que para alunos iniciantes a monitoria das

atividades propostas pelo método que elaboramos seria imprescindível para o sucesso do

trabalho. O auxílio de um monitor para disciplinar os alunos nos momentos de assistir às

seções das gravações e orientá-los na organização do tempo de prática das atividades


55

sugeridas se fez necessário e para esta finalidade foi nomeado um dos alunos que se

prontificou a ajudar no trabalho de monitorar os colegas na realização das etapas seguintes da

pesquisa. Ainda nesta visita, constatamos que um dos integrantes do grupo de alunos

selecionados para realização da pesquisa afastou-se do projeto, pois com o nascimento de seu

filho precisou intensificar o trabalho como agricultor deixando também a Banda Marcial Elieu

Nunes Rodrigues.

3.1.7 Terceira visita de campo. (06/10/2005)

Para a terceira visita de campo, elaboramos duas entrevistas. Uma primeira com a

finalidade de analisar os conhecimentos teóricos básicos dos alunos participantes da pesquisa

e uma segunda, abordando assuntos sobre exercícios clínicos para aquecimento do corpo e da

técnica de tocar o instrumento.

3.1.7.1 Análise das respostas das entrevistas sobre teoria musical e exercícios clínicos

para aquecimento do corpo e da técnica de tocar o instrumento, aplicados na terceira

visita de campo.

Esta entrevista teve como objetivo medir o nível de conhecimento teórico musical e

sobre exercícios clínicos adequados para o aquecimento do corpo e da técnica do instrumento

dos alunos envolvidos na pesquisa. Na parte da teoria musical, a ordem das perguntas seguiu

o raciocínio da leitura de uma partitura, começando pela identificação de alguns itens como:

pentagrama, clave, tonalidade, compasso, figuras rítmicas, andamento, dinâmica e articulação.

Vejamos uma das respostas sobre pentagrama: “pentagrama são as cinco linhas da partitura

onde se escreve as notas musicais”; sobre o conceito de clave: “a clave é a figura que aparece

no início do pentagrama para indicar em que clave esta escrita a música”. Outros alunos

definiram o conceito de pentagrama e clave com suas representações gráficas. Vejamos as


56

resposta de um outro sobre figuras musicais: “existe a semibreve, mínima, semínima etc.” As

perguntas sobre os conceitos de dinâmica e articulação como também a identificação das

tonalidades foram os quesitos que apenas um dos quatro entrevistados respondeu.

Observamos, através das respostas nesta etapa, que alguns dos entrevistados demonstraram ter

uma noção básica dos conceitos teóricos musicais elementares para a leitura de uma partitura,

enquanto outros não tinham conhecimento destes elementos e, portanto, fazia-se necessária à

inclusão de uma vídeo-aula sobre elementos teóricos musicais básicos. Na parte dos

exercícios clínicos adequados para o aquecimento do corpo e da técnica do instrumento,

pudemos averiguar que os participantes da pesquisa não sabiam explicar o que exatamente era

um exercício clínico, mas tinham noção de como tocar alguns destes.

Quando questionados sobre quais exercícios clínicos sabiam fazer, as respostas

variaram entre estudos de respiração e notas longas. Na continuidade, perguntamos sobre os

pontos de referência para localização das posições na vara do trombone e apenas um aluno

descreveu: “o ponto de referência que eu sei é a campana e a bucha da vara“. Perguntamos se

os alunos conheciam algum estudo para a produção dos sons graves e agudos do trombone.

Um deles respondeu: “faço alguns estudos que eu mesmo inventei e outros que não sei o

nome”. Sobre esta mesma pergunta outro respondeu: “exercício de respiração e vibração

labial quanto o mais lento e mais ar melhor o som” (para os graves), e sobre os agudos ele diz:

“exercícios de vibração labial aguda sem bocal e com bocal e depois com o instrumento,

quanto mais ar e pressão melhor ao som”. Sobre o conhecimento por parte dos alunos de

algum estudo para o desenvolvimento da técnica de movimentos da vara do trombone, apenas

um deles respondeu dizendo: “Acho que sim” (entendemos como o sentido de conhecer).
57

3.1.7.2 Descrição dos conteúdos pedagógicos contidos nas vídeos-aulas de teoria musical

e sobre os exercícios clínicos para aquecimento do corpo e da técnica de tocar o

instrumento, levada a campo na terceira visita.

Este material foi elaborado após avaliarmos a dificuldade de compreensão dos alunos

sobre alguns elementos teóricos básicos contidos no método que estávamos a desenvolver.

