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Diário de Bordo 1

Aula 4 – Ética e Política: a questão dos refugiados

Nome: Antônia Fernanda Lima de Araújo

Matrícula: 485094

A aula sobre a crise dos refugiados foi o momento da disciplina que mais me impactou até
agora. A discussão levantada pelo professor Ricardo George de Araújo Silva, convidado
especial e estudioso da obra da filósofa Hannah Arendt, foi muito importante para chamar a
nossa atenção para a situação de rejeição generalizada em que vivem os refugiados mundo à
fora, o que é um assunto de enorme relevância social, mas que encontra-se ainda pouco debatido
no nosso contexto acadêmico.

Inicialmente, o professor apresentou aspectos gerais sobre a produção teórica de Hannah


Arendt, colocando-a como uma filósofa cuja marca foi pensar na própria experiência concreta
enquanto uma via para conhecer e questionar diversos fenômenos da coletividade, derrubando
logo de cara a visão comum que a define como uma mera “intelectual de birô”. Para isso,
Ricardo enfatiza as várias circunstâncias históricas que atravessaram a trajetória de Arendt,
tendo como exemplos os embates ideológicos e as perseguições político-religiosas sofridas por
ela, os quais muniram-na de conhecimentos factuais fundamentais capazes de permiti-la
desenvolver reflexões profundas sobre problemas de dimensões amplamente sociais e políticas.
Dentre as questões que compõem o corpo da sua produção teórica, destaca-se a crise
humanitária envolta da situação dos refugiados, temática esta abordada na aula potente e
necessária conduzida pelo referido professor.

Enquanto adentrávamos nos desdobramentos desse tema, logo fui tocada pelos apontamentos
acerca do conceito de pertencimento ao mundo, delimitado como a unidade analítica de onde
Arendt parte para pensar a existência das milhões de pessoas que, não encontrando outra
solução, se vêem obrigadas a deixarem seus lares e seus povos em busca de abrigo em países
estrangeiros, ficando sujeitas a enfrentar quase sempre tratamento hostil e aversivo por parte
das outras nações. A ideia do pertencimento ao mundo como um vínculo que age como motor
da existência humana se contrapõe à realidade de abandono e exclusão vivenciada pelos
refugiados, uma vez que estes ou são expulsos de seus países de origem ou são motivados a
migrar deles para sobreviver e, no entanto, raramente são acolhidos dignamente nos outros
territórios. Além de evocar a condição de estrangeiro à procura de socorro, a palavra
“refugiado” designa três categorias de análise também exploradas pelo professor em sua fala,
são elas: a do “pária”, referindo-se àquele que está à margem da sociedade; a do “fora da lei’,
relativo à condição dos que não são alcançados pela lei e, portanto, vivem à parte e apesar dela;
e a do próprio refugiado como aquele que se refugia em outros países em busca da
sobrevivência.

Uma demarcação interessantíssima para a problemática do pertencimento ao mundo é a


diferenciação feita por Arendt entre os significados de Terra e de mundo. Pare ela, a Terra diz
respeito à dimensão natural do lugar que habitamos, já está posta e não dependeu do homem
para a sua criação. O mundo, por sua vez, configura um artifício forjado por e para nós,
caracterizado pelo aspecto do “estar entre” os elementos da cultura e das relações humanas,
constituintes essenciais dessa dimensão. Dito isso, a filósofa levanta a questão: “Como pode
existir um mundo e os refugiados não pertencerem a ele?”. Isto é, se há um mundo criado pelo
homem para dar vazão à própria existência e este representa um bem comum, é direito dos
refugiados reivindicarem um lugar nele. Também nesse sentido, Arendt tece críticas ao conceito
de soberania dos Estados-nações, os quais se utilizam da autoridade conferida legalmente a eles
para delimitar os limites territoriais dos países e exercer controle rigoroso sobre quem entra e
quem sai, legitimando práticas arbitrárias e desumanas contra os refugiados.

Por fim, é válido trazer duas considerações políticas importantes apontadas pelo professor. A
primeira delas é sobre a necessidade de lutarmos coletivamente pelo direito de ter direitos,
relacionada à nossa tarefa política de ajudarmos a construir um mundo em que todos possam
viver com dignidade e bem-estar. A outra trata da ética de responsabilizar-se por esse mundo,
preservando-o e zelando todas vidas que nele estão contidas, pois, como bem lembra Arendt, o
mundo é obra do homem e é somente ele quem pode determinar o seu rumo.

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