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Capítulo “Meu filosofar positivo e concreto” de Mário Ferreira dos Santos

do livro “Rumos da filosofia atual no brasil em auto-retratos” de Stanislavs


Ladusãns: resenha

Chapter "My positive and concrete philosophising" by Mário Ferreira dos


Santos from Stanislavs Ladusãns' book "Current directions of philosophy
in Brazil in self-portraits": review

BRAGA, Paulo H.F.S.F.


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Resumo: “Meu filosofar positivo e concreto” é um capítulo do livro “Rumos da


filosofia atual no brasil em auto-retratos” de Stanislavs Ladusãns. Os textos
abordam diversas questões filosóficas. Há uma ênfase na importância de uma
visão transcendental da realidade para a filosofia em profundidade. Argumenta-
se que a filosofia deve transcender a imanência da esquemática humana e
buscar princípios eternos e leis universais que vão além das leis naturais e da
ciência. Além disso, é ressaltada a relação entre a posição gnosiológica,
metafísica e ética, bem como a conexão entre teoria e prática. Afirma-se que a
filosofia deve ter uma base objetiva e buscar a sabedoria suprema, permitindo a
compreensão dos princípios e a busca pela verdade.

Palavras chave: Filosofia; Filosofia do Brasil; Mário Ferreira dos Santos.

Abstract: " Meu filosofar positivo e concreto" is a chapter from the book "Rumos
da filosofia atual no brasil em auto-retratos" by Stanislavs Ladusãns. The texts
deals with several philosophical questions. There is an emphasis on the
importance of a transcendental vision of reality for philosophy in depth. It is
argued that philosophy must transcend the immanence of human schema and
seek eternal principles and universal laws that go beyond natural laws and
science. Furthermore, the relationship between the gnosiological, metaphysical
and ethical position as well as the connection between theory and practice is
emphasised. It is stated that philosophy must have an objective basis and seek
supreme wisdom, allowing the understanding of principles and the search for
truth.

Keywords: Philosophy; Philosophy of Brazil; Mário Ferreira dos Santos.


I. Quais são os seus dados pessoais e o “curriculum vitae”, em
síntese?
Nesse subcapítulo, Mário Ferreira dos Santos expõe sua própria biografia,
como um homem de origens diversas e ricas. Nasceu em São Paulo, filho de um
pai português e uma mãe amazonense com raízes cearenses. Desde cedo, seu
percurso foi marcado por uma sólida formação acadêmica, tendo estudado em
um ginásio jesuíta antes de ingressar no ensino superior, onde se graduou em
Direito e Ciências Sociais.

Aos 22 anos, Mário casou-se com D. Yolanda Lhullier dos Santos, uma
companheira fiel que sempre o estimulou e inspirou em seu trabalho. Com o
passar dos anos, tornou-se pai de duas filhas, Iolanda e Nadiejda, ambas
dedicadas ao estudo e autoras de obras bem-sucedidas, com várias edições
publicadas em todo o país.

Mantendo uma postura de independência e liberdade, Mário Ferreira dos


Santos evitou se envolver na vida política e nas rodas literárias, considerando o
primeiro ambiente dissolvente e o segundo deletério. Em silêncio, dedicou-se
aos estudos, ao trabalho como advogado, ao ensino particular e ao ramo
editorial, até que pudesse editar suas próprias obras.
Mário inicialmente lançou seus livros sob pseudônimos estrangeiros. Essa
estratégia revelou-se bem-sucedida, com vendas expressivas e alguns
exemplares alcançando números impressionantes.
No entanto, em 1952, Mário decidiu enfrentar a realidade e publicar seus
livros com seu próprio nome, contra a opinião geral que previa o fracasso dessa
iniciativa. Para sua surpresa, obteve um êxito muito além do esperado, com
vendas que atingiram números inimagináveis e várias edições lançadas ao longo
dos anos, alcançando milhões de exemplares vendidos.

II. Qual a gênese e o desenvolvimento do seu pensamento filosófico e


a sua atual estrutura?
Neste segundo subcapítulo, o autor relata a influência de seu pai em sua
educação e sua trajetória filosófica. Apesar do pai ser um português ateísta e
anticlerical, ele reconheceu o interesse do filho por temas filosóficos desde cedo
e decidiu colocá-lo para estudar com os jesuítas, mesmo que isso
escandalizasse seus amigos.