Nesta fita, apresentamos as definições e exemplos do estudo da pauta, claves, tonalidades,

compassos, figuras rítmicas, pontos de aumento, ligadura de tempo, andamentos e dinâmicas.

Na parte referente aos exercícios clínicos para aquecimento do corpo e da técnica de tocar o

instrumento, incluímos sugestões de como buscar a produção dos primeiros sons, exercícios

clínicos para aprimoramento das flexibilidades (articulação, fluência nas mudanças de

registros graves, médios e agudos), estudos para aprimoramento das notas graves

fundamentais (pedais), estudos para aprimoramento das notas agudas e estudo das escalas

maiores e menores harmônicas na ordem sugerida por A. Lafosse.

3.1.7.3 Avaliação de aprendizagem do conteúdo pedagógico da terceira fita VHS (por

ocasião da quarta visita de campo em 21/11/2006)

As respostas dos alunos neste estágio da pesquisa nos leva a concluir que houve uma

assimilação em torno de 80%. Sobre o tópico que tratou do complemento teórico para leitura

elementar de uma partitura, as respostas denotaram para nós que os entrevistados assimilaram

efetivamente vários dos conceitos que descrevemos na Terceira fita VHS, como podemos

observar na resposta de um aluno: “pentagrama é onde se escreve as notas”; sobre a

identificação das tonalidades: “tonalidade é o nome da escala eu sei que quanto não tem

acidente só pode ser dó maior ou lá menor e com dois bemóis é si bemol maior ou sol

menor”; sobre o item compasso: “compasso diz quantos tempos tem dentro do compasso,

exemplo: dois por quatro, três por quatro, quatro por quatro”; sobre o item figuras musicais o
58

mesmo aluno responde: “semibreve tem quatro tempos, semínima um tempo, mínima dois e

colcheia meio tempo”; sobre o tópico andamento, outro responde: “é a velocidade que

devemos tocar a música rápida se for alegro, mais ou menos se for andante e lento se for

lento”; sobre o item dinâmica: “são marcadas pelo símbolo de piano e forte”; sobre o item

articulação um outro responde: “articular é tocar as notas diferentes como no estacato”.

Sobre o tópico dos exercícios clínicos para aquecimento do corpo e da técnica de

tocar o instrumento, obtivemos as seguintes respostas: “São exercícios que temos que fazer

todo dia para tocar bem”; sobre os pontos de referência para localizar as posições na vara do

trombone o mesmo responde: “a campana, a vara fechada, a bucha da vara são para saber

onde ficam as posições”. Vejamos a resposta de outro aluno sobre as correções das posições

na vara do trombone: “na primeira posição só o ‘Fá’ abre e na segunda o ‘Mi’ é pra baixo o

‘Dó’ sustenido e para cima e o lá está no meio, as outras são iguais”; no item sobre exercícios

para o estudo e desenvolvimento dos registros agudos e graves, as respostas são consonantes

com a nossa proposta. Vejamos outra resposta: “estudar as oitavas começando na sétima

posição” (sobre os agudos) e “tocar a nota grave e depois tocar os pedais” (sobre os graves

fundamentais ou pedais). Perguntamos também sobre qual o exercício adequado para

desenvolver a técnica de movimentos da vara do trombone. Obtivemos respostas como :

“estudar as escalas todo dia”.

3.1.8 Quarta visita de campo (21/11/2006)

Para a quarta visita de campo levamos uma entrevista sobre algumas melodias

brasileiras que seriam estudadas pelos alunos nesta etapa e a fita VHS com as demonstrações

de como estudar estas melodias. Incluímos ainda, juntamente com a fita levada a campo, uma

cópia manuscrita de cada melodia (partitura) para o estudo dos alunos.


59

3.1.8.1 Análise da entrevista aplicada na quarta visita de campo.

Perguntamos aos alunos se eles conheciam ou até se já sabiam tocar alguma das

melodias a serem estudadas e descobrimos, através de suas respostas, conhecerem

aproximadamente 50% destas melodias. Um aluno respondeu: “conheço apenas pedaços das

melodias que tocamos na banda como o Hino Nacional e Asa Branca”. Concluímos que,

mesmo considerando o aprendizado das vídeos-aulas anteriores a esta, ainda era preciso

estimular os alunos a pôr em prática este aprendizado, demonstrando como exercitar, através

da fita nesta etapa, a aplicação destes conhecimentos para conseguir o domínio na

performance destas melodias.