O pai reconhecia a competência dos jesuítas na educação e considerava-


os mais capazes do que ele próprio para guiar o filho nesse conhecimento.
Comprometeu-se a respeitar sempre as ideias do filho em casa, desde que
fossem respeitadas as suas condições. Essa atitude inesperada levou os amigos
do pai a mal interpretá-lo, considerando sua atitude como uma traição, o que o
fez se afastar completamente das atividades anticlericais e ateístas.

Com os jesuítas, o autor recebeu uma orientação que o aproximou da


Filosofia Positiva, que se tornou a espinha dorsal de sua estrutura filosófica atual.
Ele destaca que a Filosofia Positiva é aquela que parte e permanece na
afirmação, construindo sobre as contribuições dos grandes ciclos culturais da
humanidade, com destaque para o pensamento grego e a coroação do
pensamento ocidental na Escolástica.

Embora o autor não se considere escolástico nem neo-escolástico, ele


concilia essas ideias com aquelas que derivam do pensamento pitagórico-
platônico, apresentando essa síntese em seus livros. Assim, sua formação
filosófica é influenciada por uma combinação de correntes aparentemente
distintas, que encontram harmonia em uma abordagem concreta e positiva.

III. Em que situação se encontra com as suas publicações?


Esse texto apresenta um catálogo de obras filosóficas do autor, incluindo
títulos, número de páginas, edições e datas de publicação. As obras estão
organizadas em diferentes categorias, como filosofia e cosmovisão, lógica e
dialética, psicologia, teoria do conhecimento, ontologia e cosmologia, entre
outras.
O autor menciona sua participação na "Enciclopédia de Ciências
Filosóficas e Sociais".
Além disso, são listadas obras em preparação, como "Brasil, país sem
esperança?" e "Brasil, país de exceção", bem como traduções de obras de
Nietzsche, Amiel, Walt Whitman e outros.
O autor também menciona planos futuros para obras sobre Mateus,
Aristóteles, Platão, Kant, entre outros filósofos. Algumas obras são publicadas
sob pseudônimos, e o autor opta por não revelar sua autoria por motivos
pessoais. As edições das obras foram realizadas pelas editoras Logos Ltda. e
Matese.

IV. MISSÃO DA FILOSOFIA NA VIDA CULTURAL BRASILEIRA


HODIERNA?
O autor sugere que os brasileiros, por não terem compromissos históricos
ou filosóficos específicos, são capazes de adotar uma filosofia ecumênica que
corresponda ao verdadeiro propósito da disciplina. Ele se baseia na visão
pitagórica de que a busca pela sabedoria é o cerne da filosofia. O autor
reconhece a existência de diversos caminhos filosóficos, mas destaca a
importância da demonstração como autoridade na filosofia, buscando construir
uma filosofia positiva e concreta.

Ele afirma que os brasileiros podem vivenciar o universal no aspecto


quantitativo, absorvendo as perspectivas de diferentes povos, mas não devem
permanecer apenas como receptores de ideias de fora. Em vez disso, devem
criar seu próprio caminho filosófico. O autor enfatiza a necessidade de uma visão
filosófica positiva e concreta para resolver os problemas vitais do Brasil,
argumentando que a diversidade de ideias e posições dificulta a busca por
soluções adequadas às necessidades do país. No entanto, reconhece que esse
é um tema vasto que exigiria um estudo mais aprofundado.

V. Que fazer para que a filosofia atinja as grandes massas populares


e a juventude brasileira?
Nesse subcapítulo, o autor argumenta que é necessário tornar a filosofia
acessível às massas populares, o que exigirá elevar o nível cultural dessas
massas. Ele defende um desenvolvimento da cultura nacional que se direcione
para uma filosofia positiva, em contraste com a filosofia negativista e niilista
presente nas escolas. O autor destaca a juventude brasileira como um dos
problemas mais graves, já que o país é composto em grande parte por jovens.
Devido ao baixo nível cultural, os estudantes brasileiros se tornam uma elite
intelectual, refletindo a inferioridade geral do país.

O autor observa que a juventude, ao longo da história, apresenta aspectos


positivos e negativos. Embora sejam capazes de ação e idealismo, também são
caracterizados pela irreflexão, despreparo e tendência a serem influenciados por
agitadores e políticos demagogos. O autor menciona exemplos históricos de
jovens que se engajaram em causas negativas e destrutivas. Ele enfatiza a
necessidade de orientar a juventude brasileira, fornecendo-lhes uma sabedoria
clara, positiva e concreta, a fim de imunizá-los contra tendências niilistas. O
objetivo é canalizar a capacidade de ação e idealismo dos jovens em algo
construtivo que beneficie o país. O autor conclui que qualquer outra abordagem
será ineficaz.

VI. Quais são as correntes filosóficas que a reflexão filosófica deve


levar em conta hoje?
Mário Ferreira dos Santos considera que todas as correntes filosóficas
devem ser estudadas, porque encontramos hoje, na reflexão filosófica, a
restauração ou o ressurgimento de velhos erros já refutados há séculos e
milênios, que passam por inovações extraordinárias para aqueles que ignoram
as aquisições do passado. É necessário, assim, revisar tudo, para mostrar que
muitas novidades atuais nada mais são que velhos erros já refutados, travestidos
de “verdades superantes”.

VIII. Colaboração da filosofia para humanizar a civilização


Nesse subcapítulo, o texto destaca três partes: 1) a humanização da
civilização atual, 2) a valorização da pessoa humana e 3) a busca pela paz
interior e felicidade do homem.
O autor argumenta que a humanização da civilização pode ser alcançada
por meio da colaboração da Filosofia, revisando e reestruturando os grandes
autores do passado para evitar interpretações falsas.
O valor da pessoa humana é enfatizado como algo que foi desafiado pelos
totalitarismos do século passado e precisa ser reestruturado de forma positiva e
concreta. Por fim, a paz interior e a serenidade do espírito são vistas como
consequências da busca pela Sabedoria e das verdades fundamentais que
sustentam a verdadeira felicidade. O autor defende a busca pelo que une as
diferentes correntes filosóficas como forma de aproximação entre os seres
humanos e critica a distorção do pensamento dos autores por intermediários e
adversários, destacando a importância de compreender as obras diretamente
dos autores.

IX. A filosofia nacional e o pensamento filosófico estrangeiro


Nesse subcapítulo, o autor aborda a ignorância em relação ao patrimônio
filosófico de Portugal e destaca a falta de estudo sobre a Filosofia Portuguesa
dos séculos XV, XVI e XVII nas escolas.
O autor menciona vários filósofos portugueses e espanhóis que estudaram
e contribuíram intelectualmente em Portugal. A questão é levantada sobre se
pode falar em uma Filosofia de Portugal ou apenas uma Filosofia em Portugal.
O autor responde que é possível falar tanto em uma Filosofia de Portugal quanto
em uma Filosofia em Portugal. No entanto, o autor observa uma mentalidade de
colonialismo passivo no Brasil, onde valoriza-se mais o que vem do exterior do
que o que é nacional ou português.
O autor defende a possibilidade de uma Filosofia brasileira autóctone e
sugere a criação de uma Filosofia Ecumênica, capaz de unir diferentes modos
de filosofar. O texto argumenta que a heterogeneidade de ideias não revela
força, mas fraqueza, e enfatiza a importância de reunir o que há de positivo nas
grandes realizações filosóficas, construindo uma nova abordagem e oferecendo-
a ao mundo. O autor reconhece que muitos intelectuais brasileiros não acreditam
nessa possibilidade e se opõem àqueles que tentam realizá-la.

X. Deve abrir-se a reflexão filosófica para uma visão transcendental da


realidade, na perspectiva das razões metafísicas?
Mário Ferreira dos Santos enfatiza que a Filosofia requer uma visão
transcendental da realidade, diferenciando-se da Ciência, que se dedica ao
estudo das causas próximas. O autor destaca a importância de abordar as
causas primeiras e últimas, bem como os princípios fundamentais que são objeto
da Matemática, também conhecida como Máthesis Magiste.
O autor menciona uma obra em elaboração sobre uma axiomática
baseada em Boécio, que aborda a Sabedoria presente em diversas culturas e
religiões. Esses princípios transcendem as leis naturais e científicas, envolvendo
leis eternas que governam todas as coisas. O estudo desses princípios leva a
uma visão transcendental da realidade, essencial para a Filosofia em
profundidade. O autor critica a tendência moderna de uma Filosofia que se limita
à imanência e à superficialidade construída apenas dentro da experiência
cotidiana do homem.

XI. Qual é a íntima conexão entre a posição gnosiológica, metafísica e


ética; entre a teoria e a pratica?
O texto aborda duas perguntas relacionadas: a conexão entre a posição
gnosiológica, metafísica e ética, e a conexão entre teoria e prática. O autor
argumenta que as dificuldades surgem quando a filosofia coloca o homem como
um ser estranho ao universo, incapaz de penetrar profundamente nele. Isso leva
a uma visão pessimista e negativista, onde se acredita que não é possível
alcançar o transcendente e ter uma visão transcendental da ética. Surge o
agnosticismo, ceticismo e outras correntes filosóficas que limitam o
conhecimento humano. O autor defende a necessidade de uma visão
transcendental da realidade para evitar a perda em armadilhas criadas pelo
próprio pensamento. Na segunda parte da pergunta, o autor menciona as
discussões gregas sobre teoria e prática, filosofia e ciência especulativa, e a
confusão atual entre teoria e prática. Proposições teóricas são consideradas
práticas e vice-versa, levando a um mundo de utopias e quimeras que resultam
em desilusão e desespero.