3.1.8.2 Descrição do conteúdo da quarta fita

A finalidade desta fita é proporcionar ao aluno um pouco de prática da percepção

auditiva através do estudo de melodias conhecidas. Selecionamos seis melodias brasileiras

bastante conhecidas e de estilos diferentes: Hino Nacional do Brasil, Branca (valsa), Asa

Branca (baião), Bandeira Branca (marcha rancho), Carinhoso (choro canção), Qui nem Giló

(um forró). Fizemos a demonstração de como estudar três delas: Hino Nacional do Brasil,

Branca (que é uma valsa) e Asa Branca (que é um baião). A recomendação para o

procedimento de estudo deveria ser igual ao demonstrado para o estudo dos exercícios do

primeiro volume do método de André Lafosse, já estudado no conteúdo da terceira fita.

Demonstramos como estudar as três primeiras frases e recomendamos aos alunos adotar o

mesmo procedimento para o estudo das frases restantes.


60

3.1.9 Quinta visita de campo (02/12/2006)

Esta última visita foi basicamente programada para fazer o encerramento formal da

pesquisa de campo e também avaliar o aprendizado dos alunos sobre o material estudado da

quarta e última fita da pesquisa.

3.1.9.1 Avaliação do aprendizado sobre o conteúdo pedagógico da quarta fita VHS

entregue na quarta visita de campo (por ocasião do encerramento da pesquisa de

campo)

Dois alunos apresentaram a melodia do Hino Nacional do Brasil e um outro

apresentou a melodia de Asa Branca. Constatamos haver uma maior precisão dos movimentos

da vara do trombone destes alunos e uma afinação mais apurada, restando apenas o

prosseguimento destes estudos para o contínuo desenvolvimento de suas habilidades técnicas

e interpretativas.
61

CONCLUSÃO

“Ninguém educa ninguém, ninguém educa a si mesmo. Os homens se educam entre

si mediatizados pelo mundo” (FREIRE, 1982, p. 78). E o mundo que tomamos para mediar a

aprendizagem foi formado pela soma das questões pedagógicas da educação do trombone

para iniciantes (nosso objeto de estudo) e as teorias da Educação a Distância (nossa

ferramenta de aplicação). Encontramos uma maneira de elaborar, fundamentando e

organizando de forma convincente, um Método de Educação a Distância para o ensino dos

fundamentos teóricos e práticos do Trombone para iniciantes.

Buscar conhecimentos na área da Educação a Distância nos ajudou a encontrar

caminhos para organização da infra-estrutura do método. Por exemplo, depois de ter lido e

dissertado sobre sua história, desenvolvimento, metodologias pedagógicas e sua

aplicabilidade no mundo contemporâneo, pudemos definir o método de gravação em fita VHS

(ou DVD) acompanhado de textos explicativos, como a ferramenta de ensino a distância mais

apropriada para o sucesso da aplicabilidade do nosso método. Buscamos os fundamentos

pedagógicos necessários para compor o corpo do trabalho através da realização de estudos

comparativos dos métodos de André Lafosse e Gilberto Gagliardi, aplicados com alunos do

curso de extensão do DeMús da UFPB e concluímos que a obra do primeiro pedagogo citado,

mais utilizada no dia a dia pelos professores de Trombone do DeMús, há aproximadamente

vinte e cinco anos, tem resultados indiscutivelmente satisfatórios, mas que, acrescida de

alguns itens do método do professor G. Gagliardi, elevará ainda mais o nível de satisfação

com os resultados de desenvolvimento dos alunos iniciantes, pois inclui em seu conteúdo

algumas particularidades mais direcionadas para formação e atuação profissional de

trombonistas brasileiros.

Sobre a análise das respostas do questionário pedagógico enviado por e-mail à

professores de várias partes do mundo, surpreendemo-nos com a linguagem empírica, mas de


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grande profundidade pedagógica de alguns professores de indiscutível reputação, como o

Jiggs Whigham e com o rigor e minúcia sistemática de jovens pedagogos como Sérgio Rocha.

Concluímos, através das diferentes metodologias pedagógicas destes e dos demais

entrevistados, que o ponto em comum da atualidade pedagógica do trombone é o dever de dar

a possibilidade de desenvolver o estudo do aluno ao seu tempo, priorizando acima de tudo a

sua individualidade e estimulando a sua disciplina e determinação. Neste aspecto, os

argumentos do professor Alciomar Oliveira em suas respostas ao questionário sintetizam bem

esta visão pedagógica, de certa forma compartilhada por todos os professores que

responderam ao questionário. Vejamos o que o Alciomar escreveu: “o tempo de estudo deve

ser proporcional ao problema de cada aluno. Pois aqui, sim, vejo o grande problema do aluno

iniciante. Cada um tem o seu tempo de desenvolvimento e percepção dos fenômenos musicais

e físicos que compõem o novo panorama de estudos e descobertas”; ele completa: ”Uma

única justificativa seria suficiente para evidenciar essas diferenças, mas podemos pensar que

alunos iniciantes rasos de conhecimento têm históricos de vida diferentes antes do estudo do

instrumento musical, o que nos leva a constatar que precisamos respeitar essa

individualidade”. Ainda sobre a individualidade, vejamos o que o professor Marcos Flávio da

Escola de Música da Universidade de Minas Gerais escreve: “Cada aluno deve ser tratado de

maneira individual, traços de personalidade, talento e idade, influenciam muito na literatura

escolhida para o trabalho com o professor. É complicado traçar uma regra, pois, cada aluno

responde diferentemente aos mesmos estímulos”. Respeitar a individualidade! Com esta

exclamação de Alciomar, compreendemos o real papel do professor que é orientar e não

vergar a seu gosto o objetivo do aluno. Entendemos também que há um novo caminho

pedagógico, que passou a privilegiar os aspirantes à carreira de trombonista,

independentemente de este ser um indivíduo dotado de facilidades excepcionais ou não. Após

estudar os conceitos, e refletirmos sobre a direção de nosso esforço pedagógico, adentramos o


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território das experiências, nele, o plano de organização inicial para testar nossa proposta

constava de quatro fitas VHS cujo material pedagógico do método apresentava uma ordem na

organização que acreditávamos, até então, ser a mais adequada; contudo as sugestões de

aprimoramento por parte dos alunos foram acatadas por nós. Dentre estas, destaca-se a

necessidade de melhorar a dicção dos textos falados nas fitas, acrescentar ao conteúdo

planejado uma vídeo-aula de teoria, ampliando assim o foco de nosso trabalho e acrescentar

ao material didático uma transcrição dos textos falados nas vídeos-aulas. Claro que o fato de

acatar as sugestões acima citadas gerou a necessidade de mudar a ordem de aplicação do

conteúdo pedagógico do método incluído nas fitas VHS.

Observando os efeitos e conseqüências da aplicação da pesquisa na Banda Elieu

Nunes Rodrigues da Escola Agrotécnica Federal de Sousa, concluímos que, apesar dos

conteúdos pedagógicos terem sido aplicados em espaço de tempo curto (cinco meses) para o

aprendizado e desenvolvimento das técnicas e linguagem do estudo do trombone, constatamos

que houve uma significativa transformação na atitude dos integrantes do naipe de trombone

da banda, estendendo-se também para a corporação musical inteira. As evidências tangíveis

desta afirmação estão no melhoramento e equalização da sonoridade coletiva da banda. O

depoimento do professor Aramis Lins, maestro da banda, reforça esta conclusão com o

seguinte comentário: “os meninos estão com mais vontade de saber como funciona a técnica

dos instrumentos estão constantemente perguntando por gravações onde podem escutar

referências de músicos solistas de seus instrumentos”, e concluímos: “a auto-estima deles esta

maior porque de modo geral achavam que não poderiam seguir a carreira de músico e parte

deles descobriu que tocar em banda de forró não é a única opção”.

Nossa pesquisa enfatizou diretamente o trabalho com o naipe de trombone da banda,

mas, já nos primeiros momentos, estimulamos a participação de todos os membros da banda.

O primeiro trompetista, que não trabalha como músico profissional na cidade de Sousa, teve
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suas esperanças de se tornar músico profissional, rejuvenescidas, depois de conhecer nosso

método de Educação a distância e acompanhar as aulas junto com os trombonistas cadastrados

na pesquisa, e comentou: “só precisa ter paciência para estudar todos os dias direito”.

Portanto, o Método de Educação a Distância para o Ensino dos Fundamentos

Teóricos e Práticos do Trombone para Iniciantes constará dos seguintes tópicos: teoria

elementar (para leitura básica de uma partitura); manutenção/limpeza do instrumento,

postura/respiração; como estudar as lições do método de A. Lafosse para iniciantes

volume 1; estudos clínicos; como estudar melodias conhecidas, exemplificado nas

melodias do Hino Nacional do Brasil (marcha), Asa Branca (forró) e Branca (valsa). As

ferramentas usadas para veicular o ensino destes tópicos serão as seguintes: DVDs,

Transcrições das falas dos DVDs, Método para Trombone de Vara de André La Fosse v. 1. e

Partituras das músicas inclusas no quinto DVD do Método elaborado.


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