XII. A filosofia é uma ciência objetiva ou uma produção pessoal,


puramente subjetiva, do pensamento?
Nesse subcapítulo, o autor aborda a distinção entre a Filosofia como uma
produção pessoal e subjetiva, colocando-a no campo da Estética, e a Filosofia
como uma busca objetiva pela sabedoria suprema que transcende o pensador.
O autor argumenta que a Filosofia deve ser uma ciência objetiva e positiva, mas
muitas vezes cai no subjetivismo, especialmente na Filosofia Moderna. Ele
destaca a importância de distinguir entre Estética e Filosofia, assim como entre
Ciência e Filosofia, para evitar confusões que prejudicam o progresso intelectual
da humanidade.
O autor também enfatiza a necessidade de demonstração na Filosofia, em
vez de meras asserções, e adverte contra a confusão entre filósofos, pensadores
e professores de Filosofia, indicando o perigo de uma Filosofia voltada apenas
para os professores dessa disciplina.

XIII. QUE PENSAR SOBRE O PROBLEMA DO ATEÍSMO


CONTEMPORÂNEO?
Esse subcapítulo, o autor discute o ateísmo contemporâneo, afirmando que
não surge principalmente de uma especulação filosófica, mas sim de decepções
de natureza ética. O autor argumenta que o ateísmo não se concentra
especificamente em atacar o conceito de um Deus único, mas sim os atributos
do Deus trino, pessoal e os atributos morais de Deus.
O autor também observa que o ateísmo é frequentemente resultado de uma
má formulação do problema de Deus e que, ao solicitar aos ateístas uma
descrição do que eles entendem por Deus, foi possível encontrar razões para o
ateísmo e conduzi-los à aceitação de um Ser Supremo, o que é visto como um
ponto de partida para uma recuperação total.

XIV. Em que sentido a reflexão filosófica pode ter tonalidade crista?


Pode o cristianismo prestar benefícios ao filósofo?
A resposta para a última pergunta fornecida por Mário Ferreira dos Santos
afirma que a reflexão filosófica deve ter uma tonalidade cristã, entendendo Cristo
como representando o que há de mais elevado no homem, levando-o em direção
à Divindade. A Filosofia teve seu maior desenvolvimento sob o Cristianismo e é
por meio da concepção cristã que uma Filosofia superior pode unir os seres
humanos e promover a compreensão mútua.
A verdadeira piedade consiste em praticar atos superiores que nos
aproximam de Deus. A Filosofia caminha paralelamente à Religião, sendo a
Religião o caminho prático de elevar o homem a Deus e a Filosofia o caminho
especulativo de buscar a verdade e se aproximar de Deus.

Conclusão sobre os subcapítulos


Em suma, os textos abordam diversas questões filosóficas. Há uma ênfase
na importância de uma visão transcendental da realidade para a filosofia em
profundidade. Argumenta-se que a filosofia deve transcender a imanência da
esquemática humana e buscar princípios eternos e leis universais que vão além
das leis naturais e da ciência.
Além disso, é ressaltada a relação entre a posição gnosiológica, metafísica
e ética, bem como a conexão entre teoria e prática. Afirma-se que a filosofia deve
ter uma base objetiva e buscar a sabedoria suprema, permitindo a compreensão
dos princípios e a busca pela verdade.
Sobre o autor
Mário Dias Ferreira dos Santos foi um filósofo, tradutor e escritor brasileiro.
Ele é conhecido por suas traduções de obras de diversos autores e por ter escrito
livros abrangendo uma ampla gama de temas, compilados sob o nome
"Enciclopédia de Ciências Filosóficas e Sociais". Além disso, Mário desenvolveu
seu próprio sistema filosófico chamado de "Filosofia Concreta". Ele também foi
um militante anarquista e estudioso do anarquismo cristão, tendo sido um
participante ativo do Centro de Cultura Social, um importante grupo anarquista
em São Paulo durante a primeira metade do século XX.

SANTOS, Mário Ferreira dos. Meu filosofar positivo e concreto. In: LADUSÃNS,
Stanislavs. Rumos da filosofia atual no Brasil em autorretratos. São Paulo:
Edições Loyola, 1976. p.407-428.

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